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1
FICHA TÉCNICA
DIRETOR
EDITORES ASSOCIADOS
Bruno Santos
ILUSTRAÇÕES João Paiva
TEMAS EM REVISÃO
EDITOR-CHEFE
André Villarreal,
Daniel Nunez
Guilherme Henriques,
FOTOGRAFIA
João Nuno Oliveira,
Pedro Rodrigues Silva
Vasco Monteiro.
Maria Luísa Melão
COMISSÃO CIENTÍFICA Ana Rita Clara,
HOT TOPIC
Carlos Raposo,
Dénis Pizhin.
Cristina Granja,
AUDIOVISUAL 2
Eunice Capela,
RUBRICA PEDIÁTRICA
Gonçalo Castanho,
Cláudia Calado,
José A. Neutel,
Mónica Bota.
Miguel Jacob, CASO CLINICO ADULTO
Nuno Mourão,
Noélia Alfonso,
Rui Ferreira de Almeida,
Rui Osório.
Sérgio Menezes Pina, Stéfanie Pereira,
CASO CLINICO PEDIÁTRICO
Vera Santos.
Ana Raquel Ramalho, Marta Soares.
CASO CLINICO NEONATAL/TIP Nuno Ribeiro, Luísa Gaspar
Periodicidade: Trimestral Linguagem: Português Propriedade: CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO ALGARVE Morada da Sede: Rua Leão Penedo. 8000-386 Faro Telefone: 289 891 100 | NIPC 510 745 997
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DESIGN Luis Gonçalves
Miguel Varela,
2
Pedro Lopes Silva
PARCERIAS
EDITORIAL Caríssimos leitores, O projeto editorial LIFESAVING celebra 5 anos de existência, como publicação trimestral, em formato digital, sempre assídua e pontual, e cumprindo os desígnios de partilha e atualização de conhecimento na área da emergência médica. A aquisição do conhecimento científico, baseado na melhor evidência científica, é o motor principal para poder gerar elevados padrões de desempenho, que a missão da emergência médica exige continuamente. A LIFESAVING teve uma evolução notável nos últimos anos, crescendo enquanto publicação, beneficiando com a sua divulgação e alcance nacional, mas registando sobretudo uma notável elevação da sua qualidade enquanto publicação científica. Este sucesso resultou do empenho de uma vasta equipa de trabalho, que cresceu igualmente tanto em número como entusiasmo. Em Maio de 2019, na Edição nº 12 da LIFESAVING, estreou-se a Separata Científica, como fascículo permanente da revista, dedicado à publicação de artigos de carater iminentemente científico. Desde então, em cada edição publicada, foi apresentada uma compilação de artigos originais, de temáticas muito diversas, no âmbito da emergência médica, e submetidos à avaliação criteriosa da Comissão Científica (revisão de pares). O crescimento da Separata Científica nos últimos 2 anos conduziu necessariamente à decisão da sua individualização, como revista científica do grupo Editorial, tendo sido gerada uma nova denominação - LIFESAVING Scientific, fazendo jus ao seus desígnios. Na estreia desta nova publicação apresentamos uma série de artigos de elevado interesse: no âmbito médico e do trauma; do adulto e da criança; de revisão ou casos clínicos. Todos de leitura imperdível. Estamos certos de que a LIFESAVING Scientific constituirá uma forte aposta no incentivo à publicação científica na área da emergência médica, esperando-se assim que se torne um factor aglutinador do conhecimento, atraindo ainda mais Colaboradores para o Projeto e cada vez maior número de artigos submetidos, que elevem o padrão de qualidade da publicação e gerem mais citações futuras. É assim dado mais um passo importante no desenvolvimento do Projeto LIFESAVING, num caminho que temos feito com muito gosto e satisfação, e que nos deixa muito honrados. Pela Equipa Editorial, Bruno Santos Coordenador Médico das VMER de Faro e Albufeira Diretor do Projeto LIFESAVING
bsantos@chalgarve.min-saude.pt
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ÍNDICE 09
ARTIGO DE REVISÃO I
15
ARTIGO DE REVISÃO II
21
ARTIGO DE REVISÃO III
33
ARTIGO DE REVISÃO IV
41
RUBRICA PEDIÁTRICA
49
59
65
Análise comparativa das orientações da American Heart Association de 2020 e do European Resuscitation Council de 2021 para ressuscitação cardiopulmonar no adulto Análise comparativa entre a atualização das Guidelines da American Heart Association de 2020 para a reanimação cardiopulmonar neonatal e as Guidelines do European Resuscitation Council 2021 Bradiarritmias - Abordagem em Contexto Pré e Intra-Hospitalar Imobilização total da coluna em trauma: será que ainda faz sentido? Abordagem da Síndrome Inflamatória Multissistémica pediátrica associada à COVID-19 HOT TOPIC
Trauma – uma viagem do pré-hospitalar à abordagem no serviço de urgência CASO CLÍNICO ADULTO
O suporte é básico e salva vidas. Uma história de sucesso da cadeia de sobrevivência CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO
Abordagem a queimaduras na idade pediátrica: ABCDE+F
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5
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5a8 ago organização:
6
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Celebração do 5º Aniversário da LIFESAVING no Fórum FNAC de Faro: •
Exposição de pinturas e gravuras originais publicadas na Revista LIFESAVING
•
Apresentação à Comunidade dos algoritmos: ”O que fazer em caso de...”
•
Apresentação dos projetos LIFESAVING - Revista de Emergência Médica e LIFESAVING - SCIENTIFIC
apoio FNAC
Descarregue através do QR CODE os nossos Algorritmos
Algoritmos LIFESAVING “O que fazer em caso de...” A rubrica “O que fazer em caso de...” (emergência), é publicada trimestralmente, mantendo presença assídua desde a estreia da Revista LIFESAVING, a 5 de Agosto de 2016.
organização:
Os 22 trabalhos já publicados, sob a forma de algoritmos, pretendem transmitir conceitos simples de abordagem de múltplos cenários de emergência médica, numa linguagem e grafismo dirigidos à Comunidade.
apoio FNAC
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ARTIGO DE REVISÃO I
ARTIGO DE REVISÃO I
ANÁLISE COMPARATIVA DAS ORIENTAÇÕES DA AMERICAN HEART ASSOCIATION DE 2020 E DO EUROPEAN RESUSCITATION COUNCIL DE 2021 PARA RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR NO ADULTO. Vicente L1,2, Mourão C1,2,3, Candeias C1,2, Alcaria N1 Centro Hospitalar e Universitário do Algarve Faculdade de Medicina da Universidade do Algarve 3 Algarve Biomedical Center 1 2
refratários.
RESUMO
INTRODUÇÃO
Em 2020 a American Heart
A ressuscitação cardiopulmonar (RCP)
Association (AHA) e em 2021 a
é um campo em constante atualização
administração de medicação.
European Resuscitation Council (ERC)
que tem sofrido alterações nas últimas
Acesso IO é aceitável se via IV não
emitiram atualizações das
décadas.
disponível.
Orientações de ressuscitação
Neste sentido, em 2020 a American
cardiopulmonar (RCP). Ambas revêm
Heart Association (AHA) e em 2021 a
técnicas de ensino e questões de
European Resuscitation Council (ERC),
tratamento com base na investigação
duas das principais organizações
ser benéfico para a saúde mental
e no consenso da discussão no seio
mundiais, emitiram atualizações das
dos elementos envolvidos.
da International Liaison Committee on
respetivas Orientações.
Resuscitation (ILCOR). Neste artigo
De forma a manter o sentido prático do
recuperação materna, com
apresenta-se uma breve análise
âmbito deste artigo apresenta-se uma
preparação para cesariana de
comparativa destas Guidelines.
breve descrição das atualizações,
emergência.
Palavras-Chave: Guidelines, Orientações, Ressuscitação Cardiopulmonar, American Heart Association, European Resuscitation Council.
ABSTRACT In 2020 the American Heart Association (AHA) and in 2021 the European Resuscitation Council (ERC) published updates to their Cardiopulmonary Resuscitation (CPR) Guidelines. Both review teaching techniques and treatment issues based on research and consensus discussion within the
Cuidados pós PCR e neuroprognóstico.
•
•
Debriefing pós ressuscitação pode
A PCR na gravidez é focada na
divergências e situações especificas
ERC ATUALIZAÇÕES
de cada uma destas Guidelines.
•
Mantêm-se a evidência crescente que os doentes, em contexto intra
AHA ATUALIZAÇÕES
e extra-hospitalar, apresentam
•
Importância do SBV por
sinais premonitórios de entrada
socorristas leigos.
em PCR, permitindo intervenção
Reafirmada administração
precoce e desfecho negativo em
precoce da adrenalina.
grande parte.
• • •
Resuscitation (ILCOR). This article
Uso de dispositivos de feedback
•
•
Mantem-se prioritárias as
visual na melhoria da RCP.
compressões de elevada
Monitorização continua da Tensão
qualidade com intervalo mínimo
Arterial e ETCO2 (End-tidal CO2)
de interrupção e a desfibrilhação
durante o Suporte Avançado de
precoce.
Vida (SAV) pode melhorar a
presents a brief comparative analysis of
Keywords: Cardiopulmonary Resuscitation Guidelines, American Heart Association, European Resuscitation Council.
•
Acesso IV é a via preferencial de
pontos confluentes, principais
International Liaison Committee on
these Guidelines.
•
•
Durante a PCR iniciar com via
qualidade de RCP.
aérea básica e progredir de acordo
Recomendação contra a utilização
com capacidade do técnico. De
de dupla desfibrilhação sequencial
acordo com o consenso de
em ritmos desfibrilháveis
especialistas, uma alta taxa de
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ARTIGO DE REVISÃO I
sucesso corresponde a mais de 95% de sucesso após duas •
◊
monitorizar qualidade de RCP;
Uso de acesso intravenoso (IV)
◊
detetar recuperação de
tentativas.
como via preferencial. Acesso
O uso de adrenalina deve ser o
intraósseo (IO) é opção apenas na
mais precoce possível em ritmos
impossibilidade de acesso IV.
nomeadamente na
É comum a recomendação da
impossibilidade de atingir
choque em ritmos desfibrilháveis.
adrenalina como vasopressor de
valores de ETCO2 > 10 mmHg.
Reconhece-se, como cada vez
eleição.
não desfibrilháveis e após o 3º •
•
ritmos desfibrilháveis refratários
mais relevante, o papel da
•
◊
•
prognóstico durante RCP,
Contudo os valores de ETCO2
Ambas preconizam o uso de
dependem de vários fatores, pelo
ecografia point of care (POCUS) no
antiarrítmicos, amiodarona ou em
que a avaliação da sua variação
diagnóstico peri-paragem.
alternativa lidocaína, após o 3º e
poderá ser mais apropriada que o
Contudo, enfatiza-se a
5º choques.
uso de valores absolutos.
dependência da qualificação dos
•
circulação espontânea (RCE);
•
Uso de medicação trombolítica
•
Apesar do seu contributo, não é
operadores e prioridade de
não é recomendada por rotina,
recomendada a utilização de
minimizar as interrupções durante
exceto na evidencia ou forte
ETCO2 para a decisão de
as manobras de RCP.
suspeita de Tromboembolismo
suspender manobras de RCP.
Pulmonar (TEP). Nesse caso PONTOS CONFLUENTES
deveram ser mantidas manobras
DIVERGÊNCIAS
•
Ambas as Orientações apontam a
de RCP durante, pelo menos, 60 a
Na construção do algoritmo de SAV
importância do início precoce de
90 min.
chama a atenção o uso da adrenalina.
Mantem-se a recomendação de
Em ritmos não desfibrilháveis ambas
A relevância da Desfibrilhação
evitar a administração de grandes
recomendam a sua utilização precoce,
precoce. Está preconizado avaliar
volumes de fluidos, na ausência
logo que possível.
ritmo logo que doente
de hipovolémia, durante manobras
Contudo, a AHA preconiza a
monitorizado, sem aguardar pelo
de RCP.
administração precoce inclusive em
Uso da capnografia durante a RCP
ritmos desfibrilháveis – FV / TV. Esta
Concordância na recomendação
é recomendada, pois permite:
deverá ocorrer após o 2º choque, ao
contra a utilização de dupla
◊
confirmar correta colocação
contrário da recomendação após 3
de Tubo Orotraqueal (TOT);
choques aconselhada pelo ERC.
SBV. •
final do ciclo de 2 min. •
desfibrilhação sequencial em
•
•
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ARTIGO DE REVISÃO I
Mantêm recomendação de 3
BIBLIOGRAFIA
Utilização de POCUS como
choques simultâneos, com rápida
1.
ferramenta de diagnóstico e
avaliação de ritmo e sinais de
1: executive summary: 2020 American Heart
prognóstico. Útil no identificação
ROSC, em caso de FV/FT
Association Guidelines for Cardiopulmonary
de causas de PCR tratáveis (ex.
presenciada em doente
Resuscitation and Emergency Cardiovascular
TEP, tamponamento cardíaco ou
monitorizado e com acesso
Care. Circulation. 2020;142(suppl 2):In press.
pneumotórax). Contudo, devido a
imediato a desfibrilhador (ERC).
SITUAÇÕES ESPECIFICAS •
diversas limitações,
•
•
2.
Resuscitation. 2020 International Consensus on
nomeadamente a dependência do
compressões, é razoável adiar
Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency
operador, nenhum achado
tentativa de ventilação invasiva
Cardiovascular Care Science With Treatment
ecográfico possui sensibilidade
até ROSC, exceto se ventilação
Recommendations. Circulation. 2020;142(suppl
suficiente para, isoladamente,
não eficaz. (ERC).
1):In press. 3.
manobras de RCP (ERC).
•
International Liaison Committee on
De modo a evitar interrupção das
servir de critério para suspender •
Merchant RM, Topjian AA, Panchal AR, et al. Part
International Liaison Committee on Resuscitation. 2020 International Consensus on
Uso de mecanismos de
CONCLUSÃO
Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency
compressão mecânica devem ser
De um modo geral não existem
Cardiovascular Care Science with Treatment
utilizados sempre que a realização
grandes pontos fraturantes entre as
Recommendations. Resuscitation. 2020:In press.
de compressões manuais de boa
duas Orientações. Estas são no seu
qualidade não seja possível ou
essencial sobreponíveis, com
Resuscitation Council Guidelines 2021: Adult
confere risco à equipa de
diferenças pontuais. Diferem
advanced life support. Resuscitation. 2021
reanimação. O seu uso deverá ser
essencialmente na abordagem
Apr;161:115-151.Epub 2021 Mar 24. PMID:
considerado no transporte
organizacional da equipa a uma
33773825.
(terrestre ou aéreo) até ao
situação comum que é a PCR.
hospital, durante coronariografia
Existe um consenso geral nas duas
percutânea, como ponte para RCP
Orientações relativamente aos
extracorpórea ou na realização de
principais pontos da abordagem à
exames diagnósticos de imagem.
PCR. A principal divergência centra-se
Uso de RCP extracorpórea (RCPe)
no timing de administração de
como terapia de resgaste em
adrenalina em doente com ritmo
pacientes selecionados. Apesar
desfibrilhável. As recomendações
da ausência de consenso
apresentadas em ambas as
universal na sua indicação, por
Orientações são, na sua maioria,
norma consideram-se as
baseadas em baixo grau de evidência,
seguintes:
apenas cerca de 1% apresentam nível
◊
PCR presenciada;
A de evidência. Tal demonstra o
◊
Menos de 60 min desde o
desafio da realização de pesquisa cada
início de PCR até à
vez mais robusta na área da
implementação de RCPe;
ressuscitação
◊
Pacientes com idade inferior a
4.
Soar J, Böttiger BW, Carli P, et al. European
EDITOR
JOÃO OLIVEIRA Médico VMER
REVISÃO
70 anos e sem comorbilidades que possam impedir o regresso à vida totalmente autónoma; ◊
Causa de PCR, conhecida ou
COMISSÃO CIENTÍFICA
suspeita, tratável (ERC).
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ARTIGO DE REVISÃO II
ARTIGO DE REVISÃO II
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A ATUALIZAÇÃO DAS GUIDELINES DA AMERICAN HEART ASSOCIATION DE 2020 PARA A REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR NEONATAL E AS GUIDELINES DA EUROPEAN RESUSCITATION COUNCIL 2021 Bota M1,3, Madeira M1,2, Marcelino R1,2 Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, Faro Serviço de Medicina Intensiva Pediátrica e Neonatal 3 Consulta Externa de Pediatria - Centro de Desenvolvimento Pediátrico 1 2
RESUMO
(AHA) 2020 guidelines, are based on
Encontrando relevância nas
A European Resuscitation Council
the International Liasion Committee
atualizações destas guidelines,
(ERC) emitiu, em Março de 2021,
on Resuscitation (ILCOR) 2020
pretende-se aprofundar as
novas e atualizadas guidelines de
Consensus on Science and
perspetivas que cada uma utilizou na
suporte à vida do recém-nascido (RN)
Treatment Recommendations for
conceção destas publicações,
que à semelhança das guidelines da
Neonatal Life Support.
nomeadamente na área da
American Heart Association (AHA)
The aim of this article is to establish
reanimação neonatal.
2020, são baseadas na Internacional
a comparative analysis between the
Liasion Commitee on Resuscitation
neonatal cardiopulmonary
ATUALIZAÇÕES
(ILCOR) 2020 Consensus on Science e
resuscitation guidelines updates,
1. Considerações prévias ao
na Treatment Recommendations for
with special emphasis on the
nascimento.
