Linha Direta INOVAÇÃO . EDUCAÇÃO . GESTÃO
DIÁLOGO E
EMPODERAMENTO Círculo restaurativo pode ser alternativa em casos de bullying
INGLÊS Língua franca
EDIÇÃO 175
ANO 16 - OUTUBRO 2012
INTERATIVIDADE Aprendizagem de idiomas
REDES Tecendo histórias
MEC Programa Ciência sem Fronteiras
UNIVERSIDADE Formação para todas as áreas
Geraldo Nunes
José Pio Martins
editorial
Diga não ao bullying!
¡Diga no al bullying!
O bullying – termo em inglês que tem origem na palavra bully, entendido como intimidação, tirania, ameaça ou humilhação – é uma prática que se caracteriza por atitudes agressivas intencionais e repetidas. O bullying pode ocorrer em qualquer contexto onde haja pessoas interagindo e, no mundo tecnológico, o fenômeno também é praticado com frequência através da internet – o cyberbullying ou o bullying digital – ou do telefone celular – o móbile bullying. Entretanto, é no ambiente escolar que a prática do bullying tem chamado mais a atenção. Agressões morais, verbais e físicas sofridas por alunos causam danos nocivos e, muitas vezes, permanentes nas vítimas. Precisamos banir essa prática das nossas escolas. Mas como resolver o problema? Uma das alternativas possíveis é todos se envolverem com a questão e, juntos, buscarem soluções preventivas e resolutivas, como a implementação de círculos restaurativos. Na matéria de capa desta edição, especialistas explicam o que é e como eles funcionam. Boa leitura!
El bullying – término en inglés que tiene origen en la palabra bully, entendido como intimidación, tiranía, amenaza o humillación – es una práctica que se caracteriza por actitudes agresivas intencionales y repetidas. El bullying puede ocurrir en cualquier contexto donde haya personas interactuando y, en el mundo tecnológico, el fenómeno también es practicado con frecuencia a través de internet – el cyberbullying o el bullying digital – o del teléfono celular – el móvil bullying. Mientras tanto, es en el ambiente escolar que la práctica del bullying ha llamado más la atención. Agresiones morales, verbales y físicas sufridas por alumnos causan daños nocivos y, muchas veces, permanentes en las víctimas. Precisamos prohibir esa práctica de nuestras escuelas. Pero ¿cómo resolver el problema? Una de las alternativas posibles es que todos se involucren con la cuestión y, juntos, busquen soluciones preventivas y resolutivas, como la implementación de círculos restaurativos. En la materia de tapa de esta edición, especialistas explican qué es y cómo ellos funcionan. ¡Buena lectura!
Marcelo Chucre da Costa Presidente da Linha Direta
Marcelo Chucre da Costa Presidente de Linha Direta
Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, Fundação Universa e Sieeesp
Presidente Marcelo Chucre da Costa Diretora Executiva Laila Aninger Editora Valéria Araújo – MG 16.143 JP Designer Gráfico Rafael Rosa Atendimento Flávia Alves Passos Estagiário de Jornalismo Renan Costa Coelho Preparadora de Texto/Revisora Cibele Silva Tradutor/Revisor de Espanhol Gustavo Costa Fuentes - RFT1410 Consultor Editorial Ryon Braga Consultor em Gestão Estratégica e Responsabilidade Social Marcelo Freitas Consultora para o Ensino Superior Maria Carmem T. Christóvam
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Revista Revista Linha Linha Direta Direta
Conselho Consultivo Ademar B. Pereira Presidente do Sinepe/PR – Curitiba Airton de Almeida Oliveira Presidente do Sinepe/CE Amábile Pacios Presidente da Fenep Antônio Eugênio Cunha Presidente do Sinepe/ES Antônio Lúcio dos Santos Presidente do Sinepe/RO Átila Rodrigues Presidente do Sinepe/Triângulo Mineiro Benjamin Ribeiro da Silva Presidente do Sieeesp Cláudia Regina de Souza Costa Presidente do Sinepe/RJ Dalton Luís de Moraes Leal Presidente do Sinepe/PI Emiro Barbini Presidente do Sinep/MG Fátima de Mello Franco Presidente do Sinepe/DF Fátima Turano Presidente do Sinepe/NMG Gabriel Mario Rodrigues Presidente da ABMES Gelson Menegatti Filho Presidente do Sinepe/MT Hermes Ferreira Figueiredo Presidente do Semesp
Ivana de Siqueira Diretora da OEI em Brasília Ivo Calado Asepepe Jorge de Jesus Bernardo Presidente da Abrafi e do Semesg José Carlos Barbieri Presidente do Sinepe/NOPR José Carlos Rassier Secretário Nacional da ABM Krishnaaor Ávila Stréglio Presidente do Sinepe/GO Manoel Alves Presidente da Fundação Universa Marco Antônio de Souza Presidente do Sinepe/NPR Marcos Antônio Simi Presidente do Sinepe/Sul de Minas Maria da Gloria Paim Barcellos Presidente do Sinepe/MS Maria Nilene Badeca da Costa Presidente do Consed Miguel Luiz Detsi Neto Presidente do Sinepe/Sudeste/MG Natálio Dantas Presidente do Sinepe/BA Odésio de Souza Medeiros Presidente do Sinepe/PB Osvino Toillier Presidente do Sinepe/RS
Paulo Antonio Gomes Cardim Presidente da Anaceu Paulo Sérgio Machado Ribeiro Presidente do Sinepe/AM Suely Melo de Castro Menezes Vice-presidente do Sinepe/PA Thiers Theófilo do Bom Conselho Neto Presidente da Fenen Victor Maurício Nótrica Presidente do Sinepe/Rio Pré-Impressão e Impressão Rona Editora – 31 3303-9999 Tiragem: 20.000 exemplares
Papel produzido a partir de fontes responsáveis
A Linha Direta, consciente das questões sociais e ambientais, utiliza na impressão desse material, papéis certificados FSC® (Forest Stewardship Council®). A certificação FSC é uma garantia de que a matéria-prima advém de uma floresta manejada de forma ecologicamente correta, socialmente adequado e economicamente viável. Impresso na RONA EDITORA Ltda – Certificada na Cadeia de Custódia – FSC.
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capa
DIÁLOGO E
EMPODERAMENTO Círculo restaurativo pode ser alternativa em casos de bullying
U
ma relação entre pares, normalmente entre estudantes, em que um subjuga o outro de forma recorrente, com preconceito ou ameaça, é um tipo de violência denominada bullying. Muito comum no ambiente escolar, essas agressões sempre existiram, mas atualmente estão ganhando mais a atenção da população, principalmente pela ocorrência de casos extremos registrados pelos meios de comunicação e também pela incidência do cyberbullying nas redes sociais. Existem estudos comprovando que o bullying traz consequências nefastas para o futuro da vítima, não só na vida estudantil. É o caso, por exemplo, de pessoas que já sofreram esse tipo de violência e passaram a ser autoras de agressões ou se tornaram mais violentas. Além disso, o bullying pode gerar traumas psicológicos, medo de falar, afastamento da escola, perda do ano letivo, queda no rendimento e sentimento de horror em relação ao estabelecimento de ensino, entre outras coisas.
