LINCE
jornal-laboratório da Escola de Comunicação Newton | Nº 65 | Novembro de 2015
A união entre esporte e escola
Arquivo pessoal
enio lima, uma bela história de superação que passa pela newton
“Venha comigo”: nossos pracinhas na campanha da itália
Ninguém está livre de cair no golpe do celular. Previna-se!
| Páginas 6 e 7
| Páginas 8 a 10
| Páginas 17 a 19
Opinião
Expediente
LINCE jornal-laboratório da Escola de Comunicação Newton
ARQUIVO PESSOAL
Presidente do Grupo Splice Antônio Roberto Beldi Reitor João Paulo Beldi Vice-Reitora Juliana Salvador Ferreira de Mello
A ordem é se especializar
CADA VEZ mais
COORDENADORA da ESCOLA DE COMUNICAÇÃO Juliana Lopes Dias Editor Professor Eustáquio Trindade Netto (DRT/MG 02146)
Projeto gráfico e
Leonardo Coelho
Nesta edição do Lince, demos ênfase à cobertura esportiva, para
Direção de Arte Helô Costa (Registro Profissional 127/MG)
Uma vez — e não tem muito
mostrar que esta é uma área que,
tempo — um estagiário de jornalismo
cada vez mais, exige especialistas.
foi cobrir um evento esportivo muito
Mais do que isso, no entanto, que
importante no ginásio do Mineiri-
não há lugar para quem se especia-
nho: a final do Campeonato Mundial
liza em apenas uma modalidade. Daí
Thales Santos.
de Vôlei feminino, entre as seleções
a necessidade de os jornalistas
Alunos do Curso de Jornalismo
do Brasil e Cuba. Dois dias antes,
serem especialistas na cobertura de
escalado pela chefia de redação do
vôlei, basquete, tênis, natação, han-
Diagramação
jornal em que trabalhava, foi cobrir o
debol e... Isso mesmo, não apenas
Ariane L opes, Marina Pacheco e
treino da seleção cubana e perguntou
futebol. Aqui, entrevistamos narra-
Pedro de Paula.
ao técnico como era a formação tática
dores, buscamos novas informações
da equipe. O técnico, esperto, escon-
sobre a área esportiva.
deu o jogo e respondeu com um
Mas também alertamos a galera
enigma: jogamos com quatro atacan-
sobre algo que vem cada vez mais
tes e duas pivôs em rotação. De volta
acontecendo: o trote do sequestro
à redação, o pânico. Como assim,
no celular. Cobertura policial em
duas pivôs em rotação, se pivôs só
grande estilo.
Reportagens Alberto Carvalho, Amanda Vitória, I a r a N a s s i f, L e o n a rd o C o e l h o , Michael Magalhães, Samara Natália e
do Centro Universitário Newton Paiva
Estagiárias do Curso de Jornalismo
Correspondência NP4 - Rua Catumbi, 546 Bairro Caiçara - Belo Horizonte - MG CEP 31230-600 Contato: (31) 3516.2734 sugestoeslince@hotmail.com
existem no basquete, mas não em
E, por fim, mas não por último,
voleibol? O que o técnico não contou
batemos uma bolinha com um ex-
Este é um jornal-laboratório da
direito foi que o time cubano jogava,
-aluno da Newton Paiva que conse-
disciplina Laboratório de Jornalismo II.
na verdade, com seis atacantes, pois
guiu editar seu livro-reportagem,
O jornal não se responsabiliza pelas
as pivôs a que se referia eram as duas
fruto de um TCC que contava histó-
opiniões emitidas em artigos assina
levantadoras que, quando chegavam
rias dos pracinhas mineiros na
dos e permite a reprodução total ou
na rede, viravam atacantes.
Segunda Guerra Mundial.
parcial das matérias, desde que cita
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das a fonte e o autor.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
profissão
A mulher no
jornalismo esportivo em Minas
Michael magalhães
O caminho ainda é longo, mas não há como negar os avanços. Pouco a pouco, as mulheres vão conseguindo entrar num dos clubes mais fechados do jornalismo
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
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Michael Magalhães e Iara Nassif
que trabalhava havia vários repórteres homens, e apenas uma mulher. “A única repórter que trabalhou na minha época
Tem crescido, cada vez, mais a pre-
não cobria pautas relacionadas a esporte
sença da mulher no mercado de traba-
— pois isto não era habitual da época”,
lho. Elas estão vencendo e quebrando
finalizou.
todos os tipos de tabus e preconceitos
A professora de rádio Izamara
impostos pela sociedade. Atualmente,
Arcanjo, 42, do curso de jornalismo da
são atuantes em quase todas as profis-
Newton Paiva, também afirma que, logo
sões. Temos policiais, motoristas, enge-
que se formou, em 1995, era muito inco-
nheiras, advogadas, jornalistas, verea-
mum mulher narrar e fazer coberturas
doras e até presidente.
esportivas. “Na época, havia poucas
Entretanto, nem sempre podemos
profissionais na área, e uma delas era
afirmar que as mulheres têm sido bem
Adriana Spinelli”, aponta a professora.
aceitas em todas as profissões. Algumas
Hoje, o jornalismo se adequou aos novos
ainda carregam o peso de muito precon-
tempos em que a mulher conquistou e
ceito e intolerância por parte de algu-
continua conquistando seu espaço, não
mas pessoas e empresas. Como é o caso
só na comunicação, mas em todas as
das mulheres que atuam nos veículos de
áreas. “Hoje, a mulher tem total liber-
c o m u n i c a ç ã o, c o m o l o c u t o r a s o u
dade em exercer a profissão repórter,
comentaristas esportivas. Principal-
inclusive no esporte como comentaris-
mente no futebol.
tas, apresentadoras e radialistas”, con-
Nas rádios, essa polêmica é ainda
Uma das pioneiras no setor, a jorna-
soas, que ainda optam por ouvir o jogo
lista Adriana Spinelli, repórter especia-
em tempo real, em ouvir voz feminina
lizada em TV e rádio, comentou quais
comentando nos jogos de futebol.
foram seus grandes desafios como uma
Mulheres falando do rude esporte bre-
das primeiras profissionais no jorna-
tão ainda causam muita estranheza
lismo esportivo.
e descontentamento, geralmente no público masculino. Mariza Ribeiro Gomes, 50 anos, trabalhou como recepcionista na Rádio
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clui.
maior. Não há total aceitação das pes-
— A verdade é que nunca sofri preconceito. O maior desafio foi mudar a cultura enraizada de que somente os homens poderiam atuar na área.
