“Adquirimos uma língua ao compreendermos mensagens nessa língua”, Stephen Krashen1
Este livro dá continuidade à coleção Histórias do Mundo, preparada para diferentes níveis de proficiência: A1, A2 e B1. Nesta coleção, o nível A2 é contemplado com dois volumes: o presente volume, Histórias do Mundo A2 – Livro com Áudio, no qual se reúnem contos tradicionais originários da América do Sul, África e Oriente; e o Histórias do Mundo
A2 – As Viagens de Sindbad – Livro com Áudio, exclusivamente dedicado à célebre narrativa das viagens de Sindbad, retirada de As Mil e Uma Noites. Aconselha-se a leitura deste último depois de ter lido Histórias do Mundo A2 – Livro com Áudio.
Neste volume, Histórias do Mundo A2 – Livro com Áudio, a narração está ajustada à capacidade de compreensão de um aprendente com cerca de 1 ano de aprendizagem formal do português.
Para o volume de A1, escolheram-se histórias tradicionais muito conhecidas, que constam das coletâneas mais famosas e que deram origem a vários filmes. Neste volume de A2, as histórias são um pouco menos conhecidas, isto porque a capacidade de compreensão de um aprendente de A2 é maior e, nessa medida, ele já não precisa tanto da ajuda que lhe traz o conhecimento prévio do enredo.
Todas as opções de textualização são criteriosamente ponderadas, de modo a dosear o grau de dificuldade da leitura. Pretende-se garantir que o livro seja suficientemente desafiante para estimular a aquisição, mas que também seja facilmente compreensível. Estas opções afetam essencialmente a seleção de vocabulário e a estrutura das frases.
1 Krashen, S. (1989). We acquire vocabulary and spelling by reading: Additional evidence for the input hypothesis. The modern language journal, 73(4), p. 440 (tradução livre).
Quanto ao vocabulário, as histórias deste livro foram construídas tendo como referência as 2000 palavras mais frequentes do português. Acresce a este número um pequeno conjunto de palavras e expressões que fazem parte do contexto específico das histórias.
Acrescentou-se também, propositadamente, algum vocabulário um pouco menos frequente. Todas as palavras consideradas difíceis para um leitor de A2 aparecem explicadas na margem das páginas, através de ilustrações ou breves definições. Estas notas laterais não servem para explicar apenas o sentido de palavras isoladas, mas também o de colocações, locuções e interjeições: “matar a cabeça”, “pregar uma partida”, “ajustar contas”, “virar do avesso”, “cara de pau”, “arre!”, “fogo!”, etc. Os valores pragmáticos muito comuns de algumas palavras do português, tais como “bem”, “então”, “até” e “lá”, também surgem explicitados. Para além das palavras novas que aparecem glosadas pela primeira vez neste volume, considerou-se útil repetir algumas notas que já apareciam no 1.º volume (Histórias do Mundo A1 – Livro com Áudio). Em todo o caso, como cada palavra é explicada apenas uma vez, na sua primeira ocorrência no texto, é aconselhável ler as histórias pela ordem da paginação.
Nas últimas páginas deste livro, o leitor encontra um glossário que reúne todas as palavas glosadas ao longo do livro, distribuídas por ordem alfabética.
Quanto à gramática, excluem-se neste volume as formas verbais de pretérito mais-que-perfeito, conjuntivo e condicional, bem como as formas passivas. As frases curtas mantêm-se, à exceção das frases com múltiplas orações relativas, próprias dos contos acumulativos (“O galo e o casamento”). De notar que estas repetições não são aqui trazidas artificialmente, com o intuito exclusivo de potenciar a aquisição de estruturas gramaticais. Na verdade, elas já fazem parte do registo narrativo dos contos tradicionais.
Após cada história, é apresentado um conjunto de exercícios, acompanhado das respetivas soluções. Estes exercícios permitem ao
aprendente praticar o vocabulário novo e rever estruturas de frases semelhantes às encontradas no conto. Os exercícios variam em dificuldade, desde os que requerem a simples repetição e memorização de palavras, até tarefas mais complexas, que exigem uma análise pormenorizada do texto e convocam habilidades inferenciais. Essa diversidade de exercícios atende tanto aos leitores que gostam de desafios como aos que preferem atividades mais simples.
