Haunted [tempo 03]

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“Sua vida pode sempre ser salva da destruição, mas seu coração não.”


Inglaterra, ano 2015 - Século XXI Só existe um sentimento que faz com que o seu mundo pare de rodar por minutos ou horas, talvez eu ficasse feliz se esse sentimento fosse o amor, mas nada é tão grande quanto o medo. Medo, uma palavra que possuí um significado enigmático até mesmo para os melhores cientistas que estudam esse sentimento, um sentimento que até hoje não pode ser explicado. Há quem diga que não sente medo de nada, mas isso é mentira. Todos possuem medos, mesmo que seja preso em enormes barras de gelos, ele está lá dentro de você. Pode ser algo pequeno ou grande, mas quando ele decide destruir todas as barreiras em volta de si, ele nunca falhará quando o momento de persuadir todo seu corpo chegar. Talvez esse fosse o sentimento que mais impedisse os humanos de serem felizes... ou tudo isso era algo da minha cabeça, já que agora que a humanidade fazia parte de mim novamente, eu não era feliz. E o medo era o sentimento que mais fazia parte do meu coração, o medo de perder tudo aquilo que olho nos dias de hoje e sinto meu coração palpitar rapidamente... E o medo de perder minha vida, a vida que era chamada de Andrew le Boursier, o rei dos vampiros. Mas isso não vinha ao caso, não agora que eu corria um grande risco de morrer engasgada com o meu próprio vômito em frente da privada reluzente no meu banheiro, em quando meu marido estava fazendo companhia para nossas visitas, em vez de estar aqui segurando meu cabelo. Mas eu não culpava Andrew, ele não tinha culpa agora que as bebidas de galas que eu costumava tomar fazia um efeito incrível agora que minha resistência não existia mais. Até mesmo estava feliz por ele não estar aqui, pois a cara de nojo que fazia sempre que essas coisas aconteciam, era algo eu não merecia ver. Depois que todo o vinho tomado durante a refeição saiu do meu sistema alimentar, eu me sentei naquele chão frio do banheiro e alcancei a descarga. Uma situação deprimente de se estar em quanto reis e rainhas estavam sentados em sua mesa de jantar, pensei comigo mesma, mas eu não me importava com isso também já que não voltaria para aquela mesa depois de sair correndo daquele local, quase levando a toalha sob ela junto, quando ela decidiu se enroscar em meu corpo. Parecia que minha vida tinha se tornado um buraco negro cheio de azar desde que me tornei humana, mas era melhor do que ter permitido que a transformação continuasse e me tornasse algo parecido com minha irmã Annabelle, trancafiada nos calabouços da mansão real, pois eu duvidava muito que Andrew conseguiria me matar. Sua desculpa por me manter viva, seria estar a procura de uma cura... Eu fechei meus olhos por um momento, já fazia um ano que tudo isso tinha acontecido, minha mente atormentada tinha que sair do passado, mas aparentemente pensar no passado era algo muito


mais fácil do que enfrentar o futuro. Era obvio que eu acreditava que poderia me tornar imortal novamente, apenas não tinha esperanças. E isso martelava minha cabeça todos os dias, me causando uma dor tremenda no coração. Ouvi a porta do meu quarto sendo aberta e indicando que alguém estava se aproximando, mas eu não movi nenhum músculo para acabar com minha curiosidade. Além do mais, quando escutei o som de saltos batendo contra o chão, já sabia exatamente quem era. Seline apareceu na porta do banheiro em questão de segundos, com seus olhos escuros um poucos preocupados quando me viu sentada ao lado da privada.— Você está bem, Roxie?— Ela perguntou delicadamente, como se me ver pálida e totalmente zonza por ter vomitado até meu cérebro fosse algo normal. — Eu estou bem.— Disse, usando a privada de apoio para me levantar e ir diretamente para a pia escovar meus dentes. Do mesmo jeito que eu odiava sentir o gosto de sangue na boca de Andrew, ele também não gostava desse cheiro, mas novamente, ele não tinha culpa. Nem mesmo eu gostava disso, duvidava que existisse alguém que gostasse, então escovar meus dentes umas cincos vezes seria o suficiente, mas antes disso tinha que lidar com Seline, ainda parada na porta do banheiro e preocupada.— Foi apenas a bebida, não se preocupe. Diga a Andrew que eu não voltarei ao jantar e que se desculpe aos nossos convidados.— — Você não deveria estar tão aborrecida.— Falou Seline, recuperando novamente minha atenção.— Até eu inventaria alguma doença sobrenatural para me livrar desses jantares chatos.— — Tem razão.— Eu concordei com ela, me virando de frente com a pia e encontrando o olhar da nossa governanta pelo espelho.— Você pode ir agora, Seline.— Seline concordou e quando olhei para o lugar que ela estava novamente, a governanta não estava mais lá. Então tudo que fiz foi escovar meus dentes diversas vezes até ter certeza de que o gosto azedo não estava mais em minha boca. Normalmente escovar duas vezes seria o suficiente para mim, mas para Andrew que tinha seus sentidos todos aguçados, era um problema. Eu me encarei no enorme espelho redondo a cima da pia apenas para ver tudo aquilo que via todos os dias. Uma humana como qualquer outra, uma humana que possuía olheiras e precisava de maquiagens para seu rosto ficar ainda mais apreciado... Eu odiava tudo isso e nunca mais poderia voltar a ser uma vampira para ser comparada com a perfeição quando se tratava de aparência. Por um momento eu pensei em ligar para Nyx, ultimamente ela estava me ajudando muito mais do que qualquer pessoa para superar minhas crises, já que seu convívio com humanos era algo normal. Mas eu não desejava atrapalhar sua noite com Iawy, o incubbus que ela chamava de amante. E claro que Andrew sempre me ajudava, eu jamais poderia viver sem o seu apoio, mas um marido era muito diferente de uma melhor amiga. — Então,— uma voz com um forte sotaque francês invadiu o banheiro.— Como vai o Andrew Jr.? — Eu me virei para encontrar Andrew encostado com um de seus ombros no batente da porta, com seus olhos azuis nivelando entre mim e a camisa que estava dobrando até seus cotovelos, uma camisa branca por sinal, a mesma que fazia parte de seu smoking. Ele já não estava mais com o paletó e sua gravata borboleta estava solta em volta de seu pescoço. Muito charmoso.— Muito engraçado, Andrew.— Eu caminhei para sair do banheiro, mas fui impedida quando cheguei até a porta e Andrew esticou seu braço até o outro lado, não deixando nenhum espaço para mim sair dali.— Nossos convidados? — Perguntei, nem um pouco interessada em começar uma guerra para que ele me deixasse sair.


— Foram embora, eles entendem que estamos passando por uma situação complicada.— Eu desviei meus olhos daqueles azuis frios, que apesar de demonstrar a frieza, falavam por Andrew muito mais do que sua voz.— Você está bem, cherie?— Isso era uma pergunta que Andrew não precisava de uma resposta, ele sabia que eu estava bem agora, então apenas sacudi minha cabeça.— Você estava linda essa noite.— Andrew retornou a falar, sua voz saio mais como uma caricia do que qualquer outro tom. — Sério?— — Bom, não tão chamativa quanto eu, pois sua beleza nunca vai ofuscar a minha, mas eu fiquei preocupado por alguns minutos que isso pudesse acontecer.— Por um momento pensei que ele realmente iria me elogiar sem que estivesse no meio, mas isso não passou de uma ilusão. Eu mordi o braço que estava impedindo minha passagem, não com tanta força, pois ter o sangue de Andrew em minha boca não era mais um desejo. Ele gemeu com isso, mas antes mesmo que pudesse escapar, Andrew me envolveu em seus braços e colocou minhas costas contra o batente da porta, quebrando todo os espaço que existia entre nós.— Sabe que teria tornado o jantar muito divertido se tivesse levado a toalha consigo?— — Eles me odiariam eternamente, principalmente as rainhas que teriam seus vestidos caros estragados.— Falei.— E nunca mais voltariam a nossa casa, sem contar a vergonha imensa que eu teria que enfrentar.— — Você é mais forte do que imagina, cherie.— Andrew disse.— E não posso negar que isso é um plano maravilhoso, talvez eu use alguma bebida mais forte quando a clave estiver aqui...— Eu o encarei e um sorriso irônico surgiu nos lábios do vampiro que me prendia contra a parede.— Não ouse me usar como espantas visitas, Andrew le Boursier.— — Isso nem passou pela minha cabeça.— Ele se moveu, para pressionar nossos corpos mais um pouco e depois se afastou alguns centimetros. Uma provocação clara.— Apesar de ser algo interessante.— Andrew sorriu antes de aproximar seu rosto do meu até que seus lábios gelados tocassem os meus. A temperatura de Andrew sempre foi mais gelada do que a minha, mas agora que meu corpo era mais quente, o seu toque me causava muito mais arrepios, mesmo que eu estivesse acostumada com isso. — Eu amo quando você sorri e isso tem acontecido bastante nos últimos tempos.— Falei assim que ele se afastou de mim, somente o suficiente para que sua testa encostasse na minha. — Tenho que fazer isso por nós dois agora.— Sua voz saio como um sussurro que acariciava cada parte do meu corpo. — Me desculpe por isso, por tê-lo afastado de mim, eu...— — Não.— Andrew me cortou, não permitindo que eu terminasse minha frase.— Eu escuto seus pensamentos, cherie, e meu nome nunca sai de sua mente. Isso não é me afastar, de jeito nenhum. Não posso negar que você está diferente, mas isso não me faz amá-la menos do que antes. Além do mais, sempre soube que era bipolar.— Eu soltei um pequeno riso agora.— Calado.— Andrew roçou seu nariz ao meu em uma caricia antes de se afastar completamente de mim.— Vamos, eu prometi lhe dizer mais nomes das constelações essa noite.— — Por que você gosta tanto das estrelas, Andrew?— Eu perguntei, sem fazer nenhum movimento. — Eu sei que são elas que representam os deuses e tudo mais, mas não creio que seja por causa dos deuses.— — Eu pensei que você nunca perguntaria isso, cherie.— Seu comentário saiu como um sarcasmo, devido a curiosidade nem sempre controlada que existia dentro de mim. Mas ele tinha um ponto, talvez minha cabeça estivesse tão cheia de coisas no passado que havia me esquecido de perguntar... — Elas são lindas e quando uma beleza consegue abalar a minha, sou obrigado a amar o que conseguiu chamar mais atenção do que eu.— —Agora você diz a parte que não envolve seu ego.— Eu disse com um pouco de ironia. — Minha mãe dizia que desde pequeno eu falava que queria ser uma estrela, pois por mais que as


coisas estivessem ruins, elas nunca abandonavam o céu e eu queria ser assim para as pessoas que amava.— Eu sorri para ele, realmente sorri, sem que nenhum rastro de tristeza estivesse no meio desse sorriso, um sorriso que apenas Andrew estava conseguindo ter nos ultimos tempos. E antes que pudesse dizer qualquer coisa, estendi minha mão na direção dele, chamando a dele para que seus dedos se entrelaçassem com os meus.— Devo dizer que você não quebrou nenhuma promessa sobre isso.— Um sorriso irônico cresceu nos lábios dele e antes mesmo que abrisse a boca, meus olhos já estavam se revirando por alguma bobeira prestes a vir.— Eu sou perfeito, não vejo como poderia fazer algo errado, cherie.— Ele disse, como se eu tivesse o ofendido. Andrew me deu um leve puxão pelas nossas mãos, que estavam unidas, para que eu começasse a andar, mas me mantive no lugar e ele olhou em minha direção com curiosidade.— Eu irei observar as estrelas com você, mas com uma condição...— Eu sorri e fiz a menção de morder meu lábio inferior. Não precisei terminar minha frase, Andrew já sabia exatamente o que desejava. — Eu tenho cara de cavalo agora para ficar te carregando?— — Se quiser posso dizer que é um de uma raça muito cara e bonita.— Eu disse e me aproximei dele apenas para passar meus braços por seu pescoço. — A mais linda?— Eu concordei com minha cabeça.— Acho que você me convenceu então, cherie. — Eu passei meus dedos quentes nas curvas do rosto de Andrew assim que soltei sua nuca, ele não fez nenhum movimento que impedisse isso, nem ao menos disse algo. Apenas deixou que meus dedos deslizassem por suas bochechas.— Eu sei que você fica hipnotizada com minha beleza e me ama incondicionalmente, mas as estrelas não vão esperar por nós.— Meus olhos se fecharam por um instante e fui obrigada a contar até 10 assim que me afastei completamente dele, Andrew não merecia ter mais uma mordida ou coisa do tipo, então resolvi buscar minha paz interior, mas antes que pudesse concordar ou simplesmente dizer algo, o rei dos vampiros se aproximou novamente e me abraçou. Não posso mentir que fui pega totalmente de surpresa, pois geralmente quem demonstrava qualquer sentimento de carinho era eu. Andrew sempre ficava com a parte mais... fogosa. Depois de segundos chocada pela aquela cena, com o homem que era temido por muitas pessoas, segurando meu corpo contra o seu e com seu rosto enterrado na curva do meu pescoço, eu passei meus braços por ele até que estivessem em suas costas.— Eu te amo, Andrew.— sussurrei calmamente, não me importando nem um pouco se as estrelas nos esperaria sim ou não. Eu senti a respiração lenta de Andrew contra o meu pescoço e em seguida seus lábios gelados beijaram minha pele. — Eu te amo tanto, Roxie.— Assim que Andrew disse meu nome, sem nenhum sinal de raiva ou coisa do gênero, meu coração bateu lentamente. Se eu pensava que estava mal por estar nessa situação, Andrew podia estar pior... — Eu sei que você me ama incondicionalmente, mas as estrelas não vão esperar por nós.— Eu disse em tom tentando soar como uma brincadeira, mas o choro que foi segurado acabou afetando isso. Andrew se afastou de mim e sem nenhuma palavra se virou de costas.— Venha.— Foi o que ele disse. — Talvez você poderia ficar de quatro...— — Não abuse da minha bondade, cherie.— Andrew me olhou por cima do ombro e eu lhe dei um pequeno sorriso antes de caminhar até mais próximo dele e segurar seus ombros para me servirem de apoio assim que impulsionei minhas pernas em um pequeno salto. O vampiro rapidamente segurou minhas coxas assim que ficaram ao redor de sua cintura, só então afrouxei o meu aperto em seus ombros. Eu fiquei feliz por ter usado um vestido largo em vez de algo agarrado nessa noite,


caso contrario, isso jamais ocorreria. — Oh,— Eu soei como se estivesse lamentando algo.— Esqueci de pegar meu chicote.— Minhas costas se debateu contra a parede em seguida em um movimento muito rapido, o corpo de Andrew me esmagando o suficiente para me deixar em desespero, claro que ele não estava me machucando, mas estava ameaçando fazer.— Ok, ok.— Eu disse segurando minha risada.— Me desculpe.— — Eu não creio que essa seja a desculpa certa.— Eu revirei meus olhos, não podia acreditar que ia ser obrigada a passar por aquilo novamente.— Andrew, deus da beleza suprema, eu imploro humildemente pelo seu perdão, pois sem ele não posso respirar, sem ter você ao me lado é o mesmo que estar no mundo dos mortos. Por favor, me perdoe. — Eu ouvi apenas o som de sua risada, já que estava em suas costas e não pude ver o riso que tanto idolatrava quando aparecia nos lábios de Andrew. Ele parou de me esmagar após eu pedir o perdão da maneira que gostava e passou a caminhar até nossa varanda. O caminho não era o mesmo que fazíamos todas as noites, geralmente apenas íamos até o escritório de Andrew, onde havia a maior varanda da mansão.— Onde estamos indo?— Eu perguntei quase em um sussurro, já que meus lábios estavam bem próximos de sua orelha. — Para o telhado.— ____________________ Eu apenas abri meus olhos assim que escutei os pés de Andrew encostando na parte mais plana do telhado da mansão. Tinha acabado de vomitar minha alma no banheiro, ninguém merecia ver como Andrew saltava até chegar no telhado, pois até mesmo agora que ele havia permitido que meus pés tocassem as telhas, me senti um pouco zonza pela altura que estavamos.— Você deseja me matar? — Perguntei, tudo bem que eu disse que estava bem anteriormente, mas não tão bem a ponto de ter que ficar muito longe do chão. — Talvez.— Um sorriso ironico veio à tona.— Mas isso apenas acontecerá quando me cansar de têla como um brinquedinho.— Eu respondi sua pequena ironia com uma careta e o sorriso dele apenas aumentou. — Por que no telhado?— Fiz novamente uma pergunta, olhando para o céu que estava incrivelmente bonito, sem que nada escondesse as estrelas que brilhavam para nós. — Porque,— Andrew disse calmamente se aproximando de mim até que seus braços passassem por mim, encostando seu corpo em minhas costas e abaixando somente um pouquinho para ficar mais próximo da minha orelha. — Eu posso abraçá-la dessa maneira para que não corra nenhum perigo de cair...— — Você é um aproveitador.— Acusei descaradamente, descansando meus braços nos dele. — Eu quero lhe mostrar uma constelação em particular hoje, ela será vista melhor daqui de cima.— Andrew finalmente respondeu minha pergunta logo após que segundos de silêncios passaram por nós. — Sem nenhum telescópio?— — Não vai ser preciso.— Ele disse sussurrando, seus lábios encostando em meu ouvido.— No norte existe cerca de trinta estrelas que podemos ver a olho nu, elas fazem parte de uma constelação chamada Cas, ela é considerada como a rainha, pois o desenho que as estrelas formam lembra uma mulher sentada em seu trono, porém com sua cabeça baixa.— Eu olhei para o norte, mas simplesmente não vi nenhum desenho. Apenas estrelas. Exatamente como nas outras noites em que Andrew me mostrava outras constelações com o telescópio, mas como ele mesmo disse, podia ser visto apenas 30 estrelas a olho nu, Andrew não podia exigir que eu enxergasse algum desenho com isso como nas outras noites.— Nas antigas lendas do meu povo, eles diziam que ela recebeu a punição de perder aquilo que mais amava, a sua filha, mas mesmo assim nunca deixou o seu trono, sua posição como rainha, apesar do enorme sofrimento que sentia e


era por isso que sua cabeça sempre se manteve abaixada.— — E de alguma forma você acha que lembra a mim.— Eu completei aquilo que não foi dito. — Muito esperta, cherie.— Andrew me virou em seus braços para que agora ficasse frente a frente com ele. Eu encarei aqueles olhos azuis que poderiam levar qualquer pessoa a morte.— Acho que Sol a fazendo definitivamente loira lhe causou um bem enorme, já que aquela quimica das tinturas não corroe mais seu cérebro.— — Muito amável, Andrew.— Eu disse batendo minhas mãos levemente em seus braços.— Mas obrigada... Por me lembrar de que não posso esquecer da minha posição.— Claro que Andrew não estava falando da posição de uma rainha, pois vampiros pouco se importavam com a minha existência, a posição que se referia, era aquela de que nunca poderia esquecer de ficar ao seu lado, de amá-lo todos os dias, apesar do meu sofrimento ser algo enorme dentro do meu coração humano. — Andrew,— Eu disse seu nome para recuperar seu olhos azuis, que até o momento anterior pertenciam as estrelas.— Você acha que um dia nós teremos paz? Quero dizer, sem que nenhuma pessoa doida por poder apareça nas nossas vidas e nos cause tantas coisas ruins?— — Eu acho que assim como existem coisas boas na vida, sempre vão existir as ruins.— Ele disse depois de um lento suspiro.— Mas eu nunca deixarei de estar ao seu lado, cherie, então não acho que as pessoas loucas por poder realmente importe desde que você sempre esteja comigo.— Um sorriso quase se formou em meus lábios, mas antes mesmo que isso acontecesse, a parte da minha mente onde havia apenas escuridão e pesadelos despertou.— Eu tenho medo.— Disse em um murmurou, com meus olhos baixos.— Alguns meses atrás quando aquelas pessoas no convento me sequestraram por causa de você... Quando eu o chamei e você não apareceu, tive tanto medo de que naquele momento eles me matassem ali mesmo.— Andrew colocou a ponta de seu dedo a baixo do meu queixo e o levantou para que meus olhos encontrassem os dele novamente.— Isso nunca mais vai acontecer, cherie.— — Eu sei disso.— Eu disse.— Mas como foi mostrado para nós, nem sempre será possível você estar presente quando eu precisar que esteja.— Andrew não disse nada, ele apenas ficou olhando em meus olhos por vários e lentos segundos que se passavam em quanto nós ficavamos abraçados em cima do telhado da mansão real. Seu único movimento foi roçar seus lábios gelados nos meus em uma caricia lenta, como se o amanhã nunca fosse existir.— Não se preocupe com coisas tolas.— Ele sussurrou com sua boca muito próxima da minha.— Não existe nenhuma maldade ou uma luta mortal em uma busca por imortalidade, não vai existir pessoas loucas pelo poder que nos causam problemas... Apenas acredite que tudo vai dar certo, cherie.— Eu respirei fundo e acabei sorrindo com um pouco ironia.— É muito dificil acreditar nessas coisas, mas eu estou feliz que tenha um lado positivo nessa situação que estamos.— — Positivismo é meu sobrenome, cherie.— — Na verdade, humildade é o seu sobrenome.— Andrew beijou a ponta do meu nariz e me deixou com uma leve vontade de esfregá-lo para que aquela frieza fosse embora dali, mas eu não seria doida de quebrar todo espaço entre nós por causa de um motivo tolo como esse. Eu te amo, meu rei da escuridão, minha mente projetou essas palavras para o vampiro que estava em minha frente, assim que ele encontrou meus olhos. — Eu não a amo.— Andrew disse e eu estava pronta para lhe jogar do telhado antes dele falar novamente.— Você é a minha vida, então não posso dizer que te amo pois essas palavras são muito sem sentido comparado a isso.— — Eu estava pronta para lhe jogar de cima do telhado se uma resposta como essa não viesse.— Eu disse a verdade, com um pouco de sarcasmo na minha voz. Andrew balançou sua cabeça lentamente e negativamente, seus olhos diziam que eu jamais teria


coragem de fazer o que acabará de falar, mas antes que abrisse para protestar o que aqueles azuis frios diziam, ele foi mais rapido.— Acho que a única coisa que irá fazer é ir dormir.— — Nem pensar.— Eu protestei.— Você não está com sono e provavelmente passará a noite toda longe de mim.— — Eu estou com fome, cherie, mas prometo ficar ao seu lado até adormecer.— — Andrew...— — Não, Roxie.— Ele me cortou antes mesmo que pudesse começar a pensar no que dizer.— Nós já conversamos sobre isso.— — Você decidiu que não iria mais se alimentar do meu sangue, eu não tive chance de dar nenhuma opinião.— Isso era um assunto tanto que complicado para nós. A um ano atrás nós discutimos sobre isso e Andrew disse que não poderia mais se alimentar de mim, pois por eu ter voltado a ser humana, ele teve que fechar a grande fera que existia dentro dele para que nunca pudesse me machucar e como meu sangue sempre foi algo que o deixava sem controle, então não arriscaria minha vida por causa disso. Eu não gostava nada disso. Eu não estava gostando nada de ser tratada como uma pessoa muito doente e muito fraca, pra dizer a verdade. Meus olhos se desviaram daqueles azuis por um momento e quando eu os encontrei novamente, me livrei daqueles braços em volta de mim e o afastei. Raiva me consumia inteiramente. Eu sei que devia entender o lado dele, mas Andrew nem ao menos tentava entender o quanto inútil eu me sentia. Talvez devesse parar de me preocupar com essas coisas tolas, ficar feliz de que ele não morreria de fome ou coisa do tipo, mas... Eu era apenas uma humana. — Roxie, não comece uma briga.— — Eu não estou começando nada.— Disse de uma maneira rígida e me aproximei dele novamente, encontrando seu olhar.— Me leve para baixo.— — Cherie, eu não...— — Eu estou com sono, Andrew.— O cortei com um murmurio quase raivoso e isso foi o suficiente para que ele ficasse em silencio e passasse seus braços ao meus redor. — Se segure.— Ele sussurrou, com seu rosto sendo escondido pelos meus cabelos. Passei meus braços ao redor do seu pescoço e quando fechei meus olhos, apenas senti o ar ao meu redor, o vento rapido que passava por todo o meu corpo, indicando que nós estávamos caindo, mas a diferença de cair, era que nossos corpos jamais se debateriam contra o chão. Andrew foi o primeiro a encostar os pés na varanda, eu soube assim que abri meus olhos e ele ainda me deixava a alguns centímetros do chão. Depois de alguns segundos, ainda esperando que Andrew me colocasse no chão, eu encontrei os olhos dele. Aqueles azuis frios, tão frios que podiam congelar qualquer alma que tentasse destruir qualquer coisa que ele amasse, mas acima de tudo, aqueles olhos frios sempre falavam por ele e nesse exato momento eles diziam que me amavam. Depois de algum tempo naquela posição que estava quase me matando de desejo para beijá-lo, Andrew escorregou meu corpo pelo seu até que meus pés tocassem o chão. Eu fiquei feliz por isso, pois estava prestes a esquecer o pouco de orgulho que existia dentro de mim para encontrar seus lábios... Realmente, eu tinha que trabalhar um pouco com o sentimento que chamamos de orgulho, pois isso parecia não existir dentro de mim.— Você está no chão agora, cherie, já pode ir.— A voz de Andrew soou, apenas para me lembrar que eu ainda estava em seus braços. Meus olhos deixaram a imagem a cima de seus ombros, para encontrar os deles, que emitia


pura ironia e o seu sorriso não era diferente deles. Eu respirei fundo lentamente e me afastei. — Boa noite, Andrew.— Disse, tendo já começado a me afastar e entrar em nosso quarto, mas antes que isso fosse realizado, eu fui puxada pelo braço apenas para debater contra seu peito quando fui virada para encontrar seus olhos novamente. Melhor dizendo, apenas para encontrar seus lábios em um beijo quase furioso. Isso não aconteceu pois quando estava se tornando mais intenso, Andrew afastou seu rosto, o deixando baixo e seus olhos longes do meu. Só depois de um segundo, o encarando, vi que suas presas estavam expostas. — Ninguém acreditaria que o rei dos vampiros perde o controle tão facilmente quando está com uma mulher.— Andrew soltou um riso, um riso controlado, sem olhar para mim ainda.— Eu experimentei seu sangue humano uma vez em toda minha vida e tive que ter muita força de vontade para não matá-la. — — Andrew.— Eu disse seu nome para que ele olhasse para mim, mas quando isso não funcionou eu puxei seu rosto para cima com meus dedos de uma forma muito delicada.— Não tenha medo de exibi-las para mim. Eu amo suas presas e sinto falta delas, mas estou feliz que tenha parado de me beijar... acho que ter minha boca toda cortada seria algo horrivel de se lidar depois.— Andrew ficou calado, talvez pensando no quanto bipolar eu deveria ser por ter quase o jogado do telhado agora de pouco por causa de um assunto quase parecido como esse. E bem, eu disse que trabalharia para melhorar meu orgulho, mas nunca faria isso para prejudicar Andrew.— Vá se alimentar e eu irei me preparar para dormir, prometo não adormecer em quanto não voltar.— Um pequeno, mas um muito pequeno, sorriso surgiu nos lábios de Andrew e em quanto eu esperei por alguma resposta, depois de piscar, ele já não estava mais em minha frente. Então tudo que fiz foi caminhar para o quarto e começar a trocar minhas roupas por algo muito mais confortavel do que qualquer outra coisa, um traje chamado pijamas. E muito mais tarde, quando o sono estava quase me consumindo e lutava para que não dormisse, pois ainda queria esperar Andrew estar comigo, eu senti que outro corpo estava se deslizando na cama para me envolver em braços grandes e logo o gelo tomou conta das minhas costas, talvez isso fosse motivo para me fazer despertar, mas eu estava feliz por ser verão e não inverno, já que nessa época do ano Andrew não podia dormir abraçado comigo, pois poderia me causar uma bela gripe por causa da temperatura de seu corpo. Depois que o rei dos vampiros se aconchegou ao meu lado e eu estava nos braços da pessoa que amava, permiti que o sono me consumisse, pois agora eu estava em segurança. *** Meus olhos se abriram de um sono profundo no dia seguinte. Não havia lembranças de sonhos em minha mente, nada além de um pensamento que eu tive uma ótima noite de sono. Eu olhei para a janela ao lado da cama, o sol brilhava lá fora e tudo indicava de que já passava das três da tarde. Realmente, meu pensamento não estava nada errado de ter tido uma bela noite de sono. Eu odiava isso, além de não poder ter Andrew em meus sonhos nunca mais, não fazia ideia das coisas que sonhava as vezes. Eu me espreguicei ainda na cama, ocupando literalmente toda espaço existente no colchão de casal e só então notei que algo estava errado. Na verdade nada estava errado, estava faltando.


Andrew não estava ao meu lado e isso era mais revoltante do que não lembrar das coisas que sonhei durante meu sono. Eu esperei que ele saísse do nosso banheiro ou do closet, mas nenhum sinal de vida surgiu dentro do quarto além dos meus movimentos ao se levantar da cama. O primeiro lugar a ir foi para o enorme escritório quase sem uso de Andrew e depois fui para o salão real onde possuía os três tronos, onde um deles não tinha utilidade nenhuma para nós. Na verdade eu estava literalmente vasculhando todos os comodos da mansão, mas tive sorte em achar o rei dos vampiros na cozinha. Andrew estava sem nenhuma camisa e quando me aproximei notei que ele só possuia apenas uma toalha branca enrolado em sua cintura, seu corpo estava molhado e seu cabelo também, mas estavam penteados para trás, como se ele tivesse usado muito gel. Ele estava atrás do balcão da nossa cozinha e estava montando um prato cheio de ovos e bacon, com algumas torradas um tanto queimadas.— O que você está fazendo?— Eu perguntei quando nossos olhares se encontraram e acabei me sentando em um dos bancos altos na frente do bolcão. — Me de um beijo primeiro.— Ele falou, ignorando minha pergunta e se esticando um pouco para me alcançar do outro lado do balcão, quando eu fiz o mesmo, nossos lábios se encontraram em um rapido selinho.— Eu estou fazendo seu café da manhã, cherie.— Disse finalmente e empurrando o prato para minha frente, os ovos e os bacons estavam com uma aparencia ótima, então decidi ignorar aquelas torradas queimadas, mas quando coloquei um pedaço de bacon na boca, tive a impressão de que estava tomando sopa de óleo e força de vontade foi o que mais tive para engolir em vez de cuspi-lo no prato. Andrew estava me olhando em silêncio, seu rosto não demonstrava nenhuma expressão e eu não queria dizer que todo esse trabalho de cozinhar para mim foi uma perca de tempo, então coloquei um pequeno pedaço do ovo e quando ele tocou minha língua, eu não resisti. Infelizmente cuspi tudo de volta para o prato. Além de estar um pouco cru e cheio de óleo, estava muito salgado.— Desculpe, estava muito quente.— Menti quando notei que ainda era observada, mas meus pensamentos gritavam “horrivel”. — Sério?— Ele perguntou com um tom de sarcasmo.— Sua mente diz outra coisa.— Droga. — Desculpe.— Disse um pouco constrangida.— Acho que você não é um bom chefe de cozinha. — Eu acho que não puxei os dons do meu irmão.— — Pierre cozinhava?— — Sim, ele gostava muito disso e não ensinava nada para ninguém, deve ser por isso que sou um fracasso.— — Pelo menos sabemos que o rei dos vampiros não é perfeito em tudo.— — Não me ofenda, cherie.— Ele disse seriamente, seus olhos azuis me fuzilando e eu juraria que isso tinha sido algo muito sério se um sorriso ironico não tivesse crescido em seus lábios. Eu olhei para o prato e apesar da aparencia bonita, o gosto não estava bom, então tudo que fiz foi afasta-lo de perto de mim. — O que estava fazendo para estar todo molhado?— Talvez isso fosse uma pergunta tola, Andrew poderia ter tomado banho antes de vir para cá e pela falta de roupas em seu corpo era obvio que isso tinha acontecido. —Eu estava na piscina.— — Você está louco?— Eu senti meus olhos se arregalarem por um minuto, chocada com essa resposta.— Andrew, nós nunca estamos sozinhos na mansão... Existem guardas em todos os


lugares, a Seline deve estar em algum lugar e você estava nadando nu?— — Se acalme cherie, não pretendo levá-la a um hospital devido ao ataque cardiaco que está preste a ter. Além do mais, a população deve saber que existe um deus, em todos os sentidos, entre eles. Não tenho vergonha nenhuma em demonstrar minha beleza.— Apenas depois que Andrew terminou de falar que notei que eu estava com minha mão agarrada a faca que usei para cortar os pedaços de bacon e ovo, mas antes que pudesse sequer movê-la na direção de Andrew, o que vontade não faltava, eu a soltei e respirei fundo, buscando a dama que sempre fui no meu interior. Andrew sorriu ironicamente e eu pensei seriamente e atacá-lo com aquela faca, mas ele foi mais rapido.— Não tem ninguém na mansão. Nada de Seline ou guardas.— Ele disse, se esticando novamente para encontrar meus lábios, em um beijo mais demorado dessa vez. Seu rosto gelado e ainda molhado arrepiou os cabelos da minha nuca. — Sem ninguém?— Eu perguntei sorridente, realmente amando a ideia. Afinal, com Andrew sendo rei, nós apenas tínhamos privacidade em lugares fechados. E como o instinto de Andrew sempre foi um pouco... animal, ele deveria estar amando ainda mais ficar livre para fazer coisas que apenas fazíamos em quatro paredes. — Apenas eu e você...— Ele falou ainda próximo de mim, com seus lábios a centimetros dos meus e quando meus olhos se fecharam automaticamente para outro beijo, com nenhuma intenção de ser interrompido, eu fiquei literalmente esperando por isso.— E Lúcifer.— Eu abri meus olhos com a menção do nome do filho de Hades e encontrei uma expressão nada feliz no rosto de Andrew em minha frente. Talvez estivesse parecida com a minha, já que os planos que haviam se formado em minha mente jamais seriam realizado. Afinal, Lúcifer estava na porta da nossa cozinha, assim que me virei para ver o corredor atrás de mim. — Olá, meus queridos amigos.— Ele disse com um sorriso sarcastico, até mesmo parecia que o vampiro loiro estava feliz por ter estragado todo o nosso dia. — Olá, Lúcifer.— Andrew disse saindo de trás do balcão e ficando ao meu lado, olhando para os meus olhos antes de encontrar os de seu amigo.— Tchau, Lúcifer.— — Não seja mal educado, meu rei.— Aqueles verdes anormais foram diretamente para mim.— Não seja como a chupim.— — Onde está Emme?— Eu perguntei pela deusa do fogo, a mesma que era chamada de amante por Lúcifer. A humana com um caso totalmente complicado, no passado, que conseguiu roubar o coração do filho de Hades. Tudo bem que Emme também era filha de Hades, mas isso não era algo muito importante para eles, além do mais, se até mesmo a deusa com uma alma pura e que foi criada em um convento aceitou isso, eu não era ninguém para opinar. — Ela está passando algum tempo com o pai.— Ele me respondeu calmamente. — Então você pode ir embora, sua presença não me interessa.— Eu disse, como uma brincadeira, claro. Mas já havia um tempo que não via Emme e ela era uma ótima pessoa para se chamar de amiga. — Eu concordo com ela.— Andrew disse. — O amor de vocês por mim me comove profundamente.— Lúcifer falou com sua mão sob o coração, dando um ar de puro drama. Eu sorri para ele, mas o vampiro de cabelos loiros não retribuiu isso, sua expressão ficou séria, uma expressão do tipo que raramente se via no rosto dele.— Eu tenho um assunto sério para tratar com vocês.— Andrew olhou para Lúcifer com cautela e depois seus olhos azuis vieram para mim, ele apenas suspirou e voltou a olhar para seu amigo.— Irei vestir minhas roupas e logo voltarei.— O rei dos vampiros disse, caminhando para longe de mim até que saísse da cozinha, mas não sem antes de tocar no ombro de seu melhor amigo com sua mão e dizer que era bom vê-lo novamente e depois


andrew sumiu da minha vista, deixando apenas Lúcifer e eu na cozinha. E então o vampiro de cabelos loiros se aproximou de mim até estar sentado ao meu lado, naqueles enormes bancos que ficavam de frente com o balcão.— Como você está, Roxanny?— Ele perguntou ao encontrar os meus olhos. — Eu estou bem.— Falei sem animo nenhum.— E você?— Lúcifer não me respondeu, ele estava muito ocupado cortando um pedaço do bacon do meu prato e levando diretamente para a boca. Eu tentei avisá-lo de que aquilo não estava tão bom quanto parecia, mas antes mesmo que pudesse abrir a boca, Lúcifer cuspiu tudo que estava em sua boca de volta para o prato.— Deus, isso está horrivel!— Ele disse sem nem tentar ser discreto.— Estão tentando te matar envenenada?— Lúcifer retirou o lenço vermelho e muito bem dobrado de seu blazer e o passou em volta de sua boca.— Foi Andrew que fez esse prato, Lúcifer.— Resolvi dizer depois de um tempo. — Sério? — Seus olhos verdes, totalmente, anormais foram para o corredor, mas não havia ninguém lá.— Eu nunca comi algo tão delicioso como isso.— Seu tom foi sarcastico e seu sorriso ainda mais. Andrew apareceu no segundo seguinte ao meu lado, sem ao menos eu ter percebido sua proximidade, mas Lúcifer havia. E toda essa puxação de saco fez todo sentido agora. Eu olhei para o rei dos vampiros, agora ele estava seco, exceto seu cabelo, e com suas velhas roupas negras sob medida do seu lindo corpo perfeito.— Isso não faz sua presença melhor, Lúcifer.— Andrew respondeu o sarcasmo do seu amigo ao mesmo tom.— Mas isso não importa, vamos para a sala e lá poderemos conversar.— Lúcifer não disse nada, ele apenas se levantou do banco que estava sentado e passou a caminhar, eu fiz o mesmo que o vampiro de cabelos louros, mas com Andrew ao meu lado e seus dedos entrelaçados com os meus. Chegando em nossa sala para convidados, Andrew e eu nos sentamos no sofá maior e olhamos para Lúcifer, de costas para nós, observando as cinzas da lareira. Seus braços estavam para trás, ele parecia estar um pouco tenso, o que não era algo de costume. Lúcifer se virou para nós finalmente, seus olhos verdes vieram diretamente para mim e eu deduzi que a coisa que ele gostaria falar não era algo bom. — Eu descobri quem é a bruxa que estava trabalhando para os humanos católicos.— Ele disse calmamente, controlando a raiva dentro dele apenas de lembrar o tanto que esses humanos causaram para sua nova amante.— Seu nome é Amethyst.— — Você deseja matá-la por ter desejado a morte de Emme?— Andrew perguntou, parecendo interessado no assunto. Eu não gostava nada disso de vingança, ainda mais com uma feiticeira que conseguiu atrasar Andrew quando o chamei. Nunca em minha vida vi uma feiticeira, elas eram como os deuses, nós raramente as via. E lidar com uma feiticeira como essa, que conseguiu tirar a imortalidade da deusa que era conhecida como a única filha de Hades, dava até medo em pensar na palavra vingança. — Sim, eu desejo a morte dela.— Lúcifer disse com seus olhos brilhante.— Mas não em quanto você precisar dela.— — Por que eu precisaria de uma feiticeira que lida com magia negra?— Andrew perguntou assim que os olhos verdes de Lúcifer encontrou com os deles. — Amethyst é a única feiticeira que não segue suas regras, Andrew— Lúcifer disse.— E é exatamente isso que você está procurando para fazer de Roxie uma imortal novamente.— Andrew ficou em silêncio, seus olhos estavam baixos e tudo indicava que ele estava pensando no


assunto. — Você não pode estar considerando isso, Andrew.— Eu disse, quase me levantando do sofá.— É perigoso demais.— — Cherie, nós não podemos sentar e esperar por um milagre.— Andrew falou, quase nem me olhando nos olhos.— Ninguém disse que seria fácil.— — Bom, ninguém disse que seria suicídio também.— — Eu não posso negar que ambos tem pontos muito importantes.— Lúcifer se intrometeu.— Mas ela é a única opção de sucesso até agora e o tempo está passando rapido.— Lúcifer tinha razão, já havia se passado um ano desde que Hebe conseguiu tirar minha imortalidade e de 19 anos eu passei a ter 20, tudo bem que ainda era nova, mas o tempo estava passando... E me dava calafrios só de imaginar ultrapassar a idade de Andrew. Mas considerar essa possibilidade? Definitivamente não. — Cherie, vamos apenas tentar.— Andrew disse encontrando meus olhos.— Se a situação ficar ruim, nós desistimos dela.— — Ela vai querer algo horrivel em troca.— Eu disse em um murmurio. — Então nós daremos o que ela deseja.— Lúcifer falou novamente.— Se não for algo impossivel, claro.— Eu respirei fundo e desviei meus olhos de qualquer pessoa que estivesse na sala. Principalmente os de Andrew. Vingança foi algo que desejei duas vezes na minha vida. A primeira foi um fracasso total quando pensei que tinha superado o amor que sentia por Andrew e a segunda apenas me trouxe sofrimento, e quase perdi pessoas que amava também. — Eu falei o que tinha para dizer.— Lúcifer voltou a falar.— Acho que agora irei embora para que conversem melhor.— Meus olhos se encontraram com os do vampiro de olhos verdes e eu tentei sorrir, mas provavelmente um sorriso ridículo saio dos meus lábios, já que foi forçado. Em um movimento quase não notável Andrew se colocou de pé.— Eu o acompanho até a porta.— Ele disse para seu amigo e ambos passaram a sair da sala. Eu continuei sentada onde estava, esperando que Andrew retornasse e meus pensamentos, em quanto isso, variavam entre o quanto tudo isso era errado e como poderia fazer Andrew desistir de ir atrás dessa bruxa louca. Meu desejo era ser imortal novamente para que a eternidade fosse apenas um detalhe entre Andrew e eu, mas a última coisa que queria era alguém se sacrificando para que isso acontecesse. Era errado e perigoso. Andrew entrou na sala em seguida, seus olhos azuis acompanharam meus movimentos até que ficasse em pé e com meus braços cruzados em frente do peito. O vampiro olhou para baixo e suspirou antes que apenas seus olhos encontrassem os meus.— Não me olhe assim.— — Você disse noite passada que a busca por minha imortalidade não seria uma luta mortal ou coisa do tipo.— Eu disse controlando minha raiva.— Por que isso não faz sentido mais?— — Cherie, nós temos que pegar as chances que temos.— — E isso envolve colocar a vida de todos em risco?— Eu quase pirei.— Você sabe que tudo que eu


mais quero é não me preocupar com o tempo como antes, Andrew, mas simplesmente não quero ir atrás de uma bruxa que parece ser psicopata.— — Cherie, a qualquer momento que ela não prove ser útil, apenas um problema, nós vamos embora. — Ele disse como se aquilo fosse um assunto simples.— Eu prometo para você.— Eu desviei meus olhos dos de Andrew, não gostando nada da ideia de ter que ir atrás dessa tal de Amethyst, mas o vampiro em minha frente nunca desistiria dessa chance de me trazer para o mundo dos imortais novamente até ter certeza de que essa bruxa não ajudaria em nada. — Eu não quero isso.— Falei.— Mas não permitirei que vá sozinho.— — Creio que não seja...— — Nem pense nisso.— Eu o cortei antes que pudesse dizer que não me levaria.— Se eu não for junto, você também não irá.— — Ou?— Ele me desafiou com pura ironia. — Quando você voltar, eu terei me mudado para a casa de Iawy e Nyx.— Falei a pura verdade.— E não haverá juras de amor que me tire de lá.— Um sorriso ironico surgiu na face de Andrew. Claro que ele estava se divertindo, as vezes era mais facil acreditar que eu era sua boba da corte do que esposa... — Mesmo?— Ele perguntou ainda sorrindo e acabou se aproximando de mim, me prendendo em seus braços quando não me deu nem tempo de descruzar os meus. Andrew me segurou apenas com uma mão e aquilo foi o suficiente para que não deixasse me mover. Ele usou sua outra mão para colocar meus cabelo de lado, os tirando da curva do meu pescoço. E depois se curvou até que seus lábios tocassem minha pele exposta, em uma carícia gelada. Isso foi o suficiente para que minhas pernas ficassem bambas, mas no minuto seguinte não foram seu lábios que tocaram a área onde ficava minha jugular. Foram presas. Presas rasparam na curva do meu pescoço, mas não rompeu minha pele, Andrew apenas estava fazendo carinho em mim sem nenhum intenção de derramar meu sangue. Eu estremeci totalmente com isso. — Você não me aceitaria de volta nem se eu fizesse isso?— Ele sussurrou contra a minha pele, seus lábios gelados encostando na curva do meu pescoço a cada movimento de suas palavras. — Cale a boca, Andrew.— Eu disse assim que consegui movimentar meus braços para agarrar a gola de sua camisa com os meus dedos, apenas para puxá-lo até que sua boca encontrasse a minha. Talvez Lúcifer tenha estragado algum dos nossos planos, mas não o ponto principal. Agora que o vampiro de cabelos loiros havia ido embora, o instinto selvagem de Andrew poderia finalmente ser solto. Mas não tão livre como eu desejava, já que Andrew não tinha a intenção de me quebrar quando a união de um homem e uma mulher acontecia.


