9ª SEPARATA CIENTÍFICA
REVISTA DAS VMER DE FARO E ALBUFEIRA NÚMERO 20 / MAIO 2021 [TRIMESTRAL]
NESTA EDIÇÃO: "A IMPORTÂNCIA DE COZINHAR CONVENIENTEMENTE A COMIDA... OU COMO UM MORCEGO MAL PASSADO PODE TRANSFORMAR A VIDA DO PACO, DO ZÉ, DA ISA E DE MAIS DE 6 MIL MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO ..." Daniel Nunez
LINHA DO TEMPO NA RESPOSTA À PANDEMIA COVID-19 - HOSPITAL DE PORTIMÃO Amélia Gracias, José Sousa, Monique Cabrita
COVID-19 ARENA PORTIMÃO: “UM AMOR EM TEMPOS DE GUERRA” Maria Inês Simões
OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE E A SUA CONTÍNUA INTERVENÇÃO EM CONTEXTO DE PANDEMIA: IMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS Gonçalo Castanho
A PANDEMIA NA ILHA DO PRÍNCIPE: ENTREVISTA
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João Fernandes
EDITORIAL
FICHA TÉCNICA EDITOR-CHEFE Bruno Santos COMISSÃO CIENTÍFICA Daniel Nunez – Presidente, Ana Rita Clara, Carlos Raposo, Cristina Granja, Eunice Capela, Gonçalo Castanho, José A. Neutel, Miguel Jacob, Miguel Varela, Nuno Mourão, Rui Ferreira de Almeida, Sérgio Menezes Pina, Stéfanie Pereira, Vera Santos. CO-EDITORES André Abílio Rodrigues, Ana Agostinho, Ana Isabel Rodrigues, Ana Rita Clara, Dénis Pizhin, Guilherme Henriques, Isabel Rodrigues, João Paiva, Miguel Jacob, Pedro Lopes Silva, Pedro Miguel Silva, Pedro Rodrigues Silva, Sérgio Menezes Pina. EDITORES ASSOCIADOS Alírio Gouveia, Ana Agostinho, Ana Raquel Ramalho, Ana Rodrigues, André Abílio Rodrigues, André Villarreal, Antonino Costa, Catarina Monteiro, Catarina Tavares, Christian Chauvin, Cláudia Calado, Eva Motero, Isa Orge, João Cláudio Guiomar, João Horta, José Sousa, Luísa Gaspar, Marta Soares, Monique Cabrita, Noélia Alfonso, Nuno Ribeiro, Pedro Lopes Silva, Pedro Miguel Silva, Rita Penisga, Rúben Santos, Sílvia Labiza, Solange Mega, Teresa Castro, Teresa Salero, Vasco Monteiro. COLABORADORES CONVIDADOS (LIFESAVING Nº 20) Amélia Grácias, Ana Raquel Ramalho, Ana Rita Arez, Andreia Fernandes, Daniel Nunez, Daniel Tiago, Diana Castro, Djamila Neves, Fátima Azevedo, Frederico Magalhães, Gonçalo Castanho, Helena Pissarra, Inês Simões, Inês Sousa, Íris Oliveira, João Coucelo, José Neutel, José Sousa, Luís Pereira, Luísa Gaspar, Mafalda Pereira, Márcio Silva, Maria Albertino Farinho, Marisa Madeira, Marlene Pereira, Miguel Jacob, Mónica Bota, Monique Cabrita, Nuno Ferreira, Nuno Marques, Nuno Mourão, Patrícia Guerreiro, Rita Marcelino, Tânia Sales, Vera Cartaxo. ILUSTRAÇÕES João Paiva FOTOGRAFIA Pedro Rodrigues Silva Maria Luísa Melão
Caríssimos leitores, Finalmente respiramos de algum alívio, já em fase avançada de desconfinamento, com o menor número de casos de infeção a SARS CoV2, e com a redução expressiva do número de internamentos e fatalidades. Com a campanha de vacinação em marcha, e a massificar-se, a tão esperada imunização de grupo está cada vez mais perto. A sociedade retoma com cautela muitas das atividades até aqui suspensas, vislumbrando-se assim uma verdadeira "luz ao fundo do túnel". É este sentimento de esperança para o futuro e entusiasmo com o presente que transmitimos na capa desta 20ª Edição da LIFESAVING. A revista LIFESAVING destacou-se pela assiduidade e pontualidade nestes 14 meses de pandemia, fruto da resiliência de uma Equipa Editorial, envolvida na construção de cada edição, sempre em nome da partilha de conhecimento e da atualização científica. Esta Equipa foi ainda mais longe promovendo a publicação Highlights COVID-19, partilhando ideias-chave de artigos científicos de reconhecido impacto e relevância na área da COVID-19, e que avança já com o 2º volume de publicações. A Separata Científica desta edição, a 9ª desde a sua estreia, conta com vários artigos de leitura imperdível, de qualidade garantida pela revisão de pares. Destacam-se, na sua abertura, dois artigos de atualização das guidelines de 2020 da American Heart Association (AHA), sobre a reanimação cardio-respiratória pediátrica e neonatal. São revistos nesta Edição os temas da ventilação não invasiva (VNI) em tempos de pandemia, da doença COVID-19 em profissionais de saúde, e da atividade da Comissão de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (CPCIRA) do INEM, em contexto COVID-19, no ano 2020. Incluem-se ainda 2 artigos de âmbito pediátrico e neonatal, designadamente: a abordagem do estado de mal convulsivo e um caso clínico de cardiopatia congénita. A temática da COVID-19 continua a marcar presença forte na várias rubricas da publicação LIFESAVING. Nesta edição destacam-se os três artigos da rubrica Nós por Cá, que descrevem a resposta arquitetada no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) face à 3ª vaga da pandemia, respeitantes às Unidades hospitalares de Faro e Portimão, e também ao Internamento Covid-Arena (Hospital de Campanha de Portimão). Destacamos ainda o artigo da rubrica Cuidar de Nós sobre as implicações psicológicas da contínua intervenção dos profissionais de saúde, em contexto de pandemia, e ainda a rubrica "O que fazer em caso de", que estreia nesta edição um novo formato - "A LIFESAVING esclarece...", divulgando as respostas às questões colocadas pelos Alunos da Universidade Sénior de Loulé. Na rubrica "Emergência Internacional” é dado destaque a mais uma diferente realidade na resposta à COVID-19, desta vez na Ilha do Príncipe, através da entrevista ao Enfº João Fernandes. Muitos outros excelentes artigos poderão ser encontrados nesta edição, nas habituais rubricas de divulgação, e que constituem mais ingredientes para uma leitura irresistível, que apelam para uma degustação atenta e detalhada da Revista LIFESAVING. Não posso terminar sem agradecer todo o esforço de Revisores, Editores e Colaboradores desta Edição, bem como todo o apoio e reconhecimento demonstrado pelos leitores e seguidores deste projeto Editorial LIFESAVING Com elevada estima e consideração,
Bruno Santos
EDITOR-CHEFE COORDENADOR MÉDICO das VMER de Faro e Albufeira
AUDIOVISUAL Pedro Lopes Silva DESIGN Luis Gonçalves
bsantos@chalgarve.min-saude.pt
Momentos de inspiração
PARCERIAS
"A vitória não pertence aos mais fortes, mas sim aos que a perseguem por mais tempo." Napoleão Bonaparte (1769-1821) Líder Político, Militar
Periodicidade: Trimestral Linguagem: Português
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ISSN 2184-1411 2
Propriedade: CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO ALGARVE Morada da Sede: Rua Leão Penedo. 8000-386 Faro Telefone: 289 891 100 | NIPC 510 745 997
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11 ARTIGO EM DESTAQUE I Análise da atualização das Guidelines da American Heart Association (AHA) de 2020, para a reanimação cardiopulmonar neonatal 19 ARTIGO EM DESTAQUE II Atualizações das Guidelines da American Heart Association (AHA) em reanimação pediátrica 25 ARTIGO DE REVISÃO I Atividade da Comissão de Prevenção e Controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (CPCIRA) do INEM, em contexto COVID-19, no ano de 2020 35 ARTIGO DE REVISÃO II Ventilação Não Invasiva (VNI) no pré-hospitalar em tempos de COVID-19 45 ARTIGO DE REVISÃO III Gestão da dor em situações de exceção 51 HOT TOPIC COVID-19 no grupo de Profissionais de Saúde 63 RUBRICA PEDIÁTRICA Abordagem do estado de mal convulsivo em emergência pediátrica 71 CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP Cardiopatias congénitas: a propósito de um caso clínico 79 NÓS POR CÁ "A importância de cozinhar convenientemente a comida... ou como um morcego mal passado pode transformar a vida do paco, do Zé, da Isa e de mais de 6 mil milhões de pessoas em todo o mundo ...” 83 NÓS POR CÁ Linha do tempo na resposta à pandemia COVID-19 - Hospital de Portimão 87 NÓS POR CÁ COVID-19 Arena Portimão: “Um amor em tempos de guerra”
91 EMERGÊNCIA INTERNACIONAL A pandemia na Ilha do Príncipe. Entrevista ao Enfermeiro João Fernandes 98 NÓS POR CÁ Revisão estatística de 1 ano de COVID-19 102 FÁRMACO REVISITADO Rocurónio 107 JOURNAL CLUB Characteristics of patients who had a stroke not initially identified during emergency prehospital assessment: a systematic review 111 VOZES DA EMERGÊNCIA VMER de Portimão 116 A LIFESAVING ESCLARECE… Alunos das Universidade Sénior de Loulé / Associação Amigos do Alentejo 121 CUIDAR DE NÓS Os profissionais de saúde e a sua contínua intervenção em contexto de pandemia: implicações psicológicas 125 NÓS E OS OUTROS Programa de desfibrilhação automática externa (DAE) comunitário da cidade de Albufeira: Autarquia+segura 128 UM PEDACINHO DE NÓS Enfª Rita Arez 132 TERTÚLIA VMERISTA "Analgesia no extra hospitalar, a minha atitude é ..." 134 PÁGINAS ABC
138 PÁGINAS APEMERG
140 TESOURINHOS VMERISTAS 140 CONGRESSOS DIGITAIS
142 BEST SITES
143 BEST APPS
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9ª SEPARATA CIENTÍFICA
ÍNDICE
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6
"TODOS JUNTOS NO COMBATE À COVID-19 "
"OS OLHARES DA LINHA DA FRENTE DO COMBATE À COVID-19"
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Profissionais do Centro Hospitalar Universitário do Algarve
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ARTIGO EM DESTAQUE I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
ARTIGO EM DESTAQUE I
ANÁLISE DA ATUALIZAÇÃO DAS GUIDELINES DA AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA) DE 2020 PARA A REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR NEONATAL Mónica Bota1,2, Marisa Madeira1,2, Rita Marcelino1,2
2
Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, Faro; Serviço de Medicina Intensiva Pediátrica e Neonatal
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
Uma reanimação eficaz e atempada ao
Effective and timely resuscitation at
Com base na evidência científica
nascimento pode melhorar o prognóstico
birth may improve the neonatal
obtida em estudos realizados a nível
neonatal. Esta depende de ações críticas
prognosis. This depends on critical
mundial sobre reanimação e aborda-
que devem ocorrer numa sucessão rápida
actions that must take place in rapid
gem em emergência cardiovascular,
para assim maximizar as oportunidades
succession to maximize the opportu-
em conjunto com o International
de sobrevivência do recém-nascido. Para
nities for a newborn survival. The
Liaison Committee on Resucitation, a
tal contribui a constante atualização dos
constant updating of knowledge in
American Heart Association (AHA)
conhecimentos na área e a respetiva
the area and its practical application
publica a cada 5 anos as diretrizes ou
aplicação prática dos mesmos. Segundo
contributes for a good practice.
guidelines que servirão de guia
a Internacional Liasion Commitee on
According to the Liasion Commitee
orientador na execução de protocolos
Resuscitation (ILCOR) Formula for Survival
on Resuscitation (ILCOR) Formula for
e desempenho de profissionais em
existem alguns componentes essenciais
Survival there are some essential
muitos hospitais e serviços de
para uma reanimação eficaz nomeada-
components for effective resuscita-
atendimento de emergência a nível
mente: guidelines baseadas na ciência da
tion, namely: guidelines based on the
global. Após a última atualização
reanimação e uma educação eficaz de
science of resuscitation and an
destas diretrizes em outubro de 2020,
quem providencia a reanimação.
effective education of those who
o presente artigo visa dar destaque
Em 2020 foram publicadas as atualiza-
provide resuscitation.
às atualizações referentes à Reani-
ções das guidelines da American Heart
In 2020, updates to the American
mação Neonatal.
Association referentes à reanimação
Heart Association guidelines on
Segundo AHA (2020), estima-se que
cardiopulmonar neonatal que contêm
neonatal cardiopulmonary resuscita-
aproximadamente 10% dos recém-
recomendações baseadas na melhor
tion were published, which contain
-nascidos necessitam de ajuda para
evidência científica de reanimação
recommendations based on the best
respirar no nascimento e 1% necessi-
disponível. Estas guidelines são baseadas
available scientific evidence of
ta de manobras de reanimação
numa ampla avaliação das evidências
resuscitation. These guidelines are
intensivas para restabelecer a função
existentes em conjunto com o ILCOR.
based on a broad assessment of
cardiorrespiratória.
Pretende-se assim com o presente artigo
existing evidence with ILCOR.
O algoritmo de reanimação neonatal
a análise das respetivas atualizações
Thus, this article aims to analyze
de 2015 e a maioria dos conceitos
com o objetivo de divulgação das
their updates to outreach the health
baseados nas secções do algoritmo
mesmas aos profissionais de saúde.
professionals.
continuam relevantes em 2020.
Palavras-Chave: Reanimação Cardiopulmonar neonatal; Guidelines 2020; American Heart Association
Keywords: Neonatal Cardiopulmonary Resuscitation; Guidelines 2020; American Heart Association;
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ARTIGO EM DESTAQUE I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
O uso da estratificação do risco foi
ção necessários associados a
outro aspeto com importante
intervenções de controlo da tempera-
1. PREVISÃO DA NECESSIDADE
evidência. Nos casos em que a
tura, como já referenciadas em 2015,
DE REANIMAÇÃO
gestação e o trabalho de parto
tais como: o aumento da temperatura
A Reanimação cardiopulmonar
identifiquem recém-nascidos com
ambiente; a utilização de radiadores
neonatal requer treino, preparação e
elevada probabilidade de necessitar
(incubadoras com aquecimento) e
trabalho em equipa. Estima-se que
de reanimação, deve estar presente
colchões térmicos; gases respirató-
aproximadamente 10% dos recém-
uma equipa devidamente qualificada.
rios aquecidos e humidificados.
-nascidos requerem assistência
Na Reanimação Neonatal, o briefing e
O foco na prevenção da hipotermia
respiratória após o nascimento e
uma lista de verificação de equipa-
com o objetivo de manutenção da
como tal, quando a necessidade de
mento, demonstraram significante
temperatura corporal, que deve ser
reanimação não é antecipada
evidência, sendo dois aspetos já
mantida entre 36,5-37,5ºC, deve-se ao
qualquer atraso na assistência ao
destacados nas guidelines de 2015,
facto da hipotermia estar associada
recém-nascido que não respira pode
ambos se mantêm na atualização de
ao aumento da mortalidade e
aumentar o risco de morte. É assim
2020, sendo também corroborado
morbilidade neonatal, especialmente
recomendado nas guidelines de 2020
com evidência científica.
em recém-nascidos pré-termo com
que todo o nascimento deva ser
menos de 33 semanas de idade
assistido e suportado por pelo menos
2. CONTROLO DA TEMPERATURA
gestacional e recém-nascidos com
1 pessoa cuja responsabilidade
CORPORAL DO RECÉM-NASCIDO
muito baixo peso ao nascimento
primária é o recém-nascido e que
Uma das atualizações efetuadas nas
(menos de 1500g).
tenha competências para iniciar os
guidelines de 2020 refere-se à
passos inicias da reanimação
utilização do contacto pele-a-pele
3. LIMPEZA DA VIA AÉREA
cardiopulmonar iniciando ventilação
como medida de intervenção e
No que concerne à limpeza da via
por pressão positiva. Deste modo é
estratégia para manutenção da
aérea, quando existe líquido amnióti-
garantida uma transição tranquila e
temperatura corporal do recém-nasci-
co meconial, descrevem-se duas
segura do recém-nascido do útero
do e prevenção da hipotermia. A
atitudes possíveis. Deste modo em
para o ambiente extra-uterino.
recomendação adicional consiste na
recém-nascidos que nasçam hipotó-
É sugerido ainda um briefing prévio
colocação dos recém-nascidos que
nicos (apneia ou com esforço
ao nascimento, entre equipa, onde
não requeiram reanimação, em
respiratório ineficaz) a laringoscopia
seja identificado o líder, atribuídos
contacto pele-a-pele após o nasci-
de rotina com ou sem aspiração não
papéis e responsabilidades e
mento uma vez que pode ser eficaz
é recomendada.
elaborado um possível plano de
em promover a amamentação,
Contudo, caso durante a VPP for
reanimação.
controlo da temperatura corporal e a
confirmada obstrução da via aérea, a
A formação prática em Reanimação
estabilidade glicémica. Nas guideli-
entubação endotraqueal e a aspira-
neonatal, revelou-se de grande
nes de 2015 já existia referência ao
ção podem ser benéficas. A evidência
importância: uma revisão sistemática
método contacto pele-a-pele porém
científica obtida através de estudos
e meta-análise, demonstraram que o
apenas num contexto de recursos
realizados sugerem que estes
treino em reanimação neonatal
limitados e perante a inexistência de
recém-nascidos têm o mesmo
reduziu o número de nados-mortos e
outros adjuvantes do aquecimento
resultado (sobrevivência e necessida-
melhorou a sobrevivência em 7 dias,
que fossem passíveis de serem
de de suporte ventilatório) quer
em países de baixos recursos. Um
utilizados.
sejam aspirados antes ou depois da
estudo retrospetivo de coorte
Já no que se refere aos recém-nasci-
VPP.
demonstrou melhores scores de
dos que necessitem de reanimação,
Em 2015 a entubação endotraqueal
APGAR entre recém-nascidos de alto
está preconizado a realização de
de rotina para aspiração nestas
risco.
todos os procedimentos de reanima-
situações não era recomendada por
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ATUALIZAÇÕES
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Esquema 1 – Resumo da análise comparativa das guidelines da American Heart Association de 2015 e 2020
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ARTIGO EM DESTAQUE I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
não existir evidências científicas
de forma individualizada, em cada
suficientes que justificassem a
caso; esta sugestão mantém-se das
E DO SISTEMA
recomendação desta prática.
guidelines de 2015. No entanto, em
Como recomendação classe 1, para
2020, sugere-se que a decisão de
os participantes que foram treinados
4. ACESSO VASCULAR
descontinuar a reanimação deverá
em reanimação cardiopulmonar
Quando no nascimento o recém-nasci-
será considerada após 20 min de
neonatal, o treino de reforço indivi-
do necessita de reanimação, o acesso
reanimação pós-nascimento,
dual ou de equipa deve ocorrer mais
vascular recomendado é o umbilical
contrapondo os 10 min anteriormen-
frequentemente do que a cada 2
para a eventual administração de
te sugeridos, devendo, no entanto, a
anos, como sugerido anteriormente.
adrenalina e/ou expansores de volume
decisão ser sempre discutida em
Este treino deve ter uma frequência
caso os recém-nascidos não respon-
conjunto com a equipa e a família.
que suporte a retenção dos conheci-
dam à VPP e às compressões. Caso
As variáveis a serem consideradas
mentos, habilidades e comportamen-
não seja possível obter um acesso
podem incluir: um suporte avançado
tos uma vez que estudos sugerem
venoso, pode-se considerar a via
de vida neonatal adequado (tendo em
que sem prática, o conhecimento e
intraóssea (IO), no entanto, existem
conta a disponibilidade de tratamen-
as habilidades em reanimação
relatos de casos com complicações na
to específico, como hipotermia), as
cardiopulmonar apresentam um
localização da agulha IO.
circunstâncias especificas peri-parto,
declínio nos 3 a 12 meses após a
Em 2015 o acesso vascular não
o risco de lesões neurológicas
realização do mesmo. Assim sendo, a
possui destaque.
severas, a presença de malformações
prática (treino de reforço) frequente
congénitas graves previamente
foi demonstrada melhorar os
5.TÉRMINO DA REANIMAÇÃO
identificadas, e a vontade expressa
resultados da reanimação neonatal.
Em 2015, o índice de APGAR era um
pela família. Apesar dos dados serem
Programas educacionais e as
fator previsível determinante na
escassos, existe evidência de
instituições devem desenvolver estra-
decisão de manutenção da reanima-
recém-nascidos que receberam 20 ou
tégias que garantam que o treino
ção em recém-nascidos de termo e
mais minutos de RCP após o nasci-
individual ou em equipa seja suficien-
pré-termo tardio. No entanto, eram
mento. Seis estudos incluídos numa
temente frequente para sustentar a
também tidos em conta, outras
revisão sistemática relataram resulta-
retenção dos conhecimentos e das
considerações, como a possibilidade
dos para 39 recém-nascidos em que
habilidades necessárias para garantir
de tratamento diferenciado em casos
a primeira frequência cardíaca
a sua aplicação de forma eficaz e
específicos, como a hipotermia, e a
detetável ou frequência cardíaca>
eficiente com vista a ganhos em
vontade expressa da família. Ambos
100/min ocorreu em 20 min ou mais
saúde.
foram considerados na atualização
após o nascimento. Destes, 38%
das guidelines.
(15/39) sobreviveram até o último
A inclusão da família na discussão
seguimento e 40% (6/15) dos
para a tomada de decisão sobre o
sobreviventes não apresentaram
término da reanimação, é tida como a
lesão neurológica moderada ou
maior alteração neste campo.
grave.4
Se a frequência cardíaca se mantém
Nas guidelines de 2020, é consensual
indetetável e todos os passos da
entre peritos em Neonatologia e
reanimação tiverem sido adequada-
comissões de ética, que o apoio ao
mente seguidos de forma eficaz, será
bebé e família continua a ser provi-
razoável redirecionar os objetivos
denciado pela equipa, mesmo após a
dos cuidados ao recém-nascido. A
decisão de descontinuar (ou não
decisão de descontinuar a reanima-
iniciar) esforços e atitudes para o
ção deverá ser sempre considerada
suporte de vida.
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6. DESEMPENHO HUMANO
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ARTIGO EM DESTAQUE I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
BIBLIOGRAFIA 1.
Aziz K, Lee HC, Escobendo MB, et al. Part 5: Neonatal Resuscitation: 2020 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation. 2020;142 (suppl 2), S524-S550. https:// www.ahajournals.org/doi/10.1161/ CIR.0000000000000902
2.
Wyckoff MH, Weiner GM, et al. Neonatal Life Support: 2020 International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment Recommendations. Circulation. 2020;142 (suppl 1). https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/ CIR.0000000000000895
3.
Wyckoff MH, Aziz K, Escobendo MB, et al. Part 13: Neonatal Resuscitation: 2015 American Heart Association Guidelines Uptade for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation. 2015;132 (suppl 2), S543-S560. https:// www.cercp.org/images/stories/recursos/Guias%20 2015/Guidelines-RCP-AHA-2015-Full.pdf
4.
Wickoff MH, Weiner GM, et al Neontal Life support 2020 International Consensus on Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment Recommendations. Pediatrics. www.aappublications.org/news Lanonas, E. J., Magid, D.J, et al Highlights of the 2020 American Heart Association Guidlines for CPR and ECC.2020;23-25. https://cpr.heart.org/-/media/ cpr-files/cpr-guidelines-files/highlights/
EDITORA
hghlghts_2020_ecc_guidelines_english (cieusa.org)
ISABEL RODRIGUES Médica VMER CODU
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
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ARTIGO EM DESTAQUE II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
ARTIGO EM DESTAQUE II
ATUALIZAÇÕES DAS GUIDELINES DA AMERICAN HEART ASSOCIATION (AHA) EM REANIMAÇÃO PEDIÁTRICA Luísa Gaspar1, Patrícia Guerreiro1, José Neutel2
2
Serviço Medicina Intensiva Pediátrica e Neonatal; Serviço de Pediatria – Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro, Portugal
RESUMO
INTRODUÇÃO
2. Alterações na frequência da ven-
Abordam-se as principais mudanças
Em 2020, a AHA publicou a atualiza-
tilação assistida
nas diretrizes de 2020 da AHA para a
ção das guidelines para RCP, com base
•
ressuscitação cardiopulmonar (RCP),
na mais recente evidência científica.
esforço ventilatório inadequa-
relativas à atuação em lactentes e
São focados vários aspetos: otimiza-
do ou ausente, mas com pulso,
crianças.
ção da sobrevivência pediátrica em
pode ser benéfica a realização
caso de paragem cardio-respiratória
de 1 ventilação a cada 2-3
(PCR), melhoria do outcome após
segundos (20 a 30 ciclos por
retorno de circulação espontânea
minuto);
Palavras-Chave: Recomendações de ressuscitação, AHA, Doente pediátrico
•
No doente pediátrico com
No doente pediátrico em PCR,
ABSTRACT
(RCE) a curto e médio prazo, ciência
The main changes in the 2020
de educação em ressuscitação e
com via aérea segura, pode-se
guidelines of the AHA for cardiopul-
sistemas de tratamento.
considerar a realização de 1
monary resuscitation (CPR) in infants
No presente artigo, apresenta-se um
ventilação a cada 2-3 segundos
and children are addressed.
resumo dos principais tópicos e
(20 a 30 ciclos por minuto).
Keywords: Resuscitation recommendations, AHA, Pediatric patient
mudanças, não se fazendo referência a
Porquê? Associação de taxas de
classes de recomendações, nem níveis
sobrevivência mais elevadas a
de evidência, que podem ser consulta-
frequências mais altas de ventilação.
dos nas diretrizes da AHA de 2020. No entanto, a nomenclatura utilizada na
3. Tubo endotraqueal (TET) com
redação, reflete a classe de intensida-
cuff versus TET sem cuff
de de cada recomendação.
•
É aconselhável o uso de TET com cuff, prestando atenção
ATUALIZAÇÕES
ao tamanho, posição e pressão de insuflação (< 20-25 cm
1. Modificação das cadeias de
H 2O).
sobrevivência pediátricas
Porquê? Foi demonstrada menor
•
Criada cadeia de sobrevivência
necessidade de troca de tubos,
para contexto intra-hospitalar (IH)
reintubações e baixo risco de
Acrescentado sexto elo a ambas
aspiração. A estenose subglótica é
as cadeias (intra e extra-hospita-
rara quando respeitadas as
lar), relativo às necessidades dos
recomendações.
•
sobreviventes pós PCR.
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ARTIGO EM DESTAQUE II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
4. Pressão na cricóide para entuba-
8. Choque séptico
administração de naloxona, se
ção endotraqueal (EET)
•
•
É aconselhável a administração de
não existir benefício comprovado
Não está indicado o seu uso
fluidos em bólus, de 10 a 20 ml/
do seu uso.
rotineiro.
Kg, com reavaliação frequente.
Porquê? Dado o número de mortes
Porquê? Comprovado que a Mano-
Em caso de ser refratário a fluidos,
em crianças e jovens adultos,
bra de Sellick reduz a taxa de
•
pode ser benéfico o uso de
associados a overdose de opióides, a
sucesso de intubação e não reduz a
adrenalina ou noradrenalina como
AHA redigiu uma declaração científi-
taxa de regurgitação.
vasopressor inicial. Se estas
ca específica.
aminas estiverem indisponíveis, 5. Administração precoce da adrenalina •
É aconselhável a administração
•
deve-se considerar a dopamina.
11. Miocardite
Pode-se considerar o uso de
•
Está indicado o internamento,
de adrenalina em até 5 minutos
corticóide quando o choque
em unidade de cuidados
após início de compressões
séptico é refratário a fluidos e
intensivos, do doente com
cardíacas.
necessita de vasopressores.
miocardite aguda com arritmia,
Porquê? Cada minuto de atraso
Porquê? A sobrecarga de fluidos pode
bloqueio cardíaco, alterações do
implica redução significativa nos
aumentar a morbilidade. Ensaios
segmento ST e/ou baixo débito
seguintes parâmetros: RCE, resultado
clínicos randomizados controlados
cardíaco.
neurológico favorável, sobrevivência
sugerem superioridade da adrenalina
às 24 horas e após a alta.
relativamente à dopamina.
•
Nos casos de miocardite ou cardiomiopatia com débito cardíaco baixo refratário, é
6. Monitorização invasiva de tensão
9. Choque hemorrágico
aconselhável o uso pré-PCR de
arterial diastólica (TAD)
•
•
Em situação de trauma é
assistência ventricular externa
Pode ser benéfica a monitoriza-
aconselhável o uso de derivados
(AVE) ou de suporte circulatório
ção invasiva contínua de TAD
de sangue em vez de cristaloi-
mecânico, a fim de evitar PCR.
durante a RCP.
des, assim que disponíveis.
•
Pode ser benéfico o uso precoce
Porquê? Forma eficaz de avaliar a
Porquê? Alguns dados pediátricos
de AVE ou suporte circulatório
qualidade das compressões cardía-
sugerem benefício da ressuscitação
mecânico, após PCR;
cas. Valores alvo: ≥25 mmHg em
precoce equilibrada, com concentra-
Porquê? A AHA emite pela primeira
lactentes e ≥30 mmHg em crianças.
do eritrocitário, plasma e plaquetas.
vez recomendações específicas relativas a este tema.
10. Overdose de opióides
sões pós RCE
•
•
É indicado o suporte ventilatório
12. Hipertensão pulmonar
É indicada a monitorização
na paragem respiratória, até
•
contínua de electroencefalogra-
retorno de respiração espontâ-
de óxido nítrico inalado ou
fia para deteção precoce de
nea.
prostaciclina, como terapêutica
convulsões, em pacientes com • •
Pode ser benéfica a administra-
inicial de hipertensão pulmonar
encefalopatia persistente.
ção de naloxona intramuscular
ou insuficiência cardíaca direita
É recomendado tratar as crises
ou intranasal, em caso de
secundária a aumento da
convulsivas clínicas pós RCE.
paragem respiratória com pulso
resistência vascular pulmonar.
É aconselhável o tratamento do
presente, mantendo suporte
estado epiléptico não convulsivo
básico de vida (SBV) de alta
(pós-RCE) em consulta com
qualidade.
especialista.
•
É recomendada a administração
•
•
Monitorização cardio-respiratória para antecipar hipóxia e acidose.
•
Se alto risco de crise de hiperten-
Em doentes em PCR, deve ter
são pulmonar, está indicada a
Porquê? Dificuldade de detecção de
prioridade a realização de SBV
administração de sedoanalgesia
crises não convulsivas em pediatria.
de alta qualidade em relação à
e curarização.
21
Indice
7. Deteção e tratamento de convul-
Indice
22
ARTIGO EM DESTAQUE II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
•
Pode ser benéfica, no tratamento
NOTAS FINAIS
BIBLIOGRAFIA
inicial de hipertensão pulmonar,
A procura da melhor qualidade de
1.
a administração de oxigénio e a
resposta com os melhores resultados
das diretrizes de RCP e ACE de 2020 da American
indução de alcalémia, através da
possíveis é incessante, pelo que
Heart Association. JN-1088. in: https://ebooks.
hiperventilação ou administra-
novos dados científicos sustentam
heart.org./pt
ção de solução alcalina em
as atualizações das guidelines.
simultâneo com os vasodilatado-
Espera-se assim o aumento da taxa
2020 International Consensus on Cardiopulmo-
res pulmonares específicos.
de sobrevivência em PCREH e
nary Resuscitation and Emergency Cardiovascu-
No caso de ser refratária, pode
otimização do outcome da PCRIH
lar Care Science With Treatment Recommenda-
ser aconselhável a AVE.
pediátrica.
tions. Circulation 2020 Out;142(suppl 1). DOI:
Porquê? A hipertensão pulmonar está
Terminamos acreditando que
10.1161/CIR.0000000000000894.
associada a morbilidade e mortalida-
atualizar, educar e treinar são as
de significativas, requerendo cuida-
chaves para reanimar com sucesso.
