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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS
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Otimismo com relação ao consumo sobe 1,8% em SC
Resultados de agosto demonstram que famílias estão otimistas, mas cautelosas.
A pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) catarinenses, realizada pela Fecomércio SC, indica que o otimismo do consumidor local subiu 1,8% na comparação mensal, mas caiu 1% em relação ao ano anterior, atingindo em agosto o patamar de 134,8 pontos, numa uma escala que vai de 0 a 200 e que tem nos 100 pontos o limite entre o pessimismo e o otimismo. Em termos absolutos, o resultado expressa um otimismo das famílias catarinenses com relação às suas possibilidades de consumo. Os indicadores de Emprego, Renda e Consumo atual continuam a apresentar números positivos, mesmo frente às incertezas em torno da economia brasileira. A confiança em relação à renda atual subiu 1,5% em comparação ao mês de julho e na comparação com o mesmo mês do ano anterior houve alta de 2,4%. Já o consumo atual cresceu 6,8% na variação mensal, mas caiu -2,9% na comparação anual. O nível de emprego caiu -0,9% em termos mensais e -2,9% em termos anuais. Emprego não cresce O pior indicador foi o de Perspectiva profissional, que em agosto apresentou uma queda de -2,0% na comparação mensal e de -13,9% na comparação anual. O emprego não cresce mais como anteriormente, e o pessimismo do catarinense neste sentido está respaldado pela redução das vagas criadas no semestre passado e pela desaceleração do crescimento da renda. O índice com a maior alta foi o do Acesso ao crédito, que em termos mensais subiu 4,0%. Na variação anual, a elevação foi de 8,8%. O que indica que, apesar do cenário conturbado na economia brasileira, existe uma expectativa, tanto dos consumidores quanto dos empresários, de que a situação vai melhorar no médio prazo. Em termos absolutos, o índice ficou em 160,3. Cautela permanece Já a Perspectiva de consumo das famílias catarinenses subiu 1,6% no mês. O indicador teve como pontuação o valor de 125,3 pontos, alta de 1,1% na comparação anual. O bom resultado deste do mês de agosto se deve ao arrefecimento da pressão inflacionária. Em linhas gerais, os resultados deste mês demonstram que as famílias catarinenses estão otimistas, mas ainda cautelosas diante da inflação. A perspectiva de baixo crescimento da
3 economia e de seus salários, junto com considerável nível de endividamento e o crescimento menor da renda, fazem com que o otimismo dificilmente se consolide em aumento considerável do consumo. O Momento para duráveis subiu mensalmente em 1,8%. No índice anual, caiu -1,0%. A elevação do índice no mês demonstra que as famílias, à medida que vão pagando suas antigas dívidas, voltam a poder consumir. Porém, ainda não como antes, devido ao cenário conturbado. Neste contexto, é fundamental ao empresário do comércio investir em promoções e diversificar as formas de venda.
Consumidor espera inflação de 7,2% no próximo ano
Pesquisa da FGV indica que expectativa da inflação do consumidor fica estável. Foto: Divulgação
A inflação prevista pelo consumidor brasileiro para os 12 meses seguintes ficou estável entre julho e agosto, em 7,2 %, segundo o Indicador de Expectativa de Inflação dos Consumidores, da Fundação Getulio Vargas. Em junho, a mediana das previsões havia ficado em 7,4%. Observado em médias móveis trimestrais, o indicador ficou estável entre julho e agosto, em 7,3%. Segundo o economista Angelo Polydoro, da FGV/IBRE, “Embora os itens que mais afetam a formação das expectativas tenham desacelerado nos últimos meses, como a alimentação, a incerteza com relação aos aumentos programados de itens administrados para o próximo ano contribuem para a resiliência das expectativas da inflação pelos consumidores.” A pesquisa é feita com 2.100 consumidores de sete capitais brasileiras (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Brasília e Recife). (FGV/Ibre)
Gastos em viagens internacionais bate recorde
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Brasileiros gastam US$ 2,4 bi no exterior em julho, maior resultado desde 1995. Foto: Divulgação
As despesas de brasileiros no exterior chegaram a US$ 2,415 bilhões, em julho, o maior resultado registrado pelo Banco Central (BC), na série histórica mensal, iniciada em 1995. Nos sete meses do ano, os gastos no exterior alcançaram US$ 14,9 bilhões, contra US$ 14,403 bilhões em igual período de 2013. Em julho do ano passado, as despesas totalizaram US$ 2,194 bilhões. Houve aumento das viagens ao exterior mesmo com a realização da Copa do Mundo, no Brasil, entre os dias 12 de junho e 13 de julho. As receitas de estrangeiros no Brasil chegaram a US$ 789 milhões em julho, contra US$ 540 milhões igual mês do ano passado. De janeiro a julho, as receitas chegaram a US$ 4,436 bilhões, contra US$ 4,020 bilhões nos sete meses de 2013. Com esses resultados de despesas e receitas, a conta das viagens internacionais ficou negativa em US$ 1,625 bilhão, no mês passado, contra US$ 1,654 bilhão em julho de 2013. Esses dados de viagens estão incluídos na conta de serviços (viagens internacionais, transportes, aluguel de equipamentos, seguros, entre outros), que apresentou déficit de US$ 4,546 bilhões, em julho, e de US$ 27,135 bilhões, em sete meses. A conta de serviços faz parte das transações correntes – compras e vendas de mercadorias e serviços do Brasil com o resto do mundo. Em julho, o déficit em transações correntes ficou em US$ 6,018 bilhões, ante US$ 8,969 bilhões em igual mês do ano passado. De janeiro a julho, o saldo negativo ficou em US$ 49,330 bilhões, contra US$ 52,150 bilhões nos sete meses de 2013. O superávit comercial (exportações maiores que as importações) de US$ 1,574 bilhão, no mês passado, contribuiu para que o déficit em transações correntes não fosse maior. De janeiro a julho, houve déficit comercial de US$ 918 milhões. Na conta de rendas (remessas de lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários), houve déficit de US$ 3,215 bilhões, no mês passado, contra US$ 3,294 bilhões de julho de 2013. Em sete meses, o saldo negativo ficou em US$ 22,153 bilhões, em relação aos US$ 23,073 bilhões, de janeiro a julho do ano passado.
