Conto

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Roma – 2010 Scarllet definitivamente estava tendo um dia ruim. Ela trabalhou por meses sem tirar nenhuma folga para que pudesse se ausentar da central de caçadores por sete dias seguidos, o que foi totalmente uma tortura já que depois de tantas horas sem dormir sua luta sem fim se tornou um total fracasso. E quando fazia apenas uma hora desde que tinha chegado no seu pequeno apartamento, seu chefe a recrutou para que voltasse a central. Agora, Scarllet estava parada em frente do caçador que poderia até mesmo chamar de mestre por tudo que a ensinou fazer, mas sua vontade era apenas de jogá-lo pela janela atrás dele após sacudilo muito. Nessa uma hora que aproveitou a liberdade, ela nem ao menos teve tempo de mudar de roupa ou tomar um banho. Seu cabelo negro e comprido estava preso em um coque perfeito, onde nenhum fio escapava e se tornava rebelde. Ela vestia sua calças de exercito larga que eram presas por seus coturnos e uma blusa verde escura que era extremamente apertada para uma vestimenta de soldado em quanto permanecia em uma posição imóvel, seus braços para trás, esperando que seu chefe passasse a falar antes que ela o chutasse. Mas esse não era o problema, na verdade Scarllet nunca se incomodou do quanto sua blusa poderia ser agarrada até que um estranho homem de cabelos da cor chocolate que eram um pouco longos a ponto de formarem um penteado perfeito quando jogado para trás passou a olhá-la de uma maneira que não havia nenhuma curiosidade. Tirando os olhos azuis claros que lembravam o mar, ela não havia gostado nada nele. E como esse estranho não se vestia como alguém que poderia ser mais importante que seu chefe, ela o encarou com a melhor carranca que uma mulher poderia fazer após ter sido chamada para trabalho quando deveria ter ficado em sua casa por sete dias seguidos. Sim, esse estranho era o problema do local, ela ficaria feliz se seu trabalho fosse apenas executá-lo. — Scarlett,— Ela voltou a olhar para seu chefe, mas antes que ela o fizesse, aquele estranho sorriu descaradamente, como se soubesse exatamente o que ela estava pensando. Se ele tivesse esse poder, ela estava feliz por isso.— Eu sei que você estava se ausentando pelos próximos dias do seu trabalho aqui na central...— — Então por que me chamou aqui?— Scarllet perguntou sem paciência, antes mesmo que o chefe terminasse de falar. — Afiada.— O estranho disse como se estivesse a desafiando, isso apenas irritou seu instinto assassino.— Eu gostei.— Scarllet esperou que seu chefe o mandasse calar a boca e respeitar sua soldado, mas tudo que aquele velho fez foi continuar em silencio em quanto seus olhos escuros se prendiam aos dela.— Você é uma das minhas melhores caçadoras e eu preciso de seus serviços.— Continuou como se não tivesse sido interrompido em nenhum momento. Esse dom em ignorar o que acontecia em sua volta sempre a fez desejar a morte dele, mas nesse exato momento, Scarllet desejava uma lenta e muito dolorosa morte por não ter mandando aquele homem logo atras dele calar a boca. Esse comportamento, apesar das roupas simples que o estranho usava, jeans e uma camiseta de algodão, mostrou que ele não era uma simples pessoa que deveria ser executado ou simplesmente


alguém que apenas precisava dos serviços da central. Caso contrario, seu chefe jamais teria a chamado, mesmo sabendo que estava se ausentando por alguns dias. — Estou ouvindo.— Scarllet disse, permitindo que a frieza assumisse todo seu corpo e agisse como uma verdadeira soldado que se tornou caçadora, que fez promessas de que seu trabalho viria em primeiro lugar, não sua vida. — Este homem requer seus trabalhos, ele se chama...— — Don.— O estranho cortou meu chefe e novamente ele se manteve calado.— Você pode me chamar de Don, Scar.— — Meu nome é Scarllet, não Scar.— Ela falou como se não me importasse, o mais seco quanto podia, mas a realidade era que esse tal de Don estava me matando por dentro com tanta fúria que estava causando. Don sorriu, e seu sorriso era ainda mais irritante quanto ele. Afinal, apenas uma pessoa insuportável para sorrir tão desavergonhadamente depois de ter levado um lindo chute no estomago. Esse estranho que acabou com suas folgas, parecia não se importar com nada. Seus olhos claros faziam o trabalho perfeito de dizer isso. — Don,— O velho voltou a falar, a atenção de Scarllet voltando para ele novamente.