ágora revista
Revista Laboratório do Curso de Jornalismo Centro Universitário Newton Paiva | Ano VII | 2015
o maravilhoso reino de hilda furacão Em Minas, o velho hotel, que um dia foi o cenário luxuoso da famosa cortesã, é um verdadeiro baú de recordações e histórias
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PortaL de informação da Escola de Comunicação Centro Universitário Newton Paiva
npa.newtonpaiva.br/post
EDITORIAL
Ainda com mercado forte
Instantaneidade informacional; crise do mercado jornalístico, com demissões em massa, principalmente no meio impresso; público conectado 24 horas por dia via redes sociais e aplicativos mobile. Audiência e jornalistas são mídias. webjornalismo, trans e crossmidialiadade em plena ascendência, revolucionando as estruturas das empresas de comunicação. Acúmulo de funções e responsabilidades diversas sob o mesmo profissional. Queda nas tiragens dos jornais impressos em quase todo o globo. Tal cenário parece não ser muito relevante para a realidade das revistas impressas. Pelo menos, ainda não. Ainda que as semanais venham perdendo terreno, por sua natureza, as mensais, especializadas ou sobre assuntos gerais, ainda se mantêm como objeto de desejo de seus públicos fiéis, sempre ávidos por informações aprofundadas, bem apuradas e transmitidas com sofisticação e elegância textual e fotográfica. Esta edição de Ágora, elaborada pelos alunos do 5o período de Jornalismo da Escola de Comunicação Newton, traz a cultura mineira sob ótica minimalista, com redação, fotografia e diagramação pensadas para transmitir o aconchego que as terras Gerais, incrustadas entre montanhas e Minas, trazem a todos os que nela pisam. Uma “diliça” de leitura para você!
Ícaro Batista REVISTA ÁGORA | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 2015
CARTA AO LEITOR
VOCÊ CONHECE SUA CIDADE?
“Moro no Rio de Janeiro e nunca fui ao Cristo Redentor”. “Sempre morei em São Paulo e nunca fui à Praça da Sé”. “Sempre morei em Brasília, mas não conheço o Planalto”. É corriqueiro ouvirmos essas frases dos nativos de regiões que visitamos, e mais comum ainda é o fato de que, muitas vezes, conhecemos mais as cidades para onde viajamos do que a cidade em que moramos. Dentro de uma grande cidade, há várias cidades. Dentro de uma grande cidade, há vários povos, culturas, crenças, lugares que nem imaginamos que existem e que ,muitas vezes, ficam a algumas quadras de onde estamos. Acostumados a uma ‘viseira’, sempre visitamos apenas os lugares que nos interessam, com o mesmo grupo de amigos que, por sua vez, frequentam os mesmos lugares. E assim, fechamos os olhos para uma verdadeira nação que existe dentro da cidade em que vivemos. E você, conhece a sua cidade? Você sabia que Belo Horizonte é uma das capitais que possuem o projeto arquitetônico mais moderno do Brasil? E que é aqui, também, onde temos uma Igrejinha das mais notáveis do estado, construída antes mesmo de a cidade nascer? Mais: que a maior das grandes bandas do Metal tem fixadas aqui as suas raízes? Na cultura, além de um dos grupos de teatro de bonecos mais prestigiados, e uma das emissoras de rádio de maior impacto do país, chegamos a ter mais de 40 cinemas de rua ao mesmo tempo. Você sabia que a capital ,muitas vezes, foi conhecida como a cidade do pecado, por abrigar um nome famoso atrelado à prostituição? E é claro que a gastronomia não poderia ficar de fora. Nem o turismo. Belo Horizonte é o ponto de partida para uma agradável viagem que nos levará dos ricos sabores dos queijos mineiros a um tour pela rota de Peter Lund. E é desse ponto de partida que os alunos do 5º período de Jornalismo da Newton Paiva convidam você, leitor, para conhecer melhor a sua cidade, aquela em que vivemos, estudamos, trabalhamos e crescemos. Seja bem-vindo aos vários universos que residem neste horizonte vasto e belo em que temos o prazer de ver o sol nascer e cair todos os dias.
rOGER LEON REVISTA ÁGORA | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 2015
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SUMÁRIO
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Revista Laboratório do Curso de Jornalismo Centro Universitário Newton Paiva Ano VII | 2015
Presidente do Grupo Splice Antônio Roberto Beldi Reitor João Paulo Beldi Vice-Reitora Juliana Salvador Ferreira de Mello COORDENADORA DA E SCOLA DE COMUNICAÇÃO Juliana Lopes Dias
DESCOBERTA 44 A 47
EDITOR DA REVISTA Professor Eustáquio Trindade Netto (DRT/MG 02146) APOIO
MODA
Núcleo de Publicações Acadêmicas - NPA Projeto gráfico e Direção de Arte Helô Costa
34 A 37
(Registro Profissional 127/MG) Diagramação Ariane Lopes Marina Pacheco
HISTÓRIA
Estagiárias do Curso de Jornalismo
38 A 43
Beagá
O abençoado coração da capital mineira Em meio à rotina infernal do centro, a centenária capelinha de Nossa Senhora do Rosário se transformou numa escadaria que nos deixa a dois passos do paraíso
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Por Caíque Rocha A correria cotidiana de quem vive e trabalha no centro de Belo Horizonte acaba ofuscando um patrimônio histórico importante, que data dos primórdios da capital mineira. Localizada na agitada confluência das ruas São Paulo e Tamoios com a Avenida Amazonas, bem no coração da cidade, a Capela Curial Nossa Senhora do Rosário — a igreja mais antiga de Beagá — há 115 anos serve como refúgio para os fervorosos fiéis que buscam, em meio à
selva de pedra, um caminho até a cobiçada paz de espírito. Ali, bem no centro da cidade, a pequena e singela capela em nada lembra a grandiosidade de suas vizinhas maiores, a igreja de São José e a matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Elas chamam a atenção pela arquitetura e, principalmente, pelo destaque em relação ao cenário em que estão inseridas — parques e escadarias que até sugerem, digamos, verdadeiros cartões postais. É daí que vem a mística da cente-
nária capelinha, considerada um “Oásis de Maria” pelos que transitam naquele conturbado ambiente, sufocados pelos incontáveis prédios. O pequeno templo, mesmo sem chamar a atenção de longe, atrai centenas de devotos durante toda a semana, seja por algum motivo especial, ou simplesmente pela fé. É o caso de Maria Aparecida Pereira, 55. Já aposentada há sete anos, faz questão de comparecer todos os dias à capela. “O que me motiva é sempre a vontade de agradecer a Deus pela vida; essa igrejinha é uma benção pra mim”, suspira. Fotos Caíque Rocha
SANTO CASAMENTEIRO Até mesmo os que rotineiramente dedicam suas vidas à conservação e funcionamento do templo colocam a devoção em primeiro lugar. Ana Maria Andrada Pacheco, 73, trabalha como voluntária há cinco anos e explica que a recompensa é unicamente espiritual. “Abrimos mão de parte da nossa vida familiar em prol da vida de pessoas desconhecidas. Isso só é possível com o amor de Deus”, orgulha-se. Mas há casos de quem volta sempre porque teve um motivo realmente especial. A dona de casa Marcília Pereira da Silva, 66, entrou pela primeira
vez na capela em um distante 1985. E se lembra até do dia: “foi numa terçafeira, no comecinho do mês de junho”. Entrou porque perdeu o dinheiro da passagem de ônibus e não tinha a quem recorrer. — Aí, comecei a rezar e desatei a chorar. Eu chorava que dava pena. Chorei tanto, que chamei a atenção de um rapaz que estava lá, e que veio me perguntar o que eu tinha. Então, contei pra ele o meu drama e ele disse que me daria o dinheiro: “Mas você não precisa me pagar; quando tiver dinheiro, você volta e deixa aqui uma esmolinha
pra Santo Antônio”. Marcília voltou exatamente no dia dedicado a Santo Antônio, 13 de junho. “A capela estava cheia”, recorda-se, contando que levou o dinheiro da passagem e “uns trocadinhos a mais” para agradecer a Santo Antônio. — E sabe quem eu reencontrei lá? O meu anjo da guarda, o moço bonito que me emprestou o dinheiro. Os dois se casaram um ano depois e, religiosamente, todo ano, voltam com os cinco filhos para agradecer a cupido, isto é, ao santo casamenteiro.
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SEM IDADE Engana-se quem pensa que devoção não é coisa de jovens. Flávia Ivining, de 21 anos, trabalha bem pertinho da igreja e costuma passar o tempo livre no interior da capela, para rezar “e meditar”. Mesmo nos horários de pico, segundo Flávia, quando a poluição sonora provocada pelo trânsito intenso eleva à potência máxima o nível de estresse de quem convive com as proximidades da Praça Sete, o ambiente dentro do templo permanece calmo.
— Chega a ser engraçado; quando estamos lá dentro é difícil de se ouvir até mesmo as constantes buzinas dos carros. A polivalente Ana Maria também conta que muitos estudantes, depois das aulas, costumam passar pelo templo. Ela acredita que, além de preces, eles praticam um merecido “descanso mental” — Acho que é isso, porque até mesmo nos intervalos eles costumam vir.
Danilo Matos Alvarenga, 18, criou o hábito de frequentar a capelinha “para rezar antes de fazer prova, como a maioria faz”. Hoje, continua frequentando, mas por outros motivos. — Descobri uma paz muito grande aqui dentro. Venho todo dia. Não sei ainda se é vocação, mas minha meta agora é entrar para um seminário. Já visitei o convento dos frades dominicanos e gostei muito. Venho aqui para rezar e para ver se Deus me dá uma luz.
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HISTÓRIA E ARQUITETURA Responsável pela casa há mais de 20 anos, Monsenhor Geraldo dos Reis Calixto, em uma breve volta ao passado, lá na época da fundação da capela, explica que ela já existia antes mesmo de se definir Belo Horizonte como capital do Estado. — É de quando havia o Curral Del Rei, o arraial situado onde posteriormente a atual capital mineira seria implantada. Só que, naquele tempo, o traçado das ruas era outro. Já havia alguns templos católicos espalhados pela região central, mas a capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário foi construída em 1819, onde hoje se compreende o cruzamento da Avenida Álvares Cabral com a Rua da Bahia. Para que a avenida fosse aberta, no entanto, foi preciso que a capela mudasse de local. Assim, em 1895, por ordem do governador Afonso Pena, deuse início às obras e, dois anos depois, a igrejinha foi reinaugurada no novo endereço, onde permanece até hoje. Belo Horizonte, por sua vez, foi declarada munícipio dois meses depois. Relatos curiosos enriquecem ainda mais a história do templo. Monsenhor Geraldo nos lembra de que a inauguração, em 27 de setembro de 1897, foi exatamente no mesmo dia em que o Parque Municipal Américo Renné Giannetti, um dos principais pontos turísticos da cidade, também abria suas portas. Outro fato importante foi o período em que a capela foi matriz da Paróquia São José, uma das “primas ricas” do centro. Monsenhor Geraldo conhece cada metro quadrado do espaço e, apesar de algumas reformas que foram realizadas, se lembra perfeitamente de cada palmo do templo. Ele próprio faz questão de explicar a base arquitetônica da capela. — Construído em estilo neogótico, o templo possui uma escadaria em cantaria de granito. O mesmo acontece com a base sobre a qual se assenta o pórtico, que mostra, na parte superior da porta, no côncavo da ogiva e em alto relevo, a Virgem Maria reverenciada por dois anjos.
SAGRADO E CONTROVERSO Dedicada à Nossa Senhora do Rosário desde sua fundação, a carismática igreja costuma confundir alguns fiéis. Muitas pessoas, frequentadoras ou não, se referem ao local como Capela Santo Antônio, um equívoco que, para o sacerdote, tem algumas explicações: — Vários cristãos fervorosos, em suas devoções a Santo Antônio de Lisboa-Pádua, insistem em chamar a capela por esse nome, mas pode ser também pela proximidade com o antigo Orfanato Santo Antônio, que também se mantinha na Rua São Paulo. É claro que Nossa senhora não fica aborreci-
da, mas não é o nome correto — argumenta. Não é à toa que a edificação é tombada pelo Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura, como informa a Prefeitura de Belo Horizonte. Os motivos da valorização e admiração dos fiéis vão além dos aspectos visuais, já que, antes de tudo, a maior riqueza é histórica. Ali não está presente somente o Espírito Santo, como acreditam os fiéis. Por trás daquela porta encontrase o refúgio de almas que, em um passado não muito distante, deram a vida pelo crescimento da cidade que, antes de construída, foi sonhada.
