Resenha 28 06 2016

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS

28 DE JUNHO DE 2016

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Reino Unido é rebaixado e bolsas perdem US$ 2 tri com Brexit FONTE JAMIL CHADE -JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 27 Junho 2016 às 21h 58

Com vitória do 'sim', pânico no mercado de ações superou o do dia seguinte à quebra do Lehman Brothers, em 2008; Ásia e Europa perderam mais que um PIB brasileiro GENEBRA - As agências de classificação de risco Standard & Poor’s e Fitch rebaixaram o rating do Reino Unido depois de a população decidir em referendo, na semana passada, deixar a União Europeia. Além disso, com o resultado, o mercado de ações perdeu só na sexta-feira US$ 2 trilhões (R$ 6,7 trilhões) o equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. RELACIONADAS:   

Brexit já aumenta onda protecionista na União Europeia Após Brexit, Lagarde diz que autoridades devem agir para reduzir turbulência no mercado Brexit pode adiar corte de juros no Brasil, diz consultoria dos EUA

Apenas na sexta-feira, a queda nos valores de ações em Londres, Paris, Frankfurt e na Ásia somou valor superior a todo o PIB brasileiro de 2015 ou R$ 5,9 trilhões. Ainda segundo a S&P, as perdas superaram as causados no dia seguinte à quebra do Lehman Brothers em 2008 e à Segunda Negra de 1987.

Perspectiva negativa contabiliza os riscos à economia e à performance fiscal do Reino Unido

A Standard & Poor’s de rebaixou a classificação de risco da segunda maior economia da Europa, passando de AAA para AA. A agência ainda manteve a perspectiva negativa, o que pode elevar os custos para que o Tesouro britânico ou as empresas do país tenham acesso a créditos externos. Na avaliação dos analistas, o Brexit “vai enfraquecer a previsibilidade, a estabilidade e a efetividade do cenário político no país, afetar a economia e o crescimento do PIB, bem como seu equilíbrio fiscal e externo”. A saída da União Europeia pode ainda levar a uma “deterioração do desempenho econômico, incluindo de uma grande parte do setor de serviços

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financeiros”. Para a S&P, a opção pela saída da UE deve ainda desencadear uma crise constitucional, com Escócia e Irlanda do Norte fazendo um plebiscito sobre sua independência. A Fitch também rebaixou o rating de probabilidade de inadimplência do emissor de longo prazo em moedas estrangeira e local do Reino Unido de AA+ para AA. A perspectiva é negativa. Em comunicado, a agência afirma que a decisão do país de deixar a UE terá impacto negativo sobre sua economia, finanças públicas e política. “A Fitch acredita que a incerteza após o resultado do referendo vai induzir a uma abrupta desaceleração no crescimento do PIB no curto prazo, com as empresas adiando investimentos e considerando mudanças no ambiente legal e regulatório”. Mercados. As bolsas voltaram a fechar em forte baixa nesta segunda-feira, 27, e, para analistas, o pânico inicial ainda não foi totalmente absorvido. A moeda britânica atingiu seu menor valor em 31 anos, num patamar de US$ 1,3151. Já os papéis do Tesouro de Londres atingiram uma baixa recorde. As ações de empresas aéreas, empresas de construção e bancos foram os mais afetados. O Royal Bank of Scotland chegou a perder 22%, ante uma queda de 21% nas ações da Easyjet. O FTSE 250 Index, em Londres, chegou a perder 6%, após queda de 7% na sexta-feira. Agora, analistas começam a avaliar o impacto que a saída pode ter no médio e longo prazos. “Houve uma primeira onda de impacto que foi imediato”, disse ao Estado o estrategista-chefe do banco suíço Julius Baer, Christian Gattiker, que aposta em uma intervenção mais ampla dos bancos centrais se o colapso das bolsas continuarem a ser registrados. Em sua visão, os mercados ainda não superaram essa primeira etapa. Uma segunda onda, para ele, pode ser a avaliação do “risco de um contágio” mais generalizado no mercado de ações da Europa. “A pergunta que se faz é se o Brexit é o primeiro sinal do fim da UE no longo prazo”, apontou o representando do maior private bank independente da Suíça com ativos de clientes de 393 bilhões de francos suíços. “Essa não é a nossa visão. Mas pode estar entre os cenários avaliados”, esclareceu. Uma terceira onda de reações estaria baseada na resposta que a comunidade internacional dará à saída do Reino Unido da UE. “Veremos qual será a resposta política da UE, do G-7 e também dos bancos centrais”. Incertezas. Nem mesmo a tentativa do ministro de Finanças do Reino Unido, George Osborne, de tranquilizar os mercados acalmou os investidores. Seu recado era de que a economia britânica era sólida e que, nos últimos meses, “planos robustos de contingência foram criados”. Segundo ele, Londres poderia enfrentar o futuro “com uma posição de força”. Mas admitiu que “ajustes” ainda ocorreriam. Ao Parlamento, o premie David Cameron admitiu que negociar a saída da UE e novos acordos financeiros e comerciais com o resto do mundo promete ser “o maior desafio da administração pública por décadas”.

Maioria dos acionistas da Estácio apoia venda da empresa à Kroton FONTE REUTERS 27 Junho 2016 às 23h 43

Estácio é alvo de disputa entre concorrentes; maior acionista se opõe à venda e avalia fazer oferta a minoritários Acionistas que representam 52% do capital da Estácio Participações apoiam a venda da empresa privada de ensino superior para a rival Kroton, disse uma fonte a par dos planos da Kroton, que cogita fazer oferta hostil, se necessário. Nesta segunda-feira, 27, a família Zaher, 3


dona de cerca de 14% da Estácio e que se opõe à venda para a Kroton, disse que avalia lançar oferta pública de aquisição (OPA) para assumir o controle da companhia sediada no Rio. RELACIONADAS:   

Grupo Ser fará nova proposta pela Estácio Kroton melhora proposta pela Estácio Presidente da Estácio renuncia em meio a disputa

A fonte, que falou sob condição de anonimato, disse que a proposta da empresa de trocar 1,25 ação de sua emissão para cada papel da Estácio pode ser levada diretamente aos acionistas, o que configuraria oferta hostil sem necessidade de consentimento do Conselho de Administração da empresa alvo.

A Estácio também é alvo do grupo Ser Educacional

Segundo a fonte, um dos investidores estrangeiros que detém posição nas duas companhias enviou carta ao conselho da Estácio dizendo que está disposto a convocar assembleia caso o comitê não se posicione ou seja contrário à operação com a Kroton. Esta assembleia incluiria um pedido de substituição do conselho. O conselho da Estácio vai se reunir na quinta-feira para discutir as propostas de compra, segundo outra fonte. Os próximos passos da Kroton vão depender desta resposta, sendo que a empresa também considera a chance de deixar o negócio. “A Kroton ainda acredita numa relação negociada, mas com muita pressão de acionistas que são a favor da oferta”, disse. A segunda opção mais provável seria a oferta hostil, já que há poucos motivos que a levariam a deixar o negócio, afirmou. A Kroton ainda não tem indicação da posição do conselho da Estácio. “Ainda não dá para saber o que vai acontecer. A bola está do lado deles”, disse a fonte, citando o grupo formado para avaliar as propostas pela Estácio, que conta com o presidente do conselho, João Cox, o vicepresidente Maurício Luchetti e o conselheiro independente Libano Barroso. Além da eventual oferta dos Zaher e da proposta já oficial da Kroton, a Ser Educacional apresentou oferta de associação à Estácio. Procurada, a Kroton disse que não iria se manifestar. A intenção anunciada pela família Zaher é vista pela Kroton como tentativa de pressionar para melhora nos termos da oferta. Também é vista como oferta hostil, pois não foi solicitada e iria direto para leilão em bolsa. 4


Antes de realizar o leilão da OPA é necessário retirar a cláusula de poison pill, com aprovação em assembleia. “São os acionistas da Estácio que querem fazer o negócio com a Kroton. A troco de que eles iriam se mobilizar para um negócio que não querem fazer? Só se eles forem convencidos um a um”, disse. A fonte também disse que para fazer a OPA, a família Zaher teria de assumir dívida maior que seu patrimônio e que não é factível captar um montante elevado com o mercado estagnado. A Estácio informou, em fato relevante, que a família Zaher, está considerando a possibilidade de lançar uma oferta pública para aquisição do controle da empresa, “face às propostas de combinação de negócios feitas à Estácio por Kroton Educacional e Ser Educacional”. No documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Estácio diz que essa oferta, se lançada, seria por, no mínimo, 36% do capital social da companhia do setor educacional.

Crédito para de encolher em maio, mas juros e inadimplência sobem Bancos e direitos do consumidor

FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, EDUARDO CUCOLO DE BRASÍLIA 27/06/2016 às 11h 14

Pela primeira vez no ano, o Banco Central registrou aumento no estoque de operações de crédito no país, interrompendo uma sequência de quatro recuos consecutivos. Ainda não é possível, no entanto, falar em reação desse indicador econômico. Em maio, o estoque cresceu 0,1% em relação a abril, para R$ 3,144 trilhões. Na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto), o crédito encolheu de 52,6% para 52,4%, a quinta queda consecutiva. Em 12 meses, houve aumento de 2%, percentual bem inferior à inflação de cerca de 9% no período. As concessões de novos empréstimos avançaram 0,3% na comparação mensal, mas caíram 6% em relação ao mesmo período do ano anterior. 5


Os números do BC mostraram um melhor desempenho do crédito à pessoa física, que avançou 0,4% no mês e 4,8% em 12 meses. Nas mesmas comparações, o estoque para as empresas recuou 0,1% e 0,5%. JUROS A taxa média de juros chegou a 71,7% ao ano no crédito ao consumo. Em maio do ano passado, estava em 57,3% ao ano. No cheque especial, os juros chegaram a 311% ao ano. O juro dessa modalidade tem batido recordes de alta desde março. No rotativo do cartão de crédito, a taxa subiu para 471% ao ano, também novo recorde. A inadimplência nas operações ao consumo passou de 5,4% em maio do ano passado para 6,3% em maio deste ano. Para as empresas, no crédito livre, variou de 3,9% para 5,4% no mesmo período. BNDES As concessões de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) caíram 27% em relação a abril e 33% na comparação com maio do ano passado. O saldo ficou estável no mês. O estoque de crédito para compra de veículos seguiu a trajetória de queda vista desde 2014. Em 12 meses, o recuo é de 14%. No cartão de crédito, o saldo das compras à vista e das operações parceladas com juros cresceu cerca de 3% no mês. O rotativo avançou 0,5%. O estoque de crédito imobiliário avançou 0,7% no mês e 10% em 12 meses.

