SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS 31 DE OUTUBRO DE 2014
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Para governo, reação do mercado à Selic dá folga para novas medidas Fonte Jornal Folha de São Paulo VALDO CRUZ de BRASÍLIA 31/10/2014 às 02h 00 A decisão do Banco Central de subir os juros foi considerada pelo governo uma iniciativa correta, que faz a presidente Dilma Rousseff ganhar tempo para definir com tranquilidade, sem pressões do mercado, seu novo ministro da Fazenda e medidas para ajustar as contas públicas, que estão no vermelho. Segundo auxiliares, a reação positiva do mercado à medida do BC a cotação do dólar caiu 2,45%, fechando a R$ 2,408, e a Bolsa subiu 2,5%– alivia a pressão sobre a presidente, deixando-a mais à vontade para tomar com calma suas decisões sobre seu segundo governo. Um assessor destaca, porém, que isso não significa que ela vai ficar postergando suas medidas até o final do ano. "Só fica mais tranquilo e sem turbulências para ela decidir a seu tempo, que pode ser a qualquer momento", afirmou o auxiliar. A intenção da presidente é anunciar em novembro seu novo ministro da Fazenda e um pacote de medidas fiscais de médio e longo prazos para melhorar o desempenho das contas públicas.
Ela já encomendou ao atual ministro Guido Mantega (Fazenda) o pacote de ações na área fiscal e vai analisá-lo na próxima semana, depois de voltar de seu período de descanso na Bahia. Segundo um assessor, está sendo preparado para 2015 um "importante corte de despesas" para garantir um superávit primário (economia de gastos para pagamento de juros da dívida) no próximo ano mais forte do que em 2014 neste ano, o governo não irá conseguir cumprir sua meta de fazer o setor público economizar 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto). No Banco Central, que elevou na quarta-feira (29) a chamada taxa Selic de 11% ao ano para 11,25%, a avaliação é que a alta dos juros teve o efeito esperado. Assessores presidenciais disseram à Folha que a alta foi um sinal ao mercado de que Dilma começará o segundo mandato priorizando o combate à inflação e fazendo as correções necessárias na área econômica. A tendência do Copom (Comitê de Política Monetária) é promover mais uma alta da taxa na última reunião do ano, em dezembro, também de 0,25 ponto percentual. A opção pelo aumento já em novembro foi tomada para reduzir o custo do aperto na política monetária. Deixar a medida para dezembro demandaria um aumento maior da dose, provavelmente de 0,50 ponto percentual, o que poderia causar maior impacto negativo futuro sobre a atividade econômica num período em que o país está registrando crescimento fraco. 2
Dilma, a Priscila do Deserto Moral Fonte Jornal Folha de São Paulo 31/10/2014 às 02h00 Em Kakânia, o país imaginário de Musil em "O Homem Sem Qualidades", podia-se, às vezes, tomar um "gênio por um patife", mas "nunca se tomava um patife por um gênio". Dia desses, um dublê de colunista político e cortesão resolveu me ironizar porque afirmei que o país sai das urnas "dividido, rachado ao meio". As esquerdas, que produziram vasta literatura sobre a indústria eleitoreira da miséria, agora pretendem negar as suas próprias constatações. O Nordeste servia como emblema dessa relação quando o quase extinto PFL dava as cartas na região. Hoje, apontar o óbvio seria sinal de preconceito e demofobia. Em Banânia, não apenas se tomam gênios como patifes, mas também patifes como gênios. Vejam os 15 Estados em que Dilma venceu no segundo turno, o seu percentual de votos (primeiro número) e o percentual de famílias atendidas pelo Bolsa Família (segundo número). Os dados são do TSE (desprezei os algarismos depois da vírgula) e do Ministério do Desenvolvimento Social (setembro de 2014). Maranhão (78-58), Piauí (78-54), Ceará (76-47), Bahia (70-47), Pernambuco (70-47), Rio Grande do Norte (69-40), Sergipe (67-49), Paraíba (6450), Amazonas (64-43), Alagoas (63-53), Amapá (61-33), Tocantins (59-38), Pará (57-46), Rio de Janeiro (54-17) e Minas (52-21). Agora seguem os Estados em que Dilma perdeu, com os mesmos dados: Santa Catarina (3507), São Paulo (35-11), Acre (36-42), Distrito Federal (38-12), Paraná (39-13), Goiás (42-19), Mato Grosso do Sul (43-21), Rondônia (45-26), Mato Grosso (45-22), Rio Grande do Sul (4613), Espírito Santo (46-19) e Roraima (42-47). É preciso ser intelectualmente desonesto para não constatar que existe uma óbvia relação entre o benefício e a fidelidade ao petismo, que é o coronelismo da hora. A petista venceu o tucano por menos de 3,5 milhões de votos. Só no Nordeste, a sua vantagem foi de mais de 12,2 milhões. O percentual de famílias atingidas pelo programa, na região, varia de 40% (RN) a 58% (MA). O Acre e Roraima, de um lado, e Minas e Rio, de outro, parecem negar a evidência. Vistas as particularidades, não tenho espaço, apenas confirmam. A média de votos de Dilma nos mil municípios com mais beneficiários do Bolsa Família foi de 73,1%; nos mil com menos, de apenas 28,2%. Nas mil cidades que concentram maior número de famílias com renda per capita igual ou inferior a R$ 70, a petista obteve 74,3% dos votos, nas mil com menos, só 28%. É claro que não é o Nordeste o culpado. É a pobreza! Mas aí o esquerdista cascudo se regozija porque, afinal, a "represidenta" é a Priscila do Deserto Moral do Bolsa Família –que tem de ser mantido, sim, e de se transformar em política de Estado, imune ao proselitismo. Um governo que não se ocupasse de minorar a miséria seria indecoroso, além de cruel. Um governo que se orgulha de manter 50 milhões de pessoas atreladas ao programa é cruel, além de indecoroso. Tanto pior quando a máquina oficial é mobilizada para fazer terrorismo eleitoral e ameaçar com o fim do benefício quem depende, para viver, de uma pensão que vai de R$ 32 a R$ 140. Eu não gostaria de estar na pele moral dessa gente. Os imbecis falam em separatismo. Os decentes têm de pensar em como libertar os pobres da chantagem e da vigarice.
