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FICHA TÉCNICA DIRETOR
EDITORES ASSOCIADOS
Bruno Santos
ILUSTRAÇÕES João Paiva.
TEMAS EM REVISÃO
EDITOR-CHEFE Daniel Nunez
André Villarreal, Guilherme Henriques, João Nuno Oliveira, Vasco Monteiro.
FOTOGRAFIA Pedro Rodrigues Silva, Maria Luísa Melão,
COMISSÃO CIENTÍFICA
HOT TOPIC
Ana Rita Clara,
Jorge Miguel Mimoso.
Solange Mega.
Ana Silva Fernandes, Carlos Raposo,
RUBRICA PEDIÁTRICA
AUDIOVISUAL
Cristina Granja,
Cláudia Calado, Mónica Bota.
Pedro Lopes Silva.
Eunice Capela, Gonçalo Castanho, José A. Neutel, Miguel Jacob,
CASO CLINICO ADULTO 2 Noélia Alfonso, Rui Osório.
DESIGN Luis Gonçalves (ABC).
Miguel Varela, Nuno Mourão, Pilar Crugeiras,, Rui Ferreira de Almeida,
CASO CLINICO PEDIÁTRICO Ana Raquel Ramalho, Marta Soares.
Sérgio Menezes Pina, Stéfanie Pereira,
CASO CLINICO NEONATAL/TIP
Vera Santos.
Nuno Ribeiro, Luísa Gaspar. BREVES REFLEXÕES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA Inês Simões.
CARTAS AO EDITOR Catarina Jorge, Júlio Ricardo Soares.
VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS Hugo Costa, Teresa Mota.
LIFESAVING TRENDS Alírio Gouveia.
Periodicidade: Trimestral Linguagem: Português ISSN: 2184-9811
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Propriedade: CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO ALGARVE Morada da Sede: Rua Leão Penedo. 8000-386 Faro Telefone: 289 891 100 | NIPC 510 745 997
PARCERIAS
EDITORIAL Caríssimos leitores, Apresentamos mais uma edição da revista LIFESAVING Scientific, correspondente ao nº 3 do seu 2º volume de edições, e lançada em simultâneo com a 25ª edição da LIFESAVING – Revista de Emergência Médica. O projeto editorial LIFESAVING celebra o seu 6º aniversário de publicação na área da emergência médica, com lançamento trimestral contínuo, assíduo e pontual, desde a sua estreia, a 5 de Agosto de 2016. O sucesso alcançado, edição após edição, foi conseguido graças ao empenho e esforço incondicional dos Editores e Colaboradores da LIFESAVING, e também resulta naturalmente da confiança adquirida pelos leitores e seguidores deste Projeto. Nesta edição de aniversário publicámos uma separata especial sobre a evolução do design da publicação nos seus 6 anos de existência, a não perder! Nesta LIFESAVING Scientific N3 do Volume 2 (de 2022) damos a conhecer mais uma série de excelentes artigos, de temáticas muito diversas e interessantes, que é fundamental revisitar. Destacamos como Hot topic da edição o artigo sobre cuidados paliativos e a assistência pré-hospitalar, designado “Entre o pré-hospitalar e os cuidados paliativos: procurando a melhor prática clínica e eficiência”, e que é uma revisão muito interessante, numa área habitualmente pouco documentada neste âmbito. Na rubrica pediátrica apresentamos uma revisão sobre o síndrome de Guillian Barré, e na breve reflexão em emergência médica apresentamos uma visão sobre a vivência dos profissionais da emergência em tempos de pandemia, e o seu impacto na atividade dos serviços de urgência. Apresentamos vários casos clínicos, dois quais dois casos de adultos (um na área cirúrgica, outro na área médica, e um outro caso, na área da neonatologia, sobre o nascimento e transporte de um grande prematuro. Na rubrica LIFESAVING trends apresentamos um artigo sobre a aplicação da tecnologia 5G à emergência médica, e terminamos a edição com mais um ECG comentado, a propósito de um caso clínico. Agradecemos muito a preferência dos leitores pela nossa publicação, encorajando-os e desafiando-os para a submissão de novos artigos, que são afinal a matéria-prima e a essência deste Projeto Editorial. Relembramos também que o Projeto LIFESAVING promove a divulgação artística na área da emergência médica, expondo no seu interior criações artísticas na área da fotografia e pintura, com inspiração nas temáticas desenvolvidas ou a desenvolver na revista. Desejamos uma excelente leitura, P’la Equipa Editorial, Com elevada estima e consideração, Bruno Santos Coordenador Médico das VMER de Faro e Albufeira Diretor do Projeto LIFESAVING
bsantos@chalgarve.min-saude.pt
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ÍNDICE
08
HOT TOPIC ENTRE O PRÉ-HOSPITALAR E OS CUIDADOS PALIATIVOS: PROCURANDO A MELHOR PRÁTICA CLÍNICA E EFICIÊNCIA
16
RUBRICA PEDIÁTRICA SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ – UMA EMERGÊNCIA NEUROLÓGICA
24
CASO CLÍNICO ADULTO HÉRNIA ABDOMINAL TRAUMÁTICA E LESÕES MESENTÉRICAS TIPO BUCKET HANDLE APÓS TRAUMA ABDOMINAL FECHADO
30
CASO CLÍNICO ADULTO ALTERAÇÃO SÚBITA DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA E ALTERAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS: QUANDO NEM SEMPRE O EVENTO CARDÍACO É A ETIOLOGIA!
36
ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP CASO CLÍNICO – PREMATURIDADE EXTREMA NO PRÉ HOSPITALAR
44
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA O IMPACTO DA EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR NO DIA-A-DIA DO SERVIÇO DE URGÊNCIA
48
CARTA AO EDITOR PLANO DE AÇÃO PARA O ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
52
CARTA AO EDITOR COLAPSO CARDIOCIRCULATÓRIO NA INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL EMERGENTE: KETOFOL, UMA OPÇÃO?
56
LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA 5G NA MEDICINA: O FUTURO NA EMERGÊNCIA EXTRA-HOSPITALAR
60
VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS JOVEM HEMODINAMICAMENTE ESTÁVEL NEM SEMPRE É SAUDÁVEL!
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HOT TOPIC
HOT TOPIC
ENTRE O PRÉ-HOSPITALAR E OS CUIDADOS PALIATIVOS: PROCURANDO A MELHOR PRÁTICA CLÍNICA E EFICIÊNCIA
Catarina Pazes1,2 1Presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos 2Enfermeira de Cuidados Paliativos na Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos Beja+, ULSBA
RESUMO
paliativos, e apontar pistas para a
the life cycle, at each moment of the
O maior desafio de um Serviço
melhor adequação de cuidados de
disease course.
Nacional de Saúde será a sua
saúde, assim como uma melhor
The integration of health care is often
eficiência e capacidade de
eficiência e articulação entre as duas
presented as a “cliché” in the answers
antecipação e adaptação nas
áreas clínicas envolvidas.
to multiple problems because the
respostas aos cidadãos que serve.
Urge uma melhor compreensão sobre
multiplicity of needs of the person
Para isso é fundamental conhecer
o tema, nomeadamente a dimensão
and family almost always implies an
bem as necessidades dos
do problema (número de doentes em
interdisciplinarity and
utilizadores, em cada momento do
situação paliativa e em fase de fim de
transdisciplinarity.
ciclo vital, a cada momento dos
vida que são atendidos, por ano, pelas
Characteristic of our geographic
percursos de doença.
equipas de emergência pré-hospitalar).
and demographic context is the
A integração de cuidados de saúde
Vários estudos e recomendações
prevalence of older people, the
apresenta-se muitas vezes como um
internacionais apontam para a
prevalence of people with
“chavão” nas respostas a múltiplos
necessidade de uma melhor
dependence and chronic illness,
problemas, uma vez que a
colaboração entre equipas de
people in a situation of fragility due
multiplicidade de necessidades da
emergência pré-hospitalar e equipas
to dependence, multi-pathology,
pessoa e família implica quase
de cuidados paliativos, apresentando
life-limiting situations (in time and
sempre uma interdisciplinaridade e
esta como a melhor forma de permitir
in autonomy).
transdisciplinaridade.
os cuidados de saúde adequados e o
It is intended to express a concern
Característico do nosso contexto
respeito pelo plano de cuidados
perceived by both emergency medical
geográfico e demográfico, é a
previamente definido com o doente
professionals and palliative care
prevalência de pessoas mais velhas, a
em situação paliativa e a sua família.
professionals, and point out clues for
prevalência de pessoas com dependência e doença crónica, pessoas em situação de fragilidade pela dependência, multipatologia, situações limitadoras da vida (em tempo e em autonomia). Pretende-se expressar uma inquietação percecionada quer por profissionais de emergência médica, quer por profissionais de cuidados
Palavras-Chave: cuidados paliativos, fim-de-vida, emergência médica, emergência pré-hospitalar, emergências paliativas.
ABSTRACT The biggest challenge of a national health service is its efficiency and ability to anticipate and adapt the response to the citizens it serves. For this, it is essential to know the needs of users, at each moment of
a better adequacy of health care, as well as better efficiency and articulation between the two clinical areas involved. There is an urgent need for a better understanding of the subject, namely the dimension of the problem (number of palliative and end-of-life patients who are served for, per year, by pre-hospital emergency teams).
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9
Several international studies and
componente de investigação)3.
cuidados de forma antecipada,
recommendations point to the need
Apesar do desenvolvimento desta
permitindo decisões de fim de vida
for better collaboration between
área clínica ao longo dos anos, da
mais ajustadas às necessidades e
pre-hospital emergency teams and
legislação em vigor e dos sucessivos
vontades do doente e família7.
palliative care teams, presenting this
planos estratégicos que assumem o
Sabemos que a natureza das
as the best way to allow adequate
compromisso de definir para cada
necessidades dos doentes em
health care and respect for the care
biénio os objetivos e ações
situação paliativa impõe uma
plan previously defined with the
necessárias, continuamos a ter
resposta multidisciplinar capaz de
patient. palliative patient and
dificuldades importantes na
abordar o sofrimento em todas as
his family.
acessibilidade, com apenas 30% das
suas dimensões, encontrando-se
pessoas com necessidade desta
sempre o doente e família como
resposta clínica a terem acesso à
objeto de cuidados. Falamos em
mesma. Além de escasso, o acesso, é
situação paliativa, quando o doente
ACESSO A CUIDADOS PALIATIVOS
também assimétrico no país4. As
se enquadra nos quadros
Os cuidados paliativos definem-se
equipas e tipologias que se
anteriormente descritos, que
como a área especializada dos
encontram ativas diferem muito de
englobam presença de sofrimento
cuidados de saúde que se ocupa da
região para região. Deveríamos ter a 10
decorrente de doença ameaçadora
nível comunitário uma equipa por
da vida1,2.
que decorre de doenças graves e/ou
cada 100000 habitantes (equivalente
Atendendo à estimativa de doentes
incuráveis , através de uma
a 100 equipas para todo o país)4,5,
com necessidade de cuidados
abordagem rigorosa, científica e
estando previstas pelo Plano
paliativos por ano em Portugal, às
específica. O nível de especialização
Estratégico de Desenvolvimento dos
necessidades específicas que estes
depende da complexidade das
Cuidados Paliativos (PEDCP)3, 54
doentes e famílias apresentam, ao
necessidades estando no nosso país
equipas apetrechadas de recursos
contexto demográfico do país e
definidos 4 níveis de prestação de
humanos e materiais que permitam
deficiente acesso a cuidados
cuidados paliativos: abordagem
garantir a prestação de cuidados
paliativos e abordagem paliativa, é
paliativa (praticada por todos os
diretos e assessoria a equipas de
fácil compreender que os prestadores
profissionais de saúde, em qualquer
toda a comunidade a que dão
de cuidados de saúde, a nível de
contexto não específico de cuidados
resposta. No entanto, existem
emergência pré-hospitalar, se
paliativos); cuidados paliativos
atualmente 29 equipas (cerca de
deparem muitas vezes com doentes
generalistas (praticados por equipas
metade do planeado para biénio
em situação paliativa ou com
não específicas de cuidados
2019-2020), ainda com problemas
necessidades paliativas.
paliativos que respondem no seu
muito importantes a nível de recursos
A necessidade de resposta imediata
dia-a-dia a grande número de doentes
humanos, o que condiciona bastante
por parte destes doentes, enquadra-
com necessidades paliativas, o que
o seu funcionamento 6. Através de
se muitas vezes ao nível da
implica formação e treino de nível
cuidados diretos e assessoria, estas
abordagem paliativa, embora os
intermédio); cuidados paliativos
equipas contribuem para a
doentes em situação paliativa
especializados (equipas constituídas
adequação de cuidados de saúde ao
possam apresentar uma situação
por profissionais especializados na
doente em situação paliativa e
aguda com necessidade de
área (formação e treino a nível
família, no seu domicílio ou
intervenção de emergência hospitalar.
avançado) que assumem a prestação
instituição social de internamento.
de cuidados paliativos como área
É reconhecida a relação entre o
O IDEAL VS O REAL
exclusiva); centros de excelência
acesso a acompanhamento por
Conceptualmente a emergência
(além do descrito sobre equipas
equipas especializadas em cuidados
pré-hospitalar deveria servir apenas
especializadas, apresentam uma forte
paliativos e o planeamento de
situações de doente crítico que
Keywords: palliative care, end-of-life, medical emergency, pre-hospital emergency, palliative emergencies
prevenção e tratamento de sofrimento 1,2
10
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HOT TOPIC
carecem de uma abordagem de
ou se devem ser as equipas de
é insuficiente para garantir esta
emergência médica. A condição
cuidados paliativos a dispor de uma
organização, o que leva muitas vezes
necessária a este propósito seria o
resposta de 24h/dia, 7 dias por
a que sejam mobilizados meios de
acesso a cuidados de saúde
semana, que possibilite o acesso a
emergência médica10.
ajustados às necessidades de todos
prestadores de cuidados
Recomendações para o atendimento
os cidadãos, onde estivessem
especializados, por parte dos doentes
a doentes em situação paliativa na
incluídos os planos avançados de
que deles necessitem. Podem fazer
área pré-hospitalar publicadas em
cuidados, as decisões de fim de vida,
sentido as duas vias de organização
2013, referiam 3 a 10% de doentes
e as diretivas antecipadas da vontade.
de cuidados, sendo indiscutível a
atendidos como “emergências
No entanto, sabemos que muitas
necessária integração e articulação
paliativas”10. Não há estudos
situações respondidas pelos meios
entre as duas áreas clínicas8,9.
portugueses sobre os doentes em
de emergência médica correspondem
É imperativo reconhecer que o
situação paliativa a serem atendidos
a doentes em situação paliativa, com
controlo sintomático e a segurança
pelos meios de emergência pré-
necessidade de uma abordagem
percecionada pelo doente e família
hospitalar, nomeadamente os
exclusivamente paliativa. Não é,
que se encontram no domicílio são
classificados como “prioridade 1”.
porém, consensual a melhor forma de
essenciais para a vivência da fase
Poderemos, no entanto, estimar para
tornar esta abordagem acessível: se
final da vida. A disponibilidade de
Portugal, com base naquele artigo10
são as equipas de emergência
cuidados de saúde adequados e
um número entre 3.999 e 13.331 de
médica que devem adquirir
apoio nas tomadas de decisão em
“emergências paliativas” atendidas,
competências na prestação de
caso de agravamento são essenciais,
por ano, pelos meios que respondem
cuidados a doentes paliativos, com
pelo que o acesso permanente a
ao nível P1 de priorização pelo CODU
intuito de alívio de sofrimento e
cuidados de saúde, é importante.
(segundo dados do relatório de
adequação de objetivos terapêuticos
Infelizmente o investimento a nível
atividades relativo a 2020)11. Isto
às necessidades do doente e família,
dos cuidados paliativos domiciliários
significa que todos os profissionais
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11
da área pré-hospitalar podem ser
contexto domiciliário);
estruturas especializadas em
Documentação, prescrições
cuidados paliativos; domiciliários
situação paliativa em fase avançada
médicas e diretivas prévias (não
no atendimento de emergência
da sua doença e que necessitam de
acesso a processo clínico/
prestado pelo serviço médico de
cuidados médicos10. Parece, pois,
diretivas antecipadas/plano
emergência, garantindo assim
necessário e determinante conhecer
avançado de cuidados, em
atendimento em ambulatório
os números no nosso país, para
contexto de intervenção em
disponível;
efetiva adequação estratégica na
emergência pré-hospitalar);
confrontados com doentes em
organização de recursos da saúde. DESAFIOS PARA A EMERGÊNCIA
•
• •
•
Melhoria na comunicação e
Encontrar a abordagem ideal e
cooperação entre equipas de
centrada no paciente;
cuidados paliativos e serviços de
Incerteza sobre as
emergência médica; •
Melhoria/adequação de
MÉDICA PRÉ-HOSPITALAR
consequências legais (para os
NESTE CONTEXTO
profissionais da emergência
formação nesta área à equipa de
Os desafios encontram-se a
pré-hospitalar);
emergência médica;
diferentes níveis: identificação -
•
Desafios no nível individual (cada
•
Implementação de discussão
ausência muito frequente de plano
um dos profissionais da equipa
precoce sobre decisões sobre o
antecipado de cuidados ou diretivas
de emergência) 12
fim de vida por forma a identificar
Desafios no nível da equipa de
os doentes em fim de vida e a
acessíveis; competência na
emergência (no processo de
abordagem mais adequada;
adequação de cuidados/tomada de
tomada de decisão/adequação
decisão, ausência de integração de
de cuidados à situação paliativa);
vontade e planeamento avançado
Emoções do cuidador familiar,
de cuidados para emergências
e rede de emergência (Centro de
enfrentamento e compreensão
paliativas específicas;
Orientação de Doentes Urgentes).
sobre a doença
antecipadas de vontade conhecidas/
informação entre cuidados paliativos
•
•
•
Gerar diretivas antecipadas de
Preparar cuidadores familiares,
Desejos do doente,
serviços de enfermagem
cuidados, acompanhamento próximo
enfrentamento e compreensão
domiciliária e lares de idosos
por equipas de saúde que garantam o
sobre a doença;
para emergências paliativas e
Histórico social, cultural e
construir planos de emergência
situação clínica, a segurança nos
religioso dos doentes
neste contexto;
cuidados e nas decisões são, como já
e familiares12.
