22 de outubro de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 22 DE OUTUBRO DE 2014

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Irmã de Lula pede votos para Aécio: 'melhor para o Brasil' Fonte Portal Terra 21 de outubro de 2014 às 19h31

Lindinalva Silva, que já trabalhou em governos do PSDB, agora faz campanha para o tucano em vídeo que circula na internet. “Estou pedindo para vocês terem consciência. No dia 26 de outubro, votem em Aécio Neves”, diz Lindinalva Silva, irmã do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em vídeo que circula na internet a favor do candidato do PSDB. Ao contrário da irmã, Lula está em campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), sua sucessora. No vídeo, Lindinalva exibe uma folha de papel e, questionada por uma espécie de “apresentadora”, explica que o documento diz respeito a “umas leis, uns projetos que a Dilma está criando”. “Então é muito importante que todos vejam”, afirma – o internauta, no entanto, não consegue ler o que está escrito no papel. “Você, como irmã do Lula, por que diz que nós temos que votar no Aécio, e não no PT?”, questiona a amiga-apresentadora. “Porque eu acho que é o melhor para o Brasil neste momento”, responde a irmã de Lula, que diz ainda que não está pensando em familiares, mas sim “no todo, no Brasil todo, principalmente nos cristãos”. Em 2012, Lindinalva se candidatou a uma cadeira de vereadora na Câmara de Cuiabá pelo PTB. No dia da eleição, ela chegou a ser detida por suspeita de boca de urna, mas foi liberada na sequência. A autenticidade do vídeo foi confirmada ao Terra pelo deputado eleito Wilson Santos (PSDB), ex-prefeito de Cuiabá (MT), que já teve Lindinalva em suas campanhas e, depois, a colocou no governo. “Ela já fez isso por mim também, quando disputei a prefeitura contra o PT, em 2004. Sou amigo dela. Ela ficou oito anos na nossa gestão, foi assessora de gabinete. Era uma espécie de secretária, muito simpática e prestativa. Atendia líderes comunitários, lidava com o povo”, afirmou o deputado eleito. Santos forneceu o número do celular de Lindinalva para que ela falasse com a reportagem, mas ela não atendeu às ligações. Ao ditar o telefone, ele fez uma piada com o número do PT na urna. "Sempre tem que ter um 13 para atrapalhar."

Setor de serviços cresce 4,5% em agosto, diz IBGE Fonte Portal Economia SC 22 de outubro de 2014 às 08h 48 Resultado é o menor desde o início da série histórica, que começou em janeiro de 2012. Foto: Divulgação Em agosto, o setor de serviços registrou no Brasil um crescimento nominal de 4,5% na comparação com igual mês do ano anterior, inferior às taxas observadas em julho (4,6%) e junho (5,8%). Este resultado é o menor desde o início da série, em janeiro de 2012. De janeiro a agosto, a receita registrada foi de 6,7% e no acumulado de 12 meses, o percentual chega a 7,4%, menores taxas da série. Os dados foram divulgados hoje, dia 22, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). 2


Os serviços prestados às famílias registraram crescimento de 9,0%, seguido pelo setor de serviços profissionais, administrativos e complementares com 7,9%. A área de transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio teve aumento de 3,2% enquanto os serviços de informação e comunicação cresceram 1,7%. O resultado de 1,7% registrado nos Serviços de Informação e comunicação (inferior às variações de 2,1% de julho e 5,7% de junho) combinado com o resultado de 3,2%, registrado nos Transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio (inferior às variações de 4,6% de julho e 4,7% de junho) foram os fatores que contribuíram para que o resultado do mês de agosto se situasse em um patamar inferior aos dos meses anteriores. E das 27 unidades da Federação, 23 apresentaram variação positiva na comparação com agosto de 2013. Os destaques foram: Distrito Federal (13,2%), Acre (11,2%) e Tocantins e Rondônia (ambas com 8,2%). Apresentaram variações nominais negativas as seguintes unidades da Federação: Amapá (-3,9%), Piauí (-2,0%), Mato Grosso do Sul (-1,2%) e Espírito Santo (-0,6%).

Commodities Agrícolas Fonte Jornal Valor Econômico 22/10/2014 às 05h 00 Queda em NY Fatores macroeconômicos e ligados aos fundamentos pressionaram ontem os preços do açúcar em Nova York. Os lotes do demerara para maio fecharam em 16,73 centavos de dólar a libra-peso, uma queda de 19 centavos. Pesquisas eleitorais indicando Dilma Rousseff na frente da disputa à presidência deram fôlego ao dólar no Brasil, influenciando a queda dos preços do açúcar. Quanto aos fundamentos, a China (maior consumidor global) informou que a importação do produto no mês passado caiu 39%, na comparação anual. Na Índia, autoridades e usinas entraram em acordo sobre o cálculo do preço a pagar aos produtores, que agora devem iniciar a colheita. No mercado interno, o indicador Cepea/Esalq para o açúcar cristal em São Paulo subiu 0,85%, para R$ 48,45 a saca de 50 quilos Movimento técnico Apesar da nova queda da importação de algodão pela China, os preços subiram ontem na bolsa de Nova York após recompras técnicas. Os lotes para março fecharam em alta de 61,91 centavos de dólar por libra-peso, avanço de 21 pontos. Em setembro, a China comprou 40% menos algodão que no mesmo mês de 2013, um sinal de que o país continua a priorizar a comercialização da pluma que está armazenada nos estoques públicos. Divulgado ontem, o dado não influenciou o mercado futuro, que se pautou por movimentos técnicos dos fundos. A alta reverteu uma parte das quedas que ocorrem desde o início da semana passada diante o avanço da colheita nos EUA. No mercado doméstico, o indicador Cepea/Esalq para a pluma com pagamento em 8 dias subiu 0,19%, a R$ 1,6581 a libra-peso. Alta em Chicago Os contratos futuros da soja voltaram a subir ontem na bolsa de Chicago, em meio a fatores técnicos e diante de dificuldades das indústrias em obter grãos para processamento. Os papéis para janeiro fecharam a US$ 9,7175 o bushel, avanço de 19,5 centavos. Algumas indústrias processadoras dos EUA com contratos de entrega para cumprir têm encontrado dificuldades em receber os grãos, já que os produtores estão relutantes em negociar a safra nova em meio ao atual cenário de baixos preços, diz Stefan Tomkiw, analista da Jefferies Bache, em Chicago. Ele estima que a comercialização da produção de 2014/15 esteja entre 50% e 60% até agora. No mercado interno, o indicador Cepea/Esalq para a soja no Paraná subiu 0,81% ontem, para R$ 59,52 a saca Forte valorização Em um dia de compras técnicas generalizadas no mercado de grãos, as cotações do trigo marcaram altas expressivas nas bolsas americanas. Em Chicago, os lotes para março fecharam com avanço de 6,75 centavos, a US$ 5,33 o bushel, o maior valor em um mês. 3


Em Kansas, onde é negociado o produto de melhor qualidade, os papéis com igual vencimento fecharam em US$ 6,0375 o bushel, avanço de 2,25 centavos. Apesar da alta, os dados de fundamentos continuam "baixistas" para o trigo nos Estados Unidos, que continua com pouca competitividade no mercado internacional, como indicam recentes dados de exportação do cereal do país. No mercado interno, o preço médio do trigo no Rio Grande do Sul apurado pelo Cepea/Esalq teve alta de 2,34%, para R$ 472,79 a tonelada.

