Jornais e Revistas de 30 de junho de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 30 DE JUNHO DE 2014

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Brasil: um ajuste clássico Os dados econômicos mais recentes mostram que o ajuste pelo qual passa a economia brasileira continua sua marcha inexorável na direção de uma economia próxima da recessão. Mesmo o mercado de trabalho, que vinha resistindo à desaceleração econômica, começou a vergar-se sob o peso da queda do consumo e da confiança dos agentes econômicos --empresas e consumidores no futuro. Em maio, as estatísticas do Caged, que consolidam as admissões e as demissões dos brasileiros com carteira de trabalho assinada, pela primeira vez em muitos anos apontam uma destruição de empregos formais, quando corrigidas pelo fator sazonal usado pela Quest Investimentos para o mês. Para que o leitor da Folha tenha uma ideia mais clara da desaceleração ocorrida no mercado formal do trabalho no período do governo Dilma, criei a tabela ao lado que mostra, para cada ano, a criação de vagas acumuladas em 12 meses. No restante do ano esta tendência de acomodação em vários setores da economia deverá agravar-se, pois o humor dos principais agentes econômicos tende a continuar em baixa. A proximidade das eleições, em um ambiente de forte competição, adicionará doses de precaução em grande parte das empresas, fazendo com que posterguem para 2015 as principais decisões de investimento. O leitor da Folha já conhece a minha opinião sobre este período tão fraco da atividade econômica: vivemos os movimentos iniciais de ajuste clássico de uma economia de mercado, depois que um longo período de crescimento e mudanças estruturais importantes criaram desequilíbrios de oferta e demanda. De certa forma o governo Dilma foi vítima da euforia pré-eleitoral de 2009 e de 2010, quando a cautela e o bom senso já indicavam a necessidade de um freio na euforia do consumo e dos gastos do governo. Os problemas que vivemos hoje foram agravados pela demora em reconhecer este ajuste cíclico e pela utilização de estímulos econômicos em desalinho com o caminho natural para evitar maiores dificuldades nesta situação: menos consumo privado e do governo, menos crédito e menos euforia na sociedade são remédios inevitáveis. E, como nos ensina a história, a parcela do setor privado que também deixou a euforia das vendas sempre crescentes contaminar seu planejamento dos negócios vai viver um período de extremas dificuldades. Juros nas alturas e vendas em baixas não deixarão de cobrar um elevado preço para algumas empresas. O melhor exemplo desta armadilha está no setor de automóveis, depois de um longo período de euforia e novos investimentos. Em poucos anos passamos de um mercado de menos de 2 milhões de veículos para outro de 3,5 milhões, com vendas turbinadas por um crescimento de renda de mais 4% ao ano e do crédito ao consumo que dobrou neste mesmo período. Vamos agora viver um final de década com taxas bem mais modestas de expansão do mercado e pela necessidade de diminuir os níveis físicos de produção. Uma experiência catalogada por Joseph Schumpeter, economista austríaco da primeira metade do século passado, como um processo de destruição criativa. No final de um curto período, a indústria terá menor capacidade de produção, mas com índices de eficiência e qualidade maiores dos verificados na última década. Outros setores vão passar pelo mesmo processo de ajuste, com resultados semelhantes ao do setor de veículos. O setor sucroalcooleiro deve ser um deles e vai viver de forma intensa o fenômeno da destruição criativa. Mas aqui a motivação criada por uma certa euforia nos anos Lula terá um efeito menor do que o da política de preços dos combustíveis operada pela Petrobras.

Plano Real faz 20 anos com país ainda longe da normalidade A reintegração ao mercado global se aprofundava, depois de superadas a hiperinflação e a crise da dívida externa. Sintomaticamente, Malan discursava na posse de Henrique Meirelles na presidência do BankBoston. Uma década e muitos solavancos depois, Meirelles, agora presidente do Banco Central, mostrava cautela no Fórum Econômico Mundial, em 2006: "Estamos, talvez, num momento de transição para um país normal". Hoje, com o real prestes a completar 20 anos, os exotismos econômicos nacionais não são mais tão extremos, mas o Brasil permanece distante da normalidade prenunciada pelos formuladores do plano de estabilização. A moeda lançada em 1º de julho de 1994 é incomparavelmente mais sólida que suas antecessorascruzeiro, cruzeiro real, cruzado e cruzado novo, nomes que se alternavam na época das remarcações diárias de preços.

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A inflação, porém, não é um problema deixado para trás. A taxa anual acima de 6% está entre as seis mais elevadas do G20, o grupo das principais economias mundiais; ao lado do Brasil na lista estão países tidos como frágeis pelo mercado global, casos de Argentina, Turquia, Índia, Indonésia e África do Sul. O IPCA, índice de preços adotado como referência pelo Banco Central, está superando a meta oficial de 4,5% pelo quinto ano consecutivo, a despeito do controle das tarifas públicas e da mais intricada anomalia econômica do país: as taxas de juros permanentemente entre as mais elevadas do mundo. Numa era de crescimento fraco e juro zero ou pouco acima disso nos países desenvolvidos, a taxa atual do BC brasileiro é de 11%, quase 5% descontada a inflação -a maior, com folga, entre as economias mais importantes. Não há até hoje um diagnóstico consensual para explicar a extravagância. Genericamente, é razoável apontar que as taxas refletem a precariedade da estabilização monetária e do equilíbrio das contas públicas. Ficou inconcluso o processo, complementar ao Real, de desindexação da economia, ou seja, de eliminação da mania nacional de corrigir preços e contratos de acordo com a inflação passada que acaba se perpetuando. Num país que poupa pouco e cujo governo gasta acima das receitas, os juros também funcionam como um prêmio para os investidores dispostos a comprar títulos da dívida pública. Dados de 2011 coletados pelo Fundo Monetário Internacional apontaram que os encargos da dívida no Brasil eram os terceiros mais altos do mundo, atrás apenas dos pagos por Grécia e Líbano. Para sustentar tamanha conta financeira e um crescente aparato de proteção social, os contribuintes brasileiros destinam 35% de sua renda ao governo a carga mais alta, ao lado da argentina, no mundo emergente.

Obsessão por aumentar preços sobrevive Passados 20 anos de estabilização e governos de dois diferentes partidos políticos (PSDB e PT), a memória inflacionária persiste. A obsessão coletiva por aumentar os preços olhando a inflação passada é herança do período de descontrole pré-Plano Real. Mas sobrevive graças a contratos e acordos, mesmo informais, que preveem reajustes anuais de mensalidades, pedágios, remédios, salários, aluguéis e de um sem número de serviços no país. Em 2013, segundo o Banco Central, quase um ponto percentual da inflação (5,91%) foi resultado de recomposições de reajustes passados. "Essa é uma grande agenda incompleta do Real e cria uma característica única da economia brasileira. Por que a inflação é tão resistente aqui e não é assim em outros países? Porque eles não tiveram indexação", diz Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio. Por efeito desse fenômeno, altas repentinas de preços provocadas por uma quebra de safra, consumo na China, seca ou chuvas se incorporam aos demais preços, por força da correção que segue os índices de inflação. O IGP-M, índice que reajusta os aluguéis, por exemplo, tem como um dos componentes o preço do minério de ferro, cujo preço é definido no mercado externo.