A definição de um plano avançado de
controlo do sofrimento decorrente da
•
•
•
•
Distribuição de caixas de medicamentos de emergência
vimos, essenciais. Por não estarem sempre garantidas estas condições, a
PISTAS PARA A SOLUÇÃO
que podem ser utilizadas de
descompensação fácil do doente em
Além da premência em melhor
forma independente por todas as
situação paliativa ou o possível
conhecermos a nossa realidade,
pessoas que estão integradas na
agravamento do stress do doente e
quanto a necessidades dos doentes
prestação de cuidados (cuidados
família face a agravamento clínico,
que recorrem a emergência hospitalar,
antecipatórios);
podem levar a recurso aos serviços
existem uma série de recomendações
de emergência médica.
identificadas por peritos de vários
paliativos e competência ética
Neste contexto, os profissionais
países, nas áreas de emergência
em Unidades de Cuidados
desta área podem deparar-se com
médica e cuidados paliativos:
Intensivos e Departamentos de
múltiplos desafios12:
Integração de cuidados
Emergência Médica10. •
•
•
Garantia de acesso a cuidados
Condições estruturais do
paliativos especializados,
Para adequarmos a resposta extra-
atendimento de emergência
generalistas e a nível básico;
hospitalar e pré-hospitalar a doentes
A integração adicional de
em situação paliativa é essencial
pré-hospitalar (normalmente
12
Indice
•
HOT TOPIC
termos em conta as especificidades
paliativos de transição até que a
CONCLUSÃO
do sistema de saúde português, as
equipa de cuidados paliativos
A qualidade de vida e a proteção da
necessidades da população,
que acompanha o doente o
dignidade de cada pessoa que vive
programas formativos e
possa assumir;
uma situação de sofrimento decorrente
Evitar ou reduzir as entradas de
da sua fragilidade e doença grave
profissionais de saúde. Ainda assim,
doentes em cuidados paliativos
depende da competência dos diversos
pode ser interessante conhecer
nos serviços de emergência;
serviços de saúde para responder a
Melhorar a formação e treino dos
quem os procura. É fulcral que os
que o problema do acesso a cuidados
profissionais de emergência
doentes e famílias recebam os
de saúde adequados, no momento
pré-hospitalar, permitindo que
cuidados de saúde que precisam,
em que são necessários, para
estes profissionais se tornem
quando precisam e da forma mais
doentes em situação paliativa, não é
confiantes ao apoiar doentes
eficiente possível. A única forma de
exclusivo de Portugal.
neste contexto clínico13.
garantia desta premissa, é conhecer e
desenvolvimento profissional dos
experiências internacionais, uma vez
•
•
planear melhor para a realidade que Na Nova Zelândia, existem
Olhando para o panorama nacional, a
temos. As necessidades em cuidados
“procedimentos e diretrizes clínicos”
prestação de cuidados a nível de
paliativos são imensas na atualidade e
para tripulantes de ambulância e
emergência pré-hospitalar a doentes
prevemos ter o dobro das necessidades
paramédicos. A secção de 'Cuidados
em situação paliativa deverá ser uma
já em 2060, segundo a OMS8.
em fim de vida', fornece informações
preocupação transversal e que nos
Sobre a resposta da emergência
para lidar com doentes em fim de
diz respeito a todos enquanto
pré-hospitalar a doentes de cuidados
vida e em cuidados paliativos e
profissionais de saúde. Urge a real
paliativos ou, especificamente, em fim
concentra-se principalmente em
priorização no investimento em
de vida, parece-nos ser indiscutível a
cuidados médicos, alívio de sintomas,
cuidados paliativos especializados e
mais-valia de mais formação e
seguindo o plano avançado de
na garantia de desenvolvimento de
planeamento adequados à realidade.
cuidados definido para o doente
competências de todos os
Não é possível nem desejável que esta
específico, sugerindo contacto com a
profissionais de cuidados de saúde
necessidade continue a ser
equipa de suporte em cuidados
que permita responder
escamoteada.
paliativos.13 Alguns países
adequadamente, do ponto de vista
Urge uma melhor compreensão sobre o
reconhecem que existe uma
científico, ético e humano às
tema, descrição da dimensão do
necessidade de os profissionais de
necessidades dos doentes em
problema. Vários estudos e
emergência pré-hospitalar prestarem
situação paliativa e suas famílias14.
recomendações internacionais
cuidados paliativos em casa.
A formação e integração de
apontam a melhor colaboração entre
Na Nova Escócia (Canadá) os
competências da área dos cuidados
equipas de emergência pré-hospitalar e
cuidados paliativos denominaram
paliativos são essenciais em todos
equipas de cuidados paliativos de base
“preencher a lacuna durante uma
os contextos, incluindo o pré-
comunitária9 como a melhor forma de
crise” o desenvolvimento de uma
hospitalar, dada a reconhecida
permitir o respeito pelo plano prévio de
parceria com paramédicos para
frequência com que os profissionais
cuidados, em caso de situações de
fornecer cuidados paliativos em
desta área se deparam com doentes
emergência que afetem o doente em
casa13, seguindo quatro grandes
em fim de vida.
situação paliativa e sua família
objetivos: •
•
Melhorar o acesso dos doentes
Agradecimento
aos cuidados paliativos e
À Dr.ª Cristina Galvão pela revisão e
apoio domiciliário;
sugestões dadas durante o processo de
Fornecer suporte de cuidados
escrita do artigo.
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13
14
14
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HOT TOPIC BIBLIOGRAFIA 1.
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RUBRICA PEDIÁTRICA
RUBRICA PEDIÁTRICA
SÍNDROME GUILLAIN-BARRÉ – UMA EMERGÊNCIA NEUROLÓGICA Íris Rocha e Oliveira1, Andreia J. Fernandes1, Mafalda João Pereira1, Carla Mendonça1 1
Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro, Serviço de Pediatria
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é a
Guillain-Barré syndrome (GBS) is the
A Síndrome de Guillain-Barré (SGB)
causa mais comum de paralisia flácida
most common cause of acute flaccid
tornou-se, após a implementação da
aguda, em idade pediátrica. Trata-se
paralysis in pediatric population. It is
imunização contra a poliomielite, a
de uma neuropatia periférica aguda
characterized by acute peripheral
causa mais comum de paralisia
com disfunção motora e/ou sensitiva/
neuropathy with motor and/or
flácida aguda em idade pediátrica.1
autonómica, causada por uma
sensory/autonomous disfunction.
Predomina no sexo masculino e a
resposta autoimune pós-infeciosa,
GBS is thought to be mostly caused
sua incidência aumenta linearmente
particularmente nas 4-6 semanas após
by an aberrant immune response to a
com a idade. Todas as faixas etárias
uma infeção respiratória ou
previous respiratory or
podem ser afetadas, apesar da sua
gastrointestinal. Apesar de existirem
gastrointestinal infection. Acute
ocorrência ser rara abaixo dos 2 anos
características clínicas basilares, o
inflammatory demyelinating
de idade.2,3
espetro clínico da SGB é heterogéneo.
polyneuropathy is the prototype of
Trata-se de uma neuropatia periférica
A Polirradiculoneuropatia Inflamatória
GBS and is characterized by
aguda com disfunção motora,
Desmielinizante Aguda corresponde
ascending weakness with
sensitiva ou autonómica, cujo
ao subtipo mais prevalente e
generalized areflexia and albumino-
mecanismo fisiopatológico ainda não
caracteriza-se classicamente por
-cytological dissociation in the
se encontra totalmente esclarecido.4
fraqueza muscular rapidamente
cerebrospinal fluid examination.
Evidências suportam a existência de
progressiva, ascendente e simétrica,
Other GBS subtypes include acute
uma resposta autoimune
acompanhada de arreflexia e
axonal neuropathies, GQ1b
pós-infeciosa anómala (que pode ser
dissociação albumino-citológica no
syndromes, Polyneuritis cranialis and
dirigida quer à mielina, quer ao
líquido cefalorraquidiano (LCR). Outros
other variants. The main modalities
axónio do nervo), particularmente nas
subtipos incluem a Neuropatia Axonal
of treatment are intravenous immune
4-6 semanas após uma infeção
Aguda, as Síndromes GQ1b, a
globulin and plasmapheresis. The
respiratória ou gastrointestinal.5,6
Polinevrite Craniana e outras variantes
prognosis of GBS in children is better
A forma como esta resposta origina
menos comuns. O tratamento consiste
than in adults, with an excellent
lesão nervosa parece ser distinta
na administração de Imunoglobulina ou
long-term recovery observed in
consoante as diferentes
realização de Plasmaferese. A SGB em
80-90% of children.
apresentações clínicas da síndrome.
idade pediátrica apresenta melhor
Nas formas desmielinizantes, as
prognóstico que nos adultos, com
células T ativadas induzem uma
recuperação total em 80-90% dos casos.
reação inflamatória local, mediada por macrófagos, contra a bainha de
Palavras-Chave: Síndrome de Guillain-Barré; paralisia flácida aguda; neuropatia periférica aguda
Keywords: Traumatic brain injury, Glasgow coma scale, cranial hypertension
mielina e células de Schwann, com
Indice
17
diminuição da velocidade de
Epstein-Barr (EBV), Mycoplasma
persistente/transitória), íleo
condução dos nervos periféricos,
pneumoniae e 18 vírus Influenza A e B.
paralítico, disfunção vesical e
raízes espinhais e, por vezes, pares
Uma pequena percentagem
sudorese.6 Nos pacientes cuja
cranianos. Nas formas axonais,
apresenta como trigger imunizações,
morbilidade máxima seja atingida
predomina a resposta humoral
cirurgias, trauma ou transplante de
nas primeiras 24 horas ou após 4
mediada por anticorpos
medula óssea prévios.6,8
semanas de doença, devem ser considerados outros diagnósticos
antigangliosídeos e sistema complemento em detrimento da
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
diferenciais. A SGB manifesta-se de
resposta inflamatória local, que é
A SGB caracteriza-se classicamente
forma monofásica, apesar de
escassa. A agressão é dirigida
por fraqueza muscular rapidamente
poderem ocorrer, em uma pequena
diretamente aos Nódulos de Ranvier,
progressiva, na maioria dos casos
minoria, flutuações relacionadas com
com consequente disfunção dos
ascendente e simétrica,
o tratamento e recidivas.2
canais de sódio a nível do axónio e
acompanhada de arreflexia e
As manifestações sensitivas
bloqueio da condução nervosa.3,4 Os
dissociação albumino-citológica no
englobam parestesias, dor e perda de
anticorpos antigangliosídeos
líquido cefalorraquidiano (LCR). Os
propriocepção.3
assumem um papel fundamental na
sintomas desenvolvem-se ao longo
Apesar de semelhante à
diferenciação das diferentes
de 2-4 semanas, altura em que a
apresentação no adulto, a SGB que
variantes da SGB.7
gravidade clínica atinge o expoente
surge em idade pediátrica apresenta
O agente etiológico mais
máximo: 75% necessitam de ajuda
particularidades, nomeadamente no
frequentemente implicado é o
para deambular, 30% têm
que toca ao aparecimento mais
Campylobacter jejuni, que se associa
paraparésia, 35-50% apresentam
frequente de dor neuropática (em
a uma recuperação mais lenta e
envolvimento dos pares cranianos e
70% dos casos), parestesias distais e
maior morbilidade. Apesar de poder
15-20% manifestam falência
envolvimento dos pares cranianos. A
ter relação causal com qualquer uma
respiratória e/ou disfunção
distribuição proximal da fraqueza
das variantes do SGB, encontra-se
autonómica.5 A disfunção
muscular pode existir em até 20%
mais frequentemente associado às
autonómica pode manifestar-se
das crianças.3,9 Em idades inferiores
formas axonais. Outros agentes
através de disritmias, variações na
a 6 anos, a apresentação pode ser
etiológicos comumente envolvidos
pressão arterial (hipotensão
inespecífica, com predomínio de dor
são o Citomegalovírus (CMV), vírus
ortostática ou hipertensão
mal localizada, recusa em fazer
18
Indice
RUBRICA PEDIÁTRICA
carga, irritabilidade ou desequilíbrio
presença dos anticorpos
orofaringe, pescoço e ombros,
da marcha.2
anti-GM1, anti-GM2, anti-GD1b,
com disfagia associada. Por
Apesar de existirem características
anti-GT1b, anti-GM3, anti-GD1a
vezes com atingimentos dos
clínicas basilares, o espetro clínico
e anti-GalNac-GD.7
músculos faciais, mas com
da SGB é heterogéneo, com diversas
• A Neuropatia axonal aguda
força distal preservada. Os
variantes que se expressam
sensitivo-motora distingue-se
anticorpos mais
consoante o mecanismo
da anterior pelo envolvimento
frequentemente associados
fisiopatológico que as origina. (5) As
sensitivo adicional. Relaciona-
são anti-GT1a, anti-GQ1b e
diferentes formas de apresentação
se com a presença dos
anti-GD1b.6,7,10
podem ser diferenciadas da seguinte
anticorpos anti-GM1, anti-GM1b
forma:
e anti-GD1a. Esta variante não é
envolvimento bilateral de vários
•
comum na idade pediátrica.7
pares cranianos, com afetação
Polirradiculoneuropatia
Polinevrite craniana: Consiste no
Síndromes GQ1b: Diferem dos
sensitiva periférica grave. Pode ter
Aguda (PIDA): denominada como
anteriores pela presença de
relação com infeção prévia por
forma “clássica”, corresponde ao
distúrbios oculomotores e ataxia,
Citomegalovírus e tem tendência
subtipo mais prevalente (80-90%
bem como pela associação aos
a afetar doentes mais jovens.3,6
dos casos). Apresenta disfunção
anticorpos anti-GQ1b.
motora, sensitiva e autonómica, já
Compreendem a Síndrome
incluem: Pandisautonomia
descritas previamente. Apesar de
Miller-Fisher, a Encefalite do tronco
aguda, Neuropatia sensorial pura
não serem detetados por rotina
cerebral de Bickerstaff e a Variante
aguda, Variante paraparética e
anticorpos associados, há casos
faríngea-cervical-braquial.6,10
Diplegia facial com parestesias.
Inflamatória Desmielinizante
•
•
•
•
Outras variantes menos comuns
descritos do envolvimento do
• A Síndrome Miller-Fisher
anticorpo anti-LM1 e anti-Gal-C.2,3,7
(SMF) é caracterizada pela
DIAGNÓSTICO
Neuropatia axonal aguda:
tríade oftalmoplegia, ataxia e
O diagnóstico da SGB é estabelecido
Corresponde a 5-10% dos casos
arreflexia, podendo, no entanto,
pela história clínica e exame objetivo,
na Europa e está mais
haver sobreposição com outras
e suportado pelas alterações
frequentemente associado a
formas. A análise do LCR e os
encontradas no LCR e estudo
infeção prévia por C. jejuni.
achados eletrofisiológicos são
eletrofisiológico.2 Existem atualmente
Apresenta um quadro clínico
semelhantes aos da PIDA. Os
dois conjuntos de critérios de
mais rápido e grave, com
anticorpos anti-GQ1b,
diagnóstico amplamente utilizados na
necessidade mais frequente de
anti-GM1b, anti-GT1a, anti-GD3
prática clínica: os primeiros (Tabela
ventilação mecânica. Contudo, o
e anti-GD1c podem estar
1), instituídos pelo National Institute
prognóstico a longo prazo entre a
presentes. Apresenta bom
of Neurological Disorders and Stroke
PIDA e as formas axonais é
prognóstico em idade
(NINDS), apresentam a vantagem de
semelhante. A disfunção ocorre a
pediátrica.6,7,11
incluírem características clínicas das
nível motor ou sensitivo-motor:3,6,7
• A Encefalite do tronco
apresentações atípicas da síndrome;
• A Neuropatia axonal aguda
cerebral de Bickerstaff tem em
os segundos, estabelecidos em 2011
motora tem atingimento
comum com a SMF a presença
pela Brighton Collaboration, também
puramente motor. Em fases
de oftalmoplegia e ataxia,
são úteis ao permitirem o diagnóstico
precoces da doença, 10% dos
associadas a encefalopatia e
da apresentação típica da SGB
pacientes possuem, por
hiperreflexia. Correlaciona-se
(Tabela 2) e da SMF (Tabela 3).2,5
mecanismo ainda não
com o anticorpo anti-GQ1b.7,10
No que respeita ao estudo do LCR, a
esclarecido, reflexos
• A Variante faríngea-cervical-
presença de dissociação albumino-
osteotendinosos normais ou
-braquial destaca-se pela
citológica (aumento das proteínas
hiperreflexia. Está associado à
fraqueza muscular da
sem pleocitose) é característica da
Indice
19
20
20
Indice
RUBRICA PEDIÁTRICA
CRITÉRIOS NECESSÁRIOS
síndrome, presente em até 90% dos
• Diminuição progressiva da força muscular, em mais que um membro. Grau de parésia variável, desde ligeira diminuição da força nos membros inferiores (com ou sem ataxia) até paralisia total do tronco e membros, paralisia facial e bulbar, e oftalmoplegia externa); • Arreflexia ou hiporreflexia (aceitável apenas diminuição dos reflexos rotuliano e bicipital se as outras características forem consistentes com o diagnóstico).