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A promotora de justiça, titular da Vara Infracional da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, Ana Carolina Garcia Costa, diz que o bullying é uma questão de aversão à diferença. Willian Lelis, pedagogo, analista do Ministério Público de Minas Gerais, concorda com Ana Carolina e diz que, às vezes, o autor da agressão não sabe a dimensão da dor que está causando ao outro, ficando apenas com o sentimento de prazer ao tomar aquela atitude. Já Alessandra Mendes Vasconcelos de Souza, bacharel em Serviço Social e oficial do Ministério Público de Minas Gerais, completa que o bullying não é apenas uma brincadeira, é algo mais, traz um sofrimento para a pessoa que é vítima daquela agressão. Ação judicial As famílias e as escolas também possuem sua parcela de responsabilidade. “A falta de limites e de diálogo com as pessoas que deveriam ser referência são também fatores motivadores de ato
infracional”, esclarece Willian, ressaltando que, hoje em dia, as pessoas estão sem espaço para poder conversar, dialogar, e que às vezes é preciso chegar perto dos adolescentes e ponderar com eles, explicar que aquelas atitudes não são legais, são erradas e estão ferindo o outro. Ana Carolina enfatiza que, quando o caso de bullying chega ao Judiciário, o que se vê é apenas a ponta do iceberg. “O que chega até a justiça são aquelas situações em que a escola já tomou algumas providências, mas não conseguiu resolver”, afirma a promotora. Ela acredita que as escolas estão um pouco perdidas. “Conversando com os educadores, sinto que eles estão sem saber o que fazer, até onde podem ir, quando devem mandar para o Judiciário”, explica, esclarecendo que a justiça pode ser acionada em casos de atos infracionais como ameaça, lesão corporal, vias de fato, crimes contra a honra, injúria e difamação, entre outros.
Lテコcas テ」ila
Ana Carolina Garcia Costa, Willian Lelis e Alessandra Mendes Vasconcelos de Souza, representantes do Ministテゥrio Pテコblico
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Em casos de ato infracional na escola, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determina que o Ministério Público ouça informalmente o adolescente que seria o autor do bullying e acaba ficando apenas a versão dele, deixando a questão muito rasa. “Para poder aprofundar, teríamos de instruir o processo ou encaminhar esses casos para a chamada justiça restaurativa”, explica Ana Carolina, dizendo que essa justiça está se iniciando em Belo Horizonte, mas já é bem forte em outros Estados. Justiça restaurativa Em 2012, o governo do Estado de Minas Gerais, o Ministério Público, o Judiciário, a Defensoria Pública, a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Estadual de Educação assinaram um Termo de Cooperação para iniciar a justiça restaurativa não só no Judiciário mineiro, mas também nas escolas. “Essa é uma forma de não levar o adolescente para o Judiciário”, explica Ana Carolina. Capacitado em justiça restaurativa, o analista do Ministério Público Willian Lelis ressalta que essa não é uma ideia nova e não deve ser colocada como uma panaceia, como algo que vai resolver todos os problemas do mundo. “É uma alternativa ao modelo judicial e tem como princípio o diálogo e o empoderamento das pessoas, ou seja, dar poder às pessoas que estão envolvidas em um ato para que elas resolvam, encontrem alternativas para restaurar o dano causado”, argumenta, contando que, na justiça restaurativa, quando se está diante de um caso de bullying, reúnem-se todos os envolvidos em um círculo restaurativo, inclusive as famílias, e nessa reunião todos têm a oportunidade de expor seus sentimentos. Revista Linha Direta
Nesse momento, discute-se também o que pode ser feito para restaurar o acontecido. “A partir disso, produzimos um plano de ação, que é escrito e validado, para que todos os envolvidos se comprometam. Posteriormente, temos o pós-círculo, que é quando se avalia se as medidas previstas no plano de ação foram efetivamente cumpridas”, explica Willian. Às vezes, em uma audiência do Judiciário, não há tempo suficiente para que todas as partes sejam ouvidas, e a justiça restaurativa é uma alternativa para esse tipo de situação. “Atualmente, a Vara da Infância e da Juventude de Belo Horizonte atende a cerca de 30 adolescentes/dia, e não seria possível ouvir todos os envolvidos em um único dia, já que cada círculo da justiça restaurativa dura em media 1h30”, conta o analista do Ministério Público, dizendo que, no caso do bullying e em algumas outras situações, a justiça restaurativa se aplica bem. Alessandra Mendes Vasconcelos de Souza, oficial do Ministério Público, também foi capacitada em justiça restaurativa e acredita que o ideal é que os círculos sejam desenvolvidos na escola, porque ali é possível chamar todos os envolvidos, a comunidade, os pais e os familiares e reuni-los diante do que aconteceu. “Os círculos restaurativos abrangem os envolvidos direta e indiretamente, podendo participar professores, diretores, cantineiros, ou seja, todos os envolvidos no conflito”, afirma Alessandra. Há no Senado um projeto de lei para criminalizar o bullying, tipificado como uma prática repetitiva de poder sobre o outro. Dessa forma, todos os atos caracterizados como bullying deveriam ser encaminhados para o Judiciário.
Ana Carolina, Willian e Alessandra concordam que não é isso que vai resolver a questão. “Às vezes, a escola encaminha o caso para o Judiciário, achando que vamos resolver a questão como em um passe de mágica, mas a gente não tem essa varinha de condão”, diz Ana Carolina, ressaltando que essa tentativa de criminalizar o bullying talvez seja equivocada, já que existem alternativas previstas em lei, como é o caso da justiça restaurativa, presente na Lei n. 12.594/2012, que é a chamada Lei do Sinase – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. A origem A justiça restaurativa foi inspirada nas tribos indígenas, no costume dos índios de se sentarem em roda para conversar sobre seus problemas. A Nova Zelândia, então, resgatou um pouco isso, e hoje, naquele país, a justiça restaurativa é a justiça predominante, é o modelo de justiça oficial. Nos Estados Unidos ela também é utilizada, e a ONU referenda esse modelo através de uma resolução de 2002. No Brasil, em 2005, o Ministério da Justiça resolveu apoiar três iniciativas-piloto de justiça restaurativa: em São Caetano do Sul/SP, Brasília/DF e Porto Alegre/RS. Em São Caetano do Sul, ela funciona mais no âmbito das escolas; em Brasília, mais no âmbito dos Juizados Especiais Criminais para delitos de menor potencial ofensivo cometidos por adultos; e em Porto Alegre, no âmbito do Judiciário também, mas na execução das medidas socioeducativas. Uma equipe do Ministério Público de Minas Gerais esteve em São Caetano do Sul e viu o exemplo mais próximo do que se pensa implementar em Minas, que é a apli-
cação da justiça restaurativa nas próprias escolas, inclusive com a capacitação dos próprios adolescentes, professores ou pessoas da comunidade. Segundo Willian Lelis, isso vem ao encontro da lógica de desafogar um pouco o Sistema Judiciário. “As pessoas têm buscado excessivamente a justiça para resolver suas demandas, e acreditamos no poder das próprias pessoas para resolver seus problemas. Muitas das situações que chegam ao Judiciário poderiam ser resolvidas por elas mesmas”, afirma o analista do Ministério Público. Ana Carolina reafirma que essa medida não exime a justiça do seu dever, mas acredita que, com opções mais saudáveis, as pessoas podem escolher melhor, e se elas ainda assim quiserem o mundo do crime, haverá a lei, a justiça, a cadeia, o centro de internação para punir. “Isso não vai acabar”, enfatiza a promotora, ressaltando, porém, que o Ministério Público tem a visão de não apenas prender o infrator, e sim de transformar a realidade social. A escola não precisa da demanda da justiça para realizar os círculos restaurativos, mas é importante que ela esteja capacitada. “O círculo restaurativo não funciona apenas a partir do momento em que se reúnem as pessoas”, explica Willian. “É preciso ter a presença de um facilitador capacitado para ‘controlar’ a fala, coordenar o momento. Além disso, há alguns passos do círculo restaurativo que precisam ser seguidos”, enfatiza o analista, dizendo que por isso é fundamental que as pessoas sejam capacitadas, mas não há necessidade de que sejam profissionais específicos, como psicólogos, pedagogos ou assistentes sociais. “Pode ser o próprio aluno, por exemplo”, aponta.