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O problema piora quando a inflação estaciona em um patamar mais elevado, como agora (6,3%). E recuperar a perda do poder de compra fica mais relevante para consumidores e empresários. "Essa inflação vira piso para reajustes futuros", diz Cunha. E quanto mais elevado é o patamar da inflação, como agora, diz Cunha, maior é a procura pela indexação. Outra debilidade que resiste -e é reconhecida pelos formuladores do plano- é que o crescimento econômico não se sustentou, mesmo com a inflação controlada. "Acho que está óbvio agora, como já me parecia em 1997. Não conseguimos definir uma estratégia de estabilização consistente com crescimento econômico vigoroso e equilíbrio externo", afirma Edmar Bacha, que integrou a equipe de economistas que desenvolveu e lançou o Real. Para ele, o período de expansão de 2004 a 2011 (o mais bem-sucedido desde os anos 1970) foi turbinado pelos preços externos das exportações, que hoje perdem fôlego. "Acabou a bonança, revelou-se novamente nossa economia enferma, em que convivem 'PIBinhos', inflação alta, déficit em conta corrente e a desindustrialização." A vacina, na sua opinião, é ampliar a abertura comercial da economia, elevando a concorrência e a eficiência das empresas brasileiras. Albert Fishlow, especialista em Brasil e professor emérito das universidades de Columbia e da Califórnia, ressalta que há algo positivo na memória inflacionária. "Isso estabelece um limite de ação aos governantes e faz com que todos os partidos defendam a inflação baixa", diz. O inglês Barry Baker notou também que o antigo país exótico da hiperinflação é hoje peculiar por motivos não menos daninhos. Dono de uma escola de inglês, ele tenta fechar a empresa e migrar para um sistema mais simples e flexível de tributação, para pequenos empreendedores. Mas já sabe a burocracia do processo. "Para um país que quer crescer rápido, não pode ser assim."

Seca paralisa navegação na hidrovia Tietê-Paraná e multiplica prejuízos A restrição da navegação na hidrovia Tietê-Paraná provocada por uma das piores secas da história já está causando prejuízos milionários ao agronegócio brasileiro. Para o setor, o ano está praticamente perdido quando o assunto é transporte de cargas por rios. Isso porque não há previsão de liberação total da navegação até o mês de novembro, já que nos próximos meses o país atravessa um período tradicionalmente seco. Se a proibição permanecer, como é o previsto, só os acréscimos dos custos de transporte de soja e milho, que partem principalmente de Mato Grosso e Goiás, devem passar de R$ 80 milhões. Segundo Edeon Vaz Ferreira, diretor do Movimento Pró-Logística e da Aprosoja-MT (associação que reúne produtores de soja e milho de Mato Grosso). De acordo com ele, cerca de 2,5 milhões de toneladas deixarão de ser transportados. Isso representaria mais 45 mil carretas bitrem circulando pelas estradas paulistas, encarecendo o custo do transporte em cercade 12%. Ferreira e os envolvidos com a navegação, do produtor ao exportador, pedem o cumprimento da lei nº 9.433 (Lei das Águas), que criou a Política Nacional de Recursos Hídricos. Ela prevê "o uso múltiplo das águas", ou seja, por todos os setores: consumo humano e animal, irrigação, turismo e lazer, transporte e geração de energia. "É preciso haver equilíbrio. Hoje o governo prioriza a energia em detrimento ao transporte. Outras alternativas [para geração de eletricidade] devem ser pensadas." O presidente do sindicato que representa as empresas que fazem a navegação na hidrovia, Luiz Fernando Horta de Siqueira, diz que as indústrias já perderam R$ 100 milhões com as restrições na hidrovia parcial, desde fevereiro, e total,

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desde o dia 30. Segundo ele, a previsão era transportar cerca de 4 milhões de toneladas neste ano pela hidrovia. Até agora, apenas cerca de 20% disso foi transportado. "Pior que o prejuízo financeiro é o moral. Você faz todo um trabalho para incentivar o transporte pela hidrovia, dizendo que é mais barato, mais vantajoso, aí surge um problema desse, que arranha a credibilidade desse modal". Osmar da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Fluviais no Estado de São Paulo, diz que já ocorreram demissões por causa da restrição da navegação não soube quantificar o total de cortes. Nelson Michielin, proprietário da DNP Indústria e Navegação, responsável por quase um terço da carga transportada pela Tietê-Paraná, diz que no ano passado foram cerca de 2 milhões de toneladas em cargas. "Em 2014 não chegamos nem a 500 mil." De acordo com ele, mais de 700 trabalhadores já foram demitidos. A empresa opera com quatro terminais ao longo de todo o sistema interligado à hidrovia. A previsão neste ano era transportar cerca de 3 milhões de toneladas.

À beira do abismo O ministro da Economia argentino fez em Nova York a declaração inusitada de que seu país está à beira do abismo. Não foi, porém, uma crítica à política econômica argentina, mas uma estratégia, até aqui sem sucesso, para influenciar a Justiça dos EUA a liberar o país da obrigação de pagamento integral a credores que não aceitaram o acordo de reestruturação da dívida assinado há alguns anos. O tribunal americano determinou o pagamento do valor integral da dívida a um grande credor que acionou a Justiça dos EUA, decisão que pode se estender a credores que aceitaram a reestruturação com desconto expressivo. O drama argentino é mais um exemplo acabado do que políticas intervencionistas e estatizantes provocam na economia. São medidas que podem parecer positivas no curto prazo, mas ao longo do tempo revelam-se desastrosas, como apontou o próprio ministro argentino. Essas dinâmicas econômicas se manifestam em diferentes intensidades em todas as regiões do mundo, a Argentina é só um caso extremado. A Europa oferece comparativos interessantes. A Alemanha, que sempre manteve austeridade fiscal e monetária, atravessou de maneira serena a crise e lidera a recuperação do continente. A Espanha, que adotou austeridade após crise profunda, dá sinais de recuperação. No Reino Unido, o desemprego recua e a economia ganha força sob um governo conservador eleito pregando austeridade e que tem feito duros ajustes. Já a França -e até certo ponto a Itália-, que ficou no meio termo entre a produtividade/austeridade alemã e a prodigalidade pré-crise do sul da Europa, não consegue crescer e volta a flertar com estímulos fiscais que causaram os problemas enfrentados hoje. É preciso notar como certas visões de políticas econômicas não se deixam alterar pelos fatos, vistos como meros aborrecimentos no meio do caminho. Nesses casos, ideias preconcebidas de que um Estado pródigo e interventor é o melhor condutor do crescimento predominam sobre resultados concretos e a experiência histórica. A crise argentina é clássica na medida em que o governo interveio diretamente na economia, procurando ditar o comportamento de empresas e consumidores. A experiência histórica mostra que finanças públicas desequilibradas, incerteza regulatória e distorções nos sistemas de preços criadas pelo governo são os maiores causadores de baixa produtividade, decadência econômica e crises. O exemplo da nação vizinha deve servir como eloquente prevenção contra a tentação da excessiva intervenção do governo no funcionamento da economia. Aprofundar medidas equivocadas para resolver problemas só aumenta aqueles que se quer resolver.