Inflação ao consumidor nos EUA fica em 0,1% em setembro Fonte Jornal Valor Econômico 22/10/2014 às 10h47

WASHINGTON - O Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos avançou 0,1% em setembro, na comparação com o mês anterior, após ajustes sazonais, informou nesta quartafeira o Departamento de Trabalho. O resultado veio em linha com as previsões dos economistas ouvidos pelo “Wall Street Journal”. O núcleo do índice, que exclui alimentos e os preços do setor de energia, avançou 0,1%. O resultado também igualou a projeção dos analistas. Na comparação anual, os preços tiveram alta de 1,7% em setembro. O núcleo do índice também avançou 1,7% no ano. O relatório de hoje também mostra a evolução dos preços no terceiro trimestre do ano, na comparação com igual período do ano passado. O dado é importante porque o governo federal o utiliza como medida para calcular a alta no custo de vida para a seguridade social e os pagamentos para trabalhadores de licença, feitos no total a mais de 63 milhõe s de americanos. A estimativa dos funcionários é de que essa alta seja de 1,7%. O anúncio oficial do ajuste sai mais tarde hoje e deve ficar em menos de 2% de alta pelo terceiro ano, refletindo a inflação branda nos EUA. A meta do Federal Reserve para a inflação ao consumidor é de 2%, mas o banco central prefere olhar para outra medida, calculada pelo Departamento do Comércio. Essa leitura da inflação estava em alta de 1,5% em agosto na comparação anual, abaixo da meta do Fed há mais de dois anos. O relatório de hoje mostrou que os preços de energia recuaram 0,7% em setembro, em seu terceiro recuo consecutivo. Os preços de gasolina e eletricidade recuaram no mês passado, enquanto o dos alimentos avançou 0,4% em setembro, puxado por carne e laticínios.

MP 651 amplia desonerações e cria novas ameaças fiscais Fonte Jornal Valor Econômico 22/10/2014 às 05h00

Com pouco mais de 9 mil palavras, a Medida Provisória 651, uma das maiores MPs já editadas até hoje, pode causar um grande estrago nas contas públicas. Publicada em julho para regular o mercado de capitais, ela originalmente apoiava a abertura do capital das pequenas empresas e definia a tributação de fundos de ETF, lastreados em ativos que refletem a variação de 4


índices de renda fixa. O governo ampliou seu escopo inicial para incluir incentivos aos exportadores e novos estímulos ao refinanciamento das dívidas tributárias. Mas foi o Congresso que deu o toque final. Apesar de praticamente paralisado durante o período de eleições, incluiu mais de 50 emendas na Câmara, ampliando muito os incentivos e as renúncias fiscais, até ser votada terça-feira da semana passada. Embalado pelo clima eleitoral, o governo incluiu várias medidas para agradar o empresariado. Uma delas torna permanente a desoneração da folha de pagamentos de 56 setores da economia. A estimativa é que a renúncia fiscal resultante some pouco mais de R$ 80 bilhões nos próximos três anos. O relator da MP, o deputado federal Newton Lima (PT-SP), resolveu incluir mais quatro setores, beneficiando os transportes fretados, empresas de engenharia e arquitetura, drogarias e farmácias de manipulação, e empresas de tecnologia da informação e gerenciamento de processos. Isso aumentou a renúncia fiscal em R$ 4,5 bilhões a cada ano. Imagina-se que a desoneração da folha de pagamentos esteja contribuindo para o desempenho do mercado de trabalho, que vem mostrando índice de desemprego estável apesar da desaceleração econômica. Não se sabe, porém, o impacto dessa medida na já deficitária Previdência e muito menos como o governo vai cobrir esse buraco. A expectativa era que a desoneração estimulasse a atividade econômica e, com isso, a arrecadação, o que claramente não está acontecendo. Os parlamentares também excederam o governo em generosidade no Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra), que vigorava no ano passado e foi reinstituído de forma permanente. O Reintegra objetiva incentivar a exportação por meio da compensação de créditos tributários da cadeia produtiva, possibilitando apuração de crédito presumido entre 0,1% e 3% da receita da exportação de bens industrializados. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, para atrair a boa vontade dos empresários, já havia acenado com a possível adoção da alíquota máxima de 3% para o Reintegra. Mas a MP 651 acabou saindo da votação na Câmara com a alíquota de 5%. A renúncia fiscal com esse incentivo, estimada em R$ 2 bilhões por ano, pode ser ampliada em cerca de R$ 1 bilhão com o acréscimo dos dois pontos percentuais. Já em relação ao Programa de Recuperação Fiscal (Refis) o governo havia reduzido o pagamento inicial de adesão para atrair um maior número de empresas. O percentual de entrada do parcelamento no caso de débitos de até R$ 1 milhão foi reduzido de 10% para 5% da dívida. Com a mudança, o governo espera ampliar a receita proporcionada pelo Refis suba de R$ 12,5 bilhões para R$ 15 bilhões, mas essa é uma aposta a ser confirmada, sem nenhuma garantia de concretização. As benesses não param por aí, implicando menor arrecadação. Haverá isenção de Imposto de Renda para a pessoa física que vender ações de pequenas e médias empresas. O benefício fiscal das debêntures de infraestrutura, que terminaria neste ano, foi ampliado para 2020 pelo governo e prolongado até 2030 pelos parlamentares. Há ainda outras coisas, como a redução do PIS/Pasep e Cofins para a venda de gás natural e transporte aéreo entre outras medidas. A MP 651 deve passar pela apreciação do Senado na próxima terça-feira e precisa ser aprovada até 6 de novembro, caso contrário vai perder a validade. Não é de todo improvável, porém, que os senadores ampliem as bondades oferecidas. Os parlamentares agem como se desconhecessem que o Tesouro teve déficit fiscal de maio a agosto, e que setor público consolidado acumulou nos primeiros oito meses do ano superávit de apenas 0,94% do Produto Interno Bruto (PIB), bem distante da meta de 1,9% prometida para o ano. O Valor apurou que a ampliação das renúncias fiscais e dos incentivos deixou até o governo preocupado (15/10) e já avaliando quais vetos vai recomendar à presidente Dilma Rousseff, cuja decisão será mais fácil porque o processo eleitoral terá terminado. 5


A discussão oportuna sobre a terceirização Fonte Jornal Valor Econômico Antonio Oliveira Santos 22/10/2014 às 05h00 O processo produtivo se caracteriza por ser um sistema em rede, no qual cada empresa contribui com uma parcela de valor agregado - que são os insumos da produção - formando um todo, que é o produto final. Qualquer empresa, por mais simples que seja, consome uma certa quantidade de serviços, que são produzidos por outras empresas. É um processo produtivo que valoriza a especialização e propicia o aumento da produtividade. A terceirização no setor produtivo representa um exemplo concreto do real benefício decorrente da especialização. Nessa área, pode-se tornar como caso emblemático de sucesso a prestação dos serviços de limpeza, onde são evidentes os ganhos de produtividade, tanto para a empresa contratante como para a empresa contratada. O mesmo se verifica na área dos serviços de segurança. Merece destaque, nesse particular, o caso dos bancos que contratam, dentro das normas legais de terceirização, os serviços de segurança para suas agências e seus clientes. Os opositores à terceirização de serviços consideram que isso representa uma precarização do trabalho e, em suas propostas de regulação, reivindicam que aos trabalhadores da empresa contratada sejam pagos salários iguais aos da empresa contratante, além da extensão de todos os demais benefícios, tais como gratificações, assistência médica, auxílio-refeição, valetransporte etc. Regida pela Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), a terceirização ainda provoca muitas questões e disputas judiciais, que prejudicam tanto trabalhadores quanto empresários. O ponto é que a Súmula reconheceu a legalidade da terceirização na atividade-meio das empresas, para que estas pudessem concentrar seus recursos e energias no exercício de sua atividade-fim. No entanto, a nomenclatura "atividade-meio" e "atividade-fim" gera conflitos que acabam no Judiciário. A discussão é oportuna quando estamos diante de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a identificação do que representa a atividade-fim de um empreendimento, do ponto de vista da possibilidade da terceirização. A corte vai julgar o Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 713.211, no qual a Celulose Nipo Brasileira S/A (Cenibra) questiona decisão da Justiça do Trabalho em que foi condenada a se abster de contratar terceiros para sua atividade-fim. O STF reconheceu a repercussão geral do tema e entendeu que, do julgamento desse caso, passará a referendar os demais julgamentos no país sobre essa questão. Movidas pelo momento crucial que esta decisão representa, em encontro recente, as principais Confederações do país, entre elas a CNC, CNI e Confederação Nacional do Sistema Financeiro (Consif) se reuniram para debater as implicâncias econômicas e jurídicas da terceirização no Brasil no seminário "Terceirização e o STF: O que esperar?". Em seu discurso, o ex-ministro do STF, Carlos Velloso, defendeu que, sob o ponto de vista jurídico, a questão não foi versada com o cuidado que o tema exigiria e que é preciso levar ao conhecimento geral e ao STF a importância que a terceirização tem para as diversas atividades econômicas no Brasil. A terceirização significa uma forma de criar empregos, além de ser um mecanismo moderno de gestão empresarial, com aumento da produtividade e redução dos custos de produção, utilizando serviços e trabalho especializados, sem significar redução de salários ou menor uso de mão de obra. Ao contrário, como é fácil perceber, a especialização do trabalho, por meio da prática da terceirização, vai, obviamente, produzir maior criação de empregos e proporcionar melhores níveis de salário para os trabalhadores especializados. 6