A compreensão do oral é também essencial para a aprendizagem de uma língua. Por isso, este livro, assim como os outros desta série, inclui uma versão áudio dos contos e de alguns exercícios. A leitura e gravação deste livro foi feita por um locutor profissional. A disponibilização das faixas áudio é feita através de QR Codes. Quanto aos pequenos áudios referentes aos exercícios de compreensão oral, além dos respetivos QR Codes, eles estão também disponíveis para download no site da Lidel, em www.lidel.pt/pt/download-conteudos/. No final do livro, podem ser encontradas as transcrições destes exercícios.
O objetivo principal da leitura de Histórias do Mundo é estimular os aprendentes de português a desenvolver a sua proficiência linguística através da leitura abundante. Em casa, em viagem ou numa sala de espera, o aprendente pode facilmente aproveitar o seu tempo, lendo e ouvindo estas histórias, aumentando, assim, o tempo de exposição à língua.
No entanto, isso não exclui a possibilidade de o professor utilizar este recurso nas suas aulas. Dado que o livro é composto por diversos textos independentes, o professor pode aproveitar a pré-leitura feita pelos alunos em casa para, na aula, realizar atividades segmentadas e intensivas de gramática e de vocabulário.
As narrativas apresentadas em Histórias do Mundo A2 – Livro com Áudio são recriações inspiradas nas histórias da cultura popular de várias regiões do mundo (América do Sul, África, Oriente…), que, certamente, captarão a atenção tanto de crianças como de adultos.
Boas leituras!
1 Escutar: ouvir.
2 Arbustos
3 Serpente
4 Cabra
5 Burro
6 Chegar ao pé: chegar perto.
7 Fazer uma vénia 1
8 Figo
1. O macaco malandro
No tempo em que os animais falavam, e as plantas escutavam1 , havia um bonito jardim com muitas espécies de arbustos2 e árvores de fruto. Esse jardim era tão grande que, para se ir de uma ponta à outra, era preciso meio dia. Nele viviam muitas espécies de animais: papagaios, girafas, serpentes3, zebras, cabras4 , burros5 , pandas, coalas e um macaco. Os animais podiam comer a fruta de todas as árvores, mas havia uma condição: deviam chegar-se ao pé6 da árvore em questão, fazer-lhe uma vénia7, dizer o nome dela e pedir “por favor”. Quando, por exemplo, a girafa queria comer figos8 , chegava-se ao pé da figueira e dizia:
– Ó figueira, ó figueira, deixa-me provar9 o sabor dos teus figos, por favor!
Se a cabra tinha vontade de comer uvas10, devia chegar-se ao pé da videira e dizer: – Ó videira, ó videira, deixa-me provar o sabor das tuas uvas, por favor!”
Ora11 , isto passou-se numa época em que os animais já começavam a ter alguma dificuldade com as palavras.
Por isso, os animais desta história tinham de fazer um grande esforço12 mental para se lembrarem do nome das árvores e dos seus frutos.
No canto13 oeste14 do jardim, havia uma casa de madeira onde vivia uma velhinha muito velha que sabia o nome de todas as árvores, de todas as plantas e de todas as ervinhas15 . E, no canto este do jardim, estava a árvore mais maravilhosa de todas. Os seus ramos estendiam-se16 no ar em todas as direções, as suas folhas eram em forma de coração e os seus frutos, vermelhos e redondos, brilhavam ao sol. O aroma17 destes frutos espalhava-se18 por todo o jardim.
Como é natural, todos os animais desejavam provar os frutos desta árvore. No entanto, havia um problema: a árvore tinha um nome muito complicado, com muitas sílabas 19 , e os animais não o conseguiam memorizar 20 . Eles bem 21 iam a casa da velha e a velha bem lhes dizia e repetia o nome da árvore e do seu fruto, mas, no caminho, desde o canto oeste até ao canto este, os animais esqueciam - se da palavra.
