Jornais e revistas 14 à 16 de fevereiro de 2015

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Brasil está no centro das reclamações de empresas multinacionais Fonte Jornal Folha de São Paulo ÁLVARO FAGUNDES DE EDITOR-ADJUNTO DE "MERCADO" e TATIANA FREITAS DE SÃO PAULO 15/02/2015 às 02h 00

O Brasil se tornou fonte de preocupação em 2014 para boa parte das multinacionais atuantes no país, que se queixaram da economia fraca, aperto no crédito, inflação e câmbio durante a divulgação de seus resultados nas últimas semanas. Levantamento da Folha, feito a partir de teleconferências, identificou que 85 empresas estrangeiras citaram o Brasil em seus comentários. Editoria de arte/Folhapress


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Do total, 54 apresentaram reclamações. Para 12 delas, a atual situação econômica do país não está impactando os resultados, enquanto 19 veem boas oportunidades no país. O setor de veículos se destaca entre as reclamações. Empresas como Daimler (dona da marca Mercedes), Volvo, GM, Ford e Scania apontaram a baixa demanda, o ambiente difícil para os negócios e o câmbio como obstáculos a um bom desempenho neste ano no país. Para as multinacionais, a alta do dólar prejudica a conversão dos lucros apurados em reais para a moeda norte-americana. Em alguns casos, também provoca um aumento de custos na moeda local. "Estamos acompanhando de perto o que está acontecendo com o real. Historicamente, não temos sido capazes de recompor isso totalmente com aumento de preços", diz Chuck Stevens, vice-presidente da GM. A expectativa de um ano ruim é mais forte entre as fabricantes de caminhões, preocupadas com o menor volume de recursos do PSI (programa que facilita a compra de caminhões) e a alta dos juros nas operações. "Depois dos subsídios, é a hora da ressaca. Estamos antecipando para este ano uma queda de 10%, aproximadamente", disse a analistas Wolfgang Bernhard, chefe da divisão de caminhões e ônibus da Daimler. Em 2014, o desempenho da unidade no Brasil já teve queda de 13%. O mau momento do setor automotivo, com queda de 16,8% na produção em 2014, também se refletiu na emissão de remessas de lucros e dividendos para as matrizes. No ano passado, o valor caiu 73%, para US$ 884 milhões, e foi o principal fator para a redução de 11% no total de remessas em 2014. O desempenho ruim abalou também fornecedores, como a Cummins, fabricante de motores. A receita da empresa caiu 17% no Brasil, devido à fraqueza no mercado de caminhões. Para este ano, a empresa vê um cenário ruim, com uma queda de 15% na produção de caminhões. CRÉDITO O aperto no crédito também afeta fabricantes de sementes e defensivos agrícolas. "Por anos, o governo tem apoiado a agricultura com a oferta de crédito, mas isso tem diminuído", diz John Ramsay, diretor da Syngenta.


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No mercado de consumo, a baixa confiança afeta os negócios. A Whirlpool, dona de marcas como a Brastemp, mencionou em teleconferência "incertezas na base de consumidores", após as recentes medidas econômicas. "A demanda por eletrodomésticos no Brasil continua desafiadora e apresentou uma queda no quarto trimestre", disse Keith McLoughlin, presidente da Electrolux. EFEITO PETROBRAS Os desdobramentos da crise na Petrobras também assombram os fornecedores de equipamentos para a indústria de óleo e gás. A National Oilwell Varco, fabricante americana de sondas para perfuração, informou atrasos de pagamentos de alguns estaleiros. A Schlumberger, que também fornece serviços e equipamentos para petroleiras, comentou os cortes de investimentos da estatal. "Haverá desafios no Brasil neste ano", disse Paal Kibsgaard, presidente da empresa. Indagado sobre o ambiente de negócios no Brasil, diante dos problemas que enfrenta a Petrobras, Jeremy Akel, executivo do Bristow Group (firma de helicópteros que opera com plataformas), mostrou confiança no longo prazo. "Qualquer problema que eles tiverem será resolvido, e voltarão a investir para aumentar a sua produção".

Editorial: As contas do Congresso Fonte Jornal Folha de São Paulo 15/02/2015 às 02h 00

Depende do Congresso o destino de um terço do plano de ajuste de receitas e despesas do governo para 2015. A decisão dos parlamentares será um momento crucial do programa de contenção da crise econômica que o país atravessa. Dadas as necessidades urgentes, quanto menor for o corte de despesas autorizado pelos congressistas, mais nocivas serão as medidas complementares às quais o governo terá de recorrer a fim de minorar o rombo nas contas públicas. Talvez mais relevante, uma recusa do Congresso terá o caráter de um voto de desconfiança no governo, o que aumentará o descrédito das finanças nacionais e agravará as turbulências econômicas. O governo planeja poupar cerca de R$ 55 bilhões em 2015, o equivalente a 1% do PIB. Ou melhor, afora desembolsos com os juros da dívida pública, esse é o valor que se pretende deixar de gastar no ano, o chamado superávit primário.


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As autoridades econômicas pretendem atingir tal meta com o auxílio de um programa de redução de benefícios previdenciários e sociais que renderia R$ 18 bilhões neste ano, embora existam dúvidas sobre a precisão de tal estimativa. O governo espera ainda arrecadar cerca de R$ 20 bilhões com aumentos já anunciados de impostos. O outro terço do superávit primário ainda parece de origem incerta, a depender de cortes de despesas, tais como subsídios à energia elétrica, e da reversão de desonerações, por exemplo. Ressalte-se, porém, que a necessidade de economia de recursos deve ser maior, dado o saldo de 2014, ainda mais negativo do que o previsto nas estimativas pessimistas. Foi o pior resultado primário em 17 anos, contribuindo para um déficit federal de 5,3% do PIB (mais de R$ 271 bilhões). No pacote enviado ao Congresso, trata-se de reduzir a despesa com segurodesemprego, pensões por morte, auxílio para acidentados no trabalho e com o abono para trabalhadores de baixa renda. Apesar de corrigirem distorções e excessos, as medidas têm inegável impacto social. Contudo, as alternativas podem ter efeitos sociais e econômicos piores: seria o caso da redução ainda maior dos investimentos públicos, o que agravaria a recessão que se avizinha. O Congresso tem não apenas o mandato para definir a despesa pública mas também a responsabilidade de decidir o modo social e politicamente mais justo e conveniente de fazê-lo. É do mesmo modo responsável pelas consequências de seus atos para a estabilidade do país, não só a econômica. Caso decida refutar o plano do governo, terá de apresentar uma alternativa viável de ajuste de despesas. Do contrário, mais do que lavar as mãos em relação à crise, a terá levado a outro patamar.

Eduardo Cunha: Não abriremos mão da independência Fonte Jornal Folha de São Paulo 15/02/2015 às 02h 00

A Câmara dos Deputados precisa resgatar sua imagem junto à opinião pública e à sociedade. Para isso, precisamos fazer da Câmara uma Casa independente e sem submissão aos outros Poderes, mas impedindo, contudo, que ela se transforme em palanque eleitoral para o exercício de oposição.


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Esse é o ponto principal: a recuperação da imagem do Congresso, que passa pelo exercício mais altivo e autônomo do mandato parlamentar, sem amarras políticas, e, sobretudo, com uma pauta que atenda às expectativas da sociedade. Não é pelo fato de apoiar ou não o governo que teremos uma Câmara mais ou menos independente. Independência é ato, é gesto, é exercício de um poder como Poder, sem subjugação. Por isso, nosso projeto encontrou eco entre os parlamentares. Como rege nossa Constituição, os Poderes são independentes e harmônicos entre si. E, sob nossa gestão, assim será. Teremos pela frente um período de muito trabalho em que vamos apreciar matérias relevantes. A reforma política e a discussão do pacto federativo, do qual a reforma tributária é parte, surgem como as pautas mais urgentes. Vamos apreciá-las o mais rapidamente possível. Já reabrimos a discussão da reforma política quando, na primeira sessão de votação, avocamos para o plenário e aprovamos a admissibilidade da PEC respectiva. A reforma política só não tinha sido votada até hoje porque houve uma obstrução do PT na legislatura passada. Havia diversas propostas, mas o PT optou por não votá-las. Com a aprovação da admissibilidade pelo plenário, constituí comissão especial que, em um prazo de até 40 sessões, apresentará um parecer para levarmos à votação. Diante disso, causa-me estranheza a posição do presidente do PT, Rui Falcão, que, sem sequer conhecer o teor do texto que sairá da comissão, já avisou que expulsará do partido o deputado que votar favoravelmente. Isso só demonstra que a defesa da reforma política pelo PT não passa de discurso de palanque. A discussão da reforma política vai tratar do financiamento de campanhas eleitorais, tema que precisa ser exaustivamente debatido pelo Congresso Nacional e, sobretudo, pela opinião pública. Debateremos também o fim de coligação proporcional, a coincidência de mandatos, se teremos ou não cláusula de barreira, se vamos efetivamente diminuir o tempo de campanha, como será o modelo da eleição proporcional –se distrital ou "distritão", se será voto em lista ou não. Como parlamentar, tenho minha opinião, que pode divergir em alguns pontos do pensamento da Casa, mas o importante é que vamos debater, votar, mas a posição da maioria vai prevalecer. Isso é muito mais saudável e democrático do que simplesmente evitar votar o tema. Já o pacto federativo é um conjunto de discussões sobre os deveres e obrigações de cada ente federado. Como consequência dessa análise, chegaremos à apreciação de


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uma reforma tributária que é mais complexa do que a reforma política por redefinir a divisão da arrecadação da União. É preciso discutir o pacto federativo sob vários aspectos. Que receitas ficarão para cada ente federado? Que obrigações ele terá por conta dessa receita? Ou que obrigações conferiremos a cada ente federado com a receita para o seu financiamento? São pontos que, ao serem levados adiante, representarão uma grande conquista institucional. Já aprovamos o orçamento impositivo para as emendas parlamentares individuais. Votaremos a sua extensão às emendas de bancada. É importante ressaltar que o orçamento impositivo já está em vigor pela previsão da Lei de Diretrizes Orçamentárias e sua inclusão no texto constitucional não terá impacto nos gastos públicos. A Câmara dos Deputados tem que se colocar no seu devido lugar, ser respeitada pela sociedade, pelo exercício independente de seu papel. Não abriremos mão disso. EDUARDO CUNHA, 56, deputado federal pelo PMDB-RJ, é presidente da Câmara dos Deputados

Claudio Weber Abramo: Brevíssimo vocabulário do bem Fonte Jornal Folha de São Paulo 15/02/2015 às 02h 00

"Cidadania". Juntamente com "ética" (ver), compõe o currículo nuclear da escola do bem. Quem fala em cidadania não raro revela ignorar que se trata de assunto prático – cidadania é exercida por quem defende direitos específicos, o que por sua vez depende da presença de motivos concretos para tanto (ter água em casa, contar com um posto de saúde no bairro etc.). Não se aprende a exercer cidadania no abstrato. "Cultura da corrupção". Expressão predileta de quem não tem o que dizer a respeito das causas da corrupção e de como combatê-la. Implica que seríamos todos corruptos, o que transforma a vítima em culpado e, de quebra, absolve empresários rapinantes, funcionários públicos ladrões e políticos meliantes. "Democracia direta". Contradição em termos. Postula que o exercício da política deve dar-se a despeito da formulação de projetos de organização sócio econômica através do agrupamento de interesses semelhantes (a saber, política). "Educação". Filhote da "cultura da corrupção", é sinônimo de catecismo doutrinário. Não se ocupa de assuntos irrelevantes como matemática e português.


