Um bonde para Marte vinĂcius mĂĄrquez
“Sonho com guilhotinas. Nos dias de ressaca então... morro, inclusive de inveja quando penso nos decapitados”.
OUTRA Eis a
Vinícius Márquez é um escritor intenso e incansável. Sempre em produção, Vina é roteirista, romancista e poeta. Muito provável que neste exato momento, ele já esteja colocando sua criatividade e paixão a serviço de um próximo projeto, seja ele livro, televisão, cinema ou teatro. Seus textos são cultuados e causam sempre uma reação ao leitor. Com poder de atiçar profundamente os mais diversos sentidos, sua arte é capaz de tirar o leitor de sua zona de conforto, porém com a capacidade de fazê-lo com grande poder de entretenimento. Começou no teatro, e recebeu diversos prêmios como: APCA, SHARP, MAMBEMBE, COCA COLA. Estreou na TV Globo a convite de Miguel Falabella em Toma lá da cá. Colaborou em Guerra e Paz de Carlos Lombardi, O Divã com Marcelo Saback, de José Alvarenga Junior, As Brasileiras de Daniel Filho e Boogie Oogie, novela de Rui Vilhena. Como ator participou de várias novelas na televisão e peças de teatro e musicais. Sua paixão pela literatura o levou a escrever o romance, O amor em 79:05, aplaudido pela classe artística, onde seus textos servem de referência em várias escolas de teatro e cinema. Na mesma linha lançou Segundos Depois no fim de 2014. Em 2013 fez sua primeira incursão na literatura fantástica, com o elogiado Os Arqueiros do Rio Vermelho.
nde para Marte vinícius márquez
Em mais um lançamento da AB Books, Vinícius Márquez retorna em Um bonde para Marte. Para deleite dos leitores, o autor se embrenha no mesmo estilo que o consagrou na cultuada obra Amor em 79:05, livro que ganhou uma aura “cult”, lançado no início dos anos 2000. é uma coisa. Um bonde paraEscrever Marte é a sequência inequí-Mostr voca e natural de Segundos publicadoseem E por Depois, que escrever não fo 2014. O autor segue Eabordando temas profundos aí que eu falho. que permeiam diariamente o cotidiano de todos, tanto de forma individual como coletiva. Inspirado, Só o grande silêncio, aquele Vinícius Márquez consegue discorrer e divagar sobre amor, sexo, religião, raiva, indiferença, obesidade, entre outros assuntos. O faz com profundidade, originalidade e leveza. Mesmo que em muitas das vezes não faça uso de palavras amenas ou de “bom tom”. Com seu estilo próprio, sempre despreocupado com formas e maneirismos, o autor transmite em seu texto, através de contos, crônicas e poemas, uma absoluta sinceridade, em que revela sua personalidade forte, carismática e, principalmente, apaixonada. Como seu dito antecessor, Um bonde para Marte é um livro para ficar na cabeceira ou no bar e ser consultado periodicamente. Trata-se de uma obra que não educa, não traz revelações revolucionárias, muito menos fórmulas mágicas, nem é politicamente correto. Um bonde para Marte é uma contundente celebração do ISBN: caos.978-85-66464726
“Começar a amar alguém 788566 464726 através da carne 9acontece, é óbvio, mas dura um orgasmo. O amor sobrevive a mais alguns”.
