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FICHA TÉCNICA DIRETOR
EDITORES ASSOCIADOS
Bruno Santos
ILUSTRAÇÕES João Paiva.
TEMAS EM REVISÃO
EDITOR-CHEFE Daniel Nunez
André Villarreal, Guilherme Henriques, João Nuno Oliveira, Vasco Monteiro.
FOTOGRAFIA Pedro Rodrigues Silva, Maria Luísa Melão,
COMISSÃO CIENTÍFICA
HOT TOPIC
Ana Rita Clara,
Dénis Pizhin.
Solange Mega.
Ana Silva Fernandes, Carlos Raposo,
RUBRICA PEDIÁTRICA
AUDIOVISUAL
Cristina Granja,
Cláudia Calado, Mónica Bota.
Pedro Lopes Silva.
Eunice Capela, Gonçalo Castanho, José A. Neutel, Miguel Jacob,
CASO CLINICO ADULTO 2 Noélia Alfonso, Rui Osório.
DESIGN Luis Gonçalves (ABC).
Miguel Varela, Nuno Mourão, Pilar Crugeiras,, Rui Ferreira de Almeida,
CASO CLINICO PEDIÁTRICO Ana Raquel Ramalho, Marta Soares.
Sérgio Menezes Pina, Stéfanie Pereira,
CASO CLINICO NEONATAL/TIP
Vera Santos.
Nuno Ribeiro, Luísa Gaspar. BREVES REFLEXÕES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA Inês Simões.
CARTAS AO EDITOR Catarina Jorge, Júlio Ricardo Soares.
VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS Hugo Costa, Teresa Mota.
LIFESAVING TRENDS Alírio Gouveia.
Periodicidade: Trimestral Linguagem: Português ISSN: 2184-9811
2
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Propriedade: CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO ALGARVE Morada da Sede: Rua Leão Penedo. 8000-386 Faro Telefone: 289 891 100 | NIPC 510 745 997
PARCERIAS
EDITORIAL Caríssimos leitores, Esta edição de Maio de 2022 ficará inevitavelmente lembrada pela referencia histórica do início de um conflito bélico na Europa, desencadeado a leste pela invasão do território ucraniano pelas forças russas, que além do rasto de destruição e vítimas a lamentar, já desencadeou o êxodo de milhões de pessoas, tornando-se uma das maiores catástrofes humanitárias do século XXI. E assim, se após 2 anos de pandemia COVID já nos congratulamos pela desaceleração de casos e aumento da imunização da população, voltam agora novos receios, com a paz na Europa ameaçada, que nos deixam novamente com intranquilidade e incerteza para o futuro. O Corpo Editorial do Projeto LIFESAVING tem demonstrado inegavelmente grande resiliência, e apesar das dificuldades, orgulha-se de apresentar mais uma edição das suas duas publicações, mantendo assim bem acesa a chama desta iniciativa de divulgação e partilha de conhecimento na área da emergência médica. Neste 2º número do Volume 2 da LIFESAVING Scientific apresentamos mais uma série de artigos de elevado interesse e de leitura imperdível, que nos trazem atualização e evidência em temáticas tão diversas. Destacamos assim nesta edição o artigo de revisão da gestão e diagnóstico do pneumotórax no contexto pré-hospitalar, com abordagem centrada na utilização da ecografia torácica, bem como a revisão da abordagem pré-hospitalar da criança com traumatismo crane-encefálico grave. Apresentamos também a análise e discussão de um estudo de caso, com intenção de evidenciar a importância dos dispositivos mecânicos de compressão torácica no ambiente pré-hospitalar, e também um caso clínico pediátrico peculiar, pela apresentação atípica de uma cardiopatia congénita em contexto de emergência pré-hospitalar. Os leitores poderão ainda encontrar nesta edição duas interessantes Cartas ao Editor, um artigo de sobre a qualidade assistencial nos doentes com Acidente Vascular Cerebral, e o nosso destaque de inovação, na rubrica LIFESAVING Trends, com o comentário a um modelo de inteligência artificial (IA) criado para reconhecer a presença de paragem cardiorrespiratória em chamadas de emergência médica. São assim muitos os motivos para disfrutar da nossa publicação, pelo que nos resta desejar boas leituras, e esperar que as mesmas desencadeiem novos contributos editoriais e o interesse na submissão de novos artigos para as próximos números da LIFESAVING Scientific. Com elevada estima e consideração, agradeço todo, em nome da Equipa Editorial, a entrega e colaboração dos intervenientes nesta edição, e todo o apoio manifestado pelos nossos leitores e seguidores. Bem hajam, Bruno Santos Coordenador Médico das VMER de Faro e Albufeira Diretor do Projeto LIFESAVING
bsantos@chalgarve.min-saude.pt
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ÍNDICE
09
ARTIGO DE REVISÃO I Revisão da Gestão e Diagnóstico do Pneumotórax no contexto Pré-hospitalar
17
ARTIGO DE REVISÃO II Os Dispositivos mecânicos de compressão Torácica na Rede de Ambulâncias SIV: Um imperativo ou uma excentricidade? – Análise e discussão de um estudo de caso
23
RUBRICA PEDIÁTRICA Traumatismo Crânio-Encefálico grave em Pediatria: Avaliação e Abordagem Pré-hospitalar
33
CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO Defeitos Congénitos - Desvendados numa Emergência
39
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA AVC, a Emergência (ainda) minorada
43
CARTA AO EDITOR Cetamina: o próximo Sedativo Pré-hospitalar?
47
CARTA AO EDITOR O Impacto Psicológico da Pandemia COVID-19 nos Profissionais de Emergência Pré-hospitalar
51
LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA Inteligência Artificial identifica PCR em chamada de Emergência
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5a8 ago organização:
6
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Celebração do 5º Aniversário da LIFESAVING no Fórum FNAC de Faro: •
Exposição de pinturas e gravuras originais publicadas na Revista LIFESAVING
•
Apresentação à Comunidade dos algoritmos: ”O que fazer em caso de...”
•
Apresentação dos projetos LIFESAVING - Revista de Emergência Médica e LIFESAVING - SCIENTIFIC
apoio FNAC
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ARTIGO DE REVISÃO I
ARTIGO DE REVISÃO I
REVISÃO DA GESTÃO E DIAGNÓSTICO DO PNEUMOTÓRAX NO CONTEXTO PRÉ-HOSPITALAR
André Veloso1, Karl Cunha2, Bruno Santos3, Ulisses Brito4 Interno de Formação Específica de Pneumologia (CHUA - Unidade de Faro); 2Assistente Hospitalar de Pneumologia (CHUA - Unidade de Faro); 3Assistente Graduado de Pneumologia (CHUA - Unidade de Faro); 4Assistente Sénior e Director de Serviço de Pneumologia (CHUA - Unidade de Faro).
1
RESUMO
na abordagem do doente com
approach to pneumothorax, from
Pneumotórax é uma patologia
dispneia, tornando-se provavelmente
diagnosis to treatment, in the
comum observada em contexto
no futuro o novo gold standard do
prehospital and hospital environment,
pré-hospitalar nomeadamente
diagnóstico do pneumotórax.
and emphasize that ultrasound is an
secundário a lesão traumática. Pode cursar com dificuldade e
Palavras-Chave: Pneumotórax; Pneumotórax hipertensivo; Hemotórax; Ecografia torácica; Drenagem torácica/Toracotomia.
effective and sensitive tool in the diagnosis, which should be adopted in
insuficiência respiratória e de uma
the management of the patient with
forma mais grave, apresentar-se ou
dyspenia, probably becoming the
evoluir para hipertensivo com
ABSTRACT
future the new gold standard for
instabilidade hemodinâmica
Pneumothorax is a pathology
pneumothorax diagnosis.
associada, sendo extremamente
frequently observed in a prehospital
importante a sua identificação
context, namely secondary to
através de uma avaliação clínica
traumatic injury. It can present with
pormenorizada. Atualmente, a
difficulty and respiratory failure and, in
avaliação ecográfica no diagnóstico
a more severe form, present or
desta patologia muda o paradigma
progress to hypertensive with
de avaliação de vítimas no contexto
associated hemodynamic instability,
pré-hospitalar, com a adoção da
being extremely important to identify
ecografia de acordo com protocolos
it through a detailed clinical
FAST /PEEPS, BLUE/POCUS para
evaluation. Currently, the ultrasound
fornecer melhores cuidados aos
evaluation in the diagnosis of this
doentes vítimas de trauma que cursa
pathology changes the paradigm of
com pneumotórax. O objetivo desta
evaluation of victims in the pre-
revisão é esclarecer a abordagem do
hospital context, with the adoption of
pneumotórax desde diagnóstico ao
ultrasound according to the FAST /
tratamento, pré-hospitalar e
PEEPS, BLUE / POCUS protocols to
hospitalar, e realçar que a ecografia é
provide better care to trauma patients
uma ferramenta eficaz e sensível no
who have pneumothorax. The
diagnóstico, que deve ser adoptada
objective of this review is to clarify the
Keywords: Pneumothorax; Hypertensive Pneumothorax; Hemothorax; Thoracic ultrasound; Thoracic drainage/Thoracotomy
Abreviaturas: FAST-Focussed assessment with sonography for Trauma; PEEPS-Prehospital Evaluation of Effusion, Pneumothorax, and Standstill; BLUE-bedside lung ultrasound in emergencies POCUS-Point of care ultrasound; BTS-British Thoracic Society; DPOC-Doença pulmonar obstrutiva crónica; ATLS- Advanced trauma life support.
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9
INTRODUÇÃO
diminuição do murmúrio vesicular,
por observação/exame físico) a
Pneumotórax é uma patologia
diminuição da expansão torácica,
ecografia pode ser uma ferramenta
frequente e muitas vezes encontrada
hiperressonância do lado afectado,
importante na identificação de
no contexto de emergência/urgência.
taquipneia, frémito táctil e hipóxia
possíveis causas/diagnósticos
Globalmente, o trauma torácico
podem ser observados,3 sendo que
diferenciais (derrame pericárdio,
contribui para 25% a 50% da
no caso de um pneumotórax de
insuficiência cardíaca, pneumonia,
mortalidade anual1, sendo que 40-50%
pequenas dimensões (Guidelines
exacerbação de DPOC, entre outros).
dos doentes que apresentam trauma
BTS 2010 referem como inferior a
Concretamente no caso do
penetrante desenvolvem pneumotórax
3cm da parede torácica até a
pneumotórax, atualmente a ecografia
e 5% pneumotórax hipertensivo.2
margem pulmonar ao nível do hilo
torácica tem sido adotada e
Pneumotórax é definido como a
pulmonar)4 o exame físico e sinais
demonstrou uma sensibilidade
presença do ar no espaço pleural que
vitais podem estar normais. As
elevada e superior em comparação ao
leva ao aumento da pressão
alterações que merecem particular
raio x tórax, até agora o 1ºmeio
intrapleural com diminuição da
atenção são a distensão jugular
complementar de diagnóstico,
insuflação pulmonar. Um
venosa, taquicardia, cianose, hipóxia
particularmente em casos em que
pneumotórax pode apresentar
e hipotensão que podem traduzir a
não é necessária drenagem imediata,
múltiplas etiologias subdividindo-se
evolução para10 um pneumotórax
casos esse em que o raio x apresenta
em espontâneo (primário ou
hipertensivo com compressão da
baixa sensibilidade.5
secundário) e o não espontâneo
veia cava e por consequência choque
Obtém-se o diagnóstico de
(traumático- que pode estar
cardiogénico obstrutivo.
pneumotórax com ecografia de forma
associado a lesão penetrante ou não
É importante realçar que o
eficaz com a utilização dos diferentes
e iatrogénico). No contexto de
pneumotórax representa uma das
transdutores (convexo, linear com os
abordagem do doente emergente, o
possíveis condições com risco de vida,
modos linear/faseado). Não se
pneumotórax pode ter a sua origem
sendo que lesões e ou alterações
observa diferença estatisticamente
em trauma penetrante e não
torácicas devem ser inspecionadas na
significativa na sensibilidade e
penetrante, nomeadamente
abordagem primária, à palpação do
especificidade dos transdutores
associado à fratura de arcos costais
tórax pode-se identificar a presença de
utilizados6, contudo o transdutor
com laceração da pleura visceral ou
dor, de instabilidade da parede torácica
linear é o preferido na avaliação de
pela compressão pulmonar súbita
e de crepitações (enfisema
pneumotórax por melhor qualidade de
semelhante a lesão por contusão
subcutâneo) que sugere, até prova em
imagem e menor tempo de utilização
pulmonar, que leva a ruptura alveolar.