5 O ingresso líquido de transferências unilaterais correntes (doações e remessas de dólares que o país faz para o exterior ou recebe de outros países, sem contrapartida de serviços ou bens) chegou a US$ 170 milhões, no mês, e a US$ 877 milhões, de janeiro a julho, ante US$ 276 e US$ 2,818 bilhões, em iguais períodos de 2013.(Agência Brasil)
Economia fraca e Copa derrubam receita do governo em julho A debilidade da economia do país, agravada durante a Copa do Mundo, derrubou a arrecadação dos tributos federais no mês passado. Dados divulgados nesta sexta (22) mostram que a receita somou R$ 98,8 bilhões, numa queda de 1,6% em relação a julho de 2013, descontada a inflação. Os números evidenciam que o governo Dilma Rousseff dificilmente fechará as contas deste ano eleitoral com os resultados prometidos. Ao programar os gastos de 2014, a administração petista previu um aumento entre 3% e 3,5% na arrecadação dos principais impostos e contribuições sociais. No entanto, nos primeiros sete meses do ano há uma queda acumulada de 0,2%. A estimativa para o ano já havia sido reduzida para 2% antes da divulgação dos números de julho e deve cair mais. No mês passado, houve uma piora generalizada da receita. O desempenho caiu nos tributos incidentes sobre a renda, o consumo, as importações, as operações financeiras e a folha de salários. A parada nacional durante a Copa ajuda a explicar as quedas: na prática, houve menos dias úteis em julho, reduzindo a atividade na indústria e no comércio. Mas a arrecadação já vem decepcionando desde o início deste ano, em que o crescimento da economia, segundo as previsões mais consensuais, não chegará a 1%. Já os gastos do governo vêm crescendo na casa de 4% acima da inflação, mesmo com o adiamento de desembolsos como subsídios e pagamento de dívidas arbitradas pela Justiça.
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Déficit externo do Brasil diminui, aponta Banco Central As transações de bens e serviços do Brasil com o exterior tiveram em julho um rombo de US$ 6 bilhões, informou o Banco Central nesta sexta-feira (22). Essa conta inclui comércio, serviços, transferências, e outras operações que envolvem trocas com outros países. O rombo foi menor do que o estimado pelo governo e do que o de julho do ano passado, quando esse valor atingiu US$ 8,9 bilhões, mas ficou acima do esperado por analistas. Economistas consultados pela Reuters previam saldo negativo de US$ 5,8 bilhões no mês. Para Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, o resultado "favorável" do mês é explicado, sobretudo, pelo bom resultado da balança comercial no mês. O Brasil exportou mais do que importou US$ 1,6 bilhão (situação de superavit). Em julho do ano passado, a balança comercial apresentou um deficit de US$ 1,9 bilhão. Vendas de petróleo, soja e minério de ferro impulsionaram as vendas do país, destacou Maciel. Apesar do resultado ser menos negativo, ele ficou acima do investimento estrangeiro direto, a principal fonte de financiamento das contas externas. Ou seja, o IED de julho não foi suficiente para cobrir o rombo nas contas externas. INVESTIMENTO ESTRANGEIRO O investimento estrangeiro direto no mês foi de US$ 5,9 bilhões, superior às projeções do BC para o mês. No acumulado dos primeiros sete meses do ano, o déficit nas transações correntes somou US$ 49,3 bilhões, valor também inferior ao do mesmo período do ano passado, de US$ 52,1 bilhões. Em 12 meses, o déficit nas transações com o exterior está em US$ 78,4 bilhões, o equivalente a 3,45% do PIB (Produto Interno Bruto). Também no acumulado dos últimos 12 meses, o investimento estrangeiro produtivo somou US$ 64 bilhões, insuficiente para cobrir o déficit nas transações com o exterior. SERVIÇOS
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A conta de serviços, na qual estão inseridos os gastos com viagens, foi o que puxou o resultado negativo do mês de julho, com um déficit de US$4,5 bilhões 12% maior do que o de julho de 2013. O setor de aluguel de equipamentos foi responsável, sozinho, por um rombo de US$ 2,4 bilhões. O déficit de viagens foi de US$ 1,6 bilhão. Segundo Maciel, o aumento no aluguel de equipamentos está associado ao setor de mineração e petróleo, e o fluxo de produção desses setores, que tem crescido no país. GASTOS NO EXTERIOR No mês da Copa do Mundo, o brasileiro bateu o seu recorde de gastos no exterior. Foram R$ 2,4 bilhões deixados lá fora, o maior valor mensal de gastos de turistas brasileiros de que o BC tem registro. As receitas com gastos de estrangeiros no Brasil chegou ao seu segundo melhor mês, perdendo apenas para junho, com a entrada de US$ 789 milhões. Houve um crescimento de 46% em relação a julho do ano passado. Mas as receitas não chegaram a um terço das despesas do brasileiro lá fora.