— está procurando pelos sequestradores de sua filha. Apesar dela ter sido recuperada e estar a salva em sua casa, os vampiros que fizeram isso ainda estão a solta.— — Eu quero todos mortos.— Don falou sem piedade alguma e fez com que Scarllet arqueasse uma sobrancelha. — Isso é um trabalho para o rei dos vampiros decidir, não você.— — Você já deve saber que o rei dos vampiros foi morto a algumas semanas e seu irmão mais novo esta no poder, mas como ele ainda esta passando pelo treinamento da clave, é nosso dever decidir o destino dos vampiros após serem capturados.— O velho falou.— Então, amanhã começará seu trabalho para achá-los e matá-los, Scarllet.— Scarllet ficou boquiaberta por um momento e antes mesmo que pudesse se lembrar da promessa que fez quando estava se tornando uma caçadora, acabou soltando.— E minha semana de folga?— Ela quase chorou aquelas palavras. — Se você for esperta, perderá apenas um dia de sete dias.— Don disse com aquele mesmo sorriso irritante, a vontade de Scarllet foi de virar as costas para ambos os homens em sua frente e bater a porta na cara dele, mas ela continuou imóvel com aquela mascara tão fria quanto o gelo. E esperou pelas próximas palavras de seu chefe. — Você está dispensada, soldado.— Scarllet bateu sua continência em respeito ao seu chefe e se virou para sair daquela gaiola que estava a torturando sem ao menos olhar para Don, mas antes que ela tivesse chances de fechar a porta atras dela, pode ouvir claramente o que aquele cretino falou. — Até amanhã, sweet Scar.— E então, ela bateu a porta. ______________________________


Scarllet abriu seus olhos quando ouviu o estalo de um piso de madeira invadir o silencio de seu apartamento. Já era dia lá fora, mas... Ninguém sabia onde ela morava, nem mesmo o velho, muito menos seus amigos. Ela não possuía amigos. Então por que estava ouvindo o estalar de pisos quando movimentos de passos aconteciam? Pegando uma espada que descansava ao lado de seu cama, com uma lamina não muito grande, porem afiada para fatiar teias de aranhas, Scarllet saiu de cima do seu colchão e passou a caminhar lentamente para fora de seu quarto. Algumas vezes ela segurava sua respiração para que o barulho dela não anunciasse ao ladrão que estava se aproximando dele com uma enorme lamina, mas depois que abriu apenas um pouquinho a porta de seu quarto, Scarllet se amaldiçoou diversas vezes por ter deixado as cortinas escuras de sua sala fechadas, pois agora, não havia nenhuma luz no local para que ela pudesse ver mais do que uma sombra alta mexendo em suas coisas. Aparentemente o invasor estava de costas para ela, então isso tornaria seu ataque muito mais fácil já que ele perderia muito tempo ao se virar. Perfeito. Scarllet contou até três mentalmente e antes que desistisse de atacar aquele homem que era mais alto que ela, a caçadora que existia nela assumiu o controle e abriu o restante da porta de seu quarto. O invasor de seu apartamento se virou calmamente, mas antes que tivesse qualquer chance de agir, a caçadora já estava na metade do caminho para que sua lamina o alcançasse. Scarllet apertou seus dedos enrolados em sua espada e estava pronta apara acertar aquele estranho, mas errou na primeira tentativa quando foi acertá-lo em seu estomago. Ele se moveu rápido demais para chegar nas costas dela, muito rápido a ponto de deixar Scarllet surpresa, mas isso não era motivo para desistir. Ela se virou em seus calcanhares e tentou acertá-lo novamente e quando não conseguiu, ela girou sua espada em sua mão para tentar novamente. Esse estranho provavelmente não havia estudado o local antes de invadir, Scarllet percebeu, pois ele estava caminhando para trás a cada movimento que ela fazia e logo ele se debateria contra a parede. Um plano perfeito. Ela o jogaria contra a parede e depois sujaria sua espada com sangue. Scarlett levou sua lamina em direção de seu rosto e quando ele se esquivou para não ter uma espada no meio de sua cabeça, ela levou toda sua força de soldado para sua perna e o chutou em meio de seu estomago. O invasor se debateu contra a parede como ela planejou, forte o suficiente para que a estrutura de seu apartamento tremesse com o peso dele. As luzes se acenderam em um clique. E ela não enfiou sua lamina dentro do corpo do invasor.


