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Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, Fundação Universa e Sieeesp

Esporte e educação Deporte y educación Atleta contribui para melhorar qualidade de vida de crianças e adolescentes Atleta contribuye para mejorar calidad de vida de niños y adolescentes

Entrevista Roberto Carneiro, ex-ministro da Educação de Portugal Roberto Carneiro, ex-ministro de Educación de Portugal Natal As escolas precisam celebrar Deco, atleta e empresário

EDIÇÃO 153

ANO 14 - DEZEMBRO 2010

Sistema de ensino Construção efetiva de conhecimentos

Fidelização Uma ferramenta de captação

Cristiane Pizzatto

Carla Tavares


editorial editorial

Retrospectiva 2010

Retrospectiva 2010

Dezembro é mês de balanço, de retrospectivas e de projeção de metas. É também o momento de agradecer a todos os parceiros, empresas, entidades representativas e colaboradores que compartilharam com a Linha Direta a missão de trabalhar em benefício da educação. Na retrospectiva das ações desenvolvidas em 2010, podemos destacar a ampliação da linha editorial da Revista, com o acréscimo de mais dois pilares – Gestão Pública e Espaço Ibero-americano –, e a criação da seção bilíngue, permitindo a distribuição da Revista em 22 países da Ibero-América. Na projeção de metas, podemos elencar a reformulação do portal, com ampliação dos serviços on-line, e a intensificação da atuação da Linha Direta Cidadã, o que possibilitará a expansão das nossas ações sociais em prol da educação. Assim, chegamos ao final do ano com um balanço positivo, entendendo que as metas alcançadas são o resultado de um trabalho sério, desenvolvido para proporcionar aos nossos parceiros produtos, serviços e estratégias diferenciadas. Com certeza, 2011 trará novos desafios, e nós, da Equipe Linha Direta, desejamos sucesso na realização dos projetos de cada um.

Diciembre es mes de balance, de retrospectivas y de proyección de metas. Es también el momento de agradecer a todos los involucrados, empresas, entidades representativas y colaboradores que comparten con Linha Direta la misión de trabajar en beneficio de la educación. En la retrospectiva de las acciones desarrolladas en 2010, podemos destacar la ampliación de la línea editorial de la Revista, con el aumento de dos pilares más – Gestión Pública y Espacio Iberoamericano –, y la creación de la sección bilingüe, permitiendo la distribución de la Revista en 22 países de Iberoamérica. En la proyección de metas, podemos destacar la reformulación del portal, con amplia­ ción de los servicios on-line, y la intensificación de la actua­ción de Linha Direta Cidadã, lo que posibilitará la expansión de nuestras acciones sociales a favor de la educación. Así, llegamos al final del año con un balance positivo, entendiendo que las metas alcanzadas son el resultado de un trabajo serio, desarrollado para proporcionar a todos los involucrados productos, servicios y estrategias diferenciadas. Con certeza, 2011 traerá nuevos desafíos, y nosotros, del Equipo Linha Direta, deseamos éxito en la realiza­ción de los proyectos de cada uno.

Marcelo Chucre da Costa Presidente da Linha Direta

Marcelo Chucre da Costa Presidente de Linha Direta

Presidente Marcelo Chucre da Costa Diretora Executiva Laila Aninger Gerente Administrativo-financeiro Erica Lins Editora Jeane Mesquita – MG 09098 JP Designer gráfico Rafael Rosa Revisão Liza Ayub Tradução/Revisão espanhol Gustavo Costa Fuentes - RFT1410 Consultor Editorial Ryon Braga Consultor de Responsabilidade Socioambiental Marcus Ferreira Consultor em Gestão Estratégica e Responsabilidade Social Marcelo Freitas Consultora para o Ensino Superior Maria Carmem T. Christóvam

Conselho consultivo Ademar B. Pereira Presidente do Sinepe/PR – Curitiba Airton de Almeida Oliveira Presidente do Sinepe/CE Amábile Pacios Presidente do Sinepe/DF Antônio Eugênio Cunha Presidente do Sinepe/ES Antônio Lúcio dos Santos Presidente do Sinepe/RO Átila Rodrigues Presidente do Sinepe/Triângulo Mineiro Benjamim Ribeiro da Silva Presidente do Sieeesp Cláudia Regina de Souza Costa Presidente do Sinepe/RJ Fátima Turano Presidente do Sinepe/NMG Gabriel Mario Rodrigues Presidente da ABMES Gelson Menegatti Filho Presidente do Sinepe/MT Hermes Ferreira Figueiredo Presidente do Semesp Ivana de Siqueira Diretora da OEI em Brasília Ivo Calado Asepepe Jorge de Jesus Bernardo Presidente da Abrafi e do Semesg

José Augusto de Mattos Lourenço Presidente da Fenep José Carlos Barbieri Presidente do Sinepe/NOPR José Carlos Rassier Secretário nacional da ABM José Nunes de Souza Presidente do Sinepe/PI Krishnaaor Ávila Stréglio Presidente do Sinepe/GO Manoel Alves Presidente da Fundação Universa Marco Antônio de Souza Presidente do Sinepe/NPR Marcos Antônio Simi Presidente do Sinepe/Sul de Minas Maria Auxiliadora Seabra Rezende Presidente do Consed Maria da Gloria Paim Barcellos Presidente do Sinepe/MS Miguel Luiz Detsi Neto Presidente do Sinepe/Sudeste/MG Natálio Dantas Presidente do Sinepe/BA Nelly Falcão de Souza Presidente do Sinepe/AM Odésio de Souza Medeiros Presidente do Sinepe/PB Osvino Toillier Presidente do Sinepe/RS

Paulo Antonio Gomes Cardim Presidente da Anaceu Suely Melo de Castro Menezes Vice-presidente do Sinepe/PA Thiers Theófilo do Bom Conselho Neto Presidente da Fenen Ulysses de Oliveira Panisset Presidente do Sinep/MG Victor Maurício Nótrica Presidente do Sinepe/Rio Pré-Impressão e Impressão Rona Editora – 31 3303-9999 Tiragem: 20.000 exemplares

A Linha Direta, consciente das questões sociais e ambientais, utiliza, na impressão desse material, papéis certificados FSC (Forest Stewardship Council). A certificação FSC é uma garantia de que a matéria-prima advém de uma floresta manejada de forma ecologicamente correta, socialmente adequada e economicamente viável. Impresso na RONA EDITORA Ltda – Certificada na Cadeia de Custódia – FSC.