casos. Normalmente o aumento da
CRITÉRIOS QUE APOIAM O DIAGNÓSTICO
atingindo o pico máximo na terceira
Clínicos (por ordem de importância)
semana.7 Se a primeira punção
• Progressão (50% atingem o plateau em duas semanas, 80% em três semanas e 90% em quatro semanas); • Simetria relativa; • Sintomas/sinais sensitivos ligeiros; • Envolvimento dos nervos cranianos (paralisia facial ocorre em 50% dos casos. Outros nervos cranianos podem estar envolvidos); • Recuperação (sem terapêutica específica, inicia-se 2-4 semanas após a paragem da progressão; ocasionalmente demora meses; recuperação funcional na maioria dos casos); • Disfunção autonómica (taquicardia, hipotensão postural, hipertensão arterial, alterações vasomotoras); • Ausência de febre no início da sintomatologia; • Variantes clínicas (sem ordem de importância): o Febre no início da sintomatologia; o Diminuição muito significativa da sensibilidade com dor; o Progressão dos défices com duração superior a quatro semanas; o Ausência de recuperação ou défices major residuais permanentes; o Disfunção esfincteriana: pouco frequente, embora possa ocorrer disfunção vesical transitória; o Envolvimento do SNC;
lombar não revelar alterações e a
LCR • Elevação das proteínas nas primeiras 3 semanas (mais provável após 1ª semana); • ≤10 células mononucleares/mm3; • Variantes: o Sem aumento proteínas 1-10 semanas após início dos sintomas (raro); o LCR com 11-50 células/mm3; Eletrofisiologia • Estudos de condução nervosa: diminuição da velocidade (até 60% do normal) ou bloqueio da condução. Os estudos da condução podem ser normais nas primeiras semanas de doença; • Latências distais podem estar aumentadas até 3 vezes o valor normal; CARACTERÍSTICAS QUE TORNAM O DIAGNÓSTICO DUVIDOSO • Assimetria significativa persistente; • Disfunção vesical ou intestinal persistentes; • Disfunção vesical ou intestinal desde o início dos sintomas; • Afetação sensitiva marcada; • > 50 células mononucleares/mm3 no LCR; • Presença de polimorfonucleares no LCR. CARACTERÍSTICAS QUE EXCLUEM O DIAGNÓSTICO • História de intoxicação por hexacarbonetos (inalação de solventes voláteis, cetonas, cola, verniz); • Porfiria aguda intermitente; • Difteria recente; • Neuropatia por chumbo; • Síndrome puramente sensitivo; • Diagnóstico definitivo de outra doença como poliomielite, botulismo, paralisia histérica ou neuropatia tóxica (ex: nitrofurantoína, dapsona, organosfosforados).
albumina no LCR ocorre após a segunda semana de doença,
dúvida diagnóstica persistir, a mesma pode ser repetida 7-10 dias após o aparecimento dos primeiros sintomas.5 Nos casos em que a contagem celular é >50/mm3, outros diagnósticos devem ser equacionados, nomeadamente, HIV, doença de Lime, poliomielite, infeção por enterovírus 71 ou neoplasia.5,6 O estudo eletrofisiológico deve ser efetuado sempre que possível, já que se trata do teste mais específico e sensível para o diagnóstico da SGB (bem como para a sua diferenciação entre desmielinizante ou axonal). As alterações encontram-se presentes em 90% dos casos na primeira semana e de forma universal na segunda semana.3,6 No que toca aos meios complementares de diagnóstico não contemplados nos critérios clínicos: •
evidencia realce das raízes nervosas espinhais e cauda
Tabela 1 - Critérios de diagnóstico elaborados pelo NINDS2,3,6,12
equina, um achado não específico de SGB.6 A sua
Nível 1 de certeza diagnóstica (presença de todos os critérios) • Paralisia flácida E bilateral dos membros; • Arreflexia ou Hiporreflexia dos membros; • Padrão doença monofásico E intervalo entre início da doença e pico máximo de morbilidade de 12h-28 dias E subsequente estabilidade clínica; • Achados eletrofisiológicos compatíveis com SGB; • Dissociação albumino-citológica (elevação proteínas no LCR E total leucócitos no LCR <50células/mm3); • Ausência de diagnóstico alternativo que explique quadro clínico.
realização é recomendada se existir evidência de patologia a nível medular ou central.5,6 •
Nível 3 de certeza diagnóstica • Todos os critérios CLÍNICOS referidos acima E • Ausência de achados eletrofisiológicos e no LCR compatíveis com SGB. Tabela 2 - Critérios de diagnóstico da SGB elaborados pela Brighton Collaboration5,8
Anticorpos – não é recomendada a sua requisição por rotina, mas
Nível 2 de certeza diagnóstica • Todos os critérios CLÍNICOS referidos acima E • Achados eletrofisiológicos compatíveis com SGB OU • Dissociação albumino-citológica.
Ressonância magnética –
podem ser úteis no diagnóstico das síndromes GQ1b.6 •
Investigação infeciosa etiológica – Serologias (Mycoplasma pneumoniae, EBV, x5CMV, Herpes simplex, Coxsackiae, Borrelia
Indice
21
burgdoferi), Coprocultura (com
Nível 1 de certeza diagnóstica (presença de todos os critérios)
pesquisa de Campylobacter
• Oftalmoparésia bilateral E arreflexia/hiporreflexia bilateral E ataxia; • Ausência de fraqueza muscular (caso ocorra, considerar síndrome de sobreposição SGB-SMF); • Padrão doença monofásico E intervalo entre início da doença e pico máximo de morbilidade de 12h-28dias E subsequente estabilidade clínica; • Estudo eletrofisiológico normal OU compatível com envolvimento apenas nervos sensitivos; • Dissociação albumino-citológica (elevação proteínas no LCR E total leucócitos no LCR <50 células/mm3); • Sem alterações consciência ou sinais piramidais; • Ausência de diagnóstico alternativo que explique quadro clínico.
jejuni), Hemocultura e pesquisa de vírus no LCR (EBV, CMV, Herpes simplex, Coxsackiae)3,5 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Nível 2 de certeza diagnóstica
As patologias com características
• Todos os critérios CLÍNICOS referidos acima E • Estudo eletrofisiológico normal OU compatível com envolvimento apenas nervos sensitivos OU • Dissociação albumino-citológica.
clínicas semelhantes à SGB e que,
Nível 3 de certeza diagnóstica
consequentemente, devem fazer
• Todos os critérios CLÍNICOS referidos acima.
diagnóstico diferencial da mesma, encontram-se listadas na Tabela 4.
Tabela 3 - Critérios de diagnóstico da SMF elaborados pela Brighton Collaboration8
Encéfalo
AVALIAÇÃO FUNCIONAL
Encefalomielite aguda disseminada, lesão ocupante espaço fossa posterior, ataxia cerebelar aguda, acidente vascular cerebral.
Através da escala de avaliação funcional de gravidade clínica de
Medula Espinhal
Hughes, os pacientes podem ser
Mielite transversa, abcesso epidural, tumores, poliomielite, malformações vasculares, enfarte medular, traumatismo 22 medular.
classificados quanto à gravidade da
Nervos periféricos
sua doença e à necessidade de
Tóxicos: metais pesados, vincristina, hexacarbonetos; Infeções: HIV, Difteria, Doença de Lyme; Erros inatos do metabolismo: Doença de Leigh, Doença de Tangier, Porfiria; Polineuropatia/ miopatia do doente crítico.
tomada de decisão clínica:3,5 •
0. Saudável, sem sinais ou
Raízes nervosas
sintomas de SGB; • •
Polineuropatia crónica inflamatória desmielinizante, compressão cauda equina.
1. Sinais ou sintomas minor,
Junção neuromuscular
capaz de correr;
Miastenia gravis, Botulismo, intoxicação organofosforados.
2. Capaz de caminhar 5 metros
Músculo
sem ajuda; •
só com ajuda; • • •
Dermatomio¬site, Miosite viral, Miopatias da hipercalcemia, Paralisias periódicas, Polineuropatia/ miopatia do doente crítico.
3. Capaz de caminhar 5 metros
Tabela 4 - Diagnóstico diferencial da SGB3,5,6
4. Confinado à cama; incapaz de
inicial na escala funcional de
Imunoglobulina para o tratamento é
caminhar;
gravidade de Hughes;
de 2g/Kg, com 2 esquemas
5. Necessidade de Ventilação
Pontuação < 3 na avaliação inicial,
terapêuticos possíveis: 1g/kg durante
Mecânica;
mas com agravamento clínico
2 dias ou 400mg/kg durante 5 dias.
6. Morte.
(doença rapidamente progressiva,
Ambos os esquemas apresentam a
•
agravamento do ponto de vista
mesma eficácia, mas o esquema de 2
TRATAMENTO
respiratório, paralisia bulbar
dias está relacionado com um risco
Todos os pacientes devem ser
significativa e/ou incapacidade de
aumentado de recidivas.2,3,5,13
admitidos para vigilância e
caminhar sem ajuda);
No que toca a Plasmaferese, o seu
monitorização contínua do ponto de
Não existem estudos que comprovem
mecanismo de ação está relacionado
vista motor (inclui função respiratória)
a superioridade da utilização da
com a redução dos títulos dos
e autonómico.3,13
Imunoglobulina em relação à
anticorpos circulantes. Tem máxima
O tratamento farmacológico com
Plasmaferese (ou vice-versa) ; no
eficácia se realizada nos primeiros 7
Imunoglobulina ou Plasmaferese é
entanto, há preferência pela
dias de doença, no seguinte
recomendado a todos os pacientes
utilização da imunoglobulina pelo
esquema: 200-250mL/kg em 4-5
que cumpram os seguintes critérios:3,13
seu perfil de segurança e rápida
sessões.2,3,13
•
administração. A dose total de
Pontuação ≥ 3 na avaliação
22
Indice
2
RUBRICA PEDIÁTRICA
PROGNÓSTICO
em idade pediátrica. Protocolo de actuação. Acta
A SGB em idade pediátrica apresenta
Pediátrica Port [Internet]. 2011;42(1):33–42.
miller fisher syndromes - New diagnostic
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situa-se entre os 3-4% e encontra-se
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https://www.uptodate.com/contents/
Korinthenberg R, Trollmann R, Felderhoff-Müser
guillain-barre-syndrome-in-children-treatment-
CONCLUSÃO
U, Bernert G, Hackenberg A, Hufnagel M, et al.
and-prognosis?topicRef=6235&source=see_link
A SGB impõe-se como um espetro
Diagnosis and treatment of Guillain-Barré
heterogéneo de complexidade variada,
Syndrome in childhood and adolescence: An
desde a sua fisiopatologia (que ainda
evidence- and consensus-based guideline. Eur J
não é totalmente conhecida), até ao
Paediatr Neurol [Internet]. 2020;25:5–16.
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ejpn.2020.01.003
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pediátrica, o reconhecimento
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parte integrante da síndrome pode
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guillain-barre-syndrome-in-children-epidemiology-
consequentemente, início precoce de
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COMISSÃO CIENTÍFICA
Janeiro P, Silva RL da. Síndrome de Guillain-Barré
Indice
23
24
24
Indice
CASO CLÍNICO ADULTO
CASO CLÍNICO ADULTO
HÉRNIA ABDOMINAL TRAUMÁTICA E LESÕES MESENTÉRICAS TIPO BUCKET HANDLE APÓS TRAUMA ABDOMINAL FECHADO TRAUMATIC ABDOMINAL WALL HERNIA AND BUCKET HANDLE MESENTERIC INJURIES AFTER BLUNT ABDOMINAL TRAUMA João Roque Gomes 1,2,3, Liuba Germanova 1,4,5, Ana Rita Monteiro 1,3, Joana Peliteiro 1,3, Manuel Teixeira 1,3 Mestrado em Medicina. 2Mestrado em Medicina Legal. 3Médico IFE de Cirurgia Geral. 4Anestesiologista. 5Médica VMER, Helicóptero INEM e CODU
1
RESUMO
hérnia traumática da parede
in our Emergency Department
O trauma abdominal é uma
abdominal, achado raro após trauma
transported by our Emergency Car
importante causa de morbilidade e
fechado, manifestada por equimose
(VMER) following a motor vehicle
mortalidade em todo o mundo. No
no flanco e discreta tumefação in situ.
collision. Adding to the orthopedic
trauma fechado, o reconhecimento de
Foram também detetadas lesões
lesions, she presented a traumatic
lesão de órgão é muitas vezes
mesentéricas tipo Bucket Handle, com
abdominal wall hernia, a rare finding
duvidoso na abordagem inicial e
necessidade de resseção segmentar
after blunt trauma, manifested
depende da suspeição clínica,
de intestino delgado. O defeito da
clinically by a flank ecchymosis and a
apoiada por exames analíticos e
parede abdominal foi corrigido em
subtle in situ tumefaction. Bucket
imagiológicos. O estado fisiológico
segundo tempo devido à instabilidade
Handle mesenteric injuries were also
do doente traumatizado é de extrema
HD apresentada na primeira
found, and segmental small bowel
importância e o seu equilíbrio garante as
abordagem cirúrgica, na qual se
resection was needed. The abdominal
melhores hipóteses de sobrevivência.
aplicaram os princípios de Controlo
wall defect was corrected in a second
Apresentamos o caso de uma doente
de Danos.
surgical exploration due to HD
politraumatizada de 56 anos que deu entrada no nosso Serviço de Urgência
Palavras-Chave: Abdominal, Trauma, Fechado, Hérnia, Bucket-Handle, Cirurgia, Emergência
transportada pela VMER após
instability presented in the first surgical approach, in which Damage Control principles were followed.
acidente de viação. Somando-se às
ABSTRACT
lesões ortopédicas, apresentava
Abdominal trauma is an important
Keywords: Abdominal, Trauma, Blunt, Hernia, Bucket-Handle, Surgery, Emergency
cause of morbidity and mortality ABREVIAÇÕES AAST - American Association for the Surgery of Trauma FAST - Focused assessment with sonography in trauma FC – Frequência Cardíaca Hb – Hemoglobina HD – Hemodinâmica IV – Intravenoso OMS – Organização Mundial de Saúde PA – Pressão Arterial PAS – Pressão Arterial Sistólica Rx – Radiografia TC – Tomografia Computadorizada UCE – Unidade de Concentrado de Eritrócitos UCI – Unidade de Cuidados Intensivos VMER – Viatura Médica de Emergência e Reanimação
worldwide. In blunt trauma,
CASO CLÍNICO
recognition of organ damage is often
Mulher caucasiana de 56 anos com
dubious initially and relies on clinical
antecedentes de hipertensão,
suspicion, supported by imaging and
depressão e obesidade. Entregue pela
blood tests. The physiological status
VMER na Sala de Emergência após
of a trauma patient is of utmost
acidente de viação por despiste de
importance and its management
automóvel (condutora), com perda de
assures the best chances of survival.
consciência no local.
We present a case of a 56-year-old
À admissão encontrava-se totalmente
polytrauma patient who was admitted
imobilizada com via aérea permeável,
Indice
25
26 Figura 1 - TC mostrando hemoperitoneu (seta fina) e hérnia traumática do flanco esquerdo (setas grossas), envolvendo destruição dos músculos oblíquos externo e interno e transverso abdominal.
ventilação espontânea, taquipneica,
pleurais ou pericárdicas, sinais de
6) líquido intraperitoneal na região
com máscara de alta concentração de
trauma de órgãos abdominais ou
pélvica, mas principalmente
oxigénio, PA 90/68 mmHg e FC 71
líquido livre na cavidade peritoneal. O
interansas, bem como 7) hérnia
bpm (Shock Index = 0,8), com tempo
valor de Hb era de 12,2 g/dL.
traumática do flanco esquerdo
de enchimento capilar inferior de 2
Foi inicialmente abordada com
contendo intestino delgado e cólon
segundos e ECG de 15. Referia queixas
administração de cristalóide
descendente (figura 1). Esta
álgicas no ombro, omoplata e flanco
balanceado, tendo respondido com
informação sugeria lesão no intestino
esquerdos e região periumbilical.
normalização da TA (resposta
delgado ou no seu mesentério. Rx do
No exame secundário, apresentava
transitória). Realizou TC de corpo
pé direito mostrou 8) fratura
escoriações faciais dispersas, epistaxe
inteiro (da cabeça a meio do fémur)
do calcâneo.
de pequeno volume, crepitações à
que revelou 1) ausência de sinais de
Implementámos ressuscitação
palpação dos ossos nasais e
traumatismo cranioencefálico; 2)
restritiva de fluidos e ácido
enoftalmia esquerda discreta,
fraturas múltiplas dos ossos da face
tranexâmico para evitar a
expansão torácica simétrica com
(ossos nasais, paredes orbitárias
coagulopatia do trauma. Após a TC,
auscultação normal. O abdómen
externa e inferior esquerdas, paredes
por hipotensão recorrente foi
apresentava equimose e pequena
anterior e externa do seio maxilar
transfundida com 2 UCEs e iniciou
tumefação no flanco esquerdo, com
esquerdo, arco zigomático esquerdo,
vasopressor (para manter a PAS entre
palpação dolorosa nas regiões
paredes anterior e externa do seio
80-90 mmHg – hipotensão
periumbilical, hipogástrica, fossa ilíaca
maxilar direito); 3) fratura cominutiva
permissiva) e foi encaminhada para
e flanco esquerdos. Apresentava
da omoplata esquerda e terço lateral
Bloco Operatório para laparotomia
défice motor e parestesia no membro
da clavícula (“floating shoulder”);
urgente. Neste momento, um
superior esquerdo e deformidade no
4) fratura da 7ª costela esquerda
segundo hemograma revelou Hb de
tornozelo direito, sem
e 5) contusão pulmonar bilateral nos
8,5 g/dL e a gasimetria evidenciava
comprometimento vascular distal.
lobos inferiores. Além disso, as
acidose com pH 7,2.