contrário, a presença de pneumotórax/
na avaliação da pleura, contudo na
enfisema mediastínico.3
impossibilidade de transporte de
DIAGNÓSTICO
O meio complementar de diagnóstico
vários transdutores no contexto
Na abordagem inicial do doente,
tradicional no diagnóstico do
pré-hospitalar, o transdutor convexo é
impera sempre a raciocínio clínico e
pneumotórax é o raio x tórax, um meio
o escolhido sendo que permite
avaliação clínica, sendo que o
conveniente que tem sido usado na
também avaliação do abdómen e
pneumotórax pode-se manifestar
abordagem do doente traumático
pericárdio para além do tórax.6
com a seguinte sintomatologia:
para diagnóstico de pneumotórax e
Não se observam diferenças nas
-Dor pleurítica aguda que pode
hemotórax, observando-se nestes
especificidades dos diferentes modos
cursar com irradiação para o braço
doentes em estudos prospectivos,
ecográficos6, permitindo como
ipsilateral e ombro e dispneia em
baixa sensibilidade de diagnóstico.5
vantagens: uma melhor avaliação do
repouso. Estes são os sintomas
Na abordagem pré-hospitalar do
doente que pode acompanhar a
típicos encontrados em 64-85% dos
doente com dispneia (um desafio
abordagem primária da vítima de
doentes com pneumotórax.3 Ao
diagnóstico em termos de etiologia
trauma. É um meio de diagnóstico
exame físico e auscultação:
que é difícil de determinar unicamente
portátil, sem exposição a radiação por
10
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ARTIGO DE REVISÃO I
Figura 1. Algoritmo de diagnóstico e gestão do pneumotórax3, adaptado de Traumatic Pneumothorax: A Review of Current Diagnostic Practices And Evolving Management. J Emerg Med. 2021.
parte do doente, apresenta elevada
ser verificado rapidamente na
descompressão emergente com
replicabilidade e baixa curva de
observação das regiões torácicas
toracostomia. ATLS recomenda a
aprendizagem. Relevante no
anteriores e laterais) ausência de
colocação de dreno com agulha no 2º
contexto pré-hospitalar por ser rápido
linhas B (linhas hiperecóicas
espaço intercostal na linha médio-
(protocolo FAST como o POCUS com
verticais) e presença do ponto
clavicular3. Contudo observa-se uma
duração de meio a um minuto-
pulmonar (o achado mais específico,
taxa de falência inferior quando a
períodos curtos que revelam a
neste contexto por vezes sem
descompressão se realiza no 5º
necessidade de observação, transição
espaço intercostal na região da linha
avaliação/transporte pré-hospitalar) ,
de uma zona sem deslizamento
anterior axilar, 13%, explicada pela
com elevada viabilidade e dinâmico
pleural com outra que apresenta
diminuição de tecido mole e massa
por permitir avaliações repetidas .
deslizamento) . Deslizamento pleural
muscular nessa localização.10 Esta
lrajhi et al. demonstrou uma
refere-se ao movimento dinâmico da
diferença também pode ser explicada
sensibilidade de 90% e especificidade
pleura visceral sobre a pleura
pelo aumento de IMC observado na
de 98% na análise de pneumotórax
parietal durante a respiração
generalidade da população que
traumático. Numa revisão
espontânea, mais bem visualizado
aumenta a taxa de insucesso com a
sistemática que incluiu 1565 doentes
no ápex pulmonar.
abordagem anterior na linha médio-
com suspeita de pneumotórax, a
Como desvantagens, a ecografia
clavicular.11
ecografia torácica com a adopção do
pulmonar apresenta limitações como
Em doentes em que existe forte
protocolo POCUS apresentou uma
visualização limitada particularmente
probabilidade de pneumotórax
sensibilidade de 98,6% e uma
em doentes obesos com biótipo de
hipertensivo, no contexto pré-
especificidade de 85,5%. O
grandes dimensões, com
hospitalar, poderá ser feita drenagem
pneumotórax pode assim ser
visualização limitada em casos de
torácica com descompressão através
diagnosticado com recurso a
enfisema cutâneo.
de dreno com agulha ou toracostomia
7
9
vantagem de não prolongar a 8
7
3
3
9
por dedo. Até agora, observaram-se
ecografia quando se observam as seguintes alterações:
TRATAMENTO
taxas de mortalidade superiores em
- Ausência de deslizamento da pleura
Qualquer pneumotórax pode evoluir
doentes com toracostomia por
pulmonar (o achado mais
para um pneumotórax hipertensivo,
dedo12, contudo não se observa uma
frequentemente observado, que pode
sendo nesse caso necessário uma
diferença estatisticamente
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11
12 Figura 2. Descompressão com agulha no 2ºespaço intercostal na linha médio-clavicular
30 Fr
28 Fr
24 Fr
20 Fr
Pleurocath 6-12 Fr
Figura 3. Diferentes drenos torácicos de acordo com diâmetro (escala de French Gauge- Fr)
12
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ARTIGO DE REVISÃO I
significativa na mortalidade, o que
pode ser usado como forma de
CONCLUSÕES
pode ser explicado em parte por esta
confirmação de colocação
O pneumotórax é uma causa
abordagem ser utilizada em doentes
apropriada de tubo endotraqueal.17
importante de dispneia aguda que
em estado mais grave de acordo com
deve ser identificada e se possível
a escala de ISS9, com maior
A drenagem torácica é efectuada com
resolvida de uma forma célere em
necessidade de intubação posterior e
diferentes tipos de drenos que variam
contexto pré-hospitalar, sendo que o
de transfusão por instabilidade
de acordo com o diâmetro (utiliza-se
seu diagnóstico caminhada para uma
hemodinâmica.13,14 Contudo observa-
a escala de French gauge-Fr). Pigtail
abordagem centrada na ecografia
se maior eficácia com esta
(inferior a 14Fr) até drenos de largo
torácica que apresenta como
abordagem no acesso a cavidade
tamanho (até 40Fr), sendo que
potencialidade o aumento da
pleural ( o sucesso não é dependente
tradicionalmente como a maioria dos
sensibilidade no diagnóstico inicial de
no comprimento da agulha nem na
pneumotóraxes em contexto pré-
pneumotórax como de hemotórax/
espessura da parede torácica no caso
hospitalar se tratam de
pneumotórax hipertensivo,
da drenagem por agulha)12.
pneumotóraxes traumáticos, drenos
particularmente em doentes
A abordagem conservadora de
de maior diâmetro (36-40Fr) são
traumáticos. A ecografia pode ser
pneumotórax traumático também
preferidos, como precaução para uma
realizada em conjunto com a
pode ser adoptada em doentes
possível drenagem de hemotórax.3
abordagem primária ou
hemodinamicamente estáveis com
Contudo não se observa uma
imediatamente após e apesar de ser
trauma torácico, com pneumotórax de
diferença na mortalidade apesar da
um método dependente de operador,
pequenas dimensões ou até ocultos,
presença ou não de hemotórax.3 A
a curva de aprendizagem é
sem necessidade de drenagem
taxa de complicações, de falência de
relativamente pequena.20 A drenagem
torácica compulsiva.3 Yadav et al num
drenagem e tempo necessário de
torácica com drenos de menor calibre
estudo de revisão sistemática com
manutenção de dreno é semelhante
é tao eficaz como de maior calibre no
101 doentes com trauma torácico e
em ambos os grupos de calibre,
contexto do pneumotórax traumático,
pneumotórax de pequenas dimensões
contudo deve ser dada preferência a
com menos dor e menor tempo de
não observou diferenças em
drenos de menor calibre pois foi
internamento associado à colocação
mortalidade, progressão de tamanho
demonstrado que provocam menos
do dreno. Uma abordagem
do pneumotórax e tempos de
dor e redução de tempo de
conservadora observacional deve ser
internamento15. Kirkpatrick et al em
internamento19, sendo recomendado
adoptada no pneumotórax de
2013 realizou um estudo que incluía
drenos de calibre 28 Fr ou inferior
pequenas dimensões ou ocultos para
95 doentes com pneumotórax ocultos,
para todos os pneumotóraxes.19
prevenção e redução de
com necessidade de ventilação
As complicações associadas as
complicações associadas à
positiva e não observou progressão de
drenagens torácicas podem ser
drenagem torácica
tamanho favorecendo a abordagem
divididas em precoces quando
conservadora nestes casos.16
ocorrem nas 1ºas 24 horas, sendo a
A ecografia torácica apresenta um
lesão orgânica do baço, fígado,
papel relevante também no
pulmão, diafragma, hemorragia e
tratamento do pneumotórax sendo
edema pulmonar de reexpansão as
que permite a avaliação de
mais graves. As tardias podem
necessidade de realização de
traduzir-se em infeção como celulite,
toracotomia, de nova tentativa após
pneumonia, empiema e fasceíte
realização falhada e no caso de
necrotizante, edema de reexpansão,
necessidade de intubação por
fístula arteriovenosa e persistência/
instabilidade de via aérea, a
pneumotórax recorrente.3
presença/ausência de lung sliding
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ARTIGO DE REVISÃO I BIBLIOGRAFIA 1.
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COMISSÃO CIENTÍFICA
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15
16
16
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ARTIGO DE REVISÃO II
ARTIGO DE REVISÃO II
OS DISPOSITIVOS MECÂNICOS DE COMPRESSÃO TORÁCICA NA REDE DE AMBULÂNCIAS SIV: UM IMPERATIVO OU UMA EXCENTRICIDADE? – ANÁLISE E DISCUSSÃO DE UM ESTUDO DE CASO Silana Lopes¹; Pedro Vasconcelos²; Tiago Augusto², Tiago Dias3, Rui Campos4 1 Enfermeira; Centro Hospitalar Médio Tejo e SIV Tomar ² Enfermeiro Especialista; Instituto Nacional de Emergência Médica 3 Enfermeiro com funções de chefia; Instituto Nacional de Emergência Médica 4 Enfermeiro Diretor; Instituto Nacional de Emergência Médica
RESUMO
incluídas e equipadas de DMCT, de
ambulances are not integrated in the
Objetivo: Este artigo pretende
forma a garantir a qualidade
Cardiac Arrest Green Line, and are not
evidenciar a importância dos
assistencial e aumentar o número de
equipped with mechanical chest
dispositivos mecânicos de
candidatos a eCPR (Extracorporeal
compressions devices (DMCT). It is
compressão torácica (DMCT) na
cardiopulmonary resuscitation).
suggested that the SIV ambulances
emergência pré-hospitalar, nomeadamente em meios de emergência sediados em áreas de abrangência de hospitais com ECMO (Extracorporeal membrane oxygenation). Caso clínico: É apresentado um caso de uma paragem cardiorrespiratória (PCR) numa mulher de 46 anos, atendida inicialmente por uma ambulância SIV (Suporte Imediato de Vida) que presenciando situação de PCR pediu apoio de uma equipa VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação). À chegada da VMER, foi mantido suporte avançado de vida e iniciado transporte para centro de ECMO, com aplicação de DMCT. Conclusão: Atualmente os meios SIV não se encontram integrados no programa Via Verde Reanimação, não possuindo DMCT. Sugere-se que as SIV localizadas nas áreas de influência deste programa sejam
Palavras-Chave: Paragem Cardiorrespiratória, Suporte Imediato de Vida, Suporte Avançado de Vida, Dispositivo Mecânico de Compressão Torácica, Ressuscitação Cardiopulmonar Extracorpórea, Via Verde
ABSTRACT Objective: This paper aims to highlight the importance of mechanical chest compression devices in emergency medical services, especially in ambulances located in areas covered
located in the areas of influence of this program be included and equipped with DMCT, in order to guarantee the quality of care and increase the number of candidates for eCPR (extracorporeal cardiopulmonary resuscitation). Keywords: Cardiac Arrest, Immediate Life Support, Advanced Life Support, Mechanical Chest Compressions Device, extracorporeal cardiopulmonary resuscitation, Green Line
by hospitals with ECMO (extracorporeal membrane oxygenation).
INTRODUÇÃO
Clinical case: A case of cardiac arrest
A natureza absolutamente
is presented in a 46 year-old woman,
imprevisível e tempo-dependente da
initially treated by a SIV ambulance
Paragem Cardiorrespiratória em
(Immediate Life Support) who,
contexto extra-hospitalar (PCREH)
witnessing a cardiac arrest, asked for
transforma-a numa emergência
support from an ALS team. Upon
médica única1. As intervenções no
arrival of ALS team, advanced life
âmbito do suporte avançado de vida
support was maintained and transport
(SAV), com recurso a procedimentos
to the ECMO center was initiated, with
de gestão da via aérea, administração
the application of a mechanical chest
de fármacos e correção das causas
compression device.
potencialmente reversíveis de PCREH,
Conclusion: Currently, the SIV
otimizam a função
Indice
17
cardiorrespiratória2, aumentando a taxa de sobrevivência, sendo todas estas medidas realizadas pelas equipas SIV (Suporte Imediato de Vida). A eCPR deve ser considerada como uma terapia de resgate nas vítimas de PCREH refratária às manobras de SAV3–5. Os dispositivos mecânicos de compressão torácica (DMCT) realizam compressões torácicas manuais de alta qualidade, pelo que o seu uso é recomendado nos candidatos a eCPR3,6. CASO CLÍNICO A equipa SIV de Lisboa foi acionada para um evento numa instituição de
18
saúde. No local, atenderia uma
Coma de Glasgow: 6 (O4V1M1).
administração de adrenalina 1mg EV
mulher de 46 anos com palpitações.