As ideias expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da Revista. Os artigos são colaborativos e podem ser reproduzidos, desde que a fonte seja citada.

(31) 3281-1537 www.linhadireta.com.br


contexto

Aprimorando processos nas escolas Sistema de ensino contribui para melhoria dos processos de aprendizagem das instituições de ensino

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ducação contemporânea, formação integral do educando, processos inovadores para uma aprendizagem significativa, uso da tecnologia na educação, formação continuada para professores. Essas são algumas das questões discutidas pela diretora-geral do Sistema de Ensino Dom Bosco, Cristiane Pizzatto, e pela coordenadora científica do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação (CPDE) do Sistema de Ensino Dom Bosco, Rosane Nicola, em entrevista à Linha Direta. Confira! Muito se fala em formação integral do educando. Mas o que deve ser priorizado para que, de fato, essa formação aconteça? A formação integral corresponde a um conjunto de aspectos do desenvolvimento do educando que ultrapassam a formação especificamente acadêmica de aprendizagem em cada disciplina. São aspectos voltados aos valores morais, éticos e estéticos. Envolve, portanto, a formação pessoal, requerendo que o educando aprenda a ser e a conviver, de modo adequado, não só com as exigências sociais, mas também com as de seu próprio ser.

É preciso, também, que o aluno saiba pensar com rigor, ou seja, aprenda a raciocinar de modo fundamentado para que possa tomar decisões lúcidas. Finalmente, ele precisa saber expor o seu pensar de modo persuasivo, e isso requer habilidades de oralidade e escrita. Trata-se de um grande desafio para a escola e, para que tudo isso aconteça, a instituição precisa diversificar suas formas de ensino, indo além das aulas ministradas e do cumprimento de conteúdos propostos nos materiais didáticos, por melhores que possam ser. Por isso, entendemos que a formação integral não depende apenas de aumento de carga horária, mas de parceria, de formação continua­da, enfim, de compartilhamento entre escolas e comunidade, para que haja projetos sociais e culturais que favoreçam essa formação. Na opinião de vocês, o que é uma escola inovadora? Primeiramente, para ser escola inovadora, é preciso ter um conceito de instituição de ensino como comunidade crítica de aprendizagem continuada. Isso para que a

escola não caia na superficialidade das mudanças e dos modismos sem processo e sem continuidade. É aquela que insere novas tecnologias educacionais, respeitando seu ritmo próprio, ou seja, o tempo pedagógico de sua comunidade – professores, alunos e pais. Uma escola inovadora também avalia e ressignifica seus processos, não se permitindo cair nas práticas burocratizadas que perderam o sentido, mas são conservadas unicamente por tradição. Está sempre revendo sua proposta pedagógica, de forma democrática, a partir de seus resultados. Parece fácil, mas não é, pois, para isso, é necessário haver um sistema de gestão que zele pelo cotidiano e, ao mesmo tempo, pelo futuro, pesquisando as tendências em educação, analisando e redirecionando processos. Em que uma escola deve investir para acompanhar as tendências da educação contemporânea e satisfazer aos anseios dos alunos? Em pesquisa e formação continua­ da para seus professores e gestores. Em pesquisas de satisfação interna e externa, e sobre o


desempenho de seus alunos e professores. A escola deve investir em formação inicial, por meio da abertura de suas portas para o estagiário de diferentes áreas, com projetos claros de promoção de qualidade, orientados pela instituição.

Fotos: Divulgação

Cristiane Pizzatto, diretora-geral do Sistema de Ensino Dom Bosco. Abaixo, Rosane Nicola, coordenadora científica do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação do Sistema de Ensino Dom Bosco

E, finalmente, deve investir em formação continuada para seus professores, valorizando seus talentos. Porém, isso tudo é oneroso, precisamos ser realistas. Nem toda escola tem condições de manter uma estrutura que vá do apoio à pesquisa ao planejamento de eventos pedagógicos, ou mesmo custeá-los para seus docentes. Por isso, os sistemas de ensino representam uma solução efetiva para a educação básica contemporânea. Eles têm uma escola de referência, e seu objetivo é desenvolver, em regime de colaboração, cooperação e corresponsabilidade, a melhoria contínua dos processos de aprendizagem de todas as escolas parceiras, ao mesmo tempo que promove a formação continuada da equipe docente. Quando o assunto é tecnologia na educação, as opiniões são divergentes. Há aqueles que acreditam que ela deve ser incorporada à prática pedagógica, para que esta se aproxime da realidade dos alunos. Outros acreditam que não são os recursos tecnológicos que vão despertar o interesse de crianças e jovens para os estudos. O que pensam? Não podemos limitar a tecnologia em educação aos recursos tecnológicos, como: computadores em sala, lousa eletrônica, etc. Tecnologia em educação é, também, por exemplo, entender de currículo, de matriz de referência de avaliação e, no mínimo, compreender a Teo­ria de Resposta ao Item (TRI). Tudo isso é domínio de tecnologia em educação, pois se trata de conhecimentos técnicos envolvidos no recente cenário educacional. Feita essa distinção, pode-se voltar à pergunta sobre recursos tecnológicos. Eles só terão eficácia se sua aplicação estiver sustentada por uma proposta pedagógica clara e consistente, caso contrário, tanto os alunos


quanto os professores tendem a transferir suas formas de fazer já cristalizadas para esses novos suportes. Além de novas tecnologias, em quais recursos as escolas devem investir para garantir uma aprendizagem significativa? Principalmente em recursos que contribuam para o atendimento personalizado do aluno, pois ele precisa ser atendido em sua individualidade e em suas necessidades. Investir, ainda, em recursos que promovam a diversificação de estratégias de ensino, a fim de atender aos diferentes estilos de aprendizagem. É preciso investir em comunicação digital, criando sites de relacionamento com alunos e pais, portais, etc., pois a escola precisa atuar em rede. E, finalmente, investir em recursos que estabeleçam parcerias com empresas e fundações, a fim de formar redes sociais, pois isso leva a instituição a desenvolver projetos sociais e culturais com a comunidade, garantindo uma aprendizagem mais significativa. Qual a proposta pedagógica do Sistema de Ensino Dom Bosco? A proposta pedagógica do Sistema de Ensino Dom Bosco tem perspectiva sociointeracionista, propondo um Plano de Letramento, por meio da descrição dos gêneros textuais presentes no material didático de cada disciplina. Dessa forma, amplia-se a ideia de letramento aplicada a todas as áreas. Entendemos que, principalmente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, isso representa um valioso ganho para a qualidade da educação, pois, dessa forma, ocorre melhor contextualização