Benefícios da justiça restaurativa PARA A VÍTIMA:
• Participar diretamente da resolução do conflito que a atingiu; • Expressar seus sentimentos, bem como seu ponto de vista em relação ao conflito; • Relatar ao infrator e à comunidade o impacto que a infração teve na sua vida, tanto no âmbito material quanto no psicológico; • Receber reparação pelo dano sofrido, conforme seus interesses e expectativas; • Conhecer e perceber as motivações e circunstâncias que levaram o agente à prática do delito; • Ultrapassar receios e apaziguar eventuais sentimentos de raiva.
PARA O INFRATOR:
• Conscientizar-se de suas ações e de suas consequências sobre a vítima, a comunidade e sobre si mesmo; • Reparar a vítima, participando da solução do conflito; • Conscientizar-se e reconhecer a dimensão e o valor dos bens jurídicos oferecidos; • (Re)valorizar aquele que delinquiu a partir do momento em que reconhece sua capacidade de se responsabilizar, dando-lhe a oportunidade de participar da resolução do conflito e agir em conformidade com a lei; • Reduzir o tratamento discriminatório impingido pelo direito penal ao infrator, restabelecendo a dignidade humana e deixando de considerá-lo como “inimigo”.
PARA A COMUNIDADE:
• Produzir a transformação comunicativa, gerando relações com maior cunho de responsabilidade nas comunidades em que são implantadas, reduzindo, assim, os índices de violência; • Promover a integração daqueles envolvidos direta e indiretamente no conflito, possibilitando o exercício da cidadania; • Promover, também, a busca de interesses comuns, que favoreçam a convivência e previnam a criminalidade, em vez de estigmatizar e reforçar as diferenças entre os membros da comunidade/sociedade. Fonte: MPMG Jurídico
Revista Linha Direta
ações de cidadania
Carinho de mãe Atenção individualizada, educativa e afetiva às crianças que estão fora de seus lares
C
uidados maternos infantis básicos: atenção à saúde, nutrição, educação, lazer e cultura – essa é a rotina da Associação Lar do Nenen, a casa de acolhimento de Recife/PE, apresentada na última edição da Linha Direta, que está recebendo, pelo segundo ano consecutivo, o apoio do Criança Esperança, um projeto da Rede Globo em parceria com a UNESCO. Além dos cuidados básicos com as crianças, a Associação também promove um movimento de reintegração familiar e faz o acompanhamento dos processos judiciais e psicossociais das famílias. O Lar do Nenen existe há quase 35 anos e hoje é a única casa de acolhimento de Recife que recebe bebês de 0 a 3 anos e 11 meses. A instituição trabalha com projetos que oferecem atenção individualizada, educativa e afetiva às crianças, contemplando suas competências pessoais e familiares, de modo a favorecer a convivência familiar Revista Linha Direta
e comunitária e seu pleno desenvolvimento integral. “No início, éramos assistencialistas, mas com o tempo veio a profissionalização”, conta Inês Leitão de Lemos, suplente da Diretoria e a mais antiga voluntária da casa. Ela explica que, atualmente, a Associação desenvolve três projetos: Acolhimento institucional, Família e o direito da criança e Desenvolvimento institucional. Este último diz respeito ao desenvolvimento sustentável do Lar do Nenen, através do apoio de parceiros, doadores, pessoas físicas ou pessoas jurídicas. Dentro do projeto Família e o direito da criança, há o programa Lições de cidadania, em que aproximadamente 20 familiares participam de oficinas. “Esse trabalho serve para elevar a autoestima de cada um deles, principalmente das mães”, afirma Inês, dizendo que, geralmente, elas chegam muito inibidas, receosas, e depois vão se soltando. O objetivo com esse projeto é dar
assistência às famílias para que elas tenham condições de receber as crianças de volta. Augusta da Matta, presidente do Lar do Nenen, explica que, depois que a justiça toma conhecimento de que a criança está no Lar, ela procura os familiares e verifica se eles têm condições de ficar com o bebê. “Vamos supor que a mãe estava maltratando a criança. O juiz vai resolver se ela vai começar a visitar a criança ou não. Se ela vier visitar, nós começamos a trabalhar com ela, porque o problema não é a criança, e sim a família”, enfatiza Augusta, ressaltando que, ao fazer um trabalho com os parentes e regularizar a situação familiar, a criança pode voltar para casa, que é o mais importante. Há todo um acompanhamento especial durante o período em que a criança fica no Lar, e a família participa do programa. “São feitos relatórios, avaliações e visitas
Divulgação
extensa ou colocação em família substituta, por meio de adoção. Segundo a Lei n. 12.010/09, o tempo de permanência das crianças em casas de acolhida não deve ser superior a dois anos. Adoção
domiciliares sem prévio aviso”, conta Tuti Moury Fernandes, que foi presidente da Associação por mais de oito anos e, atualmente, é diretora financeira. Na audiência, o juiz lê os relatórios feitos pela casa, analisa os dados das técnicas do Lar e avalia se a criança pode ou não voltar para a guarda da família. “Não é apenas o pai ou a mãe que podem ser trabalhados no programa Lições de cidadania e receber o bebê de volta, pode ser a avó, a tia, ou seja, qualquer parente”, explica Tuti. A Associação tenta reorganizar a família para que a criança possa voltar para a sua casa. “Às vezes a gente não consegue”, lamenta Augusta, dizendo que, quando a família não tem condições de receber a criança, ela vai para adoção, e quem resolve tudo é o juizado. As crianças acolhidas pelo Lar do Nenen só podem sair da instituição por determinação judicial para retorno à família natural ou
A presidente da Associação Lar do Nenen conta que, atualmente, todas as crianças são adotadas. “Quando um casal quer adotar uma criança, ele procura a Vara da Infância, informa o interesse e passa por entrevistas com psicólogos. Se for considerado apto, seus dados vão para o cadastro nacional”, explica Augusta, lembrando que, antes, as pessoas iam aos abrigos e escolhiam uma ou outra criança. Hoje não se pode escolher. “Quando uma criança é liberada para adoção, um casal é chamado até a casa de acolhimento. Se ele optar por não adotar aquela criança, ele não pode escolher outra na mesma hora e tem de voltar para a fila”, conta. Quando três ou quatro casais são chamados para ver uma mesma criança e ela não é adotada, ela vai para a adoção internacional. Outra questão importante é que não se separam mais irmãos. Se forem três irmãos, por exemplo, os três têm de ser adotados e manter os laços afetivos. Houve um caso de adoção internacional no Lar do Nenen, em 2010. Era um grupo de quatro irmãos, um deles acolhido no Lar. Como existia vinculação afetiva entre eles, a Comissão Estadual e Judiciária de Adoção (Ceja) indicou duas famílias italianas que foram trabalhadas pelo Núcleo de Adoção e Estudo da Família (Naef) para que houvesse a manutenção dos vínculos afetivos entre os irmãos, que foram adotados em grupos de dois.