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Copyright © 2015 by Vinicius Márquez Copyright desta edição © 2015 by Livros Ilimitados / AB Books O selo editorial AB Books é parte integrante do grupo Another Hot Brand with an American Name. A publicação da obra Segundos Depois é fruto da parceria entre Editora Livros Ilimitados e Another Hot Brand with an American Name. Conselho Editorial: LIVROS ILIMITADOS Bernardo Costa John Lee Murray Another Hot Brand with an American Name Rick Yates ISBN: 978-85-66464726 Projeto gráfico e diagramação: John Lee Murray Ilustrações: Eduardo Filipe Direitos desta edição reservados à Livros Ilimitados Editora e Assessoria LTDA. Rua República do Líbano n.º 61, sala 902 – Centro Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20061-030 contato@livrosilimitados.com.br www.livrosilimitados.com
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Prefácio Não é exagero algum dizer que a obra de Vinícius Márquez, do Vina, foi umas das mais arrebatadoras que esbarrei na vida. O que era inominável até então surgiu com potência, caos, cores e clarividência. Algo que só os poetas loucos ou deus, seja lá qual for o seu, sabem fazer. Me reconheci tanto em seus escritos, que a sensação foi de perda completa de identidade (…and I felt fine). O fato de existir alguém que expunha impressões do planeta da forma “viniciana” me confortou (e me tirou do eixo!) e acredito piamente que essas palavras, de tão pessoais, são universais… Como uma música perfeitamente pop. O visceralismo, o fogo que queima entre as palavras, o tesão, o fluxo de pensamento dos seus textos assustam e acertam no alvo-coração de qualquer um que não tenha desistido da vida, de amar e de se sentir em busca nesse mundo violento. É simplesmente impossível parar no primeiro gole de Um bonde para Marte e, caso você escolha mergulhar nesse copo, saiba que será profundo. Vina escreve como um anjo que ora por ser maldito, ora bendito e frequentemente ambos. Ele fala de tudo que importa: deus (es), amor (es) e humanos. Alguns dizem que quem fala muito de morte quer encontrá-la. Em Um bonde é o contrário. Ela aparece como uma pulsão de vida de abalar cidades ou galáxias inteiras. Esse livro fala, sobretudo (e sobre tudo), da importância do amor nessa curta existência de todos nós. Quem busca viver de verdade sofre e se diverte mais do que a média. Escritores, por escopo de trabalho, precisam observar e para isso buscam isenção, retiros de toda ordem e a tal visão distanciada. É nítido que Vinícius não é desses e vive o
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que escreve mesmo sabendo que a reclusão é etapa importante da sua criação. No final, ele sabe que o que vale mesmo é amar e ser amado, mesmo que fiquemos sempre só na tentativa e em desencontro com os outros e/ou com nós mesmos. Essa coisa de não desistir de rir de tudo faz do viver algo mágico. Vina consegue fazer isso vaticinando a hipocrisia de toda e qualquer relação humana e deixando TUDO divertido. A mensagem é: devemos sempre gargalhar no fim! Um bonde para Marte é divinamente humano e nos faz crer que o amor é sim mais forte do que a miséria mental dos infelizes. Não sei, mas algo sempre me disse que a obra de Vinícius Márquez seria eterna. Com esse livro, tenho certeza. Embarque no bonde e deleite-se. Rick Yates
Ator, compositor e profissional de marketing
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O para sempre nosso de cada dia
Esses dias – cada um do seu jeitinho – que passam, sendo eu, em cada um deles, uma simples ilusão de ser... Às vezes dependendo do que vi, outras do que estou lendo... Um assassino, um ladrão, um amante desses de pular janelas, um terrorista, um doce... um escritor. Nada além. Sendo todos e nenhum. Deixando para saber, no dia seguinte, o que consigo ser. Sem concretizar nada, além da melancólica imaginação. Tijolo por tijolo dela. Grande ser esse que viro. Tão palpável ou plausível quanto o vento... sua indiferença e inapelável descaso. E o sol me soa azul – do mesmo jeito que ele amarela quando morre alguém que a gente ama – sempre alheio ao que se passa no único planeta que ele considerou a hipótese que houvesse vida.
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Ego É claro que eu sou muito maior que todo mundo. E mil vezes menor do que qualquer pessoa que realmente valha à pena. Quando eu falo de mundo leia-se gente – sem pelos, pena, escamas... nada parecido com isso.
Degola O que eu quero dizer... Eu sou essa mulher, esse sujeito. Eu tenho um Deus. Pode ser Alá, Buda... preciso de mais um: Vishnu. Vish! Nu? Como nos é irresistível um trocadilho – todos infames. A realidade é que Deus não tem nome – e que talvez nem seja real. Eu sou um condenado de carne e osso, obrigado a conviver com seres de carne e osso e pouquíssima imaginação – e quase nada de transcendência.
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Odeio tudo que li. Odeio tudo que escreveram e escrevi. Abomino o ego de quem escreve; não me encanta viver entre os meus parecidos. E o que resta para quem foi muito além de si mesmo? Pouco... além da repulsa. Ainda espero surpresas, caminhos... ainda espero alguém. Embora me recuse a ser tão delirante. Só tem uma palavra que resumiria tudo, além de alguma esperança: asco. Obs – Perdão... não me lembro se ainda estava com a cabeça pregada no pescoço quando escrevi isso. Sonho com guilhotinas. Nos dias de ressaca então... morro, inclusive de inveja quando penso nos decapitados.
