SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 30 DE OUTUBRO DE 2014
FAÇA PARTE DESSE TIME ASSOCIE-SE (WWW.OESC.ORG.BR)
1
Com Selic a 11,25%, poupança passa a liderar aplicações sobre fundos Fonte Jornal Folha de São Paulo 30/10/2014 02h 00 Com a decisão do Banco Central de aumentar a taxa Selic para 11,25% ao ano nesta quartafeira (29), os fundos de renda fixa perdem da poupança na maioria dos cenários previstos pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). A caderneta perde para fundos de renda fixa com taxa de administração de até 1,0% ao ano, independentemente de quanto tempo os recursos ficarem guardados. No caso dos fundos com taxa de 1,5%, os fundos ganham se o dinheiro for mantido por mais de um ano na aplicação. Há empate se os recursos ficarem investidos entre seis meses e um ano e a caderneta ganha quando o montante é mantido guardado por até seis meses. Os fundos com taxa de administração de 2% ao ano só ganham da poupança se o valor ficar investido por mais de dois anos. Em todos os demais prazos, a caderneta é mais vantajosa. Nos fundos com taxa de administração de 2,5% ou mais, a caderneta rende mais que os fundos em qualquer prazo de resgate.
SAIBA MAIS A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo Banco Central para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia. Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e, assim, pode consumir mais. Esse aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender um consumo maior. Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento -que ficam mais caros-, a economia se desacelera e evita-se que os preços subam -ou seja, inflação. Com a alta da taxa básica de juros (Selic), o BC aumenta a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Assim, passa a "faltar" dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos com retorno maior que o pago pelo governo. É por isso que os empresários pedem cortes nas taxas: para viabilizar investimentos, ainda mais em tempos de economia fraca. Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos da renda fixa para a Bolsa de Valores. Em um cenário normal, é também por esse motivo que as Bolsas sobem nos Estados Unidos ao menor sinal do Federal Reserve (BC dos EUA) de que os juros possam cair. Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida absorve o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo. SELIC 2
A Selic é considerada a taxa básica porque é usada em operações entre bancos e, por isso, afeta os juros de toda a economia do país. O nome vem de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, sistema eletrônico que permite a atualização diária das posições das instituições financeiras, assegurando maior controle sobre as reservas bancárias. O sistema foi criado em 1979 pelo Banco Central e pela Anbima.
Copom vê intensificação de inflação e sobe juros para 11,25% Fonte Jornal Folha de São Paulo 29/10/2014 às 20h 23 Em sua primeira reunião após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o Banco Central surpreendeu e elevou a taxa básica de juros da economia de 11% para 11,25% nesta quartafeira (29). A alta do dólar e a piora nas contas públicas foram os motivos que levaram cinco dos oitos integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária), incluindo o seu presidente Alexandre Tombini, a decidir elevar a chamada taxa Selic três diretores votaram pela manutenção do juro. As apostas no mercado eram de manutenção de juros neste momento, com possibilidade de alta a partir de dezembro deste ano. O aperto monetário, três dias após a reeleição da petista, foi visto no mercado como uma tentativa de reconquistar a credibilidade da política de combate à inflação. No comunicado da decisão, o Copom informou que "a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável". Os "preços relativos" que vinham sendo citados pelo BC como responsáveis pela inflação recente eram as tarifas e o câmbio. "À vista disso, o Comitê considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016", disse o Copom. A taxa Selic estava em 11% ao ano desde abril. Conforme a Folha revelou nesta quarta-feira, assessores presidenciais não descartavam uma alta de juros ainda em 2014, na última reunião do ano. O câmbio está entre os principais fatores que podem levar a inflação a ficar acima do limite de 6,5% fixado pelo próprio governo.
UNÂNIME A decisão não foi unânime: foram 5 votos pelo aumento e 3 pela manutenção. Votaram pela elevação da taxa Selic para 11,25% o presidente do BC, Alexandre Tombini e os diretores Aldo Luiz Mendes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo e Sidnei Corrêa Marques. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 11% Altamir Lopes, Luiz Awazu Pereira da Silva e Luiz Edson Feltrim. 3
Em sua mais recente previsão, o BC projetou inflação de 6,3% em 2014, mas com um dólar a R$ 2,25. Hoje, a moeda está na casa de R$ 2,45. O aumento de 10% na cotação desde então é suficiente para estourar o limite da meta. Para Mauricio Molan, economista-chefe do Santander, o que explica o timing da decisão é a confirmação da visão de analistas que o governo se esforçaria para emitir sinais de passar a conduzir uma política monetária mais austera. "Na nossa visão, essa decisão aumenta a chance de haver sinais de austeridade antes do esperado também para a política fiscal", afirma Molan. "Há um esforço para gerar um choque favorável de expectativas." O economista afirma que a expectativa da equipe macroeconômica do Santander é de haver um novo aumento de 0,25 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Copom e que a taxa termine em 12,5% no final de 2015.