Pupilas simétricas, em midríase.
e abordada a via aérea com
Após chegada ao local, na avaliação
E – Exposição: Temperatura: 36,2ºC.
colocação de máscara laríngea, com
inicial a doente encontrava-se com
CHAMU: A doente tinha antecedentes
obtenção de valores de dióxido de
GCS=6, polipneica em evidente
pessoais de depressão, e estava
carbono do final da expiração (EtCO2)
esforço respiratório, sob
internada por ideação suicida,
de 25-30mmHg. Durante a
oxigenoterapia com máscara de alta
medicada com Mirtazapina,
intervenção da equipa SIV
concentração (MAC), situação com 4
Olanzapina, Diazepam e Haloperidol
objetivaram-se três retornos de
horas de evolução.
SOS. No dia da ativação, a doente
circulação espontânea (RCE) de
Na abordagem ABCDE constatou-se:
iniciou um quadro com quatro horas
duração superior a 30 segundos,
de evolução de agravamento
voltando a AESP, sendo que a 4ª
A – Via Aérea: permeável, sem
progressivo de dificuldade respiratória
recuperação de RCE ocorre já na
necessidade de adjuvante
e depressão do estado de consciência.
presença da equipa de VMER, de
B – Ventilação: Taquipneia (40cpm),
duração superior a 30 segundos
regular, simétrica, com utilização de
Durante a avaliação primária a vítima
permitindo avaliação de PA
músculos acessórios da respiração.
evoluiu para PCR, pelo que a
(52/32mmHg) e realização de ECG,
Sem alteração do murmúrio vesicular.
intervenção passou a ser orientada
mas voltando a PCR em AESP, sendo
Saturação periférica de oxigénio:
pelo protocolo SIV - Protocolo PCR no
decidido transporte para eCPR.
100% com suporte de oxigénio por
Adulto. De imediato foi contactado o
máscara de alto débito a 15L/m.
Centro de Orientação de Doentes
Para avaliar a elegibilidade da
C – Circulação: Pele pálida, seca e
Urgentes para pedido de apoio
candidata para Via Verde
quente ao toque. Monitorização
médico e iniciadas manobras de
Reanimação, foi aplicado pela VMER
cardíaca com ritmo sinusal e
ressuscitação cardiopulmonar. O
o Fluxograma de decisão para
frequência: 72bpm. Pressão arterial
ritmo inicial de PCR foi Atividade
admissão de doentes para eCPR /
(PA) 103/54mmHg. Tinha um acesso
Elétrica sem Pulso (AESP). Foram
doação em coração parado do Centro
venoso periférico com Cloreto de
mantidas compressões torácicas
Hospitalar Universitário de Lisboa
Sódio 0,9%.
manuais, confirmada permeabilidade
Central7 e realizado transporte com
D – Disfunção Neurológica: Escala de
de acesso venoso periférico, iniciada
apoio de DMCT. A doente foi admitida
18
Indice
ARTIGO DE REVISÃO II
na Unidade de Urgência Médica
de São João e a quatro VMER da área
impossibilidade, aumentar o número
(UUM) e encaminhada diretamente
foi, posteriormente, alargado à região
de órgãos disponíveis para
para canulação e ECMO.
da grande Lisboa, envolvendo o
transplantação3.
Centro Hospitalar de Lisboa Norte
No caso clínico relatado a doente de
DISCUSSÃO
(Hospital de Santa Maria) e o Centro
46 anos, sem comorbilidades major,
Em 2016, o Instituto Nacional de
Hospitalar de Lisboa Central (Hospital
com PCR presenciada por um meio
Emergência Médica (INEM), o Centro
de São José) e cinco VMER.
SIV, com início imediato de SBV e SAV,
Hospitalar Universitário de São João
Com vista à expansão nacional da Via
que apesar do ritmo inicial de AESP
e o Instituto Português de Sangue e
Verde Reanimação, todos os meios
teve três episódios de RCE, sempre
Transplantação desenvolveram um
SAV do INEM foram dotados de
com EtCO2 mantido de 25-30mmHg
protocolo piloto, o projeto Via Verde
DMCT3. O objetivo conjunto foi de
que demonstra a qualidade das
Reanimação. Inicialmente
aumentar a sobrevivência de vítimas
manobras de reanimação manuais da
implementado no Centro Hospitalar
de PCR, elegíveis para eCPR e, na
SIV, não seria admitida para eCPR por
Indice
19
20
20
Indice
ARTIGO DE REVISÃO II
incapacidade da equipa manter
ser dotados de DMCT de forma a
2021;161:115-151. doi:10.1016/j.
compressões adequadas durante o
aumentar o número de candidatos
resuscitation.2021.02.010
transporte. Sem DMCT, as
elegíveis para centros de ECMO em
compressões torácicas em transporte
tempo útil. Até ao dia de hoje, não é
que é o ECMO. Newsletter O Central. Published
não são eficazes para o doente nem
possível referenciar estes doentes
2019. http://www.chlc.min-saude.pt/wp-content/
seguras para a equipa8–11, pelo que se
para centros de ECMO dada a
uploads/sites/3/2019/10/o-Central-3-ECMO.pdf
recomenda a utilização de DMCT em
impossibilidade de manter manobras
transporte6.
de SAV de alta qualidade durante o
Out-of-hospital cardiac arrest termination of
A intervenção da VMER permitiu a
transporte.
resuscitation with ongoing CPR : An observational
colocação DMCT e o transporte para
Este reforço de equipamento nos
study. Resuscitation. 2018;130(May):21-27.
eCPR, pese embora o tempo de RCP
meios diferenciados aqui proposto,
doi:10.1016/j.resuscitation.2018.06.021
no local com consequente aumento
permitirá a inclusão de mais doentes
do tempo de no flow sejam, além do
elegíveis para referenciação para
Chest Compression Quality Delivered During
ritmo de paragem, fatores
centros de ECMO, permitindo em
On-Scene and Ground Transport Cardiopulmonary
determinantes de mau prognostico no
primeira linha salvar mais vidas ou,
Resuscitation. West J Emerg Med. Published
caso apresentado.
em última análise, aumentar o
online 2016. doi:10.5811/westjem.2016.6.29949
O INEM perspetiva a médio prazo
número de potenciais dadores
7.
8.
9.
10.
equipar com compressores e fazer a
Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central. O
Yates EJ, Schmidbauer S, Smyth AM, et al.
Lucas A, Logan J, Russi CS. A Comparison of
Fox J, Fiechter R, Gerstl P, et al. Mechanical versus manual chest compression CPR under ground
correspondente formação aos
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se a SIV Lisboa, tal como outros
doi:10.1016/S0140-6736(18)30552-X
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BMJ. Published online 2012. doi:10.1136/
Ramos R, Barros F. Via Verde Reanimação INEM:
emermed-2012-201142
meios do grande Porto, enquadrados
2.
em áreas de abrangência de centros de ECMO, parece-nos fundamental a
3.
dotação destes meios com DMCT.
Unir esforços para salvar vidas. Gestão Hosp.
Ainda que idealmente estas situações
2018;(15):20-24.
devam ter a presença de um médico
4.
EClinicalMedicine The Minnesota mobile
este meio em tempo útil, a mudança
extracorporeal cardiopulmonary resuscitation
de paradigma com início precoce do
consortium for treatment of out-of-hospital
transporte também pelas SIV, pode
refractory ventricular fi brillation : Program
alargar o número de doentes elegíveis
description , performance , and outcomes.
para eCPR a serem encaminhados
EClinicalMedicine. 2020;29-30:100632.
para centros de ECMO.
doi:10.1016/j.eclinm.2020.100632
Articles Advanced reperfusion strategies for
Da análise deste caso clínico,
patients with out-of- hospital cardiac arrest and
parece-nos importante que os meios
refractory ventricular fibrillation ( ARREST ): a
SIV, que atuam sob regulação médica
phase 2 , single centre , open-label , randomised
e intervêm com elevado nível de
controlled trial. Lancet. 2020;6736(20):1-10.
diferenciação na PCR, garantindo via
doi:10.1016/S0140-6736(20)32338-2 6.
EDITOR
Yannopoulos D, Bartos J, Raveendran G, et al.
CONCLUSÃO
aérea avançada e monitorização de
Ventzke M, Lampl L, Helm M. Transport with
Bartos JA, Frascone RJ, Conterato M, et al.
(VMER), na impossibilidade de ativar
5.
11.
VASCO MONTEIRO Enfermeiro VMER, Gabinete de Coordenação SIEM - DRSul INEM REVISÃO
Soar J, Böttiger BW, Carli P, et al. European
EtCO2, acesso vascular e
Resuscitation Council Guidelines 2021: Adult
administração de fármacos, possam
advanced life support. Resuscitation.
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
21
22
22
Indice
RUBRICA PEDIÁTRICA
RUBRICA PEDIÁTRICA
TRAUMATISMO CRÂNIO-ENCEFÁLICO GRAVE EM PEDIATRIA: AVALIAÇÃO E ABORDAGEM PRÉ-HOSPITALAR SEVERE TRAUMATIC BRAIN INJURY IN PEDIATRIC AGE: PRE-HOSPITAL EVALUATION AND MANAGEMENT Marta Novo1 1
Interna do Internato Complementar de Pediatria Médica, Serviço de Pediatria, Centro Hospitalar Universitário do Algarve Unidade de Faro
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
O traumatismo crânio-encefálico
Traumatic brain injury (TBI) is
O presente artigo pretende
(TCE) é frequente em idade pediátrica,
common in pediatric age; although
esquematizar a avaliação inicial e
geralmente ligeiro e sem lesões
usually mild and not associated with
abordagem da criança com
intracranianas, contudo pode ser
intracranial lesions, it can be
traumatismo crânio-encefálico
potencialmente grave nesta faixa
potentially serious in this age group.
(TCE) grave.
etária. Nesse sentido este artigo tem
This article aims to review the initial
O TCE é uma causa frequente de
como objetivo fazer uma revisão da
assessment and approach to children
lesão em crianças, com uma
avaliação e abordagem iniciais da
with severe TBI. TBI is one of the main
incidência estimada em
criança com TCE grave. O TCE é uma
causes of morbidity and mortality in
280/100000.1,2 Em idade pediátrica,
das principais causas de
children and teenagers. The main
as lesões que necessitam de
morbimortalidade em crianças e
factors associated with low scores on
intervenção são menos frequentes
adolescentes sendo os principais
the Glasgow scale (GCS) are
que nos adultos. Uma causa
fatores associados a baixa pontuação
hypotension, cerebral oedema, diffuse
importante de trauma são as lesões
na escala de Glasgow (GCS),
axonal lesion and low cerebral
infligidas (abuso físico), que devem
hipotensão, edema cerebral, lesão
perfusion pressure. The initial
ser consideradas na investigação
axonal difusa e baixa pressão de
approach, evaluation, monitoring and
etiológica. São fatores de risco para
perfusão cerebral. A avaliação e
adequate intensive care are essential
maior morbimortalidade a idade <4
abordagem iniciais, a monitorização e
to prevent secondary brain injury.
anos, GCS inicial baixo, coagulopatia,
cuidados intensivos adequados são
hipotensão ou hiperglicemia3-11.
fundamentais para prevenção da
As escalas de triagem inicial devem
lesão cerebral secundária.
ser simples e sensíveis o suficiente de forma a identificar os doentes que requerem maior nível de cuidados em unidades de trauma. As escalas validadas para a população pediátrica são: Escala de Glasgow (GCS), GCS Pediátrica, Escala de Trauma Pediátrica (PTS). GSC é amplamente utilizada em trauma e a sua modificação para a
Palavras-Chave: Traumatismo crânio-encefálico, escala coma Glasgow, hipertensão intracraniana
Keywords: Traumatic brain injury, Glasgow coma scale, cranial hypertension
idade pediátrica foi um grande avanço
Indice
23
momento do trauma, e o mecanismo inerente é o impacto ou aceleração/ desaceleração. A lesão primária conduz à resposta secundária, uma resposta fisiológica a nível bioquímico, celular e metabólico.18-22 Inicialmente, após a lesão direta, o fluxo sanguíneo cerebral diminui e como há aumento das necessidades Tabela 1: Escala de Glasgow e Escala de Glasgow Pediátrica (adaptada de Holmes JF, Palchak MJ, MacFarlane T, Kuppermann N. Performance of the pediatric Glasgow coma scale in children with blunt head trauma. Acad Emerg Med 2005; 12:814)
metabólicas, o cérebro torna-se mais suscetível à hipoxemia, hipotensão, hipertermia e aos distúrbios hidroelectrolíticos (sódio e glicose). Adicionalmente há prejuízo dos mecanismos de autorregulação cerebral e libertação de
24
neurotransmissores excitatórios que amplificam a cascata de lesão neuronal, sendo a perfusão cerebral dependente da manutenção da pressão arterial adequada. 24-72 horas após a lesão desenvolve-se o edema cerebral que pode comprometer ainda mais a perfusão cerebral e conduzir a isquemia e
Tabela 2: Escala de Trauma Pediátrica (adaptado de Furnival, RA, Schunk, JE. Pediatr Emerg Care 1999; 15:215)
edema adicionais, herniação e
na avaliação dos doentes verbais e
As lesões intracranianas são as mais
morte.18-22
pré-verbais. GSC pediátrica está
comuns em pediatria, podem ser
validada para crianças com menos de
classificadas em focais (LCF) ou
FATORES DE GRAVIDADE
2 anos. É um parâmetro evolutivo e
difusas e serem resultantes de uma
Os fatores de gravidade podem estar
índice prognóstico.12-13
lesão primária e/ou secundária.14-16
relacionados com a lesão ou com a eficácia da resposta na estabilização
CLASSIFICAÇÃO
A lesão cerebral classifica-se em
do doente durante o atendimento
O TCE pode ser classificado quanto ao
primária e secundária. A primária é a
pré-hospitalar/hospitalar.
mecanismo, gravidade e morfologia.14-16
lesão mecânica direta que ocorre no
Algoritmo 1. Classificação do TCE
24
Indice
RUBRICA PEDIÁTRICA
Algoritmo 2. Classificação das lesões intracranianas
•
GSC
•
Movimentos dos membros
•
Pupilas
E: Exposição e avaliação de toda a superfície corporal Tabela 3. Fatores de gravidade 7, 23-29
Numa primeira abordagem a
ABORDAGEM PRIMÁRIA
ABC:
avaliação inicial tem como objetivo
Neste artigo vamos dar ênfase à
A. Vias aéreas e manutenção da
triar as crianças com necessidade de
avaliação inicial e estabilização da
imobilização cervical
cuidados num centro de trauma
criança, dando prioridade à
B. Ventilação adequada
pediátrico ou de adultos com
permeabilização da via aérea,
(normocapnia)
qualificação para atendimento
ventilação e suporte cardiovascular.
