LINCE
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva Nº 64 | Maio de 2015
Àbórisá mojubá Daniel Oliver
(respeito a quem cultua o orixá)
Pedro Munhoz
Porque o rap se tornou o foco do movimento negro
O neoliberalismo da PEC que apoia a terceirização
mulher & cerveja: taí a verão que não nos deixa mentir
| Páginas 3 a 6
| Páginas 14 e 15
| Páginas 20 a 22
Opinião
Expediente Fernando Oliveira
5º período
LINCE
ARQUIVO PESSOAL
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton
Presidente do Grupo Splice Antônio Roberto Beldi
O prazer em ser
repórter A edição 64 do Lince chega com
gem especial sobre a trajetória do rap
boas reportagens investigativas. Uma
nacional, e sua grande influência a
delas avalia a liberdade de religião em
favor do Movimento Negro. Um cen-
BH, que é prevista por lei, mas sua
tro educacional do aglomerado da
infração está, não só na boca do povo,
Serra é movido pelo hip hop, e atua
como no olhar e no ato de julgar. Isso
na ocupação de jovens de periferia.
Reitor João Paulo Beldi Vice-Reitora Juliana Salvador Ferreira de Mello COORDENADORA DOS CURSOS DE COMUNICAÇÃO Juliana Lopes Dias Coordenador da central de produção JORNALISTICA - CPJ Professor Eustáquio Trindade Netto (DRT/MG 02146)
Projeto gráfico e Direção de Arte
porque os seguidores de doutrinas
Vale a pena conferir ainda a entre-
afrodescendentes reclamam (com
vista com Zeca Perdigão, o mito
razão) que convivem com o precon-
mineiro da moda. E fomos entender
Monitores
ceito de adeptos de outras crenças. E
um pouco mais sobre o esporte que
Fernando Oliveira e Roger Leon
o Lince, como não poderia deixar de
vem crescendo em BH e atraindo
ser, foi às ruas para acompanhar uma
novos praticantes: o Crossfit. No
manifestação contra o ódio religioso.
papel, uma ótima forma de eliminar
Ainda na questão do precon-
calorias, mas, e na prática? Analise os
ceito, buscamos entender o incô-
prós e contras.
modo que mulheres enfrentam por
Recomendo que reservem um
beber, cada vez mais, socialmente. E
tempinho para ler todas as matérias e
afinal, por que a maioria das publici-
possam curtir, assim como eu, mais
dades de cervejarias são voltadas para
uma bela obra da Central de Produção
o público masculino?
Jornalística da Newton Paiva. Bom
Aqui, você também lê a reporta-
aprendizado!
Helô Costa (Registro Profissional 127/MG)
Reportagens Alunos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva Diagramação Kênia Cristina e Márcio Júnio Estagiários do Curso de Jornalismo
Correspondência NP4 - Rua Catumbi, 546 Bairro Caiçara - Belo Horizonte - MG CEP 31230-600 Contato: (31) 3516.2734 sugestoeslince@hotmail.com
Sugestões de pautas? Participe do Jornal Lince.
Este é um jornal-laboratório da disciplina Laboratório de Jornalismo II. O jorn al não se resp ons abil iza pela
Uma publicação feita pelos alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton.
emissão de conceitos emitidos em arti
E-MAIL: sugestoeslince@hotmail.com
gos assinados e permite a reprodução total ou parcial das matérias, desde que citadas a fonte e o autor.
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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Dezembro de 2014
cena urbana
Revolução Através
das Palavras “Se liga, Juca! Favela pede paz, lazer, cultura e inteligência. Não, muvuca” - Sabotage Fernando Oliveira
elementos. O primeiro é o DJ, responsá-
nais confraternizações proporcionadas
5º período
vel pela produção do arranjo sonoro, as
pelo samba, encontrou no rap uma
batidas que transformam o ambiente. O
forma de proclamar sua indignação. O
A manifestação artística de brincar
segundo é o MC, que é quem compõe a
Hip Hop foi abraçado como um movi-
com as palavras surgiu na Jamaica, na
revolta em forma de poesia. Outro com-
mento que dá voz aos excluídos pela
década de 1960, mas foi impulsionada
ponente é o ‘break’, quando, por meio da
sociedade, e ganhou força em todo o
quando chegou aos guetos de Nova York,
dança, a manifestação corporal reflete o
país, principalmente em São Paulo.
no início dos anos de 1980, onde a repres-
envolvimento da periferia com o ritmo.
Diversos grupos foram se desta-
são racista ainda indignava os moradores
E por fim, o grafite, que dá vida às pare-
cando no mercado musical, e as rádios,
dos bairros pobres. Eram jovens revolu-
des cinzentas, e constitui a expressão do
percebendo a nova tendência, sempre
cionários que se baseavam em ideias
Hip Hop em imagens.
destinavam espaço em seus programas
liberais influenciadas pela busca por
Apesar de existirem comunidades
para o Hip Hop. O fenômeno do rap
Justiça, fortemente pregadas por ícones
carentes em todas as partes do mundo,
nacional tomou consistência ao longo da
afrodescendentes — de Martin Luther
um dos países que aderiram ao movi-
década de 1990. No entanto, o esforço
King e Malcom X a Nelson Mandela. Foi
mento norte-americano com bastante
dos rappers em gravar suas músicas —
criada assim, uma forma de disseminar a
disciplina foi o Brasil. Uma nação aba-
mesmo sofrendo com a censura ou com a
luta contra o sofrimento do negro ainda
lada pela desigualdade social e pela forte
inviabilização de recursos — a princípio,
enraizada no racismo, representada pelo
interferência do Estado como empeci-
não traria retorno financeiro adequado,
acrograma R-A-P: Rhythm and Poetry.
lho para o desenvolvimento da classe C.
se comparado a outros estilos musicais.
O estilo de vida motivado pela sinto-
O brasileiro, antes envolvido pelo ritmo
O que empolgava era o sucesso na missão
nia contagiante entre ritmo e poesia foi
do funk, que dominava os bailes de peri-
de espalhar a informação. Ficar rico com
inicialmente fragmentado em quatro
feria dos anos de 1970, e pelas tradicio-
o rap era inimaginável. Daniel Oliver
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
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Jovens enxergam novos rumos Em certo momento, ficou perceptí-
tos que crescem nas favelas.
a marginalização do estilo. Até porque,
vel que o rap age diretamente no resgate
— Os rappers vivenciam situações
agradar a elite nunca foi sua intenção.
dos jovens de periferia que, só enxergam
parecidas e tentam, através da música,
Muito pelo contrário, o rap era executado
o mercado de substâncias ilícitas como a
alertar esses jovens que nem sempre o
para despertar o discernimento das pes-
única saída para o sucesso. Sem estudo,
caminho mais fácil para se conseguir o
soas em relação à vulnerabilidade socioe-
sem apoio, sem trabalho e muitas vezes
que se quer seria a melhor opção.
conômica. Como resultado, a oposição
sem a referência da figura paterna, mas
Segundo Júnia, o rap pode mudar
preconceituosa contribuiu para acen-
que precisam se manter. A estudante de
essa realidade. “Pode ser o preenchi-
tuar ainda mais a divergência entre o
Serviço Social e militante do Movi-
mento desta lacuna que está vazia, por-
público do Hip Hop e o Estado. “Há um
mento Negro, Júnia Morais, acusa o
que, quando em contato com o rap, os
preconceito racial grave acerca de tais
poder público por não se manifestar
jovens se identificam, se reconhecem e
comentários disseminados pela mídia”,
como deveria. Ela relata que o ingresso
se apropriam do seu espaço”.
observa Júnia, lembrando que “o rap faz
de jovens de periferia na criminalidade é responsabilidade do governo. Desta
— O rap nacional é, em suma, de cunho político-interventivo.
forma, cabe aos MC’s o papel funda-
O estigma de “música de preto“ ou
mental de prevenir o futuro desses garo-
“isso é coisa pra bandido ouvir”, reforçou
denúncias sérias a respeito do genocídio da juventude negra, violência policial, precarização da educação pública, saúde pública, dentre outros”.
“Aqui na favela ninguém tem a oportunidade de virar um cantor sertanejo ou um cantor de pop, aqui é o rap que te dá a oportunidade de colocar a cara na mídia e falar a sua verdade — sem hipocrisia — falar aquilo que você vive.” — Mano-betto
Centro Educativo Lá na Favelinha atua no resgate O “Lá na Favelinha” é um coletivo de
com que os próprios moradores de perife-
MC, e já está gravando um clip para alavan-
BH que tem o rap como princípio ativo, e
ria desconheçam a cultura negra — ana-
car seu trabalho como músico. Hoje, parti-
oferece a jovens do Aglomerado da Serra
lisa Mano-betto.
cipa de saraus, dá palestras, é oficineiro e
a oportunidade de descobrir seus talen-
Ele aprofunda na questão ao reiterar
sempre está presente nas rodas de conver-
tos artísticos. O programa conta com ofi-
que “uma mulher negra quer alisar o
sas do projeto. Segundo Mano-betto, as
cinas de leitura, poesia, dança de rua, e
cabelo porque ela tem vergonha de ter o
crianças que entram no programa com a
agora possui aula de inglês, aos sábados.
cabelo duro; o menino está com vergonha
intenção de se tornar MC, acabam sendo
Mano-betto é um dos coordenadores do
de sair de casa porque acha feio ter beiço e
incentivadas a desenvolver a leitura.
projeto e afirma que falta informação ao
nariz grande”.
povo da periferia, fato que faz o rap se
— Só que aí vem o rap e os ensina a se
tornar o principal instrumento a favor do
aceitarem do jeito que são, a reconhecer
Movimento Negro.
as origens e saber como usar o talento
— Aqui na comunidade, as pessoas
para fazer a diferença.
