Novas diretrizes para a educação Representantes de 150 países se reúnem para definir uma agenda comum, visando ao desenvolvimento a partir da educação
Entrevista A ética nas relações, com o filósofo Bernardo Toro
Educação A boa comunicação começa com uma boa escuta
Marketing A síndrome da percepção
EDIÇÃO 141 ANO 13 - DEZEMBRO 2009
ISSN 2176-4417
Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, IMDC e Fundação Universa
entrevista
A ética nas relações O filósofo Bernardo Toro fala à Revista Linha Direta sobre a necessidade do cuidado para uma sociedade mais digna e igualitária
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uando falamos em cuidados, nos referimos ao saber cuidar de si mesmo – do corpo e do espírito, do próximo, do intelecto, dos bens públicos e, também, do planeta. O cuidado não é mais uma opção. Aprendemos a cuidar ou perecemos. Todos nós podemos, e devemos, trabalhar para viver as relações mais dignamente”, afirmou o filósofo e educador Bernardo Toro durante entrevista exclusiva à Revista Linha Direta. Para ele, o cuidado constitui a categoria central dos novos valores e perpassa não somente por questões emocionais ou relacionadas à espiritualidade e à religiosidade, mas também pela política, tecnologia, saúde e educação. O professor e intelectual colombiano é licenciado em Filosofia, Física e Matemática e especializou-se em Investigação e Tecnologia Educativa. Durante algum tempo, foi professor de Física e Filosofia para adolescentes do Ensino Médio de uma escola situada na zona de pros-
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Revista Linha Direta
tituição colombiana, o que mexeu profundamente com seus conceitos. Formar pessoas capazes de criar, em cooperação
Com certeza. A escola é um retrato da sociedade em que vivemos e, por isso, deve ser o mais plural possível. Quanto mais segrega-
...devemos investir em uma formação que contemple outros valores, que use a inteligência para ganhos sociais. com a sociedade, uma ordem social em que todos vivam com equidade e dignidade é uma de suas preocupações. Toro defende que o cuidado, o saber conversar e respeitar irão transformar as relações humanas. E, apesar de educador, ele não acredita que a resposta esteja na educação, mas afirma que, sem ela, nenhuma mudança será possível. Acompanhe a entrevista. Uma escola que preza pela diversidade também pode ser considerada uma escola sustentável?
ção, pior para o desenvolvimento intelectual e social do aluno. Isso significa que quanto mais viver em um grupo restrito, pior será sua visão de mundo. Vivemos em um mundo plural. As características de cada sociedade sofrem alterações, dependendo do lugar em que está inserida. E uma escola plural depende de sociedades democráticas. A diversidade, que, como disse, é uma das características mais importantes da vida no planeta, é um ponto-chave para a sustentabilidade da vida. Na sua opinião, quais fatores põem em risco a sobrevivência humana?
O aquecimento global, a disponibilidade e o uso da água, a fome, a destruição, as transações “perde-ganha” ou “perde-perde”, a falta de oportunidades de relacionamento e tantos outros. Precisamos prever, prevenir e controlar o risco de autodestruição da espécie humana. Como aprender a cuidar em um mundo onde imperam as tecnologias, as relações virtuais?
Ainda é possível salvar o mundo? O mundo não necessita ser salvo. A Terra não está em perigo, nós é que estamos. Nós não somos importantes para o planeta, ele é que é importante para nós. Estamos diante do risco iminente de ele desaparecer. Se não entendermos essa realidade, que nos coloca em situação de igualdade, não conseguiremos sobreviver, pois nós precisamos do planeta, e não o contrário. Quando falamos em cuidados, nos referimos ao saber cuidar de si mesmo – do corpo e do espírito, do próximo, do intelecto, dos bens públicos e, também, do planeta. O cuidado não é mais uma opção. Aprendemos a cuidar ou perecemos. Todos nós
Lucas Ávila
Se entendermos que a tecnologia é o uso da ciência e da experiência para solucionar problemas, novos e antigos, quanto mais ela avançar, melhor. O problema está sendo a falta de um norte ético. Se tivermos um projeto ético de cuidado, do ponto de vista político, social e cultural, não há problema em usarmos a tecnologia.
Existem valores que devem ser contemplados nesta nova ordem ética, como saber cuidar, saber conversar e respeitar, saber fazer transações “ganha-ganha” – para aumentar a riqueza e a equidade –, saber criar valor econômico e ético ao mesmo tempo. Chamo isso de “coopetência”, ou seja, cooperação mais competência.