•
2.
American Heart Association. 2020. Destaques
Maconochie IK, et al. 2020. Pediatric Life Support:
dos especializados. The search for the best performance 13. Avaliação e suporte para sobrevi-
with the best possible results is
ventes de PCR
incessant, so new scientific data
•
É recomendada a sua avaliação,
supports the guidelines updates.
quanto à necessidade de
Thus, it is expected an increase of the
reabilitação.
survival rate in the out-off-hospital
É aconselhável a avaliação
cardiac arrest and the optimization of
neurológica contínua, por pelo
the outcome of in-hospital cardiac
menos um ano.
arrest. We conclude believing that
•
Porquê? A recuperação pós PCR
updating, educating and training are
pode manter-se por meses ou anos,
the keys to a successful resuscita-
pelo que os doentes e famílias
tion.
necessitam de acompanhamento multidisciplinar.
EDITORA
ISABEL RODRIGUES Médica VMER CODU
Nota: As diretrizes da AHA de 2020,
REVISÃO
emitiram novas recomendações relativamente aos cuidados em doentes com ventrículo único. Dada a raridade e especificidade desta patologia, o tema não foi abordado
COMISSÃO CIENTÍFICA
23
Indice
pelos autores.
Indice
24
ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
ARTIGO DE REVISÃO I
ATIVIDADE DA COMISSÃO DE PREVENÇÃO E CONTROLO DE INFEÇÃO E RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS (CPCIRA) DO INEM, EM CONTEXTO COVID-19, NO ANO 2020 ACTIVITY OF THE COMMISSION FOR THE PREVENTION AND CONTROL OF ANTIMICROBIAL INFECTION AND RESISTANCE (CPCIRA), IN THE CONTEXT OF COVID-19, IN 2020 Marlene Pereira1, Márcio Silva1, Susana Pereira1, Helena Pissarra2, Maria Joaquina Ramos2
2
Enfermeiro, INEM TEPH, INEM
RESUMO
identificadas, foram propostos mais 8
the implementation of measures aimed
Tendo em consideração o diagnóstico
objetivos fora do plano inicial, com
the needs of the Instituto Nacional de
base da taxa de cumprimento das
elevadas taxas de concretização.
Emergência Médica (INEM). The
Precauções Básicas de Controlo da
Consideramos que os objetivos
purpose of this article is to disseminate
Infeção (PBCI) efetuado e de forma a
propostos inicialmente e os que foram
the characterization of the
contribuir para o cumprimento da
identificados posteriormente
commission's activity, developed over a
Norma das PBCI da Direção Geral da
demonstraram-se pertinentes e
year, with the need to adapt to a new
Saúde (DGS), bem como as
adequados a este contexto e a sua
reality. A descriptive, observational,
recomendações de boas práticas
realização exequível. As atividades
retrospective study was carried out,
nacionais e internacionais, a Comissão
desenvolvidas potenciaram a
based on data taken from CPCIRA
de Prevenção e Controlo da Infeção e
implementação de uma estratégia de
database during the year 2020. From
Resistência aos Antimicrobianos
identificação e resolução de problemas
the action plan developed at the
(CPCIRA) teve como foco a
em tempo real, promovendo ambientes
beginning of the year 2020, 7 out of the
implementação de medidas que
de trabalho seguros e responsáveis.
8 objectives were achieved. In response
visassem ir ao encontro das necessidades do Instituto Nacional de
Palavras-Chave: Ambulância; Extra-hospitalar; Relatório Anual; Prevenção & Controle Infeção; Objetivos.
Emergência Médica (INEM). O objetivo
to the identified needs, 8 more objectives were proposed outside the initial plan, with high rates of
deste artigo é divulgar a caraterização
ABSTRACT
achievement. We believe that the
da atividade da comissão, desenvolvida
Taking into account the base diagnosis
objectives initially proposed and those
ao longo de um ano, com adaptação a
of the Precauções Básicas de Controlo
that were subsequently identified
uma nova realidade. Foi realizado um
da Infeção (PBCI)’s compliance carried
proved to be relevant and appropriate to
estudo descritivo, observacional,
out and in order to contribute to the
this context and their achievable
retrospetivo, com base nos dados
compliance of Direcção Geral da Saúde
realization. The activities developed
retirados da base de dados da CPCIRA
(DGS) PBCI’s guidelines, as well as the
enabled the implementation of a
durante o ano de 2020.
recommendations of national and
strategy to identify and solve problems
Do plano de ação desenvolvido no início
international good practices, the
in real time, promoting safe and
do ano 2020 foram atingidos 7 dos 8
Comissão de Prevenção e Controlo da
responsible work environments
objetivos a que a comissão se propôs.
Infeção e Resistência aos
Como resposta às necessidades
Antimicrobianos (CPCIRA) focused on
Keywords: Ambulance; Extra-hospital; Annual Report; Infection Prevention & Control; Goals
25
Indice
1
INTRODUÇÃO
invasivos em ambiente extra-
Por outro lado, o ano 2020 trouxe
As infeções associadas aos cuidados
hospitalar (rua, domicílios, lares, …);
oportunidade de incremento do
Exposição dos profissionais a
conhecimento e cumprimento das
resistência aos antibióticos,
fluidos orgânicos durante
PBCI, num processo de melhoria
representam um dos problemas mais
procedimentos e incapacidade
contínua da qualidade dos cuidados
desafiantes para as instituições de
de realizar de imediato a sua
em emergência, ao nível da
saúde em todo o mundo1. O Controlo
remoção limpeza e desinfeção;
prevenção da infeção associada aos
Transporte de doentes em
cuidados de saúde, também no
de saúde em Portugal, sendo
espaços de pequena dimensão
contexto extra-hospitalar.
necessário definir estratégia de ação
com inadequada ventilação.
No Plano de Ação para o ano 2020,
de saúde (IACS) e o aumento da
de Infeção é um assunto prioritário
•
•
no combate ao que hoje está definido pela World Health Organization (WHO)
Estes aspetos potenciam/promovem
objetivos:
como uma epidemia silenciosa .
o aumento de risco infecioso para as
1. Avaliar necessidades em
Por inerência das suas funções, na
vítimas e profissionais.
materiais e equipamentos, nos
prestação direta de cuidados, os
Partindo do princípio de que todos os
meios de socorro do INEM.
profissionais de saúde têm uma
doentes são potencialmente
responsabilidade acrescida na
contagiosos, os profissionais de
equipamento a adquirir e
prevenção e controlo de infeções e
saúde devem adotar sempre as
respetivas quantidades.
na capacitação dos restantes
Precauções Básicas de Controlo de
intervenientes no seio da equipa
Infeção (PBCI) como prioridade na
sobre PBCI de acordo com as
multidisciplinar . Por esse motivo,
abordagem dos doentes. A
recomendações da DGS,
tornou-se pertinente a criação da
identificação e a implementação de
adaptadas à realidade do INEM.
CPCIRA no INEM com a finalidade de
medidas preventivas face ao risco
dar resposta às necessidades
infecioso garantem ao doente a
interna, acerca da Norma da DGS
identificadas.
qualidade e a segurança dos
(Norma 29/2012 de 29/12/2012,
A prestação de cuidados de saúde
cuidados .
atualizada em 31-12-2012), sobre
em contexto extra-hospitalar reveste-
A Comissão de Prevenção e Controlo da
as PBCI às Coordenações
se de um conjunto de
Infeção e Resistência aos
Regionais, coordenadores de
particularidades ainda pouco
Antimicrobianos (CPCIRA) do INEM
meio e operacionais.
exploradas do ponto de vista
iniciou funções em janeiro de 2020 e
5. Realizar formação sobre a
científico, havendo necessidade de
propôs o plano de ação, assumindo
Norma de PBCI, a 90% das
implementar nos contextos da
nesta fase inicial um contexto de
Coordenações Regionais e
prática de cuidados projetos de
normal atividade para o Instituto.
coordenadores de meio e a 25%
investigação direcionados. A gestão
A pandemia por coronavírus (COVID-19)
dos operacionais.
do risco infecioso é distinta da
obrigou o INEM a reorganizar-se,
vivenciada dentro das instituições de
alterando prioridades e adaptando a
saúde, nomeadamente:
atividade à nova realidade. A CPCIRA
7. Produzir e divulgar informações
•
Incapacidade de controlar o
identificou a necessidade de redefinir
sobre PBCI, de acordo com a
ambiente no local das
prioridades, tendo aumentado o volume
Norma da DGS adaptada à
ocorrências (condições
de atividades e contribuído para uma
realidade do INEM.
ambientais e meteorológicas,
comunicação mais efetiva, quer com a
superfícies,…);
gestão de topo, quer com os
Ausência de informação sobre o
profissionais, aceitando desafios que
Perante o surgimento da pandemia,
estado infecioso do doente.
não estavam previstos no plano de
ao longo do ano, houve necessidade
Realização de procedimentos
ação inicial.
de desenvolver e assegurar resposta
2
3
• •
Indice
foram definidos os seguintes
26
4
2. Efetuar proposta de material e
3. Elaborar o Produto Pedagógico
4. Elaborar o plano de formação
6. Definir o Plano de Comunicação institucional da CPCIRA.
8. Responder às solicitações/ questões dos profissionais.
ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
Tabela n.º 1 – Resultados obtidos segundo os objetivos propostos
1. Realizar formação sobre
previstas no Plano de Ação.
Equipamento de Proteção
Seguem-se os objetivos que não se
Individual (EPI).
encontravam inicialmente previstos,
2. Efetuar vigilância epidemiológica
3. Desenvolver Webinars e sessões de esclarecimento. 4. Acompanhar a higienização dos meios in loco.
mas que foram projetados de acordo
dos profissionais do INEM, em
com as solicitações e necessidades
contexto da pandemia por
e acompanhamento a edifícios e
identificadas:
COVID-19.
bases.
5. Efetuar visitas de monitorização
27
Indice
a outras solicitações, para além das
Tabela n.º 2 - Atividades de formação e divulgação
6. Auditar EPI.
RESULTADOS
de contato telefónico (tabela n.º3).
7. Identificar constrangimentos
Pode-se verificar que se obteve 100%
Pela leitura da tabela podemos
existentes relativamente à
em quase todos os objetivos. Na
constatar que durante o ano 2020
higienização do fardamento.
tabela n.º 1 apresentam-se os
foram acompanhados 665
resultados obtidos, segundo os
profissionais e efetuados 7448
respetivos indicadores.
contactos telefónicos. Devido ao
8. Colaborar na colheita de amostras biológicas para teste COVID-19. 9. Realização de visitas
excesso de trabalho em todos os Para dar cumprimento aos objetivos
setores da sociedade,
domiciliárias a profissionais
não previstos face às necessidades
nomeadamente da saúde e
infetados.
identificadas, foram desenvolvidas
segurança social, as equipas de
outras atividades de formação ao
acompanhamento promoviam o
Com este artigo pretende-se divulgar
nível institucional, nomeadamente
agendamento das consultas de
a caraterização da atividade da
formação sobre EPI (tabela n.º2), de
medicina do trabalho de acordo
comissão, desenvolvida ao longo de
acordo com a estratégia definida em
com as recomendações da DGS e o
um ano, com adaptação a uma nova
cada Delegação Regional: do Norte
registo e posterior articulação com
realidade.
(DRN), do Centro (DRC), do Sul-Lisboa
o departamento de recursos
(DRS-L) e Sul-Algarve (DRS-A). A nível
humanos relativamente ao
MÉTODOS
nacional foi possível ministrar
absentismo dos trabalhadores em
Trata-se de um estudo descritivo,
formação sobre colocação e retirada
isolamento profilático.
observacional, retrospetivo realizado
de EPI a 729 profissionais do INEM e
pela CPCIRA. Os dados foram
parceiros do SIEM.
Indice
introduzidos numa base de dados em
No decurso do ano de 2020, a CPCIRA desenvolveu um conjunto significativo
Microsoft Office Excel, onde foram
No que concerne à vigilância
de outras atividades em resposta às
também tratados estatisticamente.
epidemiológica dos profissionais do
diversas solicitações e necessidades
Os dados deste estudo reportam-se
INEM, em contexto da pandemia por
que se impuseram (tabela n.º4), entre
ao período entre 03 de janeiro a 31 de
COVID-19, os elementos da CPCIRA
as quais destaca-se o
dezembro de 2020.
integraram as Equipas de Vigilância
acompanhamento da higienização
Epidemiológica Regionais, fazendo
dos meios em contexto de trabalho e
o seu acompanhamento e
as visitas de monitorização e
aconselhamentos diários, através
acompanhamento a edifícios e bases.
28
ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
29
Indice
Tabela n.º 3 - Vigilância Epidemiológica em 2020
Indice
Tabela n.º 4 – Outras atividades desenvolvidas pela CPCIRA
30
Além destas atividades, os membros
desenvolvidas outras atividades
realizada aos profissionais do
desta comissão colaboraram na
como a emissão de pareceres,
INEM permitiu a identificação de
colheita de amostras biológicas para
revisão de documentos internos,
necessidades formativas e
teste COVID-19 e visitas domiciliárias
elaboração de documentos
psicoafectivas, a sua referenciação
a profissionais infetados.
(Regulamento Interno CPCIRA,
e acompanhamento. Esta atividade
Manual de Controlo de Infeção,
levou à implementação de uma
DISCUSSÃO
Plano Higienização da Ambulância,
estratégia de identificação e
Do plano de ação desenvolvido no
bem como o seu resumo, Plano
resolução de problemas em tempo
início do ano 2020 foram atingidos
Ação, Plano de Comunicação,
real.
7 dos 8 objetivos a que a comissão
Orientações sobre vacinação para
Através desta vigilância e pela
se propôs. Dois dos objetivos
COVID-19), participação em
aproximação da CPCIRA aos
atingidos, não cumpriram o timing
Webinars e sessões de
profissionais denotamos que
definido previamente, mas foram
esclarecimento, auditoria a EPI,
muitas dúvidas foram colocadas,
posteriormente realizados.
alternativas para a higienização do
havendo necessidade de esclarecer
O objetivo não atingido, referente
fardamento dos profissionais,
e desmistificar receios, de acordo
ao número de profissionais
visitas de monitorização e
com as boas práticas de prevenção
previstos para frequentar a
acompanhamento a edifícios e
de infeção, mais vincadas em
formação em PBCI, pode ser
bases e vigilância epidemiológica
contexto de pandemia. Por outro
explicado pelas limitações que a
dos profissionais em contexto
lado, verificou-se que na
pandemia colocou no processo
COVID-19. Estas atividades
plataforma de notificação de
formativo, tais como: a
permitiram identificar e resolver
incidentes (HER+) houve 23
impossibilidade da forma
problemas, no mais curto espaço
notificações que foram
presencial, a limitação dos
de tempo possível, promovendo
respondidas, quer na plataforma,
recursos que as coordenações
ambientes de trabalho seguros e
quer através de contato direto com
puderam ceder devido à
responsáveis.
o profissional notificador. A grande
necessidade de resposta
Podem-se verificar que algumas
maioria foi relacionada com EPI
operacional e a reduzida
destas atividades não foram
inadequados ou com defeitos.
disponibilidade de formadores que
possíveis de desenvolver na
A junção de diferentes
se encontravam a dar outras
Delegação Regional do Norte, que
pensamentos críticos, diferentes
respostas, sobretudo no que
se justificam com o número
capacidades e competências,
concerne à vigilância
significativo de profissionais em
traduzem-se em resultados muito
epidemiológica dos profissionais.
seguimento no âmbito da vigilância
mais eficientes5. Para a rápida
Esta evidência revela que os
epidemiológica (tabela n.º 3),
resolução dos problemas
objetivos propostos inicialmente
número esse francamente maior
encontrados houve a união e a
eram pertinentes e adequados à
relativamente às restantes
articulação da uma equipa
realidade do extra-hospitalar e a
Delegações.
multidisciplinar. Foram definidas
sua realização exequível.
De salientar que a maioria dos
estratégias e atitudes adequadas
Para além dos objetivos propostos
elementos integrantes da CPCIRA
face aos desafios propostos como
inicialmente, e pela análise dos
mantiveram a sua atividade nos
demonstrado no relatório anual,
dados, é percetível a necessidade
departamentos e meios a que
pelo que consideramos que o
que houve de redefinição do plano
pertencem, garantindo a
trabalho em equipa e a envolvência
de ação imposta pela pandemia.
coordenação de equipas, resposta
de outros departamentos e das
Dando uma resposta adequada e
aos meios de socorro e de
chefias permitiram que todas as
célere às necessidades
colheitas de amostra biológica.
dificuldades fossem
identificadas, foram ainda
A vigilância epidemiológica
ultrapassadas.
31
Indice
ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
Indice
32
ARTIGO DE REVISÃO I | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
CONCLUSÃO
problemas encontrados, foi
BIBLIOGRAFIA
Um ano, após o início da atividade
considerada por todos de
1.
CPCIRA, parece pertinente
fundamental importância.
Missão, Visão e Valores. Recuperado de https://
partilhar a informação recolhida
A prevenção de infeção, em
www.inem.pt/2017/05/22/missao-visao-e-
ao longo do ano de 2020 e
conjunto com boas práticas
valores/
concluir que o planeamento em
profissionais, nomeadamente a
saúde é imprescindível e estará
promoção da saúde, a prevenção
Leotsakos A., et al. (2008). Infection control as a
sempre aliado à qualidade dos
da doença e prestação de
major World Health Organizacion priority for
resultados alcançados.
cuidados de saúde diferenciados,
developing countries. Journal of Hospital
Foi dado início a um processo de
de forma abrangente,
Infection. 68:4, pp.285-92
melhoria contínua da qualidade,
personalizada e integrada, em
que constitui um desafio a tempo
tempo útil, com qualidade e
Resistência Antimicrobiana, Federação Europeia
inteiro, para o cumprimento das
equidade, facilita alcançar taxas
das Associações de Enfermeiros. Recuperado de
PBCI e permite, também, aferir as
de infeções associadas aos
https://www.ordemenfermeiros.pt/media/8124/
principais dificuldades e
cuidados de saúde de
tradu%C3%A7%C3%A3opt_-efn-amr-report-nurses-
condicionantes, para se poderem
microrganismos resistentes aos
are-frontline-combating-amr_vf.pdf
ajustar as estratégias no sentido
antimicrobianos tão baixas
de as mitigar, implicando todas as
quanto o conhecimento científico
de resistência aos antimicrobianos 2017, Lisboa,
partes interessadas.
atual o permita.
dezembro 2017
Na situação pandémica que
2.
3.
4.
5.
Instituto Nacional de Emergência Médica (2021).
Pittet B., Storr J., Bagheri Nejad S., Dziekan G.,
Os Enfermeiros na Linha da Frente no Combate à
Programa de prevenção e controlo de infeções e
de Pinho, M. C. G. (2006). Trabalho em equipe de
vivenciamos, a estratégia, mais do
AGRADECIMENTOS
saúde: limites e possibilidades de atuação eficaz.
que nacional, deverá ser universal,
O alcançar desta etapa não teria
Ciências & Cognição. 8:1, pp.68-87. Recuperado
transversal e adaptada aos mais
sido possível sem a colaboração,
de http://www.cienciasecognicao.org/revista/
diversos contextos. A pandemia
saber e dedicação por parte da
index.php/cec/article/view/582
veio melhorar o conhecimento e a
coordenadora da comissão
literacia em saúde de toda a
CPCIRA. Um muito obrigado à Dr.ª
população no respeitante às PBCI.
Manuela Lucas, que em muito tem
Esta base tem de ser partilhada,
incentivado a equipa a
desenvolvida e consolidada em
desenvolver um trabalho de
todos os profissionais de
excelência, bem como aos
emergência extra-hospitalar.
restantes elementos da CPCIRA,
Não havendo soluções estanques,
cujos nomes não surgem vertidos
podemos afirmar que a certeza do
neste artigo, mas pela prontidão,
sucesso se baseia na
disponibilidade, entrega e espírito
implementação de medidas
de equipa merecem o devido
definidas, em conjunto com todos
reconhecimento e agradecimento.
os profissionais, a serem
E um muito obrigado aos
avaliadas e redesenhadas com a
restantes profissionais de outros
frequência revelada necessária e
Departamentos que deram o seu
reajustada, sempre que
precioso contributo para a
necessário.
concretização dos objetivos
O apoio das estruturas de
da comissão.
EDITOR
VASCO MONTEIRO Enfermeiro VMER, Gabinete de Coordenação SIEM - DRSul INEM REVISÃO
coordenação e direção, que facilitaram a comunicação entre si
COMISSÃO CIENTÍFICA
33
Indice
no sentido da resolução dos
Indice
34
ARTIGO DE REVISÃO II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
ARTIGO DE REVISÃO II
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA (VNI) NO PRÉ-HOSPITALAR EM TEMPOS DE COVID-19
NONINVASIVE VENTILATION (NIV) IN PREHOSPITAL CARE IN THE COVID ERA Tânia Sales Marques1, Djamila Neves1 Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) – Unidade de Faro
RESUMO
manipular e obter uma boa sincronia
mortality rates3. When treating acute
Nos últimos anos a ventilação
entre doente e ventilador são os
respiratory failure, healthcare
mecânica não invasiva (VMNI) têm
principais aspetos para aumentar a
professionals should ask themselves
sido imprescindível no tratamento da
eficácia terapêutica, maximizando o
what form of ventilation will provide
insuficiência respiratória aguda (IRA),
conforto e a estabilidade do doente.
the most benefits with the lowest
em particular no edema agudo do
Para além disso, na Era atual da
possible risk for the patient. There is
pulmão (EAP) e na doença pulmonar
pandemia COVID-19, é imprescindível
no doubt that invasive mechanical
obstrutiva crónica (DPOC) . Mais
saber adaptar toda a prática clínica
ventilation is often an indispensable
recentemente, estas técnicas têm
para garantir a segurança dos
measure to save lives, but it is also
ganho especial relevo no tratamento
profissionais de saúde sem colocar
associated with important risks of
dos doentes com manifestações mais
em causa a saúde dos doentes. A
infection and other complications that
graves da infeção por SARS-COV-2. O
VMNI é uma técnica que leva à
increase mortality. NIV also has its
recurso a este tipo de ventilação em
dispersão de aerossóis, pelo que a
risks, so knowing when and in whom
contexto pré-hospitalar está a
sua instituição deverá ser reajustada
to apply, selecting devices and
aumentar, levando a uma diminuição
para minimizar o risco
interfaces, knowing how to
2,3
da taxa de intubação e a uma redução da taxa de mortalidade . Ao tratar a IRA 3
.
12,13
Palavras-Chave: Ventilação mecânica não invasiva, pré-hospitalar, insuficiência respiratória, dispneia, SARS-COV-2
os profissionais de saúde devem questionar-se sobre qual a forma de ventilação que irá proporcionar mais benefícios e, simultaneamente, menor risco para o doente. Não há dúvida de que a ventilação mecânica invasiva é frequentemente uma medida indispensável para salvar vidas, mas está também associada a riscos importantes de infeção e outras complicações que aumentam a mortalidade. A VMNI também acarreta riscos, sendo necessário saber quando e a quem instituir. Selecionar os dispositivos e interfaces, saber
manipulate and obtaining a good synchrony between patient and ventilator, are the main aspects to
ABSTRACT For the last several years, noninvasive ventilation (NIV) has become essential in the treatment of acute respiratory failure, particularly in the setting of acute cardiogenic pulmonary oedema and chronic obstructive pulmonary disease2,3. More recently, these techniques have been essential in the in the treatment of patients with severe manifestations of SARS-COV-2 infection. This type of ventilation is increasing in prehospital care setting with a reduction in intubation and
increase therapeutic efficacy while maximizing comfort and stability for the patient. Furthermore, in the current Era of the COVID-19 pandemic, it is essential to know how to adapt all clinical practice to ensure the safety of health professionals without jeopardizing the patients’ health. VMNI is a technique that leads to the dispersion of aerosols, so its appliance should be readjusted to minimize the risk12,13. Keywords: Noninvasive mecha nical ventilation, , prehospital, respiratory failure, dyspnoea, SARS-COV-2
35
Indice
1
INTRODUÇÃO
ventilatório de doentes com DPOC e
prestação de cuidados. As máscaras
A dispneia é um dos tipos de
EAP. Ao reduzir o esforço respiratório
nasais ao deixarem a via oral livre
ocorrências mais comuns em
a VMNI poderá evitar a necessidade
permitem que o doente possa
contexto pré-hospitalar . Em 2020 foi
de VMI e poderá ainda reverter a
comunicar verbalmente e expetorar,
a segunda ocorrência mais comum
causa subjacente da dispneia .
reduzindo o risco de aspiração e a
em Portugal Continental, apenas
Apesar dos resultados inconsistentes
sensação de claustrofobia, no
precedida pelas alterações do estado
vários estudos mostraram benefício
entanto, não permitem a
de consciência . O diagnóstico
na utilização de VMNI em contexto
monitorização de fugas e dos
diferencial da dificuldade respiratória
pré-hospitalar com redução das taxas
volumes administrados, não sendo
aguda inclui as alterações das vias
de intubação, da mortalidade e do
adequadas em situações de IRA3,4.
aéreas superiores (ex. edema,
tempo de internamento1,11,14-27.
Não se recomenda o uso deste tipo
obstrução por corpo estranho,
Atualmente preconiza-se ainda a
de máscaras na suspeita de infeção
trauma), alterações das vias áreas
possível utilização de VMNI em
por SARS-COV-2 pelo aumento do
inferiores (ex. asma, DPOC, EAP,
doentes com suspeita ou infeção por
risco de dispersão de gotículas10. Os
pneumonia, tromboembolismo
SARS-COV-2, levantando-se questões
capacetes ou Helmets, com circuito
pulmonar) e as alterações
relativas ao risco de propagação do
fechado com válvula ou circuito
neurológicas (ex. traumatismo
vírus entre os profissionais de saúde
duplo, apesar de diminuir
crânio-encefálico, intoxicação,
durante o tratamento .
significativamente a dispersão de
1
28
2
12
acidente vascular cerebral) . A
gotículas, estão associados a uma
1,2
falência respiratória ocorre quando
Fisiopatologia
maior assincronia paciente ventilador
os pulmões não conseguem fornecer
A VMNI melhora a função pulmonar
e a uma maior dificuldade na
oxigenação adequada, resultando
através de vários mecanismos.
monitorização dos parâmetros
geralmente em taquipneia,
Reduz o esforço respiratório e
ventilatórios4,10. As máscaras
hipoxemia, hipercapnia e dispneia. A
melhora a compliance pulmonar.
oro-nasais permitem monitorizar os
gravidade da dispneia e do grau de
Recruta alvéolos atelectasiados,
volumes e pressões administradas e
insuficiência respiratória é variável
aumentando a área disponível para a
controlar as fugas não intencionais.
consoante a situação. Doentes com
ocorrência de trocas gasosas
As máscaras faciais não ventiladas
dispneia leve, com fraca
melhorando a relação de ventilação-
em circuito fechado (único com
sintomatologia, habitualmente
perfusão. Aumenta as pressões
válvula exalatória ou duplo) permitem
respondem a terapêutica médica e a
hidrostáticas, desviando o edema
eliminar as fugas intencionais não
oxigenoterapia suplementar. A
para o sistema vascular. Por estes
filtradas, otimizando-se assim as
entubação orotraqueal e a ventilação
motivos e dado que este tipo de
condições de segurança dos
mecânica invasiva (VMI) encontram-
ventilação mecânica aumenta o
profissionais de saúde na suspeita de
se reservadas para os doentes com
impulso respiratório espontâneo do
infeção por SARS-COV-2.
gravidade clínica e insuficiência
doente a VMNI poderá ser mais
respiratória grave. No entanto os
benéfica que a VMI em casos
Na VMNI existem dois tipos de
doentes com insuficiência
selecionados .
circuitos: único ou duplo. O circuito
2
respiratória moderada a grave sem depressão do estado consciência e
Instituição de VMNI: interfaces,
simples, pode ser usado com
com os reflexos da via aérea
circuitos e modalidades ventilatórias
máscara ventilada (com válvula
preservados poderão beneficiar de
A escolha da interface dependerá de
anti-asfixia) ou com máscara não
VMNI em ambiente pré-hospitalar .
vários fatores. A condição clínica do
ventilada (sem válvula anti-asfixia),
Estudos recentes sugeriram que a
doente, a sua tolerância, o tipo de
passando a ser, neste último caso,
VMNI seja considerada como a
circuito disponível e a segurança dos
um circuito único fechado (figura 1).
primeira opção no suporte
profissionais de saúde envolvidos na
A este circuito único fechado tem de
2,3
Indice
único, também denominado circuito
36
ARTIGO DE REVISÃO II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
Figura 1. a) Circuito simples, composto por ventilador, filtro bacteriano, tubo único e máscara oro-nasal ventilada. b) Circuito simples fechado, composto por ventilador, filtro bacteriano, tubo único, válvula exalatória, filtro bacteriano e máscara oro-nasal não ventilada.
estar associada uma válvula
uniforme durante a inspiração e a
pré-hospitalar mantém a drive
exalatória para que o ar inalado
expiração. A pressão inicial típica é
respiratória pelo que raramente
possa sair. A ausência desta válvula
de 5-6 cmH2O, com aumento gradual
devem ser tratados em modo
pode levar ao fenómeno de
de pressão nos primeiros minutos em
controlado. O modo de ventilação
rebreathing e ao risco de asfixia do
reposta à dispneia subjetiva do
preferido nestes casos é o
doente. A válvula exalatória pode ser
doente e ao esforço respiratório
espontâneo-temporizado, onde o
ativa (vem já incorporada ao circuito
objetivado. As pressões podem variar
esforço inspiratório do doente ativa o
e contém uma linha de pressão e
entre os 5-20 cmH2O, mas
ventilador e a duração do ciclo é
linha de fluxo) ou pode ser passiva
habitualmente não se deve
controlado pelo aparelho. Define-se
(sendo adicionada entre a máscara e
ultrapassar os 10-12cmH2O. A
assim à partida as pressões de EPAP
o circuito, ex: Whisper-Swivel ou
pressão positiva a dois níveis
e IPAP e o tempo de inspiração (I) e
válvula Plateau). O circuito único
(BiPAP), é um mecanismo que
de expiração (E). Habitualmente, em
deve conter um filtro anti-bacteriano
permite aplicar pressões diferentes
condições normais a relação I:E deve
permutador de calor e humidade
que alternam com a fase inspiratória
ser de 1:2, na patologia obstrutiva de
(HMEF) à saída do ventilador. Na
e a fase expiratória. A pressão
1:3 e na patologia restritiva de 1:1. A
suspeita de SARS-COV-2 é
expiratória (EPAP) ou pressão
frequência respiratória deve ser
fundamental a colocação de um filtro
expiratória final positiva (PEEP)
ajustada para proteger o doente da
adicional entre a máscara e a válvula
inicial típica é de 4-5 cmH2O, com um
apneia e o oxigénio deve ser
exalatória (figura 1, imagem b). A
máximo habitual de 8-10 cmH2O e a
administrado na quantidade
introdução de dois filtros aumenta a
pressão inspiratória (IPAP) é de 10-12
necessária para garantir uma
resistência das pressões, pelo que se
cmH2O, com um máximo de
saturação de 90 a 94% ou de 88% a
devem incrementar 1 a 2cmH2O. O
10-20cmH2O, dependendo da
92% na suspeita/identificação de
circuito duplo, como o nome indica,
patologia subjacente . Algumas
retenção de CO2.
tem dois ramos: o ramo inspiratório e
ventiladores/modalidades
o ramo expiratório. Este circuito é
apresentam pressão de suporte (PS)
Depois de ligar o ventilador, a ação
utilizado com uma máscara não
em vez de IPAP. A PS corresponde à
inicial passa por aplicar a interface
ventilada e deve conter um HMEF à
diferença do gradiente de pressão
ao doente explicando o procedimento
saída do ventilador e um filtro
entre a IPAP e EPAP. Nestes casos
e incentivando a respiração calma e
bacteriano à entrada.
deve-se iniciar com uma PS de
profunda. Quando o doente mostrar
Existem dois tipos de VMNI. A
6-8cmH2O.
sinais de estar a tolerar, a interface
2
funciona através da aplicação de
Habitualmente os doentes
respetivo arnês tentando-se
uma pressão positiva contínua
candidatos a VMNI em contexto
minimizar adequadamente as
37
Indice
poderá ser fixada através do
pressão contínua na via aérea (CPAP)
Indice
38
ARTIGO DE REVISÃO II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
fugas2,3. A presença de barba,
no final da expiração (ETCO2). Após a
deformidades faciais e a edentulação
aplicação inicial da VMNI, o ETCO2
podem dificultar a adaptação à
pode aumentar inicialmente devido à
interface. Por vezes poderá ser útil
melhoria da ventilação-perfusão. A
tricotomizar os pelos faciais e/ou
redução do ETCO2 deverá refletir-se
pedir ao doente, para colocar a sua
em melhoria clínica1.
prótese dentária, caso a tenha. A
Alguns dos efeitos adversos mais
escolha da modalidade ventilatória
comuns passam pela secura das
Tabela 1.
depende do sistema disponível e da
mucosas, a irritação ocular, a
dos profissionais. Ao aplicar a VMNI
clínica do doente.
distensão gástrica (IPAP ≥ 25
deve-se optar sempre por um circuito
Em contexto pré-hospitalar é crucial
cmH2O), a retenção de secreções, o
fechado, com máscara oro-nasal ou
vigiar o doente e verificar se a
pneumotórax e as alterações
em alternativa o helmet, e evitar a
ventilação fornecida está a ser
hemodinâmicas.
fuga excessiva pela máscara. Os
benéfica. Os sinais vitais devem ser
Os doentes tratados com sucesso
sistemas de humidificação estão
avaliados e registados em curtos
devem continuar a fazer VMNI até
contraindicados, sendo
espaços de tempo para auxiliar a
chegarem ao hospital. O tratamento
incompatíveis com os filtros,
avaliação da resposta do doente à
deve ser coordenado com o hospital
podendo ainda causar condensação
VMNI . Valores de pH baixos estáveis
recetor para que não seja
nas interfaces com o risco dispersão
e uma PaCO2 elevada estável podem
interrompido. A deterioração
de patógenos. Deve-se ainda desligar
ser tolerados por mais de 2 horas
progressiva, a intolerância à
o equipamento antes de remover a
durante a fase de adaptação da VMNI,
ventilação ou o desenvolvimento de
máscara para minimizar dispersão de
desde que a situação clínica do
complicações relacionadas ao
gotículas. Note-se que o sistema
4
doente esteja a melhorar (tabela 1) .
tratamento exigem uma estratégia
CPAP-Boussignac poderá ser
Os parâmetros mais importantes a
alternativa . Manter a VMNI nestes
aplicado em doentes com suspeita
monitorizar durante a fase de
casos, atrasando a instituição da
ou confirmação de COVID-19,
adaptação ao VMNI são os gases
VMI, está associada ao aumento da
devendo-se introduzir um filtro HMEF
arteriais, a frequência respiratória, a
mortalidade .
ou um filtro de partículas de alta
1
6
experiência subjetiva de dispneia do
eficiência (HEPA) entre a máscara e o
doente e o seu nível de vigília . A
Na suspeita ou confirmação de
melhora da ventilação e perfusão
infeção pelo vírus SARS-COV-2
pode reduzir a frequência cardíaca.
