SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS
26 à 27 DE MAIO DE 2016
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União vai pagar US$ 8,3 milhões de dívida que Rio deixou de pagar
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MARIANA CARNEIRO ENVIADA A BRASÍLIA 25/05/2016 às 21h 04
O governo federal vai honrar o pagamento de US$ 8,3 milhões de uma dívida contraída pelo Estado do Rio de Janeiro. Em crise financeira, o Estado informou que não pagará à Agência Francesa de Desenvolvimento a parcela que vence na próxima segunda-feira (30). A União é a fiadora dos empréstimos tomados por Estados e municípios. Consultado pelo Folha, o Tesouro informou que vai acionar as garantias, que no caso do Estado são parte das transferências que recebe da União.
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Eletrobras é proibida de aplicar recursos em hidrelétrica na Nicarágua Apu Gomes - 9.fev.2015/Folhapress
Usina hidrelétrica de Furnas, em Capitólio (MG)
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, DIMMI AMORA DE BRASÍLIA 25/05/2016 às 20h 05
O TCU (Tribunal de Contas da União) proibiu a Eletrobras, estatal do setor elétrico, de colocar mais recursos em empresas das quais ela é sócia para a construção de uma hidrelétrica na Nicarágua. A hidrelétrica de Tumarín geraria 223 MW e estava sendo construída em sociedade com a Construtora Queiroz Galvão. O custo do projeto era estimado em US$ 1,2 bilhão (R$ 4 bilhões). Em decisão do plenário do tribunal, a empresa ainda será obrigada a se explicar sobre 15 indícios de irregularidades apontados no relatório que incluem ainda a outro projeto, a construção da hidrelétrica de Inambari, no Peru, de 2,6 mil MW, e estimada em US$ 4,8 bilhões (R$ 18 bilhões). Parte da energia gerada viria para o Brasil, mas as obras ainda não foram iniciadas. No projeto nicaraguense, a Eletrobras já colocou US$ 38 milhões e estava autorizando o aporte de outros US$ 100 milhões. Para fazer a obra, os empreendedores contavam com um investimento de US$ 512 milhões do BNDES, dinheiro que nunca foi liberado. 3
Para o TCU, a Eletrobras assumiu riscos desvantajosos para ela no contrato, além de não garantir que as obras teriam preços compatíveis com o mercado.
Indicado para BC será sabatinado pelo Senado na próxima quarta Gabo Morales - 15.mar.2012/Folhapress
Economista Ilan Goldfajn é indicado a presidente do Banco Central
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MARIANA HAUBERT DE BRASÍLIA 25/05/2016 às 17h 39
Indicado para presidir o Banco Central pelo governo Temer, Ilan Goldajn será sabatinado pelo Senado na próxima quarta-feira (1º), o que viabilizará sua participação na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) - responsável por definir a taxa básica de juros (Selic), em junho. O senador Raimundo Lira (PMDB-PB), relator do caso na Comissão de Assuntos Econômicos, apresentará seu relatório, favorável à indicação, nesta sexta (27). O colegiado votará o parecer na próxima terça (31) quando realiza sua sessão ordinária. A sabatina será, então, realizada na quarta em uma sessão extraordinária, segundo informou a presidente do colegiado, Gleisi Hoffmann (PT-PR). A reunião do Copom acontece no dia 7 de junho.
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Apesar de fazer oposição ao governo do presidente interino Michel Temer e ser contra a política econômica adotada por ele, Gleisi afirmou que não pretende atrapalhar a indicação. "Não é meu objetivo complicar". Apesar disso, a senadora criticou a escolha de Temer para o posto porque Ilan é economistachefe do Banco Itaú. "[Sua ligação] claro que compromete. Ele não é só economista mas é também sócio do banco Itaú. Se exista quarentena na saída [de um cargo público], deveria ter na entrada também", disse. Após a sabatina, a comissão tem que aprovar a indicação de Ilan para o cargo. Uma nova votação será realizada no plenário da Casa, em que seu nome terá que ser aprovado por maioria absoluta - 41 senadores. A votação é secreta. ENCONTRO Nesta terça (24), o relator Lira encontrou-se com Goldfajn. Disse que foi apenas uma conversa de cortesia. "Disse que apresentarei um relatório positivo", afirmou. Goldfajn, por sua vez, não disse muito mais do que o senador. "Vim para uma visita de cortesia. Estou feliz. Espero ser sabatinado em um futuro próximo", disse. Aos 50 anos, o economista foi escolhido pelo presidente interino Michel Temer para comandar o Banco Central em sua gestão. À frente da pesquisa econômica do Itaú até então, Goldfajn volta ao BC pela segunda vez. Entre 2000 e 2003 comandou a poderosa diretoria de política econômica do banco. Primeiro com Armínio Fraga como chefe, depois com o mesmo Henrique Meirelles, com quem conviveu por sete meses no período de transição do governo FHC para Lula. Sua especialidade é política monetária, mas os economistas que o conhecem dizem que seus conhecimentos contemplam também a política fiscal, calcanhar de Aquiles da economia neste momento.
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Mutirão de empregos faz milhares esperarem horas em fila no Rio
Ricardo Dias, 33, espera conseguir um emprego para sair do abrigo onde vive
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, RONALD LINCOLN JR. COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO 25/05/2016 às 18h 28
A expectativa de conseguir uma vaga de trabalho levou milhares de pessoas a um mutirão de empregos realizado nesta quarta-feira (25) pelo Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis do Rio (Sescon-RJ), no Largo da Carioca, centro da cidade. O cadastro de trabalhadores começou às 9h, mas três horas antes já havia gente na fila, em busca de uma das 5.000 vagas de emprego prometidas pelos organizadores do mutirão. Eram pessoas como Ricardo Dias, 33, que mora em um abrigo da prefeitura na Central do Brasil. Ficou sabendo da oferta de vagas na própria Central e imediatamente se deslocou para o Largo da Carioca. Dias chegou à fila às 10h, vestindo camisa polo, calça jeans e chinelos, com todos os documentos no bolso. Seu último trabalho foi há quatro meses, como auxiliar de pedreiro. "Avisaram que aqui estava dando emprego e vim. Espero conseguir alguma coisa para eu poder alugar uma quitinete e sair do abrigo", disse à Folha. Roseana Oliveira, 43, chegou um pouco antes de Dias. Ela está há dois anos desempregada, fazendo "bicos". À procura de uma vaga de copeira, saiu da favela de Rio das Pedras, na zona oeste, às 7h para enfrentar a longa fila. Às 16h, ainda não tinha sido atendida. 6
"Tenho que arrumar logo alguma coisa, estou há dois anos desempregada, só fazendo faxina e passando roupa", contou. Até meio-dia, mais de 2.000 pessoas já haviam feito o cadastro. Entre elas, gente de municípios da Região Metropolitana e do interior do Estado, segundo o diretor do Sescon, Hélio Donin Junior. "A quantidade de pessoas superou a nossa expectativa. Até divulgamos o mutirão em nosso site, mas o grande fator [de atração] é a crise financeira, o alto índice de desemprego no país", afirmou. O cadastro no Largo da Carioca terminou nesta quarta-feira, mas ainda é possível concorrer às vagas se inscrevendo no banco de talentos do site do Sescon-RJ.
Arrocho é governo gastar mais do que pode, diz secretário FONTE ADRIANA FERNANDES E EDUARDO RODRIGUES - JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 25 Maio 2016 às 22h 53
Para Carlos Hamilton, é um equívoco se achar que o governo ter um orçamento equilibrado possa ser ruim BRASÍLIA - Na defesa da importância de o Congresso Nacional aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria um teto para as despesas primárias do governo, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Carlos Hamilton, rechaçou o rótulo de “arrocho fiscal” para as medidas anunciadas pela Fazenda. RELACIONADAS:
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“É um equívoco acreditar que o governo ter um orçamento equilibrado seja um arrocho. Arrocho mesmo, dureza mesmo, é o governo gastar mais do que pode, se endividar e aí termos hoje 11 milhões de desempregados, com dívida pública crescente. Isso que é duro”, afirmou, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real daAgência Estado.
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Gastos terão de caber em um envelope, diz Hamilton
No dia seguinte ao anúncio do pacote de medidas de ajuste fiscal, Hamilton disse que o setor público passou “uma temporada” gastando mais do que podia, o que contribuiu para o ciclo de dois anos consecutivos de recessão no Brasil. Para ele, se aprovada pelo Congresso, a PEC vai garantir que as despesas públicas passem a crescer mais lentamente. Ele comparou a situação fiscal brasileira à de um consumidor que precisa usar o cheque especial todos os meses, mas que ao fim do ano acaba com o “nome no SPC”. Envelope. De acordo com o secretário, a proposta do governo garante os pisos para a educação e a saúde, mas caberá ao Congresso definir como os outros gastos públicos poderão ser acomodados dentro do teto criado, comparado por ele a um “envelope”. “O Congresso, em aprovando a PEC, no fundo entenderá a ideia de que as despesas do Governo Central terão de caber dentro do envelope”, disse. Principal formulador da política econômica da equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Hamilton enfatizou não ser correto afirmar que a PEC está diminuindo os recursos para a Educação e Saúde, como tem sido dito pelos críticos da proposta. A aplicação mínima de recursos nas duas áreas terá como base o mínimo obrigatório usado em 2016. Este valor será anualmente elevado de acordo com a inflação do ano anterior. “O que é correto é afirmar que a PEC está garantindo que, em termos reais, os recursos para educação e saúde não vão diminuir”, reforçou. Segundo ele, caberá aos parlamentares distribuírem “o bolo” de despesas dentro dos limites do teto de gastos, nas rubricas definidas pela lei orçamentária de cada ano. “A distribuição de recursos vai continuar ocorrendo da maneira que o Congresso definir. Sempre foi desse jeito e é assim que funciona nas democracias”, afirmou. “Como os agentes políticos no Congresso vão distribuir esse bolo no orçamento é questão da democracia e das prioridades de cada momento”. “Eu entendo que nós tivemos um período prolongado em que o setor público gastou muito mais do que o que cabia no orçamento, nas receitas por assim dizer. Eu acredito que o que é caro mesmo, o que é duro mesmo é ter dois anos seguidos de queda de 4% do PIB, porque o setor público passou uma temporada gastando mais do que podia”, afirmou.
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Ciclo. O secretário previu que, aprovadas as reformas propostas pelo governo, o ciclo econômico brasileiro será muito mais suave, com variações menores nas taxas de desemprego. Ele citou ainda contas de analistas que mostrariam uma queda de 10% na renda per capita no País nos últimos dois anos.
Governo grego chega a acordo com credores FONTE ANDREI NETTO, CORRESPONDENTE - O ESTADO DE S.PAULO 25 Maio 2016 às 22h 19
Negociação ainda é condicional, mas prevê que as necessidades de financiamento bruto de Atenas não excederão 15% do PIB PARIS - O governo da Grécia e seus credores internacionais – União Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) – firmaram nesta quarta-feira, 25, em Bruxelas, as bases para um acordo de redução do peso da dívida do país, que chega a 183% do Produto Interno Bruto (PIB). A negociação ainda não foi anunciada em seus detalhes, mas estabelece que a partir de 2018 as necessidades de financiamento bruto de Atenas não excederão 15% em médio prazo. Para tanto, uma moratória e um reescalonamento devem ser acordados, mas sem um corte nominal do valor devido. RELACIONADAS:
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O entendimento foi o mais importante passo para o alívio da pressão financeira sobre a Grécia desde agosto de 2015, quando um terceiro plano de socorro no valor de € 86 bilhões foi anunciado para evitar a bancarrota do país e sua saída da zona do euro. Ontem, ministros de Finanças dos 19 países que adotam a moeda única atravessaram a madrugada para chegar a um entendimento sobre os próximos passos de Atenas.
População protestou mais uma vez contra as medidas de austeridade
O acordo foi possível depois que o governo radical de esquerda do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, foi obrigado a enviar ao Parlamento um novo pacote de medidas de austeridade com mais reformas da previdência, aceleração das privatizações, aumento dos impostos 9
indiretos e criação de um gatilho para corte de despesas públicas em caso de não cumprimento de metas fiscais. As medidas sofreram mais uma vez a oposição das ruas, com protestos na Praça Syntagma, no centro de Atenas, que não impediram a aprovação pelos deputados. Parcelas. UE, BCE e FMI apresentaram a “recompensa” pelas medidas de austeridade. Uma nova parcela de socorro financeiro, no valor de € 10,3 bilhões, será transferida para o governo grego – divididas em dois depósitos de € 7,5 bilhões e € 2,8 bilhões. O tópico mais importante, entretanto, diz respeito aos princípios da renegociação da dívida, uma condição exigida por Tsipras em troca do aperto das contas. Com o veto do governo da Alemanha, não foi possível anunciar um corte do valor bruto, mas o reescalonamento e mesmo uma moratória devem fazer parte do pacote de medidas. O princípio essencial é de que em médio prazo as necessidades de financiamento bruto da Grécia devem ser mantidas abaixo de 15%. Em longo prazo, esse porcentual poderá subir para 20%. As primeiras medidas de redução do peso da dívida entrarão em vigor em 2018 – quando o reembolso deveria ter início. O acerto foi comemorado pelo governo grego. “Temos razões para estarmos otimistas e para pensar que pode se tratar de um novo começo, que transformará o círculo vicioso grego de medidas de recessão-recessão em uma situação na qual os investidores verão o caminho livre para investir na Grécia”, afirmou o ministro de Finanças, Euclide Tsakalotos.
Rio atrasa pagamento a credor externo FONTE VINICIUS NEDER – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 25 Maio 2016 às 22h 01
Parcela de US$ 8 milhões referente a juros deveria ter sido depositada na segunda-feira para a Agência de Desenvolvimento Francesa RIO - Dois dias após o governo fluminense atrasar o pagamento dos juros de uma dívida de US$ 394 milhões com a Agência de Desenvolvimento Francesa, a agência de classificação de risco Fitch colocou as notas do Estado do Rio em observação negativa. A Fitch citou o atraso da parcela de US$ 8 milhões do pagamento da dívida, que venceu na segunda-feira. RELACIONADAS:
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Em nota, a agência informou que a decisão “reflete a rápida deterioração da posição de liquidez do Estado, que pode levar a novos atrasos no serviço de sua dívida”. “Esse evento é incompatível com os atuais ratings”, diz o relatório da Fitch.
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Francisco Dornelles defende carência de 12 meses no pagamento de juros da dívida com a União
A Secretaria de Estado de Fazenda do Rio reconheceu o atraso no pagamento da dívida. “Devido à absoluta escassez de recursos, estão ocorrendo atrasos nos pagamentos de serviços da dívida”, diz uma nota distribuída pela pasta. Em 2016, segundo a secretaria, o governo fluminense gastará no total R$ 10 bilhões com o pagamento de juros de dívidas, sendo 70% do total com a União e o restante com bancos públicos e organismos internacionais. O governo fluminense projeta um rombo de R$ 19 bilhões neste ano. Semana passada, o governador em exercício Francisco Dornelles – o governador Luiz Fernando Pezão está de licença médica, tratando um câncer – lançou a proposta, ao lado de colegas de outros Estados, de suspensão, por 12 meses, do pagamento dos juros das dívidas dos entes com a União. Perdas com a renegociação das dívidas dos Estados já foram incluídas na nova meta fiscal, anunciada sexta-feira passada pelo governo do presidente em exercício Michel Temer e aprovada ontem no Congresso. Segundo a Secretaria de Fazenda, o governo do Rio vinha fazendo o “pagamento pontual do serviço das suas dívidas”, mesmo diante da crise. “Lamentavelmente, a situação econômica do País e do Estado se agravou de tal forma nos últimos meses que tem inviabilizado, neste momento, o cumprimento dos compromissos financeiros”, disse, em nota. Representantes da agência francesa foram alertados, por técnicos da Secretaria de Fazenda, em reunião no último dia 10, de que a situação financeira do governo fluminense era grave e que, portanto, poderia haver o atraso, segundo uma fonte. Como a União é garantidora do empréstimo, o Tesouro Nacional assumirá o compromisso. Assim como os demais, o governo fluminense sofre com a combinação de gastos crescentes com pessoal, incluindo aposentados, e recessão econômica, que derruba as receitas tributárias. O agravante que faz o Rio ter uma das situações mais dramáticas são duas particularidades: do lado das receitas, a dependência dos royalties de petróleo; do lado das despesas, a dificuldade de cortar muito os investimentos públicos diante da urgência de entregar obras para a Olimpíada. Um levantamento recente do Ministério da Fazenda mostra que os Estados que mais ampliaram os gastos com pessoal entre 2009 e 2015 foram, nessa ordem, Rio de Janeiro (146,62%) e Santa Catarina (139,56%). O governo fluminense, que foi um dos que obtiveram medida cautelar contra a União, já teve até mesmo contas sequestradas pelo Tribunal de Justiça do Rio para o pagamento de março de servidores aposentados e pensionistas.
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Teto para gastos federais de Temer pode levar 8 anos para zerar deficit
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, GUSTAVO PATU DE BRASÍLIA 26/05/2016 às 02 h00
Simulações simples mostram que o teto para os gastos federais recém-proposto pelo governo Michel Temer pode eliminar o deficit do caixa do Tesouro em até oito anos sem alta de impostos. Pela regra defendida pela nova equipe econômica, a despesa total da União não subirá a taxas superiores à inflação do ano anterior procedimento que, a longo prazo, reequilibra o Orçamento. Afinal, com a recuperação da economia, as receitas tendem a crescer novamente acima da inflação, acompanhando o PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção e da renda do país). As simulações tomam como ponto de partida as estimativas oficiais para as receitas e despesas primárias (ou seja, excluindo o pagamento de juros da dívida) deste ano, que projetam um deficit de R$ 170,5 bilhões. No cenário menos otimista, considera-se que a atual proporção entre a receita e o PIB, de 17,4%, ficará estável nos próximos 20 anos. Já a despesa, hoje de 20,1%, cairá gradualmente como proporção do PIB, em razão do crescimento, ainda que modesto, da economia.
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Foram utilizadas as projeções de mercado para a expansão do PIB em 2017 (0,5%), 2018 (2%), 2019 (2%) e 2020 (2,3%, taxa repetida para os anos seguintes). Assim, o governo volta a ter superavit em 2024. Num cenário um pouco mais favorável, utiliza-se a partir de 2019, quando haverá um novo governo eleito, uma taxa de crescimento do PIB de 2,7% ao ano –equivalente à média apurada de 1995 a 2015. Com isso, o deficit é zerado um pouco mais rapidamente: em 2023. Com hipóteses mais otimistas, admite-se um crescimento de 1% em 2017 e de 3% ao ano a partir de 2018. Considera-se ainda que a receita retornará ao patamar de 18% do PIB, usual antes do início da recessão. Com isso, ela superará as despesas dentro de cinco anos, em 2021. CARGA TRIBUTÁRIA Como mostram os dados, mesmo que o Congresso aprove o limite para o gasto e as medidas necessárias para cumpri-lo, a necessidade de um aumento da carga tributária não estará afastada. Afinal, a dívida pública cresce de forma galopante, e o governo precisa fazer superavits mais rapidamente para conter essa escalada. A retomada do crescimento econômico e sua intensidade são, obviamente, cruciais para o sucesso da estratégia. Sem expansão do PIB, o teto é inócuo. Basta notar que, na atual conjuntura recessiva, despesas obrigatórias com educação e saúde, fixadas como parcelas da receita, já crescem abaixo da inflação. Se incluída de forma permanente na Constituição, como diz querer o governo, a medida produzirá, em duas décadas, superavits primários de proporções inauditas e, talvez, acima do necessário. No primeiro cenário, o superavit em 2036 passa dos 4% do PIB; no terceiro, se aproxima dos 7%. Como comparação, o programa Bolsa Família não chega a gastar 0,5% do PIB, e o maior superavit já contabilizado pelo governo federal foi de 2,5%, em 2004.AS MEDIDAS DE TEMER CORTES DE CARGOS COMISSIONADOS Proposta - 13.mai: cortar 4 mil vagas e até 75% das funções e cargos comissionados Objetivo: ajuste de despesas Andamento: Temer iniciou os cortes na segunda-feira (16) REFORMA DA PREVIDÊNCIA Proposta - 14.mai: fixar idade mínima de 65 anos para aposentadoria e, possivelmente, regra de transição para quem já está no mercado Objetivo: cortar gastos para rearranjar as contas públicas e não precisar de novos tributos Andamento: governo e centrais sindicais (menos CUT e CTB) estudam novas regras META FISCAL Proposta - 20.mai: obter aval para fechar o ano com deficit primário de R$ 170,5 bi 13
Objetivo: evitar novos cortes no Orçamento Andamento: aprovada pelo Congresso na quarta (25) DESPESAS PÚBLICAS Proposta - 24.mai: governo quer que despesas públicas só possam crescer na proporção da inflação do ano anterior Objetivo: reduzir gastos do governo, que, nas últimas décadas, vêm crescendo acima da inflação Obstáculos: governo precisa de uma emenda constitucional, que exige 3/5 dos votos no Congresso BLOQUEIO DE NOVOS SUBSÍDIOS Proposta - 24.mai: governo vai propor que não sejam ampliados repasses a 27 programas a não ser que haja uma compensação para tal despesa Objetivos: impede o aumento de gastos do governo Obstáculos: governo não detalhou como vai obter economia de R$ 2 bi com medida, por isso é difícil avaliar FIM DO FUNDO SOBERANO Proposta - 24.mai: Fundo foi criado para receber recursos da explo- ração do pré-sal. A previsão não se concretizou. ?O saldo atual é de R$ 2 bi Objetivos: dinheiro volta para o Tesouro, que, assim, não precisa endividar-se mais Obstáculos: governo estuda se há alguma restrição jurídica PAGAMENTOS DO BNDES Proposta - 24.mai: O banco de fomento pagará antecipadamente ao gover- no R$ 100 bi de dívida que tem com o Tesouro Objetivos: dinheiro volta para o Tesouro, que não precisa endividar-se mais para cobrir o rombo Obstáculos: governo? Estuda se há restrição jurídica, já que poderia se caracterizar como antecipação de receita com empresa ou banco público, proibida por lei
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Preços do petróleo superam US$ 50 o barril pela 1ª vez em quase 7 meses FONTE REUTERS 26/05/2016 às 10h 11
Marcelo Sayão/Efe
Preços do petróleo subiram acima de US$ 50 por barril nesta quinta-feira
Os preços do petróleo subiram acima de US$ 50 por barril nesta quinta-feira (26) pela primeira vez em quase sete meses, com sinais de abrandamento do excesso de oferta global que tem afetado o mercado há quase dois anos. As cotações do petróleo se recuperaram nas últimas semanas depois de uma série de interrupções na produção, principalmente devido a incêndios florestais no Canadá e a instabilidades na Nigéria e Líbia. Acima de US$ 50 o barril, o petróleo supera uma barreira psicológica que pode levar produtores, especialmente das empresas de xisto nos EUA, a reviver operações desativadas nos últimos anos. O petróleo Brent subia 0,84%, a US$ 50,16 por barril, às 9h58 (horário de Brasília). O petróleo dos Estados Unidos avançava 0,77%, a US$ 49,94 por barril, no mesmo horário.