Bernardo Toro, educador e filósofo
podemos, e devemos, trabalhar para viver as relações mais dignamente. Então, é preciso salvar a vida? Sim. Precisamos construir a dignidade e a felicidade de que necessitamos. Se construímos a infelicidade, então não seremos salvos. Necessitamos de um projeto de vida digno e feliz, a única razão de estarmos aqui. O senhor acredita que as pessoas conseguem separar sucesso e felicidade? Não. Sabemos que os pais anseiam o sucesso para seus filhos. Este sucesso, que é prioridade, está ligado aos ganhos, às variáveis do êxito que ele vai ter durante a vida: uma boa escola, que vai proporcionar uma boa formação, que vai proporcionar um bom emprego. Hoje em dia, os pais preferem que seus filhos sejam exitosos, não felizes. Isso porque a felicidade nem sempre está relacionada a ganhos materiais. A grande diferença entre o êxito e a felicidade está justamente na ideia de que as variáveis do êxito implicam que o filho use sua inteligência para ser bem-sucedido, enquanto as variáveis da felicidade trazem ao cidadão as ideias de solidariedade, de comunhão e de cuidado com o outro. Para mim, devemos investir em uma formação que contemple outros valores, que use a inteligência para ganhos sociais. Deixar os filhos trabalhar em grupo e perceberem sozinhos a importância que o outro tem na nossa vida já é um ganho. Revista Linha Direta
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capa
Novas diretrizes para a educação
Fotos: Eliseu Dias/Ag. Pará
Especialistas e autoridades de 150 países de todo o mundo se reúnem em Belém, no Pará, para discutir uma política de educação de adultos para a próxima década
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rasil, Japão, África, Cazaquistão, Nova Zelândia, Panamá, França, Paquistão, Suíça, Egito, Nepal. Representantes dos quatro cantos do mundo se reuniram em Belém, no Pará, entre os dias 1º e 4 de dezembro, para decidirem uma agenda comum no que se refere à educação e aprendizagem de adultos. Mesmo diante de uma enorme diversidade econômica, política, social e cultural, há uma convergência das metas educativas a serem cumpridas até 2015. É consenso o fato de que a educação é uma das estratégias para se alcançar o desenvolvimento sustentável, em suas dimensões social, cultural, econômica e am-
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biental, e lutar contra a pobreza e a desigualdade social no mundo. Por isso, mais de 150 delegações de países de todo o mundo, totalizando cerca de 1.500 participantes, estiveram presentes na VI Conferência Internacional de Educação de Adultos – Confintea. Além dos representantes dos estados-membros da Unesco, também participaram outros parceiros das Nações Unidas, organizações internacionais de cooperação, a sociedade civil e o setor privado. O evento é realizado a cada 12 anos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e
aconteceu, pela primeira vez, no Hemisfério Sul. A Conferência anterior foi sediada em Hamburgo, na Alemanha. Durante a abertura do evento, no Brasil, a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, declarou: “Estamos reunidos no país de Paulo Freire, um dos maiores educadores do mundo, para demonstrar o poder da educação, compartilhar conhecimentos, definir prioridades e levar, por terras e oceanos, esse sentimento de responsabilidade compartilhada”. Para o ministro da Educação do Brasil, Fernando Haddad, foi uma honra para o país ter sediado a Conferência. Ele ressaltou que, se desejamos con-
tribuir para o cumprimento da meta – reduzir em 50% os índices de analfabetismo até 2015 –, é preciso haver uma cooperação internacional entre os países. “O Brasil está disposto a socializar boas práticas”, reiterou. “Temos que valorizar os êxitos, mas o mais importante, é claro, é repeti-los em outras partes do mundo”, acrescentou a Princesa Laurentien, dos Países Baixos, representante especial da Unesco em Alfabetização para o Desenvolvimento.
ressaltou. Para ele, essa é uma estratégia que tem apresentado bons resultados. Mas “pode ser melhor explorada”, avaliou.
Irina Bokova acredita que é preciso investir na esperança e nas oportunidades de aprendizagem para jovens e adultos, como uma forma de promover sociedades mais justas e com mais inclusão. Tudo isso é, segundo ela, vital para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, reduzindo a pobreza, melhorando a saúde e a qualidade de vida.
bal em Educação e Aprendizagem de Adultos (Grale) apresentado a partir de 154 relatórios nacionais. O Grale atesta a desigualdade no desenvolvimento de políticas, governança e financiamento da educação de adultos, apesar de os países mostrarem que têm investido em campanhas de alfabetização, em disponibilização de novas tecnologias de informação e comunicação e em estratégias e parcerias.