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"Educação Moral e Cívica". Arcaísmo originário do regime militar. O mesmo que "educação para a cidadania". "Ética". Expressão guarda-chuva para qualquer situação que envolva a moralidade e pedra fundamental da Educação Moral e Cívica do bem. Costuma ser usada em lugar de "moral", pois dizer que "falta ética a Fulano" soa menos ofensivo do que dizer "Fulano é imoral". Quanto à noção de que seria possível ensinar moralidade em sala de aula, qualquer estudante de filosofia poderia informar que moral se aprende vivendo. Por outro lado, caso se pretenda ensinar ética em sentido estrito, isso obrigará alunos do curso primário a estudarem Kant, Spinoza e companhia. "Impunidade". Nunca usada no sentido estrito (não aplicação de uma punição definida pela Justiça, coisa rara no Brasil), se refere a situações em que alguém sobre cuja culpabilidade se tem alguma convicção não está sendo processado, ou ainda não foi condenado na Justiça. Costuma ser atribuída a eflúvios vagos de natureza "ética", sem menção à lentidão do Judiciário brasileiro e à sua principal causa –um sistema recursal que garante a réus endinheirados pagar advogados caros para protelar a conclusão de processos. Como réus pobres não podem pagar os tais advogados, a lentidão para os ricos é, assim, manifestação da desigualdade de classes algo que se tornou anátema mencionar no Brasil, sendo muito mais seguro atribui-la a fatores subjetivos inatingíveis. Com isso não só se evita antagonizar interesses que é melhor deixar quietos como também se garante que o problema permanecerá intocado. "Mundo real". Ente abstrato um tanto desconhecido. "Transparência". Muito empregada como sinônimo de "ética", mesmo em situações que vêm à luz porque houve transparência propriamente dita (ou seja, disponibilidade de informação). "Falta transparência?", pergunta o repórter que consulta dados publicados pela Câmara dos Deputados dando conta do uso de verba indenizatória por parlamentares. Não falta quem responda que sim. "Verdade". Qualquer coisa, desde que soe bem. CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil, organização dedicada ao combate à corrupção

Levi Ceregato: A obra de arte de Joaquim Levy Fonte Jornal Folha de São Paulo 14/02/2015 às 02h 00


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Os primeiros movimentos da equipe econômica neste início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff parecem ter passado um grau maior de confiança aos agentes econômicos, investidores e ao mercado em geral. A reação positiva deve-se, principalmente, à sinalização de uma nova postura do governo ante a questão fiscal, que foi a grande responsável pela quebra de credibilidade nos últimos anos, nos quais houve paulatino agravamento do desequilíbrio entre receitas e despesas, culminando com o colapso do superávit primário em 2014. Positivo, portanto, o cenário que começa a se delinear, pois é premente a recuperação da economia brasileira, que não pode seguir crescendo quase zero a cada exercício, sob pena de perdermos tudo o que conquistamos em termos de aumento da renda e baixo índice de desemprego, que, felizmente, ainda se mantém. Portanto, é hora de acreditar na capacidade e no potencial do País e nas pessoas responsáveis pela realização das políticas públicas. Nesse caso, o verbo "acreditar" tem um significado mais amplo do que um voto de confiança. Quer dizer, também, transformar o crédito em estímulo e compromisso de trabalho no sentido de contribuir para a retomada de um fluxo mais consistente de expansão do PIB. Obviamente, as políticas públicas e as medidas adotadas pelo governo são fundamentais para os rumos da economia, mas o esforço de cada trabalhador, empresa e da sociedade em geral também é crucial. No tocante à nova postura do governo quanto à responsabilidade fiscal, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem transmitido com segurança as informações e metas, começando pela redução de despesas e o anúncio agora do pacote fiscal. Sinal do esforço para reequacionar despesas e receitas. O equilíbrio entre as duas pontas é muito sensível e determinante para o sucesso ou o fracasso de toda uma política econômica. As receitas, advindas exclusivamente da arrecadação de impostos, não podem ultrapassar os limites da capacidade da sociedade de transferir dinheiro para o erário público, sob pena de se inviabilizarem a produção e o trabalho; e o corte de despesas não pode extrapolar um valor que impediria os investimentos públicos, principalmente em infraestrutura, e o atendimento às prioridades do Estado, como saúde, educação e segurança. Em síntese, os impostos não podem asfixiar os contribuintes e o corte de despesas não pode matar a economia. Encontrar esse ponto de equilíbrio será o grande desafio de Joaquim Levy e de toda a equipe econômica. Em sua trajetória profissional, ele já demonstrou ser competente e, portanto, capaz de buscar essa sensível calibragem para que o Brasil se estabilize e possa voltar a crescer em níveis mais consistentes.


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Encontrar o ponto certo entre a poupança de recursos e a arrecadação será uma verdadeira obra de arte do ministro! Para isso, é importante que ele e todo o time encarregado de resgatar a confiança, a competitividade e o crescimento da economia nacional tenham um voto de confiança neste momento decisivo. O Brasil é um país com imenso potencial de recursos naturais, minerais, hídricos, petrolífero, agropecuários e bioenergéticos. Tem indústria estruturada, com grande capacidade produtiva, serviços e setor financeiro de primeiro mundo. Precisamos reverter tudo isso em favor de nossa competitividade e crescimento sustentado. Vamos trabalhar e vencer! LEVI CEREGATO é presidente da Abigraf Nacional (Associação Brasileira da Indústria Gráfica)

Leitura de Carnaval Fonte Jornal Folha de São Paulo 15/02/2015 às 02h 00

O Carnaval, celebrado em várias partes do mundo de maneiras distintas, evoluiu no Brasil de forma a oferecer visão interessante da nossa diversidade cultural e organização social. Há poucas décadas, o Carnaval brasileiro era em muitas regiões um fenômeno de convívio social e familiar. Nas cidades pequenas e médias do país, os foliões se reuniam em clubes sociais para bailes que, à luz do que acontece hoje, parecem ingênuos e românticos. As pessoas andavam pelas cidades fantasiadas, e as crianças, especialmente, se divertiam bastante. Com o tempo, o Carnaval de rua e de clubes foi desaparecendo da maior parte do país, enquanto o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro (e mais tarde em São Paulo) e o Carnaval de rua em Salvador e Recife/Olinda cresciam e evoluíam. Agora, entre outros movimentos, temos o crescimento dos blocos carnavalescos nas duas grandes metrópoles brasileiras, mas apresentando características bastante diferentes. Enquanto, no Rio de Janeiro, os blocos de Carnaval já se transformaram em fenômenos de massa, levando centenas de milhares de pessoas às ruas numa grande convergência de classes informal e caótica, em São Paulo eles são mais homogêneos, desfilando em ruas delimitadas, tendo às vezes até ambulâncias para emergências.


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São as mais recentes tendências que começam a ser replicadas pelo país, devidamente adaptadas às características regionais, garantindo a diversidade e a evolução da festa, parte importante da nossa cultura e da nossa imagem. No topo dessa pirâmide carnavalesca estão os desfiles das escolas de samba do Rio, que se organizaram, cresceram e adquiriram mais recursos. Hoje eles são um grande show global de televisão, mais show business do que festa popular, mas que retêm ainda a original engenhosidade organizacional de sua formação. Um exemplo de gestão popular, que permite muita ação e criação individuais, desde que dentro do ritmo da bateria e dos limites espaciais de cada integrante da escola. E como evento global ele atrai investimentos e polêmicas globais. A última delas é o financiamento de uma escola de samba neste ano por uma ditadura africana, provocando o debate necessário num país democrático e cada vez mais alerta a questões éticas. O Carnaval brasileiro, portanto, nos permite viajar no tempo e na geografia do nosso país. De maneira leve e alegre, ele nos oferece uma visão muito mais profunda do que parece da cultura brasileira e nos ajuda a entender o que podemos fazer para organizar melhor este país em busca de mais crescimento, mais ética e mais bem-estar na vida pública, privada e empresarial. Bom carnaval a todos. Henrique Meirelles é presidente do Conselho da J&F (holding brasileira que controla empresas como JBS, Flora e Eldorado) e chairman do Lazard Americas. Ele foi presidente do Banco Central do Brasil de 2003 a 2010 e, antes disso, presidente global do FleetBoston e do BankBoston.

Ainda a poupança Fonte Jornal Folha de São Paulo 15/02/2015 às 02h 00

Meu colega Marcelo Miterhof, que ocupa este espaço às quintas-feiras, insiste em que minha insistência em apontar a elevação da poupança pública como a medida mais importante para que os juros caiam de forma sustentável na economia significa que eu e os demais ortodoxos somos adeptos do pensamento clássico que alegava ser necessário haver poupança prévia para financiar o investimento. Imagine, leitor, uma economia com desemprego de fatores. Há trabalhadores sem emprego, empresas sem pedidos, máquinas paradas etc. Um empresário com boas ideias vai a um banco e consegue um empréstimo para construir uma fábrica.


