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EDIÇ ÃO ESPE CIA L P RIMEIRO AN IV ER SÁ RIO

LIFE SAVING REVISTA REVISTA DAS DAS VMER VMER DE DEFARO FAROE EALBUFEIRA ALBUFEIRA

NÚMERO 5 / AGOSTO 2017 [ TRIMESTRAL [ TRIMESTRAL] ]

NESTA EDIÇÃO: Revisão Revisão histórica histórica das das situações situações multivítimas multivítimas nas nas últimas últimas décadas décadas

João Cláudio Cláudio Guiomar Guiomar João

AA Iatroética Iatroética na na Medicina Medicina de de Catástrofe Catástrofe Professor Professor Romero Romero Bandeira Bandeira

Seminário Seminário “Abordagem “Abordagem de de Incidentes Incidentes Multivítimas Multivítimas de de caráter caráter tático” tático”

Catarina CatarinaTavares, Tavares, Sérgio SérgioMenezes MenezesPina Pina

Hot Hot Topic: Topic: Logística Logística em em Incidentes Incidentes de de grandes grandes dimensões dimensões Marlene Marlene Pereira, Pereira, Vasco Vasco Monteiro Monteiro

JumpSTARTJumpSTART: Triagem primária em pediatria em situação de exceção

Cláudia Leitão, Susana Vicente Estreia na Edição

Vozes Vozes da da Emergência: Emergência: Corpo Corpo de de Bombeiros Bombeiros Voluntários Voluntários de de Lagos Lagos

Rita Rita Penisga, Penisga, Solange Solange Mega Mega

EDIÇ ÃO ESPE CIA L P RIMEIRO AN IV ER SÁ RIO


EDITORIAL Um ano volvido após a Primeira Publicação de 5 de agosto de 2016, e feita a análise da evolução evolução deste projeto inovador, fica a certeza de que a LIFESAVING representa uma mudança no paradigma da divulgação científica e técnica na área da Emergência Médica. Nesta Nesta Edição Edição especial especial de Primeiro Aniversário congratulamos toda a Equipa de Profissionais, que ao longo de um ano de Publicações, se aventurou de modo altruísta em prol da construção de um Projeto sem precedentes, cedentes, que que cavalgou cavalgou os limites do expectável, com uma evolução exponencial na divulgação, que assistimos nos vários vários locais locais de de partilha: partilha: site site oficial oficial do do CHAlgarve, CHAlgarve, repositório repositório internacional internacional ISSUU, ISSUU, ee nas nas redes redes sociais. A LIFESAVING indubitavelmente cresceu, está mais robusta e mais madura. Cresceu no número de editores e Colaboradores mas também no número de páginas e de Rubricas, na sua dimensão e no grafismo.

Esta 5ª Edição surge com um design da capa renovado, em jeito de celebração, mas motivado sobretudo pela necessidade de adequação à amplitude que a publicação alcançou, no que concerne ao Quadro Editorial e ao crescendo de Rubricas referenciadas no seu Índice de capa, e que foram assim ambos relegados para o interior da Publicação, com o merecido destaque e clarificação. Desenvolvemos Desenvolvemos como tema principal neste número número,as as situações situações de de exceção, exceção, ee particularmente particularmente aa abordagem de cenários multivitimas, e ao qual dedicamos uma análise multidisciplinar, com a apresentação de uma série de artigos de valor indiscutível, que vale a pena descobrir nas próximas páginas. Apostámos Apostámos nesta nesta Edição, Edição, na na estreia estreia de de uma uma nova rubrica chamada "Vozes da Emergência", especialmente especialmente concebida concebida para para divulgar divulgar entrevistas realizadas a Equipas de emergência no nosso país, de Norte Norte aa Sul, Sul, passando pelas Ilhas. Pretendemos dar a conhecer diferentes realidades, e especificidades próprias próprias de de cada Equipa, que ansiamos conhecer e divulgar, numa lógica de enriquecimento global e aproximação dos profissionais. Renovamos assim a intenção de continuar aa fazer crescer este projeto LIFESAVING, garantindo todo o esforço para promover trimestralmente a divulgação do conhecimento e atualização na área da emergência emergência médica, prosseguindo o caminho de aperfeiçoamento e dedicação à nobre missão que abraçamos. Bruno Santos EDITOR-CHEFE da LIFESAVING COORDENADOR MÉDICO das VMER de Faro e Albufeira

bsantos@chalgarve.min-saude.pt

MOMENTOS DE INSPIRAÇÃO

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"A perfeição é uma montanha impossível de escalar, que deve ser escalada um pouco a cada dia.” Código Samurai CÓDIGO DE ÉTICA DOS SAMURAIS

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QUEM SOMOS... FICHA TÉCNICA EDITOR CHEFE Bruno Santos CO-EDITORES André Abílio Rodrigues Antonino Costa João Paiva Pedro Miguel Silva Pedro Rodrigues Silva Pedro Tiago Silva Rui Osório Sérgio Menezes Pina

Google earth

EDITORES ASSOCIADOS CENTRO DE SAÚDE DE ALBUFEIRA

HOSPITAL DE FARO

As Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) de Faro e Albufeira, pertencentes ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), e desempenham a sua missão de assistência pré-hospitalar em todo o Algarve Central e Sotavento. Sob a alçada do Centro Hospitalar do Algarve, estão sediadas no Hospital de Faro e Centro de Saúde de Albufeira, respetivamente. A VMER de Faro é o meio mais antigo, tendo entrado em funcionamento em 2000, e a VMER de Albufeira iniciou atividade em 2004.

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REVISTA DAS VMER DE FARO E ALBUFEIRA

APRESENTAÇÃO DAS RUBRICAS E EDITORES FÁRMACO REVISITADO

JOURNAL CLUB

Solange Mega ENFERMEIRA VMER

ENFERMEIRO VMER

Solange Mega

André Abílio Rodrigues ENFERMEIRO VMER

HOT TOPIC Dénis Pizhin MÉDICO VMER

Pedro Oliveira e Silva

TESOURINHOS VMERISTAS Pedro Oliveira e Silva

LEGISLAÇÃO Ana Agostinho ENFERMEIRA VMER

Isa Orge ADVOGADA

CUIDAR DE NÓS Nuno Ribeiro

MÉDICO VMER

MÉDICO VMER

ENFERMEIRO VMER

Rui Osório

TERTÚLIA VMERISTA

MÉDICO VMER

Sílvia Labiza ENFERMEIRO VMER

Gonçalo Castanho PSICÓLOGO

EVENTOS DE EMERGÊNCIA ALGARVE Antonino Costa

MINUTO VMER

Isabel Rodrigues MÉDICA VMER

ENFERMEIRO VMER

MITOS URBANOS Christian Chauvin MÉDICO VMER

BEST LINK´S DE EMERGÊNCIA

CASO CLÍNICO

MÉDICO VMER

Pedro Rodrigues Silva COLABORADORES NESTA EDIÇÃO

O QUE FAZER EM CASO DE … ENFERMEIRA VMER

FOTOGRAFIA

Rita Penisga ENFERMEIRA VMER

CONGRESSOS NACIONAIS INTERNACIONAIS

Christian Chauvin

ENFERMEIRA VMER

Nuno Ribeiro

ENFERMEIRO VMER

ENFERMEIRO VMER

Solange Mega

João Cláudio Guiomar

André Abílio Rodrigues

VOZES DA EMERGÊNCIA RUBRICA PEDIÁTRICA

NÓS E OS OUTROS

ENFERMEIRA VMER

MÉDICO VMER

MÉDICO VMER

UM PEDACINHO DE NÓS

André Simões Carmen Santos Cláudia Leitão José Vitória Márcio Pereira Márcio Regino Mário Faustino Marlene Pereira Romero Bandeira Susana Vicente Vasco Monteiro

Ana Rodrigues

MÉDICO VMER

Catarina Tavares

João Paiva

André VillaReal

Bruno Santos

NÓS POR CÁ

ENFERMEIRO VMER

MÉDICA VMER

Pedro Tiago Silva

BEST APPS DE EMERGÊNCIA

Ana Rita Clara

ILUSTRAÇÕES:

TEMAS EM REVISÃO

Alírio Gouveia

Ana Agostinho Ana Rita Clara Ana Rodrigues André Villareal Catarina Tavares Christian Chauvin Dénis Pizhin Isabel Rodrigues Isa Orge João Cláudio Guiomar Nuno Ribeiro Pilar Urbano Rita Penisga Sílvia Labiza Solange Mega

ENFERMEIRA VMER

Pilar Urbano MÉDICA VMER

ÉTICA E DEONTOLOGIA

Sérgio Menezes Pina MÉDICO VMER

ILUSTRAÇÕES João Paiva ENFERMEIRO VMER

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ÍNDICE EDIÇ ÃO ESPE CIA L P RIMEIRO AN IV ER SÁ RIO

EDITORIAL MOMENTOS DE INSPIRAÇÃO

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ARTIGOS EM DESTAQUE

6

Revisão histórica das situações multivítimas nas últimas décadas João Cláudio Guiomar

8

Iatroética na Medicina de Catástrofe Professor Romero Bandeira

NÓS POR CÁ

13

Seminário “Abordagem de Incidentes Multivítimas de caráter tático” Catarina Tavares, Sérgio Menezes Pina

LEGISLAÇÃO

16

Sistema de Gestão de Operações aplicado a situações multivítimas Abel Gomes (2º Comandante Operacional Distrital de Faro)

NÓS E OS OUTROS

18

Atiradores ativos—Abordagem ao fenómeno e resposta policial Fausto M. P. Cabrita, Subintendente da PSP e Comandante da Força - Destacada da Unidade Especial de Policia em Faro

O QUE FAZER EM CASO DE

19

“Atirador ativo” André Abílio, Solange Mega

CASOS CLÍNICOS

20

Acidente de Autocarro na Via do Infante A22, Junho de 2015 João Cláudio Guiomar

23

Lições Aprendidas do atentado de Atocha, Madrid 2004 Eva Motero

HOT TÓPIC

26

NÓS POR CÁ

30

Logística em Incidentes de grandes dimensões Marlene Pereira, Vasco Monteiro

Estatística das ocorrências multivítimas André Abílio, Solange Mega

MINUTO VMER

32

As etiquetas de triagem Isabel Rodrigues

RUBRICA PEDIÁTRICA

34

JumpSTART- Triagem primária em pediatria em situação de exceção Cláudia Leitão, Susana Vicente

CUIDAR DE NÓS

38

Intervenção Psicológica em situações multivítimas de caráter tático Márcio Pereira, Centro de Apoio Psicológico e de Intervenção em Crise (CAPIC), INEM

JOURNAL CLUB

40

The development and features of the Spanish prehospital advanced triage method (META) for mass casualty incidents Ana Rita Clara

TERTÚLIA VMERISTA

43

Balanço de um ano de LIFESAVING Nuno Ribeiro

FÁRMACO REVISITADO

44

MITOS URBANOS

46

Ketamina Alírio Gouveia “A administração de diazepam tem que ser direto, não pode ser diluído!” Christian Chauvin

Estreia na Edição

VOZES DA EMERGÊNCIA

48

Corpo de Bombeiros Voluntários de Lagos Solange Mega, Rita Penisga

PEDACINHO DE NÓS

52

Pilar Urbano, Ana Rodrigues

EVENTOS DE EMERGÊNCIA NO ALGARVE

54

Antonino Costa

TESOURINHOS VMERISTAS CONGRESSOS NACIONAIS

55

Pedro Oliveira e Silva

BEST LINKS BEST APPS FRASES MEMORÁVEIS

56

Bruno Santos

57

Pedro Lopes Silva

CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO NA LIFESAVING

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LIFE SAVING

REVISTA DAS VMER DE FARO E ALBUFEIRA

ALGUNS DESTAQUES NESTA EDIÇÃO

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LIFE SAVING

REVISÃO HISTÓRICA

REVISTA DAS VMER DE FARO E ALBUFEIRA

A LIFESAVING dedicou esta Edição especial às situações multivítimas e à Medicina de catástrofe, não podendo deixar de assinalar os principais marcos históricos nas últimas décadas no nosso país. Depois de um trabalho de verdadeira investigação, levado a cabo pelo Enfermeiro João Cláudio Guiomar, apresentamos uma linha do tempo que retrata na sua porção inferior os acidentes multivítimas mais relevantes no Algarve, e na porção superior as principais ocorrências no território nacional.

02-02-1989 Desastre aéreo na Ilha de Santa Maria, Açores

27-06-1983 Ataque terrorista à Embaixada da Turquia em Lisboa

1-01-1980: Cerca de 144 mortos...

Terramoto na Ilha Terceira, Açores

19-11-1977:

047 mortos.

Avião cai no Aeroporto da Madeira

11-09-1985

1ª intervenção das forças de segurança

Tabuleiro d Ribeiro de

Desastre ferroviário de Alcafache, Viseu

GOE da PSP.

71 mortos e mais de 400 feridos

1921

1954

9-11-1921:

13-09-1954

Atentado terrorista ao Comboio do Algarve

Desastre do Rápido do Algarve

Vindo de Vila Real de Santo António na Estação da Figueirinha, na Linha do Alentejo fazendo 9 mortos e cerca de 90 feridos.

Vindo de Vila Real de Santo António, perto da estação Santa Clara -Sabóia, na Linha do Sul, fazendo 34 mortos e 34 feridos.

Ponte cai a 1 autocarro

Estima-se que faleceram cerca 150 pessoas.

Cerca de 129 mortos e 35 feridos

1977

28-02– 1969 Sismo devastador no Algarve

13 mortos e centenas de desalojados.

1979 1980

1985

1983

Nov-1979

08-04-1989

Colisão entre ligeiro e autocarro - Tunes

Despiste e capotamento de autocarro—Tunes

Acidente seguido de incendio nos veículos provocando 4 mortos e dezenas de feridos.

21-12-1

Acidente com adeptos do F.C Portimonense, fez 12 mortos e 22 feridos.

Acidente de avião de Fa

A aterragem d da Martinair p mortos e 106 vemente

A c i d ent es Mu l t i ví t PÁGINA

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Situações multivítimas nas últimas décadas

REVISTA DAS VMER DE FARO E ALBUFEIRA

17-06-2017 Incêncio de Pedrogão Grande

20-02-2010

24-03-2001

Aluvião da Madeira

Queda de Autocarro numa ravina, Viseu

Cheia provocou 47 mortos, 250 feridos e 600 desalojados.

Autocarro da C.M de Viseu cai próximo da Barragem da Aguieira, fez 14 mortos da Ponte Hintze e 24 feridos. Entre-os-Rios

-03-2001

25-08-2010

O maior e mais mortífero incêndio em Portugal, provocou 64 mortos e 254 feridos

Acidente “aterrador” na A25—Talhada (Aveiro)

5-11-2007

Despiste de Autocarro na A2—Almodôvar

Despiste de Autocarro na A23, Km 77.

acidentes em cadeia provocaram 6 mortos, entre elas 2 crianças, e 72 feridos .

arrastando 3 ligeiros e o, matou cerca de 60 pessoas.

1989

1992

1992

fez 17 mortos e 24 feridos.

1997

08-11-1997

2001

2007

21-08-2009

o no aeroporto Desastre ferroviário entre Derrocada de uma parte da Parchal e a estação ferroviá- falésia na praia Maria Luísa, aro Albufeira ria de Estômbar

do Voo M495 provocou 56 pessoas grae feridas

Colisão frontal entre duas composições da CP provocou 4 mortos e 14 feridos.

A derrocada fez 5 mortos e 6 feridos ligeiros.

19-06-2015

2009 2010

2012

16-11-2012 Tornado em Carvoeiro, Lagos e Silves

Vários feridos (13) e desalojados (21) e muitos danos materiais

i m a s n o A LG AR V E

autocarro despista-se em Almodôvar, provocou 3 mortes e 20 feridos

2015

2017

17-06-2015

30-04-2015 Despiste e colisão de autocarro na Guia, Albufeira

Colisão contra uma habitação junto á EN 125, que provocou 1 morto e 8 feridos .

Despiste de autocarro na A22

Sentido Faro-Portimão no Km 48, sítio das Texugueiras - Ferreiras. O despiste e queda numa ravina provocou 4 mortos e 30 feridos

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ARTIGO EM DESTAQUE

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NEWSLETTER REVISTA DASDAS VMER VMER DEDE FARO FAROEE ALBUFEIRA ALBUFEIRA

“A IATROÉTICA NA MEDICINA DE CATÁSTROFE” Prof. Romero Bandeira

Palavras-chave: Medicina, Catástrofe, Iatroética “As situações de excepção, como os acontecimentos tácticos inusitados, o terrorismo, as catástrofes naturais, são notícias cada vez mais frequentes no quotidiano, e são situações para as quais os meios de protecção e socorro têm de estar preparados. Foi neste sentido que recentemente realizámos um seminário técnico sobre o tema. Em altura de edição comemorativa do primeiro aniversário da LIFESAVING, preparámos uma revista quase inteiramente direccionada ao assunto. Convidámos o Professor Romero Bandeira, que nos presenteou com um artigo conceptual sobre a temática. É, sem dúvida, quem mais se dedicou ao ensino da disciplina da Medicina de Catástrofe a profissionais de saúde em Portugal, continuando a empenhar-se no desenvolvimento da preparação da acção neste domínio de intervenção.” Catarina Tavares

Introdução A noção de Medicina de Catástrofe surge-nos como uma prioridade numa emanação dos tempos que correm. A este tipo de intervenção médica pluridisciplinar e polivalente junta-se uma preocupação constante que vem a ser a existência duma desadequação entre o número de vítimas e a capacidade de socorro; concomitantemente há uma fase inicial com um período de improvisação puro. Estas circunstâncias fazem com que a Medicina de Catástrofe se paute por métodos e processos específicos e diferentes da Medicina de Urgência habitual (Bandeira 2008). Assim, devemos precisar o que ela não é: não é uma Medicina que cuida de órgãos ou funções (ex. Pneumologia), não é uma actividade de separação anatómica (ex. Cirurgia), não é uma Medicina de agressão química ou física (ex. Cancerologia), não é uma Medicina de Diagnóstico (ex. Radiologia), não é uma Medicina do espírito (ex. Psiquiatria) (Noto 2010 b). É praticada desde quando: inicialmente foi organizada nas acções de massa em cuidados de Urgência extra-hospitalares mas que teve a exemplo da Medicina de Guerra, de que é herdeira, de equacionar os procedimentos logísticos inabituais na prática médica corrente mesmo no que concerne às situações de urgência.