Sem reajuste, Petrobras perde até R$ 4,2 bi no ano A ansiedade da Petrobras em ter o aval do governo para reajustar preço de combustíveis ganha, com o recém-fechado acordo com a União para produzir mais em áreas no pré-sal, contornos de urgência. Eleições e inflação jogam o aumento para o fim do ano -o que lhe custaria até R$ 4,2 bilhões em 2014. A previsão é do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), considerando, hoje, uma defasagem da ordem de 18% no preço da gasolina e de 11,3% no do diesel em relação ao mercado internacional. O valor equivale a 78% do lucro da empresa no primeiro trimestre, de R$ 5,4 bilhões. Está em jogo o caixa da empresa, pressionado por ter de comportar investimentos de R$ 44 bilhões em 2014 e a dificuldade em aumentar a produção de petróleo -que, no Brasil, não sai do patamar de 2 milhões de barris por dia. A meta da empresa é elevá-la em 7% este ano. O novo compromisso assumido pela estatal -pagar à União R$ 2 bilhões em 2014 e R$ 13 bilhões até 2018 pelo direito de produzir mais 15 bilhões de barris em área do pré-sal a partir de 2021, como anunciado na semana passada- é mais impacto no caixa. Emitir títulos para levantar dinheiro não é uma opção. A companhia tem dívida líquida de R$ 230 bilhões, o que leva a relação entre dívida e geração de caixa, importante indicador avaliado pelo mercado, a 4. No

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início do ano, era 3,5. Quanto menor o indicador, mais confortável é a dívida de uma empresa. O compromisso de Graça Foster, presidente da empresa, com o conselho de administração é trazê-lo para 2,5. "Não há espaço para endividar-se mais", diz Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec-Rio. Se, de um lado, a Petrobras ganhou mais uma conta, de R$ 2 bilhões, para pagar neste ano, do outro, também na semana passada, o BC disse que vê risco maior de a inflação oficial superar o teto da meta para o ano, de 6,5%. Trata-se de um risco que o governo não vai querer correr em período eleitoral, dizem analistas. "O reajuste não vem nem neste ano, para não contaminar a meta", diz Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria. Sem o reajuste, sobram para a empresa dois caminhos, segundo analistas. O primeiro é cortar investimentos. "O foco tem que ser aumentar a produção de petróleo, e rápido", diz Pedro Galdi, da SLW Corretora. Hoje, 70% dos investimentos são em exploração, e 18%, em refino. Outro caminho seria a empresa fazer nova emissão de ações. "Cresce no mercado a avaliação de que esta é a única saída", diz Flávio Conde, analista-chefe da Gradual Investimentos. Nessa operação, investidores antigos são obrigados a comprar novas ações se quiserem manter a mesma fatia -e a mesma participação no lucro- na empresa. O que não for comprado é oferecido a novos investidores. Oficialmente, Graça rechaça a alternativa. O último aumento de capital, de R$ 120 bilhões, foi em 2010. O governo, que tem 50,2% do controle da companhia, não pôs dinheiro para manter sua participação. Em vez disso, repassou-lhe reservas no pré-sal em volume estimado de 5 bilhões de barris. O aumento de capital não é bem-visto. "A confiança do investidor com a empresa não é das melhores, tendo em vista a dívida, a ingerência do governo e o não aumento da produção", diz Bruno Piagentini, da Coinvalores.

Pátria e partido Doze dias atrás, pela primeira vez na democracia, o Brasil ganhou uma "lista negra" semioficial de críticos do governo. A nota, publicada no site do PT pelo vice-presidente do partido, Alberto Cantalice, enumera nove nomes malditos –entre eles, o deste colunista– e, nesse passo, desvela a alma política de uma parcela de nossa elite dirigente. Substancialmente, o que existe ali é a pretensão autoritária de identificar a pátria ao partido. Separemos o que é irrelevante. Ao responsabilizar os nove malditos pela recepção hostil do Itaquerão a Dilma Rousseff, o PT pratica uma inofensiva modalidade de terrorismo: tenta matar o país de tanto rir. Isolemos o que é secundário. A afirmação de que os nove "estimulam a maldizer os pobres e sua presença nos aeroportos, nos shoppings e nos restaurantes" não passa de uma calúnia primária destinada a aquecer militantes e pautar blogueiros palacianos. O principal está alhures. A nota acusa os nove de "desgastar a imagem do país no exterior" –ou seja, de trair a pátria. Por ridícula que seja, tal acusação traz uma marca inconfundível. Nos EUA, o macarthismo produziu suas "listas negras" por meio de um órgão parlamentar denominado Comitê de Atividades Antiamericanas. Desde a eleição de Obama, a ultradireita americana sugere que o presidente não nasceu nos EUA e/ou é muçulmano. A "pátria" torna-se, aí como no macarthismo, um pseudônimo da elite dirigente, não uma expressão do contrato nacional entre cidadãos livres e politicamente diversos. O PT ultrapassa uma barreira política e ética ao reclamar para si a propriedade da pátria. A "lista negra" do macarthismo tupiniquim surgiu no dia 16, mas só chegou ao noticiário político dos grandes jornais brasileiros após a divulgação do protesto da respeitada entidade internacional Repórteres Sem Fronteiras, no dia 20. O pesado silêncio de quatro dias dos jornais, rompido aqui e ali por colunas de opinião, é uma notícia tão relevante quanto a própria "lista negra". O "controle social da mídia" não começará por um decreto governamental, mas pela prática da autocensura. O que aconteceria nos EUA se o Partido Democrata divulgasse uma "lista negra" de críticos do governo Obama, acusando-os de "desgastar a imagem do país no exterior"? O PT, como registrou a Repórteres Sem Fronteiras, é o partido governante. A "lista negra" do PT surgiu logo que Lula atribuiu à "mídia" e à "elite branca" a culpa pela hostilidade de torcedores à presidente. A nota de Cantalice não é um ato oficial de governo, mas fica perto disso. Significativamente, nenhuma voz do Planalto veio a público informar que o governo não compactua com listas de "inimigos da pátria". "Os integrantes dessa lista estão exultantes de serem chamados assim", especulou um leitor que aprecia "listas negras" semioficiais (com a condição, suponho, de que seu nome não esteja nelas). Tudo é possível debaixo do sol, mas seria uma rematada tolice. Os nove "blacklisted" não partilham um credo político ou ideológico: aparecem juntos apenas por obra dos fabricantes de "listas negras". Além disso, os nomes são circunstanciais: listas dessa natureza mudam ao sabor das conveniências, como admitiu certa vez o próprio Joseph McCarthy. Joseph Cantalice McCarthy vive no tempo errado ou no país errado. Décadas atrás, no Brasil da ditadura, ele teria emprego assegurado na polícia política. Hoje mesmo, pode se candidatar com sucesso a um cargo de juiz no Egito, onde três jornalistas da Al-Jazeera foram condenados à prisão por "difundir notícias falsas" e –atenção à coincidência!– "manchar a imagem do país no exterior". O problema é que, neste país e neste tempo,

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ele opera no almoxarifado do governo. Tenho dois recados ao pequeno macarthista do PT: 1) Sua "lista negra" só incrimina o seu próprio partido; 2) A pátria é de todos.