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Governo Temer vai tirar indicados por Dilma dos conselhos de estatais FONTE TÂNIA MONTEIRO, VERA ROSA, ERICH DECAT – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 26 Maio 2016 às 09h 50
Segundo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, configuração atual pode gerar conflito de interesses e prejudicar tomada de decisão BRASÍLIA - O governo do presidente em exercício Michel Temer prepara uma grande reformulação nos conselhos de administração dos bancos públicos e das empresas estatais. Os conselhos instâncias em que são tomadas as decisões estratégicas das empresas têm em sua composição muitos representantes do governo da presidente afastada Dilma Rousseff. Em entrevista ao Estado, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, revelou que o objetivo é evitar “o conflito de interesses”. RELACIONADAS:
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Na visão do ministro, as pessoas que ocupam esses postos, indicadas pelo governo anterior, certamente contestarão as novas propostas administrativas, da mesma forma como fizeram durante a votação da revisão da meta fiscal, no Congresso, na madrugada de quarta-feira, quando ficou claro o clima de confronto e enfrentamento em relação às posições defendidas por Temer.
Sem substituições, Padilha diz que haverá um conflito de interesses nos conselhos das estatais
Padilha evitou usar o termo “devassa” para classificar a atuação do novo governo nas empresas estatais, no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal e em outros bancos públicos. “Essa palavra soa mal. Penso que tem de se fazer uma análise, uma auditoria”, disse, acrescentando que “a orientação do presidente Michel é que não haja caça às bruxas”. E emendou: “Nós não estamos procurando pessoas; estamos procurando solução do ponto de vista da gestão”. 16
O ministro não citou casos específicos nem nomes de conselheiros. Mas, uma busca em dados de empresas controladas pelo governo mostra ao menos sete integrantes do primeiro escalão da gestão Dilma: o ex-ministro Jaques Wagner (Casa Civil) e o assessor especial da Presidência Giles Azevedo, no conselho da hidrelétrica de Itaipu; os ex-ministros Luís Inácio Adams (Advocacia Geral da União) e Waldir Simão (Planejamento), ambos nos conselhos da Brasilprev e da Brasilcap, duas coligadas do Banco do Brasil; os ex-ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Edinho Silva, na BB Mafre, empresa de seguros do BB, e Miguel Rossetto (Trabalho), no BNDES. O ex-governador do Rio Grande do Sul Alceu Collares, Maurício Requião, filho do ex-governador do Paraná Roberto Requião, e Roberto Amaral, que ocupou o ministério de Ciência e Tecnologia no governo Lula, também integram o conselho de Itaipu. Pela Lei das Sociedades Anônimas (S/A), há três formas de retirar conselheiros de administração em empresas de capital aberto: fim do mandato (usualmente de dois anos, com possibilidade de prorrogação), renúncia ou destituição em assembleia geral de acionistas. Ao defender as mudanças nos Conselhos para se adequarem às novas orientações, o ministro Padilha explicou que irá buscar um alinhamento dos conselheiros. Para ele, a gestão do governo deve ser feita “com pessoas que queiram que a proposta seja adotada e não com quem a conteste diametralmente”. Em seguida, defende rapidez nessas mudanças. “Em tendo havido uma mudança no governo e uma mudança de orientação do governo, é obvio que estas substituições deveriam ter acontecido ontem”, afirmou. “Como não deu para acontecer ontem, de hoje em diante é obvio que têm de acontecer, porque senão teremos um conflito de interesses dentro do órgão, o que é inadmissível”. Ao ressaltar a necessidade de substituição dos conselheiros, Eliseu Padilha lembrou o enfrentamento que ficou claro entre o governo anterior e o novo, em todas as esferas. “Haja vista o debate que se estabeleceu ontem na Câmara dos Deputados. Se as pessoas que hoje estão nestes conselhos representam aquela posição que foi expressa no debate de ontem, dentro do Parlamento, é obvio que essas substituições já deveriam até ter sido feitas”, observou o ministro. Questionado sobre o risco de judicialização, já que a função de conselheiro tem mandato definido, Eliseu Padilha respondeu: “Não vou discutir direito adquirido de ninguém. Vou tomar as providências que entendo defender os interesses do Estado brasileiro. Se isso derivar em alguma demanda judicial, estamos preparados para enfrentá-la”. Recentemente foi aberto um questionamento jurídico em mudanças determinadas pelo governo na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Em meio a uma intervenção do Planalto, o presidente Ricardo Melo, eleito para o período de quatro anos pelo conselho da empresa, foi demitido. Melo, que havia sido empossado dois dias antes da saída de Dilma, está recorrendo ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro disse que não está definido ainda por qual conselho devem ser iniciadas as mudanças. Disse apenas que algumas já foram feitas e que outras virão. Procurada, a assessoria da presidente afastada Dilma Rousseff não comentou as declarações de Padilha. COLABOROU MURILO RODRIGUES ALVES
Leilão dos portos pode ser adiado pela terceira vez FONTE LU AIKO OTTA – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 26 Maio 2016 às 05h 01
Programa de concessões de Temer corre risco de estrear com um adiamento BRASÍLIA - Apontado como prioridade do governo de Michel Temer para a retomada do crescimento econômico, o programa de concessões corre o risco de estrear com um adiamento. O governo vai avaliar na próxima semana se mantém no dia 10 de junho o leilão de arrendamento de seis áreas portuárias no Pará.
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Concessões podem render R$ 110,4 bilhões Procura fraca adia leilão de portos Governo testa mercado com leilão de 6 áreas de portos
Segundo o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella Lessa, há risco de não aparecerem interessados para todas as áreas. Por essa mesma razão, esse leilão já foi remarcado duas vezes. “Estamos em dúvida se vamos para o risco ou se maturamos um pouco mais”, disse Quintella. Ele quer avaliar, inclusive, quais são as implicações de um leilão “vazio”. Por ora, o certame está mantido. Responsável por cerca de 70% da carteira de concessões em infraestrutura, ele informou que, como linha geral, o governo vai manter os processos que estão em andamento tal como estão. Mas tudo ainda será analisado no conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que ainda não está formalizado. Só com as primeiras discussões do PPA é que ficará claro como o governo vai colocar o programa de concessões em andamento. O próprio ministro comentou que falta definir o modelo do fundo garantidor de RS 500 milhões a ser formado com a venda de ativos da União. Também é preciso atrair bancos estrangeiros “para viabilizar as parcerias” e definir o papel BNDES. A indicação de nomes para as agências reguladoras também passará pelo conselho do PPI. “Elas devem ter o mínimo possível de interferência política”, disse Quintella. Ele ressaltou que a estabilidade regulatória é de “fundamental importância” para o sucesso das concessões. O ministro disse não ter “resistência alguma” à ideia de vender a participação da Infraero nos aeroportos já concedidos. O prejuízo próximo a RS 400 milhões registrado pela estatal no ano passado é fonte de preocupação do governo. O conselho do PPI também vai discutir o futuro da estatal, inclusive a ideia de abrir seu capital. Resultado da fusão do antigo Ministério dos Transportes com as secretarias de Portos e de Aviação Civil, a pasta chefiada por Quintella ainda carece de regulamentação. Por isso ele ainda não nomeou os novos secretários. O de Aviação já está definido: Dario Lopes, na cota do PR. O de Portos será uma indicação do PMDB. A estrutura que era dos Transportes está pleiteando um reforço orçamentário da ordem de R$ 4 bilhões para retomar os níveis de investimentos de 2015, que já foi um ano de aperto. Hoje, a pasta dispõe de R$ 5,8 bilhões, a maior parte já comprometida. Na ponta do lápis, resta perto de R$ 1 bilhão, o que mal dá para manter os contratos de conservação de rodovias.
Comércio lidera demissões e País fecha quase 63 mil empregos em abril FONTE RACHEL GAMARSKI E MARIA REGINA SILVA – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 25 Maio 2016 às 17h 28
De janeiro a abril, foram eliminados 378,5 mil postos de trabalho e, nos últimos doze meses, mais de 1,8 milhão de vagas O Brasil perdeu 62.844 mil vagas de emprego formal em abril. O resultado é melhor do que o verificado no mesmo mês do ano passado, mas nos quatro primeiros meses do ano o País já fechou 378.481 postos de trabalho, pior resultado para o período desde o início da série histórica, em 1992. RELACIONADA:
Desemprego na região metropolitana de São Paulo sobe para 16,8% em abril
O resultado para o mês ficou dentro das previsões do analistas do mercado financeiro. As expectativas de 22 instituições variavam de um corte entre 2 mil e 149,4 mil postos com
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carteira assinada. Com base neste intervalo de estimativas, a mediana era de fechamento de 51.500 vagas, sem ajuste sazonal. VEJA OS 10 ESTADOS QUE MAIS DEMITIRAM EM ABRIL
Canindé Soares/Divulgação10º - Rio Grande do Norte
O Rio Grande do Norte foi o décimo Estado que mais perdeu vagas de emprego formal em abril, com a eliminação de 2.652 postos de trabalho no período; no mês o Brasil fechou quase 63 mil vagas, com o comércio liderando em demissões (clique aqui e saiba mais) Um dos poucos setores que ainda contratam é a agricultura. Em abril, o setor agrícola abriu 8 mil postos de trabalho, enquanto a construção civil, importante termômetro econômico, perdeu 16 mil vagas de emprego formal. O setor de comércio ainda é o que mais demite no País em meio à crise econômica e ao fechamento de lojas. O segmento eliminou 30.507 mil vagas no mês passado. A indústria da transformação e a construção civil também demitiram mais de 10 mil trabalhadores com carteira assinada em abril. No cenário de demissões, o Nordeste é a região que mais perdeu postos de trabalho no mês passado. Em abril, a região fechou quase 26 mil vagas. Só o Centro-Oeste continua contratando. O centro do País abriu 4 mil vagas formais de trabalho no último mês. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de março são fruto de 1.258.970 admissões e 1.321.814 desligamentos e foram divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho, comandado pelo novo ministro Ronaldo Nogueira.
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Ministro defende venda de participação da Infraero em concessões FONTE LU AIKO OTTA - JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 25 Maio 2016 às 18h 44
O prejuízo da estatal, que chegou perto de RS 500 milhões no ano passado, é fonte de preocupação para o governo
Maurício Quintella, ministro dos Transportes RELACIONADA:
Concessões podem render R$ 110,4 bilhões
O ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella Lessa, disse nesta quarta-feira, 25, que "não tem resistência alguma" a que a Infraero venda sua participação nos grupos que administram os aeroportos concedidos à iniciativa privada, dos quais detém 49%. O prejuízo da estatal, que chegou perto de RS 500 milhões no ano passado, é fonte de preocupação para o governo. O modelo que será adotado para a estatal, que poderá incluir a abertura de seu capital, será discutida no conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) que, segundo espera, será formalizado nos próximos dias. O Conselho do PPI será presidido pelo presidente em exercício Michel Temer e terá em sua composição os ministros da Casa Civil, Fazenda, Transportes, Portos e Aviação Civil, Meio Ambiente e BNDES. A própria estrutura da pasta chefiada por Lessa ainda não foi formalizada, por isso os secretários de Aviação e Portos ainda não foram nomeados. Para a primeira, foi escolhido Dario Lopes, na cota do PR. O titular da secretaria de Portos não está definido. Será uma indicação do PMDB. Agências reguladoras. As indicações de nomes para as agências reguladoras devem ter "o mínimo possível de interferência política", disse Quintella. Ele comentou que o tom dessas escolhas será dado pelo presidente em exercício, Michel Temer, mas ressaltou a importância de uma certa blindagem, para garantir a estabilidade de regras. Isso, disse o ministro, é de "fundamental importância" para o sucesso dos leilões de concessão em infraestrutura. 20
Taxa de juros do cheque especial é a maior desde 1994 FONTE BERNARDO CARAM - JORNAL O ESTADO DE S. PAULO 25 Maio 2016 às 12h 33
Taxa da modalidade cresceu quase 8 pontos porcentuais e atingiu 308,7% ao ano, segundo o Banco Central
A taxa de juros do cheque especial subiu para 308,7% ao ano em abril, o maior valor desde 1994, segundo dados do Banco Central. O dado representa um avanço de quase 8 pontos porcentuais em relação à taxa de março deste ano. O juro do cheque especial só não é maior do que o do rotativo do cartão de crédito, que é a taxa mais alta entre todas as avaliadas pelo BC. Atingiu a marca de 448,6% ao ano em abril ante 449,4% de março, uma ligeira redução de 0,8 pontos porcentuais na margem. Já a taxa média de juros no crédito livre subiu de 51% ao ano em março para 52% ao ano em abri. Em abril de 2015, essa taxa estava em 41,8% ao ano. Para pessoa física, a taxa média de juros no crédito livre passou de 69,2% ao ano para 70,8% ao ano, de março para abril, enquanto a para pessoa jurídica permaneceu estável em 31,1% no mesmo período. Para o crédito pessoal, aumentou de 53% ao ano para 54% ao ano. Para veículos, os juros caíram de 27% ao ano para 26,8% ao ano de março para abril. Em abril de 2015, estava em 24,6%. Em 12 meses, a taxa apresenta alta de 2,2 pp e, no quadrimestre, de 0,8 pp. A taxa média de juros no crédito total, que inclui também as operações direcionadas, acelerou de 32,0% ao ano em março para 32,4% ao ano em abril. No quarto mês de 2015 estava em 26,5%. O juro médio do crédito direcionado passou de 10,9% ao ano para 10,7% ao ano na margem. Inadimplência. A taxa de inadimplência no crédito livre ficou em 5,7% em abril, ante 5,6% em março. Em abril de 2015, a taxa estava em 4,6%. Para pessoa física, a taxa de inadimplência ficou mantida em 6,2% na comparação mensal. Para as empresas, subiu de 4,9% para 5,1% de um mês para o outro. A inadimplência do crédito direcionado avançou de 1,5% em março para 1,7% em abril. O dado que considera crédito livre mais direcionado mostra inadimplência de 3,7% em abril, ante 3,5% em março. Um ano antes, a taxa estava em 3,0%. No crédito livre para pessoa física, a inadimplência no crédito pessoal passou de 4,3% em março para 4,5% em abril. Em abril de 2015 estava em 3,7%. No cheque especial, o volume de calotes caiu. Estava em 15,3% em março e atingiu 14,4% em abril. 21
No caso de aquisição de veículos, o volume de calote caiu de 4,8% em março para 4,5% em abril. No encerramento de 2015, estava em 4,2%. Já no cartão de crédito, avançou de 8,1% para 8,3% de março para abril.
Arrecadação com repatriação está longe do previsto, diz ministro FONTE TÂNIA MONTEIRO E ERICH DECAT E VERA ROSA - JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 25 Maio 2016 às 18h 46
Eliseu Padilha não descarta alteração na Lei de Repatriação e afirmou que ministro da Fazenda propõe debate sobre flexibilização BRASÍLIA - Apesar de destacar que "ainda não está em estudo", o ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, não descarta uma eventual alteração na legislação sobre a repatriação de recursos mantidos no exterior. "A arrecadação (com repatriação) está muito longe do previsto. O que já se constatou, e o ministro (da Fazenda, Henrique) Meireles fez esta referência, que estava muito longe (do volume projetado)", disse Padilha ao Estado. RELACIONADAS:
Secretário da Fazenda nega mudanças Celso Ming: Repatriação de recursos Barbosa rebate Meirelles sobre contas públicas
Segundo o ministro, resolvida a questão da meta fiscal, com a aprovação em votação simbólica no Congresso esta madrugada, o próximo passo é a negociação da dívida dos Estados. "Mas, pari passo, ao lado disso, o ministro Meireles tem a necessidade de aumentar a arrecadação e a repatriação era uma das alternativas com boa previsão, que não está sendo materializada. Então, possivelmente o governo faça uma avaliação para que se busque, primeiro, as causas pelas quais não está havendo o correspondente repatriamento. E, segundo, adotar medidas que, se possível for, do ponto de vista legal e ético, porque aí sempre tem uma interrogação na origem destes capitais, a gente possa então facilitar que se traga estes recursos", afirmou Padilha.
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O ministro da Casa Civil Eliseu Padilha
Ele comentou que a proposta de Meireles é de primeiro fazer um debate sobre a flexibilização da lei de repatriação, "com pessoas que têm manifestado profissionalmente o desinteresse ou desaconselhado que se adote este recurso". "A gente quer buscar neles o convencimento, neste momento. E, à medida que não se logre o convencimento, ver quais os temas que foram óbices, empecilhos, para a gente ter um aumento na arrecadação, se é que é possível. Não sabemos quanto tem lá fora. Não posso fazer este tipo de previsão." Rombo nas contas. Sobre a divulgação da "herança maldita" que a administração Michel Temer encontrou nos diversos órgãos públicos, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, reiterou que "a intenção do governo não é fazer caça às bruxas. Não é do perfil do presidente Michel e nem de governo comandado por ele. Também não faz parte do perfil do presidente Michel que se deixe tudo sem a gente procurar corrigir. Temos de ver onde houve desvio, se é que houve, onde houve desmando, descuido, contratações que possam ser comprometedoras para os órgãos que, por óbvio isso, terá de ser revisto porque, se estamos pensando em gestão, em fazer mais mais com menos, não dá pra continuar com os mesmos gastos que temos". E avisou: "Vamos fazer auditorias. Se encontrarmos algo que seja censurável, vamos corrigir, até para não sermos acusados de coautoria". Ao ser questionado se o PT quebrou o País já que deixou um rombo de R$ 170 bilhões nas contas públicas, Eliseu Padilha disse que "o Brasil é tão grande que é quase impossível quebrar o Brasil porque, antes que isso aconteça, a sociedade reage e foi o caso, a sociedade reagiu antes de quebrar". Ressalvou, no entanto, que o País está "em uma situação muito complicada". Em seguida, Padilha citou o potencial que o Brasil mas que, depois de quatro gestões do PT, "nós acabamos levando o País a esta condição que nos encontramos hoje que estamos gastando muito mais do que produzimos". Para o ministro, "o pior" é a nossa situação nos BRICS, grupo que reúne Brasil, Rússia, China e África do Sul. "A China, com os investimentos em educação, ciência e tecnologia, eles converteram seu povo, que era mão de obra barata, e agora eles têm produtos com alta tecnologia agregada competindo com os Estados Unidos e Japão em determinadas áreas. No caso da Índia, a projeção é que até 2050 venha a ser o país 23
que tenha o melhor desempenho na economia no mundo. Nós perdemos esse tempo todo e não fizemos investimentos nas áreas de educação, a ciência e tecnologia, que são indispensáveis em um país em desenvolvimento", comentou ele, ao citar que temos enfrentado dificuldade na retomada de participação em um mercado globalizado com produtos de alto valor agregado. Para ele, o resultado disso é que 90% das nossas exportações são de produtos in natura, sem nenhum valor agregado.