Depoimentos Eu trabalhei a vida toda em projetos sociais. Trabalhei na antiga Fundação Estadual do Bem-estar do Menor (Febem) e passei 30 anos na Fundação da Criança e do Adolescente (Funac). Eu venho todos os dias ao Lar do Nenen, de segunda a segunda, das 7h às 19h, e acho que trabalhar aqui é muito bom! Glades Augusto Boanora, voluntária Ser voluntário é dedicação, é amor, é compartilhamento. Sandra, coordenadora de voluntários Eu senti a necessidade de compartilhar carinho e ternura, e as crianças aqui são muito amáveis. Às vezes nós chegamos aqui mais carentes do que elas. Eu chego e elas já me abraçam, e isso faz um bem muito grande para a alma. O trabalho do Lar do Nenen é maravilhoso. Fátima Viana, voluntária O Lar do Nenen ocupa de 80% a 90% da minha vida. Quando eu não estou aqui, estou articulando, desenvolvendo trabalhos para que a gente possa apresentar nas feiras. Se eu estou em algum lugar de caráter social, se tem alguém com quem eu possa conversar sobre recursos, eu direciono. É viciante. Augusta da Matta, presidente Comecei como voluntária, ficando quatro horas em um dia da semana com as mães que tinham gravidez de alto risco. Eu tinha uma empresa, mas decidi deixá-la e ser voluntária porque sempre gostei muito de ajudar. Para mim, não há felicidade maior que procurar ajudar e conseguir. Tuti Moury Fernandes, diretora financeira Revista Linha Direta
espaço ibero-americano
espacio iberoamericano
La imprescindible cooperación para el el desarrollo desarrollo V
© Michael Brown/Photoxpress
Álvaro Marchesi*
Revista Linha Direta
ivimos tiempos de crisis, en los que aparecen, como indiscutibles, determinados ajustes dolorosos, que reducen las prestaciones sociales y el bienestar de buena parte de la sociedad. En esta difícil situación, no es extraño que surjan voces que se oponen a que los poderes públicos destinen recursos económicos a la ayuda y a la cooperación con otros países de menor desarrollo económico y social. El mensaje de un sector de la sociedad alemana en relación con los países del sur de Europa – que trabajen más y que gasten mejor – parece que se repite en nuestros países mediterráneos cuando pensamos en países más pobres que los nuestros. Aunque son visiones comprensibles, considero que hemos de razonar e intentar convencer sobre la opción contraria: en estos tiempos de crisis, y a pesar de las dificultades, hemos de seguir siendo solidarios, cada uno según sus posibilidades: el gobierno, las instituciones, las empresas y los ciudadanos. Hay tres tipos de razones que avalan este planteamiento. En primer lugar, aquellas relacionadas con la justicia y con la cohesión social. En este mundo globalizado e interdependiente, lo que sucede a aquellos países más lejanos no nos puede dejar indiferentes. Hemos de sentir compasión hacia ellos e intentar compensar con nuestro esfuerzo solidario las escasas oportunidades de partida que muchos de ellos tuvieron. Pero también hemos de ser conscientes de que sus problemas y sus retrasos no permanecerán alejados de nosotros, sino que nos interpelarán en repetidas ocasiones y acabarán por afectarnos.
A imprescindível cooperação para o desenvolvimento o desenvolvimento V
ivemos tempos de crise, nos quais aparecem, como indiscutíveis, alguns ajustes dolorosos, que reduzem os serviços sociais e o bem-estar de boa parte da sociedade. Nessa difícil situação, não é estranho que surjam vozes contrárias ao uso de recursos dos poderes públicos para a ajuda e cooperação com outros países de menor desenvolvimento econômico e social. A mensagem de um setor da sociedade alemã em relação aos países do sul da Europa – que trabalhem mais e que gastem melhor – parece que se repete em nossos países mediterrâneos quando pensamos em países mais pobres que os nossos. Embora sejam visões compreensíveis, temos de raciocinar e argumentar na direção contrária: nesses tempos de crise, e apesar das dificuldades, temos de continuar solidários, cada um segundo suas possibilidades: o governo, as instituições, as empresas e os cidadãos. Há três tipos de razões que abalam essa situação. Em primeiro lugar, aquelas relacionadas com a justiça e com a coesão social. Nesse mundo globalizado e interdependente, o que ocorre naqueles países mais longínquos não nos pode deixar indiferentes. Devemos sentir compaixão por eles e tentar compensar com nosso esforço solidário as escassas oportunidades de partida que muitos deles tiveram. Mas também precisamos ser conscientes de que seus problemas e seus atrasos não permanecerão distantes de nós e nos interpelarão em repetidas ocasiões, acabando por nos afetar. Revista Linha Direta
En segundo lugar, hay razones vinculadas con la educación de las futuras generaciones. La educación en valores solidarios es una exigencia para todas las escuelas y los maestros, pero también para el conjunto de la sociedad. En este campo, poco van a aprender nuestros alumnos en un entorno social en el que la preocupación por los otros no gozara de respeto ni de aliento. Los valores se aprenden a través del conocimiento y la reflexión, pero también, y principalmente, por el ejemplo, el desarrollo de la sensibilidad y la acción comprometida.
… en estos tiempos de crisis (…) hemos de seguir siendo solidarios… // ... nesses tempos de crise (...) temos de continuar solidários... Hay que reconocer y agradecer que nuestras escuelas, incluso en estos tiempos difíciles, manifiesten de forma mayoritaria un gran sentido de la solidaridad. Un buen ejemplo se ha manifestado hace pocas semanas, cuando la OEl, junto con numerosas fundaciones y empresas, presentó el proyecto Luces para Aprender, cuyo objetivo es llevar electricidad y conectividad a 62 mil escuelas iberoamericanas que aún no disponen de ellas. La respuesta de las comunidades educativas para participar de alguna manera en este proyecto ha sido admirable. Finalmente, hay que señalar razones institucionales para defender la importancia de la cooperación para el desarrollo. Hemos de recordar que las principales decisiones que afectan a la economía y al bienestar de los ciudadanos se adoptan en organismos y en foros internacionales. No podemos Revista Linha Direta
reclamar el apoyo de los demás si no lo manifestamos nosotros ante los retos mundiales, desde iniciativas de paz a las que acude nuestro Ejército hasta catástrofes humanas provocadas por guerras o por desastres naturales. Estas acciones solidarias exigen recursos económicos y sirven para ayudar a los países y a los pueblos, pero no lo olvidemos: también facilitan el reconocimiento de la presencia activa de España en el mundo. Estas tres razones tienen un valor y una fuerza especial cuando nos referimos a los países iberoamericanos. Formamos una misma comunidad, con una lengua y una cultura común; mantenemos estrechas relaciones entre los diferentes países, lo que nos hace sentirnos con una especial proximidad hacia sus ciudadanos; existen, además, muy amplios vínculos económicos, y mantenemos unas relaciones diplomáticas privilegiadas, que se concretan en relaciones bilaterales y multilaterales enormemente fecundas y que se manifiestan en las Conferencias de Ministros y en las Cumbres de Jefes de Estado y de Gobierno. Somos, junto con Portugal, los dos únicos países que nos sentimos y somos al mismo tiempo iberoamericanos y europeos, lo que nos ofrece una oportunidad inmejorable para favorecer la relación entre ambas las regiones del mundo.