Distribuição de renda Uma controvérsia voltou à tona nas últimas semanas. Afinal, o ciclo lulista distribuiu ou concentrou renda? De acordo com reportagem publicada nesta quinta (26) pelo "Valor", a fatia apropriada no Brasil pelo 1% mais rico da população não caiu entre 2000 e 2010. Tal faixa abocanhava cerca de 17% da renda nacional no início do século 21, e continuava a fazê-lo uma década depois. Estaria provado, então, que não houve redistribuição no período petista? O primeiro impulso é responder que sim, mas a questão é mais complicada. A depender do lugar em que se decida fazer o corte estatístico, aparecem aspectos contraditórios da realidade. A reportagem, assinada por Denise Neumann, mostra que se tomarmos a renda dos 10% mais ricos, veremos que caiu de 51% para 48% do total no período considerado. Mais ainda. A proporção subtraída do que se convenciona chamar de classe média tradicional parece ter ido parar no bolso dos pobres. A jornalista indica que os 60% pior aquinhoados tiveram os seus rendimentos elevados, indo de 18% para 22%. Desse ângulo, houve ou não distribuição de renda? O impulso é responder que sim. Uma hipótese plausível é que tenham ocorrido as duas coisas ao mesmo tempo: enquanto a imensa massa dos pobres via a própria renda crescer, ainda que de maneira moderada e a partir de um ponto inicial muito baixo, a classe média perdia algo, produzindo-se, assim, um efeito distributivo, ainda que seja visível a desproporção: 10% detêm 48% da renda; 60% ficam com 22%. Por outro lado, os mais ricos dentro da classe média (o 1%) não perderam nada. Pode-se supor até que no interior do segmento rico houve concentração, ou seja, os megarricos ficando ainda mais poderosos. Um exemplo interessante, embora posterior ao período até aqui observado: apenas em 2013 o número de bilionários brasileiros aumentou em 50%, passando de 43 para 65, de acordo com a revista "Forbes". Ou seja, o patrimônio estaria se concentrando na ponta da ponta da ponta. É possível, assim, que a mesma tendência detectada por Thomas Piketty em escala mundial tenha se dado por aqui, embora simultaneamente houvesse ocorrido um movimento distributivo do meio para baixo. Em resumo, teria havido uma melhora nas pontas, com uma piora relativa no setor intermediário. Note-se que enquanto de um lado cresceu o número de bilionários, de outro a renda dos 10% mais pobres aumentou 106% entre 2003 e 2012. Trata-se apenas de uma hipótese, mas admita-se que o raciocínio é compatível com a ira da classe média tradicional em relação ao lulismo.

Brasil continua com o crescimento inclusivo O PIB é usado como síntese do sucesso econômico. Se quisermos aferir o progresso dos povos, temos de nos debruçar sobre outras dimensões da experiência humana. Um bom roteiro é encontrado no livro de Stiglitz, Sen e Fitoussi: "(Mis)MeasuringOurLives". O livro reflete as conclusões de uma comissão de notáveis sobre como medir o progresso das nações aqui nomeadas em três vertentes: prosperidade, igualdade e sustentabilidade. Medimos estes elementos a partir de microdados de pesquisas domiciliares de uso público até abril de 2014. Entre 2003 e 2012, o PIB e a renda média da Pnad cresceram 27,8% e 51,7%, respectivamente, em termos reais per capita. Isto é descontando a inflação e o crescimento da população. As duas séries nominais têm desempenho similar. Portanto a diferença real é explicada pelo fato do deflator implícito do PIB subir no período cerca de 23 pontos de porcentagem acima do INPC (ou do IPCA). Sabemos exatamente o que os índices de inflação do consumidor medem e que há um viés dele para cima por não incorporar a possibilidade de substituição de bens que ficaram relativamente mais caros. Nos EUA esse viés tem correspondido a 0,25 pontos percentuais por ano numa inflação situada a menos 2 pontos por ano em 2012. Logo o crescimento real Pnad deflacionada pelo INPC é conservador. A discrepância entre o PIB e a renda média das famílias é ainda maior em 2012 com diferença de crescimento de quase 8 pontos de porcentagem, não explicada neste caso pelos deflatores. O Brasil real das pesquisas domiciliares cresceu mais que o das contas nacionais, diferença esta explicada pela diferença de deflatores. A renda mediana da Pnad cresceu 78,4% entre 2003 e 2012. Ou seja, o João que habita o meio da Belíndia brasileira prosperou a taxas indianas contra as taxas belgas do PIB. A renda dos 10% mais pobres cresceu 106,2%. Ou seja, quatro vezes mais que o PIB. A ausência da Pnad de 2013 e de 2014 cria percalços empíricos. Recorremos à PME que já nos permite observar a estagnação da renda domiciliar per capita real entre março e junho de 2013. Ao passo que o PIB do segundo trimestre de 2013 teve crescimento anual de 6% em dissonância com as manifestações de junho. Há gradativa retomada do crescimento ao longo dos três trimestres posteriores atingindo 4,35% na média e 6,8% na mediana nos 12 meses até abril de 2014. O brasileiro mediano está tendo crescimento próximo ao da economia da China hoje, que por sua vez tem crescido cerca de dois pontos de porcentagem abaixo da renda das respectivas pesquisas domiciliares. Este descolamento do

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crescimento da renda das pesquisas que vão à casa das pessoas e o PIB, favorável ao último, é a regra observada na grande maioria dos países no período recente. A desigualdade aumentou em dois terços dos países, enquanto entre nossos dois últimos censos a desigualdade caiu em 80% dos municípios. Depois de 10 anos de queda ininterrupta a desigualdade, segundo o Gini, se manteve praticamente estabilizada entre as Pnads 2011 e 2012, passando de 0,527 para 0,526. Esta estabilidade é consistente com os dados da PME nos mesmos períodos. A desigualdade volta a cair fortemente a partir de abril de 2013. A queda de quase 10 pontos de Gini nos últimos 12 anos, sob qualquer comparação, é espetacular. O Brasil segue o caminho do meio combinando crescimento da renda do conjunto das pessoas com redução de desigualdade entre elas. As séries tanto da média como da desigualdade da PME, iniciada logo antes da conquista da Copa de 2002, estão, às vésperas da Copa de 2014, exatamente em cima da linha de tendência. Comparando o crescimento anual de renda individual neste glorioso período de 12 anos (3,06%) muito próximo do observado nos últimos 12 meses (3,17%) e 3 anos (3,18%) há marcada queda da desigualdade horizontal. Cresce mais a renda de grupos tradicionalmente excluídos como negros 4,4%; analfabetos 5,8% e os da periferia 4,4%. A PME é restrita à renda do trabalho nas maiores metrópoles, ampliando o foco: nos 12 últimos meses o valor real per capita dos benefícios da previdência cresceu 5,27% e os do Bolsa Família, 5,4%, sem computar o recente reajuste de 10%. Complementarmente, ao abrirmos a cobertura das 6 grandes metrópoles da PME para o país da Pnad Contínua, o emprego floresce em maior quantidade, gerando um incremento de renda quase 1 ponto de porcentagem maior que da PME. Tal resultado já era esperado à luz do Caged que já mostrava redução de 9% no número de novas carteiras de trabalho geradas nas cidades da PME contra um aumento de e 22% no resto do país. Em outras palavras, as estimativas de crescimento restritas à renda do trabalho nas áreas metropolitanas da PME nos últimos meses são conservadoras. Se há limitações nos dados da PME, todas as principais inflexões da distribuição de renda no contexto brasileiro nos últimos 30 anos foram inicialmente antecipadas pela PME (booms surgidos depois dos planos Cruzado e Real, os efeitos das crises externas de 1997, 1999 e 2008). A PME tem se revelado um excelente indicador antecedente da Pnad. Em dezembro de 2012, publiquei o Comunicado 158 do Ipea que antecipou pela PME os resultados da Pnad com nove me ses de antecedência, e sugerimos crescimento da renda do trabalho 6,1% (contra 7,5% da Pnad 2012), bem acima do pibinho de 1% e desigualdade estável em 0,522 (contra 0,526 da Pnad ainda amazônico). Os dados da PME tornam possível acompanhar a trajetória das mesmas famílias por curtos intervalos de tempo, permitindo medir as oportunidades de ascensão social aproveitadas. No período 2002/2003, apenas 16 em cada 100 pessoas cruzaram a mediana de baixo para cima. Dez anos depois 27 em cada 100 pessoas percorreram o mesmo trajeto. O risco de regressão do brasileiro encontra-se num dos níveis mais baixos da série, em contraste com o risco país. As pesquisas domiciliares discutidas acima revelam que apesar do cenário macroeconômico adverso, há surpreendente sustentabilidade do processo de crescimento inclusivo brasileiro.