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BC revisa projeção de inflação para cima, a 6,9% Relatório trimestral ameniza recuo do PIB; em 2017, IPCA deve ficar acima do centro da meta FONTE O GLOBO GABRIELA VALENTE 28/06/2016 ÀS 09H 43

- Daniel Marenco / Agência O Globo

BRASÍLIA - O Banco Central revisou suas projeções para este ano: aposta numa recessão um pouco menor que a anunciada antes, mas com inflação mais alta. A previsão para a queda na atividade econômica passou de 3,6% para 3,3%. E a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado oficialmente no sistema de metas, subiu de 6,6% para 6,9%. Veja também: 

Meta de inflação para 2018 deve ficar em 4,5%

Focus: projeções para inflação e taxa de juros em 2016 sobem

Preços muito acima da média para o tradicional café com leite

Governo oficializa isenção de imposto para importação de feijão

Para o ano que vem, a expectativa, anunciada nesta terça-feira, frustrou o mercado financeiro, que esperava ver a inflação na meta. Houve recuo da perspectiva para o IPCA em 2017, de 4,9% para 4,7%, mas ainda não chegou aos 4,5% como previa a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada há duas semanas. De acordo com o relatório trimestral de inflação, as projeções atuais mostram que o BC só cumprirá estritamente sua missão em 2018, quando a projeção para a inflação chegará a 4,4% no primeiro trimestre. No período seguinte, cairá mais um pouco e alcançará 4,2%. Nas contas dos técnicos, a probabilidade estimada de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância da meta em 2016, de 2 pontos percentuais está em torno de 69% e, em 2017, de 18%. As projeções para este ano, segundo o BC, pioraram pelos problemas na área fiscal, porque a inflação vista pelo brasileiro foi maior que a projetada pelo BC, as tarifas de serviços públicos aumentaram mais que o esperado e os alimentos estão mais caros. 7


“De fato, as expectativas de inflação têm sido impactadas negativamente esse ano pelo nível elevado da inflação corrente, pelo aumento recente observado nos preços de alimentos, pelos efeitos residuais do processo de ajuste de preços relativos observado em 2015, mas também pelas incertezas fiscais criadas no passado”, diz o Copom, que complementa. “Para o Comitê, a aprovação e a implementação de ajustes na economia brasileira, inclusive de ordem fiscal, além de outros fatores como a dinâmica dos preços administrados, o processo de distensão no mercado de trabalho e a perspectiva de um hiato do produto desinflacionário são fatores importantes do contexto em que decisões futuras de política monetária serão tomadas, com vistas a assegurar a convergência da inflação para a meta de 4,5% estabelecida pelo CMN, em 2017”. Segundo o documento, há avanços no combate à inflação, mas sua continuidade depende de ajustes – principalmente fiscais – na economia brasileira. O BC lista desafios no controle dos preços como a inércia do processo de realinhamento do câmbio, a confluência de fenômenos climáticos sobre a produção mundial de alimentos, mais especificamente de grãos, e seus efeitos sobre os preços domésticos e, as incertezas em relação ao comportamento da economia mundial. Isso ainda não leva em conta a saída do Reino Unido da União Europeia, já que o relatório foi feito com dados até o dia 17. Para os diretores do BC, nos próximos dois anos, o cenário é de crescimento global moderado, com a depreciação ocorrida do real em relação a moedas de importantes parceiros comerciais nos últimos anos, o que ajuda nas exportações. Mesmo assim, o Copom considera que o ambiente externo permanece desafiador. No âmbito interno, o Copom reitera que a economia continua em terreno negativo em função de incertezas diversas. O investimento cai por causa dessas incertezas e o consumo privado também se contrai, em linha com os dados de crédito, emprego e renda. “Entretanto, para o Comitê, à medida que a confiança de firmas e famílias se fortaleça, o ritmo de atividade tende a se recuperar. Além disso, o Comitê avalia que, no médio prazo, mudanças importantes devem ocorrer na composição da demanda e da oferta agregada. O consumo tende a crescer em ritmo moderado e os investimentos tendem a ganhar impulso”, diz o Copom, que justifica ainda: “Nesse contexto, o Comitê buscará circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo CMN em 2016 e adotará as medidas necessárias de forma a assegurar a convergência da inflação para a meta de 4,5%, em 2017. Dessa forma, o cenário central não permite trabalhar com a hipótese de flexibilização das condições monetárias”.

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Ao menos cinco governos estudam vender estatais com apoio do BNDES Ação serviria para ajudar a pagar dívida com União FONTE O GLOBO MARTHA BECK / BÁRBARA NASCIMENTO 28/06/2016 ÀS 09H 41

Notas de real - Dado Galdieri / Bloomberg

BRASÍLIA - A possibilidade de privatizar empresas estatais com a ajuda do BNDES atrai, pelo menos, cinco estados. Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Pará e São Paulo já começaram a analisar ativos que poderiam entrar nesse programa, que faz parte do projeto de renegociação das dívidas estaduais com a União. A lista dos candidatos a passar para as mãos do setor privado inclui empresas de saneamento, como a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), energia elétrica, gás e até bancos. A ideia é que os recursos arrecadados com a privatização possam ser usados para abater débitos com a União ou para a realização de programas de ajuste fiscal. Veja também: 

São Paulo cogita conceder monotrilho à iniciativa privada

Temer diz que poderá renegociar dívida também de municípios

Governo estuda renegociar dívidas estaduais da Copa com BNDES

Estados terão de rever cálculo de pessoal

No Rio Grande do Sul, um dos estados em pior situação financeira, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e a Sulgás estão na mira. No entanto, o governo gaúcho quer um tratamento diferenciado para os recursos arrecadados. Eles precisariam ser usados no pagamento das parcelas mensais da dívida com o governo federal e não para abater o estoque. O Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) também chegou a entrar nos planos de privatização no início do ano, quando os estados ainda negociavam o alongamento

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de dívidas com a equipe econômica da presidente afastada, Dilma Rousseff, mas agora essas chances diminuíram. CENÁRIO ECONÔMICO PODE DESVALORIZAR ATIVOS No projeto encaminhado ao Congresso pelo governo Dilma Rousseff, no início do ano, havia a previsão de que os estados pudessem transferir para a União ativos como parte do pagamento das dívidas. Assim, passar uma empresa estatal para o setor privado seria tarefa do governo federal. Como no Rio Grande do Sul a privatização é um tema polêmico, e a Constituição Estadual exige a realização de plebiscito para esse tipo de operação, o Banrisul poderia entrar no projeto anterior, que tiraria das mãos do governador José Ivo Sartori o ônus de privatizar a instituição. Agora, alegam os técnicos do governo estadual, isso ficou mais difícil. O Rio Grande do Sul só aceita repassar à União ativos para posterior privatização, desde que se adote uma precificação mínima na hora do repasse. No Espírito Santo, o governo prevê o aumento de capital da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) e da concessão de gás natural. Segundo a Secretaria de Fazenda do estado, no caso da Cesan, a companhia está estruturando a entrada de um novo sócio, em parceria com o FIP, o Fundo de Investimentos em Participações do FGTS. A ideia é aumentar a capacidade de investimento da empresa. Já o Pará vai criar uma equipe de trabalho para analisar o tema das privatizações.

O tamanho do endividamento - Ministério da Fazenda e estados O secretário de Fazenda de São Paulo, Renato Villela, afirmou que o estado vai analisar os ativos que poderiam entrar no programa de auxílio do BNDES, mas alertou para o fato de que, diante do atual momento econômico, a tendência do mercado é subestimar o valor dos ativos.

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Para ele, é preciso aguardar a tramitação do projeto de renegociação das dívidas no Congresso para avaliar melhor o tema. — As empresas vão ser subvalorizadas se tentarmos vender agora disse Villela. Técnicos da área econômica, no entanto, acreditam que mais estados vão ter interesse nas privatizações. Eles afirmam que, quando o primeiro interessado aparecer, e o BNDES fizer uma operação bem estruturada que consiga vender a empresa por um preço atraente, quem tem algum receio hoje vai mudar de opinião. Eles afirmam ainda que alguns estados precisam dessas privatizações para equilibrar suas contas. É o caso, por exemplo, de Rio de Janeiro e Cedae. Embora não haja unanimidade sobre a operação, integrantes da cúpula do estado afirmam que, diante das dificuldades financeiras à vista, a concessão da Cedae poderá sair do papel em 2017. Quem é contra a medida alega que a companhia não recebe repasses do Tesouro (logo, não dá despesa), tem baixo valor de mercado e um grande passivo trabalhista. Outra unidade federativa que precisaria dessas operações seria o Distrito Federal, que tem como um ativo potencial o Banco de Brasília (BRB). No entanto, a secretaria de Fazenda do DF informou que “não se cogita qualquer privatização”. A mesma resposta foi dada pelo Mato Grosso. No Rio Grande do Norte, o governo estadual cogita privatizar o sistema prisional, mas isso não entraria na negociação com a União. EM MINAS, ANÁLISE DE CEMIG E GASMIG Em Minas Gerais, a secretaria de Fazenda informou que não irá se posicionar sobre o assunto e que prefere aguardar “o momento adequado”. O governo do estado, contudo, já analisa possibilidades nos bastidores. O estado tem como ativos potenciais a Cemig, responsável pela distribuição de energia e controladora da Light, e a Gasmig, fornecedora de gás. A secretária de Fazenda de Goiás, Ana Carla Abrão, informou que o estado já vinha preparando um programa de privatização de ativos avançado que independe da renegociação das dívidas com a União e não deve precisar da ajuda do BNDES. A primeira empresa é a Celg. — Nós não seríamos uma prioridade, porque o BNDES vai ter que dar suporte para as privatizações de todos os estados. Todos os ativos de Goiás são objeto de uma análise criteriosa para avaliar se não faz mais sentido sua transferência para a gestão privada seja via contratos de gestão, organizações sociais, venda, alienação, PPP, concessão ou outorga. Faremos o que for melhor para o estado do ponto de vista da qualidade do serviço e do ponto de vista de gestão fiscal disse Ana Carla.

O Reino Unido deixará a União Europeia. E você e o seu emprego com isso? Fonte Ricardo Amorim LinkedIn 24 de jun de 2016

Em uma decisão histórica, o Reino Unido decidiu em um plebiscito deixar a União Europeia. Talvez, você esteja se perguntando o que você, no Brasil ou em qualquer outro lugar fora do Reino Unido, tem a ver com isso. Muito mais do que você imagina.

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Para começo de conversa, as Bolsas despencaram em todo o mundo, sinalizando que as expectativas para os resultados das empresas e a economia mundial pioraram, mas por quê? Razões não faltam. A decisão vai reforçar um movimento anti-establishment, nacionalista e populista na Europa e nos EUA, aumentando a incerteza sobre o futuro. Isto leva empresas a serem mais cautelosas em seus investimentos e, por consequência, reduz a geração de empregos e o crescimento da economia mundial. Desde a virada do milênio, o ritmo de crescimento médio dos países desenvolvidos foi apenas a metade do que era nas três décadas anteriores. Ainda mais grave, ele favoreceu quase que exclusivamente os detentores de capital, à medida que um movimento em direção a taxas de juros negativas – já há mais de US$9 trilhões em títulos pagando taxas de juros negativas nos países desenvolvidos – gerou bolhas de ativos financeiros, mas o fraco desempenho econômico fez os salários subirem menos do que a inflação, isto é, caírem em termos reais. O resultado é que mesmo nos EUA, o país desenvolvido de melhor desempenho econômico neste milênio, a renda mediana é hoje menor do que há 30 anos em termos reais. Em outras palavras, pela primeira vez na história dos EUA, o americano médio está pior de vida do que estavam seus pais com a mesma idade. Isto está gerando muito ressentimento e, como infelizmente é comum nestes casos, um forte movimento de caçar as bruxas e culpar imigrantes e estrangeiros. Nas últimas eleições na Europa, populistas e nacionalistas avançaram de forma significativa em praticamente todos os países. Os exemplos mais marcantes foram o SYRIZA e o Amanhecer Dourado na Grécia, o Partido do Povo Suíço na Suíça, o Movimento das Cinco Estrelas e a Liga do Norte na Itália, o Partido do Povo Dinamarquês na Dinamarca, o Podemos e o Cidadãos na Espanha, o Jobbik na Hungria, o Finlandeses na Finlândia, a Frente Nacional na Franca e o UKIP no Reino Unido. Na atual campanha presidencial americana não é diferente, com Donald Trump e Bernie Sanders tendo desempenhos muito mais fortes do que ninguém de bom senso poderia imaginar até recentemente. A saída do Reino Unido da União Europeia reforçará movimentos anti-imigrantes e o separatismo, o que não só reduz o crescimento global por enfraquecer o comércio internacional, mas abre espaço para tensões mais graves, inclusive bélicas. É bom lembrar que o projeto de interdependência entre os países europeus por meio da União Europeia tinha dois objetivos: acelerar o crescimento econômico e reduzir o risco de conflitos bélicos em uma região que deu à luz duas guerras mundiais no século XX. Ambos saem agora enfraquecidos. Para piorar, o choque econômico negativo vem em um momento em que a economia mundial já estava cambaleante e onde há ao menos duas grandes bolhas de ativos que podem representar riscos para a economia mundial. Olhando a economia mundial, Europa e Japão já tinham desempenho muito fraco e, provavelmente agora serão jogadas em novas recessões. Entre os BRICS, Brasil e Rússia já estão em recessão e a China crescendo menos do que crescia até recentemente; só a Índia ainda ia bem. Os EUA vivem desde 2009, a recuperação econômica mais lenta desde o pósguerra e a incerteza eleitoral e a possibilidade de alta da juros pelo Fed ainda que cada vez

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mais remota também não colaboram. Em resumo, passou a haver um risco real de uma nova recessão global.