9 Provar: comer ou beber um bocadinho de alguma coisa para lhe sentir o sabor.
10 Uvas
11 Ora: usa‑se no início da frase para indicar que se vai acrescentar uma informação importante.
12 Esforço: tentativa de fazer alguma coisa que é difícil.
13 Canto (neste contexto): parte de um espaço quadrado ou retangular, onde duas paredes se encontram.
14 Oeste
15 Ervinhas: pequenas ervas (planta muito comum que cobre o chão).
16 Estender‑se (neste contexto): crescer ao longo do espaço.
17 Aroma: cheiro.
18 Espalhar‑se: uma coisa espalha‑se quando está presente numa área cada vez maior.
19 Sílaba: parte de uma palavra com uma vogal (ou ditongo) ou uma vogal e consoante.
20 Memorizar: aprender ou fixar na memória.
21 Bem (neste contexto): fazer uma coisa muitas vezes, mas sem resultado.
7. Baba Yaga
Era uma vez, numa terra distante, um camponês1 e a sua mulher. O casal tinha dois filhos gémeos2: um menino e uma menina. Um dia, a mulher morreu e o camponês chorou durante dias, meses, um ano e outro ano. Como consequência, a sua casa estava numa grande desordem3 . Então, o pobre homem achou que devia casar-se outra vez. E assim fez. Com a nova mulher, o camponês teve mais cinco filhos. Esta mulher mimava 4 muito os seus próprios filhos, mas detestava os gémeos. Por isso, fazia de tudo para os ver sofrer. Ralhava - lhes 5 por tudo e por nada 6 , mandava - os sempre fazer os trabalhos mais
1 Camponês: pessoa que trabalha no campo, na agricultura.
2 Gémeo: uma de duas crianças, nascidas ao mesmo tempo, da mesma mãe.
3 Desordem: situação em que nada está em ordem.
4 Mimar: tratar uma criança muito bem e dar‑lhe tudo o que ela quer.
5 Ralhar: criticar alguém severa mente, sobretudo uma criança, por alguma coisa que ela fez de errado.
6 Por tudo e por nada: frequen temente e por razões pouco importantes.
Técnicas, Lda.
Pareciam tarefas fáceis, mas não eram. Aliás, eram missões impossíveis. Quando a menina foi ver, eram 50 pares de meias, todas com dois e três buracos. Mas não havia agulha37 nem linha38 naquela casa. Quando o menino foi ver, a banheira39 era enorme e não havia bacia40 para acartar41 a água. Apenas um crivo42 . Os dois irmãos, desesperados com a sua situação, sentaram-se no chão, a chorar. E as lágrimas corriam-lhes pelas faces abaixo. Nisto, à volta deles, apareceram dois ratinhos que, a chiar43 , disseram:
– Menina, não chores. Dá-nos um biscoito a cada um e nós ajudamos-te.
A menina já nem se lembrava de que tinha um saco de biscoitos. Abriu-o e deu um biscoito a cada ratinho.
Os ratinhos não sabiam coser meias, mas tinham boas ideias:
– Agora – disseram eles –, enfias44 uma meia dentro de outra para desencontrares45 os buracos.
Ao fazer o que os ratos lhe disseram, a menina conseguiu fazer desaparecer os buracos, sem ter de os coser.
Passado um bocado, pousaram na janela dois pássaros que, a piar, disseram ao menino:
– Rapazinho, não chores. Dá-nos algumas migalhas de biscoito e nós ajudamos-te.
O menino desfez um biscoito e deu as migalhas às avezinhas. Os pássaros não sabem encher banheiras, mas têm boas ideias:
37 Agulha
38 Linha
39 Banheira
40 Bacia
41 Acartar: transportar.
42 Crivo
43 Chiar: fazer um som agudo e continuado.
44 Enfiar: meter; colocar dentro.
45 Desencontrar: quando uma coisa não se encontra com outra, essas duas coisas desencontram se.
46 Barro: tipo de terra que se mistura com água e se leva ao forno para fazer pratos, potes, bacias, etc.; argila.
47 Pasta (neste contexto): argila misturada com água.
48 Forrar: cobrir uma superfície interior de um recipiente com um material (papel, pano, barro, cimento...).
49 Pote
50 Fatia: pedaço horizontal de comida, que foi cortada de uma peça maior.
– Agora, vai buscar um pouco de barro46 e água. A seguir, faz uma pasta47. Amassa-a bem. Forra48 o crivo com ela e deixa-a secar.
