Da terra nascem os versos

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Antonio Fernando Mattza

Da terra nascem versos

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Copyright© 2019 by Antonio Fernando Mattza Direitos em Língua Portuguesa reservados ao autor através da EDITORA®COURIER BRASIL. Revisão: M. Nora Diagramação: A7 Produções Capa - Fotolia.com: Beautiful nature,green bokeh, Plant tree in neutral background Close-Up Of Fresh Green Plant,Young hand © artrachen CIP - Brasil. Catalogação-na-fonte

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO PUBLICAÇÃO SindicatoNA Nacional dos Editores de Livros, RJ. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M396d Mattza, Antonio Fernando Da terra nascem versos / Antonio Fernando Mattza. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Courier Brasil, 2019. 88 p. ; 21 cm.

ISBN 978-65-80180-01-1 1. Poesia brasileira. I. Título. 19-55706

CDD: 869.1 CDU: 82-1(81)

Vanessa Mafra Xavier Salgado - Bibliotecária - CRB-7/6644 11/03/2019 13/03/2019

EDITORA COURIER® BRASIL CNPJ 32.067.910/0001-88 - Insc. Estadual 83.581.948 Av. Marechal Floriano, 143 sala 805 - Centro 20080-005 - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21)2223-0030/ 2263-3141 E-mail: litteris@litteris.com.br www.litteris.com.br www.litteriseditora.com.br www.livrarialitteris.com.br

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A todos que amam a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos; Aos familiares e amigos que, pelos laços fraternais, clamam por um mundo melhor; Àqueles que não desistem das lides no campo, os trabalhadores rurais e os servidores da reforma agrária.

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Índice Apresentação De todas as direções Ditado bom Peão proseador Peão orgulhoso Paixão Fogo de palha Fogo de pinga Voo Há um tempo Retratos I Retratos II Clamores Dos “quando” Ser Aos velhos do campo Donzela do campo Moça do campo Procriação Valeu o amor Roça da alvorada Revolta Reforma agrária Poema agrário Aos cobiçosos Clamores à equidade Enquanto a Terra gira Diálogo Bobagens Ao léu Do Interior Soturno Terra E Trabalho Suor Da terra nascem versos Chasque Ceva o mate, amigo De mate a mate

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Papo de gaúcho I Papo de gaúcho II Quadrinhas gaúchas Quando a chalana passa De mim sou eu Festa na roça Roça festeira Experiência Símbolo No bar No boteco Por um porre Reflexões de um índio velho Todos morrem Unificados A voz de um índio Tempo de ser Xinguano Vem pra rede, Cunhã Moço branco Sol Vozes da Floresta Vem, homem branco Quadras I Quadras II Quadras III Meu Brasil Aos filhos da Pátria Da terra Insônia Cala-te, poeta Aos tiranos Vivam os amores Poeta Elegia Destravessia Agradecimento

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Apresentação Quem vive o dia a dia do campo, na graça do solo rico de sementes e na colheita sempre farta; quem vive próximo às florestas e escuta o ruflar dos tambores indígenas; quem conhece o solo quente do sertão e as agruras do sertanejo valente não abre mão de viver com intensidade as riquezas do Brasil e suas terras sempre férteis e maravilhosas, mesmo quando, em alguns lugares, esturricadas. E aqui não me refiro ao Brasil escravocrata, dos poderosos senhores feudais e dos negros escravizados, mas sim ao Brasil libertário, cujo povo corajoso, dos tempos mais brutos aos tempos atuais, sempre se impôs fazendo prevalecer, inclusive, os legados culturais típicos da nação. Conheci as lidas da reforma agrária e vivenciei experiências maravilhosas com trabalhadores rurais, índios e quilombolas. Absorvi linguajares diferentes, pouco usuais, e conquistei amizades sinceras e muito companheirismo na luta para ver florescer sementes. No campo, nas roças e nos solos sertanejos não há e nem pode haver esmorecimento, pois são batalhas constantes que exigem dedicação e trabalho. O solo tem que ser revolvido para os insumos e as rodas do café à moda tradicional, inclusive adoçado com melaço, são simples tarefas que animam e adicionam forças extras para esperar o dia dar seu acabamento com a lua e as estrelas ou, como às vezes acontece, com nuvens pesadas e chuvas torrenciais. É claro que também tem o momento de relaxar com as modas de viola... e a cachaça não pode faltar! Mas, antes do descanso e do lazer, os instrumentos agrícolas recebem os devidos cuidados para o dia seguinte. A terra é um pasto amplo e definitivo, pois é dela que se extraem os alimentos de todos

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em todos os lugares e é dela que germinam os ideais rurais, que são ricos justamente por causa da humildade dos casebres, da simplicidade dos cercados dos bichos, dos acordes que varam a noite em sintonia com o cocitrar dos grilos e o coaxar das rãs. No campo dos facões e das enxadas, das mãos calosas e da pele morena, há o ritmo da canção apaixonada e os refrões de uma Maria triste, porque seu Zé boiadeiro se perdeu pelas estradas da vida procurando aventuras. No campo, há também mocinhas ansiosas e doidas para namorar e há idosos de chapéu de palha e seus cachimbos rústicos prontos para aconselhar, há os rapazes garbosos que sonham em conhecer a cidade grande e há crianças que não podem fugir das obrigações escolares. A terra é uma realidade palpável que demanda ações, pois seus versos cantam e contam a história de heróis que vivem dela, de homens e mulheres rudes, que labutam com fervor pelo pão de cada dia e, como não poderia deixar de ser, pelo indispensável pão da leitura por um Brasil melhor para todos! O autor

