PLANO HOSPITALAR PARA IDOSOS

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Pedro Madeira Marques Magda Sofia Silva Ana Rita Lambelho Beatriz Bartissol João Gorjão Clara
P LANO H OSPITALAR I PARADOSOS

Plano HosPitalar Para idosos

Pedro Madeira Marques Magda Sofia Silva Ana Rita Lambelho Beatriz Bartissol João Gorjão Clara

Lidel – Edições Técnicas, Lda www.lidel.pt

Prevenção do delirium e do imobilismo e otimização da assistência

Autores

Agradecimentos

Prefácio

Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa

Introdução

Professor Doutor João Gorjão Clara

Siglas e acrónimos

Parte I – Abordagem Multidisciplinar do Idoso

1

2

1

Contextualização e objetivos 3

Abordagem do doente idoso no internamento

9

3 Abordagem do doente idoso em risco de delirium 15

4

5

Abordagem do doente idoso em risco de imobilismo

25

A equipa multidisciplinar 29

6 O ambiente hospitalar.......................................................................................... 37

7

O hospital 43

8 A alta hospitalar do doente idoso

51

9 O doente idoso internado em tempo de pandemia 55

Parte II – Protocolos

10

57

Protocolo de abordagem geral no delirium 59

11 Protocolo de reorientação

12

13

67

Protocolo de mobilização precoce 69

Protocolo de abordagem à terapêutica farmacológica

73

14 Protocolo de alterações do sono 77

15

Protocolo de obstipação

83

16 Protocolo de retenção urinária 87

17 Protocolo de alteração da visão........................................................................ 91

18 Protocolo de alteração da audição 93

19

Protocolo de desidratação

95

20 Protocolo de prevenção de iatrogenia não farmacológica 99

21

Protocolo de disfagia

103

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............................................................................................................................... VII
............................................................................................................. IX
.............................................................................................................................. XI
........................................................................................................................ XIII
........................................................................................................ XV
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ÍNDICE

VI Plano Hospitalar para Idosos

22 Protocolo de atuação no Serviço de Urgência

23 Protocolo de alta do idoso

Anexos

109

113

117

A Recomendações nutricionais e fatores a considerar na alimentação do doente idoso ..................................................................................................... 119

B Exemplo de esquema de plano alimentar para ambulatório ................. 120

C Exemplo de guia terapêutico para ambulatório 121

D Exemplo de documento para reunião pré-alta 122

E Critérios gerais de referenciação para consulta .......................................... 123

F Algoritmo de atuação no doente em risco de delirium e imobilismo. 124

Referências bibliográficas

127

Índice remissivo 135

............................................
.................................................................................
................................................................................................................................
.........................................................................................

AUTORES

Pedro madeira marques

Especialista em Medicina Interna no Hospital Vila Franca de Xira, EPE. Com pletou o mestrado integrado em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Ingressou na formação especializada em Medicina Interna no Hospital de Vila Franca de Xira, EPE, tendo como tutor o Doutor Eduardo Haghighi. Colaborou na formação da Unidade de Geriatria do Hospital de Vila Franca de Xira, EPE. Vice-presidente da Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados. Participa regularmente nas reuniões do Grupo de Estudo de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e nos con gressos da European Geriatric Medicine Society. Membro do Grupo de Estudos de Geriatria e de Medicina Paliativa da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Tem como principais interesses o delirium , a disfagia, a síndrome de imobilidade, a demência e a sarcopenia, dentro da área da Geriatria.

magda sofia silva

Especialista em Medicina Interna no Centro Hospitalar Barreiro Montijo, EPE. Completou o mestrado integrado em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Ingressou na formação especializada em Medicina Interna no Centro Hospitalar Barreiro Montijo, EPE. Participa regularmente nas reuniões do Grupo de Estudo de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e nos congressos da European Geriatric Medicine Society. Membro do Núcleo de Estudos de Geriatria e do Núcleo de Estudos de Diabetes Mellitus da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Autora de diversos trabalhos nas áreas da Geriatria e da Diabetologia.

Médica interna de formação especializada em Medicina Interna no Hospital de Vila Franca de Xira, EPE. Completou o mestrado integrado em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Completou o internato geral no Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE – Hospital de Santa Maria. Tem como principais interesses o delirium , a demência, a síndrome de imo bilidade e a polimedicação, dentro da área da Geriatria.