No lado financeiro, a situação é ainda mais grave. Entre as muitas bolhas financeiras infladas pela injeção de dezenas de trilhões de dólares na economia mundial pelos bancos centrais dos países desenvolvidos após a crise financeira global de 2008, há ao menos duas que podem funcionar como gatilho para uma nova crise financeira global. A primeira vem dos EUA. Enquanto a recuperação econômica pós-2009 foi a mais fraca desde o pós-guerra, a alta da Bolsa nos EUA foi a mais forte desde então, em função de lucratividade recorde das empresas. Isto foi possível por vários fatores que já não estão se sustentando: 1. Em 2008 e 2009, a crise financeira global fez o desemprego atingir o nível mais alto em mais de 30 anos nos EUA, derrubando salários, colaborando para aumentar a lucratividade das empresas americanas. Desde então, o desemprego vem caindo e hoje já é menor do que 5%, o que sugere que os salários devem subir, reduzindo os lucros das empresas; 2. A exploração do gás de xisto fez a produção de energia nos EUA dobrar desde 2008, tornando a energia nos EUA mais barata do que no resto do mundo, enquanto o preço do petróleo estava elevado nos mercados internacionais. Quando, recentemente, o preço do petróleo caiu de mais de US$100 por barril para a faixa de US$50 ou menos, esta vantagem competitiva das empresas americanas foi perdida porque o custo de extração americano é relativamente elevado;

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3. 4. Em 2010, o dólar estava bastante desvalorizado em relação à maioria das outras moedas mundiais – incluindo o Real - tornando as exportações americanas baratas em quase todo o mundo, o que ajudou muito nas vendas das empresas americanas. Entre 2010 e 2015, o dólar foi se valorizando cada vez mais – o que deve ser reforçado pela saída da do Reino Unido da União Europeia – e as exportações de produtos americanos, que antes chegavam baratas ao resto do mundo, hoje chegam caras, reduzindo suas vendas; 5. Com juros baixíssimos e mais recentemente até negativos, as empresas americanas conseguiram reduzir seus custos financeiros, aumentando lucros e ainda aproveitaram para emitir dívida e usar os recursos para recomprar ações. Assim, mesmo nos casos em que os lucros das empresas não cresceram, os lucros por ações aumentaram porque o número de ações – o denominador da equação – diminuiu. Com isso, as dívidas das empresas cresceram bastante, tornando-as vulneráveis a eventuais altas dos juros. Quando a taxa de juros sobre de 5% a.a. para 6% a.a., o custo financeiro de uma empresa aumenta 20%. Quando ela sobre de 0,1% a.a. para 1,1%, para a mesma elevação de 1 p.p., o custo financeiro aumenta 1000%. Para completar, a concentração de renda no país é a mais elevada desde 1900. Todas as vezes que ela chegou a níveis próximos aos atuais em 1929, em 2000 e em 2008 tivemos estouros de bolhas acionárias. Isto acontece porque quando há muita concentração de renda e, portanto, muitos têm renda muito baixa, a única forma que eles têm de aumentar o consumo é endividando-se cada vez mais. Este grande endividamento acaba causando uma crise de inadimplência quando a taxa de juros ou o desemprego sobem. Está aí o Brasil, que não me deixa mentir.

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Por fim, não só os lucros das empresas americanas já estão em queda há quase dois anos e devem continuar caindo, mas a razão Preço/Lucro das ações americanas está no segundo nível mais elevado desde 1870, quando considerado o lucro médio de todo um ciclo econômico – ou o CAPE para os aficionados dos jargões financeiros. Apenas na Bolha da Nasdaq as ações americanas estiveram mais caras. Quanto mais cara a Bolsa fica por este indicador, maior costuma ser a queda quando ela começa a cair.

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Com todos estes ingredientes, uma queda súbita do S&P500, o principal índice da Bolsa nos EUA, de cerca de 50%, como aconteceu em 2008/2009, não será nenhuma surpresa, mas se ocorrer, jogará o mundo em uma nova crise financeira global. 16


Se os problemas econômicos globais e financeiros americanos não fossem o bastante, há ainda uma enorme bolha de crédito e imobiliária na China que pode vir a estourar em função de uma recessão global e/ou estouro de bolha acionária nos EUA. Começando pela bolha imobiliária, ela é a maior já vista no planeta ao menos desde 1900 – período para o qual eu consegui dados para analisar. Só para dar uma ideia, o pico de lançamento de casas e apartamentos no Brasil atingiu, em 2013, 200 mil unidades; nos EUA, em 2005 – no auge da bolha imobiliária - chegou a 2,2 milhões de unidades e na China chegou a 22 milhões de unidades no ano passado. Por outro parâmetro, o consumo anual per capita de cimento, o pico na bolha imobiliária americana de 2008 mal passou de 400kg. Na mais inflada bolha imobiliária que já estourou – ao menos comparando este indicador – a coreana de 1997 – ele chegou a 1.550 kg. Na China, atualmente, ele supera 1.700Kg. Lembrando que o dado é por habitante. Se há uma coisa que não falta na China é habitante. Quando bolhas imobiliárias estouram, compradores de imóveis e construtores não conseguem honrar suas dívidas com o setor financeiro, causando grandes perdas ao setor financeiro e fazendo bolhas de crédito estourar.

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Quando, em setembro de 2008, este mecanismo fez a Lehman Brothers quebrar, dando início à crise financeira global, o total de ativos no sistema financeiro americano era de US$ 6 trilhões. No sistema financeiro chinês, havia pouco mais de US$3 trilhões. Desde então, a China inflou uma bolha de crédito em um ritmo nunca antes visto. Hoje, o total de ativos no sistema financeiro chinês é de mais de 15 trilhões duas vezes e meia o que era nos EUA quando quebrou a Lehman Brothers a maior parte direta ou indiretamente relacionada ao financiamento da bolha imobiliária. E isto sem nem considerar o enorme sistema de financiamentos extrabancários – shadow banking – e o grande volume de financiamento a empresas chinesas de construção através do mercado de capitais internacional. Em resumo, é difícil de imaginar que quando a bolha imobiliária chinesa estourar, não tenhamos uma nova crise financeira global, talvez a mais séria que a geração atualmente viva já viu. Ainda é cedo demais para saber se a saída do Reino Unido Unido da União Europeia será apenas a queda de um dominó isolado tomara ou o primeiro de uma sequência de dominós cada vez maiores e mais conectados a outros dominós, com o potencial de impactar a vida de todos no planeta de forma significativa nos próximos anos. Para nós no Brasil, em particular, isto é muito importante porque, como venho salientando, o Brasil isoladamente tem hoje todas as condições de retomar o crescimento econômico de forma mais rápida e forte do que quase ninguém imagina se retomar a confiança de investidores, empresários e consumidores, colocando as contas públicas em ordem com a aprovação das reformas de limite de gastos públicos e Previdência. Minha convicção com relação a isto é tão grande que me dei ao trabalho de escrever o livro Depois da Tempestade para explicar as razões em detalhes. No entanto, o Brasil não é uma ilha. O que acontece no resto do mundo nos impacta, às vezes de forma determinante. Logo quando a tempestade brasileira dá os primeiros sinais de que pode passar, formam-se as nuvens do que pode vir a ser uma grande tempestade global. Ricardo Amorim é autor do livro Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews, presidente da Ricam Consultoria, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes.

Complexo de expropriação Por toda parte, ganha força a queixa de que o emprego nos países avançados está sumindo, sendo tomado por chineses, coreanos, indianos, tailandeses e, até mesmo, brasileiros, que aceitam receber menos Fonte Jornal O Estado de S. Paulo, Celso Ming 27 Junho 2016 às 21h 00

O jornal inglês The Guardian explicou nesse domingo a decisão da Inglaterra de abandonar a União Europeia como “rejeição da globalização”. RELACIONADAS:  

Após Brexit, agências rebaixam classificação do Reino Unido Brexit já aumenta onda protecionista na União Europeia

Aceitos tais termos, esse não é fenômeno exclusivamente inglês. Se é mesmo reação impulsiva contra a globalização, é o que ainda está para se ver. O fato é que se espraia pelo mundo, entre as classes médias, a percepção de que estão sendo expropriadas “pelo sistema” ou pelos

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estrangeiros. Ou, simplesmente, acham que estão tirando delas muito mais do que estão entregando.

Brexit. Decisão impulsiva O argumento central dos catalães, que fundamenta o movimento pela sua independência da Espanha, tamborila o mesmo pandeiro: o de que o governo central devolve apenas fração do que contribuem. E o mesmo pode-se dizer do pleito separatista dos escoceses em relação à Grã-Bretanha. Por toda parte, ganha força a queixa de que o emprego nos países avançados está sumindo, de que está sendo tomado por chineses, coreanos, indianos, tailandeses e, até mesmo, brasileiros, que aceitam receber menos. É a percepção que se avoluma, não só porque cada vez mais produtos de consumo provêm do exterior: camisetas, calçados, aparelhos eletrônicos, remédios e até veículos de luxo. Mas também porque o próprio mercado interno de trabalho está sendo tomado por imigrantes do Oriente Médio, da América Latina e, principalmente, do Leste Europeu. Daí também a rejeição à entrada de refugiados e o crescimento dos movimentos da direita nacionalista xenófoba. No rastro do envelhecimento da população global, os segmentos mais idosos, coincidentemente os que, na Inglaterra, também mais apoiaram o Brexit, cresce outro foco de insegurança: o de que as aposentadorias correm grave risco. Não são apenas os sistemas oficiais de aposentadoria e pensão que estão se debilitando com a redução do emprego e da contribuição das novas gerações. Também os sistemas complementares destinados a reforçar a renda dos mais velhos estão sendo esvaziados. Na maioria dos países avançados, os juros hoje são negativos. Para aplicar dinheiro no banco - coisa nunca antes vista - é preciso entregar mais dinheiro do que se recebe. O rendimento real dos fundos de investimento está em queda. Esta é uma situação que também reflete o esgotamento das políticas monetárias dos grandes bancos centrais, nos seus esforços para tirar suas economias da recessão. É parte do mesmo fenômeno a exaustão dos esquemas de financiamento dos benefícios proporcionados pelo estado do bem-estar social (welfare state). Os tesouros nacionais já não dão mais conta do pagamento do seguro-desemprego, dos planos universais de saúde pública

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e de educação. Os partidos de direita alegam que isso acontece em consequência da invasão de estrangeiros. A decisão tomada pelos ingleses foi impulsiva. Aparentemente, não se deram conta de que a saída lhes custará muito mais do que a permanência na União Europeia. Falta saber se o acontecido servirá de lição, não apenas para os ingleses, mas também para tanta gente pelo mundo que se sente espoliada, seja pelo sistema, seja pelos outros. CONFIRA:

Esta é a evolução da cotação da libra esterlina em relação ao dólar. Terrorismo retórico Ainda será preciso ver em que nível se acomoda a desvalorização da moeda inglesa em razão do Brexit. Além do aumento do custo de vida (pelo encarecimento dos importados), será inevitável a perda de renda e a desvalorização do patrimônio dos ingleses, especialmente o imobiliário. Nenhum desses efeitos deixou de ser denunciado pelos defensores da permanência. Mas, aparentemente, foram tomados como manifestações de terrorismo retórico.

