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Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, Fundação Universa e Sieeesp

Educação transformadora

Formação acadêmica fundamentada em princípios e valores cristãos

Ibero-América // Iberoamerica

Retos y progresos de Costa Rica // Desafios e progressos da Costa Rica

Gabriel Perissé

Conflitos na escola: é possível um final feliz

EDIÇÃO 159 ANO 14 - JUNHO 2011

Talento

Rendimento

A gestão do capital humano

Problemas sociais afetam o ensino

Sonia Simões

Benjamin Ribeiro


editorial

Educação e valores

Educación y valores

O mundo passa por mudanças significativas, e a Educação tem buscado, continuamente, se posicionar e se adaptar diante dos novos cenários. Mas nem sempre é fácil sair do lugar comum para tentar novos desafios. Processos de mudança implicam, muitas vezes, a construção de novos conhecimentos e o desenvolvimento de novas competências, habilidades e atitudes. E as escolas precisam, cada vez mais, repensar a importância do seu papel social, sua forma de atuação, a capacitação dos seus professores e sua responsabilidade para a formação integral dos alunos. O trabalho por uma educação transformadora, reflexiva, inclusiva, ecocidadã e comprometida com a cultura da solidariedade se torna cada dia mais importante. Muitas escolas estão conseguindo, em parceria com as famílias, levar adiante seus sonhos de uma educação plena, uma educação capaz de transformar o mundo. Boa leitura a todos!

El mundo pasa por transformaciones significativas, y la Educación ha buscado, continuamente, posicionarse y adaptarse delante de los nuevos escenarios. Mas no siempre es fácil salir del lugar común para intentar nuevos desafíos. Procesos de transformación implican, muchas veces, la construcción de nuevos conocimientos y el desarrollo de nuevas competencias, habilidades y actitudes. Y las escuelas precisan, cada vez más, repensar la importancia de su papel social, su forma de actuación, la capacitación de sus profesores y su responsabilidad para la formación integral de los alumnos. El trabajo para una educación transformadora, reflexiva, inclusiva, ecociudadana y comprometida con la cultura de la solidariedad se torna cada día más importante. Muchas escuelas están consiguiendo, en asociación con las familias, llevar adelante sus sueños de una educación plena, una educación capaz de transformar al mundo. ¡Buea lectura para todos!

Marcelo Chucre da Costa Presidente da Linha Direta

Marcelo Chucre da Costa Presidente de Linha Direta

Presidente Marcelo Chucre da Costa Diretora Executiva Laila Aninger Editora Jeane Mesquita – MG 09098 JP Designer Gráfico Rafael Rosa Preparadora de Texto/Revisora Cibele Silva Tradutor/Revisor de Espanhol Gustavo Costa Fuentes - RFT1410 Consultor Editorial Ryon Braga Consultor de Responsabilidade Socioambiental Marcus Ferreira Consultor em Gestão Estratégica e Responsabilidade Social Marcelo Freitas Consultora para o Ensino Superior Maria Carmem T. Christóvam

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Revista Linha Direta

Conselho Consultivo Ademar B. Pereira Presidente do Sinepe/PR – Curitiba Airton de Almeida Oliveira Presidente do Sinepe/CE Amábile Pacios Presidente do Sinepe/DF Antônio Eugênio Cunha Presidente do Sinepe/ES Antônio Lúcio dos Santos Presidente do Sinepe/RO Átila Rodrigues Presidente do Sinepe/Triângulo Mineiro Benjamin Ribeiro da Silva Presidente do Sieeesp Cláudia Regina de Souza Costa Presidente do Sinepe/RJ Emiro Barbini Presidente do Sinep/MG Fátima Turano Presidente do Sinepe/NMG Gabriel Mario Rodrigues Presidente da ABMES Gelson Menegatti Filho Presidente do Sinepe/MT Hermes Ferreira Figueiredo Presidente do Semesp Ivana de Siqueira Diretora da OEI em Brasília

Ivo Calado Asepepe Jorge de Jesus Bernardo Presidente da Abrafi e do Semesg José Augusto de Mattos Lourenço Presidente da Fenep José Carlos Barbieri Presidente do Sinepe/NOPR José Carlos Rassier Secretário Nacional da ABM José Nunes de Souza Presidente do Sinepe/PI Krishnaaor Ávila Stréglio Presidente do Sinepe/GO Manoel Alves Presidente da Fundação Universa Marco Antônio de Souza Presidente do Sinepe/NPR Marcos Antônio Simi Presidente do Sinepe/Sul de Minas Maria Nilene Badeca da Costa Presidente do Consed Maria da Gloria Paim Barcellos Presidente do Sinepe/MS Miguel Luiz Detsi Neto Presidente do Sinepe/Sudeste/MG Natálio Dantas Presidente do Sinepe/BA

Nelly Falcão de Souza Presidente do Sinepe/AM Odésio de Souza Medeiros Presidente do Sinepe/PB Osvino Toillier Presidente do Sinepe/RS Paulo Antonio Gomes Cardim Presidente da Anaceu Suely Melo de Castro Menezes Vice-presidente do Sinepe/PA Thiers Theófilo do Bom Conselho Neto Presidente da Fenen Victor Maurício Nótrica Presidente do Sinepe/Rio Pré-Impressão e Impressão Rona Editora – 31 3303-9999 Tiragem: 20.000 exemplares As ideias expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da Revista. Os artigos são colaborativos e podem ser reproduzidos, desde que a fonte seja citada.