Nutricionista no Hospital de Vila Franca de Xira, EPE, onde colaborou na Unidade de Geriatria e onde atualmente colabora na Unidade de Cuidados Intensivos e Intermédios e nas enfermarias de Medicina Interna, Nefrolo gia, Cardiologia e Unidade de AVC. Completou a licenciatura em Dietética e

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VIII Plano Hospitalar para Idosos

Nutrição na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, tendo sido a primeira vencedora do prémio Nutrition and Dietetics Award. Completou a pós-graduação em Nutrição em Oncologia na Universidade Católica Por tuguesa. Participa regularmente em congressos e formações nas diversas áreas da Nutrição.

João gorJão clara

Foi Professor Catedrático (convidado) na Faculdade de Medicina da Universida de de Lisboa. Foi o primeiro regente da cadeira de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Foi fundador da unidade universitária de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Foi diretor do Serviço de Medicina do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, EPE – Hospital Pulido Valente. Fundador e presidente da direção da Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados. Foi fundador e coordenador do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Inter na. Foi membro da European Academy for Medicine of Ageing. Foi membro do conselho da Geriatric Section of the Union European Medical Specialists. Foi membro do conselho da European Union Geriatric Medicine Society. Foi coordenador do Grupo de Estudos de Cardiologia Geriátrica da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a todos os enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas de fala, colegas de Medicina Geral e Familiar e de outras espe cialidades a disponibilidade e o contributo para este trabalho.

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PREFÁCIO

Ler e reler a presente obra reverte-se de importância acrescida numa socieda de, como a nossa, em que o envelhecimento ainda domina a atualidade e as perspetivas mais realistas até ao final da década, e as necessidades emer gentes – na saúde, na solidariedade social, na mobilidade, na qualificação, na participação comunitária – tendem a acentuar-se, e não a desvanecer-se.

As páginas que se seguem refletem experiência, conhecimento teórico e prático, noção de virtualidade e de constrangimentos, capacidade reflexiva e propositiva e poder de inovação.

E ainda denotam algo de essencial: a humildade de quem contribui sem monopólios de verdade ou autoconvencimentos sobranceiros.

Quer ajudar a construir caminhos, mais do que impor soluções incontrover tíveis, porque perfeitas.

Bem andaram todos os que trabalharam neste percurso ou o apoiaram, porque não enterraram a cabeça na areia, como a avestruz.

E avisaram e avisam a tempo para um desafio que, há muito, começou a colocar-se a todos nós.

Não pecaram por omissão. Antes primaram pelo risco da exposição.

Mas é desses obreiros porfiados e incansáveis que se faz o futuro de todos nós.

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INTRODUÇÃO

O aumento da esperança de vida e o envelhecimento populacional trouxeram novos desafios à assistência médica.

Os idosos têm maior propensão para sofrerem de doenças que se manifestam muitas vezes de maneira diferente das doenças nos adultos mais jovens.

É comum a ocorrência de mais de uma patologia no mesmo doente, com a consequente polifarmácia.

A escolha das intervenções terapêuticas é condicionada pelas alterações ditadas pelo envelhecimento biológico, sendo necessariamente diferente da das crianças ou dos adultos jovens.

A definição do prognóstico é complexa e é difícil o suporte ético da assis tência aos idosos.

Estas particularidades foram reconhecidas pelos médicos há muito tempo e mais recentemente, na segunda metade do século XIX, realçadas por Jean -Marie Charcot.

Ignatz Leo Nascher, médico, nascido em Viena e, mais tarde, naturalizado americano, cunhou a palavra “geriatria” em 1909. Em 1948, aquando da criação, na Grã-Bretanha, do National Health Service, Marjory Worren fundou a primeira unidade hospitalar de Geriatria e as bases da avaliação holística do doente idoso que denominou de Comprehensive Geriatric Assessment (Avaliação Geriátrica Global, AGG).

Desde então, por toda a Europa, nos Estados Unidos da América e no Brasil, começou o ensino da Geriatria nas escolas médicas, e nos grandes hospitais criaram-se unidades de internamento de Geriatria.

Nos últimos anos, tornou-se claro que os hospitais de há meio século não forneciam na sua estrutura física e na organização assistencial, os melhores cuidados aos doentes idosos.