PMDB dá aval para candidatura de Cunha e articula isolar PT na Câmara
O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos favoritos para presidir a Câmara a partir de 2015 Fonte Jornal Folha de São Paulo MÁRCIO FALCÃO e RANIER BRAGON deBRASÍLIA29/10/2014 às 16h42 A bancada do PMDB na Câmara se reuniu nesta quarta-feira (29) e deu aval à précandidatura do líder do partido, Eduardo Cunha (RJ), para a disputa pela Presidência da Casa em 2015. A reunião ocorreu um dia depois dos deputadosaplicarem a primeiraderrota à presidente reeleita Dilma Rousseff. Deputados aprovaram projeto que susta efeito de decreto presidencial sobre conselhos populares. O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) classificou nesta quarta como "anacrônica" a derrubada do decreto presidencial. "Nada mais anacrônico, nada mais contra os ventos da História, nada mais como uma tentativa triste que se colocou contra uma vontade irreversível do povo brasileiro que é a participação social", afirmou Carvalho. Para evitar uma espécie de antecipação da briga, os peemedebistas aprovaram oficialmente, por unanimidade, apenas a recondução de Cunha para a liderança do PMDB. A bancada também lançou uma autorização para que ele articule a formação de um bloco para atuar na Câmara no próximo ano. Os gestos foram interpretados pelos peemedebistas como o fortalecimento da candidatura de Cunha. Com isso, ele vai começar a costurar uma aliança com outros partidos em torno do seu nome e, também, para a composição de um "blocão", capaz de se impor numericamente em 4
votações na Casa, além de ter peso para conquistar espaços na cúpula e nas comissões importantes. As conversas devem envolver principalmente PR, PP, PSC, PTB e Solidariedade. A ideia do PMDB é de isolar o PT, maior bancada da Casa com 70 parlamentares na próxima formação quatro a mais que os peemedebistas. Peemedebistas dizem que há incômodo com o PT não só pela relação com o Planalto, mas também pela atuação da bancada petista na Casa. "Na votação desta terça, a Casa deu demonstração de que determinadas posições do PT têm sido rechaçadas pela Casa. Então, não há uma boa harmonia para que o PT consiga impor uma candidatura. Eu tenho dito que acho muito difícil uma candidatura do PT lograr êxito na Casa", afirmou Cunha. A bancada rechaça a proposta defendida pelo vice-presidente, Michel Temer (PMDB), de reeditar o acordo de rodízio entre PT e PMDB no comando da Câmara. O deputado Leonardo Picciani (RJ) disse que a formação de bloco é para garantir que o partido fique pelo menos como a segunda maior bancada da Casa. Na reunião que durou quase três horas, os deputados ainda reclamaram da atuação do PT nas disputas estaduais em prejuízo do PMDB e cobraram mais interlocução do Planalto com a Casa. Os peemedebistas disseram que a derrota de Dilma, com a derrubada de seu decreto que trata dos conselhos populares, foi um recado para a petista sobre a autonomia do Congresso. "Não pode mais ter salto alto do Planalto", disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), comentou rapidamente a provável candidatura de Cunha à sua sucessão. Ele disse que o colega de partido é competente e sério. "E no caso de uma disputa à presidência que tenha um candidato do PMDB, o que é normal, acho que [Cunha] é o nome natural que sem dúvida honraria a Câmara dos Deputados." Alves não estará mais na Câmara no início de fevereiro, quando tem início a nova legislatura e quando será realizada a eleição para a presidência da Casa. O peemedebista se candidatou ao governo do Rio Grande do Norte, disputa em que acabou derrotado. COMEMORAÇÃO Antes de se reunirem nesta quarta por quase três horas, os peemedebistas realizaram um jantar com os atuais e novos parlamentares. No encontro, Cunha fez um discurso de boasvindas aos novos congressistas e evitou polemizar sobre a relação com o governo. A comemoração pela derrota a Dilma ficou para as rodas de conversas após a intervenção do líder. Segundo relatos, os deputados não continham a satisfação em terem mostrado ao governo que é preciso cultivar a relação com o Parlamento. Os peemedebistas ainda decidiram sair em defesa do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), que foi responsabilizado por petistas pela derrota de Dilma, uma vez que estava magoado depois de perder a disputa pelo governo do Rio Grande do Norte e culpar o PT e o ex-presidente Lula por ter inferido no processo eleitoral. A bancada assumiu a votação, que contou com aval de váriospartidos aliados, isolando PT, PC do B e PSOL na defesa do conselho. Para Cunha, colocar a votação na cota pessoal de Alves é "injustiça".
Diplomacia da transição Fonte Jornal Folha de São Paulo 29/10/2014 02h00 A diplomacia do primeiro mandato de Dilma Rousseff não teve distinção conceitual daquela implementadapelo ex-presidente Lula. Ela manteve intactos os elementos centrais. Primeiro, a busca de relações corretas, não antagônicas, com os Estados Unidos. Segundo, cooperação ativa com vizinhos na tentativa de transformar a América do Sul num espaço geopolítico próprio e com orientação de esquerda. 5
Terceiro, o compromisso irreversível com disciplinas internacionais em livre comércio, direitos humanos,meio ambiente, finanças e não proliferação nuclear. Quarto,ênfase em coalizões com países em desenvolvimento capazes de contestar a visão do Norte sobre governança global de forma moderada, sem rupturas. Quinto, o alinhamento da máquina do Estado ao projeto de internacionalização do capitalismo brasileiro. Muitos elementos desse pacote foram herdados de governos prévios ao PT. No entanto, foi com Lula e depois com Dilma que viraram projeto estratégico preciso. Ajudou para isso a crença segundo a qual a política externa é um campo de batalha bem definido do partido na disputa contra a oposição liderada pelo PSDB. No entanto, a interseção entre a diplomacia de Lula e a de Dilma em seu primeiro mandato começa e termina aí. Na prática, ao implementarsua política externa no dia a dia, o primeiro mandato de Dilma não representou continuidade em relação a Lula. Por quê? Alguns dos motivos dizem respeito à política interna. Como Dilma nunca enxergou na diplomacia uma alavanca para ganhar autoridade em casa, o assunto recebeu atenção limitada. Além disso, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia, os dois pesos-pesados da diplomacia lulista, ficaram no governo, mas encarregados de tocar outras coisas. Dilma tampouco concebeu a diplomacia como combustível de baixo custo para manter a militância petista e os movimentos sociais energizados. Em direitos humanos, agiu de olho em Belo Monte e para evitar críticas ao sistema prisional. No quesito LGBT, agiu apenas no fim do mandato, atenta à ameaça de Marina Silva. Os principais motivos da descontinuidade do mandato de Dilma em relação a Lula foram, acima de tudo, internacionais. Ela enfrentou um sistema menos maleável e mais hostil. Em seu governo, a crise financeira global bateu com força, o G8 recuperou o terreno perdido para o G20, a América do Sul ficou mais difícil de operar, e as crises de Líbia, Ucrânia, Síria e Estado Islâmico restauraram a agenda das grandes potências, em detrimento dos países emergentes. O escândalo da espionagem americana e as dificuldades de reviver a OMC só pioraram a situação. O resultado disso é que a posição relativa do Brasil no mundo em 2014 é pior do que a de 2010. Pela primeira vez em 20 anos, um governo recém-eleito não pegará o país em trajetória internacional ascendente. O grupo de colaboradores presidenciais que sairá vitorioso do embate interno nestas oito semanas de transição será forçado a levar essa realidade em conta.
