LIFESAVING 29

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FICHA TÉCNICA

DIRETOR E EDITOR-CHEFE

Bruno Santos

CO-EDITOR-CHEFE

Pedro Lopes Silva

EDITORES ASSOCIADOS

MINUTO VMER

Isabel Rodrigues

PÓSTER CIENTÍFICO

Ana Isabel Rodrigues

André Abílio Rodrigues

Catarina Jorge

Solange Mega

NÓS POR CÁ

Catarina Tavares

Monique Pais Cabrita

FÁRMACO REVISITADO

Catarina Monteiro

JOURNAL CLUB

Ana Rita Clara

O QUE FAZER EM CASO DE

André Abílio Rodrigues

CUIDAR DE NÓS

Sílvia Labiza

EMERGÊNCIA INTERNACIONAL

Eva Motero

Rúben Santos

ÉTICA E DEONTOLOGIA

Teresa Salero

LEGISLAÇÃO

Ana Agostinho

Isa Orge

CARTAS AO EDITOR

Catarina Jorge

Júlio Ricardo Soares

TERTÚLIA VMERISTA

Nuno Ribeiro

MITOS URBANOS

Christian Chauvin

VOZES DA EMERGÊNCIA

Ana Vieira

Rita Penisga

Solange Mega

UM PEDACINHO DE NÓS

Ana Rodrigues

Teresa Castro

TESOURINHOS VMERISTAS

Pedro Oliveira Silva

INTOXICAÇÕES NO PRÉ-HOSPITALAR

Ernesto Ruivo

Mónica Fonseca

CONGRESSOS VIRTUAIS

Pedro Oliveira Silva

INSTANTÂNEOS EM EMERGÊNCIA MÉDICA

Solange Mega

Teresa Mota

BEST SITES

Bruno Santos

Pedro Rodrigues Silva

BEST APPS

Pedro Lopes Silva

SUGESTÕES DE LEITURA

André Abílio Rodrigues

ILUSTRAÇÕES

João Paiva

FOTOGRAFIA

Pedro Rodrigues Silva

Maria Luísa Melão

Solange Mega

AUDIOVISUAL

Pedro Lopes Silva

PARCERIAS

DESIGN

Luis Gonçalves (ABC)

Caríssimos leitores,

É com enorme satisfação que chegamos à marca dos 7 anos de publicações trimestrais constantes da revista Lifesaving. São 29 edições pautadas pelo profissionalismo, resiliência e dedicação de todos aqueles que integram este projeto. Todas as contribuições são de enorme importância e cada uma delas é parte integrante desta caminhada pela partilha de conhecimentos a que nos propusemos há 7 anos atrás. A todos estes intervenientes, um enorme obrigado. Estamos todos de parabéns.

Esta edição conta com uma separata especial de aniversário, onde apresentamos 3 artigos sobre o tema central desta edição, a inteligência artificial, de autoria de 3 convidados especiais peritos na matéria. Convidados esses que participarão na apresentação desta edição especial de aniversario, no dia 11 de Agosto às 18h na Fnac do Forum Algarve. Centrados nesta temática atual e controversa, o “Minuto VMER” apresenta os prós e contras da utilização do Chat Gpt na emergência médica e o “Artigo INEM” demonstra o contributo atual da inteligência artificial na instituição. A nossa equipa mostra a sua opinião em mais uma “Tertúlia Vmerista”“Nós por cá” entrevistámos o Sr Professor Henrique Martins sobre saúde digital e cuidados de saúde.

Ainda na mesma rubrica, a Enfª Catarina Tavares, apresenta o novo serviço de neurorradiologia de intervenção do CHUA, uma mais-valia para os Algarvios.

Nas nossa rubricas habituais, o Enfº André mostra-nos “o eu fazer em caso de:” Golpe da Calor enquanto a Dra Monica e Dr Ernesto estudam os efeitos das “Intoxicações” com Beta-Bloqueantes e Bloqueadores de cálcio.

O “fármaco revisitado” desta edição é o Sulfato de Magnésio, trabalhado pela Dra Alice Brás.

A Dra Ana Rita Clara traz-nos mais uma interessante revisão de artigo no nosso Journal Club, acerca do controlo e tratamento das hemorragias no pré-hospitalar.

Espero que desfrutem desta edição.

Bem hajam

Pedro Lopes Silva

CO-EDITOR-CHEFE

Enfermeiro VMER pgsilva@chalgarve.min-saude.pt

Momentos de inspiração

Stephen Hawking

1942 - 2018

Físico teórico, cosmólogo e autor britânico.

Periodicidade

Trimestral

Linguagem

Português

2 Indice
EDITORIAL
ISSN 2184-1411 Propriedade: CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO ALGARVE Morada da Sede: Rua Leão Penedo.  8000-386 Faro Telefone: 289 891 100 | NIPC 510 745 997
"A inteligência é a habilidade de se adaptar à mudança."

SEPARATA ESPECIAL ANIVERSÁRIO EVENTO DE CELEBRAÇÃO DO 7º ANIVERSÁRIO DA LIFESAVING

TRANSFORMAÇÃO PELA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: IMPACTOS, PROMESSAS E DESAFIOS NA NOSSA SOCIEDADE

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA CARDÍACA – O IMPULSO QUE FALTAVA?

EMERGÊNCIA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: NA ENCRUZILHADA DE PERGUNTAS, INQUIETAÇÕES E DESAFIOS.

MINUTO VMER CHATGPT - UMA FERRAMENTA NA EMERGÊNCIA MÉDICA? - PRÓS E CONTRAS.

ARTIGO INEM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO PRÉ-HOSPITALAR.

NÓS POR CÁ “INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, SAÚDE DIGITAL E CUIDADOS DE SAÚDE”

NÓS POR CÁ

NEURORRADIOLOGIA DE INTERVENÇÃO NO CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO ALGARVE (CHUA)

INTOXICAÇÕES NO PRÉ-HOSPITALAR BETA-BLOQUEANTES E BLOQUEADORES DE CANAIS DE CÁLCIO

FÁRMACO REVISITADO SULFATO DE MAGNÉSIO: APLICAÇÕES ATUAIS NA EMERGÊNCIA MÉDICA

JOURNAL CLUB

PREHOSPITAL HEMORRHAGE CONTROL AND TREATMENT BY CLINICIANS: A JOINT POSITION STATEMENT

EMERGÊNCIA INTERNACIONAL MISSÃO PORTUGUESA NO CHILE

O QUE FAZER EM CASO DE... GOLPE DE CALOR

CUIDAR DE NÓS GESTÃO DE TEMPO. UMA EXPERIÊNCIA NA PRIMEIRA PESSOA, QUAL É A SUA?!

TERTÚLIA VMERISTA

"A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O PRÉ-HOSPITALAR, QUAL A TUA OPINIÃO ENQUANTO OPERACIONAL?"

UM PEDACINHO DE NÓS SOLANGE MEGA

TESOURINHO VMERISTA / FRASE MEMORÁVEL

PÁGINAS ABC

PÁGINAS APEMERG

BEST SITES

BEST APPS SUGESTÕES DE LEITURA CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

5 Indice ÍNDICE 8 64 66 70 59 60 48 40 10 12 16 24 28 38 44 18
ESTATUTO EDITORIAL 80 72 52
6 Indice
7 Indice

icial Debate Participe no debate Deixe AQUI a sua opinião

7ºAniversário
“Poderá a Inteligência Artif salvar vidas?” Fórum Fnac Faro 11 de Agosto | 18h00
7ºAniversário “Poderá a Inteligência Artif salvar vidas?” icial Fórum Fnac Faro 11 de Agosto | 18h00 Debate Participe no debate Deixe AQUI a sua opinião SEPARATA ESPECIAL ANIVERSÁRIO 11 de Agosto de 2023, às 18h00 no Fórum Fnac de Faro BRUNO SANTOS Coordenador Médico da Equipa das VMER de Faro e Albufeira Coordenador Editorial da Revista LIFESAVING e LIFESAVING Scientific

a

7ºAniversário “Poderá
Inteligência Artif salvar
icial Fórum Fnac Faro 11 de Agosto | 18h00 Debate Participe no debate Deixe AQUI a sua opinião SEPARATA ESPECIAL ANIVERSÁRIO
vidas?”

Yuval Noah Harari ou Luís Moniz Pereira, assinaram uma carta aberta que pede a suspensão dos treinos de IA durante seis meses, suportada no facto de que a IA avançada irá representar uma mudança profunda na história da vida na Terra e deve ser planeada e gerida com cuidado.

A crescente presença da IA em nossas vidas está a influenciar a forma como interagimos com a tecnologia. A inteligência artificial está a transformar o que nos rodeia em produtos mais convenientes, eficientes e seguros. Voltando aos exemplos iniciais, a maioria de nós certamente que quer um assistente de condução que ajude no seguimento de faixas de rodagem ou que pode travar automaticamente perante perigo iminente de choque. Ou modelos que detetem com a maior acurácia uma possível doença, que façam diagnósticos precisos e rápidos e nos sugiram tratamentos eficazes e personalizados em tempo real. No entanto, é fundamental entender as consequências e os problemas associados a essa tecnologia em constante evolução. A humanidade tem, pois, de encontrar um equilíbrio entre aproveitar os benefícios da IA e minimizar seus efeitos prejudiciais à medida que ela se expande, i.e., de algum modo temos de amortecer a disrupção que a IA está a trazer a um mundo global. Em suma, apesar dos dilemas e preocupações, a IA não só está para ficar, mas para evoluir para capacidades ainda só idealizadas por alguns

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA CARDÍACA – O IMPULSO QUE FALTAVA?

A angina ou dor súbita no peito é uma emergência médica muito comum. A angina é, normalmente, um sintoma da doença das artérias coronárias, que representa a principal causa de morte a nível mundial, e que resulta da acumulação de placas de gordura (chamadas placas de aterosclerose) nas artérias (coronárias) que irrigam o coração, podendo causar uma redução repentina do fluxo sanguíneo para o coração (isquemia). A angina também pode ocorrer quando as artérias coronárias estão normais, mas o fluxo sanguíneo é restringido nos vasos sanguíneos mais pequenos, uma condição conhecida como disfunção microvascular. Um bloqueio total do fluxo sanguíneo pode causar um enfarte do miocárdio (músculo cardíaco), vulgarmente conhecido como ataque cardíaco. Neste caso, o tratamento é urgente e requer medidas terapêuticas invasivas como, por exemplo, a angioplastia (com recurso a cateterismo cardíaco), para desobstruir a artéria e assim salvar o miocárdio. Assim sendo, o diagnóstico e tratamento precoce destas doenças é fundamental para impedir a sua progressão, preservar o miocárdio e a sua função, minimizando assim complicações

graves, debilitantes e, eventualmente, fatais.

Actualmente, a angiografia coronária, um método invasivo que usa raios-X, é o método de referência para detectar obstruções nas artérias coronárias1. No entanto, esta técnica por si só não consegue diagnosticar a disfunção microvascular, o que significa que esta doença muitas vezes não é correctamente diagnosticada. Consequentemente, estes pacientes continuarão a apresentar sintomas de angina, levando a hospitalizações repetidas, angiografias desnecessárias, reduzida qualidade de vida, além de um prognóstico clínico pouco favorável.

A ressonância magnética (RM) cardíaca é um método de diagnóstico por imagem, não invasivo e seguro (não utiliza radiação ionizante), que permite uma avaliação muito completa sobre a saúde do coração, num único exame2. Esta técnica permite-nos obter informação sobre a anatomia do coração e artérias coronárias, função ventricular, composição dos tecidos, presença de tecido necrótico (cicatrizado), e fluxo sanguíneo nos pequenos e grandes vasos que irrigam o coração. No entanto, o exame é relativamente

longo, podendo demorar até cerca de 60 minutos, além de complexo, requerendo pessoal altamente qualificado, o que tem limitado a sua adopção aos centros mais especializados. Acresce que a análise quantitativa das imagens, para avaliar de forma objectiva, por exemplo, o fluxo sanguíneo e a função ventricular, é também morosa e complexa. Além disso, a qualidade das imagens depende muito da cooperação do paciente, uma vez que este tem de ficar imóvel e suster a respiração, várias vezes, durante alguns segundos. Recentemente, porém, novas tecnologias com base em inteligência artificial (IA) começaram a ser aplicadas à RM cardíaca, e revelaram um potencial extraordinário para reduzir os tempos do exame, melhorar a qualidade da imagem e acuidade diagnóstica, além de aumentar a produtividade e reduzir erros humanos, tornando o exame mais confortável e acessível a todos2-4

“Poderá a Inteligência Artif salvar vidas?” icial

A IA tem a capacidade de automatizar o processo de planeamento do exame de RM cardíaca, incluindo a determinação das vistas cardíacas padrão essenciais para avaliar as várias estruturas do coração, segundo

7ºAniversário
Fórum Fnac Faro 11 de Agosto | 18h00 Debate Participe no debate Deixe AQUI a sua opinião SEPARATA ESPECIAL ANIVERSÁRIO
1Centro de Ciências do Mar - CCMAR, Faro, Portugal 2School of Biomedical Engineering and Imaging Sciences, King’s College London, Londres, Reino Unido

vários ângulos, assegurando assim que todas as imagens obtidas são de elevada qualidade, independentemente da experiência do operador5. A IA pode também ser utilizada para acelerar a aquisição de imagens de RM6-9. Mais concretamente, a IA permite gerar imagens “completas” a partir de dados “incompletos”, ou seja, permite obter imagens com qualidade diagnóstica a partir de apenas cerca de 25% da informação (dados de RM) que o exame normal requereria.

Assim sendo, a IA permite encurtar os exames de RM cardíaca, torná-los acessíveis a um maior número de pacientes e exequíveis em mais centros de RM.

A IA pode ser usada para automatizar a análise de imagens de RM, como, por exemplo, para delinear (segmentar) automaticamente o miocárdio e as câmaras cardíacas, substituindo as abordagens manuais que consomem muito tempo e são propensas à variabilidade entre observadores, e estimar índices quantitativos que nos permitem avaliar, de forma objectiva, o funcionamento e a estrutura do coração10-13. A IA pode também ajudar a produzir relatórios de RM cardíaca de forma automatizada, permitindo identificar diferentes cardiopatias, incluindo as não isquémicas, como a miocardite (uma inflamação do miocárdio que ganhou relevância no contexto da pandemia de COVID-19), avaliar o risco de eventos cardíacos futuros, e iniciar o tratamento adequado o mais rapidamente possível11,14,15. Com a IA, é assim possível analisar as imagens em menos tempo (alguns segundos), e

com uma exatidão comparável à resultante da interpretação por especialistas treinados em RM cardíaca.

Outro desafio da RM cardíaca é a sensibilidade ao movimento respiratório, pois os pacientes têm dificuldade em suster a respiração durante o exame, particularmente em caso de emergência médica, o que, naturalmente, pode deteriorar a qualidade das imagens ao ponto de deixarem de ser úteis para o diagnóstico. O que, normalmente, tornaria necessário repetir as aquisições, aumentando, consequentemente, o tempo total do exame16,17. Refere-se, a propósito, que algoritmos de AI estão a ser desenvolvidos para corrigir o movimento respiratório e minimizar os artefactos nas imagens e, deste modo, permitir que o paciente possa respirar tranquilamente durante o exame, aumentando o seu conforto18,19

A RM cardíaca permite indiscutivelmente uma análise muito completa da saúde do coração. No entanto, não é utilizada de forma rotineira, pois para além de ser necessário pessoal altamente qualificado para realizar o exame, o equipamento de RM ainda é relativamente caro. A nível clínico e hospitalar, a RM cardíaca funciona normalmente com campos magnéticos de 1.5 Tesla (T). No entanto, nos últimos anos tem havido um grande esforço no desenvolvimento de equipamentos de campo mais elevado (3T ou mais), que permitem exames mais rápidos e com melhores imagens (melhor resolução e contraste)20. Porém, é de

referir que estes equipamentos, além de colocarem novos desafios técnicos, implicam também um aumento de custo que é proporcional à intensidade do campo. Neste sentido, surgiu recentemente um renovado interesse por campos magnéticos mais fracos (menos de 1.5T), pois estes permitem reduzir os custos e a dimensão do equipamento de RM, havendo até já algumas soluções portáteis, tornando esta técnica muito mais acessível e, eventualmente, até disponível nos serviços de urgência hospitalar20. A IA teve um papel importante no desenvolvimento desta área, ao permitir melhorar substancialmente a qualidade das imagens e reduzir o tempo de aquisição, facilitando assim o uso deste equipamento em ambiente clínico21

Em resumo, a IA pode acelerar e automatizar os exames de RM cardíaca, permitindo aumentar a produtividade, confiança no diagnóstico e acessibilidade aos pacientes, em particular para a prevenção, diagnóstico e tratamento precoce da angina e, consequentemente, doenças cardíacas associadas, sem recorrer a testes invasivos

BIBLIOGRAFIA

1. Knuuti J, Wijns W, Saraste A, Capodanno D, Barbato E, Funck-Brentano C, et al. 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of chronic coronary syndromes. Eur Heart J. 2020;41(3):407-77.

2. Ismail TF, Strugnell W, Coletti C, Bozic-Iven M, Weingartner S, Hammernik K, et al. Cardiac MR: From Theory to Practice. Front Cardiovasc Med. 2022;9:826283.

3. Leiner T, Rueckert D, Suinesiaputra A, Baessler B,

14 SEPARATA ESPECIAL ANIVERSÁRIO

Nezafat R, Isgum I, et al. Machine learning in cardiovascular magnetic resonance: basic concepts and applications. J Cardiovasc Magn Reson. 2019;21(1):61.

4. Petersen SE, Abdulkareem M, Leiner T. Artificial Intelligence Will Transform Cardiac ImagingOpportunities and Challenges. Front Cardiovasc Med. 2019;6:133.

5. Edalati M, Zheng Y, Watkins MP, Chen J, Liu L, Zhang S, et al. Implementation and prospective clinical validation of AI-based planning and shimming techniques in cardiac MRI. Med Phys. 2022;49(1):129-43.

6. Martin-Gonzalez E, Alskaf E, Chiribiri A, Casaseca-de-la-Higuera P, Alberola-Lopez C, Nunes RG, et al. Physics-Informed Self-supervised Deep Learning Reconstruction for Accelerated First-Pass Perfusion Cardiac MRI. Lect Notes Comput Sc. 2021;12964:86-95.

7. Recht MP, Zbontar J, Sodickson DK, Knoll F, Yakubova N, Sriram A, et al. Using Deep Learning to Accelerate Knee MRI at 3 T: Results of an Interchangeability Study. AJR Am J Roentgenol. 2020;215(6):1421-9.

8. Hauptmann A, Arridge S, Lucka F, Muthurangu V, Steeden JA. Real-time cardiovascular MR with spatio-temporal artifact suppression using deep learning-proof of concept in congenital heart disease. Magn Reson Med. 2019;81(2):1143-56.

challenge. Med Image Anal. 2022;79:102428.

12. Ruijsink B, Puyol-Anton E, Oksuz I, Sinclair M, Bai W, Schnabel JA, et al. Fully Automated, Quality-Controlled Cardiac Analysis From CMR: Validation and Large-Scale Application to Characterize Cardiac Function. JACC Cardiovasc Imaging. 2020;13(3):684-95.

21. Koonjoo N, Zhu B, Bagnall GC, Bhutto D, Rosen MS. Boosting the signal-to-noise of low-field MRI with deep learning image reconstruction. Sci Rep. 2021;11(1):8248.

11 de Agosto | 18h00

Agradecimentos

Fórum Fnac Faro

13. Chen C, Qin C, Qiu H, Tarroni G, Duan J, Bai W, et al. Deep Learning for Cardiac Image Segmentation: A Review. Front Cardiovasc Med. 2020;7:25.

14. Lourenço A, Kerfoot E, Grigorescu I, Scannell CM, Varela M, Correia TM. Automatic Myocardial

A autora agradece o suporte da Fundação “la Caixa” e FCT I.P. [LCF/ PR/HR22/00533] e programa FCT [UIDB/04326/2020, UIDP/04326/2020 e LA/P/0101/2020].