(31) 3281-1537 www.linhadireta.com.br


capa

Educação transformadora Formação acadêmica fundamentada em princípios e valores cristãos

E

m uma cena do filme O Grande Ditador, de 1940, o personagem de Charles Chaplin diz em seu discurso: “Nós pensamos demais e sentimos muito pouco. Mais do que maquinaria, nós precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de bondade e compreensão. Sem estas qualidades, a vida será violenta e estaremos todos perdidos.” Mais de 70 anos depois, parece que Chaplin previa o futuro e chamava a atenção para a relativização dos valores vivida pela sociedade nos dias de hoje.

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Atentas a isso, muitas famílias buscam escolas que se apresentam como parceiras no processo de formação humana e moral de seus filhos. Em contrapartida, muitos educadores desenvolvem novas formas de atuação e têm conseguido resultados importantes para a prática pedagógica: revelam solidez teórica, empenho profissional e competências interpessoais bem desenvolvidas. São educadores que estão conseguindo levar adiante seus sonhos de uma educação plena, efetiva, afetiva e humana. Para dar o apoio necessário ao desenvolvimento dos professores e ao objetivo maior da educação e conter a ansiedade de pais em relação à formação dos filhos, muitas escolas optam por uma educação de valores, baseada em princípios humanos e que promova, simultaneamente, uma educação acadêmica de excelência. Mas o desafio não é tão simples quanto possa parecer, em princípio. Buscando atender a essas necessidades educacionais, foi criada a Rede Cristã de Educação, com uma proposta inovadora. Prestando serviços às escolas cristãs de Ensino Básico, a nova rede busca aliar o conhecimento aos fundamentos cristãos, com o objetivo de formar adultos mais independentes, com senso crítico e que busquem sempre novas possibilidades de vida, alicerçadas nos valores da bíblia. “Hoje, o grande desafio das escolas cristãs é aliar a proposta de formação ético-moral, calcada em valores sólidos e fundamentada nas escrituras, a uma proposta acadêmica de qualidade, linkada às diretrizes educacionais do país”, ressalta Carla Miller,­coordenadora pedagógica da Rede Cristã de Educação. O material didático, oferecido a escolas da Educação Infantil ao Ensino Médio, é embasado num projeto pedagógico construído a partir de uma abordagem cristã da educação e de um modelo interativo de aprendizagem. Segundo a coordenadora pedagógica, a busca dessa interatividade foi inspirada na forma como Jesus ensinava. “Ele não entregava nada pronto, colocava as pessoas para pensar, para refletir, e um exemplo disso são as parábolas. Nessas histórias ou narrativas, Jesus contextualizava seus ensinamentos fazendo analogias com situações corriqueiras da vida das pessoas da época. Sabemos que fazer analogias é uma competência extremamente importante hoje”, diz. Revista Linha Direta


Para oferecer um aprendizado sólido aos alunos, o material didático trabalha os conteúdos de forma contextualizada, nas perspectivas conceitual, procedimental e atitudinal, utilizando diferentes formas de linguagem, porém garantindo o rigor curricular exigido pela legislação educacional. “Buscamos a formação integral de nosso aluno, desenvolvendo-o nos aspectos cognitivo, intelectual, ético e moral e tecnológico”, explica Carla. Além de desenvolver um material didático fundamentado em princípios cristãos, o qual sirva de apoio às instituições de ensino, a Rede Cristã já nasce oferecendo às conveniadas um extenso programa de capacitação, que inclui seminários de educadores; MBA em Gestão de Instituição Educacional; encontro de lideranças pedagógicas; congresso de alunos; e antena e canal da Rede Cristã. Além disso, disponibiliza parcerias internacionais: Lego Education; Universidade de ­Cambridge; Inovaeduc; e Designmate. Para os especialistas, a escola é responsável pela formação Revista Linha Direta

integral dos estudantes e tem a função de preparar para a vida, contribuindo com a formação de sujeitos que façam a diferença e sejam capazes de transformar o mundo. A escola tem de ser a construtora de um saber com responsabilidade. Por outro lado, a participação da família na educação de seus filhos não pode ser negligenciada. É necessário estabelecer limites e regras, além de garantir que eles sejam respeitados e cumpridos. É fundamental a presença dos pais na vida e nas atividades escolares dos filhos. Desta forma, a Rede Cristã fortalecerá as escolas conveniadas, através de programas de educação compartilhada, elaborando congressos e eventos não só para

gestores e educadores, mas também para os familiares do educando, integrando pais, filhos e escola, fornecendo, assim, suporte para o crescimento integral de toda a família. Parceria escola e família Trabalhar em parceria com as famílias é um dos diferenciais da Rede. Com o propósito de alinhar família e escola nos princípios da educação de crianças e adolescentes, apresentar a proposta de trabalho e capacitar educadores e pais, auxiliando no processo de formação, serão oferecidas diversas atividades, como cursos e congressos. “Pretendemos munir a família de conhecimento para que a educação cristã seja mais sólida. É preciso estar em


sintonia com a escola”, enfatiza Carla. Nancy Stoianov, diretora executiva da Associação Batista Beneficente e Assistencial (Abba), de Campinas/SP, e uma das integrantes da Rede Cristã, acredita que a escola deva ser uma segunda casa e, por isso, tem a obrigação de reforçar ou corrigir possíveis desvios na formação de crianças e jovens. É importante, pois, que os pais, ao matricular o filho em uma escola, conheçam a metodologia aplicada por ela e saibam se está de acordo com a formação que eles desejam. “Nenhuma metodologia é neutra, todas estão referenciadas em alguns princípios, voltadas para certos objetivos que estabelecem suas convicções”, analisa Nancy,