não têm acesso à cultura. Os principais
Mano-betto descobriu seu talento para
meios de comunicação acabam fazendo
compor no “Lá na Favelinha”, se tornou
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— Quem quer fazer rap tem que falar bem, e para falar bem, você tem que praticar a leitura — ensina. “Então”, continua Mano-betto, “isso força os meninos a buscarem informação. E o intuito do Hip Hop é justamente esse: trazer as crianças para um diálogo”
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
O impacto Fernando Oliveira
do rap no Brasil
No final da década de 1990, o ritmo e a poesia dominavam as frequências radiofônicas nos barracos das regiões periféricas. E representando a dificuldade do negro pobre em sobreviver no Brasil, rappers brasileiros se tornaram idolatrados. Diante da fama, alguns se enriqueceram, outros não. Exemplo de quem não teve a oportunidade de ser reconhecido como deveria foi Sabotage. Ele ficou eternizado no cenário do rap nacional após ser assassinado em janeiro de 2003, no auge do sucesso, vítima do envolvimento com tráfico de drogas. Denominado como “Maestro do Canão”, levava como lema de vida a sentença “Rap é compromisso” e alertava em suas letras sobre os perigos da relação minuciosa que tinha com o tráfico. “... os manos que foram ficou na memória. Por aqui, só fizeram guerra a toda hora. Acontecimentos vêm e revelam: a vida do crime não é pra ninguém! Nem enquanto houver desvan-
O rapper Mano Brown na apresentação especial de 25 anos dos Racionais MC’s, em BH
tagem. Só ilude um personagem, é uma viagem. A minha parte não vou fazer pela metade...” Os Racionais MC’s reconheciam o rap como uma ferramenta de oposição contra tudo que envolvia a interferência do Estado. O principal grupo de música negra do Brasil, no auge do movimento, negava se render às gravadoras ligadas à mídia e, em várias oportunidades, recusou convites para se apresentar em TV aberta. Na letra “Racistas Otários”, se percebe a denúncia à negligência estatal contra o pobre negro: “...50 anos agora se completam da lei antirracismo na Constituição. Infa-
lível na teoria, inútil no dia a dia.
cido com a pele escura, lutar pelo femi-
Então, que se ferrem eles com sua
nismo agrega algumas pelejas a mais
demagogia. No meu país, o precon-
em prol da liberdade.
ceito é eficaz. Te cumprimentam na frente e te dão um tiro por trás...”.
“...Não fomos vencidas pela anulação social. Sobrevivemos à ausência na
Outro grupo que se destacou por se
novela, no comercial. O sistema pode
radicalizar contra o sistema foi o Fac-
até me transformar em empregada,
ção Central. Dentre vários pontos,
mas não pode me fazer raciocinar como
conseguia traduzir, de maneira ímpar,
criada. Enquanto mulheres convencio-
o drama do povo periférico. Bem como
nais lutam contra o machismo, as
na música “Mulheres negras”, compo-
negras duelam para vencer o
sição de Eduardo com participação de
machismo, o preconceito, o racismo.
Yzalú, na qual afirma o quanto essas
Lutam para reverter o processo de ani-
mulheres são imperceptíveis nos espa-
quilação que encarcera afrodescen-
ços midiáticos. Ao se tratar de ter nas-
dentes em cubículos na prisão...”
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
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Nova realidade do rap Outras camadas da sociedade foram aceitando o movimento, e nos anos 2000, se tornou comum ver jovens brancos, de classe média alta, moradores de bairro nobre, dirigindo carro rebaixado com o som no último volume tocando “Negro Drama”, dos Racionais MC’s. Neste momento, até os disseminadores do rap no Brasil reconheceram que o movimento podia ser abraçado por todos que lutam por igualdade. E o Hip Hop engajado, mesmo sendo um movimento de minorias, explodiu em rede nacional. O produtor musical e professor de História, Jairo Mendes Versiani, 41, ressalta que, como qualquer estilo, o rap acompanhou a transição Arquivo “Lá na Favelinha”
Das ruas de BH
para o mundo Em Belo Horizonte é comum encon-
desses movimentos, a gente percebe que
trar grupos que incentivam os movimen-
cada vez mais pessoas têm tomado consci-
tos artísticos de rua. Batalha da Pista, a
ência de que a cidade é nossa, é do povo”.
Rapa do Papa, a Batalha do Santê e a
— E nossa função é tomá-la para nós.
Batalha da Estação são exemplos de ocu-
Temos que abraçá-la, ocupá-la e, quando
pação na cidade. Os Duelos de MC’s sem-
falo ocupar, é ocupar a rua mesmo, o pas-
pre revelam novos talentos e também
seio, as praças, os viadutos, tudo. É literal-
atuam como estímulo para que os jovens
mente tudo nosso!
deem sua contribuição para o rap. Um
Tendo o rap como principal artifício
deles é João Paiva, rapper mineiro que vai
para atrair jovens para mobilizações de
representar o Brasil em uma competição
arte, João Paiva destaca a importância des-
de poesia na França, em junho. Em 2014,
sas atividades de rua como forma de cons-
ele foi campeão do SLAM-BR (o nome é
cientização. Ele afirma que as ocupações
uma referência aos torneios de esportes
artísticas mostram para as pessoas que elas
como o tênis — Grand Slam), competição
não precisam esperar que o governo faça
em que poetas campeões dos SLAM’s de
algo de bom por elas — “elas podem fazer
BH, São Paulo e Rio de Janeiro interpre-
por si mesmas e garantir que tudo seja do
tam composições autorais. João conquis-
nosso jeito e não do deles”, completa.
tou a vaga para o SLAM mundial, que é
Certo é que, se o Estado não dá o
realizado uma vez por ano, em Paris, e
devido incentivo à periferia, as pessoas de
recebe representantes de 24 países.
lá tomam a iniciativa e enfrentam a reali-
“Esse momento que a cultura de rua
dade do seu jeito. Mostram para o mundo
de BH está vivendo está muito bonito”,
que ali onde cresceram também existe
acredita João, observando que “não só por
gente capaz de executar belas obras. O rap
este patamar que atingimos, num nível
é apenas uma delas. Afinal, a flor de lótus
mundial, mas também por que a partir
nasce no pântano.
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de gerações, e hoje se encontra disseminado em diversas camadas sociais. Inclusive nas que não é direcionado. — A globalização fez com que surgissem novas pessoas interessadas em movimentos de rua. No entanto, isso não significa, necessariamente, que o rap teve uma ascensão, mas demostra que ele passa por uma nova fase. Hoje o rap se tornou um estilo musical como qualquer outro. Possui várias espécies, ainda adota a resistência como principal mecanismo, mas que abre espaço para outras opiniões. Além dos grupos que faziam letras compactuáveis com a cultura original do manifesto, surgiram os que representam em suas letras a realidade de outras classes sociais. O que gerou o questionamento em relação a mudança de foco do movimento, que estaria perdendo sua essência. — Essa nova safra do rap não sofre tanto quanto antiga, mas também tem o direito de se manifestar. Alguns falam de álcool, drogas e mulheres; temos o rap da ostentação; outros falam de amor e fazem o ‘rap romântico’. Foram vertentes que, querendo ou não, se integraram e formaram a cena atual do hip hop no Brasil — teoriza Versiani.
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trânsito
Se ficar, o carro pega;
se correr, pega também Semáforos de BH causam problemas. A disputa entre motoristas e pedestres mais se parece com um verdadeiro ringue
Ycaro Rodarte e Elias Costa
do Colégio Franciscano Sagrada Família
(Centro de Estudos e Atividades para
3º período
e nos estudantes do Centro Universitá-
Melhor Idade), esses com idade entre 80 e
Cada vez mais, o cidadão que vive nas
rio Newton Paiva, que convivem diaria-
90 anos. Os idosos são obrigados a fazer um
mente com o perigo.
esforço além da capacidade para alcançar
grandes cidades brasileiras se sente como um “estranho no ninho”. As cidades, dia após dia, se mostram como um espaço pla-
o outro lado da movimentada avenida. Há QUEBRA-MOLAS
dificuldade até nos desembarques em
nejado apenas para os automóveis. E cada
“A empresa responsável pelo trân-
frente ao prédio da escola por não haver
vez menos para os humanos. Em alguns
sito não pode fazer a alteração de um só
sinalização, permitindo parada para
casos, o simples ato de atravessar uma rua
sinal devido ao sincronismo que existe
embarque e desembarque de pessoas.
se torna um problema tão grande, que
entre os demais sinais instalados ao
Como se não bastasse, alguns moto-
ganha contornos quase surreais. Exemplo
longo da via”, é o que explica o diretor do
ristas também não respeitam o sinal ama-
disso é o que acontece na Avenida Carlos
Colégio Sagrada Família, Ilton de Oli-
relo. Não são poucos os que aceleram
Luz, no bairro Caiçara, região Noroeste de
veira, 48. Ele ainda conta que já foram
ainda mais para avançar antes que acenda
Belo Horizonte, na altura do número 800.
entregues três ofícios à BHTrans solici-
o sinal vermelho. Para o diretor do colégio,
O local é ponto de travessia de estu-
tando melhorias no local. Um deles é
a saída mais viável, no momento, seria
dantes de dois grandes estabelecimen-
justamente o pedido para aumentar a
construir uma elevação (o popular que-
tos de ensino e há um sinal de trânsito
duração do tempo do semáforo aberto.