Risco do câmbio pode influenciar leilão de solar Fonte Jornal Valor Econômico Rodrigo Polito o Rio31/10/2014 às 05h 00 Se, em um primeiro momento, o preço teto de R$ 262 por megawatt-hora (MWh) definido para projetos de geração de energia solar no leilão de reserva, que ocorrerá nesta sexta-feira, agradou o mercado, agora os investidores estão um pouco mais receosos. A preocupação é com o risco cambial, já que a maior parte dos equipamentos das usinas será fabricada no exterior. E, com a recente instabilidade do mercado financeiro no Brasil, uma desvalorização do real pode inviabilizar os projetos. 3
Segundo potenciais investidores ouvidos pelo Valor, há pelo menos dois problemas. O primeiro é que os fornecedores de equipamentos solares não estão cotando produtos em real, nem estão apresentando proposta firme de que fabricarão as peças no Brasil. O segundo problema é que os instrumentos de "hedge" oferecidos no mercado financeiro tornam inviável a equação dos projetos solares ao preço de R$ 262 o MWh. "A questão do câmbio está, sim, preocupando o setor [elétrico], principalmente o de energia solar, porque tudo é importado. O aumento do dólar na última semana pode prejudicar", afirmou Thais Prandini, diretora da consultoria Thymos Energia. Segundo Carlos Delpupo, diretor da consultoria Key Associados, o câmbio é fator de alto risco, já que pelo menos metade do custo dos projetos será importado. Ele, no entanto, considera competitivo o preço de R$ 262 o MWh. Delpupo acrescentou que a indefinição do governo reeleito sobre os rumos da política econômica também pode afetar o apetite dos investidores. Para outro especialista do setor, o preço teto comporta o risco cambial. O aumento do dólar, segundo ele, afeta mais termelétricas a gás natural do que usinas solares. Prova disso foi a elevação, para R$ 209 o MWh, do preço-teto para térmicas no próximo leilão A-5 (que negocia contratos para início de fornecimento cinco anos a frente). Entre os executivos e especialistas consultados pelo Valor, a expectativa é que o leilão desta sexta-feira contrate um volume entre 45 megawatts (MW) médios e 150 MW médios de energia solar. Esse montante equivale a uma capacidade instalada de 300 MW a 1000 MW de usinas, considerando um fator de capacidade 15% para projetos solares. O total da demanda a ser contratada no leilão de energia de reserva (que negociará, além de solar, energia eólica e de biomassa de resíduos sólidos) será definida pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Diferentemente dos leilões de energia convencionais, em que o volume é formado pela soma da demanda declarada pelas distribuidoras, no leilão de reserva é o governo que define esse valor. Nesta semana, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) enviou nota técnica ao ministério com a sugestão de volume de contratação de energia. A oferta prevista para o leilão também é desconhecida. Desta vez, a EPE não divulgou a lista de empreendimentos habilitados e que tenham depositado as garantias financeiras para participar da concorrência. O único número oficial é o de total de inscritos. Ao todo foram cadastrados 400 projetos de energia solar, que somam 10 mil MW de capacidade instalada. Segundo o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, as perspectivas para o leilão são boas. "Tenho uma expectativa de que a solar seguirá o mesmo círculo virtuoso que aconteceu com a eólica. Ou seja, vamos criar uma demanda. Com essa demanda, você atrai fabricantes. E os preços acabam caindo, com o aumento da escala", afirmou o executivo. Segundo ele, o governo deve contratar energia solar anualmente. "A ideia é contratar todo ano um pouco de solar para dar um horizonte para os investidores".
Desigualdade de renda cai, mas mulher ainda ganha 30% menos, diz IBGE Fonte Jornal Valor Econômico Diogo Martins 31/10/2014 às 10h08 RIO - Em se tratando de gênero, cor e região, a desigualdade de renda continua muito alta no Brasil, de acordo com o estudo Estatísticas de Gênero 2014 - Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010, divulgado nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 4
Estatística (IBGE). Embora a diferença entre o que ganham homens e mulheres tenha diminuído, na média nacional, as mulheres ainda recebem cerca de 30% a menos. Quando adicionadas os aspectos racial e regional, as diferenças são ainda maiores. A mulher negra e nordestina tem o menor rendimento médio do país. Além disso, a proporção de trabalhadores no mercado informal, sem acesso a direitos, portanto, é maior entre o sexo feminino que o masculino. A disparidade de renda entre homens e mulheres recuou ligeiramente entre 2000 e 2010, mas aumentou em duas das cinco grandes regiões brasileiras. De acordo com o IBGE, o rendimento médio real mensal, de todas as fontes, das mulheres de dez anos ou mais de idade correspondia a 65% da renda dos homens em 2000. Em 2010, subiu para 68%. Em média, os homens tinham rendimento de R$ 1.587 em 2010, enquanto as mulheres recebiam R$ 1.074. O IBGE apontou que, além da valorização do salário mínimo, houve aumento real do rendimento médio de todas as fontes na comparação entre 2010 e 2000. As mulheres tiveram o maior aumento relativo (12,0% frente a 7,9% dos homens). “O crescimento do rendimento feminino reduziu um pouco a disparidade, mas não foi uniforme em todo o país”, afirmam os especialistas do IBGE na pesquisa. Nas cinco grandes regiões, a diferença salarial entre homens e mulheres caiu no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul, mas subiu no Norte e no Nordeste do país. O estudo do IBGE mostrou que, no Nordeste, os rendimentos das mulheres equivaliam a 72% dos rendimentos dos homens em 2000, e que essa fatia foi reduzida a 68% dez anos depois. Em 2010, os homens nordestinos ganhavam, em média, R$ 1.053 por mês, ao passo que as mulheres, R$ 716. Na época, o salário mínimo era de R$ 510,00. Seguindo a mesma tendência, o rendimento das mulheres do Norte encolheu em proporção aos dos homens, no período 2000-2010, passando de 71% para 69%. O IBGE apurou que, em 2010, os homens possuíam rendimento médio mensal de R$ 1.221, enquanto as mulheres ganhavam R$ 846,00. Por outro lado, a desigualdade de renda entre os gêneros diminuiu no Sudeste, em favor das mulheres, que em 2000 tinham rendimento médio equivalente a 64% do dos homens, e passaram a ter 69% em 2010. Os homens tinham rendimento médio de R$ 1.847 em 2010 e as mulheres, R$ 1.271. No Sul, as mulheres, que tinham rendimento médio mensal equivalente a 61% da renda masculina em 2000, passaram a ter 67%, totalizando R$ 1.142, em 2010, quando os homens recebiam R$ 1.693, de todas as fontes. Já no Centro-Oeste, a relação entre renda masculina e feminina passou de 65% para 70%, entre 2000 e 2010. Segundo o instituto, os homens da região tinham rendimento médio mensal de R$ 1.835, enquanto as mulheres recebiam R$ 1.293.