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ARTIGO EM DESTAQUE ———————————————Conceptualização Quanto ao arranjo espacial da situação de catástrofe a partir do seu epicentro para a periferia ela pode ser discriminada em zona de choque, zona intermediária e zona exterior à catástrofe. No momento presente, em termos operacionais, de âmbito Médico-Sanitário as Catástrofes podem ser caracterizadas basicamente em: •ACEL até 100 vítimas •ACEM até 1000 vítimas, com elevado número de Implicados •Catástrofe até 3000 vítimas •Megacatástrofes nº superior a 3000 vítimas Se não existem vítimas as situações de excepção poderão ser considerados como simples acidentes geológicos, meteorológicos, sociais, etc (Gunn 1992).

Intervenção no Teatro de Operações (TO) Posto Médico Avançado (PMA) Hoje mais propriamente designado Posto Sanitário Móvel; trata-se de uma estrutura que pratica e conceptualmente tem vindo a sofrer modificações ao longo do tempo, já que hoje podemos concebê-lo de uma forma virtual, ou seja, de poder apresentar uma plasticidade e heterogeneidade tais, não confinadas a estruturas padronizadas, mas sim adaptadas às disponibilidades de espaço e tempo, sem nunca perder a sua especificidade de “amortecedor de choque” das estruturas sanitárias mais pesadas: CME (Centro Médico de Evacuação), ou mesmo HR (Hospital de Retaguarda), de acordo com Hertgen e Fuilla (2012).

Triagem Este é um conceito fundamental que tem vindo a emergir com toda a acuidade, uma vez que sem a caracterização das vítimas na situação de urgência não se torna possível realizar um socorro eficaz. Assim sendo, torna-se necessário equacionar e hierarquizar as prioridades, num contexto excepcional de multivítimas e saber exactamente quais as atitudes terapêuticas adequadas e que prioridade de evacuação apresentam, conforme Soler et al. (2008) e Marques (2009).

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Professor Romero Bandeira Nota Biográfica O Professor Romero Bandeira nasceu em São Pedro da Cova em 1947, Médico Especialista em Medicina Geral e Familiar, Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade do Porto, é Professor Associado com Agregação do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (jubilado), onde criou e coordenou a primeira formação pós graduada em Portugal de Medicina de Catástrofe dirigida a médicos e enfermeiros, inicialmente uma Pós Graduação que posteriormente se tornou no primeiro Mestrado de Medicina de Catástrofe do país. Foi também Regente da cadeira de História da Medicina, sendo conjuntamente com a Medicina de Catástrofe as suas principais áreas de interesse e investigação. Foi Professor convidado de múltiplos cursos pós graduados em várias Universidades e Escolas de Enfermagem ligados à sua especialidade. Integra vários Conselhos Científicos ou Editoriais de Revistas e Sociedades Científicas Nacionais e Estrangeiras, algumas com cargos nos seus corpos sociais. A estreita ligação à medicina extra hospitalar, à protecção e civil e socorro está presente no seu percurso profissional desde 1977. Foi Comandante e Adjunto de Comando da Associação Humanitária e Cultural de Bombeiros Voluntários de São Pedro da Cova durante mais de 30 anos, é actualmente Presidente da Direcção desta Associação e Director da sua Unidade Experimental de Intervenção e Formação para Intervenção e Socorro. Foi Presidente do Conselho Científico e Pedagógico da Escola Nacional de Bombeiros entre 2002 e 2010. Representante Português da Société Française de Médecine de Catastrophe e responsável pela dinamização da sua Secção Internacional, desde 2003. Representante Português e Vice-Presidente do Comité Científico da Société Européenne de Médecine de Sapeurs Pompiers, desde 2009. Membro do Advisory Board do European Council of Disaster Medicine, desde 2014. Entre as várias publicações científicas como autor e coautor, editor e co-editor em Portugal e no estrangeiro, destaca-se em 2008 o livro, Medicina de Catástrofe – da Exemplificação Histórica à Iatroética, e o capítulo Medecine de Catastrophe et Feu Forêts do Manuel de Medicine de Catastrophe, editado em Paris em Janeiro de 2017, pelas Edições Lavoisier, sob a égide da Société Francaise de Medecine de Catastrophe.

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ARTIGO EM DESTAQUE Evacuações Sanitárias (EVASAN) As Evacuações sanitárias têm que ser devidamente reguladas, não podendo em circunstância alguma a vítima ser evacuada ao acaso sem se saber com exactidão para que estrutura de rectaguarda, e sem ter sido previamente observada e medicalizada, ou seja, deverá existir prioridade nos gestos terapêuticos. (Noto 2010a) Comunicações As comunicações constituem ontem como hoje um verdadeiro nó górdio no processo de socorro às vítimas (Ogrizek e Guillery 1997).

ceptibles de survivre, à la condition que les maisons soient construites en pierre ou en brique et non en bois, qui, évidemment, prend feu facilement. Les gens qui restent à la maison peuvent facilement contrôler les petits feux qui sont détectés. La meilleure mesure de protection est de rester dans la maison, en essayant de garder les portes et les fenêtres fermées en raison de la fumée et se en plaçant une chambre aussi loin que possible la direction d’où le feu se rapproche. Si la maison commence à brûler, on devrait pouvoir en sortir parce qu’en principe, le pire est passé. Cette consigne de sécurité est connue aux Etats-Unis, mise en œuvre régulièrement lors des feux de forêt.

Sistema Evolutivo Uma vez colocado no terreno o dispositivo de socorro sanitário, temos que ter sempre presente que o mesmo é evolutivo, ou seja, deve estar preparado para que, com o agravamento da situação, ele possa ser reforçado e, com uma melhoria da situação, ele possa ser desmobilizado proporcionalmente (Tavares 2010). Exemplo paradigmático é o fogo florestal, de que tivemos um exemplo gritante, ainda há bem pouco tempo. De acordo Bandeira et al.(2017): Le feu de forêt est mobile, le passage de l’incendie est rapide, il dure en moyenne de 3 à 5 minutes. De notre expérience personnelle, le PMA, doit être repositionné plusieurs fois comme c’ est arrivé dans l'incendie qui a eu lieu les jours 22.08.2005 à 26.08.2005, à environ 30Km ville de Porto, où 302 pompiers ont été impliqués, ayant brûlée 234.42 Hectares avec un grand nombre de victimes non graves. Les personnes qui se mettent en situation de supporter ce passage sont très sus-

A Iatroética face à Urgência Colectiva Assim, a Ética não é somente um código mas o trabalho de crítica a esse mesmo código; é a reflexão fundamental sobre o que existe no humano, confrontado com a questão do seu próprio agir e consequentemente a elucidação do homem enquanto responsável por aquilo que ele próprio e os seus semelhantes poderão executar. Nuno Grande definiu exemplarmente a Ética, como: "termo grego cujo significado se aproxima da moral, é, hoje, mais usado como código de comportamentos e das atitudes, como se tratasse da aplicação dos valores morais, em função de parâmetros culturais… Considero cultura a resultante dos saberes, hábitos e costumes que definem a identidade de um grupo populacional, de um povo ou de um conjunto de povos".

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E quanto nós, portugueses, "somos, de facto, um grande heterozigoto, onde se reconhecem factores das culturas judaico-cristã, romana e céltica". Presentemente a noção de Ética ou seja, a ciência da ordem, que o homem introduz nos seus atos voluntários ou morais, tem particular relevância na Medicina. Surge-nos assim em toda a sua dimensão a Iatroética, termo que perfiro ao de ética Médica, não só porque neste os elementos da sua formação são um de raiz grega e outro de raiz latina, mas também porque dadas as raízes helénicas da Medicina Ocidental, assume aquele uma maior clareza e propriedade de expressão.

A medicina de catástrofe usa as técnicas da medicina de urgência e apela ao mesmo método de trabalho. Mas do ponto de vista ético, há uma situação conflitual e difícil por vezes de admitir, visto que em lugar da obstinação em salvar um caso sobre si, há que proceder a uma triagem criteriosa; em função dos meios disponíveis e do número de vítimas, permitir-se salvar no tempo mais curto com o mínimo de meios, os que apresentam condições clínicas para tal (Huguenard e Desfemmes 1989). Em síntese, alguns aspectos éticos da Medicina de Catástrofe, podem consignar-se como se refere (para revisão conceptual ver: Noto et al.1987; Baskett 1988; Silverstain e Jessie -Hackes 1988; Louville e Thevenet 1990; Manni 1990; Nicolay 1992): 

Impossibilidade da denegação da descrição. Informação criteriosa dos sinistrados e do público em geral, não podendo os médicos comprometer o direito do paciente à sua intimidade.

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ARTIGO EM DESTAQUE ———————————————

Deve preparar-se pessoal e meios para a assistência às catástrofes em concomitância com a existência de planos prévios atempada e eficientemente. Dada a complexidade de que se reveste a Medicina de Catástrofe, pressupõe uma planificação aproximada da ideal e exige uma disciplina intelectual rigorosa por parte dos interventores.

Em situação de guerra ou de paz os imperativos éticos que se impõem ao médico são basicamente os mesmos, porque subjacente a um militar ou a um civil está sempre um Ser Humano.

Um médico deve abster-se de atuar em situações clínicas que ultrapassam as suas capacidades e competência. Porém, em momentos de urgência real e quando necessário, colocar-se numa posição defensiva, passa imperativamente a atuar com défice ético grave.

O amor-próprio e a auto-estima profissional devem ser ultrapassa-

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dos pela responsabilidade perante os pacientes que solicitam coletivamente os seus cuidados.

tratégia de cuidados. Nesta ordem de ideias à equipa deve exigir-se uma disciplina intelectual rigorosa.

Só devem ser evacuados os doentes com possibilidades de sobrevivência.

A pluralidade dos meios de intervenção pode levar a uma dispersão da noção de responsabilidade. Assim, esta deve estar devidamente codificada.

A análise objectiva dos factos em ordem à resolução de todos os problemas exige a competência global de todos os interventores, não se devendo privilegiar quem chegou primeiro "anterioridade de presença", mas sim os mais eficientes "anterioridade de competência".

A Iatroética em situações de catástrofe tem obrigatoriamente que se radicar em critérios clínicos rigorosos versus a capacidade de resposta terapêutica em função do número de pessoas sinistradas. Não pode ser encarada num plano pontual, mas global. Há, porém, que salvaguardar com prioridade, vítimas que real e efectivamente se salientem, como por exemplo, progenitores dignos de uma prole menor. A posição assumida pelo médico, será: para além da análise de cada caso clínico sobre si, encarar a totalidade das vítimas, como se de uma só vítima se tratasse, e, se tiver que "amputar" parte, fazê-lo para procurar salvar o todo.

A medicina de urgência colectiva implica homogeneidade nas atitudes terapêuticas. Deve ser, pois, normativa para ser eficaz e fiável.

As vítimas não têm livre escolha.

Os médicos têm uma capacidade de escolha limitada de meios e de es-

Aquilo que Albert Schweitzer chamou "a reverência perante a vida", tem uma grande expressão nos locais de acidente com inúmeros feridos. O nosso papel deverá ser o de maximizar o potencial de vida, com a limitação possível do sofrimento, mesmo quando a morte é inevitável (Königová 1993).

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ARTIGO EM DESTAQUE O projecto de Carta Ética Europeia e Mediterrânica sobre a resiliência às Catástrofes, de 24 de Março de 2010, do Conselho da Europa, é um documento que obrigatoriamente deve ser conhecido por todos aqueles que se dedicam à Medicina de Catástrofe.

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A Medicina de Catástrofe, a Medicina de Urgência, a Medicina Humanitária devem fazer-nos reflectir, acerca da passagem do individual ao colectivo, do quotidiano ao excepcional, da situação normal à situação de crise, com as vertentes da Medicina de Urgência e da Medicina Humanitária.

Os seus 27 artigos “na falta dum instrumento jurídico adequado que precise, à escala Universal ou Regional os direitos e os deveres do Homem em caso de catástrofe “, constituem recomendações incontornáveis acerca dos deveres e direitos para todos aqueles que têm que lidar com situações de catástrofe.

Professor Romero Bandeira

Bibliografia:

BANDEIRA R (2008) Medicina de Catástrofe. Da Exemplificação Histórica à Iatroética. Dissertação de Doutoramento. ICBAS/UP

MARQUES (2009), Triagem de Prioridades - Triagem de Manchester, Dissertação de Mestrado em Medicina de Catástrofe, ICBAS-UP

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Abordagem da agitação psicomotora NÓS POR CÁ no Pré-hospitalar

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Perguntas e respostas SEMINÁRIO MULTIDISCIPLINAR

O País e o mundo têm sido assolados por episódios dantescos, em cenários complexos e hostis que têm colocado à prova e exigido dos vários agentes de Proteção Civil uma capacidade de resposta ímpar na abordagem destes eventos críticos. Do ponto de vista estratégico, é imperativo consolidar competências e doutrina operacional no âmbito da proteção e socorro, e particularmente numa região como o Algarve, com 16 municípios de geografia muito heterogénea, com longos quilómetros de praia, zonas ribeirinhas e serras, cruzadas por autoestrada e estradas nacionais, via férrea, embarcações de recreio e de carga ao largo da costa, com múltiplos locais de diversão noturna, parques temáticos e eventos culturais que condicionam grandes aglomerados populacionais. A flutuação populacional imposta pela sazonalidade do turismo que, apesar de essencial

Reportagem

para a economia local, aumenta de sobremaneira a complexidade das intervenções, torna-se outro factor ímpar da região.

“é imperativo consolidar competências e doutrina operacional no âmbito da protecção e socorro, em particularmente numa região como o Algarve, com 16 municípios de geografia muito heterogénea” Reconhecendo esta problemática, tornou-se essencial para a equipa da Viatura Médica de Emergência e Reanimação de Faro e Albufeira, no âmbito da formação em serviço, dinamizar o seminário técnico “Abordagem de Incidentes Multivítimas de Carácter Tático” que teve lugar no passado dia 19 de Abril na Universidade do Algarve.

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NÓS POR CÁ

Abordagem da agitação psicomotora no Pré-hospitalar

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Perguntas e respostas Para a realização do seminário foi essencial a colaboração de vários agentes de protecção civil, tendo estado presentes a Autoridade Nacional de Protecção Civil, o Instituto Nacional de Emergência Médica, a Polícia de Segurança Pública, a Guarda Nacional Republicana, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Portimão, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Albufeira, o Centro Hospitalar do Algarve e a Universidade do Algarve. A relevância da temática culminou com a presença das principais entidades da região na sessão de abertura. Esta foi presidida pelo Coordenador Médico da Viatura Médica de Faro e Albufeira, Dr. Bruno Santos, e marcaram presença o Presidente do Concelho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve, que se fez representar pelo Dr. Carlos Santos, o Presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve, Dr. Paulo Morgado, o Comandante Operacional Distrital do Comando de Operações de Socorro de Faro que se fez representar pelo 2º Comandante Dr. Abel Gomes, o Presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica, que se fez representar pelo Enfermeiro Ivo Cardoso, o Superintendente da Polícia de Segurança Pública de Faro, Ricardo Abreu Matos, o Comandante do Comando Territorial de Faro da Guarda Nacional Republicana Tenente-Coronel Joaquim Paulo Fernandes Crasto e o Presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve, Dr. Desidério Silva.

O seminário estava organizado em dois painéis, no primeiro, moderado pelo Enfermeiro Vasco Monteiro do Instituto Nacional de Emergência Médica, foi abordado o “Dispositivo Integrado de Operações de Socorro DON1 – Sistema de Gestão de Operações”, pelo 2º Comandante Operacional Distrital do Comando Distrital de Operações de Socorro de Faro, Dr. Abel Gomes, que fez uma revisão essencial da estruturação legal dos agentes de proteção civil e a forma como se devem articular nos cenários. O Subintendente Fausto Cabrita

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NÓS POR CÁ

Abordagem da agitação psicomotora no Pré-hospitalar

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Perguntas e respostas Reportagem da Polícia de Segurança Pública, com a “Abordagem de cenários de integração de operações tático-policiais” salientou a importância da acção policial em cenários hostis citando alguns exemplos de acontecimentos táticos históricos sobretudo nos Estados Unidos que marcaram a evolução da actuação tático-policial e a fulcral acção conjunta com as equipas de emergência médica. O Capitão Carlos Covelo da Guarda Nacional Republicana, com a mesma temática, trouxe uma abordagem com exemplos diferentes de intervenções tático-policiais, realçando cenários e acontecimentos nacionais e de missões desta força de segurança, dando especial ênfase à existência de treino conjunto e especializado com o Instituto Nacional de Emergência Médica. No Segundo painel, sob moderação do Comandante António Coelho, da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Albufeira, foi abordada a temática “HAZMAT – Matérias Perigosas”, pelo Comandante Richard Marques da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Portimão, que fez uma apresentação em que fica patente a sua expertise na matéria, chamando a atenção para a necessária atualização e conhecimento legislativo nacional e europeu de normas e procedimentos, fundamentais face à maior frequência destas ocorrências contrariamente ao que comummente todos pensamos. O tema “Emergência Médica – Abordagem Inicial de Cenários táticos multivítimas ” foi abordado pelo Enfermeiro Ivo Cardoso do Instituto Nacional de Emergência Médica, que realçou os aspetos fundamentais a ter em conta na intervenção deste cariz desenhada pelo Instituto, dando particular importância às questões de segurança que são inultrapassáveis mesmo em cenários desta natureza. O Seminário terminou com dois membros da Equipa da VMER de Faro e Albufeira, a Dra. Eva Motero, e o Enfermeiro João Cláudio Guiomar a falar de “Lições aprendidas em Incidentes multivítimas tático-policiais pelo Mundo”. A Drª Eva, focou acontecimentos internacionais, fazendo uma análise mais detalhada da intervenção de emergência médica do atentado de Madrid em 2004 e depois, também o Enfermeiro João Cláudio, fez uma resenha histórica destes incidentes em Portugal, e analisou mais profundamente o Acidente de Autocarro na A22 em 2015, até porque

tinha conhecimento de causa por ter sido um dos operacionais diretamente envolvido. Como mensagem importante a reter neste seminário, considerou-se designadamente que: o planeamento informado, antecipado e cuidadoso é a pedra basilar de qualquer intervenção de sucesso, garantindo trabalho de equipa, uma comunicação eficaz e uma abordagem estruturada e sequencial das várias forças envolvidas, sob um comando único, que têm um objetivo comum: salvar o maior número de vidas em eventos multivítimas.