Extended-FAST não revelou anomalias
imagens abdominais mostravam
26
Indice
CASO CLÍNICO ADULTO
nutricional e a doente foi agendada para correção cirúrgica eletiva da hérnia da parede abdominal. Infelizmente, antes que isso tivesse sido possível, complicou com hérnia estrangulada e perfuração intestinal. Foi realizada ressecção segmentar de intestino delgado e hernioplastia pré-peritoneal. As imagens de TC de controle do pós-operatório são demonstradas na Figura 5. Até o momento (3 anos após a primeira cirurgia), não se registam Figura 2 - Lesões Bucket Handle. A consequência são segmentos intestinais isquémicos, exigindo resseção.
outras intercorrências. ENQUADRAMENTO TEÓRICO O trauma grave é um verdadeiro desafio, exigindo trabalho em equipa e implementação das melhores práticas atuais. O custo total médio dos cuidados de internamento e unidade de reabilitação é de cerca de £20.000 por doente, tendo o trauma fechado os valores mais elevados.1 Segundo a OMS, a cada 6 segundos morre uma pessoa vítima de trauma. Os acidentes de viação são a principal causa de
Figura 3 - Resseções segmentares de intestino delgado
morte (aproximadamente 24%).2
No intraoperatório encontrámos
devido à instabilidade HD apresentada.
O trauma abdominal é classificado
hemoperitoneu de moderado volume,
No pós-operatório, a doente foi
em fechado (mais comum,
quatro lesões mesentéricas e hérnia
estabilizada na UCI durante 3 dias.
principalmente devido a quedas e
traumática do flanco esquerdo. Duas
Durante o internamento foram
acidentes de viação) ou penetrante
das lesões mesentéricas foram
abordados vários problemas,
(principalmente por ferimentos por
abordadas apenas com rafia
nomeadamente desequilíbrios
arma branca ou arma de fogo).3 Um
mesentérica. As outras duas
hidroeletrolíticos e anemia, com
alto índice de suspeição deve ser
constituíam lesões AAST Grau V (tipo
transfusão de UCE e administração de
mantido ao observar estes doentes, já
Bucket Handle) (figura 2), nas quais
ferro IV. Apresentou íleo paralítico nos
que o exame clínico pode
realizámos ressecções segmentares
primeiros 2 dias.
erroneamente levar-nos a supor
(figura 3) pela presença de intestino
Após estabilização clínica, foi
ausência de lesão orgânica.4 Após
isquémico, seguidas de anastomoses
submetida a correção cirúrgica da
trauma fechado, os órgãos
mecânicas anisoperistálticas latero-
fratura do calcâneo direito e apresentou
abdominais mais frequentemente
laterais. Não foram detetadas outras
boa evolução geral, com alta hospitalar
afetados são o baço (40-55%), fígado
lesões. O defeito traumático da parede
22 dias após a admissão.
(35-45%) e intestino delgado (5-10%).5
abdominal (figura 4) foi lavado e
Após a alta, foram implementados
O FAST é o exame ultrassonográfico
drenado para posterior reconstrução
programas de reabilitação física e
de escolha, com especial importância
Indice
27
28 Figura 4 - Hérnia abdominal traumática
As lesões mesentéricas tipo Bucket Handle são lesões AAST Grau V, que resultam de forças de desaceleração, com vetores de direções opostas entre o intestino e o mesentério (fixo). A ressecção segmentar do intestino avascular é imperiosa e a anastomose primária é adequada considerando o padrão de vascularização do intestino delgado, a possibilidade de uma anastomose sem tensão e a ausência de outras
Figura 5 - TC mostrando a parede abdominal após correção cirúrgica herniária
condições que possam impedir uma nos doentes instáveis, sendo o
UCI. Estudos apontam para uma
Extended-FAST a sua extensão ao
maior probabilidade de sobrevida
tórax. No entanto, apresenta alto
com o uso de TC de corpo inteiro,
índice de falso-negativos,
dados corroborados por várias
cirúrgico. Neste caso, foi realizada a
principalmente na avaliação precoce
revisões sistemáticas.
técnica mais rápida pelo status HD
de trauma abdominal (até 44.3%),
Neste caso, com
sutura intestinal. A escolha entre
8
anastomose manual ou mecânica 9,10
11,12,13
FAST
negativo mas
depende do bom julgamento
da doente.
necessitando de exames seriados.
com suspeita clínica de lesão
As vantagens da TC em relação ao
intra-abdominal, estando a doente HD
As hérnias traumáticas são
FAST foram claramente
estável, foi pedida TC que revelou
classificadas como lesões de parede
demonstradas na literatura, tornando-
hemoperitoneu não detetado na
abdominal de grau V.14 São raras após
se o gold-standard em trauma
ecografia. A prioridade do tratamento
trauma fechado, identificadas em
abdominal fechado. A deteção
é parar a hemorragia com uso
apenas 0,2% dos casos. Este tipo de
precoce de lesões relaciona-se com
criterioso de hipotensão permissiva e
hérnia é causado por um aumento
menor tempo de permanência em
evitar a coagulopatia do trauma.
súbito da pressão intra-abdominal e
6
7
28
Indice
CASO CLÍNICO ADULTO
forças de cisalhamento. A decisão de
BIBLIOGRAFIA
reparar a hérnia em primeiro tempo é
1.
11.
Caputo ND, Stahmer C, Lim G, et al. Whole-body
Campbell HE, Stokes EA, Bargo DN, Curry N, Lecky
computed tomographic scanning leads to better
desafiadora e depende de muitos
FE, Edwards A, et al. Quantifying the healthcare
survival as opposed to selective scanning in
fatores, como o estado fisiológico do
costs of treating severely bleeding major trauma
trauma patients: a systematic review and
paciente, o risco de encarceramento e
patients: a national study for England. Crit Care
meta-analysis. J Trauma Acute Care Surg. 2014
a presença de contaminação no
Lond Engl. 2015 Jul 6;19:276.
Oct;77(4):534–9.
campo cirúrgico.15
2.
World Health Organization (WHO). Injuries and
12.
Long B, April MD, Summers S, et al. Whole body CT
violence: the facts 2014 [Internet]. Available from:
versus selective radiological imaging strategy in
CONCLUSÃO
https://www.who.int/violence_injury_prevention/
trauma: an evidence-based clinical review. Am J
O trauma abdominal fechado
media/news/2015/Injury_violence_facts_2014/en/
Emerg Med. 2017 Sep;35(9):1356–62.
representa um desafio às equipas no
3.
pré- e do intra-hospitalar. Sublinha-se
Brooks A, Simpson JAD. Blunt and penetrating
13.
Surendran A, Mori A, Varma DK, et al. Systematic
abdominal trauma. Surg Oxf. 2009 Jun;27(6):266–71.
review of the benefits and harms of whole-body
Schurink GW, Bode PJ, van Luijt PA, et al. The value
computed tomography in the early management
controlo de danos, tanto na
of physical examination in the diagnosis of
of multitrauma patients: are we getting the whole
ressuscitação como na abordagem
patients with blunt abdominal trauma: a
picture? J Trauma Acute Care Surg. 2014
cirúrgica, para obtenção de maior
retrospective study. Injury. 1997 May;28(4):261–5.
Apr;76(4):1122–30.
a importância dos princípios de
sobrevida. A TC é o gold standard
4.
5.
American College of Surgeons, Committee on
14.
Al Beteddini OS, Abdulla S, Omari O. Traumatic
imagiológico do trauma abdominal
Trauma. ATLS®: advanced trauma life support
abdominal wall hernia: A case report and literature
fechado, desde que o paciente esteja
student course manual. 2018.
review. Int J Surg Case Rep. 2016;24:57–9.
HD estável.
6.
Mohammadi A, Ghasemi-Rad M. Evaluation of
15.
Dennis RW, Marshall A, Deshmukh H, et al.
A hérnia abdominal traumática é uma
gastrointestinal injury in blunt abdominal trauma
Abdominal wall injuries occurring after blunt
entidade rara e muitas vezes
‘FAST is not reliable’: the role of repeated
trauma: incidence and grading system. Am J Surg.
ignorada. O estado fisiológico do
ultrasonography. World J Emerg Surg WJES. 2012
2009 Mar;197(3):413–7.
doente determinará se esta deve ser
Jan 20;7(1):2.
prontamente corrigida ou adiada para
7.
Cinquantini F, Tugnoli G, Piccinini A, et al.
um procedimento cirúrgico posterior.
Educational Review of Predictive Value and
As lesões mesentéricas tipo Bucket
Findings of Computed Tomography Scan in
Handle após trauma fechado são
Diagnosing Bowel and Mesenteric Injuries After
incomuns e devem ser tratadas com
Blunt Trauma: Correlation With Trauma Surgery
ressecção segmentar do intestino
Findings in 163 Patients. Can Assoc Radiol J J
isquémico seguida de anastomose
Assoc Can Radiol. 2017 Aug;68(3):276–85.
primária, sempre que possível
8.
EDITOR
Weninger P, Mauritz W, Fridrich P, et al. Emergency room management of patients with blunt major trauma: evaluation of the multislice computed tomography protocol exemplified by an urban trauma center. J Trauma. 2007 Mar;62(3):584–91.
9.
NOÉLIA ALFONSO Médica VMER
Huber-Wagner S, Lefering R, Qvick L-M, et al. Effect of whole-body CT during trauma resuscitation on survival: a retrospective, multicentre study. Lancet
REVISÃO
Lond Engl. 2009 Apr 25;373(9673):1455–61. 10.
Huber-Wagner S, Mand C, Ruchholtz S, et al. Effect of the localisation of the CT scanner during trauma resuscitation on survival -- a retrospective, multicentre study. Injury. 2014 Oct;45 Suppl 3:S76-82.
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
29
30
30
Indice
CASO CLÍNICO ADULTO
CASO CLÍNICO ADULTO
ALTERAÇÃO SÚBITA DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA E ALTERAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS: QUANDO NEM SEMPRE O EVENTO CARDÍACO É A ETIOLOGIA!
Sofia Brito1, João Oliveira2, Paulo Couto3, Rafaela Veríssimo4 1 Interna de formação específica do 5º ano de Anestesiologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto e médica da Viatura médica de emergência do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho 2 Interno de formação específica do 5º ano de Anestesiologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra e médico da Viatura médica de emergência do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 3 Enfermeiro especialista da Unidade de Hospitalização Domiciliária e Viatura médica de emergência do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho 4 Especialista de Medicina Interna do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho e médica da Viatura médica de emergência do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho
RESUMO
ABSTRACT
CASO CLÍNICO
A alteração do estado de consciência
Altered state of consciousness is one
Homem de 52 anos apresenta
é um dos principais motivos de
of the main pre-hospital emergency
síncope enquanto praticava jogging
ativação da emergência pré-
activations. In this context, etiologic
na rua. Referiu previamente náuseas e
hospitalar. O seu esclarecimento
investigation can be a challenge. This
apresentou um vómito de conteúdo
etiológico nesse contexto pode
case reports an uncommon
aquoso, com amnésia para o
revelar-se um desafio. Serve o caso
presentation of an acute neurological
sucedido. Ativada a Viatura Médica
clínico apresentado para rever a
disease with a high mortality rate, that
de Emergência e Reanimação (VMER)
abordagem inicial das alterações do
simulated an acute cardiac event. In
pela alteração do estado de
estado de consciência em
this case report we also made a
consciência e à chegada ao local, a
emergência pré-hospitalar. Além
review of altered states of
equipa observa a vítima já consciente,
disso, pretende expor uma
consciousness initial assessment in
colaborante e orientada, Escala de
apresentação pouco comum de um
pre-hospital emergency care.
Coma de Glasgow 15,
tipo de evento neurológico agudo e
hemodinamicamente estável, sem
potencialmente fatal, que mimetizou
queixas no momento e sem défices
um evento cardíaco.
neurológicos (focais). Apurados antecedentes patológicos de hipertensão arterial, excesso de peso, dislipidemia e insuficiência mitral ligeira (descrito em Ecocardiograma de 2020). Realizou electrocardiografia (ECG) no local com presença de ritmo sinusal e elevação do segmento ST em pelo menos 2 derivações anteriores (V2 e V3). Foi efetuado o transporte até ao hospital com acompanhamento pela equipa da VMER, sem intercorrências. Na
Palavras-Chave: Alteração do estado de consciência, Eletrocardiografia, Hemorragia subaracnoideia, Síncope
Keywords: Consciousness, Electrocardiography, Subarachnoid Hemorrhage, Syncope
admissão, abria os olhos à chamada e dirigia o olhar, apresentava-se
Indice
31
perda de perceção da consciência (perca de awareness), e caracteriza-se por amnésia para o período de inconsciência, alterações do controlo motor, ausência de resposta a estímulos de curta duração. As alterações da consciência são globalmente agrupadas em causas traumáticas (após traumatismo crânio-encefálio) ou não traumáticas. Nas causas não traumáticas incluem-se: Figura 1: Eletrocardiograma realizado na admissão à emergência após episódio de síncope.
•
Síncope: síncope reflexa
hipertenso (177/92 mmHg) e
procedimento endovascular e
(vasovagal ou situacional);
bradicárdico (55 batimentos por
manteve, no final da técnica, o estado
hipotensão ortostática; cardíaca
minuto). Repetiu ECG e realizou
neurológico inicial. Durante o
(arrítmica ou estrutural). A
Ecocardiograma: mantinha ritmo
internamento, desenvolveu
classificação fisiopatológica da
sinusal com as alterações já descritas
hemiparesia direita por oclusão aguda 32
síncope centra-se numa descida
(elevação do segmento ST); o
da artéria carotídea interna esquerda,
da pressão arterial sistémica,
ecocardiograma revelava hipocinésia
consequência provável de disseção
com diminuição do fluxo
mediobasal do septo inferior e
carotídea durante o procedimento
sanguíneo cerebral global, como
posterior, com função sistólica dos
endovascular. Foi submetido a
característica determinante.
ventrículos direito e esquerdas
trombectomia e tentativa de
preservadas. Foi-lhe administrado 500
reconstrução do vaso com stent, sem
generalizada: tónica; clónica;
mg de ácido acetilsalicílico oral na
sucesso, tendo desenvolvido afasia
tónica-clónica; atónica
suspeita de síndrome coronário
motora, desvio conjugado do olhar
•
Psicogénica
agudo. Analiticamente não
para a esquerda e hemiparesia direita.
•
Causas raras: síndrome do roubo
apresentava alterações no
Ficou internado no Serviço de
da subclávia, acidente isquémico
hemograma, bioquímica,
Neurologia e foi acompanhado por
transitório, hemorragia
nomeadamente do ionograma,
Medicina Física e Reabilitação com
subaracnoideia.1
elevação das enzimas de necrose do
recuperação parcial dos défices
miocárdio ou peptídeo natriurético do
neurológicos instalados.
