“Não existe nenhum mundo em que o amor possua outro significado.”
Tempo. Não existe nada que não haja hora marcada, nada que não exista o tempo. Um dia é feito por 24 horas, um ano possuí 365 dias e isso significa o mesmo que 8.760 horas para viver, cometer erros, encontrar a felicidade e aprender o que significa o mundo. Há quem desperdice muito esse tempo e acabe se arrependendo quando chega o momento que percebe que sua vida não valeu nada. Porém, lidar com o fato de que vidas evoluam por base de um relógio não é algo para se orgulhar, não quando todos alegam serem livres para fazer o que desejam. Mas mesmo que digam isso, não existe liberdade. Todas as pessoas que existem no mundo são prisioneiras de uma palavra que possui apenas cinco letras. Tão pequena em um numero impar e mesmo assim um problemão. Como se pode existir a felicidade quando o carrasco, que chamamos de tempo, muitas vezes não permite que ninguém a encontre? Como se pode encontrar e sentir qualquer sentimento bom quando existem apenas 8.760 horas para se fazer isso? As vezes, o relógio da vida se resume a muito menos que isso ou simplesmente presenteia várias pessoas com anos e mais anos para se viver, mas em algum momento, tudo há de acabar. E a pergunta que não se pode morrer é simples... Fomos capazes de encontrar a felicidade ou o tempo não permitiu? Talvez a pergunta que valesse mil pontos não estivesse correta. Talvez a pergunta devesse ser se a felicidade realmente existe, não se fomos felizes. Não existe nenhuma pessoa no mundo que diga que nunca desejou que o tempo parasse de correr, palavras de que não se arrependeram por algo e não desejaram voltar ao passado nunca foram ouvidas. Mas a realidade é única. Não existe maneira de parar o tempo, não existe máquinas do tempo que nos levam para o passado e concerte um mero erro que faz com que alguém sinta-se melhor em relação a pergunta que vale mil pontos. Não existe poder que faça um dia ou um ano se tornar mais longo para que tudo seja concertado, para que respostas sejam encontradas, para que a felicidade seja sentida e provar sua existência. E acima de tudo, não existe nada que faça um adeus nunca chegar.
~ 01 ~ A paz sempre acaba no momento em que gritos de horror cortam o silencio de uma noite calma. No inferno, isso deveria ser considerado normal, mas os ecos de um som distante não eram de alguém que estava sendo torturado ou assassinado, eram gritos de medo. E medo não existe no inferno. Todas as pessoas que constituíam aquele lugar podem sentir qualquer tipo de sentimento normal ou anormal, mas medo é algo que não está no alcance de ninguém. Maximus estava no nível 1 do inferno, no lugar mais calmo onde as almas que foram enviadas para o inferno podiam ter uma segunda chance e alcançarem o paraíso depois que cumpriam suas penalidades. Era também naquele nível que existia o castelo dele, afastado da cidade e de qualquer outra existência de vida. Ele era o imperador do inferno, um arcanjo criado para cuidar dessa dimensão sem nenhuma piedade e esse era um dos motivos por não se sentir bem ao redor de pessoas. Em seu castelo construído perto do mar, apenas existiam seus servos e as pessoas que ganharam sua confiança. E não existia nada mais, nenhuma casa, nenhum barulho fora do comum. E se existia algo que Maximus odiava, era algo fora do comum, algo que quebrava os termos de suas regras e conhecimento. Hoje o arcanjo estava fazendo sua ronda próximo dos portões que o levaria para o nível 2 do inferno, um lugar que ninguém desejava conhecer, porém, antes de seus pensamentos completarem de que estava na hora de ir para casa, os gritos começaram. Esses gritos que se agarravam em seu cranio e o arranhava para morrer possuía tanto medo que ele não podia ignorar. Maximus sabia que as almas que habitavam no nível 2 eram as piores que existiam, elas agiam como animais que não comiam à dias e qualquer um que não estava naquele nível apenas via o sangue nos olhos daquelas pessoas. O grito desesperado de dor era algo normal nesse lugar, mas esse que vinha de tão longe que apenas se ouvia os ecos eram cheios de medo, não dor. O arcanjo não podia ignorar isso. Imperatore, a voz calma e tranquila do seu segundo em comando surgiu em sua mente. Há algo de errado no nível 2. Eu notei. Maximus respondeu com certo sarcasmo e uma mistura de arrogância. Afinal, quem não havia ouvido aqueles gritos? Mas acima de tudo... Quem estava acabando com sua paz? Estou próximo dos portões, acompanhe meus tenentes e se preparem para a luta. Não podemos ignorar os murmúrios ocorridos de que as almas desse nível procuram por guerra. Você está a cavalo? Não. Uma resposta simples e curta. Encontrarei vocês lá. As asas de Maximus se estenderam completamente em suas costas, as penas brancas que antes
escovavam o chão de terra se elevaram no ar nos próximos segundos depois que o arcanjo empurrou o solo com seus pés e ele se lançou contra os céus escuros sem nenhuma estrela ou lua para seguir o caminho que o levaria para o nível 2, suas asas se debatiam contra o ar gelado com força para que chegasse o mais rápido possível até a pessoa que não parava de gritar. A única coisa que o arcanjo desejava nesse momento era que os comentários de que esse nível que desejava guerra contra ele não se tornasse realidade nessa noite. Seu humor estava completamente negro e sua paciência acabou no momento em que notou que várias penas de sua asa estavam sujas de terra, o que iria causar um grande problema quando ele chegasse em casa e sua irmã o encontrasse naquela situação deplorável. Diane, dessa vez, prometeu que esfregaria suas asas com metal enferrujado caso ele aparecesse com terra ou qualquer outra sujeira sobre as penas brancas que existiam por toda sua asa, tão brancas quanto a neve e um atrativo ideal para sujeiras. Se tinha um segredo que Maximus nunca revelaria, era de que adorava quando voltava com suas asas sujas, apenas para provocar a insanidade de sua irmã mais nova que sempre se demonstrava calma e feliz. Mas a diferença que tornava tudo o oposto nessa noite, era que a provocação tivera de ser adiada por causa desses gritos. E o que quer que estivesse gritando, sobrevivesse até que ele o encontrasse, o arcanjo não teria nenhuma piedade ao enfiar uma lamina no coração dessa pessoa por ter destruído seus planos ao lado de sua irmã. Maximus estava sobrevoando uma área conhecida como pântano negro, seus olhos atentos para qualquer movimento naquela infinita escuridão a baixo dele. Os gritos haviam acabado, o que o tornava ainda mais desconfiado sobre o que estava acontecendo. O lugar havia recebido esse nome pelo simples motivo de que tudo que se encontrava ali era sem vida. A água que iam apenas até os joelhos ao se misturarem com a lama se tornava algo meio pastosa e negra. As árvores que deveriam ter folhas verdes vividas eram tão secas que podiam virar cinzas apenas com um toque, suas raízes tão grandes que ressaltavam da terra formavam tocas perfeitas para as criaturas da noite que moravam ali, principalmente para os aquáticos. Decidindo depois de alguns minutos que agora não haveria mais chances de encontrar a quem gritava com tanto medo pelo som da voz, ele decidiu que o correto seria pousar e continuar seu caminho andando, escutando qualquer movimento ao seu redor de água ou galhos se partindo, já que parecia que esse seria o único som que escutaria. Maximus aterrissou calmamente, tentando fazer o minimo de barulho possível ao colocar metade de suas pernas dentro daquela água, ele apenas não pôde impedir o vento que suas asas causaram na aterrissagem silenciosa e como consequência teve todo o mato que crescia de dentro do pântano, muitas vezes maiores que ele mesmo, se movimentar de um lado para o outro. O silencio naquela região era perturbadora, não possuía o som de animais por perto ou qualquer outro sinal de vida, tudo que se podia ouvir era o barulho da água se movimentando lentamente em quanto a leve brisa se debatia contra ela. E era apenas isso que ouvidos humanos poderiam escutar, mas Maximus não era um simples humano. Ele era um arcanjo e praticamente construiu esse lugar em que as almas deveriam pagar por seus crimes. O arcanjo era o imperador dessa dimensão, sua inteligencia e capacidade de encontrar alguém em uma terra que foi destinado a cuidar era muito maior do que alguém tentando se esconder ao ficar em silencio dentro daquela água. A pessoa poderia estar fazendo um ótimo trabalho em se esconder dentro de um lugar que se movia juntamente com o vento, mas seu coração a traía tão duramente por causa do medo que Maximus
não precisava usar nenhum tipo de poder para encontrá-la. Bastava prestar atenção nos batimentos rápidos e medrosos que o arcanjo poderia chegar até lá de olhos fechados. Mantendo suas asas para cima com certa repugnância, já que não desejava que aquela lama imunda sujasse suas penas brancas, o arcanjo passou a se mover em direção do coração que batia rapidamente, não muito longe dele. Maximus estava usando o som do vento contra água a seu favor e se esquivando de qualquer planta que aparecia em sua frente ao invés de arrancá-la de seu caminho. Ele não sabia o que estaria enfrentando, nem ao menos temia com o que estava prestes a encontrar com o de tamanho poder que possuía, mas o arcanjo não desejava assustar ainda mais esse coração cheio de pavor. Maximus não desejava que essa pessoa com tanto medo se perdesse mais além dentro desse nível que apenas havia o horror. Sua única opção do que poderia estar acontecendo era que alguém do nível 1 havia ultrapassado seus limites e passado pelos portões. Todos habitantes de lá eram proibidos de passar por eles, tendo a ameaça de quem quer que desafiasse essa ordem não teria mais a chance de ir para o paraíso algum dia. Ignorar essa ameaça não o fazia amolecer, de maneira alguma. E quando encontrasse essa pessoa, ela jamais encontraria sua liberdade ao ter quebrado uma regra de estrema importância, porém, Maximus estava ciente de que no inferno não existia medo, ele era velho o suficiente para ver que o que muitas vezes podia ser considerado medo por estar diante de um imperador, era apenas o respeito por um líder. Essa pessoa, cheia de medos, estava quebrando totalmente suas... O arcanjo parou de caminhar em meio de seu caminho quando a viu. Era uma mulher que estava completamente nua e com lama cobrindo todo o seu corpo, desde seu rosto até os cabelos longos que iam a baixo da cintura, alguns deles estavam secos e duros, outros empapados com gosmas negras. Ela tentou correr quando viu Maximus tão próximo, mas suas pernas a traíram e a levaram diretamente para aquela água suja. Seus olhos azuis que eram quase escondidos por cílios negros e longos estavam tão amedrontados com pesadelos que explicava o motivo dela mal respirar. Seus lábios estavam entreabertos, provavelmente prontos para gritar, mas nenhum som saiu de seus lábios, nem mesmo o de um soluço quando as lagrimas passaram a escorrer daqueles olhos arregalados. E ela... Ela era uma humana. Maximus, estamos dentro dos portões. A voz de Derek invadiu sua mente novamente para distraí-lo daquela imagem por um momento. Onde você está? No pântano negro. Iremos cercar o perímetro. A voz do homem que era o seu segundo em comando disse sem nenhuma hesitação, como se ele fosse o único que desse as ordens. Se havia um motivo para que Derek possuísse um titulo tão importante, esse era o principal. Não é preciso. Maximus o respondeu. Volte para o nível 1 com todos e eu resolverei o assunto. Há algo que preciso saber? É uma humana. O arcanjo disse a única coisa que rodeava sua mente em quanto lidava com a
questão de encontrar uma explicação do motivo por uma humana que radiava vida estar no inferno, de uma humana ter entrado nessa dimensão sem que ele estivesse ciente de sua presença. O silêncio foi tudo o que Derek emitiu dentro de sua mente, quase deixando Maximus acreditar que ele não estava mais lá, mas ele estava. O que irá fazer? Irei matá-la. Depois que Maximus tomou essa decisão ao mesmo tempo em que Derek fez a pergunta, o seu segundo deixou sua mente para liderar todos os tenentes que estavam vindo nessa direção segundos atrás. Ele voltou sua atenção para a humana encolhida a baixo dele, tremendo com seus lábios quase sem cor. Ela agarrava seus joelhos com seus dedos fracos como se aquilo fosse protegê-la de todo o mal que estava ao seu redor. No entanto, seus olhos estavam o observando exatamente como Maximus fazia. A humana o via como uma anormalidade e ele também achava a mesma coisa dela. O arcanjo levantou seu braço para puxar uma das espadas que formavam um X em suas costas com a intenção de matá-la. Essa humana não pertencia a esse lugar e ela, definitivamente, não viveria no inferno sem estar morta. Maximus deveria entrar em contato com seu irmão que cuidava da dimensão dos humanos, mas se ele a matasse, todos os futuros problemas que aconteceria por causa dela seriam adiados para sempre. Maximus se aproximou para decapitar essa humana que tinha a palavra medo estampada por cada parte de seu corpo, tremendo e com lágrimas silenciosas em seus olhos. Por um momento, aqueles olhos azuis cruzaram com o seu e o arcanjo viu que ela sabia que iria morrer. Isso não fez com que nenhuma gota de piedade nascesse dentro dele, mas também não era a resposta de que ela aceitaria sua morte sem lutar. Em um movimento rápido, a humana se jogou aos seus pés e puxou com força uma de suas pernas na direção dela agilmente. Maximus ao ser pego de surpresa e sem ter muito equilíbrio em um fundo que era apenas coberto por lama acabou pisando em falso. O obvio aconteceu em questão de segundos, o arcanjo que era o imperador do inferno e temido por todas as almas que habitavam esse lugar, caiu dentro daquela água suja que tomou tanto cuidado para não encostar em suas asas. Todo o corpo de Maximus encontrou aquele fundo, inclusive sua cabeça. Os segundos que ele ficou imobilizado por causa da sua queda foram menos do que a humana provavelmente esperava, pois quando ele se levantou daquele lamaçal em um salto para frente, Maximus a viu correndo com dificuldade por aquele pântano cheio de mato e escorregadio. Mesmo caindo diversas vezes dentro da água em quanto tentava fugir para longe, ela corria para salvar sua vida e com uma espada em mãos. Sua espada! Maximus passou a mão em seus cabelos que estavam caindo em frente de seus olhos, atrapalhando mais sua visão do que antes agora que estavam molhados. O arcanjo virou seu corpo em direção da humana que ainda corria para ficar longe dele, mas ele não correu. Sua paciência para jogos havia acabado. Fixando seus olhos em seu alvo, como se ele estivesse usando um rifle imaginário para acertá-la, ele se certificou de que apenas aquela humana iria ser atingida. Explodere
O arcanjo esperou que o corpo dela explodisse como ele havia ordenado, usando um pouco de seu poder que o tornava tão temido e imortal, mas sua espera apenas se alongou quando nada aconteceu a ela. A humana continuou inteira e sem ter ao menos um arranhão. Ele tentou novamente, de novo e de novo até ter a certeza que ela, agora não tão humana assim, era imune a qualquer uso de poder que vinha dele. Bom, agora Maximus podia entender quando usavam a expressão de “uma noite cheia de surpresas.” Mas essa humana estava quebrando todas as suas regras de conhecimento, então ela não viveria nesse lugar para ser um enigma. Sacando a outra espada que estava em suas costas, o arcanjo estendeu suas asas em um estalo para que o excesso de água e lama caíssem dela, feito isso, ele deixou o chão aos seus pés para se infiltrar no céu da noite. Maximus grunhiu quando pelo canto dos olhos viu que toda aquela lama que havia sujado sua asa, ao ser derrubado naquele pântano, estava completamente seca em suas penas que costumavam ser brancas. Ele admitia que foi uma completa idiotice se lançar ao ar com suas asas cheias de lama, pois o vento forte apenas fez com que aquela gosma secasse em suas penas. Isso apenas o fazia desejar ainda mais a morte daquela humana. O arcanjo estava voando próximo a ela, acompanhando o ritmo de seus passos desajeitados até que ela chegasse a margem do pântano. Estando em terra firme, a humana não usaria o chão escorregadio ao seu favor tentando derrubá-lo novamente. Além do mais, na terra firme logo a frente dela, havia um dos cães do inferno que pertenciam ao nível 2. Ele não era um cão normal, não como aqueles que existiam em outras dimensões e eram usados como animais de estimações no mundo humano. Estando no inferno, esse cachorro se transformou em algo equivalente ao lugar que vivia. O animal onde deveria possuir pelos tinha uma pele escura e toda enrugada, suas patas dianteiras eram maiores do que as traseiras, olhos vermelhos que podiam enxergar qualquer coisa na escuridão, principalmente uma humana correndo em sua direção. Esse cão poderia facilmente matar ela com os dentes afiados e grandes que existiam em sua boca ao longo de seu focinho cumprido, suas garras enormes poderiam se afundar na carne dela tão rapidamente que Maximus nem ao menos iria voltar para casa sujo de sangue ao deixar todo o trabalho para esse cão corcunda. Porém, suas mãos desejavam sentir o sangue dela. Cada parte de seu corpo queria encostar a lamina afiada de sua espada na pele dela e fazê-la gritar novamente. Maximus desejava ouvir os gritos de medo misturado com a dor dessa vez. Então quando a humana chegou perto da margem e viu aquele cachorro tão estranho aos seus olhos, ele pousou entre os dois. Impossibilitante que aquele animal atacasse sua presa. O arcanjo pensou que seria necessário matar o cão que pertencia ao inferno para que ele não causasse problemas, mas assim que ele posou diante dele, o animal se encolheu todo e até mesmo soltou chiados de um choro. Segundos depois de mostrar o arrependimento de tentar atacar algo que não pertencia a ele, o cão foi embora. Maximus se virou em direção da humana agora, ela o observava em silencio ainda dentro do pântano, cada parte de seu corpo nu tremia de uma maneira que ele não conseguia imaginar como ela se mantinha em pé. Ainda assim, ela segurava sua espada em suas mãos com uma força imaginável. Aqueles olhos azuis ainda estavam arregalados e cheios de medo, cientes também de que ele iria matá-la nesse momento.
A humana, o deixando surpreso, caminhou vacilante em sua direção para ficar mais próxima. Saindo daquela água suja para pisar nas mesmas terras que ele pisava com certa dificuldade. Seus corpo além de estar fraco, estava cheio de feridas também. Maximus se perguntou quanto tempo levaria para que os joelhos dela cedessem para levá-la direto ao chão, mas por outro lado, ele não se importava. A humana estava diante dele agora para que a matasse, para que acabasse com todo o medo que existia dentro dela. O arcanjo não pôde negar uma certa admiração pela coragem dessa intrusa, além de tê-lo derrubado para fugir, ela estava entregando sua vida em suas mãos e ainda segurava o seu olhar com aqueles olhos azuis claros, mostrando que não era uma vitima. Maximus levantou sua espada, pensativo e com duvidas se realmente deveria matá-la. Todos os seus tenentes, antes de tomarem esse posto, agiram dessa mesma maneira. Eles eram demônios, alguns deles saídos diretamente do nível 2, mas que provaram sua lealdade e que não tinham medo de morrer. Nesse momento, essa humana estava olhando para ele exatamente como todos os seus soldados olharam em seus olhos. Cientes de que não podiam lutar contra o arcanjo, mas também que não possuíam nenhum medo dele. A humana em sua frente se moveu novamente, ágil e rápida da mesma maneira quando puxou uma de suas pernas para derrubá-lo, ela levantou a espada que segurava em sua frente quando veio parar ao seu lado. Maximus se virou com certa surpresa, pois ela estava pronta para atacar, mas esse ataque não era direcionado a ele. Segundos depois que se virou, o arcanjo encontrou aqueles olhos vermelhos do cão do inferno, que antes estava saltando em sua direção para atacá-lo com uma mordida cheia de dentes afiados, mas a humana havia se colocado na frente desse ataque e tudo que o cachorro encontrou foi a lamina sendo enfiada em seu estomago. Ela, obviamente, não sabia como usar uma espada, então depois que o cachorro saltou, ambos caíram no chão. Maximus tentou inutilmente segurá-la por suas costas, mas ele não teve chance de evitar o tombo. O cachorro em cima dela estava sangrando por causa do hematoma que havia o levado a morte. Tendo a espada ao meio deles e enfiada dentro do animal por causa do impacto depois de saltar na sua direção, era o único motivo para humana ainda estar viva. Ela não tinha força nenhuma, todos os seus ossos davam a impressão de que se partiriam com um toque, mas quando ela levantou a espada em quanto o animal pulava em sua direção, não haveria outro resultado. O cachorro jamais poderia fazer o caminho inverso sem asas em quanto estava no ar, a mesma força que ele usou para saltar com a intenção de derrubar seu alvo, acabou o levando a morte. A humana, por outro lado não estava tão diferente do animal, mas não morta, apenas inconsciente. Ela não havia batido a cabeça ou se machucado ao se jogar na frente desse ataque que causaria a Maximus nada mais do que alguns cortes que logo se curariam. Um ato tolo, principalmente quando essa humana sabia que ele estava prestes a matá-la. No entanto, esse ato acabou salvando a vida dela. O arcanjo podia ser o imperador do inferno, mas ainda possuía uma consciência. Ele não podia matar alguém que se jogou em sua frente para salvá-lo, ela provavelmente não sabia que ele nunca poderia ser morto e ainda assim tentou salvá-lo. Soltando um suspiro com uma mistura de sentimentos, principalmente raiva por ter uma consciência , Maximus tirou o cachorro de cima dela para pegar sua espada. Colocando as duas laminas em suas costas novamente para formar um X. Em seguida, o arcanjo carregou o corpo pequeno e mole daquela mulher nua toda suja de lama e sangue em seus braços. Agora, felizmente ou infelizmente, ela seria julgada diante dos arcanjos.
~02~ Seus olhos se abriram assim que barulhos de grades sendo abertas acabaram com o silencio do lugar e de seu sono. Ela acordou com seu coração palpitando, a lembrança daqueles monstros em sua mente era algo recém já que eles atormentaram seu sono que poderia ser perfeito se não estivesse deitada no chão em cima de palhas secas. E vestindo um vestido que era feito, provavelmente, com um saco de batatas. Todo aquele pano cutucava seu corpo dolorido com alguns cortes e ela já não estava tão suja com a lama daquele lugar no meio do nada onde despertou. Tudo o que ela havia visto na noite passada, não existia mais, menos o seu medo que era uma faca afiada contra seu coração. No entanto, agora que abriu seus olhos, ela estava dentro de uma cela. Paredes e chão feitos de pedras com palhas secas para que ela pudesse dormir. Pelo menos, ela estava presa em uma cela longe dos monstros. E isso a fazia se sentir segura, mesmo quando uma mulher jovem, com cabelos loiros escuros e olhos negros a encarava com uma bandeja cheia de comidas que não eram dignas de um prisioneiro. Ela observou aquela mulher que não sorria, mas que também transbordava gentileza ou afeto que desejava transmitir para que se sentisse segura diante dela. Nos olhos dela não havia o desejo de matá-la, ela não carregava armas ou nem ao menos possuía asas. Essa mulher não era um monstro como aquele que tentou matá-la, depois a salvou daquele animal que deveria ser um cachorro com alguma doença. Sim, tudo havia uma explicação que se encaixa perfeitamente, ela apenas não sabia dizer nada sobre o céu que não possuía estrelas ou uma lua e por que aquele homem tinha asas. Mas quem ela queria enganar? Nem ao menos conseguia responder a pergunta de quem era ela já que quando se perguntava sobre si mesma apenas existia um buraco negro. Apenas parecia que sua vida começou a partir do momento que abriu os olhos e estava no meio daquela água suja. Porém, esse lugar que estava, não era o certo. As coisas que estava vendo não deveriam existir, ela tinha certeza disso mesmo que não conseguisse se lembrar do que era certo e o errado em sua mente. Quem era ela? Prisioneira, ela pensou, era uma prisioneira. Infelizmente, essa era a única resposta que possuía para essa pergunta em quanto esperava que sua mente deixasse de ser uma geleia e voltasse a pensar coerentemente. Ela esperava fielmente por isso, pelo menos para lembrar seu nome e não se sentir uma indigente. — Kaixo, maitea.— Aquela mulher com traços suaves disse em um tom gentil, mas ela não compreendeu nenhuma de suas palavras. A prisioneira o encarou com seus olhos grandes, em silencio e tão imóvel quando podia já que até mesmo respirar podia ser perigoso nesse lugar que era desconhecido. Na verdade, ela estava mentindo para si mesma, pois esse lugar era o único que sua mente conhecia depois do pântano.— Ez duzu ulertu nahi?—
— O que?— A prisioneira perguntou dessa vez com certa agonia, sua voz estava grave e rouca por causa do medo que não permitia que seu timbre soasse normal. — Oh! Uma veneziana.— A mulher disse em sua língua.— Perdoe-me, eu não sabia exatamente de onde você veio, não podia usar outra linguagem a não ser a minha.— Sim, a prisioneira entendia, pois nem mesmo ela sabia da onde vinha também. Porém, agora, ela sabia que era uma veneziana. — Eu deveria ter notado por causa dessa sua pele pálida.— Ela continuou a falar.— Todos na Veneza são mais brancos do que a própria neve por estarem sempre escondidos pelas sombras daquelas casas grandes.— A prisioneira a encarou com certa cautela, pois sabia exatamente o que significava ser alguém presa em uma cela e isso não não incluía pessoas sendo gentis por descobrirem seu idioma de origem. Ela devia estar agradecida por essa mulher não estar tentando matá-la como os outros monstros, mas também não se sentia contente em essa estranha saber mais sobre ela do que ela mesma. Para falar a verdade, haviam duas estranhas nessa cela. Ela decidiu ignorar aquela mulher feliz e olhou para a bandeja que ainda carregava. Fazendo uma lista mental das coisas que haviam ali para se certificar de que sua memoria não estava tão ruim. Havia pães, uma taça cheia de água, frutas como maçãs e peras cortadas em fatias médias... A prisioneira se lembrava de tudo, sabia o nome e o significado de qualquer coisa que seus olhos encontrava, ela apenas não conseguia responder coisas sobre si. Ela poderia considerar isso como uma coisa boa, pelo menos. — Você está com fome?— Aquela mulher voltou a falar ao notar que seus olhos estavam na bandeja de comida em suas mãos. — Todos os prisioneiros comem isso?— Seu cenho estava franzido, curiosa por uma pessoa que deveria comer apenas um mingau gosmento e nojento estar recebendo um café da manhã digno de um rei. — Nós não temos prisioneiros, apenas aqueles que devem ser julgados.— Ela explicou.— Até que provem serem culpados, todos são inocentes e recebem uma boa comida.— — O que acontece com aqueles que são culpados?— A prisioneira perguntou com certo medo, um pouco ciente de que ela era a única presa naquele lugar cheio de celas vazias. — Eles são mandados para o nível que corresponde ao seu crime.— Crime... Ela não se lembrava de matar alguém depois de acordar naquela escuridão, mas também não se lembrava o que fez antes de chegar até lá. Esse pensamento fez com que seus pelos se arrepiassem mesmo com lama seca sobre eles. Aquele homem com asas... Talvez ele pudesse ajudá-la. Ela havia matado aquele cachorro com doença que iria atacá-lo. Não era nada correto salvar a vida de uma pessoa que desejava matá-la com uma espada, mas também não tinha nada para se orgulhar deixando que um cachorro o mordesse até morte depois de ter salvado a vida dela ao espantá-lo. A mulher em sua frente se movimentou lentamente para colocar a bandeja cheia de comida no chão perto dela, com certo medo. Afinal, ela não conhecia essa pessoa que estava sentada no canto da cela esperando por um julgamento. Nem mesmo a prisioneira conhecia essa pessoa que deveria conhecer melhor do qualquer pessoa. Ela também estava com medo, medo de tudo que estava acontecendo e do que havia feito para se encontrar nessa cela. E por mais que lágrimas desejassem escorrer de seus olhos, a prisioneira não iria chorar. Ela iria
fazer o possível e impossível para que seu medo deixasse de existir. Afinal, o medo não a levaria para nenhum lugar, não a faria descobrir quem ela era e por que estava aqui. Ela agiria como na noite passada, e por mais que estivesse ciente de que todas as suas ações foram causadas pela adrenalina que correu em suas veias, a prisioneira não tinha outra opção a não ser encontrar a coragem para depois se preocupar com suas memorias e o medo. E acima de tudo, ela jamais se entregaria para a morte novamente como fez diante daquele anjo antes de se jogar na frente do cachorro. Naquele momento ela sabia que não tinha salvação, mas acabou que ela conseguiu uma segunda chance e ainda estava respirando. Dentro de uma cela, claro, mas ainda estava viva. A prisioneira iria lutar, pois no fundo de sua alma uma voz gritava e proclamava sua inocência. Ela não se conhecia, não confiava em ninguém, a única pessoa que poderia ser forte o suficiente para protegê-la desejou a matar, então tudo que podia fazer era confiar nessa voz que gritava dentro dela. Sim, ela iria a julgamento como essa mulher dizia, mas não seria uma vitima ou culpada. Ela desejava ver as provas que a faziam estar atrás dessas grades e usaria a atitude daquele anjo que tentou matá-la como uma carta de salvação. Afinal, todos eram inocentes até que se provasse ao contrario e aquele homem tentou matá-la sem que mostrasse as provas que lhe fazia ser uma criminosa... Ela tinha de acreditar que essa carta seria a sua salvação, pois era a única que tinha e era triste que ela fosse formada por base de palavras de outra pessoa que mal conhecia. — Seu julgamento acontecerá ao final da tarde.— A mulher disse se afastando até estar fora da cela. — Coma um pouco, você está muito pálida.— Pálida, com dores em cada músculos de seu corpo e com cortes que estavam se infectando por causa da sujeira do pântano, ela não podia se sentir melhor. Seu corpo todo tremia por causa do medo ignorado, ela falava pra si mesma que não era medo e sim o frio. Era apenas uma ilusão, mas funcionava muito bem. E sim, ela deveria comer para ver se seu estado físico melhorava, mas não tinha fome nenhuma. Como poderia pensar em comer algo quando não lembrava nem ao menos seu nome ou a cor de seus olhos? Seus cabelos eram pretos e ela havia visto isso por serem longos, também sabia que eles eram lisos, mesmo que a lama seca os deixassem em uma situação deplorável. Mas e seus olhos? Ela não tinha nada que poderia refletir seu rosto, então não tinha nenhuma ideia de como era. O único rosto que ela se lembrava era daquele monstro com asas e agora o dessa mulher jovem. Isso era errado, pois ela não deveria desconhecer o seu próprio rosto. A prisioneira olhou para cima, para a parede que estava logo atrás dela e encontrou uma pequena janela retangular com grades no alto da parede. Por um momento, ela se arrependeu amargamente por ter feito isso depois que encontrou um céu vermelho com nuvens acinzentadas e um sol que nem ao menos poderia ser visto direito por causa dessas nuvens cinzas e suas luzes fracas. Ela ficou horrorizada com essa visão, sabendo que o céu deveria ser azul com nuvens brancas. A única coisa ali que parecia certo era o sol fraco. Abraçando seus joelhos ao seu peito e os apertando com força para ter certeza de que aquilo era a realidade depois que empurrou aquela bandeja cheia de comidas que não lhe davam a minima vontade de colocar na boca, ela suspirou, muito ciente de que esse lugar não era sua casa. Mas também, esse lugar era o único que poderia chamar assim já que tudo nela era um grande vácuo sem respostas.
Ela não podia mentir que estava com medo, mas também não podia admitir isso. O medo era seu pior inimigo nesse momento, não as pessoas que estavam a mantendo presa como um animal dentro de um saco de batatas com um café da manhã bom. A prisioneira estava com medo de que fosse jogada novamente no meio daquele pântano e encontrasse mais cachorros com doenças querendo atacá-la, mas ela também temia pelo anjo com asas grandes e com duas espadas bem afiadas. Na teoria, anjos deveriam ser pessoas boas, mas sua opinião mudou totalmente ao ver que aquelas laminas estavam sendo apontadas em sua direção. Aquele homem era tão grande, tão forte com aquelas asas que eram maiores do que ela mesma que não podia acreditar que conseguiu derrubá-lo e roubar uma de suas espadas. A adrenalina, realmente, podia fazer milagre. A prisioneira nunca havia se sentido tão corajosa, não que se lembrasse de outros momentos, quando agarrou o tornozelo daquele anjo e o puxou em sua direção. Uma parte dela desejava fazer algo como aquilo novamente. Era uma pena que ao entardecer, ela provavelmente ganharia uma sentença de morte. A prisioneira quase foi morta por apenas gritar ao acordar em um lugar assustador, ela não via como sair com seu pescoço inteiro indo a julgamento sem ao menos se lembrar de seu nome. Mas a prisioneira iria lutar, ela definitivamente iria lutar por sua vida. Depois de ter enfrentado um anjo que era muito mais forte do que sua mente poderia imaginar, ela conseguiu sair viva e com todos os membros de seu corpo inteiros. Então, isso era mais do que um aviso de que não era fácil de matar e se aquele homem não tinha entendido o recado, ela deixaria claro novamente no momento adequado. Agora, a prisioneira tinha que tomar cuidado com tudo que fazia, pois qualquer coisa tinha o risco de incriminá-la. Ela não se sentia bem, mas também não precisava se sentir assim para cuidar de sua vida. Uma vida que nem ao menos conhecia, mas que pertencia a ela. Isso era motivo suficiente para se manter forte e enfrentar esses monstros. Em um momento daquele dia, outra mulher apareceu na cela, ela se vestia exatamente como a outra. Um vestido negro e comprido, com um avental branco amarrado na cintura e no pescoço. Essa não era tão amigável quanto a outra, ela apenas deixou uma bacia de água com uma toalha branca dentro dela e logo em seguida se retirou sem ao menos olhá-la. A prisioneira ficou imóvel em seu canto naquelas palhas, deixando que aquela mulher fizesse seu trabalho em quanto deixava aquela água limpa ali do chão para que ela provavelmente se limpasse. A ideia de passar aquele pano molhado em suas feridas foi algo que quase a levou ao paraíso, mas eles provavelmente haviam mandado essa água para que aparecesse apresentável em seu julgamento. Bom, ela não iria fazer os gostos deles. Poderia ser chamada de louca por essa atitude, mas ela continuaria suja e com seus cortes que estavam prestes a pegar alguma infecção. Tudo que ela fez em relação daquela água, foi se aproximar da bacia e tirar a toalha de dentro e depois que a água tremula voltou a ser tão imóvel quanto podia, ela olhou para seu reflexo. Não era algo perfeito, ela mal podia ver seu rosto refletido naquela água, mas era o suficiente por agora. A prisioneira ficou feliz em conhecer seu próprio rosto, seus lábios finos e com um pouco de carne rosa que se ressaltavam, suas bochechas que de longe estavam de serem grandes, mas ela havia o suficiente para que aquele osso abaixo de seus olhos e próximo do nariz não estivessem a mostra. Um nariz pequeno e... Era apenas isso que podia dizer sobre si mesma. Ela não podia identificar a cor de seus olhos, pois na água ela não via detalhadamente cada traço de seu rosto. Ela suspirou decepcionada, não acreditando que estava magoada por não saber a cor de seus olhos.
Mas também, não deixou por ai. Parecia ridículo se contra auto dizer nesse momento quando disse a si mesma que se manteria quieta, mas o pensamento de que estavam a tratando feito um animal a revoltou. Estava na hora de fazer algum barulho. Tirando a toalha branca de dentro daquela água, a prisioneira pegou a bacia cheia e a atirou contra a grade em sua frente. A bacia que era de uma porcelana branca se transformou em mil pedaços, fazendo um barulho médio que ecoou por todas as celas. Não satisfeita, ela fez a mesma coisa com a taça e a bandeja, retirando a comida de cima dela antes de jogá-la, pois não era correto desperdiçar toda aquela comida por causa de uma birra com intenção de chamar a atenção. E aparentemente, essa birra funcionou muito bem. No segundo depois que o último eco do som da bandeja sendo jogada soou naquele corredor, todas as portas das celas que estavam em sua frente se fecharam em um único estrondo como se um vendaval forte o suficiente tivesse causado aquilo. Ela sabia que não era isso, não quando todo o chão daquele lugar tremeu com a força que elas bateram. A prisioneira deu um passo para trás e se manteve em silencio quando outra pessoa apareceu atrás das grades de sua cela. Mas não era qualquer pessoa, era ele. O monstro com asas que tentou matá-la, o anjo. Agora que ambos estavam sob a luz do dia, sem que matos estivessem por todos os lados ou que a lama o sujasse, ela podia observá-lo melhor. Seu rosto era sério, sem nenhum sentimento estampando em seus traços que gritavam pura arrogância, ele tinha cabelos loiros de um tom dourado que eram como o sol, o sol correto que ela conhecia, e também era liso em um corte com fios imperfeitos que caiam em frente de seus olhos em uma leve bagunça. Eles provavelmente deviam atrapalhar sua visão algumas vezes e isso explicava o fato de estarem jogados levemente para o lado. Seus olhos azuis escuros a lembrava de felinos perigosos. Em geral, ele era muito bonito com aquela pele branca e lábios um pouco avermelhados. Esse homem que tentou matá-la seria algo angelical mesmo sem asas. Suas asas... Ela olhou para elas e quase riu quando viu que elas possuíam manchas de um tom claro de marrom. E como haviam partes bem brancas, a prisioneira deduziu que suas asas estavam manchadas por causa da queda que ela causou a ele. Ela teria rido e provavelmente jogado isso na cara dele se ele não estivesse a fuzilando com aqueles olhos azuis. E claro, se esse homem não tivesse tentado matá-la. Mas ainda assim, ele tinha olhos azuis de um felino. Um felino perigoso e totalmente furioso. Esse anjo ficaria muito mais bonito se sorrisse. — Zer nahi duzu?— Ele disse com uma voz severa e totalmente mortal. A prisioneira quase se encolheu com o tom que usou. Quase.— Hildako duzun orain?— Bla bla bla bla. Sim, ela havia entendido cada palavra dele. — Eu não entendo!— A prisioneira cuspiu as palavras, ignorando o medo. Afinal, ela tinha um julgamento marcado, ele não poderia matá-la agora. — Você. Quer. Morrer. Agora?— O anjo, em seu idioma, disse lentamente como se ela possuísse
algum problema de audição, a raiva em sua voz era algo afiado. Isso apenas a irritou. — Você não pode me matar.— Ela disse a única coisa que rodeava sua mente, mas que não garantia a sua segurança. Aquele monstro com asas cruzou seus braços em frente de seu peito, suas asas fechadas se apertaram ainda mais em suas costas. E só então que ela percebeu que ele usava roupas diferentes também. Na noite passada, quando tentou matá-la, o anjo vestia uma roupa mais apropriada para uma caça. Para caçá-la. No entanto, hoje ele usava algo mais digno a sua aparência angelical. Era algo simples, mas que demonstrava que ele não era qualquer pessoa usando apenas uma camisa azul escura social com suas mangas dobradas em seus cotovelos e uma calça jeans preta. — O que você quer?— — Você não o direito de me manter trancada, eu não sou um animal.— — O que você quer?— Ele repetiu sua pergunta com mais raiva dessa vez. — Eu quero...— Voltar para casa? Claro, gênio, ela se apedrejou, você não tem nada além dessa cela e deveria ter se lembrado antes de fazer birra.— Eu...— — Não posso ajudá-la se nem ao menos sabe o que deseja.— Disse arrogantemente.— Além do mais, você irá a julgamento e antes do resultado, não posso soltá-la como todo animal enjaulado deseja.— A prisioneira bufou e desejou não ter jogado aquela bandeja nas grades, pois agora ela não tinha nada para jogar nele. E estava muito ciente de que jogar um pão na direção dele não causaria nada mais do que a sujeira de algumas faíscas em sua camisa. — Como se chama, humana?— Ele voltou a falar, perguntando com certo desprezo. Principalmente quando disse a palavra “humana”, a fazendo se sentir totalmente renegada pelo o que era. — Eu não sei.— Ela disse com sinceridade e viu que o anjo acreditou nela.— Não me lembro de nada antes de acordar naquele pântano.— — Você deveria tentar se lembrar antes do julgamento começar.— — Claro, porque sou eu que tenho asas e posso fazer mágica.— Ela disse com vontade de socá-lo. — Não se preocupe, no julgamento eu irei dizer até mesmo o tamanho de minhas roupas para que possam me dar um saco de batatas mais adequado.— O anjo continuou imóvel, seus braços ainda cruzados em seu peito, lhe dando a impressão de que era uma pedra esculpida com asas. Porém, uma de suas sobrancelhas se arquearam com surpresa. — Talvez sua língua seja a primeira coisa que eu arranque quando receber ordens de matá-la.— Soltando essas palavras como um chicote de fogo, o anjo se virou e foi embora. Infelizmente, ele não deu nenhum indicio de que estava brincando sobre o que iria fazer com sua língua. Suas pernas bambearam e a prisioneira teve que se sentar novamente em cima daquelas palhas. Sentindo um nó se formar em sua garganta quando percebeu que novamente ela foi movida pela adrenalina, e novamente ela estava completamente perdida por causa de suas ações. A prisioneira se sentia uma idiota por discutir ao invés de se manter quieta. Ela, da próxima vez, iria ouvir a voz de sua mente quando a mandasse ficar calada em sua cela para salvar sua vida. Pelo menos isso manteria sua língua a salva. ______________ A prisioneira estava quase dormindo novamente quando dois homens apareceram diante de sua cela, eles estavam vestidos com blusas negras que marcavam todos os seus músculos, músculos muito grandes, e calças cargo da mesma cor com coturnos sobre elas, uma aparência de soldados. A única diferença de um verdadeiro soldado, era que nenhum deles carregavam armas ou laminas. Suas mãos estavam nuas e isso foi o que a preocupou.
Que tipo de soldados não carregavam armas? Talvez o pior deles. Ela ficou de pé assim que um deles abriu a cela, ficando imóvel como uma pedra. Não por medo, mas sim para que nenhum deles pensasse que ela era um perigo. Ambos observaram ela com cautela, provavelmente imaginando que a prisioneira em frente deles era como uma víbora. Calma e com veneno de sobra para usá-la quando o medo fizesse com que ela mostrasse suas presas. Eles não estavam enganados. Ela também os observou e viu o obvio. Os soldados eram gêmeos. Eles possuíam cabelos bem arrumados e escuros, seus olhos eram do mesmo tom negro que serviam de espelho para qualquer pessoa que os encarassem e tinham o mesmo rosto, os mesmos traços. Não existia nada de diferente neles, tudo era como estar zonza e ver uma pessoa como duas. A prisioneira não estava com tanto medo deles, na verdade, ela achava que a única pessoa que realmente sentia medo era do anjo. Claro que esses homens idênticos proclamavam o perigo, mas ela viu que eles eram capazes de sorrir, diferente do monstro com asas que desejava arrancar a língua dela. — Está na hora do seu julgamento.— Um deles falou em uma voz sem emoção, dura e crua. Ela ficou feliz por ele ter falado em seu idioma e não naquele que todos estavam usando antes. — Se você não tentar escapar, não iremos machucá-la.— O outro disse no mesmo tom. Por um momento sua única vontade foi de perguntar qual era o nome deles, pois até onde sua mente permitia que alcançasse, ela se lembrava que todos os gêmeos tinham nomes que combinavam e pareciam como uma melodia quando dito em voz alta. A prisioneira queria saber se o nome deles rimavam ao invés de se preocupar com seu julgamento. Bem, se ela não tivesse saído de um hospício antes de acordar naquele pântano, o anjo fez um ótimo trabalho em transformar a mente dela em papa quando apontou uma espada em sua direção. E como os gêmeos haviam pedido ou ordenado, ela não iria lutar contra eles para fugir. O anjo era bem assustador, mas o fato de que homens que se vestiam como soldados não carregando nenhuma arma era algo que empatava com aquele monstro que tentou matá-la. Além do mais, se ela fugisse, para onde iria? Voltar para aquele pântano que nem ou menos conhecia o trajeto para chegar até lá? No máximo a prisioneira poderia voltar para sua cela, pois suas quatro paredes de pedras e grades era a única coisa que conhecia e se sentia confortável. O gêmeo que havia falado primeiro movimentou sua mão para que ela se aproximasse, ela fez como pedido e logo que colocou seus pés para fora de cela, ambos se colocaram ao seu lado e pegaram em seu braço de maneira rude, mas nenhum deles estava usando força, então isso não a incomodou. Eles apenas estavam fazendo o trabalho que foi ordenado, então ela iria cooperar. A morte podia estar no olhos negros deles, mas eles não eram rudes como aquele anjo e isso era mais do que um motivo para ela se comportar. A prisioneira não podia se conhecer, mas se ela tinha que começar do zero, então começaria formando regras sobre sua nova vida. E a primeira delas, talvez a principal, era não ser boazinha com as pessoas que a tratavam mal, mesmo que essa pessoa pudesse matá-la. E se matasse por não ter controlado sua língua, ela morreria com orgulho. De maneira nenhuma que ela seria uma vitima ou criminosa nesse julgamento, pois o único sangue que a sujava era daquele cão que matou ao salvar o anjo, não dela ou de outra pessoa.
Os gêmeos começaram a andar e tudo que ela fez foi acompanhá-los, seus pés nus contra o chão de pedra era gelado e talvez sua temperatura não fosse diferente, já que as mãos daqueles homens em seus braços eram bem quentes. Ela pensou que assim que saísse daquele calabouço, após as escadas terminarem, o chão se tornaria um pouco mais quentinho, mas estava enganada. Apesar dos pisos serem tabacos escuros, eles continuavam frios. Na verdade, por todo o trajeto que estava fazendo com esses gêmeos, a única palavra que podia descrever o que via era “frio”. As paredes podiam ser esculpidas em pedras e a cada meio metro possuir uma janela que quase iam do teto ao chão, lhe dando uma vista para fora daquele lugar que aparentemente era enorme. A prisioneira preferiu não olhar pelas janelas daquele corredor cumprido, pois ver uma imensidão de água e um céu vermelho não era a visão perfeita antes de ir a um julgamento. Aqueles homens idênticos pararam de caminhar quando chegaram diante de portas duplas com desenhos abstratos feitos em uma madeira escura, em um olhar rápido, ela pode ver que era um retrato de pessoas em desespero sendo queimadas. Ela não podia negar que ficou horrorizada com esse desenho, mas também deixou bem claro que esse lugar era onde seria julgada por não ter feito nada. Dois homens que estavam parados ao lado daquelas portas, também vestidos como os gêmeos, abriram as portas para que eles pudessem passar, fazendo os joelhos da prisioneira vacilarem pela primeira vez diante de outras pessoas. Deixando seu medo claro para todos. Em sua frente, existia um grande salão iluminado por um lustre maior ainda de cristais, haviam mais homens vestidos como soldados e sem estarem carregando armas. Eles formavam uma meia lua perfeita e no inicio de cada ponta estavam duas mulheres. Elas vestiam vestidos longos do tipo que era ideal para um casamento, não para um julgamento e talvez uma morte. Porém, o pior não era isso. Em frente dessa meia lua, existia dois pequenos degraus também formando algo arredondado que levava para um altar, o problema que a fez quase cair de joelhos se não fossem os gêmeos a segurando estava nesse altar. Haviam três tronos grandes acima daqueles degraus, um deles estavam a frente dos outros dois, eles eram grandes e acomodavam três homens com suas enormes asas brancas. E aquele que estava na frente dos dois tronos, era o anjo loiro que tentou matá-la. Os outros dois, provavelmente, deveriam ser irmãos. Ambos tinham cabelos marrons, olhos escuros e uma pele pálida, o que não os tornavam idênticos era que um deles demonstrava ser alguns anos mais velho que o outro. Esse, o mais velho, estava a observando com olhos de uma águia faminta por poder, seu silêncio proclamava o ódio. Seus cabelos eram um pouco a acima dos ombros e caíam ligeiramente ao redor de seu rosto nada amigável. O outro, que provavelmente era o mais novo, estava com uma expressão entediada, seus cabelos eram curtos e arrumado perfeitamente em um penteado que formava um topete jogado para o lado. Ele parecia ser o mais gentil, o que ela provavelmente apelaria quando decretassem sua morte. No entanto, o anjo que tentou matá-la, ela não conseguia descrever sua expressão. Aqueles olhos de felinos a assustavam com a seriedade que existia dentro deles, mas também havia várias perguntas dentro deles. Perguntas sobre ela, perguntas que nunca poderia responder já que não se lembrava de nada além de tudo que ocorreu depois de acordar no pântano. O gêmeos a deixaram no meio daquela meia lua e se colocaram nos lugares que estavam vazios para agora sim formar um desenho perfeito. No total haviam seis homens vestidos iguais com aquela camisa feita sob medida e calças cargo, todos eles estavam com seus braços para trás e olhando para os anjos em frente deles. As mulheres não possuíam nenhuma posição de respeito diante dos anjos, elas estavam mais suaves e a encaravam como se fosse um animal, assim como os homens com asas sentados em seus tronos. A prisioneira estava começando a se sentir muito
pequena e se obrigando a manter uma postura reta ao invés de se encolher diante de tantos olhares. — Zer gauza zikina da hau?— Uma das mulheres perguntou, seu tom era mal humorado e a olhava com total desprezo. — Ela não fala nossa língua, Katherine.— O anjo loiro disse com toda calma do mundo.— É uma veneziana.— — Oh, tudo bem. Posso falar na língua dela.— Katherine, segundo o anjo, disse com gentileza fingida.— O que é essa coisa suja?— — Não seja arrogante, Katherine.— A outra mulher disse e agora que a atenção da prisioneira estava nela, ela também podia ver uma certa semelhança na aparência dela com as dos anjos morenos. Pelo menos o cabelo, os olhos e a pele tinha os mesmos tons. A prisioneira decidiu ignorar a parte em que foi chamada de “coisa suja” para que não causasse confusão, porém, seu medo foi deixado de lado para que a raiva surgisse a todo vapor. — A mente dessa humana é impenetrável.— Disse o anjo moreno mais velho, seu tom não era nada diferente de sua expressão mortal, mas no momento que falou a palavra humana, houve uma leve mudança para o desprezo. Seus olhos escuros estavam fixos nela, assim como os dos outros anjos. — Ela é imune a qualquer poder.— Aquele que tentou matá-la disse.— Eu tentei explodi-la diversas vezes e não tive nenhum sucesso.— O que?! — Isso é o que podemos chamar de um belo brinquedo.— O entediado disse, ajeitando sua posição no trono para observá-la melhor.— Podemos ficar com ela?— Um sorriso narcisista cortou seu rosto. Katherine bufou ao lado da prisioneira. — Não até você responder como uma humana chegou até aqui, Dimitrius.— O loiro falou ao entediado. — Não olhe para mim como se existisse meus poderes ao meio disso, Meridius, eu gosto de humanos bem longe de mim.— Dimitrius disse para o anjo que provavelmente era seu irmão mais velho quando ele lançou um olhar fulminante em sua direção.— Não tenho culpa por uma humana ter invadido essa dimensão.— Katherine chamou sua atenção novamente depois de pigarrear. Na verdade, a atenção de todos foram para ela ao fazer esse som.— Vocês estão discutindo sobre isso desde que a manhã surgiu, não é educado agirem dessa forma na frente dessa coisa suja.— Oh, agora a prisioneira estava indignada. — O que não é educado é mencionar sobre mim como “coisa suja”.— A prisioneira disse com raiva, deixando que a adrenalina a movesse.— Eu tenho um nome.— Talvez ela tivesse, e diria com todo o prazer e orgulho quando descobrisse. Katherine arqueou uma sobrancelha, sua cara de esnobe e desprezo estava fazendo com que os músculos da prisioneira se apertassem por causa daquele narizinho empinado... Talvez se ela socasse essa metida, sua morte seria rápida ao ter todos esses homens despedaçando seus membros por ter ferido alguém de extrema importância. — Você deveria se manter calada para prezar sua vida.— Katherine falou. Ela não respondeu,
mesmo que tivesse boas respostas para dar a essa estranha com uma aparência de nobreza. Mas a prisioneira viu que os anjos estavam a observando, observando esse comportamento que a tornava culpada. A prisioneira fechou sua boca e olhou para eles. Afinal, eram esses anjos que davam ordens nesse lugar, não a narizinho empinado. Porém, o seu foco foi para o anjo loiro. Ele não a havia matado mesmo quando desejou por isso, tinha que haver alguma esperança nele já que o outro apenas a via como um brinquedo. — Ela é um problema, mas não cometeu nenhum crime.— O loiro disse.— Mande-a de volta para sua dimensão, Dimitrius, com suas memorias apagadas sobre nós.— Sim! — Apenas em olhá-la vejo o quão fraco seu corpo é.— Ele disse a observando agora com olhos de quem estava no poder, deixando aquela pose de que não se importava com nada de lado.— Nunca vi nada como isso, essa humana esta a cima de todo o meu conhecimento. Ela provavelmente morrerá ao ser mandada de volta.— — Então vamos matá-la.— O irmãos mais velho, Meridius, falou. Não havia nenhuma piedade ou duvida em sua voz. Era uma afirmação cruel. Isso era errado, completamente errado. Apenas por que a prisioneira era algo desconhecido para eles, isso não queria dizer que estavam no direito de matá-la. E se ela não possuía nenhum advogado nesse ninho de cobras, ela mesma se defenderia. — Quem pensa que é para decidir o que fazer com a minha vida?— A prisioneira disse em uma voz calma que demonstrava toda a sua raiva, quando seu desejo era apenas gritar. Os olhos de todos que estavam presentes foram para ela, provavelmente surpresos por questionar. — Alguém com poderes que podem fazê-la implorar para que a mate.— Ele a respondeu no mesmo tom, totalmente frio. — Você pode pegar esses poderes e enfiá-los...— — Cale-se!— O anjo loiro elevou sua voz ao interrompê-la. Ela fechou a boca no momento em que ele disse aquilo, mesmo quando viu Dimitrius jogar sua cabeça para trás e rir. — Com tantas humanas bem educadas, você teve a sorte de receber uma que não leva desaforo para casa, irmão.— Irmão. A prisioneira piscou, entendendo um ponto bem importante do que estava em sua frente. Os três anjos eram irmãos, mesmo que o loiro não tivesse nenhuma semelhança com os outros dois. O anjo que tentou matá-la a encarou de volta e suspirou. Ele estava pensativo, provavelmente considerando de que ela seria muito boa dentro de um caixão bem longe dele. A prisioneira não podia negar o medo que estava dentro dela, mas também iria demonstrar que existia outros sentimentos nela para lutar por sua vida. — Ela não é uma ameaça,— Ele disse calmamente.— Eu tentei matá-la e mesmo assim ela se jogou em minha frente para que um cão do inferno não me atacasse.— Seus irmãos o olharam com surpresa, mas não por ela ter se jogado ao meio daquele cachorro com doença para impedir um ataque, mas sim por ele estar poupando a vida dela. — A humana ficará sob meus cuidados até que uma forma de mandá-la para casa surja.— Ele decretou aquilo como um verdadeiro rei.— Seu único crime é ter uma boca descontrolada e isso não
é um motivo para matá-la.— O anjo olhou para Meridius, ambos trocaram olhares ferozes, mas logo o anjo moreno concordou com sua decisão. — Essa humana morrerá apenas se cometer crimes e ninguém encostará um dedo nela até que as respostas de como chegou até aqui seja encontrada ou ela se lembre de algo.— Ele disse por fim e se levantou, fechando suas asas que antes estavam um poucos abertas para que se acomodasse naquele trono com encosto.— Sessão encerrada.— Ela quis sorrir diante dessa decisão, mas ai a prisioneira ficou ciente de que acabará de sair de um problema para entrar em outro. Um problema que duvidava sair viva no final. Afinal, agora ela estava sob os cuidados de um monstro com asas que tentou matá-la, o que a faria ficar próxima do outro que apenas de olhar desejava sua morte. E bem, o entediado desejava fazer dela um brinquedo, então realmente não tinha um lado positivo em tudo isso. A prisioneira olhou para Katherine, ela estava rosnando e com uma cara emburrada de quem não havia gostado nada daquela decisão. Seus braços estavam cruzados sobre o seu peito, luvas negras brilhantes que alcançavam até seus cotovelos e combinava com seu vestido longo. Ela era linda com seus cabelos pretos e olhos azuis claros, aquele nariz empinado, apesar de irritar a prisioneira, a fazia ter a aparência de uma boneca de porcelana. Depois de se segurar para não rir quando os olhos dela se encontraram com os seus, a prisioneira desviou seus olhos para a mulher na outra ponta. Ela estava sorrindo e sua felicidade parecia ser contagiante. Essa mulher era muito semelhante a Meridius e Dimitrius, a única diferença era que ela possuía maçãs altas em seu rosto e ela era uma dama. Seu cabelo era alguns centímetros a baixo de seus ombros, eles eram completamente lisos com alguns cachos grandes nas pontas. Ela também não deixava de ser uma boneca, porém, diferente de Katherine, era uma boneca do bem. Segundos depois que os outros dois anjos levantaram, os homens e as duas mulheres se viraram em direção da porta que a prisioneira entrou e saíram em duas filas perfeitas. Os anjos não seguiram essa fila, eles saíram como duas pessoas normais que não desejaram que ela morresse poucos segundos antes do anjo loiro decidir o que aconteceria com ela. Eles também a mediram em quanto passavam por ela, Meridius com seu olhar de puro ódio a fez congelar no lugar, em quanto Dimitrius foi um pouco gentil ao abrir seus lábios em um sorriso cafajeste. Ela desejou falar que nunca seria um brinquedo, mas se manteve em silencio, pois duas pessoas ainda estavam presentes naquele salão e uma delas era o anjo loiro que acabará de salvar sua vida, novamente. — Imperatore.— O outro homem disse como se estivesse pedindo permissão para falar, quando o anjo olhou em sua direção, ele continuou.— Ambos sabemos que só existe uma outra pessoa além dos arcanjos que pode viajar pelas dimensões e trazer outras pessoas com ele.— Arcanjos... Então os irmãos eram arcanjos. — Traga-o para o castelo.— Ele disse.— Nós buscaremos por respostas em cada pessoa que for possível e considerada culpada. Isso terminará tão logo quanto começou, Derek.— — Imperatore.— O homem disse em um tipo de continência e logo em seguida após curvar sua cabeça se retirou do salão. Agora, era apenas ela e o anjo, ou melhor dizendo, arcanjo. O arcanjo desceu aqueles dois degraus e caminhou para ficar próximo dela, quando ele chegou a uma certa distancia, a prisioneira deu um passo para trás com certo medo o que fez pará-lo à vários passos antes de chegar mais perto. Seus olhos azuis escuros também a mediram, mas diferente dos outros anjos, ela não podia deduzir o que pensava, pois não havia nenhum sentimento em sua expressão ou no fundo de seu olhar.
Meridius a fez tremer de uma forma inigualável, mas uma pessoas que não expressava seus sentimentos era ainda pior do que alguém que olhava com ódio. — Vocês são irmãos?— Ela perguntou sobre os outros anjos para ter certeza do que já estava obvio. — Sim.— Um resposta cautelosa sem indicio de que continuaria falando e lhe dando explicações de quem era o mais velho e o mais novo, qual era os nomes de seus pais e toda aquela conversava que acontecia quando membros de famílias eram citados em um dialogo. — Você disse que arrancaria minha língua mais cedo... Por que me defendeu?— Ela tentou novamente, fazendo uma pergunta que não havia modo algum de responder com sim ou não. Suas asas se moveram levemente em suas costas, suas penas brancas manchadas com marrom estavam quase se arrastando ao chão por causa do tamanho delas, mas o arcanjo tomou todo o cuidado que precisava para que não deixasse suas asas se arrastarem no chão, como se aquilo fizesse parte de uma boa educação. — Você não aparenta ter culpa por acordar em um lugar que não deveria estar.— Ele disse.— Alguém a trouxe para essa dimensão e pagará por seus crimes. Tudo que posso fazer por em quanto é proteger você de quem fez isso e encontrar uma maneira de devolvê-la para onde pertence. Em quanto nada disso acontece, teremos de confiar em suas memórias para encontrar as respostas, pois eu não sei mais do que você.— — Então esse é o plano perfeito?— Ela perguntou, com uma leve sensação de que estava conversando com uma pedra falante. — Sim.— — Mas eu não sei como fazer minhas memórias voltarem.— Apontou o obvio. — Você precisa me deixar entrar em sua mente.— O anjo falou como se ela soubesse exatamente como permitir algo como aquilo.— Sua perda de memoria pode ser de um nível que nem ao menos lembra seu nome, mas dentro de sua mente, em algum lugar, está tudo que preciso.— — Eu acho que não confio em você para estar em minha mente.— A prisioneira apontou aquilo que era ainda mais obvio.— Naquele pântano você tentou me matar, ameaçou minha língua e ainda admitiu que tentou explodir cada parte do meu corpo. Isso não torna as coisas fáceis, pardal.— — Pardal?— Ele franziu o cenho, era primeira vez que demonstrava um tipo de emoção naquele momento. — Sim.— — Eu sou um arcanjo, não me chame de pardal.— Ele pareceu seriamente ofendido. — Ninguém nunca disse seu nome.— A prisioneira se defendeu antes que toda essa coisa de que ele iria protegê-la fosse para rio abaixo. — É Maximus.— Ele disse com seriedade.— E se serve de consolo, não confio em você também, mas não temos nada além da opção de passar a confiar, então faça valer a pena.— — Maximus.— Ela repetiu seu nome, ignorando todo o resto do que ele havia falado sobre confiança. Meridius, Dimitrius e Maximus... Uau, a mãe deles havia sido bem criativa. O mais interessante, era que os três nomes proclamavam o poder, assim como a personalidade deles. A prisioneira encontrou os olhos de felino dele e viu que o anjo esperava por uma resposta.— Certo. Confiança.— — Imagino que isso seja a única forma de quebrar os escudos que existem em volta de sua mente. — Maximus explicou.— Você pode fazer isso?— — Sim.— — Ótimo.— O anjo disse sem soar que achava aquilo realmente ótimo.— Amanhã começaremos com pequenas sessões para que eu tenha sucesso em entrar.— — Você sabe,— A prisioneira ousou usar ironia diante dele.— Amanhã provavelmente também não estarei confiando minha mente para alguém que tentou me explodir.— — Nós precisamos aceitar o fato de que temos que trabalhar juntos, eu não estou feliz por isso
quando meu primeiro desejo ao vê-la foi de matá-la para não me causar problemas, mas também não posso ignorar o fato de que alguém esta tentando passar por cima das minhas regras e você foi o alvo disso.— Bem, ela não sentia surpresa em ter outra pessoa tentando matá-la. — Apenas tente não se colocar em problemas com a sua boca,— O anjo continuou.— Eu farei o meu melhor para não deixar que nenhum dos meus irmãos ou outra pessoa tente matá-la em quanto for considerada inocente. Afinal, a única coisa errada que aconteceu e que a envolve foi acordar em um lugar que não pertence.— — Tudo bem.— A prisioneira concordou com calma. Esse arcanjo estava fazendo o máximo que podia para ajudá-la nessa situação insana e tudo que ele pedia era sua confiança para encontrar as respostas de perguntas que até mesmo ela se fazia em sua mente fechada.— Nós começaremos amanhã.— Maximus movimentou sua cabeça em um aceno rapidamente para concordar e a próxima vez que abriu a boca, toda sua imagem de que poderia ser seu herói foi arruinada.— Para que a convivência de todos seja melhor nesse castelo, aconselho que aja como uma sombra e não estrague tudo ao esquecer que pode facilmente ser morta. E não apareça em meu caminho quando não for pedido, caso contrário, você voltará a viver em uma cela.— Ok, ela podia viver longe desse homem arrogante que havia vindo direto das cavernas. Ia ser uma alegria para ambos se ela não ignorasse esse pedido, então a prisioneira iria fingir que ela era uma de seus lacaios e obedecer sua ordem. O arcanjo se virou para ficar de costas, mostrando aquela asas grandes que ocupavam quase todo aquele espaço. Maximus começou a andar em direção de uma janela que estava próxima deles. — Maximus.— Ela disse seu nome para ter a atenção dele novamente. O anjo se virou para encontrar seus olhos e esperou que a prisioneira continuasse a falar.— Onde eu estou?— A prisioneira quase viu um pequeno sorriso se formar em seus lábios avermelhados, mas eles ficaram imóveis e não acompanharam certo brilho que apareceram em seus olhos claros.— No inferno.— Ele falou, então o anjo se foi ao se jogar, ou cair, o que não fazia diferença, pois o sr. Pardal tinha asas para sobreviver quando saltou na direção daquela paisagem de águas escuras lá em baixo após abrir as portas grandes daquela janela para que pudesse passar com todo seu tamanho e asas. Tudo bem, agora ela só tinha que formar uma frase que encaixaria a palavra inferno e sobreviver que não acabasse com coisas negativas envolvendo um certo arcanjo. Ótimo, essa fase seria fácil de se criar se usasse a ironia e ilusão. Afinal, o que poderia dar errado quando possuía essas duas armas? Mas e se Maximus estivesse brincando sobre estar no inferno? Ela não podia estar literalmente no inferno. No entanto, o anjo não parecia do tipo que brincava e ela tinha provas suficientes para acreditar nele quando estava sob um céu vermelho e lidando com pessoas que possuíam asas... Sim, a prisioneira teria que usar muita ilusão para sobreviver.
~ 03 ~ Maximus estava sobrevoando o oceano que não possuía nenhuma onda, suas águas eram escuras e tão quietas que era possível acreditar que não havia nenhuma criatura vivendo nas profundidades dessa imensidão que parecia não ter fim. Ele gostava muito de seu castelo ter sido construído nas ruínas de um oceano, pois o arcanjo se sentia totalmente livre para voar sem se preocupar com o espaço. Suas asas podiam alcançar o limite sem que sua mente as controlasse, mas existia uma pequena diferença hoje, Maximus não estava se sentindo livre. Na verdade, o arcanjo estava preocupado sobre a humana. Tudo que envolvia ela estava errado e ele não gostava disso. Nem mesmo Meridius, seu irmão mais velho, sabia o que estava acontecendo. Alguém havia quebrado algo além de regras ao trazer essa mulher sem memorias para o inferno e a fazendo sofrer imensamente por causa disso. Não que ele se preocupasse com os sentimentos dela, mas alguém estava procurando por problemas com o imperador do inferno ao jogá-la na sua dimensão. Algo em seu interior dizia que os culpados eram as almas que habitavam o nível 2, mas antes que começasse investigar os demônios de lá, ele falaria com seu velho amigo que tem a capacidade de transportar os humanos para qualquer lugar. Se tudo voltasse a ser zero, o arcanjo começaria a procurar por alguma cabeça inteligente suficiente para tirar uma humana de seu mundo e jogá-la no inferno. Ele pediria ajuda de seus irmãos para procurarem pessoas que tem poderes o suficiente para causar isso também na dimensão deles. Alguém estava procurando por guerra, mas essa pessoa não teria nada mais além da morte. Depois de dizer como Maximus se livraria da humana, claro. No momento, em quanto ela não demonstrava ser nenhuma ameaça, ele iria protegê-la e ajudá-la recuperar suas memórias. O arcanjo poderia facilmente deixá-la em alguma cela de seu calabouço, mas estava ciente de que ela não colaboraria em nada se colocasse em ação esse plano. Infelizmente, ao mesmo tempo que considerava fácil invadir a mente de qualquer pessoa, ela também podia ser uma labirinto cheio de caminhos complicados e até mesmo perigosos. Maximus só podia contar que a partir do momento que conseguisse a confiança dela, sua mente ficaria mais acessível para se explorar. E assim que ele conseguisse tocar suas memorias, o arcanjo a prenderia em uma cela mesmo que fosse inocente, para que aquela humana não lhe causasse problemas. Afinal, era apenas isso que os humanos sabiam fazer. Eles destruíam tudo o que estava no alcance deles, assim como fizeram na dimensão que viviam, que estava morrendo aos poucos. Maximus se perguntava como seu irmão mais novo conseguia lidar com eles, mas também, Dimitrius sempre teve mais paciência e calma para lidar com os problemas que os humanos causavam. Diferente de Meridius, que era uma explosão de ódio, mas no fim, fizeram um ótimo trabalho em colocá-lo como imperador do paraíso, pois o arcanjo do inferno não saberia como lidar com todos aqueles anjos cheios de mesmices que viviam naquela dimensão sem ter o humor de seu irmão mais velho.
Na verdade, Maximus estava tão acostumados a lidar com mentiras dos demônios que nem ao menos sabia como tratar uma humana que transmitia ser um poço de sinceridade. Ele usaria a inocência dela para conseguir suas antigas memorias e mesmo que no final ela se quebrasse em pedaços, o arcanjo não se importaria. Maximus era o imperador do inferno, não sentiria piedade por uma humana que de certa forma já estava pronto para trair por causa de seu passado desconhecido. Ele acharia uma maneira de levá-la para casa e era apenas isso que poderia fazer por ela, não era como se Maximus estivesse se tornando um amigo ou seu salvador. O arcanjo apenas estava preocupado com o que aconteceria em seu império, não com uma humana. Se ela sobrevivesse ou morresse não era algo que realmente fizesse diferença, mas ele tinha que conseguir suas memorias antes de qualquer coisa. Eram elas que iriam formar a base de todas as respostas e planos, então, em quanto isso não acontecia, ela se tornaria sua protegida.
~ 04 ~ A prisioneira teve um pequeno ataque de pânico depois que Maximus a deixou sozinha naquele salão com tronos. Ela não sabia o que exatamente deveria fazer, se esperava ou saía daquele lugar tão frio. Bom, se preocupar em estar sozinha sem saber o que aconteceria em seguida era melhor do que lidar com o fato de que estava literalmente no inferno. A prisioneira decidiu que depois se descabelaria com esse pequeno fato, pois se ela se permitisse se partir nesse momento, tinha uma leve sensação de que não conseguiria se reerguer. Ela tinha que ignorar onde estava para sobreviver, pois o perigo eram as pessoas que habitavam o inferno, não o lugar em si. E sua preocupação no momento era o arcanjo de cabelos dourados que aparentemente, depois de tentar matá-la, iria ajudá-la a voltar para casa. Porém, o que ele pedia em troca era algo completamente complicado. A prisioneira não conseguia nem sequer pensar que confiaria nele, mas também, ela não tinha outra saída. Maximus, assim como os outros arcanjos, dissera que sua mente era impenetrável e pelo o que ele disse, a única maneira de tornar isso diferente era que ela confiasse nele para que pudesse quebrar todos seus escudos e chegar em suas memorias. E, infelizmente ou felizmente, a prisioneira iria fazer o que ele pediu. Afinal, que escolha tinha? Aceitar a ajuda de uma pessoa, que apesar de ter tentado matá-la, demonstrou que iria levá-la para casa ou fugir desse lugar que todos chamavam de castelo e caiar nas garras de sabe lá o que que existia la fora? Ela definitivamente ficaria com a primeira opção, pois ela conhecia Maximus somente um pouquinho para saber de que ficar próxima dele era mais seguro do que lá fora. A prisioneira podia até mesmo considerar ele como o inimigo, mas antes acompanhada com alguém considerado assim do que só. Então, ela faria o possível para cofiar naquele anjo arrogante, e caso ele estivesse mentindo e planejando algo diferente do que dizia... Que diferença faria? A prisioneira, nos próximos dias, iria planejar um plano B para caso sua convivência com Maximus fosse para as ruínas e ele se demonstrasse ser um monstro maior do que aquele cão com doenças. Mas por em quanto, ela não tinha nada além de acreditar nas palavras dele. Seu primeiro passo para a confiança seria acreditar em suas palavras fielmente. E o anjo podia ser nada diferente de uma pedra quando se tratava de revelar o que sentia, mas naqueles olhos de felinos, ela viu que ele não a machucaria. Não fisicamente, pelo menos, e ela acreditava que isso era o suficiente, pois não existiria outra forma de machucá-la. Ignorando seus pensamentos por um momento, para que pudesse relaxar, a prisioneira estava pronta para sentar quando as duas portas duplas e grandes foram abertas novamente. Aquela mulher que havia levado comida para ela até sua cela mais cedo naquele dia entrou, seus dedos estavam entrelaçados em frente de seu avental branco em quanto caminha na direção da prisioneira.
— Olá.— Disse ela gentilmente, com um pequeno sorriso.— Imperatore ordenou para que a levasse ao seu novo quarto.— — Novo quarto?— A prisioneira perguntou surpresa, pois estava ciente de que voltaria para sua cela. Mas era obvio que Maximus falharia rapidamente ao pedir sua confiança em quanto a trancava em uma cela. Aquele anjo era realmente esperto. — Imperatore deu ordens para que todos os servos passassem a tratá-la como uma hospede.— Ela respondeu a pergunta.— Hospedes não dormem em palhas secas nesse castelo.— — Certo.— Ela concordou com a mulher estranha, um pouco pensativa.— E Imperatore seria o Maximus?— — Exatamente.— A mulher falou.— Ele é o imperador dessa dimensão, todos o chamam dessa maneira por aqui.— — E como você se chama?— — Marie.— Ela disse com um sorriso ao dizer seu nome.— E eu sou a serva responsável de atender tudo aquilo que desejar e estiver ao meu alcance.— — Oh... Obrigada, eu acho.— A prisioneira disse um pouco sem jeito, principalmente quando Marie a observava. Para quem não possuía nada além de uma cela e um saco de batatas, estava indo tudo muito bem. — Você parece tensa.— Para quem acabará de descobrir que estava no inferno e sua única salvação eram suas memorias trancadas a mil chaves, isso não era uma surpresa.— Imperatore é um bom líder, talvez o melhor entre seus irmãos, não se preocupe.— Um bom líder... E quanto a ser uma boa pessoa? Marie não disse mais nada além de um simples “vamos” acompanhado de um sorriso, ela não perguntou seu nome como ninguém naquele julgamento, o que fez a prisioneira pensar que as fofocas corriam soltas nesse lugar. Ela, definitivamente, tinha que tomar cuidado com isso. A empregada a guiou pelo lugar, que realmente era enorme, como se conhecesse cada rachadura que estivesse por perto de seus olhos. E a prisioneira ficou surpresa ao ver que em cada corredor que passava existiam aqueles homens vestidos de soldados plantados em algum canto para nem ao menos serem notados. Mas os olhos deles eram observadores, olhos que estavam prontos para reparar no minimo detalhe de um movimento. Elas pararam de caminhar assim que Marie se aproximou das portas duplas feitas com madeira, a prisioneira não pode deixar de notar o tamanho delas. Na verdade, tudo era enorme naquele lugar e ela sabia exatamente o porque. Aquelas asas grandes que possuía o anjo precisavam de espaços. Por um momento, ela desejou que sua porta possuísse um tamanho bem menor, pois assim teria a certeza de que Maximus não passaria por ela e teria uma boa noite de sono. Assim que Marie abriu as portas daquele lugar e passou por elas, o queixo da prisioneira foi parar no chão, a fazendo esquecer totalmente sobre o anjo loiro entrando em seu quarto. Pois aquilo não era apenas um quarto... Simplesmente era o lugar que toda mulher desejava ter para se chamar de seu. O quarto além de ser enorme, cada detalhe dele era de uma cor dourada e até mesmo uma cama de dossel com panos finos e amarelos que lembrava ouro se encontrava naquele lugar. Só possuía uma janela e ela era simplesmente do tamanho das portas que ela ainda estava parada. A prisioneira pensou que fosse portas para uma varanda, mas se enganou totalmente ao ver que não se tinha mais nada além de um abismo em frente, nada de grades ou chão. Ela fez uma nota mental de que ficaria longe dali. Quando ela olhou para cama seus olhos ficaram presos no que estava a cima dela. Apesar das várias almofadas de cetim que faziam a decoração ser bem chamativa, seus olhos ficaram presos no vestido longo e nos sapatos de saltos agulha. E bem, a prisioneira considerou muito ter aquilo por perto para usar como uma arma caso fosse necessário, mas apenas em vê-los de longe, seus pés
ficaram agitados com a provável dor que sentiria. A prisioneira olhou para os pés de Marie, ela vestia sapatilhas negras e tão simples que não possuía nenhum brilhante pequeno para enfeitar aquele pequeno sapato.— Marie,— Ela disse o nome dela meio sem jeito e quando a empregada desse lugar a olhou, virando seu corpo um pouco em sua direção, voltou a falar.— Você se importaria em me arrumar sapatilhas iguais a sua?— — Há algo de errado com aqueles?— Ela perguntou ao apontar para a cama, seus olhos escuros estavam cheios de curiosidades. — Eles são lindos.— A prisioneira disse a verdade.— Mas acho que não combinam comigo.— — Todas as damas desse castelo usam saltos, pensei que eles fossem ideias para você.— — Talvez eu não seja uma dama.— Ela sussurrou, se lembrando em como aquela mulher que era parecida com Meridius agia e até mesmo Katherine, que era arrogante, possuía uma postura de quem sabia se comportar. A prisioneira provavelmente nunca estaria perto delas, então não tentaria agir como uma. — Não se preocupe.— Marie disse gentilmente, não questionando o que ela acabará dizer.— Arrumarei sapatilhas para você agora mesmo. Como eu disse, fui designada para fazer tudo o que deseja.— — Você pode me trazer uma tesoura também?— Dessa vez ela vacilou. Marie provavelmente estava pensando que ela enfiaria aquela tesoura em sua garganta ou simplesmente lembrando as ordens de Maximus para manter coisas afiadas longe dela. Afinal, ninguém podia imaginar o que uma louca que estava questionou os arcanjos em seu julgamente podia fazer com uma tesoura.— Assim que usá-la, você pode levar embora.— Adicionou. — Tudo bem.— Marie concordou.— Agora peço que tome um banho, Imperatore me ordenou que a deixasse pronta para o jantar.— A prisioneira arqueou uma sobrancelha, surpresa com essa pequena revelação. Maximus pedia para que ela agisse como uma sombra e agora a convidava para jantar, com direito a um vestido longo e sapatos bonitos... Oh sim, ela estaria magnifica nesse jantar, e ele não imaginava o quanto. Depois que Marie saiu do quarto para pegar as coisas que ela havia pedido, a prisioneira abriu as portas que a levaria para o banheiro e novamente se viu com o queixo em direção do chão. Tudo era dourado e branco, tudo muito grande de uma maneira que ela se sentia como uma criança na casa de gigantes. A primeira coisa que fez ao entrar e fechar as portas de madeira em suas costas foi procurar um espelho, ela não havia esquecido do seu pequeno desejo de descobrir a cor de seus olhos, mas acabou se decepcionando ao ver que o banheiro não possuía nenhum espelho. Nem mesmo na parede a cima da pia branca com uma torneira dourada. A prisioneira estava pronta para se perguntar que tipo de banheiro não possuía espelho, mas ai ela se lembrou de sua real situação. Ela era uma prisioneira e todos que são considerado desse modo não são confiáveis perto de objetos que podem fazer uma linda cicatriz na pele de um certo anjo loiro. Com raiva, ela considerou ir pra esse tal jantar da mesma maneira que estava, vestida com um saco de batatas e suja de lama, mas aquele saco estava cutucando todo o seu corpo e as feridas que causará a si mesma estavam ardendo e a ponto de se tornarem um risco. Sua birra se tornava pequena quando sua saúde estava em perigo. Tirando aquela roupa, que nem ao menos podia se chamar assim, ela entrou no chuveiro e ignorou a linda banheira de porcelana que estava aos seus pés. Afinal, ela não se sentia confortável em tomar um banho de banheira com sua mente lidando com o fato de que estava no inferno. Bom, ela estava pensando assim antes de ver que o tampo do ralo havia sido arrancado. Dessa vez a prisioneira não aguentou e revirou seus olhos.
Como se ela tivesse planos de se matar afogada com um monte de gente querendo lhe dar uma morte menos dolorosa e agonizante. Depois que toda a lama foi embora e seu cabelo já não estava embaraçado, antes de passar a toalha branca sobre seu corpo, ela viu quantos hematomas existiam por todo seu corpo e por um momento desejou não ser tão branca para que eles não ficassem tão visíveis e desse a impressão de que era fraca. O rosto sorridente de Marie foi o primeiro que encontrou assim que saiu do banheiro, a empregada desviou seus olhos um pouco constrangida quando viu que ela estava apenas com a tolha sobre seu corpo, a prisioneira não se importou, pois se algum dia a vergonha desejasse se manifestar dentro dela, a dura lembrança de que Maximus a viu completamente nua a impedia de sequer pensar nesse sentimento. Mas uma parte dela dizia que não se importava e não via como um problema as pessoas vendo seu corpo nu. Marie segurava uma tesoura em uma de suas mãos e na outra as sapatilhas que eram iguais as que usava em seus pés. Satisfação percorreu todo o seu corpo ao ver que ela havia feito o que pedia e depois de apertar a toalha ao seu redor para se certificar que ela não cairia na frente da empregada, pois não desejava infartá-la, a prisioneira se aproximou. Ela pegou as sapatilhas e as colocou em cima da cama ao lado dos sapatos de saltos fino. Depois sua atenção foi para o vestido azul claro feito de um pano leve e com um laço preto para marcar a cintura. Depois da cintura, ele se tornava totalmente solto, então o que ela planejava fazer não ficaria ruim. Bem, ela mostraria para Maximus nesse jantar como sabia se vestir igual a uma dama. Estendendo a mão para Marie para que passasse a tesoura, a empregada vacilou por um momento, temendo que ela fizesse algo muito ruim com aquilo em mãos, mas depois de alguns segundos ela cedeu e entregou aquele pedaço de metal pesado e com pontas bem afiadas. A prisioneira assim que encaixou seus dedos na tesoura, não pensou duas vezes se o que estava prestes a fazer era o certo para que não sentisse pena. Esticando o vestido na cama e encontrando a altura ideal para que não ficasse muito comprido ou curto, ela encostou aquelas laminas afiadas no tecido e o cortou. Assim que terminou aquela artimanha que a deixou um pouco mais feliz, como o combinado, ela se virou para entregar aquela tesoura a Marie. A empregada, no entanto, estava horrorizada com o que acabará de ver. Parecia que um assassinato tinha acabado de acontecer bem diante de seus olhos.— Você pode trazer essa tesoura todas as manhãs se nesse lugar só existir vestidos longos.— — Hã... Tudo bem.— Ela parecia desconcertada, mas concordou. — Obrigada.— A prisioneira agradeceu com toda a sinceridade que possuía em seu coração. Apesar de medo e raiva serem as únicas coisas que sentia, Marie estava começando a fazê-la se sentir um pouco feliz e ela achava que no final a empregada se tornaria uma boa amiga. — O jantar começara daqui 3 horas, quando estiver no horário, voltarei para buscá-la.— Ela explicou.— Por favor, esteja pronta.— A prisioneira assentiu e esperou que Marie estivesse fora do quarto para começar se vestir, ela não fez nada além do que colocar o vestido e as sapatilhas pretas. Depois que penteou seus cabelos sem nem ao menos ter um espelho para ver a situação dele, ela se sentou na ponta da cama com suas mãos em seu colo e fixou seus olhos nas portas duplas de vidro que aparentemente era uma janela, por mais que tudo dissesse ao contrario. O céu vermelho estava se tornando escuro e isso era o sinal de que uma noite sem lua e estrelas surgiria logo.
Ela esperou sentada, sem ter o que realmente fazer, e espantou todos os pensamentos que a apavorava a ponto de realmente desejar se jogar por aquela janela para acabar com o sofrimento que esmagava seu coração cheio de medo. Mas além de ter certeza de que aquela janela estaria trancada, a prisioneira também não tornaria nada fácil para todos. Quem fez isso com sua vida aparentemente tinha algo contra ela e desejou sua morte, mas o fato era simples, a prisioneira mostraria para essa pessoa que a jogou aqui que não era uma garota fácil de matar. Ela sobreviveria e essa seria sua única vingança contra quem a levou direto para o inferno. A prisioneira havia sobrevivido a Maximus, então o inferno seria pequeno para ela. Mais tarde, quando as 3 horas passaram, Marie voltou para buscá-la como havia dito e a levou pelos corredores daquele lugar que parecia um labirinto. Suas pernas protestaram em quanto caminhava, pois havia ficado sentada na mesma posição durante muito tempo pensando em planos para se manter viva e reprimindo seu medo que a ameaçava surtar feito uma louca. A vontade de chorar também chegou em meio desse tempo e ela quase não resistiu a tentação, mas suas memorias foram as únicas coisas que ela perdeu, não sua vida, não havia motivos para chorar. Ainda existia esperanças para tudo se ajeitar, então a prisioneira se agarraria com garras e dentes nela para não perder a linha do raciocínio. Agora, em quanto caminhava para enfrentar um anjo que estava mais para um grande leão ao invés de algo angelical que oferecia a felicidade, ela deu atenção para os vários fiapos do tecido que faziam cocegas em seus joelhos. E apesar deles incomodarem um pouco, a prisioneira ficou feliz com o resultado do vestido, ele não ficou sem um corte e havia ficado muito mais bonito deixando suas pernas brancas de fora, cheias de hematomas e cortes, por sinal. E ela, definitivamente, não teria problemas em fazer a mesma coisa com os vários outros vestidos que estavam para vir. A prisioneira não era uma dama e nunca seria ao iludir ela mesma de que poderia ser uma, então não havia motivos para usar vestidos ou saltos. A realidade era que não estava contente em usar um vestido, seja ele curto ou longo, mas também não havia nenhuma outra opção. Marie a guiou pelos corredores com aqueles soldados de guarda por um bom tempo até chagarem diante de outro salão. Esse não havia portas e a prisioneira se sentiu aliviada por não ter que ficar fechada com Maximus em um lugar. O salão que aparentemente era onde todas as refeições aconteciam, possuía um tamanho surreal. Ela nem ao menos sabia porque se sentia surpresa pelo tamanho dos cômodos desse lugar, já que todos aqui chamavam de castelo. No centro do lugar existia uma mesa de 12 lugares, a mesa estava cheia de comidas e bebidas, mas seus olhos não ficaram presos nelas por muito tempo. Próximo da mesa existia uma lareira com grades detalhadas e logo a cima dela existia um quadro por toda sua extensão de uma pintura que parecia a replica do céu vermelho que existia lá fora durante o dia. O lustre de cristais a cima da mesa e as cortinas nas janelas davam um toque refinado no lugar. No entanto, havia outra beleza refinada na sala e ela se chamava Maximus. A prisioneira admitia com todas as letras que o temia, pois tudo nele exclamava poder, mas o anjo era muito bonito com aqueles cabelos dourados e olhos de um azul escuro. Seu interior possuía um pequeno desejo de ver aqueles lábios um poucos carnudos sorrindo, mas ela tinha certeza de que isso nunca aconteceria. Do mesmo jeito que tudo que estava ligado a ele exclamava poder, também havia a parte que dizia que ele não demonstrava nenhum sentimento. E a prisioneira concluiu isso quando ele tentou matála e seu rosto não demonstrou nada, mas algumas vezes, em momentos raros, seus olhos o traíam e isso aconteceu quando ele falou que não a machucaria. Ela também não podia acreditar que Maximus era irmão de Meridius e Dimitrius, ambos os anjos
eram parecidos, mas aquele que estava diante dela, não possuía nada em comum com eles. Além do mais o anjo mal amado e o entendiado eram simples homens com asas, mas o anjo loiro tinha a aparência que gritava que havia sido criado por mãos preciosas para ser um anjo da guarda de uma garota sortuda. Porém, ele não era nada do que sua imagem dizia. Maximus virou seu corpo em sua direção assim que ela entrou naquela sala, Marie ainda estava ao seu lado, mas após movimentar sua cabeça em um sinal de respeito ao seu imperador, a empregada gentil se retirou do lugar. A prisioneira quase agarrou o braço dela para que não a deixasse sozinha com aquele anjo, mas antes mesmo que sua mente deixasse de mantê-la congelada e gritar a palavra perigo por diversas vezes, a empregada já estava longe. O anjo a encarou com aqueles olhos de felino em silencio, observou cada hematoma que estava em seus braços e logo em seguida viu o que ela havia feito com o vestido que havia ganhado. Seu rosto não demonstrou nada, mas ela gostava de imaginar que ele estava tendo um surto ao se negar usar saltos e ter cortado um vestido fino. Ou o arcanjo simplesmente não se importava. Ela tinha falhado com essa provocação e logo o arrependimento por ter tomado banho e se livrado do sacos de batatas a atingiu. — Sente-se.— Foram suas primeiras palavras, tão frias quanto esse castelo em geral. A prisioneira podia ter dito que ele não mandava nela facilmente, mas ela não tinha planos de ficar em pé naquela entrada a noite inteira observando Maximus. Deixando a birra de lado para lidar com o obvio, ela caminhou até a ponta de mesa onde possuía um prato e vários talhares ao lado dele, o anjo fez o mesmo que ela, mas se sentando na outra ponta daquela mesa enorme. Suas asas que estavam quase brancas se movimentaram por um instante para que Maximus pudesse se sentar na cadeira e assim que o anjo estava acomodado, vários empregados entraram na sala e passaram a servi-los, a deixando se sentir totalmente impotente por não poder nem ao menos colocar comida em seu próprio prato, depois que eles terminaram, todos se retiraram em silencio. A prisioneira encarou seu prato, seus olhos presos na comida bonita que daria água na boca em qualquer pessoa que não fosse insana. Ela também ficou admirada em ver que quando os empregados colocaram a comida no prato, eles não a jogaram naquele objeto de uma porcelana, pelo contrário, aquelas mulheres organizaram sua comida de uma maneira muito impressionante. Parecia que cada coisa possuía o seu lugar. Ela esperou que aquela sensação gostosa atormentasse seu estomago ao ver e sentir o cheiro das comidas que estavam tão perto dela, mas nada aconteceu. — Você sabe,— Maximus começou a falar, a fazendo tirar seus olhos do prato para encará-lo.— Esses pequenos objetos ao lado do prato se chamam talhares, caso não se lembre.— A prisioneira ficou surpresa pela demonstração de um sentimento vindo dele e por mais que seu tom estivesse em uma mistura de ironia e arrogância, o anjo não estava a desprezando. — Eu me lembro como se come diante de uma mesa, apenas não sinto fome.— Ela disse, mesmo desejando continuar em silencio. — Você não comeu nada o dia todo.— Uma minima ruga de curiosidade se formou em sua testa.— Humanos costumam ter um apetite bem grande.— A prisioneira olhou para seu prato novamente, procurando novamente aquele prazer que deveria sentir ao ter essa comida bem diante dela, ainda mais quando ela não comeu nada desde que
acordou no pântano. — Se está preocupada com venenos, eu não me serviria da mesma comida se fosse o caso.— O anjo voltou a falar, novamente a fazendo encontrar seus olhos. — Você deixou bem claro que não deseja minha morte, Maximus.— Ela cuspiu aquilo, sentindo uma pequena raiva por todas as coisas que foram retiradas de seu novo quarto. — Apenas estava pensando no seu bem, humana.— Humana. Essa palavra, definitivamente, estava a deixando irritada. Da maneira como todos a falavam, parecia ser um pecado ter nascido humana. A prisioneira precisava urgentemente lembrar de seu nome para acabar com isso, pois ela nem ao menos poderia rebater quando a chamavam dessa maneira já que não tinha outra opção. — Por que acha que eu me mataria?— Perguntou calmamente. Maximus olhou para seu prato intocável nesse momento, seus olhos azuis encararam sua comida como se nela estivesse escondida as respostas que precisava.— Você está no inferno.— O anjo falou ainda olhando para baixo, mas no segundo seguinte seus olhos se levantaram para encontrar os dela.— Não existe nada bonito aqui.— Ela viu sinceridade em seus olhos, por mais que seu rosto negasse de mostrar qualquer tipo de emoção, a prisioneira também sabia que uma parte dele, uma bem pequena, sentia pena dela por estar em um lugar que não pertence, em um lugar que ninguém desejava fazer uma visita durante as férias. Um pequeno arrepio passou por todo o seu corpo em apenas saber que uma pessoa sentia pena dela. Era errado deixar que pensassem assim dela, que a prisioneira estava sofrendo. Tudo bem que podia até mesmo ser um fato que ela estava sofrendo e se afogando em medo, mas ninguém tinha permissão de sentir pena dela. A prisioneira colocou os talheres dentro do seu prato, pelo menos aqueles que ela realmente conhecia, e pegou seu prato em suas mãos assim que levantou e usou suas pernas para empurrar a cadeira que antes a acomodava. Maximus a olhou em total surpresa quando ela foi até a cadeira que estava ao seu lado esquerdo e colocou seu prato sobre a mesa para que pudesse se sentar. — Estou curiosa para saber sobre todas as coisas horríveis que existem aqui.— A prisioneira falou ao voltar para o acomodo confortável que aquelas cadeiras macias ofereciam.— Você é a pessoa ideal para me contar sobre tudo isso já que é o imperador.— — É mesmo?— Sua voz o traiu ao sair cheia de surpresa com a atitude dela, uma de suas sobrancelhas estava perfeitamente arqueada. — Sim.— Ela disse sem vacilar, mesmo que seu desejo não fosse saber de todas as coisas feias que existiam lá fora para que pudesse dormir a noite.— Não se preocupe sobre eu ser uma traidora com função de passar tudo que me conta para outra pessoa, pois não me lembro nem ao menos meu nome, quem dirá a dessa pessoa que fez isso comigo.— — Estou preocupado com quem causou toda essa bagunça, não com você.— — E o que acontecerá comigo se for impossível acessar minhas memorias da sua maneira ou simplesmente não funcionar?— Ela perguntou o que mais importava nesse momento. — Você retornará para sua dimensão não importa o que aconteça.— Maximus disse com seus olhos presos aos dela.— Eu sempre cumpro com aquilo que falo.— A prisioneira desviou seus olhos para seu prato quando se sentiu intimidada por aqueles olhos de
felinos, ela encarou sua comida como se dessa vez sentisse fome, mas logo se lembrou de que não era correto tentar enganar esse anjo com asas brancas ao seu lado. A confiança nunca começaria se ela tentasse esconder que o temia mais do que qualquer coisa que podia existir, ele tinha que fazê-la se sentir segura e nada disso aconteceria se a prisioneira fingisse que não o temia. — Então,— Ela voltou a falar e olhar para os olhos azuis do anjo.— Você irá me contar sobre os monstros?— Os lábios de Maximus ganharam vida quando um sorriso torto surgiu depois de um dos cantos deles se movimentarem para cima, ela sabia que nem ao menos podia considerar aquilo como sorrir, pois aquele canto se elevou apenas um pouquinho, mas a prisioneira estava bem ciente que aquilo era o máximo que o anjo podia fazer quando se tratava de sorrisos.— Sim, eu irei.— Ele disse em uma calma impressionante. __________ Ela não dormiu naquela noite, no máximo fechou seus olhos por cinco minutos para logo em seguida despertar com seu coração acelerado e cheio de susto. Qualquer barulhinho que acontecia lá fora era o suficiente para que a prisioneira se cobrisse até a cabeça como se o seu cobertor a protegesse de todos os monstros que Maximus fez questão de contar os mínimos detalhes quando ela foi idiota o suficiente para perguntar sobre os monstros. E quando o anjo cretino viu que os olhos dela estavam arregalados e desesperados para que ele fechasse a boca, Maximus fez questão de dizer os detalhes mais apavorantes que podiam existir. A prisioneira não podia dormir quando sabia que existia um monstro maior do que Maximus e suas asas bem perto dela, no oceano bem a baixo de sua janela. Se algum dia seu plano incluísse saltar daquela janela para cair naquelas águas escuras, isso estava fora de questão agora que ela sabia que uma lagarta gigante e nada gentil morava lá. Revirando na cama por diversas vezes, ela sentiu um buraco se formar em suas costas de uma maneira quase surreal. Seu cobertor estava todo enrolado ao redor de seu corpo e a prisioneira sentia como se uma cobra estivesse a atacando para quebrar todos os seus ossos, fazendo dela uma gostosa refeição. Chutando o cobertor aos seus pés, e ficando irritada por ter comparado esse pensamento com a lagarta gigante que provavelmente existia no oceano, ela ficou de pé e caminhou até a porta de seu quarto para abri-la e sair daquele ninho que estava a sufocando. Quando a prisioneira se lembrou que em todos os corredores possuíam guardas, ela quase se manteve dentro do quarto, ainda mais que essa era sua primeira noite nesse lugar sem estar presa, os soldados que ficavam atentos em qualquer movimentos que aconteciam podiam ficar desconfiados com a humana perambulando por ai durante a noite. Porém, ela não tinha medo deles e isso não a segurou mesmo quando passou por um daqueles guardas no corredor que era grande em todos os sentidos. Ela não sabia exatamente para onde ir, as vezes que caminhou por aquele lugar não guardou nenhum caminho e mesmo que tivesse guardado, a prisioneira não tinha desejo de voltar para o salão que teve um julgamento estranho ou pra sala onde Maximus a deixou aterrorizada. Mas por outro lado, por mais que ela estivesse morta de medo pelas coisas que o anjo loiro deixou claro que existiam la fora, a prisioneira não podia negar certa gratidão por ele ter a recebido em seu castelo e ainda lhe dado um quarto que era um sonho para qualquer pessoa. E mesmo que Maximus tivesse a matado naquele momento no pântano, ela seria eternamente grata a ele, pois as coisas soltas que existiam do lado de fora eram muito mais feias do que o monstro com asas que teria de lidar no dia a dia até que voltasse para casa. Uma casa que nem ao menos sabia se gostava ou não, mas que deveria ser melhor do que esse lugar.
Pelo menos, na opinião dela, qualquer lugar deveria ser melhor que o inferno. Afinal, esse lugar era a casa daqueles que são chamados de assassinos, psicopatas e as pessoas que não possuíam um coração. E desde que a prisioneira acordou no pântano, ela se conheceu o suficiente para saber que não era alguém que pertencia a esse lugar. Ela não entendia completamente nada quando falavam sobre dimensões e níveis, mas como todos deixavam claro de que ela era humana, seu lugar definitivamente era junto com as pessoas da sua raça. Não onde a desprezavam por pertencer aos humanos. A prisioneira, em quanto pensava e pensava sobre sua situação infeliz, caminhou por vários corredores e deixou a presença daqueles guardas de lado a ponto de não enxergá-los mais. Ela andou por todo aquele lugar até notar que estava perdida e completamente sozinha. O corredor que ela acabou se encontrando não possuía nenhum daqueles homens que se vestiam de soldados e isso era o mesmo de não ter ninguém para ajudá-la. Se xingando e ao mesmo tempo fazendo seu caminho de volta, já que aquele lugar não possuía nenhuma outra porta além daquela no final do corredor, a prisioneira saiu daquele lugar solitário e não deixou de estar perdida. A diferença foi que antes de ir pedir ajuda para algum guarda, ela encontrou uma das mulheres que estavam em seu julgamento. E a mulher não era Katherine. —Hey, você.— Ela disse com um sorriso, tão gentil como fora naquele salão.— O que está fazendo sozinha nesses corredores durante a noite?— — Estou perdida.— A prisioneira foi sincera, mas curta e grossa. Ela só conhecia Maximus e Marie nesse lugar, a certeza de que essa mulher era realmente gentil não existia. E para falar a verdade, mesmo que odiasse admitir, a única que sabia que estava sendo completamente sincera era Katherine. Aquela boneca de vodu deixou claro que a odiou e não existia teatro quando o ódio estava envolvido. A prisioneira não podia falar o mesmo sobre a gentileza, o que era uma pena. — Eu a levarei até seu quarto.— Falou depois de observá-la calmamente, talvez a considerando um perigo. — Como sabe onde é meu quarto?— — Todos sabem onde reside uma prisioneira que virou hospede.— Revirando seus olhos escuros, ela disse aquilo como se fosse o obvio.— Eu me chamo Diane e sou irmã de Maximus.— — Irmã?— Isso não era uma novidade, as características dela lembravam muito Dimitrius e Meridius, mas Maximus não se encaixava nessa irmandade e ela nem ao menos tinha asas. Mas nenhuma mulher nesse lugar possuía asas e nem outros homens, talvez os únicos que possuíssem fossem aqueles que sentaram em tronos em frente dela.— Maximus é adotado?— — Não!— Diane riu docemente e a prisioneira quis morder sua língua por fazer uma pergunta dessas.— Por mais que ele não seja parecido conosco, Maximus tem nosso sangue.— — Eu não deveria ter perguntado isso.— A prisioneira tentou ser educada para corrigir a pergunta desnecessária.— Pelo menos isso aconteceu com você e não Maximus.— — Você não precisa temer a ele, Maximus não é tão assustador quanto parece.— Diane falou calmamente.— Na verdade, ele consegue ser bem irritante as vezes.— — Isso é quase inacreditável.— A prisioneira disse cruzando seus braços, decidindo que Diane podia ser confiável apenas pelo fato de ser irmã de Maximus.— Para mim ele é apenas um arrogante.— — Mas não como Meridius.— Ela sorriu. — Definitivamente não.— — Só faz apenas um dia desde que se encontraram, não existe como conhecer uma pessoa em 24 horas, ainda mais quando se trata do imperador do inferno.— Diane suspirou.— Maximus pode parecer frio e perigoso, mas ele quase teve um surto ao ver que a lama deixou manchas por suas asas.—
A prisioneira sorriu e se deu conta que era primeira vez que fazia isso desde que acordará nesse lugar monstruoso.— Ele mereceu isso.— Afinal, o anjo tentou matá-la! Seu desejo era de ter arrancado suas asas naquele momento que apontou uma espada para ela, mas a prisioneira estava ciente de que não poderia fazer isso com uma pessoa maior que ela e com asas gigantes. Sua única opção foi derrubá-lo. Diane se moveu em sua frente, se colocando em uma posição para que a prisioneira se colocasse ao seu lado para que pudesse levá-la até seu quarto.— Vamos indo,— Ela disse gentilmente.— Já é tarde e imagino que meu irmão irá começar trabalhar cedo com você.— A prisioneira não discordou, pois Maximus deixou claro que quanto mais rápido resolvesse seu problema, melhor seria. Ela também tinha pressa para que tudo se resolvesse, pois desejava lembrar de tudo sobre a sua vida e seu nome. E mesmo que sentisse uma leve vontade de matar a pessoa que causou tudo isso, ela teria o prazer de deixar esse trabalho para os monstro com asas que fazia um bom trabalho em ser assustador. Deixando seus pensamentos de lado quando percebeu que Diane ainda esperava, a prisioneira caminhou para ficar ao se lado e deixou que a irmã de Maximus a levasse para seu quarto, já que não possuía muitas opções. Elas caminharam lado a lado e Diane falou muitas coisas sobre sua vida com seus irmãos, de como tinha vontade de matar Maximus quando ele sujava suas asas, principalmente de sangue. A prisioneira ficou surpresa com a grande capacidade que ela tinha para falar. Afinal, ela mal conseguia abrir a boca já que Diane assim que terminava de falar alguma coisa começa outra ou respondia suas próprias perguntas. No final, a sua companhia não foi tão ruim assim.