Pregação Primeira coisa saudável a se fazer: fugir do corpo a corpo com as pessoas. Por mais que você se suponha apto. Você é quebradiço, não pode encarar uma manada de búfalos. Embora nada seja mais bizarro que a raça humana, porque ela fala. A natureza não te choca, porque não engana: é direta, honesta; com toda sua selvageria seletiva (algo a ver com aquele “pela-saco” do Darwin). Já gente... é só checar a história – bárbara... insana, sanguinária, troglodita.
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A civilização é o mais doloroso e constrangedor equívoco. A única saída para ela, e talvez o único objetivo que considero relevante é conquistar o espaço. O destino dos homens (e mulheres, naturalmente) é sair pelo o universo afora. Essa questão: “existe ou não existe ET?” é idiota. Claro que eles existem... e somos nós mesmos. Ou saímos atrás das estrelas ou nos exterminamos por aqui mesmo. Só existem essas duas hipóteses. Portanto povos, e suas “bandeirolas”... unam-se... e vazem em quanto é tempo.
Hierarquia Quando se pensa em hierarquia então... que existe uma figura no topo do mundo e outro no fundo do poço... concluo: o mais importante, por mim e por deus – esse, nesse instante, muito abaixo de mim por não ter que lidar com o que eu tenho – é jurar aos céus, e infernos, que nunca mais vou sofrer por palavras e alegrias. E desejo, de coração, que todos esses zumbis que me cercam, falam e me perturbam, se fodam – não estou desejando mal a ninguém, até onde eu sei as pessoas vivem com esse objetivo.
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Deus – again and forever Sim, Deus sempre. Deus para presidente. Deus para as coroas. O maior marqueteiro de todos os tempos. Todo mundo tem um Deus. Salve os ateus – esses corajosos. Porque hoje em dia todos querem mídia, são capazes de matar a família por ela e, esses, principalmente, são os mais crentes. Jogadores de futebol (invariavelmente apontam para cima quando marcam um gol), sertanejos, pops baianos, sulistas, paraenses, aprendam a lição do seu grande mestre: não aparecer, não cantar, não se manifestar, é que dá o maior ibope. Deus nunca perdeu o poder, tampouco a audiência... pelo contrário, sempre foi o mais famoso da lista, e, no entanto, ninguém nunca o viu. Alguns alucinados dizem que o ouviram... daí os livros sagrados. Aquela bobajada folclórica. Obs: ainda tenho a intenção de saber que tipo de droga tomavam milênios atrás, ou se as motivações para ouvir vozes eram meramente políticas ou psíquicas. Ou se alguém disser que ouve vozes, hoje em dia, vai ser medicado como um esquizofrênico. Joana, a dark, por exemplo, iria tomar tanto remédio, que acabaria se tornando uma dócil domesticada. Não há Deus nenhum que queira mal ao que existe, senão simplesmente não haveria o que há. Deus é a vida, porque ela o inventa. Resumo: o único Deus que existe é o que ama, o que abraça, o que quer. Interprete isso como quiser.
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Deus é aquele que aposta na alegria dos vivos. E o resto são dejetos, consequência do alimento de quem vem da vontade esganada de sobreviver. Adeus.
Palavras repetidas Sim, uso também, Renata. E o que ainda vale a pena viver? A pureza. Só. De qualquer um. De qualquer sexo entre humanos; porque qualquer animal, ainda que predador, violento e voraz, é assim feito puro, por natureza. Cheguei naquele ponto que é impossível me explicar, traduzir... e mais raro ainda, além do possível, alguém que entenda isso sem milhões de extenuantes e massacrantes palavras.
O que resta Agora, que tudo naufragou, vejo barcos, ilhas e braços... e nem me interessariam nadadeiras. Uma tristeza profunda me acompanha, como minha sombra, coitada; que nada mais faz do que me anunciar – ou precaver – que meu corpo ainda existe.