Mulheres são responsáveis por 38,7% dos domicílios, aponta IBGE Fonte Jornal Valor Econômico Diogo Martins 31/10/2014 às 10h18 RIO - Mais de um terço dos domicílios existentes no país são de responsabilidade feminina. Geralmente, essas residências estão localizadas em áreas com saneamento básico e coleta de 5
lixo inadequados. É o que mostram os resultados do Censo Demográfico 2010, divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o IBGE, foram contabilizados 57,3 milhões de domicílios em todo o país em 2010. Desse total, 61,3% tinham responsáveis homens e 38,7%, mulheres. Das residências existentes no país, 85,9% estavam em áreas urbanas. Nessas regiões, a proporção de domicílios sob responsabilidade masculina era de 59% e 41%, das mulheres. Em 2010, do total dos domicílios urbanos cuja responsabilidade era de mulheres, 28,3% tinham saneamento inadequado. O IBGE considerou como saneamento adequado urbano as habitações com acesso simultâneo ao abastecimento de água por rede geral, esgotamento por rede ou fossa séptica e coleta de lixo direta ou indireta. Já na área rural, 74,9% dos domicílios eram de responsabilidade dos homens e 25,1%, das mulheres. Mulher negra do NE tem a menor renda Sexo, cor e localidade são determinantes na formação da renda pessoal no país, afirma o estudo Estatísticas de Gênero 2014 - Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010. De acordo com a pesquisa, os menores rendimentos do país eram de mulheres negras ou pardas do Nordeste, em 2010. Ao todo, o IBGE contabilizou que 50,8% de mulheres com essas características e moradoras dessa região possuíam rendimento até um salário mínimo. Na zona rural nordestina, os dados daquele ano são mais alarmantes. A proporção de mulheres do campo com rendimento até um salário mínimo chega a 59,3%. Além das disparidades regionais, dado que o rendimento médio das pessoas no Nordeste (R$ 881) é 43% menor que o rendimento médio das pessoas no Sudeste (R$ 1.575), a componente racial é um importante atributo. O rendimento médio das mulheres pretas ou pardas (R$ 727) correspondia a 35% do rendimento médio dos homens brancos (R$ 2.086). As mulheres das áreas rurais são as que apresentam os rendimentos mais baixos (R$ 480). Segundo o instituto, 30,4% das mulheres de 16 anos ou mais de idade não tinham qualquer tipo de rendimento em 2010. A proporção é superior ao observado para o total da população nessa faixa etária (25,1%) e para os homens (19,4%).
Governança da Petrobras em xeque com escândalos Fonte Jornal Valor Econômico 31/10/2014 às 05h 00 Não bastassem as surras de suas ações na bolsa e uma difícil equação financeira que ameaça compromissos futuros, a Petrobras foi seriamente atingida pelas revelações de seu ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, abrigadas pela delação premiada. Pelo que foi divulgado de um processo ainda em seu início, e sem comprovação outra que não as palavras de seu autor, durante oito anos a estatal foi pilhada por esquema de desvio de recursos para contribuições a partidos políticos, entre eles o PT e o PP, que se espalhava por mais de uma diretoria. Se os depoimentos de Paulo Roberto e do doleiro Alberto Yousseff forem 6
comprovados, será desbaratado um dos maiores esquemas de roubo de dinheiro público do país, do qual também teriam participado algumas das maiores empreiteiras. A governança da Petrobras está em xeque. A Securities and Exchange Commission (SEC), a xerife do mercado de capitais americana, começou a investigar, a partir das denúncias de corrupção, as responsabilidades da estatal diante de evidentes prejuízos aos investidores. A reputação das administrações da empresa poderá sofrer um dano severo, caso a Polícia Federal prove que os delatores dizem a verdade. Até hoje, os balanços da estatal passaram pelo crivo da SEC sem ressalvas e ela agora procura saber se foi, e por quem foi, ludibriada. Diante de uma encrenca desse tamanho, e visando mais sua defesa junto à SEC do que propriamente investigar fatos, a Petrobras contratou dois escritórios de advocacia, um brasileiro e outro americano. À petroleira interessa provar, o que é razoável e possível, que entrou como vítima nesse processo (Valor, 29 de outubro). Na berlinda também estão o presidente da companhia durante o período em que Paulo Roberto atuou ilegalmente, José Gabrielli, e o diretor financeiro, Almir Barbassa, que atestaram a veracidade das informações apresentadas aos investidores e a eficácia dos controles internos. A descoberta de cobertura contábil a fraudes, que os investigadores estimam poder atingir R$ 10 bilhões, pode colocá-los em maus lençóis diante da lei americana. Havia a suspeita de que em algum momento as indicações políticas para cargos operacionais importantes acabariam trazendo problemas graves à Petrobras. A empresa, exatamente por estar envolta em interesses políticos, praticamente não reagiu diante das suspeitas. Em parte porque isso poderia, primeiro, ferir a imagem de gestora de Dilma Rousseff, que foi presidente de seu Conselho de Administração, e, depois, por diminuir as chances de reeleição da presidente, acossada de muito perto pelos rivais nas pesquisas eleitorais. A Petrobras contratou tardiamente defesa mirando o público externo. Mesmo após meses sob os holofotes, desde o caso do preço espetacular pago pela refinaria de Pasadena, demorou a constituir comissões internas de averiguação, que nada constataram até agora. A desmoralização da governança pode ser um fator a mais para levar a companhia a perder seu já periclitante grau de investimento. O escândalo, além de ter potencial para criar novas crises políticas, tira o brilho das latentes melhorias financeiras e gerenciais que estão começando a aparecer. A produção deslanchou no pré-sal e deve crescer este ano, enquanto que a queda de 25% do preço do petróleo desde junho traz algum alívio às suas contas. Uma queda de US$ 10 no barril tipo Brent traz um ganho de R$ 4,9 bilhões à Petrobras, que suprirá 21% da demanda interna com importações este ano, estima relatório do Goldman Sachs. A defasagem entre preços externos e domésticos diminuiu muito, embora a desvalorização do dólar conspire contra isso. Segundo o banco, o aumento de 1% dos preços domésticos terá impacto positivo de R$ 1,7 bilhão em seu Ebitda, enquanto que 1% de desvalorização do real subtrai dele R$ 1,4 bilhões. Entre os efeitos, o do câmbio é mais relevante porque 70% da dívida total de cerca de R$ 307 bilhões é em moeda estrangeira. O câmbio afeta apenas 25% de suas receitas, mas 75% de seus custos. Para explorar o pré-sal, a Petrobras precisará de aumento de preços domésticos, algum corte nos investimentos ou obtenção de dinheiro externo a custo maior, o que elevaria o desconfortável nível de alavancagem. Se tudo continuar como hoje, a Petrobras terá alavancagem de 5,6 vezes em 2016 (relação entre dívida líquida e Ebitda). Encarar esses desafios em condições normais já é complicado, enfrentá-los sob investigação e um vendaval de denúncias é muito pior.