C. Circulatório com controlo das
pediátrico. Deve-se realizar a
Deve ser feita a imobilização cervical
perdas hemáticas
avaliação neurológica através da GCS
durante toda a abordagem inicial.
D: Exame Neurológico
para averiguar o nível de consciência
30-33
Indice
25
e eventual necessidade de intervenção: - se GCS≥12, mas com provável TC-CE com alterações, necessita de avaliação por neurocirurgia; - GCS≤8 ou a descer rapidamente a avaliação por neurocirurgia é emergente. É essencial identificar os sinais de herniação cerebral eminente: 1. Via aérea e ventilação
Tabela 4. Tipos Herniação cerebral7,34(Adaptado de: Plum F, Posner JB, The Diagnosis of Stupor and Coma III. FA Davis, Philadelphia p. 103)
A estabilização do doente crítico, inicia-se pela avaliação e eventual suporte da via aérea e ventilação, sendo que as crianças conscientes e com pressão arterial normal podem realizar apenas oxigénio suplementar.
26
A abordagem avançada da via aérea, nomeadamente entubação endotraqueal, está indicada nas seguintes situações17: •
Afundamento do nível de consciência (GSC≤8) ou descida rapidamente progressiva
•
Sinais de falência respiratória
•
Instabilidade hemodinâmica
Tabela 5. Sequência rápida de entubação (adaptada de: Monica S Vavilala, Robert C Tasker, MBBS; Severe traumatic brain injury in children: Initial evaluation and management; Uptodate Oct 08, 2019)
A entubação endotraqueal deve ser realizada com tubos endotraqueais
etomidato em crianças com TCE
Quanto à ventilação mecânica, não
com cuff (evitar aspirações) deve ser
grave e com hipertensão intracraniana
está recomendada a hiperventilação
precedida da sequência rápida de
(HIC), hipotensão e/ou crise
profilática (PaCO2<30 mmHg), por
entubação (tabela 5) e é fundamental
convulsiva.
manter a imobilização cervical
alguns doentes a PIC, enquanto
diminuição da pressão da perfusão
durante este processo.31, 33-35
mantém a pressão de perfusão
cerebral (recomendação nível III)31.
cerebral, sendo uma alternativa se
No entanto, pode ser realizada
A pré-oxigenação é particularmente
etomidato indisponível. O fentanil,
hiperventilação agressiva (PaCO2 <30
importante nas crianças pela
apesar de limitada evidência em
mmHg) por curtos períodos de tempo
combinação do alto consumo de
crianças, pode ser utilizado em casos
nos casos de HIC refratária, herniação
oxigénio com a baixa capacidade
de choque cardiogénico.
cerebral ou agravamento neurológico
residual funcional e baixo volume
Relativamente aos relaxantes
agudo.32 A PaCO2 deve ser
alveolar.36-38
musculares, o rocurónio e a
rigorosamentemonitorizada com
O etomidato, propofol e tiopental têm
succinilcolina são boas opções.
valores alvo de 35-40 mmHg.
propriedades neuroprotectoras. Uma
O efeito do relaxante muscular
2. Circulação
vez que o propofol e tiopental têm
é mais lento se administração
Relativamente à pressão de perfusão
efeito depressor cardiovascular,
intramuscular (IM).
cerebral (PPC= PAM-PIC, desejável >
sugere-se dar preferência ao
26
Indice
39,40
A ketamina reduz em
41
causar isquémia cerebral devido à
40 mmHg)24, deve monitorizada de
RUBRICA PEDIÁTRICA
forma a prevenir as lesões cerebrais isquémicas secundárias (evidência nível III1). Sugere-se PPC entre 40-50 mmHg de forma a garantir o valor mínimo de 40 mmHg (evidência nível III2.)31. A pressão arterial mínima necessária para manter a pressão de necessidades metabólicas em bebés
Tabela 6. Valores de Pressão Arterial Normal em crianças (adaptado de Vershold, H. Aortic blood pressure during the first 12 hours of life in infants with birth weight 610-4220 grms. Pediatrics 1981; 67:107 and Report of the second Task Force on Blood Pressure Control in Children--1987. Task Force on Blood Pressure Control in Children. National Heart, Lung, and Blood Institute, Bethesda, Maryland. Pediatrics 1987; 79:1)
e crianças com TCE grave ainda não
3. Abordagem da pressão
Pode-se realizar punção lombar para
foi estabelecida, porém a pressão
intracraniana
redução da PIC (recomendação nível
arterial sistólica deve ser mantida
A hipertensão intracraniana é de
III)31 e o uso de corticoterapia não
idealmente entre o P75-90, para o
difícil diagnóstico em crianças
está indicado por falta de evidência
sexo, altura e idade, pelo fato da
pequenas e a existência de suturas ou
entre o risco e benefício.
hipotensão inicial estar associada a
fontanelas abertas não impedem a
maior morbimortalidade.30,42-44
sua ocorrência. A monitorização da
As soluções hiperosmolares:
PIC está recomendada em crianças
•
perfusão cerebral adequada para as
Solução salina 3% está
O doente com TCE grave deve ter 2
com TCE grave e GSC ≤8 e/ou lesões
recomendada em doentes com
acessos venosos em vasos de
intracranianas com efeito de massa
HIC, sendo a dose inicial de 2-5
grande calibre, de forma que, em
e/ou em situações em que o ENS
mL/kg durante 10-20 minutos
caso de choque, seja possível um
seriado esteja comprometido devido
(recomendação nível II) e a
tratamento rápido.
à sedoanalgesia ou curarização32.
perfusão contínua entre 0.1-1
Sabe-se que PIC > 20mm Hg está
mL/kg/h, sendo que se sugere a
Nas primeiras 24-48h a fluidoterapia
associada a uma mortalidade de 28%
dose mínima eficaz para manter
tem que ser dirigida para a
enquanto PIC > 40mmHg tem uma
a PIC<20 mmHg (recomendação
normovolémia.
mortalidade de 100%32. No tratamento
nível III)31
•
Recém-nascidos e crianças
da HIC sugere-se um valor alvo de
pequenas habitualmente Glicose
pressão intracraniana <20 mmHg
sugere-se a administração de
5%+NaCl 0.9 % ou
(evidência de nível III1.)31
bólus de solução salina a 23.4%
•
Se HIC intracraniana refratária,
Glicose10%+NaCl 0.9% •
Crianças maiores e adolescentes NaCl 0.9%
•
Utilizar soluções isotónicas no choque hipovolémico, uma vez que o aumento do volume extravascular pode aumentar o edema cerebral. A administração de soluções hipotónicas deve ser evitada pela associação ao aumento do edema cerebral e destruição celular. Em caso de hemorragia, estão indicadas transfusões com derivados hematopoiéticos. Diagrama 1. Fisiopatologia da HIC 45-48
Indice
27
28
Algoritmo 3. Tratamento de herniação cerebral e HIC em crianças (Adaptado de: Stevens RD, Shoykhet M, Cadena R, Emergency Neurological Life Support: Intracranial Hypertension and Herniation. Neurocrit Care. 2015 Dec;23 Suppl 2:S76-82.)
28
Indice
RUBRICA PEDIÁTRICA
na dose de 0.5 ml/kg sendo a
MENSAGENS CHAVE
TAKE HOME MESSAGES:
dose máxima de 30mL
•
•
Evitar o aumento excessivo do
•
Nas crianças com TCE grave, a
initial GCS. •
The evaluation and initial
sódio. Na+> 160 mEq/L tem risco
avaliação e estabilização iniciais
stabilization in children with
de trombose venosa profunda.
são importantes para prevenir
severe TBI, are crucial to prevent
Na+> 170 mEq/L tem risco de
lesões secundárias.
secondary lesion.
trombocitopenia e anemia •
TBI’s severity is defined by the
pela GCS inicial
(recomendação nível III)31 •
A gravidade do TCE é definida
•
Durante a avaliação inicial e
•
During initial evaluation and
Manitol a 20%: apesar de
abordagem da via aérea, tal
advanced airway management,
frequentemente utilizado na
como na entubação
such as endotracheal intubation,
redução da PIC em doentes
endotraqueal, deve-se manter a
the patient should remain with
pediátricos com lesão
imobilização cervical e está
cervical spine immobilization it
traumática, não há nenhum
indicada nas seguintes
should be performed in the
estudo que refira quais os
situações:
flowing conditions:
critérios para a sua utilização no
•
GCS ≤8 ou a descer rapidamente
1.
GCS ≤8 or sudden decrease
controlo da PIC. 31
•
Sinais de falência respiratória
2.
Signs of respiratory failure
•
Instabilidade hemodinâmica
3.
Haemodynamic instability
•
A entubação endotraqueal deve
4. Exposição
•
Endotracheal intubation must be
Nas crianças com TCE deve-se manter
ser realizada com a SE dando
performed by rapid sequence
a normotermia (temperatura central
privilégio aos fármacos
intubation, mainly with
36-37.5ºC), sendo que a hipertermia
neuroprotetores, tais como o
neuroprotective medications,
deve ser agressivamente tratada com
etomidato na sedação e
such as etomidate as sedative
antipiréticos e, se necessário,
rocurónio ou succinilcolina na
and rocuronium or
arrefecimento do ambiente (mantas de
curarização (se sugammadex
succinylcholine as muscle
refrigeração, placas de arrefecimento
disponível, é recomendado o uso
relaxants (when sugammadex is
nas axilas e virilhas, irrigação gástrica
do rocurónio).
available, rocuronium is
Se ausência de sinais de
recommend).
e vesical com soro frio). A hipotermia
•
deve também ser tratada com
herniação manter PaCO2 entre
medidas inversas, contudo em
35-40 mmHg, contudo se sinais
between 35-40 mmHg, but if
situações de HIC refractária pode-se
de herniação eminente manter
signs of impending herniation it
recorrer a hipotermia controlada.30-32
PaCO2 30-35 mmHg (não
should be 30-35 mmHg (no more
A manutenção da normoglicemia é
ultrapassar as 2 horas).
than 2h).
fulcral na abordagem destes
•
doentes.32 NOTA FINAL
•
É fundamental manter a
•
•
PaCO2 should be maintained
It is essential to maintain normal
normotermia, normoglicemia e
temperature, normal glycaemia and
usar soros isotónicos.
the usage of isotonic solutions.
O transporte para um hospital
•
Transport to a hospital with
Este artigo tem como objetivo
com uma Unidade de Cuidados
Paediatric Intensive Care Unit and
elucidar a avaliação e abordagem das
Intensivos Pediátricos e
neurosurgeons with experience in
crianças com TCE grave em contexto
Neurocirurgia com experiência
children and teenagers, is
pré-hospitalar, salientando a
em crianças/adolescentes é
essential for a better prognosis.
importância de um tratamento
primordial para melhorar o
contínuo em Unidade de Medicina
prognóstico destes doentes.
