LINCE JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALIMO NEWTON | Nº 66 | 1o semestre 2016
TRADIÇÃO ALIADA À INOVAÇÃO | PÁGINAS 6 E 7
IVAN DRUMMOND CONTA SUAS ESPERIÊNCIAS NA COBERTURA OLÍMPICA
CRESCIMENTO DE DELIVERY NO PAÍS JÁ É UMA REALIDADE
BH TEM NOVO LUGAR PARA DIVERSÃO COM OS AMIGOS
| PÁGINAS 3 A 5
| PÁGINAS 8 A 10
| PÁGINAS 13 A 17
CRÔNICA
Expediente
LINCE
ARQUIVO PESSOAL
JORNAL-LABORATÓRIO DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO NEWTON
EU POSSO SER
FIONA?
ANGÉLICA BORGES
FELIZES PARA SEMPRE? Dessa maneira, tão simples e pura,
PRESIDENTE DO GRUPO SPLICE Antônio Roberto Beldi REITOR João Paulo Beldi VICE-REITORA Juliana Salvador Ferreira de Mello COORDENADORA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO Juliana Lopes Dias EDITOR Professor Eustáquio Trindade Netto
“E, mesmo com meu charme, as
podemos ver como a sociedade vem trans-
pessoas costumavam achar que eu era
formando as pessoas. O erro de todos, e até
um monstro, e eu passei a acreditar
mesmo das crianças, é achar que o
nelas... Mas, depois de um tempo, você
PADRÃO de perfeição que nos é imposto
para de se importar com a opinião das
pela sociedade será sempre o mais certo e o
(Registro Profissional 127/MG)
pessoas e aprende a confiar mais em si
mais bonito. Quem nos garante que o mais
mesmo.” Shrek
bonito é também o mais perfeito?
REPORTAGENS Ana Carolina Santos, Angélica Borges, Bernardo Pimentel, Bruno Daniel, Carlos Alexandre, Daniel Rosenburg, Fabiana Martins, Gustavo Castro, João Edson dos Santos, Leonardo Davi, Marina Galvão, Matheus de Oliveira, Roberta Oliveira, Thiago Silva, Thomas Mendes e Yannick Marcelo. Alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva
Hoje em dia é assim: quantas vezes
A sociedade tem a mania de achar que
perguntamos a uma criança qual princesa
o mais belo sempre será o melhor, mas...
ela gostaria de ser e escutamos os mesmos
Meus caros, arrisco a dizer que não. Nem
nomes sempre? Sim, os nomes das prince-
sempre a fruta mais bela poderá ser uma
sas Cinderela, Rapunzel, Branca de Neve,
maravilha por dentro. Não viram no conto
Aurora, Bela, Mérida, Elsa e Anna estão no
da Branca de Neve? A maçã mais formosa
topo da lista de todas as meninas que
quase foi a culpada por sua morte.
(DRT/MG 02146)
PROJETO GRÁFICO E DIREÇÃO DE ARTE Helô Costa
DIAGRAMAÇÃO Pedro de Paula e Shirley Melo Estagiário do Curso de Jornalismo
sonham ser iguais às principais estrelas dos
O que quero dizer com tudo isso é que
contos. Mas nem sempre ouvimos o nome
não precisamos estar nos padrões de beleza
da Princesa Fiona, aquela princesinha
convencionais para sermos felizes. Não
verde, ogra, que mora num pântano com
precisamos ser iguais aos outros. Podemos
vários bichos e seu marido nada encantado.
ser do jeito que quisermos. Podemos ser
Provavelmente você se esqueceu que ela
princesas, podemos ser fadas, bruxas, rai-
NP4 - Rua Catumbi, 546
também é uma princesa.
nhas. Sim, nós podemos ser Fiona. A prin-
Bairro Caiçara - Belo Horizonte - MG
CORRESPONDÊNCIA
CEP 31230-600
Podemos nos perguntar o porquê do
cesa Fiona também é linda, é até mais linda
esquecimento dessa princesa e o motivo
do que as outras, simplesmente pelo fato de
pelo qual ela não é citada por crianças. Será
deixar tudo que tinha pra trás — inclusive a
pelo fato dela não estar tão dentro dos
forma humana - para ficar com o grande
Este é um JORNAL-LABORATÓRIO da
padrões sociais? Não está no padrão de
amor da sua vida. Ela é capaz de ser a mais
disciplina Laboratório de Jornalismo II.
beleza adequado a uma princesa? Só por
feliz de todas. E olha que, para isso, nem
O jornal não se responsabiliza pelas
que ela arrota na frente de todos, toma
precisou seguir os padrões.
banho de lama e não de espuma? Não está seguindo rumos normais para chegar ao
2
Hoje descobri que posso ser Fiona e não deixar de ser princesa.
Contato: (31) 3516.2734 sugestoeslince@hotmail.com
opiniões emitidas em artigos assina dos e permite a reprodução total ou parcial das matérias, desde que cita das a fonte e o autor.
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o semestre de 2016
entrevista
BRUNO DANIEL
O DONO DE SEIS
OLIMPÍADAS Muito simpático e descontraído, o jornalista Ivan Drummond contou um pouco de suas experiências em coberturas olímpicas
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
3
BRUNO DANIEL,
centro de imprensa pra depois ir para o
LINCE - Aproveitando isso que você
CARLOS ALEXANDRE,
outro lugar. Isso virou um complicador.
falou sobre as dificuldades de locomoção, o
LEONARDO DAVI E
Então, saquei que havia coisas em que
que você pode contar sobre as dificuldades
MATHEUS DE OLIVEIRA
não podia abrir mão do taxi. Resultado:
com o idioma? Pra ser jornalista tem que ter
ia de taxi para os lugares. Por exemplo,
muito jogo de cintura, né?
Em agosto de 2016, a cidade do Rio
um dos ginásios de basquete era em um
Ivan - Ah, tem! Tem uma situação
de Janeiro sediará, pela primeira vez na
bairro distante, que era fora de mão, aí
interessante de Pequim, porque lá nin-
história, os Jogos Olímpicos, repetindo a
não tinha jeito: íamos de ônibus. Mas,
guém fala nada. Ninguém falava inglês,
façanha de abrigar um evento interna-
para voltar e ver outra coisa, já tinha que
só mandarim e pronto! Houve uma situ-
cional de grande porte como em 2007,
pegar um táxi. Então tinha que adminis-
ação assim em Pequim. Eu pegava o táxi
quando recebeu os Jogos Pan-America-
trar essas coisas e ir pegando a maldade.
e passava no help desk. Peguei o táxi, o
nos. Para entender mais sobre os jogos, o
Não teve uma olimpíada que foi fácil
cara coçou a cabeça, falei o nome do
Jornal Lince conversou com o jornalista
nesse ponto. É sempre esse tipo de
lugar, ele olhou, andou dois quarteirões,
Ivan Drummond, do Estado de Minas,
transporte e você depende de agilidade
abriu a porta e me mandou sair, me dei-
experiente em coberturas de Olimpíada,
pra voltar ao centro de imprensa. Esse é
xou no meio da rua por não entender
tendo no currículo, também, a cobertura
o maior problema de olimpíada. Já em
nada. Mostrei a foto que tinha em um
da Copa do Mundo 2014 no Brasil.
Londres havia uma vantagem: a maioria
guia a um policial, e ele me levou a pé a
Vindo de uma família com o berço
das coisas acontecia no Parque Olím-
uns dois quarteirões dali. Eu precisava
jornalístico — é filho e pai de jornalistas
pico, e aí ficava fácil. Eu ia a pé mesmo.
fazer uma matéria da Nike numa rua
—, Drummond formou-se em Jorna-
Em Pequim também havia algumas coi-
chamada ‘não sei o quê’, Hutong. Ou era
lismo na PUC-MG e, ao contrário do que
sas concentradas no Parque Olímpico:
outro nome, Htong, que é favela... Lar-
todos pensam, começou a carreira no
Handebol, ginástica, natação, tênis e
gou-me num lugar que parecia uma loja,
jornalismo policial, ganhando dois Prê-
tal... Era tudo mais próximo.
tinha arbusto, placa, mas era uma esta-
mios Esso nessa categoria (1985 e 1987), e só ingressando no meio esportivo em 1989. Confira a entrevista: LINCE - Como foi a sua primeira cobertura de olimpíada?