Já o ministro Haddad afirmou que uma das ações mais importantes é associar o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) à educação profissional. “A aliança do crescimento econômico com o desenvolvimento humano é o segredo do desenvolvimento sustentável”,
Diversidade Durante a Confintea, as discussões passaram por três áreas: o financiamento da educação de adultos, a implementação efetiva de políticas e o monitoramento e acompanhamento do progresso. A discussão se fez ainda mais necessária diante do Relatório Glo-
A diversidade dos países é muito grande, mas os objetivos são comuns, em maior ou menor grau. Ainda há uma dura realidade a ser vencida. Na Coreia, 60% da população vive abaixo da linha de pobreza. O progres-
so da educação de adultos está impedido por falta de políticas. No continente africano, 50% dos africanos são analfabetos, sendo 2/3 mulheres. A diversidade é muito grande e não há um verdadeiro desenvolvimento das capacidades e habilidades dos professores. Na Síria, a educação é gratuita para todos. Mas o país ainda tem o analfabetismo como obstáculo para o desenvolvimento econômico e social. A Palestina tem menos de 7% de analfabetismo, mas é um país
jovem, sem recursos naturais e que depende do financiamento concedido por parceiros nacionais e internacionais. O Brasil tem 2% de analfabetismo na juventude, enquanto entre os adultos esse índice é de 10%. Entretanto, o ex-presidente do Mali e da União Africana, Alpha Oumar Konaré, destacou que é preciso aproveitar, ao máximo, os recursos que cada país tem para investir em políticas sociais. “Mas não queremos uma batalha desorganizada”, enfatizou. Konaré também foi o fundador do Movimento pelos Estados Unidos dos Países Africanos. Em seu discurso durante o encontro, ele falou sobre os Revista Linha Direta
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Fotos: David Alves e Tamara Saré/Ag.Pará
Fernando Haddad Ministro da Educação do Brasil
avanços nas conferências, que são realizadas desde 1949, na Dinamarca, e citou a de 1997, em Hamburgo, na Alemanha, como a que colocou a educação de adultos no centro das discussões em todo o mundo. A senadora brasileira Marina Silva também enfatizou a necessidade de investimentos em políticas educacionais públicas, “para não tirar o direito de todas as pessoas a uma educação completa, o direito de sonhar e ganhar uma vida melhor”. Ela acredita que é de suma importância para a educação a interação entre o ensino formal e as experiências informais, que podem, e muito, facilitar o aprendizado. A senadora compartilhou com todos ali presentes sua trajetória, como uma pessoa que conseguiu ser a exceção numa sociedade marcada pela exclusão e pela desigualdade social. Marina foi criada no estado do
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Irina Bokova Diretora-geral da Unesco
Marina Silva Senadora brasileira
“É uma linha de trabalho em que há compromissos e um esforço conjunto dos países em articular o progresso”... Acre, na região dos seringais, em uma família de 11 filhos. Foi alfabetizada apenas aos 16 anos e, com muita força de vontade, foi conquistando sua formação. É necessário, pois, criar oportunidades. Ao final do evento, foi elaborado o Marco de Ação de Belém, com diretrizes que vão nortear as políticas e programas dos países em prol da educação. OEI pela educação Várias experiências educacionais foram levadas para a Conferência e compartilhadas com todos os participantes, a fim de disseminar boas práticas que
possam servir de exemplo para os países. Uma delas foi o Plano Ibero-Americano de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos (PIA), uma iniciativa da Organização dos Estados IberoAmericanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) que vem fortalecendo a cooperação sul-sul. O diretor-geral de Concertação da OEI, Mariano Jabonero, acredita que essa é uma iniciativa única, pois partiu de uma demanda dos próprios governos para a OEI. “Pediram à OEI para formar um plano associado a fim de conseguir universalizar a alfabetização na região antes de 2015 e oferecer oportunidades
Princesa Laurentien Representante especial da Unesco
Alpha Oumar Konaré Ex-presidente da União Africana
Julia Carepa Governadora do Pará
de formação básica para todos. É uma linha de trabalho em que há compromissos e um esforço conjunto dos países em articular o progresso”, explica Jabonero. Segundo ele, o compromisso da OEI é incentivar e acompanhar esse esforço político dos países, principalmente no cumprimento das Metas Educativas 2021.
e capacidades técnicas”, diz. Jabonero destaca que, na América Latina, há países com uma clara vontade política, que estão investindo em torno de 6% do PIB, e outros que investem apenas 2%. Há uma grande diferença. “Mas com apenas 2% ou 3% de investimento não é possível desenvolver. Isso não somente perpetua o atraso, mas retrocede, porque outros crescem mais rapidamente”, avalia.