bra-molas) na faixa de pedestres, a fim de
programado com tempo de aproximada-
Outro problema exposto foi o fato de a
obrigar os motoristas a reduzirem a acele-
mente... 13 segundos! Isso tem provo-
escola receber alunos a partir de dois anos
ração dos carros. Até agora, nenhuma
cado dores de cabeça nos pais de alunos
de idade e também alunos do CEAME
providência foi sequer cogitada. Daniel Oliver
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SEM TRANQUILIDADE O problema não é de hoje e já houve
Pior ainda para os alunos de uma
nos. Isso, no entanto, não tranquiliza os
vários atropelamentos no local. A ave-
escola infantil localizada no mesmo
responsáveis pelas crianças. Alina
nida possui um canteiro central
quarteirão, que não podem atravessar
Mariani de Souza vem buscar a sobri-
pequeno, que é insuficiente para a quan-
sozinhos e são obrigados a aguardar a
nha e conta que os riscos são muitos,
tidade de pessoas que precisam fazer a
vez em cima da pequena calçada cen-
“pois as crianças são imprevisíveis e
travessia. Amanda Cordeiro da Silva,
tral. “O canteiro fica cheio de crianças, é
qualquer descuido pode se transformar
23, é recepcionista de uma concessioná-
um perigo; as professoras passam
em uma tragédia”. A recomendação
ria de automóveis próxima ao semáforo
aperto danado para atravessar todas as
feita pelos colaboradores do colégio é de
e conta como é difícil chegar do outro
crianças em segurança”, afirma
sempre manter a calma e não ter pressa
lado sem ter que apressar os passos. “O
Amanda.
na hora de atravessar a rua, além de
tempo é insuficiente, quando você está
Desde que assumiu a direção da
dividir os estudantes em pequenos gru-
no meio da avenida, o sinal do outro lado
escola, Ilton de Oliveira afirma não ter
pos para que se tenha o mínimo de segu-
da rua já fechou”, conta.
ciência de acidentes envolvendo os alu-
rança possível.
EM AVALIAÇÃO... A assessoria de comunicação da
população e os demais circulantes. Ape-
prometendo dar um jeito nisso e até
BHTRANS informou que a empresa está
sar de nem ter data prevista para o início
hoje... Nada”, duvida.
avaliando o local para possível implanta-
das atividades no local, os alunos veem a
Sobre os acidentes no curso da ave-
ção de Traffic Calming, método empre-
promessa como um avanço. Estudante do
nida, os boletins de ocorrência são feitos
gado em alguns países da Europa, como a
curso de secretariado da Newton, Luíza
no 34º Batalhão de Polícia Militar/1
Alemanha e Holanda. Nada mais é do que
Vieira, 19, acredita que “diante dos pro-
RPM e direcionados para o Batalhão de
uma política para a redução da velocidade
blemas e reclamações existentes nesse
Polícia de Trânsito (BPtran) situado na
dos veículos em áreas edificadas, tendo
ponto, sem dúvida alguma a criação vai
Avenida Amazonas no bairro Gameleira,
em vista a redução do impacto ambiental
oferecer bem-estar e conforto para todos”.
que faz o monitoramento na região.
produzido por esses automóveis. Prevê
Mas Mauro César Rodrigues, 38, que tra-
Todos os dados com o balanço final de
também a criação de ciclovias.
balhou de garçom durante 15 anos em um
e n v o l v i d o s s ã o re p a s s a d o s p a r a o
Teoricamente, a inserção do projeto
bar das proximidades, prefere dar uma de
Estado, com as informações de vítimas
tende a garantir a tranquilidade para a
São Tomé. “Tem 15 anos que eles estão
fatais ou não fatais.
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Religião
O Candomblé contra o ódio
Em ato pacífico, praticantes do Candomblé lutam contra o preconceito e pedem por liberdade e respeito. Mas por que? Pedro Munhoz
enquanto, ainda sem seus paramentos,
3º período
esmerava-se em montar o evento, junto
O motivo do ato, que enfeitou a
com cerca de vinte pessoas, a apenas
Liberdade de flores e levou até um dos
meia hora do começo estipulado para a
cartões postais de Belo Horizonte o som
realização.
de cânticos e o rufar de tambores, é que,
No dia 15 de abril, uma quarta feira ensolarada, homens, mulheres, idosos e
QUEM FALA MAIS ALTO?
crianças se paramentaram de branco e
Makota explicou que, para que o uso
no caso do Brasil, a voz do preconceito,
seguiram para a Praça da Liberdade, na
de som fosse permitido, era necessário
muitas vezes, fala mais alto do que a das
Zona Centro-Sul da capital mineira, para
que o evento fosse classificado como
leis. Membros de religiões relativamente
lutar por um direito que, curiosamente,
manifestação e, ao que parece, aquele
pequenas e muito estigmatizadas, os
já lhes é garantido pela Constituição: o de
movimento não se qualificava para a pre-
candomblecistas, umbandistas e segui-
exercer livremente sua religião.
feitura como tal, mas como um “ato”.
dores das religiões de matriz africana
A Praça, que já havia sediado, dias
A organizadora do protesto (ou ato),
como um todo, embora tenham sua liber-
antes, um protesto de natureza política,
ainda relatou que teve dificuldades para
dade de culto garantida pelas leis, são
parece, no entanto, não guardar a mesma
licenciar o evento que teria lugar na
cotidianamente obrigados a conviver
quantidade de liberdade para todos os
Praça. A prefeitura havia, segundo
com os olhares enviesados, com a pecha
manifestantes que desejam fazer uso
Makota, declarado que “a Praça da Liber-
de satanistas ou de feiticeiros e, até
dela. Enquanto na primeira manifesta-
dade já estava reservada para o uso do
mesmo, com ataques brutais aos seus
ção, a de natureza política, notou-se a
Exército Brasileiro”. Porém, vencida a
locais de culto por parte de seguidores de
presença de carros de som, a esta, bem
questão do exército que, por algum
outras crenças.
menor, foi negado pela prefeitura o
motivo, desistiu de ocupar a praça, o local
A reportagem d’O Lince acompa-
direito ao uso de som mecânico. “Acaba-
foi, rapidamente, decorado com belas
nhou o ato promovido em Belo Hori-
ram de dizer que não pode usar o som”,
flores, vasos, tambores e esteiras no chão.
zonte, que tinha por objetivo contribuir
explicou Makota Celinha, presidente do
A ideia, segundo a presidente do CENA-
para a difusão da cultura do Candomblé e
Centro Nacional de Africanidade e Resis-
RAB, era “ocupar a Praça com beleza,
entregar ao Ministério Público Federal
tência A fro-Brasileira (CENARAB),
para afastar a feiura do preconceito”.
uma carta que pede a investigação dos
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“Gladiadores do Altar”, grupo ligado à
DELEGACIA DE COSTUMES
era o catolicismo, os africanos ou brasi-
seita Igreja Universal do Reino de Deus,
D e f a t o, s e g u n d o M á rc i o Ta t a
leiros escravizados eram, por decreto,
que adota ritualística próxima do milita-
Kamus’ende, presidente do Afoxé Ban-
obrigados a seguirem os dogmas da
rismo e que, na visão dos membros das
darerê e seguidor do Candomblé desde
Igreja Católica.
religiões de matriz africana, pode consti-
a infância, a história do preconceito
Quando, finalmente, o país deixou
tuir séria ameaça ao estado laico e à liber-
contra a sua religião é antiga. “Até 1988,
de ter uma religião oficial, passando a se
dade religiosa.
quando mudou a Constituição, nossa
considerar como laico, crimes como os
A Igreja Universal do Reino de Deus,
Casa era obrigada a levar livro de atas
de charlatanismo e curandeirismo conti-
aliás, é vista por boa parte dos entrevista-
na Delegacia de Costumes, do mesmo
nuaram a ser usados pelas polícias para
dos como uma das principais difusoras
jeito que prostíbulos e casas de jogo de
discriminar as religiões de matriz afri-
do ódio contra as religiões de matriz afri-
azar”, relembrou.
cana. No entanto, a polícia faz vista
cana no Brasil. Desde que o “bispo” Edir
Toda a história do Brasil parece ser
grossa para as promessas de exorcismos e
Macedo, ainda em 1997, publicou o livro
marcada por uma perseguição sem tré-
de banhos de descarregos praticados a
Orixás, Caboclos e Guias, deuses ou
guas à religiosidade dos Povos de Santo.
torto e a direito pelas neopentecostais.
demônios?, em que considerava as enti-
No período colonial, a lei punia com
Agora, depois de garantida pela lei a
dades cultuadas por Candomblé e
castigos corporais as pessoas que se
liberdade de culto, os praticantes do Can-
Umbanda como demoníacas, a religião
recusassem a seguir a religião católica e
domblé passaram a ter que enfrentar os
tem atacado em seus programas televisi-
uma parte considerável dos acusados
ataques cada vez mais virulentos de
vos e jornais impressos a religiosidade de
de feitiçaria pela Inquisição Portu-
membros de religiões neopentecostais,
matriz africana incansavelmente, contri-
guesa no Brasil estava, na verdade,
projetos de lei que, na prática, vão limitar
buindo para reforçar os estigmas negati-
realizando rituais de origem africana
a liberdade religiosa e os fantasmas da
vos que sempre acompanharam os Povos
o u i n d í g e n a . D u r a n t e o I m p é r i o,
incompreensão quanto às crenças e ritos
de Santo no Brasil.
quando a religião oficial do Brasil ainda
inerentes à sua religiosidade.