ção de metrô. Então, fui até um hotel e LINCE - E no Rio? Será que haverá esses problemas?
lá me explicaram onde era a loja. Atravessei a avenida, fiz o que tinha que
Ivan - No Rio vão concentrar muita
fazer, peguei um táxi e voltei. Às vezes,
coisa em Jacarepaguá, na Barra. Só que
tem que se virar de um jeito ou de outro!
você tem Copacabana, Maracanãzinho,
Ivan - Na primeira, eu já cheguei no
o sambódromo, o Engenhão e Deodoro,
LINCE - E a alimentação em Pequim?
fim, porque não tinha credencial. Então
que é um fim de mundo a 60 quilômetros
Ivan - Passei fome. A salada é igual à
o jornal achou que eu não deveria ir.
do Rio de Janeiro. E eu tenho que ir lá
nossa. Eles comem muito pato e frango,
Mas, faltando dez dias, me arrumaram
pro hipismo, porque é chance de meda-
e eu não como nada que tem pena. Não
uma “Credencial X”, que serve apenas
lha. Não sei quem vai assistir hóquei
desce! No dia em que cheguei, me
para vôlei e judô. Por coincidência,
sobre grama, mas vou ter que ir lá fazer
deram um catálogo que tinha uma
foram dois ouros, um no vôlei e outro no
matéria, porque alguém vai querer saber.
bunda de cachorro. Cheguei depressa,
judô, com Rogério Sampaio. Já em Atlanta eu cheguei antes, já fiquei direto.
disseram que iria ter filé, e eu disse LINCE - Qual foi a sensação da primeira olimpíada?
LINCE - E como foi?
“quero ver esse filé”. Era duas bolas de carne com um ‘trem’ amarelo. Pensei:
Ivan - Olha, normal... Você vai para
não vou comer isso, porque é carne de
Ivan - Cheguei uma semana antes e
trabalhar. Não pensei nada excepcional,
cachorro. No dia seguinte, foi macarro-
resolvi rodar todas as instalações pra
eu tava fora de casa, em outro país.
nada à bolonhesa. E eu disse “não vou
saber como é que se chegava no lugares.
Então, tem que fazer. Tenho obrigação
comer isso, é resto da carne do cachorro
É fundamental estar bem situado, faci-
de mandar um monte de matéria por dia.
de ontem, não é carne de boi. A salada,
lita. Eu tenho que ir daqui pra ali; dali pra cá... Lá tinha um negócio complicado que era assim: inventaram o trans-
como tudo deles, tem pimenta do reino. LINCE - Ansiedade ou emoção você não sentiu?
A comida chinesa da China não tem nada de parecido com a nossa... Tem que
porte de imprensa para quem tinha que
Ivan - Emoção é na hora que toca o
ter estômago forte! Agora, a comida
sair do centro de imprensa para qual-
hino: você desmonta. Vê um brasileiro
grega é igual à nossa. A carne deles é de
quer lugar. Só que, para ir de um lugar
ganhar medalha de ouro é emoção
doido. Tomate vem com recheio de
para outro, você tinha que voltar ao
demais.
queijo e orégano. Na Grécia, passei bem.
4JORNAL JORNAL LABORATÓRIO LABORATÓRIO DO CURSO DO CURSO DE JORNALISMO DE JORNALISMO DO CENTRO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVERSITÁRIO NEWTON NEWTON PAIVA PAIVA - 1 o SEMESTRE - 1 o SEMESTRE 20162016 4
LINCE - Quais os atributos que um
vai jogar, ele é famoso, mas depois tem
repórter tem que ter para fazer uma boa
outros esportes... Você não dorme. Além
cobertura?
das matérias, tem que fazer a cobertura.
Ivan – P rimeiro, entender de esporte. Não só de um, mas de todos.
Na Austrália e na China teve o problema do fuso horário, dificultava o sono...
Saber mais de um idioma também é fundamental. Eu já cheguei sabendo falar
LINCE - Qual a sensação de cobrir uma
inglês. O jornal pagou um curso de fran-
Olimpíada, que tem diversas modalidades
cês por conta da Copa da França de 98,
esportivas, sabendo que, em nosso país, há
mas acabou que não fui. E o espanhol eu
a supervalorização do futebol?
sabia de tanto cobrir a Libertadores, por-
Ivan - É um absurdo. Tem muita
que era muito comum argentinos, chile-
gente que gosta de tudo, basquete, eco-
nos e uruguaios virem para a redação do
nomia, política. Mas... Belo Horizonte é
jornal, aí você saca que é mais ou menos
uma cidade que tinha, terça e quinta,
parecido. Em 1992, eu fui cobrir um
futsal (Olímpico e Esparta); segunda,
pré-olímpico do basquete feminino na
quarta e sexta, basquete, vôlei e hande-
Espanha, primeira vez que o basquete
bol (que, às vezes, era aos sábados);
conseguiu a classificação. Nós, brasilei-
sábado e domingo, natação e judô. Havia
ros, pegamos muito fácil o espanhol.
17 times de salão, oito de basquete, seis
Mas quem fala espanhol não pega o por-
de vôlei feminino, seis de vôlei mascu-
tuguês, é muito engraçado isso.
lino, quatro de handebol e quatro academias de judô. Havia competições de
LINCE – A China foi tão diferente assim?
natação com muitas participações, até
Ivan – Foi. Todas as demais olimpía-
de clubes que não existem mais (como
das foram no mundo ocidental e capita-
Pinheiros, Comoverick). Hoje não tem
lista. A China, apesar de tudo, é comu-
mais essa cultura. Por que, no feriado de
nista... A mulher não pode se separar, se
Semana Santa, havia 3500 pessoas no
assim for, vira prostituta, coisa estra-
Ginásio do Minas? Em muitos lugares
nhíssima. Na China, por causa da densi-
tem vôlei. O Estado que tem mais times
dade populacional, não se pode ter
de vôlei no país, talvez, seja Minas.
“A China foi o lugar mais estranho em que já fui; nunca mais quero voltar”
“Não somos uma potência olímpica porque o Brasil não tem um projeto olímpico”
irmão. Um garoto chorou ao responder a pergunta. É o lugar mais estranho em que fui, não quero voltar.
LINCE - Por que não somos uma potência olímpica? Ivan - Por causa dos impostos e da
LINCE - Que equipamentos o repórter
cultura esportiva. O Brasil não tem um projeto olímpico, não tem um projeto de
tem que ter? Ivan - Computador e máquina foto-
formação. A Austrália, para sediar Sid-
gráfica. Você tem tudo no computador.
ney, começou a treinar seus atletas em
Um gravadorzinho completa a lista.
92 — duas edições antes. Em Atlanta não precisavam disso. A Grécia come-
LINCE - Tem diferença em cobrir uma
çou tarde e, aí, não deu tempo, não fez
olimpíada e uma copa do mundo, por exemplo?
nada. Pequim começou em 2000, oito
Ivan - A primeira Copa do Mundo
anos antes. A Inglaterra começou em
que cobri foi a última. É mais fácil, por-
Atlanta 96 e realizou em 2012. Olha a
que é um esporte só. A olimpíada, não.
diferença como é... Quando é que o Bra-
Tem que estar antenado em tudo o
sil começou a preparar atletas para a
tempo todo, todos os esportes. O Guga
Olimpíada? Não fez nada!
“Para cobrir uma olimpíada, o repórter tem que entender de todos os esportes e falar, pelo menos, um ou dois idiomas”
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
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cultura
EM CADA PÁGINA,
UMA NUVEM DE SONHO Em mais uma edição da Bienal do Livro, todos saíram ganhando: os editores, que puderam comprovar a força do mercado e, principalmente, os leitores
WASHINGTON ALVES/LIGHT PRESS
6
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
ANGÉLICA BORGES E ANA CAROLINA SANTOS
gens e transmitindo suas histórias por linguagens e mídias cada vez mais dife-
REALISMO FANTÁSTICO
A cada passo dado, uma nova histo-
rentes. O espaço teve várias atrações
ria contada. Ou até mesmo um novo
relacionadas a filmes, séries, ficções,
A cada ano, o evento tem, por tradi-
autor encontrado. Foi assim durante dez
jogos e, obviamente, quadrinhos, mos-
ção, a celebração da obra de um home-
dias de evento. Você ainda não sabe do
trando a importância dessa cultura.
nageado. Nesta edição, o homenageado
que estamos falando? Pois bem, estamos
Douglas Fernandes, 17, sonha, um dia,
foi o escritor mineiro Murilo Rubião,
falando da 5ª edição da Bienal do livro
desenhar para alguma grande editora
cujo centenário de nascimento se come-
de Minas Gerais, que aconteceu no
internacional. Ele visitou a mostra pela
mora em 2016. O autor faleceu aos 75
E x p o m i n a s , b a i r ro G a m e l e i r a , n a
primeira vez, acompanhado do pai, tam-
anos, deixando obras que antecipam o
Região Oeste da capital.
bém fanático por quadrinhos, e não
realismo fantástico na literatura brasi-
conseguiu conter o entusiasmo.
leira. “O Pirotécnico Zacarias”, lançado
A Bienal do livro é um grande evento que acontece em diversos estados, dando aos visitantes a oportunidade de expandir o conhecimento literário, conhecer diversos livros e participar das
— Achei tudo fantástico. Nunca
em 1974, é o grande exemplo. O autor também foi o fundador do Suplemento
mais quero perder! GUALTER NAVES/LIGHT PRESS
Literário de Minas Gerais (em 1966), que completa 50 anos em 2016.