Desde o início da pandemia SARS-
Equipamento para a VMNI em
No entanto, pode também haver um
COV-2, algumas questões foram
contexto pré-hospitalar
aumento em resposta ao aumento da
levantadas sobre os benefícios da
Os ventiladores selecionados no
pressão intratorácica e diminuição do
VMNI comparativamente ao risco da
transporte de doentes devem ter a
retorno venoso . O aumento da
aerossolização e consequente
possibilidade de fornecer terapêutica
pressão intratorácica pode diminuir o
aumento de infeções entre os
por CPAP e BiPAP e a equipa de
retorno venoso ao coração, levando a
profissionais de saúde.
profissionais de saúde que os
uma diminuição da pressão arterial.
Recentemente, várias publicações
manuseia deve ter um amplo
O desenvolvimento de hipotensão
relatam que a VMNI não é geradora
conhecimento sobre a fisiologia e
(pressão arterial sistólica <100
de aerossóis, mas sim dispersora
mmHg) ou hipoperfusão pode indicar
Assim, com o equipamento de
dispositivos mais antigos
a necessidade da redução das
proteção individual (EPI) adequado, e
apresentam muitas limitações no que
pressões administradas . Alguns
nas mãos de equipas experientes, é
diz respeito à duração da bateria,
aparelhos permitem a realização de
possível reduzir a taxa de intubação
ausência de modos ventilatórios
capnografia, com medições do CO2
sem aumentar o risco de infeções
4
1
1
sistema Boussignac.
12,13
.
mecânica da aplicação de VMNI. Os
39
Indice
2
adequados, ausência de precisão do oxigénio e pressões administradas, entre outras características. Os equipamentos mais sofisticados, de última geração, têm a capacidade de compensar fugas não intencionais, melhorando a sensibilidade de trigger, ou seja, a capacidade do ventilador em reconhecer o esforço inspiratório do doente, que por sua vez ajuda a eliminar a assincronia doente-ventilador. Estes equipamentos incluem ainda a possibilidade de mudar os doentes de VMNI para VMI sem alterar o
Figura 2. Ventilador Oxylog 3000® da Dräger
dispositivo e as conexões. A
atingindo uma FiO2 máximo de 80%.
saturação de oxigénio e o nível de
disponibilidade de uma bateria
Pesa 2,1Kg e tem uma bateria interna
dispneia2. O melhor candidato a
intercambiável permite prolongar o
com uma duração de cerca de 2
VMNI é o doente acordado, com
uso da ventilação mecânica sem
horas. O ventilador Oxylog 3000®
dispneia, que consegue colaborar
complicações.
permite administrar ventilação
(tabela 2).
Em ambiente de transporte pré-
invasiva e não invasiva de alto
hospitalar, as máquinas de VMNI
desempenho mesmo durante o
Insuficiência respiratória aguda
precisam de ser protegidas para
helitransporte, atingindo um FiO2
hipoxémica: A evidência de sucesso
evitar problemas associados a
máximo de 100%. Tem capnografia
da aplicação de VMNI neste tipo de
movimentos repentinos, como a
integrada, pesa 5,8Kg e tem bateria
situações é menos clara. No entanto
desconexão do circuito ou quedas
interna com uma duração de cerca de
existem estudos que demostram que
inadvertidas. Um perfil de alarme
5 horas.
a aplicação de VMNI em doentes puramente hipoxémicos reduz
altamente visível e audível com feedback rápido ajuda o médico a
Indicações e contraindicações
significativamente a frequência de
diagnosticar e tratar eventos
de VMNI no pré-hospitalar
intubação, a taxa de choque séptico e
adversos, como desconexões, fugas
A IRA é uma condição complexa, que
melhora a taxa de sobrevivência em
excessivas e apneias com risco de
pode resultar de alterações
comparação com a administração de
vida .
pulmonares ou não pulmonares. A
oxigenoterapia em altas
Atualmente, a título exemplificativo, a
insuficiência respiratória pode ser
concentrações5. É apropriado
equipa médica de emergência
parcial ou global. Pode resultar em
considerar VMNI em doentes com
pré-hospitalar do Algarve dispõe de
acidose respiratória aguda ou da
insuficiência respiratória, com SpO2 <
um ventilador Stellar 150® da
agudização de uma acidose
ResMed (representado na figura 1) e
respiratória crónica pré-estabelecida .
FiO2 a 60%1. Também se pode
de um ventilador Oxylog 3000® da
É fundamental recolher a informação
considerar a VMNI em doentes com
Dräger (figura 2). O ventilador Stellar
clínica que determinará a segurança
indicação para não intubar. Em caso
150® destina-se à utilização não
e o uso apropriado de VMNI. Os
de pneumotórax, tal como é prática
invasiva, permitindo a ventilação
elementos básicos incluem a idade
com a intubação oro-traqueal (IOT),
invasiva mediante a utilização de
do doente, antecedentes pessoais, as
este deve ser tratado antes de se
uma válvula de fuga. Permite a
queixas atuais, os sinais vitais, a
iniciar VMNI1. Existem situações,
3
Indice
administração de oxigénio a 30L/min,
40
90% apesar de uma administração de 3
ARTIGO DE REVISÃO II | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
estas duas últimas opções seriam menos eficazes. No entanto, tem-se verificado que os doentes sob VMI têm períodos de intubação muito prolongados, com elevado insucesso na extubação e uma elevada mortalidade, particularmente em doentes com mais de 65 anos29. Assim sendo, tem sido recomendada uma abordagem de suporte respiratório escalonado por meio de estratégias não invasivas. Em contexto pré-hospitalar o objetivo é corrigir a insuficiência respiratória (SpO2 ≥ 92%) e estabilizar o doente.
Tabela 2.
Dada a escassez de estudos sobre
como a ARDS, em que o benefício da
apoiam o uso de VNI na asma são
COVID e VMNI em cuidados pré-
VMNI não foi estabelecido . Nestes
limitadas, a não ser que haja uma
hospitalares sugere-se adaptar as
casos o pulmão pode colapsar se a
sobreposição de asma e DPOC .
diretrizes aplicadas ao doente COVID
3
1
com falência respiratória aguda em
pressão positiva administrada for interrompida mesmo que por um
Edema agudo do pulmão
contexto hospitalar. Em primeiro
curto período de tempo. Uma das
cardiogénico: Atualmente existem
lugar deve-se tentar determinar a
vantagens da aplicação de VMI neste
claras evidências que demonstram a
gravidade clínica com base no grau
tipo de falência respiratória prende-
utilidade do CPAP, juntamente com a
de dispneia, SpO2, frequência
terapêutica médica padrão, no
respiratória e restantes sinais vitais.
tratamento de edema agudo do
Note-se que os doentes nem sempre
pulmão cardiogénico . O CPAP reduz
exibem um grau de dispneia
Insuficiência respiratória aguda
a pré e a pós-carga cardíaca, reduz o
compatível com a gravidade da
hipercápnica: A causa mais comum
esforço respiratório, melhora a
hipoxemia que apresentam. Caso o
de hipercapnia na IRA é a DPOC. Em
perfusão coronária e normaliza a
doente não responda à
contexto pré-hospitalar nem sempre
relação ventilação-perfusão. Se
oxigenoterapia convencional, está
é possível determinar os valores de
houver motivos para se suspeitar de
preconizada a instituição de
pH e PaCO2 pelo que a colheita dos
hipercapnia ou se se comprovar a
oxigenoterapia por cânula de alto
elementos da história clínica são
retenção de CO2 então deverá ser
fluxo, no entanto esta modalidade
fundamentais. A resistência elevada
favorecida a instituição de BiPAP.
não está disponível na maioria dos
administrar uma pressão constante . 4
4
equipamentos dos transportes de
das vias aéreas, a expansão dinâmica Infeção por SARS-COV-2: A
emergência pré-hospitalares. Assim
achatamento do diafragma podem
ventilação não invasiva tem sido
sendo, deve-se equacionar a
levar à rápida exaustão do doente .
fundamental no tratamento da
instituição de VMNI por CPAP com
Quando usada em combinação com
falência respiratória induzida pela
uma elevada concentração de FiO2.
a terapêutica médica, a VMNI por
COVID-19. No início da pandemia, era
Os doentes com patologias
BiPAP reduz a PaCO2, melhora o pH e
defendida a abordagem de intubação
hipercápnicas concomitantes
diminui a frequência respiratória na
precoce, em detrimento da CNAF e da
poderão beneficiar de BiPAP. Realça-
primeira hora após o início do
VMNI numa tentativa de minimizar o
se a importância de não atrasar a IOT
tratamento. As evidências que
risco de contágio e pela crença que
nos casos de falência terapêutica por
dos pulmões e o consequente 4
41
Indice
se com a possibilidade de
CNAF e/ou VMNI.
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43
Indice
25.
Indice
44
ARTIGO DE REVISÃO III | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
ARTIGO DE REVISÃO III
GESTÃO DA DOR EM SITUAÇÕES DE EXCEÇÃO Ana Aranha1,2; André Nogueira1,3; Isabel Pires1,4; Jorge Marques5; Mariana Pereira6 Estudante do Mestrado em Enfermagem área de Especialização Médico-Cirúrgica: A Pessoa em Situação Crítica; Hospital do Espirito Santo de Évora (HESE), EPE; 3 Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM); 4 Hospital Particular do Algarve (HPA), Alvor; 5 Professor na Escola Superior de Saúde – Instituto Politécnico de Portalegre; 6 Professora Adjunta na Escola Superior de Saúde – Instituto Politécnico de Setúbal 1 2
RESUMO
reconhecimento crescente que a dor é
measures, the options varied
Objetivo: Identificar as estratégias a
um fator que afeta negativamente o
according on the knowledge and
utilizar na gestão da dor aguda nas
prognóstico e aumenta o stress nas
skills of the teams, being described
vítimas em contexto de situações de
equipas. Dos diferentes métodos de
the use of nitrous oxide/oxygen,
exceção (SE). Metodologia: Revisão
gestão da dor, as medidas
methoxyflurane, morphine, fentanyl
da literatura através de pesquisa
farmacológicas foram as mais
and ketamine, through the different
realizada em base de dados
utilizadas.
routes of administration.2,6,7,8,9
EBSCOhost e PubMed e recurso a
nas SE permanece uma área de
Conclusions: Pain management in ES
guidelines de referência. Pretende-se
atenção devido à influência relevante
presents additional challenges which
responder à questão: Quais as
na promoção da saúde e bem-estar
require prior planning of resources
estratégias a utilizar na gestão da dor
futuro. Descritores: incidentes com
and interventions.2,8 There is growing
aguda em SE? Resultados: Aplicados
feridos em massa; dor.
recognition that pain is a factor that
3
7
2,6,7,8
2
critérios previamente definidos foram
negatively affects the prognosis3 and
selecionados cinco artigos.2,3,6,7,8
ABSTRACT
increases team stress.7 Of the
Discussão: Após o controlo da
Objective: To identify the strategies
different pain management methods,
hemorragia, a intervenção mais
to be used in acute pain management
pharmacological measures were the
comum nas SE foi o controlo
in victims of exceptional situations
most used.2,6,7,8 Acute pain
farmacológico da dor (15,2%),
(ES). Methodology: Literature review
management in ES remains an area
havendo referencia também a
through research on EBSCOhost and
of attention due to the relevant
medidas não farmacológicas.
PubMed databases, using reference
influence on health promotion and
Relativamente às medidas
guidelines. It is intended to answer
future well being.2 Descriptors: mass
farmacológicas, as opções variaram
the question: What are the strategies
casualty incidents; pain.
de acordo com o conhecimento e
to be used in the management of
competência das equipas , sendo
acute pain in ES? Results: Through
INTRODUÇÃO
descrito o recurso a óxido nitroso/
previously defined criteria five articles
No contexto dos cuidados de
oxigénio, metoxiflurano, morfina,
were selected.
emergência médica, SE é definida,
fentanil e cetamina, nas diferentes
hemorrhage control, the most
quando de forma pontual ou sustentada,
vias de administração.
common intervention in ES was
existe um desequilíbrio entre as
Conclusões: A gestão da dor em SE
pharmacological pain control (15,2%),
necessidades e os recursos disponíveis,
apresenta desafios adicionais pelo
there also was reference to non-
condicionando a atuação das equipas e
que requer planeamento prévio de
pharmacological measures.
determinando uma criteriosa
recursos e intervenções. Há um
Regarding pharmacological
coordenação e gestão de recursos.1
3,6
8
2,6,7,8,9
2,8
2,3,6,7,8
Discussion: After
3,6
45
Indice
9
A gestão da dor aguda
Indice
46
ARTIGO DE REVISÃO III | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
A dor é um sintoma complexo e
RESULTADOS
comum presente nas vítimas em SE, que requere tratamento em ambiente extra-hospitalar e/ou intra-hospitalar, de modo a prevenir sequelas adversas e melhorar o prognóstico.2 No entanto, a dor aguda, principalmente em contexto extrahospitalar, é frequentemente desvalorizada, existindo relatos de vítimas com dor sem intervenções para o efeito.3 Em Portugal, a gestão da dor nas SE impõe desafios adicionais a médicos e enfermeiros que, pela natureza da prática e competências inerentes, possuem um papel fulcral com vista a uma resposta eficaz e eficiente.4,5 METODOLOGIA Pergunta de investigação: Quais as estratégias a utilizar na gestão da dor
Esquema 1 – Estratégias de gestão da dor aguda
aguda em SE? Objetivo: Identificar as estratégias a
DISCUSSÃO
utilizar na gestão da dor aguda nas
Após o controlo da hemorragia, a
historicamente aos fármacos com
vítimas em contexto de SE.
intervenção mais comum nas SE
efeito analgésico mais usados;
Pesquisa: Com recurso aos
foi o controlo farmacológico da
existem outros fármacos
descritores em ciências da saúde
dor (15,2%), havendo referencia
disponíveis como a cetamina que
“mass casualty incidents” e “pain”,
também a medidas não
demonstrou conferir a analgesia
realizou-se pesquisa no mês de
farmacológicas.
pretendida com reduzido potencial
setembro de 2020 em motor de
As medidas farmacológicas
de risco associado, fazendo mesmo
busca EBSCOhost e PubMed, tendo
descritas variaram de acordo com
referencia à inexistência de outros
sido selecionados cinco artigos,
o conhecimento e competência
fármacos que detenham margem
após leitura do resumo, com
das equipas.
terapêutica igual ou superior.2,10
referência a intervenções de gestão
Os estímulos nociceptivos ativam a
Embora as equipas continuem a
da dor extra e/ou intra-hospitalar em
transmissão neuronal por múltiplas
recorrer com frequência às
artigos publicados de 2008 a outubro
vias, o que resulta em diversos
administrações intramusculares,
de 2020, redigidos em português e/
tipos de dor que respondem de
deve ter-se em conta que a
ou inglês. Foi ainda realizada, uma
forma diferente a várias estratégias
instabilidade hemodinâmica diminui
pesquisa alargada sobre o tema onde
terapêuticas, dependendo não só da
o fluxo sanguíneo periférico,
foi contemplado para este trabalho
seleção do medicamento, mas
levando ao início retardado de
as mais recentes guidelines sobre
também da via de administração.
esta matéria.9
Os opiáceos correspondem
7,8
2
absorção e ação.2
47
Indice
2,3,6,7,8
3,6
CONCLUSÃO
MENSAGENS A RETER
A gestão da dor em SE apresenta
• A dor aguda é frequentemente
desafios adicionais pela
desvalorizada, principalmente em
desproporcionalidade de recursos
contexto extra-hospitalar.3
humanos e materiais, extremos
• A gestão da dor em SE apresenta
ambientais, necessidade de
desafios adicionais pela
evacuações e limitações/ameaças
desproporcionalidade de recursos,
inerentes ao cenário, pelo que
extremos ambientais, necessidade de
requer planeamento prévio de
evacuações e limitações/ameaças.2,8
recursos e intervenções.
• As medidas farmacológicas foram
2,8
Há um reconhecimento crescente
amplamente utilizadas através da
que a dor é um fator que afeta
administração de fentanil, morfina e
negativamente o prognóstico, com
cetamina, diferenciando a seleção
especial enfoque nas vítimas com
com base no conhecimento e
trauma crítico. 3 Desvalorizar o
competência das equipas.2,6,7,8
tratamento da dor aguda nas SE aumenta o risco de incidência de
TAKE-HOME MESSAGES
dor crónica e perturbação de
• Acute pain is often undervalued,
stress pós-traumático 2,
especially in an out-of-hospital setting.3
contribuindo também para pior
• Pain management in ES presents
prognóstico das vítimas e
additional challenges due to the
aumento do stress nas equipas. 7
disproportionality of resources,
Dos diferentes métodos de gestão
environmental extremes, the need for
da dor, as medidas farmacológicas
evacuations and limitations/threats.2,8
foram as mais utilizadas, através
• Pharmacological measures were the
do recurso à administração de
most used, through the administration
fentanil, morfina e cetamina,
of fentanyl, morphine and ketamine. The
diferenciando-se a sua seleção
selection was based on the knowledge
com base no conhecimento e
and skills of the teams.2,6,7,8
competência das equipas.
2,6,7,8
A intervenção de médicos e enfermeiros nas SE são de extrema relevância, na medida em que as competências especificas e a experiência da prática clínica conferem uma excelente capacidade de avaliação e implementação.4,5 A gestão da dor aguda nas SE permanece uma área de atenção, uma vez que representa não só a resposta a uma necessidade imediata como também demonstra minimizar futuras complicações na
Indice
saúde e bem-estar.2
48
ARTIGO DE REVISÃO III | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
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COMISSÃO CIENTÍFICA
49
Indice
1.
Indice
50
HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
HOT TOPIC
DOENÇA COVID-19 NO GRUPO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE Diana Castro1, Nuno Ferreira1, Luís Pereira1 1
Serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar de Leiria
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
Na linha da frente da pandemia
On the frontline of the COVID-19
Em dezembro de 2019 surgiu, em
COVID-19 estão os profissionais de
pandemic are healthcare workers
Wuhan, a doença COVID-19
saúde com a tarefa de diagnosticar e
with the substantial task of
provocada pela infeção pelo vírus
tratar um número exponencial de
diagnosing and treating an
SARs-CoV 2. Rapidamente o vírus
doentes tendo, frequentemente, de
exponential number of patients, often
atingiu vários países, sendo a
tomar decisões difíceis e estar
having to make difficult decisions
COVID-19 declarada pela
expostos a um risco infecioso
and being exposed to an increased
Organização Mundial de Saúde
acrescido. De uma forma geral os
infectious risk. In general, the
(OMS) como pandemia a 11 de março
profissionais de saúde infetados são
infected healthcare workers are
de 2020 e provocando, nos meses
mais jovens, têm menos
younger, have less comorbidities and
consecutivos, pressão em todos os
comorbilidades e melhores
better outcomes. However, it’s
sistemas de saúde a nível mundial.
outcomes. Contudo, é essencial
essential to assess and ensure their
Desde o inico da pandemia que os
avaliar e assegurar o seu bem-estar
physical and psychological well-being
profissionais de saúde têm mostrado
físico e psicológico para que estes se
so that they remain at the frontline in
uma grande dedicação apesar do
mantenham na linha da frente no
combating the pandemic. The aim of
medo de se infetarem ou infetarem
combate à pandemia. O objetivo
this article is to review SARs-CoV 2
outras pessoas mais próximas. Estes
deste artigo é fazer uma revisão das
infections among the group of
são frequentemente expostos a um
infeções por SARs-CoV 2 entre o
healthcare workers, focusing on the
risco acrescido de contrair doenças
grupo de profissionais de saúde,
number of infections, which
infeciosas em comparação com a
focando o número de infeções, quais
professionals are at greatest risk and
população geral, ganhando este
os profissionais com maior risco e
which circumstances contribute to
assunto particular importância
quais as circunstâncias que
the increase in infection’s numbers
aquando do início desta pandemia.
contribuem para o aumento do
among this specific group.
Perante a sobrelotação dos hospitais
número de casos entre este grupo
tanto em termos de capacidade de
específico.
assistência e défice de recursos humanos em vários países, os profissionais de saúde são um grupo de alto risco pela tarefa de diagnosticar e tratar um número exponencial de doentes agudos infectados e pela escassez de equipamento de proteção individual Keywords: Pandemic; Health professionals; Health system;
(EPI). Esta particular preocupação
51
Indice
Palavras-Chave: COVID-19; Pandemia; Profissionais de Saúde; Sistema de Saúde;
Indice
52
com a infeção entre os profissionais
Individual (EPI’s), a maior
maioritariamente em mulheres e
de saúde deve-se ao facto de, se
acessibilidade a testes e capacidade
pessoal de enfermagem embora as
infetados, estes profissionais
de testagem, a otimização dos
mortes sejam mais no sexo
transmitem o vírus aos seus colegas
sistemas de triagem e a
masculino e na comunidade médica.
de trabalho e aos doentes internados.
implementação de novas medidas de
O grupo de profissionais de
A prevenção das infeções nos
controlo de infeção como o uso
enfermagem são o grupo com mais
profissionais de saúde é assim de
contínuo de máscara e rápida
infeções possivelmente devido aos
extrema importância para reduzir a
resposta em caso de surtos fez com
cuidados prestados aos doentes, a
morbilidade ou potencial mortalidade,
que a incidência entre profissionais
grande proximidade e intervenção
reduzindo a transmissão secundária
de saúde fosse maior nos três
longa com cada um dos doentes. Por
e mantendo a capacidade do sistema
primeiros meses, diminuindo após
outro lado, os enfermeiros são o
de saúde, evitando o colapso.
esse período e assemelhando-se ao
grupo de profissionais de saúde mais
O objetivo deste artigo é fazer uma
da população geral .
numeroso e quem faz uma grande
revisão das infeções por SARs-CoV 2
A primeira revisão sistemática de
parte dos procedimentos técnicos,
entre o grupo de profissionais de
Junho de 2020, quando a Europa e os
mantendo um grande contacto direto
saúde em todo o mundo, focando o
Estados Unidos da América estavam
com os doentes infetados. Dos dados
número de infeções, quais os
no epicentro da pandemia, teve como
analisados, a especialidade médica
profissionais com maior risco e quais
objetivo dar uma perspetiva global
com maior risco é Clinica Geral,
as circunstâncias que contribuem
das infeções e mortes por COVID-19
enquanto a especialidade de
para o aumento do número de casos
e demonstrou que o maior número de
enfermagem com maior risco é a
entre este grupo específico.
infeções e mortes por COVID-19 em
Saúde Mental, uma vez que em
Durante o confinamento, os
profissionais de saúde ocorreram na
muitos países estas especialidades
trabalhadores essenciais como é o
Europa enquanto o menor foi
têm um contato direto com os
caso dos profissionais de saúde, têm
verificado em Africa. O facto de,
doentes em visitas ao seu domicílio e
de manter a sua atividade
neste estudo, o continente Africano
ações na comunidade. Estes
profissional, não se podendo
registar de menor número de
números podem dever-se à menor
resguardar ou trabalhar a partir de
infeções e mortes deve-se,
disponibilidade, no início da
casa. Por este motivo, o
principalmente à falta de dados de
pandemia, de EPI’s sendo estes
distanciamento social inadequado
muitos destes países assim como o
destinados principalmente a
associado a uma maior exposição a
facto de estes não serem reportados,
enfermarias hospitalares com casos
doentes infetados é o grande
pelo que se devem interpretar estas
confirmados ou suspeitos de infeção
contribuidor para este problema .
estatísticas com as suas limitações.
por COVID-19, pela proximidade ao
Os estudos apontam um aumento do
Apesar do maior número de mortes
doente destas especialidades ou pelo
risco para os profissionais de saúde
ser reportado à Europa, o número de
grande fluxo de doentes nos serviços
que tratam doentes COVID-19
infeções na Europa foi tão alto que
de clinica geral. Assim, embora
verificando-se principalmente nos
foi a região com o menor case fatality
certas especialidades possam ser
primeiros três meses da pandemia.
rate. A 8 de Maio de 2020, Espanha
consideradas de alto risco devido à
Em termos absolutos o risco é
reportava o maior número cumulativo
exposição a secreções ou outros
relativamente baixo, sendo cerca de
de infeções COVID-19 nos
produtos altamente contagiosos
três vezes o risco de infeção por
profissionais, sendo seguida pela
(como a anestesiologia ou a
COVID-19 nestes profissionais em
Itália e pela Holanda, enquanto que
otorrinolaringologia) o risco de
comparação com a população geral e
Itália reportou o maior número
outras especialidades como a
duas vezes maior entre os familiares
cumulativo de mortes em
clinica geral e a saúde mental não
dos profissionais de saúde. O melhor
profissionais de saúde. Esta revisão
deve ser subestimado4.
acesso a Equipamentos de Proteção
aponta que estas infeções são
1,2
1,3
53
Indice
HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
Indice
54
HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
Vários estudos demonstraram que os profissionais de saúde infetados são geralmente mais jovens e com menos comorbilidades relativamente à população geral, não estando associados a piores outcomes. Estes casos de infeção estão associados a doença menos grave e menor probabilidade de admissão em ambiente hospitalar, necessitar de cuidados intensivos, necessitar de ventilação mecânica invasiva ou de
Tabela 1 - Equipamento de Proteção Individual Respiratório (Adaptado da Norma 007/2020 - Prevenção e Controlo de Infeção por SARS-CoV-2 (COVID-19): Equipamentos de Proteção Individual)
morte. Um estudo levado a cabo no Reino Unido demonstrou que apesar da incidência de infeção ser superior à da população geral, o maior risco relacionou-se com contatos familiares desses profissionais no domicílio. Este estudo demonstrou ainda que existe um maior risco entre as auxiliares, terapeutas (fisioterapeutas, terapeutas da fala, etc) e jovens proximidade com os doentes4,5,6. Alajmi et al analisaram a experiência
Tabela 2 - Recomendações atuais para o uso de Equipamento de Proteção Individual em meio hospitalar (Adaptado da Norma 007/2020 - Prevenção e Controlo de Infeção por SARS-CoV-2 (COVID-19): Equipamentos de Proteção Individual).
na Mamad Medical Corporation, no
Relativamente ao nosso país, o
serviços da linha da frente foram
Quatar, entre Março e Junho de 2020
primeiro estudo português e um dos
organizados com prioridade
encontrando cerca de 4% do total de
poucos estudos internacionais sobre
relativamente aos restantes e, como
profissionais testados infetados com
a infeção COVID-19 entre os
tal, tiveram uma melhor performance,
o novo coronavírus. A conclusão
profissionais de saúde, realizado no
circuitos e protocolos de treino e
mais importante deste estudo é que
final de Julho do ano passado,
atuação melhor definidos assim
apenas 5% dos profissionais
aponta para um total de 2,63% de
como acesso ao EPI completo desde
referiram ter adquirido o vírus em
profissionais de saúde infetados,
a fase inicial da pandemia. Por outro
enfermarias dedicadas ao tratamento
sendo que estes apresentavam maior
lado, no início da pandemia, os
de doentes COVID-19, enquanto os
suscetibilidade nos estadios iniciais
doentes admitidos no hospital sem
95% restantes trabalhavam em
do surto COVID-19 (Março a Abril).
