30 de setembro de 2014

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 30 DE SETEMBRO DE 2014

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Reação eleitoral de Dilma faz Bolsa ter maior queda diária em três anos Fonte Folha de São Paulo 29/09/2014 às 18h 04 A reação da presidente Dilma Rousseff (PT) na corrida eleitoral fez com que a Bolsa brasileira registrasse a maior desvalorização diária em três anos. O Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, fechou o dia com queda de 4,52%, a 54.625 pontos, o menor patamar desde 10 de julho deste ano. Além disso, foi a maior desvalorização percentual diária do Ibovespa desde 22 de setembro de 2011, quando o índice caiu 4,83%. O mau humor do investidor também fez com que o dólar disparasse nesta segunda-feira. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,03%, a R$ 2,446, no maior patamar desde 9 de dezembro de 2008. O dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,69%, a R$ 2,457, também no maior nível desde 9 de dezembro de 2008. Para analistas, o fortalecimento da candidata petista nas eleições é a principal explicação para a desvalorização da Bolsa nesta segunda-feira. "O mercado financeiro não gosta da Dilma e, por isso, quando ela tem bom desempenho nas pesquisas, ele coloca isso no preço.Mas minha avaliação é que [o mercado] não colocou tudo no preço, [a Bolsa] pode cair mais", afirma Felipe Miranda, sócio fundador da EmpiricusResearch. "O Ibovespa abriu em forte queda como reflexo da pesquisa Datafolha de sexta-feira (26), mas à tarde os mercados se acalmaram. A pesquisa CNT/MDA que confirmou a reação de Dilma, porém, causou essa resposta negativa do mercado", completa a equipe de analistas da Socopa. A pesquisa CNT/MDA mostra a atual presidente mais distante da segunda colocada, Marina Silva (PSB). Dilma tem 40,4% das intenções de voto no primeiro turno, contra 25,2% da exministra do Meio Ambiente. Aécio Neves (PSDB) surge com 19,8% da preferência. No segundo turno, Dilma tem 47,7% das intenções de voto. Marina aparece com 38,7%. Na semana passada, as duas candidatas estavam tecnicamente empatadas. A candidata petista tinha 42% das intenções enquanto a pessebista estava com 41%. Na sexta-feira, a pesquisa Datafolha já confirmava a recuperação de Dilma no cenário eleitoral. Nesse dia, o Ibovespa subiu 2,23%, impulsionado pela alta de mais de 5% nas ações da Petrobras, pois havia expectativa no mercado financeiro de que a pesquisa Datafolha fosse ser favorável à oposição ou desfavorável ao governo. "Como o resultado foi contrário, quem tinha comprado ações na sexta-feira com essa expectativa teve que vender hoje [segunda, 29]", disse Raymundo Magliano Neto, presidente da Magliano Corretora. Essa reversão da expectativa acabou empurrando o índice para baixo. AÇÕES Das 69 ações do Ibovespa, 62 fecharam o dia no vermelho. A maior desvalorização ficou com os papéis da Petrobras. Os papéis das estatais são os mais sensíveis à atual disputa eleitoral. Isso porque parte dos investidores acredita que uma vitória da oposição significaria uma diminuição na intervenção do governo na empresa. Logo, quando Dilma sobe nas pesquisas, os papeis da companhia se desvalorizam. As ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, encerraram o dia com queda de 11,17%, aR$ 18,60. Os papéis ordinários, com direito a voto, perderam 10,44%, a R$ 17,75. Os papéis do Banco do Brasil encerraram o dia com queda de 8,55%, a R$ 27,28. Já as ações preferenciais da Eletrobras tiveram desvalorização de 3,70%, a R$ 10,16, enquanto as ordinárias fecharam com baixa de 6,14%, a R$ 6,88. Entre as sete que subiram nesta segunda-feira, a maior alta foi da Cielo, com valorização de 2,15%. Os papéis da BB Seguridade subiram 1,92%, mesmo percentual de alta da Fibria Celulose. A Embraer encerrou o dia com alta de 1,32%. 2