Ao fazer o que os pássaros lhe disseram, o rapaz construiu um pequeno pote 49 e com ele pôde acartar a água para encher a banheira. E encheu - a rapidamente.
51 ‑lha: contração de lhe com a
52 Lamber: passar a língua por uma superfície.
Na soleira da porta da casa de Baba Yaga, estava agora um gato preto com uns olhos muito grandes. O gato não disse nada. Não precisou. A menina, quando o viu, pegou numa faca, cortou uma grossa fatia50 de presunto e deu-lha51 . Depois de comer e de se lamber52 , o gato disse por fim:
– Meninos, prestem atenção. Vou dizer-vos como é que vocês hão de sair daqui.
Fez uma pausa. Lambeu-se outra vez e continuou:
53 Toalha
54 Pente
55 Vassoura
56 Bosque: pequena floresta.
57 Espinhos
– Esta noite, trago-vos uma toalha53 e um pente54 .
Quando ouvirem a Baba Yaga a ressonar, vocês saem de repente a correr porta fora. Muito provavelmente, ela vai dar conta e vai atrás de vocês. Nessa altura, vocês deixam cair a toalha. A toalha vai imediatamente transformar-se num rio muito largo. Mas não acabei. A velha, como é bruxa, tem uma vassoura55 voadora. Provavelmente, vai conseguir atravessar o rio. Se ela continuar a perseguir-vos, vocês deixam cair o pente.
O pente vai transformar-se num bosque56 com muitos arbustos cheios de espinhos57. Aqui, meus amigos, a bruxa fica para trás de certeza.
Exercícios
1. Em Echipo, vivia uma família feliz. Ouve e assinala as frases que correspondem àquilo que ouviste.
a) A menina vivia com os pais e os irmãos.
b) Na casa da menina, todos se davam bem.
c) A menina andava na escola.
d) A casa da menina era na aldeia, junto ao rio.
e) A menina e os pais viviam isolados.
2. Um dia, a vida da família da menina alterou‑se. Ordena as frases. Escreve os números de 1 a 5.
a) Ao longo dos dias, a saúde da mãe piorava.
b) A seguir, chamou a menina e disse-lhe que ia morrer.
c) A mãe da menina ficou muito doente.
d) No fim, a mãe deu o espelho à menina.
e) Como não melhorava, a mãe tirou um espelho do armário.
3. A mãe fez uma recomendação à menina. Qual foi? Rodeia a fala que transmite essa recomendação.
a) Ofereço-te este espelho.
c) Eu vou partir deste mundo…
b) Pega no espelho todas as noites e olha através dele.
d) Eu estarei no espelho e tu poderás ver-me.
4. Qual era o objetivo da mãe ao dar o espelho à menina?
5. Quando é que a menina olhou para o espelho pela primeira vez?
Associa à opção correta.
a) A menina olhou, pela primeira vez, para o espelho
(1) no dia em que a mãe lho deu.
(2) na noite do funeral da mãe.
(3) no dia em que a mãe adoeceu.
6. O que acontecia quando a menina pegava no espelho, todas as noites?
Assinala a resposta correta.
a) Ela pensava ver o seu próprio rosto.
b) Ela realmente via a cara da sua mãe quando era mais jovem.
c) Ela conversava com a sua mãe todos os dias à noite.
d) A figura do espelho fazia-lhe uma vénia.
e) Ela pensava que via a mãe dentro do espelho.
7. Um dia, depois de conversar com o pai, a menina ficou muito triste. Porquê?
8. Para cada alínea, assinala a frase correspondente.
a) A menina vivia numa mentira consoladora
(1) A mentira contribuía para a menina sofrer menos.
(2) A mentira fazia sofrer a menina ainda mais.
b) O mundo ficou virado do avesso
(1) A menina perdeu a tranquilidade em que vivia e ficou desesperada.