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Estados e municípios estão acumulando dívidas, diz economista Leo Pinheiro/Valor

José Roberto Afonso, economista da FGV, fotografado na cobertura da FGV em Botafogo

FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO 28/06/2016 às 02h 00

Mal fechou a negociação da dívida dos Estados com a União, o governo federal terá outra crise a resolver com governadores e prefeitos. Eles estão acumulando dívidas com fornecedores e servidores, alerta o economista José Roberto Afonso, 55. O colapso desses financiadores informais do setor público é um risco e pode piorar o já ruim quadro de desemprego do país. "O 'não pagar' [dos governos locais] talvez seja hoje um dos maiores bancos do país", afirma Afonso. Especialista em contas públicas, um dos formuladores da Lei de Responsabilidade Fiscal, Afonso aponta falhas na regra proposta pelo governo federal para reduzir os gastos no futuro. Folha - A calamidade financeira é exclusividade do Rio? José Roberto Afonso - Várias prefeituras, antes do Rio, já tinham decretado o mesmo, como Teresópolis (RJ) e Betim (MG). Entre os Estados, temo que o Rio seja apenas um precursor. Há uma grave crise estrutural, que vai da [queda de] receita –com excessiva guerra fiscal e 21


desindustrialização, que tornaram o ICMS um imposto obsoleto– até uma expansão desmedida das despesas. E houve um crescimento forte dos financiamentos, como alternativa à baixa geração de receita própria. A depressão só agravou esse problema. Como avalia o teto de gastos proposto pelo governo? A direção é correta, que é colocar um norte para as despesas. Mas a desaceleração das despesas e, por consequência, a redução da dívida só vai ser alcançada se tivermos um crescimento muito acelerado. É um bom plano para um país que cresce como a China. Como assim? Está se tentando colocar uma trava na expansão do gasto, mas essa trava tem como referência um ano de pico [de despesas], que ainda está em aberto. Isso é um pouco inusitado. E se o governo detonar gastos até o fim do ano? Outra coisa que é preciso saber é se a base será a despesa pública empenhada, a liquidada ou a paga. Parece detalhe, mas entre o empenhado e o pago vão dezenas e dezenas de bilhões de reais. Poderia explicar? Veja o que está acontecendo nos Estados. Como eles não têm financiamento bancário, estão se endividando junto a seus fornecedores e servidores. Como isso é feito? O Rio, por exemplo, manda construir um trecho do metrô ou uma rua do Parque Olímpico e empenha a despesa. A construtora entrega a obra. Como está pronta, o governo teria que liquidar e mandar pagar. Mas o "não pagar" talvez seja hoje um dos maiores bancos do país. Os que vendem ou trabalham para o governo e não recebem são os maiores financiadores do setor público, depois dos títulos da dívida. Então, voltando à definição, estamos falando do quê? Do empenhado ou do pago? Não sabemos o ponto de partida. Pode ter sido uma estratégia de negociação no Congresso? Não sei, mas há de convir que é algo estranho. Desde o anúncio das medidas na área fiscal, nenhum documento foi apresentado. Ainda não conhecemos os pormenores. Imaginamos que o governo quer fazer uma regra restritiva, mas, para ela funcionar, o país precisa crescer muito. Se tiver um PIB caindo, como hoje, a regra é flexível demais. A arrecadação atualmente cai 11% em termos reais, ou seja, abaixo da inflação. Se a regra estivesse valendo, a despesa cresceria pela inflação. A regra, portanto, permitiria que as despesas crescessem mais do que as receitas. Para que a despesa caia como proporção da receita, é preciso que a receita cresça mais do que a inflação. E, se ela cresce junto com a economia, o crescimento tem que ser superior à inflação [hoje em 9,3%]. Ou seja, um crescimento chinês. A regra, como está, não está desenhada para a situação de hoje. Então fica a pergunta: como sairemos do fundo do poço? De certa forma, essa discussão do gasto é um luxo. 22


A dívida pública pode esperar até o teto fazer efeito? O problema da dívida não será resolvido só contendo despesa. É preciso voltar a crescer, e, para voltar a crescer, é preciso convencer quem quer dívida pública a investir em outra coisa. Não é só o governo que quer se endividar, os investidores querem títulos públicos. Agora, se o objetivo é reduzir dívida pública, o que tem que ser feito é aprovar o limite da dívida pública, que já está no Congresso. E não ir pelo atalho, tentar chegar lá pela [redução da] despesa. Quando não se consegue aumentar o endividamento, o gasto cai. É isso que está acontecendo com Estados e municípios. O gasto está caindo porque eles não têm como se financiar. Ainda assim, estão se financiando de uma forma a descoberto. Como assim? Prefeituras e Estados não têm acesso a crédito, só podem tomar empréstimos junto ao Tesouro. No passado recente, o Tesouro flexibilizou, deu garantias para operações de crédito externas e internas. Fez isso de uma maneira desordenada, o que ajudou a empurrar os Estados para a crise em que estão. Agora, o governo diz que acabou o dinheiro, que não tem nada a ver com isso, que os Estados façam seus ajustes. Mas eles não têm como se ajustarem sozinhos. Porque o ajuste deles é o endividamento forçado junto a seus fornecedores e servidores. De quanto seria essa dívida? Só para ter uma ideia, o Rio de Janeiro, entre janeiro e abril, empenhou R$ 23,65 bilhões e deixou de liquidar quase 20% disso. Certamente pagou menos ainda. É um equívoco acreditar que a crise dos Estados é só a dívida com a União. Antes fosse. Os fornecedores e servidores de Estados e municípios, que estão com seus pagamentos atrasados, estão sofrendo uma moratória maior ainda. E isso não está acontecendo por sadismo de governadores e prefeitos. A União terá que se endividar para resolver isso. Entre 2011 e 2014, a União estimulou Estados e municípios a se endividarem de maneira absurda, irresponsável. O que aconteceu? Estão todos no fundo do poço. Mas os governadores estão mais no fundo do que o presidente da República. Se é uma federação, a União terá que resolver de maneira conjunta. Pode-se argumentar que, para isso, o governo federal terá que se apertar mais. Vai, sim. Por que os Estados e municípios deveriam se apertar sozinhos? O ajuste tem que ser para todos e o maior desajuste foi feito pelo governo federal. Dá para tirar os Estados da crise sem aumentar imposto? Não dá para sair da crise sem que quem os colocou na crise não interfira. O governo federal pode achar que não tem nada a ver com isso e deixar como está. Mas só vai agravar a crise, porque haverá problemas crescentes nos serviços públicos essenciais prestados por Estados e municípios: educação, segurança e saúde. 23


Além disso, se os seus fornecedores entrarem em colapso, o desemprego vai ficar mais alto ainda. Especialmente na construção e em outras áreas que são altamente empregadoras de mão de obra, como coleta de lixo e serviço de água e esgoto. Ou o governo federal faz de uma maneira ordenada, ou será obrigado a fazer isso da piora maneira, pela intervenção federal, que é a falência do Estado ou município. RAIO-X Formação Economista com mestrado pela UFRJ e doutor pela Unicamp Atuação Pesquisador da FGV/Ibre e professor do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público). Foi consultor técnico do Senado e faz consultorias independentes para organismos internacionais, como FMI e Banco Mundial. Foi um dos formuladores da Lei de Responsabilidade Fiscal e superintendente da área fiscal do BNDES; deixou o banco em 2013. Mantém um blog com publicações econômicas (joserobertoafonso.com.br)

Brexit pode ser positivo para o agronegócio do Brasil FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, MAURO ZAFALON 28/06/2016 às 02h 00

A separação do Reino Unido da União Europeia poderá ajudar o agronegócio brasileiro. Com pouca produção nesse setor, os ingleses são mais liberais nas importações de alimentos do que os demais países do bloco. O Brasil até precisa de um fato novo para ganhar espaço no mercado do Reino Unido, uma vez que vem perdendo presença nas exportações. Em 2015, a exportação total brasileira para o Reino Unido somou US$ 2,9 bilhões, 25% menos do que em 2014. As vendas do agronegócio, incluindo produtos processados, também diminuíram, mas em ritmo menor. O Brasil exportou o correspondente a US$ 975 milhões no ano passado, 8% abaixo do US$ 1,06 bilhão de 2014. Os principais itens da balança comercial brasileira com o Reino Unido são carnes, soja, café e frutas. A carne representa 40% das exportações, com a soja e derivados ficando com 15%. Há espaços para o país elevar as exportações, segundo José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP. Os países do Reino Unido são menos protecionistas do que os demais europeus. Eles são sempre mais críticos em relação ao protecionismo do bloco e, "por esse lado, algum benefício virá para o Brasil".

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A condição de não membro da União Europeia vai fazer o Reino Unido pagar taxas maiores nas importações, o que pode tornar o produto brasileiro mais competitivo. Letícia Julião, pesquisadora na área de frutas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), diz que a separação do Reino Unido tem mais pontos positivos do que negativos. Saindo do bloco, o Reino Unido deverá criar regras fitossanitárias próprias, provavelmente menos restritivas. Além disso, essa separação deve criar uma janela de mercado para o Brasil na área de frutas no Reino Unido. Em determinado período do ano, o abastecimento de frutas no bloco é feito pelos próprios países europeus. O Brasil pode ganhar essa janela no Reino Unido. O Brasil não terá, também, a concorrência e as barreiras de importações que os britânicos tinham de seguir devido a países produtores de frutas, como a Espanha. O custo de importação também poderá ser menor, uma vez que os produtos irão diretamente para a Inglaterra, sem passar pelo porto de Roterdã, na Holanda. CARNE E AÇÚCAR SE DESTACAM NA EXPORTAÇÃO A carne brasileira volta a ter bom desempenho no mercado externo. A exportação da de frango "in natura" deverá atingir 387 mil toneladas, ante 354 mil em maio. As vendas externas deste mês superam até as de igual mês do ano passado. As estimativas são com base nos dados já apurados pela Secex (Secretaria do Comércio Exterior) para as quatro primeiras semanas. As carnes suínas e bovinas mantêm o mesmo ritmo do mês passado. Apesar de uma demanda menor da China, as exportações de carne bovina deverão atingir 97 mil toneladas neste mês, 4% menos do que em maio. As vendas de carne suína mantêm o mesmo patamar de 55 mil toneladas de maio. Com relação aos grãos, as exportações de milho estão estagnadas. Já as de soja, ainda aquecidas, devem somar 8,31 milhões de toneladas. Há um ano, foram 9,2 milhões. Outro setor de destaque é o de açúcar, cujas vendas externas para o produto bruto sobem para 2,3 milhões de toneladas, superando em 34% as de maio e em 51% as de igual período de 2015, segundo os dados da Secex. Saldo positivo O setor sucroenergético contratou mais do que demitiu em maio. O saldo foi de 9.669 postos de trabalho, ante 892 em igual período de 2015, aponta a Unica, com base em dados do Caged.

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Cenário melhor Na safra 2016/17, iniciada em abril, a indústria da cana criou 26 mil vagas de trabalho, ante 4.000 no mesmo período de 2015. Demanda aquecida? A exportação de suco de laranja tem ritmo forte. As vendas externas de junho deverão superar em 15% as do mês passado. Em alta Há uma queda nos estoques do produto, o que tem puxado os preços na Bolsa de commodities de Nova York. Nesta segunda-feira (27), o primeiro contato foi negociado a US$ 1,66 por libra-peso, 38% mais do que há um ano. Contratos A qualidade da safrinha de milho está comprometida. O clima adverso impediu o crescimento dos grãos. Com isso, muitos produtores não poderão entregar o cereal negociado antecipadamente. Preço O cenário vai se refletir no preço do milho nos próximos meses, com impacto nas cadeias produtivas de aves e suínas, destaca Leonardo Sologuren, da consultoria Horizon.

