Responsabilidade Ética e Profissional em Ciência e Engenharia (9789897529221)

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Responsabilidade Ética e Profissional em Ciência e Engenharia

Luis Adriano Oliveira

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ÍNDICE GERAL Agradecimentos .................................................................................. XI Prefácio ............................................................................................. XV Nota Prévia ........................................................................................ XIX Lista de Acrónimos e Siglas ................................................................. XXI Cap.1 Introdução ................................................................................ 1 Cap.2 Inovação em Ciência e Engenharia. Autores e Circuitos Intervenientes 7 2.1 – Inovação científica e sociedade .................................... 7 2.2 – Mecanismos e fases da inovação científica e tecnológica 9 2.2.1 – Eleição e formulação da questão central ......... 9 2.2.2 – Estado da arte 10 2.2.3 – Ideia original ..................................................... 11 2.2.4 – Metodologia e métodos ..................................... 11 2.2.5 – Financiamento ................................................... 12 2.2.6 – Obtenção de resultados .................................... 13 2.2.7 – Discussão local e alargada. Apresentações. Gestão de dados .............................................. 15 2.2.8 – Publicações ....................................................... 19 2.3 – Autores e destinatários da inovação cientifica e tecnológica 21 2.3.1 – Comunidade científica e tecnológica ................ 22 2.3.2 – Sociedade 24 2.4 – Nota conclusiva ............................................................. 27
© Lidel – Edições Técnicas VI Responsabilidade Ética e Profissional em Ciência e Engenharia Cap.3 Ética na Ciência e na Engenharia: Valores e Circunstâncias que os Cap.3 Desafiam 29 3.1 – Qualidades e valores em que assentam a ciência e a tecnologia. Conduta científica ética ........................ 29 3.1.1 – Qualidades humanas ......................................... 30 3.1.2 – Valores da ciência 33 3.1.3 – Moral, ética, deontologia ................................... 36 3.1.4 – O papel da ética na inovação científica e tecnológica. A integridade constrói se; a confiança conquista‑se! ................................. 38 3.2 – Desafio aos valores da ciência ...................................... 39 3.2.1 – Causas do desafio aos valores da ciência ....... 41 3.2.2 – Consequências do desafio aos valores da ciência 44 3.3 – Nota conclusiva ............................................................. 46 Cap.4 O Erro na Inovação Científica e Tecnológica ................................ 47 4.1 – Erro honesto .................................................................. 47 4.2 – Conduta científica eticamente questionável 49 4.3 – Conduta científica eticamente censurável ...................... 50 4.3.1 – Fabricação e falsificação................................... 51 4.3.2 – Plágio ................................................................ 55 4.4 – Outras formas de errar no universo da comunidade científica e tecnológica. Outras condutas condenáveis................................................................... 66 4.5 – Nota conclusiva 71 Cap.5 Conflitos de Interesse e de Compromisso 73 5.1 – Conflitos de interesse .................................................... 74 5.2 – Conflitos de compromisso .............................................. 84 5.3 – Gestão e resolução de conflitos de interesse e de compromisso 86 5.3.1 – Experimentação realizada em seres humanos . 98 5.3.2 – Experimentação realizada em animais ............. 101 5.4 – Nota conclusiva ............................................................. 101
VII Índice Geral Cap.6 Reconhecimento de Mérito em Inovação Científica e Tecnológica 103 6.1 – Indicadores bibliométricos ............................................. 104 6.2 – Gestão de autoria .......................................................... 112 6.2.1 – Artigo científico ................................................. 113 6.2.2 – Patente e modelo de utilidade 117 6.3 – O papel do supervisor ................................................... 121 6.4 – Reconhecimento, cortesia e agradecimento .................. 123 6.5 – Nota conclusiva 124 Cap.7 Ética na Avaliação da Inovação Científica e Tecnológica ............... 127 7.1 – Requisitos necessários ao exercício da avaliação ......... 127 7.2 – Avaliação por júri ............................................................ 129 7.3 – Avaliação por pares 130 7.3.1 – Publicações ........................................................ 131 7.3.2 – Comunicações em reuniões científicas ............. 135 7.3.3 – Projetos de investigação contratual ................... 137 7.3.4 – Argumentos de crítica à avaliação por pares .... 139 7.4 – Nota conclusiva .............................................................. 143 Cap.8 Responsabilidade Social na Inovação Científica e Tecnológica ....... 147 8.1 – Responsabilidade social passiva e ativa 149 8.2 – Sustentabilidade ambiental e social .............................. 152 8.3 – O dilema de Collingridge ............................................... 154 8.4 – O contexto da responsabilidade social na inovação ..... 155 8.5 – O ponto de vista dos investidores. Desempenho environment, social and governance (ESG) 156 8.6 – O desempenho ESG em contexto internacional. Global Reporting Initiative (GRI) ................................... 160 8.7 – Nota conclusiva 161 Cap.9 Ética no Ensino, Ensino de Ética .................................................. 163 9.1 – Integridade académica: do ensino à avaliação de conhecimentos ......................................................... 163 9.1.1 – O ensino à luz da Declaração de Bolonha 163 9.1.2 – Integridade na avaliação de conhecimentos ..... 168