02A central de caçadores de Iawy sempre foi a segunda casa do inccubus, era mais fácil encontrá-lo nesse enorme prédio revestido inteiramente com vidros, do que na mansão que chamava de lar. Para dizer a verdade eu nunca havia conhecido a casa de Iawy antes dele e Nyx começarem a namorar, então para não me sentir ofendida, gostava de imaginar que ele vivia dia e noite nesse prédio onde caçadores eram treinados para colocar ordem no mundo e de alguma maneira, fazer com que os humanos não descobrissem sobre o mundo sobrenatural. Claro que existia aqueles humanos que eram vitimas da maldade desse mundo, mas raramente algum deles sobrevivia para contar historia. Os raros humanos que respiravam no dia seguinte após serem torturados por criaturas eram enganados pelo governo, sendo obrigados a acreditarem de que sofreram um enorme trauma a ponto de imaginarem tudo o que sofreram nas mão de um vampiro ou outras raças. Geralmente os caçadores eram os primeiros a chegar em um lugar onde a morte causada por uma criatura sobrenatural tinha ocorrido, assim, eles despachavam os médicos e policiais humanos para longe e tudo era mais fácil, mas quando acontecia ao contrario, era surpreendente como o governo conseguia subordinar os humanos. E era exatamente por isso que existia sites na internet, programas de televisão e outras coisas que acreditavam fielmente na nossa existência, mas nunca poderiam ter provas de que era real. Afinal, as criaturas sobrenaturais eram muito mais espertas do que essas pessoas fanáticas que acreditavam que a lenda do Halloween era real. E ela é verdadeira, mas a melhor opção é manter o mundo obscuro sempre oculto para que a humanidade não entre em panico. E Iawy era o responsavel para que nada disso acontecesse. Era obvio que ao redor do mundo existiam outros como ele, mas o inccubos sentado em minha frente era conhecido como o melhor. — Sua rainha está fora do jogo.— Ele disse, me tirando dos meus pensamentos e voltando para o jogo. Em nossa frente existia um tabuleiro de dama com peças negras e brancas, as brancas mal estavam em cima daquele pedaço de madeira com quadrados, eram as pretas que dominavam todo o espaço. E eu nem precisava dizer a quem pertencia essas peças. O que me confortava de estar perdendo um jogo tão fácil, era que nem Andrew ou Nyx estavam presentes para me deixar desconfortável com essa pequena humilhação, mas eu também não estava feliz pelo rei dos vampiros ter me trocado pela clave nessa noite. E bem, Nyx estava com David na floresta isolada de Londres. Não posso mentir que fiquei surpresa em descobrir isso, mas estava feliz que ela estivesse se dando bem com seus verdadeiros pais e que não estava tendo o mesmo destino com aqueles que apenas a criaram.


— Você perdeu,— Iawy disse novamente, em uma calma impressionante, seus olhos finalmente deixando o jogo pela primeira vez e encontrando os meus, após ele tirar a ultima peça branca que restava do tabuleiro.— de novo.— — Você não precisa me humilhar tanto assim.— Um sorriso ligeiro cresceu nos lábios de Iawy e ele deu de ombros. — Não existe sensação melhor do que vencer o inimigo.— — Você apenas me pegou em um dia ruim.— Eu disse como uma desculpa, mas a expressão de Iawy acabou se endurecendo. Aquele brilho nos olhos escuros dele, falando que ainda existia um jovem adolescente dentro dele, acabou sumindo. — Eu não creio que seja a melhor opção você acompanhar Andrew até essa feiticeira.— — Andrew pode fazer uma besteira se eu não estiver junto.— Falei em um suspiro.— É melhor assim.— — Você devia ter mais fé em Andrew, Roxie.— Iawy segurou meu olhar.— Ele poderia proteger Londres inteira se fosse preciso para o seu bem.— — E ele pode destruir Londres inteira apenas para o meu bem.— O lembrei que também existia a parte negativa.— Eu não quero encontrar essa bruxa, é perigoso demais.— — Acho que essa é a chance mais próxima que vocês tiveram de fazê-la imortal novamente dentre um ano, eu não desistiria dela apenas por que Amethyst já provou ser um problema.— — Você pediria ajuda para Pierre se Nyx precisasse?— Iawy contorceu seu lábio em desgosto, mas não teve nenhum problema em responder minha pergunta.— Sim, eu me juntaria até mesmo com meu maior inimigo para ajudar a pessoa que amo, mas jamais aceitaria que Nyx estivesse próxima de alguém tão perigoso e é exatamente por isso que se você mudar de ideia sobre acompanhar Andrew, não será nenhum problema ficar conosco em nossa casa.— — Eu vou me lembrar desse convite em outro ocasião.— Eu sorri.— Mas obrigada.— — Você definitivamente não tem noção do perigo, francesa.— — Bom, não sou eu que durmo com uma mulher que em vez de fazer juras de amor, lhe faz ameaças de morte, egípcio.— — Touché.— Nós rimos por um momento e eu ajudei Iawy colocar as peças de seu jogo em ordem novamente, recebendo algumas instruções da onde iria cada pedra. — Você acha que Andrew dará conta em estar na clave e ao mesmo tempo ter que cuidar dos vampiros?— — Não se preocupe com isso, Roxie, a atenção dele sempre será mais sua do que qualquer outra coisa.— Iawy não respondeu a pergunta feita, mas falou aquilo que me preocupava.— Além do mais, se Andrew não estiver dando conta, Lúcifer é o próximo da lista da clave para ser rei.— Eu quase gargalhei, mas me segurei para que isso não acontecesse.— Eu acho que é mais fácil Andrew se divorciar de mim do que permitir que isso aconteça.— Disse entre uma risada segurada. Iawy arqueou sua sobrancelha e sorriu.— Eu não posso discordar menos de você.— Antes mesmo que eu pudesse começar outro assunto, os olhos de Iawy se desviaram para a varanda e ele franziu o cenho.— Nyx?— Eu perguntei quando percebi que ele havia notado alguém se aproximando. — Andrew.— Iawy respondeu e como mágica, como se citar o nome do rei dos vampiros o fizesse aparecer, Andrew surgiu no meio da escuridão da varanda e entrou na sala onde estávamos. Depois que Andrew chegou a esperança de ver Nyx antes de ir embora foi levada a partir do momento que ele disse para irmos embora. Então tudo que fiz foi me despedir de Iawy com um abraço e caminhar até o vampiro que segurava as portas do elevador abertas para que eu pudesse entrar.


Primeiramente estranhei a escolha de Andrew sair pelo caminho certo, pois ele sempre usava as janelas para ir embora em vez de pegar elevadores ou escadas. Após o elevador começar a descer Andrew se encostou no espelho do fundo e cruzou seus braços em frente de seu peito.— Por que nós estamos no elevador?— Perguntei antes que meu cérebro parasse de funcionar apenas por olhar o quanto ele estava bonito essa noite. Andrew havia mudado, esse ano, o seu corte de cabelo, do tipo que o certo era estar bagunçado e com cabelos em frente dos seus olhos em vez de arrumado, do tipo que se o jogasse todo para trás ou simplesmente arrepiasse, não estragaria nem um pouco sua beleza. — Por que?— Seu tom de ironia foi afiado.— Isso está lhe trazendo boas lembranças?— — Eu estou falando sério.— O respondi com uma certa dificuldade em afastar o passado da minha mente, o passado em que Andrew e eu quase derrubamos um elevador em um sonho. — Eu quero conversar com você em quanto vamos para casa, apenas isso.— — Você quer que eu ande até a mansão?— Eu perguntei chocada.— Tem noção do quanto longe nós estamos?— — Não seja dramatica, cherie. Você atravessava a floresta isolada inteira para chegar em minha mansão antigamente.— — Antigamente.— Eu ressaltei o que ele disse.— Agora eu não consigo nem ir até a esquina sem estar morrendo.— — Imagine que ao chegar na mansão real você terá um premio maravilhoso.— — Que premio?— — Eu.— Um sorriso irônico cresceu em seus lábios. — Eu vou chamar um taxi.— Falei saindo de dentro do elevador assim que as portas se abriram automaticamente, ignorando totalmente o “premio” que ganharia. Andrew caminhou até que estivesse apenas a alguns centimetros atras de mim para que pudesse falar novamente. — Você é tão má comigo, Roxanny.— — Não use o meu nome.— — Cherie.— Andrew me segurou pelo braço assim que saimos do prédio, seus olhos azuis estavam brilhando em divertimento.— Pare de brigar comigo.— Eu desviei meus olhos dos seus e umedeci meus lábios secos com minha língua antes de encontrar aquela expressão que apesar de transmitir puro carinho, era cheio de ironia.— Ok.— Eu concordei, quase sorrindo.— Mas se eu me cansar, nos pegamos um taxi.— Andrew sorriu e passou seu braço por mim até que encontrasse o outro lado da minha cintura para me guiar em quanto andavamos. E quando passamos a andar, percebi que realmente precisaria de ajuda, já que ao invés de andar pelas ruas vazias de Londres, o vampiro me levou até a floresta que ficava atrás da central de Iawy. Uma floresta totalmente desconhecida para mim. Depois de um tempo caminhando com Andrew ao meu lado, agora com meus braços ao redor de seu corpo, pois o medo de não ver nada naquela imensa escuridão, eu estava pronta para perguntar o que ele gostaria de dizer quando o obvio chegou em minha mente, me fazendo parar exatamente onde estava. Andrew também parou e olhou para mim com uma certa curiosidade. — Eu o odeio Andrew!— Eu disse sem nenhuma cautela. — Você gostaria de me dizer o motivo de odiar a perfeição?— — Não existe táxis aqui!— — Uau.— Ele disse com pura ironia e sarcasmo.— Você é um gênio, cherie.— Andrew havia me enganado bonito e eu fui tão tola em acreditar nele que não lhe poupei um tapa em seu braço. Um tapa que era capaz de doer mais em mim do que nele.— Eu vou embora daqui!—


— Oh, cherie, não deixe seu cabelo loiro comandar o seu cérebro.— Andrew disse ainda sorrindo. — Não creio que seja adequado andar em uma floresta sozinha, existem lobos maus na escuridão.— — O único lobo mau é você.— — Pelo menos ele faz sucesso na historia.— Andrew deu de ombros.— Ser um personagem que as pessoas mal lembram é uma pena.— Eu fechei meus olhos por três segundos e respirei fundo.— Você disse que gostaria de falar comigo. — Falei calmamente, ignorando a parte em que Andrew sempre ganhava pontos com suas respostas irônicas. Andrew me observou um momento e antes mesmo de me responder ele se virou e passou a caminhar, sem me soltar. Nem mesmo eu permitiria que ele fosse andando sem estar com seus braços de mim pelo simples motivo que a única luz desse lugar era da lua.— Andrew?— Eu sussurrei seu nome, quando ele deveria estar falando ao invés de cair no silencio. E exatamente por causa disso, eu soube que coisa boa não era. — Eu estou oficialmente dentro da clave.— Ele disse depois de um tempo, meus olhos pertenciam totalmente a ele naquele momento.— Mas não é exatamente isso que gostaria de conversar essa noite.— — O que é?— Perguntei. — Conversei com Lúcifer antes de encontrá-la,— Andrew não olhou para mim.— ele me disse exatamente onde Amethyst se encontra.— —Você vai encontrá-la nos próximos dias.— Meu coração deu um pulo a menos assim que essas palavras sairam da minha boca. — Não.— Ele discordou.— Eu vou encontrá-la amanhã.— — Nós vamos.— Eu o lembrei com certa repreensão e foi nesse exato momento que Andrew parou de caminhar e olhou para mim. Por um segundo eu fiquei feliz por Andrew ter parado assim que entramos em uma clareira. Sem arvores em volta de nós, a luz era muito melhor. — Qual é o problema, Andrew?— Eu perguntei mais calma dessa vez, quando notei que ele preferia ficar em silêncio ao invés de me dar respostas. — Amethyst possui uma alma rara.— Almas raras. Duas palavras que significavam problemas. Andrew uma vez me disse que são as almas raras que deixam os deuses ainda mais poderosos do que já são, geralmente todas as almas das criatura sobrenaturais ou humanos pertenciam a eles, mas as almas raras pertenciam somente a pessoa que a possuía até que ela morresse. Caso na hora da morte da pessoa sua alma estivesse pura, ela pertenceria a Zeus, caso contrário, séria de Hades. Uma alma pura era algo bom, uma bondade enorme sempre existiria no coração de quem a pertence, mas se ela se tronasse negra... Não era nada bonito. — A alma dela está totalmente negra.— Eu sussurrei. — Sim.— Ele concordou antes de encontrar meus olhos.— Roxie, eu não quero que me acompanhe amanhã.— — Não me afaste disso, Andrew.— Eu falei com pura frustração.— Pare de me afastar dos problemas que acha que eu não terei forças para aguentar, como fez...— Me calei quando notei que estava falando demais. — Como fiz com Annabelle.— Andrew completou minha frase. Normalmente eu diria que não falei aquilo, mas ele estava em minha mente. — Desculpa.—


O passado era como o pior pesadelo para mim e Andrew, tudo nele era horrível e difícil antes de nós realmente ter nos casados. Então, eu não gostaria de falar dele exatamente agora. — Eu estou com medo, Roxie.— Ele disse, me pegando de surpresa.— Fazia muito tempo que não sentia esse sentimento que nem ao menos lembrava o que era isso. Eu estou tão assombrado pelo medo que eu não posso perdê-la. Eu preciso afastá-la das coisas que não pode lidar, você é apenas uma humana agora.— — Quando as pessoas sentem esse sentimento, o medo, elas procuram por outras para as ajudarem a não cair.— Eu comecei.— Eu te amo e simplesmente não posso deixá-lo lidar com isso sozinho.— — Ela possui uma alma negra, Roxie.— — E dai?— Eu perguntei.— Pierre também possuia uma e ainda estava louco. Além do mais, sobrevivi ao ataque de Hebe, que era uma deusa... Não vai ser uma bruxa que lida com magia negra que vai nos derrubar.— Andrew me olhou, seus olhos diziam que ele estava longe de concordar em me levar.— Eu não ficarei sentada em quanto você vai atrás dessa doida.— Falei novamente. — Você estaria se mudando para a casa de Iawy e Nyx.— Ele disse e um quase sorriso se formou em seus lábios. Eu sorri, ao contrário dele. — Não me deixe para trás apenas por que sou fraca, Andrew.— Eu sussurrei com meus olhos baixos. Andrew tocou minhas bochechas com seus dedos em uma caricia, um toque que fez com que meus olhos voltassem para ele.— Você é a criaturinha mais pequena que eu já conheci em toda minha vida e com uma força muito maior do que qualquer rei e rainha do nosso mundo.— — Não exagere.— — Você tem razão, sem exageros a partir de agora.— Um sorriso irônico surgiu em seus lábios. Eu pensei em bater em seus braços, mas não valia a pena. Andrew nunca mudaria. — Você é um cretino.— Revirei meus olhos. — Um cretino muito lindo que você ama.— Eu olhei para o vampiro em minha frente e suspirei.— Você ainda me deve uma resposta.— — Eu acho que você estará mais segura perto de mim.— Eu sorri e realmente fique feliz por Andrew ter desistido de me deixar em quanto encontraria a bruxa que talvez fosse a solução dos nossos problemas.— Agora nós já podemos ir embora daqui? — Eu perguntei depois de um tempo, afinal, Andrew disse que queria conversar comigo e como ele já tinha dito o que lhe preocupava, sair daqui era uma prioridade antes que esses insetos me comecem viva. — Na verdade não, eu quero lhe mostrar algo.— Depois que saímos daquela clareira em que paramos para conversar, nós não andamos muito. A única coisa que me incomodou durante o caminho foi que em um momento nós entramos em um lugar cheio de árvores que se debatiam contra o meu corpo, mesmo Andrew fazendo o maximo possível para tirá-los da nossa frente. Eu fiquei tão atordoada com tantas folhas molhadas e galhos batendo em mim e enroscando no meu cabelo que quando nos livramos desse caminho infernal, nem mesmo olhei ao meu redor antes de encontrar os olhos de Andrew, em puro divertimento por sinal. — Não ria.— Eu murmurei.— Esses galhos me deixaram suja e molhada.— — Por que eu iria rir do amor da minha vida?— — Eu sei que você está rindo mentalmente, não sou uma idiota.— Falei em quanto em uma tentativa sem sucesso tentava arrumar meu cabelo. Andrew sorriu em minha frente e ignorou todos os meus murmurios.— Olhe para trás.— Ele disse calmamente. Sem nenhuma reclamação, eu me virei.


Surpresa percorreu todo o meu corpo naquele momento, pois em frente dos meus olhos estava um enorme cemitério antigo. Um cemitério abandonado, dizendo melhor. Sei que ficar maravilhada com cemitérios é algo muito estranho, mas era esse lugar em que as criaturas sobrenaturais tinham mais paz quando precisavam pensar. E quando os noticiários dos humanos diziam que adolescentes vândalos faziam festas nesse lugar onde mortos descansavam, eles não eram tão adolescentes assim... Toda criatura sobrenatural adorava um cemitério e ver um tão antigo quanto esse, foi algo que nunca vi. Ele era tão antigo que parecia que a neblina no chão parecia desfazer os crucifixos feitos de pedras. E os mausoléus estavam todos impregnados com limbo. Mas foi a estatua de um enorme anjo com suas asas abertas e segurando sua espada para baixo que chamou minha atenção. Assim como as outras coisas no cemitério, ele também estava cheio de limpo e se desfazendo, mas era lindo. — É incrivel.— Eu sussurrei, não sabendo se eu falava de todo o cemitério em si ou do anjo. Andrew estava com suas mão dentro dos bolsos do seu enorme sobretudo preto e por isso ele usou seu cotovelo para me dar um leve empurrão.— Vamos entrar, cherie.— — É proibido invadir cemitérios, Andrew le Boursier.— Eu disse em uma brincadeira e isso não poupou um sorriso ironico nos lábios dele. — Seguir regras não é nada divertido, Roxanny.— Andrew caminhou até o antigo portão que parecia ser a única coisa que protegia aquele cemitério do mundo, ele o abriu sem nenhuma dificuldade.— Como descobriu esse lugar?— Eu perguntei assim que entrei, tomando cuidado para que meus saltos não afundasse naquele chão que não parecia ser confiável. — Esse cemitério é tão antigo que os corpos enterrados aqui já viraram pó há muito tempo, então é fácil conhecer coisas antigas com a minha idade.— — Eu imagino que você tenha conhecido coisas mais bonitas que um cemitério esquecido.— Eu disse me aproximando da estatua daquele anjo enorme, eu precisava tocá-lo para ter certeza que não desmancharia em minhas mãos. — Eu conheci você.— Ele disse, fazendo-me virar em sua direção antes mesmo de tocar aquele anjo.— Você é a coisa mais bonita que já conheci.— Eu sorri para Andrew. — Eu pensei que você fosse a coisa mais bonita que já conheceu.— — Cherie, eu estou tentando ser humilde, não estrague esse momento raro.— — Me perdoe, Sr. Humilde.— Eu falei dando um passo para trás quando Andrew se aproximou, finalmente tocando naquela estatua, que felizmente ou infelizmente não se desmanchou ao meu toque. Eu me virei para a estatua novamente e me afastei um pouco para olhá-la melhor, não me importando nem um pouco de ter encontrado o corpo de Andrew em minhas costas.— Anjos existem, Andrew?— — Sim.— Ele me respondeu.— Mas não são exatamente como a religião os descrevem.— — Como eles são?— — Eles estão a baixo dos deuses, então são criaturas realmente poderosas e eles são responsáveis por proteger os poderes dos deuses.— — Eu não compreendo. Por que os deuses precisariam de anjos cuidando dos poderes deles?— — Os deuses são infinitamente cheio de poderes e acham que é mais seguro dividirem seus dons e usarem receptáculos. Como Nyx é receptáculo da imortalidade de Sol e Jake foi de Hebe, as estrelas também são receptáculos deles, por isso que muitas lendas dizem que os deuses são as estrelas.— — Então os anjos cuidam apenas dos receptáculos dos deuses? E não existe nada disso de anjo da guarda?— — Não existe, isso apenas foi criado para que todos se sintam protegidos quando alguém precisa de ajuda e não tem ninguém para dar esse conforto.—


— É uma pena que todos estejam sozinhos.— Eu sussurrei. Andrew tocou meu braço no minuto seguinte e como se tivesse levado um grande choque, ele se afastou. Estranhando essa atitude, eu me virei para ele e meus olhos foram diretamente para sua mão. Sangue sujava seus dedos e seus olhos azuis estavam tão selvagens que nem ao menos dava para ver a frieza que normalmente existia neles. Eles estavam tão fixos no sangue em seus dedos quanto os meus. Eu olhei para o meu braço que foi tocado por Andrew e ele estava com um pequeno corte, que apesar de ser minusculo sangrava como se fosse enorme. Provavelmente esse corte aconteceu quando os galhos se debatiam contra mim.— Como você não sentiu o cheiro do meu sangue antes? — Eu perguntei o que mais me preocupou. Afinal, Andrew era um vampiro, ele deveria ter sentido o cheiro do meu sangue assim que me cortei. — Eu não estava respirando. Cemitérios abandonados ou não, nunca cheiram bem.— Ele me respondeu, mas sua atenção pertencia aos seus dedos. — Prove.— Eu disse como se aquilo não significasse nada e finalmente tendo o olhar de Andrew.— Não é como se isso fosse me matar.— Andrew não disse nada, apenas limpou seus dedos sujos em seu casaco.— Você brinca com a morte, cherie.— — Eu não tenho medo de morrer, Andrew.— Disse caminhando até ficar frente a frente ao vampiro que poderia acabar com minha vida em questão de segundos. — Deveria.— Ele sussurrou em um tom afiado.— Não se deve brincar com a morte.— — Eu gosto muito de brincar.— Sussurrei de volta e antes que Andrew falasse mais alguma coisa, passei meu dedo sobre o corte, deixando que sangue o sujasse. Meus olhos se encontraram com os azuis mais lindos que já havia visto em toda minha vida e eles pareciam estar lutando por controle. Andrew entreabriu seus lábios, provavelmente pronto para dizer algo, mas antes que isso acontecesse, eu aproximei meu dedo de seu lábio.— Respire.— Eu mandei, soando mais como uma ordem. Geralmente eu não sabia quando Andrew respirava ou não, um vampiro era tão diferente dos humanos que era difícil notar qualquer mudança em seu corpo. Eu mal conseguia sentir as batidas do coração de Andrew agora, mas tinha toda certeza do mundo que ele não respirava. Andrew soltou sua respiração, eu senti o ar gelado se debatendo contra meu dedo com sangue e no segundo seguinte, quando ele inspirou, suas presas saltaram de sua gengiva. Eu vi apenas as pontas afiadas delas, pois seus lábios semi fechados não me permitia vê-las por inteiras.— Como é o cheiro?— Eu perguntei quase em um sussurro. — O cheiro é de alguém que não tem amor a vida.— Eu quase ri, mas estar tão próxima de Andrew nunca era algo divertido. Ainda mais quando ele lutava pelo controle por apenas sentir o cheiro do meu sangue. Talvez eu estivesse ficando louca, mas minha mente não me segurou quando tirei meu dedo de frente dele apenas para cortá-lo na ponta das presas do meu vampiro. Uma picadinha foi o suficiente para que o sangue aparecesse. Andrew tentou se afastar, mas com minha outra mão eu o segurei pela manga de seu casaco.— Não fuja de mim, eu não estou tentando lhe envenenar, Andrew.— — Cherie.— Ele sussurrou, quase implorando. Mas Andrew le Boursier nunca implorava. Eu toquei os lábios de Andrew com o meu dedo cortado e uma pequena mancha de sangue surgiu ali. Ele respirou fundo dessa vez e quando tive certeza de que Andrew tinha controle suficiente para não me machucar, eu deslizei meu dedo lentamente por todo o seu lábio inferior.


Era torturante até mesmo para mim fazer algo com tanta calma, não podia nem ao menos pensar como Andrew se sentia. Meus olhos saíram de seus lábios para encontrar aqueles azuis frios, mas Andrew também estava com seus olhos baixos. Eu segurei a nuca dele para que me servisse de apoio e colei o meu corpo ao dele, deixando que cada centimetro que existisse entre nós acabasse. Permitindo que o encaixe perfeito que nosso corpo juntos fazia acontecesse. Meus pés foram obrigados a ficar na meia ponta quando ele não se curvou para que eu alcançasse seu ouvido.— Eu sou sua, Andrew. Completamente sua.— Sussurrei.— Deixe que meu sangue pertença a você também.— Meu rosto deslizou ao de Andrew quando desejei encontrar seus olhos novamente, sem que afastasse qualquer centímetro do meu corpo do dele, eu o segurei contra mim sem nenhuma força, pois ele queria que aquela posição fosse eterna e isso fez mais sentido quando suas mãos seguraram minha cintura. Seus lábios ainda estavam sujos com meu sangue e eu estava pronta para discutir sobre isso quando a língua de Andrew surgiu de dentro de sua boca e percorreu todo o seu lábio inferior. — Desejo concedido.— Ele disse. — Como é o gosto?— Sorri. — Doce e perigoso.— Andrew apertou nossos corpos mais um pouco, a ponto de tirar meus pés do chão por alguns segundos. — Você não me vê como um perigo.— Eu disse ironicamente. — Definitivamente não.— Andrew sorriu em sarcasmo.— Mas é você que sobreviveu ao ataque de uma Deusa conhecida como a filha de Zeus e possui a proteção do sol e da lua, as criaturas sobrenaturais te veem como um perigo.— — Eu não teria conseguido nada disso sem você, Andrew.— — Provavelmente, mas eu já tenho minha fama feita há muito tempo.— Sim, ele tinha. E ela não era nada bonita quando era se comparada com uma pessoa sem coração e tão medonha quanto a escuridão.— As pessoas estão erradas sobre você.— Eu murmurei. — E eu espero que continuem.— Ele disse.— Eu sou um rei, cherie, não posso ter piedade.— — Bom, então eu acho que me apaixonaria por você mesmo que fosse mau e impiedoso.— — Sim, eu me certificaria que isso acontecesse.— Ele sorriu, um sorriso ironico.— Mas não acho que seja dificil qualquer pessoa cair de amores por mim com todo meu charme.— — Você é um convencido e...— Andrew me beijou, era uma boa maneira de me fazer ficar em silêncio, mas estava obvio que ele não fez apenas por causa disso. Seu beijo exigente e perigoso dizia que ele esperou muito tempo para que seus lábios encontrassem os meus. Eu fui a primeira a me afastar quando a falta por ar venceu e encontrar o olhar que dizia que mortal ou não, eu era a mulher que roubou o coração daquele vampiro. Talvez fosse esse olhar que me dava um pouco de esperança para acreditar que o futuro iria ser melhor. Eu não sabia, mas isso era o suficiente para mim. — Vamos brincar de esconde-esconde, cherie.— Andrew disse se afastando completamente e ganhando um olhar totalmente de descrença. — Você está brincando comigo?— Eu perguntei não acreditando no que Andrew pedirá. — O que?— Ele me puxou junto quando caminhou para longe da estatua.— Nunca brincou disso? —


— Sim, eu já brinquei e é exatamente por isso que acho que você não teve infância.— — Eu não tive infância. Crianças eram treinadas para virarem guerreiras, não eram feitas para brincadeiras infantis.— Andrew disse em um tom sério.— Mas, eu acho que você está com medo de perder.— — Não vamos esquecer que você tem capacidade de me achar mesmo que eu saia de Londres, é obvio que irei perder.— Andrew sorriu e soltou meus braços que até agora segurava.— Confie em seus instintos.— — Andrew, eu...— Ele sumiu. Em um piscar de olhos, ele não estava mais em minha frente. — Ótimo.— Eu resmunguei.— E ainda existem pessoas que dizem que tem mais medo do rei dos vampiros do que dos deuses.— Eu deixei a segurança de estar perto da estatua do anjo e passei a caminhar cuidadosamente pelo cemitério. Se eu estava com medo? É claro que sim. Esse lugar era assustador quando se era humana e Andrew não estava perto de mim para me proteger. Toda a neblina que ficava em volta do chão impossibilitava que eu visse onde estava pisando. E existia tantas teias de aranhas pelo lugar, que eu estava tomando muito cuidado para que não grudasse em mim. — Por favor, Andrew,— Eu implorei.— Não me assuste.— Eu não escutava nada em volta de mim além da minha própria respiração e o zumbido de insetos que tinham coragem o suficiente para cantarem mesmo com a presença de pessoas no lugar.— Ok, eu vou matar você!— Eu disse sem paciência. Brincar de esconde-esconde em um lugar que nem ao menos conseguia me mover ou enxergar para onde estava indo não tinha graça nenhuma. Andrew não estava em nenhum lugar no cemitério e o único lugar que eu não havia checado ficava atrás dos mausoléus, onde havia uma grande quantidade de névoas. A única coisa que eu via era elas e nada mais. Eu ainda não estava com curiosidade o suficiente para ir lá, mas não tinha escolha. Pois o único lugar que eu sabia que Andrew não estava era dentro dos mausoléus. Bom, pelo menos achava que não. Assim que voltei a andar encontrei um galho no meu caminho, ele não era grande e muito menos grosso. Seria esse galho que livraria minhas mãos de tocar naquelas enormes teias de aranhas enormes, que tomavam os corredores entre os mausoléus. E se caso aparecesse a proprietária responsável pelas aquelas coisas enormes, eu teria uma arma. Eu tive tanto cuidado para passar naquele corredor que me levaria até aquela neblina que pareceu que toda a minha cautela para que aquelas teias não grudassem em mim foi um caso perdido. Mesmo usando aquele galho, eu sai daquele corredor cheia de teias grudada na minha roupa.— Andrew?— Eu o chamei, nem um pouco interessada em entrar no meio daquela névoa. Mas eu não tinha outra escolha. Respirei fundo e esperei por mais alguns segundos, com a esperança total de que Andrew apareceria, mas quando nada disso aconteceu, entrei no meio daquela névoa. E eu caí.


Em primeiro lugar o meu instinto me fez gritar, o medo fez com que eu aceitasse a provável morte de uma queda de um penhasco, mas em segundo lugar... Eu gritei de raiva quando a água gelada entrou em atrito com o meu corpo assim que meus pés encontraram o chão barroso daquele lago. E a raiva consumiu ainda mais o meu corpo quando eu senti a terra em meu rosto, em meu cabelo. E eu quase vomitei toda a agua que engoli quando vi que aquele lago era composto de lama e raizes de ávores. — Você está bem?— Andrew apareceu no meio daquela névoa, se agachando na beira do lago sujo e tomando muito cuidado para não ter o mesmo destino que eu. Ele parecia um pouco preocupado. — Eu pareço bem?— Eu disse com um pouco de raiva.— Se você tivesse tido uma infância, eu provavelmente estaria bem agora.— Um sorriso de canto surgiu no rosto de Andrew. — Vamos tirá-la dai, cherie.— Foi o que ele disse, em uma calma perturbante. — Eu te odeio.— — Eu sei.— Andrew respondeu meu murmurio.— Você repete isso todos os dias sem se cansar.— Meus saltos se afundaram ainda mais naquele fundo cheio de lama quando eu estava prestes a responder Andrew, mas a raiva de ter minhas booties totalmente arruinadas acabou me consumindo. Andrew provavelmente notou que meu nível de ódio estava subindo a cada segundo, pois no minuto seguinte ele estendeu sua mão para que eu pudesse pegá-la. Eu a peguei e Andrew me puxou para cima até que ficasse sentada na beirada daquele lago, com minhas pernas ainda dentro dele. Assim foi melhor, pois ver minhas booties cobertas de lama era algo que eu não desejava. Meus olhos se encontraram com os de Andrew e ele riu. Era obvio que ele estava se divertindo. — Se eu ainda fosse uma vampira, isso jamais teria acontecido.— Falei depois de um tempo em silencio. — Não diga isso.— Ele disse tirando seu sobretudo para colocar em volta dos meus ombros.— Falhas acontecem.— — Talvez, mas isso não justifica que eu sinta falta de ser uma vampira.— Eu nunca pensei que diria isso, pois nunca gostei do fato de tirar o sangue de outras pessoas para me alimentar. Sempre odiei ser vampira desde que Andrew me transformou, apenas gostei mais de ser uma criatura sobrenatural quando eu vi que valia a pena ter essa imortalidade para ficar ao lado do homem que amava... Mas é como dizem, nós apenas damos valor a algo quando perdemos. — Bom, então nesse momento eu sinto falta de ser humano, pois assim poderia esquentá-la com meu corpo.— Eu desviei meu olhar para o lago em minha frente, ainda coberto com nevoa e soltei um riso frustrado.— Eu estou feliz apenas com o seu casaco.— — Eu também.— Andrew concordou.— Não gostaria de ver o mundo caindo em uma depressão por eu ter envelhecido e morrido.— Eu revirei meus olhos e logo em seguida encontrei os de Andrew.— Vamos embora antes que eu decida lhe afogar.— — Isso não funcionaria.— Andrew deu de ombros e se levantou. Ele também segurou em minhas mãos para me ajudar a fazer o mesmo. Eu coloquei o sobretudo de Andrew da maneira certa depois que me levantei e tomei coragem o suficiente para olhar minhas booties. Arruinadas, como imaginei.


