O Bolchevique # 4

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O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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EDITORIAL

Construir o partido revolucionário, reconquistar o primeiro de maio para a classe trabalhadora!

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s motivos pelos quais lutaram e foram executados os operários mártires de Chicago, a luta pela jornada de 8h de trabalho e contra a exploração capitalista, são mais vigentes do que nunca. Depois da crise econômica mundial os trabalhadores vêm sendo obrigados a trabalhar mais por menores salários e menos direitos. O capitalismo dá um salto para trás nas relações de trabalho e, consequentemente, em todas as demais relações sociais. Uma imensa massa é sujeita a abrir mão de todas as conquistas trabalhistas obtidas desde os mártires de Chicago até os nossos dias, como vimos nas obras do PAC, nas novas contratações em qualquer local de trabalho, entre a juventude teleoperadora, através da terceirização. Vale destacar, que esta última modalidade de superexploração, onde a burguesia e patrões subcontratadores da força de trabalho lucram mais com o não pagamento de direitos elementares, é nada mais do que a institucionalização dos “gatos”, tão oportunos para potencializar o crescimento do país de Collor a Dilma. O mesmo saque impiedoso dos trabalhadores pelas classes dominantes, vemos hoje em todo planeta, mas particularmente na África e no Oriente Médio. Contando com o apoio direto ou com a passividade de todos os governos burgueses do planeta, os EUA, através da OTAN e apoiado militarmente pela França e Inglaterra, faz da Líbia um novo Afeganistão ou Iraque. Um diferencial importante neste conflito é que Obama conseguiu dividir a “Velha Europa”, que resistia a recolonização à la Bush, e arrastou Sarkozy para o ser seu testa-de-ferro na coalizão. Isto possibilitará à França imperialista, ter como recompensa o aumento da cota de petróleo líbio, e a Obama, diminuir o custo político da aventura militar, aumentando mais ainda sua cota também. Apesar da crise mundial provocar um acirramento das disputas interimperialistas, mais protecionismo comercial e maior disputa de domínios, Obama logrou contra a Líbia uma frente mais ampla do que a que Bush articulou contra o Iraque. Tão ampla, que graças à capitalização imperialista dos levantes populares árabes, a propaganda de guerra “humanitária” e um teatro de insurreição em Bengasi, conseguiu a adesão de grande parte das correntes de esquerda, que foram às ruas contra a ocupação do Iraque, atrás do slogan “Fora Gadafi!”. Para ficar em paz com suas consciências pequeno-burguesas, os revisionistas usam como álibi uma declaração protocolar de que são contra a intervenção militar imperialista. Mas, tirando esta fachada, quase todos aderiram com vuvuzelas e tudo mais a “revolução líbia”, completamente fabricada pela CIA (ver nesta edição artigos “A CIA na Libia” e “Da ‘Operação Ajax’ à ‘Odisséia do Amanhecer”). O neocolonialismo desenvolveu um ‘know how’ bastante trivial voltado à enganar a opinião pública e tomar o controle das nações oprimidas. São facilmente identificáveis as digitais da CIA tanto na conspiração imperialista que instituiu a ditadura militar no Brasil, precedidas das “massas nas ruas” nas “marchas com Deus pela família e a propriedade” quanto no que assistimos na Líbia ou na Síria hoje (ver “Brasil 1964 – Líbia 2011”). Como demonstramos, os marxistas, defensores da estratégia proletária e revolucionária contra o imperialismo, têm uma política diametralmente oposta à dos apoiadores dos “revolucionários” de Bengasi, e os denunciamos em um rigoroso combate literal (“SU, CMI, L5I, LIT, PO, FT, FLTI”: Finalmente as internacionais revisionistas se reunificam em Bengasi”) e também pessoalmente (“Liga Comunista combate posições de Alan Woods e da CMI na USP”). Isto também deve existir em ações práticas e não sectárias como a de constituir uma frente única com distintas organizações políticas para construir um protesto contra a presença de Obama no Brasil, rompendo com a disciplina imposta pela burocracia sindical do governo anfitrião do imperador (CUT, MST) e seus satélites (CSP-Conlutas), como demonstramos no balanço que fizemos desta atividade na quarta capa deste O Bolchevique (ver “Protesto na Cinelândia rompe ba-

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rreira política imposta pela burocracia sindical dirigente da CUT, MST, CTB e CSP-Conlutas ao ‘Fora Obama!’”), até a publicação de uma declaração internacional “Declaração aos trabalhadores do mundo e à sua vanguarda internacionalista da LC do Brasil, Socialist Fight da Grã-Bretanha e Revolutionary Marxist Group da África do Sul” que reproduzimos nesta quarta edição dO Bolchevique. Assumimos estas posições principistas dentro do principal conflito do cenário mundial hoje, ao mesmo tempo em que ao lado de outras organizações políticas e militantes enfrentamos a crescente reação da direita. Animados com a política nacional do PT, de desmoralização das lutas sociais, e com o aumento da repressão sobre os trabalhadores promovido pelos governos estadual e municipal paulistas, os neonazistas voltam a levantar a cabeça no país, a ponto de realizar um ato público armado na Avenida Paulista, no mesmo local onde os neonazistas vêm realizando impunemente ataques criminosos a gays (ver “Contra-ato de combate ao ato de apoio ao anticomunista, homofóbico e racista deputado Jair Bolsonaro: Construir a Frente Única Anti-fascista!”). Cerrar fileiras para cortar as asinhas da reação é uma obrigação de todo aquele que diz defender os negros, nordestinos, mulheres e homossexuais, e mais ainda dos trotskistas, que sabem honrar a tradição da LCI de 1934. Todavia, não é possível ser revolucionário e abrir mão de fusionar o programa marxista com a classe trabalhadora. Prognosticamos que o aprofundamento do chamado “crescimento nacional”, baseado no brutal aumento da exploração dos trabalhadores (ver “Primeiras revoltas contra a superexploração nas obras do PAC : Organizar a luta nacional do proletariado contra as empreiteiras e o governo Dilma”), vai resultar em várias revoltas de Jirau. Nas assembleias estudantis da USP apoiamos a luta das trabalhadoras terceirizadas (“No ‘lixo de Rodas’ não dá para trabalhar nem estudar. Construir a Greve Geral na USP! Pelo pagamento direto da universidade para as trabalhadoras, pela efetivação imediata!”). Simultanemente desenvolvemos no Nordeste uma militância de base entre os trabalhadores da Universidade Federal do Maranhão que passam por condições similares de humilhações no trabalho (“Carta aberta à comunidade acadêmica da UFMA”) enquanto apoiam suas camaradas do Sudeste (“Moção de apoio dos Trabalhadores de Base da UFMA à luta dos trabalhadores efetivos e terceirizados da USP”). Paralelamente, a LC inicia um valoroso trabalho de inserção no proletariado fabril (ver o informe de fábrica: “Conhecer o proletariado para fundamentar com solidez nossas teorias e construir o partido revolucionário dos trabalhadores”.) O governo canalha de Dilma, agente direto do grande capital contra os trabalhadores prostitui mais uma vez esta data. Por diferenças administrativas, em São Paulo, uma parte dos paus-mandados sindicais do governo burguês vai fazer a festa da conciliação de classes em homenagem a Lula e Mandela no Vale do Anhangabaú (CUT) e outra na Barra Funda (CTB, FS, NCST, UGT, CGTB). Há poucos dias estavam todos os agentes sindicais do governo se acotovelando para correr atrás do prejuízo quando os trabalhadores das obras do PAC explodiram de descontentamento espontaneamente dispondo da vantagem de não haver nenhum burocrata sindical por perto. Na Praça da Sé, a poucos metros do 1o de maio da CUT, vivem os que já foram “excluídos” da condição de explorados e empurrados para a mendicância. Nesta data, em meio a eles estarão alguns dos que esperam a providência divina ou a implosão do capitalismo para a vida melhorar. Os militantes estarão sob a orientação de dirigentes associados ao regime burguês via aparatos sindicais, ou ao Vaticano. Vale destacar que este ano a Igreja impôs à Conlutas, PSTU, PSOL e Intersindical o humilhante dito “ajoelhou, tem que rezar!”, obrigando-os a não dar um pio contra a missa que abre o 1o de maio da Sé em favor da santificação de Karol Woitila, o João Paulo II. Este papa polonês SEGUE è


Declaração internacional sobre a Líbia do Socialist Fight (Grã-Bretanha), Liga Comunista (Brasil) e Revolutionary Marxist Group (África do Sul)

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Liga Comunista, juntamente com o Socialist Fight (SF, Luta Socialista em português) da Grã Bretanha, e o Revolutionary Marxist Group (RMG, Grupo Marxista Revolucionário) da África do Sul, convergiram no mês de abril em assinar uma declaração conjunta contra a intervenção na Líbia por agentes internos e externos do imperialismo e em defesa de um programa trotskista revolucionário. O SF é um grupo de camaradas trabalhadores cujo principal dirigente militou no WRP de Gerry Healy entre 1976 e 1985 (ano em que implodiu o WRP, até então uma das maiores organizações a se reivindicar trotskistas no continente europeu). O SF teve uma curta aproximação com o CoReP (Coletivo Revolução Permanente encabeçado pelo Grupo Bolchevique da França, tendência internacional conformada por uma das frações da corrente criada por Stéphane Just após sua ruptura com o lambertismo na década de 1980), mas se afastou desta corrente internacional devido às diferenças sobre a questão líbia. O SF tem como órgão de divulgação um jornal de mesmo nome. Como pode se identificar na declaração, o SF combate a capitulação dos revisionistas ao imperialismo e ao nacionalismo burguês que marcou a trajetória do healysmo. Além do combate pelas posições principistas contidas no documento que apresentamos aos trabalhadores e a sua vanguarda internacionalista, recentemente os camaradas de SF estiveram profundamente envolvidos em seu país na luta contra os cortes nos serviços públicos realizado pelo governo conservador de David Cameron. O RMG é um agrupamento de organizações da África do Sul, que estão em um processo de fusão iniciado através do Bolshevik Forum (Fórum Bolchevique) e entre os Bolshevik Study Circles (Círculos de Estudos Bolcheviques) e dos Coletivos Workers Government e Labour Left (CWG, Coletivo Governo CONTINUAÇÃO DO EDITORIAL

foi quem orientou, juntamente com Reagan o presidente dos EUA na época, o dirigente do Sindicato Solidariedade, Lech Walesa (a quem até o próprio Lula uma vez chamou, acertadamente, de “pelegão”), a lutar pela restauração capitalista na Polônia. Porém, obedecer a Bento XVI neste 1o de maio não será lá um sacrifício enorme para as correntes que saudaram a contrarrevolução em todo o Leste Europeu e defenderam “Todo poder ao Solidariedade!” assim como hoje estão deslumbrados com a “revolução líbia”. Os trabalhadores pensam sobre esta data com um profundo sentimento de indignação. Foram roubados “até no primeiro de maio” por seus inimigos de classe e seus agentes reformistas e revisionistas. Mas há ainda uma alternativa para a classe operária. Ela mal começou a engatinhar, mas está se construindo de forma molecular e firme para assumir suas tarefas estratégicas. Acreditamos que a construção do partido mundial da revolução não será fruto do crescimento de um só partido auto-proclamado como tal. A LC trabalha firmemente para dar o melhor de suas forças para o que dá sentido à vida de sua militância, a construção de uma direção revolucionária para o proletariado. Para disputar a consciência da vanguarda sincera, estaremos nos atos das centrais burocratizadas deste dia usurpado, com o nosso jornal que acaba de ser publicado. Adquira-o, discuta-o e venha construir a reconquista dos 1os de maio onde comemoraremos a vitória de cada batalha ganha sobre a burguesia.

Operário e LLC, Coletivo dos Trabalhadores de Esquerda). Os grupos e indivíduos envolvidos no Fórum Bolchevique vêm de diversas origens, mas a maioria compartilha uma experiência comum na Workers Internationalist League of South Africa (WILSA - Liga Internacionalista dos Trabalhadores da África do Sul). A WILSA foi uma tentativa de construir uma organização revolucionária internacionalista trotskista na África do Sul nos anos 1970 e 1980. Em condições difíceis, um significativo grupo surgiu com forte implantação no movimento de massas, incluindo os sindicatos, organizações estudantis e estruturas da comunidade local. No entanto, com a integração do Congresso Nacional Africano ao regime segregacionista burguês sul africano na década de 1990, um setor da direção do WILSA capitulou ao CNA e às expectativas criadas pelo governo Mandela em 1994. Isto levou a ruptura em diferentes ritmos de diversos membros desta organização. Muitos ex-militantes se reagruparam em torno do CWG e do jornal Qina Msebenzi, ligando-se a princípio internacionalmente a Lennist-Trotskyist Tendency (LTT, conformada por uma ex-ruptura do healismo internacional que hoje é dirigida pelo Workers Action da Grã Bretanha). O CWG na época defendia a convocação de uma Assembleia Constituinte Democrática exigindo sua convocação pelos órgãos de luta contra o regime de transição pactuada com o apartheid. Também fez campanha pela construção de um Partido Operário baseado na ruptura sindical dos trabalhadores com o burguês CNA e seu aliado stalinista, o Partido Comunista Sul Africano. O RMG declara que apesar das dificuldades de construção nas condições da África do Sul, considera ser imprescindível impulsionar uma corrente bolchevique para continuar a luta por um partido da vanguarda revolucionária do proletariado como parte de uma internacional revolucionária, a Quarta Internacional. Apesar das diferenças políticas e programáticas que a LC possui com o SF e com o RMG, consideramos extremamente progressiva a constituição da declaração abaixo a fim de apontar uma alternativa internacional do trotskismo principista e revolucionário diante da vergonhosa capitulação dos revionistas à atual ofensiva imperialista recolonizadora de Obama. O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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DECLARAÇÃO AOS TRABALHADORES DO MUNDO E À SUA VANGUARDA INTERNACIONALISTA

• Em defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo! • Frente Única Militar com Gadafi para derrotar a OTAN e os “rebeldes” armados pela CIA! • Nenhuma confiançano governo de Trípoli! Somente pelo armamento de todo o povo e pela revolução permanente nós poderemos vencer esta luta!

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crise econômica mundial aumentou os apetites do imperialismo para superexplorar a classe trabalhadora e recolonizar as riquezas do planeta. Em nome de salvar os capitalistas da crise especulativa, os governos burgueses de todo o mundo transferiram muito dinheiro dos cofres estatais para o grande capital privado. Agora, os governos burgueses buscam recapitalizar seus cofres. Para isto, impõem sobre a classe trabalhadora o pagamento da conta da orgia financeira, o qual é feito através do ajuste fiscal, do ataque aos salários, às conquistas trabalhistas e sindicais, à previdência social, etc. Isto também provocou aumento do custo de vida das massas e acentuou as disputas interimperialistas pela partilha das semicolônias. Na Europa, da Grécia à Portugal, a resistência popular foi contida pelas direções partidárias e sindicais pró-imperialistas. Nos EUA (Winsconsin) as direções operárias ligadas ao Partido Democrata fizeram o mesmo. Na América Latina, até o momento, mas não por muito tempo, os governos da chamada “centro esquerda” vêm retardando e amortecendo o conflito social através do controle que exercem sobre as organizações de massa. Obama ordenou o início do bombardeio sobre a Líbia quando estava com Dilma Roussef, governo pró-imperialista no Brasil. Agora, na África, as oposições burguesas liberais das ditaduras da Tunísia e do Egito realizaram acordos de transição democrática para estabilizar os países com novos governos fantoches dos EUA e Israel. Nós não consideramos estes processos como “revoluções árabes” ou “revoluções democráticas”. São levantes populares, expressões genuínas da indignação com os aumentos de preços e aumento da opressão causada pela crise imperialista que começou em 2008, mas o imperialismo procura desviar estas situações potencialmente revolucionárias para ampliar seu domínio na África e no Oriente Médio. Se o imperialismo não consegue apropriar-se de forma “pacífica” do que quer, como através do fraudulento ple-

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biscito que dividiu o Sudão, a ONU trata de ocupar o país e impor pela força militar suas igualmente fraudulentas eleições como ocorreu na Costa do Marfim. Tudo isto, com o apoio da União Africana e do governo do CNA na África do Sul. Na Líbia, na Síria e no Irã, o imperialismo busca realizar golpes de Estado com camuflagem “democrática”, aproveitando-se das “insurreições populares” nos países vizinhos. No Irã, os EUA e Israel buscam reeditar a reacionária “revolução verde”. Na Síria, o imperialismo ianque e seu enclave sionista tratam de criar o mesmo cenário de guerra civil fabricado contra a Líbia para justificar outra intervenção militar estrangeira. Na Líbia, o imperialismo realizou um salto de qualidade em sua intervenção. Não apenas pelo que fez depois de iniciado o processo “rebelde”, mas pelo que preparou antes dele. A “revolta” na Líbia não é qualquer tipo de revolução, mas uma contrarrevolução, com uma direção imperialista apoiada e patrocinada pela CIA. É a continuação de uma série de tentativas de restaurar a monarquia e os privilégios tribais em favor dos EUA e da União Europeia, que começaram logo após Gadafi assumir o poder, em 1969, e continuaram esporadicamente desde então. Não por acaso, a bandeira dos “rebeldes” é a bandeira da monarquia imposta pelo imperialismo, do fantoche Rei Idris (1951-1969). Os rebeldes da Líbia são agentes da CIA desde o princípio, como foram os golpistas anti-Chavez em 2002 na Venezuela. O imperialismo, tendo à frente os EUA e a França, quer balcanizar a Líbia, assim como fez na Iugoslávia, ou dominá-la de conjunto, como no Afeganistão e no Iraque. Pode ocorrer também o que vimos na Bolívia, onde Evo Morales capitulou a uma nova partilha da exploração do gás em favor dos golpistas pró-imperialistas do Leste do país. Os que patrocinam a noção ingênua de que o que ocorre na Líbia é uma revolução de “massas”, como uma continuidade das revoltas na Tunísia e no Egito, esquecem que as massas foram enganadas para apoiar a queda do


Muro de Berlim, a Revolução de Veludo (Checoslováquia ), a Revolução Laranja, (Ucrânia) e todas as outras “revoluções” fabricadas pela CIA. Todos estes movimentos foram, na verdade, contrarrevoluções patrocinados pelo imperialismo. Desde o início da nova escalada de ataques israelenses contra a Palestina, 20 palestinos foram mortos e 50 feridos, na pior ofensiva israelense na Faixa de Gaza dos últimos dois anos. É o ataque mais sangrento desde 2008, quando uma operação militar matou 1.400 palestinos. Somos a favor da destruição do Estado sionista de Israel e de um governo operário e camponês multiétnico, baseado em conselhos de trabalhadores urbanos e rurais. Por 21 anos, o Partido Nacional Democrático (PND) de Hosni Mubarak no Egito, foi um membro da Segunda Internacional Socialista (IS), ao lado dos Partidos Trabalhistas da Grã-Bretanha, da Austrália e da Nova Zelândia. A Internacional Socialista só expulsou o PND de suas fileiras em janeiro de 2011, após as manifestações de massa que levaram à renúncia de Mubarak, mas não derrotaram o PND. Porém, fiel à sua longa história de defender o imperialismo britânico, o líder do Partido Trabalhista britânico, Ed Miliband, apoiou inequivocamente aos rebeldes de Bengasi e ao bombardeio da Líbia, com base na completamente hipócrita declaração que, “como internacionalistas, temos a responsabilidade e a oportunidade de ajudar na aplicação do direito internacional e salvar os inocentes deste massacre”. Usando as tolas ameaças de Gadafi de que “não teria misericórdia, nem piedade”, Miliband sancionou o ataque que está matando muito mais pessoas do que Gadafi poderia ter matado. Mas, como um “efeito não intencional” este ataque vai desviar os recursos do petróleo da Líbia para as mãos dos imperialistas ocidentais para que possam investir nos mercados de Wall Street e da City de Londres, retirando recursos das escolas, hospitais e da previdência social líbia e de outros países africanos. Jim Murphy MP, conselheiro trabalhista do Secretário de Defesa britânico, deu uma sugestão que foi seguida pelo restante da esquerda reformista na Grã-Bretanha e a nível internacional: “A inércia tem prejudicado a causa da liberdade não apenas para as centenas de milhares de pessoas que se têm rebelado contra Gadafi na Líbia, mas em outros países onde as pessoas estão também a lutar por mudanças.” E para os que ainda têm dúvidas sobre as posições assassinas do imperialista Partido Trabalhista, Murphy escreve: “as nossas convicções devem estar com todas as forças britânicas ao redor do mundo, incluindo os mais de 10.000 britânicos no Afeganistão. Essa corajosa ação no espaço aéreo líbio e no Mediterrâneo deve receber todo o apoio que precisa, porque a sua coragem é o que permite a aplicação da resolução da ONU para proteger o povo líbio”. Com naturalidade, ele se desmancha em elogios aos massacres “para salvar vidas” de civis e combatentes no Iraque e Afeganistão ou agora na Líbia. A maior prova de que os “rebeldes” líbios não passam de carniceiros agentes do imperialismo é o fato de invocarem o bombardeio da OTAN contra o seu próprio povo, como fizeram os colaboracionistas em todos os momentos da luta de classes, desde Thiers na Comuna de Paris (1871) até o Líbano (2006). A cada dia que passa fica mais evidente que os agentes nativos do imperialismo são meros abre-alas para a intervenção multinacional no país. São racistas e xenófobos, inimigos da classe operária negra africana que trabalha na Líbia. Em nome da caçada aos “mercenários de Gadafi”, perseguem os negros para de

Acima, capa do Socialist Fight #6, “Libia: Frente Única Militar com Gadafi, mas sem lhe dar nenhum apoio político, contra a agressão do imperialismo e seus agentes, os reacionários rebeldes de Bengasi”. Ao lado, as páginas internas da revista SF6 em que estão publicados o documento de fundação da Liga Comunista (Brasil), a declaração internacional tripartite e as capas dO Bolchevique #4 da LC e do Qina Msebenzi, periódico do Revolutionary Marxist Group sul africano. Contatos com o Socialist Fight: http://pt.scribd.com/ Gerry%20Downing Socialist_Fight@ yahoo.co.uk PO Box 59188, London, NW2 9LJ O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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fato desvalorizar ainda mais a força de trabalho no país, preparando-a para a superexploração da nova era de extrema rapina imperialista. Os “rebeldes” líbios são um bando burguês, de trânsfugas do regime Gadafi a serviço do grande capital internacional. Os agrupamentos políticos que se reivindicam marxistas, que caracterizam os levantes populares desviados nos países árabes como “revoluções”, são demagogos, que adulam e entorpecem as massas em favor da estabilização de novos governos fantoches burgueses pró-imperialistas. Mas o pior é quando estes grupos, em nome do apoio às massas líbias e da luta pela democracia, se aliam à propaganda de guerra midiática imperialista mundial para camuflar este Golpe de Estado da CIA. Os que neste momento se negam a estabelecer uma frente única militar com Gadafi para derrotar externa e internamente os interesses do imperialismo, traem a luta antiimperialita mundial e a luta contra o Estado genocida de Israel que massacra os palestinos, em particular. Denunciamos as principais correntes internacionais revisionistas que compartilham formalmente das seguintes posições: 1) caracterizam a existência de uma “revolução árabe” ou “revoluções democráticas” na África e no Oriente Médio; 2) Apoiam os “rebeldes” pró-imperialistas na Líbia Neste perfil se incluem o Secretariado Unificado da Quarta Internacional (NPA – França, Enlace/PSOL - Brasil); LIT (PSTU - Brasil); UIT (Izquierda Socialista - Argentina); CMI (Socialist Appeal - Grã-Bretanha, Esquerda Marxista do PT - Brasil); CIO (Partido Socialista - Grã-Bretanha, LSR/PSOL - Brasil); IST (SWP - Grã-Bretanha); L5I (Workers Power - Grã-Bretanha); FT (PTS - Argentina, LER - Brasil); FLTI (LOI-DO - Argentina). Foi a política anti-operária e neoliberal de Gadafi da última década que pavimentou o caminho desta ofensiva reacionária imperialista. Gadafi estabeleceu novos acordos com o imperialismo, destruindo as conquistas dos processos de nacionalização dos meios de produção e das riquezas energéticas pós-1969. Gadafi proibiu os sindicatos e as greves e realizou acordos racistas antiimigrantes com Berlusconi, patrocinou a campanha eleitoral do fascistóide Sarkozy e privatizou e fez leilões com as riquezas energéticas da Líbia. Deste modo, o caudilho de Trípoli perdeu popularidade junto à população líbia e africana e alimentou o apetite de setores da burguesia nativa em negociar diretamente com o imperialismo, livrando-se do Clã Gadafi. As massas não podem ter nenhuma confiança no anti-imperialismo de Gadafi. Por isto, reivindicamos o armamento de todo o povo líbio contra o imperialismo e a oposição reacionária. Reivindicamos a defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo e seus agentes. Reivindicamos uma frente única militar com Gadafi contra a OTAN e os “rebeldes” monarquistas agentes da CIA. “Rebeldes” que são politicamente semelhantes aos legalistas pró-imperialista do norte da Irlanda, ao Partido da Liberdade Inkatha da África do Sul e os “Contras” da Nicarágua. Esta foi a tática revolucionária de Lenin e Trotsky diante do levante de Kornilov, ex-general de Kerensky que tentou realizar um golpe de estado na Rússia em agosto de 1917. Os bolcheviques chamaram uma frente única militar e exigiram armas a Kerensky, ao mesmo tempo em que o responsabilizaram por pavimentar o caminho da reação, e preparam a revolução social. Do mesmo modo, responsabilizamos Gadafi pela reação golpista e impulsionamos as massas a combinar as tarefas da luta anti-imperialista com a luta democrática e socialista para

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Site do Revolutionary Marxist Group e contato: Revolutionary Marxist Group http://thebolshevik.jimdo.com/ bsc.jhb@gmail.com avançar em direção ao estabelecimento de um governo operário e camponês onde o pan-arabismo de Gadafi parou e retrocedeu. A vitória sobre a ofensiva militar imperialista contrarrevolucionária daria um imenso impulso não apenas para que o proletariado líbio acerte as contas com o caudilho de Trípoli, como também impulsionaria a luta dos trabalhadores da Tunísia, Egito, Bahrein, Costa do Marfim, Palestina, Iraque e Afeganistão contra o imperialismo e os capitalistas nativos. O primeiro passo neste sentido é a luta em nossos próprios países contra as burguesias imperialistas, da Grã Bretanha e semi-coloniais do Brasil e África do Sul. Defendemos a derrota de nossos próprios governos, aliados da recolonização imperialista do proletariado mundial. Defendemos o pleno direito das massas líbias a expropriarem as multinacionais britânicas, brasileiras e sul africanas e a todos os capitalistas na Líbia, em favor da nacionalização sem indenização e sob controle operário. ● Derrotar o imperialismo! Lutar pela soberania, unidade e independência da Líbia com os métodos da revolução permanente! ● Frente única militar com o exército líbio contra o próimperialista Conselho Nacional de Transição (CNT) e contra todos os grupos patrocinado pela CIA! ● Construir Comitês Revolucionários em todos os locais de trabalho, estudo e moradia contra a intervenção imperialista! ● Por uma Assembleia Constituinte com base nesses comitês revolucionários. ● Por um governo operário e camponês! ● Em defesa do direito de criação de sindicatos e do direito de greve! ● Não ao controle de imigração, igualdade de direitos e condições de trabalhadores para todos os imigrantes! ● Controle operário dos locais de trabalho e dos campos petrolíferos, subsídios aos alimentos e bens essenciais, salário mínimo vital, pleno emprego para todos; expropriação das empresas e capitais imperialistas! ● Por greves e ocupações para impedir o envio de tropas e munição para atacar a Líbia! ● Por uma Federação Socialista do Norte da África e Oriente Médio! SOCIALIST FIGHT - Grã Bretanha REVOLUTIONARY MARXIST GROUP - África do Sul LIGA COMUNISTA - Brasil 21 de abril de 2011


A CIA NA LIBIA

O caráter contrarrevolucionário dos ‘rebeldes’ de Bengasi

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guerra civil na Líbia tem provocado um debate mundial na esquerda. Em outro artigo sob o nome de “SU, CMI, L5I, LIT, PO, FT, FLTI: finalmente as ‘internacionais’ revisionistas se reunificam em Bengasi” estabelecemos uma polêmica com várias correntes internacionais e nacionais sobre a questão. A maioria das correntes faz uma dupla contabilidade de simultaneamente rechaçar a intervenção imperialista e reivindicar politicamente as manifestações anti-Gadafi, cuja “defesa” é a justificativa do imperialismo para invadir o país. Nas linhas seguintes, trataremos de demonstrar o caráter da tal oposição, comprovando que este fenômeno “popular” pró-imperialista não é novo na história contemporânea. Na forma elaborada como ele se apresenta, está presente pelo menos desde o segundo pós-guerra, no início da Guerra Fria. Demonstraremos que, como é uma criatura do imperialismo, a insurgência libia não só é reacionária desde sua gênese, como reacionária de todos os pontos de vista. Os revolucionários não tomam o lado político de Gadafi e menos ainda de sua oposição, mas reivindicam uma frente militar contra o golpismo patrocinado pelo imperialismo que pavimentou o caminho da ofensiva militar. OS “REBELDES” NÃO NASCERAM ONTEM Em um artigo de primeira página, o New York Times (TNYT), descreveu a diferença entre a Líbia e as demais lutas que eclodiram em todo o mundo árabe. “Diferentemente das rebeliões juvenis possibilitadas pelo Facebook, a insurreição neste caso foi dirigida por gente mais madura e que se opunha ativamente ao regime há certo tempo”. O artigo descreve o contrabando de armas através da fronteira egípcia durante semanas, permitindo que a rebelião “escale rápida e violentamente em pouco mais de uma semana”. (25/02/2011). O grupo opositor que é mais citado é a Frente Nacional pela Salvação da Líbia (NFSL por sua sigla em inglês). A NFSL foi fundada em 1981, e é uma organização financiada pela CIA, com escritórios em Washington. Seu braço militar é o chamado Exército Nacional Líbio, cuja base de operações é no Egito, perto da fronteira líbia. Também é amplamente citada pelo TNYT a Conferência Nacional da Oposição Líbia, uma coalizão formada pela NFSL que também inclui a União Constitucional Líbia (LCU), dirigida por Muhamad as-Senussi, pretendente ao trono líbio. O site da LCU na internet chama o povo líbio a reiterar um juramento de lealdade ao rei Idris el-Senussi como líder histórico do povo líbio. A bandeira utilizada pela coalizão é a do antigo Reino da Líbia. “O NFSL reivindicou a responsabilidade pelo ousado ataque contra a residência de Gadafi em Bab al Aziziyah em 08 de maio de 1984. Embora a tentativa de golpe tenha fracassado, Kadafi escapou incólume e grupos dissidentes afirmaram que alguns libaneses, cubanos gusanos e alemães orientais morreram. Segundo várias fontes, a CIA treinou e apoiou o NFSL antes e depois da operação de 08 de maio.” (“LÍBIA: um estudo do país”, Federal Research Division da Biblioteca do Congresso dos EUA). Evidentemente esses agentes da CIA e os antigos monarquistas são política e socialmente diferentes da juventude privada de direitos e dos trabalhadores que ocuparam praças e fizeram greves contra os ditadores respaldados pelos EUA no Egito e na Tunísia e que hoje se manifestam no Bahrein, no Iêmen e Omã. Segundo o artigo do Times, foi a ala militar da NFSL que, utilizando armas contrabandeadas, capturou rapidamente postos