e mais oportunidades de construção efetiva de conhecimentos. A proposta pedagógica valoriza o conhecimento de mundo do aluno: sua cultura familiar, de sua comunidade e de seus grupos de convívio, além da cultura de massa advinda das mídias. Assim, os consultores que assessoram as escolas parceiras que adotam o material didático Dom Bosco são capacitados para promover a aula a partir desses saberes para a constituição do conhecimento escolar e a ressignificação deles. Nossa intenção, na formação continuada, é fazer do professor um agente de letramento e um especialista em avaliação, capaz de contextualizar os conhecimentos, para que os alunos possam compreen­ dê-los, criticá-los e reconstruí-los como sujeitos ativos, adquirindo habilidades necessárias para estabelecer mudanças em seus espaços sociais, tornando-se protagonistas de seu momento histórico. Que diferenciais são oferecidos? • material didático de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio voltado ao letramento, à interdisciplinaridade e à aprendizagem significativa do aluno; • orientação contínua para a elaboração de planejamentos, encaminhamento de projetos interdisciplinares e pesquisas, adequando-se à estrutura da escola parceira; • jornadas pedagógicas: encontros de educadores, organizados durante o ano, em diferentes cidades do país, sob forma de palestras e oficinas. O propósito é oferecer oportuni-

dades de reflexão, discussão e exploração de novas formas de atuação pedagógica; • assessoria pedagógica: consultores educacionais atuam na escola, orientando o corpo docente quanto às possibilidades de uso do material didático, por meio de palestras, workshops, oficinas e painéis; • plantão escolar: presença do consultor educacional na escola, atendendo individualmente os professores, esclarecendo dúvidas, sugerindo novos encaminhamentos e promovendo novas práticas; • reuniões de pais: a assessoria educacional do Sistema de Ensino promove reuniões com pais para ampliar os níveis de discussão sobre temas da área da educação. Além de propiciar que a família se aproxime mais da escola e acompanhe o processo educativo escolar de seus filhos; • congresso de gestores da escola: espaço de discussão sobre a gestão educacional do diretor e/ou coordenador, demandas e trocas necessárias e importantes para o sucesso como gestor de equipes e de currículos; • portal de comunicação com o cliente, pois, tanto para aspectos administrativos e de gestão quanto para alternativas de trabalho pedagógico, representa o principal acesso a modelos de projetos, avaliações, textos complementares e conteúdos por disciplina, que facilitam a pesquisa, otimizando tempo e recursos. ¢ www.dombosco.com.br


capa

Mito do futebol dá “show de bola” na Educação Atleta contribui para melhorar qualidade de vida de crianças e adolescentes

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ão 14 anos de carreira. 500 jogos. Passagens por times da Espanha, Inglaterra e Portugal. Hoje, vestindo novamente a camisa de um time brasileiro, é um dos jogadores mais caros do país. Estamos falando de Anderson Luís de Souza, mais conhecido como Deco. Mas quem é o empresário que está por trás do mito do futebol? Por que a preocupação em desenvolver projetos sociais e por que a escolha pela educação? Hoje, ele mantém, em Indaiatuba, no interior de São Paulo, o Instituto Deco20, que tem como missão contribuir para que crianças, adolescentes e famílias se desenvolvam por meio da educação, da cultura, do esporte e da qualificação profissional. Ele também é sócio de um colégio localizado na mesma cidade. “Depois de ter morado em tantos lugares, percebi como o conhecimento é fundamental para termos discernimento do que é certo ou errado”, diz Deco, que recebeu a Linha Direta em sua casa para uma entrevista exclusiva. Acompanhe! O Deco, jogador de futebol, o mundo conhece. Mas e o Deco empreendedor, quando nasceu? Eu sempre me preocupei com que rumo tomar depois do futebol. Aos 35 anos, já estamos ficando velhos para jogar, mas ainda somos muito jovens para a vida. Quando comecei a jogar, eu me espantava ao ver que a maioria dos jogadores na faixa dos 30 anos não tinha nenhum projeto de vida pós-futebol.

Mito del fútbol da “show” en la Educación

Atleta contribuye para mejorar calidad de vida de niños y adolescentes

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on 14 años de carrera. 500 juegos. Jugando en equipos de España, Inglaterra y Portugal. Hoy, vistiendo nuevamente la camisa de un equipo brasileño, es uno de los jugadores más cotizados del país. Estamos hablando de Anderson Luís de Souza, más conocido como Deco. Pero, ¿quién es el empresario que está detrás del mito del fútbol? ¿Por qué la preocupación en desarrollar proyectos sociales y por qué ha escogido la educación? Hoy, él mantiene, en Indaiatuba, interior de São Paulo, el Instituto Deco20, que tiene como misión contribuir para que niños, adolescentes y familias se desarrollen por medio de la educación, de la cultura, del deporte y de la calificación profesional. Él también es socio de un colegio localizado en la misma ciudad. “Después de haber vivido en tantos lugares, percibí cómo el conocimiento es fundamental para que consigamos tener discernimiento de lo que es correcto o equivocado”, dice Deco, que recibió a Linha Direta en su casa para una entrevista exclusiva. ¡Véala aquí!


Instituto Deco20 atende crianças e adolescentes // Instituto Deco20 atiende niños y adolescentes

Sua participação em projetos sociais também vem dessa época?

Deco, al jugador de fútbol, todo el mundo lo conoce. Pero, el Deco emprendedor, ¿cuándo nació?

Esse lado social faz parte da minha natureza. Sempre tive vontade de fazer algo diferente pelas pessoas, principalmente pelas crianças. Foi ajudando algumas instituições que percebi que as oportunidades não são iguais para todos. Assim, há uns cinco anos, surgiu a ideia de criar um instituto para oferecer esporte, lazer e formação. Mas só consegui colocar em prática há três anos. Eu queria retribuir um pouco do que a vida me deu, oferecendo uma oportunidade às crianças.

Yo siempre me preocupé con qué rumbo tomar después del fútbol. A los 35 años, ya estamos poniéndonos viejos para jugar, pero aún somos muy jóvenes para la vida. Cuando empecé a jugar, yo me sorprendía al ver que la mayoría de los jugadores alrededor de los 30 años no tenía ningún proyecto de vida post fútbol.