Neonatal Life Support.
differentiating elements between
A reanimação cardiopulmonar
Pretende-se com o presente artigo
them
neonatal requer treino, preparação e
estabelecer uma análise comparativa entre as atualizações das guidelines da reanimação cardiopulmonar
Keywords: Neonatal Cardiopulmonary Resuscitation; Newborn life support; Guidelines for 2020; American Heart Association; European Resuscitation Council; 2021 Guidelines
neonatal, com especial destaque para os elementos diferenciativos entre ambas. Palavras-Chave: Reanimação Cardiopulmonar neonatal; Suporte à vida do recém-nascido; Guidelines 2020; American Heart Association; European Resuscitation Council; Guidelines 2021
trabalho em equipa. Estima-se que aproximadamente 10% dos RN requerem assistência respiratória após o nascimento e como tal,
INTRODUÇÃO O ILCOR formado em 1992, tem o compromisso de publicar, baseado em evidência científica, recomendações e consensos na área da reanimação. Na realidade do
ABSTRACT
Sistema Nacional de Saúde
In March 2021, the European
português, Portugal segue as
Resuscitation Council (ERC) issued
recomendações europeias,
new and updated newborn life
nomeadamente do ERC, em Portugal
support guidelines which, similarly to
representado pelo CPR. As mesmas
the American Heart Association
orientações emanadas pelo INEM.
quando a necessidade de reanimação não é antecipada qualquer atraso na assistência ao recém-nascido que não respira pode aumentar o risco de morte. Tanto a AHA como a ERC, defendem o briefing pré-parto, assim como a verificação de uma check-list que permita a adequada preparação da equipa, garantindo o bom funcionamento do equipamento que possa ser utilizado. No que respeita a AHA, é
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recomendado que todo o nascimento
competência em providenciar
ambiente (da sala de partos) entre
deva ser assistido e suportado por
ventilação por máscara e
23-25ºC e superior a 25ºC para RN
pelo menos uma pessoa cuja
compressões torácicas ao RN. Faz
com idade gestacional inferior ou
responsabilidade primária é o RN e
ainda referência à inevitabilidade da
igual a 28 semanas; secagem
que tenha competências para iniciar
existência de algumas limitações,
imediata após o nascimento com
a reanimação cardiopulmonar com a
dado a distância entre o domicílio e o
cobertura das extremidades (cabeça
ventilação por pressão positiva. Na
hospital mais próximo, por isso
e pés) e envolvimento dos RN numa
publicação da ERC, é preconizada a
recomenda que estas informações
manta aquecida; incubadoras com
presença de profissionais
sejam fornecidas à mãe no momento
colchão térmico; radiador; gases
experientes, através da existência de
do planeamento do parto.
respiratórios aquecidos e
um protocolo que permita a
humidificados no caso de o RN
mobilização rápida de uma equipa
2. Controlo da temperatura corporal
necessitar de suporte ventilatório.
com competência e habilidade em
do recém-nascido
À semelhança das atualizações
reanimação neonatal. Deste modo,
Ambas as guidelines preconizam a
efetuadas nas guidelines da AHA, que
ambas entidades promovem uma
monitorização e o controlo da
recomendam a colocação dos RN
transição segura do recém-nascido
temperatura corporal com o objetivo
saudáveis, que não requeiram
do útero para o ambiente
da sua manutenção entre 36,5ºC16
reanimação, em contacto pele-a-pele
extra-uterino.
37,5ºC e deste modo evitar a
após o nascimento, a ERC também
O uso da estratificação do risco foi
hipotermia (Tº < 36ºC) e a hipertermia
faz referência à mesma embora não
outro aspeto com importante
(Tº > 38ºC). A oscilação da
com tanto enfâse, fazendo apenas
evidência nas guidelines da AHA. Nos
temperatura corporal, nomeadamente
uma curta referência a esta
casos em que a gestação e o
a hipotermia, está associada a sérias
estratégia como sendo eficaz em
trabalho de parto identifiquem RN
morbilidades tais como: hemorragia
manter a estabilidade térmica e na
com elevada probabilidade de
intraventricular; necessidade de
possível melhoria da vinculação
necessitar de reanimação, deve estar
suporte respiratório; hipoglicémia; e
materna e das taxas de
presente uma equipa devidamente
sépsis tardia. Para além do que já foi
amamentação. Realça ainda que
qualificada. Por seu lado, a ERC,
mencionado, por cada diminuição de
caso seja necessário suporte na
identificou um conjunto de fatores de
1ºC relativamente à temperatura de
transição ou mesmo reanimação, o
risco, como responsáveis pelo
admissão, abaixo do intervalo
RN deve ser colocado em superfície
aumento da possibilidade do RN
recomendado, verifica-se um aumento
aquecida utilizando radiador.
precisar de manobras de
da baseline mortality de 28%.
estabilização/reanimação. Após a
Assim sendo, existe um grande
3. Via aérea
análise verifica-se a existência da
enfoque em ambas as guidelines,
No que se refere à limpeza da via
preocupação em ambas as
para a prevenção da hipotermia
aérea, é consensual em ambas as
atualizações na necessidade de
assim como para todo um conjunto
guidelines que RN não vigorosos
identificar ou categorizar o risco do
de intervenções ativas que podem
(hipotónicos) apneicos ou com padrão
parto, de forma precoce, tendo em
ser aplicadas com vista a evitar a
respiratório ineficaz que nasçam
conta os dados conhecidos da
perda de calor corporal por parte do
impregnados em mecónio, a
situação da grávida/feto.
RN e, deste modo, auxiliando-o no
realização imediata de laringoscopia
Os partos no domicílio são
seu aquecimento e na sua posterior
direta de rotina com ou sem aspiração
considerados apenas nas guidelines
manutenção da temperatura
após o parto não deve ser realizada e
da ERC (2021). A mesma defende
corporal. De entre as intervenções
deve-se priorizar a iniciação da
que idealmente deverão estar
referidas nas guidelines da ERC, dá-se
ventilação no primeiro minuto de vida.
presentes dois profissionais, em que
especial destaque às seguintes:
A ERC refere que a aspiração por
pelo menos um destes deverá ter
manutenção da temperatura
rotina da via aérea de recém-nascidos
16
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ARTIGO DE REVISÃO II
não vigorosos é provável atrasar a
necessidade de administração de
entidades nas respetivas
expansão e a ventilação pulmonar
terapêutica vasopressora, defende
atualizações das guidelines. A ERC
pelo que não é recomendada. Assim
a ERC, sugerindo a via umbilical
destaca ao longo das suas
sendo, na ausência de evidência de
como predileta na atuação ao
recomendações, a importância
benefício para aspiração, o foco deve
neonato, destacando ainda a
destas serem interpretadas à luz
ser em iniciar ventilação o mais
possibilidade de considerar esta
dos resultados (com evidência)
precocemente possível. Se
via no RN com dias de vida.
nacionais/regionais onde estes
eventualmente as tentativas iniciais
Não muito diferentes são as
estão a ser tidos em conta.
de expansão e ventilação não forem
recomendações da AHA, que
Se a frequência cardíaca se mantém
bem-sucedidas, então a obstrução
defendem que o RN que necessite
indetetável e todos os passos da
física pode ser a causa e, neste caso,
de reanimação ao nascimento, o
reanimação tiverem sido
a inspeção e aspiração sob
acesso vascular recomendado é o
adequadamente seguidos de forma
visualização direta da via aérea pode
umbilical para a eventual
eficaz, será razoável redirecionar os
ser considerada. Esta entidade (ERC)
administração de adrenalina e/ou
objetivos dos cuidados ao RN. A
destaca ainda que em recém-nascidos
expansores de volume, nos casos
decisão de descontinuar a
com compromisso respiratório devido
em que os RN não respondam à
reanimação deverá ser sempre
a aspiração de mecónio, a
ventilação por pressão positiva
considerada de forma
administração de surfactante e a
(VPP) e às compressões.
individualizada, no entanto, sugere-
lavagem brônquica com soro
Em ambas as atualizações das
se que a decisão de descontinuar a
fisiológico não é recomendada.
guidelines, caso não seja possível
reanimação deverá será
No que concerne à ventilação, a ERC
obter um acesso venoso, pode
considerada após 20 minutos de
destaca o uso de máscara laríngea
considerar-se a via intraóssea (IO),
manobras devendo a mesma ser
quando as ventilações com máscara
no entanto, existem relatos de
sempre discutida em conjunto com
facial/intubação traqueal são
casos com complicações na
a equipa e a família. Estas diretrizes
ineficazes ou inviáveis. Esta pode ser
localização da agulha IO. Algumas
são homogéneas em ambas as
considerada uma via alternativa para
das consequências desfavoráveis
guidelines.
a estabilização da via aérea nos RN
incluem as fraturas da tíbia,
Nas guidelines de 2020, a AHA
com idade gestacional >34 semanas
osteomielites, extravasamento de
demonstra ser consensual entre
de gestação (cerca de 2000g apesar
fluidos e medicamentos
peritos em Neonatologia e
de algumas terem sido utilizadas com
resultando numa síndrome
comissões de ética, que o apoio ao
sucesso em RN abaixo das 1500g).
compartimental e/ou amputação.
bebé e família continua deve
No entanto, a utilização da mesma
Num estudo de análise
continuar a ser providenciado pela
não foi avaliada em situações de
retrospetiva de 61/70 RN
equipa, mesmo após a decisão de
líquido meconial, durante as
pré-termo que tiveram acessos
descontinuar (ou não iniciar)
compressões torácicas ou para a
venosos periféricos durante a
esforços e atitudes para o suporte
administração de medicação
reanimação demonstraram que
de vida. Por outro lado, nas
endotraqueal de emergência.
esta via é viável e bem-sucedida
guidelines da ERC, fazem menção à
na maioria dos casos numa
importância de uma abordagem
primeira tentativa.
paliativa apropriada quando é
4. Acesso Vascular Perante um RN que necessite de
tomada a decisão de suspender os
manobras de reanimação, a via
5.Término da Reanimação
cuidados de reanimação ao RN.
endovenosa periférica não será a
A manutenção ou término de
melhor opção perante a
manobras de reanimação foi um
6. Desempenho humano e do sistema
aspeto tido em conta em ambas as
A pesquisa sobre os métodos educacionais em reanimação
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18
Tabela 1. Comparação entre as guidelines da AHA e ERC
neonatal está a evoluir, mas devido à
os partos podem ocorrer devam ter
sustentar a retenção dos
heterogeneidade do estudo, ainda há
programas educacionais
conhecimentos e das habilidades
pouca evidência sobre o efeito que
estruturados com ensino dos
necessárias para garantir a sua
diferentes modalidades de treino têm
conhecimentos e das habilidades
aplicação de forma eficaz e eficiente.
sob os resultados/desfecho clínico.
necessárias para a reanimação do
A ERC refere que o treino intermitente
No entanto,há semelhança entre
RN e que garantam que o treino
e pouco frequente sem atualização
ambas as guidelines, defendendo que
individual ou em equipa seja
leva à deterioração de habilidades/
as instituições ou áreas clínicas onde
suficientemente frequente para
capacidades de reanimação neonatal
18
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ARTIGO DE REVISÃO II
enquanto o treino frequente baseado
BIBLIOGRAFIA
na simulação no local tem
1.
Madar, J., Roehr, C., Ainsworth, S. Ersdal, H.,
demonstrado melhorar a
Morley, C., Rudiger, M.,Skare, C., Szczapa, T., Pas
sobrevivência dos RN. Referem ainda
A., Trevisauto, D., Urlesberger, B., Wilkinson, D.,
que, idealmente, o treino deve ser
Wyllie, J. (2021) European Resuscitation Council
repetido mais frequentemente do que
Guidelines 2021: Newborn resuscitation and
uma vez por ano, embora o intervalo
support of transition of infants at birth. Disponível
ideal ainda não tenha sido
em ERC Guidelines (cprguidelines.eu)
estabelecido. Em contraste, a AHA
2.
Aziz K, Lee HC, Escobendo MB, et al. Part 5:
refere que o treino de reforço
Neonatal Resuscitation: 2020 American Heart
individual ou de equipa deve ocorrer
Association Guidelines for Cardiopulmonary
mais frequentemente do que a cada
Resuscitation and Emergency Cardiovascular
dois anos.
Care. Circulation. 2020;142 (suppl 2), S524-S550.
A ERC recomenda que os programas
https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/
de treino devem incluir: prática
CIR.0000000000000902
regular; treino de equipa e de
3.
Wickoff MH, Weiner GM, et al Neontal Life support
liderança; abordagens multimodais;
2020 International Consensus on
treino baseado em simulação;
Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency
debriefing focados na performance/
Cardiovascular Care Science With Treatment
desempenho (debriefing sobre o
Recommendations. Pediatrics. www.
desempenho individual e em equipa
aappublications.org/news
em reanimação é recomendado após cada paragem cardiorrespiratória)
EDITOR
GUILHERME HENRIQUES Médico VMER/CODU e Heli INEM
REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
19
20
20
Indice
ARTIGO DE REVISÃO III
ARTIGO DE REVISÃO III
BRADIARRITMIAS Abordagem em Contexto Pré e Intra-Hospitalar BRADIARRHYTHMIAS Approach in Pre and Intra-Hospital Context Hugo Costa1, Pedro Azevedo1, Daniela Carvalho1, Rui Candeias1, Ilídio de Jesus1 1
Serviço de Cardiologia – Centro Hospitalar e Universitário do Algarve
RESUMO
avaliação e rápida abordagem em
signs of severity on the
As bradiarritmias são eventos
ambiente pré-hospitalar ou hospitalar
electrocardiogram. Pharmacological
arrítmicos frequentes em contexto
possibilita a estabilização do doente e
therapy and transcutaneous pacing
urgente e emergente. A sua frequência
posterior encaminhamento para
are intermediate measures/attitudes
aumenta com a idade devido à
estudo dirigido.
of hemodynamic support as a bridge
evolução degenerativa do sistema de condução cardíaco, embora também
Palavras-Chave: Bradiarritmias, Doença sinoauricular, Bloqueio auriculoventricular, Causas reversíveis, Pacing.
possam ser encontradas em idades
for specialized interventions. A correct evaluation and a rapid approach, both in pre-hospital or hospital context, are
jovens e atletas treinados. A doença
ABSTRACT
crucial for patient stabilization and
sinoauricular e os bloqueios
Bradyarrhythmias are frequent
allows the subsequent referral to an
auriculoventriculares são os
arrhythmic events in urgent and
etiological study.
mecanismos fisiopatológicos mais
emerging context. Considered
comuns no que diz respeito aos
physiological in athletes and young
distúrbios da condução. Uma correta
adults, their frequency increases with
investigação é essencial na
age due to the degenerative evolution
INTRODUÇÃO
identificação etiológica (intrínseca ou
of the cardiac conduction system.
As alterações no impulso e
extrínseca ao tecido cardíaco) bem
Sinoauricular disease and
propagação do estímulo eléctrico e
como na forma de instalação e no
auriculoventricular blocks are the
consequente diminuição da
caráter de reversibilidade. As causas
most common pathophysiological
frequência cardíaca (FC) podem ser
reversíveis devem ser prontamente
mechanisms with regard to
observadas como parte do processo
corrigidas e são essenciais na
conduction disorders. Proper
de envelhecimento e/ou de
estabilização do doente. Na presença
investigation is essential in the
progressão de doença, sendo por
de bradicardia, a apresentação clínica
etiological identification (intrinsic or
isso mais comumente identificadas
deve guiar a abordagem inicial, assim
extrinsic to cardiac tissue) as well as
nos indivíduos mais idosos. As
como a existência de sinais de
in the form of installation and
alterações a nível do nódulo sinusal
gravidade no electrocardiograma. A
reversibility. Reversible causes should
(NS), feixes internodais, nódulo
terapêutica farmacológica e o pacing
be promptly corrected and are
auriculoventricular (NAV) e restante
transcutâneo são medidas/atitudes
essential in patient stabilization. In the
tecido de condução podem resultar
intermédias de suporte hemodinâmico
presence of bradycardia, clinical
em bradicardia, dessincronia
como ponte para intervenções
presentation should guide the initial
auriculoventricular (AV) ou anomalias
especializadas. Assim, uma correta
approach, as well as the existence of
na despolarização ventricular1.
Keywords: Bradyarrhythmias, Sinoauricular disease, Auriculoventricular block, Reversible causes, Pacing.
Indice
21
Bradicardia define-se como uma FC <
ser obtida através do número de
hiperpolarização dos cardiomiócitos
60 batimentos/minuto (bpm) em
implantações efetuadas. Na Europa,
auriculares adjacentes. O aumento do
adultos, embora alguns autores
em 2011, foram implantados em
colagénio neste tecido inerente à
utilizem o cutoff < 50bpm, por ser
média 938 dispositivos por milhão
idade, e o consequente aumento de
este o valor frequentemente utilizado
de habitantes .
fibrose são a causa mais frequente do
4-6
nas populações em estudo e por ser
desenvolvimento de disfunção –
mais associado ao desenvolvimento
A prevalência de BAV do 1o grau em
evolução degenerativa1,3.
de sintomas1,2.
idosos saudáveis pode atingir os 3-4%,
Embora os potenciais componentes
Chamam-se bradiarritmias as
enquanto o BAV do 2o grau Mobitz I
da DSA (anteriormente designada de
perturbações do ritmo cardíaco que
foi identificado em 2,2% de indivíduos
doença do nódulo sinusal) sejam uma
se acompanham de diminuição da FC
assintomáticos através da
FC < 50bpm e /ou pausa > 3s, a
e que resultam quer da diminuição na
monitorização por holter de 24h. A
entidade é considerada um espetro de
geração do estímulo eléctrico, quer da
prevalência de BAV completo (BAVC)
distúrbios que devem ser
perturbação da sua condução pelo
na população geral é baixa, com
considerados para o diagnóstico,
tecido de condução especializado .
estudos prospetivos de larga escala a
englobando não só a bradicardia e
Assim, neste texto de revisão,
demonstrarem uma prevalência de
pausas sinusais, mas também os
bradicardia e bradiarritmia serão
aproximadamente 22 0,04% .
bloqueios sinoauriculares (BSA),
3
4,7
utilizadas como sinónimos, adotando para esse fim uma FC < 50bpm.
incompetência cronotrópica, a Classificação
fibrilhação auricular (FA), flutter
As bradiarritmias podem ser
auricular ou taquicardia auricular na
Epidemiologia
classificadas segundo a sua etiologia,
maioria das vezes apresentando-se
As bradiarritmias são disritmias
a forma de instalação e ainda pelo seu
como síndrome bradicardia-
frequentes e por vezes consideradas
mecanismo fisiopatológico .
taquicardia (S-Bradi-Taqui)1,3,5.