“Rebelde” ameaça executar trabalhadores negros africanos presos. Em nome da caçada aos “mercenários de Gadafi”, perseguem os negros para aterrorizá-los e desvalorizar ainda mais a força de trabalho no país, preparando-a para a superexploração da nova era de extrema rapina imperialista. policiais e militares na cidade portuária mediterrânea de Bengasi e em áreas próximas ao norte dos campos petrolíferos mais ricos da Líbia, onde se encontram a maioria de seus gasodutos e oleodutos, as refinarias e seu porto de gás natural liquefeito. Essa área, agora controlada pelo imperialismo mas eufemisticamente apontada pela grande imprensa e seus papagaios como “tomada pelos rebeldes”, inclui quase 80% das instalações petrolíferas da Líbia. O Conselho Nacional Líbio nomeou como comandante de suas operações militares o agente da CIA Hifter Jalifa, um desertor do Exército líbio que há 20 anos mora em Virgínia, na periferia de Washignton DC, a oito quilômetros da sede da CIA em Langley, segundo informam a rede de TV Al Jazeera (14/03), o Daily Mail (19/03) e o site especializado em assuntos ligados a CIA, McClatchy Newspapers. O Washington Post (26/03/1996), descreve uma rebelião armada contra Gadafi na Líbia e cita Hifter como “o coronel, de um grupo ao estilo dos CONTRAS apoiados pelos Estados Unidos denominado Exército Nacional Líbio”. Os CONTRA-REVOLUCIONÁRIOS foram forças terroristas financiadas e armadas pelo governo dos EUA na década de 1980 contra o governo sandinista da Nicarágua. “REVOLUCIONÁRIOS” CUJA VITÓRIA DEPENDE INTEIRAMENTE DA AÇÃO DO IMPERIALISMO “Dezenas de forças especiais da CIA e do SAS têm andado a treinar, a aconselhar e a apontar alvos para os chamados ‘rebeldes’ líbios empenhados numa guerra civil contra o governo de Gadafi, as suas forças armadas, as milícias populares e os apoiantes civis” (NY Times 30/03/11). Apesar de contar com o apoio de uma coalizão militar composta por duas dezenas de países, e com o maior aparato bélico da história da humanidade, os rebeldes vêm perdendo terreno dia após dia. O Los Angeles Times (31/Março/2011) descreveu como “muitos rebeldes em caminhões com metralhadoras deram meiavolta e fugiram (…) apesar de suas metralhadoras pesadas e espingardas antiaéreas serem parecidas com qualquer veículo governamental semelhante”. Certamente que nenhuma força “insurgente” na história recebeu um apoio militar tão poderoso, de tantas potências imperialistas na sua confrontação com um O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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regime instituído. Mesmo assim, as forças ‘rebeldes’ que inicialmente conquistaram algumas cidades ao oeste de Bengasi encontram-se agora em plena retirada, fugindo desordenadamente. Confiantes na vitória, os dirigentes do CNT não querem arriscar-se no front. Mortos, não substituirão Gadafi e menos ainda desenvolverão uma promissora carreira política como a dos atuais títeres postos para governar Bagdá, Cabul e Porto Príncipe. Preferem travar a batalha assistindo a reuniões de cúpulas imperialistas como a que recentemente ocorreu em Londres sobre a Libia, onde a ‘estratégia de libertação’ de seu país consiste basicamente no apelo, fartamente registrado pela mídia mundial, para que as tropas invasoras bombardeiem seu próprio país e, não sendo este método suficiente para derrotar Gadafi, que invadam por terra a Líbia. Como corretamente compara James Petras: “A principal diferença entre a capacidade militar das forças líbias pró-governo e os ‘rebeldes’ líbios apoiados por imperialistas ocidentais e por ‘progressistas’, reside na sua motivação, nos seus valores e nas suas compensações materiais. A intervenção imperialista ocidental exaltou a consciência nacional do povo líbio, que encara agora a sua confrontação com os ‘rebeldes’ anti-Kadafi como uma luta para defender a sua pátria do poderio estrangeiro aéreo e marítimo e das tropas terrestres fantoches – um poderoso incentivo para qualquer povo ou exército. O oposto também é verdadeiro para os ‘rebeldes’, cujos líderes abdicaram da sua identidade nacional e dependem inteiramente da intervenção militar imperialista para os levar ao poder. Que soldados rasos ‘rebeldes’ vão arriscar a vida, a lutar contra os seus compatriotas, só para colocar o seu país sob o domínio imperialista ou neo-colonialista? Finalmente, as notícias dos jornalistas ocidentais começam a falar das milícias pró-governo das aldeias e cidades que repelem esses ‘rebeldes’ e até relatam como ‘um automóvel cheio de mulheres (líbias) surgiu repentinamente (de uma aldeia) … e elas começaram a fingir que aplaudiam e apoiavam os rebeldes…’ atraindo os rebeldes apoiados pelo ocidente para uma emboscada mortal montada pelos seus maridos e vizinhos pró-governo (Globe and Mail, 28/03/11 e McClatchy News Service, 29/03/11). Há vários relatos de órgãos da mídia imperialista insuspeitos de apoiarem o regime de Gadafi que apontam a unidade da população com o Exército líbio. “Em algumas cidades e vilas, os moradores se voltaram contra os rebeldes e lutaram ao lado das tropas governistas” (Independent, 31 de Março). Este foi o caso na cidade de Al Aghayla. O moral das tropas pró-imperialistas é completamente distinto do daqueles que lutam contra os invasores e os traidores. As forças pró-governo mantiveram o controle da cidade de Ajdabiya por oito dias, mesmo quando estavam sendo bombardeados por mísseis da OTAN. Mas, sob condições extremamente desproporcionais de luta fizeram uma retirada ordenada para fora da cidade, se reagruparam e contra-atacaram, rapidamente recuperar o terreno perdido. Por sua vez, os ‘rebeldes’ que passam a maior parte de seu tempo fazendo pose em cima de tanques bombardeados pela OTAN e disparando à toa suas armas com farta munição, costumam bater em retirada desesperada e dispersamente com a chegada do exército regular líbio. Vale observar, como na foto que publicamos da fuga de rebeldes de Ras Lanuf em 30 de março, o tipo e a marca dos carros que os revisionistas apontam como sendo de “milícias operárias”. “A incapacidade de os ‘rebeldes’ avançarem, apesar do apoio maciço do poder imperialista aéreo e marítimo, significa que a ‘coligação’ EUA-França-Inglaterra terá que reforçar a sua intervenção, para além de enviar forças especiais, conselheiros e equipes assassinas da CIA. Perante o objetivo declarado de Obama-Clinton quanto à ‘mudança de regime’, não haverá outra hipótese senão introduzir tropas imperialistas, enviar carregamentos em grande escala de caminhões e tanques blindados e aumentar a utilização de munições de urânio empobrecido, profundamente destrutivas.” (Obama e a defesa da “rebelião”, James Petras, 04/04/2011). “O ‘primeiro presidente negro’ de Washington ganhará a infâmia da história como o presidente americano responsável pelo

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massacre de centenas de líbios negros e da expulsão em massa de milhões de trabalhadores africanos subsaarianos que trabalham para o atual regime” (Globe and Mail, 28/03/11). “REBELDES” RACISTAS, XENÓFOBOS E ANTIOPERÁRIOS Os ‘rebeldes’ têm se destacado pela perseguição aos trabalhadores estrangeiros e em especial aos operários negros das indústrias petrolíferas da Líbia. Os imigrantes negros, provenientes das regiões subsaarianas, têm sido sequestrados ou sumariamente executados. Como descreve em detalhes o Somaliland press: “Na Líbia, a leste, a caçada aos negros africanos teve início quando as cidades passaram ao controle dos rebeldes. Eles começaram a deter, insultar, violar e até mesmo executar imigrantes negros, estudantes e refugiados. Nas últimas duas semanas, mais de 100 africanos de vários estados subsaarianos foram mortos por rebeldes da Líbia. De acordo com refugiados somalis na Líbia, pelo menos cinco somalis da Somalilândia e da Somália foram executados em Trípoli e Bengasi por multidões anti-Gadafi. Dezenas de refugiados e trabalhadores imigrantes da Etiópia, Eritreia, Gana, Nigéria, Chade, Mali e Níger, foram mortos, e alguns deles foram levados para o deserto e esfaqueados até a morte. Homens negros que estavam recebendo cuidados médicos em hospitais de Bengasi foram raptados de seus leitos por rebeldes armados. Mais de 200 imigrantes africanos foram sequestrados e estão em locais secretos mantidos pelos rebeldes. Em muitas disputas envolvendo os moradores da Líbia e negros africanos, os líbios estão acusando os africanos de mercenários. Milhares de africanos acusados nesta histeria como mercenários estão aterrorizados. Alguns trancaram-se nas suas casas, enquanto outros se esconderam no deserto. Insultados, ameaçados, espancados, perseguidos e assaltados. O seu único crime foi ser negro e, por isso, são tratados como ‘mercenários’ de Gadafi. Mohamed Abdillahi, da Somália, 25, estava dormindo em sua casa em Zouara, quando a multidão chegou. ‘Eles bateram na porta em torno de 1:00 da manhã e nos mandaram sair dizendo: vamos matá-los, são negros, estrangeiros, claro.’ Os depoimentos são muito semelhantes entre os milhares de africanos que viram o lado feio da Líbia nas últimas semanas. ‘Eles nos atacaram, eles levaram tudo de nós’, disse Ali Farah, trabalhador somali de 29 anos. ‘Eles queriam matar civis, eles bateram muito em nós. Para mim, eles são animais “, diz Jamal Hussein, 25 anos, trabalhador sudanês.” http://somalilandpress.com/libya-rebels-execute-black-immigrants-whileforces-kidnap-others-20586. Por trás do combate aos “mercenários de Gadafi” se escondeu um cruel massacre de trabalhadores negros realizados pelos “rebeldes”. Novamente um simples Google teria revelado as mentiras por trás da propaganda. Segundo a imprensa da Somalilândia em 27 de março, um motorista de ônibus da Somália cujo primo era engenheiro nos campos de petróleo na Líbia, relatou que o parente, sua esposa e dois filhos foram assassinados pelos ‘rebeldes’ xenófobos e conlui: “Gadafi é um bastardo, mas essas pessoas devem ser derrotadas. Eu não tenho nenhuma hesitação em apoiar Gadafi contra eles.” http://www. cpgb.org.uk/article.php?article_id=1004340. Como explicamos em nossa declaração internacional com o SF britânico e o RMG sul africano “os agentes nativos do imperialismo são meros abre-alas para a intervenção multinacional no país. São racistas e xenófobos, inimigos da classe operária negra africana que trabalha na Líbia. Em nome da caçada aos “mercenários de Gadafi”, perseguem os negros para de fato desvalorizar ainda mais a força de trabalho no país, preparando-a para a superexploração da nova era de extrema rapina imperialista. ” (Declaração LC-SF-RMG sobre Líbia, 21/04/2011). OS CRIMES DOS EUA E DA UE NA LÍBIA Os Estados Unidos e seus aliados imperialistas estão repetin-


do na Líbia os crimes contra a humanidade que já cometeram na ex-Iugoslávia, no Iraque e no Afeganistão. A agressão ao povo líbio é diferente das outras apenas no discurso, que no caso da líbia ultrapassa os limites da mentira. A encenação, sustentada por calúnias e hipocrisia, faz lembrar os nazistas em suas campanhas que precederam a anexação da Áustria e as invasões da Tchecoslováquia e Polônia da década de 30 do século passado. Michel Chossudovsky, James Petras e outros escritores progressistas, têm revelado em seus sugestivos artigos - citando fontes fidedignas – que a rebelião de Bengasi foi engendrada com grande antecedência, e alertaram que os serviços de inteligência dos EUA e Reino Unido (Inglaterra) cumpriram papel decisivo na conspiração iniciada pelos rebeldes monarquistas, tidos como “revolucionários” por grande parte da esquerda, dos reformistas aos pseudotrotskistas. A intervenção militar na Líbia já tinha sido elaborada pelo Pentágono antes das primeiras manifestações em Bengasi, quando nesta cidade foram hasteadas as bandeiras da monarquia fantoche do rei Idris, criada pelo Imperialismo britânico após a expulsão dos italianos. Estas informações estão descritas em documentos (ver correspondência diplomática divulgada pela Wikileaks) que agora começam a se tornar públicos em sites alternativos. Os discursos do imperialismo visando a encontrar respaldo para as agressões ao povo líbio e montados a partir de uma enorme campanha de desinformação da grande mídia ocidental, têm se empenhado na defesa e propaganda da intervenção militar. Essa propaganda está sendo facilmente desmascarada, diariamente. Hoje não é mais possível desmentir que o texto da resolução do Conselho de Segurança da ONU – aprovado com a abstenção cúmplice e criminosa da China e da Rússia – foi violado pelos agressores imperialistas dos EUA e União Européia. Os ataques aéreos, que não estavam previstos, foram desencadeados por aviões franceses e por navios de guerra dos EUA e Reino Unido, que dispararam mais de 100 mísseis Tomahwac sobre diversos alvos. Os governos dos EUA, Reino Unido, França e Itália afirmam que a intervenção é humanitária e para proteger as populações civis, e que os “danos colaterais” são mínimos. Esses senhores mentem descaradamente. As chamadas “bombas inteligentes” têm atingido com precisão depósitos de combustíveis, produtos tóxicos, pontes, portos, edifícios públicos, quartéis, fábricas, centrais elétricas, sedes de televisão e jornais. Reduziram a escombros a residência de Muamar Gadafi. O objetivo claro dessas ações foi a destruição da infra-estrutura produtiva da Líbia e de sua rede de comunicações. Outro objetivo prioritário foi lançar o temor na população civil das áreas bombardeadas. Os porta-vozes do Pentágono, como o secretário da defesa dos EUA Robert Gates, afirmam que a coalizão imperialista não se desviou de seus objetivos “humanitários” e garantem que as baixas entre os civis têm sido mínimas, inexistindo no caso dos bombardeios “cirúrgicos”. Essas afirmações são desmentidas por órgãos de imprensa árabes e ocidentais. Segundo a Al Jazeera, o “bombardeamento humanitário” de Adhjebabya, foi na verdade uma “matança sanguinária executada com requintes de crueldade”. Vários jornalistas têm usado a palavra “tragédia” para descrever as cenas que têm presenciado em bairros residenciais em Trípoli. Os comandantes das forças armadas ianques e britânicas continuam afirmando que somente instalações militares têm sido atingidas. Essas afirmações se constituem em grosseiras falsificações. Os bombardeios a hospitais de Trípoli e clínicas de Ain Zara, transformados em ruínas, são o espelho do “bombardeio humanitário” da OTAN. Jornalistas que estiveram em Ain Zara e falaram com sobreviventes, afirmam que nesta localidade não havia nem soldados, nem armas, e muito menos carros blindados. Essas atrocidades cometidas por Barack Obama, David Cameron, pelo fascista Berlusconi e pelo direitista Sarcozy, todas apoiadas incondicionalmente pelos rebeldes “revolucionários”,

Em cima de carros de luxo novos, “rebeldes” monarquistas assistem a chegada de lança-foguetes, a ‘ajuda’ imperialista para assassinarem a população de seu próprio país (Ajdabiyah, 7/04/2011) racistas, xenófobos e ultradireitistas líbios, são o prenúncio de prováveis novas ações militares do imperialismo contra a Síria, o Irã, e contra os Estados Operários Norte-coreano e Cubano. Em resumo, essa intervenção “humanitária” do imperialismo norte-americano e europeu, apoiada internamente pelos rebeldes anti-Gadafi organizados pela CIA, visam a se apoderar das reservas de petróleo (o dobro das norte-americanas) e de gás na Líbia, as maiores da África. Essa intervenção pseudo-humanitária tem como objetivo dar continuidade ao processo de recolonização pelo Imperialismo de suas semicolônias, processo iniciado com a vitória da contrarrevolução capitalista que destruiu os Estados Operários da União Soviética e do Leste Europeu e que teve suas primeiras manifestações na Primeira Guerra do Golfo, na invasão do Afeganistão e do Iraque. O imperialismo aproveitou-se do caráter não autóctone de grande parte do proletariado na Líbia, da inexistência de qualquer organização sindical no país e da desmoralização de Gadafi após o início da ofensiva de Bush, conhecida como guerra ao terror, para realizar um novo tipo de recolonização, dando um salto de qualidade neste tipo de empreitada. Entre o pós-guerra e 2011, o “know how” da CIA em articular golpes de Estado incrementou-se, desde a arregimentação de lumpens para derrubar o governo nacionalista de Mossadeq. DERROTAR O GOLPISMO IMPERIALISTA E AVANÇAR CONTRA O DECRÉPITO REGIME DE GADAFI RUMO À REVOLUÇÃO PROLETÁRIA Somente uma revolução proletária socialista resolverá de forma conseqüente o problema do desemprego e do arrocho salarial crescentes no país, assim como cumprirá as tarefas democráticas (separação da Igreja do Estado, reforma agrária) e de libertação nacional pendentes (controle das riquezas e do comércio exterior). Combater o golpismo imperialista neste momento é combater uma ameaça que agravará a dependência nacional líbia da grande burguesia mundial, que pretende subjugar as massas líbias e africanas como aos povos governados por títeres amistosos como na Arábia Saudita. Os revolucionários realizam este combate sem, no entanto, emprestar nenhum apoio político a Gadafi. Por tudo isto, é preciso construir um partido de oposição revolucionária que conquiste a consciência do proletariado líbio e africano para o enfrentamento estratégico contra Gadafi, dando um sentido verdadeiramente socialista e revolucionário ao que as massas tinham de expectativa no pan-arabismo, que unifique as massas árabes, persas e africanas em uma luta revolucionária pela expulsão do imperialismo da região, pela destruição do enclave sionista de Israel e pelo estabelecimento da Federação das Repúblicas Socialistas do Oriente Médio. O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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DA “OPERAÇÃO AJAX” À “ODISSEIA DO AMANHECER”

O ‘know how’ golpista de 1953, turbinado em 2011

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m março de 2000, a secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, admitiu que a administração Eisenhower organizou um golpe contra o regime no Irã em 1953, a chamada “Operação Ajax”, e que este acontecimento histórico explica a hostilidade atual dos iranianos contra os Estados Unidos. Nove anos depois, discursando na Universidade do Cairo, Obama apela para a reconciliação da África e Oriente Médio com os EUA. Para desarmar uma plateia desconfiada, induzindo-a à ideia de que a Casa Branca estaria “sob nova direção”, o mandatário ianque reconheceu que “na Guerra Fria, os Estados Unidos desempenharam um papel na derrubada de um governo iraniano democraticamente eleito” (Discurso do Obama no Cairo, Folha Online, 05/06/2009). Logo após a desocupação da Pérsia pela Inglaterra, Eisenhower orquestrou através da Agência Central de Inteligência, a CIA, recém criada (1947), e do serviço secreto britânico, o MI6, um golpe de Estado no Irã aliando-se ao Xá (rei persa) Mohammad Reza Pahlevi quando o governo do primeiroministro Mohammad Mossadeq nacionalizou os recursos petrolíferos do país. A “Operação Ajax” foi liderada por Donald Wilber, Kermit Roosevelt (neto do presidente Theodore Roosevelt) e pelo general Norman Schwartzkopf (cujo filho de mesmo nome, conduziu a Operação “Tempestade no Deserto” em 1991 contra o Iraque). Esta operação continua a ser um caso exemplar de “subversão” pró-imperialista, contou com milhares de agentes infiltrados no país, “manifestação de massas” de direita pró-imperialista (como massivas “marchas com Deus pela família e pela liberdade” contra o governo Jango no Brasil), atentados terroristas como um ataque com bomba na casa de um proeminente líder religioso iraniano, a mesquitas e disparos de metralhadoras contra multidões, atribuídos ao governo Mossadeq, propaganda enganosa sob “falsa bandeira” com milhares de panfletos que diziam “Viva Mossadeq, viva o comunismo, abaixo Allah!”. Depois de tudo isto Mussadeq foi preso e seus ministros executados sumariamente dias depois do golpe, acusados pelos crimes que a CIA e o MI6 haviam cometido. Depois disto, a CIA formou a SAVAK, a temida polícia política do regime do Xá que viria a governar pela tortura e repressão por 25 anos, até a revolução política iraniana de 1979. Descrevendo os bastidores do golpe de 1953, o jornalista Stephen Kinzer do New York Times, relata em seu livro “Todos os homens do Xá: Um golpe de Estado americano e as raízes do terror no Oriente Médio”, que “a CIA projetou um cenário que dá a impressão de uma revolta popular quando na verdade se trata de uma operação secreta. O auge do espetáculo foi uma manifestação em Teerã com oito mil figurantes pagos pela Agência a fim de fornecer fotos convincentes à imprensa ocidental” (All the Shah’s Men: An American Coup and the Roots of Middle East Terror, 2003). Já há 60 anos, o imperialismo inaugurava a era dos cinematográficos golpes de Estado, justificados ao mundo a partir de uma superprodução hollywoodiana. O GOLPISMO MADE IN CIA COMO AGENTE CONSCIENTE DE LEVANTES INCONSCIENTES DE MASSA RESTAUROU O CAPITALISMO NO LESTE EUROPEU E NA URSS Em 1981 este plano de desestabilização foi posto em andamento na Polônia, através da direção pró-imperialista do Sindicato Solidariedade, diretamente vinculada ao Papa polonês Karol Woitila (João Paulo II). O imperialismo aproveitou-se do legitimo descontentamento do proletariado polonês contra o aumento dos preços dos alimentos imposto pelo governo da burocracia stalinista para pagar os empréstimos que a Polônia havia contraído com os banqueiros internacionais, ou seja, com o próprio imperialismo. Mas ainda que o golpe restauracionista, apoiado em nada menos do que nas greves operárias do Solidariedade sob uma direção contrarrevolucionária, não tenha sido bem sucedido no início dos anos 80’, pela repressão burocrática do stalinismo polaco, ele foi um ensaio geral para a onda contrarrevolucionária que varreu o Leste Europeu, incluindo a própria Polônia, no final da década, derrubou todos os governos stalinistas, o Muro de Berlim e, por fim, a URSS, restaurando o capitalismo e o domínio imperialista em toda esta região do globo antes ocupada por Estados operários burocratizados. Vale destacar que o que possibilitou a ofensiva imperialista foi a politi-

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A “Operação Ajax” da CIA, foi a precussora dos golpes de Estado com fachada de “insurreição popular”

Tal como na Líbia e nas ruas da Síria hoje, em 1953, a CIA arregimentou milhares de manifestantes para camuflar seu plano, realizando confraternizações populares com militares golpistas, enterros de mártires, protestos de massa...

ca de convivência pacifica do stalinismo com o capitalismo mundial e a utopia reacionária de “socialismo em um só país”, contrária a extensão internacional e revolucionária da luta pela tomada do poder pelos trabalhadores aplicada pelos PCs em todo mundo através da colaboração de classes com as respectivas burguesias, através das frentes populares. Estas concepções tendem a levar a economia dos estados operários ao colapso, ao aumento da dependência com o capitalismo mundial que cedo ou tarde aproveita-se da debilidade dos Estados operários para aplicar-lhes o golpe mortal restauracionista sob uma fachada de “revolução democrática”. CONTRARREVOLUÇÃO ETAPISTA As supostas “revoluções” pré-fabricadas pela CIA vêm sendo a camuflagem democrática para os golpes de Estado orquestrados pela Agência contra governos em discordância com os interesses da Casa Branca, substituídos por outros “mais disciplinados”. Em 2000, a Sérvia foi vítima


de uma que, após demonizar e derrubar Milosovic, selou o domínio completo da OTAN sobre os Bálcãs. Depois foi a vez das ex-repúblicas da antiga URSS para arrancá-las da influência da burguesia restauracionista moscovita e entregar ao imperialismo ianque e europeu. Assim foram patrocinadas as revoluções Rosa (Geórgia, 2003), Laranja (Ucrânia, 2004), das Tulipas (Kirguistão, 2005). O mesmo intento, sob os mesmos interesses, fracassou na Bielorússia em 2006 (que recebeu o nome de Revolução Branca). Fracassaram: a tentativa de derrubada da ditadura pró-China por monges budistas em Mianmar (2007) e o intento de expulsão da China do Tibet (2008). OS GOLPES MILITARES “VERSÃO 2000” NA AMERICA LATINA E NO ORIENTE MÉDIO Para quem acreditava que os Golpes de Estado na América Latina eram fantasmas do passado, já superados pela redemocratização do continente, os últimos anos apontam justamente no sentido contrário. O golpe frustrado contra Chavez (2002), a derrubada do governo seguida de uma ocupação militar no Haiti (2004); o levante autonomista com apoio de massas da oligarquia pró-imperialista de cinco províncias separatistas na Bolívia (2007); o golpe militar em Honduras (2009) e o ensaio de golpe militar-policial no Equador (2010) demonstram o que estamos dizendo. Foi bem sucedida a expulsão das forças sírias do Líbano que ficou conhecida como “Revolução do Cedro” (2005) que agora em 2011 tem continuidade na própria Síria contra o governo da oligarquia Assad. Ainda não se completou o plano golpista contra o governo xiita do Irã através da “Revolução Verde” latente no país. No rastro dos levantes espontâneos (Tunísia, Egito, Bahrein, Iêmen, Omã) mas que logo foram administrados e absorvidos pelos próprios regimes contra os quais a população se levantou, o imperialismo francês aproveitou-se para destituir o presidente da Costa do Marfim, que havia cometido o “crime” de nacionalizar a produção de cacau do país contra os interesses das multinacionais, e estão em andamento “revoluções” completamente fabricadas na Líbia, na Síria e no Irã. OS REVISIONISTAS APOIAM POLITICAMENTE O COMPLÔ DA CIA CONTRA A LIBIA Apesar da confissão oficial do comandante em chefe do imperialismo de que seu país orquestra este tipo de operação criminosa há mais de meio século, para algumas correntes que se dizem antiimperialistas como a Liga Internacional dos Trabalhadores, a denúncia feita pela Liga Comunista e várias outras organizações e intelectuais mundo afora de que o que a atual operação batizada de “Odisséia do Alvorecer” que se passa na Líbia é uma versão imensamente mais sofisticada da “Operação Ajax”, a “tese de que a situação na Líbia se explica como parte de um plano traçado pela CIA” não passa de uma “teoria da conspiração” (Opinião Socialista 421, de 6 a 19/04/2011). A quase totalidade dos revisionistas apoiou todas e cada uma das armações golpistas com fachada de massas, principalmente contra os Estados operários do Leste Europeu e da URSS e agora contra Cuba, como é o caso da LIT que reivindica uma frente única com o restauraconismo burguês na ilha. Embora a influência política da LIT seja completamente desprezível para a guerra na Líbia, não resta dúvida de que esta corrente “trotskista”, como várias outras, apoia politicamente a oposição libia e participa objetivamente, através do ocultamento e falsificação dos fatos em seus periódicos e sites, da campanha midiática do imperialismo que pavimentou o caminho do ataque militar da OTAN. Este mesmo serviço de proliferação dos mitos imperialistas já foi prestado pelos morenistas (descendentes políticos da corrente fundada por Nahuel Moreno) várias vezes, desde o “Todo poder ao Solidariedade!”, passando pelo apoio aos movimentos restauracionistas no Leste Europeu, as revoluções coloridas nas ex-repúblicas da URSS, os protestos dos esquálidos venezuelanos e dos fundamentalistas pró-imperialistas no Irã, até agora na Libia. Na França, potência capitalista que lidera os bombardeios no continente europeu, Sarkozy dispõe do apoio do Novo Partido Anti-Capitalista (dirigido pelo SU e composto pela FT), do Partido Socialista e do Partido Verde para embelezar a agressão militar ao povo líbio como ajuda humanitária. Com sua típica combinação de estupidez e engano, esses partidos são obrigados a expor seu papel criminoso como engrenagens de confiança na máquina de propaganda imperialista. A cada dia que passa, a oposição anti-Gadafi se mostra tão reacionária e colaboracionista ao defender ataques militares a seu próprio povo, quanto os anti-comunards de Thiers em 1871 e o regime pró-nazista de Vichy entre 1940 e 1944 na França, ou os colaboracionistas da OLP e do governo libanês em 2006, que apoiaram ataques militares contra os palestinos e seus próprios trabalhadores, levados a cabo pelo estado nazi-

sionista de Israel, ponta de lança do Imperialismo norte americano contra os povos árabes. Os dirigentes do “processo revolucionário” líbio nada mais são do que monarquistas da direita, que a exemplo dos franquistas na guerra civil espanhola, que defenderam os bombardeios da aviação nazista sobre Guernica, defendem os bombardeios da OTAN sobre seu próprio povo. Clamam pela intervenção “humanitária” da ONU/OTAN, tão humanitária quanto a “ajuda operária” à Bósnia, que em 1992/1993 foi apoiada pelos revisionistas traidores que cantaram loas aos bombardeios imperialistas sobre o povo iugoslavo e foi apoiado pelos pseudomarxistas de toda espécie. Os senhores que hoje não defendem a frente militar com o governo de Trípoli contra a OTAN e os “rebeldes” patrocinados pela CIA, que posam de marxistas revolucionários mas vergonhosamente capitulam ao imperialismo, talvez hoje acusariam Trotsky de capitular ao nacionalismo burguês pelo mesmo ter reivindicado categoricamente o lado da nação oprimida na luta anti-imperialista. Divagando sobre um hipotético conflito militar entre o Brasil e a Inglaterra nos anos 30’, o dirigente do primeiro Soviete do planeta e fundador do Exercito Vermelho reivindicou uma frente única com o ditador sanguinário Getúlio Vargas: “eu estarei do lado do Brasil ‘fascista’ contra a Inglaterra ‘democrática’” (Conversando com Trotsky, Mateo Fossa, 23/11/1938). O armamentismo crescente, a hipertrofia dos aparatos repressivos, a xenofobia, o racismo, o clericalismo, os ataques às liberdades democráticas e civis, a perseguição das minorias religiosas e aos imigrantes atestam cruelmente como o imperialismo tem se tornado cada vez mais reacionário e antidemocrático. Os verdadeiros revolucionários marxistas continuarão sabendo que lado tomar no conflito entre o imperialismo e a nação oprimida, não se deixando impactar pelos cenários teatrais montados pela contrarrevolução por mais “democráticos” e “populares” que pareçam ser. Nem sempre ocorre de um plano golpista ser completamente artificial desde o princípio como vemos hoje na Libia. Muitas vezes conjunturas reacionárias pavimentam o caminho do golpismo imperialista. A teoria marxista sobre as oscilações politicas da classe média e os alinhamentos do lumpensinato não é nova. Já o primeiro documento fundador do marxismo, o Manifesto Comunista, já a enunciava. Portanto, os marxistas nada tem a ver com os impressionistas pequeno burgueses que se animam quando veem setores de sua mesma classe militares, pequenos camponeses e comerciantes, artesãos e mesmos lumpens desclassados participarem da cena política. Hitler soube muito bem arregimentar o lumpem e a pequena burguesia desesperada. Os setores intermediários da sociedade de classes tendem a revolução e estão dispostos a apoiar o movimento operário quando este se mostra capaz, por suas ações políticas e seu ascenso, de dar uma perspectiva revolucionaria a crise burguesa, mas também estes setores médios tendem a apoiar a burguesia e a contrarrevolução diante da ofensiva imperialista e da reação. Há também combinações de fatores, principalmente a ausência de uma direção revolucionária com influencia de massas, que fazem com que o próprio proletariado possa ser usado como massa de manobra do imperialismo. As massas podem ser revolucionárias, mas na maior parte do tempo são conservadoras e passivas à exploração e opressão que sofrem, mas também podem ser reacionárias e manipuláveis pela contrarrevolução. A teoria que as massas sempre são progressivas e revolucionárias pertence à retórica dos demagogos, nada tem a ver com o materialismo histórico e dialético, concepção fundamental tanto para preservar o rico patrimônio ideológico comunista da luta de classes, durante a reação, quanto para conduzir as massas ao triunfo, no momento do ascenso.