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Teatro
Quando as luzes se apagam
Por trás de uma simples apresentação de teatro de bonecos, pode existir muito mais do que possamos imaginar. E disso, o grupo GiraMundo entende como ninguém
Grupo Giramundo
Um gênio chamado Álvaro Apocalypse Tudo começou por meio de um dos maiores artistas plásticos brasileiros, Álvaro Apocalypse. E não é de se admirar que o GiraMundo, um grupo capaz de misturar as mais belas artes com tanta propriedade e bom gosto, fosse criado por um pintor, ilustrador, museólogo, cenógrafo, desenhista, diretor de teatro e publicitário. Álvaro Apocalypse, desde pequeno, parecia enxergar coisas que ninguém via. De maneira encantadora e ao mesmo tempo surreal, desenhava os animais que via. Fazia do belo e do incompreendido um só corpo, o que começou a atrair olhares. Uma coisa tornou–se clara por fim: Álvaro não podia mais fugir da arte, e ela parecia atrair-se por ele. Após estudar Belas Artes na UFMG, tornou-se professor e o desenho passou a ter um espaço definitivo na sua vida. Seus projetos sempre foram fruto de seus sonhos, e estes, resultado do olhar clínico e observador que tinha. Por isso, após assistir a muitos espetáculos com marionetes durante um período que passou na Europa, ele retorna à capital mineira com sua criatividade aflorada de uma maneira como nunca havia tido antes. Para muitos, talvez, poderia parecer só mais uma ideia, mas ele tinha uma convicção: criaria um grupo de teatro de bonecos. E que sonho resiste à concretização, quando vem da cabeça de um artista determinado? Junto com sua esposa Terezinha Veloso e sua ÁGORA | Revista Laboratório Curso deem Jornalismo Centro Universitário Newton PaivaGiraMundo. | 2015 alunaREVISTA Maria Antonieta Martins, surgedoentão, 1970, odo grupo_ de teatro de bonecos PÁGINA 10
Por Magno Oliveira e Taís Angélica Uma das artes mais antigas do mundo esconde mistérios encantadores em sua origem. Há quem acredite piamente que o teatro de bonecos seja mais do que fazer uma interpretação com objetos de madeira, suspensas por fios. Isso vem bem antes de Pinóquio e Gepeto. E, para variar, é mais um negócio da China. Diz a lenda que uma jovem dançava todos os dias para o imperador chinês Wi Ti, no ano 121 a.C. Era sua bailarina favorita. Desesperado com sua morte, ele recorre a um mágico e o ordena que faça reviver sua amada, sob pena de morte. O sagaz mago cria, então, numa pele de peixe, a silhueta da bailarina, semelhante à original, e a coloca atrás de uma cortina branca. Através da luz que refletia, fez evoluir a sombra da boneca que “dançava” ao som de uma flauta. Isso foi suficiente para encantar o imperador e, posteriormente, toda a dinastia chinesa. A história - relatada há muito mais de mil anos - é tida, por muitos, apenas como uma lenda. Mas, ainda hoje, muitos países orientais consideram os bonecos verdadeiros deuses.
Desde sua criação, a arte de teatro de bonecos tem sido vista como mais que entretenimento. É considerada uma ferramenta, capaz de brincar com as emoções de quem assiste. Os bonecos também viraram atração na Europa, ao acompanhar um grupo ambulante de teatro da Comedia dell’Art. No Brasil, essa arte surgiu no século XVI, mas ganhou força bem depois, especialmente no nordeste, onde, até hoje, possui forte tradição. Mas foi Minas Gerais que herdou o privilégio de possuir um dos maiores grupos de teatro de bonecos do Brasil e da América Latina: O GiraMundo. Quem assiste a algum dos espetáculos do grupo não pode negar que, de fato, existe alguma magia em cada boneco. Quem nunca ouviu a velha história do boneco de madeira que, tendo seu desejo atendido, foi transformado em um menino de verdade? No Gira -Mundo, os bonecos parecem realmenteter vida, não por algo sobrenatural, mas porque pessoas reais os criaram com toda a magia e o poder que há nas emoções humanas. Para o produtor cultural, diretor de teatro e colunista do Jornal Hoje em Dia, Luiz Hippert, a atenção aos deta-
lhes e a linguagem usada pelo grupo, são fortes determinantes do sucesso de suas apresentações. — O processo criativo do GiraMundo, desde sua fundação, é marcado pelo esmero nos detalhes. Seus bonecos, com cenários, figurinos e todo o entorno que compõe os espetáculos conduzem as plateias a um universo mágico, onde os bonecos criam vida. É como se eles realmente “atuassem” e é bem fácil se perder neste encantamento. Talvez a principal marca do GiraMundo seja a criação poética aliada a uma técnica precisa. Hippert também afirma que o GiraMundo foi uma das grandes ferramentas pelas quais o teatro de bonecos ganhou destaque no Brasil. “Além de o Álvaro ter sido um grande artista plástico, foi um dos primeiros artistas brasileiros a conquistar reconhecimento e prestígio internacional, sendo bem conhecido em vários países da Europa”, afirma. Para Hippert, sua influência, bem como a do GiraMundo, seja para o Brasil ou Minas Gerais, foi determinante para o crescimento e divulgação do Teatro de Bonecos. ”Foi o precursor deste movimento e tudo se desenvolveu a partir da sua experiência”.
Repertório clássico A primeira encenação do grupo foi a peça “A Bela Adormecida”. Álvaro desenhou, montou e construiu cada personagem, mesmo com recursos ainda mínimos. Alguns dos bonecos foram feitos com papel, mas o que não faltava neles era criatividade. Aos poucos, o grupo foi ganhando realidade. A peça “Cobra Norato”, que explorava elementos do folclore brasileiro, por exemplo, foi imensamente aprovada pela crítica, ganhou prêmios de grande destaque e continua sendo admirada como uma das melhores produções do grupo. Mário Bernardo de Mello, 38, ainda se lembra de quando viu a peça, em companhia da mãe, no Teatro Marília. — Nem me lembro da idade, mas eu era menino, quase adolescente. Até hoje, acho que nunca vi nada tão impactante. Era magia pura. Hoje considerado o maior grupo
de teatro de bonecos da América Latina, O GiraMundo leva uma bagagem de 45 anos de experiência com cerca de 30 peças apresentadas e mais de mil bonecos produzidos. Muitos dizem que o sucesso do grupo está no fato de os bonecos “possuírem personalidade”. E não sem razão. “Nas apresentações, eles passam tanta realidade que há quem diga nem perceber os marioneteiros manipulando-os”, afirma Hippert. Chegar ao ápice e estar entre os grupos de teatro de bonecos mais importantes do Brasil não foi uma tarefa tão fácil. Álvaro e sua equipe enfrentaram desafios que ameaçaram o grupo até mesmo de encerrar suas atividades. Em 2000, quando foi retirado da UFMG, sua antiga sede, o grupo ficou sem lugar para abrigar o acervo. Mas como o GiraMundo já
havia caído no gosto da sociedade, recebeu patrocínio para fazer teatro móvel. Hoje, o grupo passou a ter novos artistas empenhados na construção dos bonecos, dos cenários, e sua manipulação. O GiraMundo reergue-se e começa a se apresentar por todo o estado, com recursos mais avançados, e um público cada vez maior. Desde 2001, todo o acervo do grupo GiraMundo ganhou um espaço para o armazenamento, preservação e exposição, o que deu origem ao Museu GiraMundo. — Álvaro plantou as sementes, mas infelizmente não pôde colher todos os frutos. Morreu deixando nas mãos das filhas a responsabilidade de concretizar seus sonhos e dar prosseguimento ao grupo que, agora, não era só um grupo de bonecos, era o Gira -Mundo — afirma Luiz Hippert.
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A arte de se reinventar
“No fim do dia, quando estávamos nos
Após a morte do pai, em 2003, Beatriz, suas irmãs e toda a equipe passaram a empenhar-se na restauração dos bonecos. Mas o mundo estava diferente. A tecnologia, antes vista apenas como um pequeno auxílio, tornou-se uma exigência. Mas como o GiraMundo faria para sobreviver a todaessa reviravolta que estava remodelando a sociedade? Eles fizeram arte mais uma vez, é claro. Exemplo disso é a peça “Pinóquio”, que conta com uma cena em vídeo de teatro de sombras. — Acho que o grupo contribuiu muito para marcar uma estética para o teatro de bonecos. Isso é muito rico, porque não cedeu a nenhuma pressão de mercado e sempre procurou se renovar dentro daquela linguagem. inclusive em seu último espetáculo, “Aventuras de Alice no país das maravilhas”, eles já passaram por workshops com animadores em 3D. Isso mostra uma preocupação de atualização sem perder a essência da companhia — atesta Carolina Braga, crítica de teatro. A soma de várias artes, e uma pitada de qualidade digital, trouxeram ao GiraMundo um novo tempo, mas é claro, sem perder suas origens. Isso selou um grupo que pode ser considerado “moderno à moda antiga”. Afinal, identidade é algo que o GiraMundo nunca pretendeu deixar o tempo levar. Sobreviver ao tempo, às mudanças e às exigências de um mundo em constante evolução, mas sem perder o poder de encantar, não é pra qualquer um.
preparando para sair daquela sala cheia de bonecos pendurados, ele dizia: Observemnos. Quando eu fechar a porta, eles irão se mover pensando que fomos embora. De repente, ele abria a porta e eu via. Via eles se mexendo! Acredito que os bonecos são seres especiais.” Beatriz Apocalypse, filha de Álvaro Apocalypse, criador do grupo GiraMundo.
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CULTURA
Belo Horizonte é a capital do Heavy Metal
Apesar da fama de tradicionalista e conservadora, a cidade viu nascer a mais radical cena do metal em toda a América Latina REVISTA ÁGORA | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 2015
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Por Gabriel Pompeo e Arthur Anjos Belo Horizonte é uma cidade com população tradicionalmente conservadora, de hábitos e rotina bem previsíveis. Pelo menos era assim que o povo mineiro, em geral, era conhecido. Em parte, por seu apego às tradições que escreveram sua história. Prezamos por um tradicionalismo que é uma espécie de marca; porque vivemos cercados por montanhas e serras que nos caracterizam e nos isolam. Se é assim, então como explicar que um estado tido como conservador, com uma capital definida como “provinciana” e com um bairro conhecido como o berço da seresta, foi também o berço da banda de rock mais famosa do país? Nos anos 1970, Belo Horizonte era uma cidade em desenvolvimento, relativamente “nova” — se comparada às grandes capitais —, começava a ter uma geração nascida e crescida aqui, que criava e enraizava uma identidade. Na região do bairro Santa Tereza, surge o Clube da Esquina, movimento musical que veio renovar e revolucionar a música brasileira. Encabeçado por Milton Nascimento, Fernando Brant e os irmãos Borges, a musica mineira se tornava importante no cenário nacional e mundial. Muito pouca gente poderia prever que o mesmo bairro seria o ponto de partida, pouco tempo depois, de uma banda de rock que, em termos internacionais, suplantaria até mesmo Clube da Esquina. Claro, estamos falando do Sepultura.
Pioneirismo Os anos se passaram, e na mesma região de Belo Horizonte, surgia um movimento totalmente adverso ao Clube da Esquina, e pioneiro no Brasil e no mundo. A ditadura e o conservadorismo da capital, em uma época de dificuldades financeiras e sociais que o Brasil enfrentava, acabaram contribuindo para o surgimento da cena Heavy Metal mais forte do país. Quem andasse pelo centro de Belo Horizonte, no começo da década de 1980, veria que era comum encontrar grupos de cabeludos, com raiva nos olhares, vestidos de preto, com botas, jeans, jaquetas de couro e camisas de bandas de heavy metal do exterior. Os headbangers (termo em inglês para fãs de heavy metal) se reuniam em alguns pontos da capital, como na esquina da Avenida Augusto de Lima com a Rua Rio de Janeiro, em frente à histórica loja de discos de heavy metal, Cogumelo. Na porta da loja, dezenas deles se juntavam para ouvir discos de metal e fazer algazarras pela noite na cidade. Jairo Guedes, ex-guitarrista do Sepultura, conta como era ser metaleiro em Belo Horizonte nos anos 1980. — A gente não podia ficar em qualquer lugar. Naquela época, cabeludo vestido de preto era sinônimo de marginal. Os policiais nos intimidavam e as pessoas olhavam torto pra gente. Esses headbangers andavam em turmas, geralmente do mesmo bairro. Existia uma espécie de rivalidade entre os metaleiros de regiões diferentes. Segundo Jairo Guedes, “antes de o Sepultura existir, havia muitas rixas de bairros.
Havia brigas, por exemplo, da turma do Floresta contra a turma do Sion, a turma do Mangabeiras contra a turma da Savassi... Isso tudo era uma coisa muito da juventude, do pessoal de colégio...Mas com o tempo todas as rixas foram sendo resolvidas, pelo amadurecimento e o crescimento de cada um”, acredita. Segundo Jairo, depois que nasceu o Sepultura, e as outras bandas também começaram a tocar, “nós ficamos mais caseiros, ficávamos ensaiando em nossas casas, escutando rock”. — Nós fazíamos festas, chamávamos o pessoal do Korzus e do Ratos de Porão (bandas paulistas), às vezes, um ou outro gringo... Eles vinham, eles ficavam na casa do Max e do Igor (irmãos e fundadores do Sepultura). Existiam pontos de encontro da galera do metal, como o Soft Pastel, no bairro Cidade Nova, e o Pop Pastel, na Savassi, na esquina da Cristovão Colombo com Avenida do Contorno. Outro ponto que ficou famoso foi o inevitável Bar do Bolão em Santa Tereza. Carlos, um dos proprietários do Bolão, afirma que viu o nascimento da banda Sepultura. — A primeira formação do Sepultura com o Andreas, Paulinho, Igor e Max sempre estava aqui. Eles sempre faziam um ensaio numa garagem que tinha aqui embaixo na Rua Pouso Alegre, e nisso eles foram crescendo. Começou tudo aqui mesmo. Aconteceu uma situação engraçada uma vez. A banda realizou uma coletiva aqui no restaurante, e não parava de chegar pessoas, ficamos desesperados. Quando está em Belo Horizonte, o Paulo ainda vem muito aqui.