© Lidel – Edições Técnicas VIII Responsabilidade Ética e Profissional em Ciência e Engenharia 9.2 – Ética como objeto de ensino ......................................... 171 9.3 – Nota conclusiva 176 Cap.10 Reação à Conduta Científica Censurável .................................... 179 10.1 – O poder da prevenção 180 10.1.1 – Consciência e reputação ............................... 180 10.1.2 – Cultura de ética e de responsabilidade ......... 181 10.1.3 – A figura do investigador responsável ............. 183 10.2 – Procedimentos a adotar face a alegações de conduta censurável ................................................................... 184 10.2.1 – Fase de inquérito 186 10.2.2 – Fase de investigação..................................... 187 10.2.3 – Aplicação de sanções ................................... 187 10.2.4 – Dificuldades processuais a superar .............. 189 10.2.5 – O recurso aos tribunais ................................. 191 10.3 – Regulamentação, declarações de ética e códigos de conduta 192 10.3.1 – Breve referência à realidade portuguesa ...... 196 10.4 – O papel da denúncia .................................................. 200 10.4.1 – Denúncia externa versus denúncia interna ... 200 10.4.2 – O contributo da revisão por pares................. 203 10.4.3 – Revistas predadoras .......................................... 204 10.4.4 – Procedimentos a adotar na formulação de uma denúncia responsável 206 10.5 – Nota conclusiva ........................................................... 209 Cap.11 Observações Conclusivas ......................................................... 213 Referências Bibliográficas ................................................................... 221 Estudos de Casos Caso 2.1 – Reuniões científicas: o estado da arte à distância de Caso 2.1 – um sorriso ......................................................................... 18 Caso 2.2 – Investigação sobre laser : hoje, teria obtido igual acesso Caso 2.2 – a financiamento? .............................................................. 25 Caso 3.1 – Sopa fria de melão com bacon: o pormenor que faltava 35 Caso 4.1 – Exemplo de erro honesto ................................................. 48 Caso 4.2 – Exemplo de possível fabricação ....................................... 51
IX Índice Geral Caso 4.3 – Trabalho publicado não replicável .................................... 54 Caso 4.4 – Plágio facilmente detetável: níveis desiguais Caso 4.4 – de qualidade literária 59 Caso 4.5 – Plágio facilmente detetável: utilização acrítica de Caso 4.5 – software de tradução de texto .......................................... 60 Caso 4.6 – Plágio facilmente detetável: dificuldade em defender Caso 4.6 – o trabalho apresentado 62 Caso 4.7 – Um exemplo de autoplágio ............................................... 63 Caso 4.8 – “Posso garantir‑lhe que nunca o abandonarei”: Caso 4.8 – breve tributo ao Prof. Doan Kim Son ................................ 68 Caso 5.1 – O navio de guerra Vasa : exemplo de conflitos de Caso 5.1 – interesse com consequências de dimensão histórica 74 Caso 5.2 – As naves espaciais Challenger e Columbia : não é Caso 5.2 – garantido que se aprenda com as lições da História....... 77 Caso 5.3 – Exemplo de acordo de confidencialidade ......................... 88 Caso 5.4 – O papel do disclaimer 94 Caso 5.5 – Exemplo de ética na gestão de conflitos de interesse ..... 95 Caso 5.6 – O preço de um compromisso falhado .............................. 95 Caso 6.1 – Coautoria não justificada .................................................. 114 Caso 6.2 – O peso da conceção na autoria de uma patente 119 Caso 6.3 – Usurpação de autoria: flagrante delito de extrativismo Caso 6.3 – intelectual ......................................................................... 122 Caso 7.1 – O voto foi isento? ............................................................. 129 Caso 7.2 – Avaliação por pares: três cenários 134 Caso 7.3 – Processo de revisão aberta .............................................. 142 Caso 8.1 – Alfred Nobel: a responsabilidade social do inovador ....... 147 Caso 8.2 – Dieselgate : um escândalo que ficou para a História ....... 157 Caso 9.1 – Testemunho de um docente de longa data ...................... 166 Caso 9.2 – Ignorava a gravidade de cometer plágio 171 Caso 9.3 – 2021: oferta de emprego de uma empresa suíça ............ 174 Caso 10.1 – O colega parasita ............................................................. 182 Caso 10.2 – Exemplo de diretiva sobre plágio ..................................... 193 Caso 10.3 – Que faria o leitor? 209 Apêndice A – Endereços Úteis Disponíveis na Internet ........................... 227 Índice Remissivo ................................................................................. 231