Idade entre homem e mulher pode cair para três anos na aposentadoria Entenda o novo cálculo da aposentadoria

FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, GUSTAVO URIBE, GABRIEL MASCARENHAS e VALDO CRUZ DE BRASÍLIA 27/06/2016 às 17h 17

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Além de pregar a fixação de um piso de 65 anos, o governo interino de Michel Temer pretende propor às centrais sindicais uma redução na diferença para aposentadoria entre homens e mulheres. Em reunião do grupo de trabalho para elaboração de uma proposta de reforma previdenciária, marcada para esta terça-feira (28), o Palácio do Planalto quer defender uma diminuição na diferença de cinco para três anos. Hoje, para se aposentar, a mulher precisa atingir 30 anos de contribuição para Previdência, enquanto homens devem ter no mínimo 35 anos. As centrais sindicais já reconhecem que podem apoiar a redução da diferença para três anos, mas exigem que ela só seja válida para os novos contribuintes, o que é descartado por assessores e auxiliares presidenciais. A equipe econômica queria inicialmente a igualdade entre os gêneros, mas recuou diante do risco de deflagrar uma crise com a bancada feminina no Congresso Nacional, que é contrária à proposta. Assim, passou a defender uma alternativa que, nas palavras de um assessor presidencial, seria "menos traumática". Na reunião desta terça-feira (28), o Palácio do Planalto apresentará para as centrais sindicais ideias para a reforma previdenciária. Para não enfrentar um desgaste de partida, evitará levar uma espécie de documento pronto e deixará claro que os pontos ainda serão discutidos. O governo federal anunciou que pretende enviar uma proposta pronta ao Congresso Nacional em julho, mas ela deve começar a tramitar de fato só depois das eleições municipais, em outubro. O Palácio do Planalto defenderá ainda no encontro a fixação de uma idade mínima de 65 anos. No governo federal, há quem defenda que o piso seja estendido para 70 anos daqui a 20 anos, o que é avaliado como "improvável" pela equipe econômica. Os técnicos lembram que em nenhum país do mundo foi adotada uma idade superior a 67 anos e que, para ser adotado um piso de 70 anos, a expectativa de vida precisaria ser ampliada para cerca de 100 anos, sendo que atualmente é de 75 anos.

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PIB dos Estados Unidos cresce 1,1% no 1º trimestre com ajuda de exportações Mike Siegel/Associated Press

Presidente americano, Barack Obama: economia dos EUA cresceu 1,1% no primeiro trimestre

FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER DE NOVA YORK 28/06/2016 às 10h09

A má notícia é que o PIB (Produto Interno Bruto) desacelerou no primeiro trimestre de 2016. A boa é que a queda foi menor do que se esperava. O PIB cresceu a uma taxa anualizada de 1,1%, ante 0,8% da projeção anterior, segundo o Departamento de Comércio norte-americano. Economistas esperavam uma expansão de 1%. O desempenho econômico melhorou com ajuda das exportações de bens e serviços, segmento que se saiu melhor do que o previsto. As companhias americanas também gastaram mais com software, pesquisa e desenvolvimento. Mas as famílias americanas estão gastando menos. O consumo interno, responsável por quase 70% da economia norte-americana, foi revisado para baixo, de 1,9% calculados em abril para 1,5%. 28


Os gastos com serviço e recreação diminuíram, enquanto a poupança ganhou força: US$ 796,7 bilhões, contra US$ 782,6 bilhões previstos anteriormente. O órgão divulgou nesta terça-feira (28) a terceira e última revisão do PIB local no primeiro trimestre do ano. O governo dos EUA costuma parcelar em três fases a divulgação do PIB trimestral. As duas primeiras, anunciadas em abril e maio, registraram expansão de 0,5% e 0,8%, respectivamente. Os valores são reajustados na medida em que técnicos recebem mais dados para calcular a desenvoltura econômica do país. Um PIB mais anêmico é comum na trinca inicial de meses a tendência é subir ao longo do ano. Os lucros corporativos, também divulgados na terça, deram um salto de US$ 34,7 bilhões. Eles haviam encolhido US$ 159,6 bilhões no último trimestre de 2015. Ainda é incerta, contudo, a reação da economia americana após uma semana de turbulência financeira, com o Brexit (decisão do Reino Unido de se retirar da União Européia ) derrubando Bolsas mundo afora. As expectativas para o segundo trimestre são melhores. A presidente do Fed (banco central americano), Janet Yellen, afirmou em depoimento no Congresso, na semana passada, que haveria um "notável avanço" no número. Segundo o "Wall Street Journal", economistas preveem melhora no desempenho econômico com famílias gastando mais nos próximos meses, e vendas mais robustas de carros e casas. Antes do plebiscito britânico, o Fed anunciou que seguraria mais uma vez o aumento da taxa básica de juros. Yellen explicou que preferia esperar por sinais mais robustos de que a economia doméstica estava em plena forma. Assustou o relatório do Departamento do Trabalho, divulgado no começo do mês, sobre a adição de 38 mil postos em maio, a taxa mais baixa em cinco anos.

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Draghi pede alinhamento global de políticas de bancos centrais Ralph Orlowski/Reuters

Presidente do BCE, Mario Draghi, pediu alinhamento global de políticas de bancos centrais

FONTE REUTERS 28/06/2016 às 09h 47

Os bancos centrais em todo o mundo deveriam alinhar suas políticas monetárias para ajudar a impedir "contágios desestabilizadores" entre economias que crescem a diferentes ritmos, afirmou nesta terça-feira (28) o presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi. Draghi não fez referência à votação do Reino Unido para deixar a União Europeia na semana passada, que afetou os mercados globais e colocou em dúvida o futuro da UE. Em vez disso, ele se concentrou nos efeitos adversos das políticas monetárias divergentes entre os diferentes países, citando grandes flutuações nas taxas de câmbio e variações nos fluxos de capital, particularmente nas economias emergentes. "A política monetária tem inevitavelmente criado contágios desestabilizadores também, especialmente quando ciclos empresariais têm sido menos alinhados", disse Draghi em fórum do BCE em Sintra, Portugal. 30


Economias emergentes passaram por vários surtos de volatilidade cambial e de fluxo de capital nos últimos três anos uma vez que a disponibilidade de dólares, importante componente das condições de liquidez global, se apertou junto com a política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos). Isso reanimou os pedidos para uma coordenação global de política monetária, perspectiva que presidentes de banco central tendem a recusar porque afetaria sua independência. "Podemos não precisar de coordenação formal de políticas. Mas podemos nos beneficiar de um alinhamento de políticas", disse Draghi. "O que quero dizer com alinhamento é um diagnóstico compartilhado das causas dos desafios que nos afetam a todos; e um compromisso compartilhado para estabelecer nossas políticas domésticas com esse diagnóstico."

Empresa quer fazer primeiro remédio brasileiro à base de maconha Felix Lima/Folhapress

Cultivador mostra flor seca da planta

FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, GABRIEL ALVES DE SÃO PAULO 28/06/2016 às 02h00

Uma start-up do ramo farmacêutico decidiu produzir o primeiro medicamento brasileiro à base de maconha. A ideia é fazer um extrato fitoterápico que trate casos de epilepsia nos quais outros remédios não funcionam. O anúncio da iniciativa será feito nesta terça (28) no 26º congresso anual da Sociedade Internacional de Pesquisa de Canabinoides, na Polônia. 31


A start-up Entourage Phytolab busca desenvolver um medicamento fitoterápico à base de maconha desde que foi fundada, em 2015. A previsão dela é que a droga seja lançada em 2018. A vantagem de um medicamento brasileiro, desenvolvido e testado no país, seria a segurança e a garantia de fornecimento para quem necessita da droga –que não precisaria mais depender, como ocorre hoje, de autorizações para importá-la. Os principais componentes do extrato da erva são o tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). O primeiro é psicotrópico; o segundo, não. Tanto o THC quanto o CBD têm propriedades farmacológicas que os fazem ser de interesse medicinal. O problema é o grande potencial de abuso, principalmente do THC –isso dificulta o licenciamento de medicamentos baseados no composto. A iniciativa da Entourage, no entanto, está direcionada para a produção de um extrato que seja rico em CBD e com pouquíssimo THC. Para isso, serão utilizadas flores de uma variedade de cannabis fornecida pela Bedrocan, multinacional especializada em produção para uso medicinal. Cultivo de maconha

Os demais componentes da erva não serão eliminados, de acordo com Caio Santos Abreu, diretor-executivo da start-up. O motivo é que a pequena fração de outras moléculas pode ajudar no efeito do CBD, reduzindo os efeitos colaterais e balizando os efeitos farmacológicos desejados.

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Esse efeito de várias moléculas ajudando a ação de uma outra é conhecido como "efeito entourage" e tem ganhado entusiastas no meio acadêmico, particularmente entre os que estudam o sistema de receptores canabinoides, presentes em vários tecidos do corpo humano. Isso transformaria, em tese, a desvantagem de ter um remédio "sujo", não puro, em uma vantagem –já que seria praticamente impossível repor artificialmente as inúmeras moléculas presentes no extrato da cannabis. Não se sabe exatamente qual é o mecanismo de ação do CBD para tratar a epilepsia, mas isso não inviabiliza o estudo de uma nova possibilidade de tratamento, diz Fabrício Pamplona, diretor-científico da Entourage. "Sabe-se que há um controle especialmente eficaz quando há excesso de excitabilidade neuronal característico de uma crise epiléptica", afirma o farmacêutico. Depois da padronização da obtenção do extrato candidato a medicamento, haverá testes em ratos para garantir a segurança do processo. É aí que entra em cena a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que deve supervisionar e chancelar todas as etapas de testes clínicos em pessoas e animais. Por se tratar de tecnologia desenvolvida no Brasil, em uma questão de saúde importante para a qual não há tratamento (epilepsias refratárias, como a síndrome de Dravet), Abreu espera que o projeto transite com celeridade. Da parte científica, não são esperadas dificuldades para se cumprir as etapas necessárias, dados que diversos estudos anteriores apontam na mesma direção para a qual a start-up está mirando. Um medicamento à base de CBD da farmacêutica GW chamado Epidiolex obteve bons resultados em estudos 54% de redução no número de crises. Em breve pode haver o registro nos EUA.

Brasil sobe dez posições em ranking de logística do Banco Mundial e alcança 55ª posição FONTE ALTAMIRO SILVA JUNIOR – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 28 Junho 2016 às 12h 03

No País, o item com melhor avaliação é o que mede o monitoramento de cargas; enquanto houve avanços nos países emergentes, o progresso nas economias mais pobres se desacelerou pela primeira vez desde 2007 NOVA YORK - O Brasil subiu dez posições no ranking mundial de logística do Banco Mundial, ficando na 55º posição em 2016. O levantamento tem a Alemanha em primeiro lugar, seguido por outros países desenvolvidos, como Luxemburgo, em segundo, e Suécia em terceiro. RELACIONADAS  

Infraestrutura ruim tira r$ 150 bi do país Pacote de concessões deve incluir renovação da Rumo

Apesar da melhora, o Brasil está atrás de outros emergentes, como a Índia (35º) e China (27º), e países vizinhos, como Chile (46º) e Panamá (40º). O levantamento é divulgado a cada dois anos pelo Banco Mundial e leva em conta seis fatores, como a infraestrutura das estradas e 33


portos, procedimentos alfandegários, prazos de entrega e eficiência de rastreamentos. Em 2014, o Brasil ficou em 65º. Uma das principais conclusões do relatório divulgado nesta terça-feira pelo Banco Mundial é que enquanto a logística dos países emergentes teve melhora, o progresso nas economias mais pobres se desacelerou pela primeira vez desde 2007. Nas três últimas posições do ranking estão Síria, Somália e Haiti. No caso do Brasil, o item com melhor avaliação é sobre o "rastreamento", que mede o monitoramento de cargas, no qual o país ficou em 45º lugar. Já a pior posição, 72º, ficou na categoria "entregas internacionais", que mede, por exemplo, a competitividade do país nos preços das entregas pelo mundo.