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O empreendimento é bem avaliado pelo gerente do banco. O empresário sai da agência bancária com os recursos em sua conta corrente creditados pelo banco em razão da concessão do crédito. Esse recurso não é poupança econômica. Trata-se de poupança financeira. São números criados eletronicamente em nome do empresário a partir das regras de funcionamento dos bancos comerciais regulados pelo Banco Central. Com o poder de compra da poupança financeira, o empresário contrata trabalhadores, empresas construtoras, compra máquinas etc. O produto da economia se elevou. Adicionalmente, o pagamento do empresário aos fornecedores e trabalhadores empregados na construção da fábrica gera novas demandas que irão ativar outros setores da economia. Uma parte da renda gerada com o crescimento econômico produzido pela decisão do empresário de empreender gerará a poupança econômica que financia o investimento. Parte da renda gerada não será consumida. No entanto, se a economia estiver a plena carga, o empresário, ao contratar trabalhadores, precisará, por exemplo, pagar horas extras ou retirar trabalhadores que estão em outros setores. Em um caso o preço irá aumentar, e, no outro caso, outros produtos deixarão de ser produzidos, pressionando os preços desses bens. A poupança que financiará o investimento seguirá da redução forçada da renda real, principalmente dos trabalhadores, que ocorrerá por causa da aceleração da inflação. Em ambos os casos com ou sem ociosidade generalizada de fatores de produção, a poupança não é nem prévia nem posterior. A poupança é simultânea. A diferença é que num caso o processo é sustentável e no outro caso não será. A percepção de que a inflação se acelera ensejará um processo de remarcação de preços e salários que termina em hiperinflação e desorganização do sistema produtivo. Vivemos essa situação nos anos 1980 e 1990, e a Venezuela vive hoje. Assim, quando estamos a plena capacidade, políticas que estimulam a elevação do investimento precisam ser acompanhadas de políticas que ampliam a poupança para que esta seja criada simultaneamente ao crescimento do investimento de forma sustentável. A maneira mais simples de o setor público estimular a elevação da poupança doméstica é elevando a sua poupança. Na primeira metade da coluna de quinta passada, Marcelo sugeriu que as pessoas que criticam o regime de política econômica instituído desde 2009 conhecido por "nova matriz econômica" o fazem por serem contra aumentos de salários.


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Não conheço nenhum profissional de economia que seja contra aumentos de salários. Os críticos da nova matriz econômica, entre os quais me incluo, a criticam por ela ter colocado a dinâmica da economia em rota não sustentável: inflação acima de 7%, déficit público acima de 6% do PIB, déficit público primário de 0,6% e déficit primário recorrente de 1,5% do PIB, além de um déficit externo de 4,1% do PIB. Adicionalmente, a péssima qualidade da política microeconômica fez a taxa de crescimento do produto potencial despencar de pouco menos de 4% para pouco mais de zero. A correção dos erros da nova matriz produzirá forte contração dos salários: como ocorreu nos anos 1960, quando se corrigiram os excessos do plano de metas; ou nos anos 1980, quando se corrigiram os excessos do governo Geisel; ou no segundo mandato de FHC, quando se corrigiu a política fiscal errada do primeiro. A redução de salário real infelizmente também ocorrerá nos próximos anos, ao corrigirmos os erros da nova matriz. Samuel de Abreu Pessôa é formado em física e doutor em economia pela USP e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV

Impeachment, Sarney, FHC, Dilma Fonte Jornal Folha de São Paulo 15/02/2015 às 02h 00

Aqui e ali se lê que Dilma Rousseff padece de "sarneyzação". O comentário é uma variante benigna daqueles que consideram ou até pregam o "impeachment" da presidente. Ambos derivam do mesmo menosprezo pela capacidade do governante, que teria perdido rumo e poder. "Sarneyzação" era o que se dizia de FHC em 1999, outro ano de crise e da desvalorização do real, quebra de promessa de campanha, "estelionato eleitoral". Era o que se dizia de Lula em 2005, quando o espetáculo do crescimento era ensaio e o show do mensalão começava. "Sarneyzação", claro, é a síndrome do governo que passa a se parecer com o dos anos finais da Presidência de José Sarney, de impotência e desastre econômico contínuo. A ruína decisiva de Sarney seria detonada pelo grande estelionato eleitoral de 1986, que deu nome e origem à série. Popular devido a um plano anti-inflacionário, o Cruzado de preços tabelados e consumo doidivanas, Sarney e seu PMDB venceram a eleição em todos os Estados menos um e fizeram inédita maioria no Congresso. O Cruzado, porém, no final de 1986 era um embuste populista grosseiro. Dias após a eleição, o plano foi para o desmanche, uma fraude descarada (lembra alguma coisa?).


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A seguir, o Brasil quebraria e se afogaria na hiperinflação. As lideranças políticas restantes do período 1950-80 se desmoralizaram. Collor e Lula, "outsiders", seriam os finalistas da eleição de 1989. Na "sarneyzação", um governo parece um morto-vivo, mas alguns zumbis se recuperam. São parecidas as descrições jornalísticas da "sarneyzação" dos tempos de Sarney, FHC ou Lula, que tiveram destinos diferentes. Nas palavras "de época", como se descrevia a síndrome? Paralisia decisória, falta de comando, inabilidade política, um presidente fraco, com autoridade minada pelos aliados. Deterioração de expectativas, envelhecimento precoce, falência de um pacto de poder, de um estilo de liderança. Esvaziamento político derivado de crises profundas, as quais provocam desfazimento da base política e debandada da coalizão parlamentar. Collor não chegou a passar por "sarneyzação", apesar do caos que criou. Foi rápida e legalmente deposto. Não começou a cair apenas porque era impopular. Dois meses antes da explosão final de escândalos de seu governo, sob crise econômica horrenda (décimo ano de crise), era tido como ruim/péssimo por 48% da população. Dilma está com 44% de ruim/péssimo. FHC chegou a 56% em setembro de 1999, ano de protestos de massa, "fora FHC", liderados pelo PT. Sarney terminou seu governo teratológico com 56% de ruim/péssimo. O prestígio fernandino ficaria baixo pelo resto do governo, até 2002, em torno de níveis parecidos com os de Dilma desde junho de 2013 –note-se que o padrão material de vida é muito melhor agora. Lula nem de longe jamais teve notas tão ruins quanto FHC ou sua afilhada. Rejeição popular, economia ruim, "sarneyzação" mais ou menos aguda ou até corrupção escandalosa, por si sós ou combinados, não levam o povo para a rua nem definem destino presidencial. Realismo e concessões para colocar certa ordem no tumulto econômico e político podem evitar uma crise terminal. A "correlação de forças" socioeconômicas importa. Talvez o acaso também. Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos vinit@uol.com.br Leia as colunas anteriores

Investidor já trata Brasil como país que perdeu grau de investimento


14 Fonte Jornal Folha de São Paulo RAQUEL LANDIM DE SÃO PAULO 14/02/2015 às 02h 00

Parte dos investidores já tem tratado o Brasil como um país que não tem o grau de investimento, espécie de selo de bom pagador de sua dívida, dado por agências que avaliam risco. O custo para se proteger de um calote do Brasil está mais caro do que o seguro contra uma moratória de Turquia, Bulgária ou Indonésia, já considerados "especulativos" pela agência Standard & Poor's uma das três principais no mundo. Os três países estão na faixa mais alta da classificação especulativa, um degrau abaixo do Brasil que, pelo ranking da S&P, está hoje a uma nota de perder o grau de investimento. Na sexta-feira, o CDS (Credit Default Swap) brasileiro, papel que o investidor compra para se proteger do calote, fechou cotado a 238,3 pontos. Isso significa que, para proteger US$ 10 milhões emprestados ao governo brasileiro por um ano, o investidor paga US$ 238,3 mil. O valor do CDS brasileiro está bem acima dos 189,3 pontos da Turquia, 192,8 pontos da Bulgária e 151 pontos da Indonésia. Só não supera o da Rússia, de 475 pontos. O seguro contra o calote da Índia, que tem a mesma classificação brasileira, está em 157,9 pontos.


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DESAFIO A percepção dos analistas é que o mercado está "trucando" o ministro Joaquim Levy (Fazenda) a dar sinais concretos de que conseguirá fazer a economia prometida pelo governo, de 1,2% do PIB. No ano passado, União, Estados e municípios fecharam, juntos, com déficit de R$ 32,5 bilhões (0,63% do PIB), primeiro resultado negativo da série histórica iniciada pelo BC em dezembro de 2001. Como o governo não teve dinheiro para cobrir todas as despesas, seu endividamento cresceu, o que aumenta a desconfiança do investidor. Os seguros para papeis brasileiros ficaram mais caros que os turcos a partir de novembro, depois que a presidente Dilma Rousseff ganhou a eleição. No dia 24 de outubro, antes da reeleição, o CDS brasileiro estava cotado a 166 pontos. A diferença se aprofundou desde o início do ano, após a posse de Levy. Em 31 de dezembro, o papel fechou cotado a 197 pontos. Desde então, subiu 41,3 pontos. Com o seguro contra calote mais caro, os investidores exigem juros mais altos dos papeis brasileiros para compensar essa perda. "A incerteza sobre o ajuste fiscal e a falta de credibilidade da política econômica são as principais causas desse mau humor do mercado", disse Bráulio Borges, economistachefe da LCA Consultores. Os investidores também estão reagindo a indicadores ruins: economia estagnada, inflação em alta e amplo déficit em transações correntes (trocas do país com o mundo). Segundo Zenia Latif, economista-chefe da XP Investimentos, o mercado se antecipou às grandes crises que rondam a economia brasileira: o risco de falta de água e energia e os desdobramentos da Operação Lava Jato. "O mercado financeiro olha seis meses à frente e o grau de incerteza é enorme. Ninguém sabe quais serão os impactos da Lava Jato nos investimentos e na solidez do sistema financeiro", disse.

Área menor de milho nos EUA pode ajudar Brasil


16 Fonte Jornal Folha de São Paulo 14/02/2015 às 02h 00

Os norte-americanos vão diminuir a área de milho nos próximos dez anos, apesar da continuidade da demanda mundial por esse cereal. É uma boa notícia para os produtores brasileiros, uma vez que o Brasil eleva a cada ano o volume produzido. O não crescimento de área de plantio nos Estados Unidos não quer dizer que os norteamericanos vão diminuir a presença nesse mercado. A participação deles virá via produtividade, um desafio que os brasileiros também terão de enfrentar. Os EUA esperam produzir 11,6 mil quilos de milho por hectare, em média, na safra 2024/25 -próximo de 194 sacas. A produção atual é de 181 sacas por hectare, conforme dados do Usda (Departamento de Agricultura dos EUA). Com o avanço da produtividade, os norte-americanos elevariam a produção para 383 milhões de toneladas por ano, aumentando as exportações anuais para 63,5 milhões de toneladas, 43% mais do que as do patamar atual. Se essa meta prevista pelo Usda for concretizada, o país elevaria a participação no mercado mundial para 45%, ante os 39% atuais. A expansão da demanda mundial de milho é uma oportunidade também para os produtores brasileiros. Na avaliação do Usda, o Brasil terá chance de manter um volume médio anual de 25 milhões de toneladas exportadas nos próximos anos. O país teria de começar a traçar estratégias desde já para ganhar parte desse mercado, que terá crescimento maior na Ásia. Os países asiáticos deverão importar 52 milhões de toneladas de milho em 2024, um volume 26% acima do atual. China e Indonésia estarão na dianteira. O Brasil tem chance também de avançar na América do Sul. A importação dos países vizinhos crescerá 30% nos próximos dez anos. Além do Brasil, a Argentina também é um grande fornecedor de milho na região, mas as exportações dos vizinhos deverão se manter nos patamares atuais de 15 milhões de toneladas por ano.