AGRADECIMENTOS

Este livro, intitulado Responsabilidade Ética e Profissional em Ciência e Engenharia , representa uma evolução da obra Ética em Investigação Científica (2013), do mesmo autor, publicada pela Lidel.

Decorridos dez anos sobre o lançamento dessa obra seminal, verifico com gosto que os meus agradecimentos, então formulados, se mantêm vivos, renovados e reforçados. Ainda assim, algumas – breves – notas adicionais, se me é permitido.

Ao Professor José Joaquim Delgado Domingos, que já não se encontra entre nós, reitero o meu reconhecimento intacto, comovido. Onde quer que esteja, recebê‑lo‑á com gosto, estou certo!

Durante estes dez anos, conheci novos alunos, novos colegas, ganhei novos amigos. Em todos os casos, experiências de renovado enriqueci‑ mento, das quais gostaria de destacar cinco, em particular.

A disciplina “Research Design and Methods ”, que criei há vários anos, a convite do Prof. Manuel Carlos Gameiro da Silva (obrigado, colega e amigo Manuel Carlos!), vem sendo oferecida a alunos de mestrado e de doutoramento das mais diversas proveniências geográficas. Grande parte do programa dessa unidade curricular é, aliás, diretamente contemplada neste livro. Se me for perdoada a imodéstia, afirmarei que a cadeira tem sido muito bem acolhida pelos alunos que, assim, vêm aumentando em número, de ano para ano. Em consequência, vi‑me obrigado a solicitar a colaboração de um colega mais jovem, com quem pudesse partilhar parte da lecionação e, sobretudo, a tarefa de avaliação dos alunos (essencial

PREFÁCIO

Como prefaciador convidado, sinto‑me na necessidade de providenciar uma abertura adequada à qualidade do livro e ao perfil do autor.

Começando pelo livro, confesso que não hesitei em aceitar o desafio do autor, mas demorei a criar a estrutura mental deste texto. O livro é uma segunda versão da publicação intitulada Ética em Investigação Científica. Trata‑se de uma edição com onze capítulos, em que a versão anterior tinha nove capítulos. Os capítulos novos abordam a Responsabilidade Social na Inovação Científica e Tecnológica (8), e Ética no Ensino, Ensino de Ética (9). Estas modificações parecem, uma vez que não foi debatido com o autor, ser devidas às constantes interrogações que partilhou comigo e com outros, durante seminários presenciais e virtuais e nos textos que publicou. De facto, dadas as inovações frequentes e quase instantâneas no domínio da ciência e da tecnologia, os que são responsáveis por administrar estas mudanças têm de abordar questões, em termos de decisões, que não se colocavam anteriormente. Por exemplo, utilizar tecnologias mais económicas que po‑ dem provocar danos a médio ou a curto prazo, em termos de sustentabi lidade, coloca a questão de decidir sobre o que deverá ser feito: manter o status quo ou comprometer o futuro para gerações vindouras. A análi se aconselhada deverá ser feita utilizando processos com essência ética. O oitavo capítulo aborda vários métodos com abordagens de casos de estu do. De um modo geral, e a título pessoal, considero ser uma das caracterís‑ ticas deste livro que mais aprecio: a utilização de casos de estudo relevantes que foram surgindo através da experiência pessoal e de uma investigação cuidada e rigorosa ao longo do tempo. Em relação ao nono capítulo, a ques tão da correlação biunívoca entre o ensino e a ética é muito bem abordada,