Para saber mais sobre a “Operação Ajax”, um dos primeiros golpes de Estado com fachada popular: Todos os homens do Xá: Um golpe de Estado americano e as raízes do terror no Oriente Médio - Stephen Kinzer (livro em inglês) The New York Times: Segredos da História, a CIA no Irã http://www.nytimes.com/library/world/ mideast/041600iran-cia-index.html (site em inglês) Crímenes británicos: Operación Ajax http://www.youtube.com/watch?v=rJ0kf5vON0E (vídeo em espanhol) US and Them Operation Ajax Iran and the CIA coup http://www.indyarocks.com/videos/US-and-Them-Operation-Ajax--Iran-and-the-CIA-coup-1046511 (vídeo em inglês) O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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ESPECIAL ÁFRICA DO NORTE E ORIENTE MÉDIO 4/4

SU, CMI, L5I, LIT, PO, FT, FLTI: Finalmente as “Internacionais” revisionistas se ‘reunificam’ em Bengasi

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epois do início do bombardeio a Líbia em 19/03/2011, a Liga Comunista ampliou e atualizou a primeira versão deste polêmico artigo publicada no jornal O Bolchevique #3 em 12/03/2011. Não trataremos de polemizar com os aliados castristas e bolivarianos de Gadafi (nem seus seguidores sociais-democratas e stalinistas) que, apesar de se oporem à intervenção militar imperialista no país africano, propõem ao regime de Trípoli várias medidas e fóruns diplomáticos de capitulação e renunciam à soberania do país. Tais medidas, se levadas a termo, na melhor das hipóteses, manteriam temporariamente o atual governo no poder ao custo de maiores concessões politicas e econômicas do que as que já fez Gadafi nos últimos oito anos e que, certamente provocariam enormes perdas aos trabalhadores na Líbia em favor de uma nova partilha imperialista da nação árabe tal como acabou de ser promovido no Sudão. Apenas nos dedicaremos a criticar as correntes que se reivindicam ou se reivindicaram trotskistas e que, em nosso entendimento, tomam posições politicas escandalosas frente ao atual conflito. Os acontecimentos históricos de impacto mundial são divisores de águas entre os que reproduzem a ideologia burguesa e os que acreditam e propagam a ideologia comunista. A esquerda mundial é perpassada por esta regra. Isto é evidente quando grande parte dos que se dizem socialistas ou comunistas defendem governos burgueses como o do PT no Brasil e Chavez na Venezuela. À esquerda destes partidos estão os trotskistas, surgidos da ruptura principista do marxismo revolucionário após a degeneração reformista e burocrática da II e III Internacional. No entanto, o trotskismo, que fundou a IV Internacional não conseguiu dirigir nenhuma revolução socialista porque também o que ficou conhecido nos últimos 70 anos como trotskismo se degenerou deixando-se influenciar pela ideologia burguesa que acometeu os sociais-democratas e stalinistas das internacionais anteriores. A luta contra a ideologia burguesa dentro do movimento operário é a mais importante das batalhas pelo triunfo da revolução socialista. Após a derrota histórica para o proletariado que representou a restauração do capitalismo na URSS, o golpe fatal sobre o primeiro estado operário do planeta, nos últimos 20 anos avançou a influência da ideologia burguesa em suas formas variadas sobre a vanguarda de esquerda, e isto tem representado o baluarte mais poderoso do regime capitalista atual. Como apontava o dirigente trotskista James P. Cannon: “A força do capitalismo não reside em si mesma nem em suas instituições, sobrevive porque tem bases de apoio nas organizações dos trabalhadores. Como vemos agora à luz do que aprendemos da Revolução Russa e seus efeitos, 90% da luta pelo socialismo é a luta contra a influência da burguesia nas organizações dos trabalhadores, incluindo sobre o partido”. (“Os primeiros dez anos do Comunismo Americano”, 1942). Tanto as contrarrevoluções como as revoluções dividiram águas dentro da IV Internacional. Foi assim, às vésperas da II

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Guerra Mundial, quando o trotskismo se fracionou entre os que eram favoráveis e os contrários a defesa da URSS. O mesmo se deu nas revoluções chinesa, coreana, cubana e vietnamita. Semelhante polêmica se repetiu diante da ocupação do Afeganistão pela URSS, na revolução política iraniana, na Guerra das Malvinas, na restauração capitalista dos Estados operários da URSS e do Leste Europeu, diante dos ataques ao Word Trade Center, das perspectivas da crise capitalista mundial, etc. Agora estamos diante de uma nova ofensiva imperialista contra os povos, produto direto da última crise econômica mundial. Após se manifestar por meio de duros ataques aos salários e direitos trabalhistas na Europa, América e Ásia, essa ofensiva trata de se colar a uma onda de protestos de massa na África e no Oriente médio surgida nestes continentes justamente pela reação popular ao aumento da exploração decorrente da crise capitalista. A camuflagem “popular” e “democrática” oculta um plano estratégico por recolonizar a região do globo mais rica em recursos energéticos, particularmente em petróleo, aumentando também o controle de EUA e UE sobre a mesma. Diante desta ofensiva a esquerda reformista e stalinista reproduz as preocupações fisiológicas da burocracia castrista e dos governos burgueses bolivarianos hostilizados pelo imperialismo. Por sua vez, a quase totalidade das correntes que se reivindicam trotskistas se integram a campanha midiática que justifica e legitima a recolonização imperialista de dois modos essenciais: 1) embelezando a transição “democrática” estritamente controlada pelo imperialismo em países onde levantes populares encurtaram a vida útil de ditaduras capitalistas aliadas (Tunísia e Egito) e; 2) legitimando o golpismo com camuflagem de rebelião popular impulsionado pela CIA contra governos burgueses que por algum motivo econômico ou político o imperialismo quer destituir como na Costa do Marfim, Líbia, Irã e Síria. Depois de décadas de consecutivas rupturas e sub-rupturas as correntes que se reivindicam trotskistas chegam ao consenso sobre a “revolução líbia” e se “reunificam” pelo menos programaticamente adotando caracterizações similares em torno da frente reacionária, monárquica e pró-imperialista composta em Bengasi. Ainda que tal consenso tenha sofrido um natural estremecimento após o início dos bombardeios imperialistas sobre a Líbia, em 17/03, nenhuma das correntes voltou atrás ou se autocriticou no apoio que deu ou vem dando ao golpismo próimperialista. Em 1917, Trotsky uniu-se aos bolcheviques para impulsionar a revolução socialista a partir de uma luta encarniçada CONTRA a monarquia, a burguesia e o imperialismo. Os “trotskistas” de 2011 defendem uma “revolução socialista” na Líbia unindo-se objetivamente COM a monarquia, a burguesia e o imperialismo. Quando uma ofensiva similar ocorreu na Venezuela, em 2002, vimos o conjunto da esquerda revisionista capitular não às forças golpistas mas ao nacionalismo burguês. Certamente, como sinal do retrocesso na consciência da vanguarda atual, após quase uma década depois, o governante bolivariano também não receberia o mesmo apoio politico se sofresse algo semelhante a que o seu par líbio sofre hoje. Por sinal, várias das correntes que criticamos abaixo, como a LIT, por exemplo, e


os morenistas em geral (como a LOI brasileira que apoiou a juventude universitária golpista na Venezuela em 2007) transitaram neste meio tempo do apoio sem princípios ao nacionalismo burguês chavista para o apoio mais ainda sem princípios ao golpismo made in CIA. Além do retrocesso ideológico acumulado nestas duas décadas de ofensiva ideológica anticomunista pós-URSS, impacta bastante aos renegados do trotskismo o efeito ilusionista do democrata negro Obama, que seduz mais amplamente a pequena burguesia, base social do revisionismo, incrementando a ocupação militar do Afeganistão, promovendo golpes em Honduras ou ocupando países como o Haiti e a Líbia, com um discurso “multilateral” e “humanitário”, sob o selo de aprovação da ONU. PABLO, O PRIMEIRO LIQUIDACIONISTA DO TROTSKISMO Na URSS o trotskismo foi exterminado fisicamente pelo stalinismo. No continente europeu na década de 1930, o trotskismo não teve muitas chances de germinar e menos ainda de nuclear-se na classe operária, pela perseguição encarniçada que sofreu do fascismo e do stalinismo. No mesmo período, nos EUA, chegou a dirigir a importante greve dos camioneiros de Mineápolis. Depois da II Guerra Mundial, o trotskismo realizou raquíticas incursões no movimento operário real, merecendo destaque apenas a Bolívia em 1952. Nos EUA, o macarthismo dos anos 1950 trataram de liquidar a frágil influência operária obtida pelo partido nas duas décadas anteriores. Michel Pablo emergiu como o principal dirigente desta IV Internacional pós-Trotsky, hegemonizada pela pequena burguesia intelectual e extremamente impressionista. A partir de 1951, Pablo, impactado pela expansão stalinista no Leste Europeu, Bálcãs e China e pela guerra fria, rejeitou a caracterização trotskista de que o stalinismo tinha passado definitivamente para o lado da burguesia e defendeu teses de ingresso dos trotskistas nos PCs. Teses que levariam à liquidação da IV Internacional como instrumento de luta da classe trabalhadora pela revolução socialista mundial. Os críticos do pablismo dentro do trotskismo, embora acertadamente tenham combatido o curso liquidacionista, acabaram por também liquidar a IV Internacional mais tarde, capitulando a outros agentes contrarrevolucionários como a social-democracia, o nacionalismo burguês e o próprio imperialismo. Aprendemos com Lenin que sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário. Com Trotsky aprendemos que via de regra somente direções revolucionárias podem conduzir movimentos revolucionários e, sob condições extremamente excepcionais (guerras, revoluções e crises econômicas), direções não revolucionárias são capazes de ir além em sua linha de ruptura com a burguesia. Após a II guerra mundial vimos no leste europeu que excepcionalmente o exército de um estado operário burocratizado, para defender as fronteiras da URSS, fonte do parasitismo da burocracia se viu obrigado a expropriar a burguesia e vimos também que exércitos populares (Iugoslávia, China) movimentos guerrilheiros apoiados no movimento operário das cidades (Cuba), mesmo sob direções pequenoburguesas que foram obrigadas a ir além de seus interesses na ruptura com o imperialismo podem realizar revoluções sociais que pela ausência de genuínas direções operárias e revolucionárias tendem a criar estados operários deformados. Agora, capitulando à opinião pública burguesa mundial, os revisionistas do trotskismo criaram uma nova categoria de “revoluções” dirigidas pelas forças mais reacionárias da sociedade libia e do mundo, juízes, chefes tribais latifundiários, monarquistas apoiados pelo imperialismo. Uma vez que é explícito

Bengasi, 23 de março: “protesto rebelde” com bandeiras da França, da ONU e dos monarquistas para qualquer um que tenha acesso aos sites de pesquisa da internet o caráter das organizações da frente de oposição antiGadafi que compõem o Conselho Nacional Provisório, da National front for the Salvation of Libya, da Libyan Constitutional Union desde sua criação até o seu patrocínio por organismos como o National Endowment for Democracy (NED) e a Freedom House, braços da CIA em todo o mundo, o que veremos nas próximas linhas por meio das mais diversas correntes é uma tese exaustivamente reafirmada que pode haver uma revolução sem direção revolucionária, sem o movimento operário organizado, sem sequer exércitos populares, mas dirigida por uma frente de partidos e personalidades burguesas politicamente articulada e militarmente orientada pelos serviços secretos dos EUA, Inglaterra, Israel, Itália e França que se apoia em setores desclassados da população líbia. Em resumo, para estes senhores, o imperialismo que Lenin caracterizava como reacionário em todos os sentidos, tornou-se revolucionário. Tal concepção tão difundida entre os revisionistas do trotskismo quanto escandalosa significa, nada mais nada menos, do que a bancarrota programática final destas correntes, cooptadas pela recolonização da era Obama. Estão mortas tanto para a luta anticapitalista quanto para a luta anti-imperialista. SECRETARIADO UNIFICADO O principal herdeiro do pablista Secretariado Internacional foi o dirigente Ernest Mandel, fundador do Secretariado Unificado da IV Internacional, o SU em 1963. Os mandelistas do “Bureau da IV Internacional” declaram por meio de seus partidos e simpatizantes, no Brasil, através da corrente Enlace do PSOL, “Apoio à revolução Líbia! Fora Gadafi!”. O “Bureau” assegura que “as revoluções em curso enfraquecem as posições dos imperialismos ocidentais” e que “todas as classes dominantes, todos os governos e todos os regimes reacionários no mundo árabe estão mais ou menos a apoiar a ditadura Líbia.” A Junta Militar egípcia, por exemplo, vem dando todo apoio logístico ao subministro de armas do imperialismo para os “rebeldes” do país vizinho enquanto trata de estabilizar a situação política interna, estrangulando o movimento de massas agora de forma seletiva. O SU presta um grande serviço ao imperialismo atestando que a camuflagem da CIA em Bengasi exerce uma missão “revolucionária” para derrotar, pôr para “fora Gadafi”. Concordando com o imperialismo no principal, todo o resto é secundário, perfumaria. Mas, para criar um cenário que justifique sua posição escandalosa, o mandelismo mistifica a realidade de uma forma que nem a própria mídia burguesa faz. Enquanto o Enlace/ PSOL proclama que todas as classes dominantes árabes estão O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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a favor de Gadafi, as próprias afirmam o contrário: “A opção de decretar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, por outro lado, começa a ganhar cada vez mais respaldo internacional. As monarquias árabes do Golfo Pérsico declararam-se a favor da ação, assim como o chefe da Organização da Conferência Islâmica (OCI), o turco Ekmeleddin Ihsanoglu. ‘Nos unimos àqueles que pedem o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea, e pedimos ao Conselho de Segurança da ONU que assuma suas responsabilidades neste sentido’, disse ele. A OCI é integrada por 57 países muçulmanos, representando uma população total de mais de um bilhão de habitantes.” (UOL noticias, 09/03/2011). O Novo Partido Anti-Capitalista, seção francesa do SU, reivindica do imperialismo que reconheçam os golpistas da cia como “o único governo legítimo do povo líbio”. ACORDO INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES (LAMBERTISMO) O francês Pierre Lambert rompeu com Pablo em nome do correto combate ao liquidacionismo. Os seguidores do lambertismo se organizam hoje no Partido Operário Independente francês, no POSI espanhol e na tendência petista “O Trabalho” que edita um jornal do mesmo nome. A corrente encontra-se em franco retrocesso, estado falimentar, depois de sua profunda adaptação a social-democracia e seus aparatos sindicais, o que resultou na conformação de uma confraria de sindicalistas chamada Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos (AcIT). Em relação a Líbia OT defende a “Solidariedade com a revolução! Nenhuma ingerência dos EUA!” (carta da corrente O Trabalho - especial – 3/03/2011). OT assegura que as “revoluções” “desestabilizaram completamente a situação no norte da África e Oriente Médio. E já trouxeram um abalo de conjunto na ordem imperialista mundial” (idem). Poucos dias depois, os lambertistas declararam “As seções europeias da IV Internacional – especialmente a francesa e a italiana, tal como a seção da IV Internacional nos EUA – estão na primeira linha do combate contra o seu próprio imperialismo na Líbia” (Declaração da IV Internacional, 15/03/2011, reproduzida pelo jornal OT, 688, 17/03/2011). A declaração do AcIT, em nenhum momento autocritica-se de ter apoiado o bombardeio midiático que pavimentou o caminho do bombardeio militar da Líbia. Desmoralizado o lambertismo “esqueceu” na cruel “ressaca” da invasão imperialista a “revolução” que tanto euforicamente brindou na véspera. Uma politica consequente de combate ao seu próprio imperialismo pressupõe primeiramente reivindicar uma frente única militar com a nação vítima de seu imperialismo, em seguida, seria a convocação de ações concretas de boicote operário-portuário ao envio de armas e tropas de Sarkozy contra Trípoli, mas aí seria esperar demais do lambertismo que há mais de 30 anos liquidou-se capitulando profundamente a sua própria burguesia imperialista apoiando Mitterrand. CORRENTE MARXISTA INTERNACIONAL A Corrente Marxista Internacional, CMI, se orgulha de ser a corrente trotskista conselheira de Chaves e sua Quinta Internacional. Trata neste momento de aconselhar o Gadafi venezuelano a se distanciar do Gadafi líbio. Sua seção petista no Brasil, uma ruptura de OT, a “Esquerda Marxista do PT” reproduz um comunicado da tendência Luta de Classes do PSUV de Chavez: “Rechaça qualquer tentativa de desviar a atenção do povo revolucionário venezuelano em relação ao caráter revolucionário

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da insurreição líbia!” (Caracas, 24/02/2011). De uma só vez, esta categoria de “esquerda marxista” de partidos da burguesia capitula ao nacionalismo burguês chavista na Venezuela e ao imperialismo na Líbia. A LC realizou uma polêmica contra o dirigente da CMI, Alan Woods, sobre a Líbia quando este fez uma Conferência sobre as “revoluções árabes” na Universidade de São Paulo. Esta polêmica, registrada em vídeo por nossa corrente, foi publicada no blog da LC e nO Bolchevique # 4), e deformadamente também registrada em alguns sites das seções da CMI em português e inglês. LIGA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES Moreno acusou a OCI (corrente de Lambert) de trair o proletariado e cair no engodo dos “campos burgueses progressivos” apoiando ao social-imperialista francês Mitterrand. A independência política dos revolucionários e da classe operária é inconciliável com o apoio politico a um suposto campo burguês progressivo. No entanto, é exatamente esta a política da LIT, corrente criada por Moreno, hoje em relação à Líbia. O Secretariado da Liga Internacional dos Trabalhadores, LIT-QI, cuja seção maior é o PSTU brasileiro defende: “Devemos nos mobilizar em todos os países contra os planos imperialistas de derrotar a revolução do povo líbio!’ Pelo triunfo da resistência! Viva a revolução líbia!” (01/03/2011). Qualquer observação mais atenta sobre o caráter da “resistência”, sua composição social, sua trajetória politica, qualquer declaração do Conselho Nacional provisório invocando a intervenção do imperialismo no conflito jogam por terra a mitologia revisionista sobre a tal “revolução líbia” criada pelo impressionismo pequeno-burguês frente às revoltas árabes e a influência da propaganda de guerra imperialista contra o regime de Trípoli. Em sua “campanha de solidariedade” pela Líbia, que lembra a “Ajuda operária à Bósnia”, disfarce com que esta corrente prestou seu apoio à invasão dos Balcãs pelos capacetes azuis da ONU, agora reivindica que “para terminar com a ditadura é necessária “a mais ampla unidade de ação de todos os setores”. Há poucos dias, o PSTU proclamou uma “vitoriosa revolução democrática que derrubou o regime ditatorial no Egito” (Opinião Socialista, 418, 16/02/2011). Afirmam sobre o governo da Junta Militar mubarakista: “o regime atual é completamente distinto da ditadura de Mubarak.” (idem). A LIT vergonhosamente embeleza o regime continuísta que desata agora uma repressão maior do que em janeiro e fevereiro para estabilizar a situação politica e obrigar pela força as manifestações populares a refluírem: “O bloqueio, que teve lugar sábado, logo depois da meia-noite, marcou uma das primeiras vezes que a polícia militar egípcia recorreu à violência, desde a erupção da crise neste país, promovendo debates em todo Cairo sobre as intenções dos militares. Aumentaram as tensões no Egito, com os manifestantes exigindo mais reformas democráticas e a demissão do primeiro-ministro e membros do gabinete. Os líderes da Junta Militar pediram para que os manifestantes se retirassem permitindo que o país volte ao normal. Desde que a “revolução” começou, os manifestantes gritavam muitas vezes: ‘O povo e o exército são um só e até mesmo colocavam seus filhos para tirar fotos com soldados e seus tanques. Mas agora que o Exército quer que eles se dispersem e está disposto a exercer a força, a relação se tornou mais sombria, disseram muitos manifestantes. ‘Eu penso que não há confiança no serviço militar. Depois do que aconteceu ontem à noite, você pode dizer que eles não são leais ao povo’, disse Saleh Gamal, 22 anos, que estava na multidão quando o cordão de isolamento organizado pelos policiais militares retirou-os da praça.(...) Logo depois da meia-


noite, policiais militares apareceram de repente, com rostos cobertos por máscaras, e começaram a empurrar violentamente os manifestantes para fora da praça, dizendo que eles estavam impondo um toque de recolher. ‘De repente a polícia chegou usando máscaras como meias. Você não conseguia ver nada, exceto os olhos deles’, disse Dina Abouelsoud, 35, acrescentando que ela foi espancada, mas escapou à prisão. ‘Eles não falam nada. Eles começaram a pegar as pessoas e a empurrá-las para trás.... Eles estavam arrancando as câmeras das pessoas. Vi gente atirada no chão.’ Gamal disse que ficou atordoado após ter sido atingido com uma arma de choque, ficando temporariamente paralisado. Apenas uma semana antes, ele observou, os militares haviam se mudado para a praça e retirado pessoas das tendas na tentativa para fazê-los sair, mas naquele momento não usaram a força. ‘Eu não sei porque eles decidiram bater-nos agora’, disse ele.” (The Washington Post, 26/02/2011). Cabe aos marxistas explicar à população e ajudá-la a compreender o que se passa, para que ela possa combater melhor a reação “com forma democrática”. Cabe aos mentirosos conciliadores embelezar o que está acontecendo com frases triunfalistas que obscureçam o entendimento e embotem a consciência e tem um efeito similar ao do gás hilariante disparado pelo aparato repressivo contra manifestantes. A LIT saúda a vitória da “revolução democrática” burguesa, adorna o regime ditatorial, despótico, tirano e militar saído desta “revolução” e conclama “uma ampla unidade de ação com todos os setores”, ou seja, com a oposição burguesa em uma frente popular internacional pela extensão da tal revolução “contra o imperialismo”, obviamente. Ainda que fossem as revoltas árabes, “revoluções democráticas”, o que, como demonstra a consolidação de novos governos fantoches, não são, os métodos

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conciliacionistas da LIT se opõem pelo vértice aos métodos do bolchevismo: “Nossa revolução é burguesa; por isto os operários devem sustentar a burguesia, dizem os políticos sem nenhum valor, procedentes do campo dos liquidadacionistas. Nossa revolução é burguesa, dizemos nós, marxistas, por isto, os operários devem abrir os olhos do povo, fazendo que ele veja os enganos dos políticos burgueses, ensinando-o a não crer nas palavras, a não confiar mais do que em suas próprias forças, em sua organização e em sua união, em seu armamento.” (Lenin, Obras completas, volume XIV, 1ª parte). Diante do que considera revolução democrática burguesa, a LIT convoca uma frente ampla com a burguesia e cega os trabalhadores com frases triunfalistas. Com o incremento da campanha militar imperialista a maioria dos revisionistas adicionou algumas frases antiimperialistas a sua propaganda pró-rebeldes, alguns diminuíram o tamanho do Fora Gadafi na capa de seus periódicos, dando mais destaque ao Fora o imperialismo, com é o caso da LER-QI (FT), outros, como é o caso da corrente OT no Brasil fingem que nada escreveram em defesa da pujante “revolução líbia” há menos de um mês como quem na ressaca esquece o que fez na bebedeira. A LIT fez o contrário, aumenta a bebedeira e secundariza completamente a intervenção imperialista para defender mais fervorosamente a ação interna do imperialismo via golpistas. Não por acaso, o último artigo do representante da corrente internacional postado no Opinião Socialista é intitulado “Todo apoio ao povo líbio contra Gadafi, mas não a intervenção da OTAN”,

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á dois meses está em funcionamento nosso militante virtual, na defesa de um programa proletário, trotskista e internacionalista. No blog, estão atualizadas as seções: English, MOVIMENTO OPERÁRIO, INTERNACIONAL, BRASIL e TEORIA MARXISTA. Em breve Liga Comunista também em Espanhol e as seções jornal O Bolchevique e OPRESSÕES estarão em pleno funcionamento. Também, como os leitores podem conferir na capa deste Bolchevique, possuímos Caixa Postal, de número 09 e CEP 01.031.970, São Paulo, SP. E nosso e-mail permanece o mesmo: liga_comunista@yahoo.com.br. Entre em contato, faça críticas e sugestões a fim de que possamos aprimorar nosso trabalho militante e oferecer nossas melhores energias na reorganização principista e revolucionária do proletariado!

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assinado por Àngel Luis Parras. Esta artigo tem a faculdade de ser melhor que o anterior de Eduardo Almeida intitulado “Líbia: uma revolução, duas guerras” (site do PSTU, 28/3/2011”) que como o falecido apresentador de programa de auditório, o Chacrinha, “veio para confundir e não para explicar”. Eduardo por exemplo afirma que “Existe uma revolução na Líbia, dos trabalhadores e do povo rebelado contra a ditadura de Kadafi, que começou de forma muito parecida com a do Egito e a da Tunísia”. Como já o demonstramos por várias vezes (ver no blog da LC ou nO Bolchevique #3, “Combater com um programa operário revolucionário a ofensiva dos EUA/OTAN camuflada de “rebelião” militar-monarquista”), várias fontes reconhecem, menos Eduardo, que desde o início o apoio do imperialismo, o nível de armamento, o apoio da ala mais reacionária da classe dominante local, da cúpula do exercito e das policias, a ausência completa da classe operária, tudo foi bastante distinto na Líbia do que nos outros países. Mas Eduardo continua “Politicamente, a unidade de ação com Kadafi é impossível pelo ódio causado na ampla maioria das massas líbias por ele próprio. Não é por acaso que existe uma revolução contra ele. Em termos militares, é impossível pela continuidade da agressão das forças do ditador. Segue existindo uma guerra civil na Líbia. Por isso, a necessidade das duas guerras. Aqueles que defendem unicamente o repúdio à intervenção do imperialismo, calando sobre Kadafi, estão situados no campo político e militar desse genocida. Muitas vezes, com a melhor das intenções de lutar contra o imperialismo, ao tentar priorizar a unidade de ação com Kadafi por fora da realidade concreta da guerra civil, terminam no polo da contrarrevolução...” “Líbia: uma revolução, duas guerras” (site do PSTU, 28/3/2011”). Para ajudar ao leitor a entender a posição do dirigente do PSTU resumimos a mesma em duas frase: “Assim que puderem, as armas norte-americanas e europeias vão se virar contra as milícias armadas da oposição.” E “É muito importante que se articule um polo anti-imperialista dentro de Bengasi e das regiões controladas pelos rebeldes.” Bom, o conselho aos “rebeldes” está dado, mas a realidade contra a qual o PSTU reluta é que os tais revolucionários estão orando por mais armas e instrutores militares contra Gadafi e pela invasão terrestre do próprio imperialismo que assegure a vitória sobre as forças de Trípoli. Na verdade, existiu desde o princípio uma contrarrevolução engatilhada na Líbia há 40 anos, destinada a liquidar por completo com as nacionalizações. A oportunidade chegou tanto pela decrepitude do nacionalismo burguês que baixou a guarda economicamente para o imperialismo nos últimos oito anos quanto pela explosão dos levantes populares pós-crise econômica nos países vizinhos. Esta contrarrevolução criou uma guerra civil no país e nesta guerra civil o lado burguês pró-imperialista invocou e vem recebendo uma “considerável” ajudinha da OTAN para completar o serviço. Isto fez com que a guerra civil se convertesse em intervenção militar imperialista tal qual vimos no Kosovo, no Afeganistão, no Iraque, no Haiti. A classe operária libia, composta de 2 milhões de estrangeiros e que vem tomando o lado anti-imperialista nesta batalha tem sido a principal vítima dos “Contrarrevolucionários” armados pela CIA que vem caçando cruelmente a todos os negros do país (Ver “O caráter contrarrevolucionário dos ‘rebeldes de Bengasi” da LC). No artigo de Parras, um dirigente da LIT em Portugal, publicado na íntegra na página da seção portuguesa e de forma truncada pelo Opinião Socialista, a mensagem é clara: reconhecer que os rebeldes são agentes da CIA é “teoria conspiratória”. Para não sermos acusados pelo próprio de conspirar contra sua posição, deixemos o próprio Parras com a palavra: “Para aqueles que desde o início procuraram demarcar-se do levantamento