acrescentando que “quando há pleno conhecimento e confiança no trabalho, essa parceria se fortalece, proporcionando resultados altamente positivos”. Os serviços da Rede agregam valor às escolas que fazem parte do grupo, preservando a identidade e as denominações cristãs delas e dando o suporte necessário para desenvolver trabalhos e solucionar, da melhor forma, as questões do dia a dia. Além disso, possibilita às instituições a oportunidade de trocar experiências e crescer. Formação mais humana A ideia de trabalhar com um material de abordagem cristã nas escolas tem sido bem rece-

bida pelas famílias, educadores e sociedade. Segundo o pastor Paulo Mazoni, da Igreja Batista Central de Belo Horizonte/MG, a iniciativa é uma necessidade social. “Estamos, há muito tempo, esperando um movimento como este, em termos de formação e desenvolvimento de escolas com base em princípios cristãos”, afirma. “Acredito que, hoje, o mundo está precisando do retorno de certos valores que a bíblia, a palavra de Deus defende”, acrescenta. Para o pastor Mazoni, o mais importante é estabelecer fundamentos bíblicos para a educação dos alunos. “Estamos num país onde, pelo menos no discurso, educação é uma prioridade. Nesse sentido, creio que a educação por princípios, baseada na palavra de Deus, irá ajudar e orientar o pensar e o aprender”, diz. Desse modo, ele acredita que será possível formar os estudantes para que se tornem líderes no futuro, com uma visão de mundo diferente, mais integral. Para mais informações sobre a Rede Cristã de Educação, acesse www.redecristadeeducacao. com.br  Revista Linha Direta


espaço ibero-americano

espacio iberoamericano

Los retos y progresos de Costa Rica “Q

Claude Wangen

uién soy yo, quién quiero ser, con quién quiero estar, cuáles son las habilidades y los criterios que yo tengo para la vida, para saber elegir qué es lo mejor para mí, qué es lo que me hace ser mejor persona. Estos ítems en el currículo no los tenemos en América Latina”, destaca Dyaláh Calderón, viceministra Académica del Ministerio de Educación de Costa Rica, sobre uno de los retos en el área de la educación. Ella explica que el desafío está en poder construir el ser persona, el ser ciudadano, el ser parte de un proceso del cual cada uno se construye. En entrevista a Linha Direta, ella también apunta los progresos de su país. Uno de ellos es la Reforma de Promoción y Repitencia. Significa que los estudiantes de educación secundaria que reprueban algunas asignaturas del currículo, en el año entrante, solo repiten las materias que reprobaron y pueden adelantar las del siguiente nivel. “Esta Reforma nos está implicado una muy buena acogida por parte de los estudiantes que se habían retirado del

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Os desafios e progressos da Costa Rica “Q

uem sou eu, quem quero ser, com quem quero estar, quais são as habilidades e as competências que eu tenho para saber escolher o que é bom para mim, o que faz de mim uma boa pessoa. Não temos isto no currículo na América Latina”, ressalta Dyaláh Calderón, vice-ministra acadêmica do Ministério da Educação da Costa Rica, sobre um dos desafios na área da educação. Ela explica que o desafio


sistema educativo”, dice la viceministra Académica. ¡Vea la entrevista completa! ¿Qué crees que sea necesario para un aprendizaje más significativo? Son necesarias algunas modificaciones en aula. Eso implica una forma de trabajo diferente, implica relaciones más horizontales entre los docentes y los estudiantes, implica un desarrollo de trabajo por proyectos. Es un aprendizaje por proyectos y, por lo tanto, los estudiantes deben involucrar el trabajo con sus padres y madres, con la comunidad y el centro educativo, donde hay un fin último de esto que no es en sí el proyecto final, sino es todo el proceso para la consecución de atención de los contenidos, de los objetivos que tiene el programa de estudios. Esto es un proceso reflexivo donde la práctica puede llegar a implicarme en esta reflexión analítica que tiene los objetivos de los programas. ¿Y la formación de los maestros para este cambio? Este es el tema más difícil. Aún más que los estudiantes pudieran comprometerse en este cambio curricular, la gran apuesta del Ministerio de Educación de Costa Rica, desde hace cuatro años, ha sido poder ir haciendo ajustes en esa mediación pedagógica con los docentes. Sobre todo porque estaban muy acostumbrados a una capacitación tradicional en donde iban a jornadas, a talleres, a cursos, seminarios, de dos o tres días, en donde no había procesos de vivencias de la mediación pedagógica. Son procesos poco reflexivos, que tienen una tendencia de trabajo muy magistral, donde van, presentan, hay ponencias, y ellos pocas veces interactúan, pocas veces discuten o dialogan, pocas veces pueden construir propuestas de trabajo conjuntas. Y para nosotros es un gran cambio que hicimos cualitativo para esta capacitación que acompañaba la reforma curricular. Con los maestros vamos a construir esta vivencia de los programas, donde ellos mismos van a hacer que sus propios estudiantes entiendan la transformación que queríamos hacer en el aula. Y esa transformación iba aparejada de una serie de actividades prácticas, incluso donde pudiéramos tener espacio en el aula para poder trabajar en el piso con los jóvenes, para poder hacer las maquetas que se estaban construyendo, por ejemplo,