Os papéis dessas duas últimas empresas foram favorecidos pela valorização do dólar, afirma Bruno Piagentini, analista da corretora Coinvalores. "São empresas exportadoras e que se beneficiam desse novo patamar do dólar, mais alto", diz. A troca de comando da Usiminas também repercutiu no mercado. Na semana passada, a siderúrgica anunciou a destituição do presidente da companhia, Julián Eguren, em meio a um conflito entre os acionistas Ternium e Nippon Steel. Em relatório, a Magliano Corretora diz que analistas que acompanham o papel esperam que a empresa convoque novas eleições em breve, mas destacaram que o evento foi inesperado e trouxe ainda mais incerteza ao cenário que já é negativo para a companhia. "Os profissionais avaliam que a retração de demanda por aço no mercado interno e a queda do preço do minério de ferro, que colocou em xeque os planos de verticalização da empresa, já eram suficientes para pressionar as suas ações. Agora, o conflito entre os acionistas e a dúvidasobre quem será o novo líder da empresa colocam ainda mais pressão sobre a companhia", afirma a corretora. Os papéis ordinários da Usiminas caíram 5,18%, a R$ 6,95, enquanto os preferenciais tiveram baixa de 6,00%, a R$ 6,89. CÂMBIO A valorização do dólar deve continuar nos próximos dias, prevê Raymundo Magliano Neto, da Magliano Corretora. "O dólar hoje foi praticamente só efeito eleitoral. Houve desvalorização de outras moedas em relação ao dólar, mas nada como o real. Pensando que os estrangeiros vão sair do país se a reeleição se confirmar, eles vão precisar comprar dólares para levar seu dinheiro embora e isso vai pressionar o dólar ainda mais", diz. É a mesma percepção de Felipe Miranda, sócio fundador da EmpiricusResearch. "O dólar tende a ir para cima, estamos em meio a um processo de ajuste, com tendência de alta da moeda; os fundamentos macroeconômicos apontam desvalorização da moeda. Além disso, há ganho de valor do dólar contra outras moedas", ressalta. Para conter a alta da moeda, o Banco Central deu continuidade às intervenções diárias no mercado de câmbio nesta sessão, vendendo os 4.000 contratos de swap cambial –equivalente à venda futura de dólares. Foram vendidos 1.700 contratos com vencimento para 1º de junho e 2.300 para 1º de setembro de 2015, com volume equivalente a US$ 197,5 milhões. O BC também vendeu a oferta total de até 15 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em outubro e, com isso, rolou praticamente todo o lote total, que corresponde a US$ 6,677 bilhões. Vale lembrar que nesta terça-feira é dia de formação da Ptax taxa calculada pelo BC que serve de referência para diversos contratos cambiais e é divulgada no início da tarde do último dia útil de cada mês. Por isso, o dólar deve continuar volátil no próximo pregão.

Governo antecipa para outubro benefício a exportador Fonte Folha de São Paulo TATIANA FREITAS de SÃO PAULO 29/09/2014 às 17h 31 O governo antecipou para outubro deste ano um benefício que seria concedido aos exportadores a partir de 2015. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou nesta segunda-feira (29) que as empresas poderão recuperar 3% das vendas de produtos manufaturados ao exterior, por meio de créditos tributários, a partir do próximo mês. A alíquota entraria em vigor apenas em 2015. A medida faz parte do Reintegra, programa especial tributário destinado aos exportadores. Para o último trimestre deste ano, o crédito previsto era bem menor, de 0,3%, mas o governo decidiu recuar depois de pedidos da indústria. Na manhã desta segunda, o ministro esteve reunido por cerca de duas horas com empresários na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). 3


O impacto fiscal da medida, segundo Mantega, será de R$ 6 bilhões em 12 meses. Questionado sobre como o governo pretende compensar essa renúncia fiscal, o ministro disse esperar um crescimento maior da indústria e da economia no próximo ano, o que elevará a arrecadação. O ministro anunciou também a inclusão de mais R$ 200 milhões no orçamento do Proex equalização (modalidade de crédito à exportação que equaliza a taxa de juros para aumentar a competitividade das exportações). Segundo ele, essa injeção vai possibilitar a exportação de aproximadamente R$ 3 bilhões. Mantega disse ainda que o governo está trabalhando na desburocratização do drawback (programa que desonera as importações de insumos utilizados na produção de manufaturados para exportação). Afirmou também que foram criados, no encontro desta segunda, duas comissões com os empresários: uma para discutir questões trabalhistas e outra para debater entraves tributários. "Junto com a desvalorização do real, essas medidas permitem que possamos ter mais competitividade na exportação", disse o presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, que também é presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). "A alíquota de 3% [do Reintegra] é a possível. O governo nos deu o máximo por ora permitido, mas queremos mais. Estamos evoluindo, isso demonstra interesse do governo em resolver os problemas da indústria", afirmou Steinbruch, ressaltando os elevados estoques com os quais trabalha a indústria.

Prazo maior para empréstimo consignado do INSS começa na quarta Fonte Folha de São Paulo 29/09/2014 12h 07 O aumento do prazo para o pagamento de empréstimos consignados feitos por aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) começa a valer na quarta-feira (1º), segundo portaria publicada no Diário Oficial da União nesta segunda-feira (29). Os financiamentos, que hoje têm de ser liquidados em até 60 parcelas, poderão ser pagos em 72 meses. Segundo a portaria, o mesmo é válido para cartão de crédito. A decisão foi tomada na semana passada pelo Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS). Segundo dados do Ministério da Previdência Social, 91% dos contratos de crédito consignado ativos até agosto deste ano possuíam prazos entre 49 e 60 meses. As taxas de juros serão mantidas em até 2,14% ao mês. O crédito consignado é aquele no qual a parcela da dívida é descontada da remuneração do tomador antes que ele a receba. O procedimento diminui o risco de calote para o banco e faz com que as taxas de juros sejam mais baixas. HISTÓRICO Não é a primeira vez que o INSS adota prazo máximo de 72 meses para os empréstimos com desconto em folha. Segundo o Ministério da Previdência, entre 2004 e 2005, o instituto também permitia o endividamento por esse prazo. O consignado começou em dezembro de 2003 com prazo máximo de 36 meses, que foi sendo estendido conforme bancos e beneficiários ficavam mais confortáveis com a nova modalidade. A ampliação das parcelas é uma forma conservadora de estimular o crédito. O prazo médio dos empréstimos do INSS é de 57,3 meses, enquanto fora desse segmento (sem garantia) a duração média é de 40,4 meses. Empresas brasileiras lideram perdas nas bolsas dos EUA