Os que fazem forte oposição à regulamentação da terceirização carecem de informação sobre o tema. O Ministério Público do Trabalho (MPT) argumenta que a terceirização precariza as condições de trabalho e viola o princípio da dignidade da pessoa humana. A entidade prega o desaparecimento de uma atividade essencialmente terceirizada, como os call centers. Enfraquecer esse tipo de prestador de serviços, isso sim, é violar o princípio da dignidade da pessoa humana, com a subtração de 1,1 milhão de empregos. Em breve será votado o Projeto de Lei 4.330/2004, de autoria do deputado Sandro Mabel, que deve ser entendido como mais uma forma de defesa e de proteção dos direitos trabalhistas e não o contrário. O referido projeto 4.330 visa garantir aos 12 milhões de trabalhadores terceirizados os mesmos direitos previsto na CLT, como 13º salário, férias remuneradas, adicional de férias, descanso semanal remunerado, hora extra com 50% de acréscimo, entre outros. O PL nº 4.330 contém 19 artigos de proteção ao trabalhador e outros dois artigos de proteção ao empresário. Ele determina, por exemplo, que os terceirizados sejam tratados como funcionários regulares no que se refere ao acesso a refeitório, a eventuais serviços de transporte e a serviço médico interno da empresa que contrata a prestadora de serviço. Sobre a questão da "responsabilidade subsidiária", o Projeto de Lei, nos artigos 14 e 15, define que as empresas contratantes precisam fiscalizar, mensalmente, a comprovação do pagamento de obrigações como salários, horas extras, 13º salário, entre outros. Permite também, à empresa contratante, reter o pagamento da contratada no caso de não pagamento das obrigações dos funcionários. O principal motivo de discórdia entre os parlamentares é o artigo 4º do PL nº 4.330, que afirma que o contrato de terceirização pode ser relacionado a qualquer parte da atividade da empresa contratante, mesmo na atividade-fim. A discussão na Câmara dos Deputados visa definir quais atividades exatamente podem ou não ser terceirizadas, com o objetivo de sanar essa questão e aprovar o projeto. Ponto que vai ao encontro da próxima decisão do STF e da segurança jurídica que as partes que contratam a terceirização precisam.

Euro precisa de algo mais que reformas Fonte Jornal Valor Econômico Martin Wolf 22/10/2014 às 05h 00

Podem as políticas da zona do euro produzir uma recuperação vigorosa? Minha resposta é: não. Uma vez que a zona do euro gerou 17% da produção do mundo em 2013, a resposta tem relevância mundial. Foi a Alemanha que definiu a estratégia econômica da zona do euro, que consiste de três elementos: reforma estrutural, disciplina fiscal e acomodação monetária. Até agora, esse conjunto de políticas não conseguiu gerar demanda suficiente: no segundo trimestre de 2014, a demanda real na zona do euro foi 5% menor do que no primeiro trimestre de 2008. Tanto a França como a Itália estão sendo incentivadas a acelerar "reformas estruturais" como uma maneira de reativar o crescimento de suas economias e, portanto, dada a importância delas, também da zona do euro. Esses dois países geram 38% do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro, contra 28% apenas da Alemanha. Em ambas as economias, os programas recomendados envolvem a liberalização do mercado de trabalho. Ambas estão sendo incentivadas a copiar as "reformas Hartz", alemãs, implementadas entre 2003 e 2005, às quais é frequentemente atribuído o recente desempenho relativamente bom do mercado de trabalho no país. 7


Entretanto, precisamente o que essas reformas não fazem é criar demanda agregada dinâmica. Entre o segundo trimestre de 2004 e o segundo trimestre de 2014, a demanda doméstica real alemã cresceu 11,2%, ou seja, uma taxa composta anual de 1%. Poderia ter sido pior. Mas esse, nem de longe, é o desempenho de uma "locomotiva". Um exame dos balanços financeiros setoriais da Alemanha - as diferenças entre as receitas e os gastos do governo, do setor privado e dos estrangeiros - reforça esse ponto. A resposta do setor privado alemão às reformas do início dos anos 2000 foi aumentar enormemente os excedentes financeiros, ou seja, gastaram muito menos do que suas receitas. Uma vez que o déficit fiscal também encolheu, as saídas de capital dispararam. Isso é notável e significativo. Em suma, a resposta do setor privado às reformas no mercado de trabalho e ao aperto fiscal foi tornar-se cada vez mais frugal e, assim, acumular grandes quantidades de ativos estrangeiros (muitas vezes de baixa qualidade). Em termos de ampliar a demanda interna privada, as reformas pouco alcançaram. Ao contrário, a Alemanha tornou-se fortemente dependente da demanda externa. Da mesma forma, o aperto fiscal não liberou gastos privados mais intensos. Esperar que reformas semelhantes no mercado de trabalho fomentem a demanda na França e na Itália seria, provavelmente, extremamente otimista. Isso não quer dizer que as reformas nada alcançaram. A Alemanha tem baixa taxa de desemprego, apesar de um crescimento bastante fraco. O Reino Unido também tem uma taxa de desemprego relativamente baixa apesar de um crescimento econômico pós-crise ainda fraco. Em ambos os casos, as reformas no mercado de trabalho incentivaram o compartilhamento de um grande choque negativo por toda a população por meio de ganhos reais estagnados ou mesmo em queda. Um sintoma dessa forma de ajuste é a fraca produtividade. Na indústria alemã, a produtividade não cresce desde 2007. O desempenho da produtividade também foi fraco no Reino Unido. Mas o desemprego alemão foi de 4,9% em julho e, no Reino Unido, ficou em apenas 6%, contra 10,4% na França. A conclusão é que as reformas do mercado de trabalho pouco ou nada fizeram para fomentar a demanda; no caso da Alemanha, a maior parte da demanda veio do exterior. O que isso poderia significar para a zona do euro como um todo? Uma possibilidade teórica é que a zona do euro buscaria gerar um superávit em conta corrente tão grande, em relação ao PIB, quanto o da Alemanha. Isto significaria um superávit não de US$ 300 bilhões, como em 2013, mas de US$ 900 bilhões. Isso nunca poderia ser sustentado: o resto do mundo não o absorveria e uma valorização do euro funcionaria como um obstáculo. O complemento adequado à reforma estrutural é uma demanda adicional no interior da zona euro. Isso é necessário, de todo modo, para eliminar as dificuldades que estão sendo criadas por inflação ultrabaixa e pela possibilidade de deflação. O núcleo da inflação alemã, de apenas 1,2%, é muito baixo para permitir que o ajuste funcione de forma satisfatória. A política monetária convencional está em seus limites, e por isso as opções são entre política monetária não convencional ou política fiscal expansionista. A Alemanha sente-se extremamente desconfortável diante de ambas. Entretanto, em parte devido a seu status de refúgio seguro, a Alemanha também tem condições de tomar empréstimos a taxas de juro extremamente favoráveis. Os títulos do governo alemão de 30 anos estão agora rendendo 1,8%. Se assumirmos que o Banco Central Europeu cumprirá sua meta de inflação, isso significa uma taxa de juros real de longo prazo nula. Esses custos insignificantes de tomada de empréstimos deveriam conduzir a uma mudança dos pontos de vista sobre custos dos déficits fiscais. A Alemanha deveria, simultaneamente, refinanciar sua dívida a essas taxas de juro e tomar empréstimos para financiar investimento público adicional. Concentrar-se em déficits e 8