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com a escolha de temas essenciais como a avaliação de conhecimentos, as transformações no ensino superior devidas às declarações da Sorbonne (1998) e de Bolonha (1999) e a forma como se pode ensinar ética. É claro que o estudo desta correlação está dependente da questão de fazer sentido ensinar ética ou, pelo contrário, essa aprendizagem ser, sobretudo, pessoal. Por isso mesmo, este capítulo é importante para quem ensina e para quem forma, mas também para quem quiser respeitar os princípios éticos. Não há dúvida de que a ética evolui com a história e não há nada como considerar que a aprendizagem ao longo da vida contribui para uma melhoria na aplica‑ ção dos princípios da ética. A necessidade de educar e de formar na área da ética é urgente numa sociedade onde os valores de índole familiar, religiosa, desportiva, social ou militar são postos em causa. Também ensinar e formar necessita de utilizar princípios éticos, uma vez que é uma atividade em que a falta destes compromete o futuro de todos. Parece evidente que os dois ca pítulos novos trazem riqueza acrescida nesta segunda edição e é de louvar o esforço do autor para trazer temas, processos, reflexões e casos de estudo em situações recentes e futuras. O último capítulo é composto por um con junto de reflexões que são consideradas de interesse primordial pelo autor, traduzindo pensamentos pessoais e apontando caminhos futuros. Em suma, trata‑se de um livro com uma estrutura temática adequada e com conteúdos únicos e originais, que permite a quem leia poder fazê‑lo com a abrangência do tema do título e com a especificidade de cada situação em particular. Os casos de estudo cobrem vários temas científicos, situações com problemas éticos diferentes e abordagens de reflexão próprias e originais.

Quanto ao autor, tenho a dizer que me senti honrado pelo convite que me fez para prefaciar o livro, mas também provocou hesitação no modo de escrever este texto. Demorei alguns dias para definir a estrutura, mas foi fácil completar estas palavras. Conheci o autor através das atividades do grupo de trabalho intitulado “Ética no Ensino de Engenharia”, da Sociedade Portu‑ guesa para a Educação da Engenharia (SPEE). Após algumas interações, e uma vez que o autor era o coordenador deste grupo, fui por ele convida do para passar a ser eu o coordenador. Só aceitei se partilhássemos essa responsabilidade. Tendo sido assumida pelos dois a liderança do grupo, fo‑ ram realizadas atividades em que a capacidade de trabalho, a dedicação ao tema e as competências do autor foram evidentes. De muitas, destacou‑se a organização e a realização de uma sessão na Universidade de Aveiro no 2º Fórum da SPEE, onde não só conseguiu convidar oradores de nível exce