6
fisiológicas, como alguns casos de
Os BSA são difíceis de diagnosticar
bradicardia sinusal em adultos
Classificação fisiopatológica
num ECG de 12 derivações, pois
jovens ou atletas treinados ou casos
Segundo o mecanismo
apesar de uma geração normal do
de bloqueio auriculoventricular (BAV)
fisiopatológico, as bradiarritmias
impulso elétrico no NS, a sua
do 2o grau Mobitz I durante o sono. A
compreendem a DSA e os distúrbios
condução para o tecido auricular
sua prevalência aumenta com a
de condução AV.
circundante está comprometida, não
idade, e está normalmente associada
se observando habitualmente ondas P
à doença sinoauricular (DSA) e aos
Disfunção sinoauricular
no ECG. Classificam-se em BSA do 1o
distúrbios de condução AV .
A DSA pode resultar de várias
grau, 2o grau tipo I e tipo II e 3 o grau.
A incidência de implantação de
condições que causam diminuição da
Destaca-se o BSA do 2o grau tipo II
pacemaker (PM) na DSA parece
automaticidade e/ou da propagação
por ser o mais facilmente reconhecido
espelhar a necessidade de pacing
do estimulo gerado no NS, miocárdio
no ECG, em que existe um intervalo
nos distúrbios de condução AV.
perinodal ou tecido auricular
sem ondas P que equivale ao dobro
Embora a prevalência das
envolvente. As células PM do NS
ou valor múltiplo do intervalo PP
bradiarritmias com necessidade de
estão envolvidas por tecido conjuntivo
anterior, sem encurtamento
pacing não seja totalmente
que as isolam eletricamente dos
progressivo deste intervalo
conhecida, uma aproximação pode
efeitos supressivos da
previamente (Figura 1)3,8.
2,4
22
Indice
Pedro Rodrigues
Figura 1 – Bloqueio sinoauricular do 2o grau tipo II².
ARTIGO DE REVISÃO III
Figura 2 – Síndrome bradicardia-taquicardia (Período de fibrilhação auricular seguido de longa pausa na conversão a ritmo sinusal)².
Figura 3 – Bloqueio auriculoventricular do 1o grau².
A S-Bradi-Taqui descreve um
degenerativas são as mais frequentes
quando há contração auricular esta
subgrupo de doentes sintomáticos
na prática clínica e estão associadas
dá-se durante a sístole ventricular,
com DSA que oscilam entre períodos
não só ao envelhecimento, mas
provocando entrada retrógrada de
de taquicardia (habitualmente FA)
também à hipertensão crónica e à
sangue nas veias pulmonares com
com bradicardia ou pausas sinusais
diabetes mellitus1.
aumento da pressão capilar
(Figura 2). O sintoma mais
Anatomicamente os BAV podem ser
pulmonar, desencadeando sensação
incapacitante são as síncopes ou
classificados de acordo com a sua
de dispneia ao esforço (Figura 3)1,3.
pré-sincopes recorrentes secundárias
localização no tecido de condução,
O BAV do 2o grau é definido como
às pausas assistólicas que sucedem
em supra-hissianos, intra-hissianos e
uma falha na condução AV,
os episódios paroxísticos de FA.
infra-hissianos. Os bloqueios
traduzindo-se por um bloqueio do
Nestes doentes a colocação de
supra-hissianos estão associados a
estímulo auricular para os ventrículos
pacing definitivo pode aliviar os
uma progressão lenta, a um
de forma intermitente (onda P não
sintomas atribuídos à bradicardia e
mecanismo de escape juncional mais
seguida de QRS).
possibilita a utilização de fármacos
rápido e responsivos à atropina. São
O BAV do 2o grau Mobitz I (fenómeno
cronotrópicos negativos para
frequentemente benignos mantendo
de Wenckebach) caracteriza-se por
controlo da taquicardia1.
frequências ventriculares entre
um aumento progressivo do tempo
Não há evidência que a colocação de
40-55bpm. Em contraste, os bloqueios
de condução do estímulo aos
pacing seja modificadora de
intra-hissianos e infra-hissianos
ventrículos (aumento progressivo do
prognóstico nos doentes com DSA,
podem progredir rapidamente e estão
intervalo PR ou PQ) até que um dos
que apresentam uma sobrevida e
associados a mecanismos de escape
estímulos não é conduzido (onda P
risco de morte súbita cardíaca
ventricular mais lentos e
não seguida de complexo QRS)
semelhante à população geral6. Ainda
imprevisíveis. Normalmente não
(Figura 4A). Habitualmente o
assim, a DSA pode ser responsável
respondem à atropina e podem
aumento do intervalo PQ ou PR só se
pelo desenvolvimento de sintomas e
responder às catecolaminas1,8.
torna evidente na comparação do(s)
sinais como síncope ou insuficiência
O BAV do 1o grau caracteriza-se por
primeiro(s) com o(s) último(s)
cardíaca (IC) (sobretudo pela
um intervalo PR ou PQ > 200ms,
ciclo(s). É frequente encontrarmos
incompetência cronotrópica) que
sendo habitualmente um bloqueio
este fenómeno em jovens ou atletas
podem justificar a implantação de
sem grande importância clínica e de
treinados com grande vagotonia ou
pacing definitivo1,4.
comportamento considerado
durante o sono, desaparecendo
Bloqueios auriculoventriculares
benigno, exceto naqueles cujo PR ou
durante o esforço ou ao acordar1,2,8.
Existem inúmeras patologias que
PQ seja muito prolongado (>320ms).
De forma distinta, a onda P pode ser
podem afetar a condução AV
Nestes último caso, a partir de uma
bloqueada de forma súbita precedida
resultando em BAV. As causas
determinada frequência cardíaca,
de intervalos PR ou PQ de igual
Indice
23
24
24
Indice
ARTIGO DE REVISÃO III
A
B
Figura 4 – A) Bloqueio auriculoventricular do 2o grau Mobitz I. B) Bloqueio auriculoventricular do 2o grau Mobitz II².
duração antes e depois da onda P
no caso de serem ≥ 2 ondas P não
FA com BAVC8.
bloqueada, traduzindo-se em BAV do
conduzidas aos ventrículos3,8.
A mortalidade nos doentes com BAV
2o grau Mobitz II (Figura 4B). Este
O BAVC ou do 3o grau caracteriza-se
(nomeadamente BAV do 2o grau
tipo de bloqueio está frequentemente
pela dissociação completa entre a
Mobitz II, BAV avançado e BAVC) é
associado a bloqueios de ramo e
atividade auricular e ventricular, não
devida não só à IC secundária ao
deve-se em 80% dos casos a
havendo relação entre as ondas P e
baixo débito cardíaco, assim como à
localização infra-hissiana,
os complexos QRS (dissociação AV
morte súbita cardíaca causada por
habitualmente sintomáticos e
com frequência das ondas P superior
assistolia ou bradicardia prolongada
associados a assistolias
à frequência dos complexos QRS). O
responsável por desencadear
ventriculares com indicação para
ritmo de escape pode ser alto (supra
arritmias ventriculares. Assim, a
pacing definitivo. O BAV do 2o do
ou intra-hissiano - juncional) com FC
colocação de pacing definitivo nestes
grau 2:1 ocorre nas situações em que
> 40 bpm e estáveis (Figura 5A), ou
doentes não só previne sintomas
para cada 2 ondas P se observa
escape com ritmo intra ou infra-
como diminui mortalidade6.
apenas uma despolarização
hissiano com ritmo idioventricular
ventricular. O BAV 2:1 é frequente nos
(Figura 5B) – frequentemente
doentes com BAV do 2o grau Mobitz I
sintomáticos e com indicação para
forma de instalação e reversibilidade
particularmente durante o sono
implantação de pacing definitivo .
As bradiarritmias podem ainda ser
(embora possa corresponder a um
É importante salientar que num
classificadas de acordo com a
bloqueio quer supra quer infra-
doente com FA que se apresente com
etiologia em extrínsecas ou
hissiano, e nem sempre seja possível
FC < 50bpm (bradi-FA) e com
intrínsecas, ou pela sua forma de
inferir sobre a presença de Mobitz I
intervalos RR regulares, estamos
instalação e reversibilidade em
ou Mobitz II). O BAV avançado ocorre
provavelmente em presença de uma
permanentes ou intermitentes
Classificação segundo a etiologia, 8
A
B
Figura 5 – A) Bloqueio auriculoventricular do 3o grau com ritmo de escape juncional (supra ou intra-hissiano). B) Bloqueio auriculoventricular do 3o grau com ritmo de escape idioventricular (infra-hissiano)².
Indice
25
metabólicas como o hipotiroidismo, hipotermia, hipertonia vagal, hipertensão intracraniana ou patologia miocárdica como a isquemia ou a miocardite (por exemplo a doença de Chagas ou de Lyme)1,3. A isquemia miocárdica sobretudo com apresentação em síndrome coronária aguda pode ocorrer com bradicardia sinusal extrema ou vários graus de BAV. Destacase o enfarte agudo do miocardio (EAM) da parede inferior pois a artéria do NS e do NAV são Figura 6 – Classificação das bradiarritmias de acordo com a forma de instalação, etiologia e reversibilidade. BAV – Bloqueio auriculoventricular; DSA – Doença sinoauricular; SCA – Síndrome coronário agudo; S-Bradi-Taqui – Síndrome Bradicardia-Taquicardia1,6.
26
ramos da artéria coronária direita em 55% e 90% dos casos, respetivamente. A recuperação
(paroxísticas) e reversíveis e não
exemplo a amiloidose) ou doença
do ritmo é expectável após a
reversíveis, respetivamente (Figura 6)1,6.
valvular aórtica. Como causas
revascularização da artéria
As causas intrínsecas e extrínsecas
reversíveis devem ser equacionados os
culprit 1,8 .
estão listadas na Tabela 1. Destacam-
distúrbios hidroeletrolíticos, a
A doença de Lyme é uma das causas
se como causas não reversíveis as
iatrogenia com fármacos
mais frequentes de BAV em áreas
alterações degenerativas, patologias
cronotrópicos negativos, síndrome da
endémicas e quase sempre reversível
congénitas, processos infiltrativos (por
apneia do sono, alterações
com tratamento antibiótico adequado. Em algumas séries publicadas a resolução do BAV é em média em 6 dias, e raramente necessita de pacing definitivo1,6. Relativamente à iatrogenia medicamentosa, destacam-se os beta-bloqueantes (β-Bloq), os antagonistas dos canais de cálcio (ACC) não-dihidropiridinicos, a digoxina e os antiarrítmicos de classe I e III, sobretudo com a concomitância de ≥ 1 destes fármacos. Este tipo de insulto é habitualmente reversível com a respectiva suspensão e terapêutica de suporte, embora em alguns doentes o distúrbio se mantenha, expondo assim doença subjacente intrínseca do tecido
Tabela 1 – Causas intrínsecas e extrínsecas de bradicardia. BAV – Bloqueio auriculoventricular; LES – Lupus eritematoso sistémico; SCA – Síndrome coronário agudo; SCC – Síndrome coronário crónico; SNC – Sistema nervoso central1,6.
26
Indice
de condução 1,9.
ARTIGO DE REVISÃO III
Clínica A apresentação clínica das bradicardias é variável e depende da forma de instalação e do mecanismo fisiopatológico (Tabela 2). Os doentes podem apresentar-se assintomáticos ou com sintomas ligeiros de fadiga, apatia ou incapacidade de concentração, até manifestações mais severas em choque cardiogénico, síncope, dor torácica ou sintomas de IC. Habitualmente as manifestações clínicas têm relação com a FC, duração das pausas e cardiopatia subjacente. Na DSA a associação entre os sintomas e a bradicardia é essencial
Tabela 2 – Sinais e sintomas nas bradicardias. IC – Insuficiência cardíaca6.
para o tratamento. O BAV do 2o grau Mobitz I é habitualmente assintomático e encontrado em indivíduos saudáveis, enquanto o BAV do 2º grau Mobitz II e BAVC intermitente estão mais associados a episódios de síncope e a doentes com doença cardíaca de base. De salientar que devido à rápida recuperação da consciência após síncope por perturbação arrítmica intermitente, o doente tende habitualmente a desvalorizar os sintomas, ao contrário das neurocardiogénicas (vasovagais), com recuperação mais lenta e com queixas habituais de astenia, tonturas Figura 7 – Algoritmo de abordagem nas bradicardias agudas. ECG – Electrocardiograma; EV - Endovenoso1,10,11.
e mal-estar1,3,6.
Avaliação Inicial
do estado de consciência, hipotensão,
Abordagem em contexto pré
A abordagem ABCDE é transversal ao
má perfusão periférica (extremidades
e intra-hospitalar
doente com critérios de gravidade, quer
frias, tempo de preenchimento capilar
A orientação do doente com
em ambiente pré-hospitalar quer à
prolongado, baixo débito urinário) ou
bradicardia em contexto urgente ou
chegada ao SU. De uma forma geral e
até mesmo edema agudo do pulmão
emergente deve ser determinada pela
numa fase inicial deve ser assegurada
ou choque cardiogénico. A obtenção
severidade dos sintomas, presença
a via aérea, verificação dos parâmetros
de um ECG de 12 derivações é
de sinais de gravidade no ECG bem
vitais e identificação de sinais de
essencial para uma abordagem inicial
como o tratamento de causas
gravidade/instabilidade HD. Entre
correta, assim como a canalização de
potencialmente reversíveis . O
estes últimos destacam-se a dor
2 acessos periféricos e a realização de
algoritmo de tratamento proposto é
torácica, síncope sem pródromos ou
análises clínicas num curto espaço de
apresentado na Figura 7.
com episódios recorrentes, alterações
tempo12,13.
6
Indice
27
Tratamento das causas reversíveis
utilização de insulina em alta dose
Doentes assintomáticos
A identificação precoce de uma
pode ser uma alternativa se as
ou com sintomas ligeiros
causa potencialmente reversível é
medidas referidas não funcionarem.
Os doentes assintomáticos ou com
fundamental não só para o sucesso
Na presença de overdose por
sintomas ligeiros e sem sinais de
imediato da intervenção como
digoxina, a utilização do anticorpo
instabilidade HD devem ser
também para a decisão posterior de
anti-digoxina (digoxin immune FAB)
monitorizados e mantidos sob
pacing cardíaco permanente. Numa
deve ser equacionada. A dose de
vigilância mas não necessariamente
série de casos com 277 doentes
antídoto utilizada será dependente da
sob terapêutica de suporte (Figura 7).
orientados para o serviço de urgência
dose de fármaco ingerida ou dos
Apresentam-se habitualmente com
por bradicardia severa, a iatrogenia
seus níveis séricos, tendo por base
bradiarritmias mais estáveis como
medicamentosa foi responsável por
que um frasco de 40mg de anticorpo
DSA com pausas não significativas
21% dos casos, seguido do EAM em
neutraliza aproximadamente 0,5mg
ou BAV supra-hissianos como BAV
14%, outras intoxicações em 6% e
de digoxina (Tabela 3)1.
do 2º grau Mobitz I ou BAV 2:1 com
distúrbios hidroeletrolíticos em 4%6.
A correcção dos distúrbios
QRS estreio (<120ms)1,10,11,14.
Relativamente aos fármacos
metabólicos e hidroeletrolíticos
cronotrópicos negativos, é de
torna-se fundamental para uma
Na presença de causas reversíveis
salientar a importância de uma
rápida estabilização do ritmo. Os 28
estas devem ser corrigidas. Após
anamnese direcionada também para
distúrbios do potássio são
um período de monitorização e
formas farmacêuticas tópicas mas
frequentes, sobretudo quando
com estabilidade HD mantida,
com possível absorção sistémica, por
associados a iatrogenia e a doença
estes doentes podem ser
vezes esquecidas, como os β-Bloq
renal. Nas bradicardias que cursam
orientados em ambulatório com
em colírios ou os ACC em pomadas
com hipocalémia é comum o
consulta médica especializada1.
rectais. Como referido, a
prolongamento do intervalo QT no
concomitância ≥ 1 fármaco ou doses
ECG, aumentando o risco de arritmias
De salientar que em casos de
mais elevadas são mais propensas a
ventriculares potencialmente fatais
bradiarritmias permanentes com
iatrogenia. Nestas situações é
como a torsade de pointes1,14.
ausência de sintomas graves ou instabilidade HD, os doentes podem
necessário uma rápida suspensão do insulto e promover a sua
Em caso de etiologia isquémica,
apresentar critérios de gravidade no
eliminação (“wash out”), por exemplo
nomeadamente na presença de EAM,
ECG com risco de assistolia ou
através de fluidoterapia endovenosa
a localização do enfarte pode
arritmias ventriculares. Consideram-
(EV), que além de fármaco-
influenciar o distúrbio de condução.
se bradiarritmias com critérios de
dependente é também dependente
Embora mais associado a
gravidade no ECG a presença de
da dose e da taxa de filtração
bradiarritmias, o EAM da parede
bradicardia sinusal marcada (FC <
glomerular do doente1,6,9.
inferior provoca geralmente BAV
30bpm), pausas recorrentes > 3s,
Na presença de intoxicação severa
supra-hissiano com FC aceitáveis e
BAV do 2º grau Mobitz II (FC <
por β-Bloq com sinais de
ritmos de escape juncionais (QRS
30-40bpm), BAV avançado ou BAVC
compromisso HD, a utilização de
estreito). São habitualmente
com escape largo (QRS ≥ 120ms) ou
glucagon pode justificar-se pela
transitórios e resolvem
alternante que prossupõem
ativação da adenilciclase hepática e
espontaneamente após
bloqueios infra-hissianos com FC <
a promoção da glucogénese,
revascularização. Já nos EAM da
40bpm. Nestas situações a
aumentado a FC e contrariando o
parede anterior, embora menos
introdução de medidas intermédias
bloqueio beta (Classe IIa). Nos casos
comuns, estão mais associados a
como terapêutica farmacológica ou
de overdose por ACC, a utilização de
BAV infra-hissiano com ritmos de
pacing transcutâneo pode justificar-se
cálcio EV também pode ser utilizado
escape idioventriculares (QRS largo)
como ponte para pacing transvenoso
com o mesmo nível de indicação. A
e instabilidade elétrica14.