Sérgio Menezes Pina MÉDICO VMER

s.menezespina@gmail.com Catarina Tavares ENFERMEIRA VMER

catgtavares@gmail.com

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LEGISLAÇÃO

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SISTEMA DE GESTÃO DE OPERAÇÕES APLICADO A CENÁRIOS MULTIVÍTIMAS Abel Gomes, 2º Comandante Operacional Distrital de Faro, do Comando Distrital de Faro da Autoridade Nacional de Proteção Civil

O Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro (vulgarmente conhecido por SIOPS), instituído no ano de 2006, enquanto conjunto de estruturas, de normas e procedimentos, assegura que todos os agentes de proteção civil (APC) e entidades com dever de cooperação (EC) atuam, no plano operacional, articuladamente sob um comando único, sem prejuízo da respetiva dependência hierárquica e funcional. Em que visa este sistema? Este sistema enquanto instrumento global centralizado na coordenação e comando de operações de proteção e socorro, visa responder a situações de iminência ou de ocorrência de acidente grave ou catástrofe, onde naturalmente podem ser enquadrados os cenários multivítimas.

Operações (SGO), o qual define a organização dos teatros de operações (TO) e dos postos de comando e clarifica competências. O SGO aplica-se a todos os APC e EC, quando empenhados em operações de proteção e socorro. O SGO é uma forma de organização que se aplica apenas para fins operacionais, a par daquilo que é estabelecido para a coordenação institucional. Também este é de conjuntura, sendo ativado e desativado de acordo com a existência de ocorrências, e tem por objetivo criar condições para a resolução da situação.

O princípio do comando único, que o SIOPS refere, assenta nas duas dimensões daquele sistema, a coordenação institucional e o comando operacional, que agem perante a iminência ou ocorrência de acidentes graves ou catástrofes. No que concerne à coordenação institucional esta é de conjuntura e desenvolve-se nos níveis municipal, distrital e nacional, sendo que nos níveis nacional e distrital existem centros de coordenação operacional e ao nível do município, estas funções são asseguradas pela Comissão Municipal de Proteção Civil, que também tem funções de coordenação política. Como se desenvolve o comando operacional? No que se refere ao comando operacional, que é permanente, este também se desenvolve nos três níveis, sendo assegurado pelo Comando Nacional de Operações de Socorro da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) – nível nacional | Comandos Distritais de Operações de Socorro da ANPC – nível distrital, e pelo Comandante do Corpo de Bombeiros da área de atuação – nível municipal. O SIOPS estabelece a existência de um Sistema de Gestão de

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LEGISLAÇÃO A base deste sistema assenta na única função obrigatória – Comandante das Operações de Socorro (COS), assumida desde o primeiro momento pelo Chefe da 1ª equipa a chegar ao TO, independentemente da entidade a que pertença. Assim que estejam presentes no TO operacionais dos Bombeiros, o comando é assumido pelo mais graduado destes APC. O Comandante de um Corpo de Bombeiros é o responsável máximo pelo comando das operações na sua área de atuação, até à transferência do comando para um responsável de escalão superior. O COS é o responsável por toda a operação que, num dado momento, comanda.

Então quando é que se aplica este sistema? O SGO, de facto, aplica-se em qualquer operação de proteção e socorro, sendo que a variável será a complexidade da ocorrência, levando ao menor ou maior desenvolvimento da organização. A decisão do desenvolvimento da organização é da responsabilidade do COS, que a deve tomar sempre que os meios disponíveis na intervenção inicial e respetivos reforços se mostrem insuficientes, ou quando a previsão do potencial dano o exigir ou aconselhar.

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tos no decurso da operação, nomeadamente no que concerne à organização, coordenação, comando e controlo, que conduzem a melhores resultados no final da operação.

Bibliografia

- Gomes, Artur, Manual de Comando Operacional, Escola Nacional de Bombeiros, 2002 - Decreto-Lei n.º 134/2006, de 25 de julho – Sistema Integrado de Operações de Proteção Civil e Socorro (SIOPS), alterado pelo Decreto-Lei n.º 114/2011, de 30 de novembro, com a redação dada pelo Decreto-Lei n.º 72/2013, de 31 de maio, que o republicou; - Despacho n.º 3551/2015, de 9 de abril – Sistema de Gestão de Operações (SGO).

Nos acidentes com elevado número de vítimas o chefe do primeiro veículo a chegar ao TO irá ser confrontado com a necessidade de tomar decisões rápidas e concretas que permitam a execução das tarefas prioritárias. Este operacional não pode, de forma alguma, olvidar-se que a sua função imediata é o COS, pelo que é essencial que desenvolva um plano estratégico de ação que tenha em conta: • O reconhecimento do TO, de modo a estimar o número e a gravidade das vítimas; • A avaliação dos riscos, existentes e potenciais; • O envio ao Comando Distrital de Operações de Socorro de informação relativa ao reconhecimento, incluindo pedido de meios adicionais; • A preparação do TO para receber meios de reforço. O elevado número de vítimas resultantes de um acidente traz, desde logo, e na sua fase inicial, um grande desafio a quem está a assumir a função de COS, ou seja, até à chegada de meios de reforço, o número de tarefas a executar é claramente superior ao número de operacionais para as executar. Face à necessidade de assistir vítimas de imediato, por vezes, em detrimento da organização inicial do TO, dáse prioridade à prestação de socorro de forma desordenada e desregulada, o que pode originar graves constrangimen-

Editoras: Ana Agostinho ENFERMEIRA VMER

aiagostinho@chalgarve.min-saude.pt

Isa Orge ADVOGADA

Isacostaorge-5076c@adv.oa.pt

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NÓS E OS OUTROS

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ATIRADORES ATIVOS — Abordagem ao fenómeno e resposta policial O Atirador – Definição "Um indivíduo ativamente envolvido em matar ou tentar matar pessoas numa área confinada e/ou povoada.“ Federal Bureau of Investigation (FBI)

CARACTERIZAÇÃO DO ATIRADOR ACTIVO O Atirador Ativo (AA) ataca todas as pessoas com quem contacta, não selecionando os alvos. Pretende matar o maior número possível de pessoas, antes de ser neutralizado ou suicidar-se, não se mostrando disponível para qualquer tipo de negociação. Por norma, o AA quando diretamente enfrentado pela polícia, tendencialmente opta pelo suicídio em vez da confrontação. A ação criminosa normalmente, envolve um ataque inesperado e o AA, apenas se revela quando o inicia. Muitas vezes o AA começa o ataque no interior de infraestruturas que conhece, onde e quando se verifica uma grande densidade de pessoas. Está normalmente bem armado e equipado e, em alguns incidentes, portador de proteção balística. Em casos estudados, constatou-se a existência de planos para aguentarem uma confrontação com as forças policiais, não sendo a sua prioridade escapar das mesmas. Normalmente comete ou tenta cometer suicídio, quando estiver eminente a sua neutralização por parte das forças policiais.

Com esta alteração do paradigma tradicional da actuação policial a qual preconizava a contenção do incidente até à chegada de forças especiais de intervenção da Unidade Especial de Polícia, pretendese evitar que o agressor tenha acesso a mais potenciais vítimas e criar condições para que possam ser socorridas eventuais vítimas, evacuando pessoas da zona de perigo, logo que existam condições mínimas de segurança para o efeito. Por último ,preservar meios de prova no local da ocorrência, o qual deve ser tratado como local do crime.

EMERGÊNCIA MÉDICA No que concerne à emergência médica, deverá ser diligenciado no sentido de se estabelecer a unidade hospitalar apropriada à situação de contingência, assegurando o apoio sanitário a todos os elementos envolvidos na ação mediante prévia e adequada proteção policial. A emergência médica deverá coordenar a atuação do sistema de socorro pré-hospitalar, na área de operações, logo que estejam criadas condições de segurança para o efeito.

CARACTERÍSTICAS COMUNS NOS ATIRADORES ATIVOS

RESUMINDO

Os AA matam por matar e de forma indiscriminada, têm pouca preocupação com a sua própria vida e preparam-se antecipadamente para a ação, a qual por norma, ocorre em locais com elevada densidade de pessoas.

A Polícia de Segurança Pública, procurará o mais rapidamente possível neutralizar a ameaça, para salvar o maior número de potenciais alvos da acção criminosa, criando condições de segurança para a emergência médica poder dar o apoio adequado aos feridos e após estabilizados, proceder à sua evacuação.

RESPOSTA DA POLÍCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA (PSP) AO FENÓMENO A PSP preconizou como princípios básicos da resposta policial, nestes incidentes tipificados como Atirador Ativo, em primeiro lugar, intervir imediatamente e sem perda de tempo, de forma a neutralizar eficazmente o agressor e salvaguardar a vida e a integridade física das pessoas envolvidas.

Fausto M. P. Cabrita Subintendente da PSP e Comandante da Força Destacada da Unidade Especial de Policia em Faro

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O QUE FAZER EM CASO DE...

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Atirador Ativo No contexto social internacional atual, com a evidência crescente de ocorrências violentas, incluindo a presença de Atirador(es) Ativo (s), o Departamento de Segurança dos Estados Unidos da América — U.S. Department of Homeland Security - criou uma campanha de sensibilização à população intitulada “Active Shooter: How to Respond”, com o objetivo de aconselhar os cidadãos sobre as estratégia para atuação neste tipo de cenários.

Achámos interessante como este país prepara os seus cidadãos para lidarem com este tipo de fenómeno. Por essa razão, nesta edição, partilhamos em forma de algoritmo, a informação geral transmitida na realidade americana. André Abílio Rodrigues

Solange Mega

ENFERMEIRO VMER

ENFERMEIRA VMER

andre.abilio44@gmail.com

solangemega@hotmail.com

Resposta a um atirador ativo: “RUN, HIDE or FIGHT”?  Esconder-se do atirador, usando objectos grandes

 Se tiver hipótese de fugir em segurança, pense num percurso e fuja

 Fechar portas, bloquear entradas e apagar luzes

 Deixa os seus pertences para trás

(Esconder)

(Fugir)

 Encoraje outras pessoas a fugir

 Colocar telemóvel em silencio  Munir-se de objectos que possam servir de armas para o caso de luta

 Mantenha as suas mãos visíveis  Quando estiver em segurança, evite que outras pessoas entrem na área e ligue 112

(Lutar)

 Permanecer em silencio

 Só em ultimo recurso e unicamente quando a sua vida esteja em risco eminente  Improvisar armas tais como: tesouras, extintores, guarda chuva, facas, pau, ferro, etc.  Aja com violência física  Neutralize o atirador a todo custo

O que fazer quando as forças da autoridade chegarem?

 Permanecer calmo e seguir as instruLigue 112 Siga as instruções do operador Informe o 112 e/ou Forças da autoridade, logo que seja seguro.

ções

 Deitar fora todas as coisas que tiver nas mãos (ex. malas, telefones, guarda-chuvas ...)

 Levante as mãos com os dedos sepa-

Localização do Atirador Ativo

Número de atiradores

Descrição física dos atiradores

 Evitar movimentos bruscos

Número e tipo de armas empenhadas pelo atirador

Número de potenciais vítimas e localização

 Não se agarre aos operacionais

rados, mantendo sempre as suas mãos visíveis

Bibliografia: U.S. Department of Homeland Security - “Active Shooter: How to Respond”, Consultado em 3 julho de 2017. Disponível em: https://www.dhs.gov/sites/default/files/publications/active-shooter-how-to-respond-2017-508.pdf

 Evite apontar ou gritar  Durante a evacuação nunca pare para pedir ajuda ou direções

https://www.dhs.gov/private-citizen

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CASO CLÍNICO

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Resposta Em Situações De Catástrofes Acidente de Autocarro na Via do Infante A22, Junho de 2015

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Na noite de 17 de junho de 2015, a Tripulação da VMER Albufeira encontrava-se na sua Base no SUB Albufeira, alerta e disponível.

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Às 23h05 soa o alarme para ocorrência: “saída para acidente de autocarro na A22 sentido Faro/Portimão, km 48,5 (*de acordo Plano Prévio de Intervenção)”.

num espaço físico por baixo de um túnel; parque de ambulâncias e morgue.

Aproximação ao local Por um acesso conseguido pelos profissionais no terreno e transmitida a informação às entidades competentes: despiste de autocarro para o Sítio das Texugueiras-Ferreiras. Posicionamento do veículo de socorro para que não impeça chegada de outros meios. Uso de EPI adequado (c/ capacete).

Reconhecimento, organização inicial do teatro de operações e controlo - Houve uma avaliação das condições de segurança e perigos potenciais (matérias perigosas, risco de incêndio ou colapso)

1º POSIT: Aproximadamente 30 feridos não se sabe a gravidade e vários mortos -COS definiu um Ponto de Trânsito (PT) que evitou a entrada livre e desordenada de meios e recursos na zona de intervenção. -Criada zona de assistência em função do número e gravidade das vítimas, organizada com material e equipamento das equipas pré-hospitalares (EPH) presentes. -Comunicação horizontal cara a cara e vertical assegurada pela Responsável Médica com CODU (rádio SIRESP).

- Responsável Médica estabeleceu contacto com Comandante das Operações de Socorro (COS) - Comandante dos Bombeiros de Albufeira, para avaliar magnitude do problema e pedir meios de socorro necessários ao CODU para ponto situação inicial (POSIT) e aceitou a organização do cenário do COS e suas prioridades: Zona de Salvamento (zona insegura) da responsabilidade do Grupo de Socorro e Salvamento e Zona de apoio (zona segura) onde criou áreas funcionais para o Grupo de Saúde e Evacuação Secundária: zona de concentração de ilesos e caminhantes verdes; zona de assistência para vítimas triadas de vermelho e amarelo

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Resposta Em Situações De Catástrofes Acidente de Autocarro na Via do Infante A22, Junho de 2015

-Distribuição dos operacionais que vão chegando ao TO conforme a sua diferenciação e respetivos equipamentos para diferentes funções: triagem, evacuação primária, zona de assistência, evacuação secundária, etc., (todos os intervenientes sabiam antes o fluxo único de movimento das vítimas).

-Na zona de concentração dos ilesos e vítimas P3 encontrava-se inicialmente um agente de autoridade e à posterior todos foram reavaliados, encaminhados e acompanhados para o SUB Albufeira e SUB Loulé. -COS e Responsável Médica definiram provável localização do PMA e o local de aterragem do Helicóptero com colaboração das forças de segurança e mantêm controlo da operação.

zona de assistência. Início de resgate e assistência23h20m.

Coordenadas geográficas: LAT 37ºo8’2031”N LONG 08º14´6205”W

-Efetuado o registo da contagem dos feridos e respetiva prioridade num documento próprio e informado aos responsáveis pela operação para efetuar um POSIT mais aprofundado e pedido mais objetivo dos meios necessários.

-É de salientar que Responsável Médica apesar de concordar com a organização do cenário pelo COS, utilizou o Modelo “The Virginia 5´S”, que reforçou essas medidas organizativas.

Triagem -Realizada em condições de segurança, por operacionais com experiência, triagem primaria método START adulto, rápida, a todas vitimas na zona de salvamento, fora e dentro do autocarro, para classificar segundo a necessidade de tratamento médico e de ser evacuado para zona de assistência. Foi necessário um controlo emocional para fazer o melhor que sabemos. -Vitimas triadas foram assistidas com manobras salvadoras, imobilizadas e resgatas por ordem de prioridade (evacuação primaria das vitimas P1 e só depois vitimas P2) por equipas de bombeiros para

Assistência Realizadas manobras de suporte básico e avançado de vida pelas equipas pré-hospitalares na zona de assistência. Aplicação de cuidados diferenciados prioritariamente às vitimas triadas de vermelho. -Profissionais do INEM montam Posto Médico Avançado; e o dispositivo envolveu VIC (Veiculo Intervenção em Catástrofe) e UMIPE (Unidade móvel de Intervenção Psicológica de Emergência) -Integração do Oficial de ligação do INEM no Posto Comando Operacional. -As vitimas mortais foram as ultimas a serem resgatadas pelos Bombeiros.

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Resposta Em Situações De Catástrofes Acidente Multivitímas na Via do Infante A22, em 2015

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Estabilização

Análise

Medidas dirigidas para preparar vítimas para transporte.

- O sentido do fluxo das vítimas na cadeia de assistência foi único e respeitado por todos os intervenientes (triagem, nora de evacuação primaria, zona de assistência/PMA, nora de evacuação secundaria)

Transporte/evacuação secundária Transporte de 3 vítimas com prioridade Vermelho preparadas, com pessoal qualificado (ambulância SIV Loulé; VMER FARO; Heli 1 de Lisboa) para tratamentos definitivos. Houve uma boa articulação entre o INEM e o CHAlgarve e o Hospital S. José em Lisboa. -Registo de todas as vítimas categorizadas, incluídos os P3, com quem foram até as unidades de saúde de destino. Ultima vítima a ser evacuada-02h15m. Estavam 33 passageiros de nacionalidade Holandesa e o motorista de nacionalidade Portuguesa. Balanço final: 28 feridos leves; 3 feridos graves; 3 mortos .

NEWSLETTER DAS VMER DE FARO E ALBUFEIRA

- As ações de gestão inicial prevaleceram em detrimento das ações de prestação de cuidados de emergência imediatos:

Não foi solicitada a equipa VMER Albufeira para estar presente num Debriefing inicial.

“O sucesso de qualquer operação depende da sua capacidade de organização”.

Quero com este estudo de caso prestar as minhas sinceras homenagens em nome da minha EPH, a Dr.ª Carla Pinto.