Paraguai pede reunião de emergência do Mercosul para tratar de Venezuela FONTE REUTERS, EM ASSUNÇÃO 26/05/2016 às 17h 35
O governo do Paraguai pediu que seja convocada uma reunião de emergência dos chanceleres do Mercosul para analisar a situação da Venezuela à luz do protocolo de compromisso democrático do bloco, afirmou nesta quinta-feira (26) o ministro das Relações Exteriores do país, Eladio Loizaga. O pedido foi levado ao governo uruguaio, que neste momento ocupa a presidência protempore do bloco —e que deve ser substituído pela própria Venezuela a partir de julho deste ano, dificultando qualquer decisão sobre o país. Não há ainda uma resposta. Carlos Garcia Rawlins-25.mai.16/Reuters
Venezuelanos protestam contra Judiciário em Caracas
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"É uma decisão já levada ao governo uruguaio. Terá que ser levada agora aos demais ministros das relações exteriores para que se defina uma data", afirmou Loizaga a jornalistas. "Existe um processo estabelecido no Protocolo de Ushuaia e isso garante que o Mercosul tome uma posição. O Paraguai tem sido muito claro nas posições que têm assumido e este é um passo importante. O presidente (Horacio Cartes) nos deu instruções precisas para fazer essa convocatória", acrescentou. O chamado Protocolo de Ushuaia inclui uma cláusula que determina a suspensão de um país membro em caso de ruptura democrática. Apesar da deterioração da situação política na Venezuela, a possibilidade de suspensão do país não havia sido analisada, em grande parte em função do então alinhamento político da Argentina e do Brasil com o governo de Nicolás Maduro. As mudanças de governo nos dois países e o afastamento de Tabaré Vázquez, do Uruguai, pode abrir caminho para uma suspensão da Venezuela. Consultado pela Reuters, o Itamaraty informou não ter ainda posição sobre o pedido paraguaio. A tensão política na Venezuela tem crescido nas últimas semanas, acelerada pela crise social e econômica. A oposição pediu a abertura do referendo revogatório, que pode suspender o mandato de Maduro e convocar novas eleições -previsto na constituição venezuelana quando o presidente alcança a metade do mandato mas o governo venezuelano se recusa a convocar o referendo. A Chancelaria paraguaia se pronunciou recentemente a favor de uma iniciativa regional para prevenir ações contra os direitos humanos na Venezuela, levando em consideração uma declaração especial adotada pelo Mercosul em sua última reunião, em dezembro passado. Os chanceleres de Chile, Argentina e Uruguai fizeram na semana passada um chamado ao diálogo entre o governo venezuelano e a oposição do país para que se encontrasse uma solução pacífica para a crise. Por Daniela Desantis. Reportagem adicional por Lisandra Paraguassu, Brasília
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Mesmo que pacote passe, governo prevê déficit de R$ 66 bi em 2017 Caso medidas não sejam aprovadas no Congresso, rombo pode ultrapassar R$ 100 bi FONTE O GLOBO GABRIELA VALENTE, GERALDA DOCA, BÁRBARA NASCIMENTO E RENNAN SETTI 26/05/2016 ÀS 11H 04
O presidente interino Michel Temer - Agência O Globo
BRASÍLIA e RIO - O pacote de controle de despesas, anunciado anteontem pelo governo, não evitará um novo rombo das contas públicas no ano que vem. O governo trabalha com um déficit superior a R$ 100 bilhões (1,5% do Produto Interno Bruto) se as medidas não forem aprovadas no Congresso, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO. Com isso, seria o quarto ano consecutivo de rombo. O momento político, porém, dificulta o processo. Por causa da interinidade do presidente Michel Temer, nenhum projeto polêmico será colocado em votação pelo governo antes da apreciação final do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Se o pacote tiver aval do Legislativo, o déficit cairia para R$ 66 bilhões no ano que vem, pelo cálculo de especialistas.
AJUSTE DA PRÓXIMA LDO SUBSÍDIOS, UMA ‘FRUTA NO ALCANCE DA MÃO’ ALÉM DO PACOTE, MEDIDAS DE ESTÍMULO
AJUSTE DA PRÓXIMA LD0
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O presidente em exercício Michel Temer, ao lado do do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles Givaldo Barbosa / Agência O Globo
— Sobre a meta de 2017, ainda estamos começando a revisão dos números, mas, se não houver aprovação de nenhuma medida, pode ser isso mesmo. Um déficit em torno de 100 bilhões confidenciou um ministro de Estado. O próximo passo é ajustar a proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o ano que vem, em tramitação no Congresso. No projeto, o Executivo se compromete a cumprir uma meta de superávit primário (receitas menos despesas) de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 com base no crescimento da economia de 1% o que, ao que tudo indica, não será concretizado. — Vamos ajustar a LDO de 2017, porque estamos trabalhando com números realistas. Não vamos apresentar um resultado milagroso no ano que vem — disse ao GLOBO o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR), que retornou ao Congresso, mas continua trabalhando nos bastidores com a equipe econômica.
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SUBSÍDIOS, UMA ‘FRUTA NO ALCANCE DA MÃO’
- Andrew Harrer / Bloomberg Se as medidas forem aprovadas, o déficit poderia cair para 1% do PIB, nas contas do diretor de Pesquisas do Bradesco, Octavio de Barros. Isso representaria algo perto de R$ 67 bilhões pelos cálculos atuais. Para ele, a aprovação das medidas traz uma melhora marginal das contas públicas no primeiro ano, mas, ao longo dos próximos anos, a economia seria muito importante. Barros calcula que o governo poderia fazer superávits relevantes a partir de 2020, de mais de 1,5% do PIB. — Acredito que boa parte dos agentes já se deu conta de que o custo de ajuste fiscal é elevado, e que superávits não serão registrados a curto prazo — resumiu o analista. Veja também:
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Perguntado sobre o tamanho do ajuste necessário para estabilizar a dívida pública, ele calcula algo próximo a uma economia de 5% do PIB. Rafael Bistafa, economista da consultoria Rosenberg, também afirma que as medidas não reduzem o buraco fiscal a curto prazo, além de faltarem detalhes importantes para serem consideradas uma solução de longo prazo. A consultoria previa que, na melhor das hipóteses, o governo conseguiria um déficit primário equivalente a 1% do PIB em 2017, ou rombo de R$ 65 bilhões, considerando o setor público consolidado. Como medidas relevantes de impacto fiscal imediato ainda não foram anunciadas, a Rosenberg está revisando o número para um rombo pior. — Essa projeção de déficit de 1% embutia uma expectativa nossa de que algumas medidas de impacto no curto prazo fossem tomadas. Mas elas não vieram. Na nossa avaliação, esse governo está muito mais lento do que se previa na proposição de cortes de gastos. Entregamos o benefício da dúvida para esse governo, mas ele tem que entregar resultados — afirmou Bistafa. Ele citou como “uma das frutas mais ao alcance da mão” da equipe econômica a reversão das desonerações, cujos “custos são gigantes, e os benefícios, duvidosos”. Considerando-se apenas a desoneração da folha de pagamento, o custo fiscal foi de R$ 25,5 bilhões em 2015, segundo o economista. Mesmo com mudanças promovidas pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, esse benefício tributário já custou R$ 5,7 bilhões aos cofres públicos entre janeiro e março deste ano. O governo deve esperar até o último momento para enviar ao Congresso a meta fiscal de 2017. A decisão de mandar o projeto perto do fim de agosto foi tomada para fazer uma leitura melhor do cenário e do impacto político que terá um novo déficit.
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— Sobre a questão de ter quatro anos de déficit, o que importa é termos uma gestão que demonstre que a dívida se estabilizará em um prazo razoável. Temos que ter consciência de que não é possível fazer um ajuste de 2,7% do PIB em meio à recessão justificou um técnico. Em relação aos subsídios do crédito para empresários, o governo está comprometido em não criar ou aumentar subvenções. Essa fonte disse que boa parte dos subsídios foi revista. A proposta da LDO de 2017 foi enviada ao Congresso pela equipe de Dilma Rousseff em abril. Servirá como base para a elaboração do Orçamento do próximo ano, que precisa ser encaminhado ao Legislativo em agosto. A LDO de 2016 também precisou ser alterada para acomodar o déficit de R$ 170,5 bilhões. ALÉM DO PACOTE, MEDIDAS DE ESTÍMULO
O ministro da fazenda Henrique Merelles (microfone), entre o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (esq.), e do ministro interino do Ministério do Planejamento, Dyogo Oliveira (dir.), e o ministro-chefe do Governo, Geddel Vieira Lima durante coletiva sobre apresentação das medidas econômicas Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Além do pacote fiscal, Jucá disse que o governo trabalha em medidas de estímulo à economia, que deverão incluir concessões e abertura de capital de estatais. A orientação de Temer é evitar aumento de impostos e focar em ações para estimular a retomada dos investimentos privados, diante do engessamento do Orçamento da União. Bistafa, da Rosenberg, acredita que, em algum momento, o governo terá de colocar na mesa um aumento de impostos ou uma reforma tributária. Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional, disse que, para que o país ficasse no azul em 2017, seria necessário um forte aumento nos impostos: algo como 1 ponto percentual a mais na carga tributária. Para ele, essa não é a opção do governo, que quer uma recuperação gradual das contas públicas para não sacrificar a economia. Como opções para melhorar o cenário fiscal, Kawall cita o pagamento das dívidas do BNDES com o Tesouro, concessões e privatizações. 31
— Não dá para fazer análise só pensando em superávit ou déficit primário. O que importa é a trajetória da dívida pública ressaltou Kawall. Mas Bistafa afirma que, mesmo que o ajuste fiscal seja ampliado para 5% do PIB, ele não será capaz de reduzir o nível de endividamento do governo. A Rosenberg prevê que, mesmo que o governo consiga atingir um superávit de 2,5% do PIB daqui a cinco anos, a dívida bruta será equivalente a algo entre 85% e 90% do PIB, nível considerado perigoso para países com mesmo perfil do Brasil. Em 2015, ela foi de 66,5%, e, para este ano, a expectativa é atingir 74,5% do PIB. — Para chegarmos, de fato, a reduzir a relação entre a dívida e o PIB, seria necessário fazer um superávit muito grande. Para os próximos anos, mesmo que toda a lição de casa seja feita, a ideia é estabilizá-la para que ela pare de crescer disse Bistafa. A curto prazo, um ponto da proposta que também preocupa diz respeito ao limite para o crescimento das despesas. Bistafa argumentou que, se a regra começar a valer em 2017, o governo não conseguirá cumprir a promessa de aumento real zero. “Supondo que a inflação termine este ano em 7%, as despesas de 2017 crescerão 7% em termos nominais. Entretanto, caso nossa projeção de inflação de 2017 (5,5%) se concretize, ao fim de 2017 não teremos um crescimento real zero da despesa como tem se falado, mas sim um crescimento real ao redor de quase 1,5%”, escreveu ele e outros economistas da Rosenberg em relatório. — Isso é insuficiente. O crescimento real zero das despesas só se daria em cenário de inflação estável. O problema é que existem despesas obrigatórias que crescem de maneira inercial.
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Pedidos de seguro-desemprego nos EUA caem mais que o esperado Mercado de trabalho continua saudável e a economia recupera força FONTE REUTERS 26/05/2016 ÀS14H 03
Americanos preenchem ficha de emprego - Luke Sharrett / Bloomberg
WASHINGTON - O número de americanos pedindo seguro-desemprego caiu mais que o esperado na semana passada, enquanto o mercado de trabalho continua saudável e a economia recupera força após cambalear no primeiro trimestre. Veja também:
Fed de St. Louis: mercado tem diagnóstico melhor sobre juros
Vendas pendentes de casas usadas nos EUA no maior nível desde 2006
Os pedidos iniciais de seguro-desemprego caíram em 10 mil, para 268 mil (ajustados sazonalmente), na semana que terminou em 21 de maio, informou na quinta-feira o Departamento do Trabalho. Pedidos para a semana anterior não foram revisados. Economistas consultados pela Reuters previam que os pedidos recuariam para 275 mil. Os pedidos de seguro-desemprego estão abaixo de 300 mil, um nível associado a condições de mercado de trabalho saudável, há 64 semanas consecutivas, período mais longo desde 1973.
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Quase 3 milhões já ficam sem seguro-desemprego neste ano no Brasil Marcos Santos/USP Imagens
À medida que o desemprego avança, piora a situação dos que perdem o direito ao benefício pago
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, JOANA CUNHA e FELIPE MAIA DE SÃO PAULO 27/05/2016 às 02h 00
Mariana Tassi Barbosa, 28, recebeu neste mês a última parcela do seguro-desemprego. A analista de mídias sociais, que está sem trabalho há oito meses, vinha usando o benefício para pagar prestações do apartamento que comprou com o noivo. "Estou quase aceitando ganhar menos do que antes", diz ela, que achava que já estaria empregada a esta hora. À medida que o desemprego avança, piora a situação dos que perdem o direito ao benefício pago pelo governo, válido por até cinco meses (veja quadro). Além de Barbosa, outras 542,4 mil pessoas receberam a última parcela do benefício neste mês. Desde o começo do ano, já foram 2,862 milhões, número 8% superior ao do mesmo período de 2015 (2,650 milhões), segundo o Ministério do Trabalho. 34
Ao mesmo tempo, fica mais difícil conseguir uma recolocação num momento em que a economia brasileira está fechando vagas em proporção maior que abrindo novas. Em abril, pelo 13º mês seguido, o mercado de trabalho formal encerrou 62.844 postos de trabalho. Foto:Diego Padgurschi /Folhapress
Mariana Tassi trabalha com redes sociais e está fora do mercado há 7 meses
ESPERA RECORDE De acordo com o IBGE, 30,9% dos desocupados nas seis principais regiões metropolitanas do país em fevereiro estavam fora do mercado de trabalho havia mais de seis meses. Trata-se do maior índice para o mês desde 2006. O seguro, com valor máximo de R$ 1.542, é em geral usado para despesas mais básicas, como as de alimentação e remédios. "Ele já é usado no básico. Quando acaba, nem isso eu consigo manter. Carro e geladeira dá para postergar. Arroz, feijão e remédio, não dá", afirma Fabio Pina, assessor econômico da FecomercioSP. Entre os profissionais entrevistados pela Folha, vários demonstraram surpresa pela duração do desemprego: mesmo com a crise, não achavam que levariam tanto tempo para se recolocar.
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"Não imaginava que ia ser tão difícil. Minha área não é tão concorrida", diz a técnica em biblioteconomia Aline da Silva, 26, desempregada há quase dez meses e ainda recebendo o seguro-desemprego, que representa metade do que ganhava antes. Filipe Campoi/Editoria de Arte
A técnica já fez ajustes nas contas: a filha de um ano e oito meses foi para uma creche pública, por exemplo. Ela desistiu de procurar vaga formal: está assessorando o cunhado, que tem um grupo de corrida, e vendendo almofadas personalizadas. CICLO EM PROGRESSO Para Pina, é difícil afirmar com precisão em que etapa do ciclo de desemprego o país está hoje. O número de beneficiários do seguro ainda pode variar muito conforme a evolução das demissões, das mudanças dos requisitos adotados para a concessão e do próprio caixa do governo. A tendência, entretanto, é que os profissionais fiquem mais tempo fora do mercado. As seleções estão demorando mais –as empresas têm mais opções e, ao mesmo tempo, mais receio de errar na contratação. "Tenho executivos que estão há quatro, cinco meses, em um mesmo processo seletivo", diz Claudia Monari, diretora de outplacement da consultoria Career Center, especializada em recolocação. Katia Beltrão é formada em economia, tem pós-graduação em marketing e trabalha há mais de 20 anos na indústria farmacêutica. Há sete meses, foi demitida de um cargo de diretoria e, apesar de ter um bom planejamento financeiro, teve de reduzir o nível de consumo. Foto: Zanone Fraissat/Folhapress
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Katia Beltrao era diretora de marketing de uma empresa farmaceutica e está fora do mercado
"Você elimina as despesas supérfluas, a academia fora do prédio, reduz o pacote de pacote de telefone, a frequência a restaurantes", conta ela. Beltrão tem consciência de que, para o seu nível hierárquico, a espera tende a ser maior. "Quando você vai contratar um diretor, há várias etapas, entrevistas. Até falar com todo mundo, é normal que demore um pouco mais." Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, afirma que ficar desempregado por até seis meses é normal, mesmo em épocas de crescimento econômico. Porém os motivos são distintos: na bonança, é mais comum que a rotatividade seja causada por uma busca de melhores oportunidades. Agora, trata-se de necessidade. Monari, da Career Center, diz que, durante seleções, os candidatos devem "criar uma narrativa" a respeito do que estão fazendo no período de desemprego e como estão se atualizando –cursos on-line gratuitos, ações para aumentar a rede de contato etc. "Aos olhos dos recrutadores, não é grave ficar mais tempo fora do mercado em um momento de crise. O problema é quando o mercado está favorável e a pessoa não consegue se recolocar." -
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CONHEÇA O SEGURO DESEMPREGO quinta-feira, 26 de maio de 2016 20:16 FAIXAS DE VALORES Minimo de R$ 880,00 Máximo de R$ 1.542,24 NÚMERO DE PARCELAS de 3 a 5 - a depender se é a primeira solicitação do benefício e do tempo de trabalho no emprego PRAZOS PARA SOLICITAÇÃO Do 7º ao 120º dia - a depender de qual trabalho é exercido ONDE SOLICITAR Nas Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego (SRTE), no Sistema Nacional de Emprego (SINE), agências credenciadas da Caixa e outros postos credenciados pelo MTE DOCUMENTOS NECESSÁRIOS -Comunicação de Dispensa - CD (via marrom) e Requerimento do Seguro -Desemprego - SD (via verde) -Termo de rescisão do Contrato de Trabalho - acompanhado do Termo de Quitação de Rescisão do Contrato de Trabalho ou do Termo de Homologação de Rescisão -Carteira de Trabalho -Carteira de Identidade ou Certidão de Nascimento ou CNH ou Passaporte ou Certificado de Reservista -Comprovante de inscrição no PIS/PASEP -Documento de levantamento dos depósitos no FGTS ou extrato comprobatório - CPF - Comprovante dos 2 últimos contracheques ou recibos de pagamento para o trabalhador formal QUEM TEM DIREITO -Trabalhador formal e doméstico, em virtude da dispensa sem justa causa -Trabalhador formal com contrato de trabalho suspenso em virtude de participação em curso ou programa de qualificação profissional oferecido pelo empregador -Pescador profissional durante o período do defeso -Trabalhador resgatado da condição semelhante à de escravo CONDIÇÕES 1- ter recebido salários em: a) pelo menos 12 meses nos últimos 18 meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando na primeira solicitação b) pelo menos nove meses nos últimos 12 meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando na segunda solicitação c) cada um dos seis meses imediatamente anteriores à data de dispensa, quando nas demais solicitações 2-O trabalhador não pode receber outra remuneração oriunda de vínculo empregatício formal ou informal 38
3- Não estar recebendo qualquer benefício previdenciário, com exceção da pensão por morte e auxílio-acidente
Paulistas terão reajuste na conta de gás a partir da próxima terça (31) Vinicius Pereira - 03.jul.2012/Folhapress
Conta de gás sofrerá reajuste a partir de terça-feira FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, 26/05/2016 às 17h34
A conta de gás de moradores do Estado de São Paulo sofrerá reajuste a partir de terça-feira (31), após aprovação das novas tarifas pela Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo), publicadas no Diário Oficial desta quinta-feira (26). Para clientes residenciais da Comgás (Companhia de Gás de São Paulo) que consomem menos de 10 metros cúbicos por mês, a conta subirá. Para os demais, o gasto será menor. Atualmente, esses consumidores pagam uma tarifa fixa de R$ 7,39 (sem ICMS) por mês e um valor variável sobre o gasto, medido pela quantidade de metros cúbicos utilizada. A tarifa fixa vai subir para R$ 8,11, e a faixa variável passa a ser de R$ 2,48 a R$ 4,85 sem ICMS. Aposentados que tenham consumo mensal de até 7 metros cúbicos pagarão tarifa de R$ 3,70, sem precisar desembolsar o valor fixo. Em 2015, o reajuste médio do gás para residências foi de 6,25%. MAIS BARATO 39
Os demais segmentos atendidos pela Comgás devem ter redução na conta mensal. Como a tarifa básica teve aumento de R$ 0,72, para pagar menos o consumidor tem que ter uma redução na parte variável da tarifa superior a esses mesmos R$ 0,72. Esse impacto varia bastante de faixa para faixa. Para quem consome até 3,477 metros cúbicos por mês, a conta ficará mais alta, porque houve aumento também da parte variável. O mesmo vale para o consumidor que fica entre 14,01 e 600. Isso porque, embora o valor variável tenha caído R$ 0,015 na faixa de vai de 14,01 a 34, a economia na parcela variável da conta será de no máximo R$ 0,51, o que não compensa a elevação da tarifa básica. Na faixa que vai de 7,01 a 14, ganham os que consomem de 12,414 a 14; os que ficam entre 7,01 e 12,413 vão pagar mais caro, pelo mesmo motivo: a economia gerada pela parte variável não chega aos R$ 0,72 da elevação da taxa básica. Já quem consome acima de 600 metros cúbicos terá redução do valor pago em qualquer situação. VEJA COMO FICA A TARIFA VARIÁVEL Volume consumido (em tarifa até 30/5 (em m3 por mês) R$, por m3)
tarifa após 30/5 (em R$, por m3)
faixa em que a conta sobe
faixa em que a conta cai
0a1
0
0
todas
nenhuma
1,01 a 3
4.803
4.85
todas
nenhuma
3,01 a 7
2.228
2.02
3,01 a 3,477
3,478 a 7
7,01 a 14
3.741
3.68
7,01 a 12,413
12,414 a 14
14,01 a 34
4.172
4.16
todas
nenhuma
34,01 a 600
4.485
4.5
todas
nenhuma
600,01 a 1000
3.851
3.804
nenhuma
todas
mais de 1000
2.648
2.483
nenhuma
todas
Fonte: "Diário Oficial"
Segundo a Comgás, o reajuste é resultado de "alinhamento do custo de gás e repasse de valores acumulados na conta-gráfica, que tiveram significativa redução em função da queda do preço do petróleo, que é a base para os preços do gás natural".