Fim da fantasia A arrecadação de impostos do governo federal quase parou de crescer neste ano. De janeiro a maio, a receita aumentou apenas 0,31% em relação aos primeiros cinco meses de 2013, descontada a inflação. Trata-se de mais uma evidência de que a atividade econômica desacelera para um ritmo próximo ao da estagnação. O número de pessoas empregadas e o total dos rendimentos do trabalho nas grandes metrópoles também parou de crescer. O crédito se expande em ritmo cada vez mais vagaroso; no caso dos empréstimos que não são regulados ou orientados pelo governo, os empréstimos ditos "livres", o total é menor que o do ano passado. A Receita Federal ainda estima que a arrecadação possa aumentar 2% neste ano, revisando a projeção inicial de 3,5%. Mesmo assim, o cálculo soa otimista, baseado na hipótese de que a economia crescerá 2,5% em 2014 --e desconsiderando novas reduções ou prorrogações de desonerações tributárias, como a do IPI sobre automóveis. O próprio Banco Central considera que o PIB brasileiro avançará 1,6%. A projeção de economistas do setor privado é de 1,2%. A frustração previsível da arrecadação torna ainda mais difícil o cumprimento da meta de superávit primário federal, a poupança do governo, desconsideradas as despesas com juros da dívida pública. Soube-se na sexta-feira (27), para piorar o quadro, que o governo por enquanto não está conseguindo cumprir tal meta, se considerado o desempenho das contas públicas nos últimos 12 meses. Além de explicitar o resfriamento da economia, os números da arrecadação evidenciam as dificuldades óbvias causadas pelo baixo crescimento, recentemente menosprezadas por membros da administração federal. O governo se gaba de manter baixo o desemprego e proporcionar melhorias sociais. O nível de emprego, no entanto, começa a acusar o efeito da baixa atividade. Como era fácil antever, a pífia

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expansão do PIB se reflete na receita de impostos, ainda mais insuficiente para financiar a expansão de programas sociais ou investimentos em infraestrutura. Note-se que o deficit público apenas cresceu nos anos de Dilma Rousseff (PT). A estagnação econômica, enfim, solapa algumas das últimas ilusões desta administração federal. O governo, de seu início até o terceiro ano, alardeava que o país cresceria a 6%, depois a 4%, calando-se sobre tais previsões exorbitantes diante dos resultados lamentáveis, substituindo tal propaganda pela do progresso social restante.

Estabilização alonga prazo de aplicações A estabilização da economia trazida pelo Plano Real provocou transformações na forma de investir. O controle da inflação permitiu que o horizonte de investimento ficasse mais longo, as aplicações pagassem juros "menores" e o investidor tivesse mais opções para diversificar, além de acesso a crédito. E justamente a inflação é apontada como a principal responsável pelas mudanças. Antes, o investidor buscava basicamente proteger seu poder de compra, diante de uma inflação que chegou a acumular, em junho de 1994, alta de 4.922% em 12 meses. "Quem recebia o salário procurava colocar o dinheiro na poupança ou então consumir o quanto antes. Por isso se viam filas enormes no supermercado. Caso contrário, o dinheiro derreteria na sua mão", diz Jurandir Macedo, professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e consultor de finanças pessoais do Itaú. Outra estratégia comum à época era guardar dólares em uma tentativa de manter o poder de compra. "O dólar era e ainda é considerado um investimento seguro, pois o risco de calote da principal economia do mundo [os EUA] é baixo", afirma Simão Silber, professor da FEA-USP.

Para minimizar as perdas provocadas pelo aumento de preços, os investidores deixavam o dinheiro em aplicações com correção diária, remuneradas pela taxa de juros 'overnight' -mesas de gerentes de banco tinham até listas com a conta e o valor a ser aplicado, de tão comum. Investimentos atrelados às ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional), que deram lugar às OTN (Obrigações do Tesouro Nacional) e aos BTN (Bônus do Tesouro Nacional), que tentavam corrigir a inflação, também eram comuns. Além de investimentos, os índices indexavam contratos. A estabilização econômica ampliou o horizonte de tempo para os investidores. "Antes do real sempre se privilegiou o curtíssimo prazo", diz Silvio Paixão, professor de economia da Fipecafi, fundação de pesquisa. Com inflação menor, o mercado passou a desenhar produtos com prazo mais estendido e remuneração mais condizente à nova realidade, principalmente após a ofensiva do governo contra os spreads bancários, que forçou redução dos juros após sucessivos cortes da taxa básica da economia (Selic). Juros nominais -sem descontar a inflação- altíssimos deram lugar a uma remuneração de dois dígitos, lembra Michael Viriato, professor do Insper, instituto de ensino. Isso fez com que as pessoas tivessem que procurar alternativas mais rentáveis, afirma. "O desenvolvimento do mercado financeiro proporcionou a entrada de uma série de recursos que naquela época não existiam. Houve uma educação financeira da população de uma forma generalizada", diz. Outro mercado que se desenvolveu foi o de crédito, que ficou mais acessível e com linhas mais longas. Em um cenário de inflação elevada não é possível trabalhar com taxas prefixadas, como ocorre hoje. No mês seguinte os juros já estarão desatualizados e o credor pode ter perdas em relação à inflação. Mas uma coisa não mudou: hoje, como antes, a caderneta de poupança é a aplicação preferida dos brasileiros.