FOTOS Daniel Oliver
ESTADO LAICO? Em abril de 2014, após o Ministério Público Federal entrar com uma ação pedindo a retirada de vídeos da internet, a maior parte deles ligados à Igreja Universal do Reino de Deus, em que se desferiam ataques contra a religiosidade de matriz africana, o Juiz Eugênio Rosa, da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro, proferiu uma sentença, no mínimo, polêmica. Rosa, para negar que os vídeos atentassem contra a liberdade religiosa, dando ganho de causa à IURD, simplesmente declarou que os cultos afro-brasileiros não podem ser considerados religiões. O juiz, para sustentar sua afirmativa, alegou que faltariam aos “cultos”, os traços necessários para uma religião que, segundo o juiz, seriam “um texto-base (corão, bíblia, etc.), ausência de estrutura hierárquica e ausência de um Deus a ser venerado”. A sentença, da qual se retratou o juiz no mês seguinte, ilustra com bastante pertinência a preocupação de muitos dos praticantes do Candomblé entrevistados. Parece haver, no Brasil, para a maioria deles, um secularismo pela metade que protege o cristianismo, em suas diferentes vertentes, mais do que religiões como o Candomblé e a Umbanda. 10
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
Jornal Laborat贸rio do Curso de Jornalismo do Centro Universit谩rio Newton paiva - Maio de 2015
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QUE LIBERDADE É ESSA? O advogado e sacerdote do culto Omo-
Márcio Tata Kamus’ende observa
lokô, Fernando de Paula Cortese Filho,
que, por vezes, as pessoas ficam reclusas
entrevistado em seu escritório, externa
por quinze ou vinte dias no terreiro e que
essa preocupação: “Se você quiser fazer
os animais sacrificados são, todos eles
um culto, hoje, na Praça Sete, você vai
utilizados para a alimentação. “Se eu
sofrer perseguição, enquanto os evangéli-
mato um cabrito e alguns frangos pra
cos chegam lá com a Bíblia, levam o micro-
essas pessoas poderem comer, sou eu que
fone e fazem o culto deles livremente. Essa
sou ruim? A JBS, dona da Friboi, mata
é liberdade plena, mas não é plena para a
milhares de bois por dia e não é problema.
gente”, afirmou Cortese, como vários
O peru de natal morre por causa de uma
outros entrevistados. O também advogado
festa religiosa e não é problema. E o meu
Paulo Afonso Moreira reforça a diferença
bode, o frango que eu mato para dar de
de tratamento que o estado confere às reli-
comer ao pessoal é problema?”, desabafa.
giões de matriz africana e às derivadas do
Essa diferença de tratamento atribu-
cristianismo: “O Estado quer que exerça-
ído às diferentes religiões, segundo afir-
mos nosso culto, mas não quer que toque-
maram, unanimemente, os entrevista-
mos nosso candomblé, não querem que
dos pode ser atribuída, além de à igno-
sacrifiquemos nossos animais... que liber-
rância sobre os preceitos do Candomblé,
dade de culto é essa?”.
também ao racismo. Paulo Moreira
A controversa questão do sacrifício de
observa que não é apenas o Candomblé
animais, praticado no Candomblé, que
que é alvo de preconceito no Brasil, mas a
tem sido alvo de reiteradas tentativas de
música negra, a capoeira, os trajes, os
proibição tanto por parte de parlamenta-
tambores. “Tudo que se relaciona à ques-
res ligadas às igrejas neopentecostais
tão do negro no Brasil é uma verdadeira
quanto da parte de defensores da causa
luta. Matamos não um, mas cinco leões
animal, também interfere, segundo os
por dia. É claro que esse preconceito tem
entrevistados, na liberdade religiosa.
relação com o racismo.”
DESIGUALDADES HISTÓRICAS Fernando Cortese, no mesmo sentido, afirma que nossa sociedade ainda tem imensa dificuldade para respeitar qualquer manifestação, seja religiosa, cultural ou acadêmica, que venha do negro: “vivemos em um país de maioria negra, com grande influência africana e quase nada se discute a esse respeito nas escolas e nas faculdades”, observa. A caracterização do Brasil como estado laico que, significa, em suma, não adotar religião oficial para que se possa defender a liberdade de exercício e igualdade de condições entre todas elas, parece esbarrar, ainda hoje, nas desigualdades históricas que forjaram a história do país. Uma boa solução para o preconceito religioso parece ser a lapidar observação de Donné Sandra de Vodun Djó: “Tudo que passa pelo sagrado e que respeite o ser humano é bom, e a melhor religião do mundo é aquela em que a pessoa se sente bem nela. Ninguém tem o direito de agredir a religião de ninguém, e quando eu vejo evangélico agredir outro religioso, eu vejo o Cristo dele sendo crucificado novamente”. Parece simples, não?
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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
ENTENDA O CANDOMBLÉ O Candomblé deriva dos cultos ani-
tais das águas... tudo, tudo, tudo é
mistas africanos e se transformou em uma
sagrado.”, afirma Doné Sandra de
religião unificada devido ao fato de os
Vodun Djó, uma senhora negra, de cerca
africanos escravizados de diferentes ori-
de 70 anos de idade, que desmente,
gens que aqui aportaram terem, constan-
ainda, a concepção de que o Candomblé
temente, convivido e trocado experiências
seja, essencialmente, uma religião poli-
entre si. Segundo Flávio de Oxalá, estu-
teísta: “Deus para nós é um só, mas cul-
dioso e adepto do Candomblé, original-
tuamos a essência da natureza”. Flávio
mente, cada cidade ou nação africana
de Oxalá, que estava ao lado de Sandra,
cultuava um orixá diferente. Apenas no
completa: “Cada orixá representa um
Brasil, com a mistura entre pessoas oriun-
elemento da natureza. Cultuamos a
das de diferentes culturas nas senzalas,
água doce, a água salgada, o fogo, o tro-
reuniu-se, no mesmo panteão, o culto a
vão, o ferro, toda a natureza, que é o que
diferentes orixás, voduns ou nkisis, pala-
nos mantém vivos. Mas o Deus, o cria-
vras diferentes que designam as entidades
dor, é um só”.
responsáveis por forças da natureza, todas elas cultuadas pela religião.
Ainda segundo Doné Sandra, o sincretismo religioso, manifestado pelo fato
Flávio faz, ainda, questão de diferenciar
de diversos orixás serem representados,
o Candomblé da macumba. A palavra
no Brasil, pelas imagens de santos católi-
macumba, segundo o estudioso, pode signifi-
cos, não se deve apenas à perseguição
car tanto uma árvore africana, como um
sofrida pelos escravos e pela tentativa de
instrumento musical feito da madeira dessa
camuflar sua religiosidade: “Eles joga-
árvore, não sendo termo apropriado para
vam os búzios e descobriram que, em
designar religião alguma. O termo, no
vida, Santo Antônio era regido por Ogum,
entanto, tem sido utilizado, de forma pejora-
que Santa Bárbara era regida por Iansã.
tiva, para desqualificar tanto o Candomblé
Eles viram que Nossa Senhora era filha
quanto a Umbanda.
de Oxum e pode-se dizer, também, que o
“Candomblé é a preservação da vida em toda a sua plenitude, tanto dos vege-
anjo da guarda de Maria era Oxum. E assim se fez o sincretismo”.
RELIGIÃO ECOLÓGICA Extraordinariamente rico, o panteão
combater o preconceito é por meio da
De acordo, porém, com Dona
do Candomblé contempla mais de 600
educação. “No final do ano, todo mundo
Ivone, 76, católica, que passava pela
orixás. A proximidade da religião com os
de cara cheia, dá três pulinhos na onda lá.
praça ao sair do cinema com uma
fenômenos naturais faz dela, segundo o
Não sabe porque, mas dá. Joga lá uma
amiga e se fascinou pelo evento, o ato
advogado e axogun Paulo Afonso Moreira,
rosinha, sem saber porque, mas joga... é
que estava em curso, seria, já, uma
70, “uma religião ecológica”. De acordo
moda, é bonito, mas tem pouca informa-
abertura para que o preconceito con-
com Paulo, inclusive, todo o preconceito
ção. Isso tinha que ir para as escolas, para
tra o Candomblé começasse a ser
que existe contra a sua religião advém,
as universidades, de forma qualificada.”
debelado. Segundo ela, aquela era
justamente, da ignorância a seu respeito.
Márcio alega que só recentemente o Bra-
uma boa oportunidade para as pes-
“Se as pessoas conhecerem o Candomblé
sil passou a ter, por meio das cotas raciais,
soas conhecerem a religião e “abrirem
do jeito que ele é, sem distorcer, o precon-
estudiosos negros que conhecessem,
um pouco a cabeça”. Durante a entre-
ceito acaba”, sentencia.
mais de perto, a cultura afro-brasileira,
vista, no entanto, uma jovem que
O Xikaringoma (cantor ritual do
havendo, ainda, poucos professores capa-
passava por perto do coreto, olhou
Candomblé) Márcio Kamus’ende parece
zes de ensinar aos jovens algo sobre o
para o evento com cara fechada e fez o
concordar que a principal maneira de
Candomblé.
sinal da cruz.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
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economia
Terceirizar ou não:
eis a questão? Projeto segue rumo ao Senado para nova discussão, gerando mais conflitos entre a classe trabalhista e empregadores posta envolve exatamente a atividade-
cos do PL 4330 já pontuam alguns de
Eurico de Souza
-fim, pois pede que, mesmo nos setores
seus pontos negativos. A terceirização vai
3º período
de objetivo final de uma empresa, seja
degradar as relações de trabalho, uma
Uma queda de braço como há muito
possível a terceirização. Na votação pela
vez que não existirão problemas de falta
não se via. A discussão que envolve o Pro-
Câmara dos Deputados, o destaque fica
por adoecimento do trabalhador, atrasos
jeto de Lei 4330, que praticamente libera
por conta da aprovação da emenda que
e dificuldades para o cumprimento do
os processos de terceirização no Brasil,
impede a terceirização nos órgãos públi-
contrato de trabalho. Sem falar no esfa-
repudiado pelas esquerdas e pela classe
cos. De acordo com a advogada especia-
celamento da organização sindical e
trabalhadora, redesenha, mais uma vez a
lista em direito trabalhistas, Amanda
achatamento salarial. O PL 4330 estabe-
nova face da direita, num debate cheio de
Azeredo, é preciso esperar, para ver
lece que somente quando a terceirização
marchas e contramarchas. De um lado, os
quais mudanças vão realmente aconte-
for entre empresas da mesma categoria
sindicalistas, que temem o fim dos direitos
cer na prática.
econômica é que seria assegurada a
trabalhistas, achatamentos de trabalho e
— O projeto ainda vai passar pelo
mesma representação sindical. Isso rara-
demissões em massa. Do outro, empresas
Senado e pode ser que haja emendas,
mente acontece, uma vez que a empresa
com discurso de que a terceirização traria
sem falar que ainda tem que passar pela
contratada para prestação de serviços é
mais competitividade e novas vagas no
Presidente Dilma Rousseff, que poderá
de outro setor econômico, prejudicando
mercado. E em meio a isso tudo, muita
vetar ou aprová-lo.
assim a organização da categoria. Com
gente perdida, sem saber o que representa o Projeto de Lei.
