SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 29 DE SETEMBRO DE 2014
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Para eleitor, entraves para melhorar de vida são culpa do governo Fonte Jornal Valor Econômico Flavia Lima de São Paulo A vontade de mudança sinalizada por boa parte do eleitorado vem menos dos erros de política econômica cometidos pelo governo e mais de uma visão que atribui a melhora de vida inegável ocorrida nos dois governos de Lula e no primeiro ano de Dilma Rousseff a mérito próprio. Mas quando essa melhora perde o ímpeto, o mesmo eleitor atribui toda a culpa ao governo, avalia o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. "Eu posso ir mais longe, mas o sistema não deixa. Essa é a percepção", diz Gonçalves, eleito economista do ano pelo Ordem dos Economistas do Brasil. Professor de história econômica na FEA-USP, Gonçalves diz ser óbvio que a economia piorou e isso conta. Dentre os erros do governo, destaca a disposição de seguir cortando o juro em um momento em que a inflação recobrava força, além do investimento, que não andou. Segundo Gonçalves, que participou da Secretaria do Tesouro Nacional entre 1986 e 1987 e foi assessor econômico da Fazenda na gestão de Zélia Cardoso de Mello (1990-91), um eventual governo Marina Silva vai tentar "fazer algo ortodoxo", enquanto Dilma deve ajustar a parte fiscal. Para ele, 2015 pode ser um ano difícil. "Espero estar errado", diz. Leia a seguir trechos da entrevista. Valor: É o desempenho da economia que está fazendo o eleitor buscar mudanças? José Francisco de Lima Gonçalves: Não. É menos a economia do que a imagem geral do governo. Óbvio que a economia piorou e isso conta. Mas é muito mais a imagem do governo, da Dilma. A melhora da economia, inegável do Lula até os dois primeiros anos da Dilma, também melhorou a vida das pessoas. Muita gente atribui essa melhora a seus méritos, não à economia. Quando isso perde ímpeto e para de melhorar, o eleitor afirma que continua se esforçando, mas tem alguém o prejudicando, que é o governo. 'Eu posso ir mais longe, mas o sistema não deixa'. Essa é a percepção. Valor: Em termos de política econômica, a avaliação faz sentido? Gonçalves: As coisas não estão boas. Existe uma expectativa de que a inflação deveria ser 4,5% e não é. Logo, é algo que não está bem. Por outro lado, há um componente grande que sugere que a inflação não é 4,5%, que é muito difícil alcançar isso no Brasil. Há um sistema de preços extremamente dependente da taxa de câmbio e da indexação. As duas coisas são importantes na dinâmica da inflação. O Plano Real não desindexou a economia. Em momentos de real com valorização forte, se conseguiu melhorar a trajetória de inflação e a indexação foi irrelevante. Mas bastou o câmbio andar um pouco e commodities subirem lá fora que a inflação volta a se acelerar por conta da indexação. Valor: Pesam mais componentes estruturais na inflação do que a política econômica? Gonçalves: Tem os dois. No primeiro ano de governo Dilma, a política econômica foi como o mercado gosta: juro alto, superávit primário mais do que suficiente. Para não ter saudades do [Antonio] Palocci. No segundo ano, veio a frustração com investimento do setor público, algo que fica claro na Petrobras e na Eletrobras. Passou para o segundo semestre do segundo ano e eu me perguntei: cadê o investimento do Petrobras? E aí como isso não anda e ainda se mantém o real valorizado, se vai arrebentando a atividade doméstica com a indústria desacelerando e o crescimento do setor de serviços como reflexo de uma redistribuição de renda que cria uma demanda por serviços mais básicos e de produtividade muito baixa. E isso é claro. Se sou metalúrgico e viro cabeleireiro vou cortar muitas orelhas antes que minha produtividade melhore. E como os serviços são não transacionáveis, não tem como a inflação 2
não ser atingida. Isso é erro? Até certo ponto, pois esse governo entende que foi eleito para redistribuir renda e tem que lidar com mais inflação. O problema é que o pessoal beneficiário desse movimento acha que tudo veio da sua capacidade. Não sou eu que compro automóvel, é o governo que congestiona as ruas, porque dá incentivos à compra de automóvel. A visão é sempre sobre os "outros". Crédito, desde que seja para mim, tudo bem. Valor: Houve erro do governo? Gonçalves: O que eu acho é que o governo usou crédito para sustentar a demanda e foi longe demais nisso. O ciclo de duráveis foi mais forte, mas também mais curto, fortalecendo a sensação de que a coisa piorou. Eu faria algo mais suave. No lugar de olhar para as estatais como fonte de investimento, puxando toda a cadeia produtiva ligada ao setor de energia e de serviços em que a produtividade é maior, se usou crédito barato. Também acho que foi um erro enorme a intervenção no setor elétrico. E como o governo começou a perder na coisa da atividade e teve que começar a mexer em incentivo, foi piorando a coisa fiscal, com IPI, desoneração a folha etc. Há esse crescimento em serviços e dois choques de alimentos - que eu não entendo como os colegas dizem que não é choque - e piora uma situação que já era complicada. E aí veio o erro do Banco Central em ter continuado a baixar a taxa de juros quando a inflação já se mostrava mais forte. É só olhar a curva de inflação à época. Deveria ter parado quando o juro estava em 8,5% ou 9%, que foi quando a inflação virou. Valor: O BC errou quando começou a baixar o juro em 2011? Gonçalves: Ele começou certo lá em 2011, porque o mundo estava desacelerando. Os economistas erram o crescimento do mundo há três anos. E este ano erraremos de novo. Valor: O mundo é um dos argumentos do governo para explicar por que a gente não cresce... Gonçalves: Ignorar o mundo eu acho um pouco de exagero. O que há é um excesso de capacidade na indústria europeia, isso sem falar na China e nos EUA. Todo mundo que tem indústria está sofrendo com isso. A Alemanha desacelera, o alemão vai ao mercado global de bens de capital e oferta bem de capital com desconto em euro e financiamento a taxa de juro europeia. Não tem empresa brasileira que consiga ofertar isso. E nossa situação vai piorar por causa da China, que está desacelerando: vamos exportar menos e ter concorrência das importações. Valor: E a desoneração da folha de pagamento, como o sr. avalia? Gonçalves: A desoneração foi uma tentativa que não deu certo. O governo fez e o pessoal falou, obrigada, vou colocar no bolso. Porque já se estava na incerteza com relação ao crescimento. Se não vou vender, não vou produzir. Acho que para o governo vai ser mais difícil voltar atrás, mas se acaba voltando lentamente. Valor: O sr. vê alta do desemprego? Gonçalves: O importante é quanto tempo a renda familiar aguenta sustentando menos gente da família fora do mercado de trabalho. O que há são sinais. Há um sinal que gosto de olhar, que é a curva de salário de admissão e de demissão. Hoje, na média, se demite um salário mais alto e se contrata quem ganha menos. Mas mesmo caindo o salário não se pode dizer que estamos indo para um colapso do emprego. O ponto é quando a coisa piorar em serviços. E acho que vai piorar tão rápido quanto melhorou. Não tem como sustentar emprego sem investimento e isso que é o complicado. Num ambiente de desânimo, tem que ser algo público, que banque o prejuízo. Então, é o contrário do que as pessoas esperam: não é menos, mas mais subsídio, porque ninguém vai correr o risco. Só assim melhora. 3
Valor: Como o sr. enxerga um eventual governo de Marina Silva? Gonçalves: Eles vão tentar fazer algo ortodoxo e eu espero que até lá eles descubram que vai ser muito difícil para não chegar com falsas expectativas. Em dois meses pode ficar claro que [o resultado] não vem e vai haver frustração grande do mercado com a dificuldade dela. Esse é risco: a expectativa que se cria e a dificuldade de lidar com as coisas. Valor: E se Dilma for reeleita? Gonçalves: O governo deve ajustar a parte fiscal. Na verdade, o ajuste já começou. A queda do investimento é parte dele. Qualquer coisa daqui para frente, é uma reação de governo, seja ele quem for. Valor: O sr. não parece muito otimista... Gonçalves: Não sou tão otimista com relação a nada. Câmbio, juro, inflação, atividade nada, independentemente de quem ganhe as eleições, mas com timing diferentes. Com a oposição, vai demorar um pouco mais para ficar ruim, porque a expectativa é positiva. Vejo pressões salariais dos funcionários federais para o ano que vem, com mais problemas para a área fiscal. O ano de 2015 pode ser difícil. Espero estar errado.