várias atividades culturais - que vão de
Foi um momento realmente espe-
‘contações’ de histórias à aproximação
cial, como bem lembrou Rosana
de vários autores, por meio de bate
Mont’Alverne, presidente da Câmara
papos e sessões de autógrafos. Tudo, no
Mineira do Livro.
fundo, com um só objetivo: manter viva
A Bienal do Livro de Minas é o mais
nossa relação de amor com nossos gran-
esperado e importante evento do ano
des amigos, os livros.
para o segmento editorial. São valiosas oportunidades de negócios, troca de
ABRINDO ESPAÇOS
experiências e ampliação da rede de
Durante os dez dias de exposição,
contatos entre editores, divulgadores,
em maio de 2016, Belo Horizonte se tor-
distribuidores, livreiros, autores, ilus-
nou a capital da cultura, da educação, da
tradores e, claro, o público que lota o
leitura e da alegria, contando com a par-
Expominas. Vamos nos empenhar, uma
ticipação de, aproximadamente, 160
vez mais, em fazer da nossa Bienal a hora e vez do mercado editorial mineiro.
expositores. A exposição não contou apenas com livrarias grandes e famosas:
FOTOS: WASHINGTON ALVES/LIGHT PRESS
A professora L arissa Reis Naves
também abriu espaço para os pequenos
levou três turmas à bienal. Larissa é
empreendedores do ramo, deu lugar às
uma das que não acreditam na falta de
editoras pequenas e independentes,
interesse dos jovens pela literatura. Em
fazendo com que escritores desconheci-
sua opinião, falta uma política adequada
dos caíssem no gosto popular.
de incentivos, inclusive nas escolas, por
Além de várias outras atividades, a
parte dos professores e dos projetos
Bienal manteve o clássico espaço ‘Café
pedagógicos, incluindo nas escolas de
Literário’, que levou ao debate temas
curso superior. Segundo ela, a maior
tradicionais da literatura mineira - pas-
parte das escolas tenta estimular a lei-
sando por assuntos como a produção
tura usando estratégias negativas, que
literária, a importância dos clássicos,
vão das ameaças à possibilidade de que o
além de outras referências que estimu-
aluno tenha contato com a obra literária
lassem a reflexão. A edição de 2016 teve
por meio de resumos comentados, prá-
como guia o jornalista Rogério Pereira que, juntamente com o convidado do dia, estendia um bate-papo encantador para todos. Outra novidade da Bienal foi o espaço dedicado aos quadrinhos, um gênero que tem sua cultura cada vez mais aberta, trazendo novas persona-
tica que considera hedionda. — Os professores já não leem; passam o dia na internet. Então, como querem que o aluno acredite que a leitura é, acima de tudo, um ato de prazer? É um desafio que, em 2018, a Bienal tentará, mais uma vez, enfrentar e vencer.
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
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economia
INTERNET
COM JUDITE OU SEM JUDITE? De repente, delivery de comida passou a ser um dos serviços que mais crescem em todo o país, revelando novos comportamentos e até mesmo novos negócios
BRUNO DANIEL E ROBERTA OLIVEIRA
mais de R$ 1 milhão só na estrutura do site para venda online, só em tecnologia.
8
Você, empresário do ramo de restau-
Hoje tem um número muito grande de
rantes, já pensou em vender pela internet?
empresas fazendo isso, porque quem não
E você, cliente, já pensou em comprar
fizer vai ficar pra trás.”
comida dessa forma? É mais uma novidade
Não são apenas os supermercados
que vem pela mão das novas tecnologias
que estão aderindo esse novo modelo de
para mudar a rotina dos brasileiros. O deli-
venda. Muitos restaurantes e microem-
very de alimentos, que já era grande por
presas de alimentos vêm tomando o
telefone, tem crescido, agora, na WEB,
mesmo caminho. Ainda existem aquelas
pois acredita-se que oferece mais vanta-
pessoas que gostam de pedir um prato
gens - tanto para os empresários quanto
pelo telefone ou até mesmo ir ao restau-
para os consumidores. Em 2015, a Associa-
rante, mas, ressalta Eric, “a alimentação
ção Brasileira de Bares e Restaurantes
fora do lar já é uma cultura das pessoas,
(Abrasel) estimava que esse mercado
mas algumas delas já não têm tanto
movimentaria cerca de R$ 9 bilhões, R$ 1
tempo para sair para almoçar. Está tudo
bilhão a mais do que em 2014.
muito atrelado ao tempo. Diante disso,
Eric Gonçalves, editor-chefe do Diá-
esse ramo vem para preencher essa difi-
rio do Comércio, ressalta que, hoje, há
culdade”. Portanto, os benefícios apre-
um número muito grande de empresas
sentados pela venda online fazem com
investindo nesse tipo de entrega. “A Rede
que os consumidores e empresários
de Supermercado Supernosso investiu
usem, cada vez mais, essa opção.
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
GENTE NOVA O dado novo, no entanto, vem na figura de jovens empresários que estão se aproveitando da tendência. Um serviço de compra e venda de refeições pela internet que está bombando é o NutrinPot, que entrega saladas em potes, além de bolos e caldos. Fundada no início de 2015, a empresa online está ganhando cada vez mais clientes em Belo Horizonte. Tamiris Guerane, 25, fundadora e dona do negócio, conta que, assim que o negócio apresentou um crescimento, ela chamou sua tia Ana Cristina Martins para ser sua sócia. Tamiris explica porque escolheu fazer o negócio pela internet. “A gente optou exatamente pela questão do custo: fica mais barato, não tem custo com funcionário de loja física, com loja aberta, não tem obrigação de abrir sábado, nem domingo”, afirma. Tamiris e Ana, as sócias e donas da NutrinPot, descobrindo um novo filão na internet Antes de abrir o negócio, Tamiris trabalhava em uma instituição financeira. Ela revela que costumava levar comida para o trabalho ou pedir em algum restaurante, mas os alimentos não eram muito saudáveis. “Nunca entregavam saladas, e aí eu comecei a ver que em alguns lugares, até no Brasil mesmo, já tinha essa opção de salada no pote, que conserva mais. Então foi tipo uma necessidade mesmo. Nos Estados Unidos já é uma febre, tem até fast food de salada. Então eu vi, no mercado de BH, uma necessidade de a gente já começar a trabalhar”.
É A JUDITE? A NutrinPot, no entanto, mantém um
dade de azeitona preta da pizza portu-
As agora empresárias querem expan-
telefone de contato para atender seu
dir o negócio, mas pretendem seguir só na
público, o que ainda pode ser um diferen-
guesa, porque isso o aplicativo não faz”. É bom que os empreendedores que
internet, sem abrir uma loja física. “A
cial na opinião da empresária Aline de
investem nesse modelo de negócio já
gente pensa em expandir, sim. Só que a
Paiva Gomes. Ela cita o anúncio do aplica-
entrem no mercado preparados para atuar
ideia é expandir com franquias e com a
tivo I Food, estrelado pelo ator Fábio Por-
de olho nesses detalhes. “A maioria já entra”.
venda para lojas físicas, e não ter a nossa
chat, que quase surta no diálogo com
É o que afirma o jornalista Eric Gonçalves.
própria loja, que é um custo muito maior”,
Judite, uma atendente tipo “tô nem aí”. O
“Hoje, as empresas não chegam ao mercado
teoriza. Larissa Oliveira, 18, é consumi-
comercial tem como mote o slogan “você
fazendo uma simples aposta. Elas foram até
dora. Ela enumera as vantagens de pedir
não precisa falar com ninguém”. Segundo
o mercado, estudaram, planejaram, e che-
os produtos pela internet. “A entrega é
Aline, o uso de tecnologia nada tem a ver
gam ao mercado correndo o menor risco
super-rápida e segura. Normalmente, ligo
com isso. “Eu quero falar cada vez mais
possível. Quando a pessoa chega ao mer-
por volta de onze e meia e ao meio dia, no
com as pessoas; quando peço pizza, quero
cado nesse formato, é porque ela já fez um
máximo, eles já entregaram”.
dizer à atendente para diminuir a quanti-
planejamento estratégico”, diz.