Em segundo lugar, há razões vinculadas com a educação das futuras gerações. A educação em valores solidários é uma exigência para todas as escolas e professores, e também para o conjunto da sociedade. Nesse campo, pouco vão aprender nossos alunos em um entorno social no qual a preocupação pelos outros não gozará de respeito nem alento. Os valores se aprendem por meio do conhecimento e da reflexão, mas também, e principalmente, pelo exemplo, pelo desenvolvimento da sensibilidade e pela ação comprometida. Há que se reconhecer e agradecer que nossas escolas, inclusive nesses tempos difíceis, manifestem de forma majoritária grande senso de solidariedade. Um bom exemplo se manifestou há poucas semanas, quando a OEI, com numerosas fundações e empresas, apresentou o projeto Luzes para Aprender, cujo objetivo é levar eletricidade e conectividade a 62 mil escolas ibero-americanas que ainda não dispõem delas. A resposta das comunidades educativas para participar de alguma maneira desse projeto tem sido admirável.
La educación en valores solidarios es una exigencia… // A educação em valores solidários é uma exigência...
Finalmente, devem ser destacadas razões institucionais para defender a importância da cooperação para o desenvolvimento. Temos de lembrar que as principais decisões que afetam
a economia e o bem-estar dos cidadãos são tomadas em organismos e em foros internacionais. Não podemos pedir o apoio dos demais se nós não nos manifestamos perante os desafios mundiais, desde iniciativas de paz às quais acorre nosso Exército até catástrofes humanas provocadas por guerras ou desastres naturais. Essas ações solidárias exigem recursos econômicos e servem para ajudar os países e os povos, mas não esqueçamos: também facilitam o reconhecimento da presença ativa da Espanha no mundo. Essas três razões têm um valor e uma força especial quando nos referimos aos países ibero-americanos. Formamos uma mesma comunidade, com uma língua e uma cultura comuns; mantemos estreitas relações entre os diferentes países, o que nos faz sentir uma especial proximidade com seus cidadãos; existem, também, vínculos econômicos muito amplos, e mantemos relações diplomáticas privilegiadas, que se concretizam em relações bilaterais e multilaterais enormemente fecundas e que se manifestam nas Conferências de Ministros e nas Cúpulas de Chefes de Estado e de Governo. Somos, junto com Portugal, os dois únicos países que nos sentimos e somos ao mesmo tempo ibero-americanos e europeus, o que nos oferece uma excelente oportunidade para favorecer a relação entre ambas as regiões do mundo. A partir dessa perspectiva, não é fácil explicar por que nossa cooperação com os países ibero-americanos tem se reduzido de forma tão drástica este ano, embora se possa entender sem dificuldade que o foi em proporção similar à sofrida pelo resto dos Ministérios. Graças à ajuda espanhola para a cooperação em anos anteriores, a OEI tem podido alfabetizar e gaRevista Linha Direta
Desde esta perspectiva, no es fácil explicar por qué nuestra cooperación con los países iberoamericanos se ha reducido de forma tan drástica este año, aunque podría entenderse sin dificultad que lo hubiera sido en proporción similar a la sufrida por el resto de los Ministerios. Gracias a la ayuda española para la cooperación en años anteriores, la OEI ha podido alfabetizar y garantizar la educación básica a cientos de miles de jóvenes y de adultos; ha impulsado numerosas cooperativas de jóvenes emprendedores para lograr su inserción laboral; ha contribuido a mejorar la calidad de la enseñanza; y ha logrado, finalmente, con la colaboración y el esfuerzo de todos los países, acordar un proyecto común adaptado a la realidad y a la diversidad de cada uno de ellos: Metas Educativas 2021: La Educación Que Queremos para la Generación de los Bicentenarios. Un proyecto que está siendo una referencia y un estimulo para el compromiso colectivo y la identidad de los países iberoamericanos.
rantir educação básica a milhares de jovens e adultos; tem impulsionado numerosas cooperativas de jovens empreendedores para atingir sua inserção laboral; tem contribuído para melhorar a qualidade do ensino; e tem conseguido, finalmente, com a colaboração e o esforço de todos os países, chegar a um projeto comum adaptado à realidade e à diversidade de cada um deles: Metas Educativas 2021: A Educação Que Queremos para a Geração dos Bicentenários. Um projeto que está sendo uma referência e um estímulo para o compromisso coletivo e a identidade dos países ibero-americanos.
Este año, en el que Iberoamérica se reúne en Cádiz para conmemorar la primera Constitución española, que asumió compromisos sociales tan importantes como la extensión de la educación primaria a todos los pueblos de la Monarquía española, es un buen momento para el análisis y la reflexión sobre el futuro. Es importante, por el bien de los países iberoamericanos, pero también por el nuestro, que reforcemos los vínculos entre todos y que manifestemos nuestro reconocimiento y nuestro aprecio hacia una comunidad iberoamericana todavía en construcción. Ayudaría mucho a lograrlo si asumimos un compromiso de cooperación equilibrado y sostenible para los próximos años, que sitúe el recuerdo de los presupuestos para la cooperación en 2012 como un bache, tal vez ineludible, del que hemos sido capaces de salir entre todos y con el beneplácito de la mayoría de los ciudadanos españoles. Es una iniciativa justa y necesaria, que nos permitirá sentimos valiosos ante la comunidad iberoamericana y ante nosotros mismos.
Este ano, em que a Ibero-América se reúne em Cádis para comemorar a primeira Constituição espanhola, que assume compromissos sociais tão importantes como a extensão da educação primária a todos os povos da Monarquia espanhola, é um bom momento para a análise e a reflexão sobre o futuro. É importante, pelo bem dos países ibero-americanos, mas também pelo nosso, que reforcemos os vínculos entre todos e que manifestemos nosso reconhecimento e nosso apreço por uma comunidade ibero-americana ainda em construção. Para conseguir isso, ajudará muito se assumirmos um compromisso de cooperação equilibrado e sustentável para os próximos anos, que situe a lembrança dos orçamentos para a cooperação em 2012 como um obstáculo, talvez intransponível, do qual temos sido capazes de sair entre todos e com o consentimento da maioria dos cidadãos espanhóis. É uma iniciativa justa e necessária, que nos permitirá sentirmo-nos valiosos perante a comunidade ibero-americana e perante nós mesmos.