Capital entre os anos de 1985 e 1990. De
Adriana observou ainda que, anti-
acordo com Mariza, naquela época a
gamente, não havia nem banheiros
mulher tinha pouco espaço nos veículos
femininos nos centros de treinamento
de comunicação de um modo geral, mas
de treinamento dos clubes, porque não
principalmente como radialistas. “Era
era comum que as mulheres fossem
muito incomum ter mulheres atuantes
até la. “O difícil foi começar e mudar
em rádios, mas apenas como locutoras”,
culturalmente o ambiente esportivo”,
afirma. Ela ainda diz que na rádio em
constata.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
Perspectivas De acordo com a jornalista Ângela Rodrigues, ex-editora do Diário do Comércio, à medida que a televisão, principalmente, começou a se especializar na cobertura de outros esportes, a presença feminina se tornou quase obrigatória. Isso poruqe, em muitos casos, as mulheres são as principais especialistas
REAÇÕES
em comentários de algumas modalidades esportivas, como a
Se há tal cultura ou não dentro das redações, entre o público masculino,
ginástica artística, por exemplo.
alvo prioritário das transmissões de futebol, ainda que o número de mulheres
Foi assim que, eventual-
venha aumentando, o preconceito existe. “Não consigo ouvir mulher comen-
mente, ex-atletas como as joga-
tando jogo de futebol; elas até podem entender, mas não dá pra comentar, fica
doras de vôlei Vera Mossa, Dulce
esquisito”, afirma Caíque Figueiredo, 22,estudante de engenharia e torcedor do
e Jacqueline chegaram aos
Cruzeiro, que considera, sem nenhum pudor, que este é um terreno exclusiva-
microfones das emissoras de TV.
mente masculino. Mesma opinião do também estudante Marconi Ferraz Jr,. 23,
Da mesma forma, a ex-tenista
que é totalmente contra.
Maria Esther Bueno é presença
Engana-se, no entanto, quem pensa que esse preconceito parte apenas dos
garantida em quase todos os
homens. Mesmo se considerando “feminista”, adepta e admiradora da luta das mulhe-
torneios de Grande Slam trans-
res na batalha por novas conquistas, a advogada Ana Lívia Carvalho Costa, 33, que se
mitidos pelo canal SPORTV,
define primeiro como “uma atleticana fanática”, é radicalmente contra mulheres
como comentarista. Caso idên-
narrando ou comentando futebol.
tico é o da professora Andrea
— É uma questão cultural, não é preconceito. A voz da mulher não transmite
João, que comenta as transmis-
confiança narrando um jogo praticado por homens. Tem coisa que é coisa de homem
sões de ginástica artística. O
e tem coisa que é coisa de mulher.
elemento comum a todas elas,
Ana Lívia, no entanto, se apressa a dizer que não é contra mulheres narrando
no entanto, é que são todas ex-
ou comentando futebol feminino ou atuando como árbitro ou bandeirinhas, em
-atletas e nenhuma delas é jor-
jogos de mulheres. “Como árbitro principal, em jogos masculinos, também não
nalista.
pode — os jogadores falam muito palavrão e as mulheres não vão conseguir
Para o jornalista João Gabriel
impor sua autoridade”, justifica. A comerciária Elisângela Neves Ribeiro, 27,
Vasconcellos, na maioria dos
não tem hábito de ouvir transmissões esportivas de futebol, mas não concorda
casos, o que falta é mesmo a voz
com a amiga.
do especialista. “Se não tem
— Acho que deveriam deixar que as mulheres pelo menos tentassem.
especialista, você chama um ex-
Qual o problema de deixar? Se nenhuma conseguiu narrar ou comentar até
-atleta que tenha mais recursos e
agora, como é que dá pra saber se é ruim ou se é bom?
saiba falar bem”, afirma João
Apesar dos pesares, há boas perspectivas em relação a isso. As emis-
Gabriel, lembrando que, como
soras de TV e rádio têm dado espaço para as mulheres apresentarem
repórteres, as mulheres já não
programas e fazer comentários. Quanto à narração, percebe-se um
são mais novidade nos jogos de
cenário ainda nebuloso, pois há estigmas que impedem as
futebol. “Mas, narrando e
mulheres de ocupar tal posição. A luta continua!
comentando, ainda acho muito difícil, porque o meio é muito machista;não que elas não tenham competência”, ressalva.
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entrevista
A longa (e vitoriosa) trajetória de um
narrador esportivo Do sotaque carregado à timidez, Enio Lima superou obstáculos para vencer e brilhar na Rádio Itatiaia
ALBERTO CARVALHO
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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
aLBERTO CARVALHO
técnico de áudio, locutor, plantonista e
zado pela Copa do Brasil, em que seu
repórter. Numa dessas, acabou indicado
jargão (usado durante a narração de
Mineiro de Montes Claros, tímido e
pelo produtor Carlos Sevidanes a Ema-
um gol) — “marcou, marcou, marcou”
modesto, Enio Lima ainda não consegue
nuel Carneiro, diretor-presidente da
— foi um dos temas do programa de
acreditar que tem fãs em todo o Brasil
Itatiaia. Enio reconhece que vida a pro-
esportes “Redação SPORTV”, do pres-
fissional, no interior, é muito difícil.
tigiado canal da TV a cabo, onde rece-
Vindo do norte de Minas Gerais, mais precisamente da cidade de Montes
— O trabalho é considerado um
Claros, Enio Dias Lima também é
“bico”. A maioria tem que se sustentar
conhecido como “o garoto que marcou”.
Outro fato marcante foi a primeira
com outra função, não dá para se viver
Formado em jornalismo pela Newton
narração em Montes Claros, um jogo de
só disso.
futebol Society.
Paiva, o narrador da rádio Itatiaia conta
Por essas e outras, Enio tentou por
um pouco de sua trajetória — da cidade
três vezes o concurso de policial militar,
natal até os dias de hoje, como o terceiro
mas para alegria de seus fãs, não foi
narrador da emissora líder do rádio
aprovado. Daí, a vinda para a capital.
mineiro. Enio, que já conquistou seu
Para se aprimorar, fez vestibular para o
espaço com um programa, poderá, em
curso de Jornalismo, onde conseguiu
breve, poderá assumir a narração exclu-
tanto a base teórica quanto técnica para
siva de um dos dois maiores times da
se aprimorar como repórter. Enio define
capital.
sua passagem pelo curso de jornalismo
Nascido de uma família simples e
da Newton Paiva como fundamental
tradicional do interior mineiro — o pai
para sua carreira. “Não basta ter um
eletricista de carro e a mãe servente de
sonho e correr atrás dele; é preciso acre-
escola —, Enio, mesmo assim, recebeu
ditar sempre e, principalmente, estar
todo apoio para realizar o sonho de se
preparado para isso”.
tornar narrador. Considerado uma pessoa tímida, quando pega o microfone,se
SONHOS & VERDADES
beu muitos elogios de seus colegas.