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cional como também demonstrou o apego e o interesse em promover o tema da ética na educação e na formação dos engenheiros. Foi uma das sessões mais esclarecedoras a que tive o gosto de assistir, tendo sido a primeira conferência depois do retiro forçado devido à pandemia. Seguiram‑se outros eventos, como os seminários virtuais sobre o tema, que estão disponíveis no canal de Youtube da SPEE. O último evento conjunto foi um debate socráti co com alunos de engenharia, no congresso de 2023 da SPEE. De notar a franqueza e a acutilância das questões que foi colocando aos alunos, o que acabou por resultar numa troca de opiniões francas e relevantes. Mais uma vez se notou a vantagem de o autor ter usado princípios éticos, querendo saber o que não estava bem, sem ter receio das opiniões depreciativas, mas com a intenção de melhorar o ensino da engenharia. O currículo do autor fala por si. Além de ter sido um Professor de referência na sua área, tem‑se envolvido em palestras e em cursos de formação para vários níveis educativos, desde escolas profissionais a engenheiros ativos. Ou seja, para o autor todos são relevantes na aplicação de princípios éticos adequados na melhoria do funcionamento da sociedade, em geral, e da investigação científica, em particular. A nível pessoal, confesso que o autor possui um sentido de humor refinado e com gosto, e que é uma pessoa com quem é fácil e agradável comunicar sobre qualquer assunto. Tendo em atenção as obras feitas e as publicações do autor, afirmo, sem quaisquer reservas, que está imbuído de um sentido de missão em prol do serviço público, que é inestimável para a sociedade.

Espero pela terceira versão do livro, que irei apreciar com certeza. E obri gado por abordar um assunto essencial na sociedade, no meio científico e na esfera da engenharia.

Porto, fevereiro de 2024

XVII Prefácio
Alfredo Soeiro, Professor Associado da Universidade do Porto

NOTA PRÉVIA

Este livro representa uma evolução da obra Ética em Investigação Científica , também da minha autoria, publicada pela Lidel.

Em nota prévia a essa publicação, tive ocasião de referir: “A solidez do conhecimento adquirido e a confiança que o mesmo inspira junto da sociedade são conquistas diretas do empenho ético que cada agente de inovação coloque no seu trabalho quotidiano. Independentemente do contexto concreto em que se enquadre o processo da inovação científica e tecnológica, é essencial que os diversos intervenientes atuem em plena consciência de todas as vertentes que podem promover – ou ameaçar – o respeito pelas chamadas boas práticas . Crucial é, também, o conheci mento das consequências (de âmbito pessoal, institucional, científico e/ ou social) que podem decorrer de comportamentos eticamente meritórios ou, pelo contrário, censuráveis. Promover essa consciência e esse co nhecimento é o objetivo central deste livro.”

Em recente conversa informal, referi estar empenhado na atualização do referido livro. Fui, então, confrontado com o seguinte comentário: “Ética é um conceito basilar, universal, intemporal. Que sentido faz, assim, que um livro, com apenas uma década de existência, em que ética figura como tema central, careça de ser atualizado?”

Questão pertinente, devo reconhecer! Responder‑lhe requer alguma reflexão.

Ao longo da última década, muito aconteceu, quase tudo mudou! O fenómeno do aquecimento global, com as inerentes alterações climá‑ ticas que todos vimos sentindo, é apenas uma – dramática! – ilustração

Responsabilidade Ética e Profissional em Ciência e Engenharia

dessa mudança. O conceito de sustentabilidade , em todas as suas ver tentes (ambiental, social, financeira, de gestão das relações laborais…) passou a assumir dimensão de referencial incontornável. Disso mesmo constituiu marco histórico a publicação, em 2015, pela ONU, dos 17

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que, enquanto parte integrante da Agenda das Nações Unidas para 2030, são hoje univer‑ salmente conhecidos e adotados.

Assegurar sustentabilidade aos mais diversos níveis passou a ser requi sito ético de base para que qualquer projeto de desenvolvimento científico e tecnológico seja reconhecido como meritório, eticamente responsável, digno de confiança e, portanto, elegível para financiamento ou investimento, pú blico ou privado. Faz, assim, todo o sentido que a presente obra tenha sido atualizada com a inclusão de um capítulo inteiramente novo, justamente intitulado “Responsabilidade Social na Inovação Científica e Tecnológica”.

A formação dos atuais estudantes de ciência e engenharia não deve – não pode, em boa verdade! – subestimar a importância da responsa bilidade social com que serão necessariamente confrontados enquanto futuros agentes de inovação científica e tecnológica. Tal preparação passa pelo desenvolvimento de competências transversais e transferíveis (ética e integridade, autonomia, comunicação, trabalho em equipa, capacidade de liderança…), para além das sólidas aptidões científicas e técnicas tradicionalmente adquiridas em cursos como os das atuais escolas de engenharia. Questões desta natureza são centrais ao capítulo intitulado “Ética no Ensino, Ensino de Ética”, também novo no presente livro.