Convulsão epilética
Abordagem inicial da perda transitória da consciência:
tipo-B (BNP). Durante a observação no Serviço de
•
DISCUSSÃO
Na avaliação inicial da perda transitória da consciência, há várias
Urgência apresentou cefaleia occipital e vómitos realizando tomografia
Perda transitória da consciência:
questões-chave que merecem ser
computorizada crânio-encefálica que
O esclarecimento etiológico de uma
respondidas. Primeiro, se houve de
evidenciou a presença de hemorragia
alteração do estado de consciência
facto perda transitória da consciência,
subaracnoideia por rotura de
na emergência pré-hospitalar pode
para isso é essencial o testemunho
aneurisma da artéria comunicante
ser um desafio, principalmente
dos acompanhantes que assistiram ao
anterior. Foi encaminhado para o
quando os sinais e sintomas não
evento. Segundo, se a perda transitória
Serviço de Neurorradiologia para
estão reunidos na apresentação
da consciência é ou não de origem
tratamento endovascular, tendo-lhe sido
inicial. A perturbação transitória da
sincopal. A PTC é provavelmente uma
administrado um pool de plaquetas para
consciência (PTC) define-se como um
síncope quando há sinais e sintomas
reversão da anti-agregação. Não foram
estado real ou aparente de
específicos de síncope reflexa, de
reportadas intercorrências durante o
perturbação da consciência, com
síncope por hipotensão ou de síncope
32
Indice
CASO CLÍNICO ADULTO
cardíaca e não há sinais e sintomas específicos de outras formas de PTC (traumatismo craniano, convulsões epiléticas, PTC psicogénica, causas raras). Terceiro, no caso de suspeita de síncope, se há um diagnóstico etiológico claro. Por último, e não menos importante, se há evidência que sugira um elevado risco de eventos cardiovasculares ou morte.1 Além da história clínica e exame físico (incluindo o exame neurológico sumário), o exame auxiliar de diagnóstico disponível na emergência pré-hospitalar é o eletrocardiograma (ECG). Este meio complementar de diagnóstico é fundamental nas ativações por alteração do estado de
Figura 2: Corte axial da angiografia cerebral por TC com evidência de hemorragia subaracnoideia aguda centrada às cisternas da base e à região fronto-basal mediana, compatível com aneurisma da artéria comunicante anterior.
consciência, nomeadamente pela
todos os acidentes vasculares
com perda progressiva da
possibilidade de confirmar/não ser um
cerebrais e associa-se a elevada carga
consciência e não perda imediata da
evento cardíaco, apesar da baixa
global de doença. Metade dos
mesma.1 A apresentação típica da
especificidade deste exame.
pacientes com hemorragia
hemorragia subaracnoideia inclui a
No caso apresentado, há vários
subaracnoideia apresentam menos de
cefaleia de início súbito e de elevada
indícios de síncope de causa cardíaca:
55 anos. Associa-se a elevada morbi-
intensidade acompanhada de
episódio súbito, de instalação durante
-mortalidade: um terço morre nos
náuseas, vómitos, dor cervical,
o exercício físico, com alterações
primeiros dias ou semanas após a
fotofobia, e perda da consciência. A
ritmo cardíaco (eletrocardiográficas),
hemorragia, enquanto que a maioria
cefaleia pode ser o único sintoma em
além dos fatores de risco
dos que sobrevive apresenta algum
cerca dos casos de hemorragia
cardiovasculares existentes (homem,
comprometimento cognitivo e elevada
subaracnoideia.3
hipertensão arterial, excesso de peso,
incapacidade a longo prazo. A nível
Relativamente à abordagem no
dislipidemia). Além disso, o único
comunitário, a perda de anos de vida
pré-hospitalar da hemorragia
indício que poderia esclarecer sobre
produtivos após a hemorragia
subaracnoideia, não há intervenções
um possível evento neurológico era a
subaracnoideia é semelhante em
específicas na ausência de alterações
cefaleia, que se desenvolveu apenas
magnitude à do acidente vascular
neurológicas. Por outro lado, se
posteriormente após a admissão no
cerebral isquémico. A incidência de
houver alterações neurológicas, há
Serviço de Urgência.
hemorragia subaracnoideia foi
questões que devem ser
estimada em 9 por 100.000 pessoas-
consideradas, como: a proteção da
Hemorragia subaracnoideia
ano, mas varia consideravelmente de
via aérea (no caso de
e a sua abordagem na emergência
acordo com a localização geográfica,
comprometimento), prevenção e
pré-hospitalar:
idade e sexo.
tratamento das náuseas e/ou
A hemorragia subaracnoideia
Geralmente, a alteração da
vómitos, tratamento das convulsões e
provocada por rutura de um aneurisma
consciência por hemorragia
monitorização da glicemia.4
intracraniano é responsável por 5% de
intracerebral ou subaracnoideia cursa
Se suspeita de diagnóstico da
2
Indice
33
disrítmicos, mas alterações subtis em segmentos específicos da eletrocardiograma como: PR curto; ondas Q de elevada amplitude (> 1mm); ondas T invertidas, de base larga, aplanadas ou com entalhe; ondas R de elevada amplitude; ondas U proeminentes; elevação/depressão do segmento ST; intervalo QT corrigido prolongado. Há alterações elétricas (elevação/depressão de ST, inversão da onda T, prolongamento do intervalo QT corrigido) que podem decorrer de alterações na função ventricular no contexto de Cardiomiopatia de Takotsubo.6 34
Há casos descritos de hemorragia subaracnoideia com diagnósticos iniciais atribuídos a anormalidades cardíacas com base em alterações eletrocardiográficas, em que a alteração no ECG foi resultado da própria hemorragia cerebral. Estas situações levaram a investigações e abordagens terapêuticas
Figura 3: Corte axial da angiografia cerebral por TC após tratamento endovascular de aneurisma da artéria comunicante anterior com coil metálico.
hemorragia subaracnoideia, a
Alterações eletrocardiográficas
tomografia computorizada deve ser
descritas na hemorragia
realizada como método de
subaracnoideia:
diagnóstico inicial.5 Por isso, deve ser
As alterações de ritmo e função
notificado o Serviço de Urgência com
cardíacas estão descritas em eventos
disponibilidade de métodos de
neurológicos, mas muitas vezes
diagnóstico e com equipa
negligenciadas pela exuberância do
neurocirúrgica/neurorradiologia de
quadro neurológico. As alterações de
intervenção com experiência no
ritmo cardíaco descritas são variadas
tratamento desta patologia. A
e incluem: bradicardia/taquicardia
avaliação neurológica ao longo do
sinusal; fibrilhação auricular,
tempo é fundamental, porque a
taquicardia ventricular incluindo
alteração no exame neurológico pode
Torsade de pointes, extrassístoles
decorrer no contexto de nova rotura
auriculares, juncionais ou
do aneurisma, hidrocefalia ou
ventriculares, bloqueios
herniação cerebral.4
sinoauriculares ou auriculoventriculares. Por outro lado, podem não ocorrer eventos
34
Indice
desnecessárias em muitas ocasiões. Existem dois mecanismos que podem mediar as alterações do ECG em pacientes com hemorragia subaracnoideia: a estimulação neural autonômica do hipotálamo, que pode causar alterações no ECG sem lesão miocárdica associada; ou níveis elevados de catecolaminas circulantes, correlacionados com prolongamento do intervalo QT e lesão miocárdica associada (Cardiomiopatia de Takotsubo).7 Contudo, como descrito nesta apresentação, as alterações elétricas cardíacas podem ser dos poucos elementos presentes na apresentação clínica inicial. Por isso, os eventos cerebrovasculares devem ser uma hipótese diagnóstica quando os
CASO CLÍNICO ADULTO
achados clínicos não são coerentes
BIBLIOGRAFIA
com doença cardíaca aguda. Neste
1.
Sociedade Europeia de Cardiologia/Sociedade
caso, apesar das alterações do
Portuguesa de Cardiologia. Recomendações de
segmento ST após episódio de perda
Bolso de 2018 da ESC Comissão para as
de consciência, ausência de dor
Recomendações Práticas. SÍNCOPE -
torácica e de elevação das enzimas
Recomendações para o Diagnóstico e Tratamento
cardíacas não eram compatíveis com
da Síncope. Biénio 2018-2020;
síndrome coronário agudo.
2.
Etminan, Nima; Chang, Han-Sol; Hackenberg, Katharina et al. Worldwide Incidence of
CONCLUSÃO
Aneurysmal Subarachnoid Hemorrhage According
A alteração súbita do estado de
to Region, Time Period, Blood Pressure, and
consciência é motivo frequente da
Smoking Prevalence in the Population. JAMA
ativação da emergência pré-
Neurol. 2019;76(5):588-597;
hospitalar. A suspeita etiológica que
3.
Carolei, Antonio; Sacco, Simona. Headache
surge desde o início da prestação de
attributed to stroke, TIA, intracerebral
cuidados é fundamental para
haemorrhage, or vascular malformation.
direcionar a abordagem mais
Handbook of Clinical Neurology. 2010; 97:
adequada. Para isso, é essencial
517-528;
conhecer os antecedentes pessoais,
4.
Edlow, Brian; Samuels, Owen. Emergency
as circunstâncias, outra
Neurological Life Support: Subarachnoid
sintomatologia, exame neurológico e
Hemorrhage. Neurocrit Care, 2017;
exames auxiliares de diagnóstico
5.
Patel, Sima; Parikh, Amay; Okorie, Okorie.
disponíveis no local. Por vezes, os
Subarachnoid hemorrhage in the emergency
eventos neurológicos, principalmente
department. International Journal of Emergency
quando não cursam com alterações
Medicine. 2021; 14:31;
no exame neurológico sumário,
6.
Escobar, José; García, Juan; González, Laura;
podem mimetizar eventos cardíacos,
Bravo, Carlos. Electrocardiographic abnormalities
como no caso descrito. É importante,
in subarachnoid hemorrhage. Cardiovasc Metab
por isso, a avaliação e valorização
Sci. 2019; 30 (4): 136-142;
dos sinais e sintomas ao longo do
7.
Chatterjee, S. ECG Changes in Subarachnoid
tempo e não excluir a hipótese de
Haemorrhage: A Synopsis. Netherlands Heart
evento neurológico grave, pela
Journal. 2011; 19: 31–34.
EDITOR
ausência de défices neurológicos focais e pela presença de alterações eletrocardiográficas sugestivas de evento cardíaco
NOÉLIA ALFONSO Médica VMER
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
35
36
36
Indice
ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP
ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP
CASO CLÍNICO – PREMATURIDADE EXTREMA NO PRÉ HOSPITALAR Marisa Madeira1,2, Rui Marcelino1,2, Solange Mega3 Enfermeira, Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Faro 2 Enfermeira, Serviço de Medicina Intensiva Pediátrica e Neonatal 3 Enfermeira, Instituto Nacional Emergência Médica
1
RESUMO
ABSTRACT
PREMATURIDADE EXTREMA
A hipotermia é considerada um fator
Hypothermia is considered a risk
ASSOCIADA A HIPOTERMIA
de risco para a mortalidade e
factor for mortality and morbidity in
NEONATAL
morbilidade dos recém-nascidos
preterm newborns, as it increases the
(RN´s) prematuros, dado que a
likelihood of metabolic changes,
1.1 CASO CLÍNICO: Parto em meio
mesma aumenta a probabilidade de
necrotizing enterocolitis,
extra-hospitalar
alterações metabólicas, enterocolites
intraventricular hemorrhages and
necrosantes, hemorragias
other comorbidities. The Golden Hour
1.1.1 ENQUADRAMENTO
intraventriculares e entre outras
is crucial in preventing hypothermia in
DO PARTO
comorbilidades. Deste modo, a
newborns. This is based on a series
Na noite de 01 de Abril de 2021, cerca
Golden Hour é crucial na prevenção
of interventions such as increasing
da 00:59h, ativação VMER (Viatura
da hipotermia nos RN’s. Esta baseia-
the temperature of the delivery room /
Médica de Emergência e
se numa série de intervenções tais
ambulance, drying the newborn, as
Reanimação) de Faro para pedido de
como aumento da temperatura da
well as warming it exposing only the
apoio diferenciado dos Bombeiros
sala de parto/ambulância, secar o
body surfaces required for
Municipais de Tavira. No local
recém-nascido (RN), bem como
resuscitation.
(ambulância) feminino de 30 anos em
aquecer o mesmo, expondo apenas
trabalho de parto. O Centro de
as superfícies corporais necessárias
Orientação de Doentes Urgentes
à reanimação.
(CODU) informa que a grávida já se encontrava no período expulsivo. Foi realizado Rendez vouz na saída do nó da A22 de Olhão. À chegada ao local da equipa da VMER, o Recém-Nascido (RN) com cerca de 23 semanas de gestação encontrava-se sobre a barriga da puérpera em gasping, cianosado, cordão umbilical não clampado. Colheita de informação:
Palavras-Chave: Hipotermia; Neonatal; Golden Hour; Termoregulação;
Keywords: Hypothermia; Neonatal; Golden Hour; Thermoregulation
C – Feminino de 30 anos, gesta I Para 0, realiza chamada
Indice
37
assista uma frequência de 30 ciclos por minuto e procedida à avaliação abcde, durante a realização dos cuidados pós reanimação verifica-se nova paragem cardiorrespiratória e iniciado suporte de vida neonatal. Chegada à unidade hospitalar, às 01:50h, RN apresentava-se em hipotermia, com FC que alternava entre 38-58 p/min, palpado pulso que confirma retorno à circulação espontânea, apresentava respiração Tabela 1. Dados clínicos referentes ao parto (e respetivo contexto) de um RN pré-termo do sexo feminino com extremo baixo peso e prematuridade extrema
espontânea e pele cianosada. Equipa do serviço de medicina intensiva
112 por quadro de dor
cabeça do recém-nascido em posição
neonatal e pediátrica encontrava-se
abdominal com início cerca
neutra. Após este procedimento foi
em prontidão à entrada a aguardar a
das 22:30h de dia 31.03.2021.
realizada nova38 avaliação ao RN
nossa chegada.
Durante o transporte para a
tentando perceber se o mesmo
unidade hospitalar com
apresentava sinais de vida. Neste
1.1.2 CONTEXTO HOSPITALAR
bombeiros voluntários de
momento, e após confirmação que a
À chegada da equipa diferenciada
Tavira, refere dor abdominal
FC se mantinha <60 bpm, foram
(médica e enfermeira do serviço de
intensa com saída espontânea
realizadas novamente 5 insuflações.
medicina intensiva pediátrica e
de RN com idade gestacional
Após as segundas 5 insuflações
neonatal), o RN do sexo feminino
de 23 semanas.
realizada nova avaliação do RN, por
encontrava-se cianosado com pele
H – História clinica prévia
este não apresentar qualquer sinal de
fria ao toque, uma frequência
desconhece, gestação não
vida e FC <60bpm iniciado de
cardíaca entre 38-58 p/min (pulso
vigiada. Sem registo de
imediato suporte avançado de vida,
verificado com auscultação) e com
boletim da grávida.
iniciando 3 compressões para 1
presença de respiração espontânea
A – Nega alergias.
ventilação com FiO2 a 100 %, com
mas ineficaz. Realizada ventilação
M – Não faz medicação.
avaliação contínua da FC e padrão
por pressão positiva ao 6º minuto e
U – última refeição cerca das
respiratório.
reintubação orotraqueal ao 8º minuto
20h.
Procedida à entubação com tubo
com resposta imediata e aumento da
Verificado pulso com auscultação,
endotraqueal nº 2,5, considerando
frequência cardíaca (FC > 60 e < 100
apresentando frequência cardíaca
após entubação 1 ventilação a cada
p/min). Ao 12º min foi administrado
(FC) entre os 40-45 p/min. Em virtude
2-3 segundos (20-30 c/min) e
6UI de adrenalina pura no TET. Ao 18º
de não se conhecer ao certo o tempo
compressões cardíacas contínuas ao
min colocado acesso venoso
de nascimento foi camplado o cordão
ritmo de 100 a 120 compressões por
periférico e administrado bólus de
umbilical de imediato em simultâneo
minuto.
soro fisiológico 0,9% (10 mL/Kg). Ao
com avaliação da frequência
Realizada tentativa de controlo de
21º min administrado 1 mL de
cardíaca. Por apresentar FC baixa <60
temperatura para alvo entre os 36,5C
Dextrose a 10%, por hipoglicemia e ao
bpm iniciou-se os cuidados à
e 37,5C, com aquecimento da célula
30º min realizado corte do cordão
transição da vida intra uterina para a
sanitária superior a 25ºC, sem grande
umbilical. Ao 41º min realizado
vida extra uterina e foram realizadas 5
sucesso. Durante o transporte
transporte do RN para o Serviço de
insuflações de resgate com pressão a
verificado ROSC, com FC superior a
Medicina Intensiva Pediátrica e
25 cmH2O e fiO2 a 30%, com a
100 p/min. Iniciada ventilação
Neonatal (SMIPN).
38
Indice
ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP
No SMIPN foi dada continuidade aos cuidados iniciados com monitorização cardio respiratória e avaliação da pressão arterial tendo-se verificado uma MAP inicial de 21 mmHg. Administrado novo bólus de SF 0,9% (10ml/kg) e iniciada perfusão de dopamina a 7 mcg/Kg/min, com boa resposta. Administrado surfactante pulmonar (200mg/kg) após optimização ventilatória. Realizado cateterismo umbilical e colocado cateter umbilical arterial (10cm) e cateter umbilical venoso (6,5cm). Realizado RX tórax que revelou doença da membrana hialina grau I-II. Eco-transfontanelar à entrada com hemorragia intraventricular grau II-III à esquerda (IR de 0,93). Primeira temperatura corporal registada de 31.5ºC 2 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA Segundo a Organização Mundial da
Tabela 2. Quadro síntese dos problemas identificados e das respetivas intervenções realizadas em contexto extra-hospitalar e hospitalar
Saúde (OMS), a hipotermia é definida
cardíaco; acidose metabólica;
perda do mesmo. O grande prematuro
por uma temperatura corporal inferior
vasoconstrição pulmonar; síndrome
apresenta ao nascimento um estrato
a 36.5ºC, sendo que pode ser
de dificuldade respiratória (por
córneo muito fino o que limita a
classificada em três categorias
diminuição da síntese e atividade do
conservação da água corporal.
diferentes: leve (36-36,4ºC), moderada
surfactante pulmonar); entre outros.
Quanto menor a idade gestacional
(32-35,9ºC) e severa (inferior a 32ºC).
Assim, a manutenção da temperatura
maior a perda transepidérmica de
Atualmente existe evidência que
do RN dentro do intervalo de
água: às 24 semanas os valores são
associa a hipotermia ao aumento da
referência é um dos aspetos mais
equivalentes à evaporação de água
morbilidade e mortalidade dos RN’s.
importantes que os profissionais de
livre. A termorregulação, definida
Segundo a European Foundation for
saúde podem ter em consideração no
como a função fisiológica capaz de
the care of newborn infants, por cada
momento do nascimento. É
controlar e manter a temperatura
1ºC de diminuição da temperatura
especialmente importante nas
corporal neutra, é pouco eficaz nos
corporal abaixo do 36ºC resulta num
primeiras horas após o nascimento e
micronatos devido a: menor
aumento de 28% da mortalidade e um
particularmente nos extremos
competência do seu centro
aumento de 11% no desenvolvimento
prematuros ou pequenos para a idade
termorregulador; limitação na sua
de sépsis. Esta está igualmente
gestacional.
capacidade metabólica para a
associada a alterações fisiológicas
A perda de calor corporal nos
produção de calor; superfície corporal
importantes tais como: apneia;
prematuros ocorre rapidamente
grande em relação ao seu peso o que
bradicardia; hipóxia; hipoglicémia;
podendo a mesma diminuir 2-3ºC no
aumenta a perda de calor corporal por
vasoconstrição periférica;
decorrer da 1ª hora de vida dado que
evaporação; escassez de tecido
hipotensão/diminuição do débito
a produção de calor não supera a
adiposo subcutâneo; dificuldade em
Indice
39
40
40
Indice
ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP
produzir o calor a partir da gordura
comorbilidades.
CONCLUSÃO
castanha que é quase inexistente.