“Poderá a Inteligência

9. Schlemper J, Caballero J, Hajnal JV, Price AN, Rueckert D. A Deep Cascade of Convolutional Neural Networks for Dynamic MR Image Reconstruction. IEEE Trans Med Imaging. 2018;37(2):491-503.

10. Lourenço A, Kerfoot E, Dibblin C, Alskaf E, Anjari M, Bharath AA, et al. Left Atrial Ejection Fraction Estimation Using SEGANet for Fully Automated Segmentation of CINE MRI. Statistical Atlases and Computational Models of the Heart M&Ms and EMIDEC Challenges. Lecture Notes in Computer Science2021. p. 137-45.

11. Lalande A, Chen Z, Pommier T, Decourselle T, Qayyum A, Salomon M, et al. Deep learning methods for automatic evaluation of delayed enhancement-MRI. The results of the EMIDEC

no debate Deixe AQUI a sua opinião SEPARATA ESPECIAL ANIVERSÁRIO
Participe

EMERGÊNCIA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: NA

ENCRUZILHADA DE PERGUNTAS, INQUIETAÇÕES E DESAFIOS.

INTRODUÇÃO

Os sistemas de Inteligência Artificial (IA), com origem de exploração identificada na década de 1940, assumem-se como recentes, do ponto de vista tecnológico. Trata-se de sistemas com potencial par simular e modelar processos de tomada de decisão, podendo ser combinados com outras tecnologias, como “redes neuronais” e “machine learning”3. A American Medical Association (AMA) adopta a designação de 'inteligência aumentada' para colocar o foco no papel auxiliar dos computadores: aperfeiçoamento dos skills dos médicos e não promover a sua substituição. De acrescentar que, apesar da assistência cognitiva obtida pela IA, os Emergency paracticioners (EPs) devem interpretar os resultados da IA dentro do contexto clínico do doente concreto9

PERGUNTAS

Na complexidade deste contexto, colocam-se algumas questões de grande amplitude, a saber:

1. Como devem os sistemas de saúde usar a IA? 2. Como garantir o uso com precisão e sentido ético da IA? Na resposta à primeira, parece consensual a ideia da necessidade usar este domínio tecnológico sob um

enquadramento, desde logo de cariz ético, de gestão do risco. Para que o imenso potencial desta tecnologia possa ser aproveitado, torna-se necessário um desenho de monitorização da mesma que permita detectar e eliminar vieses impactantes6., o que remete para a necessidade de dotação adequada em recursos humanos e equipamentos adequados para o efeito.

INQUIETAÇÕES

São várias, pela consciência ética de muitos profissionais de saúde e investigadores, as inquietações que esta evolução tecnológica provoca, materializadas em vieses, preocupações com a equidade, a justiça, a privacidade4,6,7 e, com especial relevância, a questão da responsabilidade e de quem a assume4 Da questão da governança dos dados recolhidos (garantia de privacidade e confidencialidade). No domínio académico, e crítico para a divulgação científica credível, destaca-se a importância da atribuição da autoria da produção científica com impacto na análise e interpretação da realidade3 Uma outra necessidade de atenção, prende-se com a produção de evidência. A título de exemplo, será de considerar o desafio de regulação e supervisão

relativas aos estudos optimizados, como por exemplo os ensaios. Do ponto de vista da prestação dos cuidados de saúde, a principal inquietação reside no potencial de crescimento das inequidades já existentes6, o que demanda ao nível político uma especial atenção nesta matéria.

DESAFIOS

Sendo reconhecíveis, os ganhos na clareza dos dados a tratar e na velocidade de acesso aos mesmos e à sua análise, torna-se necessário manter o foco no pressuposto essencial e já consagrado: o respeito pleno pela dignidade da pessoa humana. Neste sentido e, em primeira análise, o elemento ético critico é a disponibilidade para prestar contas sobre a garantia deste direito fundamental7, sobretudo num contexto de mudança contínua quer do ponto de vista conceptual (arquitetura dos sistemas) quer do ponto de vista operacional (desempenho e implicações desses mesmos sistemas). A inovação que este desenvolvimento permite alavancar carece, claramente e para cumprimento do pressuposto já enunciado, de supervisão humana. Como elemento de consolidação deste cenário, poderemos assumir a transparência, nas várias etapas deste processo5

16 SEPARATA ESPECIAL ANIVERSÁRIO
Mestre em Sociologia Pós Graduado em Bioética Fisioterapeuta no Serviço de Medicina Física e Reabilitação, CHUA – Faro Vice Presidente da Comissão de Ética para a Saúde (CES) - CHUA Docente na Escola Superior de Saúde da UALG

RECOMENDAÇÕES

No âmbito da sua habitual pronúncia sobre a evolução na aplicação das novas tecnologias à vida Humana, a Comissão nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), em particular no que concerne à IA, esta comissão recomenda “ … reconhecer que a IA, constituindo um fator determinante de progresso científico e tecnológico no âmbito da biomedicina… se deve manter como uma ferramenta, de valor instrumental, a utilizar num plano operacional, assistindo e colaborando com as finalidades humanas e concorrendo para a sua realização, individual e social, na fidelidade aos princípios da dignidade humana e da justiça social”4. Uma outra instância de relevo, a UNESCO, refere que “Os Estados-membros devem garantir que sempre seja possível atribuir responsabilidade ética e legal em qualquer estágio do ciclo de vida dos sistemas de IA…referente não apenas à supervisão humana individual, mas também à supervisão pública inclusiva, como for apropriado.1

contextos, não deve dispensar o elemento diferenciador dos resultados: a intervenção do raciocínio humano. Neste contexto, o da emergência médica, “os dados dos doentes podem estar incompletos, ser inconsistentes ou ainda recebidos tardiamente”1 o que condiciona claramente o interesse dos algoritmos de IA recrutados. Neste sentido, é de considerar a necessidade de uma rigorosa validação, sob testes intensivos e de forma continuada para garantia de precisão, segurança e efectividade dos mesmos. O potencial transformador destes algoritmos, em termos de transformação da emergência médica coloca, pela mesma razão, desafios substanciais e tributários de uma clara visão da responsabilidade que, à priori, sempre se coloca: a responsabilidade ética. O principal desafio será o de recrutar, sem hesitações, a necessidade de intervenção do raciocínio humano:

BIBLIOGRAFIA

1. Bora, ES. Artificial Intelligence in Emergency Medicine. Journal of Experimental and Basic Medical Sciences 2023;4(1):33-36

2. Chee, ML. Artificial Intelligence and Machine Learning in Prehospital Emergency Care: A Systematic Scoping Review. medRxiv: https://doi.org /10.1101/2023.04.25.23289087.

3. CNECV. Relatório sobre o Estado da Aplicação de novas Tecnologias à vida Humana: TECNOLOGIAS DISRUPTIVAS EM SAÚDE: EDIÇÃO GENÓMICA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. Dezembro 2022.

4. Duarte, E S. Perspecticvas Bioéticas. www. bioeticayderecho.ub.edu – ISSN 1886 –5887

5. EUROACTIV. https://www.euractiv.com/section/ digital/news/eu-countries-adopt-a-common-positionon-artificial-intelligence-rulebook/

6. Owen, Kelli. For Ethical Use of AI in Medicine, don´t Overlook Maintenance and Repair. Bioethics Forum Essay, May, 9, 2023.

7. Peteet et al. Accountability as a virtue in medicine: from theory to practice. Philosophy, Ethics, and Humanities in Medicine (2023) 18:1

8. UNESCO. Recomendações sobre a ética da Inteligência Artificial. 23 Novembro 2021.

9. Vearrier, L et al. Inteligência Artificial em Medicina de

NO CONTEXTO DA EMERGÊNCIA / O DOENTE CRÍTICO

“Poderá a Inteligência Artif salvar vidas?” icial

A literatura disponível sobre o contexto específico da emergência médica pré-hospitalar, é dispersa e pouco consensual7. Com especial importância no domínio do doente crítico, as questões centrais residem nos requisitos fundamentais: necessidade de precisão na actuação, com confiança na decisão (com evidência de humanização) sob garantia de segurança da mesma e dos procedimentos inerentes. A utilização de ferramentas como o Chatgpt ou a Tomic App, sobretudo noutros

Participe no debate Deixe AQUI a sua opinião SEPARATA ESPECIAL ANIVERSÁRIO
Fórum
11

MINUTO VMER CHATGPT - UMA FERRAMENTA NA EMERGÊNCIA MÉDICA? - PRÓS E CONTRAS.

INTRODUÇÃO

Os avanços na Inteligência Artificial (IA) deram origem a tecnologias inovadoras que começaram a permear todos os campos, incluindo a saúde. Entre as inúmeras aplicações de IA, o ChatGPT, um modelo de linguagem avançado desenvolvido pela OpenAI e lançado em 2022, surgiu como uma ferramenta poderosa, com potencial para revolucionar os serviços médicos. Este sistema é gerado após uma análise de um enorme conjunto de dados de texto em vários idiomas. A etimologia do ChatGPT deriva de ser um chatbot (um programa capaz de entender e gerar respostas usando uma interface baseada em texto), e é baseado na arquitetura Generative Pre-trained Transformer (GPT). Esta utiliza uma rede neuronal para processar a linguagem, gerando assim respostas com base no texto colocado pelo utilizador.1,2 No centro do potencial do ChatGPT está a capacidade de fornecer suporte rápido à tomada de decisão, oferecendo novas possibilidades para melhorar os cuidados dos doentes e optimizar fluxos de trabalho. Neste segmento, pretendemos explorar como o ChatGPT se pode tornar um aliado indispensável para os médicos

de emergência médica, não esquecendo os principais desafios e limitações desta tecnologia na sua implementação na emergência pré-hospitalar.

PRÓS

Os Profissionais de Saúde na área da emergência médica têm de despender muito tempo e esforço para conciliar as suas tarefas assistenciais com a aquisição e atualização do conhecimento, com elevados custos e demora na sua concretização3 Atualmente, a IA pode ser colocada ao dispor do Profissional no seu dia-à-dia, sendo acessível através de um simples telemóvel com ligação à Internet. A aplicação ChatGPT é uma manifestação prática dessa tecnologia, e ao ser utilizada de forma adequada, permitirá automatizar tarefas, simplificar procedimentos e fornecer informações preciosas que permitirão obter uma atuação clínica mais eficaz e custo-efetiva4

COMO UTILIZAR O CHATGPT PASSO A PASSO?

1. Garanta um acesso estável à Internet e aceda ao site do OpenAI em https://openai.com/, ou pesquisar "OpenAI" em qualquer

motor de busca, como o Google1;

2. No primeiro acesso vai ser solicitado Log in, podendo aceder gratuitamente a versão ChatGPT3,5;

3. O ChatGPT vai responder a uma questão colocada, e gera um texto que pretende fornecer a informação pretendida, numa linguagem natural próxima da conversação humana;

4. Para obter a resposta desejada é necessário realizar a questão (prompt) de forma correta e assertiva. Assim recomenda-se que a linguagem seja simples, mas específica (mencionando o formato do texto, contagem de palavras ou outros parâmetros identificadores), através do uso de perguntas abertas, ponderadas e abrangentes e fornecendo um contexto apropriado, para obter respostas mais precisas.

5. A questão pode ser repetida, reconstruída, com ajustes e refinamentos, conforme as necessidades específicas.

6. Poderá limitar o número de palavras e escolher o formato de apresentação da informação (texto, tabela,…).

7. A resposta poderá ser solicitada em múltiplos idiomas.

19 Indice
Pedro Barros1, Bruno Santos2
MINUTO VMER
1Assistente Hospitalar da Especialidade de Pneumologia, CHUA - Faro 2Assistente Graduado da Especialidade de Pneumologia, CHUA – Faro 3Médico VMER

APLICAÇÕES DO CHATGPT NA EMERGÊNCIA MÉDICA

O ChatGPT tem ampla variedade de funcionalidades com potencial para serem aplicadas na área da saúde, podendo impactar de forma determinante a prática clínica. Tem particular interesse na emergência médica e a sua implementação no dia-à-dia dos profissionais poderá realizar-se a vários níveis (Imagem 1), designadamente: no suporte à decisão clínica; nas estratégias de comunicação; na educação médica; na pesquisa científica e redação de artigos, e na otimização dos registos clínicos5

alguns exemplos de questões (prompts) a introduzir no ChatGPT, de forma mais objetiva, ao nível das várias áreas da sua aplicação na emergência médica6. Estas sugestões de prompts são apenas enumeradas a título de exemplo, havendo, no entanto, múltiplas possibilidades a ser consideradas. As questões colocadas poderão ser sempre reformuladas pelo utilizador do ChatGPT, para obter maior refinamento nas respostas. Deverá manter-se sempre o senso clínico nas matérias em discussão, prezando sempre pelo espírito crítico na avaliação das respostas.

CONTRAS

Embora o uso do ChatGPT na emergência pré-hospitalar tenha um grande potencial para apoiar as equipas médicas e melhorar a prestação de cuidados aos doentes, é essencial

considerar cuidadosamente as suas limitações técnicas e desvantagens, além das possíveis considerações legais e éticas decorrentes do seu uso. Em situações de emergência médica pré-hospitalar é necessário uma célere avaliação do estado clínico dos doentes, em cenários imprevisíveis, que rapidamente se podem alterar. Apesar dos seus recursos avançados de processamento de linguagem, o ChatGPT actualmente tem limitações para interpretar com rapidez e precisão o contexto ou a gravidade de certas emergências, além da incapacidade para responder de forma eficaz à natureza dinâmica das mesmas. Por outro lado, o “conhecimento” do ChatGPT é limitado aos dados que recolheu previamente, não tendo acesso a toda a informação existente, e podendo desenvolver vieses na interpretação dos dados.7 À medida que a evidência médica e as

Figura 1 - Aplicações do ChatGPT na Emergência Médica

Dada a abrangência de conhecimento envolvido na atividade da emergência médica, o benefício da utilização do ChatGPT é muito alargado, sendo inúmeras as questões que poderão ser aplicadas, com intenção de obter as melhores respostas, esperando que o texto gerado forneça, de forma imediata, a melhor informação.

Para o efeito deverão realizar-se as questões (prompts) mais adequadas, seguindo os princípios de utilização enumerados atrás. É recomendado que se questionem as fontes bibliográficas da informação, para leitura complementar e avaliação crítica.

Na figura 2 estão representados

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Figura 2 - Exemplos de questões a ser colocadas no ChatGPT, no âmbito da Emergência Médica

recomendações pelas sociedades internacionais continuam a evoluir, estes fatores podem resultar em atos médicos desatualizados ou inadequados.

Além das possíveis limitações técnicas, pode verificar-se um excesso de confiança da equipa médica nas respostas do ChatGPT para tomar decisões críticas, podendo levar o seu próprio juízo clínico para segundo plano. É importante que a experiência e avaliação clínica do profissional sejam priorizadas neste contexto, onde é crucial a tomada de decisões rápidas.8 Outro fator importante a considerar prende-se na dependência de uma conexão de internet estável e rápida para o uso eficaz do ChatGPT. Nas áreas de actuação da emergência pré-hospitalar, os problemas de conectividade podem surgir em locais remotos ou congestionamento de rede, levando a atrasos ou falta de resposta do sistema de IA.

A implementação da IA na emergência pré-hospitalar também levanta várias questões legais e éticas. De quem é a responsabilidade no caso das recomendações geradas por IA conduzirem a resultados adversos?

Pode ser muito difícil de determinar o que originou a tomada de decisões durante a análise da interacção entre o sistema de IA e as equipas médicas. Além disso, os dados confidenciais dos doentes podem ser transmitidos e armazenados durante as interações com o sistema de IA. Garantir a segurança e a confidencialidade dessas informações é crucial no uso sistematizado destas tecnologias.9 Devemos estar conscientes que a implementação do ChatGPT no atendimento pré-hospitalar de

emergência requer investimento económico, melhorias de infraestruturas e formação das equipas. Essas exigências podem sobrecarregar os recursos já limitados, e exacerbar as disparidades existentes no acesso a cuidados de saúde de qualidade. Comunidades com recursos limitados ou piores infra-estruturas tecnológicas podem ter dificuldades para beneficiar do uso destas tecnologias, pondo em causa a equidade na saúde.

DISCUSSÃO

A era da Inteligência Artificial chegou e trará consigo um grande impacto em diversas áreas, incluindo a saúde e também a emergência médica. Há décadas, com a chegada do computador, e depois também com a internet, o ser humano sentiu ventos de mudança, sem precedentes.

Surge agora algo novo e inovador, com a implementação da IA, e particularmente com a utilização de modelos de linguagem como o ChatGPT, cujo fascínio e dislumbre se elevam vertiginosamente na mesma proporção das suas limitações e desafios ético-legais.

Mas uma vez mais o tempo não volta para trás, e tal como não podemos travar o vento com as nossas próprias mãos, nada mais poderemos fazer senão acompanhar a evolução dos tempos e adaptarmo-nos o melhor que conseguirmos à mudança. Será assim mais sensato explorar antecipadamente a IA, procurarando conhecer as suas aplicações potenciais, mas preservando sempre o espírito crítico, zelando sempre pelos padrões de boas práticas e licitude, norteados pela ética e deontologia

BIBLIOGRAFIA

1. OpenAI. OpenAI: Models GPT-3. Available online: https://beta.openai.com/docs/models

2. Brown, T.; Mann, B.; Ryder, N.; Subbiah, M.; Kaplan, J.D.; Dhariwal, P.; Neelakantan, A.; Shyam, P.; Sastry, G.; Askell, A. Language models are few-shot learners. Adv. Neural Inf. Process. Syst. 2020, 33, 1877–1901.

3. Yanhui Zhang, Haolong Pei, Shihan Zhen, Qian Li, Fengchao Liang. Chat Generative Pre-Trained Transformer (ChatGPT) usage in healthcare, Gastroenterology & Endoscopy, Volume 1, Issue 3, 2023, 139-143,

4. Kaur P, Alexander Mack A, Patel N, Pal A, Singh R, Michaud A, et al. Unlocking the Potential of Artificial Intelligence (AI) for Healthcare [Internet]. Artificial Intelligence. IntechOpen; 2023. Available from: http:// dx.doi.org/10.5772/intechopen.111489

5. Komorowski M, Del Pilar Arias López M, Chang AC. How could ChatGPT impact my practice as an intensivist? An overview of potential applications, risks and limitations. Intensive Care Med. 2023 Jul;49(7):844-847. doi: 10.1007/s00134-023-07096-7

6. Levitt, Dean. 100+ ChatGPT prompts for healthcare professionals. Paubox.com. 22 Abril.2023. Disponível em https://www-paubox-com.cdn. ampproject.org/v/s/www.paubox.com/ blog/100-chatgpt-prompts-for-healthcareprofessionals?amp_gsa=1&amp_js_v=a9&hs_amp=t rue&usqp=mq331AQIUAKwASCAAgM%3D#a mp_tf=De%20%251%24s&aoh=16901287707420&re ferrer=https%3A%2F%2Fwww.google. com&ampshare=https%3A%2F%2Fwww.paubox. com%2Fblog%2F100-chatgpt-prompts-forhealthcare-professionals. Acesso a 29 Jul. 2023.

7. Johnson, Douglas, et al. "Assessing the accuracy and reliability of AI-generated medical responses: an evaluation of the Chat-GPT model." (2023).

8. Peterson, Christopher. "ChatGPT and Medicine: Fears, Fantasy, and the Future of Physicians." The Southwest Respiratory and Critical Care Chronicles 11.48 (2023): 18-30.

9. Minssen, Timo, Effy Vayena, and I. Glenn Cohen. "The Challenges for Regulating Medical Use of ChatGPT and Other Large Language Models." JAMA (2023).

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ISABEL RODRIGUES Médica VMER CODU EDITORA

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO PRÉ-HOSPITALAR

Nunca se falou tanto de Inteligência Artificial (IA) como agora. As suas implicações na sociedade atual atravessam diferentes dimensões: sociais, económicas, éticas e políticas. A rapidez e a pujança da mudança que a IA está a provocar no mundo desafia até a capacidade de refletir sobre o tema. Apesar disso, e dos exigentes desafios que temos pela frente, como cidadãos e profissionais, para que mantenhamos o sentido crítico sobre o tema, as vantagens da IA são incontornáveis. A saúde não foge à regra.