Reversão de expectativas "Existe um ritmo do sentimento que podemos observar na ética, na religião e na política semelhante às ondas do ciclo econômico". A percepção do filósofo e economista italiano Vilfredo Pareto (1848-1923) presta-se admiravelmente à caracterização do atual momento brasileiro. A amplitude do fenômeno é notável. Não faz muito tempo, o Brasil despontava como estrela do mundo emergente. Vivíamos uma quase euforia de crescimento com estabilidade de preços, geração de empregos e inclusão social. Após décadas de maré baixa e desesperança, o país parecia ter reconquistado um sentimento de confiança e otimismo sobre o seu futuro. Não durou. Em curto intervalo, a estrela brasileira murchou. Enquanto o mundo vira a página da crise financeira, o Brasil amarga uma estagflação. A redução da desigualdade estancou e a criação líquida de empregos despencou; a vulnerabilidade externa voltou e o investimento caiu. A escalada do consumo arrefeceu e aguçou a percepção do déficit de cidadania. O sol do futuro eclipsou.
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A reversão de expectativas é inconteste e não se reduz ao olhar externo. Haverá quem acredite ainda –fora, é claro, das mais renitentes hostes governistas– que as coisas estão indo bem no Brasil? É plausível supor que haja uma pitada de exagero na oscilação do ânimo coletivo. Na vida das nações, como na dos indivíduos, quanto mais alta a expectativa, maior o tombo. É o irrealismo da fase ascendente que prepara o terreno para o desalento. Se não éramos tão bons como nos imaginávamos antes, talvez não estejamos tão mal como nos supomos agora. A lâmina da sobriedade deve cortar dos dois lados. Admitido, no entanto, o desconto, o fato capital permanece. Para além da piora do quadro econômico, o Brasil encontra-se às voltas com uma crise de confiança em seu futuro e uma onda generalizada de descrença na política como forma de enfrentamento e superação das dificuldades. Há saída? "Onde há perigo, cresce também o que salva". As eleições estão aí. O Brasil, confio, tem plena condição de reerguer-se e reencontrar o senso de direção. A virada, contudo, jamais virá de moto próprio ou graças a milagrosa conversão e súbita boa vontade do nosso patronato político. Ela virá de baixo para cima e de fora para dentro. Ela virá da nossa participação. As manifestações de junho, o sentimento das ruas e as pesquisas de opinião atestam: o desejo de mudança pulsa firme e forte na sociedade brasileira. O desafio é transformá-lo em vetor capaz de romper a inércia do poder e o autismo dos governantes. Só há uma forma de vencer o desencanto e corrigir os descaminhos da política –é o exercício ativo da própria política.
Para reforçar caixa, governo retém dois terços de pagamentos de subsídios Em mais um expediente para reforçar seu caixa, o governo reduziu o ritmo e a previsão de pagamento de subsídios a setores e operações tão diferentes quanto agricultura, energia elétrica, exportações e investimentos. Dados da execução do Orçamento mostram que, no primeiro semestre, foi desembolsado apenas um terço do total previsto para essa modalidade de despesa no ano. Foram R$ 9,4 bilhões de um total de R$ 28,4 bilhões.
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Os encargos do Tesouro com subsídios dinheiro utilizado para permitir preços ou financiamentos em condições privilegiadas em áreas consideradas estratégicas- dispararam nos últimos anos. Editoria de Arte/Folhapress
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Para enfrentar a estagnação da economia, foram lançados programas e medidas de estímulo com apoio do dinheiro dos impostos. A conta, porém, tem sido adiada, para não comprometer ainda mais os resultados fiscais. Em nota enviada à Folha, a Secretaria do Tesouro nega atraso nos desembolsos, com o argumento de que não há datas previstas em contrato a serem descumpridas. No entanto, empresas distribuidoras de energia elétrica já reclamaram neste mês da demora no recebimento dos subsídios federais. São R$ 13 bilhões destinados a cobrir ao menos parcialmente as perdas do setor, prejudicado desde a redução nas contas de luz imposta em 2013. Apenas R$ 4,1 bilhões foram pagos no primeiro semestre ao sistema Eletrobras. Quanto aos subsídios restantes, o Tesouro afirma que a estimativa de gastos no ano foi reduzida para R$ 8 bilhões, bem abaixo do previsto no Orçamento. Nesse grupo está um caso de despesa que vem sendo protelada desde o início do governo Dilma: o do BNDES, o banco de fomento que desde 2009 opera um programa de financiamentos favorecidos aos investimentos. Segundo dados até março, a instituição já contratou operações de R$ 268 bilhões pelo programa, que oferece às empresas beneficiadas juros abaixo das taxas de mercado. O Tesouro, ao qual cabe cobrir as perdas do banco com os financiamentos baratos, tem deixado seu papel de lado. Em 2011, chegaram a ser orçados R$ 4,6 bilhões em subsídios, dos quais foi pago só R$ 0,4 bilhão. Os valores previstos foram caindo e ficam pouco abaixo de R$ 1 bilhão neste ano e os pagamentos do primeiro semestre mal passam dos R$ 50 milhões. A conta de atrasos acumulados ficará para o próximo governo. "A existência de autorização legislativa para dispender [Orçamento] não configura obrigação de espécie alguma", argumenta a nota do Tesouro, chamando de "irresponsável" a leitura de que há adiamento de gasto. Neste ano eleitoral, o governo prometeu poupar R$ 80,8 bilhões de suas receitas para o abatimento da dívida pública, visando demonstrar controle dos gastos. No entanto, essa poupança, conhecida como superávit primário, não passou de R$ 17,4 bilhões no primeiro semestre. E o montante seria inferior se não fossem artifícios adotados pelo Tesouro.