Numa situação em que o RN
A hipotermia está associada ao
Segundo o estudo realizado por
prematuro nasça em ambiente
aumento da morbilidade e de
Soares et al (2020), 66.9% dos
extra-hospitalar as adversidades são
comorbilidades nos RN´s. Deste
prematuros desenvolve hipotermia na
maiores dado que os meios humanos
modo as intervenções abrangidas
1ªhora de vida associada a
e os recursos são menores. Deste
na Golden Hour são cruciais para a
diagnósticos como: pré-eclâmpsia,
modo num parto numa ambulância de
prevenção da hipotermia.
pequeno para a idade gestacional,
um RN prematuro podem ser
Através deste caso clínico foi
necessidade de compressões
utilizadas as seguintes intervenções:
possível o confronto direto entre a
torácicas na sala de parto. Para além
•
Aquecer o ambiente;
evidência teórica com a realidade do
dos dados acima referidos, revela que
•
Secar o RN com material mais
contexto prático em que se verificou
suave que possuam;
complicações associadas não só à
Embrulhar o RN numa manta
prematuridade em si mas
térmica;
igualmente associadas à hipotermia
Utilizar frascos de soro fisiológico
inicial a que este recém-nascido em
A prevenção da hipotermia na 1ª hora
aquecidos devidamente
específico sofreu na sua primeira
de vida dos prematuros é assim
protegidos para não provocar
hora de vida. A aliança entre a
fundamental para prevenir as
queimadura no RN e colocar os
evidência com a prática clínica
consequências associadas à
mesmos juntos do bebé;
torna-se um importante meio de
Durante a reanimação colocar
aprendizagem no sentido em que
de um RN é um conceito que agrupa e
apenas a menor área corporal
permite uma análise mais minuciosa
padroniza as práticas baseadas na
exposta;
dos cuidados prestados e da sua
Após reanimação colocar o RN
possível melhoria, uma vez que
junto da mãe;
permite identificar os aspetos que
Solicitar ao CODU apoio e
podem ser melhorados ou
mais crítico em que podem perder
colaboração por parte da equipa
modificados.
rapidamente o calor corporal se as
de Transporte Inter-hospitalar
De facto, um nascimento em meio
práticas termorregulatórias
Pediátrico (TIP).
extra-hospitalar é um verdadeiro
75% dos RN com hemorragia periventricular grau III e de 78.9% dos
•
óbitos apresentaram prevalência de hipotermia na 1ª hora de vida.
prematuridade. A Golden Hour da vida
evidência e que devem ser aplicadas
•
•
•
nos primeiros sessenta minutos de vida de um RN pois este é o período
•
adequadas não forem aplicadas. O
desafio uma vez que este é
objetivo primário das intervenções
desprovido das condições
associadas à Golden Hour é manter a
favoráveis à manutenção da
eutermia durante todo o processo de
temperatura corporal do RN
admissão e estabilização. A
prematuro quando comparado
implementação das práticas Golden
àquelas que estão disponíveis num
Hour demonstrou uma acentuada
ambiente controlado de uma
redução da hipotermia e consequente
unidade de cuidados intensivos
diminuição na incidência da
neonatal que dispõe de todos os
hipoglicémia, hipotensão e
recursos específicos para o efeito.
comprometimento respiratório assim
Assim, é importante utilizar os
como uma redução de morbilidades a
recursos disponíveis e utilizá-los na
longo prazo tais como: hemorragia
sua maior potencialidade no sentido
intraventricular; leucomalácia
de assegurar o incremento e a
periventricular; displasia
manutenção da temperatura
broncopulmonar; retinopatia da
corporal do RN. Intervenções como
prematuridade (ROP), além de outras
aquecer o meio envolvente
Indice
41
42
42
Indice
ARTIGO DE REVISÃO NEONATALOGIA/TIP
(nomeadamente o interior da ambulância) e a utilização de soros
BIBLIOGRAFIA 1.
-Pinheiro, J.M.B (2018). Prevencão de hipotermia em recém-nascidos prematuros - princípios
aquecidos, são algumas das
simples para uma tarefa complicada. Jornal de
intervenções que podem promover a
scielo.br/j/jped/a/bmbZGwhDStyWYJBCgt6XmBF
manutenção da temperatura
Pediatria (Rio J), 9(4), 337-339. https://www. /?lang=pt 2.
Soares T., Pedroza G.A., Breigeiron M.K., Cunha
corporal em contexto extra-
M.L.C. (2020). Prevalência da hipotermia na
hospitalar. Para além disso, a
1500g. Revista Gaúcha Enfermagem 41(spe), 1-9.
primeira hora de vida de prematuros com peso ≤ https://doi.org/10.1590/1983-
colaboração entre diferentes meios (ambulância, VMER e TIP) são uma
1447.2020.20190094 3.
infants (2020). Thermoregulation in preterm
mais valia na adaptação à vida extra-uterina de um RN prematuro permitindo uma transição mais
infants. https://www.efcni.org/thermoregulationin-preterm-born-babies/ 4.
necessidades do RN, que dado a sua
Sociedade Portuguesa de Neonatologia (2014). Consenso clínico – Atuação no Micronato. https:// www.spneonatologia.pt/wp-content/
tranquila, com maior suporte e uma maior atenção a todas as
European Foundation for the care of newborn
uploads/2016/11/2014-Micronato.pdf 5.
Carter, B. et all (2020). Neonatal Thermoregulation - A Golden Hour Protocol Update. Advances in Neonatal Care , 21 (4), 280–288. https://journals.
complexidade, precisa de cuidados
lww.com/advancesinneonatalcare/
diferenciados
Thermoregulation__A_Golden_Hour_
Fulltext/2021/08000/Neonatal_ Protocol.8.aspx
EDITORA
LUÍSA GASPAR Médica Pediatria
EDITOR
NUNO RIBEIRO Enfermeiro VMER TIP
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
43
44
44
Indice
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA
O IMPACTO DA EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR NO DIA-A-DIA DO SERVIÇO DE URGÊNCIA Cátia Carvalho1,2,3 Assistente Hospitalar em Medicina Interna – Serviço de Urgência Polivalente do Hospital de São José (HSJ) 2 Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do HSJ 3 Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC)
1
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
O doente é o denominador comum da
The emergency department and the
A emergência pré-hospitalar e o SU
emergência pré-hospitalar e do
emergency medical services have a
são absolutamente complementares,
serviço de urgência (SU) e ambas as
common denominator: the patient. As
o primeiro por ser a primeira
equipas trabalham no sentido de, em
a result, both teams race against the
estabilização do doente em situação
contra-relógio, conseguir o melhor em
clock to deliver the best quality care in
crítica e o último por ser a garantia da
menor tempo possível. A cooperação,
the shortest time possible. Therefore,
continuação de cuidados. O tempo
para as equipas vindouras eternizam
cooperation and teamwork are
corre, invariavelmente, contra todos os
e potenciam o trabalho presente. O
fundamental to patient-centred
que trabalhamos em contra-relógio. O
sistema nacional de saúde (SNS) tem
healthcare.
nosso instinto mais primitivo – o de
recursos materiais finitos, mas os que
The Portuguese Health System has
sobrevivência – faz-nos agir no
advêm de cada pessoa são
limited resources, both financial and
sentido da eficácia e eficiência, no
inestimáveis e infindáveis para a
human. This teamwork is the key to
menor período de tempo possível, e é
pessoa que se encontra fragilizada no
ensuring that every patient has
neste sentido que tentamos otimizar
seu momento de doença aguda ou
access to the best practices and
recursos para que a atuação seja
crónica agudizada. Há forma de nos
personalization. The patients with an
breve, mas o mais completa possível
otimizarmos, se o trabalho em equipa
exacerbation of a cronic condition or
em ambos os contextos. Estar na linha
for a premissa e o doente a prioridade
an acute illness are in a particular
da frente, numa situação de
de todos.
state of mind, needing special care
compromisso da saúde habitual,
and attention.
faz-nos querer arranjar ferramentas
Ensuring exceptional teamwork,
que possam ajudar as equipas que
communication and engagement in
prestem auxílio posteriormente.
these high-performance teams is crucial
A linha de atuação em que a
to provide the best care available.
emergência pré-hospitalar e o SU assentam são comuns, comungam da Medicina baseada na evidência e na arte da reação, pela capacidade de insurgir-se às necessidades clínicas e bio-psico-sociais do doente na sua forma holística. Em contexto préhospitalar a presença da família é de
Palavras-Chave: emergência, urgência, pré-hospitalar, doente, SNS
Keywords: emergency, emergency department, unhealthy people, Portuguese Health System
particular importância, sem nunca
Indice
45
poderá sempre ser a pesquisa pelas
seus contactos de risco),
informações existentes nas diversas
- Sistema de apoio ao médico
plataformas digitais do SNS. Com o
(SAM®)4 – que reúne a informação
intuito de facilitar o futuro de todos: do
sobre o doente no centro hospitalar, ou
doente e das equipas que farão parte
seja, todos os exames
do seu futuro, para que a sua atuação
complementares de diagnóstico,
seja mais fácil, rápida e eficiente. Em
internamentos [onde se usa a
dias mais calmos no SU, em que o
plataforma SClínico®5 para o registo
número de admissões não é elevado
das vigilâncias e procedimentos por
poderia ser exequível fazer esse tipo
parte da equipa de enfermagem,
de informação clínica, no entanto o
informações clínicas diárias,
dia-a-dia ocorre sempre em contra-
prescrições intra-internamento,
relógio, o tempo urge e é raro haver um
pedidos de meios complementares de
momento ideal para ouvir o doente nas
diagnóstico ou de colaboração por
suas diferentes dimensões ou
parte de outras especialidades],
problemáticas de forma a ajudar na
consultas externas, propostas ou
melhoria da sua qualidade de vida, 46
intervenções cirúrgicas, antibioterapia
quando não há outra coisa a oferecer.
pregressa ou a informação das vindas
No entanto, muitas vezes, o doente
prévias ao serviço de urgência,
encontra-se com igual pressa: em
- Prescrição eletrónica médica
perder o foco na vítima que motivou a
saber o resultado dos seus exames e o
(PEM®)6, onde se pode verificar qual a
ativação do meio pré-hospitalar pelo
que fazer subsequentemente.
medicação de ambulatório que o
Centro de Orientação de Doentes
No Centro Hospitalar de Lisboa Central
doente se encontra a realizar, bem
Urgentes (CODU) do Instituto Nacional
podemos fazer uso das seguintes
como efetuar prescrições futuras de
de Emergência Médica (INEM) – quer
plataformas digitais:
terapêutica, para realizar em
seja pelo envio de uma Ambulância de
- HP Healthcare Information System
ambulatório ou mesmo cuidados
Emergência Médica ou de Suporte
(HP-HCIS®)1 usado no Serviço
respiratórios domiciliários.
Imediato de Vida (SIV), Viatura Médica
de Urgência,
Todas estas plataformas permitem o
de Emergência e Reanimação (VMER),
- Plataforma de dados de saúde
cruzamento de informação clínica e
Helicóptero de Emergência Médica,
(PDS®)2 – onde além da informação
demográfica do utente. No entanto, é
Unidade Móvel de Intervenção
disponibilizada ao nível dos cuidados
irrefutável, de que deveria existir uma
Psicológica de Emergência ou de
de saúde primários, o plano de
uniformização do acesso aos dados
qualquer outro meio pré-hospitalar.
vacinação incluiu o esquema para o
de saúde a nível nacional, respeitando
Neste sentido, havendo
coronavírus SARS-CoV-2 (causador da
princípios do SNS como a igualdade
disponibilidade, tempo e oportunidade
pandemia COVID-19) tendo permitido
no acesso ao SNS - que além dos
não é difícil reunir, na sua forma mais
confirmar se o esquema vacinal teria
cuidados diretos ao doente, deveria
sucinta possível, informação clínica
sido completo (com a respetiva 3ª
igualmente contemplar o mesmo
devidamente datada, fidedigna e
dose, de reforço) ou mesmo se teria
sistema informático,
atualizada sobre os antecedentes
havido infeção por SARS-CoV2 e em
independentemente do hospital ou
pessoais do doente, a sua medicação
que período temporal (informação
cidade em que o doente
habitual e a existência, ou não, de
também disponível no Trace
se encontrasse.
alergias, quer haja colaboração ou não
COVID-19®3 – plataforma da Direção
No entanto, em jeito de exemplo, só
dos doentes ou familiares (caso essa
Geral de Saúde para fazer a
nos hospitais da região de Lisboa são
informação não exista, por parte do
identificação e o devido seguimento
várias as plataformas disponíveis para
médico assistente). O último recurso
clínico dos doentes, bem como dos
cada serviço de urgência, muitas vezes
46
Indice
REFLEXÕES BREVES SOBRE A EMERGÊNCIA MÉDICA
A plataforma informática ao nível do
CONCLUSÃO
ambiente pré-hospitalar é o INEM Tool
A emergência pré-hospitalar e o SU
for Emergency Alert Medical System
complementam-se e potenciam-se. A
(ITEAMS®)7, onde se pode ver o
aldeia global que surgiu pela
histórico de ativações de meios INEM
globalização da informação, é uma
previamente àquele dia e a informação
ferramenta vantajosa, por permitir um
gravada na mesma ocorrência fica
enquadramento clínico mais
disponível para todas as equipas,
completo do doente; contudo há e
presentes no local e ocorrência, que
haverá sempre aspetos a melhorar,
dispõe deste programa.
como a uniformização das
Invariavelmente, a prioridade é o
plataformas informáticas nos
doente e a sua estabilização clínica,
serviços de urgência a nível nacional
mas a obtenção da informação é
– já que ao nível da emergência
complementar e potencia o sucesso
médica pré-hospitalar isso já é uma
da atuação, seja em meio pré-
realidade. Será sempre a resiliência
hospitalar ou hospitalar.
na luta pelo doente, que nos ajudará
O trabalho em equipa é fundamental,
na caminhada para que todos
como em qualquer local onde o contra-
sejamos mais e melhor, enquanto
relógio faça parte da realidade diária
equipa na luta diária e em contra-
de quem pretende ser mais e melhor,
relógio no e pelo SNS
já que todas as experiências vêm dificultando (ou mesmo
complementar o processo de
BIBLIOGRAFIA
impossibilitando) o acesso à
socialização - que fomos
1.
informação clínica do doente, podendo
conquistando ao longo do tempo,
html?id=41165#.Yorfye7MJPY,
comprometer o melhor
desde o nosso nascimento.
consultado a 01/05/2022.
enquadramento clínico e o melhor
Somos um projeto em constante
tratamento para cada doente. Além
otimização e assim haveria de ser o
disso, há ainda a considerar, os
nosso SNS, a nossa emergência e as
momentos em que há compromisso
nossas urgências a nível nacional -
informático (por vezes, por motivos
individualmente e do ponto de vista
externos às próprias instituições de
coletivo. Pois todos reconhecemos
saúde) e os papéis voltam a figurar,
aspetos a otimizar, já que somos e
levando ao aumento cumulativo de
seremos eternos insatisfeitos, em que
tempo despendido em cada tarefa e
o triste fado é uma consequência e
até na obtenção dos resultados,
não uma premissa.
tornando tudo muito mais moroso,
A nossa luta é e sempre será ao minuto,
menos ágil e eficiente.
ou em períodos de 2 minutos, para
A dependência atual dos recursos
reavaliação de ritmo – ao contrário de
informáticos, quer no meio pré-
tantas outras profissões, consideradas
hospitalar, como no hospitalar, não é
profissões de desgaste rápido.
negligenciável; em ambos, caso esteja
Podemos não ter recursos infindáveis
tudo devidamente funcionante, é
no nosso mui ilustre SNS, do ponto de
possível ver o histórico do doente e
vista logístico, mas teremos sempre a
fazer o melhor enquadramento clínico
arte de bem receber e do melhor fazer,
do doente.
com o que temos.
2.
https://www.hp.com/pt-pt/hp-news/press-release.
3. 4. 5. 6. https://www.spms.min-saude.pt, consultados a 01/05/2022
7.
www.inem.pt, consultado a 01/05/2022
EDITORA
INÉS SIMÕES Coordenadora Médica da VMER de Portimão
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
47
48
48
Indice
CARTAS AO EDITOR
CARTAS AO EDITOR
PLANO DE AÇÃO PARA O ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Rita Rosa Domingos1 1
Interna de Formação Especializada em Medicina Interna, Serviço de Medicina Interna 1, Centro Hospitalar Universitário do Algarve - Unidade Faro.
