O Bolchevique # 11

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LCFI Liaison Committee for the Fourth International

CLQI Comitê de Ligação pela Quarta Internacional

O Bolchevique

ANO III - NO11 - set/2012 - R$5

Orgão de propaganda da Liga Comunista

PROTESTOS ANTI-EUA

(LC - Brasil e TMB - Argentina)

Agora sim, começou a verdadeira primavera, a antiimperialista, no mundo árabe e muçulmano! BRASIL

Por um Encontro Nacional dos Metalúrgicos de Base para organizar uma greve geral contra o A.C.E.

ÁFRICA lcligacomunista.blogspot.com - liga_comunista@hotmail.com Caixa Postal 09, CEP 01031-970, São Paulo, Brasil

GUINÉ-BISSAU Vale massacra população trabalhadora Pela expropriação da mineradora brasileira sem indenização e sob o controle proletário!

ÁFRICA DO SUL (Coletivo Qina Msebenzi) RESISTIR aos policiais e aos capitalistas! ORGANIZAR: a luta contra o refor mismo! RECUPERAR os sindicatos e quebrar a aliança CNA / COSATU / PC!

OLIMPÍADAS LONDRES • IRLANDA DO NORTE

(Socialist Fight - Inglaterra)

• LÍBIA E SÍRIA

O Bolchevique No11 - Setembro de 2012

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CARTA AO LEITOR

Enquanto a ofensiva imperialista espera estagnada a reeleição de Obama, a resistência antiimperialista ressurge sob a percepção da falácia da “primavera árabe”

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uito tem se falado das gafes elitistas e reacionárias de Mitt Romney e que de tão imbecil o republicano perderá as eleições presidenciais de seis de novembro. Todavia, para além de revelar mais uma vez que a elite empresarial planetária precisa de quadros profissionais como gestores de seus interesses políticos, o papel principal da candidatura republicana é, sobretudo, pressionar Obama pelas tarefas que a economia imperialista exige neste momento. O atual presidente foi incumbido de reduzir a maior dívida pública de todos os tempos, potenciada pelas campanhas militares de Bush e pelos “salvamentos” das grandes corporações desde a crise de 2008. Para a elite ianque ele tem vacilado em promover uma recuperação das taxas de lucro com a urgência que ela reivindica. Isto ele só pode fazer dando continuidade à campanha belicista do antecessor na recolonização da África e Ásia, cruzada que tem como escalas fundamentais a Síria e o Irã. Em nível interno, como demanda Romney, Obama precisa eliminar gastos sociais do Estado imperial para reduzir o déficit público e ao mesmo tempo levar a sua própria classe operária à escravidão, fazendo cair os custos de produção nos EUA, ingredientes fundamentais para a recuperação econômica da economia imperialista. Provavelmente, até as eleições presidenciais a ofensiva imperialista continuará estagnada: os “rebeldes” Sírios, o ELS, não disporão da intervenção militar externa direta como dispôs o CNT líbio; o governo sionista tornarse-á cada vez mais apreensivo com o avanço do programa nuclear iraniano sem poder bombardear o país; até a troika vem retardando uma nova ofensiva contra a Grécia. “O Relatório da UE e do FMI sobre a capacidade de gerenciamento da dívida da Grécia deve ser adiado para depois da eleição nos EUA, disseram autoridades e diplomatas da UE. O objetivo das autoridades é evitar qualquer choque à economia global antes de 6 de novembro, data do pleito presidencial norte-americano” (Reuters, 21/09/2012). Todavia, entre duas ofensivas militares, as massas árabes percebem o papel pró-imperialista das saídas abertas pela falaciosa “primavera árabe”, como destacamos no artigo “Protestos anti-EUA: Agora sim, começou a verdadeira primavera, a antiimperialista, no

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mundo árabe e muçulmano!” assinado pela TMB argentina em conjunto com a LC. Por trás da manifesta “ira islâmica”, como agora demoniza a mídia imperialista que antes glorificava a “primavera árabe”, vem à tona a ira antiimperialista. Sendo a religião o reflexo espiritual da miséria real do homem em uma sociedade opressora, a eliminação da alienação religiosa pressupõe o combate às condições de miséria e barbárie impostas pela dominação imperialista. Nas condições atuais, tal combate parte da tática de estabelecer uma frente única antiimperialista com todas as direções políticas que se enfrentam com o grande capital colonialista e tem como estratégia a revolução permanente contra os limites burgueses destas próprias direções.

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os setores mais organizados da classe no continente africano, onde segue a secular pilhagem das riquezas naturais e a escravidão assalariada negra, o operariado mineiro se levanta contra o arrocho salarial e o desemprego. Contagiados pela luta dos mineiros de Marikana contra a multinacional britânica Lomnin, vários outros se levantaram na própria África do Sul e também na Guiné contra a “brasileira” Vale. No calor dos acontecimentos, os companheiros sul africanos do Coletivo Qina Msebenzi, que possuem ativistas mineiros, distribuem um panfleto agitativo que a LC reproduziu no Brasil e nesta edição dO Bolchevique e a TMB em Buenos Aires, realizando

O Bolchevique Orgão de propaganda da Liga Comunista

Ano III - NO11 - setembro de 2012 Outras publicações da LC podem ser encontradas virtualmente em nosso blog: lcligacomunista.blogspot.com

Entre em contato conosco enviando correspondências para o e-mail ou para a Caixa Postal: liga_comunista@hotmail.com Caixa Postal 09 CEP 01031-970 São Paulo/SP - Brasil

A Liga Comunista é membro do Comitê de Ligação da IV Internacional (CLQI) juntamente com o Socialist Fight da Grã Bretanha e a Tendencia Militante Bolchevique da Argentina. As opiniões expressas nos artigos assinados ou nas correspondências não expressam necessariamente o ponto de vista da redação.


um ato conjunto com outros agrupamentos de esquerda na Embaixada sul africana na Argentina. Como era de se esperar, o governo da burguesia negra sul africana, do CNA/Cosatu/PC, recorreu às leis do apartheid e criminalizou os mineiros pela assassinato de quase meia centena de operários que ele próprio cometeu, no maior massacre desde o fim legal do apartheid em 1994. Tal medida servia para chantagear os trabalhadores a aceitar o acordo proposto pela mineradora britânica, que ainda que rebaixado frente aos seus super-lucros teve de elevar sua proposta inicial de 5% para 22% de reajuste salarial. No Brasil, a LC quebrou o silêncio imposto pela colaboração de classes sendo lamentavelmente a única organização de toda a esquerda a denunciar o massacre de ativistas pela mineradora Vale na Guiné e a reivindicar a luta pela expropriação de nossa própria burguesia, sócia minoritária do imperialismo, no artigo: “Toda solidariedade ao proletariado guineano contra a multinacional “brasileira”! Pela expropriação da Vale sem indenização e sob o controle da população trabalhadora!”, também reproduzido nesta edição.

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ambém reproduzimos neste O Bolchevique 11 um artigo do Socialist Fight britânico acerca da luta pela emancipação nacional na Irlanda do Norte “O Sinn Fein ajoelha-se perante a Rainha como parte do seu giro à direita” e registramos que por capitulações similares duas “internacionais” pseudotrotskistas sofreram baixas recentes: “Líbia e Síria: Os que uivaram com os lobos*, CMI e LIT, sofrem na própria pele o preço da traição à luta antiimperialista”.

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ueremos chamar a atenção dos leitores para uma elaboração nova de nossa corrente a partir de estudos sobre a restauração capitalista na China e na Rússia: No artigo: “Olimpíadas de Munique, Moscou, Los Angeles e Londres: Um triste e melancólico espetáculo de degeneração imperialista do esporte”. Neste texto, desenvolvemos embrionariamente a concepção do “desenvolvimento desigual e combinado, a teoria da revolução permanente frente a restauração capitalista e o desempenho nas olimpíadas dos países que realizaram tarefas democráticas e nacionais via expropriação da propriedade privada” que nos servirá para avaliar os processos restauracionistas nas últimas duas décadas e as particularidades desses processos e sua enorme importância para a luta de classes mundial na atualidade.

P

or fim, abordamos a via mais pérfida de como o imperialismo tratará de aplicar os planos de austeridade e de escravização do proletariado brasileiro, contando com a participação fundamental da Central Única dos Trabalhadores. Esta que foi outrora instrumento de luta econômico do proletariado é hoje o mais eficaz instrumento para a realização da reforma sindical e trabalhista que nem o governo Lula conseguiu realizar. A CUT, através de seu principal sindicato, o dos Metalúrgicos do ABC, pôs em curso a pior ameaça de traição contra a classe trabalhadora: O

famigerado Acordo Coletivo Especial. Resumidamente trata-se da consolidação jurídica definitiva dos acordos anti-operários e escravagistas entre os pelegos e os patrões através de uma reforma sindical e trabalhista falsamente apoiada no “chão de fábrica” através da criação de “Comissões Sindicais de Empresa”. A partir da aprovação do ACE, os trabalhadores não poderão mais reverter na justiça, apoiando-se na Constituição de 1988 ou na CLT, os acordos coletivos pelegos. Além de denunciar esta punhalada, também militamos por um combate proletário efetivo aos ataques capitalistas. Tal proposta está contida no artigo da página seguinte: Por um Encontro Nacional Metalúrgico de Base para organizar uma greve geral contra o ACE. Esta iniciativa foi sugerida por um operário de uma fábrica de São Paulo e nós da LC a abraçamos decididamente. Tal proposta parte da mobilização real de cada categoria para organizarmos todo o proletariado em um verdadeiro Congresso Nacional de toda a classe trabalhadora, que tenha como perspectiva a superação da influência das burocracias sindicais da CUT, FS, CTB, etc., responsáveis no Brasil pela derrota do proletariado diante da ofensiva escravocrata imperialista. Todavia, a principal resistência à concretização deste Encontro reside nas próprias fileiras daqueles que se dizem se opor ao ACE, na tacanhez das burocracias reformistas das Intersindicais, da Conlutas e do centrismo. Uns se opõem ao Encontro Nacional Metalúrgico de Base porque sendo incapazes de mobilizar a própria base, se contentam em realizar debates e abaixoassinados restritos aos aparatos sindicais, acadêmicos e juristas simpatizantes ou a propor marchas olímpicas de lobby parlamentar em Brasília que embora ampliem a discussão sobre o tema são impotentes para derrotar a burguesia, o governo e os pelegos que querem impor o ACE. Neste terreno, se encontra a chamada esquerda cutista e a Conlutas que acaba de coompactuar vergonhosamente mais uma vez com a GM, assinando um acordo salarial rebaixado e à margem das negociação do bloco dos quatro sindicatos metalúrgicos paulistas (SJC, Campinas, Limeira e Baixada Santista). A ASS, por sua vez, se opõe porque teme organizar suas próprias bases e expô-las ao debate político com outras bases metalúrgicas. Então, preventivamente, evita a politização de seu “feudo sindical” contrapondo-se ao Encontro. Por fim, o centrismo porque se opõe a disputar a consciência dos trabalhadores do setor produtivo e milita à margem do operariado fabril ou simplesmente porque faz seguidismo às burocracias sindicais da Conlutas ou Intersindicai(S). Desejamos aos leitores boa leitura e convocamos os mesmos a engajarem-se conosco neste combate. Assim como a burguesia precisa de centenas de quadros profissionais para assegurar seu domínio político sobre o globo, o proletariado também necessita construir seu estado-maior de quadros revolucionários para derrotar os capitalistas e tomar de assalto o poder em escala planetária, estratégia que somente a IV Internacional reconstruída poderá organizá-lo para cumprir. O Bolchevique No11 - Setembro de 2012