(provisório) com ajuda médica
28
Indice
ARTIGO DE REVISÃO III
especializada (Figura 7)1,10,11,14.
melhoria da FC, a utilização de
inotropismo e cronotropismo pela
A decisão para pacing permanente vai
fármacos agonistas β-adrenérgicos
depender sobretudo da reversibilidade
deve ser considerada (Classe IIb)
estimulação dos receptores β1 .
1,10,11,14
das causas e da recuperação do ritmo cardíaco de base .
aumenta também as necessidades energéticas e demanda de oxigénio
Na presença de ECG com critérios de
pelo miocardio, ao mesmo tempo que
gravidade, nomeadamente com BAV
diminui o tempo de diástole e a
Doentes com sintomas severos /
com bloqueio infra-hissiano, deve ser
perfusão coronária. Acrescenta-se
instabilidade hemodinâmica
equacionada a utilização imediata
ainda os efeitos nos receptores β2 de
Os doentes com bradicardia que se
como 1ª linha de agonistas
algumas destes fármacos
apresentam com dor torácica,
β-adrenérgicos (Classe IIb) em
(isoprenalina) com diminuição da
síncope recorrente ou com
detrimento da atropina, por esta
resistência vascular periférica e
ausência de pródromos, sintomas
última não ter efeito ou poder agravar
hipotensão, agravando a isquemia.
de IC ou sinais de choque devem
o bloqueio a este nível. Assim estão
Assim, nestes casos, deve ser dada
ser prontamente estabilizados com
indicados a isoprenalina, epinefrina,
preferência à aminofilina, sobretudo
medidas intermédias de suporte
dobutamina ou dopamina por
no EAM da parede inferior, pelo
farmacológico ou pacing
aumentarem a condução na rede
antagonismo dos receptores da
transcutâneo, como ponte para
His-Purkinje e a automaticidade dos
adenosina e consequente aumento
pacing transvenoso. Habitualmente
pacemakers subsidiários
do dromotropismo (Classe IIb)
são doentes com bradicardias com
ventriculares. De realçar os efeitos
(Tabela 3 e Figura 7)1,17,18.
critérios de gravidade no ECG ou
adversos que podem desencadear,
com ritmos mais estáveis mas com
como arritmias ventriculares e a
Nos doentes em que as medidas
apresentação intermitente
indução de isquemia miocárdica.
médicas não sejam suficientes ou
(Figura 7)
(Tabela 3 e Figura 7)
como suporte para início da
1
1,10,11,14
.
1,17
.
terapêutica farmacológica, o pacing Na presença de síncope com
Nas situações de isquemia
transcutâneo está indicado como
critérios de gravidade em doente
miocárdica, os agonistas
ponte para o pacing transvenoso
com suspeita de bradiarritmia
β-adrenérgicos devem ser preteridos
(Classe IIb). Nesta situação, após a
intermitente, não documentada
pelo agravamento da isquemia acima
colocação do dispositivo em modo
por ECG numa fase inicial, a
mencionada. O aumento do
pacing (preferencialmente em modo
monitorização dos sinais vitais e do ritmo por telemetria e holter de 24h durante o internamento está recomendada 15,16 . Em doentes com DSA ou BAV do 2º ou 3º grau em que seja previsível um BAV supra-hissiano (BAV do 2º grau Mobitz I, BAV 2:1 ou BAVC com QRS estreito), a atropina pode ser utilizada (Classe IIa) com o intuito de aumentar o automatismo do NS (cronotropismo) e a condução pelo NAV (dromotropismo) (Tabela 3 e Figura 7). Se os doentes se mantiverem sintomáticos e sem
Tabela 3 – Terapêutica médica de suporte nas bradicardias. BAV – Bloqueio auriculovenrticular; DSA – Doença sinoauricular; EAM – Enfarte agudo do miocárdio; EV – Endovenoso¹.
Indice
29
“on demand”) e da selecção da FC
CONCLUSÃO
adequada (40-60bpm), é necessário
As bradiarritmias são classificadas
evidência de captura no traçado com
de permanentes ou intermitentes,
complexos QRS após os spikes
com etiologia intrínseca ou
(aumentar progressivamente a
extrínseca e de caráter reversível ou
intensidade da corrente até se
não reversível. A identificação e
verificar captura do estimulo
tratamento de causas
elétrico), e confirmação de
potencialmente reversíveis é
contracção ventricular eficaz com
fundamental na estabilização inicial
palpação do pulso (idealmente
e na posterior avaliação para pacing
femoral) compatível com a
permanente. A abordagem de um
frequência do pacing
doente com bradicardia passa pela
1,10,11
.
estabilização HD e documentação da Nos casos em que os sintomas ou
arritmia através da obtenção de um
compromisso HD seja refractário às
ECG de 12 derivações. A clínica deve
medidas anteriormente
guiar a intervenção, desde a
implementadas, a ajuda médica
necessidade de 30apenas
especializada com a colocação de
monitorização e vigilância em
pacing transvenoso está indicado
doentes assintomáticos/sintomas
(Classe IIa) (Figura 7)
ligeiros até à utilização de
TAKE HOME MESSAGES
terapêutica farmacológica e pacing
1. Documentar com ECG de 12
1,10,11
.
derivações sempre que possível
Na presença de bradicardia
transcutâneo em doentes instáveis
persistente com critérios de
como ponte para pacing transvenoso.
gravidade e após correcção dos
Os sinais de gravidade no ECG
distúrbios desencadeante ou
identificam os doentes em risco de
excluídas outras causas reversíveis, a
assistolia e arritmias ventriculares e
colocação de pacing permanente tem
são importantes na decisão
•
indicação Classe Ia1.
terapêutica intermédia até à
4. Bradicardia com sintomas
2. Tratamento de causas potencialmente reversíveis 3. Bradicardia assintomática/ sintomas ligeiros:
severos/instabilidade HD:
colocação de pacing provisório ou permanente. Por não serem inócuos,
•
pacing transcutâneo como ponte
inotrópico e cronotrópico positivos
para pacing provisório 5. Bradicardia com critérios de gravidade no ECG:
feita de forma racional. A ajuda médica especializada deve ser
•
Terapêutica farmacológica ou
sempre equacionada em doentes
pacing transcutâneo como ponte
com sintomas severos e/ou com
para pacing provisório
critérios de gravidade no ECG
Indice
Terapêutica farmacológica ou
a utilização de fármacos com efeito pode ser ponderada mas deve ser
30
Monitorizar
ARTIGO DE REVISÃO III
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REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
31
32
32
Indice
ARTIGO DE REVISÃO IV
ARTIGO DE REVISÃO IV
IMOBILIZAÇÃO TOTAL DA COLUNA EM TRAUMA: SERÁ QUE AINDA FAZ SENTIDO?
Pedro Vasconcelos1, Pedro Caldeira2 1 2
Enfermeiro; Instrutor International Trauma Life Support Enfermeiro; Diretor Ocean Medical
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
A lesão vértebro-medular traumática,
Spinal cord injury has devastating
A A lesão vértebro-medular
para além das consequências clínicas
consequences for the trauma victim,
traumática (LVMT), para além das
devastadoras que acarreta para o
both clinical, social and even
consequências clínicas devastadoras
indivíduo, acarreta também pesadas
economically. Long backboards and
que acarreta para o indivíduo,
consequências para a sociedade e
c-spine collars have been the most
acarreta também pesadas
para a economia. O plano duro e o
used devices to secure spinal motion
consequências para a sociedade e
colar cervical são os instrumentos
restriction and the transport of
para a economia. Talvez por isso a
mais utilizados no sentido de garantir a
trauma victims, despite they were
imobilização de coluna se tenha
imobilização de coluna e o transporte
originally designed for extrication
tornado num procedimento comum
da vítima de trauma, apesar de terem
procedures. This practice has been
praticado nos diversos serviços de
sido inicialmente desenhados apenas
applied for decades, not only for
emergência médica por todo o
para procedimentos de extração e
patients with suspected spinal cord
mundo, ao longo dos últimos 50
desencarceramento. Esta prática tem
injury but for all trauma victims.
anos1,2. O plano duro e o colar
sido aplicada por várias décadas, não
However, in past years, many
cervical são os instrumentos mais
apenas para doentes com suspeita de
evidence have been published that
utilizados no sentido de garantir a
lesão vértebro-medular traumática
question the applicability of these
imobilização de coluna e o transporte
mas genericamente para todas as
devices in preventing secondary
da vítima de trauma, apesar de terem
vítimas de trauma. No entanto, nos
injury and its impact on clinical and
sido inicialmente desenhados apenas
últimos anos tem sido publicada
neurological outcome of trauma
para procedimentos de extração e
diversa evidência que questiona a
victims. This article review the most
desencarceramento. Esta prática tem
aplicabilidade destes dispositivos na
recent evidence, critically analysing
sido aplicada por várias décadas, não
prevenção da lesão secundária e na
current practices of total spinal
apenas para doentes com suspeita
melhoria do outcome clínico e
immobilization.
de LVMT mas genericamente para
neurológico da vítima de trauma. Este
todas as vítimas de trauma, com
artigo foca a evidência mais recente,
ênfase desde os primeiros passos da
analisando criticamente as práticas
abordagem sistematizada (ABCDE) à
atuais de imobilização total de coluna.
vítima de trauma3.
Palavras-Chave: Trauma, Trauma vertebro-medular, Iatrogenia, Plano Duro, Colar Cervical
Keywords: Trauma, Spinal Cord Injury, Iatrogeny, Prevalence, Backboard, C-Spine Collar
Indice
33
A CRIAÇÃO DO DOGMA
outcome clínico dos doentes ou da
asmática ou edema agudo do pulmão,
Remonta ao ano de 1966 o primeiro
fiabilidade dessas práticas . O
facilmente entendemos o efeito
trabalho publicado que documenta as
princípio a adotar era a imobilização
deletério da imobilização em plano
complicações associadas à lesão
de todas as vítimas de trauma, de
duro para um doente com pneumo ou
vertebro-medular traumática e à
acordo com o mecanismo de lesão .
4
1
necessidade de limitar mobilizações
hemotórax traumático. Também o colar cervical está
intempestivas que pudessem agravar
A IATROGENIA ASSOCIADA À
associado a iatrogenia nos cuidados à
a lesão primária. Assim, em 1971, a
IMOBILIZAÇÃO DE COLUNA
vítima de trauma. Com efeito, um
American Association of Orthopedic
É apenas a partir da década de 80 que
colar cervical desadequado para o
Surgeons assume numa publicação
começam a surgir os primeiros
doente ou demasiado apertado,
dirigida a técnicos de emergência
estudos dirigidos à efetividade da
dificulta a circulação dos vasos do
médica a proposta de utilização de
imobilização total de coluna.
pescoço condicionando aumento da
colar cervical e plano duro na vítima
Começava-se aqui a perceber que
pressão intra-craniana, que pode ser
de trauma . Este foi o trigger para a
estes procedimentos não estavam
crítica em doentes com TCE
universalização dos procedimentos de
isentos de complicações,
moderados ou graves7,14. Se
imobilização da vítima de trauma de
nomeadamente: i) problemas na
adicionarmos a este fator o tradicional
acordo com o mecanismo de lesão
permeabilização 34da via aérea e
transporte em plano a zero graus (em
identificado e não de acordo com a
agravamento da dinâmica ventilatória;
plano duro ou maca scoop),
queixa clínica ou semiologia
ii) aumento da pressão intra-craniana;
entendemos os efeitos deletérios da
apresentada pelo doente, prática esta
iii) úlceras de pressão; iv) agravamento
imobilização total de coluna.
baseada em consenso de peritos e
da dor e desconforto da vítima .
Outra complicação associada ao
não em evidência que confirmasse ou
No que concerne à permeabilização
plano duro e ao colar cervical são as
refutasse o benefício de tais
da via aérea, doentes que apresentem
úlceras de pressão, sobretudo pela
procedimentos
diminuição do estado de consciência
utilização abusiva de material de
enraizamento destes procedimentos
poderão estar mais vulneráveis à
trauma em contexto de transporte
nos sistemas de emergência médica
aspiração de vómito apenas pelo
pré-hospitalar e da sua permanência
por todo o mundo não pode ser
facto de estarem imobilizadas em
desnecessária em ambiente
dissociado do facto de ter sido nesta
plano e desta forma verem restringido
hospitalar15. O plano duro foi
altura que começaram a surgir as
o reflexo normal de defesa e proteção
desenhado apenas para extração,
principais escolas de trauma
da via aérea . Para além disso, em
pelo que o tempo excessivo de
em 1978 e PHTLS em 1983) e que
doentes em que seja tomada a
permanência com este dispositivo
começaram a ser desenhados os
decisão de abordar a via aérea de
favorece o aparecimento de úlceras
sistemas de emergência médica
forma avançada, a imobilização em
de pressão occipitais e sagradas.
numa versão próxima à que
plano e colar cervical torna a técnica
Ainda que frequentemente
conhecemos na atualidade (em
de entubação traqueal mais difícil e
secundarizadas face à importância
Portugal por exemplo, criação do
mais demorada , embora a utilização
da mitigação de lesão vertebro-
Serviço Nacional de Ambulâncias em
de videolaringoscópio possa, na
medular, a verdade é que as úlceras
1971, dando lugar ao INEM em 1981).
atualidade, facilitar esta técnica .
de pressão são responsáveis pelo
Durante este período poucos foram os
Ainda no plano da via aérea e
aumento da morbimortalidade em
trabalhos produzidos com foco na
ventilação, a imobilização total de
trauma bem como ao aumento de
imobilização de coluna, exceção feita
coluna parece ter efeitos negativos na
tempo de internamento tanto em
aos trabalhos de Kossuth e Farrington,
dinâmica ventilatória, mesmo em
contexto de intensivos como em
dirigidos à sensibilização das equipas
adultos saudáveis
enfermaria, com consequente
pré-hospitalares para as técnicas de
olhamos para a forma como
aumento exponencial do custo e
extração mas sem avaliação do
posicionamos os doentes com crise
duração do tratamento16.
4
. O profundo
1,4,5
6,7,8
34
Indice
(ATLS
2,9
7
10
11
. Quando
12,13
ARTIGO DE REVISÃO IV
Quando pensamos na iatrogenia
LVMT18. O racional, é que em
com protocolos instituídos de
associada à imobilização total de
nenhuma circunstancia a imobilização
imobilização de coluna em trauma)
coluna, é importante realçar que o
total de coluna atrase a intervenção ou
com um hospital da Malásia (sem
foco das equipas de emergência nos
tratamento de lesões que coloquem a
recursos nem protocolo instituído de
procedimentos de imobilização
vida em perigo .
imobilização de coluna em trauma).
conduz a um aumento do tempo
No plano hospitalar, as questões
Apesar das limitações deste estudo,
dispendido no terreno, atrasando o
ético-legais associadas ao processo de
os resultados não deixam de ser
transporte da vítima de trauma e o
tomada de decisão de remoção de
curiosos: a imobilização pré-
seu encaminhamento para o centro
plano duro e de colar cervical e o
hospitalar não teve influência
de trauma, nomeadamente para
agravamento de dor associado ao
significativa no outcome neurológico
unidades que permitam a instituição
tempo de permanência em plano duro,
dos casos analisados. Este trabalho
de medidas cirúrgicas de controlo de
dificultam uma avaliação clínica
parece ter servido de trigger para
dano . Demetriades et al. ,
fidedigna em contexto hospitalar,
fomentar a investigação a este nível
compararam a mortalidade de
aumentando a necessidade de exames
e multiplicaram-se a partir daí
vítimas de trauma quando
de imagem para apoio à decisão e
estudos que demonstram a
transportadas ao centro de trauma
diagnóstico . Para além do risco
inefetividade dos dispositivos de
através do sistema de emergência ou
acrescido para doentes e profissionais,
imobilização de coluna.
através de transporte particular
tal representa um significativo
Relativamente aos colares cervicais,
(família, amigos). Curiosamente, a
aumento de tempo e recursos
parecem ser muitas vezes
mortalidade no primeiro grupo foi
dispendidos no serviço de urgência.
desadequados e não mantém de
3
17
19
20
duas vezes superior, para vítimas
forma efetiva o alinhamento do
com ISS>15. Embora não seja
PARA ALÉM DAS COMPLICAÇÕES,
pescoço em posição neutra,
possível neste estudo estabelecer
A INEFECTIVIDADE DA
obrigando muitas vezes eles próprios
relação direta com a imobilização de
IMOBILIZAÇÃO DE COLUNA
à dorsiflexão ou extensão do pescoço,
coluna, este é um dos procedimentos
Pesar o risco em função do benefício.
podendo até agravar lesão pré-
realizados pelas equipas de
É assim que muitas vezes pensamos.
existente7. Também a técnica de
emergência que mais tempo
E esta é a base pela qual muitas vezes
colocação do colar é colocada em
consome no pré-hospitalar. Em
se opta pela imobilização total de
causa, isto porque pelo facto de ser
vítimas de trauma fechado com
coluna no transporte da vítima de
um elemento externo a manter o
instabilidade hemodinâmica, é
trauma até ao serviço de urgência e na
alinhamento, induz muitas vezes a
atualmente defensável que a
manutenção desta imobilização até
mobilização do pescoço por vetores
imobilização total de coluna não seja
realização de exames. O “bom-senso”
de força externos, sobretudo em
realizada, sendo trocada por uma
parece ditar que mais vale prevenir
doentes sentados (como é o caso de
estabilização da cervical com colar e
uma lesão vértebro-medular mesmo
vítimas de acidentes rodoviários) ao
transporte na maca da ambulância
com todos os potenciais riscos e
passo que um doente consciente
com alinhamento anatómico .
complicações enumerados acima .
consegue de forma mais fácil e
Também nas vítimas de trauma
Mas será que a imobilização total de
rigorosa manter ele próprio o
penetrante isolado no torso, a
coluna previne mesmo o agravamento
alinhamento do seu eixo axial22. Neste
imobilização de coluna está
de LVMT ou as suas complicações?
contexto, é cada vez maior o
associada a maior mortalidade, o que
Um estudo publicado em 1998
consenso em torno da auto-extração
parece consubstanciar que a
compara os resultados de vítimas de
em detrimento da extração controlada
imobilização de coluna não seja
trauma admitidas num hospital dos
com colocação de colar cervical5,23,24.
realizada por rotina nestes doentes, a
Estados Unidos (em que existem
Mantendo-se alguma controvérsia
não ser que existam óbvios e
recursos de apoio a um sistema de
face à eficácia do colar cervical na
inequívocos sinais e sintomas de
emergência médica de qualidade e
limitação da mobilização cervical, não
3
7
21
Indice
35
36
existe qualquer evidência da sua
melhor alternativa ao plano duro,
sustentada em dados
eficácia na redução da mortalidade
melhorando e efetividade de
epidemiológicos que referem uma
nem melhoria do outcome neurológico
imobilização e reduzindo alguma
elevada prevalência do trauma
da vítima de trauma .
iatrogenia, nomeadamente em
vertebro-medular26. Mas será o trauma
Já em relação ao plano duro,
relação às úlceras de pressão8,9.
vertebro-medular assim tão comum?