Debêntures perpétuas e instrumentos híbridos Fonte Jornal Valor Econômico Alexandre Couto e Raphael Martins31/10/2014 às 05h 00 O Brasil encontra-se atualmente defasado no debate acerca da utilização dos chamados instrumentos financeiros híbridos. Em artigo recente, Jairo Saddi salienta que os instrumentos híbridos nunca "deslancharam" no mercado brasileiro. 7
Apenas para recordação, instrumentos híbridos são aqueles que conjugam características tanto de instrumentos patrimoniais ("equity") quanto de passivos financeiros ("debt"). Os instrumentos híbridos terão necessariamente uma forma jurídica que ao menos inicialmente indicaria sua classificação como "equity" (e.g. ações) ou "debt" (e.g. debêntures). Contudo, as chamadas "debêntures perpétuas", por suas características, não se enquadram nessa classificação clássica. Tais debêntures, que podem ser usadas para atrair recursos sem diluir participação dos acionistas, não teriam prazo de maturação e, em tese, implicariam o pagamento da remuneração ou dos cupons durante a vida da companhia. Adicionalmente, estas debêntures ainda seriam subordinadas em relação a outros passivos da companhia e dariam autonomia à companhia para deliberar acerca do pagamento da remuneração. Por essas características, companhias abertas com larga experiência na emissão de instrumentos financeiros semelhantes em outras jurisdições que adoram o IFRS têm buscado classificar suas debêntures perpétuas como instrumentos patrimoniais (no Patrimônio Líquido) e não como passivo financeiro. Cabe ressaltar que o Comitê de Pronunciamentos Contábeis já se manifestou sobre a questão (CPC 39) ao concluir, replicando a literatura internacional, que só poderiam ser considerados passivos financeiros aqueles que trouxessem uma real obrigação de realizar os pagamentos devidos em situações que poderiam estar fora do controle da companhia. Contudo, a Comissão de Valores Mobiliários tem entendido que esses instrumentos seriam passivos financeiros, ora alegando que o direito de recebimento dos cupons não estaria completamente sob controle da companhia (Caso Energisa), ora justificando que a subordinação do debenturista ainda o colocaria em uma posição superior aos acionistas (Caso Tec Toy). Assim, percebe-se que a principal razão para inexistência de um mercado para instrumentos híbridos no Brasil seria essencialmente regulatória (ou seja, a atual interpretação da CVM acerca do tema). Há casos em que a CVM exigiu a reclassificação de debêntures (como passivo financeiro) que além de serem perpétuas, davam completa autonomia à companhia para diferir o pagamento da remuneração e colocavam o debenturista em posição subordinada a todos os outros credores da companhia (salvo os acionistas, sobre quem tinha senioridade). A conclusão da autarquia tem sido no sentido de que o diferimento não seria o mesmo que autonomia completa para deliberar o pagamento ou não da remuneração, alegando que haveria a obrigação de pagar ainda que o diferimento pudesse ser perpétuo. Desnecessário dizer que essa reclassificação atinge diretamente os interesses das companhias emissoras que, ao terem que registrar esses instrumentos no passivo, afetam negativamente suas demonstrações financeiras e consequentemente sua atratividade para investidores. Em explicação ao questionamento levantado para o não desenvolvimento dos instrumentos híbridos, muito embora seja compreensível a preocupação da CVM, o posicionamento adotado pela autarquia tem inviabilizado o desenvolvimento destes no Brasil. A CVM se prende a uma interpretação formalista das novas regras contábeis em detrimento de uma aplicação genuína da primazia da essência sobre a forma. Ou seja, a essência do instrumento híbrido sobre sua mera forma jurídica que pode ser de debêntures.
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O entendimento da CVM não parece estar totalmente alinhado com as normas e os entendimentos dos órgãos internacionais (e.g. IASB), da mesma forma com a flexibilidade da legislação e das regras contábeis brasileiras. A Lei das Sociedades por Ações permite a emissão de ações preferenciais com dividendos prioritários, mínimos ou fixos, cumulativos. Assim, debêntures perpétuas, em especial aquelas analisadas pela CVM, possuem métodos de remuneração essencialmente idênticos. Na verdade, poder-se-ia argumentar que a remuneração de preferencialistas, uma vez que depende de deliberação da Assembleia, estaria mais distante do controle da companhia do que o pagamento de cupons de debêntures perpétuas, que dependeria de ato da Administração. O CPC 39 vislumbrou que a separação entre "debt" e "equity" não poderia ser binária quando exemplifica que uma ação preferencial, pela natureza dos direitos concedidos ao acionista, em alguns casos, deveria ser registrada no passivo da companhia e não no patrimônio líquido. Não existe razão para que o exemplo da ação preferencial não espelhe ou seja semelhante aos instrumentos de dívida com determinados direitos, mais próximos ao da ação preferencial registrada no patrimônio líquido. Além disso, organismos internacionais, como o IASB, não só já concluíram pela existência de instrumentos financeiros híbridos como utilizam as debêntures perpétuas (IAS 32) para exemplificar que mesmo um instrumento que seja formalmente debt, poderia, em razão da sua essência, ser registrado como equity. Por fim, percebe-se que, para os instrumentos híbridos deslanchem no Brasil, o desafio será endereçar as preocupações da CVM quanto à contabilização desses instrumentos de forma a viabilizar essa forma adicional de financiamento para as companhias. É preciso alinhar o entendimento da autarquia com a melhor interpretação não só internacional, mas também àquela baseada na legislação pátria. A adoção efetiva da primazia da essência sobre a forma nesses casos permitirá aumentar a clareza e a compreensão das informações financeiras da empresa (independentemente da forma legal utilizada) e aumentar a atratividade desse tipo de financiamento, algo sempre muito importante para companhias e para o mercado de capitais.