*Español, secretario general de la Organización de Estados Iberoamericanos (OEI), catedrático de Psicología Evolutiva y de Educación de la Universidad Complutense de Madrid
*Espanhol, secretário-geral da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), catedrático de Psicologia Evolutiva e de Educação na Universidade Complutense de Madri
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conhecimento
Inglês como língua
N
O ensino de inglês, como em muitas outras profissões e disciplinas, vem sempre acompanhado por várias siglas. Podemos, por exemplo, citar ESP (English for Specific Purposes – Inglês com Propósitos Específicos) para diferenciar do inglês geral. Podemos citar também o EAP (English for Academic Purposes – Inglês com Propósitos Acadêmicos) para descrever cursos e livros designados especificamente para ajudar pessoas que querem usar seu conhecimento em inglês no contexto acadêmico. Há ainda os vários exames de proficiência FCE (First Certificate in English), CAE (Certificate in Advanced English), CPE (Certificate in Proficiency English), e também os de testagem, como Toefl (Test of English as a Foreign Language) e Toeic (Test of English for International Communication). RevistaRevista 28 Linha Direta Linha Direta
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os dias de hoje, a importância do ensino da língua inglesa vai além de tão somente ensinar a língua em si: ela se molda na importância da cultura que está por detrás dela. Afinal, cultura é um modo de vida.
Por muitos anos, estudiosos e professores fizeram distinção entre EFL (English as a Foreign Language – Inglês como Língua Estrangeira) e ESL (English as a Second Language – Inglês como Segunda Língua). O EFL descreve situações em que os alunos estudam inglês para se comunicar com qualquer falante da língua, seja o aluno um turista ou um empresário que normalmente estuda inglês no seu próprio país, ao passo que ESL se aplica a alunos que estudam inglês em um país onde a língua inglesa é a oficial e necessitam dela para sobreviver e prosperar.
De alguns anos para cá, uma sigla passou a fazer parte do meio acadêmico do ensino da língua inglesa. Essa sigla é ELF (English as a Lingua Franca – Inglês como Língua Franca). Mas o que é língua franca? Eduardo Guimarães, em seu artigo Espaço de enunciação e política de línguas no Brasil, definiu língua franca como “aquela que é praticada por grupos de falantes de línguas maternas diferentes, e que são falantes dessa língua para o intercurso comum.” Ou seja, uma língua que é falada por pessoas cujas línguas maternas não sejam a língua de comunicação, com foco no comércio
franca?
franca no que concerne à diplomacia e aos negócios internacionais no Ocidente. Esse status da língua inglesa reforça a ideia de que devemos ter uma preocupação e uma atenção maior com essa língua na educação de nossos filhos e alunos.
internacional e em outras interações mais extensas. Na história da humanidade, temos vários exemplos de línguas francas, como a língua grega e a latina, no longínquo Império Romano, a língua portuguesa nos séculos XV e XVI, na África e Ásia etc. Já no século XVII, o francês serviu de língua franca, sendo a língua da diplomacia na Europa. Mais recentemente, nos séculos XIX e XX, o alemão foi a língua franca em grande parte da Europa. Atualmente, o inglês é a língua que detém o status de língua
Uma pesquisa realizada pela revista Você S.A. mostrou que, dentre os cinco principais critérios que as empresas usam para contratação de sua força de trabalho, o domínio do inglês está em segundo lugar, com 57%, perdendo apenas para o curso superior, com 97%. Ou seja, após formação acadêmica superior, o que mais importa para as grandes empresas é que o candidato seja fluente na língua inglesa. Uma tendência mundial no ensino de inglês, tendo em vista o status de língua franca, é o Clil (Content and Language Integrated Learning). De acordo com o Relatório Eurydice da União Europeia (Relatório Eurydice, 2006) sobre o ensino de inglês, a sigla Clil “é utilizada como termo genérico para descrever todo tipo de disposições nas quais uma segunda língua (uma língua estrangeira, regional
Renato Gurgel*
ou minoritária e/ou outra língua oficial nacional) é utilizada para ensinar determinadas matérias curriculares e não para o ensino da língua em si.” Logo, o foco passa a ser no conteúdo que é ensinado, usando a língua como ferramenta de comunicação. Segundo Jeremy Harmer, “Clil não é simplesmente o ensino de EFL ou Esol (English to Speakers of Other Languages – Inglês para Falantes de Outras Línguas). É ensinar a língua e um assunto acadêmico ao mesmo tempo.” Em outras palavras, é você aprender sobre física e aprender sobre a linguagem referente à física. Faz-se, então, necessária uma reflexão sobre como nós estamos encarando o ensino do inglês em nossas escolas. O ensino se perde no ensino da própria língua ou existe um objetivo de aprendizado mais amplo? É importante frisar que podemos sempre buscar melhorias para que nossos filhos e alunos estejam preparados para encarar os desafios de um mercado de trabalho cada vez mais exigente. *Consultor pedagógico do Sistema Ari de Sá www.portalsas.com.br
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RevistaRevista Linha Direta Linha Direta
tecnologia
Laís da Silva Collistet*
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Aprendizagem de idiomas
O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã. Leonardo da Vinci
D
esde a antiguidade, o homem sempre procurou desenvolver ferramentas que o auxiliassem na comunicação. Com o surgimento da world wide web (www), modificaram-se a forma de pensar e organizar a informação e o modo de pesquisar, planejar uma viagem ou de se comunicar com os outros. A sociedade pós-moderna está vivendo e presenciando, há alguns anos, um espaço diferente, inovador e Revista Linha Direta
de muita interação, colaboração e aprendizado proporcionado pelos recursos disponibilizados pela Web 2.0. Hoje, a palavra da moda é interatividade, a internet é considerada um grande marco da educação. Com ela, alunos podem aprender, desenvolver as próprias atividades sem mesmo sair de casa, tudo realizado online. O uso constante da internet e dos recursos disponíveis através da filosofia da Web 2.0 fez nascer muitas ferramentas de ensino-aprendizagem para que o usuário pudesse interagir com todo o ambiente computacional, participando ativamente de
todo o processo. Um exemplo é o Livemocha, que, com a estrutura de uma rede social e atividades disponibilizadas gratuitamente, permite que o usuário, em seu próprio ritmo e de acordo com a própria vontade, aprenda um novo idioma. Esse site, além de oferecer a assistência de profissionais capacitados, conta com a colaboração dos próprios usuários, com nativos guiando estudantes naquela solidariedade típica da Web 2.0. Nele, existem várias lições e tutoriais para cada idioma, e seus amigos podem vir a ser os seus tutores, ajudando-o em aspectos como pronúncia, escrita e gramática. Nas palavras de
Peter Wayner, colunista da versão online do jornal The New York Times: “Com sua habilidade sem precedentes de conectar as pessoas ao redor do mundo, a internet está mudando a forma como muitas pessoas aprendem línguas. Ainda não há como se evitar a difícil peregrinação por dicionários e gramáticas, mas os livros, fitas e mesmo CDs dos anos passados estão sendo substituídos por e-mail, vídeo chats e redes sociais.” Aliás, o momento atual do mercado de trabalho no Brasil não poderia ser mais propício a esse tipo de aprendizado. O crescimento econômico e os investimentos es-
trangeiros no País fazem com que o domínio de pelo menos um segundo idioma seja cada vez mais considerado uma exigência para quem pretende conseguir um bom emprego. Martha Gill, do blog Beyondbrics, do Financial Times, afirma que “o mercado brasileiro está atualmente dominado por companhias educacionais locais, mas estas se esforçam para contratar professores fluentes em inglês.” Para ocupar esse espaço, as ferramentas da Web 2.0 oportunizam o aprendizado, respondendo ao que tanto buscamos na educação, que é aprender a aprender, além da facilidade de serem “aprendidas”.