— Você!— Scarllet disse sem folego em total surpresa, com sua espada quase entrando em seu pescoço. Don estava sentado no chão com suas costas apoiadas na parede que quase derrubou, suas pernas soltas e um pouco dobradas com Scarllet entre elas. O fato de ter uma lamina quase enterrada em seu pescoço parecia não incomodá-lo nem um pouco. Mas deveria, pois decapitar uma criatura sobrenatural era morte na certa. E Don era uma criatura sobrenatural, nenhum humano sobreviveria ao seu ataque. — Rápida e letal com movimentos suaves, olhos verdes tão penetrantes como a de uma víbora,— Ele começou a falar em quanto passava um dedo sobre um corte pequeno em seu braço.— Uma espada banhada ao veneno... Você é uma górgona, uma raça tão antiga quanto incubus, tão velha que é praticamente extinta.— — Extinta?— Scarllet disse retirando sua espada de perto dele, mas não se movendo. Ela gostou de ter esse cretino ao seus pés. — Cobras são expert em se manter escondidas, caso não saiba.— — Não de mim, nada se mantem escondido para sempre quando estou a procura.— Don falou com aquele sorriso desavergonhado em seu rosto, mas isso a fez se lembrar de sua filha. O chefe havia dito que ela tinha sido sequestrada por vampiros, talvez tivesse sido ele mesmo que a encontrou. — Como está sua filha?— Scarllet perguntou com certa suavidade. Ela provavelmente nunca teria filhos, mas sabia que para criaturas sobrenaturais, crianças eram como joias raras, pois era realmente raro uma crianças nascer nesse mundo em que humanos nem desconfiavam existir. — Está morta.— — O que?!— Ela se alterou com a resposta.— Mas o velho disse que ela estava a salva e em casa... — — E está.— Don se levantou do chão, obrigando Scarllet se afastar para que o espaço entre eles existisse.— Ela apenas não vive mais.— — Por que ela esta morta?— — Minha filha falou demais e ela não tinha mais salvação.— Scarllet não entendeu aquilo, definitivamente nenhuma palavra fez sentido... Mas uma vida havia sido tirada e aquilo fazia sentido para Don de alguma maneira. — Eu sinto muito.— Don olhou para ela com aqueles olhos azuis vindo dos mares e ela viu ali apenas uma fagulha de importância. Ele se importava com sua filha e se importava ainda mais com a morte dos vampiros que causaram isso. Scarllet o ajudaria a encontrá-los, sim, ela faria isso, mas isso também não a fazia gostar mais desse homem em sua frente que tirou sua folga, muito menos aceitar uma invasão em seu apartamento. A caçadora ergueu sua espada até que ela estivesse em direção do peito de Don e novamente fez a melhor carranca que possuía.— Você tem três segundos para explicar como entrou e descobriu onde eu moro.— — Oh, Sweet Scar, imagino que primeiro você irá querer por alguma roupa.— Ele disse com aquele maldito sorriso.— Ou eu levarei mais do que isso para me explicar.— Scarllet olhou para baixo e tudo o que fez na noite passada invadiu sua mente. Ela esteve tão cansada que nem ao menos se importou em colocar seu pijama, apenas tirou sua calça e seus coturnos para se enfiar em baixo de suas cobertas. Depois de respirar profundamente e clamar pela calma que existia dentro dela, em algum lugar