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Marco Após o boom do Rock In Rio de 1984, muitos desses garotos quiseram fazer seu próprio trabalho — ainda que sem condições. Na época, os jovens de Belo Horizonte não tinham acesso a discos, muito menos a bons instrumentos. Não havia estrutura necessária para se criar algo sólido. Para escutar o trabalho das bandas do exterior, que eles tanto veneravam, muitas vezes tinham que recorrer a amigos, primos que viajavam para São Paulo ou Rio de Janeiro e traziam os LPs de grupos como Iron Maiden, Kiss ou Black Sabbath, entre outras. Jairo Guedes conta sobre as aventuras para conseguir os discos das bandas: “A gente comprava dólares escondido, pra mandar dentro de um papel carbono, dentro de uma carta, porque na hora de passar nos raios X, a polícia dos outros países não identificava, pois o carbono evitava que os raios X identificassem o dinheiro. Então, a gente mandava a carta para um cara que a gente nunca viu na vida, e demorava um mês para a carta chegar ao interior da Holanda. Aí, esse cara mandava uma fita cassete da banda Sacrifice por exemplo.” A Cogumelo teve um papel extremamente importante na união e formação de uma geração de rockeiros. Percebendo isso, a loja de discos fundou, no fim de 1984, o selo Cogumelo Records. Paty e João, (donos da loja) notaram potencial em determinados grupos da época, ainda que muitos não soubessem nem tocar direito os instrumentos. A Cogumelo Records resolveu dar um suporte para que as bandas daqui pudessem se desenvolver. Apesar da falta de estrutura, Belo Horizonte tinha o JG estúdio, no bairro Serra, com tecnologia suficiente como mesas de som e amplificadores para que as bandas gravassem seus álbuns.
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Primeiros festivais Em 1985, aconteceu o “Metal BH”, primeiro festival de bandas de heavy metal da cidade, organizado pela Cogumelo. Ainda que extremamente “crus” e sem nenhuma experiência, foi possível notar, ali, o surgimento de uma nova cena. Ainda em 1985, a Cogumelo Records teve a ideia de gravar um Split (disco) com duas bandas. Foram escolhidos os grupos Overdose e Sepultura. O Overdose era considerado, na época como uma grande esperança, graças à qualidade sonora e técnica musical dos integrantes, que estavam a frente das outras bandas. A escolha do Sepultura como a outra banda a gravar o split partiu do pedido de Vladmir Korg, que era vocalista do Chakal e trabalhava na loja Cogumelo. Ele era muito ligado aos rapazes do Sepultura, os ajudava a escrever letras, acompanhava as gravações e dava dicas à banda. No ano seguinte, 1986, foi gravada uma coletânea chamada “Warfare Noise”, com as bandas, Sarcófago, Mutilator, Chakal e Holocausto. Esses trabalhos mostraram o potencial dessas bandas. Ainda que iniciantes, e não soubessem falar bem inglês, o álbum é considerado referência pelos fãs. Todas essas bandas começaram a fazer turnês pelo Brasil. Existia um público. A cena do heavy metal tinha sua força. “Os instrumentos eram emprestados. A gente fazia uma turnê que tinha Sepultura, Mutilator, Dorsal Atlântica, Korzus e Ratos de Porão. Nós trocávamos os instrumentos, eu pegava a guitarra do João, guitarrista do Ratos de Porão, eles pegavam meu pedal de guitarra, o Igor emprestava o pedal do bumbo não sei pra quem”, conta Jairo. — Na foto do Morbid Visions (primeiro disco do Sepultura), a guitarra que está nas fotos é a mesma do cara do Mutilator. O Igor, que pintava e desenhava muito bem, pegou tinta guache e fez uns espirrados de sangue, pra ninguém desconfiar que a guitarra era a mesma. Depois de muito tempo, a gente foi comprar instrumentos, vieram alguns patrocínios, mas, até então, comprar um instrumento era como comprar um carro hoje, era tudo muito caro — comentou Jairo.
Referência mundial O movimento das bandas de heavy metal de Belo Horizonte no começo dos anos 1980 foi algo pioneiro. Referência nacional. Tinha todos os motivos para dar errado: falta de estrutura, falta de dinheiro, fama de conservadorismo da cidade. Mas existia uma fome de acesso às informações. “Em outras cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, também existiram bandas que faziam um bom trabalho. Porém, não existia uma cena como em Belo Horizonte. Aqui, parecia haver uma sinergia, todos caminhavam juntos para elevar a qualidade das bandas.”, comenta Danilo Travassos, divulgador de discos e DJ. Essas bandas tomaram caminhos di-
ferentes. A grande maioria conseguiu ter reconhecimento nacional e internacional dentro do gênero. Em vários países da Europa, Sarcófago, Overdose e Chakal são considerados referências em um nicho mais underground do heavy metal. Alguns desses grupos ficaram pelo caminho, não resistiram. O grande caso de sucesso e reconhecimento mundial que dura até hoje é o do Sepultura. Mais de vinte milhões de álbuns vendidos em todo o mundo. Álbuns reconhecidos entre os melhores de todos os tempos no gênero. Apesar da troca de formações que aconteceram nesses 30 anos de banda, o Sepultura ainda lota casas de shows em todo o Mundo. Belo Horizonte é uma cidade heavy metal.
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Patrimônio
Luz, câmera e... AÇÃO
Fotos Jéssica Guimarães e Jéssica Azeredo
Santa Tereza mostra que a tradição e a modernidade podem conviver harmoniosamente no tempo e no espaço
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Por Jéssica Rodrigues Guimarães e Jéssica Karoline Azeredo e Silva Entre as décadas de 1940 e 1950, a capital viveu plenamente a maravilha chamada cinema. E vivenciou a grande explosão da indústria cultural por meio da exibição de longas e curtas metragens. Durante a época, BH chegou a ter, aproximadamente, 30 cinemas de rua — ainda não havia a atual restrição à área dos shoppings —, como eram conhecidos. Entre os que tiveram mais destaque estavam o Brasil, Metrópole, Odeon, Pathé, Santa Efigênia, Jacques (então ainda chamado Tupis) e Candelária. A cidade, nos anos de 1940, passava por um intenso processo de urbanização, consolidando-se como capital do estado, sob a administração do então prefeito Juscelino Kubitschek. O período contou com a construção do conjunto da Pampulha, pavimentação da Afonso Pena, entre tantas obras. Festeiro, JK também se preocupava com a criação de uma identi-
dade cultural e, em 1943, foi implantado o Instituto de Belas Artes. Assim, naturalmente, vieram os cinemas, se instalando pouco a pouco em diversas áreas do centro e em alguns bairros. Os cinemas se localizavam em grandes edifícios. Muitos, como o Metrópole, apresentavam influências da arquitetura moderna, com requintes de art-déco e salas luxuosas. Ir ao cinema era, então, um acontecimento que exigia trajes finos, muita elegância, muita pompa e circunstância. Por isso, os preços dos ingressos eram altos e pouco democráticos. Nos jornais, a programação dos cinemas se destacava como um grande evento, grafado em francês: sessões soirée e matinées. Nos bairros, o cinema também era atração. Alguns bairros, como a Floresta, tinham até dois cinemas. Mas um dos que se destacaram foi o cine Santa Tereza, por ficar justamente no centro da praça que reunia toda a vida social do bairro.
A praça Duque de Caxias, em seus velhos tempos
Cine Santa Tereza No dia 20 de maio de 1944, aconteceu a grandiosa cerimônia de inauguração do Cine Santa Tereza. A solenidade contou com a bênção do Padre José de Campos Taitson e com o discurso de João Franzen de Lima, um dos fundadores da UND, União Democrática Nacional, que, dois anos após, se tornaria prefeito de Belo Horizonte. Depois de todas as honrarias, o filme “Conde Monte Cristo” foi exibido em duas sessões, às 19h e 21h. O filme, produzido em 1934, foi dirigido por Rowland V.Lee e teve no elenco Robert Donat e Elissa Landi. Essa primeira sessão, cujo ingresso custou Cr$ 2,20 atraiu um grande público. O sucesso foi tanto que o Cine Santa Tereza passou a funcionar com duas sessões diárias, de segunda-feira a sábado. Já aos domingos, a programação fazia a alegria da criançada; começava às 10h com a matinê infantil e censura livre. Durante a tarde, havia sessões juvenis e, à noite, exibições direcionadas ao público adulto. E claro, no intervalo entre as sessões, a paquera era, respeitosamente, o atrativo principal dos frequentadores. Berço da tradição “Bem longe da fama que tem hoje de bairro boêmio, devido à efervescência dos bares e restaurantes, Santa Tereza sempre foi uma região aberta a manifestações culturais, tanto religiosas quanto profanas”, contava o pesquisador Geraldo Fonseca, lembrando que se tratava, ainda, de uma época em que “o recato era fundamental e as serestas, que fizeram a fama do bairro, eram acontecimentos que reuniam multidões, mas tudo dentro de um clima extremamente familiar, como tudo que acontecia nos bairros da capital daqueles tempos”. Elza Maria Duarte, 77, ainda se recorda das serestas, mas não esconde que, para ela, o melhor de tudo era ir ao cinema, “principalmente quando passavam filmes do Robert Taylor”. Elza Maria não mora mais em Santa Tereza, mas ainda tem parentes e amigos que moram na região. Além do cinema, tem saudades das casas que exibiam grupos de seresta, em plena Praça Duque de Caxias, no coração do bairro. “Hoje, ninguém mais quer saber de seresta”, suspira. O bairro Santa Tereza surgiu da ocupação de imigrantes italianos, portugueses e espanhóis
que vieram trabalhar na construção da capital mineira. A região teve vários nomes como Colônia Américo Werneck, Bairro da Imigração, Alto do Matadouro, Bairro do Quartel e o inacreditável Fundos da Floresta. O batismo como Santa Tereza só aconteceu em 1928, quando foi inaugurada a Praça Duque de Caxias. Situado na região Leste de BH, Santa Tereza é cercado pelas avenidas Silviano Brandão, Contorno e Andradas, até hoje importantes vias de tráfego de veículos. Mas, o roteiro dessa história teve início, auge, e fim — ou decadência, como muitos preferem dizer. E o que não acabou bem, em Belo Horizonte, foi a história dos cinemas tradicionais, inclusive do Cine Santa Tereza. Nos anos de 1980, os cinemas entraram em decadência devido à concorrência com as televisões, que começaram a exibir filmes, bem como a expansão das locadoras de vídeo. Com a queda da bilheteria, a especulação imobiliária começou a entender que ali era um lugar para se fazer outra coisa. A partir daí, as igrejas evangélicas começaram a ocupar os cinemas — afinal, os espaços já vinham com tudo pronto: tinham o palco para o show dos pastores e as cadeiras para os fiéis. E ainda ficavam em pontos centrais, já bastante conhecidos por todos. Renascimento Durante o período em que o cinema perdeu espaço, o local recebeu outras atrações. Em 1984, abrigou uma casa noturna que foi nomeada de “Santa Thereza Cine Show”. Foi um projeto de sucesso, que incendiou a vida do bairro, mas só durou três anos, até ceder lugar à casa de shows Casablanca. E foi assim durante vários anos, o lugar seguia mudando de nome e de segmento, mas nada vingava. Na verdade, parece que uma “maldição” cercava o prédio. “Nada mais funcionava ali”, lembra a jornalista Ângela Rodrigues, frequentadora do bairro. A decadência parecia irreversível, até que, em 14 de novembro de 2000, um decreto municipal determinou que o imóvel seria desapropriado por ser considerado de utilidade pública. Durante esse período de mudanças no espaço do cinema, uma das grandes cobranças dos moradores da região era que houvesse um Centro Cultural. Já que o prédio passaria a ser de utilidade pública, era de interesse de todos que fosse ocupado com arte, entretenimento e lazer.
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O recomeço do Cine Santa Tereza No período 2001/2002, o Orçamento Participativo atendeu ao pedido da população e destinou a transformação do Cine Santa Tereza em Centro Cultural Santa Tereza. Desde então, o prédio abriga, além da sala de cinema, uma biblioteca, cafeteria e um espaço multiuso. A reforma foi realizada com recursos liberados pela Vale do Rio Doce, em contrapartida por uma intervenção feita em um trecho da ferrovia entre Belo Horizonte e Sabará (Termo de Ajuste de Conduta). O Museu da Imagem e do Som (MIS – antigo CRAV) é o responsável pelas atividades do Centro Cultural Santa Tereza. Todo trabalho de preservação e restauração da história audiovisual da cidade, realizado pelo MIS, vem sendo exibido no novo centro cultural. José Ricardo, então chefe de Divisão do MIS, afirmou que os dois ambientes
são complementares um do outro. — O que nós fazemos de preservação, restauração e resgate da memória encontrou seu grande braço exibidor no Santa Tereza. Mantendo a tradição do cinema e do bairro Santa Tereza, a expectativa é de que a reabertura do local incentive os artistas de Belo Horizonte e volte a movimentar a vida cinematográfica da cidade. Mais do que isso, no entanto, é preciso entender a importância da preservação desses espaços como centros de produção cultural em diversos segmentos e como uma conquista da cidadania. Isso impediria, por exemplo, que moradores de outros bairros notadamente limitados nessa área, não tivessem que amargar a tristeza de ver seus antigos cinemas transformados em supermercados, serrarias, templos, feira shopping ou estacionamentos.