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na Líbia e diferenciá-lo do processo geral do Médio Oriente e do mundo árabe, a razão mais esgrimida é a de que esse levantamento é dirigido pela “Frente Nacional de Salvação da Líbia [NFSL na sigla inglesa (...) uma organização financiada pela CIA [que] incita o povo líbio a reiterar um juramento de lealdade ao rei Idris el-Senusi como líder histórico do povo líbio”. Esta forma de explicar os fenómenos políticos e/ou sociais está, sem dúvida, muito próxima da amplamente difundida teoria da conspiração.” (Opinião Socialista, #421, 6-19/04/2011). Embora com o avanço da intervenção militar se proliferem as denúncias das irrefutáveis ligações entre a direção rebelde e a CIA, mas a LIT tenta desacreditar a realidade estampada acusando-a de “teoria da conspiração.” O “know how” na preparação deste tipo de “revolução” vem sendo desenvolvido pela CIA pelo menos há 60 anos, desde a “Operação Ajax” no Irã em 1953, um golpe que naquela época já contou com atentados terroristas, atribuídos ao governante alvo, no caso, o reformista Mossadeq, que nacionalizou a British Petroleum no país contra os interesses da Inglaterra e EUA. (Ver maiores detalhes da Operação Ajax no artigo “A CIA na Líbia” da LC). Tudo isto foi publicamente divulgado pela abertura dos arquivos da CIA sobre a “Operação Ajax” na década de 90, pela secretária de Estado Madeleine Albright em 2000 e por Obama em seu discurso no Cairo em 2009. Tudo isto faz parte da arte da política na era imperialista, onde a teoria do Estado como “comitê gestor dos negócios da burguesia” ganha uma escala global e para defender os negócios da burguesia globalizada o imperialismo age como xerife do planeta. Tem sido assim em todos os golpes militares do Brasil à Indonésia, do Chile às “revoluções coloridas” dos últimos 15 anos, passando por Kosovo e o Tibet. Certamente se aparecesse um sujeito barbudo desconhecido por aí dizendo que o Estado moderno nada mais é do que o comitê gestor dos negócios da burguesia, certamente a LIT o acusaria de um inventor de teorias conspiratórias. Em termos políticos, a missão essencial da estrutura midiática convencional (cuja ‘informação objetiva’ não é mais do que a conspiração do poder para ocultar a realidade das massas) desqualifica e ridiculariza tudo aquilo que saia do modelo padronizado como verdade pela ordem imperialista. O velho barbudo foi muito sábio quando sobre a mídia de sua época quando ponderou “Até o presente acreditou-se que a proliferação dos mitos cristãos, sob o Império Romano, só foram possíveis porque a imprensa ainda não tinha sido inventada. O que aconteceu foi o contrário: a imprensa diária e o telégrafo, que a todo instante espalham na Terra semelhantes invenções, fabricam mais mitos num só dia do que nunca se pôde fazer outrora durante um século, e o rebanho burguês acredita em tudo e propaga.” (Karl Marx, citado por Pierre Frank na Introdução do livro “A Revolução Traída” de Leon Trotsky, Edições Antídoto, 02/1977). O crédulo Eduardo Almeida comprova a existência da revolução na Líbia: “A realidade entra pela janela, pelas portas, pelo teto: basta ver as notícias das milícias de trabalhadores e jovens nas cidades rebeladas contra Kadafi” (Líbia: uma revolução, duas guerras). É verdade, com meios enormemente mais poderosos do que no século XIX, a burguesia distribui mitos por todos os meios de acesso pela “janela, pelas portas, pelo teto, pela internet (inventada no Pentágono, inclusive), que são proagadas pelo rebanho burguês do qual a LIT faz parte. Mas quais as provas do caráter revolucionário do movimento “rebelde”, quais os fatos, quais os personagens seriam estes


que dão tanta convicção à LIT? Tentando explicar a natureza dos protestos contra Gadafi, Parras enuncia: Os dados conhecidos indicam que se generalizaram os Conselhos municipais, e começou a coordenação entre eles em algumas zonas. Inicialmente, todos os dados evidenciam um papel relevante da chamada “Coligação revolucionária de 17 de Fevereiro”, cujo porta-voz é Abdelhafed Ghoga, jurista e defensor dos direitos humanos. Há crônicas muito vagas de difícil comprovação que afirmam existirem entre as milícias rebeldes muitos militantes “islamistas e comunistas”. ( h t t p : / / w w w. r u p t u r a f e r. o r g / i n d e x . p h p ? o p t i o n = c o m _ content&view=article&id=218:todo-o-apoio-ao-povo-libio-para-que-derrote-khadafi-dizemos-nao-a-intervencao-da-nato&catid=106:medio-oriente&Itemid=546) Parras verdadeiramente vai fundo na mistificação da realidade, melhor dizendo, na mentira descarada, chega a fantasiar de “conselhos populares” e “comunistas” aos contrarrevolucionários de Bengasi. Quando ele publicou este artigo, no dia 12 de abril, segundo o site da seção da LIT em Portugal, já faziam várias semanas que o CNT havia se constituído, que Ghoga era o seu porta-voz e como tal, o “defensor dos direitos humanos” embelezado pela LIT, reivindicava por todos os órgãos da mídia internacional, “um ataque aéreo estratégico” (Folha de São Paulo, 02/03/2011) contra seu próprio povo pelos carniceiros da OTAN! Agora Ghoga se reúne, em nome dos ‘rebeldes’ com o Senador republicano ianque, John MacCaine, presidenciável da direita imperialista contra Obama, em Bengasi para cobrar o incremento nas ações militares da OTAN e aprofundar a genocida “ação humanitária” na Líbia. Ficará registrado para sempre na história que a LIT apoiou um golpe sanguinário fabricado pela CIA, sustentou as mentiras da grande mídia internacional para justificar a invasão da Líbia, apoiou politicamente aos bandos ultra-reacionários, rebeldes, xenófobos e racistas contra o proletariado negro africano, quadrilhas que invocaram o bombardeio da OTAN contra seu próprio povo, sujando suas mãos com o sangue líbio, apoiando a contrarrevolução. UNIDADE INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES Uma ruptura da LIT dos anos 1990, a UIT, cuja seção no Brasil é a corrente interna do PSOL, CST, ingressa de cabeça na campanha para legitimar e armar a farsa imperialista. No dia seguinte ao início dos bombardeios da OTAN sobre a Líbia, em 20 de março, a CST se apresenta na manifestação contra a presença de Obama no Brasil com uma grande bandeira da monarquia líbia, hierarquizando sobre o próprio “Fora Obama!” o “Abaixo Gadafi!” e “que os rebeldes líbios sejam reconhecidos como força beligerante para facilitar a entrega de armas, aviões, voluntários civis e militares e fazer uma zona de exclusão aérea para fortalecer assim a luta”. (Panfleto distribuído pela Unidos pra Lutar, colateral sindical da CST). A UIT reivindica ao mesmo tempo “armas para o povo rebelde para derrotar Gadafi!” (Declaração da UIT, 21/03) dos estados capitalistas e quando estas armas chegam em sua melhor forma possível, ou seja, despejadas em toneladas de bombas contra as forças pró-Gadafi, a UIT diz que “a intervenção imperialista procura liquidar a rebelião popular líbia” (idem), pura esquizofrenia pequeno-burguesa e pró-imperialista. LIGA PELA 5A INTERNACIONAL O agrupamento internacional capitaneado pela organização inglesa Workers Power, chamado Liga pela 5ª Internacional (L5I),

Bengasi, 22/04/2011. Ao lado de cartaz com imagem do Rei Idris, o Senador republicano John McCain caminha com o lambe-botas do imperialismo Abdelhafed Ghoga, porta-voz do CNT, apresentando pelo PSTU como “jurista e defensor dos direitos humanos e dirigente de Conselhos Populares Revolucionários” não confundir com a 5ª Internacional chavista, clama pela incondicional vitória dos rebeldes e é mais consequente do que a UIT na defesa do armamento dos agentes da CIA em solo líbio e, portanto, mais perniciosa à causa do proletariado mundial em sua luta contra o imperialismo. Para a L5I, “a rebelião contra a ditadura de Gadafi merece nosso apoio incondicional e nada muda com a decisão da ONU. Aqueles que se opõem aos Estados poderosos têm o direito a conseguir armas onde quer que possam e aproveitar qualquer debilidade de seus opressores. Isto vale inclusive quando as debilidades são produto da ação imperialista. Se, ao amparo da ‘zona de exclusão aérea’, os revolucionários e os insurgentes líbios podem retomar posições, solapar a moral e a lealdade das tropas de Gadafi e inclusive avançar sobre a capital, Trípoli, isso é um passo adiante para a Revolução Líbia e deve ser celebrado” (“Vitoria para a revolução Líbia”, 21/03/2011). Esta declaração dispensa maiores comentários porque é a mais abjeta e criminosa das posições dos grupos revisionistas aqui reproduzidas e porque antes de tudo vem de uma corrente que defende integralmente a ação genocida de sua própria burguesia imperialista que participa da coalizão que bombardeia a Líbia. PARTIDO OBRERO O argentino Partido Obrero, PO, que rompeu há três décadas com o revisionismo lambertista aposta que “O imperialismo está obrigado a captar a oposição insurgente e as suas direções, para evitar que a revolução, como na Tunisia, se incline violentamente para a esquerda.” (A Otan ameaça a revolução libia e as revoluções árabes, PO 1166 3/3/2011). Isto é, como se a “oposição insurgente” já não estivesse pré-captada, não fosse agente dos interesses imperialistas e a cada dia, ao contrário de ir “violentamente à esquerda”, não se desmascarasse mais e mais, reivindicando a violência reacionária da intervenção da OTAN. Como informa o espanhol El País: “Os rebeldes imploram ajuda exterior: (...) ‘não sejam humanitários, atuem’”. (10/03/2011). Depois da conformação da Frente de Esquerda para as eleições presidenciais argentinas juntamente com o PTS (FT) e a Izquierda Socialista (UIT) o PO proclama para agradar a todos os gostos do eleitorado um “Viva à revolução árabe; fora a Otan de Líbia” (PO 1172 14/4/2011). Ufanista e ao mesmo tempo O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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“anti-imperialista” “pero no mucho”, segundo o PO “A Otan segue bombardeando a Líbia, um dia sim e o outro não, para não exagerar as expectativas dos rebeldes, mas, sobretudo como prova de solidariedade com o regime de plantão”. Para o PO o imperialismo teria de dar provas maiores para os ‘rebeldes’ de que não possui um conluio com o regime Gadafi bombardeando o país todos os dias. Já antecipamos que diante de uma caçada imperialista contra Gadafi e sua família os revolucionários devem se opor a qualquer julgamento pelo Tribunal Internacional de Haia ou execução sumária, assim como deveriam ter se oposto a que o imperialismo julgasse a Milosevic e Sadam Hussein. Os piores assassinos da humanidade são os representantes, dirigentes e magistrados das potências capitalistas. Estes senhores, inimigos do proletariado mundial e dos povos oprimidos, não têm nenhuma autoridade para executar a ninguém no planeta, menos ainda um chefe de uma nação oprimida que se enfrenta de armas na mão contra os invasores. Se somarmos as vítimas dos EUA somente na Guerra da Coréia, na do Vietnã e na do Iraque já temos um número de seis milhões mortos, ou seja, toda a população da Líbia. Os colonialistas franceses na Indochina e na Argélia, os ingleses na Malásia e no Quênia foram tão sanguinários quanto os ianques. Os italianos aprisionaram 100 mil libaneses nos campos de concentração, quando governaram o país entre 1911 e 1945, pelo menos 80 mil morreram de fome em choque contra as forças invasoras italianas e de doenças. Hoje, enquanto despejam toneladas de bombas com urânio empobrecido sobre a líbia, todos estes colonizadores se queixam de que buscam salvar os líbios de Kadafi que quer “matar o seu próprio povo”. A tarefa de julgar Gadafi cabe aos trabalhadores organizados em Tribunais Populares, mas isto, só depois de saírem vitoriosos na guerra contra a invasão imperialista do país e seus agentes golpistas entrincheirados em Bengasi. PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA Na mesma linha de todos seus outros pares, o PCO, que rompeu vergonhosamente ‘à francesa’ com o PO, despois de ter sido fundado pelo partido argentino e passado quase três décadas ligado a ele, “alerta” para o fato de estar a “revolução sob ameaça de uma intervenção imperialista” (Causa operária, 628, 06/03/2011): “O imperialismo mundial prepara uma intervenção em meio à crise para tentar conter o avanço da revolução na Líbia, a pretexto de combater a ditadura de Gadafi”. (idem). Mesmo depois de várias semanas de bombardeio ininterrupto, quando já ficou evidente que não existiu nem existe nenhuma revolução, mas um massacre contrarrevolucionário do país comemorados pelos mercenários de Bengasi o PCO continua com a fantasiosa tese de que “a imposição da chamada zona de exclusão aérea, os bombardeios contra as instalações militares e de defesa antiaérea do regime, é parte a ofensiva militar “do imperialismo é dirigida contra a revolução e não contra Gadafi” (Causa Operária, 632, 03/04). A “análise” do PCO não só foge da realidade, ocultando as centenas de cadáveres produzidos desde o início dos bombardeios, mas tratando-se de um delírio, é desprovida até de qualquer lógica interna: Se o imperialismo está unicamente destruindo as armas que Gadafi usa para combater “a revolução”, como pode a intervenção imperialista estar dirigida em favor de Gadafi e contra “a revolução”? FRAÇÃO TROTSKISTA

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A Fração Trotskista, FT, corrente internacional que agrupa a LER brasileira e o PTS argentino, este último surgido de uma ruptura com o MAS/LIT em 1988, caracteriza que há um “processo revolucionário aberto na Líbia” (Líbia, entre a rebelião e a decomposição do regime, Comissão Internacional do PTS, 27/02/2011). Segundo a Comissão da FT conta, “o processo insurrecional” teve inicio quando em Bengasi no dia 18/02, os manifestantes “rapidamente tomaram o controle da cidade com a ajuda da polícia local, que se uniu rapidamente aos protestos.” (idem). Vemos então que pela primeira vez na história a polícia praticamente deu inicio a um processo revolucionário. Os marxistas há muito sabem que a policia é a instituição mais contrarrevolucionária de todas as instituições da classe dominante, mais do que o Exército. Para os marxistas “O operário que se torna policial a serviço do Estado capitalista é um policial burguês e não um operário” (A revolução alemã e a burocracia stalinista, L. Trotsky, 27/01/1932). A instituição policial está intimamente ligada aos interesses da burguesia e a ação da “polícia revolucionária” do PTS só corrobora com a ideia de que desde o começo, ao contrário da Tunísia ou Egito, o “processo revolucionário” líbio nasceu da articulação de uma fração monarquista das classes dominantes do país com o imperialismo. Todavia, o PTS vislumbra “que ante a intenção de Gadafi de resistir a sangue e fogo, os acontecimentos desemboquem numa insurreição operária e popular.” (idem). Os revisionistas descobriram nas frações anti-gadafistas do aparato repressivo libio certas estranhas qualidades “revolucionárias”, do mesmo modo que o dirigente trotskista nacionalista Guillermo Lora, dirigente do POR boliviano, tornou-se famoso por suas excêntricas teses acerca da excepcionalidades antiimperialistas no aparato repressivo de seu país. Com o avanço da sanguinária campanha militar da OTAN, estes senhores acreditam que para não serem identificados como agentes midiáticos da campanha imperialista basta diminuir o tamanho do “Fora Gadafi!” e aumentar o tamanho do “Abaixo a intervenção imperialista na Líbia!” da capa de seus jornais, fazer a alquimia de combinar o apoio político aos insurgentes do imperialismo com a crítica à ofensiva da OTAN e pronto. Continuam a ignorar solenemente a quantidade de provas de diversas fontes alternativas à mídia oficial que atestam que a Casa Branca traçou os planos de intervenção militar na Líbia muito antes do 17 de fevereiro em Bengasi, quando voltaram tremular no país a bandeira da monarquia fantoche criada em pleno século XX pelas tropas britânicas após a expulsão dos italianos na segunda Guerra Mundial. A LER também compartilha da tese de que a OTAN chegou para acabar com a “revolução” e não para levá-la a vitória segundo os interesses imperialistas. Por isto a corrente confusamente afirma: “O real objetivo político do imperialismo é frear a intervenção das massas e dos trabalhadores, e impedir que esta tome uma dinâmica revolucionária ... a intervenção militar na Líbia foi imposta ao imperialismo, sendo um combate que pode trazer altos custos e baixos ganhos, sobretudo para os EUA... os representantes da OTAN foram obrigados a discutir mais abertamente o que fazer caso se dê a derrubada de Gadafi...[a ] ausência de estratégia arrasta os imperialismos a um conflito longo e custoso, e pior, sem objetivos claros... Os EUA que hesitaram até o último momento em aprovar a intervenção militar para não abrir uma terceira frente em um país árabe... esta é uma guerra que os EUA estão sendo obrigados a levar” (Nem ofensiva criminosa da OTAN, nem apoio à entreguista CNT.


Pela queda revolucionária de Gadafi, site da LER 28/03/2011) Para a LER os EUA hesitam em realizar a ofensiva que na verdade vêm preparando a longos anos. Embora a desenvoltura da Casa Branca nas “revoluções árabes” e, particularmente, na Líbia, tenha levantado os índices de popularidade de Obama, a forma como o atual mandatário vem realizando a recolonização africana e a ofensiva contra a Síria e o Irã para o público interno e externo se dá sob extrema cautela, buscando não parecer que estão protagonizando mais uma ocupação militar para não fragilizar a coalizão, mantendo o aspecto multilateralista da intervenção, sob o acordo da ONU e OTAN, vantagem que não dispôs a ofensiva de Bush no Iraque. O alinhamento da França com a Inglaterra e os EUA contra a Alemanha que se absteve no Conselho de Segurança da ONU é uma novidade deste conflito. Quando Bush não conseguiu arrastar as duas potências europeias para invadir o Iraque, o neocon Secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfield, disparou “Alemanha e França são a velha Europa”. Chirac e Schroeder reafirmam que não queriam a guerra que só traria benefícios em favor dos EUA. Agora Obama dividiu a “Velha Europa” que resistia a recolonização de Bush e arrastou Sarkozy para se seu teste de ferro. No dia 19 de março, foi a França quem disparou primeiro, horas antes que o primeiro míssil Tomahaw lançado do Destroyer USS Barry atingisse a Líbia na noite da mesma data. Enquanto a LER acredita que “o ataque - que não foi coordenado com o resto da coalizão, de acordo com alguns relatos” (idem) seria um sinal que “os franceses estavam na liderança” (idem), a realidade é que Sarkozy não agiu a revelia dos EUA, mas simplesmente para atrair maior visibilidade na aventura militar que de fato é realizada pelos EUA como a própria LER tem que reconhecer “ainda que a França tenha assumido a liderança da coalizão, das 175 saídas de aviões feitas na segunda semana de março, 115 vieram do exército norte-americano” sem, no entanto, conseguir sacar a conclusão verdadeira. Além do envolvimento nos ataques ser maior dos EUA do que de qualquer outro país da coalizão, o general canadense Charles Bouchard, que hoje é formalmente responsável pela operação da Líbia, está subordinado ao almirante Samuel EUA Locklear em Nápoles, chefe de operações da OTAN no Mediterrâneo, e ao almirante James Savridis EUA na OTAN sede na Bélgica. Se Paris executa esta função é para que a França alavanque sua economia investindo em forças destrutivas e eleve significativamente acima dos 6% atuais o controle que exerce sobre os petróleo líbio. Por outro lado, apesar do protagonismo militar continuar sendo ianque, é bom que Sarkozy pareça como mais belicoso para diminuir o custo político da ofensiva para Obama e os EUA que não querem despertar mais indignação da própria população estadunidense, obrigada a apertar o cinto, abrir mão de seus direitos trabalhistas e sindicais enquanto demonstrar sua gula sobre o conjunto da África. Não por acaso, temendo que baixas militares possam aumentar a insatisfação da população estadunidense com a nova guerra, Obama acaba de autorizar o uso dos aviões não tripulados “Predator”. Portando, as coisas não são bem como os ingênuos olhos da LER pensam ser. A LER até delimita do escandaloso chamado da LIT a uma frente única anti-Gadafi com a CNT fantoche da CIA: “polemizamos desde o início contra as visões de setores da esquerda, como a LIT, que defenderam inicialmente que haveria de conformar uma aliança entre todos os setores opositores, inclusive os burgueses, numa ‘primeira etapa’ em que tarefa seria ‘derrubar Gadafi’, para só depois disso agitar a necessidade de construção de um partido revolucionário e de uma política de independência de classe dos trabalhadores. Esta posição foi o pano de fundo da caracterização que a LIT-PSTU fazia de que os conselhos seriam ‘embriões de duplo poder’, questão que hoje se mostra completamente equivocada, bem como a

visão de que a oposição burguesa seria aliada das massas e dos trabalhadores, como demonstra a defesa criminosa que a CNT faz da intervenção da OTAN.” (idem). Mas, sendo refém da opinião pública pequeno burguesa, a delimitação da LER do frente populismo pró-imperialista da LIT não passa de retórica supostamente em busca de um terceiro campo ideal capaz de organizar “a queda revolucionária de Gadafi” (idem), uma fraseologia que de nada serve como programa transicional diante da guerra entre o imperialismo e o país oprimido. Resta a pergunta “que papel cumpre a a fraseologia confucionista da LER na Líbia? Basta retirar as palavras necessárias para que a LER maqueie sua proposta de uma aparente “independência de classe” lançada ao vento (“assembleia constituinte revolucionária, greve geral insurreicional, comitês dos trabalhadores e do povo independentes do imperialismo e qualquer fração burguesa”) para que apareça a verdadeira política da corrente: “pela queda de Gadafi”, o mesmo que neste momento defendem Obama, a OTAN, o CNT e a LIT. FRAÇÃO LENINISTA TROTSKISTA INTERNACIONAL Uma parte da direção do PTS rompeu em 1998 acusando o setor majoritário do partido de trair o trotskismo. Surge então a LOI-DO que proclama como sua corrente internacional a FLTI que caracteriza a contrarrevolução na URSS como “revolução”. Mais triunfalista que sua corrente de origem, a FLTI acredita que já existe uma insurreição operária na Líbia e vê mais miragens ainda. Com um ar delirante que lhe é característico proclama: “Pelo triunfo da insurreição operária e das massas exploradas da Líbia! Derrotemos a contrarrevolução de Gadafi acantonado em Tripoli! Viva as milícias operárias, os comitês populares e os comitês de soldados rasos que já controlam a maioria da Líbia! Viva a heroica greve geral insurrecional da classe operária e seus combates de barricadas em Trípoli! A revolução libia começou enquanto a politica do imperialismo de disparar e matar se prepara contra ela” (site da LOI-DO, 28/02/2011). Se os outros revisionistas cultuam o mito imperialista da “revolução líbia”, a FLTI seria um “ramo” fanático, fundamentalista do pseudo-trotskismo “reagrupado” em Bengasi. Quando, depois de 40 anos, o imperialismo ianque vê uma possibilidade de retomar o completo controle do petróleo e de tudo mais na Líbia, impondo uma monarquia contrarrevolucionária, a FLTI que festejou a contrarrevolução na URSS saúda novamente uma “revolução” pró-imperialista. MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO Dos agrupamentos morenistas o gaúcho Movimento Revolucionário segue uma das linhas mais delirantes e embriagadas com a política pró-imperialista, hierarquiza assim as tarefas na Líbia: “Derrotar Kadafi para derrotar o imperialismo!” (site do MR, 22/03/2011). Sob o efeito alucinógeno do bombardeio midiático e do que existe de pior no charlatanesco triunfalismo morenista o MR comemora: “Revolucionários controlam meios de produção na Líbia e, junto de ‘Greve Geral’ extraoficial podem estrangular regime de Kadafi... Neste momento, passa a ser decisivo mobilizar todas as forças dos trabalhadores contra o regime líbio e sustentar com tudo a revolução líbia, que é o mais avançado processo da luta de classes árabe e mundial.” (14/03/2011) LORISMO (PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO) O POR brasileiro, herdeiro nacional do legado político do boliviano G. Lora, apresentando-se como conselheiro dos golpistas monarquistas a quem trata genérica e despolitizadamente como “a revolução”. Os loristas tupiniquins nem sequer se dignam, como outros apoiadores da tal “revolução líbia”, a fazer O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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uma delimitação política formal com a direção reacionária monarquista do “processo revolucionário”. Enquanto “a revolução” invoca sem meias palavras “tragam o Bush!” (ver matéria principal da LC sobre a Líbia) o POR recomenda, aparentemente desinformado acerca dos objetivos de seus aliados: “Que a revolução não aceite nenhuma ‘ajuda’ das potências e que não se apoie em nenhuma decisão do imperialismo. A revolução em marcha deve responder claramente: quem decide sobre a legitimidade ou não do governo Kadafi somos nós líbios. Não queremos suas armas! A intervenção do imperialismo não põe em risco o regime de Gadafi, mas sim à revolução. O destino de Gadafi pertence apenas ao povo líbio!” (Manifesto do POR, 01/03/2011). O POR realiza sua platônica frente única anti-imperialista com os agentes do imperialismo na Líbia. Mas, para isto, presta sua ajuda a recolonização camuflando aos agentes do imperialismo burgueses com a denominação genérica e policlassista “povo líbio”. O mesmo POR que passou anos dizendo que sua principal diferença com o PCO era a palavra de ordem sem princípios “governo dos trabalhadores” usada pelos revisionistas em detrimento da defesa principista do “governo operário e camponês”. Quem te viu quem te vê! PARTIDO OPERÁRIO MARXISTA O Partido Operário Marxista é uma ruptura da TPOR. A LC não compartilha das acusações morais ou policiais lançadas contra um dirigente do POM ou contra a direção da Associação de Moradores da região Oeste de Diadema reproduzidas pela LBI. As diferenças da LC com o POM são de ordem política e programática, nós acreditamos que a luta contra a especulação imobiliária burguesa deva ser travada em um combate sem tréguas pela expropriação sem indenização dos especuladores individuais, empreiteiras e imobiliárias e não pela associação cooperativista para comprar terrenos urbanos. Sobre a questão líbia, a diferença da maioria das correntes que se reivindica trotskista, o POM acertou ao denunciar as “organizações e partidos reformistas e pequeno-burgueses (que reivindicam o marxismo) mas estão metidos até a alma no oportunismo, no revisionismo, na democracia formal, nas frentes populares e na politica de conciliação de classes, veem nos acontecimentos, revoluções por todos os lugares, bem como, a tomada do poder pelas massas a exemplo do PSTU e da FLTI.” (O Proletário, 93, 03/2011). Mais adiante o POM denuncia a oposição líbia como “grupos financiados e armados pela CIA,.... Há o grupo de oposição chamado Frente Nacional para Salvação da Líbia (A FNSL), fundada em 1981, e conhecida por ser uma organização financidada pela CIA, com escritório em Washignton, EUA. A FNSL tem mantido no Egito, junto a fronteira, uma força militar chamada Exercito Nacional Líbio. Também muito citada a National Conference for the Libyan Opposition. Trata-se de uma coligação constituída pela FNSL, que também inclui a Libyan Constitutional Union, dirigida por Muhammad as-Senussi, um aspirante ao trono líbio. O site da LCU apelase para que o povo líbio reitere seu juramento de lealdade ao rei Idris El-Senusi como seu líder histórico. A bandeira utilizada pela coligação é a do antigo reino da Líbia. É claro que estas forças financiadas pela CIA e antigos monárquicos são politica e socialmente diferentes da juventude e trabalhadores privados de direitos que marcharam aos milhões contra ditadores apoiados pelos EUA no Egito e na Tunisia e estão hoje a manifestarse no Bahrein, Iemen e Omã. A ala militar da FNSL, utilizando armas contrabandeadas, rapidamente tomou postos policiais e militares da cidade portuária de Bengazi e áreas vizinhas que estão a norte dos mais ricos campos de petróleo da Líbia e

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onde se localiza a maior parte dos eleodutos, gasodutos, refinarias e terminal portuário de gás liquefeito.” (idem). Apesar desta caracterização lúcida, o POM não tira absolutamente nenhuma conclusão marxista, não desprende nenhuma orientação política diante do conflito real no Oriente Médio e na África, limita-se a informar os acontecimentos ou no máximo a defesa abstrata da organização independente das massas, da estratégia da revolução e ditadura do proletariado. Isto nada tem a ver com a metodologia marxista de Trotsky de propor a partir da análise de cada situação específica e concreta da luta de classes um programa transicional concreto, fundamental para orientar a luta anti-imperialista rumo a conquista da ditadura revolucionária do proletariado. ESPARTAQUISTAS (LCI, TBI, IG) A família espartaquista, composta por correntes derivadas de uma ruptura principista do SWP (Socialist Workers Party) dos EUA na década de 1960, que deu origem a Liga Comunista Internacional (LCI) e que sofreu rupturas na década de 1980 (Tendencia Bolchevique Internacional) e na década de 1990 (Internationalist Group) cuja direção se encontra no coração do monstro imperialista foi uma das últimas correntes a tomar uma posição política diante da ofensiva imperialista na Líbia. Como demonstração de sua profunda prostração política e despossuída de qualquer reflexo de classe internacionalista a LCI só veio a manifestar uma posição política sobre Líbia um mês depois de começada a ofensiva golpista que a própria LCI reconhece que nada tinha a ver com “revolução” e não passavam de “‘democratas’ pró-imperialistas, monarquistas e islâmicos” ligados a CIA. Mesmo assim a posição política da LCI diante dos golpistas é o abstencionismo confesso: “os marxistas têm atualmente nenhum dos lados no conflito.” (jornal da secção dos EUA da LCI, Workers Vanguard, 976, 18/03/2011). Como ressaltam os companheiros de Socialist Fight, esta posição vergonhosamente favorável a opinião publica burguesa imperialista foi relativamente “salva pelo gongo”, da intervenção da OTAN, que ocorreu no dia seguinte, 19/03 e o que obrigou a LCI e seus parentes da TBI e IG a adotarem uma posição formalmente contrária os bombardeios imperialistas. Todavia, diante de um ataque de sua própria burguesia limitamse a defesa abstrata do país semi-colonial africano: “Em caso de ataque imperialista contra a Líbia neocolonial, o proletariado internacional deve estar para a defesa militar do país, enquanto não dando apoio político ao regime capitalista de Kadafi.” (idem). A TBI e o IG costumam ter reações políticas ainda mais retardatárias que o a LCI porque não se movem por nenhum instinto de classe ou menos ainda pelo internacionalismo proletário, são correntes prostradas para a luta dos trabalhadores, sobretudo a TBI, cujo móvel é uma mesquinha disputa intestinal dentro da família espartaquista, a partir do que opinar sua corrente matriz, a LCI, se definem as filiais TBI e IG. Sendo assim, passados um mês e meio após o inicio do conflito e 15 dias depois da declaração da LCI, a TBI resolveu “se posicionar” copiando a corrente mãe: “o conflito entre os apoiadores de Gadafi e os rebeldes sediados em Bengasi equivalia a uma guerra civil em pequena escala qualitativamente equivalente entre facções capitalistas. Os marxistas não leve nenhum lado nesses conflitos, embora naturalmente devam se opor à morte de civis pelos combatentes.” (Declaração da TBI, 01/04/2011). Aqui se revela que a vacilação da TBI em emitir uma posição corresponde também a uma certa inclinação da corrente em favor de justificar como uma posição justa a defesa humanitária


das “vítimas” civis do campo “rebelde”, pondo água do moinho da propaganda de guerra imperialista em favor da intervenção da OTAN. Diante do ingresso direto da OTAN no conflito, a TBI adota a seguinte posição: “A entrada das potências da OTAN, no entanto, transformou este conflito numa luta entre um país neocolonial e várias potências imperialistas (e seus aliados nativos). Os operários conscientes devem se opor a esta guerra colonial reacionária de todas as maneiras possíveis, incluindo greves contra a produção e transporte de material de guerra.” Em seu antiimperialismo protocolar a TBI é seguida pelo IG, que apesar de realizar uma denúncia correta do quão reacionários são os ‘rebeldes’ líbios também acaba por reivindicar as mesmas posições da LCI: “Enquanto era uma guerra civil entre os rebeldes e o regime de Gadafi, os trotskistas não tomaria nenhum dos lados. Mas desde que a França/Inglaterra e EUA iniciaram suas operações militares sob a cobertura das ONU e agora formalmente executadas pela OTAN, os insurgentes da Líbia são efetivamente agentes da dominação imperialista, que devem ser derrotados.” (Defender a Líbia, derrotar os EUA / ONU / OTAN na Guerra!”, site do IG, 04/2011). Sendo transportados para a Libia, a família espartaquista estaria em que trincheira? Atirando contra quem? Isto é difícil de responder porque a “família” simplesmente adota uma posição terceiro-campista, para uma guerra irreal, resumida neste slogan suspenso no ar do IG: “Derrotar a monarquia pró-imperialista e a oposição islâmica! Pela revolução dos trabalhadores contra o Estado policial de Gadafi!” (site do IG, 03/2011). Tratando-se de correntes que possuem suas matrizes nos EUA, o quartel general do genocida ataque a Líbia, esta oposição a tomar o lado militar do país oprimido contra o imperialismo genocida é uma grave capitulação a sua própria burguesia imperialista.

COLETIVO LENIN O Coletivo Lenin, um agrupamento de ex-militantes do PSTU, simpatizantes das correntes espartaquistas (LCI, TBI, IG), manifestou a princípio a caracterização de que o CNT era uma “frente popular” que “namorava” com a intervenção imperialista. O CL também reivindicava a mesma posição pró-imperialista adotada pelo PSTU e CST: “Nem Gadafi, nem Obama” (Blog do CL, 17/03). Mas, recentemente a corrente corrigiu-se: “Todos os membros do CNT são ligados ao imperialismo, de uma forma ou de outra. Dessa forma temos que fazer autocrítica da posição anterior (no artigo O Conselho Nacional é a cova da revolução), que foi postada por um militante e continha duas caracterizações não aprovadas pelo CL: caracterizava o CNT como uma Frente Popular e dizia que havia um processo revolucionário na Líbia. A Liga Comunista (LC), organização de São Paulo, fez essa crítica a nós em seu jornal (O Bolchevique nº3). Além disso, fizeram mais críticas corretas: 1) o processo líbio não é uma revolução, pois houve a formação de um poder paralelo no leste da Líbia sob controle da oposição, mas isso não tem nada a ver com dualidade de poderes no sentido leninista da expressão, porque o novo governo também é burguês, sendo que não há qualquer organização operária ou organismos de poder de proletários urbanos. Ou seja, os operários e proletários do leste da Líbia estão sendo dirigidos e cooptados pelo CNT, composto pelos mais diversos membros da burguesia pró-imperialistas. O CNT não é um movimento de massas, e sim a cabeça de um governo burguês estabelecido em Bengasi e 2) Na declaração se dizia que o CNT “namorava” com o imperialismo. Isso é verdade em relação às palavras escritas na declaração. Mas a experiência mostrou que o CNT foi formado justamente para pedir uma intervenção militar no país. Por isso, o CNT foi armado desde o seu surgimento pelo imperialismo,

Campanha de assinaturas dO Bolchevique

E

stamos aprimorando nosso militante “número 1” e nossa ferramenta principal. Nestes curtos mas intensos 6 meses de existência da Liga Comunista editamos 4 números dO Bolchevique, mesmo sob as dificuldades intensas de construção de uma corrente de trabalhadores marxistas revolucionários em uma conjuntura tão adversa para nossa classe. Com a vitória desta campanha de assinatura

O Bolchevique

Prefeitura de São Bernardo do Campo

Nossa denúncia da farsa eleitoral burguesa que referendou Dilma

Jornal da Liga Comunista - Ano I - # 1 - out/2010 - liga_comunista@yahoo.com.br - R$3 - edição revisada em fev/2011 “Dilma será eleita porque é a candidata de Lula o presidente do país que PELA RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL, O PARTIDO MUNDIAL SOCIALISTA deu mais lucro a classe dominante desdeDA queREVOLUÇÃO os portugueses chegaram ao Brasil”, eram as primeiras palavras dos milhares de panfletos que distribuímos ainda no primeiro turno na grande São Paulo, no ABC paulista.