~ 05 ~ No dia seguinte a prisioneira foi acordada com o som de portas sendo abertas. Feliz por ter conseguido dormir mais um pouco naquela noite, ela nem ao menos ficou de mau humor quando viu que era Marie entrando em seu quarto com uma bandeja de café da manhã em mãos. A empregada sempre sorridente colocou sua comida diante da prisioneira na cama e depois puxou uma tesoura de dentro da bandeja, ela sabia exatamente para que servia aquilo e suspirou. Infelizmente, a prisioneira teria de lidar com o fato de cortar todos os vestidos longos que fosse vestir nesse lugar. Marie não disse mais nada do que palavras educadas como “bom dia” e antes de sair do quarto, avisou que Maximus estaria a esperando daqui uma hora e alguém viria até seu quarto para levá-la até ele. A prisioneira achou que a empregada estava muito quieta naquela manhã, mas a ideia de que estava a comparando com Diane a atingiu e deixou isso de lado, pois a irmã de Maximus falava mais do que qualquer pessoa nesse lugar. Fazendo o mesmo com sua comida, ela colocou a bandeja em cima de uma mesa de vidro com duas cadeiras e foi direto para o guarda roupa de madeira clara com desenhos esculpidos que lembrava a flores. A prisioneira abriu as portas daquele móvel para encarar um monte de vestidos coloridos e todos longos. Aparentemente, usar vestidos de festas era uma regra nesse castelo e algo que ela não dava a minima, pois não iria vestir um vestido que não se sentia confortável. Ontem quando ela encontrou Diane, mesmo que a irmã de Maximus estivesse usando uma capa negra e brilhante por cima de seus ombros, a prisioneira viu que ela usava um vestido longo que era quase colado inteiramente ao seu corpo. Negar que não ficou perplexa ao ver que Diane caminhava normalmente com aquela roupa de múmia era uma mentira completa. Ela escolheu um vestido azul claro daquele guarda roupa cheio de longos e depois de cortar o tecido um pouco acima de seus joelhos, ela o vestiu. A prisioneira penteou seus cabelos e após vestir suas sapatilhas negras ela estava caminhando em direção de seu café da manhã para ver o que existia de bom naquela bandeja para comer, mas antes mesmo que seus dedos tocassem um pedaço de pão fatiado, alguém bateu em sua porta. Sem ao menos ter um relógio, ela não sabia se já havia passado uma hora, mas desde que alguém estava batendo em sua porta, essa deveria ser a única explicação. Deixando seu café da manhã para trás, a prisioneira foi até a porta para abri-la e encontrar um par de olhos marrons. O homem em sua frente vestia aquelas roupas de soldados, o que aparentemente deveria ser uma norma para aqueles que trabalhavam para Maximus, e ela conhecia aquele rosto jovem, pois ele esteve presente naquela meia lua em seu julgamento. Seus cabelos castanhos claros e um rosto jovem de um garoto adolescente lhe davam um ar do típico menino de 18 anos que gostava de curtir a vida com meninas, mas essa impressão não era real e provavelmente nunca seria. Afinal, esse
homem parado na frente dela estava naquela meia lua onde outros não estiveram, ele deveria ser tão perigoso quanto os gêmeos que a tiraram da cela. — Bom dia, milady.— Ele se curvou em uma reverencia.— Está pronta para um passeio divertido pelos corredores do castelo?— Um sotaque leve se ressaltou em sua voz, ela não era a melhor pessoa para dizer isso já que todos nesse lugar tinham um grande sotaque completamente diferente do dela, mas esse soldado em sua frente não soava como Maximus ou qualquer outro que já falará com ela. — É você que me levará até Maximus?— O soldado sorriu para mostrar todos os seus dentes perfeitos.— Sou Gate, o seu guia dessa manhã, milady.— — Não me chame de milady.— A prisioneira falou.— Não sou uma dama.— — Prefere que a chame como todos a chamam nesse lugar?— Gate cruzou seus braços sobre o peito com aquela camisa preta agarrada e que mostrava um pouco de suas curvas.— De humana?— — Não.— — Já que não se lembra de seu nome... Podemos ir, Milady?— A provocação na palavra “milady” era clara e a vontade da prisioneira de bater a porta na cara desse menino que aparentava ter sido um cafajeste em sua juventude foi grande, mas Maximus estava a esperando e a ideia dele próprio vindo a buscar era pior do que aturar Gate, que já demonstrou ser um pé no saco. Ela também cogitou a ideia de mandá-lo para o inferno, mas se lembrou de que isso séria uma ofensa ridícula e não daria motivos para ele fazer piadinhas. E Gate era o tipico de pessoa que adorava uma, pois seu sorriso dizia isso e mais um pouco. Saindo de seu quarto e fechando a porta em suas costas, a prisioneira permitiu que Gate fosse o seu guia por esse lugar que parecia um labirinto. E durante o caminho eles não trocaram nenhuma palavra, principalmente quando o soldado viu que ela não iria conversar com ele. Tudo o que Gate fez foi caminhar alguns passos a frente dela e começar assobiar uma melodia que já estava lhe dando nos nervos. A prisioneira quase colidiu seu corpo contra o dele quando o soldado parou de caminhar e se virou para uma porta de vidro que levava para o lado de fora do castelo. Ela viu que no lado de fora existia uma mesa de vime com várias cadeiras e logo em seguida, depois que o chão de uma grama totalmente verde acabava, se encontrava um oceano sem nenhuma onda lá em baixo. Não existia nenhuma grade de segurança naquele lugar para impossibilitar uma queda e isso fez com que seu estomago se agitasse completamente. O teto, no entanto, era a coisa mais bonita que viu desde que acordou no inferno. Ele era feito de ferro e entre seus espaços cresciam plantas e flores coloridas para oferecer sobra a quem sentava naquela mesa. Pelo menos aquelas flores tampavam a vista do céu vermelho o quanto podia e isso a deixou tranquila, pois observar aquele céu lhe fazia ficar desesperada e dar corda para seu medo. Maximus estava parado a baixo daquele teto surreal que nem mesmo uma estufa deveria ter a sorte de tê-lo dentro dela. O anjo estava de costas para eles e observava aquele oceano que não demonstrava nenhum movimento com muita atenção, suas asas estavam fechadas em suas costas e as penas que agora estavam completamente brancas se movimentavam conforme uma leve brisa se debatia contra elas, assim como acontecia com seus cabelos dourados. Gate se movimentou ao lado da prisioneira para abrir aquela porta de vidro e isso fez com que ela parasse de observar o anjo loiro. O soldado fez um movimento com sua cabeça para que ela entrasse naquele jardim quase mortal e após obedecê-lo, ele fechou a porta e Maximus se virou para encontrar seus olhos que nem ao menos sabia de que cor eram.
A prisioneira deu um passo para que não ficasse tão colada à porta de vidro que acabará de passar e Maximus fez o resto por eles, ficando a uma certa distancia dela depois de quebrar todo o grande espaço que existia entre eles. — Sua pele está mais pálida que o normal.— O anjo falou.— Está se sentindo bem?— Considerando o fato de que ela não possuía um espelho em seu quarto e que não podia apreciar sua imagem ou saber a cor de seus olhos e pele, ela ficou um pouco surpresa. Só não sabia se era por Maximus ter reparado ou por seu tom ser de quem não se importava se ela realmente estava bem. — Estou.— Disse emburrada. — Ótimo.— Suas asas fizeram um leve movimento e chamou a atenção dela por um momento.— Eu não gosto de imprevistos.— Oh! Ele veria o que era um belo imprevisto depois que ela chutasse seu traseiro em direção daquele oceano lá em baixo. — O que quer que eu faça?— Ela perguntou, desejando terminar logo com isso para voltar ao seu quarto. — Não existe confiança quando a pressa está envolvida, humana.— — Você espera que eu fique o dia inteiro em pé olhando em sua direção?— Ela soltou a pergunta com indignação e irritada por ter sido chamada de humana como se fosse algo de pouco valor. — Não.— Os olhos azuis do anjo brilharam em algo.— Você pode se sentar, se desejar.— A prisioneira entreabriu seus lábios para dizer algo bem ofensivo ao anjo loiro, mas parou antes mesmo de dizer uma palavra.— Você está brincando comigo?— Perguntou com duvida. — Sim.— Maximus falou tranquilamente e aquele algo de seus olhos sumiu.— De certa forma, sim.— — De certa forma?— Ela arqueou sua sobrancelha. — Eu preciso trabalhar com sua mente e para que isso aconteça você terá que se manter sentada ou em pé, como preferir.— Ele foi sincero dessa vez.— Você pode me fazer perguntas para que me conheça melhor e permita que sua mente seja mais acessível conforme veja que sou confiável.— — Isso é uma troca bem justa.— A prisioneira falou pensativa, tentando se lembrar das varias perguntas que desejava respostas. — Sim.— Maximus concordou.— Pelo menos não será mais necessário perguntar a minha irmã se sou adotado.— Ela abaixou seus olhos, um pouco constrangida por isso ter chegado até ele. Não foi educado perguntar aquilo a Diane e agora a prisioneira estava arrependida por ter se esquecido de que a fofoca rolava solta nesse castelo.— Desculpa.— — Não importa, apenas tome cuidado quando sair sozinha durante a noite pelo castelo.— Ele a alertou.— Existem coisas aqui dentro que você pode desejar não ver.— Um leve arrepio percorreu por toda sua coluna devido ao tom da voz que o anjo usou. E isso fez ela ter certeza de que, definitivamente, não desejava ver o que quer que fosse que Maximus estivesse mencionando. — Suas asas estão brancas novamente.— A prisioneira falou a primeira coisa que veio a sua mente para fugir daquele assunto antes que ele lhe desse mais detalhes, pois estava ciente que o arcanjo amava detalhes. Maximus abriu uma de suas asas somente um pouquinho para que pudesse ver o que ela estava observando, mas logo a fechou para voltar seu olhar ao dela.— Você me causou grandes problemas. —
Ela quis sorrir novamente, mas seu desejo não foi maior a ponto dela ceder.— Então... Podemos começar?— Maximus movimentou sua cabeça em um leve acenar e se movimentou para puxar uma cadeira de vime com estofado branco para ficar em sua frente.— Por favor.— Ele disse, ainda segurando aquela cadeira para que ela pudesse sentar. A prisioneira caminhou para acabar com o espaço entre ela e a cadeira, se aproximando do anjo loiro a ponto de ter apenas aquele móvel os separando. Uma brisa forte se debateu contra eles e fez com que os cabelos negros e lisos da prisioneira se moverem, uma mecha rebelde voou em direção de seus olhos, atrapalhando sua visão. Ela levou uma de suas mãos até seu rosto para colocar aquela mecha atrás de sua orelha, mas antes que pudesse tocar em seu cabelo, Maximus agarrou seu pulso e o puxou em sua direção. Ela ficou assustado com o ato, principalmente quando o anjo não mediu sua força e a segurou de modo que a machucou, mas logo em seguida seu aperto se suavizou. Maximus estava olhando para seu pulso e seu cenho estava franzido. A prisioneira olhou para a mesma direção que ele olhava, procurando o que o deixou tão surpreso e acabou se surpreendendo também. Em seu pulso existia uma cicatriz do tamanho de seu dedo mindinho, ela não era muito chamativa, apenas se ressaltava no restante de sua pele do seu braço e isso explicava por que nunca havia reparado nela. Maximus segurou o seu outro pulso para que pudesse esticar seu braço exatamente como fez com aquele que já segurava. Havia outra cicatriz e não havia nenhuma diferença da outra. — Duas cicatrizes em vertical nos pulsos.— Ele disse o obvio.— Você sabe o que isso significa?— — Não.— Sussurrou, encarando aquelas marcas que se ressaltavam em sua pele. — Alguém tentou matá-la ou você fez isso a si mesma.— — Por que eu tentaria me matar?— Maximus encontrou seus olhos.— Quem pode garantir que sua vida antes de acordar aqui era melhor?— A prisioneira suspirou quando encontrou dificuldade para respirar. Seu coração passou a bater rápido e seus olhos arderam com a exigência de que lágrimas fossem derrubadas. Ela não desejava chorar, não na frente de Maximus ou de qualquer outra pessoa. Ela se sentia tão miserável sem nem ao menos poder se lembrar de quem era que sabia que ao permitir que seu choro viesse à tona não haveria mais salvação. Mas ver cicatrizes em seus braços de um modo que foram feitas para causar uma morte era algo horrível e não saber se foi suas mãos que causaram aquilo doía ainda mais. Tudo que ela desejava era saber seu nome, a cor de seus olhos e quem realmente era. A prisioneira não se importava de ainda estar no inferno, mas ela apenas queria saber tudo sobre si mesma. Pois nesse momento, tudo que sentia sobre ela era o nada. Lágrimas quentes escorram por seu rosto quando segurá-las estava fora de cogitação. Ela tentou normalizar sua respiração para não ter uma crise, mas quando abriu sua boca para soltar o ar que havia puxado pelo nariz, tudo desabou. E o pior, Maximus ainda estava em sua frente. Caramba! Ela provavelmente havia tentado se matar, quem se importava se um anjo cretino estava em sua frente?! O anjo vacilou por um momento e seus olhos azuis ficaram desesperados. — Por favor, não chore.— Ele pediu com certa... agonia.
— Eu sou uma aberração!— Ela exclamou com as lagrimas a afogando juntamente com seus soluços. Maximus ainda segurava seus pulsos e isso a impossibilitou de tampar seu rosto. — O que?— O anjo perguntou aflito.— O que aconteceu com seu orgulho?— O arcanjo em sua frente estava desesperado, ela pode reparar, que mesmo que fosse alguém que estava acima de qualquer tipo de poder, ele não sabia lidar com uma garota chorando. E isso era ridículo, pois ele possuía uma irmã. Ela também adicionaria Katherine nessa lista, mas aquela mulher provavelmente era uma máquina sem emoções. Bom Deus, que provavelmente a odiava por tê-la jogada nesse lugar, ela estava rodeada de pessoas sem emoções! As lágrimas aumentaram ainda mais por causa de seu pensamento infeliz e seus soluços estavam a sufocando a ponto de não deixá-la respirar. A humilhação de se encontrar chorando feito uma criança na frente de Maximus era ainda maior. — Eu nem ao menos tenho um nome!— Ela quase gritou aquilo, mas o choro e o desespero não permitiRam que sua voz se elevasse.— Como posso ter qualquer tipo de orgulho?— — Nós podemos escolher um nome para você...— Maximus falou apressadamente.— Eu posso dar qualquer coisa para você... Apenas pare de chorar, por favor.— Ela fungou e olhou para o anjo em sua frente, congelado de modo que parecia que qualquer movimento que ele fizesse iria fazê-la chorar ainda mais.— Por que você está tão desesperado?— — Não sou bom em lidar com garotas chorando.— Ele disse com uma pequena ruga se formando em sua testa.— Diane sempre recorre a Meridius quando... precisa.— — Você provavelmente matou milhares de pessoas, como pode dizer algo como isso?— Pequenos soluços estavam presos em sua garganta, fazendo seu peito saltitar. E mais lágrimas rolaram em direção do chão quando seus pensamentos insistiram em dizer que ela estava convivendo com monstros. Maximus soltou seus pulsos que ainda segurava em suas mãos quentes e grandes, mas o anjo segurou suas mãos para confortá-la da maneira que ele sabia. O anjo estava falhando de uma maneira horrível, pois segurar suas mãos nunca iria deixá-la em paz. — Eu irei recuperar suas memorias e levá-la para casa.— Falou ele com seus olhos presos aos dela, ela não o via direito pois sua vista estava completamente embaçada por causa das lágrimas que já se formavam para substituir aquelas que encontraram o chão.— Eu prometo.— — Eu não irei sobreviver a isso!— A prisioneira disse algo que estava preso em sua garganta desde que acordou naquele pântano.— Nem ao menos sei a cor dos meus olhos!— — Olha, você está tendo uma crise pós...— — Não me diga que estou tendo uma crise!— Sua voz se elevou um pouco e fez com que Maximus fechasse sua boca. O anjo estava realmente desesperado. — Ok, isso não é uma crise.— — Por que está concordando comigo?!— A prisioneira sentiu a raiva crescer dentro dela, mesmo entre as lágrimas. — Porque...— Maximus ficou em silencio antes mesmo que pudesse completar sua frase ao ver que a crise de choro da prisioneira estava apenas aumentando.— azuis.— — O que?— Ela deu atenção ao anjo em sua frente, sua curiosidade por causa daquela única palavra fez com que seus soluços parassem e apenas as lágrimas escorriam de seus olhos agora, que as poucos diminuíam. — Seus olhos são azuis.— Ele disse.— Tão azuis quanto um oceano calmo.—
A prisioneira soltou suas mãos das de Maximus para levá-la até seu rosto, como se seus próprios dedos estivessem com olhos nas pontas deles. Ela aproveitou para limpar as lágrimas de seu rosto quando percebeu que aquele ato era tão falho quanto tentar encontrar suas memorias. E o pensamento que ela havia chorado na frente de Maximus feito uma louca a atingiu como uma pedra logo em seguida. Se perguntar o que havia acontecido para que tivesse permitido tal coisa foi algo que ela não fez, pois desde que acordou nesse lugar ela se sentia completamente frágil e no momento que viu aquelas cicatrizes em seus pulsos, a prisioneira perdeu as rédeas de tudo. Ela respirou fundo, fechando seus olhos por um momento para encontrar a calma que já estava dominando seu corpo juntamente com o constrangimento. Depois que ela os abriu, Maximus ainda estava parado em sua frente como uma estatua, provavelmente com medo de até mesmo respirar para que não causasse outra crise de choro nela. Mas isso não aconteceria, não na frente dele pelo menos. — Estou bem.— A prisioneira falou como se nada daquilo tivesse acontecido em nenhum momento e ela viu que o anjo loiro soltou o ar que estava preso em seus pulmões em grande alivio. Ele estava completamente apavorado e a prisioneira desejou muito rir, mas Maximus pensaria que ela sofria de algum tipo de bipolaridade e seu orgulho que havia se transformado em milhares de cacos estava se reconstruído a ponto de não permitir que o anjo pensasse dessa maneira. — Nós podemos continuar em outro momento, s...— — Não.— Ela o cortou com autoridade e se sentou naquela cadeira de vime em frente dele, deixando o anjo logo atrás de suas costas. A prisioneira não sabia se estava realmente livre de sua pequena crise de choro por causa da possibilidade de ter tentado se matar, mas Maximus disse que alguém podia ter tentado matá-la e desejava saber se essa era a verdade, pois ela não via o porque de se matar, mesmo estando nesse lugar tão temível. — Quando eu tentar destruir seus escudos, é possível que você sinta alguma dor. Se isso acontecer, me avise.— Ele avisou com seu tom vazio.— Eu não tenho nenhum desejo de machucá-la.— — Tudo bem.— — Agora apenas feche seus olhos e se distraía.— A prisioneira escutou o farfalhar de suas asas logo depois que fechou seus olhos, mas se conteve para não abri-los para ver o que o anjo estava fazendo.— Você pode fazer suas perguntas, se desejar.— — Quero que me explique como funciona essa coisa de dimensão e níveis.— Ela não perdeu tempo e pediu aquilo que mais a deixava louca de curiosidade, pois todos falavam e falavam de sua dimensão, mas nunca explicavam. — Isso não é exatamente uma pergunta.— — Mas é o que eu quero saber.— Ela ouviu um ruído de desaprovação sair da garganta de Maximus e ficou feliz por ver o anjo demonstrando alguma emoção novamente. Aos poucos, aquela casca que o tornava como uma pedra estava se rachando e por algum motivo, ela desejava conhecer a pessoa que falava que iria protegêla. Isso era mais do que justo quando o arcanjo pedia confiança. — O mundo é dividido em cinco dimensões, tendo eu e meus irmãos cuidando de três delas, e de certo modo, essas são as três principais dimensões. Nosso dever é cuidar do nosso reino e das almas que residem nele.— Maximus explicou.— A primeira dimensão é onde dizem que Deus e Lúcifer vivem, eu não tenho certeza sobre isso, pois nossa fé é como a dos humanos quando se trata deles. Nós podemos escolher se acreditamos ou não nos criadores do mundo. A segunda dimensão é onde os anciões estão, eles são os antigos arcanjos que estiveram no meu lugar e dos meus irmãos. De certa forma, eles ainda tem o poder de decidir aquelas coisas que não somos capazes de lidar e se um dia acontecer de nós entrarmos em guerra, são eles que irão nos parar. Os anciões mandam em tudo que sentirem vontade e se algum deles dizer que é certo matá-la, eu teria que fazer isso. Meus
pais e tios que antes estavam no lugar dos meus irmãos e eu também estão nessa dimensão. E quando eu deixar de ser um arcanjo, também virarei um ancião.— Certo. E ele ainda pedia confiança quando a família toda dele podia causar a morte dela. — As outras três dimensões é aquelas que não são uma novidade.— Ele continuou.— Meredius é imperador da terceira, conhecida como o paraíso e Dimitrius é responsável por seu mundo, o mundo dos humanos, a quarta dimensão. Geralmente são nessas duas dimensões onde os anjos moram, já que são orgulhosos demais para viverem com demônios. E bem, o inferno é a quinta dimensão e eu sou o imperador.— — E o que são níveis?— — Nossas dimensões são separadas entre dois níveis e a única explicação razoável, no inferno, é que as almas que não possuem salvação e vão passar a eternidade no inferno se encontram no nível 2, aquele em que encontrei você. Mas no nível 1 estão aqueles que podem conseguir ir para o paraíso depois de cumprirem seus anos de penalidades.— Maximus disse.— Dimitrius também divide as almas em níveis antes dos humanos morrerem, ele é quem faz o julgamento de quem vai para o inferno ou o paraíso. Se a alma vem para o inferno, eu decido a que nível pertence, assim como Meridius. No paraíso, não existe nada diferente, a única diferença é que o nível 2 pertence à pessoas que podem vir a residir no inferno.— A prisioneira ficou curiosa por um momento para saber como Dimitrius a julgaria, se quando morresse ela iria para o paraíso ou inferno. Afinal, mesmo que não soubesse simplesmente nada sobre ela mesma, se descobrisse onde sua alma viria a se encontrar, isso seria uma chave de um baú cheio de mistérios que todos desejavam abrir. A prisioneira saberia se era uma boa pessoa ou ruim e isso significava muito na situação que ela se encontrava. — Você pode abrir seus olhos agora.— O anjo voltou a falar novamente, sua voz era baixa e a prisioneira pode sentir que ele estava bem próximo dela. Ela abriu seus olhos com cautela e ficou surpresa ao ver que Maximus estava realmente perto dela. O arcanjo estava sentado em uma cadeira igual a dela, seus cotovelos apoiados nos braços da pequena poltrona e seu corpo estava ligeiramente inclinado para frente, em sua direção. — Já acabou?— Ela perguntou ao se espremer contra aquela cadeira o máximo que podia para manter um espaço daquele monstro com asas. — Nós estamos aqui já faz duas horas.— Ele decidiu avisá-la já que a prisioneira demonstrou certa surpresa por tudo ter sido muito rápido. Ela piscou. — Pro inferno!— Ela se levantou de modo brusco que levou sua cadeira ao chão, sua voz era cheia de indignação.— O que você fez com minha mente?!— Maximus continuou sentado naquela cadeira, observando a reação da prisioneira como se ela estivesse agindo feito uma louca. O único movimento dele foi se encostar, pelo menos até onde suas asas permitiam, e observá-la sem nenhuma emoção.— Eu avisei que tentaria quebrar seus escudos. — — Mas não avisou que eu não perceberia nada!— Ela disse fechando suas mãos em punhos para não esganar o anjo sentado em sua frente.— E minhas perguntas?— — Você as fez e eu as respondi, como disse que faria.— — Eu não me lembro de ter feito!— — Bem,— Uma sobrancelha do anjo se arqueou perfeitamente, seus olhos brilharam em ironia pura.— Não é nenhum segredo que você tem problemas com suas memorias.— A prisioneira abriu sua boca para mandá-lo direto à um lugar nada agradável, mas antes de ter
sucesso com suas palavras, aquele soldado que Maximus chamou de Derek no dia anterior quando eles ficaram sozinhos no salão apareceu do outro lado da porta de vidro. O soldado tinha olhos azuis tão claros que se destacavam em sua pele bronzeada, seus cabelos eram negros que estavam arrepiados no topo, no geral eram curtos. Suas bochechas chamaram sua atenção, pois mesmo que o soldado tivesse vários músculos para serem admirados, elas eram grandes do tipo que quem as pegassem para apertar estaria satisfeito. Mas ele não estava sozinho. Quando a prisioneira vacilou, dando um passo para trás por causa da pessoa que o acompanhava, Maximus ficou de pé e se colocou em frente a ela, deixando que seus olhos ficassem fixos com suas asas grandes e brancas. _________________________ A prisioneira se manteve atrás de Maximus, muito ciente de que demonstrou que ficou com medo do homem que acompanhava Derek, mas ela também sabia que não estava louca a ponto de não temer um homem com laminas em suas mãos, que aparentemente eram substitutas de seus dedos que estavam logo a baixo daquelas coisas afiadas em sua mão direita. Ele usava uma luva de couro e na metade de seus dedos as laminas surgiam como se fossem garras. No total eram quatro laminas, sendo o dedão o único infeliz sem uma proteção assassina. Colocando seu medo dentro de uma caixa bem fechada para que não a fizesse demonstrar que ficou assustada por causa daquilo, ela deu um pequeno passo para o lado, com a intenção de voltar observar aquele homem desconhecido e totalmente medonho. A prisioneira ficou atrás de uma das asas de Maximus, não dando mais nenhum passo para que não ficasse desprotegida. O homem com laminas nos dedos, apesar de sustentar uma arma em sua mão que dizia com todas as letras que não possuía nenhuma piedade, era muito bonito. Ele tinha uma beleza exótica com seus cabelos compridos até um pouco acima de seus ombros e olhos verdes escuros, seu cabelo era de um castanho escuro e mesmo que o homem o jogasse para trás, vários fios insistiam em cair em volta de seu rosto, até quando existia um chapéu negro em sua cabeça para segurá-los. A prisioneira não pode deixar de notar também que em seu pescoço, antes da pele ser escondida por um casaco longo que ia até seus joelhos, existia uma cicatriz de um tamanho médio, para ser exata, parecia mais uma queimadura do que um corte profundo. — Imperatore.— Derek disse em respeito ao homem que estava na frente dela assim que abriu aquela porta de vidro. Maximus movimentou sua cabeça em um leve acenar, foi o suficiente para que Derek se retirasse, os deixando sozinho com aquele homem com laminas nas mãos. O homem deu um passo a frente para entrar naquele jardim e assim que fez isso, ele estendeu seus braços como se estivesse esperando um abraço. O tilintar das laminas uma contra a outra fez a prisioneira perder o ar quando ele se moveu. — Max!— Ele disse em falsa felicidade com seus braços estendidos.— Por que você não da um abraço em seu velho amigo?— — Não precisa me bajular, Krueger.— O anjo disse com o mesmo tom de sempre, vazio e frio.— Você não fez nada de errado para ser chamado até aqui, pelo menos eu acredito que não.— — Então isso é apenas saudades?— Um meio sorriso cortou o rosto do homem que aparentemente se chamava Krueger.— Ainda não negarei um abraço se esse for o motivo, meu amigo.— — Eu não abraço meus escravos.— Maximus murmurio arrogantemente e foi o suficiente para que o homem com laminas nos dedos fechasse seus braços com uma expressão decepcionada.
— Bem, não custava tentar.— Ele deu de ombros.— De qualquer maneira... O que é esse coelhinho que você esta escondendo de mim?— Krueger estava olhando para a prisioneira agora e não fez nenhuma questão de esconder que estava a chamando de coelhinho. Ela não gostou disso. O homem deu um passo para que ficasse mais proxima dela, se movendo para o lado até que o anjo loiro não estivesse na frente dele e ter uma visão melhor dela, porém, Maximus se moveu junto com Krueger, a mantendo atrás dele. — Não a assuste.— Aquilo foi uma ordem cruel e mesmo que aquele ser a assustasse em apenas olhá-lo, a prisioneira desejou chutar Maximus por defendê-la. Ela não era uma dama indefesa, ela podia ter dedos sem laminas, mas ainda assim, tinha grandes chances de quebrar o nariz desse anjo arrogante e do outro homem. — Me sinto ofendido por tal calunia, Max.— Disse Krueger.— Como eu poderia assustar uma linda dama que pertence a você?— Maximus não disse mais nenhuma palavra e após segundos encarando seu amigo ou seja lá o que Krueger significasse para o anjo, ele se moveu da frente da prisioneira para que permitisse que ela ficasse cara a cara com aquele homem com laminas em seus dedos. E para a total surpresa dela, o homem riu. — Bom Deus!— Ele disse como se houvesse encontrado um tesouro.— Ela é uma humana! No inferno! E viva!— A prisioneira estava olhando para as laminas em sua mão direita, ela tentava fixar seus olhos naquele olhar verde escuro, mas não conseguia encontrar a concentração para isso quando em sua mente ela se perguntava quão louco era uma pessoa a ponto de usar uma luva com laminas que provavelmente eram usadas como garras com a intenção de matar. — Eu preciso experimentar o sangue dela.— O que?! Antes mesmo que a prisioneira pudesse pensar em algo para fazer, Krueger avançou para cima dela até que ela estivesse contra uma pilastra que pertencia ao teto de flores, suas costas esmagando todas as plantas que estava entre ela e o metal. O homem colocou uma de suas mãos ao lado da cabeça dela na pilastra e uma das laminas daquela luva estava fazendo um caminho em torno de sua bochecha. A prisioneira olhou para Maximus, imaginando que aquele momento seria a hora ideal para ele lembrar sobre sua ordem de não assustá-la, mas o anjo idiota não moveu nenhum músculo. — O que você está fazendo aqui?— Krueger sussurrou, olhando para ela de uma maneira como se apenas em fazer isso fosse o suficiente para responder aquela pergunta que nem mesmo o imperador do inferno sabia a resposta. — Krueger.— Era Maximus dizendo o nome dele em um tom sério. Provavelmente aquilo era como um aviso para seu amigo se afastar, mas já era tarde demais. O coração da prisioneira parecia uma bomba mal feita que explodia aos pouco de tão apavorada que estava em ter aquele homem tão próximo e encostando aquela lamina nela. — Não se preocupe, Max, eu não irei infartar sua nova amante.— — Ela não é minha amante.— O anjo voltou a falar sem nenhuma emoção. — Meu amigo, não se envergonhe.— Ele sorriu.— Essa humana é muito bonita mesmo que não faça seu tipo e seja muito branquela...— A mente da prisioneira ficou em branco por um momento, ela não podia acreditar que estava sendo ofendida por alguém que a prendia contra uma pilastra e não estava fazendo nada contra isso. Os
perigos de tentar lutar com esse homem eram muitos, principalmente quando ele usava uma luva com laminas, mas quando sua mente voltou para o presente, já era tarde demais. Ela havia fechado uma de suas mãos em punho e antes que Krueger pudesse ler os seus movimentos rápidos, a prisioneira o socou no rosto com a intenção de acertar seu nariz e teve sucesso com isso, já que ele não esperava por aquilo. Infelizmente o barulho do nariz sendo quebrado não foi ouvido, mas o sangue manchou os dedos livres daquelas laminas quando Krueger os levou até seu rosto. Em um piscar de olhos Maximus estava perto dela novamente, com um braço em volta de seu abdômen para segurá-la contra ele e não permitir que ela voltasse a atacar o homem, que aparentemente era seu amigo, quando a prisioneira tentou avançar na direção dele sem se importar mais com aquelas laminas. — Você pode ir para o inferno...— Não! Ela automaticamente se xingou, não mande as pessoas para o inferno quando eles estão nele! — Seu idiota!— — Essa mulher é louca!— Krueger a acusou com sua mão ainda em seu nariz, deixando sua voz abafada. — Você provocou isso, Krueger.— O anjo deu de ombros, uma de suas asas tocaram levemente as costas da prisioneira. Ela olhou para ele. — Eu quero ir para meu quarto.— — Se acha que eu sou responsável por trazer essa mulher insana para o inferno, você está completamente enganado.— Krueger endireitou sua postura após limpar o restante do sangue que escorreu de seu nariz não quebrado, a prisioneira o fuzilou com o olhar quando ele interrompeu a resposta de Maximus sobre ela ir para seu quarto, mas por outro lado, Krueger estava falando com um tom sem brincadeiras.— Mesmo que isso possua meu nome assinado em baixo por ser muito interessante uma humana viver no inferno, dessa vez sou inocente.— — Ótimo.— Falou Maximus.— Eu nunca duvidei disso.— — Então por que estou aqui?— — Porque eu estou sem resposta.— Ele foi sincero.— E você é o único que transita pelas dimensões com humanos.— — O momento em que trago humanos para o meu mundo é quando eles estão prestes a morrer, não é diferente da transição de almas. Ela também é uma novidade para mim.— Maximus olhou para a prisioneira, encontrou os olhos dela por um breve momento e a fez ver que novamente ele havia volta para a estaca zero. — Os demônios do nível 2 são cruéis, mas não espertos.— O anjo voltou a falar.— Não vejo como eles podem ter algum envolvimento nisso.— — Não é segredo que eles desejam o seu lugar, Maximus, e ela realmente pode ter algum envolvimento nisso para distraí-lo de algo importante, mas nada se encaixa em trazer uma humana para o inferno. Isso apenas o deixaria com mais cede de sangue caso uma guerra acontecesse.— — Eu não sou um peão de jogo!— A prisioneira exclamou, não gostando do rumo daquela conversa. — Você pode levá-la de volta para a dimensão dos humanos?— Ela foi ignorada por ambos. — Eu preciso provar seu sangue.— A prisioneira cravou suas pequenas unhas no braço de Maximus que ainda estava ao redor dela por causa do que Krueger acabará de falar. Ela, definitivamente, não estava gostando daquela conversa. — Tudo bem.— O anjo falou para ela, a assegurando que nada de ruim aconteceria.— Apenas estique sua mão.—
Depois de tirar seus olhos do arcanjo e observar Krueger por um momento, ela fez como o anjo havia pedido, sem ter outra escolha, pois sabia que Maximus a obrigaria fazer aquilo se negasse. A prisioneira esticou sua mão em direção do amigo do anjo e manteve o aperto de suas unhas no braço dele, como se aquilo fosse realmente protegê-la se Krueger tentasse matá-la. — Se você fazer um corte maior que dois centímetros, eu irei matá-lo dessa vez.— Maximus disse em um tom mortal, olhando fixamente para os olhos verdes escuros de Krueger. Seu amigo se aproximou dela novamente sem mostrar nenhuma intimidação com a ameaça dita e em um de seus dedos finos e brancos colocou a ponta de uma de suas laminas para que pudesse forçar até que uma pequena gota de sangue surgisse e sujasse aquela única garra que era muito mortal. Krueger levou a lamina suja até sua boca e passou sua língua pela gota de sangue até que aquele vermelho escuro deixasse de existir naquela arma. — Hmmm.— Ele murmurio com seus olhos fechados, apreciando o gosto de seu sangue.— Ela é tão humana que seu sangue grita essa palavra a cada segundo.— — Isso é tão nojento.— A prisioneira não conseguiu ficar quieta diante disso. — Bem, eu não posso ajudá-lo, Max.— Krueger abriu seus olhos verdes.— Essa humana está tão fraca que se eu transitasse com seu corpo para sua dimensão, provavelmente iria se partir em milhões de pedaços.— — Ela está limpa da magia de demônios?— Maximus perguntou como se apenas aquilo importasse. — Sim.— Krueger respondeu.— Mas há algo de errado em seu sangue. Normalmente o sangue dos humanos tem o gosto de doce ou salgado dependendo do que eles comem, o sangue dela apenas tem um gosto amargo. Eu nunca vi algo como isso.— — Você tem certeza de que não é magia?— — O que é essa magia?— A prisioneira perguntou antes que Krueger voltasse a falar, pois Maximus perguntava aquilo como se realmente fosse importante. — A magia que os demônios praticam não é perfeita, é uma copia barata daquela que está ao alcance dos arcanjos, e de certa forma, ela sempre acaba resultando em morte. Seja depois ou no momento em que é usada.— Krueger explicou.— Você está limpa dessa magia, mas ainda assim, há algo errado.— — Tudo está errado.— A prisioneira murmurio e abaixou sua cabeça quando sentiu os olhos azuis de Maximus nela. O anjo que ainda não havia se afastado dela tirou seu braço em volta de sua barriga para se colocar ao lado da prisioneira, ela ficou ciente que uma das suas asas estava a centímetros de suas costas, tomando cuidado para não cometer um segundo erro de esbarrar nela. Porém, depois de tirar o braço que estava ao redor dela, Maximus colocou uma mão no topo de sua cabeça e bagunçou seus cabelos negros. Ela percebeu que o anjo não sabia lidar com mulheres e sim com irmãs. Provavelmente esse era o maior motivo por ter sido um fiasco total quando tentou consolá-la e agora estava falhando novamente, pois Maximus a fez se perguntar se em sua vida antes de acordar no inferno existia alguém que realmente desejava ajudá-la quando estava prestes chorar ou um irmão, pois mesmo que o anjo estivesse tentando, a prisioneira sabia que ele não se importava com ela. — Ela está parecendo uma criança assustada com esses olhos grandes e seus cabelos jogados em frente de seu rosto.— Krueger falou e mesmo que não fosse sua intenção, ela se sentiu pequena diante do comentário. — Essa criança assustada quase quebrou seu nariz, não a provoque.— Maximus lembrou seu amigo do pequeno acontecido.
— Ok, se todo mundo irá ficar contra mim, estou indo embora.— O homem com laminas em seus dedos se virou e caminhou em direção daquela porta de vidro para sair. — Frederick,— Maximus chamou Krueger que já havia dado suas costas para o anjo. Ele não se virou para eles, mas parou de caminhar.— Você sabe que minha proposta sempre estará de pé para que deixe o nível 2.— — Esqueça-a.— Seu amigo riu.— Não desejo a vida tediosa que essa proposta me dará em troca. E você, meu amigo, já possuí muitos tenentes para que eu entre nessa lista.— — Fique fora de problemas, Krueger.— O anjo ordenou quando Krueger voltou a caminhar e abriu a porta de vidro. — Não peça o impossível, mas de qualquer forma, se eu ouvir alguma coisa sobre sua humana no nível 2, entrarei em contato.— Dizendo isso, o estranho amigo de Maximus fechou a porta e foi embora. Novamente, a prisioneira estava sozinha com o monstro de asas.
~ 06 ~ A prisioneira estava sentada em uma daquelas cadeiras da mesa que existia em seu quarto, ela não podia acreditar que havia sido enganada por Maximus e se apavorado tanto por causa de uma mentira a toa. De manhã, depois que Krueger foi embora, o anjo loiro fez questão de levá-la até seu quarto já que a sessão de recuperação das suas memorias havia acabado. Maximus disse que levaria dias até que todos os escudos fossem quebrados e ela sempre perderia noção do tempo em quanto ele estivesse em sua mente. De qualquer forma, ela quase pediu para que o anjo não a acompanhasse até seu quarto, mas também não sabia como chegar até lá e se fosse para trocar Maximus por Gate, ela preferia o anjo arrogante do que um piadista irritante. Ela havia caminhado atrás de Maximus tentando fixar o caminho que fazia em sua mente para que no futuro não precisasse de um acompanhante para levá-la até seu quarto. A prisioneira tentava olhar por cima dos ombros do anjo em sua frente, mas além dele ser maior do que ela, suas asas impossibilitavam qualquer chance de enxergar o caminho que ele estava fazendo. Depois de alguns minutos, Maximus parou diante de uma porta e se virou para ela sem dizer uma palavra, provavelmente estava esperando que ela entrasse no quarto para que fosse fazer suas coisas que deveriam estar atrasadas por causa dela, mas antes que a prisioneira entrasse em seu quarto, ela encontrou os olhos azuis tão atentos quanto os de um felino. — Posso lhe pedir uma coisa?— Falou a prisioneira calmamente, tentando ser uma verdadeira dama ao falar com alguém que estava acima dela, mesmo que negasse acreditar que fosse inferior à Maximus. Tudo bem que o anjo loiro era imperador do inferno e possuía asas brancas tão lindas e grandes que poderiam causar inveja a qualquer pessoa e ela nem mesmo era dona das roupas que vestia, mas isso não significava nada. — Claro.— Ele a respondeu, não desviando seus olhos dela. — Você poderia me dar outro quarto para dormir?— Ela perguntou tentando fazer sua melhor expressão de coitada, pois não desejava perder mais uma noite de sono por causa da lagarta do oceano e ficar zanzando por corredores desconhecidos. — Qual é o problema com seu quarto?— O anjo semicerrou seus olhos claros. — Eu não quero dormir nesse quarto sabendo que existe uma lagarta gigante cheia de dentes no oceano logo a baixo da minha janela.— A prisioneira respondeu baixinho, seu orgulho não a permitia dizer isso em um tom alto e claro. Maximus piscou e depois que segundos passaram, o anjo em frente dela riu. Realmente riu. Seus olhos ficarem pequenos nesse momento, como duas pequenas fendas que lembravam os olhos de um felino brincalhão, seus dentes perfeitos ficaram a mostra e o som de seu riso fez o estomago da prisioneira tremer. O anjo olhou para baixo ainda rindo, um sinal de quem não deveria estar fazendo aquilo. Ela não conseguia acreditar que esse homem que raramente demonstrava algum sentimento
estava rindo diante dela. Maximus passou uma mão por seus cabelos dourados em uma tentativa de tirá-los de frente de seus olhos e depois de falhar, o anjo movimentou sua cabeça para que aqueles fios rebeldes fossem para o lado. — De fato criaturas vivem naquele oceano,— Ele disse com um sorriso.— mas não existe nenhuma lagarta gigante com dentes de tubarões que rastejam pela terra.— — Você mentiu para mim?!— A prisioneira perguntou incrédula. — Sim.— O sorriso dele apenas aumentou. A prisioneira estava de boca aberta, não acreditando que havia sido alvo de uma brincadeira tão maldosa que a fez perder o sono...— Seu bastardo sacana!— Maximus elevou suas sobrancelhas em surpresa, segurando um riso em sua garganta e deixando que seus olhos rissem por ele.— Para uma humana que nem ao menos lembra seu nome, você conhece palavras bem educadas.— — Eu sei falar palavras ainda piores para pessoas mentirosas, Maximus.— Ela disse aquilo como uma ameaça, mas para o anjo apenas foi uma brincadeira. Afinal, como um homem tão grande e imortal poderia sentir medo dela? — Em minha defesa, apenas estava curioso para saber até onde seu medo iria e...— A prisioneira não o ouviu mais, ela entrou em seu quarto e bateu a porta na cara dele. Agora ela estava observando fixamente a comida que existia em sua frente, já havia se passado horas desde que Maximus a trouxe até seu quarto e pelo tanto de comida que existia naquela mesa de vidro, aquilo provavelmente era o seu almoço. A prisioneira estava pensando por onde começar e por mais que as opções fossem grandes, ela optou pelo suco de laranja que logo o deixou de lado, pois achou que ele estava sem gosto. Assim como todo o restante das comidas que provou. A prisioneira ficou decepcionada em como uma comida tão bonita podia ser sem gosto. Talvez a comida do inferno fosse diferente daquela que estava acostumada a comer em sua casa, ela podia ter se esquecido de tudo que gostava, mas seu paladar provavelmente ainda era exigente. Alguma hora a comida iria fazer falta a ela e teria que conversar sobre isso com Maximus, mas em quanto pudesse evitar essa pequena reclamação de que odiou a comida desse lugar, ela evitaria. Afinal, o arcanjo estava fazendo de tudo para que se sentisse bem como uma hospede, tirando a parte que a irritou por mentir sobre uma criatura inexistente. E ela mal podia acreditar que caiu naquele conto e ainda perdeu uma noite de sono. Suas mãos imploravam para envolverem o pescoço do anjo e esganá-lo até morrer sem ar, mas por outro lado, foi bom vê-lo rir. O som de sua risada foi capaz de mostrar que apesar dele ser o dono desse lugar que não aparentava ser feliz, ele ainda podia rir. Diane estava certa quando falou que ele não tão insensível como demonstrava. Apenas era um bastardo mentiroso que tirava o sono das pessoas. A prisioneira, sabendo que não iria mais comer aquela comida sem gosto, empurrou seu prato para longe dela ao mesmo tempo que sua porta era aberta em um estrondo e duas mulheres entravam sem ao menos bater, uma delas agiu como se fosse dona daquele lugar. Katherine e seu nariz empinado invadiu o quarto como se fosse o dela, juntamente com Diane que parecia suplicar por algo. Ambas vestiam calças apertadas e botas, seus cabelos presos em tranças perfeitas e Katherine ajeitava uma de suas luvas de couro, em quanto Diane caminhava atrás dela. — Qual é o problema dela ser nossa caça?— A nariz empinado perguntou com desprezo.— Max disse que não podemos matá-la, não que ela estava proibida de ser parte do nosso jogo.— — Kath!— Diane a repreendeu e ela apenas ignorou a irmã do arcanjo.
A prisioneira estava imóvel e em silencio em quanto observava as duas damas sem seus vestidos longos, substituídos por roupas mais esportivas. Ambas se viraram em sua direção quando perceberam que ela estava prestando atenção na pequena discussão delas que incluía sua pessoa. Diane sorriu e Katherine a mediu com seus olhos azuis tão claros quanto o céu que ela conhecia. — Você gostaria de se juntar a nós para uma caça?— Ela perguntou com falsa simpatia, não tendo nenhum problema em melhorar seu empenho. — Não aceite.— — Por que não?— A prisioneira perguntou, não desejando ser intimidada por Katherine e seu desprezo. — Porque Kath é má!— Diane acusou da maneira mais delicada que poderia existir, mostrando que sua educação era limitada sobre palavras feias. — Oh, por favor.— Katherine disso com deboche.— Marie participa do nosso jogo a anos e nunca recebeu um arranhão.— — Como é esse jogo?— — É simples, existem os predadores e a caça.— Katherine explicou.— A caça corre como um ratinho fugindo para sua toca antes que seja morto.— — Não existe morte alguma.— Diane fuzilou Katherine com o olhar.— A caça apenas recebe um cinturão cheio de fitas douradas e quando os predadores roubam uma delas, ela perde.— — Devo falar que sou ótima como predadora.— A nariz empinado disse com um tom cru e olhando para a prisioneira sentada diante dela, fazendo com que os pelos de seus braços se arrepiassem. — O que ganho em troca se não perder nenhuma fita?— Ela perguntou com seus olhos presos com os de Katherine, sabendo que se aceitasse esse jogo, seria o alvo principal dela. E se existia algo que a prisioneira nunca faria, seria se acovardar nesse jogo que não estava entendendo. Afinal, Katherine provavelmente foi até seu quarto para botá-la contra parede e fazer com que ela fugisse com medo. Definitivamente, isso não aconteceria. — Você não irá ganhar.— — Você pode estar completamente certa,— A prisioneira disse ao mesmo tempo que cruzava uma de suas pernas e virava em direção de Katherine.— Talvez eu morra sufocada com seu ego antes mesmo que tenha a chance de ganhar algo.— Diane riu com o comentário da nova hospede daquele castelo, mas logo parou quando foi vez de Katherine lhe lançar um olhar fuzilador. E a prisioneira não pode deixar de notar que o modo que ela riu era parecido com o de Maximus, a maneira como Diane riu e depois olhou para baixo ainda rindo era exatamente como o anjo loiro fez com ela. Diane até mesmo mesmo passou uma de suas mãos pelos cabelos por ter rido em um momento errado. — Se você ganhar, eu irei parabenizá-la.— Katherine disse com sua pose impetuosa.— Se você ganhar.— Ela ressaltou. A prisioneira sorriu satisfeita com o seu premio, mesmo sabendo que era algo considerado pouco quando ela podia ter pedido ouro, ouvir essas palavras saindo dos lábios daquela mulher de nariz empinado seria muito melhor do que qualquer dinheiro.— Tudo bem, estou dentro do jogo.— Agora, ela só tinha que se preocupar em ganhar de alguém que provavelmente era imortal e praticou esse jogo milhões de vezes. Realmente, isso não era nada demais. Mais tarde, depois que Diane e Katherine deixaram seu quarto, Marie apareceu para que a prisioneira a acompanhasse até o encontro das duas damas daquele castelo enorme. Ela também ousou explicar algumas coisas sobre o jogo e tudo se resumia em correr e não perder nenhuma das fitas. Diferente de Diane e Katherine, a prisioneira não havia ganhado nenhuma roupa esportiva, ela teria que enfrentar tudo vestindo um vestido.
Marie a levou para fora do castelo e a prisioneira ficou frenética ao ver uma enorme porta de madeira com maçanetas douradas em sua frente, sendo puxadas pela empregada. Ela não havia nunca pensado como era o castelo por fora, mas também a curiosidade que apareceu dentro dela sobre essa questão pareceu que a atormentava a anos. E assim que a empregada deu espaço para que ela passasse, para que estivesse diante daquele céu vermelho e com nuvens cinzas, a prisioneira desceu as escadas arredondadas e brancas com presa. Ela se virou em direção do castelo novamente e sua respiração ficou presa por vários segundos ao ver como aquele lugar realmente era. E viu que estava totalmente enganada ao pensar que aquele jardim com teto de flores era a coisa mais linda que já virá desde que acordará. O castelo dava a impressão de que era quadrado e nas quadro pontas dele existiam torres pontiagudas como aquela em que rapunzel foi presa para nunca conhecer o mundo. Ele era feito de tijolos que pareciam pedras da cor cinza claro e havia milhares de janelas que anunciava os cômodos que existiam la dentro. Diante dele existia um gramado bem cuidado e cheio de vida da cor verde escuro, bem no centro daquela entrada existia um chafariz que jorrava a água do centro para todos os lados e ele era feito do mesmo material do castelo. E ao redor de todo aquele lugar existiam colunas de gramas altas que formavam muros. Ela não podia ver o mar que via pelas janelas, mas escutava a correnteza que fazia aquelas águas sem ondas se debater contra as pedras. Tudo era tão lindo... A prisioneira ouviu o som de cavalos e se virou na direção deles para ver Katherine e Diane montadas nos animais tão negros quanto a noite que dominava esse lugar. Ambas cavalgavam com uma elegância surpreendente, sem ao menos ter um aviso, era obvio que elas tiveram pratica na montaria desde que eram pequenas, já que aparentemente o inferno não possuía automóveis. O que era ótimo era que ninguém mencionou que a prisioneira e Marie seriam pisoteadas pelas patas daqueles animais enormes que corriam muito mais rápido do que ela um dia poderia conseguir. Realmente, era bom que Katherine não tivesse pedido sua alma em troca, pois ela já se sentia derrotada. Elas desceram de seus cavalos assim que se aproximaram da prisioneira e Diane comunicou que caminhariam para acompanhar os passos de Marie e o dela até que o jogo iniciasse. Um sorriso estava estampado nos lábios perfeitos de Katherine em quanto ela mantinha seu cavalo próximo ao seu corpo para controlá-lo, era obvio que aquela mulher do inferno já havia sentindo o cheiro de derrota que radiava da prisioneira. Ignorando esse sentimento que não parecia combinar com ela, a prisioneira passou a caminhar ao lado de Diane e Marie que falavam alegremente sobre o dia estar bonito. Katherine decidiu caminhar atrás delas sozinha com seu mal humor e antipatia. E apesar de desejar provocar aquela mulher tão esnobe, a prisioneira preferiu observar o lugar que estava a baixo daquele céu vermelho, já que ela nunca saiu de dentro do castelo. Ela ficou impressionada em ver que o tão temido inferno era um lugar até que bonito, sendo o céu a única coisa feia. Parecia que o castelo de Maximus fora construído em cima de um penhasco, pois ela podia ver o mar lá em baixo e um caminho que levava até uma cidade que lembrava a época que camponeses existiam. Era um lugar bonito e perigoso para pessoas que não possuíam asas. O vento que deveria ser forte já que estavam no topo de um penhasco, não era. O inferno aparentemente era contra tudo aquilo que era conhecido, e a única coisa que se debatia contra elas era uma leve brisa. Mas era uma brisa que deixou todo seu corpo gelado pela falta de agasalhos e de
um lugar quentinho como o castelo. Quando elas chegaram até a entrada de um bosque, Diane e Katherine pararam de caminhar e o silencio até mesmo dos cascos de cavalos caminhando cessou. E quando a prisioneira percebeu, o olhar de todas estavam nela. — É aqui que nós praticamos nosso jogo.— Diane disse gentilmente.— Não se preocupe sobre estar sozinha no inferno, não existe nenhum perigo aqui no nível 1.— — Só tome cuidado para não se aproximar dos portões que estão atrás do bosque.— Katherine disse com desdem, parecendo que foi obrigada a dizer aquilo.— A menos que deseje morrer.— — Tudo bem.— Ela disse.— Onde estão minhas fitas?— Diane caminhou até seu cavalo e de dentro de uma bolsinha de couro pegou dois cintos que estavam cheios de fitas douradas enroscadas nele. Ela entregou um para a prisioneira e outro para Marie. A empregada que era mais experiente naquele jogo amarrou o seu cinto e logo foi ajudar a nova caça que estava derrubando todas as fitas ao tentar amarrar o cinto em volta de sua cintura. Katherine soltou um riso cheio de vitória por causa da cena e a prisioneira desejou chutá-la bem no meio de seu estomago, mas a única pessoa que estava em sua frente era Marie e a emprega não merecia aquilo. — Nós daremos a vocês a vantagem de 1 minuto para correrem pelo bosque antes de entrarmos.— Diane disse ao montar em seu cavalo negro e puxando as rédeas com suas mãos delicadas de uma forma que mostrou quem estava no comando, Katherine fez o mesmo que ela, mas aquea mulher não era delicada como Diane, ela montava seu cavalo como uma guerreira. A prisioneira se virou na direção de Marie com a esperança que a empregada falasse que ela a acompanhasse por aquele bosque desconhecido, mas Marie não estava mais ao lado da prisioneira, ela já havia se infiltrado naquele lugar e a abandonadou. Claro que a empregada iria salvar a pele dela ao invés de ajudar alguém que seria massacrada pelas patas de um certo cavalo, claro. Olhando pela ultima vez Diane e Katherine, ela se virou e correu em direção do bosque tão cheio de vida, tomando cuidado nos lugares que pisava para que não caísse ou encontrasse a outra beira do penhasco, já que elas ainda estavam no topo dele. Ela também tomou cuidado com seu vestido também, com certo medo de que não ficasse preso em algum galho e a derrubasse, pois sabia que em questão de segundos Katherine estaria atrás dela. A prisioneira não estava com medo, pois depois de ter enfrentado Maximus naquele pântano, ela sabia que também podia derrubar Katherine, ainda mais quando aquela mulher esnobe estava a baixo do anjo loiro. Na verdade, a certeza sobre isso sobre isso não existia, mas considerando que Katherine não possuía asas, podia deduzir isso. Ela estava serpenteando por árvores altas e cheias de vidas com suas folhas verdes escuras em quanto corria, pois isso se tratava de uma caça e quanto mais despistasse Katherine, melhor seria o resultado em atrasá-la. Aquela dama tinha todas as vantagens sobre a prisioneira e a única coisa que ela possuía era o fato dela não conhecê-la. Tudo bem que nem ela mesma se conhecia e isso a deixava sem nenhuma carta nas mangas, mas ainda assim, a única pessoa que passou mais tempo em sua companhia foi Maximus e talvez ele pudesse imaginar tudo o que ela iria fazer nesse jogo, mas Katherine apenas a viu em seu
julgamento e nada mais. A prisioneira ouviu o som dos cascos de um cavalo veloz contra o chão e sabia que seu predador estava próximo, muito próximo. E ela precisava de um plano para salvar suas fitas douradas antes de serem roubadas por Katherine. Se fosse Diane a perseguindo, talvez ela não estivesse tão desesperada para se proteger, a prisioneira provavelmente entregaria suas fitas para a irmã de Maximus assim que a encontrassem, pois ela estava cansada de correr. Estava obvio que a prisioneira não era o tipo de pessoa que gostava de esportes e ela aceitava esse fato, mas seu orgulho não permitia que perdesse para uma mulher tão esnobe. Correndo sem ter uma direção, já que não conhecia esse bosque cheio de árvores que serviam de obstáculos para todos. A prisioneira não sabia para onde ir, mas quando viu arbustos grandes que podiam servir como um esconderijo, ela correu para se colocar ao meio deles, tomando cuidado para que os espinhos não a machuca-se e rasgasse algumas das fitas. Se esconder não estava em seus planos, mas também não era tola de querer competir com a velocidade de um cavalo grande e que provavelmente era treinado para ser veloz. Segundos após ela ter se enfiado no meio daqueles arbustros altos e que a escondiam muito bem, o cavalo negro de Katherine apareceu em frente dela, caminhando lentamente para que ela pudesse observar tudo que estava diante de seus olhos azuis e procurar pela prisioneira. Em quanto aquela mulher que pertencia ao inferno estava tão próxima dela, ela nem ao menos conseguia respirar direito e quando aquele cavalo se aproximou ainda mais daqueles arbustros, caminhar para trás até que estivesse totalmente fora do alcance de visão daquele animal foi parte de seu instinto. A cada passo que dava ela se sentia ainda mais aliviada por estar longe de Katherine e deixar suas fitas douradas a salva, mas a prisioneira não percebeu quando o chão de terra que pisava acabou e um enorme lago se estendeu em suas costas. E tudo aconteceu em questão de segundos após ela cair, a água que sem nenhuma piedade envolveu seu corpo, como correntes pesadas que a puxaram para baixo, estava começando a fazer parte de seu corpo quando um grito era substituido por litros de águas dentro de seu organismo. Ela não encontrava o chão daquele lago para achar o impulso e mandar seu corpo para cima e também não conseguia chegar até a superficie definitivamente para respirar. Ela não sabia nadar ou simplesmente não se lembrava como fazia aquilo, mas o seu desespero apenas aumentou quando as poucas vezes que chegava até a surperficie não era o suficiente para recuperar o ar e pedir por ajuda. Katherine estava logo atrás daqueles arbutos e ela iria ouvir os gritos desesperados da prisioneira. Ela tinha que ouvir. A prisioneira tentou bater seus pés, movimentar seus braços e nada funcionou. Ela continuava afundando e afundando como se fosse uma pedra jogada ao mar. Era ironico pensar que de tantas formas para morrer no inferno, a maneira como morreria seria afogada. Com tantos imortais nesse lugar, ela iria morrer de uma forma tão mortal... Ela ainda não havia desistido de salvar sua vida, mesmo que parecesse que existisse alfinetos em seus pulmões e a sensação de que água estava entrando por seu nariz, ela não desejava morrer. Não quando não existiria nem um nome em sua lápide ou uma frase sobre as pessoas que a amaram. E em uma das suas tentativas para encontrar o ar definitivamente ao invés de água, seus olhos rapidamente viram Katherine e tudo pareceu se tornar um filme que foi feito em camera lenta assim que a prisioneira a viu. A mulher estava fora de seu cavalo, à alguns passos do lago e com uma de suas mãos brancas como
porcelana sob o seu coração. Ela estava tão imóvel que poderia ser facilmente confundida com um lindo manequim que copiava a vida humana, mas nunca deixaria de ser um boneco modelo. A prisioneira voltou a pedir ajuda, mas a mulher não se moveu, nem mesmo sua expressão dura e sem nenhum sentimento mudou. Aquela dama que vivia no inferno continuou tão imóvel quanto uma montanha que era atingida por vendavais fortes. Katherine estava a deixando morrer afogada. Essa resposta era tão obvia que não era preciso de nenhuma pergunta para vê-la, e a força de vontada da prisioneira de salvar sua vida se dissipou em milhões de pedaços quando viu que aquela mulher arrogante jamais se moveria em direção do lago. Ela parou de se debater contra a água que a engolia como um felino sem comer à dias quando rapidamente os pensamentos que sempre a importunavam se debateram com força total contra sua mente. Ela não pertencia a esse lugar e jamais pertenceria. Nem ao menos sabia como ainda estava viva e isso podia se considerar como um milagre. Maximus a considerava como um problema e ninguém naquele castelo um dia iria a considerar como algo além de uma simples humana que estava vivendo no lugar errado. Todos desejavam a morte dela para que tudo voltasse ao normal no dia a dia deles e isso ficou obvio quando o anjo loiro tentou matá-la sem ao menos perguntar quem ela era, ele desejou aquilo apenas em ver que a prisioneira não pertencia ao inferno e estava a cima de todo o seu conhecimento... Todas pessoas que viviam naquele lugar eram monstros... Todos. A prisioneira fechou seus olhos e soltou o restante do pouco ar que existia em seus pulmões para sentir as ultimas bolhas de ar se formarem na água e deixou que aquelas correntes imaginárias a levasse para o fundo daquela água traiçoeira. Sua mente aos poucos foi ficando lenta como se houvesse tomado algum tipo de sedativo para dormir, a diferença era que seu sono seria eterno. Ela aceitou sua morte como se fosse uma amiga sua, aceitou que não era bem vinda no inferno e que não queria viver naquele lugar, mas antes mesmo que a dor acabasse e seu corpo se tornasse apenas um incomodo para aquele lago, ela sentiu alguma coisa pesada se afundar dentro da água e perto dela. Ao abrir seus olhos, a prisioneira não viu nada além de borrões em sua frente e decidiu que fechá-los ainda era a melhor opção, porém, antes disso acontecer, ela sentiu um puxão em seu braço para debater contra algo muito duro e no segundo seguinte, seus corpo não estava mais dentro daquelas águas que quase a mataram. Sua mente ainda estava funcionando devagar, ela não sabia dizer ou pensar muitas coisas, mas percebeu que estava deitada no gramado daquele bosque e que tossia toda a água que havia engolido para fora do seu corpo. Depois que sua respiração estava voltando aos poucos, ela abriu seus olhos para tentar ver algo e a única coisa que pode encontrar foi os olhos azuis escuros de um Maximus totalmente molhado. Suas asas brancas estavam abertas em suas costas e a água escorria por todas suas penas que agora formavam gumes e acabavam com os detalhes perfeitos delas. Seus cabelos loiros mesmo molhados ainda eram claros e continuavam a cair em frente de seus olhos com teimosia. O anjo estava ajoelhado quase em cima dela, seu rosto próximo demais para observála. Ela fechou seus olhos novamente, pois sua visão ainda estava um pouco embasada e isso fazia sua dor de cabeça aumentar. Respirar também doía e dava a impressão que aqueles alfinetes eram cada vez mais enfiados contra seus pulmões que aos poucos recebiam o ar que precisavam.
Normalmente fazer trabalhos de reconhecimento para ajudar sua mente voltar ao normal era o que qualquer outra pessoa iria fazer, mas ela não sabia quem era e isso apenas a fazia ter vontade de gritar. Talvez a melhor opção era ter morrido, pois agora ela havia retornado para o mundo dos monstros. E ela odiava Maximus por ser o responsável por isso. A prisioneira abriu seus olhos novamente quando ouviu movimentos próximos dela, com seus instintos protetores alertas, ela tentou se levantar e uma mão grande e quente a obrigou a ficar exatamente onde estava. Ignorando os protestos de ficar deitada e tentando lutar contra a força de Maximus, a prisioneira se levantou mesmo não conseguindo ficar em pé direito. O anjo seguiu os movimentos desajeitados dela e a segurou seus braços para mantê-la naquela posição. Ela o encarou com certo odio, pois uma pessoa aceitar sua morte não era algo que se alcançava com facilidade e mesmo que ele a tivesse a salvado, não estava agradecida pelo ato. O anjo não gostava dela, não havia motivos para que tivesse feito aquilo. A prisioneira olhou ao seu redor e encontrou os olhares de três mulheres em sua direção, ver que todos os olhos daquele lugar estavam focado apenas nela fez com que um tic soasse em sua mente, fazendo com que ela voltasse a funcionar a mil, principalmente quando encontrou os olhos azuis perfeitos de Katherine. — Ela tentou me matar.— A prisioneira acusou, sua voz tão grutural que a deixou surpresa.— Ela tentou me matar!— — Pare.— Maximus disse aquilo como uma ordem, a segurando com mais força quando ela tentou se soltar dele. Mas ela não parou, ele não era seu imperador e não possuía motivos para obedecer qualquer pessoa desse lugar. — Me solte!— Ela queria gritar, mas sua voz ainda era fraca demais para isso. A prisioneira movimentou seus braços para tirar as mãos de Maximus dela, a repugnancia cresceu em sua garganta de modo que a deixou com nojo. Katherine ao deixá-la morrer naquele lago apenas deixou tudo claro para a prisioneira. Nenhuma pessoa se importava se ela vivia ou não, pois Marie apenas estava fazendo seu trabalho, Diane estava sendo gentil com a hospede de seu irmão e Maximus... Ele apenas desejava descobrir quem estava quebrando as regras de seu conhecimento, o anjo não desejava o bem dela a ponto de realmente ter algum desejo para salvá-la. — Katherine não tentou matá-la.— Ele a defendeu cegamente e fez com que uma raiva que nunca houverá sentido crescer dentro de seu interior como uma bomba que explodiu e destruiu várias coisas. — Você...— Ela começou a falar, mas viu que estava completamente errada naquela palavra.— Vocês, todos vocês são monstruosos!— Maximus encontrou o olhar dela, mas não a soltou de maneira alguma.— Tudo que fazem é apenas para o proposito de vocês, ninguém nesse inferno me deseja aqui e isso é tão monstruoso. Todos vocês são monstros!— O anjo loiro a soltou dessa vez e ela teve que lutar para se manter em pé já que ele não a segurava mais para se manter naquela posição. O arcanjo a olhou em silencio, travando seus olhos com os dela para que visse o quão vazio eles estavam. Toda a preocupação que existiu no fundo daquele azul escuro não estava mais alí e aquilo apenas provava o quanto certa ela estava. Lágrimas quentes escorreram por seu rosto, ela não desejava chorar na frente dessas pessoas insensiveis, mas se amava ou odiava sua verdadeira casa, a prisioneira não se importava mais. Tudo
que desejava era voltar para o mundo que sempre conheceu e que agora era desconhecido para suas memorias. Ela também não desviou seus olhos de Maximus por estar chorando, pois não existia nenhum arrependimento sobre suas palavras.— Você é tão insensivel e frio quanto os outros.— A prisioneira declarou para ele, suas palavras soaram baixas e cheia de raiva para que o anjo soubesse que ela não chorava por arrependimento do que havia dito.— E defender uma assassina é o que lhe torna um monstro.— O anjo em sua frente estava imóvel, por um momento ela podia ter certeza de que ele estava congelado, mas o movimento de sua respiração calma e a água que escorria por todo o seu corpo traiu essa suposição. Os olhos dele pertenciam somente a ela, mas a prisioneira nunca poderia descrever o que existia dentro deles, pois só via o eterno vazio. Ele movimentou seus lábios por um segundo e nenhuma palavra saiu dali, o arcanjo provavelmente desistiu do que iria falar a ela e abaixou seu olhar por um breve momento antes de levantar sua cabeça, encontrando os olhos dela novamente. — Leve-a para o castelo, Diane.— Maximus disse sem nenhuma emoção e seus olhos não encontraram com os de sua irmã, ele apenas ergueu seu queixou como um verdadeiro soberano e ordenou aquilo. Depois suas asas molhadas se agitaram contra o ar ao se abrirem em um simples estalo, fazendo com que algumas gotas atingissem a prisioneira até que no segundo seguinte ele já não estar mais em sua frente. O arcanjo deixou a terra para encontrar o ar e o céu acima dela. A prisioneira não se importou com a ordem, pois não havia lugar para ir. Ela estava tão sozinha e abandonada no inferno que tudo que podia fazer era conviver com as pessoas que acabará de descobrir que a odiavam. Nesse momento, ela apenas desejava ir para qualquer lugar menos ao castelo, mas obviamente essa opção não existia.
~ 07 ~ Dias se passaram desde que o indicidente no lago acontecerá e a prisioneira acusará todas as pessoas que estavam presentes naquele local de serem monstros, incluindo Maximus. Desde que isso aconteceu, ela se manteve fechada em seu quarto sem ver ninguém além de uma empregada totalmente desconhecida que trazia suas refeições que eram completamente ignoradas. Suas sessões de recuperar as memórias perdidas com Maximus também deixaram de existir, já que parecia que o anjo não morava mais em seu castelo ou não tinha atrevimento sufiente para entrar em seu quarto e chamá-la de idiota. Não que a prisioneira precisasse fazer as pazes com ele, mas já estava começando a se sentir muito solitária fechada em seu quarto noite e dia. Nove dias haviam se passado desde que virou uma hospede do inferno, mas naquele dia estava fazendo uma semana desde que Katherine tentou matá-la e Maximus a defendeu. E de alguma maneira esquisita, ela passou se sentir ainda mais miseravel depois de ter escolhido a opção de se manter em seu quarto, estando ciente de que ninguém a procuraria para conversar sobre o que aconteceu, não quando chamará a todos de monstros. Mas o que a prisioneira podia fazer? Katherine a viu se afogando e não moveu nenhum musculo para ajudá-la. Acusa-la diante do arcanjo responsavel por esse lugar não era nenhum crime, mas acusar uma amiga, ou seja lá o que fosse dele, provavelmente era. Era obvio que ele acreditaria nas palavras de Katherine do que na de uma pessoa que era um problema e que conhecia a poucos dias. Quem sabe quanto tempo Maximus e Katherine se conheciam, quem sabe até onde ia o nível de amizade deles ou se realmente eram apenas amigos. A prisioneira, definitivamente, não sabia, mas se havia algo que não negava a certeza, era que ter passado uma semana em seu quarto sem ver ninguém era torturador. Chorar e se lamentar por estar presa no inferno passou a fazer parte do seu dia a dia infeliz, já que não havia muitas coisas para se fazer além de dormir. Ela estava começando a se odiar por chorar tanto e não sair de seu quarto para mostrar a todos que estava bem. O seu orgulho gritava para ela dizendo que tinha que caminhar pelos corredores e demonstrar para qualquer pessoa que a visse que não se importava em morar com monstros, mas a prisioneira não conseguia lidar com o fato de ter que cruzar com Maximus nesses passeios. Ela estava triste e todo seu desespero por estar nesse lugar que não pertence estava a fazendo sofrer de uma maneira surreal a ponto de chorar apenas em pensar que Maximus mentiu ao prometer que a protegeria, de ter confiando em alguém que não conhecia e quebrar a cara por isso. Se em apenas pensar nele tudo isso acontecia, não sabia o que aconteceria quando o visse pessoalmente. Mas hoje, por outro lado, ela se sentia renovada a ponto de ficar na duvida se saia de seu quarto ou não para enfrentar todos que estavam lá fora. Pelo tempo que se passará, o dia já acabado a muito
tempo e a noite podia ser a hora ideal para encontrar o anjo loiro que aceitou ignorar a existencia dela, assim como ela a dele. A prisioneira não tinha certeza se estava pronta para enfrentar o problema que causou ao chamar todos de monstros, mas ela queria recuperar suas memorias e apenas Maximus podia ajudá-la. Na verdade, apenas ele podia ajudar em tudo. E ela se sentia uma completa idiota por ter virado a cara para a única pessoa que iria ajudá-la. A prisioneira também não estava o colocando em um pedestal em quanto se menosprezava, ela tinha a certeza de que o arcanjo não tinha um bom coração a ponto de ajudar qualquer humano que era encontrado no inferno sem nenhuma memoria, ele tinha seu próprio interesse nesse assunto. Mas ambos queriam a mesma coisa. Ele desejava encontrar uma maneira de levá-la para sua dimensão e ela também queria aquilo, então, de alguma forma, a prisioneira teria de que aceitar que antes dela o anjo iria proteger muitas coisas que eram importante para ele. Incluindo alguém que tentou matá-la. Agora ela estava de frente com sua porta, sua mão pálida estava sobre a maçaneta da porta e seus dedos a seguraçava com força naquele metal que ficará quente depois de tanto tempo, a prsioneira ainda não havia encontrado a coragem para abrir sua porta e em quanto esperava por um pequeno indicio de sua mente dizendo que sair de seu quarto não era algo assustador, seus olhos estavam fixos em suas veias azuis que eram visíveis devido a falta de cor da sua pele. Ela usou sua mão livre para colocar uma mecha irritante de seu cabelo negro atrás de sua orelha, seu cabelo era tão liso e fino que muitas vezes nem um coque mal feito parava no topo de sua cabeça. Parecia que ele possuía vida própria e escolhia exatamente como iria ficar no seu dia a dia, a prisioneira estava apenas feliz por eles não serem armados. Aquele liso escorrido era muito melhor do que algo descontrolado. A prisioeneira suspirou e depois de tirar sua mão de seus cabelos, ela ignorou esse pensamento de cabelos, que não vinha ao caso nesse momento, e reuniu toda sua força necessaria para abrir aquela porta e desistiu de esperar que seus sentimentos a movesse. Se eles não eram corajosos suficiente, seu corpo era. Ao abrir a porta, ela saiu no corredor com uma rapidez surpreendente para que a chance de continuar em seu quarto nunca existisse, mas para a sorte infeliz dela, seu corpo quase atropelou alguém. — Maitea jauna!— Aquela língua estranha invadiu o corredor em total surpresa, fazendo a prisioneira deter seus passos antes mesmo que passasse por cima de Dimitrius. Ele estava colado a parede com suas asas estendidas que se abriram rapidamente para que existisse mais espaço entre eles. Era quase comico o modo em que ele se segurava contra a parede, como se diante dele existisse algo que o anjo temia mais do que qualquer outra coisa.— Você quase encostou nas minhas asas!— Dimitrius acusou como se aquilo fosse um crime. A prisioneira encontrou os olhos do irmão de Maximus depois que parou de olhar suas magnificas asas brancas que estavam completamente abertas e lhe dando uma noção de quão grande eram. Ela franziu o cenho.— Não estou suja para que tenha tanta repugnancia de mim.— Suas palavras deveriam ter saído com um tom de pura arrogancia, mas ele saiu como se a prisioneira tivesse se sentido magoada pela reação dele. Seus sentimentos ainda estavam traindo o seu corpo e ela ainda esperava enfrentar o anjo loiro e insensivel, que ótimo. O anjo que estava em sua frente desgrudou da parede e fechou suas asas em suas costas, ele parecia meio constrangido por tê-la acusado de uma maneira que a fez ficar magoada, mas Dimitrius estava completamente enganado, pois ela não estava. O pior era que nada que ela falasse iria resolver esse mal entendido, afinal, toda pessoa que se sentia mal sempre dizia “está tudo bem”. Dimitrius observou a prisioneira com seus olhos escuros que eram exatamente como os de Diane, mas seu olhar era o mesmo que Maximus usará nela nos dois dias que tiveram para conversar antes
dela destruir tudo. O anjo arrumou sua postura e encontrou seus olhos depois de um tempo.— Não desejava ser rude, você me pegou de surpresa e quase esbarrou em minhas asas.— — Qual é o problema com suas asas?— A prisioneira perguntou, ainda não entendendo o que havia de errado nisso. O anjo entediado arqueou uma de suas sobrancelhas, uma expressão de surpresa invadiu seu rosto que não era inexpressivo como o de Maximus.— Pelo visto Maximus não explicou algumas coisas importantes.— Ele disse.— Mas considerando que vocês não se falam à dias...— Ela olhou para ele com um olhar rabugento, não gostando que o irmão do anjo loiro estivesse bem por dentro das fofocas que se espalharam pelo castelo em quanto estava trancada em seu quarto.— Vá cuidar da sua dimensão e me deixe em paz.— A prisioneira atirou aquilo como uma pedra e se virou para sair daquele corredor. — Espere.— Dimitrius disse em meio de um riso.— Não deseja mais saber sobre minhas asas?— A prisioneira se virou em sua direção, pois ficou curiosa na reação que o anjo teve quando ela quase esbarrou nas suas asas. Todo esse assunto de arcanjos era uma novidade e obviamente a curiosidade vencia qualquer orgulho. — Privilégios de toque.— Dimitrius disse como se aquilo explicasse tudo.— Ninguém pode tocar na asa de um anjo sem que tenha permissão e as pessoas que recebem esse direito, são aqueles que estão destinados a ganhar nossos corações.— — Vocês podem amar?— Ela perguntou com surpresa. — Bem, Maximus definitivamente fez a pior propaganda de nós aparantemente.— Ele lamentou.— Mas sim e quem pode tocar em minhas asas é a mulher que irá se sentar ao meu lado todos os dias. — — Isso é como uma presente, imagino.— Ela deduziu.— Alguém já tocou suas asas?— — Nunca.— Dimitrius sorriu com certai ironia.— Nós com certeza podemos amar, mas isso não significava que seja fácil.— — Uau, me perdoe por quase ter destruído seus sonhos de donzela presa em uma torre ao roubar o primeiro toque.— A prisioneira colocou dramaticamente uma mão em seu coração. Dimitrius riu e ficou muito visivel de que entre os três arcanjos ele era o mais gentil.— Perdoada, grande dragão.— Ele curvou sua cabeça.— De qualquer maneira, isso é algo essencial para se saber quando se vive com um anjo. Existem muitas poucas coisas que nós nos importamos devido a nossa posição e essa é a principal. Tome cuidado quando estiver próxima de Maximus, acidentes sempre acontecem.— — Maximus e eu não nos damos muito bem, isso não será um grande problema quando a distancia é a principal coisa que desejo.— — Você teve a sorte de conviver com o pior dos meus irmãos.— Dimitrius deu de ombros.— Não a julgo por isso.— — Maximus é o pior?— Ela disse incrédula.— Meridius quis me matar!— O anjo loiro não merecia a defesa dela, mas entre ele e Meridius, estava obvio quem era o pior ali. — Pense bem, Meridius esperou que seu julgamento acontecesse para solicitar a opção de morte,— O anjo entediado sorriu ameaçadora.— Max não esperou.— Depois de dizer aquilo e deixá-la sem palavras ou tentativas de novamente defender Maximus, Dimitrius se virou e começou a caminhar pelo corredor novamente, mas antes de continuar seu trajeto, ele encontrou os olhos azuis da prisioneira.— Sinto muito que se encontre nessa situação.— O anjo disse com sinceridade.— Por mais que eu odeie os humanos, ninguém merece viver nas dimensões antes de morrerem.— — Obrigada, eu acho.— Ela disse e sem mais nenhuma palavra, Dimitrius retornou para a sua caminhada deixando que o som de suas asas fazendo leves movimentos fosse o único barulho que
invadia aquele corredor até que seu corpo ficasse pequeno com a distancia e depois sumisse completamente. A prisioneira gostou de conversar com Dimitrius, mas ao mesmo tempo isso a deixou desesperada e com um nó enorme em sua garganta. Afinal, agora ela sabia que Meridius não era o pior dos três e ainda devia milhões de desculpas a Maximus por sua asa ter encostado nela quando tentou atacar Krueger. Definitvamente, o anjo estava certo em desejar sua morte em quanto ela estava colocando todas as suas regras de ponta cabeça. Ela estava caminhando pelo corredor sem nenhum destino esperando encontrar Maximus ou qualquer um de seus soldados que a escutaria quando pedisse para levá-la até o anjo loiro. Os outros guardas que ficavam de guarda pareciam estatuas e a prisioneira ficou um pouco envergonhada em ter que falar com algum deles. Mas no fim, ela havia caminhado tanto que já estava ficando totalmente cansada e atordoada pelas voltas que estava dando pelo castelo que de fora não aparentava ser um labirinto enorme. A prisioneira ficou completamente feliz quando no mesmo corredor que estava caminhando naquele momento encontrou um soldado que andava rapidamente do lado oposto dela, ela se lembrava dele naquela meia lua de seu julgamento e então não se importou de se colocar na frente dele antes que o homem passasse pela prisioneira fingindo que nunca a viu. Ela o observou em silencio, não sabendo exatamente o que dizer, pois não desejava soar como alguém que dava ordens apenas por ser uma hospede do dono daquele lugar, pois sabia que estava muito a baixo até mesmo dos empregados. Em quanto ele não começava uma conversa ou ela dizia algo, a prisioneira observou seus traços para ter certeza de que não estava enganada sobre o soldado ter estado naquela meia lua. Seus cabelos eram curtos e de um tom loiro escuro, ela sabia que se eles fossem maiores, seriam cacheados devido a pequena ondulação que se formavam no topo de sua cabeça. Ele tinha uma barba rala a cima de sua pele branca que demonstrava que era apenas por fazer, seus lábios eram chamativos por serem carnudos e rosados, igualmente ao tom de seus olhos azuis que de perto eram claros mas de longe podia ter a certeza de que eram escuros. Esse homem tinha um ar meio de psicopata, mesmo sendo essa a segunda vez que o via, a prisioneira sentia essa palavra radiar de seu corpo com uma força bruta. — Posso ajudá-la?— Ele perguntou finalmente, a observando como se fosse apenas uma pedra no seu caminho que poderia ser facilmente chutada. — Sim.— A prisioneira respondeu sem hesitar, mesmo com medo desse ar psicopata.— Você poderia me levar até Maximus?— — Imagino que imperatore não esteja mais disponivel para conversas.— O soldado disse com sinceridade, não por que era malvado ou engraçadinho como Gate a ponto de lhe fazer uma piada. — Por favor.— A prisioneira insistiu tentando fazer sua melhor expressão de coitada e nos segundos seguinte a sensação de que ela estava encarando uma pedra a invadiu, pois aquele homem que estava naquela meia lua em seu julgamento não disse mais nenhuma palavra. Parecia que ele estava falando com outra pessoa, alguém que ela não podia ver ou ouvir. — Tudo bem.— Ele disse depois de um tempo em silencio que a deixou agonizada.— Vamos.— O soldado se virou e começou a fazer o mesmo caminho que ela estava fazendo, deixando o seu antigo trajeto de lado para realizar um pequeno pedido que para a prisioneira estava a deixando sem ar. Tentando se distrair por um momento, já que não sabia exatamente o que iria falar para Maximus, ela focou sua atenção no modo como o homem em sua frente caminhava. Seu andar era
confiante, de alguém que sabia o que fazia e de que não possuía medo de nada do lugar em que vivia, diferente dela que a cada passo que dava era uma hesitação maior do que a anterior. A prisioneira suspirou, não conseguindo prender aquele sinal de decepção dentro de seus pulmões. Sua casca de durona havia se partido em dois pedaços e ela sentia que a cada minuto um pedaço caía até não existir mais nada. Não podia acreditar que depois de uma semana no inferno ela se encontrava tão sensível, sendo que deveria ter sido tudo ao contrário. A prisioneira deveria ter sentido medo, tristeza e chorar nos primeiros dias em que foi informada onde se encontrava e não simplesmente ter ficado pior conforme o tempo se passava. Ela acredetiva que tudo isso era culpa por causa de Maximus ter ignorado a presença dela em seu castelo durante tanto tempo, uma parte dela estava machucada pelo anjo ter prometido que iria cuidar dela e no primeiro impasse que aconteceu, ele a abandonou. Tudo bem que foi tola demais ao pensar que Maximus realmente iria a proteger de qualquer coisa, mas ele foi a única pessoa que lhe deu segurança, já que desejava sua confiança para acessar suas memorias, então a prisioneira acreditou nele cegamente. — Você se sente bem?— O soldado perguntou friamente, mas existia curiosidade em sua pergunta mesmo que não tivesse olhado para ela. E a prisioneira não iria ignorá-lo já que estava fazendo um grande favor, ainda mais agora que havia falado com ela. — Sim.— Tentou ser simpática, mas novamente seus sentimentos a traíram. — Humanos possuem uma saúde fragil, se estiver com algum problema deveria nos avisar.— — Por que esta falando isso?— A prisioneira não pode deixar de perguntar, pois ela se sentia completamente bem, apenas estava magoada por tudo que estava acontecendo em sua vida. — Você está mais pálida do que uma piranha albina...— Piranha albina?! — Seu tom não estava assim quando a vi no julgamento.— — Estou bem, mas obrigada.— Ela disse calmamente, e ignorando o quer que fosse uma piranha albina, desejando cortar esse assunto antes que sua própria mente suicida achasse alguma resposta apavorante.— Como se chama?— — Morgan.— — Morgan,— Ela repetiu seu nome, descobrindo que pela falta de um nome para ela mesma, gostava de saber como os outros se chamavam.— Eu gostei do seu nome.— — Bem,— Ele riu brevemente.— digamos que minha mãe foi criativa.— A prisioneira estava pronta para dizer que era um nome bem interessante e diferente, mas quando se deu conta que eles estavam em um corredor que não possuía nenhuma outra porta além de uma no final dele, seu coração acelerou e sentiu que as laterais de seu pescoço estavam começando a ficar quentes. Essa, definitivamente, não era a reação que deveria ter ao saber que Maximus estaria atrás daquela única porta em um corredor escuro. Mas, como a sorte era uma cretina em falta, isso não foi seu maior problema. A prisioneira podia controlar suas emoções traidoras antes que chegasse até a porta, mas quando ela foi aberta para clarear o corredor em que caminhava juntamente com Morgan, ela pode sentir todos os seus sentimentos congelarem e deixarem de existir exatamente como quando precisou deles para abrir a sua própria porta. Ela continuou a caminhar logo atrás de Morgan, acompanhando o ritmo dele para que não se atrapalhasse toda, mesmo quando seus olhos estavam fixos em uma mulher que saia do quarto com seus cabelos marrons molhados e com um vestido tão colado quanto o que Diane usava quando falou com ela pela primeira vez. Aquela estranha possuía um bronzeado perfeito, uma cor que provava que ela passava horas abaixo de um sol quente e que combinava muito bem com seus olhos azeitonados. Tudo nela gritava mulher em seu caminhar, em seu corpo ideal e em tudo. Agora a
prisioneira entendia o que Krueger queria dizer quando falou que ela não fazia o tipo de Maximus. Chegar aos pés dessa mulher era algo que estava fora das listas de sonhos dela, pois mesmo que ela tivesse uma altura média, seu corpo parecia mais com o de uma adolescente do que com o de uma mulher cheia de curvas como o daquela que estava cruzando com ela naquele momento. Mas de qualquer maneira, a prisioneira não desejava fazer o tipo de Maximus, então isso não importava. Ela se perguntou se aquela mulher era a escolhida do anjo loiro para tocar em suas asas, pois estava obvio demais o que havia acontecido naquele comodo, tudo ficava ainda mais claro quando viu que os cabelos dourados de Maximus também estavam molhados e ele estava sem nenhuma camisa. A prisioneira, para poupar sua vida, manteve seus olhos fixos nos dele já que sua mulher ainda estava naquele corredor. Ela não era tola de mentir que seus olhos a forçavam para observar o abdomen do arcanjo já que estava curiosa para saber o quanto de saúde Maximus possuía, ainda mais quando usando uma camisa os poucos musculos que ficavam a mostra eram bem satisfatorios. Eles se aproximaram da porta ainda aberta e com Maximus diante dela, Morgan ao encontrar os olhos do anjo curvou sua cabeça brevemente como uma reverencia respeitosa.— Imperatore.— O arcanjo ignorou o seu soldado para ter seus olhos na prisioneira, observando com certa curiosidade e ao mesmo tempo com um rosto tão fechado e proíbido de emoções. — Obrigado, Morgan.— Ele disse ao homem e isso foi o suficiente para que Morgan se virasse para ir embora rapidamente, deixando-a de frente com um anjo sem camisa. Ela estava contando carneirinhos em sua mente, mesmo ciente de que aquilo era uma travessura para dormir, aquilo estava ajudando muito para que seus olhos não viajassem pelo corpo de Maximus. A prisioneira podia ter suas desavenças com ele, isso não era mentira, mas também não podia se iludir de que o arcanjo era feio e sem nenhum traço atraente. Maximus provavelmente era os deus dos deuses e ela era uma mulher sem casa, sem roupas, sem nome que estava de frente com um homem muito bonito. Era obvio que sua mente estava sendo torturada para não admitir que seus olhos fizessem uma viagem. Ambos ficaram em silencio por muito tempo, ela esperava que o anjo loiro falasse algo para iniciar a conversa, mas era idiota por acreditar nisso. Quem foi até ele para conversar foi ela, não ao contrário, então não tinha que esperar o arcanjo começar. — Eu...— — Entre.— Maximus disse a cortando, se movendo para o lado até que estivesse o espaço suficiente para que a prisioneira passasse. Ela deu um passo a frente, obedecendo a ordem do arcanjo como um cachorrinho que fez algo muito errado e foi pego de surpresa por seu dono, mas antes que continuasse adiante, seu corpo congelou. A prisioneira havia parado bem ao lado de Maximus, um de seus ombros quase encostava em seu peito nu em quanto ele esperava que ela entrasse, mas um grito ressoou por sua mente a fazendo parar exatamente onde estava. Afinal, esse não era qualquer lugar, e sim o quarto de Maximus. A primeira coisa que seus olhos encontrram foi sua cama, que graças a todas divindades que existiam, estava perfeitamente arrumada com cedas de um azul marinho que não possuía nenhum dossel ou coisa do tipo, era apenas uma cama box do tamanho que acomodava suas asas totalmente estendidas. O quarto em geral era enorme como o salão que aconteceu seu julgamento, havia um lustre e uma lareira com um quadro de família a cima dela. Até mesmo Katherine estava posando para a pintura com seu vestido longo. Era um quarto digno de um rei, assim como era Maximus. Definitivamente, ela não se sentia confortavel em conversar no quarto dele, ainda mais quando seus
olhos curiosos continuaram a explorar e encontraram a porta do banheiro aberta e com a luz acessa, deixando obvio que forá ali que uma festinha particular havia acontecido. Seus pensamentos pervertidos passaram imaginar coisas impropriadas sobre como tudo havia ocorrido ali dentro e quando a prisioneira sentiu seu pescoço novamente esquentar em quanto todo seu rosto seguia o ritmo, ela ignorou esses pensamentos. — É apenas meu quarto, não uma jaula.— Maximus disse perto dela, sua paciencia que mal havia existido já estava nos ultimos suspiros de vida. — Nós... nós podemos conversar em outro lugar?— Ela gaguejou sem graça e encontrou os olhos azuis escuros do arcanjo assim que deixou suas costas encontrarem o batente da porta para manter um espaço entre eles. — Não.— Disse ele arrogantemente. — Por favor...— A prisioneira quase implorou, mas Maximus pegou seu cotovelo de uma forma delicada para não machuca-la e a puxou para dentro de seu quarto, a afastando do batente da porta para fechá-la. Nesse momento, ela havia ficado sem reação e perdido totalmente o controle de seus olhos que foram de encontro ao peito sem nenhuma camisa do anjo. E “uau!” era a única palavra que podia definir tudo o que estava vendo. Maximus, mesmo sendo um guerreiro com tantos soldados, não possuía nenhuma cicatriz como ela imaginará que teria, seu peito era liso e com um abdomen bem definido. Cada linha era uma tentação que levava a pensamentos muitos pecadores, ainda mais aquelas que começavam nas laterais a baixo de sua cinturam e iam se afinando até sumirem por culpa de seus jeans negros. Ela engoliu em seco, tentando encontrar o controle de seu corpo que agora era a vez de ser o traídor. Sua emoções que haviam sido congeladas ao ver sua mulher saindo do quarto dele voltaram à tona com força total, fazendo seu sangue esquentar e sacudir seu estomado. Mulher, ele possuia uma mulher! — Humana.— Maximus murmurou aquela palavra como se fosse seu nome, fazendo com que ela olhasse para ele rapidamente e assustada com seus olhos arregalados, mostrando todas as cartas de que estava o observando detalhadamente. — Eu queria lhe pedir desculpas, Maximus.— Ela disse rapidamente e desajeitada, falando aquilo que estava em sua mente desde que decidiu que era correto ir até o anjo, a prisioneira apenas não esperava ter que ver uma cena tão constragedora de uma mulher saindo de seu quarto e de ter que encarar o fato dele estar sem nenhuma camisa. Ela não estava pronta para pedir desculpas tão facilmente assim em quanto não conversasse com o anjo e tivesse a certeza de que ele merecia isso, afinal, a prisioneira havia o chamado de monstro e depois de uma semana sem vê-lo, acreditava que tinha sido muito cretina ao dizer isso para ele, Diane e Marie sendo que Katherine era a única que merecia seus xingamentos. Antes de pedir desculpas, ela queria ver se o arcanjo havia defendido sua amiga por não acreditar que ela era capaz de fazer algo como aquilo, não por desejar a morte da prisioneira também. Maximus soltou o seu cotovelo que ainda segurava, fazendo-a perceber que sua mão quente ainda tocava sua pele gelada e palida. O anjo a observou em silencio, procurando os traços que precisava para ver que ela estava sendo sincera e quando seus olhos azuis se cansaram de olhar para o rosto da prisioneira, ele se afastou dela para caminhar até uma porta de vidro enorme que levava até uma varanda sem grades de proteção, um lugar tão perigoso... O arcanjo ficou de costas para ela, olhando a escuridão sem nenhuma estrela ou lua atraves do vidro que o separava da varando. Ela olhou para suas costas não tendo mais nenhuma opção, pensando
em como parecia natural aquelas asas que se estendiam naquela região como se fosse algo muito normal. O vidro refletia a imagem de Maximus, assim como a dela que havia se virado um pouco para ver o anjo. Ele encontrou os olhos dela pelo vidro escurecido por causa da noite. — Por que está pedindo desculpas?— O anjo perguntou calmamente. — Porque...— Por que Maximus não podia ser como qualquer outro homem normal e aceitar suas desculpas para que ela fosse embora?! — Eu não sei exatamente, mas sei que agi errado com você. — O anjo não se virou em sua direção, a fazendo ficar agredicida, pois em quanto seus olhos pertencessem a escuridão la fora, ela poderia se retorcer toda para não encará-lo.— Eu não pertenço a esse lugar e essa realidade que pertence a vocês faz com que eu me torne diferente, talvez o único monstro que está fora de sua casa...— Ela continuou falando quando Maximus não disse nenhuma palavra e conforme mais ia dizendo, mais sua voz ia sumindo por não saber como colocar em palavras o que sentia. — Você não é um monstro.— — Assim como não sou daqui, um anjo que governa o inferno não faz parte do meu mundo e isso não faz de você um monstro.— A prisioneira olhou para baixo quando encontrou os olhos de Maximus pelo vidro.— Eu não deveria ter falado o que disse naquele dia.— — Sua vida quase foi levada por aquelas águas, não esperava uma reação diferente.— Ele a respondeu todo indiferente. — Por que você não me deixou morrer? Isso iria simplificar muitas coisas em sua vida.— — Eu prometi que nada a machucaria.— Maximus se virou, encontrando os olhos dela sem ser por um reflexo em um vidro.— Os elementos da natureza também estão incluidos nessa promessa.— — Katherine tentou me machucar.— Ela murmurio aquilo abaixando seus olhos, pronta para ser decepcionada pelo anjo novamente. — Você não deveria acreditar em tudo que vê quando se está no inferno.— A prisioneira encarou Maximus em sua frente com um pouco de raiva, ela esperava por qualquer defesa, não uma frase que a colocava como louca educadamente.— A menos que ela tenha medo de água, não estou acreditando em você.— O arcanjo em sua frente sorriu brevemente por causa de seu comentário, o que a deixou com mais raiva do que já estava, pois não se lembrava de ter feito nenhuma piada para que o anjo loiro sorrise. Mas mesmo assim, o sorriso dele era encantador. A prisioneira caminhou para ficar em frente dele com uma carranca que demonstrava que não estava fazendo uma brincadeira e sua aproximação foi com a intenção de deixá-lo intimadado, mas a reação foi contrária. Apenas a respiração leve de Maximus estava a intimadando. — Katherine não pode tocar em ninguém sem estar com suas luvas.— Ele ignorou a carranca dela. — Seu toque pode matar qualquer pessoa, menos eu e meus irmãos. Eu não sei se o toque dela a afetaria, já que nem mesmo meus poderes funcionam com você, mas ela estava com as mãos nuas e fez o possível para ajudar.— — Eu apenas a vi parada como uma pedra.— A prisioneira murmurou ainda emburrada, mas se sentindo ainda pior por ter acusado Katherine de assassina quando poderia ter causado sua morte apenas com um toque. — Ela me chamou para ajudá-la.— Maximus explicou.— Posso me comunicar com qualquer pessoa que existe nesse castelo mentalmente e eles comigo, Katherine se conectou com minha mente quando a viu se afogando.— Bem, isso explicava muitas coisas. Principalmente do por que Maximus ter aparecido do nada para ajudá-la quando provavelmente pensava que ela estava trancada em seu quarto ao invés de estar passeando com sua irmã. — Por que não me disse isso no mesmo dia em que tudo aconteceu?—
— Você merecia uma punição.— Maximus disse arrogantemente com uma mistura de ironia, seus olhos azuis escuros brilharam em divertimento que ela ainda estava procurando para rir também.— E eu não podia procurá-la em quanto me odiava para ofender-me ainda mais.— Ela fechou sua cara ainda mais por causa daquele comentário. Não era nada agradavel ter passado dias se remoendo por culpa em quanto a consciência do arcanjo estava completamente limpa.— Isso foi maldade.— Murmurio com a voz baixa. Maximus levantou uma de suas mãos e a levou até seu rosto, seus dedos quentes e grandes fizeram um caminho por seu maxilar que fez com que todos os pelos de seu corpo se arrepiassem ao mesmo tempo que sentia seus membros em seu estomago se apertarem com aquela caricia. Seu corpo inteirou congelou novamente, fazendo com que mantivesse seus olhos fixos nos do anjo quando teria encontrado outra coisa mais interessante para olhar. — Eu a ouvi chorando todas as noite e não posso discordar de você.— Ele disse olhando fixamente para a pele que acariciava. — Tenho que me desculpar sobre outra coisa também.— Disse a prisioneira rapidamente, com medo da onde essa reação a levaria. Maximus não deveria estar encostando nela.— Sobre suas asas...— — Minhas asas?— O anjo perguntou confuso, tirando a mão que tocava seu rosto para que ela não ficasse toda atrapalhada em quanto falava. O arcanjo havia percebido muito bem o efeito que estava causando nela e parecia satisfeito. — Quando eu ataquei Krueger, suas asas esbarraram em mim e...— Ela estava sentindo seu coração acelerar sem ao menos ter algum motivo.— Se você quiser que eu peça desculpa para sua namorada, não se preocupe com isso.— — Namorada?— — Sim.— Ela disse sem jeito.— Aquela mulher que estava saindo do quarto.— — Espere,— Maximus franziu seu cenho.— Com quem você esteve conversando sobre minhas asas?— — Dimitrius.— Foi sincera.— Ele disse que apenas as pessoas escolhidas podem tocar nas asas de vocês e eu...— — Aquela mulher não é minha namorada.— O anjo falou como se apenas aquilo fosse importante. — E minhas asas esbarraram em você por falta da minha atenção, não foi sua culpa.— — Mas...— — Pare de se culpar por tudo que acontece.— Aquilo soou mais como uma ordem do que um pedido gentil quando ele a cortou novamente para falar.— Além do mais, eu não me importo que você encoste em minhas asas.— Ela o encarou com certa surpresa, pois o modo como Dimitrius havia falado sobre as asas deles, parecia que aquilo realmente era importante, mas talvez para Maximus não importasse com isso tanto quanto o outro anjo. Afinal, para ela poder encostar, significava que qualquer um podia fazer o mesmo. O arcanjo caminhou para passar por ela e quando estava ao seu lado, ele estendeu uma de suas asas brevemente para empurrar seu corpo daquela transe congelante e a prisioneira não pode deixar de notar de como a asa que a tocou era pesada e cheia de força, suas penas eram macias e que iludiam muito bem em deixar imaginar que suas asas eram frágeis como as de passaros pequenos. Ela também não pode deixar de ver o brilho de brincadeira que surgiu nos olhos de Maximus depois de empurrá-la, mostrando que o anjo estava de bom humor. Ou ele apenas estava sendo bom com ela já que se sentiu culpado ao ouvi-lá chorar todas as noites. Além do mais, ele não possuía nenhuma pratica em lidar com uma mulher chorando, então estava obvio que o anjo iria tentar não levá-la direto para essa direção.
— Você irá me dizer por que Katherine não pode tocar nas pessoas?— A prisioneira perguntou se virando para tentar encontrar os olhos de Maximus, mas o anjo estava ocupado fechando a porta de seu banheiro, novamente de costas para ela.— E por que você cuida dela como se fosse uma irmã? — — Os segredos de Katherine não pertencem a mim, mas de qualquer maneira, quando ela toca alguém, o corpo dessa pessoa começa a virar poeira como se o interior dela estivesse queimando até que tudo que sobrasse fosse cinzas.— Ele explicou.— Kath pertencia ao paraiso e infelizmente os humanos não são os únicos que possuem preconceitos, pois quando algumas pessoas passaram a descobrir o que ela podia fazer, eles começaram a tratá-la muito mal. Meridius fazia o possível para que ficasse bem, mas ela deicidiu que seria melhor viver em um lugar onde o preconceito não existisse, já que no inferno não existe ninguém melhor do que ninguém. Katherine está conosco a tanto tempo que não posso dizer exatamente quando nos tornamos amigos, mas tanto eu quanto meus outros irmãos a consideramos parte da família.— — Isso é assustador.— A prisioneira disse sobre poder daquela mulher esnobe, feliz por ela sempre manter a distancia dela. — Agora você pode compreender o porque de não ajudá-la.— Disse Maximus, soltando a maçaneta da porta do banheiro para olha-lá.— Katherine perdeu uma pessoa que era apaixonada e depois que isso aconteceu, ela se tornou amarga demais a ponto de todos pensarem que não se importava com mais nada. Eu não a culpo quando a única opção para uma relação amorasa é Dimitrius.— — E quanto a você e Meridius?— A prisioneira perguntou, não esquecendo que o anjo falou que as únicas pessoas que ela podia tocar eram os arcanjos. Ela também não estava surpresa por Dimitrius ser a escolha dela, pois em seu julgamento, a prisioneira pode ver o ódio mortal de Katherine pelo arcanjo cheio de tédio depois dele ter feito brincadeiras de mal gosto. — Meridius está fora de cogitação, pois possuí uma esposa e eu não a vejo nada mais do que uma irmã.— — Meridius possuí uma esposa?!— Ela perguntou totalmente incréducla, não fazendo nada para controlar seus sentimentos de descrença que mostrava que quase perguntou quem era a louca. — Meu irmão não é tão ruim quanto aparenta, humana.— Maximus sorriu. Tudo bem, era segunda vez que o anjo sorria para ela em questão de minutos e isso estava se tornando assustador mesmo quando o sorriso dele era tão sonhador que poderia levar uma pobre menina ao paraiso. Ela estava quase sendo levada. Principalmente quando o arcanjo fazia isso sem usar nenhuma camisa. A prisioneira precisava urgentemente ver aquela armadura que o anjo usou nos três dias em que eles conviveram juntos, pois não se sentia confortavel com esse lado de Maximus de maneira alguma. — Nós podemos retormar aquelas sessões para recuperar minhas memorias durante as manhas?— Perguntou para quebrar aquele clima que apenas ela deveria estar sentindo se formar ao redor deles. — É claro.— Disse o anjo voltando a ser sério e varrendo qualquer emoção de seu rosto.— Você ainda tem que voltar para sua dimensão.— — Sim.— Ela concordou quase sorrindo, pois não possuía sonho maior do que aquele. Mas ainda assim, era realmente dificil sorrir diante de Maximus. Quando o anjo não disse mais nenhuma palavra, a prisioneira começou a se sentir um pouco desconfortável, principalmente quando seus olhos de felinos estavam a devorando como se ela fosse um alimento. Aliemento... Ela precisava conversar com o arcanjo sobre sua comida que não a agradava, mas se sentia mal em dizer algo como aquilo e antes que tomasse alguma atitude para começar aquela conversa, seus olhos foram para o quadro que estava a cima da lareira para desviar seus olhos do
anjo. Talvez assim fosse mais fácil de falar com ele, mas ela acabou se distraindo com aquela imagem tão perfeita em uma moldura medieval. Katherine e Maximus pareciam os únicos que não se encaixavam nas aparencias semelhantes dos outros, ainda era surpreendente saber que o anjo loiro e com olhos claros possuía o mesmo sangue dos outros três. Katherine também possuía uma beleza selvagem que não se parecia em nada com Diane, que era uma dama exemplar. Apesar da diferença de ambos, eles formavam uma família linda. Katherine e Diane, naquele quadro, estavam sentadas em um banco de cimento branco em meio de uma floresta que provavelmente passava pela estação de outono já que o chão estava cheio de folhas secas e as árvores estavam quase secas. O céu estava cinza, com nuvens que mostrava que uma tempestade estava próxima. Merdius, Maximus e Dimitrius estavam em pé atrás das duas mulheres que eram suas irmãs, suas asas brancas foram pintadas com tantos detalhes que pareciam reais. Todos os arcanjos demonstravam o quanto poderosos e respeitados eram nessa imagem. E tudo se tornava maior quando estava vendo qualquer um deles pessoalmente. — Vocês formam uma família linda.— A prisioneira disse assim que sentiu Maximus se colocar ao lado dela para observar aquela imagem também.— Eu gostaria de saber se possuo uma família como a sua em meu mundo.— Maximus se manteve em silencio e isso foi a prova de que seus olhos azuis como os de um felino ainda estavam observando a prisioneira que estava alguns centimentros a sua frente. Ela não esperava que o anjo dissesse palavras que confirmassem que uma família a esperava, pois o arcanjo vivia e governava o inferno e se existia algo nele que jamais aconteceria, mesmo não o conhecendo muito bem, era dar falsas esperanças para alguém. O bom de saber isso, era que também estava obvio que o anjo nunca mentiria. Afinal, Maximus provavelmente vivia constantemente em meio de mentiras feitas pelas pessoas que dicidia em que nivel iria residir, e estava claro que sem ao menos dizer que ele odiava mentiras. — Diane e eu estivemos conversando sobre você nos dias que esteve reclusa em seu quarto.— O anjo loiro quebrou o silencio e quase a fez virar em sua direção com certa surpresa por ele ter falado dela com outra pessoa. As vezes parecia que a prisioneira apenas era importante para o arcanjo quando estava diante dele, mas ela não se sentia com raiva com isso, pois não imaginava o quanto Maximus devia ser ocupado para pensar nela toda hora. Ela nunca esperaria mais do que isso vindo dele, por mais que ficasse tentada em ver um homem com essa beleza pensando nela, era ridículo pensar algo como isso.— Ela disse que se continuasse a tratá-la como alguém a baixo de mim, como se ser uma humana fosse algo completamente errado, jamais conseguiria a confiança que preciso para ajudá-la.— A prisioneira não se moveu mesmo quando uma grande parte dela desejava olhar naqueles olhos azuis em quanto o anjo falava, mas seu tom era tão calmo que chegava a ser frio e calculista. Ela sabia que existiam sentimentos nos olhos do arcanjo mesmo não se virando, mas preferia se iludir que aquele momento era um daqueles em que eram tão vazios quanto um vácuo na escuridão. — Quando seus gritos invadiram o silencio do inferno na noite em que a encontrei, eu sabia que você não era apenas um demonio que estava sendo torturado a ponto de gritar desesperadamente, pois o som de sua voz não escondia o medo, o pavor e isso a fez tão humana que não havia como uma pessoa tão assustada viver no inferno.— Ele continuou.— Isso foi um dos motivos que me fez querer matá-la e depois de apenas algumas horas, você provou que eu estava completamente errado em pensar que uma humana com medo nunca viveria no meu mundo. Mesmo chorando todas as noites e me temer mais do que qualquer outra coisa, você teve coragem para me chamar de monstro e vir até meu quarto para enfrentar os problemas que causou.—
— Onde você quer chegar?— A prisioneira perguntou com seus olhos no chão, se sentindo tão pequena pelo fato de Maximus estar olhando para ela. — Diane falou que você se sente solitária e desprotegida e que nós devemos fazer o impossivel para que não se sinta dessa maneira, do mesmo jeito que fizemos com Katherine quando ela chegou para ficar no inferno.— Ela se virou dessa vez, encontrando os olhos azuis de Maximus no mesmo momento em que se moveu.— Eu concordo plenamente com minha irmã.— A prisioneira sentiu seu coração bater rapidamente no fundo de seu peito e quando seus lábios se movimentaram involuntariamente para dizer algo que acabou desistindo para perguntar apenas o que a interessava, para que sua voz não a traisse diante da beleza de Maximus. — Por que?— — Porque não existem motivos para que a trate como uma prisioneira sendo que não fez nada de errado.— Ele disse sem hesitar, sem desviar seus olhos dos dela.— Eu conquistarei sua confiança sendo um amigo e se for preciso até mesmo como um irmão. Não como um monstro.— Bom, agora fazia muito sentido do por que Maximus estar a tratando tão bem e até mesmo sorrindo para ela sem ter nenhum problema em esconder seus sentimentos. — Acho que isso faz um pouco de sentido.— A prisioneira disse incerta. — Isso faz sentido.— Maximus corrigiu sua frase, tirando as palavras que pareciam erradas para soar como um verdadeiro rei que nunca podia possuir duvidas.— Vamos, já é tarde para estar em meu quarto ao invés do seu.— O anjo se virou para ir até sua porta, fazendo a prisioneira encarar suas costas que era escondida por suas asas na maioria das vezes, o que a fazia querer encarar ainda mais todos os musculos que eram escondidos. — Maximus.— Ela disse seu nome para pará-lo e conseguiu, pois o arcanjo se virou para encontrar os olhos dela novamente.— Eu tenho que dizer algo antes de irmos.— — Sim? — A prisioneira não havia vindo para seu quarto apenas com a intenção de se desculpar, era obvio que esse assunto era o principal, mas ainda existia algo que estava começando a ser um problema em sua vida nesse lugar que era conhecido como inferno e mesmo que Maximus fosse uma pessoa confiável, ainda tinha algo dentro dela que não conseguia se livrar para dizer que precisava de ajuda. — Eu não sou medrosa.— Foram suas palavras depois que segundos de um silencio pertubador se passou entre eles, se xingando de perdedora por não conseguir chegar ao assunto com esse arcanjo tão poderoso que estava prestando toda a sua atenção nela naquele momento. Os olhos azuis escuros de Maximus explodiram em divertimento, ela viu que o anjo loiro poderia ter sorrido facilmente, mas como a prisioneira, ainda havia uma pequena dificuldade para ele expor toda hora os seus sentimentos. Maximus era um arcanjo e parecer tão frio como uma pedra de gelo devia fazer parte de seu dia a dia. — Você ainda deve provar isso.— Ele disse calmamente em um tom de desafio, fitando seus olhos de uma maneira que fez seu interior derreter. Maximus sem camisa, era o mesmo que Maximus fritando o seu cérebro. E o pior de tudo era que sua mente ao mesmo tempo que o achava atrante, ela mandava esse pensamento para longe como se
fosse um grande raio que iria eletrocutá-la. O anjo em sua frente podia ser comparado com a perfeição que todos diziam que não existiam, ele era a prova de que existia, mas ao mesmo tempo Maximus era tão letal, tão imortal que a fazia se encolher de medo. Esse medo era bem vindo, pois não desejava nada mais do arcanjo além de sua amizade para ajudála a voltar para sua casa em algum lugar de Veneza, aparentemente. Mas ela teria que sobreviver a Maximus primeiramente, que era o seu maior perigo nesse lugar e nesse momento, a prisioneira estava pedindo a tudo que existia para que essa atração fisica acabasse no momento em que o anjo vestisse uma camisa para esconder todos aqueles musculos de um peito liso e sem cicatrizes. Pois isso tinha que acabar de alguma maneira.