Austeridade fiscal é o caminho para o Brasil sair da estagnação econômica? Sim Fonte Folha de São Paulo 27/09/2014 02h 00 A política econômica no Brasil descarrilou desde fins de 2011, e a economia adoeceu como consequência. Apesar do bom começo do governo Dilma, lidando da maneira correta com os excessos fiscais, para fiscais e inflacionários de 2010, tudo foi sendo revertido nas áreas da política monetária, fiscal e cambial, sem explicações plausíveis. A volta do intervencionismo às antigas na microeconomia e o abandono do rigor fiscalmonetário gerou ineficiências e solapou a confiança dos empresários. Deu no que deu: uma média de crescimento abaixo de 2% e uma inflação resiliente, estacionada na região dos 6%. Culpar o cenário externo não faz nenhum sentido, dado que os países similares ao Brasil cresceram bem mais com muito menos inflação no mesmo período. É possível reverter o quadro. O problema é que com a macroeconomia do jeito que está, nada mais funciona direito. Recolocá-la nos trilhos constitui a famosa condição necessária, ainda que não suficiente, para a retomada do desenvolvimento. E no âmbito das políticas macro, o nó górdio é claramente o fiscal. Uma política fiscal expansionista, caracterizada por superávits primários cada vez menores, gera pressão de demanda na economia, o que significa que para se controlar a inflação, juros reais mais altos são necessários se eles forem insuficientes, como nos últimos anos, é a inflação que não recua, como vemos. Além disso, como a demanda do governo recai mais pesadamente sobre os bens não comercializáveis, ela pressiona mais os preços nesse setor. O preços de bens não comercializáveis, relativamente mais altos, geram apreciação cambial e déficits externos, pois a taxa de câmbio real é dada pela razão entre preços comercializáveis e não comercializáveis. Assim, uma política de austeridade fiscal acabaria com dois problemas inflação e déficit externo– numa só cajadada. Alguns economistas citam o consenso a favor de uma política fiscal expansionista na Europa para seguirmos a mesma estratégia aqui. Em situações de falta crômica de demanda, expansionismo fiscal é, de fato, bem-vindo. 4
Na Europa, o sinal de demanda fragilizada é claro: inflação abaixo de 1%. Mas, aqui, o diagnóstico é o oposto, pois com a inflação rodando acima de 6%, como pode alguém falar em demanda insuficiente?! O crucial para quem vai assumir o governo no ano que vem é que não dá para começar o jogo apenas com promessas de boas intenções. Promessas dessa natureza são fortemente descontadas pelos mercados e, portanto, não levam a quedas de prêmio de risco e de juro longo capazes de desencadear um ciclo positivo na economia. Isso significa que um sinal crível precisa ser emitido imediatamente. Mas como? Para começar, revertendo as desonerações fiscais desse governo –que em nada ajudaram a economia, rever as regras das concessões de pensão morte que no Brasil atingem bizarros 3% do PIB, enquanto no mundo, em média, não ultrapassam 1% do PIB, e montar um cronograma de diminuição contundente dos subsídios concedidos pelo BNDES, que custam cerca de R$ 30 bilhões ao ano aos cofres públicos. Essas três medidas precisam aterrissar em Brasília em 1º de janeiro de 2015. Outras podem e devem ser mais amplamente discutidas com a sociedade ao longo do tempo, como um mecanismo que freie o crescimento das transferências em termos reais, para que o Orçamento público possa contemplar mais gastos em educação, saúde, infraestrutura, combate à pobreza e também, lá na frente, menos impostos. Chega de demagogia fiscal, ela ficou muito cara. O país precisa voltar a crescer.
Mais otimista que o mercado, BC vê recuo da inflação para 5,8% em 2.015 FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO POR DINHEIRO PÚBLICO & CIA29/09/14 08h 49 Com a economia ainda em ritmo lento, o Banco Central projeta que a inflação recuará no primeiro ano do próximo governo, mas permanecerá acima da meta oficial. Os dados foram apresentados nesta segunda-feira (29), no Relatório Trimestral de Inflação. Na comparação com o documento de junho, há mais pessimismo com a economia; o BC, porém, ainda é mais otimista que os investidores e analistas do mercado. A estimativa para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, a renda gerada no país) neste ano foi reduzida de 1,6% para 0,7%; exatamente uma semana antes, o Ministério do Planejamento havia calculado 0,9%. Os números são bem superiores às expectativas recém-divulgadas de bancos e consultorias, que apontam uma expansão de 0,29%. Não há ainda uma previsão oficial para 2015, mas o BC projeta que, no período de quatro trimestres até junho, o PIB terá crescido 1,2%. Em outras palavras, a produção e a renda continuarão em ritmo lento, com melhora modesta nos primeiros seis meses do próximo governo. Trata-se do pior início de mandato desde que o tucano FHC foi reeleito, em 1998, e o Plano Real entrou em colapso devido à escalada da dívida pública e ao esgotamento das reservas em dólar. Em junho de 1999, a economia acumulava queda de 0,6% em quatro trimestres. Para o BC, a inflação, que se mantém acima da meta de 4,5% desde 2010, fechará mais este ano eleitoral em 6,3% e só cederá à estagnação da economia a partir do início de 2016. Estimase um IPCA de 5,8% em 2015 e de 5% nos 12 meses encerrados em setembro de 2016, até onde vai o olhar do BC. O mercado também é mais pessimista nesse caso: acredita-se que a inflação repetirá no próximo ano os 6,3% de 2014, em grande parte porque há reajustes represados de preços como os da gasolina e da energia elétrica. As contas do BC pressupõem a permanência dos juros nos atuais 11% ao ano. Um novo governo pode, em tese, elevar a taxa e apressar a queda da inflação, com risco de aumento do desemprego. 5
Os analistas de mercado não esperam um choque de juros nos próximo ano. As projeções para a taxa do BC ao final de 2015 variam em torno de 11,38%.
Focus traz inflação de 6,31% em 2014 e expansão de 0,29% do PIB Fonte Jornal Valor Econômico Ana Conceição 29/09/2014 às 08h58 SÃO PAULO - Os analistas do mercado financeiro reduziram pela 18ª vez consecutiva suas estimativas para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, de 0,30% para 0,29%, informa o boletim Focus, do Banco Central (BC). A expectativa para 2015 foi mantida em 1,01% de crescimento. Há um mês, a mediana para o avanço do PIB deste ano era de 0,52% e de 1,10% em 2015. Os analistas também voltaram a alterar as estimativas para o desempenho da produção industrial. Em 2014, a expectativa é de queda de 1,95%, em vez de recuo de 1,94%. Em 2015, deve haver aumento de 1,60%, em lugar de alta de 1,50% estimada anteriormente. Os analistas ouvidos pelo BC continuam a ver a inflação pressionada e agora estimam altas de 6,31% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, um ligeiro avanço ante a estimativa anterior, de 6,30%. Para 2015, a revisão foi de 6,28% para 6,30%. Em 12 meses, o IPCA passou de 6,32% para 6,33% de aumento. A mediana das projeções para setembro subiu de 0,42% para 0,43%. O mercado segue vendo maior aperto monetário apenas no próximo ano. A estimativa para a taxa básica de juros, Selic, seguiu em 11% ao fim de 2014 e voltou a subir no caso do ano que vem, de 11,25% para 11,38%. Entre os analistas Top 5 – os que mais acertam as previsões –, tudo ficou igual. As medianas de médio prazo para o aumento do IPCA em 2014 e 2015 seguiram em 6,31% e 6,40% e a previsão para a Selic seguiu em 11% e 12%, respectivamente.