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Os segmentos comercial, industrial e cogeração terão descontos que podem chegar a 21% (no caso das indústrias que demandam mais de 3 milhões de metros cúbicos de gás natural por mês). A Comgás atende 1,6 milhão de clientes no Estado de São Paulo. No primeiro trimestre do ano, a empresa viu sua receita líquida cair 4,8%, para R$ 1,46 bilhão. A dívida líquida da companhia cresceu 40,6% no período, para R$ 2,19 bilhões. EXEMPLOS consumo (m3 por mês)
valor total pago até 30/5 (em R$)
valor total pago após 30/5 variação (em R$)
3,4
14,97
14,98
0,11%
perde
4
16,30
16,19
0,66%
ganha
6
20,76
20,24
2,51%
ganha
10
44,80
44,94
0,31%
perde
13
56,02
55,99
0,06%
ganha
15
69,97
70,47
0,71%
perde
20
90,83
91,25
0,46%
perde
30
132,55
132,82
0,20%
perde
40
186,79
188,11
0,71%
perde
50
231,64
233,11
0,63%
perde
100
455,89
458,11
0,49%
perde
600
2.698,39
2.708,11
0,36%
perde
700
1.860,99
1.746,21
6,17%
ganha
1.000
2.655,39
2.491,11
6,19%
ganha
ganha ou perde?
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10.000
26.487,39
24.838,11
6,23%
ganha
Fonte: "Diário Oficial"
Serra escolhe novo embaixador do Brasil na OMC FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, VALDO CRUZ DE BRASÍLIA 26/05/2016 às 19h 26
O ministro das Relações Exteriores, José Serra, escolheu o embaixador Evandro Didonet para suceder ao também embaixador Marcos Galvão como novo representante brasileiro na OMC (Organização Mundial do Comércio). Galvão assumiu a secretaria geral do Itamaraty. A escolha foi feita nesta quinta (26) por Serra, que está despachando no Itamaraty no feriado. Didonet é gaúcho e ocupa atualmente o posto de embaixador do Brasil na Áustria e junto à Agência Internacional de Energia Atômica. Agência Brasil
Evandro Didonet, escolhido por Serra para representar Brasil na OMC
À Folha, Serra rebateu as críticas de que, ao focar no bilateralismo, abandonaria as negociações multilaterais na OMC. Em sua defesa, diz que decidiu escolher para o órgão
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Didonet, que descreveu como um "excelente embaixador", experiente e especializado no tema. "Não sou contra a OMC, só que a estratégia do governo anterior de dar prioridade total a ela não vingou. Não podemos ficar presos ao multilateralismo, enquanto outros países avançam em acordos bilaterais", afirmou. Para reforçar sua intenção de não deixar de lado a OMC, o ministro de Relações Exteriores disse que o Brasil vai apoiar a recondução do brasileiro Roberto Azevedo ao posto de diretorgeral do órgão, cujo mandato vai acabar no próximo ano. Serra foi criticado por especialistas em comércio exterior sob o argumento de que o novo ministro corria o risco de, ao sair de um erro, entrar em outro. Ou seja, ao tomar a posição de não seguir a linha dos governos Lula e Dilma, que deixaram de lado os acordos bilaterais, passaria a abandonar as tratativas no âmbito da OMC. Negociadores brasileiros lembram que os Estados Unidos, país que avançou em acordos bilaterais nos últimos anos, não deixaram de ter uma atuação intensa no âmbito da OMC. Em sua estratégia de dar prioridade à busca de acordos bilaterais de comércio, Serra repetiu que vai negociar uma flexibilização das regras do Mercosul para facilitar esse tipo de negociação. A ideia, segundo o ministro, ainda é embrionária, mas vai tentar facilitar que membros do Mercosul possam fazer negociações individuais com terceiros antes do início das negociações do bloco.
Dívida pública cai 3,01% em abril, para R$ 2,79 trilhões, diz Tesouro FONTE RACHEL GAMARSKI E EDUARDO RODRIGUES - JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 27 Maio 2016 às 11h 25
Queda no estoque ocorreu em função do grande vencimento de títulos públicos; estrangeiros aumentaram participação na dívida interna no mês passado BRASÍLIA - O estoque da dívida pública federal brasileira, que inclui o endividamento interno e externo, caiu 3,01% em abril, para R$ 2,799 trilhões, divulgou nesta sexta-feira o Tesouro Nacional. Em março, o estoque estava em R$ 2,886 trilhões. RELACIONADA:
Governo propõe teto para o gasto público e limite na concessão de subsídios
A correção de juros no estoque da dívida foi de R$ 21,69 bilhões no mês passado. A Dívida Pública Mobiliária Federal interna caiu 3,03% e fechou o mês em R$ 2,670 trilhões. Já a Dívida Pública Federal externa ficou 2,7% menor, somando R$ 129,6 bilhões no mês passado.
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Dívida pública federal foi a R$ 2,799 trilhões O coordenador-geral de operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Leandro Secunho, avaliou que o resgate líquido de R$ 108,60 bilhões em abril já era “amplamente” esperado, devido ao grande vencimento de papéis programado para o primeiro dia do mês. Em abril, as emissões de títulos somaram R$ 52,72 bilhões, enquanto os resgates chegaram a R$ 161,33 bilhões. Essa foi a principal razão para o primeiro recuo do estoque da dívida pública desde janeiro. “A queda no estoque ocorreu em função do grande vencimento de LTNs no primeiro dia de abril”, comentou. Já a redução de 2,70% no estoque dívida pública externa ocorreu devido à variação do real em relação a outras moedas. “Não houve uma movimentação significativa de títulos da dívida externa em abril”, afirmou. Com a queda da dívida em abril, o estoque ficou ainda mais distante do intervalo previsto no Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2016, que vai de R$ 3,1 trilhões a R$ 3,3 trilhões. “Temos emissões programadas para os próximos meses. E com expectativa de novas apropriações de juros, esperamos encerrar o exercício no intervalo”, acrescentou Secunho. Estrangeiros. Os estrangeiros aumentaram a aquisição de títulos do Tesouro Nacional em abril. A participação dos investidores não-residentes no Brasil no estoque da dívida interna subiu de 16,73% em março para 17,39% em abril, somando R$ 464,29 bilhões. Em março, o estoque nas mãos de estrangeiros estava em R$ 460,73 bilhões. A parcela das instituições financeiras no estoque teve queda de 24,28% em março para 21,86% em abril. Os Fundos de Investimentos reduziram a fatia de 20,96% para 20,87%. Já as seguradores tiveram crescimento na participação de 4,55% para 4,71%.
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Novo comando da Caixa estuda fechamento de agências deficitárias FONTE MURILO RODRIGUES ALVESBRASÍLIA - JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 26 Maio 2016 às 22h 01
Diagnóstico interno do banco é que, atualmente, pelo menos 100 agências no País operem no vermelho, mas empecilho para o fechamento é que são usadas para receber o Bolsa Família O novo presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, encontrará um diagnóstico que mostra como o banco estatal precisa melhorar a eficiência operacional. Uma centena de agências estão deficitárias, ou seja, fecham no vermelho, mas, mesmo assim, a vicepresidência que cuida da rede do banco recomendou o fechamento de apenas 15 delas que estão totalmente inoperantes. RELACIONADAS Paulo Caffarelli será novo presidente do BB; Occhi confirmado na Caixa A Caixa foi usada nos últimos anos pelo governo do PT como locomotiva do crédito no País, estratégia para impulsionar a atividade econômica. Dessa forma, a instituição conseguiu aumentar sua participação no mercado, mas essa expansão do crédito também provocou efeitos colaterais, como o aumento do nível de calotes do banco. O alto número de agências deficitárias também é consequência dessa política. Desde 2010, a Caixa abriu 1.329 agências. A análise da direção do banco é que não se faz mais necessária toda essa estrutura, ainda mais com a mudança dos hábitos dos clientes, que cada vez mais optam pelos serviços pelo computador ou pelo smartphone. No primeiro trimestre deste ano, a quantidade de usuários cadastrados para acesso via smartphones aumentou quase 63% em relação ao primeiro trimestre de 2016 e a de usuários via internet banking cresceu 20% na mesma comparação. Mesmo assim, a quantidade de transações online ainda representa menos de um quarto do total de transações realizadas no período. Um dos desafios do novo presidente será ampliar a presença do banco no meio digital. Um empecilho para o fechamento das agências é que são usadas para o pagamento de benefícios sociais, como o Bolsa Família, mas a avaliação é de que esse serviço poderia ficar restrito às casas lotéricas. O banco tem atualmente 4,2 mil agências e pontos de atendimento e 26,5 mil correspondentes Caixa Aqui e Lotéricos. O Estado apurou que Gilberto Occhi já está avaliando esse estudo e tem intenção de colocá-lo em prática, mas quer avaliar o potencial de rentabilidade de cada agência e onde estão localizadas. Redução de pessoal. O banco também deve manter a política de redução de custos com pessoal, com planos de demissão e de incentivo à aposentadoria. A Caixa cortou o número de funcionários de 100,3 mil para 97 mil em 12 meses. No período, a despesa com pessoal cresceu 1,6%, bem abaixo da inflação, totalizando R$ 5 bilhões. A instituição está buscando ações para reduzir gastos e aumentar a produtividade. Ao assumir a Caixa, Occhi também receberá o desenho de um caminho para a abertura de capital do banco estatal ainda no governo do presidente em exercício Michel Temer. Para que uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) seja possível daqui a dois anos, o banco estatal teria de privatizar antes três áreas: seguros, loterias e cartões.
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Bancos no exterior forçam a repatriação FONTE JOSETTE GOULART – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 26 Maio 2016 às 21h 55
Instituições têm enviado cartas a clientes brasileiros para que regularizem dinheiro Os bancos estrangeiros, principalmente os suíços, começam a pressionar os clientes brasileiros a aderirem à lei de repatriação, que prevê a anistia criminal para quem enviou recursos ilegalmente para o exterior. Em cartas enviadas nos últimos meses, os bancos pedem para os donos das contas que informem se declararam o dinheiro às autoridades brasileiras ou, caso ainda não tenham feito, enviem uma declaração do advogado tributarista de que está em processo de adesão à lei. Clientes que ignoraram as cartas estão sendo surpreendidos: ao tentar movimentar os recursos de suas contas, são informados de que elas estão congeladas. RELACIONADA:
Advogados dizem que dúvidas sobre lei travam adesões
Credit Suisse está entre as instituições que já enviaram aviso aos clientes sobre repatriação
Pelo menos três bancos enviaram avisos a clientes, segundo apurou o Estado: os suíços Credit Suisse e UBS e o britânico HSBC – que também tem forte atuação na Suíça. Mas nenhum deles quis fazer comentários. Algumas instituições pedem até mesmo a cópia da declaração enviada à Receita e o comprovante do pagamento do imposto. Outros pedem ainda um parecer do advogado tributarista de que as declarações foram feitas corretamente dentro do que prevê a lei de repatriação. A carta, muitas vezes, diz ainda que um pen drive está à espera do cliente com as informações de suas movimentações dos últimos dez anos. Ou seja, os bancos estão tentando até mesmo facilitar a adesão à lei de repatriação, que exigem uma declaração detalhada do dinheiro mantido ilegalmente no exterior. Quem não aderir ao programa, terá sua conta encerrada e receberá um cheque administrativo com o dinheiro que estiver depositado. A pergunta que os clientes têm se feito é: onde depositar o cheque? Segundo alguns advogados, nos últimos três anos os bancos suíços estão regularizando contas com recursos não declarados. Desde o ano passado, quando começou a se falar mais 46
seriamente sobre a lei de repatriação do Brasil, os clientes brasileiros haviam sido poupados. Agora, os bancos estão voltando com toda a carga. O prazo final para se evitar receber um cheque em casa tende a coincidir com o fim da adesão à lei, previsto para outubro. Para os brasileiros, ficará difícil movimentar os recursos sem correr o risco de ser pego pela Receita, já que o Brasil assinou um tratado internacional, que prevê a troca simultânea de informações financeiras com 97 países a partir do ano que vem. As opções de locais para se manter recursos ilegais estão ficando escassas. Incentivo. O risco de ser pego pela Receita ficou tão elevado que os advogados tributaristas têm sido quase unânimes ao incentivar os clientes a aderirem à repatriação. A advogada Ana Claudia Utumi, do escritório Tozzini Freire, fez as contas. Ela diz que quem não declarar os recursos e for pego pelo Fisco terá de pagar em multas, imposto e juros 84% do patrimônio não declarado. E ela brinca – mas falando sério – que os 16% restantes terão de ser usados para pagar advogados criminalistas. Evasão de divisas é crime no Brasil, que não se extingue com o pagamento do imposto. Com a lei de repatriação, é possível declarar recursos que foram enviados ao exterior ilegalmente desde que não sejam provenientes de tráfico de drogas, terrorismo ou corrupção pagando 30% de imposto, e ficar livre de quaisquer acusações criminais. Só não pode aderir quem tem alguma condenação penal, parentes políticos ou em cargo público de direção. Para o advogado Luiz Gustavo Bichara, do Bichara Advogados, mesmo esses devem enviar os formulários de adesão à Receita e depois recorrer à Justiça. Para ele, é injusto que alguém seja impedido de se beneficiar da lei porque tem um cunhado que é professor da Universidade de São Paulo, por exemplo, e comanda algum curso qualquer da universidade. Para quem tem pai, mãe ou irmão políticos ou alguma condenação pode ficar mais difícil conseguir a adesão pela via judicial. A recomendação da advogada Ana Claudia é de que, nesses casos, o cliente faça uma denúncia espontânea: vá ao fisco e se entregue. Sai mais barato, segundo ela. Em vez de 84% do patrimônio, o fisco tomará no máximo 45% e além disso, há uma série de atenuantes penais ao se entregar voluntariamente. “O risco de o Fisco fazer uma representação que termine em ação criminal é muito pequeno”, diz Ana Claudia. “Os próprios procuradores tendem a não ter esses casos como prioridade e, no fim, se chegar ao juiz, esse também vai ponderar e a pena poderá ser um trabalho voluntário”. A adesão ao programa ainda é pequena, o que já começa a suscitar discussões até dentro do governo sobre eventuais mudanças na lei. O advogado Hugo Leal, do escritório Souza, Cescon, diz, no entanto, que pouca gente apertou o botão de envio da declaração porque ainda tem prazo e, também, dúvidas para esclarecer.
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Fed dá mais sinais de que vai aumentar juros nos próximos meses FONTE REUTERS 27
Maio 2016 às 12h 06
Declarações de diretores indicam que banco vê bases sólidas na economia americana, mas se preocupa com saída da Grã-Bretanha da UE O Federal Reserve americano continua assentando as bases para um aumento nas taxas de juro nos próximos dois meses. Um oficial de alto escalão afirmou que a economia está pronta para um movimento como esse "muito em breve". RELACIONADA:
BC dos EUA deixa em aberto possibilidade de elevação dos juros em junho
O diretor do Fed Jerome Powell, um dos membros votantes do comitê do banco central que define as taxas, afirmou em um discurso em Washington que sente a economia em bases sólidas e dentro das metas de inflação e emprego do Fed.
Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed)
Mas acrescentou que a incerteza sobre o resultado do referendo do dia 23 de junho que decidirá se a Grã-Bretanha deixará ou não a União Europeia foi um argumento 48
para o Fed ter cautela ao analisar se eleva ou não as taxas em sua reunião nos dias 14 e 15 de junho. Outro encontro acontece entre 26 e 27 de julho. Powell, no entanto, manteve um tom positivo sobre a economia americana em sua aparição no Instituto Peterson de Economia Internacional, tornando-se mais um oficial do Fed a dizer nos últimos dias que pode ser a hora de aumentar mais um pouco os juros. O conselho do Fed tem papel decisivo na determinação da política monetária e seus membros têm voto permanente no comitê que define as taxas dos fundos federais. Segundo Powell, os dados que mostram o crescimento contínuo dos empregos e as evidências do aumento da renda são sinais mais importantes do que a recente diminuição do gasto de consumidores e em investimentos. “Essas são boas razões para pensar que o crescimento subjacente é mais forte do que esses números sugerem”, afirmou. “Se os próximos dados confirmarem essa expectativa, eu veria como apropriado continuar um aumento gradual das taxas dos fundos federais.” Powell falou um dia antes de uma aparição pública prevista da presidente do Fed, Janet Yellen. Suas declarações nesta sexta-feira, assim como as de um discurso previsto para o início de junho, serão analisadas minuciosamente como pistas sobre sua posição na próxima reunião do Fed. Depois de subir as taxas pela primeira vez em uma década no mês de dezembro, o Fed observa com cuidado o vai e vem da economia global e o fraco crescimento na China, Europa e Japão, que ameaçam tirar a economia americana dos trilhos.
Primeiro teste O que a sociedade espera agora é que o rumo adotado inspire confiança e que a qualidade de governança seja firme FONTE JORNAL O ESTADO DE S, PAULO Celso Ming, 25 Maio 2016 às 21h 00
O governo Temer passou pelo primeiro teste político na madrugada desta quarta-feira, quando o Congresso aprovou a nova meta fiscal de 2016, o déficit de R$ 170,5 bilhões, cerca de 2,8% do PIB. É, conforme avançou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, “meta realista” e definitiva, “para ser cumprida”, e não aquele pedaço de cortiça em que se assentou a política fiscal do governo Dilma, sujeita a bruscas flutuações, conforme o nível da água - e da enchente. O governo conta agora com forte apoio político, fato de resto previsível, na medida em que desfruta de um período de graça. É o que deveria ser aproveitado para encaminhar as reformas, as medidas duras destinadas a garantir a recuperação das contas públicas e a reversão da trajetória hoje insustentável da dívida pública.
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É uma condição relativamente curta ao cabo da qual o apoio ao governo começará a depender da apresentação de resultados. O que a sociedade espera agora não é necessariamente que a derrubada do PIB seja automaticamente substituída pelo crescimento econômico sustentado, mas que o rumo adotado inspire confiança e que a qualidade de governança seja firme. Se cumprida, a decisão de fixar um teto para as despesas do governo central (que não poderão crescer mais do que a inflação do período), por si só, tende a levar as contas públicas ao equilíbrio, especialmente se o PIB retomar sua trajetória ascendente. Há pelo menos cinco fatores que devem ajudar a recuperação da atividade produtiva e, por tabela, normalizar a área política. O primeiro deles é a volta da confiança. Se o empresário acreditar, os projetos serão desengavetados, os investimentos virão e, com eles, a recuperação da demanda e do emprego. O segundo fator positivo é a acentuada melhora das contas externas, especialmente a tendência à zeragem do déficit nas transações correntes. O forte superávit das exportações, provavelmente de US$ 55 bilhões neste ano, aumentará a capacidade de importação e tende a puxar pelo otimismo. Há um fator negativo que tem seu lado positivo. Trata-se da significativa capacidade ociosa da indústria. É negativo na medida em que acusa paralisação da atividade produtiva. O lado positivo é o de que há espaço para o aumento da produção sem a necessidade adicional de investimentos. Este também é o momento de grande disponibilidade de mão de obra. O desemprego caminha para mais de 12% da força de trabalho. Basta contratar gente e acionar as máquinas para que o faturamento aconteça. (Veja o Confira.) Além disso, o setor produtivo conta com disponibilidade de crédito cujo crescimento foi contido pela recessão. Mas os juros continuam elevados demais, como ficou confirmado pelo relatório das operações de crédito, divulgado nesta quarta-feira pelo Banco Central (veja o gráfico acima). Enfim, o noticiário econômico volta a ocupar o espaço até recentemente tomado pelo noticiário político. E isso mostra que aumenta a probabilidade de que o País volte ao normal. CONFIRA:
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Piorando O mercado formal de trabalho (com carteira de trabalho assinada) continua fechando vagas. Em abril, foram 62,8 mil, o que perfez 378,5 mil perdas no primeiro quadrimestre, como mostrou o relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O saldo total ao fim de abril era de 39,3 milhões de empregados. Virada ainda demora Não há perspectiva imediata de reversão do mercado de trabalho. A tendência é a de que o desemprego que chegou a 10,9% em março continue avançando para além dos 12%.
O impacto da Lava Jato Ninguém se iluda, tal como aconteceu na Itália, onde os políticos conseguiram pulverizar a Operação Mãos Limpas, a tentativa é de fazer o mesmo com a versão brasileira FONTE JORNAL O ESTADO DE S, PAULO Celso Ming, 26 Maio 2016 às 21h 00
Quando afirmou, na gravação divulgada quarta-feira, que “a Odebrecht é uma metralhadora de ponto 100”, o ex-presidente José Sarney referia-se, na verdade, à Operação Lava Jato e aos estragos que vem produzindo entre os políticos. RELACIONADA:
‘Odebrecht é metralhadora de ponto 100′, diz Sarney sobre empreiteira
Até agora, a atuação do Ministério Público Federal do Paraná e do juiz Sérgio Moro contra a corrupção não conseguiu ser contida. Mas o jogo de forças para acabar com esse combate é amplo e poderoso.
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A presidente Dilma, por exemplo, afirmara há pouco menos de um ano que “não respeita delatores”, sem ter levado em conta, então, que foi ela própria que sancionou a lei que instituiu a delação premiada. Com isso, já tentava pulverizar a Lava Jato, por contrariar seus interesses imediatos.