BC japonês surpreende e amplia estímulos para 80 trilhões de ienes/ano Fonte Jornal Valor Econômico 31/10/2014 às 03h06 TÓQUIO - O Banco do Japão decidiu nesta sexta-feira ampliar seu programa de estímulos monetários para 80 trilhões de ienes ao ano, ante valor anterior na faixa entre 60 trilhões e 70 trilhões de ienes. A decisão foi tomada por plac ar apertado, 5 votos a 4. A decisão do Banco Central japonês ocorre em um momento em que os principais indicadores da economia vinham patinando, após um aumento no imposto sobre consumo em 1º de abril, de 5% para 8%. Esse cenário passou a colocar em risco a meta do governo de levar a economia a produzir uma inflação estável em 2% ao ano. Nesta sexta-feira, o governo havia divulgado mais cedo uma inflação de 1% ao ano em setembro, o que acendeu o sinal de alerta no país. Economistas acreditam que, em outubro, a inflação vai cair ainda mais, para 0,8%. 9
Em comunicado divulgado há pouco, o BC pontuou: “O afrouxamento monetário será mantido pelo tempo necessário para se alcançar a meta de inflação estável de 2%. A decisão de aumentar o volume dos estímulos para 80 trilhões de ienes encontra respaldo no mercado japonês é mais um esforço no sentido de acabar com o trauma da deflação que assombrou o país por mais de uma década recentemente. Desde que assumiu o governo, em 2012, o premiê Shinzo Abe vem apostando suas fichas em criar uma inflação de 2% no país. O presidente do BC, Haruhiko Kuroda, surpreendeu o mercado com a decisão de ampliar o afrouxamento. Especialistas na política monetária não esperavam esse movimento. Também para esta sexta-feira está prevista a divulgação de um novo mix de investimentos para o fundo de pensão do governo japonês (GPIC, na sigla em inglês), para tornar seu perfil mais agressivo e rentável. O conjunto de ações sugere uma coordenação entre BC e governo no sentido de dar uma resposta ao mercado frente aos indicadores fracos desde abril. Em poucos instantes após o anúncio do BC, o índice Nikkei, referencial na Bolsa de Tóquio, saltava 4,5%, para 16.357,71 pontos.(Dow Jones Newswires)
Banqueiros, de novo Fonte Jornal Valor Econômico José Roberto Campos 31/10/2014 às 05h 00 Pode-se governar sem banqueiros, mas não se pode ignorá-los. A banca é o algoz que os petistas amam odiar e a campanha para a reeleição de Dilma Rousseff causou espanto e incredulidade pela manipulação de imagem. Nela, os banqueiros não chegam a comer criancinhas, feito que a direita atribuía aos comunistas antigamente, mas roubariam a comida da mesa do brasileiro e seu emprego, se a eles fosse entregue um Banco Central independente. A propaganda foi uma das que ajudaram a expelir da disputa a candidata Marina Silva, autora da proposta. O estereótipo até cumpriu sua missão de reafirmar para militantes o caráter "de esquerda" do PT - saudosismo de um passado remoto. Ele é falso, claro. Envolto em malfeitos, como as legendas fisiológicas que abraçou sem critérios, o PT se aliou a políticos conservadores ou de má reputação, como José Sarney, membro da Arena, partido da ditadura, Paulo Maluf, idem, Jader Barbalho, Fernando Collor, Renan Calheiros e outros mais. O partido não vê problemas nesse tipo de convivência, já com a dos banqueiros... Com os banqueiros foi um mero baixo truque eleitoral. Apenas um dia depois de contados os votos e Dilma vencer, eles apareceram de novo, agora do outro lado do balcão: como candidatos a ministro da Fazenda. Houve a indicação e não se sabe se algum deles chegará lá, o que só seria estranho ou contraditório para quem acreditou na propaganda enganosa. PT e financistas conviveram harmoniosamente no governo Lula e os bancos são um dos principais contribuintes de campanha da legenda. Foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quem, no início do reinado petista, procurou e entregou a um banqueiro a direção do Banco Central: o ex-presidente do Bank of Boston no Brasil, Henrique Meirelles, que ainda por cima acabara de ser eleito deputado federal por Goiás pelo rival PSDB. Em linguajar petista, a raposa foi tomar conta do galinheiro - ao final de 8 anos de produtiva convivência, salvaram-se todas as galinhas e a raposa, ao que se sabe, não ficou insatisfeita. A parceria entre Meirelles e Lula foi muito bem-sucedida, apesar dos resmungos do partido. Em um momento importante da história, Meirelles aceitou entrar no ninho petista. Foi um dos poucos financistas de mercado que aceitou fazê-lo e só se arriscou porque recebeu todas as 10
garantias de Lula de que teria carta branca para agir e uma missão a cumprir. Ambos entregaram o que prometeram. Meirelles abrigou no BC um time que, por convicção, passaria longe de um governo petista. No entanto, estava escudado por Lula contra o fogo amigo, que não o poupou - nem a ninguém. A determinação de Lula era abrir espaço para criação dos mais abrangentes programas sociais da história e de um verdadeiro mercado de massas no país, razões pelas quais resolveu manter a inflação estritamente sob controle, fazer rigoroso ajuste fiscal e debelar a enorme desconfiança dos investidores. Antônio Palocci, na Fazenda, e Meirelles no BC, foram peças chaves para isso. Ao longo dos dois mandatos de Lula, Meirelles se cercou de um time de bem preparados economistas vindos de instituições financeiras e construiu sua ilha de ortodoxia no BC. Entre eles estavam Afonso Bevilaqua, economista do "inimigo" FMI, Luiz Candiota, ex-diretor do Citibank, Eduardo Loyo, economista-chefe do UBS Pactual, Alexandre Schwartsman, economista chefe do Indosuez e BBA Corretora, Rodrigo Azevedo, do banco Garantia e diretorexecutivo do banco de investimentos Credit Suisse First Boston, Mario Torós, diretor para mercados emergentes e responsável pela