~ 08 ~ Mais tarde, depois que Maximus trouxe a prisioneira de volta para seu quarto, apenas se passaram algumas horas até que aquele céu escuro se tornasse vermelho acompanhado com suas nuvens cinzas. Ela não conseguiu dormir naquela noite e nem ao menos sabia o motivo de ter perdido seu sono, mas de alguma maneira, a prisioneira teve que aprender a brigar com sua própria mente quando ela insistia em ficar rodeada de pensamentos que envolviam um certo anjo loiro sem camisa. Nesse momento, ela desejava bater sua cabeça fortemente contra alguma parede por pensar em Maximus dessa maneira. Já que nos três dias que havia convivido com o arcanjo do inferno, ela jamais havia sentindo qualquer atração fisica por ele, mas assim que seu orgulho foi ferido e a prisioneira viu o peito nu do anjo, tudo mudou rapidamente. Ela nem ao menos pensou nele como um “monstro de asas”, não sentiu medo por estar perto dele. Em sua verdadeira vida, a prisioneira só podia ter sido alguma pervertida que babava por qualquer homem bonito sem camisa, pois essa era a única explicação de ter se tornado tão idiota rapidamente em questão de segundos depois de ver Maximus na noite passada. Além do mais, mesmo não querendo admitir, a prisioneira se sentia sensível e o anjo estava sempre disponivel para dar atenção a ela. Maximus fazia um bom trabalho em distraí-la quando conversava com ela. A prisioneira estava completamente pronta e vestida com seu vestido cortado nos joelhos para sua sessão com o arcanjo do inferno quando uma empregada segurando uma bandeja com seu café da manhã entrou em seu quarto sem ao menos bater, ela não era Marie e de longe tão simpática como tal. A mulher nem ao menos olhou para a cara da prisioneira, apenas deixou a bandeja em sua da mesa de vidro que existia em seu quarto e se retirou do comodo como se ninguém estivesse a observando. Ela, definitivamente, sentia falta de Marie. Ignorando seu café da manhã, pois estava ciente de que nada que estava ali iria agradá-la, a prisioneira saiu de seu quarto sem ao menos pensar que logo alguém iria aparecer para levá-la até Maximus. A prisioneira sabia que isso iria demorar e não aguentava mais nenhum minuto ficar se torturando com seus pensamentos que estavam muito voltados no corpo do anjo. Ela tinha que ver Maximus logo para ter a certeza de que aquilo que passou pensando a noite inteira era apenas a beleza dele a afetando. E que todas as sensações que teve naquele corredor ao ver uma mulher saindo de seu quarto era apenas nervosismo. E mesmo que a prisioneira estivesse errada, ela não possuía mais respostas do que poderia ser. Não havia mais nenhuma explicação para essas sensações que teve na noite passada. Fazia uma semana desde que ela não via a pessoa que mais a intimidava naquele lugar, estava obvio que as consequencias seria bem grandes.
A prisioneira estava caminhando por algum corredor, sem ter nenhuma noção de onde estava, pois todos os corredores eram iguais e o único diferente que já havia visto era aquele que levava para o quarto de Maximus, e mesmo que ela estivesse com certa agonia para encontrá-lo, não conseguia de maneira alguma encontrar aquele corredor. Na verdade, todos os corredores eram exatamente iguais e a impressão que a prisioneira tinha era de que estava andando em circulos, mas depois de caminhar tanto tempo, o silencio que era quebrado apenas pelo som de seus passos, foi quebrado por outra coisa também. Musica. A próxima porta daquele corredor em que ela estava caminhando não estava tão silenciosa quanto as outras que passou. Na verdade, era primeira vez que escutava outra coisa além dos seus próprios barulhos naquele castelo tão grande. E a musica que escapava pelos vãos da porta e destruía todo o silencio que existia ao seu redor, era hipotizando, do tipo que deixava as cobras mais perigosas calmas. Ela não conhecia aquela musica, talvez um dia podia ter conhecido, mas agora era um som tão desconhecido quanto sua vida. No entanto, a prisioneira sabia que o instrumento tocado era um violino por causa de suas notas serem suaves como a correnteza que fazia o oceano do lado de fora de sua janela se debater contra as pedras durante a noite. A musica tocada era tão calma, tão clássica que os pés da prisioneira se agitavam dentro de suas sapatilhas para que ela saisse dançando por aquele corredor, mesmo não fazendo ideia de como dançar. Aquele som que ecoava não era triste, mesmo que suas notas fossem calmas e do tipo que poderiam até mesmo derrubar algumas lágrimas, a música parecia que passava energias positivas para alguém que se sentia infeliz. A prisioneira, que já se sentia como um ratinho que foi hipnotizado pela flauta de seu mágico, colocou seus dedos em volta das maçanetas das portas duplas que estavam em sua frente e não demorou mais nenhum segundo para que ela as abrisse para ver a pessoa que tocava seu violino em uma melodia tão linda. O som, assim que ela empurrou as portas, cessou rapidamente para demonstrar que o homem, que os olhos dela encontraram sentado em um banco de pernas altas e com o violino em um de seus ombros, foi pego totalmente de surpreso. O banco que ele estava sentado estava posto de frente com uma janela que permitia uma visão da mata ao invés do oceano que ela estava acostumada a ver, e assim que a prisioneira entrou na sala sem ao menos bater, o homem que se vestia como um soldado tirou o violino de seu ombro para olhá-la com curiosidade. Aquele soldado, aparentemente, parecia ser mais novo que Gate e até mesmo ela. Esse homem que tocava tão bem era apenas um adolescente e mesmo que a prisioneira não lembrasse sua idade e nem soubesse a idade do outro soldado que a irritou com seu assobio, estava mais do que obvio que ele era jovem demais para se vestir como um soldado. Ele tinha uma pele branca que era exatamente como porcelana, a cor seus olhos era um pouco curioso, pois pareciam ser uma mistura de verde e azul, eram da cor verde-água. Algo totalmente diferente do que um dia ela já havia visto desde que acordará no inferno. Mas o que realmente chamou sua atenção, não foi seus olhos puxados e pequenos com cores diferente, e sim, a maneira como aquele soldado jovem usava seu cabelo castanho claro e com alguns fios dourados. Seus cabelos eram uma constante bagunça, do tipo que passar uma escova neles depois de acordar
era totalmente proibido. E ainda existia uma mistura de alguns fios que se enrolavam um pouco com cabelos lisos que eram arrepiados para todos os lados. Isso a deixou intrigada pelo motivo do penteado não o deixar feio, mas sim dentro de seu próprio estilo. A prisioneira não podia mentir dizendo que ele era feio, pois o garoto sentado em sua frente possuía um toque muito grande de principe em sua aparencia. E mesmo que seus lábios fossem finos e quase sem cores, existiam alguns traços nele que a fazia lembrar de Morgan. — Desculpe.— A prisioneira falou quando o jovem soldado continuou a encarando como se fosse algo totalmente anormal.— Não queria ter atrapalhado sua musica.— — Não se desculpe por isso.— Ele disse com um certo sorriso zombateiro.— Você já atrapalhou mesmo.— A prisioneira sentiu que o correto era mandá-lo para inferno e morrer queimado por causa daquela resposta, mas como eles já estavam no inferno, ela decidiu ignorar suas palavras mal educadas e seguir o conselho de Maximus sobre parar de se desculpar por tudo. Parecia que ninguém nesse inferno era humilde o suficiente para receber um simples pedido de desculpa... Mas mesmo que sua vontade fosse de ir embora, ele era o único que ela encontrou depois de tantas voltas pelo castelo. E esse soldado jovem teria que ajudá-la, pois agora que o feitiço da musica que o tornou um principe havia acabado, a prisioneira lembrava de tê-lo visto naquela meia lua. Ele era o último dos seis homens que ficaram em volta dela em quanto seu julgamento acontecia. — Espere.— O soldado disse, estreitando seus olhos para vê-la melhor.— Você é a humana do Max.— Max. Essa era a primeira vez que ela via um homem vestido com essas roupas que o tornava um soldado chamando o arcanjo de Max, sendo que os outros sempre o chamavam de Maximus ou imperatore. — Não sou a humana do Max.— Ela ressaltou aquelas palavras.— Mas sim, sou a humana.— O soldado jovem sorriu com certo sarcasmo diante das palavras dela.— Meu pai disse que a levou até o quarto de Max na noite passada, então imagino que o pronome deve ser trocado.— — Não, não deve.— A prisioneira cortou o assunto antes que se aprofundasse, pois ela estava sentindo seu coração se acelerar por pensar nas mesmas coisas que o soldado estava pensando.— Morgan é seu pai? Realmente seu pai?— Perguntou para mudar logo o rumo da conversa. — Sim.— Ele disse sem a deixar surpresa, pois a semelhança entre eles estavam bem explicitas. Mas... — Isso é estranho. Eu pensei que famílias não existiam no inferno, além da dos arcanjos.— A prisioneira murmurio mais para si mesma do que para ele. — Bem, crimes em grupos sempre existiram em seu mundo.— O garoto falou.— Esse é o motivo por meu pai e eu estarmos juntos mesmo depois da morte.— — Mas você parece tão jovem...— — Não deixe que minha cara de adolecente a engane, eu tenho mais de 100 anos.— Disse ele.— Mas me tornei um demonio com 18 anos, então não faz muita diferença para você.— Aquilo, realmente, não importava, não quando a mente dela ainda estava focada na parte em que o garoto que pensou que era mais jovem que ela tinha mais de 100 anos. — Você estava no meu julgamento, ao lado de Diane naquela meia lua em que eu fui colocada no meio.— A prisioneira o lembrou, fitando seus olhos verdes água.— O que aquilo significava? Aquela meia lua?— Por um breve momento, a prisioneira havia pensando que aqueles homens que estavam ao seu redor naquele dia eram os mais experientes e mais velhos soldados, porém Gate e o
filho de Morgan não se encaixavam na sua teoria. — Nós somos os tenentes de Maximus.— Explicou.— Quero dizer, o inferno é um lugar muito grande e complexo para que Max cuide sozinho. Então seis homens que faziam parte de seu exercito foram escolhidos para se tornarem um tipo de substituto quando o arcanjo está ocupado com outra coisa e precisa resolver algum problema imediatamente.— — Eu pensei que Maximus tinha poder suficiente para fazer tudo sozinho.— — Max tem o poder para acabar com o inferno em uma única palavra se ele desejar, mas a possibilidade de se dividir em dois não existe. Os arcanjos não podem resolver os problemas que acabam com a paz tudo de uma vez.— Falou o jovem.— Derek é aquele responsável por nós e quem decide o que cada um irá fazer. Ele é o segundo em comando e tem um papel muito importante quando Maximus não está disponivel. Antes Derek sempre recebia ordens de Max para repassar a nós, mas nos ultimos anos tem sido apenas os tenentes.— — Como assim?— O soldado jovem parou de falar por um momento para observá-la, seus olhos de cores diferentes diziam que ele estava falando demais para alguém que era tão deconhecida que nem ao menos sabia seu nome. Mas isso não o fez ficar em silencio. — Maximus parece não se importar mais com o que acontece em seu reino.— Ele deu de ombros. — Dimitrius muitas vezes faz o trabalho por ele, pois Maximus estava usando a morte definitiva para resolver os problemas que estão em seu caminho. Para um imperador essa atitude é considerada incorreta e os anciões podem puni-lo por isso.—— — Por que Maximus não abandona esse poder?— A prisioneira perguntou surpresa, pois não parecia que Maximus não se importava com seu reino. E se isso estava acontecendo, ele podia simplesmente desistir desse trabalho. — Porque nem ele e seus irmãos possuem um herdeiro para substituí-lo.— O garoto falou.— Meridius se casou no momento em que viu que seu irmão não poderia ser mais o responsável pelo inferno, mas até hoje sua esposa não engravidou para conceber um herdeiro já que Maximus e Dimitrius não possuem a intenção de ter filhos. Ele só pode deixar de ser o imperador do inferno depois que alguém de seu próprio sangue assumir o poder.— — E Diane?— — Diane não é um arcanjo.— Ele falou obvio. — Você está dizendo que ela precisaria ter asas para substituir Maximus?—— — De certa forma, sim.— O soldado se levantou daquele banco para olhá-la melhor.— Nenhum dos tenentes culpam Maximus por estar tão recluso, pois de todas as dimensões o inferno é a pior delas. Nenhum arcanjo sobrevive a essa dimensão, todos aqueles que estiveram aqui no passado estão loucos e Max segue o mesmo caminho deles.— — E o que aconteceria se Maximus atingisse essa “loucura” antes de um herdeiro nascer?— O jovem deu de ombros, seus olhos ainda estavam presos nos dela.— Ai está o problema.— Falou. — Nós somos seres que ainda vivem em base de regras do passado, o que está acontecendo com Maximus nunca ocorreu antes tão rapidamente. Exatamente como é o seu caso, nós nunca tivemos uma humana no inferno.— — Eu imagino que apenas piorei essa situação.— A prisioneira suspirou. — Não posso mentir, mas sim.— O soldado sorriu brevemente.— Antes nosso dia a dia eram os mesmo, Dimitrius separava as almas que iam para o nivel 1 e 2 e nós, os tenentes, cuidavamos dos demonios que causavam problemas. Mas após sua chegada, todas as dimensões foram afetadas de certa forma, pois os arcanjos precisam encontrar uma forma de levá-la para casa e encontrar quem quebrou as regras. Afinal, se as pessoas começarem a descobrir como se transportar para outra dimensão que não pertencem, isso seria o fim de tudo que foi construído. Maximus não pode ficar recluso diante dessa situação e parece que ele está ainda mais perturbado depois da sua chegada.— A prisioneira se sentiu mal por causa do que estava acontecendo, pois estava obvio que por causa
dela, tudo aquilo que Dimitrius e os tenentes de Maximus construíram para ajudá-lo havia desmoronado com sua chegada. E se sentiu ainda pior por saber que aquilo que o filho de Morgan estava falando era verdade, afinal, ela viu nos olhos do anjo loiro que ele queria matá-la apenas por ser um problema no dia em que se encontraram pela primeira vez. E o arcanjo nem ao menos fez questão de esconder que aquilo era uma mentira depois de decidir que matá-la era errado. — Como você se chama?— A prisioneira perguntou para o soldado que estava colocando seu violino em cima de um piano negro, mas não soltando seu arco prateado. — Patrick.— — Patrick, você se importaria de me levar até Maximus?— Perguntou ela de maneira inocente, pois sabia que esse pedido parecia ridículo depois de tudo o que ele havia falado, mas antes a prisioneira desejou ver Maximus para ter a certeza de que não se sentia atraída por ele fisicamente, porém , seus planos haviam mudado. A prisioneira desejava encontrá-lo para poder fazer algo que o ajudasse a ele não ficar perturbado com sua presença ou simplesmente ver que tudo o que Patrick havia falado era uma mentira. E ela queria se iludir que tudo isso era uma mentira, mas estava ciente de que era a mais pura verdade. A prisioneira apenas pensou que a maneira como Maximus agia era como ele sempre foi, mas segundo Patrick, essa maneira tão fria e impenatravel não era Maximus. O arcanjo estava com problemas e para ajudar ela o chamou de monstro... Por que tudo parecia que a culpa era apenas dela? Como Maximus podia pedir para ela não se desculpar quando a presença dela fez com que ele piorasse? — Sim.— Patrick disse, colocando seu arco prateado sobre um de seus ombros e comçando a caminhar para sair daquela sala que aparentemente era um salão musical.— Vamos, Milady.— — Milady?— A prisioneira andou rapidamente para acompanhar os passos dele.— Você andou conversando com Gate?— Patrick, em sua frente, apenas riu e aquela foi a resposta que precisava para saber que uma segunda pessoa estaria a chamando de milady também. Essas malditas fofocas estavam acabando com sua vida, mas também estavam a ajudando. Afinal, se Patrick não tivesse uma língua solta, a prisioneira jamais iria saber que o anjo loiro estava com problemas que não podiam ser resolvidos por ninguém além dele mesmo. *** O filho de Morgan deixou a prisioneira em frente de uma porta antes de dizer que Maximus estava ali dentro e ir embora. Por um lado, ela estava feliz por esse lugar não ser o quarto dele, pois a probabilidade do anjo estar com uma camisa eram maiores do que se estivesse naquele comodo em que podia se sentir livre para usar o que bem entendia. E sem ao menos pensar que era corredo bater em quanto se sentia aliviada pelo arcanjo não estar sem seu quarto, ela abriu a porta que a separava do anjo loiro para se deparar com uma sala escura que era iluminada somente com a claridade do lado de fora. Seus olhos imadiatamente encontraram a silhueta de um anjo sentado atrás de uma mesa grande que estava próxima e em frente de portas de vidros que se fossem abertas para pessoas que não possuíam asas, iriam receber uma queda mortal de encontro ao chão. Mas isso não era importante, não agora que a prisioneira viu que o anjo vestia uma camisa e ele não afetou sua mente de maneira alguma como na noite passada. No entando, agora que a prisioneira sabia que o arcanjo passava por problemas que poderia lavá-lo para a loucura, ela encarou esse pequeno fato de Maximus estar sozinho no meio de um comodo escuro como um problema, não como algo normal.
— Maximus.— Ela disse seu nome, entrando no comodo que aparentemente era um escritório e fechando a porta em suas costas, se infiltrando naquela escuridão junto com o anjo que deveria manter a distancia, mas agora que a prisioneira viu que ele apenas causava problemas a ela quando estava sem camisa, manter a distancia não era mais uma prioridade. O anjo reagiu ao som de seu nome, tirando sua mão que estava sobre seu queixo para deixar de olhar o nada que se encontrava em sua frente e encontrar os olhos da prisioneira, que se aproximava lentamente de sua mesa. — Você não precisava vir até mim, humana.— Maximus disse friamente.— Eu iria mandar alguém para buscá-la quando fosse a hora.— — O que está fazendo?— Ela prefirou ignorar a frase educada dele que em outra palavras dizia “vá embora.”. Palavras que ela usaria sem nenhum problema pela falta de sua paciencia para ser educada. — Pensando.— — Pensar não faz bem para ninguém.— Maximus arqueou uma de suas sobrancelhas perfeitamente, a olhando como se fosse algo muito anormal.— Você está dizendo que pensar em uma maneira para mandá-la embora dessa dimensão não faz bem para mim?— — Bem, não exatamente...— Maximus conseguiu pegá-la com sua pergunta estupida.— Acho que me mandar para casa iria resolver muitas coisas, mas também acho que você dorme pensando nesse assunto e isso não faz bem.— — Por que não?— Ótimo! Se já era dificil se comunicar com Maximus em um dia normal, era ainda pior tentar conversar com o anjo em quanto ele não se sentia nem um pouco comunicativo. — Porque...— Como ela podia responder aquilo quando concordava plenamente com suas atitudes de achar logo uma maneira de madá-la embora?— Você deve ter mais coisas para fazer.— — Eu tenho meus tenentes e soldados.— — Mas eles não são o imperador do inferno.— Ela apontou aquilo com orgulho, mas após ver o olhar sugestivo que o anjo lançou em sua direção, sentiu que havia entregado todas as cartas de seu jogo sem ao menos saber o que estava fazendo. — Por que eu tenho a certeza de que você andou conversando com alguém?— Maximus se levantou de sua cadeira e suas asas se fecharam em suas costas bruscamente.— Talvez Dimitrius novamente.— — Eu não falei com Dimitrius.— Ela disse a verdade, mesmo não revelando muito. O anjo caminhou em sua direção até que estivesse em frente dela, a encarando fixamente para enfrentá-la como um grande animal fazia com outro pequeno e indefeso. Ela se sentiu tão intimidada que se calou antes mesmo de arrumar qualquer desculpa que não revelasse o nome de Patrick. Maximus estava tão próximo dela que podia sentir sua respiração leve em seu rosto, uma respiração tão diferente da dela que estava totalmente alterada de todos os modos possíveis. Seu peito estava quase encostando ao dela e a prisioneira teve que erguer seu queixo para que continuasse prendendo o olhar do anjo furioso. — Se você está aqui é pelo simples motivo de não desejar humanos em meu mundo.— Maximus disse severamente.— Não se envolva em meus problemas se ainda não quer morrer.— Antes que a prisioneira tivesse a chance de escolher o que iria dizer sobre aquilo, pois ela tinha muito o que dizer, o anjo se moveu para passar por ela sem ao menos esperar uma resposta. Porém,
a prisioneira não permitiu que Maximus fosse embora daquele escritório escuro. Ela segurou um dos braços do anjo com força e até mesmo cambaleou quando uma de suas asas pesada se debateu contra o seu ante-braço. Sem ter equilibrio nenhum, a prisioneira teve que dar alguns pequenos passos para recuperá-lo sem que soltasse o braço quente do arcanjo. — Não dê as costas para mim, Maximus.— Disse ela, sem olhá-lo nos olhos, pois seu corpo não tinha coragem para fazer todas essas coisas com uma pessoa tão poderosa. Mas sua raiva era tanta, que logo a prisioneira encontrou o olhar do anjo sem hesitar.— Estou falando com você.— — Tudo o que posso dar a você é a volta para a dimensão que pertence e isso é exatamente o que quer também,— Ele disse friamente.— O que deseja quando diz para que eu não pense nisso?— Maximus se livrou do braço dela e se afastou com alguns passos para trás, ainda olhando em seus olhos que provavelmente demonstrava o quanto confusa ela estava. Afinal, a prisioneira desejava exatamente o que o anjo havia falado e queria ser uma prioridade em seus problemas para que fosse embora, descobrir tudo sobre sua vida... Ela não podia discordar dele, pois estaria mentindo. — Vá embora.— O anjo voltou a falar, vendo que a prisioneira não possuía mais respostas.— Ainda é muito cedo para nossa sessão.— — Não.— Ela falou determinada.— Eu sei o que quero agora e isso não inclui sair dessa sala.— O anjo a encarou com uma expressão tão crua que se não fosse o movimento de suas palpebras, ela poderia facilmente dizer que ele estava congelado. Uma parte dela se perguntou se algum dia Maximus já fez uso de expressões que mostrava seus sentimentos em situações como essas, pois isso apenas a fazia pensar que ele não se importava com ela. Bem, Maximus realmente não se importava, pois se nem com o seu reino ele dava a atenção necessaria, obviamente a prisioneira ser parte de suas preocupações era algo que não existiria nunca. — Eu quero conhecer seu trabalho, Maximus.— Disse ela, sabendo que de uma forma ou outra, isso o faria pelo menos se interagir com aquilo que sempre fez um pouco e também acabaria com sua curiosidade de certa forma.— Quero saber o que um arcanjo faz no inferno.— Maximus suspirou, desviando seus olhos para baixo por um momento.— Tudo bem.— O anjo falou em um tom calmo.— É o minimo que posso fazer a você quando exijo sua confiança, certo?— — Sim.— A prisioneira sussurrou para ele, deixando seus lábios entre abertos quando viu a vida se manifestar nos olhos do arcanjo. Maximus se tornava ainda mais bonito quando permitia que suas emoções ficassem a mostra e era uma pena que aquele brilho em seu olhar durasse tão pouco. O anjo se aproximou da prisioneira com cautela e a segurou por seus braços com certa delicadeza que jamais imaginou que poderia existir nele. Maximus segurou seus braços como se ela fosse feita de uma camada de vidro tão fina que qualquer erro na maneira que a segurava podia ressultar em uma tragédia. A prisioneira não desviou seus olhos do anjo com essa aproximação em nenhum segundo, mas ficou decepcionada quando não viu nada além do vacuo em seu olhar. — Feche seus olhos.— Maximus falou em um tom baixo, como se existissem mais pessoas naquela sala e apenas ela fosse a permitida para escutar suas palavras. A prisioneira o encarou por um momento depois desse pedido, mas logo fechou seus olhos para confiar no arcanjo em sua frente para fazer o que estava em sua mente. No segundo seguinte, um vento frio percorreu todo o corpo da prisioneira fazendo com que seu vestido e cabelos se agitassem conforme o ar a rodeava com uma força surreal. O que a deixou
impressionada, era que o anjo não havia levantado vôo a segurando por seus braços, pois seus pés ainda estavam no chão e Maximus devia ter alguma noção que ela surtaria se ele decidisse voar. A prisioneira segurou a cintura do anjo por instinto de protação quando cogitou essa ideia, pois jamais estaria preparada para tirar seus pés do chão. Seus dedos agarram a camisa escura que ele estava usando e esqueceu a possibilidade que apertá-lo podia causar alguma dor. Mas o corpo do arcanjo era tão duro sob o seu toque que quem acabaria sentindo alguma dor seria apenas ela. Assim que aquele vento parou de bagunçar seu cabelo e movimentar seu vestido, ela sentiu que a temperatura caiu em questão de segundos, a deixando com a impressão de que estava caminhando pela neve sem usar nenhum casaco. Ela abriu seus olhos para ter a certeza de que isso não estava acontecendo e ao invés de ver o gelo invadindo todo o chão que pisava, a prisioneira se deparou com a realidade de que não estava mais no escritório do arcanjo e sim em outro lugar. Maximus a levou para um lugar que parecia ter saído de um filme de ficção, pois era tão surreal e diferente que ela não fazia ideia de onde estava. Apenas tinha a noção que estava em cima de uma plataforma de metal que podia ser comparada com uma ponte. Mas essa ponte não existia começo ou fim, e quando ela olhava para cima e para baixo, era apenas a escuridão que via. No entanto, nessa escuridão existiam bolhas semelhantes à aquelas feitas de sabão que flutuavam pelo ar ao redor e abaixo daquela ponte de metal. Essas bolhas de sabão possuiam luzes pequenas dentro delas, algumas eram vermelhas e outras azuis. Do seu lado direito encontravam aquelas das cores azuis e o esquerdo eram as vermelhas que dominavam, mas a baixo da ponte, as bolhas não possuiam cores nenhuma, apenas uma luz branca e fraca. A prisioneira observava cada detalhe daquelas bolhas como se fosse uma criança em meio de uma loja de doces com a intenção de escolher o que bem entendia mas não saber o que queria, ela sabia que seus olhos estavam grandes como se fosse um cachorrinho abandonado e com fome, mas não se importou com isso, pois o lado que estavam aquelas bolhas da cor azul fazia a lembrar do céu que existia em seu mundo. Não existia luz naquele lugar, o que iluminava a ponte que eles estavam era aquelas luzes dentro das bolhas e como ela estava olhando para o lado azul, tudo que pode imaginar era um céu escuro com as estrelas. — O que é isso?— A prisioneira perguntou sem olhar para o anjo, a soltando quando ele se virou para observar o que ela via. — Essas são as almas que residem no nível 1 do inferno.— Maximus disse calmamente.— São pessoas boas que se tornaram demonios por cometerem crimes pequenos que podem ser perdoados no futuro. As luzes vermelhas representam os demonios do nivel 2.— — E as brancas?— Sussurrou a prisioneira, com medo que o som da sua voz estourasse as bolhas flutuantes. — Digamos que é meu trabalho.— A prisioneira se aproximou da grade de segurança e a segurou com força para olhar na direção daquelas luzes brancas infinitas.— Essas almas não possuem um nivel e é meu dever denominá-las como vermelhas ou azuis.— — E se você não fizer isso?— — Essas bolhas irão estourar depois de um tempo e acontecerá o que chamamos de não existir vida após a morte.— Certo. Agora o que Patrick havia falado fazia sentido sobre morte definitiva. — Maximus, isso é lindo.— A prisioneira falou com seus olhos voltados nas bolhas azuis.— É como o céu que eu conheço. Com estrelas.—
A prisioneira notou que ao falar uma famuça branca saiu de sua boca por causa do frio e isso fez com que ela sorrise para si mesma. Esse lugar parecia tão humano que não se importou de sorrir com o anjo logo atrás dela. Maximus se aproximou do corpo da prisineira e suas mãos seguraram aquela grade de metal também, ele estava tão próximo que uma de suas mãos quase tocava a dela. Ela podia até mesmo sentir o calor que vinha dele por causa aproximidade. — No passado os humanos acreditavam que as estrelas representavam aqueles que partiram e essa teoria não é muito diferente em minha dimensão e dos meus irmãos.— Ele disse olhando para as bolhas, sua pele branca levemente azulada por causa das luzes. Ela olhava para o anjo sem se importar que em algum momento Maximus iria virar o rosto em sua direção.— Mas ao invés de serem estrelas, são vidas que se tornaram eternas.— — É incrivel.— Ela sussurrou quando o anjo encontrou seu olhar, mas antes que pudesse se sentir coagida por causa da pequena distancia que existiam entre eles, Maximus abriu uma de suas asas para colocar em volta do corpo da prisioneira. Ele fez aquilo como um cavalheiro faria ao colocar seu braço ao redor dos ombros de uma mulher com frio, sua intenção sendo a única de esquentá-la quando não possuía um casaco para oferecer. No entanto, o arcanjo não possuía um casaco também, mas colocou sua asa grande e quente com a mesma intenção de alguém que não podia ver uma dama sentindo frio. A prisioneira ainda não aceitava ser considerada como uma dama frágil, mas era primeira vez que se sentia tão confortável estando ao lado de Maximus, então ela não o afastou mesmo quando o frio era suportável. — Olhe para cima.— Maximus disse e quando olhou, ela encontrou uma bolha no centro daquela ponte que possuía ambas as cores e outras que eram azuis, vermelhas que se misturavam. Elas não estavam separadas. No total, eram sete bolhas. — Seis bolhas pertencem aos seus tenentes.— Ela deduziu.— Mas e a colorida?— — É a alma de Krueger.— O arcanjo estava olhando para cima também, para a bolha que pertencia ao seu amigo.— Ele pertence ao nível 2 por causa de seus crimes que cometeu quando era um humano, mas existe uma bondade dentro dele que não permitiu que sua alma se tornasse totalmente vermelha. Por mais estranho que pareça, Frederick é o único que se encontra nessa situação.— — A maioria das bolhas dos seus tenentes são vermelhas.— A prisioneira falou.— Isso não é um problema para você?— — Não quando eles possuem minha confiança.— O anjo falou sem hesitar.— Meus tenentes podem pertencer ao pior nível que existe em todas as dimensões, mas com o passar dos anos eles se tornaram boas pessoas, mesmo que os crimes que cometaram não possam ser perdoados.— — Sabe, Maximus, você parece ser melhor do que aparenta quando não está usando sua mascará de ferro que o deixa sem emoções a vista.— A prisioneira soltou aquilo sem se dar conta do que estava falando. O anjo franziu seu cenho com certa curiosidade com o que ela acabará de dizer, encontrando os olhos dela em questão de segundos.— Eu não possuo nenhuma mascará de ferro.— — Não?— Ela perguntou com ironia, elevando suas sobrancelhas, mas antes que pudesse insistir naquele assunto para deixá-lo sem respostas, uma das bolhas captou sua atenção.— Ela está mudando de cor.— Uma das bolhas azuis que estava próximo a eles passou a mudar de cor, aquela luz que lembrava o brilho das estrelas de seu mundo, passou a se tornar avermelhada. Ela também começou a se mover, abrindo espaço entre as outras que estava em sua frente até que estivesse pairando sobre a ponte que a prisioneira e Maximus estavam. Por algum motivo, ela sabia que foi o arcanjo que trouxe aquela
bolha que ia se tornando vermelha para o meio da ponte. — As possibilidades dos demonios do nivel 1 se tornarem pertencentes ao outro nivel são grandes. — O anjo loiro disse com um tom sombrio.— Eles são os piores que existem, pois tiveram a sorte de me enganar em seu julgamento.— Maximus estava observando aquela bolha como se visse mais do que apenas uma luz azul que havia se tornado vermelha, e provavelmente devia ver, mas não compartilharia todos os seus segredos com uma humana que jamais pertenciaria ao inferno. Mas quando o anjo tirou sua mão da grade para levar até a bolha que flutuava em sua frente, a prisioneira o deteve. Ela tocou levemente o topo da mão do arcanjo quando estava ao meio do caminho, pois nos olhos azuis dele, a prisioneira viu a morte se manifestar como uma praga. Ela sabia que Maximus iria matar aquele demonio que se tornou mau, e mesmo que não soubesse quão ruim aquilo podia significar, jamais poderia permitir que o anjo matasse alguém depois do que Patrick havia falado. Maximus permitiu que a prisioneira o tocasse e impedisse que ele fizesse aquilo que estava em sua mente, ela sabia disso pelo simples fato de que tirar sua mão debaixo da dela era facilmente possível. Mas ele não tirou. O arcanjo permitiu que ela entrelaçasse seus dedos com os dele e abaixasse suas mãos até que estivessem ao lado do corpo deles. — Não o mate.— Ela pediu olhando para bolha, não tendo coragem de encontrar o olhar do anjo em quanto segurava sua mão. O anjo loiro não disse nenhuma palavra sobre o seu pedido, mas também não usou seus poderes para destruir aquela bolha que brilhava em vermelho, que mesmo significando a maldade, era tão linda quanto as azuis. Maximus apertou levente a mão da prisioneira para que ela visse que a bolha que estava na frente deles estava sendo encaminhada para o outro lado da ponte, para o lado em que existiam os pontos vermelhos. A asa do arcanjo que estava em suas costas se movimentou por um momento, se aconchegando ainda mais sobre o seu corpo para que a esquentasse melhor. Maximus também tomou cuidado para não liberar todo o peso dela na prisioneira, pois ela tinha uma noção enorme de como sua asa era pesada, mas agora tudo que sentia era um peso equivalente ao de um papel. Isso só fez sua mente pensar em uma única coisa: Ele se importava. Pelo menos um pouco. Eles ficaram observando as bolhas azuis em silencio por um bom tempo, o silencio se debateu contra eles em questão de segundos e ninguém teve a coragem para quebrá-lo com algum som ou uma simples palavra. Assim como ninguém teve a coragem suficiente para desfazer o nó que existiam em seus dedos. A prisioneira algumas vezes olhava para o anjo loiro pelo canto de seus olhos, ela percebeu que estava mais interessada em observá-lo do que olhar as bolhas azuis que lembravam as estrelas, mas não podia simplesmente se virar na direção dele. Porém, não pode deixar de notar que o que era bonito para ela era apenas normal para o anjo. Ainda mais quando as bolhas vermelhas eram a maioria naquele local. Por um breve momento, a prisioneira entendeu um pouco do porque o anjo se manter afastado de seu trabalho. Afinal, Maximus não era frio e sem emoções como tentava ser e viver em um lugar que a maioria de pessoas eram más, podia acabar com sua essencia. Isso estava acabando com a essencia do anjo. Ela não sabia a que lado a sua alma pertenceria se estivesse morta, nem ao menos
podia imaginar se estaria no inferno, mas lidar com o fato de que a maioria das almas que Maximus julgava acabavam sendo vermelhas, não deveria ser fácil. — Hey, Maximus.— A prisioneira murmurio para quebrar o silencio e chamar a atenção dele.— Se eu morresse, você acha que minha alma pertenceria ao nivel 2?— — Por que está perguntando isso?— O anjo encontrou o olhar dela, aqueles olhos azuis de um felino que não eram nem um pouco confiável a deixou sem respostas por um momento. Eles estavam tão calmos, tão cheios de emoções... — Porque foi lá que você me encontrou.— Ela disse.— Com tantas dimensões existentes, eu fui parar no inferno e no pior nível, acho que deve ter alguma explicação para que eu não tenha ido ao paraíso ou coisa do tipo.— — Eu acho,— Maximus inclinou sua cabeça ligeiramente para o lado, demonstrando que estava pensando sobre a questão que a prisioneira trouxe à tona.— Que você é apenas azarada o suficiente para se encontrar nas piores das dimensões. — — Ou talvez eu esteja com a sorte do meu lado.— Ela deu de ombros.— Imagino que é o sonho de todos os humanos irem para o paraíso, mas agora que conheço Meridius, prefiro ficar com você.— — É mesmo?— Maximus perguntou em um tom de divertimento. — Você sabe... Ele queria me matar!— — Eu também quis matá-la e estive mais perto disso do que meu irmão.— O arcanjo a lembrou, fazendo com que um calafrio se iniciasse em sua espinha. Ela ignorou aquela lembraça. — Mas você é... Diferente.— — Diferente?— Maximus franziu o cenho, coisa que acontecia apenas quando possuía uma duvida. E aparentemente, isso sempre ocorria com ela. Mas dessa vez, a prisioneira não possuía nenhuma explicação. — Sim, diferente.— Os cantos dos lábios do arcanjo se moveram para cima brevemente em um pequeno sorriso que nem ao menos podia ser chamado assim.— Diferente, então.— Ele apenas concordou. A prisioneira umedeceu seus lábios quando percebeu que o arcanjo também estava a observando, seus olhos azuis estavam presos em seu rosto como se estivesse decorando seus traços. Maximus levantou as mãos deles em que seus dedos estavam entrelaçados para que sua palma livre fosse depositada sobre elas. O anjo soltou seus dedos antes de fazer isso e a prisioneira não teve nenhuma chance de tirar sua mão de perto dele, pois quando se deu conta, ela estava ao meio de um sanduiche feita com as mãos quentes e grandes de Maximus. Ambos estavam virados de frente um para o outro agora, mas os olhos deles estavam presos nas mãos que estavam seladas juntas. — Feche seus olhos.— O arcanjo falou.— Vamos tirá-la daqui antes que sua temperatura caia ainda mais.— A prisioneira fechou seus olhos novamente como ele havia pedido, mas dessa vez, uma parte dela estava decepcionada. Maximus havia pego em sua mão para que eles fizessem aquela travessia de volta para o escritório, não por outros motivos. Ela ficou ainda mais com raiva por pensar que poderia existir outros motivos para que o arcanjo do inferno estivesse segurando sua mão. Mas nunca existiria e nem mesmo a prisioneira sabia dizer o porque de ter pensado que Maximus estava demonstrando mais sentimentos do que costumava mostrar. Aquele vento forte não demorou para aparecer depois que ela fechou seus olhos, o vento que lhe dava a impressão de estar voando sem tirar seus pés do chão e que a levou para um lugar tão bonito e humano naquela noite, que também permitiu conhecer um lado quase inexistente de Maximus, pelo menos ela pensava que havia visto algo a mais, a levou também de volta para aquele escritório
escuro com um anjo sem sentimentos. A prisioneira não ficou muito tempo no escritório do arcanjo depois que eles voltaram daquela ponte onde ela viu as diversas e infinitas almas que existiam no inferno. Maximus soltou a mão dela assim que aquele vento frio parou de percorrer todo o seu corpo e como se o anjo nunca tivesse tocada nela em nenhum momento, sua máscara de ferro retornou ao seu rosto e voltou a ser tão comunicativo quanto uma flor seca. Ela não pode deixar de se sentir um pouco decepcionada, pois dessa vez realmente parecia que o arcanjo do inferno estava a considerando como uma amiga. Afinal, ela tinha uma pequena noção de que eram poucas as pessoas que iam até aquela sala de um filme de ficção, mesmo quando pediam. Maximus também não aparentava ser do tipo que oferecia sua asa para alguém com frio e que permitia qualquer uma segurar sua mão para impedir que o anjo matasse alguém. Porém, ele fez questão de assassinar esses pensamentos quando eles voltaram para aquela sala escura, dando um simples comunicado que um de seus tenentes estaria vindo buscá-la. O anjo também disse que a sessão de hoje estava cancelada pelo simples motivo de terem passado muito tempo naquele local cheio de bolhas, mas pediu que a prisioneira se juntasse a ele no jantar que aconteceria mais tarde. Tudo que ela fez foi apenas concordar, pois não tinha outra opção. Agora, a prisioneira estava caminhando atrás de um dos gêmeos que a retirou da cela para ir até seu julgamento alguns dias atrás, como aquele soldado não disse nenhuma palavra ou olhou para ela, não teve audacia nenhuma em perguntar seu nome e do irmão que era identico a ele. A prisioneira tinha muita curiosidade em saber se os nomes deles combinavam, mas aparentemente, de todos os tenentes de Maximus, esse era o menos comunicativo. Então ela não insistiu em nada. Mas quando eles estavam caminhando pelo corredor, a prisioneira viu Marie atravessando um dos inumeros corredores, nem ao menos olhando para eles já que estava distraída com seu cesto que carregava em um dos braços. A prisioneira segurou no braço daquele soldado que possuía um gemeo, com a intenção de pará-lo. — Posso acompanhar Marie?— Ela perguntou quando o homem olhou em sua direção. — Você não é mais uma prisioneira para pedir permissão.— Foi a resposta dele, não tão crua quanto ao tom que Maximus usava, pois ninguém se igualava a ele. Sem esperar por uma resposta mais educada, a prisioneira passou pelo soldado e correu até o corredor que viu a empregada daquele castelo passar, esperando que não se perdesse naquele lugar tão grande. Na verdade, o que tornou facil para ela acompanhar os passos rápidos da empregada e não perdê-la de vista foi pelo simples fato de Marie ter virado em um corredor grande e sem outras entradas. A prisioneira passou a andar mais rapido para chegar perto da empregada antes que aquele corredor grande terminasse, mas parecia que Marie andava muito mais rapido do que uma pessoa normal. — Marie!— Ela chamou a empregada, a fazendo finalmente perceber que alguém a seguia ou pelo menos tentava. Afinal, a respiração da prisioneira já estava alterada por apenas aumentar um pouco o ritmo de seus passos e isso a fez ter certeza de que não era nem um pouco atletica na sua verdadeira vida junto com outros humanos. A empregada se virou na direçao da prisioneira, um sorriso simples e muito bonito se destacou no rosto dela, mostrando o quanto feliz ficou por vê-la depois de tanto tempo. Essa reação não era aquela que a prisioneira esperava, não depois de ter chamado aquela mulher tão simpática de monstro. Ainda mais quando Marie não foi vê-la em seu quarto todos esses dias que ficou reclusa de
tudo. — Maitea Jauna,— Ela disse naquela língua estranha deles.— É bom vê-la fora de seu quarto.— — Você não está com raiva de mim?— A prisioneira não resistiu a pergunta, estranhando a simpatia da empregada. — Por que estaria?— Marie franziu o cenho rapidamente.— Você sabe... Naquele dia você quase morreu naquele lago, eu não podia esperar outra reação diante da situação.— — Então por que você sumiu?— — Imperatore me proibiu de ir até seu quarto.— Ela deu de ombros.— Suas ordens foram que eu só poderia me comunicar com você caso saísse de seu quarto. Assim como ele ordenou para todos os outros empregados, tirando aqueles que levavam suas refeições.— As sobrancelhas da prisioneira se elevaram por um momento por causa da surpresa em saber disso, curiosa em descobrir do por que Maximus não ter cortado suas refeições também já que ninguém podia falar com ela. De qualquer forma, mesmo sentindo uma raiva passageira pelo anjo, a prisioneira decidiu ignorar esse detalhe de privá-la da única amiga que havia feito nesse lugar. Ela até mesmo considerou o arcanjo esperto por causa disso, pois essa atitude apenas fez com que saísse mais rapido de seu quarto, já que ficar sem ter alguém para conversar estava lhe dando nos nervos. — Onde você está indo?— Perguntou à Marie, olhando para seu cesto totalmente vázio além de uma manta dobrada. — Irei buscar algumas laranjas para a cozinheira.— Ela respondeu segurando seu cesto com ambas as mãos, como se fosse muito precioso.— Gostaria de se juntar a mim?— A prisioneira encarou Marie por um momento, pois na última vez que saiu de dentro do castelo, tudo acabou em uma desgraçasa que não pretendia passar novamente. A duvida de que algo muito ruim poderia acontecer apareceu na mente dela, a fazendo pensar se realmente acompanharia a empregada nesse pequeno trabalho. Mas como a prisioneira decidiu que ignorar seus medos eram o melhor modo de se viver no inferno, ela movimentou sua cabeça em concordancia como respostas da pergunta de sua amiga, fazendo uma nota mental de ficar longe de rios, lagos e oceano. Marie sorriu para ela e então se virou para continuar seu caminho seja lá onde fosse, a prisioneira a seguiu e antes que pudesse pensar em algo para começar algum assunto, a empregada começou a falar e não parou até que elas estivessem fora do castelo, fazendo outro caminho tão desconhecido quanto os corredores daquele lugar que pertencia à Maximus. Ela ficou feliz por novamente poder conversar com Marie a ponto de até mesmo esquecer a raiva que havia sentindo do arcanjo por ter proibido a empregada de ir até seu quarto. E depois que seus pés encontraram a grama do lado de fora do castelo, a prisioneira ficou ainda mais impressionada de como sentiu falta de ter os raios solares em sua pele, mesmo que aquele sol fosse tão diferente do mundo que ela pertencia. E também, a prisioneira não tinha muito o que dizer sobre isso, pois ela não se lembrava qual era a sensação de ter aquele sol que era de seu mundo contra sua pele, apenas sabia que existia uma diferença e isso era o suficiente para fazê-la sentir falta. Para fazê-la sentir falta de tudo.
~ 09 ~ Maximus estava observando o oceano de sua varanda quando sentiu a presença de Derek logo atrás dele. O arcanjo esteve tão distraído com aquelas aguas escuras que nem ao menos ouviu seu segundo em comando entrar no comodo até que estivesse quase ao seu lado. Seu tenente não disse nenhuma palavra, esperando que Maximus desse suas ordens sobre tudo aquilo que ele reportou e que o arcanjo tinha que resolver como um lider. — Onde está a humana?— Ele perguntou ao invés de começar o assunto que realmente importava, mas que também não possuía nenhum interesse. — Você já pode acessar a mente dela?— Derek o respondeu com outra pergunda, algo incorreto para se fazer diante de um imperador, mas que tinha total liberdade quando era seu segundo em comando. — Não.— Uma resposta simples.— Mas como sinto a presença de todos nesse castelo, também posso sentí-la e saber em que local está. E é apenas isso, meus poderes não tem nenhum outro acesso sobre ela.— — Essa humana é uma peça curiosa.— Derek ousou dizer, fazendo com que um pequeno sorriso crescesse nos lábios de Maximus quando se lembrou das diversas coisas que sua nova hospede havia causado, coisas que a levaria direto para a morte se fosse qualquer outra pessoa, mas de alguma maneira, era o seu humor perturbado que estava a mantendo viva. — Sim, ela é.— O arcanjo concordou.— Mas sua presença ainda me trará muitos problemas e me pergunto como alguém tão pequena pode ser capaz disso.— — Você sabe que ela pode ser sua salvação, Maximus.— Derek falou como se aquele assunto não fosse um problema. — Minha salvação?— — Essa é a primeira vez em anos que não deixa um problema tão grande nas mãos de seus tenentes ou irmãos.— Seu segundo em comando disse sem argumentos.— A situação dela o intriga.— Maximus não desviou seus olhos do oceano em sua frente mesmo quando sentiu que Derek o olhava, esperando uma resposta. Porém, o arcanjo não tinha muito o que dizer quando ele tinha razão em suas palavras. Nos últimos anos a única solução para seus problemas era resolvido com a morte, do mesmo jeito que estava prestes a fazer quando encontrou a humana que agora residia em seu castelo. E Maximus sabia que estava caminhando sobre uma linha fina ao meio de uma escuridão infinita e suas ações estavam fazendo com que tudo piorasse, então sua única opção foi manter seus tenentes no comando, até ela aparecer. — Um humano no inferno é realmente curioso.— Foi a resposta dele, se virando para encontrar os olhos de seu tenente mais antigo para dar as ordens que o fez vir até o arcanjo.— Não mate aqueles que usaram magia de demonio como ordenei, eles já traçaram o caminho deles quando burlaram essa regra. Apenas matenha-os em celas e deixe que a consequencia disso os matem.—
— Imperatore.— Derek moveu sua cabeça em um sinal de respeito, começando a se mover para sair. — Derek.— O arcanjo o parou com a menção de seu nome.— Você não respondeu minha pergunta. — Seu tenente sorriu brevemente antes de lhe responder. — Ela está com Marie nos campos.— Disse ele, voltando a caminhar sem precisar da permissão do anjo para continuar. Seu tenente saiu de sua sala sem dizer qualquer outra palavra, o deixando sozinho para tentar encontrar um acordo com sua própria mente. Minha salvação... Essas palavras atormetaram a mente de Maximus pelo resto do tempo que esteve com seus olhos fixos no oceano sem ondas, procurando motivos concretos para que Derek e até mesmo ele acreditar fielmente nisso. Mas quando se parava para pensar, o porque estava realmente obvio. Maximus deixou seu reinado decair, permitiu que os demonios acreditassem que eles estavam livres para fazer o que bem entendessem e até mesmo praticar uma magia que apenas causaria problemas a todos futuramente, mas quem quer que tenha sido o responsável pela chegada daquela humana em sua dimensão com a intenção obvia de apenas prejudicá-lo, havia falhado. O arcanjo deixou que tudo chegasse a um ponto em que sua liderança não era mais temida, que fosse questionada, mas essa humana mudou tudo quando foi encontrada. O arcanjo podia ter facilmente a matado para resolver aquele problema, ele podia também ter deixado aquilo nas mãos de seus tenentes para resolverem, mas a audacia de quem fez isso de tentar tirá-lo do poder foi realmente grande e agora o anjo estava com sede de sangue. E só existia uma única maneira de saciar essa necessidade. Maximus voltaria a ser o lider que sempre foi, nascido e criado no inferno para liderá-lo quando seu pai se tornasse um ancião, ele não iria mais falhar como um imperador. O arcanjo estava dentro desse jogo que envolvia a humana e se ele tinha certeza de algo, era que apenas entrava nas competições que podia ganhar. E o arcanjo do inferno sempre ganhava.
~ 10 ~ Marie estava em frente da prisioneira, com seu corpo colado ao tronco de uma árvore em quanto se esticava toda para alcançar os frutos que estavam em uma altura quase inacansável. Ela, no entanto, estava sentada em uma pedra, observando a empregada daquele castelo fazer esforço para pegar as laranjas que a cozinheira pediu. A prisioneira não havia gostado muito da ideia de ficar sentada em quanto Marie fazia todo o trabalho, mas sabendo que a empregada era mais alta que ela e mesmo assim não alcançava as frutas, sua única opção foi se sentar. Além do mais, o pouco de esforço que havia feito para tentar alcançar uma única laranja havia a cansado como se estivesse correndo durante muito tempo. Pelo menos agora ela sabia que só servia de algo quando a adrenalina corria por suas veias. Afinal, se não fosse por causa disso, a prisioneira jamais teria derrubado Maximus na primeira vez que se encontraram. Em quanto observava a empregada sem ter muito o que fazer, para passar o tempo, ela pegou várias margaridas brancas que haviam crescido em volta daquela pedra e depois de fazer uma trança de lado em seu cabelo longo e liso, ela começou adicionar aquelas pequenas flores em várias regiões dele. A prisioneira tirou vários fiapos da barra de seu vestido para prender a ponta de sua trança, fazendo nós para que o penteado não se desfizesse já que seu cabelo era fino demais para ser domado. Ela estava esticando todo o seu corpo para capturar a última margarida que estava próxima daquela pedra, mas por culpa do seu sedentarismo ao não se levantar, a prisioneira esbarrou no cesto que estava cheio de frutas ao seu lado, o derrubando no chão para que várias laranjas rolassem pelo gramado até que voltassem a ficar imóveis. Mas por mais que a prisioneira tivesse desejado ter se levantado para pegá-las, seus olhos ficaram presos em outra coisa antes mesmo que tivesse a chance de fazer qualquer movimento. Dentro daquele cesto que Marie carregou não existia apenas as frutas e um manto para forrar o fundo, na verdade, tinha muito mais do que coisas inofensivas. Depois do cesto cair, uma adaga que estava em baixo do manto ficou totalmente a mostra. Aquela lamina curvolenia, mesmo que estivesse com uma bainha, demonstrava ser bem afiada e perigosa. Principalmente quando o seu cabo era dourado e possuía vários desenhos. E se havia algo que a prisioneira aprendeu com seu pequeno convivio no inferno, era que quanto mais bonita fossem as coisas, mais perigosas elas seriam. Maximus era a prova viva disso. Ela olhou para Marie com a intenção de encontrar seus olhos, mas falhou quando a empregada também olhava para a a adaga que havia caído de dentro do seu cesto, com um rosto sem nenhuma expressão.— Por que você estava caminhando com isso dentro do cesto?— A prisioneira perguntou com cautela.
Marie encontrou o olhar dela depois que segundos de silencio passaram após sua pergunta e um sorriso simpático surgiu em seu rosto como se uma lamina afiada nunca estivesse diante dos olhos delas. — Nós estamos no inferno.— Foi a resposta dela.— Temos que andar protegidos caso algo aconteça.— — Pensei que o nível 1 fosse seguro.— A prisioneira apontou aquilo que Maximus deixou claro para ela. — E é seguro, mas existem demonios do outro nível que desejam invadir esse lado.— Marie deu de ombros.— Não me culpe por andar prevenida caso o pior aconteça.—— — Não...— A prisioneira ficou confusa por um momento pela resposta nada delicada da empregada, fugindo totalmente daquela imagem que havia construído para ela.— Apenas pensei que você não fazia parte disso.— — Eu sou um demonio, querida, e se estou no inferno é por merecer estar aqui.— Marie sorriu.— Não deixe que a aparencia das pessoas a engane, isso é um erro profundo de se cometer aqui.— — Mas...— A prisioneira franziu seu cenho por um momento. Se todas as pessoas que estavam aqui cometeram crimes terriveis, como ela poderia confiar em alguém? Se enganar com a aparencia delas parecia a melhor opção para ter um convivio bom. E, aparentemente, Maximus era o único que não fez nada de errado para estar no inferno, mas comparar a bondade dele com as das pessoas que estavam aqui estava fora até mesmo de cogitação. A prisioneira tinha certeza de que ele era pior que muitos que viviam no tão temido nível 2. O arcanjo apenas fazia um bom trabalho em não demonstrar suas emoções e isso o fez um pouco confiável, mas ela sabia que estaria caminhando no escuro se decidisse que a única pessoa confiável naquele lugar era o anjo loiro. E se não podia se enganar com a aparencia das outras pessoas... Em quem ela confiaria? — Venha, me ajude a recolher essas laranjas para irmos embora.— Marie voltou a falar, caminhando para perto da pedra que a prisioneira estava sentada para pegar sua adaga e colocar em baixo do manto dentro do cesto. Suspirando e ignorando tudo o que havia acontecido, ela saltou de sua pedra e evitou fazer movimentos bruscos para que sua trança não desmanchasse em quanto ajudava a empregada recolher as frutas que havia derrubado. Não desejando que perdesse nenhuma florzinha que estava enroscada em seu cabelo, pois havia gostada do trabalho que fez. Depois de recolherem as ultimas frutas que fugiram do cesto, elas desistiram de tentar pegar outras daquelas árvores e começaram a fazer o caminho que as levariam de volta para o castelo. De volta para a prissão que a prisioneira vivia. Elas chegaram no castelo pouco tempo depois, aquele campo que era cheio de árvores de laranjeiras não ficava longe, elas apenas tiveram que atravessar aqueles muros verdes e naturais para chegarem ao destino desejado. A melhor parte de tudo isso, foi que a prisioneira não teve que caminhar muito de baixo daquele sol que estava a deixando com um leve calor. Além do mais, ela não... — Vamos, não o recrutei como meu saco de pancadas oficial para ficar no chão.— Era a voz de Maximus em um tom totalmente divertido. Um tom que ela nunca havia ouvido. A prisioneira esqueceu de tudo que estava fazendo e pensando para que pudesse procurar pelo anjo loiro, que não
estava muito longe dela pelo simples fato de poder ouvir sua voz. A prisioneira virou seu corpo até seus olhos encontrarem Maximus e Patrick do outro lado da fonte que elas estavam atravessando para chegar nas portas do castelos, ambos seguravam espadas grandes e provavelmente pesadas. O anjo loiro estava em pé diante de seu tenente, fincando a ponta de sua espada no gramado verde para se abaixar e encontrar os olhos de Patrick em quanto ele resmungava. — Você esta brincando comigo?!— O tenente disse com indignação.—Você acabou de me dar uma surra!— As asas brancas de Maximus se estenderam em suas costas com um estalo quando o anjo percebeu que suas penas estavam varrendo o chão, sua expressão era tão cheia de ironia ao ver que seu soldado estava todo sujo de sangue e terra, em quanto ele estava completamente limpo, que a prisioneira não pode acreditar que estava vendo tanta emoção em seu rosto. — Você sobreviverá, Patrick.— O anjo arrumou sua postura e não fechou suas asas quando usou sua espada como apoio para fazer isso. A prisioneira pode ver de longe o quão grande era as asas do arcanjo, assim como Maximus era.— Agora, pare de drama.— Patrick sorriu para Maximus, seus olhos de cores diferentes mostraram o quanto ele e o arcanjo do inferno eram próximos. E esse tratamento que Maximus estava dando ao seu tenente, apenas fazia sentindo quando ele chamou o arcanjo de apenas Max. A prisioneira ficou chocada ao ver que o anjo loiro era capaz de ter amizades e ficou ainda mais impressionada em ver que ele tratava bem seus amigos. Tirando a parte em que Patrick aparentemente havia levado uma bela de uma surra por causa do sangue que sujava seu corpo, claro. O tenente pegou sua espada que estava caída no chão e depois de se levantar, seus olhos encontraram os da prisioneira por um breve momento antes dele olhá-lo para Maximus novamente, não levantando sua espada como o anjo havia pedido. — Sua humana está olhando para nós.— Ele disse com um sorriso sarcastico crescendo em seu rosto de principe.— Talvez eu permita que me de um soco para impressioná-la.— Maximus ignorou seu amigo, fechando suas asas no mesmo instante que se virou em direção da prisioneira para que não batesse em Patrick. Os olhos azuis do anjo encontraram os dela por um breve momento, mas logo em seguida, eles viajaram por todo o seu cabelo. Os lábios do arcanjo se entreabriram como se fosse dizer algo para seu amigo ao seu lado, que também a observava. Na verdade, ele observava mais a reação do anjo do que qualquer outra coisa que acontecia ao seu redor. Maximus não disse nenhuma palavra ou se moveu, apenas a observou em seu silencio. A prisioneira abaixou seus olhos, não sendo mais capaz de ficar nessa guerra de prender seu olhar com o de Maximus. Afinal, o olhar do anjo era muito mais comunicativo do que quando ele usava palavras. — Ela não é minha humana.— Maximus disse a Patrick, desviando seus olhos dela também para encontrar o olhar de seu tenente. — É claro, imperatore.— Respondeu ele com ironia, fazendo aquela palavra que devia impor respeito parecer uma piada. — Fique com isso.— Maximus entregou sua espada a Patrick após puxá-la do chão.— O treino está
acabado.— — Sério?— Um sorriso verdadeiro e aliviado surgiu no rosto de Patrick, em quanto ele se virava na direção da prisioneira para formar um coração com suas mãos e movimentar seus lábios até que as palavras “eu te amo” fossem liberadas. Ela não podia compreender o por que de ter sido responsavel do fim de seu treino com Maximus, não até ver que o anjo estava caminhando na direção dela. — Tchau, nire maitea.— Marie falou ao seu lado, capturando os olhos da prisioneira após falar e sorrindo sugetivamente em quanto começava a andar, fazendo o mesmo que Patrick. — O que?— Por que todos estavam indo embora?! — Onde está indo?— — Ordens.— Ela apontou para sua cabeça, segurando o cesto cheio de laranjas contra seu corpo para entrar no castelo. A prisioneira se virou para o anjo quando viu que não tinha mais nenhuma opção, Marie e Patrick já estavam longe dela naquele momento e nenhum dos dois poderia salvá-la de ter que enfrentar Maximus sozinha. Novamente. A prisioneira desejava mais que tudo ajudar o anjo com seus problemas, não deixar ele se sentir perturbado pela presença dela em sua casa, mas depois da manhã que eles tiveram juntos, ela precisava de tempo para se recuperar... Ela não entendia por que estava ficando desesperada em apenas pensar que iria conversar com o anjo loiro. Essa sensação não se encaixava mais na palavra medo, pois por mais estranho que fosse, a prisioneira não temia ficar sozinha com Maximus. Definitivamente tinha medo das coisas que ele podia fazer e não desejava de maneira vê-lo bravo ou nervoso perto dela, mas fora isso... Ela não o temia mais. Então não sabia explicar o por que de estar nervosa diante de sua presença. O anjo se colocou em frente dela, tampando qualquer visão que ela poderia ter do que havia atrás dele por causa das suas asas já fechadas que continuavam grandes. Além do mais, Maximus em si já era maior que ela, o que já dificultava tentar desviar seus olhos para outro lugar que não fosse ele. — Meu irmão possuí novidades sobre o seu caso.— O anjo falou calmamente, em quanto ela ficava frenética com a noticia.— Mas ele pede que leve-a para sua dimensão.— — Por que?— — Um anjo foi capturado com pesquisas sobre trazer humanos para o nosso mundo e nelas dizia que eles devem se infiltrar na dimensão de vocês para “sequestrá-los”.— Maximus parecia com certas duvidas sobre o que estava falando, não tendo certeza das informações que possuía, ele apenas a deixou confusa também.— Em algum momento dessa transição os humanos vêem o rostos do seu sequestrador.— — Eu não me lembro de nada, Maximus.— A prisioneira decidiu lembrá-lo desse pequeno fato. — O anjo confessou que fez várias tentativas que não tiveram sucesso, a possibiliade de você fazer parte dessas tentativas e ele não saber são grandes.— Maximus disse.— Ele lembrará de seu rosto. — — E quem garante que ele admitira isso?— — O anjo falará tudo que sabe, não se preocupe.— Falou o arcanjo de uma maneira que ela não gostou.— Sua alma está escalada para vir ao inferno, qualquer pessoa com esse destino se torna honesto.— — Tudo bem.— Ela concordou, não tendo certeza se estava preparada para ver esse anjo.— Não me importo de ir para outra dimensão.— — Ai está o problema,— Maximus disse com um brilho de divertimento surgindo em seus olhos.— A dimensão é de Meridius.—
— Oh...— Agora ela estava se importando com o fato de ter que ir para outra dimensão. E muito. Estando sob o teto de Meridius, a prisioneira provavelmente seria morta. Mas era sobre ela que eles estavam tratando, e de como a levariam para casa, então sua teoria de ignorar o medo dominou seu corpo de um modo que a fez querer enfrentar aquilo.— Você estará comigo?— Perguntou quase em um sussurro, se sentindo covarde por acreditar que apenas ficaria bem se o anjo loiro estivesse lá. — Eu estarei ao seu lado a cada minuto que passe.— Maximus disse com um sorriso simpático crescendo em seus lábios. Não era a resposta que ela precisava, mas foi o suficiente para esquentar todo o seu corpo e fazer seu coração palpitar rapidamente. Ela tinha uma leve noção de que suas bochechas estavam avermelhadas, mas desviar seus olhos do rosto anjo em quanto sorria era quase impossivel. Maximus levantou uma de suas mãos até o cabelo da pressioneira, pegando uma das flores que estavam o efeitando para girá-la em seus dedos. Aqueles olhos azuis de um felino ficaram fixos naquela pequena margarida. A prisioneira foi pega de surpresa com esse ato, mas não recuou quando provavelmente teria. — No passado as mulheres usavam a natureza como parte de suas belezas para se efeitarem,— Ele disse, em quanto segurava aquela flor branca entre seus corpos.— Era algo muito bonito.— — Isso é um elogio, Maximus?— A prisioneira arqueou sua sobrancelha, tentando deixá-la perfeitamente arqueada da mesma maneira que o anjo fazia. — Sim.— O arcanjo do inferno disse sem nenhuma hesitação, colocando a margarida de volta em seu cabelo para depois encontrar seus olhos tão azuis quanto os dele.— E espero que o aceite.— — Não irei apenas aceitá-lo como lembrarei para sempre.— A prisioneira disse com um grande esforço para não gaguejar por causa do efeito que Maximus estava tendo sobre seu corpo. Ela também tentou sorrir para o arcanjo, mas não conseguiu.— Obrigada.—— — Para sempre...— Ele repetiu o final de sua frase.— Você não acha que essas palavras são muito fortes para uma mortal?— — Meu para sempre dura até quando eu morrer.— A prisioneira falou o obvio.— A questão é se você irá se lembrar de uma humana com toda essa imortalidade.— — Humanos normais são facilmente esquecidos até mesmo por seus parentes, mas uma humana que acorda no inferno para me causar dor de cabeça não é.— Maximus sorriu.— Eu me lembro de cada detalhe que aconteceu em minha vida e você nunca será esquecida.— Ela poderia ter facilmente cambaleado naquele momento, pois um homem tão lindo como Maximus dizer que jamais a esqueceria era algo muito perturbador para sua mente prejudicada.— Quantos anos você tem, Maximus?— Decidiu perguntar quando não tinha nada o que falar para fugir do assunto e tomar redeas de seu corpo. — Eu imagino que não seja educado perguntar a idade de alguém.— — Ah, qual é!— A prisioneira disse com ironia e usou sua mão para empurrar o braço dele já que seu ombro estava muito mais longe.— Eu diria minha idade se soubesse.— — Mas não sabe.— Ele apontou.— E a probabilidade de uma mulher mentir sua idade é muito maior do que a sinceridade.— — Eu não mentiria para você.— Ela murmurio, tentando fazer sua melhor cara de cachorrinho abandonado. — Minha idade é muito grande para uma mente tão pequena.— O anjo deu um passo para frente, quebrando o espaço entre eles para enfrentar os olhos da prisioneira.— Apenas tente calcular o fato de que tenho muitos séculos de vida e talvez direi o quanto exatamente é algum dia.— — Você deveria saber que eu tenho uma grande capacidade de aceitar tudo o que acontece ao meu redor.— Ela disse confiante, mas intrigada sobre a resposta do anjo.— Bem, se prepare para revelar sua idade em breve, arcanjo.— — Veremos, humana.— Maximus falou a palavra humana usando o mesmo tom que ela usou para dizer “arcanjo”, não naquele mesmo tom de que sempre usava como se ser parte da humanidade fosse algo muito errado.
A prisioneira abriu sua boca para dizer algo, mas acabou fechando sem dizer nenhuma palavra. Ela desistiu de qualquer coisa quando percebeu de que estava começando a aceitar Maximus como um amigo, algo que não estava esperando tão cedo. Fazia apenas nove dias que ela estava no inferno, mas na semana que ficou sem falar com o anjo, ele fez grande falta a prisioneira. Bom, ela pensou, pelo menos Maximus estava conseguindo o que realmente desejava. Sua confiança.
~ 11 ~ A prisioneira estava sentada na mesma mesa que jantou com Maximus a alguns dias atrás quando ele a apavorou com mentiras que estavam muito longe de serem verdades, dessa vez, seu prato foi colocado ao lado da cadeira que o anjo se sentava e não na ponta oposta. A diferença era que em frente dela estava Diane e ao seu lado Katherine. Ela não conseguia olhar para aquela dama tão esnobe, um lado dela ainda não conseguia gostar dessa mulher que prefiu morar no inferno devido aos seus poderes. Diane estava conversando por todos naquela mesa, animadamente dizia algo que a prisioneira não prestou atenção e deixou de tentar entender do que estava falando. Ela também não parecia ofendida por ter sido chamada de monstro, até mesmo sorriu diversas vezes para a prisioneira quando seus olhos se cruzavam. A única que realmente parecia ofendida era Katherine, mas essa cara de nojo que lançava para a prisioneira começou no dia de seu julgamento, então, ela decidiu acreditar que o problema estava quando acordou no inferno e não por tê-la chamado de monstro. A prisioneira também não conseguiu comer nada que estava em seu prato ou naquela mesa, ela apenas estava revirando sua comida em seu prato para acreditarem que tocou em algo e quando percebia que estavam olhando em sua direção, até mesmo engolia a comida para disfarçar. — Maximus, meu aniversario está chegando.— Diane mudou de assunto depois de tanto falar sobre cavalos marinhos, aparentemente.— Você deve mandar os convites para seus amigos.— — Eu não tenho amigos.— O anjo loiro disse friamente, interessado mais em seu alimento do que na conversa das duas damas que estavam conversando antes. Katherine parecia ser a única que conseguia acompanhar o falatório de Diane. — Patrick ficaria horrivelmente ofendido se ouvisse isso.— A dama de nariz empinado disse em um tom provocador.— Talvez peça até mesmo o divorcio.— Maximus parou de olhar seu prato para encontrar os olhos azuis perfeitos de Katherine, ela sorria com tanto sarcasmo que estava provocando falta de ar na prisioneira. — Minha experiencia de vida fala que isso é puro cíumes, mas minha educação diz para apenas concordar com as palavras de uma dama.— O arcanjo respondeu ao mesmo tom que ela havia usado.— Estou em um impasse.— A prisioneira não pode evitar um pequeno sorriso que se formou logo que ela encostou o copo com suco em sua boca. Diane, que era menos discreta, riu sem se importar com o olhar fuzilador de sua amiga. — De qualquer maneira,— A irmã do anjo voltou a falar, trazendo o assunto que a interessa novamente na conversa.— Você fará isso por mim, Maximus?— — Você sabe que faço qualquer coisa para você, D.— O anjo olhou para sua irmã, sua expressão era de pura afeição e carinho. A prisioneira teve vontade de sorrir novamente, pois o amor que existia entre eles estava a vista para quem desejasse ver.— Apenas arrume um vestido bonito que eu farei todo o resto para que tenha o melhor baile de aniversário.—
— Você sabe que é meu irmão favorito, certo?— Diane sorriu alegremente por causa da noticia. — O que eu sei,— O anjo começou.— É que você diz isso para todos nós.— — E você tem razão, Maximus.— Katherine concordou. — Não me provoque, Kath, ou será totalmente excluida da festa do meu aniversário.— — Mas eu até mesmo já tenho um vestido!— Sua amiga se defendeu.— Você não faria algo como isso para mim.— E foi então que Diane e Katherine começaram uma pequena discussão sobre o que era se sentir excluida de algo para depois passarem a conversar sobre a importância de um vestido digno de uma princesa em bailes de aniversarios. A única vontade da prisioneira ao ouvir aquela conversa que não a interessava nem um pouco era de se jogar dentro de um lago para morrer de vez. Bainhas e cor-de-rosa eram as palavras mais ditas entre as duas mulheres, a fazendo querer enfiar a faca em suas mãos na jugular de seu pescoço ao invés de sair procurando por um lago. Ela continuou a remexer sua comida, pois essa era a coisa mais interessante que podia fazer naquele momento em que a conversa estava focada em vestidos longos. Maximus ao seu lado apenas voltou a comer em silencio, mas depois de algum tempo, o anjo percebeu que a prisioneira não estava colocando nada em sua boca. — Você está bem?— O arcanjo perguntou em um tom baixo para não atrapalhar a conversa que acontecia ao seu lado, seus olhos azuis eram somente da prisioneira naquele momento. — Sim.— — Se essa comida não a agrada, podemos resolver isso.— Ele falou sem acreditar na resposta dela, olhando para seu prato ainda cheio, porém, todo bagunçado como se realmente tivesse comido. — Estou bem, Maximus.— Ela mentiu, pois não desejava dizer que odiava aquela comida na frente de Katherine e Diane.— Não se preocupe.— — Sua pele se torna cada vez mais palida conforme os dias passam,— Maximus falou a encarando. — Se algo estiver errado, você deve me dizer.— Suas ultimas palavras haviam soados mais como uma ordem do que um pedido gentil que se preocupava com a saúde da prisioneira, ela abriu sua boca pronta para dizer que ele não dava ordens a ela como fazia com as outras pessoas desse castelo, mas Diane finalmente deixou de falar com Katherine para dar atenção a outras pessoas que estavam presente naquela mesa de jantar enorme. — Você está definitivamente convidada para meu baile de aniversário,... humana.— Ela disse sorrindo, mas seu sorriso diminiu quando teve de chamá-la assim pela falta de um nome. — Ah.— Katherine resmungou decepcionadamente por causa do convite e a prisioneira apenas pensou como seria bom se elas voltassem a ter a conversa sobre serem “excluidas”, pois ela tinha muito o que dizer sobre sua relação com aquela mulher que usava luvas até mesmo para jantar. — Obrigada, Diane.— A prisioneira falou para mostrar que não se importou de ser chamada de humana por não ter um nome, mesmo que isso realmente importasse. — Eu acho,— Diane sorriu de orelha a orelha quando ficou radiante. Aparentemente ela estava mudando de assunto novamente, mas dessa vez seus olhos escuros iguais aos de Dimitrius e Meridius estavam nela.— Que deviamos escolher um nome para você em quanto vive entre nós!— — Você está louca?!— Katherine a interrompeu rapidamente antes que disesse qualquer outra coisa. — Isso é como quando encontramos um animal perdido na rua e que depois de nomea-lo, ele é definitivamente adotado pela familia!— — Não seja grosseira, Kath.— Diane falou com uma ruga se formando em sua testa.— Ela merece um nome, nem mesmo você gostaria de ser chamada apenas de humana se fosse uma.— — Humph.— Katherine resmungou, agora era ela que colocava toda sua atenção na comida que
estava em sua frente. Diane encontrou os olhos da prisioneira que apenas observava tudo em silencio, mesmo que o assunto fosse sobre ela. — O que você acha?— A irmã do arcanjo perguntou.— Você gostaria de um nome?— — Eu...— Ela franziu o cenho por um momento. Afinal, ela poderia ter facilmente escolhido um nome a si mesmo, mas preferiu se auto reconhecer como “prisioneira”, pois não se importava em se chamar assim em quanto não descobria qual era seu verdadeiro nome, mas com um verdadeiro nome, as pessoas não poderiam mais chamá-la de humana. Ela não se sentiria mais humilhada por pertencer a essa raça.— Eu acho que sim.— Disse baixinho. Maximus olhou para a prisioneira, deixando toda a sua refeição de lado agora que sua voz havia denunciado o quanto ela se importava com um nome. — Maximus, você a encontrou,— Disse Diane.— Escolha um nome para ela.— — Isso não convem a mim, Diane.— O anjo falou seriamente. — Oh, por favor, apenas olhe para ela e pense em algum nome. Não é como se ela mesma pudesse escolher um nome para si mesma.— O deboche apareceu no tom da voz calma de Diane.— Além do mais, você a chamará do que bem entender, mesmo se ela lembrar seu verdadeiro nome.— Maximus encontrou os olhos da prisioneira quando ela permitiu que aquilo acontecesse, pois os olhos azuis do anjo sempre estiveram nela, mas sua coragem que insistia em fugir não a deixou encontrar aquele olhar tão felino. — Tudo bem para você?— Ele perguntou calmamente e quase deu a entender que o anjo se importava com essa responsabilidade que sua irmã estava jogando em suas costas. — Sim.— Ela respondeu.— Eu quero que você me de um nome.— Diane sorriu sastifeita em sua frente. Maximus, no entanto, estava a observando de uma maneira que denunciava que o anjo estava olhando para cada detalhe que existia em seu rosto. Um rosto que nem mesmo ela conhecia direito por nunca ter se visto diante de um espelho, mas que o arcanjo do inferno conhecia melhor do que qualquer pessoa, pois a prisioneira havia permitido que ele visse o que sentia em seu interior em alguns momentos. Maximus havia visto o quanto amendrotada ela estava ao saber que passaria a viver no inferno, mesmo que não demonstrasse e ninguém desconfiasse, o anjo loiro parecia ser o único a saber o quanto dificil era para ela. Maximus a conhecia melhor do que ela mesma. A prisioneira abaixou seus olhos quando esse pensamento veio com força total em sua mente, quebrando as barras de ferro que a impedia de pensar em Maximus de outra maneira além de alguém muito perigoso. Quando essas barreiras eram quebradas, ela apenas via o quanto gentil o anjo podia ser. — Ellylan.— Maximus falou, fazendo com que a prisioneira levantasse seus olhos para encontrar o olhar dele que ainda estava nela. Mas depois que Diane soltou uma risadinha e Katherine quase se afogou com o liquido de seu copo, ela apenas conseguiu encarar as duas dama. — O que isso significa?— Perguntou, desconfiando que Maximus estivesse fazendo alguma piada com ela. De novo. Na verdade, a prisioneira tinha quase certeza e a prova disso era a reação de Katherine.
— Em nossa língua ellylan significa azarada.— Foi o anjo loiro que a respondeu, seus olhos brilharam em puro divertimento mesmo quando não possuía nenhum sorriso esboçado em seus lábios. A prisioneira deveria ter se sentindo pelo menos um pouco ofendida por causa do significado daquela palavra, mas ela não se sentiu. — Azarada.— Murmurio.— Eu acho que isso combina comigo, certo?— Perguntou ao anjo. — Sim, isso combina muito com você.— Ele concordou. — Esse nome é perfeito para você, humana.— Diane disse gentilmente, concordando com seu irmão.— Pelo menos até descobrirmos como realmente se chama.— — Ellylan.— A prisioneira repetiu o nome para ver como ele soaria em seu próprio sotaque, já que Maximus dizendo era totalmente diferente. O anjo fazia as vogais soarem mais fortes do que ela conseguia e aparentemente, a palavra ficava mais bonita com seu sotaque e voz. Mas a prisioneira havia gostado. — Você aprova?— Ele perguntou, ainda a olhando da mesma maneira de quando estava pensando em um nome. — Sim.— A prisioneira o respondeu.— Eu serei Ellylan.— Diane sorriu e até mesmo bateu suas palmas uma contra outra em um sinal de aprovação rapidamente. Ela possuía a eletricidade que nenhum de seus outros irmãos possuiam. — À Ellylan.— A irmã dos arcanjos pegou sua taça de bebida e a levantou diante de seus olhos. Katherine repetiu o mesmo movimento de sua amiga, surpreendendo a todos por participar de algo que não a interessava. A prisioneira ergueu a sua taça após o anjo ao seu lado fazer o mesmo que as duas damas, percebendo que eles estavam esperando que ela juntasse seu copo ao deles. Eles brindaram e debateram as bordas de seus copos um contra os outros. — À Ellylan.— Maximus repetiu o que sua irmã disse em um tom mais baixo, apenas para ela ouvir. Seus olhos de um felino calmo ficaram fixos nos dela como se apenas os dois estivessem naquela sala de jantar, Maximus também movimentou sua cabeça em um gesto que apenas seus tenentes faziam a ele. E foi nesse momento que ela percebeu que não era mais uma prisioneira ou apenas uma humana, pois um arcanjo, um lider, nunca faria esse sinal de puro respeito a pessoas que estavam nessa escala. Ela era Ellylan.
~ 12 ~ Quando Maximus disse que eles estariam indo para dimensão de Meridius no dia anterior, o arcanjo esqueceu plenamente de avisar Ellylan que essa pequena viagem iria acontecer na manhã seguinte. Ele só não esqueceu também, como fez questão de omitir a parte mais importante disso tudo: Como eles chegariam até essa dimensão que era tão desejada pelos humanos. Na beira de um precipicio, literalmente, existiam dois arcos lado a lado que eram formados por pedras grandes e antigas com desenhos que provavelmente tinham muito o que dizer, mas que não significavam nada para ela. Segundo o anjo loiro, eles tinham que atravessar aquele portal que pertencia à dimensão de Meridius, mas Maximus não compreendia que ela não se moveria quando do outro lado daquelas pedras não possuia mais chão, e sim, um oceano e rochas que a levariam direto a morte. Elly havia empacado em meio do caminho que estava fazendo atrás de Maximus quando sua mente conseguiu juntar os fatos que estavam diante de seus olhos e que não havia percebido até o momento. Maximus se virou em sua direção quando notou que ela não o seguia mais, suas asas brancas e grandes fizeram um leve movimento, ameaçando-a abri-las, mas parando antes que estivesse até mesmo na metade do caminho. Aquele movimento demonstrou o quanto sem paciencia ele estava naquele dia. E Ellylan não se importava nem um pouco de acabar com aquilo que Maximus mal possuía, não quando ele pedia para que ela pulasse em um precipicio. Ela podia estar no inferno sem se lembrar de nada, mas não havia enlouquecido. — Eu não escolhi um nome para você com a intenção de gravá-lo em uma lapide no dia seguinte.— Maximus falou ao encontrar os olhos dela.— Quando atravessamos o portal, nossos corpos são transportados para outra dimensão. Você não irá cair do outro lado do arco como aparenta que acontecerá.— — Eu não duvido de você, Maximus.— Talvez duvidasse um pouquinho.— Mas não sou imortal, não posso simpleste atravessar aquilo sabendo que posso cair.— — Você não irá cair.— O anjo repetiu aquilo pela decima vez.— Acredite em mim, eu faço isso desde que era uma criança.— — Mas você possuí asas!— Ela exclamou nervosa.— Cair de lugares altos não é realmente um problema.— Maximus suspirou, provavelmente buscando a paciencia para lidar com aquela situação, o que Ellylan duvidava que ele possuía pelo menos um pingo de sobra para ajudá-la a sair viva. O anjo a olhava como se fosse uma criança mimada que mesmo obrigada a fazer algo ainda batia seu pé para fazer seu pai desistir.
— Olha, seu maior problema será lidar com Meridius, não atravessar o portal.— Maximus usou a verdade para convencê-la, mas falhou rapidamente em ter que lembrar que Ellylan teria que enfrentar seu irmão que a odiava. Elly olhou com pura descrença na direção do anjo loiro, até mesmo jogou suas mãos para o ar com a frustração. Ela não podia acreditar que Maximus havia dito algo como aquilo para convencê-la a passar por aquele portal tão estranho. Durante toda a noite Ellylan havia pensando em como tentaria esquecer seu medo para enfrentar o irmão do arcanjo do inferno, mas Maximus não estava ajudando muito quando dizia tais coisas. Ela virou as costas para o anjo com a intenção de voltar para dentro do castelo e parmanecer andando por aqueles corredores até encontrar o seu quarto, já que aparentemente não teria a ajuda de ninguém quando tais pessoas provavelmente receberiam a ordem de levá-la de volta para o anjo loiro. Porém, Ellylan apenas teve a chance de dar apenas alguns passos antes que a mão quente de Maximus envolve seu braço para pará-la onde estava. E não foi apenas isso, o arcanjo usou sua força para puxá-la contra ele até que o corpo de Ellylan se debatesse contra o dele, que era tão duro quantro uma rocha. Ela encontrou os olhos de Maximus assim que seu abdomen estava colado ao dele, com as mãos grandes do anjo cobrindo toda a sua cintura. Ela não podia negar que sua única reação foi susto, mas logo em seguida de encontrar aqueles olhos azuis, seus coração disparou. Maximus se curvou um pouco, de um modo que sua orelha quase colou no peito em que seu coração batia descontroladamente. Era obvio que o anjo estava ciente da reação que Elly estava tendo, pois ela havia sentindo todo seu corpo esquentar apenas com aquela aproximadade, mas o arcanjo apenas passou um de seus braços por baixo de seus joelhos e a levantou do chão. Ellylan se segurou nos ombros do anjo loiro quando aquele movimento foi feito, com medo que ele a derrubase ou simplesmente a jogasse em direção do oceano lá em baixo, coisa que ela tinha certeza de que não faria, mas não custava nada se assegurar de ficar protegida em quanto Maximus a carregava como se não pesasse nada. O anjo encontrou seus olhos depois de um momento, sua mente muito prejudicada por estar nos braços dele, não fez com que ela desviasse o olhar para outra direção. Ellylan permitiu que seus rostos ficassem próximos naquele momento. — Se a possibilidade de cair existir,— Maximus falou em um tom calmo, que não estabelecia a sua frieza, mas sim proteção.— Nós caíremos juntos.— — Maximus...— Ellylan disse o nome dele sem ter o que realmente dizer, mas ela focou sua atenção em segurar nos ombros fortes dele sem que esbarrasse em suas asas que estavam logo atrás. Por mais que demonstrasse que não se importava com aquilo, Elly sabia que se possuísse asas não iria deixar qualquer pessoa tocá-la e ela concordava plenamente com aquilo que Dimitrius havia dito sobre eles não terem muito com o que se importar e por isso faziam de suas asas uma prioridade. Que eram presentes para suas amadas. Maximus tinha o direito de dar aquilo para a pessoa que amaria, do mesmo jeito que Dimitrius desejava dar. — Não feche seus olhos durante a transição.— Ele disse, caminhando em direção do arco feito com pedras, segurando o corpo de Ellylan de uma maneira forte e protetora que dizia que jamais a soltaria. Esse gesto apenas fez com que ela diminuisse a força que usava para fincar suas unhas nos ombros do arcanjo.— É algo impressionante.— Maximus atravessou o arco e no segundo seguinte toda a imagem que estava diante dos olhos da
prisioneira se desintegrou. O castelo, os muros e gramados verdes, o mar que existia ao lado de sua casa. Tudo pareceu ser apenas uma bela pintura em uma folha de papel que foi jogada na água, que aos poucos foi desmanchando e se partindo conforme a água invadia os limites da folha de papel. Invadindo até que tudo desaparesse e outra imagem surgisse diante dos olhos de Ellylan. Isso não era apenas impressionante como Maximus disse, era muito mais que isso. Essa mudança de cenario apenas fez com que sua mente aceitasse ainda mais que estava em um mundo totalmente diferente daquilo que conhecia. Ellylan apenas não sabia se considerava isso algo bom ou ruim, pois ambos empatavam quando ela parava para pensar no que estava acontecendo em sua vida. Mas nada passava de hipoteses. Nem mesmo a relação que estava construindo com Maximus. — Então?— O anjo loiro virou seu rosto para encontrar os olhos dela.— O que achou?— — É...— Ela franziu o cenho, procurando uma palavra que não houvesse a verdade envolvida de que estava cada vez mais confusa sobre ter que lidar com o fato estar no inferno e não saber quem realmente era.— É diferente.— Um pequeno sorriso surgiu nos lábios do arcanjo com a resposta dela e sua aparente confusão, Maximus voltou a andar para sair de baixo do mesmo arco que eles haviam atravessado para chegar até a dimensão de seu irmão. Ele permitiu que Ellylan encontrasse o chão logo em seguida que parou, acompanhando o olhar dela para o castelo que pertencia a Meridius. — Bom,— O anjo falou calmamente.— Seja bem vinda ao paraíso, Elly.— Elly. A vontade de Ellylan se virar na direção de Maximus após ele usar um tipo de apelido para seu nome, sendo essa a primeira vez que a chamava pela palavra que escolheu como um nome para dar a ela, foi grande. Mas os olhos azuis dela estavam tão fixos no novo lugar que estava sendo apresentado para sua mente que não conseguiu dar atenção ao arcanjo naquele momento. O paraíso era... um paraíso. E ela não podia acreditar que em questão de segundo todo o cenário havia sido trocado como em uma peça de teatro. Ellylan não sabia descrever o que seus olhos viam, mas tudo era diferente do inferno, tudo desde até mesmo o ar que se movimentava ao redor deles. A impressão que aquele lugar permitiu que ela possuísse era de pura paz e calmidade. E o céu... o céu era azul com nuvens brancas, do mesmo jeito que ela conhecia e sabia que pertencia ao seu mundo. Uma parte dela não deixou de se perguntar se durante a noite ele possuíria estrelas. Existiam flores bonitas em todos os cantos que Ellylan olhava, existia uma natureza tão viva e feliz que não sabia como conseguia diferenciar daquela que viu no inferno. Apenas sabia que essas flores eram mais motivadas a viver. Talvez fossem devido a suas cores fortes que chamavam o olhar de qualquer pessoa. E o castelo que devia pertencer ao anjo que provavelmente era chamado de imperador do paraíso era digno de um rei. Era um castelo como aqueles que eram apresentados para crianças nos contos de fadas, com torres ponteagudas altas e outras menores. Mas o que mais chamou a atenção de Ellylan, era a cor do castelo que era todo trabalhado em branco com telhas azuis claras. O castelo de longe era como aquele que ela estava vivendo no inferno, em quanto o que pertencia a
Maximus possuia um toque sobrenatural, esse que estava diante de seus olhos era completamente... lindo. — Eu acho que nunca pensei que castelos poderiam ser tão lindos.— — Meridius e eu somos os únicos que vivemos em castelos.— Maximus falou ao lado dela.— Apesar de Dimitrius seguir as mesmas regras de uma era passada para que nada saia do controle, ele preferiu viver em uma mansão ao invés de castelos. Porém, nós temos certeza de que se Dimitrius desejasse viver em um, seria mais bonito que o de Meridius.— — Para que nada saia do controle...— Ellylan repetiu.— Você está dizendo que se vivessem como os humanos e não como reis, tudo seria bagunça?— — Sua mente se lembra como era a vida humana, diga-me a resposta dessa pergunta.— Ellylan tentou imaginar Maximus como um delegado em quanto seus soldados e tenentes eram os policiais, ela quase riu imaginando o anjo loiro atrás de uma mesa cheias de papeis com uma chicará de café quente próximo a ele, mas essa ideia se transformou em algo ridículo ao perceber que o arcanjo do inferno lidava com demonios. Com pessoas que quando eram vivas provavelmente se adaptavam a vida de serem psicopatas, assassinos e serial killers. Definitivamente, o governo que os humanos usavam não funcionaria com Maximus. E nem mesmo com Meridius que vivia entre os inocentes, que Maximus deixou claro uma vez que era um mundo cheio de narcisistas querendo encontrar a perfeição. Essas pessoas que viviam nessa dimensão provavelmente eram piores que os demonios. — Imagino que vocês perderiam tudo que construiram se seguissem o modo como nós vivemos.— Ellylan respondeu Maximus, olhando para o anjo que também encontrou o olhar dela. — Os imortais possuem tendencias de odiarem e culparem os humanos por tudo, mas eles não entendem que sua raça é muito mais inocente do que eles mesmo serão algum dia.— Disse o arcanjo com aqueles olhos azuis escuros segurando os dela.— A mornaquia acabou muito tempo nessa dimensão por ser injusta.— — Mas para vocês é justa por questão de milhares de pessoas terem que respeitar apenas um arcanjo.— — Exatamente.— Maximus disse, cortando o assunto rapidamente e desviando seu olhar para ver que uma mulher se aproximava deles.— Vamos.— Ellylan acompanhou os passos do anjo que começou a caminhar na direção daquela mulher, que agora até mesmo sorria para o arcanjo que pertencia ao inferno. Essa mulher não possuía asas também, o que a fez pensar que mulheres não nasciam com a capacidades de voar. Porém, aquela estranha que não podia ser escalada como anjo, possuía uma beleza angelical e refinada. Seus olhos claros quase não eram destacados por causa do tom da sua pele tão branca, mas por outro lado, seus lábios incrivelmente rosados chamavam atenção por tudo em seu rosto um pouco arredondado. Seus cabelos longos e ondulados eram tão negros quanto o ébano e os cilios longos que eram da mesma cor faziam um ótimo trabalho em deixá-la apenas mais bonita com aqueles par de olhos azuis pálidos. Uma pequena parte de Elly desejou parar de andar e puxar Maximus para trás dela, pois o anjo também acabou sorrindo para aquela mulher que estava cada vez mais próxima. Era algo ridículo de pensar ou desejar, mas ela não podia acreditar que o anjo sorria com tanto facilidade quando passou uma semana sem conversar com Ellylan. Aquilo deveria significar que ele era dificil e que fazê-lo rir no segundo dia em que estavam convivendo juntos fazia dela especial. Mas o arcanjo do inferno destruiu todos esses pensamentos ao sorrir para a mulher com um vestido
longo de um azul marinho quase preto, um vestido tão lindo quanto os que Diane e Katherine usavam. Naquele momento Ellylan se sentiu patética de ter cortado o seu traje nos joelhos, pois se sentia terrivelmente rebaixada em apenas olhar para aquela estranha tão bonita. Bom, ela admitia que o que estava sentindo era ciumes por pensar que o mundo de Maximus estava girando ao seu redor, mas isso não significava que o anjo loiro se importaria com os sentimentos dela ou que Elly se permitiria sentir isso por mais um segundo. — Niffie.— Maximus disse, aparentemente, o nome dela quando o espaço entre eles acabou e ambos se abraçaram. Aquela estranha se aconchegou em meio do peito de Maximus em quanto tomava cuidado para não tocar nas asas dele que se estendiam em suas costas. O arcanjo do inferno a envolveu com seus braços grandes de uma maneira muito carinhosa, como se estivesse a protegendo do mundo que existiam fora daquela proteção que ele podia oferecer. Ellylan apenas observava os dois em silencio, sabendo que uma expressão fuziladora estava em seu rosto, mas Maximus e Niffie estavam ocupados demais para perceberam aquilo. — Ezin dut uste zu hemen, Max.— Max. Elly não entendeu nenhuma palavra, mas pode entender que eram intimos. Na verdade, aquela estranha não precisava chamar Maximus de Max para saber o quão intimos eram. Aquele abraço dizia tudo! — Fale veneziano, Niffie.— O arcanjo disse, beijando o topo daquela cabeça negra que estava logo a baixo de seu queijo para em seguida soltá-la e permirtir que Niffie se virasse na direção de Ellylan.— Ela não compreende nossa língua.— Rebaixada de Ellylan para “ela” em questão de segundos, ótimo. — Maximus, você não me disse que sua humana era tão bonita.— Aquela estranha disse com um sorriso gentil crescendo em seus lábios. — É, Maximus.— Ellylan concordou furiosamente.— Você também esqueceu de dizer que eu não sou sua humana.— Os olhos azuis escuros do anjo explodiram em divertimento, mas ele manteve seu rosto tão frio quanto pode, mesmo que seu olhar o traísse.— Seu nome é Ellylan agora, Niffie.— Ele falou para depois encontrar os olhos de Elly.— E, Ellylan, essa linda mulher é a esposa de Meridius.— Oh! — Olá.— Ellylan falou gentilmente, esquecendo sua raiva por pensar que essa mulher era apenas uma atirada. Mas agora que foi informada que era apenas a esposa de Meridius, ela podia encostar em qualquer lugar de Maximus, pois conhecendo seu marido, ele provavelmente a mataria se o traísse com o próprio irmão. — Ellylan.— Niffiu sorriu ao dizer o nome dela, olhando para Maximus.— Isso foi é bem criativo da sua parte, Max.— — Poderia ter sido qualquer um.— O anjo deu de ombros, seus olhos demonstravam o quanto o arcanjo gostava da esposa de seu irmão. — Oh não, definitivamente não poderia.— Riu Niffie.— Mas de qualquer maneira, estou feliz que vocês já possuem um vinculo, assim não terei que me preocupar com uma humana desejando meu marido.— Ellylan se afogou com sua própria saliva com a menção do “vinculo formado”, pois Niffie não falou aquilo como uma simples amizade para resolver os problemas que estavam postos diantes deles. Havia mais um significado para Niffie no meio daquilo tudo. Elly se preocupou por um momento achando que ela havia visto sua expressão ao ver os dois abraçados, mas Maximus notou o seu desconforto e logo mudou de assunto antes que Ellylan soltasse a primeira coisa que veio a sua
mente sobre não ser masoquista ao desejar o marido dela. Elly não queria ofender Niffie antes de conhecê-la melhor. Talvez quando estivessem mais intimas ela perguntaria que tipo de remedios tomava para ter aceitado Meridius como seu marido. Talvez. — Nos leve até Meridius, Niffie.— O arcanjo falou.— Ele está nos esperando.— — É claro.— Ela sorriu ironicamente para Ellylan e o anjo.— Vamos.— *** Niffie os levou até um salão dentro daquele castelo branco que era exatamente igual ao que Maximus possuía no inferno, exatamente igual aquele que aconteceu o julgamento de Ellylan. A única diferença era que depois daqueles dois degraus que formavam uma meia lua, existia quatro tronos ao invés de três. Dois estavam mais a frente dos outros, o que deu a entender que os que estavam em destaque pertenciam a Meridius e a sua esposa, a imperatriz do paraíso. Ellylan gostaria de ter reparado mais nos detalhes daquele castelo em quanto ela e Maximus caminhavam atrás de Niffie, pois agora que havia chegado naquele salão e viu que ele era magnifico, sua mente não deixava de imaginar como seria o resto do local. Porém, pensar em ter que encontrar Meridius não era algo realmente fácil, não quando ele desejou matá-la. E agora que seus olhos estavam fixos nela, Elly apenas se sentia cada vez mais pequena e insignificante. Era assustador ter que enfrentar o olhar daquele anjo que aparentemente estava furioso, que estava escrito em todas suas expressões que ele preferia que ela estivesse morta, mas Ellylan não desviou seus olhos em nenhum momento. Ela não seria reconhecida como covarde na frente de Meridius. Niffie deixou de estar ao lado de Maximus para caminhar até o seu trono, presenteando seu marido com um pequeno sorriso quando se sentou ao seu lado. Um sorriso que foi completamente ignorado, mesmo quando o anjo acompanhou com os olhos os movimentos de sua esposa. Ellylan observava Meridius com cautela, imaginando como era possível ele ser mais fechado que Maximus e ainda possuir uma mulher que estava obvio que o amava. Ela não sabia se o anjo correspondia os sentimentos de Niffie, pois Patrick havia mencionado que o arcanjo se casou por causa de herdeiros, mas ainda assim existia algo entre ele e Niffie que não deixava Elly concluir que era apenas aquela mulher elegante que possuía sentimentos naquele casamento tão estranho aos olhos dela. Seus olhos encontraram o rosto de Maximus por um momento, ele olhava para seu irmão em silencio e seu queixo erguido impunha sua posição como o de um rei. Porém, por mais que desejasse descrever todos os gestos do anjo, ela não conseguiu deixar de pensar em quantas mulheres deveriam estar apaixonadas pelo anjo loiro. Afinal, sua personalidade era fria, mas ele ainda tinha a capacidade de rir e tratar sua família como algo muito precioso, Elly não tinha certeza sobre essas coisas quando se tratava de Meridius, mas o anjo estava casado mesmo sendo o lado negativo e Maximus que era o positivo deveria possuir muitas pretendentes. Assim como Dimitrius que era o mais gentil de todos. De qualquer maneira, Ellylan sentia uma pequena inveja de Niffie, pois amando ou não Meridius, ela possuía aquele corpo digno de um deus a sua disposição. A beleza daquele arcanjo fazia a mente de qualquer mulher virar água, mesmo sendo tão cruel como era. — Irmão.— Maximus falou a palavra em um sinal de respeito, curvando sua cabeça quando o outro anjo nem ao menos se mexeu. Aquilo deixou claro para todos que Meridius provavelmente era o mais velho, o mais respeitado.