está em construir o ser pessoa, o ser cidadão, o ser parte de um processo por meio do qual cada um se constrói. Em entrevista à Linha Direta, ela também aponta os progressos de seu país. Um deles é a Reforma de Promoção e Repetência. Significa que estudantes do Ensino Médio que são reprovados em algumas disciplinas do currículo, no ano seguinte só repetem essas matérias e podem avançar ao próximo nível. “Esta Reforma foi muito bem acolhida pelos estudantes que haviam abandonado o sistema educativo”, disse a vice-ministra acadêmica. Acompanhe a entrevista completa! O que você acha que é necessário para uma aprendizagem mais significativa? São necessárias mudanças na sala de aula. Isto implica uma forma de trabalho diferente, implica relações mais horizontais entre professores e alunos e o desenvolvimento do trabalho por projetos. Em uma aprendizagem baseada em projetos, os estudantes envolvem pais e mães, comunidade e o centro educacional em um objetivo que não é o projeto final, mas todo o processo para o desenvolvimento dos conteúdos e objetivos dos programas de estudo. Este é um processo reflexivo, em que a prática pode levar a esta análise dos objetivos dos programas. E a formação dos professores para esta mudança? Esta é a questão mais difícil. Mais do que envolver os estudantes nessa mudança curricular, a grande aposta do Ministério da Educação da Costa Rica, há quatro anos, tem sido a realização de ajustes na mediação pedagógica dos professores, sobretudo porque estavam muito acostumados a uma capacitação tradicional, com conferências, workshops, cursos ou seminários, de dois ou três dias, em que não há experiências de mediação pedagógica. São processos pouco reflexivos, que têm uma tendência de trabalho muito magistral, em que há apresentações e palestras, e eles raramente interagem, discutem ou dialogam, ou seja, poucas vezes podem construir propostas conjuntas de trabalho. Para nós, esta capacitação que acompanha a reforma curricular foi uma grande mudança qualitativa que fizemos. Com os professores, vamos construir a experiência dos programas: eles mesmos vão fazer com que seus estudantes entendam a mudança que Revista Linha Direta


en la educación cívica. Con el tema de seguridad ciudadana, de identidad, de equidad de género, de quién soy yo, quién quiero ser, con quién quiero estar, cuáles son las habilidades y los criterios que yo tengo para la vida para saber elegir qué es lo bueno para mí, qué es lo que me hace ser buena persona. Esto en el currículo no lo tenemos en América Latina. Por eso, para nosotros, es un gran reto poder construir el ser persona, el ser ciudadano, el ser parte de un proceso del cual yo me construyo a mí mismo con respecto a los demás y a sí mismo, en tanto ser y hacer amigos.

... los maestros (...) van a hacer que sus propios estudiantes entiendan la transformación que queríamos... // ... os professores (...) vão fazer com que seus estudantes entendam a mudança que queremos... Ésta es la meta cualitativa. ¿Y en términos cuantitativos?

Erikdegraaf

Tenemos una reforma que se llama la Reforma de Promoción y Repitencia. Significa que los jóvenes en educación secundaria pueden tener la posibilidad de que si ellos reprobaron algunas asignaturas del currículo, perdieron matemática y español, por ejemplo, en 2010, el año entrante, ellos no vuelven a repetir todas las materias, sino que solo repiten las que reprobaron y pueden adelantar las materias del siguiente nivel. Entonces, ellos continúan en el nivel que se encuentran, y que aún no han finalizado, pero pueden ir adelantando asignaturas del año superior. Esta Reforma viene implicando una muy buena acogida por parte de los estudiantes que se habían retirado del sistema educativo. Claro, hay retos, y uno de estos es organizar los horarios de los estudiantes. Hay que hacer ajustes porque ellos no siempre coinciden, a veces los horarios se yuxtaponen. Entonces, los estudiantes no siempre pueden llevar la misma carga horaria. Pero, esto nos parece que más que haber sido una limitación, ha sido un beneficio.

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queremos fazer nas aulas. E essa mudança pressupõe uma série de atividades práticas, incluindo um espaço na sala de aula para trabalhar com as crianças os modelos construídos, por exemplo, na educação cívica. A partir de temas como segurança pública, identidade, igualdade de gênero, e de debates sobre quem eu sou, quem quero ser, com quem quero estar, podemos trabalhar as habilidades e as competências necessárias para saber escolher o que é bom para mim, o que faz de mim uma boa pessoa. Não temos isto no currículo na América Latina. Portanto, para nós, este é um grande desafio: ser capaz de construir o ser pessoa, o ser cidadão, o ser parte de um processo por meio do qual cada um se constrói como pessoa, respeitando aos outros e a si mesmo, sendo e fazendo amigos. Este é o objetivo qualitativo. E em termos quantitativos? Nós temos uma reforma que se chama Reforma da Promoção e Repetência. Significa que os alunos do Ensino Médio têm a possibilidade de, sendo reprovados em algumas disciplinas do currículo, por exemplo, perderem matemática e espanhol em 2010, no ano seguinte, não repitam todas as matérias, mas apenas aquelas em que foram reprovados, podendo avançar para o próximo nível. Dessa forma, eles conseguem dar continuidade ao nível em que se encontram, que ainda não finalizaram, e adiantar disciplinas do ano seguinte. Esta Reforma foi muito bem acolhida pelos estudantes que haviam abandonado o sistema educativo. Claro, existem desafios, e um deles é organizar os horários dos estudantes. É preciso fazer ajustes, porque esses horários nem sempre coincidem, as datas se misturam, e os alunos nem sempre conseguem cumprir a mesma carga horária. Mas nos parece que, mais do que uma limitação, isso tem sido um benefício. Por quê? Porque os alunos também podem cursar um certo número de matérias e serem aprovadas. E o que


¿Por qué? Porque ha significado que los chicos pueden también llevar el número de asignaturas que pueden cursar y aprobarlas. Y lo que hemos visto es que los chicos mientras menos asignaturas lleven al currículo pueden tener un aprendizaje mayor. Nuestro reto es hacer un currículo nacional básico. En este momento, tenemos 16 asignaturas que cursan los jóvenes de la educación secundaria. Pero queremos tener una racionalización de esta oferta educativa, no tenerlos dispersos por todo el currículo, sino tener los contenidos necesarios básicos y que lo aprendan bien, que lo que reciban realmente sea significativo, relevante y pertinente. ¿Qué han hecho por la Educación de Jóvenes y Adultos?