endividamento, sem atentar para a taxa de juros, não faz sentido. Da mesma forma, o foco em se o déficit francês desrespeita as regras é absurdo. Até mesmo os títulos franceses de 10 anos estão rendendo 1,1%. Os mercados estão gritando: tomem empréstimos. O grande desafio para a zona euro não é criar instituições, mas promover um ajuste e restaurar o crescimento. Não se pode esperar que os povos na zona do euro permaneçam indefinidamente pacientes. De fato, os riscos de continuada estagnação econômica são evidentes. A Alemanha tem razão em que os países do euro necessitam muita reforma de longo prazo. Mas a Alemanha está errada em acreditar que isso pode, por si só, gerar forte crescimento. As evidências resultantes de sua experiência com reformas é decisiva nesse ponto: isso não vai acontecer. Também não faz sentido, em vez disso, depender de superávits externos cada vez maiores. Uma política que pode funcionar isoladamente para a Alemanha (uma proposição discutível) não pode funcionar para uma economia mais de três vezes maior do que a da Alemanha. A zona do euro precisa alcançar um compromisso entre mais reformas e maior demanda. Ao fazê-lo, precisa reconhecer que estagnação persistente é uma grande ameaça à estabilidade. A zona do euro deveria assumir os riscos inerentes a tentar crescer. Esse é, agora, o caminho mais seguro.

Aumento da dívida e juros altos é o maior problema do Brasil, diz S&P FONTE RICARDO LEOPOLDO - O ESTADO DE S.PAULO 22 Outubro 2014 02h 06

A presidente para o Cone Sul da Standard & Poor's (S&P), Regina Nunes, afirmou ontem que o grande problema do País não é a questão internacional, mas sim a doméstica, especialmente o aumento da dívida pública e os juros altos. "O Brasil voltou a ter uma dinâmica de dívida crescente", comentou. "E esse crescente endividamento indica uma situação frágil. É preciso alongar o vencimento da dívida pública."

A executiva da agência de classificação de risco fez os comentários depois de participar de evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri). Segundo Regina Nunes, "é difícil o Brasil voltar a ser BBB sem melhora real da dinâmica da dívida pública." A nota soberana do País é BBB-, com perspectiva estável.

Foco. Ela acredita que as equipes econômicas dos dois candidatos ao Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB), estão cientes de que a gestão da política econômica vai atuar com o foco em buscar a estabilidade da dívida pública em relação ao PIB, fazer a inflação convergir à meta de 4,5% e elevar o patamar de crescimento do País.

"Com tudo isso, é possível ver que os investimentos de longo prazo vão avançar", destacou Regina. "É necessário atuar para a expansão dos projetos de infraestrutura em diversas áreas, como portos, aeroportos, rodovias e energia." 9


Indagada pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, se a perspectiva do País poderia se tornar positiva, caso essas condições favoráveis sejam registradas ao final de 2015, ela afirmou que sim. "Pode. Isso pode ocorrer em quatro ou cinco meses, não há um prazo definido. Mas é difícil", apontou. Regina Nunes destacou que, independentemente de quem for o candidato vitorioso, o que será observado são os ajustes da economia. "Não avaliamos o rating de um país em função dos mercados. Temos nossas análises permanentes que embasam este trabalho", comentou.

Ela destacou que compete também aos parlamentares auxiliar o próximo governo na implementação de reformas macroeconômicas relevantes, como a tributária. "A simplificação de impostos vai desonerar os custos das empresas ao lidar com tributos, que são muitos altos", disse.

De acordo com a executiva da S&P, a agência não prevê nenhuma alteração da nota BBB- da Petrobrás. Ontem a Moody's rebaixou o rating da estatal para Baa2, com perspectiva negativa. "O rating da Petrobrás acompanha a nota soberana. A empresa realiza investimentos imensos, muito importantes para o Brasil, que tem o apoio de sua realização pelo governo."

Moody's rebaixa nota da Petrobrás e mantém perspectiva negativa FONTE DANIELLE CHAVES - O ESTADO DE S. PAULO 21 Outubro 2014 17h 33

Com alto endividamento e cenário internacional desfavorável, a Petrobrás teve sua avaliação de crédito rebaixada pela agência de classificação de risco Moody’s. A agência atribuiu a decisão à uma piora nos indicadores financeiros, pressionados pela desvalorização cambial e pela “incapacidade” de repassar os custos e perdas acumulada nos últimos três anos com a defasagem no preço dos combustíveis. A decisão reforça o temor da perda do grau de investimento da companhia (nota considerada segura pelos investidores), além de ampliar as críticas à gestão financeira da Petrobrás a cinco dias das eleições. A agência revisou a classificação de Baa1 para Baa2. Na escala da Moody’s, assim como na da agência Fitch, são necessários mais dois rebaixamentos para que a companhia perca o grau de investimento. Já a nota concedida pela Standard&Poor’s a Petrobrás está no limite do descredenciamento. “Quando há alta alavancagem, resta pouca flexibilidade para lidar com uma situação em que os indicadores são diferentes do planejado. Quanto mais alavancagem, mais vulnerável fica a companhia”, diz a analista da Moody’s, Nymia Almeida. A alavancagem é medida pela relação entre o endividamento e a geração de caixa da empresa. A estatal espera fechar o ano com um nível de 44,7%, bem acima da meta estabelecida pelo conselho de administração, de 35%. O patamar não é atingido desde o terceiro trimestre de 2013. Em seu plano estratégico, divulgado em fevereiro, a Petrobrás estima que o indicador iniciará uma trajetória de queda a partir do próximo ano. 10


A Moody’s questiona as projeções e avalia que somente em 2017 haverá melhora. “A alavancagem ainda vai piorar e demorar bastante até reduzir. Não há um fato material que possa mudar nossa visão no curto prazo”, indicou Nymia. Governo. Em nota, a estatal informou que o rating, ainda grau de investimento, é “embasado por sua larga base de reservas e dominância na indústria do petróleo no Brasil”, destacando os avanços de produção no pré-sal. A Petrobrás avaliou que a nota considera um “suporte extraordinário do governo federal num cenário de estresse”. Fontes do conselho de administração dizem que o colegiado aguardava essa posição. “Não significa que o conselho quisesse, é claro. Mas o conselho estava de olho em um possível rebaixamento há muito tempo”, afirmou Silvio Sinedino, representante dos funcionários. Já outro conselheiro classifica a situação como “terrível” e avalia que, diante da tensão eleitoral, a Petrobrás não deve alterar seu plano estratégico até o resultado das urnas. A Moody’s atribuiu o rebaixamento à “incapacidade de repassar os custos relacionados aos derivados de petróleo importados, à desvalorização da moeda local e ao agressivo programa de investimentos”. A queda na cotação do barril de petróleo, negociado a US$ 86, também interferiu. A agência estima que a situação desfavorável pode ser duradoura, em um patamar de US$ 70. A agência negou relação com o calendário eleitoral. Mas as incertezas do período pressionam ainda mais o câmbio, que interfere em cerca de 70% da dívida da companhia. As pesquisas eleitorais também influenciaram a queda de 6,9% nas ações preferenciais da companhia no pregão desta terça-feira, 21. A analista Karina Freitas, da Concórdia Corretora, classificou como “atípico” o rebaixamento num período “conturbado” de eleições. “O fato de estar se posicionando agora, tendo recentemente revisado a perspectiva do rating do Brasil, pode sinalizar preocupação efetiva e mostrar que as coisas precisam melhorar de alguma forma.”

Conta de luz terá reajuste médio de mais de 17% na tarifa FONTE ANNE WARTH - O ESTADO DE S. PAULO 21 Outubro 2014 21h 45

A nova rodada de reajustes obrigatórios da conta de luz, autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), elevou a 17,63% o aumento médio da tarifa de energia de 68,7 milhões de unidades consumidoras em todo o País neste ano. Os chamados grandes consumidores, como indústrias, tiveram suas tarifas reajustadas em 18,20% na média. Nas residências, a conta de luz subiu 17,41% na média deste ano.