Em resumo, ética não vale por si própria, vale antes pelo uso que dela se faz! No caso do conhecimento científico e tecnológico, confere integridade e responsabilidade a cada passo inovador e, com ela, é o garante da confiança que esse passo inspira e merece!

Esta dimensão figurava já, naturalmente, no livro que foi lançado em 2013. Terá agora, espero, resultado mais explícita.

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Cap. 2

INOVAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA. AUTORES E CIRCUITOS INTERVENIENTES

° Inovação científica e sociedade

° Mecanismos e fases da inovação científica e tecnológica

° Autores e destinatários da inovação científica e tecnológica

° Nota conclusiva

Como se desenrola tipicamente o processo de investigação conducen te à inovação em ciência e engenharia? Quem são os correspondentes atores e autores? A quem se dirige essa inovação? O presente capítulo procura equacionar e dar resposta a algumas destas questões, e também a outras com elas relacionadas. Para o investigador já iniciado, a corres‑ pondente leitura será dispensável, sem perda de continuidade.

◊ 2.1 – Inovação científica e sociedade

Segundo a definição da Academia das Ciências de Lisboa ( ACL, 2001), reconhecida referência da língua portuguesa contemporânea, ciência é um “conjunto de conhecimentos exatos, universais e verificáveis, expressos por meio de leis, que o Homem tem sobre si próprio, sobre a natureza, a sociedade, o pensamento…” . O objetivo último da ciência é, pois, ir além do que atualmente se conhece sobre as vertentes física, biológica, e social do mundo em que vivemos. Em termos práticos, a tecnologia pretende aplicar, de forma reprodutível, o conhecimento cien tífico adquirido no sentido de melhorar as condições de vida de pessoas, animais e plantas, preservando o ambiente de forma sustentável. Nesse sentido, tecnologia pode também significar os próprios produtos resultan tes da inovação científica, que podem ter natureza material (máquinas, utensílios…) ou imaterial, como é o caso de software .

Ética na Ciência e na Engenharia: Valores e Circunstâncias que os Desafiam

e, para cada tema, das realidades específicas nacionais, regionais, locais e mesmo institucionais. Apesar desta especificidade temática, geográfica e institucional, o grau de subjetividade inerente ao exercício prático da ética na investigação nada tem de comparável ao que é suscitado por questões do foro moral.

valores

integridade confiança a base na prática objetivo resultado

conduta ética

• da comunidade científica

• do conhecimento científico

• no inter ior da comunidade científica

• entre comunidade científica e sociedade

Figura 3.1 – Dos valores de base à relação de confiança: um percurso ético.

De forma algo resumida, a figura 3.1 esquematiza o papel catalisa dor da conduta ética no percurso que: (i) – tem por base os valores acima referidos; (ii) – passa por assegurar a integridade da comunidade científica e tecnológica e também do conhecimento por ela gerado; (iii) – resulta, por fim, numa sólida relação de confiança não apenas entre os elementos da comunidade, mas também entre a própria comunidade e a sociedade que tem por missão servir.

Por outras palavras, a integridade constrói‑se, a confiança conquista‑ ‑se. O desempenho ético da prática quotidiana assume dimensão abso‑ lutamente crucial em todo este processo.

◊ 3.2 – Desafio aos valores da ciência

Serão os valores da ciência imunes a qualquer ameaça que os possa espreitar, no exercício diário da inovação científica e tecnológica? Uma resposta afirmativa a esta interrogação pecaria por séria ingenuidade.

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Responsabilidade Ética e Profissional em Ciência e Engenharia

legitimidade e em pleno exercício de boas práticas, como sendo verdadeira. Se erro tiver ocorrido, tal erro pode então considerar‑se um erro honesto (por vezes, também designado erro legítimo ), inteiramente admissível, portanto. Além de involuntário, o erro honesto não põe em causa o com portamento ético de quem o possa ter cometido. É disso exemplo o Caso 4.1, a seguir apresentado, e que tem por base a referência NAS (1995).