sintomatologia respiratória não eram
enfermarias não dedicadas à
Este estudo demostra que os
testados, o que originou vários surtos
COVID-19 contraindo a infeção pela
profissionais na linha da frente
e focos de transmissão nosocomial
exposição acidental a colegas ou
(trabalham diretamente com casos
da infeção. Outro estudo levado a
doentes assintomáticos . Daqui se
suspeitos ou confirmados de infeção)
cabo em Portugal teve como objetivo
retira a importância de usar EPI´s
têm um menor risco que os restantes
avaliar a perceção do risco de infeção
básicos e medidas de prevenção de
profissionais. Várias explicações
COVID-19 entre os profissionais de
infeção qualquer que seja o ambiente
podem justificar esta tendência
saúde e a população geral e mostrou
ou doentes a tratar em meio
nacional que se assemelha à
que 24% da população geral e 55%
hospitalar (ver tabela 1 e 2.)
observada nos restantes países – os
dos profissionais de saúde
7
55
Indice
médicos pelo maior contato e
Indice
56
acreditavam que estavam em risco
– Abordagem do doente com
casados, ter crianças com 12 anos
de serem infetados. Isto indica que
suspeita de infeção por SARs-CoV-2,
ou menos, nível de educação, anos
os profissionais de saúde têm a
para proteção dos profissionais do
de experiências profissional, ter
perceção de que estão em alto risco
INEM e tendo em conta a
problemas de saúde e o contato
comparativamente à população geral,
impossibilidade de diagnóstico de
direto com doentes infetados. Alguns
devido ao seu contato próximo com
infeção respiratória aguda grave
estudos identificaram os principais
casos suspeitos ou confirmados de
antes da observação médica,
fatores causais associados a esta
COVID-198,9.
considera-se como caso suspeito
problemática: (1) recursos limitados
Trabalhar numa Unidade de Cuidados
pré-hospitalar a presença de qualquer
nos hospitais; (2) ameaça de
Intensivos não está associado a um
dos sintomas determinados na
exposição ao vírus como um risco
aumento do risco de infeção apesar
definição de caso pela DGS. O
ocupacional adicional; (3) turnos
do volume de doentes que estes
elevado número de casos suspeitos
mais longos; (4) perturbações dos
serviços se depararam em período
de COVID-19 em Portugal traduz-se
padrões de sono; (5) desequilíbrio
pandémico. Tal se deve,
num número acrescido de doentes no
entre a vida social e profissional; (6)
provavelmente, à proteção
pré-hospitalar com potencial de
dilemas que surgem relativamente às
proporcionada pelo EPI completo ou
transmissão de infeção por
obrigações quanto ao doente e o
pela diminuição de contágio que
SARSCoV-2, obrigando à otimização
medo de exposição dos membros da
ocorre em estadios mais tardios da
da abordagem clínica pelos meios
família; (7) negligência das
doença, mesmo nos doentes críticos.
diferenciados. Este pode ser um
necessidades pessoais e familiares
O grande risco para os profissionais
momento potencial de infeção destes
com o aumento da carga de trabalho;
de saúde são os seus colegas de
profissionais, pela intervenção ativa
(8) falta de comunicação e evidência
trabalho ou os doentes nas fases
na comunidade e nos domicílios, quer
cientifica atualizada. É, por isso,
iniciais da infeção nas quais são
pelo elevado volume de doentes que
essencial prestar atenção ao bem-
assintomáticos ou pouco
este período contemplou. O real risco
estar destes profissionais11,12,13.
sintomáticos e, portanto, não se
destes profissionais não é conhecido,
Proteger os profissionais de saúde
levanta a suspeita de infeção, sendo
uma vez que ainda não há estudos
deve ser um elemento chave na
a carga viral elevada. O fato de o uso
que nos facultem dados.
resposta a qualquer situação
de EPI integral (fato de proteção
A preocupação com os casos de
pandémica. É essencial para o
integral ou bata impermeável; touca;
infeção entre os profissionais de
bem-estar dos profissionais de saúde
proteção de calçado; máscara FFP2;
saúde não deve ser o único motivo de
assim como para o sistema de saúde
proteção ocular com proteção lateral;
preocupação, os casos de burnout e
pelo papel fundamental que estes
luvas) ter sido sempre usado nas
ansiedade associadas a esta
desempenham – um aumento das
Unidades de Cuidados Intensivos, as
situação devem ser motivo de
infeções e mortalidade neste grupo
políticas de uso de EPI nas
preocupação, estudo e análise.
põe os doentes em risco e aumenta a
enfermarias sofreram algumas
Durante a pandemia, os profissionais
carga de trabalho nos profissionais
alterações ao longo do tempo. A
de saúde de todo o mundo
não infetados e impede a segurança,
tabela 2 apresenta a recomendações
experienciaram níveis de ansiedade,
eficiência e efetividade dos cuidados
atuais de uso de EPI no cuidado aos
depressão e stress pós-traumático
de saúde.
doentes hospitalares10.
muito superiores aos verificados
Durante a pandemia, houve uma
previamente. Os fatores
continuidade dos cuidados prestados
potencialmente associados a um
na emergência pré-hospitalar, tendo
nível de ansiedade e burnout mais
como objetivo uma assistência
elevado entre estes profissionais são
segura. Segundo a norma 03/2020
o sexo feminino, profissionais
57
Indice
HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
Indice
58
CONCLUSÃO
pandémica, não sendo esta
COVID-19, devendo estes ser
Os profissionais de saúde podem ter
sintomatologia menos importante
priorizados a nível global tal como
uma incidência mais elevada de
que a própria infeção pelo vírus
tem vindo a acontecer desde o início
infeção principalmente por
SARS Cov-2. A falha no
da vacinação1,6,14.
exposições desprotegidas e/ou
reconhecimento da transmissão
São necessários mais estudos para
repetidas, aparentando ter, contudo,
nosocomial do vírus e na
perceber melhor a proporção de
doença menos grave e menor
mortalidade associada aos
profissionais de saúde expostos
mortalidade relacionadas com a
profissionais de saúde pode levar ao
que são infetados e os outcomes
idade mais jovem e menos
aumento da transmissão nos
associados incluindo efeitos
comorbilidades . Por outro lado, e
serviços de saúde e nas suas
económicos, capacidade de
não menos importante, deve-se estar
comunidades mais amplas. A
trabalho, efeitos sociais (como por
atento à situação de burn-out,
vacinação efetiva dos profissionais
exemplo cuidar dos filhos) e
depressão, stress psicológico e
de saúde deve ser uma preocupação
efeitos da transmissão nos
ansiedade que estes profissionais
e uma prioridade de todos os países
membros da família
experienciam durante a fase
que combatem a pandemia
2
59
Indice
HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
Indice
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HOT TOPIC | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
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COMISSÃO CIENTÍFICA
61
Indice
BIBLIOGRAFIA
Indice
62
RUBRICA PEDIÁTRICA | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
RUBRICA PEDIÁTRICA
ABORDAGEM DO ESTADO DE MAL CONVULSIVO EM EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA APPROACH TO STATUS EPILEPTICUS IN PEDIATRIC EMERGENCY Daniel M. Tiago1 1
Serviço de Pediatria – Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro, Portugal
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO E OBJETOS
O estado de mal convulsivo é uma
Convulsive status epilepticus is an
O estado de mal convulsivo (EMC)
situação emergente definida por
urgent medical condition defined by
corresponde a uma situação de
convulsão ou convulsões que se
one or multiple seizures extending
convulsão com duração superior ou
estendem além de 30 minutos, com
beyond 30 minutes that might cause
igual a 30 minutos, ou várias
possível lesão cerebral. O atraso no
brain lesions. The immediate
convulsões seguidas durante esse
tratamento além de 5 minutos
approach using the ABCDE algorithm
intervalo de tempo sem períodos
aumenta a probabilidade de evolução
and seizure treatment is essential to
inter-ictais de recuperação.1 É uma
para um estado refratário, sendo
avoid progression to refractory status
das emergências mais frequentes em
fundamental a abordagem rápida
epilepticus. It is important to identify
pediatria (17-23/100.000 na Europa e
segundo o algoritmo de emergência
and treat potentially reversible
EUA), com uma mortalidade a curto
ABCDE, com particular ênfase na via
causes. The management of
prazo de 3-9%.2 Está associado a
aérea. A anamnese é essencial para
convulsive status epilepticus in
alterações cognitivas e
tratar causas potencialmente
children implies the knowledge of the
desenvolvimento, epilepsia, e estados
reversíveis. A abordagem do mal
most frequent type of seizures
de mal recorrentes.2 Os primeiros 30
convulsivo implica o conhecimento
according to age. The choice of drugs
minutos correspondem ao período a
dos tipos de convulsões mais
depends on many factors, including
partir do qual surgem danos
prevalentes por idade. A escolha dos
available routes of administration,
neurológicos, pelo que o timing de
fármacos depende das vias de
past history of epilepsy, usual
atuação não deve ultrapassar 5-10
administração disponíveis, epilepsia
medication, other known conditions
minutos.3 Em 2015 a Task Force da
conhecida e historial terapêutico,
and history of use of illicit drugs.
International League Against
doenças prévias, consumo de
With this review we aim to highlight
Epylepsy (ILAE) definiu dois pontos
substâncias ilícitas, fármacos etc.
the importance of a rapid and
temporais chave: T1, intervalo de
Com este artigo pretendemos
effective approach when managing a
tempo para iniciar terapêutica; T2,
destacar a importância da abordagem
child with seizures in order to prevent
intervalo de tempo a partir do qual
rápida e eficaz nas crises convulsivas
refractory convulsive status
poderão surgir sequelas. Com base
para prevenir estados de mal
epilepticus and neurologic damage.
nisto, surge a definição de EMC
refratários e sequelas neurológicas.
atual:4 condição que resulta da falha dos mecanismos de interrupção da convulsão(ões), ou condição que resulta na iniciação de mecanismos que conduzem a convulsão(ões)
63
Indice
Palavras-Chave:convulsão, pediátrico, atempado
Keywords: seizure, pediatric, timing
Indice
64
RUBRICA PEDIÁTRICA | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
prolongadas para além de T1, e que,
Quanto à etiologia, as crises podem
crises não-epilépticas de origem
estendendo-se para além de T2,
ser por causas conhecidas
psicogénica, típicas em adolescentes
pode(m) gerar consequências
(estruturais, metabólicas, tóxicas,
com perturbação psiquiátrica. O EEG
neurológicas graves, através de
inflamatórias, infeciosas ou
pode ajudar a diferenciar.3
morte neuronal, lesão neuronal e
genéticas) ou criptogénicas.4 Quanto
alteração de circuitos neuronais. Na
à evolução, podem ser agudas (por
AVALIAÇÃO DO DOENTE
população pediátrica, os tempos T1 e
exemplo, encefalites ou
PEDIÁTRICO EM ESTADO DE MAL
T2 para as crises tónico-clónicas
intoxicações), não agudas (por
No doente pediátrico em EMC a
exemplo, pós-encefalites) ou
avaliação inicial deverá ser feita de
para 5 e 30 minutos, respetivamente.
progressivas (por exemplo, tumores
forma rápida e sequencial através do
Para crises focais com alteração do
cerebrais). A eletroencefalografia
algoritmo ABCDE9:
estado de consciência e ausência, T1
(EEG), se disponível, pode ser útil na
(A) e (B) Via aérea e Respiração:
e T2 não estão bem definidos,
categorização das crises,
•
podendo estender-se além dos 10 e
classificando-as quanto à localização
de Coma de Glasgow<8 ou
60 minutos, respetivamente.
do foco, atividade, morfologia, etc.
depressão respiratória
5
4
4
Essencialmente, um atraso superior a
Intubação orotraqueal se Escala
•
avaliar frequência respiratória, SpO2 oxigénio suplementar
10 minutos na terapêutica foi
CONSIDERAÇÕES GERAIS NA
•
associado a maior probabilidade de
ABORDAGEM DO DOENTE
(C) Circulação:
mortalidade (11 vezes), persistência
PEDIÁTRICO EM ESTADO DE MAL
•
da convulsão (2,6 vezes) e
Num doente em EMC é importante
hipotensão (2,3 vezes).
perceber rapidamente os seus
Este artigo tem como objetivo alertar
antecedentes: EMC prévias e
capilar, frequência cardíaca,
os profissionais de saúde sobre
fármacos utilizados; epilepsia com
pressão arterial.
EMCs na idade pediátrica, de modo a
má adesão terapêutica; fármacos
identificar e tratar precocemente,
anti-convulsivantes recém-
preenchimento vascular seguido
evitando agravamento do estado e
introduzidos; consumo de
de suporte inorópico/vasoactivo
sequelas neurológicas.
substâncias ilícitas que poderão
(D) Neurológico
interferir com fármacos anti-
•
caraterização da crise convulsiva
CLASSIFICAÇÃO E PADRÕES
convulsivantes. Por outro lado, a
•
caraterização das pupilas
ORIENTADORES NO ESTADO DE MAL
decisão sobre as vias de
•
avaliar glicemia e tratar
A classificação das crises no EMC é
administração nem sempre é
hipoglicemia (Bólus de dextrose
espelho da classificação geral das
simples. A via endovenosa é
a 10%, 5 mL/Kg ev)
crises convulsivas, dividindo-se em:
preferível, mas em alternativa
(E) Exposição
1) crises com sintomas motores e 2)
poderão considerar-se vias rectal
•
crises sem sintomas motores.
(diazepam), intranasal, bucal
2,6
4,7
As
colher sangue •
3
canalizar um acesso venoso,
•
avaliar tempo de perfusão
se compromisso hemodinâmico,
avaliar a temperatura – antipiréticos se febre
primeiras subdividem-se em 1a)
(midazolam), intramuscular
tónico-clónicas, 1b) mioclónicas, 1c)
(fosfenitoína, benzodiazepinas). Nas
focais-motoras, 1d) tónicas, 1e)
crises focais ou com preservação do
secundárias a traumatismo
estados hipercinéticos. As segundas
estado de consciência, pode-se
crânio-encefálico
podem ser 2a) com coma e 2b) sem
recorrer a fármacos anti-
A história clínica deve ser tal como
coma (ausências, focais e
convulsivantes orais (fenitoina,
descrito no ponto 3.
desconhecidas). Cada uma destas
levetiracetam, fenobarbital),
Exames complementares de
situações corresponde à forma de
reduzindo o risco de sedação
diagnóstico:
apresentação inicial e cabe ao clínico
excessiva.
•
glicémia
categorizá-las.
Por fim, é importante estar atento a
•
pesquisa de tóxicos no
3
8
•
avaliar semiologia de infeção
•
avaliar possíveis lesões
65
Indice
generalizadas foram estabelecidos
Indice
66
RUBRICA PEDIÁTRICA | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
sangue e urina •
gasometria
•
hemograma
•
ionograma
•
proteina C reactiva ± procalcitonina
•
doseamento de fármacos anti-convulsivantes (níveis sub-terapêuticos até 32%)10
•
punção lombar se suspeita de infeção do sistema nervoso central
•
EEG - despistar crises nãoepilépticas, atividade epiléptica latente (40% das crianças em estado grave).11
Os exames de imagem deverão protelados para a fase após estabilização10, sendo essenciais no primeiro episódio de mal convulsivo. TRATAMENTO DO DOENTE PEDIÁTRICO MAIS DE 28 DIAS EM ESTADO DE MAL Vários estudos3,12 têm demonstrado que acima dos 28 dias de vida, os fármacos de 1ª linha no EMC são o diazepam, lorazepam ou midazolam (figura 1), sendo vantajosos do ponto administração e estabilidade (tabela 1). Estes fármacos devem ser repetidos ao fim de 5 minutos se a convulsão persistir. Subsequentemente deverão ser usados o levetiracetam e, depois, a fenitoína.3,12 Após 30 minutos de convulsão, com o início dos fármacos de 4ª linha, o risco de depressão respiratória é elevado, devendo estes ser administrados em unidade de cuidados intensivos, eventualmente com recurso a intubação oro-traqueal. É importante referir que alguns
Figura 1 – Fluxograma de abordagem de um doente com mais de 28 dias de vida em EMC. *Fármacos de 3ª linha alternativos (em casos pontuais): valproato de sódio 20-40 mg/kg/dose ev (máximo 1g; pode ser repetido após 15 minutos) ou fenobarbital 20 mg/kg/dose (seguido de incrementos de 8-10 mg/kg a cada 30 minutos). **Os fármacos de 4ª linha deverão ser mantidos até verificação da supressão do padrão epileptiforme no EEG, com redução lenta e sempre sob monitorização da atividade elétrica. (Adaptado de (Wilfong A., 2020)
fármacos como o topiramato e
pelo que a abordagem do EMC requer a
lacosamida têm vindo a ser utilizados
identificação de etiologias
na idade pediátrica e em jovens
potencialmente tratáveis:13
adultos, mas ainda com pouca
encefalopatia hipóxico-isquémica,
evidência científica.3
infeções do sistema nervoso central, alterações metabólicas (hipoglicémia,
PARTICULARIDADES NA
hipocalcémia, hipomagnesémia, erros
ABORDAGEM DO ESTADO DE MAL
no metabolismo da piridoxina ou
NUM RECÉM-NASCIDO
biotina, etc). Relativamente à escolha
No recém-nascido, a crise convulsiva
dos fármacos anti-convulsivantes, não
poderá ser o único sinal clínico de
existe consenso.14,15 O fármaco de
patologia do sistema nervoso central
primeira linha mais usado é o
67
Indice
de vista farmacocinético, vias de
Tabela 1 – Fármacos utilizados na abordagem de um doente com mais de 28 dias de vida em EMC, e características farmacológicas. (Adaptado de (Wilfong A., 2020)
fenobarbital (dose de carga 20 mg/kg
TAKE-HOME MESSAGE:
TAKE-HOME MESSAGE:
ev, repetição em bólus de 10 mg/Kg ev
•
•
Early intervention is essential to
até máximo 40 mg/Kg em 24h), com
convulsivas em idade pediátrica
prevent refractory crisis and
uma eficácia de 50%. Este fármaco
é essencial para evitar situações
neurologic damage.
apresenta, no entanto, vários efeitos
refratárias e danos neurológicos.
•
The most prevalent type of
O tipo de crises mais prevalente
seizures is different according to
respiratória e sedação, e alterações
varia com a idade. Os fármacos e
age. The type of medication and
cognitivas a longo prazo.16 A fenitoína,
respetivas doses podem ser
its dosage can be different in
o midazolam, a lidocaína e o
diferentes na idade pediátrica.
children.
adversos: hipotensão, depressão
levetiracetam são os fármacos de segunda linha mais consensuais 15,17 CONCLUSÃO A abordagem do doente em EMC em idade pediátrica deve ser feita precocemente, através do algoritmo ABCDE, com recurso a fármacos anti-convulsivantes e tratamento de possíveis causas. A escolha dos fármacos anti-convulsivantes depende de múltiplos fatores, incluindo idade pediátrica, acessos e anamnese. A intervenção precoce, geralmente em contexto préhospitalar, é essencial para o controlo da crise e evitar a evolução para um estado refratário com sequelas.
Indice
A Intervenção precoce nas crises
68
•
•
É fundamental conhecer a
•
It is essential to know the
história do doente em convulsão
patient´s past history in order to
de modo a serem tratadas
treat reversible causes
causas reversíveis.
RUBRICA PEDIÁTRICA | SEPARATA CIENTÍFICA n.º 9
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COMISSÃO CIENTÍFICA
69
Indice
10.
Indice
70
CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP
CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP
CARDIOPATIAS CONGÉNITAS: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Mafalda João Pereira1, Andreia J. Fernandes1, Íris Rocha e Oliveira1. 1
Serviço de Pediatria, Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro.
RESUMO
ABSTRACT
CASO CLÍNICO
Apresentamos o caso clínico de um
We present the clinical case of a
Recém-nascido de 7 dias de vida,
recém-nascido com suspeita de
newborn with suspected congenital
sexo masculino, filho de pais
cardiopatia congénita em que o
heart disease in which the Pediatric
ingleses, sem história familiar de
Transporte Inter-hospitalar Pediátrico
Interhospital Transport team of Faro
relevo, nomeadamente de patologia
(TIP) de Faro teve um papel
played a fundamental role in
cardíaca. Como antecedentes
fundamental na estabilização e
stabilizing and transporting the
pessoais, a salientar gestação mal
transporte do doente para o centro
patient to the referral center, where
vigiada, com ecografias do 1º e 3º
de referência, onde recebeu
he received adequate treatment.
trimestres descritas como normais e
tratamento adequado. As
Congenital heart defects are the most
serologias negativas no 1º trimestre.
cardiopatias congénitas são as
common birth malformations. These
Parto eutócico de termo, no domicílio,
malformações mais comuns. Estas
are divided in acyanotic and cyanotic.
sem intercorrências.
dividem-se em acianóticas e
The acyanotic defects do not present
Recorreu ao Centro de Saúde de
cianóticas. Nas acianóticas, como o
with cyanosis and become clinically
Odemira por sinais de dificuldade
próprio nome indica, não se verifica
evident when there is hemodynamic
respiratória (SDR) e cianose, que
cianose e são clinicamente evidentes
instability. The cyanotic defects
apresentava por períodos desde o
quando existe instabilidade
present with cyanosis due to right-to-
nascimento. Observada saturação
hemodinâmica. Nas cianóticas
left shunt.
periférica de oxigénio (SpO2) de 60%,
constata-se cianose por shunt
tendo sido ativada assistência
direito-esquerdo.
diferenciada, nomeadamente a equipa de viatura médica de emergência e reanimação (VMER) de Beja e TIP de Faro. À chegada da equipa TIP, constatou-se sopro sistólico no bordo esternal esquerdo e bordo hepático palpável 3cm abaixo do rebordo costal direito. Por suspeita de cardiopatia cianótica, iniciou oxigenioterapia, por continuous positive airway pressure Keywords: congenital heart disease; cyanosis; newborn.
(CPAP) e perfusão endovenosa de prostaglandina E1 (PGE1). Verificada
71
Indice
Palavras-Chave: cardiopatia congénita; cianose; recém-nascido.
Indice
72
CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP
melhoria de SDR e subida de SpO2
permite a passagem do sangue entre
sistémica1,2. A sintomatologia, muitas
acima de 95%, com estabilização do
a artéria pulmonar e a artéria aorta.
vezes, está presente no período
doente. Transportado para centro de
Após o nascimento, o sangue precisa
neonatal6.
referência de patologia cardíaca, sem
de ser oxigenado através da
As mais comuns são conhecidas
intercorrências.
circulação pulmonar, com
como os “5 T’s”:
Na admissão hospitalar, realizou
encerramento habitual do CA. Se o
•
ecocardiograma transtorácico que
mesmo permanecer aberto, ou
revelou septo interauricular com
patente, o sangue pode contornar a
foramen oval patente, válvulas
circulação pulmonar .
Tetralogia de Fallot (é a mais frequente, 10% do total),
•
Transposição das grandes artérias (a mais frequentemente
4
tricúspide e pulmonar atrésicas e
diagnosticada ao nascer),
ventrículo direito hipertrofiado. Foi
Cardiopatias acianóticas:
•
Atrésia da válvula Tricúspide,
submetido a cateterismo de
Caracterizam-se pela ausência de
•
Tronco arterial comum,
intervenção [stent no canal arterial
cianose, sendo a manifestação
•
Retorno venoso pulmonar
(CA)] e posteriormente realizada
clínica mais habitual o sopro
cirurgia de Glenn (anastomose entre
cardíaco. Quando a malformação
Outras cardiopatias cianóticas
a veia cava superior e a artéria
condiciona instabilidade
incluem a síndrome do ventrículo
pulmonar direita). Mantém
hemodinâmica, torna-se evidente
esquerdo hipoplásico, atrésia
seguimento no Centro de Saúde e em
taquicardia, taquipneia,
pulmonar com ou sem defeitos do
Consulta de Cardiologia Pediátrica,
hepatomegália, diaforese, cansaço
septo ventricular e ventrículo direito
encontrando-se bem clinicamente.
com a alimentação, entre outros .
de dupla saída1,2,6.
anómalo Total.
1,3
Estão incluídos nesta classificação o As cardiopatias congénitas são
shunt da esquerda para a direita,
Durante o período neonatal é essencial
anomalias da estrutura ou função do
resultando num aumento do fluxo
corrigir a cianose. Se houver suspeita
sistema cardiovascular, presentes ao
sanguíneo pulmonar (como no canal
de fluxo sanguíneo dependente do CA,
nascimento e divididem-se em
arterial patente, defeito do septo
a infusão intravenosa de PGE1 a
cianóticas e acianóticas .
interventricular, defeito do septo
0,05-0,1 mcg/kg/min deve ser iniciada
São as malformações congénitas
interauricular) e as lesões obstrutivas
para abrir e/ou manter o CA patente
mais comuns, afetando 0.8-1% de
(como na estenose aórtica, estenose
enquanto se aguarda o diagnóstico
todos os nados-vivos, sendo mais
valvular pulmonar, coartação da
confirmatório6. Como evidenciado
prevalentes em filhos de mulheres
aorta), que geralmente têm fluxo
neste caso clínico, em que houve uma
sanguíneo pulmonar normal .
provável diminuição do calibre do CA
com a mesma patologia (4–10%)
1,2,3
.
2,5
A maioria dos casos tem etiologia
ao 7º dia de vida, diminuindo a
multifatorial, apesar de algumas
Cardiopatias cianóticas:
circulação pulmonar, a administração
lesões estarem associadas a
Podem coexistir vários defeitos
de PGE1 permitiu a estabilização
distúrbios cromossómicos, defeitos
estruturais, em que parte do retorno
cardiopulmonar até que fosse possível
de um único gene, teratogenia ou
venoso sistémico passa do lado
tratamento especializado.
doença metabólica materna . Podem
direito do coração para o esquerdo e
A atrésia pulmonar com septo
ser anomalias isoladas ou fazer parte
volta à circulação sistémica sem
interventricular intacto, a cardiopatia
de uma síndrome, como no caso da
passar pela pulmonar (shunt direito-
presente no caso apresentado,
trissomia 21, síndrome de Williams e
esquerdo) .
consiste na atrésia da válvula
síndrome de Turner .
A cianose, o sinal visível deste shunt,
pulmonar, com obstrução completa da
Na circulação fetal, o sangue não
ocorre quando aproximadamente 5g/
via de saída do ventrículo direito
necessita da circulação pulmonar
dL de hemoglobina desoxigenada
(VSVD), com vários graus de hipoplasia
para ser oxigenado. O bypass é feito
estão presentes na circulação
do ventrículo direito e da válvula
2
1
através do CA, uma artéria que
2,6
tricúspide. Tem uma incidência
73
Indice
1,2
Indice
74
CASO CLÍNICO NEONATAL/TIP
estimada de 4-8:100 000 nados-vivos e corresponde a cerca de 1-3% de todas
BIBLIOGRAFIA 1.
Cardíacas Mais Comuns.” Lições De Pediatria, vol.
as cardiopatias congénitas7.
II, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017,
Nesta entidade, durante a gestação, o CA é pequeno pois o fluxo sanguíneo
pp. 283–296. 2.
al., 8th ed., Elsevier, 2019. 3.
Heart Disease in the Adult.” Harrison's Principles
a persistência do CA é crucial para a
of Internal Medicine (19ª edição). McGraw Hill
sobrevivência, pois é a única fonte de
Education, 2015. 4.
heart.org/en/health-topics/congenital-heart-
Se não tratada, o encerramento do CA deterioração clínica, com acidose
defects/about-congenital-heart-defects/ patent-ductus-arteriosus-pda. 5.
cardiorrespiratória e morte7.
Rao PS. Management of Congenital Heart Disease: State of the Art – Part I — Acyanotic
metabólica grave, hipoxémia, convulsões, choque, paragem
American Heart Association. “Patent Ductus Arteriosus (PDA).” www.heart.org, 2021, www.
pulmonar (através da artéria aorta). geralmente resulta em rápida
Kasper, D. L., Fauci, A. S., Hauser, S. L., Longo, D. L. 1., Jameson, J. L., & Loscalzo, J. “Congetinal
VSVD. No entanto, após o nascimento,
suprimento sanguíneo da circulação
“Acyanotic Congenital Heart Disease.” Nelson Essentials of Pediatrics, Karen J. Marcdante et
fetal da artéria pulmonar através deste é limitado pela obstrução da
Pires, António, and Jorge Saraiva. “Doenças
Heart Defects. Children. 2019; 6(3):42. https:// doi.org/10.3390/children6030042 6.
Rao, P.S. Management of Congenital Heart Disease: State of the Art — Part II — Cyanotic Heart Defects. Children 2019, 6, 54. https://doi.
CONCLUSÃO Sublinha-se a importância de uma adequada vigilância durante a gravidez, do diagnóstico pré-natal, e
org/10.3390/children6040054 7.
Fulton, David R, Carrie Armsby. Pulmonary atresia with intact ventricular septum (PA/IVS), por David M Axelrod, and Stephen J Roth. UptoDate. Fevereiro 2021. EDITORA
da deteção precoce neonatal de sinais sugestivos de cardiopatia. A cianose central em recém-nascidos representa um sinal de alarme. É necessária uma intervenção rápida,
LUÍSA GASPAR Médica Pediatria
altamente especializada e, muitas vezes, life-saving. Tendo em conta que este doente se encontrava num
EDITOR
local remoto, distante do meio hospitalar, tornou-se vital a atuação da VMER/TIP, que perante a suspeita de cardiopatia cianótica, atuou em conformidade, com consequente
NUNO RIBEIRO Enfermeiro VMER TIP
estabilização do doente, possibilitando assim o seu transporte e consequente sobrevivência com
REVISÃO
bons resultados
75
Indice
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
76
Indice
77
Indice
78
NÓS POR CÁ
NÓS POR CÁ
" A IMPORTÂNCIA DE COZINHAR CONVENIENTEMENTE A COMIDA... OU COMO UM MORCEGO MAL PASSADO PODE TRANSFORMAR A VIDA DO PACO, DO ZÉ, DA ISA E DE MAIS DE 6 MIL MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO ..." Daniel Nunez1 Diretor do Departamento de Emergência, Urgência e Cuidados Intensivos (DEUCI) do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA).
Este trabalho pretende apenas relatar
CRONOLOGIA
Dia 13 de março: O Paco reúne as
como foram vivenciados os dias num
DOS ACONTECIMENTOS:
tropas (O Zé, o JM, a Isa, a Mary ...)
Departamento de Emergência,
ainda sem máscaras FFP2 e tentam
Urgência e Cuidados Intensivos após
Timeline
ter sido decretada pela Organização
Dia 11 de março 2020 o que nós
Mundial da Saúde (OMS) a pandemia
considerávamos que poderia ser uma
Os doentes que possam chegar com
pelo Coronavírus (SARS CoV 2).
“gripe chinesa”, na realidade parece
sintomas compatíveis com infeção
Baseado em factos verídicos,
ser mais grave.
por COVID procedentes de áreas com
salienta-se que os nomes das
Aquilo que a DGS vem a público
casos confirmados onde vão ser
personagens tenham sido inventados
transmitir é que estamos seguros e
observados e por quem?
para proteger os intervenientes.
que o vírus nunca iria cá chegar, de
Quais são os critérios de
certa forma tranquilizando-nos.
internamento e alta?
OMS declara pandemia por SARS CoV2.
Se ficam internados aonde e quem
Dia 12 de março 2020: Entrada do
toma conta deles ?
primeiro doente para o quarto 5 da
Quando precisarem de cuidados
UCIP (Único quarto do Serviço de
intensivos onde ficarão alocados ?
Medicina Intensiva 1, nesta data,
Quando precisem de ser ventilados
com capacidade de isolamento
utilizamos o quê ?
respiratório de forma segura).
Quando a equipa dos intensivos
responder algumas questões:
fique doente quem vai manter os Nesta fase inicial apenas temos 14
cuidados ? (...)
camas de medicina intensiva nível III e 10 nível II e só 1 quarto de
Depois de duras negociações foi
isolamento, 16 ventiladores em todo
elaborado o primeiro Plano de
o hospital, monitores multifuncionais
Contingência (PC) delineando-se o
apenas para estas camas de nível III,
seguinte:
seringas e bombas infusoras em número insuficiente...