Apesar da melhora, o Brasil está atrás de outros emergentes, como a Índia (35º) e China (27º), e países vizinhos, como Chile (46º) e Panamá (40º) "O desempenho da logística, tanto no comércio internacional como no mercado interno, é fundamental para a competitividade e o crescimento dos países", afirma no estudo a diretora do Banco Mundial, Anabel Gonzales. Para a elaboração do ranking a instituição entrevistou 1,2 mil pessoas da área de logística no mundo. Os dez primeiros lugares são dominados por países desenvolvidos. Um dos autores do relatório do Banco Mundial, Jean-Francois Arvis, ressalta que vários países precisam avançar na logística, incluindo a melhora da qualidade dos serviços. Uma das características comuns dos melhores colocados, afirma ele, é que essas economias mostram "forte cooperação" entre os setores públicos e privados no segmento. O relatório de logística do Banco Mundial começou a ser produzido em 2007 e está em sua quinta edição. A melhor posição ocupada pelo Brasil no ranking geral foi em 2010, quando ficou em 41º lugar.

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Confiança da Indústria avança para 83,4 pontos em junho, maior nível desde fevereiro de 2015 FONTE MATEUS FAGUNDES - JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 28 Junho 2016 às 10h 01

Pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas é a primeira realizada integralmente durante a gestão do presidente em exercício, Michel Temer SÃO PAULO - O Índice de Confiança da Indústria (ICI) subiu 4,2 pontos em junho ante maio, alcançando 83,4 pontos, informou nesta terça-feira a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Este é o maior nível do indicador desde fevereiro de 2015 (84,9 pontos). A alta foi observada em 14 dos 19 principais segmentos do levantamento e foi determinada pela melhora das expectativas em relação ao futuro próximo. RELACIONADAS:  

BC vê mais inflação em 2016 e sinaliza que deve adiar corte nos juros Após 11 anos, participação da economia informal volta a crescer no PIB

A pesquisa ouviu 1.114 empresas entre os dias 1º e 23 de junho. É o primeiro levantamento realizado integralmente durante a gestão do presidente em exercício, Michel Temer, que assumiu a presidência em 12 de maio. O Índice de Expectativas (IE) avançou 7,5 pontos sobre o mês anterior. Essa foi a segunda maior alta registrada pelo indicador, perdendo apenas para a variação mensal de janeiro de 2002 (7,6 pontos). Dentro do IE, o destaque de alta foi do indicador que capta as perspectivas para a produção nos três meses seguintes. Após o terceiro aumento consecutivo, o indicador atingiu 93,9 pontos, o maior nível desde abril de 2014 (96,1 pontos).

Essa foi a segunda maior alta registrada pelo indicador, perdendo apenas para a variação mensal de janeiro de 2002

Já o Índice de Situação Atual (ISA) também subiu, ainda que em menor medida - 0,7 ponto, para 81,2 pontos. O indicador que mede o grau de satisfação com o nível atual da demanda foi 35


o principal determinante para a alta do ISA em junho, ao atingir 80,1 pontos, 2,7 pontos superior ao observado no mês anterior. Para o superintendente adjunto para Ciclos Econômicos da FGV/IBRE, Aloisio Campelo Jr., o resultado de junho consolida a tendência de recuperação da confiança no setor industrial. "O retorno da confiança aos níveis médios históricos dependerá, de agora em diante, de uma efetiva recuperação da demanda interna e da redução das incertezas originadas no ambiente político", afirmou. A FGV também informou que entre maio e junho o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) aumentou 0,1 ponto porcentual, atingindo 73,9%. Em bases trimestrais, este é o primeiro avanço do Nuci desde o terceiro trimestre de 2013. A média do indicador no segundo trimestre (74,0%) ficou 0,2 ponto porcentual acima da média do trimestre anterior (73,8%).

Entrevista. Mansueto Almeida, secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda Segundo secretário, governo está focado em ajuste fiscal; estímulos serão regulatórios e não com subsídios

‘Não vamos ceder à pressão’, diz Mansueto FONTE ADRIANA FERNANDES – JORNAL O ESTADO DE S.PAULO 28 Junho 2016 às 05h 00

BRASÍLIA - Crítico feroz da política fiscal do governo Dilma Rousseff, o atual secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, diz que é preciso vencer a batalha da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do teto para os gastos públicos e que o governo continuará resistindo à pressão por aumento de despesas. “Vamos continuar dizendo não. Não tem espaço fiscal.” A seguir, trechos da entrevista exclusiva. RELACIONADAS   

Meirelles: Brasil vive situação dramática Lupa: Mais pressão à vista para o Tesouro Governo dá carência até o fim do ano para dívidas dos Estados O que podemos esperar do ajuste fiscal?

Vamos ter de conversar muito no Congresso, mostrar a necessidade das medidas. Vamos ter que entregar o que o mercado espera. Aprovar o teto este ano vai ser excelente porque o Orçamento de 2017 será aprovado com a regra da PEC. É uma sinalização espetacular, porque a PEC é dura. Tem pressões para gastos, o que é normal em qualquer governo. Como vocês vão reagir a essa pressão? Como já temos reagido, mostrando que não há espaço fiscal e dizendo não. Vamos continuar dizendo não. Coisas que já estavam negociadas diminuem espaço fiscal para outras coisas. Quais são os próximos passos, depois da PEC do teto do gasto? O plano de ajuste fiscal não acaba com a PEC que limita o crescimento do gasto. Não é algo para um ou dois anos. Está claro que é um novo regime fiscal. A sequência será a PEC da Previdência. Vamos passar por um processo de envelhecimento muito rápido no Brasil, maior do que o da Europa. Por isso, a reforma é uma questão aritmética, uma necessidade.

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Após aprovação da PEC do teto para gastos públicos, no Congresso Nacional, foco é Previdência, diz Mansueto

Quando a proposta de reforma da Previdência será enviada? O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o prazo é de dois a três meses. O grupo de trabalho está discutindo com as centrais sindicais. É um trabalho de convencimento. O grande déficit que está sendo desenhado para 2017 não é um sinal ruim? Quem desenhou? Ainda estamos estudando. A despesa será mais fácil de estimar porque teremos um teto. O governo anterior estabeleceu uma meta de superávit zero, que com frustração de receita, poderia chegar a R$ 66 bilhões. Uma diferença muito clara desse governo é ter um número fixo. É se comprometer com uma meta, em vez de frustração de receita. Não vai ter abatimentos. A nova LDO será envidada esta semana? Depende se vai ter recesso. Se houver, tem que votar a LDO até 17 de julho. Vamos nos programar para enviar. Mas, se tivermos mais tempo, melhor para o planejamento. Vamos fazer reuniões esta semana. Os novos parâmetros econômicos já estão sendo rodados pela Receita Federal. Qual o cenário fiscal para 2017? Independentemente de qual seja a meta fiscal, temos certeza que será melhor do que 2016. A confiança está voltando. As medidas que já adotamos e a sinalização que já demos têm impactado de forma positiva as expectativas de mercado para o PIB. A recuperação econômica ajudará a política fiscal em 2017? Bastante. Fora isso temos todas medidas que o governo está adotando. Poderíamos ter tentado fazer uma coisa muito dura no curto prazo, o que nunca se fez no Brasil. Mas o objetivo do governo foi partir para questões estruturais. Tem gente de mercado que gostaria de um ajuste muito forte do lado da receita e da despesa para voltar a ter superávit em 2017. Mas não tem como. Estamos estudando qual vai ser a meta para 2017. Dada a receita, veremos medidas adicionais. O governo pensa em tributos? Não está decidido. Eu não participei de nenhuma reunião sobre isso porque o foco está agora do lado da despesa. Fizemos a PEC do gasto e possivelmente teremos algo do lado das despesas com impacto de curto prazo. Há muitos programas em que alguns benefícios são dados por decisões judiciais. É o caso do BPC (benefício de prestação continuada), de auxílio37


doença e várias despesas. Veremos quem de fato está adequado às regras do programa e quem não está. O presidente deu 15 dias para o governo apresentar medidas para a retomada. Estamos muito focados na questão do ajuste fiscal. Tem muita coisa de estímulo, mas diferente do passado, quando era ligado a subsídios e benefícios tributários. O estímulo é muito mais de medidas regulatórias na direção correta. Há muitos setores batendo à porta da Fazenda? Todo mundo. A tônica do governo tem sido fazer o ajuste fiscal e regras que são as mais horizontais possíveis. O investimento não voltou ainda por quê? Os investidores de fora estão esperando a aprovação definitiva do impeachment e a aprovação da PEC do limite de gastos. Com certeza, a PEC será um grande divisor de águas. Especialistas avaliam que o teto de gasto não servirá para controlar despesas dos Estados. A PEC é para o ano que vem ou para 10 anos. Contesto essa avaliação. Não é correto comparar gastos de 2015 com 2016. Teve queda de despesa porque eles reduziram o investimento e atrasaram pagamentos. Todos sabem que o maior problema dos Estados foi o crescimento de folha de pessoal. Qual a maior vantagem da PEC? É um empoderamento do Congresso. Pela primeira vez, a proposta orçamentária não poderá mais inflar receitas para puxar despesas, o que levava a um corte enorme. Contingenciamento não é ajuste fiscal. O Brasil faz contingenciamento desde a década de 40 e tivemos hiperinflação. O Congresso terá pela primeira vez um debate aberto sobre alocação de recursos. Os servidores farão um controle maior dos programas, porque, se o teto for ultrapassado, não terão reajustes

O triunfo da estupidez FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO, Arnaldo Jabor 28 Junho 2016 às 02h 00

“Como podem 60 milhões de pessoas ser tão estúpidas”? Essa foi a manchete de capa do jornal inglês The Guardian, quando Bush foi reeleito. E hoje? 52 milhões de imbecis jogaram fora a Grã-Bretanha por ignorância e velhice (a maioria era de velhos burros). Como sentenciou o The Economist, “foi um gesto de automutilação”, impensada, preconceituosa. Vocês viram aquele sósia do Trump, o Boris Johnson, ex-prefeito de Londres? Pois é; na última hora, ele traiu o babaca do Cameron, que convocou aquele plebiscito desnecessário e imprudente, e liderou o ‘leave’. Esse Boris é um rato igual ao Trump: o mesmo cabelinho louro, mesmas fuças boçais, mesmas frases agressivas e populistas para o povo entender, ou melhor, “não entender” a complexa situação econômica e política de hoje. O Reino Unido tem uma eterna saudade do império, que se estendeu ao mundo todo. Ainda se sentem donos de um passado glorioso. Usando essa estupidez, Boris arrasou o Reino Unido. O triunfo da barbárie, da estupidez, está no mundo todo. A Síria agoniza nas mãos daquele assassino Assad, que destrói o próprio país, envia milhões de desgraçados para a Europa e não pode ser destruído porque o outro assassino Putin não deixa. Esse outro canalha tem bomba atômica e se vale disso. Pode? O Oriente Médio se estraçalhou, a “primavera” virou inferno e todo o horror dessa zona geral migra para o Ocidente, aumentando a bagunça institucional da crise agora acirrada por aquele Trump inglês. E, por outro lado, já imaginaram aquele Trump americano, um doente mental sem escrúpulos, com os dedos nos botões de guerra nuclear? Espero que não seja eleito, mas sua presença já mostra que a democracia pode ser um perigo, quando cai nas mãos da ditadura da chamada