BC mantém projeções para alta dos preços administrados Fonte Jornal Valor Econômico Mônica Izaguirre e Eduardo Campos 29/09/2014 às 09h41 BRASÍLIA - O Banco Central (BC) manteve suas projeções para o aumento do conjunto dos preços administrados neste ano e no próximo. Pelo Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado nesta segunda-feira, esses preços deverão subir, em média, 5% em 2014 e 6% em 2015, percentuais já apontados no documento anterior, publicado no fim de junho. Para 2016, o novo relatório incorpora a previsão de aumento de 4,9% apresentada para os administrados na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em 2 e 3 de setembro. As projeções para os preços administrados indicam aceleração em relação a 2013, quando esse conjunto de itens subiu apenas 1,5%. Mais uma vez, o BC não apresentou projeção para o aumento no preço da gasolina; apenas considerou a elevação já ocorrida até agosto, de 0,2%. Para o gás de bujão, o relatório também trabalha apenas com a variação de preço já ocorrida até agosto, de 0,3%. Para o preço médio da energia elétrica e das tarifas de telefonia fixa, o BC projeta elevação de 16,8% e redução de 6,3% neste ano, respectivamente, mesmos percentuais que já tinham sido apresentados na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Mudanças no mercado de trabalho explicam recessão com pleno emprego, dizem analistas Fonte Jornal Valor EconômicoCamilla Veras Mota de São Paulo29/09/2014 às 05h00 A geração de emprego no Brasil tem perdido fôlego de maneira sistemática desde o ano passado, diante de uma taxa de desemprego que se mantém nos menores patamares de sua 6
história recente, em torno de 5%. Apesar de aparentemente contraditórias, as características mais marcantes da "recessão com pleno emprego" vivida pelo Brasil são parte de um processo que transformou a estrutura do mercado de trabalho - e que deve evitar uma escalada na taxa de desemprego no próximo ano, mesmo com os ajustes macroeconômicos sinalizados pelos candidatos à Presidência. A explicação, de acordo com especialistas ouvidos pelo Valor, apoia-se em dois pilares principais. De um lado, o aumento da renda das famílias desestimulou a busca por emprego em alguns grupos, excluindo-os da População Economicamente Ativa (PEA) e, portanto, tirando pressão da taxa de desocupação. Em outra frente, esse mesmo avanço dos salários, ao lado de políticas de estímulo ao consumo, deram fôlego extra ao setor de serviços, um dos que mais absorvem mão de obra atualmente - dando sobrevida à geração de emprego, mesmo quando afetada pela desaceleração da atividade. Para Gabriel Ulyssea, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a saída de pessoas do mercado de trabalho tem se manifestado de maneira contundente na taxa de participação que mostra qual a proporção de indivíduos em idade de trabalhar que estão de fato empregados ou em busca de uma vaga. Entre 2008 e 2013, segundo os dados mais recente da Pesquisa Anual de Amostra por Domicílio (Pnad), a relação caiu de 68,6% para 65,5%, indicando que muitos trabalhadores sem emprego, em vez de engrossarem o volume de desocupados, passaram a ser contabilizados nas estatísticas em outro grupo, o dos inativos. "Qualquer movimento de dois pontos percentuais [na taxa] já faz diferença", pondera. Essa mudança, para o economista, é resultado de uma transformação estrutural pela qual o mercado de trabalho passou na última década. A valorização do salário mínimo e, em outra medida, as políticas de redistribuição de renda tiveram impacto importante no rendimento das famílias. Grupos que antes buscavam emprego pela necessidade de ajudar a pagar as despesas domésticas, como os jovens, puderam se ausentar do mercado. Junto ao ganho de renda, as políticas de incentivo ao consumo dos últimos anos estimularam o setor de serviços, grande absorvedor de mão de obra, observa Gesner Oliveira, sócio-diretor da GO Associados. Não por acaso, o segmento representa relevantes 79,4% das vagas formais criadas no país entre janeiro e agosto deste ano, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), contra 48,9% no mesmo período do ano passado e 61,6% em 2009. Combinados, esses eventos acabam aumentando o tempo necessário para que as oscilações da atividade apareçam nos indicadores de emprego, explica ele. Para o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, o emprego já está sentindo a desaceleração do produto, especialmente na análise da conjuntura por setor. A indústria, exemplifica, acumula resultados negativos desde o início do ano. A Pesquisa Industrial Mensal de Empregos e Salários (Pimes) apurou recuo de 2,6% na ocupação de janeiro a julho, em relação ao mesmo intervalo de 2013, e o Caged mostrou fechamento de 80 mil postos com carteira de abril a agosto. "Boa parte do ajuste já está acontecendo agora", pondera. Diante das poucas oscilações na taxa de desemprego, o Caged é um bom termômetro para analisar o mercado de trabalho, avalia Irineu Carvalho, do banco Itaú. O indicador mostra uma geração de emprego com carteira em desaceleração gradual desde 2011. No curto prazo, o saldo de 606,3 mil postos acumulado de janeiro a agosto é quase 70% menor do que o verificado em igual período de 2010. A perda de fôlego é visível inclusive no setor de serviços, ressalta Carvalho, ainda que em menor medida. Entre janeiro e agosto, o segmento abriu 454 mil vagas, contra 704,9 mil no mesmo período em 2010, 35,6% menos. Esse é um setor que tende a ter menor volatilidade do que a indústria, observa, por estar menos correlacionado ao PIB. "As contratações em áreas como a de hospitais e escolas variam menos com a atividade", exemplifica. A desaceleração da atividade, de acordo com a projeção de muitos economistas, deve chegar finalmente à taxa de desemprego no próximo ano, devido especialmente às perdas no ritmo de avanço da renda. As estimativas de alta, contudo, ainda passam longe daquelas apuradas em outros períodos de PIB fraco. A LCA estima que a taxa média de desemprego fique entre 5,5% e 6% em 2015. 7
"Os três principais candidatos [à Presidência] têm sinalizado um ajuste gradual", completa Ulyssea, do Ipea, também para justificar, na ausência de um choque que promova um corte significativo de vagas, a expectativa de leve aumento na desocupação.
IDH melhor atrai novos empresários Fonte Jornal Valor Econômico de São Paulo29/09/2014 às 05h00 Com curvas ascendentes de crescimento econômico e populacional, Florianópolis, Vitória e Niterói melhoraram suas participações no PIB do país. A capital catarinense ganhou quatro posições, figurando na 51ª posição, a capital capixaba saiu da 20ª para a 18ª posição, enquanto Niterói pulou do 45º lugar para o 38º lugar. As três acumulam, também, bons resultados no ranking das cidades brasileiras com melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), os que as torna ainda mais atraentes para quem deseja empreender. Soma-se aos índices, a presença de um bom número de universidades e incubadoras de empresas nos três destinos, aumentando a oferta de mão-de-obra qualificada. Em média, mil novos profissionais se formam anualmente nas universidades de Florianópolis nas áreas de exatas e biológicas, facilitando a vida das cerca de 600 empresas de tecnologia instaladas na cidade. Por ano, a capital catarinense ganha entre 30 e 40 novos negócios de base tecnológica, a maioria nas áreas de tecnologia da informação, convergência digital, games, saúde e telecom. Os atrativos não param por aí. Nos últimos 20 anos foram criadas sete incubadoras de empresas na cidade e, desde 1988, a prefeitura concede isenção ou desconto de ISS e IPTU a empresas de tecnologia. "Não é à toa que o PIB de tecnologia superou o de negócios ligados ao turismo", afirma Tony Chierighini, diretor executivo do Centro Empresarial para Laboração e Tecnologias Avançadas (CELTA). "A cidade é uma das poucas a contar com uma Lei Municipal de Inovação." Se Florianópolis soma alto potencial inovador a um cenário de encher os olhos, emoldurado pelo mar, Vitória desponta nos últimos anos como uma cidade de porte médio, com infraestrutura de gente grande. A estrutura portuária é uma das melhores do país, o nível de educação está acima da média nacional e a cidade conta com um PIB per capta quatro vezes maior que a média do país - R$ 86 mil por ano. "A capital capixaba reflete no seu crescimento os investimentos feitos no norte do Estado", afirma a geógrafa Maria Encarnação Sposito. Como consequência, concentra um grande número de profissionais de alta renda, o que faz dos serviços a principal vocação econômica do município. Vitória se destaca, também, por oferecer incentivo fiscal para empresas de e-commerce, ao lado de Tocantins. "A capital capixaba registra tíquete médio de compras on-line de R$ 23, mais alto do que a média nacional, o que reflete o poder de renda e consumo", analisa Diego Tivo, CEO da Conversion, responsável pela realização do I Mapa do E-commerce no Brasil. "Niterói, por sua vez, tem uma taxa de conversão de compras 41% maior que a média nacional e Florianópolis 17% maior". Na visão de Luis Henrique Stockler, da Ba Stockler Consultoria, com exceção de Florianópolis, as demais cidades com bom potencial para investimentos não podem ser analisadas como um destino único, separadas do seu entorno. "O crescimento de Vitória está ligado à performance de outras cidades médias como Cariacica e Vila Velha, entre outras", afirma. "Não é errado dizer que são como grandes bairros instalados em uma região metropolitana". O mesmo acontece com Niterói, distante apenas 13 quilômetros do Rio de Janeiro. A cidade tem posição privilegiada. Está entre as duas maiores bacias de petróleo e gás natural do Brasil, o que lhe atribui uma importância estratégica para a indústria naval e off shore. Apesar de próxima do Rio, o custo dos imóveis é menor. A cidade conta, ainda, com boas universidades. Niterói, entretanto, não é a única com esse perfil no estado do Rio. Com o impulso do petróleo, cinco outros municípios fluminenses com populações entre 100 mil e 500 mil habitantes conseguiram dobrar sua participação no PIB do país, em 13 anos Campos dos Goytacazes, Macaé, Angra dos Reis, Cabo Frio e Rio das Ostras. 8
IR: Aprovada redução estendida sobre lucro no exterior para indústrias Fonte Jornal Valor Econômico Edna Simão 29/09/2014 às 09h28 BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, publicou nesta segunda-feira a portaria nº 427 confirmando a extensão para o setor de manufatura da redução da alíquota de Imposto de Renda - de 34% para 25% - sobre lucros no exterior de empresas brasileiras, ou seja, o abatimento de 9% de crédito presumido do IR incidente. Segundo a portaria, esse benefício está sendo ampliado para a indústria de transformação, extração de minérios e exportação, sob concessão, de bem público localizado no país de domicílio da controlada. Antes, a dedução de 9% a título de crédito presumido de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) era aplicada a empresas exportadoras do setor de construção civil, serviços e alimentos e bebidas desde maio deste ano. “Fizemos um estudo e chegamos à conclusão de que este benefício pode ser estendido a todas as empresas do setor manufatureiro que atuam no exterior. Com isso, todas elas terão competitividade maior”, afirmou Mantega no dia do anúncio da medida. Na ocasião, Mantega disse ainda que a ideia é equivaler o imposto pago lá fora por competidores. Atualmente, as empresas brasileiras pagam, em média, 34% de imposto de renda por suas operações, incluídas tanto as vendas no mercado doméstico como as realizadas no exterior. De acordo com estudos da Fazenda, a média no exterior é de imposto entre 20% e 25%. Nas operações lá fora, poderá ser utilizado os 9% quando for feita a contabilização para o pagamento do imposto de renda no Brasil.