8
dispositivo desenhado para apoiar e
Um estudo prospetivo multicêntrico
facilitar a extração a partir de locais
A LESÃO VÉRTEBRO-MEDULAR
que incluiu 34069 vítimas de trauma
confinados, permitindo o apoio de
TRAUMÁTICA É ASSIM TÃO
fechado que foram sujeitas a exame
todo o corpo da vítima numa
COMUM?
de imagem, apenas 818 (2,4%)
superfície dura e reta, tem sido
Apesar de tudo o que já foi aqui
apresentaram lesão cervical
utilizado inapropriadamente ao longo
referido, o impacto clínico, social e
traumática sendo que destas, cerca
dos anos para transporte e
económico relacionado com a lesão
de um terço (29,3%) foram
permanência da vítima de trauma até
vertebro-medular permanece no
consideradas clinicamente
à realização de meios
pensamento dos operacionais de
insignificantes27. Ainda que a
complementares de diagnóstico.
emergência médica, conduzindo a
suspeita de trauma de coluna possa
Para além de toda a iatrogenia já
uma prática corrente, profundamente
estar presente em 20-30% dos
descrita, o plano duro não garante
enraizada, de imobilização da
grandes traumatismos, dentro destes
um alinhamento anatómico do eixo
generalidade das vítimas de trauma.
apenas 10 a 15% parecem vir a
axial do doente e não impede, mesmo
Muitas escolas de trauma e respetivos
desenvolver lesão medular, pelo que
com a colocação de cintos, a
instrutores continuam a colocar um
se pode considerar que a LVMT seja
deslocação lateral do doente sobre o
grande ênfase nas técnicas de
relativamente rara8,19,28.
plano, decorrente de vetores de força
imobilização de coluna. O ATLS por
A análise de estudos epidemiológicos
externos como a deslocação da
exemplo, na sua atualização mais
parece apresentar assimetrias
ambulância e/ou da maca onde está
recente, sustenta que a lesão de
importantes entre os vários países
o plano duro . Para o transporte da
coluna, com ou sem défice
europeus, com taxas que variam entre
vítima de trauma que careça de
neurológico, deve ser sempre
os 9,2 casos por milhão na Dinamarca,
restrição de movimentos de coluna, a
considerada em vítimas com
9,3 casos por milhão nas Ilhas
maca de vácuo apresenta-se como a
mecanismo de lesão generalizado,
Canárias29, 23 casos por milhão na
25
36
Indice
ARTIGO DE REVISÃO IV
Noruega e 38,1 casos por milhão na
CONCLUSÕES
Inclusivamente, este foco de
Finlândia . Essas assimetrias podem
A prática corrente de imobilização
abordagem tendencialmente protetor
estar relacionadas com os métodos de
total de coluna, apoiada em
relativamente à LVMT poderá
registos e de colheita de dados mas
protocolos que priorizam a proteção
condicionar o encaminhamento e
também com diferenças sociais e
de lesão-vértebro medular, está
transporte de vítimas para centros de
tecnológicas entre os vários países ou
sustentada muito mais em
neurocríticos mais distantes, sem que
regiões. Seja como for, mesmo olhando
tradicionalismo do que em evidência
tal seja prioritário e com implicação
para os piores dados epidemiológicos,
científica
na deterioração clínica da vítima
a LVMT parece constituir um evento
o que a evidência parece sustentar, é
durante o transporte.
relativamente raro.
que a imobilização total de coluna não
Tendo em conta o exposto, diversos
está isenta de riscos, apresentando
sistemas de emergência médica têm
E a nível nacional?
um vasto leque de contra-indicações e
vindo progressivamente a abandonar
Não tendo encontrado publicações
complicações associadas à sua
práticas mais tradicionalistas de
que evidenciassem, qual a
priorização. Para além disso, parece
imobilização de coluna e adotado
percentagem de lesão vertebro-
não existir sequer evidência da sua
procedimentos baseados na evidência
medular nas vítimas de trauma,
eficácia na mitigação de lesão
disponível1,3,19.
desenvolvemos nós próprios um
secundária e muito menos que esteja
Os protocolos deverão ser revistos,
estudo retrospetivo observacional
associada a melhor outcome clínico e
bem como o foco dado nos processos
que incluiu todas as vítimas de
neurológico quando comparada com
formativos à priorização destas
trauma com 18 ou mais anos,
situações em que não é utilizada. Para
técnicas. Os mecanismos de apoio à
admitidos num centro de trauma de
além do mais, a evidência aponta para
decisão deverão estar assentes na
nível II e transportados pelos
que a LVMT seja uma lesão
abordagem clínica do doente19,
serviços de emergência médica sob
relativamente rara no trauma, ainda
priorização de lesões em ABC com
imobilização de coluna com plano
que as suas consequências sejam
necessidade de estabilização
duro e colar cervical, nos últimos 5
devastadoras para o indivíduo e para
cirúrgica emergente3. A estabilização
anos. Foi procurado nos respetivos
a sociedade, pelo que a sua
de coluna e o transporte com medidas
processos clínicos a ocorrência de
importância não deverá ser
de controlo e alinhamento anatómico
lesão vertebro-medular, aqui definida
minimizada mas sim contextualizada
continuam a estar indicadas em
como qualquer lesão que tenha
face às prioridades clínicas que a
doentes cuja clínica faça suspeitar de
provocado morbilidade permanente
vítima de trauma apresenta
lesão vertebro-medular e cujos
ou morte. Foram analisados 2050
Naturalmente que serão precisos no
procedimentos não atrasem medidas
processos clínicos. Um total de 1291
futuro mais estudos que permitam
provisórias ou definitivas de
(63%) das vítimas eram do sexo
perceber a real efetividade das
estabilização hemodinâmica3,19, mas
masculino e 759 (37%) do sexo
técnicas de imobilização de coluna.
não devem mais ser adotadas como
feminino. Apenas 2 (0,1%) doentes
No entanto, tendo em conta as
rotina para todas as vítimas de
apresentaram lesão vertebro-medular,
considerações apresentadas, parece-
trauma. O plano duro deve ser
o que significa uma prevalência de
nos que os protocolos atuais
encarado como um dispositivo de
LVMT muito baixa nesta amostra
priorizam em demasia os
extração, enquanto que o transporte
(p=0,098%). Analisando os resultados
procedimentos relacionados com a
da vítima de trauma com suspeita de
colhidos da revisão da literatura
imobilização total de coluna, podendo
LVMT deverá ser efetuado com
internacional e comparando-os com
retirar o foco ou até mesmo atrasar a
alinhamento anatómico na maca da
o do estudo por nós levado a cabo,
abordagem, estabilização e
ambulância ou estabilização em maca
permite-nos perceber que a lesão
tratamento de lesões que
de vácuo19,31,32
vertebro-medular traumática é
condicionem a vida nas primeiras
relativamente rara.
horas após a ocorrência de lesão.
30
. Apesar da controvérsia,
8,19,28
.
3,19
Indice
37
38
38
Indice
ARTIGO DE REVISÃO IV
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COMISSÃO CIENTÍFICA
not reduce lateral motion during transport - a
Indice
39
40
40
Indice
RUBRICA PEDIÁTRICA
RUBRICA PEDIÁTRICA
ABORDAGEM DA SÍNDROME INFLAMATÓRIA MULTISSISTÉMICA PEDIÁTRICA ASSOCIADA À COVID-19 APPROACH TO THE MULTISYSTEM INFLAMMATORY SYNDROME IN CHILDREN ASSOCIATED WITH COVID-19 Tomás Grevenstuk1, Paola Lobão1. 1
Médico Interno de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, Agrupamento de Centros de Saúde do Algarve
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
A maioria dos casos de COVID-19 em
In children, COVID-19 is usually mild.
Desde os primeiros casos, em
idade pediátrica caracterizam-se por
However, since May of 2020, there
dezembro de 2019, a pandemia da
doença ligeira ou assintomática.
have been reports of children
COVID-19 causada pelo vírus SARS-
Porém, desde maio de 2020, que têm
admitted to critical care units with a
CoV-2 expandiu-se, representando uma
sido reportados casos de
multisystem inflammatory syndrome
emergência de saúde pública mundial.
hospitalizações em cuidados
associated with COVID-19 (MIS-C).
As crianças e os adolescentes
intensivos, devido a uma síndrome
Early access to a critical care unit
constituem uma pequena percentagem
inflamatória multissistêmica em
and adequate treatment improves the
de casos de COVID-19 (2,1 a 7,8%).1
crianças associada à COVID-19
prognosis of the child. This article
Porém, a verdadeira prevalência pode
(MIS-C). Apesar de ser uma entidade
aims to describe the state of the art
estar a ser subestimada devido às
recente sobre a qual existem muitas
regarding the management of a
infeções assintomáticas, o
incertezas, sabe-se que um acesso
suspected case of MIS-C.
subdiagnóstico de casos ligeiros
atempado a cuidados intensivos e à
(comuns na idade pediátrica) e
terapêutica adequada melhora o
limitações de testagem. Apesar da
prognóstico. Assim sendo, este
maioria dos casos de COVID-19 em
trabalho pretende apresentar o
idade pediátrica corresponderem a
estado da arte quanto à abordagem
doença ligeira ou assintomática, desde
de um caso suspeito de MIS-C.
maio de 2020 que têm sido reportados casos de hospitalizações em cuidados intensivos devido a uma síndrome inflamatória multissistémica em crianças associada à COVID-19 (MIS-C), também denominada síndrome inflamatória multissistémica pediátrica (PIMS). A sua apresentação é uma combinação de sintomas e sinais presentes na doença de Kawasaki e na síndrome de choque séptico e costuma ocorrer cerca de 4 a
Palavras-Chave: COVID-19; MIS-C; PIMS; imunoglobulina intravenosa
Keywords: COVID-19; MIS-C; PIMS; intravenous immunoglobulin
6 semanas após infeção por SARSCoV-2.2 A fisiopatologia da MIS-C
Indice
41
42
Tabela 1 – Critérios de diagnóstico da MIS-C da CDC (4 critérios obrigatórios) e da OMS (6 critérios obrigatórios).
42
Indice
RUBRICA PEDIÁTRICA
ainda é desconhecida, porém tem sido
obrigatória, podendo existir apenas
Terapia imunomoduladora
proposto que uma resposta imune
história de exposição ao vírus. Na
Deve ser administrada
anormal esteja na sua origem. Apesar
maior parte dos casos, a MIS-C
imunoglobulina intravenosa a todos
de ser uma síndrome recente sobre a
representa uma complicação
os doentes com critérios de
qual o conhecimento é incompleto,
pós-infeciosa de uma infeção por
diagnóstico de MIS-C (Figura 2;
este trabalho pretende apresentar a
COVID-19 (60% têm serologia positiva
Tabela 1). A dose recomendada é de
abordagem de um caso suspeito de
e teste PCR negativo e 30-35%
2 g/kg IV em 8-12h, podendo a dose
MIS-C de acordo com as evidências
testam positivo na serologia e
ser repartida ao longo de dois dias se
mais recentes.
PCR5,6,7). Os doentes com suspeita de
existir disfunção ventricular esquerda
MIS-C devem ser internados mesmo
com sinais de sobrecarga.12 Em
DIAGNÓSTICO
quando apresentam apenas sintomas
relação à administração de GC, existe
E ABORDAGEM INICIAL
ligeiros devido à possível evolução
menos consenso; a Academia
Apesar de não existir um consenso
rápida dos sintomas. O envolvimento
Americana de Pediatria recomenda a
universal relativamente à abordagem
cardíaco em doentes com MIS-C está
sua administração em doentes com
da MIS-C, apresentamos um
descrito (disfunção ventricular
manifestações moderadas a graves
algoritmo de marcha diagnóstica e
esquerda, aneurismas das artérias
ou com febre persistente e
abordagem inicial (Figura 1) que é
coronárias, miocardite, arritmias).8,9
parâmetros inflamatórios em perfil
consistente com as recomendações
Recomenda-se a avaliação
ascendente apesar de tratamento
da Academia Americana de Pediatria
ecocardiográfica, o doseamento das
com IG-IV (Figura 2). Os GC podem
e da PIMS National Consensus
troponinas e péptidos natriuréticos,
ser administrados em simultâneo
Management Study Group do Reino
assim como monitorização contínua
com a IG-IV e a dose recomendada é
Unido.3,4 A hipótese da MIS-C deve
eletrocardiográfica para a deteção
2mg/kg/dia de metilprednisolona
ser considerada em crianças ou
precoce de arritmias. Os critérios
dividida em duas doses.12 Após a
adolescentes que apresentem febre
estabelecidos, até o momento, para o
melhoria clínica, pode ser feita a
persistente, alterações dos
diagnóstico da MIS-C são do Centers
transição para a dose oral
parâmetros inflamatórios com
for Disease Control (CDC) e da
equivalente e um desmame
compromisso de um ou mais órgãos
Organização Mundial de Saúde
progressivo em 3 a 4 semanas.
(cardíaco, renal, respiratório,
(OMS) (Tabela 1).10,11
Apesar da escassa evidência, um estudo demonstrou que a terapia de
gastrointestinal ou neurológico), após exclusão de causas infeciosas
TRATAMENTO
combinação de IG-IV com GC está
que possam justificar o quadro.
O tratamento da MIS-C tem sofrido
associada a um risco menor de febre
Segundo esta abordagem a avaliação
alterações à medida que se adquire
persistente, necessidade de suporte
analítica deve ser adaptada à
mais conhecimento sobre esta
hemodinâmico e necessidade de
gravidade dos sintomas. Em doentes
patologia. A maioria é tratada com
tratamento com terapia
com bom estado geral e sintomas
imunoglobulina intravenosa (IG-IV) e
imunomoduladora adjuvante, em
ligeiros é proposta uma avaliação
glucocorticosteróides (GC) e a
comparação com monoterapia com
sumária, e um painel mais alargado
intervenção subsequente é adaptada
IG-IV.13 O benefício de terapias
com função cardíaca, renal e
à gravidade dos sintomas e resposta
adjuvantes (inibidores da
hepática em doentes com sintomas
ao tratamento inicial. Por definição
interleucina-1 e interleucina-6) não
moderados a graves.
trata-se de uma doença
está comprovado e pode ser
Todos os doentes devem ser
multissistémica pelo que é
considerado em doentes com
testados para infeção por SARS-
recomendada a colaboração entre
contraindicações para realizar GC ou
CoV-2 (teste PCR e serológico), sendo
especialidades (Cuidados intensivos,
refratários ao tratamento com GC.14,15
que a confirmação diagnóstica de
Cardiologia Pediátrica, Infeciologia
uma infeção pelo SARS-CoV-2 não é
Pediátrica e Hematologia Pediátrica).
Indice
43
44
Figura 1 – Abordagem ao doente com suspeita de MIS-C (adaptado de Uptodate®). *Ponderar pedir análises para despiste de infeção por vírus Ebstein-Barr, citomegalovirus humano, Streptococcus β hemolítico do grupo B ou painel de vírus respiratórios de acordo com a clínica.
44
Indice
RUBRICA PEDIÁTRICA
Figura 2 – Algoritmo para terapia imunomoduladora em doentes com critérios de diagnóstico de MIS-C (adaptado de Uptodate®). IG-IV: imunoglobulina intravenosa; GC: glucocorticóides.
Terapia antitrombótica
Terapia antimicrobiana
adrenalina e a noradrenalina são os
Os eventos trombóticos estão
Os sintomas da MIS-C podem ser
agentes vasoativos mais indicados
documentados nos doentes com
indistinguíveis de um quadro de
na idade pediátrica.
MIS-C.
choque séptico, pelo que devem ser
16,17
Em linha com o tratamento
da doença de Kawasaki, recomenda-
iniciados antibióticos de largo
PROGNÓSTICO E SEGUIMENTO
se que todos os doentes com MIS-C
espectro de forma empírica em todos
O prognóstico da MIS-C a longo
sem contraindicações (plaquetas <
os doentes em choque, até serem
termo é incerto. A maioria dos
50000uL, diátese hemorrágica ou
conhecidos os resultados do rastreio
doentes tem recuperação completa à
hemorragia ativa) sejam tratados
séptico. São recomendados
data da alta, porém têm sido
com aspirina na dose de 3-5mg/kg/
esquemas com ceftriaxona e
registados óbitos (taxa de
dia. É também recomendado
vancomicina. O benefício do
mortalidade de 1.7%).14 Recomenda-
tratamento anticoagulante em
tratamento com fármacos
se uma observação 1-2 semanas
doentes com trombose venosa
antirretrovirais como o remdesivir é
após a alta com uma avaliação
profunda, disfunção ventricular ou
incerto. Nos doentes que têm teste
ecocardiográfica, e os doentes são
com aneurismas das artérias
PCR positivo, a terapia antirretroviral
aconselhados a limitar a atividade
coronárias em dose terapêutica. Nos
poderá ter benefício, sendo
física durante 3-6 meses.2
restantes doentes sem as
aconselhada a colaboração da
complicações mencionadas, a
especialidade de infeciologia.