— Max,— Meridius se levantou de seu trono, fazendo o primeiro movimento desde que eles entraram naquele salão.— É bom vê-lo em meu reino, mesmo que os assuntos que o tragam aqui sejam deploraveis.— Ele olhou para Ellylan ao terminar sua frase. Ellylan apenas sorriu ironicamente, tentando mostrar todo o sarcasmo de uma resposta que nunca poderia ser dita, pois ela tinha que respeitar o arcanjo do paraiso desde que estava em sua casa. E o pior de tudo, era que assim como Dimitrius, Meridius também estava ajudando Maximus sobre o que havia acontecido com ela. E mesmo que os motivos dos três arcanjos para ajudá-la fosse para descobrir quem causou aquela confusão e não apenas por que eles eram bons o suficiente para levála de volta para casa, isso significava muito. — É ótimo vê-lo novamente, Meridius.— Ellylan disse com o seu sorriso amarelo.— Você continua tão gentil quanto da última vez.— Atrás do anjo mal humorado sua esposa deixou que um pequeno riso escapasse de seus lábios, um som tão angelical que nem mesmo Meridius pode jogar um olhar fuzilador para Niffie quando olhou por cima de seus ombros com a intenção de encontrar seu olhar. Ou o anjo era tão frio a ponto de não se importar se ela ria dele. As duas opções eram muito validas. — Obrigado, Ellylan.— Meridius falou ignorando a ironia dela, mas a surpreendendo por dizer seu novo nome. Elly olhou para Maximus com suspeita, descobrindo que a fofoca não só rolava solta no inferno como as noticias vazavam para as outras dimensões. — Meridius, pare de provocá-la e vá direto ao ponto.— Maximus falou, prendendo seu olhar com os de seu irmão.— Traga o traídor.— — É claro, meu irmão.— Meridius falou com um sorriso digno de um lider, a aprovação em seus olhos escuros era obvio. Meridius desviou seu olhar deles para colocar seus olhos nas portas duplas que estavam atrás de Ellylan, a mesma porta que ela e Maximus haviam passado logo atrás de Niffie para chegar até esse lugar cheio de tronos, que provavelmente era onde acontecia os julgamentos do tão desejado paraíso. Ela também acabou acompanhando o olhar do arcanjo em cima daquele palanque, principalmente quando o som das portas sendo abertas e resmungos perturbados invadiram a sala, conseguindo quebrar seu autocontrole para não olhar. Ellylan não pode esconder seu horror quando seus olhos encontraram o tal traídor, ela deu alguns passos para trás por reação do seu espanto e Maximus a acompanhou, abrindo uma de suas asas pra tampar aquela visão que o anjo traídor possuía dela quando ele começou a ficar ainda mais perturbado em vê-la. Esse anjo já não podia mais ser chamado dessa maneira e se algum dia ele forá tão angelical e bonito como era Maximus, nenhuma pista para responder aquela duvida existia nele. O anjo estava completamente deformado, sua pele parecia ter sido queimada e o pus escorria por todas as partes que estavam danificadas, assim como o sangue seco que o sujava por quase todo o seu corpo que era coberto apenas por calças rasgadas. Um dos seus olhos já não existiam mais, ali na orbita apenas possuía um buraco sangrento e traumatizador para quem olhasse, mas o pior não era isso e sim o fato de uma de suas asas terem sido arrancadas de suas costas e deixar uma cicatriz aberta e totalmente infectada. A outra asa que ainda estava ali, aparentava ter sido quebrada. O anjo estava completamente insano, seu único olho não tinha um lugar fixo para olhar e suas unhas
pequenas coçavam uma parte de sua mão que já estava machucada e escorrendo sangue, mas isso não foi o motivo para fazê-lo parar o movimento. Porém, eram suas palavras que a intrigavam a manter seu olhar nele. Ele dizia frases sussurradas que não faziam nenhum sentido, como por exemplo, “Humanos nas dimensões”, “Os sete pecados capitais de volta” e “mortais se transformando em monstros”. E Ellylan sabia que aquilo não significava nada para Maximus também, pois uma pequena ruga surgiu em meio de sua testa tampada por seus cabelos dourados, mostrando o quanto não entendia o que aquele anjo deformado dizia. O arcanjo do inferno esticou seu braço em frente de Ellylan, fazendo daquilo uma barreira muito protetora para que ela não movesse ou permitisse que aquele anjo insano se aproximasse. Ainda mais agora que os soldados que o seguravam, ou arrastavam, estavam próximos do palanque em que Meridius ainda continuava em pé. — Meu senhor.— O anjo insano proclamou, tentando ficar de joelhos quando falou, mas aquele ato foi proibido pelos guardas que o seguravam pelo braço sem cuidado nenhum. Ellylan não sabia exatamente pelo o que ficava horrorizada, pelo modo em como uma pessoa perturbada era tratada ou pelo estado que aquele anjo se encontrava. Eles estavam no paraíso, isso não deveria ocorrer. Pelo menos era isso que Elly acreditava, que tudo era lindo nesse lugar. Seu estomago estava se revirando completamente em olhar para aquele buraco sangrento em seu rosto, o sangue que surgia para manchar sua pele estava lhe causando calafrios. — Maximus...— Ela sussurrou, encostando seus dedos no braço que ele havia colocado em sua frente. Uma parte dela desejava se aproximar daquele homem sangrento e deformado, mas não por piedade e solirariedade. Existia algo a mais que estava chamando seu corpo. O arcanjo do inferno não moveu nenhum musculo ao seu toque, seus olhos azuis estavam fixos no anjo insano em sua frente. Seu corpo estava tão rigido quanto uma pedra de gelo. — Deixe-o.— Meridius falou para os guardas que seguravam o anjo sem uma asa.— Esse assunto não é do interesse de vocês.— O arcanjo falou arrogantemente, demonstrando o quão diferente ele e Maximus eram. Em quanto Elly via que o anjo loiro mantinha um tipo de amizade com seus tenentes, Meridius tratava os seus como apenas servos. O anjo insano riu descontroladamente após os guardas os soltarem sem ao menos questionarem o pedido de Meridius, eles saíram do salão em questão de segundos, deixando o traídor solto e próximo de Ellylan, tendo uma barreira chamada Maximus para protegê-la. — Mexa-se e você ganhará uma passagem de ida para o nivel 2 do inferno.— Meridius falou com um tom afiado, ameaçador. — MMe- Mestre, você me trouxe uma humana.— Ele gaguejou, se virando na direção de Maximus e Ellylan.— Tão linda, tão mortal ainda.— O movimento daquele anjo insano apenas fez com que Meridius descesse um degrau daquela meia lua que se encontrava seu trono, a postura de Maximus se tornou ainda mais rigida e aquilo provou que ambos os anjos estavam a protegendo. Isso deveria tranqualizá-la, mas Ellylan perdeu totalmente o ar pelo fato de dois arcanjos estarem a protegendo de um único anjo que estava totalmente destruído.
— Você reconhece esse rosto, Edward?— Meridius perguntou friamente. — Não vejo nada, mestre.— Edward respondeu, passando a língua em seus lábios como se diante dele estivesse alguma comida muito deliciosa.— Não vejo nada.— Sussurrou rindo histericamente. — Maximus.— O arcanjo do paraiso disse o nome de seu irmão como uma simples ordem, pedindo ao o anjo loiro que saísse da frente de Ellylan para que Edward pudesse observá-la. Maximus entendeu o pedido e estava se movendo para o lado, mas Elly segurou o seu braço ainda mais forte com a mão que havia depositado sobre sua pele. Ellylan se sentia segura com Maximus em sua frente, pois não permitia que aquele anjo tivesse qualquer tipo de acesso a ela. Os olhos azuis de Maximus depois de olhar para a mão dela, encontraram seus olhos aflitos. Ela tentou expressar tudo que sentia em seu olhar já que não podia falar naquele momento, mas também duvidava que conseguiria admitir em voz alta que estava com medo daquele anjo insano ou ficar cara a cara com ele. — Está tudo bem.— Maximus disse baixinho, colocando sua mão sobre a dela para retirá-la. Ellylan não insistiu em continuar segurando-o pelo braço, mas seus olhos ficaram fixos com os do anjo até quando ele se colocou ao lado dela, ficando o mais próximo que podia. — Amor.— Edward disse uma palavra coerente depois de tantos murmurios e risadas, chamando a anteção dela.— Amor, mestre.— Ele começou a rir novamente, caindo em seus joelhos em quanto olhava para Ellylan como se ela fosse o motivo de sua loucura.— O mais temido está caindo nas graças do pecado. Caindo.— — Você. Reconhece. O rosto. Dela?— Maximus repetiu a pergunta de Meridius pausadamente, a assustando por usar aquele tom sombrio que deixou de usar com ela a alguns dias. Elly não podia acreditar no quão amigavel seu tom havia se tornado depois que ele deixou de considerá-la como um problema. — Não.— Ele andou sobre seus joelhos, fazendo Ellylan recuar.— Ela não é minha humana, mas ainda assim é um monstro.— — Por que monstro?— Meridius perguntou. — Mate-a em quanto é possível.—Edward riu.— Mate-a em quanto ainda não é um monstro. Humanos fazem parte dos sete pecados, eles se transformam nas transições.— — Meridius,— A voz calma de Niffie invadiu o salão.— Ele não está fazendo nenhum sentido.— — MATE-A!— Edward gritou dessa vez, se levantando de seus joelhos em um movimento rapido e assustando Ellylan quando o anjo perturbado se jogou em sua direção com um prego em mãos que havia retirado de suas calças rasgadas. Maximus tentou pegá-lo em meio desse caminho para que não caísse em cima dela e a atacasse com o prego, mas ambos foram pegos de surpresa e antes que o anjo loiro se movasse, Edward fincou a ponta daquele prego enferrujada em sua pele, próxima de sua jugular. Ellylan sabia que sua intenção era acertar apenas a veia de seu pescoço com ligação ao seu coração para matá-la, mas ela segurou seu punho quando eles estavam indo de encontro ao chão, não tendo força suficiente para afastar, Elly apenas conseguiu desviar o ponto de ataque para outro lugar. Ela gritou pela dor que aquele prego lhe causou ao fazer um rasgo em sua pele, gritou ainda mais quando Edward fez o mesmo movimento para acertar sua jugular e errar novamente, machucando-a em outra região de seu pescoço. O anjo insano não parava de rir e chamá-la de monstro, o que estava a deixando ainda mais apavorada por estar em baixo dele, mas antes mesmo que Edward tivesse a chance de atacá-la novamente com aquele prego, ele foi retirado de cima de Ellylan. Maximus pegou o anjo por sua única asa e o jogou para longe até que encontrasse o outro lado do salão que estavam, no entando, o arcanjo loiro fez de sua asa um pedaço de papel antes de atirá-lo
para longe. O arcanjo do inferno arrancou sem nenhuma piedade sua outra asa para lhe causar dor e desistir de atacar Ellylan para focar sua atenção em Maximus. Edward gritou de uma maneira que mostrou que o que sentiu era pior do que a morte. O anjo loiro jogou aquela asa branca para o lado como se fosse apenas um lixo e em seguida, o corpo do traídor. Elly, após ficar livre do ataque, recuou até que suas costas debatessem contra a parede daquele lugar, impondo limites para que não fugisse como desejava. Ela segurava seu pescoço machucada e sentia seu sangue quente escorrer por todo o seu peito e sujar seus dedos que faziam pressão sobre os machucados. Ela estava chorando antes mesmo que percebesse as lagrimas, seus olhos arregalados provavam o quanto estava horrorizada por todas as atitudes que aconteciam naquela sala. Ela levantou seus olhos para ver que aquele anjo insano estava correndo em uma velocidade anormal em sua direção novamente, sua saliva caia ao lado de sua boca como se fosse um cão bravo e ele ainda ria. Ellylan se comprimiu ainda mais contra aquela com medo de que ele a ataquesse de novo e quando ela soltou um grito de puro horror, se encolhendo totalmente pela proximidade de Edward, a voz de Meridius invadiu o salão. — Explodere.— Seu tom foi sombrio, calmo como se soubesse o que estava fazendo, mas o que realmente aconteceu não era nada tranquilizante como sua voz fez parecer. O corpo já prejudicado de Edward com todas as suas deformidades causadas por uma tortura feita por mãos sem piedade simplesmente explodiu após a única palavra que saiu da boca de Meridius. Pedaços de órgãos, de membros voaram para todos os lugares daquele salão. Porém, apesar disso ser traumatizador aos olhos de uma humana que ainda estava aprendendo o significado de pura maldade, isso não foi a pior coisa. Juntos com os pedaços daquele anjo insano, pregos se juntaram a explossão. Edward provavelmente havia ingerido pregos para se transformar em uma arma quando seu corpo fosse explodido, deixando claro que ele sabia muito bem qual seria o seu destino. E apesar desse destino levá-lo direto para a morte, ele acabou se tornando perigoso. — Niffie!— Meridius exclamou, se aproximando de sua esposa com suas asas abertas para protegêla dos pregos que voaram em sua direção, e até mesmo a cortando, antes que estivesse sob a proteção do arcanjo do paraiso, tendo suas asas o alvo principal dos pregos agora. Essa foi a ultima coisa que Ellylan viu antes que Maximus fizesse o mesmo movimento que seu irmão para protegê-la, sendo eles os mais próximos de Edward, aqueles pregos voaram na direção deles com uma força impressionante, atigindo todo o corpo do anjo loiro que se ajoelhou na frente de Elly, se curvando para colocar seus braços um de cada lado do corpo encolhido dela. Suas asas tamparam toda a visão que ela possuía, a obrigando a olhar para os olhos de Maximus que por um momento vacilaram com a dor que sentia ao receber aqueles pregos enferrujados em seu corpo. Dor. Essa era a única palavra que estava presente desde o momento que acordou no meio desse mundo que ela não pertencia. Essa palavra de três letras era a culpada por seu sofrimento, que não a permitia sorrir ou rir estando ao lado de pessoas que apenas estavam a ajudando para retornar para o lugar que pertencia.
Tudo isso era culpa por estar convivendo em um lugar onde a morte era algo completamente normal, em que loucos tentavam matá-la com um prego e logo em seguida eram explodidos sem ter nenhum significado. E para piorar, isso foi o que Maximus tentou fazer com ela quando se encontraram pela primeira vez. — Max...— Ela tentou dizer seu nome inteiro, mas falhou quando ouviu sua voz sussurrada cheia de medo e pavor. Ellylan não queria compartilhar seu medo, pois Maximus era o único que podia ajudá-la a passar por cima disso, mas o anjo loiro fazia parte desse mundo. Ele não poderia ajudá-la. Maximus não olhou para ela quando a tentativa de dizer seu nome falhou, porém o anjo a escutou e não ignorou esse chamado. Antes que Ellylan percebesse o que estava acontecendo, Maximus a envolveu em seus braços e a apertou contra seu corpo, fechando suas asas ao redor dela para que pudesse se sentir segura. Ele havia notado seu medo no tom de sua voz, percebeu também o quão perto estava para explodir por tudo que estava acontecendo em sua vida que era tão desconhecida para ambos. E Ellylan sabia que esse não seria o momento, mas chegaria uma hora que tudo aquilo que deveria sentir ao descobrir que estava no inferno e vivendo com imortais viria à tona logo. Ela tinha medo do que isso poderia causar e ficou ainda mais apavorada pelas coisas que Edward havia dito antes de virar o nada. Mas agora que Maximus a segurou contra seu peito, a abraçou e envolveu suas asas ao redor dela para privá-la do mundo, Ellylan apenas se sentia... segura. O anjo estava a protegendo como prometeu e foi nessa promessa que ela se focou para não ter um surto em quanto podia ouvir as batidas do coração do arcanjo.
~ 13 ~ Ellylan abriu seus olhos no momento em que sentiu que algo se movia ao seu redor, o som de alguém caminhando fez com que todos os seus sentidos voltassem a ser tão despertos quanto os de um felino em perigo. Ela não se lembrava de ter ficado inconciente, mas a prova de que aquilo havia acontecido era obvio desde que seu corpo estava deitado em uma cama ao invés de estar nos braços do arcanjo loiro que a protegeu de tanto pregos. Elly tentou lembrar de como tudo havia acontecido para vir a estar nessa cama, aparentemente com um curativo enorme em seu pescoço dolorido, mas tudo que ela conseguia se lembrar era de permitir que Maximus a abraçasse e depois de sua vissão se tornar embaçada. Era apenas isso que Ellylan se lembrava e era o suficiente para explicar a situação que se encontrava. Ela se moveu na cama rapidamente para ficar de pé quando seus olhos viram um vulto próximo a ela, que logo se mostrou ser apenas um homem desconhecido com asas. Com medo, pois não havia se preparado metalmente para lidar com tudo que havia acontecido naquele castelo, ela se afastou daquele estranho até que estivesse encostada na porta que a levaria para fora daquele lugar tão magnifico quanto o quarto que Maximus havia dado a ela em seu castelo. Seus olhos observaram aquele anjo que estava presente no quarto, tão calmo que não demonstrava nem um pouco que se importava com o que ela fazia de sua vida. Ainda mais quando possuía um machucado em seu pescoço que a fazia querer se matar por apenas respirar e isso ser um motivo para fazê-la sentir dor. — Onde está Maximus?— Ela perguntou pela única pessoa que provavelmente se importava com sua vida naquele local, sabendo muito bem que o que fazia aquele anjo do outro lado da cama estar naquele quarto era pelo simples motivo de ter recebido ordens de seu superior. Ellylan não desejava estar com pessoas que recebiam ordens para permanecer ao seu lado naquele momento, ela queria ficar com a única pessoa que iria protegê-la por vontade própria se outro anjo tentasse acertar sua jugular com um prego para provocar um corte. — Você não possui permissão para sair desse quarto.— O homem disse de forma calculista. Ellylan franziu o cenho, não acreditando que estava sendo obrigada a ouvir aquilo... — A menos que deseje levar um chute em partes sensíveis, me diga onde Maximus está.— Ela disse com certa raiva por ser privada de se encontrar com o arcanjo que salvou sua vida pela segunda vez, mas percebeu que sua ameaça não teve nenhum efeito.— Eu não tenho problemas em gritar também...— Elly deixou a frase ponderar no ar, abrindo sua boca para gritar quando aquilo também não teve nenhum efeito sobre o anjo, mostrando que ele duvidava que ela fazeria qualquer coisa que estivesse falando. Porém, quando ela abriu sua boca para gritar, o homem se convenceu de que ela
não estava brincando nem um pouco. — Tudo bem.— Ele disse com mal humor, concordando com ela.— O imperador do inferno está no quarto de frente.— — Obrigada.— Ellylan falou tentando copiar o mesmo desprezo que Katherine usava com ela, que era muito maior do qual o anjo em sua frente usou. Elly se virou para encontrar a maçaneta da porta que estava encostada e após abrí-la, ela saiu do quarto sem se importar com o que aconteceria com o homem que falhou em comprir com suas ordens. Tudo que a interessava agora era encontrar Maximus. Apenas Maximus.
~ 14 ~ Maximus estava observando seu próprio reflexo no espelho que ocupava uma parede inteira do seu banheiro, o anjo olhava para suas asas estendidas em seu comprimento maximo para se certificar que dessa vez não possuía mais nenhuma parte do corpo de Edward ou sangue sobre elas. Quando o sangue entrava em contato com suas penas brancas, era quase impossivel de retirá-lo e por causa disso, o arcanjo teve que tomar três banhos para tirar toda a sujeira de Edward e até mesmo seu próprio sangue. Os pregos ainda estavam presos em seus músculos, pois existiam duas opções para tirá-los e nenhuma o agradava. No momento, se certificar de que suas penas não estavam manchadas era o suficiente antes de passar para o próximo passo. Sua única opção era ir até Diane para cuidar de suas asas, mas ela não estava presente no paraíso para tirar aqueles pregos que estavam ainda mais presos em seus músculos devida a cicatrização em volta deles. Ele não podia acreditar que... Maximus sentiu uma forte vibração no interior de sua mente, tão forte quanto aquelas que apenas sentia quando seus irmãos estavam próximos. Mas diferente da alma deles, essa estava totalmente destruída e cheia de medo, cheias de ondas sonoras que mostravam uma misturança de sentimentos indefinidos... Infelizmente, só existia apenas uma pessoa que podia se escutar esses sons de sua alma em pedaços. O anjo se afastou do espelho para colocar suas calças para evitar qualquer constrangimento à Ellylan, sabendo que ela nem ao menos iria bater em sua porta antes de entrar para lhe dar tempo de se vestir. Bater em sua porta deveria estar no topo de sua lista, já que aquela humana ao vê-lo sem camisa teve uma reação muito diferente do que Maximus esperava. Ouvir o coração dela acelerar como a de um coelho assustado e evitar que seus olhos fossem para a perte de sua corpo nu estava a deixando louca naquele dia e isso divertiu o arcanjo de uma maneira que foi realmente dificil de não demonstrar o que sentia. Na verdade, Maximus sabia que Ellylan estava se apegando a ele de uma maneira que deveria ser proibida, mas o arcanjo não podia negar que ela criasse alguma ligação com ele quando podia sentir como estava sua alma. Porém, não podia se enganar que gostava quando Ellylan o via apenas como um simples homem. Não como o governador do inferno, um lider temido ou alguém que possuía asas. Ela o via apenas como Maximus. E nem mesmo o arcanjo podia cortar essa ligação quando se sentia um monstro em considerar isso correto. Pois se existia algo que o fazia se lembrar de sua mãe quase todos os dias, é das vezes que
ela sempre dizia que machucar alguém com seu interior já ferido era pior do que uma tortura que durasse anos. Maximus não podia acreditar que podia ter esquecido algo tão importante quando encontrou Ellylan pela primeira vez, não podia acreditar que havia se tornado tão fraco em questão de liderar o seu próprio reino. O anjo havia esquecido todos os valores que aprendeu durante toda sua infancia até a vida adulta, ele estava vivendo em meio de tanta maldade que isso o fez virar o próprio mau, se esquecendo do significado de ser um lider. E para piorar toda sua situação, não foram seus irmãos ou tenentes que fizeram ele enxergar isso, mas sim a chegada de uma simples humana. Então, de maneira alguma Maximus poderia cortar os laços que ela estava formando sobre ele, não quando o anjo estava grato por ela tê-lo ajudado de alguma forma estranha. O arcanjo não teve tempo algum em fechar o botão de seus jeans depois de erguer o ziper, pois Ellylan já estava dentro do quarto e caminhando em direção do banheiro antes mesmo que ele tivesse a chance de fazer outro movimento. Maximus devia ter fechado a porta do banheiro desde o momento que entrou nele, pelo menos assim ele teria a chance de colocar suas roupas quando ela fosse obrigada a ter que bater em sua porta. Afinal, ele estava ciente de que Ellylan não entraria em seu banheiro com a porta trancada. Existiam limites em sua mente que não a permitiam ser tão liberal. O anjo se virou em sua direção quando ela parou antes de atravessar a porta, procurando encontrar os olhos dela, algo totalmente impossivel já que Ellylan olhava para o seu peito nu. Suas bochechas coraram levemente por causa da visão, mas quando os olhos claros desceram por todo seu abdomen até chegar ao seu botão não fechado, foi o momento em que seu coração explodiu em milhares de batidas. — Bater na porta faz parte de uma boa educação, Ellylan.— o anjo decidiu provocá-la, fazendo com que ela deixasse de observá-lo para encontrar seus olhos rapidamente. — Talvez eu tenha me esquecido o que é uma boa educação também.— Ela o respondeu com um mal humor nitido, mas que em questão de segundos desapareceu de seu olhar. Seus olhos azuis foram até suas asas abertas, fazendo com que Maximus as fechasse em suas costas para que ela não visse a quantidade de pregos que tinha o atingido. Ele estava feliz por Ellylan estar bem depois da quantidade de sangue que havia perdido e na confusão que causou ao tentarem lhe dar pontos, mas não desejava que ela ficasse ainda mais horrorizada em ter uma noção de quantos pregos Edward havia engolido, Maximus não desejava que ela tivesse conhecimento da pior parte de seu mundo. — Por que você não tirou esses pregos?— Ela perguntou. — Porque Diane não está aqui para me ajudar.— Maximus a respondeu, observando o curativo que haviam feito em seu pescoço, que já estava sujo de sangue pela falta de pontos.— Eu podia derretêlos, mas isso seria ainda mais complicado do que simples.— Ellylan o olhou horrorizada, provavelmente notando que ele não se importava com a dor que aquilo causaria, mas sim de como seria dificil de retirar o metal derretido de suas penas. — Você disse que não se importa com as pessoas tocando suas asas.— Ellylan o lembrou.— Por que não pede para alguém desse lugar?— — Eu não me importo, mas os outros se importam.— — Não consigo compreender isso...— Ela murmurio, demonstrando sua confusão ao abaixar seus olhos, mas rapidamente os erguendo por encontrar o corpo de Maximus quase nu.
— Se eu pedir para uma mulher me ajudar, ela pensará que estou apaixonado por ela.— O anjo deu de ombros.— Quando se trata de asas, não é apenas algo profissional.— Ellylan franziu o cenho, achando um ponto fixo no chão para olhar em quanto pensava sobre isso para não olhar o botão aberto de seu jeans. Um leve sorriso esboçou no rosto do anjo, pois a maneira que ela evitava aquilo estava obvia para quem desejasse ver.— Então asas não são apenas asas.— — Não.— Maximus sorriu de verdade agora ao se lembrar de como Dimitrius era quando se tratava desse assunto, não só ele como vários outros anjos.— Definitivamente não.—— — Bem,— Ela encontrou seus olhos novamente.— Eu não pensarei que você está apaixonado por mim se me permitir ajudá-lo.— Maximus a encarou por segundos, não sabendo o que dizer naquele momento. Pois o sonho de todas as mulheres que existiam nas dimensões eram de tocar em suas asas, senti-las ao redor de seu corpo ou simplesmente saber que aquilo pertencia a elas, não de arrancar pregos em quanto o dele sangue escorreria por suas mãos. — Você tem certeza?— Ele perguntou. — Sim, é claro que tenho.— Ellylan se aproximou mais da porta.— É o minimo que posso fazer depois de... tudo.— O arcanjo viu que ela quase mencionou o fato dele tê-la abraçado mais cedo em quanto a protegia dos pregos, mas obviamente não estava pronto para admitir aquilo em voz alto pelo fato de não saber como ele reagiria, e o anjo ficou satisfeito pela exclussão do assunto, pois Maximus realmente não saberia o que dizer sobre aquilo. Afinal, o abraço não possuíu nenhum significado a ele, mas para Ellylan as coisas já eram diferentes. Era obvio que Maximus não era do tipo que abraçava uma pessoa sem motivos, muito menos aquela que conhecia apenas alguns dias, mas naquele momento quando Ellylan tentou dizer seu nome e não conseguiu, o anjo sentiu toda a sua alma iria se estilhaçar com o medo de tudo que estava vivendo. Ele a abraçou porque ela precisava daquilo para não permitir que tudo acabasse em uma escuridão cheia de pavor. Maximus não disse nenhuma palavra, apenas se virou novamente para o espelho que antes observava com a intenção de abrir suas asas, mas quando Ellylan entrou finalmente no banheiro, ela ficou novamente paralisada ao ver seu próprio reflexo no espelho. Os lábios dela se entreabriram e até mesmo sua respiração se tornou mais pesada quando seus olhos azuis percorreram toda a extensão de seu rosto, parando demoradamente em suas sardas que quase não se destacavam na região abaixo de seus olhos e nariz. Aquela humana estava vendo seu reflexo pela primeira vez desde que esqueceu quem realmente era, como era o seu rosto, seu corpo. Ellylan estava se conhecendo naquele momento. E o anjo permitiu que aquilo acontecesse. — Imagino que errei imensamente ao retirar o espelho de seu quarto.— Maximus voltou a falar, encontrando o olhar dela no espelho. — Você não fez isso por maldade.— Ela falou em um tom baixo, voltando a olhar para seu próprio reflexo.— Mas é realmente bom saber quem sou eu.— — Seu rosto é apenas uma casca que protege sua alma, o seu verdadeiro eu.— O arcanjo disse, escondendo que apenas os arcanjos podiam ter acesso à almas de todos que estavam próximos deles. Talvez fosse por esse motivo que Maximus não podia cortar a ligação que ela estava formando com ele, pois o anjo podia sentir sua alma melhor do que ninguém. O anjo conhecia o verdadeiro eu de Ellylan quando nem ela mesma conhecia.
Ela não o respondeu, apenas continuou hipnotizada com o seu próprio reflexo antes de se mover até estar em suas costas, Maximus abriu suas quando percebeu que ela estava pronta para deixar de se observar e ajudá-lo, não a apressando em nenhum momento. O anjo não pode evitir que a dor se manifestasse em seus olhos quando moveu suas asas, as estendendo-as em seu tamanho maximo para que Ellylan tivesse um melhor acesso. Ele apenas não esperava que aqueles pregos enferrujados o ferisse tanto com seus movimentos. Ellylan apoiou suas pequenas mãos em suas asas delicadamente, como se elas fossem feitas de papel e fossem se desfazer facilmente, ela não imaginava que suas asas eram muito mais pesadas que até mesmo o corpo de Maximus. — Suas penas são macias.— Ellylan sussurrou, movimentando seus dedos levemente com medo que causasse dor por causa daqueles pregos.— Eu pensei que elas fossem duras como as de passaros.— O anjo a olhou pelo espelho, sabendo que ela não poderia encontrar seu olhar devido ao seu tamanho, tão pequena a ponto de suas asas a cobrirem toda. Mesmo tendo um espirito tão forte, Ellylan era tão frágil quanto ela imaginava que eram suas asas. — Asas são a parte do corpo de um anjo mais sensível,— Maximus explicou.— O motivo das penas serem macias está incluida nisso.— — Sensíveis?— A surpresa invadiu sua voz.— E você queria derreter esses pregos?!— — Eu não possuo muitas opções.— — Bem, eu iria preferir iludir alguém do que ter metal recém derretido sobre minha pele.— Ela disse horrorizada.— Isso é locura!— — Não.— Ele discordou.— Isso é necessário.— Maximus sorriu ao pensar que a mente dela era muito pequena à opções quando se tratava de sofrimento fisico, mas não a julgava. Ellylan vinha de um mundo em que torturas faziam parte da vida de um psicopata, não de pessoas que induziam a lei. Uma pessoa que havia esquecido o significado da vida era muito mais propensa a ficar mais horrorizada em seu mundo do que qualquer outro humano com memorias. Eles sabiam o que eram sofrimento, eles lembravam de terem sentido aquele sentimento, mas Ellylan não. — Tudo bem,— Ela murmurio, suspirando com certa cautela e medo.— Vou tirar o primeiro prego. — — Não aja como se isso fosse doer em você.— — Aquele louco quase arrancou meu pescoço com um único prego e me causou uma dor enorme, não é fácil imaginar o que você sente com tantos em suas asas.— Falou.— Asas sensiveis!— — Sensiveis sim, mas não mortais.— Maximus a lembrou.— A dor que você sente não é a mesma que sinto, Elly... Apenas tome cuidado para não se machucar.— Ellylan ficou imóvel por um momento, como se estivesse em outro mundo que apenas sua mente pudesse alcançar, mas depois que percebeu que a atenção de Maximus estava nela, ela moveu suas mãos até uma parte dolorida de suas asas, ali era onde provavelmente existiam mais pregos e quando ela tocou a ponta de um deles para que seus dedos os puxassem, Maximus tentou demonstrar o minimo de dor que podia, pois a cada momento que ela fazia um movimento e olhava para o rosto do anjo no espelho, mais rapido as batidas do coração dela se tornava por causa do medo de machucá-lo.
Ellylan estava mais do que ciente que ele não era mortal, que não iria ser ferido facilmente mesmo se sentisse dor, mas e;a se negava em tratá-lo como um imortal, como alguém que não precisava de delicadeza para retirar os pregos de suas asas. Ela o tratava como não fosse diferente dela. *** O arcanjo se virou em direção de Ellylan assim que sentiu ela tirar o último prego que existia em suas asas, as fechando em suas costas em quanto se mexia para facilitar seu movimento. Seus olhos encontraram primeiro as mãos dela que estavam completamente sujas de sangue, do seu sangue, igualmente ao chão onde estavam todos os pregos. Ela observava suas mãos sujas com certa curiosidade, seus olhos claros estavam fixos em seu sangue como se ele fosse algo muito mais importante do que aparentava. Sem contar com o fato de que os olhos dela estavam mais vazios do que o vácuo. — Elly?— Ele a chamou em um sussurro, a fazendo encontrar seus olhos novamente. Mas aquele vácuo ainda estava em seu olhar, a consumindo como se estivesse pronta para entrar em um ataque de panico.— Obrigado.— Maximus falou algo que não dizia com facilidade, mas sua intenção foi de apenas despertá-la daquilo que estava a puxando para outro mundo. Porém, aquilo não funcionou, na verdade, a respiração dela se tornou fraca e o desespero de voltar a olhar para suas mãos surgiu no momento seguinte. Maximus não sabia o que estava acontecendo, mas a mente humana era muito fraca para viver tudo o que ela estava vendo e o trauma que deveria estar sentido ao se encontrar no inferno estava começando a se manifestar dentro dela. Essa era a única explicação. — Ellylan.— Seu tom foi severo, aquele que usava com pessoas que eram tratadas como servos ou que não eram próximos a ele. O tom de um lider. Ele não desejava quebrar aquele momento de inicio de um surto, pois Ellylan necessitava daquilo para que sua mente não se tornasse enlouquecida em certo momento, mas o anjo deixou de sentir sua alma e quando procurou pelo som de suas ondas sentimentais, apenas encontrou aquilo que estava nos olhos azuis dela. O nada. Ela piscou e naquele momento o arcanjo viu que a vida voltou para os seus olhos, isso ficou notável quando o sofrimento se manifestou em todo o seu rosto. — Maximus,— Ela sussurrou, abaixando seus olhos para não ter que enfrentar o olhar dele, mas fechando suas mãos em punhos para não ter que vê-las também.— Eu acho que tem algo de errado comigo.— — Olhe para mim.— Maximus pediu, se aproximando dela para conseguir o que desejava. E conseguiu, pois a única opção que Ellylan possuía era de encarar o seu peito nú, algo que ela não estava disposta a fazer.— Você é completamente errada, mas isso não significa que deva passar por isso sozinha.— — O que Edward disse...— A voz dela falhou e por um momento seus olhos encheram-se de lágrimas, mas ela afastou aquilo. A alma de Ellylan jamais se permitiria chorar na frente dele ou de qualquer outra pessoa novamente.— Ele disse que me tornarei um monstro.— — Eu não sei o que Edward quis dizer com aquelas coisas, Elly.— Disse a verdade.— A única coisa que sei é que você voltará para casa.— — Edward disse que vocês deveriam me matar.— Ellylan abaixou seus olhos, olhando para algum ponto fixo de sua garganta. — E se ele tiver razão, Maximus?— Maximus ignorou suas palavras cheias de agonia e pavor, envolvendo uma mecha de seu cabelo escuro para distraí-la, ele brincou com aquela parte de seu cabelo em suas mãos. Afinal, o arcanjo não poderia responder o que ela estava perguntando, pois se Ellylan virasse um monstro, como
Edward disse, ele a mataria para que não derrubasse seu reino e os de seus irmãos. Era para isso que ele foi criado, mesmo que ela o estivesse como alguém que nunca a traíria. O anjo também não desejava traí-la, mas se fosse preciso, não hesitaria, pois sua lealdade com seus irmãos vinha primeiro. Ellylan olhou para Maximus com a intenção de encontrar seus olhos, mas agora era o anjo quem manteve seu olhar desviado, olhando fixamente para a mecha negra entre seus dedos. Ele não precisava olhá-la para saber que tipo de reação estava tendo. E pior de tudo, era que Maximus não desejava saber o que ela estava sentindo, não quando corresponder estava totalmente fora de sua lista. Maximus se afastou brutalmente de Ellylan quando sentiu outra vibração forte no interior de sua mente, essa alma, no entanto, era tão impenetravél que era quase impossivel saber qual eram os sentimentos. Apenas a grande liderança era permitida ser sentida. Meridius entrou no quarto no minuto seguinte sem ao menos bater, mas dando tempo suficiente de Ellylan se recuperar da aproximidade de Maximus para depois se afastar dela como se estivesse fazendo algo completamente errado. E ele estava. Ellylan jamais poderia se iludir que poderia ter algo a mais com Maximus além de sua promessa que a protegeria de qualquer coisa. Promessa que nem ele mesmo tinha certeza se poderia cumprir. Todo o corpo dela ficou tenso quando viu Meridius se aproximar do banheiro com sua bochecha ainda suja de sangue devido ao ataque que sofreu depois de Edward e seus pregos, seguido por uma Niffie que sustentava um olhar cheio de preocupações. Em momento diferentes, ele diria para seu irmão mais velho que estava vendo fumaças saindo de sua cabeça, mas tudo que o arcanjo do inferno fez foi se colocar na frente de Ellylan depois de se virar para ficar de frente com seu irmão furioso. Niffie fez o mesmo que Maximus, ficando em frente do seu marido para que ele não fosse para cima de Ellylan. No entanto, o arcanjo mais velho colocou ambas mãos na cintura de sua esposa, uma posição que dizia que ele estaria pronto para tirá-la de sua frente a qualquer momento. — Ela,— Ele apontou para Ellylan que mal respirava em suas costas.— Irá fazer seus pontos agora. — — Pontos?— Ela perguntou confusa.— Eu preciso de pontos?— — Você não se lembra do que aconteceu?— Maximus perguntou, deixando de estar em sua frente para encontrar seu olhar.— Você atacou Meridius quando tentamos costurar sua pele.— — Eu ataquei Merid... O quê?!— — Sim, você me atacou.— Seu irmão falou em puro desdém. — Você quase mordeu Meridius, Ellylan, mas acabou apenas arranhando seu rosto.— Niffie disse preocupada devido a expressão que estava no rosto da única humana presente entre eles. — Oh...— Ellylan desviou seus olhos por causa do constragimento.— Me desculpe.— — Está tudo bem.— Maximus falou, colocando uma de suas mãos nos cabelos negros de Ellylan para bagunça-los. Todo o seu trabalho para tirá-la daquele surto que estava prestes a acontecer foi embora em questão de segundos por culpa de Meridius. — Não, não está.— Meridius resmungou, recebendo um olhar fuzilador de sua mulher. Eram raros os momentos que seu irmão mais velho se calava sob o olhar de Niffie, e quando acontecia, apenas demonstrava que ele ainda a respeitava. — Ellylan, venha comigo para fazer os pontos ou você continuará perdendo sangue.— Niffie disse
gentilmente, se livrando das mãos de seu marido que repousavam em sua cintura para se aproximar dela. No entanto, Ellylan olhou para Maximus como se ela precisasse de alguma permissão para seguir em frente com a esposa de seu irmão. — Vá.— Disse ele, tirando sua mão de seus cabelos lisos e negros.— Eu a encontrarei depois.— Depois que Ellylan deu um passo cauteloso para frente, Niffie a pegou por sua mão e a puxou para fora do banheiro até que estivessem saindo do quarto que pertencia a Maximus quando vinha até a dimensão de seu irmão mais velho. Ignorando o fato que suas asas estavam completamente sujas com seu sangue, pois sabia que Meridius não iria embora até que conversassem, o arcanjo do inferno passou por seu irmão até que estivesse no quarto. Ele aproveitou aquele momento para fechar o botão de sua calça e pegar uma camisa limpa dentro de uma das gavetas da comoda próxima a cama. Diferentes de seus irmãos, Maximus aprendeu como vestir suas tão complexas camisas feitas para acomodar asas. Ele não precisava de ajuda como Dimitrius e Meridius precisavam, pois seu orgulho foi muito grande a ponto de sempre ter que chamar alguma empregada para fechar os zípers internos que existiam no tecido logo a baixo de suas asas, fazendo sua camisa parecer mais uma armadura que devia ser montada aos poucos do que algo simples de se colocar. Normalmente os anjos possuíam servas treinadas para ajudá-los a fechar todos os zípers sem que tocassem suas asas, mas Maximus não gostava muito da ideia de precisar da ajuda para se vestir. Meridius, no entanto, dizia que essa era uma das poucas coisas que Niffie gostava de fazer junto com ele, então não via motivos para afastá-la disso. E Dimitrius, em quanto uma mulher bonita estivesse próximo a ele, o arcanjo jamais desejaria aprender nada. Maximus sabia que os olhos de Meridius estavam nele desde o momento que o arcanjo do paraíso o seguiu do banheiro, mas apenas se virou para seu irmão quando terminou de se vestir. — Não me olhe como se estivesse cometendo erros.— Avisou para seu irmão mais velho quando encontrou seu olhar. — Você é uma contradição, Maximus.— Ele falou.— Precisou que uma humana fosse jogada em seu reino para que voltasse a ser um lider, mas quando se trata dela você se submete a ter pregos em suas asas para protgê-la.— — Todos nós precisamos descobrir quem quebrou nossas regras e conhecimentos.— Maximus caminhou para perto da sua janela, mas não se virou para a paisagem que existia lá fora.— Apenas Ellylan pode nos levar a isso.— — E depois?— Meridius se aproximou.— O que acontecerá se não tivermos nenhuma opção de levá-la de volta para sua dimensão?— — Ela ficará.— — Não se esqueça das coisas que Edward disse, pois sabe que ele não estava mentindo.— Sim, aquele anjo não mentiu em nenhum momento, mesmo que estivesse tão insano.— Nós não sabemos o que acontecerá, mas ela pode se tornar algo extremamente perigoso.— — Então eu matarei.— Maximus falou aquilo sem nenhuma piedade.— Não crie problemas sobre isso, Meridius.— — Então não se apaixone por uma humana, Maximus.— O arcanjo do inferno encarou seu irmão por longos segundos antes de sequer pensar em algo para dizer. A ideia de se apaixonar estava longe de sua mente, mas não era assim que todos pensavam. O mais temido está caindo nas graças do pecado.
Maximus ignorou o que Edward disse quando a frase se manifestou em sua mente, pois aquilo podia ter vários significado. E se o anjo insano estivesse mencionando sobre os seus sentimentos quando se tratava de Ellylan, ele estava completamente errado. Maixmus jamais se apaixonaria por ela, mesmo que a considerasse intrigante. — Eu não me apaixonarei por uma humana.— Falou severamente o arcanjo.— Mas não poso fazer nada sobre o que Ellylan sente por mim.— — Seduza-a.— Meridius falou, capturando sua atenção quando Maximus não o compreendeu.— Use os sentimentos dela como uma forma mais fácil de chegar onde todos nós queremos.— — Meridius...— — Não me diga que não a acha bonita, principalmente quando os sons da alma dela é tão rigorosa quanto as nossas.— Seu o irmão o cortou rapidamente.— Leve-a para a cama e quando a humana se entregar totalmente a você, invada sua mente. E se isso realmente for importante para ela, Ellylan nem ao menos se lembrará.— — Isso não é o justo.— — Não.— Ele concordou.— Mas é a forma mais fácil do que ela se iludir sobre quem você realmente é. Aquela humana está o colocando como um herói ao invés de se lembrar que governa o inferno. Se ela descobrir tudo o que você já fez, Maximus... Toda a confiança que construiu irá desabar e vocês voltarão a estaca zero.— Meridius estava completamente certo sobre o que aconteceria com a confiança que existia dela para ele. Ellylan o via apenas como alguém que a protegia e quando pasasse o ver como o imperador do inferno, ela ficaria tão traumatizada quanto ficou ao ver o que aconteceu com Edward. — Pense sobre isso, Maximus.— Meridius voltou a falar.— Se permitir que ela saiba o que aconteceu, o que fez para conseguir invadir a mente dela, no minimo ganhará um coração partido, mas estará livre de viver nesse mundo que não pertence. E você mais do que ninguém conhece o sofrimento de alguém que não deseja viver no inferno.— Maximus concordava com tudo que Meridius estava dizendo, e não existiria nenhuma duvida do que fazer se tudo isso tratasse de outra pessoa, mas... Ellylan era diferente. O arcanjo desejava a confiança dela e não queria prejudicá-la de maneira alguma quando a presença dela o fez ver tudo o que estava fazendo para o seu reino... O anjo jamais poderia seduzi-la para seus fins e interesses, mas e para o próprio bem de Ellylan?
~ 15 ~ Ellylan se levantou da cama que estava sentada assim que Niffie terminou de costurar sua pele e fez um novo curativo. Sua vontade era de gritar por causa da dor e de até mesmo espernear em quanto chorava, pois aquela mulher tão louca por se casar com Meridius não usou nenhuma anestecia para amenizar a dor em quanto enfiava uma agulha em seu pescoço. — Você está bem?— Niffie perguntou, inclinando sua cabeça ligeiramente.— Humanos normalmente chorariam por causa da dor.— Sim, ela não imaginava o quanto Ellylan desejava chorar e esmurrar a cabeça daquela mulher por ficar tão calma depois de costurar sua pele. — Estou bem.— Ela preferiu ser educada, pois a verdade era que mais que sua vontade fosse de chorar, Ellylan se sentia seca por dentro para derrubar qualquer lagrima. Sua mente estava a mil com todas as informações que estava recebendo e tudo piorou quando Meridius com toda sua delicadeza falou que ela havia o atacado em um momento inconsciente. Elly não podia chorar quando tudo isso estava acontecendo. — Venha, Maximus está vindo buscá-la.— Ela falou abrindo a porta do quarto, mas não saindo. Aparentemente Niffie apenas a abriu para esperar Maximus. — Como vocês sabem quando alguém está se aproximando?— Ellylan perguntou, não contendo sua curiosidade. Ela podia facilmente pensar que era sobre aquela comunicação que existia mentalmente, mas duvidava que ela acontecia a qualquer momento. — Nós, seres divinos, podemos sentir vibrações das almas quando alguém está proximo. É claro que não se compara com o que os arcanjos podem sentir, pois eles podem ver nossas almas se desejarem, mas as vibrações que sintimos são únicas, assim como são as pessoas.— Niffie explicou. — As dos arcanjos são vibrações grandes que podem até mesmo prejudicar sua mente se não souber lidar com isso.— — Seres divinos? Então os demonios não se encaixam nisso...— — Não, definitivamente não. Afinal, as almas deles estão sob dominio de Maximus.— Disse ela.— Apenas Maximus pode reconhecê-los.— — Por que parece que Maximus possuí o papel mais importante?—— — Na verdade, aquele que realmente tem o poder mais importante é Dimitrius, pois é ele quem escolhe o lugar de cada alma quando os humanos morrem, mas é Maximus que governa o inferno. — Niffie disse com certa magoa em sua voz.— Ele foi criado para liderar a pior dimensão, não é como se sentimentos bons existissem constantemente em seu reino.— — E por que ele?— Ellylan perguntou.— Por que não Meridius ou Dimitrius?— Para Ellylan, o mais velho deveria herdar a pior parte de tudo e ela estava bem ciente de que o anjo loiro não era o mais velho. Além do mais, o modo como Meridius agia dizia que ele seria perfeito para governar o inferno.
— Porque Maximus possuí um coração por baixo de seus escudos.— Ela sussurrou baixo paraque ninguém a ouvisse.— Aquele que deve governar o inferno não pode se tornar o próprio mau, não pode fazer parte dele.—— — Meridius é o mais severo porque não deve ter piedade no mundo dos perfeitos, certo?— Ela adivinhou. — E Dimitrius não deve ter o medo de julgar.— Niffie concluiu.— A cada geração que passa, os imperadores das dimensões devem ter pelo menos um filho ou deixar na mão de um deles a responsabilidade de ter três filhos. Após o nascimento das crianças, são os anciões que devem escolher qual dimensão elas governarão, nada funciona de pai para filho. Os anciões mandam nos arcanjos como se eles fossem apenas servos.— — E você...— Ellylan não pode concluir sua pergunta, pois ficou hororrizada em pensar que o destinos dessas crianças eram traçadas antes mesmo de serem geradas. Ela não podia acreditar que Niffie aceitava isso. — Não.— Disse rapidamente.— Não desejo isso para meu filho e nenhum dos arcanjos deseja também. É exatamente por esse motivo que nenhum queria se casar para ter um herdeiro, mas nós precisavamos fazer isso por Maximus... Ele se esqueceu do verdadeiro motivo por ser o escolhido para governar o inferno e... Nós não sabiamos o que aconteceria com Maxi se algum ancião intervisse, pois isso nunca aconteceu tão cedo em um governo. Então, Meridius se responsabilizou em ter os três herdeiros para ajudá-lo.— — Vocês não se casaram por amor...— — Isso não importa.— Mas estava obvio que importava para ela.— Não em quanto os anciões estão em cima de Maximus, não em quanto não sabemos o que eles podem fazer.— A agonia em sua voz deixou Elly agoniada também.— Ellylan, os anciões podem fazer qualquer coisa. Se eles desejarem destruir o inferno por falta de um governador, é isso que acontecerá e Maximus corre o risco de ser alvo dessa destruição.— Ellylan não tinha o que falar naquele momento, pois parecia que tudo estava desmoranando para aqueles irmãos que pareciam ser tão unidos. Dimitrius fazia o trabalho de Maximus para que não corresse o risco do arcanjo matar todos aqueles que viviam em sua dimensão e Meridius havia tomado o pior caminho... Ele se submeteu a ter filhos e casar com alguém que não amava por causa de seu irmão. Assim como Niffie, que deveria viver uma vida cheia de sofrimento por causa dele. Agora tudo fazia sentido quando Patrick disse que a vinda de uma humana para uma das dimensões apenas perturbava Maximus... O arcanjo devia se sentir culpado por tudo o que estava acontecendo e a presença de Ellylan apenas confundiu sua mente, aparentemente. Tudo parecia horrivel, principalmente quando envolvia crianças inocentes em um destino terrivel. — Por que você ainda não engravidou?— Ellylan perguntou, pois parecia que Niffie e Meridius eram casados há muito tempo. — Porque crianças são raridades em nosso mundo, Ellylan.— Niffie se afastou da porta para ficar mais próxima de Elly.— Elas são como jóias preciosas, nossos presentes... E presentes não se ganham com facilidade.— Ellylan abriu sua boca para dizer suas próximas palavras, mas a fechou quando Maximus surgiu na porta já aberta. Sua expressão era tão fechada e sem sentimentos quanto o vácuo, assim como os seus olhos. Uma parte dela sentiu uma raiva imensa, pois ela teria que ignorar tudo o que havia acontecido entre eles no banheiro por causa disso. Novamente. E ela não precisava tentar falar com ele sobre aquele momento para saber que era isso que aconteceria. Afinal, foi exatamente isso que aconteceu quando ela tentou mencionar o abraço que ele deu nela naquele momento que sentiu que sua mente iria explodir.
— Venha, Ellylan.— Ele disse friamente.— Vamos embora.— Ellylan olhou para Niffie, a vendo movimentar sua cabeça para que ela fizesse o que o arcanjo pedia. Na verdade, essa era uma das poucas coisas que Elly desejava naquela momento. Maximus não podia se demonstrar tão cheio de sentimentos, a colocar em um nivel que demonstrava que se importava com ela para depois tratá-la como o nada. Não... Seja o que fosse que Maximus estivesse passando, Ellylan não tinha culpa disso. Ela nunca desejou estar no inferno para piorar essa crise que eles passavam e seu único desejo era que o anjo loiro superasse tudo o que acontecia, mas isso não queria dizer que iria virar um objeto que ele podia mover para qualquer lugar, como se ela não possuísse nenhum sentimento. Maximus não mostraria o melhor dele para depois destráta-la... Ellylan também possuía seus próprios problemas e nem por isso o afastou, pelo contrário, ela abriu seus braços para Maximus ajudá-la. — Não irei para nenhum lugar.— Ela disse, se sentando na cama que a pouco tempo estava para que Niffie fizesse seus pontos. — O que?!— Niffie e Maximus disseram em conjunto, mas em quanto a esposa de Meridius dizia em total surpresa, o arcanjo falava furiosamente. E esse era outro motivo para que ela não movesse nenhum musculo. Ellylan cruzou suas pernas e ainda lançou um olhar fuzilador para Maximus quando a raiva se manifestou em seu rosto. Ela havia gostado daquilo, de fazê-lo demonstrar seus sentimentos, mesmo que fosse o pior deles. — Bem, estou de saída.— Niffie falou passando por Maximus.— Eu já possuo uma relação complicada demais para observar outra.— A esposa de Meridius saiu do quarto e sumiu de sua visão em questão de segundos, fazendo com que a coragem de Ellylan se trincasse por um momento pelo fato de ter que enfrentar um Maximus furioso sozinha. Mas ela ignorou isso, pois o anjo loiro não tinha o direito de tratá-la daquele jeito quando Elly sabia que ele tinha a capacidade de fazer melhor. — Se você deseja ficar aqui,— Falou ele encontrando seu olhar.— Então que seja.— — Maximus!— Ellylan o chamou quando o arcanjo deu as costas para ela com a intenção de sair do quarto, estava obvio que ele jamais insistiria para que Elly fizasse tudo do jeito dele e ela realmente gostaria de acreditar que o anjo loiro não se importava com sua vida a ponto de largá-la em outra dimensão, mas isso não era verdade. Ele se importava em alguns momentos e isso era o que estava a machucando-a quando Maximus agia como se ela fosse apenas um de seus servos. Ela queria que Maximus a obrigasse a fazer tudo do jeito dele. Ellylan se esticou até a comoda que estava ao lado da cama para pegar um vaso de porcelana com desenhos azuis, depois de tê-lo em suas mãos, ela se levantou da cama para jogá-lo em direção de Maximus, mirando na parede já que sua intenção não era de acertar o anjo mesmo que sua vontade fosse essa. O vaso bateu contra o batente da porta com força e se transformou em milhares de pedaços antes de encontrar o chão, fazendo o silencio do quarto ir embora com o seu estrondo. Maximus se virou para Ellylan novamente e seu olhar dizia que ele não esperava aquilo. — Você enlouqueceu?— O arcanjo perguntou, caminhando com passos raivosos até que ele
estivesse em sua frente, com o peito quase colado com o dela.— Qual é o seu problema, Ellylan?— — Meu problema?— Ela quase gritou aquilo por causa da raiva.— Meu problema é você!—— — Eu imagino que seja o menor dos seus problemas.— Ele disse com deboche e com um sorriso falso se formando em seu rosto. A vontade de Ellylan foi de arrancar aquele maldito sorriso com as suas unhas. — Você age como se importasse comigo para depois me tratar como um animal, Maximus!— Era realmente dificil controlar o volume da sua voz quando tudo que via ao olhar para o rosto de Maximus era o nada. Ellylan queria chorar naquele momento, mas obrigou que aquilo sumisse. Ela não chorou por causa da dor dos seus pontos, então não choraria pelo arcanjo em sua frente.— Eu sou humana! E preciso saber se a pessoa que me protege pelo menos possuí algum tipo de consideração por mim...— — Não existe nada que eu possa fazer sobre isso, sinto muito.— Mas ele não sentia. E ela foi tola o suficiente em acreditar que Maximus poderia tratá-la daquela maneira que gostava... Deus, ele era o imperador do inferno em quanto ela era uma humana lhe causando problemas. Que tipo de coisa Ellylan esperava dele? Era mais fácil acreditar que esse homem frio que não demonstrava nenhum sentimento era o verdadeiro Maximus do que aquele que mostrava qualquer tipo de sentimento estranho por ela. — Vá embora.— Ela se afastou, abaixando seus olhos para não ter que encará-lo mais. — Você deseja ficar?— Maximus parecia ofendido agora.— Com Meridius?— — Você realmente se importa onde eu irei ficar, Maximus?— O arcanjo se afastou de Ellylan dessa vez, segurando seus olhos por um momento para mostrar que ele tinha muito o que dizer, mas não iria discutir com ela. O pior de tudo, era que Elly desejava discutir sobre o que estava acontecendo, ela queria saber o porque de Maximus a tratar como algo único para depois tratá-la apenas como um problema em sua vida. Mas tudo o que o anjo loiro fez foi sair do quarto sem dizer mais nada após se afastar dela, batendo a porta em suas costas com força até que as paredes tremessem. ____________ Ellylan ficou encarando a porta que o arcanjo bateu por um bom tempo, não acreditando que Maximus realmente a tinha deixado para trás. Ela estava muito ciente de que o anjo loiro jamais a jogaria em seus ombros e a levasse de volta para o inferno, mas Elly esperava um pouco mais do que recebeu. E essa reação de Maximus apenas provou que aquele abraço que aconteceu entre eles foi tão falso quanto a ideia de que o arcanjo poderia considerar ela mais do que uma peça que vai levá-lo até a pessoa que quebrou suas regras. — Idiota.— Ellylan sussurrou, abaixando seus olhos até o chão, não sabendo se o xingamento servia para ela mesma ou Maximus que acabou de abandoná-la quando disse que a protegeria de qualquer coisa. Ela deu alguns passos para trás até que estivesse sentada na cama daquele lugar que era tão grande, que nesse momento a fazia se sentir sozinha. E o pior de tudo, era que Ellylan estava sozinha e se iludiu sobre Maximus estar ao seu lado... Ela era tão idiota. E por que Maximus importava tanto? Ela chegou nesse inferno sozinha, sem nenhum pertence, e tinha a certeza de que saíria dessa mesma maneira que veio. Maximus não iria possuir nenhuma consideração por ela, ele jamais a trataria como Katherine. Ellylan era apenas um problema para ser
resolvido, não uma amiga. Seus abraços, seus toques e tudo que o anjo havia feito relacionado a ela não possuiam a intenção correta. Essa era a realidade que Ellylan deveria ter aceito desde o principio. Elly abraçou seus joelhos com força e após apoiar sua testa neles, ela permitiu que algumas lagrimas escapassem de seus olhos. Ela estava sozinha. E enlouquecendo. *** Ellylan estava sentindo frio, seu corpo estava gelado de um modo quase anormal e o vento não estava ajudando em nada para melhorar sua situação, ela se encolheu na cama na intenção de esquentar seu corpo com seus próprios braços, mas ao se movimentar apenas ouviu o som de folhas secas se partirem com um leve toque. Ela abriu seus olhos para poder entender o que realmente estava acontecendo para ouvir aquele som e sentir frio, pois era impossivel que em um quarto o som de folhas secas invadisse seus ouvidos após se movimentar. A primeira coisa que Ellylan viu depois de abrir seus olhos e piscar várias vezes para ter a certeza de que não estava sonhando, foi raizes de arvores antigas e grandes. Aquilo não era o quarto do castelo de Meridius. Ellylan se sentou rapidamente no chão coberto por folhas que se transformavam em farelho conforme seu movimento sobre elas, a primeira coisa que ela viu após fazer isso, o que a impediu de ficar em pé, foi o sangue que a sujava por toda suas mãos e roupa. O sangue já estava seco e poderia ser facilmente confundido com a terra que a sujava também. Ellylan levou suas mãos até seus cabelos para sentir os vários nós e folhas que estavam presos em seus fios negros. Ela abriu sua boca para respirar quando sentiu seus pulmões congelarem pelo medo e um pequeno gemido escapou de seus lábios. O medo estava a consumindo naquele momento, pois não se lembrava de nada do que havia acontecido para vir estar deitada no meio do nada. Sua mente estava tão em branco quanto no dia em que acordará no inferno, no meio daquela escuridão que mal podia se ver. A única coisa boa naquele momento era que o céu já estava ganhando um tom acinzentado pelo nascimento do dia, o que significaria que Elly não teria que caminhar na escuridão novamente. Mas ela também não conseguia andar, na verdade, nem ao menos pensar estava conseguindo ao ver o sangue seco que a sujava. Ellylan não conseguia pensar em mais nada além do que falaram sobre ela ter atacado Meridius... E se isso houvesse acontecido novamente? E se Ellylan tivesse atacado alguém sem forças para se defender? Mas cima de tudo... Por que isso estava acontecendo? Mate-a em quanto ainda não é um monstro. Tudo o que estava acontecendo fazia parte do que aquele anjo insano havia dito no dia anterior
antes de ser explodido? O anjo também disse que os humanos se transformavam quando trazidos para esse mundo, então... Essa era a única explicação concreta para tudo o que aconteceu. Talvez esse fosse o motivo por Elly não gostar da comida desse mundo e a cada dia que passava se tornava ainda mais palida. Esse podia ser o motivo por ter se sentido tão atraída pelo sangue de Maximus... Se Ellylan estivesse se tornando uma psicopata com dupla personalidade que atacava as pessoas para saciar sua vontade de ver sangue, a melhor opção era que Maximus a matasse, pois como ele mesmo disse em seu julgamento, Elly não era nenhuma criminosa para receber a morte como punição, mas aparentemente ela poderia estar se tornando uma. — Maximus.— Ela sussurrou com uma pequena dor se manifestando no fundo de seu coração. Antes de dormir, Ellylan não desejava vê-lo novamente, mas naquele momento o arcanjo do inferno era a única pessoa que ela gostaria de ver. Elly queria que Maximus a encontrasse novamente, da mesma maneira que a encontrou quando acordou no meio do nada. Mas Ellylan estava sozinha agora, pois Maximus havia a abandonado na dimensão de Meridius sem se importar no que poderia estar acontecendo em sua mente. Pelo que Niffie falou, ele podia sentir a alma de todos e o arcanjo deveria saber o quanto destruída ela estava... Essa foi a pior traição de Maximus, pois se ele prometeu protegê-la, por que o arcanjo não podia cuidar da alma dela também? Ellylan ignorou essa pergunta de sua mente que parecia insistir em culpar o anjo loiro. Na noite passada ela havia chegado a conclusão de que estava sozinha no meio de tudo isso e ficar sofrendo por causa das atitudes frias de Maximus não levaria Elly para nenhum lugar. Definitivamente não iria resolver nada culpar Maximus por sua aparente loucura. Ela se levantou do chão e sentiu uma dor grande por toda sua coluna, Ellylan apenas esperava que estivesse doendo pelo fato de ter dormido no chão e não por outros motivos desconhecidos. Ela não sabia para onde ir, principalmente quando olhava para os lados e só via apenas arvores grandes cheias de vidas, seu único plano era encontrar algum lugar para lavar o sangue de seu corpo e depois encontrar o castelo de Meridius. Afinal, Maximus não estava mais lá e o irmão dele podia muito bem matá-la como desejou desde o inicio, principalmente agora que ela tentou mordê-lo por motivos desconhecidos. Ellylan começou a caminhar lentamente, depois de tirar as folhas secas que haviam grudado em seu corpo e vestido, ela não possuía presa nenhuma de voltar para o castelo. Na verdade, Elly não queria voltar, mas também não poderia ficar sozinha naquele lugar tão solitário, mesmo sendo o paraíso, ela não conseguia confiar em mais nada além das palavras de Maximus. E bom, o anjo também estava começando a cair em seu conceito. Ela tentou usar os sons que aconteciam ao seu redor como um mapa para ter algum caminho definido em sua mente, seu foco era achar o som da água, mas como aquilo se demonstrou impossivel, ela apenas escolheu um caminho e seguiu em frente. Ellylan aproveitou aquele momento para observar todos os detalhes que existiam no tão desejado paraíso, vendo que não possuía muita diferença da dimensão de Maximus. É claro que ela havia visto apenas as boas coisas que possuiam no inferno até aquele momento e a vez que esteve no nível 2, foi suficiente para arrepiá-la completamente, mas uma das poucas coisas diferentes que ela percebeu, era que a natureza do paraíso possuía mais vida e a do inferno mesmo que estivesse completamente verde, a impressão era que sempre estava morta. E quando se podia fazer essa
comparação, era realmente triste. Em quanto caminhava, ela também pode sentir o quanto humana realmente era, e ficou feliz por isso ainda estar claro quando se vivia em um mundo onde explodir pessoas era completamente normal. Ellylan estava sentindo um frio que poderia fazê-la bater o queixo e mesmo que desejasse estar de baixo dos cobertores da cama quentinha do castelo de Maximus, ela gostou daquilo, de seu corpo lembrá-la que estava longe de ser qualquer coisa próxima aos demonios, arcanjos e tudo aquilo que ela já conheceu estando nesse mundo. Mas algo estava errado, pois Ellylan não precisava sentir essas coisas para saber que era humana. Ela era humana. Elly não conseguia entendar o por que de querer se lembrar tanto desse detalhe que parecia ser tão importante. Na verdade, apenas ela sabia o que realmente estava acontecendo para querer sempre sentir algo que a fizesse humana, mas não podia admitir. Ignorando seus pensamentos, Ellylan acelerou o ritmo de seus passos quando viu o fim daquela floresta, o fim de tantas árvores que a impediam de ter uma visão mais aberta de onde estava. Ela não correu, principalmente quando reparou que estava sobre um penhasco. Lá em baixo ela podia ver mais e mais mata, aquilo a desanimou de uma maneira que a fez querer se sentar e esperar que alguém a achasse, já que ela esperava pelo menos encontrar uma cidade ou algo do tipo. Ela passou pelas últimas árvores para observar mais de perto as montanhas verdes que se erguiam do outro lado daquele lugar, apesar de sua decepção, era uma vista bonita. Realmente muito bonita. Ellylan se virou para o outro lado, dando as costas para a visão que poderia lhe causar vertigem, ela sentiu uma ponta de raiva crescer imensamenta. Pois depois das árvores que havia passado, seus olhos encontraram uma das torres mais alta do castelo branco de Meridius, lhe dando a noticia de que ela havia pego o caminho contrario. Elly se virou frustrada, não querendo observar o seu erro de direção que ficou obvio ao encontrar aquele lugar sem arvores, pelo menos ela pode entender um pouco do por que Maximus viver no topo de um penhasco, aparentemente os imperadores das dimensões gostavam de viver no topo de tudo. Bom, Elly não podia discordar disso, pois os irmãos possuiam o poder para estar lá. Ellylan tentou focar seus pensamentos nos arcanjos quando sua mente insistia em levá-la para outro caminho, não tendo mais opção, se deixou levar para fazer a pergunta que estava a perturbando: Por que ela não pulava? Seu orgulhosa gritava que não, que isso a tornaria fraca e Elly não desejava ser fraca de maneira alguma, mas seu coração estava despedançando a cada momento que passava e sua mente estava se tornando louca... Além do mais, as cicatrizes em seu pulso diziam com todas as letras que sua vida no seu verdadeiro mundo não era boa, poderia até mesmo ser, só que Ellylan estava em um limite de que isso não importava mais. Haviam se passado apenas 11 dias que ela estava no inferno e não aguentava mais. Quanto tempo Elly teria que esperar para que Maximus a mandasse de volta? Quantas coisas ela teria que aguentar até lá? Na verdade, ela não aguentaria. Não com tudo o que estava acontecendo, não quando falaram que se tornaria um monstro. Em apenas alguns dias, o sangue já a sujava e isso a fazia ser parte do mundo dos arcanjos, ser parte do inferno... Ellylan não possuía a força para sobreviver tudo o que estava passando e isso fez com que sua mente a fizesse essa pergunta tão inutil, mas tão verdadeira.
Ela jamais pularia, jamais acabaria com sua vida por estar sofrendo em um mundo desconhecido, mas também não podia negar que a tentação era grande. Uma lágrima escapou de seus olhos, uma única traidora que teve a coragem que ela não possuía para se livrar do sofrimento de se sentir presa. Ela permitiu que aquela lagrima escorresse por todo o seu rosto até encontrar o chão, mas não deixou que as outras caíssem. Se Ellylan não podia acabar com sua vida tão insignificante, ela também não iria chorar. Ela podia passar por momentos inconscientes e estar suja de sangue, mas isso não significava que se jogaria do primeiro penhasco que encontrasse em sua frente em quanto chorava. Talvez seu desejo fosse esse e mesmo que tantas coisas negativas estivessem acontecendo, algo nela a fazia acreditar que algo bom aconteceria em algum momento. Isso era o único sentimento que a fazia permanecer imovel ao invés de caminhar para frente até não possuir mais nenhum chão a baixo de seus pés. Ellylan sentiu o vento se agitar em suas costas, fazendo com que seus cabelos cheios de nós voassem para frente de seus olhos e logo em segida o barulho de asas se debatendo invadiram o silencio daquela natureza bela e tentadora. Ela se encolheu minimamente quando ouviu o som dos cascalhos se manifestaram depois dos pés do anjo se movimentar. Ele parou no momento em que percebeu a tensão que o corpo dela emandava. — Se você pular,— Era a voz de Maximus, não fria, mas sim séria e cautelosa.— Eu a pegarei.— — Não irei fazer isso.— Elly sussurrou, olhando para baixo. — Mas é isso o que você realmente deseja.— Sim, talvez fosse. Ellylan estava aceitando qualquer opção para se ver livre do que estava passando. E ninguém poderia entender aquilo. — Eu estou sozinha, Maximus.— Ela não se virou para encontrar o olhar do anjo, não quando estava suja de sangue e se manter de costas para ele era a única opção de revelar isso.— Estou sozinha em um mundo que não me pertence sem ao menos lembrar quem eu sou. Você nunca me entenderá, eu sou apenas a sua regra quebrada que deve ser corrigida.— O arcanjo continuou em silencio e ela foi obrigada a fechar seus olhos e respirar fundo para não chorar devido a confirmação que veio dele quando não disse nenhuma palavra.— Você me matará se me tornar um problema, Maximus.— — Ellylan,— Maximus disse seu nome, se aproximando dela e a fazendo dar um passo para frente com a intenção de manter a distancia.— Vire-se.— Sem ter realmente uma opção do que fazer, Ellylan se virou como o arcanjo pediu. Ela tentou encontrar os olhos azuis dele quando fez isso, mas era impossivel quando Maximus olhava para o sangue que a sujava. Por um momento o arcanjo ficou sem ennhuma expressão em seu rosto, mas não por querer demonstrar algo, mas sim pela surpresa. Maximus não esperava que sangue a estivesse sujando, o sangue que não era dela. — O que você fez?— Ele perguntou acusadoramente, mas não a julgando. — Eu não me lembro.— Ellylan desviou seus olhos quando Maximus tentou encontrá-los, agora ela não conseguiria olhá-lo quando nem mesmo o arcanjo do inferno sabia o que estava acontecendo. Maximus deveria possuir todas as respostas. — Eu pensei que você tivesse ido embora.— Ela voltou a falar, olhando fixamente para as botas negras dele. Elly mudou de assunto para que não chorasse, sabendo que manter suas lagrimas presas não duraria muito tempo se ficasse tentando compreender o motivo de estar suja com sangue. — Não.— O som de um riso quase a fez olhar para cima, mas ainda assim era muito pouco para ter que enfrentar os olhos do arcanjo.— Eu não poderia deixá-la nas mãos de Meridius, ele
provavelmente a trancaria em uma cela e esqueceria de mandar comida.— — Você está dizendo que não me abandonou?— — Eu não poderia, Elly.— Maximus se aproximou dela antes mesmo que Ellylan tivesse a chance de se afastar, o anjo colocou seu dedo indicador em baixo de seu queijo para obrigá-la a encontrar os seus olhos. E de todas as vezes que o arcanjo se aproximou dela, essa parecia ser a mais verdadeira. Principalmente quando os seus olhos mostravam que era exatamente ali que ele gostaria de estar.— Você é minha para cuidar.— — Eu sou apenas um problema, Maximus.— Ela insistiu. — Sim, uma grande problema que irá me enlouquecer.— O anjo loiro sorriu ligeiramente.— E eu sei também que algo está acontecendo, coisas que você não quer me contar e que poderá ser motivos para lhe matar no futuro, mas antes que tudo chegue nesse nivel, irei fazer o meu melhor para ajudá-la.— — E isso é uma promessa sem consideração por mim também?— — Não, é o que eu realmente quero fazer.— Maximus disse.— Eu sou o imperador do inferno, não um anjo como os humanos pensam. Não exija meus sentimentos quando não posso dar mais do que tenho, Elly.— — Pare de me chamar de Elly.— Ela disse ao mesmo tempo que franzia o cenho. Afinal, se Maximus pedia para ela parar de exigir seus sentimentos, ele não possuía a permissão de chamá-la de uma maneira tão carinhosa. Ellylan estava pronta para dizer isso ao arcanjo quando um sorriso ironico cortou seus lábios.— Imagino que Elly seja melhor que Milady.— — Não, você não...— Ela tentou se afastar para demonstrar sua insatisfação com aquele apelido que Gate lhe deu e que havia chegado aos ouvidos do arcanjo, mas Maximus a segurou para que isso não acontecesse, ele colocou sua mão na cintura dela para segurá-la onde estava e quando isso não foi suficiente, o anjo repousou aquela que segurava seu queixo em suas costas. Todos os centimetros acabaram naquele momento em quanto os corpos de ambos se encaixavam, mas a única coisa que chamava atenção da mente de Ellylan era o calor das mãos do anjo loiro que eram capazes de atravessar o tecido de seu vestido para que ela sentisse em sua pele o quão quente era temperatura de Maximus. — Você está próximo demais.— Ellylan disse desesperadamente a única coisa que sua mente permitiu, procurando algum ponto fixo em sua camisa para olhar enquanto o arcanjo balançava sua cabeça negativamente ao mesmo tempo que ela falava. — Estou demonstrando meus sentimentos como pediu,— Ele falou, mas era o coração de Ellylan que estava fazendo mais barulho naquele momento.— Eu estou a protegendo.— — Me protegendo de que?— — De você mesma, que inconscientemente caminhou até a margem desse penhasco.— Maximus a respondeu, desviando seus olhos para o que existia atrás dela. Ellylan olhou por cima de seus ombros, vendo o quão próximo ficou a beira de cair sem ao menos perceber que estava caminhando. Ellylan que antes repousava suas mãos em seu peito para tentar manter alguma distancia, passou a segurá-lo em seus braços, pronta para agarrá-lo se fosse preciso. — Inconscientemente.— Ela repetiu a palavra, encontrando os olhos do arcanjo.— Eu acho que essa palavra é o meu maior problema.— — Você precisa me deixar entrar em sua mente, Elly.— O arcanjo murmurio.— Eu reciso entendêla para saber o que acontece com você.— — Eu acho que nem mesmo minha mente sabe, Maximus.— Uma certa agonia apareceu em meio aos sentimentos confusos de Ellylan. Ela apenas não sabia se era por causa de Maximus estar tão próximo e a segurando para não cair ou por outros motivos.— E você apenas a confunde ainda mais quando não se importa comigo e no minuto seguinte me segura para não cair em um buraco negro. — O anjo sorriu, um sorriso sincero que combinava muito com seu lado angelical.— Eu não sei lidar com os sentimentos que você me causa, não me culpe por isso.—
— E que sentimentos seriam esse?— — A vontade de matá-la é a principal deles.— O arcanjo deu de ombros.— Estou acostumado a ser tratado como um rei, ter cabeças baixas quando passo e, principalmente, não ter minha opinião discutida... Você não me trata como os outros.— — Porque eu não pertenço ao seu mundo.— — Qualquer humano se acovardaria em seu lugar, Elly.— — Nada disso é fácil para mim.— Ellylan encontrou aqueles olhos azuis perfeitos que estavam a fazendo se sentir tão segura quando o arcanjo podia facilmente soltá-la para uma queda nada agradável. — Não se preocupe.— Maximus falou, segurando o olhar dela com pura determinação e poder.— Eu irei tornar tudo isso mais fácil.— Sim, e ele poderia fazer isso. Afinal, o arcanjo estava a segurando na beira de um penhasco e nem ao menos a fazia sentir medo sobre a possibilidade de soltá-la, mas sua mente também não a deixava confiar completamente em Maximus, pois Ellylan tinha certeza que logo aquele anjo frio e sem sentimentos retornaria, pois era assim que Maximus funcionava. Ele sempre a magoaria de alguma maneira. Um arcanjo que governava o inferno nunca poderia agradar uma humana quebrada.
~ 16 ~ Naquele momento Maximus pode ver nos olhos de Ellylan o quão destruída ela estava e nem ao menos era preciso sentir sua alma para saber daquilo. Sua mente estava beirando para loucura por causa das coisas sem explicações que estavam acontecendo, o arcanjo sabia que ela jamais pularia quando a encontrou, mas também tinha a certeza de que era aquilo que a mente dela desejava. Nesse momento em que ele podia ver de perto tudo o que os olhos dela diziam, Maximus entendeu que Meridius estava completamente correto quando disse que um coração partido não seria nada comparado ao que Ellylan estava passando. Maximus precisava ajudá-la e não se importaria de fazer isso da pior maneira.
~ 17 ~ Ellylan atravessou o arco de pedras que a levaria para o inferno sem precisar estar nos braços do arcanjo, mas precisou agarrar o seu punho com a ideia de que a travessia só funcionou por estar junto com Maximus. Ela não entendia o que acontecia exatamente para ir de um lugar para outro atravessando apenas um arco, então não riscaria as chances de tudo dar errado quando não fazia ideia se tudo ocorreu bem com todas as pessoas que já o atravessou. E graças a esses poderes angelicais que ela nem ao menos conhecia direito, Maximus conversou com seu irmão mentalmente, avisando-o que já havia encontrado Ellylan e que estavam indo embora para sua dimensão. Elly percebeu que o anjo loiro estava fazendo tudo o que era possível para não encontrar Meridius em quanto ela estava suja de sangue, pois ambos sabiam que ele não aceitaria tão facil esse pequeno fato como Maximus aceitou. Ellylan apenas estava feliz por ter sido Maximus o primeiro a encontrá-la e não o arcanjo do paraíso, pois ela sabia que Meridius apenas a empurraria do penhasco ao invés de fazer o que Maximus fez. E bom, por mais que estivesse evitando pensar no por que de ter acordado no meio do nada e suja de sangue, Elly pode ver em meio dessa experiencia horrivel que Maximus era capaz de ser duas pessoas diferentes e era realmente uma pena que só agradasse a ela uma de suas personalidades. Porém, Ellylan mal estava conseguindo pensar sobre tudo o que aconteceu naquela manhã, pois além de caminhar toda a floresta para chegar até o arco de pedras que ficava ao lado do castelo de Meridius, Maximus a fez caminhar ainda mais quando chegaram no inferno. O anjo alegou que ela não poderia entrar em seu castelo suja de sangue, ainda mais quando as noticias corriam rapidamente para outras dimensões e tinha o risco de Meridius saber que Ellylan chegou completamente suja com sangue depois de passar uma noite no paraiso. E para evitar qualquer problema, Maximus desceu com ela até a praia. Ellylan mal conseguia respirar quando suas sapilhas negras passaram a tocar a areia e ela nem ao menos precisava falar as diversas pausas que eles tiveram que fazer em quanto faziam o caminho que os levaria até aquele oceano sem ondas. Maximus já estava ficando sem paciencia quando Elly parou pela quinta vez para reclamar que não aguentaria mais e quando o anjo loiro a olhou fuziladoramente, isso fez com que ela continuasse a seguir o caminho novamente e sem pausas para respirar. No entanto, todo o seu cansaço desapareceu quando Ellylan se tocou de que iria ter que entrar no mar, sendo que sua ultima experencia com a água não foi algo realmente bom. Maximus, que antes olhava para aquele oceano sem fim fixamente, se virou em sua direção quando percebeu que Elly já não caminhava mais para ficar próxima dele. — Não se preocupe, fique no raso e não terá o risco de se afogar.— Ele disse buscando os olhos
dela que dessa vez planejavam uma fuga para não ter que entrar nesse mar. — E os animais?— Ela perguntou.— Você disse que existiam animais gigantes dentro do oceano.— — Bem, pela lógica, esses animais ficariam bem a mostra se estivessem próximos de nós.— Maximus disse ironicamente, caminhando para ficar próximo dela.— Agora, tire seu vestido e entre no oceano.— — Meu vestido?!— Ellylan perguntou com seu coração indo parar em sua garganta, sentindo todo o seu corpo esquentar.— Eu posso entrar no oceano com ele.— — Não, eu irei queimá-lo.— O anjo falou sem brincadeiras.— E se não deseja que isso aconteça em seu corpo, tire-o.— Ellylan o encarou com uma expressão totalmente incrédula, não podendo acreditar que o anjo a fez caminhar até a praia para depois fazê-lo voltar quase nua. — Elly, não se esqueça que eu já a vi completamente nua, não faça disso um grande problema.— Ele decidiu lembrá-la desse infeliz fato, mas o que Maximus não entendia, era que Ellylan não se sentia envergonhada por ficar apenas com suas roupas intimas na frente dele, mas sim ter que entrar no castelo dele que existia soldados por todos os lugares com a falta de roupas. — Mas...— Ela tentou argumentar, mas Maximus arqueou sua sobrancelha de uma forma ameaçadora, sua expressão dizia que ele realmente estava falando sério sobre queimar o tecido em quanto o vestia.— Tudo bem.— Ellylan se virou de costas para Maximus e prendeu seu cabelo cheio de nós em um coque mal feito para que o arcanjo abrisse o zíper de seu vestido. Isso era o minimo que ele podia fazer quando exigia que ela ficasse quase nua em sua frente. Elly sentiu o arcanjo se aproximar sem precisar dizer uma palavra do que queria que ele fizesse, provavelmente muitas mulheres já haviam feito isso para que Maximus agissse automaticamente. Uma pontade de inveja surgiu dentro de Ellylan, pois sabia que todas as mulheres que estiveram na mesma posição que ela estava não era para terem seus vestidos queimados, mas sim para ter a melhor noite de suas vidas... Elly fechou seus olhos por causa do pensamentos, a repreendendo por pensar essas bobeiras idiotas. Ela não deveria sentir inveja do que Maximus faziam com suas amantes dentro de seu quarto. Muito menos desejar estar no lugar delas. Maximus tocou levemente a nuca de Ellylan com seus dedos quando pegou o pequeno ziper de seu vestido, ela teve que manter suas pernas firmes para não cair naquela areia branca que se misturavam com cascalhos quando seus joelhos a traíram. O arcanjo abaixou o ziper lentamente, a fazendo arrepiar todas as vezes que seus dedos raçavam sua pele das costas até que o vestido estivesse totalmente aberto. No entanto, quando ela esperava que Maximus se afastasse para lhe dar a privicidade que merecia, o anjo loiro não se afastou. Os centimentros que o separavam eram poucos quando ela precisava da distancia para tirar o seu vestido, mas como Maximus não havia se afastado, ela não seria aquela que faria isso para mostrar que se sentia incomadada com sua presença. Ellylan usou suas mãos para tirar as alças do vestido de seus ombros com movimentos lentos, se focando mais em respirar do que em sentir a presença de Maximus tão próxima, sabendo que ele estava acompanhando com seus olhos cada movimento dela. Ela permitiu que o vestido escorregasse por todo o seu corpo até que ele encontrasse o chão, se virando na direção do arcanjo logo em seguida ao mesmo tempo que dava um passo para trás. Maximus estava olhando para cada parte de seu corpo coberto apenas por suas roupas intimas, menos para os seus olhos. Uma chama explodiu em seus olhos azuis escuros e aquilo sim fez com que Elly ficasse um pouco constrangida.
— Não encare!— Ela exclamou com a intenção de recuperar o olhar do arcanjo, mas tudo que conseguiu foi ter os olhos dele presos em seus seios demoradamente, para depois encontrar seus olhos. — Por que não?— Maximus perguntou com ironia.— Eu não pude ver todos os detalhes na noite em que nos encontramos.— — E- eu...— Timing perfeito para não ter o que dizer, Ellylan!— Seu pervertido!— — Pervertido?— Maximus franziu o cenho ligeiramente.— Você me olhou da mesma maneira quando me encontrou sem camisa, então isso a faz uma pervertida também.— — O que?!— Ellylan perguntou com indignação pura.— Eu não olh... Vá para o inferno, Maximus. — Ela desistiu de sua frase para tentar ofendê-lo quando o anjo riu com a negação dela, porém, sua ofensa também não funcionou. — Você sabe que isso não é exatamente uma ofensa para mim.— — Então vá para o paraíso.— Ellylan falou a única coisa que parecia coerente, arrancando suas sapatilhas e o curativo que Niffie havia feito em seu pescoço para começar a caminhar em direção do mar, não podendo ignorar o som do riso do anjo loiro quando se virou de costas para ele, ela fez mais uma tentativa.— Imbecil.— — Você fere meu coração profundamente, Ellylan.— Elly decidiu ignorar Maximus de vez quando ficou próxima do mar a ponto de seus pés ficarem molhados por causa da correnteza que fazia aquela água ir e voltar em um movimento lento. Seu estomago se embrulhou em imaginar o quão fundo deveria ser esse oceano já que criaturas grandes o habitavam e esse pensamento infeliz fez com que uma historia de terror de começo ao fim passasse por sua cabeça em que a vitima era ela. — Tudo bem.— Ellylan sussurrou para si mesma, lhe garantindo que não se afogaria para depois se tornar jantar de algum monstro.— Caminhe até onde a água cubra seus joelhos.— Elly deu seus primeiros passos com cautela, principalmente quando aquela água estava completamente fria, mas seu medo de correr o risco de se afogar novamente a fazia querer voltar para areia e ficar perto de Maximus, onde sabia que estaria bem protegida. No entanto, isso não parecia combinar com ela e a ideia de ficar parada ao invés de caminhar em quanto o arcanjo a observava fez com que Ellylan chegasse logo em um nivel onde a agua batia em seus joelhos. Ela se abaixou para se lavar, mas sua real intençao era de esconder seu corpo dos olhos do arcanjo. Ellylan esfregou sua pele até que o único vermelho que restasse fosse a marca de suas unhas por usar força para tirar o sangue seco. E depois de certificar que nada mais sujava seu corpo, ela desfez o coque de seu cabelo e respirou fundo antes de jogar todo o seu corpo contra a água gelada, se levantando rapidamente logo em seguida quando a água salgada fez com que o hematoma em seu pescoço ardesse de uma forma que formaram lágrimas em seus olhos. Elly envolveu seus braços em volta de seu corpo quando o sol fraco não foi suficiente para esquentá-la em quanto caminhava para ficar próxima de Maximus, que estava sentado na areia. Ela aproveitou para observá-lo em quanto o anjo mantinha o olhar fixo no oceano, dando atenção para suas asas que ainda estavam manchadas com sangue por causa do dia anterior. Mas não foi isso que realmente chamou seu olhar, mas sim pelo fato delas estarem abertas e repousadas no chão em uma postura largada que não demonstrava a pose de rei que Maximus possuía em quanto mantinha seus joelhos flexionados e com seus braços apoiados neles. Naquele momento Maximus não parecia o arcanjo que governava o inferno sem piedade nenhuma, aparentemente o anjo loiro havia abaixado seus escudos em quanto observava o oceano que não possuía nenhum movimento, apesar de sua correnteza forte.
Ellylan se se sentou ao seu lado quando o arcanjo não fez nenhum movimento depois dela se aproximar, abraçando seus joelhos para esquentá-la e esconder um pouco de seu corpo. Aparentemente o arcanjo já havia feito seu trabalho de queimar suas roupas, já que elas não estavam mais lá. — Como estão suas asas?— Elly perguntou com certa preocupação devido a posição que elas estavam, Maximus não parecia do tipo que as deixava tocar o chão. E se o arcanjo estivesse sentindo dor, ela possuía culpa por isso. — Estou cansado.— Ele disse, a surpreendendo.— Você me fez andar muito quando eu poderia voar.— — Está dizendo que voar é menos cansativo?— Ellylan perguntou com curiosidade.— Eu pensei que voar fosse complicado demais já que você não me jogou em seus ombros e saiu voando.— — Minhas asas são mais pesadas que meu corpo, digamos que pessoas com asas não foram feitas para caminhar.— Ele disse. — Bem, eu não tenho asas e também não gosto de caminhar.— — Mas também não aceitaria a proposta de voar comigo.— — Não quando seu humor é tão instável que pode até mesmo fazê-lo me soltar!— Ellylan se defendeu, virando seu rosto para olhar Maximus abrindo um pequeno sorriso com a acusação dela, mas ainda observando o mar. — Sua mente constroem ideias muito engenhosas sobre mim, Elly.— — Muitas vezes ela está certa, mas pode facilmente se enganar também.— Ellylan respondeu, se movendo para tocar uma das asas do arcanjo em uma caricia nas suas penas macias e sujas, o fazendo finalmente olhar para ela.— Sinto muito por isso.— Maximus movimentou sua asa que Ellylan tocou, a obrigando tirar sua mão do lugar onde um prego o machucou no dia anterior, mas que agora só restava o rastro de seu sangue. O arcanjo colocou sua asa ao redor do corpo de Elly com a intenção de esquentá-la. — Minhas asas já passaram por coisas muito piores.— Ele disse, trazendo o corpo dela para mais perto do dele com apenas sua asa que estava ao seu redor. Ellylan pode ver nesse movimento o quão pesada realmente eram suas asas, e ela tinha certeza de que Maximus não usou muita força para fazer com que seu corpo ficasse próximo do seu. — Imagino que elas nunca foram atingidas por pregos por causa de uma humana.— Maximus sorriu, voltando seus olhos para o oceano novamente e movimentando sua cabeça positivamente ao concordar com as palavras de Ellylan, seus cabelos dourados que estavam jogados para o lado caíram sobre seus olhos por causa do lento movimento.— Considere-se uma novidade. — Ellylan escondeu seu riso abaixando a cabeça até que sua testa encostasse em seus joelhos quando ela ainda não estava preparada para presentear Maximus com algo que significava tanto. Seu riso era a única coisa bonita que lhe restava e não gostaria que fosse tirado tão facilmente. Maximus o veria quando realmente merecesse. — Maximus,— Ela disse depois de olhá-lo novamente.— Por que eu tenho a impressão de que você gosta do oceano?— — Não é sobre o oceano, mas sim o que ele representa para mim.— Maximus falou sem desviar os olhos daquele mar que parecia não ter fim.— É apenas sobre lembranças.— — Lembranças...— Elly sussurrou, desviando seus olhos do anjo para o chão, sentindo um pouco de inveja em seu interior por ser a única que não sabia exatamente o que era esse sentimento que Maximus possuía. — Minha mãe costumava trazer eu e meus irmãos até aqui para brincarmos quando eramos crianças,— O arcanjo disse de maneira vazia.— Esse momento era o único em que ela ria sem se preocupar com sua posição de rainha do inferno. Na verdade, esse era o único momento em que
podiamos ser crianças e ter uma mãe.— — O que aconteceu com sua mãe?— Ellylan perguntou ao invés de aproveitar o assunto sobre sua infancia para perguntar qualquer coisa que tivesse relação a isso. — Ela se tornou uma anciã, assim como meu pai e tios.— Maximus disse.— E quando os imperadores se tornam anciões, é o momento de suas vidas em que sentimentos não existem mais, apenas a vontade de fazer justiça sobre aquilo que é errado. No entanto, como eles não são mais capazes de sentir, a piedade não existe... E foi isso o que aconteceu com a minha mãe.— — Você ainda a vê?— — Não, já fazem séculos que não vejo meus pais.— Maximus abaixou seus olhos por um momento, como se estivesse tentando se lembrar quando foi a ultima vez que viu sua mãe.— Nem ao menos sei se ela já adormeceu.— — Adormeceu?— — Uma morte nada definitiva para os imortais quando eles não sentem mais vontade de viver... Eles apenas adormecem. É como uma morte já que eles nunca mais acordam.— Ellylan olhou para Maximus e mesmo que seus olhos não pertencessem a ela, Elly sabia que uma explosão de sentimentos estavam passando por eles. Ainda mais quando os escudos do arcanjo haviam sido derrubados naquele momento e seria ridículo negar quando o Maximus frio que ela conhecia jamais seria capaz de compartilhar algo tão importante. Um Maximus frio jamais falaria sobre sua infancia. Se livrando da asa que o arcanjo havia colocado ao redor de seu corpo com a intenção de esquentála, Elly apoiou suas mãos na areia para se aproximar de Maximus e quando o fez, tocou a bochecha do arcanjo levemente com seus lábios. O atrito de sua pele quente contra os seus lábios frios causaram agitação em seu estomago, mas não foi essa a pior reação que ela teve. A pior de todas foi querer beijá-lo novamente. Maximus movimentou sua cabeça ligeiramente para a sua direção, parando quando suas bocas podiam ter se encostado. Ellylan se afastou antes que isso acontecesse, se sentando novamente e voltando a se recostar na asa que estava fazendo um ótimo trabalho em esquentar seu corpo molhado. Maximus, no entanto, continuou a olhando com certa surpresa pelo beijo não esperado. — E para que foi isso?— O arcanjo perguntou de maneira carinhosa, com um pequeno sorriso brincando em seus lábios rosados. — Um obrigado.— — Um governador do inferno nunca está acostumado a ouvir essa palavra.— Maximus olhou novamente para o oceano, ficando sério de uma maneira que causou várias perguntas na mente perturbada de Ellylan. O anjo loiro ficou em silencio por vários segundos em quanto pensava e Elly apenas o observou. — Eu acho que isso é tudo o que posso dizer...— Ellylan disse.— Você tem feito coisas por mim que tenho certeza de que nenhum de seus irmãos iriam fazer.— — Meridius provavelmente a mataria de uma maneira bem dolorosa e Dimitrius a colocaria em uma maca para fazer alguma autopcia macabra.— Maximus riu ao falar de seus irmãos, abaixando seus olhos para finalmente encontrar o olhar de Ellylan.— Quem diria que o inferno seria o melhor lugar para se viver?— Ellylan abriu sua boca para dizer o que pensava sobre a pergunta ironica de Maximus, mas quando ela fez isso, logo a fechou. Maximus se levantou da areia antes mesmo que Elly tivesse a chace de dizer algo, no entanto, não foi apenas isso que o arcanjo fez. Maximus começou desabotoar sua camisa de botão a botão, fazendo com que Ellylan acompanhasse com seus olhos cada movimento que ele fazia para abrir sua camisa e quando seu peito ficou
totalmente a mostra, o único motivo para que Ellylan não ficasse babando foi por ter ouvido o barulho de zíper sendo aberto depois do arcanjo levar suas mãos para suas costas. Ellylan franziu suas sobrancelhas, não conseguindo entender exatamente o porque daquele barulho. — Não me olhe assim.— Maximus se aguaixou na frente de Ellylan após tirar sua camisa por cima de sua cabeça e mostrar que não era aberta apenas na frente.— Um anjo jamais usará roupas comuns.— — Você irá me explicar essa anormalidade?— Ellylan perguntou curiosa, pois nunca havia se perguntado como era uma camisa para acomodar asas. — Olhe.— Maximus virou sua camisa ao avesso, tendo a parte de trás dela o principal ponto. Alí existiam dois buracos grandes que provavelmente era onde suas asas se acomodavam, mas logo a baixo delas existiam ziperes que não podiam ser notados.— Esses zíperes são os responsáveis por manter a camisa fixa em meu corpo. Nossas camisas são feitas sob medidas conforme o tamanho de nossas asas, assim quando os ziperes são fechados não há nenhum risco delas ficarem grandes.— — Uau... Isso é incrivel.— Ellylan falou surpresa por nunca ter percebido a presença de ziperes em suas costas.— Eu nunca imaginei que suas camisas eram feitas assim.— Na verdade, sua mente nunca chegou ao ponto de se perguntar como eram as roupas dos anjos. — É realmente muito inteligente.— O arcanjo disse fechando os zíperes e colocando a camisa sobre as costas de Ellylan.— Porém, não cobrirá seu corpo como deseja.— Elly colocou a camisa do arcanjo da maneira correta, sentindo o ar invadir nos buracos em suas costas já que ela não possuía asas para preenche-los. Ela se levantou para fechar os botões, mas quando tentou fazer sequer movimento, o arcanjo já estava de pé em frente dela fazendo esse trabalho. — Para mim é o suficiente.— Ela sussurrou, não falando alto devido a aproximidade do arcanjo em quanto fechava botão por botão em uma velocidade nada rápida. Ellylan teve que engolir em seco quando sentiu o perfume de Maximus em sua camisa. Para acalmar seu coração que acelerou os batimentos de uma maneira anormal ela tentou contar até 10, mas acabou desistindo antes mesmo de tentar. Naquele momento, até mesmo respirar era perigoso e Elly tinha uma pequena noção de que o arcanjo já sabia do poder que tinha sobre ela quando se tratava desse assunto. E seu aroma... Ellylan não pode ignorar isso. Sua vontade era de tirar a camisa do arcanjo para poder sentí-lo melhor já que tudo que podia sentir era um suave cheiro de carvalhos que se misturavam com um leve almiscar de terra molhada. Natureza, essa era a única palavra que podia definir o cheiro de Maximus que estava impregnado em sua camisa. Ellylan se afastou com um passo após o arcanjo terminar de abotoar a camisa, se afastando para poder respirar já que ela segurou seu ar por um bom tempo para não ser torturada com o aroma do arcanjo em quanto estava tão próxima a ele. Maximus encontrou seus olhos logo em seguida do seu movimento, aqueles olhos azuis estavam cheios de chamas que podiam facilmente queimá-la ou esquentá-la. E era uma pena que Ellylan só pudesse escolher a primeira opção, pois ela possuía uma leve curiosidade em conhecer o coração do governador do inferno.
~ 18 ~ Quatro dias haviam se passado desde que Maximus foi até a dimensão de seu irmão mais velho com Ellylan para que Edward pudesse ver o rosto da mesma e tentar reconhece-la. No entanto, tudo acabou saindo do controle e parecia que um botão para que Ellylan se tornasse mais enigmática do que já era acabou sendo acionado nessa viagem de uma dimensão para outra. E durante esses quatro dias, o arcanjo do inferno teve que evitar Meridius com suas perguntas sobre o motivo de Ellylan ter sumido durante a noite e no dia seguinte ter encontrado uma família de coelhos mortos próximo ao local em que ela foi encontrada. Ficou obvio com essa noticia de que foi Ellylan que matou aqueles animais e tudo fazia mais sentido quando ela estava completamente suja de sangue quando foi encontrada, mas Maximus não conseguia entender o motivo dela ter matado animais tão inocentes. Meridius não sabia que Ellylan foi encontrada suja com sangue, pois seria fácil para ele juntar as peças daquele quebra-cabeça infinito assim como Maximus juntou, mas o anjo fez tudo o que era possível para que seu irmão mais velho esquecesse o assunto com a intenção de proteger Ellylan. E Meridius também não foi o único que Maximus passou a evitar com frequencia, Ellylan acabou entrando nessa lista quando deixou o anjo confuso sobre se realmente deveria iludi-la para conseguir chegar onde realmente ela desejava. No momento em que o arcanjo a encontrou, ele ficou decidido em seguir o conselho de Meridius, mas após o beijo que Ellylan lhe deu em seu rosto, toda sua decissão acabou se dissipando por causa da bondade evidente que existia no interior daquela humana que deveria sentir pavor ao estar ao seu lado. Maximus não conseguia imaginar como poderia ser capaz de quebrar o coração dela quando Ellylan não o via mais como um monstro. Maximus teve quatro dias para pensar sobre o assunto em quanto ouvia os choros de Elly durante toda a noite até que ela caísse em um sono profundo, ouvindo seu sofrimento, o arcanjo apenas conseguia pensar em uma opção das duas escolhas que ele possuía... Ele teria que seduzi-la como seu irmão disse, pois a maneira mais honesta de se fazer não os levaria a nada. Como se não bastasse, também haviam as palavras insanas de Edward em meio disso e os momentos inconsciente que Ellylan fazia coisas surpreendentes para uma humana. O arcanjo possuía uma leve sensação de que um relógio marcava a vida de Ellylan, mostrando que o tempo dela estava acabando e que logo se tornaria um “monstro”, como Maximus não sabia exatamente do que Edward falará e esse relógio continuava a marcar o tempo, ele teria que agir da maneira mais fácil, mesmo que Elly passasse a ódia-lo depois disso. E seu ódio não o surpreenderia, pois seria apenas uma questão de tempo para que ela caísse em si sobre quem realmente era o anjo. Maximus suspirou quando todos os problemas que estava passando se debateram com força contra sua mente, ele definitivamente havia sido treinado para lidar com tudo aquilo, mas nenhum dos antigos imperadores explicaram como lidar com uma humana que aparentemente estava passando a gostar até demais dele. E o pior de tudo isso, era que nenhum dos imperadores disseram com exatas
palavras como ele poderia deixar de se importar com uma humana e odia-la como todos os imortais odiavam. No entanto, em quanto tentava decifrar esse odio dos imortais pelos humanos, Maximus acabou parando para olhar pela janela do corredor que estava passando quando ouviu a voz de Ellylan vindo la de fora. Ela estava próxima da fonte que se encontrava no jardim do castelo, pegando várias flores que cresciam em volta dele para colocar na trança que havia feito em seus cabelos negros e lisos. Ellylan estava acompanhada de Marie e Morgan, que explicavam para ela o motivo dos cachorros do nivel 2 serem tão deformados e assustadores. Esse assunto não deveria ser falado para alguém que tinha medo de até mesmo entrar no oceano, mas Maximus não pode deixar de notar o interesse de Ellylan no assunto em quanto seu soldado e empregada falavam. O arcanjo não pode deixar de soltar outro suspiro ao pensar que essa noite Elly perderia seu sono completamente por causa dessa conversa, exatamente como perdeu quando Maximus decidiu brincar com ela para ver o quão corajosa podia ser. O arcanjo desviou seu olhar da janela quando sentiu Diane se aproximar, a permitindo ficar próxima dele para que pudesse ver o que o intrigou para deixar de seguir seu caminho naquele corredor. Os olhos escuros de sua irmã não demoraram nem um segundo para encontrar Ellylan lá em baixo, deixando obvio que ela sabia exatamente o que seu irmão mais velho estava observando antes. Um pequeno sorriso surgiu nos lábios de Diane após colocar um de seus braços em volta do corpo de Maximus para que o arcanjo pudesse abraça-la. Em nenhum momento os olhos escuros dela deixaram de observar cada movimento delicado que Ellylan fazia. — Ela realmente fica linda quando usa as flores para enfeitar os cabelos.— Diane disse para quebrar o silencio. — Você também ficava linda quando fazia isso, D.— Maximus falou para não fazer exatamente o que sua irmã desejava: concordar que Ellylan era a mais bonita de sua dimensão. Ela provavelmente ficaria eufórica se ouvisse o arcanjo admitir que achava aquela humana, tão facilmente quebravel, um mulher linda. — Sim, mas comigo você não podia imaginar uma longa historia de amor em um campo com sua amada caminhando ao seu lado em quanto o cheiro das flores de seu cabelo era uma forma de sedução para fazê-lo beijá-la.— Maximus olhou para Diane como se ela fosse uma aberração de outro mundo, usando uma de suas mãos que estava ao redor de seu corpo para empurrar sua cabeça para baixo e bagunçar seus cabelos castanhos em uma provocação. — Cala-se.— O arcanjo riu.— Agora você me fez imaginar tudo isso acontecendo com você.— — Bem, pelo menos antes você estava imaginando com Ellylan.— Ela deu de ombros em quanto arrumava seus cabelos.— Não tem importância se agora esta traumatizado.— — Eu não imaginaria uma vida romantica ao lado de uma humana, D.— Maximus bagunçou seus cabelos novamente depois que ela os arrumou para provocá-la.— Não perca seu tempo pensando bobeiras.— — Mas isso não significa que não se importa.— Diane falou, dessa vez se afastando para que o anjo não bagunçasse mais seus cabelos. Maximus voltou sua atenção novamente para Ellylan, que estava sentada na beira da fonte do jardim que dessa vez ouvia as historias de Morgan com o seu filho tão protegido. Sua irmã logo se colocou ao seu lado para poder compartilhar a mesma vista dele.