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COMBATE AO ACE E CAMPANHA SALARIAL METALÚRGICA

Por um Encontro Nacional de Base dos Metalúrgicos para organizar uma greve geral da categoria contra o “ACE”

À

s vésperas de completar 30 anos, a CUT, através de seu sindicato mais importante, dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), prepara sua maior traição ao proletariado brasileiro, o Acordo Coletivo Especial (ACE). É bem verdade que a central realizou um pacto social com Sarney ainda na década de 1980, se opôs a organizar a classe pelo “Fora Collor”, impulsionou as câmaras setoriais, apoiou a reforma da previdência iniciada por FHC e na última década foi testa-de-ferro dos governos federais do PT sabotando nossas lutas, apoiando os ataques anti-operários e pró-imperialistas de Lula e Dilma, defendendo o “mensalão” e juntamente com outras centrais pelegas “mobiliza” em favor das demandas patronais: isenção de impostos, flexibilização de direitos, desoneração da folha de pagamento, etc. Mas, sem dúvida o ACE representa a mais perversa punhalada contra a classe trabalhadora. O SMABC entregou ao governo Dilma em novembro de 2011 o projeto de lei que objetiva nacionalizar e estender contra o conjunto do proletariado no Brasil as experiências daninhas de negociação realizadas no ABC. No dia 23 de maio de 2012, o Sindicato reuniu-se com o presidente da Câmara dos Deputados reivindicando rapidez na aprovação do ACE. Até agora, todos os acordos de redução salarial, perda de direitos ou flexibilização da jornada realizados entre os pelegos da CUT e as empresas podem ser questionados na justiça, e os trabalhadores lesados pela traição podem “meter a empresa no pau”, conseguindo derrubar o acordo. O que a CUT deseja é que tais acordos passem a ter força de lei e que os trabalhadores não possam mais recorrer juridicamente à legislação que lhes garantiu anteriormente melhores condições de salário e trabalho do que as negociadas atualmente pelos pelegos. Como explica com uma fala mansa, uma conversa mole para boi dormir, a própria cartilha sobre o ACE elaborada pelo Sindicato: “Se a CLT contém dispositivos que podem ser invocados por uma autoridade discordante, fica instalada uma insegurança jurídica que traz riscos para todos. Sentenças podem anular o que já foi acordado, multas pesadas podem ser aplicadas, uma enxurrada de processos pode sobrecarregar ainda mais a Justiça do Trabalho e o departamento jurídico das empresas e sindicatos. Em síntese: cresce o passivo trabalhista,

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crescem as disputas litigiosas, crescem as tensões.” (setembro de 2011). Com ares pacifistas em prol da paz social e do fim das tensões, estes pastores da conciliação de classe querem empurrar goela abaixo da classe operária a flexibilização trabalhista. Se o ACE tivesse sido criado para trazer melhorias além e não aquém dos direitos laborais já conquistados, como tenta passar esta canalha agente do capital no interior do movimento operário, não precisariam mudar a legislação, mas evidentemente este não é o caso. Com isto, a pelegada busca dar plena segurança jurídica aos patrões que - a partir do acordo escravocrata firmado - o peão está ferrado definitivamente, não pode recorrer. Diminuindo as tensões, ou seja, a resistência dos trabalhadores a que os patrões arranquem seu couro, Dilma dará plenas garantias de investimento seguro para o patronato nacional e estrangeiro que vacila entre superexplorar os trabalhadores do Haiti, Brasil, China, Índia ou Vietnã. O governo Dilma poderá vender melhor o seu peixe assegurando a escravidão crescente da classe trabalhadora no país com a ajuda da CUT e outras centrais pelegas. Tudo indica que o governo Dilma e seu séquito anti-operário legislativo tratará de converter o projeto de lei em lei após as eleições municipais. Até o início da década de 1980, as lutas de massas e operárias se caracterizavam por lutas ofensivas, tanto da conquista do poder ainda que por direções reformistas (Vietnã, 1975, Irã, 1979; Nicarágua, 1979) quanto da conquista e consolidação de direitos trabalhistas - que


no Brasil resultaram, ainda que de forma torpe, na incorporação à Constituição de diversos princípios da CLT, assegurando formalmente a jornada de trabalho de 44 horas semanais, férias remuneradas com um adicional de 1/3 sob o valor do salário, a licença maternidade de 120 dias, a criação da licença-paternidade e a livre organização dos movimentos grevistas e sindicais. Estas e outras conquistas são por várias décadas a base para os acordos coletivos com os patrões em todas as categorias. Embora, com todos os limites formais da legislação burguesa, os direitos trabalhistas podem a qualquer momento ser rasgados pela pressão da classe dominante em momentos de fortes enfrentamentos de classe ou de golpes militares. Os acordos com os patrões podem refletir a força de cada categoria em luta e serem economicamente superiores à lei. A CONVERSÃO DO REFORMISMO DO PT E DA CUT À POLÍTICA ABERTAMENTE ANTI-OPERÁRIA E PRÓ-IMPERIALISTA Há mais de duas décadas os capitalistas estão na ofensiva contra nossa classe. Aproveitaram-se da derrota histórica que foi para o proletariado a restauração do capitalismo nos Estados operários da URSS, China, Vietnã, Leste Europeu e Bálcãs. Esta derrota, além de

CORRESPONDÊNCIA

Camarada, concordo com o artigo, parabéns! “Mas, sem dúvida o ACE representa a mais perversa punhalada contra a classe trabalhadora” (LC). A visão economicista corporificada na atual estrutura sindical conduz o proletariado a barbárie se verificarmos os vários projetos de leis apresentados por lumpens sindicalistas da CUT/Força e etc. A bem da “estabilidade econômica” - que é uma maneira elegante de trair a classe operária a favor dos grandes grupos econômicos e financeiros -, criar Comitês Sindicais por Empresas significa, entre outras coisas, sabotar “democraticamente” com a autonômica e liberdade da classe operária frente à burguesia, pois, se aprovado, deixarão de existir CIPAS, Comissões de Fábricas (compostas por sindicalizados ou não - ao contrário do que propõe o CSE) ou de qualquer organização autônoma e independente dos trabalhadores ( Comissões clandestinas, Já ! ). Camarada, propor CSE (anexo) para todo território nacional não significa apenas flexibilizar direitos trabalhistas em detrimento da classe, significa, também, entregar os trabalhadores e suas organizações para o imperialismo. Essa não é a primeira vez que a classe dominante, pelegos e capachos propoem alterar a CLT em detrimentos dos trabalhadores. A esse respeito veja o caso do PL 5483/01, aprovado na Câmara e agora, sob o n. 134/01, encontra-se no Senado para votação. Em resumo, PL 5483/01 propõe substituir direitos legislados por direitos negociados, isto é, “permite” ao trabalhador o “direito” de negociar o que foi assegurado por lei, por aqueles que tombam na luta. Como a consciência dos trabalhadores “não é, em absoluto, tradionista, podemos confiar na direção do Sindicato dos Metalúrgicos de SBC e rezar”(risos). Camarada, não precisamos de nenhum tratado para saber o destino dos trabalhadores, por exemplo, da construção civil e seus familiares, caso o PL/CUT seja aprovado: barbárie rumo ao PCC. Não só esse PL, claro ! Saudações comunistas, Camilo de Moncada, RC

permitir que o imperialismo avançasse sobre as riquezas naturais destes países, também possibilitou que o capital voltasse a explorar a maior concentração de força de trabalho humana do planeta, correspondente ao 1/3 da população mundial que vive nestes países. Assim, a força de trabalho - a fonte de toda riqueza social - foi desvalorizada e os trabalhadores em todo mundo foram brutalmente assaltados no poder aquisitivo de seus salários e em seus direitos historicamente conquistados no processo que foi eufemisticamente chamado de “onda neoliberal”. Mas, além destas condições objetivas desfavoráveis, subjetivamente o capital contou com a deserção do lado dos trabalhadores de direções que até então vacilavam entre a defesa da nossa classe e a política reformista de colaboração de classes. Quando ocorreu esta derrota na batalha da guerra de classes mundial entre o proletariado e a burguesia, as direções reformistas que estavam em cima do muro, passaram para o lado de lá, adotando posições abertamente pró-imperialistas, principalmente as que assumiram governos burgueses como o CNA na África do Sul, a Unidade Popular do Chile e o PT no Brasil. Basta lembrar a adoção do PT, com o apoio da CUT, de todo o programa de contra-reformas “neoliberais” ou da ocupação do Haiti pelo Exército do Brasil sob o comando de Lula e ordens dos EUA. O PT, sob a direção de Lula, Zé Dirceu e Cia, formata-se para tornar-se confiável ao capital e ao imperialismo. Tornase um partido burguês suprimindo completamente suas características de partido operário-burguês. Feito isto na década de 90, assume o governo federal em 2003 e integra-se organicamente ao Estado capitalista, de quem passa a ser testa-de-ferro contra as massas, tendo a CUT e o MST como correias de transmissão dos interesses patronais e imperialistas. As direções internacionais centristas como a LIT, UIT, Partido Obrero, etc., que de palavras se diziam revolucionárias e nos atos eram oportunistas, sob a pressão reacionária da conjuntura desfavorável, passaram a adaptar seus programas políticos, assumindo inclusive formalmente características mais reformistas e frente populistas. Vale destacar também que estas organizações centristas saudaram aquela derrota como O Bolchevique No11 - Setembro de 2012

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se fosse vitória, sendo hoje incapazes sequer de compreender a causa da ofensiva imperialista capitalista e menos ainda como combatê-la, adotando um programa triunfalista em relação à realidade (ver artigo anexo “Com a falência do projeto da Conlutas, PSTU pivota do centrismo para o oportunismo”). Deste modo, a adaptação gradual do reformismo nacionalista ao programa próimperialista e do centrismo ao reformismo contribuiu para enfraquecer a resistência à ofensiva do capital dentro das organizações de massas como a CUT. Os trabalhadores reagem aos ataques, mas nos últimos 20 anos sua luta vem se caracterizando por uma condição defensiva, pela manutenção de direitos ameaçados e não pela conquista de novos direitos, graças à ofensiva do capital e à capitulação das direções do movimento operário. Se antes o enfrentamento contra os patrões ampliou direitos, no presente, o “diálogo social” (codinome da conciliação de classes) retira-os em favor dos patrões que como sempre buscam uma forma de fazer com que os acordos sejam rebaixados em relação às conquistas históricas anteriores, fragilmente asseguradas na constituição burguesa. Collor e Itamar investiram contra as conquistas trabalhistas através das privatizações, de precarizações e da famigerada “Lei de modernização dos portos” como analisamos em: http://lcligacomunista.blogspot.com. br/2012/06/nossa-luta-contra-terceirizacao.html). FHC tentou realizar sem sucesso a alteração do artigo 618 da CLT para flexibilizar os direitos e fazer “o negociado se sobrepor ao legislado”, fazer com que o resultado de uma negociação coletiva ocorrida em um momento de desvantagem retire direitos conquistados. Depois, o Fórum Nacional do Trabalho instituído no governo Lula trouxe novamente este debate à baila através da Reforma Sindical. Mas agora, é o SMABC e a CUT que recondicionam e ampliam a flexibilização defendida pelo governo FHC. Sendo assim, os patrões comemoram e acreditam que conseguirão flexibilizar a jornada de trabalho, as férias e o 13º salário, fracionar os 30 dias de férias para gozo parcelado em três vezes ou mais; impor uma hora-extra com remuneração igual ao da jornada normal; acabar com a obrigação do mínimo de uma hora de almoço; etc. Basta ver os elogios rasgados ao ACE por parte da mídia especializada em economia burguesa (Exame, Valor, etc.). ACE: A CONSOLIDAÇÃO JURÍDICA DOS ACORDOS ESCRAVOCRATAS ENTRE PELEGOS E PATRÕES