O potencial da IA na medicina, evidenciado pela ciência, tem sido testado com sucesso — e também na emergência médica pré-hospitalar.

Há que estabelecer um ponto prévio nesta reflexão, para separar águas em que muitas vezes se misturam dois conceitos-chave no contexto do pré-hospitalar. Transição digital é, na sua essência, passar de papel para o digital. A transformação digital, por outro lado, opera em momentos mais críticos, como a gestão clínica de uma emergência e a gestão operacional do sistema. Na gestão clínica, fala-se de sistemas autogerados de alarmística para o profissional, que maximizem o tempo e minimizem o erro, fazendo a

ponte entre pré e intra-hospitalar e otimizando a atuação clínica em todo o processo de assistência ao doente. Na gestão operacional, de modelos emanados da economia aplicada e que permitem a melhoria dos serviços de gestão de saúde num ponto de vista mais macro. Tanto na gestão clínica como na gestão operacional, a IA pode ser uma ferramenta preciosa, usando dados e modelos que aprimorem essa gestão. Comecemos pelo segundo caso: a gestão operacional.

dos meios do INEM. A equipa de investigadores do CEG-IST analisou os dados do INEM entre 2013 e 2018, geográfica e temporalmente, por prioridade atribuída na chamada e tipo de ambulância enviada. O conjunto de dados foi trabalhado em dois modelos de previsão diferentes: o modelo de previsão para o volume de chamadas tem um âmbito nacional, enquanto o que projeta o nível de serviço dos meios tem uma dimensão local — o concelho de Lisboa.

Data2Help: Gestão operacional

No âmbito do projeto Data2Help, que em 2019 juntou o INEM a dois centros de investigação do Instituto Superior Técnico — o Centro de Estudos de Gestão do Instituto Superior Técnico (CEG-IST) e o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores –Investigação e Desenvolvimento (INESC ID) — foi recentemente publicado o trabalho de investigação “Data-driven forecasting for operational planning of emergency medical services” (Abreu, Santos, & Póvoa, 2023) . A equipa de investigadores desenvolveu dois modelos de Inteligência Artificial que preveem o volume de chamadas para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) e o nível de serviço

Para a análise, o histórico da atividade do INEM foi combinado com dados como os números de população residente, balanço migratório, número de médicos por 1000 habitantes, feriados, estação do ano, números de desemprego, turismo e dias de jogos de futebol, entre outros. Os resultados obtidos evidenciaram a eficácia dos modelos para o planeamento de recursos humanos e logísticos nos serviços de emergência médica em Portugal Continental. No caso das ambulâncias em Lisboa, por exemplo, é possível projetar quantas, quais, quando e onde serão necessárias. Estes modelos foram desenvolvidos através de machine learning, com redes neuronais — assim

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1Técnico Superior do Departamento de Emergência Médica do INEM 2Médica do Departamento de Emergência Médica do INEM
Artigo INEM ARTIGO INEM

denominadas porque são modelos computacionais inspirados no funcionamento do cérebro humano — criadas de forma a processar informação, interligar os dados e, por fim, gerar as previsões

O Projeto India: Gestão clínica Temos acompanhado em proximidade o caminho feito pelo Servicio de Urgencias Médicas de Madrid (SUMMA 112) que terminou recentemente um processo de recolha de dados para a análise da possibilidade de aplicar um modelo estudado para o intra-hospitalar, no sentido de se conseguir, com recurso mais fidedignos, que os doentes identificados em contexto de AVC possam ser transportados diretamente para um hospital com capacidade de trombectomia. Esta recolha de dados, que começou em julho de 2021, terminou em junho de 2023 na Comunidade de Madrid

O racional que preside ao projeto India (Ayala, Roselló, López, & Mora), que junta o SUMMA 112 ao Hospital Universitário de La Princesa na capital espanhola, é uma ideia simples: a monitorização habitual já permite recolher uma grande quantidade de dados e variáveis clínicas e as técnicas de IA têm a capacidade de gerir essa quantidade e gerar previsões – em forma de diagnóstico ou prognóstico. O objetivo é, precisamente, beneficiar o prognóstico dos doentes, através de um diagnóstico rápido e preciso pelos profissionais do SUMMA 112, reduzindo o tempo desde o início dos sintomas até ao tratamento definitivo. O estudo consiste na deteção de

obstrução de grande vaso durante o atendimento do Código Ictus – o protocolo dedicado ao AVC na zona da Comunidade de Madrid — no pré-hospitalar e num subgrupo de pacientes na fase hospitalar. Combinando a monitorização de dados hemodinâmicos recolhidos com técnicas de IA, procura-se dotar o prognóstico de AVC de capacidade de previsão, por forma a que este possa ser alterado positivamente.

Os dados dos doentes sinalizados pelo Código Ictus recolhidos pelas equipas do pré-hospitalar serão tratados pela equipa de Informática do SUMMA 112 que irá utilizar IA — nomeadamente machine learning — para que se possa prever a oclusão do grande vaso, a partir da amostra estudada e do diagnóstico. No hospital, o desafio será, a partir dos resultados das previsões de complicações com AVC, implementar um sistema de AI capaz de fornecer recomendações médicas em tempo real. Em suma, os dados dos doentes monitorizados durante o transporte pelo SUMMA 112 aquando da ativação do Código Ictus, serão analisados para gerar modelos matemáticos de previsão e de auxílio ao diagnóstico.

Ao acompanhar de perto este projeto, do SUMMA 112 e do Hospital de la Princesa – que já tinha desenvolvido um projeto na área de IA para a identificação de biomarcadores eletrocardiográficos para prever fibrilação atrial em ECG de doentes em ritmo sinusal (Sanz-García, et al., 2021)— acreditamos estar a recolher ensinamentos importantes para o

pré-hospitalar português. Temos também a convicção de que o iTEAMS – o registo clínico do INEMiniciado em 2018, e financiado pelo SAMA2020, atualmente operacionalizado em todos os meios do INEM e em mais de cem parceiros do Sistema Integrado de Emergência Médica, é a base e o ponto de partida para que nos próximos anos possamos acompanhar a transformação e implementar modelos de AI na melhoria do pré-hospitalar nacional

BIBLIOGRAFIA

1. Abreu, P., Santos, D., & Póvoa, A. (2023). Data-driven forecasting for operational planning of emergency medical services. Socio-Economic Planning Sciences, 1-20.

2. Ayala, J., Roselló, G., López, R., & Mora, J. (s.d.). Predicción Extrahospitalaria De Infarto Cerebral Por Oclusión De Gran Vaso En El Summa 112. (Proyecto India).

3. Sanz-García, A., Cecconi, A., Vera, A., Camarasaltas, J., Alfonso, F., Ortega, G., & J., J.-B. (Nov de 2021). Electrocardiographic biomarkers to predict atrial fibrillation in sinus rhythm electrocardiograms. Heart, 1813-1819.

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ARTIGO INEM
VASCO MONTEIRO Enfermeiro VMER, Gabinete de Coordenação SIEM - DRSul INEM EDITOR

NÓS POR CÁ Entrevista Professor Henrique Martins

RESUMO CURRICULAR

Licenciado em Medicina (Universidade Nova de Lisboa)

Especialista em Medicina Interna (Hospital Fernando Fonseca)

Mestrado e Doutorado em Gestão (Universidade de Cambridge)

Mestrado em HIV/SIDA (Universidade de Barcelona)

Mestrado em Direito Administrativo (Universidade Católica Portuguesa)

Licenciado em Medicina com Mestrado e Doutorado em Gestão, mestrado em HIV/SIDA e em Direito Administrativo (Tese sobre a responsabilidade do estado no uso de Inteligência Artificial (IA) nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS)). Foi um dos primeiros CMIOs em Portugal, presidente da Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) durante quase 7 anos. e foi co-chair representando todos os Estados-Membros da EU eHealth Network, o mais alto órgão de política de eHealth da União Europeia. Eleito membro da International Academy of Health Sciences Informatics em julho de 2020. Auditor de Defesa Nacional. Desde agosto de 2020, ele integra o Board of Directors of the HL7 Europe Foundation. Médico Internista, Consultor em Saúde Digital (www. henriquemartins.eu) para a Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras organizações e Professor Universitário no ISCTE-IUL, FCS-UBI, Korea University Medicine (Visiting professor), leciona e investiga em Saúde Digital, Sistemas de Saúde e Transformação, Liderança e Gestão para Estudantes e Profissionais de Saúde. Ele é autor de uma série de artigos, alguns dos quais examinando as novas tendências para a saúde digital a nível internacional, nacional e hospitalar.

Entrevista realizada via áudio do Whatsapp [transcrição integral]

Quinta feira, 27 de Julho de 2023 , 15 horas

LIFESAVING (LFS)

- Professor, Boa tarde!

Henrique Martins (HM)

- Boa Tarde Catarina!

LFS - Começamos por lhe pedir desculpa por retirar do seu tempo que sabemos ser escasso e agradecer a sua disponibilidade! A LifeSaving é a Revista de Emergência Médica do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), numa plataforma digital, foi criada pelas equipas do exercício Pré-Hospitalar das Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação(VMER) de Faro e Albufeira há 7 anos, comemoramos essa data em Agosto e decidimos nesta edição de aniversário, dedicar atenção à IA na Saúde, direcionando também o tema para a área da emergência e do pré-hospitalar. Sabemos que esteve recentemente na nossa instituição para falar da temática nas Jornadas de Enfermagem do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), que abraçaram uma perspetiva de futuro e inovação para a instituição. Eu, tal como muitos dos

29 Indice NÓS POR CÁ
“INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, SAÚDE DIGITAL E CUIDADOS DE SAÚDE”

profissionais do CHUA, outros profissionais da região e do país na área da emergência, também os Algarvios e a população em geral a quem dirigimos esta revista, não tivemos a oportunidade de o ouvir. Sabemos que arrebatou a plateia com a sua comunicação, pois esta é a sua área de trabalho e de interesse, foi neste sentido que considerámos a importância de o convidar para esta conversa, para que mais gente possa conhecer a sua visão da IA na saúde e a sua aplicabilidade.

Assim, começava por lhe pedir que de alguma forma nos defina este conceito de IA nos cuidados de saúde, e que o contextualize também na emergência e no pré-hospitalar se possível. Este conceito é agora mais emergente com a recente evocação que o chatgpt chamou a si, embora me pareça que ele esteja no nosso quotidiano há muito tempo, mas tendíamos quase a ignorar.

HM - A inteligência artificial tem a ver, com um conceito lato, alargado, que no fundo diz respeito a uma metodologia de análise de dados que ao mesmo tempo acaba quase por ser uma tecnologia. Foi inventada há muitos anos, teve vários momentos de avanço e momentos em que não avançou tanto. Mas de facto nos últimos 5, 6 anos houve um grande salto. Em relação à saúde de forma muito rápida, nós podemos dizer que temos IA utilizada em muitas áreas de gestão de operações. O agendamento a doentes por exemplo, a questão de usar a IA nos chatbots quando a pessoa fala ao telefone, como a central de atendimento. Isso acontece, já experimentaram isso em vários contextos, quando telefonam para

certas centrais de atendimento. Depois há um trabalho muito importante e que avançou também muito, que é na área do diagnóstico. Para olharem por exemplo para fotografias de imagem de ressonâncias, de TACs e tentarem no fundo fazer uma análise da imagem como se fosse um ser humano a olhar, aquilo que nós chamamos a análise padrão. Depois, há agora mais recente este entusiasmo, e ao mesmo tempo um certo receio, e de facto uma incrível excitação, pois nós temos dias em que o número de utilizadores do chatgpt cresceu dos 20, 30 para 100 milhões de utilizadores. De facto, é um fenómeno nunca visto na utilização de ferramentas digitais à escala mundial. Este tipo de inteligência artificial é chamada de generativa, gerativa ou geral, ou seja é quando através da alimentação do sistema, que repito, é sempre um sistema informático e matemático, com grandes quantidades de texto, grandes quantidades de números, o sistema consegue gerar, consegue produzir, textos, poemas, tabelas, índices. Por exemplo apresentações powerpoint, solicitando um alinhamento, um índice para uma apresentação sobre os cuidados com um doente no pré-hospitalar, se vocês fizerem essa pergunta ao chatgpt ele vai buscar esta informação e produz de facto.

Portanto, são várias áreas, e voltando sempre ao caso da urgência préhospitalar, desde a questão das linhas telefónicas, que há muito tempo sabemos que temos um desafio, sobretudo nos picos, quando há uma crise, quando há uma catástrofe, toda a gente telefona. E nós tivemos isso com o covid, percebemos o que é que isso

significa, mas isso pode acontecer em qualquer momento, uma avalanche, um terramoto, qualquer catástrofe. Essa é uma questão, obviamente que os serviços pré-hospitalares têm de olhar para este tipo de temas e este tipo de tecnologias. Quando nós falamos por exemplo no diagnóstico muito precoce de situações de morte cerebral, situações muito precoces de diagnóstico de imagens ainda muito subtis de AVC isquémico, isso são tudo áreas onde a IA neste caso de análise padrão vai ter um papel muito importante, porque um dos maiores problemas na urgência é a disponibilidade do especialista. A questão não é muitas vezes, será que o sistema é melhor que o especialista. Muitas vezes o sistema até pode não ser melhor que o especialista, o problema é que o especialista, o tal melhor especialista que o sistema, provavelmente não consegue trabalhar 24h, 7 dias por semana, e o sistema de IA consegue. Do ponto de vista comparativo, eu posso num paper que compara o sistema de IA que analisa imagem de TAC para deteção de sinais muito precoces de Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Acidente Isquémico Transitório (AIT), pensar que o sistema não tenha uma performance tão boa como um painel de especialistas, mas a realidade prática é que o painel de especialistas não vai estar disponível, muitas vezes fisicamente não está também disponível, mesmo com a teleradiologia que já é uma realidade muito evoluída em Portugal, e já utilizada inclusivamente em contextos da rede do AVC na região centro e que depois se generalizou essa prática no resto do país, portanto temos aqui uma ferramenta nova.

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Em relação à parte generativa, temos de ter cuidado com ela, ela é muito excitante para os alunos que estão a fazer trabalhos, porque acham que podem fazer o trabalho automaticamente perguntando ao chatgpt, mas nós também estamos a descobrir agora nos últimos 2, 3 meses que estes sistemas são muito criativos. São tão criativos que cerca de 5 a 10 ou 20% daquilo que eles criam é aquilo que se chama uma alucinação. Alucinação é uma palavra que os profissionais pré-hospitalares também conhecem bem, porque há muitos doentes com sintomas de alucinação, há drogas alucinogénias no algarve, e sabemos o que é, até quando alguém diz uma coisa que não existe, que não é verdade. E o que é interessante é que estes sistemas têm por natureza da sua fórmula matemática uma dose de alucinação que vai entre os 5, 10, 15%, o que é que isto significa na prática, significa que nós não podemos guiar por exemplo um plano terapêutico numa fundamentação do chatgpt, pelo menos 10% daquilo que ele sugere é alucinação , ou seja não é real e muitas vezes está errado, aliás a experiência que todos podem fazer é perguntar ao chatgpt quem é que vocês são, dando o nome, ou quem é determinada figura pública e vão ver que ele responde quase tudo certo, mas depois diz ali 2 ou 3 coisas que são um bocadinho alucinantes, aliás eu por exemplo já experimentei e no meu caso eu recebia 2 prémios não sei onde! Nunca cheguei a receber, fiquei muito contente que o chatgpt ache que eu sou merecedor daquela distinção internacional, mas, na prática eu sei que nunca recebi aquele prémio. Assim de uma forma muito rápida, a IA o que é, como ela de

facto pode ser melhorada, e eu não tenho dúvidas que ela pode ser útil no trabalho que fazemos no pré-hospitalar, no hospitalar e por aí fora.

LFS - Isso leva à segunda questão, como é que acha que a IA pode transformar a oferta e a qualidade dos cuidados de saúde, poderá ser assim tão revolucionária e disruptiva como se diz?

HM - Eu acho que pode, no sentido em que há um conjunto de ferramentas, por exemplo a análise padrão, eu olho para um RX, eu tenho um olho treinado como internista, enfim não sou dos melhores, os radiologistas têm mais experiência, mas haverá médicos que têm menos experiência ainda a olhar para um simples RX de tórax. Agora imagine que todos os médicos do mundo olham para um RX tórax com o apoio de uma ferramenta que lhes permite identificar os principais artefactos, ou seja aquilo que não é uma doença, às vezes basta isso para nos ajudar, ou seja não entro no erro de achar que aquela mancha é alguma coisa, e depois até com alguma precisão, consigo identificar um conjunto de coisas. Ou seja o que é que a IA bem feita pode fazer na medicina? Pode nivelar por cima um conjunto de atuações, quase todas aquelas relacionadas com análise de dados complexos, sei lá eu olho para um eletrocardiograma (ECG), a maior parte das pessoas, os seres humanos não conseguem interpretar um ECG, a maior parte dos médicos também não consegue interpretar 100% um ECG, e muitos outros profissionais também têm dificuldade. Se eu puder puxar este

nível para cima, provavelmente vou ter um nível de detecção por exemplo de fibrilhações auriculares, sintomas de extra sístole frequente ou outras, muito mais facilmente detetado para o grosso da população do que o que vai acontecendo quando as pessoas finalmente são vistas por um cardiologista que olha para o ECG. Eu creio que isto vai puxar os serviços de saúde para um nível base que sobe muito. Isto não quer dizer que os médicos, os enfermeiros, os emergencistas não continuem a ser muito importantes para depois ir da base para o pico, para naquele caso concreto identificarem. Ao termos uma base muito mais alta, vamos apanhar situações muito mais cedo. Por exemplo na área da oncologia vai ser revolucionário, porque neste momento nós temos muitas imagens de pele que passam despercebidas ao olho do médico de família mal treinado, porque obviamente ele não é dermatologista, mas se sistematicamente todas as imagens de pele suspeitas, ou mesmo as não suspeitas forem sistematicamente fotografadas e analisadas, estamos a falar de um nível de suspeita para melanoma que é um problema imenso em Portugal, que não tem nada a ver com o atual sistema. Isto é uma revolução, os olhos deixam de ser humanos, passam a ser olhos humanos por cima de um primeiro olhar digital.

E eu acho que é preciso os profissionais de saúde entenderem esta hibridação de inteligências como eu lhe chamo. A que eu acredito que vai ser transformadora é a inteligência híbrida, quando eu consigo misturar bem, através de um bom processo,

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misturar o uso da IA com o uso da inteligência natural aplicada às questões mais complexas, mais difíceis, ou que precisam por exemplo de inteligência emocional. Porque isso a IA ainda não faz muito bem, a questão das emoções, a modulação de emoções, a empatia. Há quem defenda que vamos chegar lá, é um pouco assustador se lá chegarmos, mas a maior parte das pessoas entende que provavelmente nunca lá chegaremos de uma forma que os seres humanos aceitem e sintam uma inteligência emocional artificial da mesma maneira que sentem a inteligência emocional do ser humano.

LFS - Isso de alguma forma levavanos à terceira questão que lhe queríamos colocar. Tem-se olhado para a IA como a grande oportunidade de mudança na saúde, se nos podia dizer que oportunidade é esta? Onde é que já usamos a IA, onde é que vamos usar mais e porquê, com que beneficio. Penso que talvez já tenha respondido a isso, quer acrescentar alguma coisa.

HM - Não.

LFS - Passamos então para a questão seguinte, a IA também tem sido vista com muita preocupação por parte da sociedade, quer das pessoas que olham com alguma desconfiança, quer mesmo nos últimos tempos por alguns dos criadores e impulsionadores destas inovações no mundo digital em que nos movemos cada vez mais. Quais são os principais alertas que acha que devemos considerar, e que fundamentos têm estas preocupações. Particularmente

neste âmbito da saúde, quais são os perigos, se é que existem?