18
4
administração de um anticoagulante
CONCLUSÃO A MIS-C é uma síndrome rara mas
em dose profilática deve ser avaliada
Considerações especiais
potencialmente grave com
caso a caso. A enoxaparina é o
A abordagem de doentes com MIS-C
necessidade de internamento em
anticoagulante mais usado, na dose
é muito variável e depende em
unidade de cuidados intensivos. A
de 1mg/kg de 12/12h para
grande parte da apresentação clínica.
maioria das crianças com doença
tratamento e de 0.5mg/kg de 12/12h
Para os doentes que se apresentem
crítica têm um prognóstico favorável
para a profilaxia.
em choque devem ser usados
desde que tenham acesso a cuidados
protocolos de ressuscitação
intensivos e terapêutica adequada,
standard que saem fora do âmbito
sendo assim essencial um
deste trabalho. Em doentes em
diagnóstico célere
4
choque refratário a fluidoterapia, a
Indice
45
MENSAGENS CHAVE •
As infeções por SARS-CoV-2 são geralmente ligeiras na idade pediátrica, porém a MIS-C pode estar associada a doença grave
•
O diagnóstico de MIS-C deve ser considerado em crianças com febre e infeção ou exposição recente a SARS-CoV-2
•
Crianças com o diagnóstico de MIS-C devem ser tratadas com IG-IV; nos casos moderados/graves devem também ser usados GC
•
Deve ser feito um seguimento após a alta hospitalar para a monitorização de sequelas a longo prazo, como a formação de
46
aneurismas das artérias coronárias
TAKE HOME MESSAGES: •
SARS-CoV-2 infections in children are generally mild and non-fatal; however, MIS-C can lead to serious illness and long-term morbidity
•
Consider MIS-C in children presenting with fever and recent infection or exposure to SARS-CoV-2
•
Every child with diagnostic criteria should be treated with intravenous immunoglobulins; moderate and severe cases should also be treated with steroids
•
A close follow-up after discharge is crucial, focusing on long term complications such as coronary aneurysm. The long-term outcomes of MIS-C remain unknown and close follow-up is important
46
Indice
RUBRICA PEDIÁTRICA
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COMISSÃO CIENTÍFICA
Inflammatory Multisystem Syndrome Temporally
Indice
47
48
48
Indice
HOT TOPIC
HOT TOPIC
TRAUMA – UMA VIAGEM DO PRÉ-HOSPITALAR À ABORDAGEM NO SERVIÇO DE URGÊNCIA TRAUMA – A JOURNEY FROM PRE-HOSPITAL TO EMERGENCY ROOM Pedro Lavado1 1
Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Unidade Portimão, Serviço de Medicina Intensiva 2
RESUMO
tratamento e controlo de 3 entidades
necessary and follows defined
O trauma é umas das causas
que se relacionam com o aumento de
criteria. We must be aggressive in the
principais de mortalidade no mundo.
mortalidade: a hipotermia, a acidemia
treatment and control of 3 entities
Afeta em grande numero pessoas de
e a coagulopatia.
that are related to increased
idades jovens e previamente
mortality: hypothermia, acidemia and
saudáveis. A sua abordagem deve ser
ABSTRACT
coagulopathy.
um continuum e obedecer a
Trauma is one of the leading causes
determinados protocolos. A
of mortality in the world. It affects a
abordagem inicial é sustentada no
large number of young healthy
C-ABCDE com particularidades em
people. The treatment must be a
INTRODUÇÃO
termos de sedação, analgesia e
continuum and follow to certain
O trauma é uma das principais causas
controlo de foco hemorrágico. O
protocols. The initial approach should
de morte e segundo projeções irá
ácido tranexâmico é um fármaco que
adopt C-ABCDE approach. These
aumentar em 40% até 2030 quando
tem demonstrado a sua importância
patients have particularities in terms
comparado com 2002.1
no controlo hemorrágico. Dadas as
of sedation, analgesia and
A abordagem de um doente
necessidades do doente
hemorrhagic focus control.
politraumatizado é complexa e é
politraumatizado, a abordagem
Tranexamic acid is a drug that has
executada ao longo de diversos
definitiva só é conseguida a nível
shown its importance in hemorrhagic
momentos. Em cada momento
hospitalar, a melhor articulação entre
control. Given the needs of
existem diferentes particularidades,
o pré-hospitalar e o hospitalar pode
polytrauma patients, the definitive
limitações e desafios. Compete a cada
resultar em melhores resultados pois
treatment is only achieved at the
um dos elementos envolvidos neste
permite antecipar abordagens antes
hospital level, the better articulation
percurso em primeiro lugar a prestação
da chegada do doente. Diferentes
between the pre-hospital and the
dos melhores cuidados médicos e, em
sistemas de saúde apresentam
hospital can result in improved
segundo lugar a melhor articulação
diversas abordagens ao trauma,
outcomes, as it allows to prepare
com as unidades hospitalares para
sobretudo em pré-hospitalar onde a
what is needed to the definite
onde se fará a transferência.
abordagem pode incluir ou não a
treatment before arrival. Different
Quando se fala de trauma falamos de
presença ou não de equipas mais
health systems have different
um evento inesperado que ocorre
diferenciadas no local. O protocolo de
approaches to trauma, especially in
muitas vezes em pessoas saudáveis
transfusão maciça é frequentemente
pre-hospital care, it may include or
e em idade ativa. Neste contexto,
necessário e obedece a critérios
not more differentiated care in place.
mais importante se torna não só
definidos. Devemos ser agressivos no
Massive transfusion protocol is often
garantir a sobrevivência como a
Keywords: Trauma; C-ABCDE, ácido tranexâmico, transfusão maciça, hipotermia
Indice
49
reabilitação, dentro do possível ao
tratamento das lesões.
contínua e reavaliação; transporte.
seu estado basal.
Dito isto, “scoop and run” ou “stay and
Em trauma a clássica abordagem do
play”? A primeira é reconhecida que
ABCDE é ligeiramente diferente na
Os objetivos principais da abordagem
aumenta o risco de tratamento
avaliação primária. Isto deve-se ao
inicial de um politraumatizado são2:
inadequado ou atrasado (ex.
fato de que a hemorragia pode ser
1. Identificar e corrigir lesões que
compressões torácicas) assim como
catastrófica e se não abordada de
condicionem risco de vida. A
o risco de lesões induzidas pelo
imediato não será possível a
correta avaliação e identificação
transporte; enquanto a segunda não
sobrevivência do doente. Desta
de lesões graves potencialmente
permite a disponibilidade mais cedo
forma, a abordagem muda para
podem levar a transferência
de toda a abordagem possível
C-ABCDE, em que se faz controlo da
direta do doente para um
apenas em hospital. Não existe uma
hemorragia e só depois de
50
hospital terciário, dependendo
relação completamente definida
compressão local, torniquete… é que
das condições de transferência e
entre tempo no local e mortalidade,
se avança para o ABCDE.
da aceitação de transferência.
estudos recentes apresentam resultados inconsistentes6,7,8,9,10. Na
O uso de Ecografia (eFAST e POCUS)
opinião do autor, mais importante do
pode ser útil, mas não deve adiar a
que a demora de mais uns minutos
transferência, nem em caso de
no local é não adiar qualquer
paragem cardiorrespiratória o suporte
A mortalidade no trauma é
intervenção potencialmente life-
avançado de vida. A realização de
classicamente trimodal3.
saving. Na presença de pessoal
gasometria em pré-hospitalar poderá
diferenciado médico e de
ser uma mais-valia na tomada de
Pré-hospitalar
enfermagem permite uma melhor
decisões e nos ajustes sobretudo da
No caso de doentes graves o tempo é
estabilização do doente no local. O
ventilação dos doentes. O benefício
fundamental, à semelhança do
curso da VMER por si só não garante
destes exames será dependente da
acidente vascular cerebral onde
cuidados diferenciados a este nível e
gravidade, da distância para o hospital
tempo é cérebro, no trauma tempo é
como tal, a diferenciação dos
e em cenário de catástrofe poderá ser
vida. A golden hour diz respeito à
elementos presentes será um dos
uma forma de triagem rápida.
hora inicial após trauma, na qual se
fatores a definir qual a melhor
deve conseguir o tratamento
abordagem.
2. Prevenir agravamento das lesões existentes 3. Evitar novas lesões
Transferência Após a estabilização do doente a
definitivo da lesão, após o qual a mortalidade e morbilidade aumenta4.
Abordagem
próxima decisão é para onde e como
Outro conceito semelhante é o de
A abordagem deve ser realizada de
transferir o doente.
platinium minutes que implica que o
uma forma sistemática e rápida.
Os scores de gravidade podem ajudar
doente não deve estar mais de 10min
Consiste nos seguintes passos:
a decidir quanto à necessidade de
no local desde a chegada de meios
triagem no caso de múltiplas vítimas;
transferência emergente para o
diferenciados ao local (VMER e SIV
avaliação primária (tabela abaixo);
hospital assim como a ajudar a
em Portugal). Estes conceitos são
decisão de transferência; avaliação
decidir o destino. Deverá ser sempre
controversos5, são úteis, no entanto,
secundária (exame físico mais
ponderado o que é mais benéfico,
para enfatizar a urgência de
detalhado - ABCDE); monitorização
transporte direto para hospital
50
Indice
HOT TOPIC
terciário ou para o hospital mais
dividem-se em 3 grupos: os que se
A transferência pode ser feita por
próximo. De referir que os scores não
baseiam em variáveis fisiológicas
ambulância ou por helicóptero. A
substituem a avaliação realizada no
(Revised Trauma Score, APACHE I, II e
decisão será quase sempre individual
local, podem ajudar, mas não se
III, Glasgow Coma Scale…), os que se
dado que depende de vários fatores:
sobrepõem à avaliação
baseiam na anatomia (injury severity
acessos onde aterrar o helicóptero,
individualizada.
score, abbreviated injury scale…) e os
tempo de ativação no caso do
Não existe nenhum score de
combinados (trauma and injury
helicóptero e tempo de viagem,
gravidade ideal. Estes scores
severity score).
disponibilidade dos heliportos (no
Indice
51
caso da grande Lisboa apenas estão
e tempo até ao destino.
Pela importância da gestão do serviço
disponíveis no período noturno o
A comunicação antecipada permite
de urgência aquando da admissão de
aeroporto da portela e o hospital de
mobilizar recursos que de outra
um traumatizado grave, a existência
Santa Cruz) experiência das
forma podem não estar disponíveis.
de procedimentos uniformes a nível
diferentes tripulações e lesões do
As seguintes medidas podem ser
nacional, poderia ser capaz de
doente. Em Portugal esta decisão é
tomadas:
otimizar tanto a passagem de
tomada em conjunto entre o médico
1. Ativação do médico responsável
informação como agilizar a decisão
no local e os médicos do Centros de
pela sala de emergência,
dos meios imediatos a mobilizar.
Orientação de Doentes Urgentes
responsável pela coordenação da
Analgesia e sedação: o tratamento da
(CODU) e a equipa médica que irá
abordagem ao traumatizado
dor deverá ser iniciado precocemente
receber o doente.
2. Presença de diferentes
com o uso de analgesia multimodal e
especialidades na sala emergência
recurso a opioides. A cetamina poderá
Comunicação com o hospital
aquando da admissão do doente
ser uma opção para analgesia
de destino
(Cirurgia Geral, Ortopedia,
(atenção que doses elevadas causas
A comunicação é essencial e quanto
Anestesiologia, Medicina
alucinações se usada sem outro
mais precoce for realizada mais
Intensiva…)
sedativo). A sedação deverá ser feita
eficaz será a abordagem do doente.
3. Reserva de52sala de bloco
de acordo com a situação
Idealmente a comunicação deverá
operatório em caso de necessidade
nomeadamente se ventilação
ser feita pelo médico no local
de abordagem emergente
mecânica, doente agitado, conforto
diretamente com o médico da sala de
4. Articulação com serviço de sangue
entre outras.
emergência, não sendo possível
para garantir produtos para
Ácido tranexâmico: se disponível deve
caberá ao médico do CODU este
protocolo de transfusão maciça.
ser iniciado durante o pré-hospitalar.
contacto. A informação deve ser
Relembrar que o plasma fresco
Ver secção abaixo.
precisa e incidir em: quem (doenças
congelado demora 30-45min até
A abordagem do trauma é um
prévias, fármacos, alergias) como
estar disponível para
continuum, o serviço de urgência vai
(mecanismo de lesão), lesões
administração ao doente.
prosseguir a abordagem e tratamento
identificadas, intervenções realizadas
52
Indice
5. Reserva da sala de TC.
iniciado no pré-hospitalar.
HOT TOPIC
Hospital
forma exaustiva os exames e quando
trauma14,15. Deve ser administrado
Desde 2010 que a DGS publicou uma
pedir dado que não é esse o objetivo.
1 g endovenoso em 10 minutos (se
norma de forma a serem criadas as
não realizado no pré-hospitalar),
denominadas equipas de trauma e
Particularidades na abordagem e
seguido de 1mg/kg/h em perfusão
qual a sua constituição de acordo
tratamento do traumatizado
durante 8h.
com a tipologia da instituição:
Fibrinogénio (30-50mg/kg) deve ser
Serviço de Urgência Básica (SUB),
Protocolo de transfusão maciça
administrado se níveis plasmáticos
Serviço de Urgência Médico-Cirúrgico
A atuação em contexto de
de fibrinogénio inferiores a 150-
(SUMC) e Serviço de Urgência
hemorragia maciça está
200mg/dL ou sinais
Polivalente (SUP) cada um com
protocolada12. Hemorragia maciça
tromboelastométricos de deficiência
maior diferenciação e maior
define-se como uma das seguintes:
funcional de Fibrinogénio. Valores
1) Perda de sangue equivalente a
inferiores aos descritos aumentam o
100% da volémia em 24 horas; 2)
risco de persistência de
Na mesma norma foram definidos
Perda de 50% da volémia em 3 horas;
hemorragia16,17.
critérios para a ativação destas
ou 3) Perdas sanguíneas a uma
equipas/admissão em sala de
velocidade de 150 ml/minuto em
Tríada mortal do trauma18: acidémia
emergência ou sala de trauma (se
doente adulto. De recordar que a
+ hipotermia + coagulopatia
existente). de acordo com sinais
volémia é aproximadamente igual a
A hipotermia está virtualmente
vitais e a anatomia da lesão:
75mL/Kg (5000cc num doente adulto
presente em todo o doente
de 75kg).
traumatizado exposto aos elementos,
Outros critérios a ter em conta para
Na presença de uma destas
agravado se necessidade de
definir possível trauma severo são:
situações deverá ser disponibilizado
intervenção cirúrgica. Estima-se que
acidente de moto com projeção do
até 15minutos 2 concentrados
por cada hora em laparotomia um
condutor; morte de ocupante do
eritrocitários (CE) por parte do
doente traumatizado pode perder
veículo, queda de altura > 2 metros;
serviço de sangue e administrados
cerca de 4.6ºC19. Múltiplos estudos
atropelamento a >10km/h ou com
de imediato. Se disponível
demonstraram uma associação entre
projeção; impacto de alta energia;
tromboelastograma ou
hipotermia (<35ºC) e
acidente a >65km/h; tempo para
tromboelastometria rotacional o
morbimortalidade em trauma20,21,22. A
desencarceramento >20minutos.
restante suporte transfusional deverá
hipotermia tem múltiplas
Após admissão deve ser repetida a
ser dirigido. No caso de não existir, a
consequências fisiológicas e interfere
sequência de avaliação primária e
transfusão deve ser realizada da
significativamente na coagulação.
posteriormente secundária. A
seguinte forma: 4CE + 4 Plasmas
Desta forma a hipotermia deve ser
primeira em menos de 20 minutos
frescos congelados + 1 concentrado
ativamente corrigida (soros
desde a admissão e a secundária
de plaquetas. Restante suporte
aquecidos, aquecedor, manta térmica,
dentro de 1h após admissão.
transfusional realizado de forma a
aquecimento das salas…)
A grande diferença aqui em
manter Hemoglobina de 7-9g/dL e
A coagulopatia induzida pelo trauma é
comparação a abordagem pré-
conforme provas de coagulação.
um segundo mecanismo de
hospitalar são os exames
Outros fatores a favor da
hemorragia. Aproximadamente 30%
complementares de diagnóstico
necessidade de iniciar o protocolo de
dos doentes com trauma major
disponíveis e que de acordo com a
transfusão maciça são lactato ≥ 5
apresentam esta coagulopatia.
lesão serão realizados. Alguns são
mmol/L; Excesso de bases < −6
Atualmente é aceite que este
realizados por rotina em todos os
mmol/L; Hemoglobina ≤ 9 g/dL, TA
mecanismo se inícia no momento do
doentes com trauma grave, enquanto
sistólica ≤ 90 mmHg.13
trauma. A sua fisiopatologia é
outros apenas em casos particulares.