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Não sei mais como me dizer, mas admito, simplesmente, que tenho suportado isso. Meu medo é tamanho que só ser corajoso me faz carregar mais alguns dias nas costas. Se me perguntarem que coragem é essa, afirmo com outra questão: e o que nos resta, senão ir em frente? Escrever, e depois jogar tudo no fogo. E lembrar seu nome, quando nesse instante, repassando o escrito não sei quando, noto que era comum... absolutamente corriqueiro – e o seu sobrenome, irrelevante. Claro que você jamais me bastaria. Foi só aquele coelho de corrida de cachorro, ou aquela cenoura em corrida de coelho, que nunca são alcançados... apenas te fazem correr por aí, para abocanhar o nada.
Orgasmo Digamos assim: a alma pode ser imortal – embora existam controvérsias. A carne não, é nua e crua: acaba. Então amar alguém carnalmente não é amar; porque ninguém ama vislumbrando um fim – só os que amam, além de tudo, sofrer. Infinito enquanto dure? É melhor chamar essa tolice de narcisismo.
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Começar a amar alguém através da carne acontece, é óbvio, mas dura um orgasmo. O amor sobrevive a mais alguns.
Nitidamente Vai nascer daqui a pouco. Não quero ver, não vou esperar, mas vai ser lindo. Revelando a tudo e todos, o dia. Ele vem de sol sem calor. Adoro isso. Os pássaros também; dão parafusos de alegria. Lá vem o dia. Pelo barulho dos carros, vejo que inventaram uma coisa diabólica: a segunda feira. Como mudar isso, equilibrar; sugiro: trabalho de terça à sexta-feira. Quatro dias úteis contra três mais úteis ainda – útil nessa vida é vagar por aí e tentar descobrir alguma coisa sobre si mesmo. Seria o mais justo. Antigamente as segundas eram dias como qualquer outro: vou levantar, matar um veado, pegar um peixe, comer e dormir à tarde – inclusive o melhor sono é dentro dela; porque a gente sonha um monte... E recorda.
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Casamento Detesto. Não o ato em si, mas as roupas. Todos fantasiados sabe-se lá de que. Se não é para se fantasiar de bem sucedido, ostentar gravatas (ternos alugados) vestidos indizíveis (emprestados como jóias), é melhor se casar civilizadamente – só no civil. Porque nesse quesito alegoria, acho o carnaval mais interessante... o carnaval e, porque não dizer, essas absurdas entregas de prêmios. Não é interessante... mostrar a um mundo onde apenas 1% tem uma vida decente, com direito a comida, teto e saneamento básico... que existem seres superiores? Paradoxalmente, a maioria dessas pessoas enfeitadas estão envolvidas com algum tipo de ONG e projetos sociais. Coisas do tipo: olha só, gentalha... eu me visto assim, moro assado – com piscina em todos os andares da minha humilde casinha – mas não esqueço que vocês existem. Daqui a pouco eu dou um pulo aí, na comunidade de vocês, para fazer umas fotinhas. Somos boa gente, creiam... e às vezes, até, gente boa.
O velhode novo Eu fico besta olhando seu jeito, olhando sua bunda que escapa em panos sutis e vazantes. Olhos são meramente criativos. E fico louco. A impressão que tenho é que babo. E penso que você é só aquilo... mais um corpo; mais um nada entre galáxias.
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Porque é tão humano, tão louro, tão frágil, tão bípede, que isso me encanta mais do que o mundo afora. Daí me lembro (olha que memória) que sou gente... tão frágil como você, e me cai essa idéia de tudo, de nada, de prosaicamente gente.
Dissimulation Tudo o que te falo é importante. Me preocupo com o que eu te falo; porque quero que seja relevante. Ou pelo menos não quero que pareça bobo o que eu sinto por você. Porque você me deixa meio abestalhado mesmo, e o que sinto por você me faz querer dizer a coisa perfeita. Sabe quando ficamos repassando na cabeça infinitamente o mesmo diálogo, para verificar se houve falhas? E se eu te perguntasse como foram, exatamente, as palavras? Cada um diria uma coisa... ainda mais você, que não é um chato de escritor nem nada. Certo seria eu dizer a verdade, dois pontos: estou apaixonado, e te amo. Só que a essas alturas dizer isso pode parecer que estamos criando um problema futuro... algum tipo de psicopatia. E se você tivesse sentindo o mesmo? Aí tenho que esperar. E enquanto espero você dizer que me ama, fico quieto. Não quero te assustar. Não quero te preocupar. Mais um lado meu que desenvolvi, a duras penas, que me fez dizer logo que te amava.