O que o Instituto oferece?

Ese lado social es parte de mi naturaleza. Siempre tuve ganas de hacer algo diferente por las personas, principalmente por los niños. Fue ayudando algunas instituciones que observé que las oportunidades no son iguales para todos. Así, hace unos cinco años, surgió la idea de crear un instituto para ofrecer deporte, diversión y formación. Pero sólo pude conseguir colocar en práctica esto hace tres años. Yo quería retribuir un poco de lo que la vida me dio, ofreciendo una oportunidad a los niños.

Atendemos crianças e jovens dos seis aos 17 anos. Nosso maior projeto é o que chamamos de Local de Talentos, em que crianças dos seis aos 12 anos fazem várias atividades, como futebol, basquete, vôlei, dança, música e teatro, além de aulas de reforço escolar e informática. Incentivamos a criatividade, o talento e a descoberta de gostos e habilidades. A proposta é que a criança vá descobrindo o seu talento e, depois, possa se especializar em uma das áreas. Também temos um programa de atendimento às famílias, realizado em parceria com o Sesi. Outro grande sonho é o Projeto de Formação, que consiste em oferecer cursos profissionalizantes. Ele é caro e, por isso, precisamos do apoio de empresas. Por essa razão, hoje, encaminhamos alguns alunos para entidades que oferecem esse serviço. Em todas as atividades envolvidas neste projeto, procuramos

¿Su participación en proyectos sociales también viene de esa época?

¿Qué ofrece el Instituto? Atendemos niños y jóvenes entre seis y 17 años. Nuestro mayor proyecto es al que llamamos de Local de Talentos, en que niños entre seis y 12 años hacen varias actividades, como fútbol, baloncesto, voleibol, baile, música y teatro, además de clases de apoyo escolar e informática. Incentivamos la creatividad, el talento y la descubierta de gustos y habilidades. La


oferecer as melhores condições e o mais elevado padrão de qualidade. Um exemplo disso é a associação da Umbro, desde o primeiro dia. Hoje você se responsabiliza por manter o Instituto? Eu construí toda a infraestrutura em um terreno meu. Nos dois últimos anos, tivemos uma série de dificuldades. Mas, como optamos por continuar, mantive tudo sozinho, com a ajuda de pequenas receitas geradas pelo aluguel de quadras e do teatro no período em que não há atividades. Há um ano, a prefeitura vem ajudando com o transporte, que é um custo alto, pois buscamos as crianças nos bairros e as levamos para o Instituto. Recentemente, começaram a aparecer alguns apoios, como o da Unimed/Rio. Qual é a sua expectativa? Que o instituto seja autossustentável. Temos uma série de outros projetos que não podem ser colocados em prática por falta de verba. Um deles é o Mestre de Oficina, voltado para o primeiro emprego. Nem todos serão bons jogadores de futebol ou terão talento para a música, o teatro ou a dança. Temos que dar outras oportunidades a eles. Por isso, a captação de recursos é essencial nesta fase, e estamos prontos para apresentar soluções de investimento a empresas que queiram se associar ao nosso projeto, certos de que lhes traremos retorno para além do natural aumento de notoriedade e prestígio. A que você atribui essa dificuldade financeira? Acredito que o ser humano é solidário em sua essência, principalmente o brasileiro. Mas, às vezes, sinto certo comodismo. Se as pessoas se envolvessem mais, procurando saber o que as instituições estão fazendo, quantos são os beneficiados, como está sendo gasto o dinheiro, acho que duas coisas não aconteceriam: desvio de verbas por parte de algumas fundações, o que é absurdo, e também a desigualdade de recursos, umas com tanto e outras com tão pouco ou nada. Você acredita que a educação também se dá através do esporte? Sim, se transmitirmos valores. Percebemos a diferença nas crianças que chegaram ao Instituto há três anos. Hoje elas são mais bem-educadas, mais escla-

propuesta es que el niño vaya descubriendo su talento y, después, pueda especializarse en una de las áreas. También tenemos un programa de atención a las familias, realizado en conjunto con el Sesi. Otro gran sueño es el Projeto de Formação, que consiste en ofrecer cursos para profesionalizar. Éste es caro y, por eso, precisamos del apoyo de empresas. Por esta razón, hoy, derivamos algunos alumnos para entidades que ofrecen este servicio. En todas las actividades involucradas en este proyecto, buscamos ofrecer las mejores condiciones y el más elevado padrón de calidad. Un ejemplo de esto es la asociación de la Umbro, desde el primer día. ¿Hoy usted se responsabiliza por mantener el Instituto? Yo construí toda la infraestructura en un terreno de mi propiedad. En los dos últimos años, tuvimos una serie de dificultades. Pero, como optamos por continuar, mantuve todo solo, con la ayuda de pequeños presupuestos generados por el alquiler de canchas y del teatro en el período en que no hay actividades. Hace un año que la municipalidad viene ayudando con el transporte, que es un costo alto, pues buscamos a los niños en los barrios y los llevamos para el Instituto. Recientemente, comenzaron a aparecer algunos apoyos, como el de Unimed/Rio. ¿Cuál es su expectativa? Que el instituto sea autosostenible. Tenemos una serie de otros proyectos que no pueden ser colocados en práctica por falta de recursos. Uno de ellos es el de Mestre de Oficina, orientado para el primer empleo. Ni todos serán buenos jugadores de fútbol o tendrán talento para la música, el teatro o la danza. Tenemos que dar otras oportunidades para ellos. Por esto, la captación de recursos es esencial en esta fase, y estamos preparados para presentar soluciones de inversión para empresas que quieran asociarse a nuestro proyecto, pensando en que les traeremos resultados superiores al natural aumento de notoriedad y prestigio. ¿A qué usted atribuye esta dificultad financiera? Pienso que el ser humano es solidario en su esencia, principalmente el brasileño. Pero, a veces, siento cierto acomodamiento. Si las personas se involu-


crasen más, procurando saber qué las instituciones están haciendo, cuántos son los beneficiados, cómo está siendo gastado el dinero, pienso que dos cosas no sucederían: desvío de valores por parte de algunas fundaciones, lo que es absurdo, y también la desigualdad de recursos, unas con tanto y otras con tan poco o nada. ¿Usted cree que la educación también se da a través del deporte? Sí, si transmitimos valores. Observamos la diferencia en los niños que llegaron al Instituto hace tres años. Hoy ellos son mejor educados, con más visión, con la autoestima más elevada y más felices. Esto es lo que hace que todo valga la pena. Deco, atleta e empresário // Deco, atleta y empresario