Moro. Contra a corrupção
De lá para cá, não há candidato a enrosco na operação nem advogado que o defenda que não combatam a delação premiada. O PT, até mesmo em documentos oficiais, faz o que pode para tentar desmoralizá-la. Vem apontando-a como instrumento “seletivo” a serviço do “golpe”, embora a festeje quando os acusados são gente do PMDB e do PSDB. Projeto de lei que proíbe a delação premiada de réu na cadeia, de autoria do deputado Wadih Damous (PT-RJ), está em tramitação na Câmara, em nome do PT, e nisso converge a já conhecida posição do presidente do Senado, Renan Calheiros. O quase ministro Antônio Claudio Mariz de Oliveira chegou a assinar manifesto contra a delação premiada em que afirma tratar-se de recurso que leva à condenação sem processo. Em consequência dessa posição, deixou de ser nomeado ministro da Justiça pelo presidente em exercício Michel Temer, como era iminente. O senador Romero Jucá, em declaração gravada como armação pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado para servir de abraço de afogado e levar junto com ele pesospesados da política, sugeriu a costura de um pacto entre políticos para bloquear a Operação Lava Jato. Enfim, o instituto da delação premiada está apavorando os políticos e os corruptos porque produz resultados (veja o Confira). A corrupção é velha de guerra, mas no Brasil tornou-se
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endêmica, principalmente em consequência dos esquemas em vigor que sustentam os financiamentos de campanha eleitoral. Essa é uma das razões que pedem profunda reforma política. Infelizmente, este é um projeto que não avança porque os representantes do povo, que foram eleitos graças a esse jogo e com ele alimentam suas bases de sustento, não querem acabar com ele. Em compensação, a luta contra a corrupção virou bandeira popular. As tentativas de abafar a Lava Jato vêm tendo imediata reação e já não há político que ouse publicamente alinhar-se contra ela. Por enquanto, as tentativas destinadas a limitar sua força esbarram na forte indignação da opinião pública. O líder da força-tarefa do Ministério Público Federal do Paraná, Deltan Dallagnol, avisa que é preciso reforçar a luta contra a corrupção para impedir que ela se esvaia. E sugere a aprovação de dez medidas já encaminhadas com o apoio de mais de 2 milhões de assinaturas. Mas ninguém se iluda, tal como aconteceu na Itália, onde os políticos conseguiram pulverizar a Operação Mãos Limpas, a tentativa é de fazer o mesmo com a versão brasileira. CONFIRA: Operação Lava Jato Em pouco mais de dois anos (até 10 de maio), a Operação Lava Jato conseguiu os seguintes resultados: 574 buscas e apreensões, 70 prisões preventivas, 85 prisões temporárias, 51 acordos de colaboração premiada e 5 acordos de leniência. Crimes Até agora, as 93 condenações somam 990 anos de cadeia, pelos crimes de corrupção, tráfico internacional de drogas, formação de organização criminosa e lavagem de ativos. Devolução O ressarcimento pedido por práticas de corrupção (incluindo multas) alcança um total de R$ 37,6 bilhões. Até agora, R$ 2,9 bilhões já foram recuperados por acordos de colaboração, sendo R$ 659 milhões objeto de repatriação e R$ 2,4 bilhões em bens dos réus já bloqueados. Rapidez Levando-se em conta a ineficiência e a demora da Justiça tradicional, são resultados altamente significativos obtidos em tempo recorde.
Política azeda, pimenta social FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, VINICIUS TORRES FREIRE 26/05/2016 às 02h 00
Depois de uns tempos de apenas aparente calmaria, a Lava Jato voltou a ameaçar a casta política e, assim, a abalar também o cálculo político. A novidade da estação do tumulto no poder é a grande probabilidade de o conflito social entrar de vez nesse Congresso já transtornado. O programa econômico de Michel Temer deve afetar interesses de uma coalizão social transversal, por assim dizer. O governo deve enfrentar não apenas movimentos sociais e 53
sindicalistas "petistas" ou de esquerda. A contenção dos gastos com saúde e educação deve reunir oposição mais variada. Associações diversas de profissionais de saúde e educação, movimentos sociais do setor, igrejas e outros movimentos religiosos e talvez mesmo empresários devem pressionar os parlamentares. Recorde-se que a diretriz econômica central de Temer prevê o congelamento dos gastos federais, o que exigirá no mínimo também uma contenção forte de gastos em saúde, educação e Previdência, se não sobrar também para os servidores federais. Os interessados em evitar as mudanças no gasto social fazem parte de um espectro muito maior do que aquele de partidos e movimentos de esquerda. Além do mais, a reforma da Previdência junta sindicalistas de toda espécie, governistas temeristas ou dilmianos, além dos independentes. Essa provável oposição a Temer ou a seus planos de reformas é a "coalizão social transversal". Como tal oposição vai se articular com os partidos da enorme, mas confusa e desorganizada, coalizão governista? Ou, no mínimo, como deputados e senadores vão reagir às pressões que virão? Não se está lidando com partidos de substância, comandados por lideranças de convicções fortes sobre os problemas econômicos, para descrever a coisa com seriedade cômica. Além do mais, esse ambiente em geral degradado deve ser outra vez e ainda mais perturbado pela nova rodada de abalos da Lava Jato. De imediato, para lembrar de zumbis antigos, haverá uma decisão sobre o destino de Eduardo Cunha na Comissão de Ética, em junho. Cunha, PMDB, presidente afastado da Câmara, é ainda capaz de nomear quadros para o governo Temer e de influenciar o blocão de uns 200 deputados federais "baixo clero", base da estabilidade instável de Temer. Haverá o voto do impeachment. Há Romero Jucá, ministro central e afastado de Temer, senador do PMDB, e Renan Calheiros, PMDB, presidente do Senado, levando mais tiros. Enfim, andamos esquecidos, as reformas e planos econômicos do governo devem ser discutidos ou votados praticamente em meio a uma campanha municipal. Costuma se dizer que, normalmente, políticas municipal e federal não se misturam sem mais ou imediatamente. Mas vivemos tempos anormais. É bem provável que a eleição seja disputada em clima ideológico ainda quente, nesta enorme crise econômica, com desemprego crescente, com governos estaduais (e alguns municipais) em colapso, em meio a debates sobre cortes de gastos sociais e sobre a política enlameada além da conta. Problemas federais vão respingar no debate municipal e vice-versa, não se sabe bem em qual medida, é verdade. Nesse ambiente, fica pelo menos sub judice o grau de adesão dos políticos a um plano socioeconômico muito controverso, para dizer o menos.
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Comê-los-ei FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, JOSÉ HENRIQUE MARIANTE 26/05/2016 às 02h 00
SÃO PAULO - Michel Temer usa uma mesóclise para dizer que irá consertar os erros de seu governo, "quase solenemente", para que sociedade e Congresso entendam que o momento é grave. E troca a norma culta por um tapa na mesa para lembrar que já foi secretário de Segurança Pública em São Paulo, "tratava com bandidos", sabe o que fazer. Extremos do governo interino se evidenciam nas duas passagens. De um lado, Temer é o moderador que irá trabalhar para que Legislativo e Executivo tirem o país do atoleiro. É o presidente que entregou seu futuro nas mãos de Henrique Meirelles e emplacou a revisão da meta fiscal em seu primeiro grande teste no Congresso na última madrugada. Mercado e gente comum, que não consegue fechar as contas no final do mês, torcem desesperadamente por ele. Do outro, Temer é o presidente que ainda depende de uma maioria de dois terços no Senado para se manter no cargo, congrega ao seu redor alvos da Lava Jato e atura com dificuldade um sem número de manifestações. Apoiadores profissionais mas também a nova oposição torcem para que esse Temer, o político tradicional, prevaleça. Ele é a esperança de uma mudança legal (ou não) no ritmo da Lava Jato e um adversário bem mais fácil de malhar nas ruas. Temer, pelo menos neste começo, vem se esforçando em conciliar esses seus extremos. Corrigiu equívocos de ministros, voltou atrás no rebaixamento da Cultura e se livrou rapidamente de Romero Jucá. Decorou a cartilha de Meirelles e não esconde a disposição de aumentar o espaço no governo de seu artilheiro. Empurra a discussão da Previdência para a frente, encara sereno as reações ao teto de gastos públicos. A ver se terá estômago para engolir outros tantos sapos. Não bastassem os vizinhos de ocasião em Alto de Pinheiros, tudo indica que as demonstrações de política explícita que surgem dos grampos de Sérgio Machado produzirão uma enorme quantidade deles.
Cultura FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, ANTONIO DELFIM NETTO 25/05/2016 às 02h 00
Alguém duvida da importância da "cultura" na construção de uma sociedade civilizada? Alguém acredita que haja uma incompatibilidade essencial entre a Educação e a Cultura? Alguém, honestamente, crê que juntá-las sob o mesmo teto para maximizar a sinergia do conjunto é minimizar a transcendência da Cultura? O ex-ministro da Educação e Cultura do governo interino do presidente Temer, o ilustre deputado federal, Mendonça Filho, é um político com provada competência administrativa: 1º) ocupou diversos cargos executivos no governo de seu Estado, Pernambuco, onde chegou a ser governador bem avaliado e 2º) na sua volta à Câmara, foi um eficaz coordenador da oposição parlamentar aos governos do Partido dos Trabalhadores, mas votou com Dilma nos projetos em que não havia dúvida sobre onde estava o verdadeiro interesse nacional. Sob a intensa gritaria dos que se supõem portadores do monopólio da "cultura", Mendonça viu seu ministério ser amputado, para que o governo interino não tivesse o dissabor de ter que 55
despender muita energia e, no fim, amargar uma derrota no Congresso. O que seria seu secretário, Marcelo Calero, foi promovido a ministro da Cultura, em resposta ao ranger dos dentes do mais vocal, simpático e bem situado corporativismo. Houve farta diversão e amplo diversionismo, mas nada substantivo realmente aconteceu. Fomos, voltamos e ficamos no mesmo lugar! Todos são contra o absurdo número de ministérios, principalmente os dos "outros"... Reconheçamos. Nenhum programa, muito menos a "Cultura", esteve sob o menor risco a não ser, talvez, "simbólico", de sofrer qualquer dano e nem tem agora qualquer perspectiva de conseguir mais recursos. Pelo contrário. Se existe alguma economia na fusão dos dois ministérios, o que é de esperar, o apoio ao desenvolvimento cultural poderia ser reforçado pela maior eficiência dela resultante. O que se pode garantir é que nunca mais um governo descuidado tentará lançar a necessária luz do sol sobre a relação custo/benefício do envolvimento incestuoso do Estado e o corporativismo que dele se alimenta. Tudo isso é irrelevante e não ajuda a resolver o problema do Brasil. Tendo mudado duas vezes em um ano seus ministros da Fazenda, ambos membros competentes, mas de seitas distintas que se abrigam sob a disciplina chamada economia, e revelando uma total indisposição para o exercício da política, a presidente Dilma não conseguiu recuperar o seu protagonismo. Os números que aos poucos vão sendo revelados mostram que há pouca probabilidade de que volte a recuperá-lo.
As vantagens da diversidade FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, SÉRGIO ALMEIDA 26/05/2016 às 02h 00
Você precisa contratar um grupo de ministros? Por um instante, suponha que sim. Quem você contrataria? Naturalmente, pessoas competentes, que "sabem o que estão fazendo". Gênero, cor, religião, orientação sexual... nada disso deveria ser relevante para sua escolha, certo? Afinal, não há razão para acreditar que traços físicos e preferências afetem a aptidão profissional dos candidatos. Seu objetivo, afinal de contas, é formar um ministério de "notáveis", e não selecionar atores para uma campanha da Benetton. O raciocínio faz sentido. E foi dele que parece ter se servido o presidente interino Michel Temer ao formar seu ministério. Entre os escolhidos não há negros nem mulheres. A decisão recebeu críticas. Houve, contudo, quem visse os reclames por diversidade na equipe ministerial como desimportantes, mera exigência para satisfazer as preocupações, frequentemente irritantes, com o "politicamente correto". Provocar a ira de feministas e ativistas de minorias não foi, entretanto, o principal problema. Antes fosse. O pecado principal da escolha está em ter "deixado sobre a mesa" dois importantes benefícios que a diversidade provavelmente traria para o governo interino. O primeiro benefício seria o de ter um time mais criativo e hábil na solução de problemas. Diversidade nada mais é do que um mix heterogêneo de pessoas. Há evidências de que nossos processos de raciocínio e solução de problemas melhoram quando operamos em meio a pessoas diferentes. 56
Como? Reduzindo nossas tendências à conformidade (de imitar outros, mesmo quando estão errados) e nos induzindo a refletir mais criticamente e a desenvolver nossas próprias ideias. Esse tipo de benefício ecoa em outros estudos sobre diversidade no ambiente de trabalho e na prática de grandes organizações públicas e privadas. Tanto o governo britânico quanto a CocaCola, por exemplo, possuem políticas explícitas de recrutamento e promoção para criar um ambiente de trabalho que reflita a diversidade da comunidade. O segundo benefício seria o de aumentar o apoio político da população ao seu governo. A ideia é simples: quanto mais a população se vê representada no ministério, mais ela tende a apoiar as políticas públicas implementadas pelo governo. Ao não apresentar ao menos alguma diversidade que refletisse atributos da população, o governo interino recebeu publicidade negativa. Foi custoso politicamente -tanto que parece haver um esforço agora para incluir mulheres. É possível, entretanto, que a falta de diversidade não reflita machismo do presidente interino pessoalmente, mas dos partidos. Como assim? Ora, o presidente quer ministros "competentes". Mas "competência", nesse contexto, é mais do que ter habilidade gerencial e a confiança dele. É capital político, o que está em geral na mão de caciques partidários. Se tais posições forem dominadas por homens -e agradar aos partidos é uma restrição da qual Temer não consegue escapar-, fica fácil compreender como chegou-se a um ministério só de homens. Faltou, de certo, um pouco de pró-ativismo para evitar o custo político -afinal, é improvável que não houvesse pelo menos meia dúzia de mulheres aptas para os cargos. Tal como as controversas campanhas da Benetton, a escolha ministerial de Temer recebeu muita atenção. Não pelas razões certas. A falta de diversidade sombreou anúncios importantes do governo interino e o privou de benefícios que custariam muito pouco. Quando se está em crise fiscal, esse tipo de pechincha não se perde. SÉRGIO ALMEIDA é professor de teoria microeconômica na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. É doutor na área de economia comportamental e experimental pela Universidade de Nottingham (Reino Unido)
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União Europeia ganha mercado na carne suína Apu Gomes - 25.mai.2010/Folhapress
Suínos confinados em granja em São Miguel do Iguaçu (PR); UE ganha espaço no mercado mundial FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MAURO ZAFALON /05/2016 às 02h 00
A União Europeia ganha nova fatia do mercado internacional de carne suína, elevando as exportações em 27% no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2015. As vendas externas do bloco europeu já haviam crescido no ano passado, quando superaram em 7% as de 2014. A situação tinha ficado crítica para os europeus após a perda do mercado russo. A Rússia, principal importadora de carne suína da UE até 2014, fechou as portas para o produto europeu devido à crise política na Ucrânia. Os russos importavam próximo de 800 mil por ano dos europeus, e as vendas totais do bloco somam 3,1 milhões por ano. A UE perdeu o mercado russo, mas ganhou um ainda maior: o chinês. As vendas externas dos europeus somaram 389 mil toneladas para a China apenas nos três primeiros meses deste ano, 77% mais do que em igual período do ano passado.
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Os europeus ampliaram, também, as vendas para Hong Kong, que comprou outras 85 mil toneladas, uma alta de 28% no ano. Estados Unidos, Japão e Filipinas também entraram na lista de bons compradores, com evoluções de 14%, 21% e 35% no período, segundo dados da Eurostat. O mercado mundial de carne suína também é importante para o Brasil, que está entre os principais exportadores. China e Hong Kong fazem parte da lista de compradores do Brasil. As exportações brasileiras cresceram 68% nos quatro primeiros meses deste ano em relação a igual período anterior. Os principais importadores mundiais são China, com 2 milhões de toneladas, seguida de Japão (1,1 milhão) e México (865 mil). Já entre os produtores, a China lidera, com 51,3 milhões de toneladas, seguida de União Europeia (22,8 milhões) e Estados Unidos (10,6 milhões). O Brasil é o quarto maior produtor mundial, segundo dados da Eurostat, somando 3,3 milhões de toneladas. NOTAS PIB O Produto Interno Bruto do agronegócio brasileiro acumula alta de 1,1% no primeiro bimestre do ano, conforme dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Agrícola A alta advém do desempenho do ramo agrícola, que acumula 1,62% no bimestre em relação a igual período de 2015, conforme a CNA, parceira do Cepea nesse levantamento. Já o ramo pecuário esteve estável no período. Proteção A conscientização cada vez maior da população com o ambiente eleva o número de animais, que, muitas vezes, se expõem ao perigo. Parcerias A Univap (Universidade do Vale do Paraíba) e o Grupo CCR, empresa que administra a Rodovia Presidente Dutra, fizeram uma parceria para recepção, tratamento e reabilitação dos animais silvestres resgatados na rodovia e, quando possível, reintrodução em seu habitat. Mercado Possível problema no abastecimento de farelo de soja fez o primeiro contrato do produto subir 4,7% nesta quarta-feira (25). Essa alta puxou também os preços da soja, que terminou o dia com evolução de 2,92% em Chicago. O Brasil já melhorou FONTE JORNAL FOLHA de S.PAULO, REINALDO AZEVEDO 27/05/2016 às 02h 00 Qualquer pessoa que tenha lido com um mínimo de atenção a transcrição dos diálogos de Sérgio Machado com Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney sabe que não há neles absolutamente nada de politicamente relevante.
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Se há outros com conteúdo bombástico, não sei. É bom que tenham vindo a público. Demonstram que há ao menos o risco de o Brasil dar certo... Os únicos a encontrar um sentido transcendente –isto é, que vai além da conversa mole nos diálogos foram os petistas e os colunistas do Velho Regime. Vamos ver. Um jurista de muitas lentes ou um rábula de porta de cadeia sabem que não há neles crime nenhum. De ninguém. Era forçoso que Jucá fosse apeado do Planejamento, mas não porque tenha atentado contra a Lava Jato ou a saúde das instituições. Aquele papo é incompatível com o cargo que ocupa. Falta de decoro ou de vergonha não é crime. Síntese da conversa do ex-ministro com Machado: ameaçado, anteviu que tudo se resolveria quando Michel Temer fosse presidente. Tanto o interlocutor não acreditava, notem, que estava gravando o bate-papo para fabricar uma prova ou um instrumento de chantagem. E com Renan? O presidente do Senado acha necessário disciplinar as delações premiadas. Eu também. Provavelmente, queremos disciplinas distintas. Nos dois casos, onde está o crime? E José Sarney? A conversa é ainda mais estratosférica. O ex-senador promete tornar o interlocutor imune a Sergio Moro. Como? Ninguém faz a menor ideia. Nem o lírico de Saraminda. Nesta mesma Folha, li que um emissário de Temer esteve com procuradores para desfazer a boataria de que, se presidente, o então vice iria frear a Lava Jato. Referindo-se às gravações e ao encontro, os petistas gritaram: "Conspiração! Dilma foi vítima de um golpe!". Segundo os petralhas, os ditos "golpistas" tramavam contra a ora Afastada tanto quando manifestavam o desejo de frear a operação como quando diziam que esta é intocável. Cobrar raciocínio lógico de esquerdistas é perda de tempo. Seu negócio é ganhar um debate mesmo sem ter razão. Entendem que dialética é a arte de fazer a mentira brotar da verdade e a verdade, da mentira. Em qualquer dos casos, trapaça. E por que os vazamentos me levaram a pensar que até há o risco, ainda que não assim tão grande, de o Brasil dar certo? Pense comigo, leitor amigo. Já vieram a público gravações com Lula, Dilma, Jaques Wagner, Jucá, Renan e Sarney. Estamos falando de uma presidente da República, dois ex-presidentes, um ministro de Estado e dois dos mais poderosos senadores. Os membros dessa plêiade pertencem aos maiores partidos do Brasil. Todos impotentes. O Brasil já melhorou! Todos estavam empenhados em dar um jeito na Lava Jato. E, no entanto, o que cada um deles pôde fazer, além de nada? A suposição de que as falas de Jucá, Renan e Sarney evidenciam a natureza golpista da deposição de Dilma é só um atestado de má-fé e de vigarice intelectual. Elas não fabricaram o crime de responsabilidade cometida pela Afastada nem orientaram o voto de deputados e senadores. Não são nem causa nem consequência do fato jurídico e do fato político. De resto, eu tenho o direito de dizer ao telefone que já acertei o conteúdo da próxima encíclica com o papa Francisco. Agora é só torcer para ninguém divulgar a minha conversa. Hora de mudar de assunto.