No caso de vir a verificar‑se que um ar tigo publicado em revista se encontra afetado de um erro honesto, deverá então esse erro ser objeto de posterior correção, de preferência na mesma revista, por exemplo através de uma nota adicional. Se o erro, apesar de honesto, afetar a publicação na sua essência, existe sempre a possibilidade de, em último recurso, solicitar à revista que o artigo seja retirado.

C aso 4.1 – Exemplo de erro honesto

Como se refere em NAS (1995), os primeiros anos do século XX registaram a ocorrência de aceso debate entre diferentes astrónomos, em torno da natureza e da localização de nebulosas espirais (manchas de luz de contorno circular, visíveis de noite através de telescópios de elevada potência).

Alguns cientistas, entre os quais se incluía Adriaan van Maanen, do Observa‑ tório Mount Wilson (EUA), sustentavam a localização de tais nebulosas na Via Láctea, galáxia a que pertence o Sistema Solar; outros defendiam a localização em galáxias distantes.

Após realização de aturadas medições de velocidade, que duraram anos, van Maanen anunciou dispor de informação suficientemente fundamentada para afirmar ser a referida localização interior à Via Láctea, já que não teria sido possível detetar os movimentos por ele observados, se fossem provenientes de objetos localizados em outras galáxias.

Mais tarde, o seu colega de laboratório Edwin Hubble, recorrendo a um telescó pio de nova geração, ainda mais potente, logrou demonstrar que as nebulosas espirais em questão se situam, na realidade, em galáxias distantes, e não na Via Láctea.

Frequentemente, cientistas trabalham no limite da capacidade dos instrumentos de que dispõem para conduzir a sua investigação. Foi o caso de Adriaan van Maanen, cuja grande reputação científica de forma alguma resultou “beliscada” pelo erro honesto de que foi responsável.

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mesmo dá conhecimento ao diretor científico comum, Prof. João Almeida. De comum acordo, e tirando partido da facilidade de comunicação entre os três investigadores, decide se então que os dois doutorandos procederão a uma comparação sistemática entre os dois códigos, a fim de detetar a origem da disparidade de resultados.

Fruto deste exercício de verificação, surge, por fim, a explicação tão arduamente procurada por Manuel Abreu. Numa equação empírica do modelo teórico, figura um parâmetro, k0, cujo valor é relatado na publicação como tendo um valor fixo. Porém, no código de Paulo Torres, o correspondente valor vai sendo, na realidade, atualizado ao longo do tempo, de acordo com a evolução da altura média da duna. Por outras palavras, o parâmetro k0, anunciado como sendo constante, não o é, de facto. E, à semelhança do limão da receita do Caso 3.1, esse aparente “ pormenor ” faz toda a diferença!

Esclarecido o assunto, deve o artigo já publicado ser simplesmente retirado? Deverá, em alternativa, ser o mesmo artigo objeto de uma nota adicional esclarecedora? Que conclusão retirar sobre vantagens e inconvenientes de atribuir, a dois ou mais doutorandos, temas de tese muito próximos, ou quase coincidentes? Que consequência deverá ter este – grave – episódio sobre o percurso curricular de Paulo Torres? Enquanto orientador científico e coautor do artigo publicado, seria João Almeida suposto dever ter detetado a irregu laridade cometida?

4.3.2 – Plágio

Constitui plágio a reprodução – intencional ou não – de ideias, textos, dados, figuras, tabelas, expressões ou material afim, da autoria de terceiros, sem iden tificar a respetiva fonte, e dando a entender que se trata de trabalho próprio.