A alta média ordinária aprovada pela Aneel superou a projeção do Banco Central, que estima aumento de 16,8% nas tarifas de energia neste ano. O resultado final pode ser ainda maior, já que o cálculo considera os reajustes autorizados pela Aneel para 56 distribuidoras de energia elétrica em todo o País, desde o início do ano.

Até dezembro, outras oito distribuidoras ainda terão analisado o processo de reajuste tarifário pela Aneel. A principal delas é a Light, que atende cerca de 4 milhões de unidades consumidoras no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense. 11


Também terão suas tarifas reajustadas as distribuidoras Boa Vista Energia, Amazonas Energia, Companhia Energética de Roraima (CERR), Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), Centrais Elétricas de Rondônia (Ceron), Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre) e Companhia Sul Sergipana de Eletricidade (Sulgipe).

A Aneel aprovou reajustes para três distribuidoras. As tarifas da CPFL Piratininga terão aumento médio de 22,43%. Para grandes consumidores, o reajuste será de 24,35%. Nas residências, serão 20,98%. A companhia atende 1,6 milhão de unidades consumidoras em Santos, Sorocaba, Jundiaí e outros 24 municípios do litoral e do interior de São Paulo.

Com 1,7 milhão de unidades consumidoras, a Bandeirante Energia terá suas tarifas elevadas em 21,93%, em média. Para grandes consumidores, o reajuste será de 23,78% e para residenciais, 20,6%. A empresa atende 28 municípios de São Paulo nas regiões do Alto do Tietê e Vale do Paraíba.

Para os 70 mil clientes da DME Distribuição, de Poços de Caldas (MG), o aumento médio de 13,69%. Grandes consumidores terão alta de 15,44%, e residenciais, de 12,28%.

Banco Central. No último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado em setembro, o BC projetava elevação de 16,8% nas tarifas de energia elétrica neste ano. Foi a quarta revisão do BC. No fim do ano passado, a autoridade monetária projetava alta de 7,5%. Em abril, a previsão passou a 9,5%. Em seguida, subiu a 11,5% em maio e a 14% em julho.

Questionado sobre a projeção, o BC informou que suas previsões estão ancoradas não apenas nos reajustes tarifários, mas também em fatores sazonais, como o clima. Além disso, a autoridade monetária considera a inflação de preços livres e a alta de preços medida pelo Índice Geral de Preços (IGP). Pelo IPCA, índice oficial, a inflação da energia residencial acumula 13,19% até setembro.

A equipe econômica tem usado os reajustes concedidos pela Aneel para combater o discurso de que o governo controla a inflação segurando os chamados preços administrados, como gasolina e energia elétrica.

O aumento do custo da energia foi a principal causa dos elevados reajustes concedidos para as distribuidoras neste ano. Com a seca, o governo decidiu poupar água dos reservatórios das usinas hidrelétricas e acionar as térmicas, que geram energia mais cara. Praticamente, todo o parque de termelétricas está em funcionamento desde outubro de 2012.

Até agora, o maior reajuste autorizado pela Aneel foi o da Elektro. O aumento médio foi de 37,78%. As tarifas dos grandes consumidores subiram 40,79%, e a dos residenciais foram elevadas em 35,97%. A companhia atende 2,4 milhões de unidades consumidoras em 223 cidades de São Paulo e cinco de Mato Grosso do Sul. 12


Um em cada cinco inadimplentes faz nova dívida FONTE MÁRCIA DE CHIARA - O ESTADO DE S. PAULO 20 Outubro 2014 21h 11

O cenário do calote preocupa, apesar de a inadimplência do consumidor com os bancos ter se estabilizado em 4,4% em agosto, o último dado disponível, segundo relatório de crédito do Banco Central. Hoje quase a metade dos devedores (47,3%) pretende liquidar as pendências só no ano que vem e um em cada cinco brasileiros inadimplentes fez novas dívidas sem ter quitado débitos anteriores, o que provoca um efeito “bola de neve” no calote.

Os resultados fazem parte de uma pesquisa feita este mês com 110 mil devedores do banco de dados das 16 maiores empresas de cobrança do País, reunidas no Instituto Gestão de Excelência Operacional em Cobrança (Geoc). A pesquisa será apresentada nesta terça-feira, em São Paulo, no 10.º Congresso Nacional de Crédito e Cobrança, promovido pelo instituto. “O cenário piorou, apesar de a inadimplência ter ficado estável”, afirma Jefferson Frauches Viana, diretor do Geoc. Ele explica que, por causa da Copa, 2014 não foi um ano bom para a recuperação do crédito. “O primeiro semestre foi terrível. O índice de sucesso nas renegociações nos meses de junho e julho ficou entre 30% e 35% abaixo do resultado do ano passado.”

Além do evento esportivo, o avanço da inflação corroeu o poder de compra do consumidor e afetou o orçamento familiar. Para 41,2% dos entrevistados, este ano está pior do que 2013 e 32,6% dos brasileiros assumiram mais dívidas do que no ano anterior. Também houve um aumento no número de devedores e isso fica claro em outro resultado da pesquisa enfatizado por Viana: metade dos entrevistados informou que conhece mais de quatro pessoas com dívidas em atraso.

O aumento do endividamento e da inadimplência ocorreu não só pelo avanço do número de dívidas, mas também pelo “empréstimo do nome”. Mais da metade dos entrevistados (55%) informou já ter emprestado o seu nome para parentes e amigos que estavam impossibilitados de obter crédito e, destes, 76% ficaram com o nome “sujo” pelo não pagamento da dívida do seu parente ou amigo.

Saídas. Para equilibrar as despesas com as receitas, os inadimplentes estão recorrendo a várias saídas. De acordo com a enquete, 53,4% estão comprando menos itens supérfluos e 40,5% reduziram os gastos com lazer, como comer fora e ir ao cinema.

A “motogirl” e técnica em telecomunicações Mariana Miradouro Barboza, de 35 anos, por exemplo, conta que chega a atrasar a prestação do financiamento do carro, que tem uma taxa de juros menor, para compatibilizar suas despesas com as suas receitas. Ela também “joga” com as contas de telefone celular e do radiocomunicador para conseguir equilibrar o orçamento. “2014 está sendo um ano difícil: janeiro e fevereiro não teve muito trabalho de 13


entregas, depois veio a Copa e os negócios pararam. As coisas só começaram a esquentar depois da Copa do Mundo.”

Mariana diz que hoje não tem o seu nome negativado, mas no passado recente a sua situação estava pior. “Cheguei a ter mais de seis pendências e dez empréstimos”, conta. Ela diz que se descontrolou e fez dívidas para cobrir outras dívidas. Isso foi possível porque, nos cartões de crédito e nos cartões de loja, o crédito é pré-aprovado e a liberação do dinheiro ocorre automaticamente, sem necessidade de consultar a lista de devedores com pendências.

“Hoje não estou confortável, mas minha situação melhorou.” No passado, ela teve pendências que somavam R$ 20 mil para uma renda, na época, de R$ 1,8 mil. Atualmente, entre o emprego fixo e serviços de entrega, ela tira R$ 5 mil por mês.

Governo reúne dados para mostrar fim da recessão FONTE JOÃO VILLAVERDE - O ESTADO DE S. PAULO 22 Outubro 2014 05h 00

A presidente Dilma Rousseff tem em mãos um conjunto de indicadores econômicos do período entre julho e setembro que permitiriam ao governo federal cravar: a recessão técnica registrada no primeiro semestre acabou. A planilha com 20 indicadores de atividade, obtida pelo Estado, foi preparada pelo governo para subsidiar Dilma e também orientar a equipe da campanha eleitoral, chefiada pelo ministro licenciado da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

Não há, contudo, otimismo sobre a expansão do produto interno bruto (PIB) para este ano. Os técnicos avaliam que a economia crescerá algo entre os 0,27% projetado pelo mercado financeiro na pesquisa Focus e os 0,8% da última previsão do Banco Central. Mas há animação em relação à melhora verificada no terceiro trimestre. Um economista do governo, que falou sob condição de anonimato, resume: “É bom quando os números deixam de ser negativos depois de um início de ano tão difícil”.