(2) A menina ficou feliz e tranquila por conhecer a verdade.
9. Como reagiu a menina no dia seguinte?
Preenche os espaços com as palavras abaixo.
fruto verdade lembrar espelho venerar
A menina aceitou a (1), mas disse ao pai que iria continuar a (2) a imagem da mãe no (3). Disse-lhe também que ela era o seu (4) e a imagem do seu rosto refletida no espelho servia para ela se (5) da mãe.
“Ler é a única forma, a única forma de nos tornarmos bons leitores, desenvolvermos um bom estilo de escrita, vocabulário adequado, competência gramatical avançada e a única maneira de dominarmos bem a ortografia.” Stephen Krashen1
Neste volume da coleção Histórias do Mundo, convidamo-lo a embarcar numa aventura empolgante. Aliás, sete aventuras – as sete viagens de Sindbad, o marinheiro. Neste clássico da literatura do médio oriente antigo encontramos tesouros escondidos, criaturas mágicas e povos exóticos. Mas há ainda outra aventura: a aventura de aprender português!
Este livro, cuidadosamente elaborado para alunos com cerca de 1 ano de aprendizagem formal da língua portuguesa, é mais uma edição da Lidel que vem aumentar o número de volumes dedicados à leitura extensiva. Múltiplos estudos mostram que a leitura extensiva traz grandes benefícios no processo de aquisição de uma língua estrangeira, como a expansão de vocabulário, a interiorização de usos gramaticais, o desenvolvimento da velocidade e a fluência na leitura. Tudo isto com consequências muito positivas para o aumento da confiança e da motivação do aprendente.
A coleção Histórias do Mundo proporciona uma experiência imersiva na língua portuguesa, para que o aluno avance na sua proficiência linguística de forma gradual.
Nesta coleção, o nível A2 é contemplado com dois volumes: o volume Histórias do Mundo A2 – Livro com Áudio (no qual se reúnem contos tradicionais originários da América do Sul, África e Oriente); e este volume, Histórias do Mundo A2 – As Viagens de Sindbad – Livro com
1 Krashen, S. D. (2004). The power of reading: Insights from the research. Bloomsbury Publishing USA, p. 37 (tradução livre).
Áudio, exclusivamente dedicado a esta célebre narrativa de viagens, retirada de As Mil e Uma Noites. Aconselha-se a leitura deste último depois de ler o Histórias do Mundo A2 – Livro com Áudio.
Tal como acontece em Histórias do Mundo A2 – Livro com Áudio, neste volume o vocabulário é cuidadosamente selecionado, com foco nas 2000 palavras mais frequentes do português, garantindo uma base sólida para a aquisição dos principais mecanismos de comunicação em português.
Ao longo das páginas do livro é possível encontrar notas explicativas, por escrito ou através de ilustrações, que ajudam o leitor a perceber o sentido das palavras ou das expressões usadas. Optou-se por colocar estas notas nas margens das páginas para o leitor não ter de suspender a sua leitura por demasiado tempo. Estas glosas explicam também o sentido de expressões idiomáticas e colocações, como “não ter outro remédio”, “gastar rios de dinheiro”, “descer a pique”, “ir de mal a pior”, etc. Como cada palavra ou expressão é explicada apenas uma vez, na sua primeira ocorrência no texto, é aconselhável ler as histórias pela ordem da paginação.
E, para que nenhuma dúvida fique para trás, no fim do livro, há um glossário que reúne todas as palavras glosadas ao longo do livro.
A gramática, neste volume, é apresentada de forma acessível, reduzindo ao mínimo as formas verbais de pretérito mais-que-perfeito e condicional e excluindo formas do conjuntivo e frases passivas. As frases curtas e as repetições naturais, características dos contos tradicionais, facilitam a leitura e a assimilação de estruturas gramaticais. Porém, introduzem-se já as orações participiais, próprias do registo narrativo (“Aqui chegados,…”), e as consecutivas (“tão… que…”, “tão... quanto”, “tanto…que”), que se repetem dentro da mesma história e de história para história. Isto porque se, por um lado, interessa simplificar o discurso, por outro há que manter um registo natural e oralizante da narrativa, através, por exemplo, da inversão da posição do sujeito: “Estava eu a…, quando, de repente,…”.