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O Brasil tem de ficar de olho também na crescente demanda dos países da África Subsaariana, que deverá crescer 86% nos próximos anos. Esses países vão elevar as importações anuais para 4,1 milhões de toneladas de milho nos próximos anos. O cenário é bom também em países cuja participação brasileira já é boa, como o Irã. A China -e o Brasil tem um acordo bilateral para exportações desse cereal para os chineses- deverá elevar as compras externas para 7,2 milhões de toneladas em 2024. Editoria de Arte/Folhapress

Soja Em um estudo de projeção de longo prazo desta semana, o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA) previu uma redução de área semeada de soja nos EUA. A área recuaria 6%, para 32 milhões de hectares em 2024. Produtividade Assim como no milho, os americanos apostam, no entanto, no aumento de produtividade por hectare. A estimativa é que a produção passe dos atuais 3.172 quilos por hectare para 3.374, em média, em 2024. Preços Os próximos anos não serão de preços elevados no setor de grãos como os registrados nas recentes safras. Soja O Usda estima que a soja paga aos produtores recue dos US$ 13 por bushel (27,2 quilos) na safra 2013/14 para até US$ 8,5 na próxima, estabilizando-se de US$ 9,10 a US$ 9,55 de 2018/19 a 2024/25. Milho O preço do cereal recua de um valor médio de US$ 4,46 por bushel (25,4 quilos) na safra 2013/14 para valores próximos de US$ 3,50 nos próximos anos.


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Fusões O volume financeiro envolvido nas fusões de empresas no ano passado atingiu R$ 193 bilhões. Do total, 2,3% ocorreram no setor de agronegócio, diz a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Queda A arroba de boi gordo recuou para R$ 143 nesta semana, segundo a Informa Economics FNP. Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma mais de 38 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária.

Crise da energia também é chance de elevar lucros de multinacionais Fonte Jornal Folha de São Paulo 15/02/2015 às 02h 00

Se por um lado a crise de energia é apontada como problema para muitas empresas, pois representa aumento de custos, a alta dos preços praticados no Brasil é vista como oportunidade de negócios para algumas multinacionais. "Posicionamos o nosso portfólio no Brasil de forma a nos beneficiar da escassez de energia. Esperamos que os preços continuem altos", disse Sachin Shah, diretor financeiro da Brookfield Renewable Energy, que no Brasil opera Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Para a Cummins, que sentiu na área de motores os reflexos da queda na venda de caminhões, a crise de energia também teve efeitos positivos, devido ao aumento na demanda por geradores. A Ceres, que produz sorgo para a cogeração de energia elétrica, vê oportunidade com a alta das tarifas. "Aumentamos a área plantada com sorgo de 1.000 para 4.000 hectares em comparação com a safra passada", disse Richard Hamilton, presidente da companhia. Ainda na área de energia, o aumento da mistura de etanol à gasolina, de 25% para 27% a partir de março, foi destacado pelas multinacionais como um incentivo ao aumento da produção do biocombustível, o que poderia impactar empresas como a FMC (defensivos) e a Novozymes (biotecnologia). A comercializadora de etanol Green Plains vê, inclusive, oportunidade de exportação de etanol ao Brasil. E empresas americanas, que são rivais do Brasil no mercado internacional, consideram que há menor competição no exterior neste ano devido ao aumento da demanda no mercado brasileiro. O otimismo não é exclusividade do setor de energia –as empresas de tecnologia estão animadas. "Nos países emergentes, que têm sido fonte de muitas perguntas


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recentemente, o crescimento tem sido absolutamente impressionante, com as vendas de iPhone mais que dobrando ano a ano no Brasil e na China", disse Tim Cook, presidente da Apple. A Alliance Data Systems (de serviços para bancos) também tem boas perspectivas. Espera repetir neste ano o crescimento de 30%, verificado no país em 2014.

Grandes empresas tomam medidas contra crise da água .

Prédio da Nestlé: poço e corte da academia para funcionários Fonte Revista Exame Igor Gadelha, do Estadão Conteúdo 15/02/2015 ÀS 10H 12

São Paulo - Grandes empresas como: Whirlpool, Syngenta, Aquapolo Ambiental e Nestlé estão investindo em reúso de água, abertura de poços profundos e conscientização dos funcionários como medidas "emergenciais" para combater a crise hídrica no País. Algumas delas também estão aumentando a capacidade de geradores de energia e até fechando academias de ginástica nas sedes. As principais ações de curto prazo foram compartilhadas por representantes das companhias durante seminário "Eficiência no Uso de Recursos Naturais" promovido pela Amcham Brasil. Uma das maiores fabricantes mundiais de eletrodomésticos, responsável pelas marcas Brastemp e Consul, a Whirlpool afirma que está investindo para aumentar a capacidade de reúso da água nas fábricas do país, atualmente em 30%. Outra medida é o aumento da eficiência do sistema de distribuição do líquido para as unidades. A companhia diz ainda estar investindo na instalação de poços profundos "certificados", além da conscientização dos funcionários sobre a utilização racional da água.


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A Aquapolo Ambiental, empresa criada pela parceria entre a Odebrecht Ambiental e a Sabesp para produção de água e reúso industrial, está focando no aumento da capacidade dos geradores já instalados e na instalação de novos equipamentos. A Syngenta, ligada ao agronegócio, por sua vez, tem buscado fontes alternativas de água, principalmente por meio de novos poços profundos e da "maximização" dos que já existem. A companhia ressalta que deve começar a reutilizar água em breve. Já a Nestlé diz que a principal medida de curto prazo adotada para combater a crise hídrica tem sido a abertura de poços profundos artesanais. A empresa afirma que também negocia com os funcionários o fechamento da academia localizada na sede da empresa em São Paulo. A companhia ressalta também que está realizando manutenção nos geradores adquiridos ainda no racionamento de 2001, que juntos têm a capacidade de gerar até 15% da energia necessária pelas fábricas, por meio do diesel. Também presente no evento, a Volkswagen afirmou que não tem nenhum plano emergencial de combate à crise hídrica. O gerente executivo da Divisão de Energia da montadora, Michael Lehmann, argumenta que a companhia já vem trabalhando no consumo sustentável "naturalmente". Ele destacou, porém, que a empresa tem tentando conscientizar fornecedores de sua cadeia de produção a elaborar planos e a compartilhar as medidas já adotadas no longo prazo.

Situação fiscal em ano de PIB zero divide economistas Marcos Santos/USP Imagens

Dinheiro: reduzir ou não reduzir a meta de superávit primário? Fonte Revista Exame Karla Spotorno, do Estadão Conteúdo 15/02/2015 ÀS 12H 12


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São Paulo - A situação fiscal do governo brasileiro anda tão ruim quanto enigmática. Diante do inesperado déficit primário em 2014 e da possibilidade de o Brasil encerrar 2015 com uma variação negativa do PIB, há quem acredite que a equipe econômica já tem argumentos para promover uma redução imediata da meta de superávit primário, de 1,2% do PIB. Uma outra parcela de economistas e especialistas em finanças públicas, no entanto, dizem que a meta é "imexível" neste momento e que, hoje, o sinal oriundo de uma redução deste valor seria "ruim". Para o especialista em contas públicas, Mansueto Almeida, é dada a hora para a equipe econômica reduzir a meta de superávit primário de 1,2% do PIB. "Mudar faz sentido porque a situação é muito pior do que há dois meses, quando a meta foi estipulada", diz o economista, que trabalhou na campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República. "A meta foi criada quando a projeção para o PIB deste ano era perto de 1% e quando se esperava um superávit primário de R$ 10 bilhões (e não déficit). Só isso, já dá legitimidade para o governo revisar a meta para baixo", diz Almeida. Para ele, o déficit primário "é uma herança maldita que não se conserta em um ano". O consultor Raul Velloso discorda. Para ele, a meta é "imexível". "Em primeiro lugar, não dá para ter certeza que a meta não vai ser cumprida, porque o (ministro da Fazenda, Joaquim) Levy deve ter trabalhado com uma margem de manobra nas contas", afirma Velloso, argumentando que fazia isso quando trabalhou no governo federal. Nos cálculos de Velloso, a equipe econômica conseguirá cumprir a meta fiscal se cortar em 0,1 ponto porcentual os gastos com previdência e assistência social; em 0,2 ponto porcentual as despesas com saúde e pessoal; e em 1,1 ponto porcentual o desembolso com investimentos e outras despesas correntes. Somando essa redução nas despesas com um aumento na arrecadação de 0,2 ponto porcentual, também estimado por Velloso, o governo conseguiria um superávit primário de 1,6% do PIB. Esse resultado seria, portanto, suficiente para compensar o déficit primário do governo central de quase 0,4% do PIB de 2014 e cumprir a meta de superávit de 1,2% do PIB. Sobre as contas, Velloso faz uma ressalva: ele não considerou o impacto do racionamento de energia nem do rodízio de água. "Se acontecer, ele (Levy) vai cortar investimento, porque o ponto é que o cumprimento da meta é questão de vida ou morte", diz. Apesar de achar "muito difícil" o cumprimento da meta fiscal, o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, afirma que, "no momento, seria ruim" para a imagem do Levy reduzir a meta que ele mesmo anunciou no ano passado. A possibilidade, entretanto, pode se tornar uma necessidade no futuro. "Mais para frente e dependendo do cenário, poderemos caminhar para isso", diz Gala. Gala afirma que "o otimismo com a nova equipe econômica (e com as medidas que foram sendo anunciadas ao longo de janeiro) está perdendo força". Isso acontece, principalmente, por causa da desaceleração da economia maior que o esperado, segundo o economista. No relatório de mercado divulgado nesta segunda-feira, os


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analistas de mercado passaram a prever crescimento zero para o PIB. Na semana passada, era de 0,03%. A título de comparação, no relatório de 5 de dezembro, a projeção era de 0,73%. "Os indicadores de confiança de janeiro vieram horríveis", diz Gala. A preocupação com a falta de apoio político no Congresso é um ponto em que os economistas concordam. Na terça-feira, 10, a Câmara impôs mais uma derrota ao governo Dilma Rousseff ao concluir a votação da proposta de emenda à Constituição que torna obrigatório o pagamento das emendas parlamentares individuais, o chamado Orçamento impositivo. À primeira vista, o projeto poderá obrigar o governo a aumentar as despesas. Mas não é bem assim, dizem os especialistas em finanças públicas. "A proposta provoca mais um engessamento da gestão do que um aumento dos gastos", diz Almeida. Ele e Velloso afirmam que o governo poderia reduzir outras despesas para cumprir aquelas determinadas pelo chamado "orçamento impositivo".