João Cláudio Guiomar ENFERMEIRO VMER

joao.guiomar@chalgarve.min-saude.pt

Editores Christian D. Chauvin Médico VMER Rui Osório

Médico VMER

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Resposta Em Situações De Catástrofes Lições Aprendidas. Atentado de Atocha, Madrid

A Brigada de Abu Hafs Al Masri, vinculada à Al Qaeda, em carta enviada ao diário árabe Al-Quds-al Arabi, editado em Londres, atribuía-se o massacre. "… é parte de um velho ajuste de contas com Espanha, o cruzado e aliado dos Estados Unidos na sua guerra contra o Islão”, e aludia ao, então, presidente do Governo: "Aznar, onde está a América, quem te protegerá de nós? O Reino Unido, Japão, Itália e os demais?

Magnitude da tragédia:

13 bombas, 10 explosões em 4 pontos diferentes e distantes da rede ferroviária, 191 mortos, 2062 feridos transferidos para hospitais Estas são alguns indicadores da maior tragédia que o Sistema Sanitário de Madrid teve que enfrentar, sem precedentes em Espanha como no resto da Europa.

Ante estes factos, a colaboração de todos e a rápida colocação em marcha do dispositivo sanitário produziu um resultado surpreendente: O SUMMA 112, nos seus primeiros registos, contabilizou assistência directa a 593 feridos, e colaborou na selecção e estabilização inicial de outros muitos.

Dos feridos socorridos, 21 encontravam-se em estado crítico e foram transportados de imediato pelas unidades móveis de emergência. Outros 200 feridos foram evacuados em ambulâncias. Os médicos, enfermeiros e técnicos dos veículos de intervenção rápida realizaram 64 socorros e os médicos de outras unidades móveis 118. 250 vítimas foram socorridas em diferentes pontos da catástrofe e não chegaram a ser transferidas.

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Resposta Em Situações De Catástrofes Lições Aprendidas. Atentado de Atocha, Madrid

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O que Falhou: Interrupção das comunicações. Os inibidores de frequência GSM anularam o uso dos telemóveis. As comunicações executaram-se através de radioemissores. Inicialmente correu bem, mas rapidamente o canal padrão ficou saturado sem que os restantes 9 canais fossem utilizados. A distribuição dos canais não estava omissa no plano de actuação em catástrofe e não foi alvo de intervenção.

O PLATERCAM (plano de emergência em catástrofe) não especificava como deviam actuar conjuntamente os diferentes recursos sanitários de Madrid, nem quem é o responsável encarregado de coordenar os diferentes meios, sendo a sua leitura aberta a várias interpretações.

O plano de emergência não especificava os papéis que os directores dos serviços de urgência deviam adoptar, nomeadamente, no que respeita ao aprovisionamento, logística e inter-relação entre as diferentes estruturas. Assim como não continha protocolos de actuação em conjunto Pelo que houve uma clara falha na inter-atuação e inter-relação das várias equipas que ocorreram ao local. Salienta-se que não foi delimitada a zona do incidente e não foram evacuados os feridos da zona perigosa. Levantando novamente três questões clássicas: Coloca-se a prioridade na evacuação ou no tratamento? Qual o risco a que os efectivos se podem sujeitar, é aceitável perder efectivos? Onde deve estar o Posto de Comando e Controlo? Falhou também a atribuição de prioridades. Não havia cartões de triagem, o SUMMA 112 não os dispunha e o SAMUR-PC, tinha-os adquirido, mas não se encontravam em nenhum dispositivo utilizado.

O Centro de Comando tinha funções atribuídas de forma mal clarificada e deficitária.

A distribuição de sinistrados pelos diferente serviços hospitalares também não foi alvo de coordenação e controlo. Dos 14 Hospitais existentes na área metropolitana de Madrid, um, o Hospital Gregorio Marañón assumiu quase metade dos doentes críticos.

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CASO CLÍNICO

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Resposta Em Situações De Catástrofes Lições Aprendidas. Atentado de Atocha, Madrid

Bibliografia Álvarez-Leiva C, Chuliá V, Hernando A. Manual de asistencia sanitaria en las catástrofes. Madrid: Arán;2008. Arcos González P, Castro Delgado R, Martínez Monzón C. Instituto de Salud Carlos III. Terrorismo y salud pública: gestión sanitaria de atentados terroristas por bomba. Madrid: Rumagraf SA;2007. Capítulo 14, Atentados terroristas y centros sanitarios. P.179-85. Álvarez-Leiva C, Macías-Seda J. Triage: generalidades. Puesta al día en Urgencias, Emergencias y Catástrofes. 2001;2(3):125-33. Guadarrama LJ. Triage: el método START. Disponible en: http://bomberos-seguridad.com/Newsfile-article-sid-2257.html. Castro Delgado R, Martínez Monzón C, Cuartas Álvarez T. Instituto de Salud Carlos III. Terrorismo y salud pública: gestión sanitaria de atentados terroristas por bomba. Madrid: Rumagraf SA;2007. Capítulo 10, Soporte vital avanzado prehospitalario a víctimas de explosión. P.119-34.

Médico-Quirúrgicas. Med Clin (Barc). 2005 Mar 01;124(Supl 1):13-5. Martí M, Parrón M, Baudraxier F, Royo A, Gómez León N, Álvarez-Sala R. Blast injuries from Madrid terrorist bombing attacks on March 11, 2004. Emerg Radiol. 2006;13(3):113-22.

Turégano Fuentes F. Instituto de Salud Carlos III. Terrorismo y salud pública: gestión sanitaria de atentados terroristas por bomba. Madrid: Rumagraf SA;2007. Capítulo 11, Manejo hospitalario de las lesiones por onda expansiva. P.135-44. Miquel A. En la tragedia terrorista del 11-M en Madrid. Rev Clin Esp. 2011;211:158-62. Holden PJP. Improvising in an emergency. N Engl J Med. 2005;353:541-3. Redhead J, Ward P, Batrick N. Prehospital and hospital care. N Engl J Med. 2005;353:546-7. Ryan J, Montgomery H. Terrorist and medical response. N Engl J Med. 2005;353:543-5.

De Paula Rodríguez Perera F. Actuación del Hospital Universitario Gregorio Marañón en los atentados del 11 de marzo. Departamento de -Urgencias

Eva Motero MÉDICA VMER

torri37@hotmail.com

Editores Christian D. Chauvin Médico VMER Rui Osório Médico VMER

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LOGÍSTICA EM INCIDENTES DE GRANDES DIMEN A importância do planeamento

O termo logística é definido pelo Council of Supply Chain Management Profess (Conselho de Profissionais de Gestão da Cadeia de Suprimentos) como:

“O processo de planear, executar e controlar procedimentos p

eficientes e eficazes de mercadorias, incluindo serviços e informações r

até o ponto de consumo com o intuito de atender os requisitos dos clie

Devido ao acelerado crescimento populacional aliado às mudanças climáticas, a degradação ambiental e a crescente urbanização, tem-se vindo a presenciar, um aumento exponencial de desastres naturais, expondo a população a um maior risco. (Figura 1) Dados do Banco de Dados de Desas-

tres Internacionais (EM-DAT), mantido pela WHO (World Health Organization- Organização Mundial de Saúde), revelam que, nos últimos 20 anos, mais de 7 mil desastres naturais causaram 1,35 milhões de mortes.

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NSÕES

sionals

para o transporte e armazenamento

relacionadas, do ponto de origem

entes.”

Figura1. Número de mortes por tipo de desastre, 1996-2015 Poverty and Death:Disaster Mortality 1996-2015 (Pobreza e Morte: Mortalidade em Desastres 1996-2015, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo a WHO, um desastre pode ser definido como qualquer ocorrência que cause danos, perturbações ecológicas, perda de vidas humanas ou deterioração da saúde e serviços de saúde numa escala suficiente para justificar uma resposta extraordinária. Os desastres em larga escala em todo o mundo demonstram que ninguém, nem nenhum país estão imunes à ameaça das calamidades naturais (WHO, 1999). Assim sendo, e numa tentativa de minimizar as consequências desastrosas deste tipo de situações, é vital que haja uma crescente preparação para este tipo de ocorrências, minimizando erros e agilizando a atuação das equipas destacadas para o teatro de operações. É de extrema importância a preparação antecipada, realizando um planeamento dos recursos, preparando as equipas para situações excecionais e inesperadas que a qualquer momento podem surgir. Segundo Van Wassenhove (2006, p.476) “A logística é a parte (relativamente a desastres) que pode significar a diferença entre uma operação bem sucedida ou falhada.” Os desafios logísticos enfrentados, numa situação de emergência são complexos, desempenhando a logística um papel preponderante nas manobras de auxilio e suporte às equipas de socorro. É de salientar que as condições em que as equipas trabalham após um desastre são, na sua maioria, caóticas. Assim, a organização da logística dentro destas circuns-

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HOT TOPIC tâncias adversas tem sido uma questão relevante, alvo de estudo (Citado por Bastos s.d.). Uma logística eficaz, rápida, ágil e flexível, consegue reduzir o impacto destas catástrofes tendo como resultado final, vidas salvas (Citado por Silva 2011). O foco do processo logístico vai além da assistência direta à população atingida, passando pelo planeamento antes da ocorrência, apoio e assistência durante o sucedido e a posterior reestruturação (Zago, 2013). Em 1988, o Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CRED) lançou a Base de Dados de Eventos de Emergência (EM-DAT), permitindo, através da referida base de dados, racionalizar a tomada de decisões na preparação para eventuais desastres, assim como a existência de documentos que sustentem a avaliação de vulnerabilidades e a definição de prioridades.

Diferentes tipos de catástrofe precisam de ser geridas de diferentes maneiras, daí que a necessidade da elaboração de guias de intervenção para diferentes tipos de ocorrências, seja de extrema importância, já que agiliza a intervenção das equipas de socorro e simplifica a operação logística a desenvolver no teatro de operações. Esses guias são a base do conhecimento logístico aplicado, além de que estabelece objetivos gerais. É necessário estabelecer hierarquias, de forma a otimizar a coordenação das ações no apoio logístico, sendo necessário definir prioridades quanto às ações a desenvolver. Uma maior eficiência e eficácia no desempenho da força do trabalho pode ser alcançado através da aplicação de duas regras de ouro: simplificação e delegação.

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outro, as responsabilidades da logística passam por: planeamento, o suprimento, o transporte, o armazenamento, a gestão ao nível dos recursos humanos, das comunicações, monitorização e deslocação dos materiais e pessoas, do pessoal médico (recursos humanos, hospital de campanha, banco de sangue, morgue, instalações sanitárias e transporte de doentes), stock de fármacos, abastecimento de água potável, controlo de epidemias, eliminação de resíduos humanos, da gestão e distribuição de alimentos, roupas e produtos de higiene pessoal, assim como construção de abrigos e alojamentos temporários. (citado por Agostinho, 2014). É de referir que o modus operandi das forças no terreno, é condicionado pelo tipo de emergência associado às condições geográficas, climatéricas, socioeconómicas, e infraestruturas existentes na área afetada. Como já referido anteriormente, e reforçando a sua importância, as operações em situações de catástrofe, são realizadas em ambientes caóticos, daí a necessidade da criação de uma cultura efetiva e a formalização de planos de atuação, de forma a difundir conceitos que, em todas as situações, possam ser implementados, incentivando as melhores práticas, caminhando unidos na direção adequada, obtendo sempre os melhores resultados possíveis, e sem que as condições excecionais deste tipo de eventos, possam comprometer o resultado esperado. Sem o envolvimento e o compromisso, a preparação para emergências torna-se fragmentada, ineficiente e mal coordenada (WHO, 1999).

Não obstante de cada desastre ser diferente de qualquer

Vasco Monteiro Vasco.monteiro@inem.pt Marlene Martins Freitas Pereira marlene.pereira@inem.pt

Bibliografia: Agostinho, A. (2014). A Importância da Logística nas Emergências Humanitárias, ISCTE Business School Instituto Universitário de Lisboa, Dissertação de Mestrado em Gestão de Serviços de Saúde. Bastos, M., Costa, S., Campos, V., Bandeira, R., (s.d.). Um Modelo de Suporte à Atuação Logística em Desastres Naturais, Instituto Militar de Engenharia Departamento de Engenharia de Transportes. Cozzolino, A., (2012). Humanitarian Logistics and Supply Chain Management. Humanitarian Logistics, SpringerBriefs in Business DOI:10.1007/978-3642-30186-5_2 EM-DAT: The OFDA/CRED International Desaster Database. Disponível em http://www.emdat.be. Acedido a 06 de Julho de 2017. Silva, L. (2011). Gestão da Logística Humanitária: proposta de um Referencial Teórico. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, Mestrado em Administração. Van Wassennhove, N. (2006). Blackett memorial lecture. Humanitarian aid logistics: Supply chain in higt gear. Journal of the Operational Society, 57(5). World Health Organization (1999). Community emergency preparedness: a manual for managers and policy-makers. WHO: Geneva. Zago, C., Leandro, L. (2013) Logística Humanitária: Oportunidades e Desafios na Perspetiva da Gestão Ambiental. IV Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, Salvador/Bahia.

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Estatística das “ocorrências multivítimas” Empiricamente, temos a noção de que as ocorrências multivítimas não são frequentes, mas são sem duvida das situações mais exigentes que enfrentamos no dia-à-dia. O trabalho em equipa, a gestão do cenário e a articulação entre as várias entidades são preponderantes para o sucesso.

“E nós por cá…?” Nesta edição da newsletter propusemo-nos efetuar a revisão estatística das ocorrências multivítimas da VMER de Faro e Albufeira, num período compreendido entre 1 de novembro de 2015 e 31 de maio de 2017. Faram avaliadas todas as ocorrências com 3 ou mais vitimas e excluiu-se a situação de parto gemelar.

Qual será a percentagem das ativações para situação multivítimas ? Neste período, de 1 de novembro de 2015 e 31 de maio de 2017, a VMER de Faro teve 2939 ativações das quais 20 foram para ocorrências multivítimas, correspondendo a 0,7% das ocorrências. Por sua vez a VMER – Albufeira, num universo de 1908 ativações, apresentou 24 ocorrências multivítimas correspondendo a 1,3% das ocorrências.

Qual será a causa mais comum das situações multivítimas ? Verificámos que ambas as VMER têm como causa exclusiva neste contexto o “Trauma”, correspondendo a 100% das situações. Na VMER de Faro em 95% das ocorrências a causa foi acidente de viação e 5% submersão. Na VMER de Albufeira a causa mais frequente foi o acidente de viação (96%) e em apenas 4% a causa foi submersão.

Qual o número de vítimas assistidas nas ocorrências multivítimas ? Segundo os gráficos apresentados podemos concluir que o número de vitimas mais comuns neste tipo de ocorrências corresponde a “3 vítimas” correspondendo a 50% para a VMER de Faro e a 72% para VMER de Albufeira.

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Estatística das “ocorrências multivítimas” Quando houve necessidade de acompanhamento? Podemos então verificar, que 65% das ocorrências multivitimas da VMER-Faro vão com acompanhamento médico para a unidade Hospitalar, enquanto a VMER Albufeira 36% vão com acompanhamento médico.

Qual o mês com mais ocorrências multivitimas? Segundo os gráficos apresentados, podemos verificar que o mês com mais ocorrências multivítimas para a VMER de Faro é janeiro de 2017 com 3 ocorrências. Enquanto que a VMER de Albufeira é julho de 2016 com 8 ocorrências multivítimas.

“Assim, nós por cá…!” 

As ocorrências multivítimas têm uma baixa incidência para as VMER de Faro e Albufeira representando respetivamente 0,7% e 1,3% do total de ocorrências.

A principal causa de ocorrências multivítimas para ambas VMER é Trauma com 100%. Sendo que, a principal etiologia é acidente de viação com 95% para VMER de Faro e 96% para a VMER de Albufeira.

O número mais frequente de vitimas é 3, correspondendo a 50% dos casos para a VMER de Faro e 72% para Albufeira.

Existiu acompanhamento médico para as unidades de saúde em 65% das ocorrências multivítimas da VMER de Faro e 36% das ocorrências da VMER de Albufeira .

André Abílo Rodrigues ENFERMEIRO VMER

andre.abilio44@gmail.om

O mês com mais ocorrências multivítimas para a VMER de Faro foi janeiro de 2017 com 3 ocorrências, enquanto que para a VMER de Albufeira foi julho de 2016, com 8 ocorrências multivítimas.

Solange Mega ENFERMEIRA VMER

solangemega@hotmail.com

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As Etiquetas de Triagem

Introdução A Triagem é um sistema utilizado por pessoal médico e de emergência para racionalizar recursos médicos limitados quando o número de vi ́timas a necessitar de apoio excede os recursos disponi ́veis para as tratar. No caso de casualidades com multivitimas com diferentes necessidades de apoio médico, é imperativo que a equipa diferenciada no local tenha um método rápido, fácil e confiável de acesso às vítimas e que as permita triar apropriadamente, com base na gravidade das suas lesões. A palavra triagem advém da palavra francesa trier, que significa escolher, classicar, selecionar. Imagem 1: Etiquetas de triage usadas nas cargas de VMER

A triagem tem como objetivos principais:         

Assistência precoce; Aplicação de manobras “life-saving”; Determinar o ni ́vel de urgência; Implementar utilização criteriosa de recursos cri ́ticos; Documentar as vi ́timas; Controlar o fluxo de vi ́timas; Determinar áreas de cuidados / vigilância; Distribuir os profissionais por áreas de assistência; Iniciar medidas terapêuticas.

́  Prioridade 1 (cor vermelho) : Vitima emergente (São as vítimas que apresentam sinais e sintomas que demonstram um estado crítico e necessitam tratamento e transporte imediato.);  Prioridade 2 (cor amarelo): Vitima grave (São as vítimas que apresentam sinais e sintomas que permitem adiar a atenção e podem aguardar pelo transporte.);  Prioridade 3 (cor verde): Vitima não grave (São as vítimas que apresentam lesões menores ou sinais e sintomas que não requerem atenção imediata.);  Morto (cor preta).