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
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DIFERENCIAL A saída, no entanto, está na busca do diferencial. Hoje, se vende pão de queijo a empada; de salada a bacalhoada e macarronada e comida japonesa. “Uma hora, isso pode saturar o mercado”, avalia Aline, que conta ter experimentado vários tipos de serviço dessa espécie e ter descartado alguns. “Pedi um filé à cubana que, pela foto da internet, estava lindíssimo, mas que não fez jus à beleza da foto quando fomos experimentar”. Segundo Aline, “tem que ter a Judite no telefone, nem que seja pra você dizer se quer o filé ao ponto, mal passado ou esturricado”. Isso significa o fim das lojas físicas? Para Eric Gonçalves, não. “As lojas físicas devem continuar fortes no mercado. Não consigo imaginar todas as pessoas com-
mais em conta. Algumas não abrem mão
anos, “frequentar restaurante não é coisa
prando só pela internet. Não consigo vis-
disso, sobretudo as pessoas mais velhas.
só de gente mais velha; eu gosto de ir pra
lumbrar isso. Há pessoas que não abrem
Essa relação não vai acabar. É uma ques-
jogar conversa fora, tomar meu chopp e
mão de ir até o local, pegar o produto, ver
tão do negócio se adaptar ao momento”.
comer minha batata frita — a internet é
o que tem nele, verificar se tem outro
Ou, como diz a empresária Aline, de 22
ferramenta, não Deus”.
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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
oportunidades
“TEMPOS
BICUDOS”
WAGNER CORREA
Com criatividade, ajuda da família e preços bons, alunos enfrentam a crise vendendo lanches rápidos nos corredores das faculdades
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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
THIAGO SILVA
com o marido, também jornalista, em
der o estoque que traz, diariamente, à
Governador Valadares.
Newton. Para isso, criou uma cartela de
Apesar das cantinas e da grande
— O pão era gostoso, feito no capri-
clientes fixos, que paga por mês e
quantidade de ambulantes que se posta
cho, com mel de boa qualidade, por isso
garante o investimento. Além disso, se
no entorno dos diversos campi da
não tive problemas pra vender. Com o
vale do carisma para fazer com que os
Newton Paiva, nada disso inibe a cres-
tempo, passei a receber encomendas
colegas de sala o ajudem vender. E
cente presença de estudantes vendedo-
para festinhas...
quando sobra? “ Vendo na van. Tem
res de guloseimas. Se estudar nos dias de
As outras três colegas de república
gente que volta das aulas varado de
hoje é uma tarefa difícil, devido à famosa
não tardaram seguir seu exemplo: uma
fome”, argumenta. Ele já projeta um
crise econômica, nada melhor que enca-
vendia palha italiana; outra se especiali-
aumento na produção, e conta com a
rar a luta com açúcar e com afeto. Muitos
zou em brigadeiro e a terceira atacou
propaganda boca a boca para divulgação
sonham, um dia, se tornarem advogados,
com sua receita de broa de fubá com
de seus lanches.
jornalistas ou publicitários, e a venda de
chocolate, devidamente supervisionada
lanches vem se mostrando oportuna e,
pela mãe. “Todas fizeram sucesso”,
CONCORRÊNCIA
quase sempre, bem sucedida para ajudar
afirma Clarisse, que até hoje vende pão
Doralice e Juliana, estudantes de
na concretização desse sonho.
de mel em Valadares.
Administração, também já pensaram em vender guloseimas no campus. A
Não se trata de uma prática nova, como bem lembra Clarisse Dias Moreira,
VENDO NA VAN
ideia só não foi pra frente por falta de
que se formou em Jornalismo em 2012 e
Nesse campo, a Newton Paiva não é
tempo. Apesar disso, aprovam a inicia-
fez da venda de seus pães de mel uma
exceção. Se são muitos os alunos que
tiva e acham que é uma boa ideia dos
ferramenta eficiente para ajudar nas des-
interrompem os estudos por não conse-
colegas, nestes “tempos bicudos” que
pesas. Natural de Oliveira, Clarisse divi-
guir arcar com as despesas da faculdade,
estamos vivendo.
dia um apartamento no prédio conhe-
também são muitos os que não abrem
— Não encontramos esses lanches
cido como “espigão”, nos arredores do
mão de seus sonhos. É o caso de Michael
na cantina do campos ou nos estabeleci-
campus Carlos Luz 800 da Newton, com
Magalhães, do 5° período de Jornalismo,
mentos em torno da Newton, então eles,
mais três colegas, todas vindas do inte-
que vende sanduiches naturais e tortas
além do preço justo, nos oferecem uma
rior. Para ajudar nas despesas, nada
de frango, calabresa e legumes ao preço
boa opção para variar — afirma Doralice.
melhor que um bom docinho.
de R$ 4. Ele conta que a preparação dos lanches é feita com o maior capricho.
Ao que tudo indica, a concorrência deverá se intensificar nos próximos
— Tudo é feito em minha casa, por
meses, se vingar a ideia de um grupo de
Clarisse começou vendendo pão de
mim e pela minha mãe. A gente faz
alunos do curso de Jornalismo que vai
mel, seguindo uma receita dada pela
questão de usar matéria de primeira
investir no sanduíche de pão de queijo
mãe que, por sua vez, aprendeu com a
qualidade, porque aí você pode pedir um
com carnes brancas e ricota. A venda de
avó. “Doce é mais difícil de vender, por-
preço justo. Tentar manter o bom preço
lanches é uma maneira que todos
que homem não compra”, avalia Cla-
depende da boa qualidade do produto.
encontraram para enfrentar o desem-
PÃO DE MEL
risse, hoje dona de uma agência de
Considerado um “vendedor” habili-
assessoria de imprensa que toca junto
doso, Michael raramente deixa de ven-
prego de um jeito criativo e inteligente. Além de saboroso, é claro!
PLANOS FUTUROS Henrique Rabelo, estudante de
Para ter boa vendagem, os lanches
mais de dois meses, e revela que já tem
Publicidade e Propaganda do 7º perí-
têm que ter preços bem acessíveis. Por
clientela fixa, pois trabalha com anota-
odo, vende bolos e pudins. Uma
isso, apesar da tal crise, os dois contam
ções e mensalistas, que só pagam no fim
maneira que criou para ajudar a cus-
que estão bem otimistas com as vendas e
do mês. Ambos estão desempregados.
tear, não somente os estudos, mas tam-
esperam que, no segundo semestre de
— Estou desempregado há dez
bém outras despesas - e poupar um
2016, os lanches continuem com boa
meses, não consegui estágio na minha
pouco para planos futuros.
saída, “Vendo, em média, por semana,
área e ainda pago R$ 300 de van para vir
cerca de 20 pudins, e de 40 a 60 bolos”,
à faculdade — comenta Michael que,
contabiliza Henrique.
com a venda de seus petiscos, já conse-
— Uso para ajudar em alguns gastos que já tenho e para pagar a próxima faculdade — afirma.
12
Michael vende seus lanches há pouco
guiu abater parte do valor da van.
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1o SEMESTRE 2016
A NOVA SAVASSI BRUNO DANIEL
BRUNO DANIEL
cidade
Como e por que a região nordeste da capital começou a se tornar o novo point dos jovens, atraindo gente até de outros municípios JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1o SEMESTRE 2016
13
JOÃO EDSON DOS SANTOS E
volume e, também, música ao vivo nos
belecimentos comerciais, moradores e
COLABORADORES*
bares. Outro problema levantado foi com
po lícia, f o ram realiz ad as algumas
relação ao trânsito e ao estacionamento
mudanças visando à segurança de
Situada na região nordeste de Belo
em frente às garagens dos edifícios. De
todos. Uma delas foi o fechamento dos
Horizonte, em uma área de classe média,
acordo com informações de moradores,
bares mais cedo, com o intuito de mini-
a avenida Alberto Cintra, na confluência
somente com a intervenção da polícia tais
mizar o tempo de consumo de bebidas
dos bairros União e Cidade Nova, é hoje,
problemas foram sanados.
alcoólicas. Também foram suspensas,
um dos principais destinos noturnos para
Segundo Elidiane Soares, 32, vende-
pelo menos em parte, as apresentações
os jovens da capital mineira. Com pouco
dora, os problemas com o trânsito ocor-
de músicas ao vivo, para diminuir o
mais de um quilômetro de extensão,
rem devido à realização de blitz e à pre-
barulho, e o policiamento foi reforçado.
abriga diversos bares e restaurantes com
sença de um número elevado de pessoas
Fernando Damasceno, 36, lavador de
intenso movimento, em especial, nos fins
que vêm em outras regiões. Ainda de
carro, informa que está há pouco tempo
de semana, quando se calcula que, pelo
acordo com Elidiane, os moradores recla-
na região e até agora “ainda não presen-
menos, 30 mil pessoas transitam por lá.
mam, mas frequentam os bares assim
ciou nenhum tipo de problema”. Damas-
O local passou por um crescimento
mesmo. Os dias de maior movimento são
ceno se relaciona com vários outros lava-
vertiginoso nos últimos cinco anos. Em
sexta e sábado. Ela alega que não tem difi-
dores que ali atuam e também afirmam
2011, eram pouco mais de três bares e,
culdades para estacionar seu carro por-
não ter visto qualquer anormalidade.
hoje, há mais de vinte que formam um
que o faz em ruas próximas à avenida e já
O gerente do ‘Surubi na Brasa’, um
complexo e variado ponto de encontro na
trabalha no local há alguns anos e conhece
dos restaurantes mais movimentados da
noite belo-horizontina. Conta com milha-
alguns macetes.