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“maioria silenciosa” (Tocqueville). A única coisa boa dessa repulsiva figura é mostrar a verdadeira cara do Partido Republicano, aquele antro de fundamentalistas, o EI da América. Esse plebiscito inglês foi o primeiro sinal. Com o mundo tão incompreensível, a tendência das pessoas mais burras é se isolar, ter a nostalgia de um passado que pensam que era bom, com ódio e rancor contra a “lenta” democracia. A imediata atitude é o nacionalismo como o envoltório de um narcisismo boçal, a recusa à convivência com contrários. Os estúpidos amam o autoritarismo. Por isso, hoje pululam ditadores, desde o ratinho atômico da Coreia do Norte até os Maduros e aquela fascista Le Pen. Como é o “design” da estupidez? A estupidez, antes de tudo, é uma couraça. A estupidez é um mecanismo de defesa. É o bloqueio de qualquer dúvida de fora para dentro, é o ódio a qualquer luz que possa clarear as deliciosas trevas onde vivem. Bush se orgulhava de sua burrice. Uma vez, ele disse em Yale: “Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos USA”. E aí, invadiu o Iraque e escangalhou o Ocidente. Mesmo inconscientemente, aqui e lá fora, sociedades estão famintas por tiranias rápidas. A democracia decepciona as massas, porque é muito complexa para ser entendida. O homem comum de hoje não entende mais nada. Assim, adotam apelos populistas, invenção de “inimigos” do povo, divisão entre “bons” e “maus” E, aqui, como se comporta a estupidez? Bem, estamos saindo, se Deus quiser, da maior onda de estupidez justificada teoricamente, desde Cabral. A pretensa “esquerda”, que se apossou do País há 12 anos, fez tudo ao contrário do que deveria. Por quê? Por que são incompetentes? Sim, claro que são; mas a razão é mais estúpida ainda. Fizeram tudo ao contrário, pois acham que o certo está no oposto. Já disse e repito (gostei da frase) que, para o comuna típico, o óbvio é “de direita”. Os estúpidos são militantes, têm fé em si mesmos e têm a ousadia que os inteligentes não têm. Mas o sujeito também pode ser culto e burro. Quantos filósofos sabem tudo de Hegel ou Espinoza e são bestas quadradas? Seu mundo tem três ou quatro verdades, que eles chupam como picolés. Nosso futuro era determinado pelos burros da elite intelectual numa fervorosa aliança com os analfabetos. Esses gênios, em seus latifúndios teóricos, nos trouxeram a suprema estupidez regressista, um desejo de voltar para a taba, para o casebre com farinha, paçoca e violinha. Assim, teríamos um país solidário, simplesinho – um doce rebanho político que deteria a marcha das coisas do mundo, do mercado voraz, das pestes e, claro, dos “canalhas” neoliberais. Aqui, também assistimos à vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras. Inteligência é chata; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desorganiza; burrice consola. A burrice é a ignorância com fome de sentido, é a utopia de cabeça para baixo, o culto populista da marcha à ré. Em nossa cultura, achamos que há algo de sagrado na ignorância dos pobres, uma “sabedoria” que pode desmascarar a mentira “inteligente” do mundo. Só os pobres de espírito verão a Deus, reza nossa tradição. Existe na base do populismo brasileiro uma crença lusitana, contrarreformista, de que a pobreza é a moradia da verdade. Aqui e no planeta, o que está rolando hoje é um irracionalismo automutilador, uma estupidez desorientada, a ilógica como lógica. Crescem em toda parte ideologias nacionalistas, sempre pautadas pela exclusão do outro, sejam imigrantes famintos, sejam muçulmanos pacíficos, sejam os inimigos do PT. A burrice tem a “vantage” de “explicar” o mundo. Não querem frescuras complexas, sutis, situações políticas democráticas. Preferem a estupidez como solução. O diabo é que a estupidez no poder se chama “fascismo”. ARNALDO JABOR

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Dilma liberou créditos, mas não agiu em pedaladas, diz perícia do Senado Ronaldo Bernardi - 26.jun.16/Agencia RBS/Folhapress

A presidente afastada Dilma Rousseff passeia de bicicleta em Porto Alegre

FONTE JORNAL FOLHA de S. PAULO, LEANDRO COLON e MARIANA HAUBERT DE BRASÍLIA 27/06/2016 às 23h37

Perícia feita a pedido da comissão do impeachment do Senado diz que não há "controvérsia" sobre o fato de a presidente afastada Dilma Rousseff ter agido para liberar créditos suplementares sem o aval do Congresso através de decretos. Por outro lado, o laudo afirma que não foi identificada ação dela nas chamadas pedaladas fiscais. Segundo o documento, assinado por três técnicos do Senado e entregue na manhã desta segunda (27) à comissão, três dos quatro decretos de crédito, que são objetos da denúncia contra Dilma, eram "incompatíveis" com a meta fiscal do ano passado. A perícia afirma: "Há ato comissivo da exma. Sra. Presidente da República na edição dos decretos, sem controvérsia sobre sua autoria".

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Ao todo, 99 perguntas foram feitas pela defesa da petista, pela acusação contra ela, e pelo relator do processo, Antonio Anastasia (PSDB-MG). Dilma sofre duas acusações na denúncia que a afastou do cargo: a edição desses decretos sem aval do Congresso e de ter cometido "pedalada fiscal" com o atraso do repasse de R$ 3,5 bilhões do Tesouro ao Banco do Brasil para o Plano Safra. Segundo a perícia, de 223 páginas, três decretos "promoveram alterações na programação orçamentária incompatíveis com a obtenção da meta de resultado primário vigente à época da edição". São eles: os de 27 de junho de 2015, nos valores de R$ 1,7 bilhão e e R$ 29 milhões, e o decreto de 20 de agosto de 2015, no valor de R$ 600 milhões. De acordo com o laudo, esses créditos deveriam ter tido autorização prévia do Congresso. AS ACUSAÇÕES CONTRA DILMA O que dizem os peritos sobre os fatos que embasam o processo de impeachment

ARGUMENTO

O que diz a acusação

PEDALADAS FISCAIS

DECRETOS SUPLEMENTARES

Documentos do Banco do Brasil indicam o não pagamento de R$ 3,5 bilhões do Plano Safra (programa agrícola) pelo Tesouro em 2015. A “pedalada” (atraso no repasse) seria equivalente a uma operação de crédito (empréstimo), o que é ilegal

Dilma editou seis decretos autorizando a abertura de créditos suplementares de R$ 96 bilhões, sendo R$ 2,5 bilhões baseados em receita nova. Esse gasto teria de ter passado pelo Congresso

Decretos tiveram respaldo legal e As pedaladas fiscais são, simplesmente, técnico e não alteraram o limite global O que diz a defesa atrasos em pagamentos, e não de gastos; autorizaram, apenas, o configuram empréstimos remanejamento das despesas

Conclusão da perícia

Não há indício de ação direta ou indireta De 4 decretos analisados, 3 autorizaram de Dilma nos atrasos; por outro lado, as despesas novas, incompatíveis com a medidas configuram empréstimos meta fiscal da época vetados por lei

OS DECRETOS CITADOS Valor liberado, em R$ bilhões

27.jul.2015

1,7

Irregular

27.jul.2015

0,03

Irregular

20.ago.2015

55,2

Regular

20.ago.2015

0,60

Irregular

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PEDALADA O laudo diz que não identificou ação de Dilma no episódio das pedaladas no Plano Safra: "Pela análise dos dados, dos documentos e das informações relativos ao Plano Safra, não foi identificado ato comissivo da Exma. Sra. Presidente da República que tenha contribuído direta ou imediatamente para que ocorressem os atrasos nos pagamentos". A conclusão diz, no entanto, que a demora no pagamento do plano agrícola viola a Lei de Responsabilidade Fiscal: "Os atrasos nos pagamentos devidos ao Banco do Brasil constituem operação de crédito, tendo União como devedora, o que afronta ao disposto no art. 36 da LRF". O laudo, sobretudo em relação às pedaladas, deve ser usado pela defesa de Dilma para reforçar o argumento de que ela não cometeu crime de responsabilidade. CRONOGRAMA A comissão ouvirá nesta segunda mais três testemunhas de defesa de Dilma, entre elas o exministro Patrus Ananias. A fase de oitiva das pessoas arroladas pela presidente afastada acaba na quarta (29). Pelo cronograma, o plenário do Senado fará no dia 9 de agosto a votação do parecer prévio (chamada de "pronúncia") da comissão sobre as acusações contra a petista. A partir desta data, se a maioria simples dos presentes aprovar o parecer, há um prazo de até 48 horas para que a acusação apresente o chamado libelo acusatório, e outras 48 horas para que a defesa de Dilma se pronuncie. Depois o julgamento final tem de ocorrer em até dez dias. Ou seja, mantido o plano, senadores avaliam que Dilma deve ser julgada a partir da semana do dia 22 de agosto –nesta etapa, são necessários ao menos 54 votos para a petista ser afastada definitivamente. De acordo com o calendário, Dilma poderá depor no dia 6 de julho na comissão. Ela não é obrigada a comparecer. O advogado da petista, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, disse que ainda está em análise qual caminho será adotado.

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A fundamentação jurídica e as condutas que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff

1 - Constituição Federal Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: (...) VI - a lei orçamentária Art. 167. São vedados: (...) V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes 2 - Lei 1.079, de 1950 (que define os crimes de responsabilidade), e que foi modificada pela Lei 10.028, de 2000 Art. 10. São crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária: (...) 4 - Infringir , patentemente, e de qualquer modo, dispositivo da lei orçamentária Art. 11. São crimes contra a guarda e legal emprego dos dinheiros públicos: (...) 2 - Abrir crédito sem fundamento em lei ou sem as formalidades legais 3 - Contrair empréstimo, emitir moeda corrente ou apólices, ou efetuar operação de crédito sem autorização legal 3 - Lei de Responsabilidade Fiscal Art. 36. É proibida a operação de crédito entre uma instituição financeira estatal e o ente da Federação que a controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo. 4 - Lei Orçamentária de 2015 Art. 4º Fica autorizada a abertura de créditos suplementares, restritos aos valores constantes desta Lei, excluídas as alterações decorrentes de créditos adicionais, desde que as alterações promovidas na programação orçamentária sejam compatíveis com a obtenção da meta de resultado primário estabelecida para o exercício de 2015 e sejam observados o disposto no parágrafo único do art. 8o da LRF e os limites e as condições estabelecidos neste artigo, vedado o cancelamento de valores incluídos ou acrescidos em decorrência da aprovação de emendas individuais, para o atendimento de despesas 43


O QUE DILMA FEZ 1 - Abriu créditos suplementares por decretos presidenciais, sem autorização do Congresso Nacional Dilma assinou seis decretos não numerados, que foram publicados entre 27 de julho e 20 de agosto de 2015, após ficar claro que crédito de R$ 2,5 bilhões seria incompatível com alcance da meta fiscal 2 - Contratação ilegal de operações de crédito (as “pedaladas fiscais”) > Repasses não realizados ou realizados com atrasos pelo Tesouro Nacional ao Banco do Brasil, relativos à equalização de taxas de juros referentes ao Plano Safra, no exercício de 2015 > Utilização da Caixa como financiadora do Abono Salarial, Bolsa Família e Seguro Desemprego

Operação Boca Livre procura 14 por fraudes de R$ 180 mi na Lei Rouanet FONTE JORNAL FOLHA DE S. PAULO, FAUSTO MACEDO E JULIA AFFONSO 28/06/2016 às 07h 12

Ação cumpre 37 mandados de busca e apreensão e 14 prisões temporárias; investigações constataram que eventos corporativos, shows com artistas famosos em festas privadas para grandes empresas, livros institucionais e até mesmo uma festa de casamento foram custeados com recursos públicos, obtidos por meio da legislação

Sede do escritório de advocacia Demarest Advogados, um dos citados na investigação. Foto: Divulgação

A Polícia Federal deflagrou, em conjunto com a Controladoria-Geral daUnião, nesta terça-feira, 28, a Operação Boca Livre. O alvo da ação são fraudes na Lei Rouanet. 44


124 policiais federais e servidores da Controladoria Geral da União cumprem 14 mandados de prisão temporária e 37 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal, todos expedidos pela 3ª Vara Federal Criminal em São Paulo. A investigação cita o Ministério da Cultura, as empresas Bellini Eventos Culturais, Scania, KPMG e o escritório de advocacia Demarest, Roldão, Intermedica Notre Dame, Laboratório Cristalia, Lojas 100, Nycomed Produtos Farmacêuticos e Cecil. Lei Rouanet foi criada no governo Fernando Collor (PTC/AL), em 1991. A legislação permite a captação de recursos para projetos culturais ppr meio de incentivos fiscais para empresas e pessoas físicas. Na prática, por exemplo, a Lei Rouanet permite que uma empresa privada direcione parte do dinheiro que iria gastar com impostos para financiar propostas aprovadas pelo Ministério da Cultura para receber recursos.   