Intensiva Pediátrica sob orientação de um neurocirurgião com experiência em Pediatria
Indice
29
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COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
31
32
32
Indice
CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO
CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO
DEFEITOS CONGÉNITOS - DESVENDADOS NUMA EMERGÊNCIA
Sofia Brito1, João Oliveira2, Severina Nicora3 1Interna de formação específica de Anestesiologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto 2Interno de formação específica de Anestesiologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 3 Especialista do Medicina Geral e Familiar, com atividade prestada no serviço de emergência do Centro Hospitalar Entre O Douro e Vouga
RESUMO
ABSTRACT
CASO CLÍNICO
As cardiopatias congénitas são
Congenital heart defects are clinical
Criança de 2 meses e 17 dias, sexo
situações clínicas com uma
conditions with a significant
feminino, gravidez de termo, vigiada
prevalência significativa (8 por 1000
prevalence (8/1000 births). In most
(ecografias obstétricas sem
nados-vivos). Na maioria das
situations, the diagnosis is made in
alterações morfológicas descritas),
situações, o diagnóstico é realizado
prenatal or postnatal screening
parto sem intercorrências e com
nos exames de rastreio pré-natal ou
exams (universal screening for
seguimento regular pelo médico
pós-natal (rastreio universal de
congenital heart disease by pulse
assistente. Até à data do evento, sem
cardiopatias congénitas por oximetria
oximetry), or in surveillance by the
antecedentes patológicos de relevo, à
de pulso), ou nas consultas de
pediatrician/family physician, through
exceção de má progressão ponderal
vigilância de saúde infantil, vigilâncias
the detection of an heart murmur.
(p50 ao nascimento, p15 ao fim do
pelo pediatra/médico de família,
This case report is an example of
primeiro mês e <p3 ao fim do
através da deteção de sopro cardíaco.
congenital heart disease atypical
segundo mês). Apresentou de forma
O caso descrito é um exemplo de
presentation in the pre-hospital
súbita quadro de dificuldade
uma forma de apresentação atípica
emergency setting. Although rare,
respiratória, após choro, que motivou
de uma cardiopatia congénita em
heart disease must be considered in
ativação da equipa de emergência
contexto de emergência pré-
children with acute respiratory
pré-hospitalar. A mãe não relacionava
hospitalar. Demonstra que apesar de
distress.
com a alimentação nem com a
pouco frequente em idade pediátrica, as cardiopatias constituem um
Keywords: Heart Defects, Congenital; Diagnosis; Emergencies
ingestão de nenhum objeto. À chegada da Viatura Médica de
diagnóstico diferencial de dificuldade
Emergência e Reanimação (VMER)
respiratória nesta faixa etária.
apresentava-se polipneica, com
Palavras-Chave: Defeitos cardíacos congénitos, Diagnóstico, Emergências
tiragem global, adejo nasal, pele marmoreada e tónus diminuído com resposta a estímulos verbais. Ao exame objetivo, encontrava-se com via aérea patente, sem sinais de estridor e não apresentava sinais de broncospasmo ou sopro cardíaco à auscultação. A saturação de oxigénio era 86% em ar ambiente com subida
Indice
33
34
para 94% após administração de
corticoterapia (metilprednisolona
de comunicação interventricular
oxigénio por máscara facial (15
8mg) e instituída antibioterapia
muscular. Foi proposta para
litros). Foi transportada pela VMER
empírica com cefotaxima e ampicilina
tratamento cirúrgico sendo submetida
para a sala de emergência com
por suspeita de sépsis com disfunção
a encerramento da comunicação
avaliação e abordagem pelas equipas
respiratória e cardiovascular. O
interventricular com dispositivo
de Pediatria e Medicina Intensiva. Na
estudo analítico revelou leucocitose e
AMPLATZER™ Septal Occluder 14 por
admissão mantinha sinais de
trombocitose ligeiras,
acesso transventricular através de
dificuldade respiratória (SatO2
hiperlactacidemia de 6.0 mmol/L e
mini-esternotomia. Internamento
88-90% com suporte de 15 litros),
hipercaliémia de 6.4 mEq/L, sem
complicado por hepatite aguda a
estava hipotensa e taquicárdica e,
elevação de procalcitonina e proteína
citomegalovírus, pelo que se optou
pelos sinais de exaustão ventilatória,
C reativa. Radiografia torácica
pelo reagendamento da cirurgia até
optou-se pela entubação orotraqueal,
revelava cardiomegalia (índice
estabilização clínica. Submetida a
sem intercorrências, após
cardiotorácico de 0,6). Foi transferida
intervenção cirúrgica 2 meses após a
administração de fentanil (2 mcg/Kg),
posteriormente para a Unidade de
admissão que permitiu a resolução do
propofol (1.5 mg/Kg) e rocurónio (1
Cuidados Intensivos Pediátricos
defeito cardíaco. Pós-operatório
mg/Kg). Além disso, procedeu-se à
(UCIP), mantendo suporte ventilatório
complicado por sépsis com ponto de
administração de fluidoterapia e
com ventilação invasiva e terapêutica
partida no trato urinário. A criança
iniciou-se dopamina (10 mcg/Kg/min,
vasopressora. Na UCIP, realizou
teve alta para o domicílio 3 meses e 6
em média) para suporte
ecocardiograma em que foi detetado
dias após a admissão com função
cardiovascular com melhoria do perfil
defeito do septo interventricular de
cardíaca preservada, tendo retomado
tensional. Foi administrado
grandes dimensões. Assumido
as suas rotinas diárias.
salbutamol inalado (100 µg),
diagnóstico de choque cardiogénico e
34
Indice
CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO
Figura 1: Curva de evolução do peso, segundo o boletim de saúde infantil e juvenil
Figura 2: Curva de evolução da altura, segundo o boletim de saúde infantil e juvenil
DISCUSSÃO
que podem desencadear um quadro
como um defeito cardíaco em que é
Um quadro clínico de dificuldade
de insuficiência cardíaca na criança
necessária alguma intervenção
respiratória num pequeno lactente deve
são a miocardite e a taquicardia
(cirúrgica ou percutânea) no primeiro
ser rapidamente reconhecido com
supraventricular persistente.
ano de vida.6 Idealmente o
recurso ao triângulo de avaliação
As cardiopatias congénitas são as
diagnóstico deveria ocorrer antes do
pediátrica pela equipa médica de
malformações congénitas major mais
parto para planear o melhor local e os
emergência pré-hospitalar. Deve ser
comuns e constituem o grupo com
cuidados após o nascimento, mas a
feita uma abordagem por prioridades,
maior relevância clínica, com uma
acessibilidade ao ecocardiograma
assegurando a permeabilidade da via
prevalência de 0,5% a 1% no período
fetal ainda não está uniformizada nos
aérea, uma melhoria da oxigenação e
neonatal e de 8 por 1000 nados-vivos.
vários locais de vigilância pré-natal. O
uma adequada monitorização
(1-4) Estas incluem alterações da
rastreio de cardiopatias congénitas
cardiovascular. O diagnóstico
estrutura cardíaca que ocorrem
por oximetria de pulso antes da alta
diferencial de dificuldade respiratória
durante o período de desenvolvimento
da maternidade tem como objetivo
aguda na criança, sem trauma
intra-uterino.5 Incluem-se defeitos
identificar precocemente os casos de
associado, inclui a obstrução da via
das válvulas cardíacas, defeitos dos
CCC sem diagnóstico pré-natal e não
aérea superior por corpo estranho,
septos auriculares e ventriculares,
detetados no exame físico pós-natal,
infeção respiratória das vias aéreas
estenoses, anomalias do músculo
antes que ocorra a descompensação
superiores ou inferiores, anafilaxia e
cardíaco e defeitos nas paredes
cardíaca.7 Não há sintomas nem
insuficiência cardíaca descompensada.
cardíacas que causam defeitos na
sinais específicos de cardiopatia
A insuficiência cardíaca em idade
circulação sanguínea, insuficiência
congénita, mas a dispneia, a
pediátrica pode dever-se a defeitos
cardíaca e eventual morte. Estima-se
capacidade limitada de fazer
adquiridos ou congénitos. As causas
que uma em cada quatro cardiopatias
exercícios, a fadiga (que na criança se
mais comuns de defeitos adquiridos
congénitas seja crítica (CCC), definida
manifesta por dificuldade/cansaço na
Indice
35
36
36
Indice
CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO
mamada e como tal má progressão
principalmente nos primeiros meses
ponderal) e o sopro cardíaco são os
de vida. Daí a orientação dever incluir
M, Schneider P. Effectiveness of neonatal pulse
principais indícios do diagnóstico.5 O
a avaliação por Cardiologia Pediátrica
oximetry screening for detection of critical
diagnóstico de doença cardíaca
para despiste de alterações
congenital heart disease in daily clinical
congénita deve idealmente ser feito
anatómicas/funcionais cardíacas
routine-results from a prospective multicenter
9.
precocemente antes que ocorra a
Riede FT, Wörner C, Dähnert I, Möckel A, Kostelka
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3.
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de doença cardíaca era a má
Witsenburg M, Helbing WA, Takkenberg JJ, et al.
progressão ponderal. Este sinal
Birth prevalence of congenital heart disease
(obtido pela visualização rápida do
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boletim de saúde infantil) conjugado
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congénita, sobretudo nos primeiros
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Peiying. Congenital Heart Disease: Causes,
meses de vida.
Diagnosis, Symptoms, and Treatments. Cell
CONCLUSÃO
Biochemistry and Biophysics, volume 72, pages
Este caso serve para relembrar que,
857–860 (2015);
apesar dos métodos auxiliares de
6.
diagnóstico estarem cada vez mais
Hoke TR, Koppel R, et al. Role of pulse oximetry in
disponíveis, nomeadamente o
examining newborns for congenital heart disease:
ecocardiograma fetal, este não é um
a scientific statement from the American Heart
exame de rotina na vigilância
Association and American Academy of Pediatrics.
obstétrica (apenas quando há
Circulation. 2009;120:447–58.
suspeita clínica de alguma alteração
7.
Thangaratinam S, Ewer A. Pulse oximetry
cardiopatias congénitas podem não
screening for critical congenital heart defects.
ser detetadas tão atempadamente
Cochrane Database Syst Rev. 2018;3:CD011912. 8.
Abouk R, Grosse SD, Ailes EC, Oster ME.
significativa dos defeitos cardíacos
Association of US State implementation of
congénitos, os eventos
newborn screening policies for critical congenital
cardiovasculares devem também ser
heart disease with early infant cardiac deaths.
contemplados nos diagnósticos
Jama. 2017;318:2111.
diferenciais das emergências não
EDITORA
Plana M, Zamora J, Suresh G, Fernandez-Pineda L,
anatómica cardiovascular), e as
como o desejado. Dada a prevalência
ANA RAQUEL RAMALHO Médica Pediatria
Mahle WT, Newburger JW, Matherne GP, Smith FC,
MARTA SOARES Médica Pediatria
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
traumáticas nas crianças,
Indice
37
38
38
Indice
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA
AVC, A EMERGÊNCIA (AINDA) MINORADA
Isabel Taveira1,2 1 2
Serviço de Medicina Intensiva 2 CHUA, Unidade de Portimão
Palavras-Chave: Acidente Vascular Cerebral, Emergência, Unidade de AVC, Trombólise, Trombectomia Keywords: Stroke, Emergency, Stroke Unit, Thrombolysis, Thrombectomy
INTRODUÇÃO
A cadeia de sobrevivência ao AVC
Laboratório). Esta notificação tem um
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é,
assenta assim num princípio básico
impacto significativo ao permitir a
para além de uma condição
– a identificação precoce dos sinais
organização dos cuidados e o
ameaçadora de vida, a principal causa
de alarme e o reconhecimento do AVC
fornecimento da terapêutica de fase
de incapacidade permanente em
como emergência médica. Apesar das
aguda de forma muito mais célere,
Portugal . A cada hora, 3 portugueses
campanhas realizadas com intuito de
sendo esta a principal medida
sofrem um AVC. A cada minuto de
alertar a população para os sinais que
terapêutica que irá permitir minimizar
atraso no tratamento do AVC
devem fazer suspeitar de AVC,
a morte neuronal e facilitar a
isquémico, morrem 2 milhões de
observamos ainda um atraso e/ou
recuperação dos défices neurológicos
neurónios. É, por isso, uma verdadeira
falha de reconhecimento destes
apresentados pelo doente.
emergência médica cujo prognóstico
mesmos sinais por parte da população
A Via Verde AVC é também
é modificável se for abordado
portuguesa. É nossa obrigação como
comumente ativada pela equipa de
atempada e adequadamente.
médicos (quer nos Cuidados de Saúde
enfermagem na triagem, sendo
Hospitalares quer nos Cuidados de
acionados os mesmos mecanismos
O Acidente Vascular Cerebral define-
Saúde Primários) educar a população
previamente descritos. O facto de não
se como um défice neurológico focal
para que atue rapidamente em caso de
existir uma notificação prévia à
de início súbito, podendo ser
suspeita de AVC.
chegada do doente pode contribuir
isquémico (se houver oclusão
O segundo passo da cadeia passa
para que os cuidados e os tempos de
arterial), que representa a maioria dos
pela formação de meios pré-
fornecimento de terapêutica
AVC, hemorrágico ou trombose
hospitalares (bombeiros, técnicos de
modificadora de prognóstico sejam
venosa cerebral (oclusão venosa).