— Eu acho que não podemos mais pegar um táxi.— Falei ainda olhando para elas antes que Andrew esfregasse sua mão em minhas costas, em uma tentativa de esquentá-la. — Pelo menos você ainda terá seu prêmio.— Andrew começou a falar e lentamente ficando em minha frente.— E eu não o jogaria fora por nada.— — Eu ficaria muito feliz se esse prêmio fosse booties.— — Você está me trocando por sapatos?— Andrew disse se fingindo de ofendido em um drama total. — O que posso dizer?— Perguntei.— Sou uma mulher.— Andrew fechou seu casaco em volta do meu pescoço e olhou para mim seriamente. Isso não era uma boa coisa.— Eu não ligo para essas brincadeiras infantis.— Ele disse.— Eu precisava me afastar por causa do seu sangue.— — Então eu quase morri afogada a toa?— — Você fica maravilhosa toda molhada e suja de lama.— Andrew sorriu ironicamente.— Então não foi a toa.— Eu toquei as bochechas de Andrew com as pontas dos meus dedos molhados, tomando muito cuidado para que não sujasse o seu rosto perfeito.— Nós estamos progredindo em questão de você provar meu sangue.— — Sim.— Andrew concordou comigo.— Agora há esperanças de você poder correr como uma pequena gatinha fugindo de um leão faminto.— — Bom, então eu estou orgulhosa de você.— — Se orgulhe quando estivermos dentro de uma banheira com água quente.— Ele falou voltando a ficar ao meu lado apenas para passar seus braços em volta de mim.— Vamos embora antes que congele, cherie.— Eu concordei com Andrew sem dizer uma palavra. Afinal, ele tinha razão sobre congelar. Era madrugada em Londres e mesmo estando no verão, essa cidade sempre foi úmida o suficiente para congelar ossos humanos depois de cair em um lago gelado. E a ideia de estar em uma banheira de água quente e junto com Andrew era muito mais agradável do que ficar nesse cemitério, então andar como uma lesma foi uma das coisas que não fiz no caminho de volta para casa. Muito mais tarde quando eu finalmente recebi meu prêmio por ter andado toda a cidade de Londres para chegar em casa e tomar meu banho quente com o homem mais perfeito do mundo, Andrew me deitou em nossa cama, tirando a boa sensação de estar em seus braços. — Hora de dormir, cherie.— Andrew sussurrou assim que se ajoelhou ao meu lado da cama, passando seus dedos em minha testa para tirar meus cabelos molhados de frente dos meus olhos.— Daqui a algumas horas já vai estar amanhecendo.— — Eu não quero que amanheça.— Murmurei. Andrew acariciou minha bochecha com seu dedo gelado, sua caricia apenas estava ajudando que o sono me consumisse por completo.— Cuidado com o que deseja, cherie.— Ele disse com um pouco de ironia.— Desejos são sempre concebidos no final de tudo.— — Eu te amo.— Falei ignorando qualquer coisa que ele tivesse dito, minha cabeça não estava registrando mais nada para que eu pudesse continuar tentando ficar concentrada. Andrew sabia que o sono já estava em toda minha mente, exatamente por isso que ele beijou minha testa após eu ter falado. Seus lábios encontraram lentamente minha pele, um pequeno beijo que acabou rápido demais. — Eu te amo também, cherie.— Ele sussurrou apoiando seu nariz no topo da minha testa, ficando ali até que eu realmente dormisse. *** Eu olhei para a janela do carro até que meus olhos encontrassem a nova mansão em que Lúcifer


passava seus dias de conforto. Era incrível como essa casa conseguia ser pior que a outra. Parecia que ela iria desabar com apenas um vendaval forte, isso não era certo. Ainda mais para vampiros que sempre gostavam de se mostrar. Mas Lúcifer nunca foi um vampiro normal, então ele acabou entrando na minha lista de vampiros deficientes. — Eu pensei que Emme conseguiria domar, Lúcifer.— Falei para Andrew ao meu lado, que também estava olhando para a não tão nova mansão de Lúcifer. — Acho que ele não teve o mesmo azar que eu.— Meus olhos se encontraram com os de Andrew agora, aqueles azuis tão puros de ironia poderia causar um infarto em alguém que não suportava essas coisas.— Mas eu acho que Lúcifer é como baratas, gostam de lugares velhos, úmidos e está por todo lugar como uma praga.— — Você sabe que ele provavelmente escutou isso, certo?— Eu ri. Andrew deu de ombros.— Pelo menos assim ele aprende a dar privacidade para as pessoas.— — Você é tão mau, Andrew le Boursier.— — Faz parte do meu charme, cherie.— Ele piscou e logo em seguida um sorriso ironico cresceu em seus lábios. — Ok.— Eu disse encerrando essa conversa antes que o seu ego me sufocasse dentro do carro.— Quem vai primeiro?— Perguntei. Afinal, o sol ainda brilhava lá fora e Andrew não podia me acompanhar na caminhada até a casa de Lúcifer e eu muito menos podia acompanhá-lo. — Você vai.— Eu saí do carro sem dizer uma palavra após Andrew dizer para mim sair primeiro, tomando cuidado para que todos aqueles capins não prejudicassem minhas booties de alguma maneira. Tudo bem que era impossível um capim destruir sapatos, mas ultimamente parecia que eu tinha recebido o dom para fazer isso. Na minha caminhada até a porta da casa de Lúcifer eu senti uma rajada de vento ao meu lado em questão de segundos e quando ergui meus olhos do chão, Andrew já estava protegido nas sombras perto das duplas portas da nova mansão mal assombrada do vampiro de cabelos loiros. Ele ainda estava se curando quando eu cheguei até a entrada, aquelas queimaduras que estragavam seu rosto perfeito pareciam doer. E como doíam. Mas para um vampiro com a idade de Andrew, era como se uma formiga não venenosa estivesse o picando. — As vezes sinto inveja de você...— Ele disse assim que me aproximei.— Caminhar no sol e não receber nenhuma queimadura.— — Não está perdendo nada divertido, acredite.— Andrew estava prestes a dizer algo sobre o que falei, mas antes mesmo de qualquer voz sair de sua boca, ele franziu suas sobrancelhas e olhou para a porta ainda fechada da casa de Lúcifer. Eu estava pronta para perguntar o que ele tinha escutado, mas não foi preciso... — EU VOU MATAR VOCÊ!— A voz de Lúcifer alterada soou alto o suficiente para que até mesmo eu escutasse.— VOCÊ ESTÁ DESTRUINDO TODA A MINHA CASA!— O barulho de algo encontrando o chão e se quebrando invadiu o silêncio entre mim e Andrew no minuto seguinte, por um momento pensei que Lúcifer estivesse falando com Emme daquela maneira, mas ele não teria coragem... Além do mais, ele mesmo disse que ela estava passando um tempo Hades. Andrew abriu a porta da mansão sem ao menos bater e entrou, eu estava logo atrás dele e com a minha curiosidade quase criando vida para saber o que estava acontecendo nessa casa horrível para tirar o vampiro de cabelos loiros do sério.


O que podia ser qualquer coisa, já que Lúcifer se parecia muito com Andrew quando se tratava de paciência. Nós entramos na sala onde o vampiro de olhos verdes anormais se encontrava e o mais surpreendente de tudo era que ele estava sozinho. Eu vi surpresa nos olhos de Lúcifer, pelo jeito ele não havia nos escutado chegar, mas eu não foquei minha atenção nele quando meu olhar varria cada lugar de sua velha, mas magnifica, sala. E quando meus olhos foram para Andrew, ele não estava mais ao meu lado. Na verdade quem ficou surpresa fui eu, já que o rei dos vampiros estava olhando pelo um pequeno vão entre a parede e uma estante cheia de objetos antigos.— Hey, pequena coisa linda.— Ele disse com uma voz, consideravelmente, fofa.— Por que não para de se esconder e me deixa vê-la?— — O que tem ali atras?— Eu perguntei para Lúcifer ou para Andrew, mais para o vampiro de cabelos loiros, já que a atenção do meu marido não pertencia a mim. — Você pode ter certeza que sou muito mais bonito que Lúcifer, não tenha medo.— Um pequeno ruído surgiu daquele vão, mas não um ruído que deixava o vilão de uma historia de terror com medo. Era algo meigo, fino... como um ronronar de um filhote. Eu olhei para Lúcifer e ele revirou seus olhos por causa do incentivo de Andrew para tirar o que quer que estivesse lá atras. — É a sombra de uma alma que pertence ao inferno.— Lúcifer finalmente me respondeu, ignorando totalmente Andrew ainda entretido no vão de sua estante.— Eu ganhei de Emme.— — Ela é como aquelas que Hades...?— Eu comecei a perguntar, mas Lúcifer acabou me cortando antes de terminar. — Não, essa sombra é uma criança e apenas causa mal a minha casa.— Ele resmungou a ultima parte, mas um alivio enorme passou por mim, pois aquelas sombras que Hades trouxe para salvar Emme eram assustadoras. — Por que Emme lhe daria isso?— Eu perguntei com curiosidade obvia. — É um tipo de animal de estimação, eu acho.— Andrew saio de perto daquela estante, com suas mão fechadas em volta de uma mancha negra.— Ai está você pequena, princesa.—Ele murmurou e eu comecei a sentir inveja daquela sombra que estava recebendo tanto carinho de Andrew. Aquela sombra negra saio das mãos dele e rodopiou no ar em frente do rei dos vampiros que retribuiu aquilo com um sorriso, quem diria que algo que transmitia tanta inocência seria tão atirada... — Como é o nome dela, Lúcifer?— Eu perguntei, para que Andrew parasse de chamá-la de princesa. — Eu tenho uma proposta, se você a levar embora deixarei a nomear como quiser.— — Emme ficaria furiosa com você.— Falei a primeira desculpa para me livrar dessa proposta e Emme se tornou o ponto fraco de Lúcifer, tinha certeza que ele não iria querer motivos para ela sentir raiva dele. — Como ela se chama, Lúcifer?— Foi Andrew que perguntou dessa vez e existia um certo sarcasmo na voz dele que só então notei que Lúcifer estava evitando revelar o nome daquela sombra. Talvez existisse ironia em seus olhos, mas a mancha agora estava rodopiando em volta do corpo de Andrew, se divertindo bastante quando ele movimentava seus braços para ela ter obstáculos em sua volta rapida. Isso obteve aqueles olhos azuis frios nela e não em nós. — Lulu.— Lúcifer murmurio, quase me impossibilitando de escutar, mas meus ouvidos não eram tão ruins. Dessa vez, Andrew olhou para Lúcifer. E nós dois caímos na gargalhada. — Parem com isso.— Lúcifer disse caminhando até Andrew e afastando aquela mancha negra de


perto dele.— Foi Fiemme que a nomeou.— — Claro, Lulu.— Eu disse, mas não exatamente para a sombra. — Cale a boca, chupim.— Ele resmungou com um provável mal humor.— E eu não creio que vocês estejam aqui para tratar das coisas que Emme está me fazendo passar.— Nós não estávamos, realmente. Mas Andrew ainda estava rindo e vê-lo assim era algo tão raro que eu não consegui deixar o divertimento daquilo simplesmente passar. Na verdade acho que nunca vi Andrew rir mais do que 5 segundos. Isso deveria ser considerado um problema, mas ele tinha séculos de vida e muita coisa já havia perdido a graça para ele. Talvez Andrew já estivesse cansado do simples e normal... Andrew parou de rir assim que Lúcifer lhe lançou um olhar fuzilante, sem nem ao menos dizer uma palavra, aqueles olhos verdes nem precisaram se tornarem vermelhos para ver a ameaça de morte neles. Claro que Andrew não estava com medo, mas também não pretendia deixar seu amigo com raiva.— Me desculpe.— O rei dos vampiros se recompôs, voltando a usar aquela mascaria fria e gelada que seu rosto sempre sustentava.— Nós não estamos aqui para piadas.— — Obrigado.— Lúcifer agradeceu calmamente, saindo de trás de seu sofá e passando por nós para que pudesse sair da sala.— Me acompanhem.— Olhei para Andrew pra que ele me desse alguma resposta do motivo de termos que sair da sala. Eu sabia o por que de estarmos aqui, tudo se tratava da bruxa que poderia me tornar imortal novamente, mas não entendia o mistério disso. Não seria simples apenas dizer onde ela estava nessa mesma sala? Afinal, a cada minuto que passava e fazia a noite se aproximar, mais dificil de caminhar e respirar ficava. O vampiro em minha frente não me deu nenhuma resposta, apenas deu de ombros e passou a caminhar para acompanhar Lúcifer. Ele, infelizmente, não podia ler a mente de seu amigo. Eu caminhei ao lado de Andrew até chegarmos no segundo piso da biblioteca do vampiro de olhos verdes, onde haviam menos estantes e se concentrava mais em um lugar para estudos dos livros que estavam nas estantes em baixo de nós. Em nenhum momento em nossa caminhada tive contato com Andrew, ele não pegou em minha mão ou ficou próximo de mim. Mesmo sendo estranho, talvez estivesse um pouco agradecida. Eu estava tensa, muito tensa. Ele sabia que precisava de espaços agora ou caso contrário teria um surto que nos levaria a uma discussão a ponto de realmente as coisas ficarem muito feia. Amethyst era uma inimiga, isso era obvio. Sempre fui ensinada a não correr atrás do inimigo e não estava nem um pouco tentando ser positiva em ter que encontrá-la. Andrew sabia que esse surto seria desistir do fato de ter que encontrá-la e o desejo dele não era me levar a essa ponto. Pois Andrew não tinha nenhuma intenção de desistir de se encontrar com Amethyst essa noite. Lúcifer caminhou até o outro lado da mesa em que paramos e pegou uma folha enrolada perto de alguns livros. Eu não tivesse chances de ver que livros eram pois aquela sombra, nomeada como Lulu, deu uma rasante na mesa que os derrubou dali. O vampiro responsável por ela decidiu ignorar aquilo, provavelmente para não perder o controle novamente. — Ok.— Lúcifer quebrou o silencio da biblioteca e estendeu aquela folha enorme na mesa. Ela


voltou a se fechar novamente algumas vezes, mas o vampiro loiro colocou alguns pesos nos cantos da folha antes que ela se dobrasse sozinha.— Esse é o desenho da cidade de Londres.— Meus olhos examinaram melhor aquela folha e realmente existia um desenho de Londres nela. Era um mapa muito bem feito, existia pontos de referencias que se destacavam em desenhos maiores em vez de linhas e nomes de ruas. Todas as florestas estavam com seus nomes em grande tamanho para que não passassem despercebidas. Até mesmo o enorme big ben estava desenhado. E o mais surpreendente era que aquilo tinha feito a mão. Não existiam mapas assim para vender em Londres para os turistas.— Quem fez esse desenho?— Eu perguntei, sem tirar meus olhos do mapa. — Eu fiz.— Lúcifer disse como se aquilo fosse algo super normal, mas não era normal. Eu mal sabia desenhar um passarinho em V. — Isso é incrível!— — Não fique olhando para o desenho com toda essa cara de pateta.— Lúcifer murmurou com um tom sarcástico.— Tudo em mim é incrível.— Eu revirei meus olhos. Era ainda mais incrível como amor próprio entre vampiros estava no topo de uma lista de como sobreviver durante séculos. — Calado, Lúcifer.— Andrew disse para seu amigo, caminhando para ficar do lado dele e ver aquele desenho melhor. — Mas por que um desenho de Londres?— Cortei o assunto antes que um debate entre egos começassem. Andrew não gostava de ter competidores nesse ramo, talvez fosse esse o maior motivo por ele me amar. Andrew encontrou meu olhar assim que levantei os olhos daquele desenho. Acho que ele estava me olhando há muito tempo e só agora havia notado. Eu ainda esperava pela minha reposta.— Por que Amethyst aparentemente se encontra em uma parte muito isolada de Londres, onde não existe vida humana e Lúcifer conhece aqueles lados muito bem, nós precisamos conhecer o caminho caso algo aconteça.— Corrigindo, eu precisava saber o caminho para fugir se algo acontecesse e...— Em uma parte muito isolada de Londres?— Eu perguntei assim que minha mente registrou tudo que Andrew havia dito. — Vocês estão loucos?— — Por que nós estaríamos loucos?— Lúcifer pareceu estar perdido, provavelmente ele respeitava o fato de não ler meus pensamentos. — Porque nós vamos entrar no território do inimigo, um lugar sem vida humana e que nós não conhecemos. Isso não significa nada?— Eu fiquei chocada, pois isso significava muito.— Ela pode nos matar a partir do momento que pisarmos em suas terras! Não se entra no território de uma bruxa que quase matou uma deusa!— — Bom,— Andrew começou, usando aquele tom que tinha certeza que ele diria que o que eu acabará de dizer não tinha nenhuma importância.— Nós matamos uma deusa, estamos na frente dela no placar. Talvez ela nos ame antes mesmo de me conhecer.— — Eu não estou brincando, Andrew.— — Roxie está certa sobre entrar em um lugar desconhecido, mas essa sempre vai ser a melhor chance de...— Eu joguei um olhar fuzilador para Lúcifer e ele parou de falar.— Eu acho que deixarei vocês conversarem a sós novamente.— Foi o que ele disse e começou a se mover para longe de nós, levando seu mapa junto, provavelmente com medo de que eu o rasgasse. Aquela sombra também o acompanhou, ela deveria ter sentido no ar que as coisas não estavam boas. Andrew abaixou seus olhos, mas no mesmo momento que fez isso, ele os levantou.— Nós já conversamos sobre esse assunto, Roxie.— — Nós não conversamos.— Eu rebati, realmente com raiva.— Em nenhum momento você disse


que iriamos nos afastar de toda a pouca segurança existente e entrar em um território que você não conhece. Eu posso estar exagerando, mas sabe que isso é perigoso. Ela conhece o lugar onde está, nós não. Muitos pontos para essa bruxa no placar então.— — Eu não disse nada pois não queria vê-la tendo um surto.— — Não diga que eu estou tendo um surto.— Falei, com muita vontade de jogar a biblioteca inteira na cara de Andrew.— Se estivesse tendo um surto, eu estaria indo embora.— — Você está tendo um surto, cherie.— Andrew falou em um tom mais baixo, como se estivesse lidando com uma criança. — Eu vou embora daqui.— Antes que minhas palavras saíssem, eu já tinha dado as costas para Andrew, mas isso foi o mesmo que nada, pois quando estava pronta para dar meu próximo passo ele já estava em minha frente. Ele não disse nenhuma palavra, apenas me encarou com aqueles olhos azuis frios que exclamavam poder, mas que também falava por Andrew quando mantinha sua boca fechada.— Eu estou surtando.— Sussurrei. E nesse momento, meu mundo desabou. Por algum motivo, que eu ainda não tinha descoberto, lágrimas começaram a se formar em meus olhos e nos segundos seguintes elas já estavam escorrendo por meu rosto. Fortes e quentes, como qualquer choro humano. Já havia semanas que eu não tinha chorado, isso foi um recorde devido a tudo que estava acontecendo em minha vida, mas talvez eu estivesse chorando agora por ter chegado no limite. Andrew me abraçou quando notou que eu não iria mais discutir, a magoa estava consumindo cada vez mais o meu corpo, não tinha como discutir ou parar de chorar. Eu não passei meus braços por Andrew, não fiz nenhum movimento. Talvez a sensação que o rei do vampiros estava tendo era a mesma de abraçar uma árvore. Eu estava me enganando todos esses dias que a felicidade existia dentro do meu coração. Mas isso era mentira. Havia momentos maravilhosos, que me distraiam da tristeza que consumia minha alma, mas no final do dia eu sabia que só seria feliz novamente quando fosse imortal, pois antes disso se tornar realidade, apenas traria problemas para mim mesma e para as pessoas ao meu redor. E pra piorar, pessoas que eu amava acreditavam cegamente que nossa melhor chance era se encontrar com uma bruxa que quase matou todos nós a alguns meses atrás. Ninguém, além de mim, considerava o quão perigoso poderia ser isso, isso era o que mais me deixava com vontade de chorar. Nem mesmo Iawy que sempre considerei como inteligente lembrou da possibilidade de alguém morrer nessa missão de me tornar imortal nessa noite. Todos estavam cegos por isso. — Cherie.— Andrew sussurrou, finalmente dizendo algo depois que comecei a chorar. Eu senti ele deslizando seus dedos ao longo dos meus cabelos que batiam contra minhas costas e só então tomei uma atitude para levar minhas mãos nas laterais da cintura de Andrew, o segurando por sua camisa sem fazer nenhuma força.— Eu não quero levar meu melhor amigo e a mulher que amo para um lugar em que coisas ruins podem acontecer, mas mesmo assim eu estou aceitando isso e acreditando de que tudo vai dar certo. Eu prometo para você que ninguém vai sair machucado, mas está ficando


difícil para acreditar quando você não tem nenhuma fé em mim.— — Eu não quero te perder, Andrew.— — Isso nunca vai acontecer.— Ele segurou minha cabeça contra seu peito, acariciando minhas costas com sua mão que me segurava perto do seu corpo.— Pare de pensar em coisas ruins, cherie. — — O que você quer que eu pense?— Eu perguntei manhosamente. Meu choro já estava se tornando controlável, então não havia mais motivos para continuar tratando Andrew como culpado de tudo. — Hum...— Ele soou como se estivesse pensando.— Eu não sei, talvez devesse pensar o quanto eu sou lindo e maravilhoso, isso é um bom começo.— Eu ri, era um riso mais nervoso do que algo feliz, mas era uma boa coisa no final de tudo.— Sim, isso é um bom começo.— Sussurrei. — Nós vamos ficar bem.— Andrew disse com toda a certeza do mundo.— Mas caso nada de certo, nós não vamos enfrentar nenhuma novidade. Nos últimos anos nós estamos lidando com muitas pessoas loucas, Amethyst apenas entrará para essa lista.— — Você não brinca com a morte, Andrew, o que você faz é dar uma rasteira nela e a desafiar para um duelo.— Andrew sorriu, eu não estava olhando para ele, mas sabia que um sorriso ironico havia crescido em seus lábios. — Se eu não fizesse isso, provavelmente seria um idiota e não arrancaria nenhum suspiro feminino. — Ele disse com o tom que combinava perfeitamente com seu sorriso.— Seria deprimente.— Eu revirei meus olhos por causa disso. O único suspiro feminino que ele deveria se preocupar era com o meu e não com os de outras mulheres... Mas esse era Andrew, ele provavelmente cometeria suicídio se algum dia entrasse em um lugar e alguma mulher não o olhasse com aqueles olhos de quem desejava ele em sua cama. Eu me afastei e Andrew não negou isso, meus olhos encontraram aqueles azuis frios que eram muito mais bonitos que um oceano no inverno.— Eu estou bem agora. Você pode chamar Lúcifer. — — Hey.— Andrew chamou minha atenção quando meus olhos desviram dele.— Não esqueça que você é minha vida, cherie.— — Eu nunca poderia esquecer, Andrew.— Ele sorriu com minha resposta, uma resposta que não era nenhuma novidade. E como se Lúcifer estivesse ouvindo nossa conversa, o que era de fato uma verdade, ele surgiu no topo da escada segurando o seu desenho como se aquilo valesse ouro.— Acho que agora nem eu ou meu desenho tem perigo de ser resgado ao meu.— Ele disse com aqueles olhos verdes em mim, provavelmente falando aquilo por causa do meu mal humor. Mas eu não tinha culpa, era apenas uma humana. Talvez essa fosse a desculpa mais constantes que todos os humanos usavam, mas era pura verdade. Acabou que durante todo o resto da tarde Lúcifer ficou me explicando vários modos de fugir do local que iriamos nessa noite. E assim eu tive certeza que aquele mapa foi feito por minha causa, caso Andrew ou Lúcifer não pudessem me ajudar, as ordens eram simples: fugir. E nada melhor do que ficar estudando aquele desenho que Lúcifer havia feito durante toda a tarde. Eu realmente fiquei impressionada em Lúcifer ter feito um mapa especial para mim, mas ficaria muito feliz se ele tivesse feito um desenho meu ou algo que me agradasse, não um mapa que era o plano B se algo ruim acontecesse. — Você tem certeza de que vai nos acompanhar, Roxie?— Lúcifer perguntou, apoiando suas mãos na mesa quando terminou de enrolar aquela folha. — E você tem?— Eu perguntei, não lhe dando uma resposta exata. Não tinha como dar uma


resposta exata, ninguém tinha certeza do que estava fazendo mais. — Eu quero vê-la feliz novamente, então acho que tenho certeza.— Ele me respondeu e conseguiu tirar um sorriso meu. Apesar de Lúcifer fazermos todo aquele teatro de que nos odiávamos, ele era um bom amigo... quando Andrew não estava por perto. Depois de alguns segundos em silencio, eu decidi responder a pergunta de Lúcifer, pois ele merecia devido a resposta que recebi.— Eu não quero ir, mas não quero que Andrew faça algo estúpido apenas para me tornar imortal novamente, então...— — Você não tem escolhas.— Lúcifer completou minha frase. — Sim.— Disse em um suspiro.— Eu não tenho escolhas.— Por mais estranho que fosse, parecia que Lúcifer entendia o motivo de eu desejar acompanhá-los. Eu nem perguntei o motivo dele ir conosco, pois era obvio. O vampiro de cabelos loiros era como um carrapato de Andrew, ele nunca permitira seu melhor amigo se envolver em algo ruim sem estar junto. — Emme sabe que você irá se encontrar com a bruxa que tirou a imortalidade dela?— Eu perguntei, não podendo acreditar que Emme havia permitido que Lúcifer fizesse algo como isso. — Na verdade, ela não sabe.— — Sério?— — Bom,— Lúcifer começou sua explicação.— Ela não pode ficar se comunicando comigo quando está no mundo dos deuses.— — Eles não podem saber que existe um romance entre vocês, certo?— — Sim.— Lúcifer concordou.— Eles podem saber que eu sou uma aventura de Emme, que não durará mais do que alguns dias, mas se descobrirem que ela realmente está me amando as coisas vão ficar ruins. O maior motivo de deuses não se relacionarem com criaturas sobrenaturais é por que os segredos deles não podem ser revelados, isso é como um tipo de crime que a levaria a sentença de morte.— — Isso é ruim.— — Por mais que odeie ficar sem ela durante dias ou até semanas, eu sempre gostei de coisas complicadas.— Lúcifer disse em um tom em que colocava o desafio apenas como uma brincadeira. — Mas Emme não.— Eu disse e isso pareceu ser o ponto fraco desse relacionamento. E uma pessoa tão maravilhosa como Emme, não merecia isso. Nem Lúcifer que demonstrava ser tão fofo e lindo em um relacionamento quando estava amando. — Nós estamos lidando com as dificuldades desse relacionamento aos poucos, apesar de não tê-la sempre ao meu lado, não é só isso que nos causa problemas. Fiemme é muito diferente de mim e isso não é fácil.— Oh, com certeza Emme era diferente. Ela poderia ser classificada como uma santa em quanto Lúcifer o próprio diabo.— O amor é uma droga maravilhosa, Lúcifer.— Foi o que disse no final de tudo. Ele riu, me pegando de surpresa.— Bota uma droga nisso.— — Hades sabe que você e Emme estão juntos de uma forma não irmãos?— Perguntei sem nenhuma cautela, recebendo o olhar de Lúcifer. Aqueles olhos verdes com brilhos de esmeraldas, mas que eram de uma cor do tipo que parecia que uma selva havia sido pintada alí, eram hipnotizantes. — Ele sabe. E o mais estranho de tudo é que nos ajuda a esconder nosso relacionamento.— — Isso que eu chamo de um pai moderno.— O provoquei com um sorriso. — Calada, chupim.— Meus olhos viajaram para a janela que estava próxima de nós, nos próximos minutos a noite já teria chegado nos céus de Londres e exatamente por isso que Lúcifer havia ganhado o meu silencio, mas não por ter pedido. O nervosismo já estava começando a ficar pior dentro da minha mente. Eu olhei para Lúcifer novamente, mas ele não estava nem ao meu lado mais. O vampiro apenas


estava recolhendo os livros que sua sombra de estimação havia derrubado.— Eu vou ir atrás de Andrew.— Falei. Lúcifer não disse nada sobre isso, talvez ele também estivesse estranhando o pequeno sumiço de seu amigo. E como ficar sem Andrew muito tempo sem estar perto de mim era algo anormal, não fiquei nem um pouco preocupada em abandonar Lúcifer para ir atrás do rei dos vampiros. Saí da biblioteca e caminhei pelo corredor lentamente, não fazendo ideia para onde iria procurar por Andrew. A outra mansão de Lúcifer eu conhecia um pouco, mas essa não. Eu nem ao menos sabia como chegar até a sala que estavamos. Andrew. Eu chamei seu nome por meus pensamentos, em quanto subia uma escada que provavelmente me levaria até os quartos dessa casa. Por um momento eu fiquei feliz por Lúcifer estar na biblioteca e completamente vestido, pois a última vez que estava a procura de alguém e o vampiro de cabelos loiros estava por perto, acabei presenciando uma cena muito intima que jamais desejava ter visto. O único sexo que me interessava era o meu e pegar pessoas cometendo o ato era traumatizante. Talvez eu fosse uma pessoa estranha... A maioria das criaturas sobrenaturais ou humanos sempre apreciavam assistir canais mais pesados quando um homem e uma mulher estavam juntos ou até mesmo ao vivo, mas eu era diferente. Meu deus, havia conseguido ficar mais de 300 anos sem que alguém me tocasse. Claro que houveram outros homens que me beijaram, mas não passava disso. Toda vez que a hora H chegava, eu acabava desistindo e indo embora. Eu estava feliz por isso, pois no final de tudo Andrew se tornou único em minha vida de todas as maneiras possíveis, mesmo isso sendo algo estranho, estava bem com o fato ter conseguido ficar mais de 300 anos sem precisar de homens. Bem, se eu era uma aberração por causa disso, era uma aberração feliz pelo menos. Em quanto caminhava, escutei um riso vindo de trás de uma porta do corredor que eu estava. Era obvio que esse riso pertencia a Andrew, pois ele era o único que ria dos meus pensamentos as vezes. Sem pensar duas vezes, abri a porta do quarto. E acabei ficando surpreendida, pois não havia nenhuma mobília dentro daquele comodo. Ele estava apenas coberto com plásticos no chão e nas paredes. A única parede que estava sem nada estava pintada em um azul bem clarinho e havia desenhos de nuvens que pareciam ser reais. Lúcifer estava pintando aquilo. — Ele está pintando o céu para Emme.— Andrew disse em um tom tão calmo que consegui deixar a beleza daquele desenho para olhar o vampiro, também observando aquela pintura que quando estivesse finalizada seria comparada apenas com coisas lindas. — Você devia começar a responder quando o chamo, não ficar se divertindo com meus pensamentos.— O repreendi, sem nenhuma raiva. — Eu gosto de esconde-esconde, cherie.— Seu tom foi ironico.— Você se esqueceu?— Eu revirei meus olhos por um momento, era sempre impossivel lidar com Andrew e suas respostas. O melhor era ignorar a maioria das coisas que ele dizia. — Já está escurecendo, Andrew.— Disse para ele o obvio. Havia janelas pelo quarto, não era preciso ter falado, mas eu sabia que Andrew estava se perdendo em seus pensamentos, então era melhor tirá-lo desse mundo. — Você não irá perguntar no que estou pensando?— Ele perguntou um pouco surpreso, essa era a pergunta que eu sempre fazia quando ele se isolava.


— Eu acho que já deveria ter dito no que está pensando sem gastar saliva fazendo essa pergunta.— Andrew se virou em minha direção, seus olhos azuis se encontraram com os meus rapidamente e um sorriso irônico cresceu em seus lábios.— Eu estava pensando que também estou feliz por você ser uma aberração.— Eu ri por um segundo, meu cérebro não permitiu que esquecesse o que estávamos prestes a fazer nessa noite para que pudesse realmente rir.— Privacidade existe, sabia?— — Oh, eu amo ouvir seus pensamentos... Eles são divertidos.— — E eu amo quando você não pensa muito.— Decidi ignorar o fato dele viver sempre dentro da minha cabeça.— E é exatamente isso que está fazendo fechado sozinho em um quarto.— Eu sabia que Andrew estava com medo de me perder, de que nada desse certo, então do mesmo jeito que ele me tira da escuridão, mesmo que seja a tapas, eu iria fazer o mesmo que ele. Não deixaria que esse medo o consumisse. — Pensei que você odiasse quando ajo por impulso.— — Você sempre age por impulso, Andrew, mas algumas vezes precisa ser barrado para não fazer tolice.— Ele sorriu, um sorriso sincero.— Eu fico feliz em ouvi-la dizer coisas que provam o quanto me conhece.— Eu me aproximei de Andrew e apoiei minhas mãos em seu peito, permitindo que meus dedos sentissem cada músculos que existiam de baixo da camisa daquele vampiro tão velho que era considerado como uns dos originais de sua raça.— É meu dever conhecer aquilo que me pertence. — Sussurrei. Andrew usou suas mão para tirar meus cabelos de perto do meu rosto, os colocando para trás ao mesmo tempo que erguia minha cabeça para que meus olhos encontrassem com os deles.— Eu poderia lhe beijar agora,— Ele disse serenamente.— mas isso iria parecer como um beijo de despedida.— — Que tal um beijo de boa sorte?— Eu disse com um sorriso interesseiro. Era quase inacreditável que Andrew negaria um beijo para mim. — Eu não preciso de sorte quando sei que tudo vai ocorrer muito bem.— Ele disse aproximando seus lábios dos meus e os tocando uma única vez, em um leve movimento. Eu busquei por mais, mas Andrew afastou seu rosto do meu.— Nós vamos nos beijar muito mais ainda nessa noite, você não precisa de um beijo agora.— Ele se afastou completamente após falar, me deixando com uma expressão um pouco incrédula. Nesse exato momento eu gostaria de saber o que havia acontecido com o meu marido, pois Andrew le Boursier jamais negaria um beijo para mim. — Você é mau.— O acusei quando passou por mim e virei para não ficar de costas pra ele. — Apenas estou lhe dando um motivo para voltar viva.— Andrew disse em um tom sarcástico. — Eu vou matá-lo, Andrew.— — Oh!— Aquilo saio tão irônico que podia me machucar.— Eu estou morrendo de medo, Roxanny.— Eu corri até Andrew quando ele se virou para sair do quarto e pulei em suas costas, o segurando pelo pescoço para que meu salto não tivesse sido em vão. Ele me segurou por minhas pernas quando as coloquei nas laterais de sua cintura, para que eu não caisse.— Você vai me matar agora? — Ele perguntou fingindo descrença.— Não podemos deixar isso para depois?Eu estou um pouco ocupado no momento.— Eu ri por alguns segundos, mas isso passou quando cravei meus dentes na pele fria e macia do pescoço de Andrew. Eu não o mordi forte, mas usei um pouquinho de força a ponto de fazê-lo soltar um pequeno gemido. Um gemido que não tinha nada haver com a dor, aquilo não era o tipo de coisa que machucava um masoquista nato. Eu sorri por causa disso e então tirei meus dentes de sua pele e o beijei naquela parte em que havia


deixado a minha marca, a marca que sumia conforme os segundos passavam.— Eu acho que nos temos que ir agora.— Sussurrei com um pouco de medo de estarmos perdendo muito tempo. Eu me livrei das mãos de Andrew que me seguravam fora do chão e quando meus pés encontraram o plastico que protegiam aquelas madeiras antigas de serem tingidas, caminhei em volta do rei dos vampiros até que estivesse em sua frente. Minha mão viajou de encontro até que estivesse no rosto de Andrew, eu o toquei levemente, como se sua pele fosse me dar um choque apenas por acariciá-la.— Não faça nenhuma besteira, por favor. — Eu quase implorei, pois não tinha esquecido do fato que Andrew poderia fazer qualquer coisa para me tornar imortal novamente. Em resposta, ele apenas sorriu em silencio, era dificil saber o que aquele sorriso significava, mas era exatamente por isso que eu estava o obrigando a me levar junto nessa pequena viagem para encontrar Amethyst, para cuidar dele. Andrew sempre me protegia de todos os males que podiam existir no mundo, estava na hora de eu fazer o mesmo, a diferença era que estaria o protegendo dele mesmo.


03A última coisa que uma bruxa que lidava com magia negra esperava de dois vampiros tão antigos como Lúcifer e Andrew, era que eles chegassem de carro no território dela. Na verdade, creio eu, que nenhum dos dois imaginava isso... Mas eles não podiam me culpar, eu não tinha uma velocidade sobrenatural para percorrer Londres inteira até estar nesse fim de mundo totalmente desconhecido para mim. E quando eu dizia fim de mundo, realmente era isso. Parecia que um apocalipse havia passado nessa parte da cidade. Conforme mais longe nós ficamos da vida humana, depois de horas em um estrada com campos em ambos os lados, chegou uma hora que o asfalto acabou e nós tivemos que encarar uma estrada de terra e cheia de buracos. Isso era de enlouquecer, nem mesmo o radio ou o celular funcionavam mais. E foram essas coisas que provaram que Amethyst era louca, nós estavamos em pleno século XXI e essa bruxa vivia em uma parte isolada de Londres, onde nem ao menos existia área para aparelho eletrônicos. Lúcifer estava no banco da frente com Andrew, em quanto eu, fui obrigar a ficar atrás deles, e quando o vampiro desistiu de encontrar alguma estação de rádio que funcionasse, ele desligou o aparelho e se jogou em seu banco. — Se é tão irritante ficar sem essa caixa de som, eu posso cantar para vocês.— Andrew falou sobre o silencio que chegou entre nós depois que aquele zumbido foi desligado. — Você não precisa me torturar tanto assim, meu rei.— Lúcifer disse em lamento.— A única coisa que me mantinha distraído dos pensamentos de Roxie era essa caixa de som irritante. E acredite, a mente dela é ainda mais irritante do que essas musicas estranhas desse século.— — Cale a boca, Lúcifer.— Eu disse quando Andrew deixou me auto defender, na verdade o rei dos vampiros jamais me defendia quando era Lúcifer me fazendo como um centro de piadas. — Com o tempo você se acostuma, Lúcifer.— Andrew sussurrou para seu amigo e esse foi o único motivo que me fez chutar o banco de Andrew. Ele deu um pequeno solavanco para frente, mas nada disso prejudicou como um motorista. Mas acabou que Andrew parou o carro em uma brusca freada, por um momento pensei que foi minha culpa por ter chutado o seu banco, mas quando ergui os olhos percebi o real motivo por ele ter parado. Nós havíamos chegado no final da estrada de terra e em nossa frente estava o inicio de uma floresta, que parecia ser enorme, mesmo eu não a vendo por cima para dizer isso. — Isso não está certo.— Andrew murmurio em quanto tirava o cinto envolta de seu corpo e abria a porta do carro para sair. Meus olhos foram diretamente para Lúcifer que estava com seus olhos fixos na escuridão da floresta em nossa frente. O vampiro de cabelos loiros não mostrava nenhum sinal de movimento, no


momento ele parecia uma estatua perfeita. O que não estava certo, afinal? Era a estrada que não deveria ter acabado e uma imensa floresta ter aparecido? Eu desejava perguntar isso a Lúcifer, mas antes que pudesse dizer qualquer palavra, pelos cantos dos olhos eu vi um vulto preto passar pelas árvores da escuridão da floresta. Aquela sombra negra foi tão rápida que eu nem ao menos pude identificar o que era. No outro lado, eu vi o reflexo de outro vulto passando. E quando olhei para trás, não existia mais estrada, nós estávamos completamente dentro daquela floresta escura e toda seca. Uma floresta que não deveria ser chamada assim, pois não havia folhas verdes nas árvores, não havia nada verde ou colorido, apenas flores e folhas secas pelo chão, árvores peladas e velhas. — Lúcifer, o que está acontecendo?— Eu choraminguei baixo, pois aquilo estava me assustando pra caramba, eu vi a estrada quando paramos e de repente nós estávamos no meio do nado com vultos que passavam por nós. O vampiro que ainda estava no carro não me respondeu, ele estava tão fixado no que provavelmente estava me preocupando que nem ao menos devia ter ouvido, mas após segundos se passaram, ele reagiu.— Andrew, entre no carro.— Ele ordenou para seu amigo, que também parecia uma estatua do lado de fora, se virando algumas vezes para acompanhar aqueles vultos que nos rodeavam. Andrew se virou para o carro e estava voltando, exatamente como seu amigo havia pedido. Mas ele nunca teve a chance de poder entrar novamente. Um daqueles vultos tomou coragem o suficiente para sair da proteção daquelas árvores em torno da escuridão e saltou rapidamente em direção de Andrew. Aquilo, um licantropo, havia derrubado o rei dos vampiros e ambos foram de encontro ao chão quando Andrew o segurou para tentar torcer o pescoço daquele enorme lobo tão negro quanto a noite. — Não!— Eu gritei quando tudo isso ocorreu, batendo no vidro fechado, quando não consegui abrir a porta. Meu desespero apenas aumentou quando mais um lobo surgiu e foi para cima de Andrew.— Andrew! Lúcifer ajude ele!— Não era lua cheia, não existiam lobos desse tamanho e era impossível ser um licantropo. Mas seja lá o que fosse, estavam atacando Andrew de uma maneira que estava o deixando em desvantagem. Meu desespero aumentou, um nó em minha garganta se formou e eu tentei sair do carro quando abri a trava de segurança, mas antes mesmo que pudesse abrir a porta, um puxão pelo meu braço me fez cair no chão. E então o teto começou a vir de encontro comigo. Haviam mais dois lobos em cima do carro, rosnando e cavocando o teto para atacar Lúcifer e eu. Lúcifer estava chutando a frente do carro para que formasse uma nova saída já que todas as portas estavam sendo esmagadas com o peso daquelas feras em cima do carro. Mas mesmo o vampiro loiro tentando fazer o possível para nos tirar de dentro do carro, isso não poupava os meus gritos. Os cacos das janelas explodiram e vieram diretamente para o meus rosto, me dando vários cortes superficiais.