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Fotos Daniel Oliver
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Memória
aqui reinou hilda furacão A voluptuosa linha do tempo do antigo reino de Hilda Furacão, a região central da capital mineira, famosa por ser a usineira do pecado
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As ruínas do hotel esconde o passado de luxuria e glamou
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Roger Leon e Fernando Oliveira 5º período, Jornalismo “Um belo horizonte que cheirava a jasmim e a gás lacrimogênio”. Essa era a cidade descrita por Roberto Francis Drummond, quando desembarcou em Belo Horizonte, aos 18 anos, no ano de 1950. Uma das grandes capitais do Brasil, mesmo sem estar em região litorânea, Beagá se destacava pela charmosa boemia que tomava conta das ruas do centro da cidade. Políticos, cafeicultores, jogadores de futebol de times de todo o país, passaram pela região da Rua Guaicurus, conhecida por ter o nome atrelado à prostituição. A Guaicurus é limitada pela Rua Curitiba e pela Praça Rui Barbosa. Quem passa por ali, durante o dia, convive com a movimentação intensa. O presidente Juscelino Kubistchek de Oliveira foi uma das grandes personalidades que moraram na região, mais precisa-
mente na extinta pensão da D. Cotta. O lojista Marcos Andrade, 72, recorda os tempos de sua adolescência, quando ainda morava no centro da cidade. — Na época a Guaicurus era frequentada por coronéis e políticos, enquanto os meros mortais trabalhavam meses para juntar dinheiro e passar ao menos pela porta do Maravilhoso Hotel e do Montanhês Dancing. Ele passou grande parte de sua juventude nas proximidades da região e conheceu várias personalidades que viveram por ali. “Lembro-me de conhecer pessoalmente o travesti Cintura Fina, que era a personalidade mais famosa na época e andava sempre a postos com sua navalha pelas ruas, botando bronca até na polícia”. Seu Márcio também cita o alvoroço que era criado quando os jornais publicavam qualquer notícia sobre a vida do empresário Antônio Luciano, um milionário da época. — Ele era dono de centenas de
imóveis em toda a cidade. Dizem que quando morreu, há mais de vinte anos, sua fortuna era estimada em mais de três bilhões de dólares. O local mais lembrado da época é o Maravilhoso Hotel (também conhecido como Hotel Maravilhoso). Mesmo com essa nomenclatura, o lugar funcionava como um hotel, sim, mas para prostitutas, travestis e cafetões. O auge de seu sucesso foi no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960. A ascensão da zona boêmia de Belo Horizonte causou muita polêmica, visto que os hábitos das pessoas ainda eram diurnos, e a cidade, com pouco mais de 352 mil habitantes, era conhecida em todo Brasil pela sociedade conservadora. Belo Horizonte era praticamente uma cidade fantasma depois das 21h, e a boemia do centro-sul da capital mineira acabou quebrando este paradigma. O melhor de tudo, no entanto, é que lá — dizem — viveu a famosa Hilda Furacão.
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UM FURACÃO NA GUAICURUS Hilda Maia Valentim chocou a sociedade na época em que trocou sua vida de luxo, sem nenhum motivo aparente, e passou a viver no Maravilhoso Hotel, abandonando o noivo às vésperas do casamento e vivendo quase uma década como prostituta. O apelido Furacão veio pela sua reputação de não ter muita paciência e ser bem explosiva, apesar da classe inconfundível no tratamento aos clientes. O caso ganhou destaque na mídia de todo o país e atraiu turistas para a cidade, curiosos que queriam saber o que Hilda Furacão tinha de tão especial que enlouquecia os homens, que abandonavam tudo por sua causa, e a cobriam de presentes. Vale ressal-
tar que seu atendimento durava nada além de — pasmem! — dois minutos. Hilda largou a zona boêmia após receber uma proposta de casamento do jogador Paulo Valentim, que na época jogava no Clube Atlético Mineiro. Também conhecido como Paulinho Valentim (1932-1984), Paulo nasceu na Barra do Piauí (RJ) e veio para Belo Horizonte em 1954, onde atuou pelo Galo até o ano seguinte. Em 1956 foi transferido para o Botafogo que não conquistava um título desde 1948, e foi o responsável pela quebra desse longo jejum fazendo cinco gols em uma única partida, o que decidiu o campeonato carioca daquele ano. Convocado para a Seleção Brasileira em 1959, seu futebol encantou os argentinos, o que decidiria seu destino a partir dali. Hilda e Paulo foram morar em Buenos Aires na década de 1960, onde ficaram por mais de vinte anos. Paulo morreu com a saúde debilitada, causa de sua vida boêmia, deixando Hilda viúva, em 1984. Após perder seu único filho, Hilda foi morar em um asilo, onde
faleceu em dezembro de 2014. A inspiração de Roberto Drummond para escrever o romance Hilda Furacão, em 1991, culminou em uma minissérie da Rede Globo, apresentada no ano de 1997. Assim como no livro, a minissérie também ganha ares dramáticos, ao explicar a história de quando Hilda se apaixona por um frade que quer tirá-la da vida noturna, e consegue. Adaptada por Glória Perez e estrelada por Ana Paula Arósio, Rodrigo Santoro e Danton Mello, a minissérie, dividida em 32 capítulos, bateu recordes de audiência, superando a novela do horário nobre da época, “Torre de Babel”. Todo um cenário foi criado para retratar a Belo Horizonte do fim dos anos 1950, sem contar as inúmeras sequências gravadas em várias locações da cidade. Os locais mais marcantes foram a Praça Da Liberdade, Mirante e Belvedere.
Na Guaicurus, o movimento não para
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MONTANHÊS DANCING As casas de shows (dancings) são tradicionalmente conhecidas, desde o fim do século XIX, como o lugar onde as pessoas se encontram para praticar as danças de salão e as chamadas “danças de casal”. A festividade, típica do Rio de Janeiro, abriu espaço para futuramente dar origem à gafieira, como a famosa ‘Estudantina’ (que hoje tem finalidades musicais diferentes das do século passado). Os dancings se espalharam por todo o Brasil, e claro, não ficaram de fora de BH. O maior ícone entre as danceterias da cidade foi fundado em 1930, o Montanhês Dancing. Suas noites eram extremamente agitadas, contavam com uma equipe musical com mais de 30 músicos, e seu ambiente era muito miscigenado. Estudantes, políticos, barões, músicos, coronéis, famosos, patrões e empregados. Todos juntos, mas, com regras rígidas a serem seguidas. Entrar sem terno e gravata; nem pensar! Quem não estivesse usando o famoso blazer (na época conhecida como jaquetão), tinha a opção de alugá-lo na porta. Lá, só se podia dançar. Para fazer algo além da dança o combinado teria que acontecer fora do Montanhês. Marco Aurélio Ribeiro têm 62 anos e é dono de um bar na Rua Guaicurus, próximo ao Hotel Novo, um dos conhecidos hotéis de prostituição do centro. Marco lembra como era a movimentação de pessoas pela Guaicurus quando ainda era adolescente e faz uma comparação com os dias atuais. — Quando eu era garoto, não era qualquer um que frequentava a zona boêmia. Era muito caro passear pela cidade, e as pessoas que não estivessem bem vestidas não passavam nem pela porta dos estabelecimentos. Terno, sapato social, chapéu. Hoje, a mistura é grande. Têm adolescente, adultos e idosos. Tem pobre e tem rico. Ainda tem os engravatados e os que rodam de camiseta regata e bermuda. O auge da boemia na região e, especificamente, do Montanhês, perdurou por várias décadas, até começar a declinar, no fim da década de 1970. Havia um projeto municipal que visava trans-
formar o local do antigo Montanhês em uma escola. O projeto obviamente não foi para frente. Vários pais manifestaram a insatisfação de ter que levar o filho pequeno a uma escola que um dia foi um bordel, já que a região até hoje é atrelada à prostituição. O local onde ficava o Montanhês foi demolido, e deu espaço à um estacionamento. E dos carnavais animados, grandes festas e encontros musicais, restaram apenas a memória. A CIDADE DAS CAMÉLIAS Engana-se quem pensa que o antro da prostituição e do pecado funcionava sem retaliações. A tradicional família mineira se ofendia profundamente com a exposição desenfreada no centro da cidade, que era um lugar muito frequentado, não só por homens, mas também por mulheres com filhos, e até idosos. A pressão para uma possível proibição era extrema. Logo, um projeto criado pela câmara dos vereadores, no fim da década de 1950, visava tirar toda a zona boêmia do centro e transferi-la para alguma região periférica da cidade. A famosa Liga da Defesa da Moral e dos bons costumes era presidida por uma socialite chamada dona Lalá Fernandes, que encabeçava o projeto e espalhava cartazes pela cidade em prol da mudança. O nome ‘Cidade das Camélias’ é uma clara alusão à obra de Alexandre Dumas, pelo livro ‘A dama das Camélias’ (La dame aux camélias, 1848). É uma narrativa da história de Margueritte Dautier, cortesã que passeava por Paris com camélias brancas por todo o mês, e enquanto estava menstruada, andava com camélias vermelhas. Margueritte chama a atenção do adolescente e estudante de direito Armando Duval, que abandona o estudo e a família para ficar ao lado dela, e desafia os ‘bons costumes’ do conservadorismo da época. O jornal Folha de Minas (de tiragem expressiva na época) fazia cobertura total da luta insana de dona Lalá e destinava duas páginas diárias ao assunto. Inclusive, páginas escritas pelo jornalista Felipe Drummond. Uma enquete do jornal mostrava que 84%
da população eram a favor da retirada da zona boêmia da Rua Guaicurus, o que causou revolta nas prostitutas. O boato sobre quem estava por trás da criação do projeto ‘Cidade das Camélias’ se alastrou e gerou polêmica. O vereador Orlando Bomfim denunciou que “A Cidade das Camélias não passa de uma brutal e cruel especulação imobiliária”. Enquanto isso, o líder da oposição, Padre Cyr, um dos autores do projeto, afirmou: “Estamos diante da vontade expressa de Deus. E em matéria de Deus, Vossa Excelência não é um expert”. Resultado: O projeto foi negado em votação acirrada no plenário. O assunto nunca mais esteve em pauta. Durante certo tempo, jornais, como O Estado de Minas, tratavam as prostitutas da rua Guaicurus e da vizinha rua Mauá (atual Nossa Senhora de Fátima) como “irregulares”. SOBE E DESCE Hoje, a rua Guaicurus dispõe de um comércio variado, contando com cotando com papelarias, bares, artigos de presentes, perfumaria, salões e farmácias. Os cinemas pornôs também são numerosos na rua, a exemplo do Cine Caribe, que já completa 18 anos de existência e mantém uma plateia tão fiel quanto animada e performática. Ivânia Garcia é gerente de quatro cinemas privês no centro da cidade. Esses cinemas consistem em cabines individuais onde filmes eróticos são exibidos em tempo integral pelo preço médio de R$ 12. Garcia afirma que “mesmo com o avanço da internet”, os cinemas ainda têm seu público. — O material pornográfico que é muito difundido na internet não tira o meu público. As pessoas que vêm aqui gostam de sair de casa para assistir aos filmes e vídeos e sentem tesão nisso. Ela reitera que o estabelecimento é dividido em cabines estritamente individuais. — Qualquer tipo de relação e contato físico é proibido e os seguranças retiram as pessoas imediatamente do local. Se quer sexo, que vá para o “sobe-e-desce”; aqui não.
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Os trocadilhos em torno da rua Guaicurus já fazem parte do linguajar dos mineiros. “Entra-e-sai”, “sobe-edesce” e “casa das tias” são alguns exemplos que sintetizam o que acontece nas portas nada discretas e nos corredores estreitos localizados em cada esquina da rua. Sim, não há como negar que a rua já perdeu a majestade de antes, mas seu carro-chefe, a prostituição, continua a todo vapor. “Guive um cigarrete Plis” O elevado número de garotas de programa que reside ou apenas trabalha no local, deu origem à Aprosmig — Associação das prostituas de Minas Gerais. O instituto assegura os direitos das meninas e lhes dá proteção, informação e assistência. Criado em 2009, o centro de apoio é localizado nos fundos do hotel Brilhante, onde acontecem campanhas de conscientização, são distribuídas cartilhas de apoio às mulheres e informações sobre as DST’s (doenças sexualmente transmissíveis). Lá, também é feito o acompanhamento psicológico e mais recentemente, curso de idiomas gratuitos, visando aparelhar a galera para atuar a contento em eventos de grande porte, como foi a Copa do Mundo. Trata-se de uma parceria com cursos de algumas das universidades de prestígio da cidade e essa ideia dos cursos de idiomas teve tanta repercussão que foi pauta até no jornal americano da rede de TV CNN. Altamira Dos Santos, a “Mira”, não revela a idade
e diz que veio do Vale do Jequitinhonha. Fez o curso, disse que foi bom, mas que não aprendeu muita coisa. — Não aprendi muito, não. Mas aprendi a pedir cigarro: “Guive um cigarrete aí, plis”. Já dá pro gasto, né? As mulheres da Guaicurus vêm de diferentes lugares, têm idades muito variadas e cada uma está ali por algum motivo. Umas têm emprego fixo; outras até dizem que se prostituem para pagar a faculdade; e há as que sonham em voltar para sua cidade de origem e levar uma vida normal, longe da prostituição. Esse é o caso de Luna, 28, que trabalha há três anos no Hotel Catete e diz buscar uma independência que está próxima de acontecer. — Saí de cidade pequena, vim atrás de sonhos como o de estudar e construir a vida na cidade grande mas deu tudo errado. Fui enganada e me iludi com promessas de emprego. Vim parar no hotel por indicação de um conhecido. Fui iludida pela falsa promessa do dinheiro fácil e acabei ficando. Alugo o quarto pois tenho medo de trabalhar na rua, pode acontecer muita coisa. E guardo praticamente tudo o que ganho. Quero voltar para a minha cidade e talvez abrir um pequeno comércio lá. Luna afirma também que ninguém gosta da vida na prostituição, mas todos a aceitam por ser uma opção mais fácil. “Não estou feliz, não desejo essa vida pra ninguém. Vivo angustiada e rezo muito. Assim como qualquer mulher, eu quero me casar e ter filhos. Um dia espero nem me lembrar do que eu fazia aos vinte e oito anos”.