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O ACE propõe então um novo padrão de negociação coletiva, por empresa, com possibilidade de flexibilização dos direitos trabalhistas. E a CUT é quem articula este ataque patronal. Sérgio Nobre, Secretário Geral da CUT e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, defende o ACE em nome de “modernizar” e “democratizar” as relações trabalhistas. O massacre de postos de trabalho que este sindicato operou na Volks de São Bernardo do Campo aponta onde levará esta política: Nos anos 80 trabalhavam mais de 40 mil trabalhadores na planta da Volks daquela cidade, depois dos acordos que o Sindicato realizou com a montadora, estabelecendo o Banco de Horas, o Plano de Demissão Voluntária, Turn Over (rotatividade de pessoal) e o famigerado Lay Off (suspensão temporária do contrato de trabalho), a fábrica terceirizou grande parte da produção e ficou reduzida a 12 mil super-explorados responsáveis por fornecer mais produtividade e lucratividade à multinacional. Aproveitando-se que estes 12 mil operários trabalham muito mais que antes e recebem pelo que produzem bem menos do que os 40 mil recebiam, através da pauperização relativa, o sindicato cutista-pelego tenta vender o conto de que com os governos Lula e Dilma melhorou a “distribuição de renda” e os salários e “não cabe decretar que é intocável uma lei de quase 70 anos, de um país que vem mudando tanto. A saída verdadeira é trabalhar para quebrar o gesso de leis arcaicas” (ACE, Cartilha do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC). Aproveitando-se dos limites da CLT e da Constituição de 1988, a primeira inspirada na Carta do Lavoro fascista, e a segunda manipulada pelos parlamentares do chamado Centrão (FIESP + UDR) a burocracia tenta vender gato por lebre, passando uma medida de retrocesso maior que conduzirá a acordos trabalhistas escravocratas como algo que modernizará as relações trabalhistas em vigor. No bojo da proposta do ACE a pelagada usa como isca a organização por local de trabalho, todavia, não passa de um instrumento patronal de coerção do Sindicato sobre a base e não o inverso. Através dos “Comitês Sindicais de Empresa”, a partir do modelo já implantado em 200 empresas do ABC paulista, os pelegos tratarão de liquidar direitos e rebaixar salários fábrica por fábrica. Como afirma a famigerada cartilha: “os Comitês Sindicais de Empresa têm contribuído para o incremento do diálogo social, a crescente celebração de acordos coletivos e a solução voluntária de conflitos nos locais de trabalho. Pautados pelos princípios da boa-fé (sic!)


e do respeito mútuo, os comitês firmaram-se como instrumento difusor de práticas sindicais e trabalhistas diferenciadas quanto à sua qualidade e intensidade. Eles atuam em sintonia com a realidade de cada empresa, permitindo que trabalhadores e empregadores resolvam boa parte de suas demandas nos locais onde elas se manifestam. Mas se os atores coletivos diretamente envolvidos nas negociações são unânimes em louvar os resultados alcançados, acima do padrão nacional de relações de trabalho, a regularidade jurídica dos acordos firmados é alvo de questionamentos, apesar da boa-fé das partes e dos procedimentos democráticos adotados. Esbarrase, com freqüência, em normas que dificultam ou até mesmo inviabilizam o cumprimento de cláusulas de interesse dos trabalhadores e das empresas, mais adequadas à sua realidade, gerando passivos trabalhistas que não interessam a qualquer uma das partes. É necessário, portanto, formular as bases jurídicoinstitucionais para que empresas e sindicatos profissionais organizados a partir dos locais de trabalho possam estabelecer – com a indispensável segurança jurídica e de forma compatível com a legislação em vigor – obrigações recíprocas, normas de proteção, condições específicas de trabalho e formas mais apropriadas de soluções de conflitos, em um ambiente de ampla participação dos trabalhadores e em consonância com as necessidades tecnológicas, organizativas e produtivas das empresas.” (idem, grifos nosso) O arqui-pelego Nobre defendeu o fim dos intervalos de meia hora para amamentação a que as gestantes têm direito, apresentando a volta aos ritmos de trabalho infernais do século XIX como uma das possibilidades de “avanços” que o ACE poderia propiciar: “Exemplo dessa inaplicabilidade é o seu artigo 396, que garante à trabalhadora em fase de amamentação direito a dois descansos de meia hora cada durante a jornada de trabalho para amamentar o filho. Esse direito podia ser exercido na época em que as mulheres trabalhavam perto de sua casa. Hoje, no entanto, a maioria mora longe do local de trabalho, o que torna a lei sem efetividade” (“Moderno é negociar”, Estado de São Paulo, 10/08/2012). ELEITORALISMO, DEBATES JURÍDICO-BUROCRÁTICOS OU CAMPANHA SALARIAL COMBATIVA E LUTA DE CLASSE CONTRA O ACE? Nossa campanha salarial reúne em 2012 plenas condições objetivas para ser vitoriosa. Os pátios das montadoras estão vazios, as fábricas fornecedoras de autopeças estão sem estoques, há lista de espera para

compra de carros novos, a produção está bombando, as empresas precisam de hora-extra de segunda a segunda e a ANFAVEA acaba de anunciar que tanto a produção quanto a venda bateram recordes históricos no mês de agosto. No entanto, com acordos desatrosos como o da Conlutas-GM ou pela simples deserção de sindicalistas em favor de suas oportunistas campanhas eleitorais em partidos burgueses como o PT, PCdoB, PDT, PSB, etc, nossa campanha salarial vem sendo sabotada pelas direções sindicais e as empresas nem sequer se dignam de lançar contra-propostas ao rebaixadíssimo índice de 12,86% de reajuste salarial, para não falar no desprezo completo pelos outros pontos de pauta, vitais para nossa categoria. As proto-centrais sindicais que se apresentam como alternativas ao peleguismo cutista, a CSP-Conlutas, hegemonizada pelo PSTU e as duas Intersindicais hegemonizadas pelo PSOL e ASS, bem como os setores da esquerda cutista agrupados n”A CUT pode mais” (CSD, AE, ED) que dizem se opor ao ACE limitam-se a fazer impotentes e midiáticos debates acadêmicos entre juristas e burocratas sindicais sobre o tema, demonstrando-se mais uma vez incapazes de apresentar uma alternativa de luta para a classe. Afinal, além de alertar o conjunto do proletariado acerca da dimensão do ataque (algo que os reformistas se opõe a fazê-lo de forma ampla e de massas, por exemplo, usando suas campanhas eleitorais para isto) é preciso organizar a luta direta de resistência aos ataques com os métodos da classe, bloqueios de estrada, paralisações e greves em âmbito nacional, etc. Não podemos nos limitar a lamentar nostalgicamente que os metalúrgicos estiveram na ofensiva no passado nem a impotentes campanhas acadêmico-jurídicas. É preciso reorganizar a luta da classe para que organizada e consciente de seus interesses históricos a partir de cada local de trabalho ela possa passar da defensiva à ofensiva, da defesa ao ataque. Neste sentido, devemos disputar a consciência da base metalúrgica com paciência e determinação para construir uma forte corrente trotskista do operariado no Brasil, organizada no chão de fábrica e em nível imediato, militamos pela convocação de um verdadeiro fórum de base para organizar a luta pela derrota do ACE, um Encontro Nacional de base dos metalúrgicos em 2013 para organizar uma greve nacional da categoria e construir uma verdadeira alternativa política da vanguarda metalúrgica, o setor que mais concentra trabalho produtivo do proletariado brasileiro, para o conjunto da população trabalhadora derrotar os pelegos, os patrões e o governo patronal de Dilma.

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PROTESTOS ANTI-EUA

Agora sim, começou a verdadeira primavera, a antiimperialista, no mundo árabe e muçulmano!

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m mais de 15 países, por três continentes, manifestações de massas tomam embaixadas e multinacionais, invadem e destroem representações diplomáticas, atacam tropas de ocupação e queimam bandeiras dos EUA, Alemanha, Inglaterra e de Israel. Na Tunísia, o chamado berço da tão reverenciada “primavera árabe”, centenas de manifestantes atacaram com bombas e ocuparam o complexo da Embaixada dos EUA em Tunis e uma escola dos EUA foi saqueada (neste caso, os expropriadores são expropriados) pela multidão. Embaixadas da Alemanha e da Grã-Bretanha foram também invadidas por 10 mil pessoas na capital do Sudão, Cartum. No lugar das bandeiras nacionais foram hasteados símbolos islâmicos e o fogo tomou conta de parte dos prédios. No Líbano, país dividido pelos alinhamentos com a “primavera” imposta pelos agentes da OTAN (“Exército Livre da Síria”) no país vizinho, a Síria, uma loja da rede de fast-food KFC foi destruída em Trípoli e a visita do Papa vem sendo amplamente rechaçada por protestos. No Iêmen, que desde janeiro de 2011 é sacudido por uma das poucas “primaveras” contra a dominação imperialista, a revolta deu um salto de qualidade e de imediato os EUA despacharam marines para intervir abertamente no país, algo que não realizaram nem no recente ataque à Líbia de Kadafi. A propósito, na Líbia a oposição anti-CNT se fortaleceu e ajustou contas com o representante maior dos EUA no país, um dos principais articuladores da investida golpista que derrubou Kadafi. Depois de matar o embaixador estadunidense centenas de pessoas voltaram a protestar sob os gritos de “Obama, Obama, nós somos todos Osamas”, em referência a Osama bin Laden, dirigente da Al-Qaeda assassinado a mando de Obama por um comando militar que invadiu o Paquistão em 2011. Na Síria, as forças pró-OTAN correm o risco de serem esmagadas se o organismo militar imperialista ou algum de seus títeres não intervierem diretamente no país. Após pactuar a eleição fraudulenta de Mohamed Morsi com a Junta Militar, a Irmandade Muçulmana tenta limpar a cara com seus seguidores convocando um protesto de “um milhão” na Praça Tahrir contra a provocação ianque em meio aos ataques à embaixada americana no país. Um posto de observação da ONU na Península do