Glen Jones

Con jóvenes y adultos tenemos la opción fundamental de la oferta de la educación abierta. Hay algunos programas donde ellos pueden vincularse, por ejemplo, al Programa de Nuevas Oportunidades, que se desarrolla contextualizado con una oferta específica. Muchos jóvenes que ingresaban en este programa eran jóvenes de comunidades de muy baja renta y, en realidad, para nosotros, el reto no es incrementar la educación abierta. Todo lo contrario, lo que queremos

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temos visto é que, quanto menos disciplinas cursam, maior o aprendizado. Nosso desafio é fazer um currículo nacional básico. Neste momento, temos 16 disciplinas que estão sendo cursadas pelos alunos do Ensino Médio. Porém, queremos uma racionalização da oferta educativa: não queremos conteúdos dispersos por todo o currículo, mas os conteúdos necessários, básicos, que sejam realmente significativos, relevantes e pertinentes, e que os estudantes aprendam bem.

Esta Reforma viene implicando una muy buena acogida por parte de los estudiantes que se habían retirado del sistema educativo. // Esta Reforma foi muito bem acolhida pelos estudantes que haviam abandonado o sistema educativo. O que tem sido feito pela Educação de Jovens e Adultos? Com jovens e adultos temos, principalmente, a opção de oferecer uma educação aberta. Há alguns programas a que eles podem se vincular, como, por exemplo, o Programa de Novas Oportunidades, que se desenvolve com uma oferta específica. Muitos jovens que ingressavam nesse programa vinham de comunidades muito caren-


es que la educación abierta disminuya, porque son jóvenes que se fueron del sistema educativo formal porque fuimos nosotros poco capaces de poder tenerlos dentro del sistema. Así que otra de nuestras grandes apuestas es que los chicos regresen al sistema educativo y permanezcan en la jornada habitual. Porque muchos de los que se habían ido del sistema educativo, en realidad, no se habían ido por un tema de trabajo, y sí por causa de exclusión y repulsión. ¿Cómo se explica esto? Exclusión porque no tenemos, a veces, las condiciones necesarias para poder garantizar una acción de acompañamiento a los muchachos que regresan al sistema educativo. Creemos que todos los estudiantes son iguales. Pero no. Tenemos que aprender estrategias diferenciadas para aquellos que tal vez no tienen el mismo desarrollo para lograr los años de estudios. Para algunos es más dificultoso. Si unos consiguen hacerlo en seis años, otros llevan hasta ocho años. Pero nuestro sistema es bastante abortivo en esto. No nos posibilita dar un acompañamiento diferenciado a esos estudiantes, que es, en realidad, lo que requieren.

tes e, para nós, o desafio é não ampliar a educação aberta. De fato, o que nós queremos é que a educação aberta diminua, porque é direcionada a jovens que abandonam o sistema educacional formal, uma vez que fomos incapazes de acolhêlos neste sistema. De modo que outra grande aposta é que os alunos regressem do sistema educacional e permaneçam na jornada habitual. Muitos dos que deixaram o sistema educativo não o fizeram por problemas de trabalho, e sim devido a situações de exclusão e repulsa. Como se explica isso? A exclusão ocorre porque não temos, por vezes, as condições necessárias para assegurar uma ação de acompanhamento dos alunos que retornam ao sistema educacional. Pressupomos que todos os estudantes são iguais, mas não são. Temos que aprender estratégias diferenciadas para que aqueles que talvez não tenham o mesmo desenvolvimento se mantenham na escola. Para alguns, esse processo é mais lento. Se alguns completam os estudos em seis anos, outros demoram até oito. Mas nosso sistema é bastante rígido com isto e não nos permite fazer um acompanhamento diferenciado para os estudantes que necessitam.

Por otro lado, hemos visto que son jóvenes que se fueron del sistema educativo no por un tema laboral o por condición de pobreza, sino porque el sistema educativo no representaba mayor atractivo. Esto es lo que nos dicen los estudiantes que se han ido: “Me parece aburrido”. “Esto no me enseña nada”. “Esto a mí no me genera nada en mi vida”. “¿Qué significa estar en el colegio? No significa un cambio cualitativo para mí”. Eso precisamente corrobora nuestra hipótesis de que muchos de los chicos que se van no son por opciones laborales, sino porque el sistema educativo no es atractivo para ellos.

Por outro lado, temos visto crianças que deixaram o sistema educacional, não por problemas de trabalho ou por situações de pobreza, mas porque o sistema de ensino não apresenta atrativos. Os estudantes que desistiram nos dizem: “Parece chato”; “Isso não me ensina nada”; “Isso não traz nada para a minha vida”; ou “O que significa estar na escola? Isso não significa uma mudança qualitativa para mim”. Isso confirma a nossa hipótese de que muitos dos estudantes que se vão não o fazem por opções de trabalho, mas sim porque o sistema educacional não é atrativo para eles.

¿Qué falta para ser atractivo?

O que falta para ser atrativo?

No tenemos una mediación pedagógica adecuada, no tenemos las condiciones necesarias para que ellos puedan aprender mejor en el aula. No hay espacios que estén fomentando el diálogo entre los muchachos, la convivencia, habría que reforzarla más. No tenemos un trabajo entre pares. Hay mucho para hacer con los temas arraigo y pertenencia de los alumnos en sistema educativo. 