— Eu não deveria me importar tanto, não é mesmo?— O arcanjo perguntou em um tom baixo, tão calmo que nem ao menos parecia que Maximus tinha um certo medo de acabar se aproximando demais de Ellylan. — É primeira vez em séculos que você se importa com algo além de matar as almas do inferno, Maximus.— Diane falou seriamente.— Não espere que eu concorde com os metódos de Meridius para resolver o assunto dela... Todos nós sabemos o motivo do por que você ser o escolhido para governar o inferno.— Maximus olhou para a moldura da janela por um momento, fazendo questão de se lembrar do quão cretino seria ao seduzir Ellylan com a intenção de ajudá-la quando ele foi escolhido entre seus irmãos para governar o inferno pelo simples motivo de se importar com o próximo. Sim, seus pais estariam completamente orgulhosos dele nesse momento. — Desista,— Maximus se virou para Diane.— Ellylan é apenas uma humana que logo voltará para sua dimensão e se seu destino for permanecer aqui, em algum momento sua vida mortal irá acabar. Ela não server para mim.— — Claro, Ellylan aparece vestindo sua camisa e você quer que eu acredite nessas desculpas.— — Eu pensei que deixei claro ao falar que sua roupa foi suja de sangue quando Edward explodiu.— — Eu acho que você deveria parar de me tratar como idiota.— O arcanjo sorriu para sua irmã, notando como era natural fazer isso para Diane e tão complicado quando se tratava de outras pessoas. Maximus compreendia o motivo de ser fácil e não negava de maneira alguma que ele a amava mais do que qualquer coisa nesse mundo que ele conhecia. Haviam poucas coisas que o arcanjo não faria para sua pequena irmã, poucos motivos que não mataria por ela. — Você deveria ser uma boa irmã e não dizer coisas que me levam a crer que está tentando me apaixonar por uma humana.— Maximus deu enfase em suas palavras.— Sendo assim, posso tentar deixar de pensar em você como uma pequena idiota.— Diane o encarou com uma expressão rabugenta, sabendo também que era loucura que esperasse que um imortal se apaixonasse por uma mortal. Ela mais do que ninguém sabia que isso apenas traria problemas para Maximus. — Mas você não pode negar o que Ellylan sente por você.— — Eu não sei o que ela sente por mim.— Ele tentou botar um ponto final no assunto. — Oh, por favor.— Diane debochou.— Nesses ultimos quatros dias que você se manteve longe para organizar seu trabalho com as almas todas as vezes que ela o via seu coração humano disparava de uma maneira que podia ser ouvido do meu quarto, e devo ressaltar que não era por medo.— Maximus desejou virar em direção de sua irmã novamente, mas não virou, pois ela podia facilmente decifrar em seu olhar tudo o que havia conversado com Meridius. E se Diane descobrisse esse plano, ela faria qualquer coisa para impedir que isso chegasse ao ponto de se tornar uma realidade. — Não existe nada que posso fazer sobre isso, Diane.— — Seria um bom começo se você deixasse de ser um cretino insensivel.— Sua irmã murmurio e quando Maximus olhou para ela por causa do insulto, ela sorriu angelicalmente.— Estou falando sério.— — Eu também.— — Max, eu não quero que você se apaixone por Ellylan, pois sei que em algum momento ela irá embora ou morrer e isso causará seu sofrimento... Mas quero que entenda que não deve tratá-la apenas como uma “humana que irá embora”, você foi capaz de construir amizades com seus tenentes e amar Katherine de uma maneira como se fosse sua irmã,— Diane falou.— Tente fazer
isso por Ellylan também e essa será a solução mais rápida para quebrar os escudos da mente dela.— — Nós já conversamos sobre isso e eu concordei com você.— Maximus a lembrou. — E já se passaram dias desde que essa conversa ocorreu e não vi nada do que conversamos acontecendo.— Sua irmã desviou seu olhar em direção da janela.— Você prefere observá-la de longe ao invés de estar junto dela... Até parece que está tentando evitá-la.— E Maximus estava, pois o arcanjo precisava pensar sobre tudo o que Meridius e Edward falaram sobre Ellylan, e estar perto dela não parecia ser a melhor forma de racicionar sobre o assunto. Além do mais, ele aproveitou todo esse tempo para colocar seu trabalho de governador do inferno em ordem em quanto tentava entender o que significava os sete pecados capitais para aquele anjo insano que engoliu todos os pregos de sua cela. O único lado bom de tudo isso era que Maximus fez Dimitrius acreditar que ele realmente não precisava mais da ajuda dele para fazer seu trabalho em julgar os niveis em que as almas ficariam. Seu irmão mais novo reconheceu, assim como Diane, que o anjo que nasceu para reinar no inferno estava de volta e não tentaria mais explodir todas as almas como desejou na última vez pelo simples motivo de estar cansado. — Estive ocupado nos últimos dias.— — Bem, agora não está.— Diane falou com uma carranca.— Vá falar com Ellylan como alguém que recebeu uma boa educação.— — Não tenho nada para falar com ela nesse momento.— O arcanjo falou se afastando da janela para que pudesse continuar a fazer seu caminho no corredor que o levaria para o seu quarto, mas antes mesmo que tivesse a chance de passar por sua irmã, ela pegou uma parte de sua asa e cravou suas unhas bem afiadas nela, fazendo com que o anjo loiro congelasse no lugar. Diane fez questão de usar sua força naquele movimento, deixando que Maximus sentisse uma leve dor por sua irmã ter feito aquilo justo em uma parte sensível de suas asas. E aquela dor apenas aumentou quando ele se movimentou para encontrar os olhos escuros de Diane. — Vá falar com ela.— Sua irmã falou pausadamente após encontrar os olhos do arcanjo e Maximus viu naqueles olhos exatamente iguais aos de Meridius que ela usaria mais força se o arcanjo continuasse a fazer o caminho contrário do qual ela desejava. — Tudo bem!— Maximus disse quando Diane usou mais força em sua asa por causa do silencio, o soltando finalmente com sua resposta que a deixou satisfeita. Maximus revirou seus olhos por causa do sorriso que estampou o rosto de sua irmã quando ele estava se virando para pegar a direção que o levaria até Ellylan e não ao seu quarto. — Max,— Diane o chamou, mas o arcanjo não se virou, ele decidiu que era correto ignorá-la em quanto caminhava para sair de dentro do castelo e ir até o jardim.— Não esqueça de ser educado ou a próxima coisa que se afundará em suas asas será minhas laminas.— E ainda haviam pessoas que consideravam Diane uma dama dócil... Era realmente uma pena que as mesmas não estivessem presentes para ouvir suas ameaças ditas em um tom alegre. Morgan, Maximus contatatou a mente de seu soldado que estava junto de Ellylan após se afastar de sua irmã. Imperatore. Deixe Ellylan sozinha no jardim e leve Marie junto, Maximus pediu no mesmo momento em que o soldado o respondeu, E mantenha seu filho longe em quanto eu estiver com ela.
Vejo que não está no humor para compartilhar aquilo que é seu, Imperatore. Morgan disse em um tom de respeito, mas mesmo assim a provocação ficou clara em suas palavras. E eu vejo da onde seu filho puxou o humor masoquista. É um dom da nossa genética, Imperatore. Maximus decidiu ignorar o seu soldado da mesma maneira que ignorou sua irmã, parecia que todos no castelo haviam tirado o dia para fazer brincadeiras com o arcanjo, não temendo nem um pouco o que poderia acontecer com suas vidas ao provocarem um anjo que não deveria ter nenhum tipo de humor quando governava a pior das dimensões.
~ 19 ~ Ellylan não pode deixar de sentir uma leve raiva após sua conversa com Morgan e Marie ter sido interrompida por causa de Maximus, que se achou no direito de mandar seus empregados se afastarem dela quando resolveu que era correto conversar com Elly naquele momento depois de dias se mantendo recluso e mal falando com ela. O arcanjo apareceu no jardim em questão de segundos após Morgan e Marie entrarem no castelo, fazendo com que ela o olhasse fuziladoramente por decidir o momento que Elly tinha que conversar com ele sem ao menos se importar se ela desejaria ou não falar com o anjo loiro. E por mais que Ellylan realmente se sentisse feliz por ver Maximus caminhando em sua direção ao invés de apenas esbarrar por ele em algum corredor, seu orgulho não desejava conversar com o anjo nesse momento pelo simples fato dele ter passado a impressão de que estava evitando-a. Ellylan colocou uma pequena flor rosa que estava em sua mão em cima da borda da fonte e se levantou quando Maximus se aproximou e parou diante dela, a observando com seus olhos azuis escuros que estavam tão calmos quanto o oceano lá em baixo. Ela o encarou com pura raiva e esse sentimento apenas se intensificou quando viu que o arcanjo do inferno estava escondendo seus sentimentos em baixo daquela mascara de ferro. — Você não está mais fugindo de mim?— Ellylan perguntou ao cruzar seus braços em frente de seu peito. Se Maximus não mostraria seus sentimentos, ela iria provocar o anjo até que ele mostrasse algo que respondesse sua única pergunta... Maximus a evitou nos ultimos dias ou não? — Eu sou um arcanjo, não um anjo aproveitando seus dias em alguma dimensão.— Maximus respondeu no mesmo tom rabugento que ela usou.— Meu trabalho vem em primeiro lugar antes de qualquer coisa.— — Então vá fazer seu trabalho e me deixe fazer amizade com seus soldados.— Ellylan se virou para fonte, não querendo mais encarar os olhos vazios do arcanjo. Era realmente dificil aceitar aquele vácuo do nada quando ela mesma já havia visto chamas queimarem no fundo daqueles azuis perfeitos.— Eles foram muito mais comunicativos nesses quatro dias do que você já foi em todo esse tempo que eu estou presa aqui.— — Você está com raiva?— Maximus foi direto ao ponto, cortando todas as respostas mal educadas que Ellylan iria lhe dar quando rebatasse o que ela falou da mesma forma. — O que acha, gênio?— Ela se virou para não esconder o quão revoltada estava.— Você me ignorou todas as vezes que nos encontramos e não havia motivos para isso!— — Eu estive ocupado.— — Eu estive ocupado.— Ellylan repetiu em uma voz irritante.— Idiota.— Maximus franziu o cenho, por um momento seu rosto ganhou vida com as expressões que mostravam que ele não estava entendendo o motivo de Ellylan agir daquela forma. — Por que está tão brava?—
Ela revirou seus olhos, não podendo acreditar que o arcanjo simplesmente ignorou tudo o que havia acontecido entre eles há quatro dias para depois ignorá-la como se nunca tivesse demonstrado nenhum tipo de afeto por ela. Covarde... Essa palavra justificava muito bem o que Maximus era em relação a ela, pois não havia outras definições para uma pessoa que demonstrava preocupação e depois agia como se ela nem ao menos existia... O arcanjo do inferno simplesmente não sabia lidar com suas emoções e sua resolução era ignorá-las. — Eu poderia socar seu rostinho bonito nesse exato momento, Maximus.— Ellylan disse sem desviar o olhar, principalmente quando sua fala fez com que um sorriso nascesse no rosto do arcanjo. — Rostinho bonito?— Ele perguntou de forma ironica.— Você me acha bonito, Elly?— — Você realmente precisa de uma resposta?— Ellylan perguntou de forma incrédula. — Isso não importa.— O arcanjo disse de maneira que demonstrou que realmente não se importava com o que achavam de sua beleza, diferente de Ellylan que explodiria se alguém a chamasse de bonita nesse mundo em que ser humano parecia ser um grande defeito. Ellylan abriu sua boca para dizer algo sobre isso, mas Maximus franziu seu cenho e a fez desistir de qualquer coisa quando um certo brilho em seus olhos surgiu. — Eu tive uma ideia para que você pare de descontar toda sua raiva em mim.— O anjo loiro disse fazendo com que Ellylan arqueasse uma sobrancelha.. — Isso é simples, basta ser mais educado.— Resmungou. — Estou falando sério.— Oh, Maximus nem ao menos imaginava o quanto ela falava sério também.— E imagino que seja do seu próprio interesse.— — Estou ouvindo.— — O que acha de aprender auto-defesa?— Ele perguntou.— Além de ser uma humana, você nem ao menos sabe se defender e isso é algo muito importante para se viver no inferno, pois nem sempre eu poderei protegê-la.— — Você quer que eu aprenda auto-defesa quando misteriosamente eu apareço suja de sangue por causa do meu aparente sonambolismo?— Ellylan usou muito sarcasmo em sua frase.— Que tipo de psicopata você é?— Maximus suspirou, mas não deixou de segurar o olhar dela. Isso provavelmente era algo que um líder jamais faria diante de alguém que estava até mesmo a baixo de seus servos. — Você matou um animal que tentou machucá-la e seu inconsciente se sente ameaçado por Meridius, esse é um bom motivo para atacá-lo em quanto estava fora de si.— O arcanjo falou calmamente sem demonstrar nenhuma emoção.— Eu pensei que já havia deixado claro sobre o que aconteceu na dimensão do meu irmão.— — Eu não acredito em você.— E isso era um fato, pois por mais que Maximus fosse a única pessoa que confiasse nesse lugar, havia algo nele que não a permitia acreditar nessa historia de que um animal selvagem tentou machucá-la e ela acabou ficando suja de sangue quando revidou o ataque. Sobre Meridius, Ellylan concordava, pois era uma explicação que se encaixava perfeitamente na pergunta, mas sobre o motivo de ter sido encontrada no meio do nada suja de sangue... Isso já era outro problema. — Bem,— O arcanjo deu de ombros.— Você terá de acreditar quando eu estiver com uma lamina contra seu pescoço.—
— Então isso fará parte do seu plano para entrar na minha mente?— Ela perguntou sem surpresa. Afinal, era impossivel que o arcanjo realmente estivesse preocupado se Ellylan sabia socar alguém direito ou não, mas isso não importava, pois era um belo plano colocar armas ameaçadoras em meio disso para fazê-la deixar com que o anjo loiro entrasse em sua mente. Uma parte de Ellylan apenas desejava que Maximus quisesse quebrar seus escudos por vontade própria, para manter a mesma ligação que ele possuía com seus amigos e irmãos, não apenas para descobrir quem havia feito isso com ela para mostrar a todos que o arcanjo do inferno ainda estava no poder quando encontrasse e matasse a pessoa que a prejudicou tanto. Mas isso não importava, pois Maximus nunca desejaria que uma humana fizesse parte de sua vida. Eles eram de mundos diferentes e assim seria até o fim. — Acredito que seja impossivel completar esse novo plano usando vestidos.— Ellylan falou para não permitir que o arcanjo visse que algo a incomodava. — Seria minimamente curioso presenciar isso, mas você está certa.— O anjo disse com um certo brilho em seus olhos.— Eu irei providenciar tudo o que precisa.— — Tudo bem.— Ellylan concordou já que não possuía outra opção, mas não podia negar que o lado iludido dela estava inventando milhares de sonhos sobre como seria ter Maximus a ensinando se defender. Sua parte ainda mais iludida do que essa, estava imaginando um Maximus suado sem camisa e segurando uma lamina. Ela não podia acreditar que estava pensando nessas coisas em quanto o arcanjo ainda estava em sua frente e isso apenas fez com que demonstrasse o quão grande era seu nível de perversidade. — Ellylan,— O anjo loiro disse seu nome, a trazendo para o mundo real em que Maximus normalmente a evitava depois de demonstrar que se importava com ela. Elly encontrou os olhos do arcanjo novamente, seus sentimentos naquele momento não estavam sendo escondidos por sua máscara e isso fez com que sua mente falasse a ela que mais dias em que o arcanjo a evitava estava para vir.— Você me contaria se algo estivesse errado?— — Você contaria?— Ela rebateu com outra pergunta quando estava ciente de que o anjo sabia mais do que contava, Maximus apenas não imaginava que isso ocorria pelas duas partes. — Eu apenas quero que você fique bem.— Ele sussurrou baixo, permitindo que o som do mar contra as rochas lá em baixo fosse mais alto que a sua voz, como se o arcanjo não desejasse que ninguém ouvisse que ele se preocupava com ela. — Eu acho que honestidade fará com que todos fiquem bem.— Ellylan disse secamente, mais sobre o anjo esconder de todos naquele castelo que possivelmente ela não era somente uma humana para ele do que estar ciente que Maximus sabia muito bem o que aconteceu na dimensão de Meridius. O arcanjo movimentou sua cabeça em concordancia, desviando seus olhos de Ellylan por um momento para cima de seus ombros e os fixando no que existia atrás dela. — E é somente a honestidade que me permitirá entrar em sua mente.— Maximus murmurio, não olhando para ela.— Frederick está aqui.— — Ótimo.— Ellylan revirou seus olhos. Todas as coisas que ela estava fazendo para melhorar seus dias nesse lugar acabavam quando um idiota que trabalhava para Maximus aparecia e fazia alguma gracinha sobre ela ser uma humana e estar junto com o arcanjo. Elly estava começando a achar que eles não possuíam uma vida amorosa e seus esporte favorito eram enfiar o nariz na vida de Maximus. Respirando fundo, Ellylan se virou para ver o quão próximo aquele homem estava dela e do arcanjo. Naquele momento, um pequeno arrepiou dominou todo o seu corpo, pois o pior não eram
aquelas laminas em uma de suas mãos que já havia matado milhares de pessoas, e sim a expressão séria que Krueger carregava em seu rosto. Na primeira vez que ela o viu, ele parecia ter um humor parecido com o do Gate e Patrick, mas hoje estava demonstrando o contrário. — Maximus.— Ele disse assim que se aproximou, fazendo com que Ellylan ficasse ainda mais perto do anjo loiro devido ao tom sombrio do homem em sua frente. E para piorar, além de dizer o nome todo de Maximus, coisa que não fez na outra vez, Krueger movimentou sua cabeça em um sinal de respeito, assim como todos os soldados do arcanjo faziam.— Nós precisamos conversar.— Ellylan olhou para Maximus esperando pela ordem dele para que fosse embora com algum de seus tenentes, mas acabou encontrando seus olhos que a observavam com certa cautela pelo fato do arcanjo ter percebido seu medo depois de se aproximar dele por causa de Krueger. — Fale.— Maximus olhou para Krueger.— É uma questão de tempo para que todo o castelo saiba o que você veio fazer aqui.— Ellylan desejou rir pelo motivo de Maximus ser obrigado a aceitar as fofocas que rolavam soltas em seu reino, mas bastou um olhar para Frederick que essa vontade passou tão rapido quanto veio. Krueger movimentou sua cabeça novamente, colocando seus braços atrás de suas costas exatamente como um soldado fazia em frente de seu líder antes de começar a falar. — Na noite passada eu estava em um bar do nível 2 e os demônios daquele local falavam sobre um líder que iria derrubar os três arcanjos.— Ele foi direto ao ponto do que o trouxe aqui.— E o primeiro a sofrer esse ataque seria você, Maximus, sendo a sua humana o motivo da destruição.— Franzindo o cenho, Elly desviou seu olhar daquele homem com laminas em uma de suas mãos, não podendo acreditar que além de ser chamada de monstro, era considerada como a destruição da única pessoa que estava a ajudando. — Não é apenas isso... Existe algo mais, não é mesmo?— Maximus falou ao lado dela, não parecendo nem um pouco surpreso pela revelação. — Existe.— Krueger concordou.— Eles diziam algo sobre a busca de uma chave... Eu não sei sobre o que se tratava, mas parecia importante.— Maximus se movimentou ao lado de Ellylan, levando sua mão em direção de sua testa para coçá-la para depois soltar um suspiro que dizia muitas coisas. Um olhar para ele e foi o suficiente para saber que Maximus entendia muito bem o que era essa chave que Krueger desconhecia. E estava realmente obvio que era importante, pois o anjo não teve essa reação quando seu amigo disse que estavam tentando derrubá-lo. — O que você sabe sobre os sete pecados capitais, Krueger?— O arcanjo mudou de assunto rapidamente para evitar perguntas, isso estava claro quando usou um assunto que interessava Elly. — Imagino que seja o mesmo o que você saiba.— — Um anjo que se envolveu com humanos disse que Ellylan se tornaria um monstro e os sete pecados voltariam.— — Ela é uma humana e já é motivo suficiente para viver entre os sete pecados capitais.— Krueger concluiu.— Por que eles voltariam se isso faz parte da humananidade?— — Exatamente.— Maximus deixou seu ponto claro.— De qualquer maneira, continue investigando o nivel 2 para descobrir quem é esse líder e permita que os demonios acreditem que meu reinado vai acabar por causa de uma humana.—
Ellylan sentiu uma leve onda de magoa querer varrer suas emoções devido ao fato de ser rebaixada por pertencer a uma raça que aparentemente os imortais odiavam. E por Maximus. Mas isso não aconteceu, pois antes que tivesse a chance de fazer qualquer coisa, Krueger encontrou seus olhos, a fazendo congelar. Elly jamais imaginou que um chapéu fedora poderia deixar alguém tão intimidador, mas ela ficava seriamente com duvidas se era por causa de seu olhar ou uma mão com laminas que estava próximo dela. — Max,— Ele sorriu ironicamente, fazendo com que toda a tensão que existia nele sumir em segundos.— Você está cuidando muito bem de sua humana.— Maximus encarou seu amigo por um momento em silencio em quanto Ellylan esperava que o arcanjo dissesse que ela não era sua humana. No entanto, não foi isso que ele falou.— Talvez eu permita que ela o soque duas vezes dessa vez, Krueger.— Elly olhou para Krueger com um certo brilho de ironia em seus olhos e arqueou uma de suas sobrancelhas para mostrar que ela não fugiria se Maximus permitisse que isso acontecesse. Também não podia negar que ficou feliz pelo anjo a defender. — Sim, continue a mimando e chutando quem se é útil, Imperatore.— Krueger disse ironicamente e fazendo com que Maximus sorrise, deixando seu amigo ainda mais revoltado a ponto de lhe dar as costas e passar a caminhar.— Agora eu entendo aqueles demonios.— Resmungou em quanto ia embora. Ellylan esperou que Krueger estivesse longe o suficiente para se virar em direção de Maximus e fazer uma única pergunta que a deixou curiosa, ao fazer isso, não demorou nem um único segundo para encontrar aqueles olhos azuis tão lindos.— Você irá me explicar o que significa essa chave?— — Não.— O arcanjo a respondeu sem rodeios.— Mas eu quero que se junte a mim no jantar dessa noite.— — Você não manda em mim, Maximus.— Ela falou demonstrando sua raiva.— Ainda estou brava. — — Essa seria uma ótima oportunidade para fazermos as pazes.— O anjo loiro sorriu e o brilho da ironia em seus olhos acampanhou esse sorriso.— A menos que deseje que Krueger seja seu treinador, já que está com tanta raiva de mim, imagino que provavelmente não irá querer que a treine também.— Ellylan estava pronta para dizer algo realmente ofensivo sobre sua ameaça, mas acabou desistindo de suas palavras quando sabia que Maximus poderia colocar qualquer um de seus tenentes para treiná-la e nenhum deles teria a piedade dela como o anjo teria. — Nós jantaremos essa noite.— Ela concordou cinicamente para não esconder que estava revoltada com as atitudes do arcanjo, sendo essa sua única opção.
~ 20 ~ Observando de longe como Maximus e a humana conversavam no jardim, o lĂder soube que estava na hora.
~ 21 ~ Niffie estava com seus cotovelos apoiados no pequeno muro de segurança que existia em volta de toda sua varanda em quanto observava a noite calma daquele dia. Seu queixo estava repousado sobre suas mãos para deixar seus olhos fixos na lua em um céu sem estrelas, permitindo que a leve brisa movimentasse alguns fios de seu cabelo negro. Ela não podia negar de maneira alguma que estava preocupada com Maximus mesmo depois que quatro dias havia se passado desde que o viu. O irmão de seu marido estava passando por uma fase muito ruim para ter que lidar com uma suposta paixão nesse momento. E mesmo que levasse tempo para o arcanjo do inferno admitir que poderia gostar de Ellylan, isso já estava acontecendo. Maximus jamais se importaria tanto com uma humana nesse momento em que os seus sentimentos quase deixaram de existir dentro de seu coração. Niffie estava seriamente em duvida se Ellylan era uma ajuda para Maximus ou apenas uma perturbação que chegou para enlouquecê-lo ainda mais. Até agora ela podia dizer que viu que a humana havia ajudado o arcanjo a relembrar o que era sentir emoções, mas se algo ruim acontecesse com Ellylan, Niffie não tinha certeza do que aconteceria em relação à Maximus... Suspirando devido à quantidade de informações que existiam em sua mente, a imperatriz decidiu que voltaria a se preocupar com Max quando ele passasse a ver que Ellylan realmente era importante. E isso não demoraria muito, pois o arcanjo do tão temido inferno já estava confuso. Pelo menos ela estava fazendo sua parte para ajudar Maximus e isso a deixava tranquila em determinados assuntos, mesmo que naquele momento fosse praticamente impossivel engravidar quando sua relação com Meridius havia até mesmo congelado. Se já era extremamente complicado possuir filhos angelicais, era impossivel fazer isso com um casamento tão destruído quanto o dela. Um casamento que seu marido nem ao menos dividia a cama com ela. Algumas vezes Niffie permitia que sua mente voltasse para o passado e até mesmo concordava com as palavras de sua mãe do quão errado era casar com um arcanjo, que a vida que ela estava disposta a ter era cheia de sofrimento. Obviamente, nem sequer deu ouvidos à conversa dela por estar tão apaixonada por Meridius. E o que a fazia permanecer nesse castelo era pelo motivo de saber que o arcanjo do paraíso correspondeu esse sentimento também. Nos dias de hoje ela não tinha tanta certeza do que Meridius sentia, mas nos momentos em que o arcanjo permitia que Niffie visse seus sentimentos, era o mesmo que ver o um céu escuro cheio de estrelas brilhantes. Meridius ainda era capaz de demonstrar que gostava dela, mesmo que fosse poucas vezes. Esse era o motivo dela nunca desistir.
Niffie ouviu o som de asas se debatendo contra o ar fresco daquela noite até que ele se agitasse fortemente em suas costas a ponto de bagunçar seus cabelos. Ela não se virou quando deveria para ver Meridius caminhar em sua direção, Niffie apenas arrumou seus cabelos e continuou a observar a lua. Seu marido se aproximou dela em questão de pouco tempo, usando aquele muro da varanda como apoio para seu corpo quando decidiu não observar aquilo que Niffie olhava. Meridius estava silencioso demais para que ela falasse algo, então deixou que ele tivesse seu próprio tempo. No entanto, esse plano nem ao menos teve a chance de começar depois que o arcanjo do paraíso abriu suas asas em suas costas e tampou toda a visão de Niffie, a obrigando olhar para ele. — No que está pensando?— Ele perguntou em um tom sombrio olhando para frente, nem ao menos encontrando os olhos dela para fazer essa pergunta. — Que suas asas estão tampando minha visão.— Meridius olhou para ela com arrogancia, um olhar que Maximus havia puxado dele e que muitas vezes podia ser bem irritante. O que realmente importava, era que Niffie sabia lidar com o pior humor de seu marido e não era do modo que todos imaginavam, que ela baixava a cabeça para um imortal tão podereso... Não foi assim que ela conseguiu o coração de Meridius e nunca conseguirá novamente se agir como uma verdadeira dama. — E você?— Ela perguntou com ironia afiada, piscando seus olhos rapidamente em quanto inclicanava sua cabeça para o lado com a intenção de dar um leve ar de inocencia na pergunta. — Em Maximus.— O arcanjo disse com sinceridade e isso fez com que Niffie arrumasse sua postura rapidamente, pois se existia algo que quebrava todas as barreiras que existia em volta de seu coração, era quando o assunto se tratava sobre seus irmãos mais novos. — Eu também.— Niffie sussurrou, desviando seus olhos para a asa que tampou sua visão da lua completamente, se sentindo um pouco constrangida por ter agido de tal modo quando Meridius não estava bem.— Em tudo, na verdade, menos em uma forma turturosa de matar Ellylan como você pensa.— Meridius permitiu que um pequeno sorriso nascesse em seus lábios em quanto ele observava um ponto fixo na escuridão da varanda de Niffie. — Eu não a odeio completamente como todos pensam, apenas achava que a forma mais concreta de resolver o problema era matando-a. Humanos morrem e não deveria ser um grande caso desejar a morte de uma.— O arcanjo do paraiso cruzou seus braços em frente de seu peito e por um ligeiro momento Niffie pode ver seu cenho franzido que demonstrou as tantas duvidas que existiam em sua mente.— Mas agora, eu acho que aquela humana ajudou Maximus a ser novamente o que sempre foi. No entanto, não há respostas se ela o destruirá quando partir, seja da maneira que for.— Niffie não sabia exatamente o que dizer naquele momento para seu marido com sua mente perturbado, pois suas preocupações eram as mesmas que a dela. Então, era praticamente impossivel ela dizer qualquer coisa sobre assunto e consolar Meridius era algo que não funcionava com nenhum arcanjo. Usando sua única opção que possuia, que era fazer seu marido não pensar no assunto, Niffie tocou seu braço delicadamente com uma de suas mãos, recebendo o olhar do arcanjo imediatamente. — Eu não tive a opurtunidade de agradecê-lo depois de Edward e seus pregos.— Ela disse gentilmente em quanto sorria, sentindo todo o seu interior derreter pelo simples motivo de seu marido não ter se afastado quando ela o tocou. — Falhei com você quando permiti que um prego a ferisse.— Meridius falou ao mesmo tempo que
arrumava sua postura e fechava suas asas para ficar de frente com Niffie.— Então isso não é realmente importante.— — Foi apenas um corte.— — Em você.— O arcanjo do paraiso adicionou aquilo como se realmente importasse, levantando sua mão para tocar o lugar em sua bochecha que um prego havia a pego de raspão. Seus olhos marrons acompanharam seu dedo indicador que acariciou sua pele já curada há muito tempo. Niffie não pode deixar de sorrir, pois naquele momento Meridius estava agindo como aquele homem que a pediu em casamento apaixonadamente no passado. Esses momentos eram tão raros que ela já não sabia como agir, tudo que sentia era o mesmo que uma mulher apaixonada sentia quando tinha seus sentimentos correspondidos brevemente por seu amado. A diferença, era que Niffie já estava casada com Meridius durante muito tempo, sempre conseguindo e perdendo o amor de seu marido conforme o tempo. A imperatriz do inferno se aproximou de Meridius para quebrar todo o espaço que existia entre eles, ficando feliz por ter a mesma altura dele quando usava saltos, já que sabia que seu marido jamais se curvaria para aproximar seu rosto do dela. Niffie tocou os lábios de Meridius levemente com os seus, fechando seus olhos para saborear aquele momento, ela apoiou suas mãos no peito dele. Já fazia tantos dias desde que ela havia beijado seu arcanjo que nem ao menos se lembrava mais de quando foi exatamente a ultima vez. Niffie se afastou antes que ficasse tentada a aprofundar aquele beijo, se era para isso acontecer, seria Meridius a ter que dar o primeiro passo. Ela mordiscou seu lábio inferior assim que abriu seus olhos e viu aquele olhar marrom fixo em seu rosto, sentindo o gosto de Meridius em seus labios, Niffie estava pedindo para todos os céus que o imperador do paraíso se aproximasse dela. No entanto, nada era tão simples quando se tratava de Meridius. — Eu gostaria muito de passar a noite com você, Niffie.— Meridius falou calmamente.— Mas não posso.— — É claro.— Ela disse com certo desanimano, nada surpresa com a afirmação pelo simples motivo de estar acostumada com seu marido longe.— Está tudo bem.— No entanto, quando Niffie tentou se afastar de Meridius para entrar em seu quarto e se arrumar pra dormir, ele não permitiu que isso acontecesse. Ele a segurou por sua cintura com ambas as mãos para fixá-la no lugar que estava, a segurando de forma delicada para não machucá-la. — Maximus convoncou Dimitrius e eu para conversamos sobre sua humana nessa noite, aparentemente aquele psicopata com laminas nas mãos levou noticias interessantes a ele mais cedo. — O arcanjo do paraiso explicou em um tom baixo, olhando apenas para os lábios de Niffie. Seus olhos escuros encontraram os dela no momento seguinte em que alguns segundos se passaram depois de observar sua boca.— Você deseja me acompanhar?— — Não.— Ela foi sincera, pois não havia motivos para estar junto de Meridius e seus irmãos quando estariam tratando de seus problemas. Tudo bem que na dimensão de Maximus existiam inumeras mulheres que se rastejavam atrás de seu marido por atenção, como aquela empregada que quase a fez dizer sim para sua pergunta de acompanhá-lo, mas não havia motivos. Ficar em cima de Meridius apenas o afastaria, Niffie sofria com o fato de ter que esperar seu marido procurá-la para ter um relacionamento verdadeiro, mas essa era a única realidade existente. O que uma mulher poderia esperar de um arcanjo que era imperador do paraiso? Meridius foi escolhido para esse cargo pela falta de seus sentimentos, ele não era como Maximus.
— Tudo bem, imagino que isso seja o melhor.— Meridius disse sem alguma importância.— Eu voltarei amanhã.— O arcanjo do paraiso estava quase a soltando para seguir seu próprio caminho, mas acabou desistindo quando encontrou os olhos azuis de Niffie. Meridius se aproximou novamente dela e encontrou seus lábios em um movimento rápido, os pressionando juntos apenas por alguns segundos que significou uma eternidade à ela. — Até amanhã, então.— Meridius falou ainda próximo, se afastando apenas quando Niffie abriu seus olhos e viu um ligeiro sorriso crescer em seus lábios macios. — Até.— Ela sussurrou após o arcanjo se virar e caminhar novamente em direção dos muros que existiam em volta de sua varanda, não os deixando pará-lo quando chegou no limite que o separava de uma queda em meio a escuridão. Meridius foi para a dimensão de seu irmão mais novo sem nenhum problema em questão de deixar Niffie sozinha, mas no fundo, era assim que ela se sentia mesmo tendo o imperador sempre ao seu lado. No entanto, essa solidão hórrivel não foi capaz de fazer seu amor por Meridius acabar e essa foi sua maior prova de que aquele arcanjo era quem ficaria ao seu lado durante toda a eternidade. E ela lutaria por isso.
~ 22 ~ Ellylan estava se sentindo completamente traída e estava tão revoltada que não conseguia acreditar que Maximus havia feito algo tão ruim a ela. O pior era que o arcanjo estava ciente de que afetaria Elly quando colocou dois de seus tenentes juntos para protegê-la em quanto fazia compras com Diane. Claro, esse não era problema, pois nesse mundo que desconhecia tanto, ela preferia caminhar com a guarda de Maximus para todo lugar, mas não com Patrick e Gate juntos. Se separados ambos já eram terriveis, juntos eles se tornaram ainda pior. E tudo piorou quando Katherine apareceu. Na noite passada em quanto jantava com o arcanjo do inferno, ele mencionou que amanhã Diane estaria indo à dimensão de Dimitrius para comprar seu vestido de aniversario, comentando também que aquela dimensão era a que mais se aproximava do mundo humano, já que lá existia um comercio grande e até mesmo carros para os “angelicais” se locomover. O anjo loiro disse que seria uma ótima ideia acompanhar sua irmã mais nova para comprar roupas que agradassem Ellylan e um vestido para o baile dela. Até mesmo roupas para seu treinamento deveria ser incluído nessa lista. No entanto, quando Maximus se perdeu explicando como era a dimensão de seu irmão, ele esqueceu de falar que Gate, Patrick e Katherine estariam junto nessa pequena viagem. Tudo bem que os dois tenentes de Maximus serviram muito bem para carregar as sacolas de todas as compras, deixando Ellylan caminhar em frente deles para observar o quão perfeita era a dimensão de Dimitrius. É obvio que o paraíso também era algo incrível, mas não foi ele que fez com que Elly se sentisse completamente em casa. Essa dimensão, que ela não tinha certeza de como era denominada, parecia o seu mundo. A única diferença era que não existia casas, apenas mansões enormes e lojas ainda maiores. Mas ainda assim, existiam carros e pessoas que mesmo lindas com suas imortalidades, lembravam um humano. Tudo bem que existiam anjos voando em sua volta e até mesmo caminhando na mesma calçada que ela, mas por um momento Ellylan pode sentir como era estar de volta em seu mundo. Ela não se lembrava qual era a sensação de estar no mundo humano e estar caminhando em ruas cheias de carros com sacolas cheias de roupas. Isso fez com que ela se sentisse completamente feliz a ponto de nem ao menos se importou com Katherine e seu humor negro. Na verdade, ela nem ao menos estava se importando com a conversa indecente que Gate e Patrick estavam tendo logo atrás dela sobre as mulheres que passavam por eles, os olhando como se fossem mais bonitos que os anjos.
Tudo bem que os anjos que caminhavam ao invés de voar eram realmente bonitos, mas nenhuma mulher iria resistir à um homem moreno e outro ruivo vestidos de soldados. Ellylan apenas não babava por eles pelo simples motivo de saber que juntos eles formavam um único corpo de idiotas, mas também havia o pequeno problema de querer comparar a beleza de outros homens com a de Maximus, sendo o arcanjo do inferno sempre o vencedor. Infelizmente, a cada dia que passava Ellylan era obrigada a admitir que aquele anjo loiro estava afetando sua mente de uma maneira inaceitável. E era apenas fazendo isso que ela conseguia compreender o motivo de se sentir tão próxima do arcanjo, mesmo sabendo que sua presença era considerada um problema. — Vamos, pessoal.— Diane falou se virando em direção de uma loja feminina que eles estavam passando pela frente.— Vamos procurar algum vestido para Ellylan aqui.— — Eu não entendo por que tanta preocupação com um vestido para alguém que nem ao menos se demonstra animada para sua festa, D.— Katherine murmurio. — Kath, nossa milady precisa estar linda para Maximus.— Gate falou com um sorriso cretino em seus lábios, olhando para Ellylan que imediatamente o fuzilou. — Não é qualquer vestido que irá seduzir o arcanjo do inferno.— Patrick adicionou aquilo em quanto puxava a porta para que Diane e Ellylan entrassem na loja. — Ellylan precisa estar perfeita para Maximus!— Diane disse, seus olhos até mesmo quase brilharam quando em sua mente provavelmente estava passando um história de amor idiota. Elly desejou rir por todos estarem se referindo ao baile como se fosse mais importante para o anjo loiro do que para a aniversariante. E o estranho era que até mesmo a própria aniversariante estava querendo que Ellylan ficasse mais bonita que ela. No entanto, ela não riu, pois se fizesse isso, apenas confirmaria tudo o que estavam falando sobre o seu vestido. Um vestido que Ellylan nem ao menos se importava, ela já havia dito várias vezes para Diane que qualquer um em seu guarda-roupa estaria ótimo, mas a irmã dos arcanjos insistiu de uma maneira que fez o seu lado iludido despertar. Justamente aquele lado que Maximus era completamente apaixonado por uma humana. Ellylan suspirou após entrar na loja com vários estilos de roupas femeninas, ficando próxima das sacolas que Gate e Patrick haviam deixado no chão para se juntar a Diane em sua busca pelo vestido perfeito. O interessante era que até mesmo Katherine, que reclamava a cada passo, ajudava sua amiga entre as opções dos vários vestidos que Diane escolhia para Elly. No final, Ellylan tinha que experimentar todos os vestidos que eles escolhiam, até mesmo aqueles que não gostava. Em quanto eles faziam suas escolhas, ela olhava para todos os lados da loja com a intenção de assimiliar o lugar que estava com o seu mundo, apesar do lugar ser grande para acomodar pessoas com asas, Ellylan tinha a sensação de que a loja se parecia muito com as que os humanos construiam. Ela não tinha certeza devido ao fato de não se lembrar como era estar em uma loja do mundo humano, mas sabia que aquilo era o certo. No entanto, atrás dela seus olhos encontraram algo que chamou sua atenção. Uma lingerie da cor azul piscina com detalhes rendados em preto não era algo que deveria chamar sua atenção, mesmo considerando a peça muito bonita e ter um leve desejo de possuí-la, já que todas suas roupas intimas eram da cor preta, Ellylan viu que aquela cor era exatamente igual a dos olhos do arcanjo do inferno. Ela nunca havia encontrado nada que chegasse a ter a mesma cor do olhos de Maximus e isso fez com que toda sua atenção fosse daquela peça... Ou Ellylan era apenas uma pervertida que gostava
de ter lingeries da cor dos olhos de um homem atraente, as duas opções eram bem validas desde que ela mesma não se conhecia. Se contentando com a segunda opção para ficar com raiva de si mesma e parar de pensar no arcanjo de cabelos dourados em quanto olhava para uma lingerie, Elly virou seu rosto na direção dos outros que ainda estavam atrás de um vestido para ela usar no aniversario da irmã dos três arcanjos, mas acabou sendo pega de surpresa quando viu que Gate e Patrick haviam desistido da busca impossivel para se colocarem próximos a ela. Estava obvio pelo sorriso sarcastico estampado no rosto deles que ambos haviam visto Elly observar a lingerie que estava atrás dela, e isso fez com que ela se desse um tapa mental por ter se deixado ser tão obvia no que estava olhando antes. — Por que você está olhando para aquela lingerie tão bonita, Milady?— Gate perguntou, seu tom era tão ironico que podia matar qualquer um. — Será que você estava pensando em Maximus?— Patrick induziu com o mesmo tom de seu amigo, ambos se aproximaram de Ellylan para fazê-la se sentir ameaçada por ter dois homens tão grandes e perigosos perto dela. Ellylan os encarou com certo receio, pois não sabia exatamente o que dizer. Um lado dela estava gritando em alerta que se mentisse para eles, ambos iriam descobrir isso. Seu único plano após fechar a boca em um sinal de desistencia de palavras, foi olhar para o vestido que estava nas mão de Katherine, a pessoa mais próxima a ela. — Eu quero esse!— Elly falou ao passar entre Gate e Patrick, caminhando em direção de Katherine para pegar o vestido de suas mãos, que relutante, acabou desistindo. Ellylan não havia gostado do vestido, ele era bonito em sua cor rosa claro e um decote em V nas costas, mas não era algo que combinava com ela de maneira alguma. — Isso é meu!— Katherine disse com certa raiva, se colocando em frente de Ellylan quando ela tentou se mover para ficar mais longe dos rapazes. — Kath, esse vestido jamais ficaria bem em você com esse decote atrás, deixe-o para Ellylan.— Diane interviu.— Eu irei ajudá-la encontrar outro.— Katherine bufou com a ideia de dar o seu vestido para Ellylan, mas acabou desistindo após olhar para direção do enorme V que existia nas costas dele, se virando em direção de Diane para que ela ajudasse em sua busca pelo decimo vestido perfeito. Ela não podia negar que achou estranho Katherine desistir tão facilmente após ver o decote, mas não havia nada que pudesse ser feito agora. Elly olhou para Gate e Patrick, os vendo sorrir automaticamente com ironia apenas fez com que ela corresse para o lugar onde provavelmente existiria os provadores daquela loja. Ellylan tirou suas roupas e colocou aquele vestido após conferir se o tamanho de Katherine seria o mesmo que o dela, apesar de odiar a cor e o vestido, não havia ficado tão ruim. Aquele vestido serveria para sobreviver ao aniversario tão esperado de Diane. Ela não podia negar que estava nervosa em pensar que os arcanjos das dimensões estariam reunidos novamente, além de várias outras pessoas a encarando por ser uma humana em um lugar que não pertencia. Por um momento, mesmo que gostasse de Diane, Elly desejou ficar doente nesse baile para que nunca saísse de seu quarto. Suspirando e olhando uma ultima vez no espelho em sua frente, ela abriu a porta do provador para dar de cara com os tenentes de Maximus sentados no banco que ficava de frente com ela. A conversa baixa deles parou em questão de segundos após Elly aparecer e eles a observarem.
— Então?— Ellylan perguntou, levantando seus braços brevemente para que nenhum detalhe daquele vestido fosse escondido.— O que acham?— — Eu acho que a cor não combina com você, Milady,— Gate começou.— Mas está perfeito.— — Não vejo como Maximus não aprovará isso.— Patrick falou, fazendo com que Ellylan revirasse seus olhos. — Bom Deus, esqueça Maximus por um momento!— Ela disse com certa raiva, batendo a porta na cara deles para colocar suas roupas novamente. Ellylan se vestiu o mais rapido que pode, já estava cansada demais para dizer não ao vestido e ela sabia que se não escolhesse algo logo, Diane a levaria para várias outras lojas. Então, mesmo que rosa não a agradesse e muito menos a ideia de um decote em suas costas, Elly o levaria para voltar logo ao castelo de Maximus e ficar livre de Patrick e Gate com suas brincadeiras sobre o arcanjo do inferno. — Ellylan!— Diane disse radiante após ela sair do provador.— Não posso acreditar que você tirou o vestido antes de dar a minha opinião... Mas de qualquer forma, imagino que o seu vestido escolhido ficou perfeito em você.— — Meu vestido.— Katherine resmungou. — Kath, você já conquistou Dimitrius, agora é a vez de Ellylan conquistar Maximus usando um vestido bonito.— — Por que vocês estão falando tanto de Maximus hoje?— Ellylan soltou, não conseguindo segurar seu mal humor. — Porque ele provavelmente nos torturaria se soubesse que estamos enxendo sua cabeça com essas coisas.— Gate deu de ombros em quanto Patrick balançava sua cabeça em concordancia.— E ele não está aqui para ouvir.— Ellylan decidiu ignorar os dois tenentes que pareciam mais com crianças do que adultos que trabalhavam para um arcanjo, entregando o vestido para Diane, ela se afastou dos tenentes para ficar próxima da porta de saída e esperar pela irmã de Maximus. Katherine se aproximou de Elly após um tempo, provavelmente esperando por Diane também para que saíssem da loja logo em seguida, no entanto, diferente de todos, aquela mulher de nariz empinado não disse nenhuma palavra para puxar algum assunto e Ellylan ficou feliz, pois conversar com Katherine não estava no topo de sua lista e sua mente simplesmente parou de funcionar quando seus olhos encontraram a pessoa que estava prestes a entrar na loja. Uma mulher com asas. Ellylan ficou tão perplexa de ver um anjo do sexo feminino, que não pode conter sua boca de se abrir. Essa era a primeira vez que ela via uma mulher com asas, pois até então, ela imaginava que apenas homens possuíam asas. Elly olhou para Katherine, há alguns passos dela, curiosa para saber o motivo dela não ter asas, assim como Diane. Por algum motivo, Ellylan esperou que uma asa simplesmente surgisse nas costas daquela mulher esnobe. Por que Niffie, Diane e Katherine não possuíam asas? Afinal, Diane era irmã de arcanjos e Elly duvidava que Meridius iria se casar com alguém que um dia já pertenceu ao inferno... — Oh!— Aquela mulher de asas disse assim que entrou na loja e encontrou Diane que caminhava na direção de Elly, olhando para a expressão raivosa de Katherine logo em seguida.— A aberração do inferno está aqui na segunda dimensão e eu não estava ciente...—
Ellylan abriu sua boca para dizer algo bem interessante para aquela mulher com asas que acabou de chamá-la de aberração, mas demorou apenas um segundo para perceber que aquela pessoa não estava falando com ela. Na verdade, aquela mulher estava falando com Katherine e Diane. Provavelmente Katherine, pois ninguém deveria ter a coragem suficiente para ofender a irmã dos três anjos mais importantes que existe. — Vamos embora, Kath.— Diane disse em um tom autoritorio, olhando não apenas para a sua amiga, mas para Patrick e Gate que rapidamente fecharam a cara após aquele anjo do sexo femenino ofender Katherine. Elly não estava entendendo o que estava acontecendo, mas Maximus já havia dito uma vez que Katherine decidiu ficar no inferno por sofrer muito preconceito em meio aos angelicais por causa de seu estranho poder de fazer as pessoas virarem cinzas com apenas um toque. Isso era a única explicação para essa situação... Como Ellylan estava próxima da porta, ela a abriu para que Diane passasse com toda a sua dignidade que exclamava com todas as letras quem ela realmente era. Katherine, que não era ninguém, apenas empinou seu nariz e não olhou para a mulher com asas brancas que estava tão próxima quando ela estava saindo da loja. Gate e Patrick, já foram um grande problema com a descrição. — Bi...— Gate começou, passando pela porta que Elly segurava aberta, mas não terminando a palavra que iniciou. —... Tch.— Patrick terminou a palavra com puro cinismo, deixando aquela mulher horrivelmente ofendida. Ellylan não sabia o que aquela palavra significava, mas pela expressão incrédula daquele anjo feminino, devia ser algo realmente feio. Elly não pode deixar de sorrir por causa dos dois tenentes de Maximus, pois de uma forma totalmente estranha, eles estavam defendendo Katherine. Era obvio que nenhum deles iriam tirar suas armas escondidas em suas roupas e ameaçar aquela mulher com asas até que ela pedisse desculpas pelo o que disse, então usaram o único meio de justiça que possuíam. Para Ellylan, o modo como ambos agiram foi algo realmente interessante. Os tenentes de Maximus fizeram com que Elly os vissem não apenas como soldados, mas sim como parte dessa família tão estranha que os arcanjos formavam. Afinal, eles estavam defendendo Katherine que até agora não havia demonstrado nenhum pingo de bondade em meio de tanto rancor. E isso só podia ser coisa de família. No entanto, isso não era importante, não depois de Elly ter visto uma mulher com asas. *** Mais cedo, quando Ellylan voltou da dimensão de Dimitrius, a primeira pessoa que viu ao passar pelo portal e soltar Patrick, já que ela o agarrou com força para que nada de ruim acontecesse nessas transições, foi Maximus. O arcanjo loiro estava a espera deles, próximo ao arco feito de pedras que aparentemente possuía um caminho em direção do oceano, mas não era assim que funcionava. Elly, quando viu Maximus com aquele rosto sem nenhuma expressão, apenas ficou com mais raiva ainda. Ele não tinha nenhum direito de não demonstrar qualquer tipo de emoção depois de ter feito com que ela aguentasse Katherine, Gate e Patrick o dia todo.
Resmungando algumas palavras mal educadas, ela passou por ele sem ao menos olhar em seu rosto e agarrou Patrick novamente para que ele a levasse até seu quarto, já que não iria pedir nada a Maximus. Agora, que Ellylan estava deitada em sua cama enorme, com cobertores grandes para protegê-la do frio, ela percebeu o quão inutil foi fazer birra e despensar o pedido de se juntar ao arcanjo no jantar. Mesmo que ela odiasse aquela comida, essa era a primeira vez que Elly se sentia faminta. No entanto, seu sono era tão grande que ela nem ao menos conseguia manter seus olhos abertos e continuar pensando nessa fome que a fazia desejar comer algo que era completamente sem gosto.
~ 23 ~ Maximus não pode deixar de sorrir quando lembrou de Ellylan evitando o contanto com ele após atravessar o arco de transição. Ela estava tão revoltada por ter tido que aturar Patrick, Gate e Katherine que até mesmo teve a ousadia de xingá-lo de vários nomes ofensivos depois que se fechou em seu quarto. No entanto, o arcanjo não poderia ter evitado a presença de seus tenentes e Katherine. Patrick e Gate eram os únicos com um senso de humor adequado para acompanhar mulheres em compras. Mesmo sabendo que ambos eram terriveis juntos e que Ellylan havia sofrido ainda mais com a presença de Katherine, Maximus não poderia colocar qualquer outro de seus homens para cuidar de uma humana em um mundo de anjos. É claro que o imperador do inferno confiava em todos os seus tenentes, mas era impossivel colocar os gêmeos para cuidarem de Ellylan já que ambos odiavam humanos. Maximus sabia melhor do que ninguém que eles desejavam a morte dela, o arcanjo sabia que eles colocariam suas vidas em risco para que nenhuma gota de sangue de Elly fosse derramado, mas isso seria apenas por que ele desejou assim. Gate e Patrick fariam isso por gostarem de Ellylan, não apenas por ordens. Ellylan não conseguiu entender isso e por esse motivo, ela nem ao menos aceitou jantar com ele naquela noite, o que era algo realmente infantil. Mas isso não surpreendia Maximus, pois humanos possuiam a mania de terem momentos em que regressavam a fase em que chorar era considerado uma maneira de conseguir aquilo que desejava. O arcanjo suspirou com certa agonia, pois lidar com humanos era algo dificil, mas com Ellylan era ainda pior. Era aceitável que todos desejassem sua morte quando ela apenas causava problemas para sua mente que já estava muito perturbada devido ao tempo de sua vida. No entanto, era essa humana que todos queriam morta que fazia com que ele se sentisse um pouco vivo, que o fazia sentir todos os seus sentimentos que o fez o governador do inferno um dia. Maximus se sentou em sua cama, movimento suas asas para acomodá-las atrás dele e descansar seu corpo, já que era naquele momento em que o arcanjo deixava de sustentar algo mais pesado do que seu próprio peso. Já era tarde e pelas mentes que se desconectaram de sua ligação mental, todos no castelos já estavam adormecidos, menos os soldados que estavam de guarda. Ele apenas não podia dizer nada sobre Ellylan, já que ela possuía a mente que era a única em que Maximus não conseguia entrar, mas como ele não ouvia nenhum som vindo de seu quarto, pode deduzir que ela já havia adormecido e como o anjo não conseguia encontrar a vontade para dormir, ele preferiu se desconectar de tudo que acontecia ao seu redor, pois cada pequeno barulho, já era um motivo para deixá-lo alerta e dessa maneira o arcanjo jamais conseguiria dormir. Esse era o momento que ele considerava a pior parte de seu dia, pois se desconectar de todas as mentes que ainda estavam acordadas no castelo era algo muito dolorido. A única comparação que o
arcanjo podia fazer, era de adagas sendo arrancadas de sua carne. Não era dolorido quando todos adormeciam e automaticamente se desconectavam de sua mente, mas era totalmente diferente quando Maximus expulsava as mentes despertas de sua cabeça. E como ele mantinha essa ligação com todos os seus soldados, empregados e qualquer outra pessoa que morasse no castelo, isso sempre acontecia quando o governador do inferno se fechava em seu quarto para dormir. O único lado positivo disso, era que na manhã seguinte o arcanjo não sentia nenhuma dor ao ter todas as mentes novamente se conectando com essa ligação. Tudo parecia muito natural, como se elas já fizessem parte dele. Maximus se sentia curioso em relação em como isso funcionava com Meridius e Niffie, pois quando um arcanjo se casava, essa ligação de mentes se tornava eterna. Não havia maneira alguma de se desativá-la ou ativá-la, ela sempre existiria. E não era apenas Meridius que podia invadir partes sescretas da mente de sua esposa, Niffie também podia fazer o mesmo com ele. Se Maximus algum dia se casasse, ele não tinha nenhuma noção se conseguiria ficar bem com todos os seus segredos sendo revelados. Mas ele acreditava que se algum dia encontrasse uma mulher que se apaixonasse a ponto de se casar e ter essa conecção eterna, ter tudo o que aconteceu em sua vida revelado, não seria um problema. O arcanjo estendeu suas asas em um simples estalo e logo em seguida encostou suas costas em sua cama, colocando um de seus braços em frente de seus olhos para tentar amenizar a dor de expulsar todas as mentes de sua cabeça. Apenas três de vinte haviam sido cortadas da ligação e o arcanjo sentia as adagas muito bem afiadas sendo arrancadas de seu corpo perfeitamente. Seria muito mais simples se Maximus nunca dormisse, mas isso apenas provaria aos outros anjos e demonios o quão velho ele era. E querendo ou não, sua idade era uma fraqueza, pois quanto mais velho ficava, mais próximo de se tornar um ancião ele estava. E era nesse momento em que revoluções aconteciam em todas as dimensões já que o poder que antes era equilibrado se tornava confuso até que os reinos aceitassem seus novos lideres, os novos arcanjos. Todas as almas que existiam nas três dimensões, nunca poderiam saber o quão próximos ele e seus irmãos estavam de abandonar esse degrau de poder, pois eles teriam mais tempo para organizar uma guerra. E era isso que os demonios do nivel dois estavam fazendo, eles acreditavam que Maximus estava pronto para abandonar o inferno e por esse motivo começaram a organizar essa revolução. O que era uma tolice, pois ele planejava governar essa dimenção por mais séculos do que algum dia imaginou, mesmo que vários outros humanos fossem encontrados sem memorias e causassem apenas problemas. Maximus sorriu novamente, ainda com seus olhos fechados e com seu braço sobre eles, em quanto pensava no quão enganado estava. Afinal, nenhum humano seria igual a Ellylan. Ele duvidava que qualquer humano tivesse a audacia de derrubá-lo em um pantano cheio de barro que manchasse suas asas por três dias. Antes, o arcanjo apenas desejava a morte dessa humana tão complicada, mas agora ele apenas desejava que ela ficasse bem e voltasse para o mundo que pertencia. Uma pessoa igual Ellylan, não merecia... Um grito cortou o silencio de seu castelo e os seus próprios pensamentos. Um grito de Ellylan. O mesmo som que o arcanjo ouviu antes mesmo de saber quem ela era.
Medo. Maximus se levantou de sua cama e após abrir a porta do seu quarto para ir até Ellylan, o cheiro de sangue invadiu todo o ar. Elly. Derek. ele contatou seu segundo em comando assim que a mente do tenente se acendeu na ligação, uma única estrela em meio de uma escuridão infinita, que aos poucos foi acabando quando apareceram mais e mais estrelas conforme todos acordavam com o grito de Ellylan. O que aconteceu? Eu não cheguei até ela, Maximus. O arcanjo se amaldiçou amargamente naquele momento, pois voar em seu castelo era algo impossivel e infelizmente eram suas asas que o tornava mais veloz. Ele não pode fazer nada além de correr pelos corredores até chegar no quarto de Ellylan. Imperatore, a voz de Nyan, um doz gêmeos explodiu em sua mente, ela está bem. Mas um dos soldados que estava próximo do quarto dela está morto. Maximus não respondeu seu tenente, pois sua voz invadiu a mente do arcanjo assim que ele virou o corredor e se encontrou de frente com a porta do quarto de Ellylan, de frente com o horror que havia se tornado aquilo que todos chamavam de um local de descanso. O arcanjo não sabia para onde olhar exatamente, pois o soldado que Nyan mencionou que estava morto, se encontrava por todo o quarto. Não existia mais um corpo. Apenas sangue e pedaços que foram triturados para se tornarem pequenos. No entanto, existia algo a mais. Na parede de frente com a cama de Ellylan, existia a letra H pintado com o sangue do demonio que havia sido morto e estraçalhado, deixando os vestigios por todo o quarto. Maximus não pode deixar de franzir seu cenho após ver aquela letra que ainda escorria por toda a parede clara. E pelo cheiro forte do sangue, tudo indicava que ele ainda estava morno. O arcanjo fechou seus punhos ao mesmo tempo que suas palpebras se abaixaram para encontrar alguma calma dentro de si e não explodir todas as almas que residiam no inferno. Era inadmissível que alguém brincasse com um arcanjo dessa maneira. A ponto de matar alguém dentro de seu próprio castelo... — Não toque em mim!— Ellylan gritou em quanto chorava, fazendo com que o arcanjo abrisse seus olhos devido ao medo que existia em sua voz, devido ao incomodo que cresceu dentro dele ao escutá-la chorar novamente. Maximus virou sua cabeça em direção de Ellylan, ela estava encolhida no canto do quarto e abraçava seus joelhos fortemente a ponto de seus dedos ficarem vermelhos por causa da força que usava para deixá-los próximos do restante de seu corpo. Ela estava suja de sangue também e pedaços do que antes era um corpo estavam presos em seus cabelos negros e lisos. Nyan estava em frente dela, provavelmente seu tenente tentou acalmá-la quando a encontrou nesse estado e acabou apenas a assustando. Nyan, o tenente olhou para o arcanjo no mesmo instante que Maximus o chamou, vá e reuna os
outros para descobrir o que aconteceu aqui. Eu irei cuidar dela. Ela está traumatizada. O soldado disse em um tom frio, mas que mostrava que ele se importava pelo menos um pouco com o estado que Ellylan se encontrava. Diferente de seu irmão, que dificilmente demonstrava qualquer tipo de sentimento pelos outros. Nyan se levantou e antes de passar por Maximus depois de se afastar de Ellylan, ele curvou sua cabeça em um sinal de respeito e saiu do quarto logo em seguida, fechando a porta em suas costas para que ninguém atrapalhasse Maximus naquele momento tão critico em que uma humana se encontrava traumatizada pelo o que havia visto e pelo o que a sujava. Maximus suspirou, pois nem ele sabia o que deveria fazer, mas também não podia deixar Ellylan encolhida em algum canto chorando em quanto pedaços de um corpo ficavam presos em seus cabelos. Tudo o que o arcanjo fez, foi se abaixar em sua frente, elevando suas asas para cima para que nenhuma gota de sangue manchasse suas penas novamente. Mesmo sabendo que alguém estava em sua frente, Ellylan continuou com sua testa apoiada em seus joelhos, escondendo aqueles olhos azuis e suas lagrimas do arcanjo que ousou tirar um pedaço de carne que aos poucos escorregava em suas mechas escuras conforme os movimentos que o corpo dela fazia por causa de seu choro e até mesmo tremedeira. No entanto, Ellylan paralisou quando o anjo a tocou. — Elly.— Maximus sussurrou calmamente, tirando rapidamente aquela carne de seu cabelo para que ela não visse quando levantasse seu rosto para encontrar os olhos do arcanjo, mas o imperador do inferno acabou esperando por algo que nunca aconteceu. Uma parte dele sabia que ela jamais levantaria seus olhos para ver aquele quarto novamente, mas Maximus não sabia como lidar com uma humana nesses momentos quando considerava isso algo normal. Claro que fazer isso em seu próprio castelo era um pedido de sucidio, mas o arcanjo já havia visto coisas piores com o passar do tempo. Mas Ellylan não. Maximus colocou sua mão sobre a cabeça dela e ficou em silencio por um momento em quanto pensava no que poderia fazer para acalmá-la e tirá-la desse quarto, pois a opção de jogar Ellylan por cima de seus ombros estava completamente fora de questão e ele jamais colocaria na lista de opções a parte em que deixá-la inconsciente era uma boa ideia. — Você sabe...— O arcanjo voltou a falar, usando sua sinceridade para falar com essa humana já que deixá-la chorando não era a melhor solução.— Para mim, parece muito errado ouvi-la chorar com tanta frequencia.— Maximus franziu seu cenho ao mesmo tempo que sua boca se movimentava diversas vezes sem que nenhuma palavra saísse de dentro dela. O arcanjo não sabia o que estava dizendo e isso estava o deixando completamente confuso. Que os anciões os protegessem, pois tudo estava errado desde que Ellylan surgiu. Ele era um arcanjo e se encontrava em um momento em que ficar com uma humana traumatizada era a melhor opção do que se reunir com seus soldados e descobrir quem foi o responsavel por tudo isso. E para piorar, ele não sabia como consolar uma mulher. Maximus apenas conhecia todos os caminhos que levavam para a morte, não a felicidade... Maximus deixou que um risso amargo escapasse de seus lábios, mesmo que aquele não fosse um momento adequado, ele infelizmente não pode deixar de pensar em Dimitrius rindo dele e fazendo
piadas sobre ficar sem palavras por causa de uma mulher. E uma humana. — Isso não é fácil para mim também, Elly.— O anjo disse em um tom infeliz, pois sua frase não incluiu apenas o fato de não saber como tratar uma mulher quando chorava, mas sim tudo o que ele havia passado no passado e o que passava agora. Para sua sorte, seu tom fez com que Ellylan movimentasse sua cabeça para cima, foram apenas centimentros, mas foi o suficiente para que a agonia do arcanjo acabasse. Maximus abaixou sua cabeça, aproximando seu rosto do dela com a intenção de obrigá-la a encontrar seus olhos, para que não houvesse o risco de olhar para o que estava atrás dele. Suas asas faziam um ótimo trabalho em esconder o restante do quarto, mas fazê-la focar em um único ponto era o ideal. Ellylan encontrou seus olhos em questão de segundos, os olhos delas estavam vermelhos e suas lágrimas não paravam de escorrer, assim como sua tremedeira que não deixava de existir.— Hey.— O arcanjo do inferno sussurrou, aproximando seu rosto ainda mais quando ela tentou olhar para cima, Maximus teve que usar sua mão que ainda estava no topo de sua cabeça para força-la a não olhar para outro lugar além dele. — Maximus...— — Está tudo bem, Elly.— Ele disse calmamente.— Eu estou aqui para cumprir minha promessa.— Ellylan fixou seus olhos nos de Maximus naquele momento e seus lábios deixaram de tremer um pouco quando um pequeno brilho surgiu no fundo do olhar dela. Ela estava com tanto medo que tudo o que o anjo podia sentir das vibrações de sua alma era a escuridão que não parecia querer ir embora. Em movimentos lentos, Ellylan acabou soltando seus joelhos para se aproximar de Maximus e o arcanjo foi obrigado a se sentar naquele chão quando ela se moveu em sua direção para agarrá-lo com todas as forças que possuía. Elly passou seus braços ao redor do pescoço do arcanjo assim que Maximus flexionou um de seus joelhos para apoiar as costas dela quando ela subiu em seu colo. O arcanjo a segurou próximo dele, sendo isso a única coisa que poderia fazer quando ela mesma havia procurado o contato. E mesmo que as lágrimas de Ellylan escorressem por seu pescoço, Maximus não se sentiu nem um pouco incomodado por aquela posição que parecia tão intima... Sua vontade era apenas de protegê-la e têla tão perto parecia correto. Fazia tanto tempo que Maximus não possuía essa sensação de que estar próximo de alguém era a coisa certa que ele nem ao menos se importou com o sangue que sujava o cabelo de Ellylan quando apoiou sua cabeça na dela. — Eu não fiz isso...— Ela sussurrou com agonia, apertando seus braços ao redor do pescoço do arcanjo ainda mais para que ele não a soltasse.— Max... Eu não fiz isso.— — Eu sei.— Maximus murmurio sem ao menos desconfiar das palavras dela, pois em nenhum mundo um humano seria capaz de fazer algo tão terrivel como isso. E o arcanjo ainda podia sentir a alma dela, podia sentir todo o seu terror.— Você está segura agora, Elly.— — Eu não estou...— Ellylan chorou.— Eu vou morrer aqui.— — Elly.— Maximus a censurou da maneira mais carinhosa que podia, pois se ele a deixasse cair nesse buraco que estava se abrindo em sua alma, ela provavelmente nunca mais poderia sair. E o arcanjo não desejava isso. — Por que estão fazendo isso comigo?— — Olhe para mim.— Ele ordenou, dessa vez sem nenhum tom amigavel, Maximus falou aquilo como havia sido ensinado para falar com os demais que seriam seus servos. Como um verdadeiro rei. No entando, Ellylan acabou congelando por causa da rigidez em sua voz e ela se moveu com
certo medo para encontrar o olhar de Maximus. O arcanjo do inferno não gostou de vê-la com medo dele, isso era outro sentimento que ele iria ignorar futuramente, mas agora que Ellylan estava com seus olhos cheios de lágrimas, com suas bochechas molhadas e em seu colo, Maximus não conseguiria ser tão severo. Por mais ironico que fosse, Ellylan parecia ser a alma inocente daquele lugar onde todos já cometeram seus crimes. Maximus levantou sua mão até os cabelos negros de Elly e depois de colocar algumas mechas rebeldes que insistiam em tampar seu rosto atrás de sua orelha, o arcanjo do inferno acaricou sua bochecha molhada com a intenção de limpar as lagrimas que escorriam de seus olhos vermelhos e inchados. — Eu sou leal a você, Elly.— Maximus disse em um sussurro, prendendo seus olhos com os dela.— E um arcanjo nunca desconfia daqueles que já fez promessas.—— — Ma- Maximus... Você...— Ela chorou e quase nem ao menos conseguiu dizer seu nome. — Está tudo bem se você me chamar apenas de Max quando não consegue dizer todo meu nome.— O arcanjo falou, pois já havia percebido que Ellylan gostava de dizer em suas falas os nomes de todos aqueles que sabia, talvez isso fosse pelo fato dela não possuir um e achar todos os nomes bonitos. Mas agora que seu desespero era maior do que qualquer outra coisa, ela não conseguia falar nada direito e mesmo assim insistia em dizer o seu nome. Ellylan desistiu de qualquer coisa que estava tentando dizer e abraçou o arcanjo apertado novamente, suas mãos sujas com o sangue que estava por todo o quarto tocaram suas asas levemente já que essa humana não sabia como abraçar anjos. No entanto, quando ela teria evitado o contato com suas asas, Elly simplesmente ignorou. — Vamos,— Ele disse em tom calmo, mesmo quando sua vontade era de encontrar quem fez isso e rasgá-lo ao meio.— Vamos te tirar daqui.— Maximus se levantou e levou Ellylan em seus braços para que pudesse sair do quarto, sua intenção era de levá-la para um lugar mais seguro do que esse quarto, um lugar onde ninguém pudesse atingi-la. Imperatore. A voz de Derek se manifestou em sua mente friamente. Quais são suas ordens? Encontre quem fez isso, Maximus respondeu, e o leve até mim.
~ 24 ~ Ellylan abriu seus olhos lentamente, todos seus músculos imploravam para que ela se espreguiçasse, mas o que sua mente a pertubava para lembrar não a permitia sequer mexer um dedo de suas mãos. Assim que sua mente despertou, ela decidiu que era correto deixar essa lembrança de lado e o mais assustador, era que isso funcionou, mesmo que seu cerébro insistisse para que se lembrasse. Sua mente estava tão danificada a ponto de receber cada ordem dela e isso chegava ser mais medonho do que havia acontecido para deixá-la assim... Ellylan rapidamente se espreguiçou para que seus musculos relaxados retirassem essa memoria que não desejava acessar na sua mente, mas algo estranho aconteceu, pois quando ela estava acostumada a fazer isso todas as manhãs e ter suas mãos para fora da cama por se esticar toda, dessa vez nada disso aconteceu. Tudo deixava claro que ela estava em uma cama maior do que aquela que dormia e estava acostumada. Ela abriu seus olhos assim que sua mente a espetou com a lembrança de uma cama que era ainda maior do que aquela que estava dormindo desde que foi retirada de sua cela... A cama de Maximus. Quando seus olhos capturaram novamente a imagem que estava olhando fixamente, Elly conseguiu fazer junção delas com o lugar e então rapidamente se sentou na cama, levando o cobertor que estava sobre seu corpo, como se aquilo fosse um escudo muito útil. Ellylan encontrou os olhos de Maximus no momento em que levantou sua cabeça do travesseiro, aquele anjo loiro que estava sentado em uma cadeira, aparentemente esteve observando cada movimento dela desde que adormeceu nesse lugar que era seu quarto. Suas asas brancas estavam fechadas em suas costas e na borda de uma delas haviam pequenas manchas rosadas que indicavam que era sangue, o sangue que... Não. Elly, naquele momento, preferia perder suas memorias novamente do que ter que lembrar o que havia ocorrido e sentir tudo o que sentiu de novo. Ela não desejava passar por aquele buraco cheio de escuridão e solidão de novo. — Eu...— Murmurio, desviando seus olhos de Maximus quando percebeu que ele esperava que ela falasse algo, mas Elly não sabia o que falar.— Meu vestido está destruído.— Maximus franziu seu cenho por um rapido momento, algo que durou apenas segundos, mas que logo em seguida deu origem para o minimo de um sorriso quando os cantos de seus lábios se movimentaram para cima. — Depois de tudo o que aconteceu na noite passada... É com isso que se preocupa?— Ele perguntou de maneira fria, mas Ellylan sabia que Maximus deveria estar explodindo de ódio por dentro por causa do que havia acontecido em sua própria casa. O arcanjo do inferno deveria estar
mais do que ofendido. — Nada aconteceu na noite passada.— Ela sussurrou, olhando diratamente para seus joelhos dobrados em sua frente.— Nada.— — Nada.— Maximus concordou carinhosamente, algo que a deixou surpresa.— Você apenas perdeu seu vestido.— — Katherine irá me matar...— Ellylan falou, se lembrando do quão revoltada aquela dama metida ficou ao ter que entrar em várias lojas pelo motivo dela não achar nenhum vestido agradável. E ainda por cima, ela foi ofendida por uma mulher de asas... Lembranças do dia anterior... Um dia agradável que ela iria se agarrar. — Eu tenho uma pergunta para você.— — Elly...— Pelo tom que o arcanjo havia usado, ele havia voltado atrás sobre aquilo de ignorar o que aconteceu na noite passada, mas Ellylan não desejava falar sobre isso. Ela queria agir normalmente. — Não, Maximus, por favor.— Ela pediu, encontrando os olhos azuis do anjo loiro. Ellylan esperava que seu olhar convencesse Maximus, esquecer o que aconteceu era tudo o que ela precisava para não quebrar... — Tudo bem.— Seu maxilar se tornou uma linha reta e dura, mas o arcanjo do inferno respeitou seu pedido. Maximus se levantou de sua cadeira, movimento suas asas rapidamente para ajeitá-las em quanto andava até ficar próximo de sua cama.— Me pergunte o que deseja.— — Eu vi uma mulher com asas.— Ela murmurio, pois quando o anjo se aproximou dela até onde a cama permitia que ele caminhasse, Elly viu que existia algo diferente nos olhos de Maximus. Naqueles azuis iguais a uma piscina, não existia mais o eco do vacúo, mas ela não podia dizer que sentimento existia ali. Isso se fosse um sentimento, pois vindo dele poderia ser qualquer coisa. Talvez fosse toda a ira que ele estava sentindo se manifestando em seus olhos, essa era a única explicação. — Você quer saber o motivo de Diane, Niffie e Katherine não possuírem asas.— Maximus adivinhou sua pergunta, suspirando brevemente antes de se virar e novamente se sentar. Dessa vez, se sentando na beira da cama e deixando que suas asas tampassem toda a visão dela. — Sim.— — Nas dimensões, existe uma raça chamada Angelicais.— Maximus disse calmamente.— Eles são frutos de um relacionamento de dois anjos.— — Espere...— Agora Ellylan havia ficado confusa. — Anjos não podem dar a vida para outros anjos.— O arcanjo continuou, a ignorando.— Anjos só veem ao mundo quando um deles se relaciona com um angelical.— — Mas Diane,— Ellylan franziu o cenho.— Ela é sua irmã... Diane se parece com Dimitrius e Meridius, o único que não deveria fazer parte dessa família é você.— Maximus abaixou uma de suas asas na cama para que pudesse encarar Ellylan depois que ela terminou de falar, uma carranca feia foi exposta em seu rosto. — Eu não me ofenderei por causa disso.— Ele comentou.— Mas sim, Diane é minha irmã, mas apenas por parte de pai.— Demorou vários segundos para que Ellylan percebesse que ela estava, literalmente, de boca aberta.
Era realmente dificil acreditar que Diane não fazia parte dessa família quando se parecia tanto com seus outros irmãos. — Seu pai...— — Não foi fiel à minha mãe.— Maximus concluiu a frase dela, sem demonstrar qualquer sentimento. Parecia que o arcanjo já era conformado com isso a ponto de nem ao menos ligar. — Sinto muito.— Ellylan murmurio, encontrando os olhos do anjo em sua frente para mostrar que ela realmente sentia por isso. Não deveria ser algo fácil lidar com uma traição que envolvia toda a familia. Mesmo que não se lembrasse o que era esse sentimento, deveria machucar muito. — Minha vida sem Diane não seria a mesma se meu pai tivesse sido fiel.— Maximus falou.— Então, não sinta.— Agora Ellylan entendia o motivo de Maximus parecer tão conformado e ela não tirava sua razão. Diane era uma pessoa muito carinhosa e amável, talvez seus irmãos fossem piores do que eram atualmente se o pai dos arcanjos tivesse sido fiel como esperam quando se trata de casamento. Mesmo assim, esse assunto era descontável. Era algo pessoal que o anjo loiro não deveria compartilhar com uma desconhecida com tanta facilidade. Como eles diziam... Com uma humana. Ellylan precisava mudar de assunto e foi isso o que ela fez com a primeira palavra que veio em sua mente.— Esses angelicais... Eles possuem poderes como vocês?— — Não, apenas a imortalidade.— — Mas Katherine...— Maximus sorriu, um sorriso que a surpreendeu quando nem ao menos havia terminado sua frase, mas ao vê-lo daquela maneira, com seus olhos pequenos e com uma expressão que a fazia lembrar de um pequeno leão, Ellylan nunca poderia pensar em como terminar sua frase. — Eu fico surpreso o quão esperta você pode ser, Elly.— Ela deu de ombros, nem ao menos sabia se estava recebendo um elogio ou sendo ofendida.— Eu não tenho uma vida para cuidar, então observo as dos outros.— O sorriso do arcanjo apenas aumentou, mas ele não mudou de assunto.— Katherine... Ela é uma raridade.— Ele disse de forma calma.— Ela nasceu de dois anjos, mas não como uma angelical. Kath nasceu com asas, mesmo que fossem deformadas, ela nasceu com elas e possui esse poder tão enigmatico.— Ellylan desviou seus olhos por um momento para tentar compreender o que estava ouvindo.— Ela poderia ter sido um anjo?— — Alguma coisa em seus genes se demonstrou diferente quando ela nasceu, a genética de anjos dos seus pais que não deveria existir apareceu em seu DNA e por esse motivo ela nasceu com asas e um poder.— Maximus encontrou os olhos dela.— De alguma forma estranha, o DNA de seus pais anjos predominaram em sua genética.— — Então é por isso que ela não tem nenhum controle em seu poder? Por ela ser algo... danificado? — Elly perguntou, não gostando muito da palavra que usou para definir Katherine. — De certa forma, sim.— Ellylan estava tão chocada com essa conversa, que ela nem ao menos havia percebido que tinha se aproximado ainda mais do arcanjo naquela cama tão grande. Em algum momento que Maximus desviou seu olhar dela, ela se moveu até estar ao lado dele e deixando um único espaço entre eles para que não esbarrasse em nas suas asas brancas. — Maximus,— Ela disse seu nome quando seu coração acelerou, aparentemente a parte iludida dela
ainda achava que o nome desse arcanjo tão poderoso poderia assustá-la como antes, mas o terror não existia mais quando se tratava desse anjo em particular. O nome dele que antes era comparado com um monstro agora era algo muito bonito...— O que aconteceu com as asas dela?— — Elas foram arrancadas.— Maximus suspirou.— Na época eu fui contra sobre isso, mas depois entendi que a sensação de possuir asas e não poder voar não deveria ser facil para Kath. No entanto, as asas de um anjo são a parte mais sensível de seu corpo e ela sofreu muito quando foram retiradas. — Elly encarou Maximus naquele momento, mesmo que seus olhos azuis estivessem fixos em outra coisa, ela observou cada detalhe daquele rosto que poderia ser assustador ao mesmo tempo que era amável. Uma parte dela, desejava acariciar o rosto do arcanjo ou simplesmente ser embalada por seus braços novamente como na noite passada. Ellylan não podia acreditar que se sentia tão segura nos braços de alguém que deveria ser temido. E Elly acreditava ainda menos que alguém que havia entrado em sua frente para protegê-la de pregos acabará de admitir que o lugar que aqueles pedaços de metal havia o atingido era muito sensível. — Max...— Ela sussurrou com a voz trêmula por usar um apelido que apenas aqueles que eram mais próximos dele usavam.O arcanjo encontrou os olhos dela e demonstrou uma certa surpresa por ela tê-lo chamado dessa maneira e Elly não podia pensar em outra coisa a dizer a não ser a palavra que rodeava sua mente.— Obrigada... Por tudo.— O arcanjo do inferno sorriu para Ellylan, um sorriso que dizia com todas as letras que estava feliz por ela tê-lo agradecido. Um sorriso que também falava que o anjo não ouvia essa palavra com tanta frequencia. — Não se torne toda mimosa antes do nosso treinamento.— Maximus se levantou e caminhou até ficar próximo da cadeira que estava sentado antes. O anjo pegou algumas roupas que estavam ali e as jogou para Ellylan, que nem ao menos conseguiu pegar nenhuma delas pela falta de coordenação. Maximus observou seus movimentos desordenados e uma expressão nada alegre surgiu em seu rosto.— Me encontre lá fora em dez minutos.— Elly acompanhou com seus olhos cada passo do arcanjo até que estivesse fora do quarto e após a porta ser fechada, ela se levantou para se trocar, não tendo mais nenhuma opção do que fazer. E pelas roupas que Maximus havia lhe entregado, ela só podia deduzir que era hora do treino. *** Haviam se passado apenas duas horas desde que Maximus levou Ellylan até o jardim do castelo e entregou uma espada muito pesada em suas mãos. No entanto, para Elly, parecia que ela havia se tornado imortal e já fazia mais de séculos que estava ali tentando não ser acertada pelo arcanjo e sua lamina ainda maior que a dela. Maximus, no inicio, havia apenas passado exercicios que eram focados em bater suas laminas uma na outra de um lado para o outro, a ensinou a movimentar seus pés conforme movia seu punho de maneira tão atenciosa que fez Ellylan se iludir que havia gostado daquilo, mas depois que o anjo loiro percebeu que ela havia se acostumado com os exercicios, Maximus deu um breve aviso de que aumentaria a velocidade de seus movimentos. E foi ai que o bonito se tornou feio. Dez minutos depois que isso aconteceu, Ellylan já estava morrendo. Ela estava completamente molhada por causa de sua transpiração e mal conseguia respirar, seu corpo e cabelos estavam cheios de pedaços de gramas e para completar a terra a sujava também. Seu rabo de cavalo que antes era perfeito, estava tão frouxo que ela se perguntava como ele continuava preso.
E ela não podia ignorar a expressão de pura desconsolação que surgiu no rosto do arcanjo ao ver que Elly era tão sedentária e terrivel em tudo que envolvia exercicios. Maximus dizia várias vezes para que ela se defendesse de seus movimentos da maneira que ele a ensinou, mas esse treinamento apenas consistia em o arcanjo tentar acertá-la e ela correr para longe. Em alguns momentos, sua única opção era se encolher quando correr não funcionava e tudo o que o arcanjo fazia era deixar sua lamina a centimetros de sua pele ou ele simplesmente a derrubava no chão como uma punição por não revidar. No entanto, quando Ellylan estava começando a lembrar dos movimentos que ele havia a ensinado ao invés de focar seus pensamentos de que o arcanjo a mataria com aquela espada grande, Maximus tirou sua camisa e a jogou no gramado, a fazendo se perguntar até mesmo onde estava. Aquilo foi um golpe muito sujo, pois era dificil focar sua atenção em qualquer outra coisa a não ser nos músculos bem definidos do anjo em movimento. Uma fina camada de suor cobria o peito do arcanjo do inferno e isso apenas fazia Ellylan babar feito pateta quando sua parte iludida entrava em ação e ela se imaginava no final do treino indo para uma ducha gelada com ele para ver aquela água gelada limpando sua pele perfeita. Maximus que não era nada bobo, aproveitou o momento de sua distração e movimentou sua lamina sem nenhuma piedade em direção dela. Ellylan dessa vez havia visto o reflexo de sua espada se aproximando e cambaleou para trás, pois sabia que o arcanjo a derrubaria no chão por não ter se defendido do golpe e isso era algo que ela não desejava que acontecesse. O arcanjo a atacou novamente, a fazendo ver que ele apenas fazia os mesmo movimentos que haviam treinado, mas em uma velocidade anormal. Ellylan, ao perceber isso, levantou sua espada, ou tentou, e a lamina de Maximus se debateu contra a sua, fazendo um barulho irritante de tilintar. — Sua humanidade...— Ele disse ofegante em quanto fazia seus movimentos, deixando que Ellylan revidasse da sua maneira tão inútil de colocar a espada entre eles para não acertá-la. No entanto, essa defesa acabou no momento em que o arcanjo perdeu sua paciencia. Ellylan deu alguns passos para trás com a intenção de fugir, mas pelos cantos dos olhos viu que havia entrado no territorio de raizes grandes de uma arvore que estava logo atrás dela, ela se atrapalhou devido a falta de equilibrio e sua lamina até mesmo deixou de estar em suas mãos para encontrar o chão, coisa que aconteceria com ela se não fosse por Maximus a segurar somente por um pulso. No momento que sua mão quente e grande se fechou sobre sua cicatriz, ele usou o tronco da árvore atrás dela para apoiar seu corpo e quando as costas de Ellylan se debataram contra aquele tronco duro, um gemido quase escapou de seus lábios, mas ela congelou assim que Maximus fincou sua espada no tronco à centimetros de sua costela. E seu cérebro nunca teve a chance de voltar ao normal quando percebeu o quão perto o corpo de um anjo sem camisa estava dela. Ellylan já estava encolhida pelo motivo de ter pensado por um momento que aquela lamina a rasgaria em diversos pedaços quando o arcanjo a aproximou dela, mas agora ela havia se encolhido ainda mais devido a aproximação de Maximus. — Sua humanidade,— Ele repetiu novamente aquilo que estava prestes a falar antes dela se atrapalhar toda, seu tom era tão frio que a fez se sentir culpada por ser humana.— Irá a matar.— — O que?— Ela perguntou quase infartando pela falta de ar, pois só havia entendido aquilo que todos deixavam claro sobre odiarem humanos. No entanto, antes que houvesse qualquer resposta dele, o anjo loiro soltou seu pulso que caiu ao
lado de seu corpo, sendo ela incapaz de fazer seu cerebro processar qualquer movimento. O arcanjo levou a mesma mão que a segurava até o seu cabelo escuro e retirou um pedaço verde de grama que havia ficado lá durante muito tempo.— Você sabe,— Ele começou a dizer em um tom natural, muito diferente do anterior.— Sua pequena paixão não a permite me machucar, isso seria mortal se eu não estivesse apenas brincando.— Ellylan franziu o cenho por um momento, não podendo compreender de que paixão ele estava falando, mas ela não pode deixar de ficar ofendida sobre a parte da brincadeira. Ela esticou todo o seu corpo que estava encolhido para tentar encarar o arcanjo, mas agora que ele estava perto demais, Elly apenas percebeu o quão pequena, em todos os sentidos, era perto dele. — Brincadeira?!— Elly se revoltou, empurrando o peito nu do arcanjo para afastá-lo dela. Ela quase o empurrou novamente quando não obteve nenhum resultado, mas percebeu que sua pressão apenas subiu quando sentiu os musculos duros a baixo de suas palmas.— Saia de perto de mim!— Maximus sorriu, um sorriso tão cretino que ela desejou socá-lo para ver sangue manchar aqueles lábios rosados e perfeitos. O arcanjo puxou sua espada que ainda estava presa no tronco ao lado de Elly e se afastou como ela havia pedido. E foi naquele momento que ela percebeu toda a plateia que estava no jardim os assistindo. Katherine e Diane estavam sentadas em cadeiras refinadas e a dama do nariz empinado até mesmo usava um binóculos pequeno e ainda mais refinado para observar ela e Maximus. E logo atrás delas, estavam todos os tenentes de Maximus. Até mesmo Derek e os gêmeos, aqueles que Ellylan menos via. Aparentemente, uma aposta havia ocorrido entre eles, pois em quanto alguns possuiam expressões felizes, outros estavam bravos e resmungado algumas desculpas sobre não ter tido sorte. E Ellylan nem ao menos poderia começar descrever o quão radiante Diane estava. — O que aconteceu?— Ellylan perguntou para Maximus, pois ele provavelmente sabia qual aposta havia surgido entre eles. Maximus olhou por cima de seus ombros e logo em seguida a olhou novamente, seu olhar era ainda mais provocador do que o sorriso de antes.— Eles apostaram sobre sua derrota.— Ele disse.— Se ela aconteceria antes ou depois de tirar minha camisa.— O arcanjo sorriu para Ellylan e após segundos se passarem sem que pudesse pensar em alguma resposta para aquilo, ele se afastou. O anjo loiro apoiou sua espada sobre um de seus ombros e caminhou graciosamente até seus tenentes que estavam atrás de Diane e Katherine. Elly apenas ficou imóvel, encarando abobadamente cada gesto do arcanjo do inferno, cada musculo de suas costas que não eram escondidos por suas asas grandes... Ela não conseguia compreender exatamente o que estava acontecendo, mas algo havia mudado completamente. Tão completamente que Ellylan estava começando a se perguntar o que realmente sentia sobre Maximus, pois toda a opinião que ela possuía sobre ele não era apenas por respeito ou afeição por alguém que a protegia. Seus sentimentos eram muito confusos e isso a preocupava demais.
~25~ Maximus estava sentado na cadeira do seu escritório, ele havia permitido que todos os seus escudos caíssem naquele momento para se desconectar de tudo o que acontecia lá fora e dar paz para a sua mente. No entanto, a forma que ele encontrou para esquecer seus problemas foi pensar na única pessoa que estava fazendo seu reinado cair por causa das duvidas que trouxe com a sua chegada. Sua mente era um tormento puro sobre a decisão que havia tomado mais cedo em quanto caminhava pelo castelo e percebeu a presença de Ellylan o seguindo cautelosamente como um pequeno bichinho de estimação que não desejava ficar sozinho. Ela havia tentado bravamente ser discreta em quanto fazia isso após o arcanjo tê-la deixado em seu novo quarto, mas falhou antes mesmo de começar desde que Maximus podia sentir as vibrações de sua alma toda agitada. — O que está fazendo?— Ele perguntou ao se virar na direção dela, a deixando surpresa por ele têla descobrido tão rapidamente. Ellylan havia congelado no lugar que estava, mas depois de alguns segundos sua primeira reação foi usar uma de suas mãos para colocar seus cabelos tão negros atrás de sua orelha, um sinal claro de que ela não sabia o que dizer. O arcanjo arqueou uma de suas sobrancelhas, a intimidando para falar. — Eu não quero ficar sozinha naquele quarto.— Ellylan sussurrou, desviando seus olhos para todos os lugares que estava logo atrás do anjo para não demonstrar sua fraqueza, seu medo. — Seu quarto agora é o mais próximo que existe do meu,— O anjo disse friamente, um tom que era automatico dele quando falava sério, quando sua mente construia planos e não algo intencional. — Não há mais riscos.— — E você não pode dormir em um quarto ao lado do meu?— Ellylan perguntou de forma mal humorada, provavelmente por causa de seu tom. — Não.— O anjo decidiu provocá-la.— Então supere isso.— Maximus deu suas costas para Ellylan e passou a caminhar novamente, Elly continuou o seguindo, menos cautelosa dessa vez já que ela sabia que o arcanjo estava ciente de sua presença. — E pare de me seguir.— Ele voltou a falar depois de um tempo em silencio. — Não.— Ellylan o respondeu de forma mais mal humorada ainda.— Supere isso.— Maximus sorriu para o caminho em sua frente e então parou sem ter mais nenhuma outra opção do que fazer, pois essa humana o perseguiria para qualquer lugar que estivesse indo até ter o que desejava. Ele se virou novamente para ela até encontrar aqueles olhos azuis que haviam pequenas pintinhas negras que manchavam aquela cor tão linda. — Eu não estou deixando meu quarto por causa de uma humana.— Ele disse sarcasticamente, mudando seu tom na palavra “humana” apenas para provocá-la.
Em resposta, Ellylan apenas deu de ombros ao mesmo tempo que tentava esconder toda a sua ira por ter sido chamada de humana de maneira tão amtipática. — Bem, então eu a colocarei para dormir no quarto dos meus tenentes.— Maximus falou.— E imagino que você se sentirá mais confortável junto com Gate e Patrick.— — Não!— Ela se desesperou. — Supere isso, Elly.— Maximus não pode deixar de sorrir dessa vez quando imitou o movimento de dar de ombros dela e quando estava prestes a se virar, ela o segurou. Seus dedos pequenos e frios agarraram a ponta de uma de suas asas e quando ela percebeu o que fez, Ellylan deixou de usar tanta força para segurá-lo, mas não o soltou. Dessa vez, o arcanjo do inferno não ousou brincar com essa humana tão aterrorizada devido ao que viu na noite passada, quando seus olhos se encontraram novamente com os dela, Maximus viu que era hora de acabar com as provocações. Então, ele levou uma de suas mãos até o topo da cabeça de Ellylan e bagunçou seus cabelos lisos e macios após tocá-los. — Você irá dormir próxima de mim.— Ele disse seriamente.— Muito próxima.—— — Espere...— Ellylan falou depois de soltá-lo, mas Maximus não lhe deu atenção novamente. O arcanjo caminhou e aproveitou o momento que ela estava paralisada para não correr o risco de ser seguido novamente.— Por que você ressaltou essas palavras?— A mente de Maximus voltou para o presente no momento que o som de alguém batendo em sua porta surgiu, a pessoa do lado de fora nem ao menos esperou pela ordem que o permitiria entrar, apenas entrou sem pensar nas consequencias. Considerando que Ellylan entrava sem bater, só poderia ser Patrick que demonstrou um pouco de respeito ao seu lider quando anunciou sua entrada. O arcanjo encontrou os olhos de seu tenente no momento que ele entrou, a cor dos olhos de seu amigo eram um misterio que até hoje Maximus não teve a chance de decifrar para compreender o motivo de serem tão diferentes, tão cheios de segredos que apenas o anjo e Morgan possuíam acesso da verdade. — Pela sua cara, imagino que esteja pensando em Ellylan.— Patrick sorriu radiantemente, sendo ele outro seguidor avido de Diane. — Você deveria parar de ouvir as conversas de minha irmã,— O anjo falou, se encostando em sua cadeira.— Ela não sabe o que diz quando fala que estou me apaixonando.— — Claro.— O tenente concordou falsamente.— O motivo de tratá-la como uma princesa é por desejar acessar as memórias dela o mais rápido possível.— — Essa é a intenção.— Maximus murmurio, se afundando ainda mais em sua cadeira por causa do aparente mau humor que estava o consumindo por causa de Patrick e suas brincadeiras. — Meu amigo, não se esqueça que ela já confia em você com corpo e alma.— Ele disse.— Esse plano já falhou antes mesmo de começar.— — Mas...— — E você sabe disso.— Patrick adicionou ao cortar o arcanjo do inferno.— Não use desculpas.— — Tudo bem.— Maximus suspirou, admitindo sua falha.— Eu não consigo tratá-la de outra maneira a não ser essa... Apenas parece errado considerar Ellylan nada além do que especial.— Outro sorriso rediante apareceu no rosto de seu amigo, mas Maximus decidiu cortar essa alegria antes que chegasse nos ouvidos de Diane a conversa que eles estavam tendo. — Mas eu não estou apaixonado por ela.— Ele deixou aquilo claro.— Ellylan, para mim, é como um cristal que se partirá na próxima queda, algo para ser cuidado e protegido de todo o mal.—
— Isso é melhor do que nada.— Patrick deu de ombros.— Mas ela pode facilmente quebrar ao saber que você não pode se apaixonar por ela algum dia.— — Então vamos deixar que Ellylan se iluda com isso.— Maximus falou friamente, apesar de não gostar da ideia.— Ela se esquecerá dessa paixão por mim no momento em que voltar para o seu mundo.— — Suas soluções são muito cruéis aos sentimentos dela, ainda mais quando pode sentir todas as vibrações da alma de Ellylan quando o assunto é você.— — Ela é humana, Patrick.— Maximus disse, desviando seus olhos para um ponto fixo atrás de seu tenente.— Não uma angelical, um anjo ou imortal. Apenas humana... É melhor para ambos que a realidade esteja bem exposta.— — Você tem razão.— O tenente falou de maneira pensativa.— Mesmo que seja surpreendente que uma simples humana tenha consiguido sua atenção, em algum momento ela irá partir.— Maximus sorriu e olhou para o seu tenente, para seu amigo que chegou nesse posto por causa de sua ousadia. — Ellylan está longe de se encaixar nos termos de uma simples humana.— — De qualquer maneira,— Patrick se tornou sério novamente ao mudar de asssunto.— Você já possui outro plano para acessar as memorias dela?— — Não.— Maximus disse sem nenhuma emoção.— Agora meu único foco é o baile de Diane e encontrar quem ousou matar dentro do meu castelo. Quando tudo isso se resolver, pensarei em outra forma para ajudar Ellylan.— O arcanjo empurrou sua cadeira para trás até que tivesse espaço o suficiente para que ele se levantasse. Sua intenção era a de sair para sua varanda e voar sobre o oceano até que uma certa convidada chegasse em seu reino, mas antes que isso se realizasse, ele viu a escuridão que atormentava os olhos verde água de seu tenente. — Você está bem?— Maximus perguntou como um amigo, sua postura de líder deixada de lado para cumprir o seu papel. — Apenas tentando me acostumar com todo o impacto de ter estado em um lugar publico.— Maximus o encarou.— Eu sabia que era um erro permiti-lo acompanhar Ellylan e Diane.— — Mas você mesmo disse que não era a melhor opção ficar sempre se escondendo atrás dos muros do castelo, Max.— Patrick adicionou e com razão. Já faziam mais de 100 anos que Patrick e seu pai haviam se tornado demonios e se juntado a Maximus para fazerem parte de seus soldados e, ainda assim, a capacidade que Patrick adquiriu, em sua transformação de um corpo sem alma, de poder ver um ato que alguém mais se arrepende continua sendo um mistério. E tudo piorava quando esse estranho poder invadia a privacidade de até mesmos outros anjos. Patrick era um demonio e ele deveria estar a baixo de todos anjos e angelicais, mas essa capacidade de ver aquilo que não deveria, de cavar uma mente para encontrar um segredo sombrio, o deixava a cima de muitos. E esse era o motivo dele ser um segredo guardado no inferno. Morgan disse que os olhos de seu filho sempre foram verdes, mas após a alma dele ter sido arrancada para ficar sobre a proteção dos arcanjos, a cor havia se tornado naquele verde água meio brilhante. Até hoje ninguém questionou o motivo de seus olhos serem tão diferentes, pois a cor hipnotizava qualquer um a ponto de considerar aquilo bonito ao invés de anormal. Quando Patrick saia para lugares publicos, com pessoas que nunca viu ou que não era acostumado, sua mente se tornava uma perturbação constante desde que ele perdia o controle de seu poder e passava a ver todos os arrependimentos daqueles que encontravam o seu olhar. Maximus já havia falado diversas vezes que essa era a melhor maneira para encontrar uma forma de bloquear essas
vissões e se não houvesse nenhum botão que acabasse com essa tortura, Patrick se acostumaria. No entanto, seu tenente optou por ficar fechado em seu castelo, deixando claro para Maximus e Morgan que esse poder apenas lhe trazia a tortura dos pesadelos. Então o arcanjo decidiu que era correto fazer da maneira de Patrick, ele permitiu que seu amigo se escondesse e escondeu o segredo dele até mesmo de seus irmãos. Katherine já havia sofrido demais para que Maximus permitisse que isso acontecesse com outra pessoa que ele considerava como alguém muito importante. — Se mantenha recluso até que sua mente se acalmente.— Aquilo foi uma ordem de um arcanjo que havia sido criado para liderar o inferno. Patrick movimentou sua boca para dizer suas próximas palavras, mas uma batida na porta interrompeu suas reclamações antes mesmo de começar. Um bater tão suave que mesmo que Maximus não pudesse sentir as vibrações daquela alma tão alegre, tão solitária, ele ainda saberia que era Niffie que estava do lado de fora do seu escritório. A porta foi aberta antes mesmo que Maximus tivesse a chance de dizer que ela podia entrar, o que o fez pensar que todas as pessoas em seu castelo estavam precisando de uma reeducação para acabar com esses maus habitos. — Olá, Max!— A cabeça dela apareceu em um vão da porta, seus cabelos negros caidos em uma cascata para o lado que seu pescoço estava inclinado.— Psso entrar?— — Entre.— Ele resmungou.— Não é como se uma resposta diferente dessa fosse mudar suas ações. — Niffie sorriu alegremente e entrou no comodo como se estivesse em sua própria casa. Ela encontrou os olhos de Patrick primeiramente antes de dizer qualquer outra palavra para o arcanjo que estava em frente do soldado. — Patrick.— Ela movimentou sua cabeça em um sinal de respeito, mas no momento que o tenente sorriu, eles se abraçaram como se fossem melhores amigos. Maximus revirou seus olhos por causa da alegria desnecessaria dos dois. Faziam apenas alguns dias que eles haviam se visto para agirem dessa forma. — Vocês podem parar com isso agora.— Maximus falou, encarando seus amigos como se fossem aberrações. — Oh, Maximus, você sabe que eu estava esperando Niffie aparecer apenas para persuadi-la a desistir de seu casamento.— Patrick brincou.— Não estrague o momento.—— — E não fique todo mal humorado.— Niffie adicionou, se torcendo nos braços de Patrick para encontrar o olhar do arcanjo.— Para uma pessoa apaixonada, você já deveria ter deixado de ser tão amargo, Max.— O anjo arqueou sua sobrancelha e encarou Patrick de uma maneira ameaçadora. Seu tenente apenas deu de ombros ao mesmo tempo que fazia uma careta.— Não me olhe assim, isso é culpa de Diane. — — Na verdade, isso é culpa sua, Maxxie.— Niffie defendeu Diane.— Você não consegue ser discreto sobre seus sentimentos.— Maximus encarou Niffie e Patrick em silencio em quanto eles riam, o que o deixou com ainda mais raiva. — Você,— Agora, a paciencia do arcanjo tinha acabado. Ele caminhou até Patrick e o agarrou em seus ombros para empurrá-lo até a saída daquele comodo, antes que seu mal humor aumentasse e a
próxima a se retirar da sala fosse Niffie.— Vá arrumar o que fazer.— — Hey!— Patrick protestou, mas Maximus bateu a porta na cara dele antes que outro protesto se manifestasse. — E você,— Ele fuzilou Niffie.— Não me chame de Maxxie e não acredite no que as pessoas dizem.— — Tudo bem.— Niffie suspirou ironicamente.— Mas ainda assim eu estou aqui à seu pedido por causa de Ellylan.— — É um favor.— Maximus decidiu lembrá-la.— Não um treinamento para um pedido de casamento.— — Se é o que você diz...— Niffie deu de ombros e logo em seguida caminhou até sua mesa para se sentar na cadeira que Maximus estava antes de se levantar. Ela pegou uma caneta e um papel em branco que ali estavam e os aproximou dela. Maximus encarou cada movimento de Niffie com cautela e não disse nenhuma palavra sobre sua ousadia.— Um vestido para Ellylan...— Ela murmurio pensativa. — Crie algo único para mim, Niffie.— Maximus sorriu.— Único igual à Ellylan.—
~ 26 ~ Ellylan havia passado grande parte de seu dia junto com Morgan, depois que Maximus a deixou sozinha naquele corredor em quanto ela o seguia, seu soldado surgiu minutos depois que ela começou se perguntar que caminho iria seguir, deixando um pouco obvio que o arcanjo havia mandado o pai de Patrick até lá para acompanhá-la. Por mais estranho que fosse, Elly gostava de passar seu tempo com aquele homem tão misterioso com um leve ar que deixava a palavra “psicopata” estampada em cada gesto dele. Isso deveria fazêla querer fugir, mas desde que se sentia totalmente confortável ao lado de Maximus, isso não surpreendia mais Ellylan. Ela ainda estava completamente confusa sobre seus sentimentos quando se tratava do arcanjo, mas prefiriu ignorá-los e deixar de pensar em qualquer coisa que tivesse ligação a Maximus. E para evitar qualquer fuga da parte de sua mente, Elly focou toda a sua atenção nos movimentos de Morgan em quanto ele limpava pequenas laminas, que apesar de serem denominadas assim, não pareciam ser inocentes. Por um momento, ela imaginou o soldado como aquele mordomos da antiguidade que limpavam talheres de cristais com lenços brancos antes do jantar. E era tão irônico que a mesma coisa acontecesse no inferno, com a única diferença sendo laminas ao invés de colheres. O lamentável, era que Morgan agia como se isso fosse completamente normal. Ellylan estava sentada em um banco alto, suas pernas estavam longe de alcançar o chão, então ela se manteve tão imóvel quanto pode quando notou que perder o equilibrio era algo realmente facil. E ela não desejava cair em cima daquelas laminas que Morgan limpava tão elegantemente. — Por que você está me olhando como se fosse algo anormal, Ellylan?— O soldado de Maximus perguntou calmamente, não tirando seus olhos daquele lenço e lamina em nenhum momento da pergunta. — Você age como se isso fosse um hobbie.— Ela decidiu ser sincera. Morgan parou com seus movimentos lentos e olhou para a parede em sua frente antes de virar seu rosto até encontrar os olhos de Ellylan. — Apenas porque elas são usadas para a morte, não significa que mereçam ficar sempre manchadas com o sangue do inimigo.— — Olha...— Ellylan falou ao mesmo tempo que lançava um olhar estranho para a lamina.— Você fala como se elas fossem um bicho de estimação.— — Por que não seriam?— — Porque isso não é normal.— — Nós estamos no inferno, milady,— Ele a lembrou.— Qualquer coisa é normal.—
Ellylan suspirou, não podendo compreender qualquer sentido que existia entre Morgan e suas pequenas laminas. — Se você não as temesse, acharia elas tão lindas quanto uma beleza masculina que tanto admira.— Ele tentou explicar ao vê-la confusa, mas de nada adiantou... — Eu não consigo ver onde isso seria mais bonito que Maximus.— Morgan inclinou sua cabeça ligeiramente para o lado e deixou que um risso escapasse de seus lábios, ele não estava surpreso por Ellylan admitir que achava Maximus bonito, talvez todos soubessem disso e ela podia provar por causa da aposta que haviam feito em quanto ela e Maximus treinavam, ou melhor dizendo, em quanto Maximus a atacava e ela fugia. — E eu não consigo ver melhor hora para você falar algo como isso.— O soldado de Maximus disse rindo e movimentou sua cabeça para frente, um gesto que dizia para que Ellylan olhasse para trás. Ellylan virou seu corpo um pouco para que pudesse ver o que Morgan havia apontado e após seus olhos verem rapidamente as penas brancas de uma asa, todo o seu equilibrio que a mantinha sentada naquele banco foi embora em questão de segundos. Se não fosse por Morgan a segurar por um de seus cotovelos após soltar uma das laminas que ilustrava, Elly tinha certeza que encontraria o chão, o que a deixaria ainda mais humilhada. Maximus estava parado na entrada daquele comodo e tudo dizia que ele havia parado no meio de seu caminho quando ouviu o seu nome sair dos lábios de Ellylan, mas tudo piorou depois de Elly ver que todos aqueles soldados, que o arcanjo chamava de tenentes, estavam atrás dele. Sua respiração havia falhado por vários motivos, mas ela decidiu que se preocuparia com esse pequeno acontecido depois. Afinal, a expressão dos seus tenentes diziam tudo aquilo que faltava no rosto de Maximus. — Ellylan,— Maximus disse friamente, a fazendo dar um pequeno passo para trás com a intenção de ficar próxima à Morgan, o que era tão inutil desde que aquele homem era parte desses soldados que o arcanjo considerava fiéis.— Nós precisamos conversar sobre a noite passada.— Elly olhou para Maximus com certo assombro, seus olhos estavam grandes por causa da maneira que o arcanjo estava agindo, como se novamente ela fosse uma prisioneira. E ela não poderia deixar de lado a parte que pensou que seus pensamentos estariam livres dessas memorias. — Não...— Ela sussurrou, olhando para todos os homens que estavam atrás do anjo, suas expressões eram mais assustadoras agora que Ellylan sabia do que porque estavam ali. — Eu preciso saber o que você viu.— Maximus disse firmamente, sem nenhuma piedade.— Se isso não acontecer, meu reinado será questionado.— — Eu não me importo com o seu reinado.— Ellylan respondeu amargamente, se virando para dar as costas ao arcanjo e olhar Morgan, que era uma pedra silenciosa naquele momento. Seus olhos encontraram com os dela por um momento, mas isso não durou já que olhar para o seu imperador era muito mais importante. — Imperatore,— Morgan disse de maneira que deixou obvio que respeitava Maximus mais do que seu próprio orgulho.— Essa não é a melhor forma de fazê-la falar.— — Sim, Maximus,— A voz de Diane invadiu o local, tão firme que Elly mal havia reconhecido.— Como você deseja que uma pessoa que quase quebrou fale qualquer palavra diante de você e seus soldados mal humorados?— Ellylan se virou para poder encontrar Diane ao invés do anjo loiro que continuava parado no mesmo
lugar, a irmã de Maximus estava atrás de todos os tenentes dele e depois que ela anunciou dignamente sua chegada, todos olharam para ela, inclusive seu irmão. — Você possuí uma sugestão, Diane?— Maximus perguntou com seu mal humor habitual.— Aproveite esse momento para não se calar, já que demonstra tanta sabedoria sobre o assunto.— Diane movimentou seus lábios primeiramente, sem que nenhuma palavra saísse deles, a irmã dos arcanjos respirou fundo para que não mandasse Maximus à um lugar ruim, já que seria isso que Ellylan faria se estivesse no lugar dela.— Parar de ser um ogro é a primeira das minhas sugestões, Maximus.— — Porque você não vai cuidar das suas coisas ao invés de se preocupar com o que faço?— Ellylan franziu seu cenho ao olhar para Maximus, não podendo acreditar que horas atrás ele estava brincando com ela, a provocando... E agora, tudo o que podia ver nesse arcanjo, era a brutalidade e raiva. Para infelicidade de Ellylan, ela sabia muito bem o porque disso. Afinal, todos diziam que Maximus estava próximo da loucura antes dela misteriosamente chegar até aqui e agora um assassinato havia ocorrido dentro de seu castelo, a pessoa que matou aquele soldado havia quebrado todos os significados de medo e respeito por aquele que era responsavel pelo inferno. Mas isso não era justificativa para que Maximus falasse de maneira tão indelicada com Diane. Por mais que fosse normal irmãos discutirem, não parecia certo que isso ocorresse na frente de Ellylan e por um motivo que a envolvia. Ela olhou novamente para os tenentes de Maximus para procurar por uma intervenção, mas tudo o que ela viu foi o silencio. Até mesmo de Patrick. O arcanjo estava tão cheio de raiva que seus tenentes não davam palpites como Ellylan já havia visto diversas vezes acontecer, eles agiam como aqueles soldados que obedeciam os lideres de suas nações sem questionar o que faziam. Não questionavam se suas ordens eram corretas ou atitudes de covardes. Maximus estava agindo como Meridius naquele momento e se ele a ameaçasse de morte, Ellylan nem ao menos ficaria surpresa. No entanto, ela sentia que uma magoa a atingiria de uma maneira assustadora, pois por algum motivo idiota, sua parte iludida a fez acreditar que para Maximus Ellylan era alguém diferente dos demais, mas agora, no momento em que ele demonstrava sinceridade por causa de sua raiva, tudo que ela via era que não passava de um problema, de uma prisioneira com liberdade por não ter nenhuma opção para onde fugir. O olhar que Maximus usou para calar Diane fez com que os cabelos de sua nuca se arrepiassem de uma maneira que demonstrou que ela sentia medo desse arcanjo que foi tão amavel pouco tempo antes de estarem aqui. Ellylan não podia acreditar que não existia nenhum rastro daquele homem que a tratava tão bem e que a abraçava quando necessario. Ellylan poderia facilmente dizer que Maximus era bipolar, mas a questão estava obvia demais para que ela se iludisse com o mais agradavel. Existiam dois Maximus em um só corpo, existia um anjo carinhoso que a permitiu chamá-lo de apenas Max e usou suas asas para protegê-la de pregos e o outro era aquele arcanjo nascido e criado para liderar um inferno. Ele jamais agiria como um homem que a mimava na frente de seu exercito, na frente de seus inimigos. Diante deles, Ellylan passava a ser uma humana que trouxe problemas, diante deles ela deixava de ser aquela mulher que ele chamava de Elly.