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Sinai foi alvo de beduínos egípcios. Em Jerusalém, centenas de palestinos enfrentaram as forças de segurança israelenses ao serem impedidos de chegar até o consulado dos Estados Unidos em Jerusalém Oriental. Em Dhaka, capital de Bangladesh, os manifestantes exigiam que o embaixador americano fosse convocado e fizesse um pedido formal de desculpas no Parlamento, condenando o filme. A Índia registrou protestos em diferentes cidades. Em Chennai, manifestantes jogaram pedras no consulado americano e fizeram bandeiras chamando o presidente Barack Obama de terrorista. Em Jacarta, na Indonésia, 500 pessoas protestaram diante da embaixada americana, enquanto em Amã, capital da Jordânia, cerca de 2.000 pessoas fizeram manifestações. Milhares de pessoas também protestaram no Iraque, na Faixa de Gaza controlada pelo Hamas, assim como no Irã. No Paquistão, protestos em grandes cidades exigiam a morte do realizador do filme. Agora as massas árabes percebem de forma cada vez mais crescente o papel pró-imperialista das saídas abertas pela falaciosa “primavera árabe”. Está começando a verdadeira primavera antiimperialista no mundo árabe e muçulmano. Este movimento ocorre logo após as violentas repressões sofridas pelo proletariado mineiro na África do Sul (Marikana) e na Guiné (vide artigos neste blog sobre estes conflitos), depois que entraram em confronto direto contra as multinacionais como a britânica Lonmin e a brasileira Vale que exaurem as riquezas naturais destes países em favor do imperialismo. Como afirmamos há poucos dias: “Os movimentos do


mundo árabe evoluíram para duas variantes hegemônicas: 1) os levantes espontâneos sem direção revolucionária nem protagonismo operário organizado, como no Egito, foram cooptados e manobrados pelo imperialismo; 2) a dinâmica dos processos como na Líbia e Síria é desde sua gênese diretamente controlada por agentes do imperialismo. No caso líbio, podemos assinalar o fuzilamento massivo de operários por parte das forças do CNT. Operários em sua maioria originários da África Subsaariana e que por sua vez, compõem a maior parte da classe operária Líbia. Os que depois disto não viram onde se encontrava a trincheira de classe não merecem ser chamados marxistas. Com a palavra o operariado negro atacado pelos ‘rebeldes de Bengasi’: http://www. youtube.com/watch?v=FzmamhtoAPU.” (vide em “REVOLUÇÕES ÁRABES” OUCONTRA-REVOLUÇÕES DEMOCRATIZANTES?, em REVISANDO O REVISIONISMO II, A herançaque nós renunciamos da política Frente Populista do Partido Obrero) A atual revolta teve como estopim a reação legítima a uma nova provocação imperialista lançada na fatídica data de 11 de setembro, através de um filme do produtor judeu-americano Sam Bacile, apoiado pelo pastor fundamentalista Terry Jones. O filme ataca de forma reacionária e preconceituosa a religião muçulmana. Esta rebelião multicontinental poderá ser o ponto de virada levando do empantanamento atual das forças mercenárias próOTAN na Síria a derrota de toda a operação. Além disto, o envolvimento da Al Qaeda em alguns ataques anti-EUA torna a situação realmente complicada para o imperialismo que pretendia continuar poupandose dos custos políticos de uma ação direta contra Damasco continuando a recorrer aos serviços da Al Qaeda na Síria como já o fizera na Líbia. O grupo guerrilheiro novamente morde a mão do dono como fizera no 11 de setembro. O plano inicial contava com a colaboração de Tariq al Fadhli, um antigo comandante iemenita da Al Qaeda que havia chegado a um acordo com os EUA e Arábia Saudita para enviar 5.000 combatentes do grupo para ajudar os “rebeldes” a derrotar Bashar al Assad na Síria. Todavia, Washington e Ryad foram longe demais na manipulação da primavera árabe, acabando por criar um efeito boomerang, provocaram a agora primavera islâmica. Isto cria reveses crescentes na nova cruzada que tem como fim o controle do Irã. É importante notar como o tema destes protestos ingressou nas eleições presidenciais estadunidenses. O debate principal das eleições dos EUA acerca da crise da economia imperialista que não encontra uma solução nos marcos da nação estadunidense tende a buscar a saída em uma nova aventura militar recolonizadora de toda a região rebelada. Obama prometeu vingança, babando de ódio como Bush após o 11 de setembro. O imperador reconheceu a dimensão do problema: “Não há dúvida que são dias difíceis” (idem), cobrou responsabilidade dos aparatos repressivos títeres como a junta militar do Egito que por trás das eleições fraudulentas segue governando para o imperialismo e do qual recebe 1,5 bilhão de dólares por ano em “assistência militar” e ameaçou: “Continuaremos a fazer tudo o que pudermos para proteger os americanos que estão servindo fora do país. Quer isso signifique aumentar a segurança de nossos postos diplomáticos, trabalhando com os países anfitriões – que têm a obrigação de garantir segurança — e deixar claro que a jus-

tiça virá para aqueles que causarem danos aos americanos” (idem). Se a “primavera árabe” foi abertamente apoiada pelo imperialismo como a modernização democrática de toda a região semi-colonial — no que foi acompanhado por não poucos agrupamentos oportunistas e centristas que se dizem trotskistas (LIT, CMI, CRCI, L5F, FT, FLTI, etc.) — agora, em uníssono, o imperialismo demoniza o que denomina de “ira islâmica”. Os marxistas sabem muito bem das limitações que possuem estes movimentos conduzidos por direções burguesas e pequeno burguesas, como a Irmandade Muçulmana, o Hamas, a Al Qaeda, o Hizbollah ou o Talibã. Estas limitações se aprofundam quando se apóiam no fanatismo religioso. Mas, não há como ignorar que por trás da aparência de conflito por um estopim meramente religioso, está objetivamente e em sua essência a maior e mais ampla revolta espontânea antiimperialista mundial das últimas décadas contra as representações diplomáticas, militares e comerciais imperialistas em toda a região. Os marxistas compreendem que sendo a religião o reflexo espiritual da miséria real do homem em uma sociedade opressora, a eliminação da alienação religiosa pressupõe o combate às condições de miséria e barbárie impostas pela dominação imperialista. Não por acaso, o fanatismo religioso é maior nas sociedades dominadas pelo imperialismo do que no interior dos países imperialistas. Rompendo com o materialismo contemplativo feuerbachiano para produzir um programa que levasse a prática revolucionária da luta de classes, Marx analisa a essência da questão: “Feuerbach não vê, por isso, que o próprio ‘sentimento religioso’ é um produto social e que o indivíduo abstrato que analisa pertence na realidade a uma determinada forma de sociedade.” (Tese 7 sobre Feuerbach, 1845). Por isto, não nos deixamos confundir nem influenciar pela propaganda de guerra do imperialismo com sua ideologia pós-moderna de atribuir a rebelião intercontinental ao fanatismo religioso, como tentou fazer Hillary: “Os povos do Egito, Líbia, Iêmen e Tunísia não trocaram a tirania de um ditador pela tirania de uma turba” (UOL, 14/09), declarou a Secretária de Estado estadunidense durante cerimônia em memória dos americanos mortos em um ataque ao consulado dos EUA em Bengasi, na Líbia, nesta semana. O ataque deixou quatro mortos, incluindo o embaixador dos EUA no país, Christopher Stevens. A grande mídia capitalista que havia comemorado a ausência da influência da Al Qaeda e de outros organismos insurgentes de cunho religioso na “primavera árabe”, agora está se deparando com a profunda influência do fundamentalismo religioso como elemento canalizador da hostilidade antiimperialista nesta primavera de verdade. Para desenvolver todo o potencial desta revolta antiimperialista é preciso superar a alienação religiosa que a contém e dotá-la de consciência política comunista contra o grande capital e seus fantoches, construindo o partido mundial da revolução socialista para varrer a dominação imperialista, destruir o títere sionista, libertando ao povo palestino e ao conjunto dos povos da região da barbárie através de uma verdadeira primavera socialista. Liga Comunista - Brasil Tendência Militante Bolchevique - Argentina O Bolchevique No11 - Setembro de 2012

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OLIMPÍADAS DE MUNIQUE, MOSCOU, LOS ANGELES E LONDRES

Um triste espetáculo de degeneração imperialista do esporte

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s Olimpíadas que se realizaram na capital do famigerado Império Britânico constituem a continuação de um processo que já vem de longa data de perversão do chamado “espírito Olímpico” e do que deveria ser uma festa de congregação das nações através de atletas, que demonstrariam suas capacidades adquiridas ao longo de treinamentos fruto de políticas estatais de seus países de apoio a atividade desportiva. Longe de ser alienador, o esporte promove a saúde física e mental da juventude – quando bem conduzido – afastando-a da alienação das drogas e integrando as comunidades, preferencialmente as mais carentes, onde o Estado deveria investir mais pesado na promoção do desporto em todas suas modalidades. Todavia, o esporte tem servido à publicidade burguesa e à lavagem de dinheiro, e os atletas, sabidamente, fazem uso de esteróides e anabolizantes, criando corpos deformados, como o do americano Michael Phelps, que tem os braços em proporções muito maiores que a maioria dos seres humanos, não por “genética”, mas pelo uso desde a infância de hormônio de crescimento. Tudo em nome da “competitividade”, valores capitalistas que jogam as favas o verdadeiro intuito das Olimpíadas. O Brasil vive um processo de favelização, em que os campos de futebol dos bairros operários e favelas viram pontos de consumo e venda de entorpecentes, exercendo o papel oposto pelo vértice para aquilo que foram criados. Não recebem manutenção e não tem orientadores, professores de educação física, que eduquem a juventude dos bairros à prática salutar do esporte. Os profissionais da educação física, diante da proletarização violenta da profissão de professor, ambicionam cada vez mais serem “personal trainers”, atuando em academias da classe média e da burguesia, alimentando o “culto da beleza e juventude eternas”, jogo que a mídia burguesa bombardeia a juventude; não raro, esses profissionais recorrem ao uso de esteróides e anabolizantes, substâncias que não promovem a força muscu-

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lar, mas simplesmente o “inchamento” da musculatura – com terríveis conseqüências hepáticas e cardíacas, que não raro levam o aluno à morte prematura – e que são qualquer coisa menos prática desportiva. A profusão de povos que compõem nosso país com sua profunda miscigenação fortalece a capacidade de termos atletas de alto nível. Infelizmente, os sucessivos governos não investem no esporte e apesar de termos melhorado nosso rendimento no quadro de medalhas nos jogos Olímpicos das últimas décadas, ainda somos um país fraquíssimo no âmbito dos jogos, expressando nada mais que a condição semicolonial do Brasil. POLÍTICA E OLÍMPIADAS: A FALTA QUE NOS FAZEM OS ESTADOS OPERÁRIOS As potências burguesas, desde Adolf Hitler em 1936 com sua tentativa de fazer uma “Alemanha ariana” super vencedora, no mega estádio Olímpico de Berlim tentaram caracterizar a política dos Estados Operários, em particular da União Soviética, de fazer “uso político” das Olimpíadas como “propaganda do seu regime”. Contrariando suas pretensões propagandísticas racistas, o nazismo teve que assistir a vitória de vários atletas negros americanos, em especial Jesse Owens, ganhador de quatro medalhas como no atletismo de corrida de velocidade. A URSS e os Estados Operários certamente investiam muito em esporte, como política de Estado de lazer, educação e entretenimento saudável de sua juventude, afastando-a das drogas e outros contra valores humanos e operários. A prática desportiva estava em todas as escolas do Leste, os campos de todas as modalidades desportivas espalhados por todos os bairros com profissionais que treinavam atletas para as competições nacionais e internacionais. Isso levou a hegemonia no quadro de medalhas da URSS e da Alemanha Oriental durante décadas, muito a frente dos Estados Unidos, para a fúria dos capitalistas estadunidenses, que também usaram do preparo desportivo com conotações racistas e jun-