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Além dos subsídios, pelo menos R$ 10 bilhões em precatórios dívidas arbitradas pela Justiça em favor de servidores e segurados da Previdência foram deixados para o segundo semestre. Conforme a Folha noticiou, o Tesouro também tem atrasado injeções à Caixa para o pagamento de benefícios como o seguro-desemprego e o Bolsa Família. Neste ano, o governo ainda extraiu R$ 10,5 bilhões dos lucros das estatais para engordar seu cofre.
Editorial: Problema maquiado
Quando um governo se dispõe, desconsiderando o pagamento de juros, a gastar menos do que arrecada (ou seja, fazer superávit primário), entende-se que sua intenção é demonstrar solidez e responsabilidade administrativa. Ninguém gosta de emprestar dinheiro a quem parece preso a uma espiral de dívidas cada vez maiores. No governo Dilma Rousseff (PT), todavia, predomina outra lógica. Sem economizar o que deveria, sua equipe recorre a truques contábeis com o intuito de esconder a deterioração das contas públicas –pratica, em outras palavras, a chamada contabilidade criativa. As manobras já afetam até os repasses ao INSS e para programas sociais. Com efeito, o Tesouro tem retido recursos que deveriam ser encaminhados a bancos federais e que se destinam a aposentadorias, seguro-desemprego, abono salarial, financiamento rural e Bolsa Família. Começam a aparecer, como decorrência, atritos entre governo e bancos públicos, no colo dos quais cai a fatura, ainda que temporariamente. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, recorreu à Advocacia-Geral da União para que os repasses fossem regularizados. O governo também procura obter mais dividendos das estatais a fim de fechar o caixa. Nada de errado, a princípio, em contar com tais recursos, mas há evidências de que não se veriam as cifras em questão no curso normal dos negócios –a saúde financeira dessas empresas, portanto, pode terminar ameaçada. Em meio a tantas camadas de maquiagem, perde-se a transparência das contas. Sabe-se, porém, que a meta de economia de R$ 99 bilhões neste ano (1,9% do PIB) dificilmente será atingida. No primeiro semestre, acumulou-se um saldo de R$ 29,4 bilhões. Pior, descontadas as manobras, alguns analistas estimam que o governo se aproxima de um déficit primário, algo que não ocorria desde o fim dos anos 1990.
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A piora das contas tem consequências práticas muito claras. Entre elas estão juros altos, maior pressão inflacionária e rebaixamento adicional da nota de crédito do país, o que poderia levar à fuga de recursos para o exterior. Instaura-se, assim, um ciclo vicioso: o setor privado deixa de confiar no país, os investimentos se retraem, a arrecadação encolhe, o governo não atinge o superávit primário anunciado. Não é por acaso que a expectativa de crescimento da economia só diminui e o Brasil está à beira de uma recessão. Dados do Banco Central mostraram estagnação no primeiro semestre, e o governo reage com a receita de sempre: um pacote para estimular o crédito. A continuidade dessas tendências não é inevitável. Revertê-las, todavia, requer demonstração de austeridade e abandono das manipulações com objetivos eleitorais.
Caixa é usada para pressionar Tesouro a pôr fim a ajuda nas contas públicas O presidente da Caixa Econômica Federal, o petista Jorge Hereda, está no meio de uma disputa entre o Tesouro e o Banco Central pelo fim das manobras do governo para melhorar suas contas. Em um efeito dominó, essa disputa já arrastou cinco ministérios (Cidades, Desenvolvimento Social, Trabalho, Previdência e Fazenda) responsáveis pelos programas sociais e subsídios do governo e envolveu a Procuradoria Geral da Fazenda, a do Banco Central e a AGU (Advocacia-Geral da União). Principal agente financeiro de programas como o Bolsa Família, o seguro-desemprego e o abono salarial, a Caixa foi escolhida como alvo de uma fiscalização do Banco Central. O banco vinha pagando benefícios sociais e recebendo, com atraso, os repasses do Tesouro. O Banco do Brasil e até bancos privados também enfrentaram esse problema, mas, na Caixa, a situação foi pior. O banco movimenta metade dos valores pagos em benefícios sociais do governo. Em abril, o BC fez os primeiros questionamentos ao banco. Naquele momento, a Caixa tinha pago pouco mais de R$ 1 bilhão em benefícios com recursos próprios. No primeiro semestre deste ano, houve uma diferença de R$ 1 bilhão só no Bolsa Família, uma das vitrines do governo petista.
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Nos dois outros benefícios o seguro desemprego e o abono salarial, a conta fechou positiva no fim do semestre, mas a movimentação também ficou negativa ao longo dos meses. No total, a Caixa encerrou o semestre com um saldo negativo de cerca de R$ 600 milhões. Esse fluxo de pagamentos (pela Caixa) e recebimentos dos recursos (do Tesouro) fica ora positivo ora negativo. Com os saldos negativos mais frequentes e em valores elevados, a fiscalização do BC pressionou a Caixa, para saber se o banco está ajudando o Tesouro a se financiar algo proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Ainda segundo apurou a reportagem, sob pressão, Hereda tenta arrancar da AGU um "atestado" de que a Caixa não está financiando o governo ao pagar benefícios com recursos próprios. Na Câmara de Arbitragem, que foi aberta pela AGU para resolver os conflitos entre a Caixa, os cinco ministérios e o Tesouro, o banco também tenta refazer os contratos para incluir cláusulas que reduzam o prazo de espera pelos repasses do governo. Ao usar a Caixa, o Banco Central conseguiu pressionar indiretamente o Tesouro Nacional a regularizar o fluxo de repasses, que agora está positivo. Mas o objetivo maior é forçar o fim das manobras fiscais que melhoram as contas públicas. O BC nega que esteja tomando essa medida e, por meio de sua assessoria, diz que "rejeita qualquer especulação nesse sentido". Ao represar recursos no Tesouro, o governo consegue manter mais dinheiro em caixa e isso ajuda a cumprir as metas fiscais. Mas essa manobra é malvista no mercado e já levou agências de classificação de risco a rebaixar a nota do Brasil que serve de referência para investidores internacionais. O governo havia se comprometido a não usar mais esses artifícios. LIGAÇÃO Na semana passada, em meio à crise, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, telefonou para o presidente da Caixa e prometeu regularizar os repasses, segundo disse Hereda a interlocutores. Mesmo assim, a Caixa manteve a arbitragem na AGU, que dará a palavra final. Augustin não quis comentar. Essa é a terceira polêmica em que a Caixa se envolve em pouco mais de um ano. A primeira foi com os saques das contas do Bolsa Família, em maio de 2013. Naquele momento, especulava-se que o programa seria suspenso.