1. Tem que existir um circuito para
Olhamos para a televisão e aquilo
o doente respiratório (suspeito
que vemos em Itália e Espanha são
COVID) diferente ao circuito do
os doentes em macas espalhados
doente não respiratório, em que
pelos corredores dos hospitais.
este deverá estar no exterior.
79
Indice
1
Indice
80
NÓS POR CÁ
Custou muito no entanto em
E agora o que falta...
Adaptamos áreas do hospital entre
meados de abril foi
Recursos humanos. Poucos.
elas a Decisão Clínica mais 20
operacionalizado. (aldeia
Próximo desafio que se nos coloca;
camas, antiga Unidade de AVC mais
COVID).
formar mais pessoas, criar uma
9 camas, Unidade de Cirurgia de
equipa maior e melhor diferenciada.
Ambulatório mais 8 camas, em
gravidade, de alta e de
Equipas de enfermagem
Portimão abordagem das áreas de
internamento para os doentes
espetaculares, colegas de outros
Cirurgia de Ambulatório no total 18
COVID conforme orientações da
serviços que se voluntariam para
camas para COVID...
DGS. (Realizamos modificações
ajudar de forma desinteressada.
Conseguimos expandir de 23 camas
para adapta-los à nossa
Equipas de assistentes
para 72 camas de medicina intensiva.
realidade)
operacionais que deixam outros
2. São elaborados critérios de
3. Criam-se equipas específicas
serviços ou inclusive outros
Pediram-nos a Expansão da
dedicadas para cuidar estes
trabalhos para nos ajudar.
Medicina Intensiva em dezembro e
doentes.
Médicos internos que desde o
nós “invadimos” outras áreas dentro
primeiro dia se disponibilizam para
e fora do hospital, inclusivamente até
construir, em tempo record, um
fazer o que seja preciso.
foi aberto um polidesportivo (Arena
local onde alocar os doentes
Sem dúvida foi admirável ver como
Portimão) para receber doentes do
infetados COVID de forma segura
este grupo de pessoas trabalharam,
resto do país.
para estes e para os cuidadores.
cresceram e continuam a trabalhar.
4. Elaboramos um projeto para
(Em pouco mais de 4 horas
Agora em março de 2021 estamos
foram colocadas 2 portas e
Os dias passam ... o verão calmo
calmos, cansados, com a satisfação
adaptado o sistema de
com pouca praia ... mas ...
do dever e de missão cumprida...
ventilação da UCIP piso 2
Chegou o Natal e a “variante
Agora no horizonte vislumbra-se
passando a ter uma área para
britânica”.
mais uma onda ... Ok ... se tiver que
receber inicialmente 8 doentes
É nos pedida a “Expansão da
ser ... os surfistas algarvios
COVID e posteriormente até 15
Medicina Intensiva”, o País está à
estaremos prontos e operacionais
doentes).
beira do colapso... situação nunca
para a surfar
5. Foi apresentada uma proposta
antes vivida...
para a construção de uma UCIP
As equipas que combatem a
COVID reaproveitando as
COVID criam uma “irmandade
estruturas previamente
contra o COVID”.
existentes no hospital. (UCIP
“Ninguém vai ficar fora ... quando há
COVID piso 3 inaugurada em
um doente sem vaga na sua região é
agosto de 2020).
transportado para qualquer parte do País para o “acomodar”.
Transposto este problema de onde
É o tempo dos “comboios de
alocar os doentes permanece o
ambulâncias” em direção ao
problema de como garantir o suporte
centro, norte ou sul.
ventilatório.
EDITORA
Agora que temos recursos técnicos
muitas madrugadas a falar chinês,
para tratar os doentes, faltam-nos os
conseguem os recursos técnicos
recursos humanos, os existentes
necessários para dar resposta às
conseguem “aguentar”, contudo,
necessidades da região e de outras
mais uma vez, não temos é espaço
partes do País.
suficiente para os alocar...
CATARINA TAVARES Enfermeira VMER Heli INEM
81
Indice
O Paco, o Dr. ABC e Dra. SUCH, após
Indice
Pedro Rodrigues
82
NÓS POR CÁ
NÓS POR CÁ
LINHA DO TEMPO NA RESPOSTA À PANDEMIA COVID-19 - HOSPITAL DE PORTIMÃO Amélia Gracias1, José Sousa2,4, Monique Cabrita3,4 Enfermeira Supervisora Unidade Hospitalar Portimão; Médico da VMER de Portimão 3 Enfermeira da VMER de Portimão, 4 Elementos integrantes do Grupo Responsável pela Formação das VMER do Algarve 1 2
13.03.2020
abertura do Hospital de Campanha -
Organização Mundial de Saúde como
Esgotada capacidade internamento
COVID ARENA
pandemia internacional, no dia 11 de
Faro. Pedido para abertura de unidade
março de 2020. Desde então, várias
de internamento COVID em Portimão
Estabelecido circuitos elevadores e
13.03.2020
circuitos de circulação internos
medidas têm sido adotadas para conter
•
•
•
18.03.2020
a expansão da doença.
Preparação do Internamento
Neste contexto as organizações
Especialidades médicas para a
Início Reuniões diárias do grupo
adotaram medidas para reorganização
abertura do Internamento COVID A,
operacional
dos recursos humanos e materiais
com a Transferência do Internamento
afetos à prestação de cuidados de saúde
de Gastroenterologia para Cirurgia 2-A
Montagem do contentor 10 (doentes
no sistema de saúde e no Serviço
e transferência do Internamento de
respiratórios) no Serviço de Urgência
Nacional de Saúde para garantir a
Pneumologia para Medicina 3-B.
segurança na abordagem clínica,
•
avaliação e tratamento dos doentes com suspeita ou infeção confirmada por
•
•
•
•
18.03.2020
18.03.2020
23.03.2020
13.03.2020
Abertura Sala de Emergência COVID
Abertura do Internamento COVID A
(pressão negativa)
13.03.2020
•
28.03.2020
SARS-CoV-2.
Preparação abertura do Internamento
A reorganização das unidades de saúde
Covid B, com a transferência dos
veio permitir o bloqueio da cadeia de
Cuidados Paliativos para o serviço de
Montagem de tendas com pressão
transmissão da SARS-CoV-2, a proteção
Ginecologia. Transferência do
negativa: 1 Urgência Geral e 2
dos profissionais de saúde e a redução
Internamento de Ginecologia para a o
Medicina 3-B
do risco de contágio de outros doentes.
Internamento de Obstetrícia •
PREPARAÇÃO DE ESTRUTURA DE RESPOSTA COVID
•
- CHUA PORTIMÃO •
Unidade Hospitalar de Faro •
•
21.04.2020
23.04.2020 Reunião planeamento da retoma da
Abertura do Internamento COVID B
atividade assistencial
14.03.2020
•
11.05.2020
Pré-triagem e Triagem passa a ser
Retoma da atividade cirúrgica Bloco
realizado em tendas no Serviço de
Central •
18.05.2020
17.03.2020
Retoma da atividade cirúrgica Cirurgia
constituída como de Referência
Estabelecimento de circuitos de
do Ambulatório – 1 sala
12.03.2020
urgência na Unidade de Cuidados
Publicado Plano de Contingência
Intensivos (UCI)
Reabertura gradual das Consultas
17.03.2020
Externas
para abordagem à COVID-19 Unidade Hospitalar de Portimão
•
•
14.03.2020
Urgência Geral e Urgência Pediátrica
10.03.2020
Abertura UCI COVID
•
•
18.05.2020
Reunião Proteção civil preparação da
83
Indice
A COVID-19 foi declarada pela
Indice
Figura 1 – Modulo Funcionamento Posto de Triagem Serviço de Urgência de Adultos
Figura 2 - Circuito COVID Serviço de Urgência Contentor 10 – doentes respiratórios e sentados
Figura 3 - Circuito COVID Serviço de Urgência –doentes respiratórios e acamados
Figura 4 – Circuito COVID Serviço de Urgência Pediátrica - Contentor Serviço de Urgência Pediátrica
Figura 5 - Serviço de Internamento COVID A
84
NÓS POR CÁ
•
18.05.2020
das colheitas programadas
Encerramento UCI COVID
internamente
Internamento Cirurgia 2-B passa
26.10.2020
novamente a internamento de
Criado Gabinete de Crise
cirurgia
18.05.2020
•
Encerramento Internamento COVID B •
18.05.2020
Sala de Triagem do Serviço de
necessidade internamento em
Urgência Geral passa a funcionar em
Cuidados Intensivos aguardam
módulo exterior ao hospital, onde
resultado zaragatoa na sala 3 (Quarto
anteriormente funcionava a cafetaria
•
•
12.02.2021
23.12.2020
Montagem contentor de doentes
Abriu Internamento COVID B
respiratórios e acamados no Serviço
10.01.2021
de Urgência
no Serviço de Urgência Pediátrica
•
Encerrou Drive-Thru Arena
08.06.2020 •
12.01.2021
•
•
12.02.2021
20.03.2021 Encerramento do Internamento Covid A
para receção de casos suspeitos,
Abriu Internamento COVID C no
doentes positivos são transferidos
serviço de Medicina 3-B
O planeamento estratégico e a
13.01.2021
organizacional revelaram-se
06.07.2020
Abriu UCI NÃO COVID no Serviço de
fundamentais para garantir o sucesso na
Abertura do Drive-Thru na Unidade de
Cirurgia do Ambulatório
resposta à pandemia. Esta constituiu um
13.01.2021
desafio para a instituição e compeliu a
realização das colheitas
UCI COVID estende-se e passar a
um esforço conjunto de todos os
programadas internamente
ocupar também a UIDA
profissionais conduzindo à utilização de
28.01.2021
estratégias adaptativas para o combate
Inicio Preparação 2ª e 3ª Vagas
Abertura Internamento Medicina
à mesma.
09.07.2020
Interna no Hospital S. Gonçalo em
As estratégias adaptativas mostraram-
Internamento COVID B Desativado
Lagos
se efetivas e fundamentais para dar uma
12.01.2021
resposta satisfatória aos utentes que
UCI COVID recebe doentes positivos
Cirurgia 2-B passa a receber doentes
acorrem à nossa unidade hospitalar.
com necessidade de cuidados
de Medicina
O Plano de Contingência para a
05.02.2021
preparação da próxima vaga já foi
necessidade de cuidados
Preparada mais uma UCI COVID
aprovado pelo Conselho
intermédios.
no BO
de Administração
06.07.2020
09.07.2020
09.07.2020
•
•
•
•
•
•
10.02.2021
UCI NÃO COVID entra em
UCI COVID BO desativado e
funcionamento na UIDA (Unidade de
Regresso BO •
15.02.2021
11.10.2020
Encerrou Hospital de Campanha
Internamento COVID A passa a
COVID Arena
receber doentes positivos •
Reabriu Drive-Thru Arena
10.01.2021
Internamento de doentes agudos) •
23.02.2021
Montagem contentor circuito Covid
intensivos e doentes com
•
•
ARENA
Portimão para dar resposta à
•
Encerramento Internamento COVID B
Reabertura capacidade cirúrgica total
para a Unidade Hospitalar de Faro
•
26.02.2021
Abriu Hospital de Campanha COVID
Internamento Covid A aberto apenas
•
•
•
19.02.2021
08.06.2020 ambulatório
•
•
25.05.2020 Abertura Consultas Externas
•
27.10.2020
Doentes suspeitos COVID com
Isolamento) da UCI Não COVID •
•
•
•
para manter resposta à realização
15.02.2021 Encerrou Internamento COVID UIDA
14.10.2020 Abertura Drive Thru no Pavilhão Arena
EDITORA
•
19.02.2021 Encerrou Internamento COVID C
CATARINA TAVARES Enfermeira VMER Heli INEM
85
Indice
•
Indice
86
NÓS POR CÁ
NÓS POR CÁ
COVID-19 ARENA PORTIMÃO: “UM AMOR EM TEMPOS DE GUERRA” Maria Inês Simões1 Assistente Hospitalar em Medicina Interna; CHUA-UHPortimão
Esta história começou no dia 8 de
H), com 8 camas cada (numeradas
tínhamos um Hospital de Campanha
Janeiro de 2021, para outros tinha
de 1 a 8), viria a permanecer a
completamente operativo e no dia
começado quase um ano antes. É a
maioria dos doentes que admitimos.
10 de Janeiro admitimos os
história do Hospital de Campanha de
As restantes camas estavam
primeiros doentes.
Portimão: o Internamento Covid-Arena.
distribuídas por boxes individuais, na
A partir daí, até ao encerramento a 15
O Portimão Arena situa-se no Parque
zona posterior a essa área de
de Fevereiro, foram 35 dias de muita
de Feiras e Exposições de Portimão.
trabalho. Lateralmente, a área de
adrenalina, intensidade e entre-ajuda.
Abertas as portas em Setembro de
doentes agudos, com capacidade
A equipa médica era constituída por
2006, nunca esta estrutura de
para 4 doentes com monitorização
dois especialistas, coordenadores
arquitectura moderna e vanguardista
eletrocardiográfica contínua. Era
(eu, Internista, e a Dra. Ana Ferreira
pensou que a versatilidade que se lhe
dotada de um monitor-
Castro, presidente do CA e
apregoava serviria, também, para ser
desfibrilhador, dois ventiladores
Oncologista), por alguns clínicos
transformada em Hospital de
para ventilação invasiva e dispunha
gerais e internos da formação geral e
Campanha em meados de 2020, para
de 6 ventiladores para ventilação
específica (Psiquiatria, Reumatologia,
fazer frente a uma pandemia.
não invasiva.
Pediatria e, pontualmente, Cirurgia
Não sei precisar, mas penso que terá
No dia 9 de Janeiro de 2021, Sábado,
Geral e Patologia Clínica). Cerca de
sido em Abril de 2020 que a
com o número crescente de casos a
15 dias depois, no âmbito do
Protecção Civil Municipal e a Câmara
nível regional e nacional e atingida
programa de estágios opcionais,
Municipal de Portimão, decidiram
75% da capacidade de internamento
integraram a equipa os alunos de
montar um Hospital de Campanha
no CHUA, houve necessidade de
medicina da UALG. Em termos de
como estrutura de retaguarda para o
activar esta estrutura e montar o que
funcionamento de enfermaria, a parte
que se antevia, com base nos relatos
faltava para que um Hospital de
médica foi organizada de modo a que
de outros países europeus. Foi
Campanha pudesse operar. Nesse
o coordenador tivesse a
utilizado o Portimão Arena e foi
sentido, os consumíveis e fármacos
responsabilidade de discutir os casos
equipada uma estrutura capaz de
foram transportados do Hospital de
com todos os internos e alunos e
alocar 100 doentes, com uma área
Portimão para o Portimão Arena. Em
definir os planos para cada doente.
com capacidade para receber
termos de stocks, foi usado como
Era necessário que o coordenador
também doentes agudos/críticos.
exemplo o internamento COVID-A de
soubesse sempre tudo sobre todos
Esta estrutura, geometricamente
Portimão. Nesse dia e no dia
os doentes. Para mim essa foi a
desenhada, foi pensada de modo a
seguinte, foram colocadas as roupas
parte mais angustiante, tentar aliar o
ter uma zona central – área de
nas camas (provenientes do CHUA e
perfeccionismo e a excelência dos
trabalho – constituída por vários
de doações), foi montado o armazém,
cuidados a um cenário de guerra,
postos de trabalho, farmácia e
os circuitos de sujos e limpos. Foi
com o terror de pensar que pudesse
armazém. Em frente a esta, uma zona
tratado do sistema informático
falhar alguma coisa, privando algum
com 8 divisórias (identificadas de A a
(sistema VPN). Em menos de 24h,
doente dos cuidados adequados.
87
Indice
1
Indice
88
NÓS POR CÁ
A equipa de enfermagem e de
Chegámos, inclusivamente, a receber
o encerramento do Covid Arena. Para
assistentes operacionais foi
doentes a necessitar de VNI na altura
trás deixámos lembranças de
recrutada de vários serviços.
em que houve a rotura do sistema de
doentes, de famílias, deixámos
Chefiada pela Enf. Monique Cabrita,
oxigénio do Hospital Fernando da
muitas vidas que conseguimos
foram organizados à semelhança do
Fonseca e os mesmos acabaram por
devolver às suas casas, ao seu
que acontece noutras enfermarias,
ter alta para o domicílio. Tivemos
aconchego, ao seu lar. E aos que isso
com a diferença de que eram rácios
também aquilo que considero ter sido
não foi possível, conseguimos dar a
muito abaixo do desejável. Destaco
a grande mais valia deste
dignidade que mereciam no final da
ainda o papel essencial do Serviço
internamento, as ‘visitas virtuais’.
sua vida.
Social, principalmente quando a
Através de videochamadas,
Feitas as contas, tivemos 170
maioria dos nossos doentes não era
conseguimos tornar mais pessoal e
admissões, demos 117 altas,
do Algarve.
humanizada, uma experiência que
transferimos 31 doentes (para outras
Os primeiros dias, diria que as
poderia ter sido aterradora.
enfermarias do CHUA por
primeiras duas semanas, foram as
Houve alturas de medo. Lembro-me,
agudização, por intercorrência –
mais complexas. O material inicial
por exemplo, ao início, quando
enfarte, hemorragia digestiva, ...),
fora decidido com base no que a Enf.
fazíamos a contagem do tempo e das
falecerem 22 pessoas. Recebemos
Monique e eu achávamos que
reservas de oxigénio que
40 doentes do HFF, 22 do HGO, e os
poderia vir a ser necessário, com
dispúnhamos, praticamente de hora
restantes de enfermarias COVID do
base na nossa experiência no
a hora, dia e noite. Até ter sido
CHUA, Beja, Santiago do Cacém,
internamento COVID. Com o tempo
instalado o circuito de oxigénio, foi o
Elvas, Portalegre, Barreiro, Setúbal,
fomos percebendo algumas
mais aterrador. Foi assustadora, por
Loures e Vila Franca de Xira.
necessidades acrescidas e
exemplo, a noite em que estava
O Covid Arena foi, em jeito de resumo
dificuldades adicionais. Posso dizer
previsto recebermos 20 doentes da
e para tentar descrever aquilo que se
que no início, valeu-nos muito o
área de Lisboa e não havia reservas
foi sentindo por lá, viver sempre com
exercício que tínhamos feito com o
de oxigénio nem para os que já lá
a emoção à flor da pele. Foi dedicar
INEM sobre intervenção em
estavam internados. A Enf. Monique
tempo, abdicar da vida cá fora, e
catástrofe, no simulacro do
foi, às 2h da manhã, para o Hospital
dedicar-nos e cuidar muito uns dos
aeródromo em Fevereiro de 2020, no
de Portimão, arrecadar todas as
outros e daquelas pessoas. Foi ter a
que toca a gestão de prioridades e
balas de oxigénio disponíveis. No
certeza que fizemos o melhor que
organização de circuitos. O Covid-
fundo estas pessoas vinham para o
sabíamos com o pouco que
Arena foi mesmo isso:
Hospital de Campanha porque
tínhamos. E foi principalmente
essencialmente um exercício de
careciam de internamento, a maioria
agradecer a oportunidade que foi
gestão de prioridades. Tínhamos a
por necessidade de oxigenoterapia, e
poder viver isto tudo desta maneira
ideia, que se revelou errada, que não
estávamos a ficar sem ele. O COVID-
tão especial
conseguiríamos salvar (muitas)
Arena foi muito isto: antecipar
vidas. Por isso urgia definir
problemas e tentar resolvê-los,
estratégias. Com a falta de recursos
porque o que fosse para correr mal,
que tínhamos (principalmente
era certo que ia correr.
humanos) e com o que se adivinhava,
Em termos pessoais, senti que ao
era impossível fazer medicina
início as pessoas estavam
‘normal’. Felizmente, graças ao
contrariadas e com medo. Durou uns
CHUA, à protecção civil, à Câmara
dias. Poucos. Depois da fase de
Municipal de Portimão, à AMAL, a
estranheza inicial, garanto que todos,
voluntários, em termos de recursos
até os menos sentimentais e
materiais não nos faltou nada.
emocionais, ficaram nostálgicos com
EDITORA
89
Indice
CATARINA TAVARES Enfermeira VMER Heli INEM
Indice
90
EMERGÊNCIA INTERNACIONAL
EMERGÊNCIA INTERNACIONAL
A PANDEMIA NA ILHA DO PRÍNCIPE ENTREVISTA AO ENFERMEIRO JOÃO FERNANDES Caros Leitores, Nesta edição da rubrica “Emergência Internacional” iremos viajar até à Ilha do Príncipe e tentar perceber como funciona o sistema de emergência local bem como o plano elaborado para responder à pandemia por COVID-19. Iremos conhecer o Enfermeiro João Fernandes que nos irá partilhar a sua história de vida e o seu percurso profissional, ele que é um dos muitos enfermeiros portugueses pelo mundo. Os Editores.
LIFESAVING (LS) - Boa Tarde João.
António (HGSA) foi na área de
Urgência e Emergência pela
Antes de mais agradeço imenso teres
Neurologia e Unidade de AVC onde
Universidade do ICBAS e
aceitado o nosso convite e poderes
estive quase 5 anos, e onde
Universidade de Barcelona, e onde
responder às nossas questões. Como
regularmente ia fazendo estágios no
tive a oportunidade de tirar formação
pergunta inicial pretendemos que nos
INEM e formações na área da
em resgate na montanha e resgate
explicites o teu percurso profissional,
Emergência. Após várias tentativas
aquático por exemplo. Finalmente em
o teu curriculum, e de que forma é que
de transferência sempre negadas eis
2014 surge a primeira missão em
a área de urgência e emergência
que aparece a oportunidade de partir
Kibera na maior favela do mundo, no
apareceu no teu percurso profissional.
numa primeira missão para São
Kenya, onde fui sozinho como
João Fernandes (JF) - Comecei a
Tomé e Principe e a qual me foi
voluntário colaborar com
trabalhar em 2001 após concluir a
negada pelo diretor do hospital onde
organizações locais na resposta
minha licenciatura em Enfermagem,
trabalhava. Naquele momento
médica a crianças sem acesso a
sendo que no último ano tinha estado
percebi que não teria a liberdade para
cuidados de saúde de qualidade.
em Erasmus em Oviedo, onde tive a
escolher o meu caminho e em
Naquele momento senti que não
minha primeira experiência em
parceria abri o meu próprio negócio
tinha sido eu a escolher o sonho, mas
Urgência, pois realizei estágios
com a minha sócia Elisa Quintela,
o sonho que me escolheu a mim.
profissionais no serviço de Urgência,
uma clínica médica e uma empresa
Seguiram-se 6 meses em Bafáta na
Cuidados Intensivos e SAMU, que é a
de formação para profissionais de
Guiné-Bissau com os Médicos Sem
entidade de emergência pré-
saúde chamada Workapt, onde
Fronteiras, em emergência pediátrica
hospitalar de referência em Espanha,
desenvolvemos formação na área da
que foi a experiência mais
seguindo-se por último o estágio final
emergência essencialmente. Dentro
impactante na minha vida e onde tive
em SU em Portugal. A partir daí sabia
dos projetos que fomos criando
de liderar uma equipa de 23
que a Urgência e Emergência era a
lancei a marca ES24 que tinha como
enfermeiros locais, com os quais
área que mais me identificava e me
uma das suas valências a assistência
aprendi muito também. A partir daí
poderia levar a realizar o meu sonho
médica a eventos e onde a
surge novo convite, desta forma
de fazer missões internacionais de
emergência volta a surgir, muito
através de uma empresa chamada
emergência. No entanto a
também pela influência de um grande
HBD- Her Be Dragons que tem como
oportunidade de trabalho que surgiu
amigo e profissional Ruben Santos,
objetivo fazer da ilha do Principe um
no antigo Hospital Geral de Santo
com quem tirei o Mestrado em
exemplo de eco-sustentabilidade
91
Indice
Eva Motero e Rúben Santos
para o Mundo, e com a qual me
Mundo, pois ainda estive largos
sofria de constantes ataques
identifiquei de imediato. O meu papel
meses em Guadalupe num projeto
terroristas pelo grupo Al-Shabaad, um
era reconhecer os principais riscos
diferente de cuidados primários.
grupo extremista somáli, tendo feito
Indice
que colaboradores e turistas tinham
na altura evacuar todas as
na ilha e criar um espaço para
(LS) - De que forma é que chegas à
embaixadas internacionais pois
estabilização e evacuação de
emergência internacional e como foi
Nairobi essencialmente era uma
pacientes urgentes, assim como dar
a tua primeira missão?
cidade insegura. Quando cheguei foi
assistência médica a todos
(JF) - A minha primeira missão surgiu
quando tudo começou a acontecer,
colaboradores da empresa e suas
por iniciativa própria pois sentia que
mas felizmente eu estava em Kibera,
famílias, assim como apoiar a
não podia esperar mais e tinha de
a maior favela de África onde não há
Hospital Local com formação e
partir. Investiguei, soube de uma
um número exato de pessoas lá a
capacitação e dar assistência a
portuguesa que tinha uma
viver mas que se pensa ser
todas as pessoas que necessitem de
organização de apadrinhamento de
aproximadamente 1 milhão. Kibera é
cuidados de saúde de qualidade.
crianças em Kibera no Kenya
um local impactante, milhares de
Dentro da empresa temos
chamada From Kibera With Love,
pessoas refugiadas de países
desenvolvidos vários projetos
liderado pela corajosa Marta Baeta,
vizinhos, uma favela onde existe
internos e também de cariz social,
com quem falei e percebi que a saúde
muita violência de género, lixo, falta
onde com mais 2 espetaculares
é altamente negligenciada e onde
de condições básicas sanitárias,
colegas, a Mariana Carmo e o Márcio
poderia ser um ponto de partida. Fiz
muito pobre e onde as crianças são
Silva, temos feito períodos de rotação
as malas, carregadas de material de
muito vulneráveis em todos os
ao longo do ano. Desta forma divido
saúde e kits de rastreio de HIV e
aspetos. Em Kibera, deves voltar para
o meu tempo entre Portugal com a
parti. Nesse dia tinha percebido que
casa cedo, a noite é bastante
minha empresa, Principe e pelo
tudo ia mudar. Foi em 2014 e o Kenya
perigosa, há tiros e gritos frequentes
92
EMERGÊNCIA INTERNACIONAL
nas ruas. Na verdade, eu tenho uma
infantil que na altura era de
nós. É evidente que o dia da
imagem um pouco diferente, senti
aproximadamente 20%, sendo a
despedida da nossa família é o que
que fui bem recebido pelas pessoas,
Malária a principal causa de morte.
mais custa, mas quando chegamos
“Karibu, Karibu”, significa bem vindo,
Foi a experiência da minha vida, mas
conhecemos a nova família
diziam-me sempre, a sua simplicidade e
mudou a minha perceção sobre a
temporária e acima de tudo quando
resiliência eram admiráveis e as
morte e fez-me ver o quão
nos entrosamos no sentido da missão
crianças simplesmente enchiam-me o
afortunados somos, pois em
tudo se torna mais leve e fácil de gerir.
coração de amor e coragem. Era por
condições normais, como em
elas que ali estava e deram-me muito
Portugal, tínhamos conseguido salvar
(LS) - Invariavelmente teremos de
mais do que alguma vez lhes poderei
praticamente todas elas. No entanto
falar na Pandemia que nos assombra
dar. Muitas infeções respiratórias,
fez-me desenvolver a aceitação de
e falamos da Ilha do Príncipe. O que
muitas diarreias, muito HIV entre outras,
que fiz tudo o que era possível e
nos podes contar dessa aventura,
fazia o que podia com o que tinha e
impossível para salvar aquelas
como chegaste aí e o que tens
antes de partir estabeleci uma parceria
crianças, e isso preenche-nos o
desenvolvido?
com uma clinica local, onde faria
coração com o sentimento de dever
(JF) - Eu cheguei precisamente no
doações à clinica e esse espaço seria
comprido ainda que doa não termos
momento que tudo começou, em
responsável por dar assistência a todas
salvo mais crianças. Para terem a
Março de 2020. A Pandemia já
as crianças da organização da Marta,
noção, o nosso equipamento de SAV
assustava o Mundo e sabíamos
que peço a todos para visitarem nas
era um insuflador manual, uma
inevitavelmente que ia chegar cá
redes sociais. E foi assim o princípio da
ampola de Adrenalina, um aspirador
também. Desta forma a primeira
minha aventura Humanitária.
de secreções de pedal e um
coisa a fazer foi sensibilizar todos os
concentrador de oxigénio que tinha
hotéis e residenciais locais a
(LS) - Existe algum tipo de
de ser partilhado para mais 6
fecharem, de maneira a diminuir o
preparação que costumas realizar
crianças, mas ainda assim reduzimos
fluxo de passageiros entre as ilhas,
antes de partires para missão?
a taxa de mortalidade de 20% para
São Tomé e Principe, reduzindo assim
(JF) - Bom para além das vacinas e do
2% e isso diz tudo sobre o sucesso
a porta de entrada a potenciais
check up geral, leio bem sobre a missão,
da missão.
infetados que entrassem na ilha. Era
sobre o País a sua cultura e tradições. É
Pelo caminho, já passei por Kibera na
inevitável que isso ia acontecer e foi
importante adaptarmo-nos o mais
maior favela do Mundo no Kenya,
preferível fechar por responsabilidade
depressa possível para podermos
Bafatá na Guiné Bissau e desde 2016
do que por consequência.
rapidamente dar o melhor de nós.
em rotações na ilha do Principe em
Foi então criado o Comité de Crise à
São Tomé e Principe. Pelo meio tive
Resposta ao COVID 19, liderado pelo
(LS) - Qual o momento que mais te
também uma experiência nas
Srº Presidente da Região Autónoma do
marcou em missão, podes
Antilhas Francesas mas fora o
Príncipe (RAP), onde eu e a minha
descrever? Quais foram os países
contexto de missão de emergência.
colega Mariana fizemos parte como conselheiros e membros ativos na
onde já trabalhaste? (JF) - O momento que mais me
(LS) - Quais as dificuldades que
resposta, apoiando diretamente na
marcou foi num só dia ter visto mais
sentes (em missão) e como as
construção do plano de resposta,
crianças a morrer que em toda a
consegues ultrapassar?
formação dos profissionais de saúde,
minha carreira como enfermeiro.
(JF) - As principais dificuldades são
desenho do hospital de campanha, um
Estava em Bafatá na Guiné, onde
sempre os primeiros dias de
centro de operações 116, e
trabalhei com os Médicos Sem
adaptação ao país diferente e com
transformámos um resort num espaço
Fronteiras numa missão de
raízes culturais distintas, mas que
de isolamento de idosos e pessoas
Emergência Pediátrica em que o
depois se torna algo “normal” para
vulneráveis. Tudo isto foi possível
93
Indice
objetivo era diminuir a mortalidade
Indice
94
EMERGÊNCIA INTERNACIONAL
graças ao apoio continuo e
meses aproximadamente,
iniciando pelos profissionais de saúde e
incondicional de Mark Shuttleworth
acompanhados por equipas do staff da
profissionais na 1ª linha, assim como
que para além de ter disponibilizado o
HBD devidamente treinadas e com uma
idosos com comorbidades de risco.
resort, investiu em EPI´s e material
capacidade de encaixe emocional muito
Estes 20% estão já garantidos através
médico para que os profissionais de
grande e que têm muito mérito no
do programa COVAX, restando agora
saúde estivem devidamente equipados
sucesso da resposta na 1ª vaga.
encontrar parceiros para financiar a
e protegidos. A equipa de saúde local
Durante a primeira vaga tivemos 29
compra e implementação das vacinas
liderada pelo Drº Sylvio Vera Cruz, e
casos na ilha, todos provenientes de um
que representam os 50%
com a qual colaborámos sempre
voo de repatriamento entre ilhas e a
remanescentes a serem aplicados em 3
juntos, foi na minha opinião a grande
qual contivemos através do isolamento
fases até ao início de 2022.
responsável pela contenção do vírus
dos passageiros em residenciais
na primeira vaga.
preparadas e vigiadas pelo exército
(LS) - Como funciona a emergência
durante 21 dias. Como não tínhamos na
pré-hospitalar na Ilha do Príncipe?