tesouraria do Banco Santander e Mário Mesquita, economista chefe do ABN Amro. Bevilaqua, Loyo e Mesquita, além disso, eram ligados à PUCRio, berço dos principais economistas do time do presidente Fernando Henrique Cardoso. Meirelles e sua turma entraram quebrando inteligentemente as expectativas. De cara, na primeira reunião do BC na era Lula, em 22 de janeiro de 2003, subiram os juros para 25,5% ao ano e, na seguinte, para 26,5%. O BC impôs credibilidade, mostrando aos petistas que um governo seu era capaz de subir os juros. Aos não petistas, céticos, provou que tinha autonomia para fazê-lo. Já em junho, começou a cortar agressivamente as taxas. Não conseguiu, porém, se livrar de pesado bombardeio: fontes sempre não identificadas do Planalto reclamavam da política do BC às vésperas de cada reunião do Comitê de Política Monetária. O próprio presidente Lula, porém, jamais abriu a boca uma vez sequer para criticar em público a atuação do BC, nem mesmo quando o banco cometeu o óbvio exagero de aumentar juros em 11 de setembro de 2008, dias antes de estourar a mais grave crise financeira global em quase um século e manter a taxa até janeiro, quando a economia brasileira já mergulhara em recessão. Meirelles foi o único presidente do BC que por três vezes colocou a inflação abaixo do centro da meta: em 2006, com 3,14%, em 2007, com 4,46%, e em 2009, com 4,31%. A turma do PT em volta podia urrar e estrebuchar, mas foi beneficiada por suas ações. Meirelles mostrou domínio perfeito do "timing" para criar as condições favoráveis à reeleição de Lula e à vitória de seu sucessor, Dilma Rousseff. Sem descuidar da inflação, o BC iniciou o ano eleitoral de 2006 reduzindo juros. Lula venceu. De abril de 2009 até o começo de 2010, jogou a taxa Selic a 8,75% ao ano, a mais baixa desde 1996. Começou a elevá-la apenas em junho de 2010, quando, pelos "efeitos defasados e cumulativos", segundo o jargão do BC, os juros só teriam efeitos plenos em 2011. Assim, a economia brasileira, no ano eleitoral de 2010, cresceu 7,5%, recorde consagrador para qualquer candidato governista. Dilma ganhou. Depois dessa parceria silenciosa e de sucesso, a política econômica mudou, a inflação subiu, o crescimento estagnou e na campanha eleitoral seguinte, malharam-se os banqueiros. Apesar de muitos petistas não gostarem, oferecer o BC a um financista até faz algum sentido, porque ao menos eles têm algo parecido com "notório saber". Ofertar o Ministério da Fazenda parece um pouco de exagero, ou de desespero, mas olhando-se para o passado...., por que não? Só por causa de propaganda feita para ganhar eleição? José Roberto Campos é editor executivo do Valor. 11
Anemia do crédito, engorda de juros Fonte Folha de São Paulo 31/10/2014 às 02h 00 O crédito míngua. O total de dinheiro emprestado pelos bancos privados encolheu de novo em setembro. Desconsiderados os empréstimos com dinheiros bancados ou regulados pelo governo, o total de crédito também encolheu (em relação a setembro de 2013, descontada a inflação). O pessoal do Bradesco, que divulgou balanço ontem, diz que o crédito no banco vai acelerar neste trimestre final do ano. No Bradesco, o total de crédito cresceu nos últimos 12 meses (0,9% em termos reais, ante queda de 1,9% no conjunto dos bancos privados), assim como no Itaú. O banco estima ainda que a alta da taxa de juros não deve chegar à clientela. Na quarta-feira, o Banco Central elevou a Selic de 11% ao ano para 11,25% ao ano. Mas a campanha de alta de juros do BC não deve parar por aí. Enfim, o Bradesco lucrou bem no ano, R$ 11,23 bilhões, 24,7% mais que no mesmo período de 2013 (uns 17% de alta, em termos reais). Mesmo com o total de empréstimos crescendo quase nada. Nos bancos públicos, a história é diferente. O total de dinheiro emprestado ("estoque de crédito") cresceu 9,9% em 12 meses, segundo relatório do BC divulgado ontem. Prossegue a estatização informal do crédito. No início do governo Dilma Rousseff, os bancos públicos detinham cerca de 41% do crédito. Em setembro passado, 53,2%. Graças ao espírito pau na máquina da banca estatal, o total de dinheiro emprestado acabou subindo 4,6% nos últimos 12 meses. SURPRESA NO BC O BC elevou os juros na quarta-feira. Se o fez, não deve parar por aí. O chute educado agora é que a Selic aumente quatro vezes, até 12%, a depender do dólar, de aumentos de combustíveis, ônibus, trem, luz, de impostos e do efeito da seca. No texto em que informou a decisão, o pessoal do BC diz que "a intensificação dos ajustes de preços relativos", "entre outros fatores", provocou o risco de inflação mais alta adiante. Ou seja, alguns grupos de preços passaram a correr mais que outros de modo a causar encrenca para a inflação. Que preços "relativos"? Por exemplo, os domésticos e os cotados no mercado internacional -dólar mais alto encarece tais produtos etc. No Relatório de Inflação (trimestral) de setembro, as projeções básicas do BC levavam em conta dólar a R$ 2,25 e Selic a 11%, com o que se estimava que o IPCA cairia para 5,8% no final de 2015 e para 5% em setembro de de 2016. Bem, o dólar neste mês foi a R$ 2,44, perto do nível de agosto de 2013, quando, aliás, o BC voltara a intervir no mercado. Os preços "administrados" (regulados pelos governos) aceleraram no ano e podem subir mais, pós-eleição. Subiam ao ritmo anual de 2,1% em janeiro. De 3,9% em junho. De 5,3% em setembro. Os "administrados", pois, subiam bem menos que a inflação dos preços livres (de 6,7% em janeiro; de 7,2% em setembro). A inflação de serviços, a vilã, continua flutuando em torno de 8,5%, média dos anos Dilma, ante 6,7% do IPCA. O BC acha que o dólar vai ficar em degrau mais alto? Acha que os "administrados", que vêm acelerando, vão ganhar outro impulso? Parece.