Concluindo, parece óbvio que a nova geração, essa que ainda está longe mesmo de se preocupar com empregos ou com a economia, só se beneficiará com tais tecnologias: seja por um senso de cooperação e coletividade, seja pelo contato valioso com culturas e modos de pensar distintos, seja pelas possibilidades quase infinitas de acesso ao conhecimento. A educação só tem a ganhar com a “conexão”. *Pedagoga, integrante da equipe pedagógica do Sistema Microkids Tecnologia Educacional www.microkids.com.br Revista Linha Direta
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tecnologia
Tecendo P histórias nas redes
erceber a criança como um ser em desenvolvimento nos tempos atuais é muito mais do que enxergá-la como parte integrante de um mundo globalizado, onde as relações, cada vez mais, são construídas e referenciadas virtualmente. A infância é permeada por acontecimentos, emoções e atitudes que demonstram a transparência e refletem as condutas do indivíduo em processo de formação. Processo este que, hoje, sofre influência significativa das mídias digitais e de recursos que possibilitam a navegação e atuação da criança na web, espaço virtual cujos registros e história são transmitidos, seja através da supervisão e apoio de um adulto, seja sem o controle dessas manifestações.
Cacilda Rodrigues* Revista Linha Direta
Pensar a criança nos espaços virtuais requer uma percepção mais
aguçada acerca de suas atitudes online, para que sejam compreendidos os significados e sentidos das suas ações. Diante dos vários estímulos disponibilizados, o mundo virtual exerce fascínio sobre a criança e a conduz a vivências que possibilitam a aprendizagem e o registro de informações, experiências e senti-
escuta músicas, interage, se comunica e participa efetivamente, buscando identificar-se com um mundo virtual onde as pessoas criam seus perfis e mergulham nos hiperlinks, nas histórias alheias e utilizam, com familiaridade, os recursos tecnológicos que possibilitam a comunicação e a linguagem da era digital.
... o mundo virtual exerce fascínio sobre a criança e a conduz a vivências... mentos através da sua interação na web. Ao adentrar os espaços da internet, intencionalmente ou não, a criança se vê imersa em um novo universo, onde se coloca como condutora de suas ações e aprendizagens, além de descobrir e utilizar novas linguagens que a levam a novos caminhos e desafios. A criança quer estar na web e deixar seus registros nela. Brinca com jogos, possui perfil nas redes sociais, assiste a vídeos,
Revista Linha Direta
No espaço virtual, a criança vivencia situações e emoções diversas, que tendem a produzir sentimentos variados, levando-a a sensações de realização, mas também às de angústia. Ela vai permeando caminhos onde registra suas vivências e, aos poucos, tece suas histórias. Imprime seus sentimentos e momentos através das mensagens e fotos postadas. Aprende e registra suas evoluções, ao utilizar o computador como instrumento de brincadeira e construção. Busca a brincadeira
e encontra a ludicidade em cada jogo, transformando os momentos de brincadeira virtual em momentos de aprendizagem real, mesmo sem perceber a riqueza de suas ações e construções. Em sua trajetória nos espaços virtuais, a criança, além de estabelecer relações e tecer sua história na rede, se reconhece como protagonista de sua ação, buscando compreender os caminhos percorridos e as várias facetas impostas pela web, em sua navegação online. Imprime a suas ações um mapa dos seus desejos, experiências e aprendizagens construídas ao longo de sua infância. Na rede, registra não apenas a sua história, mas também a história das pessoas que configuram sua vida e interferem em seu processo de formação. *Pedagoga, especialista em Psicopedagogia e Designer Instrucional para EaD, consultora Pedagógica da EducarBrasil www.educarbrasil.org.br
hipertexto
ENSINO
sem fronteiras O
Programa Ciência sem Fronteiras, desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC), dá oportunidade a estudantes brasileiros que cursam o ensino superior de fazer intercâmbio com todas as despesas básicas pagas. Os destinos são 30 países espalhados pelo mundo, de escolha do próprio intercambista. O requisito primordial é que o aluno esteja matriculado em cursos de áreas pré-determinadas pelo Programa. Segundo o professor Geraldo Nunes Sobrinho, coordenador-geral de Bolsas e Projetos do MEC, ao fazer a inscrição, os estudantes devem levar em conta suas habilidades na língua falada pelo país em que se cadastrarem, embora assuma que o Brasil ainda tem muito a evoluir no ensino de línguas estrangeiras. Em entrevista à Linha Direta, concedida durante o V Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular, em junho, em Natal/RN, o professor falou sobre o Ciência sem Fronteiras e seus resultados. Que expectativa nós podemos ter com relação ao Programa Ciência sem Fronteiras? A expectativa é bastante positiva porque o Ciência sem
Revista Linha Direta
Fronteiras está mexendo com o sistema educacional do País. Os estudantes que fizerem a graduação sanduíche, além de melhorar suas habilidades em línguas estrangeiras, passarão a ser muito mais críticos, inclusive com relação à educação que se faz aqui no Brasil – o que nós sabemos que precisa melhorar muito do ponto de vista curricular, número de horas dentro de salas de aula, entre outras coisas. Como foi feita a escolha pelas áreas que são atendidas pelo Ciência sem Fronteiras? Basicamente, a escolha está vinculada ao processo de desenvolvimento nacional. Temos grandes desafios, como o pré-sal, a infraestrutura nacional, a inovação; então a presidente Dilma Rousseff, com sua acessibilidade, por ter sido gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mapeou as áreas em que nós temos potencial, mas estamos defasados do ponto de vista de mão de obra e de processos inovadores. Assim, a escolha foi feita a partir da sensibilidade que a presidente tem em relação ao desenvolvimento nacional. O crédito é dela.