É frequente, fruto desta desadaptação, que os idosos sejam internados entrando pelos seus próprios meios no hospital e que tenham alta sem autonomia motora, de cadeira de rodas ou de maca, para um longo e difícil percurso de fisioterapia extra-hospitalar.

Paralelamente, desencadeado ou facilitado pelas atuais condições, os idosos podem ser internados sem compromisso cognitivo e desenvolverem, a curto prazo, um quadro clínico de aparente demência (delirium) com consequências desastrosas para a evolução do internamento – com grande sofrimento para eles próprios e para a família – e com o surgimento de complicações em cascata que não raras vezes terminam na morte.

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XIV Plano Hospitalar para Idosos

Acresce que estes factos originam um grande dispêndio de recursos e enor mes encargos económicos.

Impunha-se aos Autores desta obra definir uma alteração de paradigma na assistência aos idosos que são internados nos nossos hospitais.

O Plano Hospitalar para Idosos (PHI) define e sugere alterações na constru ção do hospital, que abrangem modificações do espaço, da iluminação, da fenestração, da sinalética, da decoração e da instalação de estruturas de repouso e de segurança.

Descreve a organização e o funcionamento de equipas multidisciplinares de assistência, a avaliação global de todos os problemas que o doente idoso apresenta sob os pontos de vista: emocional, cognitivo, funcional, nutricional e de suporte social.

Sugere normas de intervenção para prevenção e tratamento do imobilismo, para a prevenção e o tratamento do delirium , e aborda também a deteção e tratamento de outras situações independentes ou relacionadas com estas duas síndromes.

Assim, o PHI contém protocolos que definem e sugerem regras de revisão e otimização da terapêutica farmacológica e não farmacológica, a correção das alterações do sono, a deteção e o tratamento da desidratação, da obstipação e retenção urinária, da disfagia, da prevenção de quedas, e das alterações da visão e da audição.

O PHI propõe a preparação precoce da alta do idoso e a articulação com os profissionais de saúde dos centros de saúde para assegurar a continuação eficaz da assistência e dos cuidados a dispensar ao doente após a alta.

Por fim, o PHI pretende ensinar aos familiares ou voluntários que acompa nham o doente, a colaborar na estimulação cognitiva, na integração temporo -espacial, na alimentação, nas deslocações intra-hospitalares, na fisioterapia, e na deteção precoce de delirium

Entendem os Autores que o PHI é um projeto ambicioso, mas indispensável para a melhoria dos cuidados a dispensar aos nossos doentes idosos, con tribuindo para que a assistência médica que lhes é prestada, nos equipare ao que se faz em muitos hospitais de todo o mundo.

ELABORAÇÃO DA AVALIAÇÃO GERIÁTRICA GLOBAL

À anamnese estruturada para apurar o estado funcional, cognitivo, nutricional, psicológico e social do doente chamamos AGG[16]. Permite documentar o grau de incapacidade do doente à admissão hospitalar e os fatores que poderão condicionar o agravamento da mesma. Permite também quantificá-los e inte grá-los na globalidade do doente, estratificando-os e facilitando a elaboração de um plano interventivo, holístico e adequado.

Escalas e testes a aplicar na AGG:

■ Escala de Katz – avaliação do estado funcional no que respeita às ativi dades de vida diária básicas[25];

■ Escala Lawton & Brody – avaliação do estado funcional no que respeita às atividades instrumentais de vida diária[26];

■ Mini-Nutritional Assessment - Short Form (MNA ®-SF) – avaliação do estado nutricional. O MNA ®-SF deriva do questionário MNA ® original e, caso se ob tenha uma pontuação inferior a 11 pontos (indicação de possível risco de malnutrição), o MNA ® deve ser completado por um profissional experiente, idealmente um nutricionista[27,28,29];

■ Brief Medication Questionnaire – avaliação sumária da medicação habitual do doente[30];

■ Yesavage Geriatric Depression Scale – avaliação do estado afetivo[31];

■ Mini Mental State Examination (MMSE) – avaliação do estado cognitivo[32,33];

■ Tinetti Performance Oriented Mobility Assessment (Tinetti-POMA) – avaliação da marcha e risco de quedas[34];

■ Escala de Morse – avaliação do risco de queda;

■ Timed Up and Go Test (TUG) – avaliação da marcha, risco de queda em doentes com história de queda prévia e correlação com fragilidade[35];

■ Five Times Sit to Stand Test – avaliação da força dos membros inferiores e correlação com risco de queda e fragilidade[36];

■ Clinical Frailty Scale – avaliação da fragilidade[37];

■ PRISMA 7 – avaliação da fragilidade[35,38,39].