Joaquim Barbosa pede a demissão do Ministro da Justiça Nelson Jr./SCO/STF

Barbosa escreveu: “Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça.” Fonte Marcelo Poli, de EXAME.com 15/02/2015 ÀS 09H 39


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São Paulo – O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa pediu no último sábado, em seu perfil no Twitter, a demissão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Barbosa mostrou insatisfação com a revelação de que José Eduardo Cardozo tranquilizou advogados de executivos presos na Operação Lava Jato da Polícia Federal sobre os rumos do caso depois do feriado de carnaval. Barbosa escreveu: “Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça”, escreveu em sua conta oficial no Twitter. De acordo com informações do jornal O Globo, o ministro Cardozo recebeu três advogados representantes da Odebrecht, construtora envolvida na operação LavaJato. Segundo a publicação, eles esperavam receber ajuda do governo para soltar os 11 executivos que estão presos. Cardozo também teria encontrado outros advogados de construtoras como a UTC e a Camargo Corrêa, segundo a Folha de S. Paulo.

Contratos de terceirização poderão subir 30% com nova lei, diz entidade Fonte Jornal Folha de São Paulo 15/02/2015 às 03h 00

O projeto de lei que regulamenta a mão de obra terceirizada no país foi desengavetado pela Câmara na última quinta-feira (12). A aprovação da proposta poderá aumentar em 30% o volume de novos contratos no primeiro ano de vigência, em um cenário pouco otimista, estima a Fenaserhtt (que reúne sindicatos de empresas de recursos humanos, trabalho temporário e terceirizado).


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Em 2014, a demanda por serviços não cresceu mais que 3%, segundo estimativa. "Muitas empresas têm receio dessa modalidade de contratação pela falta de segurança jurídica", afirma Vander Morales, presidente da federação. Hoje, uma empresa não pode contratar mão de obra terceirizada para exercer sua função principal, entretanto, não há uma lei que especifique o que é essa atividade. "Com a crise econômica, se não houver uma intervenção que mude esse cenário, as demissões aumentarão." No último trimestre de 2014, o setor cortou 5% de seu quadro de funcionários, em relação ao mesmo período de 2013. Para o primeiro trimestre deste ano, a Fenaserhtt estima queda de 20%. A entidade representa 32 mil empresas, que contratam 2,6 milhões de trabalhadores. Para o Sintelmark (de call centers do Estado de São Paulo), a regulamentação estimularia investimentos no setor. "A tendência é que a mão de obra se especialize", diz Stan Braz, diretor-presidenteexecutivo da entidade. Saúde ampliada A CNU (Central Nacional Unimed) vai investir R$ 43 milhões neste ano. Do total, 30% serão destinados para a melhoria dos sistemas de tecnologia da informação.


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Vamos trocar boa parte do nosso parque tecnológico para agilizar o atendimento ao usuário, diz Mohamad Akl, presidente da CNU. A operadora de planos de saúde também ampliará a rede de call centers. Serão criadas mais 40 posições nessa área, que atende 3 milhões de clientes por ano. O restante do aporte (70%) será alocado em melhorias na estrutura das filiais e treinamento de pessoal. Neste ano, a nossa meta é reduzir em 3% os custos médicos das operações, afirma Akl. R$ 3,3 bilhões foi o faturamento em 2014 1,6 milhão é o número de beneficiários 5 são as filiais em SP (duas), Salvador, Brasília e São Luís 651 são os clientes empresariais Pagamento atrasado Editoria de arte/Folhapress


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A parcela de brasileiros com alguma prestação atrasada ficou em 12,5% em dezembro do ano passado. O número é 3,6 pontos percentuais menor do que o registrado no mesmo mês de 2013. Pesquisa da Fecomércio RJ, feita em parceria com a Ipsos, mostra também que esse foi o menor número desde fevereiro de 2013, quando a parcela atingiu 10,1%. Os entrevistados que afirmaram ter algum tipo de parcelamento somaram 33,1%, queda de 9,4 pontos. Foram ouvidas mil pessoas. com LUCIANA DYNIEWICZ, LEANDRO MARTINS, ISADORA SPADONI e DHIEGO MAIA Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.

Contas no vermelho forçam governadores a promover ajustes Fonte Jornal Folha de São Paulo GUSTAVO PATU DE BRASÍLIA 16/02/2015 às 02h 00 A exemplo do que ocorre com o governo federal, desequilíbrios orçamentários herdados dos mandatos anteriores estão disseminados entre os Estados e têm obrigado os governadores a tomar medidas impopulares de ajuste.


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Levantamento feito pela Folha mostra que 17 dos 27 governadores publicaram nas últimas semanas balanços financeiros mostrando que suas contas fecharam o ano passado no vermelho. Dito de outra maneira, as receitas desses Estados foram insuficientes para cobrir as despesas com pessoal, custeio administrativo, programas sociais e investimentos. Trata-se de algo inédito desde que a Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, impôs regras para disciplinar as finanças públicas. Em 2011, primeiro ano das administrações passadas, apenas dois governadores registraram saldo negativo e precisaram se endividar para financiar gastos cotidianos e obras de infraestrutura. Ao final dos mandatos, a lista dos deficitários é ampla a ponto de incluir Estados ricos e pobres, grandes e pequenos e governadores dos principais partidos do país. Isso obrigará os governadores que tomaram posse no início do ano a apertar os cintos, porque a oferta de crédito nos bancos federais e os repasses do Tesouro Nacional para obras tendem a minguar, e as receitas continuarão sofrendo com a crise econômica. A equipe do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, indicou que espera que Estados e municípios alcancem um superávit de R$ 11 bilhões neste ano, o equivalente a 17% da meta de economia estabelecida para o setor público, de R$ 66 bilhões, incluindo o governo federal e as estatais. No ano passado, os governos estaduais tiveram déficit de R$ 13,2 bilhões, pela metodologia adotada pelo Banco Central, e de R$ 11,7 bilhões pelos balanços locais, sem incluir o Amapá, que ainda não publicou os dados. Editoria de Arte/Folhapress


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ESCALADA Em valores absolutos, os maiores rombos foram contabilizados no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco comandados, respectivamente, pelo PMDB, pelo PSDB e pelo PSB, todos vitoriosos nas últimas eleições. Os Estados superavitários foram São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Norte, Sergipe, Pará, Rondônia e Roraima. Como proporção da economia local, o maior déficit é o do Acre, onde o PT conquistou nas urnas o quinto mandato seguido. A escalada dos gastos nos Estados foi amparada por políticas adotadas no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff para estimular a economia, com ampliação do crédito nos bancos oficiais. O aumento das despesas ocorreu num período em que a arrecadação de impostos incluindo tributos federais compartilhados com os governos regionais acompanhou o esfriamento da economia, agravada no ano passado. Agora, tanto o Palácio do Planalto quanto boa parte dos governadores enfrentam resistências contra os inevitáveis pacotes de ajuste fiscal. No Paraná, o tucano Beto Richa teve de recuar em suas propostas de redução das despesas com o funcionalismo público na semana passada, quando servidores invadiram a Assembleia Legislativa. Medidas que incluem cortes orçamentários e aumento de impostos também estão em debate no Distrito Federal onde o governo foi obrigado a atrasar salários e em Estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Goiás.

Dólar turismo a R$ 3 leva a corte de gasto em viagem ao exterior Fonte Jornal Folha de São Paulo THAIS FASCINA DE SÃO PAULO 16/02/2015 às 02h 00

A ideia era arrumar as malas para passar cinco dias em Miami, na Flórida (Estados Unidos), mas, nas últimas semanas, com a alta do dólar, a engenheira Martha Cristel viu a conta ultrapassar seu planejamento inicial e desistiu da viagem. "Comecei a ver preços em janeiro, quando o dólar teve uma queda, mas achei que pudesse cair mais e não comprei. Agora, com o valor que está, não vou mais." Editoria de arte/Folhapress


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A reportagem fez um levantamento com cinco agências de câmbio na tarde da sexta (13). O dólar turismo variava entre R$ 2,97 e R$ 3,03 em espécie (patamar que não era encontrado com frequência desde 2004) e de R$ 3,12 a R$ 3,18 no cartão pré-pago. Na quarta-feira (11), a moeda chegou a R$ 3,20. Vale a pena pesquisar preço nas agências de câmbio.

Na dúvida sobre a tendência do dólar, a dica é fracionar as compras até o momento da viagem. Se a moeda cair, a pessoa poderá comprar parte com um valor mais baixo daqui a algum tempo; se subir, porém, já terá obtido um pouco com cotação favorável. A única regra que vale para todas as operações é o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 0,38% na transação em espécie e de 6,38% no cartão. Simone Zanella, dona de uma agência de viagem especializada em pacotes para Orlando (também no Estado americano da Flórida), já sente os efeitos da alta do dólar: nas últimas duas semanas não fechou nenhum roteiro.


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As vendas que conseguiu fazer foram para famílias que já haviam comprado as passagens no ano passado e que precisavam apenas acertar os passeios, reservar hotel e trocar algum dinheiro para alimentação e compras. "Não acredito que as pessoas deixem de viajar com a alta do dólar, mas elas estão mudando a viagem. Ou seja, trocando a categoria da hospedagem para uma mais barata e diminuindo passeios." SEM LEMBRANCINHA

A terapeuta Berta El Kalay visitou Orlando e Miami com o marido e os netos no início deste ano, mas "porque já tinha comprado as passagens". "Não deixamos de ir, mas viajei com o dólar a R$ 2,90. Nós diminuímos em até 60% as compras, e o cartão de crédito ficou proibido." A família ainda economizou na hospedagem e na alimentação durante os 14 dias de viagem. Após um recorde nas vendas em janeiro, a agência de turismo CVC avalia que a alta do dólar não deve interferir nas viagens, já que o planejamento, geralmente, é feito com antecedência. "A CVC faz reservas em grandes volumes com seus fornecedores e consegue manter seus preços estáveis. Vamos apostar cada vez mais na venda antecipada da viagem, de 12 até 18 meses antes do embarque, o que facilita o planejamento financeiro", disse em nota. PERSPECTIVA

O dólar comercial está sendo negociado acima de R$ 2,80. E, segundo analistas, a tendência de alta da moeda americana pode ser mantida nos próximos meses. Para turistas, a cotação é sempre mais alta. O dólar turismo é formado pelo valor da taxa de câmbio à vista, voltado a grandes clientes, acrescido de uma margem maior para compensar o volume menor de moeda negociada.