HM - O primeiro grande perigo da IA na saúde, é a ideia de que numa primeira fase podemos poupar nos recursos humanos, só porque temos mecanismos de IA. Isso é um perigo e eu não digo isto por uma questão corporativa. Eu digo isto porque para os profissionais de saúde fazerem um bom uso da IA, que numa primeira fase vai ter como eu já expliquei muita alucinação, muito erro, apesar de repito, ser o futuro e ser o futuro que temos de percorrer, eu vou precisar de profissionais bem preparados, eu tenho que os formar, tenho que os preparar, por exemplo para descriminarem uma sugestão de IA como boa ou má. Não boa ou má do ponto de vista técnico, mas de um ponto de vista por exemplo das preferências do doente. Aquilo a que chamamos patient center health care. Boa ou má do ponto de vista até ético, imagine que eu tenho um sistema em que só tenho um ventilador para 3 doentes, aquelas questões típicas da bioética, o sistema diz que claramente este é que tem mais probabilidade de sobreviver. Está bem, mas há outras considerações que tenho de ter em conta. Portanto eu vou precisar de profissionais mais bem preparados em 2 coisas, na introdução de dados. Um dos maiores problemas que nós temos para uma IA de qualidade na saúde, é a qualidade dos dados base. Se os dados base forem maus, os sistemas não vão fazer bons cálculos matemáticos. E quem é que introduz os dados nesta fase, a esmagadora maioria dos dados de saúde são de introdução humana, claro que os dados laboratoriais e radiológicos que são colhidos por

máquinas, mas os diários, as notas de alta, a maior parte da documentação é feita de uma conversa entre 2 seres humanos que depois se transforma num texto ou num número. Esse é o maior risco, é a ideia de que ao pôr a IA no SNS posso poupar nos recursos humanos. Ou por exemplo, eu estou com falta de recursos humanos e vou buscar a IA para resolver os problemas da falta de recursos humanos, isso é um risco.

O outro risco é no fundo, vamos dizer assim, a harmonização das abordagens, ou seja, eu utilizo IA no mundo das compras online, ou no mundo do retalho ou no mundo da banca, e faço uma transição para a saúde um bocadinho à “trouxa mocha”, um bocadinho mal feito, e tento utilizar como foi o caso do chatgpt, que foi feito para uma coisa e agora toda a gente está a tentar utilizar para tudo. O que é que acontece? Não é bom, porque, isto é como as chaves de fendas, como as ferramentas não é, quanto mais detalhada é a tarefa, mais precisa tem de ser a ferramenta, mais as ferramentas são adaptadas, por conseguinte os sistemas de IA para a saúde, têm de ter requisitos próprios, têm de ser sujeitos a regulação própria, nomeadamente como os dispositivos médicos com participação do Infarmed e de outros reguladores. Pelo que não podemos simplesmente pegar numa ferramenta. O melhor comparativo é quando se utiliza o Zoom para fazer telesaúde. O Zoom não foi desenhado para contextos clínicos, não é uma ferramenta adequada para fazer telemedicina de qualidade. Pode desenrascar? Pode, mas não é o ideal, e aqui é um bocadinho essa tentação que temos de controlar, que será talvez

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o terceiro risco, que é no fundo fazer uma má adaptação das situações de IA que outros sectores utilizam com sucesso, transplantá-la para a saúde sem grande consideração pelas especificidades da saúde.

LFS - Isso leva-me a uma questão de uma ocorrência recente nesta área da emergência. Deixou clara a ideia, que é muito interessante, de que nem todas as ferramentas nos servem, como o Zoom para a telesaúde. No entanto, recentemente utilizámos ferramentas como essa e outras, Whatsapp, etc, sobretudo na era covid. E, reporto-me a um situação concreta, a necessidade de transferência de uma pessoa com uma determinada situação clínica para uma unidade dedicada, sabemos que as vagas dedicadas a certas condições clínicas são restritas no país. A transferência teria de ser para um ponto X do país, entretanto percebe-se que essa unidade dedicada não teria um especialista necessário nas próximas 48h, pelo que a pessoa teria de passar num ponto Y intermédio para observação de uma lesão cutânea pela referida especialidade antes da chegada à unidade dedicada X. Esta paragem neste ponto Y do país, em que as distâncias são muito consideráveis acarretam condicionamentos de transporte importantes, faz com que a pessoa chegue à tal unidade dedicada X, mais de 12h depois da necessidade de transporte ter sido considerada. Apenas para uma observação da lesão cutânea, será que se justifica numa altura em que falamos de IA como estamos a falar agora, será que é justificável?

HM - Mas isso tem que ver com um problema mais recente, que é o problema que as pessoas não introduzem a tecnologia nos processos. As pessoas não o fazem por 2 razões, porque muitas vezes não têm tempo dedicado para pensar na inovação, e eu tenho que ter tempo para a inovação. Preciso pensar como é que no próximo mês se esta crise acontecer, nesse caso perante a situação, na próxima inovation round eu vou discutir esse assunto. Essa é a primeira questão, depois segunda questão é, os processos nacionais, esse que descreveu é um processo nacional, eu tenho um doente num sítio que tem de ir para outro e no caminho precisa de um terceiro apoio, que são cada vez mais frequentes as situações de integração de cuidados, quer na emergência, quer no mundo não emergente, quem é a cabeça pensante? Constituímos uma Direção Executiva, mas não é preciso ficar à espera nem da direção executiva, nem dos estatutos, nem de coisa nenhuma para criar redes de pensamento. É uma questão dos diretores de urgência 1 vez por mês se juntarem por Zoom e discutirem estas coisas, é uma questão de querer fazer, querer inovar, o que leva à última pergunta que é os drivers para a inovação. Uma coisa é eu ter a tecnologia, outra coisa é implementá-la nos processos, é o que se chama inovação. Eu posso ter muita tecnologia, mas se nunca mexo nos processos não adiciono valor, se não adiciono valor não é inovação, é só novidade. Uma nova tecnologia que não adiciona valor não é inovação, não há driver, quem é que ganha o quê com esse esforço, quem é que é a

pessoa que vai marcar a reunião por Zoom, quem vai enviar o email aos outros, quem é que vai andar atrás deles, quem ganha com isso? É exatamente às vezes não haver um pequeno sinal, um pequeno incentivo, imagine um prémio de inovação tecnológica do SNS, qualquer coisa que faça com que as pessoas tenham a iniciativa de discutir a inovação, porque depois de ter a iniciativa as coisas acontecem. O que aconteceu no covid, o covid foi a iniciativa, o covid foi o estímulo, como se diz em Portugal a necessidade aguça o engenho, só que quando não há crise têm de se criar flutuações de quase crise, em que não há crise, mas na prática se houver como faríamos.

LFS - Então para optimizarmos este caminho da IA continuamos a precisar deste tal fator humano, nós não somos dispensáveis nesta cadeia.

HM - Não, os seres humanos, vamos lá ver, as tecnologias não se introduzem nos processos automaticamente. Posso comprar 20 robots aspiradores, mas, se não tenho um processo através do qual as pessoas em vez de aspirarem à mão, têm que ir colocar os robots em determinados pontos estratégicos ou local onde têm de garantir que conseguem carregar a bateria etc., aquilo não vai acontecer. As pessoas nunca se podem esquecer que por detrás de todas as tecnologias estão pessoas. Eu dizia muitas vezes quando estava nos Serviços Partilhados, por trás da Prescrição Eletrónica Médica e da receita sem papel, que é uma inovação fantástica, ninguém tem dúvida nenhuma que

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adiciona valor, estão lá equipas que mantém a base de dados em condições, porque se elas forem todas despedidas, pode ter a certeza que a receita sem papel um dia pára, clicamos no botão e não sai a mensagem no telemóvel do doente. É preciso perceber que não há nenhuma tecnologia no mundo ainda, que se mantenha sem a manutenção do humano, isso ainda não existe. Pode ser que um dia exista, não digo que não, mas neste momento não existe.

LFS - Já falámos um pouco desta perspetiva, mas, que aplicação prática perspetiva pela IA para esta área da emergência, concretamente nesta área da atividade diferenciada no pré-hospitalar. Já me falou aqui das centrais de atendimento por exemplo, mas nesta área do contexto diferenciado em si, naquilo que é o nosso trabalho com as pessoas e a sua condição de doença, considera que a IA pode salvar vidas?

HM - Tudo o que são melhores decisões, médicas, de enfermagem, do pré-hospitalar, paramédicos até, salvam vidas, ninguém tenha dúvidas disso. Nós vamos ter em Portugal um colega a falar de uma realidade interessante pré-hospitalar, de Singapura, onde eles desenvolveram uma ferramenta, um género de Uber das paragens cardíacas. As pessoas descarregam a aplicação, registam-se como voluntários, recebem formação regular em ressuscitação, inclusivamente no uso do desfibrilhador, e quando há uma paragem perto, o sistema ativa as pessoas que estão por perto daquele doente, elas recebem uma mensagem

no telemóvel e começam a correr para junto daquela pessoa. Porque, o que Singapura percebeu é que às vezes existe o desfibrilhador naquele sítio onde estava a pessoa, mas, não existe ninguém que saiba usá-lo. E obviamente se eu mando um operador com uma mota, ou um veículo não vai lá chegar a tempo, são 3 minutos, 4 minutos, enfim, não é muito tempo que eu tenho para atuar. Este sistema agora já tem tantos dados, que já pode começar a ser optimizado com algoritmos de IA. Enfim, para dar um exemplo que eu acho interessante, ele vai apresentar isso num evento aberto da OMS, o encontro do Porto da OMS no dia 6 de Setembro às 14.30h, as pessoas ainda se podem inscrever online através do link do site da OMS, pode divulgar isso aí para o público, vai ser uma apresentação muito interessante.

O que quero dizer em conclusão, a IA como a natural salva vidas, nós formamos os médicos, formamos os enfermeiros durante vários anos, exatamente porque a preparação daquele cérebro para tomar boas decisões salva vidas, é exatamente por isso que ensinamos os profissionais de saúde e andamos atrás deles com formação contínua. Portanto, se eu tiver um sistema que ajuda a decidir, e eu estou a ter muito cuidado com as palavras, que me ajuda a mim ser humano a decidir, eu vou decidir melhor, e se eu decidir melhor, se eu decidir sobretudo mais rápido, mais precocemente no decurso natural da doença. Por exemplo quando eu era um jovem interno de medicina interna fiz um trabalho muito interessante sobre AIT,

o mundo do AIT evoluiu muito pouco nos últimos anos, os dados, os cuidados não melhoraram muito. Porque o AIT significa um grande nível de suspeita, é preciso ter uma grande suspeita clínica e uma grande suspeita no sistema de saúde, muitas vezes os doentes são enviados para casa, mas se não fossem, se fossem todos sujeitos aos exames necessários, neste caso ecocardiograma e ecodopler das carótidas, a nossa capacidade de prevenir AVC isquémicos definitivos era muito maior. É esta inteligência do sistema que depois faz com que os outcomes sejam melhores, a resposta é muito clara, a IA bem utilizada, com a inteligência natural bem utilizada salva vidas, não há dúvida nenhuma.

LFS - A última questão que temos, sabemos que teve e tem muitas responsabilidades a nível nacional e até internacional no desenvolvimento de vários projetos nesta área, não sei se nos pode dizer quais são os principais projetos da IA que estão a decorrer no nosso país e que impacto se espera deles?

HM - Nós estamos num momento internacional interessante para a saúde digital por 2 razões, primeiro a nível europeu, estamos a discutir no Parlamento Europeu e no Conselho da União Europeia a aprovação de um regulamento, que é o regulamento do espaço dos dados de saúde, é um regulamento com a mesma força de lei do regulamento geral de protecção de dados, mas, que tipifica um conjunto de aspetos na área da saúde digital nunca antes escrita em lei, lei europeia. Quer na questão da

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certificação dos registos de saúde eletrónicos, quer na área do uso secundário de dados, inclusivamente para apoiar o projeto da IA na saúde, quer para a agregação de dados a nível europeu para investigação científica europeia. No fundo podermos usar dados de vários países, que é muito importante para situações em que a ocorrência é pouco frequente, doenças raras, mas também eventos raros, olhe sei lá, paragens cardíacas por um determinado tipo de causa relativamente infrequente. Eu se calhar como só tenho 10 milhões de habitantes vou precisar de dados de outros 350 milhões para conseguir ter o número de dados suficientes para fazer investigação científica mais apurada. Esse é um grande momento. Aliado a isso, eu próprio estou a coordenar um projeto que se chama ExpandH, que vai de encontro à questão de harmonização dos processos clínicos eletrónicos digitais na saúde em toda a europa, e que é um dos aspetos deste regulamento. O outro segundo grande momento, que estamos a assistir, é no pós covid, começa a falar-se do certificado de vacinas global, começa-se a falar daquilo que eu chamo os embriões de um Global Eletronic Health Track, um registo de saúde eletrónico global, que muito provavelmente terá como embrião principal dados de saúde pública, ou relevantes para a saúde pública, como são o status vacinal da população mundial.

Estas são as 2 grandes tendências mundiais, na área da saúde digital, obviamente depois as macrotendências é isto que estivemos a falar, a IA, a

conversação na nuvem, um conjunto de tecnologias, mas depois é preciso chegar à saúde. A saúde é tradicionalmente resistente, muito conservadora. Porquê, porque tem muito medo de errar, nós temos um princípio fundamental “first do no harm”, e os tecnológicos não, os tecnológicos primeiro experimentam, depois logo se vê se utilizam ou não, nós em saúde primeiro temos de ter a certeza se a novidade vai ser pelo menos igual ao que já tínhamos, que não faz mal, e só depois de estarmos completamente convencidos de que não faz mal, é que nós vamos aceitar utilizar essas tecnologias para qualquer coisa, e isto é muito importante esta diferença, esta distinção.

LFS - Professor, estas eram as questões que nós tínhamos, no entanto deixamos aqui aberta a oportunidade de nos querer acrescentar alguma coisa que considere ser relevante e que não tenha ficado esclarecida nas questões que colocámos.

HM - É a preparação, a preparação e a participação. Os profissionais de saúde devem preparar-se para participar, não devem ser expectadores passivos destas transformações que estão a acontecer. Eu pessoalmente sou suspeito, tenho um curso de saúde digital no ISCTE, a inscrição é aberta, o curso é online, toda a gente se pode inscrever. Mas, passando a parte da publicidade, há aqui uma questão fundamental, os profissionais de saúde, conseguem facilmente com alguma formação adicional, ou na área da ciência de dados, ou na área da

gestão, ou na área dos processos, podem rapidamente transformar-se num agente que constrói estes sistemas, trabalhando numa empresa em part time, trabalhando para o estado, trabalhando para o hospital, trabalhando para os SPMS. E nós precisamos de profissionais de saúde para criar essas soluções digitais, não podemos deixar a criação dessas soluções digitais apenas nas mãos das grandes empresas tecnológicas, ou das pequenas empresas que também são perigosas porque às vezes não têm os requisitos necessários, das pequenas startups, das pequenas empresas de tecnologias mais convencionais. Precisamos da participação activa dos profissionais na construção de soluções digitais com o uso de IA, para que essa IA seja dotada do maior índice possível, não é apenas de inteligência natural, que é uma coisa que os seres humanos têm, mas de ética humana, do sentido de orientação, do propósito. Só os profissionais de saúde conseguem dar purpose, propósito à IA, por isso não se podem demitir dessa função.

LFS - Professor, agradecemos uma vez mais a sua disponibilidade, muito grata

37 Indice NÓS POR CÁ CATARINA TAVARES Enfermeira VMER Heli INEM EDITORA
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NEURORRADIOLOGIA DE INTERVENÇÃO NO CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO ALGARVE (CHUA)

No ano de 2022, o Serviço de Radiologia de Faro, do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) foi equipado com um angiógrafo biplanar, possibilitando desde então a realização de angiografia cerebral de subtração digital (ASD).

A ASD, é um exame radiológico dos vasos sanguíneos, realizado com recurso a injeção de contraste radiopaco em território intravascular, com o objetivo de diagnosticar e tratar, no contexto da Neurorradiologia, patologias como:

• Aneurismas cerebrais rotos e não rotos

• Malformações arteriovenosas

• Fístulas arterio-venosas durais

• Fístulas carotida-carvernosas

• Vasoespasmo

• Estenoses arteriais dos vasos supra-aórticos intra e extracranianos

• Tumores cerebrais

• Oclusões arteriais intra-cranianas (acidente vascular cerebral)

• Epistáxis

Localizada no 2º piso da unidade de Faro, a sala de angiografia é constituída pela sala do angiógrafo e pela sala de comandos/tratamento de imagem. Sendo o horário de funcionamento atual, entre as 8 horas de segunda e as 8 horas de sexta-feira.

Os procedimentos são assegurados por uma equipa multidisciplinar constituída por: médico(a)

neurorradiologista, técnico(a) superior de diagnóstico e terapêutica na área de radiologia, enfermeiro(a), assistente operacional e assistente técnico, em estreita colaboração com os serviços de Anestesiologia, Neurocirurgia, Neurologia e UAVC.

Sensivelmente 1 ano após a instalação deste equipamento e constituição da equipa multidisciplinar, o Conselho de Administração do CHUA solicitou, a 8 de Maio de 2023, autorização para que a Via Verde do Acidente Vascular Cerebral nos adultos, passasse a nível A, de acordo com a classificação da Direção-Geral da Saúde (DGS). Após parecer da coordenação do Programa Nacional das Doenças Cérebro-Cardiovasculares da Direção Geral da Saúde, foi aprovada e divulgada a deliberação nº DE-SNS 053/2023, datada de 23/05/2023, cujo teor foi o seguinte: parece-nos adequada esta vontade que solicitam, é de grande interesse nacional e regional, pois vai contribuir para o tratamento atempado e autónomo do AVC agudo no adulto, incluindo cuidados diferenciados de tratamento endovascular.

Assim, está previsto que o tratamento endovascular, na fase aguda do doente com AVC, seja desenvolvido em 3 fases:

a) FASE 1 (duração de 3 meses): cobertura total desde as 08:00 de 2ª feira até às 08:00 de 6ª feira;

b) FASE 2 (duração de 2 meses): cobertura total desde as 08:00 de 2ª feira até às 08:00 de 6ª feira e cobertura quinzenal desde as 08:00 de 6ª feira até às 08:00 de 2ª feira;

c) FASE 3 (a partir do 6º mês): cobertura total 24 h/dia e 7 dias/semana. Através do projeto: Investimentos em infraestruturas da saúde no CHUA, foi possível dotar o centro hospitalar da estrutura e recursos necessários para diminuir as desigualdades de acesso aos cuidados de saúde na região. Desde o passado mês de junho, que é possível oferecer aos doentes com AVC agudo do Algarve e Baixo Alentejo, o tratamento endovascular do mesmo, evitando a deslocação dos doentes para as unidades hospitalares, com centros de neurorradiologia de intervenção de referência, mais próximas (Lisboa)

39 Indice NÓS POR CÁ NÓS POR CÁ
Francisco Ornelas Raposo1,3, Inês Gil1,3, Jorge Brito2,3,4, Maria Helena Baptista Boeiro2,5, Rita Maia2,6,7. 1Assistente Hospitalar de Neurorradiologia 2Serviço de Radiologia de Faro – CHUA 3Assistente Graduado de Radiologia 4Diretor do Serviço de Radiologia de Faro – CHUA 5Técnico Superior de Diagnóstico e Terapêutica – área de radiologia 6Enfermeira Especialista em Enfermagem médico- cirúrgica 7Unidade de Cirurgia do Ambulatório de Faro CATARINA TAVARES Enfermeira VMER Heli INEM EDITORA

BETA-BLOQUEANTES E BLOQUEADORES DE CANAIS DE CÁLCIO

DEFINIÇÃO

A intoxicação por fármacos bloqueadores de canais de cálcio (BCC) ou β-bloqueantes (BB) encontra-se no sexto e sétimo lugar na lista das 25 substâncias mais associadas a morte segundo o relatório do Centro Americano de Controlo de Venenos de 20211

Os BB e os BCC são prescritos para um espectro alargado de patologias como hipertensão arterial, cardiopatia isquémica, insuficiência cardíaca congestiva e determinadas arritmias, tremor, ansiedade e glaucoma2. Apesar de apresentarem mecanismos de ação diferentes, têm efeitos farmacológicos e tóxicos semelhantes.