Governo já admite rebaixamento do rating em 2015 Fonte Jornal Valor EconômicoLorenna Rodrigues de Brasília29/09/2014 às 05h00 Com as sinalizações recentes das agências de rating, o governo traçou alguns cenários para a classificação de risco de crédito do Brasil após as eleições. A avaliação da equipe econômica é que, em 2015, mesmo que seja feito um ajuste fiscal forte logo no início do ano, é difícil que a nota da dívida soberana do país escape de um rebaixamento pela Moody's. A agência revisou neste mês a perspectiva do rating brasileiro de "estável" para "negativa", reafirmando a nota em "Baa2". Caso isso se confirme, o rating da Fitch ("BBB") ficará descasado e integrantes da equipe econômica já veem a possibilidade de um rebaixamento também pela agência - o que deixaria o Brasil a um degrau de perder o grau de investimento nas três principais agências de rating do mundo. Para 2016, existem dois cenários opostos considerados pelo governo: se não for feito um ajuste fiscal ou se o ajuste não for suficiente para sinalizar uma mudança na política fiscal e a retomada do crescimento, o governo já trabalha com a possibilidade de perder o grau de investimento pela Standard & Poor's. Tal probabilidade, no entanto, ainda é considerada baixa. Atualmente, a S&P classifica o Brasil em "BBB-", uma nota abaixo da atribuída pelas outras duas agências. A avaliação é que não há mais espaço para justificativas acerca do mau desempenho da economia brasileira. Ainda que considerada pequena, a probabilidade de "downgrade" já acendeu o sinal amarelo na equipe econômica, por conta do impacto que teria no financiamento da dívida e nas contas públicas. Mas, se for feito um ajuste significativo e os indicadores responderem, o governo é otimista. A avaliação é que é possível recuperar na S&P a nota "BBB" perdida em março, em 2016 ou 2017. 9
No mercado, a avaliação de analistas é que o rating nos próximos anos dependerá totalmente do resultado das eleições. Uma vitória da oposição sinalizaria mais claramente um ajuste do ponto de vista fiscal, além da diminuição da "contabilidade criativa" utilizada pelo governo Dilma Rousseff para fechar as contas nos últimos anos. Para o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, é necessário que o próximo presidente faça um ajuste fiscal logo no início do governo, sinalizando mudanças na qualidade do superávit primário, com o fim de manobras fiscais, e abrindo espaço para o crescimento da atividade. "O que se percebe é que as agências não vão mais dar o benefício da dúvida para o Brasil", completa Campos Neto. No início do mês, o governo brasileiro foi pego de surpresa pela decisão da Moody's, que atribuiu perspectiva negativa à nota do Brasil. A equipe econômica esperava a piora da perspectiva apenas em 2015, deixando para o ano seguinte qualquer alteração na nota. Na época, o Ministério da Fazenda divulgou nota afirmando que o rebaixamento da perspectiva refletia fatores conjunturais do primeiro semestre do ano, mas que os problemas que afetaram o crescimento econômico naquele período já estavam superados. "O Brasil é uma economia sólida e já iniciou, neste segundo semestre, uma trajetória de gradual recuperação que terá continuidade ao longo do ano que vem", disse a nota.
Libra amplia investimento no terminal de Santos Fonte Jornal Valor Econômico Fernanda Pires e Ivo Ribeiro de São Paulo29/09/2014 às 05h00 O comércio exterior brasileiro em contêineres desaqueceu em 2014, num quadro de lenta recuperação das trocas internacionais, mesmo assim, o grupo Libra, especializado em logística portuária integrada, reviu para cima os números e irá investir R$ 800 milhões no porto de Santos (SP). A empresa aposta em um novo ciclo de crescimento dos volumes e aumento da inserção do Brasil na economia mundial. A última cifra do projeto estava em R$ 760 milhões. O investimento da companhia, que realizou o primeiro arrendamento de terminal de contêineres na década de 1990, em Santos, irá dobrar a capacidade de movimentação no cais santista, onde está seu maior negócio - e a mais acirrada concorrência entre terminais de contêineres. São seis ao longo do canal de navegação. O aporte integra um plano de R$ 2 bilhões de investimentos de 2014 a 2019 em infraestrutura, logística e tecnologia da informação (TI) voltada ao comércio exterior. O conglomerado empresarial, 100% controlado pela família Borges Torrealba, reúne outros tipos de negócios, como empresa de navegação e de produção de azeite. O presidente do grupo, Marcelo Araújo, afirma que em quase todos os portos do Brasil o volume de comércio exterior - medido pela movimentação de contêineres cheios - está caindo. "Santos só está aumentando por conta do transbordo [transferência do contêiner entre navios, geralmente para reposicioná-lo]". Neste ano, o resultado do grupo deverá ficar "ligeiramente" acima de 2013, quando o lucro líquido foi de R$ 149 milhões. O principal braço da companhia - a Libra Terminais, com 71% da receita bruta - deverá registrar queda de volumes, mas o mix diferente de serviços levará o faturamento da unidade a ficar estável ou ter pequeno crescimento. Devido à frustração com os volumes do segundo trimestre, a companhia ainda não fechou o planejamento de 2015, o que normalmente ocorreria em agosto. "Atrasamos um pouco para ter os dados um pouco mais precisos", diz Araújo. A queda maior deverá ocorrer na operação portuária de Santos, onde o aumento da concorrência, com a inauguração dos terminais BTP e Embraport em 2013, provocou um rearranjo das linhas de navegação no porto e reduziu os preços dos serviços cobrados pelos terminais. Desde 2011, os preços da Libra em Santos caíram de 25% a 30%. Mas o aumento da competição não mudou os planos da empresa. "Estamos nos preparando para esse momento há cinco anos. A demanda vai aumentar. Nosso horizonte em Santos é de mais 20 anos, em serviços cada vez mais customizados", diz Araújo. 10
Com bem menos área do que seus principais concorrentes em Santos, a Libra vem apostando em ganho de eficiência no cais para competir em pé de igualdade. Neste ano o terminal quebrou seis vezes o recorde sul-americano de produtividade (movimento por hora) em um navio. A sua melhor marca, 184,3 movimentos por hora, foi batida no início do mês, pelo Tecon Santos. Desde 2008 no cargo, o executivo ajudou a talhar o grupo para, se necessário, abrir capital para financiar novos investimentos. Os R$ 800 milhões para Santos já estão equacionados dentro da atual estrutura financeira. Não demandariam, portanto, a ida ao mercado aberto. O projeto é dobrar a capacidade anual de movimentação da Libra Terminais Santos de 900 mil Teus (contêiner de 20 pés) para 1,7 milhão de Teus, aproximando a empresa dos três maiores terminais de contêineres de Santos: Tecon Santos, Embraport e BTP. Para realizar o investimento, a companhia pediu ao governo a antecipação da renovação de seus três contratos no porto de Santos, que seriam integrados num só com vencimento em 2018 prorrogável por mais 20 anos. Mas o governo tenta, primeiro, equacionar o passivo da empresa junto à Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) pelo não pagamento integral de tarifas à estatal referentes à exploração de um dos terminais, o T-35. A Libra deixou de pagar os valores integrais porque diz que recebeu a área em desconformidade com o previsto no edital de licitação. Passou, assim, a fazer depósitos em juízo a partir de um acordo firmado em 2005. Em 2013, o contrato do T-35 respondia por 92% do volume total de contas a receber da Codesp, que ficou em R$ 1 bilhão. A Codesp reconheceu diferença entre o edital e o terminal que entregou à arrendatária, o que deve puxar esse número para baixo. As partes negociam um acordo desde 2010 que prevê uma nova equação tarifária. No início do ano, a União quase bateu o martelo, mas o processo estagnou. Agora, o Planalto teme o risco político de antecipar a renovação sem um acordo para equacionamento do passivo, já que a Lei dos Portos impede a prorrogação do prazo com empresas inadimplentes. "Pagamos em juízo, não estamos inadimplentes", diz Araújo.