recidas, com a autoestima mais elevada e mais felizes. Isso é que faz tudo valer a pena. E a tecnologia, contribui para a educação? Sem dúvida. Não temos como fugir das novas tecnologias. Nossos filhos já nascem no mundo informatizado e, se a escola não fizer a mesma coisa, ela se manterá em uma distância muito grande. Por outro lado, imagino que é muito mais complicado dar aula hoje. O professor, muitas vezes, não tem o mesmo tempo do aluno para navegar na internet, ler as últimas notícias do mundo. Acredito que esse é um grande desafio para eles. No Instituto, temos um grande suporte nessa área, tanto para professores quanto para estudantes, que são as lousas eletrônicas da Clasus [empresa fabricante de softwares interativos e lousas eletrônicas]. Com elas, a aprendizagem se torna mais significativa para os alunos. O que mudou na aprendizagem deles? O ganho maior foi para as crianças de até 10 anos. Raras tinham acesso a computador. A própria sala de informática foi uma novidade e ajudou muito no desenvolvimento delas. Com a lousa, até eu tenho vontade de assistir às aulas. Óbvio que a formação do professor é fundamental, mas a ferramenta é fantástica. Permite gravar a aula e buscar conteúdos na internet rapidamente, além de muitas outras facilidades.

Y la tecnología, ¿contribuye para la educación? Sin dudas. No tenemos como escapar de las nuevas tecnologías. Nuestros hijos ya nacieron en un mundo informatizado y, si la escuela no hiciera la misma cosa, ella se mantendría a una distancia muy grande. Por otro lado, imagino que es mucho más complicado dar clases hoy. El profesor, muchas veces, no tiene el mismo tiempo que el alumno para navegar en la internet, leer las últimas noticias del mundo. Creo que este es un gran desafío para ellos. En el Instituto, tenemos un gran soporte en esta área, tanto para profesores como para estudiantes, que son las pantallas electrónicas de Clasus [empresa fabricante de softwares interactivos y pantallas electrónicas]. Con ellas, el aprendizaje se torna más significativo para los alumnos. ¿Qué cambió en el aprendizaje de ellos? El beneficio mayor fue para los niños de hasta 10 años. Pocos tenían acceso a una computadora. La propia sala de informática fue una novedad y ayudó mucho en el desarrollo de éstas. Con las pantallas, hasta yo tengo ganas de concurrir a las clases. Es obvio que la formación del profesor es fundamental, pero la herramienta es fantástica. Permite gravar la clase y buscar contenidos en la internet rápidamente, además de muchas otras facilidades. ¿Por qué optó por invertir en las pantallas electrónicas y en Clasus?


Por que optou por investir nas lousas eletrônicas e na Clasus? Em Portugal, eu fiz trabalhos de publicidade para a Clasus e me tornei amigo do presidente da empresa. Com a criação do Instituto, ele nos ofereceu as lousas e treinou os professores. Logo, surgiu a ideia de trazer a empresa para o Brasil. Isso foi há dois anos. Hoje, também aqui no Brasil, a Clasus é uma organização única no setor da pedagogia e das tecnologias para a educação, e fico feliz em participar deste processo, que permite uma maior diversidade dos meus investimentos, agregando valor aos meus projetos sociais e à educação no nosso país. Voltando a falar do Deco empresário, que nasceu no início da carreira e vem amadurecendo ao longo dos anos, por que investir na educação? Com a criação do Instituto, conhecemos o professor Norberto [Comune], da Faculdade Anhanguera, e ele percebeu que, em Indaiatuba, havia demanda para um colégio. No início, fui contra, pois era uma área desconhecida pra mim e, de certa forma, prefiro fazer o que domino. Só que a ideia foi se desenvolvendo e acabei gostando. Mas pensei: “Se vamos fazer, tem que ser diferente”. Assim surgiu o projeto do Colégio Polo Educacional, com uma educação diferenciada. Você acredita no poder da educação? Acredito. Depois de ter morado em tantos lugares, percebi como o conhecimento é fundamental para termos discernimento do que é certo ou errado. Minha educação foi boa, sempre gostei de estudar, independentemente de jogar ou não. Isso fez diferença. Sem contar a educação que vem dos pais, que é fundamental para a formação.

En Portugal, hice trabajos de publicidad para Clasus y me torné amigo del presidente de la empresa. Con la creación del Instituto, él nos ofreció las pantallas y entrenó a los profesores. Después, surgió la idea de traer a la empresa para Brasil. Esto fue hace dos años. Hoy, también aquí en Brasil, Clasus es una organización única en el sector de la pedagogía y de las tecnologías para la educación, y estoy feliz por poder participar de este proceso, que permite una mayor diversidad de mis inversiones, agregando valor a mis proyectos sociales y a la educación en nuestro país. Volviendo a hablar del Deco empresario, que nació a principio de la carrera y viene madurando a lo largo de los años, ¿por qué invertir en educación? Con la creación del Instituto, conocimos al profesor Norberto [Comune], de la Facultad Anhanguera, y él observó que, en Indaiatuba, había demanda para un colegio. Al comienzo, estaba en contra, pues era un área desconocida para mí y, de cierta forma, prefiero hacer lo que domino. Sólo que la idea fue desarro­ llándose y me terminó gustando. En tanto, pensé: “Si lo vamos a hacer, debe ser diferente”. Así surgió el proyecto del Colegio Polo Educacional, con una educación diferente. ¿Usted cree en el poder de la educación? Si, creo. Después de haber vivido en tantos lugares, percibí cómo el conocimiento es fundamental para que consigamos tener discernimiento de lo que es correcto o equivocado. Mi educación fue buena, siempre me gustó estudiar, independientemente de jugar o no al fútbol. Esto hizo la gran diferencia. Sin contar la educación que viene de los padres, que es fundamental para la formación.

Vivendo muito tempo fora, você viu diferença entre a educação brasileira e a de países europeus?

Viviendo mucho tiempo fuera, ¿usted vio diferencia entre la educación brasileña y la de países europeos?