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O segundo episódio foi o cancelamento de milhares de contas inativas, cujo saldo acumulado ajudou a Caixa a melhorar seu lucro em R$ 420 milhões. A operação não tinha sido devidamente informada ao BC, e a Caixa teve de refazer seu balanço. OUTRO LADO Por meio de sua assessoria, o Tesouro reitera que "os repasses para pagamento de benefícios sociais seguem a programação financeira e não há nenhuma anormalidade no processo de transferência". O Tesouro confirmou que a arbitragem com a Caixa na AGU está mantida. A Caixa afirma que, mesmo com os atrasos, os repasses garantem o pagamento dos benefícios e que há compensação dos custos financeiros decorrentes de saldos positivos e negativos.
Arrecadação de impostos é a menor para julho em 4 anos Governo federal arrecadou R$ 98,8 bilhões no período, uma queda real de 1,6% em relação a julho do ano passado. A arrecadação de impostos e contribuições federais teve o pior desempenho para o mês desde 2010 ao somar R$ 98,816 bilhões em julho, segundo dados divulgados há pouco pela Receita Federal. Houve uma queda real (com correção da inflação pelo IPCA) de 1,60% ante julho do ano passado. Em relação a junho deste ano, a arrecadação apresentou uma alta real de 8,12%. O resultado ficou dentro do esperado pelo mercado financeiro. A arrecadação das chamadas receitas administradas pela Receita Federal somou R$ 92,759 bilhões em julho, o que representa uma queda real de 2,27% ante o mesmo mês de 2013. As demais receitas (taxas e contribuições recolhidas por outros órgãos) foram de R$ 6,057 bilhões, uma alta de 9,87% ante o mesmo período do ano anterior. Apesar da previsão da Receita Federal de um crescimento real de 2% esse ano, a arrecadação de tributos e contribuições federais tem desacelerado. Até julho, o resultado da arrecadação cresceu apenas 0,01% em relação aos sete primeiros meses de 2013. O recolhimento de tributos registrava alta de 2,08% no acumulado do primeiro trimestre. Mas a partir de abril, passou a desacelerar. As receitas administradas tem um desempenho um pouco melhor. De janeiro a julho, subiram 0,23% na comparação com o mesmo período do ano passado.
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A perda de fôlego esse ano se deve a um recolhimento menor em R$ 4 bilhões nas receitas extraordinárias de IRPJ, CSLL, PIS e Cofins e de R$ 6,867 bilhões no pagamento de IRPJ e CSLL pela estimativa mensal e na declaração de ajuste anual. O maior peso, no entanto, foi das desonerações, que foram R$ 16,556 bilhões maiores no acumulado deste ano do que nos sete primeiros meses do ano passado. A Receita também destaca a queda em 2014 de alguns indicadores macroeconômicos, como a produção industrial, que impactaram o crescimento da arrecadação. O PIS e Cofins caíram 3,35% em relação ao período de janeiro a julho de 2013. O pagamento de IRPJ e CSLL caiu 3,78% e o IOF registrou queda de 8,01%. O imposto de importação e IPI vinculado à importação também mostram um recuo de 1,92% no acumulado do ano.
Aviso do FED Vai começar a retirar moeda da economia; Essa política está listada entre aquelas em que os Estados Unidos tossem e provocam pneumonia no resto do mundo; E o Brasil não está imunizado contra isso. O Fed (banco central dos Estados Unidos) avisou quarta-feira que está preparando a retomada da alta dos juros. Ou seja, vai começar a retirar moeda da economia. Essa política está listada entre aquelas em que os Estados Unidos tossem e provocam pneumonia no resto do mundo. E o Brasil não está imunizado contra isso. Por enquanto, a política do Fed, presidido por Janet Yellen (foto), ainda é de injeção de dólares por meio da compra de títulos. Mas o ritmo já é de reversão. Em dezembro de 2013, ainda comprava US$ 85 bilhões por mês. De lá para cá, essa ração mensal é cortada à proporção de US$ 10 bilhões por mês. Em outubro, espera-se que esse processo conhecido como tapering (afunilamento) se estancará. A ata da última reunião do Fed (julho) divulgada quarta-feira ainda menciona a necessidade de observar um intervalo entre o fim do tapering e a retomada da alta dos juros, se o comportamento da economia americana continuar favorável.