Diane estava prestes a rebater o que seu irmão mais velho havia falado com a mesma educação que ele havia usado, mas Ellylan intervio antes que aquela pequena discussão se tornasse grande.— Maximus,— Sua voz quase travou, uma certa agonia subiu de seu estomago até sua garganta para não permiti-la dizer suas próximas palavras.— Eu...— Ellylan não iria conseguir, ela desejava acabar com isso, mas não queria lembrar. Sua mente parecia ameaçar quebrar apenas com a menção do que aconteceu na noite anterior e ela não queria se partir... Maximus se virou em sua direção, seus olhos da cor de uma piscina em um dia ensolarado prenderam toda a sua atenção. Existia tanta raiva, tanto vazio em seus olhos... — Eu irei falar com você sobre noite passada.— Ela sussurrou, desviando seus olhos para o chão. Ela ouviu o suspiro de indignação de Diane após Elly falar e logo em seguida o som de seu salto contra aquele chão foi ouvido até que tudo o que escutasse fosse um levo eco sumindo conforme sua distancia. Maximus apenas encarou Ellylan por alguns segundos, o silencio pareceu ser um pesadelo, principalmente quando existiam várias pessoas lá dentro que não ousaram quebrá-lo. — Saiam.— O arcanjo do inferno falou em um tom cru para seus soldados que estavam presentes, Ellylan não levantou seus olhos nem mesmo quando os tenentes obedeceram a ordem de seu líder e os deixaram sozinhos naquela sala. Sua vontade era de chorar e fazer qualquer coisa que a impedisse de acessar aquelas memorias que insistiram em ficar trancadas em sua mente. Na noite passada, ela havia sofrido tanto... Havia tanta dor e medo a cada pensamento que Ellylan não queria se obrigar a reviver aquele momento novamente. Mas ela teria. E Maximus não iria protegê-la novamente, pois naquele momento, aquele arcanjo não passava de um inimigo. — Meus tenentes deveriam estar presentes, como testemunhas, mas imagino que você não diria uma palavra diante deles...— — Não banque o compreensivo agora.— Ellylan cuspiu as palavras em puro desgosto antes mesmo que Maximus terminasse sua frase. Naquele momento, seu orgulho desejava falar com qualquer um ao invés desse homem arrogante. — Então,— Ele começou a falar novamente, seu tom tão, tão calmo que fez seu estomago revirar.— Fale.— Ellylan olhou para os pés de Maximus, ele usava botas pretas com detalhes prateados e por um momento, sua cabeça a fez imaginar quantas vidas ele já havia finalizado ao pisar em um corpo quase morto. Não parecia digno desse anjo se sujar de sangue, pois sua aparencia era algo tão angelical... Quando as pessoas, como ela, pensavam em anjos, as caracteristicas de Maximus eram as que surgia em suas mentes. No entanto, Ellylan sabia mais do que ninguém que esse anjo era tão
impiedoso como qualquer humano que havia se tornado psicopata. Talvez os psicopatas tivessem feito muito pouco quando comparados à Maximus. — Ellylan.— Ela quase se encolheu ao tom que foi usado para dizer seu nome em um aviso de que o arcanjo estava esperando. — Eu...— Ellylan tentou começar, mas não conseguia compreender porque era tão dificil falar... Ela respirou fundo e fechou seus olhos por um momento.— Eu estava dormindo quando tudo aconteceu...— Sussurrou.— Mas pude ouvir o som da porta do meu quarto quando ela foi aberta... E por um momento pensei que fosse...você.— Ela se calou, sua garganta foi alfinetada por agulhas que a fizeram fechar a boca, mas Maximus estava esperando e ficar em silencio apenas iria irritá-lo ainda mais. Elly não queria que ele ficasse bravo com ela. Ellylan levantou seus olhos para encontrar aqueles azuis perfeitos de Maximus e quando ela achou que escontraria apenas o vácuo do nada, existia uma explosão de sentimentos. A raiva era o que deveria ter se manifestado naqueles olhos do anjo, pois era esse sentimento que havia trazido Maximus até aqui para obrigá-la a falar o que havia acontecido. No entanto, não existiam sentimentos ruins no olhar do anjo que estava em sua frente. Elly não conseguia compreender mais nada quando o assunto era sobre os sentimentos de Maximus. Ela se preocupou por causa disso, pois isso podia ser o sinal da loucura que todos diziam que já havia o atingido. — Eu...— Ela estava tentando, estava mesmo, principalmente quando sabia que o arcanjo se sentiria melhor depois de encontrar quem havia feito aquilo.— Haviam duas pessoas.— — Ellylan...— Maximus disse em um tom baixo, aquele seu tom de um líder já não existia mais em sua voz e aquilo havia soado realmente gentil. E depois de seu nome ser falado em voz alta que Ellylan percebeu que chorava em quanto soluçava suas palavras. Em um ato de desespero, ela levou suas mãos até seu rosto para que Maximus não a visse chorando, principalmente quando seus cabelos longos não foram o suficiente para omitir suas lágrimas que escorriam. — Estava tudo tão escuro...— Ela soluçou.— Os vultos negros... Nenhum possuía asas...—— — Ellylan,— Maximus disse severamente.— É o suficiente.— — E então houve o som de uma explosão abafada e... Eu senti...— Maximus não permitiu que Ellylan terminasse sua frase nem mesmo quando ela tentou finalizá-la, o arcanjo abriu suas asas que até aquele momento estavam fechadas, o barulho de um estalo forte quase a assustou, mas foi seu próximo movimento que deixou Elly sem reação. O arcanjo se aproximou dela em um único passo e a envolveu em seus braços quentes com força, a trazendo para se rencostar em seu peito, uma maneira gentil e carinhosa para acalmá-la. Mas Ellylan não relaxou como nas outras vezes, ela continuou com suas mãos em frente de seu rosto para esconder suas lágrimas. Ela já estava tão cansada de chorar... — Pare.— Sua voz saiu abafada, mas não incompreensivel.— Pare de ser bom quando não pode fazer isso.— — Eu não consigo mais.— Maximus murmurio perto do ouvido dela, seus dedos se fecharam em
algumas mechas de seu cabelo em um sinal de pura possessividade.— Sua humanidade tocou minha alma, Elly.— — Não.— Ela sussurrou.— Eu sou uma humana, você deve me tratar como agora... Não assim.— O riso baixo de Maximus fez com que todo o corpo dela congelasse, mas dessa vez não foi por medo. Aquele som parecia algo tão pessoal, tão intimo que ela não deveria ter escutado.— Por que você sempre cria problemas sobre a maneira que a trato?— — Maximus...— — Para você nunca está bom se a trato mal ou bem.— — Não importa o que eu sinto quando não me agrada o tratamento que recebo.— Ela disse.— Você deve me tratar como uma prisioneira, um problema. Assim será mais fácil...— Mais fácil para ela, mais fácil para não deixar de sentir medo para esse sentimento não ser substituido por outro. — Assim é o correto.— Maximus concordou, mas ele se afastou para que pudesse tirar as mãos de Ellylan de frente do rosto dela, a obrigando encontrar aqueles olhos novamente.— No entanto, não sei se é o que desejo.— O arcanjo fechou suas asas em suas costas e deu alguns passos para trás, mantendo a distancia entre eles novamente e soltando suas mãos que havia segurado para tirá-las de frente de seu rosto escondido. Seus olhos azuis estavam fixos com os dela e não demonstrava mais nenhum sentimento como antes. Ellylan não podia acreditar que depois de Maximus dizer algo como aquilo, ele tinha coragem suficiente para não demonstrar nenhum sentimento em seus olhos. Além de ser muito insensivel da parte dele, deixou a mão de Ellylan formigando para bater naquele rosto que era tão lindo, mas tudo o que ela fez, foi ficar imóvel ao mesmo tempo que assistia o anjo loiro sair daquele lugar. Ela era uma covarde. Tão covarde que nem ao menos conseguiu agredir Maximus ou se afastar quando ele se aproximou. O que seria o correto quando ele achava que poderia brincar com ela de dupla personalidade. Elly suspirou, a raiva invadiu seu corpo em questão de segundos e o pior de toda essa situação, o que a deixava com mais ódio ainda, era que no primeiro momento que visse o arcanjo novamente todo esse sentimento se dissiparia como neve ao sol.
~ 27 ~ Maximus saiu de dentro daquele comodo em que Ellylan parmaneceu imóvel para encontrar seus tenentes postos em uma fila de três em cada lado do corredor, quando o arcanjo passou por eles, a fila se formou atrás dele e seus soldados mais fíeis o seguiu, esperando por ordens. — Haviam duas pessoas no quarto.— Maximus informou eles, em quanto caminhava.— Uma está morta e a outra ainda caminha por esse castelo.— — Quais suas ordens?— Derek, seu segundo em comando, perguntou logo atrás dele. — Poucos estavam acordados naquele momento.— O arcanjo falou, em quanto fazia uma lista mental de todos os nomes daqueles que estavam despertos em sua mente e dos que já havia desfeito a ligação antes de Ellylan gritar e acordar todos no castelo.— Tragam-me Marie.—
~ 28 ~ Quando Maximus havia dito que Ellylan dormiria bem próxima a ele, o arcanjo não havia falado nenhuma mentira. Na verdade, Elly havia ficado surpreendida quando estava saindo de seu novo quarto para procurá-lo e deixar claro sua infelicidade sobre ter que dormir tão longe dele e acabou se deparando com o anjo de frente com sua porta. Ela ainda estava com raiva do arcanjo do inferno por causa de tê-la obrigado a falar coisas que não queria e depois ter agido como protetor, então foi curta e grossa ao perguntar o que Maximus estava fazendo ali. Sua respostas foi simples e a deixou ainda mais surpresa. O arcanjo do inferno estaria passando a noite diante da porta dela para ficar de guarda. É claro que Ellylan não dormiu mais naquela noite. No entanto, Maximus provavelmente havia notado sua eufória por causa daquela informação e nas noites que se passaram, foram seus tenentes que ficaram plantados na frente de sua porta. Elly não considerava aquilo correto, principalmente quando viu as várias expressões mal humoradas que recebeu quando abria sua porta, isso a fazia fachá-la rapidamente e voltar para sua cama antes que a pouca paciencia que existia nos tenentes acabasse e eles a espancassem. Ela considerou diversas vezes em falar para Maximus desistir dessa ideia, mas ainda existia o medo que não a deixava falar. A pessoa que causou aquele assassinato não havia sido descoberta ainda, então Ellylan tinha medo até mesmo de ficar sozinha em algum lugar. E Maximus, que se demonstrou muito protetor, não permitia que isso acontecesse. Ele sempre ou seus tenentes, sempre estavam próximos dela. Os treinos durante as manhãs continuaram sem nenhuma piedade da parte do arcanjo, ele tentava bravamente ensiná-la a fazer alguma coisa certa, mas seu mal humor acabava com qualquer bondade que existia em seu coração e o corpo de Ellylan acabava encontrando o chão mais vezes do que podia contar. E o pior não era suas dores que a faziam ter vontade de gemer a cada movimento, o pior de todo esses treinamentos era saber que até agora eram em vão desde que Maximus não conseguia atravessar os escudos de sua mente. Na verdade, Ellylan já não possuía mais esperanças de que algum dia poderia voltar para sua casa e encontrar suas memórias. Ela já estava começando a se conformar com a ideia de que morreria naquele lugar, envelheceria em quanto todos continuariam jovens. E quando o tempo chegasse, ela morreria como Ellylan.
Como uma humana que havia aparecido no inferno sem nenhuma explicação. Esse não era o final que ela desejava receber, principalmente quando via Maximus todos os dias, quando ele sorria para ela sem nenhuma dificuldade. Ellylan já não sabia mais se algum dia ficaria bem sem as provocações do anjo que a irritava mais do que ver Katherine e suas expressões esnobes. E tudo piorava quando Maximus passou a ignorar, para variar, tudo o que aconteceu entre eles quando ficavam a sós. Ela não deveria ficar com raiva sobre isso já que era assim que era o arcanjo. Ele sempre ignoraria os momentos que demonstrava sua bondade como se nunca tivesse existido, mas era tão dificil fingir que nada acontecia... Ellylan levantou de sua cama e saiu de seu quarto para encontrar um dos gêmeos encostado na parede de frente com sua porta, ela não desejava incomodá-lo, mas se ficasse em seu quarto pensando sobre sua morte em meio de imortais, provavelmente a loucura a atingiria antes mesmo que percebesse. Pela cara ainda mais fechada do soldado, tudo indicava que esse era Bryan. Ellylan finalmente havia descoberto os nomes dos gêmeos e ficou decepcionado ao perceber que apesar das ultimas letras serem as mesmas, elas não rimavam. No entanto, ela foi capaz de conhecer melhor esses dois homens que eram mais fechados do que qualquer outro tenente de Maximus. Até mesmo Derek se demonstrou ser um tagarela quando o assunto eram armas de fogo, mesmo que não entendesse nada sobre o assunto, pelo menos o soldado conversava com ela. No entanto, dos gêmeos, Nyan, de uma maneira estranha, era o mais gentil. Ele cumprimentava Elly todas as vezes que ela saia de seu quarto em uma surpreendente educação e até mesmo respondia algumas perguntas pessoais básicas sobre ele e seu irmão. Foi dessa maneira que ela descobriu o nome deles. Mas Bryan era diferente, ele sempre estava com cara fechada e a respondia apenas quando era necessário. Ele parecia não gostar muito de Ellylan, então ela fazia possível para não incomodá-lo, principalmente quando estava cumprindo uma ordem de Maximus que não o agradava. — Você poderia me levar até Diane?— Elly perguntou com certo medo quando o soldado encontrou os olhos dela para fazê-la ver que apenas existia raiva ali dentro. O soldado acenou com sua cabeça ligeiramente e se virou para começar a andar, Ellylan, que sabia que ele não a esperaria se ficasse para trás, o seguiu o mais rapido que pode para acompanhar seus passos longos para chegar até o quarto de Diane. E quando o tenente parou próximo a uma porta em um corredor tão igual aos outros, ela soube que ali era o quarto daquela que era conhecida como irmã de três arcanjos. Ellylan acenou com sua cabeça para Bryan para agradecê-lo, sabendo que se caso viesse a falar qualquer palavra, ele a ignoraria como sempre fazia. Então preferiu se comunicar com o soldado da mesma maneira que ele fazia. Após ter certeza de que ele tinha visto seu agradecimento, Elly entrou no quarto de Diane sem ao menos bater.
Por um momento, um leve sentimento de arrependimento a atormentou, pois Ellylan sempre fazia isso com Maximus para provocá-lo, não porque era mal educada. No entanto, ela se xingou mentalmente por ter feito isso com Diane. A irmã do arcanjo não precisava ter ideias ruins de que Ellylan também havia esquecido os bons modos. Mas assim que Elly entrou no quarto dela, Diane reagiu de uma maneira tão diferente da de Maximus que a parte em que eles eram apenas meios irmãos se concretizou em sua mente. — Ellylan!— Ela disse animadamente, quando Maximus teria a chamado de imprudente. Mas assim que Diane encarou Elly melhor, seu animo desapareceu em questão de poucos segundos.— Por que está com essa expressão tediosa?— — Estou cansada de ficar em meu quarto.— Ela decidiu ser sincera, pois as únicas vezes que saia daquele lugar era para seu treinamento com Maximus e algumas vezes para jantar aquela comida hororrosa que a cada dia parecia perder mais ainda o gosto. Não tinha como omitir a verdade dessa pergunta.— E todas as vezes que tento fugir dele encontro uma expressão mal humorada de algum tenente de Maximus.— — Oh,— Diane disse com certa surpresa, se movimentando na cadeira que estava sentada com gestos delicados.— Maximus não deveria manter seus soldados a seguindo durante o dia também. — — Ele é muito... protetor.— Ellylan falou, franzindo o cenho quando falou sua ultima palavra. — Apenas quando você está envolvida na questão.— Um pequeno sorriso surgiu nos lábios finos de Diane. — Mas...— — Eu tive ideia!— Diane se levantou rapidamente, se afastando da cadeira para se aproximar de Ellylan ao mesmo tempo que a cortou e a assustou com sua exclamação tão repentina.— Você sabe, o inferno não é tão horrivel quanto parece...— — Não?— Elly perguntou com certa ironia, pois ela já havia perdido as contas de quantas vezes quase morreu. — Não.— Diane a respondeu.— Existem lugares lindos, muito lindos. Só porque o inferno é conhecido como um lugar ruim, não quer dizer que possua lugares apenas horriveis.— — Você irá me levar a um lugar bonito?— — Na verdade, não.— Diane falou, deixando Ellylan desanimada novamente.— Estou ocupada.— — Mas você não estava fazendo nada...— — Nunca diga que uma mulher não esta fazendo nada quando ela está pensando, Ellylan.— Diane disse severamente.— Mas eu conheço a pessoa perfeita para mudar sua opinião sobre o inferno.— Ela sorriu, um sorriso diabolico ao mesmo tempo que era satisfatório. Diane pegou a mão de Ellylan e nem ao menos lhe deu a chance de perguntar o que estava fazendo, pois quando ela se deu conta do que estava acontecendo, a irmã de Maximus estava a puxando para fora de seu quarto. Bryan, que estava do lado de fora do quarto, a espera de Ellylan, olhou para as duas em quanto elas passavam por ele, mas quando Elly lançou um olhar ao soldado como um pedido de ajuda, ele a ignorou e deixou que Diane a puxasse por aquele corredor que não parecia ter fim. Ellylan estava com certa dificuldade para acompanhar os passos de Diane desde que ela possuía pernas compridas e nada a deixou tão feliz quando a irmã do arcanjo parou de caminhar. Mas Elly paralisou quando percebeu onde estava. Haviam poucos lugares que ela havia decorado, mas ela sabia de cor quando se tratava dos locais onde Maximus passava a maior parte de seu tempo. Saber chegar até esses lugares era uma questão complicada, mas quando estava diante deles, ela os reconhecia muito bem, sempre por um objeto ou por um mero detalhe que diferenciava um corredor
do outro, talvez eles nem fossem necessários para saber onde estava, mas Elly gostava de imaginar que eram por causa desses objetos chamativos que existiam pelos corredores, não porque havia decorado cada detalhe do local . Ela sabia, sem ninguém precisar dizer, que estava de frente com o escritório de Maximus. Diane puxou a mão de Ellylan até que seu corpo fosse para frente do seu e antes que ela pudesse recobrar seu equilibrio por causa do impacto, a irmã mais nova de Maximus abriu a porta daquele escritório que Elly não desejava entrar e a jogou lá dentro. Suas únicas palavras antes de fechar a porta e abandoná-la naquele lugar sozinha com um arcanjo que possuia um humor perigoso, foram: — Peça a ele!— Maximus estava sentado atrás de sua mesa que ficava no centro daquele escritório, atrás dele uma janela tao grande que nem ao menos poderia ser denominada assim quando era apenas uma parede que ao invés de possuir um material concreto, possuía apenas um vidro. O arcanjo, que estava ocupado com alguns papéis e fazendo anotações, olhou para cima no momento em que Diane jogou Elly lá dentro e fechou a porta para que não saísse. E quando ela tentou mexer na maçaneta para sair antes que o anjo perguntasse o que estava acontecendo, tudo indicou que Diane estava do lado de fora a segurando. — O que está fazendo?— Maximus perguntou, não escondendo sua curiosidade ao levantar seu olhar daquelas folhas para encontrar uma Ellylan desesperada para sair daquele local. — Diane me jogou aqui.— — Eu pude notar isso.— O arcanjo falou de maneira seca, fazendo Ellylan desconsiderar qualquer ideia de ser educada para lhe pedir algo, pois mesmo que estar próxima de Maximus deixasse seu coração palpitando, ela desejava sair daquele castelo. Ellylan gostaria de conhecer que lugares bonitos eram esses que Diane falará. — Sei que existe um plano de Diane por trás disso,— Maximus falou de maneira mais gentil agora, parecendo um felino que gostaria de brincar ao invés de derramar sangue.— Você irá falar para mim o que é, Elly?— — Não.— Ela usou a mesma grosseira que o anjo loiro usou, sua intenção era de fazê-lo se arrepender por tê-la tratado tão mal. — Então você pode sair.— Ele disse friamente, voltando seus olhos para as folhas que estava entretido antes dela aparecer.— Diane não está mais segurando a porta e Bryan está a esperando para levá-la até seu quarto.— Ellylan movimentou sua boca para dizer algo, mas a surpreendente grosseria de Maximus conseguiu a calar como se ele tivesse jogado água gelada em sua cara. Como ela pode achar que ele ao menos parecia um felino? Felinos eram gentis e fofos, Maximus era um crapúla sem coração! — Não fique me olhando com esses olhos grandes.— Ele completou sua frase, completou ainda mais a sua falta de educação. No entanto, Ellylan sentiu uma raiva anormal crescer dentro dela. E para sua felicidade, era essa raiva que a fazia agir diante de imortais que poderiam acabar com sua vida em questão de segundos, mesmo que os poderes mentais deles não funcionassem nela. Ela deixou de estar próxima daquela porta fechada para ir até a mesa do arcanjo, ele foi obrigado a
encontrar os olhos dela no momento em que Elly arrancou os papeis que estavam em suas mãos e os picou para jogar em direção do anjo loiro, que agora estava ainda mais irritado. Maximus se movimentou em uma velocidade surpreendente para se levantar de sua cadeira e quando Ellylan tentou se afastar para que ele não quebrasse seu pescoço e arrancasse seu coração, o anjo a segurou por um de seus pulsos e a puxou para que ficasse próxima de seu rosto até onde aquela mesa permitia. Seus dedos quentes em sua pele eram fortes e deixavam um aviso claro de que ele poderia quebrá-la se assim fosse seu desejo. Mas Elly sabia que isso jamais aconteceria e essa verdade era ainda mais assustadora do que estar ciente da sua fragilidade diante do arcanjo do inferno. A prova disso foi quando o anjo loiro suavizou seu aperto em seu pulso por causa de sua cicatriz, onde sua pele era sensível por causa desse antigo corte que até agora ela preferia fingir que não possuía nenhum significado. — Eu lhe darei a chance para dizer o que a trouxe aqui.— Ele avisou.— E se não for boa o suficiente, irei rasgá-la ao meio exatamente como fez com meus papéis.— — Você não precisa ser tão estupido!— Ellylan exclamou, tentanto puxar seu pulso para se soltar, mas tudo o que quase ganhou foi sua mão arrancada por causa do impacto quando Maximus não cedeu nem um pouco o aperto. — Eu sempre tive curiosidade para sentir o gosto do sangue humano, então...— Elly congelou. — O que?— Seus olhos se arregalaram. — Eu nunca lhe disse que o prato favorito de arcanjos pode ser o sangue?— Maximus perguntou calmamente, uma sobrancelha arqueada.— Peço desculpas por meu equívoco.— — O que?!— Ellylan tentou novamente se soltar, dessa vez o desespero acertou seu corpo em cheio e mesmo quando não conseguiu se livrar da mão de Maximus, ela continuou se xacoalhando. No entanto, seus movimentos deixaram de existir quando o arcanjo em sua frente deixou sua expressão séria de lado para rir. Ele a havia enganado. Novamente. — Idiota!— Ela cuspiu a palavra, seus dedos coçaram para acertá-lo em algum lugar. — Não ofenda um arcanjo, Elly.— Ele disse, semi cerrando seus olhos tão azuis e lindos.— Você pode se arrepender por isso.— — Vá para o inferno!— — Me diga por que Diane a trouxe até aqui e eu penserei sobre isso.— Ele a soltou e se sentou novamente, mas não deixou o olhar de Ellylan dessa vez.— Não se esqueça que posso perguntar a ela e uma versão totalmente diferente da sua pode chegar aos meus ouvidos.— Ellylan suspirou em derrota, pois sabia que a versão de Diane seria muito mais fantasiosa do que real. — Eu estava cansada de ficar em meu quarto e fui até Diane,— Elly disse a verdade e sem enrolação.— Ela falou que existiam vários lugares bonitos aqui e quando perguntei se ela poderia me mostrar, sua resposta foi que estava ocupada e logo em seguida me fechou aqui dentro para que
pedisse a você que me levasse em algum desses lugares.— Ela finalizou e olhou para o anjo ao invés de encarar um ponto fixo logo atrás dele. — É apenas isso?— O arcanjo perguntou como se esperasse por mais, uma pequena ruga cresceu em sua testa que era escondida por seus cabelos dourados. — O que você achou?— Ela não foi gentil.— Que eu estava aqui para matá-lo e ocupar seu lugar como arcanjo do inferno?!— — Isso combina mais com sua personalidade, Elly.— Um pequeno sorriso provocador cresceu em seus lábios. Ellylan revirou seus olhos como resposta, mas quando o sorriso de Maximus apenas cresceu, ela voltou a falar.— Estou saindo agora.— — Espere.— O arcanjo falou quando ela se moveu em direção da porta, a fazendo parar onde estava e encontrou os olhos dele novamente.— Eu posso levá-la à um lugar bonito.— — Por que você faria isso?— Ellylan perguntou, pois Maximus demonstrou estar ocupado nos ultimos dias, já que o via com menos frequencia do que antes. Na verdade, não existiam motivos para um arcanjo deixar suas obrigações de lado para levar uma humana em um passeio. Principalmente quando esse arcanjo era experiente em ignorar tudo o que ocorria entre eles que poderia ser considerado como algo... bom. A resposta do arcanjo foi dar de ombros ao mesmo tempo que sua expressão se tornava gentil, mas Maximus percebeu que ela precisava de uma resposta. — Imagino que um passeio irá torná-la mais dócil.— Ele falou provocadoramente.— Trancar um bichinho de estimação apenas o deixará mais selvagem.— Ellylan deveria ter ficado realmente ofendida por ser chamada de bichinho de estimação, e se não bastasse, de selvagem. Mas todo o seu interior se agitou ao ver que o arcanjo estava brincando com ela novamente, todas as borboletas que adormeciam em seu estomago acordaram com uma eletricidade esmagadora que Ellylan não pode ser capaz de esconder seus sentimentos. Ela sorriu. Pela primeira vez desde que encontrará o arcanjo, Ellylan estava sorrindo para esse anjo que deveria ser temido, que deveria fazê-la se sentir apavorada ao invés de causar esses sentimentos. Sentimentos indefinidos, pois eram tantos que se manifestavam quando Maximus a tratava como algo além de humano, que ela nem ao menos conseguia citar qualquer um deles. — Ai está algo que eu realmente gostaria de ter visto antes.— O anjo loiro se tornou sério, mas seus olhos demonstravam carinho. Na verdade, ele olhou para Ellylan como se ela fosse algo realmente único. Isso a deixou um pouco constrangida, pois nem mesmo quando o arcanjo a viu apenas de roupas intimas ele a olhou dessa maneira. — Então...— Ela murmurio, procurando algo para falar, mas falhou quando ficou hipnotizada pelos olhos do arcanjo. — Eu preciso me encontrar com meus irmãos para resolver alguns assunto.— Maximus falou quando percebeu seu constrangimento.— Voltarei antes do anoitecer e a levarei para algum lugar bonito.— — Isso é uma promessa?— Elly perguntou, inclinando sua cabeça para o lado. — Sim,— O arcanjo falou calmamente.— É uma promessa.—
Ellylan saiu do escritório de Maximus assim que teve a certeza de que ele a levaria para qualquer lugar longe do castelo, mas quando pensou que encontraria Bryan diante da porta, foi Gate quem estava a espera dela. Seu pequeno sorriso se desmanchou quando viu o do soldado. Seu desejo era de voltar para o escritório de Maximus. — Parece que alguém terá um encontro essa tarde,— Ele disse com ironia cortante. — Cale-se.— Ellylan falou, se colocando em frente dele para caminhar, mesmo não sabendo onde era seu quarto. — E é alguém que acha Maximus muito bonito...— Gate completou sua frase, não a deixando esquecer do que ocorreu no dia em que o arcanjo foi com seus soldados até ela para saber o que havia acontecido na noite em que toda sua alma quase se partiu. — Você seria muito mais feliz se não cuidasse da vida dos outros, Gate.— — Não, Milady, eu não iria.— Ele caminhava atrás dela, a guiando mesmo quando ela andava em sua frente sem saber onde ia.— Fofocas dão vida a esse castelo.— — Eu espero que Maximus corte a garganta de todos esses fofoqueiros.— Ellylan murmurio e acabou sendo surpreendida com sua agressividade. — Maximus? Ele adora fofocas!— Ele se fingiu de tolo.— Principalmente quando se trata do que uma certa humana pensa dele.— Ellylan parou de caminhar para se virar na direção de Gate, encontrando aqueles olhos marrons, que lembravam chocolates, ela não pode resistir à pergunta que se formou em sua mente. — Maximus pergunta sobre mim?— Gate sorriu ironicamente, seus olhos brilharam com humor e Elly soube no mesmo momento que não deveria ter feito aquela pergunta ridícula.— Pensei que você odiasse fofocas, Milady.— *** Ellylan se sentou em sua cama no momento em que fechou sua porta, na cara de Gate, e caminhou até ela, ainda era manhã e até a tarde iria demorar muito, mas como ela não possuía nada para fazer, sua única opção foi se manter dentro de seu quarto. Elly estava muito anciosa para sequer fechar seus olhos e dormir um pouco, então tudo o que fez foi esperar por Maximus até que ele chegasse. Ela esperou por horas. Esperou até mesmo quando a manhã passou. Esperou durante a tarde toda E esperou até mesmo quando aquela noite sem nenhuma estrela se aproximou do céu para deixar tudo o que existia fora do castelo em total escuridão.
~ 29 ~ Maximus estava de frente com a porta do quarto de Ellylan naquele momento, ele sabia que ela estava dormindo apenas por ouvir sua respiração lenta e calma, e por esse motivo, o anjo não sabia se a acordava para se desculpar por tê-la deixado esperando e quebrado uma promessa. No entanto, ele não quebrava promessas, então Maximus iria ter que acordá-la. Em outros casos, ele jamais se permitiria estar aqui para se desculpar apropriadamente, um arcanjo nunca estava errado. E mesmo que tivesse sido inevitavel não ter ficado até tarde com seus irmãos para resolver alguns problemas sobre as dimensões, Maximus se encontrava na frente do quarto de Elly, sem saber exatamente o que fazer já que ela possuía um genio muito ruim. Além do mais, ela havia sorrido para ele pela primeira vez e mesmo que o arcanjo fosse conhecido como alguém sem alma, sem compaixão, Maximus não podia estragar isso. Ele já havia ouvido o riso de Ellylan, um som tão lindo e puro que nem ao menos podia ser comparado com o que ele conhecia como sorrisos. Ela provavelmente já havia sorrido para todos naquele castelo, mas aquela foi a primeira vez que o anjo havia visto em seu rosto algo que não estava relacionado ao medo. Algo que pertencia somente a ele. Maximus nunca se permitiria estragar isso. O arcanjo levantou sua mão, e muito diferente de como Ellylan agia, ele bateu em sua porta com duas batidas fortes para se certificar de que ela escutaria, mesmo sabendo que o sono dessa humana era muito leve, cheio de pavor desde que um de seus soldados foi explodido em seu quarto. Ele ouviu o som de movimentos do quarto e até mesmo um pequeno xingamento por alguém estar a acordando tão tarde naquela noite. E por um momento, o anjo quase se sentiu culpado por estar a acordando em uma madrugada para se desculpar, mas como Elly parecia exatamente como um bichinho de estimação que apenas comia e dormia, sua consciência não o matou. Ellylan abriu a porta de seu quarto após alguns segundos, o tempo que levou para ela sair de sua cama e cambalear até a porta já que sua expressão ainda dizia que ela estava grogue de sono. Mas quando ela viu que era Maximus quem estava em sua frente, todo o seu sono foi embora. Ele ficou feliz por não sentir nenhum medo vindo das vibrações de sua alma, isso era apenas surpresa por vê-lo quando achou que o anjo nunca aparecia para cumprir sua promessa. Na verdade, Maximus sabia que em um momento ela considerou fechar a porta em sua cara, mas ela esperou que ele falasse antes de fazer isso apenas por estar surpresa. — Se está aqui para se desculpar, Maximus,— Ela disse, sua voz ainda grossa por causa do sono
que havia despertado agora pouco, seus cabelos que normalmente eram uma cascata lisa e negros estavam com vários fios fora do lugar.— Você pode ir embora.— Nesse momento ele soube que ela não estava apenas chateada por ele não cumprir algo que havia a feito feliz, mas sim cheia de raiva. Uma raiva tão podereosa que poderia derrubá-lo se estivessem em uma batalha. — Estou aqui para me redimir.— Ele disse com sinceridade, pois não havia outra opção do que dizer. Os olhos de Ellylan viraram fogos após o arcanjo dizer o motivo de estar ali, só com aviso daqueles olhos azuis escuros se tornando raivosos que ele percebeu que havia usado um tom quase sem nenhuma emoção. Maximus já havia percebido que Elly ficava furiosa quando isso acontecia, mas não havia muito o que fazer desde que isso era o que ele era. — Você estava com seus irmãos.— Ela usou a informação que ele havia passado mais cedo.— Não há maneira nenhuma de uma humana ser mais importante que os problemas de arcanjos.— Ellylan se movimentou para fechar a porta, mas antes que tivesse a chance de fazer isso, Maximus se aproximou dela para que isso não acontecesse, bloqueando o caminho e fazendo com que Elly se afastasse dele um pouco, mas em nenhum momento ela deixou de segurar a porta, deixando claro que no momento que pudesse, ela a bateria em sua cara. — Eu fiz uma promessa para você.— — Volte amanhã e eu pensarei sobre sua promessa quebrada.— Ela resmungou com raiva. Maximus estava pronto para respondê-la para convencê-la a não ficar brava por causa de seu erro, mas seus olhos foram para o quarto atrás dela e o arcanjo pode ver em cima da mesa uma bandeja cheia de comida, que aparentemente nem ao menos havia sido tocada, apenas largada lá. Ellylan olhou por cima de seus ombros para acompanhar o olhar de Maximus e por um momento todo o corpo dela congelou, mas isso foi apenas por segundos, segundos que o arcanjo nem ao menos notaria se não prestasse tanta atenção nela. — Você não comeu?— Ele perguntou. — Eu não estava com fome.— Elly disse quando voltou a olhar para Maximus, aqueles azuis escuros estavam aflitos, muitos aflitos para uma simples pergunta, mas o arcanjo viu que ela não estava mentindo, então deixou isso de lado. Por agora. Afinal, Maximus não podia deduzir nada em quanto Ellylan aparentava estar tão tensa com cada movimento que acontecia ao seu redor. — Vou levá-la para um lugar bonito.— O arcanjo se decidiu como se desculparia, se Ellylan desejava ver um lugar onde não existia o terror, ele a levaria.— Agora.— Seus olhos ficaram grandes, sua surpresa e pequena animação não deixou que ela demonstrasse que estava com raiva. Isso era o mesmo que mostrar um brinquedo de morder para um pequeno cachorrinho, mas ainda assim ela se fez de dificil.— Bem, me desculpe, mas eu não posso enxergar nada com toda essa escuridão.— — Elly,— Maximus deixou que seus sentimentos viessem para sua voz, para convencê-la.— Eu
sou inteligente o suficiente para pensar em todos os detalhes.—— — Pensasse em olhar para seu relógio quando estava com seus irmãos.— Ela murmurio, cruzando seus braços em frente de seu peito. Maximus observou cada movimento dela com atenção, principalmente no volume que se formou em seus seios por causa de seus braços que estava os pressionando.— Maximus.— Ela disse seu nome para chamar sua atenção. O arcanjo levantou seus olhos para encontrar o olhar de Ellylan como ela desejava. — Você estava olhar para meus seios?— Ela perguntou, sua voz se tornando alterada ao mesmo tempo que acompanhava o ritmo de seu coração. O arcanjo sorriu de uma maneira que apenas acontecia com Ellylan quando ia provocá-la. — Que seios?— Ellylan abriu sua boca em descrença ao mesmo tempo que franzia seu cenho para demonstrar uma expressão totalmente ofendida sobre sua provocação. — Saia!— Ela quase gritou aquilo, descruzando seus braços para pegar novamente a porta e fechála, não se importando nem um pouco quando ela acertou Maximus com força. O arcanjo não se moveu , nem quando ela tentava empurrá-lo usando aquele pedaço inútil de madeira. Ele usou suas mãos para empurrar a porta até que estivesse longe de seu corpo, mas deixou Ellylan se iludir de que ela estava conseguindo mantê-lo longe. Um riso escapou de seus lábios, o que fez aquela humana ficar ainda mais irada. — Eu vou matá-lo, Maximus!— — Uma humana matando um arcanjo?— Ele perguntou provocadoramente, inclicnando sua cabeça para o lado com a intenção de vê-la melhor já que a porta estava em sua frente.— Você pode tentar, eu estou realmente curioso para ver isso.— Se cansando daquela brincadeira com rapidez, Maximus usou um pouco de sua força para empurrar a porta e Ellylan para que pudesse entrar no quarto dela e não ter nada mais os separando. Elly, que não esperava por isso, ficou um tanto surpresa e deu alguns passos para trás quando o anjo entrou em seu quarto, abrindo as duplas portas para que suas asas pudessem passar. No entanto, ele não parou quando entrou, ele apenas deixou de caminhar quando todo o seu corpo estava contra o dela, suas curvas encaixadas perfeitamente nas dele mesmo pela falta de tamanho da parte de Ellylan, ele a envolveu com seus braços e apertou seu rosto contra o seu peito quando sabia que Elly não obedeceria sua próxima ordem. — Feche seus olhos.— Ele disse para garantir. Commutatio. Após dizer aquela palavra e permitir que o poder dele invadisse toda sua mente, um vento forte se debateu contra eles e como tal, ele varreu todo aquele cenário em que eles estavam para longe com força. Os cabelos de Ellylan eram um chicote vivo e ela acabou fechando seus olhos por causa disso, não por medo. Apesar de sua coragem, ela não estava com medo nesse momento, pois sabia que Maximus cuidaria dela caso algo ruim acontecesse. Esse era o aviso que sua alma passava para a dele. Um aviso tão duro quanto um metal.
Forte o suficiente para nunca quebrar. Do quarto, Maximus os teleportou para o único lugar que ele realmente considerava bonito o suficiente para levar alguém, um lugar que aparentemente apenas Ellylan podia passar pelas barreiras. O arcanjo olhou para todas as almas azuis que estava a cima de sua cabeça, iluminando todo o local que era cheio de escuridão. Ele já havia trazido Elly uma vez até aqui, mas considerando que não havia nenhum outro lugar para levá-la em quanto fosse noite, essa era sua única opção. Quando Ellylan cambaleou para fora dos seus braços, o som de cascalhos a baixo de seus pés era um som vivido, o único barulho em meio do silencio. Ela se virou para ver o que estava atrás dela, para olhar o mesmo que o arcanjo estava olhando. Ellylan olhou primeiro para todas aquelas almas azuis que estavam acima deles dentro de bolhas que flutuavam e em seguida seus olhos encontraram a ponte feita de pedras que eles estiveram na ultima vez que ele a trouxe aqui. Seu coração disparou somente quando, em sua frente, ela viu o lago com aguas tão transparente que era possível ver os cascalhos brancos no fundo dele. Mas não por medo, não havia medo nela naquele momento. Ela estava encantada pelo lugar, pela segunda vez. Dessa vez Maximus não a levou para ponte pelo simples motivo desse lado possuir apenas a bondade, as almas que estavam a cima de suas cabeças iluminavam tudo com suas luzes azuis a ponto de deixarem suas peles em tons diferentes, até mesmo o cabelo escuro da humana em sua frente estava um pouco azulado. Isso não era um lugar apenas bonito como ela desejava conhecer, aqui era onde a morte não existia. O único lugar onde o lado negro de seu mundo não poderia atingir. — Isso é mais bonito do que estar naquela ponte...— Ela sussurrou, olhando para o lago.— É como céu que conheço refletido na água.— Maximus entendeu, agora que ela havia falado, ele compreendeu o motivo de seu coração tão humano ter se tornado tão alegre após ver o mesmo local que ela havia visto antes e ter uma reação totalmente diferente. Essa imagem diante de seus olhos era o que mais se aproximava de seu mundo. O único lugar que a fazia se sentir próxima do que realmente era. Com tanta alegria transformando a alma dela em algo claro por causa das emoções boas que a atingiram, Maximus tentou passar por seus escudos, mas nada aconteceu. Ele apenas via barreiras de aços em volta de sua mente. — Só existem bolhas azuis.— Ela comentou, se virando para olhar Maximus.— Onde estão as vermelhas?— — Do outro lado da ponte.— O anjo a respondeu.— Mas daquele lado não é tão bonito como aqui. — — Sim...— Elly sorriu novamente e Maximus sentiu seu coração bater forte contra seu peito, algo tão anormal vindo dele que ele teve de fechar sua mão em um punho para não colocá-la em seu peito.— As vermelhas são as almas do nivel 2.—
Elly se virou novamente, olhando para todas as almas que estavam longe deles, tão longes que realmente pareciam estrelas com cores diferentes. — E não está frio como antes.— Ela falou, cada vez mais encantada.— Isso tudo me faz sentir como se estivesse em... casa.— — Esse lugar é o que realmente é o inferno.— Maximus explicou, deixando de pensar no sorriso dela para falar.— Tudo o que você já conheceu é apenas uma opção para que os arcanjos não se tornem irmãos da loucura com a solidão.— — Você está me dizendo que isso é o inferno?— Ellylan pareceu chocada. — A vida após a morte, Elly,— O arcanjo usou um termo humano para que ela pudesse compreender.— só existe porque os arcanjos decidiram que assim seria mais fácil. Um pouco de humanidade é o que nos fazem ser seres funcionais. Demonios, angelicais e anjos só existem para nos manterem longe da loucura por mais tempo. Para que aja a substituição dos imperadores quando necessarios.— — Isso soa solitario demais.— Elly falou com sinceridade.— Mas eu nunca pensei que o inferno poderia ser tão lindo. Na verdade, essa é a única certeza que tenho sobre minhas antigas memórias. — Maximus sorriu por causa da animação que cresceu nela. As vibrações de sua alma apenas eram feitas de puro terror nos ultimos dias.— Então eu estou perdoado por ter quebrado uma promessa importante?— Ellylan se virou novamente, seus olhos estavam sérios dessa vez.— Eu não estava brava com você por ter quebrado uma promessa, Maximus.— Ela falou.— Mas você não deveria ter feito uma promessa que significava algo sendo que existem várias coisas mais importantes a cima de mim. Você agiu como se apenas fazer essa minha vontade tola fosse importante.— — E era.— Maximus deu um passo para frente, se movimentando pela primeira vez e deixando que os cascalhos dançassem a baixo de seus pés, mas seus olhos ficaram focados na água em sua frente. — Você sorriu para mim pela primeira vez, eu não poderia ter estragado isso.— — Eu poderia sorrir para você novamente, idiota!—— — Você não é menos importante do que o restante dos meus problemas, Ellylan.— Ele foi sincero e encontrou seus olhos.— Você é um problema.— Ela fechou a cara, ficando emburrada por causa do comentário nada cortez. — Mas de todos os meus problemas, você é o meu favorito.— Um sorriso manchou seu rosto.— Não tem como uma humana que apareceu no inferno sem explicações ser menos importante do que qualquer outra coisa. No entanto, eu estou a baixo dos anciões e devo cumprir minhas regras.— — Esses anciões...— Ela resmungou.— Eles são os culpados!— Maximus riu com o comentário dela, pois agora ela estava brava com seus soberanos por terem estragado seu passeio. Seu riso foi um som que o surpreendeu pela sinceridade. — Se serve de consolo, eu também não gosto deles.— — Mas eles são sua família!— Ela exclamou. — Não mais.— Ele decidiu compartilhar seus segredos.— Quando arcanjos se tornam anciões, eles se tornam pior que... Meridius.— Ellylan arqueou sua sobrancelha, sua expressão se tornou duvidosa.— Isso é realmente possível?— — Muito possível.— Maximus respondeu sua pergunta.— E aqueles que adormecem, se algum deles acordar, dizem que serão ainda piores por terem ficado presos por muito tempo nos pesadelos de suas almas.— — Você acredita nisso?— — Eu não sei.— Maximus deu de ombros.— Ninguém nunca viu um ancião antes, sempre existem
esses boatos de que se um arcanjo não cumprir o que é destinado para fazer, eles irão castigá-los por isso. A única coisa que tenho certeza é de que seus olhos e ouvidos estão sempre em nossos rastros, então se isso é uma confirmação real, nós somos obrigados a temê-los.—— — Se eu tenho problemas para controlar minha tremedeira quando vejo Meridius, não gosto de imaginar meu coração explodindo de medo por causa de um ancião.— — Meu irmão não é tão ruim quanto você pensa.— Maximus a olhou, guardou em sua mente cada traços dela e cada expressões que Ellylan usava quando falava.— Mas nós podemos falar do meu irmão depois, você não quis conhecer um lugar surpreendente para falar sobre Meridius.— — Certo.— Ela concordou. Maximus se afastou de Ellylan e abriu suas asas para levar suas mãos até os ziperes embutidos que exisitam em sua camisa feita propriamente para anjos. Depois de abri-los, ele começou a abrir os botões que ficavam em frente de seu peito. A respiração de Ellylan cessou, exatamente como acontecia todas as vezes que Maximus tirava sua camisa nos treinos matutinos. No começo, ele havia feito aquilo por pura necessidade, mas depois que viu a reação que ela teve com sua parte superior nua, o anjo passou a fazer isso por pura provocação. Quando ele estava na metade de seus botões, Maximus levantou seu olhar para encarar uma Ellylan congelada e com olhos grandes.— O que está fazendo?— Ela falou com dificuldade quando ele encontrou seu olhar. — Nós vamos entrar.— Maximus a respondeu calmamente, olhando para aquela água transparente para se certificar de que Elly entenderia. — Você está louco?— Ellylan quase surtou.— Eu quase morri da ultima vez que estive dentro de um lago!— Maximus tirou sua camisa e observou a respiração de Elly se tornar ainda mais pesado, seus olhos estavam grandes. O arcanjo em seguida desamarrou suas botas e as tirou para jogá-las de lado. Ele pensou duas vezes antes de tirar seus jeans, e ficou insatisfeito por ter que optar a mantê-los em seu corpo, pois caso contrário, Ellylan teria uma mente virando papa. Ele a olhou e quando viu que ela continuaria imovel, Maximus se aproximou dela o suficiente para obrigar Ellylan olhar para cima e encontrar seus olhos. — Você não vai tirar suas calças?— Ela perguntou em choque, mas isso não era um convite para que ele tirasse, Elly apenas estava tendo problemas de processamento com o seu coração acelerado para formular uma pergunta correta. — A menos que você deseje isso, Elly.— Ele a provocou com um sorriso. As bochechas de Ellylan pegaram fogo naquele momento, aquela era a primeira vez que alguma cor aparecia em seu rosto palido e Maximus adorou vê-la tão perto de uma borda que nem ele podia puxá-la para que pudessem cair juntos. — Eu nunca poderia deixá-la se afogar.— O arcanjo falou com seu tom sério, apesar de aprovar todas as provocações que passavam por sua mente para atormentar essa humana, ele sabia melhor do que qualquer um o que a deixava apavorada.— Confie em mim, Elly.— Ellylan suspirou. — Eu odeio confiar em você.— Ela resmungou, tirando seus cabelos de suas costas para colocá-los apenas em um de seus ombros ombros, tirando suas sapatilhas, Elly estava pronta para se virar e
permitir que Maximus abrisse seu vestido, mas o arcanjo foi mais rápido e esticou seus braços para alcançar o ziper de seu vestido. Se o arcanjo sofreria pela falta de roupa dela sem poder tocá-la de uma maneira que o agradava, Ellylan seria obrigada a manter seu corpo no meio de seus braços e com seu rosto próximo de seu peito nu. O movimento de Maximus alterou a respiração dela de uma maneira quase anormal, o ar que ela expirava fazia pequenas cocegas em sua pele. Max podia até mesmo sentir o coração dela contra sua pele batendo com uma força que dizia com todas as letras que ela era uma mortal. O arcanjo não podia acreditar que Edward, aquele anjo insano, pode a chamar de monstro. No entanto, mesmo que fosse dificil acreditar naquelas palavras, Maximus não deixou isso de lado. As palavras daquele anjo, uma Ellylan suja de sangue de coelhos e uma morte inexplicavel dentro de sua propria casa atormentavam a cabeça de Maximus. Ele havia estado na mente de todos aqueles que estavam acordados em sua ligação quando o assassinato aconteceu, mas nenhum era culpado. Era como se não existisse a outra pessoa que Ellylan mencionou. E ainda existia aquele H que foi marcado em uma das paredes do quarto com o sangue do seu soldado assassinado. Nada fazia sentido E por mais que gostasse da ideia de Ellylan perto dele, Maximus não podia ignorar o fato que tudo isso passou acontecer desde que ela misteriosamente apareceu no inferno. — Maximus.— Seu nome sussurrado o trouxe até o presente novamente para se dar conta de que já havia aberto todo o vestido de Ellylan, mas não se afastou para que ela pudesse tirá-lo. Seus tormentos que o levavam para a loucura poderiam voltar ser um problema depois, pois agora, tudo o que interessava era somente ele e Elly. Maximus se afastou. E o vestido de Ellylan escorregou por todo o seu corpo até que estivessem em seus pés. Maximus não escondeu seu interesse em olhá-la, isso seria quase impossivel desde que Elly era uma mulher muito atraente. Era de fato que seus seios eram poucos volumosos, mas ela possuia curvas em todas as partes que eram necessárias para um corpo ferminino se tornar bonito. O que deixava Maximus ainda mais atraído por seu corpo era o simples motivo dela não precisar ser nenhuma imortal para possuir curvas que levavam anjos a loucura. Maximus encontrou seus olhos com os de Ellylan, focando toda sua atenção naquelas pintinhas negras que existiam em seus olhos azuis, pois por mais que estivesse obvio que ela não se importava com suas faltas de roupas diante dele, ficar a encarando por muito tempo não era uma atitude que fazia parte de sua educação, mesmo que fosse muito tentador. — Eu vou carregá-la agora.— O arcanjo avisou antes de se movimentar para que ela não se esquivasse dele, mas Ellylan estava paralisada demais com a situação para fazer qualquer
movimento e evitar Maximus. A única coisa que se movimentava cheio de vontade e vida, era o seu coração que poderia explodir a qualquer momento pela rapidez que batia contra seu peito. Maximus colocou suas mãos na cintura dela primeiramente, sua pele gelada demais para um humano ficou quente com o seu toque e antes que Ellylan pudesse ter a chance de protestar, ele a levantou até que seus olhos encontrassem os dele no mesmo nivel, sem que o arcanjo precisasse se curvar. Não era necessario muita força para carregar Ellylan desde que ela tinha o mesmo peso de uma folha com toda a sua humanidade, mas por instinto, ela envolveu seu pescoço com seus braços e para a tortura de Maximus, seus joelhos vieram para a sua cintura, pressionando sua pele com toda a força que ela possuía pelo medo de cair. Maximus suspirou por uma questão muito sexual quando seus sentidos ameaçaram explodir toda sua mente ao sentir todo o corpo de Ellylan se encaixando perfeitamente com o seu. Sua parte tão intima estava apoiada contra o seu abdomem em um sinal de tortura de pura. — Eu não preciso que me carreguem para entrar em um lago, Maximus.— Ellylan encontrou sua voz para protestar, seu orgulho sendo ferido, mas em nenhum momento ela afrouxou seu aperto contra o corpo do arcanjo. Na verdade, a cada movimento leve dele, Elly se pressionava ainda mais contra seu corpo, o que estava o deixando a beira da loucura. Água. Ele precisava urgentemente entrar naquela água transparente ou sua mente não teria nenhuma objeção em escandalizar Ellylan. — Me diga isso quando estivermos dentro do lago.— Ele murmurio, sua intenção era de provocá-la com seu medo de se afogar, mas sua voz havia saído séria, muito grossa para uma brincadeira. Ellylan encontrou os olhos dele e ela ficou ligeiramente palida por um momento, provavelmente acreditando que ele a soltaria a qualquer momento que estivessem dentro da água. Maximus forçou que um sorriso se formasse em seus lábios, pois essa era a ultima coisa que seu cérebro pretendia fazer para Ellylan, mas como não possuía nenhuma opção do que fazer, ele fez isso para que ela tivesse a certeza de que o arcanjo não a mataria afogada nessa noite. Se certificando que Elly não se debateria para sair de seu colo, o arcanjo passou a caminhar até que estivesse dentro da água. Aquela água transparente estava morna como o oceano estaria em um dia de verão, o único barulho que se podia ouvir era o som da agua conforme os seus movimentos. O arcanjo pretendia ir até um lugar que Ellylan pudesse ficar em pé, mesmo que fosse agradavel têla em seu colo, mas conhecendo bem essas águas, ele sabia que os cascalhos no chão formavam buracos grandes e isso poderia ser um grande risco para alguém que não sabia nadar. Quando a água, um pouco a cima da cintura de Maximus, se tornou estável, ele procurou os olhos claros de Ellylan até encontrá-los já que a cada movimento ela virava sua cabeça para os lados com a intenção clara de ver o que existia em suas costas, sua alma dizia que estava com medo de se afogar novamente. Maximus iria soltá-la sem dar nenhum aviso prévio sobre isso, ele desejava provocá-la até que suas bochechas ficassem coradas pela raiva que Ellylan não conseguia esconder, mas o arcanjo não sabia que ela possuía tanto medo da água. Então, Max jamais a provocaria com os seus pesadelos.
— Você ficará bem se quiser descer.— Maximus falou assim que encontrou os olhos grandes de Ellylan. Com um leve aceno de cabeça, ela escorregou seus dedos para seus ombros e fincou suas pequenas unhas em sua pele de uma maneira que ficaria marcado. Aquilo não machucaria Maximus de maneira alguma, mas Elly não imaginava o quão torturador aquilo era quando suas coxas estavam em volta de sua cintura, o pressionando a cada movimento. Maximus tirou seu braço que estava a baixo de seu quadril para segurá-la apenas em sua cintura, Ellylan o abraçou com toda sua força quando não estava pronta para soltar o arcanjo e ficar sobre seus pés. — Você parece temer mais a água do que Meridius.— Maximus resolveu provocá-la para que seu medo fosse substituido por raiva. Ellylan sempre se tornava corajosa quando estava com raiva.— Isso não é algo considerado normal, Elly.— — Cale-se.— Ela resmungou.— Você provavelmente nunca passou por algo assim.— — Não seja tão convencida sobre isso.— Maximus decidiu compartilhar seu passado, algo que nunca havia acontecido com alguém que ele conhecia tão pouco.— Não nasci sabendo tudo o que sei hoje, eu tive que aprender a lidar com todos os meus medos para aprender a voar.— O aperto de Ellylan se suavizou contra o corpo de Maximus e desde que ele não estava mais a segurando, seus pés tocaram o chão no momento seguinte. Ela segurou os braços de Maximus quando sua surpresa fez com que sua força vacilasse, ele deu o apoio que Elly precisava mesmo quando a água a cobriu até seus seios. — Você possuía medo de altura?— Ela estava chocada a ponto de nem ao menos se importar com os riscos de se afogar. — Não de altura, mas sim de cair.— Maximus encontrou os olhos azuis de Ellylan.— Mas acredito que isso seja basicamente a mesma coisa.— — Mas você é imortal!— Elly exclamou.— Medo pela morte faz parte da humanidade.— — Eu sou imortal, sim,— Ele concordou.— Mas isso não significa que não possuo dor.— — Você se machucou muito?— — Muito.— Maximus sorriu, lembrando de quantas vezes sua mãe quase ficou louca de preocupação com ele e seus irmãos, quantas vezes ela quis os proibir de voar mesmo sabendo que isso era uma loucura desde que eles eram anjos.— Eu tive minhas asas quebradas diversas vezes.— Ellylan desviou seus olhos para olhar suas asas que estavam fechadas em suas costas, seus olhos claros procuraram por danos, mesmo que aquilo fosse impossivel. — Elly,— Maximus sussurrou seu nome para que ela encontrasse seus olhos.— Não fique com essa cara de boba em quanto me encara.— — Vá para o infer... Esquece.— Ela mesma se interrompeu depois que encontrou seus olhos para mostrar a raiva que ali existia quando o arcanjo sorriu.— Você irá me dizer o que ofende alguém que vive no inferno?— — Uma boa opção seria ofender minha beleza, Elly.— Ele a provocou.— Mas você já deixou claro com todas as letras que me acha incrivelmente bonito.— Ellylan não demonstrou sua raiva por causa da provocação com palavras como fazia na maioria das vezes, ela simplesmente se afastou de Maximus e usou suas pequenas mãos para empurrar a água em direção do rosto do arcanjo para acertá-lo.
Maximus, não se sentindo com humor o suficiente para se render, trouxe uma de suas asas para frente até que ela formasse um escudo entre ele e Ellylan. — Hey!— Ela exclamou quando a água acertou somente suas penas brancas ao invés de seu rosto como ela planejava.— Isso é covardia.— — Sério?— O anjo perguntou de maneira provocadora, inclinando sua cabeça para ver Ellylan quando deixou que sua asa o escondesse para que ela não tivesse a sua chance. Ele estava sendo cuidadoso para que essa humana não explodisse de raiva e tentasse sair da água, pois isso significaria problemas já que ela não sabia nadar. No entanto, quando Maximus viu um riso ameaçando nascer nos lábios de Ellylan, ele viu que ela estava apenas brincando com ele. Maximus movimentou sua asa novamente para fechá-la em suas contas como estava antes, mas ele não iria deixar que Ellylan brincasse sozinha quando ela estava prestes a sorrir. O anjo usou a mesma força que usava quando voava para movimentar sua asa e isso apenas causou uma grande onda em direção de Elly, o que a deixou completamente molhada mesmo quando ela tentou se virar e tampar seu rosto com suas mãos. Ela soltou um pequeno grito por culpa do susto de não esperar aquilo e isso apenas fez com que Maximus risse da situação. — Isso sim é uma covardia, Elly.— Ellylan se virou para ele novamente e usou suas mãos que já estavam em frente de seu rosto para levar todo o seu cabelo negro e molhado para trás, seu rosto livre daquelas mechas que insistiam em escondê-lo, apenas fez com que Maximus visse o quão linda ela realmente era. — Você acaba de arrumar uma guerra com uma humana, imperador do inferno.— *** Maximus tirou Ellylan de dentro da água no momento em que percebeu que seu corpo estava ficando cansado, o que não demorou muito já que ela usou uma grande quantidade de força para movimentar seus braços sobre a água e jogá-la em direção do anjo. E o arcanjo também não esperava muito de uma pessoa que a cada movimento que fazia a palavra “sedentária” surgia a tona. No entanto, foi essa pequena humana sedentária, que poderia ser facilmente comparada com um pequeno bichinho de estimação, que fez com que o arcanjo do inferno tivesse algo divertido para se lembrar no futuro. Agora, Ellylan estava sentada ao seu lado com seus joelhos abraçados em frente de seu corpo em quanto seus cabelos molhados cobriam toda suas costas. Aqueles olhos azuis que poderiam ser comuns, mas se diferenciavam por causa de suas pintinhas negras que se misturavam com a cor, encaravam as almas que flutuavam a cima do lago. Maximus, as vezes, não conseguia acreditar como ela conseguia achar isso tão bonito quando ele considerava essas bolhas brilhantes algo tão normal, tão comum. — Eu tenho uma pergunta.— Ela falou, não conseguindo ficar em silencio por muito tempo. — Fale.— Maximus disse gentilmente, encontrando o olhar dela quando ela buscou o seu. — Marie disse uma vez que eu poderia ser de Veneza.— Ellylan se movimentou rapidamente para que pudesse se sentar em direção de Maximus, suas pernas dobradas a baixo dela dessa vez em
quanto seus dedos descansavam em suas coxas. Ela tomou todo o cuidado possível para que não encostasse em suas asas, mas desde que elas estavam esparramadas no chão e próximas dela, Elly falhou.— Como é esse lugar?— — Eu pensei que se lembrava de tudo exceto quem é você.— — Eu me lembro de muitas coisas.— Ela comentou.— Mas não... Veneza.— — Veneza...— Maximus murmurio, tentando buscar uma palavra que conseguisse explicar o quão complexo era esse lugar. Ele passou sua mão em seus cabelos molhados para tirar da frente de seus olhos quando não conseguiu nada.— Eu imagino que você poderia imaginar Veneza como uma cidade construída sobre o oceano.— — Por que?— Ellylan se animou, seus olhos se tornaram grande por causa da curiosidade. — As ruas de venezas, a maioria, é constituída pelo oceano.— Maximus sorriu brevemente por causa da expressão dela.— As casas são altas, todas feitas como se estivessem vivendo em um século passado e existem muitas pontes. Veneza é considerada como uma cidade para os apaixonados por causa de sua aparencia tão romantica. E durante a noite, todas as luzes da cidade são refletidas nos canais, é como... aqui. Acho que é por esse motivo que ela é considerada assim.— Ellylan franziu o cenho.— Por que eu moraria em uma cidade assim se tenho medo de me afogar? — — Eu não sei,— Maximus deu de ombros.— Você poderia ser uma completa maluca antes de chegar até aqui.— — Isso não é muito educado, Max.— Ellylan falou, o apelido de seu nome escapou de seus lábios sem ela perceber.— Você deveria aprender a tratar bem uma pessoa que não possuía nenhum plano de passar um tempo no inferno.— — Não fale como se odiasse o inferno, Elly.— Maximus rebeteu, um pequeno incomodo crescendo em seu interior por ele saber que Ellylan tinha medo do lugar que ele considerava como sua casa. — É um lugar assustador e cheio de morte...— Ela sussurrou, desviando seus olhos para suas mãos e capturando a total atenção de Maximus.— Mas eu gosto... Eu gosto por causa de você, Maximus. — Elly disse um pouco confusa, mas ela encontrou os olhos do arcanjo com toda a sua coragem que sempre possuíu e sorriu, mesmo que suas bochechas estivessem coradas. Ele não poderia ter outra visão tão bonita quanto essa, nem mesmo quando sua imortalidade pudesse o surpreender com o decorrer dos anos.— Eu acho que sou uma completa maluca mesmo.— — Elly,— Ele sussurrou, se inclinando para aproximar seu rosto do dela.— Eu irei quebrar todas minhas regras por causa de você.— E então, o arcanjo do inferno a beijou. Ou essa era a sua intenção antes que Ellylan congelasse completamente sob o seu toque, sua respiração nem ao menos existia quando Maximus roçou seus lábios contra a maciez dos seus. Ele desejou morder seu lábio inferior para sentir o gosto dela em sua boca, mas o arcanjo não pretendia causar nenhum infarto em alguém que desejava beijar apropriadamente. Maximus se afastou alguns centimetros e abriu seus olhos para encarar a pele pálida daquela humana que continuou sem respirar. Ele sorriu sem conseguir esconder seu divertimento por causa da situação. O arcanjo, ao seu ver, havia encontrado uma forma muito mais fácil de matar humanas que o consideravam bonito. — Eu terei que ensiná-la a beijar, Elly?— Maximus perguntou para provocá-la e encontrou seu olhar de puro choque. — Você me beijou...— Seus olhos azuis estavam grandes, arregalados. — Sim.— Ele concordou, pois aquilo agora era um fato.— Isso é errado?— — Nã- Sim!— Ellylan mudou rapidamente a palavra que estava prestes a dizer, mas isso não o
interessou. No entanto, ela franziu o seu cenho, deixando claro que uma batalha interna estava acontecendo.— Oh, droga, o que eu estou falando?— Elly falou em um tom que mostrava que estava ofendida com ela mesma e isso apenas deixou Maximus um pouco confuso quando não podia acompanhar seus pensamentos, a mudança de seu humor.— Eu sempre quis fazer isso!— Maximus a encarou e Ellylan sorriu. — Faça isso novamente.— Ela falou. — Você não est...— Maximus nunca teve a chance de terminar sua frase em que pretendia se certificar de que Ellylan estava realmente preparada para aquilo, mas antes mesmo de conseguir concluir uma palavra, Elly o surpreendeu quando ficou em seus joelhos e se lançou para cima de Maximus com todo o seu corpo até que seus lábios estivessem novamente colados ao dele. Dessa vez, quem havia sido pego de surpresa foi o arcanjo. Ele não esperava essa reação de Ellylan e não pode evitar quando o peso dela o impulsionou para trás, e desde que suas asas eram pesadas o suficiente, o arcanjo caiu sobre suas costas, segurando o corpo daquela humana que o acabará de atacar por causa de um beijo. Ellylan prendeu seus joelhos um de cada lado de seu corpo, os pressionando contra a cintura de Maximus novamente, mas em uma questão muito mais sexual do que a anterior. Ellylan se sentou em cima dele, deixou que todo o seu peso caísse sobre o seu abdomem quando ela se curvou para encostar sua boca na dele pela terceira vez, já que a segunda foi um ato totalmente interrompido quando Maximus encontrou o chão. O arcanjo havia se levantado sobre os seus cotovelos para lhe dar um melhor acesso considerando suas posições e permitiu que Ellylan escorregasse seus dedos até seus cabelos para agarrá-los de uma forma brusca que ele jamais permitiria isso a outra mulher. Maximus a sentiu tremer em cima dele quando ele usou uma de suas mãos para acariciar a lateral de suas costelas, mas o modo como o corpo dela reagiu pouco o interessou quando o anjo sentiu os lábios dela se abrirem para que pudesse tocar a sua língua. Seus lábios macios e tão deliciosos para saborear eram uma tentação que poderia levar qualquer homem a loucura, mas quando Ellylan encostou sua língua na dele, incerta do que realmente deveria fazer, Maximus sentiu todo o seu interior derreter. Ele não sabia da onde toda essa explossão havia surgido de Ellylan, mas não desejava que acabasse. O arcanjo do inferno a beijou na mesma urgencia que ela pediu e a provou diversas vezes com a sua língua em sua boca para levá-la ao delírio da mesma forma em que ele estava pronto para explodir com o desespero de poder tocá-la com sua língua em outros lugares além de sua boca. Ellylan gemeu contra sua boca quando ele se levantou de suas costas e a fez escorregar seu corpo sobre o seu até que estivesse sentada em sua virilha. Maximus deixou que ela sentisse seus dentes contra seu lábio inferior quando o controle ameaçou ser uma fina brisa em meio de tanto calor. O arcanjo usou seus lábios para sugar as pequenas gotas que surgiram com sua mordida, o que fez com que Ellylan deixasse que mais gemidos escapassem de sua garganta quando ela deveria ter ficado assustada com a violencia de Maximus. Ellylan avançou novamente para que pudesse ter sua língua novamente junto com a de Maximus, toda sua ferocidade deixou sua inexperiencia de como agir totalmente esquecido em quanto ela enrolava sua língua contra a dele e permitia que seus lábios se tocassem para que o arcanjo sentisse o gosto dela.
Maximus quebrou o beijo quando a respiração de Ellylan se tornou pesada, seus dentes se fecharam novamente contra seu lábio já machucado, mas dessa vez para uma caricia sem nenhuma intenção de tirar qualquer gota de sangue. Ela abriu seus olhos, assim como Maximus, para olhá-lo em quanto o anjo puxava seu lábio. Suas bochechas tão coradas com a cor vermelha que ele desejou fazer coisas que essas pequenas manchas levariam dias para sumirem de sua pele. Mas Ellylan não era qualquer pessoa que poderia se tornar um brinquedo facilmente. Ellylan não era um brinquedo como as outras mulheres que Maximus já havia levado para cama. Ela confiava nele e isso significava problemas de todas as formas possíveis agora que uma barreira muito importante havia se quebrado entre eles. E foi por esse motivo que Maximus ignorou a sensação de um dos escudos que existiam dentro da mente de Ellylan rachando para beijá-la novamente.
~ 30 ~ Maximus deixou Ellylan em seu quarto quando eles voltaram daquele lugar tão lindo que a lembrou as estrelas de seu mundo refletidas em águas escuras. Tudo bem que aquelas bolhas flutuantes e aquela água tão transparente não fazia parte do seu mundo de maneira alguma, mas era a coisa mais próxima que ela virá desde que acordou nesse lugar que podia ser tão cheio de medo. Elly ficou em silencio a maior parte de seu tempo quando esteve com o anjo loiro, pois apesar de estar feliz e com seu estomago com mil borboletas, ela estava constragida pelos beijos que aconteceram. Ela não sabia exatamente o que fazer quando sabia que a opção de Maximus seria ignorar tudo o que havia ocorrido assim que a encontrasse na próxima vez. E ela nem ao menos podia acreditar que havia beijado Maximus, acreditava menos ainda que desejava mais que qualquer coisa repetir a dose. No entanto, quando Ellylan deixou de estar próxima da sua porta, ainda hipnotizada pelo arcanjo do inferno e a maneira que ele a segurou, com tanta força mas ao mesmo tempo com medo de que quebrasse com seu toque, ela sentiu seus olhos embaçarem por um momento quando estava em seu próximo passo. Isso fez com que Elly parasse exatamente onde estava e sua única opção foi respirar fundo para ter qualquer controle em sua mente que estava se tornando confusa, mas pareceu que tudo piorou quando ela usou essa tatica. Seu estomago se embrulhou e uma dor tão surreal queimou dentro dela, aquelas borboletas que até agora havia lhe dado uma sensação tão boa haviam sumido para que a dor tomasse conta dessa região de seu corpo. Ellylan tinha a sensação de que seu interior estava queimando, mas não de uma maneira boa como aconteceu com Maximus, era ruim, tão ruim que a dor a fez se curvar. Ela cambaleou até o banheiro para jogar um pouco de água gelada em seu rosto, mas assim que ela acendeu a luz do banheiro, seu corpo caiu naqueles pisos brancos e gelados. E no minuto seguinte, ela vômitou mesmo quando não havia se sentido enjoada. O mais apavorante era que o liquido que estava saindo de dentro de Ellylan não era algo para ser considerado normal. Elly não deveria vomitar sangue. O liquido quente e grosso com um gosto de cobre que passava por sua garganta como espinhos, tirando o gosto de Maximus de seus lábios, não deveria existir de nenhum jeito. Humanos não vomitavam sangue dessa maneira. Ellylan viu sua visão ficar negra e quando sua mente apagou para levá-la direto a um desmaio, ela
não lutou contra isso, não quando a dor e o gosto de sangue estavam a matando. *** Elly abriu seus olhos assim que sua bochecha protestou contra o piso frio do banheiro, o corpo inteiro dela estava gelado e ela se sentia completamente fria como se tivesse corrido no frio durante horas. Ignorando essa sensação, ela se levantou nos seus braços, tomando cuidado para não relar nem um centimetro da sua pele na enorme poça vermelha escura que estava em sua frente, mas antes que tivesse a chance de se levantar, todo seu corpo congelou e seus olhos se arregalaram, pois bem ali em sua frente, distante da poça de sangue que havia saido de sua boca, estava a letra “A” pintado perfeitamente com aquele liquido.
~ 31 ~ Niffie estava fechada dentro de seu quarto, não tendo saido muito de lá naquele dia pelo motivo de estar finalizando alguns detalhes em seu vestido para o baile de Diane. Para variar, ela havia feito um ótimo trabalho sem precisar de motivações para criar algo realmente bonito. Seu vestido era da cor bordo em um tecido brilhante, sua cor quase puxava para algum tom de roxo dependendo de como a luz refletia contra ele. Era perfeito. Seu recorte era de apenas um ombro e sendo moldado para ser agarrado até sua cintura e depois ele se tornava solto para formar pregas naturais conforme os movimentos. Não havia nada muito chamativo, pois apesar de Niffie desejar ficar bonita para Meridius, aquele dia era para Diane. E Ellylan já iria tomar a atenção de muitos já que essa seria a primeira vez que todos os convidados viriam uma humana no inferno, mas de longe Niffie havia criado um vestido tão lindo a ela por causa disso, aquele vestido foi desenhado com a intenção de chamar a atenção somente de um arcanjo em especial. Maximus já havia feito muito para agradar Diane em seu aniversario, convidando todos para o seu reino e oferecendo um baile em comemoração para sua irmã, o maximo que Niffie poderia fazer para alguém que se preocupava tanto com seus irmãos, era deixar Ellylan linda. E como ela já havia tido sucesso nessa missão, ela estava focada em seu vestido. Niffie havia gostado dele, mas ela estava em duvida se Meridius iria olhá-la daquela maneira que ela amava, como se ela fosse a única naquele salão de festa cheio de mulheres tão lindas e até mesmo com asas. Ela suspirou, pois estava agindo como se tivesse inveja dos anjos do sexo feminino. Isso não era verdade, pois Niffie já estava bem conformada com o fato de não ter asas para voar para qualquer lugar sem nenhum limite, mas ela ficava terrivelmente ofendida por essas mulheres serem ainda mais belas do que as angelicais. A única coisa que a deixava contente em todo esse assunto, era que tinha se casado com um arcanjo que estava completamente fora das mãos delas. Então, ponto para Niffie. Ela não possuia uma beleza rara como aquelas anjas, mas tinha Meridius, o que era muito melhor. No entanto, uma pequena parte dela, muito pequena, desejava ter um par de asas. Não apenas por causa da questão de beleza, mas sim para poder voar também. Niffie adorava ver anjos voarem e amava ainda mais quando Meridius fazia isso com ela em seus braços. Ela se perguntava o quão maravilhoso poderia ser se fizesse isso sozinha. Niffie. A voz de Meridius invadiu sua mente. Tão calma, tão macia. Por que seu humor está tão ácido?
Eu não estou certa sobre meu vestido para o baile. Silencio, como se ele não estivesse mais na sua mente, mas Niffie sabia que seu marido ainda estava lá. Ele sempre estaria. Você sabe que eu a acharei linda independente do que estiver usando. Isso soa como se você não se importasse. É apenas um baile, Niffie, não a coroação de uma nova imperatriz. Ele falou, dessa vez sem paciencia. Para variar, isso não era uma novidade. Niffie suspirou emburrada, o ignorando em sua mente já que não podia expulsá-lo. Na verdade, mesmo que não fosse pelo casamento que os obrigavam a ter uma ligação eterna, ela jamais poderia expulsar um arcanjo de sua mente, apenas Meridius poderia fazer isso. Mas naquele momento, ela possuia várias distrações e isso incluia terminar alguns detalhes de seu vestido. Isso, com certeza, era melhor do que sentir a presença permanente de Meridius em sua mente. No entanto, quando ela levou suas mãos até o tecido delicado do vestido, um relampago cortou aquele céu escuro com apenas uma lua para iluminar toda a escuridão que existia lá fora. O som forte de um trovão que tremeu até mesmo suas janelas veio logo em seguida daquele clarão. Niffie se afastou do manequim em sua frente, levando sua mão até seu coração que se acelerou com o pavor que caminhou como uma serpente venenosa por toda a sua pele. Seus olhos se fecharam no momento que sua respiração se alternou para encontrar o controle. Estava tudo bem, ela disse para si mesma, nada poderia machucá-la. Nunca mais. Niffie. Ela se agarrou na voz de Meridius, invadindo sua mente novamente por causa de seu medo que o atingiu na ligação de suas mentes. Estou bem. Não está. Ele discordou, deixando claro que não acreditava em sua mentira que estava tão longe de se tornar uma verdade quando a conhecia tão bem... Estou indo até você. São apenas as tempestades do outono. Ela falou, seu coração se tornando ainda mais acelerado com a ideia de ter Meridius em seu quarto. Niffie não sabia o que era tão tolo, sentir medo de tempestades que sempre ocorriam nas dimensões conforme as estações ou reagir de uma forma tão infantil em relação de ter seu marido em seu quarto. Eles eram casados, eles já foram apaixonados um dia. Ela não deveria ficar tão anciosa com a ideia de ter Meridius em seu quarto sendo que isso deveria acontecer todas as noites. Como marido e mulher, eles deviam dormir juntos.
Você não tem a obrigação de estar comigo toda vez que as tempestades chegam, Meridius. Niffie completou sua resposta, já que a primeira foi tão insignificante. Eu sou seu marido, ele disse pausadamente e então o som de sua porta sendo aberta foi o próximo som que invadiu o silencio de seu quarto, seu coração martelou contra seu peito ao se virar e ver Meridius parado em sua frente.— Não aja como se isso fosse algo estranho.— O arcanjo do paraiso concluiu com sua voz mal humorada. Mas aquilo era estranho, ele não podia culpá-la por agir daquela forma. Niffie encarou Meridius por um momento, esquecendo os problemas internos de seu casamento naquele instante para observá-lo. O arcanjo estava segurando a maçaneta de sua porta, sem nada para esconder seu corpo além de um par de calças de moletom de uma cor verde escuro que chegava quase a ser negro, seus cabelos que iam até a cima de seus ombros em mechas desiguais estavam bagunçados e tudo isso indicava que ele já estava deitado em sua cama e até mesmo dormindo antes de sua mente despertá-lo naquela madrugada. Meridius era mais pálido do que o restante de seus irmãos, o que fazia seus olhos escuros se tornarem chamativos, mas nada era mais chamativo naquele momento do que toda a parte de seu corpo superior nu. Seu abdomen com linhas que marcavam sua forma bem definida eram uma tentação que poderia se tornar sua obra prima favorita. No entanto, ela não achava nada mais encatador do que o pequeno furinho que existia no meio de seu queixo, um local que Niffie já havia beijado diversas vezes e que ainda tinha vontade de beijar. Ele era tão lindo, tão perfeito. E um dia ela já pode dizer que esse arcanjo pertencia somente a ela. Niffie desviou seu olhar em direção de sua cama, ela era grande o suficiente para que a fizesse se sentir solitária ao pensar que possuía um marido que dormia em um quarto separado, mas não grande o suficiente para acomodar um anjo. Sua cama não era própria para anjos adormecerem. Meridius entrou em seu quarto, fechando a porta em suas costas para logo em seguida caminhar em sua direção. Seus olhos ficaram presos ao dela quando Niffie o olhou para ver seus movimentos calmos e perigosos de um arcanjo que já havia visto coisas que ela não conseguia imaginar, coisas que o transformou em um homem frio que não permitia nenhuma abertura para os outros, nem mesmo para ela. — Não se preocupe sobre isso.— Meridius falou.— Nós daremos um jeito.— Seu arcanjo tocou suas costas com seus dedos longos, sua mão era grande o suficiente para ocupar grande espaço daquela região e era tão quente que Niffie podia sentir sua temperatura mesmo com o tecido de seu pijama entre suas peles. O toque era um aviso para que ela caminhasse com ele até sua cama, o leve empurrão em suas costas para que andasse foi um incentivo que não era necessário palavras para que Niffie entendesse, mas no momento que ela deu seu primeiro passo, outro relampago cortou o céu noturno do paraíso. Seus olhos foram até a janela para acompanhá-lo do momento em que apareceu até sumir, algo que levou segundos e que estimulou sua mente a lembrar memorias que deveriam ser apagadas. Pelo menos era isso que Niffie desejava. — Eu odeio temp...— Niffie não conseguiu terminar sua frase, não quando foi surpreendida com
Meridius se aproximando até onde seus corpos permitiam para levantá-la em seus braços. Ele não fez nenhum esforço com esse movimento, diferente de Niffie que teve que controlar toda sua mente e coração para não ter um colapso que a levaria direto para uma morte. Era, realmente, dificil lidar com o fato de ter todo o seu corpo colado com o desse arcanjo para sentir todo seus musculos e respiração. Niffie olhou para seu marido e em seus olhos escuros como o céu la fora, ela pode ver toda a sua face refletida neles. — Minha mãe,— Meridius começou assim que se movimentou em direção de sua cama. Todo o— interior de Niffie que estava agitado se acalmou com suas palavras. O arcanjo do paraiso falava tão pouco sobre seu passado que isso a fez considerar um momento valioso quando ele falava sobre sua infância.— Ela costumava dizer que tempestades são fenômenos apaixonantes quando deixamos de temê-las.— — Você as consideras apaixonantes?— Niffie perguntou com curiosidade, deixando de usar força em suas mãos que estavam nos ombros de Meridius quando percebeu que estava quase o esmagando. — Eu as considero como problemas.— Ele sorriu, um sorriso tão pequeno, mas que ainda poderia ser considerado assim.— Elas trazem muitas destruições em todas as dimensões para que sejam apaixonantes.— Meridius colocou Niffie deitada em sua cama assim que eles se aproximaram dela, o arcanjo que poderia ser chamado tão facilmente de bruto e insensivel não poderia ser considerado assim por Niffie quando ele a tratava dessa forma, quando ele cuidava dela. — Mas eu acho,— Meridius continuou, puxando seus cobertores até estarem a baixo do queixo de Niffie.— Que você não deve temê-las e nem odiá-las.— Depois que segundos se passaram em quanto ela tentava considerar o que ele falará, o arcanjo do paraiso se moveu para longe, fazendo Niffie pensar que ele havia desistido de dormir junto com ela. Isso não era uma surpresa vindo de Meridius. No entanto, ao invés do anjo se mover até a porta para sair, ele foi em direção das janelas e fechou suas cortinas escuras até que não existisse nem um vão para contar historia do que estava acontecendo do lado de fora. Meridius fez o caminho inverso depois, caminhando até a porta, mas não para sair, apenas para apagar as luzes do quarto. Niffie mordeu seu lábio inferior quando as borboletas em seu estomago decidiram ignorar os barulhos do lado de fora. O perigo agora estava do lado de dentro, bem em frente dela. Meridius foi até sua cama, puxando os cobertores que a cobriam para que pudesse entrar a baixo deles, mas o arcanjo se deteve antes que fizesse isso. Seus olhos escuros estavam sobre a cama e uma expressão pensativa tomou conta de seu rosto. O anjo que governava o paraiso não sabia como caberia em uma cama tão pequena e isso divertiu Niffie por um momento, pois nada detia Meridius e seu temperamente ruim. Era quase surreal que uma cama fosse um problema. Niffie tirou os cobertores de cima dela para que pudesse empurrar todo o ceu corpo para cima de seus joelhos. Só existia uma maneira de ambos ficarem nessa cama e ela não se importaria de ficar de uma maneira tão intima com Meridius, de uma maneira que não combinava mais com eles. Ela se arrastou até a ponta da cama, até que estivesse em frente de seu marido para que pudesse envolver seus braços ao redor de seu pescoço, permitindo que ele a segurasse em sua cintura quando o arcanjo moveu uma de suas asas para cima da cama. Meridius fez o mesmo logo em
seguida, ainda a segurando, ele a deitou sobre sua asa. Niffie não se preocupou em machucá-lo por deitar em cima de sua asa, pois mesmo que fosse tão macia a baixo dela, elas eram fortes e poderesas a ponto de seu corpo ser apenas uma folha de papel que não incomodaria nem um pouco. Meridius estava deitado de frente com ela, seus olhos negros encontraram os seus no momento em que Niffie tirou suas mãos de seu pescoço para levá-las até o peito nu de seu marido. Ele a apertou ainda mais contra o seu corpo. Seus braços ao redor de sua cintura possuíam um aperto de ferro, tão forte que Niffie protestaria se fosse qualquer outra pessoa a segurando. Mas não com Meridius. Ela se sentia segura demais quando ele não escondia o que realmente era. Meridius levou sua outra asa para cima deles, fazendo dela um novo cobertor para eles já que o verdadeiro estava a baixo da sua asa que Niffie estava deitada em cima. E mesmo que ela sentisse frio naquela noite, isso não seria mais um problema. As penas brancas e suaves das asas de seu marido fariam um ótimo trabalho em esquentá-la, assim como o corpo que estava de frente com o dela, a segurando tão perto. Niffie fechou seus olhos, se sentindo segura o suficiente para ignorar qualquer clarão e barulhos que aconteciam na tempestade, ela aninhou seu rosto na curva do pescoço de Meridius, sentindo o seu cheiro de inverno que ela tanto adorava. Frio, tão frio, mas com o cheiro de chocolate quente e canelas que não podiam ser omitidos apesar de todo o gelo. Meridius apoiou seu queixo no topo da cabeça de Niffie, mas não sem antes beijar seus cabelos negros em uma caricia de boa noite. — Você nunca precisou de asas para voar, meu pequeno Rouxinol.— Ele sussurrou, tão baixo que Niffie quase não ouviu, sua voz tão carinhosa ao falar um apelido antigo que esse anjo a deu que ela podia jurar que estava sonhando sobre isso. Talvez ela estivesse.
~ 32 ~ Ellylan não poderia dizer que dormir foi algo que nunca aconteceu quando ela nem ao menos teve a chance de tentar fechar seus olhos naquela madrugada. Afinal, ela teve que limpar todo o seu banheiro com toalhas brancas que pareciam aumentar ainda mais a sujeira. E por mais que Elly soubesse que era correto dizer para Maximus o que havia acontecido, ela não conseguiu. Não quando isso implicava dizer que todo o seu corpo estava agindo estranho já que nem se alimentar direito ela conseguia mais. No entanto, o arcanjo sabia que algo estava errado com ela no momento que a viu quando a hora de seu treinamento chegou e Elly estava tão cansada e derrotada que ela nem ao menos se sentiu constrangida pelo o que havia ocorrido entre eles poucas horas antes deles se encontrarem agora. Maximus a encarou com curiosidade, seus olhos azuis se fixaram em sua pele pálida e gélida antes de se moverem até suas olheiras que estavam quase a transformando em um panda. — Você está horrivel.— E essas foram as primeiras palavras do arcanjo que havia roubado seu primeiro beijo. Seu primeiro beijo... Talvez. Ellylan não se lembrava se já havia beijado outra pessoa, então decidiu que esse seria considerado seu primeiro beijo até se lembrar se existiram ou não outros homens em sua vida. Eles estavam em um ambiente diferente hoje, sendo impedidos de treinarem lá fora por causa de uma tempestade forte que poderia assustar Ellylan se ela não tivesse maiores preocupações como um psicopata que estava tentando ensiná-la o alfabeto com sangue. Era um salão enorme, muito grande, e apenas de olhá-lo deixava obvio que era próprio para treinamentos já que existiam vários suportes com laminas bem afiadas e assustadoras em várias paredes, grande parte do chão era forrado com colchonetes. As janelas eram grandes o suficiente para que iluminasse todo o local sem que fosse necessário que as luzes estivessem acessas, mesmo que a tempestade escurecessse aquele céu vermelho lá fora. Foi Gate que a trouxe até esse lugar que parecia muito mais aconchegante para uma queda do que o gramado verde que a causou tanto hematomas. Ellylan, assim que abriu sua porta para encontrar algum tenente que havia ficado de guarda em frente de seu quarto ficou extremamente aliviada ao invés de sentir medo quando viu que não havia ninguém lá. Maximus provavelmente havia se esquecido de mandar alguém até lá, o que não a agradaria em outra ocassião, mas como ela seria descoberta, isso não a incomodou nem um pouco.
No entanto, ela torceu para que Gate, quando apareceu diante de sua porta, se comunicasse com Maximus, dizendo que ela estava com uma aparencia doentia e a liberasse do seu treinamento, mas o soldado nem ao menos notou que ao invés de andar, Elly estava se rastejando pelos corredores atrás dele em quanto falava sobre o seu dia folga que aproveitaria para caçar animais ao lado do irmão de Maximus, Dimitrius. Ellylan ficou surpresa ao ver que o tenente era próximo do outro arcanjo, mas logo se lembrou que o único desumano o suficiente para não possuir nenhuma amizade era Meridius. Até mesmo Maximus que era mal humorado possuía amigos. E se existia algo que ela realmente desejava entender, era o casamento de Meridius com Niffie. Afinal, Elly não acreditava que o arcanjo do paraiso não possuia nenhum sentimento por ela. Era praticamente impossivel as pessoas odiarem Niffie. E se aquela mulher que era chamada de angelical conseguiu achar motivos suficientes para amar aquele arcanjo tão desumano, Ellylan acreditava que Niffie conhecia o verdadeiro Meridius, aquele que não era um imperador insensivel que deve punir, matar e julgar os demais. — Ellylan.— Maximus estalou seus dedos em frente de seu rosto ao mesmo tempo que falou seu nome. Ela o encarou, voltando para o presente pelo motivo do arcanjo ter falado todo o seu nome. Maximus havia pego a mania de chamá-la apenas de “Elly”. — Você ouviu qualquer palavra que eu disse?— Ele voltou a falar quando Ellylan encontrou seus olhos. — Apenas que eu parecia horrivel.— Elly murmurio, abaixando seus olhos quando uma carranca muito mal humorada surgiu no rosto do anjo loiro. Ela se sentiu culpada por um momento, pois se Maximus havia mencionado o que havia ocorrido entre eles, ele nunca mais voltaria a falar disso, mas ela duvidava que isso tivesse acontecido. O tão temido arcanjo do inferno fugia de assuntos constragedores que o envolviam. — Eu estava falando...— Maximus deixou sua setença no ar e Ellylan olhou para cima até encontrar o rosto nada amigavel do arcanjo, sua boca era uma linha dura que poderia matar qualquer um que tivesse ousadia para tocá-lo, mas mesmo com todo esse perigo a vista, Elly desejava beijá-lo novamente.— Você está me ouvindo?— — Sim!— Ellylan exclamou, dessa vez forçando sua atenção em Maximus completamente. Não que isso fosse impossivel. Maximus suspirou, sua paciencia que quase não existia era como uma placa de gelo que derretia muito rapido. — Você é um desastre completo com laminas muito longas, Ellylan.— Maximus retomou o assunto que o interessava, a elogiando novamente. Ellylan não pode deixar de ficar emburrada.— Isso ficou visivel desde o momento que nos encontramos pela primeira vez e você matou aquele cão do inferno.— — Pelo menos eu o matei.— Elly resmungou, cruzando seus braço e desviando seus olhos para o outro lado. — Sua falta de força e tamanho fazem com que uma espada não se torne algo seguro.— Naquele momento, Elly odiava o fato de ter beijado esse cretino insensivel que estava a criticando ao invés de falar qualquer coisa sobre o beijo da madrugada passada. Aquilo era importante para ela e Maximus não devia agir como se nada tivesse acontecido... E ele estava usando sua falta de altura para atingi-la! Esse arcanjo deveria ter pensado nessas criticas antes de beijá-la.
Idiota. — Se você percebeu isso desde o primeiro instante que me viu, Maximus,...— Ellylan suspirou, procurando a calma em seu interior quando sua voz havia saído alterada demais.— Por que você estava tentando me matar nesses treinamentos que tivemos todos os dias com as espadas?!— — Porque você precisava fortelecer seus musculos.— Ele disse de maneira que soava importante, Ellylan desejou matá-lo, pois não considerava ser jogada no gramado diversas vezes como um meio de “fortelecer seus musculos”. Ela poderia socá-lo, mas tudo o que fez foi falar “Tudo bem”. Maximus a encarou por um momento e ficou em silencio em quanto seus olhos percorriam cada detalhe do rosto de Ellylan. Ela desejou se enterrar em algum buraco bem fundo, pois parecia que o arcanjo do inferno estava descobrindo todos os segredos dela apenas em observá-la. Elly não era idiota, sabia que Maximus tinha alguma noção de que ela estava mantendo seus próprios segredos. Ele era o arcanjo do inferno, alguém que sentia o cheiro da mentira antes mesmo da pessoa abrir a boca. Maximus havia ganho sua confiança, isso ela tinha certeza, mas ainda assim não deixava de estar apavorada a ponto de não conseguir abrir sua boca, pois ela desejeva contar tudo a ele. No entanto, esse arcanjo e seus irmão já mostraram uma vez que não tinham problemas em matar pessoas defeituosas. E Ellylan já tinha defeitos suficientes para aumentar sua lista falando seus problemas. Esse arcanjo que a protegia tanto não a mataria, isso ela tinha certeza, mas existia Meridius. E até mesmo Dimitrius com sua imagem de quem não se importa com nada além da diversão era um perigo. Afinal, ele era um arcanjo. Maximus desviou seus olhos de Ellylan para se mover, desistindo de encará-la ou de falar qualquer coisa que estivesse em sua mente. O anjo caminhou até uma das paredes que estavam cheias de armas que não tinham aparencias agradaveis mesmo que fossem bonitas. Elly deu alguns passos para ficar próxima do arcanjo, curiosa quando ele se manteve de costas para ela em quanto olhava para as várias laminas que estavam peduradas. — Você não nasceu apta para ser uma guerreira.— Maximus disse em um tom calmo e baixo, sua atenção estava tão focada nas armas em sua frente que ele nem ao menos percebeu a emoção que invadiu sua voz. Uma emoção que dizia que ele não gostava de Ellylan não ser uma guerreira e isso fez com que algo em sua mente explodisse em puro incomodo.— Mas isso não significa que não tenha capacidade para se defender.— Um elogio. Pelo menos era algo próximo disso. No entanto, Ellylan não precisava do arcanjo falando disso para saber que podia ter capacidade de se defender. Ela estava no inferno e ainda estava viva, isso tinha que significar algo. Mas agora que o arcanjo parecia tão serio sobre como ensiná-la a se defender de qualquer um que queira matá-la, algo despertou em sua mente. — Maximus...— Ela sussurrou, não esperando que o anjo loiro se virasse em sua direção.— Eu não posso matar ninguém.— Ellylan não podia.
Não quando isso a tornaria como... eles. Ela desejava acreditar que a palavra imortal envolvia tudo aquilo que se tornava impossivel alguém morrer, mas desde que acordou nesse lugar Elly descobriu que quem possui a vida eterna apenas se torna dificil de matar, não impossivel. E Maximus estava tentanto ensiná-la a fazer exatamente isso que a deixava longe de sua humanidade. O arcanjo caminhou em direção daquele suporte que era cheio de laminas pequenas, ele a ignorou como se Ellylan não tivesse dito nenhuma palavra para pegar duas pequenas armas que ela preferiu não reparar nos detalhes, pois Elly não estaria as segurando mais. Maximus se virou e encontrou os olhos dela. Seu olhar estava tão vazio que ela não conseguia dizer o que esse anjo poderia estar pensando. Na verdade, seria um grande milagre o dia que isso acontecesse. — Um assassinato aconteceu em seu quarto.— Ele a lembrou e fez com que os pelos de seu braço se arrepiassem com a lembrança não desejada.— Em quanto você estava dormindo.— — E dai?— Ellylan tentou manter a calma, quando quase avançou para cima do arcanjo com a intenção de pegar as laminas em suas mãos e guardá-las a baixo de seu travesseiro. — A vitima poderia ser você.— Por mais que Elly odiasse a ideia de ser uma vitima, o fato real era que ela já era uma. Uma humana no meio de imortais estava muito longe de ser uma guerreira extraordinaria. — Nós deveriamos parar.— ela falou, desviando seus olhos dos do arcanjo quando não podia mais encará-lo por diversos motivos.— Esse plano não esta funcionando em nenhum sentido... Minha mente continua bloqueada e eu continuarei sendo um desastre segurando uma lamina. Seja ela pequena ou grande.— — Você está certa.— Maximus sorriu brevemente e levantou suas mãos que seguravam as laminas para que ficassem em frente de seus olhos. E Ellylan foi obrigada a encarar aquelas armas mortais pela primeira vez. Elas eram... Diferentes. Distante de qualquer coisa que ela já havia visto desde que acordou nesse lugar que matar era apenas uma brincadeira. As espadas, ou seja lá como se chamavam, possuíam três pontas finas. Duas delas eram menores e formavam um tipo de U imperfeito, no meio delas existia outra que era completamente reta e era a maior de todas. — No entanto, não entendo como alguém com seu temperamento consegue admitir a derrota antes mesmo de tentar.— O arcanjo voltou a falar, tomando a atenção de Ellylan novamente. — Você entenderia se estivesse no meu lugar, Maximus.— Ela resmungou, cruzando seus braços. — Então vamos fazer um acordo.— Ele sugeriu, abaixando as laminas.— Você continua seus treinamentos para aprender a atrasar sua morte até que eu chegue.— — Para matar quem esteja tentando me machucar?— Ela preferiu perguntar isso ao invés de responder um simples não. — Por que não?— O arcanjo pareceu incrédulo.— Não me diga que você vai querer tomar um pouco de chá com alguém que está tentanto matá-la.— — Bem...— Ela não iria exatamente tomar chá com alguém que tentaria matá-la, mas... — Ellylan.— Maximus disse severamente, quase a assustando quando seu tom se tornou aquele que dizia que ele tinha o poder.— Não pense nisso se quiser continuar viva.— — Mas...— — Você possui um inimigo.— Ele a cortou.— Alguém que está destruindo sua vida. Lembre-se disso.—
Ellylan suspirou, pois Maximus tinha razão. Edward foi o único que tentou matá-la e ele estava morto, mas ainda existia essa outra pessoa que havia a trazido para o inferno e que explodiu um soldado dentro de seu quarto. E quem poderia garantir que Ellylan não era a próxima? Elly não poderia matar essa pessoa mesmo que desejasse, ela estava ciente disso, mas era uma boa ideia atrasar as coisas até que Maximus chegasse para protegê-la. — Eu irei fazer isso se você prometer não me derrubar todas as vezes que falhar.— — Essas laminas se chamam Sai.— Maximus sorriu e virou as pontas daquela arma em sua direção para que Ellylan pudesse pegá-las no lugar correto para não correr o risco de se machucar com todas aquelas pontas.— Elas serão suas a partir de agora.— *** Ellylan, naquele momento, se perguntava se era possível existir alguém tão tola como ela e se a resposta fosse “sim”, jamais acreditaria nisso. Elly pensou que o sorriso gentil de Maximus quando ela falou que continuaria a treinar contanto que ele parasse de derrubá-la fosse um tipo de resposta de concordancia, mas o arcanjo não havia prometido nada e foi Ellylan que interpretou aquilo tudo errado. E isso se tornou obvio quando o anjo loiro a derrubou pela primeira vez. Agora Elly estava sentada naquele chão com colchonetes, ela estava prestes a se levantar quando o arcanjo começou a andar ao redor dela, lhe dando vários sermões de como estava agindo errado e cometendo os mesmos erros que ele corrigia todos os dias. E quando Maximus chegou na parte em que Ellylan deixou que suas laminas caissem, ela desejou tampar seus ouvidos para não ter que ouvir o quão irado o arcanjo estava. Ele parecia terrivelmente ofendido por causa disso e tudo o que Elly conseguia pensar era que apenas ela deveria se sentir assim quando até respirar doia. — Você não deve soltar suas armas.— Essa era a centessima vez que ele falava aquilo.— Jamais.— E era a centessima vez que Ellylan revirava seus olhos. — Não faça essa cara.— Maximus pareceu ainda mais ofendido.— Você poderia estar morta.— Sim, mas ela não estava. — Se seu inimigo estivesse presente nesse momento você...— Blá Blá Blá Blá. Ellylan não era obrigada a ouvir tudo aquilo quando Maximus tinha a enganado. Talvez ela prestasse atenção se não tivesse ido para o chão diversas vezes. Maximus continuava a caminhar ao seu redor em quanto falava e depois que vários minutos se passaram sem que o arcanjo encontrasse o fim dos seus sermãos, uma ideia surgiu na mente de Elly que quase a fez rir, mas ela não estragaria esse momento antes de estar feito. O fato era que o arcanjo do inferno a considerava fraca e comparada sua força com a dela, Ellylan não podia negar isso, mas Elly não era tão tola quanto aparentava ser. Quando era necessario, ela sabia o que fazer para viver...