Cartazes da campanha do Comitê Operário Revolucionário Praça da Sé, Centro de São Paulo

Estação de Trem de Santo André

Praça da República, centro de São Paulo

Liga Comunista

Nasce a Construir o Partido Trotskista revolucionário da classe operária!

Secretaria de Educação, Pça da República, São Paulo

Parque da Juventude, São Bernardo

Av. Liberdade, centro de São Paulo

BOICOTE OU

VOTE NULO

$

CAMPANHA PELO BOICOTE AO CIRCO ELEITORAL NEM DILMA, NEM SERRA BURGUÊS NOS CENTROS PROLETÁRIOS Pichações, panfletos e cartazes na capital e ABC paulista Zona Leste de São Paulo

Fórum João Mendes, São Paulo

Construir a oposição revolucionária dos trabalhadores ao governo burguês Câmara de vereadores, Bernardo legitimado pela farsaSão eleitoral!

demos um salto nos organizando para fazer um jornal bimensal. Este O Bolchevique que você tem possui 40 páginas. Neste período aprofundamos nossas tarefas de formação teórica, nossa inserção no trabalho proletário, discutimos com outras organizações que se reivindicam revolucionárias do Brasil e no mundo e criamos nosso blog, a versão virtual do órgão principal de divulgação de nosso programa e o organizador coleti-

O Bolchevique

Jornal da Liga Comunista - Ano I - # 2 - nov-dez/2010 - liga_comunista@yahoo.com.br - R$3

PELA RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL, O PARTIDO MUNDIAL DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA

Alta no preço dos alimentos e tarifas, arrocho salarial, reforma previdenciária, massacres de presidiários, índios e quilombolas no Maranhão, ocupação militar nos bairros proletários do Rio... Pré-estréia do governo Dilma: uma guerra de classes contra a população pobre e trabalhadora

Preparar a resistência dos trabalhadores organizando uma forte oposição revolucionária OCUPAÇÃO MILITAR NO RIO

Liga Comunista - LC

Centro de Luta do Partido Internacionalista - CLPI Comitê Operário Revolucionário

+ NESTA EDIÇÃO ELEIÇÕES 2010: candidata a primeira presidente burguesa do país compromete-se com a opressão clerical sobre as trabalhadoras e homossexuais • a oposição burguesa reciclada • o maior índice de abstenções da década e a impotência política do PSOL, PSTU, PCB e PCO • MUNICIPÁRIOS SP: derrotar a privatização do sistema de saúde antes que os parasitas capitalistas e seus governos matem a nós e à população usuária • TELEOPERADORES: a “moderna” superexploração da juventude • FRENTE ÚNICA: ata de Relações Fraternais entre a LC CLPI para constituição do Comitê Operário Revolucionário

FRANÇA

O proletariado diante da encruzilhada: Superar o freio imposto por suas direções oportunistas ou ser derrotado pelo imperialismo O Bolchevique - Outubro de 2010

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Criar Comitês Populares para derrotar o aparato repressivo dos governos Lula-Dilma/Cabral!

BANCÁRIOS: “Fomos derrotados na greve de 2010” • PROFESSORES SP: Por um Congresso classista - Abaixo a política governista nos Sindicatos! • MUNICIPÁRIOS SP: Por um sistema de saúde único, nacional, estatal e integral, sob o controle dos trabalhadores • MARANHÃO: Criar comitês de auto-defesa para rechaçar os crimes contra índios, presos e quilombolas pelos governos Lula-Dilma/Roseana Sarney • UFMA - Carta aberta a Comunidade Acadêmica

CORÉIA DO NORTE

Defender o Estado Operário Burocratizado dos ataques imperialistas e preparar a revolução política!

"FORA OBAMA!" NO RIO DE JANEIRO EM 20/03

Protesto na Cinelândia rompe barreira política imposta pela burocracia dirigente da CUT, MST, CTB e CSP-Conlutas Ao "Fora Obama!”

N

+ nesta edição

o dia 18 de março, a partir da concentração na Candelária, CUT e CTB boicotaram a passeata de protesto ao Consulado dos EUA no centro Rio de Janeiro contra a presença de Obama. O PSTU e a CSPConlutas apostaram neste ato para amortecer a disposição de luta do ativismo, inclusive de parte de sua militância, a fim de evitar um forte protesto no dia em que Obama estaria no país. A serviço do FBI, a PM de Cabral prendeu 13 militantes neste pequeno protesto do dia 18 para intimidar as possíveis manifestações que viessem a se organizar no dia 20 de março. Dois dias depois, quando Obama já se encontrava no Rio de Janeiro, não foi, porém, a truculência dos aparatos repressivos dos lambe botas brasileiros Dilma e Cabral (tanques, o Batalhão de Operações especiais do Exército, Bope, PM e Guarda Municipal) ou a própria máquina assassina do imperialismo montado no Rio (FBI e CIA) o que impediu o avanço da manifestação. Quem freou o movimento a menos de três quarteirões do Teatro Municipal, onde se encontrava o comandante em chefe do imperialismo mundial, principal responsável por toda exploração e violência do mundo, foi a vergonhosa política conciliadora da CUT, Sindipetro, MST, PT, PCdoB, PSTU, PSOL e CST/Unidos que levou os manifestantes a um beco sem saída, literalmente encurralandoos para depois "serem forçados" a dispersá-los, e tomar o caminho de casa. CONTINUA NA PÁGINA 39

CARTAZ NORTECORANO ONDE UM SOLDADO DO PAÍS ESMAGA A SEDE DO CONGRESSO DOS EUA

vo da Liga Comunista. Estamos apenas engatinhando na tarefa titânica que nos empenhamos desde o primeiro dia, contribuir com nossas pequenas forças mas de forma decidida para a construção do partido mundial da revolução socialista. Em nossa primeira campanha de assinatura estamos apresentando pacotes solidários de 100 reais por 24 números do jornal.

Edição ESPECIAL

O Bolchevique

40 págs.

PELA RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL, O PARTIDO MUNDIAL DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA

Jornal da Liga Comunista - Ano II - # 4 - abr-mai/2011 - R$ 5 - http://lcligacomunista.blogspot.com Caixa Postal 09 - CEP 01031-970 - São Paulo - SP - Brasil - liga_comunista@yahoo.com.br

Em defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo! Frente Única Militar com Gadafi para derrotar a OTAN e os “rebeldes” armados pela CIA! Nenhuma confiança no governo de Trípoli! Somente pelo armamento de todo o povo e pela revolução permanente nós poderemos vencer esta luta! DECLARAÇÃO AOS TRABALHADORES DO MUNDO E À SUA VANGUARDA INTERNACIONALISTA SF (Grã-Bretanha) - LC (Brasil) - RMG (África do Sul)

Revolutionary Marxist Group

Socialist Fight + NESTA EDIÇÃO

Rebeldes prendem um jovem negro estrangeiro entre as cidades de Brega e Ras Lanuf (Reuters / G.Tomasevic)

A CIA NA LIBIA

O caráter contrarrevolucionário dos 'rebeldes' de Bengasi

DA “OPERAÇÃO AJAX” À “ODISSEIA DO AMANHECER”

EDITORIAL: Construir o partido revolucionário, reconquistar o primeiro de maio para a classe trabalhadora! • CONTRA-ATO ANTI-BOLSONARO: Construir a Frente Única Anti-Fascista • BRASIL 1964 - LÍBIA 2011: Liquidar toda a máquina de guerra repressiva contra a população trabalhadora, aprimorada desde a ditadura militar e em pleno funcionamento contra nossas lutas hoje! • FORA OBAMA: Protesto na Cinelândia (Rio de Janeiro) rompe barreira política imposta pela burocracia dirigente da CUT, MST, CTB e CSPConlutas ao "Fora Obama!” • DECLARAÇÃO DA LC: Fora Obama da Líbia, Brasil, Afeganistão, Iraque e Haiti! Liberdade imediata para todos os presos políticos da manifestação do dia 18/03 encarcerados por Dilma e Cabral! • FRENTE ÚNICA: Vamos caminhar hoje até onde pudermos contra Obama e o Imperialismo!

MOVIMENTO OPERÁRIO

INFORME DA FÁBRICA:

O “know how” golpista de 1953, turbinado em 2011

Conhecer o proletariado para solidificar nossas teorias e construir o partido revolucionário dos trabalhadores

SU, CMI, L5I, LIT, PO, FT, FLTI

USP e UFMA:

O REVISIONISMO DA CMI

OBRAS DO PAC:

Finalmente as ‘Internacionais’ revisionistas se ‘reunificam’ em Bengasi Liga Comunista combate posições de Alan Woods e da CMI na USP

A luta contra a precarização do trabalho Organizar a luta nacional do proletariado contra as empreiteiras e o governo Dilma!

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como documentos diplomáticos vazados comprovaram, e logo militarizou a luta transformando-a num conflito entre exércitos regulares burgueses que disputam nesse momento o poder na Líbia para ver quem é mais capacho do imperialismo, sendo ambos responsáveis pela morte de milhares de operários e proletários líbios.” (Declaração da Direção do Coletivo Lênin sobre a Líbia: Tarefas políticas e militares na Líbia: frente única contra os ataques da OTAN!, 15/04). Consideramos progressiva a auto-critica pública realizada pelo CL das duas caracterizações que fez a princípio. A partir de então, queremos realizar uma polêmica mais rigorosa com a atual posição dos mesmos sobre a Líbia. Embora afirmem que estariam por uma “frente única com todos os setores do movimento de massas que estejam campo contrário à operação da OTAN”, não apontam no tabuleiro do mundo real quem seriam estes “setores do movimento de massas”, deixando a dúvida de que poderiam estar supostamente dentro da frente encabeçada pela CNT, em apoio critico à oposição burguesa de Bengasi, ou com o Exército líbio e a população de Trípoli que, efetivamente, se enfrentam com armas na mão contra os agentes internos e externos do imperialismo. Os trotskistas principistas não comungam com a “teoria dos campos burgueses progressistas”, todavia não podem ter uma posição ambígua diante da luta entre o imperialismo e a nação oprimida. Trotsky foi categórico mesmo diante de um hipotético conflito militar reivindicando uma frente única com o ditador Getúlio Vargas “Eu estarei do lado do Brasil ‘fascista’ contra a Inglaterra ‘democrática’” (Conversando com Trotsky, Mateo Fossa, 23/11/1938). Por trás de sua posição aparentemente ambígua, o CL demonstra que não rompeu com o campo pró-imperialista, continuando a reivindicar que seria correta uma frente única com as reacionárias mobilizações da oposição burguesa na etapa anterior ao início dos bombardeios da OTAN, ou seja, entre o 17/02 e o 19/03 em nome de disputar a base “insurgente” com a direção burguesa. “Para nós, do Coletivo Lênin, os trabalhadores e comunistas líbios deveriam ter participado das mobilizações contra Gadafi em fevereiro, para disputá-las e tirá-las do controle do CNT... Durante todo esse processo inicial, deveriam levantar a bandeira de Fora Gadafi! Assembleia Constituinte Revolucionária, supervisionada por comitês de trabalhadores e camponeses”. (Declaração da Direção do CL sobre a Líbia: Tarefas políticas e militares na Líbia: frente única contra os ataques da OTAN!, 15/04). Mas não só isto, passada esta fase inicial e mesmo depois de iniciado os ataques imperialistas, por trás de uma enganosa fraseologia “antiimperialista” de “Frente única contra os ataques da OTAN” e de “derrotar as forças imperialistas da OTAN e as pró-imperialistas do CNT, para então derrotar as forças de Gadafi e consolidar a Assembleia Constituinte Revolucionária dos proletários Líbios” o CL põe, assim como os espartaquistas, um sinal de igual entre o Exército armado pelo imperialismo e o Exército do país oprimido, caracterizando que o ocorre hoje é “um conflito entre exércitos regulares burgueses que disputam nesse momento o poder na Líbia para ver quem é mais capacho do imperialismo”. (idem). É uma conclusão totalmente incongruente mas na fantasia criada pelo CL, o exercito de Gadafi está sendo bombardeado por todas as potências imperialistas reunidas porque quer ser mais capacho do imperialismo que a oposição burguesa e, no entendimento do CL, provavelmente, o próprio imperialismo anda sendo parcimonioso na Líbia, talvez porque não concorde com

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tamanho pró-imperialismo de Gadafi e se contente com menos. Como seria isto, estaríamos vendo o nascimento de um imperialismo anti-imperialista? A OTAN teria se convertido em um organismo de combate aos governos pró-imperialistas? A gadafobia de absolutizar de forma extremada as capitulações ao imperialismo do caudilho de Trípoli, como faz a grande família revisionista, para justificar seu incondicional alinhamento com a oposição libia, conduz o CL não apenas ao ridículo mas acaba por negar o próprio sentido da ofensiva imperialista, recolonizar o país para torna-lo completamente capacho, o que, apesar das capitulações da ultima década, não conseguiu com Gadafi. Para serem consequentes com esta afirmação, os companheiros fluminenses, que já demonstraram neste conflito acreditar na existência de uma força beligerante progressiva no mundo imperializado que não se coloque abertamente em confronto militar com o imperialismo, agora caem no raciocínio de que o imperialismo despeja toneladas de bombas sobre Trípoli para combater as disposições entreguistas de Gadafi. Como parte desta concepção, mais adiante o CL comete outros desvios de princípio sobre a questão: “os marxistas não priorizam a defesa de pequenas conquistas de determinado governo, e sim a auto-organização dos trabalhadores, que é muito mais fácil numa democracia burguesa do que numa ditadura burguesa. Por isso, não são indiferentes ao regime ou acham que é tudo a mesma coisa, como os anarquistas e ultra-esquerdista.” Também não somos indiferentes à ditadura escancarada da burguesia ou a democracia burguesa, acreditamos que em certos e muito limitados aspectos (porque com um aparato repressivo muito maior e mais sofisticado, hoje prendem, torturam e matam mais que na ditadura), desfrutamos de condições mais favoráveis à organização dos trabalhadores do que sob o AI-5. Todavia, primeiro que os marxistas com métodos da revolução permanente defendem e reivindicam a extensão de todas as conquistas favoráveis ao proletariado, mesmo as que pareçam como meras concessões de governos hostis à classe trabalhadora (como são às nacionalizações, às leis trabalhistas, democráticas e civis). Do contrário, não defenderíamos as nacionalizações deformadas realizadas nos governos burgueses nem as conquistas oriundas da expropriação da propriedade privada nos Estados Operários no Leste Europeu etc. Reivindicamos a nacionalização sem indenização e sob o controle operário, não confundindo nossas reivindicações operárias revolucionárias com o estatismo burguês e o keinesianismo, nem emprestamos qualquer apoio político a qualquer governo burguês ou stalinista, mas realizamos a defesa destas conquistas pois como bem sabemos há pelo menos 71 anos: “Ainda que as conquistas tenham sido desfiguradas pela pressão de forças hostis, aqueles que são incapazes de defender as posições tomadas nunca conquistarão outras novas” (Trotsky, Em defesa do marxismo, 25/04/1940) Em segundo lugar, vimos em sua defesa da “auto-organização dos trabalhadores”, o CL repetir o mesmo culto ao espontaneísmo e ao autonomismo que as correntes revisionistas do marxismo e o anarquismo. O CL rejeita o bombardeio militar mas segue a reboque do bombardeio midiático imperialista, acreditando como genuinamente espontânea a falaciosa “insurreição popular líbia” durante todo um mês em que o imperialismo previamente comoveu a opinião pública mundial em favor de sua ofensiva militar. Muitas correntes justificam sua capitulação ao que denominamos de contrarrevolução “com forma democrática” em nome da


complexidade dos conflitos atuais e acusam os marxistas de sectarismo em relação às lutas espontâneas das massas árabes, argumentos que a CMI e o PSTU esgrimiram contra a LC nos debates ocorridos nos últimos meses em São Paulo. Uma coisa é a progressiva ação espontânea das massas na Tunísia, Egito e Bahrein. Outra coisa é o reacionário e demagógico culto ao espontaneísmo realizado pelos revisionistas e outra coisa é o processo líbio que, diferentemente da Tunísia, Egito e Bahrein, nada teve de progressivo nem espontâneo. É aí onde os revisionistas tão “preocupados” com a complexidade dos fenômenos da luta de classes, desprezam as diferenças e particularidades de cada conjuntura para secamente identificar os acontecimentos da Líbia como um mero desdobramento da “revolução árabe” iniciada na Tunísia, prestando um imenso favor ao imperialismo ao legitimar a farsa de sua ação humanitária para salvar a “revolução Líbia” do “sangrento ditador Gadafi”. Não descartamos a possibilidade de que houve setores populares e nativos na gênese da orquestração golpistas e inclusive agora apoiando a carniceira intervenção militar da OTAN contra seus próprios irmãos líbios e africanos. Não somos populistas, não nos guiamos pela oscilação da consciência das massas e este é o motivo principal pelo qual “priorizamos” a construção de um partido revolucionário mundial dos trabalhadores para organizar a luta das massas sobre a “auto-organização” das mesmas. Esta concepção, criada pelos pais do primeiro partido marxista da história a conquistar o poder pela via revolucionária, é a ideia mais importante, mais valiosa, deixada como herança pelos nossos mestres bolcheviques. Se o nosso objetivo é a auto-organização das massas, como defendem os anarquistas, para que criar um partido mundial centralizado da revolução? Nós, da Liga Comunista, acreditamos que esta concepção é a chave da complexidade da luta de classes do nosso tempo, nestas décadas pós-URSS, em que a crise de direção revolucionária deu um salto de qualidade e o mundo é influenciado profundamente pela propaganda contrarrevolucionária imperialista que se serve de setores das massas atrasadas para maquiar sua ofensiva recolonizadora e promover “revoluções” pró-imperialistas nos Balcãs, Leste Europeu, ex-repúblicas da URSS, no Tibet, na Venezuela, Bolívia, Irã, Síria e agora na Líbia. Conceber que em todos estes processos só existiram burgueses é desconhecer a teoria marxista enunciada por Trotsky que supõe a existência de “massas reacionárias” é “atribuir as massas rasgos de santidade” independente de sua consciência atrasada. A concepção de partido bolchevique dos trotskistas se funda na ideia que: “as massas não são, em absoluto, iguais a si mesmas, existem massas revolucionárias, massas passivas e massas reacionárias. Em diferentes períodos as mesmas massas são inspiradas por sentimentos e objetivos diferentes. É precisamente deste fato que se depreende a necessidade de uma organização centralizada de vanguarda. Somente o partido, usando da autoridade conquistada, pode superar as oscilações da própria massa. Atribuir à massas rasgos de santidade e reduzir seu programa a uma ‘democracia’ formal, equivale a dissolver-se na classe tal como ela é, passar da vanguarda a retaguarda e renunciar, desse modo, as tarefas revolucionárias.” (As massas não tem nada a ver com isto, Apêndice II de A moral deles e a nossa, 09/06/1939). A Liga Comunista chama os companheiros a serem consequen-

A CSP-Conlutas usa “o povo” de álibi para defender o “Fora Kadafi!” com Obama e o CNT. O Opinião Socialista, do PSTU, canta “Vitória da revolução democrática” que instaurou o governo da Junta Militar que sequer deixa os manifestantes voltarem para a praça Tahir e é fantoche do sionismo e do imperialismo no Egito.

A LER acredita que pode minimizar o desconforto de reivindicar a mesma palavra de ordem do imperialismo no momento em que este despeja bombas de urânio empobrecido sobre a Líbia, simplesmente diminuindo as letras da expressão “Fora Kadafi!” da capa de seu jornal. tes em sua autocrítica, a se debruçarem cientificamente sobre o caráter artificial e pró-imperialista da chamada “insurreição líbia” desde sua gênese, a romperem com a opinião pública burguesa e com a capitulação escandalosa à mesma tanto do espartaquismo quanto do morenismo na questão Líbia. DO CONCILIACIONISMO PRÓ-IMPERIALISTA AO CONCILIACIONISMO PRÓ-NACIONALISTA WORKERS REVOLUTIONARY PARTY O WRP inglês, ou o que restou do outrora poderoso WRP implodido em 1985, quando, financiado por Gadafi, chegou a possuir um jornal diário, o News Line. Na época, a enorme corrente de G. Healy, que tinha entre suas fileiras a principal atriz britânica, Vanessa Redgreave, era a defensora internacional do nacionalismo árabe e em particular do Gadafismo. O WRP com muito menos “disposição” que no passado continua a defenO Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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der sem o menor traço de independência de classe ao caudilho burguês: “o líder líbio, o coronel Gadafi, permanece em Trípoli, lutando pela independência da Líbia... A classe dominante britânica vinha tratando a Líbia como um primo perdido. Na reunião entre Blair e Gadafi em 2004 em uma tenda no deserto, Blair sussurrou palavras doces ao ouvido de Gadafi, a fim de ganhar grandes contratos de petróleo. Agora com um levante de direita reacionária em curso, a hiena britânica está mostrando os seus dentes, tratando Gadafi em seus meios de comunicação como um “cachorro louco”, que deve ser derrubado, estimulada pela esperança de que algum estado islâmico de Bengasi se estabeleça por cima do cadáver de Gadafi, para lhe entregar o petróleo da Líbia. Foi um grande erro de Gadafi não colocar a si mesmo e a Líbia na linha da frente daqueles que apoiam a revolução que começou na Tunísia e se espalhou para o Egito. Instamos as massas da Líbia e da juventude para tomar sua posição ao lado do coronel Gadafi para defender as conquistas da revolução líbia, e desenvolvê-las.” (The News Line: Editorial, 23/02/2011). Já faz pelo menos quatro anos que as hienas vêm recebendo o petróleo do próprio Gadafi, não da forma como queriam, mas recebendo. Em 2007, British Petroleum (BP) – que juntamente com ExxonMobil-ESSO, a ChevronTexaco e a Shell compõe o poderoso cartel do petróleo mundial conhecido como “As 4 Irmãs” – assinou um contrato com a Corporação de Investimento da Líbia, em 2007, para explorar duas áreas, uma envolvendo perfuração em águas profundas na Bacia de Sirte, no Mar Mediterrâneo, e outra no deserto no oeste do país. E não foi por erro, mas por instinto de classe burguês que o caudilho não se colocou na linha de frente das revoltas populares da Tunísia e Egito. LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA A LBI, apesar de tomar o lado correto da luta, em defesa incondicional da nação oprimida Líbia contra a ofensiva imperialista e fazer um chamado à frente única militar com as forças do regime Gadafi, limita-se a reivindicar um programa anti-imperialista não operário e não revolucionário. Subestimando um papel independente que a classe trabalhadora teria que cumprir neste processo, acaba superestimando supostos resquícios nacionalistas do gadafismo, chegando a afirmar que do país não sai uma gota de petróleo para os EUA. “Ao contrário da Venezuela, à Líbia não exporta uma gota sequer de petróleo para os EUA, uma resolução constitucional remanescente da nacionalização das reservas de petróleo.” (“Os métodos torpes com que Gadafi defende a Líbia da agressão imperialista”, site da LBI, 24/02/2011). Isto não é verdade e a LBI minimiza a capitulação pró-imperialista de Gadafi. O problema não é que Gadafi “não exporte uma gota de petróleo para os EUA” por uma suposta resolução constitucional, o problema é que esta exportação é pouca para os apetites do imperialismo ianque. Um mês depois a LBI volta a repetir a asneira em um artigo cujo o título pergunta se “é possível derrotar as forças do imperialismo alimentando falsas ilusões no regime de kadaffi?”: “A Casa Branca não admite que a Líbia não exporte uma gota sequer de petróleo para os EUA, uma resolução constitucional remanescente da nacionalização das reservas de petróleo, ainda que o regime nacionalista tenha aberto concessões a empresas estrangeiras europeias.” (site da LBI, 28/03/2011). Para sermos generosos, esta afirmativa da LBI está pelos menos há oito anos defasada em relação à realidade. As capitulações subsequentes de Gadafi na era pós-URSS e após a “guerra ao terror” desatada pela gestão Bush solaparam a resistência econômica “anti-imperialista” do regime gadafista.

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Em 14 de agosto de 2003, a Líbia concordou em indenizar as famílias dos bombardeamentos de 1988, com U$ 2,7 bilhões, a serem liberados em três parcelas: a primeira na sequência de um levantamento de sanções da ONU, a segunda após o levantamento das sanções dos EUA, e a terceira depois que a Líbia fosse removida pelos EUA da lista de Estados patrocinadores do terrorismo. Em 22 de dezembro de 2003, a Líbia anunciou o abandono de seu programa nuclear. Os EUA elogiam a medida, mas afirmam que vão manter as sanções econômicas, até que ver indícios de cumprimento das mesmas. Em 04 de junho de 2004, o Secretário adjunto de Comércio dos EUA, William H. Lash, anunciou que a Líbia enviou o seu primeiro carregamento de petróleo bruto para os EUA desde retomada dos laços entre os dois países. Em 20 de setembro de 2004, Bush assinou a ordem executiva 12.543, suspendendo a maioria das sanções dos EUA contra a Libia, para o reestabelecimento de vários contratos e o fim das limitações de importação entre as petrolíferas ianques com a Líbia. Desde 2005 a Líbia promove leilões de suas reservas petrolíferas (como o governo Lula fez várias vezes sobre as reservas descobertas pela Petrobrás) marcando o retorno das empresas norte-americanas ao país. Costumam vencer a disputa nos leilões as empresas quem oferecerem o maior lance em favor da estatal petroleira National Oil Corporation (NOC) nos lucros a serem obtidos pela exploração do petróleo líbio. A partir de então a Amerada Hess Corporation em conjunto com seus parceiros do grupo Oasis ConocoPhillips e a Marathon Oil retornaram a Líbia. Agora estas empresas têm o interesse de EXPANDIR seus negócios. A Conocophillips é a terceira maior empresa petrolífera dos EUA, detém a participação de 16,3% em concessões da Líbia Waha Oil Company (WOC). Em maio de 2006, os EUA oficialmente removeram a Líbia de sua lista de estados que patrocinam o terrorismo. A WOC é a segunda maior companhia de petróleo e gás da Líbia, foi criada em 1956 e opera como concessionária da estatal NOC, fundada por Gadafi em 1970, em sistema de joint venture com as empresas americanas ConocoPhillips, Marathon e Amerada Hess. Essas empresas voltaram a trabalhar como parceiros desde janeiro 2006 depois de ter suspendido sua sociedade em 1986, quando o presidente ianque Ronald Reagan emitiu uma ordem executiva para que todas as empresas petrolíferas dos EUA se retirassem da Líbia. Para a WOC trabalham mais de 3.200 petroleiros, em sua maioria (90%) cidadãos líbios. A concessionária também está associada a alemã Wintershall e a francesa Total. A Marathon Oil Corp possui 16% da WOC na Bacia de Sirte. O seu programa de exploração de 2009 incluiu a perfuração de quatro poços, juntamente com cinco poços em desenvolvimento. A Hess Corp produziu 22.000 bpd na Líbia em 2009. Junto com seus parceiros do grupo Oasis, Hess possui uma participação de 8 % da WOC. Hess também é dona de toda a Área offshore 54 (plataforma petrolífera no Mar Mediterrâneo), onde perfurou um poço exploratório em 2008. A Occidental Petroleum Corp é a 4ª maior companhia petrolífera dos EUA, ganhou US$ 243 milhões em vendas líquidas da Líbia em 2009, ou menos de 2 % de seu total. A produção aumentou em 2010, e Oxy tem planos para duplicar a sua produção a partir da Líbia em 2014. Como mostramos no gráfico impresso nO Bolchevique #3, menos de 10% de todo o petróleo da Líbia é exportado para os EUA via WOC e a imposição de uma nova repartição da rapina para suas companhias é um dos principais motivos da guerra atual promovida por Washington contra Trípoli. “O comércio de petróleo da Líbia está praticamente paralisado, enquanto os bancos se recusam a realizar pagamentos em dólar por causa


das sanções americanas contra o regime do ditador Muammar Gadafi, disseram fontes à agência Reuters. As restrições, que se seguem à decisão das grandes companhias de petróleo dos EUA de suspender seus negócios com a Líbia, afetam o abastecimento de refinarias em países como França e Itália.” (Estado de São Paulo, 09/03/2011). Obviamente, esta suspensão temporária dos negócios, faz parte do plano dos EUA para estrangular financeiramente o regime de Trípoli e, após a derrota de Gadafi, controlar uma parcela maior do petróleo do país em relação ao que já controla hoje. Os apetites dos EUA pelo petróleo líbio redobraram depois do mega-desastre com a exploração do petróleo na plataforma continental dos EUA, o maior da história, por um lado, e pela descoberta de três novas jazidas de petróleo offshore na bacia de Sirte em novembro passado, por outro. “A empresa petrolífera líbia “Waha Oil Company” descobriu três novas jazidas de petróleo offshore na bacia de Sirtes, no centro da Líbia, anunciou a Companhia Nacional Líbia de Petróleo (NOC) no seu site... A Líbia possui reservas de petróleo estimadas em 60 biliões de barris e de gás avaliadas em mil e 500 biliões de metros cúbicos. Ela mantém uma produção petrolífera entre 1,3 e 1,7 milhão de barris/dia com a ambição de a elevar para três milhões de barris/dia e uma produção de dois milhões e 600 pés cúbicos de gás por dia.” (África 21, 09/11/2010). Além disto, o tsunami e o acidente nuclear japonês acentuam ainda mais a valorização mundial do petróleo e multiplicam a disposição do imperialismo para a recolonização da mina de ouro negro que é a Líbia. Um programa revolucionário para a Líbia pressupõe a luta pelo controle por parte do proletariado petroleiro armado em aliança militar com o Exército líbio contra a oposição entreguista de todas as riquezas do país, das instalações da NOC e suas concessionárias, a luta pelo controle do comércio exterior e planificação econômica com a expropriação sem indenização de todo o capital imperialista e o controle efetivo de todas as gotas do petróleo e todos os centímetros cúbicos de gás pelos trabalhadores, ou seja, pressupõe realizar a luta democrática e anti-imperialista com métodos da revolução permanente e de ditadura revolucionária do proletariado, estendendo a luta anticapitalista até onde nenhum governo burguês é capaz de fazer. A LBI mente em favor de Gadafi. Baseados em premissas falsas não podemos estabelecer uma luta anti-imperialista consequente, algo que jamais devemos esperar dos governos burgueses. Diante do golpismo pró-imperialista de Kornilov os verdadeiros bolcheviques souberam se posicionar com inteira independência de classe diante do governo burguês de Kerensky: “Mesmo agora, não devemos sustentar o governo de Kerensky. Seria faltar aos princípios. Mas, então, dirse-á, não se deve combater Kornilov? Certamente sim. Mas, entre combater Kornilov e sustentar Kerensky há uma diferença, um limite, que certos bolcheviques transpõem, caindo no “conciliacionismo”, deixandose arrastar pela torrente dos acontecimentos” (História da Revolução Russa, Leon Trotsky) OS REBELDES CONTRARREVOLUCIONÁRIOS SÃO O ARÍETES DA RECOLONIZAÇÃO IMPERIALISTA Neste momento, o plano do imperialismo é bombardear incessantemente as áreas controladas pelo governo até aniquilar as defesas de Gadafi, massacrando barbaramente a população civil das cidades não controladas pela oposição golpista, até

que o regime vire uma galinha morta ou renda-se antes disto para que os agentes nativos do imperialismo tomem a capital. Desde o dia 02 de março os abre-alas do golpe de Estado imperialista na Líbia invocam a entrada em cena da máquina assassina do imperialismo para completar o serviço que começaram. Em parte de seu plano os rebeldes foram contemplados no dia 19 de março e desde então jorra do céu uranio emprecido sob a cabeça da população oprimida líbia. Mas, se a “zona de exclusão aérea” tal como a imposta na Iugoslávia em 1999 não for suficiente, o imperialismo terá que lançar mão de uma invasão terrestre como no Iraque e Afeganistão. Embora internamente, para o povo líbio, seja politicamente mais inteligente negar que irão realizar um golpe de estado montados em uma intervenção militar imperialista contra um governo historicamente identificado pelas massas por sua retórica pan-arabista, anti-imperialista e antiisraelense, em uma prova de que estão pouco se lixando com a própria população, a burguesia de Bengasi reivindica abertamente o massacre da população de seu país e se congratula com os genocidas da laia de Hillary Clinton, Sarkozy e John MaCain a intervenção militar imperialista para legitimar em definitiva a mesma perante os olhos da comunidade internacional. Nenhuma reação “humanitária” parecida se vê da “comunidade internacional” nem tampouco da revisionista esquerda trotskista em relação a Costa do Marfim onde a França realizou uma intervenção militar direta e um golpe de Estado apoiado em eleições fraudulentas, nem no Barhein, sede da 5ª Frota de patrulha dos EUA do Golfo Pérsico, onde se extrai uma boa parte dos recursos energéticos consumidos no planeta, onde tem havido uma brutal repressão do trilhionário governo títere sunita contra a população xiita desarmada que corresponde a 75% dos cidadãos do país e que, se fossem bem sucedidos em sua luta democrática e anti-imperialista poderiam contagiar as duas minas de petróleo fundamentais do imperialismo, a dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita, onde a população tem realizado mobilizações de forma crescente. A “reunificação” revisionista mundial em torno do mito que a ofensiva imperialista tem como objetivo liquidar a mítica “revolução líbia” encobre uma vergonhosa capitulação do conjunto destes partidos à camuflagem do imperialismo. Embora não possuam nenhum peso de massas e menos ainda na África e no Oriente Médio, as correntes revisionistas do marxismo revolucionário contribuíram e contribuem a sua maneira para que o imperialismo preparasse o terreno de legitimação e justificação de sua ofensiva pelo “Fora Gadafi!”. O que significa liquidar o regime que apesar de toda sua guinada neoliberal nos últimos anos, ainda conserva a condição de ser, de longe o que detém o mais alto Índice de Desenvolvimento Humano no ranking da ONU na África e onde as crianças até antes do início da guerra civil tinham mais chances de completar a faculdade do que nos EUA. Desta forma os revisionistas continuam a liquidação da IV Internacional como instrumento de emancipação do proletariado, iniciada por Pablo. Nós da LC dizemos claramente aos honestos militantes de base destas correntes: vossa direção lhes engana ou se autoengana. Seja como for, não serve para ajudar o proletariado a avançar em sua consciência política. Está do outro lado, faz parte do rebanho burguês e propaga as mentiras da grande mídia do capital, se deixa levar pela máscara de “revolta popular” (um disfarce nem tanto convincente assim, pois para qualquer observador um pouco atento fica evidente que se trata de monarquistas armados invocando uma intervenção militar imperialista) de nossos piores inimigos. O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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A QUESTÃO LÍBIA E O REVISIONISMO DA CMI