Nós não temos uma mediação pedagógica adequada, não temos as condições necessárias para que eles aprendam melhor nas aulas. Não há espaços que incentivem o diálogo entre os alunos e a convivência, é preciso reforçar isso. Também não temos um trabalho entre os pares. Há muito a ser feito com relação à questão do enraizamento e da permanência dos estudantes no sistema de ensino.  Revista Linha Direta


gestão

O

sucesso de toda empresa é construído com e pelas pessoas. Este fato não pode ser ignorado pelos líderes, independentemente do tipo de atividade que realizam e do ambiente no qual estão inseridos. As instituições de ensino dependem das competências e das performances de suas equipes. Prosperam quando profissionais talentosos desenvolvem processos e produtos eficazes, mais competitivos, alinhados às necessidades do mercado e de seus clientes. Por outro lado, podem sucumbir quando há equipes ineficazes. Os caminhos para o sucesso mudam com o tempo, de acordo com os movimentos da sociedade no âmbito das pressões econômicas, alterações nos modelos da gestão, transformações das estratégias para atender às novas demandas, entre outros; mas é certo que, independente dos cenários nos quais as instituições estão inseridas, sempre precisarão de pessoas talentosas e capacitadas para fortalecer processos que possam favorecer o crescimento da instituição.

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A gestão do capital humano nas instituições de ensino


Sonia Simões* Mas como podemos manter profissionais talentosos, competentes, comprometidos e produtivos? Para obtermos uma resposta, cabe refletir, inicialmente, sobre o que é um talento e sobre a composição do capital humano. A palavra talento tem origem na Antiguidade, quando era usada para mensurar uma unidade monetária, a quantidade de prata e ouro nas negociações. Hoje, assim como no passado, ter talento significa possuir algo valioso, uma habilidade, dom ou vocação para determinada atividade. Já a origem da expressão capital humano é mais recente: data da década de 1960, tendo sido registrada nos estudos de Theodore Schultz, que recebeu o prêmio Nobel de Economia de 1979, compartilhado com Arthur Lewis. Esse conceito foi popularizado por outro grande economista, Gary Stanley Becker (prêmio Nobel de Economia de 1992), que expandiu a análise microeconômica para o comportamento e a interação humana. O conceito de capital humano, centrado no talento, na

educação, nas competências e na saúde, deriva do entendimento de capital fixo (equipamentos e tecnologias) e capital variável (salários). Portanto, o capital humano é a força de trabalho de uma empresa, composta por pessoas que agregam valor e geram retornos financeiros. Essas definições, oriundas do universo econômico, se devem ao entendimento de que um dos elementos que interferem na desigualdade do desenvolvimento econômico de um país está relacionado às diferenças e peculiaridades das competências das pessoas. Aplicando este conceito ao meio empresarial, encontramos vários opositores humanistas que relutaram, inicialmente, em relacionar a palavra capital a seres humanos, numa tentativa de evitar a transformação das pessoas em valores econômicos para as corporações. Nos dias atuais, o conceito é largamente aplicado na maioria das organizações, que entendem que a base, a sustentação dos processos, das inovações, das estratégias

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e das performances de alto desempenho encontra-se alicerçada em um bem mais precioso: o seu capital humano. Em suma, capital humano é o conjunto das habilidades, competências, experiências, qualificações e conexões sociais que determinam, em um dado momento, as ações do indivíduo. As empresas de renome mundial não veem seus colaboradores como recursos organizacionais padronizados; ao contrário, têm a visão de que o capital humano é o seu grande diferencial, criando ambientes e espaços para empreender, gerando condições de trabalho para que seus talentos se desenvolvam e se realizem profissional e pessoalmente. Isso, sem dúvida alguma, é revertido para a organização como comprometimento, respeito e motivação por parte de seus recursos humanos.

Appler

Já nas instituições de ensino, com raras exceções, não encontramos uma política interna para desenvolvimento de seus próprios talentos, uma realidade na contramão das tendências de outras empresas pertencentes a diversos segmentos da economia, que buscam constantemente o aperfeiçoamento e a capacitação de seus profissionais. Isso é um contrassenso, pois uma instituição de ensino tem, no cerne de sua missão, a formação e o desenvolvimento de profissionais para a sociedade, mas não promove, em sua grande totalidade, a capacitação de seu próprio corpo de colaboradores. Produz capital Revista Linha Direta

humano para a sociedade, mas não zela, na plenitude, por seus talentos internos. Para que possam utilizar plenamente todo o potencial de contribuição da força de trabalho, as instituições devem proporcionar programas de desenvolvimento tanto para os profissionais que ingressam na instituição quanto para os que já são integrantes, visando a melhorias em seu desempenho e/ou preparando-os para ocupar outras posições funcionais. Portanto, o foco na capacitação e aperfeiçoamento contínuo dos membros da equipe deveria ser a tônica de atenção de todos os líderes e gestores, como forma de fortalecer os processos, as metodologias e os resultados de suas respectivas áreas. Ao formar equipes de alto desempenho, obterão, consequentemente, resultados superiores ao esperado. As características mais valorizadas em um profissional estão relacionadas a competências, comprometimento, inovação, qualidade e cooperação. Ao desenvolver essas habilidades, o colaborador estará, com certeza, dando um passo à frente para encarar as adversidades e desafios inerentes ao ambiente corporativo. É relevante que as ações de desenvolvimento do quadro funcional de uma instituição de ensino sejam precedidas por uma identificação e análise de suas necessidades operacionais e estratégicas. E, para tanto, há várias maneiras de verificar as reais necessidades de treinamento, diag-


nosticando as lacunas ou falhas no desempenho. Destacam-se as seguintes sistemáticas: • Levantamento, anual ou semestral, junto a cada gestor, para identificar lacunas que estejam dificultando o desempenho esperado dos componentes de sua equipe. Entrevistas com os colaboradores também fortalecem essa sistemática, pois podem fornecer dados não vislumbrados pelo líder imediato. • Pesquisa de clima organizacional, o que possibilita identificar fatores de motivação e desmotivação. • Avaliação de performances dos colaboradores, analisando as razões pelas quais determinados objetivos não foram alcançados, ou desempenhos que estejam abaixo do esperado. • Verificação de mudanças nos processos, exigindo novas competências das pessoas que os executarão. • Análise de erros e não conformidades cujas causas sejam provenientes de falhas de desempenho dos profissionais.