to às universidades, às quais uma parcela pequena do povo – da pequena e da grande burguesia – somente têm acesso. Somente alguns membros do proletariado negro entram no ensino superior, justamente se demonstrarem habilidades excepcionais no esporte, ganhando “bolsas” com o compromisso de ganhar medalhas para o Tio Sam, sendo muitas vezes cobaias de substâncias químicas que lhes fazem “aumentar o rendimento”. É o vale tudo da propaganda capitalista. Sempre fizeram acusações falsas de que a URSS era uma usina de “atletas químicos”, fatos nunca comprovados, para a humilhação dos EUA. Mesmo sobre o covarde ataque e gloriosamente derrotado dos EUA sobre o povo do Vietnã, a URSS nunca boicotou qualquer jogos Olímpicos, e quase invariavelmente saía como a vencedora do quadro de medalhas, também não raro colocando os EUA em 3º lugar atrás da Alemanha Democrática, que investia pesado no esporte, educação e saúde da juventude (nunca custa lembrar que Christiane F., a famosa viciada em heroína, estava do lado OCIDENTAL do muro de Berlim... provando que a “juventude química” estava no Ocidente capitalista, tomando heroína...). Mas foram os estadunidenses os primeiros a boicotar uma Olimpíada por razões “políticas”.... MUNIQUE - 1972: UMA OLIMPÍADA TRISTE E GLORIOSA Mas antes de irmos a 1980, com a maior Olimpíada de todos os tempos, não podemos deixar de recordar aqui os fatos acontecidos em 1972 em Munique, na Alemanha Ocidental. Um de caráter político outro de caráter desportivo. Foi em Munique que uma fração da OLP que havia sido expulsa da Jordânia pelo Rei Hussein, no mês de setembro, adota a denominação “Setembro Negro” em referência aos quase 20 mil palestinos mortos em setembro de 1970 devido à perseguição desferida por este lacaio do imperialismo. As Olimpíadas eram realizadas justamente no mês de setembro e no dia 05 deste mês, em Munique (1972) a organização invade a sede da delegação olímpica israelense, mantém os atletas reféns e acabando por executar onze desportistas da Entidade Sionista. Como comunistas respeitamos e admiramos a coragem de grupos que arriscam a vida pela liberdade de seus povos, enfrentando-os com sua coragem somente contra um infinito poder militar edificado pela grande burguesia

mundial. Defendemos incondicionalmente os guerrilheiros perseguidos pelo Estado sionista e pelo imperialismo, mesmo não concordamos com os métodos do terrorismo individual, que aparta da luta massas os lutadores abnegados e por vezes só fazem aumentar a repressão dos algozes. Mesmo Steven Spielberg, cineasta de origem judaica e historicamente patrocinado pela grande burguesia sionista dos EUA no filme “Munique (2005)” foi obrigado a demonstrar – de forma politicamente correta e bastante contida – parte do que foi a sangrenta caçada do serviço secreto de Israel, o Mossad, que massacrou dezenas de “suspeitos” de terem participado dos eventos de Munique, mortos a sangue frio sem qualquer julgamento pela “única democracia do Oriente Médio” (sic!). A mídia imperialista que antes naturalizou o massacre dos 10 mil palestinos e depois justificou o massacre do “Setembro Negro” acusou a delegação da URSS de “cúmplice” dos guerrilheiros palestinos. A rivalidade também esportiva entre EUA e URSS foi então incrementada pelo episódio nestas olimpíadas atraindo atenção, sobretudo para uma disputa travada nas quadras de Munique. O basquetebol é uma modalidade esportiva notadamente estadunidense na qual eles são praticamente invencíveis, com uma tradição de longa data. Desde 1936 ganhavam todas as medalhas de ouro olímpicas nesta competição coletiva, várias e várias vezes tendo que engolir a prata dos soviéticos, que mesmo sem tradição chegavam às finais invariavelmente. Em Munique, mais uma vez, a disputa do ouro se deu entre URSS e Estados Unidos, numa partida eletrizante. Faltavam apenas três segundos para acabar a partida e os norte americanos venciam por apenas um ponto de vantagem. Num lance espetacular um jogador da equipe capitaniada por Serguei Aleksandr Belov, em dois segundos encesta os EUA e a URSS conquista o ouro, quebrando a hegemonia decenal dos americanos (vídeo da final de basquetebol EUA X URSS, 1972). A arrogância do Tio Sam não permitiu que eles reconhecessem a derrota e acusaram o árbitro de erro e não foram ao pódio receber a prata, que continua depositada na sede do Comitê Olímpico Internacional até os dias de hoje. MOSCOU - 1980: A MAIOR OLIMPÍADA DE TODOS OS TEMPOS E O BOICOTE DOS EUA As duas cidades que haviam perdido a indicação para os jogos de Montreal em 76 foram as únicas a se candiO Bolchevique No11 - Setembro de 2012

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datarem às Olimpíadas de 1980: Los Angeles, nos EUA e Moscou. Por 39 a 20 votos, em 74, o Comitê Olímpico Internacional escolheu Moscou, tendo os EUA logo anunciado o primeiro grande boicote aos jogos da História das Olimpíadas. O Comitê ficou temeroso da própria extinção dos jogos. Jimmy Carter, o “Prêmio Nobel da Paz” (sic!) foi o artífice do boicote, incitando todo o bloco ocidental a acompanhar os EUA. O boicote se deu sob a desculpa da ocupação soviética nos Afeganistão. A derrota no Vietnã ainda estava na goela podre do governo estadunidense. Escritores que nada tem de pró-sovieticos, nos livros “O Livreiro de Cabul” e “O Caçador de Pipas” são unânimes em relembrar os tempos do governo afegão prósoviético como um período de liberdade – isto mesmo, liberdade – incomum naquele rochoso país esquecido pelo capital, miserável e famélico. Pela primeira vez havia uma carta de leis garantindo direitos civis, liberdade religiosa e principalmente, a maior obra do governo pró-URSS no país, a educação e alfabetização em massa da juventude, particularmente das mulheres, oprimidas pelo ostracismo doméstico, às burcas e coisas que o valha, por regimes fundamentalistas que contrariam até o próprio Islã, refletindo tradições arcaicas tribais de um machismo inaudito. Enquanto a burocracia stalinista ocupou o Afeganistão para assegurar o controle das fronteiras asiáticas da URSS, fonte de seu parasitismo, os Estados Unidos não podiam suportar que seus inimigos levassem o progresso humano e científico, trouxessem a erradicação do analfabetismo e aumentassem em larga escala a qualidade de vida de um povo miserável, quando sobre suas costas pesava o genocídio do povo vietnamita, as bombas de napalm e a flagrante derrota pela resistência heróica do Vietnam pela sua autodeterminação como nação. Isso era demais para o orgulho e soberba do Tio Sam. A solução, enquanto ainda não fora aprovada no Congresso americano a ajuda militar e financeira à guerrilha islâmica, opositores do soviéticos que defendiam a volta dos costumes bárbaros, não tinha sido aprovada, foi boicotar os jogos de Moscou. Os estadunidenses acabaram aliando-se aos guerrilheiros islâmicos, armando-os até os dentes e enchendo suas burras de dinheiro para depois beber do próprio veneno no 11 de setembro. A História sempre cobra seu preço... É válido lembrar também que se para o imperialismo o investimento em guerras e forças destrutivas é um dínamo propulsor de sua macabra economia, a guerra no Afeganistão para o Estado operário burocratizado foi a gota d água de sua exaustão econômica. Nas olimpíadas de Moscou, o boicote americano foi, de certa forma, um fracasso. Somente a Alemanha Ocidental e o Japão aderiram a ele. Aliados históricos como

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a própria Grã-Bretanha e França foram aos jogos, competindo não sob sua bandeira nacional, mas sob a bandeira olímpica. Na abertura dos Jogos, em 19 de julho de 1980, a delegação soviética lamentou o boicote com a frase “ó jogos, tu são a paz”. Como tradição, são hasteadas as bandeiras Olímpicas, do país sede e do país que vai sediar as próximas competições; no lugar da bandeira americana os soviéticos hastearam a bandeira branca da paz ao som do hino nacional estadunidense, cantado em plena Moscou... O Estado Operário deu um espetáculo no verdadeiro espírito olímpico nunca antes visto pela humanidade em tempo algum. As Olimpíadas de Moscou impactaram o mundo todo, mesmo com o boicote da imprensa norteamericana. A abertura foi a primeira em que se apresentou um espetáculo de proporções colossais de beleza, música, plasticidade e dança, no estádio Luzhniki, antigo estádio Lênin. O símbolo das Olimpíadas de Moscou, o mascote “Mischa”, apelido de Mikail, um ursinho (o urso sempre foi o símbolo da Rússia) foi o primeiro mascote olímpico a ganhar fama internacional e a paixão e admiração dos povos, principalmente das crianças. A URSS difundia pacificamente o esporte por todo o mundo, de uma forma bela e impactante. Na cerimônia de abertura um painel móvel composto por placas coloridas, Micha derrama uma lágrima. A imprensa da ditadura no Brasil manipulou as imagens, mostrando esta cena magnífica – que significava o lamento soviético pelo boicote aos jogos – na cerimônia final, afirmando que Mischa “chorava pelo fim dos jogos”... A organização impecável e a superioridade absoluta dos Estados Operários no quadro de medalhas, a mensagem de paz e de verdadeiro espírito olímpico marcaram para sempre Moscou como os maiores Jogos Olímpicos de todos os tempos. Mischa tornou-se o mais famoso mascote olímpico, lembrado por todas as gerações que viram aquele maravilhoso evento. Mesmo as empresas americanas, como a Kellogs, vendiam “figurinhas” de Mischa, que todos nós que éramos crianças na época colecionávamos. Mischa tornou-se o mascote de todas as Olimpíadas, em todos os tempos. LOS ANGELES - 1984: A DEFORMAÇÃO DOS JOGOS COM A AUSÊNCIA DA URSS O governo burocrático da URSS infelizmente paga na mesma moeda e boicota as Olimpíadas de Los Angeles, nos EUA. Perdeu a chance de dar um tapa de luva nos EUA e derrotá-los em sua própria pátria, levando o espírito olímpico, sempre renegado pelos estadunidenses, à pátria mãe do imperialismo.


Com a ausência da URSS e sua não intervenção temporária no Comitê Olímpico, as potências imperialistas fazem mudanças que deformam de vez os jogos. Até então, só atletas amadores eram permitidos participarem dos jogos; partir de 84, profissionais são admitidos. Foi quando o Brasil pode enviar o Internacional de Porto Alegre, um time profissional, para representar a seleção brasileira. Atletas super treinados e pagos a peso de ouro, usuários sabidos de substâncias químicas para alterar seu desempenho passam a participar dos jogos. Mesmo assim, tendo os EUA ganho quase todas as medalhas em Los Angeles, a URSS permanecia impávida como a primeira colocada no quadro de medalhas na História do jogos, mesmo não tendo participado de vários deles e sempre mandando atletas amadores, o que fez até o seu colapso. A memória da postura do Estado Operário soviético nos jogos olímpicos será eternamente considerada como a mais conforme ao espírito olímpico que rege a competição. Muitos poderão dizer que este texto é uma grande apologia ao stalinismo. Nada mais falso. Nós comunistas de fato não comemoramos o fim do Estado Operário, mesmo sob o comando da casta parasitária burocrática, como fazem os renegados do trotskismo da LIT (PSTU), Partido Obrero argentino, FT (PTS-LER), Workers Power britânico, etc. DESENVOLVIMENTO DESIGUAL E COMBINADO, A TEORIA DA REVOLUÇÃO PERMANENTE FRENTE A RESTAURAÇÃO CAPITALISTA E O DESEMPENHO NAS OLIMPÍADAS DOS PAÍSES QUE REALIZARAM TAREFAS DEMOCRÁTICAS E NACIONAIS VIA EXPROPRIAÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA Até as olimpíadas de 1984, quando os atletas competidores ainda eram amadores, o quadro de medalhas refletia quase diretamente o investimento universal de cada Estado no esporte. Hoje, com a possibilidade de poder competir com atletas profissionais, criados para esta função propagandística desde a infância, como Phelps, esta expressão é imensamente mais deformada e desigual entre as nações. Como os Estados imperialistas parasitam as riquezas dos demais países capitalistas para seus cofres, podem prover um investimento imensamente maior em seus atletas, que também são patrocinados pelas matrizes das grandes corporações multinacionais. Assim, a competição aparentemente com as mesmas regras na hora das olimpíadas é completamente injusta na preparação dos competidores. Aplicando as concepções revolucionárias permanentistas ao caso, nós da Liga Comunista entendemos que para os países semi-coloniais e dominados pelo imperialismo, a solução verdadeira e completa de suas tarefas democráticas e nacionais só é concebível por meio da ditadura do proletariado e portanto, somente os países que atravessaram uma ditadura proletária (mesmo burocratizada ou deformada) conseguiram um genérico avanço relativo para suas equipes de atletas. O fim dos Estados Operários foi uma derrota histórica para classe operária, com a restauração capitalista. Estamos convencidos disso. Basta ver que mesmo não sendo Estados imperialistas como EUA, Inglaterra, Alemanha,