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Nas bolsas americanas, Petrobras, Bradesco e Itaú figuram entre as cinco maiores baixas Fonte Revista Veja 29/09/2014 as 19h 40 A queda das ações de bancos e empresas brasileiras nesta segunda-feira repercutiu também nas bolsas americanas. Segundo dados do Google Finance, das cinco maiores quedas em valor de mercado do pregão, quatro se referiam a ações de empresas brasileiras negociadas nos Estados Unidos — as chamadas ADRs. As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras recuaram, respectivamente, 11,41% e 10,7%. Já as ADRs do Itaú Unibanco e do Bradesco despencaram 8,4%. No Brasil — Enquanto o eleitor parece cada vez mais inclinado a oferecer à presidente Dilma Rousseff a oportunidade de um novo mandato, investidores sinalizam exatamente o oposto. Um forte movimento de venda de ações fez com que o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, recuasse 4,52% nesta segunda-feira, a maior queda em três anos. O dólar também disparou, chegando a ser cotado a 2,47 reais — seu maior valor desde 2008, período agudo da crise financeira internacional. A moeda americana perdeu força no final do pregão e fechou a 2,45 reais. As ações das empresas estatais lideraram as baixas: Petrobras caiu 11,4%, enquanto o Banco do Brasil recuou 9%. As ações da própria BM&FBovespa perderam 8,3% no dia. A melhora da atual presidente nas pesquisas, que apontam sua vitória no segundo turno ante ambos os concorrentes, Aécio Neves e Marina, fez com que um movimento de venda de ações se aprofundasse na bolsa. O Ibovespa chegou a cair quase 6% na abertura, com os papéis da Petrobras recuando 10%. Em ambos os casos, a queda é muito mais profunda do que o que foi assistido no início de 2014, quando as primeiras pesquisas começaram a ser divulgadas criando alta volatilidade na bolsa.

Resultado fiscal do governo tem o pior agosto em 18 anos Fonte Renata Veríssimo e Laís Alegretti e Adriana Fernandes, do 10h 00

30/09/2014

Brasília - Confirmando o quadro de deterioração fiscal do Brasil, as contas do Governo Central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência) registraram um déficit primário de R$ 10,422 bilhões em agosto, o quarto consecutivo em 2014. O valor é o pior resultado fiscal para meses de agosto em 18 anos. Segundo a série histórica do Tesouro Nacional, que começa em 1997, foi a primeira vez que o Governo Central teve resultado negativo em um mês de agosto. Por causa da piora das contas públicas nos últimos meses em função da forte frustração da arrecadação federal, o governo descumpriu a meta para o segundo quadrimestre do ano (até agosto). O superávit primário acumulado de janeiro a agosto é de apenas R$ 4,675 bilhões, 0,14% do Produto Interno Bruto (PIB). A meta era de uma economia de R$ 39,215 bilhões. O valor acumulado no ano é 87,8% menor que no mesmo período de 2013, que foi de R$ 38,416 bilhões (1,22% do PIB). O resultado de agosto torna praticamente impossível o cumprimento da meta de superávit primário para 2014 de R$ 80,774 bilhões. O governo teria de economizar em quatro meses R$ 76,1 bilhões a mais do que conseguiu fazer em oito meses. O desempenho fiscal de agosto ficou fora da mediana dos analistas de mercado, que era de um valor negativo de R$ 700 milhões. As estimativas iam de um déficit primário de R$ 9,8 bilhões a um superávit de R$ 4 bilhões, segundo levantamento finalizado pelo AE Projeções com 12 instituições do mercado financeiro.

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Economia dos EUA registra maior crescimento desde 2009 Fonte

26/09/2014

Washington - A economia dos Estados Unidos cresceu no segundo trimestre de 2014 a um ritmo anual de 4,6%, a maior alta desde que a crise econômica terminou em meados de 2009, informou nesta sexta-feira o governo local. A alta do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, anteriormente calculada pelo Departamento de Comércio em 4,2%, se deveu principalmente ao aumento das exportações e ao estímulo recebido pelo investimento empresarial. No segundo trimestre, a despesa dos consumidores, considerado o autêntico motor da economia americana por representar mais de dois terços do PIB, aumentou a um ritmo anual sustentado de 2,5%. No primeiro trimestre do ano a economia tinha sofrido queda de 2,1% devido principalmente à pouca força no consumo durante um inverno que foi particularmente severo. O maior ganho no segundo trimestre foi registrado no investimento empresarial, com uma despesa em infraestrutura, como escritórios e fábricas, que subiu de 9,4% calculado há um mês para 12,6%, e a despesa em maquinário foi revisada em alta de 10,7% para 11,2%. A alta registrada no setor das exportações ficou em 11,1% no trimestre, o maior aumento em três anos. No entanto, as reservas das empresas se mantiveram estáveis, avaliadas em US$ 84,8 bilhões, um número alto que poderia levar a uma desaceleração do crescimento do setor empresarial para o terceiro trimestre.