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Dilma 2 Fonte Folha de São Paulo 31/10/2014 às 02h00 O enredo foi dramático e tortuoso ao extremo, mas o desfecho seguiu a convenção do gênero: o trator governista garantiu a vitória da presidente, como é praxe desde a adoção da reeleição. A incerteza sobre o resultado das urnas deu lugar à dúvida sobre os rumos da política econômica no segundo mandato. Curva de aprendizado ou aposta redobrada? É difícil não carregar nas tintas: economia em recessão; investimento em queda livre; deficit fiscal elevado; inflação alta e artificialmente represada (preços administrados e câmbio) e volta da vulnerabilidade externa (deficit em conta corrente acima de U$ 80 bilhões em 2014). Se Lula 1 preparou o terreno para o avanço social em Lula 2, o estrago de Dilma 1 ameaça sepultar essa conquista em Dilma 2. Considerando a gravidade do quadro, não deixa de haver justiça na recondução de Dilma ao Planalto. Quem armou e subestimou o tamanho da encrenca que cuide dela agora. À vencedora, os pepinos. Dois cenários básicos se delineiam. O primeiro, menos pessimista, é o da curva de aprendizado. Passado o ardor da campanha, o governo admite pelo menos parte dos erros cometidos e promove uma correção de rumos. Como a reputação não ajuda, isso exigirá bem mais que juras, jogo de cena e abertura ao diálogo. Exigirá transparência e resultados, com ênfase na área fiscal, além de uma presidente que aceite abrir mão da condição de patroa de uma equipe econômica café com leite. Alguns indícios reforçam este cenário. Com anos de atraso, o governo avançou no marco regulatório para o investimento privado em infraestrutura; aceitou reduzir os repasses da bolsa-BNDES e descobriu que não é capaz de baixar os juros no grito. Economistas próximos ao governo tornaram-se críticos abertos da "nova matriz" e o ministro da Fazenda está de "aviso prévio". O outro cenário é o da aposta redobrada. A reeleição seria a prova do sucesso e o sinal verde para ir até o fim. Não fosse a conjuntura externa adversa, tudo teria sido ainda melhor do que foi. Vale aqui o princípio da contra-indução, enunciado por Mario Henrique Simonsen: "uma experiência que dá errado inúmeras vezes deve ser repetida até que dê certo". Entre os elementos de apoio à aposta redobrada destacam-se: a retórica agressiva e populista da campanha, incluindo a desmoralização do Banco Central e o autismo fiscal; o estado de negação em que vivem expoentes do petismo e a dificuldade da presidente em admitir erros e delegar poderes. Some-se a isso a bomba-relógio do petrolão, a queda de preço das commodities, a alta dos juros americanos e a eventual perda do "grau de investimento" e a conclusão é só uma: a Argentina é logo ali.
Ricardo Toledo Silva: Crise da água e rigor técnico Fonte Folha de São Paulo 31/10/2014 às 02h 00 "Senhor –falou o Cordeiro–, encareço a Vossa Alteza que me desculpeis, mas acho que vos enganais: bebendo, quase dez braças abaixo de vós, nesta correnteza, não posso sujar-vos a água." La Fontaine, "O Lobo e o Cordeiro" Na fábula de La Fontaine, a explicação racional do cordeiro não aplaca a voracidade cega do lobo. No debate sobre a escassez hídrica em São Paulo, a racionalidade cada vez mais cede espaço à ideologia. No artigo "A responsabilidade pela crise da água", publicado nesta Folha em 15/10, o vereador Nabil Bonduki (PT) alega suposta incúria das autoridades estaduais no enfrentamento da escassez de água. 13
A argumentação política reflete orientação partidária do autor; a técnica merece exame mais detido. A vazão retirada do sistema Cantareira tem sido poupada nos últimos meses em cerca de 10 a 11 m3/s, ou um terço da vazão outorgada de 31 m3/s para oferta em São Paulo. Medidas de incentivo à redução de consumo, de controle de pressão na rede de distribuição e de transferências de água tratada entre sistemas, propiciadas por investimentos permanentes em controle operacional avançado e tecnologia de informação, têm promovido redução superior à que se poderia obter mediante racionamento em rodízio. Enquanto for possível operar a rede com menos água, mantendo o abastecimento próximo ao normal, é injustificável o racionamento. Sobre a alegada falta de investimentos anteriores, não se constrói, preventivamente, reservatórios dimensionados para abastecimento pleno em situação de escassez extrema. Investimentos sistemáticos na ampliação da oferta são baseados em probabilidades e em coeficientes de segurança controlados. Os estudos de 2010/11 sobre deficit de oferta, mencionados e não especificados, são provavelmente partes de análises técnicas que subsidiaram projeto do sistema São Loureço, hoje em obras. No âmbito da macrometrópole paulista, outros estudos e planos mais recentes apontam para medidas de grande alcance territorial no médio e longo prazo para a segurança hídrica da região. Sobre os investimentos em redução de perdas, quanto mais baixos os percentuais já atingidos, maiores são os custos de novos controles. Perdas físicas inferiores a 20% denotam um patamar médio a avançado de controle, segundo padrões internacionais, que reconhecem a redução de pressão noturna como procedimento válido. Em situações excepcionais de escassez é recomendável que a redução seja intensificada, como vem sendo feito. A redução mais intensa mantém a rede cheia, mas a padrões mínimos de pressão. Disso podem decorrer interrupções no preenchimento das caixas-d'água prediais por algumas horas. Mas o consumo final só é prejudicado se a descontinuidade ultrapassar o tempo de esvaziamento das caixas, de 24 horas, ou se a instalação predial não atender aos padrões de norma. As edificações adaptadas para uso com maior concentração de pessoas do que o previsto e aquelas nas quais, por diferentes razões, não tenham sido instaladas caixas-d'água com volume suficiente são as mais vulneráveis. Outras dimensões da escassez e das soluções aplicáveis poderiam ser discutidas. Por ora, são suficientes estas. O importante é compreender que o rigor no entendimento técnico da situação, que é grave, não afasta um debate honesto e racional sobre suas dimensões políticas, mas o legitima e o valoriza.