No governo, onde oficialmente a recessão técnica, ou recuo do PIB por dois trimestres consecutivos, não é reconhecida, os números do terceiro trimestre têm trazido confiança aos gabinetes da equipe econômica. Tem sido festejado o indicador de PIB do Itaú Unibanco, que apontou uma aceleração - alta de 0,8% em julho seguida de nova elevação de 1% em agosto. Mesmo que o indicador tenha ficado zerado em setembro, o PIB terá aumentado no conjunto do trimestre.

Este é o cenário de melhora dos indicadores que tem sido apresentado a empresários de diversos setores nas últimas semanas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, seu secretário de Política Econômica, Márcio Holland, e também por Mercadante, o coordenador da campanha de Dilma. 14


Na planilha, há indicadores de todo tipo. Estão desde os índices sobre fluxo de veículos pesados em rodovias até cálculos mensais do BC e do banco Itaú Unibanco sobre PIB, passando pela produção industrial, licenciamento de veículos e dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Exceções. Entre julho e agosto, meses onde todos os 20 indicadores já estão disponíveis, há apenas quatro com sinal negativo - isto é, indicando queda. Em julho, as vendas no varejo restrito caíram 1%, feito o ajuste sazonal. Mas a queda, pondera-se, foi imediatamente compensada pela elevação de 1,1% do mesmo indicador em agosto. Para setembro, o governo avalia ter sido registrada “uma leve alta”, mas aguarda dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O fluxo de veículos pesados em rodovias, que indicam incremento dos negócios, foi outro dado cuja queda, em agosto, foi compensada. Depois de expandir-se 3,2% em julho, o indicador da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR) recuou 0,6% em agosto. Em setembro, porém, teve alta de 0,5%.

Dos dez indicadores de setembro, apenas um registrou queda até aqui: a expedição de papelão ondulado, termômetro relevante para a produção industrial. Em setembro, houve queda de 0,1% na comparação com agosto. Nos dois meses anteriores, no entanto, a Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO) anunciou altas de 11,4%, em julho, e de 1,1%, em agosto.

Desde o início do segundo turno, reuniões técnicas têm sido realizadas no Ministério da Fazenda, tanto em Brasília quanto em São Paulo. Também em encontros informais com empresários, ao longo da campanha, os técnicos do governo têm apontado para a melhora dos indicadores, no anseio de recuperar a confiança do setor privado e, assim, ampliar a taxa de investimentos.

Desde o início do governo, em 2011, a presidente Dilma Rousseff anunciou nada menos do que 34 pacotes com medidas para estimular a economia. Seu 35.º está pronto para ser anunciado, e consiste na unificação e simplificação de dois dos tributos mais complexos do Brasil - o PIS e a Cofins. A mesma medida é defendida por seu rival na disputa pela presidência, Aécio Neves (PSDB).

Visão equivocada confunde eleitor Fonte Jornal Valor Econômico Maria Clara R. M. do Prado 22/10/2014 às 05h00

As democracias desenvolvidas - solidificadas há pelo menos um século - evoluíram para o bipartidarismo na disputa pelo poder político, seja na esfera do Executivo, seja no Legislativo. É 15


o caso dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e de outros países, onde a preferência do eleitorado se divide entre dois polos, identificados pelo que os difere ideologicamente. As eleições são decididas pelos eleitores "swings", ou seja, por uma pequena margem de votantes que costuma oscilar de um lado para outro. As campanhas eleitorais focam, essencialmente, no voto dessa pequena parcela do eleitorado. A estreita margem entre os candidatos nas pesquisas neste segundo turno da eleição presidencial brasileira tem apresentado um perfil similar ao das democracias mais desenvolvidas. Teria a jovem democracia brasileira conseguido alcançar um estágio mais avançado nesses 25 anos de existência, o mais longo período democrático contínuo do país em 514 anos de história? A resposta é não. Os motivos são vários. Para começar, o bipartidarismo ou um sistema composto por poucos e expressivos partidos, é inexistente. Os 28 partidos que terão assento no Congresso Nacional a partir de janeiro - com 18 diferentes agremiações no Senado - são potenciais candidatos a replicarem o comportamento padrão do "é dando que se recebe", das maracutaias, da compra de votos, da prevalência do privado sobre o público. Além disso, a proliferação partidária abre espaço para esdrúxulas composições regionais que comprometem a identidade política dos partidos e confundem o eleitorado. Esse "saco de gatos", para dizer o mínimo, está longe de caracterizar uma democracia evoluída. Segundo, com que plataformas políticas se apresentam os grandes partidos brasileiros? Nenhuma. Nem mesmo os partidos dos dois contendores finais desta eleição presidencial têm propostas claras. Pior, perderam a cara que tinham e não colocaram nenhuma outra no lugar. Com o desaparecimento da imagem imaculada do PT e o distanciamento cada vez mais para a direita do "socialismo" que uma vez deu nome ao PSDB, que bandeiras podem defender? A imagem do PT colou no Bolsa Família, enquanto que a do PSDB está intimamente ligada à defesa do livre funcionamento do mercado. O país, pode-se dizer, dividiu-se em duas turmas: a dos liberais não vê com bons olhos os programas de redistribuição de renda, enquanto que a turma do Bolsa Família despreza as vantagens do "laissez-faire". É um debate muito antigo. Em pleno século XXI, reverberam-se no Brasil ideias que remontam às discussões do início do século XIX, na Inglaterra, em torno do sistema de Speenhamland (cidade do Berkshire, onde se definiu em 1795 um esquema de ajuda aos camponeses com o objetivo de aliviar a pobreza). Os liberais posicionaram-se radicalmente contra, alegando que isso comprometeria o desenvolvimento do mercado de trabalho, enquanto que os defensores buscavam assegurar um mínimo de apoio que propiciasse melhoria de oportunidades para os mais pobres. O nefasto impacto social e econômico da pobreza foi imortalizado naquele século pelos escritos de grandes autores: Charles Dickens (com "Oliver Twist", em 1839), Victor Hugo (com "Les Miserábles", em 1862) e Mark Twain (com "Adventures of Huckleberrry Finn", em 1885). A consciência popular despertada pelos livros certamente contribuiu na época para o aperfeiçoamento dos programas de redistribuição de renda nos países que hoje podem se gabar de um alto nível de desenvolvimento. Mas, como se sabe, aquilo não foi suficiente para que se consolidasse o avanço. A economia cresce com investimentos, que geram lucros e empregos, que suscitam o consumo, que amplia o mercado e estimula novos investimentos. Esse é o ciclo básico do capitalismo que desde 1989, com a queda do muro de Berlim, passou a mover praticamente todo o planeta. Infelizmente, por força da sua história, baseada desde sempre em forte concentração de renda, o Brasil tem evoluído muito lentamente. Os resultados das políticas sociais recentes, como se sabe, não foram suficientes para tirar o país da ribalta das piores distribuições de renda do mundo. Isso limita a perspectiva de um ciclo virtuoso e duradouro de desenvolvimento. Pouca renda distribuída entre muitos emperra o funcionamento da economia porque limita a expansão do mercado a um nível muito abaixo do potencial. A garantia do livre mercado, por sua vez, é a outra condição necessária para a evolução econômica. Não há contradição aqui. São complementares. 16


Portanto, políticas voltadas para a melhoria da distribuição de renda e iniciativas de incentivo ao livre funcionamento dos mercados deveriam andar juntas, como propostas básicas de qualquer programa de governo. Ao serem apresentadas como divergentes, visando a polarização, levam os partidos a sucumbirem a uma visão simplista e equivocada que relega o país à mesmice que se perpetua. Quem sabe nas próximas eleições, em 2018, os eleitores não terão a chance de serem apresentados a programas partidários mais densos e consequentes, com posicionamentos definidos sobre as diversas questões de interesse nacional? Mais importante ainda, quem sabe os eleitores não passarão a se defrontar com seis ou sete partidos políticos, no máximo, na disputa para os cargos do Executivo e do Legislativo? Seria um grande avanço à democracia brasileira. Que venha a reforma política!