França e Japão, no quadro de medalhas de Londres, China e Rússia ainda se destacam, todavia hoje como Estados capitalistas pelo simples fato de que possuem a vantagem sobre as outras semi-colônias e até sobre alguns países imperialistas de que quando foram Estados operários terem realizado uma série de tarefas da revolução burguesa (fim do analfabetismo, reforma agrária, superior investimento estatal na educação e esporte, etc.). Vale também destacar que pelo mesmo motivo, apesar de terem retrocedido econômico e culturalmente com a restauração capitalista que sofreram, países como Hungria, Cazaquistão, Ucrânia e Bielorússia, República Tcheca estão entre os 23 melhores colocados no quadro de medalhas de Londres. Coréia do Norte e Cuba, os dois últimos Estados operários deformados remanescentes do século XX, apesar do intenso bloqueio que sofrem, com territórios e população bem menores que o Brasil, por exemplo, também estão entre os melhores medalhistas. Quadro final de medalhas de Londres, dos 23 países com mais medalhas de ouro, 9 foram semi-colônias que passaram por revoluções sociais Dos 23 países com mais medalhas de ouro em Londres, nove foram semi-colônias que passaram por revoluções sociais, demonstrando que a expropriação da propriedade privada dos meios de produção - apesar da burocracia stalinista cuja política de “convivência pacífica” com o imperialismo pavimentou o caminho da restauração - possibilita (notado aqui apenas em forma de resquício) um enorme salto adiante para nações que um dia se viram livres da exploração capitalista e do parasitismo imperialista. Novas revoluções, com a construção de verdadeiros Estados Soviéticos, reconstruirão cenários muito mais belos que os mencionados acima, possibilitando um desenvolvimento superior e harmônico das capacidades humanas. Yuri e Humberto

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LIBIA E SIRIA

Os que uivaram com os lobos*, CMI e LIT, sofrem na própria pele o preço da traição à luta antiimperialista

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enos de um ano depois da tomada de Trípoli pela OTAN e, quando uma intervenção similar na Síria converte-se em uma conflagração regional, os que apoiaram e apóiam às “revoluções árabes” na Líbia e Síria, na verdade, “contra-revoluções democratizantes” patrocinadas pelo imperialismo, sofrem baixas militantes em suas fileiras partidárias. A LIT (PSTU no Brasil, cuja sigla em inglês é IWL) e a CMI (Esquerda Marxista do PT, IMT em inglês), duas das maiores internacionais pseudotrotskistas, começam a sofrer rupturas em suas seções no Canadá e Espanha, respectivamente, por sua capitulação à recolonização imperialista. A INTERNACIONAL DE ALAN WOODS E A LITQI PERDEM MEMBROS NO CANADÁ E NA ESPANHA A CMI acaba de sofrer uma ruptura na seção canadense, a Fightback. No dia 08 de agosto de 2012, o camarada Alex C. publicou um documento de ruptura opondo o trotskismo à CMI na defesa das neocolônias atacadas pelo imperialismo em seu documento: “The International Marxist Tendency Versus Trotsky On The Defence of Neocolonies From An Imperialist Attack” (http://forthedefeatofimperialism.wordpress. com/2012/08/16/theinternational-marxist-tendency-versus-trotsky-on-thedefence-of-neocolonies-from-an-imperialist-attack/).

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Alex teve o apoio da regional de Toronto da Fightback para abrir a discussão dentro do grupo contra a linha oficial pró-imperialista da IMT. A LIT sofreu uma ruptura na Espanha. A “Corriente Roja” (ex-PRT) se dividiu. Como afirma, de uma maneira caluniosa, a própria IWF e o que sobrou da “Corrente Roja”: “Um setor minoritário de Corriente Roja encabeçado pela dirigente Nines Maestro decidiu romper com a organização por razões políticas e desgraçadamente de péssima maneira. Ante as revoluções do norte da África e Oriente Médio, contra a opinião da grande maioria da militância de Corriente Roja, este setor se pronunciou pelo apoio às ditaduras da Líbia e Síria”. O setor dirigido por Nines Maestro chama-se Red Roja que emitiu em julho de 2012 a declaração: “Como en Afganistán, Iraq y Libia, ¡no a la desestabilización imperialista y a la guerra contra Siria!” (http://www.redroja.net/index.php/comunicados/1074-como-en-afganistan-iraq-y-libia-no-a-la-desestabilizacionimperialista-y-a-la-guerra-contra-siria). Embora tenhamos divergências em outras questões, concordamos firmemente com o camarada Alex: “Se o imperialismo atacar a Síria, devemos tomar o lado da Síria e reivindicar a vitória deste país contra o imperialismo, mantendo a nossa oposição política ao regime de Assad.” Fred Weston [dirigente da IMT e principal editor do site In Defence of Marxism] zombou da idéia de um bloco militar, rindo de


que é impossível colocar em prática tal política a partir do Canadá. Ele explicou que havia um grupo na seção argentina do CMI que tinha igualmente esta posição de que devemos lutar pela derrota das tropas imperialistas no Afeganistão. Eles estavam certos e camarada Weston estava errado. Um bloco militar poderia incluir ações comuns como cartazes em uma manifestação afirmando nossa posição, ou tentando organizar as ações dos trabalhadores no Canadá, como o boicote ao envio de armas. Certamente não é mais fácil pôr em prática (a partir do Canadá), a posição atual do CMI - que é a de chamar todos os trabalhadores e revolucionários a se juntarem ao Exercito Livre da Síria, expulsar sua direção burguesa e reacionária e convertê-la em uma organização proletária a partir de dentro do ELS, tudo ao mesmo tempo, evitando confundir-se entre o apoio e a oposição ao imperialismo. Então, novamente somos levados a acreditar que talvez Weston tenha perdido a esperança de que o proletariado possa realmente desempenhar um papel dirigente na Síria e nas outras neo-colônias, e nos simplesmente resta submetermos, ‘inevitavelmente’, a uma direção não-proletária”. Aqueles que não confiam nas forças do proletariado para derrotar o inimigo imperialista, acabam por seguir direções não proletárias próimperialistas. Também estão certos os camaradas espanhóis que declaram: “Red Roja se situará en frente de cualquier fuerza política que, llamándose de izquierdas, declare su apoyo político a los colaboracionistas del imperialismo en territorio sirio. Es hora de no repetir los errores de Libia y de trabajar en la generación de un movimiento de rechazo contra toda eventual guerra imperialista, para presionar al gobierno español tratando de dificultar su participación en cualquier posible intervención criminal, además de denunciar toda intervención indirecta o de baja intensidad que, al estilo de la “contra” nicaragüense (y ésta ya se está produciendo), o a través de Turquía, trate de desestabilizar la región al servicio del imperio.” POR UMA FRENTE ÚNICA ANTIIMPERIALISTA INTERNACIONAL Ainda que nem por um instante nos esqueçamos que Assad é um ditador burguês, assim como eram Kadafi, Saddan Hussein, Galtieri, Chiang-Kai-shek e Getúlio Vargas e ainda que sejamos inimigos de classe das direções capitalistas na Síria, Líbano (Hezbollah), Palestina (Hamas), Irã, Curdistão, não nos confundimos acerca

do inimigo principal da classe operária mundial, a grande burguesia imperialista. Defendemos neste momento a constituição de uma frente única internacional antiimperialista unindo governos e guerrilhas que se enfrentam contra recolonização (abrindo seus arsenais para o armamento de todo o povo na luta pela libertação nacional) como ponto de apoio para uma grande conflagração pela derrota dos agentes do imperialismo em todo Oriente Médio e África. LUTAR CONTRA O IMPERIALISMO É LUTAR CONTRA O OPORTUNISMO Ao mesmo tempo, coincidimos com Lenin que alertava que a luta contra o imperialismo não passa de uma frase vazia e falsa se não está ligada indissoluvelmente à luta contra o oportunismo. Por isto, foi a LC no Brasil quem polemizou frente a frente contra o dirigente principal do CMI, Alan Woods em uma palestra do mesmo em São Paulo, como registramos de forma literal e audiovisual em nossa imprensa e em nosso blog: “A QUESTÃO LÍBIA E O REVISIONISMO DA CMI: Liga Comunista combate posições de Alan Woods e da CMI na USP (http://lcligacomunista.blogspot.com. br/2011/04/questao-libia-e-orevisionismo-da-cmi.html) Por isto, denunciamos a LIT e seu braço político (PSTU) e sindical (CSP-Conlutas) no Brasil. O PSTU, que como denunciamos, apoiou in loco a invasão e tomada da Embaixada da Líbia no Brasil em Brasília por agentes da monarquia pró-imperialista. (http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2012/04/contribuicao-internacionalista-ao. html) Ana Luiza, do PSTU-LIT, candidata a prefeita de São Paulo em campanha, na frente do Consulado Sírio na Av. Paulista em ato pela “derrubar a ditadura de Assad”, com o programa eleitoral “internacionalista” em sintonia com os interesses da Casa Branca em uma frente única pró-imperialista Agora a LIT convoca atos para preparar a mesma investida contra o território de outro país oprimido, o Consulado da Síria em São Paulo. Também desmascaramos a CSP-Conlutas que cada vez mais se integra ao regime burguês brasileiro, levando a grandes derrota às lutas que dirige (Embraer, Pinheirinho, Metrô e GM), que compõe fóruns tripartite de colaboração de classes com governo e patrões, que tem como principal aliado internacional o grupo Batay Ovriere que recebeu 100 mil dólares da agência golpista NED, braço político da CIA em 2004, ano do golpe militar no Haiti, contra o qual naquele moO Bolchevique No11 - Setembro de 2012