remoto e desconhecido, ela abaixou sua espada. Apesar de desejar cortar o pescoço de Don e assar sua cabeça, ela faria isso após colocar suas calças. Ela passou a caminhar para o lugar onde dormia. — Scarllet.— Don disse seu nome, provavelmente a primeira vez que o falava. Isso a fez parar ao invés de fechar a porta de seu quarto na cara dele.— Por que você não me transformou em pedra quando teve a chance?— — Eu gosto de lutar pela minha proteção, não usar um poder que acabaria com tudo em segundos. — Uma mentira. Scarllet odiava mentiras tanto quanto as pessoas que matavam por prazer, mas havia coisas em sua vida que ela manteria em segredo para sua própria proteção. Don a encarou em silencio, como se tivesse notado que algo estava errado, mas ele a conhecia apenas por algumas horas, era impossível dizer quando ela estava mentindo ou não. Nem mesmo seu chefe sabia decifrá-la e olha que ambos se conheciam há muito tempo. A caçadora acabou se sentindo intimidada com aqueles olhos azuis que a lembrava dos mares mais limpos e puros que existiam e antes que Don tivesse chances de dizer qualquer coisa para intimidála ainda mais, ela fechou a porta e foi se vestir. __________________________________________ Scarllet pensou que seria rápida ao se vestir, normalmente ela era, mas quando passou pelo espelho de seu quarto e viu a situação de seu cabelo, ela esqueceu que Don estava em sua sala a esperando para começar uma missão de vingança. Seu cabelo longo e liso era seu fraco, ela não era de maneira alguma perfeccionista, mas quando se tratava de seus cabelos negros, eles tinham que ser perfeitos. Após ter acordado e logo ter se envolvido em uma pequena luta deixou seus cabelos uma loucura, então após penteá-los, ela foi direto para o chuveiro. Don a encarou em uma mascara sem nenhuma expressão depois que ela saiu de seu quarto e o encontrou sentado em seu sofá com seus braços esticados, tão calmo que nem ao menos parecia que sua filha estava morta. Scarllet vacilou por um momento quando estava prestes a dar um passo, pois se sentiu culpada com seu recente pensamento. Ela passou a mão em seu cabelo preso em um rabo de cavalo perfeito e o trouxe para frente em quanto pensava. É claro que Don sentia pela morte de sua filha, caso contrário ele nunca iria atrás dos vampiros que causaram isso tudo. Apesar de quase ser um fato, nenhuma criatura sobrenatural era tão insensível assim. — Não mais uma soldado.— Ele disse após seus olhares se encontrarem. Scarllet havia deixado suas roupas de trabalho de lado, pelo menos ela se vestiria como se não estivesse em trabalho para se iludir de que tanto sofrimento não foi em vão, mas em trabalho ou não, ela nunca deixaria de parecer um soldado já que seu guarda roupa era feito de apenas blusas simples e jeans. A única diferença agora era que sua calça não era larga e sim agarrada. E também havia seu cabelo que não era preso em coque, mas seus coturnos ainda existiam. E lá estava o olhar em Don que a incomodou em primeiro lugar quando o encontrou no dia anterior.