Os BCC inibem os canais de cálcio tipo L dependentes de voltagem do miocárdio, músculo liso vascular e células β pancreáticas, o que se traduz em cronotropismo e inotropismo negativo e vasodilatação periférica3. Os BCC dividem-se em 2

classes com diferente afinidade para o miocárdio e musculatura lisa vascular: dihidropiridinas (Nifedipina e Amlodipina), potentes vasodilatadores com pouco efeito cardíaco; e não-dihidropiridinas, (Verapamil, potente depressor cardíaco e vasodilatador, e Diltiazem, menos potente)4

Os BB são antagonistas competitivos dos recetores β-adrenérgicos, nomeadamente β1 miocárdicos e β2 do músculo liso vascular e brônquico, que são responsáveis pela abertura dos canais de cálcio tipo L dependentes de voltagem. São cronotrópicos e inotrópicos negativos, promovendo depressão miocárdica e atraso na condução elétrica, com pouco ou nenhum efeito na vasculatura periférica4.

SINTOMATOLOGIA E SINAIS CLÍNICOS

Na intoxicação por BB/BCC, a

cardiotoxicidade é a principal característica em comum, manifestando-se com hipotensão e bradicardia5

Em doses tóxicas, a seletividade dos BB perde-se, podendo fármacos cardioseletivos inibir os adrenorecetores do músculo liso vascular e brônquico. A sua lipossolubilidade determina os efeitos no sistema nervoso central, estando, o Propanolol associado a alteração do estado de consciência e convulsões. Adicionalmente, BB com propriedades estabilizadoras de membrana (Propanolol e Labetalol), bloqueiam canais de sódio quinidina–like, promovendo atraso na condução, prolongamento do intervalo QRS e arritmias ventriculares4.

Outro caso particular é o Sotalol, BB não seletivo, pouco lipossolúvel, que bloqueia a corrente de potássio responsável pela repolarização cardíaca, predispondo a arritmias

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INTOXICAÇÕES
INTOXICAÇÕES NO PRÉ-HOSPITALAR
NO PRÉ-HOSPITALAR
1 Médica Interna de Formação Específica em Anestesiologia, CHUA Faro
Cronotropismo Inotropismo ECG Resistência Vascular Periférica BB ↓ ↓ Bloqueio auriculoventricular e atraso da condução interventricular Prolongamento do QT (BB com propriedades estabilizadoras de membrana) ↔ ou ↑ Verapamil e Diltiazem ↓ ↓ Bradicardia sinusal, bloqueio aurículoventricular e ritmo juncional ↓ ou ↑ BCC dihidropiridinicos ↔ ou ↑ ↔ Taquicardia sinusal ↓
Tabela
1:
Efeitos cardiovasculares na intoxicação por BB e BCC.↔ sem alteração;↓ diminuição; ↑ aumento

Tabela 2: Dose oral limite de BB que deve motivar referenciação ao hospital e dose tóxica mais baixa reportada5. LR: Libertação Rápida; LL: Libertação Lenta

como Torsades de Pointes4

Os BCC mais associados a intoxicações são o Verapamil e o Diltiazem, manifestando-se com choque cardiogénico e distributivo. No caso dos dihidropiridinicos manifestase com choque distributivo associado a taquicardia sinusal reflexa4

Tabela 3: Dose oral limite de BCC que deve motivar referenciação ao hospital e dose tóxica mais baixa reportada5. NR: Não reportado; LR: Libertação Rápida; LL: Libertação Lenta

INTOXICAÇÃO POR BB/BCC 2,3:

ABORDAGEM

A evidência na abordagem terapêutica, baseia-se em casos clínicos e estudos em modelo animal. Na anamnese importa apurar o fármaco ingerido, formulação, tempo de ingestão e comorbilidades. Se assintomático, deve-se monitorizar durante 24h. Se sintomático, a primeira abordagem é o método ABCDE, assegurando a via aérea, seguido de medidas de suporte, não sendo conhecidos antídotos específicos6

• Descontaminação gástrica: Considerar em todos os doentes com via aérea protegida. Carvão ativado 1-2 horas após a ingestão. Se fármacos de libertação lenta, tem benefício após as 2 horas.

• Fluidoterapia

• Atropina: seguindo o algoritmo de bradicardia

• High-dose insulin euglycaemic therapy (HIET): Aumenta o transporte de glicose, lactato e oxigénio para o miocárdio, inotrópico positivo e vasodilatador das arteríolas coronárias, pulmonares e da vasculatura sistémica (aumenta a síntese de Óxido nítrico). Bólus insulina 0,5-1 IU/kg, seguido de perfusão 0,5-2

Dose limite Dose tóxica Atenolol
Carvedilol
Labetalol
Metoprolol LR LL 400mg 450mg 7500mg 7500mg Propanolol
800mg Sotalol
200mg 500mg
50mg 1050mg
400mg 6000mg
240mg
160mg 560mg
limite Dose tóxica Amlodipina 10mg 30mg Diltiazem LR LL (12h) LL (24h) 120 mg 360mg 540mg 360mg 700mg NR Nicardipina LR LL 40mg 60mg 260mg 600mg Metoprolol LR LL 400mg 450mg 7500mg 7500mg Nifedipina LR LL 30mg 120mg 50mg 200mg Verapamil LR LL 120mg 480mg 160mg 720mg
Dose

IU/kg, associado a glucose EV.

• Suporte catecolaminergico: Baseado no perfil hemodinâmico (adrenalina ou isoprenalina).

• Inibidores da fosfodiesterase: aumentam inotropismo, independentemente da ação dos recetores β. Pode agravar a hipotensão, pela venodilatação.

INTOXICAÇÃO POR BB 2,3

:

• Glucagon: Inotrópico e cronotropico positivo. Bólus inicial 50-150ug/kg EV em 1-2min, seguido por perfusão de 2-5mg/h (máximo 10mg/h), se mostrar benefício.

• Bicarbonato de sódio: Se prolongamento do intervalo QRS.

INTOXICAÇÃO POR BCC 3:

• Cálcio: Pode melhorar distúrbios de condução e a contratilidade cardíaca. Bólus inicial 10-20mL de cloreto de cálcio 10% ou 30-60mg de gluconato de cálcio 10% durante 5min.

• Suporte catecolaminergico: considerar noradrenalina e fenilefrina como primeira linha na intoxicação por dihidropiridinicos.

TAKE-HOME MESSAGES

• A abordagem pré-hospitalar inicia-se pelo algoritmo ABCDE.

• A terapêutica do choque cardiogénico na intoxicação por BB, foca-se no suporte inotrópico e cronotrópico, sendo primeira linha HIET e suporte catecolaminérgico.

• A intoxicação por BCC manifesta-se com choque misto. A abordagem terapêutica deve incluir HIET, suporte catecolaminérgico e no choque distributivo, vasopressores.

• Considerar glucagon e bicarbonato de sódio na intoxicação por BB e cálcio na intoxicação por BCC

BIBLIOGRAFIA

1. Gummin DD, Mowry JB, Beuhler MC, et al. 2021 Annual Report of the National Poison Data System© (NPDS) from America’s Poison Centers: 39th Annual Report. Clin Toxicol (Phila). 2022;60(12):1381-1643. doi:10.1080/15563650.2022.2132768

2. Rotella JA, Greene SL, Koutsogiannis Z, et al. Treatment for beta-blocker poisoning: a systematic review. Clin Toxicol. 2020;58(10):943-983. doi:10.1080 /15563650.2020.1752918

3. Graudins A, Lee HM, Druda D. Calcium channel antagonist and beta-blocker overdose: Antidotes and adjunct therapies. Br J Clin Pharmacol. 2016;81(3):453-461. doi:10.1111/bcp.12763

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5. Shepherd G. Treatment of poisoning caused by β-adrenergic and calcium-channel blockers. American Journal of Health-System Pharmacy. 2006;63(19):1828-1835. doi:10.2146/ajhp060041

6. Kerns W. Management of β-Adrenergic Blocker and Calcium Channel Antagonist Toxicity. Emerg Med Clin North Am. 2007;25(2):309-331. doi:10.1016/j. emc.2007.02.001

43 Indice INTOXICAÇÕES NO PRÉ-HOSPITALAR
MÓNICA VIEIRA DA FONSECA VMER Faro e Albufeira INEM – CODU DRS EDITORA ERNESTO RUIVO VMER Faro e Albufeira INEM – CODU DRS EDITOR

FÁRMACO REVISITADO

SULFATO DE MAGNÉSIO: APLICAÇÕES ATUAIS NA EMERGÊNCIA MÉDICA

INTRODUÇÃO

O MgSO4 é um fármaco utilizado em diversas condições clínicas no meio intra e extra-hospitalar. Na emergência pré-hospitalar, tem um papel benéfico na prevenção de convulsões na eclampsia e pré-eclâmpsia, no tratamento de arritmias secundárias a hipomagnesemia e torsades de pointes (TdP) e na exacerbação de asma severa1

FORMAS DE APRESENTA ÇÃ O

E CONSERVA ÇÃ O

O MgSO4 apresenta-se na forma de solução injetável de 500 mg/mL em ampolas de 2 mL, 10 mL, 20 mL, e 50 mL. A solução deve ser armazenada à temperatura ambiente, entre 20 a 25º C, sendo que a sua refrigeração pode levar a precipitação ou cristalização2

POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO

O MgSO4 pode ser administrado por via intravenosa (IV), intramuscular (IM), intraóssea (IO) ou por via oral (VO).

Quando administrado via IM, recomenda-se concentrações entre 25% a 50% em adultos e inferior a

20% em crianças.

Por via IV, o MgSO4 deve ser diluído para uma concentração inferior a 20% e pode ser administrado por cateter venoso periférico2

FARMACOCINÉTICA

O ião de magnésio (Mg2+) é o quarto elemento mais abundante no corpo humano e o segundo catião a nível intracelular. A sua concentração plasmática é maioritariamente regulada pela absorção a nível do trato gastrointestinal, reabsorção e excreção renal. Níveis séricos normais encontram-se entre 0.7 a 1 mmol/L (1.4 a 2.0 meq/L). Níveis inferiores a 1.7 a 1.8 mg/dL (0.75 mmol/L), definem-se como hipomagnesemia6

O MgSO4 quando administrado por via IM tem um início de ação de 1 hora, enquanto que por via IV o seu efeito é imediato. Tem uma duração de ação entre 3 a 4 horas via IM e de 30 min por via IV2

FARMACODIN Â MICA

O Mg2+ intervém em diferentes funções fisiológicas, tais como: transporte e manutenção da homeostasia a nível da membrana

celular; é um cofator em reações celulares que envolvem o ciclo de adenosina trifosfato; contribui para a proliferação celular e influencia o metabolismo ósseo. Regula ainda a atividade de canais iónicos com efeitos na condução neuromuscular, excitabilidade elétrica das células cardíacas e tónus vasomotor6

O mecanismo de ação do MgSO4 no contexto de hiperreactividade brônquica é explicado pelos seus efeitos no relaxamento do músculo liso brônquico, através do bloqueio da ação dos iões de cálcio (Ca2+) no músculo liso e pela sua ação antiinflamatória3

O efeito antiarrítmico do MgSO4 deve-se ao efeito antagonista do Ca2+ e ao bloqueio da libertação de catecolaminas. Tem um efeito estabilizador da membrana celular, formando complexos com os fosfolipídeos das membranas, reduzindo a fluidez e a permeabilidade das membranas celulares. Adicionalmente, tem efeito na condução neuromuscular pelo aumento do limiar de excitabilidade5 Pensa-se que os seus efeitos neuroprotetores e analgésicos se devem ao bloqueio do recetor central

45 Indice
Alice Brás1 1Interna de Formação Específica de Anestesiologia, Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho; Médica da VMER Gaia.

indicações incluem acidente vascular cerebral, hemorragia subaracnoideia aneurismática e traumatismo cranioencefálico10, no entanto os dados não são consensuais.

5. Analgesia

N-metil-D-aspartato (NMDA), levando a redução da libertação de glutamato e a modulação e sensibilização das vias nociceptivas centrais7

INDICA ÇÕ ES TERAP Ê UTICAS

1. Eclâmpsia

Eclâmpsia é a manifestação convulsiva dos distúrbios hipertensivos da gravidez e é uma causa importante de mortalidade materna 8. Define-se como o início de novo de convulsões tônicoclônicas, focais ou multifocais na ausência de outra patologia responsável 8. O MgSO4 é o anticonvulsivo de escolha na prevenção e controlo de convulsões na pré-eclâmpsia e eclâmpsia 4

2. Asma

O MgSO4 IV tem sido recomendado como uma terapêutica segura e efetiva para pacientes adultos e crianças com asma severa aguda que não responde aos fármacos de primeira linha. Assim, uma revisão da Cochrane de 2016 avaliou a sua administração na asma moderada a severa no serviço de urgência, mostrando uma redução do internamento hospitalar em 68% em crianças e 25% em adultos3

3. Arritmias

As propriedades eletrofisiológicas do magnésio tornam-no aplicável na fibrilhação ventricular (FV), taquiarritmia ventricular (TV) e TdP5

A TdP é uma arritmia ameaçadora de vida associada a prolongamento do intervalo QT corrigido (QTc), sendo que a hipomagnesemia é um dos fatores de risco. Em doentes com TdP estável, o tratamento consiste na administração de MgSO4 IV. O Mg pode suprimir os episódios de TdP sem necessariamente encurtar o QTc, mesmo com níveis séricos normais9

Na FV resistente ao choque, uma dose inicial de 2 g IV pode ser administrada em 1 a 2 minutos, e repetida se necessário após 10 a 15 minutos. No entanto, não existe consenso atual sobre a sua utilização na ressuscitação cardiopulmonar. Uma meta-análise e revisão sistemática de 2020 não mostrou benefícios significativos da sua utilização na ressuscitação comparativamente a placebo5

4. Neurológico

O MgSO4 tem sido também mencionado como benéfico em doentes neurocríticos pelos seus efeitos neuroprotetores. Possíveis

Diferentes estudos têm sugerido um papel anti-nociceptivo do magnésio como adjunto na dor aguda, dor pós-operatória, cefaleia e dor crónica. O mecanismo analgésico está subjacente ao bloqueio não competitivo dos receptores NMDA, com redução da libertação de glutamato, e consequentemente, diminuição da sensibilização central e hiperalgesia. Apesar de não ser considerado um analgésico primário, tem crescido o interesse sobre o seu efeito analgésico adjuvante7

CONTRA-INDICA ÇÕ ES

Deve ser evitado em doentes com hipersensibilidade a qualquer componente da formulação e que tenham bloqueio cardíaco. Deve ser utilizado com caução em doentes com miastenia gravis ou outras doenças neuromusculares. A sua utilização deve ser cuidadosa em doentes com insuficiência renal pelo risco de acumulação e toxicidade. A sua toxicidade pode levar a paragem cardiovascular e/ou respiratória. Durante a perfusão de MgSO4 recomenda-se a monitorização dos níveis séricos de Mg 2+ , frequência respiratória e presença de reflexos tendinosos profundos 2

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Tabela 1. Posologia do MgSO4 Bólus: não exceder 150 mg/min. Infusão: não exceder 2 g/h. Doença renal: Ajustar a dose e monitorizar níveis de Mg2+ se clearance renal inferior a 30 mL/min. Não exceder 20 g/48 h.

EFEITOS ADVERSOS E INTERA ÇÕ ES MEDICAMENTOSAS

É um fármaco seguro, com efeitos laterais mínimos. Quando ocorrem, podem manifestar-se por flushing facial e sensação de calor. Devido ao seu efeito inibitório no músculo liso pode causar hipotensão transitória se for administrado rapidamente ou em elevadas doses. Na presença de doses séricas supraterapêuticas pode ocorrer ausência de reflexos, perda de força muscular e condução cardíaca anormal6. Nas grávidas deve ser monitorizada a frequência cardíaca fetal e a atividade uterina materna2

O MgSO4 pode aumentar os níveis ou efeitos do álcool, bloqueadores de canais de cálcio, fármacos depressores do sistema nervoso central, metotrimeprazina, e bloqueadores neuromusculares2

BIBLIOGRAFIA

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2. Verna L. Baughman; Julie Golembiewski JPGWA. Anesthesiology and Critical Care Drug Handbook: American Pharmacists Association; Lexi-Comp 2010.

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4. Okusanya BO, Oladapo OT, Long Q, Lumbiganon P, Carroli G, Qureshi Z, et al. Clinical pharmacokinetic properties of magnesium sulphate in women with pre-eclampsia and eclampsia. BJOG : an international journal of obstetrics and gynaecology. 2016;123(3):356-66.

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TAKE HOME MESSAGES

• O Mg2+ intervém em diferentes funções fisiológicas;

• Os níveis séricos normais de Mg2+ são fundamentais para a homeostasia celular, da estabilidade hemodinâmica e função neuromuscular;

• Em contexto de emergência o MgSO4 é benéfico na prevenção de convulsões eclâmpticas, no tratamento de asma severa e taquiarritmias como a TdP

6. Fiorentini D, Cappadone C, Farruggia G, Prata C. Magnesium: Biochemistry, Nutrition, Detection, and Social Impact of Diseases Linked to Its Deficiency. Nutrients. 2021;13(4).

7. Tsaousi G, Nikopoulou A, Pezikoglou I, Birba V, Grosomanidis V. Implementation of magnesium sulphate as an adjunct to multimodal analgesic approach for perioperative pain control in lumbar laminectomy surgery: A randomized placebocontrolled clinical trial. Clinical neurology and neurosurgery. 2020;197:106091.

8. Gestational Hypertension and Preeclampsia: ACOG Practice Bulletin Summary, Number 222. Obstetrics and gynecology. 2020;135(6):1492-5.

9. Zeppenfeld K, Tfelt-Hansen J, de Riva M, Winkel BG, Behr ER, Blom NA, et al. 2022 ESC Guidelines for the management of patients with ventricular arrhythmias and the prevention of sudden cardiac death. Eur Heart J. 2022;43(40):3997-4126.

10. Saver JL, Starkman S, Eckstein M, Stratton SJ, Pratt FD, Hamilton S, et al. Prehospital use of magnesium sulfate as neuroprotection in acute stroke. The New England journal of medicine. 2015;372(6):528-36.

47 Indice FÁRMACO REVISITADO
CATARINA MONTEIRO Médica VMER
EDITORA

JOURNAL CLUB

INTRODUÇÃO

A hemorragia continua a ser a maior causa de morte prevenível em cerca de metade das vítimas de trauma que morrem em contexto pré-hospitalar. Neste contexto, a presença de pessoal não clínico e/ou transeuntes que presenciaram o trauma são, não raras vezes, o primeiro elo da cadeia

de sobrevivência.

Assim sendo, o American College of Surgeons Committee of Trauma, o American College of Emergency Physicians, e o National Association of EMS Physicians elaboraram um consenso com indicações para que se possa agir de forma adequada.

RECOMENDAÇÕES

1 - A pressão directa sobre a lesão continua a ser a primeira escolha para controlo hemorrágico efectivo.

2 - Algoritmo de controlo hemorrágico para life-threatening external haemorrage (Fig.1)

O primeiro passo corresponde à identificação da lesão e avaliação do carácter life-threatening ou não da mesma. Se a compressão directa for ineficaz é preconizada a utilizada de gaze e/ou gaze impregnada com produtos hemostáticos. Caso haja disponibilidade, está previsa a utilização de torniquetes nas extremidades em contexto de hemorragia arterial.

3 - A utilização de gaze impregnada em com produtos hemostáticos é viável

A impregnação pode conter factores procoagulantes, mucoadesivos e factores concentrados. A aplicação

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Ana Rita Clara1
JOURNAL CLUB
1Médica de Medicina Intensiva na UUM, Hospital de São José, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central; Médica SHE Figura 1. Algoritmo de controlo da hemorragia externa grave. Adaptado de Berry, C., et. al. (2023) Prehospital Hemorrhage Control and Treatment by Clinicians: A Joint Position Statement. Prehospital Emergency Care, Vol. 27, No. 5, 544–551

desta tipologia de gaze/penso deverá ser precedida de 3 minutos de pressão directa.