A curva de Rousseff Fonte Jornal Folha de São Paulo 22/10/2014 02h00 Não tenho, é claro, a menor ilusão de que a presidente da República leia minhas colunas. Aliás, considerados seus maus-tratos à língua, não tenho a menor ilusão que leia qualquer coisa. Ainda assim continua a ser surpreendente (ou seria "estarrecedor"?) sua insistência em temas há muito demonstrados equivocados, em particular a suposta oposição entre inflação e desemprego, como explorado neste espaço em meados do ano. À época ela alegou que a fixação da meta de inflação em 3% levaria o desemprego "lá pelos 8,5%, 9%, 10%, 11%, 12%. Por aí". Como se depreende da afirmação acima, precisão não parece ser exatamente o forte da presidente, mas, mais recentemente, voltou à carga, agora argumentando que o desemprego chegaria a 15%, aumentando assim o intervalo de confiança de suas "projeções" de 3,5 para inimagináveis 6,5 pontos percentuais, uma margem de erro de fazer corar qualquer pesquisa eleitoral. As implicações da peculiar matemática presidencial podem não ter ficado claras à primeira vista, mas são contundentes. Como o IPCA deve fechar o ano na casa de 6,5%, buscar uma meta de 3% corresponderia a uma redução de 3,5 pontos percentuais da inflação. Por outro lado, dado que o desemprego se encontra na faixa de 5%, sua elevação para 8,5% corresponderia também a 3,5 pontos percentuais, ou seja, na "estimativa" mais otimista, cada ponto percentual a menos de inflação "custaria" um ponto percentual a mais de desemprego. Já no caso mais pessimista, a elevação do desemprego atingiria dez pontos percentuais (de 5% para 15%) para a mesma redução (de 6,5% para 3%) da inflação, ou seja, cada ponto percentual a menos de inflação "custaria" 2,9 pontos percentuais a mais de desemprego! Em outras palavras, o coeficiente que captura a presumida troca entre inflação e desemprego implícita na curva de Rousseff varia de 1 a 2,9, uma diferença abissal (alguns diriam "estarrecedora"). À parte o erro conceitual primário (não há troca persistente entre inflação e desemprego, conforme estabelecido por mais de 40 anos de pesquisa na área), as afirmações presidenciais transparecem um descaso desumano ("estarrecedor", talvez) com os números.

Fosse eu um diplomata, diria que as estimativas poderiam ser melhoradas; como não sou, posso afirmar: trata-se de números chutados (isso mesmo, c-h-u-t-a-d-o-s!), sem a menor 17


preocupação com qualquer referência à realidade, sem base estatística e, portanto, desprovidos da mínima relevância. Mesmo com o devido desconto que se dá à verdade no período eleitoral (coisa triste de se dizer), essa posição é reveladora. A atual administração demonstra o mais profundo desprezo para com os números. Estatísticas só valem se corroborarem a visão preexistente, jamais como forma de testá-la e assim permitir, caso necessário, correção dos rumos. Insistimos há anos que o atual arranjo de política econômica (a tal "nova matriz macroeconômica", algo sumida de retórica governamental recente) redundaria apenas em menos crescimento, inflação mais alta e desequilíbrios externos crescentes. As evidências a esse respeito eram visíveis desde 2012, ao menos, expressas no então "pibinho" de 1% (que hoje seria motivo de comemoração) e na inflação que já então teimava em não retornar à meta. Mesmo assim, foram ignoradas. Dados ruins das contas fiscais têm sido escamoteados e agora até mesmo os números de distribuição de renda se tornaram sujeitos a interesses políticos de curto prazo, culminando com a postergação da divulgação de pesquisas do Ipea sob o ridículo argumento de que violariam as leis eleitorais. O resultado é que, cada vez mais, temos que navegar sem instrumentos, enquanto se nega à população a possibilidade de avaliar os rumos do país. Nesse sentido, as "estimativas" dos parâmetros da "curva de Rousseff" não são a exceção, mas a regra no modelo de condução desastrada de política econômica no Brasil.

"Brasil deixou pré-sal pouco competitivo", diz especialista Fonte Jornal Folha de São Paulo RAUL JUSTE LORES de WASHINGTON 22/10/2014 às 02h 01 A Petrobras deixou o pré-sal "pouco competitivo" e está "sobrecarregada" com atribuições demais, afirma o consultor em energia David Goldwyn, que foi o enviado especial do Departamento de Estado americano para negociações em energia durante a gestão de Hillary Clinton (2009-2013). Desde que o Brasil descobriu suas reservas, "México e o Noroeste da África descobriram as suas e estão usando modelos de exploração mais competitivos, onde o retorno dos investimentos será maior", diz. Para Goldwyn, que dirige o Grupo Consultor em Energia do Atlantic Council, um respeitado centro de estudos, o preço do petróleo continua a cair, mesmo com a tensão no Oriente Médio por causa de demanda estagnada e de um aumento enorme da produção, especialmente nos EUA –o país caminha a ser o maior produtor mundial de petróleo. Ele recebeu a Folha em seu escritório, em Washington.

Folha - A Petrobras perdeu muito valor de mercado, e o leilão do pré-sal atraiu poucos concorrentes internacionais, com exceção dos chineses. O que aconteceu? David Goldwyn - O desafio do pré-sal é ser competitivo. Ao mudar o regime fiscal, exigir muito conteúdo local e mudar as regras de operação, o Brasil deixou essa exploração muito mais cara que a exploração no México ou no noroeste da África. Os leilões do pré-sal foram decepcionantes. As empresas que queriam ir para o Brasil e que estavam interessadas agora estão olhando oportunidades em outros países. O preço do petróleo tem caído. O pré-sal corre o risco de ficar pouco competitivo? 18


A obrigação de se usar muito conteúdo local aumenta muito os custos dos investimentos. A obrigação da Petrobras operar, além de ser um enorme peso administrativo para a Petrobras, prejudica a capacidade das empresas estrangeiras de gerenciarem os custos. Tudo isso atrasa prazos e tempo é dinheiro. Tudo isso coloca o petróleo do pré-sal na curva mais alta do preço do petróleo. Quanto mais elevado o preço para produzir, mais dificuldade os projetos terão para competir com o resto do mundo. O Brasil criou um ambiente menos competitivo para o pré-sal. Não sou otimista quanto a novos investimentos. O México está entrando no negócio do petróleo em águas profundas, com menos conteúdo nacional, estrangeiros operando, mais concorrência. O preço será melhor. Mas, a longo prazo, o preço do barril do petróleo deve estar acima dos US$ 100 e um preço acima de US$ 80, US$ 90 deixa o petróleo do pré-sal viável. Há demanda para esse petróleo.

A China será a salvadora do pré-sal? O Brasil parece confortável com investidores passivos que confiam totalmente na Petrobras. Nas mãos dos chineses ou de fundos soberanos, que enfrentam menos obstáculos do que empresas de capital aberto [que estão em Bolsa]. Mas, agindo assim, o Brasil renuncia a receber inovação que só vem da concorrência com operadores estrangeiros. O que dirigiu o milagre do petróleo no Brasil foi abrir o offshore para investidores estrangeiros. A Petrobras aprendeu muito, ela não inventou a tecnologia para explorar águas profundas. Ultimamente o Brasil fechou essa abertura com suas novas políticas.