Ele a olhava como uma mulher, coisa que Scarllet não estava acostumada devido a ser uma soldado que sempre colocava seus trabalhos em primeiro lugar. Essa caçadora nunca foi vaidosa, nunca gostou de roupas que não fossem as que estava usando. Sua única demonstração que ainda lembrava aos demais, era os cuidados com seu cabelo, apenas isso. E ela precisava demonstrar, pois muitos a magoavam em tratá-la como alguém que não era feminina. Normalmente ela gostava, pois eles a respeitavam já que caso a chamassem de mulherzinha Scarllet os socaria até que todos os dentes da pessoa estivessem espalhados pelo chão, mas querendo ou não, toda mulher precisava ser tratada como tal. Além do mais... Não. Trabalho em primeiro lugar. Essa era a melhor opção a se seguir. A caçadora passou sua mão em seu rabo de cavalo novamente e então suspirou.— Você precisa me dizer tudo o que sabe para que possamos encontrar a localização dos vampiros.— — Oh, Sweet Scar.— Don sorriu, aquele sorriso...— Acabei de dizer para você que tudo o que desejo encontrar jamais se esconderá.— — Você sabe onde os vampiros estão?— Ela arqueou sua sobrancelha surpresa. — Talvez.— Aquele homem arqueou uma sobrancelha também, mas aquele ato foi apenas para irritá-la. — Se você sabe onde eles estão por que precisa de mim?— Sua paciência que nem ao menos havia começado já estava acabando. Scarllet ficava nervosa até demais quando escondiam certas coisas importantes dela, tudo bem que essa era a segunda vez que ela falava com Don, mas isso era um detalhe que ele já deveria ter falado ontem quando se encontraram. — Preciso de alguém que suje as mãos com sangue por mim, apenas isso que preciso.— Ele se levantou do sofá sem desviar seus olhos azuis dos dela.— E imagino que esse seja seu trabalho, caçadora.— — Sim.— Ela concordou com Don, mesmo que não estivesse convencida de seus motivos. Estava escrito em sua testa que ele literalmente não deixava uma vingança em outras mãos, então por que estava pedindo isso para ela? Scarllet deixou suas duvidas de lado, pois como uma caçadora profissional, ela não deveria questionar sobre sua missão. Seu chefe lhe disse que seu dever era encontrar e matar os vampiros, não importava o por que de Don não fazer esse trabalho.— Qual é a direção?— Ela perguntou finalmente, tentando se lembrar onde havia guardado seu mapa da cidade. — Milão, Scar.— ____________________________ A caçadora encarou Don perplexa a ponto de ignorar o fato dele ter a chamado de “Scar”. Ele só poderia estar brincando com ela... Milão? — Por que não procurou uma caçadora de Milão para fazer esse trabalho?— Ela perguntou ao invés de ter um surto sobre ter que deixar sua tão amada cidade. — Porque eu soube que você é a melhor no que faz e tive prova disso quando entrei no apartamento.— Scarllet não poderia discordar dele. — Uau.— Ela disse surpresa, ignorando sua resposta.— Já faz três anos que eu não deixo Roma.— — Por que não?— Curiosidade apareceu em seu sotaque americano.— Itália é um belo pais.— — Eu não me sinto muito confortável ficando longe da central e do chefe.— Scarllet foi sincera.— Minha raça é tão desconhecida que eu não posso imaginar o que fariam comigo se me descobrissem.— Bom, a chamasse de covarde se fosse preciso, mas ela sabia que assim como existia humanos que estudavam pessoas, também existiam criaturas sobrenaturais que faziam o mesmo. E o fato da filha de Don ter sido sequestrado, apenas a deixava mais receosa. O que outra


criatura sobrenatural iria querer com outra raça? — Não se preocupe, Scar, eu irei protegê-la de todo o mal.— — E quem irá me proteger de você?— Ela usou um pouco de ironia, mas toda a expressão de provocação sumiu do olhar de Don e um pequeno arrepio surgiu por toda sua espinha. Agora ele parecia tão sério... Nem mesmo quando se tratava de sua filha esse olhar surgiu em seu rosto. Quem era Don afinal? E por que Scarllet estava tão curiosa sobre isso? Depois que segundos se passaram, um sorriso surgiu nos lábios dele. Aquele mesmo sorriso desavergonhado e cretino que Don sempre teve. Lá estava o estranho homem que havia conhecido na noite anterior, sem nenhum risco de maldade, seriedade ou frieza.— Morda-me com seu veneno, sarpe.— Scarllet não conseguiu segurar um pequeno riso que escapou de seus lábios, já fazia um bom tempo que não ria sem que ironia ou sarcasmo estivesse envolvido e se sentiu feliz por ainda saber fazer isso tão naturalmente. Don deixou aquele maldito sorriso que a irritava de lado para encará-la, seus olhos azuis como os mares riram para ela por um segundo.