Em termos não quantitativos, ele afirma que um ganho é a garantia de um sistema de cooperação sul-sul. “Isso é muito importante. Temos conseguido que os países da região estejam muito mais próximos entre si, compartilhando experiências, de senvolvendo assistências técnicas, pesquisas e sistematização de campanhas”, conta.
De acordo com Rogelio Pla, coordenador técnico do PIA, a OEI atendeu a uma necessidade da Ibero-América de gerar um discurso comum na região e trabalhar sobre um tema que, há muitos anos, tem sido um dos maiores impedimentos para conquistar melhores níveis de desenvolvimento humano na região – a necessidade de universalização da educação básica. “O PIA busca não apenas a alfabetização, mas também a continuidade da educação de jovens e adultos”, ressalta. “Eu sou muito otimista. Porque há experiência, esforço político
Resultados O PIA não é um plano organizado por um grupo de especialistas, mas pelos próprios países, que definem quais são os objetivos a serem alcançados, em quanto tempo e com que instrumentos. E os resultados já aparecem. Segundo Rogelio Pla, em pouco mais de um ano e meio de efetiva implementação, já houve uma redução bastante significativa do analfabetismo na região – 10%.
Rogelio destaca, entretanto, que nem todos estão fazendo o mesmo pela população ou destinando os mesmos recursos e com a mesma metodologia. Mas ele acredita que o necessário é que a população seja atendida em médio e longo prazo. “Hoje, não falamos em educação de adultos, mas em aprendizagem de adultos, uma perspectiva muito mais integral, holística e centrada no humanismo. A educação é o que vai permitir à pessoa se desenvolver econômica, social, cultural e politicamente”, conclui. Revista Linha Direta
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contexto
A boa comunicação começa com uma boa escuta Diretora pedagógica do Ético Sistema de Ensino fala sobre a importância da comunicação para as instituições de ensino
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o meio educacional, é comum reduzir marketing e comunicação a campanhas de captação de novos alunos. No entanto, como mostra a diretora pedagógica do Ético Sistema de Ensino, Francisca Paris, a importância de uma estratégia clara e consistente de comunicação vai muito além. Trata-se de trabalhar para reforçar vínculos e relações de confiança, que representam um dos alicerces de um bom trabalho educativo. Confira! Qual a diferença entre comunicação e marketing nas empresas e nas escolas? É muito comum as pessoas buscarem paralelos entre empresas e instituições de ensino, colocando, muitas vezes, escolas e empresas em polos distintos e inconciliáveis. A questão é muito antiga e se baseia em duas premissas falsas: a primeira é a de que as escolas seriam melhores se adotassem os procedimentos e métodos comuns nas empresas. “Se os gestores pensassem como empresários, as escolas seriam mais eficientes e não perderiam tempo com divagações pedagógicas”, pensam. A segunda premissa, no extremo oposto, é a de que a educação é uma área de atuação de características tão próprias que a torna, por assim dizer,
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imune à visão empresarial. “Escolas não são empresas”, dizem outros. Respondendo mais diretamente à pergunta, eu diria que há um caminho intermediário. Em qualquer óptica, inclusive no marketing, há características comuns e outras bastante diferentes. Pode dar um exemplo em cada caso? Os conceitos são comuns. Quando pensamos em comunicação e marketing, em qualquer dos casos, estamos pensando em formas de tornar conhecidos os diferenciais, valorizar determinados aspectos do trabalho, reforçar marcas, criar posicionamentos, construir pontes entre pessoas. As diferenças estão nas ênfases. Educação não se vende como sabonete. Quando falamos de educação, estamos falando de um campo em que as palavras vínculo e credibilidade são fundamentais e estão no coração da atividade. Não se educa alguém nem se constrói parceria com alguém que não confia em você. Por isso, boas estratégias de marketing e comunicação no campo educacional devem passar por um trabalho muito cuidadoso, que busque fortalecer o maior patrimônio de uma instituição educacional – a confiança.