A mulher que é mulher, a mulher de verdade é sempre rainha. Ela está sempre lá por cima do salto, superior. Quando ela passa, deixa um perfume e um rastro no ar. Promete, mas não cumpre, oferece uma certeza com uma mão e uma dúvida com a outra. (Roberto Drummond)
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Antônio
Luciano
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VIDAS QUE DARIAM UM FILME
A rua Guaicurus já foi pauta de livro, filme e minissérie de televisão. Temas de trabalhos de conclusão de curso e até de blog. O repórter Felipe Torres Bueno criou, há alguns anos, um blog chamado “O que se vê na Guaicurus”, que conta o dia a dia da região, de seus moradores, frequentadores, comerciantes, e foi fruto de um intenso trabalho de campo e de observação. “Subi as escadas dos hotéis, passei tardes observando o movimento das casas de prostituição, conversei com prostitutas e comerciantes do local”. A ideia, que surgiu amadoramente para um blog e um TCC (trabalho de conclusão de curso), acabou se fortificando e virou até um livro reportagem. — A rua passa se não por um renascimento, diria, uma maior visibilidade no momento. Parte da sociedade civil está engajada em se apro-
ximar da Guaicurus, que sempre foi marginalizada por pessoas de fora, por conta do tipo de uso e atividades do local. Estudantes universitários e profissionais de várias áreas estão levando assistências às prostitutas, junto à Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig). Eles desenvolveram cursos de idiomas para as profissionais do sexo, bem como levam assistência jurídica, psicológica, médica, entre outros serviços. Felipe também destaca que os movimentos culturais que ocupam os espaços públicos estão em diálogo constante com a rua e, também, com a questãopolítica que a envolve. — Podemos destacar o bloco carnavalesco “Então, Brilha”, um dos mais esperados da folia da capital mineira, que sai da rua Guaicurus. Podemos frisar, também, o concurso Miss Prostituta, com a finalidade de des-
construir o preconceito e dar visibilidade maior à “zona de baixo meretrício”. Tudo isso mostra uma resistência da rua, que sofre com o avanço da especulação imobiliária. O poder público ignora as pessoas que ali estão instaladas. Não existe um projeto de revitalização urbanística, muito menos políticas públicas para a região. Por outro lado, as prostitutas estão cada dia mais conscientes e, com o apoio de civis, têm lutado por mais direitos. A boemia se mantém viva em beagá, não nos moldes que nossos pais e avós conheceram, e nem com o mesmo conceito antigo. Hoje, a ideia de prostituição e libertinagem vive um paradoxo de ser extremamente mal visto e, ao mesmo tempo, de estar atrelado a uma situação natural. Mas o certo é que ela se tornou inevitável na vida das mulheres e da sociedade pseudoconservadora.
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História
Beagá na Era do Rádio A Hora do Fazendeiro é o mais antigo programa do rádio brasileiro. Mas, acima de tudo, é o resumo de um estilo de vida.
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Por Leo Campos e Suellen Versiani Com tanto tempo de estrada, a história do programa A Hora do Fazendeiro se confunde com a trajetória da rádio Inconfidência que, por sua vez e pelo mesmo motivo, se miscigena com a de Belo Horizonte. Destacar separadamente cada assunto se torna uma tarefa penosa, tendo em conta que, em algum momento, um corroborou para o desenvolvimento do outro. A Hora do Fazendeiro foi transmitida pela primeira vez em 7 de setembro de 1936, quatro dias após a inauguração da emissora. E o programa surgiu para atender a necessidade de uma capital que também era recémnascida. Afinal, era uma cidade de apenas quase 40 anos, ainda em seus primeiros passos, ou até mesmo engatinhando como um bebê. Muito dessemelhante do que é
hoje, o município dos belo-horizontinos era pacato, pequeno e simples. Arão Reis foi o principal engenheiro no planejamento da cidade. E, talvez por não ter sido nada visionário, o projeto foi calculado erroneamente. Para se ter uma ideia, a previsão era ter 100 mil habitantes um século depois da fundação, e não 1,5 mil, como aconteceu. Antes da explosão demográfica e da expansão de Beagá, seus traços incluíam quarteirões regulares e principais vias em diagonal. Tudo moldado pela Avenida do Contorno, que servia como perímetro da capital. Bairros como Lourdes, Barro Preto e Santa Efigênia foram os primeiros a serem planejados. Mais tarde, em meados da década de 1950, as avenidas Antônio Carlos e Pedro II foram construídas e, a região da Pampulha surgiu como uma extensão territorial. Depois, Venda Nova, Barreiro e outras zonas regionais co-
meçaram a ser urbanizadas. Ora, se a configuração estrutural da cidade era tão modesta, imagine a população daquela época. Inicialmente, Belo Horizonte abrigou um arraial, o Curral Del Rei. O que conhecemos, hoje, como região metropolitana eram as grandes fazendas, que movimentavam rebanhos, pequenas atividades agrícolas e outras atividades rurais — era o cinturão verde que abastecia a cidade. Percebe-se, então, que os primeiros habitantes do município eram do campo. Tinham costumes e raízes de terras campestres. Nesse contexto, qual a probabilidade de o programa A Hora do Fazendeiro não se tornar um sucesso? Some-se a isso o fato de que a nova capital atraiu, inicialmente, quase que só moradores do interior do estado, que trouxeram seus hábitos simples e tradicionais.
CULTURA RURAL Para começar, o rádio sempre foi um veículo de informação que permitiu o seu ouvinte fazer múltiplas funções enquanto acompanha as ondas sonoras. Se está almoçando, pode ouvir o rádio; se o lavrador faz a colheita, pode ter um radinho de mão; se vai tirar o leite da vaca, idem; e, se vai repousar, o velho companheiro não o abandona. Agora, imaginem toda essa vantagem em uma época em que o rádio não tinha a concorrência da TV nem da internet, por exemplo. Era como um romance intenso entre o ouvinte e os interlocutores. Sem tantos bairros desenvolvidos e com uma cultura que ainda remetia à vida rural, as opções de lazer em Belo Horizonte eram escassas. Como se fosse um refúgio da rotina e um meio para despertar a imaginação de quem se ligava, o rádio era um objeto de desejo. Quando as atividades do campo acabavam, a cidade também ia adormecendo e as famílias tinham o costume de se reunir para acompanhar os programas prediletos e as radionovelas, que eram a febre do
momento. Maria Felisberta de Elói, 87, ainda se lembra bem disso tudo. — Eu era menina. Naquele tempo, moça de família não saía de casa depois das seis da tarde. Só saía acompanhada da mãe e, assim mesmo, para visitar vizinhos. Não por causa da falta de segurança, mas é que não pegava bem moça de família sair de casa à noite. Então, por volta do fim da tarde, depois da janta, era hora de reunir a família em torno do rádio. Meu pai, que era de um distrito de Coromandel, gostava de ouvir os violeiros, principalmente Jararaca e Ratinho. Cantava junto com eles. Era um encanto que só vendo! E para não dizer que as ondas radiofônicas eram unanimidades, a década de 1930 também apresentou a expansão dos cinemas. Registros apontam que o primeiro inaugurado na capital foi o Cine Teatro Paris em 1906. Depois conhecido como Odeon, ele habitou a Avenida do Contorno, na Floresta. Mais tarde apareceram o Glória, na Avenida Afonso Pena, 764 e Cine Brasil, na antiga Praça 7 de Se-
tembro, entre outros. Houve, também, um tal de Cine Colosso, que se perdeu no tempo e hoje ninguém sabe onde ficava. Mas os cinemas, recorda-se Maria Felisberta, não eram para todos. — Eu mesma, só fui muito tempo depois... Meu marido não permitia, dizia que não era coisa de mulher honesta. O primeiro filme que eu assisti, ainda me lembro bem, foi “A Noviça Rebelde”, depois que fiquei viúva, em 1966... Nem sei mais. Cinema era um acontecimento, não era coisa de todo dia, como agora. E também porque havia as radionovelas: eu não perdia um capítulo. Só a partir de meados da década de 1940 é que Belo Horizonte começou a ter mais opções de lazer. Nos clubes, as horas dançantes e os bailes começaram a fazer sucesso entre os jovens. O footing nas pracinhas das igrejas também era famoso. Sendo assim, observando um espaço a ser explorado, políticos investiram na inauguração de uma estação de rádio e em um programa voltado para a população que tinha raízes do campo.
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OS PRIMEIROS TEMPOS Um ano depois da Rádio Inconfidência iniciar sua modulação da potente onda de amplitude 880, o chefe da Secretaria de Agricultura do Estado, Israel Pinheiro, já concatenava o programa caipira. Faz sentido. Minas era (e ainda é) um dos maiores estados do país e, num tempo em que as estradas eram precárias e as distâncias assumiam proporções de um verdadeiro desafio, fazia-se necessário unir os mineiros por uma emissora de rádio. Espelhava-se no modelo que Getúlio Vargas havia começado também a implantar, a Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, então capital da República, que cobria o Brasil de norte a sul. Israel foi em busca de apoio de várias prefeituras vizinhas e conseguiu levantar uma boa ajuda de custos para colocar no ar A Hora do Fazendeiro. A incumbência de produzir o programa foi dada a seu secretário,
João Anatólio Lima, pai do radialista e locutor esportivo Jairo Anatólio Lima. João nasceu em 1899, em Caeté. Ele formou-se em Agricultura e trabalhou na secretaria até ser chamado para a produção do programa. Apesar de ter lançado muitos locutores, o produtor nunca quis soltar sua voz nos microfones. Os responsáveis por levar a atração ao ouvinte têm nomes como os irmãos Francisco e Paulo Lessa, o médico Teófilo Pires, o engenheiro Walter Coscarelli, Heleonice Rabelo Mourão, os bacharéis em Direito Rubem Tomich, Ulpiano Chaves e Jacomini Tomazio, o engenheiro químico Antônio Vono Filho, mais conhecido como Bentinho do Sertão, Geraldo Eustáquio e José Penido. Hoje, a dupla que dialoga com os ouvintes é formada por Tina Gonçalves e o jornalista Cristiano Batista.
Tina está na casa desde 1970. Ainda jovem, ela chegara com muita experiência. Ironia do destino, ou não, em São João Del Rei, a locutora trabalhava com o pai, Vieira, que era apresentador de programas e ainda formava uma dupla sertaneja com a esposa. Imersa em mágica nostalgia, quando busca na memória as primeiras edições de A Hora do Fazendeiro, Tina Gonçalves se lembra dos programas de auditório e dos artistas famosos da época que se apresentavam lá. Cascatinha e Inhana, por exemplo, é uma dupla mencionada com entusiasmo pela radialista. Aqueles mais novos, que nunca ouviram com certeza já cantarolaram algumas canções da dupla. Eles eram paulistas, e as principais músicas que ficaram marcadas no chamado sertanejo de raiz foram as guarânias “Índia”, “Colcha de Retalhos” e “Meu Primeiro Amor”.
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Fotos Arquivo Rádio Inconfidência
PEDIDO DE CASAMENTO Várias duplas caipiras, sanfoneiros, violeiros, trios, solistas, que tanto sucesso fizeram e ainda fazem no Brasil, foram crias do programa mineiro. Toninho e Tonhão, Gino e Geno, Trio Parada Dura, Delmário, Caxangá e Bentinho do Sertão são alguns exemplos. Agora, enganam-se os que pensam sobre o sucesso da Hora do Fazendeiro ser justificado apenas pelos astros caipiras que por ali passavam. A identificação com o ouvinte sempre foi além. Sem estradas asfaltadas e com meios de comunicação antiquados, a informação chegava com mais qualidade nas fazendas e casas do interior por meio das ondas da Inconfidência. As montanhas que circulam a cidade já não eram barreiras para o ouvinte ficar bem informado. O radialista José Parreiras de Oliveira, mais conhecido como Ricardo Parreiras, é o funcionário mais antigo da emissora pública. Desde 1948 ele integra a equipe do “Gigante do Ar”. Sobre a Hora do Fazendeiro, Parreiras também destaca a importância social do programa em uma época em que havia vários empecilhos para se comunicar. Para ele, a identificação forte do ouvinte podia ser observada nas diversas cartas que João Anatólio recebia. — O João respondia todas as cartas dos ouvintes: elas traziam consultas sobre a doença do gado, remédios para cuidar da lavoura, os segredos para uma boa colheita, um bom plantio, e outras questões ligadas à agricultura e pecuária. Porém, não era só em prestação de serviços que quem estava do outro lado do radinho estava interessado. A magia das ondas radiofônicas ainda é capaz de aguçar a imaginação do ouvinte que, na curiosidade de saber quem são os donos das belas vozes que soavam como música, muitas vezes, acabavam se apaixonando e se derretendo de amores pelos locutores, como um sorvete em dia de verão. Tina Gonçalves já foi presenteada
Parreiras: programa tem importância social com queijos, frutas e outras delícias do meio rural. E, quando o ouvinte não tem a oportunidade de ir até a rádio, Tina conta que as situações mais inusitadas acontecem via carta postal. — Há ouvintes que ficam imaginando: “como será essa mulher Tina Gonçalves”? “Será ruiva ou
loira dos olhos azuis”? Ai chegam aqui e encontram a Tina Gonçalves morena e ‘coroona’, mas ainda enxutona! Quanto às cartas, já recebi até pedido de casamento. Uma vez, um fazendeiro se identificou, disse que tinha muitas terras, patrimônios e se declarou.