cursos humanos elabore um plano de aperfeiçoamento profissional, desenhado para cada colaborador, e, após a devida participação em um determinado programa, possa acompanhar o respectivo desempenho, oferecendo condições propícias para que os conhecimentos adquiridos sejam implementados no dia a dia de trabalho.

rios em longo prazo, tornou-se um diferencial para as instituições que desejam conquistar melhores posições no mercado. Cabe ao líder, também, incentivar os membros de sua equipe, independentemente dos recursos oferecidos pela organização para que eles invistam em si próprios, projetando o seu crescimento na aquisição de novas

... capital humano é o conjunto das habilidades, competências, experiências, qualificações e conexões sociais que determinam, em um dado momento, as ações do indivíduo. É crucial que cada líder educacional considere que são as pessoas que compõem a força motriz dos processos e que, portanto, são fundamentais para o desenvolvimento da instituição de ensino. Como resultado, ao investir nas competências que realmente farão a diferença, o líder e a instituição certamente obterão ganhos relacionados à qualidade do serviço oferecido, à produtividade de seus colaboradores e à satisfação de seus clientes.

• Avaliação de demandas advindas dos planos estratégicos, apontando necessidades de novas habilidades ou novos conhecimentos.

Cada vez mais, constata-se que o capital humano, juntamente com os processos organizacionais, são os principais responsáveis na fidelização e na captação dos clientes. Assim, o sucesso de uma escola está diretamente relacionado às competências de seu capital humano, o que garante sua longevidade e competitividade.

Como resultado deste levantamento, é interessante que a área de re-

Desenvolver as pessoas, identificando os conhecimentos necessá-

competências e aprimorando seu desempenho individual. O profissional que planeja sua carreira não deve ficar à espera de que a organização invista em sua capacitação técnica, gerencial e comportamental. É um caminho de mão dupla: as empresas criam oportunidades de desenvolvimento e o profissional busca alternativas para o seu aprimoramento, agindo para incorporar novos conhecimentos, implementando-os em suas atividades, procurando inovar e melhorando sua maneira de atuar. A conscientização desse duplo caminho deve fazer parte das orientações provenientes de um líder comprometido e preocupado com os resultados da organização e de seus colaboradores.  *Diretora executiva da Humus e autora de vários livros em gestão educacional sonia@humus.com.br Revista Linha Direta


intertexto

EDUCAÇÃO E

学君 李

SOCIEDADE

N

os últimos anos, a economia brasileira tem dado mostras de crescimento e maturidade sem precedentes. Hoje, podemos nos ombrear com grandes países do primeiro mundo na área financeira, na produção industrial e agrícola. Mas, embora o Brasil tenha avançado no campo social, ainda persistem muitos problemas que afetam o nosso dia a dia. Entre eles, podemos citar os que mais atravancam nosso desenvolvimento e estão sempre nos colocando nas tristes estatísticas mundiais: o desemprego, a violência, a criminalidade, a poluição, a saúde, a educação, a habitação e a grande desigualdade social. Gostaria de me fixar nas áreas social e da educação, pois os dados sobre o desempenho dos alunos da rede pública de ensino são alarmantes. O problema não está na destinação de recursos, mas sim na gestão, pois nos deparamos com prédios malconservados, falta de professores, poucos recursos didáticos, inexistência de novas tecnologias, baixos salários, greves e violência dentro das escolas, como temos visto em recentes relatos sobre bullying. O resultado dessa

Revista Linha Direta

situação é o baixo aproveitamento e o prejuízo causado para as gerações futuras. Não podemos imaginar que todas essas dificuldades serão vencidas pelos governos. A sociedade é parte integrante desse mundo e deve dar sua parcela de contribuição. As entidades e as pessoas de bem devem empregar um pouco do seu tempo e dos seus recursos para ajudar os menos favorecidos. A escola deve ser um espaço privilegiado, rico em recursos que promovam a aprendizagem, num ambiente em que os alunos possam construir seus conhecimentos segundo os estilos individuais de aprendizagem que os caracterizam, utilizando sistemas interativos com apoio tecnológico, para que se sintam motivados. Cabe à escola dotá-los de capacidades que lhes permitam, em seu futuro profissional, aprender qualquer assunto que lhes interesse. Nesse sentido, resultado de pesquisa recente da Fundação Getulio Vargas nos dá um alento. Segundo o estudo Desigualdade de renda na década, do pesquisador Marcelo Neri, a educação foi o fator que mais contribuiu para o aumento da

Benjamin Ribeiro*

renda dos brasileiros nos últimos dez anos. De 2001 a 2009, a renda cresceu 49,52% no grupo dos 20% mais pobres, contra 8,88% dos 20% mais ricos, uma vantagem acumulada de 40,63% para a base da população. No Nordeste, a pesquisa indica que a renda da população subiu 41,8%, contra 15,8% no Sudeste; três quartos dessa elevação se devem aos avanços na educação da população nordestina; o restante, a programas sociais, também chamados de renda não trabalho. Segundo o pesquisador, como o aumento na educação fez subir o nível de salário, a mão de obra de baixa instrução está se transformando em peça rara. Um dos exemplos citados por Neri é o caso das empregadas domésticas, em grande parte ainda com baixo nível educacional. Elas estão ganhando melhores salários por haver poucas pessoas dispostas a desempenhar essa função. Como podemos ver, a educação é a base do desenvolvimento do país. Dar condições de aprimorar o sistema educacional brasileiro é a forma de chegarmos ao progresso almejado.  *Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp) benjamin@einstein24h.com.br


hipertexto

Gestão de conflitos na escola: é possível um final feliz

Para ampliar as discussões e encontrar caminhos práticos, o Ético Sistema de Ensino levou o pesquisador e escritor Gabriel Perissé, doutor em Filosofia pela USP, a viajar por diversos Estados brasileiros para conversar com educadores sobre o tema, inclusive sobre uma das vertentes mais angustiantes hoje – o bullying. Veja, a seguir, as respostas de Perissé a algumas das questões. Revista Linha Direta

