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INTRODUÇÃO

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SOBRE OS AUTORES

SOBRE OS AUTORES

“Eu acho que percebo a teoria do meu modelo [de psicoterapia]. Continuo a ler livros e artigos, tenho supervisão todas as semanas… E continuo a sentir que não sei o que fazer em sessão. A maioria dos textos que leio falam demasiado no abstrato, raramente praticamos concretamente o que dizer e como em sessão. Passados anos disto, é normal que fique a questionar-me se o problema serei eu?”

Este email de uma ex-aluna explica a necessidade de escrevermos este livro.

Na nossa experiência como docentes e supervisores, a síndrome de impostor é muito prevalente em alunos (e profissionais!) de psicologia clínica. Com tantos recursos disponíveis, aulas, leituras, workshops, porque é que muitos ainda sentem que estão num constante modo de improvisação caótica dentro de sessão? Os últimos 30 anos de investigação sobre expertise profissional sugerem uma resposta. Essencialmente, fomos treinados na generalidade para falar, escrever e pensar sobre psicoterapia, mas não para a praticar confiantemente com pacientes reais. Seria o equivalente a um aluno no conservatório de música passar a maioria do tempo a estudar a história do piano e no final ser-lhe pedido para tocar uma peça em frente a um público. Apesar das vantagens da supervisão clínica e terapia pessoal do terapeuta, estes parecem ser úteis, mas insuficientes para muitos. Como podemos resolver este impasse?

Internacionalmente, existe um entusiasmo renovado na investigação do treino de psicólogos clínicos e psicoterapeutas. Um de nós (o autor Alexandre Vaz) é coeditor e coautor da primeira série de livros da American Psychological Association (APA) focada, exclusivamente, no treino sistemático de competências clínicas em diferentes modelos de psicoterapia. Esta série, The Essentials of Deliberate Practice, está agora a ser investigada e implementada em diferentes países, desde os Estados Unidos da América até ao Japão.

O propósito deste livro não é dissuadir professores, supervisores, clínicos ou estudantes de procurarem um entendimento teórico aprofundado em psicoterapia. Pelo contrário, queremos chamar atenção para um facto cada vez mais evidenciado pela investigação: o desenvolvimento de psicoterapeutas e psicólogos clínicos eficazes depende de uma integração rigorosa de treino teórico e prático. E, embora várias unidades curriculares e treinos clínicos possam conter elementos de treino prático, cremos que a investigação em prática deliberada é um contributo importante para o aperfeiçoamento destes métodos de ensino.

Começamos por apresentar investigação relevante sobre a eficácia e o treino em psicoterapia. Esta análise evidencia um conjunto de lacunas comuns dos métodos de ensino mais tradicionais. Apresentamos então algumas características de psicoterapeutas eficazes, identificadas pela investigação. De seguida, apresentamos os princípios da prática deliberada, uma metodologia de treino baseada na evidência que prevê o desenvolvimento de expertise em diferentes áreas profissionais. Mais recentemente, estes princípios têm vindo a ser aplicados ao treino de competências clínicas em psicoterapia. Como tal, apresentamos no Capítulo 3 – “O Que Devem os Psicoterapeutas Treinar?”, algumas competências identificadas pela investigação como preditoras de resultados clínicos.

Na Parte II – “Exercícios de Prática Deliberada para Psicoterapeutas” deste manual, disponibilizamos um conjunto de exercícios estruturados de prática deliberada para alunos, psicólogos clínicos e psicoterapeutas. Estes exercícios podem ser utilizados no contexto de unidades curriculares universitárias, pós-formações, workshops ou simplesmente, em pares, com um colega ou supervisor. Os exercícios focam-se nas competências identificadas no Capítulo 3 – “O Que Devem os Psicoterapeutas Treinar?”, sendo, por isso, expectável que o seu treino influencie positivamente a eficácia clínica do terapeuta.

Finalmente, no Capítulo 6 – “Prática Deliberada Individualizada: Adaptar a Supervisão ao Terapeuta”, refletimos sobre como utilizar os princípios da prática deliberada para o treino individualizado de profissionais de saúde mental. Estes princípios permitem a criação de um programa de treino clínico adaptado às necessidades específicas do profissional, com base nos seus desafios com pacientes reais. Esta metodologia personalizada é especialmente adequada para um contexto de supervisão individual.

Estamos entusiasmados por poder apresentar estas inovações de treino em psicoterapia a um público português. Esperamos que estes recursos inspirem mais investigação, um aperfeiçoamento gradual destes métodos e, especialmente, que contribuam para os resultados clínicos positivos de iniciantes e profissionais de saúde mental.

Alexandre Vaz Sentio Counseling Center e Sentio University

Daniel Sousa

Ispa – Instituto Universitário

Margarida Afonseca

Ispa – Instituto Universitário

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