Caro editor,
na prevenção do AVC: por cada
o AVC na Europa, num plano conjunto
redução de 10mmHg na pressão
com outros países europeus a cumprir
O artigo “Prevenção do AVC, é cada
arterial sistólica, verifica-se uma
vez mais tempo de mudança de
diminuição do risco de AVC em 41%.
sociedade europeia de AVC (ESO-
comportamentos”, publicado na
Os efeitos absolutos da terapêutica
European stroke organization) e pela
24º edição da Lifesaving de maio de
com estatinas dependem do risco
Stroke Alliance for Europe (SAFE,
2022, na rubrica Cuidar de Nós,
individual de eventos oclusivos e
organização sem fins lucrativos criada
expressa bem o impacto que o
também da redução absoluta da
em 2004, voz dos sobreviventes de
Acidente Vascular Cerebral (AVC) tem
lipoproteína de baixa densidade (LDL),
AVC na Europa).
na morbimortalidade da população,
em que cada redução de 1mmol/L
São implementadas ações
assim como a importância da
corresponde a uma redução do risco do
específicas e adaptadas à realidade
prevenção primária, com controlo dos
primeiro AVC em 21%.
nacional. Em relação à prevenção
principais fatores de risco
Estes são dados amplamente
primária do AVC foram estabelecidos
modificáveis.
conhecidos, que implicam otimização
como objetivos: (1) alcançar o acesso
até 2030. Este plano foi lançado pela 3
4
terapêutica e adesão do doente, com a
universal a tratamentos preventivos
Existem duas grandes estratégias na
construção de uma relação
primários através de estratificação do
prevenção do AVC: a primeira é
terapêutica. Embora se deva incentivar
risco melhorada e mais
implementada pelos clínicos na
o autocontrolo dos fatores de risco, é
personalizada; (2) implementar
população de risco, a segunda é
difícil que o indivíduo seja capaz de
legislações e estratégias nacionais
implementada a toda a população por
manter um risco baixo de AVC a longo
para intervenções de saúde pública
organizações governamentais e de
prazo, sem outras formas de apoio a
multissetoriais que abordem os
saúde.1
nível social. Existem evidências
principais fatores de risco do AVC
sólidas de que devem ser
(por exemplo, tabagismo, diabetes,
Em relação à primeira estratégia
implementadas intervenções de saúde
sal, bebidas alcoólicas, poluição
torna-se evidente que o acesso aos
pública focadas nos fatores de risco
atmosférica,...), de modo a promover,
cuidados de saúde primários é de vital
altamente prevalentes.
educar e incentivar um estilo de vida
importância na educação e tratamento
No que concerne à segunda
saudável e reduzir os fatores
dos principais fatores de risco para o
estratégia, no caso particular de
determinantes ambientais,
AVC. Vejamos alguns dados: a redução
Portugal, um passo importante foi
socioeconómicos e educacionais; (3)
da ingestão de sal em doentes
dado no final de agosto de 2021. As
disponibilizar programas baseados na
hipertensos reduz o risco da
autoridades portuguesas de Saúde
evidência para o rastreio e tratamento
mortalidade cardiovascular (RR 0.67; IC
comprometeram-se, através da
dos fatores de risco do AVC em todos
95% 0.46-0.99).2 A redução da pressão
Direção-Geral da Saúde, a suportar a
os países europeus; (4) conseguir
arterial é uma medida altamente eficaz
implementação do Plano de Ação para
detetar e controlar a pressão arterial
5
Indice
49
50
50
Indice
CARTAS AO EDITOR
elevada em 80% das pessoas
BIBLIOGRAFIA
com hipertensão.5
1.
Hans-Christoph Diener, MD, PHD,a Graeme J.
Os objetivos globais para 2030 são: (1)
Hankey, MDb Primary and Secondary Prevention
reduzir em 10% o número absoluto do
of Ischemic Stroke and Cerebral Hemorrhage
AVC na Europa; (2) tratar pelo menos
Journal of the American College of Cardiology Vol.
90% de todos os doentes que sofrerem
75 , NO. 15 , 2020)
um AVC na Europa numa unidade de
2.
Khan SU, Khan MU, Riaz H, et al. Effects of
AVC dedicada, como primeiro nível de
Nutritional supplements and dietary interventions
cuidados; (3) ter planos nacionais para
on cardiovascular outcomes: an umbrella review
o AVC que abranjam toda a cadeia de
and evidence map. Ann Intern Med 2019;171:
cuidados, desde a prevenção primária
190–8.
até à vida pós-AVC; (4) implementar
3.
Law MR, Morris JK, Wald NJ. Use of blood
estratégias nacionais para
pressure lowering drugs in the prevention of
intervenções multissetoriais de saúde
cardiovascular disease: meta-analysis of 147
pública para promover e facilitar um
randomised trials in the context of expectations
estilo de vida saudável e reduzir os
from prospective epidemiological studies. BMJ
fatores ambientais (incluindo a
2009; 338:b1665.
poluição atmosférica),
4.
Collins R, Reith C, Emberson J, et al. Interpretation
socioeconómicos e educacionais que
of the evidence for the efficacy and safety of
aumentam o risco de AVC.
statin therapy. Lancet 2016;388:2532–61.
O Plano é, por um lado, um quadro
5.
Plano de ação para o AVC na europa 2018-2030,
ambicioso aspiracional e, por outro,
ESO- European stroke organization, Stroke Alliance
um apelo à ação, que requer ações
for Europe –SAFE.
conjuntas dos Ministérios da Saúde e
EDITORA
Serviços Sociais, outros órgãos governamentais, organizações científicas e de apoio ao AVC, profissionais de saúde, investigadores
CATARINA JORGE Médica VMER
clínicos e pré-clínicos, e indústria, no combate à maior causa de morbimortalidade em Portugal5
EDITOR
JÚLIO RICARDO SOARES Médico VMER
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
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52
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CARTAS AO EDITOR
CARTAS AO EDITOR
COLAPSO CARDIOCIRCULATÓRIO NA INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL EMERGENTE: KETOFOL, UMA OPÇÃO? Adelaide Clode Valente1 1
Médica Interna de Formação Especializada em Medicina Intensiva, Serviço de Medicina Intensiva 2, Centro Hospitalar Universitário do Algarve - Unidade de Portimão.
Caro editor,
nem inferioridade, sugerindo que o
taquicardia e hipertensão arterial. O
Ketofol parece ser uma alternativa
propofol, por sua vez, é amnésico,
Na revista Lifesaving scientific Vol1N2
segura ao etomidato. Desta forma,
antiemético e anticonvulsivante, mas
de novembro de 2021, foi publicado o
queria abordar as vantagens do
apresenta um potente efeito
artigo de revisão “colapso
Ketofol e como é realizado a sua
hipotensor e suprime a ventilação
cardiovascular pós-intubação
formulação dado que parece ser uma
espontânea. A combinação de
orotraqueal (IOT) emergente” que
escolha apropriada em detrimento
cetamina e do propofol é uma opção
aborda múltiplos fatores que
do etomidato.
benéfica dado os efeitos
provocam e potenciam a instabilidade
O etomidato é um sedativo muito
cardiovasculares opostos de cada
hemodinâmica nos doentes que
apelativo dada a sua baixa
uma, contrabalançando também os
necessitam de uma via aérea definitiva
repercussão hemodinâmica. No
restantes efeitos adversos, mantendo
imediata. Uma das partes que me
entanto, existe controvérsia face à sua
o indivíduo sedado, de forma
despertou mais interesse foi a escolha
utilização dado o seu efeito supressor
adequada, e analgesiado sem
do agente indutor. De facto, e como
na síntese de cortisol. O cortisol tem
necessidade de opioides.3,4
referido no artigo, ainda não está
um papel central na resposta ao stress
Com o intuito sedativo para intubação
estatisticamente comprovado que
após um insulto, na mediação
o habitual é instituir uma mistura de
exista superioridade entre a cetamina
antinflamatória e na manutenção da
1:1. A sua preparação é relativamente
e o etomidato no que diz respeito à
integridade vascular (reduzindo a
simples. O objetivo é colocar numa
instabilidade hemodinâmica no
permeabilidade do vaso), essencial na
seringa 100mg de cada fármaco.
momento pós-IOT. Da mesma forma,
sépsis. Apenas com uma dose de
Habitualmente as ampolas de
também não existiu superioridade
etomidato há uma pronunciada
cetamina têm concentração de 50mg/
entre a combinação da cetamina com
supressão da suprarrenal após 4-24h
mL. Numa seringa de 20mL, juntam-se
propofol (Ketofol) e o etomidato. Estes
podendo durar até 72h.
8mL de SF com 2mL de cetamina.
estudos tornam-se difíceis de
Relativamente à cetamina e ao
Portanto neste momento, esta seringa
validação dado que as IOT
propofol, a sua combinação tem sido
contém 100 mg de cetamina o que vai
habitualmente são realizadas em
cada vez mais utilizada em contexto
corresponder a 10mg/mL. O propofol
doentes nas unidades de cuidados
de emergência. A cetamina é um
1% por sua vez já tem uma
intensivos, constituindo populações
anestésico dissociativo. As vantagens
concentração de 10mg/mL, aspiramos
heterogéneas de difícil randomização.
são principalmente o efeito amnésico
10cc de propofol dando um total de
Este último estudo, diz respeito ao
e analgésico, com reduzido supressor
100mg. Nesta seringa de 20cc o
KEEP PACE Trial1, publicado em 2019,
da ventilação espontânea. No entanto
nosso novo fármaco Ketofol, têm uma
onde não se verificou superioridade
pode causar náuseas, vómitos,
concentração de 10mg/mL (5mg de
1
1,2
Indice
53
54
54
Indice
CARTAS AO EDITOR
cetamina + 5mg propofol). Para a sua
BIBLIOGRAFIA
administração inicia-se com um bólus
1.
Smischney NJ, Nicholson WT, Brown DR, Gallo De
de 0,5mg/Kg seguida de outro na
Moraes A, Hoskote SS, Pickering B, Oeckler RA,
mesma dose (0,5mg/kg) cerca de 30 a
Iyer VN, Gajic O, Schroeder DR, Bauer PR.
60 segundos depois. A manutenção da
Ketamine/propofol admixture vs etomidate for
sedação pode ser feita com bólus
intubation in the critically ill: KEEP PACE
de 0,25 mg/kg.
Randomized clinical trial. J Trauma Acute Care
Apesar de não haver evidência
Surg 2019; 87: 883-891
suficiente que justifique a não
2.
Gagnon DJ, Seder DB. Etomidate in sepsis:
utilização de etomidato, é um facto o
understanding the dilemma. J Thorac Dis
seu efeito supressor suprarrenal. Dado
2015;7(10):1699- 1701.
que uma parte dos doentes que
3.
necessitam de IOT emergente são potencialmente doentes em sépsis, e
CATARINA JORGE Médica VMER
Gallo de Moraes A. et al.: Ketofol for intubation in critically ill patients © Am J Case Rep, 2015; 16: 81-86
4.
EDITORA
EDITOR
Tarwade P, Smischney NJ. Endotracheal intubation
que, o etomidato pode provocar um
sedation in the intensive care unit. World J Crit
efeito deletério na sobrevida do doente,
Care Med 2022; 11(1): 33-39
venho por este meio relembrar que o Ketofol é uma alternativa igualmente
JÚLIO RICARDO SOARES Médico VMER
eficaz e segura na manutenção da estabilidade hemodinâmica, sem qualquer efeito adrenal
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
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55
56
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LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA
LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA
5G NA MEDICINA: O FUTURO NA EMERGÊNCIA EXTRA-HOSPITALAR André Maciel1, Ana Segundo1 1
Serviço de Anestesiologia, Centro Hospitalar Universitário do Algarve - Unidade de Faro
Atualmente, os serviços de
qualquer momento, desde pessoas a
maior eficiência energética e
emergência dependem da
coisas físicas de maneira flexível,
desempenho aprimorado. O 5G
intervenção humana. Num estudo
confiável e segura.
realizado em Madrid em 2021 , este
Durante a pandemia do SARS-CoV2 ,
banda larga móvel para serviços de
procedimento de resposta demora
houve uma maior motivação para o
entretenimento e aplicações
cerca de 4 minutos, enquanto o
uso da tecnologia 5G para grandes
industriais, como robótica e logística.
tempo que uma ambulância demora a
crises de saúde em escala global,
Mas, além desses casos de uso
chegar ao local é estimado em cerca
envolvendo pacientes graves, não
conhecidos e dignos de destaque,
de 8 minutos (dependendo da
apenas como ferramenta de
existem muitas áreas de aplicação
distância e do trânsito). Ao analisar
comunicação, mas também como
que podem beneficiar-se do 5G e das
os dados fornecidos, perceberam que
infra-estrutura fundamental, ao
tecnologias associadas, tais como os
existia melhorias consideráveis que
proporcionar a necessária integração
serviços de emergência e saúde, com
podiam ser alcançadas na eficiência
de sistemas das múltiplas
a capacidade de partilhar
do serviço de emergência, usando a
tecnologias informáticas. As redes 4G
informações com serviços externos
detecção de sistemas automatizados,
eram objetivamente insuficientes para
para desempenhar suas funções com
que se prevê que cresça nos
lidar com as necessidades de
eficácia, deixando de estar limitados
próximos anos graças às novas
comunicação muito aumentadas
a determinados formulários de dados,
capacidades em termos de
causadas pela pandemia em todas as
que sofrem atrasos e interrupções.
conectividade massiva de
atividades. O 5G pode atingir uma
dispositivos com baixo consumo de
velocidade superior a um Gb/s com
MAS EM QUE PONTO DA SITUAÇÃO
energia trazido pelo 5G.
uma latência extremamente baixa (<1
ESTAMOS EM RELAÇÃO AO 5G?
ms). No entanto, como o 5G transmite
O 5G está sendo implantado nas
O QUE É 5G E EM QUE
em frequências mais altas que o 4G, a
principais cidades do mundo, já há
SE CARACTERIZA?
degradação do sinal representa um
algum tempo. No estudo
O serviço 5G é o termo usado para se
desafio maior, exigindo "estações
supracitado1, descreve-se uma
referir à próxima geração de
base" densamente povoadas
experiência da vida real da
tecnologia móvel, que sucede ao 4G.
(aproximadamente a cada poucas
implantação de um sistema capaz de
Embora as gerações anteriores de
centenas de metros em vez de
detetar e responder a situações de
comunicações móveis ofereçam
quilómetros no caso do 4G).
emergência de forma automática e
chamadas de vídeo, serviços de
Espera-se, assim, que esta nova
personalizada, ao mesmo tempo que
streaming HD e banda larga móvel
geração venha a oferecer novos
enriquece as ferramentas da equipa
rápida, essa nova tecnologia permitirá
recursos em relação às tecnologias
de emergência. O sistema é capaz de
que qualquer dispositivo e serviço
móveis existentes, incluindo taxas de
realizar uma monitorização ao vivo
móvel conectar-se a qualquer coisa, a
dados mais altas, menor latência,
dos pacientes para que, quando um
1
suportará várias aplicações, incluindo 2
Indice
57
Figura 1. Ensaios da rede 5G em Portugal em Aveiro4 e em Cascais5, respetivamente.
acidente ocorra (por exemplo,
de geolocalização e saúde do
equipados com um body kit composto
batimentos cardíacos irregulares,
paciente, e um servidor de borda
por câmaras e sensores que foram
sinal de uma possível paragem
(edge server) próximo ao local de
ligados através de uma rede de testes
cardíaca), um alarme é accionado
5G a um centro de comando na
para enviar uma equipa de
emergência. 58 Outro caso é o do Reino Unido, onde o
emergência para o local, enquanto a
primeiro diagnóstico remoto foi
encenado, onde o motorista estava
rede é reconfigurada com a
realizado graças à colaboração entre
preso dentro. Drones conectados
implantação de um novo serviço de
Ericsson, University Hospital
capturaram vistas aéreas. O vídeo de
rede para apoiar a equipa com
Birmingham NHS Foundation Trust e
alta qualidade quase sem latência e o
serviços de realidade aumentada (RA)
King's College London. Um vídeo de
feedback instantâneo do sensor,
no local. Conforme validado, o tempo
um ultrassom foi enviado da
incluindo as posições relativas em
necessário para detectar e processar
ambulância para o médico
tempo real de todo o pessoal de
a emergência, selecionar a melhor
especialista usando um headset de
emergência, permitindo que os
equipa e enviar o doente para o local
realidade virtual e manobrando um
coordenadores do centro de comando
certo pode ser eliminado
joystick, e capaz de orientar o
agissem instantaneamente para
principalmente habilitando esse
paramédico, usando uma luva
otimizar as operações. Os próprios
sistema de detecção de emergência,
háptica, para executar o ultrassom3.
sinais vitais dos socorristas também
resposta a um acidente de trânsito
foram constantemente monitorizados
que dispensa a necessidade da testemunha. Assim, um dispositivo,
E COMO SE ENCONTRA
com todos os dados coordenados no
como um smartwatch, envia via 5G
A SITUAÇÃO EM PORTUGAL?
centro de comando. A Ericsson e a
um alarme de um possível ataque
Em setembro de 2019 foi realizado
Altice continuam a trabalhar em
cardíaco para um servidor central
um ensaio da resposta do 5G na
conjunto para construir uma rede 5G
numa “cloud”, que monitoriza os
otimização e coordenação de
experimental em Aveiro.
registos médicos do paciente,
respostas de serviços de emergência
Um outro caso de sucesso aconteceu
configura o provável diagnóstico e
nos minutos críticos após acidentes
em dezembro de 2019, quando a Cruz
envia a equipa adequada, avaliando a
pela empresa Ericsson e pela
Vermelha participou numa
localização e as habilidades
operadora portuguesa Altice,
demonstração do 5G com a Vodafone
necessárias. Assim, um smartphone
juntamente com a colaboração de
e a Altran, em Cascais. O teste
5G garante a conexão entre um
socorristas, no campus da Altice Labs
consistia no seguinte: uma
aplicativo de RA, construído usando
em Aveiro4. Polícias, profissionais do
ambulância esperava por um pedido
óculos holográficos Microsoft
serviço de ambulâncias, bombeiros e
de assistência de uma pessoa que se
Hololens v1, que exibirá informações
autoridades de proteção civil foram
sentiu mal e, para simular, estava um
58
Indice
LIFESAVING TRENDS - INOVAÇÕES EM EMERGÊNCIA MÉDICA
médico da Cruz Vermelha na
BIBLIOGRAFIA
coordenação ligado a um
1.
K. Antevski, L. Girletti, C. J. Bernardos, A. de la
computador, tendo recebido a
Oliva, J. Baranda and J. Mangues-Bafalluy, "A
chamada de urgência via
5G-Based eHealth Monitoring and Emergency
videochamada. Já os socorristas,
Response System: Experience and Lessons
equipados com um sistema de óculos
Learned," in IEEE Access, vol. 9, pp. 131420-
de RA Holo Lens, puderam transmitir
131429, 2021, doi: 10.1109/ACCESS.2021.3114593.
em tempo real as imagens do local,
2.