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Queda do petróleo faz RJ perder espaço nas exportações FONTE JORNAL FOLHA de S.PAULO, MARIA CRISTINA FRIAS 27/05/2016 às 03h 00
As baixas do petróleo tiraram o Rio de Janeiro do pódio dos Estados que mais exportaram no primeiro quadrimestre deste ano, segundo dados do Ministério da Indústria Comércio Exterior e Serviços. Entre janeiro e abril de 2015, os fluminenses apareciam em terceiro lugar entre os maiores exportadores do país. Neste ano, o Estado registrou queda de 17% nas vendas para o exterior. O comércio de óleo bruto de petróleo, responsável por 50% dos resultados do Rio de Janeiro no período, caiu 30,6% de um ano para o outro. "Quando se tem uma receita como o petróleo, cria-se uma zona de conforto, e o Rio não buscou diversificar suas fontes de receita", diz Alberto Machado Neto, da FGV. A expectativa é que o preço do barril volte a subir no fim desta década, mas fique em um patamar menor que o visto nos últimos anos, diz. "O país baseia suas exportações em commodities, que rendem muito quando o mercado está em alta, mas manufaturados têm preços mais estáveis", diz José Augusto de Castro, da (Associação de Comércio Exterior do Brasil). Nos quatro primeiros meses deste ano, enquanto o Estado do Rio caiu, Mato Grosso aumentou as vendas internacionais em 49,4%, puxadas por soja e milho. "O próximo passo é investirmos não só em grãos, mas também exportar mais aves, bovinos e peixes", afirma Seneri Paludo, secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso. Não vá se perder por aí A marca de malas Samsonite vai lançar no Brasil uma linha de bagagens com dispositivo de rastreamento. O produto foi feito em parceria com o Google e mais três empresas e chegará ao país a partir de janeiro de 2017. "Vai evitar aquela dor de cabeça de aeroporto. O consumidor chega de uma viagem e, por um aplicativo, consegue saber se a mala já está na esteira", diz Anna Chaia, diretora-presidente do grupo para o Mercosul. A empresa tem uma planta própria na Bélgica e importa de fábricas da Ásia. "Infelizmente, a questão cambial mexe no custo. Nosso planejamento, porém, foi feito com o dólar a R$ 3,75." O grupo também pretende trazer para o Brasil outra de suas marcas de bolsas, a Lipault, no ano que vem. Eduardo Anizelli - 10.nov.2010/Folhapress
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Anna Chaia, executiva da marca de malas para o Mercosul
Ainda sem planos A mudança política, recebida com otimismo pelo setor de comércio, ainda não se traduziu em planos de investimentos ou de novas contratações, aponta a FecomercioSP. O índice da entidade, que avalia a expectativa de expansão dos empresários para os próximos seis meses, se manteve estável entre abril e maio, no pior patamar da série histórica, iniciada em 2011. Desde janeiro, a retração foi de 9%. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a queda é de 18,4%. "Na prática, a situação continua ruim para o setor. A perspectiva com a mudança política é positiva, mas não se reverte em planos concretos tão rápido", afirma o assessor econômico da entidade, Fábio Pina. A projeção é que nos próximos três meses haja um aumento do índice, com base na alta da confiança dos empresários. O otimismo, no entanto, deverá ter prazo curto, diz. "Daí para frente, vai depender de o governo conseguir aprovar medidas concretas para retomar a economia e a confiança do empresário." No ar
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A Gol liderou o faturamento em vendas no segmento corporativo de janeiro a março, com 30,6% do mercado. É a primeira vez que a empresa alcança a marca, desde o início da série histórica da Abracorp (que reúne agências de viagens corporativas). "O segmento se profissionalizou e crescerá com a retomada da economia", diz Eduardo Bernardes, da aérea. É de casa A rede Mister Mix, de milk shake, deve inaugurar 11 unidades até o fim deste ano. A empresa, que tem 198 lojas também vai remodelar os pontos de venda, diz o presidente, Clederson Cabral. "O faturamento caiu em 2015, mas deve subir 10% neste ano. A maioria dos novos contratos é com franqueados com uma relação com a marca e vão para a segunda loja."
Democracia em modo aleatório FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, BERNARDO GUIMARÃES 27/05/2016 às 02h 00
Michel Temer foi eleito vice-presidente porque Dilma teve mais votos na eleição presidencial. Se 2 milhões de votos dela tivessem sido dados a Aécio, Aloysio Nunes seria o vice-presidente. Quem votou em Dilma pode não gostar de Temer, mas era fácil entender a regra. Agora, compare com a eleição para deputados. Quem votou em Roberto Freire ou em Soninha Francine (ambos do PPS) leu no jornal do dia seguinte que seus candidatos não haviam sido eleitos. Mas os votos deles afetaram a eleição. Se todos os votos deles fossem para um adversário, provavelmente não teria sido eleito o jovem Alexandre Leite (DEM), filho do político Milton Leite. Quem teria sido eleito em seu lugar? Se todos aqueles votos fossem ao corintiano Andrés Sanchez (PT), é provável que Netinho de Paula (hoje no PDT) conseguisse um lugar na Câmara doso Deputados. Netinho, aliás, teria sido eleito com os votos de Tiririca (PR) se o PCdoB em 2014 estivesse coligado com o PR como em 2010. Como não estava, a maioria dos votos obtidos por Tiririca em 2014 foi para eleger gente como o Capitão Augusto (PR). Se a coligação na eleição para deputado federal fosse igual à da eleição para deputado estadual naquele mesmo ano, os jornais do dia 27/10 teriam Roberto Freire (PPS) eleito. Por causa dos votos dados a Celso Russomano (PRB). No final das contas, Roberto Freire (PPS) levou uma vaga na câmara porque muitos deputados eleitos pelo PSDB viraram secretários do governo de São Paulo. 63
Faz sentido isso? No sistema atual, é muito difícil entender quem se beneficiará do nosso voto. É muito difícil escolher um candidato dentre as centenas de opções disponíveis. É muito custoso saber o que fazem todos os 70 deputados eleitos por São Paulo. Não surpreende, portanto, que a maioria não se lembre de quem recebeu seu voto na última eleição, não acompanhe o trabalho dos deputados e não saiba em quem votar da próxima vez. Enquanto o sistema eleitoral for este que temos hoje, isso vai continuar acontecendo. Precisamos, então, tornar mais fácil a vida do eleitor. Uma solução para essa questão é o voto distrital. O país seria dividido em regiões, cada uma elegeria um deputado. Assim, haveria um candidato de cada partido, no máximo. Como na eleição para governador, seria muito mais fácil conhecêlos. Hoje, um candidato rejeitado pela maioria dos eleitores pode se eleger. Afinal, mais de 80% dos deputados eleitos recebem menos de 1% dos votos. Um candidato maluco que agrada a 5% do eleitorado se elege e carrega outros. No sistema distrital, cada grupo de eleitores estaria de olho em apenas um deputado, então aquele que desagrada a muitos não seria reeleito. Um deputado precisaria fazer campanha apenas em uma região menor. As campanhas ficariam mais baratas. Seria muito mais fácil para um partido conseguir uma maioria no Congresso. Os partidos maiores teriam, em geral, bancadas maiores. Seria mais fácil governar. Será que funcionaria? Poderíamos experimentar o voto distrital em uma eleição (por exemplo, para vereador). Claro está, precisamos repensar o nosso sistema político. A solução envolve reformar o sistema eleitoral para tirar a nossa democracia do modo aleatório.
Freada radical no gasto É possível que formato drástico da PEC seja primeiro lance do governo na barganha FONTE JORNAL O ESTADO de S. PAULO, Fernando Dantas* 27 Maio 2016 às 05h 00
Caso seja aprovada como foi anunciada, e efetivamente implementada, a proposta de emenda constitucional (PEC) para limitar o crescimento dos gastos públicos à variação da inflação vai significar uma pisada até o fundo no freio de um veículo deslocando-se a 150 quilômetros por hora. Nos 17 anos entre 1999 e 2015, a despesa federal, excluindo transferências para Estados e municípios, cresceu a um ritmo médio real (isto é, descontando a inflação) de ligeiramente mais do que 4% ao ano. Subtraindo três anos atípicos (1999, 2003 e 2015), de ajustes drásticos e violenta queda de investimento público, o crescimento médio anual da despesa pública desde 1999, em tempos normais e velocidade de cruzeiro, é de 5,7%. 64
A PEC de Michel Temer e Henrique Meirelles, portanto, pretende que o ritmo anual de aumento real do gasto público, tomando-se a esfera federal, caia da média (em tempos normais) de pouco menos de 6% para zero, de forma quase instantânea. Não se mencionou, pelo menos até agora, nenhum tipo de escalonamento dessa desaceleração. Mesmo com uma freada dessa magnitude, não se resolve imediatamente o problema da trajetória crescente e potencialmente explosiva da dívida pública. No entanto, é bem provável que, se o governo conseguir enfiar a PEC do limite de gastos goela abaixo do Congresso e dos grupos de pressão da sociedade, os investidores, o mercado financeiro e as empresas antecipem a volta da confiança nas contas públicas brasileiras. Todo o problema, portanto, passa a ser o da probabilidade de a PEC ser aprovada, e, caso isso ocorra, a probabilidade de que seja possível implementá-la para valer. A primeira questão é essencialmente política, e tem a ver com a habilidade de Temer em garantir maiorias de três quintos na Câmara e no Senado, mesmo com a balbúrdia da Lava Jato. A segunda questão também é em parte política, mas vai bem além da simples dimensão da luta por votos no Congresso. Na verdade, mirando o arcabouço institucional do Brasil de hoje, é relativamente fácil prever que a eventual aprovação da PEC de limite de gastos, tal como foi proposta, rapidamente vai levar a diversos tipos de choque envolvendo disposições constitucionais e legais (incluindo choques entre diferentes artigos da Constituição). Como já foi bem diagnosticado, a despesa pública real cresce ano a ano no Brasil não por vontade dos sucessivos governos (embora estes na maior parte do tempo sejam participantes ativos do processo), mas sim por uma série de mecanismos constitucionais e legais que obrigam os governantes a expandir continuamente programas previdenciários e sociais e outros tipos de transferências e subsídios. Essa expansão real vegetativa do gasto vai rapidamente levá-lo a bater no novo teto, e aí governo e Congresso terão de – numa velocidade nunca antes vista “na história deste País”, em se tratando de mudanças constitucionais e legais – fazer reformas relâmpago para que a PEC do limite de gastos seja respeitada. A outra possibilidade é que tais reformas não tenham como ser realizadas tão rapidamente, caso em que a PEC não será cumprida e corre o risco de não “pegar”. Mas há uma terceira alternativa. É possível que o formato drástico e radical da PEC seja um primeiro lance na barganha do governo com o Congresso e a sociedade. Neste caso, a equipe econômica jogou o seu pedido lá no alto para que, ao ser reduzido num processo de negociação, ainda permaneça com bastante poder de fogo. Idealmente, uma negociação inteligente até a aprovação da PEC poderia criar mecanismos de transição realistas, que permitam resolver de forma ordeira e tempestiva os muitos impasses constitucionais e legais que surgirão depois que a emenda estiver em vigor. *É colunista do Broadcast e consultor do Ibre/FGV
Faturando com o risco FONTE THE ECONOMIST 27 Maio 2016 às 05h 00
Quando a incerteza é grande e o tempo esquenta, os consultores políticos enchem os bolsos Ultimamente, acompanhar o desdobramento febril dos acontecimentos no Brasil tem sido, por si só, um grande desafio. A presidente Dilma Rousseff, que foi afastada do cargo por conta de suas artimanhas contábeis, aguarda o julgamento do processo de impeachment; um governo interino enfrenta a pior recessão desde os anos 30; e isso tudo em meio a um escândalo de corrupção verdadeiramente cinematográfico, com voltas e reviravoltas que fazem os enredos das novelas brasileiras parecerem a coisa mais lógica do mundo. Num cenário como esse, não parece ser possível permanecer à frente dos acontecimentos, condição no mais das vezes crucial para empresas e investidores. 65
Por sorte, há a quem recorrer. De pequenos escritórios a grandes consultorias de estratégia, um número crescente de cabeças pensantes se oferece para explicar o que está acontecendo no País. Setores inteiros da economia brasileira estão às moscas, mas as consultorias de risco político dizem que nunca tiveram tanto trabalho como agora.
Troca de Dilma por Temer no Brasil é filão para consultorias
A bem da verdade, não é só no Brasil que o negócio das consultorias de risco está em alta. Com o Oriente Médio conflagrado, a Rússia propensa a aventuras e a China concretando recifes sobre os quais outros países também dizem ter soberania, a geopolítica voltou a ser uma preocupação generalizada entre os executivos. A possibilidade de que a Grã-Bretanha abandone a União Europeia e a crise dos imigrantes fazem com que até os países europeus deixem de parecer tão monótonos. E, nos Estados Unidos, a prudência manda investigar o que pode acontecer se Donald Trump acabar conquistando a Casa Branca. Para os analistas de riscos políticos é uma felicidade que essa mais recente onda de incerteza global tenha coincidido com o amadurecimento do setor. Sua estrutura atual data de meados da década de 90. Naquela altura, os clientes em potencial reagiam com perplexidade ao serem prospectados, relembra Ian Bremmer, fundador do Eurasia Group, empresa veterana na comercialização de ciência política em tempo real, com sede em Nova York. A Stratfor, que, de sua base em Austin, no Texas, mascateia previsões geopolíticas há duas décadas, atingiu recentemente o número recorde de 550 mil assinantes. “Não somos mais obrigados a justificar a nossa existência”, comenta Bremmer com satisfação. A demanda por consultoria política aumentou depois da crise financeira, quando as multinacionais enxugaram seus departamentos internos de estratégia, até então encarregados de elaborar (entre outras coisas) esse tipo de análise. Os cortes os reduziram à metade de seu tamanho original, calcula Joel Whitaker, da consultoria Frontier, de Washington. Na opinião do analista, o fenômeno se deve à pressão pela redução de custos e também ao fato de que os conselhos de administração das grandes empresas estão cada vez mais focados no curto prazo. Em razão disso, recorre-se crescentemente a consultores externos. As instituições financeiras, que tendem a fazer dos cenários políticos o mesmo tipo de leitura (isto é, grosso modo, vender ativos onde predominam as práticas estatizantes; comprá-los onde prevalece o ânimo pró-mercado), foram umas das primeiras assinantes de projeções genéricas, como as inicialmente oferecidas por Stratfor e Eurasia. Embora continuem 66
recorrendo a esses serviços, é cada vez maior o número de executivos que se interessa pela análise do risco de empresas específicas. Isso é sopa no mel para consultorias como a brasileira Prospectiva, que há 14 anos troca em miúdos para seus clientes as confusas políticas comerciais e industriais do País. Desde 2012, a consultoria vem crescendo de 20% a 30% ao ano, diz um de seus sócios, Ricardo Mendes. Os serviços customizados, que há dezoito meses não geravam receita alguma para a Frontier, agora representam um quinto de seu faturamento. Na Stratfor eles superaram o valor arrecadado com assinaturas nos últimos cinco anos, e correspondem a um terço das receitas. As consultorias de risco político dizem que nunca tiveram tanto trabalho como agora no Brasil Consultorias de maior porte também estão tirando uma lasquinha. A britânica Control Risks tem 100 analistas políticos em dezenas de escritórios espalhados pelo mundo afora. Há dez anos, eram 30. As receitas geradas pelo negócio principal são complementadas com orientações sobre como as empresas devem cuidar da segurança de seus funcionários e combater as fraudes. Gigantes da consultoria com foco na gestão dos negócios, como a McKinsey, estão acrescentando análises de risco político aos receituários que oferecem para promover a saúde corporativa de seus clientes. Portanto, assim como os próprios riscos, os consultores de riscos também estão se tornando mais diversificados. E tão significativo quanto isso é o fato de que eles não se limitam mais a prestar serviços a empresas ocidentais interessadas em investir em lugares exóticos. Em 2014, a Eurasia abriu um escritório em São Paulo, seu primeiro posto avançado fora do mundo desenvolvido, em princípio para atender empresas brasileiras que buscassem oportunidades em outros mercados. Na prática, seus analistas vêm ajudando executivos brasileiros a entender a crise política por que passa o País. “Riscos políticos” não é algo que as pessoas digam em voz alta na China. Apesar disso, ao tomar suas decisões de investimento, as empresas chinesas sentem cada vez mais necessidade de levar esses riscos em consideração – inclusive quando se trata de investir em países ricos às voltas com novos problemas. O mesmo acontece com outras multinacionais. Como diz Whitaker, para companhias como a mexicana Bimbo, uma grande fabricante de pães industrializados que a Frontier está ajudando a se expandir rumo ao Norte, “os Estados Unidos são um mercado emergente”. Comportam, portanto, alto grau de incerteza.
Economista propõe criação de uma ‘Nova Previdência’ FONTE IDIANA TOMAZELLI / RIO – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 26 Maio 2016 às 22h 01
Para Paulo Rabello de Castro, propostas que estão sendo discutidas hoje não são suficientes para resolver a questão previdenciária As propostas de reforma da Previdência que estão em discussão atualmente não são suficientes para resolver o problema dos aposentados, na avaliação do economista Paulo Rabello de Castro, sócio da RC Consultores e presidente do Instituto Atlântico. Segundo ele, a reforma previdenciária “está sendo apresentada numa visão totalmente conservadora e convencional do novo governo, que só trará – se trouxer – os benefícios de praxe: a volta do pibinho positivo”.
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Para Rabello de Castro, juros são a principal razão para o rombo nas contas
Ligado ao presidente em exercício Michel Temer, Castro vem sendo cotado para assumir um cargo no governo já foi especulado no Ministério da Fazenda e agora cogita-se o comando do IBGE ou mesmo o Ministério do Planejamento, vago com a saída de Romero Jucá. Na quartafeira, o economista se reuniu em Brasília com o presidente, mas desconversou quando questionado sobre uma eventual indicação. Castro é autor de um documento com várias propostas para reanimar a economia brasileira, que inclui a questão previdenciária e também medidas no âmbito fiscal e financeiro. Denominado “Agenda 2016”, foi entregue em março a Temer. No documento, Castro prevê a criação de uma “Nova Previdência”, em que o contribuinte terá a opção de destinar a contribuição ao INSS para a composição de um fundo, do qual ele será cotista, e que funcionaria nos moldes de uma previdência privada. O Tesouro Nacional, por sua vez, poderá sacar os recursos lá depositados, mas terá de emitir Obrigações Sociais do Tesouro Nacional (OSTNs), uma espécie de título com remuneração equivalente à da poupança. Pelas projeções, em 2030, com 26,5 milhões de contribuintes optantes pela Nova Previdência (22,5% da estimativa de pessoas ocupadas no período), o patrimônio do fundo capitalizado poderia chegar a R$ 970 bilhões, considerando ausência de saques. Quem já está na ativa poderia continuar a pagar e receber pelo sistema antigo, caso fosse contrário à mudança. Para garantir que a fórmula dê certo, contudo, seria preciso estabelecer uma idade mínima para a aposentadoria Pelos moldes atuais, a Previdência deve ter um déficit de R$ 146,3 bilhões neste ano, conforme estimativas do governo. No ano passado, o rombo na área foi de R$ 85,818 bilhões. “A Previdência está fadada a surpreender negativamente daqui a 10 anos, e talvez daqui a 20 anos, a depender da demografia”, diz. “A Nova Previdência organizará o débito que hoje está camuflado”. O Fundo do Regime Geral de Previdência Social é previsto no artigo 68 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 2000, mas nunca foi tirado do papel. No futuro, com maior equilíbrio das contas públicas, o Tesouro não precisaria mais tomar 100% dos créditos existentes no fundo. Com isso, cada contribuinte teria liberdade para escolher onde aplicar parte de seu dinheiro, num modelo de gestão compartilhada.
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“Os contribuintes da Previdência são credores e hoje são tratados como meros servos da gleba, como se fossem indivíduos pagando tributos cuja contrapartida é considerada legalmente incerta”, diz Castro. Questão fiscal. Na avaliação do economista, a principal causa para o rombo nas contas públicas são os elevados custos com juros da dívida. Para ele, o foco principal do governo deve mesmo ser investir na resolução do quadro fiscal e em uma reforma financeira. “A sangria está e sempre esteve sobretudo nos juros, exatamente por ser uma dívida pública formada com papéis errados, onerosos e com prazos horrivelmente curtos”, diz Castro, que também é coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE). No documento apresentado a Temer, Castro já propunha o estabelecimento de um limitador para os gastos públicos, mas diferente da proposta apresentada esta semana pelo governo, que prevê que as despesas públicas do ano seguinte terão como teto a inflação ao ano anterior. O plano do economista era criar uma Lei de Controle Orçamentário (LCO), que traria condições para a aplicação de limitadores automáticos de despesa, acionados quando a dívida bruta federal ultrapassasse o patamar prudencial de 45% do PIB ou quando o déficit nominal do governo fosse maior do que 1,5% do PIB. No ano passado, o déficit nominal do setor público chegou a 10,34% do PIB, sendo que R$ 501,786 bilhões (8,46%) foram gastos com juros da dívida. A Agenda 2016 também prevê medidas como elaboração de um Orçamento plurianual, unificação de tributos, maior eficiência na gestão dos gastos e corte estrutural de despesas. A ideia é que a menor pressão do lado fiscal permitirá reduzir a taxa de juros e melhorar o perfil da dívida pública brasileira, abrindo caminho para o aumento de investimentos produtivos. No cenário traçado pelos especialistas, a economia anual com juros chegaria a R$ 336 bilhões em 2022. “Reforma fiscal sem a financeira é um sacrifício duro demais, e reforma financeira sem programa fiscal plurianual seria esforço inútil”, diz Paulo Rabello de Castro. Na renegociação da dívida dos estados, a ideia de Castro é promover um “encontro de contas” por meio do Plano de Refinanciamento Voluntário (PRV). Os Estados poderiam credenciar ativos que pudessem ser empenhados no pagamento da dívida com a União junto à Companhia Federal de Administração de Ativos (CFA). A CFA seria responsável por avaliar os ativos e, posteriormente, repassá-los por meio de concessão, privatização, venda ou securitização (transformar dívida a receber em um título comercializável), rendendo recursos ao Tesouro. “Os contribuintes da Previdência são credores e hoje são tratados como meros servos da gleba, como se fossem indivíduos pagando tributos cuja contrapartida é considerada legalmente incerta”.
Perda em dobro FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 27/05/2016 às 02h 00
A menos de um mês do plebiscito que decidirá se o Reino Unido permanece ou sai da União Europeia, as pesquisas indicam uma forte divisão entre os britânicos. Segundo o levantamento mais recente, 44% apoiam a manutenção do país no bloco, ao passo que 40% advogam pela saída. Trata-se de uma escolha das mais importantes, com profundas implicações tanto para o Reino Unido como para a União Europeia.