Triagem Primária Nesta etapa pretende-se triar de forma mais rápida um grande número de vi ́timas. Após a observação inicial por parte do pessoal médico ou de enfermagem, cada vitíma deverá ser etiquetada com um dispositivo designado por etiqueta de triagem. Este método identifica a prioridade da vitima em relação ao tratamento médico e à evacuação do local do acidente. Baseia-se no método “Simple Triage And Rapid Treatment” (START). Para realizar esta Triagem são usados discriminadores muito simples: • Vi ́tima anda? Ferida? • Respira? Frequê ncia respiratória (FR)? • Frequê nciacardi ́aca (FC)? Com base nesses discriminadores (Imagem 1) é possi ́vel realizar uma divisão grosseira das vi ́timas em quatro categorias:

O fluxograma de triagem primária está desenhado para permitir não só a imposição da ordem, mas também para assegurar que, perante um grande número de vi ́timas, a triagem é feita de uma forma célere. Para crianças o fluxograma assume um carácter particular fazendo o enquadramento de acordo com o tamanho (em centímetros) e/ou peso (em kg), devido a óbvias diferenças fisiológicas (ex. valores normais de FR e FC): • Crianças de tamanho compreendido entre [100, 140]cm ou com peso estimado de [19, 32]Kg; • Crianças de tamanho compreendido entre [80, 100] cm ou com peso estimado de [11, 18]Kg; Crianças de tamanho compreendido entre [50, 80] cm ou com peso estimado de [3, 10]Kg. Fórmula para cálculo do peso estimado de uma criança (>1 ano): PESO (Kg) = 8 + (2 x Idade em Anos)

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Utilização da Capnografia no ambiente pré-hospitalar

Evacuação das vitimas por ordem de prioridade: 1º Etiquetas vermelhas 2º Etiquetas amarelas 3º Etiquetas verdes 4º Etiquetas pretas

Tipos de Etiquetas: As etiquetas de triagem apresentam-se em múltiplas variedades. Alguns países usam um padrão nacional único para as etiquetas, enquanto noutros são usadas etiquetas comerciais, variando o modelo em cada jurisdição. Os mais usados incluem o METTAG, o SMARTTAG, o E/T LIGHT e o CRUCIFORM. Na VMER de Faro, é utilizado o modelo comercial SMART TAG (Imagem 2). O método de etiquetagem permite uma triagem eficaz, ou seja, rápida e simples, permitindo a priorização rapidamente e sem perda de informação. Isabel Rodrigues Médica VMER

Isabel.v.rodrigues@hotmail.com Imagem 2: Etiquetas de Triagem SMART TAG; (TSG Associates - http://www.smartmci.com/products/triage/ smart_tag.php

Bibliografia: 1) Desastre com Multivitimas - Albino Gomes

4) Nocera A, (2000). «Australian disaster triage: a colour maze in the To-

2) Situação de Exceção - Manual TAS - INEM. Miguel soares de oliveira, Presidente do Conselho Diretivo do INEM Dr. Lui ́s meira, INEM

wer of Babel» (PDF). Australian Journal of Emergency Management: 35–40 5) «METTAG Corporate website». Consultado em 5 de dezembro de 2008

(Departamento de Formaçã o em Emergência Médica), Médico

6) «Smart Triage Tag, (TSG Associates Corporate website». Consultado em

(Anestesiologia). Miguel Valente, INEM (Departamento de Formação em

5 de dezembro de 2008

Emergê ncia Médica), Enfermeiro. Rodrigo catarino, INEM (Departamento de Formação em Emergê ncia Médica), Enfermeiro. Sónia cunha, INEM (Delegaçã o Regional do Norte), Psicóloga. Bruno Brito, Psicól ogo. Bruno

7) Beidel, Eric (December 2010). «Military Medics, First Responders Guided By Simple Light». nationaldefensemagazine.org Verifique data em: |data= (ajuda)

Borges, INEM (Departamento de Emergância Médica), Coordenador de eventos de risco. Lui ́s Ladeira, INEM (Delegação Regional do Sul), Enfer-

8) Lakha, Raj; Tony Moore (2006). Tolley's handbook of disaster and emer-

meiro;

gency management. Amsterdam: Elsevier. ISBN 0-7506-6990-X

3) CHEMM Guidelines - U.S. Department of Health and Human Services

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JumpSTART: Triagem primária em pediatria em situação de exceção cas específicas, a triagem a efectuar, apesar de se basear nos mesmos critéOs desastres de massas também deno- rios, deve sempre ter em conta essas minados acidentes de massas ou gran- especificidades. des catástrofes configuram em qualquer Nesse sentido, este artigo tem como país situações de exceção que obrigam à objetivo demonstrar a importância da aplicação de planos de emergência. utilização de uma ferramenta de triagem A equipa de emergência médica é, por adequada à população pediátrica, bem excelência, a resposta inicial a este tipo como, apresentar o JumpSTART enquande situações, deparando-se com cenários to ferramenta já amplamente adoptada pouco organizados e, em simultâneo, para a triagem primária de vítimas em com a urgência de uma triagem célere idade pediátrica envolvidas em situações do que é prioritário. de exceção nos EUA e Canadá começando a ser reconhecido em todo o mundo. Seja qual for o cenário, emerge a necessidade de haver treino e sistematização Palavras-chave: Emergência, Algoritmo, na resposta, que se pretende eficaz. Triagem, Pediatria, Situação de Exceção, Perante vítimas em idade pediátrica, JumpSTART. com particularidades anatomofisiológi-

Resumo:

Introdução Conceitos como o de catástrofe, desastre, acidente grave apesar de estarem bem definidos são frequentemente utilizados na descrição de um acontecimento inesperado habitualmente envolvendo multivítimas. Todos estes conceitos descrevem situações que possuem como ponto comum a noção de desequilíbrio inicial, entre o número de vítimas e a capacidade de resposta das equipas de saúde, sendo assim denominadas/ encaradas como situações de exceção (INEM, 2012). O desequilíbrio verificado nestas situações contribuiu para a procura de uma forma de actuação, que não descurando o que é essencial, seja rápida, promovendo a avaliação do maior número de vítimas no menor tempo possível. Tal como referiu Aristóteles “é provável que algo de improvável um dia possa vir a acontecer”, Assim, embora previsível, a catástrofe surge com data imprevisível, de forma brutal provocando choque social, psicológico e emocional em toda a comunidade, pelo que se torna evidente

a necessidade de aumentar a formação, planificação e treino das equipas de emergência, em modelos de actuação que permitam oferecer respostas eficazes com os recursos disponíveis, de modo a evitar-se o caos. Nestas situações a necessidade de triar, ou seja, de seleccionar o que é emergente, urgente ou não urgente impõe-se, e dispor de um modelo de atuação que seja rápido e objetivo é a chave para uma resposta de saúde eficaz. Neste sentido, este artigo pretende abordar o modelo JumpSTART enquanto ferramenta ideal e adequada na triagem primária de multivítimas em idade pediátrica, evidenciando as vantagens do uso do mesmo em relação ao que é utilizado actualmente – “Simple Triage And Rapid Treatment” (START). Inicia-se por uma abordagem teórica ao conceito de triagem e de situação de excepção, centrando-se essencialmente na descrição do modelo JumpSTART, sua pertinência, metas e vantagens da sua utilização na faixa etária pediátrica, em contraposição com o modelo START,

actualmente utilizado para qualquer faixa etária.

Triagem em situações de exceção Apesar de não haver ainda enquadramento legal para o conceito de situação de exceção, sabe-se que é possível que nos deparemos com uma, sempre que “de forma pontual ou sustentada se verifique um desequilíbrio entre as necessidades verificadas e os recursos disponíveis” (INEM, 2012). As equipas de emergência médica préhospitalar são os primeiros elos a entrar numa cadeia de profissionais de saúde que pretende avaliar, tratar, encaminhar o mais precocemente possível, as vítimas que existirem. Assim, são estas equipas que executam a primeira avaliação quer da dimensão da situação, quer de cada vítima, deparando-se muitas vezes com a necessidade de um bom plano de actuação, treinado por todos e que permita responder às necessidades das vítimas, atempada e eficazmente, no menor tempo possível e recorrendo ao menor número de recursos. PÁGINA

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JumpSTART: Triagem primária em pediatria em situação de exceção A triagem define-se então como a avalia- cia ção inicial, o primeiro passo num processo de análise e discriminação clínica (MOREIRA, 2010), que se for efectuado de forma objectiva e rigorosa permite salvar o maior número de vidas possível e assegurar a melhor assistência precoce, através da determinação do nível de urgência de cada vítima e sempre de acordo com os recursos disponíveis (INEM, 2012). A triagem permite ainda a documentação das vítimas e o controlo de fluxo das mesmas, bem como determinar as áreas de cuidados mais necessários para que possa haver uma distribuição de profissionais de acordo com as necessidades identificadas. Desta forma, entende-se a triagem como um passo fundamental na actuação em caso de emergência, pois é o início de um processo que, se bem orientado, Fig 1 – Fluxograma de triagem primária no adulto permitirá chegar aos melhores resulta(Fonte: INEM, 2012) dos possíveis, traduzidos em ganhos em saúde. Respiratória (FR)? Frequência Cardíaca No que diz respeito à triagem primária Em Portugal, a triagem primária em situ- (FC)?. Com base nestes discriminadores, de vítimas pediátricas, o algoritmo utiliações de exceção baseia-se no método a aplicação do algoritmo permite realizar zado varia de acordo com o tamanho START cujo algoritmo se baseia em dis- uma divisão grosseira das vítimas em (em centímetros) e/ou peso (em Kg) da criminadores muito simples tais como: quatro categorias como se pode verificar vítima a triar, procurando assim atender às suas diferenças anatómicas e fisiológiVítima anda? Ferida? Respira? Frequên- através do seu fluxograma.

Crianças de tamanho compreendido entre 100-140cm ou com peso estimado de 19-32Kg

Crianças de tamanho compreendido entre 80-100cm ou com peso estimado de 11-18 Kg

Crianças de tamanho compreendido entre 50-80cm ou com peso estimado de 3-10Kg

Tabela 1 – Fluxogramas de triagem primária na criança (Fonte:INEM,2012) PÁGINA

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JumpSTART: Triagem primária em pediatria em situação de exceção cas (ex. valores normais de FR e FC). Neste sentido poder-se-á utilizar um dos seguintes três algoritmos traduzidos pelos respectivos fluxogramas. Apesar de existirem estes três algoritmos direccionados a vítimas pediátricas, a literatura revela que ainda apresentam algumas limitações no que concerne a algumas especificidades e que são consideradas de extrema importância, são elas: Apneia – A causa primária de paragem cardio-respiratória na criança é habitualmente de origem respiratória. A apneia poderá ser intermitente e resolvida após a permeabilização da via aéra e/ou após a execução de uma breve ventilação; Avaliação do tempo de preenchimento capilar – Em ambientes frios poderá estar comprometido; Avaliação do estado de consciência – A avaliação deverá atender ás competências esperadas para a idade. Ex: Resposta a ordens simples. Para além destas limitações, em situação de multivítimas torna-se imperioso realizar uma avaliação célere de todas as vítimas pelo que o cálculo do tamanho e peso da criança para o uso do algoritmo adequado poderá atrasar o processo de triagem. Neste sentido, surgiu a necessidade de desenvolver uma ferramenta de triagem específica e adequada à população em idade pediátrica.

JUMPSTART O JumpSTART Pediatric MCI (Mass Casualty Insident) Triage Tool, denominado mais frequentemente apenas como JumpSTART, foi a primeira ferramenta desenvolvida no mundo, especificamente para a triagem de crianças em situações de desastre por diversas causas. Desenvolvida por Dr. Lou Romig em 1995, em paralelo à estrutura do sistema de START, a ferramenta de triagem mais utilizada no adulto nos Estados Unidos e adoptada em muitos países ao redor do mundo, o JumpSTART surge da necessi-

Fig. 2 – Fluxograma JumpSTART (Fonte: CHEMM)

dade de numa situação de emergência/ desastre em massa, triar fidedignamente vítimas em idade pediátrica atendendo e respeitando as suas diferenças anatomofisiológicas.

a assemelhar-se às de um jovem adulto, podendo passar a utilizar-se o sistema Start (Simple Triage and Rapid Treatment), versão adulto. Contudo, numa situação de emergência, a idade da criança pode ser difícil de determinar, pelo Possui como principais metas: que a recomendação do próprio modelo - Diminuir o risco de uma triagem sobrede triagem é usar o algoritmo valorizada ou subvalorizada; JumpSTART em vítimas que aparentem Reduzir o impacto emocional associado à ser crianças e utilizar o START em vítimas triagem de uma vítima em idade pediáque aparentem ser jovens adultos, não trica; havendo prejuízo para nenhuma das - Optimizar o processo de triagem trapartes. zendo benefícios para todas as vítimas, uma vez que este algoritmo permite Crianças com idade inferior a 1 ano é completar a triagem da maioria das víti- pouco provável que já deambulem, no mas em 15”/vítima. entanto pode ser aplicado o algoritmo JumpSTART categorizando-os como Graves (Amarelo) se cumprirem com todos CRITÉRIOS DE UTILIZAÇÃO os restantes critérios desta categoria e Prevê-se a utilização do algoritmo como Não Grave (Verde) se não apresenJumpSTART na triagem de vítimas pediátarem feridas externas significativas tricas até aos 8 anos de idade, altura em (Romig, 2002). que os autores defendem que as características anatomofisiológicas começam Analisando os modelos START e PÁGINA

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RUBRICA PEDIÁTRICA RUBRICA PEDIÁTRICA

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JumpSTART: Triagem primária em pediatria em situação de exceção JumpSTART é possível identificar que são bastante semelhantes uma vez que foram desenvolvidos em paralelo e possuem a mesma abordagem, sendo que as suas diferenças se baseiam essencialmente em quatro aspectos como se pode verificar no seguinte quadro: Apesar das vantagens deste modelo serem claras e ser percetível que foi realizado um esforço para que este desse resposta a limitações encontradas, noutras ferramentas de triagem, estão também descritas algumas desvantagens tais como: 

A existência de passos extra na avaliação de crianças em apneia poderá prolongar o processo de triagem;

Semelhanças .Mesma abordagem; .É alcançada imediatamente uma categoria

Não obstante alguns constrangimentos, o algoritmo Jumpstart parece ser o mais indicado na triagem primária de vítimas em idade pediátrica, pelo que se deve considerar a sua utilização. Cabe ressalvar que, o algoritmo a utilizar consiste apenas e só numa ordenação de procedimentos que visa responder a critérios objectivos. A educação e o treino dos profissionais são dois marcos essenciais para garantir a adequada operacionalização desses procedimentos. Para assegurar uma resposta operacional eficaz é fundamental que as equipas treinem continuamente, isoladamente e em conjunto, que testem com frequência a eficácia do mesmo, simulando situações reais de modo a corrigir inadequações e reforçar o que é adequado

ta após a permeabilização da via aérea, verifica-se ainda a existência de pulso. Se este estiver presente

.Todas as vítimas que deambulam

realizam-se 5 ventilações;

são encaminhadas para uma triagem secundária;

.Os valores da FR ajustados (< 15 e > 45 cr/min);

.São categorizados como Graves as vítimas que possuam uma Frequência Respiratória adequada, pulso

presente e um estado de consciên-

.Substituição da avaliação do tempo de preenchimento capilar pela avaliação do pulso radial;

cia que não comprometa as vias

.Utilização da escala AVPU para

aéreas.

avaliação do estado de consciência.

As manobras de ventilação constituírem um risco de contaminação cruzada entre vítimas; CONCLUSÃO

Diferenças .Se vítima em apneia e sem respos-

Fig. 3 – Semelhanças e diferenças dos Modelos START e JumpSTART

Referências Bibliográficas CHEMICAL HAZARDS EMERGENCY MEDICAL MANAGEMENT (CHEMM) – Triage guidelines – JumpSTART Pediatric Triage Algorithm. [Em linha] [Consult. 12 de Junho de 2017]. Disponível em WWW:<URL: https://chemm.nlm.nih.gov/startpediatric.htm>. INEM (2012) – Situação de Exceção- Manual TAS.1ª edição. MOREIRA, Cátia T. P. (2010) - Avaliação de uma implementação do Sistema de Triagem de Manchester: Que realidade? Mestrado de Informática Médica, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto. ROMIG, Lou E; FAAP; FACEP – JumpSTART Pediatric MCI Triage. [Em linha] [Consult. 12 de Junho de 2017]. Disponível em WWW:<URL: http://www.jumpstarttriage.com/ Home_Page.php>.

Autoras Cláudia Leitão Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria estrinuke@hotmail.com

Susana Vicente Editor Nuno Ribeiro ENFERMEIRO VMER

Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria susanacvicente@netcabo.pt

nuno.ucinp@gmail.com

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CUIDAR DE NÓS

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Intervenção psicológica em situações multivítimas de carácter tático

Para nos falar de "Intervenção psicológica em situações multivitimas de carácter tático" pedimos o contributo do Dr. Márcio , do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM . O CAPIC foi criado pelo INEM em 2004, com o intuito de atender às necessidades psicossociais da população e dos profissionais. É formado por uma equipa de psicólogos clínicos com formação específica em intervenção em crise psicológica, emergências psicológicas e intervenção psicossocial em catástrofe.

O CAPIC possui, para além das áreas de atuação junto da população, apoio psicológico aos profissionais do INEM, visando a intervenção com as equipas de emergência em situações emocionalmente exigentes e potencialmente traumáticas. Sabemos que perante uma situação exigente o nosso organismo ativa ao máximo os nossos recursos para atuar numa

situação de emergência podendo existir reações comportamentais (fuga, luta, congelamento,…), reações emocionais (medo, raiva, culpa,…), sintomas físicos (taquicardia, hiperventilação, tremores, insónia,…), e pensamentos intrusivos ou dificuldade de concentração e em tomar decisões. Enquanto percecionamos a situação como ameaçadora os sintomas persistem. A ansiedade pode disparar por indícios que recordem a situação - odores, ruído, locais, horas do dia…

ESTAS SÃO REAÇÕES NORMAIS QUE PODEM SURGIR FACE A UM INCIDENTE CRÍTICO Ao fim de algum tempo, integramos a experiência traumática dentro da nossa história de vida. Os pensamentos e sentimentos são identificados e expressos, e apesar de podermos recordar a situação e sentirmo-nos tristes, o equilíbrio da nossa vida é recuperado.