Para cima, para baixo Fonte Folha de São Paulo 31/10/2014 às 02h 00 Cortinas de fumaça confundiram o eleitor brasileiro nos últimos meses. Uma das mais enganadoras é a de que range no mundo conflito intenso entre forças de "esquerda" e de "direita". A corrida presidencial, com sua propalada "polarização", teria sido exemplo de tal embate. Com exceção da América Latina, ninguém hoje seriamente atribui substância a modelos alternativos de governo e sociedade baseados em noções caducas de esquerda ou direita. Tampouco à anteposição progressista/conservador, salvo quando aplicada a casos históricos concretos. Na França, onde surgiram em meio às convulsões de 1789, esses termos deixaram de carregar o peso moral de uma cosmovisão. Ao sabor da ocasião, são abraçados no repertório autopreservacionista do funcionalismo público, na academia desconectada do mundo do fazer ou no discurso anti-imigração. 14
No Reino Unido ou na Alemanha, significam tão somente maior ou menor presença do Estado em certas políticas públicas –pontuais na maioria das vezes. Nada de reviravolta no regime de propriedade. Nenhum espaço ao coletivismo. Nada de métrica que reduza a experiência humana à oscilação pendular. Muitas das reformas que levaram a China à rota da prosperidade adotadas por Deng Xiaoping em 1978 assemelham-se a pilares do "Milagre do Rio Han" –lançados pelo general Park ChungHee na decolagem sul-coreana ao desenvolvimento. No Brasil, continuamos a falar de cinema ou diplomacia "de esquerda". De política monetária ou segurança pública "de direita". Nos anos Lula, teríamos assistido a uma política externa "de esquerda" e gestão macroeconômica "de direita". Ora, que pode haver "de esquerda" na aproximação com o Irã de Ahmadinejad ou a Líbia de Gaddafi? Que "de direita" existe em limites de responsabilidade fiscal ou noutras medidas que levem ao grau de investimento? Que reconhecer de progressista no apoio a Havana quando nos últimos 12 meses 25 mil cubanos lançaram-se ao mar fugindo para os EUA? Thatcher e Gorbatchov –desobstruidores da esclerose que paralisava britânicos e soviéticos– eram líderes conservadores? Que pontos comuns identificar na estratégia econômica "de esquerda" de Pequim ou Pyongyang? A conhecida repressão à liberdade de expressão ou outros direitos humanos pertence a que polo ideológico? Diz-se que Dilma, vencedora nas urnas, teria apostado na "lógica do violino". Com acenos pré-eleitorais às camadas populares e pós-eleitorais ao mercado, pegou o governo com a esquerda, mas o tocará com a direita. Diante dessa superficial dualidade –renitente em habitar o debate nacional–, uma lembrança para desagradar progressistas e conservadores. Há exatos 50 anos, no discurso que o alçaria como protagonista do quadro político dos EUA, Reagan afirmava não haver "esquerda ou direita"; apenas "para cima ou para baixo". Países com setor privado pujante e governo inteligente são "para cima". Os que insistem no binário embate ideológico, quando muito, andam "para o lado".
Uma presidenta e seus dois caminhos Fonte Jornal valor Econômico 31/10/2014 às 5h 00 Com seu mandato renovado, a presidenta Dilma precisa agora definir de maneira transparente as diretrizes para a política econômica. Embora a economia brasileira venha ganhando músculos privados nestes últimos anos, afastando-se gradativamente do modelo de décadas passadas, sua dinâmica é ainda fortemente influenciada pelas ações do governo. Por isso vivemos hoje uma verdadeira "paradeira" nas decisões de empresas e consumidores, todos esperando as definições de Brasília para escolher o caminho a trilhar no futuro. Dois modelos de política econômica dominam as discussões entre analistas e agentes econômicos. No primeiro deles, a presidenta, ao fazer uma leitura correta do mandato que recebeu nas urnas, entende que ganhou as eleições apoiada nos brasileiros que vivem do Estado benfeitor e perdeu o apoio dos brasileiros que dependem de seu trabalho e de seu esforço pessoal. Mais ainda, que sua grande arma para convencer uma parte da chamada nova classe média a ficar de seu lado --o baixo índice de desemprego que ainda existe no Brasil-- pode se transformar rapidamente em um foco de insatisfação popular. Isso porque sabemos que o desemprego baixo é a última etapa de um ciclo de crescimento econômico a ser atingida pela perda de dinamismo da economia. Antes de aumentar a taxa de desemprego, o mercado de trabalho mostra outros sinais de fraqueza, como a redução da geração de postos de trabalho, o que já vem ocorrendo há 15
muitos meses. E, a continuar o marasmo por que passa a economia, as estatísticas de desemprego serão afetadas e muitos que votaram na presidente vão se sentir enganados. Por isso, para Dilma, é fundamental que o crescimento econômico seja retomado nos próximos meses e que a confiança de empresários e consumidores volte para níveis compatíveis com um ambiente de negócios positivo. Mas essa alternativa exigirá da presidenta uma mudança radical na sua forma de governar e, principalmente, no núcleo duro de suas convicções econômicas. Com o ciclo de crescimento pelo consumo encerrado, todos concordam que será pelo investimento que a economia poderá voltar a crescer a taxas mais elevadas, necessárias, como vimos, para estabilizar o nível de emprego. Ora, com as finanças públicas comprometidas com o gasto social e tendo poucos instrumentos para aumentar os investimentos públicos por total falta de eficiência do sistema, o governo ficará fora desse jogo e dependerá totalmente de que o setor privado lidere esse movimento. E isso só vai acontecer se a agenda macroeconômica do governo coincidir com a que o setor privado considera como a correta para a situação brasileira hoje. Portanto, cabe à presidenta Dilma Rousseff a decisão de contar ou não com ele, do seu lado, na busca da retomada do crescimento econômico no Brasil. Um dos indicadores prévios que o mercado vem usando para avaliar se foi esse ou não o caminho escolhido tem sido o nome do novo ministro da economia. Há analistas e empresários que acreditam ainda na repetição do modelo escolhido por Lula em 2003. A conferir. Outra possibilidade --e que me parece ser a mais provável-- é a de, previamente à escolha do ministro da Fazenda, o Planalto emitir sinais claros de que aceita uma agenda econômica, no segundo mandato de Dilma, próxima à do setor privado. Primeiros sinais desse caminho começam a aparecer na imprensa com declarações vazadas de que o governo vai perseguir novamente um superavit fiscal primário de 2,5% do PIB, se não em 2015, pelo baixo crescimento do PIB, certamente nos anos restantes do mandato presidencial. Mas talvez o sinal mais forte, de que essa barragem de princípios macro mais sólidos será a estratégia do governo para mudar as expectativas, veio do Copom, na quarta, ao aumentar, de forma totalmente inesperada por analistas e mercados, a Selic. Seja por meio da escolha de um nome realmente com credibilidade --intelectual e administrativa-- para a Fazenda, seja previamente anunciando uma agenda de compromissos na condução da economia em seu segundo mandato, Dilma precisa mudar sua forma de governar. Se não fizer isso, o dia mais feliz de sua vida nos próximos quatro anos terá sido o dia seguinte ao anúncio de sua vitória nas urnas.
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