Aneel aprova nova fórmula de reajuste da conta de luz Fonte Nivaldo Souza, do

30/09/2014 10h 30

Brasília - A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) referendou, nesta terça-feira, 30, a fórmula de reajuste mensal da conta de luz proposta no ano passado pelo órgão regulador e vinha sendo contestada por distribuidoras. Passam a valer três bandeiras tarifárias que deverão ser aplicadas mensalmente a partir de janeiro de 2015. No caso de bandeira verde, que sinaliza ausência de problemas de geração de energia, a tarifa se mantém no mesmo valor. Neste caso, a sinalização em verde na conta de luz indicará que não houve impacto de custo extra na compra de energia pela distribuidora em função de crises no sistema, como a redução de reservatórios de hidrelétricas, que exigem o acionamento de usinas térmicas a diesel e gás natural. Já a bandeira amarela, que sinaliza início de crise, o reajuste será de R$ 1,50 a cada 100 quilowatts/hora (kWh) na conta do consumidor final. Na bandeira vermelha, indicativo de crise no sistema de geração, o reajuste da conta de luz será de R$ 3,00 para cada 100 kWh. O reajuste deixará, portanto, de ser anual com base no custo acumulado da energia. A proposta constava de resolução da Aneel aprovada em 2013, mas estava em constatação por distribuidoras como a Elektro e a AES Eletropaulo. As empresas alegaram dificuldade para adaptar seus departamentos comerciais ao novo modelo mensal. A Aneel refutou o argumento e determinou o prazo de 90 dias para as distribuidores se adaptarem para aplicar a partir de janeiro. A agência avaliou que o modelo permitirá ao consumidor acompanhar o custo da energia do País em tempo real, podendo reduzir o consumo de acordo com o aumento recebido no mês. O reajuste será repassado no mês seguinte ao aumento no custo de geração. A mudança no modelo de reajuste ocorreu, de acordo com a Aneel, para absorver os momentos de crise na geração, como no período de seca em que as hidrelétricas são prejudicadas e as térmicas são acionadas para suprir a demanda. 6


Marxianos, keynesianos ou marcianos? Fonte Jornal Valor Econômico Antonio Delfim Netto 30/09/2014 às 05h 00 Uma das "boutades" mais conhecidas de Keynes na sua "Teoria do Emprego, Juro e Moeda" (1936) é que "as ideias de economistas e de filósofos políticos, sejam elas corretas ou erradas, têm mais poder do que geralmente se supõe". De fato, diz ele, "o mundo é administrado por pouca coisa mais do que isso". E complementa: "Os homens práticos, que se pensam isentos de qualquer influência intelectual, são, em geral, escravos do pensamento de algum defunto economista". Pois bem, acaloradas discussões entre duas das inúmeras tribos que se abrigam na nação dos economistas, os "marxianos" e os "keynesianos", mostram que alguns deles são escravos do pensamento congelado de dois filósofos-economistas defuntos. Karl Marx e J. M. Keynes foram gênios. Estiveram à frente do seu tempo. Cultivaram contradições. Aumentaram a nossa compreensão do mundo e dissecaram a estrutura da nossa organização social. Obrigaram-nos a enfrentar a cruel realidade escondida na ingênua e generosa concepção que existiria uma harmonia social providenciada pela natureza. A partir de suas ideias, menos distantes do que parecem no seu objetivo final - a construção de uma sociedade civilizada -, avançaram dramaticamente o conhecimento empírico e teórico que algum de seus epígonos, "escravos do pensamento congelado", insistem em ignorar. Karl Marx e J. M. Keynes estão incorporados ao pensamento universal. Devemos reverenciá-los porque, foi "subindo nos seus ombros", que enxergamos mais longe. Mas "marxianos" e "keynesianos" congelados discutirem a "utilidade" de um banco central operacionalmente autônomo na segunda década do século XXI é de um anacronismo preocupante. Um Banco Central operacionalmente autônomo não é nem condição necessária, nem suficiente para a estabilização dos preços. Não é necessária, porque pode ser feita sem ele. Não é suficiente, porque não pode ser feita apenas por ele. Trata-se, basicamente, de um "instrumento útil" para obrigar o poder incumbente (que fixa a meta de inflação) a adotar políticas (fiscal, salarial etc.) coerentes com ela, sob pena de ver murchar o PIB. No Brasil, os membros do BC são escolhidos livremente pelo poder incumbente eleito e submetidos ao escrutínio do Senado que, infelizmente, até hoje não levou a sério a sua missão. Mandatos fixos (com as limitações de sempre) não são necessários, mas, de novo, são úteis. Primeiro, dão um pouco mais de "musculatura" aos escolhidos pelo poder incumbente para oporem-se a que execute, oportunisticamente, políticas fiscal e salarial contraditórias com a "meta" de inflação que ele mesmo escolheu. Segundo, mandatos calibrados convenientemente darão a necessária e imediata maioria aos membros escolhidos pelo novo governo, com a vantagem de sugerir transições menos traumáticas e, portanto, redutora da volatilidade dos mercados. A reação à autonomia operacional e aos mandatos fixos calibrados não ajuda o governo a realizar seus objetivos. Pelo contrário, induz a sociedade a duvidar de sua intenção. Sugere que, no fundo, ele acredita na deliciosa, mas traiçoeira, ideia que "um pouco mais de inflação produz um pouco mais de crescimento", negada, concretamente, há muitos anos. Mas, afinal, por que um BC autônomo (com mandatos fixos calibrados) quando adquire credibilidade é um instrumento útil no controle da taxa de inflação? Porque uma avalanche de segura comprovação empírica nos últimos 30 anos sugere: 1) que a "expectativa de inflação" formada na sociedade é fator importante na determinação da taxa de inflação posteriormente verificada; e 2) que um Banco Central com credibilidade é fator determinante na construção daquela "expectativa". Se um dia a economia vier a ser uma ciência, ela há de ser um conhecimento empírico estável que facilite a vida do governo na manipulação coerente das variáveis sobre as quais ele influi, o que nega o "voluntarismo" tópico. Mesmo com o risco de simplificar exageradamente o 7