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Yellen. A alta dos juros vem aí (FOTO:SUSAN WALSH/AP) O quadro é hoje de recuperação, os relatórios sobre o desempenho da atividade econômica mostram que, depois de um longo período de estagnação, o crescimento anualizado do PIB no segundo trimestre alcançou 3,0%. E as estatísticas que medem o comportamento do mercado de trabalho acusam melhora. O principal recado do Fed é o de que não vai ficar parado. Pode voltar a puxar pelos juros assim que sentir que há condições. Isso pode acontecer no segundo trimestre de 2015 ou ainda no primeiro. É elevadíssima a oferta de moeda no mundo, coisa aí de mais de US$ 5 trilhões. Mas o aviso de que o enxugamento não tardará deve atuar como fator de escassez de moeda forte no mundo. E o Brasil com isso? Ao longo de 2012 e de 2013, o governo brasileiro denunciava a superabundância. A presidente Dilma se queixava do “tsunami monetário” e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, da “guerra cambial”. Acusavam a política dos grandes bancos centrais – e não só a do Fed – de inundar o mercado internacional com dinheiro emitido do nada. Uma boa fatia dessa massa monetária desembarcou no Brasil, o que ajudou a provocar valorização cambial (alta do dólar em reais), fator que passou a tirar a competitividade do produto brasileiro. Mas essa retórica parou na segunda metade de 2013. Em junho, o governo se queixava do movimento contrário: o de que a simples perspectiva de reversão da política do Fed reduziu o fluxo de moeda estrangeira para o Brasil, passou a puxar as cotações do dólar para cima e, com o encarecimento dos produtos importados, a inflação disparou por aqui. A reação do governo foi zerar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de capitais destinados às aplicações em renda fixa. Ou seja, foi voltar a incentivar a entrada de recursos, não importando se fossem especulativos. Para mantê-los por aqui, o Banco Central tratou de estabilizar as cotações do câmbio por meio de operações de swap, equivalentes à venda de moeda estrangeira, cujo estoque hoje é de US$ 92 bilhões. A operação de retirada de dólares pelo Fed acontece justamente quando o governo brasileiro faz o contrário do que pretendia: passou a atrair capitais. Mais ainda, acontece num
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momento em que crescem as incertezas sobre o comportamento da economia brasileira a partir de 2015, sob um novo governo, com ou sem Dilma Rousseff. CONFIRA:
A abertura de vagas de trabalho com registro em carteira está baixando com força, como mostra o gráfico. Desaquecimento Julho foi mês de Copa do Mundo e de mau desempenho não só da seleção, mas de toda a atividade econômica. Mas, independentemente desse fator, já se aprofunda o desaquecimento do mercado de trabalho, como mostram os dados acima, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A outra estatística, a que aponta para a procura de emprego, continua prejudicada pela greve dos funcionários do IBGE.
Descrédito Governo volta a tomar medidas para estimular aumento do consumo e tenta reativar a economia com injeção bilionária de dinheiro a juros altos. Amparado por uma crença inabalável na sua capacidade de fazer a economia andar, o governo mantém acesa a fornalha de pacotes. O Banco Central injeta dezenas de bilhões no mercado de crédito, estimulando a oferta de empréstimos e financiamentos. O Ministério da Fazenda, aos trancos e barrancos, cria novos instrumentos para capitalizar empresas e, consequentemente, incentivar a venda de imóveis e automóveis em módicas prestações. Crédito não é dinheiro no bolso do cidadão. Mas dinheiro a um preço determinado. Esse custo segue a baliza da taxa básica de juros, definida pelo mesmo Banco Central. Hoje, a Selic encontra-se em 11% ao ano, patamar superior ao que a presidente Dilma Rousseff encontrou quando chegou ao Planalto. A situação é inédita em um mandato presidencial desde a estabilização da economia em 1994 e visa justamente reduzir o volume de empréstimos, indo na contramão do que o próprio BC anunciou nas últimas semanas.
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Percebe-se, portanto, que o governo estimula consumidores a se envidarem para acelerar a economia. A um preço bem alto. Quem procurou o gerente do banco para contratar financiamento no mês passado pagou quase quatro vezes a Selic: a taxa média chegou a 43% ao ano. É a mais alta desde março de 2011. O pessoal do ramo diz que falta demanda por empréstimo, mas atribui a situação ao maior consumo. Mais de um em cada quatro brasileiros tem um papagaio na praça. Com os pacotes dos últimos dias, a equipe econômica indica, no mínimo, considerar esse número irrelevante. Prova disso é que ao apresentar as medidas, técnicos do BC e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendem as ações como corretas neste momento. Afastam, ainda, relação com o pleito presidencial que se avizinha. Ao menos nos microfones, nenhum funcionário do governo demonstra interesse em angariar o voto do sujeito que, cansado de tomar a condução lotada ainda de madrugada, conseguirá um financiamento de quatro, cinco anos, a juros terríveis para ter em mãos seu automóvel antes do dia 5 de outubro. Complementa o contexto da história lembrar que bancos, montadoras e empreiteiras representam grandes doadores de campanha. Sem coincidências neste campo, o foco dos novos pacotes, afirmam aqueles a soldo do Executivo, é exclusivamente econômico. Economistas das mais diferentes matizes afirmam que o modelo de crescimento baseado no consumo bateu no limite. Dizem isso há um bom tempo. Um dos economistas mais influentes do País chegou a dizer, há 18 meses, que a economia se recuperaria a partir dos investimentos. Os investimentos não decolam porque o empresariado não confia na condução da economia e vê menos consumidores para seus produtos aqui e lá fora. Há menos gente procurando emprego, a produtividade do trabalhador brasileiro segue estagnada. Se produzir bens manufaturados no Brasil era 3% mais barato do que nos Estados Unidos em 2004, hoje custa 23% mais, de acordo com o Boston Consulting Group. Com os pacotes, o governo mostra ainda que falta dinheiro nos cofres do Tesouro Nacional para reduzir a fatia de impostos sobre os bens fabricados em Terra Brasilis e assim torna-los mais baratos e competitivos no mercado global. O dinheiro sumiu depois de dezenas de pacotes e benefícios setoriais, todos baseados em uma interpretação bem esgarçada da Lei de Responsabilidade Fiscal, criada para evitar esse tipo de situação. Sem falar, claro, nas manobras do Tesouro para fechar as contas públicas e o aumentos gastos públicos para manter, entre outras coisas, a equipe que reflete e prepara as medidas que saem do forno de tempos em tempos. Enquanto isso, o mundo lentamente deixa a crise para trás, com o Brasil perdendo terreno em mercados importantes. Em algum momento da vida, o País terá que se tornar mais competitivo e disputar prateleiras de outros países, sob pena de se tornar apenas
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produtor de commodities agrícolas e minerais. Essa agenda é algo com que este governo, e a bem da verdade nenhum outro Executivo recente, se preocupou muito. Uma economia fechada, como a brasileira, faz há anos uma opção pelo endividamento interno para aquisição de bens cada vez mais caros e menos competitivos produzidos localmente. Os pacotes recentes mostram insistência em um modelo que se mostrou incapaz de reanimar o PIB. A 45 dias das eleições presidenciais, a ação foi avaliada como de pouco impacto por economistas experientes. Por outro lado, as medidas atendem o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, que há poucas semanas reclamava que o governo deveria aumentar a oferta de crédito, uma fórmula que deu certo em seu governo, mas hoje dá sinais de que está bem gasta.