Etanol brasileiro perde espaço na Califórnia Fonte Jornal Valor Econômico Fabiana Batista de São Paulo30/10/2014 às 05h 00 Estado mais "verde" dos Estados Unidos, a Califórnia dá sinais de que as vantagens econômicas concedidas ao etanol de cana-de-açúcar do Brasil podem ter vida curta. Esse mercado, que já pagou prêmios altos ao etanol brasileiro por valorizar seus benefícios ambientais, começa a criar condições para equiparar o etanol de milho aos mesmos níveis de baixa emissão de CO2 que eram exclusivos até então do biocombustível brasileiro. As dúvidas sobre a condição brasileira de abastecer a demanda californiana nos próximos anos, somadas ao forte lobby da indústria de etanol de milho dos EUA, influenciaram o Conselho de Qualidade do Ar da Califórnia (CARB, na sigla em inglês) a propor a revisão de alguns critérios de medição dessa pontuação ambiental. 6
A revisão tende a beneficiar em cerca de 5 pontos o etanol de milho a partir de 2016. "Apesar de também melhorar a pontuação do produto brasileiro, o efeito prático disso é que tem sido possível cumprir o mandato na Califórnia com etanol de milho", diz o presidente da maior trading global de etanol, a Copersucar, Paulo Roberto de Souza. A Califórnia estabeleceu a meta de reduzir em 10% as emissões de CO 2 até 2020 (contados a partir de 2011). Mas, em vez de especificar o volume a ser misturado à gasolina ano a ano, como fazem outros Estados americanos, a Califórnia estabeleceu uma meta anual de redução de emissões, deixando para o mercado escolher como ela será cumprida - com etanol de cana, de milho ou biodiesel. Para isso, criou uma metodologia própria de classificação ambiental para cada combustível, que gera uma espécie de pontuação, conhecida como CI (CarbonIntensity). Enquanto o CI da gasolina é de emissão de 99.18 gramas de CO 2 equivalente por megajoule (MJ), o do etanol de milho americano é de 90.1 gramas e o do etanol de cana do Brasil pode variar de 58.4 a 71.3 gramas/MJ - a depender do nível de mecanização e de cogeração de energia elétrica da usina produtora. Com essa melhor pontuação ambiental, o etanol de cana do Brasil passou a ser o preferido pelas misturadoras de combustíveis da Califórnia, já que, nesse caso, é preciso adicionar um volume menor de litros para cumprir a meta em relação ao etanol de milho. Por isso, elas vinham pagando prêmios elevados pelo etanol brasileiro. O pico foi alcançado em 2013, quando uma usina certificada do Brasil que exportava para a Califórnia chegou a obter uma remuneração R$ 242/m3 acima do que se tivesse vendido no mercado brasileiro e R$ 96 a mais do que se tivesse exportado, por exemplo, para outro Estado americano, como a Flórida. Em meados de 2013, verão americano, o etanol anidro na usina em São Paulo era negociado a R$ 1.300/m3. Agora, além de as cotações do etanol americano estarem muito baixas nos Estados Unidos - o que torna o etanol de cana menos competitivo -, algumas usinas de etanol de milho vêm melhorando a pontuação ambiental na Califórnia. É o caso da gigante Pôet que obteve para uma de suas unidades um CI muito próximo ao do etanol de cana do Brasil, ao redor de 60 gramas/MJ, por ter incorporado inovações ambientais na planta. "Está chegando agora a oferta das usinas de etanol celulósico dos Estados Unidos. O etanol de cana não está mais sozinho", afirma o executivo da Copersucar, que controla nos Estados Unidos a trading de etanol Ecoenergy. Neste ciclo 2014/15, o Brasil deverá exportar para a Califórnia metade das 363 milhões de litros que embarcou em 2013/14. Em 2015/16, esse volume deve se aproximar de zero, nas previsões da Copersucar. "O programa original da Califórnia indicava uma necessidade significativa de etanol de cana a partir de 2015 para cumprir o mandato. Com as novas discussões em andamento, essa necessidade surgiria apenas em 2018", avaliou Souza. Há algumas semanas, o CARB consultou oficialmente a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), que representa as usinas do Centro-Sul do Brasil, sobre as condições de suprimento de etanol de cana nos próximos anos. O CARB estima uma demanda em 2020 para uma oferta de etanol do Brasil entre 3 bilhões e 6,6 bilhões de litros. O posicionamento da Unica, afirmou a entidade em nota, é que, "em havendo a demanda e os incentivos financeiros adequados, o setor no Brasil já demonstrou dinamismo suficiente para atender os volumes estimados". O presidente da Copersucar explica que o encolhimento da produção de cana-de-açúcar no Brasil nas últimas safras vem influenciando as discussões na Califórnia. Há também o forte lobby das usinas de etanol de milho dos EUA. Neste mês, o vice-presidente da associação que representa o setor (RFA), Geoff Cooper, publicou artigo no site da entidade no qual critica duramente a posição do CARB de achar que "o mercado será inundado de etanol de cana do Brasil". Ele destacou a escassez de etanol no mercado brasileiro e afirmou que importações são economicamente pouco competitivas com o etanol de milho. "Em 2011, o CARB projetava que as misturadoras da Califórnia usariam em 2014 de 80 milhões a 400 milhões de galões de etanol de cana na gasolina (de 300 milhões e 1,5 bilhão de litros). Mas de janeiro a agosto 7
deste ano, as importações foram de apenas 7,9 milhões de galões (29,9 milhões de litros)", afirmou.
PIB dos EUA cresce mais que o previsto no terceiro trimestre Fonte Bloomberg 30/10/2014 às 10h 55 WASHINGTON - (Atualizada às 11h13) A economia dos Estados Unidos cresceu mais do que o previsto no terceiro trimestre, contabilizando o semestre mais forte em mais de uma década. O aumento nos gastos do governo e a queda no déficit comercial compensaram o abrandamento das despesas das famílias. O Produto Interno Bruto aumentou a uma taxa anualizada de 3,5% nos três meses encerrados em setembro, após um ganho de 4,6% no segundo trimestre, informou o Departamento de Comércio do governo americano. Foi o maior crescimento semestral desde os seis últimos meses de 2003. A mediana das previsões de 87 economistas consultados pela Bloomberg apontava para um avanço de 3% no terceiro trimestre. A produção crescente de petróleo diminui as importações e contribui para a melhora da indústria de transformação, permitindo que a economia supere a desaceleração do crescimento nos mercados externos, da Europa à China. Ao mesmo tempo, a recuperação do nível de emprego e a gasolina mais barata dão aos consumidores americanos a confiança e os meios para gastar mais, iluminando as perspectivas para a temporada de compras natalinas. Esse quadro ajuda a explicar por que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) encerrou ontem o seu programa de estímulo à economia por meio da compra de títulos públicos e lastreados em hipotecas. As estimativas de crescimento coletadas pela Bloomberg variaram de 2,1% a 4%. A divulgação de hoje é a primeira de três para o trimestre. As outras medições sairão em novembro e dezembro, quando houver mais informações disponíveis. Os gastos dos consumidores, que respondem por quase 70% do PIB, subiram a um ritmo de 1,8% no terceiro trimestre, depois de crescer a uma taxa de 2,5% nos três meses anteriores. Assim, o consumo contribuiu com 1,2 ponto percentual para a taxa de crescimento do PIB trimestral. Melhorar a confiança do consumidor pode ajudar a sustentar a maior parte da economia neste trimestre. O índice de confiança medido pelo instituto ConferenceBoard saltou em outubro para o maior patamar em sete anos.