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Empresas prevêem 2015 ruim mesmo com outro governo Mais da metade dos pequenos e médios empresários brasileiros diz acreditar que a situação econômica permanecerá ruim em 2015 independentemente de quem ganhe a eleição presidencial. É o que mostra uma pesquisa feita pelo Insper com 1.326 entrevistados em todo o país, que incluiu uma pergunta da Folha sobre expectativas para o próximo ano. Para 51,4% dos empresários ouvidos, nem a presidente Dilma Rousseff nem a oposição seriam capazes de reverter o quadro de atividade fraca em 2015. Outros 32,9% dos entrevistados dizem acreditar que um governo de oposição seria capaz de melhorar a situação econômica. Só 10,3% acham que Dilma tem maiores chances de conseguir isso. Para especialistas, as respostas indicam grande insatisfação com as políticas adotadas pelo atual governo. "Mais de 80% dos entrevistados não veem chance de melhora da economia em 2015 com o mesmo governo", afirma José Luiz Rossi Junior, pesquisador do Insper. Para Rafael Cortez, analista político da consultoria Tendências, os resultados da pesquisa refletem uma percepção de que será difícil reverter o processo de deterioração da economia. "Acho que existe uma percepção entre os empresários de que a nova matriz econômica deixa uma herança maldita", afirma Cortez. O termo nova matriz econômica foi usado pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) para se referir à flexibilização do tripé da política econômica que inclui regime de metas de inflação, câmbio flutuante e controle de gastos. O governo atual afrouxou a política fiscal e aceitou uma taxa de inflação perto do teto da meta do Banco Central. Essas políticas têm sido criticadas por empresários e investidores que atribuem a isso o resultado fraco da economia. As pesquisas de confiança dos setores industrial e de serviços e de consumidores feitas pela FGV (Fundação Getulio Vargas) indicam desalento crescente em relação ao futuro. "Até o início do ano, havia um movimento de declínio suave das expectativas. Em abril e maio, essa tendência se aprofundou e se tornou mais difusa", diz o economista Silvio Sales, da FGV. O levantamento do Insper, realizado trimestralmente com apoio do Santander, aponta deterioração das expectativas em relação à economia. Entre abril e junho, o Índice de Confiança do Empresário de Pequenos e Médios Negócios (ICPMN) em relação ao trimestre seguinte recuou pela quinta vez seguida, atingindo 63,3 pontos. Para Sales, o fato de mais da metade dos empresários estar pessimista em relação às chances de retomada em 2015 se deve à percepção de que o próximo governo terá de fazer ajustes que, em um primeiro momento, tendem a levar a uma desaceleração. Ele diz acreditar que a trajetória de declínio da confiança pode ser atenuada se a Copa transcorrer bem e o humor de empresários e consumidores melhorar. Mas a chance de aumento é pequena.

Pela quinta semana, mercado reduz projeção para expansão do PIB no ano SÃO PAULO - Os analistas de mercado reduziram pela quinta semana consecutiva suas estimativas para o crescimento da economia brasileira em 2014 e cortaram pela sexta vez a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2015, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central. A previsão para o cerscimento do PIB de 2014 saiu de 1,16% para 1,10%, enquanto a do próximo foi de 1,60% para 1,50%. Há um mês, esperava-se expansão de 1,50% neste calendário e de 1,85% em 2015. A estimativa para a produção industrial em 2014 foi mantida em queda de 0,14%, mas a de 2015 foi revista de avanço de 2,30% para 2,20%. As avaliações sobre a economia têm se deteriorado inclusive entre órgãos oficiais. Na semana passada, o BC informou em seu Relatório Trimestral de Inflação ter cortado sua estimativa para o crescimento do PIB em 2014, de 2% para 1,6%. O governo federal, em seu mais recente relatório de receitas e despesas, ainda considerava crescimento de 2,5%. O Focus mostra que o mercado não mudou suas projeções para a taxa de juro e para a inflação. Assim, a expectativa é de Selic a 11% no fim de 2014 e de 12% em 2015. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foram mantidas as projeções de alta de 6,46% neste calendário e de 6,10% no próximo ano. Para junho, foi conservada a estimativa de elevação de 0,34% para o IPCA. Em 12 meses, a perspectiva segue em 5,91% de aumento. Os analistas Top 5 - os que mais acertam as previsões - também mantiveram suas posições. As estimativas de médio prazo para a inflação seguiram em 6,33% e 7,03% em 2014 e 2015, respectivamente; para a Selic, seguiram em 11% em ambos os anos. A projeção para o câmbio seguiu inalterada pela quarta semana consecutiva. Dessa forma, o dólar deve encerrar em R$ 2,40 neste ano e em R$ 2,50 em 2015.

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FGV: Confiança da Indústria cai 3,9% em junho SÃO PAULO - Com avaliações mais pessimistas sobre o presente e também a respeito da atividade nos próximos meses, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 3,9% em junho, para 87,2 pontos, de 90,7 em maio, de acordo com a “Sondagem da Indústria de Transformação”, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Com isso, o indicador atingiu seu menor nível desde maio de 2009, quando marcou 86,4 pontos. Foi a sexta queda consecutiva da confiança do empresário industrial. Na prévia da sondagem, divulgada na semana passada, o ICI tinha tido queda menos intensa, de 3,4%. Na comparação com junho do ano passado, o indicador de confiança teve retração de 15,7%, após ter recuado 13,1% em maio, na mesma base de comparação. A queda do índice em junho foi motivada principalmente pela piora da perspectiva em relação aos meses seguintes. O Índice de Expectativas (IE) recuou 5,4%, para 84,4 pontos. Pelo quinto mês consecutivo, a previsão de produção foi o quesito que mais contribuiu para a queda das expectativas. O indicador recuou 5,8% em junho, para 100,9 pontos, o menor desde fevereiro de 2009 (100,3). A proporção de empresas que preveem aumento na produção nos três meses seguintes aumentou de 22,4% para 23,6%; mas a parcela de empresas prevendo reduzir a produção aumentou em magnitude superior, de 15,3% para 22,7%. Já o Índice da Situação Atual (ISA) caiu 2,4%, para 90,1 pontos. A avaliação sobre o nível atual de demanda exerceu a maior influência na queda do ISA. O indicador deste quesito caiu 3,2% em junho, para 84,5 pontos, o menor desde abril de 2009 (80,5). A proporção de empresas avaliando o nível de demanda como forte se manteve praticamente estável, ao passar de 8,3% para 8,5%, enquanto a parcela de empresas que o consideram fraco subiu de 21% para 24%. “A queda adicional da confiança e a expressiva diminuição do nível de utilização da capacidade no mês sinalizam o aprofundamento do quadro de deterioração do ambiente de negócios que vinha sendo observado ao longo do segundo trimestre. A piora persistente das expectativas, por sua vez, mostra que o empresariado industrial ainda não vê sinais de melhora no curto prazo”, diz a FGV, em nota. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) diminuiu de 84,3% para 83,5% entre maio e junho, atingindo o menor patamar desde novembro de 2011 (83,3%). A queda de 0,8 ponto percentual foi a maior desde janeiro de 2009 (-1,6 ponto) e parece refletir a combinação de demanda enfraquecida e feriados pontuais relacionados à Copa do Mundo, diz a FGV.