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E assim fui embora com outra. Como se nada do que eu disse fosse verdade... como um farsante. O que eu quis dizer com esse “te amo”? Sei lá... podia ser só na hora... Se bem que escrevi isso aqui meses depois. Não quero mais abrir mão de que isso seja bom, de que seja leve... como essas aves que nos matam de inveja quando voltam para casa num lindo por de sol. Fico lá na praia, invejosamente perplexo e reflexo. Aves juntas, livres, felizes (imagino), vivas, em bando, em penas, lúcidas, pré-históricas, divinas, etc.
Ligações soltas em
domingos chuvosos
Eu estava aqui, escrevendo outras coisas, que não envolvem necessariamente meus pratos preferidos... romances, amores e paixões, mas não adianta: me ligaram. Uma amiga – um pouco mais que isso – está péssima, porque brigou com a namorada. Quem me ligou foi outra irmã, em comum. Somos um mosteiro (antes fossemos). Ninguém me tira da cabeça de que essa gente, reclusa, é definitivamente alegre. Deuses, por incrível que pareça, são mais fieis. Bom... a que está péssima, aos prantos, falando entre ranhos e soluços – provavelmente com aquela caixinha clássica de lencinhos à mão (serve papel higiênico) – sabe tudo,
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mas está completamente obcecada, logo, fica sem saber picas, louca, desorientada... Ou, sem as tábuas necessárias para sair do atoleiro. A gente sabe que não pode dar certo gostar de alguém a ponto daquela pessoa ser TUDO na vida. Tipo “o ar que eu respiro”. Em tempos poluídos? Jamais! Relação é para ser dividida. Você tem seu mundinho para cá e o outro tem seu mundo para lá... de preferência bem para lá; e, daí, saudavelmente, dividiremos coisas. Tenho razoável medo desses desequilíbrios passionais e da quantidade de crimes em torno deles. O grande lance é você conseguir, se não ser alegrinho, pelo menos ter uma certa tranqüilidade... para tocar o seu trem sozinho. É um exercício como qualquer outro... fundamental para se estar razoavelmente aberto às relações menos complexas. Agora vai explicar isso para quem está num pântano e não é cobra. Nesse caso você tem ralas opções. Uma seria sofrer logo tudo de uma vez e esquecer. Mas geralmente o ser dependente prefere doses homeopáticas de dor. O mais complicado, para nós, meros irmãos, é não poder fazer nada. Porque nessas coisas do coração cada um que tem que lamber a si mesmo. O que podemos, fazemos: ouvir, dar palpites... pequenas verdades que a pessoa não está com o menor disposição para ouvir, mas... A relação das duas não é boa; nunca foi. Não é segura, muito menos pacífica. É viciada, forte, longa e, ao que parece, infindável. Eu tinha, como todos, a opção de ficar pulando eternamente de um amor para curar outro. Preferi ser mais ousado: me tentar. Confesso que, no meu caso, contrariando dúzias e mais dúzias de poetas, estou melhor assim.
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Que os novos amores tenham o seu lugar no lado esquerdo do peito, e que deixem no lado direito, e o que resta do mundo, em paz.
Madre tereza Até Madre Tereza, Gandhi, esses santos, foram dura e severamente criticados. Com Jesus então... passaram de todos os limites. Sim, esse mesmo, aquele que só queria que as pessoas se amassem. Que humanidade triste. Então, não sou mais o perfeitinho. Nunca fui. Só que estava me danando tentando. Agora, a mais nova crítica dos tabloides todos é porque resolvi amar vários. Variados e ao mesmo tempo. É para ver se, somando a essa cambada consigo que dê “1”. Isso é um retardamento sem fim. É possível que eu volte a gostar de um só, e ter treze filhos... já que sou esperma e não óvulo. Agora você, eu estou a fim. Quero mas não vou correr atrás... nem dois palmos: você anda um e eu outro. Não é vaidade. Se você achar que é, caguei e andei mais um pouco. Só por achar que é só assim que a coisa toda tem alguma chance de funcionar.
OUTRA Eis a questão Escrever é uma coisa. Mostrar é outra. E por que escrever se não for para sair exibindo? E aí que eu falho. Só o grande silêncio, aquele que grita em nós, é verdadeiro.
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