China deve desacelerar mais, diz Bird Fonte Associated Press30/10/2014 às 05h 00 O crescimento da China pode desacelerar para perto de 7% no ano que vem, alertou ontem o Banco Mundial (Bird). A instituição, porém, disse que Pequim deve centrar seus esforços na reforma da economia, em vez de tentar manter as metas oficiais de crescimento. Em relatório, o Banco Mundial recomenda que o país promova a competição e a eficiência de sua economia, reformando o mercado de trabalho e os setores financeiro e imobiliário. A meta de expansão do governo chinês para este ano é 7,5%. A de 2015 ainda não foi revelada. Segundo o autor do relatório, o economista KarlisSmits, uma tentativa de manter as metas oficiais de curto prazo poderia causar efeitos negativos, com as autoridades injetando crédito na economia e obstruindo o desenvolvimento dos mercados. "O foco da política deveria ser nas reformas, e não no cumprimento de metas específicas de crescimento", afirmou Smits. A expansão chinesa desacelerou para 7,3% no último trimestre, o nível mais baixo em cinco anos. O menor crescimento em parte se deve aos esforços de Pequim para promover um 8
avanço da economia baseado no consumo doméstico, reduzindo a dependência das exportações e investimentos.
Fed inicia a contagem regressiva para alta do juro Fonte Jornal Valor Econômico 30/10/2014 às 05h 00 O Federal Reserve começou a contagem regressiva para aumentar os juros ontem, depois que decidiu pôr um ponto final em suas políticas de relaxamento monetário. Desde as 8h15 do dia 25 de novembro de 2008, quando o banco anunciou que compraria US$ 600 bilhões em títulos lastreados em hipotecas, até o fim desse mês, o Fed elevou seu balanço para US$ 4,45 trilhões - em termos nominais a maior expansão de moeda da história. Programas de aumento da liquidez continuam do outro lado do Atlântico, na Europa, onde o Banco Central Europeu pretende ainda ampliá-lo e aumentar de € 2 trilhões para € 3 trilhões seu balanço, e no Pacífico, onde o Banco do Japão prossegue com injeções aceleradas de recursos, que já somam US$ 2 trilhões. O próximo passo do Fed será a elevação dos "fedfunds", cujas taxas estão estacionadas entre 0 e 0,25% desde 16 de dezembro de 2008. Ao encerrar sua terceira versão do "QE", o comunicado da reunião do BC americano apontou que "uma gama de indicadores do mercado de trabalho sugere que a subutilização dos recursos está diminuindo gradualmente", um avanço em relação ao comunicado anterior, de setembro, quando essa subutilização continuava "significativa". De setembro de 2012, quando se iniciou o programa de compra de títulos do Tesouro e hipotecários, inicialmente à razão de US$ 85 bilhões, até ontem, o nível de desemprego nos Estados Unidos recuou de 8,1% para 5,9%. Cenário duvidoso envolvia também a outra perna do mandato do Fed, a inflação, para a qual vários indicadores apontavam risco de queda e de permanência muito abaixo do objetivo de 2% por um bom tempo. A ata do encontro anterior do Comitê de Mercado Aberto, mostrou grande preocupação com os efeitos deflacionários da valorização do dólar, motivada, entre outros fatores, pela estagnação econômica da zona do euro e pelo menor crescimento dos países emergentes. De lá para cá, a situação melhorou. "Embora a inflação no curto prazo deva continuar provavelmente contida pelos baixos preços da energia e outros fatores", indica o comunicado, "a probabilidade dela continuar correndo persistentemente abaixo de 2% diminuiu um pouco". As demais balizas do comportamento futuro do Fed continuam de pé. Se a evolução das condições da economia americana indicarem que emprego e inflação se aproximam das estabelecidas pelo duplo mandato do Fed, o banco não hesitará em aumentar tempestivamente os juros - assim como evitará fazê-lo se, ao contrário, o progresso "for menor que o esperado". Encerrado o QE, o Fed pretende manter o juro atual por um "período prolongado de tempo" e promete fixá-lo em nível abaixo do considerado normal "por algum tempo" mesmo depois que seus objetivos forem atingidos. Com a indicação do Fed de que há cada vez menos obstáculos no caminho da economia americana, a aposta mais forte dos investidores sobre o momento em que os juros começarão a subir recai em setembro de 2015. Há inquietações sobre se essa transição para a política monetária normal se dará sem forte instabilidade nos mercados financeiros, especialmente nos mercados emergentes, cujas economias passam por relevante desaceleração. A preocupação se justifica. O Brasil, por exemplo, recebeu um terço dos fluxos de portfólio pós-crise, algo como US$ 100 bilhões até 2012, só perdendo como destino para o México. Na América Latina, esses fluxos equivaleram aos dos investimentos externos diretos. Os emergentes como um todo passaram a receber após 2008 metade de todo os investimentos 9
em portfólio globais, quando antes recebiam até 20% deles, em uma amostra da massa de dinheiro que fluiu em busca de melhor remuneração. Embora turbulências sejam inevitáveis, sua magnitude pode ser administrável, porque os mercados já anteciparam em parte a valoração dos ativos levando em conta os movimentos futuros previsíveis do Fed. Além disso, com o fim do afrouxamento monetário nos EUA, parte do filme do ajuste já rodou ao contrário, como deveria, nos países emergentes. A depreciação de moedas do início dos programas de afrouxamento monetário sucedeu a valorização, a política monetária deixou de ser frouxa para tornar-se apertada, com alta de juros, que também funciona como amortecedor da saída de capitais.