Ellylan esperou que Maximus estivesse próximo de suas mãos em quanto o arcanjo ainda continuava andando ao seu redor e no momento certo, ela se esticou para agarrar o tornozelo do anjo e usou sua força para puxar aquela parte do corpo de Maximus em sua direção. Como era o esperado, o arcanjo do inferno caiu. Novamente. Elly teria sorrido ao ver Maximus cair novamente em seu truque que não falhou quando ele tentou matá-la na primeira vez que se encontraram naquele pantano tão apavorante, mas quando o anjo loiro perdeu seu equilibrio sem ao menos esperar essa atitude dela, ele abriu suas asas para tentar se manter em pé, mas isso não funcionou. — Elly!— Maximus encontrou o chão com suas costas e o solo até mesmo tremeu a baixo de Ellylan quando ele caiu, mas o que realmente a apavorou foi ver uma de suas asas vindo em sua direção. Ela se encolheu no chão para que o impacto não fosse tão forte, estando ciente de que suas asas não eram tão suaves quanto aparentavam ser e isso só ficou claro em sua mente pelo temor que nasceu na voz do arcanjo quando ele caiu e perdeu todo controle de seu corpo. No entanto, quando ela pensou que iria ser esmagada pela asa que veio para cima de seu corpo encolhido, tudo o que pode sentir foi o suave roçar de penas macias contra sua pele. Ela abriu seus olhos, não tendo muita certeza de quando havia os fechado, para ver o rosto do anjo cheio de raiva, a encarando com aqueles olhos azuis que lembravam uma piscina. — Você está tentando se matar hoje?!— Ele perguntou, seu tom quase a fez se encolher ainda mais. — Minhas asas são mais pesadas do que meu próprio corpo, Elly!— Ellylan poderia ter rebatido sua aparente grosseria com algumas palavras que provavelmente irritaria ainda mais o anjo do inferno, mas antes que sua mente escolhesse seguir esse caminho, ela segurou a ponta da asa de Maximus com seus dedos gélidos quando ele estava a tirando de cima dela para se levantar. — Está tudo bem.— Ellylan sussurrou para que ele deixasse sua asa sobre ela. A sensação de suas penas contra a pele dela era algo quase inexplicavel, algo que Elly tinha certeza que nunca havia sentido antes. E foram essas asas que a fez temer tanto Maximus quando o viu pela primeira vez, eram elas que gritavam todas as palavras que esse anjo jamais poderia se passar por alguém normal. Maximus tinha vários outros poderes, ela sabia disso agora, mas foram suas asas que fez com que Ellylan o chamasse de monstro. Era quase inacreditável que considerasse elas como algo realmente graciosas e bonitas agora. — Não faça coisas que podem machucá-la.— Maximus advertiu, desistindo de se mover quando levou um de seus braços para de baixo de sua cabeça após desviar seus olhos dela para encarar o teto.— Eu não sei como lidar com uma humana suícida.— — Você está apenas ofendido por tê-lo derrubado.— Ellylan resmungou com certa felicidade.— De novo.— — Se considere vingada de todos os tombos que causei a você.— Maximus sorriu, mas não olhou para ela.— Sabe, Elly, eu nunca imaginei que poderia ser derrubado por um humano.— — Duas vezes.— Ela decidiu adicionar aquilo na frase dele, orgulhosa de si mesma agora que havia ouvido aquilo sair dos lábios do anjo.— E você provavelmente nunca imaginou nada que incluísse seu nome e um humano em uma mesma frase.—
Ellylan desejou sorrir, pois gostou da ideia de ser uma experiencia única para o arcanjo do inferno que já havia visto e vivido muitas coisas. — Elly,— Maximus disse seu nome em um tom suave, sua expressão acompanhava sua voz, mesmo que ele estivesse olhando para o teto.— Amanhã é o baile de aniversário de Diane.— — Oh,— Ellylan não podia acreditar que havia esquecido o aniversario de Diane. Tantas coisas havia acontecido que nem ao menos se preocupou com o fato de seu vestido ter sido destruido... — Muitos imortais virão até aqui,— O anjo continuou.— E muito deles só possuem a intenção de conhecê-la.— — Me conhecer?— Elly não pode esconder a surpresa de sua voz, principalmente quando todos os imortais pareciam odiar humanos. — Você é a novidade aqui, Ellylan, o aniversário de Diane não.— — Isso é errado.— Ela murmurio, fechando suas mãos em punhos pela raiva que passou por todo o seu corpo, mas logo se arrependeu quando a dor a lembrou que havia uma ferida recém-feita por aquela lamina que Maximus havia dado a ela. — O aniversário é de sua irmã, não meu.— Ellylan se sentiu culpada, pois Maximus deixou claro nesse momento que o foco do baile de Diane seria ela, não a aniversariante. Isso era algo horrivel, principalmente quando a irmã do arcanjo esteve tão animada em quanto procurava um vestido. — Talvez eu devesse ficar em meu quarto.— Elly voltou a falar e Maximus finalmente encontrou o olhar dela. — Não estou falando isso a você para que conclua isso, Elly.— Ele falou.— Estou a avisando para que não crie problemas a mim.— — Por que eu criaria problemas?!— Ellylan se ofendeu. — Imortais possuem um certo dom para ofender humanos, você sabe disso.— Sim, ela sabia muito bem disso.— Apenas tente não se sentir ofendida pelo o que escutar a seu respeito.— — Eu ainda acho melhor a opção de ficar fechada no meu quarto.— Ela resmungou. — Você será minha acompanhante, não é muito educado fazer isso com o seu par.— — Eu não me lembro de você ter feito um convite e recordo muito menos tê-lo aceitado.— — Não se faça de dificil.—Maximus sorriu.— Nós não estamos no colegial.— Colegial. Essa pequena palavra fez com que Ellylan se perguntasse se no baile da escola algum homem tão bonito quanto Maximus havia a convidado para ser sua acompanhante, se seu vestido foi tão elegante quanto aquele que havia sido destruído... As vezes era realmente uma droga não poder se lembrar de nada do que aconteceu em sua vida. Ela nem ao menos sabia qual era o nome de seus pais e isso a machucava um pouco. Parecia tão errado esquecer sobre pessoas que Elly provavelmente amava mais que tudo em sua vida. — Eu não tenho um vestido.— Ela usou sua desculpa, não precisando mentir ainda mais para o arcanjo ao seu lado. — Não se preocupe com isso.— — E se algum imortal quiser me atacar?— — Por que alguém faria isso na minha frente?— Maximus franziu o cenho, mas em questão de segundos essa expressão sumiu.— De qualquer maneira, você já enfrentou Meridius, não há motivos para temê-los.— Ela suspirou em desistencia, pois não tinha como criar argumentos com Maximus.
— Eu irei por causa de Diane.— Ellylan disse irritada.— Não por você.— — Eu imagino que isso é o suficiente.— Maximus desviou seus olhos para o teto novamente.— Agora, há outra coisa que precisamos conversar.— Ellylan poderia ter se levantado no momento em que o anjo disse aquelas palavras se não fosse sua asa em cima dela, pensando que ele falaria sobre o beijo. No entanto, esse assunto continuou intocável. Maximus começou falar sobre as barreiras de sua mente e antes que o anjo concluísse seu assunto, ela sentiu suas palpebras ficarem pesadas. Muito pesadas. Elly tentou prestar atenção no que Maximus dizia, tentou mesmo, mas depois de um tempo a voz do anjo loiro começou a soar como uma melodia em sua mente e ela desistiu de ficar acordada para saber o que exatamente o arcanjo do inferno estava falando.
~ 33 ~ Maximus estava com Ellylan em seus braços quando ele saiu do salão de treinamentos e encontrou Diane com Katherine em quanto caminhavam juntas para algum lugar. Elas pararam de conversar no momento que o viram e ambas focaram suas atenção em Elly, que dormia profundamente em quando apoiava sua cabeça contra o ombro do arcanjo. Apesar de Maximus a segurar tão firme contra ele, era dificil considerar aquela posição em que ela estava confortável para dormir, mas Ellylan parecia não ter problemas. Na verdade, era primeira vez em dias que ele sentia a paz de sua alma em quanto ela dormia. Sem nenhum medo. Ellylan estava brava com ele, mesmo que não demonstrasse isso, Maximus ainda sabia que ela estava irritada pelo fato de não ter mencionado que eles se beijaram na madrugada passada. No entanto, Elly nunca lhe deu a chance de fazer isso já que preferiu dormir quando o anjo estava quase chegando nesse assunto. E Max tinha certeza de que ela não prestou atenção também quando ele falou sobre a barreira que se partiu em sua mente. — Ela está morta?— Katherine perguntou, sendo a primeira a falar sem conseguir esconder sua animação. Maximus se perguntava por que ela e Ellylan se odiavam tanto, quando sabia que ambas se dariam muito bem por causa do gênio ruim que possuiam. Diane olhou para o rosto adormecido de Elly, seus olhos escuros como os de Meridius e Dimitrius transmitiam sua bondade sem que o anjo precisasse encontrar sua alma para saber o que realmente ela pensava.— Ela não parece muito bem.— Sua irmã comentou.— Ellylan está muito palida para uma humana.— — Eu sei.— Maximus respondeu, olhando para Diane.— Há algo de errado com ela, mas Ellylan continua mentindo.— — Você consegue sentir a alma dela?— Katherine pareceu surpresa e Maximus a respondeu com um rapido aceno.— Pensei que os arcanjos só podiam fazer isso com... Pessoas do nosso mundo.— — Supostamente, um humano possui a mente mais frágil em uma escala onde estão anjos, demonios e angelicais, mas Ellylan continua sendo um mistério.— — Quem fez isso com ela,— Diane falou em um tom baixo.— fez um bom trabalho para não deixar sua marca.— — É uma pena que ela não possua mais memórias.— Katherine disse com um sorriso cheio de maldade crescendo em seus lábios.— Eu amaria escutar historias de uma humana fracassada.— — Sinceramente,— Sua irmã revirou seus olhos.— Eu não sei como ainda tenho duvidas do porque você e Meridius se dão tão bem, Kath.— — Não há nada que se possa fazer quando venenos são compátiveis, D.— Maximus falou, sorrindo para Kath com a intenção de provocá-la. Katherine fechou a cara e antes que a conversa entre eles prolongasse, ela começou a andar
novamente, como se nunca tivesse encontrado ele. Seus passos eram um aviso claro de que ela estava emburrada e Maximus sentiria muito pela próxima pessoa que as encontrassem, pois ele acabará de deixar o humor de sua amiga completamente negro. Maximus sorriu em quanto olhava para Kath caminhando com Diane apressando seus paços para acompanhá-la logos atrás dela. Se fosse possível, Katherine teria pego no pulso de Diane para que sua irmã caminhasse ainda mais rapido em quanto a puxava, mas toques eram completamente proibidos para Kath. O arcanjo do inferno olhou para Ellylan quando Diane e Kath sumiram de sua vista, seu rosto ainda era calmo e ela não demonstrou qualquer sinal de que acordaria logo. — Sua pequena mentirosa.— Maximus murmurio, desejando que a mente dela se abrisse naquele momento para que ele descobrisse esses segredos que ela escondia com sombras negras em sua alma. Maximus sabia que existia algo de errado com ela e estava ainda mais ciente de que Ellylan sabia que o que estava acontecendo, mas ele jamais a forçaria falar algo que não desejava. Não quando ele poderia quebrar toda a confiança que ela depositava nele em questão de segundos.
~ 34 ~ Ellylan se espreguiçou no momento em que acordou, seu corpo estava totalmente relaxado agora que ela havia dormido depois de não ter conseguido fechar seus olhos durante a madrugada por vários motivos. Incluindo sua ansiedade por Maximus tê-la beijado. Ela fechou suas mãos em punhos quando seus pensamentos caminharam para as imagens da boca do anjo contra a sua, mas Elly se arrependeu por ter feito esse movimento com suas mão quando sabia que sentiria dor pelo machucado que existia em uma de suas palmas. No entanto, a dor nunca veio mesmo quando ela continuou esperando. Ellylan levantou seu corpo até que estivesse em uma posição sentada e ela se esticou até o criado mudo que ficava ao lado de sua cama para acender o abajur que iria clarear todo o quarto. Seus olhos não se interessaram por nada que estava em sua volta assim que a luz se ascendeu, até mesmo o papel branco ao lado do abajur que nunca esteve ali antes que viu de relance, agora seu único interesse era ver sua mão que deveria estar machucada. Ela se lembrava de ter deixado aquela estranha arma escorregar por sua mão e ganhar um corte em sua palma antes de encontrar o chão, Ellylan se lembrava claramente sobre isso, pois Maximus a derrubou todas as vezes que deixou sua lamina cair. Mas não havia nenhum corte em sua palma, sua pele estava lisa e sem nenhum rastro de que havia ganho um hematoma por causa de seu descuido. Ellylan franziu seu cenho em quanto observava sua própria mão, não conseguindo compreender o que não estava vendo. Além do mais, agora que estava pensando melhor sobre esse assunto, todos os dias Maximus a deixava exausta em seus treinamentos de um modo que deveria fazê-la querer morrer por causa da dor, mas no dia seguinte ela não sentia nada. Era como se nenhum treinamento com um imortal que a jogava no chão nunca tivesse acontecido. Seu corpo humano que deveria prostetar não estava funcionando direito. E só agora que ela havia percebido esse detalhe. Elly fechou seus olhos com força ao mesmo tempo que levou suas mãos até sua cabeça quando a imagem daquele anjo insano falando que ela se tornaria um monstro invadiu sua mente. Ela se encolheu o maximo que pode, tentando encontrar alguma explicação. Já estava acontecendo coisas estranhas demais com ela para que sua lista aumentasse... Maximus. Sim, Maximus era um arcanjo. E ele possuía essa mania de protegê-la... Ellylan abriu seus olhos, pois ao pensar que foi Maximus que curou seu machucado fazia muito sentido. Ele era um anjo e, pelo o que Elly conhecia sobre sua humanidade, anjos cuidavam dos
humanos. Maximus era o seu anjo da guarda desde que ela foi jogada no meio daquele pantano, então era aceitável acreditar que ele havia a curado... Elly deixou de lado esses pensamentos que estavam perturbando sua cabeça para pegar o papel dobrado que estava ao lado de seu abajur e quando seus dedos o puxaram para que pudesse abrí-lo, uma pena branca e grande caiu em cima de sua cama. Ela a pegou para levar em direção de seus olhos para observá-la, mesmo sabendo que pertencia a Maximus. A sensação que aquela pena causou em sua palma era muito agradável e Ellylan se lembrou de todas as vezes que teve algum contato com as asas do arcanjo do inferno. Ela não pode deixar de sorrir por causa dos pensamentos ainda mais agradáveis. Deixando de lado aquela pena por um momento, Elly abriu o papel para poder ver o que estava escrito. “Apesar de falhar com uma lamina mais do que eu poderia imaginar um dia, você teve sua primeira vitória hoje ao arrancar uma pena da minha asa. Como sei que se sentirá culpada por isso, estarei disposto para jantar em seu quarto essa noite. Maximus.” Ellylan não pode deixar de arregalar seus olhos após terminar de ler esse pequeno bilhete. E para sua infelicidade, ela nem ao menos sabia por qual motivo estava incrédula. Mas uma coisa Elly tinha certeza, ela não se sentia culpada por ter arrancado uma pena das asas do anjo loiro quando desejava o depenar igual uma galinha que seria seu jantar. E Ellylan podia ver o sorriso provocador do arcanjo em quanto ele escrevia esse bilhete, então isso apenas fez com que sua raiva crescesse ainda mais. No entanto, não era isso que a preocupava. Elly se levantou da sua cama e correu até sua porta, pois jantar com Maximus em uma mesa com outras pessoas era fácil fingir que gostava daquela comida ruim, mas sendo somente ele, seria muito dificil fingir que estava comendo. Além do mais, o arcanjo reparou na madrugada passada quando estava em sua porta que ela não havia tocado nem um pouco em seu jantar. Maximus estava começando a reparar ainda mais nela e isso só podia resultar em problemas no final de tudo. Ellylan abriu a porta e a primeira pessoa que viu foi Patrick sentado em uma cadeira grande que havia sido colocada ali por algum dos soldados de Maximus que estavam passando a noite grudado em sua porta. Ela não pode deixar de sorrir assim que encontrou aqueles olhos tão bonitos e diferentes do tenente e amigo do arcanjo, pois sabia que se fosse Bryan que estivesse ali, ele não estaria fazendo nada por ela. — Olhe quem está feliz por me ver.— Patrick disse de maneira sarcastica.— Estou surpreso que meu lindo rosto cause o mesmo efeito em humanos também.— — Por que você não pode ser gentil como seu pai?— Ellylan perguntou, pois Morgan era o tipico homem que todas as mulheres desejavam ter. Se não fosse por Maximus, ela desejaria isso também. — E por que você não pode fingir que gosta mais de mim do que ele?— O tenente ruivo resmungou ao mesmo tempo que se arrumava naquela cadeira e fechava seus olhos.— Volte para dentro, estou ocupado tentanto dormir.— — Patrick...— — Você está atrapalhando meu sono de beleza, Milady.— Ele a cortou antes que pudesse dizer algo
mais do que somente o seu nome. Ellylan apenas desejou o sacudir até que tivesse sua atenção e se arrepender por chamá-la de Milady. — Eu preciso que você faça algo para mim.— Ela falou tão dócil quando podia e isso fez com que Patrick abrisse um de seus olhos.— Por favor!— Elly implorou. — Tudo bem,— Ele se ajeitou em sua cadeira para que pudesse vê-la melhor.— Mas vamos deixar claro que estou fazendo isso por estar curioso.— — Eu não duvido de você, Patrick.— Ellylan falou em pura sinceridade, pois esse soldado possuía uma personalidade semelhante a de Gate e só pelo que ela o conhecia, poderia dizer que ele não faria nada por Elly se não achasse realmente necessário. Ellylan poderia ter se ajoelhado em frente do soldado para agradecê-lo naquele momento e não negaria em nenhum momento se esse fosse o desejo de Patrick. — Você pode fazer aquela mágica mental e falar para Maximus que não estou disposta para comer? — Elly falou.— Apenas diga que quero continuar dormindo.— Patrick movimentou sua boca para dizer algo, ele provavelmente diria algo relutante sobre passar essa mensagem para o seu amigo devido à sua expressão, mas antes que o soldado tivesse qualquer chances de permitir que uma palavra saisse, outra voz invadiu o corredor e isso fez com que Elly congelasse. — Em primeiro lugar, Elly, meus poderes não podem ser considerados como 'mágicas mentais'— Maximus falou e ela se virou para encontrar seu olhar, Ellylan realmente tentou fazer isso, mas seus olhos ficaram presos na bandeja que o anjo loiro carregava, que continha apenas um prato.— E para alguém que está disposta a mentir, não negará comer.— Oh, droga... Elly, definitivamente, iria morrer essa noite. — Você pode ir agora, Patrick.— O arcanjo falou para o soldado que ainda estava sentado em sua poltrona. Patrick se levantou tão rapido que Ellylan nem ao menos teve tempo para piscar e acompanhar seus movimentos que geralmente eram bem graciosos, o soldado estava pronto para começar a andar para longe antes que Maximus mudasse de ideia e o mandasse fazer algo, mas Patrick se deteve ao ver os de Elly olhos cheios de implorações.— Me desculpe, gatinha.— Ele disse em uma ironia fria que falou a ela que o tenente sentia tudo, menos isso.— Não posso ser útil hoje.— — Vá achar outra pessoa para chamar de gatinha, Patrick.— Maximus falou de maneira ainda mais fria que o seu amigo, mas não existia nenhum indicio de ironia em sua voz. Patrick apenas arqueou uma de suas sobrancelhas em quanto Ellylan apenas continuou com sua boca aberta quando não teve nenhuma chance de ofender o soldado ruivo de alguma maneira pelo novo apelido. Elly viu no rosto do tenente que ele havia muitas coisas para dizer sobre aquilo, mas Patrick se virou e foi embora. A deixando sozinha com um arcanjo que iria fazê-la comer nem que tivesse que enfiar a comida guela a baixo em sua garganta. *** Ellylan estava encarando o prato em sua frente e mesmo que sua aparencia fosse parecido com um
daqueles que havia sido decorado por pessoas profissionais, ela se sentia enjoada. Maximus estava sentado em sua frente, a mesa entre eles era pequena e isso apenas a fazia se sentir sem saída para fugir. Elly apertou os talheres que estavam em suas mãos para tentar se distrair desse enjoo que estava a perseguindo de maneira assustadora e gritando que algo nela não estava normal. Ela levantou seus olhos do prato para que pudesse encontrar o olhar do arcanjo que não saia dela de maneira alguma. — Não estou com fome.— Era terceira vez que Ellylan falava aquilo desde que Maximus entrou em seu quarto e colocou o prato em cima da mesa para que ela pudesse comer. E era terceira vez que ela ignorava. — Eu acredito em você.— Ele disse em um tom calmo.— Mas não irei ser acusado de maus tratos. — — Mais cedo você disse algo sobre os escudos da minha mente...— Ellylan procurou um assunto para mudar, enrolar Maximus com conversas era sua única tatitca.— Sobre o que era?— — Eu disse que um deles havia se partido quando nos beijamos.— O anjo disse e não demonstrou nenhuma emoção em sua ultima palavra. Isso apenas deixou Elly com mais raiva.— Mas nós não estaremos conversando sobre isso agora. Então, coma.— — Isso soa importante para mim, você tentou diversas coisas para não discutirmos sobre esse assunto, Max.— Ela o chamou de Max pelo simples motivo de ter percebido que emoções brotavam em seus olhos quando Ellylan usava seu apelido, ela faria qualquer coisa para distraí-lo. Maximus cruzou seus braços, um sinal que ela interpretou como derrota para o seu plano de enrolálo com conversa.— Você prefere quebrar mais escudos da sua mente com beijos ao invés de comer, Elly?— Ele falou com o mesmo tom que Ellylan usou ao falar o apelido de seu nome, deixando claro que Maximus havia entendido o que ela estava fazendo. E ela não imaginou que a primeira vez Maximus falaria sobre o beijo que aconteceu entre eles seria como algo que não fazia diferença a ele. — Vá embora.— Ellylan murmurio ao mesmo tempo que abandonava os talheres em cima da mesa. — Eu não irei comer.— Talvez estivesse na hora de Elly admitir que algo estava errado e passar a acreditar nas palavras de Edward quando ele a chamou de monstro. Ela não era um monstro, mas poderia se tornar em um. E alguma hora Maximus iria descobrir todas as suas pequenas mentiras. Ellylan deveria contar a ele, pois o anjo loiro era o único que iria poder ajudá-la entender o motivo de seus problemas, mas ela não estava preparada para fazer isso naquele momento. Quando Maximus continuou imovel em frente dela, Ellylan se levantou e caminhou em direção de sua porta para sair, pois se ele não o fizesse, ela faria sem nenhum problema. No entanto, quando Elly abriu apenas uma fresta da porta a mão do arcanjo apareceu logo ao lado de sua cabeça, usando sua força para que ela não tivesse nenhuma chance de abri-la. A porta se fechou em um baque forte devido a rapidez e força que Maximus usou ao estender sua palma sobre o material da madeira decorada. Ellylan se virou em direção do anjo, encontrando seus olhos mais próximos do que esperava quando ele se curvou para que pudesse encarar seu rosto da melhor maneira possível. Ele estava muito perto e Elly não possuia nenhum lugar para ir quando as asas brancas do anjo foram usadas como muros e não permitir que ela fugisse para longe dele. Aquele arcanjo a fez congelar no lugar, principalmente quando sentiu pequenas pontadas em sua mente que a assustou. Aquilo não doeu, pois eram semelhantes a caricias, mas como ela nunca
havia sentido aquilo antes, sua garganta ficou seca. Por algum motivo, ela sabia que era Maximus, principalmente quando tinha uma noção grande de que ele vivia checando sua mente para ver os escudos que cercavam sua mente da verdade que ele procurava e como um deles havia sido rachado, fazia sentido sentir a presença dele. Mesmo que Ellylan não compreendesse todo esse assunto de escudos e mente, algo nela gritava que essas pequenas pontadas vinha dele. Ela estava pronta para perguntar o que estava acontecendo, mas o anjo foi muito mais rapido. — Você estava com raiva de mim mais cedo.— Ele disse, a surpreendendo.— Mas ficou completamente apavorada quando apareci com um prato cheio de comida em sua frente.— Ellylan ficou chocada.— Como você sabe como me sinto?!— — Eu sou um arcanjo.— — Isso não explica nada!— — Arcanjos lidam com almas, Ellylan.— Ela piscou lentamente quando essa resposta fez algum tipo de sentido em sua mente. Niffie já havia dito algo sobre isso, sobre vibrações de almas e arcanjos as vendo se assim fossem seus desejos. — Você vê minha alma.— Isso não era um segredo, mas Ellylan pensou que ela jamais se encaixaria no meio disso tudo, de seu mundo. Suas bochechas pegaram fogo no momento em que ela lembrou de todas as emoções que teve quando o assunto era Maximus. Emoções que deveriam ser banidas. Elly sentiu suas pernas tremerem, mas ela já se sentia humilhada demais para cair em frente dele. — Você está mentindo para mim.— Isso foi uma afirmação, não uma pergunta. Algo que dizia que ele sabia tudo sobre suas emoções. É logico que Maximus saberia, ele procuraria qualquer coisa nela para descobrir quem realmente era já que não podia estar em sua mente. Ellylan apenas encarou o rosto inexpressivo do arcanjo em quanto ele continuava com sua cabeça abaixada e com seu braço ao lado da cabeça dela para que sua mão continuasse segurando a porta fechada. Aquelas pontadas em sua mente pararam, mas em um intervalo de poucos segundos elas voltavam. Ela tinha que perguntar para Maximus o que aquilo significava antes de começar achar que estava com algum tipo de tumor. — Vamos começar com os fatos mais simples agora que decidiu voltar a ser silenciosa.— O anjo loiro voltou a falar, a encurralando de todas as maneiras possiveis.—Você está brava comigo pelo motivo de não ter mencionado nenhuma palavra sobre o que aconteceu na madrugada passada.— — Eu...— A mente dela ficou em puro branco, pois não sabia como reagir com Maximus jogando a verdade em sua cara sem que ela precisasse pressioná-lo. Era muito mais fácil quando Elly tinha que fazer isso, pois as pessoas falavam por si mesmas. — O que espera que eu diga sobre esse assunto?— Maximus perguntou.— Que foi algum tipo de erro?— Ela não queria que o arcanjo falasse isso, mas era algo a se considerar quando se tratava de Maximus. O anjo era muito calculista para permitir se relacionar com uma humana. — Eu não considero aquilo um erro, Elly.— Maximus falou suavemente depois de esperar pela resposta dela que nunca veio.— Pelo contrário, é tão correto que desejo beijá-la novamente.— Ellylan engoliu em seco e quase ficou em choque por causa daquela resposta que veio de Maximus,
pois ela esperava de tudo, menos uma aceitação tão fácil. — Agora que resolvemos esse assunto,— O anjo voltou a falar antes que o cerébro dela voltasse a funcionar para criar uma frase que disesse que o assunto não estava resolvido. Existiam fatos importantes que Maximus estava ignorando, principalmente aquele que estava obvio que eles teriam uma relação que não chegaria a nenhum lugar perto do futuro desde que ela estava vivendo em um lugar errado. E Elly podia se apaixonar... Oh. Quem ela estava enganando? Ellylan já estava apaixonada.— Por que não está comendo?— Naquele momento, o coração de Ellylan gelou. Ela não gostava desse Maximus que ia direto ao ponto sem antes investigar até ter todas as verdades em suas mãos. Uma outra pontada em sua cabeça fez com que seu corpo tremesse, pois essa, diferentes das outras, havia doído como se algum prego tivesse sido enfiado em seu cranio. — Saia da minha cabeça, Maximus!— Ellylan exclamou rapidamente, quando sentiu o inicio de outra pontada que iria machucá-la. No entanto, ela deixou de existir no momento que Maximus se afastou. E seus olhos mostraram que ele estava surpreso. — Como sabe que eu estava em sua mente?— Ele perguntou, fechando suas asas brancas em suas costas e assumindo uma postura séria. — Eu senti pontadas e deduzi que era você.— — Somente agora?— O arcanjo parecia realmente curioso. — Não.— Elly admitiu.— Antes eram pontadas... suaves. Como caricias, mas essa me machucou. — — Isso é interessante.— Claro, enfiar pregos na cabeça dela para ver sua reação era muito interessante. Ellylan revirou seus olhos em revolta. — O que você estava fazendo?— — Anteriormente nada, apenas estava em sua mente.— Ele explicou calmamente.— Mas depois tentei rachar seu próximo escudo.— — Não faça mais isso.— Ellylan advertiu, realmente séria ao dizer suas palavras. Ela ficaria louca se tivesse mais daquelas dores em sua cabeça. — Me desculpe, Elly, eu não desejava machucá-la.— Maximus falou de uma maneira que mostrou que ele realmente queria dizer aquilo.— Isso nunca aconteceu antes.— — Você já fez isso antes?— Ela estava chocada, tentando imaginar quantas dores de cabeça teria tido. — Sim.— Maximus a respondeu.— Para ser sincero, eu passava boa parte do meu dia tentando quebrar sua barreira.— Instinto a fez levantar suas mãos até sua cabeça, mas Ellylan não gostava da ideia de ter aquela dor em sua mente novamente, mesmo que fosse suportável. E foi só quando ela estava voltando para uma posição normal em que não tentava inutilmente proteger sua mente com as mãos que ela sentiu outra pontada, mas não existiu dor. A sensação era a mesma de que alguém estivesse acariciando seus cabelos com toques lentos que tomavam cuidado para não fazer nada de errado e afastá-la. Ellylan olhou para Maximus. — Você está acariciando minha mente.—
— Sim,— Ele sorriu.— Talvez ela passe a gostar de mim com isso e permita minha passagem pelas barreiras.— — Minha mente não é um gato, Maximus.— Ellylan resmungou.— E pare de me tratar como um animal de estimação antes que seus tenentes façam o mesmo!— — Eles não irão fazer isso.— Um aviso tão calmo que chamou sua atenção por causa de seu tom. — Por que não?— Ela perguntou.— O outro apelido se espalhou rapidamente.— — Você é meu bichinho de estimação, Ellylan.— Sua voz extramemente séria fez com que os pequenos fios de cabelo de sua nuca se arrepiassem. Possessividade pura era apenas o que existia a cada palavra do arcanjo. — Não seja possessivo, Maximus.— Elly avisou, pois ela não pertencia a ninguém além dela mesma. — É uma verdade, não possessividade.— Ellylan se afastou da porta e fixou seus olhos nos de Maximus, ela sabia muito bem que se fosse o desejo dele, o arcanjo estaria a encurralando em qualquer outro canto desse quarto, mas naquele momento ela o encarou para enfrentá-lo. — Tanta vontade,— Ele disse com um sorriso provocador.— para alguém que tem todos os seus sentimentos revelados.— Droga. Ellylan realmente odiou saber que ele podia ver sua alma, pois agora nem ao menos podia ter um pingo de orgulho dentro dela. Afinal, uma parte dela achava um pouco agradável que ele a considerasse ser dele. Quem não gostaria? — Você não irá entrar em uma guerra comigo, Elly?— O arcanjo perguntou curiosamente, sem precisar de mais palavras para que ela soubesse do que ele estava falando. — Você pararia de ficar bisbilhotando o que sinto se eu pedisse?— — Não.— Ai estava a resposta que ela não estava surpresa em ouvir. Elly revirou seus olhos, mas antes que se deixasse ficar com raiva por causa desse motivo, existiam coisas mais importantes naquele momento.— Eu tenho uma pergunta...— Foi o que disse e quando Maximus apenas a encarou em seu silencio, ela continuou.— Você pode curar pessoas?— — Sim.— — Você pode me curar?— Ellylan reformulou sua pergunta quando recebeu uma resposta do arcanjo que não dizia o que ela desejava saber. — Em quanto sua mente estiver fechada para mim, não.— Elly sentiu seu coração acelerar naquele momento, mas tentou quase todos os meios que existiam para se manter calma. Depois, ela pensou, depois iria se desesperar. Maximus abriu sua boca para dizer algo que provavelmente envolvia sua repentina curiosidade nesse assunto, mas os olhos claros dele se desfocaram dela antes que tivesse a chance de dizer qualquer palavra e aquela caricia que apenas se repetia em sua mente parou, o que a deixou decepcionada por querer mais. Os olhos de Maximus ficaram vazios, qualquer emoção que existiu nele sumiu em questão de segundos. Alguém estava falando com ele, Ellylan deduziu, já que tinha visto essa expressão antes. — Eu tenho que ir.— Maximus falou, seus olhos voltando aos dela depois de acabar com aquela
conversa que ela estava longe de ouvir.— Alguns demonios estão criando problemas.— O anjo passou por Elly e abriu a porta de seu quarto para sair, mas quando já estava no corredor para seguir seu caminho, Maximus se virou para Ellylan novamente. Ela o observava em silencio e se segurava para não dar pequenos saltos de alegrias agora que o arcanjo do inferno havia esquecido completamente do prato cheio de comida que estava em cima da sua mesa. — Amanhã nós não poderemos ter nosso treino.— Ele voltou a falar calmamente, se aproximando de Ellylan que havia caminhado até sua porta.— Creio que não nos veremos também, mas eu estarei a esperando na hora do baile de Diane.— Ellylan começou movimentar sua cabeça em um sinal negativo, pronta para dizer que ela não iria para um baile agora que seu vestido havia sido destruído por motivos que sua mente não gostava de lembrar, mas ela se calou completamente quando Maximus fez o seu próximo movimento. O arcanjo do inferno, que já estava próximo dela, se curvou até que seus lábios macios e quentes estivessem presos aos dela. Foi um beijo rapido, onde não existiu qualquer outro contato além da pressão do lábio dele sobre o dela, mas Maximus deixou que Ellylan sentisse seus dentes no seu lábio inferior antes que ele se afastasse completamente e permitisse que visse que seus olhos claros riam para ela. — Até mais, Elly.— Ellylan levou vários segundos para perceber que estava como uma idiota em quanto segurava sua porta aberta e olhava para o nada. Ela não podia acreditar que Maximus havia a beijado de novo. Elly suspirou, pois por mais que fosse sua vontade atacá-lo novamente, ela não o fez. No entanto, era assustador, de um modo bom, saber que Maximus estaria a beijando outras vezes agora que o anjo havia deixado claro que considerava certo beijá-la. Ela não estaria entrando em uma guerra contra Maximus por causa desse motivo. Ellylan caminhou até a mesa onde aquele prato havia sido deixado para trás e pegou em seus dedos um pequeno pedaço de frango para levar até sua boca. Mesmo que grande parte dela soubesse que odiaria, ela ainda tinha esperanças de que um milagre poderia acontecer. Elly mastigou o pedaço de frango e o resultado foi completamente diferente das outras vezes que ela comeu, mas não era o milagre que ela esperava que estava acontecendo. O frango primeiramente não possuiu nenhum gosto, mas após ficar em sua língua alguns segundos, ele começou pinicá-la até que o gosto inexistente se tornasse o mesmo que papel em cinzas. Ellylan pegou o guardanapo de papel que estava ao lado de seu prato e tirou toda aquela comida de dentro de sua boca antes que ficasse completamente enjoada por causa daquele gosto horrivel. Isso a preocupou terrivelmente e Maximus precisava saber o que estava acontecendo. Mas não hoje. E muito menos no aniversario de sua irmã. Naquele momento, só lhe restava entrar em desespero e em panico sozinha por diversos motivos que ela nem ao menos conseguia enumerar.
~ 35 ~ O dia passou muito rápido e antes que se desse conta a tão esperada noite do baile de Diane havia chegado. Como Maximus havia dito, eles não se viram em nenhum momento desde que a escuridão da noite passada deu lugar para o céu vermelho com um sol fraco. E as únicas noticias que ela teve sobre o arcanjo do inferno, foi que ele e seus tenentes estavam ocupados organizando os ultimos detalhes do baile. Ellylan também ouviu sussurros dos empregados e soldados que passavam pelo corredor de seu quarto, a maioria deles diziam sobre o quão infelizes estavam os tenentes de Maximus que ao invés de estarem carregando suas armas, estavam carregando cadeiras, mesas e luzes. Mas os burburicos que ela mais ouviu, foi sobre o quão prontos estavam Gate e Patrick para se jogarem de uma janela quando eles foram mandados para a cozinha para ajudar as conzinheiras. Elly não pode evitar o seu riso quando Marie entrou em seu quarto para lhe fazer companhia e contar detalhadamente como era os dois tenentes de Maximus vestidos em aventais brancos e toucas para evidar queda de cabelos nas comidas. Ela faria qualquer coisa para vê-los nesse estado, principalmente se levassem sermões de uma cozinheira assustadora que não aceitava imperfeição em seus pratos. No entanto, naquele momento, Ellylan estava enrolada em uma toalha grande, tendo acabado de sair do seu banho para que pudesse começar a se arrumar e esperar por Maximus até que ele fosse buscá-la para encarar um baile que muitas pessoas estavam curiosas para conhecê-la. Quando Marie preparou tudo para que Ellylan fosse tomar banho, ela ainda usou sua desculpa que não possuía um vestido, pois mesmo que soubesse que Maximus jamais a deixaria de lado nesse baile, Elly ainda estava apavorada com a ideia de tantas pessoas a observando. E essa desculpa foi tão inútil quando foi usada com o arcanjo do inferno, pois Marie apenas sorriu e disse que estaria cuidando desse problema em quanto ela estivesse no banho. E Ellylan viu, depois que abriu a porta de seu banheiro, que a empregada daquele castelo realmente tinha cuidado desse assunto. A primeira palavra que veio na mente de Elly quando viu um vestido grande e azul em cima da sua cama foi “Princesa”, pois aquele traje havia sido tirado de algum livro infantil que contava historias sobre esse tema. Ele era realmente muito lindo e do estilo que combinava com dragões, principes e princesas. O vestido possuía dois tons de azuis, no corpete tomara que caia que não possuia nenhum detalhe chamativo e memoravél era um pouco mais claro que a sua longa saia. E foi exatamente ali, naquela parte do vestido, que fez Ellylan ficar impressionada. Mesmo o considerando grande, já que foi usado tule para armá-lo até que seu formato se tornasse uma pequena oca, o tom mais escuro de um
azul marinho era o mesmo de um céu claro em uma noite de verão e o que não podia faltar nessa escuridão, eram estrelas. E, naquele vestido, elas não foram esquecidas. Uma camada fina de uma renda do mesmo tom foi colocado por cima tecido azul, ela era tão fina que quase não poderia ser vista se não fosse pelas pregas na barra do vesitdo que a denunciava, mas nessa renda existiam pequenas pedras brancas que brilhavam e tudo que Ellylan podia pensar, era no céu noturno do seu mundo. Era maravilhoso. — Uau.— Foi tudo o que Ellylan conseguiu dizer quando se deu conta que Marie esperava por alguma reação dela. — Impressionante, certo?— Marie sorriu, se balançando em seus calcanhares em quantos nivelava seu olhar entre Elly e o vestido.— Foi Niffie quem o desenhou e fez questão de costurar ela mesma já que Maximus pediu que criasse um vestido para você.— — Niffie fez esse vestido?— Elly estava chocada, pois não esperava que a imperatriz do paraíso fosse capaz de fazer algo tão... perfeito. — Niffie é muito famosa em nosso mundo por causa do seu trabalho.— Marie a respondeu.— Algumas pessoas até mesmo dizem que ela se tornou tão profissional quando se tratava desse assunto para que pudesse chamar a atenção de Meridius.— — Isso é verdade?— — Não...— A empregada daquele castelo fez uma careta.— Por que Meridius se interessaria por vestidos?— Ellylan não pode evitar de soltar um pequeno riso, pois aquilo fazia muito sentido. Meridius não era do tipo que perdia seu tempo com roupas ou desenhos. — Ela é realmente boa nisso, Meridius deve se sentir orgulhoso.— — Sim, eu imagino que deve.— Marie olhou para Ellylan.— Já faz muito tempo que ela não desenhava algo para outra pessoa além dela.— — Por que?— Elly perguntou.— Niffie não gosta de compartilhar seu trabalho?— — Não, de maneira alguma!— Marie caminhou até sua cama para pegar o vestido em quanto falava.— Niffie fazia vestidos para qualquer pessoa que a procurasse, mas no passado, em uma briga entre ela e Meridius, ele destruiu seu estudio e de alguma forma Niffie se fechou completamente para esse seu dom. Atualmente ela desenha apenas para si mesma.— Marie caminhou até Ellylan e entregou o vestido em suas mãos e ela só pode se continuar perguntando como Niffie ainda era capaz de estar junto com Meridius e amá-lo mais do que qualquer coisa. O amor era algo realmente estranho. Deixando esse assunto de lado, pois era realmente dificil compreender o que se passava na mente de Meridius e Niffie, Ellylan começou se arrumar para o tão esperado baile de aniversario de Diane. Marie a ajudou em cada detalhe importante, principalmente quando o assunto foi maquiagem. Elly nem ao menos sabia o que era cada produto que estava em cima de sua penteadeira e sua única opção foi ficar sentada em quanto a empregada do castelo fazia aquele trabalho. Depois que Marie terminou, ela pegou um espelho de mão e entregou para Ellylan se observar. Foi bom ver seu reflexo, já que Maximus ainda a considerava uma suicida, ele não permitiu que os
esplhos existissem nesse novo quarto também. No entanto, esse reflexo estava completamente diferente do que ela estava acostumada a ver. Marie não havia exagerado na maquiagem, pois a única coisa que se destavaca em seu rosto era o lapis negro que havia sido usado para contornar seus olhos. O batom que foi usada era da mesma cor da sua boca e isso apenas resultou em um brilho extra em seus lábios. A sombra em suas palpebras eram de um tom cinza que quase não se destava, mas qualquer pessoa que deixasse seus olhos cairem naquela região de seu rosto para observar o risco negro que havia sido feito com delineador, seria capaz de ver aquela cor quase transparente. Estava magnifico e isso fez com que Ellylan se sentivesse bonita. — Eu nunca imaginei que empregadas eram maquiadoras profissionais também.— Elly brincou com Marie que estava ajeitando as sapatilhas negras para que ela as vestisse, o que a deixou completamente feliz por não terem a obrigado a ter que usar saltos. — Eu já fui humana uma vez.— Marie falou gentilmente.— Agora se levante para que eu possa fechar seu vestido em quanto coloca suas sapatilhas.— Ellylan fez como a empregada ordenou e quando ela se colocou atrás dela para fechar os diversos botões de seu vestido, Elly levantou seu cabelo para que não a atrapalhasse. — Nós precisamos prender seu cabelo.— Marie voltou a falar em quanto terminava com seu vestido.— É uma festa de gala e damas nunca usam seus cabelos soltos.— Ellylan se virou para Marie assim que terminou, encontrando os olhos escuros dela.— Você deve ter muitas coisas para fazer e não quero prendê-la aqui.— Ela disse.— Não se preocupe com o meu cabelo.— — Você tem certeza?— A empregada perguntou, não questionando a decisão de Ellylan quando outra pessoa teria a obrigado ficar quieta em quanto fazia seu penteado. — Sim.— Elly a respondeu com um sorriso gentil.— Eu sei o que preciso fazer.— Isso era uma mentira descarada, pois Ellylan nem ao menos sabia o que podia fazer em seu cabelo que era tão escorregadio quanto sabão, mas qualquer coisa era melhor do que ter alguém mexendo em seu cabelo. Por algum motivo, ela não gostava dessa ideia. Marie concordou rapidamente com Elly, o que mostrou que ela realmente tinha coisas para fazer depois de deixá-la pronta. E mesmo que ela tivesse mentido para Marie, não se sentiu culpada. Afinal, Elly apenas estava atrasando a empregada do castelo. Pegando aquele espelho de mão que Marie havia deixado para trás, Elly o colocou em cima de sua penteadeira para que ficasse em pé sozinho já que ela teria que se virar com aquele pequeno pedaço de espelho para fazer um penteado. Ela também juntou os grampos e o pequeno laço de cabelo que estavam espalhados juntos com as maquiagens ao mesmo tempo que considerava todas as opções do que podia fazer. Não tendo muito o que fazer, o que não era uma grande novidade, Ellylan fez um coque baixo na diagonal da sua cabeça, separando sua franja para jogá-la do mesmo lado dele. Ela usou seu pente para puxar diversos fios para fora dele com a intenção de não deixá-lo tão arrumado. Elly gostaria de poder usar algum enfeite nesse penteado tão simples, mas seu vestido já era o suficiente chamativo para que colocasse algo brilhante em seu cabelo. E agora que ela havia terminado completamente de se arrumar, Ellylan desejou ter um espelho que mostrasse todo o seu corpo para poder ver como realmente havia ficado, mas isso estava fora de
suas opções. Só lhe restava acreditar que o vestido de Niffie e a maquiagem de Marie a tinham deixado realmente bonita para que as mulheres imortais que estariam nessa festa não a humilhassem completamente com suas belezas divinas. Sem ter mais o que fazer, ela só fez o que lhe restava. Aguardou por Maximus. Ellylan esperou durante um tempo até que ouviu um leve som de musica e com isso pode deduzir que o baile já havia começado. Por um momento jurou que Maximus esqueceu dela, então teve que suspirar diversas vezes quando a ideia de sair para procurá-lo invadiu sua mente. Seu maior medo era encontrar alguém que havia sido convidado para esse evento, alguém que não gostasse de humanos. Era melhor ficar no seu quarto e esperar por qualquer coisa, mas Ellylan iria ter um ataque nervoso se continuasse parada ali sem poder sentar direito por causa de seu vestido enorme. Então, ela fez sua decisão de sair. Abrindo somente uma fresta da sua porta, ela espiou o pouco do corredor que podia ver para conferir se não existia ninguém andando por ali. Ellylan ficaria completamente grata se algum dos tenentes de Maximus estivesse ali para lhe dizer o que estava acontecendo, mas o corredor estava completamente vazio. Elly abriu a porta do seu quarto por completo, tomando coragem quando se certificou que ninguém estava vindo, ela saiu para o corredor e soltou a maçaneta dourada que segurava com força assim que se virou para caminhar e encontrou o arcanjo do inferno no final daquele caminho que ela estava pronta para fazer. Ela quase ficou de boca aberta assim que seus olhos encontraram um Maximus todo elegante conversando com um dos soldados que geralmente pareciam estatuas congeladas por todo o castelo. O arcanjo estava usando um smoking preto e branco comum, tendo sua gravata borboleta negra bem posta ao redor de seu pescoço, igualmente a faixa em sua cintura. Suas asas incrivelmente brancas em suas costas apenas o deixou ainda mais perfeito usando aquela roupa tão formal. Maximus parou de conversar com o seu soldado no momento que percebeu que existia outra presença no corredor, olhando em direção de Ellylan que continuava congelada, o arcanjo do inferno até mesmo mudou sua posição quando seus olhos encontraram ela. Aqueles azuis piscina tão incumuns desceram e subiram pelo corpo de Elly diversas vezes depois que o soldado que estava conversando com Maximus foi deixado de lado e dispensado, o arcanjo conferiu a imagem dela diversas vezes antes que seu olhar encontrasse o de Ellylan novamente para que um sorriso se formasse nos lábios do arcanjo do inferno, um sorriso que disse diversas coisas sobre como havia gostado do que via. Ela sentiu todos os pelos de seu braço se arrepiaram por causa da forma que o anjo loiro a olhava, pois em seus olhos, parecia que Maximus estava olhando para algo único, como se Ellylan fosse realmente bonita. Elly gostou dessa sensação, de se sentir bonita quando os olhos de Maximus gritavam isso a ela. Não conseguindo evitar, Ellylan retribuiu o arcanjo com outro sorriso que não durou muito já que pela primeira vez ela estava se sentindo constrangida diante do olhar do anjo no outro lado do corredor. Ela abaixou seus olhos em direção do chão quando sentiu todo o seu interior esquentar, as borboletas que se agitavam em seu estomago correram um grande risco de morrerem queimadas.
Maximus caminhou até ela quando se cansou de observá-la e Ellylan já não pode mais encarar o chão devido a aproximação do arcanjo após ele parar diante dela, com apenas alguns passos separando seus corpos. — Você está realmente bonito, Maximus.— Elly foi a primeira a falar mesmo quando Maximus movimentou sua boca para dizer algo. No entanto, seu nervosismo não deixou que ela ouvisse as palavras que ele tinha para dizer. Ellylan se sentia constrangida demais para deixar o silencio cair. Maximus riu, o som era tão puro e sincero que ninguém acreditaria que esse homem que liderava todo o inferno podia rir.— Supostamente,— Ele disse encontrando os olhos de Elly, ainda sorrindo. — Eu deveria ser o primeiro a dizer isso.— — Supostamente.— Elly concordou.— Mas você não foi rápido o suficiente.— — De qualquer maneira,— O anjo começou a falar, colocando suas mãos dentro dos bolsos de suas calças, fazendo com que Ellylan o considerasse ainda mais bonito nessa posição.— Too eder zaude. — — O que isso significa?— Elly perguntou quando Maximus disse essas palavras que não faziam nenhum sentido, seu sotaque tão forte que ela nem ao menos poderia reconhecer sua voz se ele sempre falasse dessa maneira. — Significa “Você está linda” em meu idioma de nascença.— O anjo a respondeu e Elly se recordou das poucas vezes que as pessoas haviam falado em uma língua que ela não entendia nada, mas que agora mal a escutava já que todos foram obrigados a falar em um idioma que ela compreendia, pelo menos quando estava por perto. — Está pronta para encarar diversos imortais?— Maximus perguntou, não dando nenhuma chance a Elly para agradecer seu elogio. — Eu tenho uma escolha sobre esse assunto, Maximus?— — Na verdade, não.— Maximus sorriu.— Mas todos meus tenentes estarão com um olho em você, até mesmo meus irmãos.— — Eu não acho que Meridius faça parte do time dos imortais que gostam de humanos.— — Nem eu.— Maximus murmurio, desviando seus olhos por um momento.— De qualquer maneira, eu tenho algo para você, Elly.— — Um presente?— Maximus concordou com sua cabeça para respondê-la, fazendo com que Ellylan arqueasse uma de suas sobrancelhas.— Você já fez muito ao pedir a Niffie para fazer esse vestido, arcanjo.— — O vestido foi um presente de Niffie, não meu, humana.— Ela sorriu no momento que o anjo em sua frente disse a ultima palavra de sua frase, pois o arcanjo do inferno estava brincando da mesma maneira que Elly estava. E isso apenas mostrou que Maximus estava em um bom humor radiante, por esse motivo, Ellylan fez uma nota mental para não fazer nada de errado que estragasse sua noite. — Então mostre-me.— Ela pediu quando sua curiosidade emergiu dentro dela. Maximus tirou suas mãos de dentro de seus bolsos e após fazer isso estendeu uma delas em direção de Ellylan. Em sua palma, existia um fino cordão de couro negro com um pingente de tamanho médio do formado de uma gota, exatamente como crianças desenhavam em pápeis para mostrar um dia chuvoso, seus contornos eram de prata pura. Dentro dessa gota, havia um brilho azul não muito forte que a preenchia completamente, era como se Maximus tivesse colocado alguma alma daquelas bolhas flutuantes ali dentro. — O que é isso?— Ellylan perguntou completamente hipnotizada, pois sabia que aquilo não era uma alma, principalmente quando seu brilho era menor e o tom de azul era mais fosco. Além do mais, Maximus não era louco o suficiente para colocar uma alma dentro de um pingente e dá-lo como presente. — Isso é um pequeno truque que as angelicais usam quando seus bebês anjos estão aprendendo a voar,— Maximus começou a explicar.— Como elas não podem voar para segui-los e garantir que
estarão seguros, usam essa luz para saber se seus filhos estão próximos. Quando não estão, a luz se apaga completamente.— — Oh... Isso é incrivel!— Elly disse apaixonada com o seu presente, pois era realmente inteligente que angelicais usassem isso para monitorar seus filhos quando as mesmas não possuiam asas para acompanhá-los.— Então... Quando você estiver próximo de mim essa gota sempre estará brilhando? — — Sim.— O arcanjo disse, seus olhos claros presos aos dela como se nada mais existisse ao redor deles.— Quando a luz se apagar, ela não será nada mais do que um cilindro vazio.— — Eu gosto dela assim.— Elly falou, apontando para o pingente na palma do arcanjo, não gostando muito da ideia de ter que vê-la sem essa luz bonita. — Então nós daremos nosso melhor para que ela nunca se apague, certo?— — Certo.— Ellylan sentiu que aquilo não era um simples acordo entre eles, mas sim uma grande promesa. Ela poderia ter ficado apavorada por causa da gigante onde de sentimentos que estava se formando entre eles, no entanto, Elly apenas se sentia segura. Maximus se aproximou dela para que pudesse colocar aquele colar em volta de seu pescoço, o anjo levantou seus braços até que estivessem a cima de seus ombros e tomou todo cuidado possível para não esbarrar no penteado de Elly. Depois que o anjo fechou o colar, ele se afastou para observá-la novamente. — Obrigada, Maximus.— Elly falou, realmente agradecida por aquele presente, pois ele não era algo que ela realmente precisasse como esse lindo vestido, era apenas algo que Maximus fez quando se lembrou dela. — Oh, vamos lá, Elly, não me olhe com esse brilho nos olhos.— Maximus disse calmamente ao mesmo tempo que um sorriso crescia em seus lábios, não desviando seu olhar dela em nenhum momento.— É assustador.— — Você deveria tratar melhor sua acompanhante, Maximus.— Ellylan falou, passando seu braço pelo o do arcanjo quando ele se colocou ao lado dela e o ofereceu.— Principalmente quando minha maior vontade é ficar em meu quarto.— — É tarde demais para pensar nisso.— *** Maximus levou Ellylan por um caminho que ela desconhecia totalmente, mesmo que seu conhecimento pelo castelo fosse pequeno, ela sabia que nunca havia andando por esses corredores. E cada vez mais o som de uma musica tocada por instrumentos suaves se tornavam ainda mais altos conforme os passos deles. A asa do arcanjo rossava em seu vestido a cada movimento deles, ambos eram muito grandes para estarem tão próximos, mas como Maximus não pareceu se importar com algo tocando sua asa, Ellylan não fez questão de tornar isso um problema. Principalmente quando sua maior vontade era se segurar fortemente contra o anjo loiro para que ele não a deixasse sozinha em nenhum momento. Ela estava tão nervosa, com o desespero formado em sua garganta, que nem ao menos se deu conta que estava esmagando o braço de Maximus. Claro que ela nem ao menos devia se preocupar com isso, pois ele era um arcanjo, mas em algum momento, Elly fez algo errado que fez Maximus silvar. — Desculpe.— Ellylan sussurrou, encarando o chão ou pelo menos o que o seu vestido permitia. — Para uma humana, você é incrivelmente forte.— Ele disse e Ellylan se perguntou se isso poderia
ser considerado algo normal ou se sua lista estaria crescendo. No entanto, Elly não precisava pensar sobre isso justamente agora. Ela estava nervosa demais para lembrar daquela pequena lista, não tão pequena, que a tornava uma aberração.— Elly.— Maximus disse seu nome quando não respondeu sua provocação, ela nem ao menos havia deixado de esmagar o braço dele que agora segurava com suas duas mãos. O arcanjo parou de caminhar quando eles estavam no meio de um corredor, a música que antes era apenas um sussurro no ar agora estava muito mais alta. Maximus se virou para que pudesse encontrar seus olhos e a única opção de Ellylan foi fazer o mesmo que ele quando a segurou por seu braço. — Você não estará em perigo.— O anjo disse calmamente.— Confie em mim.— — Eu confio em você, Maximus, mas não deixa de ser assustador estar em uma festa cheia de imortais ainda mais assustadores.— Ela foi sincera.— Talvez a pessoa que fez isso comigo até esteja lá, fingindo ser um convidado.— — Eu não tinha pensado nisso.— Maximus franziu o cenho para que logo em seguida um sorriso começasse a crescer em seus lábios.— Isso é genial, Elly, nós podemos usá-la como uma isca para... — O anjo parou de falar quando Ellylan lançou seu melhor olhar fuzilador.— Nós não iremos usála como uma isca essa noite.— — Obrigada.— Ela disse gentilmente ao mesmo que sorria como agradecimento. — De qualquer maneira,— Maximus deixou sua mão escorregar por todo o caminho do braço de Ellylan antes de se afastar com apenas um passo. Seu toque era como um aviso de que tudo o que ela estava vivendo era real, mas que poderia se tornar facilmente como um sonho.— Você ficará bem.— Elly acreditava nele, acreditava mais do que poderia e ela sabia exatamente o por que dessa confiança que não existia nada em troca além de um sentimento mútuo. Ellylan sorriu para Maximus para demonstrar esse seu sentimento, os olhos azuis do arcanjo brilharam com a imagem dela sorrindo e tudo que ela pode pensar era que o anjo gostava quando sorria somente para ele. Naquele momento, Elly desejou beijar Maximus. O arcanjo do inferno estava muito bonito para que ela não tirasse nenhum proveito disso e Maximus ficava ainda mais radiante quando deixava que seus sentimentos aparecessem em seus olhos azuis como a cor de uma piscina em um dia de verão. Além do mais, lidar com o pensamento de que havia beijado um arcanjo era melhor do que estar apavorada com a ideia de estar em um baile cheio de imortais. Isso era uma desculpa ridícula, mas funcionou muito bem para não fazê-la desistir de sua vontade. Era uma droga ser mais baixa que Maximus, pois ela não podia simplesmente beijá-lo como desejava. Ellylan sempre teria que esperar que o anjo loiro se curvasse para encostar seus lábios nos seus para beijá-la e agora que Maximus não demonstrava que iria roubar um beijo dela, Elly não sabia exatamente o que fazer para que iniciasse isso. Parecia errado ter que pedir, então ela se manteve em silencio e fez a única que veio a sua mente. Ellylan deu um passo para frente, aquele que o anjo havia dado pouco tempo atrás para se afastar dela. Ela usou suas mãos para colocá-las nos ombros de Maximus, seus dedos estavam trêmulos por causa desse movimento ousado, mas Elly se lembrou que havia feito coisa muito pior na primeira vez que se beijaram. Seu último movimento foi erguer seu queijo para que pudesse encontrar o olhar do anjo em sua frente e esperar que Maximus entendesse o que ela desejava que ele fizesse. — Oh,— Maximus disse suavemente, sua voz em um tom rouco que fez as borboletas de seu estomago ficarem ainda mais agitadas. Suas mãos foram em direção de sua cintura no momento que
ele compreendeu exatamente o que Ellylan queria. Seu pequeno aperto contra a lateral de seu corpo quase fez com que os joelhos dela vacilassem completamente, mas ele a seguraria se isso acontecesse. Ela nunca duvidaria disso.— Olha para quem quer me beijar agora.— — Eu tenho certeza que esse alguém não sou eu.— Outra voz invadiu aquele momento, uma voz que não pertencia a Maximus ou Ellylan. Ellylan sentiu seu coração congelar, assim como o restante de seus musculos, e no momento seguinte sentiu sua bochecha explodir em um calor que poderia ser comparada a uma queimadura que doeria muito conforme os minutos passavam. Ela se afastou de Maximus o mais rápido que pode e isso quase a fez se debater contra a parede atrás dela se não fosse ao grande vestido que usava para salvá-la. Sua vontade era de se enterrar, de fugir para longe desse corredor... Ela não podia acreditar que o irmão mais novo de Maximus havia visto toda aquela cena. — Timing perfeito, Dimitrius.— Maximus disse, se virando em direção de seu irmão quando deixou de olhá-la depois de ter a certeza de que Elly não se mataria. Ellylan olhou para o chão e levou uma de suas mãos até sua bochecha para ver o quão quente estava. Ela provavelmente estava se tornando roxa naquele momento e essa quase certeza só a fez se sentir humilhada. Com tantas pessoas que haviam sido convidas para esse baile... Por que Dimitrius? — Eu senti o cheiro do pecado humano nesse corredor.— O outro arcanjo falou de maneira despreocupada, com suas mãos dentro dos bolsos do smoking que era examente igual ao de Maximus.— É mais forte do que eu querer decidir qual será o julgamento final dessa alma.— Maximus riu, o som de sua risada não fez que Ellylan deixasse de encarar o chão para ver essa ocassião tão rara. — Vá para a festa, Dimitrius.— Maximus disse em um tom divertido. — É claro. E vocês deveriam fazer o mesmo, muitas pessoas estão esperando para conhecer a humana que reside no inferno.— O anjo falou em quanto caminhava para passar por eles e quando Ellylan teve certeza de que Dimitrius estava de costas para eles, ela arriscou olhar para cima em direção dele para ver suas asas brancas.— Vocês podem terminar isso depois do baile.— Ele adicionou em um murmurio alto, caminhando para longe. Elly se afastou da parade no momento em que seus olhos não podiam mais ver o arcanjo que julgava as almas que iriam para o inferno ou paraiso. Suas bochechas ainda estavam pegando fogo e todas as borboletas que se animavam toda vez que ela via Maximus, já estavam mortas. Somente naquele momento ela conseguiu respirar normalmente, sem precisar se lembrar que isso era algo necessário. — Isso foi muito constrangedor.— Ela sussurrou antes de olhar para Maximus. — Dimitrius já foi pego fazendo coisas piores.— Foi sua única resposta ao mesmo tempo que curvava seu braço para que Ellylan passasse o seu por ele novamente. Ela não negou o gesto mesmo que sua vontade fosse de morrer. — Coisas que não desejo saber.— Elly não precisava ficar ainda mais constrangida. — Mas Dimitrius tem razão sobre algo.— Maximus falou quando começou a caminhar, seus olhos fixos no caminho que estava fazendo.— Nós iremos terminar depois do baile.— Era uma
afirmação. Uma que fez o coração de Ellylan explodir em batidas rápidas que significavam tudo, menos medo. Ótimo. Agora ela tinha algo para pensar em quanto estivesse em meio de tantos imortais.
~ 36 ~ Ellylan estava completamente congelada, ela tentou comandar seu corpo para se movimentar de todas as maneiras que conhecia ser possível, mas a única coisa que continuava a funcionar sem nenhuma falha era sua respiração que aumentou em um ritmo muito acelerado e o movimento de seus olhos que corriam por todos os lugares do salão que estava em sua frente. Elly estava no topo de uma escada que teria que descer sem vacilar, Maximus estava ao seu lado e havia parado no mesmo instante que ela não pode mais caminhar. Isso apenas piorou todo o seu plano de não chamar atenção, pois naquele momento, todas as vozes caíram em puro silencio e o único som que era ouvido era da musica que era tocada por um pequeno grupo que estava posto em um canto daquele enorme salão que ela estava vendo do lugar mais alto. No teto, existiam três lustres enormes de cristais que lembravam as gostas de uma chuva, eles estavam enfileirados e iluminavam aquele lugar. No lado oposto onde estavam os homens tocando instrumentos clássicos, existiam mesas uma do lado da outra cheias de comidas que tinham a apareciam de serem falsas. Até mesmo existia uma escultura feita de gelo que combinava perfeitamente com os lustres. Haviam janelas grandes para darem passagem a asas ao redor de todo o local, mas tudo que Ellylan pode ver quando arriscou olhar para fora, era uma escuridão sem fim. No entanto, não era isso que chamou sua atenção, mas sim as pessoas que estavam paradas olhando para ela. Mulheres e homens vestidos tão formalmente que fez Elly se sentir mal ao pensar que eles nem ao menos precisavam se vestir tão elegantemente para ficarem bonitos, mas mesmo com esse detalhe importante, ela podia fazer um bom trabalho em pensar que eram humanos e normais como ela. Já os anjos que estavam presentes, eles eram o verdadeiro problema. Esses imortais eram o lembrete real de que Ellylan estava vivendo no inferno e bem ao seu lado estava o grande imperador que todos os seres humanos temiam. No entanto, aquela imagem de tantas asas brancas ao meio de pessoas que não as possuiam era algo realmente bonito de se observar, mesmo sendo algo tão surreal e ameaçador. Elly sentiu sua respiração vacilar e antes que até mesmo esse ato se tornasse dificil, ela movimentou sua cabeça para encontrar os olhos de Maximus. Ele não a olhou, seus olhos estavam fixos nas pessoas que estavam os observando e diferente dela, não existia hesitação em sua pose. Apenas o poder de um imperador. Maximus olhou para ela nos próximos segundos, mas nenhuma palavra saiu de seus lábios e seus olhos eram vazios como sempre foram. Ele fazia um ótimo trabalho em esconder seus sentimentos, tão bom que Ellylan podia acreditar que não possuía nenhum se não tivesse os vistos radiarem nesses olhos de um azul que eram próximos do mesmo tom de uma piscina.
Esse olhar não ajudou ela ficar mais calma, pois tudo o que pode pensar foi que ela era a única que demonstrava qualquer tipo de sentimento, a única que não podia esconder o que sentia. No entanto, ela sentiu pequenas pontadas invadirem sua mente antes que ficasse em pânico completamente. Pontadas de uma caricia lenta que faria Elly ronronar se fosse um pequeno gato. Ela não deveria, mas sorriu para Maximus sem se importa com a plateia que estavam o assistindo. Seria desumano da parte dela não agradecer ao único modo que Maximus tinha de encorajá-la e dizer que tudo ficaria bem. Maximus continuou a não demonstrar qualquer tipo de sentimento, seu único movimento foi olhar para frente novamente e dar um passo em direção da escada que Elly teria que descer sem nenhum vacilo. No entanto, no momento em que eles desceram o primeiro degrau, todos os convidados que estavam presentes naquele salão pararam de observar Ellylan como se ela fosse algo realmente estranho de se ver. E em questão de segundos, o falatório que era misturado com a musica tocada retornou. Ellylan soltou sua respiração em pura frustração, mesmo sabendo que ainda existiam muitos olhos a observando, ela se sentiu menos incomoda com aquela situação. E para se distrair, ficou totalmente focada na caricia que existia dentro de sua mente em quanto caminhava ao lado do anjo até que finalmente estivessem juntos com as demais pessoas. Naquele momento, Ellylan se sentiu mais aliviada, pois reconheceu todos os rostos dos tenentes de Maximus que estavam dançando com mulheres muito elegantes. Até mesmo os gêmeos, que Ellylan considerava mais anti sociais, estavam dançando e ela não pode deixar de ficar surpresa ao ver que Derek havia deixado sua arma de lado para segurar uma linda dama. Elly viu que todos os tenentes de Maximus estavam aproveitando o momento nesse baile, algo que ela nunca havia visto antes e mesmo que não tivesse tido a chance de ver Patrick, sabia que o soldado ruivo estava fazendo o mesmo. — Seus tenentes estão se divertindo.— Ela sussurrou em quanto olhava para eles dançando, não se atrevendo em caminhar em direção da pista de dança. — Eles trabalharam duro para que tudo estivesse pronto.— Maximus a respondeu, movimentando o braço que ela segurava até que estivesse sobre as costas dela. Naquele momento, Ellylan sentiu sua garganta se apertar ao notar que o tecido de seu vestido havia se tornado muito fino ao toque do arcanjo.— Essa noite, eu e meus irmãos estamos protegendo o castelo para que meus tenentes participem do baile.— Ellylan olhou para Maximus e não foi dificil encontrar aqueles olhos tão azuis que ainda não demonstravam nada além de um vácuo sem fim. E isso não a incomodou como aconteceria normalmente, pois Elly compreendeu que quando existissem mais pessoas ao redor deles, um arcanjo jamais mostraria seus verdadeiros sentimentos. Talvez fosse por esse motivo que Niffie e Meridius ainda estavam casados, mesmo que houvessem problemas para essa relação não dar certo. — Você é um bom imperador, Maximus.— Foi o que ela disse, distraindo sua mente com suas próprias palavras antes que pudesse pensar que não podia julgar Niffie e seu marido desde que tinha um relacionamento complicado com Maximus. Os olhos do arcanjo brilharam por um breve momento e sem precisar usar nenhuma palavra, Ellylan soube que Maximus estava feliz por ter recebido um elogio. O sentimento era mútuo, pois ela adorava ver o que o anjo loiro ao seu lado sentia em seus olhos. — Venha,— Maximus disse calmamente, pressionando seus dedos contra a costas de Elly para que ela o acompanhasse quando começou a caminhar.— Niffie deseja vê-la.—
Ellylan não negou isso mesmo quando sabia que Meridius estaria ao lado de Niffie, era mais do que sua obrigração agradecê-la por esse vestido, então ela não se importaria em ter que aturar o arcanjo do paraíso a olhando como se fosse algo realmente errado. Em quanto Maximus levava Ellylan pelo salão, ela procurou por Patrick por todos os lugares que era possível ver e quando não encontrou, se virou para Maximus com a intenção de perguntar pelo seu único tenente que não estava presente, mas não teve a chance de nem ao menos abrir sua boca quando viu Meridius e Niffie caminhando em sua direção também. E qualquer pergunta que existisse na mente de Elly foi embora em questão de segundos, pois no momento que seus olhos encontraram aquele casal, ela ficou surpreendida como ambos estavam bonitos um ao lado do outro. Ellylan nunca havia pensado que Niffie e Meridius ficavam bem juntos, que suas aparencias completavam um a outro e no quanto a imperatriz do paraíso ficava feliz ao lado do seu arcanjo. Eles pareciam bem, mesmo que só tivesse ouvido coisas que não eram boas sobre o relacionamento deles. Niffie sorriu no momento em que viu Elly usando o vestido que ela havia feito com suas próprias mãos, em quanto Meridius a olhou com uma expressão que era exatamente igual a de Maximus. Sem nenhuma emoção. Ellylan não estava surpresa por isso, pois diferente do arcanjo do inferno, ela nunca havia visto qualquer tipo de emoção tingindo os olhos do marido de Niffie. — Elly!— Ela exclamou, não tendo a oportunidade de abraça-la como Niffie fazia com todos que via quando Meridius a segurou ao seu lado, mas isso não foi o suficiente para acabar com seu sorriso.— Você está linda!— — Obrigada, Niffie.— Ellylan disse com sinceridade, ignorando o olhar frio que Meridius a encarava.— Obrigada por esse vestido também.— — Eu estou feliz em poder ajudá-la, Elly.— Ela falou, movendo seus olhos para encontrar os de Maximus.— Vocês ficam muito bem juntos.— — Não seja tão educada, Niffie.— Meridius resmungou com puro mal humor, fazendo seu melhor trabalho em ignorar a existencia de Ellylan. Sim, sem duvida, ele a odiava. — Pensei que você estaria se comportando nessa noite, Meridius.— Maximus comentou, observando seu irmão calmamente. E mesmo que Ellylan soubesse que existia algum tipo de amor entre eles pelo fato de serem irmãos, tudo o que conseguia ver era a lealdade. No entanto, agora que existiam tantas pessoas ao redor deles, Maximus e Meridius agiam como arcanjos que não possuíam medo de matar. — Eu me lembro de dizer que iria cuidar de sua humana caso fosse necessário, não que iria adorála.— — Eu...— A voz de Elly falhou, o que a deixou com ainda mais raiva de si mesma por não conseguir negar o que Meridius estava falando.— Eu não sou a humana de Maximus.— Quase que automaticamente, Meridius e Niffie olharam para Ellylan juntos e suas expressões eram clara em dizer que nenhum deles acreditavam em suas palavras. E mesmo que Meridius não demonstrasse nenhum sentimento, ele não conseguiu esconder essa expressão que estampava seu rosto. Ellylan escutou Maximus ao seu lado segurar o seu riso, o arcanjo até mesmo olhou para baixo
quando seus lábios ameaçaram tremer. Ela apenas não sabia se ele ria por Niffie e Meridius finalmente terem agido como um casal ao demonstrar algo que os faziam iguais, uma mania que apenas casais podiam ter ou por Ellylan simplesmente ter se enrolado ao tentar dizer algo que nem ao menos tinha certeza. Se sentindo constragida o suficiente com os olhares de Meridius e Niffie, Elly se virou para Maximus com a intenção de encontrar seus olhos, o arcanjo do inferno rapidamente levantou seus olhos do chão e encontrou os de Ellylan. — Eu quero ver Diane, Maximus.— Ela disse, pois seria muito mal educado não desejar felicidades a aniversariante da festa. — Ótimo!— Meridius exclamou e saiu de perto de Ellylan puxando Niffie antes que seu irmão mais novo tivesse a chance de dizer algo ou simplesmente repreendê-lo por não fingir que gostava pelo menos um pouco de Elly. Maximus encarou seu irmão em quanto ele se afastava e se misturava entre a multidão que também incluia seres imortais com asas. — Eu não me importo que Meridius me trate assim.— Elly comentou com seus olhos fixos em Maximus.— Na verdade, acho que ele está muito mais amigável que antes.— — Pelo fato de não ter ameaçado sua vida?— — Eu sinto que não citar meu nome com a palavra morte para Meridius é o mesmo que pedir para ser sua melhor amiga.— — Não seja tão iludida, Elly.— Maximus disse ao mesmo tempo que encontrava o olhar dela, sem ao menos notar as pessoas que olharam para eles quando o arcanjo do inferno usou um apelido de seu nome.— Meu irmão apenas deve estar se sentindo de bom humor.— Elly olhou para algumas pessoas que a encaravam e isso era quase impossivel desde que eram muitas. — Me leve até Diane.— Ellylan cortou o assunto entre eles ao se sentir completamente desconfortável pelas tantas pessoas que os olhavam, ela até mesmo passou a caminhar sem saber onde exatamente deveria ir e tudo isso para fugir dos olhares que a seguiam. Maximus levou apenas segundos para começar a guiá-la e o anjo loiro provavelmente já havia compreendido o por que de Ellylan ter ficado tão desesperada de repente quando passou a fazer isso. Elly manteve seus olhos baixos, evitando fazer contato com qualquer pessoa que a desejava vê-la. Isso fazia dela muito fraca, mas essa era a única verdade que existia quando estava diante de tantos imortais. Quando precisasse ser forte, ela seria, mas naquele momento não era necessário. Maximus estava ao lado dela e cada pessoa que cruzava o seu caminho se desvia para longe com a intenção de sair de sua frente. Ellylan não sentia necessidade de demonstrar ser forte quando existia uma pessoa tão forte ao seu lado que a fazia se sentir completamente segura. Ellylan viu Diane depois de mais alguns passos, ela estava incrivelmente linda em um vestido rosa claro com várias pedras brancas que brilhavam conforme seu movimento, a aparencia da irmã mais nova dos arcanjos fez com que Elly a comparasse como uma deusa da mitologia grega. Perfeita a ponto de causar inveja em mortais. Ela estava sozinha naquele momento, vendo todos os convidados de sua festa que dançavam alegremente, seus olhos escuros diziam que desejava estar naquele meio, mas por algum motivo não estava. Diane se virou para Maximus e Ellylan quando os cantos de seus olhos os encontraram, um
sorriso cresceu nos lábios dela e isso demonstrou sua felicidade. Maximus sorriu para sua irmã mais nova também, mas seu sorriso foi embora de seu rosto no momento em que ele se afastou de Elly para caminhar até sua irmã e abraça-la. Diane não negou aquele afeto de maneira alguma, ela nem ao menos tomou o cuidado que muitos teriam para não tocar nas asas de um anjo. Ellylan estava encatada com aquela imagem diante de seus olhos, pois Maximus não precisava permitir que seus sentimentos invadissem seus olhos para mostrar o quanto amava sua irmã. E mesmo que eles fossem irmãos apenas por parte de pai, isso não parecia fazer nenhuma diferença na relação deles. Por um momento, Elly se perguntou se alguém gostava tanto dela como Maximus gostava de Diane. E sua única resposta sobre essa questão foi o vácuo de uma vida que parecia nunca ter sido vivida, mas como não estava preparada para se sentir depressiva naquele momento, seu lado iludido respondeu a pergunta com palavras positivas. — Você está muito bonita para o meu gosto, D.— Maximus falou para sua irmã, se afastando dela para que pudesse observá-la. A primeira resposta de Diane foi apenas revirar seus olhos.— Não reclame sobre isso, pois eu estou parada aqui como uma estatua graças a você, Maximus.— — Por que isso é culpa de Maximus?— Ellylan perguntou com a intenção de ganhar a resposta que desejava para saber o motivo de Diane não estar dançando em seu aniversario. — O fato de possuir três irmãos homens já responde sua pergunta, Elly.— Diane sorriu e se aproximou de Ellylan.— Serem arcanjos é o minimo dos detalhes.— — Eu a avisei uma vez,— Maximus se virou para encontrar os olhos de Ellylan quando Diane havia dado suas costas ao anjo loiro.— Ganhará aprovação aquele que ignorar a existencia de seus irmãos.— Diane revirou seus olhos novamente, claramente revoltada pela resposta que parecia quase impossivel já que ignorar a existencia de Meridius, Maximus e Dimitrius era algo que realmente não daria certo. Eles marcavam muita presença para que algo como isso chegasse perto de acontecer. — Você está linda, Ellylan.— Diane disse, ignorando Maximus.—Muito, muito bonita.— — Obrigada.— Elly sorriu com sinceridade mesmo quando se sentiu desconfortável. Muitas pessoas estavam a elogiando e a encarando nessa noite, sobreviver a essa situação parecia muito mais complicado do que ter em mente de que Maximus cobraria um beijo que nunca chegou a acontecer depois que esse baile acabasse.— A proposito, feliz aniversário.— — Oh,— Diane riu brevemente.— Você é tão humana, Elly.— Ellylan não entendeu esse comentário e sua única reação foi olhar para a única pessoa que explicava esse mundo tão diferente, mas que agora havia se tornado o único que ela conhecia. — Nós, imortais, comemoramos nossos aniversários por séculos.— Ele a ajudou.— Hoje é apenas um evento com a desculpa de ser o dia que Diane nasceu, mas não é verdadeiramente seu aniversário.— Aniversários por séculos... Isso era algo que a mente de Ellylan se negava a processar, principalmente quando Diane já era uma adulta e Maximus seu irmão mais velho. — Você irá dançar comigo, Maximus?— Diane perguntou ao se virar para ele.— Estou cansada de
ficar em pé esperando por alguém.— — Como desejar, D.— Maximus disse.— Eu sou sua melhor companhia para isso.— — Eu não estou feliz por isso, então não haja como se não soubesse disso.— — Eu ainda mantenho minha promessa de ficar longe de sua mente e alma, não seja tão critica.— Maximus ofereceu seu braço para Diane e sua irmã mais nova rapidamente o pegou, mas antes de fazer qualquer outro movimento em direção da pista de dança, o arcanjo do inferno olhou para Ellylan.— Meus tenentes estarão cuidando de você, não se preocupe.— Elly não queria ficar longe de Maximus, mesmo sabendo que seus irmãos e tenentes estavam com um olho nela, mas ela jamais iria tirar o anjo loiro de sua irmã. Eles possuíam seus costumes e ela não era ninguém para destruir eles. Então sua única opção foi concordar com a cabeça e ver ambos se misturando entre as pessoas para poderem dançar. No mesmo instante em que Maximus e Diane se posionaram para dançar, seus olhos encontraram Katherine no meio da pista onde existiam muitas outras pessoas acompanhando o ritmo da musica calma que era tocada. Maximus havia falado uma vez que ela não podia tocar ninguém sem suas luvas e mesmo que Katherine estivesse as usando, Ellylan ficou chocada ao vê-la encostando em outra pessoa, pois nunca havia visto ela tocar ninguém, mesmo com luvas. Katherine parecia evitar o contato o maximo que podia e agora ela não parecia se importar. Nem mesmo ser Morgan o par dela naquela dança surpreendeu Ellylan, muito menos o fato de que ambos demonstravam estar felizes por estarem juntos. Elly nunca havia reparado que existia algum tipo de amizade entre eles, pois Katherine parecia ser amiga apenas de Diane e de seus irmãos, mas agora que viu Morgan e ela juntos, pode concluir que algo existia entre eles. Ellylan não podia acreditar que era algo além de amizade, pois Maximus já havia comentado que Katherine possuia um relacionamento com Dimitrius, mas o outro arcanjo era sua única opção e isso não a impedia de desejar outras pessoas que não podia tocar sem suas luvas. Quando Ellylan percebeu que estava fazendo o mesmo que os outros, encarando Katherine e Morgan, ela rapidamente desviou seus olhos para as mesas que possuiam alimentos. Ela não queria se intrometer na felicidade de Katherine e Morgan os encarando como se fossem algo realmente anormal, muito menos preocupar Maximus ao deixá-lo acreditar que ela havia congelado naquele lugar que a havia deixado. Elly caminhou até a enorme mesa que continha diversos pratos e observou cada comida que estava diante de seus olhos. Ela não sentiu nenhum desejo, mesmo que todas as comidas tivessem uma aparencia realmente deliciosa. Seu estomago se revirou quando lembrou do gosto de cinzas que ocorreu em sua boca ao se alimentar na noite passada, ela não desejava que isso acontecesse isso novamente, mas quando viu que estava sendo observada, Ellylan pegou um pequeno doce da cor rosa que se misturava com o branco. Ela não queria ser classificada como anormal para os imortais e como sabia que humanos não negavam nenhum tipo de comida, ela colocou aquele pequeno doce dentro de sua boca. Ellylan mastigou o doce que não possuía nenhum sabor e custou muito para que não fizesse nenhuma careta quando o medo de que aquele gosto horrivel tomasse conta de seu paladar que estava em um sono profundo. E como era o esperado, pois Elly não acreditava que esse doce iria fazê-la sentir fome novamente, o gosto de cinzas de uma grande queimada invadiu sua boca sem nenhuma permissão. Ela não fez
careta, mas tinha certeza que não havia feito nenhuma expressão agradavel também. E Elly não sabia nem a onde começar para explicar o seu sofrimento quando teve que engolir o que estava em sua boca ao invés de cuspir. Seria muito desagradável fazer isso diante de tantas pessoas que a olhavam discretamente, mas Ellylan realmente desejou isso mais do que qualquer outra coisa naquele momento de agonia. Tentando disfarçar a expressão clara que havia aparecido em seu rosto quando mastigou aquele doce, ela continuou caminhando perto daquela longa mesa cheia de aperitivos para os convidados. Elly não se atreveu a pegar nenhum outro doce ou salgado, ela apenas observou a aparencia deles em quanto caminhava. Ela se deteve completamente quando, a alguns passos dela, encontrou três mulheres, tão elegantes quanto o restante que estava presente nesse salão. Ellylan estava fazendo um bom trabalho em ignorá-las antes, mas ao ouvir seu nome sair do lábio de uma delas, não pode fazer nada além de ouvir um idioma que ela não entendia nada. — Ellylan...Zein izen da hori? — (Ellylan... Que tipo de nome é esse?) A mulher de um cabelo ruivo alaranjado disse, seu tom era de um puro desgosto.— Hori da beldurgarria.— (É horrível.) As outras mulheres riram arrogantemente, seus narizes empinados eram ainda piores do que o de Katherine, algo que Elly jamais pensou ser possível. E ela nem ao menos conseguia mencionar no quanto se sentia enjoada com o som da risadas delas. Não era um som como a de Maximus, que soava tão agradavel como o ronronar de um felino, era falso e sujo. — Izugarria da, zure izena ez du.— (Ela é horrível, seu nome não faz diferença.) A morena falou, seu tom tão parecido com o de sua amiga. Todas riram naquele momento e Ellylan agiu sem pensar quando o som de suas risadas irritou todo o seu interior a ponto de sentir suas bochechas ficarem quentes. Ela pegou uma taça de champanhe que estava ao seu lado na mesa e caminhou os passos restantes que a separava daquelas mulheres arrogantes que a fez odiá-las sem ao menos conhecê-las ou saber seus nomes. Ellylan não parou quando o espaço entre elas acabou, ela passou por entre as duas mulheres que haviam falado antes e não se importou quando o tamanho de seu vestido quase a fez parar de caminhar pela falta de espaço. Quando as duas mulheres soltaram sons de pequenos gritos de ofensa e palavras que expressavam a raiva, Ellylan tombou a taça de champanhe entre seus dedos na direção do vestido da ruiva que acertou o seu braço com suas longas unhas. Aquilo não havia doido, mas a deixou irritada quando um pequeno risco vermelho surgiu em sua pele clara. — Oh!— Elly exclamou em pura falsidade, segurando a taça contra seu corpo quando sorriu com ironia— Me desculpe, eu não havia visto vocês.— Todas fuzilaram Ellylan com o olhar, mas a ruiva estava queimando de raiva de uma maneira que dizia que ela realmente desejava quebrar o pescoço dela.— Você...— A ruiva rosnou no idioma que Elly compreendia muito bem, mas antes que ela tivesse a chance de continuar sua sentença, sua expressão mudou completamente. De pura raiva que podia expressar uma ameaça de morte foi para algo realmente meigo e amavel. Ellylan desejou socá-la e iria se uma mão grande não tivesse tocado levemente suas costas para não assustá-la com uma aproximação não esperada. E pela temperatura quente que queimava sua pele
mesmo com o tecido de seu vestido para atrapalhar o toque, Elly sabia muito bem quem era. — Imperatore.— As três mulheres falaram em conjunto, suas cabeças curvando ligeiramente em quanto seus olhares encontravam o chão. — Há um problema acontecendo aqui?— Maximus perguntou, sua voz além de não demonstrar nenhum sentimento era fria como o gelo cortante. — Si...— — É claro que não, imperatore.— A morena cortou Ellylan quando ela estava pronta para dizer o que havia acontecido.— Nós estavamos apenas nos conhecendo.— Vadia! A mente de Ellylan gritou, mas ela apenas balançou sua cabeça em concordancia quando Maximus olhou em sua direção com a intenção de buscar uma resposta. Afinal, nem ao menos sabia o que aquelas mulheres haviam falado sobre ela. E essas mulheres haviam demonstrado muito bem que eram mais falsas do que uma cobra faminta. — Venha.— O arcanjo do inferno disse, usando sua mão livre para pegar a taça das de Ellylan e coloca-lá sobre a mesa. Ellylan encarou aquelas mulheres que agora nem ao menos a fuzilavam com o olhar, ela sabia que sua pequena vingança por terem falado dela não havia realmente as atingido. Se fosse Elly no lugar delas, ela tinha certeza que não se tornaria uma falsa cobra diante da presença de Maximus. Como uma ultima provocação, Ellylan deu um passo para trás com intenção de tocar seu corpo na asa de Maximus que estava logo atras dela e mesmo que fosse quase impossivel fazer isso quando seu vestido era muito grande, ela conseguiu sentir as penas suaves e brancas contra seus ombros nus. Maximus havia compreendido o que Ellylan fez, pois o anjo até mesmo movimentou sua asa que ela havia encostado para lhe dar melhor comodidade. E naquele momento, Elly desejou sorrir, pois não conseguiu escolher nenhuma palavra para definir as três expressões de puro choque que apareceu no rostos daquelas imortais. Satisfeita com a reação delas e sem dizer nenhuma outra palavra, Elly deu seu primeiro passo para longe delas, com Maximus a acompnhando. Ellylan esperou até que a distancia se formasse entre eles para voltar a falar, sabendo muito bem que Maximus estava ciente de que ela havia mentido sobre a parte que concordou que ela estava apenas conhecendo aquelas mulheres. — O que elas falaram sobre mim?— Elly perguntou, se virando para encontrar os olhos do anjo loiro e se livrar do toque em suas costas que estava a deixando louca. — Eu não as escutei antes de chegar até você.— Ele foi sincero, mas seu tom mudou quando ele a repreendeu com uma brincadeira.— Como você pode atacar alguém sem saber o que estavam falando?— — Eu não preciso compreender para reconhecer uma vadia, Maximus.— Ellylan resmungou, cruzando seus braços depois de desviar seus olhos dos do anjo para mostrar que não ficou feliz com sua repreensão, mas quando Maximus não disse nenhuma outra palavra, Elly voltou a olhá-lo. Ela não encontrou seus olhos naquele momento, pois o arcanjo olhava fixamente para o seu braço. Não exatamente para ele, mas sim para a marca vermelha.— É apenas um arranhão.— — Ninguém tem permissão para machucá-la nesse baile.— O arcanjo falou em pura ira e isso fez com que Ellylan deixasse seus braços cairem ao lado de seu corpo para que Maximus não ficasse encarando algo que o deixava com raiva.
— Você já me deu vários desses nos treinamentos, eu não irei morrer por isso.— Ele encontrou seus olhos.— Agora, me leve para dançar.— — Você não dança.— Foi uma afirmação verdadeira, mas que continha o som da raiva. E Ellylan ficou completamente arrependida por não ter socado a cara daquela mulher rude, pois agora, por culpa dela, o bom humor de Maximus havia sido arruinado. — Você é um pessimo acompanhante, Max.— Maximus não a respondeu, na verdade, o arcanjo do inferno apenas desviou seus olhos de Elly para olhar todas as pessoas que automaticamente viraram suas cabeças na direção deles quando ela deixou a palavra “Max” escapar de sua boca. O arcanjo pegou uma das mãos de Elly e começou a puxá-la para longe daquelas pessoas que a olhavam como se fosse algo realmente diferente, alguém que não tratava Maximus como um arcanjo. Ela sabia que Maximus havia deixado claro para seus convidados que a protegia a cima de qualquer coisa, mas também sabia que essas pessoas não imaginavam o quão intimos os dois realmente estavam. Se ficavam chocados por Ellylan chamá-lo por um apelido ou encostar em suas asas, eles teriam um infarto se soubessem que já haviam se beijado. Maximus a levou até a pista de dança, naquele meio em que tantas pessoas se movimentavam em seus proprios passos e que demonstrava ser o local mais seguro para estar, pois as pessoas que estavam ali não pareciam se importar com qualquer outra coisa que acontecia ao redor deles. Todos pareciam ser Katherine e Morgan, uma mulher que não podia ser tocada e um homem que era reconhecido como tenente por motivos que Ellylan não desejava saber. No entanto, o anjo loiro havia dito uma verdade. Ellylan não dançava.
~ 37 ~ Maximus segurou Ellylan por sua cintura com uma de suas mãos, a usando para levar o corpo dela para próximo do seu até onde o seu vestido permitia. Naquele momento, ela odiou aquela bela produção de Niffie, pois se estivesse vestindo o mesmo modelo de vestido que a maioria das mulheres usavam, o único obstaculo que a impediria de sentir a pele de Maximus era a fina camada de tecido que ambos vestiam. Mas em seu caso, existiam muitos tules no caminho que imterrompiam a junção de seu corpos. Ellylan não era tola, muito menos havia se esquecido da posição que um casal se colocava quando estavam prestes a dançar. Além do mais, existiam muitas outras pessoas presentes que ela poderia copiar os movimentos e posições. Então quando o arcanjo, que a segurava próxima dele,k pegou sua mão, ela levantou seu braço até a altura de seus ombros sem que ele precisavasse guiá-la até essa posição. Os olhos azuis de Maximus encontraram com os dela no momento em que percebeu que ele estava esperando isso. Claro, um casal sempre mantinha os olhos fixos um no outro quando dançavam, mas naquele momento, fazer isso parecia ser muito dificil. Intimidador, mas não em um sentido ruim, apenas de uma maneira que fazia o estomago de Ellylan se agitar de um modo que fazia sua mente gritar “não”, “isso é impossivel”. Maximus deu o primeiro passo para iniciar a dança, se movimentando para o lado em um pequeno passo. Ellylan o acompanhou e quando percebeu que eles não sairiam desse movimento de um lado para o outro e algumas vezes um giro no lugar, ela pode voltar a pensar para poder falar. — Eu acredito que isso seja a fase 1 para pessoas que não sabem dançar.— — Se você olhar para os outros casais, perceberá que todos estão dançando dessa maneira.— Ela não precisava olhar para saber, principalmente quando viu que Katherine e Morgan estavam se movimentando dessa maneira também. E Elly tinha uma boa noção que ambos sabiam dançar, não apenas se movimentar para os lados.— Por que isso acontece?— — Nós não estamos em um concurso de dança para mostrar quem realmente é o melhor.— Maximus falou, seus olhos eram tão vazios quantos o tom de sua voz, mas ela sabia que se naquele momento só existissem os dois nesse salão, ele não agiria dessa forma.— Ninguém realmente quer dançar quando o real motivo para se estar em uma pista é olhar para sua parceira e observar cada detalhe de seu rosto. E se a musica parasse de tocar, muitos continuariam dançando.— — Não é assim para todos.— — Não.— Ele concordou.— Dimitrius e alguns dos meus tenentes apenas estão interessados no que vai acontecer depois do baile.— — Você não está interessado nisso também, Maximus?— Ellylan não resistiu a essa pergunta — Eu estou apenas aproveitando o momento.— O arcanjo deu de ombros.— Nunca pensei que algum dia seria possível dançar com uma humana.—
— Você está mentindo.— Elly falou sem nenhuma duvida, o encarando quando arqueou sua sobrancelha — Sim, eu estou.— O arcanjo sorriu sarcasticamente.— Mas tentei ser educado.— Ellylan sorriu para Maximus sem nenhuma dificuldade, se esquecendo totalmente das pessoas que os cercavam. E ela poderia concordar com o anjo loiro naquele momento, pois se a musica deixasse de ser tocada, Elly jamais se afastaria de Maximus. Estar em seus braços era agradável demais para que se afastasse só pelo único motivo de não existir mais musica para dançar. — Não sorria.— Maximus avisou, se movimentando para que ambos pudessem dar um lento giro. — É tentador demais.— Ellylan o encarou, aqueles olhos ainda estavam vazios mesmo quando suas palavras eram suaves e roucas.— Eu gostaria de ver o que realmente sente nesse momento.— Ela foi sincera, pois se não fosse por pequenas mordidas em sua bochecha, tinha certeza de que estaria toda sorrisos. E o motivo para isso era só porque estava dançando com Maximus. Ellylan, realmente, gostaria de saber se era assim para esse anjo. — Eu sou um arcanjo.— — Isso não significa nada para mim.— Ellylan cuspiu as palavras, sabendo que o arcanjo do inferno poderia se ofender com isso, mas ela realmente estava sendo verdadeira. Afinal, essa posição que era de extrema importância, não tinha qualquer valor a ela. — Essa frase significa tudo.— Maximus explicou.— Você entenderia se tivesse crescido no meu mundo.— — Eu não gosto muito da ideia de ter que curvar minha cabeça para você ou seus irmãos.— Ellylan falou.— Então, imagino que assim é melhor.— — Talvez.— Maximus disse calmamente e quando Ellylan o olhou interrogativamente, o arcanjo completou sua frase.— Você não é imortal.— Como uma facada em seu coração. Foi exatamente isso que Elly sentiu. Ellylan não imaginava que Maximus desejava que ela tivesse feito parte de seu mundo para ser uma imortal como qualquer outra pessoa que estava presente nesse salão, esse detalhe apenas a fez se lembrar do quão longe ambos estavam para ficarem próximos. E Ellylan não queria ser imortal, por mais que estar com esse anjo fosse algo realmente bom, ela não desejava fazer parte de um mundo em que a morte era tratada como uma brincadeira. Além do mais, ela possuia uma vida fora do inferno. Uma desconhecida, mas ainda assim, era sua verdadeira realidade. E Elly duvidava que Maximus se senteria tão interessado nela se fosse como essas mulheres tão sem graças que estavam nesse salão, sua atração por ela era obvia pelo motivo de Ellylan ser uma novidade para um arcanjo tão velho como Maximus. Ele jamais se sentiria da mesma maneira que ela se sentia a seu respeito e parecia ridículo esperar isso de um arcanjo que governava o inferno. No entanto, sua mente parecia ignorar que ela seria a única peça quebrada no final de tudo isso, sua mente, sua maior inimiga, dizia que Elly tinha que continuar a responder todas as provocações de Maximus. Sua parte iludida, acabaria a matando sem nenhuma piedade e sua mente ajudaria a dar todas as facadas finais necessarias com o aviso da realidade de que um arcanjo nunca seria dela. — Eu...— Ellylan estava pronta para mudar de assunto, mas fechou sua boca no momento em que viu Patrick pela primeira vez naquele salão.
Ela teve que desviar seus olhos dos de Maximus e até mesmo se movimentou quando as asas brancas do arcanjo faziam um ótimo trabalho em tampar sua visão, o que resultou em ambos fora daquela posição de dança clasica entre os casais, mas a mão de Maximus ainda segurava a sua com força. Elly poderia ter feito um enorme relatório do quão satisfeita estava com aquela sensação, mas Patrick havia chamado sua atenção. O tenente ruivo, que deveria ser a pessoa mais animada desse baile, estava sentado em uma cadeira antiga que estava próxima da única parede daquele local que não possuia janelas. Ele estava em uma posição relaxada com seus braços cruzados sobre seu peito, porém, emburrado. Era uma imagem perfeita que podia ser comparada com uma criança que havia levado sermão de seus pais quando fez algo realmente errado. E desde que seu pai estava muito ocupado com Katherine, não era por esse motivo que Patrick estava fazendo bico. Ellylan olhou para a outra pessoa que estava sentada naquele local, com uma cadeira a separando de Patrick. Ela estava olhando atentamente para as pessoas que dançavam em sua frente, acompanhando com seus olhos azuis claros cada movimentos que eles faziam. Essa mulher estava sentada em uma posição mais refinada, suas costas totalmente retas em quanto suas mãos palidas descansavam em seus joelhos. E o mais surpreendente, era que quando Elly olhou para essa estranha, tudo o que pode pensar foi em um dia de neve, pois aquela mulher estava vestida de branco dos pés a cabeça. E isso inclua os seus cabelos também. A única cor existente nela era a de seus olhos azuis já que até mesmo sua pele era de um tom pálido que lembrava a porcelana. Na verdade, essa estranha, lembrava completamente uma boneca de porcelana, principalmente por usar rendas e cabelos soltos em cachos grandes e perfeitos. Ellylan gostou dela, mesmo sem conhecê-la, pois ela era a única que estava com seus cabelos soltos em uma festa que aparentemente era uma regra predê-los. Marie havia falado isso e feito Ellylan prender os seus, então essa estranha havia recebido sua aprovação pela atitude de quebrar uma regra entre os imortais. — Quem é ela?— Elly perguntou para Maximus quando sua verdadeira pergunta envolvia saber o motivo de Patrick estar emburrado ao invés de levar essa imortal linda para a pista de dança. O pouco que ela conhecia desse tenente, ele deveria estar muito feliz por estar tão próximo de uma mulher tão bonita. — Você se lembra sobre os olhos e ouvidos dos anciões que mencionei antes?— Maximus disse ao acompanhar o olhar de Elly até aquela estranha.— É ela.— — Ela?!— Ellylan quase gritou pela surpresa, mas não havia perdido o controle de sua voz.— Como alguém com uma aparencia tão amavel pode ser algo tão ameaçador para arcanjos?— Sim, Ellylan não conseguia acreditar que aquela mulher que se vestia completamente de branco e que se parecia com uma boneca podia ser justamente a pessoa que fazia três arcanjos se comportarem. Ela nem ao menos tinha uma expressão de autoridade! — Você está falando sério?— Ellylan olhou para Maximus com seriedade, pois o arcanjo já havia criado diversas mentiras para assustá-la ou apenas por provocação. — Seu nome é Gaia,— O anjo loiro disse com seus olhos fixos nessa ameaça que não aparentava
ter coragem para quebrar um pequeno galho de uma arvore.— Um nome forte para alguém tão grande quanto o significado dele.— — Eu não acredito em você.— Mesmo sem saber o que significava esse nome estranho, Ellylan não acreditava no arcanjo. Maximus olhou para Ellylan e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, tão pequeno que se não estivesse estudando cada movimento do arcanjo, ela jamais teria o notado. — Gaia é conhecida como filha dos cinco elementos, Elly, ninguém sabe muito sobre ela, mas os arcanjos sabem o suficiente para temê-la.— Ele explicou.— Dizem que ela foi gerada pelos elementos da Terra e por esse motivo carrega o nome de Gaia.— — Então ela sabe se os anciões existem ou não.— — Sim, imagino que sim.— Maximus disse.— Algumas vezes seus olhos se tornam completamente brancos e é como se ela entrasse em um sono profundo. Não existe hora ou lugar, isso apenas acontece. Todos os arcanjos foram ensinados de que quando isso ocorre, é o momento em que ela se comunica com aqueles que estão acima de nós. E também é por esse motivo que ela precisa de proteção.— — Eu acredito que alguém que é chamada de filha dos elementos pode se defender sozinha.— — E pode, você não imagina o quanto pode, mas nos momentos em que ela entra em transe, Gaia se torna tão humana quanto você e isso explica o por que de Patrick estar sentado ao lado dela em vez de se divertir.— — Ele foi o escolhido para ficar de guarda.— Ellylan deduziu o obvio.— Isso é cruel.— — Gaia se sente confortavel apenas comigo e meus irmãos, pois sabe que nós morreriamos para salvá-la, mas como estamos ocupados cuidando do castelo essa noite, elegi aquele que deveria ser o mais gentil.— — E falhou.— — Isso é tão obvio?— Maximus disse com certa ironia.— No entanto, acredito que seja a melhor opção ainda, pois nenhum dos meus tenentes conseguiria deixar Gaia tão confortável quanto Patrick.— — Eu não consigo vê-la confortável nesse momento.— — Você conviveu com todos os meus tenentes, Elly,— O arcanjo do inferno a lembrou.— Me diga qual deles seria o melhor para lidar com essa situação.— — Morgan.— Ellylan falou sem nenhuma duvida e ela nem ao menos precisava pensar sobre sua resposta. O escolhido sempre seria Morgan. No entanto, Maximus não aprovou muito sua resposta e sua única reação foi arquear sua sobrancelha que era escondida por seus cabelos loiros.— Tudo bem, ele tem esse jeito que faz qualquer pessoa tirar a conclusão de que é psicopata, mas Morgan é... Ok, Patrick é a melhor opção.— Ela resmungou sua ultima frase ao perceber que Maximus tinha razão, pois por mais que gostasse de Morgan, ele conseguia ser assustador apenas com um olhar.— Patrick deveria chamá-la para dançar.— Elly mudou de assunto, dizendo algo obvio. — Gaia nunca irá confiar em alguém que a trata como algo detestável.— Maximus disse calmamente.— E aqueles que são leias a mim e meus irmãos a odeiam apenas por saberem que seu papel é nos denunciar. Patrick provavelmente receberia um não como resposta se por algum milagre a convidasse para dançar.— — Ela parece ser solitária.— Ellylan murmurio e ela nem precisou olhar diretamente nos olhos azuis dessa mulher chamada Gaia para ter certeza, isso ficava obvio quando era visivel a falta de pessoas perto daquele lugar onde estava sentada. O único corajoso o suficiente para estar la era Patrick, mas ele não contava, pois estava sendo obrigado a isso. — Aqueles que possuem um grande poder sempre são.— Sim, Maximus tinha razão, e Elly não podia negar isso de maneira nenhuma, pois desde que passou a participar desse mundo tão diferente, ela não viu o anjo loiro ou seus irmãos serem tratados como pessoas comuns. Todos abaixavam a cabeça para eles, todos ficavam em silencio quando eles
falavam e todos obdeciam. Ellylan sabia muito bem que por ser diferente dessas pessoas, acabou se destacando e chamando a atenção do arcanjo do inferno. Ela era a única que fazia tudo diferente do que Maximus era acostumado. — Você e seus irmãos demonstram não se importarem com esse fato.— Ellylan comentou.— Mas parece que ela apenas quer ser... normal.— — Gaia nasceu para ser o que é.— Maximus disse.— Ela é velha demais para possuir esses desejos. — — Você não sabe, Maximus.— Ela rebateu com velocidade.— Há poucos dias você nem ao menos sabia o que fazer quando eu começava chorar. Na verdade, ainda não sabe e por esse motivo irei ignorar suas palavras.— — Uau.— O arcanjo disse sem nenhuma emoção, o que fez com que Ellylan o fuzilasse com seus olhos.— Eu estava errado, Patrick não era minha melhor opção para cuidar de Gaia, acredito que os injustiçados são sempre os mais adequados para estarem juntos.— Ellylan estava pronta para rebater o que o anjo havia falado com uma resposta muito boa, mesmo sabendo que não era uma boa ideia falar de maneira grosseira com Maximus na frente de tantas pessoas, mas antes que tivesse a chance de projetar as palavras para fora de sua boca, Elly sentiu uma mecha de seu cabelo cair sobre o seu ombro. E nos segundos seguintes, seu coque que estava próximo da perfeição, estava caindo sobre o seu ombro com vários grampos presos em suas mechas que não permitiu que seus cabelos caissem como uma cascata em suas costas. Foi automatico Ellylan movimentar a mão que Maximus segurava contra a dele para que pudesse arrumar aquela bagunça, e ela teria arrumado se o arcanjo tivesse a soltado. Elly realmente tentou se soltar, mas o anjo loiro apenas a segurou mais forte. — Vamos,— Ele disse calmamente, encontrando os olhos dela.— Eu irei levá-la até um espelho.— Naquele momento, a vontade de Ellylan foi sorrir, mas se manteve séria, pois a ideia de ficar feliz apenas com a menção de ver um espelho parecia ser ridículo. Ela já era considerada como algo anormal por todos nesse lugar e se existia algo que desejava, era não dar motivos que concordassem com isso. — Você me dirá por que sua alma se iluminou nesse momento?— Maximus voltou a falar, seus olhos presos nela mesmo quando eles começaram a caminhar em direção das escadas que desceram a um tempo. — Não.— Elly disse ao mesmo tempo que negava com sua cabeça.— Tente descobrir, isso será muito mais interessante.— — Não é dificil saber o que está pensando, Ellylan.— O anjo disse calmamente.— Posso não ter acesso a sua mente, mas você não consegue esconder por muito tempo o que pensa.— — Se você soubesse o que estou pensando, saberia o motivo da minha alma ter se iluminado.— Elly retrucou com mal humor ao mesmo tempo que se sentia orgulhosa pela resposta que havia dado. Maximus não a respondeu, o arcanjo do inferno apenas esqueceu que em suas costas existiam diversas pessoas e sorriu em quanto subia os degraus daquela enorme escada que Ellylan pensou que nunca conseguiria descer. E em questão de minutos eles estavam no corredor que Elly quase beijou o anjo loiro se não fosse seu irmão mais novo atrapalhar e com esse pensamento, essa pequena lembrança, ela deveria ter começado a se sentir constragida por estar sozinha com ele, mas apenas se sentiu aliviada.