problema, é impossível deixar de aceitar o robusto fato empírico (sustentado por razoável desenvolvimento teórico), que a taxa de inflação num determinado momento é aproximadamente "explicada" pela equação linear explicitada abaixo*. As estimativas da taxa de inflação mostram a necessidade de coerência entre as políticas monetária (que tenta estabilizar a taxa de inflação com o menor nível de emprego possível manipulando a taxa de juro real do longo prazo), a fiscal (que induz a demanda pública "output gap" - e estabelece a política distributiva) e a salarial (que responde pela variação do custo unitário do trabalho e é coadjuvante da política redistributiva). Como é evidente, se às variações do custo unitário do trabalho em moeda nacional não corresponderem um aumento da produtividade (que tem limite) ou uma depreciação cambial, as exportações (e o PIB) se deteriorarão. No médio prazo, portanto, há muito pouco espaço para o "voluntarismo experimental", sugerido quando se teme a autonomia do banco central com mandatos fixos adequadamente calibrados. *Taxa de inflação em t = constante +a (expectativa de inflação em t+ 1) + b (taxa de inflação registrada em t-1) +c (outras variáveis: "output gap" ou variação do custo marginal da unidade de trabalho), onde a, b e c são parâmetros estatisticamente construídos.

Câmbio anulou proteção da tarifa média cobrada sobre importados, mostra estudo Fonte Jornal Valor Econômico Rodrigo Pedroso de São Paulo30/09/2014 às 05h 00 A desvalorização do real no segundo semestre do ano passado foi insuficiente para deter a trajetória de sobrevalorização da moeda brasileira, afetada pelo persistente déficit nas transações correntes do país e pela atuação do Banco Central no mercado de câmbio. O nível apurado, na prática, anula a tarifa média cobrada na importação de produtos. Mesmo o recente movimento de depreciação da moeda brasileira frente ao dólar, que passa da casa dos R$ 2,40 desde a semana passada, seria insuficiente para levar o real à taxa de equilíbrio de acordo com os especialistas. Acompanhamento do Observatório de Câmbio da Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que, no acumulado do primeiro semestre deste ano, o real ficou 15% sobrevalorizado em relação à taxa de equilíbrio, enquanto as moedas de Estados Unidos, Alemanha e China estavam desvalorizadas pelo mesmo critério. Na média do ano passado, o real ficou 13,9% sobrevalorizado. O trabalho, organizado por Emerson Marçal e Vera Thorstensen, ambos pesquisadores da FGV, utiliza metodologia adotada pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para medir a influência das políticas dos bancos centrais locais e da trajetória das transações externas na formação do câmbio do país. No caso brasileiro, dois fatores são primordiais para a manutenção e aprofundamento - desde o ano passado - da sobrevalorização do real: a atuação do BC, que irrigou o mercado com dólares e atenuou o movimento de desvalorização do real frente ao dólar, e o déficit de US$ 43,3 bilhões nas transações correntes no acumulado do primeiro semestre do ano. O resultado foi levemente pior do que o registrado no mesmo período do ano passado. As transações correntes incluem os resultados das balanças de comércio, serviço e rendas. Vera chama a atenção para o fato de a taxa de câmbio brasileira estar com sobrevalorização acima de 12%, média das taxas de importação no país. "Isso tira toda a proteção da indústria brasileira que as tarifas de importação tentam proporcionar", afirma. Segundo o estudo, que utilizou cesta com a flutuação das moedas dos países com quem o Brasil mantém um comércio exterior mais intenso, estavam com o câmbio desvalorizado no primeiro semestre Estados Unidos (5%), Alemanha (10%), China (10%), Suécia (10%) e França (5%). 8