Fantasmas assombram investidor em 2015; saiba como lidar com crise Fonte Jornal Folha de São Paulo DANIELLE BRANT DE SÃO PAULO 16/02/2015 às 02h 00

Desemprego, inflação, inadimplência e recessão. O cidadão comum deve redobrar o cuidado neste ano para não descontrolar as contas, descapitalizar-se ou ficar com o nome sujo na praça.


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Quem teme ficar desempregado, por exemplo, deve montar uma reserva de emergĂŞncia que dĂŞ para manter os principais gastos por pelo menos seis meses. Esse ĂŠ o tempo que uma pessoa levava para se recolocar no mercado de trabalho em 2014, segundo pesquisa da Catho. Editoria de Arte/Folhapress


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Diante da perspectiva de piora no emprego, a pessoa deve estender esse "colchão" para mais tempo, inclusive para não ser obrigada a aceitar a primeira proposta de trabalho que aparecer. "Diria que é melhor ter recursos entre oito a dez meses por causa da estagnação da economia", afirma Aquiles Mosca, do Santander. Thiago Alvarez, do site de finanças pessoais Guia Bolso, sugere que esse dinheiro fique em uma aplicação de baixo risco e que permita o resgate sempre que for preciso. Em especial ele recomenda aplicações seguem os juros pós-fixados ou mesmo a Selic (taxa básica de juros). "Pode ser um CDB [Certificado de Depósito Bancário] ou LCI [Letra de Crédito Imobiliário] e LCA [Letra de Crédito do Agronegócio], desde que tenham prazo de resgate próximo", disse. O investidor também pode deixar o dinheiro na poupança, mas, como ela está perdendo para a inflação, isso significa abrir mão do poder de compra –o segundo fantasma que ronda a economia. SEM DESPERDÍCIO Diante do aumento de preços acima do salário e da poupança, o jeito é cortar excessos e desperdícios. "É a velha receita de anotar tudo o que se gasta e saber para onde está indo o dinheiro. Deve-se avaliar, por exemplo, se vale a pena ter um automóvel ou usar transporte público", disse Amerson Magalhães, diretor da Easynvest. Para quem deixa o dinheiro na poupança, chegou a hora de rever a escolha. "Só vale a pena se for deixar o dinheiro por pouco tempo, quando se paga a maior taxa de IR [em outras aplicações]. Ou se o valor for muito baixo para conseguir aplicar em outro investimento, com custo menor", disse o planejador financeiro Valter Police.

Armadilha das dívidas deve ser evitada neste ano Fonte Jornal Folha de São Paulo 16/02/2015 às 02h 00

Quem está endividado corre o sério risco de descontrolar as contas em 2015. Se a pessoa tem algum investimento, a recomendação da maioria dos especialistas é sacar para quitar o débito. Isso porque a taxa de juros da melhor aplicação dificilmente supera a paga em uma dívida. É o que fez a auxiliar administrativa Gabriela Ribeiro de Castro Setti, 22.


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No rotativo de dois cartões de crédito, ela acabou entrando também no cheque especial. "Aí um banco me ligou para negociar o cartão e ofereceu um empréstimo. Peguei o empréstimo, juntei com o 13º salário e quitei as dívidas. Mas precisei tirar dinheiro da poupança." Editoria de Arte/Folhapress

A decisão de Gabriela foi acertada, na avaliação de Aquiles Mosca, do Santander. "As pessoas geralmente têm dificuldade em mexer no dinheiro aplicado. É preferível resgatar os investimentos, pagar a dívida e voltar a fazer o esforço de guardar quando a situação se regularizar." Na avaliação de Thiago Alvarez, sócio do site GuiaBolso, se for por um período curto, não vale a pena cobrir o rombo na conta-corrente com algum investimento. "Quando você faz uso do cheque especial por pouquíssimo tempo, de um a cinco dias, e sabe que é algo que não vai se repetir, não compensa retirar a aplicação. Uma vez que resgatou fica mais difícil recomeçar a poupar. E os juros de um ou dois dias são suportáveis." Outra ressalva é feita se a dívida for de longo prazo, como de imóvel ou do carro. "Pegar o investimento para quitar o débito pode não ser uma boa ideia se comprometer a reserva de segurança." RENEGOCIAR SEMPRE Quem não tem de onde tirar dinheiro tem que apelar para a renegociação da dívida, caso as parcelas estejam pesando no bolso, afirma Amerson Magalhães, diretor da Easynvest. "Tem que reduzir o tamanho da dívida, renegociando o empréstimo. Isso vale para quem não tem fonte de renda e está endividado", disse. A dica vale principalmente para quem tem dívida no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito, modalidades de crédito com as maiores taxas de juros no mercado.


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"Negocie para trocar por um empréstimo pessoal ou um consignado, que têm juros mais atrativos", afirma. EMPREENDEDORISMO O ano não é favorável para abrir um negócio próprio. Quem insistir deve ter pelo menos seis meses de dinheiro para sustentar a empresa na fase inicial. Aqueles que já estiverem nesse caminho devem fazer de tudo para não perder clientes e ameaçar o negócio. A dica é cortar ao máximo os custos, sem mexer na qualidade, para poder reduzir preços se tiver que disputar clientes. Para Carlos Wizard Martins, da rede Mundo Verde, o empreendedor não precisa desistir do sonho de abrir sua empresa. "Uma dica é, em vez de começar do zero, optar por uma franquia. Dá para ter uma noção da aceitação no mercado e economizar com o marketing."

Caderneta de poupança deve perder para inflação em boa parte de 2015 Fonte Jornal Folha de São Paulo THAIS FASCINA DE SÃO PAULO 16/02/2015 às 02h 00

O investidor que deixou suas economias na poupança perdeu para a inflação em janeiro. A previsão é que isso se repita em boa parte do ano. A poupança só deve voltar a ficar atraente quando a inflação recuar e os juros das demais aplicações caírem, cenário fora do radar em 2015.


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Em janeiro, a caderneta de poupança rendeu 0,59% –bem abaixo do IPCA (índice oficial de inflação) de 1,24%, a maior taxa desde fevereiro de 2003. Nos últimos 12 meses, a poupança perdeu menos: subiu 7,05%, ainda abaixo da inflação de 7,14%. A previsão para 2015 é que a caderneta renda 7,44%. Já a projeção do mercado para o IPCA está hoje em 7,15%, mas tem subido semanalmente no fim de 2014, a estimativa era 6,53%. Em 2014, a poupança já dava sinais de fraqueza, com ganho de 0,63 ponto percentual acima da inflação, o quarto menor desde o Plano Real. "O cliente precisa entender o quanto ele pode ganhar em uma aplicação com a mesma segurança da poupança, mas com rentabilidade maior", afirma Einar Rivero, gerente da consultoria Economática. Foi o caso do advogado André Leão, que decidiu variar seus investimentos e aproveitar a Selic (taxa básica de juros) de 12,25% de olho na compra de um apartamento. "Tenho cerca de R$ 60 mil e decidi aplicar em fundos com risco moderado porque a poupança rende pouco." Entre os investimentos escolhidos, estão fundos multimercado, que misturam renda fixa e ações. Leão também investiu em aplicações que remuneram pelo CDI. Com a perspectiva de crescimento fraco, o investidor pode se refugiar na renda fixa. O menor risco de errar é com papéis e fundos pós-fixados, com retorno atrelado à Selic. Uma opção são as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), vendidas no site do Tesouro Direto. Outras alternativas parecidas são os fundos DI, que investem em LFT ou em títulos pós-fixados de empresas. Também existem os títulos prefixados, com uma taxa estabelecida, como as LTNs (Letras do Tesouro Nacional), e os fundo de renda fixa, que investem nesses papéis. Eles pagam um pouco mais do que os pós-fixados para compensar o risco de flutuação das taxas, especialmente de um aumento de juros. Quando isso ocorre, no entanto, eles têm perdas. No grupo dos pós-fixados, estão CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) e letras de crédito imobiliário (LCI) e do agronegócio (LCA) isentas de Imposto de Renda. "Não vejo um ano difícil para investimento em renda fixa. A rentabilidade é melhor do que em 2012", afirma João Beck, gerente da TOV Corretora.

Editorial: Energia em dia


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Atrasos têm consequências por vezes funestas, não raro custosas. Poucos se dão conta, neste país, de que a incapacidade de efetivar projetos conforme o planejado sai caro, como tem comprovado com folga, nos últimos anos, o sistema elétrico nacional. O valor da ineficiência federal nesse setor é exorbitante. Usinas geradoras que não ficam prontas no prazo, ou que não fornecem energia por falta de linhas de transmissão, custaram ao tesouro e aos consumidores a cifra portentosa de R$ 65 bilhões de 2006 a 2014. O cálculo partiu da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). O montante de energia que deixou de ser gerado desde então, 39,1 mil gigawatts-hora, equivale ao consumo anual de toda a indústria no mercado cativo (contratos de longo prazo). Para chegar a esses números, a Firjan compilou adiamentos em 272 usinas de todos os tipos, num total de 410 turbinas. Verificou-se um atraso médio de 4,1 anos em relação ao prazo previsto. A diferença entre a capacidade que deveria estar instalada no país em 2014 e a real chega a 10.376 megawatts, o que corresponde a quase uma hidrelétrica de Belo Monte (PA). A Firjan computou o custo da eletricidade que deixou de ser gerada ao longo dos anos (R$ 28,6 bilhões) e o da energia que terminou reposta por usinas termelétricas (R$ 93,8 bilhões), as mais caras de operar. Subtraindo o primeiro do segundo, resulta a conta salgada de R$ 65,1 bilhões. Tal é a medida da ineficiência nesse setor. Ela decorre da prática irracional do governo de levar a leilões de concessão empreendimentos de geração e transmissão que contam apenas com projetos falhos ou incompletos, ou cuja viabilidade ambiental tem grande probabilidade de ser questionada. Atrasos em obras da complexidade de grandes hidrelétricas e linhões com centenas ou milhares de quilômetros de extensão são até certo ponto inevitáveis. Mas eles se tornaram a regra, e por demais dilatados. Há que combater essa cultura setorial, que de resto dá margem a uma indústria de aditamentos, quando não à corrupção. Provam-se dignas de atenção, assim, as recomendações dos autores do estudo: dar prioridade para completar as usinas que já começaram a operar, mas ainda têm turbinas a serem acionadas; acelerar a construção de linhas de transmissão; leiloar somente os empreendimentos com projetos executivos acabados; e coordenar melhor a ação de órgãos envolvidos no licenciamento, como Ibama e Funai.


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Sem tais providências, que no fundo se traduzem como recompor a capacidade de planejar e controlar, o futuro da geração de energia continuará incerto. Governar é decidir o que fazer e fazer o que se decidiu, e não conformar-se com atrasos como se eles fossem algo tão natural ou imprevisível quanto o regime de chuvas do país.