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GERAÇÃO A GERAÇÃO A aposentada Davina Lisboa, 65, acompanha A Hora do Fazendeiro desde os 11 anos de idade. E como todo programa tradicional, o costume de se ouvir é passado de geração para geração. — A gente sempre se reunia para acompanhar A Hora do Fazendeiro. As músicas, os cantores que por lá passavam eram uma atração sempre aguardada pelo meu pai. Sempre acompanhei e até hoje ainda me sento ao lado do rádio para ouvir o programa. E quanta coisa mudou. Nem sempre, Davina teve o conforto de se sentar no sofá para acompanhar a Inconfidência. Antigamente, o pai caminhoneiro precisava de algumas manobras para ouvir seu programa favorito. — Eu me lembro que papai ligava o rádio na bateria do caminhão para a gente ouvir o programa. E não era igual hoje. Os rádios eram maiores e a antena precisava estar bem posicionada, senão você não conseguia ouvir. “Dialogar com o homem do campo” sempre foi a missão de A Hora do Fazendeiro. Antes, as edições eram apenas de meia hora, das 17h às 17h30. Hoje, ela começa no mesmo horário e vai até às 18h50. Além da música caipira e os quadros voltados para agricultura e pecuária, a produção do programa inseriu mais informações com profissionais do departamento de Jornalismo e Esporte da emissora. Para o sociólogo Márcio Renato Azeredo, que é gaúcho e neto de alemães, Minas Gerais foi um dos estados que mais souberam preservar suas tradições. Por isso, o sucesso do programa continua. — As tradições da cultura regional de Minas continuam vivas no interior do estado, onde as paisagens rurais não mudaram tanto. Claro, hoje há fazendas com energia elétrica e muitas estão conectadas na internet, mas o apego do mineiro a seus modos de viver não mudou. Na periferia das grandes cidades e nos
Tina Gonçalves: artistas famosas já passaram por aqui municípios menores, a velha Mi-
ra regional de Minas. Sem as praias do
nas Gerais continua mais viva do
Rio de Janeiro e sem a força do parque
que nunca. Tradição não tem nada
industrial de São Paulo, que forjou as
a ver com atraso; é respeito, apreço
principais mudanças culturais do país,
por um modo muito especial de viver.
Minas solidificou um modo de viver
O isolamento provocado pelas mon-
que ainda molda e moldará corações e
tanhas, segundo Azeredo, é, em parte,
mentes por muito tempo. E que ainda
responsável pela preservação da cultu-
chega pelas ondas do rádio.
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Moda
Das costureiras às passarelas
ROUPA & PERSONALIDADE
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Fotos Bruna Alves
Visto pelo lado de que a primeira impressão diz tudo sobre uma pessoa, o modo de se vestir possui forte influência na concepção da sociedade. A artista plástica Marta Neves destaca algumas características favoráveis a isso, relacionando roupas à personalidade. — A roupa pode significar inúmeras coisas: inserção numa comunidade, aceitação social, rebeldia, processo de autoafirmação. Em nossa sociedade complexa, não nos vestimos pura e simplesmente para nos abrigar do tempo. Moda pode ser vista, seguindo Gilles Lipovetsky, como a lógica das substituições, da mudança, avalia Marta, acrescentando que moda é o oposto de tradição. — Então vivemos o signo da moda: nas roupas, nos objetos, nos usos, na maneira de falar, nas escolhas. A moda é a lógica da efemeridade. Mas se pensarmos mais estritamente em moda como o negócio “fashion” das coleções de roupas, calçados, acessórios, das “fashion weeks”, dos grandes estilistas, aí vem outro departamento. Trata-se de uma lógica, claro, da mudança, mas também do glamour e do império das grandes marcas. Algo tanto sedutor e delicioso, como perverso e opressor, no caso de uma sociedade desigual como a nossa, em que a vida de alguém pode valer um par de tênis de boa marca. Num primeiro momento, segundo Marta, pode-se pensar em dizer quem é uma pessoa por aquilo que ela veste: mais ou menos informal, mais ligada a algumas “tribos urbanas” (rappers, funkeiros, tatuados etc.). —Eu diria que a vestimenta é uma primeira apresentação da pessoa. Ela se comunica pela roupa. Mas, cuidado! O fato de alguém se vestir de maneira diferente dos outros, não quer REVISTA ÁGORA | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do ser Centro Universitário Newton Paiva | 2015por isso. dizer que deve avaliado totalmente apenas
Da herança barroca ao prêt-à-porter, a moda mineira escreve uma trajetória ímpar no cenário brasileiro Por Brunna Alves e Kênia Cristina A mulher mineira sempre se vestiu bem. Desde os tempos em que ainda nem se falava em moda como um fenômeno midiático. Pelo menos, não nos termos de hoje. Desde os anos de 1940 e 50, apesar dos ares ainda provincianos, a cidade já respirava elegância. O comércio, por exemplo, já registrava um grande número de estabelecimentos focados apenas no setor. Vale lembrar que, nesse tempo, a Savassi não era nada mais que o nome de uma padaria e o advento dos shoppings só viria a acontecer décadas depois. A vida social da capital se concentrava, então, no centro da cidade. Havia várias lojas de departamentos — Casa Sloper; Lojas Normandy; Casa Guanabara; A Sibéria (uma peleteria chiquérrima, porque o clima ainda permitia e, naquela época, não era politicamente incorreto vestir casaco de pele), e as exclusivas Dora Modas e Antonieta Modas, dois ateliês/boutiques que atendiam as elegantes no centro de Belo Horizonte. Opções não faltavam. Por isso, frequentar restaurantes, os bailes e as horas dançantes do Automóvel Club e do Minas Tênis, e até mesmo as sessões soirée de cinema, tudo era pretexto para andar no auge da moda. Deve-se ressaltar a presença da Casa Guanabara, a primeira a apresentar desfiles de moda semanalmente, com manequins profissionais, atraindo multidões. A tradição, no entanto, passava pelas prendas que a mulher mineira cultivava desde tempos imemoriais: as artes de bordar e costurar. As mais elegantes contavam com sortidas lojas de finos tecidos, que só eram entregues às costureiras mais renomadas — dona Olga Mazzetti, a famosa Marchesa di Lucca, era uma delas. “A roupa pronta ainda não era páreo para os tecidos nobres, como os brocados, os veludos, as musselines e as sedas, que só iam parar nas mãos das costureiras mais habilidosas, que eram requisitadíssimas”, conta a jornalista e editora de moda Ângela Rodrigues. O capricho dessas antigas costureiras pode ser considerado, de certa forma, o ponto de partida para o reconhecimento de uma talentosa geração de estilistas que só surgiria anos depois.
HERANÇA BARROCA Jornalista e editora de moda, Teresa Cristina Motta vai mais longe ainda ao dizer que nossa herança barroca, que está presente nas cidades do Ciclo do Ouro em Minas, gerou não só o patrimônio histórico admirável, mas também influenciou nos modos de vestir dessa elite mineira do século XVIII. — Como Portugal não permitia manufatura na colônia até o século XIX, devia ser muito difícil para uma mulher de posses, em Minas, se vestir nos padrões europeus. Relatos que li, dos viajantes europeus em visita a Minas, depois de 1808, se referem ao cuidado no vestir das mulheres dos grandes fazendeiros e mineradores. Mas nesta época, após a chegada da corte de Dom João VI, o Rio de Janeiro já recebia toda a sorte de produtos ingleses importados, por causa do Tratado de 1810, que abria os portos para os exportadores do Reino Unido. Lojas na rua do Ouvidor, no centro da cidade, e modistas francesas começam a suprir as aspirações de moda da elite brasileira. As damas da corte portuguesa chegam com a novidade da moda Império, decretada depois da Revolução Francesa por toda a Europa. Como Minas ainda estava longe do Rio de Janeiro, a manufatura, a partir de tecidos então importados, começa a acontecer no interior das residências e das fazendas. A informação sobre a moda europeia começa também a circular. Havia, ainda, o rústico tear mineiro, que produzia peças para o enxoval da casa. Abandonando, inclusive, suas profissões de origem. — Acho que podemos afirmar que este gosto pela moda e pelo bem feito, pela costura e pelo bordado veio se intensificando na província mineira. Ao longo do século XX ele se intensifica. Na primeira metade do século, Belo Horizonte chegou a ser conhecida como a “cidade das costureiras”. Aqui, as revistas eram o meio de informação, os chamados “figurinos”, para a costureiras reproduzirem os modelos nos padrões da moda parisiense. A partir dos anos 1950, o comércio de roupas e calçados na cidade prospera e as opções de moda pronta se estratificam. Nos anos 1960, a revista “Manequim”, da Editora Abril, dita moda para as jovens mineiras reproduzirem junto às suas costureiras.
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PASSOS PROFISSIONAIS Em termos nacionais, no entanto, pode-se dizer que o destaque da moda mineira se iniciou mesmo na década de 1980, quando se formou o Grupo Mineiro de Moda, responsável pelo despontar de um novo polo de moda, que terminou por chamar a atenção de todo o Brasil. Tratava-se, na verdade, da união de importantes marcas do mercado de Belo Horizonte para fazer, aqui, eventos de lançamentos de estação, convocando a opinião especializada de moda dos veículos de São Paulo e Rio de Janeiro, e atraindo os compradores e lojistas de todo o Brasil. Era composto pela Allegra (de Sheila Mares Guia); Bárbara Bela (de Helen Carvalho); Pitti (de Renato Loureiro); Artmanha (de Mabel Magalhães), Art -I-Man (de Luiza Magalhães e Márcia Correia), Printemps (de Sonia Pinto), Straccio (de Dedé Gelmi), Comédia (de Liana Fernandes) e Mônica Torres, de calçados. O mercado de moda de Belo Horizonte acabou se beneficiando com a iniciativa, que trouxe visibilidade para todos. O grupo foi encerrado em 1997, devi-
do a crises na economia da época e, também, pelo menos em certos casos, pela inexperiência empresarial de alguns. A existência do grupo foi que também deu à Savassi a fama de ter sido o primeiro polo de moda da capital, nos anos de 1970 e 80. As primeiras confecções surgem a partir dos anos 1970, assim como as célebres butiques da Savassi, comercializando uma moda artesanal, realizada por jovens de classe média, que se lançavam no mercado, abandonando inclusive suas profissões de origem. Nesta época, quem lançava moda no Brasil era o Rio de Janeiro, via Ipanema, e as lojas da rua Augusta paulista. A moda que abastece butiques mineiras começa nas garagens das casas das famílias de classe média, conta Teresa Cristina. — E a Savassi se torna o epicentro deste movimento. Era um estilo inspirado na moda jovem londrina e na revolução cultural que sacudiu o mundo ocidental a partir de 1968. Mas a Savassi, hoje, não é mais referência — avalia Teresa Cristina. Nos anos 1980 as confecções mineiras já se encontram estabelecidas
em fábricas e produções mais bem estruturadas, o que possibilita a projeção do estilo feito aqui. — Mas a moda mudou radicalmente. Como as importações não eram permitidas, o setor de confecções e de calçados e acessórios prospera. Nesta década, a influência sobre o estilo feito aqui vem dos estilistas japoneses (Grupo Mineiro de Moda), via Paris e de vertentes, como a música pop ou o movimento punk rock para a moda jovem (Divina Decadência e Vide Bula). Em 1990, a abertura do mercado para as importações muda radicalmente os cenários e os confeccionistas passam a ter acesso às matérias primas internacionais, o que possibilita outro padrão de qualidade para os produtos. Segundo Teresa Cristina, hoje, a moda feita em Minas já tem característica própria, muito calcada no estilo festa, moda de luxo inclusive para exportação. “Mas há o estilo casual também; podemos dizer que, a partir do evento Minas Trend, o setor mineiro se projeta de forma significativa a partir de 2006”.
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ESPAÇOS POPULARES Não se pode esquecer, também, do polo atacadista popular que, dos anos de 1990 para cá, se instalou a todo vapor na região do Barro Preto, zona centro-sul da cidade, que se tornou uma referência nacional em termos de comércio, atraindo caravanas de quase todo o país. A empresária Mary Abadia Leite tem boutiques em Goiás e só se abastece em Belo Horizonte. “Antes, comprava em São Paulo, mas a roupa daqui é mais bem acabada e o design é mais interessante”, vai enumerando Mary Abadia, que passa pelo menos duas semanas por aqui, a cada temporada, só escolhendo e fazendo com-
pras. “Os paulistas agora só nos repassam essas roupas horrorosas que vêm da China, cheias de defeitos”, compara. Maria Fernanda Tavares concorda. Ela é estilista e já deu consultoria para algumas confecções baseadas no Barro Preto. Para se reciclar, viaja aos Estados Unidos duas ou três vezes ao ano. Para ela, em termos de moda, a Europa já era. — Quem dita os rumos da moda de hoje é o street fashion das grandes cidades americanas, principalmente Nova York. Por isso, posso falar que a moda daqui, por ser mais popular, não perde em nada para o que se usa por lá — estamos sempre antenados — ates-
CONSUMO cONSCIÊNCIA NO
ta Maria Fernanda, justificando o interesse que os compradores de outros estados têm pelo Barro Preto, principalmente na chamada moda de festa. — E tudo com qualidade, porque os nossos bordados são imbatíveis. Ou seja, impõe-se cada vez mais a presença de Minas no mercado de moda brasileiro (e até internacional). Sem o romântico amadorismo de outros tempos, a moda mineira se destaca tanto pela qualidade quanto pelo design e por uma visão profissional cada vez mais amadurecida. Muda o mundo, mudam as modas, já diziam nossas avós...