4 – Torniquete

Há uma maior probabilidade de sobrevida para vítimas de trauma com hemorragia nas extremidades quando aplicado torniquete.

4.1 - Aplicação de torniquete nas extremidades: Deverá ser aplicado 5 a 7 cm proximal à lesão. A colocação de torniquetes o mais proximal possível à lesão deverá apenas ser utilizado quando é impossível determinar o local exacto da hemorragia. A colocação directamente na pele é preferível e deverão ser evitados as articulações do cotovelo, pulso, joelho e maléolos. O torniquete deverá ser aplicado e ajustado até a hemorragia cessar e o pulso distal não ser palpável. Deverá

ser anotado a hora exacta em que o torniquete foi aplicado e garantir que essa informação está correcta e facilmente acessível, de preferência no torniquete ou na vítima. Não aliviar o torniquete uma vez aplicado e avaliar a manutenção do controlo hemorrágico via torniquete a cada mobilização e transferência da vítima (ex: para plano duro, ambulância, transporte, etc.). Se a hemostase com o primeiro torniquete não foi eficaz garantir a aplicação de segundo torniquete 5 a 7 cm acima do primeiro torniquete sem o remover.

4.2 - Reavaliar necessidade de aplicação de torniquete: Os torniquetes aplicados por pessoal não clínico têm de ser reavaliados por pessoal clínico. Deverá ser re-avaliada a necessidade de manter o torniquete; caso este se verifique a necessidade de manter a utilização do torniquete

dever-se-ão seguir as guidelines locais em vigor. Caso, durante a avaliação do torniquete in situ, se verificar a não manutenção da necessidade do mesmo, dever-se-ão seguir os seguintes passos: aplicar um torniquete extra-denominado “Torniquete Adicional 1” - 5 a 7 cm proximal e mantendo-o solto. Caso o torniquete inicial esteja localizado nesta área, colocar o “Torniquete Adicional 1” proximal ao inicial. Aplicar pressão directa na ferida com um penso impregnado em agentes hemostáticos, preferencialmente. Aliviar o aperto do torniquete original e monitorizar a hemorragia. Se não se verificar hemorragia o processo foi bem sucedido. Se hemorragia estiver patente, apesar da pressão directa, com penso impregnado em produtos hemostáticos apertar o Torniquete adicional 1. Se não for bem sucedido,

50 Indice

apertar novamente o torniquete original.

4.3 - Relativamente aos torniquetes em articulações justa posicionais ao tronco: ombro, axila e virilha: Nesta opções que não permitem a colocação de um torniquete, como nas extremidades, as hipóteses recaem em aparelhos que fazem pressão directa no vaso (aorta, artéria ilíaca ou axilar).

5 - Transfusão de hemoderivados

A utilização de sangue na reanimação no pré hospitalar está associado com uma redução da mortalidade previsível a 30 dias em doentes graves de trauma. A utilização parcimoniosa de cristalóides, hipotensão permissiva e a transfusão balanceada de produtos hemoderivados (plasma, plaquetas e concentrado de eritrócitos) são medidas a ser aplicadas para melhorar outcome

A recomendação do consenso indica que doentes graves de trauma com sinais de choque hemorrágico deverão ser transfundidos com hemoderivados. Se não existir um protocolo em vigor deverá ser criado um com abordagem multidisciplinar. A transfusão de hemoderivados deverá ser realizada na proporção de 1:1, começando com plasma. As indicações para administração incluem vítimas com lesão penetrante, sinais externos de hemorragia e um abdómen positivo no protocolo FAST (Focused

Assessment with Sonography for Trauma) quando disponível e na presença de sinais sugestivos de choque hemorrágico/distributivo.

5.1 - Transfusão de grávidas: a

maioria dos hemoderivados é RH+ e isso pode colocar um risco de isomunização e incompatibilidade. Contudo a maioria dos sistemas avalia os benefícios mias elevados que os riscos, sugerindo a transfusão no pré-hospitalar. No entanto, é fundamental a articulação protocolar com os centros de trauma por forma a disponibilizarem imunoglobulina RhOD.

A hipocalcémia induzida na transfusão de hemoderivados deverá ser corrigida com 1g de gluconato de cálcio por cada 1 a 2 unidades de concentrados de eritrócitos transfundidos no pré-hospitalar. A administração de ácido tranexâmico 1-2 gr EV deverá ser considerado até 3 horas após a lesão. Os complexos protrombinícos não estão indicados, a não ser quando o objectivo é a reversão de anticoagulantes. A manutenção da temperatura por forma a evitar a hipotermia está indicada.

6 – Ressuscitative Endovascular

Ballong Occlusion of the Aorta (REBOA)

Trata-se de um procedimento percutâneo aplicado em caso de hemorragia pélvica e/ou abdominal que oclui temporariamente a aorta com balão endocascular.

Actualmente não existe literatura suficiente para apoiar a utilização do sistema em meio pré-hospitalar.

aberto. No entanto, a sua diferenciação em meio pré-hospitalar torna-se difícil. Assim, em caso de suspeita de fractura pélvica, deverá ser aplicada a cinta pélvica.

8 – Pediatria

A hipotensão é um sinal tardio de choque em idade pediátrica. A hipotensão em idade pediátrica deverá ser determinada da seguinte forma: para idades dos 0-9 - Pressão Arterial Sistólica (PAS) + (idade em anos x2); para idade > 10 anos deverá ser utilizada a referência de < 90PAS. A aplicação de pressão sobre a lesão deverá ser a primeira escolha para controlo hemorrágico sendo que para idades > a 2 anos o torniquete de adultos está indicado na hemorragia arterial sem controlo.

SUMÁRIO

Apesar do consenso supramencionado para controlo hemorrágico e reanimação em contexto de trauma podem subsistir opiniões diferentes e, nesse caso, os protocolos locais deverão ser aplicados. A actualização de tais protocolos deverá ser realizada em processo de performance improvement. Os projectos de educação contínua e formação deverão ser colocadas em práticas por forma a fortalecer a formação inicial

7 – Cinta pélvica

Provavelmente os doentes que mais beneficiam da utilização destes dispositivos de compressão circunferencial, tratam-se dos doentes com fracturas pélvicas em livro

51 Indice
JOURNAL CLUB
ANA RITA CLARA Médica de Medicina Intensiva - CHLC, Médica SHEM-SUL EDITORA Acompanhamento da Equipa no terreno

MISSÃO PORTUGUESA NO CHILE

O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) enviou para o Chile uma equipa de 6 elementos através do mecanismo de resposta europeu de proteção civil , constituída por dois Médicos, dois Enfermeiros e dois Técnicos de Emergência PréHospitalar que integravam uma força operacional conjunta (FOCON). Esta Força conjunta foi chefiada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), e integrou profissionais da ANEPC, da Unidade de Emergência, da Proteção e Socorro (UEPS,) da Guarda Nacional Republicana, dos Bombeiros Voluntários e Municipais de diversos distritos, e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Portugal enviou a FOCON para auxílio ao combate aos incêndios florestais que assolam o Chile, durante 17 dias de missão. A missão da Equipa do INEM teve como principal objetivo a prestação de apoio médico aos restantes operacionais da FOCON, e tinha ao seu dispor todo o equipamento e material clínico necessários para garantir o apoio médico diferenciado. A equipa do INEM, foi constituída através do seu Pt EMT (Portuguese Emergency Medical Team), estrutura certificada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para intervir em cenários de catástrofes.

A entrevista que se segue foi realizada a um dos elementos do INEM integrados na missão: o Enfermeiro João Póvoa.

LIFESAVING (LFS): O que te trouxe para a emergência médica?

JOÃO PÓVOA (JP): A resposta a essa pergunta é fácil, é uma paixão de sempre. Algo que nasce connosco e que é potenciado ao longo da vida. Entrei para os bombeiros aos 14 anos e um dos primeiros cursos que fazemos é o curso de tripulante de ambulância. Após essa formação, que é francamente curta para as exigências, senti que havia algo mais a explorar nessa área. Entretanto faço a licenciatura em Enfermagem e

dedico a minha formação e experiência profissional à área de emergência e de cuidados ao doente crítico. Em 2017 surge a oportunidade de entrar para o INEM, no qual estou até hoje.

LFS: Existe alguma situação que te tenha marcado na emergência médica?

JP: É uma questão difícil de responder. Quem se dedica integralmente à emergência e que faz vários meios do pré-hospitalar está sempre sujeito a várias situações que marquem, e marquem muito. Portanto nessa perspetiva só posso sensibilizar quem nos lê para a realidade que é ir a casa de

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EMERGÊNCIA INTERNACIONAL
EMERGÊNCIA INTERNACIONAL
Entrevista: João Póvoa1 1 Enfermeiro João Póvoa, Enfermeiro Prestação de apoio à Equipa que estava em trabalho no terreno

alguém e assisti-lo no momento mais frágil da sua vida e dos seus, com todos fatores inerente a essa ida que concorrem diretamente para a nossa capacidade de controlo e gestão emocional.

LFS: De que forma surge a missão no Chile?

JP: Ir em missão para o chile, não foi por si só, uma decisão minha. Nesta medida o INEM tem uma forma de seleção das equipas que se baseia no seu know-how e background profissional. Para que possas ser sujeito a essa escolha, é necessário que já tenhas cumprido uma formação direcionada para a

resposta internacional a situações de catástrofe. No fundo, houve um pedido de disponibilidade para a missão, ao qual acedi, e depois fui eleito para fazer parte da equipa.

LFS: Como se processa a fase pré missão?

JP: Não há uma resposta certa para esta pergunta. No entanto posso dizer que é solicitada ao INEM uma equipa para realizar uma missão com determinadas características. O INEM tem uma bolsa de pessoas formadas para este tipo de resposta internacional e faz o pedido de disponibilidade aos elementos inseridos nessa bolsa.

LFS: Quais os procedimentos de preparação para a missão?

JP: O INEM tem uma equipa que se preocupa apenas com a resposta internacional a este tipo de eventos. Desta forma têm desenvolvido documentação de apoio e suporte a quem vai em missão, nomeadamente uma check-list de material individual, bem como, documentos que nos apoiam relativamente a questões culturais, gastronómicas, ambientais, sociais e etc.

LFS: Que expectativas levavas para esta missão?

JP: Bem, a nossa missão era ir dar suporte à equipa portuguesa que ia

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EMERGÊNCIA INTERNACIONAL
Receção da FOCON pelo embaixador português no Chile
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Equipa em prevenção, no Posto de Comando na cidade Coronel Foto da equipa que representou o INEM na missão no Chile

combater os incêndios, conhecendo a realidade dos incêndios rurais em Portugal e na europa entendi que para um pedido de apoio internacional a situação seria de enorme calamidade. Não criei grandes expectativas antes de ir para não ser surpreendido de nenhuma forma, porém há sempre aquele sentimento defensivo que vamos ver o pior e que acabamos, grande parte das vezes, por ser menos surpreendidos do que estávamos à espera. Encontrei um paradigma muito diferente do português, seja no planeamento, na decisão e no combate. Na região onde estive têm um clima húmido que favorece o crescimento vegetação e que se revela um grande inimigo na hora de combater os incêndios por todo relevo que isso tem no comportamento do incêndio.

LFS: Qual foi o vosso empenhamento na missão?

JP: O trabalho lá foi um trabalho de proximidade com as equipas que estavam em trabalho, garantindo sempre a 1ª premissa em qualquer evento que é a nossa segurança. Fazíamos esse acompanhamento sempre com uma equipa médica composta por médico, enfermeiro e técnico de emergência pré-hospitalar, com recurso a um monitor desfibrilhador e uma mala com equipamento necessário para qualquer resposta de emergência.

LFS: Em algum momento sentiste medo?

JP: Estar num espaço que não é nosso, num país que não é o nosso obriga-nos a pensar muito sobre o que estamos a fazer e estar permanentemente alerta, mas no terreno durante os trabalhos sentiame sempre em segurança.

LFS: Que lições aprendidas trazes da missão?

JP: A principal lição que trago de lá é que temos que estar contentes porque em Portugal fazemos muitas coisas bem feitas. Enquanto equipa trazemos muitas lições aprendidas que vão servir para o futuro caso hajam missões deste âmbito.

LFS: O que dirias a um colega que fosse agora embarcar numa missão?

JP: Cada missão terás as suas características. Esta missão foi diferente da missão que levou outros operacionais à Turquia e portanto não há um conselho concreto que possa dar. Mas posso dizer que é um sentimento especial estar a representar o nosso país e principalmente neste âmbito de resposta a uma situação de calamidade onde há alguém a precisar da nossa ajuda.

57 Indice EMERGÊNCIA INTERNACIONAL
EVA MOTERO Médica VMER RUBEN SANTOS Enfermeiro VMER EDITOR EDITORA SOLANGE MEGA Enfermeira SIV/VMER EDITORA

O QUE FAZER EM CASO DE...

Golpe de Calor

O golpe de calor, por definição, ocorre após exposição prolongada a elevadas temperaturas (ex. exposição ao sol, exercício intenso, local fechado e sobreaquecido, etc.), levando os mecanismos de controlo de temperatura corporal a falhar. Traduz-se num aumento rápido da temperatura corporal, podendo atingir-se, em apenas 10 a 15 minutos, temperaturas superiores a 40º C, o que coloca em risco a vida da vítima. É uma Emergência Médica em que a sua rápida identificação, e atuação adequada fazem a diferença.

INCONSCIENTE

ASSEGURAR CONDIÇÕES DE SEGURANÇA (Local, Reanimador, Vítima)

SINAIS E SINTOMAS DE GOLPE DE CALOR:

• Cansaço, tonturas, dores de cabeça;

• Pulso rápido, respiração rápida;

• Pele e mucosas secas e quentes;

• Temperatura corporal elevada sem suar (corpo não consegue baixar a temperatura);

• Confusão mental;

• Alteração do estado de consciência podendo rapidamente ficar inconsciente.

CONSCIENTE

LIGUE 112

ALGORITMO SBV (Ligar 112)

ATUAÇÃO

1) Remova a vítima para um local fresco;

2) Ligue 112

3) Inicie o processo de arrefecimento da temperatura corporal

•Remova a roupa;

• Coloque toalhas/compressas/tecidos com água no corpo da vítima;

• Ligue ventoinha e/ou ar condicionado;

• Improvise um “sistema de dispersão” de água e refresque a vítima..

Remover a vítima para local fresco > Ligar 112 > Arrefecer a vítima

• Informe a sua localização com pontos de referência;

• Descreva a situação;

• Responda a todas as questões solicitadas;

• Siga as instruções do operador;

CUIDADO!

• Não dar bebidas com cafeína ou bebidas alcoólicas;

• A vítima pode rapidamente ficar inconsciente. Nunca a deixe sozinha.

BIBLIOGRAFIA

1. https://www.cdc.gov/niosh/topics/heatstress/heatrelillness.html

2. https://www.nhs.uk/conditions/heat-exhaustion-heatstroke/

3. https://www.redcross.org.uk/stories/health-and-social-care/ first-aid/first-aid-for-heatstroke

4. https://www.redcross.org.uk/first-aid/learn-first-aid/ heat-exhaustion

5. https://www.sesaram.pt/portal/52-utente/a-minha-saude/ literacia-em-saude/como-atuar-em-emergencia/409-golpe-de-calor

6. https://www.inem.pt/2017/08/11/insolacao-quais-ossintomas-e-o-que-fazer/

7. Programa de edição de fotos: Painnt®

EDITOR

59 Indice
André Abílio Rodrigues 1 1Enfermeiro VMER, SIV ANDRÉ ABÍLIO RODRIGUES Enfermeiro SIV/VMER

TEMPO, por definição é “uma sucessão de momentos em que se desenrolam os acontecimentos. Parte da duração ocupada por acontecimentos. Época em que se vive. Momento propício, ocasião, OPORTUNIDADE”. Nesta sociedade desenvolvida e frenética o que mais se ouve as pessoas a dizerem é que, NÂO TENHO TEMPO!. Então será que estamos a perder momentos importantes e oportunidades de vivermos mais felizes!?.

Deixo-vos um testemunho de uma mulher que não estando ligada à saúde, partilha a sua vida com um profissional da área e compreende como é importante aprender a dedicar o tempo às coisas certas.

Equilibrando funções: uma jornada de produtividade de uma empreendedora das novas tecnologias, gestora de um projeto de 2 alojamentos locais, mulher de um bombeiro e mãe dedicada de dois.

No mundo acelerado de hoje, lidar com várias responsabilidades pode ser uma tarefa assustadora, especialmente para as mães

empreendedoras. Como mãe de dois filhos, administrar um negócio no mundo das novas tecnologias, gerir uma atividade de formação, dois alojamentos locais e, a tudo isto acrescentar os compromissos familiares pode parecer um desafio. No entanto, com uma gestão eficaz do tempo e uma mentalidade focada, é possível encontrar um equilíbrio e alcançar o crescimento pessoal.

Em 2020 em pleno covid embarquei na jornada da formação online ao criar uma formação especializada em Microsoft Excel e não só. Como uma grande entusiasta das tecnologias, percebi a importância de capacitar as pessoas com habilidades essenciais num mundo cada vez mais digital.

Em 2021 nasce um projeto de Alojamento local no Alentejo. Queríamos um sitio onde pudéssemos descansar e “desligar a ficha” e, ao mesmo tempo rentabilizar o nosso investimento.

Em 2023, nasce outro projeto de alojamento local, aumentando assim a nossa oferta de alojamento na zona do Alqueva.

A tudo isto junta-se uma empresa com 20 anos no ramo tecnológico, mãe de 2 pequenos e, mulher de uma pessoa incrível com uma profissão igualmente incrível que é a de Bombeiro.

COMO É QUE SE GERE ISTO TUDO

EM 24H?

a. Reservar blocos de tempo: Senão está na agenda não acontece! Se ainda não utiliza agenda começe a usar. Comecei por definir as 5 áreas importantes para mim. Eu, Empresa, formação online, família e alojamento local. Dentro destas 5 áreas marco blocos de tempo na minha agenda, Priorizando as tarefas mais urgentes e as que me levam diretamente aos objetivos traçados para esse dia e delegando todas as outras que não precisam de mim.

b. Aprender a dizer que não: Saber dizer que não é super importante. Existem sempre distrações que nos desviam dos objetivos traçados. Saber dizer que não é uma forma de não sairmos da autoestrada, de não fazer desvios.

c. Garantir uma rotina saudável com tempo para tudo.

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CUIDAR DE NÓS
CUIDAR DE NÓS GESTÃO DE TEMPO. Uma experiência na primeira pessoa, qual é a sua?!
Susana Pinto1,2,3 1Licenciada em finanças com Bacharelato em Informática de Gestão 2Empresária no ramo das novas tecnologias desde 2003 3Fundadora da marca Susana Pinto, formação online

O meu Eu tem 2 momentos no dia. Cedo antes da tropa toda se levantar cá em casa, onde esse tempo por vezes é uma caminhada, uma corrida ou concentrar-me em assuntos pendentes dos meus cursos e alunos, e por ser de manhã garanto um bloco de tempo de foco ininterrupto. E na minha hora de almoço, é o meu EU + Marido!

À tarde, como todas as mães, o tempo é para a família mas depois de colocar as crianças para dormir, dedico-me aos meus cursos, é o horário onde tenho as aulas online com as turmas, crio conteúdo e aproveito as horas tranquilas para planejamento estratégico e estudo.

Comunicação

Como lido com pessoas e equipas um dos livros que me ajudou imenso foi o livro “ Rodeado de Idiotas – Thomas Erikson”. Falo deste livro a todas as pessoas que me dizem, eu não consigo lidar com o meu chefe! Ou aquela colega é mesmo intragável! Este livro ensina a comunicar de forma efetiva para 4 tipos de personalidades/pessoas baseadas em cores. É um autêntico milagre quando começamos a lidar com pessoas que antes nem conseguíamos dar um bom dia!