— Meu veneno é minha maior arma. Acha mesmo que tentaria destruir a pessoa que requer meus serviços?— — Eu não sei o que uma pessoa sem férias faria comigo.— Ele se atreveu brincar com ela. Sim, suas férias havia sido destruída a partir do momento em que entrou na sala de seu chefe para encontrar Don, mas por um lado muito escondido, que tinha muito orgulho para admitir, ela estava feliz. Pois no final das contas, se Don não tivesse entrado em sua vida, ela passaria esses sete dias de folga limpando seu apartamento, dormindo e comendo. Agora, ela estava indo para Milão! Scarllet sorriu para o nada em quanto pensava em como as coisas ruins se tornavam boas no final de tudo. Don estava se tornando uma coisa boa, mas ela não deixaria se enganar. Não mesmo. Don era todo misterioso quando se tratava de sua filha, ele nem mesmo parecia triste. E também Scarllet não entendia o por que da menina estar morta... Sem salvação e por que falou demais? Os assassinos a mataram antes que fosse resgatada? Como que ele sabia a localização dos vampiros? E por que até agora ela não tinha descoberto de que raça esse homem pertencia? Dentre essas e outras perguntas era o motivo por ele não se tornar uma coisa boa para ela. — Eu irei fazer minha mala.— Scarllet disse depois de algum tempo, quebrando o silencio que se formou em quanto ela pensava. ____________________________ Logo que Scarllet arrumou uma pequena mala onde possuía mais armas do que roupas para seu trabalho em matar os vampiros, ela estava caminhando ao lado de Don até para a portaria de seu apartamento apenas para encontrar uma grande limousine parada em frente do mesmo. Primeiramente ela pensou que deveria ser de outra pessoa, pois novamente as roupas desse estranho homem deixou enganá-la, mas após o motorista caminhar até eles e pegar educadamente a mala dela, que nem mesmo Don se ofereceu para carregar. Scarllet nem ao menos imaginava o motivo de esperar algo vindo dele. Mas o que acabou a surpreendendo ainda mais foi o fato de estar em frente da central de caçadores, o lugar que ela passava mais tempo do que em sua própria casa.


Ela olhou para cima logo em seguida que saiu do carro, no terraço do prédio havia um enorme helicóptero que não pertencia a central, tudo indicava que haviam visitantes para o chefe ou aquilo pertencia a Don. A segunda opção era mais aceitável, já que quando pessoas importantes vinham de lugares longes, todos os chefes de caçadores se encontravam em Londres, onde existia a maior e primeira central que surgiu junto com os incubus, sendo eles criados com esse dever de proteger o mundo das futuras criaturas sobrenaturais que já estavam sendo jogadas ao mundo. Bom, isso não importava muito agora, pois Scarllet odiava aviões. Scarllet olhou para Don ao seu lado logo após ele se posicionar alí, só então ela reparou o quanto ele era alto perto dela. Por um lado ela ficou feliz, já que conseguiu derrubar um homem tão mais alto que ela, mas por outro... Ela se sentiu baixa, mesmo não sendo. Scarllet possuía uma altura media, mas ao lado desse homem, isso não era uma palavra adequada para se usar. — Eu espero que esteja apreciando a vista.— Don olhou para mim depois de desistir de acompanhar meu olhar para cima onde estava aquela enorme máquina, então isso resultou em ele me pegando o olhando de cima para baixo. — Sim, é um lindo helicóptero.— Menti descaradamente apenas para não massagear seu ego que já era muito grande. — Por que eu sinto que você está com medo de voar?— — Medo?— Scarllet debochou.— Eu não tenho medo de um helicóptero.— — Mesmo?— Ele sorriu. — Eu sou uma criatura da terra, não me culpe por odiar os céus.— — Ok, sarpe.— Don revirou seus olhos.— Vamos logo, pois como eu disse, você pode perder apenas um dia de suas férias se for esperta.— O homem que a irritava constantemente passou a caminhar e dessa vez ele estava com a mala dela, a pouco tempo ela esperou que isso acontecesse, mas não aconteceu. Só que agora Scarllet percebeu que ele estava com pressa... Tudo isso era para se livrar dela o mais rápido possível? Scarllet fechou os olhos em um aperto grande, se ofendendo mentalmente diversas vezes. Qual era o problema dela? Toda sua vida sua opção numero um era ficar afastada de criaturas sobrenaturais quanto ficava dos humanos, agora ela estava passando a sentir algum tipo de afeto por Don. E isso era errado, então era um fato que isso deveria terminar o mais rápido possível, pois ela não deveria se aproximar de ninguém.


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