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De todas as direções Do sul e do sudeste, do norte e do nordeste, ou mesmo do centro-oeste, o Brasil é o meu chão! Sou apenas um brasileiro de sangue bem misturado pelas artes do coração... •

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Ditado bom Trazer no náilon a prenda cujos dotes são faceiros, só com ouro, jóias e renda na disputa com vaqueiros. Mas, diz um velho ditado: quem compra amor leva chifre! Caubói, quando apaixonado, perde a calma e vive triste. •

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Peão proseador Sou peão de rodeio e cavalo doido não receio. Sou do laço e do arreio; na arena, não faço feio. Eu sou o rei do berrante e meu som é relevante. Cada toque traça o instante de cada ação no levante. •

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Peão orgulhoso Sou cria do centro-oeste e, se a moça me roda a saia, monto boi brabo no teste e a peonada não me vaia. Sou bom de papo e de pinga e, pelo brio que me valha, pras belas eu tenho ginga, pois não sou fogo de palha. •

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Paixão Paixão é lenha em fogo de palha, ardor que desdenha a brasa que espalha. Paixão é o mel do mais doce vinho. Mas também é fel, é flor com espinho. Paixão é ardente, fogaréu de emoção que chega de repente e se vai de roldão. •

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Fogo de palha Acendo o fogo na palha para tudo o que me valha. Mas minha intenção falha, pois só fumaça se espalha. O frio é como uma navalha que me corta e me malha, mas o tremor não me calha se espalho o monte de palha. Acendo o meu coração com as luzes da paixão, mas me queimo de aflição no frio de minha razão. Que me valha São João na fogueira desta emoção, pois a palha da ilusão desfaz a minha intenção. Acendo a luz, vejo o céu, a esperança é meu troféu. Eu quero o amor, não o fel, eu quero os beijos de mel. Mas o medo com o seu véu faz o amor ir para o léu. Que me valha um escarcéu, cadê coragem, fogaréu?! •

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Fogo de pinga Quando meu fogo se acende em cada pinga que trago, teu corpo nu ao meu se prende com loucura e bom agrado. E, se tonto fico doidão e a pinga me faz sacana, tu te entregas com devoção no calor de nossa cama. Por ti, o prazer não fenece nem no mato nem no motel. Nem a pinga me esmorece, e nem o conhaque de mel. •

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Voo Ruflam no espaço as asas da liberdade e o meu pensamento é o ar. Sou o tempo de um momento lindo... Sou o voo de um pássaro. •

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Há um tempo Há um tempo em que se estabelece um vazio. É o tempo em que um céu cinza se reflete no espelho da alma e emoldura a solidão das estações do estio. É o tempo em que o absoluto se esvazia e a mutabilidade dos sentimentos nos aprisiona num canto e se torna a incerteza do amanhã. •

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Retratos I I A vida é bela como uma janela aberta à paisagem de uma alma liberta. II Orvalho! Gota de luz da madrugada que faz brilhar multidões de flores apaixonadas. III Maria é nome de santa e toda Maria encanta aos poetas de plantão. Toda Maria é bendita e nenhum poeta abdica de tê-la no coração. IV O amor é simples como uma flor nascida no charco, pois sua força está em toda parte, até mesmo em ambientes inesperados. V O amor se firma na fé e nenhuma força da natureza poderá vergar a haste divina que o sustenta no coração do homem porque é único como Deus o É. • 18

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Retratos II I O riso da caveira é o signo da verdade na ironia derradeira da inclusão social, e abrange o ruralista e o trabalhador rural. II Quantas vezes, por ser eterno, Tive que desligar-me da matéria e partir... Partir para experimentar a leveza de existir. III Os pessimistas de plantão aguardam o mundo se autodestruir. Já os otimistas trabalham para a humanidade evoluir. IV Homem! Preste atenção. Não é a Terra teu santuário, teu templo, tua sustentação e teu equilíbrio? Não é ela que te lega alimentos materiais e espirituais na graça de plantar e colher as bem-aventuranças? Então, ó homem! Respeite a natureza do que te é emprestado nesta vida. V Eis uma verdade: A semente encerra em seu mistério de ser a grande força da terra no fruto que vai nascer. • 19

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Clamores Ah, seu doutor! Se vossa senhoria soubesse... A gente que ama a terra só quer um pedacinho de chão pra plantar e colher, dividir e somar. A gente só quer ordenhar umas vacas, adubar a terra, fazer uma roça, suar, trabalhar, comer, dormir, sonhar e orar à sobrevivência. A gente não quer luta armada, não somos marginais; a gente não quer conflitos, nem derramamento de sangue, a gente só quer enxada, foice, pá, cavadeira e carro de mão... A gente só quer um pedaço de chão... Ah, seu doutor! Se vossa senhoria soubesse... A gente que ama o luar do campo, que ama a viola noturna e os pirilampos, que ama o cantar dos galos de manhãzinha e a festa das galinhas... A gente que ama o sol a pino das áreas rurais e o cheiro do esterco; a gente que ama as colheitas, os frutos da terra e a semente; a gente que respeita as gentes urbanas, o pessoal da cidade, a gente só quer a mão cheia de milho... A gente só quer a certeza dos incluídos... • 20

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