(LS) - Podes descrever quais os
altura capacidade de testagem
(JF) - A emergência pré-hospitalar não
recursos de saúde que existem na
tínhamos de colocar toda a gente em
existe. O Hospital tem uma ambulância
ilha e o trabalho que desenvolveste
quarentena, pois os testes PCR eram
tripulada por um motorista e um
na luta contra a COVID-19, descrever
todos enviados para fora. Após esse
maqueiro com formação muito básica
o plano que implementaram?
período o Principe teve 100 dias sem
mas sem competências em emergência
(JF) - O plano consistiu essencialmente
registar nenhum infetado, sendo que
pré-hospitalar. A formação básica que
pressionar ao estado de emergência de
com o desconfinamento e com o Natal,
possuem foi ministrada pelo nosso
modo a fechar os pontos de entrada no
o vírus voltou a chegar à ilha e conta
departamento a nível de trauma e
aeroporto e porto, ativar a linha de apoio
atualmente com um total de 61 casos e
primeiros socorros, no entanto, existe o
e triagem 116 de modo a encaminhar
0 mortes. Atualmente temos uma
sonho de capacitar e melhorar as suas
potenciais suspeitos para os locais de
capacidade de testagem superior, com
competências e recursos num futuro
avaliação, tornar o hospital de
testagem PCR disponível, mas ainda
próximo e iniciar um projeto de
campanha, que era um jardim de
assim limitada, mas acredito que o
qualificação pré-hospitalar na Ilha do
infância, prático e com um circuito
diferencial de casos entre ilhas se
Principe. Recentemente ministramos
seguro e capaz de responder até a um
justifica pela implementação da
em parceria com a Workapt e HBD, uma
número máximo de 30 doentes. Depois
obrigatoriedade de realização de testes
formação certificada em TATU -
foi feito um trabalho de sensibilização
antigénio entre ilhas que ajudou muito
Triagem, Avaliação e Tratamento de
em toda a ilha, sobre higiene
na triagem de infetados a chegaram ao
pessoas Urgentes, a todos os
respiratória, lavagem de mãos,
Principe. Continuamos na luta apesar
profissionais de saúde no Principe. No
reconhecimento de sintomas e uso de
de atualmente existir uma descrença
fundo é uma abordagem ao doente
máscara, que eram produzidas na
perigosa e negligente por parte de toda
urgente e emergente através da
própria ilha, ajudando assim também o
a população que não está a cumprir
sistematização ABCDE.
comércio local. É importante referir que
com o as medidas nem com o uso
o príncipe não dispõe de cuidados
obrigatório da máscara.
intensivos ou ventilador, a capacidade
(LS) - Por último, pedimos que nos
de resposta a situações de urgência e
(LS) - No que respeita à vacinação,
que encontras em cenário de missão,
emergência é limitada por isso
têm algum plano implementado?
qual foi a tua aprendizagem em todos
sabíamos que tínhamos de prevenir
(JF) - O programa de vacinação está já
estes contextos e uma mensagem final
acima de tudo. Em paralelo
definido e tem como target 70% da
que queiras deixar aos nossos leitores.
transformamos um resort num centro
população. Será dividida em 4 fases,
(JF) - Em primeiro lugar partir em
de isolamento de idosos e pessoas
sendo que a primeira fase tem como
missão deve ser uma decisão tomada
vulneráreis onde tiveram durante 4
objetivo vacinar 20 % da população
com o coração e intuição, mas
95
Indice
descrevas quais os pontos positivos
Indice
96
EMERGÊNCIA INTERNACIONAL
também com a consciência clara que
amor que recebemos. Fazemos amigos
é acima de tudo uma aprendizagem
para a vida. É uma experiência que nos
profissional e Humana a um nível
muda para a vida, não pela viagem ao
completamente diferente a que
outro lado do Mundo mas pela viagem
estamos habituados. Temos de estar
que fazemos dentro de nós.
preparados para sair fora da zona de
O meu conselho é vão se isso é um
conforto, mas para mim isso é bom.
sonho para vocês, não fiquem
Somos imersos num ambiente em
eternamente à espera do momento
que as pessoas têm histórias de vida
certo porque a vida é isso mesmo, um
profundas, com tradições antigas,
momento, e a ir vão com quem
onde falam vários idiomas e
realmente faz a diferença e isso sou
vivenciam a morte desde muito novos.
muito claro. Médicos Sem Fronteiras,
Somos imersos num ambiente onde a
estamos onde mais ninguém quer
escassez de recursos, as condições
estar e aproveito para sensibilizar
de vida básicas por vezes não existem
todos os leitores a apoiar esta ONG
e os padrões culturais vão desafiar a
que faz a verdadeira diferença por
nossa capacidade de encaixe,
todo o Mundo
desenrasque e resiliência, mas onde encontramos nos nossos colegas de
EDITORA
EVA MOTERO Médica VMER
EDITOR
Muito obrigado pelo teu contributo.
missão a nossa força e aquele No entanto, o mais positivo são as incríveis pessoas que conhecemos, os laços que criamos com os povos, e o
Um forte abraço, Ruben Santos Eva Motero
RÚBEN SANTOS Enfermeiro VMER
97
Indice
empurrão extra para continuar.
NÓS POR CÁ
REVISÃO ESTATÍSTICA DE 1 ANO DE COVID-19 Ana Isabel Rodrigues1, André Abílio Rodrigues2,3, Solange Mega2,3 Médica VMER1, Enfermeiro VMER2; Enfermeiro SIV3
Passado 1 ano dos primeiros casos de infeção por COVID-19 diagnosticados em Portugal, decidimos realizar a presente revisão estatística, com o objetivo de caracterizar as ocorrências ao longo deste último ano, das VMER`s de Faro e Albufeira. Para o efeito utilizámos o período de tempo compreendido entre 1 de Março de 2020 e 28 de Fevereiro de 2021.
QUESTÃO 1: QUAL O GÉNERO E A FAIXA ETÁRIA MAIS REPRESENTATIVA NESTE PERÍODO DE TEMPO? Tendo como base os gráficos 1 e 2, podemos verificar que o género mais frequente nas ocorrências de ambas as VMER`s foi o masculino, com 56% para a VMER de Faro e 57% para a VMER de Albufeira. O intervalo de idades mais comum, também para ambas as VMER`s, encontra-se compreendido entre os 81 a 90 anos, correspondendo a 21,7% de ativações para a VMER de Faro e 17,6% para a VMER de Albufeira. Pode-se verificar que mais de um terço das ativações
Gráfico 1: Distribuição das ocorrências por género
ocorre nas faixas etárias compreendidas entre 71 a 90 anos, e representam 39% do total de ocorrências para a VMER de Faro e a 33,7% para a VMER de Albufeira.
Indice
Gráfico 2: Distribuição das ocorrências por faixa etária
98
NÓS POR CÁ
QUESTÃO 2: QUAL FOI O TIPO DE OCORRÊNCIA MAIS FREQUENTE? Ao efetuarmos a revisão estatística verificámos que o tipo de ocorrência mais frequente, para ambas as VMER`s, foi a Paragem Cárdio-respiratória (PCR), representado 30% das ocorrências da VMER de Faro e 22% na VMER de Albufeira, seguida da Alteração do estado de consciência (AEC) e da Dor torácica.
Gráfico 3: Tipo de ocorrências mais frequentes, de 1 de Março de 2020 a 28 de Fevereiro de 2021
QUESTÃO 3: QUAL A PERCENTAGEM DE VÍTIMAS TRANSPORTADAS PARA UMA UNIDADE DE SAÚDE? Tendo como base o gráfico 4, podemos verificar que a maioria das vítimas foram transportadas para uma unidade de saúde, correspondendo 66% e 69% para a VMER de Faro e Albufeira respetivamente. Gráfico 4: Percentagem do transporte das vítimas
QUESTÃO 4: QUAL A PRINCIPAL CAUSA DA VÍTIMA NÃO TER SIDO TRANSPORTADA? A principal causa do não transporte em ambas as VMER`s foi a morte, representando 80% para a VMER de Faro e a 75% para a VMER de Albufeira.
99
Indice
Gráfico 5: Percentagem das causas do não transporte das vítimas
QUESTÃO 5: DAS VÍTIMAS TRANSPORTADAS PARA UMA UNIDADE DE SAÚDE QUAL A PERCENTAGEM DAS QUE TIVERAM ACOMPANHAMENTO MÉDICO Avaliando o Gráfico 5 podemos verificar que, das vítimas que foram transportadas a uma unidade de saúde, apenas 42% necessitaram de acompanhamento médico na VMER de Faro, e 28% na VMER de Albufeira.
Gráfico 6: Percentagem das vítimas que foram transportadas e que tiveram acompanhamento médico
QUESTÃO 6: SENDO A PCR A OCORRÊNCIA MAIS FREQUENTE AO LONGO DESTE ANO DE COVID, EXISTIU ALGUMA VARIAÇÃO MENSAL SIGNIFICATIVA AO LONGO DESTE ANO? Tendo por base o gráficos 6, podemos verificar que a VMER de Faro teve a sua maior percentagem de ativações para PCR em janeiro de 2021 (12%). Por outro lado, a VMER de Albufeira teve 3 meses com maior prevalência deste tipo de ocorrência: Abril de 2020 (14%); e agosto de 2020 e janeiro de 2021, ambos com 16%.
Indice
Gráfico 7: Ativações para Paragem Cárdio-respiratória
100
NÓS POR CÁ
das vítimas foram transportadas, e
“Assim, nós por cá… poderemos
destas só 28% tiveram a necessi-
concluir que, neste primeiro ano de
dade de acompanhamento médico.
pandemia COVID-19, as VMER`s de
Verificamos também que o tipo de
Faro e Albufeira foram ativadas
ativação mais frequente para
maioritariamente para vítimas do
ambas as VMER`s foi a Paragem
sexo masculino e com idades
Cárdio-respiratória, representado
compreendidas entre 71 e 90 anos.
30% do total de ocorrências da
Em ambas as VMER, a maioria das
VMER de Faro, e 22% na VMER de
vítimas teve a necessidade de ser
Albufeira. O pico de ativações para
transportada para uma unidade de
este tipo de ocorrência, nas duas
saúde. Na VMER de Faro 66% das
viaturas médicas, ocorreu em
vítimas foram transportadas, das
janeiro de 2021, coincidente com o
quais 42% tiveram a necessidade de
registo de maior número de novos
acompanhamento médico. No que
casos confirmados de infetados
concerne à VMER de Albufeira, 69%
com o SARS-COV-2
EDITOR
ANDRÉ ABÍLIO RODRIGUES Enfermeiro SIV/VMER
EDITORA
SOLANGE MEGA Enfermeira SIV/VMER
EDITORA
ANA ISABEL RODRIGUES Médica VMER CODU
101
Indice
ASSIM, NÓS POR CÁ…
FÁRMACO REVISITADO
ROCURÓNIO
Inês Pires Sousa1,2 Interna de Formação Específica de Anestesiologia do Centro hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) Médica VMER de Vila Nova de Gaia
1 2
O rocurónio é um relaxante
de acção intermédia. O início de ação
FORMAS DE APRESENTAÇÃO
neuromuscular não despolarizante.
está dependente da dose utilizada.
- Ampolas: 50 mg/5 mL (10 mg/mL) e
Estruturalmente é uma amina
Assim, a dose de 0.6 mg/Kg permite
100 mg/ 10 mL (10 mg/mL)
monoquaternária e produz o seu
condições de intubação em 90
efeito clínico antagonizando a
segundos. Por outro lado, uma dose
CONSERVAÇÃO
acetilcolina na placa motora, atuando
de 1.2 mg/Kg permite condições de
- Validade de 3 anos – quando
sobretudo nos receptores nicotínicos
intubação em 60 segundos, podendo
refrigerado - mantido a temperaturas
pós sinápticos e impossibilitando
assim ser utilizado em contextos de
entre os 2 - 8 ºC
assim a contração muscular. O
intubação de sequência rápida.
- Validade de 12 semanas – quando
relaxamento muscular obtido –
A grande vantagem do rocurónio
retirado do frigorífico - mantido a
curarização - proporciona condições
sobre todos os fármacos da mesma
temperaturas 8 – 30ºC
ótimas para abordagem invasiva da
classe é a existência de um
via aérea e para a realização de
composto reversor – sugammadex. A
FARMACOCINÉTICA E
determinadas técnicas cirúrgicas.
administração de 16 mg/kg de
FARMACODINÂMICA:
Pode também ter indicação no
sugammadex permite a reversão
Mecanismo de ação: O rocurónio, bem
contexto de ventilação mecânica
imediata do efeito relaxante,
como os restantes relaxantes
invasiva de curta duração ou como
inclusivamente minutos após a
neuromusculares não
resgate em determinados contextos
administração de bólus de rocurónio.
despolarizantes, é um antagonista da
de ventilação invasiva de longa
Assim, este composto tem utilidade
acetilcolina na placa motora. Atua
duração. No entanto, o relaxamento
em contexto de rotina, em doses
sobretudo nos receptores nicotínicos
muscular tem como consequência
mais baixas, para a retoma de uma
pós sinápticos da placa motora
fisiológica evidente a perda total da
adequada contração muscular e
impedindo a ligação da acetilcolina e
capacidade de ventilação e proteção
possibilidade de extubação
consequente propagação do
de via aérea funções que terão,
controlada e segura dos doentes. Por
potencial de ação, impossibilitando
forçosamente, de ser providenciados
outro lado, em todos os contextos,
assim a contração muscular. Algum
pelo responsável pela administração
caso não seja possível assegurar a
efeito clínico é apreciável quando
do fármaco.
adequada ventilação e proteção de
80% dos recetores estão ocupados e
Em termos práticos e,
via aérea após administração do
o bloqueio completo ocorre quando
comparativamente aos restantes
fármaco, a existência de reversor
pelo menos 92% dos recetores estão
relaxantes neuromusculares não
afigura-se como uma segurança, por
ocupados. Para além disso, atua
despolarizantes, o rocurónio tem um
forma a evitar eventos críticos.
também nos receptores nicotínicos
início de ação rápida e uma duração
pré-sinápticos da placa motora. Estes
Indice
respondem à acetilcolina num
102
FÁRMACO REVISITADO
mecanismo de feedback positivo
INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS
IDADE PEDIÁTRICA
mobilizando mais moléculas de
E POSOLOGIA:
- Estudos nesta população foram
acetilcolina quando estimulados. A
O rocurónio é utilizado em vários
realizados entre os 3 meses e os 14 anos
ligação dos relaxantes musculares
contextos com o objetivo de obter
não despolarizantes inibe este
paralisia muscular – curarização.
Bloqueio neuromuscular para
mecanismo, impedindo a mobilização
Uma vez que este fármaco não tem
intubação endotraqueal, cirurgia ou
de acetilcolina após uma primeira
inerente qualquer efeito em termos
ventilação mecânica
estimulação dos recetores.
de consciência, sedação ou analgesia
•
Indução de sequência rápida:
deve ser sempre utilizado em Absorção: Após bólus único EV, tem
conjunto com outros fármacos que
início de ação rápido e dependente
atuem nas funções supracitadas.
bólus de 1.2 mg/Kg •
da dose (entre 60 a 90 segundos),
Intubação traqueal: *
Dose inicial: bólus de 0.6 mg/Kg
*
Dose de manutenção (se
com duração de efeito entre 30 e 70
ADULTO
necessidade de manutenção
minutos (dependente da dose).
Bloqueio neuromuscular para
do relaxamento muscular)
intubação endotraqueal, cirurgia ou
◊
Bólus 0.075 to 0.15
Metabolismo: Metabolismo hepático
ventilação mecânica
mg/kg – a repetir
mínimo. O 17-desacetilrocurónio é o
•
conforme necessidade
Indução de sequência rápida: bólus de 1.2 mg/Kg
principal metabolito ativo e mantém
◊
Intubação endotraqueal:
Perfusão contínua: 7 a 12 mcg/Kg/min
embora esta atividade pareça ser
*
Dose inicial: bólus de 0.6 mg/Kg
clinicamente irrelevante.
*
Dose de manutenção (se
Obesidade
necessidade de manutenção do
- Recomenda-se o cálculo da dose a
relaxamento muscular)
utilizar por Kg de peso ideal
Distribuição/Eliminação: tem uma
◊
ligação às proteínas plasmáticas de
Bólus 0.1 a 0.2 mg/Kg
cerca de 30%. É um fármaco hidrofílico
– a repetir conforme
com baixo volume de distribuição com
necessidade ◊
consequente acumulação no tecido
• *
É eliminado primariamente por
Sexo masculino: Peso ideal= 50 + 0.91(altura-152);
Perfusão contínua: 10 a
*
12 mcg/Kg/min
adiposo pouco significativa.
Peso ideal
Sexo feminino: Peso ideal= 45.5 +0.91 (altura-152)
- No doente extremamente obeso
metabolização hepática. Excreção nas
Curarização/ paralisia
considerar calcular a dose por Kg
fezes (31%) e na urina (26%).Atravessa
em contexto de cuidados intensivos
com base no peso ajustado
a placenta e pequenas doses são
- Indicações: utilizar até 48 horas em
•
encontradas no sangue umbilical.
doentes com ARDS com ratio <150
Não necessita de ajuste de dose na
ou doentes com shivering (resultante
disfunção renal ou hepática.
de medidas de arrefecimento ativo)
Grávida
No entanto, nestes doentes, a duração
•
Dose inicial: bólus de 0.6 a 1 mg/Kg
- Estudos nesta população são
de ação do fármaco pode estar
•
Dose de manutenção: perfusão
limitados: utilizar durante a gestação
contínua 8 a 12 mcg/Kg/min
quando o benefício supera o risco
aumentada e, consequentemente, o
Peso ajustado = [0.4 × (Peso real – Peso ideal) + Peso ideal]
tempo até reversão do bloqueio pode
- Monitorização: inicialmente a cada
- Utilização de dose de indução rápida
ser superior.
2-3 horas até dose de perfusão
na cesariana urgente não está aprovada
estável; a partir daí a cada 8-12 horas - Incrementos: ajustar dose de
Efeitos adversos:
manutenção com incrementos de 10%
Em termos clínicos, apesar de não ter efeito simpaticomimético directo, o rocurónio pode ter algum efeito
103
Indice
5 a 10% da atividade do fármaco,
•
Indice
104
FÁRMACO REVISITADO
vagolítico, quando usado em altas
Pontos-chave:
doses, provocando taquicardia e
- O rocurónio é um relaxante
hipertensão ligeiras. Também é possível
neuromuscular não despolarizante de
a ocorrência de hipotensão, ainda que
início de ação rápido e tempo de
transitória.
duração de ação intermédio;
Tem potencial de libertação de
- Na dose de 1.2 mg/Kg permite obter
histamina baixo e a ocorrência de
condições de intubação em cerca de
reacções anafilácticas é <1%. No
60 segundos com duração do
entanto, foram descritas algumas
bloqueio de cerca de 60 minutos;
reacções anafilactóides.
- Não necessita de ajuste na doença
Foram descritas, em casos clínicos, as
renal ou hepática. A dose no obeso
seguintes reacções adversas:
deve ser, idealmente, calculada de
broncospasmo; arritmias; alterações
acordo com o peso ideal;
ECG inespecíficas; rash cutâneo; edema
- Tem um reversor – sugammadex
no local de punção; prurido; vómito.
– que, na dose de 16 mg/Kg, permite a reversão imediata do bloqueio
Cuidados especiais:
neuromuscular, mesmo se
- Prevenção ativa de úlcera de córnea
administrado imediatamente após o
– durante todo o período de
rocurónio;
curarização os olhos devem ser
- O doente curarizado perde
adequadamente encerrados com
completamente a capacidade de
adesivo e, eventualmente, utilizado
protecção de via aérea e ventilação,
lubrificante ocular.
funções que devem ser
- Curarização residual – antes da
eficientemente asseguradas, sob
extubação deve garantir-se a reversão
risco de eventos adversos graves.
completa dos efeitos do fármaco. Contra-indicações: - Alergia ou hipersensibilidade ao BIBLIOGRAFIA 1.
Uptodate: Rocuronium: Drug Information. 2021
Particularidades dos doentes:
2.
FDA: Rocuronium bromide. 2008
- Potencia o bloqueio (maior
3.
Prospecto rocurónio Kabi
relaxamento): Miastenia gravis,
4.
Prospecto rocurónio Teva
doenças neuromusculares, caquexia.
5.
Rocuronium in anesthesia uk. Updated in 2019
- Antagoniza o bloqueio (menor
6.
Appiah-Ankam, J. et al Pharmacology of
relaxamento): doentes queimados
neuromuscular blocking drugs. Continuing Education
(>20% da área corporal - podem
in Anaesthesia Critical Care & Pain. 2004
apresentar alguma resistência ao
7.
Barash, P. G. Clinical anesthesia (7th ed.). Philadelphia,
fármaco, habitualmente com início
PA: Wolters Kluwer Health/Lippincott Williams &
dias após a lesão e até meses após a
Wilkins. 2013
cicatrização das lesões); lesões
8.
Morgan. Clinical Anesthesiology 6th ed, Lange 2018
desmielinizantes, neuropatias
9.
Miller, R. D. Miller's anesthesia (7th ed.). Philadelphia,
periféricas; trauma muscular.
PA: Churchill Livingstone/ 10.
EDITORA
CATARINA MONTEIRO Médica VMER
EDITOR
ALÍRIO GOUVEIA Médico VMER
Elsevier 2010
105
Indice
rocurónio ou algum dos excipientes.
Indice
106
JOURNAL CLUB
JOURNAL CLUB
Ana Rita Clara1 Especialista de Medicina Interna do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, E.P.E., Unidade de Faro, Médica VMER Faro e Albufeira, Médica SHEM Algarve
1
INTRODUÇÃO
AVC, como as alterações visuais,
inclusão: estudos incluíndo doentes
Anualmente, a nível mundial,
confusão mental e perda de
com AVC (idade ≥18 anos, qualquer
aproximadamente 20 milhões de
equilíbrio, entre outros, podem tornar
tipo de AVC); estudos incluíndo
pessoas sofrem um AVC, das quais 5
a sua correcta identificação um
doentes avaliados por profissionais
milhões irão morrer e 5 milhões
desafio, sendo que estes AVC
de saúde, incluíndo paramédicos ou
ficarão incapacitadas. O
representam cerca de 25% dos casos.
técnicos em ambiente pré-hospitalar.
reconhecimento precoce é
Até à publicação deste artigo em
necessário para maximizar os
fevereiro de 2021 não existia uma
RESULTADOS
benefícios do tratamento hiperagudo
revisão da literatura sobre quais os
Dos 845 artigos identificados
com trombólise e/ou trombectomia.
sintomas mais comuns entre os
inicialmente, 21 cumpriram os
Cerca de 70% destes doentes recorre
doentes com AVC não identificados
critérios de inclusão, sendo incluídos
aos serviços de emergência médica
pelos profissionais de emergência
um total de 6934 doentes. O número
(SEM) e a eficácia da “Via Verde do
médica, levando a uma inadequada
total de doentes “falsos negativos” foi
AVC” depende fortemente da
abordagem e tratamento, sobretudo
de 1774 (26%). Apenas 10 dos 21
precisão e pontualidade na
para os doentes com AVC da
estudos apresentaram informações
identificação dos sintomas de AVC e
circulação posterior.
mais detalhada sobre os doentes,
da capacidade de distinguir os casos
Os autores estabelecem como
com um total de 3012 doentes com
de AVC e não-AVC.
objectivo desta revisão sistemática a
AVC incluídos, dos quais 868 (29%)
A maioria das ferramentas de triagem
identificação das características de
eram “falsos negativos”. Dos 10
pré-hospitalar apresentam avaliações
apresentação dos AVC agudo não
estudos, 5 estudos apresentaram
para os sintomas mais comuns de AVC,
identificados pelos serviços de
informação demográfica detalhada
como a Cincinnati Prehospital Stroke
emergência médica (SEM),
com idade e sexo, sendo a a idade
Scale (CPSS), também conhecida como
denominados de “falsos negativos”.
média de 74,7 anos e 57% dos doentes do sexo feminino.
entanto, a precisão das ferramentas de
MÉTODOS
Nos estudos que reportaram os
triagem pré-hospitalar é flutuante, com
Revisão sistemática com estratégia
sintomas dos doentes “falsos
sensibilidade compreendida entre 44%
de busca adaptada para MEDLINE,
negativos”, os mais comuns foram:
a 97% e especificidade dentre 13% a
EMBASE, CINAHL e PubMed de 1995
alterações da linguagem (13-28%),
92%. Os sintomas menos “típicos” de
a agosto de 2020. Critérios de
náusea e/ou vómitos (8-38%),
107
Indice
Face Arm Speech Test (FAST). No
Tabela 1. Frequência de todos os sintomas reportados dos doentes “falsos negativos”
tonturas/vertigens (23-27%),
hospital até à requisição da TC e
pré-hospitalar. Os autores salientam
alterações visuais como perda visual,
realização da mesma foi de 39 e 57
que a qualidade e o tamanho das
diplopia ou névoa (13-29%) e alteração
minutos e 26 e 39 minutos,
amostras variaram
do estado de consciência (8-25%).
respectivamente, em comparação
consideravelmente entre estudos,
Dos 21 estudos, apenas 8 (38%)
com medianas de 120 e 155 minutos
mesmo com utilização das mesmas
reportaram a abordagem e
para doentes FAST-negativos e 125 e
ferramentas de triagem.
tratamento; 5 estudos realizados
185min para os doentes que
A identificação pelos SEM dos
entre 1997 e 2009, declararam que os
chegaram ao hospital sem “pré-
doentes com AVC possibilita a
doentes “falsos negativos”
alerta”. Os doentes não identificados
entrada precoce na Via Verde de AVC
apresentavam sintomas mínimos ou
pelos SEM como AVC ou em “pré-
através da notificação ao hospital
atípicos, não sendo candidatos à
alerta”, apresentaram o tempo mais
receptor e encaminhamento
trombólise, com base nos protocolos
longo desde a chamada da
adequado ao centro de referência.
da época; 3 outros estudos entre
ambulância até à primeira avaliação
Estes doentes apresentam redução
2010 e 2019 com AVC reconhecidos
médica no Departamento de
do tempo de abordagem com
pelos SEM tiveram tempos porta-
Emergência (DE) em 87 min (68-147)
recursos mais rápido à trombólise e
Tomografia Computadorizada (TC)
e 52 min (45-73) , respectivamente.
outcomes melhores.
Indice
significativamente mais curtos (34,6
Apesar de terem sido identificados 30
vs 84,7min; p <0,001), mas isso não
DISCUSSÃO
sintomas diferentes nos doentes com
se traduziu numa maior rapidez de
Da revisão sistemática realizada
AVC, os mais comuns nos doentes
trombólise (14,9% vs 4,4%; p =0,074).
pelos autores, 26% dos doentes que
falsos negativos foram as alterações
Quando os doentes eram FAST-
tiveram um AVC não foram
de linguagem e visuais, náusea e/ou
positivos ou era dado o “pré-alerta”
reconhecidos pelo SEM, variando
vómitos e tontura/vertigem. (Tabela 1).
pelo SEM ao hospital receptor, o
entre 2% e 52% das apresentações de
tempo médio desde a chegada ao
AVC não identificadas em ambiente
108
JOURNAL CLUB
Embora algumas apresentações
de “equilíbrio” (definido como
CONCLUSÃO
atípicas de AVC possam ser de difícil
desequilíbrio da marcha ou perda de
Apresentações de AVC que são
diagnóstico, os autores relatam um
força nos membros inferiores) e
habitualmente triadas como “falsos
número elevado de “falsos negativos”
alterações visuais (perda visual e
negativos” pelos SEM geralmente
por parte dos SEM em doentes com
diplopia) aos sintomas FAST teria
incluem: alterações de linguagem ou
alterações da linguagem, sendo que
melhorado o reconhecimento de AVC
visuais, náuseas e/ou vómitos,
a alteração da língua é dos sintomas
de 86% para 96 % (p <0,0001). Da
tonturas/vertigens e alterações do
mais típicos de AVC. Os autores
mesma forma, noutro estudo, a
estado de consciência. No entanto, o
discutem que através das escalas
adição de ataxia ou sintomas visuais
somatório de outros sintomas às
aplicadas no pré-hospitalar poderá
ao FAST aumentaria a sensibilidade
escalas de triagem de AVC pré-
ser desafiante a identificação de AVC
de 61% para 80% (p <0,001) e 82%
existentes exigiria uma avaliação da
quando as alterações linguísticas se
(p <0,001), respectivamente. Num
sua sensibilidade e especificidade,
apresentam de forma meno grave.
estudo mais recente com o objetivo
necessidades de treino adicionais
Para outros doentes, as alterações da
de aumentar a sensibilidade do
para a sua aplicação e o impacto no
linguagem poderiam não estar
diagnóstico do AVC da circulação
uso de recursos de SEM. Apesar da
presentes à data da apresentação.
posterior, foram adicionados ao FAST
inclusão de alterações do discurso
A náusea/vómito ocorreram em cerca
o equilíbrio e a diplopia (BEFAST). O
na maioria das ferramentas de
de 20% dos doentes, sobretudo nos
componente “Equilíbrio” da escala
triagem pré-hospitalar, esse sintoma
doentes com AVC da circulação
BEFAST foi pontuado pela prova
é frequentemente ignorado sendo
vertebrobasilar. Isto fez com que um
dedo-nariz e o componente “Olhos
necessária uma exploração
serviço de pré-hospitalar no Reino
“pela avaliação da diplopia por meio
detalhada do mesmo.
Unido passa-se a integrar a náusea e
do rastreio digital. No entanto, a
vómitos no screening de AVC,
soma desses sintomas não melhorou
juntamente com a vertigem,
a identificação do AVC.
alterações visuais e ataxia.
O estado consciência foi amplamente
A tontura é um dos sintomas mais
mal definido nestes estudos, mas
commumente relatados pelos
incluiu uma variedade de sintomas,
doentes com AVC cerebelar,
tais como: confusão, delírio e
ocorrendo em até três quartos dos
alterações da orientação e memória,
doentes. O termo tontura não é
sendo mais comuns em idosos,
específico, mas pode ser usado para
doentes com alterações cognitivas
descrever vertigem ou pré-síncope.
prévias e doentes com infecções
Embora possa ser acompanhada por
subjacentes. Embora as alterações
outros sintomas neurológicos focais,
do estado de consciência ocorram
apresenta-se de forma isolada em
em até um terço dos doentes com
menos de 1% dos doentes com AVC.