— O locutor esportivo estava com dores na garganta e precisavam de uma pessoa para substituí-lo com urgência. Eu me prontifiquei a narrar, mas era tanta empolgação na hora de dizer quem fez o gol, que acabei falando o nome do adversário... Por isso, Enio reafirma a importância do curso de jornalismo em sua vida. “A narração é um ato dinâmico; então, o locutor precisa ter fluência, bom vocabulário, presença de espírito, inclusive para consertar os deslizes que, de vez em quando, costumam pintar”, afirma. Desde que a Itatiaia abriu as portas e os microfones para que sua voz soasse
transforma. Não foi fácil, pois, ao chegar
Apesar de, cada vez mais, ver seu
a Belo Horizonte, junto com os sonhos
sonho se tornando realidade, como
ele trazia o forte sotaque do Norte de
comunicador esportivo na maior emis-
Minas. Mas já tinha suas manhas.
sora de rádio do Estado e uma das
o programa “Tiro de Meta”, às seis da
— Lá, eu ouvia muitas emissoras do
maiores do Brasil, Enio acha que é
manhã, e a narração dos jogos do Amé-
Rio e de São Paulo. Mas o que gostava
preciso evoluir. Como terceiro narra-
rica Mineiro. Mas o grande objetivo per-
mesmo era de imitar Alberto Rodrigues
dor, ele não é escalado para narrar os
siste: assumir Atlético ou Cruzeiro como
e Willy Gonser, ambos narradores da
jogos do Cruzeiro ou do Atlético, ape-
narrador principal. E, quanto à famosa
Rádio Itatiaia.
sar de já ter, em casos de substituição
pergunta que não quer calar:
pelas ondas dos 95,7 FM e 610 AM, o casamento com a emissora já lhe rendeu
Enio Lima começou trabalhando
dos titulares, ter narrado jogos de
— Pra que time você torce?
como office boy em um estúdio de grava-
ambos. Quase sempre definido como
Nesse momento, como bom mineiro,
ção. Quando dava, ali gravava suas nar-
narrador de jogos do América, nem por
Enio tira a pele do narrador e veste a de
rações. Com isso, logo foi indicado para
isso reclama. Ele conta que sua narra-
um jogador de futebol para driblar com
as rádios comunitárias de Montes Cla-
ção mais marcante na Itatiaia foi justa-
talento os interlocutores. “Pra todos e
ros e Juramento, onde trabalhou como
mente a de um jogo do América, reali-
nenhum, muito antes, pelo contrário”.
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história
venha
comigo
A participação dos ex-combatentes mineiros da força expedicionária brasileira sobre a 2° Guerra Mundial
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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
Thales Santos e Leonardo Coelho
informações, além de outros depoimen-
tos de pessoas que participaram da
No começo, uma ambição. Fazer do
guerra, até os de forma indireta. Fomos
LINCE - Qual foi o maior incentivo do
Trabalho de Conclusão do Curso (TCC)
cruzando e isso nos deu segurança pra
trabalho?
algo que ficasse e sobrevivesse ao
publicar. Tudo aquilo que eles foram for-
Foi o desafio de fazer o livro com
momento da apresentação diante de
necendo de informação, realmente eles
esse recorte histórico, dos pracinhas de
uma banca examinadora. Foi assim que
vivenciaram aquilo ali, a essência de
Minas Gerais. Depois vieram outras
“ Venha comigo”, livro reportagem
presenciar uma guerra.
motivações e do professor que orientou
quisa, foi aí que começou tudo.
escrito pelos então graduandos de jor-
Conseguimos contar com uma
a pesquisa, o Eustáquio Trindade Netto.
nalismo Edwaldo Ribeiro Cordeiro,
riqueza muito grande de detalhes sobre
Também o conhecimento que adquiri-
Marx Dias Fernandes, Matheus Mozelli
o que eles vivenciaram lá na Itália. Todas
mos sobre a guerra, de acordo com as
Lima, Rafael Tomaz Ribeiro e Tatiana
as informações que eles davam eram
informações que fomos buscando. O
Palhares de Souza, contando a história
checadas, com as datas pra confirmar se
contato com essas pessoas... Nós temos
da participação dos ex-combatentes
realmente estava correto, porque, às
tudo isso gravado em vídeo, todas as
mineiros na Segunda Guerra Mundial,
vezes, o entrevistado se lembra do con-
entrevistas. Inclusive, algumas dessas
saiu do sonho para se tornar realidade.
texto, mas falha na relação de um perí-
pessoas entrevistadas já faleceram.
A primeira edição, custeada pelos auto-
odo com outro. Até porque não há como
Então, ter todos estes dados registrados
res, já saiu, contando parte da história
usar tudo da entrevista, então tudo que
foi muito importante.
dos pracinhas, termo que se refere aos
separamos para o livro foi comparado
soldados brasileiros enviados para se
com outros documentos, apresentamos
LINCE - Vocês já pensaram em fazer um
juntar às forças aliadas na luta contra
pra outras pessoas que vivenciaram
documentário?
os exércitos do Eixo. Aqui, ela é contada
tudo aquilo também.
sob uma visão que mostra, principal-
Sim, nós já pensamos em fazer um documentário com estas entrevistas,
mente, a ação dos mineiros. Nossos
LINCE - Vocês fizeram o livro, pelo fato
mas estamos finalizando o livro ainda e
pracinhas embarcaram para a Europa e
de as histórias dos pracinhas não
temos o desafio de tentar conseguir uma
participaram de grandes batalhas,
serem tão conhecidas pela população
editora, porque é bem difícil. O lança-
auxiliando na conquista do norte da
brasileira? Foi esse o principal
mento foi totalmente independente, nós
Itália. Em entrevista ao Lince, o jorna-
motivo?
tivemos que tirar dinheiro do próprio
lista Edwaldo Ribeiro, um dos autores
Não. Pensamos na produção do livro
bolso para fazer as impressões e elas são
da obra, fala sobre a importância e a
a partir da ideia de um dos colegas do
muito caras. Publicamos pela Fenac,
produção do trabalho.
grupo, o Marx (Marx Dias Fernandes),
cada um ficou com uma quantidade de
que é muito ligado nestas questões histó-
exemplares e outra parte ficou na Fenac
LINCE - A maioria dos entrevistados
ricas sobre a Segunda Guerra. A ideia foi
para venda. Não estamos preocupados
está com a idade na casa dos noventa
dele e a gente quis ajudar. Achamos inte-
com o retorno financeiro, uma parte da
anos, quando a memória é duvidos.