Alberto Cintra, Johnatas Ribeiro, informa
res de frequentadores a cada semana.
— O melhor de tudo é que me sinto
que o seu local de trabalho foi um dos
Muitos têm preferido esse point ao invés
segura para realizar meu trabalho
primeiros inaugurados na avenida e que
de outros tradicionais, como a Savassi e a
devido à permanente patrulha policial,
n ã o h á , p o r p a r t e d o s m o r a d o re s ,
região do Vale Sereno.
apesar de ter ouvido, de flanelinhas que
nenhuma reclamação quanto ao barulho
atuam na área, alguns relatos sobre rou-
excessivo. De acordo com Ribeiro, a
bos de clientes.
região é tranquila, bem policiada. Ele diz
IMPACTO
Essa mudança, no que tange ao
Segundo Elidiane, os maiores trans-
não ter informação de ondas de assalto.
número de estabelecimentos e de pessoas
tornos ocorreram no período que antece-
Em sua opinião, o crescimento do comér-
na região, provocou um impacto relevante
deu ao carnaval de 2016, quando os role-
cio naquela área foi benéfico não só para o
na vida dos residentes da própria avenida
zinhos estavam no auge e houve uma
restaurante, mas para a população de um
e de ruas próximas. Passaram a ser cons-
invasão da área por pessoas desconheci-
modo geral: “Todos saíram ganhando,
tantes as reclamações devido ao barulho
dos, de outras regiões da cidade.
porque há opções de lazer perto de casa e,
oriundos de veículos com alto falantes
— Depois disso, em decisão tomada
potentes circulando com som em alto
em conjunto com proprietários de esta-
também, novas alternativas de trabalho para muita gente”. BRUNO DANIEL
14
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
LEONARDO DAVI
VANTAGENS E DESVANTAGENS Se a enorme variedade e quantidade de bares atrai pessoas de diversas idades, isso também faz
Elidiane Soares, vendedora, afirma que se sente segura na região
com que o local tenha um grande movimento, principalmente a partir das quartas-feiras, o que gera nas pessoas um receio de ir até a rua de carro, com medo de ter seu veículo danificado. “Mas os automóveis que vão até a rua ou em suas redondezas ficam em segurança”, garante Cláudio Angélico, um dos flanelinhas que trabalham no local há três anos. — As pessoas não mexem nos carros, pois estamos vigiando — conta Cláudio, que revela, ainda, que muitos clientes se adiantam na hora de pedir aos flanelinhas para cuidar de seus carros. Segundo ele, há uma minoria que não gosta, “porque acham que a gente cobra, mas a gente não cobra”. — Muitos já sabem que a gente não cobra e que quando eles não têm dinheiro, está tranquilo, a gente espera outro dia. Tem alguns que até pedem pra gente olhar. Só de ver a gente parado, eles já nos pedem pra olhar o carro. Um dos restaurantes da mais nova galeria de bares de BH decidiu inovar e ir além de apenas vigiar os carros. O estabelecimento fornece
CONTRASTES A estudante Jordana Coelho, mora-
boa localização, boa comida e um aten-
dora da região há alguns anos, concorda.
dimento exemplar fazem dos bares e
Ela conta que houve melhoria, em ter-
restaurantes do local um grande atrativo
mos gerais, no que diz respeito à segu-
para pessoas de diferentes gostos e con-
rança. Segundo ela, a quinta feira conti-
dições sociais.
nua o dia com maior índice de ruídos,
Sandra Romanelli, 22, estudante, e
“mas bem menor do que ocorria meses
o namorado Gerson Rodrigues Alves,
atrás”. Hoje, ela não vê nenhum tipo de
23, não moram no bairro, mas só passam
problema relacionado ao trânsito ou
os fins de semana na região. Segundo
ocorrência de roubos e furtos. Jordana
Gerson, o maior número de opções
frequenta os bares de maneira ocasional
resulta, também, em benefícios para o
e se sente bem segura quando está em
bolso do consumidor.
algum deles.
— Por enquanto, não tem essa de
Embora haja relatos não confirma-
formar um cartel no preço das coisas.
dos de alguns assaltos e depredação de
Então, dá pra diversificar e, também,
imóveis e veículos, a região aparenta
escolher onde se paga menos e há
muita tranquilidade e segurança e ofe-
melhor atendimento. Aqui, você tem de
rece uma variada lista de opções para
pizzaria e espeteria a comida japonesa,
aproveitar a noite de BH. Gente bonita,
passando até por botecos típicos. BRUNO DANIEL
serviço de manobrista acompanhado de estacionamento seguro para os veículos. Um dos protagonistas dessa ideia, o manobrista Marlon Ferreira, conta como essa modalidade de serviço chegou ao restaurante e deixa o recado para quem quiser conhecer. — Eles vieram da Savassi e já trabalhavam com esse tipo de serviço. E vieram com algo barato, diferente, para atrair o cliente, dar a ele comodidade. A gente deixa, pega e entrega o carro na porta. É um estacionamento fechado, seguro, sem risco nenhum pro carro. JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1o SEMESTRE 2016
15
FOTOS BRUNO DANIEL
TRÂNSITO PESADO Se os veículos ficam em segurança na Alberto Cintra, as pessoas não deixam por menos. Não é costume no local ocorrer nenhum tipo de confusão ou tumulto. “Nem mesmo quando as pessoas estão embriagadas”, diz Marcelo Nunes, que está sempre presente na região. — Claro que, na noite, rola de tudo... Já vi algumas confusões, mas nunca vi briga, não. Quando cresce o movimento, esses problemas se tornam normais. Mas nunca tivemos esse problema aqui.
Um dos restaurantes da Alberto Cintra oferece até serviço de manobrista. Marlon Ferreira é um deles
No entanto, nem tudo são flores. Apesar da segurança e do bom atendimento que recebem os clientes, a rua Alberto Cintra apresenta alguns problemas, sim. Um deles é relacionado ao trânsito, que sempre fica muito complicado, à noite, por causa do alto número de pessoas que vão de carro para a rua. É o que explica Eide Brandão, outra frequentadora do local. — A partir da tarde, quando começa a encher mais, fica mais difícil de estacionar. Aumenta o fluxo de pessoas, se acha menos vagas. Há pessoas, por Éberson Rodrigues, um dos taxistas do local
exemplo, que saem do jogo de futebol e vêm pra cá, e têm mais dificuldade de achar vaga. Aí, param em fila dupla e começam a atrapalhar. “Isso, quando não param na porta da garagem da gente”, comenta, furiosa, Mara Jacqueline, advogada, que afirma ter chamado a Guarda Municipal duas vezes — “Levam uma hora pra chegar” — para retirar carros estacionados na porta de garagem de seu prédio. Esse tumulto, aliás, atinge praticamente quase todas as vias perpendiculares ou paralelas à Aberto Cintra. Eide Brandão e Marcelo Nunes sempre se encontram com os amigos na Alberto Cintra.
Eide Brandão e Marcelo Nunes sempre se encontram com os amigos na Alberto Cintra
Outro problema relacionado ao trân-
— Alguns carros param nas nossas
revela que os taxistas reclamam com as
sito atinge os taxistas que trabalham na
vagas. Também tem carros que param
autoridades, mas elas não conseguem
Alberto Cintra e veem seu direito ser des-
em fila dupla. Aí complica pra gente
resolver o problema efetivamente. “Geral-
respeitado por diversas vezes. De acordo
transitar, fazer ultrapassagens e parar
mente, a gente reclama com a BhTrans ou
com Éberson Rodrigues, um dos taxistas
no ponto também.
com a Guarda Municipal; uma vez ou
do local, o principal obstáculo dele e de seus colegas são os carros particulares. 16
Segundo o motorista, a fiscalização contra esse tipo de problema é baixa. Ele
outra vem uma viatura aqui, faz a autuação dos carros, mas não retira”, reclama.
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
BRUNO DANIEL
TRADICIONALMENTE CONTEPORANEA Quando se anda pela extensão da
— Há dez anos, esta rua era esbura-
Apesar da variedade de público, a rua
rua Alberto Cintra, observa-se o con-
cada, cheia de terra, depósito de lixo, e
não demonstra problemas com o precon-
traste que se forma entre tradicionais
quando começou a transformação, o Bar
ceito. Cesar Luciano Ferreira, enge-
botecos, em que se preserva o bom e
do Magal foi o primeiro estabelecimento
nheiro, diz que o Bar do Magal é o princi-
velho bate papo entre amigos, e os
a se firmar aqui - afirma Flávio José
pal local de encontro com os amigos da
modernos espaços de encontros. A ini-
Pires, 55, corretor de imóveis. — Gosto
empresa de engenharia. Ferreira ainda diz
ciativa era para que a região se tornasse
de frequentar o bar devido ao ambiente
gostar da rua, porque todos têm respeito.
point de Belo Horizonte, diz Edivaldo
calmo proporcionado pelo local e porque
Oliveira, 34, funcionário do Hyper Frios.
a maioria de meus amigos vem aqui.