O termo intencional é aqui relevante. Com efeito, a reprodução in voluntária de pequenas parcelas de texto já existente pode resultar de simples coincidência, sem que, para tal, tenha contribuído qualquer intuito fraudulento. Em caso de dúvida sobre uma dada parcela de texto, o seu autor poderá prevenir se contra tal coincidência, transpondo essa parcela, previamente colocada entre aspas, para a entrada de um motor de busca da Internet (Yahoo!® , Google®…) e verificando se da correspondente busca decorre algum resultado positivo. É que, embora não sendo deliberado,

55 O Erro na Inovação
Científica e Tecnológica

Cap. 8

RESPONSABILIDADE SOCIAL NA INOVAÇÃO

CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

° Responsabilidade social passiva e ativa

° Sustentabilidade ambiental e social

° O dilema de Collingridge

° O contexto da responsabilidade social na inovação

° O ponto de vista dos investidores. Desempenho environment, social and governance (ESG)

° O desempenho ESG em contexto internacional. Global Reporting Initiative (GRI)

° Nota conclusiva

Parafraseando Theodore von Kármán (1881 1963), físico e engenhei ro aeroespacial de nacionalidade húngara, poderemos afirmar que os cientistas estudam (descobrem) o mundo tal como ele é, enquanto os engenheiros procuram modificar o mundo, inovando, criando algo que não existia antes. Trata se, pois, de perspetivas distintas, embora interligadas e complementares. Em ambos os casos, estão em jogo conceitos como investigação, inovação e também a criteriosa utilização de novas tecnolo gias, aperfeiçoadas e refinadas num permanente desafio de atualização.

Se, em rigor, as tecnologias são neutras, a sua utilização prática não o é: gera consequências, que se traduzem num impacto de natureza diversa, nomeadamente ambiental e social. A este respeito, o Caso 8.1, a seguir apresentado, é paradigmático.

C aso 8.1 – Alfred Nobel: a responsabilidade social do inovador

Alfred Bernhard Nobel, sueco, engenheiro químico e inventor, viveu entre 1833 e 1896. Fascinado com a (então recente, datada de 1847) invenção da nitro glicerina pelo químico italiano Ascanio Sobrero, Nobel reconheceu, entretan‑ to, tratar‑ se de um composto manifestamente perigoso e de difícil controlo. Procurou, assim, tornar aquele produto mais manipulável, seguro e, portan to, comercializável. Para tal, juntou lhe diversos compostos, nomeadamente

Responsabilidade Ética e Profissional em Ciência e Engenharia

Os stakeholders , direta ou indiretamente envolvidos na atividade de uma empresa, podem ser internos ou externos à mesma. Como a Figura 8.2 esquematiza, no primeiro caso ( stakeholders internos) incluem ‑ se os elementos assalariados (engenheiros ou técnicos, por exemplo), a equipa de gestão (que não raro inclui engenheiros mais qualificados) e, naturalmente, os proprietários ou seus representantes. Por seu turno, enquanto stakeholders externos, poderão referir se clientes (individuais ou institucionais), fornecedores, empresas concorrentes, investidores e/ ou acionistas ( shareholders , na terminologia inglesa), credores (caso a empresa tenha algum grau de endividamento), a sociedade civil, em sentido lato, e o próprio governo (que, em larga medida, determina o enquadramento jurídico da atividade empresarial). No seu conjunto, todos estes agentes, internos e externos, definem ou condicionam a identidade e o perfil de atuação da própria empresa.

◊ 8.5 – O ponto de vista dos investidores. Desempenho environment,socialandgovernance(ESG)

Para satisfazer as suas necessidades de liquidez, as empresas têm, de um modo geral, todo o interesse em que entidades externas invistam no seu negócio. Tal interesse é ainda mais visível se estiverem cotadas em bolsa.

Por seu turno, um dos objetivos principais que leva alguém a investir numa empresa é lucrar com o retorno que possa resultar desse mesmo investimento [ return on investment (ROI), na terminologia inglesa 41]. Embora seja, sem dúvida, relevante, o ROI está longe de ser o único fator a ponderar por quem investe numa empresa. Com efeito, cada vez mais se verifica a preocupação de potenciais investidores e/ou acionistas em garantir que o seu investimento é socialmente responsável (SRI, do inglês socially responsible investment). Até porque subestimar a perti‑ nência dessa preocupação pode conduzir a graves dissabores, ou mesmo originar prejuízos financeiros de dimensão imprevisível, como bem ilustra o Caso 8.2, a seguir apresentado.

41 Correndo o risco de nos repetirmos, recordamos que será frequentemente adotada a terminologia inglesa, por ser reconhecidamente a mais usada, no âmbito do presente capítulo.

© Lidel – Edições Técnicas 156

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