Como observador de fora, porém, admito que o Brasil impressiona pela sua flexibilidade. Vocês mudam de decisões, de curso, rapidamente, se adaptam rápido. Os EUA não são tão ágeis. Às vezes demoramos 40 anos para mudar uma política errada. Qual a percepção internacional da Petrobras? Uma vez perguntei a um alto funcionário do governo do Brasil se essa estratégia na Petrobras era para preservar as reservas ou promover desenvolvimento imediato e crescente, e ele me disse que era a segunda opção. Mas parece o oposto. A Petrobras está sobrecarregada. Por quê? Empresas eficientes fazem escolhas de portfólios. A Petrobras precisa de concorrência. Ela tem que decidir sobre muita coisa, como nunca antes. Quando você não enfrenta competição, seus custos aumentam e a eficiência diminui. As intenções do governo eram de fortalecer a economia brasileira e maximizar a produção, com uma fonte de renda justa para o Estado brasileiro. Mas isso não foi feito de forma eficiente. Poderia ter sido feito com royalties e impostos, mas decidiram controlar a produção, o que não é o curso mais eficiente. O colapso das empresas de Eike Batista influenciou essa má imagem do setor? Havia preocupações de corrupção à transparência, mas elas já são descontadas em diversos países. O que houve com o Eike foi uma excessiva aposta em algo que parecia atraente. O mercado só lê o retorno dos investimentos. Antes disso, continua apostando. Quem não se lembra da [petroleira americana] Enron [que pediu recuperação judicial nos EUA em 2001, quando estourou um escândalo contábil, e deixou de existir em 2006]?

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Os preços controlados da gasolina no Brasil acabaram deixando menos competitivo o álcool, e a indústria do etanol no Brasil está em queda. Ela tem chances de se recuperar? É irônico que os EUA hoje exportem etanol de milho para o Brasil. Mas acho que faltam benefícios para o clima com o etanol de milho. O etanol de cana de açúcar produz menos intensamente CO2 e deveria ter um papel maior no mercado global. O declínio do setor por culpa dos preços de gasolina no Brasil é uma perda para o Brasil e para o mundo, porque era um setor inovador e ambicioso, e uma indústria que queria ser parceira dos EUA. Talvez eles terão que investir aqui. Apesar das tensões causadas pela milícia Estado Islâmico e da turbulência no Oriente Médio, o preço do petróleo está caindo. Por quê? Os EUA tiveram um fenomenal crescimento na produção de petróleo, de 3 milhões de barris diários a mais nos últimos quatro anos. Só a Arábia Saudita uma vez em toda sua história teve uma alta assim. Acrescentaremos um milhão de barris diários a essa produção no ano que vem. Os países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) têm produzido sem parar, o Canadá está produzindo mais, e a Líbia cresceu muito este ano. Tudo isso compensa as interrupções no Iraque, no Sudão, a produção menor na Venezuela e o Irã sob sanções. Com a Europa estagnada e a China desacelerando, a demanda não consegue empurrar os preços para cima. A Arábia Saudita tampouco reduziu a produção. Por quê? A sabedoria convencional sugeriria que a Arábia Saudita deveria cortar a produção para manter os preços, mas ela não tem muito interesse em aumentar o orçamento para exploração no Iraque ou no Irã e quer manter sua cota de mercado, renunciando a um aumento do preço do petróleo. De qualquer maneira, o preço internacional pode subir ou baixar entre US$ 20 a US$ 30 por mudanças para bem ou para o mal no Iraque, Irã, no Sudão, na Venezuela e em mais alguns poucos países. Há escassez de água em diversos Estados americanos, e o uso da fraturação hidráulica para explorar gás e petróleo gasta muita água, além de contaminá-la, segundo boa parte dos especialistas. Isso não será uma barreira para a sua exploração? A falta de água é um assunto importante, mas a indústria está se adaptando, usando cada vez mais água salgada e reciclando água, onde ela é mais necessária como no Texas ou em Oklahoma. Mas a maior barreira para essa indústria é preços baixos e pouca demanda, que não deixem economicamente viável o negócio. A Argentina tem reservas muito mais extensas de gás que o Brasil. Ela pode se tornar uma potência na área? O gás é um recurso suficientemente atraente para levar investimentos, mesmo que na história argentina nada sugira que seja um lugar confiável a longo prazo. Mas empresas petrolíferas tomam riscos, e o sucesso da Argentina vai depender do regime de impostos, se vão permitir exportações, se haverá preço de mercado e se você vai poder tirar o dinheiro que investir lá. Mas é um país volátil, de alto risco. Com os preços de petróleo e gás em queda, energias renováveis como a solar e a eólica têm chance de se tornar competitivas no futuro próximo? A energia solar está fazendo muitos avanços, a tecnologia se desenvolve rapidamente e tem mais financiamento. Um nicho que não para de crescer é o leasing de energia solar para consumidores domésticos. Por enquanto, a solar está crescendo mais que a eólica.

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Edmar Bacha: Por que voto em Aécio Fonte Jornal Folha de São Paulo 22/10/2014 02h 00 Meu voto em Aécio se justifica de duas maneiras. A primeira é que, se Dilma tiver mais quatro anos, acabará de quebrar o país e nos encaminhará para uma séria crise política e social. Não é difícil ver o porquê. Nos quatro anos de seu governo, o crescimento da economia foi o menor de todos os períodos presidenciais completos de nossa história republicana desde Floriano Peixoto. A culpa desse desempenho medíocre não vem de fora, pois nossos vizinhos sul-americanos (exceto pela Argentina e Venezuela que seguem políticas parecidas com as de Dilma) vão muito bem, obrigado. Neste ano, o crescimento do PIB brasileiro deverá ser zero, algo inédito na história do país em períodos sem crise cambial. A culpa também não é da equipe econômica, pois ela apenas executa com docilidade a política determinada em cada detalhe pela presidente. Foi Dilma quem retirou a autonomia do Banco Central; criou um orçamento paralelo de alquimias contábeis entre o Tesouro e os bancos públicos; destruiu a capacidade de investimento da Petrobras e da Eletrobras; aparelhou partidariamente as agências reguladoras; fez os leilões de concessão de infraestrutura se tornarem um fiasco quando não uma fonte adicional de corrupção. O resultado disso é a queda do PIB, a alta da inflação, a derrubada do investimento, a desindustrialização, o déficit externo e o aumento da dívida pública. Dilma promete um governo novo, com ideias novas. Mas como faria isso, se está convencida de estar no caminho certo? Se fosse reeleita, continuaria colocando em prática suas arraigadas convicções equivocadas sobre economia e administração pública. O resultado seria manter o país ladeira abaixo, com frustração popular, recessão, desemprego e inflação. Felizmente, isso não vai acontecer, porque tem Aécio Neves no meio do caminho. Após 12 anos de "nós contra eles", que lembram o "ame-o ou deixe-o" da ditadura, Aécio é a esperança de reconciliação nacional. Sua história política é similar à de seu avô, Tancredo Neves, que sempre buscou a união dos extremos, o apaziguamento das diferenças, o convencimento pelo argumento, e não pela força. Todo o ódio que o marqueteiro de Dilma fez destilar nessa campanha eleitoral sórdida será apagado, e Aécio, como fez em Minas Gerais, governará com competência, sem rancores ou partidarismos. Por sua experiência no governo de Minas, Aécio sabe que políticas de inclusão social são um imperativo. Apesar da propaganda do governo sobre "a nova classe média", o Brasil continua a ser uma Belíndia uma mistura da pobreza da Índia com a riqueza da Bélgica. Dados do Banco Mundial mostram que o Brasil mantém uma das mais desiguais distribuições de renda no mundo. As informações que a Receita Federal finalmente começa a liberar revelam que a concentração de renda no país é bem maior do que a indicada pelas pesquisas domiciliares (Pnad) e ela não se está reduzindo, ao contrário do que dizem os arautos do governo Dilma. Aécio sabe também que, para superar a pobreza, ao lado de uma política de transferência de renda é fundamental ter uma estratégia de crescimento equitativa e sustentável que leve o país, ao longo de uma geração, ao nível de renda do mundo desenvolvido. Para isso precisamos restabelecer a estabilidade econômica e o equilíbrio das contas públicas e externas. Precisamos atrair o setor privado para investimentos maciços em infraestrutura, dar a nossas indústrias condições de competir no mercado internacional e, principalmente, melhorar nossos sistemas de educação, segurança e saúde. 21


Em seu programa de governo, Aécio tem propostas exequíveis para enfrentar esses desafios. Contará com uma equipe de auxiliares à altura da nobre tarefa de refazer a união entre os brasileiros e recolocar o país na rota do desenvolvimento.

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