As eleições no Brasil e as tendências globais Fonte: Jornal Valor Econômico Online Eduardo F. Matias
O Brasil tem apresentado mau desempenho quando se trata das duas grandes tendências mundiais surgidas no último quarto de século. A falta de compreensão desse problema e das ações de política interna e, principalmente, de política externa necessárias para superá-lo – discussão que costuma passar longe de nossas campanhas eleitorais - não só afeta a nossa competitividade, mas também pode minar o futuro do país. Globalização e sustentabilidade não são apenas duas palavras da moda, mas verdadeiras "megatendências" - conceito popularizado nos anos 1980 por John Naisbitt para descrever mudanças sociais e econômicas que acabam por se tornar imperativos estratégicos incontornáveis para as empresas. Porém, se algumas empresas brasileiras entenderam a importância de se internacionalizar e de tornar suas práticas mais sustentáveis, nosso Estado vem falhando em exercer o papel que poderia ter nesses processos. Estados também têm a ganhar ao assumirem a dianteira e conduzirem sua economia rumo à sustentabilidade. A nossa pouca sintonia com a globalização - cujas características atuais se devem em grande parte à revolução tecnológica ocorrida a partir da década de 1990, portanto, há quase 25 anos - já começa a merecer a devida atenção. Tem se alertado com mais frequência para nossa baixa inserção nas cadeias produtivas globais, que priva nossas empresas do acesso a insumos mais baratos, reduzindo a sua produtividade e levando a perda de competitividade e diminuição do bem-estar da população. Contribuem para isso, como se sabe, nossa burocracia excessiva, infraestrutura deficiente e capital humano pouco capacitado. Embora esses fatores internos sejam muito debatidos, pouco se fala sobre as medidas que poderiam ser tomadas, no plano internacional, para melhorar esse cenário. A fim de fazer parte das cadeias globais de valor, um país deve oferecer garantias de que o investimento daquele que optar por alocar parte da produção em seu território será bem tratado e que a produção resultante desse investimento poderá ser escoada de forma favorável. Ou seja, deve se sair bem em duas vertentes, a do investimento externo direto e a do comércio internacional, que contam com uma infinidade de acordos internacionais uma "globalização jurídica" à qual o Brasil tem aderido de forma insatisfatória. Com relação à primeira dessas vertentes, passamos em branco quando o assunto é a participação na ampla rede de proteção composta de mais de 2.500 tratados bilaterais de investimento. E, quanto à segunda vertente, assumimos uma postura tímida na celebração de acordos de livre comércio, dificultada pela necessidade de consenso entre os países do
20 Mercosul. Enquanto isso, centenas de novos acordos bilaterais e plurilaterais surgiram na última década. A outra tendência também sofre do mesmo mal. Muitas empresas brasileiras - menos do que seria preciso, é verdade - já perceberam que a crescente escassez de recursos e o maior número de consumidores ecologicamente conscientes contribuem para o surgimento de um "funil da sustentabilidade" que vem se estreitando a cada dia. Notaram, ainda, que aquelas que passarem primeiro por esse funil assegurarão sua sobrevivência em um contexto em que práticas mais sustentáveis se tornarão obrigatórias e colherão os benefícios de terem se adaptado primeiro a essas transformações. Nosso Estado, entretanto, parece ter pouca consciência dessa realidade. É uma pena, porque caberia a este fornecer os sinais corretos para a iniciativa privada. Ao definir, por exemplo, que estabelecerá limites mais severos para as emissões, o governo cria fortes incentivos para investimentos verdes, como fábricas mais eficientes, dando um impulso a tecnologias de baixo carbono e outras inovações.