Outro estrondo aconteceu e eu pude ver que outro lobo havia saltado no capo do carro e com apenas uma patada ele conseguiu quebrar o restando do parabrisa para atacar Lúcifer. Lúcifer o acertou com seu punho em seu focinho, o que fez aquela enorme fera negra se afastar por alguns segundos e deu vantagem para Lúcifer finalmente sair do banco de passageiro e saltar em cima do lobo. E eu continuei no carro, gritando ainda mais quando um daqueles lobos conseguiu rasgar o teto o suficiente para que uma de suas patas invadissem o interior do carro. Ele tentava me arranhar com suas garras, tentava me alcançar e somente ficava mais desesperado para que isso acontecesse a cada vez que eu gritava mais. Eu não podia ver mais Andrew e nem Lúcifer, mas eu os ouvia. Ouvia os rosnados dos lobos que estavam os atacando, ouvia os barulhos de uma luta e isso deixou claro que eles não podiam me ajudar agora. Eu tinha que agir por conta própria. Por puro impulso, sem ao menos pensar se aquilo podia me machucar, eu chutei a pata daquele lobo e continuei chutando até que aquelas garras ficassem longe de mim. Eu ganhei mais alguns arranhões por causa daquilo, mas também ganhei tempo em minha vida até que alguém me tirasse desse carro que estava virando uma lata pequena até mesmo para sardinhas. Mas o pouco tempo que eu tive de vitória, acabou passando quando o outro lobo que estava no teto pulou para o capô e começou entrar pelo parabrisa, minha sorte foi que o carro estava todo esmagado devido ao fato de dois lobos enormes terem estado em cima do teto, então não havia espaço suficiente para ele entrar. Mas ele estava insistindo nisso e o espaço que precisava para entrar começou a se formar. Eu continuei a gritar pelo desespero em que me encontrava, continuei a chutar as garras daquele lobo para longe de mim, o que tornava cada vez mais dificil, pois o teto estava a cada segundo mais próximo de mim. E o lobo no parabrisa também. Desistindo de chutar a pata e as garras daquele animal para longe, eu comecei a chutar a lateral do carro diversas vezes para que ela me desse uma passagem, mas o difícil era saber se era mais seguro ficar no carro ou lá fora. Eu não sabia, mas ficar dentro daquele automóvel esmagado por feras, estava me dando agonia. Eu continuei chutando a lateral do carro, não me importando que aquilo machucasse ainda mais as minhas pernas, que provavelmente já estavam sangrando devido aos arranhões que havia recebido quando estava chutando o lobo.— Andrew!— Eu gritei o nome dele, não conseguindo mais segurar o choro que estava em minha garganta. O lobo do parabrisa avançou assim que gritei e ele quase mordeu meu braço. Se eu não tivesse afastado. Eu estava no chão do carro e não havia muitas opções para me mover, mas teria que dar um jeito, pois aquele lobo já estava quase dentro do carro. Mas antes que ele tivesse qualquer progresso, Lúcifer puxou o enorme animal negro para longe do capô. Lúcifer estava completamente sujo de sangue, parecia que suas roupas haviam sido jogadas em uma piscina com sangue. Ele também estava machucado, mas todos os seus hematomas estavam sumindo com o tempo. Ver isso foi um alivio, pois se nenhum daqueles hematomas estivessem


sumindo, significaria que Lúcifer havia sido mordido e isso poderia causar sua morte. Se esses animais fossem licantropos, claro. Pois a ideia de que não era lua cheia, não saia da minha cabeça. O lobo que Lúcifer havia puxado do capô tinha desistido de me atacar, agora seu ponto de destruição era o vampiro de cabelos loiros. Mas o lobo que ainda cavocava o teto com suas garras estava fazendo daquele buraco que entrava sua pata cada vez maior. Outro estrondo veio de cima do carro e a frente dele afundou ainda mais, acabando com o espaço que o enorme lobo fez para tentar chegar até mim. Eu pensei que era outro lobo em cima do carro, pensei que pudesse ser Lúcifer... Mas não era nenhuma dessas opções. Assim que o braço daquele animal caiu sobre mim e seu sangue jorrou sobre minhas roupas, eu tive certeza de que era Andrew. Eu podia ter vomitado por causa daquele braço felino ter caido junto com seu sangue em cima de mim, mas no momento a felicidade estava me consumindo por ter sido salva desses dois animais horrorosos. Quando o restante do teto foi arrancado, revelando o rosto de Andrew, eu finalmente consegui me mover um pouco, mas para sair de dentro daquele carro esmagado somente ele pode me ajudar. Andrew se agachou e segurou minha mão que estava estendida, também segurou em minha cintura com sua outra mão quando teve mais acesso ao meu corpo e nos segundos seguinte, eu estava segura em seus braços. Eu não ousei colocar meus pés no chão, pois nós dois ainda estávamos em cima do carro e ali não havia muitos lugares para se pisar. — Me desculpe por ter demorado tanto.— Andrew murmurio, me apertando ainda mais contra o seu corpo com roupas completamente sujas. Eu o segurei por sua nuca o mais forte que pude, minha respiração alterada e pesada podia fazer qualquer pessoa imaginar que dentro do carro não havia ar suficiente para mim. Minha cabeça automaticamente se balançou negativamente devido ao que ele tinha dito, ter demorar um pouco era muito melhor do que nunca ter aparecido. — Eu estou bem.— Sussurrei, beijando a curva de seu pescoço. Meus lábios encontrando aquela pele gelada e pálida tremeram de agonia, eu havia ficado tão assustada quando aquele lobo o derrubou no chão que havia esquecido o quão forte Andrew era. Por um longo momento eu e Andrew esquecemos a presença de Lúcifer logo a baixo de nós, para mim estar nos braços daquele vampiro que roubou meu coração a seculos atrás em uma hora que o perigo tinha gritado tão alto, a ponto de deixar qualquer um surdo, estava fazendo com eu esquecesse de tudo ao nosso redor. Na verdade nem ao menos sabia se Lúcifer estava vivo, eu deveria parar de ser tão egoísta... Mas considerando o fato de que as vezes Andrew amava mais Lúcifer do que eu e o rei dos vampiros ainda estava me tendo em seus braços... Sim, o vampiro de cabelos loiros estava respirando, então eu podia continuar a ser egoista. Andrew se afastou um pouco, segurando meus cotovelos depois que me colocou em um lugar do teto do carro que fosse seguro. Seus olhos azuis passaram por todo o meu rosto, por todo meu corpo


e um sinal claro de preocupação surgiu neles.— Você está machucada.— Ele disse aquilo como se eu estivesse morrendo. — Apenas cortes superficiais.— Sorri. Por um momento eu olhei por cima dos ombros de Andrew e não existia mais nenhuma floresta bloqueando nossa passagem e quando olhei para trás, lá estava a estrada de terra que percorremos por horas, sem nenhuma floresta velha e seca em volta de nós. Isso era assustador.— O que aconteceu?— Andrew estava prestes a me dar uma resposta sobre o que eram aqueles lobos, como uma floresta apareceu em volta de nós, quando não entramos em nenhuma. Mas antes mesmo que o vampiro pudesse abrir a boca, o seu amigo nos interrompeu. — Pessoal?— Lúcifer nos chamou e quando ele recebeu meu olhar, o vampiro loiro estava dando passo para trás até estar próximo do carro. Meu olhar foi diretamente para os cincos corpos de lobos que estavam ao nosso redor, pensando que eles poderiam estar voltando a vida, mas não era isso que preocupou Lúcifer. Saindo do meio das árvores que se encontravam ao lado da estrada de terra, um lobo maior do que aqueles que tinha nos atacado passou a sair do meio delas. Aquele lobo era a maior fera que eu já havia visto em toda minha vida, seus pelos negros e olhos vermelhos apenas pioravam essa imagem. Andrew ficou tenso ao meu lado, provavelmente se preparando para atacar aquele monstro. Mas aquele licantropo não rosnava ou fazia algo que demonstrava que iria nos atacar, apenas estava caminhando para perto de nós. E em seus olhos, eu tive impressão de que ele estava rindo. Eu olhei para suas enormes patas e foi ai que me surpreendi. Uma fumaça negra estava rodeando aquelas, quase não visíveis, patas enormes. E aquela fumaça negra começava a subir ao redor de seus braços, de seu peito, até que estivesse ao redor de todo o seu corpo, não nos permitindo ver nada além dela. Até que um corpo humano surgisse. Uma mulher surgiu daquelas fumaças, para ser mais especifica, uma mulher que há alguns minutos era um lobo enorme e de olhos vermelhos. E essa mulher se vestia exatamente como se estivesse nos anos 40. Aquele vestido totalmente negro e de seda que era extremamente agarrado da sua cintura para cima, em quanto ao saiote que ia até um pouco abaixo de seus joelhos, era tão largo que ela poderia girar e todo ele se levantaria perfeitamente. Só faltou as luvas negras até seus cotovelos para ter sérias duvidas se eu estava mesmo no ano que pensava que estava. O lobo... Ela. tinha cabelos lisos e negros como o pelo da sua antiga forma, sua pele não era tão pálida com o normal de criaturas sobrenaturais, essa mulher era tão delicada que poderia ter sido um personagem de conto de fadas, mas ai vinha o porém... Os seus olhos não eram normais, eram como os humanos colocavam os dos vampiros em filmes antigos. Irís azuis tão claros que poderiam ser confundido com branco e sua pupila era tão negra quanto a cor de seu cabelo. Eu poderia confundir ela como humana, se não fosse pelo seus olhos e o pequeno fato de que a alguns minutos atrás ela era uma loba. — Amethyst.— Andrew disse uma única palavra que fez meus pelos se arrepiarem... Então a minha ficha caiu, eu estava finalmente conhecendo uma bruxa... Uma bruxa que lidava com magia negra.


Ela sorriu ao seu nome ser mencionado, seus dentes perfeitos e aquele sorriso delicado poderia ser uma armadilha para homens. — Eu estou impressionada.— Ela disse com um sotaque inglês que acabou entregando sua origem. — Pensei que iriam morrer antes mesmo que chegasse até aqui para me divertir.— Seu tom foi mortal, até mesmo para Andrew. — Não se preocupe, nós nos divertimos com seus cachorros, posso te contar tudo detalhadamente. — Lúcifer disse, apesar dela ser perigosa, isso parecia não incomodar ele. — Eu tenho certeza que sim.— Amethyst nivelou seu olhar entre Lúcifer e Andrew.— Apesar que posso trazer dragões para brincar... Eu amo dragões.— Dragões? Minha mente auto se perguntou... Dragões aparentemente não existiam. Eu acho. Mas tudo se tratava de magia, minha mente me lembrou, até mesmo os lobos foram gerado por magia negra... — Não se preocupe com o nosso divertimento, não viemos lhe encontrar para brincar.— Andrew disse finalmente, era dificil saber quem iria ganhar essa competição de ironia e frieza. O vampiro também passou seus por mim e trouxe meu corpo para mais perto do seu, provavelmente ele estava fazendo isso para nos tirar de cima do que antigamente chamávamos de carro. Na verdade eu tinha certeza que ele estava fazendo isso, pois Andrew não iria começar uma sessão de agarramento na frente de Amethyst. Tudo que fiz foi passar meus braços por seu pescoço e respirar fundo, já que sempre que Andrew saltava comigo junto, o enorme frio em minha barriga, desde que me tornei humana, nunca parecia se acostumar estar longe do chão. — Nós precisamos da sua ajuda.— Andrew voltou a falar novamente após estar no chão comigo, dando passos pra ficar a frente de mim e Lúcifer para encarar Amethyst. Além de estarmos frente a frente com o inimigo, nós estávamos pedindo ajuda para uma pessoa que possuía uma tatuagem escrito PERIGO em sua testa. Uma tatuagem com muito brilho e purpurina. Se estávamos ferrados? Com certeza sim. ___________________________ As sobrancelhas de Amethyst se elevaram em surpresa, apesar de toda sua arrogância, ela não esperava que Andrew falasse isso.— Eu tenho que admitir que estou surpresa.— Ela disse caminhando para ficar mais próxima do rei dos vampiros.— Não é todo dia que dois vampiros antigos e uma humana veem direto para o meu encontro.— Seu olhar estava preso em mim.— Na verdade já faz meses que não vejo um humano.— Ela sorriu diabolicamente. Amethyst sabia com quem estava lidando. Ela sabia quem era Lúcifer e mesmo assim brincava com fogo, ou talvez fosse todos nós brincando com fogo. — Sim, concedendo feitiços para humanos você quase nos matou e blá blá blá.— Andrew disse sem paciência.— Grande coisa.— — Eu poderia matá-los agora com apenas um pensamento,— Ela confessou.— mas pela primeira vez depois de séculos estou interessada.— — Você vai nos ajudar?— Eu me intrometi na conversa, pensando o quão certa eu estava por ela ser louca. Como alguém como essa bruxa seria tão facil de lidar, afinal? — Eu disse que estou interessada, não que irei ajudá-los, humana.— — Eu me chamo Roxie.— Disparei com arrogância, recebendo olhares repreensivos de todos que estavam ao meu redor. Eu não tinha culpa. Se essa bruxa sabia ser afiada, eu também sabia. Mas estar em silêncio voltou a ser minha prioridade, não queria irritá-la. Afinal, se sem ao menos fazer algo ela quase nos matou, eu não gostaria de saber o que Amethyst faria se ficasse brava. — Atrevida.— A bruxa me provocou, mas com seus olhos em Andrew.— Eu gostei de sua esposa. —


Amethyst se aproximou dele, quebrando quase todos os espaços que existiam entre eles.— Eu gosto dela também.— Ele disse assim que a feiticeira passou a caminhar ao seu redor, o medindo com seus olhos quase brancos. Andrew não moveu nenhum músculo, apenas deixou que ela caminhasse em sua volta.— Muito.— Ele adicionou para completar sua frase anterior, Amethyst voltou a ficar de frente com o rei dos vampiros, com um olhar um tanto curioso e divertido. Eu não resisti e revirei os meus. Será que algum dia uma mulher poderia agir educadamente quando Andrew estivesse presente? Isso era pedir demais? Ela também olhou para Lúcifer que estava em silêncio, talvez planejando como torturaria e mataria essa feiticeira depois que ela nos ajudasse. Isso era cruel, mas eu iria sugerir para ele arrancar os olhos dela primeiro pelo modo que mediu Andrew. — Eu estou ouvindo vocês, não me façam ficar entendiada.— Andrew olhou para mim, seus olhos azuis encontraram com os meus rapidamente antes dele se virar para encontrar aqueles olhos anormais de Amethyst. Eu respirei fundo, começando a contar até 10 para ficar calma. Eu não sabia se isso funcionava exatamente, mas era uma boa coisa para distração. — Roxie era uma vampira,— Andrew começou.— mas agora é apenas uma mortal e eu desejo transformá-la em imortal novamente, mas não posso usar qualquer raça sobrenatural para fazer isso, pois ela pode morrer. Os deuses também se recusam a nos ajudar, eles dizem que já fizeram o máximo que podiam para deixá-la viva, a transformando em humana novamente.— — Deuses.— Amethyst falou aquela palavra trincando os dentes, como se estivesse sendo exorcizada. — Nós pensamos que magia negra poderia nos ajudar.— Lúcifer saio de seu silêncio. — Por que você deseja a transformar em imortal novamente? Quebrar todas as suas regras por uma mulher que provavelmente já lhe causou tantos sofrimentos?— Essa pergunta foi diretamente para Andrew. — Porque eu a amo.— Andrew pareceu estar confuso ao responder o obvio, até mesmo eu estava confusa pela pergunta de Amethyst... Isso era tão obvio. Mas ok, não posso esquecer que a feiticeira era louca. — Amor... Isso é o motivo por trás de tudo, afinal.— Ela disse, não fazendo nenhum sentido.— Homens poderosos morreram por esse sentimento, maldições aconteceram e mesmo assim vocês brigam para deixar o amor longe de arranhões.— — Talvez esse seja o único sentimento nobre para lutar.— Foi Lúcifer quem disse isso, não se importando em quebrar a conversa que estava apenas entre Andrew e Amethyst. — Talvez sim, todos os apaixonados usam essa desculpa.— Eu quase disparei que aquilo não era uma desculpa, mas voltar a receber olhares repreensivos que me mandariam fechar a boca, era o que eu menos desejava. — Eu posso ajudar.— Ela voltou a falar antes que qualquer um de nós falasse algo. No momento suas palavras me causaram náuseas de felicidade ou medo. Eu não sabia exatamente o que sentir com aquele anuncio, mas quando aquele sorriso diabólico cresceu nos lábios de Amethyst, o medo ganhou da felicidade.— Mas toda magia tem um preço.— Sim, claro que iria existir um preço. — O que você quer?— Andrew quase suspirou aquilo, suas palavras soando como se ele realmente estivesse cansado de sempre ouvir aquilo. A pergunta do rei dos vampiros apenas fez o sorriso de Amethyst aumentar, parecia que ela havia


previsto no futuro essa ocasião e estava gostando de como tão certo ele estava. Mas eu também sabia que todas criaturas sobrenaturais faziam as coisas por base de troca de favores, então esse diálogo de que o favor dela vai custar algo, não era uma surpresa para ninguém. Amethyst encarou Andrew por alguns segundos, aqueles olhos brancos provavelmente assustavam crianças quando ela os encaravam como olhava para o rei dos vampiros agora, mas Andrew não tinha medo, eu tinha quase certeza que a única pessoa com medo atualmente era eu. — Eu quero você.— A feiticeira respondeu a pergunta e eu quase me afoguei com a minha própria saliva. Todos ficarem em silencio, surpresos pelo que Amethyst disse. Apenas quando uma rajada de vento bateu contra nós, forte o suficiente para balançar o vestido antigo e seus cabelos negros que minha mente voltou a funcionar. — Definitivamente não.— Eu sai do silencio, não me importando em receber expressões repreensivas.— Andrew não é um objeto para ser barganhado.— — Roxie,— Ela disse meu nome em desdenho.— Eu não quero seu marido para meus próprios benefícios. Eu também preciso da ajuda de alguém realmente forte e competente como Andrew.— E por que não Lúcifer?! Eu não teria problemas em barganhar o vampiro de olhos verdes. — O que você quer de mim?— Andrew perguntou e eu soube que com a resposta de Amethyst, ele tomaria sua decisão sem ao menos se importar com a minha opinião. — Uma semana, é isso que eu desejo. Uma semana comigo e você terá sua amada por toda a eternidade.— Amethyst olhou mais profundamente para Andrew, como se estivesse fazendo uma promessa.— Sem mortes, sem precisar estar em minha cama, sem mais dias após uma semana completar... a não ser que você deseje isso.— Andrew olhou para mim, ignorando o restante das pessoas que estavam ao nosso redor. Seus olhos azuis mostravam que ele já havia decidido o que iria fazer, sem ao menos pensar no assunto direito ou perguntar minha opinião. Não. Eu disse mentalmente para ele, não me importava o quão simples a proposta de Amethyst parecia, o problema era o que iria acontecer nessa semana, eu não permitiria que Andrew aceitasse algo as cegas por causa de mim. Por favor, não. — Eu tenho que falar com Roxie a sós antes de lhe dar uma resposta.— Foi o que Andrew disse quando voltou a olhar Amethyst. Por um momento pensei que ele poderia dizer que aceitava essa troca, mas pela primeira vez ele estava considerando um pouco o que eu estava pensando. Andrew caminhou até mim e pegou minha mão para me puxar até estarmos um pouco mais distante de Amethyst. — Esperem.— Eu ouvi a voz de Lúcifer, olhando para trás somente um pouco quando Andrew não parou de caminhar.— Vocês vão me deixar sozinho com essa bruxa?— — Não se preocupe, querido.— Amethyst estava se divertindo.— Eu não mordo, essa é a sua função.— Andrew caminhou segurando minha mão por um bom tempo, ele entrou no meio de algumas árvores do campo que ficava ao lado da estrada e só parou quando eu comecei a me cansar de andar. Eu não gostei de ter parado no meio daquele campo com capins verdes e enormes que batiam contra a minha cintura, eles chegavam a cutucar por cima da minha roupa e isso causava agonia, mas não havia muito preferencias onde ir, já que todo o lugar era assim. A distancia entre Lúcifer e Amethyst também não era o suficiente para que eles não ouvissem nossa conversa, mas nós poderíamos conversar sem ninguém interromper pelo menos.


Além do mais, Lúcifer havia ficado sozinho com a feiticeira que quase nos matou a alguns meses atrás, Andrew não podia ficar a uma distancia que não escutasse os dois, pois alguém poderia cometer um assassinato. Mas acho que atualmente a única preocupação de Andrew era comigo. O vampiro de olhos azuis me colocou em frente dele antes de soltar minha mão, eu estava pronta para começar meus argumentos do quão errado aquilo era, mas eu fui pega de surpresa quando Andrew envolveu suas mãos em meu rosto e a puxou até que meus lábios encontrassem os dele em um beijo. Um verdadeiro beijo. Aquele beijo que eu estive a espera a noite inteira. — Andrew.— Eu disse seu nome quando me afastei, quebrando o nosso beijo.— Não faça isso... Esse beijo estava sendo guardado para quando estivéssemos em casa.— Ele me encarou, os segundos pareciam ter congelado e até mesmo o tempo, pois nem ao menos aqueles capins estavam mais se batendo contra o meu corpo conforme o vento os balançavam. — Cherie...— Andrew abaixou seus olhos.— Você nunca vai aceitar as coisas que eu aceito.— — As coisas que você considera como algo bom é totalmente ruim.— Ele riu secamente, mas ergueu seus olhos até que estivessem nos meus novamente.— Eu não quero deixá-la uma semana sozinha, quando estamos longe um do outro algo terrível sempre acontece...Mas não podemos perder essa chance.— — Quem garante que ela está falando a verdade?— — Ninguém.— Andrew disse.— Mas se ela estiver planejando destruir o mundo, como todos os vilões desejam, eu prometo que irei para casa.— — Andrew...— — Eu estou prometendo, cherie.— Ele sorriu quando me cortou, um sorriso que dizia que não acreditava no que estava prestes a dizer.— Eu estou prometendo não machucar ou causar a morte de ninguém e se a causa de Amethyst precisar de mim for tão insana a ponto de não ter nada nobre, eu irei voltar para você.— — Não quero ficar longe de você, Andrew.— sussurrei, parecendo uma mimada. Mas não querendo enganar ninguém, eu era um pouco mimada. Eu nunca tive uma boa relação com meus pais, então Andrew sempre foi a parte que sempre me deu mais carinho... Acho que poderia ter uma exceção quando se tratava dele, ainda mais quando o principal fato que me aborrecia era ficar longe de Andrew. E, infelizmente, eu sabia que não haveria nada que mudaria a decisão dele. O vampiro em minha frente acariciou meu rosto com seu polegar, apenas uma caricia lenta que conseguiu afastar o nó em minha garganta.— Não irei dormir com Amethyst, se é isso que lhe preocupa.— Ele disse ironicamente. — Nem brinque com isso.— Eu falei, realmente me irritando com a ideia e me afastando dele. Nesse momento eu nem me importei com aqueles capins que me cutucavam.— Eu vou matá-lo se ela tocar seu corpo.— Andrew não permitiu que o espaço existisse entre nós dois, pois antes que tivesse a chance de dar um terceiro passo para trás, eu já estava nos braços daquele vampiro em um abraço confortante. Um abraço de adeus... — Você só vai perceber que não estou mais ao seu lado quando eu voltar.— Andrew disse em um tom baixo, mexendo em meus cabelos em quanto me apertava ainda mais contra o seu corpo. — Isso não é muito confortador.— — Roxie,— Andrew fez com que eu olhasse para ele assim que disse meu nome.— você sempre será minha prioridade, não importa o quão verdadeira Amethyst esteja, se precisar de mim ou estiver em perigo, me chame. Eu sempre estarei atento para lhe escutar.— — E se você não ouvir?— Perguntei. — Dê-me seu celular.— Andrew pediu e eu o retirei do meu bolso com uma certa felicidade por ele não ter estragado em quanto os lobos nos atacou.— Agora eu sempre a ouvirei.— Eu sorri para


Andrew após entregar o meu celular para ele, um sorriso triste mas que era verdadeiro no final das contas. Então era isso, eu iria perder meu marido por uma semana para uma bruxa que dizia que poderia me transformar em imortal novamente. Eu jamais arriscaria ficar longe de alguém que eu amo por uma coisa sem muita certeza, mas Andrew sempre arriscaria tudo e o pior era que eu não podia tirar essas ideias loucas da cabeça dele, isso era quem ele era. Tudo que fiz foi aproveitar os últimos minutos que tinha com ele antes de voltarmos até Lúcifer e Amethyst. Nossa caminhada até Lúcifer e Amethyst foi em silêncio total, não havia palavras para descrever o que eu estava sentindo. E por mais que fosse exagerado, o sentimento que mais se aproximava para uma explicação era como se eu estivesse caminhando para o enterro de Andrew. Assim que avistei Amethyst e Lúcifer, eu tive que ter muito controle para não rir. Ambos pareciam estar em um jogo de poder para ver quem piscava primeiro, eu jamais deveria ter visto graça nisso, mas confiança era algo em falta aqui para o vampiro piscar. Amethyst olhou para Andrew e eu se aproximando e seu olhar era tão sinico que eu tive certeza de que ela havia escutado toda a nossa conversa.— Então?— A feiticeira fingiu não saber de nada, sorrindo delicadamente. No humor que estava, tirando a infelicidade, eu poderia arrancar todos os dentes daquela bruxa que estava me afastando do meu vampiro para que ela não parecesse nada delicada. — Nós temos um trato.— Andrew disse para ela e no mesmo instante aqueles olhos brancos com pupilas negas brilharam ainda mais com satisfação.— Mas eu irei deixar claro que se suas razões não forem nobres, eu irei para casa e nosso trato estará acabado.— — Tudo será feito como você desejar, rei dos vampiros.— O sorriso de Amethyst aumentou. Meus olhos foram para Lúcifer, ele não parecia feliz pelo acordo também, mas de longe o vampiro de cabelos loiros estava perto de discutir esse assunto com Andrew, pois para ele ter encontrado Amethyst ainda era nossa melhor chance. Andrew soltou minha mão somente quando se aproximou de Lúcifer e o segurou por seu ombro.— Cuide dela.— Ele pediu quase em um sussurro e sorriu para seu melhor amigo. — Sempre, meu rei.— Lúcifer o respondeu gentilmente.— Eu não desejo ter meu coração jogado para vira-latas ainda.— Eu quase ri devido a ameaça que Andrew fez a Lúcifer a um ano atrás quando ele ficou como minha babá durante um tempo, era ironico como o vampiro de cabelos loiros ainda se lembrava disso. Lúcifer passou seu braço por mim até que encontrasse meu ombro.— Roxie irá ficar bem.— Ele disse olhando em meus olhos e isso acabou tirando um sorriso da minha parte. Por um momento olhei para Amethyst parada atrás de Andrew, o único movimento que provava que ela não era uma estatua com uma expressão de impaciência era o vento contra o seu vestido. — Ok, — Andrew falou, me deixando ter certeza de que eu não era a única a pensar sobre a impaciência de Amethyst.— tentem não se matar.— — Eu vou fazer meu melhor.— Falei com um pouco de ironia, não existia nenhuma maneira de realmente matar Lúcifer, mesmo esse sendo meu desejo as vezes. Andrew sorriu, um sorriso que quase não saio. Ele também elevou sua mão até mim, até que estivesse a baixo do meu queixo, porém seu polegar acariciou meus lábios de uma maneira que me causou cóceguinhas. Em seus olhos frios, estava aquele olhar que dizia que eu fui e sempre serei a mulher capaz de


roubar seu coração para toda a eternidade. Com um olhar desses, eu não ficaria nem um pouco preocupada sobre Amethyst.— Je t'aime.— Andrew sussurrou. —Je t'aime aussi, Andrew.— Eu o respondi também em minha língua original, não sabia exatamente se essa sempre foi a língua de Andrew, pois ele se tornou um vampiro antes mesmo que o mundo se formasse, mas infelizmente o sotaque francês o agarrou e não soltou mais. Diferente de mim que parecia mais inglesa do que francesa. Andrew se afastou e quanto mais próximo ele ficava de Amethyst, parecia que ele estava levando meu coração junto. Uma semana podia ser considerado como uma eternidade para mim, uma eternidade sem estar junto com a pessoa que amava... Existia algo mais torturador que isso? Pois pra mim não existia. Lúcifer me puxou por meu ombro para que pudéssemos começar a andar, afinal, nosso carro tinha sido destruído e caminhada seria longa. Eu não queria ir, eu não queria ficar sem Andrew e caminhar por uma estrada de terra que nos levou horas até estarmos nesse local esquecido pelo mundo, mas a vida não girava em torno dos meus desejos. Eu comecei a caminhar com Lúcifer, finalmente parando de olhar para Andrew que se encontrava parado ao lado de Amethyst, que também nos observava indo embora. *** Nós chegamos na mansão real quando o dia estava quase amanhecendo, eu não tinha mais nenhum problema com os raios solares, mas Lúcifer tinha. Eu diria que foi sorte chegarmos antes mesmo que o sol começasse a nascer, pois nem ao menos usar uma velocidade vampirica Lúcifer podia. Afinal, depois de horas de caminhada eu nem ao conseguia respirar e ao mesmo tempo dar um passo, infelizmente o vampiro de cabelos loiros foi obrigado a me carregar. Eu não gostei muito daquilo, me fez sentir como uma inútil, mas isso ter acontecido foi nossa melhor opção já que após me carregar o vampiro pode andar em uma velocidade que não me deixaria sem ar, diferente de se ele realmente usasse os benefícios de ser um vampiro. Lúcifer apenas me deixou no chão quando estávamos na frente da porta principal da mansão que pareceria ainda maior sem a companhia de Andrew, o vampiro de cabelos loiros também disse que só iria pegar algumas coisas em sua casa e estaria voltando para passar a semana comigo. Era isso que eu chamaria de super protetor ou puro medo de perder o coração para vira-latas. Mas bem, era isso que acontecia quando vampiros viravam melhores amigos, eles eram tão leias uns aos outros que era mais fácil Lúcifer jogar Emme ao vento em quanto Andrew está fora do que ele dar mais atenção para sua amante do que para mim. Andrew faria o mesmo por ele, só estava feliz por Emme ter o pai mais poderoso do mundo se um dia Lúcifer precisasse de um favor como esse. Eu me preocupei por Lúcifer sair com o amanhecer se aproximando, dizendo para ele ficar até escurecer novamente, mas ele disse que daria tempo para chegar até sua mansão e preferia caminhar no sol do meio dia ao invés de deixar sua sombra sozinha destruindo sua mansão. Não discuti com ele, acho que nem mesmo Emme tinha o poder de dizer “fica.” e ele ficar. Era uma pena que vampiros não pudessem ser adestrados como cachorros, tudo seria mais fácil com Andrew. Ao invés de deixar ele correr direto para o perigo, eu simplesmente iria mandar deitar e virar de barriga para cima. Isso resolveria a maioria dos nossos problemas.


Passando por nossos guardas que estavam posicionados na portas da mansão, eu os cumprimentei educadamente com um bom dia. Talvez eles estranharam a falta de Andrew ao meu lado, mas a regra era obvio... Sem Andrew presente, eu era a responsável pelos vampiros, mesmo sendo uma humana. O mais obvio ainda era que todos os vampiros respeitariam o fato de um humano estar no poder pois o medo por Andrew sempre iria ser maior. Além do mais, eu não estava sozinha, tinha Lúcifer e Iawy para me ajudarem se algo acontecesse nessa semana que ficaria sem Andrew. Afinal, a única coisa que Andrew havia me ensinado era mandar um vampiro para execução sem nenhuma piedade, pois esse sentimento não deveria existir quando se tratava de assassinos. Eu acho que teria problemas em mandar alguém para morte, eu havia tirado a vida de algumas pessoas com os passar de anos, mas isso sempre me causaria pesadelos. Tirar a vida de alguém era muito pior do que fazer parte de um mundo sobrenatural cheio de maldade. Era irônico ser uma caçadora e mesmo assim nunca ter matado nada além do que poucas pessoas, mas a maioria dos casos que Iawy me envolveu para resolver se tratava de encontrar e levar a pessoa direto para a central de caçadores pra a criatura sobrenatural ser julgada. Dificilmente existiam assassinos psicopatas que precisavam receber um julgamento. Minha respiração foi funda em quanto estava entrando na mansão, eu deveria ter pensamentos positivos ao invés de ficar imaginando o que iria fazer se um vampiro psicopata chegasse a cidade e começasse a matar os humanos de Londres. Bom, o que eu tinha que fazer era obvio. Era a coragem que faltava. Mas eu não iria me preocupar com isso agora, eu iria direto para minha cama e passar horas revirando nela até que meus pensamentos não pertencessem mais a Andrew, e sim, aos sonhos. Sonhos... Se eu ainda fosse uma vampira, nós poderíamos nos encontrar em meus sonhos. Em primeiro lugar, se ainda fosse uma vampira ele jamais teria que se juntar a uma bruxa que apesar de ter olhos assustadores era muito linda e fofa. Linda, delicada e fofa. Eram essas três coisas que mais cativavam os homens atualmente. Claro que eu sabia que Andrew jamais sonharia em tocar nela, mas não poderia deixar de ficar com raiva... Ela não poderia ao menos ser um pouco mais feia? Roxanny... O meu nome nome veio a minha mente com um grande impacto e eu me virei para trás, para o caminho que acabará de percorrer, pensando que alguém teria me chamado. Não havia ninguém. Mas assim que virei eu tive a impressão que o sol brilhou com mais força pelos vidros das janelas e iluminou ainda mais o corredor que me levaria até o salão real. Isso era estranho, pois o corredor era o único lugar com uma enorme proporção de luz solar. Não pense que isso é um momento raro na natureza, Roxanny. Aquela voz voltou para minha mente e eu não pude evitar um riso, é claro que era Sol. Eu caminhei pelo corredor que aos poucos voltou a ficar como o resto da casa, sem muita luz solar, até que estivesse de frente com as duplas portas do salão onde existiam tronos para reis e rainhas se sentarem em quanto julgavam um vampiro, provavelmente de joelhos em quanto vários guardas ficavam em suas costas sem ao menos piscar para vigiar a criatura que causou problemas suficientes para estar de joelhos na frente de seu rei. Poderia ser severo, mas era assim que as coisas funcionavam em nosso mundo.


Empurrei as portas que me separavam de Sol com minhas mãos com um sorriso já esboçado no rosto, a última vez que havia visto essa deusa amaldiçoada mal me lembrava do que havia acontecido. Além do mais, o ano passado inteiro não a vi já que estávamos no ano da lua, o ano em que Sol era proibida de pisar na terra. Eu não sabia exatamente o por que disso, cientificamente era pela lua ficar mais próxima da terra, mas para os deuses... Seus segredos eram muito bem guardados. Assim que meus olhos caíram nos tronos, onde a deusa estava proxima, meu sorriso se desmanchou. Sol não estava sozinha, ela estava com David. Na verdade, não acho que apenas meu sorriso sumiu, eu tinha quase certeza de que havia ficado boquiaberta, de olhos arregalados e de bonus estava congelada no lugar que parei após ver David sentado no trono que pertencia a Andrew. Ele estava com suas roupas largas e brancas de sempre, que lembravam a aparência de um hippie. Seus cabelos louros caindo em frente de seus olhos e um pouco bagunçados combinavam perfeitamente com aqueles lábios tão avermelhados, que devido a sua pele quase transparente por ser tão branca, parecia que ele havia usado algo para ficarem naquela cor. Ele sorriu para mim, mas não foram apenas seus lábios, seus olhos verdes sorriram ainda mais. David poderia ser comparado um pouco com Lúcifer devido a cor de sua pele, de seus cabelos e olhos, mas haviam duas diferenças... Os olhos de David eram de um verde comum, os de Lúcifer pareciam esmeraldas expostas ao sol perto de uma nascente cristalina. E claro, em quanto David parecia algo celestial, o vampiro de olhos verdes pertenceria sempre ao inferno. E Sol... Com aqueles cabelos longos e negros, sua pele um pouco bronzeada e olhos que pareciam safiras, era uma beleza rara. Emme era linda, mas Sol ainda ganhava na minha lista da deusa mais bonita que já havia conhecido.Talvez fosse por que ela sempre demonstrava ser selvagem quebrando todas as regras de sua maldição, em quanto Emme apenas passava inocência. — Eu não tenho nenhum desejo em bater na sua testa para trazer à tona novamente, Roxanny.— Ela disse ironicamente, fazendo-me lembrar da primeira vez que nos encontramos em meu sonho. O sonho que eu estava dormindo e ela me acordou com leves pontadas na minha testa. O sonho em que eu estava dormindo... Isso sim era mais estranho do que ver Sol e David juntos. — O que vocês estão fazendo aqui?— Perguntei em um sussurro, como se estivesse com medo que algum deus nos escutasse.— Juntos...sem que um eclipse esteja ocorrendo?— Adicionei ao final da minha pergunta não terminada, choque percorria cada parte do meu corpo. — Meu Deus,— Sol disse horrorizada.— Menina, você está horrível.— É claro que eu estava. Tirando o fato de que lobos me atacaram a ponto de sangue me sujar inteira, eu tive que caminhar por uma estrada enorme a noite inteira! Não é como se depois dessas duas coisas ocorrerem, eu estivesse com aparência de uma princesa. — Não fale assim de uma rainha, querida.— David disse se levantando do trono em uma calma tão imensa, que parecia que nenhum deles estavam quebrando regras sobre estarem juntos.— Olá, Roxie.— — Eu estou falando a verdade, David.— Sol murmurou como se estivesse sido repreendida pelo seu próprio pai. Eu queria dizer algo a Sol, o que aconteceu por exemplo, mas essas palavras estavam longe da minha mente atualmente. Eu não desejava que minha mansão fosse o ponto de uma bomba nuclear.