No final de cada história, o aprendente pode realizar exercícios sobre o que acabou de ler. Estes exercícios têm níveis de dificuldade variados, permitindo praticar o vocabulário recém-adquirido e revisitar as estruturas de frases encontradas nas histórias. Há opções para todos os gostos e estilos de aprendizagem: desde atividades que requerem apenas repetição e memorização até tarefas mais complexas que exigem uma análise pormenorizada do texto e o recurso a habilidades inferenciais. Todos estes exercícios têm soluções no final do livro.
Para complementar a experiência de aprendizagem, o livro oferece uma versão áudio das histórias e de alguns exercícios, narrada por um locutor experiente. A disponibilização das faixas áudio é feita através QR Codes. Quanto aos pequenos áudios referentes aos exercícios de compreensão oral, além dos respetivos QR Codes, eles estão também disponíveis para download no site da Lidel, em www.lidel.pt/pt/ download-conteudos/. No final do livro, encontram-se as transcrições destes exercícios.
Seja em casa, em viagem ou em salas de espera, o aprendente pode aproveitar todos os momentos para ler e ouvir histórias e aumentar o seu tempo de exposição à língua portuguesa.
Os professores também podem utilizar este material na sala de aula, aproveitando a pré-leitura feita pelos alunos em casa para realizar atividades segmentadas e intensivas de gramática e vocabulário.
Histórias do Mundo A2 – As Viagens de Sindbad – Livro com Áudio são recriações inspiradas num dos relatos mais antigos da cultura oriental, que hoje percorre o imaginário de crianças e adultos de todo o mundo.
Um livro que nos leva a embarcar com Sindbad nas suas sete aventuras e a enfrentar os desafios de aprender a língua portuguesa.
Boas leituras!
1. As sete viagens de Sindbad, o marinheiro
1 Califa: governante muçulmano.
2 Tâmara: fruto da tamareira (árvore do Norte de África e Médio Oriente).
3 Não ter outro remédio: não ter alternativa.
4 1 tonelada: 1000 kg.
5 Penosamente: com dor.
6 Curvado
No tempo do califa1 Haroun al-Rashid, vivia em Bagdad um pobre porteiro chamado Hindbad. Num dia de muito calor, o patrão de Hindbad mandou-o levar um grande saco de tâmaras2 de uma ponta à outra da cidade. Hindbad não teve outro remédio3 senão obedecer. Pôs o saco às costas e lá foi andando. O sol queimava. Não havia uma única sombra e o saco parecia pesar toneladas4 . Depois de uma hora a caminhar penosamente5, curvado6 sob o peso das tâmaras, sem ver bem onde estava, Hindbad pousou o saco e sentou-se no chão.
Tinha de descansar um pouco. Depois de respirar fundo7 e de limpar o suor8 do rosto, olhou à sua volta.
Viu então que se encontrava à sombra de uma grande casa. O chão da rua estava molhado e cheirava a água de rosas. Uma brisa9 soprava por ali continuamente.
De dentro das janelas abertas da grande casa vinha um delicioso perfume a aloés10, que se misturava11 com o cheiro de água de rosas da rua. Mas não era só. Chegavam aos ouvidos de Hindbad lindas melodias de flautas e alaúdes12, misturadas, aqui e ali, com os gorjeios13 de rouxinóis. Hindbad não conhecia aquela rua, apesar de ser de Bagdad.
De qualquer maneira, aquele era, sem dúvida, o sítio ideal para descansar naquele dia de tanto calor. Encostou-se ao muro da casa e fechou os olhos. Ficou assim um bocado, meio a dormir, meio acordado. Sentia, com agrado, a suave frescura14 da brisa, o perfume do ar e a música de sonho que vinha de dentro da casa. Passado um pouco, chegou-lhe ao nariz o cheiro apetitoso de vários pratos bem condimentados15, acordando nele uma fome torturante16, que não o largava há já vários dias. Aquela fome não o deixava estar sossegado17 a descansar. Levantou-se. Empurrou o portão do pátio da grande casa. Um palácio, na verdade. Subiu as magníficas escadarias18 . À porta do palácio estavam dois criados. Hindbad perguntou-lhes o nome do dono daquilo tudo.