Gustavo Patu: Teoria do estelionato Fonte Jornal Folha de São Paulo 16/02/2015 às 02h 00

BRASÍLIA - Todos os presidentes vitoriosos nas urnas após o fim da ditadura militar cometeram estelionatos eleitorais. Trata-se de regra, portanto, não de exceção. Collor confiscou o dinheiro das cadernetas de poupança, medida que na campanha havia acusado o adversário Lula de planejar. FHC conquistou seu segundo mandato com a promessa de preservar os fundamentos originais do Plano Real, que já faziam água por todos os lados e foram abandonados em semanas. Do lado petista, Lula abraçou em seu primeiro governo as diretrizes neoliberais demonizadas pelo partido, incluindo o Bolsa Família na área social (seu programa era um tal Fome Zero, algumas vezes mais caro). Dilma Rousseff repete a dose agora, com o agravante de ter associado tal agenda à fome e ao desemprego, à base de argumentação rudimentar. Uns se saíram melhor do que outros de seus embustes. O mais bem-sucedido, claro, foi Lula, que manteve a aprovação do eleitorado e contou com a boa vontade da classe política, além do entusiasmo dos mercados; FHC jogou fora sua popularidade, mas preservou apoios entre os partidos e a elite econômica; Collor ficou sem nada e deu no que deu. Dilma não é Collor. Dispõe de um partido poderoso e de militantes fiéis na academia, na imprensa e na internet. A vasta base de sindicatos, movimentos e associações ligadas ao PT pode resmungar contra o corte de gastos sociais, mas não tem alternativas na oposição. No entanto, os consertos necessários nas contas do governo, na inflação e no dólar estão se mostrando mais dolorosos e menos frutíferos que o previsto. O custo da escalada da rejeição da presidente ainda está longe de trazer o benefício da restauração da credibilidade no mercado. Nesse cenário, a governabilidade dependerá crescentemente da boa vontade do Legislativo, ou do que restar dele após o caso Petrobras. Uma mina para PMDBs, PSDs ou PLs. gustavo.patu@grupofolha.com.br


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Editorial: Aprender com o erro Fonte Jornal Folha de São Paulo 16/02/2015 às 02h 00

As primeiras semanas de 2015 trouxeram informações auspiciosas sobre a evolução da epidemia de ebola no oeste da África. O volume de contaminações caiu vertiginosamente nos três países mais afetados: Libéria, Guiné e Serra Leoa. Além disso, no fim de janeiro contabilizaram-se menos de cem novos casos em uma semana, o que não ocorria desde junho. Diante disso, a Organização Mundial da Saúde alterou seu foco. Em vez de buscar apenas desacelerar a transmissão, passará à tentativa de erradicar o surto. Numa espécie de lembrete de que não se deve relaxar no combate ao vírus, porém, nos primeiros sete dias de fevereiro foram registrados 124 contágios. De todo modo, o pior da crise parece ter passado. Os impactos sociais e econômicos da maior epidemia de ebola já conhecida, porém, devem perdurar por algum tempo. A Unicef estima que ao menos 16 mil crianças africanas tenham perdido seus pais. O Banco Mundial, por sua vez, calcula que os três países mais afetados perderão mais de 12% de seu PIB conjunto. Para além da tragédia, ficam lições. A principal delas deveria ser óbvia: não se devem subestimar ameaças do porte do ebola. Numa série de erros, tanto o escritório central da OMS, em Genebra, como seu gabinete regional na África tardaram a reagir à epidemia. A resposta veio apenas depois de a ONG Médicos Sem Fronteiras insistir que o surto estava descontrolado. Os números (mais de 9.000 mortes e 22 mil contaminações) dificilmente teriam sido tão catastróficos com uma ação mais célere. A OMS acusou o golpe. A cúpula da entidade não só reconheceu seu despreparo para lidar com o vírus, como também propôs medidas para evitar novas surpresas diante de ameaças desse tipo. A criação de equipes de médicos internacionais é uma delas. Enviados a locais estratégicos, os profissionais fariam o primeiro combate, a fim de impedir que determinada doença se espalhe. Além disso, foi solicitado um fundo emergencial de US$ 100 milhões. As propostas deverão ser votadas em maio na assembleia da OMS.


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Enquanto isso, em várias localidades da África ocidental, a vida aos poucos retorna à normalidade. "As mulheres voltaram a dançar", disse recentemente a embaixadora americana na Libéria. Não deixa de ser um alento.

Vinicius Lages: Crescimento do turismo é o destino Fonte Jornal Folha de São Paulo 16/02/2015 às 02h 00

Um dos grandes temas da atualidade é a capacidade do país de continuar crescendo de modo a assegurar as taxas de inclusão social e de transformações da estrutura produtiva e social. Apesar de subestimado, o turismo é um dos setores que pode contribuir para uma nova dinâmica econômica, gerando emprego, renda e divisas, além de assegurar demandas sobre outras cadeias produtivas de bens e serviços. É considerável o poder de compra do setor sobre a indústria (móveis, televisores, arescondicionados, geladeiras, aviões, automóveis, e bebidas), agronegócio (alimentos) e serviços de engenharia e arquitetura, entre outros. Em 2014 o turismo brasileiro viveu o melhor ano de sua história. Não foi só a exposição de imagem oferecida pela realização da Copa do Mundo, que apresentou a diversidade de nossa oferta turística com novo apelo, nas 478 cidades visitadas durante o período do evento. A movimentação interna foi recorde, assim como os gastos de estrangeiros. Como não poderia deixar de ser, os investimentos e faturamento das empresas do setor também bateram recordes. Realizamos uma Copa memorável e dissipamos as dúvidas que existiam em nível global sobre a nossa capacidade de organizar grandes eventos. A infraestrutura e os serviços qualificados na área de eventos são uma das plataformas de crescimento do setor, que pode contribuir para o desenvolvimento do país. Registramos, nos últimos anos, um crescimento continuado em diversos indicativos do setor. Uma década atrás, eram 139 milhões de viagens domésticas. Números preliminares indicam que o mercado interno registrou 205 milhões de deslocamentos em 2014. Em 2014, a entrada de divisas pela conta das viagens foi de US$ 6,9 bilhões, um recorde histórico. Se considerarmos o ano de criação do Ministério do Turismo, 2003, quando a receita cambial foi US$ 2,48 bilhões, o incremento foi de 178%. Alarcão


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Outro indicativo da vitalidade do setor é o montante dos financiamentos concedidos pelos bancos públicos para a iniciativa privada. Pela primeira vez na história, o mercado tomou mais de R$ 14 bilhões para criar novos negócios, expandir ou melhorar os empreendimentos. A evolução revela que o setor produtivo nacional tem apostado no turismo como uma nova fronteira para o desenvolvimento econômico. Vale ressaltar que o aumento sustentável na movimentação turística não é privilégio do Brasil. Um balanço preliminar da Organização Mundial do Turismo mostrou que o número de viajantes cresceu 4,7% pelo mundo de 2013 para 2014, índice que supera a estimativa da própria entidade. Em 2014 a movimentação de turistas internacionais ultrapassou 1,1 bilhão de pessoas. Se o olhar para trás mostra uma curva ascendente, as perspectivas futuras são igualmente animadoras. Atualmente, menos de um terço dos brasileiros (62 milhões) viaja pelo país. Outros 70 milhões podem consumir o turismo, mas ainda não o fazem. Um mercado interno que, se bem trabalhado, tem potencial para injetar vitalidade na economia de serviços vinculada às viagens. Os dez feriados prolongados deste ano, que vêm sendo apontados pelo noticiário econômico como potencialmente problemáticos, são uma grande oportunidade para incrementar o mercado consumidor e aquecer o turismo doméstico, que ainda desfruta de câmbio favorável. As sondagens realizadas junto ao consumidor revelam que a movimentação interna tende a se manter aquecida. Entre os brasileiros que desejam viajar pelos próximos seis meses, a maioria (80,2%) deseja fazê-lo dentro do país. O índice é o maior registrado em todo o ano de 2014, segundo a pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas para o Ministério do Turismo com 2.000 pessoas de sete capitais. Iniciamos o ano de 2015 otimistas diante das oportunidades que temos no setor. A continuidade dos investimentos em infraestrutura, a expansão dos aeroportos regionais, os novos portos que podem integrar terminais de passageiros para o turismo náutico, a requalificação dos espaços urbanos e a ampliação da oferta cultural são os focos de nossa atenção. Com alguns ajustes no ambiente de negócios e no processo de licenciamento será possível aumentar a taxa de empreendedorismo e a competitividade dos nossos destinos.


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Nossa rica diversidade regional e a capacidade empresarial dos agentes do setor de turismo apresentam todos os elementos que precisamos para tornar o setor em um dos principais motores de nossa economia. VINICIUS LAGES, 57, é ministro do Turismo

Impasse na Petrobras traz demissões e fome a cidade 'eldorado' do petróleo Fonte Jefferson Puff - @_jeffersonpulfEnviado especial da BBC Brasil a Itaboraí 13 fevereiro 2015

Vivendo de favor, Hermes Leal Barreto diz guardar pão seco do almoço para ter o que comer de noite

De volta ao noticiário por conta da crise da Petrobras e protestos de trabalhadores, as obras do complexo petroquímico Comperj, que chegaram a empregar 35 mil pessoas e prometiam mais de 200 mil postos de trabalho quando finalizadas, têm deixado uma herança amarga para a pequena cidade de Itaboraí, no leste do Estado do Rio de Janeiro. Além das perdas causadas pelo atraso e os desinvestimentos da petroleira, milhares estão desempregados, com alguns vivendo de favores alheios ou mesmo passando fome. Vista como novo eldorado do petróleo há sete anos, Itaboraí atraiu investimentos e viveu um boom imobiliário. Pacata, com muitos sítios, fazendas e uma economia tímida baseada na indústria da cerâmica e no cultivo da laranja, a cidade teve aumento


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de 21,5% da população entre 2000 e 2013, passando de 185 mil para 225 mil habitantes (segundo o IBGE). Mas conforme a petroleira afundava na atual crise, todos os pagamentos de aditivos e renovações de contratos com as empresas citadas na operação Lava Jato eram interrompidos, o que resultou numa aceleração do ritmo de demissões no Comperj. O escopo do projeto também foi reduzido. Segundo o Sintramon (sindicato que representa os trabalhadores em Itaboraí), até junho de 2014 eram 18 mil operários na obra. Agora restariam apenas 6 mil, de acordo com a entidade, e 11.400, segundo a Petrobras. Várias das empresas que atuaram no projeto enfrentam uma série de dificuldades. Uma delas, a Alusa, alega ter uma dívida de R$ 1,2 bilhão em aditivos não pagos pela Petrobras, além de ter tido o contrato rompido uinilateralmente pela petroleira - o que teria forçado a companhia a entrar com pedido de recuperação judicial. Consultada pela BBC Brasil, a Petrobras negou responsabilidade. Entre as empresas que permanecem no projeto, 15 integram a lista das 23 investigadas no escândalo de corrupção, e muitas também enfrentam dificuldades, em parte por causa da suspensão de pagamentos de aditivos e de renovações de contratos. Leia mais: Petrobras vai de 'porto seguro' a 'montanha-russa' do mercado

Funcionários de complexo petroquímico padecem com atrasos e recuo nos investimentos da petroleira


45 Sem casa ou comida

Como consequência do impasse, o grupo Alusa, que alterou o nome da empresa que atuava no Comperj para Alumini, teve o contrato rompido pela Petrobras e demitiu 469 trabalhadores ainda em dezembro, sem que houvesse pagamento das verbas rescisórias. Outros 2.500 também estão sem trabalhar, mas suas carteiras de trabalho ainda estão retidas e eles estão sem plano de saúde, vale-alimentação, sem salário desde dezembro e sem poder dar entrada nos pedidos de seguro-desemprego ou sacar FGTS.