Na suspeita de disfagia ou na presença de fatores de risco para esta situação pode ser aplicado o teste Gugging Swallowing Screen (GUSS)[40].

Nota: O Dynamic Gait Index (DGI) é um teste abordado no “Protocolo de mobilização precoce” (ver Capítulo 12). Pela sua complexidade e pela necessidade de ser exe cutado em ginásio, não foi incluído na AGG, mas deve ser executado sempre que haja possibilidade para tal.

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2

Abordagem do doente idoso em risco de delirium 19

tabela 3.1 – terapêutiC a FarmaCológiC a Com potenCial de desenC adear retenção urinária (adaptado[60])

Classe farmacológica

Antiarrítmicos

Antidepressivos

Anticonvulsivantes

Anti-histamínicos

Anti-hipertensores

Antiparkinsónicos

Antipsicóticos

Hipnóticos

Descongestionantes nasais

Antidemenciais

Anticolinérgicos

Procinéticos

Hormonas

Relaxantes musculares

Antiálgicos

Fármacos urológicos

Exemplos de fármacos

Disopiramida, procaínamida, quinidina

Amitriptilina, citalopram, venlafaxina, imipramina

Carbamazepina, gabapentina, lamotrigina

Hidroxizina, cetirizina, clorferinamina, ciproeptadina

Clonidina, hidralazina, nifedipina

Levodopa/Carbidopa, selegilina, promipexola

Aripiprazol, clozapina, haloperidol

Clonazepam, diazepam, zolpidem

Penilproponolamina, pseudoefedrina

Memantina, rivastigmina

Atropina, escopolamina/butilescopolamina, brometo de ipratrópio, brometo de tiotrópio

Metoclopramida

Estrogénios, progesterona, testosterona

Baclofeno, ciclobenzaprina

Opioides, AINE, tramadol

Darifenacina, oxibutinina, tolterodina

tabela 3.2 – terapêutiC a FarmaCológiC a Com potenCial de desenC adear obstipação (adaptado[61]) Classe farmacológica

Analgésicos

Anticolinérgicos

Antiparkinsónicos

Anticonvulsivantes

Antidepressivos

Antidiarreicos

Antieméticos

Anti-histamínicos

Anti-hipertensores

Antiespasmódicos

Catiões

Quimioterapia

Resinas

Exemplos de fármacos

Opioides (90% dos doentes com neoplasia, 25-40% dos doentes sem neoplasia), AINE

Oxibutinina, antipsicóticos

Amantadina, bromocriptina

Gabapentina, fenitoína, pregabalina

Tricíclicos, paroxetina

Loperamida

Ondansetrom, prometazina, butilescopolamina

Hidroxizina, difenidramina

α1 agonistas, bloqueadores dos canais de cálcio (verapamil), β-bloqueantes, diuréticos

Diciclomina

Alumínio, bário, bismuto, cálcio, ferro

Vincristina, ciclosporina

Polistireno, colestiramina

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A EQUIPA MULTIDISCIPLINAR

Não é possível prevenir o delirium e o imobilismo em internamento se a avaliação e a intervenção não forem multidisciplinares. A equipa integra mé dicos, enfermeiros de reabilitação, equipa de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos e assistentes sociais, que participam com uma visão objetiva, holística e realista do doente, integrando problemas funcionais, cognitivos, nutricionais e sociais. A participação da família, dos cuidadores e de voluntários é fundamental em todo o processo (Figura 5.1).

Nutricionista

Assistentes operacionais

Enfermeiros do serviço

Enfermeiro de referência

Internista

Enfermeiro de reabilitação

Fisioterapeuta

Assistente social

Familiares/voluntários

Terapeuta da fala

Doente Farmacêutico

Gerontopsiquiatra

Especialista em dor (anestesista, internista, paliativista)

– Elementos que devem intervir em todos os doentes;

– Elementos que fazem parte da equipa multidisciplinar, mas que são solicitados apenas em situações específicas; – Elementos que não fazem parte da equipa multidisciplinar, mas que devem ser solicitados em situações específicas; Setas contínuas – Comunicação diária; Setas tracejadas – Comunicação sempre que se justifique.

Figura 5.1 – Organização da equipa multidisciplinar.