— Por que estão aqui?— — Isso poderia soar tão rude se não soubéssemos que você é conhecida por não quebrar regras.— Sol disse se aproximando de David e meu coração gelou ainda mais com a parte de “quebrar regras”. Andrew me mataria se algo acontecesse a sua mansão. Literalmente me mataria.— Mas os deuses estão cientes que estamos aqui.— Ela disse finalmente e eu suspirei de alivio. Eu já podia ficar calma, pois nenhum deus prejudicaria a mansão real ao saber que Sol e David estavam aqui. — Oh,— Eu disse saindo do choque.— Eu nunca os vi juntos, isso é algo estranho.— E isso era uma verdade, eu nunca os vi juntos para saber o quanto perfeitos ficavam como um casal. David encontrou meu olhar e em seus olhos eu vi que eles estavam aqui para algo muito importante. — Olha, eu sei que Andrew é quem costuma ajudar vocês muito mais que eu, mas ele estará longe de mim até que uma semana se complete.— — Nós sabemos.— Claro que eles sabiam, minha vida com Andrew era pior que revista de fofoca para os deuses.— E é por isso que estamos aqui.— Eu olhei para Sol com um certo desespero... Será que algo de ruim já havia acontecido? — O que aconteceu?— Perguntei com meu coração quase saindo do meu peito. — Não se preocupe com Andrew, ele está bem.— David disse.— Acontece que desde que Amethyst transformou Fiemme em uma imortal, os deuses estão em crise devido a força que essa feiticeira adquiriu com o passar do tempo.— — Eu não gosto do fato de Andrew estar com ela também, mas Amethyst é a única chance que temos de me tornar imortal novamente, ele jamais desistiria disso.— — Ela não é a única chance de vocês.— Sol falou e conseguiu recuperar meu olhar que até agora estava direcionado a David.— Quando deuses estão em crise esse é o sinal que temos para quebrar todas as nossas regras.— Ela olhou para David e sorriu por um momento, em quanto minha mente vagava sem entender nada daquela conversa.— Vocês estão me dizendo que irão me tornar imortal?— — Sim!— Sol disse sorridente e com muito bom humor.— Isso não é maravilho?— — Eu, realmente, não quero parecer rude...— Falei receosa.— mas não acham que estão um pouco atrasados?— David riu, um som agradavel vindo de uma pessoa que tinha aparencia de um guerreiro.— Eu sei que você provavelmente deseja nos matar por ter aparecido logo depois de Andrew ter feito um trato com Amethyst, mas não é simples trazer a imortalidade novamente para seu corpo, Roxie.— — Eu não quero matar vocês, mas ter andado durante quase 5 horas em uma estrada de terra e ainda ser atacada por lobos não é algo agradável. E não posso esquecer o fato de que Andrew não está ao meu lado.— Eu disse com um pouco de ironia divertida. Sol e David estavam me dando o melhor presente que alguém poderia ter me dado, não poderia nem ao menos pensar em dizer que esperaria passar uma semana até que Andrew voltasse. Eu não queria o meu vampiro perto de Amethyst, ainda mais sabendo que ela estava causando problemas para os deuses. — Eu não quero parecer ingrata... Mas no que vocês vão me transformar?— Eu perguntei mais por medo do que por curiosidade. Algo tão grande como ser transformada em imortal por deuses, deveria ter alguma consequencia. Eu não gostaria de ficar afastada de Andrew, como Emme ficava de Lúcifer. Eu jamais teria a mesma força que ela. — Oh, claro, isso é importante.— Sol disse como se estivesse se esquecendo desse detalhe.— Nós não sabemos exatamente o nome para o que vamos transformá-la...— — Acho que é do seu conhecimento que deuses dividem seus poderes em várias partes, nós usamos humanos, estrelas, feiticeiras ou até mesmo animais para isso.— David seguiu a deixa de Sol.— E conforme os anos passam nossos poderes sempre aumentam a ponto de termos que encontrar novos lugares para eles. Geralmente depositamos nossos poderes em estrelas, elas são os lugares mais


seguro para isso.— David olhou para Sol por um momento antes de voltar seu olhar para mim e continuar sua fala.— Meus poderes aumentaram e estarei os depositando em uma nova estrela.— Eu estava confusa, realmente perdida. Andrew havia me explicado sobre deuses dividindo seus poderes, mas não sabia onde isso encaixava na minha situação. — Me diga uma coisa, Roxanny, quanto tempo a vida de uma estrela dura?— — Um estrela não...— Eu compreendi o que estava acontecendo e soltei um pequeno riso.— Elas são eternas.— — Exatamente.— David concordou comigo.— E no meio de tantos segredos dos deuses, nós achamos uma brecha onde mortais podem ter uma ligação com uma estrela, os tornando imortais em quanto ela estiver viva.— — Em quanto a estrela estiver viva?— — Em quanto David estiver vivo,— Sol começou a responder minha pergunta.— a estrela que pertence aos seus poderes sempre continuara brilhante em algum lugar do céu.— Eu fiz uma careta, isso era um pouco confuso.— Minha única ligação com ela será com a imortalidade dela, certo?— Eu não gostaria muito de ter os poderes de David. E sobre a parte de David se manter vivo, isso não era bem um problema para mim. — Somente com a estrela.— Logo David respondeu, provavelmente notando minha preocupação. — É como se você tornasse essa estrela em um corpo humano, sem que meus poderes estejam junto, claro, mas há alguns detalhes sobre isso.— — Os primeiros deles é sobre essa estrela pertencer a mim e meus poderes, se eu morrer, você perderá sua imortalidade pois ela deixará de existir. E seu corpo irá se tornar ainda mais gelado de quando era uma vampira, a sensação quando lhe tocarem será a mesma de encostar em um cubo de gelo, mas o detalhe mais importante disso, o que pode tornar as coisas perigosas... é que uma estrela produz gelo.— Minha mente novamente voltou a ficar em branco.— Você está me dizendo que eu poderei produzir gelo com as minhas mãos?— — Sim.— Foi a vez de Sol sair de seu silencio.— E isso pode acontecer sem ao menos existir água por perto. Você pode congelar uma pessoa em quanto não souber controlar esse poder.— Ok... isso era muito mais do que perigoso! — Mas isso não é exatamente a pior coisa.— — É mesmo?— Eu pude ter soado um pouco irônica quando respondi David. — Seu corpo continuará humano, muito mais resistente para enfrentar doenças ou hematomas grandes, não vai envelhecer também.— Ele continuou.— Mas você pode morrer como um humano na maioria das vezes, tirando as doenças e quando a resistência para hematomas não aguentar.— — Por que isso é ruim?— Perguntei não compreendendo, pois era lei da natureza, imortal ou não, todos morreriam um dia. Eu não via isso como um problema. — Você pode morrer como um humano na maioria das vezes, mas voltará a vida depois de um tempo. Pode ser horas ou até mesmo dias.— — Você está me dizendo que eu posso morrer se alguém me esfaquear no estomago e depois voltarei a vida?— — Sim.— David concordou, realmente soando como se aquilo fosse a pior coisa. — Isso é horrivel.— Murmurei.— Por que algo como isso aconteceria?— — Sua alma será imortal a partir do momento que estiver ligada a minha estrela, grande parte do seu corpo também, mas a outra parte ainda será humana.— — E essa parte humana inclui morrer se alguém me matar.— — Mas você voltará a vida!— Sol disse animadamente. Por alguns segundos eu me permiti sorrir para ela, a deusa amaldiçoada realmente parecia animada para me tornar imortal novamente, mesmo quando seus superiores deixaram claro que não podiam ajudar. — Eu estou sem palavras.— Falei a verdade.— Jamais imaginei que encontraria vocês com uma


proposta dessa.— — Nós também nunca imaginamos que os outros deuses permitiriam isso, mas Andrew é de grande importância para eles a ponto de que não o querem junto com Amethyst. Além do mais, a alma de Andrew tem que ser mantida na media entre estar negra ou pura, se a feiticeira está mentindo e acabar lhe matando... Bom, você viu o que Hebe foi capaz e não posso mentir ao dizer que existem mais deuses como ela que desejariam ter a alma de Andrew sob os poderes deles.— — Eu quero isso, muito mais do que aceitar que Amethyst me transforme, eu não tenho medo de morrer para depois despertar, pois sei que Andrew jamais permitiria isso. A coisa mais assustadora é sobre o gelo... mas acho que vou sobreviver.— — Eu sabia que não iria perder minha viagem até aqui!— Sol exclamou, feliz por eu ter aceito a proposta deles. — Mas... eu tenho que ser sincera.— Olhei para eles.— Não quero fazer isso sem com que Andrew esteja aqui.— — Nós temos que fazer isso hoje, pois a minha estrela não pode esperar, mas acho que Andrew voltaria em questão de minutos ao saber disso.— — Nós daremos um tempo para que Andrew apareça, não se preocupe.— Eu sorri, realmente sorri. Toda a dor que meu corpo estava sentido e a sensação horrível de ficar sem Andrew acabou passando com essa noticia. Havia consequências em me tornar em uma... Eu concordava com eles, não saberia como chamar o que estava prestes a me tornar, mas eu enfrentaria elas para ficar a eternidade ao lado de Andrew. Eu estava prestes a dar as costas a Sol e David para que pudesse ir até um lugar mais silencioso, chamar Andrew ou apenas ligar em meu celular, mas tive que tirar minha duvida antes— Isso vai doer muito? A transformação?— — Não, antes mesmo de acontecer seu corpo não aguentará a transformação.— Sol disse. — Você terá sua primeira morte.— David completou. Ok, isso era assustador. — Mas eu irei acordar depois de horas ou dias, certo?— — Certo.— Sol e David concordaram em conjunto. Até pelo modo que eu estava andando era obvio que estava com medo. Isso era algo bom, mas não era o tipo de coisa que aceitaria muito bem, mas para não parecer mal educada e deixar claro minha gratidão dei um sorriso para os deuses em minha frente e saí do salão real. Agora eu tinha que encontrar Andrew, o que não seria dificil. Ele mesmo havia dito que eu sempre seria prioridade e se precisasse dele poderia lhe chamar que voltaria para mim. Então realmente não achava que isso seria um problema. Eu caminhei até que estivesse na maior varanda da mansão real, localizada no escritório quase sem uso de Andrew. Eu estava na sacada, com meus braços levemente apoiados nela e em minhas mão se encontravam um telefone que costumava ficar em cima da mesa de Andrew. Respirei fundo algumas vezes até poder chamar o rei dos vampiros.— Andrew.— Eu disse seu nome em um tom claro, sem ser muito alto. Eu não pretendia chamar a atenção de outras criaturas sobrenaturais também.— Eu preciso de você, por favor volte para casa.— Eu esperei alguns minutos, mas esse era o jeito menos provável para que Andrew me escutasse. Então comecei a discar o numero do meu celular. Mas nada acontecia, apenas chamava e acabava caindo na caixa postal.


Eu devo ter ligado e chamado Andrew por diversas vezes em quanto estava na varanda, nem ao menos notando que o tempo estava passando até que sol apareceu sozinha na porta que separava o escritório da onde eu estava.— Roxie.— Ela disse calmamente, era primeira vez que eu a via agindo como se não fosse uma louca.— Nós temos que fazer isso agora, já faz quase uma hora que você está aqui.— — Mas Andrew...— — Eu sei.— Sol não completou minha frase, apenas concordou.— David e eu tentamos entrar em contato com sua mente quando notamos que você não estava conseguindo, mas pareceu que ele não nos escutou, seus pensamentos estavam fixos em ter que fazer algo.— — Você acha que ele está bem?— — Eu acho que ele está, caso estivesse morto jamais poderíamos ter achado sua mente.— Bom, isso não era algo correto para se dizer a uma pessoa que se encontrava em uma situação como a minha, mas era de Sol que se tratava no final de tudo. — Eu acho que terei que fazer isso sozinha.— Lamentei. — Você não deveria pensar assim, que sem Andrew é totalmente fraca.— Parecia que Sol estava me repreendendo, o que fez meu cenho franzir.— Acho que é mais forte do que pensa, Roxie, e talvez esteja na hora de tomar suas decisões sem que ninguém escolha elas por você. Como está fazendo hoje.— — Você tem razão, Sol, mas ainda sim é estranho não ter Andrew ao meu lado em algo tão grande como isso.— — O importante é que você o terá por toda a eternidade ao seu lado após fazermos sua transformação, isso é o que realmente conta.— Sol me incentivou, olhando em meus olhos seriamente.— Você está pronta para dar esse passo?— Eu sorri para ela, pois sabia que no fundo não estaria sozinha. Sol era especial para mim e David também, eram eles que sempre nos ajudavam quando algo do nosso alcance não podia ser realizado e nós fazíamos o mesmo por eles, acho que algum dia poderia nomear o que ocorria entre nós como lealdade. — Eu estou pronta.—


04Inglaterra, ano 2025 - Século XXI Eu estava caminhando pelas ruas de Londres sozinha, atualmente todas aquelas ruas que caminhei estavam inteiramente cobertas por neve, pelo menos dessa maneira o fogo havia ido embora. Fogo... Esse era o primeiro elemento que me lembrava antes de tudo virar uma confusão. Antes de tudo virar um pesadelo e todos os humanos passarem a evacuar a cidade quando as coisas realmente passaram a ficar ruins. Não pude continuar a minha caminhada noturna, pois em minha frente estava o enorme bigben atrapalhando meu caminho. Eu o encarei, seu vidro estava todo trincado e era uma surpresa ainda que estivesse na enorme torre caída. Seu horário possivelmente ficaria eternamente em vinte horas e quarenta e cinco minutos. Talvez Londres nunca mais voltasse a ser mesma depois que tudo aconteceu. Tudo estava uma loucura, nada mais era normal. Existiu milhares de anos antes que os humanos descobrissem nossa existencia e todo o nosso segredo foi revelado em questão de minutos, sem que nenhum governo conseguisse esconder o que estava acontecendo. Agora humanos tinham medo, era quase impossível ver um humano em Londres... Eles acreditavam que aqui era a boca do inferno e que dificilmente existiria outras criaturas pelo munto. Tolos eram eles em pensar algo como isso. O inferno estava vindo direto para o planeta e não havia muito o que fazer a não ser matar e aceitar que Londres fosse esquecida no mundo. Eu fechei meus olhos por um momento, um ato errado quando a morte poderia ser sua sombra, mas tudo era melhor quando minhas pálpebras escondiam o horror que essa cidade havia se tornado, o horror de como era ver prédios quase caindo, casas ou mansões demolidas... Até mesmo as naturezas das florestas foram danificadas quando aqueles monstros chegaram. -----Lúcifer havia me chamado para encontrar a clave exatamente no dia em que completava um ano que Andrew estava sumido. Para mim, era dificil de acreditar que ele ainda estivesse vivo, ele não poderia estar vivo e ainda não estar ao meu lado. E a tristeza dentro de mim, fazia apenas com que eu ficasse vegetando e olhando para o nada em quanto o tempo passava ao meu redor, apenas concordando quando Emme, Nyx ou qualquer outra pessoa tentava falar comigo. Essa noite eu estava caminhando para o prédio que a clave costumava se reunir quando estavam em Londres, algo diferente que estava fazendo desde que uma semana passou depois que Andrew se foi... Para mim, eu estava indo até lá para que a clave confirmasse que Andrew realmente estava


morto. O que apenas pioraria tudo em minha cabeça por ter feito um trato com Sol e David, um trato que apenas poderia morrer se David morresse, levando ao significado do impossível. Mesmo estando respirando e fosse provado que eu ainda tinha uma vida, eu não tinha. Dentro de mim estava tudo tão destruído que eu duvidava muito voltar a sorrir novamente, voltar a pensar coisas boas da vida. Eu sei que qualquer pessoa falaria que nós temos que seguir em frente, não deixar que a morte de uma pessoa querida te prejudique, que você tem que ser forte e continuar, pois não estava morta... Mas Andrew nunca foi somente uma pessoa querida, ele era o amor da minha vida por mais de 300 anos. Não era como se depois de um mês eu voltasse ao normal com minha vida. Eu nunca pensei que poderia perder ele e a surpresa maldita de saber que Andrew nunca mais estaria ao meu lado era mortal para mim. Depois de empurrar as portas do prédio em que a clave estava, caminhei diretamente ao elevador em um silencio brutal, sem ao menos cumprimentar a secretária atrás de um balcão enorme que quase a escondia, ainda mais quando existia uma tela de computador tampando seu rosto. Talvez ela nem ao menos tivesse me visto, atualmente gostava de pensar que era apenas uma sombra caminhando para um lugar até outro. Eu não fiquei muito tempo no elevador, pois era no segundo andar que a clave ficava e assim que as portas de metais abriram, foi o mesmo de já estar dentro da sala da clave, mas havia somente uma porta que me separava disso... Seria melhor se ela não existisse, me pouparia passos pelo menos. Empurrei aquelas portas duplas que ficavam em um corredor quase solitário sem ao menos bater e assim que fiz isso olhares surpresos vieram até mim. Toda a clave estava sentada em uma mesa oval, com Lúcifer em frente deles de pé. Todos olharam para mim como se eu tivesse feito algo muito errado. Se não bater na porta era algo muito ruim, eles deveriam experimentar o que era realmente ruim. — O que ela está fazendo aqui?— Um homem com cabelos quase cinzas, um cinza que não demonstrava velhice, perguntou sobre mim estar quase dentro da sala deles. — Roxie tem o direito de saber.— Lúcifer disparou.— Ela tem o direito de saber o que vocês irão fazer.— — Você não tinha nenhum direito de trazê-la até aqui, Lúcifer.— Uma mulher disse. — Não venha me dar moral sobre direitos.— O vampiro disparou raivosamente.— Roxie é a única que manteve Andrew a salvo por mais de anos, ela é a única que nos salvou do que está acontecendo, ela tem o direito de não ficar por fora dessa conversa.— De tudo que Lúcifer falou, eu apenas capitei o nome de Andrew. — O que está acontecendo?— Eu perguntei com uma voz quase morta, me surpreendente por ainda saber falar já que havia um bom tempo que eu não dizia uma frase tão grande como essa. A clave se olhou por um momento, eles pareciam trocar respostas apenas por olhares e em seguida todas as cabeças balançaram em concordância com algo. Lúcifer pareceu satisfeito após isso e caminhou até mim para me puxar até que estivesse mais próxima daquela mesa oval. — Roxie, na ultima semana nos fomos informados que exatamente mil e duzentos humanos foram assassinados de um modo brutal, de um jeito psicopático e muito desumano.— Uma outra mulher disse, ela era a responsável pelos licantropos, se não me enganava.— E agora feiticeiras estão sendo mortas até que esse número seja alcançado.— — O que isso tem haver com Andrew?— Perguntei a única coisa que me interessava.


Lúcifer segurou minhas mãos, um leve aviso para que meus olhos encontrassem os deles.— Isso, minha querida,— Ele começou em um tom mortal, mas cuidadoso como se eu fosse uma criança.— significa que Andrew está de volta e com sua alma completamente negra.— -----Eu abri meus olhos quando ouvi um barulho atrás de mim, por um momento pensei que poderia ser alguns dos monstros de Amethyst, os monstros que causaram a maior destruição nessa cidade depois que mortes passaram a ocorrer, mas fiquei aliviada quando me virei e encontrei somente a minha melhor amiga com uma pequena dificuldade em caminhar naquela neve que faziam nossos pés se afundar. Pelo menos ela fez Londres ficar um pouco agradável, tirando aquela grande impressão de que essa cidade havia sido atacada por zombies depois que humanos foram embora.— Você não deveria me deixar sozinha e sair andando por ai.— Ela me repreendeu severamente.— Aquelas coisas poderiam nos atacar.— Aquelas coisas. Era realmente difícil de explicar o que elas eram, elas apenas me faziam lembrar de Hebe e suas “crianças”, a diferença era que esses monstros lembravam mais um morcego enorme que foi mordido por alguma criatura de Hebe e o pior de tudo era que elas estavam sob comando de Amethyst e Andrew. Já fazia mais de 10 anos que eu não o via... Isso doía. Mas foi pior em pensar quando ele estava morto do que saber que sua alma estava negra. Afinal, bem lá no fundo existia uma esperança dizendo que sua alma poderia voltar a ser equilibrada e eu acreditava que ele viveria muito mais tempo para que isso pudesse acontecer, mesmo quando todas as criaturas sobrenaturais estavam ordenados, por ordem da clave, executar Andrew quando o vissem. Andrew e Amethyst, suas cabeças valiam muito mais do qualquer pedra rara nos dias de hoje. Humanos não estavam envolvidos nessa guerra entre criaturas sobrenaturais, todos os humanos que encontrávamos em Londres eram mandados rapidamente para fora daqui, nós os ajudávamos e o FBI que foi treinado com o passar do tempo para lidar com nossa existencia também eram de grande ajuda para tirar humanos dessa cidade cheia de pesadelos. Agora criaturas sobrenaturais... Quando elas eram encontradas sem estarem mortas e sim vagando pelas suas, elas eram imediatamente mandadas para a central de caçadores e eram treinados. A nossa sorte foi que Amethyst e Andrew não queriam algum tipo exercito formado por criaturas sobrenaturais, eles apenas matavam elas e seus “soldados” eram aqueles monstros com asas. Eles pareciam escolher quem matavam, mas não poupavam a vida daqueles que cruzavam o caminho deles . E depois que nove anos se passou desde que as chacinas começaram, essa era a única informação que existia sobre eles até hoje. O mundo estava começando a acabar e nós estávamos fazendo o possível para que isso não saísse de Londres. — Eu acho que precisava apenas respirar sem ter ninguém em minhas costas.— Respondi para Nyx finalmente. — Você precisa parar de pensar em Andrew e não respirar sem ter ninguém em suas costas.— Nyx foi rude, mas era de sua natureza e não deixava de ser uma verdade o que ela disse.— Ele não é mais o Andrew que você amou, veja o que ele e aquela feiticeira fizeram com essa cidade... O Andrew que conheciamos jamais faria isso.— — Você não deixa de ter razão, mas ainda é difícil, Nyx.— — Olha, os humanos sabem da nossa existencia, acham que somos culpados por tudo que está acontecendo aqui e pessoas continuam a morrer!— Ela parecia estar novamente entrando em um surto.— Todos estão morrendo e podemos simplesmente entrar em extinção como dinossauros, tudo


isso é culpa dele e o pior de tudo é não termos respostas dos motivos que eles estão fazendo isso. Londres foi evacuada não só por humanos, criaturas sobrenaturais estão com medo e o governo humano não consegue mais acreditar que Iawy e outros caçadores que estão ao nivel dele, que vieram nos ajudar, vão conseguir alguma coisa... Pois não importa quantas mortes aconteçam daqueles animais, eles nunca param de aparecer para que possamos reconstruir Londres e fazê-la de um lar novamente.— Eu a encarei. Sim, ela estava certa de tudo, eu não discordava em sequer palavra que disse. E as vezes eu conseguia pensar ficar aliviada ao saber que Andrew foi morto, mas isso acontecia raramente. Esse era o problema, eu não o queria morto mesmo que ele estivesse preste a sair de Londres e causar essa destruição em outras cidades ou países. A nossa sorte até agora era que os deuses estavam trabalhando em conjunto para fazer um feitiço que não permitisse que ninguém entrasse ou saísse de Londres, apenas aqueles que eram permitidos depois de falarmos com eles. Isso acontecia sempre quando se tratava de humanos. Amethyst era poderosa, pois até mesmo uma nova raça ela criou, assim como Hebe, mas quebrar a barreira que todos os deuses se juntaram para criar e colocar em volta de Londres, ela não havia conseguido. — Vamos embora daqui.— Eu disse para Nyx e passei a caminhar até ficar próxima dela.— Nossa varredura já acabou.— Eu jamais daria uma resposta ao que ela tinha acabado de dizer, era vergonhoso demais que eu não pudesse querer Andrew morto. Mas depois de dez anos vendo essa cidade apenas cair, eu estava começando a aceitar que Andrew tinha que morrer ou o mesmo que aconteceu aqui iria acontecer em vários outros lugares. Infelizmente o mundo nunca iria girar em volta dos meus desejos, o mundo nunca pouparia a vida de Andrew e se ele tinha que morrer, eu faria isso devido a tudo que passamos juntos. A cada dia que passava estava tentando encarar a morte de Andrew como um favor. Assim era melhor, mesmo que apenas Iawy tivesse chance de matá-lo por causa de sua força. Claro que eu tinha um truque agora que havia uma ligação com uma estrela, mas eu ainda não tinha quase nenhum poder sob a parte que poderia controlar o gelo. Além do mais, o meu ponto fraco era poder ser morta, por mais que eu fosse despertar depois, isso era ruim. Nyx não insistiu naquele assunto, pois a nove anos atrás quando eu estava destruída apenas de pensar que Andrew estava morto, ela aceitava somente um pouquinho que meus sentimentos por ele não sumiria de um dia para o outro. O Andrew que amei já estava morto, mas não podia negar que toda vez que um ataque estava acontecendo, meu coração acelerava devido ao fato que poderia ver aquele vampiro com alma negra novamente. Permiti que Nyx enganchasse seu braço em mim e voltássemos a andar até estarmos na segurança das paredes da central de caçadores de Iawy, mas nos ainda estávamos seguras mesmo estando sozinhas. Eu olhei para cima em um poste que ainda se encontrava em pé nessa rua, em cima dele existia uma pequena câmera que parecia acompanhar meus passos e os de Nyx, isso significava que Iawy estava de olho em nós. Conforme os anos passaram, nós adquirimos a tecnologia avançada para nossa própria ajuda. Afinal, com Londres evacuada, seria dificil saber onde um novo ataque estava acontecendo. Não existiam humanos pelas ruas para que saissem correndo e gritando, nos dando um sinal de que algo


terrivel estava acontecendo. As vezes eu ficava até tarde da noite sentada em uma cadeira confortavel e olhando para as telas que mostravam as imagens de onde cada camera estava, me iludindo de que poderia ver Andrew e ter certeza de que ele não fazia parte mais do meu mundo. Eu estava fazendo de tudo para não querê-lo vivo, ninguém podia me culpar que aos poucos eu estivesse aceitando que ele era o próprio mal encarnado. Pelo menos um progresso estava acontecendo. Conforme nos aproximávamos da central de caçadores, eu pude ver as luzes do único prédio grande que continuava inteiro e bonito. Sem que nenhum vidro tivesse quebrado quando a cidade parecia estar em um pós apocalipse. Até mesmo a cor branca continuava inteira quando eram pilastras ao invés de vidros, eu pensei que pelo menos elas ficariam cinzas, devido a tanto fogo que houve ao nosso redor. Mesmo a grama perto do prédio continuava verde... Iawy havia perdido sua mansão, assim como eu, mas sua central ainda continuava inteira e pronta para uma guerra. Nyx e eu entramos no prédio e caminhamos diretamente para o elevador, assim que as portas se fecharam e mais ninguém entrou, eu apertei o botão que nos levaria até o quinto andar, até o andar onde vários quartos se encontravam. Eu tirei meu dedo do botão após esmagá-lo e uma fina camada de gelo estava no meio dele, quase me impossibilitando de ver o numero 5. O gelo... isso ainda era dificil de explicar, mas esse poder sempre aparecia quando meus pensamentos se focavam muito em Andrew. — Bom,— Nyx começou a falar após seguir meu olhar para o botão.— Pelo menos você não congelou o elevador inteiro ainda.— — Eu nunca congelei nada inteiro.— Falei a verdade. — Por que temos sorte. A maioria dos caçadores morrem de medo em esbarrar acidentalmente com a rainha do gelo.— — Eu não tenho nenhum controle nisso.— Murmurei. Eu não queria ninguém esbarrando em mim, isso era obvio, mas não desejava que alguém sentisse medo em estar no mesmo corredor que eu. — Acho que todas as criaturas sobrenaturais levam anos para se acostumar com seus poderes, eu duvido muito que Iawy tenha sido sempre ágil quando se trata de mudar sua aparencia.— — Você está certa, mas não deixa de ser horrível sair congelando botões de elevadores e outras coisas.— Nyx deu de ombros.— Poderia ser pior.— Eu fiquei em silêncio, provando que não discordava das palavras que a licantropa acabará de dizer, eu apenas estava ansiosa para chegar até meu quarto e dormir um pouco.— Hey.— Nyx disse para recuperar minha atenção.— Eu irei até Iawy agora para ver se tenho alguma chance de vê-lo sozinho.— — Sem problemas, Nyx.— Eu disse antes do elevador parar no quinto andar e ver as portas se abrirem para que pudesse sair.— Eu não preciso de proteção para ir até o meu quarto.— Não era como se Nyx fosse uma grande guerreira e ela me protegesse de todos os males, mas há quase oito anos quando Londres passou a ser atacada, eu quase tive que implorar para Iawy não colocasse uma câmera em meu quarto. Não por pensar que eu poderia fazer uma loucura em quanto estava fechada sob as paredes do meu quarto, de longe eu poderia ter tanta sorte assim para causar minha própria morte, mas o incubus pensava que Andrew poderia vir até mim. Acabou que o vampiro demonstrou ter várias outras prioridades para ao menos se perguntar se eu ainda era viva. Eu sabia que Andrew estava vivo, pois os deuses nos davam algumas informações sobre ele e Amethyst as vezes. Os deuses poderiam colocar um basta nisso, já que eles estavam se interagindo mais em nosso mundo, mas ainda sim, eles viviam dizendo que Andrew não poderia morrer com sua alma completamente negra. A única explicação era que a alma dele era muito poderosa e


realmente rara, a alma de Amethyst poderia ser comparada com a de um rato em quanto a de Andrew seria sempre um enorme leão. Um poder tão grande como esse não poderia pertencer ao inferno, por mais que Hades fosse sensato diferente de como as historias o citava, isso significava problemas. A alma de Andrew deveria estar equilibrada para que metade fosse pura e a outra negra, assim eles poderiam dividi-la em duas partes, a tornando mais fraca. Andrew não poderia morrer, mas por que eles não davam um fim naquela bruxa? Eu ficaria muito feliz em saber que ela morreu. Até mesmo poderia jogar confetes em seu tumulo ao invés de levar rosas. Deuses... Eles eram tão problemáticos quanto eu pensava que eram. Além de nunca dizerem seus segredos, também não falavam sobre suas regras. Era difícil de entendê-los quando as coisas funcionavam assim, mas eu sabia que eles estavam tentando manter suas principal regra: não se interagir com humanos ou criatura sobrenaturais. Apesar de tudo ser complicado agora em que realmente precisamos da ajuda deles, eu entendia que algo ruim poderia acontecer se eles caminhassem ao nosso lado como se fossem apenas humanos em um passeio. Eu acho que a existência deles para nós, na mente deles, deveria ser como na religião humana quando ninguém tem respostas para provar que ela realmente existe, mas os deuses falharam completamente em se manter longe de nós. Depois que as portas do elevador se fecharam calmamente eu caminhei até o meu quarto pelo corredor silencioso. No quinto andar apenas se encontravam os quartos de pessoas importantes, por exemplo, os outros chefes de centrais que se espalhavam pelo mundo. Eu não era uma pessoa tão importante, mas ninguém criticou ao saber que eu estaria dormindo nesse andar. Afinal, eu sempre fui a protegida de Iawy, não uma pessoa qualquer que estaria se misturando em outro andar com caçadores que nem lembrava seus nomes. Eu estava pronta para entrar em meu quarto quando a porta da frente se abriu, automaticamente me virei para encarar Lúcifer. O vampiro de cabelos loiros desde que fomos obrigados a nos mudar para esse prédio insistiu em ter seu quarto de frente ao meu, dizendo que assim seria mais fácil de me proteger. Ele não tinha mais Andrew ameaçando sua vida para cuidar de mim, mas acho que ele se sentia obrigado a fazer isso. Mas acabou que não era Lúcifer saindo daquele quarto e sim Emme. Ela sorriu imediatamente para mim assim que encontrou meu olhar, ela era tão pequena quanto eu quando estava sem minhas booties. Seus cabelos vermelhos e ondulados iam até sua cintura. Eu costumava pensar que deuses tinham sempre uma imagem sexy, mas Emme nunca foi assim. Ela era totalmente adorável, mesmo sendo a filha de Hades. A maioria das pessoas não acreditavam que ela era filha do rei do inferno, mas Emme possuia uma alma rara também e ela estava sempre pura. Quando Lúcifer se transformou em um vampiro, ele trocou a alma de sua mãe pela imortalidade e assim que Emme nasceu, Hades implantou essa alma em sua filha, para que pelo menos existisse um ponto de bondade onde existia somente maldade e sofrimento. — Olá, Roxie.— Ela disse gentilmente, parecendo uma criança que acabará de ganhar um presente. — Emme, eu sinto muito!— Me desculpei quando rapidamente o dia de ontem veio em minha cabeça, a lembrança de que ela dizia que me ensinaria alguns truques para controlar o meu novo poder. Emme estava me ajudando a lidar com o fato de poder produzir gelo com minhas mãos, ela


era a única que realmente entendia como lidar com isso já que dominava o fogo. Se os caçadores tinham medo de serem congelados por mim, eu não gostaria de imaginar o que pensavam sobre uma deusa do inferno, que controlava o fogo, andando pela central.— Oh,— O sorriso inocente dela apenas aumentou.— Não se preocupe com isso, já existe muito gelo lá fora para termos que aguentar ele aqui dentro também.— Como eu disse... Adorável. Afinal, se fosse Lúcifer me ensinando algo, provavelmente ele me puxaria por meus cabelos quando eu faltasse a alguma aula. Emme riu suavemente e o som de seu riso trouxe minha mente de volta a ela.— O que foi?— Perguntei um pouco confusa. — Eu não entendo como tantas pessoas pensam coisas tão ruins de Lúcifer, ele é tão amoroso.— Emme havia escutado meus pensamentos, essa era a única resposta provável que tinha para ela falar isso como se estivesse me respondendo. Deuses sempre ignoravam os pensamentos de humanos e criaturas sobrenaturais, mas Emme demonstrava que ler pensamentos não era algo ruim de se fazer. Várias vezes ela se arrependia e eu tinha certeza disso quando ela corava devido a algum pensamento pervertido que ouviu de qualquer pessoa ao seu redor. Acho que essa era sua maior dificuldade quando cresceu em um convento e tinha uma alma tão pura que chegava ser ingenua. — Acredite, ele só é assim com você.— A respondi finalmente.— Onde ele está, afinal?— Lúcifer era como um carrapato em Emme, era como se ela fosse uma criança que precisava de ajuda até para andar, mas a verdade era que o vampiro de cabelos loiros a protegia da maldade que existia no mundo. Ele sempre estava ao lado dessa deusa para mostrar as coisas boas quando tudo estava péssimo. Isso era lindo, pois Lúcifer não desejava que sua amada perdesse nunca a inocência clara que estavam em seus olhos mesmo quando raiva a dominava. — Ele está com Iawy.— Emme falou e revelando que Nyx perdeu totalmente suas chances em encontrar Iawy sozinho.— mas eu estou procurando por Lulu que sumiu quando Lúcifer gritou com ela...— Emme não precisava exatamente explicar o motivo de estar saindo de seu quarto sem estar com Lúcifer ao seu lado, ela não estava em uma prisão no final das contas.— Você quer ajudar para encontrá-la?— Eu não tinha nada melhor para fazer além de ficar fechada no meu, então não vi nenhum problemas em oferecer ajuda. Emme se balançou levemente em seus calcanhares e moveu sua cabeça negativamente.— Eu duvido muito que Lulu apareça sem que Lúcifer esteja perto, é mais fácil que ele venha até mim se eu estiver sozinha.— — Então Lulu gosta de Lúcifer, afinal?— — Com certeza,— Emme riu delicadamente.— Acho que ela gosta mais dele do que de mim.— — Já eu, acho que ela é masoquista.— — Masoquista?— Emme perguntou soando como se nunca tivesse escutado aquela palavra.— O que é isso?— Era obvio que Emme não conhecia essa palavra e não seria eu que explicaria o significado para que ela passasse a pensar que impuridade era minha melhor amiga. Esse era o posto de Lúcifer por ter escolhido uma freira para namorar, eu não detonaria com a inocência dela explicando palavras que existiam no mundo pervertido.— Pergunte para Lúcifer, ele saberá explicar muito melhor que eu.— — Oh, tudo bem.— Ela disse sorridente novamente.— Tenho que ir agora, Lúcifer já está pegando o elevador para vir até nosso quarto. Ele não me deixará sair se me pegar aqui conversando com você.— Emme passou a caminhar em direção das escadas ao invés de esperar o elevador chegar até nosso


andar.— Até mais tarde, Emme.— Falei antes que ela começasse a descer os degraus e sumir do meu campo de visão. Eu pensei em esperar Lúcifer aparecer para falar com ele, pois desde que anoiteceu não o vi mais, só que antes de poder sequer olhar o elevador e ver em que andar ele se encontrava, eu ouvi um barulho vindo de dentro do meu quarto. Sem pensar em que o perigo ultimamente era realmente nosso maior inimigo, eu abri a porta para encarar simplesmente o nada de um quarto simples e solitário. Meus olhos correram primeiramente até a parede em que se encontrava uma janela que podia ser chamada de uma parede com um vidro e cortinas grandes e vermelhas para me dar privacidade. Eu olhei para minha cama de casal box que logo me chamou para dormir, mas eu ainda tinha que conferir o banheiro. Fechei a porta atrás de mim e antes de caminhar até o banheiro, eu decidi dar uma olhada no meu closet. Bem, eu não chamaria aquele cubículo onde todas minhas roupas e sapatos ficavam amontoados de closet, mas devido as circunstancias, eu tinha que aceitar que o meu antigo closet, que era do tamanho desse quarto, havia sido destruído. Eu empurrei as duplas portas brancas com frestas para o lado e acendi a luz dele, não havia ninguém lá e eu duvidava muito que existiria alguém dentro do quarto quando a janela ainda continuava trancada como eu havia deixado. Mas mesmo assim a paranoia não deixaria de estar em minha mente até que eu estivesse checado o banheiro. Meu passos foram direcionados até estar de frente com a porta do banheiro, eu a abri cautelosamente e acendi a luz. Lamentei rapidamente por pensar que meu antigo era também ainda maior que esse quarto inteiro, lamentei ainda mais por ele não ter uma banheira... Eu suspirei levemente em alivio quando tudo não passou da minha imaginação agindo ao me deixar acreditar que um daqueles monstros de Amethyst havia invadido meu quarto. Apeguei a luz do banheiro e fechei a porta, ao mesmo tempo que fiz isso outro barulho aconteceu, me fazendo pular de susto quando meu coração se acelerou. Eu me virei para ficar de frente com meu quarto ao invés de encarar uma porta branca e fechada. Nada além de mim. Pelo menos era isso que eu pensava antes de ver pelo canto do uma sombra. — Lulu.— Eu disse o nome daquela mancha negra que havia invadido meu quarto. Tão rapidamente quanto eu disse seu nome ela flutuou até estar em frente aos meus olhos. Ela deixou um som gentil escapar assim que meus olhos se fixaram nela. Talvez aquela sombra do inferno estava me dizendo olá.— Lúcifer e Emme estão lhe procurando.— Falei uma quase mentira. A única preocupada com o sumiço dessa sombra era Emme, mas Lulu não precisava saber. Dessa vez Lulu soltou um som triste e até mesmo se contraiu um pouco, ela demonstrou estar magoada com seus movimentos e barulhos fofos. Provavelmente isso se referia a Lúcifer e seu humor negro.— Lúcifer não conhece o bom humor.— Falei para ela.— Não fique triste por causa disso.— Eu não era a melhor pessoa para falar coisas bonitas a ponto de deixar uma pessoa bem a ponto de querer enfrentar todos os seus problemas. Geralmente eu era a pessoa que escutava, não a que falava. E tudo se tornava mais complicado pelo fato dessa sombra em minha frente ser uma criança. Eu não sabia lidar com crianças, meu mundo sempre girou perto de criaturas sobrenaturais, o mundo onde não existia crianças. Lulu era a coisa mais próxima que eu tive de estar perto de uma criança desde que me tornei imortal. Aquela sombra se aproximou ainda mais de mim e rodopiou em volta do meu corpo em felicidade.


Ela não encostou em mim, pois como uma criatura do inferno, ela odiava coisas geladas. Ela mal gostava da temperatura de Lúcifer, quem dirá da minha. Nem mesmo Lúcifer gostava da minha temperatura atual. Eu odiava isso, mas odiava ainda mais quando ele saia me chamando de bloco de gelo pelos corredores da central. Após Lulu se afastar de mim ela voou até estar próxima da porta, esperando que eu a abrisse. Eu tomei seu rodopio em volta do meu corpo como um agradecimento por ter falado com ela. E como ela estava pedindo para eu abrir a porta do quarto, eu não neguei aquilo.—Tchau, Lulu.— Falei calmamente depois que ela passou por mim e a assisti fazendo o mesmo caminho de Emme. Depois de fechar a porta caminhei até minha cama e me joguei nela. Era somente trancada dentro do meu quarto que eu conseguia ficar sozinha, sem que ninguém estivesse me perseguindo. Todos na central que me conheciam acreditavam que se eu ficasse sozinha algo ruim poderia acontecer, os caçadores que mal me conheciam acreditavam que eu poderia me juntar a Andrew e Amethyst, pelo simples fato de todos acreditarem que eu ainda o amava. Eu ainda o amava, mas jamais poderia aceitar no que ele se tornou. Em minha mente, o meu Andrew em algum lugar dentro de seu corpo ainda existia, esse pensamentos aos poucos se desfazia conforme o tempo passava, mas ainda existia fragmentos. Eu jamais poderia me juntar a ele e deixar todas as pessoas que eu amava para trás. Eu nunca trocaria o lado certo novamente para estar perto de uma pessoa que possuía meu coração, mas quem conhecia Andrew, pensava que ele poderia me sequestrar ou coisa do tipo. Pois querendo ou não, eu fui marcada como dele e isso tendo acontecido, sua possessividade ficaria louca ao imaginar que algo que pertencia somente a ele estava no lado que não aceitava as coisas que ele achava certo. Esse era o motivo de ninguém me deixar sozinha, eles acreditavam que Andrew poderia fazer algo comigo. Para mim, ele nem ao menos se importava se eu ainda estava viva. Na verdade, eu tentava entender o que se passava na mente de Andrew desde que ele voltou para Londres a nove anos atrás, era confuso demais. Pois desde que essa guerra começou, os monstros de Amethyst jamais atacaram a central de Iawy, era estranho que ninguém tenha ao menos tentando invadir esse lugar que se tornou a casa para muitas criaturas sobrenaturais. Talvez o maior ponto de Amethyst era quebrar a barreira que os deuses criaram em volta de Londres, isso devia ser tão importante para que pudesse continuar sua matança de criaturas sobrenaturais que nem ao menos devia lembrar que a central ainda existia para ajudar os humanos a darem o fora daqui e recrutar criaturas sobrenaturais que vagavam solitários por Londres e os tornarem caçadores. Eu encarei o teto por vários segundos em quanto continuava pensando no que minha vida havia se tornado. Era difícil saber em qual tópico dela eu estava mais ferrada. ---A hora de dormir sempre era a minha hora favorita, pois esse era o momento em que eu não tinha que escutar ninguém fazendo planos em como matar Andrew. Isso era horrível. Já fazia alguns meses desde que ele retornou a Londres e eu não havia mais o visto, mas isso não me admirava. Acho que voltar para Londres com sua alma totalmente negra a última coisa que ele deveria ter vontade de fazer era encontrar um antigo amor. Um antigo amor... Eu gostava de me colocar nessa posição quando pensava nos sentimentos de Andrew, assim era mais fácil de superar que ele se esqueceu de mim. Levemente eu passei meu dedo pela cicatriz em minha mão esquerda, a cicatriz que simbolizava nosso casamento. Casamentos sobrenaturais raramente existiam, então eles marcavam essa


raridade com uma cicatriz eterna, pois se duas criaturas sobrenaturais estavam dispostas a casar e aceitar uma cicatriz em sua mão esquerda, era por que eles realmente se amavam. E apenas alianças nunca seriam o suficiente. Quem visse a cicatriz de Andrew, saberia que um dia ele amou alguém muito mais do que sua vida. Ele estaria marcado para sempre. Nosso casamento estaria marcado para sempre. Desde que Andrew voltou para a cidade, Iawy quase me obrigou a ir morar com ele até que as coisas fossem resolvidas com Andrew, eu tinha quase certeza que o incubus me prenderia em uma jaula em sua mansão caso eu não tivesse aceitado sua proposta tão facilmente. Eu não era idiota de ficar sozinha na mansão real com Andrew matando tantas criaturas sobrenaturais. Eu estava com medo dele, pois vê-lo com sua alma totalmente negra era algo que nunca aconteceu. Lúcifer e até mesmo Iawy acreditavam que eu poderia trazê-lo de volta, mas me pediram calma pois nunca me colocariam frente a frente com ele nesse estado. Em quanto a clave faziam planos de executar o rei dos vampiros, nós planejamos prender Andrew em correntes e apenas soltá-lo quando sua alma voltasse a ser equilibrada. Isso era cruel, mas até agora foi o melhor plano que tivemos. Eu caminhei para a minha nova cama que sempre me fazia pensar que ela era grande demais apenas para um corpo, mas com sorte as coisas poderiam melhorar nos próximos meses. Já era tarde e eu decidi não ficar mais pensando nesse assunto que parecia sempre me esfaquear no coração quando começava a imaginar o que Andrew faria comigo se um dia ficássemos cara a cara. A maior parte de mim pensava que isso seria muito ruim. Novamente eu comecei a afastar esses pensamentos da minha cabeça, mas antes mesmo que pudesse ter um sucesso nisso um grande estrondo do lado de fora do meu quarto ocorreu. O barulho foi como se vidros estivessem sendo quebrados e logo em seguida um grito fino, porém raivoso, invadiu a casa. Eu retirei a minha lamina de dentro da bainha, uma faca conhecida como gerber LMF, mas na maioria das vezes eu nem ao menos lembrava desse nome, então era mais fácil chamá-la pelo nome que sempre vinha a mente. Outro grito fino se entendeu dentro da mansão de Iawy e meus dedos ficaram ainda mais fortes contra aquela faca em minha mão. Somente pelo grito daquela coisa que estava do lado de fora do meu quarto, ficou muito obvio que minha lamina era muito pequena. Outros gritos vieram, mas aqueles gritos viraram de uma mistura de algo animal e humano. Seja lá o que estivesse acontecendo, a mansão de Iawy não era a única a ser atacada. Eu corri até a janela do meu quarto para tentar ver alguma coisa, pois sair do meu quarto era a última coisa que eu estava fazendo na minha lista para lidar com essa situação. Meus olhos varreram toda a rua e a cada minuto que passava humanos passavam correndo e gritando por ela, olhando desesperados para os lados. Havia também esse grito fino e irritado, mas não tinha como vê-los. Eu não conseguia ver quem era responsável por esse grito irritante e animal. O barulho da minha porta caindo fez com que eu me virasse rapidamente, na verdade até mesmo a parede em volta da porta estava destruída agora. Eu soltei um grito por instinto, por medo. Imortal ou não, meus sentimentos sempre seriam os mesmo.