Exportador espera alta do dólar após eleições e mantém planos Apesar do recuo do dólar nos últimos meses para um patamar perto de R$ 2,20, os exportadores acreditam que a valorização do real é momentânea. Indústrias como Romi, Metalplan, Tecumseh, Frasle e Marcopolo mantêm planos de expansão de exportação e avaliam que o câmbio retomará a trajetória de depreciação após as eleições e também em 2015. A expectativa de patamar de dólar varia de R$ 2,30 a R$ 2,60 ao fim deste ano. A Marcopolo, maior fabricante brasileira de carrocerias de ônibus, adotou uma estratégia cautelosa para lidar com os altos e baixos do câmbio. A empresa manteve relativamente estáveis as cotações usadas na precificação dos produtos exportados ao longo dos últimos dois semestres e com isso conseguiu absorver a inflação interna do período e ainda garantir algum espaço para negociar preços em mercados africanos e latino-americanos pressionados pela desvalorização das moedas locais. Conforme o gerente operacional de comércio exterior, Ricardo Portolan, a Marcopolo está formando preços dos produtos exportados em cima de um câmbio "muito próximo" ao atual e não se empolgou com as altas do dólar a R$ 2,40 em agosto de 2013 e a R$ 2,44 em janeiro deste ano. "Não precificamos no câmbio na faixa de R$ 2,40 porque estava visível que era um pico", explica. Segundo o executivo, a companhia evita utilizar as cotações diárias na formação de preços e procura parâmetros com "certa estabilidade" porque o ciclo de maturação das vendas chega a três meses e o objetivo é buscar rentabilidade semelhante nos mercados interno e externo. Apesar da postura conservadora, a Marcopolo espera um câmbio a até R$ 2,60 no fim do ano para dar "mais competitividade" à indústria brasileira no exterior, acrescenta Portolan. A previsão para 2014, diz ele, é de uma alta de 10% nos embarques. A indústria de compressores Metalplan conseguiu manter de janeiro a maio deste ano o mesmo nível de exportação de iguais meses do ano passado. Segundo o diretor da empresa, Edgard Dutra, o desempenho está aquém do esperado, mas o resultado dos embarques compensa um pouco a falta de demanda no mercado doméstico. A produção total da empresa caiu 15% no mesmo período. Dutra diz que a empresa conseguiu manter o mesmo nível de embarques do ano passado por conta da estratégia da empresa de mudar o mix de produtos vendidos ao exterior, além de explorar novos mercados. Ele explica que a empresa passou a exportar compressores de grande porte, o que exigiu o desenvolvimento de representantes capazes de oferecer

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também maior assistência no destino de vendas. Por conta disso, diz ele, a empresa não voltará atrás na estratégia de expansão de exportação traçada este ano, mesmo com um dólar muito abaixo do patamar esperado para o período. Ele acredita que a volatilidade atual, com o recuo do dólar para perto de US$ 2,20, deve mudar após as eleições e prosseguir processo de desvalorização. Dutra avalia que o dólar pode chegar perto de R$ 2,50 ao fim do ano e, em 2015, avançar para algo em torno de R$ 2,80. No período em que o dólar ficou próximo a R$ 2,40, diz, a empresa chegou a dar descontos de 3% a 5% nos preços em dólar, o que trouxe um mais competitividade à empresa. "Mas o patamar atual não permite esse desconto." A Romi, também fabricante de bens de capital, tem, historicamente, taxa de exportação entre 10% e 12% da produção no Brasil. Este ano, segundo o diretor financeiro da companhia, Cassiano Rosalen, o nível de exportação deve ficar no teto desse intervalo. No primeiro trimestre o crescimento foi de 30% em relação a mesmo período do ano passado. Para ele, a taxa de crescimento não deverá se manter nesse patamar porque no segundo semestre de 2013 houve elevação de exportação pela Romi, o que tornará mais alta a base de comparação. Rosalen diz que a estratégia de expansão das exportações também está baseada em novos mercados e na criação de uma estrutura que inclui a venda de bens de capital que demandam suporte no destino, como engenharia de venda e assistência técnica. A expectativa de dólar médio para 2014, diz Rosalen, era um patamar em torno de R$ 2,40. "Esse câmbio não deve mais acontecer porque já tivemos muitos meses com um dólar mais próximo de R$ 2,20", diz ele. A taxa, porém, não prejudica a estratégia de ampliação das vendas ao exterior, acrescenta. "Nosso objetivo é de crescimento sustentado da exportação, no médio e longo prazo. A volatilidade do dólar não muda isso." Rosalen calcula que o nível de desvalorização do real frente ao dólar de 2010 até hoje ainda não cobre a inflação. O patamar de câmbio de hoje, diz, permite mais recomposição de margem do que descontos para tornar o produto da empresa mais competitivo no mercado internacional. Para empatar com a inflação, diz, o dólar precisaria chegar perto dos R$ 2,40. A avaliação, porém, é que o cenário mude até o fim de ano. Para ele, estimar uma taxa de câmbio num ano em que há eleições é muito mais difícil. A expectativa é de ajuste para taxas mais desvalorizadas a médio e longo prazo. Dagoberto Darezzo, diretor da Tecumseh, fabricante de compressores, também acredita que o dólar voltará a se valorizar a partir das eleições e chegará ao fim do ano em torno de R$ 2,30. Para ele, a evolução mais recente do câmbio, mesmo com as intervenções do governo no mercado, não mudou a tendência de desvalorização da moeda nacional. Por isso, a estratégia de exportação da empresa também se mantém. Na Fras-le, fabricante de lonas e pastilhas de freios do grupo Randon, a projeção inicial para o ano era de um câmbio médio de R$ 2,37 por dólar. O patamar não se confirmou até agora porque o governo vem intervindo no mercado para evitar uma alta mais forte da inflação às vésperas da eleição, entende o diretor-presidente e diretor de relações com investidores Daniel Randon. "Estamos trabalhando um pouco abaixo disto [para formação de preços dos produtos exportados]." Passada a eleição, diz, o governo deve afrouxar um pouco a política cambial e o dólar tende ir novamente à casa dos R$ 2,40 para evitar pressões sobre a balança comercial. Neste cenário, que além do câmbio oscilante inclui a impossibilidade de reajuste de preços em dólar no exterior, a Fras-le mantém as margens com relativo equilíbrio entre os 30% a 40% dos custos atrelados ao dólar e a participação de 40% a 45% do mercado externo sobre o faturamento, explica Randon. No primeiro trimestre, as exportações a partir do Brasil mais as operações no exterior responderam por 44,1% da receita líquida consolidada de R$ 192 milhões. A MAN LatinAmerica, produtora de ônibus e caminhões, também utiliza a tática do "hedge natural" para lidar com a incerteza do câmbio, diz o presidente da empresa, Roberto Cortes. "O que importamos é equalizado com as exportações, de tal forma que a gente não dependa muito da variação do dólar", explica. Cortes diz que a valorização do dólar, ocorrida no ano passado, e a manutenção do patamar cambial ajudaram a empresa a ganhar mais de competitividade. A MAN aproveitou para recompor margens de lucro em vez de dar desconto nos produtos. Com a valorização do dólar, insumos importados também encareceram, tornando o custo de produção mais alto. Isso implicou em aço e borracha e seus derivados mais caros. Cerca de 10% dos caminhões da MAN são de peças importadas. A companhia estima que o dólar deve ficar estável até o fim do ano.