Expansão do crédito público caiu quase pela metade Fonte Jornal Valor Econômico29/09/2014 às 05h00 Os bancos públicos desaceleraram de forma acentuada a oferta de crédito no país. Segundo dados divulgados na sexta feira pelo Banco Central, relativos a agosto, a expansão do crédito público nos últimos doze meses foi de 16,15%. Em agosto de 2013 o aumento foi de quase o dobro, 28,11%, e em agosto de 2009, no auge da crise externa, de 41%. O governo fez aportes de cerca de R$ 500 bilhões nos bancos federais de 2009 para cá para que eles financiassem o investimento e suprissem a retração dos bancos privados - que pisaram no freio durante a crise financeira internacional e continuam com desempenho bastante modesto ainda hoje. Em doze meses até agosto as instituições privadas apresentaram crescimento de 5,9% nas operações de crédito. A presidente Dilma Rousseff havia prometido a uma plateia de investidores internacionais, em setembro do ano passado, em Nova Iorque, que trataria de fazer com que os bancos públicos retornassem às suas vocações. Na ocasião, Dilma assegurou: "A orientação que nós tomamos é que essas instituições, as nossas instituições públicas, retornem às suas vocações naturais. Trata-se, portanto, de um reposicionamento dos bancos públicos na expansão do crédito ao investimento". O avanco das instituições públicas sobre o mercado de crédito era e continua sendo uma preocupação dos agentes econômicos e das agências de rating, não só pelo fato de representar uma estatização do crédito no país, mas, sobretudo, por ser uma operação quase fiscal. São três os potenciais efeitos fiscais nesse caso: o risco de crédito que, em última instância, cai no colo do acionista majoritário dos bancos federais (o Tesouro Nacional); o custo fiscal representado pelos juros subsidiados do crédito direcionado, e o aumento da dívida bruta como proporção do PIB. 11
A participação dos bancos federais (basicamente Caixa, Banco do Brasil e BNDES) no total do crédito no país, que antes da crise externa de 2008/09 era de 33,8%, cresceu para 53% este ano até agosto, mesmo com a desaceleração na concessão de novas operações de setembro do ano passado para cá. A trajetória de queda na taxa de crescimento dos bancos públicos, por outro lado, contradiz a retórica eleitoral da presidente Dilma nas últimas semanas. Ela argumentou em discursos e entrevistas que seus adversários querem reduzir a importância das instituições financeiras federais no desenvolvimento econômico do país. E querem, também, fazer o desmame das empresas que hoje se alimentam dos financiamentos a juros fortemente subsidiados do BNDES. Com maior ou menor intensidade, o governo já vem fazendo o que a presidente acusa ser intenção dos seus adversários na disputa eleitoral. O fato é que há um esgotamento na possibilidade de o governo usar recursos do Tesouro Nacional, advindos de emissão de títulos e, portanto, de endividamento, para capitalizar ou injetar "funding" nos bancos públicos; assim como está se exaurindo, também, o modelo de crescimento econômico apoiado na expansão do consumo. Esticar a corda nessas duas direções pode não produzir mais efeitos relevantes. Foi o que aconteceu até agora com a liberação dos compulsórios sobre depósito a prazo, pelo Banco Central, nos meses de julho e agosto. A medida, destinada a soltar um pouco mais o crédito dos bancos teve efeitos desprezíveis. Segundo dados do BC, o compulsório teve queda de R$ 24 bilhões em agosto, comparado a julho, mas o total das operações de crédito na economia cresceu apenas R$ 28 bilhões. Ou seja, mesmo com mais dinheiro do compulsório, o aumento do crédito foi inferior ao crescimento nominal de R$ 32 bilhões em agosto do ano passado. O crédito no Brasil cresceu substancialmente e hoje corresponde a 56,7% do PIB,. mas ainda é um volume baixo se comparado com economias mais avançadas, sobretudo o crédito ao setor imobiliário. Um novo ciclo de expansão, porém, não deve ser feito de forma artificial, que resulte em riscos fiscais ou em distorções de mercado como a do crédito direcionado. Um avanço mais saudável poderia ser incentivado mediante reformas regulatórias que aumentem a segurança e reduzam os riscos de perdas com a inadimplência. Um ambiente macroeconômico estável é essencial para reduzir, também, os juros e alongar os prazos das operações.