Qual é a maior barreira enfrentada pelo Programa? A maior barreira é a língua estrangeira. Nós temos de reformular toda a questão do ensino de línguas, desde a educação básica, porque somos um País monoglota. Definitivamente é a grande barreira, e o MEC já está tomando algumas providências, a Secretaria de Ensino Superior está tomando providências interessantes no sentido de superar momentaneamente essa questão. Mas ela precisa ser enfrentada do ponto de vista estrutural, desde a base. Tem algum exemplo dessas providências? O Sistema de Seleção Unificada (Sisu) está promovendo um encontro com várias instituições federais que trabalham com a área de línguas e com ensino a distância, tentando fazer um programa de “alavancagem” de candidatos para os editais do próximo ano. Os estudantes que estão participando desse Programa podem contribuir com a educação do Brasil de alguma maneira? Sem dúvida, esses estudantes serão vetores críticos de nossa educação. Não apenas pelo conhe-
Diógenes Almeida
Geraldo Nunes Sobrinho, coordenador-geral de Bolsas e Projetos do MEC
o ministro Mercadante tem feito diversas referências, mas acho que precisamos de algo mais aprofundado e disseminado no País inteiro. Uma campanha maior, mais ampla, mais extensa. O que o estudante deve fazer para participar? O aluno que está estudando alguma das áreas do Programa só precisa entrar no site do Ciência sem Fronteiras, verificar qual edital está em vigência e escolher o país para onde quer ir, considerando sua habilidade linguística. As despesas são todas custeadas pelo governo?
cimento que eles irão trazer do exterior, que é importante, mas também essa vertente crítica de se observarem sistemas diferentes. Isso será extremamente importante para a educação como um todo. O que podemos fazer para aumentar a participação dos estudantes das instituições particulares no Programa? Esse é um desafio. A participação das escolas particulares no Ciên-
cia sem Fronteiras não é proporcional aos números que elas têm de matrículas. Penso que a solução é uma divulgação intensiva junto às instituições, e talvez uma divulgação maior do Programa, especialmente por parte do governo. Há algo sendo feito nessa direção? Houve algumas inserções recentemente na mídia, a presidente está falando bastante desse Programa,
Absolutamente tudo. Passagem, seguro saúde, alimentação, inclusive ajuda para comprar notebook para as atividades nas instituições estrangeiras, pois hoje isso é muito exigido. E o aluno fica no exterior durante quanto tempo? Para o aluno de graduação, o Programa é de um ano. Se for doutorado sanduíche também é um ano, mas para o doutorado pleno são quatro anos. Um pós-doutor fica um ano ou até dois, no máximo. Revista Linha Direta
hipertexto
Empregabilidade O papel das universidades é formar profissionais para todos os campos
Andrea Naomi
H
á muitas deficiências no ensino superior brasileiro com as quais as universidades ainda não aprenderam a lidar. Para José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, o modo como o mercado de trabalho é visto, por exemplo, ainda é bastante antiquado porque os alunos são preparados para ser apenas trabalhadores assalariados, quando na verdade têm um vasto campo de atuação. Outra deficiência é relativa aos alunos, que, por diversas vezes, chegam despreparados nas competências básicas, como ler e fazer contas, essenciais em alguns cursos. Cabe então à instituição de ensino realizar ações acadêmicas para dar suporte a esses estudantes. A Universidade Positivo tem investido nessas ações, como conta José Pio na entrevista a seguir, concedida com exclusividade à Linha Direta durante o Geduc 2012. Como melhorar a empregabilidade dos estudantes?
José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo Revista Linha Direta
A palavra empregabilidade remete automaticamente à ideia de emprego assalariado, mas, na realidade, eu me refiro a ela no conceito dos economistas, que é o seguinte: um profissional pode ser um trabalhador assalariado, e pode estar no setor privado ou
no público. E as duas realidades são completamente diferentes. Um emprego no setor privado tem uma lógica, no público tem outra, inclusive a forma de entrada. Para um emprego público, é necessário apenas o preparo intelectual para ser aprovado em concurso. Essa é a primeira observação. A segunda é que uma parte muito grande será de trabalhadores autônomos: médicos, engenheiros, psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, advogados, que não vão procurar emprego em lugar nenhum. O que eles pretendem é, terminado o curso, ir trabalhar e buscar a renda como autônomos. Serão os profissionais liberais, e a lógica de ingresso e de sucesso é um pouco diferente. Um terceiro grupo irá empreender alguma coisa. Quanto maior o número dos que vão empreender, melhor. Muitos se tornarão pequenos empresários, microempresários, outros serão grandes empreendedores. E depois há um grupo menor de pessoas que virarão políticos, artistas etc. Então, a faculdade não pode usar a palavra empregabilidade pensando apenas em trabalhadores assalariados: ela tem de formar profissionais para todos esses campos. Essa é minha primeira ressalva. A segunda é em relação à estrutura demográfica brasileira. O Brasil tem hoje mais de 19 milhões de pessoas com 60 anos, daqui a dez anos esse número será 32 milhões e, em 2040, 57 milhões. Daqui a dez anos, teremos 6 milhões de crianças entre 5 e 14 anos a menos. Então, a própria composição dos trabalhadores do Brasil irá mudar brutalmente. Isso tem uma interferência. O terceiro ponto é que todos nós temos
virtudes e imperfeições, e o sistema educacional e o empresarial também têm. Quais seriam as ações acadêmicas que preparam para uma carreira de sucesso? Aí nós temos um problema. Temos de explicar que a educação básica compõe-se da educação infantil, do ensino fundamental e do médio. Educação básica, como o próprio nome diz, é uma educação de formação geral, igual para todos. A universidade, por definição, promove um ensino profissionalizante. Cada aluno vai para um curso. Isso significa que, ao entrar na universidade, a formação básica tinha de estar resolvida, mas não está. Antigamente, a pessoa entrava na universidade sabendo ler, escrever e contar. Ler não é apenas compreender palavras, é saber raciocínio, entender o código da língua, que é um código de comunicação. Contar é saber raciocínio lógico e pensamento analítico para poder, com essa formação básica, aprender uma profissão. O problema é que os estudantes chegam sem essa formação básica. Aí a universidade se depara com um problema. Por exemplo, em nossa Universidade, criamos algumas ações: na área de Exatas, criamos oficinas de cálculo e de raciocínio lógico. Na área de Humanas, sobretudo em Direito, temos oficinas de textos. Para todos, temos leitura, escrita e redação para suprir um pouco a deficiência da educação básica, a fim de que o aluno não vá embora no primeiro ano. Na área de Exatas, por exemplo, o índice de reprovação na primeira
série é muito grande. É fácil passar no vestibular hoje, exceto em Medicina. Aí o aluno vai fazer um curso de Engenharia, e não sabe fração simples. Que estratégias conduzem à preparação do aluno, tanto para ser empregado quanto para ser empreendedor? Uma coisa que se descobriu é que nada substitui o óbvio. Na universidade, a repetição é importante. Um piloto de avião, por exemplo, para chegar a pilotar um Boeing, precisa de 30 mil horas de voo; antes disso, fica voando em avião pequeno. Educação profissionalizante é isso. Nada substitui estudo, exercício, repetição, prática. O problema é que, às vezes, ficamos como teóricos da educação, tentando inventar processos revolucionários quando não fazemos bem feito o óbvio. O meu recado é até simplificador: faça bem feito o óbvio, e você já estará fazendo uma revolução. Vamos usar a matemática como exemplo. O professor passa todos os conhecimentos, todas as teorias e fórmulas, o aluno tem de repetir e fazer muitas vezes. Não tem outro jeito. Com jogador de futebol é assim, com jogador de tênis é assim, porque é a habilidade que você, pela repetição, vai incorporando. O conhecimento é mental. Imagine um cardiologista. Você confiaria em um para fazer a primeira cirurgia no seu peito? Você iria perguntar: “Quantas cirurgias você já fez?”. Se ele respondesse: “Já operei 500 corações”, aí, sim, você iria. A essência é a repetição, o resto é conversa. Revista Linha Direta