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mento e efetivamente o BO não se opôs. Nosso combate a estes traidores da causa antiimperialista também foram nominalmente desmascarados na “Declaração aos trabalhadores do mundo e à sua vanguarda internacionalista” assinada pela LC-RMGSF: “Em defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo! Frente Única Militar com Kadafi para derrotar a OTAN e os ‘rebeldes’ armados pela CIA! Nenhuma confiança no governo de Trípoli! Somente pelo armamento de todo o povo e pela revolução permanente nós poderemos vencer esta luta!”. Neste documento acusamos: “Os agrupamentos políticos que se reivindicam marxistas, que caracterizam os levantes populares desviados nos países árabes como “revoluções”, são demagogos, que adulam e entorpecem as massas em favor da estabilização de novos governos fantoches Ana Luiza, do PSTU-LIT, candidata a prefeita de São Paulo em burgueses pró-imperialistas. Mas o pior é quando es- campanha, na frente do Consulado Sírio na Av. Paulista em ato tes grupos, em nome do apoio às massas líbias e da pela “derrubar a ditadura de Assad”, com o programa eleitoral luta pela democracia, se aliam à propaganda de gue- “internacionalista” em sintonia com os interesses da Casa Branrra midiática imperialista mundial para camuflar este ca em uma frente única pró-imperialista Golpe de Estado da CIA. Os que neste momento se negam a estabelecer uma frente única militar com Karializadas como entre os setores mais explorados e imidafi para derrotar externa e internamente os interesses grantes de suas próprias nações, quanto degenerarão e do imperialismo, traem a luta antiimperialista mundial e a continuarão definhando em suas fileiras. luta contra o Estado genocida de Israel que massacra os Outras correntes centristas originadas em países impalestinos, em particular. perializados, como a FT (PTS argentino e LER brasileira) Denunciamos as principais correntes internacionais – acusada pela LIT de realizar um “recuo castro-chavisrevisionistas que compartilham formalmente das seguinta”– trataram de conter seus ânimos ao que chamavam tes posições: de revolução árabe do meio para o final da guerra recolo1) caracterizam a existência de uma “revolução áranizadora na Líbia e mantem-se mais cautelosos na Síria, be” ou “revoluções democráticas” na África e no Oriente tomando uma distância “quase” prudente do CNT e agora Médio; na Síria do ELS, evitando a mesmas exposição a que 2) Apóiam os “rebeldes” pró-imperialistas na Líbia chegou a LIT como caixa de ressonância da propaganda Neste perfil se incluem o Secretariado Unificado da midiática de guerra do imperialismo, acreditam que serão Quarta Internacional (NPA – França, Enlace/PSOL - Brapoupados pela luta de classes. Ledo engano. sil); LIT (PSTU - Brasil); UIT (Izquierda Socialista – Argentina, CST/PSOL - Brasil); CMI (Socialist Appeal - GrãPOR QUE A OFENSIVA IMPERIALISTA NO ORIENTE Bretanha, Esquerda Marxista do PT - Brasil); CIO (Partido MÉDIO PROVOCARÁ NOVAS RUPTURAS NA Socialista - Grã-Bretanha, LSR/PSOL - Brasil); IST (SWP ESQUERDA PSEUDO-TROTSKISTA? - Grã-Bretanha); L5I (Workers Power - Grã-Bretanha); FT (PTS - Argentina, LER - Brasil); FLTI (LOI-DO - ArgenNa aparência, e sob influencia do bombardeio initetina)” (http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2011/04/ rrupto da mídia imperialista mundial é interpretado como declaracao-lc-sf-rmg-sobre-libia.html) uma guerra civil entre uma ditadura burguesa e a população sublevada tendo a sua frente o Exército de LiberCUIDADO OPORTUNISTAS E CENTRISTAS tação Sírio e outras forças menores, legitimados pela TERCEIRO-CAMPISTAS, A HISTÓRIA grande imprensa como libertadores do povo do julgo do NÃO OS ABSOLVERÁ! “carniceiro de Damasco”. Como uma caixa de ressonância midiática a esquerE asseguramos: Estas rupturas sofridas por estes traida psuedo-trotskista ajuda a vender esta fábula. Todavia, dores foram apenas as primeiras, destes agrupamentos o desdobramento desta guerra só não seguiu rigorosapseudo-trotskistas por nós acusados virão novas ruptumente o modelo líbio de recolonização imperialista pela ras! Mas não só eles sofrerão na pele. Os agrupamenpresença militar em solo e mar sírios de um grande contos que sofrem a influência de suas próprias burguesias tingente de tropas russas, iranianas e de uma série de se opõem a Frente Única Antiimperialista e adotam pooutros elementos de resistencia regional que o regime de sições terceiro-campistas (Espartaquistas e COFI, dos Kadafi não dispôs. Vale lembrar que na guerra diplomáEUA e COREP, da França) acreditando terem achado tica, Rússia e China baixaram a guarda no Conselho de um lugar confortável e tranqüilo na luta entre a ofensiva Segurança da ONU em relação a intervenção da OTAN neo-colonizadora de suas burguesias imperialistas e as na Líbia, permitindo a falaciosa “zona de exclusão aénações oprimidas não passarão incólumes. Não apenas rea”. Erro que não cometem agora na Síria, também uma continuarão sem avançar um milímetro no recrutamento nação cujos vínculos com Rússia, China e Irã são maiode militantes entre os povos oprimidos das nações imperes do que os vínculos mantidos pela Líbia.

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Os atuais “exércitos de libertação” em ação nestes países, independente dos nomes que venham a adotar, CNT ou ELS, não passam de tropas terrestres do imperialismo, armadas diretamente pelo mesmo ou por governos cipaios a ele associados, como Turquia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar, para reduzir os custos políticos da operação com uma camuflagem autóctone da recolonização e, ao mesmo tempo, evitar maiores desgastes diretos dos governos ianque e europeus neste momento de crises, mega déficits públicos, imposição de medidas de austeridade à população e eleições presidenciais nos EUA. Enquanto pelo menos não garante sua reeleição, Obama não pode meter diretamente os EUA em uma nova guerra que aumente a espetacular dívida pública americana que em fevereiro de 2012 ultrapassou pela primeira vez na história o PIB do país. Na verdade, na era em que vivemos, todo e qualquer conflito envolvendo governos e forças internacionais camufladas como nos casos da Líbia e Síria ou não, como no caso do Haiti, são conflitos diretos ou indiretos (por procuração) entre o imperialismo e os povos oprimidos. Por que? Porque o domínio imperialista sobre o planeta ampliou-se após o fim da URSS e da guerra fria. Desde 2006, quando ocorreu a primeira e única derrota militar de Israel, em meio a mais de um século de criação deste gendarme avançado do imperialismo no Oriente Médio, para o Hizbollah de 10 mil guerrilheiros, uma força insurgente cuja existência só foi viável pelo patrocínio do governo de Damasco, a Síria virou a bola da vez. O governo Assad, queira ou não, virou um obstáculo dos apetites do bloco anglo-saxão imperialista, a ser derrotado na ofensiva militar que avançou sobre o Afeganistão, Iraque, Líbia e tem como próximo alvo o Irã, na disputa da região energética mais cobiçada do planeta contra os rivais do bloco China e Rússia. O apoio a esta ofensiva com bases em seus aspetos aparentes ou sob a influencia da ideologia imperialista provoca invariavelmente dois fenômenos sobre os partidos da esquerda mundial: 1) capitulação ao imperialismo ou 2) crise intra-partidária. No segundo caso, desejamos e militamos para que os elementos que entram em conflito com suas direções pró-imperialistas venham a se agrupar conosco na luta pela reconstrução da IV Internacional como única alternativa progressista a barbárie da recolonização imperialista. Não, estas rupturas que se seguirão a outras que se gestam neste momento, não são uma “maldição de Kadafi”. Estas rupturas, invocadas pela LCFI há mais de um ano, quando apelávamos aos militantes honestos destes partidos a romperem com suas direções, agora são uma conseqüência direta da luta de classes e não por acaso começam em países imperialistas. Nós trotskistas temos hoje o direito de acusar de traidores aqueles que uivaram com os lobos na Líbia e agora novamente na Síria salivam por mais uma “revolução” imperialista. Nós temos o direito de continuar convocando, de forma firme e criteriosa, os trotskistas de todo mundo, onde quer que eles estejam, a romper com suas direções liquidacionistas, pró-imperialistas e a reconstruir conosco a IV Internacional. Humberto Rodrigues Com a colaboração de Ismael Costa

*Aqueles que uivaram com os lobos

* Utilizando estaa expressão parafraseamos as palavras de Leopold Trepper em sua obra “O Grande Jogo: Memórias do dirigente da Orquestra Vermelha, organização de espionagem soviética sobre Hitler na Segunda Guerra Mundial”: “Quem levantou a voz de indignação? Os trotskistas podem reivindicar essa honra. Seguindo o exemplo de seu líder, que pagou com sua vida por sua obstinação, eles lutaram contra o stalinismo até a morte, e foram os únicos que o fizeram. Na época dos grandes expurgos, só podiam gritar sua rebelião no deserto congelado onde tinham sido arrastadas para serem exterminados. Nos campos, sua conduta foi admirável. Mesmo que sua voz tenha se perdido na tundra. Hoje, os trotskistas têm o direito de acusar aqueles que outrora uivaram com os lobos. Não esqueçam, no entanto, que eles tinham a enorme vantagem sobre nós de possuir um sistema político coerente capaz de substituir o stalinismo. Eles tinha algo a que se agarrar em meio a angústia profunda de ver a revolução ser traída. Eles não ‘confessaram’, porque sabiam que suas confissões não serviam nem ao partido nem ao socialismo.” Trepper comentou mais adiante na mesma obra: “Entre o martelo do imperialismo mundial e a bigorna do nacionalismo burguês e do revisionismo centrista, o caminho é estreito para aqueles que como nós ainda acreditavam na revolução mundial.” Os comentários do dirigente da Orquestra Vermelha nos dão coragem, inspiração e determinação de lutar para esclarecer e ganhar para o trotskismo as novas forças para a revolução mundial vistas nas recentes revoltas populares na Grã-Bretanha, na Grécia, na Espanha, no Chile e nas que rompem com os aparatos partidários revisionistas. O Bolchevique No11 - Setembro de 2012

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IRLANDA DO NORTE

O Sinn Fein ajoelha-se perante a Rainha como parte do seu giro à direita Em junho de 2012, o líder do Sinn Fein, Martin McGuinness, vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte confraternizou-se com a rainha Elizabeth. O simbólico gesto canalha de McGuinness não surpreende os lutadores pela causa nacional irlandesa nem aos trabalhadores daquele país que sofre há anos os perversos planos de austeridade impostos pelo governo de coalizão composta pelo braço político do IRA a serviço de sua majestade e do imperialismo. Enquanto isto, como parte desta política colonialista, os melhores lutadores republicanos irlandeses, conhecidos como POWs (prisioners of war, prisioneiros de guerra), assim como milhares de outros mártires da luta pela auto-determinação irlandesa contra o imperialismo britânico, amargam uma brutal opressão nos cárceres da coroa inglesa como a Liga Comunista denunciou em http://lcligacomunista.blogspot.com. br/2011/07/prisioneiros-republicanos-irlandeses.html. Abaixo, reproduzimos um artigo de Charlie Walsh, do conselho editorial do Socialist Fight, membro britânico do Comitê de Ligação pela IV Internacional. Os camaradas do SF, também impulsionam o Grupo de Apoio a Presos Republicanos Irlandeses (IRPSG ).