— Aqui, não importa raça, cor, orientação sexual, mas sim o respeito.
Cada bar e restaurante corresponde a
De acordo com o corretor, no início das
Eu, por exemplo, gosto de vir ao bar com
seu público. E cada um dos usuários tem
construções da Alberto Cintra, um imóvel,
sandálias, short e camiseta. Aqui, temos
a sua particularidade. Mesmo com tan-
que custava por volta de R$ 110 mil, hoje já
um ambiente em que até torcedores do
tos bares cheios de tecnologia, ainda há
ultrapassa os R$ 500 mil. “O bar do Magal,
Cruzeiro assistem um jogo do Galo sem
quem prefira o bom e velho boteco de
junto a outros estabelecimentos que pre-
falar nada contra o torcedor adversário.
esquina. É assim que alguns caracteri-
servam a moda antiga de atendimento,
zam o Bar do Magal, que preserva o
deixam a rua tradicionalmente contempo-
visual e os conceitos de um bar tradicio-
rânea”, diz Flávio, para quem a Alberto
Thomas Mendes, Daniel Rosenburg, Yannick
nal, sem nenhum tipo de preocupação
Cintra pode ser considerada, hoje, “uma
Marcelo, Bruno Daniel, Fabiana Martins, Bernardo
com os concorrentes.
passarela da gastronomia”.
Pimentel, Matheus Oliveira Silva e Gustavo Castro
Colaboradores*:
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1o SEMESTRE 2016
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perfil
O CINEASTA DA
SOLIDÃO
BRUNO DANIEL
Era uma noite chuvosa de sexta-
música, duas paixões ferrenhas de sua
primeira vista. Desde então, a música
vida, sendo a primeira desde sua árdua
faz parte de sua vida. Hoje, é chegar da
infância.
faculdade, tomar banho e correr para a
feira. Eu me dirigi à faculdade para fazer
Quando criança, lutou bravamente
guitarra. Thomas vê na música todos os
um trabalho que um professor havia
para ajudar no sustento da família, que
sentimentos que um ser humano pode
p a s s a d o p a r a a t u r m a d o t e rc e i ro
passava por dificuldades para se manter.
possuir.
período do curso de Jornalismo do Cen-
Aos sete anos de idade, já trabalhava,
tro Universitário Newton Paiva. Estava
vendendo pastel e picolé e carregando
meia hora atrasado, graças ao excelente
compras no mercado, chegando até a
Seu amor pela música é tamanho que
transporte público de BH. Desci do ôni-
passar fome. Sua maior preocupação
ele tem quatro instrumentos musicais, que
bus, entrei na faculdade e o encontrei lá,
era o bem estar de suas irmãs mais
são considerados como filhos. Cada um
sentado próximo à fonte, local que
novas. Sempre que a comida era insufi-
deles tem até nome. Suas três guitarras se
tínhamos combinado para a entrevista.
ciente, ele a deixava para elas. Nas horas
chamam Evelyn, Marlene e Samanta,
Distraído com o celular e usando fone
livres, gostava de brincar com suas
enquanto seu violão chama-se Cristofen.
no ouvido, Thomas, meu amigo de
irmãs, aprontando de tudo e mais um
Na juventude, suas guitarras dormiam
turma, me aguardava ansioso, preocu-
pouco com elas. “Sem traquinagem,
com edredom e tudo, como se fossem seres
pado com minha demora. Nós nos cum-
mas com criatividade”, segundo me
humanos. Certa vez, em Almenara, ele
primentamos, eu liguei o gravador e
contou. Mas seu passatempo predileto
dormiu no chão para que Evelyn e Marlene
começamos a conversar para que eu
era desenhar. Debaixo da frondosa man-
pudessem dormir na cama.
traçasse seu perfil.
gueira do quintal, que ele mesmo plan-
Na adolescência, as coisas já esta-
— Se estou com raiva, toco guitarra; se estou alegre, toco guitarra.
Escolhi o Thomas porque ele é um
tou, fazia de tudo, dos desenhos que via
vam melhores, mas as dificuldades ainda
cara diferente. Sempre que chega à sala
na televisão até cenas alegres que
surgiam. A rejeição das ‘damas’ da cidade
de aula, faz questão de cumprimentar a
vinham à cabeça, provavelmente imagi-
fez com que Thomas passasse por um
todos com seu sotaque típico de Alme-
nando um futuro melhor e tentando
processo depressivo. Muitas vezes, men-
nara, uma pequena cidade do Vale do
esquecer um pouco os obstáculos que a
tia para outros e para ele mesmo para se
Jequitinhonha, para a qual se mudou
vida pusera à sua frente.
sentir melhor sobre esse assunto, e bus-
com um ano de idade — ele nasceu em
Aos 16 anos, Thomas conheceu sua
cava sempre se ocupar com alguma
Jequitinhonha. Morava numa casa com
segunda paixão e vocação: a música. Foi
tarefa para não pensar nisso. Era um
quintal grande e chão de cimento
pegar num violão pela primeira vez para
pouco mais afastado da família, apesar de
batido, sala, quartos, um pequenino
nunca mais largar. Assim que pôde,
amar sua mãe, seu irmão caçula e suas
banheiro e cozinha com fogão a lenha.
comprou um violão, mas sentiu falta de
irmãs. Ao chegar em casa, já ia para o
Negro, magro, de óculos e cabeça ras-
algo mais intenso. Decidiu, então, partir
quarto e lá ficava, no seu íntimo, com a
pada, Thomas é louco por cinema e
para a guitarra elétrica. E foi paixão à
suas amadas guitarras.
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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
PEQUENAS EMOÇÕES Thomas se envolvia muito em projetos sociais. Dava aulas de dança para meninos de cinco a 14 anos de idade sem cobrar nada, para que o dinheiro fosse usado para comprar tênis para muitos de seus alunos que não tinham condições de fazer isso. Uma das emoções que viveu nesse tempo foi realizar o sonho de um de seus alunos, que nunca havia comido pizza. Certa vez, ele convidou todos seus pupilos da dança para comer pizza. E se emocionou ao ver aquele garoto saboreando uma fatia pela primeira vez na vida. — Quando eu o vi comendo pizza, foi sensacional. Aos 18 anos, veio passar as férias em BH e se apaixonou pela cidade, com todo seu movimento e toda sua correria. Decidiu, então, se mudar para a capital, onde reside com a mesma solidão que o acompanhava na adolescência. Até hoje, Thomas costuma ser mais afastado das pessoas que o rodeiam. Nunca achou uma explicação para isso, mas ainda se comporta assim. Vive acompanhado também da saudade de seu irmão caçula, para quem foi um pai durante muito tempo. Seu talento e criatividade, no entanto, seguem firmes e fortes, assim como seu grande sonho de se tornar um cineasta. Thomas não guarda saudades de sua infância em Almenara, pois foi uma época corrida e difícil, em que não teve
ARQUIVO PESSOAL
ARQUIVO PESSOAL
nem tempo para ser criança.
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1o SEMESTRE 2016
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transporte
O RETORNO DOS GUERREIROS Voltar de van é uma jornada a que a maioria dos universitários se submete após um dia de luta, num trajeto cheio de histórias e surpresas YANNICK MARCELO; LEONARDO DAVI E CARLOS ALEXANDRE
Boa parte dos alunos, de quase todas as faculdades, somou à sua rotina a volta para casa se utilizando dos serviços oferecidos por vans. Motivos não faltam: vão desde o fato de muitos morarem em municípios vizinhos até os problemas com segurança, provocados pela ineficiência do transporte público. Assim, as longas distâncias, o perigo das ruas, o conforto do transporte e o cansaço são fatores que fazem com que os estudantes usem cada vez mais as vans. Hoje, cada uma delas oferece regalias, como poltronas macias, rádio e ar-condicionado. O mais interessante, no entanto, são as histórias. A interação, as ansiedades comuns e as próprias histórias de vida de cada um transformam essas pequenas viagens noturnas em verdadeiras aventuras. São momentos que serão preservados e guardados, apesar do cansaço.
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JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
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SONOS & SONHOS “Sou quase sempre a última a che-
Branca, Copacabana, Leblon, Céu Azul
Ibirité há um terminal, onde pego outro
gar em casa”, começa Daniela Barcelos,
e Garças. “É um trabalho que, às vezes,
ônibus que me deixa em meu bairro.