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Os defensores do "brexit" -neologismo formado pela junção das palavras "Britain" e "exit"sustentam que a ligação com o bloco europeu impõe ao Reino Unido obrigações e amarras regulatórias que estariam sufocando o crescimento do país. Acrescentam que a recuperação da soberania ampliaria oportunidades de exportação. Tais argumentos, no entanto, encontram pouco respaldo fora das fileiras eurocéticas. Nos últimos meses, estudos independentes e entidades como o FMI, a OCDE e até o Banco da Inglaterra (banco central do país) têm refutado o discurso em prol da saída e alertado para os riscos que ela acarreta. Pesquisa recente concluiu, por exemplo, que não foram poucos os benefícios que o Reino Unido obteve dentro da UE. Seu comércio com os demais membros do bloco é hoje 55% maior do que seria esperado se estivesse em carreira solo. Atualmente, a UE é de longe o maior parceiro comercial dos britânicos, sendo o destino de cerca de metade das suas exportações. Se optar pela saída, o Reino Unido perderá o acesso privilegiado ao mercado único europeu. Isso dificilmente seria compensando pela relação com outros países. É improvável que, sozinhos, os britânicos tenham mais poder de barganhar acordos com China, Índia ou EUA. A defecção abriria, ademais, um período de incertezas que prejudicaria a economia do país e dificultaria a captação de crédito. Pelo ineditismo, não se sabe como se dariam as negociações para a saída nem o que o restante da Europa ofereceria, tampouco quanto tempo durariam as tratativas ou quais seriam os seus resultados. O "brexit" também representaria duro golpe para o projeto de integração europeu, já abalado pela explosão da dívida grega e seus impactos sobre o euro e pela crise de refugiados. Tudo somado, é quase forçoso concluir que uma vitória dos eurocéticos, além de improvável, não trará ganhos a ninguém. Ao contrário, deixará Reino Unido e União Europeia mais fracos.
Debater as prioridades FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 27/05/2016 às 02h 00
O governo de Michel Temer (PMDB) passou em seu primeiro teste parlamentar ao obter permissão do Congresso para incorrer em deficit recorde de R$ 170,5 bilhões (2,8% do PIB) neste ano. A vitória, importante por mostrar capacidade de articulação, tem o efeito positivo de evitar a paralisia da máquina pública, o que seria desastroso para o presidente interino. As batalhas mais difíceis, porém, ainda estão por vir. A mudança da meta escancara a calamidade deixada pela administração petista. Projetava-se inicialmente um saldo positivo de R$ 24 bilhões. Pouco antes de ser afastada, Dilma Rousseff já encaminhara projeto de revisão para um deficit de R$ 96 bilhões -o que também se mostrou errado ao contar com estimativas otimistas de receitas. Alterações de dezenas de bilhões de reais em poucos meses ou semanas atestam o quanto o país voava às cegas. Daqui para a frente, em tese haverá busca por maior previsibilidade; a crer no ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não haverá nova modificação neste ano. 70
Deu-se com isso o primeiro passo na longa caminhada de reconstrução das contas públicas. Em vez de cortes emergenciais e aumentos de impostos para tapar buracos de curto prazo, o governo pretende fazer o Estado caber dentro do Orçamento de forma sustentável. O ponto de partida está na proposta de alterar a Constituição e fixar um teto para o aumento das despesas públicas. Isso tornará inevitável o fundamental debate sobre as prioridades do Estado brasileiro a longo prazo. Para que o teto funcione, serão necessárias mudanças em temas que até agora se mostraram tabu: Previdência e vinculações de receitas, que resultaram em contínuo aumento das despesas sociais, sobretudo com saúde e educação. Até por causa do tamanho do problema, não há bala de prata. Será um processo longo e penoso de convencimento da sociedade de que é preciso fazer escolhas. Se o país quiser expandir os aportes em serviços essenciais, deverá estancar o aumento de outras rubricas. Critérios mais restritivos para despesas de pessoal e reavaliação de subsídios para os que menos precisam são parte da solução. Por fim, tudo indica que algum aumento de impostos será inescapável. O governo Temer acerta ao deixar essa discussão para um segundo momento. Será desejável caminhar para uma estrutura tributária mais progressiva, com maior prevalência sobre rendimentos do trabalho e do capital, e menos da produção e do consumo. É uma agenda bastante difícil até para um governo eleito, que dirá para um interino. Depois de anos de populismo e interdição do debate, todavia, o país já ganhará muito se aumentar a discussão sobre prioridades e conseguir algum controle sobre os gastos públicos.
Preparando o concerto FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, EDITORIAL editoriais@uol.com.br 26/05/2016 às 02h 00
Sem ter a mesma coloração de escândalo que revestia as declarações de Romero Jucá (PMDBRR), recém-exonerado do cargo de ministro do Planejamento, são ainda assim suspeitas as conversas do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do ex-senador José Sarney (PMDB-AP) que acabam de ser reveladas. Trata-se, nos três casos, de diálogos gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que se abrem ao conhecimento público nas reportagens desta Folha. Enquanto Jucá associava as movimentações pelo impeachment ao esforço de pactuar, por trás dos panos, um freio à Operação Lava Jato, Calheiros adotou um enfoque mais institucional, embora longe de parecer desinteressado. Teceu considerações sobre o mecanismo da delação premiada e sobre recente decisão do Supremo Tribunal Federal, que passou a permitir a prisão de réus condenados em segunda instância, mesmo se ainda não esgotados os recursos judiciais cabíveis.
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Impunha-se, para Calheiros, regulamentar a delação, impossibilitando que presos colaborem com a Justiça. Diga-se que muitos advogados criticam o que entendem ser o uso da prisão preventiva como instrumento de pressão com vistas a obter denúncias e provas. Não terá sido discussão doutrinária, contudo, o colóquio entre Renan e Sérgio Machado. O presidente do Senado debatia alternativas possíveis, naquele momento, para a permanência de Dilma Rousseff (PT) e para os desconfortos causados pela Lava Jato. Antes de "passar a borracha", cochichou Renan, seria necessário "negociar a transição" com o STF; em meio a esse processo é que se viria a manietar a investigação por meio de alteração legislativa. Ao estriduloso e destemperado flautim de Jucá, o concerto contra a Lava Jato acrescentou, portanto, a pauta de fundo ensaiada pelo acordeom de Calheiros nas audições de Machado. Fez-se agora o trio, com o ex-presidente da República José Sarney empunhando discretas maracas. Prometeu a Machado que o ajudaria a impedir o encaminhamento de seu processo às mãos do célere e rigoroso juiz Sergio Moro. Não se sabe ao certo quantos outros virtuoses da dissimulação irão acrescentar-se ao trio peemedebista já registrado nesses áudios. A experiência da Operação Mãos Limpas, na Itália, mostra com eloquência a dedicação dos políticos quando se trata de interromper tudo o que desvele suas práticas corruptas. A sociedade brasileira está atenta, contudo —e farta dos que, tanto do lado do PT quanto do de seus opositores, insistem em escarnecer da lei e burlar a Justiça.
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Em conversa gravada, Renan defende mudar lei da delação premiada Eduardo Anizelli/Folhapress
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, RUBENS VALENTE DE BRASÍLIA 25/05/2016 às 07h 32
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse em conversa gravada pelo expresidente da Transpetro Sérgio Machado que apoia uma mudança na lei que trata da delação premiada de forma a impedir que um preso se torne delator -procedimento central utilizado pela Operação Lava Jato. Renan sugeriu que, após enfrentar esse assunto, também poderia "negociar" com membros do STF (Supremo Tribunal Federal) "a transição" de Dilma Rousseff, presidente hoje afastada. Machado e Renan são alvos da Lava Jato. Desde março, temendo ser preso, Machado gravou pelo menos duas conversas entre ambos. A reportagem obteve os áudios. Machado negocia um acordo de delação premiada. Ele também gravou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), empossado ministro do Planejamento no governo Michel Temer. A revelação das conversas pela Folha na segunda (23) levou à exoneração de Jucá. 73
Em um dos diálogos com Renan, Machado sugeriu "um pacto", que seria "passar uma borracha no Brasil". Renan responde: "antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação". A mudança defendida pelo peemedebista, se efetivada, poderia beneficiar Machado. Ele procurou Jucá, Renan e o ex-presidente José Sarney (PMDB) porque temia ser preso e virar réu colaborador. "Ele está querendo me seduzir, porra. [...] Mandando recado", disse Machado a Renan em referência ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Renan, na conversa, também ataca decisão do STF tomada ano passado, de manter uma pessoa presa após a sua segunda condenação. O presidente do Senado também fala em negociar a transição com membros do STF, embora o áudio não permita estabelecer com precisão o que ele pretende. Machado, para quem os ministros "têm que estar juntos", quis saber por que Dilma não "negocia" com os membros do Supremo. Renan respondeu: "Porque todos estão putos com ela". Para Renan, os políticos todos "estão com medo" da Lava Jato. "Aécio [Neves, presidente do PSDB] está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'", contou Renan, em referência à delação de Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que fazia citação ao tucano. Renan disse que uma delação da empreiteira Odebrecht "vai mostrar as contas", em provável referência à campanha eleitoral de Dilma. Machado respondeu que "não escapa ninguém de nenhum partido". "Do Congresso, se sobrar cinco ou seis, é muito. Governador, nenhum." O peemedebista manifestou contrariedade ao saber, pelo senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), esteve com Michel Temer em março. Em dois pontos das conversas, Renan e Machado falam sobre contatos do senador e de Dilma com a mídia, citando o diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, e o vice-presidente Institucional e Editorial do Grupo Globo, João Roberto Marinho. Renan diz que Frias reconheceu "exageros" na cobertura da Lava Jato e diz que Marinho afirmou a Dilma que havia um "efeito manada" contra seu governo. OUTRO LADO Por meio de sua assessoria, o presidente do Senado informou que os "diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso porque nada vai interferir nas investigações." Segundo a assessoria, "todas as opiniões do senador foram publicamente noticiadas pelos veículos de comunicação, como as críticas ao ex-presidente da Câmara, a possibilidade de alterar a lei de delações para, por exemplo, agravar as penas de delações não confirmadas e as notícias sobre delações de empreiteiras foram fartamente veiculadas". 74
"Em relação ao senador Aécio Neves, o senador Renan Calheiros se desculpa porque se expressou inadequadamente. Ele se referia a um contato do senador mineiro que expressava indignação –e não medo– com a citação do ex-senador Delcídio do Amaral." A nota diz ainda que "o senador Renan Calheiros tem por hábito receber todos aqueles que o procuram. Nas conversas que mantém habitualmente defende com frequência pontos de vista e impressões sobre o quadro. Todas os pontos de vista, evidentemente, dentro da Lei e da Constituição". A assessoria do STF informou que o presidente do tribunal, Ricardo Lewandowski, "jamais manteve conversas sobre supostas 'transição' ou 'mudanças na legislação penal' com as pessoas citadas", isto é, Renan Calheiros e Sérgio Machado. Segundo a nota, o STF "mantém relacionamento institucional com os demais Poderes" e o ministro Lewandowski "participou de diversos encontros, constantes de agenda pública, com integrantes do Poder Executivo para tratar do Orçamento do Judiciário e do reajuste dos salários de servidores e magistrados". Também por meio de nota, a Executiva Nacional do PSDB informou que vai "acionar na Justiça" o ex-presidente da Transpetro. A sigla diz ser "inaceitável essa reiterada tentativa de acusar sem provas em busca de conseguir benefícios de uma delação premiada". "Fica cada vez mais clara a tentativa deliberada e criminosa do senhor Sérgio Machado de envolver em suspeições o PSDB e o nome do senador Aécio Neves, em especial, sem apontar um único fato que as justifique. As gravações se limitam a reproduzir comentários feitos pelo próprio autor, com o objetivo específico de serem gravados e divulgados." "Sobre a referência ao diálogo entre os senadores Aécio Neves e Renan Calheiros, o senador Aécio manifestou a ele o que já havia manifestado publicamente inúmeras vezes: a sua indignação com as falsas citações feitas ao seu nome." Sérgio Machado não é localizado desde a semana passada. Primeira conversa: SÉRGIO MACHADO - Agora, Renan, a situação tá grave. RENAN CALHEIROS - Grave e vai complicar. Porque Andrade fazer [delação], Odebrecht, OAS. [falando a outra pessoa, pede para ser feito um telefonema a um jornalista] MACHADO - Todos vão fazer. RENAN - Todos vão fazer. MACHADO - E essa é a preocupação. Porque é o seguinte, ela [Dilma] não se sustenta mais. Ela tem três saídas. A mais simples seria ela pedir licença... RENAN - Eu tive essa conversa com ela. MACHADO - Ela continuar presidente, o Michel assumiria e garantiria ela e o Lula, fazia um grande acordo. Ela tem três saídas: licença, renúncia ou impeachment. E vai ser rápido. A mais 75
segura para ela é pedir licença e continuar presidente. Se ela continuar presidente, o Michel não é um sacana... RENAN - A melhor solução para ela é um acordo que a turma topa. Não com ela. A negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a eleição, presidente com nova... [atende um telefonema com um jornalista] RENAN - A perspectiva é daquele nosso amigo. MACHADO - Meu amigo, então é isso, você tem trinta dias para resolver essa crise, não tem mais do que isso. A economia não se sustenta mais, está explodindo... RENAN - Queres que eu faça uma avaliação verdadeira? Não acredito em 30 dias, não. Porque se a Odebrecht fala e essa mulher do João Santana fala, que é o que está posto... [apresenta um secretário de governo de Alagoas] MACHADO - O Janot é um filho da puta da maior, da maior... RENAN - O Janot... [inaudível] MACHADO - O Janot tem certeza que eu sou o caixa de vocês. Então o que que ele quer fazer? Ele não encontrou nada nem vai encontrar nada. Então ele quer me desvincular de vocês, mediante Ricardo e mediante e mediante do Paulo Roberto, dos 500 [mil reais], e me jogar para o Moro. E aí ele acha que o Moro, o Moro vai me mandar prender, aí quebra a resistência e aí fodeu. Então a gente de precisa [inaudível] presidente Sarney ter de encontro... Porque se me jogar lá embaixo, eu estou fodido. E aí fica uma coisa... E isso não é análise, ele está insinuando para pessoas que eu devo fazer [delação], aquela coisa toda... E isso não dá, isso quebra tudo isso que está sendo feito. RENAN - [inaudível] MACHADO - Renan, esse cara é mau, é mau, é mau. Agora, tem que administrar isso direito. Inclusive eu estou aqui desde ontem... Tem que ter uma ideia de como vai ser. Porque se esse vagabundo jogar lá embaixo, aí é uma merda. Queria ver se fazia uma conversa, vocês, que alternativa teria, porque aí eu me fodo. RENAN - Sarney. MACHADO - Sarney, fazer uma conversa particular. Com Romero, sei lá. E ver o que sai disso. Eu estou aqui para esperar vocês para poder ver, agora, é um vagabundo. Ele não tem nada contra você nem contra mim. RENAN - Me disse [inaudível] 'ó, se o Renan tiver feito alguma coisa, que não sei, mas esse cara, porra, é um gênio. Porque nós não achamos nada.' MACHADO - E já procuraram tudo. RENAN - Tudo. 76
MACHADO - E não tem. Se tivesse alguma coisa contra você, já tinha jogado... E se tivesse coisa contra mim [inaudível]. A pressão que ele quer usar, que está insinuando, é que... RENAN - Usou todo mundo. MACHADO -...está dando prazos etc é que vai me apartar de vocês. Mesma coisa, já deu sinal com a filha do Eduardo e a mulher... Aquele negócio da filha do Eduardo, a porra da menina não tem nada, Renan, inclusive falsificaram o documento dela. Ela só é usuária de um cartão de crédito. E esse é o caminho [inaudível] das delações. Então precisa ser feito algo no Brasil para poder mudar jogo porque ninguém vai aguentar. Delcídio vai dizer alguma coisa de você? RENAN - Deus me livre, Delcídio é o mais perigoso do mundo. O acordo [inaudível] era para ele gravar a gente, eu acho, fazer aquele negócio que o J Hawilla fez. MACHADO - Que filho da puta, rapaz. RENAN - É um rebotalho de gente. MACHADO - E vocês trabalhando para poder salvar ele. RENAN - [Mudando de assunto] Bom, isso aí então tem que conversar com o Sarney, com o teu advogado, que é muito bom. [inaudível] na delação. MACHADO - Advogado não resolve isso. RENAN - Traçar estratégia. [inaudível] MACHADO - [inaudível] quanto a isso aí só tem estratégia política, o que se pode fazer. RENAN - [inaudível] advogado, conversar, né, para agir judicialmente. MACHADO - Como é que você sugeriria, daqui eu vou passar na casa do presidente Sarney. RENAN - [inaudível] MACHADO - Onde? RENAN - Lá, ou na casa do Romero. MACHADO - Na casa do Romero. Tá certo. Que horas mais ou menos? RENAN - Não, a hora que você quiser eu vou estar por aqui, eu não vou sair não, eu vou só mais tarde vou encontrar o Michel. MACHADO - Michel, como é que está, como é que está tua relação com o Michel? RENAN - Michel, eu disse pra ele, tem que sumir, rapaz. Nós estamos apoiando ele, porque não é interessante brigar. Mas ele errou muito, negócio de Eduardo Cunha... O Jader me reclamou aqui, ele foi lá na casa dele e ele estava lá o Eduardo Cunha. Aí o Jader disse, 'porra, também é demais, né'.
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MACHADO - Renan, não sei se tu viu, um material que saiu na quinta ou sexta-feira, no UOL, um jornalista aqui, dizendo que quinta-feira tinha viajado às pressas... RENAN - É, sacanagem. MACHADO - Tu viu? RENAN - Vi. MACHADO - E que estava sendo montada operação no Nordeste com Polícia Federal, o caralho, na quinta-feira. RENAN - Eu vi. MACHADO - Então, meu amigo, a gente tem que pensar como é que encontra uma saída para isso aí, porque isso aí... RENAN - Porque não... MACHADO - Renan, só se fosse imbecil. Como é que tu vai sentar numa mesa para negociar e diz que está ameaçado de preso, pô? Só quem não te conhece. É um imbecil. RENAN - Tem que ter um fato contra mim. MACHADO - Mas mesmo que tivesse, você não ia dizer, porra, não ia se fragilizar, não é imbecil. Agora, a Globo passou de qualquer limite, Renan. RENAN - Eu marquei para segunda-feira uma conversa inicial com [inaudível] para marcar... Ela me disse que a conversa dela com João Roberto [Marinho] foi desastrosa. Ele disse para ela... Ela reclamou. Ele disse para ela que não tinha como influir. Ela disse que tinha como influir, porque ele influiu em situações semelhantes, o que é verdade. E ele disse que está acontecendo um efeito manada no Brasil contra o governo. MACHADO - Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula? RENAN - O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá... MACHADO - E ele estava, está disposto a assumir o governo? RENAN - Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra... MACHADO - Ela não tem força, Renan. RENAN - Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu? MACHADO - Mas, Renan, com as informações que você tem, que a Odebrecht vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito. 78
RENAN - Tem não, porque vai mostrar as contas. E a mulher é [inaudível]. MACHADO - Acabou, não tem mais jeito. Então a melhor solução para ela, não sei quem podia dizer, é renunciar ou pedir licença. RENAN - Isso [inaudível]. Ela avaliou esse cenário todo. Não deixei ela falar sobre a renúncia. Primeiro cenário, a coisa da renúncia. Aí ela, aí quando ela foi falar, eu disse, 'não fale não, pelo que conheço, a senhora prefere morrer'. Coisa que é para deixar a pessoa... Aí vai: impeachment. 'Eu sinceramente acho que vai ser traumático. O PT vai ser desaparelhado do poder'. MACHADO - E o PT, com esse negócio do Lula, a militância reacendeu. RENAN - Reacendeu. Aí tudo mundo, legalista... Que aí não entra só o petista, entra o legalista. Ontem o Cassio falou. MACHADO - É o seguinte, o PSDB, eu tenho a informação, se convenceu de que eles é o próximo da vez. RENAN - [concordando] Não, o Aécio disse isso lá. Que eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer o... MACHADO - [Interrompendo] O Cunha, o Cunha. O Supremo. Fazer um pacto de Caxias, vamos passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente. Ninguém mexeu com isso. E esses caras do... RENAN - Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso. MACHADO - Acaba com esse negócio da segunda instância, que está apavorando todo mundo. RENAN - A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso. MACHADO - Acaba isso. RENAN - E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do STF]. MACHADO - Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela. RENAN - Não negociam porque todos estão putos com ela. Ela me disse e é verdade mesmo, nessa crise toda –estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável, ela está gripada, muito gripada– aí ela disse: 'Renan, eu recebi aqui o Lewandowski, querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável'. MACHADO - Eu nunca vi um Supremo tão merda, e o novo Supremo, com essa mulher, vai ser pior ainda. [...] 79
MACHADO - [...] Como é que uma presidente não tem um plano B nem C? Ela baixou a guarda. [inaudível] RENAN - Estamos perdendo a condição política. Todo mundo. MACHADO - [inaudível] com Aécio. Você está com a bola na mão. O Michel é o elemento número um dessa solução, a meu ver. Com todos os defeitos que ele tem. RENAN - Primeiro eu disse a ele, 'Michel, você tem que ficar calado, não fala, não fala'. MACHADO - [inaudível] Negócio do partido. RENAN - Foi, foi [inaudível] brigar, né. MACHADO - A bola está no seu colo. Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou uma força que tu não tinha. Então [inaudível] para salvar o Brasil. E esse negócio só salva se botar todo mundo. Porque deixar esse Moro do jeito que ele está, disposto como ele está, com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz, se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente. RENAN - Vai, vai. E aí tem que botar o Lula. Porque é a intuição dele... MACHADO - Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse guizo nela? RENAN - Não, [com] ela eu converso, quem conversa com ela sou eu, rapaz. MACHADO - Seguinte, vou fazer o seguinte, vou passar no presidente, peço para ele marcar um horário na casa do Romero. RENAN - Ou na casa dele. Na casa dele chega muita gente também. MACHADO - É, no Romero chega menos gente. RENAN - Menos gente. MACHADO - Então marco no Romero e encontra nós três. Pronto, acabou. [levanta-se e começam a se despedir] Amigo, não perca essa bola, está no seu colo. Só tem você hoje. [caminhando] Caiu no seu colo e você é um cara predestinado. Aqui não é dedução não, é informação. Ele está querendo me seduzir, porra. RENAN - Eu sei, eu sei. Ele quem? MACHADO - O bicho daqui, o Janot. RENAN - Mandando recado? MACHADO - Mandando recado.