"Outros dois movimentos podem ser tirados desse cenário. O primeiro é que os países com câmbio desvalorizado, no fundo, estão subsidiando as exportações, enquanto o Brasil subsidia indiretamente as importações. O segundo é que o euro é uma ficção, já que as contas externas dos países distorcem o câmbio relativo a cada economia", diz Vera. A perspectiva é que mesmo com a desvalorização do real frente ao dólar nas duas últimas semanas, a sobrevalorização do real em relação à taxa de equilíbrio não seja alterada de forma substantiva. Para Marçal, uma mudança da tendência só viria via um ajuste mais forte nas contas externas, ou via aumento do fluxo de investimentos e superávit, ou desaceleração mais forte do déficit em serviços. "A taxa de equilíbrio não leva em conta apenas a flutuação do real frente ao dólar. Ela muda quando há, além desse movimento, alteração nas contas externas e em outras variáveis. O que deve acontecer agora no segundo semestre, em se mantendo esse patamar de R$ 2,40, é uma diminuição da sobrevalorização, já que os fundamentos externos não devem ter a trajetória alterada", diz Marçal. Outro fator de manutenção da sobrevalorização é a atuação do BC no câmbio, que não tem sinalização para ser suspensa, afirma o pesquisador. "Em algum momento esse acompanhamento vai ficar mais frouxo, pois a pressão natural do mercado é de desvalorização do real. " Mario Marconini, diretor do departamento de relações internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), critica o que chama de falta de orientação das políticas econômicas do país para o comércio exterior. Para ele, câmbio, juros e gastos públicos são movimentados com pouca ênfase no efeito que geram nas trocas externas de bens do país. "Quando a inflação aperta, você segura o câmbio, porque não tem espaço na área fiscal, e acaba afetando o comércio exterior", diz Marconini. "É a mesma coisa com os juros. O ponto é que o comércio exterior, historicamente no país, sempre fica a reboque das outras variáveis macroeconômicas", diz.

Claro, TIM e Vivo arrematam lotes nacionais do leilão de internet 4G Fonte Jornal Folha de São Paulo JULIA BORBA de BRASÍLIA 30/09/2014 às 11h 53 Claro, Tim e Vivo arremataram nesta terça-feira (30) os três lotes nacionais leiloados pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para expansão do serviço de internet 4G no país, com lances que somaram R$ 5,821 bilhões. O governo esperava arrecadar ao menos R$ 7,7 bilhões com o leilão, valor correspondente ao arremate de todos os lotes pelo valor mínimo. O Tesouro conta com esse montante extra para fechar as contas do ano. Foi o segundo leilão do tipo no Brasil. O primeiro, ocorrido em 2012, ofereceu frequências de 2,5 GHz, que servem para transportar dados "pesados" em alta velocidade. O leilão desta terça-feira (30) vendeu frequências na faixa de 700 MHz, que têm maior alcance. Ao custo de R$ 1,947 bilhão, a Claro ficou com o primeiro lote que, segundo especialistas, é a melhor faixa de cobertura porque deve sofrer menos interferência dos canais de TV. O valor superou em R$ 20 milhões o preço mínimo estabelecido pelo governo, com ágio de 1%. O segundo lote ficou com a TIM, que ofereceu o mesmo valor, com ágio de também 1%. A Telefônica/Vivo arrematou o terceiro lote pelo preço mínimo do edital: R$1,927 bilhão. Nesta terça-feira, a empresa de telefonia Algar arrematou o segundo lote regional de internet 4G. Esse foi o único dos regionais para o qual houve interessados. A companhia pagou o preço mínimo fixado pelo governo: R$ 29,567 milhões. CARACTERÍSTICA DOS LOTES A Anatel realizou nesta terça-feira o segundo leilão de internet 4G do país, com ofertas de três lotes para cobertura nacional e três para cobertura regional. 9


O primeiro lote nacional era visto como o mais interessante pelas empresas, por causa da menor interferência dos canais de televisão. Mesmo assim, as empresas não fizeram grandes esforços durante o pregão para arrematar nenhuma das opções. O segundo e o terceiro, também de cobertura nacional, devem exigir mais das teles na implantação da rede, segundo especialistas, pois podem apresentar mais problemas de interferência. O lance mínimo para cada um dos três primeiros lotes era de R$ 1,927 bilhão. PRIMEIRO LOTE Durante a abertura de envelopes, na sede da Anatel, em Brasília, a Telefônica/Vivo apresentou o preço mínimo, de R$ 1,927 bilhão, para o primeiro lote. Já a TIM arredondou o valor para R$ 1,928 bilhão. O maior lance foi da Claro, com R$ 1,947 bilhão. A empresa Alagar, quarta participante do leilão, sequer apresentou garantias para esse lote, sem interesse no lote de cobertura nacional. Durante o processo, a Telefônica/Vivo e a TIM optaram por não fazer lances maiores, desistindo da disputa. SEGUNDO LOTE A TIM arrematou o segundo lote nacional para cobertura de internet 4G no país. O valor pago pela empresa foi de R$ 1,947 bilhão, com ágio de 1%. Para a disputa do segundo lote, a Claro não poderia ter participado, já que arrematou o primeiro lote. Já a Telefônica, que ofereceu o preço mínimo, de R$ 1,927 bilhão, não fez nova proposta. TERCEIRO LOTE O terceiro e último lote nacional ofertado pela Anatel para cobertura de internet 4G no país foi arrematado pela Telefônica/Vivo. A empresa pagou o preço mínimo estabelecido em edital: R$1,927 bilhão. OI Empresas do setor como Oi, Nextel e Sercomtel nem sequer se habilitaram para participar do processo, o que reduziu a disputa. A Oi surpreendeu ao anunciar na semana passada que não iria participar da leilão, tornando-se a única grande operadora fora dos lances. Em comunicado publicado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a empresa afirmou já ter infraestrutura disponível "para atender à crescente demanda por dados móveis" de seus clientes. Para analistas, no entanto, por trás da decisão também há preocupação da empresa com seu alto nível de endividamento, que é de R$ 46 bilhões. A medida ainda reforça a avaliação de que a Oi planeja a fusão com a TIM. Em agosto, a Oi informou ao mercado ter contratado o banco BTG Pactual para viabilizar uma proposta de aquisição de participação indireta da Telecom Italia na TIM. Segundo a Folha apurou, diante dessa possibilidade, a desistência serviria para evitar mais empecilhos regulatórios na operação. A Anatel limita o uso do espectro por empresa, justamente para evitar concentração de mercado.