Financeira

rapidamente entro de novo nos eixos. Depois, faço-me rodear de pessoas com uma energia igual à minha. Super importante nos momentos de partilha e ajuda. E, por fim tenho mentores em áreas importantes para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Equilibrar os papéis de empreendedor e uma mãe pode parecer uma tarefa assustadora, e cada um de nós tem a sua realidade para gerir mas com bom senso e algumas ferramentas de apoio podemos fazê-lo de forma eficaz e com uma mentalidade positiva.

INVESTIR NO MEU CRESCIMENTO PESSOAL

a. Aprendizagem contínua: Reconheço e recomendo a todos a importância de estar a par dos avanços tecnológicos e noutras áreas que sejam críticas para que possamos evoluir quer como pessoas quer como profissionais. Acredito e ensino aos meus alunos e aos meus filhos que o crescimento pessoal é crucial para o sucesso a longo prazo. É algo que cultivo na minha própria comunidade de alunos, para que tenham interação e que possam crescer juntos com a partilha.

b. Livros

Eu adoro ler! E encontrei nos livros uma fonte de conhecimento e inspiração imprescindível. Partilho convosco os últimos livros que li e que, ajudaram-me imenso em áreas cruciais aos objetivos que tracei para mim.

Dois livros imprescindíveis na área financeira e investimentos. “Pai rico pai pobre de Robert Kiyosaki” e os “Segredos da mente milionária de T. Harv Eker”. Senão sabe como lidar com o dinheiro, estes livros são para si.

Organização

Onde devemos colocar o nosso foco? Como gerir o nosso dia a dia no meio de tantas tarefas? O livro “A única coisa de Gary Keller”. Ajudou-me imenso a perceber como planear o meu dia a dia de forma a chegar onde quero.

Neste testemunho, podemos aprender algumas ferramentas para serem utilizadas na gestão do nosso tempo, estas não são ensinadas na escola mas sim na “escola da vida”, nas competências que podemos adquirir em maximizar os recursos que temos e não desculparmo-nos nos recursos que não temos. Foca-te no teu propósito de vida, nada é permanente por isso usa o teu tempo com sabedoria

COMO NOS MANTERMOS SEMPRE EM MOVIMENTO?

Inevitavelmente chega a um ponto que começamos a abrandar e a procrastinar. Como é que contornamos isso?

Para mim o que me faz estar sempre focada e determinada é o meu propósito de vida! Sempre que sinto que estou a abrandar, ou a procrastinar lembro-me o que defini para a minha vida, para onde vou e,

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CUIDAR DE NÓS
EDITORA

TERTÚLIA VMERISTA

“É uma mais valia.”

Isabel Rodrigues

“A inteligência artificial é o caminho de orientação e melhor dizer substituição de CODU. Aliás toda parte administrativa poderá ser substituída. A gestão dos meios pode entregar a AI com supervisão humana, só

com uma ressalva. Este humano deveria ter IQ e experiência no mínimo igual a AI.”

Denis Pizhin

“Pode ser uma mais valia desde que utilizada com bom critério.”

Ana Agostinho

“Bem-vinda a inteligência artificial, para complementar e facilitar o trabalho do profissional, mas nunca para o

64 Indice
"A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E O PRÉ-HOSPITALAR, QUAL A TUA OPINIÃO ENQUANTO OPERACIONAL?"

NOTA DO EDITOR

As respostas obtidas à questão colocada na Tertúlia VMERista são da exclusiva responsabilidade dos intervenientes no "inquérito", e que são opiniões estritamente pessoais, das quais a LIFESAVING necessariamente se demarca...

substituir. A humanização dos cuidados é fundamental e insubstituível.”

“A era da Inteligência Artificial (IA) já teve início, mesmo que nem todos estejam ainda verdadeiramente conscientes desse facto. O tempo não volta para trás, e nada mais poderemos fazer senão acompanhar a evolução dos tempos e adaptarmo-nos. Já aconteceu há décadas atrás algo semelhante

com o computador e com a internet. Agora será, uma vez mais, uma questão de tempo, pois a mudança estranha-se mas entranha-se. No entanto, será mais sensato explorar antecipadamente a IA, conhecendo e aproveitando as suas potencialidades, mas preservando sempre o espírito crítico, zelando sempre pelos padrões de boas práticas e licitude, norteados pela ética e deontologia”.

EDITOR

65 Indice TERTÚLIA VMERISTA NUNO RIBEIRO Enfermeiro VMER TIP
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UM PEDACINHO DE NÓS Entrevista a Solange Mega

Nascida em Faro, tem um irmão mais novo, e ambos filhos de Pais humildes e trabalhadores. Pai de Lisboa e mãe de origem Angolana (Nova Lisboa), retornada para Portugal para Lamego, vieram encontrar-se e viver o seu amor no Algarve, cidade onde nasceram os seus filhos. Tem uma série de primos e duas tias por parte da mãe, por parte do pai atualmente tem uns tios que vivem em Lisboa.

Estudou o seu percurso até ao 12º ano na área das Artes, tendo entrado em Design na Universidade de Faro, mas foi a persistência da mãe e gosto em ajudar o próximo que a motivou a se

inscrever na Escola Superior de Saúde Jean Piaget em Silves, em Enfermagem, tendo entrado na primeira fase através do exame nacional de Psicologia. Estudantetrabalhadora durante o curso, uma vez tratar-se de ensino privado, concluiu-o com sucesso mesmo após algumas dificuldades nos primeiros dois anos, por não possuir conhecimentos base na área da bioquímica, entre outras específicas da área das ciências. Como a mesma refere, o cuidar é uma arte, a arte do saber cuidar do próximo, e foi com este sentimento que se entregou à enfermagem, ao saber-ser, saber-estar e saber-fazer que procurou adquirir conhecimentos de forma a

proporcionar melhores cuidados ao doente e à família, com base na última evidência. Assente nessa premissa, investiu ao longo da sua vida profissional e académica, através da realização de Pós-Graduação em Intervenção em Trauma, Emergência e Catástrofe, Pós-Graduação em Gestão e Administração de Serviços de Saúde, Pós-Graduação em Supervisão Clínica em Enfermagem, Pós-Graduação em Cuidados Intensivos e recentemente coluiu o processo em Mestrado em Enfermagem Especialização Enfermagem Médico-Cirúrgica – A Pessoa em Situação Crítica e diversas formações avançadas.

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“UM PEDACINHO DE NÓS”
Ana Rodrigues1, Teresa Castro 2 1Enfermeira das VMER de Faro e Albufeira, 2Enfermeira da VMER de Albufeira

Iniciou o seu percurso laboral no serviço de Oncologia Médica, em 2010, e em 2013, e por possuir alguma formação na área do doente Crítico, através da realização do Curso SIV e funções na SIV Loulé, foi transferida para o serviço de Urgência devido à carência de profissionais, tendo sido um momento de difícil aceitação devido ao seu gosto pela área que trabalhava, e pela equipa/amigos.

Hoje, realizando uma autorreflexão, a mesma refere ter sido o melhor que lhe poderia ter acontecido, pois o facto de ter começado a exercer o papel enquanto enfermeira SIV, trazia-lhe algum sentimento de carência de mais experiência no contacto com o doente crítico e/ou agudo. Perante isto considera ter sido fundamental esta mudança para o seu crescimento enquanto profissional e pessoal, e sem dúvida a sua rampa de lançamento para o seu background e know-how atual.

Paralelamente a sua atividade no serviço de urgência, iniciou funções

na VMER de Faro em 2014 e posteriormente na VMER Albufeira.

Rescindiu contrato com o centro Hospitalar Universitário do Algarve tendo iniciado contrato com o INEM através dos contratos ao abrigo do SARS Cov2. Muito ligada à família e aos amigos, apesar da dedicação enorme ao trabalho pelo gosto que exerce no mesmo, em 2020 a vida inesperadamente “puxou-lhe o tapete” com a notícia da Neoplasia do Pulmão do seu Pai, que acabaria por falecer após 2 semanas numa altura crítica que atravessávamos. O seu pai

A Família e amigos por permanecerem sempre presentes. Considerando a mãe uma guerreira da vida, e sem dúvida que o seu gosto pelo trabalho herdou da mãe.

Não considera que os turnos sejam um fator de stress, mas com o passar dos anos as prioridades e a visão sobre a vida altera-se, dando mais valor à qualidade de vida, ao tempo que usufruí com os seus, pois a vida mostrou-lhe que a mesma passa num ápice e muitos momentos foram deixados para trás, tais como o natal, por estar a trabalhar em prol do próximo.

era um pilar basilar na sua vida, ela era a menina dos seus olhos, a menina do papa, foi um choque que a mesma refere nunca ter sentido, uma dor inexplicável que só quem passa por um processo de perda de um ente querido conseguirá entender. Ainda hoje refere não estar concluído o seu processo de luto, e provavelmente poderá nunca estar. Vive para os seus tentando manter um pensamento de aceitação e o sentimento de que o pai está presente na dimensão espiritual. Considera-se grata ao universo por ter um companheiro 5 estrelas, que no pior momento da sua vida, esteve presente, recusando seguir o caminho mais fácil de ir à sua vida, uma vez que a relação ainda seria de pouco tempo, conhecendo a sua pior versão.

O seu hobbie predilecto é viajar, conhecer diferentes lugares, pessoas, culturas. Ser confrontada com realidades imagináveis e perceber o quanto somos privilegiados. O ginásio gostaria que fosse um interesse, mas de difícil adaptação, como a mesma refere através de um sorriso. O desporto ao ar livre cativa o seu interesse como o ténis, gostando também de natação e patinagem.

Define-se como gulosa, adora chocolate, mas não abdica de um bom petisco acompanhado de um copo de vinho e boa companhia. Prato preferido pizza bolonhesa ou um belo arroz de pato, detesta favas, caracóis, só de os imaginar fica mal disposta.

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Algarve por ser a sua origem e onde sempre viveu. Adora o clima, talvez na reforma um monte no Alentejo com cavalos. Idealiza um panorama romântico ao sabor do vento alentejano.

Envolveu-se com o pré-hospitalar através da SIV Loulé e hoje não se revê noutro registo, ficou com o bichinho e adora o papel que desempenha enquanto Enfermeira do extra-Hospitalar.

A forma de gestão de emoções de situações complexas passa muito pela reflexão sobre a situação através dos pontos positivos e negativos, procurando perceber as limitações sentidas através dos debrienfings em equipa com os diversos meios envolventes, através da reflexão sobre as práticas, promovendo a sua correção e modificação para ações futuras.

Existe inúmeras partilhas, mas confessa que as situações que considera mais desafiantes são sem dúvida as áreas da Pediatria e Obstetrícia. Sente a necessidade de um maior investimento a nível formativo nesta área, por achar que não se mantém a mesma proficiência como no adulto, devido a uma estatística mais baixa nas ocorrências, provocando sempre

algum stress. Uma saída complicada foi: “Ativação da VMER, cerca da 00:59h para pedido de apoio dos Bombeiros. No local feminino de 30 anos em trabalho de parto. O CODU informa grávida de 35 semanas, já se encontrava no período expulsivo, realizado rendez-vouz com bombeiros, à chegada recém-nascido com cerca de 23 semanas de gestação encontrava-se sobre a barriga da puérpera em gasping,

Saúde, tendo sido assistida uma grávida que acabou por dar à luz uma criança na carruagem de metro em Almada onde, por coincidência ou não, a hora do nascimento coincide com a hora da chegada do Papa ao aeroporto de Lisboa. Tem graça, porque como se diz, graças a Deus correu tudo bem.

O futuro passa pela área da emergência e por investir na área da supervisão e formação, já que nos últimos anos têm investido como formadora nas diversas áreas da emergência. Preza o gosto pela partilha, pelo conhecimento, focando-se no desenvolvimento de uma prática reflexiva, proporcionando e potenciando o conhecimento , habilidades e competências dos profissionais, com o objetivo de aumentar a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde, crescendo também enquanto pessoa e profissional através da partilha entre pares e adquirir novos conhecimentos. A Saúde é um mundo sem ponto final para o saber.

cianosada, cordão umbilical não clampado, tendo sido realizada abordagem ao RN. Em virtude de não se saber o tempo de nascimento foi clampado o cordão em simultâneo com avaliação da frequência cardíaca e por apresentar FC inferior a 60 bpm iniciou-se reanimação ao RN, tendose conseguido realizar ROSC. Transporte realizado para a unidade de cuidados intensivos neonatal, e atualmente a criança apresenta dois anos de idade e está bem.

Outra situação dentro da mesma área, engraçada por ter sido de sucesso, foi a ativação da VMER 3 de apoio ao dispositivo às Jornadas Mundiais de

Um sonho… um dia ter a oportunidade de realizar uma missão humanitária…

EDITORA

69 Indice “UM PEDACINHO DE NÓS”
TERESA CASTRO Enfermeira VMER EDITORA ANA RODRIGUES Enfermeira VMER Heli INEM

Gratidão é uma palavra que o dicionário de língua portuguesa define como o reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício ou um auxílio, quando este reconhecimento é de uma criança ao qual apenas sabe o que a estrela da vida que envergamos ao peito é significado de ajudar e salvar vidas, torna este tesourinho uma experiência felizmente experienciada e também uma com imensa gratidão por este vosso autor.

Era uma noite de quinta-feira, em que saída após saída, a hora do jantar foi sendo empurrada. Verdade que o humor e a fome andam de mãos dadas, por isso quando uma criança de cerca de 8 anos (acompanhada pelo pai), se aproxima, pede se te pode dar um abraço e se oferece a pagar o jantar aos heróis dela, digamos que além de ter de segurar o espanto, teve de se segurar alguma secreção glandular oftálmica. Dizia que queria ser médica como nós e

que adorava a farda. E como rapidamente entrou, maravilhou e restaurou a fé e a força naquilo que mais amamos fazer, assim desapareceu da nossa vista, mas para sempre ficará nos nossos corações.

Obrigado…

70 Indice TESOURINHO VMER ista
EUROPEAN EMERGENCY MEDICINE CONGRESS | 16-22 de setembro de 2023 | Barcelona, Espanha I CONGRESSO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA DO ALTO TÂMEGA E BARROSO | 22 de setembro de 2023 | Forte de São Francisco Hotel Chaves, Chaves 8º CONGRESSO NACIONAL DA URGÊNCIA | 6 a 8 de outubro de 2023 | Chaves PEDRO OLIVEIRA
CODU EDITOR
Pedro Oliveira Silva1 1 Médico VMER
Congressos e Cursos
SILVA Médico VMER

FRASE MEMORÁVEL

Papa Francisco, (2.08.2023) , No seu primeiro discurso em Portugal no âmbito da Jornada Mundial da Juventude criticando as Leis sofisticadas da eutanásia.

In Diario de Noticias https://www.dn.pt/sociedade/jmj-papa-critica-em-lisboa-as-leis-sofisticadas-daeutanasia--16795075.html

FRASE MEMORÁVEL
"No mundo evoluído de hoje, paradoxalmente, tornou-se prioritário defender a vida humana, posta em risco por derivas utilitaristas que a usam e descartam".
PEDRO LOPES SILVA Enfermeiro VMER Heli INEM
EDITOR
Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica
ve
do Algar

ENCONTRO 2023 USA-PORTUGAL LEADERS IN CANCER RESEARCH - FUNDAÇÃO CHAMPALIMAUD

cadémico de I

No dia 20 de Julho de 2023 o ABC participou no Encontro "2023

USA-Portugal Leaders in Cancer Research", na Fundação

Champalimaud, em Lisboa. Os investigadores Prof. Pedro Castelo-Branco, Joana Apolónio e Bibiana Ferreira marcaram presença em

representação do ABC. Este encontro teve como principal objectivo fomentar o estabelecimento de parcerias entre líderes de investigação em cancro de instituições de referência no norte da América e investigadores nacionais, nomeadamente, foram discutidas

estratégias de captação de financiamento, oportunidades de colaboração, intercâmbios e formação nos EUA. O encontro culminou com a visita do grupo de cientistas portugueses e norte-americanos ao Palácio de Belém e discurso do Presidente da República.

73 Indice

INVESTIGADORA DO A B C OBTÉM PROJETO FINANCIADO PELA COMISSÃO EUROPEIA

O projeto “How to promote equity in health for LGBTQIA+ people?Finding the gaps and training primary care health professionals” , da investigadora do A B C e docente da Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da UAlg, Ana

Macedo, obteve financiamento pela Comissão Europeia como medidia que visa apoiar e dar reconhecimento a iniciativas de ciência cidadã na Europa. O projeto avalia os conhecimentos, práticas e perceção de discriminação

por parte dos profissionais de saúde que trabalham nos cuidados de saúde primários na região do Algarve, relativamente às disparidades na saúde das pessoas LGBTQIA+.

74 Indice

CENTRO DE COMPETÊNCIAS PARA O ENVELHECIMENTO ACTIVO COM PARCERIA DO A B C

Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algar ve

O Centro de Competências de Envelhecimento Activo (CCEA) é um centro protocolar, que tem como outorgantes o Instituto do Emprego e da Formação

Profissional, o Instituto da Segurança Social e instituições que integram a Rede Portuguesa de Envelhecimento Activo e Saudável, nomeadamente a Universidade da

Beira Interior e a Associação de Desenvolvimento do Centro de Investigação e Formação Biomédica do Algarve, AD-A B C. A cerimónia de inauguração do CCEA , cujo Presidente nomeado é o Dr. Nuno Marques, decorreu no dia 10 de Maio de 2023 em Loulé, com a presença da Dra. Ana Mendes Godinho - Ministra do

Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Destina-se este Centro a ministrar formação aos trabalhadores das entidades envolvidas na prestação de cuidados a idosos, aos cuidadores informais de idosos e às entidades que promovam a criação e o desenvolvimento de projetos nestas áreas.

75 Indice

PORQUÊ NOTIFICAR SUSPEITAS DE REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTO(S)?

A resposta nociva e não intencional a um medicamento quando utilizado numa dose normalmente usada para profilaxia, diagnóstico, tratamento ou modificação de uma função fisiológica é designada de reação adversa a medicamento(s) (RAM) ou efeito indesejável de medicamento(s)

Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algar ve

A notificação de suspeitas de RAM ao Sistema Nacional de Farmacovigilância (SNF) é de extrema importância por permitir a monitorização contínua e eficaz da segurança dos medicamentos aprovados no mercado. 1,2

Saiba mais sobre esta temática em:

1 - https://www.infarmed.pt/web/ infarmed/perguntas-frequentes-areatransversal/medicamentos_uso_ humano/farmacovigilancia

2 - World Health Organization. (2002). The importance of pharmacovigilance. World Health Organization. https:// apps.who.int/iris/handle/10665/42493

76 Indice

Notifique todas as suspeitas de RAM no

NOTIFICAR EFEITOS INDESEJÁVEIS TORNA OS MEDICAMENTOS MAIS SEGUROS

https://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram

Os medicamentos são seguros e eficazes

Dúvidas & Questões

Os profissionais de saúde e utentes poderão utilizar o e-mail ufalba@abcmedicalg pt para colocar questões, dúvidas ou curiosidades relacionadas com a segurança dos medicamentos

Notificar os efeitos indesejáveis Suspeita de um efeito indesejável?

O folheto indica os efeitos indesejáveis conhecidos

O Portal RAM permite a inserção da reação adversa suspeita de forma fácil, acessível e rápida, sem intermediação de terceiros

Em caso de dúvida, não hesite

NOTIFIQUE

Sabia que, cada vez que notificar um efeito indesejável está a contribuir para o aumento da segurança do medicamento?

77 Indice
Mas algumas pessoas podem sentir efeitos indesejáveis

DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO EM EMERGÊNCIA MÉDICA

DO ABC

O ABC disponibiliza cursos de formação para leigos e profissionais

de saúde. Se quer aumentar o seu conhecimento em primeiros socorros

e manobras de reanimação estes cursos são para si. Inscreva-se!