Rosnados selvagens vieram do meio da escuridão e quando aquela coisa que derrubou a porta do meu quarto saio do meio dela, caminhando para onde a luz do luar o mostraria, minha respiração automaticamente se prendeu quando eu realmente vi o que era aquilo. Eu não sabia nem ao menos onde começar para descrever o que estava em minha frente. Era como se eu estivesse tendo um pesadelo onde minha própria mente criou um monstro para me assustar. Mas eu não estava dormindo, tudo isso era real. Aquilo era real. O monstro em minha frente definitivamente lembrava um morcego, um morcego que era muito maior do que eu. Ele também era deformado como se tivessem jogado ácido em sua pele fina a ponto que ela ficasse toda gosmenta. Seus olhos eram inteiramente vermelhos, era difícil saber se ele estava olhando para mim ou a redor do meu quarto, mas eu sabia a resposta. Ele se aproximou mais um pouco de mim, usando seus cotovelos e pernas para andar, com sua cabeça para cima e cheirando o ar. Eu continuei paralisada exatamente onde estava. Talvez aquele monstro realmente não soubesse que eu estava ali. Ele subiu em suas duas patas de trás e abriu suas enormes asas marrons e literalmente destruiu ainda mais o meu quarto. Ele gritou novamente e eu fui obrigada a tampar meus ouvidos que ficaram sensíveis ao som. E então, aquele monstro me atacou. ---Eu abri meus olhos rapidamente quando meu coração acelerado me despertou de uma lembrança horrível. A lembrança da noite em que finalmente conheci um dos monstro de Amethyst que causou tanto panico em Londres a ponto da cidade ser evacuada. Vleermuis, esse era o nome daquele monstro horrivel que quase causou minha morte naquela noite em que eu estava me preparando para dormir. A lenda holandesa o nomeou como Vleermuis, uma raça de morcegos que existiu antes mesmo que humanos respirassem pela terra, uma raça carnívora e perigosa que Amethyst fez questão de trazer a vida nos dias de hoje. Eu respirei fundo e fiquei feliz por ter acordado daquela lembrança que poderia ter me traumatizado, mas nos últimos anos eu vi tantas coisas horríveis que um vleermuis me atacar estava longe de ser traumatizador. Também já era dia lá fora e apesar de ultimamente estar dormindo pouco, eu simplesmente não consegui mais fechar meus olhos e permitir que minha mente ficasse cheia de sonhos. Eu caminhei até a frente da enorme janela do meu quarto e abri as cortinas. Era um dia muito bonito que estava fazendo, o tipo de sol que vampiros odiariam, mas era bom saber que apesar de estarmos sofrendo com uma enorme crise, Sol ainda fazia um ótimo trabalho em mostrar a todos que o mundo ainda existia e nós tínhamos que fazer de tudo para colocá-lo em ordem. Era uma pena que a vista que eu tinha da cidade não era tão bonita quanto a do céu, a maioria dos prédios ou casas grandes estavam quase caindo ou totalmente deformados. A mansão real não era o meu lugar favorito, mas ela era minha casa e eu realmente senti uma dor no coração quando aqueles monstros a destruíram sem piedade nenhuma. Mas nenhuma dor se comparava com a de saber que Seline estava morta. A governanta da mansão real, que esteve ao lado de Andrew por mais de anos, não conseguiu sair com vida quando os


vleermuis começaram a atacar. Eu sentia falta dela, pois Seline foi uma grande amiga quando imaginava que Andrew estava morto. E saber que ela foi um alimento para aqueles animais que pareciam morcegos deformados, fazia meu estomago revirar em várias emoções. E a pior delas era saber que Andrew era responsável por isso. Os deuses poderiam entrar em guerra se Andrew fosse morto com sua alma totalmente negra, mas ele tinha que morrer, mesmo que eu não aceitasse lidar com isso, Andrew não podia continuar a prejudicar o nosso mundo. Os deuses tinham que entender que não havia o que fazer. A única chance do mundo que eles construíram voltar a ser normal, era Andrew e Amethyst mortos. Mesmo que a alma de Andrew voltasse a ser equilibrada, como todos desejavam, a clave não aceitou que ele vivesse mesmo que isso acontecesse. Então era melhor para todos que Andrew morresse como um desconhecido, do que como a pessoa que todos amavam. Talvez isso fosse o meu egocentrismo falando, mas como os deuses sempre nos deixavam na mão quando realmente precisamos deles, nós os deixaríamos lidar com isso sozinhos. Afinal, se Andrew voltasse a ser o homem que eu amei, sua morte jamais aconteceria. E eu não me importava nem um pouco que uma guerra começasse entre criaturas sobrenaturais pelo simples motivo de Andrew ainda estar vivo. Além do mais, com o vampiro morto ou vivo uma guerra iria acontecer. Preferia que essa guerra não fosse perto de mim, Andrew escolheu seu caminho quando permitiu que sua alma ficasse negra, eu estava escolhendo o meu para proteger as pessoas que realmente me amavam e se importavam comigo. Antigamente eu me chamaria de louca em colocar os amigos que chamava de família a frente da vida de Andrew, mas nos dias de hoje não era loucura. Eu sempre iria amar Andrew, não importava quantas pessoas ele matasse com sua alma negra, aquele vampiro sempre seria o homem que roubou e guardou meu coração para ele mesmo. Provavelmente saber que ele estava morto, me deixaria no mesmo estado que estive a nove anos atrás. Eu não sabia, mas ele tinha que morrer e isso era o certo. O certo tinha que vencer dessa vez. ____________________________________ Após ter certeza de que era um horário adequado para sair do meu quarto, pois não desejava sair dele apenas para encontrar pessoas que não conhecia, eu tirei meu pijama e vesti um jeans velho e uma blusa de mangas curtas da cor azul claro. E claro, minhas amadas booties. Eu havia perdido muitas roupas conforme os anos passaram, eu nem ao menos me lembrava o que era me sentir dentro de um vestido de gala. Nem ao menos podia me recordar o que era sentar ao lado de uma pessoa amada no final de alguma tarde e sentir paz preencher todos os meus sentimentos estressantes que tive ao longo do dia. Todo o conforto, de todas as pessoas que ainda estavam vivas, havia ido embora, inclusive o meu. Não sabia exatamente de quem sentia mais pena, se era dos humanos que estavam tendo sérios problemas ao lidar sobre o nosso mundo ou era simplesmente do estado que todas as criaturas sobrenaturais se encontravam. O estado em que se elas ainda estavam vivas, eram treinadas para matar os vleermuis. Atualmente, minha curiosidade estava focada em saber do motivo do por que Amethyst desejava a morte das criaturas sobrenaturais, mudando de raça sempre que atingia mil e duzentas mortes. E


principalmente saber, por que elas tinham que ser escolhidas a dedo. Era pior quando eu tentava descobrir respostas, pois no final de tudo eram perguntas que provavelmente só voltariam a ser respondida quando a bruxa que estava causando uma loucura pelo mundo quebrasse a barreira de Londres e voltasse com sua matança. O que mais me surpreendia era que nem mesmo os deuses entendiam o que ela estava fazendo. Parecia que as vezes eles tinham medo dela. Eu prendi meu cabelo em um alto rabo de cavalo depois de afastar minhas curiosidades que demorariam para serem respondidas e dando um último olhar no espelho, respirei fundo. Tinha dias que simplesmente era difícil caminhar pela central e receber olhares de “Ela provavelmente ainda ama o psicopata” das pessoas que eu encontrava em minha caminhada para qualquer lugar. Normalmente quando eu não decidia sair da central, meu lugar favorito de permanecer era em meu quarto ou junto com Iawy em seu escritório. Pelo menos lá entravam somente pessoas que eu conhecia e os donos de outras centrais que estavam nos ajudando, eles eram muito educados comigo apesar de odiarem Andrew. Apesar de estar sob as asas protetoras de Iawy em seu escritório, o meu caminho para chegar até ele nem sempre me poupava dos olhares que eu odiava. Minha vontade era de me descabelar toda e gritar que sim, eu provavelmente amava Andrew, mas isso não me tornava outra psicopata que aprovava tudo o que ele estava fazendo. Se eu o queria morto? Definitivamente não, mas era o necessário e todos teriam que fazer um sacrifício algum dia. Eu saí do meu quarto e bati a porta atrás de mim, agora eu estava com raiva. Era melhor deixar que todo meu corpo de tornasse uma fonte raivosa do que me permitir chorar. Literalmente eu passei 8 anos da minha vida chorando após Andrew ter me abandonado. O pior de tudo isso era que nem poder chorar como uma pessoa normal eu podia. Afinal, alguma vez ou outra uma lagrima se tornava gelo e se livrar da pequena gota congelada era realmente dolorido. Caminhei pelo corredor vazio até estar de frente com as portas fechadas do elevador e em quanto eu o esperava chegar até o meu andar, ouvi o barulho de uma porta sendo aberta e rapidamente sendo fechada. Eu olhei para trás somente pra encontrar o vampiro de cabelos de loiros caminhando pelo corredor até mim. Lúcifer estava aparentemente de bom humor. Era aparentemente, pois as vezes eu tinha quase certeza de que esse era o sentimento que ele não possuía. O vampiro estava carregando um blazer da cor preta sob um de seus ombros, o segurando somente com um dedo.— Chupim.— Ele me cumprimentou calmamente quando chegou ao meu lado, esperando pelo elevador também. Eu o encarei, Lúcifer realmente estava de bom humor. Eu estava feliz por ele, obvio, pois apesar disso ser algo raro, nos dias de hoje era algo muito bom de se ver. — Suponho que tenha tido uma boa noite.— Falei para ele, ignorando o seu cumprimento. Lúcifer riu, realmente riu sem ironia ou sarcasmo. Isso estava me deixando um pouco assustada para falar a verdade...— Oh, você nem imagina.— Lúcifer disse.— Ontem, pela primeira vez em anos, Fiemme não me obrigou a me ajoelhar diante da cama e rezar antes de dormir.— — Uau, Lúcifer. Tenho que admitir que Emme conseguiu te dominar completamente.— Lúcifer rolou seus olhos com a minha fala e logo em seguida me jogou um olhar fuzilador.— Não me olhe assim, quem o conheceu anos atrás nunca acreditaria que sua definição sobre ter uma boa noite era não ficar de joelhos e rezar.— — Eu não quero magoar Emme, é apenas isso.— Ele murmurio sua desculpa. Eu me permitir rir por um momento, a deusa do fogo realmente conseguiu colocar Lúcifer na linha. Se não fosse cruel demais, eu até falaria que esse era o motivo do mundo estar acabando. O elevador chegou finalmente e abriu suas portas para revelar que Lúcifer e eu seriamos as únicas pessoas a ocupá-lo. Após entrarmos, decidi perguntar ao vampiro para onde ele iria, por


curiosidade, e acabou que ele iria para o mesmo lugar que eu. Também perguntei se havia algum problema de eu estar junto, caso Lúcifer desejasse conversar a sós com Iawy, mas o vampiro disse que apenas perdeu seu sono e o incubus era o único que acordava antes do sol nascer, então não havia nenhum problema em ir atrás dele ao invés de ficar fechado em seu quarto. — Você está bem, Roxie?— Lúcifer perguntou depois de um tempo, quebrando o silêncio que existia entre nós. Eu o encarei, era difícil responder essa pergunta com sinceridade. — Estou bem.— Decidi não ser sincera. — Você está muito quieta para uma pessoa que gosta de tagarelar.— Eu sorri por um momento, um sorriso seco e sem nenhum motivo para ter nascido em meu rosto. Meus olhos encontraram com aqueles verdes anormais. Os olhos de Lúcifer eram os mais bonitos que já havia visto em toda minha vida, eu tinha certeza disso.— Minha irmã mais velha possuía olhos verdes, mas de longe eram como os seus.— Falei a primeira coisa que me veio a cabeça, possivelmente querendo me livrar de ter que responder a pergunta não feita do motivo de eu estar em silêncio. — Eu sou único, uma beleza rara, minha querida.— Lúcifer disse sarcasticamente, mas tão rápido quanto ele brincou, ou falou a verdade, ele pareceu ficar interessado.— Annabelle possuía olhos negros e sua irmã o verde... De onde veio os seus azuis? Provavelmente você teria que puxar os verdes ou os negros, como elas.— — Eu sou uma filha ilegitima, Lúcifer.— Expliquei e o vampiro foi pego de surpreso. Para mim ele sabia disso, mas acho que nunca cheguei a comentar com ele devido a surpresa em seus olhos.— Acho que meu verdadeiro pai deveria ter olhos azuis.— — Você nunca conheceu seu pai?— Eu dei de ombros, esse assunto não me incomodava mais a ponto de me deixar triste como no passado, lidar com ele era como falar de um dia qualquer que choveu e logo depois o sol voltou para seu posto como se nenhuma tempestade tivesse acontecido.— Eu acho que não importa no final das contas, ele me negaria como os meus pais fizeram.— — Então acho que suas irmãs foram as únicas coisas boas naquela época.— — Sim,— Eu disse com um sorriso, afastando a lembrança da morte delas.— Elas e...— Meu sorriso se desmanchou e eu parei de falar quando notei o nome que estava prestes a dizer... Isso não soava certo. Eu não deveria colocar Andrew como uma boa lembrança. Lúcifer olhou para mim, mesmo não podendo mais ler minha mente, ele sabia o que estava ocorrendo dentro da minha cabeça nesse exato momento. — Você não precisa ter medo de falar o nome dele, Roxie.— Ele foi compreensivo.— Andrew provavelmente nunca saíra do seu coração, ele sempre será uma parte bonita do seu passado.— — Lúcifer, você deveria me incentivar a esquecê-lo e não dizer algo como isso.— — Eu não posso brigar contra seus sentimentos por ele, Roxie, por mais que seja correto, o amor sempre derrota tudo.— — Eu acho que não.— Suspirei. Se o amor realmente derrotasse tudo, eu ainda teria Andrew ao meu lado e dizendo todos os dias que me amava. Dizendo principalmente como a eternidade seria pouco tempo para nosso amor. E agora, eu tinha que conviver com a lembrança de que ele tinha traído cada palavra como essas ao permitir que sua alma se tornasse negra. Muitas pessoas falaram que minha morte seria o motivo para que Andrew se tornasse o que tornou, acho que no final isso não era uma verdade. — Você está enganada, Roxie.— Lúcifer se virou para mim e eu encontrei o seu olhar.— Se você sente prazer ao matar, você pode amar também.— — Andrew escolheu seu próprio caminho, Lúcifer, se ele ainda sente algo por mim, isso nunca vai mudar o que aconteceu.— Lúcifer provavelmente estava prestes a me dar uma resposta, mas antes do vampiro abrir a boca o elevador parou e suas portas se abriram. Nós já estávamos no andar onde Iawy normalmente ficava


quando nada de importante estava acontecendo. Na maior parte do seu tempo ele treinava os novos caçadores, então era de costume que eu ficasse sozinha em seu escritório as vezes. Mas assim que as portas do elevador se abriram, elas revelarem Nyx esperando por ele. Ela pareceu surpresa em ver Lúcifer e eu acordados naquele horário. Principalmente Lúcifer que era uma criatura muito mais noturna que eu. Então, a coisa mais surpreendente e horripilante aconteceu. Nyx sorriu para nós. Ok, algo muito estranho estava acontecendo nessa central hoje. Não podia ser possível que Nyx estivesse sorrindo sem motivo e Lúcifer de bom humor. Aparentemente a licantropa também teve uma ótima noite, mas isso não inclua o fato de que ela não teve que rezar na noite passada. Finalmente, depois de anos, Nyx e Iawy haviam achado um jeito para que realmente ficassem juntos. Um jeito que Iawy não machucasse Nyx quando seu controle fosse embora por causa do enorme prazer por estar com sua amada. Acredito que eles estavam tirando o atraso na noite passada para que Nyx estivesse tão sorridente como agora. — Você tem que ver Iawy agora?— Nyx perguntou, segurando as portas do elevador quando elas ameaçaram se fechar. — Por que? Está sentindo minha falta, poodle gigante?— — Eu não estou falando com você, Lúcifer!— Ele deu de ombros.— Não importa, você sente minha falta de qualquer maneira.— Nyx rolou seus olhos azuis escuros e isso tirou um sorriso satisfeito de Lúcifer, o mestre em irritar as pessoas. O vampiro também saiu do elevador e ao fazer isso trombou com o ombro de Nyx propositalmente. Eu decidi ficar em silêncio em quanto eles se matavam, mas depois que ambos se acalmaram e a licantropa continuou segurando o elevador, decidi respondê-la.— Eu não tenho nada melhor para fazer, Iawy é o único que está acordado a essa hora, por isso que vou vê-lo.— — Ótimo, então você não precisa vê-lo.— Ela entrou finalmente e deixou que as portas se fechassem entre nós e Lúcifer. As vezes eu sentia que era no elevador onde mais encontrava as pessoas, as vezes também tinha uma leve impressão que passava a maior parte do meu tempo nele. — O que você quer de mim?— Perguntei calmamente olhando para Nyx que acabará de apertar o botão para voltarmos até o quinto andar. — Não aja como se estivesse morta, hoje é um ótimo dia!— Nyx falou.— Nós só temos que pegar Emme.— — Eu acho que Emme ainda está dormindo.— — Então ela será acordada.— — Você poderia me dizer por que o dia é ótimo e o motivo de tirarmos Emme de seu sono?— Perguntei calmamente. — Porque nós vamos para o shopping.— Eu pisquei e fiquei sem reação. A porta dos elevadores se abriram no quinto andar e Nyx foi obrigada a me puxar quando não me movi. — Você está louca? O shopping foi destruído!— Comecei meus argumentos.— Lúcifer jamais permitirá que Emme vá conosco!— — Ele não precisa saber de qualquer maneira.— Nyx deu de ombros. — Lúcifer irá nos matar!— — Não, se ele não souber.— Eu encarei Nyx me perguntando se ela estava falando sério. Primeiro por que o que sobrou do shopping não podia ser mais considerado como um shopping. E segundo, era que Lúcifer me mataria diversas vezes até eu suplicar por perdão. Se ele faria isso com Nyx? Com certeza não, a licantropa ainda tinha a proteção de Iawy! Eu era a única largada ao vento na história, a única que


provavelmente iria sofrer. — Espere,— Eu falei a puxando por seu braço para que pudesse pará-la.— Iawy sabe disso?— — Ninguém precisa saber, Roxie. Nós não estamos indo lutar contra Amethyst ou coisa do tipo.— — Você está louca?!— Eu controlei minha voz para não acordar toda a central. — Pare de ser tão certinha, nós apenas vamos fazer um passeio.— Nyx se livrou da minha mão em seu braço e caminhou até estar de frente com o quarto que pertencia a Emme e Lúcifer.— Além do mais, ainda é dia.— — Isso não significa que estamos seguras!— Nyx me ignorou completamente e abriu a porta do quarto em que Emme estava sem ao menos bater. Definitivamente, eu iria morrer hoje.— Não faça isso, Nyx, alguém pode nos ver pelas câmeras espalhadas pela cidade!— Eu sussurrei, quando vi que Emme estava em um sono profundo. — Bom, nós todas sabemos que durante o dia é a hora que menos se preocupam com as câmeras pela cidade.— — ISSO É LOUCURA!— Dessa vez eu não contive minha voz e por cima dos ombros de Nyx eu vi Emme se mexendo, mas por sorte ela não acordou. E por mim, eu não a acordaria.— Iawy vai matar você.— voltei a falar mais baixo. — Iawy não teria coragem, Lúcifer muito menos mataria Emme.— Claro, por que eu provavelmente levaria a culpa de tudo.— Eu estou cansada de ficar aqui olhando para o teto ou dormindo. Nem ao menos tenho a atenção de Iawy e ir para o shopping recuperar tudo que ainda está inteiro, sem ao menos ter que pagar, me parece ser muito agradável.— — O que vocês estão fazendo aqui?— Uma outra voz soou no quarto, uma voz calma mas um pouco assustada. Eu olhei por cima dos ombros de Nyx apenas para ver Emme sob seus cotovelos, olhando para nós com aqueles olhos cinzas rodeados pela cor negra com curiosidade. Nyx se virou para ela e sorriu malignamente, para Emme provavelmente seria apenas um sorriso bonito já que ela não via maldade nas pessoas. — O que você acha de dar um passeio, Emme?— Ela perguntou.— Apenas comigo e Roxie.— — Isso parece ser legal.— Ela disse delicadamente, com um pouco de preguiça.— Mas não acho que Lúcifer permitirá que isso aconteça.— — Ele não precisa saber.— Nyx falou e eu quase ri descaradamente devido a expressão que Emme atirou para licantropa em sua frente. O olhar que dizia que isso era um pecado enorme.— Olha, você não sai desse prédio desde que entrou, não me diga que gosta disso.— — Eu não gosto, mas é seguro.— — Por favor, não seja negativa como Roxie...— Nyx quase implorou.— É apenas uma passeio entre meninas, nada irá acontecer.— Emme me olhou e se os olhos de Nyx não estivessem mim eu provavelmente estaria balançando minha cabeça negativamente, realmente implorando para que ela falasse não. A deusa em nossa frente, depois que segundos passaram, sorriu e eu soube nesse momento que alguém me mataria hoje. E eu jogava todas minhas fichas que essa pessoa seria Lúcifer.— Ok, eu aceito.— Nyx jogou seus braços para cima após a resposta dela em comemoração e até mesmo um riso satisfeito saio de seus lábios.— Você não se arrependerá de ter que esconder isso de Lúcifer, eu prometo.— — Isso é errado!— Eu era a única pessoa sensata presente no lugar? Pois eu esperava mais de Emme. — Blá, blá, blá.— Nyx olhou para mim entendiada.— Nós estamos apenas indo para um shoppings durante o dia, não caminhando para o inferno.— — Nyx, você não pode estar falando sério.— Eu a repreendi.— Você não pode ter feito Emme concordar com isso!— — Pessoal.— Eu ouvi Emme chamar nossa atenção, mas resolvi ignorar. — Roxie, eu não sou a única sofrendo nesse prédio e muito menos controlo a mente de Emme, não me culpe por isso.— — Você não dev...— — Pessoal!— Emme falou mais alto dessa vez e nós olhamos para ela, que ainda estava em sua


cama, eu tive que usar toda o meu controle para não usar uma expressão fuziladora, pois a deusa com uma alma pura não merecia isso.— Lúcifer acabou de sair do elevador e está vindo até o quarto.— — Droga!— Nyx disse antes que minha mente processasse o que Emme acabará de falar.— Ele deveria estar com Iawy! Conversando com Iawy e não apenas lhe dando um beijo de bom dia!— — Vamos para o closet.— Eu comecei a empurrar Nyx em direção do closet de Lúcifer, preocupada em que não desse tempo para chegarmos até lá antes do vampiro entrar no quarto, já que Nyx estava tão ocupada o xingando. Eu olhei para Emme quando empurrei Nyx para dentro do cubículo que também era pequeno para as roupas de Lúcifer, mas foi a deusa confusa que me preocupou.— Lúcifer beija Iawy?— Ela perguntou mais para si mesma do para mim, mas eu não tive chance de falar alguma coisa, pois ouvi os passos de Lúcifer próximos de nós. — Finja estar dormindo!— Eu mandei e fechei a porta do closet ao mesmo tempo que a porta do quarto foi aberta, Emme encostou sua cabeça no travesseiro. Talvez fosse ridículo nos escondermos de Lúcifer no closet, com sorte ele nos acharia se estivesse atento a tudo no quarto. Eu esperava que isso acontecesse, pois não desejava nos auto botar em perigo ao ir para o shopping. Mas ao mesmo eu queria que ele não descobrisse que estávamos em seu quarto, pois seria um grande problema assim que todos soubessem dos nossos futuros planos. Eu olhei pelas frestas dos closet até encontrar Lúcifer e seus olhos fixos em Emme. Tudo indicava que ele não havia nos escutado e muito menos acreditava que sua amante estava na verdade fingindo estar dormindo. Ele sorriu com a imagem de Emme dormindo e atravessou o quarto até estar próximo da cama, se sentando na curva em que o corpo de sua deusa fazia para ficar mais próximo dela. Lúcifer também se curvou até que seu nariz encostasse nos cabelos vermelhos de Emme, ele a acariciou com aquela única parte do seu corpo encostando nela. Uma carícia lenta e cheia de amor. Era muito agradável apenas de presenciar aquela cena, mesmo quando eu acreditava que Lúcifer era um insensível. — Acorde, pumpe.— Ele disse em um sussurro calmo, usando uma de suas mãos para afastar os cabelos dela que estavam em cima do rosto delicado de Emme. O vampiro ao seu lado beijou o rosto dela assim que se livrou de todos os fios de cabelos vermelhos que o atrapalhava de fazer isso. — Não quero que se torne uma dorminhoca.— Emme riu com isso e acabou com toda a encenação de que estava dormindo. Uma péssima atriz, mas eu não a culpava, ver Lúcifer tão carinhoso assim era muito encantador. — Estou acordada.— Emme não mentiu e se sentou na cama rapidamente para encontrar os olhos de Lúcifer.— Eu o ouvi chegando quando estava saindo do elevador.— Lúcifer não questionou aquilo, já que Emme podia escutar a mente de todos aqui.— Eu realmente não queria acordá-la, mas eu terei que sair da central e não gostaria que você ficasse procurando por mim quando acordasse.— — Onde você vai?— Emma se preocupou. — Alguns humanos foram encontrados na noite passada e eu irei com Iawy até o final da barreira para que os deuses permitam que eles passem.— — Mas... Ainda é dia.— Lúcifer sorriu e levou as costas de seus dedos até os bochechas de Emme, ele acariciou sua pele que como se estivesse com medo que aquela pele, parecida com porcelana, se partisse.— Não se preocupe, eu ficarei bem.— — Tudo bem.— Emme murmurio.— Você irá demorar?— — Eu acho que voltaremos antes do anoitecer. Você sobreviverá sem mim? Conseguirá achar seu ar?— Lúcifer foi irônico na ultima parte, eu achei que estava demorando até demais para esse momento chegar.


— Não seja um idiota.— Ela disse rindo delicadamente. — Oh, agora você está aprendendo a me xingar, Fiemme?— Lúcifer disse em um tom de brincadeira, o que fez Emme rir um pouco mais. — Sim.— Ela esticou seus braços e como se tivesse chamado Lúcifer, ele foi de encontro com ela para formarem um abraço totalmente apaixonado. — Não tenha medo de usar seus poderes caso algo de ruim aconteça, pumpe.— Lúcifer avisou, parecendo pressioná-la ainda mais contra seu corpo.— Você é a pessoa mais poderosa nesse prédio, não se esqueça disso.— — Nada vai acontecer.— Ela disse se afastando um pouco para encontrar o rosto de Lúcifer.— E eu não precisarei usar o fogo para machucar as pessoas.— — Eu sei, mas se mantenha em segurança em quanto eu estiver fora. Proteja Roxie e Nyx também, nós nunca sabemos quando Amethyst decidirá atacar a central.— — Não se preocupe comigo.— Emme beijou a bochecha de Lúcifer e logo em seguida acariciou com sua mão exatamente onde seus lábios haviam tocado.— Apenas não demore.— — Eu não irei.— Lúcifer começou a se levantar, mas não sem antes dar um beijo na testa da deusa do fogo que havia roubado seu coração para toda a eternidade. O vampiro se levantou e deixou Emme sozinha ainda sentada na cama, ela olhou para cada passo que ele deu até que abrisse a porta do quarto. Lúcifer não saio, ele apenas se virou novamente para Emme e sorriu.— Eu te amo.— — Eu te amo também.— Emme o respondeu manhosamente e só depois que Lúcifer ouviu isso se retirou do quarto. Já fazia muito tempo que eu não sabia o que era falar eu te amo para alguém que amava, ou seja, Andrew. Mas essa não era a questão, eu deveria estar treinando dizer “eu te odeio”ao invés de ficar magoada com isso. Com a saída de Lúcifer Nyx e eu esperamos até Emme dar a certeza de que ele estava no elevador para sairmos de dentro do closet. Eu também tirei todas as coisas que me magoavam de dentro da minha cabeça, pois agora, feliz ou não, era a hora de fazer “compras”.


05Eu decidi me sentar na parte de trás do carro, mesmo não ficando muito feliz por isso, decidi recordar as partes de filmes em que pessoas eram atacadas em carros. A maioria das pessoas que estavam no banco de trás eram sempre as primeiras a morrer, então não deixaria Emme se sentar nele. Afinal, ela não morreria por um acidente causado por algum vleermuis, mas apenas de Lúcifer saber que ela se machucou seria um grande problema para mim. Nyx escolheu um Jeep para o passeio, o tipo de carro que vampiros odiavam, pois ele não tinha teto ou janelas. Meu único problema foi com o vento insistindo em bagunçar meu cabelo, ter problemas com o sol não estava mais em questão. O único ponto ruim era que chegava ser insuportável sentir o sol na minha pele e ele não poder tirar a sensação de que eu estava congelando. Tudo bem que eu nem ao menos sentia frio, mas eu notava o quanto minha temperatura era baixa quando saia no sol. Mas nada me irritava quanto estar em um carro e ele pular tanto como se estivesse em um terremoto. Era um saco sair da central de carro, pois haviam muitas coisas na rua, além da neve se derretendo aos poucos, para atrapalhar nossa passagem. Algumas vezes nós eramos obrigados a descer do carro para remover os blocos de construções que antigamente costumavam ser casas ou prédios, mas também existiam árvores caídas além de pedaços de antigas construções. Eu estava feliz por não termos, até agora, encontrados nada que estivesse no nosso caminho, pois mesmo que eu não visse o futuro, sabia que teria que fazer a maior força para se livrar de alguma coisa que impedisse do carro continuar seu trajeto. Depois de meia hora pulando mais que uma pipoca dentro de uma panela, meus olhos encontraram o maior shopping de Londres. Ele estava destruído como o resto da cidade, mas ainda estava inteiro a ponto de algumas lojas terem sobrevivido ao ataque. Eu revirei meus olhos rapidamente quando o pensamento das lojas estarem inteiras me deixou feliz. Havia tantas coisas para me preocupar e eu estava me aborrecendo ao pensar que minhas lojas favoritas poderiam estar totalmente destruídas. Meu maior desejo era que essa fosse minha maior preocupação, mas não era. Infelizmente não era. — Eu ainda acho errado estarmos aqui.— Falei quase engolindo meus cabelos quando abri a boca para dar minha opinião. — Não seja tão pessimista, Roxie.— Foi Emme quem disse, em uma voz tão angelical que eu poderia até ficar mais calma.— Nada aconteceu até agora, coisas ruins sempre acontecem primeiro que as boas.— — E qual seria a coisa boa até agora?— Eu peguei Emme nessa pergunta, a deixando muito pensativa. Mas como um complô contra minha opinião estava acontecendo, Nyx a ajudou. — Nós não fomos atacadas, isso é algo bom.— Ela falou.— E o shopping ainda continua de pé o que é muito melhor do que qualquer outra coisa.— — E nós conseguimos sair da central em um passeio depois de anos.— Emme adicionou.


Eu fechei meus olhos quando Nyx parou o jeep na porta do shopping e respirei fundo. Não posso dizer que tentei ficar positiva, mas tentar isso era como estar em uma missão impossível. Tudo bem que os pontos de Nyx e Emme eram agradáveis, mas a teoria de que as coisas ruins sempre vinham primeiro, eu não concordava. O mal sempre chegava na hora que menos esperávamos. O mal podia vir das pessoas que amávamos no minuto seguinte. Nyx e Emme desceram do carro, sem relutar, eu fiz o mesmo. Nós caminhamos para dentro do shopping sem ao menos abrir a porta dele, já que não existia nenhuma para se abrir. Era muito triste ver o lugar que Nyx e eu passamos a maior parte do nosso tempo, quando nos livrávamos dos nossos amantes, todo destruido. A maioria dos vidros estavam quebrados e o shopping inteiro estava sujo, como se um furacão houvesse acontecido dentro dele. Eu estava caminhando pelo local e olhando para as lojas que não seriam de nenhuma utilidade para nós. Nossas lojas favoritas estavam no segundo andar, então Nyx nem perdeu seu tempo com as lojas que estávamos passando. Mas antes de chegarmos até as escadas rolantes, não tão rolantes agora, acabou que quase atropelei Emme quando ela parou de caminhar bem em minha frente. Meu olhos foram direto para encontro com os dela, mas eles estavam longe. Parecia que ela estava em outro mundo e o único movimento que ela fez foi com sua boca, mas nenhuma palavra saiu. — Emme?— Eu falei seu nome com a intenção daquilo acordá-la. E isso funcionou, logo seus olhos cinzas encontraram com os meus. — Como nós vamos pagar pelas coisas que pegarmos?— Ela perguntou. — Essa a melhor parte por estarmos aqui,— Nyx respondeu por mim.— nós não iremos pagar por nada.— Eu quase enfiei a mão na cara de Nyx após ela não ter tido nenhuma delicadeza em dizer para uma puritana que estávamos literalmente roubando um shopping. Não que eu considerasse isso como um roubo também, mas era a mente de Emme que estávamos lidando. — Isso é errado!— A deusa do fogo exclamou, dando passos para trás como se Nyx e eu estivéssemos invocando o próprio diabo. — Não se preocupe com isso, Emme.— Eu fui amável ou pelo menos tentei.— Todos abandonaram essas coisas aqui, isso não é um roubo.— Nyx que estava mais a nossa frente se aproximou de nós duas, encarando Emme com aqueles olhos intimidadores de uma verdadeira loba enfrentando nada mais que um pequeno filhote.— Não seja a pessimista agora, Emme.— Ela pediu.— Se você deixar isso passar, eu até mesmo a ajudo achar lingeries que agradariam Lúcifer.— Emme no mesmo minuto ficou com suas bochechas pegando fogo, eu segurei uma risada devido a vergonha que provavelmente dominava seu corpo apenas pelo fato da licantropa ter mencionado sua intimidade com o seu vampiro loiro. Nyx olhou para Emme e sua expressão de impaciente tentando ser compreensiva mudou rapidamente para provocação. Antes mesmo que ela abrisse a boca eu lhe joguei um olhar fuzilador, mas isso não funcionou.— Eu posso também lhe dar dicas de como levar Lúcifer para as nuvens apenas com sua boca.— Ok, agora eu achava que Emme iria desmaiar.— Ou simplesmente com... — — Ok!— Emme a cortou.— Eu irei parar de ser pessimista.— A licantropa sorriu com satisfação depois de deixar a deusa do fogo totalmente constrangida, tão constrangida que Emme quase se perdeu em suas palavras ou na tentação de querer saber essas coisas pervertidas. Mas eu não deixaria que Nyx lhe desse conselhos desse tipo, queria ver Lúcifer sofrendo um pouco mais quando se tratava disso. Devia ser épico vendo um masoquista e assassino nato ter que ser delicado para não assustar sua amante. Depois que Nyx convenceu Emme que isso não era errado, nós subimos as escadas rolantes até que


estivéssemos no segundo andar. Ele não estava mais diferente do primeiro, mas pelo fato de aqui estarem minhas lojas favoritas, meu coração se afundou. Nossa missão de recuperação iria começar agora. Se eu fosse morrer nas mão de Lúcifer hoje, queria morrer pelo menos com roupas novas, então eu deixei meu pessimismo de lado e olhei para o corredor destruído, mas ainda cheio de lojas de roupas. Eu só esperava que as coisas que não foram destruídas no ataque tivessem sobrevivido a neve. Afinal, a maioria dos vidros do shopping não existiam mais, então achar algo que não estivesse totalmente destruído pela temperatura de Londres iria ser como encontrar um tesouro perdido. Nós entramos em uma loja que parecia ser a mais inteira do corredor, ela também era a maior daqui com seus dois andares apenas com roupas. E apesar de ser perigoso estarmos aqui, eu abaixei minha guarda, não parecia que havia perigo aqui dentro, no máximo poderíamos encontrar criaturas sobrenaturais ou humanos pensando que se abrigar no shopping era seguro. Mas desde que chegamos eu não ouvi nenhum barulho sem ser o nosso, então eu permiti que Emme e Nyx se espalhassem pela loja que entramos. Afinal, eu não queria participar do momento em que a licantropa arrastasse a deusa puritana para a sessão de lingeries. Eu fui direto para a area onde vestidos de galas se encontravam, mesmo que tivesse odiado estar em eventos reais por ser uma rainha, não podia odiar esses vestidos tão lindos. Sempre tive um fraco por vestidos de gala e agora eu sentia imensamente a falta deles. Meus olhos passaram por todas as araras nas paredes com vários vestidos. Eles não estavam em bom estado, mas havia salvação, excepto por um. Justamente aquele que roubou totalmente minha atenção. Esse vestido estava em um manequim, ele era feito com um pano da cor azul marinho e haviam várias tachinhas redondas presas nele, elas eram de um azul um pouco mais claro e brilhavam, todas eram espalhadas até a cintura em diagonal. Começando na alça grossa e passando a se espalhar no lado esquerdo até formar um desenho parecido com uma onda. O vestido era longo e possuía somente uma alça. Ele lembrava o céu e as estrelas. O vestido era o mais destruído dessa sessão, mas o motivo por ele ter chamado tanta atenção foi por que ele me trouxe lembranças do passado para minha mente. A lembrança de quando eu possuía um vestido exatamente como esse. ---Eu estava encarando meus olhos azuis gelo no espelho, mas isso aconteceu somente por um segundo antes que eles voltassem para o meu mais novo e lindo vestido que eu estava experimentando para ter mais certeza ainda que ele era maravilhoso. Ele lembrava as estrelas com suas diversas pequenas pedrinhas brilhantes no azul marinho do vestido. Em quanto o observava em meu corpo senti um pequeno vento em minhas costas, me lembrando que seu zíper ainda estava aberto. Mesmo estando sem estar fechado, ele ainda era perfeito em meu corpo. Só fiquei triste pelo fato de que ele não combinaria muito bem com minhas booties, se eu não tivesse uma reputação a zelar como uma rainha, apenas diria que ninguém veria que sapatos eu estava usando pelo vestido ser longo, mas jamais arriscarias que outras rainhas achassem motivos para falarem de mim. Eu estava muito feliz pelo único motivo que elas falavam de mim era por ter o marido mais bonito