Será que a questão central é a independência do BC? Fonte Jornal Valor Econômico Fernando Ferrari Filho e Luiz Carlos Bresser Pereira 30/10/2014 às 05h 00 O debate econômico no primeiro turno das eleições presidenciais entre os principais candidatos, que acabou repercutindo entre economistas com diferentes concepções teóricas, centrou-se na necessidade (ou não) de se ter independência do Banco Central (BC) para controlar o processo inflacionário brasileiro. Por mais que entendamos que essa discussão não é a mais relevante da agenda econômica, ela deveria envolver pelo menos três questões: será consistente a afirmação de que a atual inflação brasileira está "fora" de controle? O que são autonomia operacional e independência do banco central? Será que a proposição de independência do BC será capaz de trazer a inflação para o centro da meta, 4,5% ao ano? Em relação à primeira questão, a trajetória da inflação dos últimos 15 anos (período de vigência do regime de metas de inflação) mostra que: 1) a média anual da variação dos preços foi da ordem de 6,7% ao ano (relativamente elevada para o que se espera de um regime de metas de inflação, porém substancialmente baixa comparativamente à média histórica da inflação brasileira), e 2) em somente três anos (2001 a 2003) as metas de inflação não foram cumpridas. Em suma, por mais que se possa ser crítico à gestão da política monetária do BC ao longo deste período, ela pode ser considerada exitosa. Quanto ao conceito de autonomia operacional e de independência de bancos centrais, sinteticamente, um banco central é considerado autônomo em termos operacionais quando, independentemente do presidente possuir mandato fixo, ele tem liberdade para operacionalizar sua política monetária para atingir dois objetivos, quais sejam, manter a inflação sob controle e estabilizar os níveis de produto e emprego. Por sua vez, em relação à independência do banco central, via de regra, a ideia é que o banco central, autônomo operacionalmente e com um mandato fixo para seu presidente, operacionaliza a política monetária visando exclusivamente assegurar a estabilidade e o poder de compra da moeda. É importante assinalar que na concepção de banco central independente está implícita a hipótese de que moeda é neutra no longo prazo, e que, portanto, não teria efeito sobre o crescimento e o emprego. No mundo real, o pressuposto de banco central independente é desmentido. Por exemplo, desde a crise financeira internacional de 2007-8, a maioria dos bancos centrais tem se preocupado em operacionalizar a política monetária não somente para conter o processo inflacionário (ou deflacionário, no Japão), mas, principalmente, para estimular a atividade econômica (o "quantitativeeasing" do Federal Reserve é ilustrativo). Ademais, os principais bancos centrais do mundo têm atuado como prestamistas de última instância para evitar o 10
colapso do sistema financeiro mundial. No Brasil, a ação do BC não foi diferente: as medidas macroeprudenciais para mitigar riscos financeiros e as monetárias para expandir a liquidez da economia foram importantes para a recuperação da economia em 2010. Finalmente, quanto à possibilidade de se trazer no curto prazo a inflação para o centro da meta, é preciso considerar que: 1) a atual inflação brasileira não é predominantemente de demanda; 2) ao longo dos 15 anos de vigência do regime de metas de inflação a taxa de crescimento dos preços livres foi inferior às taxas de crescimento dos preços administrados, a despeito do recente "congelamento" de alguns preços públicos para manter a inflação dentro das metas - mais especificamente, entre junho de 1999 e setembro de 2014 o IPCA acumulou uma alta de 163,8% e os preços livres e administrados acumularam crescimentos de 203,7% e 150,3%, respectivamente; 3) o componente de inércia inflacionária é muito forte, seja porque os preços administrados continuam indexados formalmente, seja porque existe uma indexação informal dos salários, e 4) choques de oferta (por exemplo, energia e alimentos) e de custos (câmbio, entre eles) têm contribuído para inflar o IPCA. Logo, se vários são os fatores para que a inflação persista no atual patamar, política monetária contracionista, operacionalizada por um BC independente, que tenha como objetivo somente zelar pelo controle da inflação, não conseguirá gerar um mecanismo transmissor juros-preços eficiente (por exemplo, Modenesi e Araujo, 2013, mostram que o canal transmissor da política monetária sobre a inflação brasileira é relativamente fraco). Nesse particular, o controle e a redução da inflação passam por outros instrumentos que vão muito além da política monetária, a começar por uma política de desindexação completa da economia. Assim, a independência do BC faz, portanto, pouco sentido econômico. A atual inflação não se mostra resistente à baixa não porque o BC goza de autonomia operacional ao invés de independência, mas porque os setores produtivos, em geral, são "pricemakers", tem havido choques de commodities e, principalmente, a indexação formal e informal continua a ser um problema central da economia brasileira que não temos sabido enfrentar. Por outro lado, é importante ressaltar que a autonomia operacional e intervenções do BC são fundamentais não somente para assegurar a estabilidade dos preços, mas também para 1) dinamizar, via política monetária, os investimentos e, por conseguinte, os níveis de produto e emprego; 2) mitigar, por meio de medidas macroprudenciais, quaisquer riscos financeiros e 3) administrar o câmbio de maneira a lograr a estabilidade da taxa de câmbio efetiva competitiva, imprescindível para evitar o "pass-through", isto é, o repasse de variações cambiais para preços, e para equilibrar o balanço de pagamentos. Pelo exposto, além de entendermos que a discussão sobre a independência do BC é, parafraseando Roberto Schwarz, uma das tantas "ideias fora do lugar", o debate econômico deve estar relacionado ao enfrentamento dos seguintes problemas: 1) crônicos e recorrentes déficits de balanço de pagamentos em transações correntes (entre 2008 e 2014 as transações correntes terão acumulado um déficit da ordem de US$ 370 bilhões); 2) desequilíbrios das contas públicas; 3) precoce processo de desindustrialização; 4) baixa relação formação bruta de capital fixo/PIB (nos últimos anos ao redor, em média, de 18,5%) e 5) gargalos estruturais. Enfim, esperamos que esses problemas sejam discutidos pois a solução deles é fundamental para a estabilização macroeconômica, entendida como inflação baixa e sob controle, equilíbrios externo e fiscal e crescimento econômico sustentável.
Nova estratégia macroeconômica Fonte Jornal Valor Econômico Jeffrey D. Sachs 30/10/2014 às 05h00 Sou um macroeconomista, mas discordo dos dois principais grupos da profissão atuantes nos Estados Unidos: o dos neokeynesianos, concentrados em aumentar a demanda agregada, e os do lado da oferta, concentrados em reduzir os impostos. As duas escolas tentaram, sem sucesso, superar o desempenho persistentemente fraco das economias de alta renda nos 11
últimos anos. É hora de adotar uma nova estratégia, baseada em crescimento sustentado, puxado pelo investimento. O principal desafio da macroeconomia é alocar os recursos da sociedade para seu melhor uso. As pessoas que optam por trabalhar devem encontrar empregos; as fábricas devem aplicar seu capital de forma eficiente; e a parte da renda que é poupada deve ser investida na melhoria do bem-estar futuro. É nesse terceiro desafio que os dois grupos pisaram na bola. A maioria dos países de alta renda - os Estados Unidos, a maior parte da Europa e o Japão - não estão investindo de forma adequada ou sensata com vistas aos melhores usos futuros. Existem duas formas de investir interna ou internacionalmente - e o mundo deixa a desejar em ambas. O investimento interno ocorre de várias maneiras, como o investimento das empresas em maquinário e edificações; o investimento das famílias em casas; e o investimento do governo em pessoas (educação, qualificação), em conhecimento (pesquisa e desenvolvimento) e em infraestrutura (transporte, energia elétrica, água e resistência climática). O enfoque neokeynesiano recomenda tentar aumentar qualquer tipo de investimento interno. Eles tentaram estimular um maior investimento em habitação por meio de taxas de juros ultrabaixas; compra de automóveis por meio de empréstimos securitizados ao consumidor e mais projetos de infraestrutura "prontos para começar" por meio de programas de incentivo de curto prazo. Quando os gastos com investimento não decolam, eles recomendam que transformemos a poupança "excedente" em outra farra de consumo. Os economistas do lado da oferta, por seu lado, querem promover investimento privado (certamente não o público!) por meio de mais reduções de impostos e novas medidas de desregulamentação. Eles testaram isso em várias ocasiões nos EUA, mais recentemente durante o governo George W. Bush. Infelizmente, o resultado dessa desregulamentação foi uma bolha na área de imóveis residenciais, e não um surto sustentado de crescimento do investimento privado produtivo. Embora a política pública se alterne entre o entusiasmo pela economia do lado da oferta e pela neokeynesiana, a realidade persistente é a queda significativa do investimento como parcela da renda nacional na maioria dos países de alta renda nos últimos anos. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional, os gastos brutos com investimento nesses países caíram de 24,9% do PIB em 1990 para apenas 20% em 2013. Nos EUA, os gastos com investimento recuaram de 23,6% do PIB em 1990 para 19,3% em 2014. Na União Europeia, o declínio foi de 24% do PIB em 1990 para 18,1% em 2013. Nem os economistas neokeynesianos nem os economistas do lado da oferta se concentram nas medidas corretivas verdadeiras para essa queda persistente do gasto com investimento. Nossas sociedades precisam urgentemente de mais investimentos, principalmente os destinados a converter a produção altamente poluente, intensiva em consumo de energia e de alto carbono em economias sustentáveis baseadas no uso eficiente dos recursos naturais e na mudança para fontes de energia de baixo carbono. Esses investimentos exigem iniciativas complementares dos setores público e privado. Estão entre os investimentos necessários a aplicação, em grande escala, da energia elétrica solar e eólica; uma adoção mais ampla do transporte elétrico, tanto público (ônibus e trens) quanto privado (automóveis); edifícios eficientes no consumo de energia; e redes de energia elétrica para veicular energia renovável entre grandes distâncias (digamos, do Mar do Norte e do Norte da África para a Europa continental, e do Deserto de Mojave, na Califórnia, para os centros populacionais americanos). Nos EUA, os gastos públicos com investimento foram cortados. Nem o governo federal nem os Estados têm prerrogativa política, estratégia de financiamento ou planos de longo prazo para catalisar os investimentos na próxima geração de tecnologias inteligentes e limpas. Economistas das duas escolas interpretaram mal a paralisia do investimento. Os neokeynesianos veem os investimentos, tanto públicos quanto privados, como simplesmente mais um tipo de demanda agregada. 12
Os economistas do lado da oferta defendem a redução dos gastos governamentais, acreditando ingenuamente que o setor privado preencherá, de alguma maneira, o vácuo num passe de mágica. Mas, ao cortar o investimento público, estão atravancando o investimento privado. Esses confusos detalhes de política pública nunca preocuparam muito os economistas do livre mercado. Existe também a alternativa de usar a poupança interna para impulsionar os investimentos externos. Os EUA poderiam, por exemplo, emprestar dinheiro para as economias africanas de baixa renda comprarem novas centrais de geração de energia elétrica de empresas americanas. Uma política desse tipo daria à poupança privada americana um uso importante no combate à pobreza mundial, ao mesmo tempo em que fortaleceria a base industrial americana. Mas, neste caso também, nem os neokeynesianos nem os economistas do lado da oferta envidaram muito esforço para melhorar as instituições de financiamento ao desenvolvimento. Em vez de aconselhar o Japão e a China a elevar suas taxas de consumo, os macroeconomistas fariam melhor em estimular essas economias a usar suas grandes poupanças para financiar não apenas os investimentos internos como também os investimentos no exterior. Investir numa economia sustentável aumentaria drasticamente nosso bem-estar e empregaria nossa poupança "excedente" exatamente na finalidade correta. Mas isso não vai acontecer automaticamente. Precisamos de estratégias de investimento público de longo prazo, de planejamento ambiental, de diretrizes tecnológicas, de parcerias público-privadas para tecnologias novas e sustentáveis, e de mais cooperação mundial. Esses instrumentos vão criar a nova macroeconomia da qual nossa saúde e prosperidade dependem. (Tradução de Rachel Warszawski)
O preço da gasolina Fonte Jornal Valor Econômico João Sayad 30/10/2014 às 05h 00 Mercados e preços permitem que cada indivíduo escolha de acordo com seus gostos, tendências, manias e neuroses aquilo que quer comprar ou vender. É a liberdade cantada em prosa e verso que o mercado oferece. Você pode comer em casa ou na rua, comer fastfood ou comida orgânica, fumar ou não fumar. Mas ninguém é uma ilha e a liberdade de escolha é uma liberdade condicionada pelas escolhas dos outros. Há quarenta anos, a dieta dos brasileiros era elogiada pela FAO pois o arroz com feijão oferecia os nutrientes necessários para uma boa alimentação - proteínas e carboidratos na medida certa. Com o desenvolvimento da indústria alimentar, o brasileiro come menos arroz com feijão e mais macarrão. O macarrão ficou relativamente mais barato quando comparado com o arroz com feijão. A qualidade da alimentação do brasileiro piorou sob esse ponto de vista. Como muitos preferiram os preços e os sabores da macarronada, os que comiam à moda antiga, arroz e feijão, ficaram com uma dieta relativamente mais cara a menos que mudassem de gosto. Um exemplo melhor sobre a liberdade condicional dos consumidores se refere ao transporte individual ou coletivo. Desde os anos 60 o país se tornou o país do automóvel. Brasília foi planejada como uma cidade para o seu tempo - uma cidade para automóveis. Emprego e desemprego dependem das vendas das montadoras. O morador de uma cidade brasileira de porte médio pode escolher entre transporte individual ou público. Mas é uma liberdade condicional- grande parte dos recursos tributários são gastos em obras para o veículo individual, o transporte público é insatisfatório e a escolha entre ir de ônibus ou ir de carro é claramente favorável a ir de carro. A escolha individual é condicionada pela escolha de todos. Todos querem usar carro, o governo gasta para melhorar o trânsito de automóveis e o resultado é mais carro, mais 13
congestionamento, mais dinheiro gasto em ruas e viadutos e menos possibilidades de escolha para o habitante da cidade grande. O sistema de preços nem sempre deve ser determinado pelas escolhas individuais dos consumidores. Por isto o cigarro paga impostos tão altos, assim como as bebidas alcoólicas e outros produtos considerados nocivos ou não meritórios. Tudo isto para falar do preço da gasolina. O preço do petróleo caiu nos mercados internacionais. Mas qual deve ser o preço da gasolina no Brasil? O individualista libertário gostaria que o preço da gasolina fosse igual ao preço internacional do petróleo mais custos de transporte e refino. O preço no Brasil estava defasado com relação aos preços do mercado internacional e agora, essa defasagem diminuiu. Devemos deixar o preço da gasolina em paz, isto é, dado pelo mercado internacional mais os custos de transporte e refino da Petrobras? Liberdade? Vejam os números. São contas de físico - vale apenas a ordem de grandeza. A Petrobras tem um faturamento da ordem de R$ 400 bilhões por ano. As receitas de vendas de gasolina são aproximadamente R$ 100 bilhões. O transporte público na cidade de São Paulo fatura R$ 6 bilhões por ano. Suponha que represente mais ou menos 1/5 desse tipo de despesas no Brasil. Se for verdade, o transporte público por ônibus urbanos no Brasil fatura R$ 30 bilhões por ano. O transporte público representa no IPCA mais ou menos 4,54% da renda dos consumidores e a gasolina, 4,30%, segundo os dados do IBGE para o IPCA. Se a Cide, a contribuição cobrada sobre os combustíveis derivados do petróleo fosse aumentada em 30%, o faturamento das vendas de gasolina aumentaria em R$ 30 bilhões por ano - igual ao valor estimado das receitas dos transporte urbano por ônibus. É muito dinheiro. Qual o impacto dessa medida sobre a inflação? Em termos de repasse de custos é insignificante. Se