Anatomia de um crescimento baixo Fonte Jornal Valor EconômicoBráulio Borges29/09/2014 às 05h00 Com a informação disponível até agora, sacramentou-se a perspectiva de que a economia brasileira deverá encerrar o ano corrente com uma expansão no intervalo de 0% a 0,5%, após alta de 2,5% em 2013. Há dois movimentos que devem ser analisados separadamente, para se chegar a um diagnóstico mais preciso acerca da dinâmica recente de crescimento da economia brasileira: 1a desaceleração de 2013 para 2014; e 2- o ritmo de expansão mais modesto nos últimos anos comparativamente aos períodos anteriores. Um primeiro aspecto a ser levado em conta é o efeito do aperto de política monetária empreendido pelo Banco Central desde o começo de 2013 sobre a demanda interna. Como denota a tabela, a desaceleração desse subcomponente do PIB nos quatro trimestres seguintes ao início do aperto é bem semelhante à perda de fôlego observada em outros ciclos de aperto das condições monetárias domésticas. Também contribuíram para essa evolução mais fraca da demanda interna nos últimos trimestres uma política fiscal algo menos expansionista e os níveis bastante deprimidos de confiança - em parte refletindo o próprio aperto da política monetária, mas também acusando os efeitos do risco elevado de racionamento de energia elétrica desde o final de 2013, o 12
descontentamento crescente com a política econômica e a grande incerteza associada ao dayafter das eleições gerais deste ano. Partindo para a análise do crescimento em um horizonte mais longo, um estudo recente de dois economistas do FMI - "Growth Surprises and Synchronized Slowdowns in Emerging Markets, an Empirical Investigation" - ajuda a jogar uma boa luz sobre esse assunto. Os autores constataram, em primeiro lugar, que as economias emergentes vêm apresentando um comportamento bastante sincronizado de 2011 em diante, com a grande maioria delas registrando desaceleração do crescimento. Apenas para citar um exemplo bem recente: o Peru, economia que crescia mais rápido na América Latina nos últimos anos, vem apresentando em 2014 as menores taxas de crescimento desde 2009. Feita essa constatação, os analistas buscaram avaliar os principais fatores por detrás das surpresas de crescimento - isto é, a diferença entre o crescimento esperado no final de cada ano, para o ano seguinte, e aquele efetivamente observado (considerando o período 2011-13). Foram identificados alguns fatores estatisticamente significantes para explicar essas surpresas de crescimento nos emergentes. Dentre os fatores externos, os drivers apontados pelo modelo econométrico foram as surpresas de crescimento nos principais parceiros comerciais (incluindo economias desenvolvidas), as surpresas nos termos de troca e as mudanças no grau de aversão global ao risco. Dentre os fatores internos, o principal elemento identificado foi o hiato do produto em 2010: os países que estavam crescendo acima do seu potencial naquele ano experimentaram surpresas negativas de crescimento nos anos seguintes. Como ficou o Brasil nessa análise? A surpresa de crescimento de nossa economia foi negativa em 2 pontos percentuais - ou seja, esperava-se, no final de 2010, um crescimento do PIB próximo a 4% em 2011-2013, mas a expansão efetiva foi de 2,1%. O exercício dos autores apontou que metade dessa surpresa pode ser explicada pelos fatores acima, com cerca de 1/3 atribuível a fatores externos e 2/3 a fatores domésticos. Ou seja: se o desempenho da economia global não tivesse frustrado as expectativas nos últimos anos, nosso crescimento teria sido mais próximo de 2,5% em 2011-13. Caso o Brasil não estivesse superaquecido em 2010, demandando ajustes contracionistas da política econômica doméstica nos anos seguintes, a alta do PIB brasileiro teria sido pouco superior a 3%. Com efeito, parte não desprezível da desaceleração da economia brasileira em 2011-2013 refletiu uma "ressaca" após a euforia de 2009-2010. Resta ainda, contudo, a outra metade dessa surpresa negativa, cerca de 1 p.p., que não é explicado pelo modelo desenvolvido pelos autores. O principal candidato seria uma queda do potencial de crescimento da economia brasileira, que seria resultado, por sua vez, de decisões equivocadas de política econômica adotadas nos últimos anos e de fatores demográficos - sobretudo uma tendência de queda da participação da População em Idade Ativa (PIA) entre 20 e 59 anos no total da PIA, que teve início em 2008/09 e se acentuou nos últimos anos, segundo a Pnad. Mas não se pode descartar também a possibilidade de que as estatísticas atuais não estejam refletindo fidedignamente o que aconteceu com a economia brasileira recentemente - não custa lembrar que o último ano para o qual se conhecem dados definitivos do PIB brasileiro (ou seja, que incorporam toda a informação estrutural e conjuntural disponível) ainda é o longínquo 2009. A comparação entre o crescimento médio nominal do valor adicionado da indústria em 2011-2012 apontado pelo PIB - de 1,9% - com aquele indicado pela Pesquisa Industrial Anual (PIA) - de 8,1% - sugere que essa hipótese também não pode ser descartada.
Obstáculos que promovem a fome Fonte Jornal Valor Econômico Fernando Martins29/09/2014 às 05h00 Exportadores guatemaltecos que enviam suas mercadorias ao México, por via terrestre, são obrigados a descarregá-las na fronteira da Guatemala e recarregá-las em caminhões mexicanos, um obstáculo regulatório que contribui para a deterioração dos alimentos e 13
desestimula o comércio. Na África, caminhoneiros demoram um dia inteiro para completar a documentação necessária para atravessar do Quênia para Uganda. O atraso causa perdas financeiras e é especialmente problemático com produtos agrícolas, já que pode prejudicar os alimentos e deixá-los impróprios para venda. É um desafio enfrentado também no Brasil. Caminhões que carregam culturas como a soja rotineiramente ficam presos em estradas mal pavimentadas e, em seguida, devido à falta de capacidade nos portos, desperdiçam dias em longas filas apenas para carregar os grãos em navios. Em um mundo no qual 12,5% da população sofre de desnutrição crônica, o fato de que 30% dos alimentos produzidos para consumo humano é perdido ou desperdiçado é difícil de compreender. Mundialmente, até 1,3 bilhão de toneladas de alimentos é perdida ou desperdiçada a cada ano. Uma parcela significativa dessa perda pode ser atribuída a barreiras comerciais desnecessárias. No último 31 de julho, a Organização Mundial do Comércio (OMC) não ratificou o acordo de facilitação de comércio de Bali, que criaria a base para procedimentos aduaneiros mais rápidos e mais eficientes para incentivar mudanças dramáticas, não só na redução da fome no mundo, mas também na promoção da sustentabilidade ambiental e desenvolvimento econômico. O documento incentivaria a cooperação para a facilitação do comércio e de conformidade aduaneira, que prevê assistência técnica para ajudar os países a desenvolver as capacidades eletrônicas para agilizar o fluxo de mercadorias. Mas, mesmo na ausência dele, os governos podem seguir alguns dos passos recomendados e enfrentar as barreiras que prejudicam a cadeia de abastecimento e as economias locais. Pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial, pelo Banco Mundial e pela Bain & Company descobriu que reduzir algumas barreiras da cadeia de abastecimento, atingindo metade das melhores práticas mundiais, poderia gerar um impacto de quase 5% do PIB, ou seis vezes o benefício de remover todas as tarifas de importação remanescentes. Os benefícios para os países emergentes, em particular na África e no Sudeste da Ásia, seriam proporcionalmente muito maiores. O setor público está mais bem posicionado para reduzir essas barreiras, geralmente em parceria com empresas privadas e com apoio de instituições internacionais. O governo do Quênia melhorou a estrada Nairobi-Mombasa e expandiu a capacidade e o poder do porto de Mombasa, com alta demanda de investimento do setor privado por parte dos exportadores e transportadores. Investimentos em contêineres refrigerados e caminhões cobertos, juntamente com suporte para agricultura familiar para a aquisição de certificação para exportação, ajudaram a reduzir a perda de alimentos e permitiram que o Quênia alcançasse o ponto de inflexão em que se tornou rentável para as empresas do país para atender a novos mercados europeus. Além disso, com a remoção de controles de preços de fertilizantes e subsídios, os preços caíram, o que levou a aumento de 14% nas taxas de adoção entre os pequenos agricultores. Agora o Quênia tem planos de implementar um sistema aduaneiro automatizado, permitindo que transportadores marítimos, aéreos e rodoviários submetam todos os seus documentos oficiais por meio de um portal eletrônico. Isso permitirá que os carregadores operem de forma mais eficiente e economizem dinheiro. O sistema vai melhorar a conformidade e aumentar a receita do governo. E a transparência criada por ele vai reduzir a corrupção que assolava o comércio internacional. A Coreia do Sul é um bom exemplo de padrão de fronteiras inteligentes. Quando carregadores liberam as mercadorias de um armazém, as informações necessárias entram em um sistema eletrônico para que o Serviço de Alfândega não precise esperar até que a remessa chegue a um porto ou terminal. O país também introduziu um novo sistema de gestão de risco automatizado, eliminando grande parte da necessidade da inspeção manual. O Brasil está iniciando o seu projeto para modernização e maior automatização dos processos de fronteira, buscando a redução dos tempos e custos de importação e exportação e criando um ambiente mais competitivo para as empresas. Hoje, os sistemas de exportação e importação não incorporam todos os processos, exigindo gastos desnecessários do governo e 14
do setor privado. Nos últimos 20 anos, as operações de comércio exterior cresceram significativamente e os sistemas de controle não avançaram na mesma velocidade. Há a necessidade de uma revisão ampla de processos com a priorização daqueles com maior potencial de ganho para o país. Políticos devem utilizar as melhores práticas de países como a Coreia do Sul. Ao dedicarem-se a eliminar as barreiras da cadeia de fornecimento, países pioneiros colocam em movimento um ciclo virtuoso, aumentando a produtividade global e enfrentando o enorme desafio de alimentar os subnutridos.