O PAPEL DA COMUNICAÇÃO INTEGRADA

Todos os elementos da equipa devem conhecer o seu papel e a importância do seu trabalho integrado numa equipa com um objetivo comum.

Nunca é de mais enfatizar a importância de uma boa comunicação entre todos para o sucesso dos objetivos a que a equipa se propõe. Esta comunicação

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5

PROTOCOLO DE ABORDAGEM GERAL NO DELIRIUM

OBJETIVOS

Fornecer medidas que visam prevenir e/ou tratar o delirium durante o interna mento. A sua prevenção e tratamento passam pela identificação e abordagem dos fatores de risco para delirium [4,5,19]

INTERVENIENTES

Internista com competência em Geriatria, equipa de enfermagem, incluindo enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação, enfermeiro de re ferência, fisioterapeuta, nutricionista, psiquiatra com formação em Geriatria, assistentes operacionais, assistente social, voluntários e familiares.

LÍDER

Internista com competência em Geriatria.

MEDIDAS A IMPLEMENTAR

■ A identificação do doente em risco de delirium deverá ser feita idealmente nas primeiras 24 horas após a admissão no SU;

■ Após a admissão na enfermaria deve ser elaborada uma AGG o mais completa possível, de forma a identificar os problemas gerais do doente e começar a delinear um plano de ação;

Escalas a aplicar na AGG:

○ Katz;

Lawton & Brody;

MNA ®-SF;

Brief Medication Questionnaire ;

Yesavage Geriatric Depression Scale ;

PRISMA-7;

Clinical Frailty Scale ;

TUG;

Morse;

Tinetti-POMA;

Five Times Sit to Stand Test .

■ Explicação do objetivo do rastreio do delirium ao doente e aos familiares;

■ Em cada um dos turnos diários da equipa de enfermagem (ou, em caso de turnos de 12 horas, três vezes por dia), aplicação do 4AT, documentando o seu resultado no processo do doente. Além disso, a aplicação do 4AT

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10

Protocolo de alterações do sono

Identificar doentes em risco:

■ Demência

■ História de depressão major ou depressão ativa

■ Doentes muito idosos (>85 anos)

Otimizar medidas não farmacológicas:

■ Manter fonte de luz acesa até hora de recolher

■ Reduzir gradualmente a estimulação externa ao longo do dia

■ Abordar fatores de ansiedade para o doente durante o período diurno, promovendo o descanso noturno

Excluir ansiedade ou depressão (e abordar como previamente referido)

Antipsicótico típico (haloperidol):

■ 2,5 mg por via intramuscular em SOS

■ Ponderar esquema oral de halope ridol 0,5-1 mg, 1 a 2 vezes por dia

Apesar de medidas teve episódio de agitação noturna?

Caracterizar sintomas

Insónia?

■ Inicial

■ Intermédia

■ Terminal Inquietação ou agitação?

Nota: se o o doente com demência, sem episódio de agitação noturna, com medidas ambientais otimizadas, mantém inquietação diurna, ponderar antipsicótico em esquema na dose mais baixa possível, prescrito ao final da tarde, privilegiando via oral:

■ Se demência parkinsónica: antipsicótico atípico

■ Se demência vascular/Alzheimer: antipsicótico típico

Figura 14.2 – Resumo do Protocolo de alterações do sono nos doentes em risco de delirium.

Quadro 14.1 – prinCipais passos a realizar na prevenção e tratamento de alterações do sono

Levante diário Revisão farmacológica

■ Ponderar existência de delirium hipoativo

■ Evitar sestas diurnas

■ Suspender medicação prescrita em horário noturno

■ Suspender fármacos hipnóticos ou com esse efeito colateral

■ Suspender prescrição de diuréticos após as 16 ho ras

79 © L ide L e dições T écnicas

FUNÇÕES INDIVIDUAIS DE CADA ELEMENTO

Explicitam-se, de seguida, as tarefas a executar por cada membro da equipa multidisciplinar.

INTERNISTA COM COMPETÊNCIA EM GERIATRIA

■ Ajustar a terapêutica laxante, privilegiando a via oral, sempre que possí vel. De notar que laxantes osmóticos (como a lactulose) têm o seu efeito reduzido se não houver ingesta concomitante de água, provocando, em contrapartida, dor abdominal tipo cólica;

■ Procurar junto do enfermeiro de referência informações sobre a ingesta diária de água e resposta à terapêutica laxante, fazendo os ajustes ne cessários, consoante estas informações;

■ Registar na nota de alta a presença de obstipação durante o internamento.