Moglia A, Georgiou K, Marinov B, Georgiou E,
projetando ainda a interface
Berchiolli RN, Satava RM, Cuschieri A. 5G in
holográfica com os procedimentos
Healthcare: from COVID-19 to Future Challenges.
em tempo real. No computador,
IEEE J Biomed Health Inform. 2022 Jun 8;PP. doi:
remotamente, o médico consultou e
10.1109/JBHI.2022.3181205. Epub ahead of print.
enviou para os socorristas a ficha
meios para acorrer a essa vítima, em
clínica da paciente, transmitindo o
função da sua localização e quais as
historial dos dados clínicos. Foi
unidades de referência em termos
https://www.ericsson.com/en/cases/2020/
medida a pressão arterial, e sob
hospitalares para onde esse doente
the-5g-connected-ambulance
instruções do médico remoto, a dupla
pode ser encaminhado. Com isto,
de socorristas tomou determinadas
pretende-se salvar mais vidas, ou pelo
atitudes diagnósticas e terapêuticas.
menos proceder com maior eficácia a
Através dos óculos, o médico à
assistência, num futuro muito
pt/5g-conference-2020/como-o-5g-pode-mudar-
distância podia ver, em tempo real, o
próximo. Tal como refere Pedro
as-situacoes-de-emergencia-medica
rosto da paciente e tudo o que os
Santos, diretor do 5G Hub da
socorristas estavam a fazer. Depois
Vodafone Portugal “toda a
de dar instruções de transporte do
informação de vídeo, reconhecimento
paciente para a ambulância, o médico
facial e envio de procedimentos para
fez a ponte para a marcação de
os óculos do enfermeiro precisa de
serviço hospitalar, poupando tempo
rede rápida, em tempo real e que não
aos socorristas. Os dados e
falhe e quando a vítima chega ao
instruções continuaram a ser
hospital já traz uma série de medidas
transmitidos entre as equipas,
que lhe foram feitas. Hoje isto só
seguindo-se a utilização dos
começa no hospital. Pode salvar
instrumentos já no interior da
vidas”, considera. Pedro Santos
ambulância. O médico tinha acesso
referiu, ainda, que é importante
direto aos sinais vitais que avaliam o
mencionar que o 5G é uma tecnologia
paciente em tempo real e com
que vai ser introduzida por fases e
latência “zero”. O Holo Lens permitiu
que “não se pode pensar que o 5G é
não só transmitir o vídeo em 4K,
carregar num botão e a tecnologia
como interagir via RA com os
está pronta a utilizar”.
sistemas ao seu redor, como por
Resumindo, entre todos os sectores
exemplo aceder ao historial médico
que vão beneficiar do lançamento da
da paciente, os seus antecedentes, a
rede móvel de nova geração, a saúde
medicação, que ajudará o médico a
é o mais citado pelo potencial
tomar decisões, quer a orientar a
revolucionário que as soluções
equipa que está no terreno,
poderão ter e esperemos o que nos
determinando quais os melhores
aguarda num futuro breve
PMID: 35675255. 3.
4.
“The 5G Connected Ambulance,” Ericsson.com.
https://www.aveirotechcity.pt/pt/noticias/ Simulacro-5G
5.
https://vodafonebusinessconference.dinheirovivo.
EDITOR
ALÍRIO GOUVEIA Médico VMER
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
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VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS
VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS
JOVEM HEMODINAMICAMENTE ESTÁVEL NEM SEMPRE É SAUDÁVEL! Joana Nascimento1, Cláudia Queirós1 1
Interno(a) de Formação Específica, Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Serviço de Medicina Interna
Palavras-chave: Taquicardia ventricular; Diagnóstico diferencial; Algoritmos de diagnóstico.
CASO CLÍNICO Mulher com 26 anos, sem antecedentes cardiovasculares (ACV) conhecidos, recorreu ao serviço de urgência por sensação de palpitações rápidas, intermitente, autolimitada (máximo de 2 minutos), com início e fim abruptos, sem dor torácica ou perda de consciência associados, nos 2 meses prévios. Aquando da admissão hospitalar, rea-
Figura 1 – Eletrocardiograma de 12d à admissão hospitalar.
lizou ECG de 12 derivações (ECG12d) (Figura 1) que se descreve:
controlo progressivo de frequência
O diagnóstico de TV pode constituir
cardíaca e, finalmente, conversão a
um desafio, dada a semelhança do
Taquicardia de complexos largos
ritmo sinusal, sendo percetível, no
padrão eletrocardiográfico com ou-
(TcL) com QRS de 134 mseg com fre-
ECG12d realizado sob amiodarona, a
tras etiologias de TcL, nomeadamen-
quência cardíaca de 235 bpm, regu-
presença de dAV (Figura 2).
te TSV com condução aberrante, com
lar, morfologia em padrão de bloqueio
pré-excitação ventricular ou com QRS
completo de ramo direito (BCRD),
Na presença de uma TcL regular, de-
largo associado a distúrbios iónicos
eixo inferior e desvio direito do eixo
ve-se assumir TV até prova em con-
ou iatrogenia. Neste sentido, têm
elétrico, QRS positivo em aVR e ne-
trário, pois a prevalência de TV nes-
sido propostos diversos algoritmos
gativo em DI e aVL.
tas situações é de aproximadamente
para o diagnóstico diferencial de TcL,
80%. Neste caso em concreto (doen-
sendo os critérios de Brugada e os de
Perante uma pressão arterial normal,
te jovem e sem ACV, com taquidisrit-
Vereckei, que pressupõem a análise
a disritmia foi interpretada como ta-
mia hemodinamicamente bem tolera-
sequencial do ECG, os mais reconhe-
quicardia supraventricular (TSV) com
da), foi lícita a abordagem inicial
cidos.
aberrância de condução, tendo sido
dirigida à suspeita de TSV. Contudo,
Segundo o algoritmo de Brugada, a
administrada adenosina; contudo,
a ausência de resposta à adenosina
presença de dissociação AV e a mor-
não se verificou interrupção da taqui-
sugeriu o diagnóstico de taquicardia
fologia de BCRD com Rsr’ (R>r’ = “ra-
cardia ou dissociação auriculoventri-
ventricular, sendo este sustentado
bbit ear sign”) e QS em V6 – ao con-
cular (dAV) com atividade auricular
por características do ECG12d em
trário do expectável no BCRD típico
superior à ventricular. Foi depois ini-
taquicardia.
– são compatíveis com TV. Ao aplicar
ciada amiodarona em perfusão, com
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VAMOS PÔR O ECG NOS EIXOS
Figura 2 – Eletrocardiograma de 12d sob amiodarona em perfusão. Pontos azuis indicam presença de ondas p dissociadas dos complexos QRS.
o algoritmo de Vereckei, a presença
BIBLIOGRAFIA
de dAV, de uma onda R inicial em
1.
Brugada J, Katritsis DG, Arbelo E, Arribas F, Bax
aVR, e de um QRS com morfologia
JJ, Blomstrom-Lundqvist C, et al. 2019 ESC Gui-
atípica de bloqueio de ramo também
delines for themanagement of patients with su-
insinuam este diagnóstico.
praventricular tachycardia. Eur Heart J.
É importante salientar que os critérios
2020;41(5):655–720.
eletrocardiográficos sugestivos de TV
2.
Sousa PA, Pereira S, Candeias R, Jesus I De. The
nem sempre estão todos presentes.
value of electrocardiography for differential diag-
No caso apresentado, o diagnóstico
nosis in wide QRS complex tachycardia. Rev Port
de TV assenta essencialmente em cri-
Cardiol. 2014;33(3).
térios morfológicos (padrão de BRD
3.
Costa H, Azevedo P, Carvalho D, Candeias R, Jesus
atípico) e onda R em aVR, uma vez que
I. Taquidisritmias Supraventriculares: Abordagem
a dissociação AV é difícil de avaliar no
em Contexto Pré e Intra-Hospitalar. Lifesaving.
ECG12d de admissão, não existe con-
2020;15:27–35.
cordância elétrica em todas as deriva-
4.
ções precordais, em V1 o intervalo R/S
Complex Tachycardia Differentiation: A Reapprai-
é <100ms, os complexos QRS têm
sal of the State-of-the-Art. Journal of the American
duração inferior a 140ms e não existe
Heart Association. 2020; 9:e016598.
desvio extremo do eixo, tornando mais desafiante o diagnóstico diferencial
EDITORA
Kashou A, Noseworthy P, DeSimone C, et al. Wide
TERESA MOTA Interna de formação Específica de cardiologia - CHUA
da TcL. A distinção correta entre TSV com
EDITOR
aberrância ou TV é fundamental para guiar o tratamento agudo e a longo prazo, sendo o ECG12d uma ferramenta indispensável, devendo ser adequadamente arquivado sempre que possível
HUGO COSTA Interno de formação Específica de cardiologia - CHUA
Indice
63
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO – Novembro de 2021
64
1. Objectivo e âmbito
2. Informação Geral
3. Direitos Editoriais
A Revista LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) é um órgão de publicação pertencente ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e dedica-se à promoção da ciência médica pré-hospitalar, através de uma edição trimestral. A LF Sci adopta a definição de liberdade editorial descrita pela World Association of Medical Editors, que entrega ao editor-chefe completa autoridade sobre o conteúdo editorial da revista. O CHUA, enquanto proprietário intelectual da LF Sci, não interfere no processo de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, atribuindo ao editor-chefe total independência editorial. A LF Sci rege-se pelas normas de edição biomédica elaboradas pela International Commitee of Medical Journal Editors e do Comittee on Publication Ethics.
A LF Sci não considera material que já foi publicado ou que se encontra a aguardar publicação em outras revistas. As opiniões expressas e a exatidão científica dos artigos são da responsabilidade dos respetivos autores. A LF Sci reserva-se o direito de publicar ou não os artigos submetidos, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci reserva-se o direito de escolher o local de publicação na revista, de acordo com o interesse da mesma, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci é uma revista gratuita, de livre acesso, disponível em https://issuu.com/lifesaving. Não pode ser comercializada, sejam edições impressas ou virtuais, na parte ou no todo, sem autorização prévia do editor-chefe.
Os artigos aceites para publicação ficarão propriedade intelectual da LF Sci, que passa a detentora dos direitos, não podendo ser reproduzidos, em parte ou no todo, sem autorização do editor-chefe.
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4. Critérios de Publicação 4.1 Critérios de publicação nas rúbricas A LF Sci convida a comunidade científica à publicação de artigos originais em qualquer das categorias em que se desdobra, de acordo com os seguintes critérios de publicação: Artigo Científico Original - Âmbito: apresentação de resultados sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 4000 palavras.
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
Temas em Revisão - Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Hot Topic - Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré-hospitalar recentes ou contraditórias. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Rúbrica Pediátrica - Âmbito: Revisão sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras.
Casos Clínicos (Adulto) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, relacionados com situações de emergência em adultos. Dimensão recomendada: 1000 palavras.
tecnológicas, de dispositivos inovadores, ou de atualizações de equipamentos ou práticas atuais. Limite de Palavras: máximo 1500 palavras; Limite de tabelas e figuras: 6
Casos Clínicos (Pediatria) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, em contexto de situações de emergência em idade pediátrica. Dimensão recomendada: 1000 palavras.
4.2 Critérios gerais de publicação
Casos Clínicos (Neonatalogia) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, que reportem situações de emergência em idade neonatal. Dimensão recomendada: 1000 palavras. LIFESAVING Trends - Inovações em Emergência Médica - Âmbito: Artigo com estrutura de "Correspondência", privilegiando a divulgação de novidades
O trabalho a publicar deverá ter no máximo 120 referências. Deverá ter no máximo 6 tabelas/ figuras devidamente legendadas e referenciadas. O trabalho a publicar deve ser acompanhado de no máximo 10 palavras-chave representativas. No que concerne a tabelas/ figuras já publicadas é necessário a autorização de publicação por parte do detentor do copyright (autor ou editor). Os ficheiros deverão ser submetidos em alta resolução, 800 dpi mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias em formato JPEG (. Jpg), PDF (.pdf). As tabelas/
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figuras devem ser numeradas na ordem em que ocorrem no texto e enumeradas em numeração árabe e identificação. No que concerne a casos clínicos é necessário fazer acompanhar o material a publicar com o consentimento informado do doente ou representante legal, se tal se aplicar. No que concerne a trabalhos científicos que usem bases de dados de doentes de instituições é necessário fazer acompanhar o material a publicar do consentimento da comissão de ética da respetiva instituição. As submissões deverão ser encaminhadas para o e-mail: revistalifesaving@gmail.com
4.3 Critérios de publicação dos artigos científicos. Na LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) podem ser publicados Artigos Científicos Originais, Artigos de Revisão ou Casos Clínicos de acordo com a normas a seguir descritas. Artigos Científicos O texto submetido deverá apresentado com as seguintes secções: Título (português e inglês), Autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação), Abstract (português e inglês), Palavras-chave (máximo 5), Introdução e Objetivos, Material e
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Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos, Referências. O texto deve ser submetido com até 3 Take-home Messages que no total devem ter até 50 palavras. Não poderá exceder as 4.000 palavras, não contando Referências ou legendas de Tabelas e Figuras. Pode-se fazer 66 acompanhar de até 6 Figuras/ Tabelas e de até 60 referências bibliográficas. O resumo/ abstract não deve exceder as 250 palavras. Se revisão sistemática ou meta-análise deverá seguir as PRISMA guidelines. Se meta-análise de estudo observacionais deverá seguir as MOOSE guidelines e apresentar um protocolo completo do estudo. Se estudo de precisão de diagnóstico, deverá seguir as STARD guidelines. Se estudo observacional, siga as STROBE guidelines. Se se trata da publicação de Guidelines Clínicas, siga GRADE guidelines. Este tipo de trabalhos pode ter no máximo 6 autores. Artigos de Revisão O objetivo deste tipo de trabalhos é rever de forma aprofundada o que é conhecido sobre determinado tema de importância clínica. Poderá contar com, no máximo,
3500 palavras, 4 tabelas/figuras, não mais de 50 referências. O resumo (abstract) dos Artigos de Revisão segue as regras já descritas para os resumos (abstract) dos Artigos Científicos. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 5 autores. Caso Clínico O objetivo deste tipo de publicação é o relato de caso clínico que pela sua raridade, inovações diagnósticas ou terapêuticas aplicadas ou resultados clínicos inesperados, seja digno de partilha com a comunidade científica. O texto não poderá exceder as 1.000 palavras e 15 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de até 5 tabelas/ figuras. Deve inclui resumo que não exceda as 150 palavras, organizado em objetivo, caso clínico e conclusões. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 4 autores. Cartas ao Editor - Objetivo: comentário/exposição referente a um artigo publicado nas últimas 4 edições da revista promovendo a discussão e visão crítica. Poderão ainda ser enviados observações, casuísticas particularmente interessantes de temáticas atuais que os autores desejem apresentar aos leitores de forma concisa.
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
- Instruções para os autores: 1. O corpo do artigo não deve ser subdividido; sem necessidade de resumo ou palavras-chave. 2. Deve contemplar entre 500 a 1000 palavras, excluindo referências, tabelas e figuras. 3. Apenas será aceite 1 figura e/ ou 1 tabela. 4. Não serão aceites mais de 5 referências bibliográficas. Devendo cumprir as normas instituídas para revista. 5. Número máximo de autores são 4. Breves Reflexões sobre a Emergência Médica Âmbito: artigo de reflexão/opinião, com a exposição de ideias e pontos de vista sobre tema no âmbito da emergência médica, do ponto de vista conceptual, podendo a argumentação do Autor convidado, ser baseada na sua experiência pessoal ou na citação de livros, revistas, artigos publicados, entre outros recursos de pesquisa, devidamente assinalados no texto;
Palavras-chave: máximo 5 palavras chave, em formato bilingue (português e inglês) Limite de tabelas e figuras: 3 Bibliografia: máximo 5 referências bibliográficas “Vamos pôr o ECG nos eixos” - Âmbito: Análise e interpretação de traçados eletrocardiográficos clinicamente contextualizados - Formato: Título; Autores – máx. 2 autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação); 2 palavras-chave; 1 imagem (ECG ou tira de ritmo, em formato JPEG com resolução original); Legenda explicativa com breve enquadramento clínico e interpretação do traçado (ritmo, frequência, alterações da despolarização ou repolarização pertinentes no contexto) – máx. 300 palavras; Referências bibliográficas.
5. Referências Estrutura do artigo: título, Autor(es) e afiliação; resumo e palavras-chave (facultativos), introdução, desenvolvimento, conclusão final, referências bibliográficas. Limite de palavras: 1500 Resumo (facultativo): máximo 100 palavras, em formato bilingue (português e inglês)
Os autores são responsáveis pelo rigor das suas referências bibliográficas e pela sua correta citação no texto. Deverão ser sempre citadas as fontes originais publicadas. A citação deve ser registada empregando Norma de Vancouver.
A LF Sci segue um processo single-blind de revisão por pares (peer review). Todos os artigos são inicialmente revistos pela equipa editorial nomeada pelo editor-chefe e caso não estejam em conformidade com os critérios de publicação poderão ser rejeitados antes do envio a revisores. A aceitação final é da responsabilidade do editor-chefe. Os revisores são nomeados de acordo com a sua diferenciação em determinada área da ciência médica pelo editor-chefe, sem necessidade de justificação adicional. Na avaliação os artigos poderão ser aceites para publicação sem alterações, aceites após modificações propostas pela equipa editorial ou recusados sem outra justificação.
7. Erratas e retrações A LF Sci publica alterações, emendas ou retrações a artigos previamente publicados se, após publicação, forem detetados erros que prejudiquem a interpretação dos dados
6. Revisão por pares
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