ressante e fomos com ele, porque era um
verba mesmo foi doada para a Força
Qual foi o método usado para confiar
trabalho de conclusão de curso. Depois
Expedicionária Brasileira (FEB). Nossa
nas respostas deles?
de definido tudo isso, nós tivemos que
maior dificuldade é realmente encontrar
Acho que não, pelo estresse da
elaborar uma estratégia de buscar infor-
para discutirmos estratégias e planos pra
guerra, as coisas que eles declararam, o
mação, quem seriam as pessoas entrevis-
publicar.
que eles colocavam pra foram, era evi-
tadas, onde as encontraríamos e como
dente que estavam falando a verdade.
contaríamos as histórias dessas pessoas
Lince – Vocês, desde o início, planeja-
Nós fizemos uma comparação, pegamos
que participaram da guerra. Esse foi o
ram publicar o livro? Como surgiu essa
todos os depoimentos que tínhamos dos
primeiro passo para a produção do livro.
ideia?
ex-combatentes e fizemos um cruza-
Nós tivemos que fazer esse recorte, por-
Como jornalistas, nós estamos sem-
mento com os dados históricos. Pegamos
que pegamos livros de participação do
pre querendo publicar alguma coisa. No
livros de escritores norte americanos que
exército brasileiro na guerra, participa-
começo, não tínhamos essa ambição,
acompanharam a guerra de perto, livros
ção de pessoas que saíram do interior de
nunca tivemos. Portanto este projeto foi
de escritores europeus que vivenciaram
Minas Gerais, Belo Horizonte para ir até
bastante positivo do ponto de vista histó-
também a guerra. Recorremos a pesqui-
a Itália lutar . Tivemos que fazer todo este
rico, técnico, modéstia a parte. Daí sur-
sas do próprio exercito, outros materiais,
recorte histórico do estado de Minas
giu essa vontade de colocar o livro no
artigos, enfim, fizemos o cruzamento de
Gerais e começar daqui de dentro a pes-
mercado para as pessoas conhecerem.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
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LINCE - Foi você quem redigiu a maior
e, à medida que iam avançavam no front
parte do livro.
da Itália, a artilharia alemã começava a
Duas pessoas do grupo ficaram com
atirar com os morteiros. Então, eles cava-
a parte conceitual do trabalho e o res-
vam estes buracos para se esconder. Só
tante ficou mais na parte de coleta de
que acontecia o seguinte, como havia
dados. Eu fiquei nesta função de buscar
neve em volta, as explosões esquentavam
informações e participei da redação dire-
e a neve derretida caia pra dentro do
tamente. Todo o grupo se envolveu e se
buraco, onde eles ficavam atolados na
empenhou, cada um fez algo. No fim, eu
neve derretida. E ali eles perdiam as per-
fiquei com a edição final do texto.
nas, porque elas congelavam. Congelavam os dedos... Não podiam sair dali não,
LINCE - Qual foi a primeira fonte que
caso contrário morreriam. Eles resistiam
vocês foram buscar?
ali até passar o inverno — achei fantás-
Foi a FEB, que é como uma associa-
tico isso.
ção de ex-combatentes. Tem um museu da FEB aqui em Belo Horizonte e tem
LINCE - Como ficou a primeira versão
outro em São João Del Rey. Então, nós
do livro?
fomos a São João Del Rey e conseguimos
Tínhamos pensado em um modelo de
informações lá, mas como os recursos
capa, mas quando entrevistamos um dos
eram poucos, o principal mesmo nós
ex-combatentes, ele disse que, antes de
colhemos aqui em Belo Horizonte. Entre-
embarcarem, haviam recebido um santi-
vistamos assessor, todos os ex-combaten-
nho que trazia a imagem de um soldado
tes, uma ex-enfermeira da guerra tam-
abraçado a Jesus Cristo. Queríamos usar
bém. A maior parte do material para
isso, mas não foi possível, tem coisas que
entrevista foi na FEB, aqui em Belo Hori-
você não consegue. Então quando estáva-
zonte. Todos os pracinhas entrevistados
mos querendo fazer estas cópias impres-
foram daqui de Belo Horizonte.
sas do livro, o Marx sugeriu algumas capas e fizemos uma votação que acabou defi-
LINCE - Durante as entrevistas quais
nindo a capa que hoje é a do livro.
eram as reações deles? As famílias apresentaram alguma resistência?
LINCE - O que você recomendaria para
Vários se emocionavam ao se lem-
alguém que deseja escrever um livro
brar dos colegas mortos, a maioria de
reportagem como TCC?
forma trágica. Dependendo da pergunta
Meu conselho para alguém que quer
que fazíamos, eles se emocionavam e iam
trabalhar esse gênero de livro é que tenha
se soltando, outros com mais dificuldade
muita persistência para entrevistar. Tem
devido à idade ou quando envolviam
que haver um cuidado com os elementos
mais questões sentimentais, mas todos
teóricos que serão abordados na obra, os
sempre muito lúcidos e bastante objeti-
elementos históricos, a checagem das
vos. Eles se sentiam orgulhosos por falar,
informações. Tudo isso dá muito traba-
estavam dispostos. Esse livro partiu da
lho, então a pessoa tem que ser muito
necessidade que percebemos de registrar
persistente. Se tiver essa preocupação de
quem, daqui de Belo Horizonte, partici-
escolher as pessoas certas para serem
pou deste evento que vai ficar pra sempre
entrevistadas, de criar um cronograma
na história, como eles estão hoje, o que
adequado e cumpri-lo, certamente você
vão deixar de memória. As famílias
vai fazer um bom trabalho e esse trabalho
tinham noção desta importância.
vai ter reconhecimento. É claro que há coisas inesperadas durante o percurso, e
LINCE - Qual história contada foi a
por isso é necessário ter um plano B.
mais curiosa? Eles cavavam uns buracos na terra, chamados “fox hole”, buracos de raposa,
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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
geral
gol de placa
com os estudos
Cada vez mais, jogadores das categorias de base conseguem conciliar esporte e estudo, de olho no futuro Arquivo pessoal
Jornal Laboratรณrio do Curso de Jornalismo do Centro Universitรกrio Newton paiva - Novembro de 2015
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Amanda Vitória e Samara Natália
Para o psicólogo Ângelo Mansur, hoje, a situação melhorou, mas muitos ainda se deixam levar facilmente pelos enga-
Sempre é tempo de se pensar no futuro. O passado mostra
nosos atrativos da fama. “Não conseguem entender que é
isso. Histórias de grandes atletas que acabaram na miséria não
coisa passageira, que os carrões, as farras e as mulheres só vão
são fatos isolados. Embalados pela fama repentina e, quase
durar enquanto a carreira estiver no auge”, analisa Mansur,
sempre, despreparados para enfrentar o sucesso, muitos
lembrando o caso do mineiro Germano, que jogou na Itália,
investem mal o dinheiro e, ao fim da carreira, se deparam com
chegou a se casar com a filha de um conde, mas morreu pobre
a pergunta que nunca quer se calar: “E agora, fazer o quê?”.
e esquecido.