A existência de uma lei específica para a terceirização é um ponto defen-
isso, os Acordos Coletivos e Convenções Coletivas estão ameaçadas.
Terceirização é quando o trabalha-
dido pelos simpatizantes do projeto. A
Pontuando ainda, o estímulo à pejo-
dor deixa de ter contato direto com o
regra, para os simpatizantes, traria mais
tização, o projeto de lei legaliza e amplia
empregador/tomador de serviços e
estabilidade e segurança jurídica para
a figura dos PJs, que são empresas de
passa a servir a prestadora de serviços
trabalhadores e empregadores. No
uma pessoa só. A modalidade de relação
que vai ter contato direto com a empresa
entanto, a possível aprovação da tercei-
será estimulada porque o ônus ficará
responsável, tendo essas três partes. O
rização traria o risco de redução na
apenas para o trabalhador, que não terá
principal objetivo do PL 4330 é regula-
remuneração dos trabalhadores, uma
direito a adoecer, tirar férias, faltar ao
mentar esse processo. Na Legislação
vez que um estudo realizado pela Cen-
trabalho, ter FGTS. E o INSS terá que
atual, não há nenhuma lei direta sobre a
tral única dos Trabalhadores (CUT), em
ser incluído no custo de sua empresa,
terceirização, sendo administrada pelo
parceira com o Departamento Intersin-
caso ele queira pagar.
Tribunal Superior do Trabalho, com a
dical de Estatística e Estudos Socioeco-
De acordo com o professor Ramon
súmula 331, de 2003, que diz que a ter-
nômicos (DIEESE), em 2014, apontou
Peres, mestre em administração de empre-
ceirização só é possível para as ativida-
que o trabalhador terceirizado receberia
sas e especialista em planejamento estraté-
des que não correspondem à atividade-
cerca de 25% a menos pelo mesmo ser-
gico e gestão de pessoas, “o argumento de
-fim, ou seja, o produto final da empresa.
viço prestado.
que o PL 4330 irá salvar a economia é balela,
A principal polêmica da nova pro-
14
Se a direita tem seus trunfos, os críti-
falácia de empresários que visam o aumento
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
de seus lucros”. Peres divide a ideia que os
direitos. “A terceirização só beneficia o
empresas, na perspectiva de reduzir cus-
lucros gerados pela precarização do traba-
empregador”, finaliza o estudante.
tos, vão gastar muito menos em treina-
lho não serão investidos em prol da socie-
A estudante de jornalismo, Kelly
mentos, formação e equipamentos de
dade, mas sim em função de aumentar as
Cristina Santos, também não concorda
segurança no trabalho, além de aplica-
riquezas de quem os conseguiu. “A visão do
com a aprovação desta lei, pois acredita
rem maior intensidade no trabalho, com
empresário é de maximizar lucros e acho
que o PL 4330 livra as empresas de mui-
jornadas mais longas e extenuantes”.
que ele não está errado, não, mas é preciso
tas responsabilidades que ela deve ter
Segundo Nascimento, as estatísticas
lembrar que o que as empresas têm de mais
para com o trabalhador.
mostram que em cada dez acidentes com
importante são as pessoas, seus funcioná-
— Prejudica muito, e traz como prin-
rios, que não têm sido valorizados e tratados
cipal consequência a instabilidade no
com carinho pelas organizações”. Isso se
emprego. Com uma lei mais flexível, pode
Maior rotatividade de pessoal,
comprava pelo aumento do número de tra-
ser que haja maiores índices de acidente.
queda na arrecadação do Estado com
balhadores que estão com problemas psico-
O professor Ramon Peres lista algu-
impostos e encargos sociais, comprome-
lógicos (depressão e estresse) gerados no
mas das principais consequências. “Pri-
tendo aposentadorias, pensões e licen-
trabalho, afirmou o professor.
vítimas fatais de trabalho no Brasil, oito são trabalhadores terceirizados.
meiro, aumentará a precarização do
ças saúde seriam outros pontos negati-
Na opinião do estudante de ciências
trabalho, dos salários e dos direitos dos
vos. A advogada Helenice Vieira não
sociais, Tales Augusto, a terceirização
trabalhadores; os terceirizados ganham
acredita na queda na qualidade dos
acarreta em grande proporção, a precari-
em média 24% menos e têm jornadas
produtos ou prestação dos serviços,
zação do trabalho e das condições do tra-
pelo menos três horas semanais a mais.
mesmo quando questionada sobre o fato
balhador. Para ele, a terceirização é
Sem falar que não recebem participação
de o trabalhador terceirizado não ter
herança do neoliberalismo econômico,
nos lucros e valores ínfimos referentes a
identificação com a cultura da organiza-
que nos anos 1980, precisava de leis traba-
tíquetes refeição e raramente recebem
ção, pois não faz parte dela e está ali
lhistas flexíveis para controlar a força de
auxílio-alimentação”.
somente para desempenhar uma fun-
trabalho. Assim, sindicatos enfraquecidos
Aumento dos acidentes, adoecimen-
ção sem perspectivas de promoção.
e a mão de obra fragmentada faziam com
tos e mortes no trabalho são outro item
“Tudo depende de uma boa conversa
que as reivindicações dos trabalhadores
forte na pauta dos detratores do PLK
entre patrões e empregados”, acredita.
fossem dificultadas, se tornando muito
4330, segundo o advogado trabalhista
complicada a união pela luta por melhores
Maxuel Nascimento da Silva, “pois as as
O Projeto, já aprovado na Câmara dos Deputados, agora segue para o Senado.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
15
“
fotos: Fernando Bezerra
A roupa mais democrática que existe é o jeans!
Não ter preconceito, isso é feio ou aquilo é bonito. Tudo vale da personalidade pessoal. Não precisa ter rótulo.
entrevista
“A moda é o
fio condutor
de tudo” Fernando Bezerra e Brunna alves
3º período/ 5º período Paris, Milão e Nova York são capitais que se tornaram referências no mundo da moda. Ditam tendências que influenciam os estilistas brasileiros, mais precisamente em São Paulo e Rio de Janeiro, onde são realizados os principais desfiles do país — São Paulo Fashion Week e Rio Fashion
É importante você aprender a conhecer as pessoas através da imagem e não julgá-las.
“ 16
Week. No entanto, o cenário da moda em Minas Gerais também tem ganhado força. E pode-se atribuir parte dessa ascensão a Zeca Perdigão, um dos percussores da moda mineira. Desde os doze anos de idade, Zeca já brincava de desenhar roupas para as mulheres que admirava. Seus pais eram donos da loja de tecidos mais bem conceituada da cidade, a “Casa Rolla”, que tinha várias outras lojas da marca espalhadas pela cidade. Com o passar do tempo, foi tomando gosto pela moda, e, o que começou como brincadeira, se tornou um trabalho sério e reconhecido. Hoje é um dos produtores de moda mais importantes do Brasil; participou de todas as sete marcas do Grupo Mineiro de Moda e produziu mais de duzentos desfiles. Zeca Perdigão falou à reportagem d’O Lince:
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
Lince - De que forma a personalidade
influencia no estilo pessoal de se vestir? Zeca - Olha, eu acho que o fundamental
bem vestida” ... Não é por ai. Você tem que se
mundo tem. Bom gosto é o que poucos têm.
adequar ao momento em que se encontra.
Gosto é indiscutível. Bom gosto, não. Então,
Isso é que é correto.
assim, se informando, acabar com os precon-
é ter personalidade pra você se destacar. A moda é um instrumento. Não tem essa história de a pessoa estar bem vestida, mal vestida,
ceitos. Você pode ser muito bem vestido, com Lince - E de forma econômica, dá pra
andar na moda?
chinelo de dedo da maneira que você quiser. Mas tire alguma coisa, seja divertido e bola
ser jeca, ser cafona. Cada um tem sua tribo,
Zeca: Sim, pois a roupa mais democrá-
pra frente! Porque não tem como sugerir pra
escolhe a melhor maneira de se vestir. Não
tica que existe é o jeans. A Forever por exem-
uma pessoa, faça isso ou faça aquilo. E não
tem como dar conselho sobre moda; a moda
plo, vende jeans a R$ 39 e tem jeans a R$ 700.
precisa comprar roupa cara. É até ridículo
é um conjunto de fatores. Envolve o cinema,
Então, quer dizer, é uma roupa democrática.
pra uma pessoa estar grifada de cima a baixo,
a cultura, o teatro, a literatura, a curiosidade
Uma chuck branca e uma calça jeans, se ela
isso é falta de personalidade. O legal é a mis-
das pessoas. É não ter preconceito, isso é feio
for correta, limpinha, bacana, ótimo! Um
tura de etiqueta cara com uma camisa
ou aquilo é bonito. Tudo vale da personali-
chinelo de dedo, uma sandália havaiana...
barata. São essas misturas que eu acho
dade pessoal. Não precisa ter rótulo.