Estar sozinha com Maximus a fazia se sentir muito mais protegida do que diante de tantas pessoas que nunca havia visto antes. Pessoas que a viam como algo muito ruim e que se consideravam superiores e melhores que humanos. Talvez isso pudesse ser verdade, mas Ellylan não trocaria todos os seus sentimentos que a transformavam em uma humana para se transformar nessas pessoas geladas que matavam sem nenhuma preocupação. Maximus é uma delas, sua mente gritou em lembrete. No entanto, Ellylan ignorou essa mensagem, pois por mais que o arcanjo do inferno se encaixasse perfeitamente bem nessa descrição, ele jamais seria alguém tão sem sentimentos quanto Meridius. Alias, nem mesmo Meridius conseguia ser um monstro por completo. Ele podia ser aquele que menos demonstrava suas emoções boas, mas possuía uma fraqueza... Niffie. Ela era capaz de trazer um pouco de humanidade para sua alma e Ellylan acreditava fielmente nisso, mesmo que ouvisse apenas coisas ruins sobre o relacionamento deles. Mas se fosse tão ruim como diziam os boatos, Meridius jamais correria na direção dela para protegê-la quando pregos estavam indo em sua direção para machucá-la. Com Maximus e o que viu de seu irmão mais velho, Ellylan pode concluir que quando imortais estão dipostos a cuidar de alguém, eles fariam tudo o possível para nunca ver a cor vermelha sendo derramada para encontrar o chão. Elly considerava isso muito humano, mesmo quando os imortais se consideravam seres sem sentimentos. E por esse motivo, ela sempre se sentiria segura perto desse arcanjo que era tão temido por humanos. *** Ellylan se virou para Maximus no momento em que ouviu a porta do quarto que eles haviam entrado se fechar. Ela nunca havia estado nesse comodo e nem ao menos estava surpresa por saber que ele existia, pois esse lugar que ela estava vivendo, era um castelo com diversos quartos e outros lugares que Elly provavelmente nunca chegaria a entrar. E ela estava pronta para fazer um comentário afiado sobre esse quarto ser especialmente para anjos, já que a cama em suas costas era igual a de Maximus, mas o arcanjo do inferno nunca deu qualquer chance para seu cérebro processar qualquer frase. Em um único segundo, Maximus estava próximo da porta daquele quarto, mas no outro, ele estava em sua frente com apenas centimetros os seperando. O anjo loiro levou suas mãos em direção de seu pescoço e em quanto ela descansava em sua nuca, a outra fazia um ótimo trabalho em se livrar dos grampos que estavam presos em seus cabelos. — Você não precisa prender seus cabelos apenas por que disseram que isso é o correto.— Maximus disse calmamente e Ellylan tentou encontrar seus olhos, mas aqueles azuis maravilhosos estavam fixos em suas mechas negras para que não corresse nenhum risco de machucá-la ao puxar algum fio. E ela não podia negar que ele estava fazendo um ótimo trabalho, pois sua vontade era de ronronar com esse toque em seus cabelos.— Eu pensei que era uma regra sua não seguir normas do
meu mundo.— — Eu...— Ellylan resmungou ao abrir sua boca, mas Maximus parecia estar ciente de que ela não gostou muito da ideia de ter que fazer um penteado, então não havia motivos para dizer que aquilo não tinha significado a ela.— Você falou para eu não criar problemas essa noite.— Acabou murmuriando. — Correto.— Maximus encontrou os olhos de Ellylan no momento que soltou um dos ultimos grampos de seu cabelo e permitiu que eles caissem em uma cascata negra nas suas costas.— Mas eu estava pedindo algo impossivel.— — Hey!— Ela usou seu dedo para cutucá-lo em seu abdomen.— Isso é uma mentira. Eu estava me comportando.— — Nós temos concepções totalmente diferentes do que significa problemas, Elly.— Maximus tocou seu rosto com seus dedos quentes e usou sua mão apoiada em sua nuca para trazê-la pra perto. Tão perto que Ellylan era capaz de sentir a respiração calma do arcanjo em seu rosto. Maximus iria beijá-la, isso estava obvio. E era exatamente o que Ellylan desejava, principalmente depois de ter Dimitrius atrapalhando o momento em que isso teria acontecido mais cedo. No entanto, o arcanjo do inferno estava a provocando com suas brincadeiras e ele provavelmente estava acostumado a ter tudo o que desejava. Elly não podia ser tão fácil assim. — Nós não podemos fazer isso.— Ela disse, desviando seu rosto para o lado.— Não somos um casal.— Maximus a encarou com curiosidade quando ela voltou a olhá-lo, seus olhos azuis demonstravam uma explosão de sentimentos que antes não existia ali. E naquele momento, Ellylan tinha uma enorme vontade de se socar pelo o que havia falado, por vários motivos, pois sua intenção era de se fazer de dificil, não de idiota a ponto de trazer um assunto constrangedor a tona. — Nós temos que ser um casal para nos beijar?— Maximus perguntou de forma tranquila, seu tom demonstrava que ele havia entendido que era uma tentativa de brincadeira. — Sim!— Ellylan o respondeu sem constrangimento, pois levaria essa brincadeira até o fim agora que sabia que Maximua havia a entendido.— É isso o que as pessoas fazem.— — É isso que os huamnos fazem.— Ele a corrigiu. — Eu sou humana... É o que eu faço.— — Então é isso o que nós iremos fazer.— — O quê?— As pernas dela tremeram sob seu peso. Afinal, o tom de brincadeira que existiu na voz do anjo loiro sumiu no momento em que ele falou. — Por que não?— Ele soava sério, muito sério. — Eu não preciso que você me evite nos próximos dias por esse motivo.— — Mas...— Onde estavam seus argumentos?! — Eu estava brincando! Além do mais, sou uma mortal e você...— — A menos que você esteja planejando morrer nos próximos dias, Elly, não há motivos para criar problemas.— — Isso não parece certo.— — Um arcanjo esta se rendendo a uma humana,— Ele disse ironicamente, com um sorriso que combinava perfeitamente com seu tom.— Não é correto, é poético.— Maximus levou suas mãos até a cintura de Ellylan, seus dedos grandes e quentes se moldaram contra ela para que o anjo pudesse puxar seu corpo contra o dele até onde aquele vestido maravilhoso permitia, Elly segurou seus braços para que mantasse seu equilibrio quando ele a puxou. Seus olhos azuis, tão azuis, diziam a cada segundo o que o arcanjo do inferno realmente desejava fazer naquele momento.
— Ellylan,— Ele disse seu nome, mas não em um tom de repreensão como deveria ter sido.— Beije-me agora ou se afaste.— — Se eu bei...— Maximus cobriu a boca de Ellylan com a sua antes que ela tivesse qualquer chance de terminar sua frase, seus lábios eram quentes como fogo contra os seus e toda a maciez que existia naquela região fez com que ela esquecesse qualquer coisa constragedora sobre o assunto de casais. O arcanjo do inferno se afastou antes que aprofundasse aquele beijo que mal poderia ser chamado dessa maneira, mas Maximus não se distanciou de Ellylan, ele encostou sua testa contra a dela e abriu seus olhos. E tudo o que Elly podia ver naquele momento era o azul de seus olhos, aquele lindo e maravilhoso azul piscina. — Por que você está fazendo isso comigo?— Ellylan sussurrou, pois ela sabia melhor do que ninguém que seria a única que saíria quebrada de toda essa situação. Elly não podia negar que gostava de tudo isso, mas os resultados finais eram obvios e a sensação que possuía era de que estava correndo em direção de um assassino que esmagaria seu coração. — Eu irei cuidar de você, Ellylan.— Ele falou ao mesmo tom dela, uma resposta que parecia dizer que esse anjo compreendia todas as suas preocupações.— Até mesmo quando não estiver mais ao meu lado.— Ellylan não o respondeu dessa vez, pois era a primeira vez depois de tanto tempo que Maximus estava a lembrando que o inferno não era a sua casa. Se lembrar disso era algo comum vindo dela, mas não desse arcanjo que parecia ter esquecido completamente que ela era uma peça guardada em um jogo errado. Como sua única resposta ao que o anjo loiro disse, ela o abraçou sem pensar no que aquilo poderia significar. E mesmo tendo certa dificuldade em achar uma posição para seus braços, já que as asas de Maximus estavam fechadas, Elly se sentiu confortável ao fazer isso. O arcanjo do inferno movimentou suas asas brancas para abri-las um pouco quando ele passou seus braços ao redor da cintura dela. Ellylan descansou sua bochecha sobre o peito de Maximus naquele momento e viu o quão lenta era a respiração dele. Era quase como se não existisse nenhum movimento, como se ela não sentisse nada a baixo de sua pele se não estivesse tão atenta. Ellylan estava pronta para dizer o nome dele e recomeçar o assunto sobre a parte em que eles virariam um casal, mas qualquer coisa que existia em sua mente acabou indo embora no momento em que as luzes se apagaram. Com medo da enorme escuridão que passou a existir dentro do castelo, ela se agarrou com ainda mais força contra Maximus quando ele tentou se afastar. Seu colar fazia um ótimo trabalho em iluminar o lugar com aquela luz azul que se mantinha forte devido Maximus estar ao seu lado, mas ainda assim existia muita pouca luz. O mais assustador de toda essa situação era de que no momento em que as luzes apagaram, não houve gritos como deveriam ter existido, tudo o que Elly ouvia era o silencio e as batidas do coração do arcanjo que ela segurava com força. — Eu preciso ir, Elly.— Ele disse calmamente quando qualquer outra pessoa teria saido correndo para saber o que estava acontecendo.— Meu castelo está sendo invadido por demônios.— Ellylan o soltou por um momento devido ao pensamento de quão grande era o atrevimento desses demonios para invadir um local que vivia o imperador do inferno e foi nesse momento que Maximus aproveitou para se afastar dela.
— Você irá me deixar fechada aqui?— Ela perguntou o que estava obvio, demonstrando sua infelicidade. — Eu não permitirei que vá até um salão cheio de imortais em meio de uma chachina, Ellylan.— O anjo agiu como o verdadeiro imperador que era, sua voz cheia de arrogancia que dizia que isso era uma ordem para não ser questionada. — Não há gritos.— Como uma chachina poderia estar acontecendo se tudo estava tão silencioso? — Imortais nunca gritam, pois não possuem medo da morte.— Maximus aproximou seu rosto do de Ellylan, se curvando para que seus olhos ficassem na mesma direção dos dela.— Então... Fique aqui.— O arcanjo se afastou dela novamente e Ellylan vacilou por um momemnto, ignorando sua ordem completamente quando deu um passo para frente. A última vez que havia estado em meio de tanta escuridão, esse mesmo anjo que a beijou segundos atrás tentou matá-la... Assim como outra criatura horrivel que parecia um cachorro. — Maximus...— Sua voz saiu mais chorosa do que já pensou ser possível, mas Ellylan ignorou esse detalhe desde que conseguiu chamar a atenção do anjo loiro que se virou em sua direção. — Você está com medo do escuro, Elly?— Ele perguntou ao mesmo tempo que um sorriso arrogante crescia em seus lábios.— Eu pensei que você não fosse mais uma criança.— — Isso não é justo.— Ela resmungou.— Ficar sozinha e fechada em um quarto no escuro é muito mais apavorante do que esse baile cheio de pessoas que não fazem nada além de me encarar.— Maximus não teve a chance de responder Ellylan, pois nos segundos que se passaram em quanto ele se manteve em silencio para pensar em algo para dizer, o silencio deixou de existir no lado de fora. O som de vidros sendo quebrados invadiu o castelo como uma explosão e logo em seguida o som de gritos femininos começaram a fazer ecos por todo o castelo. — Fique aqui.— Ele ordenou, começando a andar em direção da porta.— Eu manderei algum dos meus tenentes para ficar com você.— — Eu...— — Você estara segura aqui dentro.— Maximus avisou. — Tudo bem.— Elly sussurrou para ela mesma, pois Maximus já havia saído do quarto muito antes dela dizer qualquer palavra.
~ 38 ~ Patrick estava sentado ao lado de Gaia, a gorata cuja foi destinado a ser babá nessa noite em que deveria estar dançando com cada mulher que desejasse até encontrar alguém que o divertisse pelo resto daquele dia. No entanto, Maximus acabou com seus planos quando no inicio do baile o mandou ficar de guardar dessa mulher que possuía um grande valor. Para ele, Gaia não passava de uma grande fofoqueira que poderia acabar com a vida dos arcanjos se assim fosse seu desejo. Mas o tenente também poderia mudar de opinião facilmente sobre ela, no entanto, esse não era o desejo de Gaia. E isso fez com que Patrick fizesse a imagem dela igual a de uma pessoa esnobe, pois essa palavra a descrevia muito bem. Desde que se sentaram nessas cadeiras, com uma ao meio deles para separar seus corpos, ela não havia dito uma palavra. Nem ao menos um olá ele havia recebido quando Maximus os apresentou e explicou que naquele dia Patrick era o escolhido para ser seu cão de guarda. E no momento que ela se sentou na cadeira, não havia mexido mais nenhum musculo além dos seus olhos de um incrivel azul claro que chegava a ser quase branco, como os seus cabelos. Patrick não podia mentir, ele a considerava muito bonita com essa beleza única que a transformava em uma boneca de porcelana. E mulheres com esse tipo de aparencia era comum de se encontrar, principalmente nas angelicais, mas Gaia possuía algo que a destacava de todas as outras. E era uma pena que sua beleza fosse apenas exterior desde que no interior apenas existia a frieza de uma imortal. Para não se irritar com o fato de ter que ficar sentado em quanto todo o resto se divertia bem diante de seus olhos, Patrick passou observar seu pai dançando com Katherine. Não era nenhuma novidade que algo muito forte existia entre ambos, algo proibido de nascer já que Kath era muito fechada quando se tratava de relações com demônios e anjos por causa de seu único poder de arcanjo que era capaz de transformar alguém em cinzas com apenas um toque. Patrick não conseguia compreendê-la, pois ela podia tocar qualquer um quando usava suas luvas feitas especialmente para seu problema. De fato seu toque não causava nenhum efeito em arcanjos quando não as usava, mas Katherine sempre usava luvas, não importava a ocasião e isso significava que ela poderia ter um relacionamento que não fosse com arcanjos. E era uma pena que a única imortal que chamasse a atenção de seu pai fosse a mais complicada de todas. Depois de tudo o que aconteceu com sua mãe, Patrick tinha medo que Morgan nunca mais se envolvesse com mais nenhuma mulher, mas com Katherine sempre foi diferente e só pelo fato de seu pai não considerá-la apenas como um relacionamento casual, já significava muito. Patrick sofreu muito nas mãos de sua mãe, ele se sentia enojado apenas em pensar naquela mulher como sua mãe, mas seu pai foi aquele que mais havia sido atingido. Afinal, ela era aquela mulher
que ele amava antes de tudo acontecer. O tenente percebeu que haviam olhos sobre ele e sua reação foi olhar para a única pessoa que poderia estar o observando desde que Ellylan não estava mais presente no salão. Patrick encontrou os olhos de Gaia no momento em que a olhou e como ela continuou em silencio, ele arqueou sua sobrancelha para fazê-la dizer o motivo de estar o encarando. Ele não evitou o olhar dela, pois desde que Gaia estava a cima até mesmo dos arcanjos, possuía uma grande noção de que não veria aquilo que ela considerava seu maior arrependimento. Desde que havia se tornado um demônio, algo em sua transformação de mortal para imortal havia dado errado e a consequencia disso foi ganhar uma habilidade que consideravam como um dom. No entanto, Patrick via esse seu “dom” como um grande pesadelo. Afinal, não existia nada gracioso em ver a imagem perfeita de arrependimento daqueles que ele encontrava o olhar. — Seus pensamentos são sombrios.— Era a primeira vez que o tenente ouvia a voz dessa mulher e apesar de seu tom não conter nenhum traço de emoção, chegava até mesmo ser delicada. — Você está preocupada comigo, boneca?— Patrick perguntou ironicamente, deixando o seu sarcasmo obvio para que essa mulher compreendesse muito bem o que significava ironia. Mas não podia mentir que ele estava surpreso por Gaia ter acesso a sua alma. Não deveria, considerando tudo o que sabia sobre ela, mas estava. — Não.— Ela respondeu friamente.— Eu não confio em pessoas com almas vermelhas, é isso.— — E ainda assim você está sentada ao meu lado, conversando comigo.— Patrick decidiu provocála, isso não faria mal a ninguém. Ele até mesmo tinha esperanças que esse pequeno iceberg em volta de Gaia derretesse.— Isso é um grande atrevimento para alguém que nunca quebra regras.— — Você não me conhece para dizer tal coisa.— Gaia parecia ofendida. — Faço das suas palavras as minhas, boneca.— Dessa vez, Patrick não havia usado nenhum tom que indicava suas brincadeiras. Na verdade, ele permitiu que seu humor negro tomasse vida em sua voz. Afinal, Gaia não sabia nada sobre sua vida humana para dizer que não era confiavel apenas por fazer parte do nível 2 do inferno. Se ele não fosse, Patrick jamais faria parte do grupo de tenentes de um arcanjo. E acima de tudo, ele não estaria cuidando de uma peça tão importante que poderia acabar com o reinado daqueles que anjos, angelicais e demonios mais temiam com apenas uma palavra. — Eu...— Gaia começou a falar e pela primeira vez ele percebeu que alguma emoção havia tomado conta de sua voz, mas antes que ela tivesse a chance de continuar sua frase, as luzes do salão se apagaram. E depois, tudo se tornou silencioso a ponto de ser perturbador. Já não existia mais os barulhos de conversas sussurradas, da música e de qualquer outro som que existiu entre tanto imortais. Patrick olhou para todos as pessoas que permaneceram imóveis e sem dizer uma única palavra, uma atitude própria de imortais que estavam prontos para um ataque surpresa. Mas não importava quantos segundos passavam, tudo continuava silencioso. Até Gaia se levantar de sua cadeira e seus saltos baterem contra o chão com força o suficiente para quebrar aquele silencio irritante. Foi instinto da parte de Patrick levantar também, pois se ela estivesse se movendo para outro lugar, era sua obrigação fazer o mesmo, mas Gaia se manteve onde estava como se fosse uma estatua. No
entanto, era obvio que ela havia percebido algo. — Qual é o problema?— Patrick arriscou perguntar. — Demônios.— Quando Gaia disse aquela única palavra, Patrick não precisou de nenhuma explicação para compreender o que estava acontecendo. E caso precisasse de uma, ele nunca teria a chance de agarrar esse momento. Os lustres que existiam no teto daquele lugar começaram a cair um após o outro, fazendo com que o silencio dos imortais acabasse pelo ataque surpresa que ninguém esperava. Patrick não era alvo daquelas enormes luzes, muito menos Gaia. Mas no momento em que aquelas peças enormes encontraram o chão, pequenos pedaços de vidros voaram em todas direções. Patrick puxou Gaia por seu braço para que pudesse protegê-la de todos os pedaços daquele enorme lustre que voaram em sua direção e que poderiam facilmente machucá-la. E ele não podia negar que ficou surpreso ao ver que essa mulher, que odiava sem ao menos conhecer, era quente ao invés de ter uma temperatura baixa como ele imaginava. O tenente curvou seu corpo sobre o de Gaia e a obrigou a fazer o mesmo quando a movimentou para ficar de frente com a parede ao invés do caos que o salão havia se tornado. Patrick sentiu todos os cacos baterem com força contra suas costas, não o machucando de maneira nenhuma, mas o fazendo pensar que se tivesse atingido em Gaia, ela teria vários cortes em sua pele pálida. E isso fez ainda mais sentido quando o tenente sentiu em seus dedos o quão macia era a pele dessa desconhecida. Patrick se afastou de Gaia no momento em que percebeu o quão idiota estava soando, pois por mais que admirasse uma linda mulher, essa pequena boneca de porcelana era proibida em todos os sentidos da palavra. Gaia ficou ereta no mesmo instante que ele se afastou e se virou para que pudesse encontrar os olhos de Patrick. Naquele momento, gritos podiam ser ouvidos atrás dele e tudo indicava que uma guerra estava acontecendo, mas tudo o que Patrick pode apreciar era aquela chance de ver os olhos de uma mulher sem ver o pesadelo que a perseguia todas as noites. — Obrigada.— Gaia disse sem permitir que a emoção dominasse sua voz, mas isso não a tornava menos sincera. A reação de Patrick foi dar as costas para ela e encarar o salão de festas que agora estava cheio de demônios do nivel 2. E se um humano presenciasse essa cena, ele provavelmente pensaria que era um apocalipse zombie acontecendo, pois os demônios além de atacarem com seus próprios dentes quando não usavam suas armas feitas por eles mesmos, não possuiam um bom estado fisico. Era como se seus corpos estivessem definhando igualmente ao que ocorria com suas almas. Maximus não estava presente no salão ainda e devido ao fato de que ele não havia contatado seus tenentes para saber o que estava acontecendo, tudo indicava que o arcanjo do inferno apareceria em questão de segundos. Então sua única preocupação naquele momento era cuidar de Gaia, que continuava imóvel atrás dele em quanto assistia uma chachina em silencio. Ótimo. Patrick nunca havia gostado de cuidar de suícidas e não seria nesse baile que ele mudaria de ideia
sobre esse assunto.
~ 39 ~ Meridius! O arcanjo do paraíso ouviu o grito de sua esposa em sua mente no momento em que os lustres encontraram o chão e causou o fim do silêncio que ele tanto apreciava. Naquele momento, Meridius estava dançando com Diane e se afastado de Niffie para dar a liberdade que ela merecia para conversar com aqueles que conhecia sem se preocupar e imaginar que uma invasão poderia acontecer. Onde você está? Ele perguntou friamente, pois não via motivos para tanto desespero tanto dela quanto dos demais. Afinal, três arcanjos estavam presentes nesse baile e por esse simples fato, não havia motivos para tanto alvoroço. No entanto, no momento em que ele fez a pergunta que mais lhe importava naquele momento, Meridius percebeu que suas palavras haviam ficado apenas em sua mente. Como se ele estivesse falando consigo mesmo. Foi então que o arcanjo percebeu que a ligação que existia entre eles, tornando suas almas em uma só, não estava mais lá. Meridius só podia encontrar o vazio onde deveria existir uma luz branca que nunca deixava de brilhar.
~ 40 ~ Gaia viu Max surgir no topo da escada no momento em que sentiu a alma do arcanjo se aproximar do local. E mesmo que naquele momento estivesse fazendo de tudo o possível para parecer calma e fria, foi apenas o anjo do inferno aparecer para seu coração parar de se agitar dentro de si. Ela se manteve imóvel e ciente daquele demônio de olhos preciosos em seu rastro, mas sua vontade foi de correr atrás de algum dos arcanjos, pois Gaia sabia que eles seriam os únicos a protegê-la caso tudo ficasse fora do controle. Afinal, sua morte significava problemas para eles e isso era tudo o que arcanjos evitavam. Max encontrou o olhar de Gaia da onde ele estava, verificando com seus próprios olhos se ela estava bem. Ela movimentou sua cabeça levemente como resposta para a pergunta que nunca foi feita e que nem ao menos precisava, considerando que estava obvio que o anjo que governava o inferno apenas estava preocupado com ela. Pelo menos Maximus sempre foi o único que demonstrava isso entre seus irmãos. O arcanjo desviou seus olhos de Gaia e se concentrou em todo aquele salão que estava um caos incontrolavel. E nos próximos segundos, as cortinas de todas as janelas que existiam naquele lugar explodiram em chamas que eram controladas por Maximus, sendo sua intenção de clarear o salão de festas que se transformou em um grande buraco negro quando os lustres foram atingidos para encontrar o chão. No momento em que as chamas surgiram nas cortinas do salão, foi automatico que todos os convidados do baile olhassem para Maximus, até mesmo os demônios que atacavam pra ver e sentir o gosto do sangue pararam o ataque e olharam o grande imperador do inferno. Maximus encarou as pessoas que estavam sob ele com olhos gelados e sem sentimentos, mas como Gaia o conhecia, ela podia imaginar que o arcanjo estava fervendo de raiva pela audacia desses demônios de invadirem sua casa e estragarem a festa da sua pequena irmãzinha. — Heriotza.— Ele disse calmamente, seu tom era agradavel como se sua palavra fosse a mais gentil que já existiu. Gaia olhou ao seu redor e todos os intrusos daquela festa que chegaram com a vontade de ver sangue começaram a virar cinzas. Seus corpos perdiam o equilibrio, mas antes que pudessem encontrar o chão, os demônios viravam poeira. Todos eles estavam morrendo como se tivesem recebido um toque de Katherine, a filha de arcanjos que não deveria existir. Ela contou em sua mente 3 segundos e quando acabou essa pequena contagem, não existia mais nenhum demônio do nivel 2 presente no local para continuar a chachina que trouxeram para dentro
do baile. Gaia arriscou olhar por cima de seus ombros para aquele tenente de Maximus, que além de servi-lo, parecia ser um grande amigo. Poucas pessoas chamavam Maximus de Max e quem o chamavam assim era possível notar que possuiam um grande laço com o arcanjo do inferno e Patrick era uma dessas pessoas. Até mesmo a humana de Max o chamava dessa maneira. Gaia havia ouvido quando ela deixou escapar de seus labios esse apelido e notou o quão constragida Ellylan havia ficado quando vários imortais olharam para ela. Se Gaia não tivesse acesso a alma de todos os arcanjos que assumiam o trono, ela também ficaria surpresa ao ver um imperador conhecido por sua maldade tratar bem um humano. No entanto, a filha dos elementos, sabia muito bem que arcanjos podiam amar. Meridius, o imperador do paraiso, aquele que era conhecido por desprezar sentimentos, era a prova viva de que amor podia acontecer. E se o mais frio de todos entrou nesse mundo, Max podia levar apenas segundos. Ainda mais quando uma humana estava envolvida. Imortais podiam desprezar a humanidade como se fossem insetos nojentos que não serviam para nada além da destruição do planeta. E Gaia, como filha de todos os elementos da Terra, sabia muito bem que eles não preservavam o lugar que moravam, mas ela considerava os humanos a raça mais graciosa que existia. Tudo bem que angelicais e anjos do sexo feminino também podiam ser graciosas, mas tudo o que importava para elas era o poder e a beleza. Uma batalha sem fim de quem chamaria a atenção dos arcanjos para estarem um passo mais perto de se tornarem imperatrizes... Gaia desviou seus olhos de Patrick no momento que percebeu que continuou o olhando mesmo quando seus pensamentos não pertenciam mais a ele. E ela desejou que isso nunca tivesse acontecido, pois esse homem era arrogante demais para lidar com o fato de que Gaia se perdeu em seus pensamentos em quanto o observava. — Maximus!— Uma voz cortou o silencio momentâneo. Uma voz alterada e que fez todos os pelos dos braços de Gaia se arrepiarem pelo medo que o tom usado causou. Meridius, o imperador do paraiso, perdendo o seu controle frio diante de todas essas pessoas não significava algo bom. E pela agitação de sua alma, Gaia podia dizer, que algo muito ruim havia acontecido. Dimitrius, ao ver seu irmão mais velho caminhando em direção de Maximus como um touro bravo, passou a caminhar em direção deles para amenizar o que quer que estivesse acontecendo. E pela sua expressão, sem ao menos checar sua alma, ela podia dizer que aquele arcanjo não sabia o que estava acontecendo entre seus irmãos também. Meridius chegou até a escada e quando deveria ter subido os degraus até o seu irmão, o arcanjo abriu suas asas incrivelmente brancas e grandes em um único estalo e voou para o topo, para cima de Maximus. Literalmente para cima de Maximus.
— Você matou todos!— Meridius exclamou cheio de raiva, sua expressão demonstrava sentimentos que eram novidade para Gaia. Seu irmão que havia sido atingido no rosto por um punho, quase encontrou o chão, mas o arcanjo do paraiso não permitiu que isso acontecesse quando segurou Maximus pelo colarinho de suas roupas.— Seu grande idiota.— Meridius levantou Maximus até que seus olhos ficassem na mesma direção, o arcanjo do inferno ainda confuso pela agressão que havia recebido ainda estava tomando controle de seu corpo quando tudo isso aconteceu. Gaia viu sangue sair pelo canto da boca de Maximus e ficou horrorizada. Afinal, era muito dificil ver o sangue desses anjos que estavam no nivel mais alto dos imortais. E para isso acontecer só bastou um soco de Meridius. Maximus encarou o outro anjo por alguns segundos e então seus olhos azuis que normalmente eram vazios explodiram com a raiva que provavelmente passou a circular em suas veias. Ele usou seus braços para tirar as mãos de seu irmão das suas roupas e antes que Meridius agisse novamente para agredi-lo, o imperador do inferno o jogou contra a parede. Sem ao menos encostar suas mãos nele novamente. — Quem é você para questionar minhas ações em meu próprio reino?— Maximus rosnou. — Seu reino é uma grande bagunça.— Meridius e Gaia não discordava muito sobre essa acusação. Afinal, uma morte havia ocorrido dentro do próprio castelo de Maximus. O poder desse arcanjo estava sendo questionado agora. Maximus tentou atacar seu irmão novamente, mas esse ataque nunca chegou a acontecer. Meridius se levantou do chão tão rápido quanto podia e segurou o braço de seu irmão que provavelmente o acertaria em seu rosto. Tendo controle do imperador do inferno, o arcanjo usou sua mão livre para segurar o pescoço de Maximus e após segurá-lo firme, Meridius moveu seu irmão mais novo para ficar contra a parede como se fosse um grande boneco de marionete. — E agora minha esposa se foi.— Meridius sussurrou com ódio em cada palavra.— Por sua culpa. — — O quê?— Maximus perguntou ao mesmo tempo que Gaia entendia o que realmente estava acontecendo para que Meridius perdesse seu controle. O arcanjo do inferno desviou seus olhos de Meridius até o salão de festas que todos os imortais estavam paralisados e assistindo dois arcanjos perdendo o controle. Ele olhou para Dimitrius primeiramente, que tinha se detido no seu caminho para segurar Diane e Katherine que provavelmente se intrometeriam na briga deles apenas para sairem machucadas. Seu irmão mais novo apenas balançou sua cabeça como resposta de alguma pergunta feita na ligação mental que eles possuíam, mas tudo estava muito claro sem ao menos ter escutado a pergunta feita: Niffie não estava no salão. — Meridius...— Maximus disse calmamente, mas seu irmão estava furioso demais para qualquer tipo de conversa naquele momento. E Gaia teve a prova disso quando o imperador do paraiso soltou o braço que segurava o para atravessar sua mão pelo corpo de Max até que encontrasse o seu coração. Maximus gritou naquele momento e se curvou diante da dor quando teria caído, mas seu irmão o segurou por seu pescoço contra a parede para que continuasse com seus olhos fixos nos seus.
Sim, arcanjos possuiam certas fraquezas e não existia dor maior do que terem seus corações a ponto de serem esmagados. E aquilo era uma cena que Gaia não gostaria de ter visto nunca, mas infelizmento ela já havia presenciado isso diversas vezes e novamente estava diante dessa situação. Ela desviou seus olhos para Patrick naquele momento, pois ver a agonia que Maximus estava passando era demais para suportar. — Você precisa parar isso.— Aquele demônio de olhos verdes água disse calmamente. E Gaia não o julgava, pois querendo ou não, essa era a única realidade diante dessa situação. Apenas ela poderia por um basta nessa briga. E Gaia colocaria um ponto final nisso.
~ 41 ~ Ellylan escutou barulho de passos que vinham do corredor do lado de fora daquele quarto escuro em que Maximus havia a deixado. No primeiro som ela nem ao menos se importou, pois imaginou que poderia ser o arcanjo voltando para pegá-la, mas ao perceber que haviam se passado apenas segundos que ele havia saido e que o castelo estava sendo invadido por demônios, Elly mudou de opinião. O pingente que estava usando servia como uma boa iluminação a ela, principalmente agora que seus olhos haviam se acostumados com a escuridão, mas no momento em que os passos ficavam mais próximos, Ellylan cobriu aquela luz azul um pouco fraca com sua mão para que ninguém visse que existia uma luz fraca naquele quarto. Com medo, ela até mesmo prendeu sua respiração para poder escutar melhor tudo o que estava acontecendo ao seu redor, mas desistiu no momento em que a ideia de se trancar no banheiro veio em sua mente. Elly soube no mesmo instante que não era Maximus vindo em sua direção para buscá-la, pois a luz que existia dentro daquela gota não se modificou em nenhum momento. Poderia ser qualquer pessoa, poderia ser qualquer demônio... Ela correu para o banheiro mesmo quando sua mente fez questão de alertá-la que vários personagens já morreram em um banheiro. Os medrosos eram sempre os primeiros a morrer em filmes de terror e considerando o mundo em que Ellylan estava, ela era a covarde da história. A primeira a morrer. E naquele momento, ela se arrependeu de todas as maneiras possíveis de ter se negado a aprender como matar um imortal. Por que Elly era tão idiota a ponto de recusar algo como isso? Era a sua vida em jogo e nada mais. Maximus podia prometer quantas vezes fosse que iria protegê-la, mas naquele momento não existia ninguém naquele quarto além dela para cumprir essa promessa. Ellylan fechou a porta do banheiro rapidamente, principalmente quando ouviu a porta do quarto sendo aberta. Primeiramente, tudo o que ouviu foi o silencio e ela rezou para todos os deuses que podiam existir para que quem quer que estivesse do lado de fora desistisse de entrar naquele quarto. Sua única opção foi segurar a maçaneta da porta com força, em quanto se manteve imóvel para que nenhum som de seu corpo acabasse a traindo. Seu coração provavelmente já era um tambor de tão rapido que batia contra seu peito, ela não precisava de mais problemas. Ellylan escutou o som da porta sendo batida com muita força e acabou levando um pequeno susto pelo estrondo causado. Logo em seguida, o som de uma risada feminina foi ouvido. O pior de tudo, era que essa risada havia vindo de dentro do quarto, próximo da porta do banheiro.
Elly levou uma das suas mãos em direção da chave que trancaria a porta e lhe daria um pouco de segurança por alguns segundos, mas no primeiro movimento que fez, a pessoa que estava no quarto tentou abrir a porta e quase teve sucesso quando as mãos dela quase escorregaram da maçaneta. Ellylan puxou a porta em sua direção com toda sua força, mas parecia inútil usar sua força contra essa louca que dava risadas histericas com os estrondos que a porta causava ao ser batida. — Eu quero brincar de boneca com uma humana,— Ela riu ao dizer, sua voz era ainda pior do que aquele anjo insano que atacou Ellylan com um prego.— A boneca de um arcanjo.— Ellylan soltou a porta no momento em que aquela mulher a puxou com toda sua força, uma força sobrenatural que fez com que as paredes tremessem. Ela não podia negar que ficou surpresa ao ver que a porta ainda estava inteira, mas seu choque ao ver quem estava a assustando era ainda maior. Ela caminhou para trás até quase encontrar a parede do banheiro que existia em suas costas, horrorizada com sua visão além do medo que subiu queimando até sua garganta. Aquela mulher, provavelmente um dos demônios que havia invadido o castelo, estava longe de ser perfeita como todas as mulheres que estavam reunidas no salão de festas para comemorar o aniversario de Diane. E quando Maximus ou qualquer outra pessoa falava sobre demônios, sua mente ligava a aparencia deles com algo próximo aos que ela convivia nesse castelo. Tão lindos quanto os anjos e angelicais. No entanto, essa mulher estava próximo a algo que não existiam palavras para definir. Haviam pouquissimos cabelos em sua cabeça, seus dentes eram escuros de tão podres e o pouco que Ellylan podia ver naquela escuridão, ela podia dizer que a pele daquela mulher era de um tom amarelado quase verde. Era como se não existisse vida dentro dela. Como se sua alma não pertencesse mais a ela... — Linda.— A demônio murmurio como se estivesse obsecada em quanto passava seus olhos por todo o corpo de Ellylan ao mesmo tempo que fazia seu estomago se revirar por nojo de como ela a olhava. Ellylan olhou para os lados rapidamente para que pudesse tirar os olhos da mulher que a observava imóvel por em quanto, sua intenção era procurar qualquer coisa que a ajudasse a sair viva de dentro daquele banheiro, mas aquele lugar estava tão vazio que quase a fez a aceitar a morte. Novamente. Maximus...Onde ele estava? Sem ter o que fazer, Elly deu um passo para trás quando aquela mulher se aproximou dela com dois passos. No entanto, quando ela estava prestes a se distanciar novamente, quando aquela demônio se movimentou, um simples passo não iria salvá-la de maneira alguma. Principalmente quando aquela mulher correu para cima de Ellylan e tentou derrubá-la. Elly gritou naquele momento, mas sua voz foi tampada com a risada insana da demonio que tentava levar seu corpo para chão, mas ela resistia bravamente em quanto segurava os antebraços daquela mulher. A estranha estava usando muita força em suas mãos ao agarrar os braços de Ellylan, mas, aparentemente, ter apanhado diversas vezes de Maximus naqueles treinos em que ela não saia do chão havia feito algum efeito. Ela poderia ter resistido durante algum tempo naquela situação em que corria o risco de ser
derrubada, mas Elly jamais imaginou que a demônio levaria uma de suas mãos até os cabelos negros dela para agarrá-los com a mesma força que usava em seus braços. Naquele momento, Ellylan perdeu todo o controle de seu corpo e se sentiu como uma boneca quando foi jogada contra a borda da enorme banheira. Era dificil dizer o que realmente estava doendo mais, se era a parte onde seus cabelos haviam sido puxados e provavelmente arrancados ou na região em que havia batido sua cabeça. Ela se sentiu completamente desnorteada a ponto de cair quando tentou se levantar. O liquido grosso e quente que escorreu na lateral de seu rosto foi completamente ignorado quando Ellylan viu, em uma visão totalmente embaçada e confusa, um corpo correndo em sua direção. Elly tentou se levantar novamente, em sua mente o aviso a alertando de que estar no chão era pior do que ser agredida em pé não parava de ressoar, mas além de ter que lidar com o peso do seu próprio corpo, que pareceu se tornar tão pesado de repente, ela teve que aguentar mais o peso daquela mulher insana que se jogou em cima dela. — Eu quero sentir o gosto dessa humana...— Ela disse de maneira psicopata e sua forma de agir não era muito diferente. E Ellylan se sentiu como a vitima de uma serial killer no momento em que teve seu corpo imobilizado pelo o da demônio que tentava segurar seus braços contra o chão também.— Maximus irá ficar furioso...— Aquela estranha conseguiu segurar os punhos de Ellylan e os apertou com força quando os elevou para cima de sua cabeça, e a sensação era de que eles estavam sendo amarrados por cordas de aço do que simplesmente uma pessoa estar os apertando para cima, mas no momento em que aquele demônio abaixou sua cabeça em direção do pescoço de Elly, toda a sua dor foi esquecida. Todo o corpo dela se congelou no momento em que sentiu a língua daquela mulher contra o seu pescoço. Palavras para descrever o quão enojada se sentia não existiam nem em outros mundos. E seus sentimentos pioravam a cada movimento que ela fazia e deixava sua pele úmida. Ellylan gritou pelo nojo que se formou por todo o seu corpo e nenhuma risada insana foi capaz de esconder o horror de seu grito com lágrimas que o acompanharam. — Pare!— Ela disse desesperada, sacudindo suas pernas e qualquer parte de seu corpo para se livrar daquela mulher que ia abaixando sua cabeça cada vez mais em quanto fazia um passeio por sua pele nua que não foi coberta pelo vestido sem alças. Elly prendeu sua respiração, pois se sentia tão enjoada que desejava desmaiar naquele momento para não ter que sentir nada do que estava acontecendo, mas como isso não aconteceu, ela preferiu agir. Com seus movimentos frenéticos para se livrar da demônio, Elly conseguiu soltar uma de suas mãos e antes que ela fosse mobilizada novamente, ela reuniu toda a força que existia em seu corpo e atingiu a cabeça daquela mulher com seu punho. Seja lá qual fosse o pequeno nivel de dor que ela tivesse sentido, funcionou o suficiente para que Elly tirasse seu corpo de baixo do daquela demônio. Não era como se seu golpe tivesse sido algo mortal, ela estava surpresa por pelo menos ter conseguido atordoar aquela mulher a ponto de conseguir se levantar desajeitosamente para chegar até a enorme janela. Pular era uma boa opção desde que suas escolhas atuais não eram muito boas, mas quando a ideia de morrer afogada a assustou mais do que ficar naquele banheiro com um demônio, Ellylan preferiu fechar sua mão em um punho e acertar o vidro da janela. Para sua infelicidade e dor ao ter sua pele cortada, ele apenas trincou em uma região, mas no momento em que sentiu suas pernas serem agarradas por mãos quentes com a intenção de derrubá-
la novamente, Ellylan acertou o vidro novamente no mesmo lugar de antes, usando a mesma força. Dessa vez, o enorme vidro da janela se transformou em cacos grandes que caíram sobre ela e a demonio, machucando ambas. Principalmente Elly quando foi levada ao chão cheio de pedaços de vidros quebrados. Ellylan ficou imóvel por alguns segundos, pois estava ciente de que se continuasse a se debater, aquela mulher seguraria seus pulsos novamente para deixá-la imobilizada. E todo o seu sofrimento para quebrar o vidro da janela teria sido em vão. No entanto, ela não pode deixar de gritar quando ouviu o som de tecido sendo rasgado. Aquele demônio totalmente insano estava rasgando o vestido de Ellylan na parte inferior, considerando que ela havia a lambido até quase chegar em seus seios, Elly preferia nem imaginar qual era a intenção dessa mulher ao destruir o melhor vestido que ela já havia visto e usado em, provavelmente, toda sua vida. Deixando a adrenalina do momento mover seu corpo, Ellylan pegou o primeiro caco de vidro grande que seus dedos tatearam e levou em direção do corpo daquela demônio que estava em cima dela. Sem experiencia nenhuma e com medo daquele ato, Elly fechou seus olhos quando movimentou aquele caco de vidro para enterrar naquela mulher, o resultado foi de não saber onde exatamente havia a atingido, mas o grito que invadiu o banheiro foi um bom resultado. Ela sabia que esse som cheio de dor significava que havia funcionado. Ellylan abriu seus olhos rapidamente e ignorou a dor que latejou em sua palma devido ao novo corte que teve ao forçar aquele vidro dentro da carne de uma pessoa. Elly aproveitou que aquela mulher não parava de gritar e a jogou no chão ao seu lado. Era agonizante o modo que ela se contorcia e gritava pela dor. A demônio levou suas mãos até o vidro que estava enterrado ao meio de seu peito, mas como ele já estava sujo com o sangue de Ellylan, aquele objeto que serviu como uma arma se tornou escorregadio demais, mas ela não parecia querer desistir mesmo quando ganhou cortes nas mãos. Elly se levantou daquele chão e caminhou em direção daquela mulher que fez questão de encontrar seus olhos, sua verdadeira vontade foi de desviar o olhar, pois ela podia sentir a dor daquela mulher apenas de ver o que existia na profundidade de seus olhos e saber que era culpada por aquilo só piorava a situação. No entanto, Ellylan não desviou seu olhar para nenhum lugar. Aquela demônio merecia tudo o que estava acontecendo. — Humanos não são idiotas — Ellylan disse para aquela mulher que ficou quieta no momento em que ela abriu sua boca para falar ao mesmo tempo que usava suas mãos para levantar a barra do seu vestido do chão. Ela levou a ponta de seu pé até o caco de vidro que estava para fora da carne da demônio e mesmo que parecesse cruel demais, ela sabia que não conseguiria empurrar aquele pedaço que faltava para dentro dela com sua mão já machucada, sua única opção foi usar aquela parte de seu corpo. Usando todo o seu equilibrio para jogar a força que existia nela para o seu pé direito, Ellylan sentiu aquele pedaço de vidro sendo cravado cada vez mais dentro da demônio insana e os gritos delas apenas aumentavam conforme o empurrava. Isso durou apenas segundos, mas para Elly pareceu ser a eternidade e quando o pedaço de vidro atingiu seu coração, o banheiro voltou a ser tão silencioso quanto a noite que existia lá fora. Ellylan se afastou do corpo imóvel daquela mulher e antes que tivesse a chance de alcançar uma boa distancia, o corpo da demônio explodiu em milhares e pequenos pedaços. Exatamente como aconteceu em seu quarto quando estava adormecida. Ela sentiu o liquido grosso grudar em sua pele, assim como pedaços de carne e nada daquilo a fez se sentir enojada como deveria ter estado. Elly
deveria ter ao menos gritado como fez na última vez que isso aconteceu, mas em seu interior não existia nenhum sentimento...Sua mente apenas gritava que aquela insana mereceu aquilo e ela não podia discordar. — E eu não sou uma boneca.— Sussurrou, se afastando o quanto podia daquela região que agora estava toda suja de sangue e carne. Pelo menos, dessa vez, ela havia saído mais limpa do que na ultima vez que ocorreu outra explosão com um corpo. Mas seu vestido não tinha se salvado e era uma pena que ele tivesse sido arruinado de todos os modos inimagináveis. Ellylan caminhou até a pia do banheiro com a intenção de limpar o sangue que havia respingado em algumas partes de seus braços. No entanto, ela ouviu o estrondo de uma porta sendo derrubada e logo em seguida, quem havia feito isso no quarto, estava fazendo o mesmo com a do banheiro. Em três segundos, sem mais adicionais, o banheiro estava cheio com os tenentes de Maximus carregando as maiores armas que ela já havia visto. Pratrick não estava presente para completar a meia lua que se formou em sua frente, mas Krueger estava. E ele era o único que não segurava uma arma de fogo. A cavalaria de Maximus havia chegado... Depois dela quase ser morta. — Vocês estão atrasados.— Ellylan resolveu avisá-los. Todos os tenentes olharam para a esquerda, em direção de ossos que possuiam pedaços de carnes enroscados nele em quanto o sangue pingava. Eles pareceram chocados, mas não por causa daquela imagem, mas sim devido ao fato de Ellylan ter sido a responsavel por aquilo. — Você está bem?— Morgan deu um passo em sua direção, em quanto os outros tenentes resolveram ignorar sua presença e ir em direção do corpo para olhá-lo como se fosse algo realmente raro. — Não posso acreditar que uma humana fez isso!— Derek deixou sua surpresa escapar de seus lábios e todos os tenentes concordaram com suas cabeças automaticamente. Até mesmos os gêmeos pareciam chocados. — Isso explica o motivo de Maximus gostar tanto dela.— Krueger murmurio, perdido em seus pensamentos ao se agachar para examinar melhor o demônio.— Essa humana é uma caixa de surpresas.— Gate deixou um assobio escapar de seus lábios e os gêmeos continuaram tão silenciosos como antes, mas estava obvio que estavam surpresos com aquilo que estava diante de seus olhos. Ellylan decidiu ignorar os comentarios dos tenentes e olhou em direção de Morgan que ainda esperava por uma resposta. — Sim.— Ela respondeu com sinceridade, mesmo que sua mente estivesse prestes a virar uma geleia. Elly estava começando a cair em si sobre os seus atos, mas ainda assim não existia arrependimentos. Isso a deixava assustada. Sem contar a parte que seu corpo estava latejando devido aos cortos que ganhou por causa dos vidros, mas nada era pior do que a sua cabeça que parecia querer explodir. — Eu quero ver Maximus.— Ellylan falou calmamente, pois apenas aquele arcanjo era capaz de entendê-la. E ele seria o único a explicar esse sentimento que estava crescendo dentro dela depois de ter matado aquele demônio. — Milady,— Gate se levantou dos restos daquela mulher e caminhou em direção de Elly para
encontrar seus olhos.— Aconteceu algo com Niffie...— O soldado de Maximus nunca teve a chance de terminar de falar o que quer que tivesse acontecido com Niffie, pois um grande estrondo invadiu o silencio do castelo. Um barulho tão grande quanto aquele de vidro sendo quebrado e portas sendos derrubadas. Ellylan se encolheu um pouco devido ao medo que subiu rapidamente por sua espinha, ela não conseguia imaginar o que poderia causar esse estrondo e era completamente normal que as pessoas sentissem medo daquilo que não conheciam, certo? Os tenentes que estavam presentes naquele banheiro, que mesmo lotado ainda era enorme, se colocaram ao redor de Ellylan e esqueceram totalmente os restos mortais da demônio que tentou atacá-la. Eles levantaram suas enormes armas de fogos até a região de seus peitos e ficaram em posição de ataque para matar qualquer um que tentasse invadir aquele banheiro. Aquela situação parecia ser muito protetora e se essa fosse a intenção, havia funcionado. Ellylan estava se sentindo protegida por aqueles demônios que haviam ganhado a confiança de Maximus em um nivel muito maior do que de qualquer outro anjo ou angelical que nunca haviam cometidos erros que os levariam direto para o inferno. Mas de maneira alguma ela estaria ficando dentro daquele banheiro em quanto algo muito grande acontecia lá fora. Ainda mais quando algo aparentemente havia ocorrido com Niffie. Ellylan deu seu primeiro passo para sair daquele lugar, mas os tenentes continuaram imóveis como uma barreira. Então, novamente sem se importar com o tamanho de seu vestido, já destruído, ela passou por eles, arrastando quem quer que se mantivesse na frente dela. É obvio que isso não funcionou muito como quando aconteceu com aquelas mulheres arrogantes do baile. Afinal, seis homens muito maiores que ela e treinados para lutar não seriam derrotados por um vestido, mas Elly conseguiu se esgueirar por eles e sair do banheiro. Com todos eles atrás dela, claro.
~ 42 ~ Patrick levantou Gaia do chão com apenas um braço para tirá-la da direção do perigo, usando força demais para alguém tão leve que quase causou o tombo de ambos. Ele não esperava que essa mulher fosse tão leve quanto um papel, pelo menos ela não demonstrava isso. No entanto, quando um arcanjo foi jogado da escada até a parede onde eles estavam, o tenente não teve muito tempo para pensar no que fazer para tirar a filha dos elementos fora do caminho. Maximus estava tão furioso que nem ao menos pensou no que podia causar quando jogou Meridius para longe dele. Seu irmão mais velho atravessou o salão de festas e apenas caiu devido a parede que serviu como um obstáculo, mas esse obstáculo desmoronou junto com o arcanjo do paraíso. Gaia ficou paralisada e Patrick não teve coragem de tirar o seu braço de perto dela mesmo depois de colocá-la no chão. Essa mulher, que já havia vivido durante tanto tempo a ponto de conviver com todos os arcanjos, provavelmente nunca havia visto imperadores perdendo a cabeça em frente do seu povo. Ele podia concluir isso devido a reação de choque que ela estava tendo. Desde que Gaia não havia tomado nenhuma atitude para acabar com essa briga de irmãos, o tenente ruivo olhou para Dimitrius com a ilusão de que ele faria algo, mas o irmão mais novo dos arcanjos estava ocupado levando tapas e unhadas de duas mulheres furiosas que estavam presas em seus braços para não se intrometerem entre Meridius e Maximus. Os convidados do baile estavam horrorizados com toda aquela situação, mas não por causa da violencia, pois imortais eram acostumados a isso, só não era de costume assistir dois arcanjos brigando entre si. E agora que ambos haviam questionado o poder um do outro, essa briga terminaria apenas quando um arcanjo fosse capaz de levantar do chão. Maximus estava na metade dos degraus da escada em que foi atacado primeiramente por seu irmão mais velho quanto se deteve, até mesmo Meridius que estava se livrando da parede que havia caído em cima dele parou de se mover para direcionar o olhar em direção do topo da escada, a cima de Maximus. Patrick acompanhou o olhar do arcanjo do paraíso e ficou tão paralisado quando Gaia ao ver seu pai e restante dos tenentes chegar no salão junto com Ellylan. Uma Ellylan suja de sangue e completamente machucada. Seu corpo que sempre possuíu o tom de pele pálido estava cheio de hematomas roxos e marcas vermelhas, e seu vestido que havia sido feito especialmente para ela nem ao menos poderia ser nomeado assim. Tudo indicava que essa humana frágil havia levado uma bela surra, mas considerando que estava viva, ela iria ficar bem. Elly olhou ao redor do salão e seus olhos se arregalaram ao ver Meridius no chão e seu coração se acelerou com batidas fortes quando olhou para Maximus pra encontrar o seu peito sujo de sangue com uma grande ferida que se curava lentamente. E por mais que Max estivesse bem a ponto de
jogar o seu irmão para o outro lado do salão usando apenas força fisíca, Ellylan nunca havia visto esse arcanjo ferido. Ela desviou seus olhos de Maximus e encontrou os de Patrick no próximo segundo, talvez para se assegurar de que ele estava bem. Afinal, ela já havia criado laços com todos nesse castelo a ponto de se preocupar e humanos sempre eram sensiveis para... A mente de Patrick ficou em branco quando seus olhos se fixaram aos delas, seus pensamentos foram sugados a ponto de possuir aquela estranha sensação de que seu cerébro não pertencia mais a ele. E o tenente conhecia muito bem o que aquilo significava, apenas não esperava por aquilo quando se tratava de Ellylan. Nos próximos segundos, quando o tenente recuperou o poder de seu próprio cérebro, ele não estava presente mais no salão. Pelo contrário, Patrick estava em um lugar que já pertenceu e odiou cada dia que passou nele... A dimensão dos humanos. O mundo que Ellylan pertencia. E agora, ele estava sendo obrigado a conhecer os piores pesadelos dela. Patrick estava parado ao meio de um bar, como a taverna que existia no nível 1, um lugar em que todos os demônios masculinos se reuniam se reuniam para beber no final do dia e conversar sobre assuntos diversos, um lugar para se criar amizades. No entanto, esse bar em que ele estava presente como se fosse um fantasma, com pessoas atravessando seu corpo como se nem ao menos existisse, era completamente diferente da taverna que ele e os outros tenentes participavam. Haviam diversas mulheres presentes no local e algumas delas caminhavam ao redor com bandejas prateadas para servir os convidados masculinos sentados em sofás com mesas a suas frentes, alguns com os olhos fixos no palco que diversas mulheres dançavam sensualmente, tirando partes das suas roupas de acordo com o ritmo da música. Patrick sabia exatamente onde ele estava, como sabia... O salão estava iluminado com poucas luzes, mas ele encontrou Ellylan no momento em que procurou por ela. Essa humana que possuía um significado tão misterioso para todos no inferno, estava sentada no colo de um homem vestido elegantemente, mas velho a ponto de ter idade para ser o seu próprio pai. Elly estava usando uma saia tão curta que até mesmo ela estaria horrorizada se visse essa cena, e sua blusa poderia ser chamado de top com lantejolas. A única coisa que possuía um tamanho agradável e decente era o cano de suas botas. No entanto, não foi suas roupas curtas que chamaram sua atenção. Aquele homem que a segurava em seu colo movimentou sua mão até estar ao meio das pernas dela, um movimento totalmente proibido em lugares publicos, exceto naquele em especial. Ellylan sorriu, seus lábios estavam pintados com a cor vermelho vivo e após fechar os olhos, ele pode ver a cor preta que estava em suas palpébras. Seu sorriso era totalmente diferente daquele que o tenente conhecia, algo forçado apenas para agradar o... seu cliente. Aquela visão que Patrick estava tendo passou a se tornar embaçada, sumindo rapidamente a ponto dele não poder absorver cada detalhe, tudo estava virando uma grande fumaça negra até que o tenente estivesse presente em outra cena da vida dela. Duas visões ao mesmo tempo era uma novidade para o tenente, isso nunca havia acontecido antes e ele estava começando a se sentir confuso e cansado devido a energia que estava sendo sugada de seu corpo para estar preso nos arrependimentos da vida de Ellylan.
Dessa vez Patrick foi levado até um beco sem saída e completamente escuro, estava chovendo muito e Ellylan estava sentada no chão próxima de várias latas de lixo. Ela não parecia se importar com a chuva forte e muito menos com o lugar em que estava. Aquela humana estava abraçada a seus joelhos e encolhida contra a parede que usava como um encosto, mas não por frio. Elly estava chorando em quanto suas lágrimas se misturavam com as gotas da chuva, ignorando qualquer coisa que ocorrese ao seu redor. Patrick desejou se sentar ao lado dela e consolá-la sem ao menos saber o que estava acontecendo, devido a outra visão ele já havia chegado a conclusão do que ela fazia para viver em Veneza, e agora estava tendo a reposta concreta de que ela odiava essa vida. E ele não podia fazer nada sobre esse assunto, pois tudo isso se tratava do passado. Ellylan tirou de sua bolsa uma tesoura de ferro que era usada em fabricas antigamente e mesmo que esse objeto fosse antigo, ela não parecia ter perdido a capacidade de cortar coisas grandes e grossas. E a prova disso veio no minuto seguinte, quando Elly respirou fundo e estendeu seu braço. Ela levou a ponta da tesoura até sua pele, até a ponta afiada cortá-la para chegar em sua carne e veias. Ellylan não gritou quando a dor a atingiu, nem mesmo quando movimentou a tesoura para cima com a intenção de transformar aquele corte ainda maior. O sangue dela escorria pelo seu braço, mas rapidamente sumia quando se misturava com a chuva. E antes que ela perdesse os seus sentidos para encontrar a morte, Elly fez a mesma coisa com o outro braço. Em silêncio, sem ao menos derrubar mais nenhuma lágrima, essa pequena humana esperou por sua morte. Patrick estava chocado com aquela imagem, mas antes que tivesse a chance de continuar assistindo algo que ocorreu em seu passado para compreendê-la melhor, aquelas fumaças negras começaram a aparecer em torno da imagem que ele estava vendo para afastá-la de sua mente, mas ao invés de voltar para o salã, tudo se tornou uma grande escuridão. Como se toda a vida de Ellylan fosse um arrependimento. Isso era uma novidade surpreende para o tenente, pois ninguém nunca havia ofericido esse tipo de imagem desde que ele adquiriu esse poder quando foi transformado em um demônio. — É o suficiente!— Uma voz feminina invadiu a sua visão, uma voz que não pertencia a esse lugar que sua mente o havia levado. Patrick piscou e quando seus olhos se abriram, ele estava novamente presente no salão. Gaia havia se livrado de seu braço e estava virada em direção de Meridius que estava se levantando do chão.— Vocês já causaram danos o suficiente.— Segundos, tudo isso havia durado apenas segundos como era o esperado de suas visões, mas essa foi a primeira vez que o tenente teve a sensação de que estava preso na mente de Ellylan. Ele desviou seus olhos para Maximus, evitando Ellylan o maximo que podia para que não fosse puxado novamente para aquele buraco negro, mas o arcanjo do inferno estava olhando fixamente para a única parte da parede do salão que ainda continuava em pé. Seu pai e os outros tenentes faziam o mesmo, assim como o restante das pessoas presente no salão. Patrick se virou em direção do que estavam olhando e Gaia fez o mesmo que ele, Meridius caminhou mais para pertos deles já que onde ele estava não podia ver nada da parede. O tenente estava um pouco confuso devido as visões que acertaram sua mente sem aviso nenhum, mas ele esqueceu tudo no momento em que viu a letra R pintada com sangue naquele local que todos
olhavam. A única coisa boa, era que o sangue não pertencia a Niffie. No entanto, isso era a segunda vez que pintavam uma letra no castelo e ninguém sabia o motivo. Patrick ouviu o som de um corpo encontrando o chão, sem ao menos se virar para saber quem era, ele sabia que era Ellylan. Considerando o estado que ela estava quando chegou no salão, o tenente ruivo ficou surpreso ao ver que ela ainda estava caminhando, se fosse uma imortal, isso teria sido diferente. Mas Ellylan era uma humana e existia um grande corte em sua cabeça que indicava que ela havia a batido, seja lá o que tivesse acontecido no local em que ela estava, Elly havia sido forte o suficiente para ter chego até aqui por suas próprias pernas. O instinto de Patrick foi querer ir até lá para saber o que havia acontecido, mas Ellylan estava sendo socorrida por vários tenentes e Maximus havia dado as costas para todos no salão para ir até ela. Sem contar que Gaia ainda estava presente no local, era sua obrigação cuidar dessa mulher. Essa havia sido a ordem que recebeu de seu imperador, então ele não a deixaria sozinha em nenhum momento até que Maximus disesse o contrario. Mas para sua felicidade, ele se livraria dessa responsabilidade logo, pois aquele baile havia chegado ao fim antes mesmo de começar.
~ 43 ~ Ellylan abriu seus olhos no momento em que acordou e a primeira pessoa que viu foi Maximus sentado próximo da cama que ela havia sido colocada depois de desmaiar. Ela não sabia exatamente o que havia acontecido para ter desmaiado na frente de tantas pessoas, pois mesmo que aquela mulher tivesse causado diversos hematomas dolorosos em seu corpo, Elly ainda estava se sentindo bem. Mas no momento em que encontrou os olhos de Patrick e viu aqueles verdes águas se tornarem brilhantes, Elly não podia dizer mais o mesmo sobre se sentir bem. E como não podia acreditar mais em sua própria cabeça, desde que a tinha batido, ela chegou rapidamente na conclusão de que alucinou quando viu os olhos do tenente ruivo se tornarem brilhantes. Maximus curvou sua cabeça para o lado com a intenção de encontrar os olhos de Elly que estavam presos nas imagens da noite passada. Ela o olhou também, mas desviou seus olhos em direção de seu peito. Afinal, era primeira vez que ela tinha visto esse arcanjo machucado e antes onde existia uma enorme ferida sangrenta, agora uma faixa tão branca quanto suas asas estava ao redor de seu tronco. — Você está bem?— Ela perguntou, pois isso era uma vista muito incomum. — Sou eu quem deveria fazer essa pergunta.— Maximus disse de maneira arrogante, o que indicava que ele estava realmente bravo. Elly não conseguia entender o por que disso.— E eu gostaria de uma explicação para poder entender o porque de seu corpo não possuir mais cortes, quando deveria estar cheios deles.— Ellylan congelou, até mesmo sua respiração havia deixado de existir naquele momento. Isso também era uma novidade para ela, mas ela já acordou sem cortes quando deveria possuí-los devido ao treinamento que ocorria todos os dias com Maximus, Elly apenas não esperava que o arcanjo descobrisse desse novo defeito dela tão rápido. Ela nem ao menos havia conseguido se acostumar com ele. Ignorando Maximus, Ellylan olhou para seu corpo que deveria estar pior do que estava, pois diversos cortes estavam manchando sua pele noite passada e tudo o que ela possuia agora era hematomas roxos. E ela não precisava levar seus dedos até sua testa para saber que aquele corte havia sumido também. Sua mente ficou em branco naquele momento, pois não sabia o que iria dizer para Maximus e se fosse para dizer tudo o que estava escondendo, Elly nem ao menos sabia onde começar. Ela poderia mudar de assunto rapidamente ao perguntar quem havia tirado sua roupa e limpado o sangue de seu corpo, mas também sabia que esse arcanjo estava certo em estar com raiva.
Depois de olhar para o seu corpo e continuar em silêncio, ela decidiu encontrar os olhos de Maximus. O medo estava corroendo seu estomago, pois esse anjo loiro podia fazer qualquer coisa com ela agora que sabia que Elly era uma humana com defeitos. — Você deseja minha ajuda para voltar ao seu mundo, mas eu não posso ajudá-la com mentiras envolvidas, Ellylan.— Elly se encolheu ao som de seu nome usado como uma grande repreensão, mas muitas coisas haviam acontecido na noite passada para que ficasse em silencio. Usando seus braços, ela empurrou seu corpo para cima até que estivesse em uma posição sentada. — Maximus...— Ela sussurrou seu nome, não sabendo exatamente o que deveria dizer e ficou ainda mais aturdida quando percebeu que estava no quarto daquele arcanjo novamente, deitada em sua cama. — Nós podemos conversar sobre isso mais tarde.— Ele a cortou.— Você matou uma pessoa e não posso ignorar esse assunto agora.— — Ser uma humana estranha não é prioridade em seus assuntos?— Ellylan falou com seu tom baixo, com medo que sua voz tremesse devido ao nervossismo. Maximus sorriu, um sorriso tão lindo que Elly não podia ignorar.— Todos no inferno são estranhos. — O arcanjo do inferno estava brincando com ela e todo o seu medo por aquela situação passou rapidamente quando o tom dele mudou, assim como seu olhar. — Incluindo você?— — Talvez eu seja a salvação desse lugar.— — Talvez.— Elly ressaltou suas próprias palavras. — Talvez.— Ele concordou. Maximus encostou suas costas no encosto da enorme poltrona que estava ao lado da cama, colocada ali com a intenção clara de observá-la em quanto dormia. Suas asas incrivelmente brancas estavam abertas o suficiente para que pudesse se sentar em um lugar considerado apertado para um anjo. Seu único movimento em seguida foi passar uma de suas mãos por seus cabelos loiros para tirá-los de frente de seus olhos. Uma atitude que demonstrou que esse arcanjo estava frustrado e ela não o julgava por isso. Afinal, Ellylan sabia muito bem o quanto o seu reino estava de cabeça para baixo. — O que aconteceu, Elly?— Ela suspirou e desviou seus olhos de Maximus... Como se explicava isso? Como alguém poderia dar detalhes de uma morte que causou? Matar um demônio, ela já sabia exatamente como fazer, mas não havia aprendido nada sobre o que acontecia depois. Ellylan estava confusa, não triste por seus atos. Isso era errado? Ou certo? Elly estava se sentindo sensível demais para falar qualquer coisa que a envolvesse no assunto, mas desde que esse anjo ao seu lado ignorou um fator importante que deveria ser questionado para não pressioná-la, ela não conseguiria fugir disso também. Ellylan empurrou o grosso cobertor que cobria todo o seu corpo, surpreendendo a si mesma quando se deparou com uma camisola de seda amarela. Curta demais, mas adorável. Ela se movimentou para que pudesse ficar em seus joelhos e engatinhou até que estivesse na borda da cama, tão próxima de Maximus quanto podia.
Seus cabelos estavam caídos como uma cachoeira ao redor de toda a parte superior de seu corpo, tão bagunçados que provavelmente sua aparencia era próxima a de um leão, mas ela não se importou com isso. Para Elly, a única coisa que era importante naquele momento, foi o modo que Maximus observou cada movimento dela. — Posso me aproximar?— — Isso não deveria ser uma questão.— Seus olhos azuis eram como os de um felino, tão felino que Elly se sentia como se estivesse sendo caçada por um predador que não estava fazendo nenhum movimento para atacá-la. No entanto, quando ela estava pronta para se juntar a ele naquela poltrona feita apenas para uma pessoa, o arcanjo do inferno esticou seus braços até que suas mãos estivessem cobrindo a cintura de Ellylan para que pudesse puxá-la ao seu colo. Ellylan passou seus braços ao redor do pescoço daquele anjo e descansou sua bochecha na pele tão quente que Maximus possuía. Por um momento ela ficou com medo que seu corpo pudesse machucá-lo, mas tudo o que pode sentir ao ser ajeitada carinhosamente em seu colo foi como se esse arcanjo fosse uma grande barreira e ela uma flor que cresceu entre suas pedras. Ela dobrou seus joelhos sobre um dos braços da poltrona e a mão livre de Maximus, que não estava ao redor de sua cintura, rapidamente cobriu sua coxa nua devido a falta de pano daquele pijama que haviam arrumado para ela. — Por que você deseja ser mimada?— Maximus perguntou ao encontrar seus olhos, seu tom era calmo e gentil. Sua cabeça estava tão perto da sua que ela podia sentir a respiração desse imperador cruel em sua pele. — Estou confusa sobre meus sentimentos.— Ela foi sincera e não precisou dar detalhes do que aconteceu no banheiro, pois Maximus sabia de tudo sem precisar perguntar. E seus tenentes provavelmente já haviam feito um bom trabalho ao relatar cada detalhe que viram no quarto.— Eu deveria me sentir arrependida pelo o que aconteceu, mas não estou.— — O que você está sentindo agora?— — Nada.— Ellylan respondeu sua pergunta sem precisar pensar.— Eu... Agora estou apenas preocupada com você.— — Comigo?— Maximus sorriu.— Por quê?— — Eu nunca o vi sangrando.— — Sou um arcanjo, Elly, você não precisa se preocupar comigo.— Maximus acariciou sua coxa com seu polegar, fazendo com que seu estomago sacudisse com mil borboletas que se despertaram todas ao mesmo tempo.— Além do mais, é comum irmãos brigarem.— — Não é comum arremessar um irmão contra a parede com força o suficiente para derrubá-la junto. — — Meridius irá sobreviver.— Maximus falou com ironia.— Não se preocupe com ele, continue se preocupando comigo.— — Devido ao fato de estar mortalmente ferido?— Elly também usou ironia em sua voz.— Você se machucou em mais algum lugar que está o levando direto para a morte?— — Sim.— O arcanjo do inferno a respondeu.— Meu orgulho está a beira da morte nesse momento. — — Ninguém morre por levar uma surra de seu irmão mais velho na frente de seus suditos, Max.— Ela brincou, sem se importar em chamá-lo dessa maneira. — Oh, sério?— Maximus ameaçou a derrubá-la, mas Elly se segurou contra o seu corpo quando ele permitiu que seu corpo escorregasse o suficiente para fazê-la acreditar que a deixaria cair. No entanto, o arcanjo do inferno voltou a segurar o seu corpo antes que isso acontecesse. — Isso soa melhor do que apanhar em um banheiro.— Ellylan abriu sua boca para mandá-lo ao inferno, mas desistiu de dizer essas palavras que para ela
significava grosserias, mesmo quando ninguém via isso como ofensa. Ela não poderia xingar Maximus quando tudo o que esse anjo estava fazendo era brincar, fazê-la se distrair da confusão de sentimentos que estava prestes a atingi-la em um grande tsunami. Ela levou uma de suas mãos até o rosto daquele arcanjo que governava o inferno e tocou levemente com as pontas de seus dedos um lado das bochechas quentes dele. Maximus a encarou em silencio total, seus olhos azuis fixos em seu rosto em quanto ela olhava para os lugares que tocava. Ele recebeu aquela caricia sem reclamações, sem questionar. Elly se movimentou para que ficasse sentada no colo de Maximus ao invés de uma posição quase deitada, ele segurou a cintura dela com ambas as mãos dessa vez e manteve seu corpo próximo do seu. O anjo loiro olhou para cima com a intenção de encontrar os olhos dela, mas Ellylan não permitiu que isso acontecesse quando se curvou até que seus lábios estivessem tocando os seus. Eletrizante. Essa palavra era perfeita para explicar o que ela sentia quando beijava Maximus. O arcanjo do inferno levou uma de suas mãos até sua nuca para segurá-la contra sua boca quando ela teria se afastado. Elly sorriu, sem se importar que os lábios de Maximus estivessem junto dos seus. Ela não sabia o motivo de querer sorrir naquele momento, existiam tantas perguntas em sua cabeça que poderiam proibi-lá de estar tão próxima de Maximus, mas Elly pareceu esquecer qualquer assunto importante quando aquele arcanjo a beijou. A língua de Maximus tocou a dela em uma lenta caricia que chegava a ser até mesmo torturador, seus lábios macios e quentes se movimentaram tão lentamente que Elly teve a impressão de que ela poderia quebrar se esse anjo fosse mais agressivo. Ellylan levou uma de suas mãos até os cabelos loiros dele para que pudesse enterrá-la naquela incrivel maciez. Ela não resistiu quando usou força para agarrá-los e manter Maximus perto o suficiente para que nunca quebrasse aquele beijo que não possuía nenhum desespero. Foi Elly quem se afastou de seus lábios quando desejou, mas ela não possuía nenhum desejo em parar. Curvando ainda mais seu corpo, Ellylan se movimentou até que seus lábios estivessem no pescoço de Maximus. Uma das mãos do arcanjo que estava em sua cintura foi levada até suas costas para que Elly ganhasse uma lenta caricia em sua espinha em quanto seus lábios roçavam na pele quente do pescoço dele. Ela distribuiu diversos e pequenos beijos naquela região e quando encontrou o lugar que fez com que Maximus ficasse imóvel sob o seu toque, Ellylan permitiu que ele sentisse seus dentes em sua pele. Em questão de segundos todo o corpo do arcanjo do inferno ficou rigido a baixo dela, até mesmo o leve aperto que ela possuía em sua cintura se tornou mais agressivo. E aquela leve caricia que havia em toda a extensão de suas costas deixou de existir para que Elly sentisse dedos grandes e fortes se cravarem em sua pele. Ellylan esperou durante vários segundos alguma reação de Maximus, mas o arcanjo apenas respirou fundo para que voltasse a relaxar a baixo dela. Ele movimentou sua cabeça para que pudesse encontrar os dela e Elly permitiu que isso acontecesse quando arrumou sua postura. O imperador do inferno a olhou profundamente com aqueles olhos de um felino faminto e colocou uma de suas mechas negras para trás de sua orelha antes de começar a falar.
— Nós temos tantas coisas para conversar,— Ele disse em um tom baixo.— que não posso me permitir ser distraído.— — Você pode falar agora.— Se era tão importante conversar, Ellylan não se importaria em parar o que estava fazendo. Muitas coisas haviam acontecido para que ambos ficassem se beijando. — Eu sou um homem, Elly.— Maximus a lembrou de algo desnecessario em um tom ironico.— Homens não conversam com lindas mulheres em seus colos.— Ellylan riu, não se importando mais em fazer isso em frente de Maximus. Antes parecia muito dificil rir com ele, mas agora era tão natural como se esse lugar fosse sua verdadeira casa. Afinal, era assim que Maximus a fazia se sentir. Deslizando de seu colo, Elly voltou para a cama e se sentou de frente com o arcanjo. Ela o encarou e esperou pela conversa que eles precisavam ter. E, infelizmente, Ellylan sabia que no meio dessa conversa envolvia o assunto que teria que desfazer todas as suas mentiras e dizer o que realmente estava acontecendo com o seu corpo. — Niffie sumiu.— Maximus foi direto ao assunto tão rápido que ela se sentiu como se tivesse levado um tapa no rosto. Normalmente as pessoas costumavam a enrolar quando possuíam algo grande para revelar, atitudes muito diferentes das de Maximus.— Meus irmãos e seus tenentes estão a procurando em cada canto do inferno.— — E você?— — Antes de me expor a qualquer perigo preciso que meu corpo esteja curado.— O arcanjo disse friamente, tão frio que Elly nem ao menos reparou que anjos podiam ser vulneravéis.— No entanto, meus tenentes estão vasculhando cada canto do castelo para encontrar respostas de como o inimigo pode causar diversos problemas aqui dentro, bem de baixo dos meus olhos.— — Talvez o inimigo esteja aqui dentro.— Ellylan disse com sinceridade, pois ela não confiava em ninguém do castelo. Claro que haviam exceções, mas todas elas podiam ser questionáveis.— Alguém que você confie.— — Essa sugestão não está sendo ignorada, Elly, mas eu também tenho minhas dúvidas sobre você. — — Eu?— Ela perguntou perplexa, franzindo o cenho.— O que eu poderia fazer contra imortais que pisariam em mim como um inseto?— — Você já acordou no meio do nada completamente suja de sangue sem poder se lembrar o que havia acontecido.— Ele a lembrou e Elly viu que aquele arcanjo estava fazendo tudo o que podia para não assumir sua pose de imperador. Um imperador que estava interrogando o prisioneiro que considerava culpado. — Sonambulismo existe, Maximus.— — Assim como existem poderes que podem transformá-la em um fantoche.— O arcanjo do inferno rebateu rapidamente, o que fez Ellylan ver que ele estava desconfiado sobre sua presença no inferno. Ela não o julgava por isso, mas também não conseguia negar a pequena raiva que cresceu em seu interior. — Você acredita que estou sendo controlada?— — Eu acredito que você está no inferno para me distrair de tudo aquilo que ocorre ao meu redor.— O anjo loiro movimentou uma de suas asas brancas até que tocassem os joelhos de Ellylan. Aquelas penas macias em sua pele fez com que um grande desejo de rolar em suas asas crescesse dentro dela, mas agora isso não era o momento para pensar sobre isso.— Mas eu não posso ignorar essa teoria também.— — Algo estranho, que não se encaixa em termos humanos, está acontecendo comigo e acho... Ninguém está me controlando!— Ellylan exclamou em um momento de raiva, ela não podia ser racional quando Maximus estava a acusando de traição. — Elly, eu não possuo nenhum acesso a sua mente.— Ele disse.— Milhares de coisas podem acontecer sem sabermos.—
— Milhares de coisas já estão acontecendo.— — Eu sei.— Maximus a encarou.— E sei o quão longe de ser humana você está.— — Eu sou humana.— Ellylan o cortou com raiva dessa vez.— Até que provem ao contrário, eu sempre serei humana.— — Humanos não se curam tão rapidamente, Elly, e muito menos ficam dias sem se alimentar.— — Você esteve me observando.— Ela deduziu, sem estar surpresa. É claro que Maximus faria isso. — Sim.— Concordou friamente.— Mas não posso acusá-la de nada antes que me diga tudo o que deve.— — Isso não é importante agora.— Ellylan sussurrou.— Você deveria se preocupar com Niffie ao invés de mim. Se nem mesmo dois arcanjos conseguiram encontrá-la...— — Meridius irá encontrá-la, mesmo que tenha que mover o oceano para outra dimensão.— Maximus falou com confiança.— E Niffie não esta morta... Se essa fosse a intenção do nosso inimigo, eles teriam deixado o corpo dela para trás. É isso o que imortais fazem.— — Você parece estar calmo demais com tudo o que ocorreu hoje.— Isso, definitivamente, não era certo. — Não posso demonstrar fraqueza nesse momento, Elly.— O arcanjo do inferno movimentou a asa que havia descansado sobre seus joelhos e desviou seus olhos dela para outra direção.— Sei que odeia quando não demonstro minhas emoções, mas agora tenho que agir como um verdadeiro imperador. Meu reino está caindo e sinto que estou permitindo isso.— — Eu não irei julgá-lo por isso, Maximus.— Elly falou em um tom baixo, encontrando aqueles olhos tão azuis e perfeitos.— Mas você terá que me prometer uma coisa.— — O quê?— — Você não pode agir como um imperador quando existir somente nós em um lugar.— — Como agora?— O arcanjo arqueou uma sobrancelha. — Eu não me importo se você é um arcanjo ou não... Para mim, você é apenas Maximus. E eu não pertenço a esse lugar, suas regras não funcionam comigo.— — Isso é um grande pedido para uma humana.— Maximus comentou, movimentando suas asas em suas costas para deixá-las abertas ainda mais. Aquelas penas tamparam completamente sua visão a ponto de não ver mais nada no quarto além do arcanjo em sua frente e suas asas perfeitamente brancas. — Eu posso lidar com você.— Ellylan disse em um tom sarcastico, sabendo que não seria facil lidar com o que era o verdadeiro arcanjo do inferno. Mas ela estava disposta a tentar.— É isso que casais fazem, não é mesmo?— Maximus não a respondeu nos próximos segundos, o anjo loiro apenas a encarou e se movimentou até que estivesse de joelhos em frente dela na cama. Seu corpo se acomodando facilmente entre suas pernas quando manteve aquelas asas perfeitas abertas para que não esmagassem os joelhos de Ellylan. Seus olhos azuis ficaram presos aos dela e pareciam estar especificando cada sentimentos que neles apareciam. E então aquela caricia surgiu em sua mente, uma caricia que lhe dava a mesma sensação de estar em um campo onde podia sentir toda a brisa leve se debater contra seu corpo. — Eu irei prometer isso,— Ele começou calmamente.— Se você prometer contar tudo aquilo que aconteceu e omitiu de mim.— Aquilo foi sua condição e uma ordem que Ellylan cumpriria sem problemas. Afinal, estava na hora de Maximus saber o quão problematica ela era. Antes de dizer qualquer palavra, Ellylan precisou respirar fundo e fechar seus olhos por alguns segundos para pensar, ou pelo menos tentar. Ela tinha medo da qual reação Maximus podia ter, mas isso acabaria se tornando algo inevitável de se esconder. E o arcanjo do inferno preferiu confiar nela
e perguntar, não arrancar a verdade dela do modo que fazia com demônios mentirosos. Então, depois que tomou coragem para abrir seus olhos e encarar aqueles azuis piscina, ela falou tudo. Ellylan falou sobre o seu problema em ingerir comida, falou sobre sua atração pelo sangue de Maximus quando suas mãos estavam sujas dele, falou de quando havia um corte na sua mão e no dia seguinte não havia nenhum rastro dele, assim como não sentia nenhuma dor dos treinos severos que ela tinha com ele. Falou também do dia em que vomitou apenas sangue e da dor que sentiu em seu estomago. Ela falou tudo o que podia lembrar e não escondeu nada daquele arcanjo que se manteve em silencio o tempo todo em quanto ela jogava as palavras para fora dela. Em determinado momento, Maximus se afastou dela e se lavantou em seus pés para caminhar de um lado para o outro no quarto em quanto ela falava. Ellylan não se importou, pois em nenhum momento ela viu repulsa nessa atitude do anjo. Maximus apenas ficou pensativo. E quando Elly não tinha mais o que dizer, o arcanjo ficou em silencio por vários segundos que se transformaram em minutos depois de um tempo. — Como você conseguiu esconder tudo isso de mim?— Maximus falou perplexo, mostrando que não conseguia acreditar em tudo o que ela havia dito. Ellylan deu de ombros.— Talvez você não tenha reparado o suficiente em mim.— — Confiança.— Maximus a corrigiu.— Eu confiei em você.— — Eu estou ciente de tudo o que aconteceu comigo, Maximus, e isso significa que nada e ninguém esta me controlando.— Ellylan resolveu ignorar o que ele havia dito, pois não havia amargura e muito menos magoa em sua voz. O arcanjo apenas se tornará muito pensativo com esse assunto de confiança.— Você pode confiar em mim mesmo que não tenha nenhum acesso em minha mente.— O anjo loiro parou de andar de um lado para o outro em quanto pensava e seus olhos se voltaram para ela em questão de segundos. Ele a observou em silencio antes de falar. — Eu confio em você, Elly.— Seu tom era suave.— No entanto, nós precisamos saber o que esta acontecendo com você. Tudo o que você me disse... Nada se encaixa com o termo de humanos.— — Vocês está dizendo que não sou mais uma humana?— Ela odiava a ideia de não ser, mas o arcanjo do inferno entendia muito mais disso do que ela. — Eu não sei.— Maximus foi sincero.— Mas você já tentou atacar Meridius e quando não teve sucesso, coelhos foram mortos por suas mãos, aparentemente tudo por causa de sangue. E Freddy já havia dito que existia algo terrivelmente errado com o gosto do seu sangue.— Coelhos? Ela se lembrava claramente desse anjo loiro ter lhe dito que algum animal selvagem havia a atacado quando acordou no meio do nada suja com sangue. No entanto, ela não questionou essa mentira, pois animal selvagem ou não, Elly havia tirado a vida dele. E por causa do sangue dele. Ellylan desviou seus olhos de Maximus e seu coração batia tão rapido que não havia duvidas de que ela estava com medo. Tudo o que era diferente gereva o temor de humanos, e ela nem ao menos sabia explicar o que sentia ao saber que esse “diferente” era com o seu próprio corpo. Se nem ela conseguia pensar, tão pouco conseguia imaginar o que o arcanjo em sua frente pensava. — Você não precisa ficar assustada.— Maximus falou mesmo quando ela não o olhava mais em seus olhos, parecendo ler sua mente.— Não posso julgá-la quando não sou humano também.—
— E agora você irá me dizer que “tudo ficará bem”?— Ellylan foi sarcastica, mais por causa do seu nervosismo do que qualquer outra coisa. — Sim.— Maximus sorriu, um sorriso tão lindo que fez todo o seu interior se derreter. E o arcanjo nem ao menos a respondeu no mesmo tom que ela usou, sendo que merecia isso por motivos obvios.— Tudo ficará bem, Elly, pois eu farei com que tudo fique bem.— — Maximus...— — Você precisa descansar. Ainda não amanheceu e mesmo que fisicamente você esteja bem, sua mente não está.— — Maximus, ainda existe algo que tenho que dizer... Aquelas letras...— — H.R?— Ele não a deixou terminar.— Elas podem ser alguma assinatura, não se preocupe com elas.— — A.— Ellylan disse antes que o arcanjo a mandasse dormir novamente.— Quando eu vomitei sangue no banheiro até desmaiar, essa letra estava marcada no chão quando voltei aos meus sentidos.— — H.A.R.— Maximus sussurrou, pequenas linhas aparecendo em sua testa.— Isso não faz o menor sentido.— — Talvez essa pessoa esteja montando uma palavra ao inves de ser uma assinatura.— Ellylan disse o que pensava sobre esse assunto. — Sim.— O arcanjo concordou, sua mente tão longe desse quarto que sua voz veio sem nenhuma emoção.— Mas, quem quer que seja o lider que todos os demonios dizem seguir, ele não conseguira terminar essa palavra. Não mais.— Maximus se tornou ainda mais distante quando voltou a andar de um lado para o outro em um profundo silencio assustador. O arcanjo do inferno estava com suas asas fechadas em suas costas e seus olhos estavam fixos no chão. Ele estava se torturando para tentar descobrir o que estava acontecendo com o seu reino e isso era injusto. Maximus não merecia passar por isso. Por mais que fosse correto o arcanjo do inferno fazer tudo ao seu alcance para deixar tudo em ordem novamente, ele havia sido ferido e a faixa sobre o seu peito era a prova viva de que não foi um simples machucado que estava se curando rapidamente. — Hey,— Ellylan disse para chamar sua atenção e funcionou, pois aqueles olhos azuis pertenciam somente a ela agora.— Mesmo que mentalmente você esteja bem, fisicamente não está.— O arcanjo arqueou perfeitamente uma das suas sobrancelhas.— Não use minhas palavras para me dar ordens, humana.— — Não seja um idiota, arcanjo.— Maximus sorriu e seu interior, que já havia se derretido, explodiu com borboletas que batiam suas asas de acordo com o ritmo de seu coração. Elly se perguntava como ele conseguia ficar tão lindo quando sorria dessa maneira, como se esse sorriso pertencesse somente a ela. — Como você espera que eu descanse quando está em minha cama?— O arcanjo foi ironico e Elly notou isso devido ao fato de que o pensamento de se deitar na mesma cama que ela já havia invadido sua mente, sua ironia era a prova disso. — Eu não sei.— Ellylan suspirou ao mesmo tempo que levantava suas pernas do chão e puxava o cobertor para cima do seu corpo.— Procure outro quarto. Essa cama está ocupada hoje.— — Isso é uma pena, pois não poderei mostrar como anjos dormem na companhia de outra pessoa.— — Eu não me importo.— — Não?— Maximus sorriu, seus olhos brilharam com diversos sentimentos que apenas envolviam brincadeiras.— Então você não se importaria em dormir em uma cela com palhas novamente?— — Isso é covardia.— Ellylan resmungou, cruzando seus braços em frente de seu peito.— Você está
usando o seu poder de imperador contra mim.— — É uma regra mundial: Os mais fortes sempre vencem suas batalhas.— — E qual seria o seu trofeu dessa batalha, Maximus?— Ela perguntou. O arcanjo do inferno não a respondeu de imediato, ele apenas caminhou até estar próximo da cama novamente e depois colocou suas mãos nos braços de Ellylan para descruzá-los. Ela não fez nenhum movimento que o impedisse de controla-la como uma boneca, na verdade, mesmo que desejasse isso, jamais conseguiria dizer não para esse anjo com olhos tão azuis e perfeitos. — Meu troféu,— Maximus sussurrou, puxando Ellylan por seus braços até que ela estivesse de joelhos naquela cama, seus olhos fixos nos dela.— Está bem aqui.— Ellylan riu mesmo quando tentou segurar o seu riso, ela também levou suas mãos até estarem sobre as bochechas de Maximus para que pudesse apertá-las em quanto ria.— Romantismo não combina com um arcanjo.— O anjo loiro movimentou sua cabeça para trás com a intenção obvia de se livrar do aperto de Ellylan em suas bochechas.— Eu sei. Então...— Ele a encarou com pura arrogancia, mas que não a irritou. — Chega de cortesia.— Maximus se afastou dela, apenas alguns centimetros, mas o suficiente para pegá-la por sua cintura e jogar o seu corpo por cima de um de seus ombros. Ellylan sentiu todo o seu corpo congelar, pois não considerava aquela posição muito adequada para quem estava usando uma camisola. No entanto, ela nem ao menos pensou em se debeter, pois sabia que poderia machucá-lo ao acertar a sua ferida no seu peito enfaixado. — Maximus!— Ellylan exclamou.— Me coloque no chão!— — Não.— Ele a respondeu com sua arrogancia habitual, provavelmente apenas para provocá-la.— Na verdade, eu acredito que será mais agradavel jogá-la do alto da minha varanda para ouvir seus gritos do que apenas colocá-la no chão.— — Não aja como um psicopata, seu idiota com asas!— Ellylan ouviu o riso de Maximus que estava sendo segurado. Isso a irritou, pois seu temperamento estava o divertindo. O arcanjo se virou e agora a única coisa que Ellylan podia ver era a cama em que estava deitada antes, por um momento ela achou que Maximus começaria a andar em direção de sua varanda desde que estava de frente com ela agora, mas o anjo loiro apenas a segurou por sua cintura novamente e a desceu de seu ombros. Ellylan o segurou por seus ombros em determinado momento para recuperar seu equilibrio e não o soltou quando deveria ter se movimentado para longe. — Idiota com asas?— Maximus sorriu.— Isso não é muito educado, Elly.— — Você mereceu isso.— Ellylan falou, pronta para se afastar daquele arcanjo que, por algum motivo, sua mente a proibia de se mover para longe dele. No entanto, Maximus a segurou por sua cintura quando ameaçou se movimentar. Suas mãos grandes cobriram toda a sua cintura e ele era tão quente que sua pele estava queimando onde esse anjo a tocava. Seus olhos estavam fixos nos seus e mesmo que ambos estivessem brincando um com o outro, esse clima divertido acabou no momento em que os olhos desse arcanjo pararam de brilhar com a diversão. — Eu tenho uma pergunta.— Maximus disse, não a deixando ir quando seus muros de defesa se ergueram devido ao tom dele.— Você não se alimenta a dias e tão pouco sente fome... Mas quando viu meu sangue, sentiu o prazer e a tentação de fazer algo. Eu vi em seus olhos que você desejava algo, Elly. O que era?— Ellylan podia muito bem mentir, poderia usar diversas respostas que não eram verdadeiras, mas ela
sabia que seria um erro. Maximus era o único que podia ajudá-la e Elly precisava de ajuda. Então, ela não mentiria mais. Nunca mais.— Eu queria sentir o gosto dele.— Ela sussurrou, tentando desviar seus olhos para o chão devido a vergonha que sentia ao admitir isso, mas Maximus foi rápido quando tirou uma de suas mãos da cintura dela para levantar o seu queixo com o proposito de encontrar aqueles olhos azuis novamente. — Não esconda o seu verdadeiro eu de mim.— Era uma ordem de um arcanjo.— Você não precisa se sentir constrangida por apenas dizer a verdade, Elly. E não importa quão dura elas sejam, eu irei aceitá-la de qualquer forma.— — Eu não quero mais mentiras, Maximus.— Ellylan sussurrou.— Então, por favor, não faça isso comigo também.— — Sim,— Ele concordou, como se estivesse fazendo uma promessa que continha mais palavras do que esse simples pedido.— Sem mentiras.—
~ 44 ~ Imperatore. O arcanjo do inferno abriu seus olhos no momento em que a voz de Patrick invadiu sua mente. E desde que o seu tenente não havia dormido durante toda a noite, Maximus não expulsou sua mente da ligação que possuia com com ele para que pudesse dormir sem que ninguém o incomodasse novamente. Na verdade, Max não estava nem um pouco interessado em se manter em um sono profundo quando todo o seu reinado estava sendo questionado. Foi um erro deixar que seus sentimentos se tornassem uma fraqueza quando Ellylan o olhou com uma cara de filhote perdido que implorava para que o anjo permanecesse com ela naquele quarto. Maximus olhou para a humana que estava encolhida em seus braços por um momento, todo o seu corpo sobre a sua asa esquerda. O arcanjo desejou sorrir no momento em que seus pensamentos voltaram para a madrugada quando Ellylan descobriu que teria que dormir em cima de uma de suas asas. Ela ficou incrédula e quase saiu do quarto para dormir em outro lugar, alegando que não poderia fazer isso e se esquecendo completamente que para Maximus o seu peso era equivalente ao de uma folha. O arcanjo do inferno levou uma de suas mãos até os cabelos negros dela e os acariciou, Elly se movimentou tranquilamente, mas não acordou de seu sono profundo. Ele duvidava que ela despertasse antes do final do dia. Eu espero que você não tenha causado nenhum problema em quanto estava me curando, Patrick. É uma pena que pense tão pouco de mim. A resposta veio rapidamente, mas Maximus percebeu que o tom de brincadeira de seu soldado era inexistente. Nós precisamos conversar. Maximus notou que algo estava errado no momento em que Patrick o chamou de “imperatore”, pois o chamar dessa maneira era tão incomum para ele que quando usava essa palavra só podia significar problemas. Grandes problemas. Me espere na cobertura do castelo. Maximus disse, sabendo que o seu tenente estava próximo de lá. O encontrarei em um minuto. *** O imperador do inferno aterrisou no telhado de seu castelo e fechou suas asas em suas costas no momento que Patrick se virou para encará-lo ao invés de observar a vista que aquele lugar lhe
oferecia. Seu tenente estava sério e tudo dizia que ele não estava nem um pouco interessado naquela visão magnifica que mostrava grande parte do inferno. Patrick movimentou sua cabeça em um rápido cumprimento que mostrava o respeito que tinha por seu imperador. Em outras ocasiões, ele jamais o trataria assim se estivessem sozinhos ou próximos de pessoas que consideravam amigos. Patrick apenas agia como um tenente que obdecia seu governador quando a situação pedia por isso. E agora, Maximus via que essa era uma dessas ocasiões. O anjo loiro pode deduzir isso no momento em que se comunicou com ele pela primeira vez, caso contrario, o arcanjo jamais teria deixado Ellylan adormecida em sua cama e sozinha. — O que aconteceu?— Maximus fez a pergunta que os levavam direto ao ponto daquela conversa. Ele não precisava de enrolações quando tudo estava bagunçado em seu reino. Patrick se movimentou e nesse único ato o arcanjo viu o quanto o seu tenente estava desconfortável. — Na noite anterior meus olhos e os de Ellylan se cruzaram,— Ele disse.— E, eu não sei o que aconteceu, mas tive acesso aos arrependimentos dela.— Maximus ficou em silencio por alguns segundos, pois isso era algo que o arcanjo não esperava. Por mais que estivesse ciente que uma barreira que protegia a mente dela tivesse se partido, ele não esperava que Patrick poderia ter a chance de ver seu maior arrependimento. Ellylan era imune a qualquer poder dos arcanjos e ele não compreendia de maneira alguma como o poder de Patrick havia conseguido passar por suas barreiras. E o seu soldado falou aquela palavra em plural, sendo que isso nunca existiu quando se tratava desse dom que obteve quando se transformou em um demonio. No entanto, agora ele entendia o motivo de Ellylan ter desmaiado quando demonstrava estar bem para ficar acordada. Quando Patrick conseguia acesso a mente de qualquer pessoa, energias eram sugadas dos dois lados. Imortais geralmente nem ao menos sentiam isso, mas um humano sentiria. Elly foi a prova disso. — O que você viu?— O arcanjo perguntou e Patrick não o respondeu, o tenente que o servia fielmmente apenas estendeu sua mão para que ele a pegasse. Quando se tratava das visões que Patrick tinha ao olhar nos olhos de alguém, essa era a única maneira que Maximus conseguia ter acesso ao que ele viu. O arcanjo do inferno já havia tentando diversas vezes apenas invadir suas memórias, mas de nada adiantava. Era como se o tenente puxasse a mente de Maximus para esse lugar em que suas visões estavam fechadas e isso só podia ser feito com esse toque. O arcanjo do inferno estendeu sua mão para segurar o pulso de Patrick em um aperto firme, o tenente também fez o mesmo que ele. E após o soldado fechar seus olhos de um tom diferente até mesmo para imortais, as memórias que pertenciam a Ellylan invadiram a mente de Maximus como se o anjo estivesse invadido a mente de Patrick para que pudesse ver tudo o que ele via. As memórias vieram rapidamente, como era o de costume, imagens após imagens que foram embaralhadas pela mente de seu tenente e era o dever de Maximus montar aquele quebra-cabeça confuso que era enviado para a sua própria mente. No entanto, quando o arcanjo pensou que seria as memórias mais complicadas para juntar cada pedaço até que fizesse sentido, elas não eram. Os arrependimentos de Ellylan eram claros e após as imagens confusas que mostravam o que ela fazia em sua vida e como suas cicatrizes foram feitas, tudo se tornou uma grande escuridão. Era tão escuro quanto as almas que se tornavam negras devido a maldade, mas Maximus não via
nada disso nessa escuridão. O arcanjo apenas via o sofrimento e a solidão de uma humana que desejava ser salva. Uma vida cheia de arrependimentos que não podiam ser mostrado por imagens, apenas pelo vazio. Maximus soltou o pulso de Patrick no momento em que pareceu que sua mente estava sendo sugada para aquele vazio sem fim, ele sabia que esse foi o sentimento que o seu tenente sentiu quando estava preso nas memórias de Ellylan, mas isso não significava que poderia ser desconfortável para ele. — Eu sinto muito, Maximus.— Patrick disse no momento em que o arcanjo se afastou dele com alguns passos e desviou seus olhos para outra direção.— Eu não desejava ter que compartilhar essas memórias sobre Ellylan quando sei o quão importante ela é para você. Essas imagens...— — Não.— O arcanjo do inferno cortou seu tenente, encontrando os olhos dele no momento que falou.— Não é isso.— — O que é?— Patrick olhou para Maximus de maneira confusa e curiosa. O tenente podia achar que o arcanjo estava agindo dessa maneira por ter visto outro homem tocando Ellylan, por ter visto o que ela realmente fazia em seu mundo. No entanto, por mais que isso o deixasse com raiva, ele não podia julgá-la. — Aquela escuridão, Patrick, eu nunca vi aquilo em uma alma.— O arcanjo disse.— Nem mesmo imortais possuem aquele vazio dentro deles.— — Isso é algo para se preocupar. Eu pensei que ficaria preso na mente de Ellylan quando o vazio invadiu minha visão. Na verdade, eu não consigo explicar como consegui sair de suas memórias... Eu apenas ouvi a voz de Gaia e minha mente se focou nela com força o suficiente para me tirar de lá.— Maximus arqueou uma sobrancelha e encarou Patrick com uma expressão que o culpava por algo que provavelmente tinha feito de errado.— Eu espero que você não tenha fornicado por todo o meu reino com a filha dos elementos, Patrick.— — O quê?!— O tenente ficou ofendido.— Você está brincando comigo? Aquela mulher é ácida demais para mim.— Maximus não acreditava nas palavras dele, Patrick podia não ter encostado um dedo em Gaia, pois ela conseguia ser ácida o suficiente para espantá-lo, mas era impossivel que o seu tenente não tivesse pensando em nada impuro. Gaia, mesmo com o seu grande poder, ainda era uma linda mulher.— Isso não importa agora.— — O que importa?— — Eu quero saber o que você irá fazer com esse assunto de Ellylan.— Ele o respondeu, uma resposta que o colocaria em problemas por questionar o seu imperador. Mas Patrick, assim como os outros tenentes, eram muito mais do que apenas soldados confiáveis. — Eu irei contar a verdade para ela.— Maximus disse.— Não posso privá-la de suas próprias memórias.— — Isso é cruel demais.— Patrick murmurio, franzindo o seu cenho.— Ellylan pode quebrar.— — Eu sei, Patrick.— Maximus suspirou ao pensar que ele estaria presente para ver isso e que seria da sua boca que ela descobriria verdades que poderiam ser horriveis para um humano. Vender o corpo era considerado um pecado e tentar se matar... Um ato de fraqueza. E o arcanjo do inferno sabia muito bem que Ellylan não lidaria bem com isso, ela chorará quando apenas imaginou o por que de suas cicatrizes e agora ela teria a certeza do que aconteceu para elas existirem. Nem mesmo imortais perdoavam tais coisas.— Mas Elly precisa saber.—
~ 45 ~ Krueger estava caminhando ao longo de um campo que os capins batiam na direção das suas coxas. Alguns até mesmo o picanavam e isso estava irritando-o profundamente. Freddy pensou em usar suas laminas embutidas em seus dedos para cortá-los, mas o demônio não tinha coragem de destruír a única beleza que existia no nível 2 do inferno. Um riso amargo escapou de seus lábios quando ele ironizou o seu recente pensamento. Era rídiculo se preocupar com um campo sem nenhum significado quando toda sua vida era manchada com sangue. No entanto, ele não tinha tempo para brincar de fazendeiro que carpia as suas terrar todas as manhãs. Freddy disse para Maximus que o ajudaria a erguer seu reino, que estava sendo destruído sem piedade, como um tenente que não era reconhecido nesse cargo, era o máximo que o demônio podia fazer por esse arcanjo que fez tanto por ele. Mas, aparentemente, ficar no nível 2 estava demonstrando não servir de nada. Tudo estava tão silencioso que chegava a ser assustador, nem mesmo os gritos que eram frequentes existiam mais. E isso resultava na falta de murmurios sobre uma humana que acordou no meio do inferno sem nenhuma lembrança de quem era. Krueger achou que estava perto de descobrir quem era o líder que todos os demônios diziam seguir apenas em prestar atenção nos segredos que eram repassados de ouvido a ouvido, mas estava completamente enganado. A pessoa que estava por trás de todos esses crimes de fato usava magia do demônio, mas era alguém muito inteligente a ponto de atingir Maximus dentro de sua própria casa. Demônios do nível 2 não eram tão inteligentes. Mas, para dizer a verdade, Freddy não estava tão preocupado em descobrir quem era o líder naquele momento. Tudo que importava era encontrar a imperatriz do paraíso. Alías, a busca por ela poderia revelar nomes importantes e ele, assim como Maximus, sabia que a identidade do “líder” logo seria identificada. Haviam se passado meses e demônios não eram capazes de aguentar tanto tempo as consequências de lidar com esse tipo de magia. Então tudo indicava que era um anjo ou um angelical que estava causando tantos problemas para os arcanjos. No entanto, seja qual fosse a raça do imortal, a magia do demônio não deixava de ser um veneno. Ninguém era imune a ela e logo essa pessoa seria desmacarada quando estivesse nos seus últimos suspiros.
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