que os delas. Elas me invejavam por Andrew, não poderia dar motivos para que isso mudasse. Afinal, quem invejaria uma pessoa que usava um vestido longo com um sapato totalmente fechado hoje em dia? A moda tinha evoluído, então era minha obrigação acompanhá-la. Depois de um tempo me imaginando com esse vestido em um baile que reis e rainhas faziam apenas para chamarem atenção e fazerem um carinho em seu ego, eu obriguei meus olhos saírem daquele vestido para encontrar Andrew deitado em nossa cama, seus olhos azuis encarando o teto ao invés de encontrar os meus no espelho. Ele vestia somente seus jeans pretos e aquela visão fez com que minha mente ficasse em branco por vários segundos. Eu poderia ficar assim até mesmo por minutos dependendo do dia em que Andrew recebia minha total atenção. Sua pele tão branca e pálida combinavam perfeitamente com os seus azuis e frios olhos. E pelo tom de sua pele e olhos que o preto lhe caia tão bem, as vezes eu o imaginava com outras cores, com cores mais vivas, mas não sei se elas poderiam fazer o mesmo efeito que o preto fazia. Eu também poderia dizer que ele estava morto devido a falta de movimentos até mesmo para piscar, mas o único movimento estava em sua mão em cima de sua barriga que descia e subia conforme sua lenta respiração. Deixei de olhá-lo pelo espelho e me virei para ele, finalmente fazendo com que seus olhos viessem para mim. Andrew não disse nada, apenas me observou exatamente como eu estava fazendo. Eu soltei um riso depois de um momento, não aguentando mais a situação de ficar em silêncio e o encarando.— Você poderia fechá-lo para mim?— Perguntei para tirar Andrew do silencio. — Cherie,— Ele começou calmamente.— se eu me levantar daqui será apenas para tirá-lo.— — Você não faria isso com um lindo vestido, Andrew.— — É um lindo vestido, mas prefiro você sem ele.— Meus olhos rolaram automaticamente com sua resposta, porém foi um ato cheio de divertimento. Eu não ficaria brava por Andrew me desejar sem roupas... Havia virado uma humana, não uma louca. Dar uma resposta ao mesmo nível que a dele estava em minha mente nesse exato momento, mas a expressão de divertimento dele sumiu em questão de segundos e algo assombrado veio à tona. — Eu gostaria de ter te amado quando era um humano para saber realmente como é diferente o amor entre vampiros.— Ele mudou de assunto bruscamente, roubando mais do que minha atenção agora. — O que nós temos é algo muito maior que sentimentos humanos, Andrew.— — Talvez não. Eu a mataria para acabar com minha sede de sangue, eu colocaria minha fome a sua frente... Isso não é amor.— Eu encarei Andrew seriamente, geralmente era eu quem tinha costume de entrar nesse assunto um tanto confuso que dizia que vampiros não sentiam o mesmo nível de emoção dos humanos quando se tratava de amor. Isso era verdade, eu senti isso quando era humana e me transformei em vampira, eu sentia que meu amor por Andrew era muito maior agora do que antes. A diferença era pouca, mas por mais que me irritasse, existia uma diferença. A explicação desse pequeno fato era que vampiros sempre amariam o sangue em primeiro lugar, eles viviam por sangue e não por amor. Sua natureza era ser um assassino, não um homem romântico. Andrew e eu conseguimos superar nossa natureza, nós trocamos os primeiros lugares das coisas que realmente importavam para um vampiro e colocamos nosso amor em frente de qualquer outra coisa, existiam pessoas que nos chamávamos de algo raro, pois era assim como funcionava. Era raro que um vampiro trocasse a ordem de sua escala, era raro um vampiro jogar sua vida fora por outra pessoa. Não era impossível, mas era raro que uma criatura tão cruel deixasse de ser um assassino por que estava apaixonado. Era muito mais fácil dizer que vampiros eram possessivos com aquilo que lhes pertenciam do que falar que eles estavam amando. E Andrew não era


possessivo com aquilo que era dele, ele me amava. — Quando nos conhecemos você deixou de me matar apenas por que te cativei. Você foi o primeiro a me amar quando eu tinha sentimentos por outra pessoa e mesmo assim não arrancou minha cabeça quando ela pertencia a outro homem. Isso é amor, Andrew.— Eu falei.— Você é o único vampiro que já conheci, incluindo a mim, que mesmo não demonstrando sempre coloca o amor em primeiro lugar. O seu amor por mim, o seu amor por seus amigos e família. E eu sei que existe um grande risco quando você perde o seu controle por estar necessitando sangue em seu sistema, mas sei também que lutaria até não conseguir mais, não desistiria apenas por que estava surtando. Isso é amor, então humano ou não, você lutaria por mim até saber que suas chances tivessem esgotadas.— Andrew sorriu, um sorriso lindo e sincero que raramente aparecia em seus lábios. Seus olhos frios também sorriram e dessa maneira eles eram muitos mais bonitos do que seu sorriso raro em seus lábios.— Eu lutaria por você até mesmo quando minhas chances estivessem acabadas, cherie.— — Eu faria o mesmo por você.— — Eu confio em você.— Ele disse manhosamente. Seu tom de voz fez com que todo meu interior derretesse. Andrew poderia ser comparado exatamente com um grande felino pedindo por carinho quando usou esse tom, na verdade, vê-lo deitado em uma noite tão estrelada era algo estranho. E só agora que tirei a atenção do meu vestido havia notado o quão diferente ele estava. Eu era uma péssima esposa. Usei minhas mãos para levantar um pouco o vestido do chão para me mover. Eu não gostaria de tropeçar em sua barra ou coisa do tipo devido a falta de um bom salto em meus pés e sem tirar os meus olhos de Andrew, me aproximei até estar de pé próxima a cama. Eu toquei a mão que o vampiro apoiava em sua barriga com as pontas do meus dedos em um leve carinho.— O que aconteceu com você hoje?— Quase sussurrei. — Eu quero carinho.— Ele sussurrou de volta em um lindo sorriso. E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa sobre aquilo, Andrew agarrou meu braço apenas para trazer minhas costas até o colchão a baixo dele. Ele veio para cima de mim em um rápido movimento e eu não protestei em nada quando senti seu corpo se encaixando ao meu para achar uma boa acomodação no meio das minhas pernas. Andrew passou um único dedo na curva do meu pescoço, causando um grande arrepio em todo o meu corpo. Ele tracejou levemente a ponta de seu dedo por meu ombro até que a única alça do meu vestido caísse de lado apenas para que seus lábios tocassem minha pele nua. Aquele toque gelado fez com que minha respiração falhasse e meu corpo parou de responder todos os meus comandos. Os olhos azuis e frios de Andrew encontraram com os meus logo em seguida, aqueles olhos diziam que ninguém iria me tirar daquela cama essa noite. — Você vai estragar meu vestido.— Falei em brincadeira. Dane-se o vestido, eu poderia comprar outro depois. — Cherie.— Ele disse como se essa palavra fosse uma suave caricia.— Eu nunca retiro o vestido de uma dama sem a permissão dela.— — Eu n...— ------Eu abri meus olhos em seguida, não por que me obriguei a parar de pensar em Andrew como se ainda fosse meu principe encantado das trevas, mas sim por que senti que algo muito grande e diferente estava atrás de mim. ___________________ Eu não sabia o que estava atrás de mim para que meu coração acelerasse a um ponto de parecer que iria explodir. Na verdade tinha certeza do que estava em minhas costas, eu apenas não queria olhar para ter ainda mais certeza. Mas ficar parada até esperar a coragem chegar, foi a última coisa que


decidi fazer. Eu não sabia o que fazer exatamente para sair daquela situação em que me encontrava, mas meu primeiro movimento para me livrar do vleermuis que estava atrás de mim foi pegar o manequim em minha frente e usá-lo como um tipo de escudo quando me virei para ficar de frente com aquele enorme animal. Era obvio que aquele pequeno objeto não me protegeria totalmente daquele gigante morcego com seu corpo deformado. Ele arranhou meus braços com seus dentes quando tentou me atacar assim que o empurrei usando somente o manequim entre nós para não encostar nele. Suas asas passaram a se debater em minha volta, como se ele tentasse me alcançar, eu apenas fiquei feliz por estarmos em um local que era de certa forma pequeno para ele. Caso contrário, o vleermuis já teria conseguido me devorar. Mas minha felicidade ao mesmo tempo que chegou a raiva a varreu para fora do meu corpo. A raiva do quão inútil era poder congelar qualquer coisa no mundo e não ter controle sob isso. Agora eu corria o risco de ser devorada por um monstro apenas por que não conseguia ter controle da minha nova vida. Eu pensei em chamar ajuda, mas isso podia piorar mais as coisas. Afinal, não sabia onde Emme e nem Nyx estavam, elas podiam estar passando o mesmo que eu e tirarem a atenção do que estavam fazendo por causa dos meus gritos não era minha intenção. Eu pretendia sair daqui sem que ninguém se machucasse, mesmo que agora as chances fossem poucas. Também não poderia mentir que estava tendo grandes dificuldades para empurrar o vleermuis para longe de mim com aquele manequim, pois minha força de longe era igual ao de um vampiro. Eu era somente um pouquinho mais forte que um humano comum, ter a mesma força que já possuí quando fui uma vampira era algo impossivel. E ver aquele animal destruir a única coisa que nos matinha separados estava me deixando desesperada. Depois de um tempo apenas segurando o manequim entre nós, eu atingi o vleermuis em seu rosto em uma tentativa de deixá-lo atordoado para que eu pudesse fugir dali. Ele ficou atordoado, mas no momento em que tirei o manequim que protegia meu corpo, ele me atingiu com suas asas e isso me causou alguns hematomas, na verdade ele me jogou contra a parede mais próxima da saída. Era obvio que isso me machucaria. Afinal, essas asas não eram nada leves como aparentavam ser. Assim que o morcego gigante deu alguns passos para trás e levou uma de suas asas até seu rosto devido a batida que levou, eu saí correndo. Eu sabia que em questão de segundos o vleermuis voltaria a estar me perseguindo, então corri para fora da loja em que havíamos entrado para recuperar as roupas que ainda estavam inteiras. Eu não vi Nyx ou Emme lá e a preocupação me atingiu como se alguém tivesse atirado uma adaga em meu peito. Para elas não estarem aqui, outro vleermuis deveria estar as atacando. Essa era minha única explicação, pois não imaginava que elas se esconderiam e me deixariam lidar com esse monstro. Bom, amigas não fariam isso, certo? Meus hematomas estavam sumindo aos poucos e com isso acontecendo decidi jogar qualquer coisa que estivesse em minha frente pelo corredor do shopping no meio do caminho para atrapalhar a passagem do morcego gigante. Ele não podia voar aqui, pois o espaço era muito pequeno para um animal tão grande, então o vleermuis teria algum problema com obstáculos em seu caminho. Ou não, as coisas que eu considerava pesada poderiam ser o mesmo que uma folha para eles. Mas eu não fiquei para descobrir qual seria o peso das coisas que puxei para atrapalhar o seu caminho, continuei correndo ainda mais rápido quando ele saiu de dentro da loja e soltou aquele grito fino


cheio de raiva. Eu não sabia para onde exatamente correr, meu único pensamento era encontrar Emme e Nyx, mas saber onde elas estavam era algo totalmente desconhecido e eu não tinha tempo para procurá-las com um vleermuis a alguns metros de mim, levando todos os obstáculos que perdi tempo colocando em seu caminho no peito. Eram nessas horas que meu orgulho deixava de existir e eu sentia imensamente a falta de Andrew, pois se ele ainda me amasse, ele estaria aqui para me salvar. E bom, era obvio que eu sentia a falta de Andrew todos os dias, mas meu orgulho não permitia que eu sofresse por isso. Agora, eu não sentia apenas a falta do meu antigo marido, eu precisava dele. Felizmente eu fui obrigada a afastar esses pensamentos da minha cabeça e foquei na situação horrivel que estava nesse momento. Pensar em Andrew não me ajudaria a me livrar do vleermuis, lamentar por ele ter me abandonado ou por não me amar mais não adiantaria nada. Eu virei em um corredor que me levaria até as escadas rolantes, estando fora do shopping seria muito melhor de se livrar do gigante morcego do que ficar aqui dentro. Mas antes mesmo que pudesse chegar até a escada rolante outro vleermuis surgiu ali, bloqueando meu caminho para ir até as escadas rolantes. Um grito surgiu em minha garganta, mas eu o segurei. O vleermuis em minha frente fez com que minha mente ficasse em branco, fazendo com eu parasse onde estava e esquecesse do outro monstro atrás de mim que estava se aproximando. Apesar de estar sem reação, eu fui obrigada a parar exatamente onde estava, pois não havia nenhum caminho para ir. Minha respiração começou a falhar pelo nervosismo que percorria todo o meu corpo apenas com a ideia de que eu teria minha primeira morte. Melhor dizendo, era a segunda, mas eu gostava de pensar que era a primeira já que a verdadeira vez que morri foi por uma ótima causa na época. O vleermuis próximo das escadas rolantes estava olhando para mim, apesar de eu não ter certeza devido aos seus olhos inteiramente vermelhos, eu sabia que estava. Tive ainda mais certeza quando o enorme animal passou a se movimentar em minha direção e isso apenas fez meu desespero aumentar. Mas eu não perderia as esperanças, não agora que o medo de morrer estava me consumindo. Quando David me transformou, minha morte foi como se eu tivesse caído no sono, não senti nada quando meu corpo não conseguiu aguentar a transformação, mas eu sabia que sentiria cada dor que esses animais me causassem antes de morrer. Eu não queria sentir dor, masoquismo de longe era algo que gostava. Atrás de mim havia uma porta, talvez fosse uma saída ou simplesmente uma pequena sala onde ficavam produtos de limpeza. Eu não sabia e entrar ali era minha pior opção se fosse um lugar minúsculo, mas por falta de ideias e reação, foi ali mesmo que entrei quando os vleermuis tentaram voar para cima de mim. Eu bati a porta e puxei a primeira coisa que vi ao lado dela para deixá-la mais pesada quando aqueles animais tentassem destruí-la. Era uma estante cheia de cds organizado por datas e por causa delas, antes de me virar para saber onde estava, eu soube que havia entrado na sala de segurança. Segundos era o que eu tinha dentro daquela sala antes dos vleermuis detruirem as paredes para me atacarem. Eu lembrava muito bem o que um deles fizeram com a casa de Iawy quando me mudei para lá, eu lembrava o que um desses animais causou em sua mansão. Depois de garantir que aquela estante me daria tempo, eu me virei para estudar a sala e onde


existiria uma saída. Felicidade percorreu meu corpo quando meus olhos encontraram uma enorme janela com vidro que me levaria até o primeiro andar. A queda seria um pouco dolorosa, mas eu estava com coragem para pular daqui de cima. Eu corri até a janela e tentei empurrar aquele vidro de várias maneiras, mas infelizmente ele foi implantado la como parte de uma parede e não uma janela. O pior de tudo foi quando joguei uma cadeira para quebrá-lo e nenhum arranhão apareceu.— Droga!— Eu xinguei. Toda a felicidade que havia sentido foi embora em questão de segundos, mas eu não desistiria. Tinha que existir uma maneira de abrir aquilo. Toquei novamente aquele vidro para empurrá-lo, joguei vários computadores e televisões que estavam próximas de mim, tudo foi como uma perca de tempo. Eu fiquei ainda mais nervosa quando a estante bloqueando a porta tremeu e ouvi um estrondo do lado de fora, me lembrando que os vleermuis ainda estavam tentando entrar. Com o nervosismo me atentando fielmente agora, eu senti o gelo em minhas palmas. Eles não me machucaram, eu nem ao menos senti o frio em minhas mãos, mas quando ergui os olhos delas que estavam apoiadas naquele enorme vidro, aquela janela ou parede com um vidro implantado havia sido completamente congelada. Eu soltei uma respiração frustrada e com isso toda minha esperança havia ido embora. Ótima hora para o meu novo poder se manifestar, ótima hora para ele congelar minha única saída. Eu bufei com a lembrança de que existiu uma época que tive um grande interesse e até mesmo achei legal sair congelando qualquer coisa, mas agora estava sentindo raiva de mim mesma por ter pensado nisso. Meu poder deveria ter congelado algum vleermuis, não minha quase saída! Agora eu estava completamente ferrada. Não sabia o que fazer e não existia maneira nenhuma de sair de dentro daquela sala sem enfrentar os animais enormes lá fora. Pelo menos eu ainda estava com sorte por eles não terem derrubado a porta ou alguma parede para me pegarem. Eles ainda estavam tentando entrar, mas aos pouco estavam desistindo. Isso pelo menos era considerado estar com um pouco mais de sorte pelo menos. Eu puxei mais coisas para bloquear a porta junto com a estante, pois agora só sairia de dentro da sala de segurança assim que tivesse certeza que aqueles animais não estavam próximos de mim. Saber quando isso aconteceria séria complicado, mas eu não estava com presa nenhuma, para dizer a verdade. Estar aqui apenas me poupava dos sermões maravilhosos que levaria de Lúcifer ou Iawy. Peguei uma das cadeiras que havia jogado em direção do vidro e a ajeitei para que pudesse me sentar, apesar dos meus hematomas estarem se curando, eu ainda sentia dor. Então preferi descansar um pouco e esquecer que existiam dois animais enormes do lado de fora prontos para me devorarem. Entrar em panico era a ultima coisa que eu pretendia fazer, nessa hora tudo que eu podia fazer era ficar calma e esperar que Emme ou Nyx me achassem. Para me distrair aproximei minha cadeira do painel em minha frente, onde os seguranças deveriam comandar as cameras pelo shopping, e mexi em alguns dos botões. Para minha surpresa, ele ligou. Jamais imaginei que teria energia pelo shopping depois de tanto tempo, mas ainda existia e apesar do painel estar um pouco destruído, ele ainda funcionava. A minha frente uma única tela de várias televisores ligou e ficou com uma imagem completamente azul. Claro que eu não esperava ver algum programa de TV, mas estava surpresa por estar funcionando. Eu apertei mais alguns botões, sem fazer ideia do que estava apertando, e na última coisa que pressionei com a ponta do meu dedo fez com que a tela mudasse. A televisão agora estava mostrando uma gravação antiga de uns dois meses atrás, a última gravação que aconteceu dentro desse shopping aparentemente. A camera desse cd se encontrava lá fora, exatamente no lugar onde


Nyx havia estacionado o jeep da central dos caçadores hoje. Acho que devo ter ficado olhando para aquela gravação com listras que se mexiam pelo mal contato por vários segundos antes de acordar pra vida e lembrar que nada aconteceria naquela gravação. Afinal, a cidade já havia sido evacuada e no máximo eu poderia ver apenas alguns vleermuis passando por alí. Mas antes que eu pudesse desligar aquela gravação e voltar minha atenção para o perigo lá fora, um movimento aconteceu no video. Na verdade, eu estava sendo humilde em dizer que era apenas um movimento quando um homem, que poderia ser humano ou alguma criatura sobrenatural passou correndo pelo video, e parou olhando para todos os lados, com medo do que provavelmente estava lhe perseguindo. Pelo seu medo, supos que era apenas um humano. Criaturas sobrenaturais não ficavam tão apavoradas como esse homem estava. Eu esperei que um vleermuis aparecesse e devorasse aquele humano, pensei em desligar a televisão pois ver um homem sendo morto pela mesma criatura que estava do lado de fora dessa sala era a última coisa que desejava ver no momento. Levei meu dedo até o botão para desligar tudo que liguei com planos de distrair minha cabeça de não entrar em panico, mas antes mesmo que pudesse pressioná-lo e não ver o sofrimento daquele humano eu paralisei totalmente. Minha mente voltou a ficar em branco novamente e meus olhos ficaram totalmente fixos naquela tela. Não era um vleermuis que havia aparecido na gravação, não era outra criatura natural perseguindo esse humano, não era qualquer outra pessoa que tivesse alguma importância para mim. Era pior que tudo isso, era... Andrew. Eu tentei respirar fundo para tentar voltar ao normal, mas essa tentativa não teve nenhum sucesso, principalmente quando o vampiro começou a se movimentar para ficar próximo do humano. Andrew parecia o mesmo com suas roupas negras e aquele poder obscuro em cada movimento que seu corpo projetava. Eu não podia ver seus olhos devido a aquelas faixas do video que passavam a toda hora, mas sabia que existia morte dentro deles. Seu cabelo estava diferente desde a última vez que o vi, eles estavam mais curtos do que Andrew geralmente usava e ele usou gel para colocá-los perfeitamente para trás, sem que nada estivesse escapando do penteado. Uma pontada aguda veio direto para meu coração e a vontade de chorar acompanhou essa pontada. Durante 10 anos eu não havia visto Andrew, apenas sabia que ele estava vivo e agora ver ele por uma gravação que aconteceu a algum tempo atrás fez com que todos meus planos de odiá-lo desabassem como qualquer outro prédio de Londres que sofreu com os ataques dos vleermuis. Andrew se aproximou daquele homem que estava apavorado por causa dele, o fazendo querer correr para longe novamente. Mas apenas pelo fato dele ainda estar vivo, me fez pensar que o vampiro em sua frente estava jogando com ele. Perder seu tempo era algo que Andrew raramente fazia em uma perseguição. Aquele humano deu alguns passos para trás, provavelmente se preparando para correr novamente, mas antes que isso acontecesse em uma velocidade anormal Andrew ficou a centímetros dele, o fazendo congelar no lugar principalmente quando o vampiro atravessou a mão em seu estomago até que sua coluna inteira saísse quando Andrew puxou para fora daquele buraco que ele fez no meio de sua barriga. Sangue espirrou e escorreu por todos os lados, mas isso não era nenhum problema para ele, pelo contrário, Andrew se divertiria completamente se tivesse uma piscina de sangue. Ele deixou que o corpo daquele humano caísse no chão juntamente com sua coluna e alguns órgãos que sairam quando ele puxou seus ossos. Andrew parecia estar satisfeito com a morte daquele


homem e com isso ele levou um de seus dedos até seus lábios, provando o sangue do humano que acabará de matar. Sua mão suja com sangue deixou algumas manchas em seu rosto quando ele encostou seu dedo ao lábio, Andrew não se importou com aquilo nem um pouco. No minuto seguinte ele se virou para a direção da camera e a encarou como se soubesse que alguém estava do outro lado, o que era impossível na época, mas mesmo assim se aproximou até que tudo que visse fosse apenas metade de seu corpo. Seus olhos, como eu imaginei, existia apenas morte e a frieza. Eu podia ver neles o quanto sua alma estava negra. Andrew sorriu para a câmera, um sorriso tão ironico que chegava a ser cortante. Ironico e frio, uma combinação perfeita para ele e sua alma negra, seu rosto sujo de sangue apenas fez com que essa imagem fosse comparada com a de um psicopata em algum filme famoso. Eu poderia ficar vendo aquela imagem por horas sem ao menos piscar, até mesmo pensei em dar pause para que nada se movesse, mas antes que isso acontecesse a tela voltou a ficar completamente azul. __________________ Eu respirei fundo depois que toda a imagem da tela voltou a ser nada mais do que uma imagem azul. Meu corpo parecia estar sem reação, mesmo que eu escutasse os vleermuis lá fora tentando entrar, o desespero estava longe de possuir meu corpo depois que vi esse video. Me sentir uma idiota era uma das primeiras coisas que sentia depois do choque, eu não podia ficar assim apenas por que vi um video antigo que Andrew assassinou uma pessoa, eu não deveria estar tão petrificada quando haviam animais tentando me devorar do lado de fora dessa sala, mas no final de todas minhas desculpas, era de Andrew que se tratava, não importava quantas pessoas ele matasse ou quantas cidades destruísse, meu coração sempre aceleraria por causa desse vampiro. Um estrondo maior aconteceu no lado de fora e eu soube que na próxima batida os vleermuis teriam sucesso em entrar aqui, afastei todos os pensamentos da minha mente e me levantei daquela cadeira, o que não fez nenhuma diferença, já que fiquei parada sem conseguir pensar no que fazer. Definitivamente, eu teria minha primeira morte. Eu esperei que aqueles animais destruíssem aquela porta ou paredes, mas antes que eles tivessem qualquer sucesso, algo aconteceu e antes de sequer pensar no que estava se ocorrendo eu me joguei ao chão devido a todos os vidros daquela sala de segurança estarem explodindo. Vários cacos me cortaram antes que meu corpo se debatesse contra o chão, vários outros pedaços de vidros caíram sobre mim e meu corpo foi cortado por aqueles que já estavam no chão antes mesmo que eu chegasse alí. O barulho da explosão fez com que automaticamente eu levasse minhas mãos até os ouvidos, o barulho foi tão grande que parecia que todos os vidros do shopping estavam tendo o mesmo destino das telas dos computadores e do enorme vidro que congelei aqui dentro. Os gritos dos vleermuis lá fora também foram altos o suficientes para explodir o cérebro de alguém, eu fechei meus olhos quando meus ouvidos passaram a ficar sensíveis por causa dos barulhos ao meu redor. E como se eu contasse até três depois de mandar alguém fechar a boca, o silêncio invadiu todo o shopping novamente. Eu me levantei em meus joelhos, tentando ao máximo possível não encostar minhas mãos em nenhum lugar, pois todos os vidros daquela sala foram destruídos, deixando qualquer lugar cheio de cacos muitos perigosos para um grande hematoma. Meus olhos foram diretamente para onde poucos segundos atrás existia um enorme vidro congelado, que agora formava apenas um buraco. Tentei procurar Nyx e Emme por alí, mas tudo que vi foi apenas uma cortina formada por chamas no meio do corredor no primeiro andar, feito provavelmente para bloquear a passagem dos vleermuis. Eu não sabia exatamente o que havia acontecido para todos os vidros explodirem, mas sabia que Emme era a responsável por isso. A deusa do fogo era a única com poder suficiente para


fazer aquilo. Eu corri até a porta e tirei todos os móveis que coloquei em frente dela com o máximo de cuidado possível para que nenhum caco me cortasse e assim que a abri meus olhos percorreram o corredor inteiro apenas para ver os vleermuis mortos com enormes pedaços de vidros em suas gargantas. E como eu havia imaginado, todos os vidros do shopping foram explodidos. Eu fiquei um pouco chocada ao ver os vleermuis mortos com aqueles vidros atravessando seus corpos. Os vidros em suas gargantas quase estavam os decapitando. Era assustador que Emme tenha tido tanta coragem para fazer isso, mas talvez ela não soubesse que tinha causado a morte desses animais. Da deusa do fogo se podia esperar qualquer coisa. Emme não gostaria de saber que matou essas criaturas de uma forma tão cruel, então eu passei a caminhar para longe daquele corredor, com a intenção de que ela não visse esses corpos quando me encontrasse. Essa era a única coisa que poderia fazer por ela após salvar minha vida. Eu estava descendo as escadas rolantes para o primeiro andar quando vi Nyx e Emme lá em baixo e apressei meus passos para que nenhuma delas subisse até aqui e visse os corpos dos vleermuis. Até mesmo Nyx ver era perigoso, já que na mente dela todo mundo adorava ver sangue. Assim que pisei no ultimo degrau Nyx correu até mim e me abraçou rapidamente, seus olhos azuis escuros passaram por cada ferimento que estava se cicatrizando lentamente por meu corpo.— Você está bem?—Ela perguntou. — Sim. E vocês?— — Nós estamos bem.— Meus olhos caírem em Emme após ouvir a reposta de Nyx, ela estava muito mais pálida do que o normal. Seus olhos cinzas estavam assustados.— Os vleermuis a assustaram, apenas isso.— Meu olhar encontrou com o de Nyx por vários segundos e então a deixei para ir até Emme que estava a alguns passos de nós duas.— Obrigada, Emme.— Eu peguei em sua mão, um pouco gelada, considerando a temperatura que ela possuía, mas essa não foi minha preocupação no final de tudo, após agradecê-la seus olhos encontraram os meus e neles havia curiosidade. — Pelo quê?— Ela perguntou. — Você... Os vidros explodindo...— Eu fiquei confusa e não soube formar uma frase para explicar o motivo de estar agradecendo. — Eu não explodi os vidros, Roxie.— Emme disse.— Eu pensei que de alguma forma foi você ao congelar algo, apenas usei meu poder para separar o vleermuis de mim e Nyx no corredor.— Eu olhei para Nyx novamente e vi pelo canto do olho que Emme fez o mesmo, a licantropa em nossa frente apenas deu de ombros.— Não olhem para mim, eu não tenho superpoderes.— — Talvez tenha sido Hades.— Eu falei, poderia ter sido qualquer um dos deuses, mas eles não se intrometeriam para salvar qualquer uma de nós com Emme ao nosso lado. Também existia Sol e David na lista, mas creio que eles apareceriam pessoalmente para resolver isso. Hades mesmo de longe faria qualquer coisa para salvar sua única filha. — Talvez.— Emme concordou, mas não acreditando que aquilo era possível. Mesmo que ela não acreditasse que foi seu pai a salvando, nos salvando, eu acreditava fielmente nisso. Afinal, essa era a única explicação. — Vamos embora daqui.— Nyx disse calmamente, mas antes que ela pudesse falar mais alguma coisa ou simplesmente começar a caminhar ela congelou e seus olhos ficaram vidrados em um ponto acima dos meus ombros. Eu me virei pensando que seria alguns dos vleermuis que havia sobrevivido a explosão, mas era muito pior que isso. Lúcifer e Iawy estavam a alguns metros de nós e suas expressões não eram nada felizes. Definitivamente, nesse momento, encontrar com Amethyst seria muito mais agradável do que eles. O vampiro de cabelos loiros era o mais mal humorado, ele ainda estava se curando devido ao fato de ter saído da proteção dos vidros contra raios solares para caminhar até aqui, mas em questão de


segundos todos as suas queimaduras sumiram, diferente de mim, os hematomas de qualquer criatura sobrenatural sempre se curariam em questão de segundos, em quanto eu teria que lidar com eles por minutos. Eu me afastei de Emme quando Lúcifer se aproximou dela, tomando cuidado também para não bater em Iawy quando ele passou por mim para ir até Nyx. Agora poderia escolher em que casal focaria minha atenção antes que o sermão caísse em cima de mim. Escolhi prestar atenção em Lúcifer e Emme, pois o vampiro nunca soube controlar muito bem seu humor quando estava com raiva e a única pessoa que ele fazia um esforço era com sua amada, mas agora pelo seu rosto, eu não tinha certeza que isso poderia ser possível.— Isso foi tão irresponsável, Fiemme. No que estava pensando quando decidiu sair da central? Hades confiou em mim para cuidar de você e quando viro as costas, faz algo como isso? Você mentiu para mim e...— Lúcifer estava sendo duro demais, mas quando ele provavelmente notou que Emme estava ficando assustada com o modo que ele estava falando, Lúcifer se perdeu em suas palavras por um momento.— Oh, pumpe, não faça isso novamente. Você quase fez meu coração parar em quanto não tinha certeza de que estava bem.— O vampiro tocou as bochechas de Emme com suas mãos, como se precisasse daquele toque para saber que ela não estava machucada. Iawy e Nyx não estavam muito diferente deles, a única diferença era que Nyx estava mais mal humorada que o incubbus. Então eu apenas cruzei meus braços e deixei que os casais tivessem o momento “nunca mais faça isso por que te amo demais para saber que estava em perigo”. Como não tinha ninguém para me dizer coisas desse tipo, de que não suportaria me perder sem ao menos ter tentando salvar minha vida, não pretendia estragar o que estava acontecendo entre eles. No final de tudo, apesar de ser algo chato todo esse discurso, todos sentiriam falta de ter uma pessoa para abraçar e beijar após quase terem sido mortas. Meus olhos estavam fixos em minhas booties, pelo menos elas não haviam sido danificadas nem um pouco e olhá-las era melhor do que lembrar das tantas vezes que Andrew me deu o mesmo tratamento que Lúcifer e Iawy estavam dando para suas amadas. Hoje em dia era mais fácil que o antigo rei dos vampiros comemorasse minha morte do que ficar triste. Antigo rei dos vampiros... Era dificil considerar Andrew como um rei depois de tudo o que fez, ainda mais quando toda a clave e a realeza tinha caído. Depois de tantas mortes, tudo virou uma confusão. Todos aquelesque sobraram desse meio apenas faziam o possível para que os humanos aceitassem nossa existência. Estava nas mãos de Iawy e outros caçadores do mesmo nivel do incubbus salvar Londres de Andrew e aquela bruxa maldita. Eu ergui meus olhos quando Lúcifer deixou Emme de lado por um instante e caminhou até estar próximo de mim. Seus olhos verdes pararam em alguns cortes que estava sumindo lentamente antes de se encontrarem com os meus.— Pensei que você estava com uma blusa azul hoje de manhã, chupim.— O vampiro foi sarcástico devido ao fato da maior parte da minha blusa estar suja de sangue.— Você está horrivel, só para constar.— — Obrigada, Lúcifer.— Eu falei sem nenhuma ironia, afinal, isso seria a coisa mais perto de “estou feliz por você estar bem” que sairia da boca de Lúcifer. O vampiro também cruzou seus braços e olhou para Iawy se aproximando de nós dois, com Nyx em seus braços. O inccubus já foi muito diferente de Lúcifer, ele largou a licantropa por alguns segundos e me abraçou, dizendo que demorou até demais para que eu corresse atrás de problemas. Eu sorri com isso e realmente fiquei grata por eles terem vindo falar comigo sem jogar pedras, pois era isso que esperava vindo deles. De alguma forma ou outra, eu sempre era colocada como responsável, já que Nyx não tinha noção do perigo e Emme era inocente demais para saber o que significava essa palavra. Não demorou mais nenhum segundo para sairmos desse shopping, um lugar que não pretendia


voltar nunca mais. Quem sabe quando ele se tornasse um lindo lugar para se passear algum dia, eu voltaria sem duvidas nenhuma, mas em quanto Londres fosse um ninho de perigo e morte, não pretendia sair da central sem que fosse mandada por Iawy para fazer algo. Na hora de irmos embora, como estávamos com dois carros, Iawy foi com Nyx no Jeep e deixou o carro totalmente fechado para Lúcifer. Eu decidi ir com Lúcifer e Emme no outro carro, por algum motivo eu sabia que Iawy daria um sermão em Nyx devido a tudo que aconteceu. O vampiro de cabelos loiros abrindo a porta do carro para a deusa do fogo podia ter desistido de falar de uma forma grossa com Emme, mas com Iawy era diferente, o incubus sempre salvou a vida das pessoas e fez de tudo para que ninguém morresse desde que virou dono de uma das melhores centrais de caçadores do mundo, ele realmente deveria desejar a morte de Nyx, na sua maneira, nesse momento. Por mais que Iawy demonstrasse estar calmo, isso poderia ser uma mascará. — Lúcifer,— Eu ouvi o murmurio de Emme, meus olhos foram diretamente para ela, que já estava sentada no carro com Lúcifer ao seu lado pronto para fechar a porta do veículo. O lado do passageiro estava protegido por uma enorme sombra do shopping, então Lúcifer não estava preocupado em ser rápido.— Por que você beija Iawy todas as manhãs?— Não havia maldade ou brincadeira no tom de Emme, apenas curiosidade com uma pontada de traição. — O que...?— Lúcifer franziu seu senho e balançou sua cabeça para os lados em confusão. Eu tentei segurar minha risada mas falhei horrivelmente no começo, apenas desviei meu olhar quando o vampiro me fuzilou com seus olhos. — Não me olhe assim, Lúcifer, Nyx é culpada dessa vez.— O avisei ainda segurando o riso. Lúcifer revirou seus olhos verdes e voltou a olhar Emme, sua expressão totalmente mudada para lidar com a única deusa que possuía uma alma pura. O vampiro sorriu para ela e tirou de seu rosto, delicadamente, uma mexa vermelha que atrapalhava a visão dela, Lúcifer respirou fundo e começou a falar.— Isso foi uma brincadeira de Nyx, pumpe, a única pessoa que beijo todas as manhãs é você. Apenas você.— Um sorriso cresceu nos lábios de Emme, um sorriso muito apaixonado.— Você jura?— Lúcifer não a respondeu de imediato, antes de falar qualquer coisa o vampiro puxou o cinto de segurança em volta de Emme e o fechou.— Eu nunca mentiria para você, Fiemme.— O vampiro disse finalmente. Em seguida, sem nenhuma palavra, Lúcifer bateu a porta do carro para fechá-la e passou a caminhar para ir até o lado do motorista, mas antes de sair da proteção daquela enorme sombra ele se virou para mim.— Você está esperando o que para entrar no carro, princesa? O principe encantado e seu cavalo branco?— — Cale a boca, Lúcifer.— Murmurei ao mesmo tempo que movia para entrar no veículo, pois se dependesse do vampiro de cabelos loiros, ele me deixaria para trás. Logo depois que entrei no banco de passageiro, ele também entrou e sem ao menos esperar suas queimaduras curarem, o vampiro deu partida para que fossemos embora. Em todo o caminho para a central ninguém dentro do carro teve coragem suficiente para quebrar o silêncio, por causa disso, tive certeza de que Nyx não seria a única a ouvir sobre o que aconteceu hoje. Soltei um riso silencioso e seco quando o pensamento de que eu não passaria por isso ocorreu por minha mente. Na verdade nem quando tinha Andrew isso aconteceria, pois o vampiro faria questão de me matar no lugar se eu ainda não estivesse morta. Eu olhei para o chão, sem nenhuma vontade de olhar para a destruição do lado de fora pela janela do carro. Já era horrível saber que Andrew era culpado por tudo que estava acontecendo, era muito pior saber que perdi para sempre a única pessoa que me amou mais do que meus próprios pais. Ninguém sabia o que fazer em questão de Andrew, sobre sua alma estar negra e ele não poder morrer assim, mas saber que ele não pertencia mais a mim era a única coisa que tinha certeza em todo esse assunto.


Esses pensamentos só deixaram minha cabeça após me tocar que eu era a única pessoa dentro do carro parado no estacionamento da central. Emme e Lúcifer tinham acabado de sair do veículo, foi o barulho de suas portas se fechando que trouxe minha mente de volta para o presente. Eu poderia dizer que fiquei feliz por isso, mas na verdade esses pensamentos nunca saiam da minha cabeça desde que Andrew se foi. O que mais me indignava era sofrer por ele mais ainda pelo que sofri com as mortes das minhas irmãs. Eu estava definitivamente ficando louca, essa era a única explicação ciente para o que estava acontecendo dentro de mim. A porta do outro lado da onde eu estava sentada foi aberta por Lúcifer, o vampiro estava sem Emme e eu olhei para trás para ver se ela estava a nossa espera, mas não estava. Lúcifer se sentou no banco perto de mim e bateu a porta em suas costas. Eu não sabia o por que dele estar fazendo isso, mas não o expulsaria, pois não queria ficar sozinha agora. Ter visto aquele video de Andrew, realmente fez com que várias barreiras desmoronassem. Lúcifer ao meu lado respirou fundo e conseguiu minha total atenção com isso. Seus olhos verdes em segundos se encontraram com os meus.— Tempos difíceis, exigem sacrifícios.— Ele disse.— Esse é um ditado que ninguém deseja ouvir quando chegamos em uma situação como essa.— — Você acha que eu sou forte.— Sussurrei assim que deduzi o motivo por Lúcifer ter deixado Emme para ficar fechado dentro de um carro estacionado comigo, de alguma maneira eu cortei todo o discurso que ele faria para dizer que sou forte. — Sim.— Ele concordou.— Eu amei muitas mulheres em toda minha existência e apenas uma correspondeu esse sentimento, Roxie. Realmente, não faço ideia do que está passando dentro da sua cabeça e coração, mas imagino que seja difícil. Eu sei que Andrew era tudo para você, seus pensamentos de quando era humana eram muito mais gratificantes do que dizer um simples eu te amo para ele.— — E nada foi o suficiente para Andrew.— Falei a verdade. — Ele foi a pessoa mais próxima que tive de uma família desde que me tornei um vampiro e eu nunca vou poder esquecer quem Andrew foi um dia, apesar de saber que sua morte é algo desejado por todos os deuses e criaturas sobrenaturais, eu não posso apenas vê-lo como um monstro que está prestes a destruir tudo aquilo que os deuses criaram. Você deveria fazer o mesmo, Roxie, pois nas piores situações sempre existirá uma esperança.— — Andrew nunca mais voltará, Lúcifer, não há esperanças nisso.— — De todas as pessoas, você não deveria ser a que desiste de Andrew tão facilmente.— O tom de Lúcifer mudou, ele ficou um pouco mais duro do que o normal. — O que você quer que eu faça, Lúcifer?— Meu tom também mudou.— Que lute contra os deuses, mate o que sombrou da clave e qualquer pessoa que deseje a morte de Andrew em quanto o mesmo tenta acabar comigo? Eu não sou idiota, eu nunca vou proteger uma pessoa que deseja minha morte. — — Eu não estou dizendo para você sair correndo atrás de Andrew e fazer declarações de amor, a ultima coisa que desejo nos últimos anos é cruzar com o caminho dele, mas eu me preocupo com você, Roxie e sei que a partir do momento que vê-lo pessoalmente todo esse ódio vai acabar. Isso vai ser muito pior para lidar do que aceitar que nunca vai poder esquecer quem Andrew foi um dia. Você acha que está preparada, mas não está.— Eu fiquei em silêncio, não ousaria rebater o que Lúcifer acabará de falar mesmo não fazendo ideia se tudo que ele disse poderia se tornar uma verdade. Esse era o problema, eu não sabia o que aconteceria quando encontrasse Andrew. Talvez aquelas pessoas que achavam que eu me juntaria a ele estivessem certa, afinal, eu me juntei com Pierre, não via qual era o problema de me unir com Andrew já que meu coração teimava em bater por ele...Claro que eu não estava fazendo planos para que isso acontecesse, mas era uma hipótese. — Então estou feliz por ter você aqui para cuidar de mim.— Falei calmamente, com nenhuma intenção de discutir com o vampiro em minha frente. — Cuidado, chupim.— Lúcifer disse.— Andrew não esta mais aqui para ameaçar jogar meu coração aos vira-latas.—


— E mesmo assim você continua cuidando de mim.— Eu falei com um sorriso, mas não foi isso que me surpreendeu, de estar sorrindo. Antes que o vampiro saísse do carro ou simplesmente mudasse de assunto eu me aproximei dele e o abracei. Lúcifer não ficou chocado, caso contrário não me abraçaria de volta tão rapidamente como fez. O seu cheiro logo invadiu minhas narinas, tão forte como se eu fosse uma vampira, mas agora somente sentia o aroma de alguém quando estava bem próxima da pessoa. E sentir o cheiro de Lúcifer apenas me fez lembrar que desde que nos conhecemos esse aroma nunca deixou meu nariz em paz. — Você é incrível, Lúcifer.— Murmurei. — Eu sei.— Lúcifer foi sarcástico e logo em seguida me afastou dele.— Vamos sair daqui antes que esses caçadores inventem que nós estamos tendo um caso.— Ele brincou em quanto abria a porta do carro para sair. — Eu acho que eles sabem que não sou tão louca assim, Lúcifer.— Eu saí do carro e esperei pelo vampiro que logo após fechar a porta já estava caminhando ao meu lado. — Você não sabe o que está perdendo, minha querida.— — Eu prefiro ser devorada por algum Vleermuis do que saber o que estou perdendo.— Lúcifer riu com a minha resposta e olhou para mim. — Seu amor por mim sempre me emociona, chupim.— Eu retirei um lenço que estava de enfeite no bolso da frente do blazer dele e o sacudi rapidamente para desdobrá-lo apenas para levar aquele pedaço de pano em direção do rosto do vampiro para limpar as lágrimas que nunca escorreram ali, mas antes que tivesse algum sucesso nessa pequena brincadeira, Lúcifer tomou o lenço da minha mão e o rasgou em vários pedaços como se fosse alguma folha de papel velho. E o pior de tudo foi quando ele jogou aqueles pedaços em meu cabelo, com isso o vampiro apenas comprou uma guerra comigo pelo resto do dia.