AVC, o AVC é uma causa rara (<3%)
Num estudo retrospectivo recente
de mudanças isoladas no estado de
com dados da National Institutes of
consciência. EDITORA
ANA RITA CLARA Médica VMER
109
Indice
Health Stroke Scale (NIHSS), a junção
Indice
110
VOZES DA EMERGÊNCIA
VOZES DA EMERGÊNCIA
VMER DE PORTIMÃO
A rubrica “Vozes da Emergência” do mês de Maio dá voz à viatura médica de Portimão, existente desde 2001 a assistir a população do Barlavento Algarvio. Representada pela Dra. Inês Simões e pela Enfermeira Monique Cabrita que tão prontamente decidiram partilhar connosco parte das suas experiências e emoções vivenciadas ao longo dos últimos anos…
À esquerda: Enfermeira Monique Cabrita, à direita Dra. Inês Simões
Maria Inês Gonçalves Simões, 34
A Viatura Médica de Emergência e
– “o meu primeiro edema agudo do
anos de idade, natural de Armação de
Reanimação (VMER) de Portimão
pulmão” -, na altura como aluna no
Pêra, mudou-se para Portimão aos 2
comemora o seu aniversário a 1 de
Hospital de Curry Cabral ou pela
anos. Terminou curso de Medicina
Maio, tendo sido fundada pelo Dr.
interna do 1º ano na urgência do
em 2011 tendo-se tornado
José Leite em 2001. O Dr. Leite
Hospital de São José. Não sei sequer
especialista em Medicina Interna em
desempenhava funções como
se faz sentido começar por algum
2018. Exerce funções no Centro
médico na viatura médica de Faro e a
lado. O gosto pela emergência não
Hospitalar Universitário do Algarve
determinada altura entendeu que o
teve um início, como tenho a certeza
– Unidade de Portimão, Coordena a
Barlavento tinha necessidade de uma
que não terá um fim. É um vício, é
Viatura Médica de Portimão e
viatura médica. E assim surgiu o
viver sempre com adrenalina. É lutar
também desempenha funções no
projeto.
pela vida e pelo gosto pela vida.
1. LIFESAVING (LS): Como surgiu o
Monique Cabrita (MC): A curiosidade
gosto pela emergência?
pela emergência existe desde cedo, o
Heli e CODU Algarve.
idade, natural de África do Sul,
gosto tornou-se mais sério no primeiro
mudou-se para Portimão aos 5 anos
Inês Simões (IS): Não consigo
ano do curso de enfermagem, tinha um
de idade onde reside até hoje. É
encontrar um ponto na minha vida
professor que fazia pré-hospitalar se
Enfermeira desde 2003, Especialista
em que tenha percebido o gosto pela
não estou em erro, Helicóptero em
em Enfermagem Médico-Cirúrgica,
emergência. Não sei se comece pela
Santa Comba Dão e falava das suas
vertente doente Crítico, Pós-
criança que delirava com as sirenes
experiências nas aulas, isto em 1999.
Graduada em Gestão e
dos bombeiros, com as luzes das
No 4º ano fiz o estágio de integração à
Administração em Saúde. Integra a
ambulâncias. Ou comece com a
vida profissional num serviço de
Equipa Responsável pela Formação
adolescente que vibrava ao passar
urgência e depois acabei a trabalhar
das VMER do Algarve.
por um acidente ou pelas
num serviço de urgência e o gosto
ambulâncias amarelas. Não sei se
foi-se intensificando.
comece pelo dia 2 de Junho de 2009
111
Indice
Monique Pais Cabrita, 41 anos de
Indice
112
VOZES DA EMERGÊNCIA
2. LS: O que as levou a enveredar
salvação e que pedem, muitas
principalmente quando esta não é
por esta profissão?
vezes, coragem, me vieram à
expectável. É difícil lidar com a
memória. Talvez seja por isto que
família quando o desfecho é
IS: Desde que me lembro de existir
a emergência médica nos marca
menos favorável. No pré-
que dizia “eu quero ser médica
tanto e de tantas maneiras. Pelos
hospitalar entramos na intimidade
como o meu pai”. Tenho fotos com
olhares e pelos seus significados.
do doente, no seu lar, na sua
dois anos, o meu pai a estudar
esfera mais privada e pessoal, no
para o “Harrison” e eu, do outro
MC: Tenho várias memórias
seio da família e não temos como
lado da secretária, a imitá-lo. A
marcantes, a maioria são boas,
“escapar” a esta realidade que é a
verdade é que desde essa altura
principalmente dos casos em que
da pessoa no seu todo.
passei a dizer que queria ser
o desfecho é positivo. Há uma ou
médica. Mais tarde percebi que o
outra situação que me deixou
que me fez seguir este caminho
recordações menos positivas. As
foi gostar muito de pessoas.
memórias mais marcantes que
IS: Talvez de uma forma muito
5. LS: O que mais as motiva?
tenho são do espírito de equipa e
esquizofrénica, o que mais me
MC: Na realidade e por nenhum
companheirismo que é
motiva é o que é mais difícil de
motivo em particular sempre quis
fundamental nos casos mais
suportar. Motiva-me poder ajudar
algo ligado à área da saúde, não
complexos.
a acabar com o sofrimento de
fazia ideia de quais eram a maioria
alguém, motiva o poder dar
das funções de um enfermeiro, no
4. LS: Na vossa atividade
continuidade à vida que, tantas
12º ano Enfermagem foi o único
profissional o que pensam ser
vezes, está por um fio.
curso que escolhi e acabei por
mais difícil de lidar/suportar?
entrar e gostar (muito).
MC: Maioritariamente fatores IS: Somos seres empáticos, e
intrínsecos como o gosto pelo
3. LS: Quais foram as
por isso o que é mais difícil lidar
inesperado, o espírito de equipa, o
recordações/experiências mais
ou suportar é sempre o
gosto pela emergência, entre
marcantes como Profissionais do
sofrimento de alguém. É sempre
outros fatores.
Pré-hospitalar?
o que me custa mais. Alguém com dor, alguém com dispneia,
6. LS: Mudariam alguma coisa
IS: Passam-se os dias, os turnos,
alguém com consciência que a
relativamente à vossa atividade
e não pensamos muito nisto, no
vida é tão instável.
profissional?
alucinante a que vamos vivendo
MC: Nesta atividade estamos
IS: Certamente mudaria muita
nem nos permite, por vezes,
completamente expostos a tudo, é
coisa na minha profissão. Só não
solidificar as experiências que
um ambiente a maior parte das
mudaria o modo tão romântico
nos vão marcando. Engraçado
vezes não controlado e há uma
como a vejo.
como, ao ler esta pergunta, o que
série de questões que num
me veio à memória foram olhares,
ambiente hospitalar são
MC: Penso que deveria haver
vários. De vítimas, de familiares,
ultrapassáveis e que na rua não é
menos amadorismo e um
de colegas. E de repente, como
possível contornar. É difícil lidar
investimento maior das
num filme, todos estes olhos que
com a dor e o sofrimento humano,
instituições nos profissionais que
imploram ajuda, que pedem
nas suas variadíssimas formas. É
fazem pré-hospitalar no geral.
compaixão, que suplicam
difícil lidar com a morte,
113
Indice
que nos marca. O ritmo
7. LS: Gostariam de deixar alguma
IS: O meu coração vai-me dizendo
11. LS: Existem limitações na
sugestão aos elementos que
várias coisas. Mas aquilo que me
vossa atuação? Se sim quais?
integram as equipas de
diz mais consistentemente é para
emergência pré-hospitalar?
não deixar de acreditar, não
IS: Existirão sempre limitações na
desistir de tentar, e principalmente
nossa actuação. Como meio
IS: A mensagem será para
para continuar no pré-hospitalar
pré-hospitalar que somos, é
qualquer elemento que integre
enquanto continuar a sentir
impossível que tenhamos
qualquer equipa médica. É
borboletas na barriga sempre que
disponíveis todos os meios
importante pôr sempre um
há uma activação. Enquanto for
ideais. Acho, e acredito muito
bocadinho de nós em tudo o que
assim, para confiar. Estou no
nisto, que com o que temos,
fazemos. Importante mantermos
caminho certo.
conseguimos fazer o melhor. E
sempre a busca pela excelência e
isso é importante.
isso só se consegue com
MC: O que o meu coração me diz é
dedicação. Dedicação a causas, a
para ir ficando onde me sinto feliz
MC: Limitações organizacionais
pessoas, a formação.
apesar de muitas vezes a razão
não diria, temos sim alguns
me fazer pensar o oposto. Na
constrangimentos, nenhuma
MC: Que continuem a evoluir
verdade tomo a maioria das
verdadeira limitação. Limitações
positivamente como até aqui, a
decisões com o coração e
Pessoais, atualmente tenho
fazer formação contínua muitas
enquanto fizer sentido irei
alguma dificuldade em gerir a vida
vezes com prejuízo da vida
continuar... assim como nos
profissional e pessoal.
pessoal e também profissional.
casamentos... (rindo-se...)
12. LS: Existe algum evento que as tenha marcado por algum motivo?
8. LS: Como visualizam
10. LS: Há quantos anos
o pré-hospitalar daqui a 10 anos?
colaboram na VMER de Portimão?
IS: Idilicamente, daqui a 10 anos
Poderiam descrevê-lo?
Denota alguma evolução ao longo
IS: A maioria dos eventos que me
dos tempos?
vai marcando tem sempre algo de
gostaria de ver um pré-hospitalar
emotivo à mistura, quase sempre
com mais qualidade. Gostaria de
IS: Colaboro com a VMER de
por qualquer empatia que se
ver harmonização de equipas e
Portimão desde 2018, altura em
desenvolve por me colocar no lugar
uniformização de procedimentos.
que vim trabalhar para o Algarve.
da vítima ou do familiar. Poderia
Infelizmente a pandemia que
ser eu, poderiam ser os meus pais,
MC: Essa questão e visão
atravessamos não permitiu que
avós, sobrinhas? Ou então quando
dependerá naturalmente da
alguns projectos da VMER do
a vítima é alguém ou familiar de
evolução político-económica do
Barlavento pudessem acontecer,
alguém que eu conheça.
país, tendo em conta que vivemos
mas o facto de estarmos
Posso escolher o caso de um
tempos incertos, possivelmente a
integrados na formação conjunta
jovem de 18 anos que caiu de
emergência pré-hospitalar não
das VMER do Algarve penso que é
paraquedas. À nossa chegada,
evoluirá tanto como seria
um passo importante para a
ainda com sinais de vida mas
expectável que evoluísse,
evolução pretendida.
entrou, em poucos minutos, em
viveremos tempos difíceis em
paragem cardio-respiratória. Não
todas áreas e esta não será
MC: Colaboro com a VMER
obstante as manobras de SAV,
certamente excepção.
Portimão desde 2007. Denoto
acabou por falecer no local. A mãe
evolução a alguns níveis. Mais
apareceu minutos depois. Nem
recursos materiais, por exemplo.
preciso descrever a cena, dá para
9. LS: O que diz o vosso coração?
Indice
imaginar. Era amigo da minha irmã.
114
VOZES DA EMERGÊNCIA
MC: Há um que me marcou especialmente, foi quando fui ativada para a PCR da minha avó. Eram 21 horas fomos ativados para o lar onde ela residia, eu comentei com o médico qualquer coisa como “espero que não seja a minha avó” e efetivamente era. 13. LS: Como gerem esses eventos? IS: Na altura sou muito pouco emocional. Invade-me uma racionalidade e frieza que às vezes até me assusta. Quando páro e penso, é impossível ficar indiferente a estes acontecimentos. Somos seres empáticos, por definição. Geralmente nesse dia fico mais introspectiva. Às vezes fico uns dias a pensar nessas pessoas. Mas ao ritmo que a nossa vida avança, essas memórias acabam por se ir dissipando. Penso muito na vida, penso muito na minha vida. É talvez uma maneira muito egoísta de gerir a situação. Mas também acho que é a melhor maneira de seguir em frente e não
O nosso sincero agradecimento
ter medo de encontrar o que ainda
pela colaboração e disponibilidade
está por vir.
das nossas entrevistadas.
EDITORA
MC: Neste caso particular, penso que ainda bem que aconteceu
SOLANGE MEGA Enfermeira SIV/VMER
comigo. Noutros eventos penso que quem lida com situações limite acaba por criar um género
EDITORA
de “impermeabilidade” para que consiga continuar o dia-a-dia com máxima normalidade.
115
Indice
RITA PENISGA Enfermeira SUB/VMER
André Abílio Rodrigues 1 Enfermeiro VMER, SIV
1
A rúbrica “O que fazer em caso de” da revista LIFESAVING dirige-se a toda a Comunidade, e tem como objetivo principal a sensibilização para o reconhecimento e atuação em situações de urgência/emergência. No decorrer das várias edições da publicação, divulgámos, para o efeito, alguns algoritmos de fácil leitura, sobre temáticas diversas da emergência, e obtivemos um feedback francamente positivo, que nos fez apostar em novas formas de promoção da literacia nessa área. Neste âmbito, a Associação Amigos do Alentejo/Universidade Sénior de Loulé, solicitou-nos o esclarecimento de algumas questões dos seus Alunos, sobre a temática da COVID-19, e cujas respostas aqui publicamos, por nos ter sido
Indice
autorizado a partilhar. PREÂMBULO
nova realidade.
apropriada à comunidade. E apesar do
“A Associação Amigos do Alentejo/
De forma a obter uma resposta
inúmero trabalho que têm perante a
Universidade Sénior de Loulé é uma
adequada, científica e realista
nova realidade social, apreciamos e
instituição que visa capacitar os seus
propusemos ao Projecto Lifesaving
ficamos gratos por ainda poderem
alunos e participantes de informação
uma parceria que consistiria em
esclarecer e elucidar as nossas dúvidas
mais atualizada, apropriada e científica
responder às nossas questões.
para uma melhor e adequada
sendo exposta a um conjunto de
Prezamos com muito agrado esta
adaptação a esta nova realidade.”
desafios diários e constantes.
parceria porque sabemos que não
Face aquele que se manifestou num
poderíamos ter respostas mais
dos maiores desafios do ser humano a
científicas, corretas, adequadas e
nível mundial – a pandemia por covid
fidedignas aos nossos alunos.
– que acarretou inúmeras adaptações:
Sabemos que a Lifesaving é constituída
físicas, psicológicas, emocionais,
por profissionais de saúde de elevada
espirituais, familiares – todos os
competência e o quanto valioso é o seu
alunos da Universidade se depararam
trabalho em contexto de emergência,
com inúmeras questões perante a
como de partilha de informação
116
A Presidente da Associação Amigos do Alentejo
Fátima Maria Azevedo A Presidente da Universidade Sénior de Loulé
Maria Albertina Farinho
O QUE FAZER EM CASO DE
1. Qual o perigo do contágio do COVID
2. Podemos ter COVID mais do que
Ainda assim, mesmo depois da
em termos de saúde mental? Quais as
uma vez? Mas com a vacina já não
vacinação, deverão manter-se todas
consequências na saúde mental?
existe a possibilidade de se ter a
as medidas de distanciamento, uso
doença e contagiar outras pessoas?
de máscara e desinfeção frequente
pelo COVID implica ficar em casa em
[LS]: Segundo a Direção Geral de Saúde
aliviadas assim que atingida a
isolamento, o que condiciona toda a
(DGS), até este momento não existe
“imunidade de grupo” (com 70% da
dinâmica familiar, devido a todos os
evidência científica a comprovar que
população vacinada).
cuidados que esta situação acarreta.
as pessoas que estiveram infetadas
Este confinamento leva a um
com o COVID tenham desenvolvido
3. Tenho netos no infantário, a minha
distanciamento físico entre
imunidade protetora permanente. No
mãe é uma pessoa idosa acamada e o
familiares, amigos, colegas de
entanto, o organismo poderá ganhar
meu irmão trabalha no hospital. Como
trabalho e conhecidos, assim como
anticorpos após a infeção e
se devem proceder as visitas? Podem
modificações de comportamentos na
desenvolvimento da doença. A
os meus netos visitar a bisavó ou será
sociedade, em condutas, e formas de
exposição a novas variantes do vírus
mais seguro não contactarem com ela?
vivências sociais, diferentes do
pode reduzir a eficácia desses
habitual, e estas alterações podem
anticorpos, e possilitar re-infeção,
[LS]: Devido aos idosos serem
ter consequências no bem-estar e
ainda que até ao momento seja de
considerados um grupo vulnerável,
saúde mental.
ocorrência rara.
neste momento não se aconselha que
É normal, que durante uma crise
Em relação à vacina proporcionar
as crianças estejam com os seus avós.
como esta, se possam sentir
imunidade, estudos referem que as
No intuito de manter o contato e
sentimentos de tristeza, frustração,
vacinas são eficazes. Isto significa que
atenuar as saudades, aconselha-se
medo, ansiedade, preocupação,
a pessoa vacinada tem um risco
falar através videoconferências,
solidão, aborrecimento entre outros.
claramente muito inferior de contrair a
redes sociais, chats, telefone.
Neste sentido, é necessário estar
doença comparativamente a uma
alerta aos sinais e pedir ajuda caso
pessoa que não seja vacinada. Por
4. Sou uma pessoa com insuficiência
ache necessário.
outro lado, a eficácia das vacinas
cardio-respiratória que tinha uma
Existem sites, e linhas de apoio, que
refere-se também á sua capacidade de
série de atividades, e com o
podem ser utilizadas. Na linha
conferir proteção contra formas graves
aparecimento do vírus respeitei o
telefónica do SNS 24, existe um
da doença. A pessoa vacinada poderá
confinamento. Mas agora já me sinto
serviço de aconselhamento
ter a doença de uma forma ligeira
sem horizonte, o que me aconselha?
psicológico, que está integrado nesta
comparativamente à não vacinada.
linha telefónica, devendo utilizar-se
Portanto, a vacinação será
[LS]: Como é uma pessoa de risco
808 24 24 24 Depois deve selecionar a
preponderante na preservação de
tem de ter cuidados acrescidos e
opção 4 (aconselhamento psicológico).
vidas e na contenção da pandemia.
respeitar os conselhos da DGS. As
117
Indice
das mãos, e que só deverão ser
LIFESAVING [LS]: Estar contagiado
medidas de prevenção são cruciais
[LS]: O manual da DGS intitulado
como meio de proteção, se usados
para minimizar o risco contágio e
“Distanciamento social”, enumera os
de maneira inadequada, podem
transmissão da doença. Neste
seguintes cuidados que devemos ter
tornar-se num meio de transmissão
sentido a DGS destaca no manual
ao entrar em casa:
do COVID. Devemos sim, lavar as mãos frequentemente com água e
“Saúde e Atividades Diárias – Medidas Gerais de Prevenção e Controlo da
•
COVID-19”, as seguintes 5 medidas 1. Distanciamento entre pessoas;
•
2. Utilização de equipamentos de proteção;
•
3. Higiene pessoal, nomeadamente a lavagem das mãos e etiqueta respiratória;
•
4. Higiene ambiental, como a
Tentar não tocar em nada da
sabão ou com solução de base
casa antes de lavar as mãos
alcoólica a 70% de concentração.
Tire os sapatos e deixe-os na entrada
10. Nas aulas em que mantemos o
Deixe a carteira, as chaves e
distanciamento social basta usarmos
outros objectos dentro de uma
a viseira (visto que temos dificuldade
caixa na entrada
respiratória)? Quais os cuidados a ter
Coloque a roupa exterior dentro
antes e após o uso da viseira?
de um saco, para lavar (de
limpeza e desinfeção:
preferência a mais de 60 graus)
[LS]: O distanciamento social não
Use luvas para limpar os objetos
substitui o uso da máscara. A
com abstenção do trabalho caso
e tire-as cuidadosamente no
máscara é o método que deve ser
surjam sintomas sugestivos de
final, colocando no lixo
sempre utilizado, porque protege as
Se levou o seu animal à rua,
pessoas das gotículas que são
limpe-lhe as patas antes de
expelidas através do espirro, tosse e
entrar em casa.
fala. A viseira por sua vez, não
Limpe o telemóvel com toalhitas
substitui o uso da máscara, logo só
humedecidas em detergente ou
pode ser usada como seu
[LS]: As gotículas que são expelidas
álccol a 70º (ou as usadas para
complemento.
através da fala, tosse ou espirro,
bébes)
Portanto se escolher mascara e a
Tome banho. Se não for possível,
viseira para se proteger deverá ter
barreira, ou seja utilizando a máscara,
lave bem todas as zonas
certos cuidados com a viseira após a
pois é esta a única maneira permite
expostas.
sua utilização, como lavá-la e
5. Auto-monitorização de sintomas,
COVID-19
•
•
5. Mantendo o distanciamento social será necessário usar viseira?
apenas são contidas pelo método de
•
•
tapar a boca e o nariz eficazmente. A
desinfetá-la com álcool a 70%.
viseira poderá ser utilizada, mas
8. Medir a temperatura com aqueles
sempre conjuntamente com a
termómetros a laser provocam lesões
11. Quando um casal tem filhos que
máscara.
ou são mais prejudiciais que os outros
contactaram com crianças no
termómetros?
infantário com COVID são
6. O uso de máscara pode provocar
encaminhados para casa e o delegado
dores de cabeça, no peito, dificuldade
[LS]: Os métodos de avaliação da
de saúde dá indicação que um
em respirar? A audição também
temperatura através de
progenitor fica em casa com as
poderá ser afetada?
infravermelhos não provocam lesões
crianças, e o outro progenitor faz a
nem têm efeitos secundários.
vida normal. O progenitor que fica
[LS]: A DGS, refere “ausência de
com as crianças pode sair de casa ou
efeitos adversos associados ao uso
9. Devemos usar luvas ou não na rua
deverá cumprir com o isolamento até
de máscara”.
ou quando vamos ao supermercado?
resultado do teste do covid das
Indice
crianças? O outro progenitor, que faz 7. Que cuidados deveremos ter
[LS]: Não é recomendado o uso de
a vida normal, não seria mais correto
quando regressamos a casa para além
luvas no supermercado ou na rua.
não contactar com a família até ao
da desinfeção e lavagem das mãos?
Pois as luvas, em vez de servirem
resultado do teste do covid (porque se
118
O QUE FAZER EM CASO DE
as crianças e o Outro progenitor
BIBLIOGRAFIA
estiverem infetados têm um elemento
1.
https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/
que os pode apoiar e com risco
guia-casa-trabalhar-a-partir-de-casa-e-cuidar-da-
diminuído de contágio, para si e para
saude-mental-pdf.aspx
a comunidade)?
2.
https://www.dgs.pt/normas-orientacoes-einformacoes/informacoes/informacao-n-
[LS]: Em primeiro lugar, se a criança 3.
infantário, deve ficar em vigilância activa, com isolamento profilático,
como-cuidar-de-si/ 4.
bem como o seu cuidador directo (que com ela terá estreito contacto).
https://saudemental.covid19.min-saude.pt/
https://covid19.min-saude.pt/perguntasfrequentes/
5.
https://covid19.min-saude.pt/category/
Em relação ao outro elemento do
perguntas-frequentes/?t=quais-as-medidas-de-
agregado familiar, que pretende
prevencao#quais-as-medidas-de-prevencao/
manter vida activa, deverá manter-se
6.
https://covid19.min-saude.pt/wp-content/
com distanciamento da criança e do
uploads/2020/04/Distanciamento-
outro cuidador direto, e ficará em
social-07-04-2020.pdf
vigilância passiva, fazendo
7.
automonitorização de sintomas, cumprindo rigorosamente as
infecciosas/covid-19/prevencao/#sec-3 8.
medidas de prevenção (distanciamento social, desinfeção
https://www.sns24.gov.pt/tema/doencasinfecciosas/covid-19/prevencao/#sec-3
9.
frequente das mãos, etiqueta respiratória e utilização
https://www.sns24.gov.pt/tema/doencas-
https://www.sns24.gov.pt/tema/doencasinfecciosas/covid-19/transmissao/#sec-8
10.
da máscara)
https://www.sns24.gov.pt/guia/aconselhamentopsicologico-no-sns-24/
11.
Manual DGS 2020, “Saúde e Atividades Diárias – Medidas Gerais de Prevenção e Controlo da COVID-19”, Volume 1, de 14/05/2020: https:// covid19.min-saude.pt/wp-content/ uploads/2020/05/ManualVOLUME1-1.pdf
12.
Manual DGS 2020, “Distanciamento Social”, de 07/04/2020: https://covid19.min-saude.pt/ wp-content/uploads/2020/04/Distanciamentosocial-07-04-2020.pdf
EDITOR
ANDRÉ ABÍLIO RODRIGUES Enfermeiro SIV/VMER
119
Indice
teve uma exposição de alto risco no
0092020-de-13042020-pdf.aspx
Indice
120
CUIDAR DE NÓS
CUIDAR DE NÓS
OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE E A SUA CONTÍNUA INTERVENÇÃO EM CONTEXTO DE PANDEMIA: IMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS Gonçalo Castanho1,2 1 2
Psicólogo Consultor organizacional e da performance humana
E quando a dois de Março de 2020,
Em termos pessoais, a exposição ao
gestão de tempo incerta e
dá-se a primeira medida formalmente
contexto pandémico, traduziu-se em
condicionada e trabalho de equipa
restritiva face à propagação do vírus
muitos casos, na tomada de
condicionado por equipas em
Covid-19, estávamos longe de
consciência de uma saúde
constante mutação. Para além disso,
imaginar com rigor, as implicações
psicológica já debilitada, por parte do
muitos dos profissionais que
reais para o quotidiano do
sujeito. Quer seja pelas demandas do
musculam as intervenções no
profissional de saúde.
Séc. XXI, do defraudar de
domínio da saúde, fazem-no em
expectativas, do incumprimento de
condições de precaridade e/ou com
Ultrapassado um ano de combate à
necessidades pessoais de bem-estar
falta de reconhecimento económico, o
pandemia, importa considerar o
psicológico, ou défice pessoal em
que degrada ainda mais o bem-estar
impacto psicológico, que a mesma
termos de desenvolvimento pessoal
face à sua atuação.
tem vindo a evidenciar nos
e de competências psicológicas, a
profissionais de saúde, face ao
pandemia, despoletou uma
No que diz respeito às restrições
desgaste acumulado.
necessidade emergente de atuação.
evocadas pelo combate pandémico, o
Como é possível observar na figura 1,
Nos aspetos contextuais, reportamos
profissional de saúde, viu a sua
as especificidades emergentes da
a uma realidade de alto desgaste
atividade requer um acréscimo de
intervenção em contexto pandémico,
psicológico. A saúde é um contexto
cuidados e de ações, aumentando a
tendem a influenciar os fatores
de atuação profissional de elevada
carga psicológica laboral, com mais
individuais e contextuais, podendo
responsabilidade, intervenção face a
protocolos, cuidados, conhecimentos,
maximizar o seu impacto negativo na
situações limite de vida, elevados
materiais e problemáticas de
saúde psicológica do sujeito, para
índices de incerteza preditiva, e, em
atuação. Para além disso, destacam-
além do impacto que o ajuste às
muitos casos, deficientes condições
se ainda:
restrições pandémicas, evoca.
materiais e até infraestruturais,
- A volatilidade das medidas
121
Indice
Figura 1 - Impacto pandémico em termos psicológicos
Indice
122
CUIDAR DE NÓS
Tabela 1 - Sinais de alarme psicológico
restritivas ao longo do tempo,
Face ao exposto, importa considerar
A primeira, procurar ajuda
reforçando a imprevisibilidade do
com a devida seriedade um aumento
especializada, combatendo o vulgar
volume de trabalho, requerendo
da incidência de casos de saúde
estigma generalizado de que os
cíclicas adaptações profissionais.
psicológica afetada, nos profissionais
profissionais de saúde não têm
- A exposição prolongada ao (a)
de saúde, para os quais deixamos,
necessidades desta ordem, tendo por
normal funcionamento profissional,
possíveis sinais de alarme.
base os sinais de alarme enumerados. A segunda, evitar as
originando fenómenos de fadiga e degradação que inibem uma melhor
Sintetizam-se vinte e oito sinais de
generalizações e adotar uma análise
resposta conjetural.
alarme (Tabela 1), que devem
individualizada a cada caso
- E a impedição de contactar
despoletar uma aferição pessoal do
prolongadamente com as suas famílias.
estado de saúde psicológico, assentes em duas notas finais.
EDITORA
123
Indice
SILVIA LABIZA Enfermeira VMER Heli INEM
Cabine DAE em frente ao Município de Albufeira
Indice
Reciclagem de curso SBV-DAE aos agentes da GNR de Albufeira pelo Enfermeiro Frederico Magalhães do Serviço de Saúde Ocupacional do Município de Albufeira e Operacional VMER – CHUA.
124
NÓS E OS OUTROS
NÓS E OS OUTROS
PROGRAMA DE DESFIBRILHAÇÃO AUTOMÁTICA EXTERNA (DAE) COMUNITÁRIO DA CIDADE DE ALBUFEIRA AUTARQUIA + SEGURA Frederico Magalhães1,2 Enfermeiro VMER; Departamento de Gestão e Finanças - Unidade de Saúde e Segurança no Trabalho; Câmara Municipal de Albufeira.
1 2
O Município de Albufeira, no âmbito
entidade que se assume como
retirado de uma das 23 cabines
da sua Responsabilidade Social,
parceira do Programa.
instaladas no concelho, ou na
promoveu a implementação de um
A ativação de qualquer equipamento
condição de dispor dos 10
programa comunitário de
DAE, integrado do PDAE de Albufeira,
equipamentos DAE móveis;
Desfibrilhação Automática Externa
que esteja situado na via pública
(DAE), devidamente licenciado pelo
(localizado de áreas ou edifícios
elementos das forças de
Instituto Nacional de Emergência
âncora), implica a ativação da
segurança e socorro, inclui
Médica (INEM), e de acordo com o
totalidade dos ODAE integrado no
munícipes civis, que
previsto no decreto-lei nº188/2009 de
Programa do Município de Albufeira.
compareceram na ativação das
12 de Agosto e/ou decreto-lei nº
O PDAE de Albufeira integra
cabines quando ativadas;
184/2012 de 8 de Agosto. Foi
operacionais dos Bombeiros de
Quanto à distribuição e localização
designado ao Srº Drº Francisco
Albufeira, assim como os militares da
dos equipamentos DAE, na via
Tavares de Castro da empresa Blue
Guarda Nacional Republicana (GNR),
pública, para um cálculo da cobertura
Ocean Medical, Lda o responsável
afetos ao Destacamento Territorial de
geográfica, apresentamos os
Médico do programa de DAE do
Albufeira, agentes da proteção civil e
seguintes indicadores:
Município de Albufeira.
policias municipais considerados
•
O Programa designado por
como os elementos-chave da
“Autarquia + Segura” assume-se
resposta atendendo à sua
com o compromisso de contribuir
capacidade de mobilidade, enquanto
aproximadamente do 20% do
para o sucesso da Cadeia de
“first responders”, assim como
total = 28 km² (áreas onde
Sobrevivência em Portugal, nas
munícipes/cidadãos civis,
existem pessoas);
situações de socorro a uma
devidamente formados e certificados,
vítima de paragem cardio-
os quais são ativados de forma
conforme nossos cálculos, cerca
respiratória, preconizando o
expedita (através de chamada
de 1 ODAE por cada 0,119 Km2;
Município de Albufeira uma
telefónica e SMS - SOSCALL).
postura de proatividade face à
•
•
Este universo de ODAE, além dos
Área de referência do concelho de Albufeira = 140,7 km²;
•
•
Área urbana do concelho, com
Teremos na área urbana,
De igual modo, os elementos das
Existem atualmente 253
forças de socorro e segurança,
defesa da vida humana.
(duzentos e cinquenta e três)
integradas do PDAE de Albufeira,
O PDAE de Albufeira está baseado
Operacionais DAE, afetos ao
recebem também a informação
num sistema automático de
PDAE de Albufeira, com a
sobre a ativação do
notificação dos ODAE, concretizado
certificação em dia, os quais tal
equipamento, sendo que está
através de centro nevrálgico sedeado
como já foi referido, são ativados
protocolada a imediata ativação
na Central de Telecomunicações do
imediatamente por chamada e
dos operacionais do Corpo de
Bombeiros Voluntários de Albufeira,
SMS sempre que o DAE é
Bombeiros, que estejam de
125
Indice
•
Entregas de DAE móveis à Guarda Nacional Republicana de Albufeira, polícia municipal e proteção civil de Albufeira.