emergência pré-hospitalar) para o
condicionados à priori (por exemplo,
Em suma, a cadeia de sobrevivência
reconhecimento e adequada
se a sala de tomografia
ao AVC divide-se em 4 passos:
transmissão da informação ao Centro
computorizada estiver ocupada, o
de Orientação de Doentes Urgentes
tempo até início de administração da
Reconhecimento dos sintomas e
(CODU). Este passo permite a
terapêutica será automaticamente
ativação do 112
pré-notificação do centro que recebe
alargado). A pandemia que vivemos
Transporte e notificação do
o doente com AVC e facilita a
também tem limitado o fornecimento
centro de atendimento do AVC
qualidade dos cuidados de fase
de adequados cuidados de saúde
Cuidados de fase aguda (TEMPO
aguda hospitalar ao permitir notificar
uma vez que, caso haja suspeita ou
É CÉREBRO)
todos os departamentos envolvidos
infeção ativa confirmada por SARS
Cuidados Pós-AVC de qualidade
(Equipa Médica e de Enfermagem de
CoV2 no doente atendido pela Via
Via Verde AVC, Radiologia,
Verde AVC, as cadeias de
1
• • • •
Indice
39
40
fornecimento de cuidados se tornam
grande vaso. Se, nos primeiros anos
de doentes admitidos em tempo
também mais lentas, nomeadamente
de utilização destas terapêuticas, a
janela para trombólise continua a ser
pela necessidade de preparar o
trombólise só podia ser administrada
reduzida e o Algarve é das regiões do
circuito, o equipamento de proteção
nas primeiras 4,5 horas de instalação
país em que se observam menos
da equipa de sala de reanimação,
de sintomas e a trombectomia nas
referenciações para realização de
entre outros.
primeiras 6 horas, atualmente ambas
trombectomia mecânica4.
terapêuticas são cada vez menos
É, assim, urgente a modificação desta
Na fase aguda do AVC, e relativamente
limitadas pelo tempo, uma vez que em
tendência de forma a melhorar os
ao terceiro passo da cadeia de
contextos em que estejam disponíveis
outcomes dos doentes desta região.
sobrevivência, o desenvolvimento da
técnicas de imagem avançadas (como
Medicina tem permitido a introdução e
estudos de difusão e/ou perfusão),
O cuidado ao doente com AVC não
o desenvolvimento de técnicas de
pode-se considerar realizar reperfusão
termina, no entanto, na terapêutica de
reperfusão no AVC Isquémico cujo
mesmo em casos com tempo de
fase aguda e desde 1991 que a
potencial de eficácia é tanto mais alto
evolução indeterminado .
literatura evidencia um melhor
quanto mais precocemente os
Ambas terapêuticas são
outcome para os doentes com AVC
tratamentos forem iniciados. Incluem-
modificadoras de prognóstico e têm
admitidos numa unidade dedicada à
se aqui a fibrinólise/trombólise que
benefícios clínicos mais do que
patologia cerebrovascular, que conte
consiste na administração de um
comprovados, atualmente com
com equipas especializadas no
trombolítico por via intravenosa (pode
ensaios clínicos que suportam o uso
tratamento desta patologia. As
ser feita em qualquer hospital dotado
de trombectomia até às 24 horas do
equipas multidisciplinares
de tomografia computorizada) e a
início de sintomas .
(constituídas por equipa médica,
trombectomia mecânica (uma técnica
No Algarve, a fibrinólise é realizada
equipa de enfermagem e equipa de
efetuada em Portugal por
em Portimão e em Faro, sendo que a
reabilitação) devidamente treinadas e
neurorradiologistas de intervenção,
trombectomia é apenas realizada em
organizadas, têm uma relação
dedicada à remoção de trombo por via
Lisboa, o que poderá ser um fator
custo-benefício que é claramente
endovascular), realizada apenas em
limitante da rápida abordagem do
favorável5.
centros específicos e destinada
AVC isquémico em doentes desta
As Unidades de AVC são essenciais
apenas a doentes com oclusão de
região. Verifica-se que a percentagem
para fornecer os melhores cuidados
40
Indice
2
3
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA
não só ao AVC Isquémico (onde as
A Sociedade Europeia de AVC
BIBLIOGRAFIA
terapêuticas de reperfusão de fase
recomenda que todos os doentes
1.
aguda têm um impacto muito
com AVC sejam avaliados pela
– O caminho para a mudança. Acta Med Port
importante), mas também no AVC
equipa da Unidade de AVC e os seus
2012 Sep-Oct;25(5):263-264
Hemorrágico, no Acidente Isquémico
cuidados de saúde sejam otimizados
Transitório e noutras formas mais
por estas equipas,
Stroke Organisation (ESO) guidelines on
raras de doença vascular cerebral,
independentemente do tipo de AVC e
intravenous thrombolysis for acute ischaemic
como a Trombose Venosa Cerebral. O
do fornecimento ou não de
stroke. Eur Stroke J. 2021 Mar;6(1):I-LXII. doi:
tratamento integrado destes doentes
terapêuticas de reperfusão na fase
10.1177/2396987321989865.
permite a otimização do período de
de aguda.
levante, do início da dieta e
É necessário entender que a Via
Organisation (ESO) - European Society for
terapêutica oral após rastreio de
Verde AVC deve iniciar-se no pré-
Minimally Invasive Neurological Therapy (ESMINT)
disfagia, a otimização da
hospitalar e ser um contínuo até à
Guidelines on Mechanical Thrombectomy in Acute
neurorreabilitação, do controlo do
reabilitação do doente e que não se
Ischemic Stroke. J Neurointerv Surg. 2019
perfil tensional e restantes fatores de
resume à administração de
Jun;11(6):535-538. doi: 10.1136/
risco vascular assim como o rápido
terapêuticas de fase aguda.
neurintsurg-2018-014568.
estudo etiológico para a otimização
2.
3.
4.
Oliveira, V. Acidente Vascular Cerebral em Portugal
Berge E, Whiteley W, Audebert H et al. European
Turc G, Bhogal P, Fischer U et al. European Stroke
Dias MC, Reis RS, Santos JV et al. Nationwide
da prevenção secundária. Para além
Dado o elevado impacto na
Access to Endovascular Treatment for Acute
disto, um plano de alta organizado de
morbimortalidade desta patologia em
Ischemic Stroke in Portugal. Acta Med Port. 2021
forma precoce pelas equipas
Portugal, torna-se assim essencial a
Sep 9. doi: 10.20344/amp.15031.
multidisciplinares das Unidades de
mudança de paradigma na
AVC permite também melhorar a
abordagem do AVC e a otimização de
Collaboration. Organised inpatient (stroke unit)
qualidade de vida dos doentes, assim
cuidados para as vítimas de AVC
care for stroke: network meta-analysis. Cochrane
como orientar o seu seguimento
residentes no Algarve.
Database Syst Rev. 2013 Sep
clínico posterior. O fornecimento de
Langhorne P, Ramachandra S; Stroke Unit Trialists'
11;2013(9):CD000197. doi: 10.1002/14651858.
cuidados especializados aos doentes
CONCLUSÃO
com AVC em todas as fases da
O AVC é uma emergência médica,
evolução da doença, permite ainda
cuja terapêutica de fase aguda pode
minimizar o impacto negativo
modificar o prognóstico vital e
(pessoal, familiar e socioeconómico)
funcional do doente. É emergente a
desta patologia.
formação de equipas dedicadas e a educação populacional para melhorar
O Algarve, com uma população de
5.
CD000197.pub3.
EDITORA
os cuidados de saúde prestados
aproximadamente 470000 habitantes, tem uma única Unidade de AVC, em Faro, com apenas 6 camas. Sabendo que a incidência de
INÉS SIMÕES Coordenadora Médica da VMER de Portimão
AVC por ano em Portugal é mais elevada do que a média europeia
REVISÃO
(com uma média de 2 AVC por cada 1000 habitantes), este número de camas é notoriamente insuficiente.
COMISSÃO CIENTÍFICA
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CARTAS AO EDITOR
CARTAS AO EDITOR
CETAMINA: O PRÓXIMO SEDATIVO PRÉ-HOSPITALAR? SAna Catarina Segundo1, André Aguiar1, André Maciel1, Afonso Eliseu1 1
Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro
Caro editor,
Esta abordagem está limitada nas
débito cardíaco. Não causa
benzodiazepinas pelo risco de
diretamente depressão respiratória,
Na última edição da LIFESAVING
depressão respiratória e hipotensão,
nem afeta o tónus muscular
Scientific, foi publicado um artigo na
especialmente na população idosa. O
esquelético da via aérea superior,
secção Hot Topic sobre “Abordagem
haloperidol tem pouca repercussão
contudo provoca sialorreia, emese e,
do doente agitado ou agressivo no
hemodinâmica e ventilatória, mas
ocasionalmente, laringospasmo.
pré-hospitalar”.1 Neste são descritas
pode causar efeitos extrapiramidais,
Das duas meta-análises publicadas
técnicas de descalação não
prolongamento do intervalo QT e,
recentemente sobre a segurança e
restritivas e não coercivas que se
ocasionalmente, torsade de pointes.
eficácia da cetamina para sedação em
mostram úteis na grande maioria das
Além disso, o início de ação
contexto pré-hospitalar, pode concluir-
situações, mesmo naquelas em que
terapêutica pode ser lento para o
se que este fármaco providencia uma
é necessário instituí-las em
efeito pretendido.
sedação rápida e eficaz, embora
associação com técnicas restritivas
Na última década temos assistido ao
associada a taxas de entubação
(geográficas, contenção física,
crescente interesse noutra molécula
orotraqueal (EOT) mais elevadas que
contenção mecânica e contenção
com potencial sedativo e que pode
os outros sedativos classicamente
química). O recurso a técnicas
representar uma alternativa em
utilizados, o que coloca questões
restritivas deve ser limitado, porém,
contexto pré-hospitalar, a cetamina. A
acerca da sua segurança. Nenhuma
quando o doente não se encontra
cetamina é um agente anestésico,
das meta-análises inclui estudos
colaborante e existe a necessidade
antagonista do recetor N-metil-D-
prospetivos e randomizados, o que
de o conter, para reduzir o seu
aspartato (NMDA), com potencial
constitui uma clara limitação.2,3
sofrimento imediato e/ou minimizar
sedativo devido às seguintes
Um estudo prospetivo e randomizado
o risco de violência, a contenção
propriedades: início de ação rápido,
com 93 participantes, realizado em
química mostra-se essencial.
via de administração intramuscular
2020, referente à utilização da
Escrevemos a presente carta por
(IM), indução de efeito dissociativo
cetamina em contexto de serviço de
considerar importante salientar a sua
profundo e depressão mínima do
urgência (SU), compara a sua eficácia
relevância e explorar novas alternativas
sistema cardiovascular e
e segurança com o lorazepam e
de sedação farmacológica.
respiratório. Geralmente a dose de
haloperidol. Conclui-se que a cetamina
Os fármacos mais utilizados na
5mg/kg por via IM é a necessária
foi significativamente mais eficaz que
sedação do doente agitado no cenário
para uma sedação adequada.
o haloperidol ou lorazepam para
pré-hospitalar são as benzodiazepinas
Apesar do seu efeito cardíaco direto
controlo inicial de agitação aguda, não
(lorazepam, midazolam) e os anti-
inotrópico negativo, simultaneamente
estando associada a efeitos adversos
psicóticos (haloperidol,
causa estimulação do sistema nervoso
significativos. O tempo médio de
cloropromazina) ou a sua combinação,
simpático, o que induz aumento da
sedação nos doentes tratados com
consoante o contexto.
pressão arterial, frequência cardíaca e
cetamina, comparativamente com o
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CARTAS AO EDITOR
haloperidol/lorazepam foi de 15 vs 36
Continuam a ser necessários estudos
minutos, respetivamente (p<0,0001).
prospetivos para avaliar o uso de
Os doentes sedados com cetamina
cetamina no pré-hospitalar, o que
apresentaram taquicardia e
ajudará a clarificar a segurança da sua
hipertensão significativa,
utilização neste cenário. Até à data
mas transitória.4
nenhum estudo foi conduzido em
Um estudo retrospetivo de 2022, com
Portugal, podendo representar uma
7973 doentes, avalia os efeitos
oportunidade de investigação
adversos pós-sedação em contexto
no futuro
pré-hospitalar com benzodiazepinas, haloperidol e cetamina, mostrou que os efeitos adversos graves são raros, independentemente do fármaco, nomeadamente paragem cardiorespiratória, necessidade
BIBLIOGRAFIA
ventilação invasiva e dessaturação
1.
Jorge Mendes te al. Abordagem do doente
grave (SpO2<75%). A EOT foi mais
agitado ou agressivo no pré-hospitalar. Lifesaving
frequente no grupo da cetamina (2%)
Scientific. 2022 Jan;2(1):33-43.
vs benzodiazepinas (0,4%) ou
2.
Natalie Sullivan et al. Ketamine for emergency
antipsicóticos (0,2%). A dessaturação
sedation of agitated patients: A systematic review
abaixo dos 75% também foi mais
and meta-analysis. Am J Emerg Med. 2020
frequente com cetamina (2,6%) do que
Mar;38(3):655-661.
com benzodiazepinas (1,3%) ou
3.
Scott L Mankowitz et al. Ketamine for Rapid
antipsicóticos (0,2%). Embora mais
Sedation of Agitated Patients in the Prehospital
frequentes com a cetamina, as
and Emergency Department Settings: A
diferenças absolutas mostraram-se
Systematic Review and Proportional Meta-
pequenas e podem representar fatores
Analysis. J Emerg Med. 2018 Nov;55(5):670-681.
de confundimento residuais entre a
4.