Minha filha Yasmim estudou fora do Brasil, e eu não vi diferença. A não ser no acesso. Em outros países, a educação é para todos. Acredito que o professor não pode e não deve mudar a sua essência e a sua importância no processo de aprendizagem. A atualização do profissional e a forma de ensinar têm que ser preocupações constantes. É preciso estar em sintonia com os alunos. ¢

Mi hija Yasmim estudió fuera de Brasil, y yo no observé diferencia. A no ser en referencia al acceso. En otros países, la educación es para todos. Creo que el profesor no puede y no debe cambiar su esencia y su importancia en el proceso de aprendizaje. La actualización del profesional y la forma de enseñar tienen que ser preocupaciones constantes. Es preciso estar en sintonía con los alumnos. ¢


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Lacunas na educação Uma visão do ex-ministro da Educação de Portugal, Roberto Carneiro, sobre a realidade educacional

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alta de acesso à educação, de competência e habilidade para o uso de computadores em sala de aula e desintegração das comunidades educativas. Essas são algumas falhas da educação contemporânea, na visão do educador e ex-ministro da Educação de Portugal, Roberto Carneiro. O desafio, segundo ele, é obter sucesso no ensino e na formação profissional. Para isso, é preciso integrar os três níveis de desenvolvimento: humano (pessoal), social (as competências comunitárias) e econômico (as competências de produtividade e empregabilidade). Para se inteirar mais sobre o assunto, acompanhe a entrevista, concedida, com exclusividade, à Linha Direta. O que o senhor avalia como ponto positivo da educação contemporânea? Ela está muito mais sensível às necessidades de reconhecer as especificidades de cada aluno. E quais são as falhas? A primeira é a do acesso; a segunda, a das competências e habilidades para o uso de computadores em sala de aula. Às vezes, os educadores são muito individualistas, não querem prestar contas a ninguém. Mas eles têm que trabalhar em equipe, e os que têm competência têm que ajudar os

Brechas en la educación Una visión del ex-ministro de Educación de Portugal, Roberto Carneiro, sobre la realidad educativa

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alta de acceso a la educación, de competencia y habilidad para el uso de computadoras en clase y desintegración de las comunidades educativas. Esas son algunas fallas de la educación contemporánea, desde el punto de vista del educador y ex-ministro de Educación de Portugal, Roberto Carneiro. El desafío, según él, es obtener éxito en enseñanza y formación profesional. Para esto, es preciso integrar los tres niveles de desa­ rrollo: humano (personal), social (las competencias comunitarias) y económico (las competencias de productividad y empleabilidad). Para enterarse más en referencia al asunto, vea la entrevista, concedida, con exclusividad, a Linha Direta. ¿Qué aspecto usted evalúa como punto positivo de la educación contemporánea? La educación está mucho más accesible a las necesidades de reconocer las especificidades de cada alumno. ¿Cuáles son las brechas?


La primera es la brecha del acceso; la segunda, la de las competencias y habilidades para el uso de las computadoras en clase. A veces, los educadores son muy individualistas, no quieren prestar cuentas a nadie. Pero tienen que trabajar en equipo, y los que tienen las competencias tienen que ayudar a aquellos que no las tienen. La brecha digital está aumentando el gap entre Latinoamérica y el resto del mundo, entre personas de una misma ciudad y, en la escuela, entre los alumnos, que son nativos digitales, y los profesores, que son inmigrantes. Eso es muy grave. La tercera brecha es de fractura en las comunidades educativas. Tienen que ser más coerzas y fuertes para ofrecer a sus alumnos una educación consistente. ¿Qué debe ser hecho?

Roberto Carneiro, ex-ministro da Educação de Portugal // Roberto Carneiro, ex-ministro de Educación de Portugal

outros. A brecha digital está aumentando o gap entre a América Latina e o resto do mundo, entre pessoas de uma mesma cidade e, na escola, entre os alunos, que são nativos digitais, e os professores, que são imigrantes. Isso é muito grave. A terceira lacuna é de desintegração das comunidades educativas. Essas têm que ser mais coesas e fortes para oferecer a seus alunos uma educação consistente. O que deve ser feito? Temos que ter sucesso em educação e formação profissional; trabalhar melhor a formação humana e cultural do aluno. É preciso integrar as escolas às comunidades, a outras instâncias que também educam na sociedade, como os meios de comunicação social, as igrejas e organizações culturais. É preciso integrar os três níveis de desenvolvimento: humano (pessoal), social (as competências comunitárias) e econômico (as competências de produtividade e empregabilidade). A América Latina é muito desigual. A equidade é um grande desafio para as cidades latino-americanas, o que se pode atingir com essa integração,

Tenemos que llegar a lograr educación y forma­ ción profesional; trabajar mejor la formación humana y cultural del alumno. Es preciso integrar las escuelas a las comunidades, a otras instancias que también educan en la sociedad, como los medios de comunicación social, las iglesias y organizaciones culturales. Es preciso integrar los tres niveles de desarrollo: humano (personal), social (las competencias comunitarias) y económico (las competencias de productividad y empleabilidad). Latinoamérica es muy desigual. La equidad es un gran reto para las ciudades latinoamericanas, lo que se puede alcanzar con esa integración, y no formando algunos para las profesiones manua­les, otros para las intelectuales. No formar algunos para ser los seguidores, otros para ser los nobles. Es importante dar la misma oportunidad para todos los niños, para que alcancen lo máximo en función de sus méritos, y no en función de su condición económica y social. Paulo Freire, un gran maestro con quién trabajé 10 años en Brasil, decía que, aunque el acto de aprendizaje sea individual, él es un acto de diálogo con el mundo. Hablar con los otros y construir comunidades, familia y amigos. Esa es una condición de supervivencia del hombre. ¿Cómo crear esa cultura? Tenemos que comenzar por la formación inicial del profesor. El problema es que estamos prepa-