– Como?! – respondeu um deles. – Tu não és de Bagdad?
7 Respirar fundo: inspirar e expirar lentamente e com mais intensi dade do que o normal.
8 Suor: transpiração.
9 Brisa: vento suave.
10 Aloé: planta tropical com folhas grossas.
11 Misturar: se misturarmos duas ou mais substâncias, elas tornam‑se numa só.
12 Alaúde: instrumento antigo de madeira, parecido com a guitarra.
13 Gorjeio: canto das aves.
14 Frescura: qualidade daquilo que é fresco. Fresco: diz‑se do ar puro que vem de fora de casa.
15 Condimentado: com muitos condimentos. Condimento: pó ou líquido que se põe na comida para ela ficar mais saborosa.
16 Torturante: que tortura. Torturar: magoar gravemente alguém de propósito.
17 Sossegado: quieto; tranquilo.
18 Escadaria: escada de um edifício.
3
2. A primeira viagem de Sindbad
Sindbad começou então a sua narração:
1 Mendigar: pedir dinheiro ou alimentos pela rua às pessoas que passam.
“Quando os meus pais morreram, eu herdei uma grande fortuna. Nessa altura, eu era muito jovem e sabia pouco da vida. Por isso, gastei grande parte da minha fortuna em grandes festas e luxos. Porém, passado algum tempo, percebi que nem a minha riqueza nem a minha juventude iam durar para sempre. Nem a minha juventude ia durar para sempre. Imaginei-me velho e pobre, a mendigar1 de porta em porta. Era esse, seguramente, o destino que me esperava.
12 Baleia
13 Nada mais nada menos: expressão usada para dizer que uma coisa é impressionante.
14 Afogar‑se
15 Agitação: resultado da ação de agitar. Agitar: mover uma coisa de um lado para o outro, várias vezes e com força.
16 Rodar: andar à roda; andar às voltas.
17 Turbilhão: um vento muito forte que se move rapidamente em círculos.
18 A perder de vista: expressão para referir que o espaço que se vê é imenso e parece não ter fim.
19 O meu fim: a minha morte.
dali depressa e gritavam, muito aflitos: «Baleia12! Baleia!» Afinal, aquilo que julgávamos ser uma ilha era, nada mais nada menos13, do que as costas de uma baleia gigante. Os meus companheiros saltaram logo para a água e nadaram para o barco. Mas eu não tive a mesma sorte. A baleia mergulhou e eu, de repente, vi-me debaixo de água. Quase me ia afogando14 . Felizmente, no meio da agitação15 das águas, vi dois pedaços de madeira. Era a lenha da fogueira que andava ali a rodar16 num turbilhão17. Consegui agarrar-me a esses pedaços de madeira e vir à superfície. Já com a cabeça fora de água, vi o barco a afastar-se.
Deixaram-me ali, sozinho!
Nesse dia, nadei para lá e para cá, a ver se encontrava terra firme. Não via nada. Só água a perder de vista18 . Entretanto, caiu a noite. O frio era difícil de suportar. Desesperei-me. Convenci-me de que ia ser o meu fim19 .
20 Escarpa: área extensa de rocha vertical, situada muitas vezes onde acaba o mar.
21 Raízes
22 Trepar: subir por uma área vertical, usando os pés e as mãos.
No entanto, de manhã cedo, vi que o mar me levava na direção de uma ilha. Mas, por azar, não vi praia, apenas escarpas20 muito altas.
No meio das rochas, porém, cresciam alguns arbustos e árvores. Apesar de cansado e sem forças, agarrei-me como pude às raízes21 das árvores e trepei22 por elas acima. Demorei muito tempo nisto, mas consegui chegar ao cimo da colina. Dei dois passos e caí no chão, sem forças nenhumas.
Ali estive deitado, mais morto que vivo, até o sol ir bem alto. Levantei-me, pois senti muita fome e muita sede.