Eleições podem alterar rumos do Mercosul Fonte Jornal Valor Econômico Marli Olmos e Marta Watanabe e Buenos Aires, Montevidéu e São Paulo29/09/2014 às 05h00
Quem percorre a avenida que margeia o Rio da Prata, em Montevidéu, dificilmente deixa de notar um majestoso edifício, ao lado do cassino do parque Rodó. No passado ali funcionava um hotel. Hoje é a sede do Mercosul. A julgar pela agenda do local, é bem provável que o movimento dos que ali se hospedavam para aproveitar a praia em frente, no início do século XX, fosse bem mais intenso do que hoje. Esporádicas excursões de estudantes do Brasil, Argentina, Paraguai e do próprio Uruguai, países que criaram o Mercado Comum do Sul, há 23 anos, ajudam a dar um pouco de vida ao local. Fora isso, o último grande acontecimento no antigo hotel foi a cúpula dos governantes do Mercosul, em julho de 2013. A quietude no edifício reflete o momento político do bloco, marcado por indefinições. Os brasileiros começam a eleger seu novo presidente no domingo e os uruguaios em outubro. Ainda falta um ano para os argentinos escolherem o próximo presidente, mas a fragilidade político-econômica do país antecipa discussões e torna as relações externas mais difíceis. Na Argentina, analistas temem que o país fique isolado se o Brasil buscar seus próprios acordos comerciais. Para eles, essa possibilidade aumenta no caso de a candidata do PSB vencer a eleição. "Marina Silva manifestou em seu programa de governo que o Mercosul tem que mudar para converter-se em ferramenta de integração com o mundo. Ela demonstra atitude mais firme em relação à possibilidade de o Brasil agir unilateralmente. É diferente da complacência de Dilma [Rousseff]", destaca o ex-secretário da Indústria, Dante Sica, que dirige a Abeceb, empresa de consultoria de Buenos Aires. Caso o Brasil abra mais a economia já no primeiro ano do novo governo, a Argentina ficará isolada. Pelo menos durante 2015. "Enquanto estiver no poder, Cristina Kirchner protestará contra qualquer abertura econômica", diz Patricio Carmody, especialista em relações internacionais. Carmody é autor do livro "Política externa no fim do mundo", que acaba de ser lançado na Argentina e que compara as relações exteriores de Brasil, Argentina e Chile. Um dos capítulos destaca que não é de hoje que o choque de momentos econômicos distintos enfraquece as relações regionais. Em 1999, o real sofreu forte desvalorização, o que provocou súbita perda de competitividade da Argentina, que na época adotava a paridade (um peso era igual a um dólar). Para Comody, mesmo no governo Lula, época de relações cordiais, "o Brasil afastou-se da Argentina ao ganhar projeção, como potência, no bloco Brics". Se a resistência argentina foi um dos motivos para a região não ter chegado a um acordo com a União Europeia, o sucessor de Cristina Kirchner terá, diz Comody, que reagir para acompanhar o Brasil. Cristina não pode concorrer à reeleição porque no fim de 2015 cumprirá o segundo mandato consecutivo. Sejam quais forem os próximos governantes, o Mercosul terá que "ser repensado", diz o economista e doutor em ciência política Sérgio Berensztein. "O Mercosul não funciona bem e os governos sabem disso", destaca. Para ele, por questões estratégicas e globais tanto 15
Argentina como Brasil registraram crescimento no setor primário, mas não conseguiram expandir a atividade industrial e perderam competitividade nessa área. "É preciso ver como ficam os países menores, Uruguai e Paraguai, resolver as dificuldades para incorporar a Venezuela no bloco, e buscar maior integração com Ásia e Pacífico. A Ásia é uma realidade que não existia quando o Mercosul surgiu", diz o analista argentino. No Brasil, o empresariado se mobiliza no mesmo sentido. A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) entregou aos candidatos que concorrem à eleição presidencial uma proposta de revisão do modelo do Mercosul que permita aos países membros celebrar acordos de livre comércio em condições diferenciadas. Um exemplo, diz o diretor de desenvolvimento da CNI, Carlos Abijaodi, seria fixar prazos diferenciados de desgravação. "O Brasil ficou muito tempo isolado", destaca. O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, também é favorável à flexibilização. "Não apenas para prazos diferenciados como para permitir que os sócios possam fazer acordos isoladamente", diz. "É preciso retirar o engessamento atual do Mercosul." Com a atual situação da Argentina, diz Castro, a discussão tornou-se mais urgente. "Antes muitos setores ficavam acomodados com o mercado argentino", lembra. Mas com o aprofundamento da crise no país vizinho, diz, tornou-se importante procurar novos mercados, principalmente para produtos manufaturados. "Além disso, a crise faz a Argentina ter uma preocupação adicional com o crescimento das importações." Com o país ainda mais isolado do mercado mundial por conta do "default", o governo argentino restringe importações para segurar as reservas em moeda estrangeira. O documento da CNI destaca a Argentina como ambiente pouco propício ao desenvolvimento do comércio e aos investimentos por conta de barreiras comerciais. Para os líderes brasileiros, a questão econômica foi esquecida. Castro diz que nas últimas reuniões do bloco a discussão restringiu-se a questões como a espionagem do governo americano e os ataques de Israel na Faixa de Gaza. Além disso, destaca a CNI, são crescentes o pedidos da Argentina e do Brasil para criar exceções à Tarifa Externa Comum (TEC), o que aumenta as imperfeições do modelo. Em artigo divulgado à imprensa no fim de semana, Dante Sica, da Abeceb, prevê que no futuro poderá haver uma desarticulação da TEC, o que provocaria a necessidade de os produtos do Mercosul competirem com os de países fora do bloco. Para ele, as consequências talvez sejam as mesmas caso Dilma ganhe a eleição. "A diferença numa mudança de governo seria apenas antecipar a tomada de decisões, o que exigiria da Argentina agregar a questão do comércio exterior na agenda e decidir se acompanha o Brasil em novos acordos internacionais", destaca. Para o economista, as eleições em si não incidirão sobre a questão estrutural. "Já faz anos que a Argentina tem perdido relevância econômica, comercial e mesmo política para o Brasil. Por trás do ruído das disputas eleitorais em ambos os países, poderá começar a manifestar-se uma forma mais independente na tomada de decisões na região", diz. No Uruguai, mercado menor, os empresários acompanham atentamente a mobilização do setor privado no Brasil por acreditar que essas lideranças têm mais força para provocar mudanças. "Somos pequenos", destaca Isidoro Hodara, vice-presidente da Zonamerica, a maior zona franca de serviços do Uruguai. Hodara, também professor de comércio internacional da universidade Ort, diz que quando foi criado, o Mercosul parecia um trampolim para negociar com o resto do mundo. "Com o tempo, transformou-se numa trava", diz. Para os uruguaios, não ajuda a sede do Mercosul ser em Montevidéu porque no jogo comercial eles se sentem afastados. "É como se tivéssemos comprado ingresso para entrar no estádio de futebol, mas a pessoa à nossa frente se levanta e não nos deixa ver a partida. Dante Sica recomenda uma análise do formato que o Mercosul passará a ter: o que acontecerá com os investimentos, com o setor automotivo e outros que produzem em escala regional, e quais cadeias produtivas serão viáveis na região. Se uma metamorfose do bloco funcionar, talvez o edifício ao lado do Parque Rodó deixe de ser um símbolo esquecido. 16
Para onde queremos ir FONTE JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO Renato Cruz 29/09/2014 A entrega dos envelopes para o novo leilão da telefonia celular de quarta geração (4G), na semana passada, trouxe uma surpresa. A Oi - concessionária de telefonia fixa em todos os Estados brasileiros, menos São Paulo - não apresentou proposta. Houve muita especulação, como a de que a empresa pode se fundir com a TIM e que por isso não precisaria comprar uma licença, mas um ponto importante nessa história toda é o simbolismo do gesto. A Oi é o campeão nacional do setor de telecomunicações, cuja criação foi apoiada fortemente pelo governo. Quando a empresa se fundiu à Brasil Telecom, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a editar um decreto presidencial para permitir a operação, que era proibida pelas regras da época. Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está entre os principais acionistas da Oi. O emblemático na recusa da Oi em ir ao novo leilão é essa falta de sintonia entre a empresa que foi criada pela política de "campeões nacionais" e a iniciativa do próprio governo de vender agora novas licenças de telefonia celular. Após o leilão, a 4G passará a ocupar o espectro que atualmente é utilizado pela TV analógica. Existem problemas de ambos os lados. O leilão recebeu críticas da maioria das operadoras por ter sido feito neste momento, com a preocupação do governo de usar o pagamento das licenças para fechar as contas neste ano. A Oi enfrentou um problema com o acionista Portugal Telecom, que acabou reduzindo a participação na empresa e prejudicando sua reestruturação. A ausência da Oi no leilão é um exemplo da falta que faz ao País um projeto para as telecomunicações. As eleições presidenciais poderiam ser um bom momento para se mudar esse quadro, mas, ao que tudo indica, os principais candidatos não enxergam todo o potencial das tecnologias da informação e da comunicação como alavancas do desenvolvimento econômico e do combate à desigualdade social. A última política abrangente de telecomunicações que o País teve foi implantada em meados da década de 1990, para a privatização do Sistema Telebrás. Ela abriu o mercado e criou regras para a universalização da telefonia fixa, um serviço que perdeu muito da sua importância diante do crescimento do celular e da internet. O que temos hoje é uma política de telecomunicações obsoleta, adaptada de uma visão de quase duas décadas. Houve algumas atualizações, como a troca da obrigação de se criar postos de serviço de telecomunicações pela instalação de banda larga nas escolas. No entanto, apesar de várias medidas tomadas no setor, como o próprio leilão da 4G, ainda não temos definido em nenhum lugar, de forma clara, para onde queremos ir.