Ácido tranexâmico demonstrou
complexa e dinâmica. Envolve
Não se pretende abordar aqui de
diminuir a mortalidade em
hiperfibrinólise, hipercoagulação que
disponibilidade de valências . 11
Indice
53
54
54
Indice
HOT TOPIC
leva numa fase final a hipocoagulação,
A analgesia adequada permite uma
por parte da DGS30. Esta
por consumo de factores pro-
melhor colaboração do doente assim
antibioterapia será maioritariamente,
coagulantes, e consequente
como a prevenção de complicações,
pela sua frequência, dirigida a
hemorragia. O diagnóstico e
sobretudo no trauma torácico e
fraturas expostas e perfurações
tratamento assenta na avaliação dos
craniano. No trauma torácico diminui
abdominais/torácicas. O antibiótico a
factores de coagulação e/ou estudos
a incidência de pneumonia,
usar será definido individualmente.
viscoelásticos. O uso precoce de
atelectasia e enfarte do miocárdio; no
antifibrinoliticos e ressuscitação
trauma craneoencefálico a dor
Profilaxia antitetânica
balanceada são a melhor forma de
controlada pode ajudar ao controlo
Apesar de uma boa cobertura da
manejo desta entidade .
da hipertensão intra-craneana.
vacinação na população portuguesa,
A acidémia após trauma depende de
A sedação é habitualmente
é necessário ter o cuidado de
3 fatores: uso inadequado de fluidos,
necessária após a entubação
verificar o plano vacinal.
hipoperfusão tecidular e o uso de
orotraqueal de forma a permitir
solução hiperclorémicas na
melhor adaptação à ventilação
DIFERENTES REALIDADES
fluidoterapia. Hipoperfusão celular
invasiva. No caso particular do
A diferença de abordagem no
leva a produção de lactato por
trauma o uso de midazolam e de
pré-hospitalar assenta basicamente
metabolismo anaeróbico e o uso de
cetamina poderão ser mais
na dicotomia: paramédicos vs o uso
NaCl pelo seu conteúdo de cloro leva
adequados do que o propofol por
de equipas médico/enfermeiro. Não
a acidose metabólica
apresentarem menos efeito
existe certeza de qual o melhor
hiperclorémica . A acidémia leva a
hipotensivo. A cetamina tem a
modelo. Alguns estudos que
alterações da agregação e estrutura
particularidade ainda de combinar
tentaram avaliar este aspeto não
plaquetária, redução da atividade dos
efeito analgesico e sedativo.
demonstraram diferenças, no
23
24
fatores de coagulação assim como
entanto apresentavam viés tal como
aumento da degradação do
Fluidoterapia
a não inclusão dos óbitos antes da
fibrinogénio. A administração de
A administração de fluidos em trauma
admissão no serviço de urgência o
bicarbonato para a correção da
deve ser parcimoniosa.
que poderia mudar muito os
acidose não se correlaciona com
Ressuscitações agressivas levam a
resultados31,32. Estudos mais
acidoses metabólicas (hiperclorémica
recentes identificam uma aparente
se usado NaCl 0,9%), edema
vantagem do tratamento pré-
intersticial, hipotermia, diluição de
hospitalar com o recurso a equipas
Analgesia e Sedação
fatores de coagulação além de
mais diferenciadas33,34.
Tratando-se a dor de um evento
alterações da microcirculação e da
Um outro modelo de abordagem ao
expectável no trauma esta deve ser
entrega de O2
trauma, pelas suas características
diminuição da coagulopatia secundária ao trauma e à acidémia . 25
.
26,27,28,29
abordada. O tratamento assenta
geopolíticas, é o de Israel. Aqui
habitualmente em analgesia com o
Tratamento Cirúrgico
assenta numa política de abordagem
uso de opioides. O tramadol deve ser
De acordo com a avaliação
e transporte rápido para o hospital.
usado com cuidado no caso de risco
multidisciplinar realizada à
Além das equipas de ambulâncias,
de convulsões. A dose deve ser
avaliação secundária será decidida
existem diversos voluntários
titulada para controlo da dor.
a necessidade de abordagem
devidamente treinados que
Morfina e fentanil são os opioides de
cirúrgica para resolução definitiva
complementam a resposta pré-
eleição. Pela facilidade de uso e
das lesões identificadas.
hospitalar. A abordagem é “safe-and-
rapidez de acção o fentanil será o
run”, na qual apenas intervenções
fármaco de eleição (1-2mcg/kg
Antibioterapia
life-saving são realizadas (entubação,
- habitualmente uma dose de
Será realizada de acordo com a
drenagem com agulha de
50-100mcg é suficiente).
situação e com as recomendações
pneumotórax hipertensivo, controlo
Indice
55
de hemorragia major) e os doentes
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COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
57
58
58
Indice
CASO CLÍNICO ADULTO
CASO CLÍNICO ADULTO
O SUPORTE É BÁSICO E SALVA VIDAS UMA HISTÓRIA DE SUCESSO DA CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA: CASO CLÍNICO. SUPPORT IS BASIC AND LIFE-SAVING A SURVIVAL CHAIN SUCCESS STORY: CASE REPORT. Hugo Costa1; Miguel Jacob2; Rafaela Pereira3; Sofia Ribeiro4 IFE Cardiologia; 2-IFE Anestesiologia; 3- IFE Medicina Interna; 4- IFE Medicina Intensiva - Serviço de Medicina Intensiva do CHUA - UCIP 1
RESUMO
emergência médica e posterior
essential for the rapid arrival of the
Reportamos um caso clínico de um
ressuscitação cardiopulmonar
emergency medical team and
jovem de 38 anos, vítima de paragem
avançada.
subsequent advanced life suport.
Palavras-Chave: Paragem cardiorrespiratória; Suporte básico de vida; Suporte avançado de vida; Fibrilhação ventricular.
Keywords: Cardiorespiratory arrest; Basic life support; Advanced life support; Ventricular fibrillation.
cardiorrespiratória em fibrilhação ventricular. O doente foi recuperado após 7 minutos de suporte básico de vida mais 26 minutos de suporte avançado de vida com 5 choques pelo monitor-desfibrilhador e LUCAS adaptado até à recuperação da circulação espontânea. Após estabilização o doente foi internado na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes e posteriormente transferido para o serviço de Cardiologia, onde efectuou avaliação da anatomia coronária com coronárias sem lesões. Após descartadas as principais causas para o sucedido e passiveis de tratamento, o doente teve indicação para a colocação de um cardioversordesfibrilhador-implantável. O caso clínico enaltece a rápida actuação e o elo de ligação da cadeia de sobrevivência, com suporte básico de vida e o contacto precoce com o centro de orientação de doentes urgentes, essenciais para a chegada em tempo útil da equipa de
ABSTRACT
CASO CLÍNICO
We report a case of a 38-year-old
Dia 1, ativada a equipa de suporte
victim of cardiorespiratory arrest in
imediato de vida (SIV) e viatura
ventricular fibrillation. The patient
médica de emergência e reanimação
was recovered after 7 minutes of
(VMER) para um homem de 38 anos
basic life support plus 26 minutes of
no domicílio por perda súbita da
advanced life support with 5 shocks
consciência.
by the monitor-defibrillator and
Trata-se de um jovem com fatores de
LUCAS adapted till recovery of
risco cardiovasculares (FRCV)
spontaneous circulation. After
relevantes para hipertensão arterial e
stabilization, the patient was
hipercolesterolemia, não fumador e
admitted in intensive care unit and
com um índice de massa corporal de
later transferred to the Cardiology
23Kg/m2. Como antecedentes
department, where he performed an
pessoais apresentava ainda
coronary angiography showing
hipospadias com infecções urinárias
coronary arteries without lesions.
recorrentes na infância. Desconhecia
After ruling out the main causes, the
casos de doença arterial coronária ou
patient fulfilled criteria for the
morte súbita na família. Estava
placement of an implantable
medicado com perindopril,
cardioverter defibrillator. The case
amlodipina e nebivolol além de uma
enhances the rapid action and link of
estatina que faria de forma pouco
the survival chain, with basic life
regular.
support and early contact with the
Pelas 07:00h de dia 1, e
urgent patient guidance centre,
assintomático à data, sofre perda
Indice
59
60
60
Indice
CASO CLÍNICO ADULTO
Figura 1 – Evolução cronológica. CAT – Angiografia coronária; CDI – Cardioversor-desfibrilhador-implantável; PCR – Paragem cardiorrespiratória; SAV – Suporte avançado de vida; SBV – Suporte básico de vida; SIV – Suporte imediato de vida; UCIP – Unidade de cuidados intensivos polivalentes; VMER – Viatura médica de emergência e reanimação.
súbita de consciência após levante.
“gasping”, sem sinais de hemorragia
com pressão arterial 96/45mmHg,
Perante a noção de gravidade, sem
activa, desvio da traqueia,
frequência cardíaca 60bpm com
recuperação espontânea da
ingurgitamento jugular ou trauma
SatO2 97%. Realizou vários meios
consciência, a esposa pede auxílio a
após queda. Colocadas as pás
complementares de diagnóstico com
um vizinho com formação em
multifunções do monitor-
o electrocardiograma (ECG) em RS e
suporte básico de vida (SBV) que
desfibrilhador com detecção de ritmo
sem sinais evidentes de isquemia.
inicia rapidamente manobras perante
desfibrilhável em fibrilhação
Gasometricamente a evidenciar
um doente sem pulso (o doente
ventricular (FV), seguida de choque e
acidose metabólica por lactacidémia,
manteve-se menos de 1 minuto sem
novo ciclo de SAV. Os 4 ciclos
sem alterações iónicas e
manobras). Entretanto a esposa
seguintes alternaram entre FV e
doseamento de troponinas I de alta
contacta rapidamente o centro de
taquicardia ventricular (TV) sem
sensibilidade (hs-cTnI) de 3500pg/ml
orientação de doentes urgentes
pulso com administração de 5
e em curva ascendente para
(CODU) que dá instruções para
choques no total e dos respectivos
35000pg/ml. Realizou ecoscopia
manterem o suporte ao doente e
fármacos em ressuscitação
cardíaca evidenciando boa função
ativa os meios diferenciados de
(adrenalina 1mg e amiodarona
ventricular esquerda e sem
emergência médica. O SBV é mantido
300mg). Perante dificuldade nos
alterações da cinética global e
durante 7 minutos até à chegada da
acessos venosos é colocada uma via
segmentar. Foi ainda submetido a
SIV (figura 1).
intra-óssea e adaptado o LUCAS,
uma angio-tomografia computorizada
Colocado desfibrilhador automático
perfazendo um total de 26 minutos
(TC) torácica que se revelou sem
externo (DAE) pela equipa da SIV, que
de SAV até à recuperação da
alterações, sendo a pesquisa de
inicialmente não recomenda choque.
circulação espontânea (ROSC).
tóxicos igualmente negativa. Por fim
À chegada da VMER, o doente
Entretanto por manter depressão do
realiza uma TC-crânio-encefálica que
encontrava-se em paragem
estado de consciência, teve
não identificou alterações sugestivas
cardiorrespiratória (PCR) sob
necessidade de intubação
de lesões vasculares recentes,
manobras de suporte avançado de
endotraqueal e foi transferido para o
isquémicas ou hemorrágicas.
vida (SAV) há 6 minutos com 2
centro hospitalar e universitário do
O doente foi posteriormente
avaliações pelo DAE com choques
algarve em ritmo sinusal (RS).
internado na Unidade de Cuidados
não recomendados. Apresentava 3
À chegada à sala de emergência
Intensivos Polivalente em protocolo
em 15 na Escala de Coma de
apresentava GCS 4 em 15, pupilas
de estabilização pós-reanimação sob
Glasgow (GCS), movimentos de
midriática mas reactivas, hipotenso
sedo-analgesia com propofol e
Indice
61
Tabela 1 – Recomendações para implantação de CDI em prevenção secundária de morte súbita cardíaca e arritmias ventriculares. CDI – cardioversor-desfibrilhador-implantável; EAM – enfarte agudo do miocárdio; FV – fibrilhação ventricular; TV – taquicardia ventricular. Adaptado de (5)
fentanilo e normoterapia durante 48h.
62 recuperação consciência sem
VMER, o doente apresentou sempre
Cumpriu 5 dias de internamento, com
espontânea, e perante a noção de
ritmo desfibrilhável tendo sido sujeito
desmame da sedo-analgesia e
gravidade, foi essencial o primeiro
a choques apropriados com SAV e
extubação ao 3º dia. Após
pedido de ajuda por parte da esposa.
ROSC após 26 minutos. Assim,
estabilização, realizou uma
O vizinho, com formação em SBV
poderá ser questionável se o doente
angiografia coronária na unidade de
inicia manobras de forma ininterrupta
esteve em ritmo não desfibrilhável no
hemodinâmica do serviço de
até à chegada de ajuda diferenciada,
início da PCR, ou se poder-se-á ter
Cardiologia apresentando coronárias
como mandam as linhas
tratado de um erro de interpretação
sem lesões. Realizou ainda um
orientadoras . O contacto precoce
do DAE.
electroencefalograma (EEG) que
com o CODU tornou-se essencial,
Após a avaliação das principais
descartou atividade paroxística ou
pois a ativação da VMER e sua rápida
causas (5T - 5H), apenas a acidose
disfunção cortical. Recuperou o
atuação foram fundamentais para o
metabólica por lactacidémia era
estado de consciência no 4º dia (GCS
desfecho final. O doente sofreu uma
relatada, mas logicamente
12->14), mantendo-se confuso e com
PCR e esteve sob SBV durante 7
interpretada como consequência
amnésia peri-evento.
minutos desde a alteração do estado
pós-PCR. A subida das hs-cTnI foi
Discutido caso com Cardiologia-
de consciência. À chegada da SIV foi
interpretada no contexto das
Arritmologia que aceitou o doente
conetado o DAE que não recomendou
manobras de reanimação e dos
para colocação de cardioversor-
choque nas duas avaliações que
choques realizados, já que as
desfibrilhador-implantável (CDI) em
realizou, interpretando como ritmo
alterações no ECG e na ecoscopia
prevenção secundária após
não desfibrilhável. Numa fase inicial
cardíaca não eram sugestivas de
recuperação evidente do estado de
o doente apresentava movimentos
enfarte agudo do miocárdio, facto
consciência.
descritos como “gasping”,
que se veio a confirmar com a
movimentos estes associados na
angiografia coronária. A ecoscopia
DISCUSSÃO
literatura a maior taxa de ROSC,
cardíaca descartou ainda
O caso clinico descreve um doente
sobrevivência a longo prazo, melhor
tamponamento cardíaco e a angio-TC
jovem com FRCV, mas ainda assim
outcome neurológico e associado
com um risco cardiovascular global
ainda a ritmos desfibrilháveis inicias .
e pneumotórax. Não foram
baixo . Na presença de perda de
Além disso, após a chegada da
objectivadas hipovolémia, hipoxia ou
1
62
Indice
2,3
afastou tromboembolismo pulmonar 4
CASO CLÍNICO ADULTO
hipotermia e não foram detectados
BIBLIOGRAFIA
distúrbios iónicos através da
1.
Hoes AW, Ireland MC, Corra U, Uk CD, Ireland IG,
gasometria2. Após estabilização do
Stephen M, et al. 2016 European Guidelines on
doente em termos hemodinâmicos e
cardiovascular disease prevention in clinical
respiratórios foi fundamental avaliar
practice The Sixth Joint Task Force of the
o doente em termos neurológicos,
European Society of Cardiology. Eur. Heart J.
pois a recuperação praticamente
2016;37:2315–81.
total do estado de consciência do
2.
Donnino M, Navarro K, Berg K, Brooks S.
doente, sem défices motores ou
Advanced Cardiac Life Suport. Association AH,
sensitivos, pesou na decisão final da
editor. AHA; 2016.
estratégia adotada. Assim, perante
3.
Neto P, Marques N, Vaz F, Porto J. Manual de
um doente jovem com 38 anos
Suporte Avançado De Vida. INEM - DFE. DFEM I-,
recuperado de PCR por arritmia
editor. 2019.
ventricular com bom estado
4.
Zhang Q, Liu B, Qi Z, Li C. Prognostic value of
funcional (sem sequelas
gasping for short and long outcomes during
neurológicas ou motoras), com uma
out-of-hospital cardiac arrest : an updated
sobrevida expectável superior a 1
systematic review and meta-analysis. J. Trauma,
ano, a colocação de um CDI tem grau
Resusc. Emerg. Med. Scandinavian Journal of
de recomendação I e nível de
Trauma, Resuscitation and Emergency Medicine;
evidência A (tabela 1)5.
2018;1–7. 5.
Aepc C, Blomstro C, Blom N, Germany MB, Uk JC,
CONCLUSÃO
Mark P, et al. 2015 ESC Guidelines for the
O caso clínico apresentado tem como
management of patients with ventricular
objetivo demonstrar a importância da
arrhythmias and the prevention of sudden cardiac
cadeia de sobrevivência e a
death The Task Force for the Management of
manutenção de todos os elos ao
Patients with Ventricular Arrhythmias and the
longo da cadeia descrita.
Prevention of Sudden Cardiac Death of the
Ressalvamos a importância do SBV,
Europea. Eur. Heart J. 2015;36:2793–867.
EDITORA
NOÉLIA AFONSO Médica VMER
fundamental para permitir manter o doente até à abordagem médica diferenciada. É premente que se
EDITOR
façam todos os esforços necessários para que este tipo de formação chegue a toda a população, pois é básico e salva vidas. A pesquisa etiológica da PCR é fundamental,
RUI OSÓRIO Médico VMER
mas nem sempre com sucesso. A implantação de CDI em prevenção secundária pós-PCR por arritmia
REVISÃO
ventricular num doente com bom estado funcional tem indicação IA nas linhas orientadoras internacionais. COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
63
64
64
Indice
CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO
CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO
ABORDAGEM A QUEIMADURAS NA IDADE PEDIÁTRICA: ABCDE+F Mafalda João Pereira1, Íris Rocha e Oliveira1, Andreia J. Fernandes1 1
Serviço de Pediatria, Centro Hospitalar Universitário do Algarve – Unidade de Faro.
RESUMO
ABSTRACT
CASO CLÍNICO
As queimaduras são acidentes
Burns are frequent accidents, the
Criança de 23 meses, sexo
frequentes em pediatria, cuja
approach of which does not differ
masculino, natural da Moldávia, a
abordagem não difere da realizada
from the pre-hospital one of a
residir em Portugal há 3 meses, sem
em ambiente pré-hospitalar de um
polytrauma patient, with a rapid
antecedentes de relevo, é trazido à
politraumatizado, com potencial de
evolution of injuries and general
urgência pela VMER por queimadura
rápida deterioração das lesões e do
condition potential. The stabilization
com óleo quente 2 horas antes e
estado geral. A estabilização do
of the patient must follow the
tentativa de interrupção da
doente deve seguir a sigla de
acronym ABCDE + F.
queimadura utilizando óleo fresco.
reanimação ABCDE+F.