todos os prejudicados pelo aumento do preço da gasolina repassassem o aumento de custo, o aumento no índice geral de preços seria dado no máximo por R$ 100 bilhões dividido pelo PIB brasileiro (R$ 5 trilhões) vezes o aumento. Isto dá 0,6% como aumento final do índice de preços, depois que todos os preços fossem reajustados para compensar esse aumento de custo. Esta é uma superestimativa, imaginando que todas as empresas possam repassar o aumento, o que não é verdade. Os setores competitivos como a agricultura e muitos setores de serviços não conseguem repassar. Mas poucas vezes o aumento de custo explica a inflação. O efeito mais importante é a indexação - o aumento de preços individuais decorrente do aumento do índice geral de preços. Neste caso o aumento poderia ser muito maior. Mas se as tarifas de transportes públicos que usam diesel não forem corrigidas completamente, um efeito pode compensar, pelo menos parcialmente, o outro. Quais as vantagens? Poderia ser usado para recuperar as receitas da Petrobras e diminuir seu endividamento. Para financiar grandes investimentos em transporte coletivo nos centros urbanos brasileiros - metrô, mais ônibus, mais ônibus de melhor qualidade, mais corredores de ônibus. Mais competitividade para os produtores de etanol. E finalmente, mas não menos importante, um incentivo para usar o transporte coletivo no lugar do transporte individual. Muito mais prático do que o pedágio urbano. Com o passar dos anos reduzirá a necessidade de investimentos em obras viárias de todas as cidades brasileiras. E reduzirá a poluição causada pelos carros. Tantos benefícios com custos relativamente pequenos em termos de inflação. Uma primeira mudança importante para a questão da mobilidade urbana, combate à poluição, recuperação da indústria alcooleira e para as finanças da Petrobras. E um sinal de que vamos mudar. João Sayad é Professor da Faculdade de Economia e Administração da USP.
14
Editorial: Promessas e juros Fonte Jornal Folha de São Paulo 30/10/2014 às 02h00 Passada a eleição, o governo se dedica agora à difícil tarefa de reverter a queda de confiança que paralisou os negócios neste ano. Pretende, assim, ganhar algum tempo para reformar a política econômica. O desafio não será pequeno, a começar da nomeação de um ministro da Fazenda com perfil equilibrado entre o técnico e o político, com qualidade intelectual e prestígio profissional suficientes para evitar a impressão de que atuará como mero executor das vontades da presidente Dilma Rousseff (PT). Ainda não se sabe que influência terão nessa escolha o ex-presidente Lula e a cúpula do PT, assim como permanece incerta a real disposição de Dilma para implementar as mudanças necessárias. Mesmo assim, delineiam-se alguns contornos das ações mais imediatas. O governo, por exemplo, passara a admitir a alta dos juros neste ano, como forma de compensar as más notícias esperadas nas contas públicas e as pressões inflacionárias provocadas, entre outros fatores, pelo dólar mais caro. A última projeção do Banco Central indicava inflação de 6,3% em dezembro, mas com o dólar a R$ 2,25. A moeda americana, contudo, está em R$ 2,47, e analistas privados consideram que a alta de preços poderá ficar perigosamente próxima do teto da meta, 6,5%. O Copom (Comitê de Política Monetária), ainda assim, surpreendeu ao elevar a taxa básica de juros já na reunião de ontem (29), passando-a de 11% para 11,25%. Que o país esteja novamente em meio a um ciclo de aperto monetário para combater a inflação, ao mesmo tempo em que flerta com a recessão, é prova do atoleiro em que se afundou a política econômica nos últimos anos. Além de indicações de maior autonomia do BC na gestão dos juros, o governo precisará esclarecer qual será a trajetória das contas públicas em 2015. Em particular, quais serão as fontes de recursos para elevar o superavit primário (diferença entre receitas e despesas antes do pagamento de juros). São pontos decisivos, já que a arrecadação patina e o Congresso decerto procurará impedir aumentos de impostos. Depois do péssimo resultado esperado para este ano –o objetivo é economizar R$ 99 bilhões, mas, até agosto, só 10% disso havia sido poupado–, cortes de despesas são inevitáveis. Por fim, o governo deve normalizar os preços dos combustíveis. O reajuste é importante não só para começar a recompor o caixa da Petrobras mas também para passar um sinal concreto de que o intervencionismo diminuirá. Em outras palavras, se, como se espera, Dilma Rousseff quiser recolocar o país nos trilhos, precisará adotar boa parte das medidas que, durante sua campanha presidencial, prometeu evitar.
Aperto nos juros FONTE ESTADÃO CELSO MING29 Outubro 2014 às 21h 55 O Banco Central não enfrenta apenas o desafio de combater a inflação, mas, também, o de reconquistar credibilidade, o que pode estar procurando agora. Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), chefiado por Alexandre Tombini, tomou a decisão inesperada de aumentar os juros básicos (Selic) em 0,25 ponto porcentual, para 11,25% ao ano, um dos mais altos do mundo. Reconhece, na prática, que seus comunicados anteriores estavam errados. O nível até aqui de moeda não foi suficiente para que a inflação entrasse “em trajetória de convergência para a 15
meta nos trimestres finais do horizonte de projeção”. E isso já vinha lá de trás, e não apenas “desde a última reunião”. Ninguém acreditava que os juros estavam de bom tamanho. A aposta era a de que o BC não os alteraria na reunião desta quarta-feira apenas para dar a impressão de que daria um tempo após as eleições. Isso demonstra o reduzido nível de confiança na condução da política de juros. Por falar nisso, o BC não enfrenta apenas o desafio de combater a inflação, mas, também, o de reconquistar credibilidade, o que pode estar procurando agora. Essa tarefa parece ter ficado mais complicada porque a própria presidente Dilma avisou durante a campanha eleitoral que o BC não tem e não terá carta branca para administrar a política monetária. Não passará de instrumento das decisões do governo. Para desempenhar sua tarefa de reconduzir a inflação à meta, o BC continua esperando a colaboração da política fiscal (administração das receitas e despesas do setor público), o que está longe de acontecer. Até mesmo o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araujo, já reconhecia que “o balanço do setor público não vem se deslocando para a zona de neutralidade”. Ou seja, o excesso de despesas do governo, conjugado com a baixa arrecadação, não ajuda a conter a inflação, que deve fechar o ano próxima do teto da meta (6,5% ao ano), podendo ficar até mesmo acima. Há novas estocadas de alta a caminho. Não há apenas os reajustes dos preços administrados (combustíveis, energia elétrica e transportes urbanos), que não podem ser mais adiados, e o impacto da alta do dólar sobre os preços dos importados – processo que, no comunicado, o Copom chamou de “intensificação dos ajustes de preços relativos”. Não dá para ignorar o efeito da prolongada alta dos serviços e é preciso prever os efeitos da seca prolongada. São fatores que já vinham jogando contra o discurso oficial da inflação sob controle. Nessas horas, sempre aparece quem olhe para o tamanho do PIB e argumente que a atividade econômica fraca, ainda que indesejada, bastaria para frear a inflação. Ou, então, conclua que os juros não deveriam subir porque é preciso evitar a recessão. O primeiro argumento está correto. O baixo apetite para produção e consumo ainda evita novas disparadas da inflação. O outro não faz sentido. No atual regime de metas, não cabe ao BC o papel de puxador da atividade econômica. E ainda se coubesse, como no caso do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), não seria para aumentar o ritmo do PIB que o BC teria de reduzir o nível dos juros, mas para aumentar o emprego, o que não faria sentido na situação atual de pleno-emprego. Na próxima reunião, do dia 3 de dezembro, os juros podem subir mais. Risco de rebaixamento: A fraqueza das receitas do governo tem como causa principal o baixo crescimento econômico e reforça a indicação de que a meta fiscal deste ano não será alcançada. Nível insatisfatório de arrecadação, por sua vez, é porta aberta para aumento do risco de rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil. Não será fácil reverter esse risco. E será mais complicado ainda se o governo Dilma não tratar de restaurar a confiança.