Eu não consigo imaginar uma pessoa perto
bacana, essas tribos misturadas, é isso que é
da praia que não esteja de sandália havaiana.
bacana. Mas gosto de especialmente assim,
Lince – O importante é se sentir bem...
Claro, eu não vou usar pra sair, mas todo
de pessoas que se encontram e que são
Zeca – Claro. A pessoa deve se vestir de
mundo usa. Há, sim, um jeito de andar na
daquela turma: se são punks são punk’s; se
maneira que ela se sinta bem. Agora, a moda
moda de maneira muito econômica. Você
são hipsters são hipsters, se são universitá-
é um instrumento pra você conseguir várias
usar uma bermuda, uma calça jeans, chega
rios... Eu gosto quando elas se encontram
coisas na sua vida, pois nosso primeiro con-
ser até um chame.
sem brigarem entre si, que se unam e que
tato, uns com os outros, é visual. Se ela é da
formem a moda. Mas é importantíssimo que
minha tribo ou se eu vou fazer de tudo pra
Lince - Muitos de nossos estudantes
você tenha cultura de moda. Eu tenho uma
entrar na tribo dela. É importante você
aliaram a moda com o humor pra se vestir.
estante que só tem revista de moda, de editor
aprender a conhecer as pessoas através da
Você concorda com isso?
desde os anos oitenta. Hoje tem a internet,
imagem e não julgá-las. É aprender com
Zeca- Adoro! Eu acho que tem que ser
você tem mil acessos, é importante você ver.
aquilo. Eu acho o ser humano divertido e a
engraçado. Eu adoro gente divertida. Tem
Cinema, acompanhar os desfiles, é bom você
moda divertida. A personalidade e a moda
pessoas que eu vejo com uma camiseta ou
estar ligado com isso.
são duas coisas que devem andar juntas, não
uma regata com mensagens bacanas. Eu sou
importa como sejam.
um palhaço, eu sou uma personagem também! Procuro uma personagem todo dia; eu
Lince - É possível aliar o conforto ao bom
gosto? Zeca- Eu acho que sim, porque você
deve estar vestido adequadamente ao
Lince - Normalmente os homens têm
mais resistência.
me canso com minha figura. Eu gosto disso,
Zeca – Muito mais resistência. “Ai, eu
de brincar com a moda, de criar uma perso-
não quero ver isso!”. Mas eu acho que isso
nagem, de ser engraçado, leve. Adoro isso,
deixa um homem mais bacana. Eles ficam
adoro uma pessoa divertida!
mais sensíveis. Isso faz bem para as pessoas,
ambiente em que você se encontra. A forma
e junto com isso cinema, literatura, arte. A
que você vai arrumar o cabelo, você tem que
Lince – Você teria algum conselho para
moda envolve tudo isso, é um condutor, é o
estar bem maquiada... Não que eu me
as pessoas que ainda não definiram o estilo
fio condutor disso tudo! E isso faz com que as
importe com isso. Mas não se deve julgar as
próprio?
pessoas se tornem diferentes, mais criativas e
pessoas. “Ah, você é baranga, você não está
Zeca - Eu acho que é assim, gosto todo
que se deem melhor.
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
nzambi ia imoxi (O Deus é único) FOTOS Daniel Oliver
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comportamento
Onde cerveja é
coisa de mulher? Por enquanto, ainda é na publicidade (não é, Verão?), mas elas já estão chegando lá também como consumidoras. Mesmo que ainda enfrentem o preconceito para conquistar esse espaço
Daniel Silva e Bárbara Bernardes
3º período/ 1° período
Vale lembrar que, de acordo com
por exemplo, cerveja e, principalmente, a
uma pesquisa, as publicidades obtêm
tequila são associadas, em sua publicidade,
mais sucesso quando utilizam esses três
a calientes imagens femininas.
Por muitos anos o envolvimento da
modelos em sequência: mulher, criança
Outra explicação está no período do
mulher com a cerveja se dava somente na
e cachorro. No entanto, um novo cami-
dia em que os destilados são consumidos,
publicidade. A comercialização da maioria
nho encontrado pela publicidade é a
uma vez que, uma pessoa normalmente
das bebidas alcóolicas tinha (e, em parte,
utilização do humor.
consome esse tipo de drink em locais com
ainda tem) como pilar a exposição da
— Assim como o brasileiro aprecia o
mulher. Uma exposição que acontecia de
erotismo, ele também gosta de dar risadas.
Mas isso não a isenta de usufruir da
maneira tendenciosa e machista — mulher
Uma observação interessante des-
sensualidade feminina. Quem não se
não entende de cerveja e só serve pra ajudar
tacada pelo professor é em relação à
lembra da propaganda do vermute Cam-
a vender. Hoje, tudo faz crer que essa ideolo-
publicidade feita pela cervejaria Bavá-
pari? A mulher que, em uma festa, não
gia começa a se tornar coisa do passado.
ria, que se contrapõe às demais. A cena
conseguia ser notada, derrama proposi-
Apesar de ainda pequeno, o crescimento no
protagonizada por um senhor apre-
talmente uma bebida de cor averme-
consumo, por parte das mulheres, já é rele-
ciando a cerveja é interrompida por um
lhada em seu vestido branco, se tor-
vante em relação aos anos anteriores. Esse
jovem que o questionava sobre a falta de
nando mais provocante e diferente das
novo modelo de atuação promoveu mudan-
mulheres no comercial. O velhinho
demais. O desfecho do comercial se dá
ças consideráveis no mercado.
retruca, afirmando que a qualidade do
com a moça seduzindo um rapaz.
temperaturas mais amenas e agradáveis.
produto não dependia do apelo sexual.
Outras bebidas, como os uísques,
MULHER, CRIANÇA E CACHORRO
Ou seja, não era necessário mostrar
por exemplo, flertam mais com a tradi-
Mas, a imagem da mulher ajuda real-
mulheres nuas para vender cerveja.
ção, com o luxo e com ambientes mais
mente a vender cerveja? Segundo o
clássicos, mas sempre profundamente
publicitário e professor L amounier
CLUBE DAS DESTILADAS
masculinos, reforçando, pelo menos em
Lucas, 41, esse modelo de exposição da
Na contramão das cervejas, os des-
parte, o mito de que mulher não gosta de
mulher não tem uma resposta exata. Ele
tilados não adotam o mesmo modelo de
uísque. “Não conheço nenhuma mulher
acredita que a exposição feminina já
publicidade. Mas, para Lamounier, há
que gosta”, observa o empresário Cláu-
acontece desde o início da publicidade,
uma explicação real, já que este tipo de
dio Prado Jr., 28, que já fez parte de um
quando as propagandas eram voltadas
estratégia de marketing só faz sentido no
“Clube do Uísque”, formado só por
para o público masculino.
Brasil, devido ao clima tropical do país.
homens. Cláudio, que estudou e fez
— Os apelos eróticos eram cada vez
— Aqui, a cerveja é considerada
intercâmbio nos Estados Unidos, lem-
maiores, o que ocasionou o surgimento
uma bebida refrescante. É sempre asso-
bra que, lá, uma das bebidas mais famo-
das pinups, que eram mulheres desenha-
ciada ao calor, praia e mulher de biquíni.
sas, o bourbon Jack Daniels, sempre
das ou fotografadas de forma bem sen-
De fato, o clima parece que interfere e
teve sua publicidade associada ao blues
sual, explorando o erotismo para as
não só aqui. Em países latinos, de clima tro-
e a elementos da cultura do sul dos Esta-
campanhas publicitárias.
pical e cultura machista, como o México,
dos Unidos.
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A LEI Em 2000, o CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), por meio do artigo 44 a n e xo “ P ” - C e r v e j a s e Vinhos — regulamentou para as empresas publicitárias a não indução ao consumo exagerado ou irresponsável; apelo à sensualidade em áudio ou vídeo que sugira o consumo. Mas ainda não é o que se vê nas publicidades que circulam nos meios de comunicação. Taí a Verão que não n o s d e i x a m e n t i r ! Ve m , Verão!!!
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PALADAR AGUÇADO O consumo de bebidas por parte
A advogada e funcionária pública
das mulheres era bem menor se com-
Paula Noce, 35, é produtora e degusta-
parado aos tempos de hoje. A justifica-
dora de cervejas artesanais. Ela acredita
tiva talvez esteja no crescimento de
que, “infelizmente”, o espaço cervejeiro é
espaços gourmets e cervejarias artesa-
dividido em duas partes.
nais no Brasil. “O espaço para as
— Um lado é da produção em larga
mulheres foi se ampliando, tanto que
escala, ou seja, das cervejas de maior con-
hoje é possível encontrar cartas de cer-
sumo no Brasil, onde o machismo ainda é
vejas iguais às de vinhos”, afirma
grande. O outro lado é o das produções de
Lamounier. A explicação estaria no
cervejas artesanais, onde a mulher já tem
“paladar aguçado das mulheres, que
seu espaço consolidado, tanto na organiza-
consegue distinguir de maneira suave
ção de eventos, quanto na produção. Algu-
os sabores de uma boa bebida”.
mas já atuam até como mestre cervejeiras.