18, que mora na Pompéia e estuda na
acaba sendo cansativo por causa de pes-
Pampulha. Ela é a última passageira que
soas que não pagam”, reconhece.
Apesar de tudo, ele elogia a convivência na van — “é bacana!”.
o serviço de van entrega toda noite, em
— A pessoa começa a dever e ainda
— O pessoal lá não é muito de
função de um trajeto meticulosamente
exige o serviço. Acabo sendo bobo de
conversa. Tem os grupinhos. Tem grupo
traçado. “Se eu fosse para casa de ôni-
levar. Tem gente que ficou devendo seis
de WhatsApp. O motorista é bem legal e
bus, talvez chegasse mais cedo, mas já
meses e eu continuei levando. Eu pago
a estrutura da van atende bem. Chego
fui assaltada uma vez e meu pai não
prestação da van, que é muito cara, e
em casa por volta da meia noite.
tinha mais sossego”, comenta. Daniela
todos pensam que estou ganhando
Charles faz estágio de 9h às 15h. e vem
conta que já dormiu na van, de tão can-
dinheiro. Mas, se for colocar na ponta do
direto para a faculdade, onde permanece
sada, mas sempre contou com toda boa
lápis, a prestação de uma boa van é cara.
até a última hora de aula. “Uma vez, come-
A van dele tem porta automática,
cei a cochilar dentro da van e o motorista se
ar-condicionado e bancada executiva,
esqueceu que eu estava dentro dela. Resul-
para dar conforto para o aluno.
tado: passou do meu ponto e cheguei muito
vontade de seu motorista. — Dei muita sorte, porque se trata de um senhor muito gentil e cuidadoso, que não corre demais nem dá freadas bruscas.
— Te n h o u m a p re s t a ç ã o d e R $
Tímida, Daniela conta que seu
2.000,00 e gasto cerca de R$ 200,00
tarde em casa”, diverte-se.
namorado, Claudney, 19, também vai na
reais só em combustível por semana.
mesma van — “Só que ele desce antes,
Tenho que fazer um trabalho de quali-
Outros têm mais sorte. É o caso de
fica na Floresta”. Os dois se conheceram
dade. Não adianta levar um aluno por
Thomas Toledo, 23, que também estuda
há seis meses e, desde então, engataram
levar, se ele cair e machucar na minha
Jornalismo no Centro Universitário
o namoro ao descobrir uma série de
van eu tenho R$ 23.700,00 só de farmá-
Newton Paiva e mora em outro municí-
interesses comuns. “Gostamos de reg-
cia e hospital. Tem gente que escolhe
pio, Itabirito. “O transporte que uso é a
gae, de cinema e de literatura”, afirma.
outras vans por causa de R$ 20,00. Eu
prefeitura que paga”, adianta, lem-
cobro R$ 170,00, ele vai para a de R$
brando que são mais de 50 vans saindo.
SERVIÇO PAGO
PERCALÇOS
150. Por causa dessa diferença, ele que-
— Tem o transporte para Ouro Preto
Emerson Fernandes Cota, 46, tra-
bra o braço e, só de remédio, ele vai gas-
também. As vans são de graça e isso
tar uma boa grana...
representa uma comodidade e tanto. A
balha como motorista desde o final de 2007 e atende só a Newton Paiva. Ele lembra que a legislação do transporte
viagem é longa. Chego em casa às MARATONA OLÍMPICA
23h45. Desço da van e ando cerca de
universitário é diferente da legislação do
Charles Douglas, 21, estuda Jorna-
cinco a dez minutos. A van passa na ave-
transporte escolar –do qual quem define
lismo no Centro Universitário Newton
nida central da cidade. Não tenho nada
as normas é a BHTrans. No caso do
Paiva e mora em Ibirité. “Para vir para a
a reclamar, pois o serviço é ótimo.
transporte universitário, quem manda é
faculdade eu venho de ônibus, porque
Aventuras não faltam. Segundo
o DER (Departamento de Estradas de
venho direto do trabalho, mas, para vol-
Thomas, muita gente de Itabirito usa o
Rodagem). Por isso, ele se esforça para
tar, como eu moro em Ibirité, não tem
transporte, pois há alunos estudando
que sua interação com os alunos “seja
van daqui da Newton que vá até lá.
em diversas faculdades de Belo Hori-
bacana, fazendo o serviço bem feito”.
Então, consegui, com muita dificul-
zonte e isso representa muita segurança.
— Não adianta levar os alunos e não
dade, uma van que me deixa no Bar-
ter cuidado com eles. Pago seguro do
reiro. Pego a van aqui na Newton, paro
— Uma vez, a van estragou na volta;
aluno e o seguro do carro. Há muita
no Barreiro e pego um ônibus que vai
parou logo em um lugar onde não havia
gente que paga só o do carro. Até hoje, só
para minha casa”.
sinal de rádio e eu estava ouvindo o jogo
houve um pequeno desentendimento
Charles se submete, diariamente, a
na van. Uma moça sempre se sentava no
uma verdadeira maratona para chegar
mesmo lugar. Até que um dia outro se
em casa.
sentou no lugar dela e ela questionou. Além disso, nada mais.
do Cruzeiro. Foi ruim. A vinda também pode, às vezes, trazer problemas. “Se acontece um aci-
— Não vou com o transporte cole-
dente no Anel rodoviário, me atraso para
tivo, pois se eu sair daqui às 22h30, não
provas ou para entrega de trabalhos, pois
Emerson faz os roteiros que passam
consigo chegar no centro a tempo de
enfrento trânsito lentíssimo”, lamenta.
pela região da Pampulha, Santa Amélia,
pegar outro ônibus até Ibirité. É muito
Na volta, segundo Thomas, a maioria “vai
Santa Mônica, Jardim Atlântico, Santa
perigoso e tenho medo. Chegando em
apagada, porque muitos trabalham”.
22
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA - 1 o SEMESTRE 2016
FOTOS PEDRO DE PAULA
ENCONTROS E DESENCONTROS “Moro no bairro Providência. Não
Túlio, 21, ambos estudantes de Jorna-
sou muito sociável e não costumo me
lismo do Centro Universitário Newton
brigas não partiram dela. — Tem muita menina folgada, que
enturmar, mas no quesito interação e
Paiva, também elogiam a convivência e o
acha que a van é a casa dela, que pode ir
ambiente não tenho nada a reclamar,
serviço.
largando mochila e sacola no lugar em
gosto muito da galerinha de lá”, afirma
— Eu acho que pegar van é melhor
que os outros estão sentados. Também
Fernando Saydel, 22, que estuda Admi-
que ir de ônibus, né? O transporte
não gosto de gente que fala alto e nem de
nistração de Empresas na Newton
público de Belo Horizonte é bem
gente que fica torcendo em dia de jogo.
Paiva. Fernando elogia o conforto da van
precário e a van é uma solução que a
Atleticana doente, como ela mesma
e gosta do motorista. O mesmo acontece
gente tem para chegar mais confortável
se define, Elvira teve que mudar de van
com Luíza, 21, estudante de Pedagogia
em casa.
depois de uma briga com uma colega,
na Faculdade Pedro II, que mora no
Nem todos, no entanto, são tão
num dia de jogo, em que o Cruzeiro ven-
bairro Fernão Dias e pega a mesma van.
benevolentes assim com o serviço,
cia o rival por 2 a 1 e ainda iria fazer mais
Ela conta que os companheiros de “via-
incluindo companheiros e motorista.
um gol de pênalti. “Não levo desaforo
gem” são legais e que estão até “mar-
Elvira, 29, estudante de uma faculdade
pra casa”, justificou-se, afirmando que
cando uma resenha”.
da Pampulha, conta que já brigou duas
foi dispensada pelo dono da van, que
vezes na van, sempre ressaltando que as
também era cruzeirense...