Marketi
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oda Zeca consultor de m De acordo com ência internasegue uma tend Perdigão, moda onal, deixa de fica muito regi do an qu ; al on ci ser comercial. imento, arrante esse mov — Tivemos, du am moda! tistas que fizer ção para chama a aten Zeca também a moda vem veis. Para ele, tá en st su es tõ ques os. nos últimos an perdendo muito oduto de o principal pr — Antes, era isas para se são tantas co consumo. Hoje, muito. Devea moda perdeu e qu ir um ns co nsumo e sua to sobre esse co mos pensar mui por escravos, e; a moda feita sustentabilidad questões amdas roupas e as a durabilidade e, para cada o se lembra qu nd ua .Q is ta en bi s de água, sta dois mil litro ga cê vo s, an je calça forma bem ser pensadas de as ações devem séria!
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Gastronomia
TRADIÇÃO, Um abraço e um... Queijo
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Fotos Ícaro Batista e Amanda Araújo
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Conheça a história dessa iguaria mineira, que já conquistou o Brasil e o mundo, e, hoje, é um dos orgulhos de nossas histórias e tradições Por Ícaro Batista e Amanda Araújo Mais do que um simples ingrediente de alguns pratos da culinária mineira, o queijo minas já é parte insubstituível da cultura de nosso povo. Famílias, fazendas, populações de cidades inteiras e até associações foram socialmente organizadas em torno do processo produtivo desta iguaria no decorrer da história de Minas Gerais. São quase 300 anos de tradição gastronômica apreciada em todo o país e pelo mundo a fora. O produto chegou a Minas no século XVIII, pelas mãos dos portugueses que vieram para nossas terras em busca de ouro. Como os trabalhadores do Ciclo do Ouro precisavam de uma sustento que se conservasse por um dia inteiro, trouxeram para cá uma antiga técnica portuguesa de queijo coalhado, produzido com o leite fresco, que, adaptada às condições locais, deu origem aos primeiros queijos artesanais de Minas. Entretanto, essa é uma riqueza cultural desvalorizada pela política, pois o produto teve sua venda proibida fora do território estadual. A importância cultural deste alimento secular na raiz da cultura gastronômica mineira é tamanha que, em 2011, virou tema de um documentário político e poético, “O mineiro e o queijo”, de Helvécio Ratton. À época de seu lançamento, cerca de 30 mil famílias já viviam apenas da produção queijeira artesanal. O longa também trata, em tom de denúncia, pela voz dos próprios produtores artesa-
nais, endossada por depoimentos de pesquisadores e técnicos da área, da proibição da exportação deste produto para fora território mineiro. O problema é que o fato desta iguaria ser produzida artesanalmente a partir de leite cru, como muitos dos queijos gourmet feitos na Europa, oportunizou a criação de leis anacrônicas e o lobby exercido pelos grandes laticínios do estado, conforme denuncia o documentário. Por outro lado, em 15 de maio de 2008, o modo de fabricação artesanal do queijo produzido em Minas Gerais foi registrado como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Nesta época, o presidente do Iphan e do Conselho salientou que esta produção artesanal estava “inserida na cultura do que é ser mineiro.”. À maneira dos vinhos, o queijo minas é, hoje, um produto com denominação de Origem Controlada. O Governo de Minas, em 2012, sancionou a Lei 20.549/12, no intuito de contribuir para a legalização dos produtores mineiros de queijo artesanal. Existiam, aproximadamente, 30 mil fabricantes da iguaria no Estado. Mas, apenas cerca de 200 deles estavam legalizados. Com isso, também aprovou-se um orçamento de R$ 900 mil para ser investido em melhorias para o produtor queijeiro. A legislação previa o fornecimento de ajuda técnica, por parte do Estado, aos produtores de Queijo Minas Artesanal, produzidos
nas microrregiões do Serro e da Canastra, e ainda incluía os queijos cabacinha, meia cura, canastra e requeijão neste respaldo. Tem pra todo paladar O queijo Cáccio Cavalo, de origem italiana, era produzido com leite de jumenta e servia de alimento dos nômades. O nome vem do processo de secagem utilizado na fabricação, no qual os queijos são amarrados em pares por um barbante e suspensos em uma vara de madeira “a cavallo” até secarem. O nome Cabacinha foi consagrado no Vale do Jequitinhonha, pelo fato do formato se assemelhar a uma cabaça. Já o meia-cura, conhecido por muitos como queijo curado, consiste em uma espécie de variação do minas frescal. Apesar da grande semelhança nas composições de ambos, o meia-cura é maturado por cerca de 30 dias, o que o confere um sabor suave, textura compacta, untuosa, boa plasticidade e cor amarelada. Artesanal, patenteado e feito com leite cru, o Queijo Canastra é o produto de maior relevância da região da Serra da Canastra. Pode-se considerá-lo um parente bem distante do queijo da Serra da Estrela, de Portugal. É forte, meio picante, denso e encorpado graças ao clima, a altitude, os pastos nativos e às águas da Serra da Canastra. O requeijão cremoso foi criado na cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais. É fabricado com leite desnatado, acrescido de creme de leite fresco e, comumente, é vendido em copos.
Debret provou e... aprovou! Em 1816, período do Brasil Colônia, o artista francês Jean-Baptiste Debret mudou-se para cá com a missão de ser o pintor da família real e, por isso, foi um dos primeiros visitantes a notar que, em nossa culinária, havia um produto diferenciado, que, por hábito local, era consumido sempre ao final das refeições. Tratava-se do queijo de minas. Auguste de Saint-Hilaire, botânico, naturalista, viajante francês, também provou a “prata da casa” no início do século XIX, e chegou a divulgar a receita: “Tão logo o leite é tirado coloca-se nele o coalho, o que o faz talharse instantaneamente. O coalho mais usado é o de capivara, por ser mais facilmente encontrado. As fôrmas são de madeira e de feitio circular, tendo o espaço livre interno mais ou menos o tamanho de um pires. (...) O leite talhado é colocado dentro delas em pequenos pedaços, até enchê-las. Em seguida a massa é espremida com a
mão, e o leite cai dentro de uma gamela colocada em baixo. À medida que a massa é talhada vai sendo comprimida na fôrma, nova porção é acrescentada, continuando-se a espremê-la até que a fôrma fique cheia de uma massa totalmente compacta. Cobre-se de sal a parte superior do queijo, e assim ele é deixado até a noite, quando então é virado ao contrário, pulverizando-se também de sal a parte agora exposta”. Produção artesanal O atual diretor da Associação dos Produtores de Queijo Canastra do Município de Medeiros — APROCAME, Paulo Souza, contou detalhes sobre a produção artesanal da iguaria mineira. Segundo ele, ainda no século XVIII, a produção artesanal do queijo minas, que era feito para garantir a subsistência das famílias da época, chegou à marca de 6.050 toneladas anuais. Seu transporte era feito em uma espécie de baú coberto com couro cru. A ordenha do gado era diferente,
Canastra com nome e endereço
pois muitos animais não aguentavam o clima frio da serra. — A produção começa pela aplicação do coalho industrializado. Nele é acrescentado o “pingo” (últimas gotas do queijo anterior), que contém as bactérias específicas que irão gerar o coalhado ideal do queijo. Entre 40 e 50min depois dessa etapa, o leite coagula. Posteriormente, realiza-se o corte e a quebra dos microgrânulos. Depois, a massa de mais ou menos um quilo e meio é envolvida em um tecido fino, que é fechado. Após isso, efetua-se a prensagem por entre 30 e 40 min. Logo em seguida, o queijo é retirado da forma e do pano. Então, é colocado em uma mesa com sal grosso para salgar. No outro dia, é virado na cama de sal e, ao final desse segundo dia, retirado dela. Após a salga, o queijo descansa 18 horas. Feito isso, ele é colocado em uma mesa de madeira e, durante 22 dias, é lavado e virado. Só então, o queijo minas fica pronto para o consumo.
A Região da Serra da Canastra, um dos locais onde o queijo artesanal de minas é produzido desde seus primórdios, é um território unido por características naturais e culturais. O chamado queijo canastra, produto patenteado, precisa, necessariamente, ser feito em um desses sete municípios: São Roque de Minas, Medeiros, Vargem Bonita, Tapiraí, Delfinópolis, Bambuí e Piumhi. Estas cidades compõem a área delimitada pela Indicação de Procedência Canastra. Nesta localidade, o queijo é muito mais do que um produto: representa a identidade, a cultura e as tradições que fazem parte da história da população.
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A cara da nova gastronomia mineira Leonardo Paixão é considerado membro do seleto grupo da “Jovem Gastronomia Mineira” e eleito Chef do Ano 2014/2015 pelas revistas Veja BH e Encontro Gastrô. Seu estudo dos produtos do cerrado mineiro já é internacionalmente conhecido por meio de seu prato homônimo, que une pesquisa de produtos, refino técnico e sensibilidade poética. Leonardo veste a camisa de Minas Gerais em diversos festivais gastronômicos nacionais e internacionais. Logo que formou-se em Medicina, Paixão fez as malas e mudou-se com a esposa para Paris, onde cursou gastronomia na Escola Ferrandi. Formado, passou por estágios em badalados restaurantes, tais como o Joel Robuchon, Pierre Gagnaire e o Nicholas Magie. Quando retornou ao Brasil, prestou consultoria de quase dois anos no restaurante Taste Vin, do bairro de Lourdes, área nobre de BH, no qual mudou radicalmente os processos e incluiu novos pratos no menu, trabalho também reconhecido por premiações. Hoje em dia, Leonardo Paixão dedica sua vida ao comando de seu restaurante Glouton, onde pratica o que denomina como a cozinha mineira contemporânea. Consideravelmente novo na cena gastronômica da capital, o Glouton já ganhou dois prêmios de Restaurante Revelação 2013/14, também das revistas Veja BH e Encontro Gastrô. Sua primeira estrela no Guia 4 Rodas foi conquistada com apenas dez meses de existência e, Paixão, eleito Chef Revelação do Brasil 2014 pelo Guia 4 Rodas. Perguntamos a Leonardo se a importância cultural dos queijos minas e canastra e da culinária mineira o influenciaram na reviravolta profissional de abandonar a carreira médica para viver sua paixão pela gastronomia: — Sempre influência. A culinária mineira é claro, porque é a culinária do lugar onde eu nasci. Eu cresci comendo comida mineira. A cozinha mineira é muito jovem, então, desde o seu surgimento, é muito atual. Até hoje a cozinha de quintal é praticada intensamente e é o que é feito nas casas das famílias de Minas. O queijo é uma coisa muito tradicional em Minas Gerais, não só o queijo in natura, como também os preparos derivados do queijo, o pão de queijo etc. Então, tem uma importância grande. É claro que tudo faz parte de uma coisa só, eu não diria o queijo especificamente, mas o queijo de minas é incrustado na culinária mineira.
O queijo Minas é o porte de nossa história
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variações e singularidades da cultura queijeira Dona Lucinha é mineira, nascida, em 1932, na famosa cidade do Serro, uma das regiões produtoras do queijo artesanal de Minas Gerais. Nos anos em que viveu em sua terra natal, foi catequista, professora, salgadeira, doceira, feirante, quitandeira, diretora escolar e vereadora. A maternidade de seus 11 filhos não foi impedimento para que exercesse toda esta múltipla vida profissional e se tornasse um dos nomes especializados na culinária mineira mais respeitados no Brasil. Dona Lucinha contou um pouco de sua aventura pela culinária cultural mineira e falou sobre o queijo em seus pratos. Segundo a cozinheira, esta iguaria pode servir como ingrediente curinga, a depender da criatividade e da necessidade, que são as mães de toda invenção. “Mas, pessoalmente, penso que ele ocupa assento “de primeira classe” em nossa cozinha. Vale dizer: muitos podem usá-lo como ‘carta na manga’. Mas, há que ter cuidado”, aconselha. Para o chef Leonardo Paixão, a acidez do queijo minas é muito legal para combinar com doces e compotas: “acho bacana demais assim. Acho que tudo depende da proporção, na verdade, na qual as pessoas pensam pouco, mas que é muito importante na hora de você degustar um queijo com algum tipo de compota”, ensina Paixão. Ele explica que “se você quiser comer um queijo salgado com um pouco de geleia ou um pouco de doce, deve servir bastante queijo e só um pouquinho de doce: Você pode fazer isso até tomando um vinho”. — Mas, se a vontade do momento é se render ao deleite com uma sobremesa, o bacana é optar por bastante doce e apenas um pouquinho de queijo, só para poder quebrar o adocicado da sobremesa. Dona Lucinha conta que as pessoas procuram seus pratos e quitandas tanto pelo fato de serem feitos com queijo, quanto pelo sabor final que essa delícia mineira confere a eles. Ela lembra que, depois do pão de queijo, uma das receitas feitas com queijo minas mais tradicionais e pedidas é o bolo de fubá.