ENFERMEIRO DE REFERÊNCIA

■ Articular com o enfermeiro de reabilitação, o nutricionista e a restante equipa de enfermagem, de forma a manter, pelo menos, uma dejeção em dias alternados, ou o padrão intestinal de ambulatório do doente;

■ Alertar familiares/voluntários para o risco de obstipação, fomentando o aumento da ingesta de líquidos em ambulatório.

ENFERMEIRO DE REABILITAÇÃO

■ Promover períodos de deambulação, sempre que possível.

EQUIPA DE ENFERMAGEM

■ Informar-se sobre o padrão intestinal habitual do doente e manter-se a par da data da última dejeção;

■ Notificar o nutricionista sobre a presença de obstipação;

■ Efetuar levante diário do doente, recorrendo, se necessário, a instrumentos auxiliares, como elevadores e transfers ;

■ Garantir a ingesta de, no mínimo, 1,5 litros/dia de água, com a colaboração de familiares e voluntários.

NUTRICIONISTA

■ Ajustar a dieta para manter, pelo menos, uma dejeção de 2 em 2 dias, ou de acordo com o padrão intestinal prévio do doente.

FARMACÊUTICO

■ Revisão de fármacos antipsicóticos ou outros depressores do estado de consciência que possam estar a limitar a capacidade de levante/

Protocolo de obstipação 85 © L ide L e dições T écnicas

PROTOCOLO DE ATUAÇÃO NO SERVIÇO DE URGÊNCIA

OBJETIVO

Identificar, intervir precocemente e encaminhar os doentes que chegam ao SU com delirium ou em risco de o vir a desenvolver[128]

INTERVENIENTES

Internista com competência em Geriatria e enfermeiro do SU.

LÍDER

Internista com competência em Geriatria.

MEDIDAS A IMPLEMENTAR

■ Os doentes cujos motivos de vinda ao SU foram agitação, confusão, apa tia, discurso incoerente, assim como os com história prévia de delirium , devem ser sinalizados pelo médico ou enfermeiro ao enfermeiro de equipa de intervenção no SU (Figura 2.1);

Doente com fatores de risco para delirium

Doente com motivo de vinda ao SU incluindo:

■ Agitação

■ Confusão

■ Apatia

■ Discurso incoerente

4AT com pontuação de 1 a 4

Avaliação dos fatores de risco/agravamento

Doente com história de delirium hospitalar prévio (segundo nota de alta prévia)

Definição de plano multidisciplinar:

■ Aplicação de protocolos

■ Transferência do doente do SU

Figura 22.1 – Resumo do Protocolo de atuação no Serviço de Urgência.

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22

RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS E FATORES A CONSIDERAR NA ALIMENTAÇÃO DO DOENTE IDOSO

Necessidades energéticas:

AAs necessidades energéticas da pessoa idosa são de cerca de 30 kcal/kg por dia. Tendo em conta o género, o estado nutricional, a condição clínica, a gravidade da doença, o objetivo do suporte nutricional e a tolerância, estas necessidades alteram-se, sendo maiores quanto mais grave for a doença aguda[75]

Necessidades proteicas:

As necessidades proteicas do idoso não hospitalizado deverão ser estabelecidas entre 1-1,2 g/kg/ dia, recomendando-se um consumo de 25-30 g de proteína por refeição principal que contenha 2,5-2,8 g de leucina. Em situação de doença, as necessidades proteicas estão aumentadas, devendo-se tentar atingir aportes de 1,2-1,5 g/kg/dia, que poderão ir até 2 g/kg/dia em situações de doença grave ou malnutrição marcada[129].

Restrições alimentares:

As restrições alimentares devem ser evitadas ao máximo, já que são potenciadoras de aportes alimentares reduzidos e consequente malnutrição, colocando estes doentes em maior risco de mal nutrição. Além disso, dietas restritivas parecem não ter tanto efeito com o avançar da idade (por exemplo, restrição de sal para controlo da pressão arterial).