Burns lead to several types of
Dificuldade na colheita de história por
As queimaduras conduzem a vários
pathological response, requiring a
barreira linguística, sem mais dados
tipos de resposta fisiopatológica,
correct classification of depth and
na anamnese (saudável, sem alergias
necessitando de uma correta
estimation of burned total body
e última refeição 4 horas antes;
classificação da profundidade e
surface area (TBSA). Fluid and pain
vacinação atualizada segundo
estimativa da área de superfície
therapy must be established rapidly
programa Moldavo e Português).
corporal queimada (ASCQ). A
to improve the prognosis. The
Durante o transporte, foi
analgesia e fluidoterapia devem ser
approach should also allow gathering
administrado paracetamol rectal e
instituídas o mais rapidamente
as much information as possible
midazolam intranasal pela equipa da
possível a fim de melhorar o
from the circumstances, without
VMER. Peso estimado de 16kg.
prognóstico. A abordagem deve
compromising the provided care.
Abordagem inicial e atuação: A – via
ainda permitir recolher o máximo de
We present the case of a 23-month-
aérea permeável, edema dos lábios e
informação possível das
old child brought to the Pediatric
pirâmide nasal, sem edema da língua
circunstâncias, sempre sem prejuízo
emergency department with burns of
ou orofaringe, choro mantido; B –
dos cuidados.
about 16% TBSA, his approach and
ventilação espontânea, sem
Apresentamos o caso de uma criança
referral.
dificuldade respiratória, SatO2 100%
de 23 meses trazida à urgência
(ar ambiente); C – FC 140-180 bpm,
pediátrica com cerca 16% de ASCQ, a
TA 115/63 mmHg, MAP 82 mmHg; D
sua abordagem e encaminhamento.
– Escala de Coma de Glasgow 15 pontos, desperto, irritado; E – queimaduras de espessura
Palavras-Chave: queimadura; acidente; estabilização; analgesia.
Keywords: burn; accident; stabilization; analgesia.
superficial parcial e profunda parcial da pirâmide nasal, lábios, hemiface
Indice
65
direita, mento, face lateral direita do pescoço, anterior do hemitórax direito, antero-medial do braço direito e 4 medalhas no antebraço direito, totalizando 16% de ASCQ; F – iniciou Lactato de Ringer consoante fórmula de Brooke modificada. Iniciou analgesia com morfina ev. As lesões foram limpas e desbridadas, providenciou-se controlo térmico e algaliação para monitorização do débito urinário (DU). Contactada a Unidade de Queimados do Hospital Dona Estefânia para o qual foi transferido pela equipa de TIP Algarve. DISCUSSÃO A abordagem sistemática do doente com queimadura é essencial para evolução e prognóstico favoráveis. Após estabilização, torna-se imperiosa uma adequada reposição volémica1,2,3. A gravidade do doente queimado depende da extensão de ASCQ, profundidade, mecanismo etiológico e implicações deste, bem como da idade do doente (< 5 anos)1,2,3. Após o insulto é desencadeada uma resposta local com destruição irreversível na zona de coagulação/
Imagem 1 – Zonas de queimadura; retirada e adaptada de Bomfim, Ana Beatriz. “Queimaduras: Colunistas - Sanar Medicina.” Sanar, Junho 2021, www.sanarmed.com/queimaduras-colunistas.
maior suscetibilidade à infeção3,4.
•
As queimaduras podem ser térmicas, 66 por fricção, radiação, elétricas ou
Térmica: expor a água corrente morna durante 20 minutos;
•
químicas . A intensidade e duração
Elétrica: não tocar na vítima, interromper a fonte elétrica;
5
da exposição determinam a
•
Fogo: apagar as chamas;
profundidade da lesão
•
Química: lavar com água até
2,4,5
. Esta é
classificada consoante a camada
sensação de queimadura
cutânea atingida: epidérmica (1º
desaparecer1,2,6.
grau), superficial de espessura
O cálculo da percentagem de ASCQ
parcial (2º grau superficial), profunda
segue a Tabela de Lund e Browder
de espessura parcial (2º grau
(Tabela 1), excluindo queimaduras
profunda), profunda completa (3º
epidérmicas. Podemos também
grau) e profunda “completa+”
utilizar a “Regra dos Nove” (Imagem
(envolve tecidos subjacentes)
2,4,5
.
O primeiro passo na abordagem de
2) ou a medida da palma da mão que corresponde a 1% da ASCQ1,2.
uma queimadura é interromper o seu mecanismo1,2:
zona central da queimadura, diminuição da perfusão na zona de estase/isquémia e vasodilatação na zona de hiperémia/zona periférica (Imagem 1). Concomitantemente, surge resposta sistémica com libertação de mediadores vasoativos; resposta hipermetabólica com aumento do metabolismo energético/ proteico; resposta imune com libertação de mediadores próinflamatórios e compromisso da resposta adaptativa, conferindo
66
Indice
Tabela 1 – Tabela de Lund e Browder; retirada e adaptada de Norma de Orientação Clínica nº 022/2012 de 26/12/2012 atualizada a 13/07/2017; Abordagem Hospitalar das Queimaduras em Idade Pediátrica e no Adulto; Direção Geral da Saúde.
CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO
respiratória, índice de Clark > 2 (Tabela 2), inalação de monóxido de carbono (CO), persistência SatO2 < 90% e queimadura > 40% ou circular do tórax2,10. •
B – ventilação.
Nas queimaduras por fogo, suspeita de lesão inalatória ou intoxicação por CO devemos oferecer oxigénio humidificado a 100% por máscara facial1,2. •
C – circulação com controlo hemorrágico e acesso venoso.
Os pulsos distais e tempo de reperfusão capilar devem ser reavaliados frequentemente. No caso de taquicardia, má perfusão periférica ou hipotensão inexplicadas devem ser procuradas lesões associadas. Deve ser assegurado o acesso venoso periférico, com colocação de dois cateteres em área Imagem 2 – Regra dos Nove; retirada e adaptada de Norma de Orientação Clínica nº 022/2012 de 26/12/2012 atualizada a 13/07/2017; Abordagem Hospitalar das Queimaduras em Idade Pediátrica e no Adulto; Direção Geral da Saúde.
É essencial evitar a hipotermia e
faciais (sobretudo se queimaduras
remover vestuário não aderente . As
por fogo com possível inalação).
queimaduras químicas devem ser
Nesta circunstância será lícito
abordadas com equipamento de
ponderar entubação orotraqueal com
proteção individual e consideradas
indução de sequência rápida.
profundas, podendo resultar em
Nesta decisão, poderão estar
1,2
alterações metabólicas/iónicas
7,8,9
.
A estabilização inicial do doente
envolvidas a avaliação da consciência, insuficiência
não queimada. Caso tal não seja possível, o acesso intraósseo é lícito, inclusivamente através de áreas queimadas1,2,11. •
D – estado de consciência.
A consciência pode estar alterada por vários fatores: hipóxia, hipotensão, toxinas, traumatismo crânio-encefálico e analgésicos11. •
E – exame da vítima excluindo
inclui suporte respiratório, ressuscitação com fluidos, estabilização cardiovascular, controlo da dor e abordagem das lesões, seguindo a sigla ABCDE+F, como abordaremos de seguida1,2: •
A – manutenção da via aérea com controlo da coluna cervical.
Devemos suspeitar de compromisso da via aérea quando estamos na presença de rouquidão progressiva, estridor, sibilância e queimaduras
Tabela 2 – Índice de Clark; retirada e adaptada de Norma de Orientação Clínica nº 022/2012 de 26/12/2012 atualizada a 13/07/2017; Abordagem Hospitalar das Queimaduras em Idade Pediátrica e no Adulto; Direção Geral da Saúde.
Indice
67
lesões associadas. Devemos prevenir a hipotermia com
endovenosa, repetindo a cada 15
soluções endovenosas aquecidas e
minutos, até dose máxima de 0,2-0,3
cobertores/sistemas de
mg/kg (seguindo em perfusão).
aquecimento
Podemos usar paracetamol e/ou anti-
•
2,10
.
F – fluidoterapia quantificada
inflamatórios não esteróides como
pela fórmula de Brooke.
complemento2.
Se ASCQ >15% é essencial a
As lesões devem ser limpas com
reposição volémica, utilizando como
água e sabão neutro e removido
primeira opção Lactato de Ringer (ou
tecido desvitalizado utilizando
Dextrose 5% se idade < 5 anos ou
compressas estéreis com soro
peso < 20 kg). O volume a administrar
fisiológico. Devem ser drenadas as
deve ser dividido: 50% nas primeiras
flictenas que causem desconforto e
8 horas e restante nas 16 horas
utilizados produtos com ação
subsequentes. Este pode ser
antimicrobiana durante 72 horas
calculado através da fórmula de
(como o creme de sulfadiazina de
Brooke (2 mL/Kg/% ASCQ), como 68
prata)11.
sugere a norma da Direção-Geral da
Em queimaduras graves elétricas
Saúde, apesar de existirem outras
existe risco de insuficiência renal
fórmulas. O DU deve ser mantido
aguda por rabdomiólise13,14. Em
entre 0,5-1 mL/kg/hora se peso > 30
queimaduras circulares pode ser
kg ou 1-2 mL/kg/hora se peso
efetuada escarotomia de emergência
inferior
por risco de síndrome
1,2,11,12
.
Na anamnese, é importante seguir a
compartimental. O risco de
mnemónica AMPLE: alergias,
hiperglicemia está aumentado,
medicação habitual, passado clínico,
devendo ser tratada com
líquidos/última refeição, evento
insulinoterapia11.
desencadeante1,2. Consoante o evento devemos pesquisar lesões associadas. Se inconsistências na história deve ser levantada a suspeita de maus tratos1,2,11. Nas queimaduras elétricas, é importante apurar o tipo de exposição, circuito elétrico, voltagem, duração e existência de lesões associadas (arritmias, fraturas, síndrome compartimental, mioglobinúria)13,14. Nas queimaduras químicas, devemos identificar o agente, estado físico, concentração, quantidade, duração, extensão de penetração e resposta inicial6,11. A analgesia adequada é essencial, estando indicados opióides como
68
Indice
primeira linha: morfina 0,1 mg/kg
CASO CLÍNICO PEDIÁTRICO
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
As queimaduras são lesões com
1.
Norma de Orientação Clínica nº 023/2012 de
repercussão sistémica significativa e
26/12/2012 atualizada a 13/07/2017; Abordagem
potencial para rápida deterioração,
Pré-hospitalar das Queimaduras em Idade
devendo estes doentes ser
Pediátrica e no Adulto; Direção Geral da Saúde.
abordados como politraumatizados,
2.
Norma de Orientação Clínica nº 022/2012 de
pelo risco de falência multiorgânica e
26/12/2012 atualizada a 13/07/2017; Abordagem
morte. Uma resposta rápida e
Hospitalar das Queimaduras em Idade Pediátrica
multidisciplinar é essencial para
e no Adulto; Direção Geral da Saúde.
melhorar o prognóstico
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REVISÃO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Indice
69
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO – Agosto de 2021
70
1. Objectivo e âmbito
2. Informação Geral
3. Direitos Editoriais
A Revista LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) é um órgão de publicação pertencente ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e dedica-se à promoção da ciência médica pré-hospitalar, através de uma edição trimestral. A LF Sci adopta a definição de liberdade editorial descrita pela World Association of Medical Editors, que entrega ao editor-chefe completa autoridade sobre o conteúdo editorial da revista. O CHUA, enquanto proprietário intelectual da LF Sci, não interfere no processo de avaliação, selecção, programação ou edição de qualquer manuscrito, atribuindo ao editor-chefe total independência editorial. A LF Sci rege-se pelas normas de edição biomédica elaboradas pela International Commitee of Medical Journal Editors e do Comittee on Publication Ethics.
A LF Sci não considera material que já foi publicado ou que se encontra a aguardar publicação em outras revistas. As opiniões expressas e a exatidão científica dos artigos são da responsabilidade dos respetivos autores. A LF Sci reserva-se o direito de publicar ou não os artigos submetidos, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci reserva-se o direito de escolher o local de publicação na revista, de acordo com o
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interesse da mesma, sem necessidade de justificação adicional. A LF Sci é uma revista gratuita, de livre acesso, disponível em https://issuu.com/lifesaving. Não pode ser comercializada, sejam edições impressas ou virtuais, na parte ou no todo, sem autorização prévia do editor-chefe.
categorias em que se desdobra, de acordo com os seguintes critérios de publicação:
70
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4. Critérios de Publicação 4.1 Critérios de publicação nas rúbricas A LF Sci convida a comunidade científica à publicação de artigos originais em qualquer das
Artigo Científico Original - Âmbito: apresentação de resultados sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 4000 palavras.
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
Temas em Revisão - Âmbito: Revisão extensa sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar de adultos. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras. Hot Topic - Âmbito: Intrepretação de estudos clínicos, divulgação de inovações na área pré-hospitalar recentes ou contraditórias. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras.
Casos Clínicos (Adulto) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, relacionados com situações de emergência em adultos. Dimensão recomendada: 1000 palavras. Casos Clínicos (Pediatria) - Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, em contexto de situações de emergência em idade pediátrica. Dimensão recomendada: 1000 palavras. Casos Clínicos (Neonatalogia)
Rúbrica Pediátrica - Âmbito: Revisão sobre tema pertinente para atuação das equipas em contexto de emergência pré-hospitalar no contexto pediátrico. Dimensão recomendada: 1500 a 3500 palavras.
- Âmbito: Casos clínicos que tenham interesse científico, que reportem situações de emergência em idade neonatal. Dimensão recomendada: 1000 palavras.
4.2 Critérios gerais de publicação O trabalho a publicar deverá ter no máximo 120 referências. Deverá ter no máximo 6 tabelas/ figuras devidamente legendadas e referenciadas. O trabalho a publicar deve ser acompanhado de no máximo 10 palavras-chave representativas. No que concerne a tabelas/ figuras já publicadas é necessário a autorização de publicação por parte do detentor do copyright (autor ou editor). Os ficheiros deverão ser submetidos em alta resolução, 800 dpi mínimo para gráficos e 300 dpi mínimo para fotografias em formato JPEG (. Jpg), PDF (.pdf). As tabelas/ figuras devem ser numeradas na ordem em que ocorrem no texto e enumeradas em numeração árabe e identificação. No que concerne a casos clínicos é necessário fazer acompanhar o material a publicar com o consentimento informado do
Indice
71
72
doente ou representante legal, se tal se aplicar. No que concerne a trabalhos científicos que usem bases de dados de doentes de instituições é necessário fazer acompanhar o material a publicar do consentimento da comissão de ética da respetiva instituição. As submissões deverão ser encaminhadas para o e-mail: revistalifesaving@gmail.com
4.3 Critérios de publicação dos artigos científicos. Na LIFESAVING SCIENTIFIC (LF Sci) podem ser publicados Artigos Científicos Originais, Artigos de Revisão ou Casos Clínicos de acordo com a normas a seguir descritas. Artigos Científicos O texto submetido deverá apresentado com as seguintes secções: Título (português e inglês), Autores (primeiro nome, último nome, título, afiliação),
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Abstract (português e inglês), Palavras-chave (máximo 5), Introdução e Objetivos, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos, Referências. O texto deve ser submetido com até 3 Take-home Messages que no total devem ter até 50 palavras. Não poderá exceder as 4.000 palavras, não contando Referências ou legendas de Tabelas e Figuras. Pode-se fazer acompanhar de até 6 Figuras/ Tabelas e de até 60 referências bibliográficas. O resumo/ abstract não deve exceder as 250 palavras. Se revisão sistemática ou meta-análise deverá seguir as PRISMA guidelines. Se meta-análise de estudo observacionais deverá seguir as MOOSE guidelines e apresentar um protocolo completo do estudo. Se estudo de precisão de diagnóstico, deverá seguir as STARD guidelines. Se estudo observacional, siga as
STROBE guidelines. Se se trata da publicação de Guidelines Clínicas, siga GRADE guidelines. Este tipo de trabalhos pode ter no máximo 6 autores. Artigos de Revisão O objetivo deste tipo de trabalhos é rever de forma aprofundada o que é conhecido sobre determinado tema de importância clínica. Poderá contar com, no máximo, 3500 palavras, 4 tabelas/figuras, não mais de 50 referências. O resumo (abstract) dos Artigos de Revisão segue as regras já descritas para os resumos (abstract) dos Artigos Científicos. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 5 autores. Caso Clínico O objetivo deste tipo de publicação é o relato de caso clínico que pela sua raridade, inovações diagnósticas ou terapêuticas aplicadas ou
CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO
resultados clínicos inesperados, seja digno de partilha com a comunidade científica. O texto não poderá exceder as 1.000 palavras e 15 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de até 5 tabelas/ figuras. Deve inclui resumo que não exceda as 150 palavras, organizado em objetivo, caso clínico e conclusões. Este tipo de trabalho pode ter no máximo 4 autores. Cartas ao Editor O objetivo deste tipo de publicação é efetuar um comentário a um artigo da revista. O texto não poderá exceder as 400 palavras e as 5 referências bibliográficas. Pode ser acompanhado de 1 ilustração.
5. Referências Os autores são responsáveis pelo rigor das suas referências bibliográficas e pela sua correta
citação no texto. Deverão ser sempre citadas as fontes originais publicadas. A citação deve ser registada empregando Norma de Vancouver.
modificações propostas pela equipa editorial ou recusados sem outra justificação.
7. Erratas e retrações 6. Revisão por pares A LF Sci segue um processo single-blind de revisão por pares (peer review). Todos os artigos são inicialmente revistos pela equipa editorial nomeada pelo editor-chefe e caso não estejam em conformidade com os critérios de publicação poderão ser rejeitados antes do
A LF Sci publica alterações, emendas ou retrações a artigos previamente publicados se, após publicação, forem detetados erros que prejudiquem a interpretação dos dados
envio a revisores. A aceitação final é da responsabilidade do editor-chefe. Os revisores são nomeados de acordo com a sua diferenciação em determinada área da ciência médica pelo editor-chefe, sem necessidade de justificação adicional. Na avaliação os artigos poderão ser aceites para publicação sem alterações, aceites após
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