Leonardo considera muito interessante fazer preparos com o queijo canastra, pelo fato dele ter um ponto muito interessante de derretimento de ser muito cremoso, se bem aquecido. “Então é uma coisa que acho que vale a pena de se fazer. Pão de queijo, pastéis e coisas recheadas com queijo, massas: eu acho que ele inteiro, em alguma coisa quente, fica bem legal”, indica. Paixão diz utilizar bastante o ingrediente em suas receitas “em entrada, prato principal e sobremesa. Hoje, no cardápio, eu tenho uma entrada que é praticamente só queijo. Há outra entrada em que faço uma burrata: trituro um pão de queijo minas no meio da burrata, porque eu acho importante um pouco do gosto do queijo canastra. Eu uso queijo São Roque, comprado do queijeiro no Mercado Central. Não tem como eu comprar lá (leia-se município de São Roque de Minas). Eu mesmo curo o queijo aqui (leia-se Glounton). E no menu de pratos principais, tenho um nhoque de queijo minas.” (A burrata é o termo italiano derivado da palavra burro que, nesta língua, significa manteiga — é oriunda da região de Puglia, Itália, e consiste em um tipo específico de queijo, algo como o meio termo entre a mussarela de búfala e a manteiga) . Para Edson Araújo, feirante do tradicional Mercado Central de Belo Horizonte, o queijo canastra é bem famoso em sua barraca. Para ele, a cura do queijo é fator principal em sua produção e interfere em seu sabor. “Dependendo de como ele é curado, o sabor fica forte, o queijo fica amarelado e seco. Como a cura do queijo canastra é diferente das outras, o sabor dele é mais gostoso”, relata. Seus clientes preferem o queijo fresco, que, de acordo com ele, normalmente, é consumido com um acompanhamento — café ou doce, por exemplo. Já o queijo curado, em sua barraca dele, é mais comprado para ser degustado como tira-gosto, “para colocar no macarrão e para comer com pão”, ensina.
O queijo minas é fundamental. Sobretudo para nossas quitandas e doceria. Com honroso destaque para o pão de queijo, no primeiro caso; e para o nosso universal Romeo e Julieta, no outro (DONA LUCINHA)
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Da Cidade Nova ao Japão José Edmundo Silva, ou apenas Edmundo, é uma referência conceitual em queijo minas artesanal em Belo Horizonte. Em sua loja na Feira dos Produtores, da qual é presidente, na Avenida Cristiano Machado, no bairro Cidade Nova, diz que muitos de seus clientes gostam de comer o queijo curado com doce. Aí, os que vão ficando mais curtidos já passam para fazer o pão de queijo ou para fazer biscoito. — Eu, pelo menos, sei os que são bons para cada coisa, por causa da convivência com os queijos. Só no olho, eu já sei se ele é salgado, se ele tem alguns buraquinhos por dentro, se ele tem a massa tapadinha... Porque muita gente exige: ‘eu quero um queijo com cinquenta buracos, cem buracos’. Aí, eu vou lá, pego o queijo e falo: olha, esse daqui, você pode levar. Edson fala também da preferência do produto mineiro pelos turistas. “Os turistas de São Paulo e do Rio de Janeiro, quando vêm aqui, compram e levam sempre. Eu também tenho cliente que leva queijo para Austrália e para os EUA. Todos os meus clientes sempre preferem levar o queijo canastra. Eles falam muito do sabor. Ele tem um sabor diferente dos outros.” Da mesma forma, Edmundo também possui muitos fregueses de outros estados e até países. “Eu não gosto de comentar muito sobre o tanto de queijo que vendo, mas chega a mais de uns 500 kg por semana e para esse Brasil inteiro. Já vendi queijo para o Japão, para a Inglaterra, Miami, Orlando, e para todo lugar deste país”.
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Fotos Edivaldo Miranda
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DESCOBERTA
Na rota de
Peter Lund Como um dinamarquês colocou Lagoa Santa na lista dos lugares mais importantes para a explicação da evolução humana
Por Edivaldo Miranda e Raphael Gouvêa O homem que descobriu o Brasil. Esta poderia ser, sem dúvida, a maior referência a Peter Wilhelm Lund. Ele não foi o primeiro a pisar em solo brasileiro, mas descobriu os povos e espécies que viveram aqui antes mesmo da chegada dos europeus. Além da descoberta de mais de 12 mil espécies fósseis, o cientista revelou que já havia a presença humana por aqui há mais de dez mil anos. “Nunca meus olhos viram nada de mais belo e magnífico nos domínios da natureza e da arte”. Com essas palavras Lund descreveu seu encantamento ao encontrar lugares nunca antes explorados. Como Pero Vaz de Caminha que
enviou além–mar cartas com as boas novas de mares nunca antes navegados, este descobridor enviou ao mundo suas pesquisas sobre mais de 800 grutas e cavernas da região de Lagoa Santa. O local tornou–se conhecido como importante cenário de habitação pré-histórica. Peter Lund nasceu na Dinamarca em 1801, chegou ao Brasil em 1825, fugindo de uma peste que dizimou grande parte da população europeia. Ele é considerado o pai da paleontologia brasileira e pioneiro na espeleologia (ramo da ciência que estuda as grutas e cavernas). Lund abriu caminho para que as futuras gerações pudessem seguir seus passos, refazer suas rotas e se encontrar com o seu passado e com as ascendências das atuais espécies.
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Exercício de Imaginação A arte desenhada nas paredes rochosas permaneceu no tempo, como uma ponte de contato entre espécies humanas que não eram dotadas de fala ou escrita, mas comunicaram sua existência a gerações ainda distantes do período em que viveram. Conhecer a gruta é um exercício de imaginação. Com seus 40 metros de profundidade, suas formações minerais parecem dar vida às rochas que, como nuvens, vão ganhando formas de pirâmides, cascatas, animais e objetos. Tudo aquilo que a imaginação humana permitir. Os mais aventureiros encontram em pontos como na Gruta da Lapinha, uma das sete maravilhas da Estrada Real, ótima oportunidade de conhecer suas origens. O cenário garante inspiração para viajar ao passado e mergulhar na história de um povo nômade. Estes que viveram em uma era quando algumas regiões de Minas Gerais se encontravam submersas em aguas marítimas. A gruta faz parte do Parque Estadual do Sumidouro, patrimônio natural da humanidade. Adentrar seus salões subterrâneos é mergulhar em um mundo desconhecido, esculpido pela natureza e por quem deixou suas marcas há milhares de anos. 1884 é uma data histórica. Após muitos estudos, juntando os fósseis, fazendo os cálculos, indo e voltando na história da humanidade, o grande escavador dinamarquês cravou mais uma descoberta, não só na história mineira, mas na história do planeta: Lund apresentou ao mundo científico o ‘Homem de
Lagoa Santa’. Assim conta, com detalhes, o paleontólogo e curador do Museu de Histórias Naturais da PUC / Minas, Castor Cartelle. –– Quando encontrou estes materiais fósseis, em Lagoa Santa, Lund levou um susto. Inicialmente, ele pensou que eram fosseis comuns, de índios. O grande achado foi na lagoa do Sumidouro. Na época, a água da lagoa estava muito baixa, o que facilitou sua escavação e ele encontrou dezenas de crânios. Ele levou um susto, pois estes crânios estavam juntos com materiais fosseis de animais atuais e extintos. Só por isso, ele viu que era algo muito antigo, mas não se atreveu a arriscar uma data, pois não é essa sua especialidade. Somente mais tarde o mundo científico veio saber desta grande descoberta. Este êxito mudou o curso da teoria da ocupação da América Latina, pois antes se pensava que os primeiros habitantes a povoar o continente Americano eram oriundos da Ásia. Porém, os traços negróides de “Luzia”, nome dado ao fóssil, levaram à hipótese de uma migração anterior de povos originários dda África ou dos aborígines australianos. “Luzia” foi o fóssil humano mais antigo encontrado em terras de nosso continente. O paleontólogo reforça o que representaram os achados do dinamarquês. “Inclusive Darwin cita as descobertas de Lund em suas teorias que tratavam sobre a evolução da humanidade”, lembra Cartelle. “Pela primeira
vez houve a certeza de que o homem tinha convivido com animais extintos; ou seja, desautorizou a teoria das catástrofes”. Esta teoria, segundo o paleontólogo, dizia que a vida na terra era cíclica, ou seja, havia extinções e depois se criava outras espécies. Até então, se acreditava que a última criação fossem os animais atuais e o homem. “Quando Lund encontra os fosseis do Homem de Lagoa Santa ao lado de espécies que ainda habitam a terra juntos com as extintas, se prova que a teoria catastrofista estava errada”, define. Desvendar seus mistérios não seria possível sem a intervenção dos rios que, há milhares de anos, esculpiram, com as forças de suas águas, passagens por onde muito tempo depois se poderia caminhar. Espalhados pela cidade de Lagoa Santa estão ruas, praças e monumentos em homenagem ao cientista, paleontólogo, ambientalista e descobridor das riquezas fósseis do lugar. A 50 km de Belo Horizonte, entre os municípios de Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, região metropolitana da capital mineira, o Parque Estadual do Sumidouro é um atrativo de diversos turistas e historiadores, devido às suas cavernas e diversas histórias de pesquisa científica. O Parque tem um tempo de percurso de aproximadamente 40 minutos. O local possui mais de 40 grutas que podem ser visitadas. Entre as principais, se destaca a da Lapa Vermelha, onde foi descoberto o crânio de “Luzia”, na década de 1970; e a da lapinha, descoberta por Lund, em 1835.
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SERVIÇOS Algumas normas de muita importância do parque devem ser seguidas pelos turistas no ato da visita: •Não é recomendável a entrada de crianças menores de cinco anos na gruta, por questões de segurança •A administração recomenda o uso de sapatos fechados para acessar as trilhas •Crianças de seis a 12 anos e idosos, acima de 60, pagam o valor de meia-entrada •Para os portadores de carteirinha de estudante, é obrigatória a apresentação da mesma, para pagamento de meia-entrada
Informações •Endereço: Estrada Campinho Lapinha, km 6 – Lagoa Santa •Tels: (31) 3689 8592, (31) 3689 8585 e (31) 3689 8575. •Email para agendamento de visitas: agendamentopesumidouro@gmail.com •Horário de Funcionamento: 3ª a dom. das 9h às 17h.
Como Chegar •De Carro: Todo o trecho, desde a saída de Belo Horizonte até o município de Lagoa Santa é muito bem sinalizado. Os visitantes devem seguir pela MG 10 em direção a Lagoa Santa, seguindo todas as placas que indicam para a Serra do Cipó. No bairro Campinho, em Lagoa Santa, entrar à esquerda, sentido Lapinha. Após o Km 44, seguir as placas indicativas das duas entradas do Parque. Deste ponto são 6 km até a recepção do Museu Peter Lund/Gruta da Lapinha. Depois de seguir por aproximadamente 10 km, chega-se até a recepção Casa Fernão Dias. Em caso de insegurança, qualquer frentista dos diversos postos de gasolina existentes neste caminho saberá indicar como chegar. A estrutura de recepção do estacionamento no parque é bastante ampla e gratuita. •De ônibus: A linha de ônibus 5882 (LAGOA SANTA/TERMINAL VILARINHO) é outra opção para levar os turistas da capital mineira até o Parque. O ônibus da empresa Atual tem intervalos de 15 minutos durante a semana, 25 minutos no sábado, e de 40 minutos aos domingos. A passagem custa R$ 4,50. Há também a opção das linhas 5887 e 5888 (ônibus executivo). •O valor da passagem é de R$ 5,10. Essa linha tem horários variando de uma e duas horas de partida, durante a semana, com saída da rodoviária de Belo Horizonte, na Praça Rio Branco. Nos fins de semana, o tempo de partida é de duas horas. Para outras informações os telefones da empresa Atual são: (31)3272-8525 (Belo Horizonte); e (31)3681-1924 (Lagoa Santa). •Obs.: Percurso nas trilhas e no circuito do parque devem ser agendados com antecedência e sempre com um guia local. O horário para entrada da última gruta é as 16h.
Sobre o Parque O parque não possui em sua área interna, restaurantes e lanchonetes. O recomendável para os turistas são algumas lanchonetes tradicionais, em torno do parque. O Cafofo Café com Arte é um dos mais frequentados pelos visitantes. Fica paralelo à MG - 10 e tem sua estrutura toda montada de forma artesanal. Para outras informações, o telefone do Cafofo é o (31) 3689-8291 / (31) 9254-4077. Outra opção é o Cantinho da Luci, onde o visitante tem comida caseira, feita totalmente no fogão a lenha. Aberto todos os dias de 11h as 15h30min e de 18h as 20h, o restaurante trabalha com pagamento em dinheiro. Para outras informações, o telefone é (31) 3689-8440 / 9715-4652.
Hospedagem Para quem deseja se hospedar em locais próximos, a sugestão é o Pouso do Sol Pousada e Restaurante, na região da Lapinha, que oferece serviços completos para o conforto dos turistas que queiram estender a visita nas grutas a outras opções de lazer, como, passeios a cavalo. O estabelecimento possui apartamentos confortáveis, duchas com aquecimento solar, piscina, sauna e sinucas. Os valores para fins de semana variam de R$ 260 a R$ 310 reais e a forma de pagamento pode ser feita por meio de dinheiro, cartões de crédito/débito e depósito bancário. Contatos para outras informações: Site: www.pousodosol.com.br Facebook: www.facebook.com/pousodosolpousada Email: pousodosol@terra.com.br Fone: (31) 3689 8116 Endereço: Rua São José, n° 200 – Lapinha – Lagoa
Com a colaboração de Elisangela Alves, 7° período de Jornalismo, Newton. REVISTA ÁGORA | Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva | 2015
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