Suplementos nutricionais orais:

Quando necessária a utilização de suplementos nutricionais orais, deve haver preferência por produtos com alta densidade calórico-proteica (1,5-2,4 kcal/mL e 10 g proteína/100 mL) de baixo volume. Não devem interferir com a ingestão das refeições, pelo que a sua ingestão deverá ser feita nos intervalos das refeições ou à ceia. Em meio hospitalar, é atualmente recomendado que doentes idosos com risco de malnutrição ou malnutridos façam sempre o consumo de suplementos nutricionais orais (mantendo as restantes otimizações possíveis da dieta oral), com o objetivo de aumentar o aporte nutricional e o peso corporal, e reduzir o número de complicações e de readmis sões. A suplementação deverá fornecer um mínimo de 400 kcal e 30 g de proteína por dia[75]

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FALGORITMO DE ATUAÇÃO NO DOENTE EM RISCO DE DELIRIUM E IMOBILISMO

Controlo e otimização dos fatores de risco

Reorientação periódica e frequente

Levante diário

Ajuste do ciclo sono-vigília

Informar acerca do local, o dia/mês/ano e o motivo de internamento; se necessário, mostrar algo indicativo (por exemplo, logótipo, lençóis fardamento)

■ Medida mais importante e prática

■ Realizar o mais precocemente possível (idealmente, no primeiro dia), se ausência de contraindicações

■ Durante o dia, demonstração clara – levar o doente à janela, manter cortinas abertas, mencionar hora e qual a refeição

■ Boa higiene do sono – durante a noite, ter luzes apagadas e silêncio noturno

Familiarização do ambiente

Descarte de privação farmacológica/ /dor/retenção urinária/obstipação

Hidratação adequada

Uso criterioso de sonda vesical permanente (algaliação)

Trazer roupa do doente, fotografias de familiares; colocar óculos e próteses auditivas do doente

Benzodiazepinas, álcool

Quantidade de referência é 1,5-2 litros/dia

Alternativa: esvaziamentos vesicais frequentes, penrose, evitar fraldas

Nota: se após otimização dos fatores de risco, o delirium hiperativo persistir, deve-se fazer controlo farmacológico da agitação:

Privilegiar terapêutica subcutânea

■ Doentes sem parkinsonismo – haloperidol, 2,5 mg, intramuscular até 2 vezes em SOS, e haloperidol, 1 mg, oral de 12 em 12 horas[64,65,66] Iniciar desmame após controlo da agitação

■ Doentes com parkinsonismo – quetiapina, 25 mg, risperidona à noite, ½ cp ou 1 mg. Iniciar desmame após controlo da agitação

(continua)

Este livro, prático, sustentado em informação médica nacional e internacional de qualidade, de fácil acesso e consulta, e completo, proporciona suporte, de uma forma simples, eficaz e concisa, aos profissionais de saúde das diversas áreas que lidam com o doente idoso (médicos, enfermeiros, terapeutas, nutricionistas e outros), para otimização dos cuidados ao doente .

Portugal é um dos países do mundo com maior percentagem de idosos. As características particulares desta população exigem uma abordagem holística e diferenciada na prestação de cuidados. O delirium e o imobilismo são síndromes frequentes e com impacto significativo na qualidade de vida e no prognóstico dos idosos, sendo, por isso, necessário a sua prevenção e o seu tratamento. Reforçando a importância da formação em Geriatria, esta obra reúne ferramentas para a abordagem do idoso, quer internado quer residente noutras instituições (como a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e as Estruturas Residenciais para Idosos). É identificado o papel dos vários profissionais de saúde no trabalho em equipa multidisciplinar (que inclui também a família, os cuidadores informais e os voluntários) na abordagem dos múltiplos fatores de risco e são apresentados vários protocolos práticos de atuação, destacando a articulação com os cuidados de saúde primários e sugerindo medidas de organização do meio e da arquitetura hospitalares, com vista à prestação de cuidados otimizados e à promoção de um internamento com a menor iatrogenia possível.

Esta obra inclui ainda material de apoio: um plano de formação da equipa multidisciplinar na área do delirium e do imobilismo e anexos de auxílio ao seu quotidiano, disponíveis em: https://www.lidel.pt/pt/catalogo/ciencias-da-saude/gerontologiageriatria/plano-hospitalar-para-idosos/#tabDowLivro até o livro se esgotar ou ser publicada nova edição atualizada ou com alterações.

978-989-752-773-9

789897

ISBN
www.lidel.pt9
527739 P LANO H OSPITALAR PARA I DOSOS

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