Eduardo Martins, 28, e Marco
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comportamento
MINORIA
CRESCENTE EM BH Personagens comuns a qualquer cena urbana brasileira, os transgêneros ainda sofrem com o preconceito, mas não abrem mão de lutar por um futuro melhor
REPRODUÇÃO “ONDE O DIREITO NÃO TOCA”
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GUSTAVO CASTRO E MARINA GALVÃO
morar em Beagá e faço programa aqui
como a famosa Lei Maria da Penha, que
na avenida Pedro II. Luiza conta que
protege os direitos da mulher. Mas reco-
Homens e mulheres de gêneros não
trancou seu curso de Arquitetura (“por
nhece que o caminho é longo e árduo e
convencionais não são mais estranhos à
enquanto”), pois quer juntar dinheiro
que a generalização imposta pelos veí-
paisagem das grandes cidades de qual-
“para fazer algumas cirurgias”.
culos da mídia dificulta a aceitação e a
quer país do mundo. Mesmo assim, o ambiente LGBT (Lésbicas, gays, bissexu-
Por enquanto, Luiza não tem problemas em se assumir como travesti.
compreensão do termo transgênero. Outra personagem de destaque é
ais e transgêneros) ainda é questionado
— Sim, eu sou, porque ainda tenho
quanto a seus direitos de se manifestar
Crystal Lopes, que conta como também
meu órgão genital masculino, mas assim
em meio à sociedade, que os segue classi-
que operar, vou virar uma transexual
resolveu se envolver em questões sociais.
ficando de modo errado, em especial os
linda — afirma. Para ela, essa é a única
homens que se vestem como mulheres.
diferença entre ser travesti e transexual
Apesar de tantos avanços, discussões e exposição pública, o termo trans-
— Como sempre me senti mulher, então vou optar pela cirurgia.
gênero ainda não conseguiu ultrapassar
Assim como Luiza, há outros trans-
as limitações impostas pela sociedade
gêneros, pelas ruas e avenidas da cidade,
tradicional. Mas a palavra nada mais é
que são de outros estados ou do interior.
que a classificação daqueles homens ou
Eles vieram para a capital porque tentam
mulheres que, por questões pessoais e
fugir das famílias, que não os aceitam e
psicológicas, assumem o sexo oposto de
nem se mostram presentes em sua reali-
seu ser fisiológico. Hoje, esta é uma sig-
dade cotidiana. A maioria reclama da
nificativa parcela da população, e grita
vida marginal que é obrigada a levar.
por seus direitos.
— É que, além de transgênero, sou negra —, afirma Crystal, que faz questão de dizer que, 24 horas por dia, se assume como mulher — “porque é o que sinto que sou”. Ela sabe que paga um alto preço por isso. “Nas ruas, à noite, sempre sofri insultos tanto pela minha cor quanto por minha escolha sexual”. — Eu me envolvi em questões sociais a partir do momento que fui agredida fisicamente e não tive o apoio de ninguém que viu o que aconteceu. Desde então, estou sempre me envolvendo em
MARIA DA PENHA
temas que abordam a diversidade de
Segundo Marcos, que também é
gênero e a raça negra, assim como a femi-
Luiza (nome fictício), 23, mora em
transgênero e que se envolve em causas
nilidade. Somos ainda em pequeno
Belo Horizonte há três anos, e explica de
sociais, “a legislação mineira anda a pas-
número, mas acredito na possibilidade
modo claro e bem objetivo sua rotina
sos lentos”. Ele afirma que, em algumas
de mudanças. Os transgêneros vêm,
como transgênero. “Meu nome é Luiza
cidades do Sul do Brasil e interior de São
cada vez mais, assumindo seu espaço na
com Z” — faz questão de ressaltar — e
Paulo, os trangêneros já assumem sua
sociedade. Mas, como toda minoria,
eu saí de Brasília, Distrito Federal, vim
condição de gênero e se incluem em leis
ainda sofrem retaliações e desrespeito.
DIFERENÇA BÁSICA
DIREITOS Também transgênero, M. A., 45, sabe
minha propriedade”), foi perseguido
evidenciado tal desrespeito, deve-se entrar
falar muito bem dessa luta. Amargou
pela diretora e pela coordenadora da
em contato com centros de apoio às causas
prisão, estupro e uma série de violências
escola em que leciona, mas nunca
LGBT”, ensina. Para quem ainda não sabe,
que o fazem chorar cada vez que tem de
procurou ajuda. Ele reconhece o erro,
há vários em Belo Horizonte, como o Cen-
enfrentar a realidade. Sem nenhum
mas tem medo de se expor, admitindo
tro de referência LGBT (CRLGBT-BH),
apoio familiar, M., que é professor e mora
que “prefere sofrer em silêncio”.
que fica à rua Espírito Santo, 505,
numa quitinete do centro, já foi
Muitos, por desinformação ou medo,
11°andar (Centro) e também o Núcleo de
ameaçado de despejo (“Só não me
ainda fazem isso, adverte Crystal. “E isto,
Atendimento à Cidadania à População
puseram na rua porque o imóvel é de
temos que reconhecer, é um erro. Caso seja
LGBT, à rua Paracatu, 822, Barro Preto.
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esporte
RUGBY,
UMA AVENTURA EM CONSTANTE CRESCIMENTO Por enquanto, só uma modalidade esportiva que chega em busca de espaço no pais do futebol, mas com tudo para emplacar e virar sucesso
FOTOS: NOVA LIMA RUGBY CLUB/DIVULGAÇÃO
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MARINA GALVÃO
Hoje e ontem, dois momentos do rugby em Nova Lima: um esporte que veio para ficar...
riam jogar um esporte totalmente dife-
existe time fácil para a 1° divisão, o que
rente do popular futebol. Para contagiar
queremos é ficar entre os melhores’’ —
os brasileiros, foi um pulo!
afirmam os jogadores do Nova Lima.
Segundo o presidente do time, Daflas Cruz, o rugby não vai superar o futebol,
OLIMPÍADAS
mas, “com certeza, daqui a dez ou 15
O rugby é uma das novidades dos
tiva coletiva, que surgiu na Inglaterra,
anos, teremos um Rugby profissional,
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro
mas que não demorou muito a dissemi-
com atletas recebendo, com campeonatos
2016. Mas a modalidade já tem sua
nar-se pelo resto do mundo, ganhando
mais competitivos, com um nível técnico
pequena história olímpica documen-
espaço, principalmente, em comunida-
melhor e talvez ele se torne um dos espor-
tada. Foi disputada nos Jogos de Paris,
des britânicas — Nova Zelândia, Austrá-
tes mais apreciados no Brasil”, supõe.
em 1900; Londres, em 1908; Antuér-
O rugby é uma modalidade espor-
lia e África do Sul -, que se tornaram
O rugby, em Nova Lima, tem tudo
pia, em 1920 e Paris em 1924. Nas
grandes forças nesse esporte. Essa
para crescer pois, além de ser um dos
quatro participações, França, Austrália
modalidade só chegou ao nosso país no
esportes mais praticados por lá hoje, a
e Estados Unidos (duas vezes) sagra-
século 19. Apesar das dificuldades de
cidade é o berço de várias fábricas de
ram-se campeões olímpicos.
infraestrutura, esse esporte já tem uma
cervejas artesanais, contribuindo para a
Os Jogos Olímpicos do Rio de
cultura do terceiro tempo, que é bem
Janeiro marcaram a volta desse esporte
Hoje, o rugby tem 60 mil pratican-
comum nesse esporte. Além disso, o
às Olimpíadas depois de 92 anos, e o
tes e é um esporte que vem crescendo
campo do Nova Lima é o primeiro
efeito disso já dá para sentir. “Com cer-
cada dia mais. Em Minas, há um time
campo oficial de rugby em Minas.
teza, com a volta do rugby às olimpíadas,
longa história no Brasil.
vamos ganhar mais visibilidade”, acre-
que está se tornando destaque, após ganhar o Campeonato Mineiro da
O CAMPEONATO
dita o jogador Xuxa, camisa 10 do Nova
segunda divisão. É o Nova Lima, que já
Atualmente, o campeonato mineiro
Lima Rugby.
está entre os melhores times da 1°divi-
é disputado por duas divisões. A pri-
E é bom mesmo que o esporte se
são do Campeonato Mineiro de Rugby
meira com cinco times: BH Rugby,
popularize o mais rápido possível, pois
de 2016.
Uberlândia, Nova Lima, Elói Mendes e
só assim o Brasil terá condições de ven-
Inconfidentes. Já a segunda conta com
cer seu mais tradicional rival, em ter-
O COMEÇO
quatro times: Tauros, Montes Claros,
mos sul americanos: a Argentina. Com
Acertou quem apostou que o rugby
Itajubá e Inconfidência.
mais praticantes entre nossos herma-
chegou a Nova Lima, em 1930, pelas
Para os jogadores Élcio Lopes (full
nos, esse é um esporte que já deu várias
mãos dos ingleses e galeses que vieram
back), Johannes Clemente (asa direito)
alegrias ao país vizinho, inclusive no
para cá trabalhar nas minas de ouro de
e Lucas Moreira (ponta esquerdo),
feminino. Uma situação que tende a
Morro Velho. Para matar as saudades da
pode-se dizer que, hoje, há times muito
mudar assim que o rugby ganhar mais
terra natal, que tal se dedicar a um
fortes no rugby mineiro. O BH Rugby,
praticantes, afirma Décio Gonçalves,
esporte que, em tudo, remetia às mais
segundo eles, é a primeira força do
ex-atleta, que estudou e trabalhou por
puras origens britânicas? O time foi fun-
estado. Mas, Uberlândia e Varginha
algum tempo na Nova Zelândia, onde
dado por um grupo de amigos que que-
veem em segundo e terceiro. “Não
aprendeu a gostar do esporte.
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