e não formando uns para as profissões manuais, para serem os servos, e outros para as intelectuais, para serem os nobres. É importante dar a mesma oportunidade para todos, para que alcancem o máximo em função de seus méritos, e não em função de sua condição econômica e social. Paulo Freire, um grande mestre com quem trabalhei 10 anos no Brasil, dizia que, apesar de o ato de aprendizagem ser individual, ele é um ato de diálogo com o mundo. Falar com os outros e construir comunidades, família e amigos. Essa é uma condição de sobrevivência do homem. E como criar essa cultura? Temos que começar pela formação inicial do professor. O problema é que estamos preparando-os como se fosse para o século XIX, e não para o século XXI. Eles se preparam nas universidades e, quando chegam às instituições de ensino, têm um choque, pois se deparam com uma escola que, para eles, não é a real. Os educadores devem ter uma formação continuada, para que sejam os primeiros aprendizes ao longo da vida. Eles não podem estar na retaguarda, e sim na vanguarda de uma formação para toda a vida. Este é um grande desafio: os professores também devem aprender, e não apenas ensinar. É preciso transformar a educação ou os educadores? Costumo dizer que os pais, que são avaros do tempo, que não têm tempo disponível para seus filhos, são maus educadores. Os professores avaros, que não têm tempo para seus alunos, também não são bons educadores. É preciso ser generoso com o tempo, dedicar-se a acompanhar a “viagem” dos alunos. Há pais que acompanham os filhos à escola, com medo de que sejam atropelados ou raptados. Essa é uma viagem exterior. Mas a grande viagem é a interior, a da alma, da maturidade, da aquisição de valores. O educador, seja pai ou professor, tem que ter tempo para acompanhar as experiências, as viagens interiores dos jovens. Isso é transformar. Transformar uma pessoa é como fazer uma pedra bruta tornar-se um diamante. Não existe educação sem transformação. O grande desafio é conseguir seduzir o aluno para que ele se transforme inte-

rándolos como si fuese para el siglo XIX, y no para el siglo XXI. Ellos se preparan en las universidades y, cuando llegan a las escuelas, tienen un colapso, pues se deparan con una escuela que, para ellos, no es la real. Los educadores deben tener una formación continuada, para que sean los primeros aprendices a lo largo de la vida. Ellos no pueden estar en la retaguardia, sino que en la vanguardia de una formación para toda la vida. Este es un gran desafío: los profesores también deben aprender, y no apenas enseñar.

Não existe educação sem transformação. // No existe educación sin transformación.

¿Es preciso transformar la educación o los educadores? Suelo decir que los padres, que son avaros del tiempo, que no tienen tiempo disponible para sus hijos, son malos educadores. Los profesores avaros, que no tienen tiempo para sus alumnos, también no son buenos educadores. Es preciso ser generoso con el tiempo, dedicarse a acompañar el “viaje” de los alumnos. Hay padres que acompañan a los hijos a la escuela, con miedo de que sean atropellados o raptados. Ese es un viaje exterior. Pero, el gran viaje es al interior, el del alma, de la madurez, de la adquisición de valores. El educador, sea padre o profesor, tiene que tener tiempo para acompañar las experiencias, los viajes interiores de los jóvenes. Eso es transformar. Transformar a una persona es como hacer una piedra bruta transformarse en un diamante. No existe educación sin transformación. El gran desafío es conseguir conquistar al alumno para que él se transforme interiormente, sea mejor hijo, mejor alumno, mejor amigo. ¿Qué son los cuatro movimientos que usted atribuye al aprendizaje? El primer movimiento es como se transforman datos en información. Segundo, como esta se transforma


riormente, seja melhor filho, melhor aluno, melhor amigo. Quais são os quatro movimentos que o senhor atribui à aprendizagem? O primeiro movimento é como se transformam dados em informação. Segundo, como esta se transforma em conhecimento. Terceiro, como este gera aprendizagem, que não é o acúmulo de conhecimento, é o fluxo dele com valor agregado, com construção de sentido. Então, o quarto movimento é gerar sentido para a aprendizagem, a qual conduz à plenitude, pois ninguém é feliz se não tem uma ideia clara de sua missão, de suas metas, de seus objetivos pessoais e de como chegar a eles. Qual o impacto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) na sociedade? A sociedade informacional nos transforma em recebedores de informação. Somos impactados por ela, mas temos capacidade de digeri-la. Por outro lado, a comunicação é muito mais importante, como, por exemplo, aprender a utilizar a Web 2.0 para melhor se comunicar com os pais e as comunidades. Um grande desafio das TICs é que a Web 2.0 seja o habitat natural da educação e da comunicação, pois, quando não há um bom relacionamento, uma boa comunicação, não há ensinamento. O que o senhor pensa sobre os nativos e imigrantes digitais? Um nativo digital é muito hábil, muito rápido em utilizar a tecnologia. Mas não tem a sabedoria para usá-la em seu proveito. O professor tem a responsabilidade de acompanhar seu aluno, ainda que seja um imigrante digital. Eu pergunto aos meus estudantes de Comunicação, por exemplo, três fatos importantes do ano anterior, e eles não conseguem me responder. Cada dia, tudo é importante, e nada também o é. A tecnologia uniformiza. Uma criança chinesa e uma latino-americana ou europeia, diante de um computador, têm o mesmo comportamento. Por outro lado, a cultura as diferencia. Não é que a cultura vença a tecnologia ou vice-versa. Nessa corrida, digo que temos um mundo plano, igual para toda a gente. ¢

en conocimiento. Tercero, como este genera aprendizaje, que no es la acumulación de conocimiento, es el flujo de conocimiento con valor agregado, con construcción de sentido. Entonces, el cuarto movimiento es generar sentido para el aprendizaje, que conduce a la plenitud, pues nadie es feliz si no tiene una idea clara de su misión, de sus metas, de sus objetivos personales y de cómo llegar a ellos. ¿Cuál es el impacto de las Tecnologías de la Información y Comunicación (TICs) en la sociedad? La sociedad informacional nos transforma en receptores de información. Somos impactados por ella, pero tenemos capacidad de digerirla. Por otro lado, la comunicación es mucho más importante, como, por ejemplo, aprender a utilizar la Web 2.0 para comunicarse mejor con los padres y las comunidades. Un gran desafío de las TICs es el que la Web 2.0 sea el hábitat natural de la educación y de la comunicación, pues cuando no hay un buen relacionamiento, una buena comunicación, no hay aprendizaje.