Arquivo pessoal
Jonas é um caso de sucesso, mas nem todos que abandonam os estudos se dão bem...
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Outra história Com uma rotina de treinos exaustiva,
ENSINO BÁSICO
clubes pequenos, sem nenhuma infraes-
atletas da categoria de base do Cruzeiro
O clube possui, em suas dependên-
trutura, praticamente descumprem ou
Esporte Clube enfrentam dificuldades em
cias, uma escola que oferece o ensino
ignoram a lei. “Às vezes, fazem até pior do
conciliar o estudo e a carreira esportiva.
básico para seus atletas. No colégio, que
que isso: não incentivam os jovens atletas a
Muitos interrompem os estudos para se
pode ser comparado a qualquer outra insti-
estudar”, afirma o psicólogo, lembrando
dedicar integralmente ao esporte, porém os
tuição, há métodos de avaliação semelhan-
que a situação se complica ainda mais
que conseguem conciliar as duas atividades
tes aos praticados na escola tradicional.
quando há a presença dos empresários. Em
frisam a importância de ir atrás do objetivo
Amarildo Borges, observador técnico da
sua opinião, muitas vezes, essa presença é
de se tornar um jogador profissional, mas
base, garante que o clube oferece aos atle-
prejudicial, “porque eles só pensam no
sem deixar de lado o conhecimento.
tas um ensino de qualidade e apoia aqueles
lucro, não pensam no futuro dos meninos,
Dalberson Ferreira, 18, jogador da cate-
que desejam cursar o ensino superior. O
acenam com falsas promessas, que tanto
goria de base do Cruzeiro, concilia os treinos
problema, segundo ele, é quando o atleta já
enganam os jovens quanto suas famílias —
diários com a faculdade de Engenharia de
está no nível profissional.
e que família de baixa renda não sonha com
Produção. Para ele, continuar os estudos é
— Aí, infelizmente, não há como con-
primordial e o incentivo da família foi a prin-
ciliar os estudos e o esporte. O cruzeiro
cipal motivação para que se dedicasse ao
cobra muito essa parte escolar deles, cobra
ensino superior. Quando questionado como
até mais do que até o futebol.
um Neymar ou um Cristiano Ronaldo para sair da pobreza?”, questiona. MARCAÇÃO CERRADA
No caso dos menores de 18 anos que
O América futebol Clube não possui
queiram desistir, a resposta do clube é a
escola própria. Os atletas estudam em esco-
— Por enquanto, está dando para con-
dispensa desses atletas. E há punições rela-
las municipais ou estaduais próximas ao
ciliar, eu peço meus amigos o caderno, olho
cionadas às faltas, sempre que não há a
CT. Segundo Ricardo Luiz Gomes, coorde-
na internet, assisto aula em vídeos, vou
devida justificativa. Em 2005, o Senado
nador administrativo da base, os alunos são
tentando conciliar até o fim do ano.
aprovou um PL (projeto de lei) que aumen-
obrigados a se matricularem. Esta é uma
Apesar de perceber que os estudos são
tou a responsabilidade dos clubes pela for-
exigência não só do clube, como também do
essenciais para sua formação, ele não hesita
mação escolar de seus jogadores. O PL
Ministério Público, o órgão fiscalizador, da
em dizer que, hoje, se necessário fazer uma
5.186/2005, que alterou a Lei Pelé (nº
CBF e da FMF, que exigem, na relação de
escolha, optaria pelo futebol. “É um sonho
9.615, de 1998), estabeleceu novos crité-
documentos para inscrever o atleta, a decla-
que eu tenho e, consequentemente, vai
rios para a certificação dos chamados “clu-
ração escolar atualizada com relação à fre-
ajudar a mim e a minha família”, justifica.
bes formadores”, como, por exemplo, a
quência. Ricardo Luis esclarece que há
Para o psicólogo Mansur, muitas vezes, as
exigência de propiciar aos jogadores da
todo um apoio dentro do América e, quando
famílias apoiam essa opção. “Com os salá-
base, além da matrícula, frequência e satis-
o aluno não corresponde às expectativas
rios altíssimos que recebem atualmente, os
fatório aproveitamento escolar.
escolares, é feita uma intervenção pedagó-
é conciliar as duas atividades, Dalberson não esconde que há dificuldades.
gica aliada à psicologia para identificar o
grandes jogadores mudam radicalmente as
problema e agir para resolvê-lo.
vidas de suas famílias, mas para cada Ney-
MUITAS DESISTÊNCIAS
mar há dez mil que não chegam nem ao
Apesar dos casos supracitados, muitos
Para o coordenador administrativo,
atletas ainda abandonam o estudo. Rick
muitos atletas desistem do estudo porque
Samuel Santos, 14, considerado um
Senna, 18, desistiu para se dedicar somente
vêm de uma classe econômica inferior e
dos melhores alunos da sua sala, acha que
ao futebol. Largou a escola no primeiro ano
depositam todos os seus sonhos no sucesso
o esforço deve partir de cada um. O garoto,
do ensino médio, mas hoje reconhece que
no esporte. Segundo ele, seria de extrema
que sonha um dia se tornar jogador profis-
foi uma decisão imatura e se mostra arre-
importância, apesar das dificuldades, que o
sional, pretende cursar um ensino supe-
pendido. Tanto que pretende retomar os
atleta não interrompesse os estudos após o
rior. É que, apesar de seus 14 anos, Samuel
estudos e admite a importância de um
nível básico de ensino. “Hoje, vejo como
acredita que “para tudo na vida devemos
ensino superior. “É sempre importante
uma falta de capacitação interfere, direta-
sempre ter um plano A e um plano B”.
adquirir conhecimento, é algo que ninguém
mente, em uma recolocação no mercado
Quando questionado sobre o que pretende
nunca vai tirar de você”, reconhece.
de trabalho. Quanto tempo ocioso nas con-
salário mínimo”, avalia Mansur.