Baiano, Marco Aurélio dos Santos Souza diz que trabalhadores foram abandonados e que só resta protestar

José Roberto Silva dos Santos, de 28 anos, é natural de Itaboraí. Casado e com duas filhas, de 3 e 5 anos, ele não recebe desde dezembro. Há três meses sem pagar o aluguel, recebeu ordem de despejo e agora tem 30 dias para deixar o imóvel. Leia mais: Seis desafios do novo presidente da Petrobras Leia mais: Para 'Financial Times', escândalo na Petrobras 'ameaça engolir governo'

"A empresa simplesmente desligou os telefones. A gente não consegue contato com eles, só por meio do sindicato e ação judicial. Estou dependendo só da ajuda da família e da cesta básica que às vezes conseguimos aqui no sindicato. É uma bola de neve. As contas, o banco, o aluguel, é uma humilhação", diz.


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José relembra que tem a família por perto para ajudar, mas que há colegas em situação ainda pior, que vieram de outros Estados e estão sem dinheiro algum, sem passagem para voltar e que às vezes chegam a passar fome. É o caso de Marco Aurélio dos Santos Souza. Sua família está em Salvador e faz dois meses que ele não envia nada para a mulher e os filhos. "Ela está me ajudando com as contas lá na Bahia, mas ganha muito pouco. As coisas estão atrasando", diz.

Dono da Pousada do Trabalhador, Marcos Paulo Pires da Silva decidiu vender todos os móveis e eletrônicos para quitar dívidas

Ele relembra que tinha muitas expectativas quando começou a trabalhar no Comperj, e que atua no setor petroleiro há sete anos. "Foi tudo ilusão. Devido a todos esses escândalos e problemas, foi tudo por água abaixo. Nos largaram aqui abandonados. Temos que ir para a rua protestar, foi o que nos sobrou". Hermes Leal Barreto, que também integra o grupo de 2.500 funcionários desligados sem rescisão, diz que só não virou morador de rua porque o dono do alojamento permitiu que ele e outros colegas continuassem vivendo no local de graça. "Não tenho para onde ir. A gente está sem saber o que pode acontecer. Ninguém nos dá resposta, estamos à deriva", diz. Quanto à alimentação, Hermes diz que tem almoçado num restaurante popular, por R$ 1, ou dividido um quilo de feijão com colegas. "Para a noite eu guardo um pão", conta, apontando para um pedaço de pão seco sobre a cômoda do quarto.


47 Impacto local

Para os moradores de Itaboraí, há prejuízos e frustrações com a bonança que nunca chegou. Marcos Paulo Pires da Silva, dono da Pousada do Trabalhador, que servia como um dos alojamentos para os operários da Alumini e agora abriga cerca de 40 operários de graça, tem quase R$ 500 mil para receber da empresa.

Grandes empreendimentos no centro de Itaboraí estão às moscas; há 4 mil novas salas comerciais vazias na cidade

"Eu tinha três pousadas como essa. Duas foram desativadas, e estou vendendo tudo. Móveis, televisões, aparelhos de ar condicionado. Essa mantive, mas está com menos de 10% das 264 vagas ocupadas. Também demiti metade dos meus funcionários", diz. "Está difícil para qualquer negócio sobreviver aqui. Antigamente você tinha dificuldade para atravessar a avenida principal da cidade, de tanto movimento. Agora, pode ir de olhos fechados. A cidade está às moscas", acrescenta. Leia mais: PF lança nova fase da Lava Jato e leva tesoureiro do PT a depor Para o secretário de Desenvolvimento Econômico de Itaboraí, Luiz Fernando Guimarães, o município sofreu muito com os revezes em torno do Comperj. Ele diz que há no mínimo 4 mil salas comerciais vazias na cidade. "Foi injetada no cidadão daqui uma expectativa sem fim. Fora a sobrecarga em escolas, postos de saúde, hospitais, aumento da criminalidade. Há muita dificuldade para


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gerenciar esse alvoroço todo, que não cabe no nosso orçamento. A arrecadação também foi reduzida, e o diálogo com a Petrobras não é bom", conta. Impasse judicial

Consultadas pela BBC Brasil, tanto a Alumini quanto a Petrobras mantiveram as posições que vêm apresentando à Justiça do Trabalho. Diante da condenação de pagar R$ 14 milhões aos trabalhadores, a Alumini diz que não tem como pagar, pois está em recuperação judicial e teve suas contas bloqueadas. A razão, segundo a empresa, seria a recusa da Petrobras em pagar R$ 1,2 bilhão em aditivos relativos a serviços já executados, na Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, o que levou a companhia a pedir recuperação judicial. Posteriormente, o contrato foi rescindido, de forma unilateral, pela petroleira.

Uma das unidades do Comperj; com 45 km quadrados, obra tem tamanho equivalente a nove vezes os bairros do Leme e Copacabana

Já a Petrobras, em nota enviada à BBC, diz que "está em dia com suas obrigações contratuais e que os pagamentos de seus compromissos reconhecidos com as empresas contratadas foram realizados de acordo com a legislação vigente". Sobre a responsabilidade em honrar as dívidas das empresas contratadas, a Petrobras "esclarece que não é parte nas relações trabalhistas entre as empresas contratadas e seus funcionários, mas acompanha as negociações entre os trabalhadores e as empresas e espera um desfecho adequado para ambas as partes".


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Para o procurador do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro e autor da ação contra a Alumini e a Petrobras, Maurício Guimarães de Carvalho, a petroleira tem responsabilidade no caso. "A Petrobras é a dona do complexo, e quando estabelece uma relação contratual com as empresas, por ser a gestora desse contrato, ela tem que responder, sim, como a beneficiária final daquela atividade. A Petrobras tem responsabilidade, e sabe disso, mas está evitando o diálogo. Não apresenta contrapropostas, e não se senta à mesa de discussões, optando por recorrer às decisões judiciais". Para Carvalho, a ausência de diálogo tem intensificado a revolta dos trabalhadores, que na semana passada fecharam a ponte Rio-Niterói e que prometem intensificar os protestos no Rio até que uma decisão seja tomada. Na quinta-feira, no entanto, houve uma reunião entre a Petrobras e representantes dos trabalhadores. Segundo as lideranças do grupo, a petroleira reiterou que seguirá entrando com recursos até a última instância e que não reconhece a dívida como sua. Espera-se que tanto a Alumini quanto a Petrobras recorram, nesta sexta-feira, da decisão judicial de pagar R$ 14 milhões aos operários. Em resposta, 30 funcionários da Alumini já acamparam na noite de quinta para sextafeira diante da sede da Petrobras. Os trabalhadores não descartam protestos durante o Carnaval.

Estado é obrigado a dar medicamento a quem não pode pagar Os remédios com prescrição médica devem ser fornecidos até mesmo para quem é atendido por plano de saúde FONTE PORTAL TERRA 16 FEV2015 às 09h 01

Sai ano e entra ano, e as notícias com reclamações de falta de medicamentos, principalmente de uso excepcional, ressurgem. É uma luta de pessoas vítimas de várias doenças que precisam de determinados remédios para poder viver, mas que o Estado não consegue suprir com agilidade, ou por falta de recursos ou por má gestão administrativa mesmo. •

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Quem não consegue pagar por um medicamento prescrito, tem o direito de receber gratuitamente do Estado, afirma a advogada especialista em direto da Saúde, Renata Vilhena. Essa determinação está estabelecida por lei desde 1990. “Por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), o Estado deverá efetuar a entrega dos medicamentos, mediante prescrição médica. Mesmo os cidadãos atendidos por planos de saúde têm esse direito assegurado”, destaca Renata.

Medicamentos usados por pacientes crônicos ou portadores de patologias raras também devem ser distribuídos gratuitamente Foto: Marcos Santos / USP Imagens/ Fotos Públicas

Os principais medicamentos fornecidos pelo sistema público são aqueles incluídos na Relação Nacional de Medicamentos (Rename). Esta é uma lista nacional oficial de medicamentos considerados básicos. Se o médico prescrever um medicamento cujo nome não consta na Rename, primeiro é preciso verificar se não existe alternativa na própria Relação. O médico deve sempre privilegiar os remédios que fazem parte da Rename. “Se for indispensável ao tratamento, o médico tem autonomia de prescrever outro medicamento, desde que sua eficácia já tenha sido comprovada”, aponta a especialista. Muitos medicamentos de uso contínuo são caros e a sua disposição é feita em caráter excepcional, diferente dos medicamentos essenciais. Mesmo esses medicamentos,


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usados por pacientes crônicos ou portadores de patologias raras, devem ser distribuídos gratuitamente. O Programa de Medicamentos Excepcionais, do Ministério da Saúde, adquire ou transfere recursos para que os Estados forneçam esses medicamentos aos pacientes. “Devido ao seu custo maior, os medicamentos excepcionais são os que mais faltam na rede pública. Como consequência, mais e mais cidadãos recorrem ao Poder Judiciário para obter os remédios de que necessitam. E a Justiça, com base na Lei, geralmente tem garantido esse direito aos que solicitam”, orienta Renata. Laudo médico Na cartilha da Associação dos Familiares e Amigos dos portadores de Doenças Raras, muitos desses casos podem chegar as mais altas instâncias da Justiça. Mas há um entendimento que o fornecimento aos pacientes carentes é de responsabilidade do poder público. A cartilha orienta que o usuário deve ter um laudo médico que especifique claramente os medicamentos necessários, bem como o diagnóstico com o Código de Identificação de Doença (CID) e a justificativa do médico para a solicitação. O laudo médico de ser legível e assinado pelo médico, sempre com o carimbo, com o nome e o CRM do profissional.


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