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País está entre os que têm maior inflação A inflação continua obstinadamente elevada no Brasil, Indonésia, Rússia e Turquia, enquanto nos outros mercados emergentes está inferior a seu nível médio, diz o Banco de Compensações Internacionais (BIS) em seu relatório anual. Pelas projeções do banco, o Brasil fechará 2014 com a terceira mais elevada inflação este ano entre as grandes economias, com taxa de 6,3%, só superado pela Turquia, com 8,3%, e a Rússia, com 6,4%. No grupo dos Brics, somente o Brasil e a África do Sul (6,2%) terão alta maior dos preços este ano, enquanto o nível permanece estável ou baixa nos outros parceiros. Desta vez, o BIS examina as razões não de alta, e sim de pressão de baixa inflação na maioria dos países. O banco atribui isso em parte a efeitos positivos do lado da oferta na economia mundial. A intensificação da concorrência nos mercados de bens e de serviços reduz a margem de aumento possível dos preços, e pode provocar mesmo uma baixa. As projeções do BIS colocam o Brasil também como o país com o terceiro maior déficit de contas correntes este ano, de3,5% do PIB, comparado a 6,2% no caso da Turquia, e de 5,2% na África do Sul. O Brasil se destaca também como o país que acumula a maior dívida pública bruta entre os emergentes. O BIS projeta que a dívida pode fechar em 67% do PIB este ano, ante 65% em 2013. A Índia, em segundo lugar, tem dívida bruta de 65%, mas em queda ante os 74% do ano passado. O governo central (que inclui o Tesouro Nacional, a Previdência Social e o Banco Central) registrou um déficit primário de R$ 10, 502 bilhões em maio, o pior resultado para esse mês em toda série estatística, que começa em 1997. O mercado financeiro reagiu mal ao dado, divulgado na sexta-feira, puxando para cima os juros futuros, com repercussões para os custos de financiamento da dívida pública. Embora seja prematuro tirar conclusões definitivas a partir de apenas uma peça de informação, as estatísticas trazem sinais inquietantes sobre a evolução das contas públicas. O mau resultado, em boa medida, é reflexo da desaceleração da economia, que reduz a receita. Os prognósticos são desfavoráveis, num momento em que os analistas econômicos rebaixam suas projeções para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB). A situação é ainda mais crítica porque o déficit primário resulta também de fatores outros além do ciclo econômico. Os gastos públicos aumentaram consideravelmente em maio. O que resta saber é se houve apenas uma antecipação de despesas - consequência da legislação que impede inauguração de obras três meses antes das eleições - ou a confirmação dos receios de especialistas de que o Tesouro soltará as rédeas para ampliar as chances de um novo mandato à presidente Dilma Rousseff. O déficit primário de maio representa uma deterioração de R$ 16, 476 bilhões em relação aos superávit primário de R$ 5,974 bilhões obtido no mesmo mês de 2013. Nos meses anteriores, a evolução das contas fiscais já era desfavorável, em virtude da desaceleração no ritmo de expansão das receitas. Desta vez, porém, houve uma queda nominal de 7,8% das receitas líquidas, que passaram de R$ 74,160 bilhões para R$ 68,374 bilhões entre maio de 2013 e de 2014. Uma parte dessa queda decorre do fato de que, em maio de 2013, o governo teve uma arrecadação extraordinária de cerca de R$ 4 bilhões oriunda de pagamentos de débitos atrasados por alguns grandes contribuintes. Excluindo esse fator, no entanto, ainda assim a receita líquida segue com uma retração nominal. O que era de se esperar, em situações normais, é que ao menos aumentasse ao mesmo passo da inflação, que supera 6% ao ano. Receitas mais ligadas à atividade econômica, como tributos sobre pessoas jurídicas e ganhos de capital, têm mostrado sinais de debilidade. Não poderia se esperar algo diferente, diante do fato de que o Banco Central, em seu mais recente Relatório Trimestral de Inflação de junho, reconhece que a economia cresce abaixo do potencial. Nessas condições, a arrecadação costuma sofrer uma desaceleração maior do que o PIB. O que chama a atenção, neste momento, é o aumento de gastos públicos em ritmo muito superior ao da inflação. As despesas totais do Tesouro Nacional deram um salto de 15,7% entre maio de 2013 e de 2014, passando de R$ 68,159 bilhões para R$ 78,876 bilhões. É natural que algumas despesas apresentem crescimento vegetativo em linha com a inflação, como os gastos com pessoal, que avançou 6,3%; ou mesmo acima dela, como no caso da Previdência Social, com incremento de 11,3% no período. Mas as estatísticas mostram aumento de 32% na rubrica conhecida como "Outras Despesas de Custeio e de Capital", que abriga gastos cujo controle estão mais ao alcance do governo. Em termos absolutos, esse item teve um incremento de quase R$ 6 bilhões, ou mais da metade do déficit primário de maio. Entre elas, destacamse os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que saltaram de R$ 2,778 bilhões para R$ 6,162 bilhões. Aumentos de investimentos são bem-vindos, mas seria prudente bancá-los com recursos orçamentários, não com a emissão de dívida pública. É possível que o governo tenha acelerado os gastos do PAC para dar um impulso em obras que estão próximas de serem concluídas, já que a legislação impede a inauguração de obras três meses antes da eleição. Se for esse o caso, menos mal, pois os desembolsos tenderiam a voltar a patamares mais normais no segundo semestre. Flutuações como essas deveriam despertar maiores preocupações, pois tendem a ser revertidas mais adiante. Mas um bom pedaço do espaço e credibilidade fiscal foi consumido nos últimos anos com o uso intensivo de medidas orçamentárias de estímulo à economia e de artifícios contábeis para fechar as contas públicas.

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Mercado baixa estimativa de alta do PIB de 2014 pela 5ª semana seguida Se Segundo o boletim Focus, fruto de pesquisa feita pelo Banco Central com mais de 100 instituições financeiras, referente à semana passada, a previsão para 2014 é de um aumento de 1,10%. Na pesquisa anterior, os economistas esperavam alta de 1,16% no PIB deste ano. Para 2015, a previsão recuou de 1,6% para 1,5% na sexta queda consecutiva. O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos em território brasileiro, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o crescimento da economia. No fim de maio, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a economia do país registrou expansão de 0,2% nos três primeiros meses de 2014, em relação ao quarto trimestre de 2013, com destaque para o bom desempenho da agropecuária. O aumento do PIB do país previsto para 2014 pelo mercado financeiro continua abaixo do estimado no orçamento federal, de 2,5%, e também menor que a previsão divulgada pelo Banco Central na semana passada, de alta de 1,6%. Os analistas do mercado também mantiveram, na semana passada, em 6,46% a previsão para 2014 do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país e calculado pelo IBGE. Com isso, o valor permanece próximo do teto de 6,5% do sistema de metas de inflação para o ano. A previsão chegou a ultrapassar o teto em abril, mas depois recuou. Para 2015, a expectativa do mercado para o IPCA permaneceu em 6,10% na semana passada. Foi a quarta elevação seguida neste indicador. Pelo sistema que vigora atualmente no Brasil, a meta central tanto para 2014 quanto para 2015 é de 4,5%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta da autoridade monetária seja formalmente descumprida. Os analistas do mercado financeiro também mantiveram a estimativa de que a taxa básica de juros (Selic) da economia brasileira ficará estável, no atual patamar de 11% ao ano, até o fechamento de 2014. No fim de maio, a taxa foi mantida estável pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central – o que interrompeu um ciclo de nove altas consecutivas ao longo de 13 meses. Para o fim de 2015, a previsão dos analistas para o juro básico da economia permaneceu em 12% ao ano. Nesta edição do relatório Focus, a projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio no fim de 2014 permaneceu em R$ 2,40 por dólar. Para o término de 2015, a previsão dos analistas para a taxa de câmbio ficou estável em R$ 2,50 por dólar. A projeção para o superávit da balança comercial (resultado do total de exportações menos as importações) em 2014 ficou inalterada em US$ 2 bilhões na semana passada. Para 2015, a previsão de superávit comercial recuou de US$ 10 bilhões para US$ 9,9 bilhões. Para este ano, a projeção de entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil permaneceu em US$ 60 bilhões. Para 2015, a estimativa dos analistas para o aporte de investimentos estrangeiros subiu de US$ 55,4 bilhões para US$ 55,6 bilhões.

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