Se os clubes das grandes capitais, em
centrações não poderia ser ocupado com
sua maioria, já cumprem as exigências da
cursos de um idioma estrangeiro, uma
No caso de Samuel, além dele ser
Lei, em algumas cidades do interior isso
graduação, um curso de informática, den-
cobrado pelo clube, a família, mesmo de
não chega a acontecer. Segundo Ângelo
tre outros? Isso possibilitaria, ao atleta, a
longe, acompanha seu rendimento escolar
Mansur, que há dois anos teve acesso a um
chance de melhores oportunidades ao tér-
e exige resultados positivos.
trabalho escolar voltado para o tema, os
mino da carreira”, afirma.
cursar, ele afirma que ainda está indeciso, mas apostou em radiologia.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
13
Além dos gramados O dilema do esporte e o estudo não
são difícil, pois precisou de muita cora-
sora, que o levou à Espanha, aos 19 anos
se limita ao mundo do futebol. Jonas
gem para abandonar uma instituição
de idade, com a promessa de ganhar em
Bilharinho, hoje um dos principais
federal extremamente concorrida e
euros e fazer fortuna.
nomes do MMA nacional, fora do UFC,
apostar em seu talento como lutador.
— Deu tudo errado. A Liga Espa-
cursava estatística no Rio de Janeiro.
Mas ele afirma que não se arrepende da
nhola é fraca, não dá acompanhamento
Mas conta que houve um momento em
escolha. “O MMA, para mim, se eu
técnico ao atleta... Também a parte
que precisou abandonar a graduação
tivesse que definir em uma palavra, seria
física é muito deficiente. Eu tinha uma
para seguir apenas com o esporte. Após
realização. Hoje em dia, eu me sinto rea-
contusão atrás da outra. Com isso, meu
dois anos, ele conta que não estava con-
lizado com tudo que esta acontecendo”.
voleibol não evoluiu.
ciliando bem as duas rotinas e fez a
Apesar da decisão, o lutador conta
Modesto, ao admitir que, apesar de
opção pelo esporte.
ainda que não é a favor dos atletas que
seus 1,99m, era tecnicamente limitado,
— E eu fui pela minha maior pai-
param de estudar muito cedo, já que,
Alessandro só retornou aos estudos anos
xão, que é a luta, e eu optei. Eu tinha 19,
segundo ele, todos precisam de um
depois e, hoje, cursa Engenharia de Pro-
20 anos de idade quando eu tranquei a
nível básico de educação, até para
dução em uma faculdade do Rio de
faculdade, escondido dos meus pais, e
saber falar e se expressar. ”Canso de
Janeiro por pressão da família. Quando
fui me dedicar à carreira integralmente.
ver atletas brilhantes dentro do rin-
viajou para a Espanha, deixou para trás
Aí, posteriormente, veio o convite para
gue, mas os caras não conseguem
um curso de publicidade que não conse-
ser atleta profissional e minha carreira
expor uma ideia em uma entrevista ou
guiu retomar, também devido às pres-
começou a andar.
coisas do gênero”.
sões familiares — “eles me cobram uma
Bilharinho, hoje, não se arrepende
Alessandro Mendes, 28, ex-jogador
da escolha, mas conta que foi uma deci-
de vôlei, começou uma carreira promis-
profissão que dê lucro, independente de eu gostar ou não”, lamenta. amanda vitória
Na Escola do Cruzeiro, os futuros craques enfrentam a tarefa de conciliar estudo e esporte
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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
Gestão pessoal & empresarial O jornalista Vinicius Las Casas, ex-
9.615, de 1998), estabelece critérios para
de não estar expressamente previsto na
-aluno do curso de Jornalismo da Newton
a certificação dos chamados “clubes for-
Lei esportiva não exime os clubes de res-
Paiva, conta que, pela sua experiência, já
madores”, como, por exemplo, a exigência
peitar os direitos dos atletas. “Havendo
pode observar que são poucos os atletas
de propiciar-lhes a matrícula, frequência
relação de subordinação e permanência,
que conciliam o ensino superior e a car-
e satisfatório aproveitamento escolar.
há vínculo trabalhista. Sendo menor de
reira esportiva.
Como foi alterado no Senado, o projeto
18 anos, deve ser assegurado o direito de
volta à Câmara para nova votação.
frequência à educação básica, sob pena de
— É uma minoria que concilia faculdade com esporte, são poucos que conse-
Pelo texto aprovado pelos senadores,
guem. Isso desrespeita um pouco do sis-
as entidades responsáveis pela formação
tema de ensino aqui do Brasil e da forma
do atleta que cumprirem as exigências vão
como ele é levado. Nos Estados Unidos,
receber 5% do valor pago pela transferên-
essa proporção é totalmente diferente, é
cia nacional do atleta formado por elas:
“Os meninos acabam se tornando
inversamente proporcional, é maioria. Lá,
1% para cada ano de formação, dos 14 aos
reféns do futebol”. Assim, o assistente
os atletas fazem a faculdade e levam o
17 anos, e meio por cento para cada ano de
social João (nome fictício), que trabalha
esporte junto com o ensino superior.
formação dos 18 e 19 anos.
há anos em um clube de futebol, define
violação à Constituição e ao Estatuto da Criança e do Adolescente”, afirma. Entre a bola e a escola
Segundo Vinicius, para um atleta de
O texto, no entanto, não cria regras
a situação atual dos adolescentes que
alto rendimento e de nível profissional,
mais rígidas para punição dos clubes
buscam a profissão de jogador. Após um
conciliar estudo e treinos diários é algo
que violarem os direitos educacionais
ano de uma Copa do Mundo realizada
quase impossível. Além dos treinos rigo-
das crianças e adolescentes atletas, a
em solo nacional, o Brasil ainda vê mui-
rosos e viagens a todo o tempo, até
exemplo do que acontece atualmente no
tos de seus garotos deixarem de estudar
mesmo o descanso faz parte da rotina de
Estado de São Paulo, que possui uma
em busca de um sonho que, muitas
treinos. Segundo ele vários esportistas
legislação específica.
vezes, não se concretiza.
a t é d e m o n s t r a m i n t e re s s e e m u m
Para Salomão Ximenes, coordena-
“É comum ver jovens de 20, 22 anos
estudo, mas não há como lidar com as
dor do programa Ação na Justiça, da
ficarem sem o ensino médio”. Um dos
duas rotinas.