Liga Comunista combate posições de Alan Woods e da CMI na USP

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o dia 06 de abril, a corrente Esquerda Marxista do PT (EMPT), seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) promoveu uma Conferência com Alan Woods, na Universidade de São Paulo, com o tema “A revolução dos povos árabes e a crise capitalista mundial”. SOBRE A CMI E A EMPT A CMI foi fundada por Woods e Ted Grant, depois que ambos foram expulsos do “The Militant” inglês, em 1991, pela maioria dirigida por Peter Taaffe (que logo depois viria a fundar o Committee for a Workers’ International, CWI, ao qual é filiado a corrente LSR, do PSOL). O “Militant” foi uma grande corrente de esquerda do Labour Party (laborismo) até a expulsão de seus principais dirigentes em 1982. Depois de décadas de entrismo sem princípios no laborismo e quase dez anos após a expulsão do “Militant”, a tendência majoritária de Taaffe defendeu a criação de um partido independente e a fração de Woods e Grant reivindicava a continuidade do entrismo. Quando o Labour Party negou-se a lutar contra o poll-tax, imposto por cabeça, que o Partido Conservador queria obrigar a população trabalhadora a pagar, Grant e Woods se opuseram a denunciar o laborismo, considerando “sectarismo” desmascarar a política antioperária e colaboracionista deste partido imperialista para os trabalhadores de seu país. O CMI é a maior expressão atual do pablismo. Michel Pablo foi o dirigente da IV Internacional que defendeu a liquidação da tendência internacional do marxismo fundada por Trotsky, realizando um entrismo estratégico nos stalinistas Partidos Comunistas. Os seguidores do pablismo estenderam esta concepção liquidacionista do trotskismo para fazer entrismo no laborismo, na social democracia e no nacionalismo burguês. Seguindo esta regra, na Inglaterra a CMI permanece dentro do imperialista Labour Party, no Brasil dentro do PT, no Paquistão dentro do PPP e, na Venezuela, do PSUV. Woods se orgulha de ser o conselheiro “trotskista” de Chavez e sua V Internacional. A CMI, assim como o CWI, reivindicam como herança programática do “The Militant”, a política em favor de sua própria burguesia imperialista contra a nação oprimida Argentina na guerra das Malvinas; contra a autodeterminação da Irlanda do Norte, além da defesa do Estado nazi-sionista de Israel contra a luta pela emancipação nacional palestina. Em 2010, a maioria das seções da CMI da Espanha, Venezuela e Colômbia romperam e criaram a Corrente Marxista Revolucionária, ficando com a maior parte dos aparatos partidários, particularmente nas duas primeiras seções e realizando ainda mais culto ao personalismo chavista. Na Espanha, a Fundação Frederico Engels e o Sindicato dos Estudantes ficaram com a ruptura. A Esquerda Marxista do PT nasceu de uma ruptura com a corrente lambertista O Trabalho e ligou-se à CMI, convertendo-se em uma corrente chavista. A EMPT administra desde 2002 algumas fábricas ocupadas no Brasil, Todavia, alí não existe controle operário da produção, mas uma administração capitalista “alternativa”, onde a direção da EMPT, que gerencia as fábricas, prioriza o pagamento de agiotas, com quem se associa, e atrasa os salários dos operários. A EMPT apoiou Lula e Dilma sem sequer lançar candidatura própria da corrente para disputar a indicação presidenciável do partido contra a “mãe do PAC” e madrinha das empreiteiras escravagistas.

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O Bolchevique #4 - Abr-Mai de 2011

O MITO DA “INSURREIÇÃO POPULAR” NA LÍBIA A atividade deste dia 06 foi realizada na USP e fez parte de um giro internacional da corrente de Woods para surfar na “onda revolucionária nos países árabes” (da brochura que A .Woods veio lançar em suas Conferências, “Tremores Revolucionários: uma análise marxista da atual onda revolucionária nos países árabes”). A LC considera que não existe uma “onda revolucionária” nem “processos revolucionários”, mas revoltas populares que pela ausência da classe operária organizada e menos ainda de partidos revolucionários na condução destes processos, são logo desviados pelo imperialismo e seus agentes fantoches. Estes processos vem sendo controlados pelos remanescentes dos regimes déspotas destituídos nos casos da Tunísia e Egito e pela oposição burguesa, para aprofundar a política de expansão do capital financeiro, com o aumento da exploração sobre os trabalhadores e das riquezas energéticas e naturais desta região. Não estão ocorrendo “revoluções” nem na Tunísia nem no Egito, mas a substituição controlada pelo imperialismo de governos títeres desgastados, por outros governos burgueses supostamente mais democráticos. A situação da Líbia é distinta dos dois primeiros países porque alí se trata, desde sua origem, de uma mobilização golpista armada pela CIA para substituir o regime de Trípoli por outro governo que realize uma nova e mais profunda partilha do petróleo do país. Contestando a tese da CMI, compartilhada pela quase totalidade da esquerda mundial, que defende a mobilização golpista patrocinada pela CIA na Líbia, uma militante da Liga Comunista interpelou Woods: “Eu sou estudante do curso de História da USP e sou membro da Liga Comunista, e queria contribuir com o debate fazendo uma polêmica com a CMI e com o Alan Woods. Eu queria lembrar que em 2002 a gente assistiu a um golpe de Estado na Venezuela, que foi organizado pela CIA e teve o apoio da burguesia venezuelana. Neste momento, neste contexto, os marxistas internacionalistas não poderiam ter outra posição senão a de combater este golpe imperialista e fazer uma frente única militar com o Chavez para expulsar o imperialismo da Venezuela. Hoje o imperialismo se aproveita das revoltas que estão acontecendo no Egito e na Tunísia pra justificar o que ele está fazendo na Líbia. Ele está armando seus agentes dentro da Líbia para tentar recolonizar, com uma intenção clara de recolonizar o país que é o terceiro maior produtor de petróleo da África. E hoje, a CMI, assim como o PSOL e o PSTU e grande parte da esquerda se coloca em apoio a estes golpistas internos, apoiados pelo imperialismo, na Líbia e chamam isto de “revolução”. O que eles chamam de “revolução” são estes golpistas que reclamam pelo bombardeio da OTAN sobre o seu próprio povo. Nós sabemos que o Gadafi não merece nenhuma confiança nossa, é um governo burguês e que nós temos todos os motivos do mundo para odiá-lo como ditador. Mas em uma guerra a gente tem que tomar uma posição, tem que escolher, ou a gente vai apoiar o imperialismo que está invadindo a Líbia de uma forma arbitrária, bombardeando civis com o pretexto de fazer uma “ajuda humanitária”, talvez a mesma “ajuda humanitária” que fez em Guantânamo, no Iraque e no Afeganistão e em outros países. Então, a nossa posição é estabelecer neste momento, para expulsar o imperialismo que está armando seus agentes dentro da Líbia, é fazer uma frente única militar com Gadafi, expulsar o imperialismo


e depois acertar as contas com o ditador Gadafi. Então, esta é a posição que a LC coloca e coloca também que a derrota do imperialismo na Líbia vai favorecer também a que consigamos derrotar o seus governos no Egito, na Tunísia e em todos os países.” Esta intervenção da LC desmascarou Woods em sua própria Conferência. O dirigente da CMI respondeu argumentando: “Sobre a questão da Líbia há muita confusão sobre este tema. Ponto número um: Na Líbia ocorreu uma insurreição popular. Temos que apoiar isto, sim ou não? Eu digo sim! 100% sim! É verdade que existem outros elementos, há elementos dúbios aí, Inclusive o ex-ministro de Gadafi e os demais. Mas não podemos apoiar Gadafi sob nenhuma condição. Eu tenho uma excelente relação com o presidente Chavez, mas sobre este tema eu tenho total desacordo com ele.” O que Woods chama de “insurreição popular” a qual apoia 100% não passa de um complô armado pela CIA que, como afirmou nossa camarada em sua intervenção, aproveitou-se dos levantes populares da região para aplicar o golpe em seu adversário Gadafi a fim de recolonizar o país. Em segundo lugar, o único elemento que quer parecer dúbio entre uma nação oprimida e uma ofensiva imperialista é o próprio Woods, pois não há elementos dúbios entre os trânsfugas do alto comando do exercito, do corpo diplomático e da magistratura líbia com empresários, multinacionais e chefes tribais candidatos a fantoches do imperialismo apoiados em setores de classe média da região mais rica do país, setores tão reacionários quanto os “esquálidos” venezuelanos ou os fascistas secessionistas bolivianos. A maior prova de que os “rebeldes” líbios não passam de carniceiros agentes do imperialismo é o fato de invocarem o bombardeio da OTAN contra o seu próprio povo, como fizeram os colaboracionistas em todos os momentos da luta de classes desde Thiers, na Comuna de Paris (1871), até hoje. A cada dia que passa fica mais evidente que os agentes do imperialismo não só são meros abre-alas, aríetes para a intervenção multinacional no país, como se declaram abertamente racistas e xenófobos, inimigos da classe operária negra subsaariana que compõem uma imensa massa de trabalhadores na Líbia, perseguindo a todos em nome da caçada aos “mercenários de Gadafi” para de fato desvalorizar ainda mais a força de trabalho no país, preparando-o para a superexploração da nova era de extrema rapina imperialista. Depois que o caudilho venezuelano, a serviço da boliburguesia venezuelana e do capital multinacional, reprimiu de maneira brutal os operários de seu país em luta na Fábrica de Sanitários Maracay, na Sidor e na Mitsubich, Woods estabeleceu “uma excelente relação com o presidente Chavez”. Mas quando Gadafi reprime aos golpistas da CIA, o dirigente da CMI declara que não apoia Gadafi sob nenhuma condição, enquanto apóia Chavez em tudo mais, à exceção da defesa vacilante que o caudilho venezuelano faz do caudilho líbio. Discordamos da posição de Chavez e Castro porque “apesar de se oporem à intervenção militar imperialista no país africano, propõem ao regime de Trípoli várias medidas e fóruns diplomáticos de capitulação e renuncia à soberania do país. Tais medidas, se levadas a termo, na melhor das hipóteses, manteriam temporariamente o atual governo no poder ao custo de maiores concessões politicas e econômicas do que as que já fez Gadafi nos últimos oito anos e que, certamente provocariam enormes perdas aos trabalhadores na Líbia em favor de uma nova partilha imperialista da nação árabe tal como acabou de ser promovida no Sudão.” (ESPECIAL ÁFRICA DO NORTE E ORIENTE MÉDIO 4/4, “SU, CMI, L5I, LIT, UIT, PO, FT, FLTI: finalmente as “Internacionais” revisionistas se ‘reunificam’ em Bengasi”, dO Bolchevique #4, abril/2011). Mas, temos que reconhecêlo, neste assunto, as posições do “conselheiro trotskista bri-

Alan Woods e Chavez

tânico” são muito mais servis ao imperialismo do que as do aconselhado mandatário venezuelano. CMI E EMPT SÃO CRIAÇÕES DO DOMESTICADO “TROTSKISMO” LABORISTA E PETISTA A Woods se aplica perfeitamente a crítica que uma vez Trotsky fizera da submissa direção do movimento operário britânico: “Os criadores de pombos ingleses conseguiram, por seleção artificial, criar uma variedade de bicos cada vez mais curtos. Mas chegou o momento em que o bico do pombo pintinho se tornou tão curto que o pobre animal não consegue romper o ovo e morre na casca, vítima da abstenção forçada a toda a violência, comprometendo até o progresso futuro da variedade de bicos curtos. Se nossa memória não falha, Macdonald pode ler este exemplo em Darwin. Seguindo o caminho, tão agradável a Macdonald, das analogias com o mundo orgânico, se pode dizer que a habilidade política da burguesia inglesa consiste em encurtar o bico revolucionário do proletariado a fim de não permitir que ele fure a casca do Estado capitalista. O bico do proletariado é seu partido. Tomando em conta a Macdonald, Thomas, Sr e Sra. Snowden, é preciso reconhecer que o trabalho de seleção dos bicos curtos e das cabeças brandas tem sido um êxito brilhante para a burguesia inglesa, já que estes senhores e essa dama não são bons para perfurar a casca do capitalismo nem são bons para nada” (Sobre certas particularidades dos dirigentes operários ingleses, em “Aonde vai a Inglaterra?”, 03/05/1926). Ainda que não depositemos a menor confiança que Gadafi vá lutar de forma consequente para derrotar a ofensiva da OTAN e dos EUA, ainda bem que a luta anti-imperialista na Líbia não depende dos conselhos de Woods. Se dependesse, ela seguramente morreria dentro da casca, como morreria também a luta pela emancipação nacional irlandesa e da palestina. Apesar das aparentes diferenças políticas, em essência, as organizações EMPT, DS e OT no PT, CST e LSR no PSOL, e PSTU compartilham dos mesmos vícios tradeunistas devido a habilidade da burguesia brasileira de encurtar o bico revolucionário do trotskismo nacional, através da escola laborista do PT. CONTINUA NA PÁGINA 32 O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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CONTRA-ATO DE COMBATE AOS NEONAZISTAS DE JAIR BOLSONARO

Construir a Frente Única Anti-fascista!

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Careca neonazista com foto de Bolsonaro na camisa, faixa fascista exigindo “Fora Battisti” Cartaz, faixa “Contra a homofobia, o racismo e a discriminação” e falações do Contra-Ato

omo sinal da reação crescente no país, a extrema-direita brasileira, apoiadora do deputado fascista Jair Bolsonaro (PP-RJ), marcou um ato público na Avenida Paulista. Fazia décadas que o fascismo não se mostrava tão à vontade e à luz do dia, tendo sido a última tentativa de manifestação concebida pelos Integralistas de Plínio Salgado em 1934 quando, em plena Praça da Sé, foram expulsos à base de pancadas e tiros pelos trotskistas da Liga Comunista Internacionalista (LCI), stalinistas, anarquistas e socialistas no episódio que ficou conhecido como a “revoada das galinhas verdes”, em alusão ao uniforme verde militaresco que os integralistas utilizavam e tiveram que largar no meio da fuga para não serem identificados mais. Dispersa e desmoralizada, a extrema-direita foi incapaz de se reorganizar em atos públicos por mais de 70 anos, à exceção isolada de algumas demonstrações de força de grupos como o CCC durante a ditadura militar. Não é por acaso que a ousadia destes fascistas tenha se manifestado justamente no terceiro mandato de governo federal petista, que corrompeu os movimentos sociais, fez muitos presos políticos, manteve a opressão sobre mulheres, homossexuais, negros, nordestinos, sem teto, sem terra e imigrantes para conseguir o apoio dos setores mais reacionários da sociedade. E o retrocesso ideológico não se expressa apenas no fortalecimento da direita, como também no embotamento da consciência dos militantes de esquerda. Em resposta a esta ofensiva direitista homofóbica, racista, machista e antioperária, nós da LC, a Liga Estratégia Revolucionária, anarquistas, um parlamentar do PT (José Américo), membros do Movimento Negro Unificado, militantes do movimento homossexual e trabalhadores e estudantes da USP, nos organizamos em um contra-ato para impedir que os neonazistas realizassem um ato criminoso e ilegal até mesmo sob a legislação burguesa. A ausência da grande maioria dos setores e movimentos de massa da esquerda, porém, fez com que, a certo momento, a direita agregasse quase o mesmo número de pessoas que nós. Um blog ligado ao PCdoB chegou a qualificar nossa manifestação de corajosa, mas insensata, devido ao fato de a direita ir para o ato armada. É esse pensamento covarde generalizado que faz com que a os setores mais reacionários da direita cresçam e agridam homossexuais e bolivianos cada vez mais abertamente, como vem fazendo na Av. Paulista, em plena luz do dia. Na verdade, sobre o perigo imediato do ato da direita, a situação era bem pior que isto, pois entre eles havia vários assassinos de homossexuais julgados e condenados. A coisa foi tão escancarada que a PM não quis parecer muito associada à direita e teve que deter alguns deles. Obviamente, esta ação foi apenas para manter uma aparência “imparcial”, pois de fato a PM, como era de se esperar, fazia um policiamento ostensivo sobre nós e não sobre a direita, protegendo o ato neonazista desde o primeiro instante, dando cobertura e fazendo isolamento dos membros neonazistas que chegavam atrasados e eram de longe identificados por suas cruzes de ferro e suásticas tatuadas pelo corpo. Além disso, os bolsonaristas presos foram liberados poucas horas depois. Para nós, revolucionários, a manifestação dos bolsonaristas não é “liberdade de expressão” mas uma ameaça a liberdade de existência dos trabalhadores, mulheres, homossexuais, negros, nordestinos, indígenas, imigrantes. Portanto, contra os que cretinamente justifivaram não ter ido

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ao contra-ato porque ele daria publicidade à auto-propaganda midiática destinada a um eleitorado reacionário de Bolsonaro e seus pares, o que está em jogo é dar um basta à propagação das ideias da direita fascista no Brasil, que diariamente ataca de forma criminosa aos trabalhadores, como ocorreu recentemente a um militante gay do PSTU, Guilherme, que ali mesmo, na Avenida Paulista foi agredido por estes criminosos. Mesmo assim, porém, este partido não estava presente no contra-ato apesar de sido convocado. Também não deram as caras as maiores organizações da esquerda, PSOL, PT, PCdoB, PCO, LOI, TPOR, CST, LBI, MR8, PCML, PCR, PCB, A NOVA DEMOCRACIA, Pastoral Operária. A UJS e as correntes petistas e psolistas que possuem juventude estavam realizando um CONEG a 500 metros do local e também não foram. Vale destacar que o ato foi ampla e irrestritamente divulgado pelas redes de internet e inclusive foi feito um cartaz com a charge de Latuff. A imprensa toda registrou o ato e o contra-ato, ambos fartamente divulgados pela internet: “Pelo lado contra o deputado Bolsonaro, Humberto Rodrigues da Liga Comunista, gritava num megafone: “Racistas, fascistas, não passarão”. Rodrigues disse que eles resolveram ir ao Masp depois que souberam que os nacionalistas haviam programado, pela internet, uma manifestação.”( Protesto acaba em confusão no Masp, Grupos pró e contra Jair Bolsonaro se enfrentam na Paulista e sete são detidos para averiguação, suspeitos de agressão a homossexuais e racismo, DIÁRIO de São Paulo, 09/04/2011). O ato dos neonazistas terminou quando sete de seus crimonosos foram momentaneamente detidos pela polícia e levados em viaturas, em uma farsa que não durou mais do que 2h para que os assassinos de homossexuais fossem liberados. De fato, a PM não é nenhuma defensora da democracia ou dos diretos humanos, realiza sistematicamente o que os neonazistas fazem de vez em quando. A polícia é quem mais mata os jovens negros e os trabalhadores das periferias, quem mantém encarcerados pais e mães de família que expropriam comida por passar fome, que reprime as greves operárias, enfim, que protege a estrutura exploradora e opressiva do capitalismo. Todavia convidamos ao conjunto dos movimentos, partidos e organizações que não participaram do contra-ato para dizer em alto e bom som que seja lá com que uniforme se vistam, estes vermes não passarão e a construir uma Frente Única Anti-fascista nacional no seguinte espírito: “Só se poderá agir praticamente com um acordo entre as diferentes organizações contra o inimigo comum. Sem renunciar a sua independência nem ao direito de crítica mútua, as organizações operárias devem concluir entre elas um acordo de combate ao fascismo. Antes de mais nada trata-se de defender um instrumento fundamental do proletariado, suas organizações. Esta tarefa é igualmente evidente e imediata aos olhos de todo operário organizado, seja qual for a orientação política global de sua organização”. (Por um acordo de combate das organizações proletárias contra o fascismo, em Escrito de Leon Trotsky, 11/1933-04/1934)


INFORME DA FÁBRICA

Conhecer o proletariado para fundamentar com solidez nossas teorias e construir o partido revolucionário dos trabalhadores

O

relato que se segue é produto do trabalho operário fabril realizado por um camarada da Liga Comunista. Nomes próprios e várias referências como datas e endereços foram propositadamente ocultadas ou trocadas para a proteção da tarefa do camarada que de agora em diante chamaremos de Carlos. Este pequeno artigo é um brevíssimo e embrionário relato apenas para “abrir o apetite”, pelo aprendizado de como desenvolver um trabalho fabril nas condições atuais, àqueles militantes honestos que se interessam pelo “chão de fábrica”. Temos a certeza de que: “A situação da classe operária é a base real e o ponto de partida de todos os movimentos sociais de nosso tempo porque ela é, simultaneamente, a expressão máxima e a mais visível manifestação de nossa miséria social... O conhecimento das condições de vida do proletariado é imprescindível para, de um lado, fundamentar com solidez as teorias socialistas e, de outro, embasar os juízos sobre sua legitimidade e, enfim, para liquidar com todos os sonhos e fantasias pró e contra.” (A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, Frederich Engels, 1845). A fábrica em questão localiza-se na Zona Leste da capital paulista. O aspecto físico do prédio da fábrica é tenebroso por fora e não é melhor por dentro. Os banheiros, o bebedouro e o refeitório, locais acessórios necessários para que os trabalhadores possam fazer a manutenção de suas próprias máquinas corporais a fim de que sejam úteis como “apêndices da máquina” (como Marx descrevera no século XIX) são largados de uma maneira tal que percebe-se que existem quase a contra-gosto do dono da fábrica. São pequenos, mal iluminados, mal ventilados, insalubres, são quase não funcionais. Entende-se que o objetivo de tamanho desleixo com estes locais é para que o peão não se sinta tão confortável no alivio momentâneo na jornada de trabalho e volte logo para seu posto. A empresa tem 22 anos de existência, e pertence a um importante ramo de produção industrial nacional. Seu sistema operacional de produção é taylorista, de um operário por máquina, baseado na especialização extrema de funções e atividades e da utilização do conhecimento e habilidade dos mais experientes para estabelecer ritmos e metas de produtividade que serão rigorosamente fiscalizados pelos inspetores da linha de montagem. Embora antigo, desenvolvido há um século, este sistema permite utilizar uma mão-de-obra relativamente barata para produzir intensamente sob a pressão dos cronômetros dos tempos de operação, em favor da mais alta quantidade das peças produzidas. Trabalham na empresa cerca de 200 companheiros, portanto trata-se de uma empresa de porte médio. Está em fase de crescimento, suplantando através da reciclagem de quase 100% das sobras, vários produtos e insumos antes importados da China. Graças ao avanço da

tecnologia da reciclagem, praticamente todas sobras de rebarbas das peças retiradas dos moldes é reciclado na própria empresa. Portanto, temos um desperdício quase insignificante de matéria prima e um lucro superior do patrão. Daí também deriva a preocupação hegemônica da quantidade sobre a qualidade. Ainda que haja perda de ganho com a produção de peças defeituosas, as peças perdidas podem ser convertidas de forma integral em matéria prima novamente. Carlos entrou na fábrica como terceirizado, subcontratado por uma empresa prestadora de serviços, para exercer tarefas de alimentador de linha de produção, um nome pomposo criado para designar Serviços gerais. Qualquer outra função mais especializada requeria cursos de dois anos no SENAI ou experiência comprovada para a função correspondente. Era isto que os funcionários do Estado, atendentes do “Poupa Tempo” responsáveis pelo recrutamento de mão-de-obra e encaminhamento para o mercado de trabalho diziam a Carlos. A realidade foi bastante diferente. Logo no primeiro dia Carlos foi posto na linha de produção diretamente “com uma máquina só para ele” ser superexplorado. A empresa precisava de mão-de-obra para atender à demanda de seus produtos no início do ano. Era preciso contratar qualquer um para a produção imediata. Carlos também descobriu o porquê de no exame médico prévio à contratação pela terceirizadora o principal critério para a aprovação do candidato à vaga era a busca de varizes nas pernas do paciente, pois se as possuísse não aguentaria passar 8h ou mais em pé em frente à máquina. Também no primeiro dia Carlos foi surpreendido positivamente pela solidária receptividade dos companheiros de trabalho que aumentou com a convivência posterior. Erivaldo, um paraibano da máquina de solda ao lado, apesar de saber que será cobrado pela produção ao final do dia, parou seu serviço por mais de cinco vezes tanto no primeiro dia de trabalho quanto no segundo, para ensinar Carlos. O mesmo se notou na quantidade de operários que vieram avisar a Carlos que sua marmita teria que ser deixada logo cedo em cima de tal mesa junto com centenas de outras para um funcionário terceirizado com mais de 60 anos de idade recolhesse todas e as levasse para uma mesa de aquecimento em banho-maria. Puxaram assunto, perguntando nome, se apresentando e se oferecendo para o que precisar. Cerca de 20% da força de trabalho é terceirizada, subcontratada de empresas terceirizadas com sede em Guarulhos. Cada terceirizado dura 90 dias na empresa. A maioria não é efetivada. A simplicidade do serviço permite uma lucrativa e alta rotatividade. Uma minoria dos trabalhadores são contratados via agências para fins de efetivação. 90% da força de trabalho terceirizada é composta por mulheres que se encarregam de tarefas “mais delicadas” de acabamento (pintura, colagem de rótulos e distintivos) e da limpeza. Todas recebem nada mais que 545 reais + cesta básica (52 reais) + 120 de transporte, ao total, 717 reais/mês. Esta é uma das formas do capital burlar a própria legislação burguesa de que deva ser pago um salário igual para trabalho igual. Os próprios vigias da fábrica são terceirizados. O vigia do turno de Carlos, cujo apelido é “Seu Madruga” está há uma semana reclamando de dores causadas por uma torção no tornozelo, produto, segundo O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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ele, de ter que abrir o portão de entrada de carros cerca de 80 vezes por dia. É por este portão que entram matérias primas e saem as mercadorias prontas para o comércio, além dos funcionários do corpo técnico e não ligados à produção, assim como os próprios patrões com suas Hyundais blindadas. “Seu Madruga” trabalha no turno das 06 as 14h. O vigia que lhe rende o turno a este horário diz que o choramingo de “Madruga” é porque ele não aguenta mais trabalhar com o salário de 545 reais pago pela terceirizadora e “quer pular fora porque tá vendo outro trampo”. Que o sujeito posto para proteger em nível imediato o seu precioso “meio de produção” seja um superexplorado é um risco que o capitalista paga por sua mesquinhez. Todavia, para qualquer emergência maior ele tem a polícia, e o vigia tem como principal função acionar a polícia nestas horas. Pelo nosso lado, trata-se de uma contradição que pode nos dar algum tempo em momentos de greves e enfrentamentos dentro da fábrica, podendo ocupá-la por completo antes que chegue a PM. A jornada de trabalho estabelecida na convenção coletiva válida para 2010/2011 é de 220 horas mensais e 44h semanais. Na prática, a isto se computa naturalmente mais uma hora por dia destinada ao intervalo para a refeição e, devido ao baixo salário, o operário é obrigado a sempre fazer hora extra e, portanto, passar muito mais do que 49h (44 + 5) por semana trabalhando. Ao contrário do que pensam os reformistas que com a evolução do capitalismo a tendência é a redução da jornada de trabalho, a verdade é que quanto mais cai o poder aquisitivo do salário, maiores têm sido as jornadas. Além disto, a jornada não é apenas o tempo que o peão passa dentro da fábrica, mas também o tempo que gasta quando se transporta até ela. Carlos gasta 3h em média para ir e voltar para o trabalho todos os dias. De certa forma, é um privilégio de morar relativamente próximo do trabalho. Todavia, a zona leste é a região de São Paulo onde se localiza a maioria das fábricas da cidade, a mais proletária e, não por acaso, é onde os transportes públicos (ônibus, metrô e trem) são piores, onde há mais congestionamento devido ao tráfego da própria atividade produtiva de abastecimento de matéria prima e distribuição de mercadorias acabadas, onde mais pessoas se concentram e onde a tortura de esperar horas para entrar no metrô ou no trem na hora de ir para o trabalho ou voltar para casa é cada vez maior. A ALTÍSSIMA PRODUTIVIDADE DÁ A MEDIDA DA ESPETACULAR MAIS-VALIA Para quem está no galpão da solda eletrônica (são quatro galpões ao total) a produção mínima cobrada é de 800 peças/dia. A solda eletrônica é uma máquina que opera a uma temperatura de 1500º C. Na primeira semana, até se acostumar com a solda, Carlos foi “batizado” com várias pequenas queimaduras nas mãos. Nem precisa tocar na máquina para ganhá-las. Carlos descobriu sem querer que um centímetro de distância do calor já é suficiente para queimar-se. A variação salarial no chão de fábrica é quase inexistente, só existindo entre os inspetores e os operários efetivos e entre estes e os terceirizados. Entre um operário novato e Sebastião, que está na fábrica há 22 anos, a diferença salarial é de 200 reais. Sebastião tem três filhos e esposa, “já” possui casa própria, mas “ainda não deu para comprar um carro” para ele. Primeiro comprou uma moto para o filho mais velho para ele poder trabalhar de moto-boy. O salário, reajustado em novembro de 2010 em 8%, é de 890 reais. Somado isto ao vale transporte e a cesta básica chega a algo em torno de 1.100 reais. O valor final para o consumidor de cada peça na loja da fábrica é de 12 reais, 10 reais, se pago à vista. Sendo assim, ao produzir 800 peças – meta mínima de produção por dia – o operário participa através de sua força de trabalho como valor principal (somado aos gastos com matéria prima, embalagens, máquinas e ferramentas, energia, impostos, água, telefone, aluguel) da criação de um valor de R$ 8 mil