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A falta de referências para enfrentar uma questão de tal maneira delicada vem levando professores, coordenadores e diretores a buscar um conhecimento que não se encontra nos cursos de Pedagogia e que diz respeito à gestão dos conflitos, um campo relativamente novo de estudos.

Nu Alexandre

I

ndisciplina, violência, bullying: o tema dos conflitos entrou definitivamente no vocabulário escolar e demanda um posicionamento claro dos educadores – seja em sala de aula, com o professor, seja nos postos de gestão.


Gabriel Perissé, pesquisador e escritor Divulgação

Basicamente, o tema de fundo de suas palestras é a questão do respeito humano mútuo e da qualidade da convivência. O senhor acredita que os problemas encontrados na escola são próprios ou refletem conflitos disseminados em toda a sociedade? A convivência pacífica, produtiva e bela entre os dessemelhantes – pois iguais não somos e não é desejável que sejamos – está entre as mais difíceis metas da humanidade. Todas as utopias sonham com a harmonia entre as pessoas, entre os povos, mas o que vemos, em todos os níveis, em todas as instituições, em todos os lugares, são sinais de desconfiança, falta de solidariedade e, no limite, sinais de ódio explícito. Na escola, microcosmo social, apesar de todas as boas intenções pedagógicas, também percebemos a dificuldade da convivência. Choca-nos lembrar que, no passado, os professores agrediam fisicamente seus alunos. Escanda-

liza-nos saber que, no presente, os alunos chegam a agredir fisicamente seus professores. Diante da violência escolar, a perplexidade. Mas aí reside também a nossa chance de pensar e agir melhor. Devemos encontrar na própria escola as soluções adequadas para uma convivência autenticamente humana. De seu ponto de vista, professores e gestores têm sido passivos em relação à mediação de conflitos? Qual é, ou deveria ser, o papel da escola nesse campo? Talvez a perplexidade inicial nos deixe passivos. Ou, talvez, simplesmente estejamos tentando resolver os problemas com soluções ultrapassadas: broncas, punições, expulsões... O papel da escola perante a violência é, em primeiro lugar, tomar consciência dessa realidade, admiti-la com coragem e, num segundo momento, buscar soluções novas. Revista Linha Direta


Giuseppe Porzani

Qual é a relação entre a qualidade do ambiente escolar e a qualidade de ensino, em seu ponto de vista? Um ambiente saudável favorece a aprendizagem? Por outro lado, a competição interna excessiva gera conflito? Toda violência é fruto de outras violências. O provérbio “violência gera violência” é acertadíssimo. O estudo, a busca do conhecimento, a pesquisa intelectual se inviabilizam num ambiente violentado e violentador, em que há medo, receio, desconfianças. Conflitos existem, sem dúvida. Em qualquer ambiente. Mas é possível administrá-los, quando se buscam pontos em comum entre as pessoas. O ensinar e o aprender são os principais pontos de contato dentro do ambiente escolar. Ensinar é deixar aprender. Aprender é preparar-se para ensinar. Se as pessoas que frequentam a escola (professores, alunos, gestores, funcionários...) se encontram para ensinar/aprender, é possível ver nos conflitos uma etapa natural em busca do entendimento e da solidariedade. Revista Linha Direta

Que sugestões ou recomendações o senhor daria para uma escola que pretende aprimorar seu trabalho na mediação de conflitos? Uma recomendação para as escolas é, antes de tudo, reconhecer que problemas e conflitos existem. Mais ou menos evidentes. Mais ou menos graves. Em seguida, criar caminhos institucionais claros para prevenir e tornar patente, perante toda a comunidade, que toda violência, parta de onde partir, será identificada, exposta e confrontada com uma outra prática, com um quadro de valores e princípios igualmente identificável por todos. Certamente, será preciso contar aqui com lideranças. Os valores de qualquer grupo social não existem, de fato, se não se encarnarem, por assim dizer, em pessoas concretas. Não basta elogiar o conceito de paz, a ideia de harmonia, o sonho da solidariedade. Cada escola, a começar pelos gestores e professores, com a ajuda dos pais e da maioria dos alunos, deve ser uma escola em que os valores sejam vividos no cotidiano concreto.

Por fim, o senhor acredita que a abordagem desse tema deve estar entre as prioridades da educação, num tempo em que se valoriza tanto o critério de qualidade baseado em indicadores de desempenho acadêmico? Os indicadores de qualidade são insuficientes. Cumprem um papel limitado. Indicam. Mas devemos trabalhar questões imponderáveis e intangíveis, como a da convivência, que exige atitudes e virtudes não facilmente mensuráveis, mas certamente eficazes para a melhoria do ambiente escolar e, como consequê­ncia, para resultados que podem ser quantificados. O tema da violência escolar tornou-se prioridade, e não foi à toa. Há uma crise dentro das famílias, das empresas, no trânsito e em tantos outros aspectos da vida contemporânea. Nós, educadores, precisamos dizer e fazer algo, não só dentro das escolas, mas também como contribuição para a sociedade em geral.  www.sejaetico.com.br


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