REQUINTE E CHARME Paula também se aventura na arte de produzir cervejas artesanais. Junta-
Pode parecer muito, mas a ideia é
unanimidade. A estudante de jorna-
ampliar a produção cada vez mais.
lismo Roberta Oliveira, 18, por exemplo,
mente com seu noivo, ela iniciou uma
Com o passar do tempo, se torna
até admite que gosta de cerveja, mas faz
produção caseira de trinta litros por mês,
mais nítida a importância da mulher
uma ressalva entusiasmada: “minha
apenas por hobbie, produzindo somente
como apreciadora ou profissional da
bebida favorita é a tequila”. A tequila,
para amigos e familiares. A média de
cerveja. O requinte, o charme e a delica-
aliás, vem conquistando terreno cada
preço da cerveja comercializada por ela
deza fazem parte do toque feminino
vez maior na área feminina. Já se tornou
fica entre R$ 7 a R$ 12.
para uma melhor apreciação deste pro-
comum as mulheres iniciarem uma noi-
duto tão desejado. Mas ainda não há
tada “com uma tequila básica”.
— Hoje produzimos setenta litros.
CONFRARIA FEMININA
22
Paula é frequentadora assídua de even-
mento nesse espaço”, afirma a advo-
tos de degustação de cerveja. E foi em um
gada, explicando que tudo isso é levado
desses encontros que ela, juntamente com
muito a sério.
mais quinze amigas, resolveu desenvolver
— Nos encontros é permitido
uma confraria feminina. Criada em 2012, a
somente o experimento de três a cinco
Cheers (em inglês, saúde) é exclusiva-
cervejas, e 200 ml para cada pessoa; isso
mente feminina. Os encontros são realiza-
para não comprometer os sabores e
dos de forma aleatória: Uma vez a cada mês,
nuances de cada experimento.
cada participante é responsável por organi-
A advogada reitera que o objetivo
zar as reuniões, que acontecem em casas ou
“não é beber quantidade, mas sim, qua-
bares especializados. Os encontros são
lidade.” A confraria já conta com uma
encarados com bastante comprometi-
página no Facebook, Instagram (com
mento, uma vez que a confreira escolhida
fotos dos eventos) e um blog com dicas
do dia tem a responsabilidade de comparti-
de cervejas e harmonizações. A utiliza-
lhar seus conhecimentos na área.
ção do meio midiático tem o intuito de
“Aqui há pessoas de diversas áreas,
divulgar os trabalhos realizados e
dentista, advogada, entre outras. Nosso
aumentar o número de mulheres inte-
principal objetivo é ampliar o conheci-
ressadas no assunto.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
cultura
Soul e blues em banca de revista
O saudosismo invade as editorias
roger leon
gênio contemporâneo da música. Esse
dois primeiros livros-CD’s afirmou em
5º período
negócio de música negra e música branca
entrevista à Folha que “o blues e o soul
não existe mais. É quase a mesma coisa que
serviram de veículos para que os negros
O blues surgiu nos Estados Unidos
falar que funk é música de pobre e música
norte-americanos pudessem se expres-
ainda na virada do século passado. O soul,
clássica é música de rico. Toda generaliza-
sar de maneira artística e em diferentes
que vem da fusão do ritmo com o blues (o
ção é burra.
épocas”.
rhythm’n’blues), em meados da década de
Para ele, o soul e o blues mesmo tendo
Em seu blog, uma postagem caracte-
1960. São dois dos gêneros musicais mais
perdido vários de seus grandes nomes
riza seu interesse pelo tema e seus princí-
expressivos. Do blues saíram o jazz e o rock.
continuam muito presentes na formação
pios para a realização do trabalho.
O soul inspirou quase todos os segmentos da
dos gêneros musicais de hoje. “Se pegar-
— Esse é um projeto que, de alguma
música negra, dos anos de 1960 para cá.
mos as grandes músicas que tocam no
maneira, eu já planejava realizar há bas-
As músicas começaram a surgir em
rádio hoje, principalmente dos ídolos do
tante tempo. Comecei a ouvir soul music e
épocas políticas muito intensas, em que
pop, vemos uma grande influência princi-
blues no início da adolescência, ainda na
as ruas americanas eram tomadas por
palmente na sonoridade. Até mesmo no
década de 1960, e até hoje aprecio muito
movimentos de liberalismo social, movi-
Brasil. a Legião Urbana e o Barão verme-
esses gêneros musicais. Aliás, aproveito
mentos contra o racismo, e contra a
lho também vieram do Blues”.
para deixar aqui uma espécie de dedicató-
Guerra do Vietnan, a favor do uso de
A editora Folha desde o dia 15 de
ria afetiva a um amigo daquela época: José
março começa a levar semanalmente às
Renato Reis, que despertou minha atenção
A também chamada “música de alma
bancas a coleção ‘Folha Soul e Blues’. A
para as mensagens e inovações sonoras da
negra”, apesar de ter surgido dos anos
coletânea traz biografias e histórias de
soul music.
1960 têm suas primeiras impressões no
canções de grandes intérpretes. O livro da
José Luiz, 46, é dono de uma banca de
começo do século XX em pequenas comu-
semana vem acompanhado de um CD
revistas no bairro Caiçara, na região noro-
nidades negras que viviam no Sul dos
com as músicas que mais marcaram a
este de Belo Horizonte, e para ele o público
Estados Unidos. O termo soul music pode
carreira do artista biografado. Em cada
que compra a coleção é grande, porém,
ser usado como uma referência à música
volume vemos ilustrações (muitas vezes
menos diverso do que deveria.
negra em geral, independente do estilo,
raras) e sugestões de filmes, livros e discos
mas é também um gênero específico da
relacionados a cada intérprete.
drogas, entre outros.
— O que me parece é que quem vem à banca e para com o objetivo de ver a
música. Atualmente, o cenário do blues é
A coleção se divide em duas partes. A
coleção são pessoas mais velhas. Saudo-
muito diferente do século passado. Para o
primeira com 15 volumes é dedicada aos
sistas. Em sua maioria, pessoas que já
músico Pedro Rosa, a cor da pele já não
grandes nomes do soul — de Stevie Won-
conhecem o gênero que ouviam em dis-
influencia mais no gênero.
der e James Brown a Smokey Robinson. A
cos de vinil. Os mais jovens não se inte-
— Se um de nós visse na rua uma pes-
segunda, com os grandes nomes do Blues
ressam muito pelo universo musical
soa como Ana Popovic passando ninguém
mescla nomes mais contemporâneos
antigo já que a internet facilitou muito
jamais falaria que ela é uma cantora e gui-
com lendas como Robert Johnson e B.B.
cada um achar o que gosta e organizar
tarrista de blues. Alta, branca, loira, e um
King. Carlos Calado, o autor e editor dos
de seu próprio jeito.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
23
CULTURA
CRÍTICAS
A mente aberta de Eduardo Galeano A história e a tardia mudança de posiçao de um dos ícones da literatura Roger Leon
mento exarcebado da história, o livro foi
5º período
banido em vários países, entre eles Argentina, Chile, Uruguai e — claro! —
Na tarde da segunda feira, 13 de abril, morreu o escritor e jornalista uruguaio
Brasil. A proibição contudo, durou pouco tempo.
Eduardo Hughes Galeano, aos 74 anos.
A grande polêmica acerca do livro
Galeano é autor de mais de 40 livros de
veio há pouco mais de um ano, quando
temas extremamente diversos, passando
em Brasília, na 2ª Bienal do Livro, Gale-
de política e jornalismo até a ficção. Nas-
ano afirmou que jamais leria de novo
cido em Montevidéu no ano de 1940, veio
sua grande obra.
de família extremamente católica e cres-
— Eu não seria capaz de ler de novo.
ceu com o sonho de ser jogador de futebol
Cairia desmaiado. Para mim, essa prosa
profissional, devido a seu amor pelo
da esquerda tradicional é chatíssima.
esporte, sonho que era retratado com fre-
Meu físico não aguentaria. Seria inter-
quência em suas obras, principalmente
nado no pronto-socorro. Em todo o
em um de seus maiores sucessos: “O fute-
mundo, experiências de partidos políticos
bol de sol a sombra” (1995). Ainda na
de esquerda no poder às vezes deram
adolescência, trabalhou de carteiro, pin-
certo, às vezes não, mas muitas vezes
tor de letreiros, caixa de banco, até que,
foram demolidas como castigo por esta-
aos 14 anos, vendeu sua primeira charge
rem certas, o que deu margem a golpes de
para o jornal El Sol.
Estado, ditaduras militares e períodos
Sobrevivente
Chuck Palahniuk Leya
Extremamente ácido, o livro do gênio por trás do “Clube Da Luta” é de 1996, mas há pouco chegou ao Brasil. Em uma narrativa completamente fora da ordem cronológica dos acontecimentos, a personagem Bradson resolve se matar e sequestra um avião, contando toda a sua trágica história de vida para ser salva na caixa preta. O final, claro, é surpreendente.
Vítima do regime militar de seu país,
prolongados de terror, com sacrifícios e
Galeano foi preso em 1973 e exilado na
crimes horrorosos cometidos em nome da
Espanha, onde permaneceu por quase uma
paz social e do progresso”, disse o escritor.
década. Nessa fase, disse uma de suas cita-
Mesmo assim Galeano disse não se
ções mais famosas: “as pessoas estavam na
arrepender de ter escrito o livro. Mas afir-
cadeia para que os presos pudessem ser
mou ter superado a fase”. O ex-presidente
livres”. Porém, dois anos antes de sua prisão,
venezuelano Hugo Chávez presenteou o
escreveu a sua mais célebre obra, “ As veias
atual presidente americano com uma cópia
MasterBooks
abertas da América Latina”, um texto clás-
do livro, afirmando que se tratava de “uma
sico para os seguidores de filosofias anticapi-
obra prima”. As vendagens dispararam
talistas, e antiamericanas.
depois do episódio, na Amazon. O livro, que
Uma profunda aula sobre a vida da cantora Elis Regina, desde a adolescência, quando cantava “Fascinação” com as amigas, nas escadarias de um colégio, até seu fim trágico e prematuro. Sem poupar detalhes que poderiam ‘arranhar’ a imagem da artista, o livro pode ser chamado de uma biografia definitiva de Elis. Lançado no dia em que faria 70 anos.