Dilma, cassino e vida real Fonte Jornal Folha de São Paulo 30/09/2014 02h 00 O cassino juvenil em que se transformou a Bolsa de São Paulo neste mês de setembro ajuda a colocar na conta de Dilma Rousseff (PT) todo o tumulto recente no mercado financeiro. No entanto, por mais que o favoritismo revivido da candidata-presidente ajude a azedar os humores da finança, é preciso lembrar outra vez que a barafunda é internacional. Obviamente, o fato de a economia do Brasil andar mal das pernas coloca lenha na nossa fogueira; o governo de Dilma Rousseff tem responsabilidade na nossa lerdeza e desordem. Ainda assim, a explicação do tumulto na praça do mercado tem dúzias de tons de cinza. 10


Ignorar alguns fatos básicos ajuda a criar um clima artificial de sangria desatada, como se estivéssemos em 1998 e 2002, quando houve fuga de capitais braba, crise de cambial e o país, na prática, quebrou. Entre as moedas relevantes, o real é a moeda que mais se desvalorizou nesta rodada de faniquitos, como no primeiro bimestre deste ano, como entre junho e agosto de 2013, como em tantas ocasiões, enfim, dado o tamanho do mercado brasileiro e aberrações crônicas do país. Mas também o dólar neozelandês, a rupia indonésia, o won coreano e o rublo russo apanharam. Isso posto, o mercado mundial está "tenso". Como de costume, ontem se atirava para cantos variados quando se tratava de "explicar" a perda de valor de várias moedas em relação ao dólar e tombos de Bolsas. Houve mais "aversão a risco" devido aos protestos em Hong Kong, a "temores renovados" a respeito do crescimento de China, eurolândia e Japão, com a Rússia, a dúvidas sobre a mudança da direção do maior fundo de renda fixa do mundo (Pimco) e o diabo. De menos incerto e fator mais regular, há o risco de mudanças próximas na economia americana, que cria um ambiente propício para que a reação a desarranjos outros e noutras praças ganhem dimensão maior ou exagerada. O aumento da volatilidade (variação de preços de ativos financeiros) torna mais arriscados negócios como aplicar dinheiro em países como o Brasil (o que se ganha com os juros altos daqui pode ser perdido com variações cambiais, do preço do real). O Brasil está mais sujeito a variações nos juros americanos, está sujeito às dúvidas na China, à baixa do preço das commodities etc., além de ter uma eleição indecisa e avarias na base da política econômica (inflação ruim com crescimento baixo e déficit externo, entre outros problemas. Medidas de risco, como o preço de fazer seguro contra calotes em investimentos brasileiros, crescem. No entanto, não há fuga de capitais, nem daqui nem de outros emergentes. Aliás, continua a entrar dinheiro aqui, tanto para aplicações financeiras com para investimento "na produção". É evidente que a situação macroeconômica do Brasil piora faz pelo menos três anos. Que a fome da especulação se junta à vontade de comer oferecida pelo mau estado das nossas contas públicas, inflação, juros etc. Mas, até para não haver ilusões sobre as dificuldades do ano que vem, seja quem for o presidente, é preciso levar em conta que vai haver turbulência mundial pela frente. Não se sabe é o tamanho da chacoalhada.

Editorial: Gestão desabonadora Fonte Jornal Folha de São Paulo 30/09/2014 02h 00 Têm sido recorrentes os exemplos de má gestão no governo Dilma Rousseff (PT), pródigo em truques de contabilidade para fechar as contas públicas e irrealista em excesso nas previsões que faz para elaborar o Orçamento. Tomem-se as receitas. Com o arrefecimento da atividade econômica, a arrecadação estagnou, ficando longe, em 2014, do crescimento superestimado pelo Planalto. Em 2015, tudo leva a crer que o cenário pífio se repita, mas o governo, ao montar suas planilhas, mais uma vez supõe um aumento. Ao ignorar princípios de prudência que deveriam pautar seus cálculos, a atual administração não se limita a inspirar descrédito, com suas consequências deletérias para o custo da dívida pública. A atitude temerária também estimula a própria máquina a inventar manobras contábeis com o fim de disfarçar a insuficiência de recursos. No episódio mais recente, a gestão Dilma cortou quase pela metade (de R$ 18,9 bilhões para R$ 10,1 bilhões) a programação de gastos para 2015 com o abono salarial do PIS/Pasep – benefício pago a cerca de 20 milhões de trabalhadores com carteira assinada que receberam, em média, até dois salários mínimos mensais no ano anterior. Iniciativas dessa natureza ainda têm algo de espantoso, pois nem ludibriam observadores da economia nem livram o país de sofrer os efeitos reais, e negativos, dessa gestão imprudente. 11