Lava Jato mira nos 100 maiores da Lei Rouanet Moro barra ofensiva da PF sobre os 100 maiores da Lei Rouanet Lei Rouanet pagou até festa de casamento, aponta Boca Livre

O inquérito policial foi instaurado em 2014, após a PF receber documentação da Controladoria Geral da União de desvio de recursos relacionados a projetos aprovados com o benefício fiscal. Há indícios de que as fraudes ocorriam de diversas maneiras como a inexecução de projetos, superfaturamento, apresentação de notas fiscais relativas a serviços/produtos fictícios, projetos simulados e duplicados, além da promoção de contrapartidas ilícitas às incentivadoras. As investigações constataram que eventos corporativos, shows com artistas famosos em festas privadas para grandes empresas, livros institucionais e até mesmo uma festa de casamento foram custeados com recursos de natureza pública, obtidos por meio da Lei Rouanet. A pedido da PF, a Justiça Federal inabilitou, em sede liminar, algumas pessoas jurídicas para a propositura de projetos culturais junto ao MinC e à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Também foi realizado o bloqueio de valores e o sequestro de bens como imóveis e veículos de luxo. Os presos responderão, na medida de suas condutas, pelos crimes de organização criminosa, peculato, estelionato contra União, crime contra a ordem tributária e falsidade ideológica, cujas penas podem chegar a até doze anos de prisão. Boca Livre é uma expressão coloquial que significa festa onde se come e bebe de graça às custas de outrem. COM A PALAVRA, O MINISTÉRIO DA CULTURA: “As investigações para apuração de utilização fraudulenta da Lei Rouanet têm o apoio integral do Ministério da Cultura (MinC), que se coloca à disposição para contribuir com todas as iniciativas no sentido de assegurar que a legislação seja efetivamente utilizada para o objetivo a que se presta, qual seja, fomentar a produção cultural do País.” COM A PALAVRA, O ESCRITÓRIO DEMAREST NOTA OFICIAL DE ESCLARECIMENTO O escritório Demarest Advogados vem a público prestar esclarecimento sobre a “Operação Boca Livre” da Polícia Federal, que nesta manhã esteve em seu escritório em São Paulo.

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O objetivo da visita foi a solicitação de documentos e informações relacionados a empresas de marketing de eventos que prestaram serviços ao escritório no âmbito da Lei Rouanet. Tais empresas são alvo da operação. O escritório enfatiza que não cometeu qualquer irregularidade, e informa que colaborou e continuará a colaborar com a investigação.

Alvo da Custo Brasil bancou R$ 32 mil em loft para Gleisi FONTE JORNAL O ESTADO DE S. PAULO, JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT E FAUSTO MACEDO 28/06/2016 às 04h 00

Investigação mostra que advogado Guilherme Gonçalves, preso domingo em Cumbica, teria pago despesas eleitorais da senadora na campanha de 2010 e repassado propinas para exministro Paulo Bernardo, marido da petista

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (à esq.), e a mulher, a senadora Gleisi Hoffmann. Foto:Dida Sampaio/Estadão

A Operação Custo Brasil indica que o advogado Guilherme de Salles Gonçalves, suposto repassador de propinas para o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula e Comunicações/Governo Dilma), bancou R$ 32 mil referentes a custos de um loft alugado em Brasília para uso da senadora Gleisi Hoffmann durante a campanha de 2010. Gonçalves, preso pela Polícia Federal domingo, 26, no Aeroporto Internacional de São Paulo em Guarulhos/Cumbica, quando chegou de uma viagem a Portugal, teria usado seu escritório em Curitiba para bancar despesas de caráter eleitoral da petista.   

Imóvel funcional e foro privilegiado não são bancas de impunidade, diz procurador ‘A gente vai cobrar’, alerta Receita a alvos da Custo Brasil De real em real, milhares de servidores bancaram propinas a grupo de Paulo Bernardo, diz Receita

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A corrupção é irmã gêmea da sonegação, diz Receita ‘Uma resposta àqueles que celebraram com champanhe’, diz procurador sobre retirada do caso de Moro

Gleisi é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal. Ela detém foro privilegiado perante a Corte. Nesta segunda, 27, Gonçalves foi ouvido em audiência de custódia pelo juiz Paulo Bueno de Azevedo, da 6.ª Vara Federal Criminal, que deflagrou a Custo Brasil. Além do advogado tiveram a prisão decretada outros dez alvos da operação que investiga o esquema Consist, entre eles Paulo Bernardo. O esquema Consist é um suposto desvio de R$ 100 milhões a partir de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento, na gestão do marido de Gleisi. Parte daquele montante, em torno de R$ 7 milhões, teria sido repassada para o escritório de Gonçalves, ligado ao PT – do escritório teria saído a propina para Paulo Bernardo, no mesmo valor. Em agosto de 2015, a Operação Pixuleco II, desdobramento da Lava Jato, fez buscas no escritório e apreendeu documentos que indicam o elo de Gonçalves e campanhas eleitorais do partido e de Gleisi em 2010. Nesta segunda-feira, 27, após o depoimento de Gonçalves, a defesa do ex-ministro pediu reconsideração da ordem de prisão preventiva. O juiz federal assinalou que a audiência ‘não tem por objetivo produção de prova, conforme esclarecido a todos os investigados’. Mesmo assim, o próprio Guilherme Gonçalves ‘decidiu falar sobre uma série de questões referentes ao caso concreto, negando basicamente as suspeitas e indícios que recaem sobre ele’. O juiz anotou que ainda não foram apresentadas provas documentais, como, por exemplo, uma perícia que demonstraria que os valores da Consist ficaram com o advogado. “Contudo, o próprio investigado Guilherme, em dado momento, parece ter admitido que, às vezes, o Fundo Consist pagava algumas despesas para ‘PB’, que seria Paulo Bernardo”, assinalou o juiz na ata da audiência de custódia. “Na sua alegação, isto não seria algo ilícito, porém prática comum de seu escritório, que seria especializado em questões eleitorais.” O juiz federal destacou. “Estamos diante, portanto, de um fato que pode ter múltiplas interpretações, qual seja, o pagamento para Paulo Bernardo retirado do Fundo Consist. A possível justificativa não retira do fato, máxime quando aparentemente admitido pelo investigado Guilherme de Salles Gonçalves, o seu caráter indiciário. Desta forma, os indícios, por enquanto, subsistem”. Na audiência, Gonçalves, espontaneamente, disse que teria concordado com uma redução no valor de seus honorários.”Não caberia ao Juízo formular perguntas nesta fase de audiência de custódia, porém não poderia restringir a fala do investigado, máxime quando ele a considera útil à sua defesa.Assim, posta essa premissa, a princípio, pareceu um pouco estranho ao Juízo que o investigado estivesse prestando um serviço absolutamente regular e, de inopino, concordasse com a redução dos valores, máxime quando os indícios por ora demonstram que 47


a redução dos valores se deu justamente por ocasião da saída de Paulo Bernardo do Ministério do Planejamento.” “Nem se diga que a versão de Guilherme de Salles Gonçalves já confirma plenamente a de Paulo Bernardo. Cumpre notar que esta pode até ser a conclusão após a instrução. Porém, ao menos por enquanto entendo que os indícios de materialidade e autoria delitiva subsistem nos autos, bem como os requisitos cautelares da prisão preventiva dantes mencionados”, ressaltou o juiz Paulo Bueno de Azevedo. O magistrado anotou que Guilherme Gonçalves mencionou encontro com Paulo Bernardo na Polícia Federal. “As negativas dos fatos por ambos é algo natural, diante dos indícios que apontam que eles atuaram conjuntamente no alegado esquema”. “Após o depoimento de Guilherme de Salles Gonçalves, não vislumbro, ao menos por ora, razões para rever a decisão de manutenção da prisão preventiva de Paulo Bernardo. Portanto, mantenho a prisão preventiva de Paulo Bernardo, sem prejuízo de análise de eventual petição escrita a ser apresentada pela defesa técnica”, assinalou Azevedo. O juiz pediu ao Ministério Público Federal manifestação sobre os pedidos de revogação da prisão preventiva apresentados por escrito e sobre os pedidos de desbloqueio de valores dos alvos da Operação Custo Brasil. COM A PALAVRA, A DEFESA DE PAULO BERNARDO A defesa do ex-ministro, em nota, disse que ‘o depoimento de Guilherme Gonçalves deixa claro que Paulo Bernardo não se beneficiou de maneira alguma dos valores que foram recebidos da Consist’. A INTEGRA DA NOTA DOS ADVOGADOS DO EX-MINISTRO DO PLANEJAMENTO “O depoimento prestado pelo sr. Guilherme Gonçalves na data de hoje deixa claro que Paulo Bernardo não se beneficiou de maneira alguma dos valores que foram recebidos da Consist. Ficaram claras a origem dos pagamentos recebidos pelo Sr. Guilherme Gonçalves e o destino por ele dado a esses valores, sem qualquer envolvimento de Paulo Bernardo. Com isso, ficou comprovado, de maneira ainda mais evidente, que não há razões que justifiquem a prisão preventiva de Paulo Bernardo, já que, além de ausentes os requisitos técnicos da medida extrema, também não há qualquer indício de autoria com relação a ele. O magistrado, após ouvir os esclarecimentos do Sr. Guilherme Gonçalves, informou que analisará novamente se ainda vislumbra justificativa para manter a prisão de Paulo Bernardo”. Rodrigo Mudrovitsch, Juliano Breda e Verônica Sterman. COM A PALAVRA, A SENADORA GLEISI HOFFMANN Nesta segunda-feira, 27, a senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR) se manifestou da tribuna do plenário do Senado e criticou a ação da Polícia Federal, que na quinta, 23, prendeu seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo.

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Relato da repórter Julia Lindner, do Estadão, mostra que a petista classificou a prisão de Bernardo como ‘injusta, ilegal, sem fatos, sem provas e sem processo’, com o objetivo de humilhar sua família. “Nem em pesadelos eu teria sido capaz de supor que estaria aqui, nesta tribuna, para defender meu marido de uma prisão”, declarou Gleisi, com a voz embargada. “Mas aqui estou para apontar uma injustiça, sentindo na própria pele o que aflige diariamente milhares de pessoas atingidas pelo abuso do poder legal e policial. Aqui estou, serena e humilde, mas não humilhada”, continuou. Gleisi disse que a prisão foi um ‘despropósito’, pois Bernardo não apresentava risco de fuga e se colocou à disposição da Justiça diversas vezes para esclarecer os fatos. A senadora acusou a PF de cometer excessos com o intuito de ‘espetacularizar’ o processo. Na quinta-feira, 23, agentes da PF fizeram buscas no apartamento funcional em que a petista mora com Paulo Bernardo, em Brasília. O alvo foi exclusivamente o ex-ministro. A PF não apreendeu documentos da senadora porque tal medida só poderia ser executada por ordem do Supremo Tribunal Federal. Ainda na tribuna do Senado, nesta segunda, 27, Gleisi disse que a Justiça atua de maneira seletiva e promove ‘carnavais midiáticos contra alguns políticos’. “A operação montada para a busca e apreensão em nossa casa e para a prisão do Paulo foi surreal. Até helicópteros foram usados, força policial armada, muitos carros. Para que isso, chamar atenção? Demonstração de força? Humilhação? Gasto de dinheiro público desnecessário, é isso. Foi uma clara tentativa de humilhar um ex-ministro nos governos Lula e Dilma”.

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