Como começar esse trabalho? Veja: o Ético Sistema de Ensino não possui escolas próprias. Temos parceiros. O que estou falando refere-se às nossas convicções e é uma contribuição para as reflexões dos gestores escolares – não necessariamente uma recomendação. Eu diria que o primeiro passo de qualquer trabalho de comunicação e marketing é a lição de casa, olhar para dentro da instituição, o que tem dois significados. O primeiro é ver o que é possível fazer em relação aos seus próprios pais e alunos. Eles conhecem bem a escola? Aliás: o diretor conhece bem os pais de seus alunos? O que se poderia melhorar nessa comunicação? As famílias sabem dos diferenciais da instituição? O que faz com que uma família chegue ou saia? Essas são algumas perguntas preliminares. O segundo significado de olhar para dentro é que, mesmo se contratamos uma empresa especializada, ela precisa ter um nexo absoluto com a escola. Acredito que uma estratégia apropriada de comunicação e marketing se constrói sobre verdades, e não sobre mistificações, porque a comunidade, especialmente os alunos, sabe muito bem o que é real e o que não passa de discurso.
Francisca Paris, diretora pedagógica do Ético Sistema de Ensino
Como colocar em prática uma estratégia de comunicação interna? Não há receita, tampouco fórmulas fixas. Uma característica própria das escolas é justamente o fato de que as comunidades que se formam tendem a ser muito orgânicas e bastante diferentes entre si. Assim, uma prática como a de espalhar caixas de sugestões pela escola pode ser ótima ideia em uma instituição e péssima em outra. Marketing não pode ser firula. O que importa é que as ações precisam ser claras, consequentes e avaliáveis. É necessário fazer uma pesquisa para conhecer melhor o terreno? Então, vamos lá: como é o questionário? Como será aplicado? Os pais terão retorno, já que será criada uma expectativa? O que será feito com os resultados críticos – uma caça às bruxas? Nunca podemos perder de vista o objetivo: todas as ações internas de comunicação e marketing devem estar calcadas em um olhar realista e de longo prazo. Qual a importância das práticas de comunicação com pais e alunos? Ora, são fundamentais. Se uma instituição de ensino é a guardiã de um tesouro chamado “relações de confiança”, o trabalho de comunicação e marketing deve ser o de garantir que a comunidade de pais e alunos veja, com mais clareza, os motivos pelos quais aposta na instituição, reveja pontos em
que antes não acreditava e, claro, reverbere pela sociedade essa boa imagem. Não há especialista da área que não fale sobre o poder do boca a boca. Um aluno que fala, espontaneamente, bem de sua escola para outro aluno, um pai que na empresa conta orgulhoso onde seu filho estuda, uma mãe que recomenda a outra a sua própria escola... Isso é o máximo que um bom trabalho de marketing pode almejar. E por que isso não acontece com mais frequência? Acho que por vários motivos. O primeiro é porque nem todo gestor tem preparo nessa área, o que é natural. Então, se não há expertise interna, é recomendável pedir a ajuda de especialistas, porque comunicação não é para leigos. Erros na condução de processos comunicativos podem causar danos sérios à imagem. Existem, porém, outros fatores. Um dos principais é a dificuldade que todos temos de olhar nosso objeto de reflexão sem tomar distância. Pregados no dia a dia da escola, muitas vezes, os gestores não têm clareza ou se sentem sem condições de uma análise mais crítica, verdadeira e, sem dúvida, temem ter de tomar decisões difíceis. Mudar realmente não é fácil, mas muitas vezes é preciso. Como avaliar o desempenho das atividades de marketing em uma instituição de ensino?
A resposta que muitos gestores se sentem tentados a dar é: pelo número de novas matrículas. Mas, seguindo a linha de raciocínio que tentei desenvolver aqui: quando um plano de comunicação e marketing é desenvolvido, ele deve conter as metas e os mecanismos pelos quais deverá ser avaliado. É uma estratégia específica de captação? Então, de fato é o número de matrículas. Quando se trata de um projeto mais longo e permanente, evidentemente, os mecanismos de avaliação são diversificados. As pesquisas, por exemplo, ainda são pouco e mal utilizadas. Esse é um ponto em que as instituições de ensino podem avançar. É possível ver também se os veículos de comunicação estão mais atentos ao que se passa em sua escola ou se a procura vem aumentando, ainda que não se convertam em matrículas (o que é outro problema, de natureza distinta). Tudo depende do que se objetivava no início. Até porque não é necessário ficar preso sempre a números. Um gestor deve desenvolver um feeling para ouvir sua comunidade, dar atenção ao que lhe falam (não necessariamente dar razão, mas sempre atenção), conversar frequente e francamente com os pais e alunos. A boa comunicação começa sempre com uma boa escuta. www.sejaetico.com.br Revista Linha Direta
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