ONG Ação Educativa, o PL não protege,
principais motivos, na opinião de João, são
— Eu vejo que muitos atletas gosta-
de forma efetiva, o direito à educação
as peneiras, que ocorrem durante todo o
riam de ter um ensino superior, demons-
dos jogadores. “As alterações propostas à
ano, competindo com o calendário esco-
tram muito interesse em aprender mesmo
Lei Pelé tem evidente objetivo de prote-
lar. “A todo momento tem avaliação de
que seja fora da faculdade. A gente tem
ger os interesses econômicos dos clubes
atletas nos clubes. O garoto é avaliado por
que entender isso porque o aprendizado
formadores, não os direitos dos atletas.
meses e, se não passar, pula para outra
se dá em todas as esferas, não apenas den-
Enquanto garante aos clubes direito de
cidade. O jovem acaba dando mais impor-
tro de uma faculdade. Eu acho que falta
preferência na contratação dos atletas e
tância para o futebol do que para os estu-
isso para se chegar a um diploma, ao
rendimentos nas negociações futuras,
dos. O que é ruim, já que são poucos os
ensino superior. Acho que falta a possibili-
avança pouco na proteção ao direito à
que subirão para o time profissional”.
dade de conciliar as duas atividades.
educação e deixa desprotegidos os atle-
Para ilustrar, ele contou um caso
O jornalista considera necessário o
tas adolescentes e jovens, ao não deter-
recente, em que um adolescente ficou
estudo do atleta, mas não necessaria-
minar a assinatura de contrato de
impedido de estudar por meses devido a
mente uma graduação tradicional, algo
aprendizagem”, avalia.
essas mudanças de cidade. “Houve um
que ajude em sua própria carreira. “Visto
Durante a tramitação na Câmara dos
garoto que saiu do Rio Grande do Sul e foi
que os atletas hoje são empresas, uma
Deputados, onde se formou uma Comis-
pro Paraná, mas não levou o histórico
marca, eu acho que algum curso não
são Especial para avaliar o projeto, um
escolar. Quando veio para São Paulo, as
necessariamente superior... Quem sabe
destaque, que tornava obrigatório o con-
escolas daqui exigiram o histórico para
um curso de administração, de gestão
trato de aprendizagem, foi rejeitado pelos
que ele estudasse, mas, como a do Paraná
empresarial, pensando financeiramente,
parlamentares. Houve, também, a discus-
disse que não poderia expedir o docu-
seria perfeito, ideal”. Mas estamos bem
são de uma proposta polêmica, que pre-
mento sem resolver a pendência com a
longe disso aí.
tendia reduzir para 12 anos a idade
escola gaúcha, ele ficou sem escola”.
O Senado aprovou, no início do mês
mínima para que um atleta pudesse ser
Apesar de casos como esse, João
de 05/2005, um projeto de lei que pode
vinculado ao clube. Considerada um
afirma que a situação dos clubes em São
aumentar a responsabilidade dos clubes
retrocesso por especialistas, a mudança
Paulo é melhor que as de centros de trei-
pela formação escolar de seus jogadores.
também foi rejeitada.
namento espalhados pelo país. “Em cen-
O PL 5.186/2005, que altera a Lei Pelé (nº
Mas, de acordo com Ximenes, o fato
tros terceirizados [pelos grandes clubes no
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
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Jonas Bilharinho escolheu o esporte e se deu bem, mas acha que quem conseguir conciliar deve continuar
Banco de dados sobre violações interior do Brasil] não há planos de saúde
situação desses garotos. “É um quadro
rem profissionais, diz Rosemeire,
e odontológico. Os garotos se alimentam
complexo. Eles não são profissionais e
podem ser devastadoras. “A pressão psi-
tão mal que, quando vêm fazer testes na
não estão inseridos em um mercado de
cológica causada por uma derrota tão
capital, vira até covardia”.
trabalho, mas não são incentivados a
cedo na vida, somada à expectativa da
continuar os estudos”.
família é complicada. Muitos se revol-
A Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da
Para Rosemeire, o problema é difícil
Criança e do Adolescente (CoordInfân-
de resolver devido aos sonhos dos pais,
cia) começou a organizar, recente-
que também iludem os garotos. “Muitos
O abandono da formação escolar
mente, um banco de dados com casos de
garotos, família e clubes resistem, de certa
pode afetar também a família. “A maioria
violação dos direitos dos adolescentes
forma. É preciso mudar essa opinião
não consegue voltar para a escola ou volta
atletas em todo o país. Segundo a pro-
popular de que é melhor que eles estejam
bem atrasada. Sem receber educação,
motora do trabalho Rosemeire Lobo,
no futebol do que na rua.”
sem ter uma formação profissional, ele
vice-coordenadora da CoordInfância, o
As consequências para os garotos
arquivo servirá para fiscalizar melhor a
que fracassam na tentativa de se torna-
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tam, tem vergonha de voltar para casa, entregam-se às drogas”.
será mais um adulto fora do mercado de trabalho”, defende a promotora.
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
momento
Vai ter golpe,
sim! Mas do sequestro pelo celular. Todo cuidado é pouco. É mais um crime inventado pelo jeitinho brasileiro Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
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Michael Magalhães
hora, nem notei, nem dei conta. Como é que
ocorrência e constatou que se tratava de
eu ia saber que é do Maranhão? Fiquei super-
mais um golpe. “Não há como reaver o
Apesar de considerado, hoje, um item
nervosa... Ele me comunicou o sequestro de
dinheiro nesses casos”, conta a professora
indispensável na vida da maioria dos cida-
minha mãe, que estava na praia, em Guara-
Maria Aparecida, que tentou a mesma
dãos, o celular pode se transformar, tam-
pari, e que se eu não pagasse, ela não ia mais
coisa — “Assim que você deposita, eles
bém, em uma boa dor de cabeça. O pior de
ver a luz solar. Foi uma quantia grande, por-
retiram o dinheiro e encerram a conta”.
tudo é que se trata de uma dor difícil de
que eu sou só professora, não tenho vida fácil,
evitar. Estamos falando do golpe do seques-
mas, o que eu tinha, depositei.
ENTENDA O GOLPE
tro, muitas vezes executado por presidiá-
Assim que confirmou o depósito,
Este golpe é organizado, sobretudo, por
rios. Já faz tempo que muitas pessoas caem
Maria Aparecida ligou para a polícia e conta
facções criminosas, pois demanda um cui-
em golpes fraudulentos de criminosos que,
que “quase caiu para trás”, quando o poli-
dado muito grande em sua elaboração. A
de dentro das cadeias, ligam para o dono do
cial retrucou calmamente, que ela havia
opinião é do advogado Mauro Lopes, que
telefone, simulando sequestro de qualquer
caído no golpe do sequestro, “um golpe
não exclui nem mesmo a participação de
parente ou amigo, a fim extorquir dinheiro.
genuinamente brasileiro, aliás”, frisou o
“laranjas” (intermediários), que podem até
Não se sabe ao certo como os presidiá-
oficial. O alívio de ouvir a voz da mãe, sã e
ser advogados — “Atualmente, as facções
rios ou as facções criminosas conseguem
salva, curtindo as praias de Guarapari não
criminosas estão muito bem aparelhadas”.
os números de telefones das pessoas, mas
foi suficiente para aplacar a sensação de
tudo indica que eles vão ligando aleatoria-
desamparo que caiu sobre ela.