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reais, se todas fossem vendidas à vista, e de R$9.600,00, se fossem vendidas a crédito. Suponhamos que metade das peças são vendidas à vista e a outra metade a prazo, seriam R$8.800,00/dia. Recebendo um salário bruto de R$1.100,00 o operário gera este valor oito vezes por dia! Os que não fazem hora extra produzem uma riqueza no valor de R$ 193.600,00 por mês (R$8.800,00 x 22 dias de trabalho), 176 vezes o que recebem de salário! Inversamente, se tivesse que trabalhar apenas para pagar seu salário, o trabalhador precisaria fazer no máximo uma hora e meia de trabalho por mês! Embora outros custos façam parte do valor final da mercadoria, sem a exploração da força de trabalho e o trabalho não pago (mais-valia), a indústria não tem sentido para o industrial e a riqueza real não se multiplica no capitalismo. Ainda que não tenhamos acesso à secreta contabilidade patronal, de cada 12 reais que ele recebe por mercadoria vendida, a maior parte deste valor foi expropriada da riqueza não paga ao proletário que a produziu. No caso dos terceirizados esta conta é ainda mais insultante. Também têm que produzir, como no caso de Carlos, as 800 peças por dia, logo também criam em mercadorias R$ 193.600,00/mês. No entanto, como recebem R$ 717 por mês, produzem um valor de 270 vezes o que “ganham”! Logo a pergunta “quanto você ganha?” deveria ser considerada um insulto para o proletariado que perde, no roubo sistemático que se constitui o capitalismo, centenas de vezes o que produz em capital. Se isto é assim em uma fábrica média que produz mercadorias de baixo valor agregado, imaginamos o quão espetacular é a mais-valia arrancada em setores produtivos tecnologicamente mais avançados e produtores de mercadorias de alto valor agregado. A LUTA DE CLASSES PELO TEMPO Antes, o trabalho de arrancar as rebarbas de sobras da soldagem cabia às operárias, agora o operador da soldagem elétrica faz tudo. Não existem operárias na linha de montagem da solda elétrica em que opera Carlos. Antes a produtividade era paga mediante a cobrança do operário que no marcador excedeu a meta. Segundo Sebastião, depois dos puxasacos novos pararem de cobrar pelo pagamento da produtividade, os patrões simplesmente suprimiram este benefício. Hoje, os operários cumprem suas metas diárias sem nenhum estímulo ou ganho por produção, apenas pela pressão dos chefetes, e por medo de perder um ou outro direito elementar como, por exemplo, o reconhecimento de um atestado para abonar uma falta, o que, embora seja juridicamente assegurado, tem que contar com a boa vontade dos superiores para não precisar entrar na justiça para garantí-lo. Quem não produz a meta não conta com a compreensão dos chefetes nem do departamento de Recursos Humanos da empresa. Aqui temos que parar para explicar a questão dos “puxa sacos novos”. Não se trata de um “mal” desta fábrica ainda que seja generalizado, nem é um problema restrito ao “caráter” das novas gerações de trabalhadores. Em todos os ramos vemos jovens trabalhadores “dispostos” a se deixarem esfolar mais do que víamos no passado. Isto de modo algum é culpa da juventude, mas de um momento histórico de derrotas do conjunto do proletariado mundial, após a perda que significou a restauração do capitalismo em países onde o proletariado havia expropriado as fábricas, terras, bancos, todos os meios de produção que antes pertenciam à burguesia mundial. A burguesia conseguiu impor um padrão de escravidão muito maior às novas gerações do que a gerações de operários das décadas de 60 a 80. Quando reconquistou este terreno perdido em meios de produção e também em força de trabalho, a burguesia mundial desatou uma ofensiva brutal contra o proletariado do mundo todo, dispondo de uma imensa massa da mercadoria “força de trabalho” com a incorporação de todos os trabalhadores deste antigos Estados operários ao mercado mundial capitalista e também, de certo modo, com um peso numérico imenso e um valor salarial baixo, aos da China. Além destes elementos de ordem econômica, as derrotas politicas


da classe em nível mundial nas últimas duas décadas submeteram as novas gerações a uma cultura muito mais submissa e integrada à ordem capitalista que as anteriores. Acrescente-se a isto no Brasil, como elemento preponderante desta reação ideológica, os governos de Lula e Dilma, antioperários e desarticuladores profissionais das lutas, formados por sindicalistas que aprenderam a enganar os proletários em décadas de burocratização da CUT e dos Sindicatos. Todos os partidos e correntes de esquerda, quando vão à classe é para pedir-lhe votos para burocracias sindicais ou cretinos parlamentares. De certo que este ambiente retraído é mais favorável ao desenvolvimento do que é mais abjeto dentro do lugar de trabalho, os dedos-duros, puxa-sacos e fura-greves que merecem, a seu momento, o tratamento apropriado por parte da classe. A defensiva da classe operária neste momento, depois de 20 anos de derrotas consecutivas e carente de direções e partidos politicos classistas e revolucionários em quem confiar é a “expressão máxima e a mais visível manifestação de nossa miséria social”. Um operário novo, Thiago, que e tem cerca de 1,5 anos de empresa, ombros largos, consegue produzir 1.200 peças por dia, ou seja, 1/3 a mais da meta estipulada pelo inspetor. Thiago não recebe hoje um centavo a mais por isto, realizando tal proeza pela simples vaidade juvenil. Os outros operários tiram piadas na hora do serviço com Thiago, como “vai ao banheiro Thiago!”, “tem algum piniquinho aí em sua máquina?” em alusão ao fato de que Thiago quase não vai ao banheiro durante o serviço. Em uma semana, Thiago teve a filha menor doente com alguma virose. Por dois dias a mulher ficou com a criança em casa. Mas depois de ter faltado por urgência extrema por dois dias ao trabalho, a companheira de Thiago teve que deixar a filha na escola mesmo doente. Antes do meio dia ligaram da escola para que a mulher fosse buscar a criança na escola e a mulher, para não correr o risco de ser demitida ligou para Thiago dizendo que agora era a vez dele faltar pelo menos meio dia de trabalho. Sem outra solução, Thiago foi pedir ao encarregado para ser liberado depois do meio dia. O encarregado, “Seu Diógenes”, disse que não era assim não, que não bastava alguém ficar doente e o funcionário já ganhava o direito de ir saindo no meio do serviço. Thiago disse que não podia ficar trabalhando enquanto a escola não queria ficar com a filha dele doente, falou que a mulher já tinha faltado dois dias no emprego dela e que ele nunca faltava, sempre chegava no horário e produzia mais do que a meta todos os dias. O pedido virou bate-boca entre os dois na frente de todo mundo e antes que Thiago jogasse tudo para o ar, Diógenes o liberou às 14h. Para todos os operários que tomaram conhecimento do caso ficou claro o quanto a fábrica é “mal agradecida” pela superprodutividade de Thiago. Ainda assim, uma parcela considerável dos operários resiste como pode individualmente à superexploração. Ao aviso de “faltou material” (matéria prima) quase sempre se escuta um sussurro cabisbaixo entre peões: “ainda bem”. O proletário luta o quanto pode pelo seu tempo livre. Um amigo, padeiro em um dos supermercados da Rede “Pão de açúcar” em São Bernando do Campo, contou a Carlos como ele defendia à sua maneira seu tempo livre, tomando banho no horário de trabalho antes de pôr a mão na massa: “assim eu ganhava aquela meia hora de sono mais gostosa antes de levantar para ir trabalhar”, dizia. Contava a vantagem de que domorava pelo menos 20 minutos no banho e no vestimento da farda depois de bater o ponto. Apesar desta altíssima produtividade, cerca de 1/3 dos trabalhadores faz hora extra e trabalha aos sábados. A hora extra durante a semana equivale a 70% e o trabalho no sábado a 110 % sobre o valor da hora normal. No sábado a jornada vai das 7:30 às 17h, com meia hora para almoço. O adicional noturno corresponde a 40% da hora diurna. Como toda máquina, o corpo humano tem sua “vida últil”, ao fazer horas extras, trabalhar à noite e aos sábados, domingos e feriados. Os que sobrevivem aos acidentes de trabalho derivados destas jornadas extenuantes, têm sua “vida útil” abreviada. Muitos trabalhadores se submetem a fazer estes malabarismos perigosos para poderem pagar suas contas regulares e até satisfazer alguns sonhos de con-

sumo como estudos em faculdades privadas, aparelhos celulares, notebooks, tvs de última geração, automóveis, todos pagos ao custo de escorchantes endividamentos. Não seria por demais lembrar que nem todos estes bens de consumo juntos e entregues em um só mês para cada proletário pagariam os R$ 193.600,00 que ele gera em riquezas. ESFORÇO REPETITIVO E POLUIÇÃO SONORA A primeira coisa que Carlos recebeu ao entrar na fábrica foi um fone protetor de ouvidos. A poluição sonora é literalmente ensurdecedora, devido ao barulho produzido por todas as máquinas reunidas, mas sobretudo pela recicladora de matéria prima. Para produzir cada peça na máquina são necessários oito movimentos, portanto, ao final do dia em frente à soldadeira serão realizados no mínimo 6.400 movimentos repetitivos. Depois do primeiro dia de trabalho, Carlos não acreditava que teria costas para voltar no dia seguinte. Quase não teve. As dores musculares são insuportáveis. Principalmente nas costas, pernas e pés. Alguns não voltam para trabalhar em algum dia seguinte da primeira semana, outros “pedem para sair”. Mas com o passar do tempo à dor vai sendo absorvida e os músculos se adaptando a um novo condicionamento. Isto demonstra o quanto o corpo humano é moldável e, em particular, como pode ser condicionado pelo capitalismo. Na hora do almoço dos turnos que abrangem o meio dia, dividido em três tempos de uma hora cada, não é raro ver “corpos” fatigados deitados de qualquer forma sobre os pallets. APRENDER PARA SUPERAR A ERA LULISTA E CONSTRUIR O PARTIDO TROTSKISTA DO PROLETARIADO Sentindo mais intimidade Carlos perguntou a Sebastião em quem ele tinha votado nas ultimas eleições para presidente. Ele respondeu que na candidata do Lula. Carlos perguntou por que ele não votou em outro candidato. Sebá respondeu que não votava no outro candidato. Carlos insiste e pergunta se a rejeição é ao candidato ou do partido dele. Até então a conversa foi simples assim mesmo, sem a precisão do nome de Dilma, Serra, PT ou PSDB. O operário veterano responde que nunca votaria nele nem no partido dele. Por que? perguntou Carlos. A resposta também foi simples: “porque desde antes eu voto no Lula, porque o PT é o partido dos trabalhadores e o outro é o partido dos ricos.” Carlos faz uma ressalva de que o PT não é mais aquele de antes. Sebá reconhece: “é verdade, andaram fazendo umas coisas mesmo, mas até eu que sou meio bestinha se virassem as costas faria umas coisas destas para mim também”. Outro dia, quando Sebastião resmungava com o serviço, Carlos perguntou se a fábrica já teria passado por alguma greve. Ele respondeu que nunca houve greve naquela empresa. De certo modo, isto explica o baixo nível de consciência política do trabalhador desta fábrica. Não tratamos aqui do aspecto sindical desta experiência fabril. Justamente por saber que, depois do próprio Estado capitalista, os sindicatos pelegos são os principais cúmplices desta escravidão, é que nos resguardamos, entendendo que ainda não é hora de nos deixarmos mostrar para estes traidores da classe em um confronto político aberto. Nos limitamos a dizer que se trata de uma categoria dirigida pela burocracia cutista, por uma mesquinha e lambe-botas camarilha que já pertenceu à ala esquerda desta central e se alojou comodamente no seio da Articulação na década de 1990, tornando-se um importante sindicato operário da CUT em São Paulo no governo Lula. Hoje desvia boa parte de sua “luta” para as questões ambientais e de opressões secundárias (sem obviamente deixar de fazer vista grossa para a burla patronal da legislação que determina salário igual para trabalho igual como denunciamos acima), deixando os patrões com as mãos livres para exercer a opressão de classe principal. Dentro da fábrica é profunda a desconfiança dos operários com o sindicato, que se encontra inteiramente a serviço dos patrões, emO Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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penhado em fazer valer a colaboração de classes corporificada na propaganda triunfalista das miseráveis “conquistas” da convenção coletiva assinada em 2010. Apesar da importância deste ramo produtivo, não existe nenhuma oposição da CSP-Conlutas ou da Intersindical na categoria. E não existe perspectiva de que venha a se desenvolver porque, como se viu nos critérios do Conclat e na politica de rotina destas centrais, a orientação é não incomodar os feudos já constituídos das centrais governistas e pelegas para que não se metam em nossos feudos, não apostar nas oposições de base como método de construção, mas no fracionamento dos aparatos sindicais já burocratizados. Nosso objetivo, neste momento, não é a luta sindical, mas, antes de tudo, aprender para “fundamentar com solidez nossas teorias” acerca da luta operária. Apenas estamos engatinhando neste terreno, superando os nossos “sonhos e fantasias prós e contra” o trabalho militante na única classe capaz de derrotar a escravidão da barbárie imperialista. Temos a certeza de que apesar deste pequeno instante desfavorável na luta de classes, construiremos o partido mundial da revolução socialista. Como nos ensinou Rosa, “venceremos desde que nós não tenhamos desaprendido a aprender”, para dar maior legitimidade e consistência à nossa luta por construir o partido comunista e revolucionário da classe operária. CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 27

POR TRÁS DO “NÃO À INTERVENÇÃO IMPERIALISTA”, 100% DE APOIO AOS GOLPISTAS QUE REIVINDICAM A INTERVENÇÃO DA OTAN No balanço que realizou sobre a Conferência, a EMPT apresenta do seguinte modo a intervenção da companheira da LC: “O discurso foi seguido por uma sessão de perguntas e debate, durante o qual alguns sectários descontentes tentaram, sem sucesso, provocar o palestrante sobre o tema da Líbia mais uma vez, buscando ligar o posicionamento de Chávez com a posição da Corrente Marxista Internacional... Os sectários haviam declarado que a posição correta para os marxistas deveria ser a de fazer uma frente única militar com Gadafi contra os imperialistas.” (Alan Woods fala sobre a crise capitalista mundial e a revolução árabe na USP, site da EMPT, 07/04/2011). http://www.marxismo.org.br/index. php?pg=artigos_detalhar&artigo=735; http://www.marxist. com/brazil-alan-woods-university-sao-paulo.htm. No desespero de não se contrapor à opinião pública imperialista anti-Gadafi, a corrente de Woods trata de repudiar qualquer suspeita de tentarem identificar suas posições incondionalmente anti-Gadafistas com as de Chavez sobre a Líbia e mente de forma descarada, acusando a Liga Comunista de “buscar ligar o posicionamento de Chavez com a da CMI”. Na verdade, como fica evidente no vídeo, o que a EMPT acusa de “provocação” foi o fato da LC ter desmascarado que por trás do “não À intervenção imperialista na Líbia” de Woods está o seu apoio aos golpistas que reivindicam a intervenção imperialista. Fica evidente pelo balanço feito pela EMPT quem são os verdadeiros sectários no debate, quem usa métodos burocráticos contra seus adversários esquivando-se sequer de nominá-los. Todavia, tomamos como elogio sermos acusados de sectários pela corrente que por décadas liquidou o trotskismo na Inglaterra na condição de ala esquerda do imperialismo laborista, a corrente oportunista que já há 20 anos considerava “sectário” denunciar o saque cometido pela sua própria burguesia imperialista sobre a população trabalhadora inglesa. Se nós da Liga Comunista somos sectários, a “internacional” de Woods é algo estranho ao marxismo revolucionário e nós da LC buscamos criar um Partido Mundial dos Trabalhadores que em nada se assemelhe a esta prostituição do marxismo a serviço do imperialismo.

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igualmente anda reprimindo as greves foi uma vitória revolucionária, com o que concorda o PSTU, também a direção sindicalista do PSTU no Ceará conduz os operários a voltar para casa em troca de uma miséria que nem cócegas faz ao patronato das imobiliárias do Estado. O crescimento de um país é dado pelo rendimento do trabalho, e o crescimento do Brasil nos governos Lula e Dilma se baseia na superexploração dos trabalhadores. As grandes obras do PAC não trazem nenhum benefício para os trabalhadores e tampouco para as populações das regiões em que são implementadas. Seu fundamento é repassar dinheiro para as construtoras e empreiteiras financiadoras de campanhas, como Gerdau, Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS, entre outras. Dos 113,9 milhões de reais que o Diretório Nacional do PT recebeu em doações durante a campanha eleitoral, 51,1milhões (quase metade!) vieram de 43 empresas que mantém contratos com a administração pública este ano, em sua maioria empreiteiras que participam de grandes obras, como as hidrelétricas do rio Madeira, os estádios para a Copa de 2014, etc. Só a Camargo Corrêa, em Santo Antônio e Jirau, já recebeu 13,3 bilhões de reais do BNDES, e continuará recebendo dinheiro estatal, apesar do completo desrespeito aos direitos trabalhistas e humanos, fator que não tem o menor peso ou importância para os negócios do governo Dilma. A partir de agora, o governo está precavido. Os burocratas tentarão se antecipar e impedir que ocorram novas explosões operárias. Não há, porém, como se enganar. Esta foi apenas a primeira onda de revoltas. Novos Jiraus virão, e ainda mais explosivos, devido a dois fatores: 1 – as condições materiais objetivas para as revoltas continuam presentes, ou seja, permanecerão sendo aglomerados em canteiros de obras milhares de trabalhadores de um setor ultraprodutivo, recebendo salários miseráveis e sendo submetidos a condições degradantes de vida e de trabalho; 2 – devido à experiência de luta adquirida por estes trabalhadores, em sua organização coletiva contra os governos e as empreiteiras. Se por um lado os levantes tomaram a proporção que vimos por conta da ausência de direções sindicais pelegas que atuassem no sentido de frear as mobilizações, não é possível crer que apenas o movimento espontâneo das massas motivadas pelas péssimas condições de vida e trabalho e pelos salários de fome conseguirá levar os trabalhadores, nem a conquistas pontuais, e muito menos à expropriação dos capitalistas escravocratas e ladrões que dia após dia lhes extraem a maior parte do valor de seu trabalho. É preciso fundir a revolta proletária latente com uma perspectiva estratégica para estas lutas rumo à estatização destas multinacionais empreiteiras escravocratas sem indenização, o controle delas pelos trabalhadores, lutando por um plano nacional de obras públicas controlado pelos trabalhadores. Nesta luta, inevitavelmente os trabalhadores se chocarão com o governo da madrinha das empreiteiras, enxergando que é preciso estabelecer um governo próprio da classe operária, convertendo a luta atual, massiva, mas ainda não nacionalizada, em insurreição pela tomada do poder. Luiza Freitas


PRIMEIRAS REVOLTAS CONTRA A SUPEREXPLORAÇÃO NAS OBRAS DO PAC

Organizar a luta nacional do proletariado contra as empreiteiras e o governo Dilma

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em bem começaram as mega obras infraestruturais prometidas pelo governo Dilma - que venceu as eleições como a “mãe do PAC”, mas que na verdade é madrinha das empreiteiras e madrasta dos trabalhadores do PAC contra os quais lançou o aparato repressivo e em seguida seus burocratas sindicais sabotadores de luta - e já vimos explodirem por todo o país manifestações de descontentamento em que os operários se recusam a ser escravizados. Condições degradantes de alojamento, alimentação e saúde em que surtos de malária simplesmente estavam sendo ignorados, jornadas extenuantes de trabalho sete dias por semana com apenas uma semana de “folga” por semestre para rever os familiares, maus tratos e violência física inclusive com torturas e choques elétricos, são o cotidiano dos milhares de trabalhadores das obras do PAC das usinas de Santo Antônio e Jirau no estado de Rondônia e dos portos de Pecém e Suape nos estados do Ceará e Pernambuco, respectivamente. Mais que desrespeito aos direitos trabalhistas assegurados pelas leis burguesas, que já são mínimos e regulamentam a exploração capitalista, os trabalhadores do PAC estão submetidos ao trabalho escravo. A radicalidade vista nas revoltas, principalmente nas obras da hidrelétrica de Jirau onde os trabalhadores queimaram 45 ônibus e destruíram todos os alojamentos, é uma reação à brutalidade das condições de vida e trabalho impostas a estes operários. Esses levantes dos trabalhadores, que levaram à paralisação das obras que são “a menina dos olhos” do governo Dilma, trazem à vista de todos as condições materiais nas quais está embasado o desenvolvimento econômico e o discurso governamental de geração de empregos e desenvolvimento do “Brasil potência”. Esse tipo de contratação terceirizada e extremamente precarizada, reproduzida em todas as obras do PAC, em que os trabalhadores são superexplorados e vivem em situação comparada à dos campos de concentração nazistas é correspondente à forma de acumulação de capital, na verdade de transferência dos fundos estatais para os capitalistas, que é desferida sem qualquer preocupação com os trabalhadores ou com as comunidades atingidas pelas obras. Não é coincidência que a mesma situação se repita de norte a sul do país, em todas as obras do PAC. A imprensa e as Centrais sindicais colocam a culpa na forma obscura de contratação por meio de “gatos”, quando na verdade o problema reside no fato de ser necessário estabelecer um sistema escravocrata de exploração da força de trabalho e o alistamento ilegal, frente às regras burguesas estabelecidas constitucionalmente, deste sistema é só um acessório. A questão é bem mais profunda e supera as análises simplistas que põem todo o peso sobre fatos de menor importância, como a existência dos “gatos” ou as ridículas diferenças entre os salários de fome dos trabalhadores do mesmo canteiro de obras (CUT, CTB e Força Sindical). Trata-se, sim, de um “modus operandi” em que o Estado capitalista, longe de manter uma atitude “passiva” diante da superexploração nas obras públicas, como explicam setores da esquerda reformista, como a CSP-Conlutas e o PSTU, atua favorecendo as empreiteiras escravagistas através de gordos subsídios, isenção de impostos, e fornecimento de mão-de-obra bara-

Assembléia dos operários da usina de Jirau

ta, tudo isso sem contar o papel fundamental das centrais sindicais atreladas ao governo, convocadas sempre que há alguma revolta operária para “apaziguar” o cenário e manter a produção. A CSP-CONLUTAS E O PROLETARIADO DA CONSTRUÇÃO CIVIL Segundo a Conlutas “o que estamos assistindo nestas manifestações é a explosão de milhares de trabalhadores contra uma situação intolerável, fruto do abuso das empreiteiras, da omissão do Estado e de uma prática sindical de colaboração de classes e atrelamento destes dirigentes aos governos” (Greves paralisam obras do PAC, Atenágoras Lopes, dirigente da CSP-Conlutas, 07/04/2011). Quem alimenta a ilusão de que o Estado capitalista resolverá os problemas criados por ele mesmo, não concebe que o Estado é o “comitê gestor dos negócios da burguesia”. Portanto, o governo Dilma não seria direcionado para promover este tipo de acumulação capitalista escravocrata, apenas não estaria vendo o que está acontecendo nas suas próprias obras, precisando ser alertado por conselheiros como Atenágoras, a CSP-Conlutas e o PSTU. Quem acredita que o que estamos assistindo é produto do abuso das empreiteiras, acredita que podem haver empreiteiras que não abusem, que sejam “boazinhas” com seus escravos. Quem acredita em tudo isso não será jamais uma alternativa sindical e muito menos revolucionária para a classe trabalhadora contra a colaboração de classes e o atrelamento de burocratas ao governo. Lamentavelmente são estas as concepções que norteiam os sindicatos da Construção Civil de Belém e Fortaleza, dirigidos pela CSP-Conlutas. Concepções assim condenam toda a disposição de luta, da enorme massa de operários que entram em greve nestas cidades, para a derrota em troca de migalhas. O PSTU comparou a ocupação da Praça Portugal em Fortaleza pelos trabalhadoes da construção civil em greve com a ocupação da Praça Tahir no Cairo. Pois bem, nos utilizaremos também da analogia: assim como a oposição burguesa egípcia conduziu os manifestantes de seu país a acreditar que substituir Mubarak por uma Junta Militar que CONTINUA NA PÁGINA 32 O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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CONTRA A TERCEIRIZAÇÃO E PRIVATIZAÇÃO DA USP

No “lixo de Rodas” não dá para trabalhar nem estudar. Construir a Greve Geral na USP! Pelo pagamento direto da universidade para as trabalhadoras, pela efetivação imediata!

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om salários, vale transporte e vale refeição atrasados desde março, centenas de trabalhadoras da empresa Limpadora União, contratada pela Universidade de São Paulo para realizar a limpeza da instituição, entraram em greve. Embora existam homens participando da paralisação, a maioria esmagadora dos grevistas é composta por trabalhadoras. Mobilizadas e em luta, elas deixaram de ser “párias”, “invisíveis” pela comunidade universitária de “classe média”, entraram coletivamente em salas de aula denunciando sua situação para estudantes e professores, e marcharam em protesto dentro do campus em direção à Reitoria para exigir que lhes pagem pelo menos a miséria pela qual foram contratadas. O governo do mais rico estado do país, juntamente com a reitoria da maior universidade pública sul americana e os picaretas capitalistas donos da empresa “União”, realizaram um jogo de empurrar a culpa um sobre o outro enquanto as trabalhadoras padecem sufocadas em dívidas. A causa do problema não reside em atropelos burocráticos ou jurídicos, mas na política do governo tucano e do Reitor Grandino Rodas, de redução dos custos com a universidade através da superexploração dos trabalhadores, subcontratando mão de obra de seus “amigos” como o burguês dono da empresa “União”. Esta situação é a forma mais extremada de como os patrões roubam os trabalhadores. O trabalhador comum, só por trabalhar para o patrão já é vítima de um roubo, uma vez que os trabalhadores sempre recebem bem menos do que a riqueza que produzem, ou no caso, do valor do serviço que realizam. E os trabalhadores terceirizados são roubados duplamente, pois o patrão terceirizador é um atravessador que subcontrata a mão de obra, recebe um valor do patrão principal, no caso da USP, mete grande parte do dinheiro que recebe no bolso e paga para a companheira terceirizada um salário de fome. A direção da USP lucra nesta história por não ter que pagar às trabalhadoras terceirizadas nenhuma das conquistas da classe trabalhadora em geral e nem as que foram conseguidas por décadas de lutas dos trabalhadores efetivos da USP. Como todo patrão, o dono da “União” é um sujeito ganancioso que não se contentou com o que ganha e resolveu ganhar mais aplicando dois golpes, ou seja além de não pagar o que deve ao Estado, não paga o que deve às terceirizadas. Por isto dizemos que a situação das companheiras trabalhadores da União é o cúmulo da exploração, é a escravidão. Certamente que o Reitor Rodas sabe de tudo isto que estamos denunciando e muito mais, mas comete estas atrocidades porque sai lucrando com isto. Mas, no capitalismo, os que roubam dos trabalhadores não são punidos, pelo contrário, são muitas vezes premiados por sua “esperteza”, por aumentar a lucratividade. Mas, se por acaso estas mesmas companheiras funcionárias da União, que este mês não receberam nem o miserável salário que lhes é devido, e desesperadas vão ao supermercado pegar comida e não pagam, seriam imediatamente espancadas pelos seguranças do supermercado, pela PM, seriam humilhadas e presas, como centenas de mulheres que hoje estão presas por expropriarem comida ou gêneros de primeira necessidade. O repasse emergencial dos 30% à União ou a contratação de outra terceirizadora para a limpeza não passam de paliativos que em nada resolvem o problema das trabalhadoras ou mesmo da manutenção da universidade. Elas continuam reféns do empresário que tanto pode desaparecer com o dinheiro, prática comum dos capitalistas, como tendem a ser dispensadas quando o contrato for rescindido. Além desta instabilidade do

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Marcha de protesto das trabalhadoras da terceirizadora “União” pelo campus Butantã da Universidade de São Paulo

emprego, continuarão com os salários e condições de trabalho humilhantes e miseráveis mesmo em comparação às péssimas condições dos efetivos da USP. Por sua vez, o Sindicato dos terceirizados da limpeza de São Paulo, SIEMACO, é uma entidade aliada dos patrões, filiado à UGT, uma central sindical ligada ao PSDB, não por acaso, o mesmo partido do governo Alckmin. Este Sindicato, em vez de representar as companheiras em luta, reuniu-se com a Reitoria sem permitir que elas elegessem uma comissão de negociação de base para participar da reunião, opondo-se também a que o Sindicato dos trabalhadores da USP (Sintusp) participasse da negociação. GREVE GERAL CONTRA A TERCEIRIZAÇÃO ESCRAVAGISTA! A imprensa atacou a paralisação, culpando-a pela sujeira da universidade, quando, na verdade, sujas são as mentiras da mídia patronal contra o movimento e os acordos entre a Reitoria e as terceirizadoras, baseados na perversa e humilhante superexploração das bravas trabalhadoras da limpeza. Em alguns cursos, os estudantes reunidos em assembléia tiraram apoio ativo a greve. O DCE (MES/PSOL) e a ADUSP (professores que defendem as posições políticas do PT, PCdoB e PSOL mas evitam assumir filiação partidária porque pensam ser “livres pensadores”) não podem simplesmente fingir-se de mortos, precisam mobilizar os estudantes e professores para apoiar esta luta. A ANEL, CSP-Conlutas, Intersindical devem cobrir de solidariedade esta luta e colocar toda sua estrutura militante e material a serviço do combate a terceirização escravagista na USP. O Sintusp precisa impulsionar uma ampla campanha pela efetivação imediata, sem concurso público, de todos os terceirizados na universidade e pela readmissão dos 271 efetivos demitidos em janeiro de 2011, demitidos justamente para precarizar e privatizar ainda mais as relações de trabalho dentro da universidade. Para isto é necessário construir a Greve Geral da USP. O primeiro passo para isto é que não seja dado mais um centavo dos cofres da universidade para os picaretas da “União”. Que o pagamento do salário, vale transporte e alimentação devidos, seja feito de imediato, diretamente da USP às companheiras terceirizadas! Esta luta é parte do combate para que o conjunto dos funcionários, estudantes e professores da USP destituam a casta de burocratas da burguesia e passem a controlar a universidade para colocá-la verdadeiramente a serviço dos interesses da maioria da sociedade, a população trabalhadora!