O governo da presidente Dilma Rousseff mesmo assim recorre sem cessar a parcelamentos de dívidas tributárias, com a intenção de compensar, com receitas atípicas e incertas, os rombos deixados pela falta de entradas regulares. Cria despesas que não são discutidas no Orçamento, como as injeções de dinheiro no BNDES, financiadas por aumento de dívida pública. Tais empréstimos ao banco estatal, aliás, foram renegociados com base em prazos e juros ainda mais subsidiados trata-se, portanto, de maquiagem das dificuldades presentes à custa do futuro. Recorreu-se até à prática perigosíssima de atrasar repasses à Caixa Econômica Federal de fundos destinados ao pagamento de benefícios sociais. Assim, o banco federal paga, com recursos próprios, os compromissos do Tesouro e espera receber o repasse devido. Em suma, esta administração desmoraliza as instituições desenvolvidas penosa e lentamente com o objetivo republicano de tornar transparentes as contas públicas e colocá-las sob controle, sujeitas ao escrutínio público. Como se já não fosse em si bastante, contribui com isso para a deterioração objetiva da economia e para o aumento da incerteza a respeito do futuro do país.

José Matias-Pereira: Os motivos do fracasso do governo Dilma Rousseff Fonte Jornal Folha de São Paulo 30/09/2014 02h00 A sociedade brasileira se encontra cada vez mais apreensiva com o futuro. Essas preocupações decorrem do baixo desempenho da economia, inflação elevada e uma gestão pública emperrada, que se mostra incapaz de atender de forma adequada as demandas da sociedade. A percepção da população, de que o cenário socioeconômico e político estão se agravando, contribui para aumentar o desejo de mudanças na forma de governar e de fazer política no país. Os problemas econômicos do país têm as suas origens no segundo governo Lula, que a partir de 2009, foi se afastando de forma gradativa do tripé econômico que sustentava o Plano Real: metas de inflação, controle fiscal e câmbio flutuante. Essa política foi adotada pelo governo Dilma Rousseff , que implementou em seguida a "nova matriz macroeconômica", se distanciando ainda mais do tripé. Esses ajustes não foram capazes de aumentar a taxa de investimento, nem de elevar a participação da indústria na economia. O descontrole das contas públicas por meio de uma política fiscal frouxa estimulou o aumento da demanda, baixando o nível de poupança pública, necessárias para os investimentos. Os elevados déficits em transações correntes no quadriênio (R$270 bilhões), e o aumento da dívida bruta, por despesas parafiscais ou repasses do Tesouro para bancos públicos foram recorrentes no governo Dilma. A política monetária exercida com voluntarismo para a redução dos juros fracassou, as taxas de juros Selic subiram para 11% ao ano. Apesar disso, a inflação permanece estacionada no teto da meta de 6,5%, com perspectivas de elevação. Os indicadores econômicos evidenciam que o governo Dilma vai encerrar o seu quadriênio (2011-2014), de forma melancólica: uma inflação acumulada de 27% em quatro anos, crescimento do PIB per capita que soma 3,5%, e a pior taxa média anual de crescimento da economia, próxima de 1,7%, a mais baixa nos últimos 20 anos. Observa-se que o fracasso de sua gestão foi resultado de decisões econômicas equivocadas, ao insistir em manter o estímulo à atividade por meio do consumo, agravado pela demora em incentivar os investimentos em infraestrutura no país, notadamente por meio de concessões. Assim, o governo Dilma será lembrado pelo baixo crescimento do PIB, inflação alta e déficits elevados em conta corrente, cujos efeitos negativos irão repercutir no nível de emprego e da renda no próximo governo. O governo, em nome da governança, também aparelhou o Estado, por meio da entrega fisiológica dos ministérios e das empresas públicas para os filiados do partido dos 12


trabalhadores, bem como a partidos políticos aliados, sem levar em consideração a competência e a postura ética desses gestores. Essa decisão equivocada contribuiu para o baixo nível de desempenho da administração pública, comprometidos por desperdícios e escândalos de corrupção que permearam a atual gestão. É sabido que a retomada do crescimento da economia brasileira - que passa pelo aumento de produtividade - demandam tempo e investimentos, e em particular, um elevado nível de credibilidade do governante. Isso vai exigir dos eleitores escolhas criteriosas nas eleições que se aproximam. Infelizmente para a população, os erros graves que foram cometidos pelo atual governo, com a adoção de uma política econômica inconsistente e uma gestão pública travada, irão repercutir negativamente na economia e na vida da população nos próximos anos.

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