... gerar sentido para a aprendizagem, a qual conduz à plenitude... // ... generar sentido para el aprendizaje, que conduce a la plenitud... ¿Qué piensa sobre los nativos e inmigrantes digitales? Un nativo digital es muy hábil, muy rápido en utilizar la tecnología. Pero no tiene la sabiduría de utilizarla en su provecho. El profesor tiene la responsabilidad de acompañar su alumno, aunque sea un inmigrante digital. Yo pregunto a mis alumnos de Comunicación, por ejemplo, tres hechos importantes del año pasado, y ellos no tienen la capacidad de contestar. Cada día, todo es importante, y nada también lo es. La tecnología uniformiza. Un niño chino y un latinoamericano o europeo, delante de una computadora, tienen el mismo comportamiento. Por otro lado, la cultura hace la diferencia. No es que la cultura venza a la tecnología o viceversa. En esa competición, digo que tenemos un mundo plano, igual para toda la gente. ¢


intratexto

Fidelização Carla Tavares*

Uma ferramenta de captação em instituições de ensino

O

Alexey Klementiev

marketing tem várias definições. Uma delas, que caracteriza bem seu escopo dentro do segmento de serviços, é a de Kotler e Armstrong (1999): “Market­ ing é a entrega de satisfação para o cliente em forma de benefício”. Tangibilizar o benefício gerado por um serviço passa pela experiência. Logo, todos os pontos de contato da organização com o cliente são responsáveis pela construção dessa percepção. Isso significa que, em instituições de ensino, todos os colaboradores têm responsabilidade sobre essa entrega - a telefonista, o porteiro, a equipe administrativa, a coordenação pedagógica, a direção e, principalmente, o professor, em seu dia a dia, na sala de aula. A balança entre a captação e a fidelização é um desafio dentro do segmento educacional. Muitas vezes, ficamos preocupados com os novos alunos que temos de captar e nos esquecemos de verificar se nossos atuais alunos estão satisfeitos. Entretanto, segundo Kotler, é cerca de cinco a sete vezes mais barato fidelizar do que conquistar um novo cliente. Além disso, pesquisas

americanas mostram que um cliente insatisfeito influencia outros 13, enquanto um satisfeito influencia cinco. Nossos atuais alunos, pais e famílias têm, cada vez mais, papel fundamental no processo de captação de novos clientes. O marketing de relacionamento em instituições de ensino não tem um processo estruturado. É difícil encontrar, em uma escola, um banco de dados de clientes (database marketing) bem organizado ou um sistema que gerencie o relacionamento com sua clientela, como as ferramentas de CRM (Customer Relationship Management). Ainda resultado de pesquisa de uma consultoria americana, “95% dos clientes insatisfeitos não formalizam uma reclamação, simplesmente deixam de ser clientes” e, de acordo com Bill Gates, “seus clientes insatisfeitos são sua maior fonte de aprendizado”. Desse modo, monitorar redes sociais, rea­ lizar pesquisas de satisfação, pesquisar ex-clientes, criar uma área de ouvidoria, além de utilizar ferramentas de database marketing e

CRM, podem ser, também, importantes iniciativas para que a instituição tenha condições de avaliar a percepção de sua clientela sobre a entrega de seu serviço, possibilitando a identificação do perfil de seu cliente e a proposição de ações mais adequadas, que criem um vínculo maior de credibilidade. Apesar de estarem em um estágio anterior, é importante ressaltar que é crescente o número de instituições de ensino que buscam uma maior profissionalização de seu negócio, seja por meio da qualificação de sua gestão/seus gestores ou da contratação de consultorias técnicas que possam auxiliá-las nesse processo. Um fato é certo: a competitividade nos faz repensar a forma de atuar e nos direciona a “sair do lugar comum” e trilhar novos caminhos. Como diz Bernardinho, técnico da Seleção Brasileira de Vôlei: “A vontade de se preparar tem que ser maior do que a vontade de vencer. Vencer será conse­quência da boa preparação”. ¢ *Administradora de Empresas pela PUC-MG, especialista em Administração Financeira pela Fundação Dom Cabral e gerente de Marketing da Rede Pitágoras www.redepitagoras.com.br

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Revista Linha Direta


reflexão

As escolas precisam celebrar o Natal

Paulo H. Souza*

“A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida.” (Vinicius de Moraes)

A

s escolas, como espaço da construção do conhecimento, precisam revigorar a comemoração do Natal. O Natal é pedagógico! Um menino simples, numa manjedoura, nos comunica a importância da simplicidade que, no mundo ocidental cristão, divide o calendário. Sua mística é muito mais profunda do que o consumismo que impera no imaginário da geração pós-moderna e narcisista. Jesus Menino nos ensina o aprender a aprender. Ele, divino, aprendeu a ser humano e nos ensinou o significado da humildade, nascendo em uma simples gruta e sendo acolhido pelos pastores e aldeões de Belém. O Natal é teológico, pois nos ensina a lógica de Deus (Teo) Emanuel (Deus Conosco). Jesus Menino nos ensina o aprender a fazer. Deus presente e Deus presença. Aprendemos a fazer desta época o momento do reencontro com a luz, que nos conduz à essência. Natal permite o aprender a conviver. O Natal é humanismo! Vai além do Papai Noel com suas renas vo-

adoras, da correria nos shoppings centers em busca de presentes e iguarias diversificadas. Natal é pedagogia da presença, e não somente coisas e coisificação. O Natal é sociológico, pois une culturas, propicia tratados de paz, reanima indivíduos, instituições e nações inteiras em torno de um reencantamento do mundo. O Natal é a festa que consegue transformar o solitário em solidário, gerando interação e relação. Tempo de focar na cultura da solidariedade, da sustentabilidade e na educação para a paz. As escolas precisam celebrar o Natal para valorizar a vida, resgatar o ser frente ao ter, revigorar a sociabilidade frente ao individualismo e personalismo. O Natal é simbólico! A simbologia natalina é marcada por sinais de paz, como: a árvore, que representa a vida renovada, o nascimento de Jesus; os presentes, que guardam relação com as ofertas dos três reis magos; as velas, que indicam a luz de Cristo, o qual trouxe uma mensagem de vida plena para

o mundo. A estrela representa a esperança dos Reis Magos em encontrar o local (estábulo) onde nasceu Jesus; o presépio busca refazer as cenas do nascimento de Jesus. O primeiro a armar um presépio foi São Francisco de Assis, em 1223. Esse homem, de pés descalços e coração no céu, nos ensinou a ser instrumentos da paz, instrumentos de Deus, luzes de Natal. Natal é sinfonia de afeto. Sintonia de almas. Sinergia de corpos que se abraçam e constroem recomeços. Sinal de novas alianças entre céus e terras. Natal é SIM de Marias e Josés, mulheres e homens de pés, que caminham rumo a um mundo novo. As escolas precisam celebrar o Natal! Para que os estudantes, educadores e famílias se abracem, se encontrem, se perdoem, se olhem e se tornem comunidade educativa onde a vida é mais! ¢ *Professor e coordenador-geral de A Vida é Mais – Educação e Valores www.avidaemais.com.br


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