Documento escrito pelos Trabalhadores em Educação do Centro de Ciências Humanas/UFMA, apresentado em Assembléia Sindical, e divulgado amplamente para toda a comunidade acadêmica da UFMA. Um basta às relações pautadas em um regime de castas arraigado na estrutura da Universidade Pública.

CARTA ABERTA À COMUNIDADE ACADÊMICA DA UFMA

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ós, Técnico-Administrativos em Educação do Centro de Ciências Humanas, da Universidade Federal do Maranhão, vimos a público expor à comunidade acadêmica da UFMA a seguinte situação: tem se tornado cada vez mais corriqueira a “devolução” de funcionários à Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFMA por parte das chefias, que geralmente alegam “improdutividade”, “falta de esmero em tarefas”, até mesmo “falta de ética” no exercício das funções dos “devolvidos”. O que poucos sabem é que muitos são os cargos existentes entre os Trabalhadores em Educação: assistente em administração, técnico de laboratório, técnico em assuntos educacionais, jardineiro, técnico em arquivo, motorista, contínuo, digitador, eletricista, servente, sendo que muitos destes estão sendo ou já foram extintos. Para melhor compreensão sobre o assunto: quais são as atribuições de um Técnico em Assuntos Educacionais? Porventura seria receber e entregar documentos? Atender telefone? Anotar recados? Digitar ofícios? Providenciar passagens para professores? Não. Um TAE deveria coordenar atividades de ensino, planejamento e orientação, elaborar projetos de pesquisa e/ou extensão, orientar pesquisas acadêmicas, trabalhar com planejamento acadêmico, ou seja, realizar atividades de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão. Mas nossa realidade não é esta. Nós, Técnico-Administrativos em Educação, deveríamos desempenhar atividades compatíveis com as atribuições dos cargos para os quais prestamos concurso público, mas comumente assumimos ou acumulamos funções de outros TAE’s (assistente administrativo, contínuo, auxiliar operacional, secretário, etc) em decorrência da carência destes profissionais na Universidade, o que acarreta sobrecarga de trabalho, maior cobrança e super-exploração daqueles que estão na ativa. Em alguns casos, o setor não dispõe de, nem mesmo, UM Técnico, e são estagiários ou tercerizados que atendem ao público insatisfeito com diversas situações da Universidade (não somente questões acadêmicas), resolvem problemas redigindo documentos e encaminhando a setores competentes, orientam o público para a resolução de problemas, ou seja, assumem responsabilidades que estão além de suas atribuições, carregando um setor nas costas. Milhares de trabalhadores encontram-se nesta mesma situação nas Instituições Federais de Ensino Superior, já que o Governo Federal nunca abre concurso que supra a imensa necessidade de funcionários nas IFES. O resultado é um desvio de função em massa dos profissionais das Universidades: somos técnicos em assuntos educacionais, comunicólogos, mestres em edificações, assistentes administrativos, técnicos em tecnologia da informação, dentre outros, todos DENOMINADOS por “SECRETÁRIO” ou “MEU SECRETÁRIO” e devemos “empregar esmero nas nossas TAREFAS”. Conseqüentemente, por sentirem-se desvalorizados, muitos de nossos colegas desenvolvem diversas doenças de cunho emocional e, quando “não servem mais”, são rechaçados, descartados como objetos, “remanejados” como bens móveis de um setor para outro. Casos não isolados ou particulares e que não se dão por acaso. Ataques de professores e alunos que não sabem a razão pela qual faltam gente e material adequado para atendê-los em suas atividades de ensino, pesquisa, extensão e administrativas não são novidade para nós. O que acontece com muitos de nossos colegas é problema nosso. De todos nós, Trabalhadores em Educação. É problema da Universidade

como um todo. E como a bomba do REUNI estourou em nossas mãos: a demanda de trabalho cresceu absurdamente, a qualidade dos serviços oferecidos pelas IFES ficou prejudicada, posto que as universidades foram expandidas, mas quase nada é investido pelo Ministério do Planejamento em contratação de técnicos e docentes, prédios são erguidos sem previsão de concursos públicos para suprir esta carência; colegas nossos trabalham em coordenadorias que administram dois cursos (exemplo: Artes Visuais e Educação Artística, Geografia Bacharelado e Geografia Licenciatura); terceirizados passaram a trabalhar até mesmo nos fins de semana para limpar e organizar os prédios; estagiários são cobrados como se fossem efetivos, recebendo um “auxílio” da Reitoria de R$ 200,00. Enquanto isso, através do PROUNI, o Governo Federal aplica nas universidades particulares o recurso que deveria direcionar às públicas, pagando milhões para os tubarões do ensino cederem algumas bolsas a poucos indivíduos carentes em vez de investir no acesso de todos aqueles que queiram ingressar no Ensino Superior Público. Diante de todos estes problemas, ainda somos obrigados a tolerar práticas de assédio moral que já foram cristalizadas na nossa Universidade? Somos imprescindíveis para a construção da Universidade Pública de qualidade pela qual todos em discurso dizem tanto prezar, mas ficam completamente alheios à precarização de trabalho pela qual passam os profissionais das IFES. Estudantes, técnico-administrativos (terceirizados ou não) e docentes: nossa necessidade histórica de união e organização faz-se cada vez mais urgente! TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS DO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS TRABALHADORES DE BASE DA UFMA

Moção de apoio dos Trabalhadores de Base da UFMA à luta dos trabalhadores efetivos e terceirizados da USP

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ós, Trabalhadores de Base da UFMA, somos um grupo de Técnico-Administrativos em Educação da Universidade Federal do Maranhão que faz oposição ao SINTEMA, Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFMA, entidade politicamente dirigida pela CTB. Também sentimos na pele as políticas do governo federal de trabalho precarizado, salários defasados e humilhações aprofundadas por meio do REUNI, projeto executado pela Reitoria da UFMA. Nos solidarizamos prontamente com a luta das companheiras terceirizadas da Limpadora União, dos efetivos demitidos pela USP em janeiro e dos trabalhadores da Reitoria da USP ameaçados de transferência arbitrária. Exigimos que a Reitoria da USP imediatamente proceda o pagamento dos salários das companheiras rumo à contratação das mesmas diretamente pela própria universidade, reincorpore os demitidos e não aumente o sofrimento de seus funcionários submetendo-os a trabalhar em lugar mais distante de seus locais de moradia. São Luiz, 19 de abril de 2011 TRABALHADORES DE BASE DA UFMA

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BRASIL 1964 – LÍBIA 2011

Liquidar a máquina de guerra repressiva contra a população trabalhadora, aprimorada desde a ditadura militar e em pleno funcionamento contra nossas lutas hoje!

À esquerda, a “Operação Brother Sam”, a frota imperialista cerca a costa brasileira preparada para entrar em ação caso os golpistas nativos não tivessem força para destituir Jango. À direita, como os golpistas líbios não conseguiram derrotar Gadafi, o imenso aparato militar dos EUA/OTAN entrou em ação.

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m abril de 1964, um setor das forças armadas brasileiras realizou um golpe de Estado, que na época denominou de “Revolução”, contra o governo João Goulart. O golpe, articulado pela CIA, foi apoiado amplamente pelos setores mais reacionários da sociedade brasileira, como os monarquistas (da família Orleans e Bragança), e fundamentalistas católicos da TFP. Foram realizadas manifestações de massa com milhares de pessoas nas “marchas com Deus pela família e pela liberdade”. Alguns setores da juventude de direita conformaram o Comando de Caça aos Comunistas e pegaram em armas contra a militância estudantil que na época apoiou Jango e lutou contra a ditadura. Através da “Operação Brother Sam” os EUA cercaram a costa brasileira com sua frota e se prepararam para invadir o país caso os golpistas nativos não tivessem força para destituir Jango. A operação consistia no envio de 100 toneladas de armas leves e munições, navios petroleiros com capacidade para 130 mil barris de combustível, uma esquadrilha de aviões de caça, um navio de transporte de helicópteros com a carga de 50 helicópteros com tripulação e armamento completo, um super porta-aviões da categoria Forrestal, seis destroieres, um encouraçado, além de um navio de transporte de tropas, e 25 aviões C-135 para transporte de material bélico. Uma “ajudinha” aos golpistas nacionais de grande porte bélico, mas relativamente pequena se comparada ao imenso aparato destruidor da OTAN que bombardeia por semanas a Líbia. Como isto ainda não se mostrou suficiente para derrotar Gadafi,Obama declarou que está enviando mais armamentos pesados para os “rebeldes” líbios, que já vinham recebendo armas antes do início da “guerra civil”, além de disponibilizar um contingente maior de “instrutores militares” do Pentágono, que atuam lá como atuaram cá. Nestes, como em todos os golpes de Estado, os acontecimentos similares não são mera coincidência, fazem parte do esquema imperialista por recolonizar e disciplinar suas semi-colônias. O golpe no Brasil, como na Bolívia em 1964 (Barrientos) e na Argentina 1966 (Onganía), foi uma medida de contenção das aspirações autonomistas de um setor das burguesias nativas semicoloniais, animadas com o período pós-guerra, em que desenvolveram uma limitada indústria nacional substitutiva das mercadorias que até a II Guerra eram

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importados da Europa. Também estava orientado a conter o contágio continental da Revolução Cubana ocorrida em 1959 e, de uma forma preventiva, combater o ascenso do movimento operário mundial que teve seu pico em 1968. Vale destacar que também na Indonésia, influenciada pelas revoluções chinesa, coreana e a vietnamita ainda em curso, o imperialismo desferiu um sangrento golpe militar em 1967. O golpe dos “revolucionários de primeiro de abril” representou o recrudescimento da repressão política a serviço do aumento da mais-valia sobre o proletariado e da pilhagem imperialista sobre as riquezas nacionais, do mesmíssimo modo como o governo Obama e o imperialismo europeu querem fazer na Líbia por trás do suposto combate à tirania de Gadafi. O “FORA JANGO!” DO EX-TROTSKISTA DE ONTEM E O “FORA GADAFI!” DOS PSEUDO-TROTSKISTAS DE HOJE De fato, houve três golpes dentro do golpe. Em um primeiro momento a direita civil se juntou aos golpistas. Parte do empresariado e dos governadores dos estados mais ricos da região sudeste do Brasil, como os do leste da Líbia hoje, e a quase totalidade da mídia nacional e internacional, articularam “a revolução” contra a “tirania de Jango”, juntamente com os militares que romperam com o presidente. Alguns órgãos de mídia, como a Folha de São Paulo, disponibilizaram não só suas redações como também seus automóveis e caminhões a serviço da tortura. O editorial do jornal Correio da Manhã de primeiro de abril de 1964, escrito pelo ex-trotskista Edmundo Moniz, em parceria com Carlos Heitor Cony (hoje editorialista da Folha de São Paulo) e Otto Maria Carpeaux, exigiam o “Fora!” pedindo a deposição de Jango, contra a “guerra fratricida” pela qual o presidente seria o principal responsável, e em defesa das “liberdades democráticas”. Hoje, são os pseudo-trotskistas (CST/ UIT, PSTU/LIT, LER/FT, etc) que defendem o “Fora Gadafi!” contra a guerra fratricida cujo principal responsável seria Gadafi e não os golpistas agentes da CIA, e em “defesa das liberdades democráticas” a serem alcançadas por meio da “queda revolucionária” de Gadafi. Guardadas as diferenças de cada situação, tanto a posição de ontem do ex-trotskista Moniz como a de hoje dos pseudo-trotskistas, favorecem


abertamente a campanha midiática golpista do imperialismo na Líbia. No dia três de abril de 1964, há exatos 47 anos, Lindon Gordon, embaixador dos EUA no Brasil, parabeniza Carlos Lacerda: “Vocês fizeram uma coisa formidável! Essa revolução sem sangue e tão rápida! E com isto pouparam uma situação que seria profundamete triste, desagradável e de consequências imprevisíveis no futuro de nossas relações, vocês evitaram que tivessemos que intervir no conflito”. Mas, algum tempo depois do primeiro golpe, foi desferido um segundo, quando os militares “cortaram as asinhas” dos setores civis, candidatos a uma suposta eleição pós-Jango, eleição esta que Lacerda contava como ganha. Foi neste momento que vários apoiadores civis do golpe reconsideraram suas posições, incluindo os “golpistas” do Correio da Manhã. O terceiro golpe foi quando a “linha dura” militar, mais ligada ao imperialismo e a Escola (de golpes) das Américas, decretou o AI-5 para restringir mais brutalmente os direitos civis e chegou a executar por meio de um “acidente aéreo” o general “vacilante” Castelo Branco, primeiro presidente do regime militar. O combate contra o recrudescimento do regime militar não se deu de forma consequente através dos movimentos guerrilheiros rurais (AP-MNR em Caparaó, PCdoB no Araguaia) ou urbanos (AP, MR-8, ALN, VPR, VAR-Palmares, POLOP, MOLIPO, PCBR, FALN, POCCombate) que por mais heroicos que tenham sido, e cujos mortos reivindicamos como nossos mártires, não ofereceram uma forte resistência ao regime, como o fizeram as jornadas de greves operárias em 1968 (cujo principal foco nacional foram Contagem/MG e de Osasco/SP) e 1978-1979 (ABC paulista), e de um modo limitado as mobilizações estudantis do mesmo período. Os marxistas revolucionários, ainda que possam recorrer taticamente à guerra de guerrilhas na luta militar contra a burguesia, têm como estratégia a organização de massas do proletariado e do campesinato pela tomada do poder, e não a do foco guerrilheiro, que isola os melhores combatentes da luta anticapitalista das massas. Por isso, é uma tática equivocada, derivada de uma política não proletária nem marxista que ceifou a vida de valorosos combatentes como Marighela e Lamarca, só para citar os mais conhecidos em meio as centenas de militantes executados pela ditadura. Na luta contra a ditadura militar como contra o golpismo de hoje na Líbia, é preciso organizar a população trabalhadora por seu lugar de trabalho, estudo e moradia e reivindicar o armamento de todo o povo que pode lutar na mesma trincheira militar de Jango e Brizola, Sukarno, Saddam Hussein ou Gadafi, sem lhes emprestar nenhum apoio político, sem capitular ao nacionalismo burguês e os responsabilizando pela política burguesa colaboracionista que pavimentou o caminho do golpe pró-imperialista. DE SARNEY A DILMA, A DITADURA “DEMOCRATIZADA” A atual democracia burguesa é um avatar, uma “encarnação mítica” da ditadura do capital. Quando necessário, como se vê em qualquer greve ou manifestação de resistência dos explorados contra a ditadura capitalista, a democracia mostra os dentes, rompe com a legalidade constitucional, esmaga os direitos civis e democráticos, como na invasão policial das UPP’s nos bairros proletários do Rio de Janeiro, na repressão as lutas contra o aumento das passagens nos transportes e, neste exato momento, contra as greves operárias realizadas pelos trabalhadores das obras do PAC em vários locais do país. Dilma, a “mãe do PAC” e ex-guerrilheira, é hoje quem assume a condição de gestora dos negócios da burguesia e desfere contra os trabalhadores e as trabalhadoras o ataque que ela combateu quando era militante da Organização Revolucionária Marxista - Política Operária, conhecida como

Editorial do Correio da Manhã de 01/04/1964 reivindicando o Fora Jango, no qual o ex-trotskista Edmundo Moniz colaborou. Hoje os pseudo-trotskistas pedem o “Fora Gadafi!”

Polop. É o atual governo do PT-PCdoB-PMDB e cia, composto por vários ex-guerrilheiros, o responsável por dar uma fachada popular e democrática à ditadura capitalista, por ocultar as atrocidades de ontem e de hoje, recusar-se a abrir os arquivos da ditadura militar e a punir os torturadores e militares genocidas, por aprimorar o aparato do Exército, a PF, a inteligência contrarrevolucionária da ABIN, as PMs e os BOPE’s, por praticar a tortura dissimulada contra qualquer pobre preso, por manter trancafiado a serviço do imperialismo e do grande capital a Cesare Battisti, ao dirigente do grupo chileno Frente Patriótica Manuel Rodríguez, Maurício Norambuena, a militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, da Liga dos Camponeses Pobres, dos vários movimentos de sem teto, índios, quilombolas, camelôs, dentre tantos presos políticos tornados reféns do Estado burguês por lutar de alguma forma contra o capitalismo. Nós revolucionários não lutamos contra o golpe militar próimperialista por saudosismo, como se não continuassem hoje no poder os mesmos interesses burgueses que se impuseram ontem e todos os dias contra a nossa classe ou não estivesse em curso o mesmo esquema recolonialista hoje na Líbia. Também não somos indiferentes entre as duas máscaras (democracia ou ditadura) da ditadura do capital, mas acreditamos que a conquista das liberdades democráticas e civis, a apuração profunda e o julgamento de todos os crimes, a punição dos executores e mandantes civis e militares, políticos e empresários capitalistas, que nenhum governo burguês e menos ainda os brasileiros foram capazes de realizar nem realizarão jamais, assim como a destruição de toda a máquina de guerra contra a população trabalhadora a serviço do imperialismo, do Brasil à Líbia, são tarefas dos trabalhadores e estudantes organizados com seus tribunais populares. Estas tarefas democráticas só podem ser realizadas pelo método da revolução permanente, combinando as reivindicações democráticas com as socialistas, rumo à tomada do poder pelos trabalhadores e através da construção do partido mundial da revolução socialista, a IV Internacional. O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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DECLARAÇÃO DA LIGA COMUNISTA AO “FORA OBAMA!” NO RIO EM 20/03

DECLARAÇÃO DA FRENTE ÚNICA CONTRA A PRESENÇA DE OBAMA NO BRASIL

Vamos caminhar hoje até onde pudermos contra Obama e o Imperialismo!

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UA, França, Reino Unido, Canadá e Itália estão bombardeando a Líbia agora, realizando a maior intervenção militar internacional desde a invasão do Iraque. Após a derrota da oposição monarquista pró-imperialista para as forças do governo Gadafi, o imperialismo deu início a um feroz ataque sobre Trípoli pelo controle integral do petróleo líbio, em nome de prestar ajuda “humanitária” para fazer do país um novo Afeganistão ou Iraque. Enquanto isso, no Brasil, o chefe dos carniceiros imperialistas vem posar de estadista democrático no palanque armado por Dilma, PT, CUT, CTB e demais centrais pelegas. CUT e Conlutas (PSTU, PSOL) marcam “atos de protestos” a quilômetros dos cordões policiais do FBI, PF e PM, o que poupará o trabalho do aparato repressivo. Ao mesmo tempo em que “organizam” esta impotente simulação de protesto, PSTU e PSOL emblocam-se politicamente com o próprio Obama, reivindicando o “Fora Gadafi!”. Se estas direções vacilam em protestar contra Obama, o imperialismo, de Trípoli ao Rio, não hesita em reprimir barbaramente. Para intimidar qualquer tentativa de manifestação no dia 20/03, os lambe-botas locais do império, Dilma e Sérgio Cabral, prenderam, nos presídios de Bangu e Água Santa, 13 manifestantes de esquerda que participaram da passeata do dia 18/03 no Consulado dos EUA na capital carioca. 10 deles, militantes do PSTU. Não podemos fingir que protestamos, se deixamos a repressão e a exploração avançar livremente. Na Líbia, defendemos frente única militar com Gadafi, porém sem apoiar politicamente nem confiar no regime de Trípoli, e reivindicando o armamento de todo o povo contra a ofensiva recolonizadora por agentes externos ou internos. No Rio, devemos marchar até o Teatro Municipal para demonstrar, em alto e bom som, nosso rechaço à presença do carniceiro do imperialismo no Brasil, na Líbia, no Iraque, Afeganistão e Haiti.

odos estamos aqui hoje porque dizemos nos opor à presença de Obama no Brasil. Entretanto, alguns parecem ter se esforçado para garantir que os protestos contra o chefe-mor do imperialismo seriam esvaziados. A CUT, Força Sindical, CTB e outras centrais que apóiam Dilma, não colocaram esforço para construir este ato. Achamos que isso tem um motivo político e não que é simples “desorganização”. Já que é Dilma, a chefe do Estado burguês brasileiro, a anfitriã de Obama, os lideres sindicais que apóiam este governo vão fazer de tudo para não “envergonhá-lo” diante do imperialismo. Acreditamos que por nos opormos aos acordos econômicos de Dilma com o imperialismo, não podemos participar dessa sabotagem de dentro do nosso próprio movimento. De forma parecida, alguns setores da oposição de esquerda tem se limitado ao “calendário oficial” proposto pelos burocratas sindicais para frustrar a luta dos trabalhadores. Além de convocar inicialmente um ato ainda mais distante de onde estará Obama (no Largo do Machado, a 8 quilômetros da Cinelândia!) do que este marcado pelas grandes centrais, a CSP-Conlutas, dirigida pelo PSTU e pelo PSOL, não está tomando nenhuma iniciativa para se opor ao rumo que os burocratas querem dar – um ato “só para não dizer que não fizemos nada” e sem nenhuma ousadia. Achamos que isso não é o suficiente para demonstrar nossa insatisfação contra o imperialismo, não apenas no Brasil, mas também no Haiti, no Iraque, Afeganistão e no que está sendo feito na Líbia. Se os burocratas que hoje lideram a CUT e outras centrais governistas não querem se chocar contra o governo, apesar dos claros ataques contra trabalhadores e oprimidos, os verdadeiros inimigos do imperialismo deveriam organizar uma medida que coloque outra pauta na mesa. É a isso que nos propomos, já que outros setores de oposição, como PSTU e PSOL não querem lançar uma ação independente dos capachos de Dilma que lideram as centrais. Existe risco de que hoje essas lideranças nem queiram sair da Glória (concentração do ato marcado pelas grandes centrais, que fica também distante, a quase 2 quilômetros de onde estará Obama), e demais locais de concentração, ou talvez dêem apenas alguns passos, usando como justificativa a repressão policial para nem ameaçar caminhar pela cidade, afastando os manifestantes do chefe imperialista. Achamos que o ato de hoje deve chamar o máximo de atenção inclusive para defender os companheiros de algumas dessas organizações citadas, que foram presos no ato contra Obama na última sexta-feira, e estão até agora presos nas celas do Estado burguês. Hoje chamamos todos a caminhar até onde pudermos! Nós, membros de uma frente composta por trabalhadores e estudantes classistas, organizações revolucionárias trotskistas, organizações de sem-teto, de favelas e de torcedores independentes, nos opomos aos governistas sindicais e seus satélites, que não querem fazer um ato combativo. Queremos que todos os ativistas honestos caminhem conosco num sinal de oposição firme ao imperialismo, ao capitalismo, ao terrorismo e genocídio de Estado e em repúdio a esta sabotagem. Vamos tentar, ainda que sejamos poucos, a ir até onde for possível. Fora Obama do Afeganistão, Iraque, Haiti, Líbia e Brasil! Pela liberdade imediata de todos os presos políticos que lutam contra os assassinos de Estado, inclusive aqueles 13 na justa manifestação da última sexta-feira contra Obama!

Liga Comunista

Frente Única Contra a Presença de Obama no Brasil

Fora Obama da Líbia, Brasil, Afeganistão, Iraque e Haiti! Liberdade imediata para todos os presos políticos da manifestação do dia 18/03 encarcerados por Dilma e Cabral!

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A Liga Comunista agrupou seus militantes de São Paulo e Rio de JaA A Liga Comunista agrupou seus militan-

tes de São Paulo e Rio de Janeiro a partir do dia 19/03, confeccionou faixas e bandeiras, constituiu a “Frente Única Contra a Presença de Obama no Brasil” com organizações de trabalhadores, estudantes e sem teto cariocas: Frente Internacionalista dos Sem Teto, Rede Estudantil Classista e Combativa e Coletivo Lênin, em torno de um manifesto com posições políticas comuns. No protesto, distribuímos o manifesto da frente e uma declaração própria, os quais reproduzimos logo abaixo. Participamos da reunião preparatória para a atividade no Sindipetro no dia 16, da passeata do dia 18 e do ato da Glória do dia 20/03 com oradores da corrente. Nessa última atividade, através de sua militante trabalhadora de São Bernardo do Campo/SP, Nádia Silva, a LC denunciou o retardamento da saída da protesto da Glória em direção a Cinelândia, orquestrado pela direção governista do ato. Denunciou também a sanguinária intervenção militar do imperialismo na Líbia ordenada por Obama a partir do Rio na noite anterior. Nádia chamou uma frente única militar com Gadafi para derrotar os EUA e a OTAN sem apoiar politicamente o governante burguês com o qual as massas líbias logo devem acertar as contas. Em seguida, a companheira ressaltou que a força e a firmeza de nossa marcha naquele dia seria um passo determinante para a imediata libertação dos companheiros presos, caminhando até o teatro municipal, onde estava se realizando mais uma cena da peça teatral imperialista que visa preservar a máscara “democrática” e “popular” de Obama, enquanto o carniceiro bombardeia o povo líbio, a fim de melhor manipular a opinião pública e mais facilmente exercer as façanhas de sua opressão capitalista sobre o planeta. Com atraso proposital, para cansar os manifestantes, finalmente a marcha saiu da Glória em direção à Cinelândia, sempre sendo freada por um combinado da direção do movimento, CSP-Conlutas, CUT, MST, PSTU, PCdoB e PSOL, com a assassina PM fluminense de Cabral até ser completamente contida a três quarteirões da Cinelândia sem a necessidade de nenhum aparato policial bloqueá-la. A direção do protesto covardemente conduziu a manifestação para um beco sem saída politico e logístico, uma vez que o quarteirão onde fomos orientados a parar era uma rua onde a tropa de choque facilmente nos reprimiria, encurralando a todos. Os mesmos dirigentes trataram de nos aterrorizar com argumentos de que “a cavalaria estava na praça” e que haveria um “banho de sangue” se o protesto continuasse,... “PARA NOSSOS PRESOS LIBERTAR, É PRECISO AVANÇAR!” Neste momento, apesar da tentativa de intimidação e do cerco reacionário que a direção do movimento impôs ao setor mais combativo da manifestação, nós polarizamos contra a política colaboracionista com palavras de ordem pela continuidade da marcha anti-Obama até onde fosse possível, inclusive para pressionar os governos Dilma e Sérgio Cabral a libertarem nossos presos políticos reféns da luta antiimperialista, cantando palavras de ordem como “Para nossos presos libertar é preciso avançar”, “Vem vamos embora que esperar não é fazer, quem sabe faz a hora não espera acontecer”; “Por que parou? parou por que?”, “O povo unido é povo forte, não teme a luta, não teme a morte. Avante, companheiros! Essa luta é minha e sua. Unidos venceremos e a luta continua!”. O PSTU orientou sua militância, em crise diante da polarização, a se dirigir para a sede do partido, onde seriam reenquadrados e mais uma vez entorpecidos de que “tudo que era possível fazer tinha sido feito” e que a “atividade foi

http://noticias.uol.com.br/album/110319obama_rio_album.jhtm?abrefoto==36#fotoNav=25.

Site UOL Notícias registra faixa da LC na Glória

plenamente vitoriosa”. Os governistas e os satélites deste bloco conciliacionista foram para casa ou contar vantagem na internet. Diante da sabotagem, a LC, FIST, RECC e CL se dirigiram ao Teatro, onde vieram a se agrupar também as Brigadas Populares, PCR, Morena-CB. As demais organizações se enquadraram completamente naquele momento às orientações conciliadoras que a CUT-PCdoB-Conlutas quiseram impor ao conjunto da manifestação. Após furarmos o bloqueio político da CSP-Conlutas e Cia e, em seguida, o bloqueio policial na Rua Evaristo da Veiga, fomos até a praça protestar, contidos finalmente pelo Batalhão de Operações especiais do Exército de Dilma, protetor do showmício vip de Obama. APESAR DOS PELEGOS, “YES, WE CAN!” PROTESTAR CONTRA OBAMA! A LC e a frente única cumpriram o que convocaram nos seus manifestos e declarações: “Devemos marchar até o Teatro Municipal para demonstrar, em alto e bom som, nosso rechaço à presença do carniceiro do imperialismo no Brasil, na Líbia, no Iraque, Afeganistão e Haiti.” (Declaração da Liga Comunista ao 20/03); “Vamos caminhar hoje até onde pudermos contra Obama e o Imperialismo!” (Manifesto da Frente Única Contra a Presença de Obama no Brasil). Em frente ao Teatro Municipal, os manifestantes fizeram uma barricada política cantando palavras de ordem contra Obama, Dilma, Cabral, o Caveirão e a Globo por todo o tempo que decorreu a farsa montada pelo governo brasileiro em repúdio ao imperador “democrata” carniceiro e seus lambebotas tupiniquins. A LC e outras organizações puxaram várias palavras de ordem como “Fora já, fora já daqui, Obama da Líbia e Dilma do Haiti!” e “Estão no mesmo saco, Obama e caveirão. Libertem nossos presos, abaixo a repressão!”. Os que levaram o “Fora Obama!” até onde suas forças permitiram, não encontraram nenhuma cavalaria e muito menos sofreram o falacioso “banho de sangue” utilizado pelos pelegos para amedrontar a luta anti-Obama. A lição que tiramos desta batalha é que as direções conciliadoras são o maior freio para a luta anti-imperialista e anticapitalista, se esquivam do combate consequente contra a repressão policial, utilizam a prisão de seus companheiros como mero marketing político virtual e desarticulam a luta de massas, o método do movimento operário para obrigar nossos algozes a recuar. Parafraseando o próprio líder imperialista, “Sim, era possível” realizar um poderoso “Fora Obama!” e o corajoso protesto de todos os que queriam protestar na praça da Cinelândia demonstrou isto. O Bolchevique # 4 - Abr-Mai de 2011

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“FORA OBAMA!” NO RIO EM 20/03

Protesto na Cinelândia rompe barreira política imposta pelas burocracias dirigentes da CUT, MST, CTB e CSP-Conlutas ao “Fora Obama!”

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o dia 18 de março, a partir da concentração na Candelária, CUT e CTB boicotaram a passeata de protesto ao Consulado dos EUA no centro Rio de Janeiro contra a presença de Obama. O PSTU e a CSP-Conlutas apostaram neste ato para amortecer a disposição de luta do ativismo, inclusive de parte de sua militância, a fim de evitar um forte protesto no dia em que Obama estaria no país. A serviço do FBI, a PM de Cabral prendeu 13 militantes neste pequeno protesto do dia 18 para intimidar as possíveis manifestações que viessem a se organizar no dia 20 de março. Dois dias depois, quando Obama já se encontrava no Rio de Janeiro, não foi, porém, a truculência dos aparatos repressivos dos lambe botas brasileiros Dilma e Cabral (tanques, o Batalhão de Operações especiais do Exército, Bope, PM e Guarda Municipal) ou a própria máquina assassina do imperialismo montado no Rio (FBI e CIA) o que impediu o avanço da manifestação. Quem freou o movimento a menos de três quarteirões do Teatro Municipal, onde se encontrava o comandante em chefe do imperialismo mundial, principal responsável por toda exploração e violência do mundo, foi a vergonhosa política conciliadora da CUT, Sindipetro, MST, PT, PCdoB, PSTU, PSOL e CST/Unidos que levou os manifestantes a um beco sem saída, literalmente encurralando-os para depois “serem forçados” a dispersá-los, e tomar o caminho de casa.

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