O livro faz uma análise do cenário
estava em 54.295º na lista dos mais vendi-
econômico desde o período da coloniza-
dos, subiu em 48 horas para a segunda
ção europeia até a idade contemporâ-
posição. Galeano quando procurado, afir-
nea. O argumento principal é contra as
mou que nem Chávez nem Obama enten-
raízes da exploração que influenciaram
deriam o teor da história. Em julho de 2008,
a forma de vida da geração atual. Devido
Galeano foi agraciado com o primeiro título
o grande impacto da obra e do conheci-
de Cidadão Ilustre do Mercosul.
24
Nada será como antes
Júlio Maria
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
“O Abutre”, um mergulho no submundo do jornalismo Ambição, falta de ética e foco.
pequeno carro. Ágil como sempre, não
Essas três características se resumem
hesita invadir e até mesmo interferir em
em uma só pessoa: Lou Bloom (Jake
algumas cenas de crime, em busca de
Gyllenhaal), personagem protagonista
melhores ângulos para filmar. O passo
do filme “O Abutre” (Night Crawler -
seguinte é eliminar a concorrência, o
2014), que faz um denso mergulho no
que significa atropelar livremente a
que se pode chamar de o submundo do
ética, única forma de sobreviver em um
jornalismo policial. A ação se passa em
mundo aparentemente sem leis.
Los Angeles, onde Bloom é um ladrão
Direção segura do ex-roteirista Dan
que vive de bicos secundários, até que
Gilroy, que encontra em Gyllenhaal o
um dia sua vida muda, ao ‘descobrir’ a
parceiro perfeito para encarnar o ambi-
profissão de vídeo freelance. Estes são
cioso Lou Bloom — ele chegou a ema-
também conhecidos como repórteres
grecer 10 kg para dar à personagem o ar
da noite, profissionais sem nenhum
decadente e faminto de quem sobrevive
escrúpulo, que vendem vídeos sensa-
como um abutre (boa também a versão
cionalistas, sempre envolvendo escân-
nacional do título). Jake Gyllenhaal, que
dalos e tragédias sangrentas, a peque-
é também um dos produtores do filme,
nas redes de TV.
decorou todo o roteiro como se fosse
Bloom apanha da concorrência,
uma peça de teatro. As atuações mar-
mas aprende rapidamente e começa a
cantes, dele e de Rene Russo, garantem
fazer vídeos, até convencer a diretora de
o clima de um suspense angustiante,
jornalismo da rede de TV KWLA, Nina
que é deixado bem claro no rosto dos
Ramines (Rene Russo) a comprar um
personagens. Não foram poucos os críti-
deles. Ao pressentir as possibilidades do
cos norte-americanos que reclamaram
ramo, Lou Bloom um pobre estagiário
dele não ter recebido uma indicação
Rick (Riz Ahmed) que acaba se tor-
para o ‘Oscar’.
nando seu GPS humano dentro de seu
Nota: 4,8.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
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esporte
A onda do
Crossfit
Febre no Brasil, o Crossfit tem levantado dúvidas quanto ao risco de lesionados. Em contrapartida, é uma excelente opção para entrar em forma e levar uma vida mais saudável Carlos Benevides e Átila Moreno
4º período/ 3º período
PARA TODOS
“É um esporte que trabalha o condicionamento de forma geral”, define
Recomendação de médicos e da Orga-
Natália Pinheiro, professora da academia
nização Mundial da Saúde, todos já sabem
Crossfit BH, a primeira do gênero em
que a prática regular de exercícios físicos
Minas Gerais. Segundo ela, a atividade
traz melhorias ao corpo. Atividades como a
prepara a pessoa para qualquer tipo de
esteira ou a bicicleta não são unânimes,
situação do cotidiano. Dessa maneira, os
profissionais da área da educação física
praticantes conseguem correr para pegar
vêm propondo novos tipos de modalidades
um ônibus, carregar sacolas de super-
para manter o corpo ativo de maneira dinâ-
mercado e até subir escadas com mais
mica e em grupo, como é o caso do crossfit.
facilidade e vigor.
Explosão, força e condicionamento são
Para não ocorrer lesões e contusões,
as prioridades da modalidade que está em
existe uma curva de aprendizado nos
alta no Brasil e no mundo. Os exercícios deste
treinamentos para todas as pessoas, de
programa priorizam bastante o uso do peso e
todos os tipos de porte físico, como pon-
equilíbrio do corpo. Pular corda, levantar
dera Pinheiro.
pesos, dar cambalhotas e saltos são alguns
— A aula é a mesma para todos, mas,
dos desafios que a aula propõe ao aluno. O
quando temos um aluno novato, pegamos
crossfit, no entanto, também não é unanimi-
apenas a base do crossfit. São os agacha-
dade. Profissionais da saúde estão discutindo
mentos, exercícios para levar o peso do
os malefícios que a prática pode levar. Lesões
ombro acima da cabeça e ele sempre será
musculares e rompimento de ligamentos
acompanhado pelos professores. Isso serve
estão na pauta de médicos que estão dissua-
não apenas para novatos, mas para pessoas
dindo quem pensa em fazer a prática.
mais velhas ou que estão lesionadas.
QUAL É SEU LIMITE? Quanto às lesões, maior preocupação
Após qualquer exercício físico de alta
que gira em torno do crossfit, Natália dá o
intensidade, é normal sentir queimação ou
recado: “É preciso humildade. Ninguém
dores musculares. Existe, entretanto, uma
— É preciso conhecer o objetivo de
pode chegar aqui e carregar toneladas de
tênue linha entre o cansaço e a lesão. Natá-
cada aluno. Alguns fazem crossfit apenas
peso. Primeiro a técnica e depois usar um
lia Pinheiro explica que são sensações bem
para melhorar a saúde e levar uma vida
pouco de peso. Algumas pessoas não
diferentes: “A contusão é focada em
melhor. Outros, para conhecer e ultrapas-
entendem isso”. É fundamental que cada
alguma parte no corpo. A pessoa, por exem-
sar seus limites. Eu mesma sinto dor mus-
um conheça seu próprio corpo e seus limi-
plo, sente dor no ombro esquerdo, e não no
cular há quatro anos e digo a todos que isso
tes. Ou o risco de lesão será inevitável.
direito. No caso da dor muscular, o aluno
é absolutamente normal.
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sente a fadiga no ombro inteiro. A lesão é sempre em um ponto específico”.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Maio de 2015
CARGA PESADA “Como o crossfit é uma atividade
de lesão cresce, segundo ela.
car”. Fica a reflexão do motivo da lesão:
de alta intensidade, o que eles colocam
De acordo com Bastos, algumas lesões
é muito peso e repetições com carga
sequer provocam dor. Elas atacam de
alta”, pontua a fisioterapeuta Miriam
repente? Não é bem assim. “Tem gente que
Para a fisioterapeuta, a dor muscular,
Bastos. Segundo ela, antes de começar
tem predisposição a lesão. Se o sujeito tra-
que vem em forma de queimação, dura
qualquer exercício físico, é necessário
balha oito horas sentado, numa posição
geralmente 48 horas. É preciso ficar atento
que a pessoa faça uma avaliação para
curvada, a contusão pode acontecer de
se a dor persiste ou se ocorre nas articula-
saber se está apta a praticar ou não. Pelo
forma mais natural. Se essa pessoa, após o
ções. E, caso algum determinado exercício
fato de o crossfit não ter uma estabiliza-
trabalho, vai fazer, na sua atividade diária,
ou movimento sempre cause um incô-
ção na coluna e nas articulações, o risco
um exercício de coluna, ela vai se machu-
modo, é um indicativo que há uma lesão ali.
peso utilizado ou a péssima postura
Daniel Oliver
durante oito horas?
“VICIADA NESSE ESPORTE” Benefícios do crossfit? Muitos, é o que diz Miriam Bastos.
Há histórias de pessoas que perderam praticamente metade do peso do corpo,
fotos Daniel Oliver
que o atleta busque sempre melhorar seus aspectos físicos e também psicológicos.
— Qualquer atividade traz uma
baixando os níveis de triglicérides e coles-
“Nenhum esporte me prendeu tanto
melhora de vida. Neste esporte em especí-
terol, algumas das palavras mais temidas
quanto este”, é o que diz Lívia Gia, 27, que
fico, temos tanto condicionamento físico
para quem não está em dia com a balança.
pratica crossfit há dois. Segundo ela, que
quanto aeróbico, força e postura, depen-
“Devemos fazer o que gostamos. As
já fez várias atividades físicas, a dinamici-
dendo do exercício que o professor passar.
lesões acontecem em qualquer atividade
dade e a alta intensidade se tornaram
Como a obesidade é uma doença
física. Se a pessoa gosta do exercício, não
uma paixão pelos exercícios que estão
epidêmica do século XXI, quem está
vejo motivos para não praticá-la”, consi-
fazendo sucesso no Brasil.
acima do peso pratica o crossfit a fim de
dera Miriam.
— Em menos de seis meses de cross-
perder gordura. Com treinos de alta
O crossfit é, sem dúvida, um esporte
fit, perdi 10kg e praticamente 10% de
intensidade que priorizam o condicio-
que está se tornando cada dia mais popular
gordura. Isso, além do bem-estar da
namento, é certo que a pessoa perderá
em nível mundial. A pratica leva à perfei-
saúde. Parece que é mentira, mas as pes-
alguns quilinhos e começará a ter um
ção, uma modalidade que usa questão
soas realmente viciam. Estou viciada
corpo mais definido.
competitiva e desafiadora, fazendo com
neste esporte!
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