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CUIDAR DE NÓS O QUE POSSO FAZER PARA ME SENTIR MELHOR?  Aceite sentir-se mal, é normal numa situação como esta;  Não tente encontrar explicações lógicas para o que aconteceu;  Fale sobre o que se passou e de como se sente com as pessoas que lhe são próximas ou que também estiveram envolvidas. Se não consegue falar, escreva;  Se sente vontade de chorar, chore. É melhor expressar os sentimentos do que tentar reprimi-los ou escondê-los;  Tente, em alguns momentos, alhear-se do que se passa à sua volta (apague a TV…);

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COMO SABER SE PRECISO DE AJUDA PROFISSIONAL?  Algumas pessoas precisam de ajuda para conseguirem integrar a experiência vivida. Este pode ser o seu caso se, após alguns dias:  Não consegue deixar de pensar no que aconteceu;  Se sente tenso e assustado a maior parte do tempo;  Não consegue obter prazer de forma alguma;  Não consegue regressar ao trabalho ou assumir as suas responsabilidades habituais;  Comporta-se como se a situação estivesse a acontecer novamente;

 Passe tempo na companhia das pessoas que gosta;

 Está mais irritado ou agressivo com as outras pessoas;

 Faça coisas que habitualmente lhe dão prazer, para que se sinta melhor;

 Aumentou o consumo de substâncias: café, álcool, tabaco, entre outras;

 Volte à sua rotina diária, tente organizar as suas atividades para os próximos dias;

 Faz automedicação.

 Logo que possível enfrente os locais e situações que lhe recordam o acontecimento;

Em caso de necessidade poderá contactar diretamente os profissionais do CAPIC presentes nas delegações regionais ou utilizar o email: capic@inem.pt.

 Tente descansar e dormir o suficiente;  Faça uma alimentação saudável. Evite fumar e consumir álcool em excesso

Márcio Pereira Psicólogo no Centro de Apoio Psicológico e de Intervenção em Crise (CAPIC) INEM

Sílvia Labiza ENFERMEIRA VMER

silvia.labiza@gmail.com

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) define os desastres de massas ou acidentes de massas ou grandes catástrofes como eventos capazes de gerar mais doentes, em simultâneo, do que aqueles que as autoridades locais de saúde conseguem abordar na sua rotina habitual(1). De forma a poupar o maior número de vidas, a resposta a estas situações deve abranger procedimentos especiais com particular atenção à triagem, de modo a determinar a prioridade de tratamento e transporte para as unidades de saúde. A ausência de evidência científica robusta pode levar a erros de estimativa da gravidade dos doentes, sendo necessária a identificação precoce de doentes gravemente feridos que necessitem de tratamento cirúrgico, sem que com isso, se atrase o seu transporte. Os autores apresentam a elaboração e o desenho do Método de Triagem Pré-hospitalar Avançado Espanhol (META, acrónimo espanhol para Modelo Extrahospitalario de Triage Avanzado), que contou, numa fase inicial, com a revisão extensa da literatura existente e posteriormente com a identificação de parâmetros clínicos e anatómicos relevantes para a triagem, sendo que os 10 mais relevantes relacionaram-se com a avaliação clínica dos doentes com trauma grave e de Suporte Avançado de Vida em Trauma (ATLS) (Fig.1). A triagem META (Fig.2) deverá ser aplicada em casos de grandes catástrofres em ambiente pré-hospitalar em 4 etapas: 1) Triagem de estabilização; 2) Identificação dos doentes com necessidade cirúrgica urgente; 3) Técnicas de suporte avançado de vida em trauma; 4) Triagem de evacuação.

1) Triagem de estabilização: Utilização de protocolos de trauma avançado; em caso de ameaça A(Via aérea)-B (ventilação)-C(Circulação) o doente é triado de vermelho e em caso de alteração D(Neurológico) e E(Exposição), com necessidade de avaliação hospitalar, é triado de amarelo.

Fig. 1 Parâmetros com significância estatística (p<0,05) que foram incluídos no sistema de triagem.

2) Identificação de doentes com necessidade de cuidados cirúrgicos urgentes: Utilizada as Guidelines de triagem da National Expert Panel of Field Triage de 2011(2); as lesões com necessidade de avaliação cirúrgica urgente são i) todas as lesões penetrantes da cabeça, pescoço, tórax e extremidades proximais ao cotovelo ou joelho, ii) fracturas expostas da bacia, iii) fracturas fechadas da bacia com instabilidade mecânica ou hemodinâmica e iv) lesões traumáticas do tórax com instabilidade hemodinâmica. 3) ATLS: Abordagem do doente de acordo com os protocolos de trauma avançado com ordem vermelho -> amarelo -> verde.

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Fig. 2 Método de triagem de META completo

4) Triagem de evacuação: De forma a optimizar a evacuação, os autores criaram uma nova triagem de evacuação de acordo com os parâmetros de relevo identificados durante a revisão da literatura (Fig. 3). Foi também definida uma categoria chamada “Critérios de elevada prioridade” onde se incluem doentes com instabilidade hemodinâmica e respiratória severa: incluíndo PAsistólica < 110mmHg, GCS<6, intubação ou explosão em espaço confinado. A evacuação prosposta tem a seguinte ordem de prioridades: 1º) Doentes com compromisso ABC não resolvidos e com critérios de alta prioridade 2º) Doentes com compromisso ABC não resolvidos mas sem critérios de alta prioridade 3º) Doentes vermelhos com compromisso ABC resolvidos

A necessidade de criação de um modelo de triagem mais adequado,

com

base

em

critérios

de

ATLS

e critérios clínicos e anatómicos é justificada, pelos autores, pela sub ou sobrevalorização de determinados parâmetros durante a triagem básica existente até agora. Dão como exemplos doentes que são capazes de andar e poderão ser triados de verde, nomeadamente, um doente queimado e um doente na fase inicial de choque hipovolémico por trauma abdominal fechado, enquanto que um doente com ansiedade e frequência respiratória de 35 cpm pode ser triado como grave. A triagem META pretende ser um modelo de triagem

pré-hospitalar avançada a ser implementado em desastres de massas. Uma das maiores contribuições é a identificação precoce dos doentes com necessidade cirúrgicas emergentes que necessitam de um transporte rápido .

4º) Doentes apenas com alteração neurológica

5º) Doentes com necessidade de avaliação hospitalar mas sem as situações mencionadas anteriormente

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Fig. 3 Triagem de evacuação proposta pelo grupo de trabalho.

Artigo em análise: Arcos González P, Castro Delgado R, Cuartas Alvarez T, et al. The development and features of the Spanish prehospital advanced triage method (META) for mass casualty incidents. Scandinavian Journal of Trauma, Resuscitation and Emergency Medicine. 2016;24:63. doi:10.1186/s13049-016-0255-y.

Referências: 1) World Health Organization. Mass casualty management systems: strategies and guidelines for building health sector capacity. Geneva; 2007 2) Centers for Disease Control and Prevention. Guidelines for field triage of injured patients. Recommendations of the National expert panel of field triage. MMWRE. 2012;61(1):1–20. 3)The development and features of the Spanish prehospital advanced triage method (META) for mass casualty incidets; Arcos González et al. Scandinavian Journal of Trauma, Resuscitation and Emergency Medicine , (2016) 24:63

Ana Rita Clara

Médica VMER aritaclara@gmail.com

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TERTÚLIA VMERISTA

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Balanço de um ano de LIFESAVING “Um ano após aquilo que no início quase pensávamos ser um sonho difícil de alcançar, é com enorme orgulho que observo o feito conseguido. De um objetivo de um formato de newsletter passámos a uma revista com elevado cariz científico, cuidada e refletida a cada número, com uma qualidade crescente, que se tem vindo a impor na área pré-hospitalar. Sendo cada vez mais reconhecida quer pelos pares, quer pelos outros profissionais da atividade pré-hospitalar. É disso exemplo o aumento do número de visualizações, de partilhas e até o reconhecimento por parte da instituição que representamos e até por uma associação de médicos e enfermeiros de emergência recentemente constituída. É um orgulho fazer parte desta equipa.” Catarina Tavares ENFERMEIRA VMER

"Quando penso num ano deste projeto, a primeira palavra que me surge é surpresa! É que quando achávamos que aquele número estava fantástico, o seguinte está ainda melhor, não pára de nos surpreender!" Pedro Miguel Silva ENFERMEIRO VMER

“Julgo que a Lifesaving veio colmatar uma falha na nossa formação, sobretudo porque nos permite aceder de uma forma rápida a conteúdos resumidos de diferentes aspectos muito importantes na nossa prática. Trabalhoso para os editores mas julgo que de grande utilidade para os leitores.” Ana Agostinho

Nuno Ribeiro

ENFERMEIRA VMER

ENFERMEIRO VMER

nuno.ucinp@gmail.com

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FÁRMACO REVISITADO

Ketamina revisitada

A Ketamina é um agente anestésico derivado da Fenciclidina. Foi sintetizada em 1962 por Calvin Lee Stevens no laboratório de Química Orgânica da Wayne State University – EUA. O seu mecanismo de ação é através do antagonismo não competitivo do receptor glutamatérgico do tipo NMDA (N-metilD-aspartato - NMDAR) que bloqueia o glutamato, característica responsável pelos seus efeitos terapêuticos primários (catalepsia, analgesia profunda, olhos abertos, reflexos intactos, amnésia), levando a um estado de tipo cataleptico em que o paciente é dissociado do ambiente circundante por ação direta no córtex e no sistema límbico a que se denomina anestesia dissociativa [1]. No entanto, a Ketamina também pode agir sobre outros alvos farmacológicos, sendo que seus metabólitos podem-se ligar em menor grau a receptores dopaminérgicos, serotoninérgicos, colinérgicos, opioides (ocupa os receptores opióides  e  no SNC) e canais de sódio [1]. Sendo assim, a ketamina pode desempenhar um papel importante na anestesia, dor crónica, emergência pré-hospitalar, nos hospitais de campanha ou na veterinária, entre outros. - Forma de apresentação: Ampolas: 10 mg/mL (20 mL); 50 mg/mL (10 mL); 100 mg/mL (5 mL). Pode ser administrada pelas vias endovenosa (EV), intramuscular (IM), oral, intranasal e retal sem sinais de irritação.

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Tabela 1: Possíveis indicações e posologia do uso da Ketamina no adulto e na criança no pré-hospitalar Indicações/ Posologia Adulto Criança Pode administra atropina, escopolamina ou outro agente anticolinérgico antes da indução e em intervalos apropriados para diminuir a sialorreia. Pode administrar uma benzodiazepina (midazolam p.e.) para evitar reacções ao despertar como alucinações, confusão, entre outras. Adolescentes ≥16 anos 0,5-5mg/kg EV 1-3mg/kg EV 3-10mg/kg IM Indução anestesia 5-10mg/kg IM 5 a 10mg/kg PO 6-10mg/kg PO/ Nasal Perfusão: 1-3mg/kg/h Perfusão: 1-3mg/kg/h Lactente ≥3meses, crian0,2-0,8mg/kg EV (se ças e adolescentes: sedação inicial inadequada ou são necessáEV: 1,5 a 2mg/kg duranrias doses repetidas te 30 a 60 seg (se sedapara realizar um proção inadequada ou cedimento mais longo, necessárias doses repepode administrar tidas para realizar um doses incrementais de procedimento mais 0,5 a 1mg/kg a cada 5 longo, pode administrar a 15 min, conforme doses adicionais de 0,5 a necessário) 1mg/kg a cada 5 a 15 min conforme necessá2-4mg/kg IM (pode rio) Sedação/ analgesia repetir dose 2 a 5mg/ kg se sedação inadeIM: de 4 a 5mg/kg como quada após 5 a 10 min uma dose única (pode ou se forem necessárepetir a dose 2 a 5 mg/ rias doses adicionais) kg se sedação inadequada depois de 5 a 10 min 5-10µg/kg/min EV ou se são necessárias 0,5 a 1mg/kg nasal doses adicionais) (pode repetir-se em 10 a 15 min com 0,25 a Oral: 6 a 10mg/kg como 0,5mg/kg se necessádose única (misturada rio) com cola ou outra bebida) 30min antes do procedimento. Útil para indução (0,5Útil para indução (2mg/ 5mg/kg EV) kg EV) Mal asmático Como para perfusão Como para perfusão contínua: contínua: (1-3mg/kg/h EV) (0,5-2mg/kg/h EV)

Relativas: hipertiroidismo, cirurgia oftalmológica, cirurgia brônquica e doença psiquiátrica.

Tempo para pico no plasma:

EV: 30 a 60 segundos;

- Precauções:

IM: 5 a 30 minutos (Clements, 1982); Intranasal: 10 a 14 minutos (Enorme 2010); crianças de 2 a 9 anos: ~ 20 minutos (Malinovsky, 1996); Oral: ~ 30 minutos (Soto 2012); Rectal: crianças de 2 a 9 anos: ~ 45 minutos (Malinovsky, 1996).

Quando usado em pacientes com infecção ou doença pulmonar ativa (incluindo doença respiratória superior ou asma), o uso de Ketamina aumenta o risco de laringoespasmo. Pacientes com história de instabilidade das vias aéreas, cirurgia traqueal ou estenose traqueal podem estar em maior risco de complicações respiratórias;

- Contra-indicações:

Reações ao despertar como confusão ou comportamento irracional pode ocorrer até 24 horas após a sua administração e podem ser reduzidas por pré-tratamento com uma benzodiazepina, uso de Ketamina na sua doseagem mais baixa e minimizar a estimulação verbal e táctil do paciente durante o período de recuperação;

Absolutas: porfiria, neurológicas (hipertensão intracraniana, AVC e neurocirurgia), hipertensão arterial, enfarte do miocardio recente, doente com coronariopatia e na eclâmpsia;

Depressão respiratória: a administração rápida EV ou a sobredosagem podem causar depressão respiratória ou apneia. O equipamento de abordagem da VA deve estar disponível durante o uso.

Estabilidade de armazenamento: as ampolas devem ser armazenadas à temperatura ambiente (entre 15°C a 30 ° C), protegidas da luz.

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FÁRMACO REVISITADO

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Geniturinário (reações podem ser graves em pacientes com história de uso/abuso crônico): disfunção da bexiga (capacidade reduzida), cistite (incluindo não infectiva, intersticial, ulcerativa, erosiva ou hemorrágica), disúria, hematúria, incontinência urinária, urgência urinária;

- Efeitos adversos: Frequência > 10%: SNC: emergência prolongada da anestesia (12%, inclui confusão, delírio, excitação, alucinações, comportamento irracional); Frequência não definida:

Neuromusculares e esqueléticas: laringoespasmo.

Cardiovascular: bradicardia, arritmia cardíaca, hipotensão, aumento da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca; Sistema nervoso central: dependência de drogas, hipertonia (movimentos tônico-clônico às vezes parecidos com convulsões), aumento da pressão do líquido cefalorraquidiano; Dermatológico: eritema (transitório), erupção cutânea morbiliforme (transitória), erupção cutânea no local da injeção;

- Curiosidades: A cetamina também foi utilizada durante a guerra do Vietnam devido a sua margem de segurança maior, e isso auxiliou na sua popularização, principalmente relacionado aos seus efeitos dissociativos [4]. Disponível em alguns paises como K, Special K, Vitamina K, ou Lady K, a ketamina goza de popularidade recreativa. Parece ser a mais recente tentativa inútil de limpar as "portas da percepção" de Blake por meios químicos [5].

Gastrointestinais: anorexia, náusea, sialorreia, vômitos;

Alírio Gouveia Médico VMER

alirio_gouveia@hotmail.com

Referências: [1] du Jardin, Kristian Gaarn; Heidi Kaastrup (1 de junho de 2016). «Potential involvement of serotonergic signaling in ketamine's antidepressant actions: A critical review». Progress in Neuro-Psychopharmacology & Biological Psychiatry. ISSN 1878-4216. PMID 27262695. doi:10.1016/ j.pnpbp.2016.05.007 [2] Uptodate: cetamine: Drug information. 2017. [3] Miller RD. Miller’s Anesthesia. 6th ed. Philadelphia, PA, USA: Else- vier Churchill Livingstone; 2005. [4] Domino, Edward F. (1 de setembro de 2010). «Taming the ketamine tiger. 1965». Anesthesiology. 113 (3): 678–684. ISSN 1528-1175. PMID 20693870. doi:10.1097/ALN.0b013e3181ed09a2

[5] Anirudda Pai, Mark Heining. Ketamine. Continuing Education in Anaesthesia, Critical Care & Pain | Volume 7 Number 2 2007.

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MITOS URBANOS

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Bem-vindo… …de novo a esta mítica rúbrica. Convido-vos a uma viagem, que nos levará a conhecer e investigar alguns dos factos, conhecimentos, e práticas comuns, omnipresentes no nosso dia-a-dia. Será que todas elas são verdadeiras e são correctas? Ou haverá uma ou outra que não resiste a uma investigação, levada ao cabo pelos “caçadores dos mitos”?

Mitos urbanos: “Lendas urbanas, mitos urbanos ou lendas contemporâneas são pequenas histórias de carácter fabuloso ou sensacionalista, amplamente divulgadas de forma oral, por emails ou pela imprensa e que constituem um tipo de folclore moderno. São frequentemente narradas como sendo fatos acontecidos a um "amigo de um amigo" ou de conhecimento público.” (1)

Transpondo esta explicação generalizada para a nossa área préhospitalar, estaremos a falar de práticas, técnicas e conceitos aplicadas frequentemente, mas que na experiência profissional podem gerir duvidas relacionadas com a sua veracidade ou exactidão.

De forma nenhuma, esta rúbrica quer substituir ou pôr em causa o conhecimento contido nas publicações científicas existentes. Pretende ser um incentivo, uma plataforma de pensamento, partilha e discussão, e, eventualmente conseguir desvendar e esclarecer alguns destes “mitos urbanos”.

Mito desta Edição: “A administração ev de Diazepam tem que ser directo , não pode ser diluído…!”

D

iazepam (Valium), a “estrela” das benzodiazepinas, um dos medicamentos psicofarmacológicos mais vendidos nos anos 70 e 80 nos EUA, chegando a ter um volume de 2.3 Biliões comprimidos só em 1978, revolucionou o tratamento das perturbações de ansiedade, epilepsia e espasmos da musculatura esquelética e levou a OMS (Organização Mundial de Saúde) a incluir o Diazepam na sua lista de medicamentos essenciais. (2) Hoje tem um papel essencial na prática médica de emergência préhospitalar, particularmente no tratamento de vários tipos de crises convulsivas, estados de ansiedade e também na síndrome de privação etílica.