Justin Lin et al. Efficacy of ketamine for initial
perceção do doente, escolha do
control of acute agitation in the emergency
sedativo e os efeitos adversos.5
department: A randomized study. Am J Emerg
A American College of Emergency
Med. 2021 Jun;44:306-311.
Physicians e a American Society of
5.
following emergent prehospital sedation of
declaração conjunta onde realçam que
patients with behavioral emergencies: A
a utilização com segurança de
retrospective cohort study. The Lancet Regional
cetamina no doente agitado e/ou
Health - Americas 2022 May;9:100183. 6.
está dependente de uma avaliação clínica apropriada, dose adequada,
CATARINA JORGE Médica VMER
EDITOR
Brown, Lawrence H. et al. Adverse events
Anesthesiologists fizeram uma
agressivo em contexto pré-hospitalar
EDITORA
JÚLIO RICARDO SOARES Médico VMER
ASA/ACEP Joint Statement on the Safe Use of Ketamine in Prehospital Care
7.
Issued August 26, 2020. Disponível em: https://
monitorização constante e transporte
www.asahq.org/about-asa/newsroom/
ao SU para avaliação posterior e
news-releases/2020/08/asa-acep-joint-statement-
tratamento do problema de base.6
on-the-safe-use-of-ketamine-in-prehospital-care
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
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CARTAS AO EDITOR
CARTAS AO EDITOR
“O IMPACTO PSICOLÓGICO DA PANDEMIA COVID-19 NOS PROFISSIONAIS DE EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR” Luís Miguel Relvas1 1
Serviço Gastroenterologia, Centro Hospitalar Universitário do Algarve - Faro
Caro editor,
situação estaria relacionada com a
O estudo “Burnout among
falta de divulgação entre os
Portuguese healthcare workers
No artigo “O impacto psicológico da
profissionais ou com o estigma
during the COVID-19 pandemic”, no
pandemia COVID-19 nos
associado à doença mental. Sob
qual inquiriram um total de 2008
profissionais de emergência pré-
esse mote, procurei perceber qual foi
profissionais, os autores concluíram
hospitalar [EPH (VMER, HELI, SIV,
o real impacto psicológico da
que mais de metade experienciaram
Bombeiros, …)]”, publicado no
pandemia COVID-19 nos
níveis elevados de burnout
número 1 do volume 2 da Lifesaving
profissionais de saúde portugueses?
relacionados com o trabalho durante
Scientific, o autor aborda os
Pelo que experienciei e observei,
a pandemia. Contudo, no mesmo
principais riscos e problemas de
acredito que o impacto foi enorme! E
estudo, referem que cerca de metade
saúde mental que a pandemia
muito se deveu não só ao aumento
dos profissionais demonstrou
COVID-19 trouxe aos profissionais de
da carga de trabalho, mas também,
capacidade de resiliência,
saúde portugueses. Depressão,
como o autor refere, e bem, ao medo
apresentando níveis normais de
ansiedade, somatização, stress e
de contrair a doença e transmiti-la
ansiedade, depressão e stress. Na
burnout são alguns dos principais
aos seus familiares. Além disso,
opinião dos autores, poderá ter
problemas que estes profissionais
cuidar quase diariamente de
contribuído para a gestão adequada
vivenciaram. Considerando a
doentes em rápida deterioração,
do stress e ansiedade o facto de a
vulnerabilidade dos profissionais da
bem como o input quase diário de
maioria dos inquiridos ter seis ou
“linha da frente” durante esta fase,
novas informações acerca da
mais anos de experiência.2
vários estudos apontaram a
doença, levando a constantes
Fonseca et al no estudo “Mental
importância de intervenção junto
alterações nos protocolos de
health patterns during COVID-19 in
deste grupo.
atuação, contribuíram de alguma
emergency medical services (EMS)”
O autor do artigo, refere que no
forma para o stress psicológico
inquiriram 214 profissionais de
Centro Hospitalar Universitário do
vivenciado pelos profissionais.
saúde que desempenharam funções
Algarve (CHUA) foram criadas
Mas se conseguimos encontrar
em serviços de emergência durante
algumas respostas face à
vários estudos sobre o impacto
a pandemia, concluindo que a
problemática, entre elas, consultas
psicológico da COVID-19 em
maioria apresentou padrões de
de psiquiatria e psicologia.
profissionais de saúde nos mais
ajustamento psicológico adequado
Infelizmente, segundo o autor, a
diversos países, quando tentamos
face às adversidades.3
procura por este tipo de apoio foi
procurar pela realidade portuguesa,
Se a maioria dos estudos estrangeiros
nula ou escassa. Em jeito de
resultado não é vasto. Terá este sido
apontam para uma elevada prevalência
reflexão, o autor questiona se esta
um assunto desvalorizado?
de depressão, insónia e stress nos
1
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CARTAS AO EDITOR
profissionais de saúde, a verdade é que
que se possa promover o bem-estar
os estudos portugueses demonstram
psicológico dos profissionais de saúde
que o profissional de saúde português
(tão necessários nesta luta!)
EDITORA
demonstrou um padrão de ajustamento psicológico adequado face à pandemia.4
BIBLIOGRAFIA
Apesar desse resultado, a verdade é que
1.
Ramos L. O impacto psicológico da pandemia
a fragilidade do sistema nacional de
COVID-19 nos profissionais de emergência
saúde (SNS) e dos seus profissionais
pré-hospitalar [EPH (VMER, HELI, SIV, Bombeiros,
ficou evidente durante a pandemia,
…)]. Lifesaving Scientific 2022; 2(1) 55-57
principalmente, pela necessidade de
2.
Portuguese healthcare workers during the
É clara a exaustão emocional dos
COVID-19 pandemic. BMC Public Health 2020 3.
Fonseca S, Faria S, Cunha S, Silva M, Ramos J,
motivo, é importante intervir. A resposta
Azevedo G, Campos R, Barbosa A, Queirós C.
à pandemia continua a ser necessária,
Mental health patterns during COVID-19 in
juntamento com a resposta a tantos
emergency medical services (EMS). International
outros problemas que se colocam ao
Journal of Emergency Services 2021.
SNS e aos seus profissionais.
4.
JÚLIO RICARDO SOARES Médico VMER
REVISÃO
Sousa L, Albuquerque JM, Cunha M, Santos EJF.
Terminando, permita-me o editor
Psychological impact of COVID-19 on healthcare
parabenizar o serviço de Psiquiatria
workers: prevalence systematic review. Acta
pela resposta à problemática. Que se
Paul Enferm 2021;34:eAPE003775.
mantenha as “portas” do serviço
EDITOR
Duarte I, Teixeira A, Castro L et al. Burnout among
manter uma resposta prolongada. profissionais e, por esse mesmo
CATARINA JORGE Médica VMER
COMISSÃO CIENTÍFICA
abertas aos profissionais do CHUA e
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LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA
LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL IDENTIFICA PCR EM CHAMADA DE EMERGÊNCIA Ana Catarina Segundo1, André Aguiar1, André Maciel1, Afonso Eliseu1 1
Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro
Um grupo de investigadores
conversa telefónica de emergência.
possíveis grupos ou subgrupos que
Dinamarqueses testaram um modelo
Esta falha no reconhecimento
são mais propensos a viés, seja pelo
de inteligência artificial (IA) para
constitui um grande desafio, e a sua
sistema informático ou pelo operador.
reconhecer a presença de paragem
melhoria é objectivo da American
cardiorrespiratória (PCR) em
Heart Association (AHA) e da Global
Neste caso particular a MLF é uma
chamadas de emergência médica
Recusscitation Alliance, e nesse
rede de vários modelos de
direcionadas a uma central de
sentido surge a contribuição da IA
aprendizagem, que decifram a
emergência médica de Copenhaga.
através da tecnologia Machine
conversa telefónica de forma similar
Learning Framework (MLF).
a um técnico. Quando uma chamada é analisada pelo sistema em tempo
Mais de 600 000 pessoas por ano sofrem uma paragem
O MLF é um método de análise de
real, o ficheiro é processado sem
cardiorrespiratória (PCR) na Europa e
dados que automatiza a construção
qualquer edição ou transcrição prévia,
E.U.A..O reconhecimento rápido deste
de modelos analíticos. É um ramo da
é transformado em texto e analisado
evento, quer seja por uma
IA baseado na ideia de que sistemas
a partir dessa fonte predizendo a
testemunha presencial ou pelo
podem aprender com dados,
probabilidade de PCR.
profissional da central telefónica de
identificar padrões e tomar decisões.
emergência médica é um pré-
Para “ensinar a máquina” foram
requisito para que se possa iniciar
A tecnologia de MLF tem-se mostrado
utilizadas gravações catalogadas
Suporte Básico de Vida (SBV), prestar
promissora e útil no auxílio à decisão
previamente com a presença ou
o melhor atendimento, triagem,
clínica e diagnóstico, mas no contexto
ausência de PCR. Os dados usados
aconselhamento, selecção e envio de
de emergência pré-hospitalar não tem
para treino não foram empregues na
meios de socorro apropriados.
sido aplicada.
validação, o que significa que a MLF
Iniciar SBV antes da chegada da
Neste estudo utilizou-se a tecnologia
não foi avaliada nos ficheiros nos
equipa de emergência ao local
MLF para reconhecer gravações não
quais se “formou”.
melhora a sobrevivência, fazendo
editadas de chamadas de
com que a identificação deste evento
emergência, com 3 objectivos
Foram incluídas todas as chamadas
durante a chamada se revista de
principais. Primeiro, testar se uma
recebidas pela central de Copenhaga,
importância fundamental.
MLF pode melhorar o reconhecimento
no espaço de 1 ano. Dos cerca de 110
Porém, a PCR representa uma
de PCR comparativamente ao
000 incidentes, aproximadamente
pequena percentagem (1%) do
operador da central de emergência.
1200 (1%) eram PCR, confirmado
volume total de chamadas, o que
Segundo, perceber se a MLF
posteriormente pelo registo nacional
torna difícil o seu reconhecimento.
consegue reconhecer PCR mais
Danish Cardiac Arrest Registry.
Aproximadamente 1/4 de todas as
rapidamente que o profissional
PCR não são percebidas na primeira
qualificado. Terceiro, identificar
Indice
51
nacional Danish Cardiac Arrest Registry (n=1147). PCR testemunhada por pessoal de emergência (n=126) e casos de manobras iniciadas antes da chamada (n=103), foram excluídos, restando 918 chamadas por PCR elegíveis para análise. Dos 918 contactos, 665 (72,4%) foram reconhecidos pelo operador, enquanto 772 (84,1%) foram sinalizadas pela MLF (p>0,001). Das chamadas reconhecidas pelo sistema de IA, 117 não foram reconhecidas pelo operador. No que respeita às características relacionadas com o doente, só foram 52
encontradas diferenças minor entre estes incidentes não reconhecidos e os identificados pelo operador. No entanto no que compete ao cenário e ao operacional técnico parece haver diferenças. Nas chamadas não identificadas comparativamente às reconhecidas pelo operador, registou-se menor avaliação do estado de consciência (86,8% vs 96,2%), e cenários em que o
A performance da MLF foi comparada
utilizada para identificar preditores
interlocutor que realiza a chamada
com a do técnico profissional
relacionados com o doente, o cenário
não consegue avaliar o doente (8,5%
qualificado, como linha de base. A
e o técnico operacional, nas
vs 1,8%) ou que a PCR tenha sido
MLF gera uma predição binária de 0
chamadas onde a MLF reconheceu
presenciada por uma testemunha
ou 1 para identificar PCR,
PCR mas o técnico não. Os resultados
ocular (61,4% vs 48,7%).
correspondendo à probabilidade
foram apresentados em Odds Ratio
Apenas 10 chamadas (1,1%) foram
daquela condição estar presente na
(OR), com Intervalos de Confiança
reconhecidas pelo operador, mas não
chamada. Foram também calculadas
(CI) e p-value quando apropriado.
pela MLF.
caracterizar a performance da MLF.
No ano do estudo, a central
Considerando todas as chamadas, a
Calculou-se o tempo médio decorrido
respondeu a 110 518 chamadas, que
MLF atingiu uma sensibilidade de
até identificação da PCR para todas
foram gravadas. Os doentes com
84,1% (IC 95%: 81,6-86,3) e uma
as chamadas. As diferenças entre o
sinais óbvios de morte foram
especificidade de 97,3% (IC 95%:
tempo de reconhecimento foram
excluídos (n=958), assim como
97,2-97,4) no reconhecimento de PCR,
calculadas em chamadas onde
chamadas com a gravação danificada
enquanto o operador alcançou 72,5%
houve dupla identificação, pela MLF
ou desconectada nos primeiros 10
(IC 95%: 69,5-75,4) e 98,8% (IC 95%:
e técnico.
segundos (n=724).
98,7-98,8) respectivamente.