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artin McGuinness apertou a mão de Elizabeth Windsor como um típico servo curvando-se diante de uma monarca feudal Ele é um político pequeno-burguês nacionalista se confraternizou com a comandante em chefe das forças armadas britânicas que em 1991 ajudou a devastar o Iraque e matar centenas de milhares de iraquianos homens, mulheres e crianças. Estima-se que pelo menos cem mil soldados iraquianos morreram no conflito. Após o fim da guerra, a Grã-Bretanha e os EUA impuseram sanções econômicas draconianas sobre o Iraque que levou à morte de 250.000 crianças iraquianas que morreram impedidos sequer de receber medicamentos. Madeline Albright, Secretária de Estado dos EUA durante a presidência de Clinton que impôs as sanções, disse que as mortes das crianças iraquianas era um preço a ser pago pelo Iraque. Muitos iraquianos também morreram de câncer no sangue depois de entrar em contato com urânio empobrecido deixado nos campos de batalha do Iraque pela Grã-Bretanha e pelos EUA no final da guerra de 1991. O urânio empobrecido permanece radioativo por milhares de anos, mas Grã Bretanha e EUA não dão a mínima para isto e para completar o serviço novamente invadiram o Iraque em 2003, matando mais um milhão de iraquianos, enquanto milhares de pessoas ficaram feridas e mutiladas por toda a vida, enquanto outros milhões foram forçados a fugir para o interior do país ou para fora do Iraque por causa da guerra. Hoje, no Iraque, há cinco milhões de órfãos, vítimas da guerra imperialista. As mesmas forças armadas, juntamente com os EUA, Itália e França mataram milhares de civis na Líbia depois de muitos meses de bombardear o país em 2011. Enquanto a Grã-Bretanha e Estados Unidos têm também são responsáveis pelas mortes de milhares de civis no Afeganistão. Assim, as mãos da Rainha da Inglaterra estão manchadas com o sangue de muitos inocentes. McGuinness parecia um servo deslumbrado na frente da Sra. Windsor, uma rica representante da classe dominante britânica cuja “família” se beneficiou enormemente ao longo dos séculos da tirania econômica do império britânico, do imperialismo britânico e do colonialismo bri-

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O JOGADOR E O CANALHA: Demonstrando que os focos de resistência antiimperialista permanecem vivos, Ronan O’Gara, jogador de rugby da seleção irlandesa de rugby se recusa a apertar a mão de Betty Windsor reivindicando o direito da Irlanda a sua autodeterminação durante a recepção do time como vencedor do Grand Slam de rugby eM 2009. Abaixo, Martin McGuinness tem o prazer de apertar a mesma mão manchada de sangue simbolizando o seu abandono da luta antiimperialista. tânico na Irlanda e em todo o mundo. A questão é aonde vai o revisionismo do Sinn Fein? Talvez na cama com a Ordem de Orange*. Aceitando o direito do imperialismo britânico a ocupar e reivindicar jurisdição sobre os seis condados do nordeste da Irlanda, juntamente com a sua aceitação do veto real a reunificação da Irlanda, o Sinn Fein está agora mais próximo politicamente do imperialismo, ao unionismo, a Ordem de Orange que dos milhões de trabalhadores católicos e milhares de milhas de distância do socialismo e das verdadeiras aspirações da classe trabalhadora irlandesa ao norte e ao sul da fronteira. * A Ordem de Orange é uma seita majoritariamente protestante da Irlanda do Norte que é comparada pelos republicanos irlandeses a Ku Klux Klan dos EUA. Defende o unionismo, ou seja, os termos do Act of Union de 1800 o qual confirmou juridicamente a colonização irlandesa em 1801 sob a forma do Reino Unido. O nome de batismo desta seita foi dado em homenagem ao rei inglês William de Orange.


MINERADORA VALE MASSACRA TRABALHADORES NA GUINÉ-BISSAU - ÁFRICA

Toda solidariedade ao proletariado guineano contra a multinacional “brasileira”*! Pela expropriação da Vale sem indenização e sob o controle da população trabalhadora!

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enos de um mês após o massacre de Marikana, a serviço dos interesses da mineradora britânica Lonmin, quando o aparato repressivo do governo do CNA executou quase meia centena de mineiros sul africanos, outro país africano foi palco de um novo massacre anti-operário. No último dia 04 de agosto, foram assassinados por militares seis manifestantes da Guiné Bissau que haviam protestado contra o regime de contratação de mão de obra pelo consórcio multinacional, VBG, composto pela mineradora Vale “brasileira” e a BSG Resourses, pertencente ao bilionário sionista Beny Steinmetz. No dia 1º de agosto, os manifestantes da distrito de Zogota ocuparam as instalações do consórcio, destruindo móveis e expropriando equipamentos em protesto contra o não cumprimento por parte da Vale de uma convenção trabalhista assinada com o governo da Guiné em troca da exploração de minério do país. A convenção estabelecia que a multinacional ficaria obrigada a contratar um percentual mínimo de mão de obra das etnias locais, os Guerzé e os Tomas. No entanto, a Vale contratou três mil funcionários deixando de fora as etnias da região e beneficiando a etnia Peuls, que compõe o setor majoritário da burguesia do país e à qual pertence o atual presidente, Alpha Condé, eleito em um processo fraudulento em 2010. No dia anterior ao massacre, 03 de agosto, ministros do governo Condé foram a Zogota em veículos da multinacional para tentar dissuadir os manifestantes de sua luta contra a empresa. Por volta de 1h da madrugada do dia 04, policiais e para-militares contratados pela empresa utilizando os carros da própria, invadiram 300 casas do vilarejo de Zogota, procurando as lideranças do movimento. A população reagiu, mas os criminosos a serviço da Vale executaram 6 manifestantes, dentre eles o chefe do distrito, Nankoye Kolé. “As mortes chocaram a Guiné e geraram revolta contra as autoridades políticas e militares e também contra a direção da companhia” (O Estado de São Paulo, 02/09/2012). Imediatamente, o governo Condé proibiu os protestos marcados pelos moradores dos distritos de Zogota e N’zérékoré. No dia 07 de agosto, o ministro das Minas de Guiné, Lamine Fofana, enviou um telegrama ao presidente da Vale, Murilo Pereira. O canalha Fofana nem sequer menciona o massacre, mas lamenta pelos “dramáticos acontecimentos” que provocaram danos materiais e depredação do acampamento da Vale, prometendo apurar os atos de vandalismo. O direito de exploração das minas de Zogota, as quais a Vale considera como a nova Carajás, foi comprado por US$ 2,5 bilhões, embora até agora a empresa só tenha desenbolsado US$ 500 milhões. As “compensações financeiras” pela exploração do minério guineano vão para o bolso dos governantes e da classe dominante local, mas não

chegam às comunidades de Zogota e N’zérékoré. A covardia da direção criminosa da Vale não tem limites. A empresa nega tudo. Inclusive nega que tenha havido qualquer incidentes com os moradores locais: “Soubemos pelos veículos de comunicação, que ocorrera uma morte na sexta feira, dia 03 de agosto, num vilarejo distante, cerca de 5 km da planta da VBG... Não procede a informação de que houve ‘recorrentes protestos contra a Vale’” (idem). O governo Dilma vem a público cinicamente mentir em defesa da empresa, apresentando a vilã como vítima. O embaixador do Brasil na Guiné, José Fiúza Neto, isentou a Vale de qualquer envolvimento no massacre: “A percepção que temos é de que há uma motivação política de ir contra o governo, e de que a Vale foi vítima nesta história.” (idem). A ONU não fica atrás. O covil de bandidos imperialistas também acoberta o papel da Vale no bárbaro crime e trata de fazer o velho mis en scene de que vai apurar os fatos: “A ONU, por enquanto, poupa detalhes sobre o eventual envolvimento da Vale nas mortes” (idem). Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos declarou: “Para nós, isso é marginal por enquanto.” (idem). A Liga Comunista exige das organizações de trabalhadores e das que se reivindicam internacionalistas, principalmente as organizações de esquerda do Brasil, que se posicionem contra esse massacre perpetrado pela Vale e defendido pelo governo Dilma. As organizações que se dizendo defensoras dos interesses dos trabalhadores silenciam diante deste bárbaro crime contra nossos irmãos africanos, tornam-se cúmplices por omissão dos criminosos saqueadores multinacionais das riquezas da Guiné. Neste momento, nós não nos esquecemos do ensinamento do revolucionário alemão Karl Liebknecht: “O inimigo principal está dentro do próprio país” e por isto reivindicamos que se leve adiante a luta iniciada pelos guineanos oprimidos quando ocuparam as instalações e realizaram expropriações tendo como fim a expropriação de todo o consórcio VBG, sem nenhuma indenização, seu controle pelos trabalhadores e a luta pela derrubada do governo capacho de Condé. * A Vale foi uma mineradora estatal criada no governo Getúlio Vargas e privatizada no governo FHC, tornando-se o maior exemplo da malfadada privataria tucana. Com matriz no Brasil, mas com 40% de seu capital acionário pertencente a investidores estrangeiros, segundo declaração formal da própria empresa, efetivamente, a maior fornecedora e exploradora de minério de ferro do mundo para o imperialismo e para a China. http://www.vale.com. br/pt-br/investidores/perfil-vale/composicao-acionaria/Documents/Shareholder_structure_p.pdf

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ÁFRICA DO SUL

RESISTIR aos policiais e aos capitalistas! ORGANIZAR: a luta contra o reformismo! RECUPERAR os sindicatos e quebrar a aliança CNA / COSATU / PC! A LC publica abaixo a declaração dos camaradas do Coletivo Qina Msebenzi da Africa do Sul, com quem mantemos relações fraternais, acerca do massacre de Marikana, a mando da multinacional britânica Lonmin. A declaração foi escrita em conjunto com operários mineiros imediatamente após a criminosa repressão policial. Este massacre demonstra a continuidade da exploração e da repressão policial assassina na manutenção dos interesses imperialistas pelo governo burguês do CNA no país tal como imperavam no regime do apartheid.

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amaradas, irmãos e irmãs! Vocês viram a violência do Estado capitalista e de sua polícia!

MAS VOCÊS ACHARAM DIFÍCIL DE ACREDITAR QUE AQUILO SEJA VERDADE! Camaradas, irmãos e irmãs, vocês já ouviram o clamor dos trabalhadores de Marikana! Vocês os viram se levantar e exigir um salário para o trabalho perigoso que eles fazem - enquanto os outros levam os lucros! MAS VOCÊS NÃO COMPREENDERAM AS PA L AV R A S DELES, SEUS OUVIDOS NÃO FORAM TOCADOS PELA VERDADE! CAMAR A D A S IRMÃOS E IRMÃS V O C Ê S

SENTEM A DOR E A ANGÚSTIA DE MORTE NAS MÃOS DO ESTADO, VOCÊS SENTEM O SOFRIMENTO DE SEUS COLEGAS DE TRABALHO E SUAS FAMÍLIAS QUE CHORAM POR AQUELES QUE MORRERAM E OS QUE LEVAM SEUS CORPOS DESTRUÍDOS PARA ENTERRÁ-LOS! O SANGUE DOS MÁRTIRES DE MARIKANA NÃO FOI DERRAMADO EM VÃO. A POLÍCIA ALVEJOU A CARNE DOS TRABALHADORES. O SANGUE ESPIRROU DE SEUS CORPOS AGORA SEM VIDA. MAS NOSSOS MÁRTIRES NÃO ESTÃO MORTOS - O SEU ESPÍRITO E SUA LUTA VIVEM CONOSCO E EM NÓS. OS MÁRTIRES NÃO SÃO “VÍTIMAS”! ELES FORAM MORTOS COMO LUTADORES DE NOSSA CLASSE, DISPOSTOS A MORRER POR SUA JUSTA CAUSA! OS TRABALHADORES DA ÁFRICA DO SUL E DO MUNDO DEVEM APRENDER A LIÇÃO ESCRITA COM O SANGUE DOS NOSSOS COMPANHEIROS MORTOS: A LUTA CONTRA O CAPITALISMO E O IMPERIALISMO É UMA LUTA DE VIDA E MORTE! APENAS O SOCIALISMO PODE VINGAR A MORTE DE NOSSOS MÁRTIRES! Qina Msebenzi Collective

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