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MITOS URBANOS

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Qual é então a relevância de diluir ou não o Diazepam, quando administrado endovenoso (EV)?

indicação para o uso de uma mistura de ambas, considerando que G5W não fornece nenhuma vantagem em relação ao uso de SF. (4)

Diazepam é um medicamento muito pouco solúvel em água. Por este motivo, a fórmula EV contem uma quantidade considerável de diluente orgânico, i.e. 40% propileno glicol e 10% etanol. (3)

Em conclusão, os estudos apresentados indicam que o

As características químicas, (líquido lipídico) e o volume de uma ampola de 10mg de Diazepam (2ml), apresentam alguns desafios na prática clinica pré-hospitalar: A necessidade de administrar dosagens inferiores a 10mg na forma não diluída, devido ao pequeno volume torna a administração pouco precisa, considerando também as condições adversas no ambiente pré-hospitalar (luminosidade diminuída, agitação da vítima, trepidação/ balanço da ambulância).

precipitado formado na diluição de Diazepam é temporário e o processo é revertido imediatamente após administração EV, sem prejudicar a eficácia do medicamento. O diluente de eleição seria SF para evitar tromboflebites especialmente em veias periféricas

Referências Bibliográficas:

O líquido de uma ampola de Diazepam aspirado numa seringa de PU/PE (Poliuretano/Polietileno) de 2ml provoca fricções do êmbolo devido a presença de etanol e propileno glicol, que dificulta a precisão de dosagem. Em alternativa, as seringas de insulina de 1ml com êmbolos de borracha obrigam a um aumento significativo de manipulações da ampola, seringa e acesso da vítima.

1) Wikipedia: http:// m.folha.uol.com.br/ ilustrada/2009/05/570489-livrodesvenda-a-curiosidadedespertada-por-lendas-

urbanas.shtml 2) Classics in Chemical Neuroscience: Diazepam (Valium). Nicholas E. Calcaterra et al. ACS Chem Neurosci. 2014 Apr 16; 5(4): 253-

Uma possível solução seria a diluição de Diazepam num volume que permite uma administração mais precisa e que diminua a fricção do êmbolo

260 3) Supersaturated state of Diazepam injection following dilution with infusion fluid. Yoshinori

Existe ampla informação e publicações, relacionados com a diluição de Diazepam. Após um estudo detalhado da matéria existente, a informação mais pertinente para a prática médica préhospitalar resume-se ao seguinte: “Um estudo da solubilidade de Diazepam em soluções EV comumente utilizados mostra igualmente a insolubilidade em SF e G5W e RL. Porem, o precipitado formado ficou completamente re-suspenso quando misturado com plasma in vitro. Isto indicaria que o precipitado esbranquiçado observado na diluição, também ficará resuspenso quando misturado com plasma in vivo.” (4) A utilização de G5W e também o Diazepam administrados EV em veias pequenas estão ambos associados a formação de tromboflebites, o que indicaria uma contra-

Onuki et al. Journal of pharmaceutical Health Care and Sciences (2015) 1; 9 4) Solubility of injectable Valium in Intravenous Solutions; Marvin F. Grower et al. U. S. Army Institute of Dental Research, Walter Reed Army Medical Center, Washington, D. C. SeptemberOctober 1978 Christian Chauvin Médico VMER chrisdchauvin@gmail.com

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VOZES DA EMERGÊNCIA

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Nasceu uma nova Rubrica na LIFESAVING...

A rubrica “vozes da emergência” estreia-se nesta Edição com o fundamento de dar voz aos diversos profissionais da

emergência, dando a conhecer aos leitores os bastidores do seu trabalho, e também as realidades que contadas na primeira pessoa, também nos são transversais, e de um modo ou de outro nos tocam. O nosso objetivo principal é dar a conhecer equipas, profissionais, realidades, situações, emoções, sentimentos… toda uma panóplia de coisas que estão inerentes a tudo o que fazemos diariamente… Sendo que , no final, o objeti-

vo comum é o cuidar da pessoa doente , dotados dos melhores conhecimentos, equipamentos e sentimentos. Nesta rubrica pretendemos chegar aos vossos corações através da partilha de experiências, aprendizagens, projetos, e historias que marcam gente como nós, gente que fala a mesma linguagem, gente que sente correr pelo corpo a mesma adrenalina, e a magia do mundo da emergência. Pretendemos dar a conhecer um pouco dos outros, um

pouco de nós… As Editoras, Solange Mega e Rita Penisga

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VOZES DA EMERGÊNCIA

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Destacamos neste Edição...

Corpo de Bombeiros Voluntários de Lagos O Corpo de Bombeiros Voluntários de Lagos assegura o socorro a uma área populacional de cerca de 33000 residentes permanentes, sendo que no Verão a população chega aos 100000 de habitantes. O número de doentes transportados tem subido exponencialmente nos últimos anos , e o maior número de ocorrências correspondem a doença súbita e trauma. A Equipa entrevistada nesta edição revela-nos uma personagem inovadora, única e extremamente útil no Algarve que é o Lucas 2. Foi em 2014 que Lagos se tornou a primeira corporação do país a disponibilizar este dispositivo que proporciona compressões torácicas, substituindo a compressão cardíaca externa manual durante a reanimação. A sua primeira utilização foi no dia 20 de Novembro de 2014, tendo sido adquirido pela corporação através de angariação de fundos próprios com um custo de aproximadamente 13000 euros. O Lucas foi sem dúvida uma mais-valia para a cidade, para a população, e para os profissionais. Num estudo já efetuado, foi possível verificar que desde a sua estreia, o dispositivo Lucas 2 foi utlizado por 22 vezes em situações de paragem cardiorrespiratória (PCR), sendo que em 15 dessas situações obtiveram-se resultados positivos, resultando na reversão do quadro de PCR. Por 7 vezes o Lucas 2 não conseguiu reverter as situações de PCR uma vez que as vitimas já se encontravam numa janela de tempo fora da eficácia de recuperação.

ENTREVISTA Para realização da entrevista contámos com uma Equipa de 4 elementos do Corpo de Bombeiros, de serviço naquele dia, e foi realizada após acolhimento extremamente afável do 2º Comandante Márcio Regino.

LIFESAVING [LFS]: Como surgiu o gosto pela emergência ?

André: “Eu nasci dentro do seio. a minha família é toda bombeira”. Mário: “Eu desde pequeno, desde infância tenho o gosto,…”

[LFS]: O que os levou a enveredar por esta profissão? André: “A causa,…”

- Mário, Bombeiro de 3ª, há 4 anos.

- André , Bombeiro de 2ª, há 15 anos. - Cármen, Voluntária - José, Voluntário

Mário: “Ajudar o próximo ,…”

[LFS]: Cármen já eras bombeira antes de ser enfermeira? Cármen: Não, não. E foi realmente uma curiosidade. Em primeiro lugar, sentia uma grande admiração

pelos bombeiros, e depois tinha uma curiosidade para saber o que é que se passava para lá das 4 portas do hospital, porque lá sempre senti que era tudo muito controlado e tínhamos tudo à mão e depois, fora de lá, o que é que se passaria? Daí que realmente têm sido inúmeras as situações que recordo, pelo bem felizmente, mas também algumas pelo mal. Mas aquilo que é mais de realçar é, por exemplo, o facto de entrar no contexto das pessoas, as próprias casas, os cheiros… entrar numa casa à noite… encarar o cuidado de saúde logo aí…

[LFS]: O “Lucas” é um projeto inovador, é um projeto que só vocês têm, que foi através da vossa contribuição, de que modo o Lucas veio melhorar a quaPÁGINA

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VOZES DA EMERGÊNCIA lidade dos serviços prestado à população? 2º Comandante: “Mais-valia… até mesmo motivando os profissionais, aumento de situações de sucesso, compressões com eficácia e contínuas. Em 2 anos e meio de utilização 15 casos de situações de sucesso,...” Mário: “Especialmente em termos de transporte, durante o transporte, as compressões continuas, a gente vai em pé de um lado para o outro, assim conseguimos ter estabilidade e segurança,” André: “a descer um prédio de 3 ou 4 andares tínhamos que fazer 2 ou 3 paragens, para conseguirmos manter os ritmos… agora com o Lucas isso acabou,…Os adjetivos que definem o Lucas para toda a Corporação são estabilidade, eficácia, segurança e sucesso”.

[LFS]: Existe alguma situação em que o Lucas não possa ser utilizado? 2º Comandante: Não, não utilizamos em doentes oncológicos em fase terminal, mas não existe qualquer tipo de contraindicação, [LFS]: Todos os colegas aderiram bem à aplicação do “Lucas” ? 2º Comandante: “Resistência na parte inicial porque poderia ser uma perda de tempo a colocar as presilhas, mas não, é tempo que se ganha sem dúvida…existe uma boa aderência pela equipa,…” [LFS]: Quais são as recordações ou experiencia marcante que tem relativamente ao primeiro serviço como Bombeiro? André: “Por acaso tenho o primeiro acidente…na altura também saí como 3º elemento na ambulância, mas apanhámos um despiste de um motociclo, em que a vítima tinha amputação de alguns membros, membros inferiores, e tinha uma fractura exposta do fémur, isso foi o que mais me marcou, a fractura exposta e a hemorragia abundante na altura…” Mário: “A minha foi na Nacional 125,

à noite, também como 3º elemento, que ainda me lembro, foi com o colega Pedro Almeida e o Hélder, e um senhor de uns 40 anos aparentemente inconsciente foi colhido por um veículo de mercadorias, ou se não me engano uma carrinha, agora não me lembro, não me recordo bem, na Nacional à noite, foi o mais me marcou na altura, estava aqui há pouco tempo… que marcou, a gente fazia manobras, os olhos abriam, toda a gente marcava. Depois também o carro…” Cármen: “Eu estou a recordar-me de uma situação que foi, sem dúvida, aquela que mais me marcou até hoje, e que foi um motociclo, um jovem, um rapaz de 16 anos, ...em que eu tinha estado a fazer noite cá. Na noite tinha conhecido a mãe também numa saída, que tinha uma amiga que não tinha se sentido bem, conheci a senhora e até tivemos uma empatia e conversámos, na manhã por acaso tive que seguir turno porque faltava um elemento e fiquei cá um bocadinho, mais dentro da manhã fui para essa saída, disseram que tinha sido um acidente, chegámos lá o rapaz já estava sem vida, quando vão chamar a mãe… e foi essa senhora que eu tinha tido uma empatia na noite anterior, e ela diz-me: “Ah, é você, não salvou o meu filho”, pronto. E são estas… este desenrolar de situações que nos marcam…Marcou, e hoje em dia também, às vezes, ainda penso. Claro que não sofro com isto, não é? Mas são lições de vida que, se calhar não estamos nos lugares por acaso em determinado momento”. José Vitória: “um senhor que estava sentado…tinha um ramo de árvore espetado no frontal, mas um ramo, parecia um unicórnio, quer dizer, mesmo a gente quando saiu, nós… estava normal, consciente, orientado no tempo e no espaço, tudo, mas estava mesmo entalado, quer dizer… não, mesmo o homem mexia naquilo e aquilo estava mesmo fixo, ainda pensei: “Ah, isto está ali espetado mas cai”, não. Transportámos, tentámos meter o mais estável possível, levamos para Portimão, fomos para os diretos, porque a gente passou os dados, explicámos a situação, veio lá do outro lado, eles riram-

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se um bocado porque eu estava a explicar: “Tem mesmo um pau de uma amendoeira espetado, com uma florzinha e tudo…” [LFS]: Mudariam alguma coisa relativamente à vossa atividade profissional? José Vitória: “Não, não há assim nada de relevante que pudéssemos mudar, mas em termos de serviço, de trabalho, acho que… damos aqui um desabafo, quer dizer aqui estamos sempre limitados, e vocês sabem disso, como é que se compreende não haver ortopedia hoje e pediatria em Portimão? Porque houve um acidente agora, multivítimas, com 7 vítimas, não sei se sabem disso… temos que deslocar ambulância para fora da área deixando descoberta a área por algumas horas…” André: “Mas sim em termos de equipamento, em ternos de meios, isso sim muita coisa que podíamos melhorar, e podíamos mudar….” [LFS]: O que é que mais vos motiva? Geral: É mesmo, ajudar o próximo.” [LFS]: Que características da personalidade, na sua opinião deve ter um profissional da vossa Corporação? Mário: “A vontade de ajudar o próximo…” Cármen: “Mas acho… acho que é muito tipo a iniciativa, um espírito de iniciativa, proatividade… dá-me ideia, por aquilo que tenho visto aqui sobretudo tudo pessoas, realmente, que não são de ficar paradas, tudo pessoas com uma energia… Dinâmicas…” [LFS]: Na sua atividade profissional, o que pensa ser mais difícil de lidar/ suportar? Geral: “Crianças…” André: “Eu apanhei uma paragem há 2 meses atrás de uma criança de 8 anos, ainda hoje…me lembro de tudo…” [LFS]: Você falou na parte do: “…até hoje não me consigo esquecer da situPÁGINA

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VOZES DA EMERGÊNCIA ação”, por acaso vocês têm algum tipo de acompanhamento para este tipo de situações? André : “Sim, há umas equipas de apoio psicossocial da Autoridade Nacional da Proteção Civil…” [LFS]: O que é que diz o vosso coração? São felizes? José Vitória: “Realizados”. Cármen: “Realização, felicidade, força… E depois penso que também existe muito aquele sentimento de – esse passa por todos nós – às vezes penso: “Hei, amanhã vou para os bombeiros 12h de voluntariado senão poderia aproveitar, descansar, ou qualquer coisa, mas depois de cá estar vai crescendo realmente algo que diz: “Ainda bem que vieste, ainda bem que vieste…”, no final do dia é…é gratificante.”

[LFS]: De uma forma geral como e que vocês consideram que estará o préhospitalar daqui a 10 anos? André: “A minha esperança é que tenhamos mais valências…. Uma situação que também

tem se vindo a tornar pertinente nos últimos tempos, é:... nós não conseguimos contacto com o CODU, dizem que temos uma linha verde para passagem de dados dos bombeiros,...para nós zero…” Cármen: “Sabe o que nós fizemos anteontem? Ligamos 112…” José Vitória: “Eu a mim, o que respeita , só me respeita a dor, ...a dor. Há situações que eu acho que a gente não consegue combater a dor só com oxigenoterapia… (risos) … (respira um bocadinho e depois sente)… “Está a sentir o fresquinho, pronto, já está a sentir-se um bocadinho melhor”, e o inconsciente vai… e ele acalma-se um bocadinho, mas a gente sabe que aquilo não vai fazer nada…” Cármen: “Queria,... em relação ao futuro, daqui a 10 anos, eu acho que seria capacitar as equipas com profissionais diferenciados. Porque não? Se é necessário atuar nos locais onde as vítimas estão, se as SIV são importantes, se as VMER são importantes, por que não investir mais nisso?...Como é que nós…

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Realmente sou enfermeira, ...vou por exemplo a um lar, uma obstrução de uma algália, o que é que eu posso fazer?... Não tenho nada, … vou levar para o hospital…É neste sentido que eu falo, se calhar está a haver uma desaproveitação dos profissionais……dos meios que existem…” Cármen: “Isto até pode ser frustrante para as pessoas, por exemplo, como enfermeiros ou médicos que até queiram desenvolver um trabalho de bombeiro, ...que não vejo qual é o problema, qualquer um de nós pode ser bombeiro,... mas depois não podemos no fundo…”

José Vitória: “Chegar mais à frente…” Cármen: “…chegar mais à frente, ajudar mais”. [LFS]: O que gostavam de partilhar com todos os leitores? André: “Juntem-se à causa”.

A LIFESAVING agradece a toda a equipa a colaboração, disponibilidade e simpatia com que nos receberam. O nosso MUITO OBRIGADO. PÁGINA

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UM PEDACINHO DE NÓS

Um pedacinho de nós...

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Mulher, filha, irmã, esposa, mãe, bombeira, enfermeira e AMIGA; assim se define a nossa entrevistada a si própria. Calma, tranquila, profissional, experiente dizemos nós; dá sempre o seu máximo sem perder a orientação do trabalho bem feito, a sua prioridade é sempre o doente, com ela sabemos que estamos a fazer o correto. Natural de Albufeira, onde vive há 47 anos, enquanto criança verbalizava que gostava de ter nascido menino, pois as suas traquinices seriam melhor aceites. Tinha o sonho de ser hospedeira mas aos 16 anos ingressou nos Bombeiros de Albufeira e desde então não teve dúvidas que o seu caminho seria no sentido de ajudar e cuidar de quem necessita. Estudou na Escola Superior de Enfermagem de Faro. Os seus estágios foram quase todos no Hospital de Faro, mais foi no Hospital de Portimão que iniciou sua carreira, permanecendo nesta unidade hospitalar 13 anos. No seu percurso passou pelo Serviço de Urgência, Unidade de cuidados Intensivos e Exames especiais de Gastro. Por questões familiares optou por trabalhar mais perto de casa. Pediu transferência para a ARS Algarve e passou a fazer parte da Equipa do Serviço de Urgência Básica de Albufeira. Durante 8 anos dedicou grande parte do seu tempo na prestação de cuidados de Enfermagem, acumulando a coordenação da equipa de Enfermagem e Assistentes operacionais. Foram tempos de aprendizagem e crescimento pessoal. Por sua vontade mudou-se para a Unidade de Cuidados Personalizados- Cuidados Primários do Centro de Saúde de Albufeira no ano passado. Sendo uma nova aprendizagem, esta no sentido de ajudar o utente na prevenção e vigilância da saúde e da doença. Sentimos que está feliz quando fala sobre isso, abraça esta nova etapa como a “guerreira” que é. Continua a fazer parte da equipa VMER de Albufeira, mais foi na VMER de Portimão que iniciou as suas funções. Fez parte do equipa que inaugurou a viatura e da qual tem muitas e boas recordações. Como “amante” do Pré-hospitalar, para além da VMER, ainda dedica algumas das suas (poucas) horas de folga ao Helicóptero do INEM sediado em Loulé. Tem baús com histórias, algumas felizes, outras nem por isso: as crianças, as multivítimas marcaram. Mas, cada vez mais, tem a capacidade de retirar de um problema um

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UM PEDACINHO DE NÓS ensinamento e encontrar o caminho para a sua resolução. Não duvida nem um segundo em oferecer ajuda a quem dela necessita. Gosta de fazer parte de uma equipa bem humorada e bem disposta, e realmente colabora para isso. A experiencia ensina-a a evitar pessoas tóxicas. Foi nos Bombeiros de Albufeira que conheceu o seu marido, com o qual partilha a vida. Tem dois filhos, uma jovem de 19 anos e menino de 10 anos, modéstia a parte, são um encanto. Sempre compreenderam e aceitaram as muitas ausências em casa pelas exigentes profissões dos pais. Acha que nenhum deles vai seguir este caminho. Adora praia, não fazia sentido viver longe dela, por isso o Algarve e mais concretamente Albufeira é sua paixão e não trocava por nenhum outro lugar do mundo. Nada melhor do que o contacto com outras culturas para ter melhor conhecimento da vida, gostaria de poder viajar pelo mundo. Prefere pagar ginásio para a prática desportiva do que ir á farmácia comprar antidepressivos. É fâ da prática de pilates, body-balance e yôga, mais realmente não abdica da meditação e do contacto com a natureza. Está á espera da oportunidade de fazer uma “descolagem“ de parapente e vai agendar um salto de pára-quedas.