A regressão logística univariada foi
A PCR foi confirmada pelo registo
A MLF teve um Valor Preditivo
sensibilidade e especificidade para
52
Indice
LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA
Positivo (VPP) de 21% (IC 95%:
Aplicar a MLF no contexto de
de decisão clínica, iniciado pelo
19,7-22,3) comparativamente com
emergência pré-hospitalar tem o
operador, e que se baseia nos
33% (IC 95%: 30,1-35,1) do operador.
potencial de melhorar e acelerar o
procedimentos standard,
Em todas as chamadas reconhecidas
reconhecimento de PCR, o que se
algoritmos estabelecidos e
pelo modelo de IA (n=772), o tempo
poderá traduzir numa resposta mais
experiência profissional.
decorrido até à detecção de PCR foi
otimizada e direcionada no sentido de
Estes achados abrem novos
significativamente mais curto
iniciar procedimentos de SBV o mais
horizontes na aplicação de modelos
comparativamente com o operador
rapidamente possível, podendo ter
de IA como ferramenta de suporte
(n=665), 44 vs 54 segundos (p<0,001).
tradução na sobrevivência pós-PCR.
noutras condições em que o tempo é
Um decréscimo de 10 segundos no
crucial, tais como trombose, enfarte
Dentro dos contactos em que a MLF
tempo de detecção, como o que foi
agudo do miocárdio ou sépsis.
sinalizou PCR, o reconhecimento pelo
identificado neste estudo, pode
Os próximos passos passam pela
operador estava positivamente
mesmo ser clinicamente relevante,
comparação destes resultados com
associado com o acesso do interlocutor
considerando que as guidelines da
outro contexto organizacional e
ao doente. Especialmente quando este
AHA recomendam que um programa
idiomas diferentes, e pela realização
se encontrava ao lado da vítima, o
de alta performance tem um tempo
de um estudo controlado e
operador tinha 2,37 vezes mais
de decorrido desde a recepção da
randomizado com análise das
probabilidade de identificar PCR do que
chamada até à resposta da equipa de
gravações em tempo real, para medir
quando o interlocutor não tinha acesso
emergência em menos de 60
o verdadeiro impacto na
ao doente (IC 95%: 1,50-3,74). Se o
segundos, sendo que 120 segundos é
sobrevivência e no sistema
operador avaliasse a ausência de
o standard mínimo aceitável.
operacional de emergência
consciência na vítima tina um OR de
O VPP da MLF (21,0%) é baixo, ou
3,80 (IC 95%: 1,90-7,40). E se avaliassem
seja, significa que 4 em cada 5 PCR
BIBLIOGRAFIA
a respiração o OR seria de 2,30 (IC 95%:
correspondem a falsos positivos. O
1.
1,00-5,40). Quando a PCR era
efeito de sobre-triagem poderá ser
supportive tool to recognize cardiac arrest in
presenciada por uma testemunha, os
tolerado uma vez que diz respeito a
emergency calls. Resuscitation. 2019 Mai;
operadores mostram-se menos capazes
PCR que é uma situação em que o
138:322–9.
de reconhecer PCR comparativamente
tempo é factor crítico. Poderá ser
com incidentes não testemunhados (OR
visto como um gerador de red-flag ao
0,52 IC 95%: 0,39-0,89), o que poderá
operador, mantendo-o alerta da
dever-se a fenómenos de gasping
possibilidade de PCR naquela
imediatamente após PCR que
chamada, aumentando-lhe o foco e
afectariam a percepção da testemunha
direcionando-o para questionar
em relação à respiração.
acerca de ausência de estado de
Stig Nikolaj Blomberg et al. Machine learning as a
EDITOR
consciência e respiração. Podemos considerar com este
Estas acções podem levar a um
trabalho que este modelo de IA foi
incremento na realização de SBV
eficaz no reconhecimento de PCR em
pelas testemunhas, o que está
gravações de chamadas de
demonstrado melhorar a
emergência, com uma sensibilidade
sobrevivência a curto e longo prazo
significativamente maior e
nas PCR, reduzindo o risco de lesão
especificidade semelhante ao
cerebral por anóxia.
técnico operacional treinado, tendo
Assim sendo, a MLF não deverá ser
sido significativamente mais rápida
utilizada isoladamente, mas actuar
na identificação.
como um suplemento no processo
ALÍRIO GOUVEIA Médico VMER
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
53
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO – Novembro de 2021
54
1. Objectivo e âmbito
2. Informação Geral
3. Direitos Editoriais
A Revista LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) é um órgão de publicação pertencente ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e dedica-se à promoção da ciência médica pré-hospitalar, através de uma edição trimestral. A LF Sci adopta a definição de liberdade editorial descrita pela World Association of Medical Editors, que entrega ao editor-chefe completa autoridade sobre o conteúdo editorial da revista. O CHUA, enquanto proprietário intelectual da LF Sci, não interfere no processo de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, atribuindo ao editor-chefe total independência editorial. A LF Sci rege-se pelas normas de edição biomédica elaboradas pela International Commitee of Medical Journal Editors e do Comittee on Publication Ethics.
A LF Sci não considera material que já foi publicado ou que se encontra a aguardar publicação em outras revistas. As opiniões expressas e a exatidão científica dos artigos são da responsabilidade dos respetivos autores. A LF Sci reserva-se o direito de publicar ou não os artigos submetidos, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci reserva-se o direito de escolher o local de publicação na revista, de acordo com o interesse da mesma, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci é uma revista gratuita, de livre acesso, disponível em https://issuu.com/lifesaving. Não pode ser comercializada, sejam edições impressas ou virtuais, na parte ou no todo, sem autorização prévia do editor-chefe.
Os artigos aceites para publicação ficarão propriedade intelectual da LF Sci, que passa a detentora dos direitos, não podendo ser reproduzidos, em parte ou no todo, sem autorização do editor-chefe.
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4. Critérios de Publicação 4.1 Critérios de publicação nas rúbricas A LF Sci convida a comunidade científica à publicação de artigos originais em qualquer das categorias em que se desdobra, de acordo com os seguintes critérios de publicação: Artigo Científico Original - Âmbito: apresentação de resultados sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 4000 palavras.
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
Temas em Revisão - Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Hot Topic - Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré-hospitalar recentes ou contraditórias. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Rúbrica Pediátrica - Âmbito: Revisão sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras.
Casos Clínicos (Adulto) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, relacionados com situações de emergência em adultos. Dimensão recomendada: 1000 palavras.
tecnológicas, de dispositivos inovadores, ou de atualizações de equipamentos ou práticas atuais. Limite de Palavras: máximo 1500 palavras; Limite de tabelas e figuras: 6
Casos Clínicos (Pediatria) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, em contexto de situações de emergência em idade pediátrica. Dimensão recomendada: 1000 palavras.
4.2 Critérios gerais de publicação
Casos Clínicos (Neonatalogia) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, que reportem situações de emergência em idade neonatal. Dimensão recomendada: 1000 palavras. LIFESAVING Trends - Inovações em Emergência Médica - Âmbito: Artigo com estrutura de "Correspondência", privilegiando a divulgação de novidades
O trabalho a publicar deverá ter no máximo 120 referências. Deverá ter no máximo 6 tabelas/ figuras devidamente legendadas e referenciadas. O trabalho a publicar deve ser acompanhado de no máximo 10 palavras-chave representativas. No que concerne a tabelas/ figuras já publicadas é necessário a autorização de publicação por parte do detentor do copyright (autor ou editor). Os ficheiros deverão ser submetidos em alta resolução, 800 dpi mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias em formato JPEG (. Jpg), PDF (.pdf). As tabelas/
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figuras devem ser numeradas na ordem em que ocorrem no texto e enumeradas em numeração árabe e identificação. No que concerne a casos clínicos é necessário fazer acompanhar o material a publicar com o consentimento informado do doente ou representante legal, se tal se aplicar. No que concerne a trabalhos científicos que usem bases de dados de doentes de instituições é necessário fazer acompanhar o material a publicar do consentimento da comissão de ética da respetiva instituição. As submissões deverão ser encaminhadas para o e-mail: revistalifesaving@gmail.com
4.3 Critérios de publicação dos artigos científicos. Na LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) podem ser publicados Artigos Científicos Originais, Artigos de Revisão ou Casos Clínicos de acordo com a normas a seguir descritas. Artigos Científicos O texto submetido deverá apresentado com as seguintes secções: Título (português e inglês), Autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação), Abstract (português e inglês), Palavras-chave (máximo 5), Introdução e Objetivos, Material e
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Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos, Referências. O texto deve ser submetido com até 3 Take-home Messages que no total devem ter até 50 palavras. Não poderá exceder as 4.000 palavras, não contando Referências ou legendas de Tabelas e Figuras. Pode-se fazer 56 acompanhar de até 6 Figuras/ Tabelas e de até 60 referências bibliográficas. O resumo/ abstract não deve exceder as 250 palavras. Se revisão sistemática ou meta-análise deverá seguir as PRISMA guidelines. Se meta-análise de estudo observacionais deverá seguir as MOOSE guidelines e apresentar um protocolo completo do estudo. Se estudo de precisão de diagnóstico, deverá seguir as STARD guidelines. Se estudo observacional, siga as STROBE guidelines. Se se trata da publicação de Guidelines Clínicas, siga GRADE guidelines. Este tipo de trabalhos pode ter no máximo 6 autores. Artigos de Revisão O objetivo deste tipo de trabalhos é rever de forma aprofundada o que é conhecido sobre determinado tema de importância clínica. Poderá contar com, no máximo,
3500 palavras, 4 tabelas/figuras, não mais de 50 referências. O resumo (abstract) dos Artigos de Revisão segue as regras já descritas para os resumos (abstract) dos Artigos Científicos. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 5 autores. Caso Clínico O objetivo deste tipo de publicação é o relato de caso clínico que pela sua raridade, inovações diagnósticas ou terapêuticas aplicadas ou resultados clínicos inesperados, seja digno de partilha com a comunidade científica. O texto não poderá exceder as 1.000 palavras e 15 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de até 5 tabelas/ figuras. Deve inclui resumo que não exceda as 150 palavras, organizado em objetivo, caso clínico e conclusões. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 4 autores. Cartas ao Editor - Objetivo: comentário/exposição referente a um artigo publicado nas últimas 4 edições da revista promovendo a discussão e visão crítica. Poderão ainda ser enviados observações, casuísticas particularmente interessantes de temáticas atuais que os autores desejem apresentar aos leitores de forma concisa.
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
- Instruções para os autores: 1. O corpo do artigo não deve ser subdividido; sem necessidade de resumo ou palavras-chave. 2. Deve contemplar entre 500 a 1000 palavras, excluindo referências, tabelas e figuras. 3. Apenas será aceite 1 figura e/ ou 1 tabela. 4. Não serão aceites mais de 5 referências bibliográficas. Devendo cumprir as normas instituídas para revista. 5. Número máximo de autores são 4. Breves Reflexões sobre a Emergência Médica Âmbito: artigo de reflexão/opinião, com a exposição de ideias e pontos de vista sobre tema no âmbito da emergência médica, do ponto de vista conceptual, podendo a argumentação do Autor convidado, ser baseada na sua experiência pessoal ou na citação de livros, revistas, artigos publicados, entre outros recursos de pesquisa, devidamente assinalados no texto;
Palavras-chave: máximo 5 palavras chave, em formato bilingue (português e inglês) Limite de tabelas e figuras: 3 Bibliografia: máximo 5 referências bibliográficas “Vamos pôr o ECG nos eixos” - Âmbito: Análise e interpretação de traçados eletrocardiográficos clinicamente contextualizados - Formato: Título; Autores – máx. 2 autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação); 2 palavras-chave; 1 imagem (ECG ou tira de ritmo, em formato JPEG com resolução original); Legenda explicativa com breve enquadramento clínico e interpretação do traçado (ritmo, frequência, alterações da despolarização ou repolarização pertinentes no contexto) – máx. 300 palavras; Referências bibliográficas.
5. Referências Estrutura do artigo: título, Autor(es) e afiliação; resumo e palavras-chave (facultativos), introdução, desenvolvimento, conclusão final, referências bibliográficas. Limite de palavras: 1500 Resumo (facultativo): máximo 100 palavras, em formato bilingue (português e inglês)
Os autores são responsáveis pelo rigor das suas referências bibliográficas e pela sua correta citação no texto. Deverão ser sempre citadas as fontes originais publicadas. A citação deve ser registada empregando Norma de Vancouver.
A LF Sci segue um processo single-blind de revisão por pares (peer review). Todos os artigos são inicialmente revistos pela equipa editorial nomeada pelo editor-chefe e caso não estejam em conformidade com os critérios de publicação poderão ser rejeitados antes do envio a revisores. A aceitação final é da responsabilidade do editor-chefe. Os revisores são nomeados de acordo com a sua diferenciação em determinada área da ciência médica pelo editor-chefe, sem necessidade de justificação adicional. Na avaliação os artigos poderão ser aceites para publicação sem alterações, aceites após modificações propostas pela equipa editorial ou recusados sem outra justificação.
7. Erratas e retrações A LF Sci publica alterações, emendas ou retrações a artigos previamente publicados se, após publicação, forem detetados erros que prejudiquem a interpretação dos dados
6. Revisão por pares
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