A prova de fogo para a energia solar no Brasil FONTE NAIANA OSCAR - O ESTADO DE S.PAULO29 Setembro 2014 02h 03 Na expectativa do 1º leilão de energia solar no País, empresas começam a investir em usinas fotovoltaicas de caráter comercial Às margens da BR-101, numa área de 100 mil m² que já foi usada para armazenar resíduos de carvão, está a maior usina solar do Brasil. Ela foi desenvolvida pela geradora de energia Tractebel, em parceria com outras 12 empresas, na cidade de Tubarão (SC) e tem uma capacidade instalada de 3 MW - o suficiente para abastecer 2,5 mil residências.
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Essa usina entrou em operação em agosto e dá duas mensagens sobre o mercado de energia solar no País: se essa é a maior, significa que o Brasil ainda está engatinhando. A capacidade do maior complexo do mundo, localizado na Califórnia (EUA), é 100 vezes superior à da usina de Tubarão. Mas, embora ainda seja um projeto pequeno, é sinal de que algo começou a mudar. O que mais tem se ouvido dizer no setor nos últimos meses é que "chegou a hora" da energia solar no Brasil. A frase é repetida por investidores, fabricantes de equipamentos, geradoras de energia, e foi dita mais uma vez na semana passada pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. A crise que reduziu investimentos na Europa e nos EUA nos últimos anos e os preços recordes da energia no País contribuíram para esse clima de "agora vai" e fizeram com que grandes empresas, de fora e daqui, começassem a olhar esse mercado com outros olhos. A gigante chinesa Yingli Green Energy, maior fabricante de painéis fotovoltaicos do mundo, começou a sondar o mercado brasileiro em 2012 e abriu um escritório em São Paulo no ano passado. A WEG, de Jaraguá do Sul, criou um centro de pesquisas na Alemanha em 2013 para estudar tecnologias voltadas para a energia solar e também já fornece produtos para usinas desse tipo no Brasil: a da Tractebel é uma delas. A fabricante brasileira também atuou no lançamento da usina de Fernando de Noronha, inaugurada em julho pela Neoenergia, com capacidade para abastecer 4% do consumo da ilha. Um mês antes, a Eletrosul, em Florianópolis, começou a gerar energia fotovoltaica, com placas instaladas na cobertura do estacionamento e da sede da empresa. Em agosto do ano que vem, deve entrar em operação no semiárido baiano uma usina solar da brasileira Renova que vai desbancar a de Tubarão como a maior do País. O projeto terá capacidade de 4,8 MW. "Essa movimentação toda é inédita, mas o que vai definir se a energia solar vai deslanchar mesmo ou não são os sinais que o governo brasileiro dará aos investidores que querem desenvolver essa fonte no País", diz Umberto Gobbato, diretor superintendente da WEG Automação. Um leilão em que o governo vai comprar exclusivamente energia solar está marcado para o dia 31 de outubro. Será o primeiro do tipo no Brasil e terá papel fundamental para que as empresas do setor definam seus investimentos daqui para frente. No ano passado, o governo chegou a realizar um leilão para várias fontes renováveis de energia, que incluía projetos solares - só que na disputa com outras modalidades, como a eólica e as pequenas centrais hidrelétricas, a solar perdeu no preço e nenhum megawatt foi contratado. Em junho deste ano, por exemplo, as usinas eólicas conseguiram vender energia a um preço médio de R$ 130. Aposta. No setor, estima-se que, para serem viáveis, os projetos de energia solar devem vender o megawatt-hora por pelo menos R$ 250. O preço-teto deve ser divulgado a partir desta semana. "Estamos dispostos a pagar mais caro para desenvolver uma massa crítica em termos de indústria e fornecedores. Assim, à medida que o preço cai, teremos uma estrutura montada", diz Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), braço de planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME). Neste ano, pela primeira vez, o Plano Decenal de Expansão de Energia, que está em consulta pública, incluiu a energia solar na matriz energética brasileira. A previsão é de que até 2023, a capacidade instalada da energia solar no Brasil saia do zero para 3,5 mil MW, de um total de 195 mil MW. Na Alemanha, país que virou referência na geração de energia renovável, a capacidade já supera, hoje, os 25 mil MW.
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Alemanha: o país em que a energia solar vingou até demais FONTE MELINA COSTA , ESPECIAL PARA O ESTADO / BERLIM - O ESTADO DE S.PAULO29Setembro 2014 02h 04 País se tornou o quarto maior mercado do mundo para a tecnologia, mas precisou reformular sua política de subsídios. O último 9 de junho foi um marco nos esforços para a popularização da energia solar na Alemanha, quarto maior mercado mundial para a tecnologia. Na tarde daquela segunda-feira, mais da metade da demanda de eletricidade do país (50,6%) foi suprida por painéis fotovoltaicos, no pico de produção. Trata-se de um marco psicológico - o dia foi feriado, com demanda mais baixa, mas tem sido comemorado pelo setor. "É uma prova de que a energia solar está se tornando cada vez mais relevante no mundo e que, em particular na Europa, está abrindo caminho para uma transformação no sistema energético", diz Benjamin Fontain, porta-voz da Associação da Indústria Fotovoltaica na Europa. Há alguns anos, a energia solar é competitiva na comparação com fontes mais tradicionais de energia na Alemanha. "Críticos costumam se esquecer de considerar o ciclo de vida completo de uma usina elétrica", diz Max Hildebrandt, especialista em energias renováveis da Germany Trade and Invest, agência de desenvolvimento econômico da Alemanha. "O custo de instalação de painéis é bem mais baixo que a construção de usinas convencionais." Além disso, o preço dos painéis solares vem caindo e é hoje menos da metade do que era em 2006. A geração de energia solar continua crescendo na Alemanha, mas o ritmo deve arrefecer daqui para frente. Em 2013, o número de instalações fotovoltaicas caiu pela primeira vez, com a mudança na política de incentivos do governo. Desde 2000, o cidadão que instalasse painéis solares em casa tinha a garantia de vender a energia gerada ao sistema por um preço mais alto que a média do mercado. Esse "bônus" era pago pelos consumidores finais na forma de uma sobretaxa, destinada a subsidiar o desenvolvimento da energia renovável como um todo. O setor industrial ficou, em grande parte, isento desse custo extra, de forma a evitar a perda de competitividade da indústria alemã. Como resultado desse esquema e do barateamento dos painéis, houve, entre 2010 e 2012, uma explosão no mercado de energia solar. As placas fotovoltaicas tomaram conta de telhados e paisagens e a Alemanha tornou-se um exemplo na transição para energias renováveis. Só que o modelo funcionou bem demais: com tanta gente vendendo energia solar subsidiada, a conta dos alemães aumentou mais rapidamente que o esperado. Desde 2009, a sobretaxa das fontes renováveis subiu 380%, para 0,062 por quilowatt-hora. Hoje, os consumidores alemães estão entre os que pagam mais caro por energia elétrica no mundo desenvolvido. Para amenizar a escalada de preços, entrou em vigor, em agosto, uma nova versão da lei sobre energias renováveis. Foi estabelecido, por exemplo, um limite anual para a compra de eletricidade pelo sistema e o valor do subsídio para a energia solar tem apresentado queda mês a mês. "Com a mudança, os incentivos foram reduzidos, mas isso reflete mais o aumento da competitividade das energias renováveis que um passo atrás no comprometimento com a transformação energética da Alemanha", escreveu em um relatório recente Patrick Graichen, diretor do Agora Energiewende, instituto criado para discutir a transição energética alemã.
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