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É Benfiquista, com defeitos e virtudes …(este ano teve a sorte merecida) e de signo zodiacal capricorniana . Passou anos refém das emoções. O futuro é incerto, sabe que não quer continuar a ocupar o seu tempo a trabalhar demasiado, mas sim a estudar e aprender. Vai sempre dar o seu melhor e ajudar quem necessita; gostava de ver os serviços de saúde cada vez mais profissionalizados e aperfeiçoados. Agora consegue arrumar as suas gavetas; a mente e parte espiritual faz todo sentido. Dá valor ás coisas básicas. AGORA ao ser FELIZ! Tem como palavras chave: DESAPEGO, GRATIDÃO E AMOR. Pede sempre á sua santinha para a acompanhar nas suas aventuras” SUA VIDA”, e como diz seu signo zodiacal: é uma estrela que brilha devagar, mas que ao acender, se sustenta por um longo tempo.

Sabem de quem se trata? Cliquem na nossa estrela e descubram o nosso operacional em destaque neste número.

Não troca uma sopa de grão por uma massa, mas fica encantada com a língua italiana (e quem não fica?). Gosta de gatos mas por opção familiar tem dois cães amorosos ( Uggie e Miló).

Pilar Urbano MÉDICA VMER

urbanop8@gmail.com Ana Rodrigues ENFERMEIRA VMER

amgrodrigues@chalgarve.min-saude.pt

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NOTÍCIAS DA EMERGÊNCIA NO ALGARVE

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JUNHO, JULHO E AGOSTO

VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA EM AMBIENTE PRÉ—HOSPITALAR

Teve lugar no passado dia 28 de Junho, no Salão Nobre do Hospital de Faro, mais uma formação em Serviço do ano de 2017, da Equipa das VMER de Faro e Albufeira, e contou com a presença de vários profissionais ligados à emergência pré-hospitalar e intra-hospitalar. Tratou-se de uma acção de formação dupla, com uma componente teórica, com discussão detalhada sobre ventilação não invasiva, e uma componente prática (workshop) sobre a utilização de VNI com simulação de casos clínicos.

ANIVERSÁRIO DA VMER DE FARO E VMER DE ALBUFEIRA No dia 1 de Julho a VMER de Faro completou 17 anos de idade, e muito recentemente, envolta em algumas nuvens, a VMER de Albufeira em Junho atingiu a "malapata" de 13 anos de idade. Foi com muita alegria que todos os seus elementos se reuniram para algumas atividades de lazer e diversão. Então parabéns a nós todos...

Antonino Costa ENFERMEIRO VMER

antonino-costa@hotmail.com

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TESOURINHO

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VMERISTA Nesta data especial e depois de um ano a partilhar tesourinhos recentes, este é do fim do baú, mas que foi o primeiro a conseguir conciliar as estruturas INEM, Bombeiros e GNR.

Pedro Oliveira e Silva MÉDICO VMER

pedmsilva@gmail.com

A data é algo imprecisa, mas sabemos que há cerca de dez anos e no final de tarde solarenga, o telefone de ativação do CODU Algarve tocou com um pedido de socorro por parto iminente, e que depois de indagar, a posição fetal seria pélvica onde já teriam conseguido retirar os membros inferiores, no entanto, estaria preso pela cabeça e em sofrimento fetal. Um pormenor importante, acampamento cigano, de localização dúbia, mas que seria entre Monte Gordo e Vila Real de Santo António, supostamente muito conhecido na área.

Foram ativados os seguintes meios: VMER de Faro, Bombeiros de Vila Real de Santo António e ainda GNR local para melhor localização e se necessária rápida evacuação. Com todos os meios a caminho, a localização precisa era algo desconhecida de todos, o que aumentava cada vez mais as emoções e adrenalina, entre telefonemas, perguntas, estradas sem saída, finalmente se localizou o acampamento. Conseguimos estacionar e coordenar todo o pessoal e material necessários numa questão de segundos, sendo encaminhados, pelo locutor principal, para onde estaria a grávida. Ao virar a esquina da residência, lá estava ela provocando imediatamente um riso geral. Fomos interpelados prontamente “porque não ajudávamos a sua querida égua?”!!!

PS: Ajudamos a cria a nascer!

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CONGRESSOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

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VIII Jornadas Nacionais de Enfermagem Intensiva

Congresso Emergência: do real ao ideal

22 a 23 de setembro de 2017

13 a 14 de outubro de 2017

Centro de Exposições e Congressos de Lisboa, Parque das Nações, Lisboa

Campos Académico CESPU, Famalicão

3º Congresso Nacional da Urgência

12 a 15 de outubro de 2017 Centro de Eventos Bissaya Barreto, Coimbra

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BEST LINK´S

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SITES DE EMERGÊNCIA

Prehospital and Disaster Medicine https://www.cambridge.org/core/journals/prehospital-and-disaster-medicine

American Journal of Disaster Medicine. http://www.pnpco.com/pn03000.html

Bruno Santos COORDENADOR MÉDICO das VMER de Faro e Albufeira

bsantos@chalgarve.min-saude.pt

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BEST APPS

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APLICAÇÕES DE EMERGÊNCIA

Neste número, sugerimos 2 aplicações semelhantes. Ambas permitem facilmente fazer triagem de uma situação multivítimas, sendo que a primeira tem a particularidade de enviar relatórios por sms e a segunda a possibilidade de jogar para treinar possíveis situações. Não podemos deixar de referir que a primeira foi orgulhosamente desenvolvida por um Português.

Triagem START e SIEVE Aplicação para efectuar triagem S.T.A.R.T. e SIEVE em ambientes multivitima. Permite efectuar a triagem em cada um dos sistemas, contabilizando o número de vítimas quanto á sua gravidade. A qualquer momento, é possível enviar o relatório do T.O para SMS ou Email para CDOS ou PCO.

Triagem START Com esta aplicação é possível realizar triagens utilizando o método START. Possui também um jogo com o qual é possível testar seus conhecimentos sobre a triagem de vítimas utilizando o método START.

Pedro Tiago Silva ENFERMEIRO VMER pedrolopessilva@gmail.com

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FRASES MEMORÁVEIS

LLIFE IFES SAVING AVING NEWSLETTER DAS VMERDE DEFARO FARO E REVISTA DAS VMER E ALBUFEIRA ALBUFEIRA

“não há nem falta de competência, nem falta de capacidade, nem falta de imediata reposta perante desafios dificílimos.(...) Houve e há uma mobilização notável, com os meios existentes e os que estão a chegar, uma coragem e uma determinação, uma capacidade de resistência perante elementos naturais, infelizmente únicos”. Palavras proferidas pelo Presidente da República— Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, visivelmente emocionado, quando chegou a Pedrógão Grande antes da meia-noite de sábado dia 17 de junho de 2017. Logo que saiu do carro, o Presidente da República deu um longuíssimo abraço ao secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, que estava também bastante emocionado, e também ao Presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, Valdemar Ramos, In Observador

“Na próxima edição da Newsletter LifeSaving mais temas serão refletidos, surgirão novos desafios para os Editores... e contaremos com o imprescindível contributo dos Colaboradores convidados. Estamos disponíveis para a avaliar a possibilidade de publicação de trabalhos e artigos de opinião, desde que concordante com os as regras de publicação e os desígnios da Lifesaving.

Lançamos um desafio aos nossos leitores, para que nos enviem todos os comentários e sugestões sobre os conteúdos apresentados neste número da Newsletter, bem como de outras temáticas que julguem relevantes para discussão em edições futuras. Valorizaremos todo o espírito crítico e criativo, que sabemos estar muitas vezes latente e aguardando oportunidade de expressão. Toda a Equipa de Editores fica também disponível para dúvidas e esclarecimentos adicionais, que deverão ser remetidos para os respectivos endereços email disponibilizados. * As cartas ao Editor poderão mesmo vir a ser seleccionadas para publicação, caso se considere pertinente a sua difusão.

“Saudações VMERistas”. LIFESAVING | AGOSTO 2017


CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

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Separata

CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO NOVA ATUALIZAÇÃO

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CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

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4. Critérios de Publicação

4.1 Critérios de publicação nas rúbricas A LF convida a comunidade científica à publicação de artigos originais em qualquer das categorias em que se desdobra, de acordo com os seguintes critérios de publicação: 1. Objectivo e âmbito

Temas em Revisão

A Revista LifeSaving (LF) é um órgão de publicação pertencente ao Centro Hospitalar do Algarve (CHA) e dedica-se à promoção da ciência médica pré-hospitalar, através de uma edição trimestral. A LF adopta a definição de liberdade editorial descrita pela World Association of Medical Editors, que entrega ao editorchefe completa autoridade sobre o conteúdo editorial da revista. O CHA enquanto proprietário intelectual da LF não interfere no processo de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, atribuindo ao editorchefe total independência editorial.

A LF rege-se pelas normas de edição biomédica elaboradas pela Internacional Commitee of Medical Journal Editors e do Comittee on Publication Ethics.

- Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para actuação das equipas em contexto de emergência préhospitalar. Dimensão: 1500 palavras. Hot Topic - Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré-hospitalar recentes ou contraditórias. Dimensão: 1000 palavras. Nós Por Cá - Âmbito: Dar a conhecer a realidade de actuação das várias equipas de acção pré-hospitalar através de revisões estatísticas da sua casuística. Dimensão: 250 palavras. Tertúlia VMERISTA - Âmbito: Pequenos artigos de opinião sobre um tema fraturante. Dimensão: 250 palavras.

2. Informação Geral

A LF não considera material que já foi publicado ou que se encontra a aguardar publicação em outras revistas. As opiniões expressas e a exatidão científica dos artigos é da responsabilidade dos respectivos autores. A LF reserva-se o direito de publicar ou não os artigos submetidos, sem necessidade de justificação adicional. A LF reserva-se o direito de escolher o local de publicação na revista, de acordo com o interesse da mesma, sem necessidade de justificação adicional. A LF é uma revista gratuita, de livre acesso, disponível em https://issuu.com/lifesaving. Não pode ser comercializada, sejam edições impressas ou virtuais, na parte ou no todo, sem autorização prévia do editor-chefe.

Rúbrica Pediátrica - Âmbito: Revisão sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. Dimensão: 1500 palavras. Minuto VMER - Âmbito: Sintetização para consulta rápida de procedimentos relevantes para a abordagem de doentes críticos. Dimensão: 500 palavras Fármaco Revisitado - Âmbito: Revisão breve de um fármaco usado em emergência pré-hospitalar. Dimensão: 500 palavras Journal Club - Âmbito: Apresentação de artigos científicos pertinentes relacionados com a área da urgência e emergência médica pré-hospitalar e hospitalar. Dimensão: 250 palavras

3. Direitos Editoriais

Os artigos aceites para publicação ficarão propriedade intelectual da LF, que passa a detentora dos direitos, não podendo ser reproduzidos, em parte ou no todo, sem autorização do editor-chefe.

Nós e os Outros - Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre a actuação de equipas de emergência préhospitalar não médicas. Dimensão: 1000 palavras

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CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO Ética e Deontologia - Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre questões éticas desafiantes no ambiente pré -hospitalar. Dimensão: 500 palavras Legislação - Âmbito: Enquadramento jurídico das diversas situações com que se deparam os profissionais de emergência médica. Dimensão: 500 palavras O que fazer em caso de... - Âmbito: Informação resumida mas de elevada qualidade para leigos em questões de emergência. Dimensão: 500 palavras. Mitos Urbanos - Âmbito: Investigar, questionar e esclarecer questões pertinentes, dúvidas e controvérsias na prática diária da emergência médica. Dimensão: 1000 palavras. Cuidar de Nós - Âmbito: Diferentes temáticas, desde psicologia, emocional, metabólico, físico, laser, sempre a pensar no auto cuidado e bem estar do profissional. Dimensão: 250 palavras. Caso Clínico

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O trabalho a publicar deverá ter no máximo 120 referências. Deverá ter no máximo 6 tabelas/figuras devidamente legendadas e referenciadas. O trabalho a publicar deve ser acompanhado de no máximo 10 palavras-chave representativas. No que concerne a tabelas/figuras já publicadas é necessário a autorização de publicação por parte do detentor do copyright (autor ou editor). Os ficheiros deverão ser submetidos em alta resolução, 800 dpi mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias em formato JPEG (.Jpg), PDF (.pdf). As tabelas/figuras devem ser numeradas na ordem em que ocorrem no texto e enumeradas em numeração árabe e identificação.

No que concerne a casos clínicos é necessário fazer acompanhar o material a publicar com o consentimento informado do doente ou representante legal, se tal se aplicar. No que concerne a trabalhos científicos que usem bases de dados de doentes de instituições é necessário fazer acompanhar o material a publicar do consentimento da comissão de ética da respectiva instituição. As submissões deverão ser encaminhadas para o e-mail: newsletterlifesaving@gmail.com

- Âmbito: Casos clinicos que tenham interesse científico. .Dimensão: 250 palavras. Pedacinho de Nós - Âmbito: Dar a conhecer os profissionais das equipas de emergência pré-hospitalar. Dimensão: 400 palavras.

4.2 Critérios de publicação nos cadernos científicos.

Tesourinhos VMERISTAS

Nos Cadernos Científicos da Revista LifeSaving podem ser publicados Artigos Científicos, Artigos de Revisão ou Casos Clínicos de acordo com a normas a seguir descritas.

- Âmbito: Divulgação de situações caricatas, no sentido positivo e negativo, da nossa experiência enquanto VMERistas. Dimensão: 250 palavras Congressos Nacionais e Internacionais - Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica. Dimensão: 250 palavras. Eventos de Emergência no Algarve - Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica no Algarve. Dimensão: 250 palavras.

Best Links/ Best Apps de Emergência Pré-hospitalar - Âmbito: Divulgação de aplicações e sítios na internet de emergência médica pré-hospitalar -Dimensão: 250 palavras

Artigos Científicos O texto submetido deverá apresentado com as seguintes secções: Introdução e Objetivos, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos, Referências, Tabelas e Figuras. Não poderá exceder as 4.000 palavras, não contando Referências ou legendas de Tabelas e Figuras. Pode-se fazer acompanhar de até 6 Figuras/Tabelas e de até 60 referências bibliográficas. PÁGINA

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CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO Deve ser submetido em conjunto com um resumo, estruturado da mesma maneira. Não deve exceder as 250 palavras. Se revisão sistemática ou meta-análise deverá seguir as PRISMA guidelines. Se meta-análise de estudo observacionais deverá seguir as MOOSE guidelines e apresentar um protocolo completo do estudo.

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5. Referências Os autores são responsáveis pelo rigor das suas referências bibliográficas e pela sua correta citação no texto. Deverão ser sempre citadas as fontes originais publicadas. A citação deve ser registada empregando Norma de Harvard.

6. Revisão por pares

Se estudo de precisão de diagnóstico, deverá seguir as STARD guidelines.

A LF segue um processo single-blind de revisão por pares (peer review).

Se estudo observacional, siga as STROBE guidelines.

Todos os artigos são inicialmente revistos pela equipa editorial nomeada pelo editor-chefe e caso não estejam em conformidade com os critérios de publicação poderão ser rejeitados antes do envio a revisores.

Se se trata da publicação de Guidelines Clínicas, siga GRADE guidelines. Este tipo de trabalhos pode ter no máximo 6 autores.

A aceitação final é da responsabilidade do editor-chefe. Artigos de Revisão O objetivo deste tipo de trabalhos é rever de forma aprofundada o que é conhecido sobre determinado tema de importância clínica. Poderá contar com, no máximo, 3500 palavras, 4 tabelas/ figuras, não mais de 50 referências. O resumo dos Artigos de Revisão segue as regras já descritas para os resumos dos Artigos Científicos. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 5 autores.

Caso Clínico

Os revisores são nomeados de acordo com a sua diferenciação em determinada área da ciência médica pelo editor-chefe, sem necessidade de justificação adicional. Na avaliação os artigos poderão ser aceites para publicação sem alterações, aceites após modificações propostas pela equipa editorial ou recusados sem outra justificação.

7. Erratas e retracções A LF publica alterações, emendas ou retracções a artigos previamente publicados se, após publicação, forem detectados erros que prejudiquem a interpretação dos dados.

O objetivo deste tipo de publicação é o relato de caso clínico que pela sua raridade, inovações diagnósticas ou terapêuticas aplicadas ou resultados clínicos inesperados, seja digno de partilha com a comunidade científica. O texto não poderá exceder as 1.000 palavras e 15 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de até 5 tabelas/figuras. Deve inclui resumo que não exceda as 150 palavras organizado em objectivo, caso clínico e conclusões. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 4 autores.

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EDIÇ ÃO ESPE CIA L P RIMEIRO AN IV ER SÁ RIO

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