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RENAN - Isso é? MACHADO - É... Porra. É coisa que tem que conversar com muita habilidade para não chegar lá. RENAN - É. É. MACHADO - Falando em prazo... [se despedem] Segunda conversa: MACHADO - [...] A meu ver, a grande chance, Renan, que a gente tem, é correr com aquele semi-parlamentarismo... RENAN - Eu também acho. MACHADO -...paralelo, não importa com o impeach... Com o impeachment de um lado e o semi-parlamentarismo do outro. RENAN - Até se não dá em nada, dá no impeachment. MACHADO - Dá no impeachment. RENAN - É plano A e plano B. MACHADO - Por ser semi-parlamentarismo já gera para a sociedade essa expectativa [inaudível]. E no bojo do semi-parlamentarismo fazer uma ampla negociação para [inaudível]. RENAN - Mas o que precisa fazer, só precisa três três coisas: reforma política, naqueles dois pontos, o fim da proibição... MACHADO - [Interrompendo] São cinco pontos: [...] RENAN - O voto em lista é importante. [inaudível] Só pode fazer delação... Só pode solto, não pode preso. Isso é uma maneira e toda a sociedade compreende que isso é uma tortura. MACHADO - Outra coisa, essa cagada que os procuradores fizeram, o jogo virou um pouco em termos de responsabilidade [...]. Qual a importância do PSDB... O PSDB teve uma posição já mais racional. Agora, ela [Dilma] não tem mais solução, Renan, ela é uma doença terminal e não tem capacidade de renunciar a nada. [inaudível] [...] MACHADO - Me disseram que vai. Dentro da leniência botaram outras pessoas, executivos para falar. Agora, meu trato com essas empresas, Renan, é com os donos. Quer dizer, se botarem, vai dar uma merda geral, eu nunca falei com executivo. RENAN - Não vão botar, não. [inaudível] E da leniência, detalhar mais. A leniência não está clara ainda, é uma das coisas que tem que entrar na... 81
MACHADO -...No pacote. RENAN - No pacote. MACHADO - E tem que encontrar, Renan, como foi feito na Anistia, com os militares, um processo que diz assim: 'Vamos passar o Brasil a limpo, daqui para frente é assim, pra trás...' [bate palmas] Porque senão esse pessoal vão ficar eternamente com uma espada na cabeça, não importa o governo, tudo é igual. RENAN - [concordando] Não, todo mundo quer apertar. É para me deixar prisioneiro trabalhando. Eu estava reclamando aqui. MACHADO - Todos os dias. RENAN - Toda hora, eu não consigo mais cuidar de nada. [...] MACHADO - E tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros. Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros. RENAN - E tudo com medo. MACHADO - Renan, não sobra ninguém, Renan! RENAN - Aécio está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa.' MACHADO - Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan. [...] MACHADO - Não dá pra ficar como está, precisa encontrar uma solução, porque se não vai todo mundo... Moeda de troca é preservar o governo [inaudível]. RENAN - [inaudível] sexta-feira. Conversa muito ruim, a conversa com a menina da Folha... Otavinho [a conversa] foi muito melhor. Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios tem cometido exageros e o João [provável referência a João Roberto Marinho] com aquela conversa de sempre, que não manda. [...] Ela [Dilma] disse a ele 'João, vocês tratam diferentemente de casos iguais. Nós temos vários indicativos'. E ele dizendo 'isso virou uma manada, uma manada, está todo mundo contra o governo.' MACHADO - Efeito manada. RENAN - Efeito manada. Quer dizer, uma maneira sutil de dizer "acabou", né.
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Em gravação, Sarney promete ajudar ex-presidente da Transpetro, mas 'sem advogado no meio' Adriano Machado - 24.mai.16/Reuters
José Sarney conversa com o presidente interino Michel Temer na posse do ministro da Cultura
FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, RUBENS VALENTE DE BRASÍLIA 25/05/2016 às 19h 05
O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) prometeu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, investigado pela Operação Lava Jato, que poderia ajudá-lo a evitar que seu caso fosse transferido para a vara do juiz federal Sergio Moro, em Curitiba (PR), mas "sem meter advogado no meio". As conversas foram gravadas pelo próprio Machado, que nesta terça-feira (24) fechou um acordo de delação premiada no STF. Em um dos diálogos, gravados em março, o ex-senador e ex-presidente manifestou preocupação sobre uma eventual delação de Machado. "Nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em delação premiada", disse o ex-presidente. GRAVAÇÕES SARNEY Transcrição dos áudios Delação da Odebrecht
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Negociações de Temer
Machado respondeu que havia insinuações, provavelmente da PGR (Procuradoria-Geral da República), por uma delação. Sarney explicou a estratégia: "Mas nós temos é que conseguir isso [o pleito de Machado]. Sem meter advogado no meio". Machado concordou de imediato que "advogado não pode participar disso", "de jeito nenhum" e que "advogado é perigoso". Sarney repetiu três vezes: "Sem meter advogado". A estratégia estabelecida por Sarney não fica inteiramente clara ao longo dos diálogos obtidos até aqui pela Folha, mas envolvia conversas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Sérgio Machado disse que não poderia passar por uma iniciativa apenas jurídica, teria que ser política. Ao final de uma das conversas, Machado pediu que Sarney entrasse em contato com ele assim que estabelecesse um horário e local para reunião entre eles e Renan. "E o Romero também está aguardando, se o senhor achar conveniente", acrescentou Machado. Sarney respondeu que não achava conveniente. "Não? O senhor dá o tom", respondeu Machado. O ex-presidente disse que não achava "conveniente, a gente não põe muita gente". Em seguida ele contou que o ex-senador e ex-ministro Amaral Peixoto (1905-1989) costumava dizer que "duas pessoas já é reunião. Três é comício". Medida semelhante havia sido indicada pelo próprio Jucá. Em outro áudio gravado por Machado, ele disse que não era bom todos se reunirem ao mesmo tempo, e sim que Machado falasse com cada líder político, que depois se encarregariam de conversar entre eles. Nas conversas, Sarney deixou claro que concordava com a iniciativa de impedir que o caso de Sérgio Machado fosse enviado para a vara do juiz Sergio Moro em Curitiba. "O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba]", disse o ex-presidente. OUTRO LADO Em nota divulgada na tarde desta quarta-feira (25), o ex-presidente José Sarney afirmou que, não tendo tempo nem conhecimento do teor das gravações", não tem "como responder às perguntas pontuais" feitas pelaFolha. Sarney disse que conhece o ex-senador "Sérgio Machado há muitos anos. Fomos colegas no Senado Federal e tivemos uma relação de amizade, que continuou depois que deixei o Parlamento". "As conversas que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas, de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de minha personalidade. Nesse sentido, expressei sempre minha solidariedade na esperança de superar as acusações que enfrentava. Lamento que conversas privadas tornem-se públicas, pois podem ferir outras pessoas que nunca desejaríamos alcançar", diz a nota assinada pelo ex-presidente. 84
Leia a transcrição das conversas:
Primeira conversa Sarney - Olha, o homem está no exterior. Então a família dele ficou de me dizer quando é que ele voltava. E não falei ontem porque não me falou de novo. Não voltou. Tá com dona Magda. E eu falei com o secretário. Machado - Eu vou tentar falar, que o meu irmão é muito amigo da Magda, para saber se ele sabe quando é que ela volta. Se ele me dá uma saída. Machado - Presidente, então tem três saídas para a presidente Dilma, a mais inteligente... Sarney - Não tem nenhuma saída para ela. Machado -...ela pedir licença. Sarney - Nenhuma saída para ela. Eles não aceitam nem parlamentarismo com ela. Machado - Tem que ser muito rápido. Sarney - E vai, está marchando para ser muito rápido. Machado - Que as delações são as que vem, vem às pencas, não é? Sarney - Odebrecht vem com uma metralhadora de ponto 100. Machado - Olha, acabei de sair da casa do nosso amigo. Expliquei tudo a ele [Renan Calheiros], em todos os detalhes, ele acha que é urgente, tem que marcar uma conversa entre o senhor, o Romero e ele. E pode ser aqui... Só não pode ser na casa dele, porque entra muita gente. Onde o se nhor acha melhor? Sarney - Aqui. Machado - É. O senhor diz a hora, que qualquer hora ele está disponível, quando puder avisar o Romero, eu venho também. Ele [Renan] ficou muito preocupado. O sr. viu o que o [blog do] Camarotti botou ontem? Sarney - Não. Machado - Alguém que vazou, provavelmente grande aliado dele, diz que na reunião com o PSDB ele teria dito que está com medo de ser preso, podia ser preso a qualquer momento. Sarney - Ele? Machado - Ele, Renan. E o Camarotti botou. Na semana passada, não sei se o senhor viu, numa quinta ou sexta, um jornalista aí, que tem certa repercussão na área política, colocou que o Renan tinha saído às pressas daqui com medo dessa condição, delações, e que estavam sendo montadas quatro operações da Polícia Federal, duas no Nordeste e duas aqui. E que o Teori 85
estava de plantão... Desculpe, presidente, não foi quinta não. Foi sábado ou domingo. E que o Teori estava de plantão com toda sua equipe lá no Ministério e que isso significaria uma operação... Isso foi uma... operação que iria acontecer em dois Estados do Nordeste e dois no sul. Presidente, ou bota um basta nisso... O Moro falando besteira, o outro falando isso. [inaudível] 'Renan, tu tem trinta dias que a bola está perto de você, está quase no seu colo'. Vamos fazer uma estratégia de aproveitar porque acabou. A gente pode tentar, como o Brasil sempre conseguiu, uma solução não sangrenta. Mas se passar do tempo ela vai ser sangrenta. Porque o Lula, por mais fraco que esteja, ele ainda tem... E um longo processo de impeachment é uma loucura. E ela perdeu toda... [...] Como é que a presidente, numa crise desse tamanho, a presidente está sem um ministro da Justiça? E não tem um plano B, uma alternativa. Esse governo acabou, acabou, acabou. Agora, se a gente não agir... Outra coisa que é importante para a gente, e eu tenho a informação, é que para o PSDB a água bateu aqui também. Eles sabem que são a próxima bola da vez. Sarney - Eles sabem que eles não vão se safar. Machado - E não tinham essa consciência. Eles achavam que iam botar tudo mundo de bandeja... Então é o momento dela para se tentar conseguir uma solução a la Brasil, como a gente sempre conseguiu, das crises. E o senhor é um mestre pra isso. Desses aí o senhor é o que tem a melhor cabeça. Tem que construir uma solução. Michel tem que ir para um governo grande, de salvação nacional, de integração e etc etc etc. Sarney - Nem Michel eles queriam, eles querem, a oposição. Aceitam o parlamentarismo. Nem Michel eles queriam. Depois de uma conversa do Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas condições. Machado - Não tem outa alternativa. Eles vão ser os próximos. Presidente: não há quem resista a Odebrecht. Sarney - Mas para ver como é que o pessoal.. Machado - Tá todo mundo se cagando, presidente. Todo mundo se cagando. Então ou a gente age rápido. O erro da presidente foi deixar essa coisa andar. Essa coisa andou muito. Aí vai toda a classe política para o saco. Não pode ter eleição agora. Sarney - Mas não se movimente nada, de fazer, nada, para não se lembrarem... Machado - É, eu preciso ter uma garantia Sarney - Não pensar com aquela coisa apress... O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba] Machado - Só isso que eu quero, não quero outra coisa. Sarney - Agora, não fala isso. Machado - Vou dizer pro senhor uma coisa. Esse cara, esse Janot que é mau caráter, ele disse, está tentando seduzir meus advogados, de eu falar. Ou se não falar, vai botar para baixo. Essa é a ameaça, presidente. Então tem que encontrar uma... Esse cara é muito mau caráter. E a crise, o tempo é a nosso favor.
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Sarney - O tempo é a nosso favor. Machado - Por causa da crise, se a gente souber administrar. Nosso amigo, soube ontem, teve reunião com 50 pessoas, não é assim que vai resolver crise política. Hoje, presidente, se estivéssemos só nos três com ele, dizia as coisas a ele. Porque não é se reunindo 50 pessoas, chamar ministros.. Porque a saída que tem, presidente, é essa que o senhor falou é isso, só tem essa, parlamentarismo. Assegurando a ela e o Lula que não vão ser... Ninguém vai fazer caça a nada. Fazer um grande acordo com o Supremo, etc, e fazer, a bala de Caxias, para o país não explodir. E todo mundo fazer acordo porque está todo mundo se fodendo, não sobra ninguém. Agora, isso tem que ser feito rápido. Porque senão esse pessoal toma o poder... Essa cagada do Ministério Público de São Paulo nos ajudou muito. Sarney - Muito. Machado - Muito, muito, muito. Porque bota mais gente, que começa a entender... O [colunista da Folha] Janio de Freitas já está na oposição, radicalmente, já está falando até em Operação Bandeirante. A coisa começou... O Moro começou a levar umas porradas, não sei o quê. A gente tem que aproveitar ess... Aquele negócio do crime do político [de inação]: nós temos 30 dias, presidente, para nós administrarmos. Depois de 30 dias, alguém vai administrar, mas não será mais nós. O nosso amigo tem 30 dias. Ele tem sorte. Com o medo do PSDB, acabou com el,e no colo dele, uma chance de poder ser ator desse processo. E o senhor, presidente, o senhor tem que entrar com a inteligência que não tem. E experiência que não tem. Como é que você faz reunião com o Lula com 50 pessoas, como é que vai querer resolver crise, que vaza tudo... Sarney - Eu ontem disse a um deles que veio aqui: 'Eu disse, Olhe, esqueçam qualquer solução convencional. Esqueçam!'. Machado - Não existe, presidente. Sarney - 'Esqueçam, esqueçam!' Machado - Eu soube que o senhor teve uma conversa com o Michel. Sarney - Eu tive. Ele está consciente disso. Pelo menos não é ele que... Machado - Temos que fazer um governo, presidente, de união nacional. Sarney - Sim, tudo isso está na cabeça dele, tudo isso ele já sabe, tudo isso ele já sabe. Agora, nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em delação premiada. Machado - Não estão falando. Sarney - Até falando isso para saber até onde ele vai, onde é mentira e onde é valorização dele. Machado - Não é valoriz... Essa história é verdadeira, e não é o advogado querendo, e não é diretamente. É [a PGR] dizendo como uma oportunidade, porque 'como não encontrou nada...' É nessa.
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Sarney - Sim, mas nós temos é que conseguir isso. Sem meter advogado no meio. Machado - Não, advogado não pode participar disso, eu nem quero conversa com advogado. Eu não quero advogado nesse momento, não quero advogado nessa conversa. Sarney - Sem meter advogado, sem meter advogado, sem meter advogado. Machado - De jeito nenhum. Advogado é perigoso. Sarney - É, ele quer ganhar... Machado - Ele quer ganhar e é perigoso. Presidente, não são confiáveis, presidente, você tá doido? Eu acho que o senhor podia convidar, marcar a hora que o senhor quer, e o senhor convidava o Renan e Romero e me diz a hora que eu venho. Qual a hora que o senhor acha melhor para o senhor? Sarney - Eu vou falar, já liguei para o Renan, ele estava deitado. Machado - Não, ele estava acordado, acabei de sair de lá agora. Sarney - Ele ligou para mim de lá, depois que tinha acordado, e disse que ele vinha aqui. Disse que vinha aqui. Machado - Ele disse para o senhor marcar a hora que quiser. Então como faz, o senhor combina e me avisa? Sarney - Eu combino e aviso. [...] Machado - O Moreira [Franco] está achando o quê? Sarney - O Moreira também tá achando que está tudo perdido, agora, não tem gente com densidade para... [inaudível] Machado - Presidente, só tem o senhor, presidente. Que já viveu muito. Que tem inteligência. Não pode ser mais oba-oba, não pode ser mais conversa de bar. Tem que ser conversa de Estado-Maior. Estado-Maior analisando. E não pode ser um [...] que não resolve. Você tem que criar o núcleo duro, resolver no núcleo duro e depois ir espalhando e ter a soluç... Agora, foi nos dada a chave, que é o medo da oposição. Sarney - É, nós estamos... Duas coisas estão correndo paralelo. Uma é essa que nos interessa. E outra é essa outra que nós não temos a chave de dirigir. Essa outra é muito maior. Então eu quero ver se eu... Se essa chave... A gente tendo... Machado - Eu vou tentar saber, falar com meu irmão se ele sabe quando é que ela volta. Sarney - E veja com o advogado a situação. A situação onde é que eles estão mexendo para baixar o processo.
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Machado - Baixar o processo, são duas coisas [suspeitas]: como essas duas coisas, Ricardo, que não tem nada a ver com Renan, e os 500, que não tem nada a ver com o Renan, eles querem me apartar do Renan... Sarney - Eles quem? Machado - O Janot e a sua turma. E aí me botar pro Moro, que tem pouco sentido ficar aqui. Com outro objetivo. Sarney - Aí é mais difícil, porque se eles não encontraram nada, nem no Renan nem no negócio, não há motivo para lhe mandar para o Paraná. Machado - Ele acha que essas duas coisas são motivo para me investigar no Paraná. Esse é io argumento. Na verdade o que eles querem é outra coisa, o pretexto é esse. Você pede ao [inaudível] para me ligar então? Sarney - Peço. Na hora que o Renan marcar, eu peço... Vai ser de noite. Machado - Tá. E o Romero também está aguardando, se o senhor achar conveniente. Sarney - [sussurrando] Não acho conveniente. Machado - Não? O senhor que dá o tom. Sarney - Não acho conveniente. A gente não põe muita gente. Machado - O senhor é o meu guia. Sarney - O Amaral Peixoto dizia isso: 'duas pessoas já é reunião. Três é comício'. Machado - [rindo] Sarney - Então três pessoas já é comício. [...]
Segunda conversa Sarney - Agora é coisa séria, acho que o negócio é sério. Machado - Presidente, o cara [Sérgio Moro] agora seguiu aquela estratégia, de 'deslegitimizar' as coisas, agora não tem ninguém mais legítimo para falar mais nada. Pegou Renan, pegou o Eduardo, desmoralizou o Lula. Agora a Dilma. E o Supremo fez essa suprema... rasgou a Constituição. Sarney - Foi. Fez aquele negócio com o Delcídio. E pior foi o Senado se acovardar de uma maneira... [autorizou prisão do então senador]. Machado - O Senado não podia ter aceito aquilo, não. 89
Sarney - Não podia, a partir dali ele acabou. Aquilo é uma página negra do Senado. Machado - Porque não foi flagrante delito. Você tem que obedecer a lei. Sarney - Não tinha nem inquérito! Machado - Não tem nada. Ali foi um fígado dos ministros. Lascaram com o André Esteves.. Agora pergunta, quem é que vai reagir? [...] Machado - O Senado deixar o Delcídio preso por um artista. Sarney - Uma cilada. Machado - Cilada. Sarney - Que botaram eles. Uma coisa que o Senado se desmoralizou. E agora o Teori acabou de desmoralizar o Senado porque mostrou que tem mais coragem que o Senado, manda soltar. Machado - Presidente, ficou muito mal. A classe política está acabada. É um salve-se quem puder. Nessa coisa de navio que todo mundo quer fugir, morre todo mundo. [...] Sarney - Eu soube que o Lula disse, outro dia, ele tem chorado muito. [...] Ele está com os olhos inchados. [...] Sarney - Nesse caso, ao que eu sei, o único em que ela está envolvida diretamente é que ela falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do... E responsabilizar aquele [inaudível] Machado - Isso é muito estranho [problemas de governo]. Presidente, você pegar um marqueteiro, dos três do Brasil. [...] Deixa aquele ministério da Justiça que é banana, só diz besteira. Nunca vi um governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. Tem que alguém dizer assim 'A presidente é bunda mole'. Não tem um fato positivo. [...] Sarney - E o Renan cometeu uma ingenuidade. No dia que ele chegou, quem deu isso pela primeira vez foi a Délis Ortiz. Eu cheguei lá era umas 4 horas, era um sábado, ele disse 'já entreguei todos os documentos para a Delis Ortiz, provando que eu... que foi dinheiro meu'. Eu disse: 'Renan, para jornalista você não dá documento nunca. Você fazer um negócio desse. O que isso vai te trazer de dor de cabeça'. Não deu outra. Machado - Renan erra muito no varejo. Ele é bom. [...] Presidente, não pode ser assim, varejista desse jeito.
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[...] Sarney - Tudo isso é o governo, meu Deus. Esse negócio da Petrobras só os empresários que vão pagar, os políticos? E o governo que fez isso tudo, hein? Machado - Acabou o Lula, presidente. Sarney - O Lula acabou, o Lula coitado deve estar numa depressão. Machado - Não houve nenhuma solidariedade da parte dela. Sarney - Nenhuma, nenhuma. E com esse Moro perseguindo por besteira. Machado - Tomou conta do Brasil. O Supremo fez a pedido dele.
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