78 Indice
Centro
Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algar ve
Mourão C, Cartaxo V.
80 Indice
81 Indice

BEST SITES FOCUS GROUP ON "ARTIFICIAL INTELLIGENCE FOR HEALTH"

O Focus Group ITU-OMS sobre Inteligência Artificial para a Saúde (AI for Health) é uma colaboração interinstitucional entre a Organização Mundial da Saúde e a ITU (International Telecommunication Union), criada para avaliar a precisão

da IA na saúde. Reúne uma rede internacional de especialistas trabalhando neste âmbito em áreas como pesquisa, prática, regulamentação, ética, saúde pública, etc

INSTITUTE FOR ETHICS IN ARTIFICIAL INTELLIGENCE

O IEAI - Institute for Ethics in Artificial Intelligence foi criado com o objetivo de promover a discussão sobre a ética e o uso responsável da Inteligência Artificial (IA), garantindo um impacto positivo e sustentável da IA no mundo.

https://www.itu.int/en/ITU-T/focusgroups/ai4h/Pages/default.aspx https://www.ieai.sot.tum.de/

A sua principal prioridade é gerar diretrizes globais, igualitárias e interdisciplinares para o desenvolvimento ético e a implementação da IA

82 Indice
BRUNO SANTOS Médico VMER EDITOR

Estando esta edição centralizada na temática da Inteligência Artificial, trago-vos dois exemplos das inúmeras aplicações já desenvolvidas que utilizam esta ajuda virtual de forma a dar resposta a quase tudo.

Diferem nos programas de base e na forma como os dados são introduzidos, sendo o objectivo, comum a todas elas que exista uma comunicação o mais natural possível, como se estivéssemos a conversar com outro humano.

CHAT AI – ASK ANYTHING

Chat al é um chatbot que responde a qualquer tipo de questão. Usa a mais recente tecnologia de processamento de linguagem natural para ter conversas inteligentes e envolvente

https://play.google.com/store/apps/details?id=com.chat.gtp&hl=pt_ PT&gl=US

CHAT VOZ AI OPEN CHAT BOT

Com base no famoso Chat GPT, esta aplicação permite conversas vituais com o chat Bot obtendo dicas úteis sobre a vida, receitas ou demonstrar conhecimento de fatos históricos e científicos

https://play.google.com/store/apps/details?id=com.KalromSystems. VoiceChatGPT&hl=pt_PT&gl=US

83 Indice BEST APPS
BEST APPS
PEDRO LOPES SILVA Enfermeiro VMER Heli INEM EDITOR

SUGESTÕES DE LEITURA

Artificial intelligence algorithm to predict the need for critical care in prehospital emergency medical services

https://doi.org/10.1186/s13049-020-0713-4

Prehospital Cerebrovascular Accident Detection using

Artificial Intelligence Powered Mobile Devices

https://doi.org/10.1016/j.procs.2020.09.279

Simionescu, C., Insuratelu M., Herscovici, R., Prehospital Cerebrovascular Accident Detection using Artificial Intelligence Powered Mobile Devices, Procedia Computer Science, Volume 176, 2020, Pages 2773-2782, ISSN 1877-0509

85 Indice SUGESTÕES DE LEITURA
Kang, DY., Cho, KJ., Kwon, O. et al. Artificial intelligence algorithm to predict the need for critical care in prehospital emergency medical services. Scand J Trauma Resusc Emerg Med 28, 17 (2020).

Development of Prediction Models for Acute Myocardial Infarction at Prehospital Stage with Machine Learning Based on a Nationwide Database

Choi A, Kim MJ, Sung JM, Kim S, Lee J, Hyun H, Kim HC, Kim JH, Chang HJ; Connected Network for EMS Comprehensive Technical Support Using Artificial Intelligence Investigators. Development of Prediction Models for Acute Myocardial Infarction at Prehospital Stage with Machine Learning Based on a Nationwide Database. J Cardiovasc Dev Dis. 2022 Dec 2;9(12):430. doi: 10.3390/jcdd9120430. PMID: 36547427; PMCID: PMC9784963.

Prehospital stroke management and mobile stroke units

Fassbender K, Lesmeister M, Merzou F. Prehospital stroke management and mobile stroke units. Curr Opin Neurol. 2023 Apr 1;36(2):140-146. doi: 10.1097/ WCO.0000000000001150. Epub 2023 Feb 15. PMID: 36794965; PMCID: PMC9994848., doi: 10.1097/WCO.0000000000001150

86 Indice

Effect

of Machine Learning on Dispatcher Recognition of Out-ofHospital Cardiac Arrest During Calls to Emergency Medical Services: A Randomized Clinical Trial

https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2020.32320

87 Indice SUGESTÕES DE LEITURA
ANDRÉ ABÍLIO RODRIGUES Enfermeiro SIV/VMER EDITOR Blomberg, S. N., Christensen, H. C., Lippert, F., Ersbøll, A. K., Torp-Petersen, C., Sayre, M. R., Kudenchuk, P. J., & Folke, F. (2021). Effect of Machine Learning on Dispatcher Recognition of Out-of-Hospital Cardiac Arrest During Calls to Emergency Medical Services: A Randomized Clinical Trial. JAMA network open, 4(1), e2032320.

CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO – Novembro de 2021

1. Objectivo e âmbito

A Revista LIFESAVING (LF) é um órgão de publicação pertencente ao Centro Hospitalar

Universitário do Algarve (CHUA) e dedica-se à promoção da ciência médica pré-hospitalar, através de uma edição trimestral.

A LF adopta a definição de liberdade editorial descrita pela World Association of Medical Editors, que entrega ao editorchefe completa autoridade sobre o conteúdo editorial da revista. O CHUA, enquanto proprietário intelectual da LF, não interfere no processo de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, atribuindo ao editor-chefe total independência editorial.

A LF rege-se pelas normas de edição biomédica elaboradas pela International Commitee of Medical Journal Editors e do Comittee on Publication Ethics

2. Informação Geral

A LF não considera material que já foi publicado ou que se encontra a aguardar publicação em outras revistas.

As opiniões expressas e a exatidão científica dos artigos são da responsabilidade dos

respectivos autores.

A LF reserva-se o direito de publicar ou não os artigos submetidos, sem necessidade de justificação adicional.

A LF reserva-se o direito de escolher o local de publicação na revista, de acordo com o interesse da mesma, sem necessidade de justificação adicional.

A LF é uma revista gratuita, de livre acesso, disponível em https://issuu.com/lifesaving Não pode ser comercializada, sejam edições impressas ou virtuais, na parte ou no todo, sem autorização prévia do editor-chefe.

3. Direitos Editoriais

Os artigos aceites para publicação ficarão propriedade intelectual da LF, que passa a detentora dos direitos, não podendo ser reproduzidos, em parte ou no todo, sem autorização do editor-chefe.

4. Critérios de Publicação

4.1 Critérios de publicação nas rúbricas

A LF convida a comunidade científica à publicação de artigos originais em qualquer das

categorias em que se desdobra, de acordo com os seguintes critérios de publicação:

Nós Por Cá

- Âmbito: Dar a conhecer a realidade de actuação das várias equipas de acção pré-hospitalar através de revisões estatísticas da sua casuística. Dimensão: 250 palavras.

Tertúlia VMERISTA

- Âmbito: Pequenos artigos de opinião sobre um tema fraturante. Dimensão: 250 palavras.

Minuto VMER

- Âmbito: Sintetização para consulta rápida de procedimentos relevantes para a abordagem de doentes críticos. Dimensão: 1000 palavras

Fármaco Revisitado

- Âmbito: Revisão focada na aplicabilidade clínica de um fármaco usado em contexto de emergência pré-hospitalar;

- Estrutura: Título; Autoresmáximo 1(primeiro nome, último nome, título, afiliação); Introdução; Formas de Apresentação e Conservação; Posologia e Modo de Administração; Farmacocinética; Farmacodinâmica; Indicações

89 Indice
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

Terapêuticas; Contra-indicações; Efeitos Adversos e Interações medicamentosas; Take Home Messages; Referências

- Dimensão: até 1200 palavras (excluindo referências); até 10 referências

- Iconografia: deverá ser enviada uma imagem/fotografia associada ao tema da rubrica (em formato JPEG com resolução original)

Journal Club

- Âmbito: Apresentação de artigos científicos pertinentes relacionados com a área da urgência e emergência médica pré-hospitalar e hospitalar.

Dimensão: 500 palavras

Nós e os Outros

- Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre a actuação de equipas de emergência préhospitalar não médicas.

Dimensão: 1000 palavras

Ética e Deontologia

- Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre questões éticas desafiantes no ambiente pré-hospitalar. Dimensão: 1000 palavras

Legislação

- Âmbito: Enquadramento jurídico das diversas situações com que se deparam os profissionais de emergência médica. Dimensão: 500 palavras

O que fazer em caso de...

- Âmbito: Informação resumida mas de elevada qualidade para leigos em questões de emergência.

Dimensão: 500 palavras.

Mitos Urbanos

- Âmbito: Investigar, questionar e esclarecer questões pertinentes, dúvidas e controvérsias na prática diária da emergência médica. Dimensão: 1000 palavras.

Cuidar de Nós

- Âmbito: Diferentes temáticas, desde psicologia, emocional, metabólico, físico, laser, sempre a pensar no auto cuidado e bem estar do profissional. Dimensão: 500 palavras.

Pedacinho de Nós

- Âmbito: Dar a conhecer os profissionais das equipas de emergência pré-hospitalar.

Dimensão: 400 palavras.

Tesourinhos VMERISTAS

- Âmbito: Divulgação de situações caricatas, no sentido positivo e negativo, da nossa experiência enquanto VMERistas. Dimensão: 250 palavras

Congressos Nacionais e Internacionais

- Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica. Di-mensão: 250 palavras.

Best Links/ Best Apps de Emergência Pré-hospitalar

- Âmbito: Divulgação de aplicações e sítios na internet de emergência médica pré-hospitalar

-Dimensão: 250 palavras

Cartas ao Editor

- Objetivo: comentário/exposição referente a um artigo publicado nas últimas 4 edições da revista promovendo a discussão e visão

crítica. Poderão ainda ser enviados observações, casuísticas particularmente interessantes de temáticas atuais que os autores desejem apresentar aos leitores de forma concisa.

- Instruções para os autores:

1. O corpo do artigo não deve ser subdividido; sem necessidade de resumo ou palavras-chave.

2. Deve contemplar entre 500 a 1000 palavras, excluindo referências, tabelas e figuras.

3. Apenas será aceite 1 figura e/ou 1 tabela.

4. Não serão aceites mais de 5 referências bibliográficas. Devendo cumprir as normas instituídas para revista.

5. Número máximo de autores são 4.

Instantâneos em Emergência Médica

- Âmbito: Fotografias em contexto pré-hospitalar, contextualizadas nas diversas áreas da Emergência.

- Formato: Título; Autores –(primeiro nome, último nome, título, categoria profissionalopcional); imagem em formato JPEG com resolução original); Legenda explicativa com breve enquadramento ou breve comentário acerca do sentido da imagem para o Autor. – máx. 100 palavras.

É de a responsabilidade dos autores respeitar a POLITICA DE PRIVACIDADE, De acordo com o art. º13.º do Regulamento Europeu de Proteção de Dados Pessoais Reg. UE 201/679.

Os Autores são responsáveis por

90 Indice

respeitar e obter o consentimento de imagem, quando necessário ( n.º 1 do artigo 79.º do C.C).

Posters em Emergência Médica - Âmbito: Apresentação sumária de Póster científico original, sobre a temática da Emergência pré e intra-hospitalar, e do doente crítico. Dimensão: 800 a 1000 palavras. Limite de tabelas e imagens: 6

Intoxicações no pré-hospitalar - Âmbito: Revisão geral sobre determinada substância (tóxico), consequências de sobredosagem ou contacto/ consumo inadvertido ou intencional e qual a abordagem em contexto de Emergência Médica Pré-hospitalar.

Formato: Título; Autores; palavra (s)-chave; 1 ou 2 imagens (podendo incluir gráficos e/ou tabelas devidamente legendados); 500 a 1000 palavras; Agradecimentos; Referências bibliográficas

4.2 Critérios gerais de publicação

O trabalho a publicar deverá ter no máximo 120 referências. Deverá ter no máximo 6 tabelas/ figuras devidamente legendadas e referenciadas.

O trabalho a publicar deve ser acompanhado de no máximo 10 palavras-chave representativas. No que concerne a tabelas/ figuras já publicadas é necessário a autorização de publicação por parte do detentor do copyright (autor ou editor). Os

ficheiros deverão ser submetidos em alta resolução, 800 dpi mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias em formato JPEG (.Jpg), PDF (.pdf). As tabelas/figuras devem ser numeradas na ordem em que ocorrem no texto e enumeradas em numeração árabe e identificação. No que concerne a trabalhos científicos que usem bases de dados de doentes de instituições é necessário fazer acompanhar o material a publicar do consentimento da comissão de ética da respectiva instituição. As submissões deverão ser encaminhadas para o e-mail: revistalifesaving@gmail.com

5. Referências

Os autores são responsáveis pelo rigor das suas referências bibliográficas e pela sua correta citação no texto. Deverão ser sempre citadas as fontes originais publicadas. A citação deve ser registada empregando a Norma de Vancouver

91 Indice
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO

Estatuto Editorial

A Revista LIFESAVING é uma publicação científica e técnica, na área da emergência médica, difundida em formato digital, com periodicidade trimestral.

Trata-se de um projeto inovador empreendido pela Equipa de Médicos e Enfermeiros das Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) de Faro e de Albufeira, pertencentes ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve, e que resultou da intenção estratégica de complementar o Plano de formação contínua da Equipa. A designação “Lifesaving”, que identifica a publicação, é bem conhecida por todos os profissionais que trabalham na área da emergência médica, e literalmente traduz o desígnio da nobre missão que todos desempenham junto de quem precisa de socorro – “salvar vidas”.

Esta Publicação inovadora, compromete-se a abraçar um domínio editorial pouco explorado no nosso país, com conteúdos amplamente dirigidos a todos os profissionais que manifestam interesse na área da emergência médica. Através de um verdadeiro trabalho de Equipa dos vários Editores da LIFESAVING, e

aproveitando a sua larga experiência em Emergência Médica, foi estabelecido o compromisso de apresentar em cada número publicado, conteúdos e rubricas de elevada relevância cientifica e técnica no domínio da emergência médica. Por outro lado, este valioso instrumento de comunicação promoverá a partilha das ideias e conhecimentos, de forma completa, rigorosa e assertiva.

Proprietário: Centro Hospitalar Universitário do Algarve, E.P.E.

NIPC: 510 745 997

Morada: Rua Leão Penedo, 8000-386 Faro

N.º de registo na ERC: 127037

Diretor: Dr. Bruno Santos

Editor-Chefe: Dr. Bruno Santos

Morada: Rua Leão Penedo, 8000-386 Faro

Sede da redação: Rua Leão Penedo, 8000-386 Faro

Periodicidade: trimestral

TIPO DE CONTEÚDOS

Esta publicação periódica pretende ser uma compilação completa de uma seleção de matérias científicas e técnicas atualizadas, incluídas em grande diversidade de Rubricas, incluindo:

– “Nós Por Cá” – Âmbito: Dar a conhecer a realidade de atuação das várias equipas de ação pré-hospitalar através de revisões estatísticas da sua casuística. Poderá incluir também a descrição sumária de atividades, práticas ou procedimentos desenvolvidos localmente, na área da emergência médica – Dimensão: 500 palavras;

– “Tertúlia VMERISTA” – Âmbito: Pequenos artigos de opinião sobre um tema fraturante – Dimensão: 250 palavras;

– “Minuto VMER” – Âmbito: Sintetização para consulta rápida de procedimentos relevantes para a abordagem de doentes críticos, ou de aspetos práticos relacionados com Equipamentos utlizados no dia-à-dia.

Dimensão: 1000 palavras;

– “Fármaco Revisitado” – Âmbito: Revisão breve de um fármaco usado em emergência pré-hospitalar, ou que poderia ser uma mais valia a sua implementação na carga VMER.

– Dimensão: 500 palavras;

– “Journal Club” – Âmbito: Apresentação de artigos científicos pertinentes relacionados com a área da urgência e emergência médica pré-hospitalar e hospitalar.

-Dimensão: 500 palavras;

– “Nós e os Outros” – Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre a atuação de equipas de emergência préhospitalar não médicas. -Dimensão: 1000 palavras;

– “Ética e Deontologia” – Âmbito: Apresentação de artigos científicos ou artigos de opinião sobre questões éticas desafiantes no ambiente pré-hospitalar. -Dimensão: 500 palavras;

– “Legislação” – Âmbito: Enquadramento jurídico das diversas situações com que se deparam os profissionais de emergência médica.

– Dimensão: 500 palavras;

– “O que fazer em caso de…” –Âmbito: Informação resumida, mas de elevada qualidade, para leitores não ligados à área da saúde, ou da emergência médica -Dimensão: 500 palavras;

– “Mitos Urbanos” – Âmbito: Investigar, questionar e esclarecer questões pertinentes, dúvidas e controvérsias na prática diária da emergência médica. -Dimensão:

1000 palavras;

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– “Cuidar de Nós” – Âmbito: Discussão de diferentes temáticas, de caráter psicológico, emocional, metabólico, físico, recreativo, centradas no autocuidado e bem estar do profissional da emergência.

-Dimensão: 500 palavras;

– “Pedacinho de Nós” – Âmbito: Dar a conhecer, em modo de entrevista, os profissionais da Equipa das VMER de Faro e Albufeira ou outros

Elementos colaboradores editoriais da LIFESAVING. – Dimensão: 500 palavras;

– “Vozes da Emergência” – Âmbito: Apresentar as Equipas Nacionais que desenvolvem trabalho na Emergência Médica, dando relevância a especificidade locais e revelando diferentes realidades. – Dimensão 500 palavras;

– “Emergência Global” – Âmbito: publicação de artigos de autores internacionais, que poderão ser artigos científicos originais, artigos de opinião, casos clínicos ou entrevistas, pretendendo-se divulgar experiências enriquecedoras, além fronteiras;

– “Tesourinhos VMERISTAS” –Âmbito: Divulgação de situações caricatas, no sentido positivo e negativo, da experiência dos Profissionais da VMER. – Dimensão: 250 palavras;

– “Congressos Nacionais e Internacionais” – Âmbito: Divulgação de eventos na área da Emergência Médica – Dimensão: 250 palavras; palavras;

– “Best Links/ Best Apps de Emergência Pré-hospitalar” –Âmbito: Divulgação de aplicações e sítios na internet de emergência médica pré-hospitalar -Dimensão: 250 palavras

PREVISÃO DO NÚMERO DE PÁGINAS: 50;

TIRAGEM: – não aplicável para a publicação eletrónica, não impressa em papel.

ONDE PODERÁ SER CONSULTADA:

Pode ser consultada no site do CHUAlgarve, no setor “Comunicação”, no domínio http:// www.chualgarve.min-saude.pt/ lifesaving/, e adquirida gratuitamente por subscrição nesse mesmo site. Não dispomos ainda de um site oficial para organização dos nossos conteúdos, de modo que atualmente todas as Edições estão a ser arquivadas no Repositório Internacional ISSUU, onde poderão ser consultadas gratuitamente (https://issuu.com/lifesaving).

Marcamos presença ainda noutras plataformas de divulgação (Facebook, Instagram, Twiter e Youtube).

DIVULGAÇÃO DA LIFESAVING:

A LIFESAVING será difundida no site do Centro Hospitalar do Algarve (no setor média e imagem), e sua Intranet, com possibilidade da sua subscrição para receção trimestral via e-mail. Inserida on-line no repositório de publicações ISSUU, adquirindo um aspeto gráfico otimizado para tornar a leitura ainda mais agradável.

Será também difundida na página de Facebook da VMER de Faro, página própria com o nome LIFESAVING.

N.º 1 do art.º 17.º da Lei de Imprensa: Garanta de liberdade de imprensa:

1 - É garantida a liberdade de imprensa, nos termos da Constituição e da lei.

2 - A liberdade de imprensa abrange o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações.

3 - O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura

93 Indice
ESTATUTO EDITORIAL

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