16
Três Marias terá nova redução de vazão ANDRÉ BORGES / BRASÍLIA - O ESTADO DE S.PAULO30 Outubro 2014 às02h 03 Em situação crítica, o reservatório da usina de Três Marias, um dos maiores do Rio São Francisco, terá nova redução de vazão. A decisão, tomada ontem pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), busca garantir o abastecimento das cidades nas proximidades do reservatório e, ao mesmo tempo, permitir uma geração mínima de energia da hidrelétrica. Pela decisão, o volume de água cairá de 140 para 120 metros cúbicos por segundo a partir de hoje. Com 1.060 quilômetros quadrados de área alagada, Três Marias é o reservatório de cabeceira do Rio São Francisco e o segundo maior da bacia, depois de Sobradinho. O reservatório registrava ontem apenas 3,08% de sua capacidade total de armazenamento - o pior índice em toda a sua história. Sua usina, de 396 megawatts de potência, já está com quatro das seis turbinas desligadas por causa do baixo volume de água. Com a redução constante da vazão do São Francisco, é grande o risco de paralisação total da hidrelétrica nos próximos dias se não chover na cabeceira do São Francisco. Questionada sobre a situação, a estatal mineira Cemig informou que avalia a possibilidade de cumprir a solicitação do ONS "sem que haja necessidade de desativar uma das turbinas em operação". Nebuloso. O drama atual vivido em Três Marias torna ainda mais nebuloso o futuro que se desenha para o reservatório. Há exatamente um ano, a água acumulada em sua barragem atingia 25,20% da capacidade total e, mesmo assim, chegou às condições de hoje. Há uma incógnita, portanto, sobre quais serão as condições do reservatório no auge da seca de 2015. A agonia vista a olho nu no reservatório de Três Marias não é exclusividade na Bacia do São Francisco, um rio que, nas palavras do Ministério de Minas e Energia, é o "mais bem comportado do País", em referência ao grande número de barragens existentes. Abaixo de Três Marias, em Sobradinho, a situação também não é nada confortável. Com 4.200 quilômetros quadrados, o que faz de Sobradinho o maior reservatório do País em área, seu lago acumula hoje apenas 21% do total de água que é capaz de armazenar - esse volume chegava a 25% um ano atrás. A diferença só não é maior por causa de reduções de vazão realizadas um ano e meio atrás. Para não sacrificar ainda mais o nível de Sobradinho, a ANA e o ONS reduziram, desde abril de 2013, o volume de água que passa pela barragem e suas turbinas, que têm capacidade de produzir 1.050 megawatts. Há 18 meses, portanto, Sobradinho opera com uma vazão de 1.100 m³/s, quando o volume mínimo de segurança estabelecido é de 1.300 m³/s. No mês passado, a diretoria da Chesf, responsável pela operação do reservatório e da usina, reuniu-se com a ANA e o ONS para que essa vazão fosse reduzida nas madrugadas para 900 m³/s. A partir de novembro, a expectativa é de que Sobradinho passe a operar regularmente com vazão de 1.000 m³/s, chegando a 900 m³/s em janeiro de 2015. A reportagem questionou a ANA e a Chesf sobre essas medidas, mas não obteve resposta. Para entender. Barragens como as de Três Marias e Sobradinho têm papel fundamental no abastecimento de água e geração de energia porque funcionam como reservatórios de 17
regularização. Como têm capacidade de armazenar grande quantidade de água, permitem ao governo maior controle sobre a vazão, administrando os recursos que passarão por hidrelétricas instaladas ao logo do rio. Sobradinho, com seus 4.200 km², acumula 28 bilhões de metros cúbicos de água. Três Marias, com 1.060 km², pode guardar 15 bilhões de metros cúbicos. Em termos de eficiência, porém, nada supera o reservatório de Serra da Mesa, na Bacia do Alto Tocantins, em Goiás. Com 1.783 km², a barragem armazena até 43,2 bilhões de metros cúbicos de água.
Manifesto da moda O ESTADO DE S.PAULO30 Outubro 2014 às02h 11 Prioridade é reduzir custos; varejo lidera mercado virtual; moda valoriza a cultura; gigantes e estilistas associam marcas; estilo nas redes sociais; novos cursos de formação profissional. A cadeia da indústria de vestuário, que inclui desde a produção de tecidos até confecções e produção de moda, tem potencial para se desenvolver e ocupar mais espaço no mercado global, mas para isso precisa superar obstáculos como custos elevados decorrentes do excesso de impostos e regulamentação trabalhista. A falta de capacidade de competição diante dos importados legais e ilegais provocou o fechamento de 14 mil empregos formais na indústria têxtil no ano passado, segundo dados oficiais do Ministério do Trabalho. Para debater as alternativas de estímulo ao setor, o Grupo Estado promoveu, em parceria com a Federação do Comércio de São Paulo, o Fórum Negócios da Moda, com o apoio da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Associação Brasileira de Estilistas e Senac. O tom do debate foi de cobrança de medidas por parte da nova gestão do governo Dilma Rousseff para estimular a produção, mas os debatedores trataram também de inovação, novos modelos de negócios e tendências da indústria e da moda. Mais de 500 empresários, profissionais e estudantes acompanharam o evento. Este caderno especial traz os principais pontos dos debates e reportagens especiais sobre este setor responsável por 8 milhões de empregos diretos e indiretos.
18