O golpe funciona assim: um dos bandidos liga para a vítima contando que um
mente e contando a mesma história para
— Peguei o número do celular, passei
familiar dela foi sequestrado e que, se não
centenas de pessoas - acredita a advogada
para a polícia, mas eles falaram que não
for depositada uma quantia — normal-
Elisa Mara do Nascimento, que já foi
havia mais o que fazer. Nem deu para sus-
mente entre R$ 2 mil e R$ 5 mil —, será
vítima, duas vezes, dessa tentativa. Elisa
tar o depósito.
ferido ou morto. Há casos em que os golpistas solicitam, também, o fornecimento de
não caiu em nenhuma das duas, mas diz que foi por pouco.
DRAMA EFICIENTE
certo número de códigos de cartões de
— Tenho dois celulares. Enquanto eu
Outro que caiu foi o aposentado Joarez
recarga para celulares pré-pagos, que ser-
atendia a ligação do bandido, mandei uma
Gomes, morador do bairro Kennedy, em
vem para os presos se comunicarem desde
mensagem pelo segundo aparelho e desco-
contagem, 61 anos. De acordo com Joarez,
os presídios Elisa Mara chama a atenção
bri que não tinha ninguém sequestrado.
um criminoso ligou em seu celular e disse
para o “desempenho teatral” dos bandidos.
Da segunda vez, só pelo prefixo, do Paraná,
que estava com sua filha em mãos, e que se
— Eles estão ficando tão sofisticados
vi que era golpe e ignorei. Mas pode dizer aí
ele não depositasse uma quantia de R$ 10
que, muitas vezes, a ligação inclui até gritos
que eu fiquei assustada pelo tom dramá-
mil em sua conta, dentro de duas horas ele
no fundo do telefonema, para impressionar
tico e ameaçador da voz dele...
mataria sua única filha, que de fato não
o ouvinte. Já ouvi relatos de descrição de
estava em casa.
detalhes da pessoa supostamente seques-
Apesar de ter se dado bem, Elisa Mara se sente desamparada. Ela acha que o
Para completar o desespero do apo-
usuário, de um modo geral, não está pro-
sentado, o bandido ainda colocou na liga-
tegido. Elisa, que atua na Vara de Família,
ção uma mulher que chorava copiosa-
Há casos em que essas ligações não são
acha que o problema está na esfera da
mente, pedindo que ele não chamasse a
tão aleatórias como se pensa. “São números
Polícia Federal.
policia senão a matariam. Ao ouvir o choro
rastreados na internet, principalmente no
trada, para assustar e convencer o interlocutor a pagar rapidamente.
— Como é que pode bandido ficar
da suposta filha, os criminosos prenderam
facebook, onde as pessoas, por achar que
dando interurbano de dentro de uma peni-
a vitima na ligação e foram dando todas as
estão entre amigos, se expõem mais”,
tenciária e ninguém fazer nada? No meu
coordenadas até o aposentado se dirigir a
afirma o advogado Lopes.
caso, eu, que sou advogada, tenho faro pra
uma lotérica e depositar uma quantia de
— Na realidade, o tal membro da famí-
perceber de longe um golpe desses, mas há
R$ 3 mil nas contas passadas pela quadri-
lia não foi sequestrado, mas já foi “investi-
pessoas que não vão perceber.
lha. Só muito depois os familiares de Joarez
gado” e, provavelmente, sem saber, forne-
conseguiram entrar em contato com a
ceu várias informações pessoais, que
LUZ SOLAR
filha, que supostamente estaria em perigo,
depois serão usadas para convencer os
A professora Maria Aparecida de
e a mesma os tranquilizou dizendo que
parentes de que foi mesmo sequestrado. O
estava no trabalho.
requinte é tanto que, muitas vezes, eles
Rezende, 56 anos, não percebeu, caiu na armadilha uma vez e não se conforma até
Depois desse prejuízo, o aposentado
ficam ligando direto no nùmero do suposto
hoje. Depositou R$ 5 mil na conta de uma
disse que vai entrar com uma medida cabí-
sequestrado, a fim de mantê-lo ocupado e,
quadrilha que atuava em São Luiz, no
vel para tentar reaver o dinheiro deposi-
assim, impedir os familiares de fazer con-
Maranhão.
tado na conta dos criminosos. A polícia foi
tato e verificar se indivíduo em questão
chamada para registrar um boletim de
está mesmo sequestrado.
— O prefixo era do Maranhão, mas, na
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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton paiva - Novembro de 2015
O QUE FAZER Procure ganhar tempo e manter a calma, sem aparentar nenhum sinal de pânico, mas sem deixar que eles percebam que você quer tempo para agir. Eles nem sempre sabem reagir a isso. Uma pessoa em pânico fala descontroladamente e só vai fornecer munição aos criminosos. Veja as dicas: - Verifique, por meio de outros números ou amigos e colegas de trabalho, onde está a pessoa supostamente sequestrada. - Use qualquer recurso para conseguir falar com ela. - Se for preciso, não hesite em desligar na cara do bandido, no início da conversa, pois isso deixará a linha disponível para você tentar contatar a pessoa. - Se o bandido reclamar, diga que caiu a linha. - Não se deixe amedrontar pelas ameaças e leve em conta que, quando os golpistas disserem que não pode desligar, é exatamente porque não querem que você tenha a chance de verificar o que eles afirmam. - Jamais forneça ou confirme qualquer dado seu ou de seus familiares (endereços, local de trabalho etc.), pois se os sequestradores forem de verdade, já saberão tudo; se não forem é melhor não dar informações sobre você e sua família. - Uma vez verificado que é golpe, o conselho é: ligue para a polícia e denuncie o fato, fornecendo, inclusive, o número de origem da ligação, sempre um celular. Não tente bancar o detetive. Deixe que a polícia tome as chamadas medidas cabíveis, mesmo sabendo ou desconfiando que eles não terão sucesso nisso, pois os bandidos, infelizmente, estão sempre um passo à frente... - Fique atento e não atenda nunca mais telefonemas vindos daquele número, em hipótese alguma. - Não se esqueça, em momento algum, que está tratando com criminosos e presidiários sem nenhum escrúpulo. Nada de ameaças — eles podem levá-las a sério. - Se tem filhos, procure ter, em casa ou no trabalho, telefones de amigos ou colegas de trabalho deles, para o caso de ter que ligar. E exija deles que, sempre que saírem, digam onde e com quem estarão. Isso pode ser sinônimo de um estresse muito grande, principalmente se são adolescentes, mas vale a pena, para não chorar depois. - Quanto ao dinheiro, não faça planos nem sonhe mais com o ressarcimento. Não há casos conhecidos de gente que conseguiu reaver o dinheiro, nem mesmo quando a quadrilha foi presa!
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