Para isso, o Estado conta com diversos instrumentos, como a tributação, que permitiria precificar o carbono, e a adoção de critérios socioambientais na política de compras governamentais, que ajudaria a viabilizar economicamente produtos sustentáveis, ao ganharem escala suficiente para reduzir seus custos. Assim como ocorre com as empresas, os Estados também têm a ganhar ao assumirem a dianteira e conduzirem sua economia rumo à sustentabilidade. Se esta última é uma tendência, os riscos e oportunidades relacionados a acompanhá-la ou não se aplicam também aos países. Aqueles que saírem na frente podem ter ganhos significativos trazendo vantagens para suas empresas e seus cidadãos - além de evitar a ameaça de ficar para trás. Aqui, mais uma vez, ainda que venham surgindo no âmbito interno algumas primeiras iniciativas, no plano internacional o Brasil poderia se propor a assumir um papel de protagonista, o que não vem fazendo. Nossas características naturais - como o potencial hídrico e de insolação - poderiam representar uma vantagem competitiva em um contexto onde a sustentabilidade se consolide como um imperativo. Em outras palavras, temos condições de atravessar mais rapidamente o funil da sustentabilidade e, feita essa lição de casa, interesse em que as paredes desse funil se estreitem. Até por esse motivo, nossa postura deveria ser de ponta, liderando o movimento da comunidade internacional para, entre outras iniciativas, a adoção de um acordo global efetivo de combate às mudanças climáticas. As eleições no Brasil têm sido historicamente pautadas por escândalos políticos e debates rasteiros. A atual vive dias de perplexidade, causados pela trágica morte de Eduardo Campos. Este é o momento de refletir. Não podemos seguir ignorando a necessidade de nos adequarmos a essas duas tendências globalização e sustentabilidade se quisermos construir um verdadeiro projeto de país. Eduardo Felipe Matias, sócio de Nogueira, Elias, Laskowski e Matias Advogados, é doutor em direito internacional pela USP e autor do livro "A Humanidade contra as cordas: a luta da sociedade global pela sustentabilidade". Twitter: @EduFelipeMatias
Governo deixa de arrecadar R$ 8,108 bilhões em julho com desonerações Fonte: Jornal Valor Econômico Online Edna Simão e Lorenna Rodrigues
BRASÍLIA - O governo deixou de arrecadar R$ 58,813 bilhões de janeiro a julho devido às desonerações promovidas para estimular o crescimento econômico.
21 Nos sete primeiros meses de 2013, essa queda nas receitas foi menor, totalizando R$ 42,257 bilhões. Apenas em julho, o impacto das desonerações na arrecadação foi de R$ 8,108 bilhões, ante R$ 6,769 bilhões no mesmo mês em 2013. Somente com a desoneração da folha de pagamento, o governo ficou sem recolher R$ 1,647 bilhão. No mesmo mês do ano passado, o impacto da desoneração da folha foi de R$ 963 milhões. Dos R$ 58,813 bilhões que o governo abriu mão no ano, R$ 10,965 bilhões se referem à renúncia de arrecadação gerada pela desoneração da folha de pagamento para vários setores da economia. No caso da cesta básica, a desoneração causou impacto negativo de R$ 5,443 bilhões na arrecadação. Também contribuiu para a diminuição da coleta de tributos a inclusão do ICMS na base de cálculo da PIS/Cofins Importação (R$ 2,124 bilhões).
Investimento estrangeiro direto em julho supera previsão do BC
BRASÍLIA - O Brasil recebeu US$ 5,898 bilhões em investimentos estrangeiros diretos (IED) em julho deste ano, informou o Banco Central (BC). O ingresso não foi suficiente para cobrir integralmente o déficit em conta corrente do mês, que somou US$ 6,018 bilhões. Para o sétimo mês do ano, o BC projetava entrada de US$ 5,2 bilhões. Para o ano, a estimativa é de ingresso de US$ 63 bilhões. Em 2013, o ingresso de IED somou US$ 64,046 bilhões e financiou 79% do déficit em conta corrente de US$ 81,075 bilhões. Em relação a julho de 2013, quando foi de US$ 5,212 bilhões, o fluxo de investimento estrangeiro direto subiu 13%. No acumulado do ano, o ingresso somou US$ 35,162 bilhões, pouco abaixo dos US$ 35,202 bilhões vistos em igual período do calendário anterior. Além do valor destinado à participação no capital de empresas no Brasil, também são classificados c omo investimentos diretos os empréstimos concedidos por matrizes de empresas multinacionais as suas filiais no país e vice-versa. Essa parte do IED, que são os empréstimos intercompanhias, respondeu por ingressos líquidos de US$ 2,378 bilhões em julho (ingressos de R$ 387 milhões em junho). Esses ingressos somaram US$ 22,352 bilhões no ano passado. Agora em 2014 eles estão em US$ 8,997 bilhões. O investimento direto propriamente dito (participação no capital), portanto, foi de US$ 3,521 bilhões no mês (US$ 3,537 bilhões em junho). No ano passado, o volume foi de US$ 41,644 bilhões. De janeiro a julho, o ingresso é de US$ 26,164 bilhões. Pelo nono mês seguido, as empresas remeteram lucros e dividendos para o exterior. No mês passado, o montante foi de US$ 1,106 bilhão, já descontados valores recebidos em função de investimentos brasileiros no exterior, após envio de US$ 1,694 bilhão em junho. No ano, as remessas somaram US$ 14,071 bilhões, contra US$ 15,317 bilhões em igual período do exercício anterior.
22 Em julho de 2013, o Brasil remeteu liquidamente a outros países US$ 1,215 bilhão em lucros e dividendos. Para 2014, o BC estima que as remessas correspondam a US$ 26 bilhões. Em 2013, foram remetidos US$ 26,045 bilhões. No caso das remessas brutas, ou seja, sem considerar remuneração de investimentos brasileiros no exterior, o Brasil remeteu US$ 1,432 bilhão em julho. Já as receitas no mês ficaram em US$ 326 milhões.