Sinalização de Desfibrilhador
Indice
Panfleto Informativo do PDAE Comunitário da Cidade de Albufeira
126
NÓS E OS OUTROS
•
serviço, e que se deslocam ao
Existe, ainda intenção do reforço do
local com um meio de socorro;
PDAE de Albufeira com a colocação
Também, os militares da GNR e
de mais equipamentos DAE no
da Polícia Municipal, no âmbito
interior de diversas instalações
das suas atividades de
municipais, pavilhões desportivos de
patrulhamento, encontram-se
todas as escolas do concelho e
com as efetivas condições de
estações rodoviárias.
deslocação imediata, no
•
âmbito da sua atividade, aos
Devido ao caráter inovador do
locais onde ocorra a ativação
programa, em 2018, o Município
de um equipamento DAE,
recebeu o galardão de “Melhor
integrado no PDAE;
Município para Viver”, na categoria
É de relevar a atividade
Social, uma iniciativa do Instituto de
operacional dos operacionais
Tecnologia Comportamental (INTEC)
dos Bombeiros e dos militares
em parceria com o semanário Sol,
da GNR, com intervenção 24h
que há mais de uma década
sobre 24 horas, 7 dias por
distingue os melhores projetos
semana, e que dispõem de
municipais no âmbito do Ambiente,
veículo motorizado (e equipado
Economia e área Social.
com DAE).
Tal como resulta das conclusões do
Tal como o INEM recomenda, será
relatório do GT–RDAE, criado ao
realizado o incremento de mais
abrigo do Despacho nº 2715/2018,
operacionais que possam dispor de
temos presente que o alargamento
formação em SBV-DAE, pelo que o
do acesso à DAE passa pelo
Município de Albufeira já iniciou a
desenvolvimento de um novo
formação certificada de novos ODAE,
conceito, e que para este objetivo é
incluindo taxistas / motoristas do
crucial o aumento do número de
GIRO e associações desportivas que
locais protegidos por programas de
possibilitará o incremento de cerca
DAE, caminhando para uma
de mais três a quatro centenas de
verdadeira cobertura nacional,
novos operacionais, a afetar ao PDAE
exemplo e desafio que o Município de
de Albufeira (a todas as cabines DAE
Albufeira materializou e corporiza.
já existentes na via pública), em todo o concelho; Entidade formadora
EDITOR
127
Indice
JOÃO CLÁUDIO GUIOMAR Enfermeiro VMER
“UM PEDACINHO DE NÓS”
UM PEDACINHO DE NÓS Ana Rodrigues1, Teresa Castro 2 Enfermeira das VMER de Faro e Albufeira, Enfermeira da VMER de Albufeira
1
Indice
2
Apresentamos a nossa Ana Rita
O irmão é portador de Hemofilia A, e
Inicia o percurso profissional no
Arez, enfermeira, nascida no
desde cedo acompanhou as idas ao
Serviço de urgência do Hospital de
Hospital de Faro, sem nunca
hospital e a angústia dos pais a
Faro, que a marcou pela sua
imaginar que um dia viria a ser o seu
cada queda que tinha, sentindo
inexperiência, pelas vivências em
local de trabalho. Nunca saiu da
desde aí a necessidade de ser a sua
primeira mão e pelos profissionais
terra que a viu crescer, Albufeira,
protectora e cuidadora. Mais tarde o
que encontrou e que a ajudaram a
onde passou a sua infância entre
avô, já com a saúde muito debilitada,
sentir que esta era a escolha certa.
peripécias e brincadeiras de rua, e
começou a recorrer com frequência
Daqui á UCISU (Unidade de Cuidados
hoje recorda esses momentos com
aos serviços hospitalares até ao dia
Intermédios do Serviço de Urgência)
alguma saudade. Casou e vive com
da sua morte. Nesse dia decide que
foi um passo, onde tudo era novo, os
o esposo, que é o seu pilar, e dois
será enfermeira para poder estar
desafios diferentes, um readaptar, e
filhos, no local onde sempre foi feliz.
junto dos seus familiares nesses
aprender. Passou depois pela UCIP
Os pais e o irmão sempre foram
momentos de grande fragilidade
(Unidade de Cuidados Intensivos
muito importantes na sua vida,
emocional e física. Dedica ao avô a
Polivalente), onde experimentou a
devido ao amor incondicional e
sua nobre escolha: “Pois é querido
complexidade da técnica inerente a
apoio que sempre demonstraram.
avô, a ti devo esta minha escolha”
este tipo de serviço e nunca
128
“UM PEDACINHO DE NÓS”
esquecerá a importância de estar ao
desgaste físico e emocional
inexplicavelmente aumentaram a sua
lado dos familiares dos doentes
enorme”. Deste amor nasceram os
incidência desde que integrou a
nestes momentos e os colegas com
seus dois amores incondicionais.
equipa. Recorda momentos de grande
quem trabalhou.
proporcionaram a aquisição de novos
Durante todo este percurso teve
imperativa de ter mais tempo livre para
conhecimentos. A oportunidade de
sempre a seu lado o seu amor,
estar mais próxima deles, e foi nesse
realizar o curso de VMER chegou, e
amigo e companheiro Valter: “A
momento que decidiu mudar de
entre a varicela dos filhos e marido, do
pessoa que se tornou o meu pilar, o
serviço e assim integrou a equipa do
cansaço e do stress, conseguiu assim
meu confidente e o meu principal
Serviço de Urgência Básica de
concretizar mais um dos grandes
apoio emocional nesta profissão que
Albufeira. Aí tem vivido momentos
sonhos profissionais.
nos tira tantas horas de convívio
inesquecíveis e diferentes, como por
Um dos grandes receios ao iniciar
com a família e nos provoca um
exemplo a realização de partos, que
esta nova aventura era o de intervir
129
Indice
stress, medos e dúvidas que Com os meus filhos veio a necessidade
em cenários graves com crianças.
meu diagnóstico o meu filho mais
disponibilizada pelo INEM que me
Rapidamente esse receio se tornou
velho pensou que eu ia morrer como
aturava horas ao telefone enquanto
realidade, dois acidentes de viação e
a professora tinha explicado. Foi
me ajudava naqueles dias mais
um afogamento que resultaram na
horrível ver o medo no seu rosto e
difíceis de isolamento e me tentava
morte de três crianças. Num desses
fiquei muito revoltada com a forma
responder a tantas questões. O ponto
dias, o filho mais velho, que tinha
como se falou deste vírus às
principal, o pilar para conseguir
precisamente a mesma idade,
crianças, provocando até a vergonha
ultrapassar dias de revolta e todo o
precisava de ajuda para estudar pois
por terem familiares infectados.
turbilhão de emoções neste
tinha teste de avaliação no dia
Pediram-me que não disse-se a
isolamento foi toda a minha família
seguinte, e não o conseguiu ajudar:
ninguém, eu e o meu marido tivemos
com o seu apoio incondicional,
“senti uma enorme necessidade de o
que mostrar diariamente que estava
amigos próximos que diariamente
abraçar, de lhe dar todo o meu amor,
tudo bem comigo para que ficassem
me demonstravam todo o seu apoio
de saber se estava feliz, de o deixar
mais tranquilos. Durante dois meses
e dedicação.”
brincar e ser só criança”.
tive que aprender essencialmente a estar comigo, sozinha. Com todas as
Considera-se uma pessoa feliz e
Por outro lado o sentimento de
nossas rotinas diárias muitas vezes
realizada com o seu percurso
orgulho e felicidade de uma vida
esquecemo-nos de nós próprios, dos
familiar e profissional e deseja
salva e esse sentimento espelhado
nossos desejos, das nossas
conseguir realizar muitos dos
no rosto dos familiares leva-a a
emoções, dos nossos prazeres, da
seus sonhos em conjunto com a
acreditar que este é o seu caminho.
nossa saúde entre muitas outras
família e amigos
coisas. Agora tinha tempo para tudo O ano de 2020 foi diferente pois
isto e é engraçado quando nem nos
ficou infetada com COVID 19.
reconhecemos mais, mudamos
Conta-nos na primeira pessoa a
drasticamente e nem nos
sua experiencia:
apercebemos, cada segundo destes
Indice
dias serviu para renascer. Na minha “A minha infecção ocorreu logo no
opinião em todo este tempo de
início da pandemia onde as dúvidas
pandemia ficou muitas vezes
relativas a este vírus eram ainda
esquecida a nossa avaliação
maiores. A minha sintomatologia foi
emocional, durante e após o
ligeira, tive odinofagia, tosse e algum
isolamento, como tivemos que lidar
cansaço. O que mais me afectou foi a
com a forma como as pessoas
distância que tive que manter durante
olhavam para nós infectados e para a
dois meses da minha família. As
nossa família. Para mim perdeu-se
respostas difíceis de dar aos meus
com todo este medo a sensibilidade
filhos de 7 e 5 anos do porquê de não
pelo próximo na ânsia do nosso
os poder abraçar, acarinhar, realizar
próprio bem-estar. Tive sorte porque
as minhas refeições com eles e
felizmente conhecia muitos dos
partilhar todos os espaços da casa. O
colegas que integravam a equipa do
mais grave foi que tudo decorreu no
Hospital de Faro que nos seguia no
primeiro confinamento onde as
domicílio, foram incansáveis e
crianças ouviram na escola que
diariamente demonstravam todo o
existia um vírus que matava muitas
seu apoio. Também foi bastante
pessoas e por isso teríamos que ir
importante para mim o apoio
todos para casa. Quando chegou o
incondicional da psicóloga
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EDITORA
ANA RODRIGUES Enfermeira VMER Heli INEM
EDITORA
TERESA CASTRO Enfermeira VMER
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“UM PEDACINHO DE NÓS”
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TERTÚLIA VMERISTA
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TERTÚLIA VMERISTA
EDITOR
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NUNO RIBEIRO Enfermeiro VMER TIP
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Novos Orgãos Sociais
(2021-2024)
Direção PRESIDENTE: Tiago Carvalho VICE-PRESIDENTE: Tiago Amaral SECRETÁRIO: José Gomes TESOUREIRO: João João Mendes VOGAL: Luis Gonçalves VOGAL: Diogo Machado VOGAL: Joana Fontes SUPLENTE: Vera Mondim
Assembleia Geral PRESIDENTE: Mário Branco VICE-PRESIDENTE: Soraia Oliveira SECRETÁRIO: Jorge Mimoso SUPLENTE: André Pires
Conselho Fiscal
PRESIDENTE: Nelson Coimbra VICE-PRESIDENTE: João Coucelo SECRETÁRIO: Samuel Sousa VOGAL: Emílio Leal VOGAL: Patrícia Fragata SUPLENTE: Diogo Saraiva
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+351 966 226 022 apemerg@gmail.com www.apemerg.pt
TESOURINHO VMERISTA
Pedro Oliveira Silva 1 1
Médico VMER
Num final de tarde de primavera, onde o sol sorri e existe uma leve brisa que transporta um sorriso no rosto de quem a sente, fomos notificados para mais uma saída, desta vez um jovem nos seus 87 anos, que estaria com alteração do estado de consciência. A viagem não foi longa e à nossa chegada, encontramos senhor
sonolento, mas hemodinamicamente estável, sem alterações no ECG e tendo medicação habitual rica em hipnóticos, os quais já teria tomado. Este paciente apesar de uma ativação para paragem cardiorrespiratória queixava-se apenas do tórax, sendo este o momento em que a familiar revela que fez SBV e que ele recuperou - "às primeiras
Congressos Digitais
Curso Arritmologia para Medicina Interna e MGF 15 de maio de 2021 às 09:00 Organizado por Essential Courses. Onlinecourses.pt
compressões acordou logo"! Perfaz a afirmação dizendo que tinha realizado o curso de SBV há pouco tempo e até sabia usar o “DGS”. Com um sorriso na boca, agradecemos a ajuda e encaminhamos o senhor perfeitamente recuperado do seu sono para o hospital.
Jornadas de Urgência / Emergência em Pediatria: Cuidar de excelência 20 - 21 de maio de 2021 Hospital de são Bernardo, Setúbal 2º Seminário de Enfermagem em Emergência Extra-Hospital 18 de junho de 2021 às 08:00 Evento Online organizado por APEMERG e AEEEMC
EDITOR
REBOA e Toracotomia na PCR Traumática 28 de junho de 2021, das 19:00 às 20:30 Evento online, 2º Webinar APEMERG
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PEDRO OLIVEIRA SILVA Médico VMER CODU
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TESOURINHO VMERTISTA
FRASE MEMORÁVEL
“temos de poder contar com cada um de nós, cada português conta porque cada português sabe que é Portugal”. (...) “mesmo sem estado de emergência há que manter ou adotar todas as medidas consideradas indispensáveis para impedir recuos, retrocessos, regressos a um passado que não desejamos..." Marcelo Rebelo de Sousa, Frases proferidas pelo Presidente da República Portuguesa, em discurso de 27 de abril de 2021. Após ter declarado por 15 vezes o estado de emergência, no contexto da pandemia COVID-19, explica no seu discurso ao País, o motivo para não proceder à renovação do estado de emergência pela 16ª vez.
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Fonte: https://expresso.pt/newsletters/expressomatinal/2021-04-28-Como-acabar-com-um-estado-de-emergencia-e-como-ser-salvo-por-um-estado-de-inteligencia-398a0fca
BEST SITES
CIRCULATION A Revista Circulation publica artigos de investigação originais, artigos de revisão e outros conteúdos relacionados com as doenças cardiovasculares. É atualmente a revista com maior fator de impacto e maior número de citações do grupo
de revistas científicas da American Heart Association (AHA). Clique aqui para aceder à atualização de 2020 das Guidelines da ressuscitação cardiopulmonar
https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIR.0000000000000918
RESUS Trata-se de um site de difusão do conhecimento na área de emergência médica, muito completo e organizado,
que possibilita uma pesquisa diversificada de temáticas, com profundidade e proficiência.
EDITOR
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BRUNO SANTOS Médico VMER
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https://www.resus.com.au/
BEST APPS
BEST APPS A Prática, por vezes, revela em nós simples barreias que podem constituir um entrave a um bom desempenho. Estas duas aplicações sõo um bom exemplo disso e uma excelente ajuda na interpretação das necessidades do outro.
PAIN RATING SCALES A quantificação da intensidade da
Esta aplicação fornece algumas das
dor é essencial para alguém sentindo
escalas de avaliação da dor mais
dor. Avaliar o nível de dor ajuda no
utilizadas, em adultos e crianças
tratamento adequado e monitorização da mesma.
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.etz.painassessmentadvanced
CARE TO TRANSLATE Entender o outro em contexto de saúde pode ser complicado. Os termos médicos nem sempre são bem traduzidos e por vezes são mal interpretados.
Esta aplicação ajuda profissionais de saúde a comunicar com colegas ou pacientes que falem línguas diferentes, auxiliando a comunicação e real interpretação das frases ou palavras
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.siv
EDITOR
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PEDRO LOPES SILVA Enfermeiro VMER Heli INEM
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CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO - Novembro de 2019
A Revista LIFESAVING (LF) é um órgão de publicação pertencente ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e dedica-se à promoção da ciência médica pré-hospitalar, através de uma edição trimestral. A LF adopta a definição de liberdade editorial descrita pela World Association of Medical Editors, que entrega ao editor-chefe completa autoridade sobre o conteúdo editorial da revista. O CHUA, enquanto proprietário intelectual da LF, não interfere no processo de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, atribuindo ao editor-chefe total independência editorial. A LF rege-se pelas normas de edição biomédica elaboradas pela International Commitee of Medical Journal Editors e do Comittee on Publication Ethics.
2. Informação Geral A LF não considera material que já foi publicado ou que se encontra a aguardar publicação em outras revistas. As opiniões expressas e a exatidão científica dos artigos são da responsabilidade dos respectivos autores.
A LF reserva-se o direito de publicar ou não os artigos submetidos, sem necessidade de justificação adicional. A LF reserva-se o direito de escolher o local de publicação na revista, de acordo com o interesse da mesma, sem necessidade de justificação adicional. A LF é uma revista gratuita, de livre acesso, disponível em https://issuu.com/lifesaving. Não pode ser comercializada, sejam edições impressas ou virtuais, na parte ou no todo, sem autorização prévia do editor-chefe.
3. Direitos Editoriais Os artigos aceites para publicação ficarão propriedade intelectual da LF, que passa a detentora dos direitos, não podendo ser reproduzidos, em parte ou no todo, sem autorização do editor-chefe.
4. Critérios de Publicação 4.1 Critérios de publicação nas rúbricas A LF convida a comunidade científica à publicação de artigos originais em qualquer das categorias em que se desdobra, de acordo com os seguintes critérios de publicação:
Temas em Revisão - Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para actuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar. Dimensão: 1500 palavras. Hot Topic - Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré-hospitalar recentes ou contraditórias. Dimensão: 1000 palavras. Nós Por Cá - Âmbito: Dar a conhecer a realidade de actuação das várias equipas de acção pré-hospitalar através de revisões estatísticas da sua casuística. Dimensão: 250 palavras. Tertúlia VMERISTA - Âmbito: Pequenos artigos de opinião sobre um tema fraturante. Dimensão: 250 palavras. Rúbrica Pediátrica - Âmbito: Revisão sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. Dimensão: 1500 palavras. Minuto VMER - Âmbito: Sintetização para consulta rápida de procedimentos relevantes para a abordagem de doentes críticos. Dimensão: 500 palavras
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1. Objectivo e âmbito
Fármaco Revisitado - Âmbito: Revisão breve de um fármaco usado em emergência pré-hospitalar. Dimensão: 500 palavras Journal Club - Âmbito: Apresentação de artigos científicos pertinentes relacionados com a área da urgência e emergência médica pré-hospitalar e hospitalar. Dimensão: 250 palavras Nós e os Outros - Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre a actuação de equipas de emergência pré-hospitalar não médicas. Dimensão: 1000 palavras Ética e Deontologia - Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre questões éticas desafiantes no ambiente pré-hospitalar. Dimensão: 500 palavras Legislação - Âmbito: Enquadramento jurídico das diversas situações com que se deparam os profissionais de emergência médica. Dimensão: 500 palavras O que fazer em caso de... - Âmbito: Informação resumida mas de elevada qualidade para leigos em questões de emergência. Dimensão: 500 palavras.
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Mitos Urbanos - Âmbito: Investigar, questionare esclarecer questões pertinentes, dúvidas e controvérsias na prática diária da emergência médica. Dimensão: 1000 palavras.
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Cuidar de Nós - Âmbito: Diferentes temáticas, desde psicologia, emocional, metabólico, físico, laser, sempre a pensar no auto cuidado e bem estar do profissional. Dimensão: 250 palavras. Caso Clínico - Âmbito: Casos clinicos que tenham interesse científico. .Dimensão: 250 palavras. Pedacinho de Nós - Âmbito: Dar a conhecer os profissionais das equipas de emergência pré-hospitalar. Dimensão: 400 palavras.
O trabalho a publicar deve ser acompanhado de no máximo 10 palavras-chave representativas. No que concerne a tabelas/figuras já publicadas é necessário a autorização de publicação por parte do detentor do copyright (autor ou editor). Os ficheiros deverão ser submetidos em alta resolução, 800 dpi mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias em formato JPEG (.Jpg), PDF (.pdf). As tabelas/figuras devem ser numeradas na ordem em que ocorrem no texto e enumeradas em numeração árabe e identificação. No que concerne a casos clínicos é
Tesourinhos VMERISTAS - Âmbito: Divulgação de situações caricatas, no sentido positivo e negativo, da nossa experiência enquanto VMERistas. Dimensão: 250 palavras Congressos Nacionais e Internacionais - Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica. Dimensão: 250 palavras. Eventos de Emergência no Algarve - Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica no Algarve. Dimensão: 250 palavras. Best Links/ Best Apps de Emergência Pré-hospitalar - Âmbito: Divulgação de aplicações e sítios na internet de emergência médica pré-hospitalar -Dimensão: 250 palavras O trabalho a publicar deverá ter no máximo 120 referências. Deverá ter no máximo 6 tabelas/figuras devidamente legendadas e referenciadas.
necessário fazer acompanhar o material a publicar com o consentimento informado do doente ou representante legal, se tal se aplicar. No que concerne a trabalhos científicos que usem bases de dados de doentes de instituições é necessário fazer acompanhar o material a publicar do consentimento da comissão de ética da respectiva instituição. As submissões deverão ser encaminhadas para o e-mail: newsletterlifesaving@gmail.com
4.2 Critérios de publicação nos cadernos científicos. Nos Cadernos Científicos da Revista LifeSaving podem ser publicados Artigos Científicos, Artigos de Revisão ou Casos Clínicos de acordo com a normas a seguir descritas. Artigos Científicos O texto submetido deverá apresentado com as seguintes secções: Título (português e inglês), Autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação), Abstract (português e
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
inglês), Palavras-chave (máximo 5), Introdução e Objetivos, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos, Referências.
de 50 referências.
O texto deve ser submetido com até 3 Take-home Messages que no total devem ter até 50 palavras.
Este tipo de trabalho pode ter no máximo 5 autores.
O resumo dos Artigos de Revisão segue as regras já descritas para os resumos dos Artigos Científicos.
Não poderá exceder as 4.000 palavras, não contando Referências ou legendas de Tabelas e Figuras. Pode-se fazer acompanhar de até 6 Figuras/Tabelas e de até 60 referências bibliográficas.
Caso Clínico O objetivo deste tipo de publicação é o relato de caso clínico que pela sua raridade, inovações diagnósticas ou terapêuticas aplicadas ou resultados clínicos inesperados, seja digno de partilha com a comunidade científica.
O Abstract não deve exceder as 250
O texto não poderá exceder as 1.000
palavras.
palavras e 15 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de até 5 tabelas/figuras.
Se meta-análise de estudo observacionais deverá seguir as MOOSE guidelines e apresentar um protocolo completo do estudo. Se estudo de precisão de diagnóstico, deverá seguir as STARD guidelines. Se estudo observacional, siga as STROBE guidelines. Se se trata da publicação de Guidelines Clínicas, siga GRADE guidelines. Este tipo de trabalhos pode ter no máximo 6 autores. Artigos de Revisão O objetivo deste tipo de trabalhos é rever de forma aprofundada o que é conhecido sobre determinado tema de importância clínica. Poderá contar com, no máximo, 3500 palavras, 4 tabelas/figuras, não mais
Deve inclui resumo que não exceda as 150 palavras organizado em objectivo, caso clínico e conclusões.
A LF segue um processo single-blind de revisão por pares (peer review). Todos os artigos são inicialmente revistos pela equipa editorial nomeada pelo editor-chefe e caso não estejam em conformidade com os critérios de publicação poderão ser rejeitados antes do envio a revisores. A aceitação final é da responsabilidade do editor-chefe. Os revisores são nomeados de acordo com a sua diferenciação em determinada área da ciência médica pelo editor-chefe, sem necessidade de justificação adicional. Na avaliação os artigos poderão ser aceites para publicação sem alterações, aceites após modificações propostas pela equipa editorial ou recusados sem outra justificação.
Este tipo de trabalho pode ter no máximo 4 autores.
7. Erratas e retracções
Cartas ao Editor O objetivo deste tipo de publicação é efetuar um comentário a um artigo da revista.
A LF publica alterações, emendas ou retracções a artigos previamente publicados se, após publicação, forem detectados erros que prejudiquem a interpretação dos dados .
O texto não poderá exceder as 400 palavras e as 5 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de 1 ilustração.
5. Referências Os autores são responsáveis pelo rigor das suas referências bibliográficas e pela sua correta citação no texto. Deverão ser sempre citadas as fontes originais publicadas. A citação deve ser registada empregando Norma de Harvard.
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Se revisão sistemática ou meta-análise deverá seguir as PRISMA guidelines.
6. Revisão por pares
Estatuto Editorial A Revista LIFESAVING é uma publicação científica e técnica, na área da emergência médica, difundida em formato digital, com periodicidade trimestral.
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Trata-se de um projeto inovador empreendido pela Equipa de Médicos e Enfermeiros das Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) de Faro e de Albufeira, pertencentes ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve, e que resultou da intenção estratégica de complementar o Plano de formação contínua da Equipa. A designação “Lifesaving”, que identifica a publicação, é bem conhecida por todos os profissionais que trabalham na área da emergência médica, e literalmente traduz o desígnio da nobre missão que todos desempenham junto de quem precisa de socorro – “salvar vidas”. Esta Publicação inovadora, compromete-se a abraçar um domínio editorial pouco explorado no nosso país, com conteúdos amplamente dirigidos a todos os profissionais que manifestam interesse na área da emergência médica. Através de um verdadeiro trabalho de Equipa dos vários Editores da LIFESAVING, e aproveitando a sua larga experiência em Emergência Médica, foi estabelecido
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o compromisso de apresentar em cada número publicado, conteúdos e rubricas de elevada relevância científica e técnica no domínio da emergência médica. Por outro lado, este valioso instrumento de comunicação promoverá a partilha das ideias e conhecimentos, de forma completa, rigorosa e assertiva. Proprietário: Centro Hospitalar Universitário do Algarve, E.P.E. NIPC: 510 745 997 Morada: Rua Leão Penedo, 8000-386 Faro N.º de registo na ERC: 127037 Diretor: Dr. Bruno Santos Editor-Chefe: Dr. Bruno Santos Morada: Rua Leão Penedo, 8000-386 Faro Sede da redação: Rua Leão Penedo, 8000-386 Faro Periodicidade: trimestral TIPO DE CONTEÚDOS Esta publicação periódica pretende ser uma compilação completa de uma seleção de matérias científicas e técnicas atualizadas, incluídas em grande diversidade de Rubricas, incluindo: – “Temas em Revisão” – Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para actuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar. – Dimensão: 1500 palavras; – “Hot Topic” – Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré- hospitalar recentes ou contraditórias. -Dimensão: 1000 palavras; – “Nós Por Cá” – Âmbito: Dar a conhecer a realidade de actuação das várias equipas de acção pré-hospita-
lar através de revisões estatísticas da sua casuística. Poderá incluir também a descrição sumária de atividades, práticas ou procedimentos desenvolvidos localmente, na área da emergência médica – Dimensão: 500 palavras; – “Tertúlia VMERISTA” – Âmbito: Pequenos artigos de opinião sobre um tema fraturante – Dimensão: 250 palavras; – “Rúbrica Pediátrica” – Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. – Dimensão: 1500 palavras; – “Minuto VMER” – Âmbito: Sintetização para consulta rápida de procedimentos relevantes para a abordagem de doentes críticos, ou de aspetos práticos relacionados com Equipamentos utilizados no dia-à-dia. – Dimensão: 500 palavras; – “Fármaco Revisitado” – Âmbito: Revisão breve de um fármaco usado em emergência pré-hospitalar. – Dimensão: 500 palavras; – “Journal Club” – Âmbito: Apresentação de artigos científicos pertinentes relacionados com a área da urgência e emergência médica pré-hospitalar e hospitalar. -Dimensão: 500 palavras; – “Nós e os Outros” – Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre a atuação de equipas de emergência pré-hospitalar não médicas. -Dimensão: 1000 palavras; – “Ética e Deontologia” – Âmbito:
ESTATUTO EDITORIAL
– “Legislação” – Âmbito: Enquadramento jurídico das diversas situações com que se deparam os profissionais de emergência médica. – Dimensão: 500 palavras; – “O que fazer em caso de…” – Âmbito: Informação resumida, mas de elevada qualidade, para leitores não ligados à área da saúde, ou da emergência médica -Dimensão: 500 palavras; – “Mitos Urbanos” – Âmbito: Investigar, questionar e esclarecer questões pertinentes, dúvidas e controvérsias na prática diária da emergência médica. -Dimensão: 1000 palavras; – “Cuidar de Nós” – Âmbito: Discussão de diferentes temáticas, de caráter psicológico, emocional, metabólico, físico, recreativo, centradas no auto-cuidado e bem estar do profissional da emergência. -Dimensão: 500 palavras; – “Caso Clínico” – Âmbito: Apresentação de casos clínicos de interesse científico na área da emergência médica. -Dimensão: 500 palavras; – “Pedacinho de Nós” – Âmbito: Dar a conhecer, em modo de entrevista, os profissionais da Equipa das VMER de Faro e Albufeira ou outros Elementos colaboradores editoriais da LIFESAVING. – Dimensão: 500 palavras; – “Vozes da Emergência” – Âmbito: Apresentar as Equipas Nacionais que
desenvolvem trabalho na Emergência Médica, dando relevância a especificidade locais e revelando diferentes realidades. – Dimensão 500 palavras; – “Emergência Global” – Âmbito: publicação de artigos de autores internacionais, que poderão ser artigos científicos originais, artigos de opinião, casos clínicos ou entrevistas, pretendendo-se divulgar experiências enriquecedoras, além fronteiras; – “Tesourinhos VMERISTAS” – Âmbito: Divulgação de situações caricatas, no sentido positivo e negativo, da experiência dos Profissionais da VMER. – Dimensão: 250 palavras; – “Congressos Nacionais e Internacionais” – Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica – Dimensão: 250 palavras; – “Eventos de Emergência no Algarve” – Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica no Algarve. – Dimensão: 250 palavras; – “Best Links/ Best Apps de Emergência Pré-hospitalar” – Âmbito: Divulgação de aplicações e sítios na internet de emergência médica préhospitalar -Dimensão: 250 palavras PREVISÃO DO NÚMERO DE PÁGINAS: 50; TIRAGEM: – não aplicável para a publicação eletrónica, não impressa em papel. ONDE PODERÁ SER CONSULTADA:
chualgarve.min-saude.pt/lifesaving/, e adquirida gratuitamente por subscrição nesse mesmo site. Não dispomos ainda de um site oficial para organização dos nossos conteúdos, de modo que atualmente todas as Edições estão a ser arquivadas no Repositório Internacional ISSUU, onde poderão ser consultadas gratuitamente (https://issuu. com/lifesaving). Marcamos presença ainda noutras plataformas de divulgação (Facebook, Instagram, Twitter e Youtube). DIVULGAÇÃO DA LIFESAVING: A LIFESAVING será difundida no site do Centro Hospitalar do Algarve (no setor média e imagem), e sua Intranet, com possibilidade da sua subscrição para receção trimestral via e-mail. Inserida on-line no repositório de publicações ISSUU, adquirindo um aspeto gráfico otimizado para tornar a leitura ainda mais agradável. Será também difundida na página de Facebook da VMER de Faro, página própria com o nome LIFESAVING. n.º 1 do art.º 17.º da Lei de Imprensa: Garantia de liberdade de imprensa: 1 - É garantida a liberdade de imprensa, nos termos da Constituição e da lei. 2 - A liberdade de imprensa abrange o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. 3 - O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura
Pode ser consultada no site do CHUAlgarve, no setor “Comunicação”, no domínio http://www.
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Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre questões éticas desafiantes no ambiente pré-hospitalar. -Dimensão: 500 palavras;
ERRATA No artigo da rubrica Nós e os Outros sobre o "Novo verbete nacional de socorro" decorreu acidentalmente uma imprecisão na afiliação do Autor João Lourenço, e que aqui se transcreve integralmente na sua versão correta: Filipa Barros1, João Lourenço2,3 João Nunes4 Médica do Departamento de Emergência Médica - INEM, Enfermeiro do Departamento de Emergência Médica - INEM, 3 Enfermeiro ambulância de Suporte Imediato de Vida (SIV), 4 Técnico Superior do Gabinete de Marketing e Comunicação do INEM. 1
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ERRATA
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