46 Lar: lugar onde vive uma família.
47 Desfrutar: ter prazer em alguma coisa.
48 Comensal: pessoa que habi tualmente come com outra(s).
novamente gozar da paz e tranquilidade do lar46 , junto da minha família. Podia desfrutar47 de toda a riqueza que, até ali, tinha juntado com tanta dor e aflição.”
– E foi assim que acabou a história da minha segunda viagem – declarou Sindbad.
Em seguida, deu outros cem sequins a Hindbad. Despediu-se, convidando todos os comensais48 a voltarem no dia seguinte, para ouvir a espantosa história da sua terceira viagem.
Exercícios
1. Sindbad vivia bem na sua casa com a sua família. No entanto, ele não se sentia completamente feliz. Porquê? Assinala a resposta correta.
a) Ele queria viajar para ganhar mais dinheiro.
b) Ele queria vender a sua casa para comprar um barco.
c) Ele queria trocar a sua vida calma por uma vida cheia de aventuras.
d) Ele queria embarcar com marinheiros honestos para se divertir.
2. Ouve e preenche o quadro com as palavras abaixo.
coqueiros limoeiros hortas figueiras gatos
água ovelhas vacas erva pessoas
3. O que aconteceu a seguir?
Preenche os espaços com a opção correta.
Estava (1) (sol/lua/estrelas) e Sindbad sentou-se junto a uma (2) (árvore/mar/riacho), comeu (3) (fruta/ peixe/carne) e (4) (cantou/adormeceu/dançou). Quando acordou, ele estava (5) (cansado/sozinho/zangado).
4. Sindbad sentiu‑se desesperado. Porquê?
5. O que aconteceu a seguir?
Associa as palavras de forma a obteres uma frase correta. Atenção: há seis palavras a mais.
muito disse pedra árvore pássaro uma viu grande da no e com Sindbad ao uma a subiu
6. Mas nem tudo o que parece é.
Preenche os espaços com as palavras adequadas.
A pedra lisa era um enorme (1) e a nuvem era a (2), um pássaro muito grande.
7. Sindbad teve uma ideia para sair daquele sítio isolado. Qual foi?
8. Como se sentia Sindbad quando estava no ar com o pássaro?
Copia do texto a frase que responde à pergunta.
9. Quando o pássaro pousou no chão, Sindbad desamarrou a tira do turbante. Escolhe a opção certa para completares cada frase.
a) Sindbad olhou em redor, viu serpentes e ficou feliz. entusiasmado. assustado.
b) Naquele sítio, as montanhas eram muito bonitas. difíceis de escalar. cheias de arbustos.
c) Sindbad ficou impressionado ao ver muitas moedas. muitas pedras preciosas. muitas pepitas de ouro.
d) À noite, Sindbad escondeu-se num buraco porque tinha muito frio. tinha muito medo. queria dormir às escuras.
e) Sindbad saiu do buraco quando era meio-dia. deixou de ouvir as serpentes. sentiu fome.
10. Sindbad continuava a pensar na maneira de sair dali, quando ouviu um barulho. Ordena as frases seguintes. Escreve os números de 1 a 10.
a) Os rubis colavam-se aos bifes.
b) Os mercadores assustaram a ave-roca com gritos e paus.
c) Depois, Sindbad atou um bife às suas costas com a tira do turbante.
d) Os homens foram ao ninho e discutiram com Sindbad.
e) Os mercadores atiravam bifes para o vale.
f) A ave-roca apanhou um bife com as patas.
g) O pássaro assustou-se e largou o bife.
h) No fim, Sindbad repartiu os rubis com os mercadores.
i) Apareceu uma ave-roca e levou Sindbad para o seu ninho.
j) Sindbad, depois de ver o pássaro a largar o bife, encheu o seu saco com rubis.
11. Preenche os espaços com as palavras abaixo. Atenção: Há duas palavras a mais.
prendeu vendeu atracou largou chegou embarcou
Sindbad (1) num barco no porto da ilha. Depois, (2) numa ilha com árvores com copas enormes e animais estranhos. Por fim, (3) a Bagdad. (4) os rubis e partilhou o dinheiro com os pobres.