06Desde que o pequeno incidente no shopping ocorreu alguns dias atrás Lúcifer e Iawy decidiram que nós iriamos ser punidas pela falta de juízo. Primeiramente a reação de Nyx foi quase jogar a mesa do escritório do incubbus no vampiro de cabelos loiros e seu amante, Emme apenas entrou em desespero achando que sua alma iria ser presa eternamente no inferno e eu... Bem, apenas fiquei em silêncio. Nos últimos anos preferia muito mais uma punição do estar envolvida em alguma festa. Eu estava aceitando muito bem toda essa coisa de punição até ser acordada em um dia que nem ao menos havia amanhecido. Além do mais, ter que me preparar para um treinamento duro as 4 horas da manhã não era nada bom. Lúcifer estava se divertindo, claro que estava. O vampiro não tinha problemas com o sono, mas não posso deixar de admitir que ver o ele sem suas roupas caras e feitas sob medidas era algo divertido também. Roupas para um treinamento em um ginásio fechado definitivamente não combinava nada com Lúcifer. Iawy também estava junto com ele, mas o estilo do incubus sempre foi uma mistura de chique com o esportivo, então eu não tinha nenhuma vontade de rir dele. Bom, jamais riria de Iawy mesmo que ele estivesse vestido de palhaço, meu único foco de piada era o vampiro de olhos verdes. Meus olhos caíram em Nyx agora, que estava parada ao meu lado como uma pedra, por um momento pensei que tanta falta de movimento era pelo fato dela estar dormindo, mas na verdade a licantropa estava apenas emburrada... Nenhuma novidade. Nós estávamos esperando Emme aparecer, ela já estava super atrasada e consumindo seriamente o restante de paciência que existia em Lúcifer, o único que estava perdendo o controle por ficar esperando por algo. Afinal, para Nyx e eu não era nenhum problema esse atraso da deusa do fogo nesse castigos em que seriamos treinadas rigorosamente, dizendo Iawy e Lúcifer que já que tivemos coragem para enfrentar os vleermuis sozinhas, teríamos forças para sobreviver nesse castigo. E bem, Iawy era apenas Iawy, ele teria paciência para esperar Emme até ano que vem. O barulho das duplas portas se abrindo do ginásio chamou a atenção de todos que estavam lá dentro, fazendo com que todas as cabeças virassem para ver a deusa do fogo entrando. Emme parecia um pouco constrangida por estar atrasada, mas não foi isso que deixou todos pasmos. Ela não vestia roupas apropriadas para um treinamento, Emme estava usando um vestidinho simples e botas do estilo country marrons. Por causa disso Lúcifer bateu a mão dele contra sua testa e balançou sua cabeça em total descrença. Eu segurei uma risada, pois sabia que para uma pessoa como Lúcifer era muito difícil estar apaixonado por Emme. Ela era simplesmente o contrário dele em todos os sentidos. — Fiemme...— Lúcifer caminhou até ela, respirando fundo algumas vezes para não perder o controle.— Como você acha que conseguirá fazer algum treinamento com essa roupa?— — Eu não achei que teria o mesmo destino que os outros caçadores tem nesse ginásio.— Emme mumurio olhando para o chão, ainda mais constrangida por não estar vestida como Nyx e eu. Na verdade, eu tinha quase certeza que Emme não possuía roupas como as nossas.


— Nós não acordamos quatro horas da manhã para tomar chá, Emme.— Nyx se intrometeu no assunto e rapidamente recebeu olhares repreensivos de Iawy e Lúcifer. A licantropa era a única que não tinha paciência para lidar com Emme entre todos nós. — Hey.— Lúcifer sussurrou para que a deusa do fogo encontrasse seus olhos verdes tão desumanos.— Não se preocupe, nós daremos um jeito nisso depois.— — Emme pode assistir o treinamento das arquibancadas.— Iawy sugeriu.— Quando o ginásio estiver liberado e ela tiver roupas apropriadas para isso você pode dar o castigo dela, Lúcifer.— Bom, o chefe havia falado então não haveria discussão sobre suas orde...— Isso é tão injusto!— Nyx protestou como uma criança.— Iawy, você acha mesmo que Lúcifer judiará de Emme como irá fazer comigo e a Roxie?— — Felizmente Emme sabe se proteger muito melhor que vocês duas juntas, então é claro que tudo será mais fácil para ela.— Iawy disse e se virou para Lúcifer após o vampiro voltar das arquibancadas, onde Emme estava sentada e nos olhando agora.— Lúcifer, você pode começar agora. Eu tenho que resolver alguns assuntos pendentes.— — Espere.— Nyx voltou a falar, um pouco chocada por Iawy estar começando a se afastar de nós. — Você não ficará aqui?— — Oh, minha dama, eu não quero ter piedade por você em quanto estiverem aqui.— — Lúcifer irá nos aniquilar, Iawy.— Eu disse para Iawy, mas com meus olhos fixos no vampiro que parecia se divertir com a situação. — Os vleermuis são criaturas muito mais fortes que eu, não tenham medo de mim já que tiveram coragem para enfrentá-los.— — Eu sei que é correto sermos punidas por termos saído da central sem ao menos pensar no que poderia acontecer lá fora, mas nós fazemos patrulhas algumas vezes pelas ruas... é quase a mesma coisa.— — A partir do momento em que vocês saem da central para alguma patrulha, nós ficamos de olho e prontos para o ataque caso algo aconteça. Saírem da central sem avisar ninguém foi algo muito irresponsável, nós tivemos sorte que um dos caçadores viram vocês nas câmeras espalhadas por Londres e nos avisaram.— Minha resposta foi ficar em silêncio e Nyx fez o mesmo, nenhum argumento mudaria a opinião de Iawy sem que Lúcifer nos levasse a beira da morte. O incubbus também tomou nosso silêncio como uma resposta e saiu do ginásio sem dizer nenhuma palavra. — Bom,— Lúcifer começou com um sorriso ligeiro em seu rosto.— Vocês duas poderão lutar comigo juntas. A regra para vencer é simples, se vocês me derrubarem o treinamento acaba, mas caso não tenham sucesso o treino continuará até que nenhuma de vocês tenham forças para levantar do chão.— Eu e Nyx ficamos boquiaberta. — Isso é um tipo de jogos mortais!— Exclamei. — Tanto faz.— O vampiro deu de ombros com certa ironia.— Vocês terão o direito de usar a arma que levaram no dia que foram para o shopping, só para não dizerem que sou injusto— — Você está sendo injusto e a lamina que eu estava naquele dia irá partir no momento que encostar em sua pele, Lúcifer!— — Minha arma era Emme.— Nyx disse como se tivesse ganhado essa competição. — Emme está fora do treinamento. Sinto muito, poodle gigante, mas você ficará sem nenhuma arma.— — Eu vou matar você, Lúcifer.— — Eu espero por isso, licantropa.— Lúcifer falou e começou se afastar de nós, esse era o sinal que esse treino começaria, um treino em que provavelmente eu desmaiaria antes de terminar. Mas não posso mentir que lutar com Lúcifer seria interessante, eu não conhecia os movimentos do vampiro como conhecia os de Andrew, apesar de saber que iria perder essa pequena competição, eu iria conhecer um pouco mais de como atingir um vampiro tão antigo como Lúcifer. Então, acho que valeria a pena essa loucura no final de tudo para expandir meu conhecimento. Eu retirei a lamina da bainha que ficava presa próxima da minha coxa, estava na hora de mostrar para a plateia na arquibancada que apesar de ser uma caçadora não praticante, eu sabia fazer algo para me defender.


*** Eu entrei em meu quarto e bati a porta atrás de mim com o restante de força que existia em todo o meu corpo. Apesar do nosso castigo ter terminado muito antes de Lúcifer acabar comigo e Nyx, eu estava morta de tantas vezes que fui jogada contra a parede e chão. Todo meu corpo estava dolorido e gritante de uma maneira que nunca havia conhecido antes, poderia ter sido pior se Emme não tivesse vomitado devido a tamanha violência que estava ocorrendo em sua frente. Além de nos livrar do castigo, ela conseguiu não ser punida... Só lamentei por ela não ter passado mal um pouquinho mais cedo. Pelo menos a minha lamina ainda estava inteira, diferente do meu corpo. Apesar de ser apenas uma arma perigosa, depois de 10 anos com essa pequena faca afiada para cortar gargantas por ai, ela passou a ter alguma importância para mim. Era estranho, realmente, se apegar a algo que eu poderia perder em questão de segundos caso fosse atacada por qualquer pessoa ou vleermuis, mas preferia muito mais sofrer por uma lamina e me apegar a ela do que fazer essas coisas por alguém que não merecia. Ok, isso era totalmente loucura, mas não tinha culpa de estar assim , eu estava fechada em uma cidade isolada onde conversava no máximo com onze pessoas. O tempo realmente trazia loucura para a mente de qualquer criatura sobrenatural, talvez eu estivesse começando a fazer parte disso. Eu me joguei de barriga para baixo em minha cama, mesmo sabendo que necessitava de um banho, pois o único que não saio suado daquele ginásio foi Lúcifer. A situação que eu estava era realmente horrivel, mas meu corpo latejava apenas em pensar fazer um simples movimento para caminhar até o banheiro. Então como não pretendia mais sair do meu quarto o resto da manhã, não via problema em tirar um rápido cochilo antes de tomar banho. Tudo bem que era fato que depois de um banho quente todo o nosso músculos relaxariam, mas eu necessitava descansar antes disso. Tudo que eu pensava agora era apenas fechar meus olhos por um segundo... Roxie. Eu abri meus olhos, um pouco irritada por alguém estar me chamando justamente agora que estava pronta para dormir. Obriguei meus olhos viajarem por todo o quarto a procura de quem havia me chamado, mas não existia ninguém além de mim dentro desse comodo. Esperei por alguns segundos, ainda deitada na cama, pois sabia que os deuses sempre entravam na mente das pessoas que desejavam conversar, mas nada veio. Eu olhei para a janela ao meu lado, que parecia mais uma parede coberta por um vidro de tão grande que era e fiquei um pouco chocada. Para mim faziam apenas alguns minutos que eu estava deitada ali, mas na verdade já haviam se passados horas. Não era mais dia, a noite já havia chegado há muito tempo de acordo com o meu relógio no criado mudo. Considerando a hora, já era um novo dia. Foi apenas um sonho, eu falei para mim mesma, ninguém falou com você. Meu corpo já estava um pouco relaxado, mas ainda doía. Eu me levantei até estar sentada na ponta da cama e fiquei ali apenas pra preparar meu corpo para meus próximos movimentos, já que ainda precisava de um banho. Apesar de eu não estar mais suada, sem ao menos tocar em meu cabelo, sentia que ele se encontrava em uma situação horrível. Roxie. Eu saltei da cama mais pelo susto do que pelo motivo de meu nome estar sendo chamado e não saber quem estava fazendo isso, minhas pernas falharam pela rapidez que me levantei e quase fui de encontro com o chão se eu não tivesse me segurado na parede mais próxima de mim. Manter o equilíbrio era mais importante agora.


— Sol?— Eu chamei pela deusa que mais tinha costuma de entrar em minha mente. Era difícil saber quem estava me chamando quando a voz que falava meu nome era mais um sussurro perdido no meio de um lugar onde não existia mais vida, um sussurro distorcido. Talvez fossem... Fantasmas. Eu congelei apenas com o pensamento de quem poderia ser o responsável por chamar meu nome. Muitas pessoas haviam morrido injustamente em Londres, isso poderia causar problemas na travessia de almas... Ferro, eu precisava de ferro. Em todos os sites que falavam sobre fantasmas diziam que ferro era a melhor arma quando se tratava deles e desde que mudei para a central não existia nada em meu quarto que fosse de ferro. Eu caminhei para fora do meu quarto e esqueci totalmente que meu corpo implorava para não me mover, achar ferro era uma prioridade agora. A dor e o banho podiam esperar um pouco. Ao sair no corredor onde ficava meu quarto eu fiquei feliz por ele não estar em total escuridão, na verdade a central inteira deveria estar com as luzes fracas em suas paredes acesas nessa madrugada. Afinal, muitas pessoas ficavam acordada a essa hora para apagarem as luzes. Quando saí do meu quarto pensei seriamente em chamar Lúcifer, mas o vampiro me mandaria direto para o inferno e provavelmente daria um jeito de me trancar em algum lugar que ninguém me ouviria. Mexer com o vampiro de olhos verdes séria a última coisa que eu faria, mas apesar de ter certeza de que havia algum fantasma querendo se vingar de mim porque sua travessia não foi completa, um cheiro muito forte e diferente invadiu o ar. E não era enxofre. Enxofre era o cheiro que fantasmas deixavam quando estavam por perto e não o aroma de rosas. Eu não deveria estar sentindo esse cheiro no ar, pois meu corpo era algo que poderia ser comparado com o corpo humano, meus sentidos eram somente 10% mais avançados do que os dos seres humanos. Mas esse cheiro estava tão forte que poderia me causar dor de cabeça de tão doce que era e ainda havia uma pequena pontada de algo, mas eu não conseguia reconhecer o que poderia ser. Agora eu realmente queria chamar Lúcifer, depois de quase 8 anos morando na central aquilo era algo muito diferente, mas apesar da minha vontade querer pedir ajuda, o cheiro parecia estar me hipnotizando, me fazendo apenas querer segui-lo. Eu comecei a caminhar em direção das escadas onde o cheiro era muito mais forte do que no lado onde existia o elevador, por algum motivo precisava saber o que era esse aroma de rosas. Eu precisava descobrir qual era o outro cheiro que se misturava com as rosas. Quando cheguei em uma parte da central onde existiam os laboratórios e outras salas que mal eram usadas, aquele aroma confuso sumiu do ar. Respirei fundo algumas vezes e esperei que aquele cheiro voltasse para minhas narinas, mas nenhum cheiro veio para me hipnotizar novamente. Eu pensei em voltar para meu quarto, principalmente devido a falta de luz que existia naquele lugar. Havia pouca iluminação naquela área e ficar ali sozinha talvez não fosse a melhor opção, mas quando me virei para voltar ao único lugar que sentia que era minha casa, uma risada baixa soou pelo lugar. Eu fiquei paralisada por alguns segundos esperando que alguém aparecesse, mas antes que isso acontecesse, a porta em minha frente se abriu sozinha para mostrar uma sala escura. Obriguei meus pés a caminhar para me aproximar daquela sala, meu coração batia aceleradamente e minha mente apenas pensava em fantasmas que não fizeram sua travessia para o outro mundo. Meus dedos trêmulos encontraram o interruptor e depois que o empurrei para acender a luz daquela


sala, meu corpo inteiro parou de funcionar devido ao que meus olhos encontraram. Definitivamente não era um fantasma, era muito pior que isso. Era um pesadelo que veio para atormentar minha cabeça. Era Andrew, a única pessoa no universo que poderia me causar mais medo do que um simples fantasma. E aquele aroma que parecia ser tão hipnotizante... agora eu sabia o que se misturava com as rosas, era o veneno que possivelmente já chamei de doce. Era o aroma que definia quem era Andrew. Meu estomago se embrulhou apenas de pensar que aquele cheiro que me atraiu até aqui era uma mistura dos nossos aromas. Andrew estava sentado na cadeira atrás de uma mesa, seus pés estavam cruzados e levantados naquele móvel. Em sua mão existia um isqueiro quadrado e totalmente prata, onde ele ficava o ascendendo e apagando. — Andrew.— Minha boca sussurrou seu nome. Seus olhos frios e cheio de morte já pertenciam aos meus desde que entrei nessa sala, mas foram seus lábios se puxando em um sorriso que chamaram atenção. Um sorriso cheio de maldade e não ironia ou sarcasmo. Eu engoli em seco por causa do quanto desconhecido ele se tornou para mim. Eu podia ver em seus olhos o quanto de sofrimento que causou para outras pessoas, podia ver naqueles azuis, que tanto idolatrei um dia, que ele não se importou com ninguém. Em seus olhos estava toda a sua aura e ela era negra. — Como eu imaginava,— Obscuro, esse foi seu tom, um tom que dizia que ele não dava a minima. — Você ainda me ama.— Eu não sabia como reagir, eu não podia lutar contra ele e não existia ninguém para me ajudar nessa área da central nesse momento, mas ouvir ele admitir que sabia que eu o amo e agir como se não significasse nada, foi como se alguém apertasse meu coração para esmagá-lo. Havia uma possibilidade disso ser um sonho? Pois eu já sonhei diversas vezes com Andrew e todas pareciam ser reais, mas eu necessitava acordar agora. — Não aja como se estivesse encontrado a morte, eu sou apenas um amigo próximo dela.— Andrew soltou uma risada baixa e sem nenhum humor. — Vá embora.— Eu pedi em um sussurro, me segurando para não perder minha linha de raciocínio. — Vá embora, Andrew.— Minha voz estava cheia de panico e medo, eu estava a um fio de sair gritando por ajudando e chorar nos braços de alguém, mas eu obrigava minha mente a me deixar calma. Eu não poderia desabar na frente dele, não hoje. — Awn, agora você vai me dizer que não sou real?— A ironia apareceu em sua pergunta, mas a maldade ainda era mais forte em seu sotaque francês.— Eu sinto muito, mas eu sou um pesadelo real, cherie.— Cherie. Normalmente eu estremeceria com essa palavra saindo dos lábios de Andrew, mas não mais. Não havia amor ou carinho nele usando esse apelido antigo, era apenas uma palavra qualquer agora. Eu fechei meus olhos por dois segundos e puxei o ar pela minha boca, tentando me acalmar. O medo consumia todo o meu corpo, na verdade eu não sabia quais sentimentos estavam em meu corpo.— O que está fazendo aqui?— — Eu,— Ele começou, pausando para tirar suas pernas de cima da mesa e se ajeitar na cadeira como um chefe que estava prestes a despedir um empregado inútil.— estou aqui para você me agradecer.— — Por me abandonar?— Eu não consegui segurar minha raiva. — Não seja boba, eu imagino que sinta minha falta todos os dias.— Aquele sorriso cheio de escuridão voltou aos seus lábios.— Eu salvei sua vida, cherie, mereço um obrigado pelo menos, já que as maneiras que eu gosto de ser recompensando está fora de questão.— — Você nunca salvou minha vida, Andrew, eu não devo nada a você.— Andrew movimentou sua cabeça para o lado, para a janela que estava ao meu lado da porta. Ele olhou fixamente para o vidro e piscou.


Quando os olhos azuis de Andrew se abriram novamente, eles não eram mais azuis. Na verdade, era algo horrível. O horror tomou conta da minha garganta e eu tive vontade de gritar ao ver aqueles olhos totalmente negros como se aquela parte do seu rosto fosse apenas um buraco, mas essa não era a pior parte. As veias ao redor de seus olhos se ressaltaram, veias negras que pareciam que iriam explodir a qualquer momento e suas presas... Suas presas não eram mais como a de um vampiro comum ou iguais a de Lúcifer. Seus caninos afiados ainda estavam lá, mas os dentes que estavam depois dos caninos, seus primeiros dentes pré-molares, também viraram presas. Presas menores que seus caninos, mas aquilo nunca existiu na boca de um vampiro comum. Andrew parecia mais um demônio do que um vampiro nesse momento. O barulho de um vidro rachando chamou minha atenção, meus olhos viajaram até a janela que estava ao meu lado e lentamente o vidro estava se partindo, o barulho do vidro trincando estava me dando arrepios. A janela não explodiu, mas de alguma forma ela foi destruída. — Foi você.— Eu falei me referindo a explosão que ocorreu no shopping que pensei que Emme era responsável. Não foi a deusa do fogo, foi Andrew. — Surpresa.— O vampiro falou em uma animação falsa, fazendo com que meus olhos fossem para ele e como se um flash tivesse ocorrido, seu rosto voltou ao normal. Eu tentei fazer com que minha respiração voltasse ao normal, mas isso era impossível.— Por que você me salvaria, Andrew?— Uma esperança... Será que isso existiria? Andrew se levantou da cadeira e caminhou até mim. Eu continuei imóvel, ainda mais com a sua proximidade. Meu corpo se espremeu contra a parede quando ele acabou com o pouco espaço que existia entre nós. Ele também usou a parede atrás de mim para apoiar um de seus braços em quanto sua outra mão estava pressionada contra a área onde minhas costelas se encontravam.— Você está marcada como minha por toda a eternidade.— Ele sussurrou, seu hálito fazendo cocegas contra meu rosto.— Eu não deixarei que ninguém a machuque.— —Por que?— Andrew sorriu e pressionou ainda mais meu corpo contra a parede, usando a única parte do seu corpo que estava encostado ao meu, sua mão. Minhas costelas estavam implorando que ele parecesse de fazer força ali, mas eu não iria pedir para que parasse.— Porque eu irei ser a única pessoa responsável por seu sofrimento.— Andrew falou e retirou sua mão da minha barriga apenas para levá-la até seu bolso e quando ele a tirou dali com seu isqueiro prateado, eu tentei afastá-lo de perto de mim com minhas mãos, mas aquele braço que ele estava apoiando na parede veio diretamente para minha garganta, me forçando a ficar onde eu estava. — Pare, Andrew!— Eu pedi, o forçando para longe de mim com minhas mãos. — Eu não deixarei que ninguém a machuque, ninguém.— Ele continuou, me fazendo perder o ar quando ouvi seu isqueiro sendo aceso. Então, ele fez o que imaginei. Andrew encostou o fogo daquele isqueiro em minha barriga, por cima da minha blusa. O pano começou a chamuscar e lentamente se desfazer, o fogo a corroendo queimava minha pele e meus olhos começaram a encher de lágrimas pela dor. Eu tentei gritar, mas Andrew tampou minha boca com sua mão, em quanto usava seu braço para me pressionar contra a parede.— Eu a machucarei exatamente como você brincou comigo. Você sofrerá pela morte do meu irmão, por me fazer de idiota e por todas as coisas que causou a mim. Eu não sou mais seu brinquedinho, cherie, eu sou seu inimigo e irei fazer de seus sonhos os seus piores pesadelos.— Lágrimas começaram a escorrer por meu rosto e meu grito era sufocado pela mão de Andrew. Ele movia o isqueiro para um lado e para o outro, queimando minha pele como se eu aguentasse aquilo. Mas eu não aguentava, eu não aguentava nem ao menos ter que olhar para aqueles olhos azuis que estavam se divertindo com meu sofrimento. Os olhos de Andrew voltaram a ser buracos negros, sua pele pálida fez com que aquelas veias negras ao redor de seu rosto se destacassem ainda mais e quando sua boca se abriu, lá estavam suas


novas presas. Seus olhos ficaram fixos aos meus, eu podia me ver naquela escuridão mortal e me perder ali fácilmente...— Sua alma irá direto para o inferno, Roxie.— Ele disse.— Eu farei questão de guiá-la para o reino de Hades.— — Pare...— Aquele isqueiro estava realmente me machucando. Onde estava o meu mais meu novo poder quando eu precisava? Eu tinha que fazer algo. — Oh, cherie.— Ele sorriu.— Você continua tão doce como antes. Eu poderia deixá-la em silêncio ou acabar com o sofrimento, mas ouvir seus gritos e soluços afogados é muito mais divertido.— Minhas lágrimas ficaram descontroladas agora, não por que Andrew havia se tornado um monstro, mas sim por que minha barriga ardia muito. Eu consegui bater em sua mão e o isqueiro acabou caindo no chão, respirei em alivio apesar da minha barriga ainda doer.— Eu não fiz nada para você, Andrew.— Falei quando ele afrouxou seu aberto em minha boca. Eu não sabia nem ao menos como consegui falar devido ao meu choro.— Tudo o que está acontecendo é sua culpa, não me culpe por que você é fraco e permitiu que sua alma ficasse negra.— Sua mão foi diretamente para o meu pescoço para esmagar minha garganta.— Eu era fraco.— Falou Andrew, batendo minha cabeça contra a parede atrás de mim. Eu finquei minhas unhas em suas mãos, tentando me livrar de seu enforcamento.— Agora eu irei acabar com todos que ficarem em meu caminho, inclusive você.— — Por que agora? Você teve 10 anos para vir atras de mim.— Minha lamina... Ela estava presa em minha bainha. Eu só precisava alcançá-la... — Eu estava com tédio.— Andrew admitiu.— Em quanto Amethyst não quebra a barreira dos deuses, não tenho nada melhor para fazer além de torturá-la varias e varias vezes.— — Você é um monstro, Andrew.— O acusei, mas quando seu aperto em meu pescoço se afrouxou somente um pouquinho, eu estiquei meu braço para alcançar minha lamina em minha coxa. — E você é fria.— Ele se referiu a minha temperatura.— Tão gelada agora.— Eu alcancei a lamina e a retirei de sua bainha, estava ciente de que não poderia causar nenhum dano a Andrew, ainda mais agora que ele estava tão diferente de um vampiro, mas... Órgãos. Ele mesmo disse uma vez que os órgãos era o pior lugar para ser atingido quando se tratava de curar rapido. — Andrew,— Disse seu nome para ter sua atenção.— Eu sou fria agora, mas não sou mais idiota.— Tendo falado isso, eu enfiei a minha gerber no estomago de Andrew e quando tive a chance, a puxei para o lado causando um corte muito maior em sua barriga. O vampiro gemeu de dor e seu rosto estava novamente ao normal, sem nenhum olhos negros ou veias ressaltadas. Sangue começou a escorrer de seu estomago, fazendo com que a camisa negra que ele usava colasse ao seu corpo. Ele se afastou de mim e eu pude ver o quão ruim estava aquele corte. Andrew retirou a minha lamina de seu corpo sem nenhuma dificuldade, sem nenhuma dor e a jogou para o lado. Eu fiquei feliz por ele não tê-la jogado em mim, pois de hematomas para lidar já era suficiente o que ele causou em minha barriga. Eu escorreguei pela parede de encontro ao chão por não conseguir mais me segurar em pé, meu corpo todo doía ainda mais agora. Meus olhos estavam em Andrew, parado em minha frente e olhando para sua mão suja de sangue. — Eu não desistirei apenas por que virou uma selvagem, cherie.— Ele disse com sua respiração alterada, a única prova que demonstrava que ele estava com dor.— Você apenas deixará as coisas mais interessantes.— Andrew começou a se mover, vindo para a direção da porta. — Eu te odeio!— Exclamei, não conseguindo gritar. — Não minta, cherie, você me deseja como todas as outras mulheres que afoguei em sangue.— Eu não o respondi, apenas abaixei minha cabeça e deixei que Andrew fosse embora. Depois de colocar minha mão em minha barriga e sentir minha pele se descolando, eu não podia responder


mais nada. Não podia nem ao menos olhar para a pessoa que estava queimando meu corpo apenas por diversão. Não importava o quanto eu o amava ou amei, eu não poderia mais ver um homem em Andrew. Tinha acabado, todas as poucas esperanças que poderiam existir tinham acabado. Agora eu teria que enfrentar a pessoa que amei por tanto tempo como inimigo. Eu tinha que tentar esquecer meus sentimentos ou... morreria, eu morreria por dentro. ________________________________ Meus olhos se abriram assim que senti a baixo de mim um colchão macio e muito confortável. Na última vez que me lembrava de estar consciente, estava no chão e não em meu quarto. Eu me movi lentamente com medo que minha barriga me causasse dor, mas não senti nada. Aparentemente meu hematoma já havia se curado. Emme estava no quarto, ela era a única presente e quando viu que eu estava acordada, a deusa do fogo veio até a cama para se sentar ao meu lado.— Você acordou!— Ela exclamou feliz.— Todos estavam tão preocupados... Você está bem?— — Eu irei ficar bem.— Eu desviei meus olhos de Emme, os deixando baixo. Era vergonhoso demais saber que todos nessa central, inclusive Andrew, sabiam que eu ainda o amava. Era ainda mais vergonhoso saber que esse sentimento não significava mais nada para Andrew. — Eu sinto muito, Roxie.— Emme disse calmamente, demonstrando que ela realmente sentia por mim.— Quando Andrew entrou na central, ele tirou todas as câmeras do sistema e a única que ainda funcionava era a do laboratório, onde vocês estavam. Andrew queria que todos vissem o que aconteceu lá dentro.— — Por que um psicopata que não pode ser morto se esconderia, afinal?— — Deve existir um motivo muito ruim para os deuses não permitirem a morte dele em quanto possuí uma alma negra.— Ela falou pensativa em resposta. Eu usei meus cotovelos de apoio para me levantar até estar sentada, meus olhos encontraram com os de Emme.— Eu acho que sua alma nunca voltará ao normal, Emme.— — Roxie, eu...— Emme parou de falar, pois viu que lágrimas estavam se formando em meus olhos. Passar dez anos pensando no que Andrew poderia estar fazendo era muito melhor do que encontrálo. Agora eu sabia que o único motivo que ele viria até mim era para me torturar por motivos insanos...— Lúcifer irá protegê-la. Lúcifer e Iawy.— — Você não entende, Emme.— Eu disse.— Não se trata de proteção, Andrew pode me torturar quantas vezes ele quiser que eu sempre sobreviverei, mas o sofrimento que ele causará em meu coração, tudo o que Andrew fez até hoje nunca será apagado. E isso é muito pior do que torturas.— — E se ele morrer, você não conseguirá mais aguentar.— — Ele é um monstro e mesmo assim eu não consigo parar de amá-lo.— Minhas lágrimas começaram a escorrer e usei minhas mãos para esconder meu rosto. Eu estava tão cansada de chorar e precisar de consolo de alguém que simplesmente não aguentava mais, minha mente e todo o meu corpo precisava de paz. Eu precisava viver sem pensar em Andrew. Agora ele tinha voltado apenas para me causar sofrimento e dor. Andrew nunca me deixaria ter paz. Emme me abraçou e apesar de minhas mãos estarem em meu rosto, ela não teve nenhum problema com isso, a deusa do fogo apenas se aproximou e passou seus braços em volta de mim. Fazendo esse ato tão carinhoso, Emme fez com que meu choro apenas aumentasse. — Você não está sozinha, Roxie.— Ela disse esfregando sua pequena mão em minhas costas.— Existem muitas pessoas que te amam aqui, você não precisa apenas do amor de Andrew para sobreviver.— — Estou tão cansada de ser odiada pelas pessoas que amo.— Falei aos soluços, se referindo a minha família e inclusive Andrew.— Eu pensei que ele seria a única pessoa que nunca desistiria de mim.— — Eu vi o rosto de Andrew e o que fez em você com aquele isqueiro.— Emme sussurrou.— Ele


não é a pessoa que a amou, Andrew é um demônio agora, Roxie.— — Eu sei, Emme, mas pensei que já tinha superado isso há muito tempo.— Minha vontade de chorar aumentou de um modo que não sabia se conseguiria mais falar, pois até mesmo tremendo eu estava. Talvez estivesse na hora de fechar a boca e parar de lamentar para Emme o quanto eu estava sofrendo, pois no final de tudo, meus sentimentos não salvaria nenhuma cidade ou mundo. Mais tarde depois que Emme se retirou do meu quarto, eu consegui ficar sozinha e no escuro sem que ninguém mais entrasse para ver como me sentia. Eu entendia que todos estavam preocupados comigo, mas a solidão parecia ser a única coisa certa agora. A única companhia que eu precisava agora era da solidão, pois minha mente necessitava se reconstruir novamente para amanhã ter que enfrentar olhares e cochichos das pessoas que não aprovavam estar no mesmo prédio que a mulher do novo psicopata do mundo. Era difícil ser vista assim, mesmo que fosse verdade, Andrew foi o único homem que realmente me amou, foi ele quem cuidou de mim e me deu carinho quando precisei. Eu não queria que essas recordações se apagassem em minha mente, apesar de precisar que isso aconteça, não podia poder esquecer quem fez com que me sentisse amada, sendo que nem mesmo minha família conseguia ter esse papel. Tudo bem que agora eu tinha uma nova família e eu sabia que eles me amavam, mas foi Andrew que me salvou no inicio de tudo. E agora eu acreditava fielmente que o amor podia ser sua salvação ou sua destruição. Eu nunca mais discordaria de quem falasse isso, ninguém acredita nisso até ser uma prova viva do amor. Eu fechei meus olhos, mas não consegui dormir pelo resto do dia. A face de Andrew sempre aparecia em minha mente quando meus pensamentos se distraiam. Aqueles olhos, suas veias e suas presas... Aquilo era horrível exatamente como sua alma havia se tornado. Eu sabia que seu novo rosto poderia causar pesadelos em qualquer pessoa, mas aquilo não parecia me assustar o suficiente. Nem mesmo seu novo poder que explodiu todos os vidros do shopping era intimidador. Meu maior desejo era conseguir odiar Andrew, separar o passado do futuro e forçar meu coração a entender que ele não era mais o homem que eu amava, mas tudo isso era muito difícil e eu passava me odiar ainda mais pelo simples fato de sentir algo por ele. Eu não sabia o que fazer para melhorar minha situação e a opção de me afundar em um poço escuro era muito agradável. Andrew agora fazia questão de ser a única pessoa a me machucar, mas ele não imaginava o quanto ferida e torturada eu já estava por sua causa. Eu me sentei em minha cama e ergui a blusa do meu pijama para ver como estava as marcas das queimaduras que Andrew me causou. Aquelas marcas estavam quase sumindo, mas provavelmente a lembrança disso nunca sumiria. A única certeza que eu tinha nesse momento era que se eu pudesse acabar com minha vida, provavelmente isso aconteceria. A clave e os deuses queriam Andrew morto e só poderiamos matar o vampiro quando ele não possuísse mais uma alma negra, eu duvidava muito que se a alma de Andrew voltasse ao normal ele teria algum desejo em me machucar. Como poderia assistir a morte do homem que me olharia como se eu fosse a única em sua vida? Eu queria morrer, mas isso nunca aconteceria. Então se caso perguntassem qual era meu maior arrependimento provavelmente diria que foi me tornar uma imortal que só poderia ser morta se o deus que me deu a imortalidade fosse morto. Em minha mente jamais passaria a resposta de que meu maior arrependimento foi me casar com Andrew, essa seria a ultima resposta que aconteceria se dependesse de mim. O que era algo muito errado considerando o fato que o meu ex marido era


como o pior homem que existe no mundo. Pensar em Andrew era a última coisa que desejava nesse momento e estar nesse quarto apenas faria minha mente correr atras desse nome. Então como o dia estava quase acabando, eu decidi sair do meu quarto. Esse era o melhor horário para se sair da escuridão e continuar nela, afinal, todos os caçadores que eu não desejava encontrar provavelmente já estavam fechados em seus devidos quartos e só existiriam alguns pela central para a segurança de todos. Tudo bem que Iawy provavelmente tinha triplicado a segurança na central depois de Andrew ter invadido o lugar, mas pelo menos eu não esbarraria com os caçadores que ainda estavam sendo treinados. Provavelmente durante a noite a segurança seria somente de profissionais antigos e que poderiam até mesmo me conhecer por vista, mas eu sabia que eles me respeitariam já que fui treinada na mesma época que eles para ser uma caçadora. Claro que todos os caçadores me respeitavam, eles não eram loucos de mexerem com a protegida de Iawy, mas isso não fazia com que os cochichos acabassem. Pelo menos aqueles que me conheciam, não falavam de mim em quanto eu estava passando pelo corredor. Eu sai do meu quarto e olhei para os dois lados do corredor a procura de alguém conhecido, normalmente pararia para escutar onde estava cada uma das pessoas que eu desejava encontrar, mas agora eu não era mais uma vampira. Meus sentidos não eram mais aguçados e isso era uma das coisas que eu mais sentia falta, pois eu poderia ter descoberto que era Andrew naquela sala de laboratório antes mesmo de acender aquela luz. Distração... Era isso que eu precisava para tirar minha mente de Andrew, pois apenas sair do meu quarto não resolveria nada. Eu pensei em ir atras de Nyx ou Iawy em seu escritório, mas eles provavelmente falariam apenas do ataque de Andrew e eu não precisava disso. Saber que eles estavam preocupados comigo, eu sabia, mas não conseguiria aguentar toda a conversa sem chorar. Eu não queria mais chorar, estava cansada disso. Então eu decidi que iria até a sala observatória do ginásio, aquele lugar nunca ficava vazio e provavelmente existiriam algumas pessoas treinando. Ver caçadores fazendo o mesmo que Lúcifer causou ao meu corpo era uma ótima opção para distração. Eu optei por ir até a sala observatória pelas escadas, não gostaria de chamar atenção indo de elevador. Estava feliz por não ter encontrado ninguém em meu caminho e se eu tivesse pego o elevador isso provavelmente aconteceria varias vezes. Quando entrei na sala observatória eu fiz questão de trancar a porta para que ninguém entrasse lá para observar os caçadores e caminhei diretamente para a grande janela de vidro para me sentar e abraçar meus joelhos no para peito dela. E assim que fiz isso meus olhos não encontraram caçadores, lá em baixo no ginásio estavam apenas Iawy e Nyx. Espiá-los não era a coisa certa a se fazer, mas era melhor do que pensar em Andrew. Nyx não estava lá em baixo para um treinamento com seu amante, pois suas roupas não combinavam nada com isso. Ela apenas vestia o que usava em seu dia a dia. Iawy já usava roupas mais esportivas, o que virou um costume desde que Londres passou a ser atacada. Fazia muito tempo que eu não o via com roupas formais que apenas fazia seu charme aumentar. Eu poderia ter pensado que era um treino facilmente já que Nyx estava com seus punhos cerrados e acertava as mãos de Iawy que serviam de alvo para seus socos lentos, mas a licantropa e o incubus estavam apenas passando o tempo juntos da maneira deles. A licantropa acertou mais uma vez o centro da palma de Iawy com o seu punho, ela deve ter usado tanta força naquilo que chacoalhou sua mão com a dor do impacto dessa vez. Iawy riu baixo e abaixou suas mãos que estavam no alto até esse momento.— Não ria, seu idiota.— Ela resmungou, antes do incubus ficar mais próximo dela e segurar sua mão que acabará de acertá-lo. — Você não tem força nenhuma para me derrubar, minha dama.— Iawy falou.— E mesmo assim


continua tendo uma alma assassina.— Nyx puxou sua mão das de Iawy rapidamente e cruzou seus braços em frente de seu peito, fazendo uma cara enfezada devido ao comentário de Iawy.— Você não deveria insultar a filha de dois deuses, Iawy.— — É primeira vez que a vejo falar de David e Sol como seus pais.— — Bom, pelo menos eles agem mais como meus pais do que aqueles que me criaram.— Disse Nyx. — Eles me veneravam como uma rainha ao invés de me tratar como uma filha.— Iawy suspirou e depois que segundos passaram após seu silêncio, ele levou sua mão até o rosto de Nyx para tocar suas bochechas. O incubus acariciou o rosto de sua amada como se ela fosse uma porcelana delicada que estava prestes a quebrar.— Você merece ser tratada como uma rainha, Nyx. — Nyx riu e abaixou seu rosto.— Eu não me sinto confortável sendo educada na maior parte do tempo.— — Tenho certeza que todos os licantropos a amariam como é,— Iawy disse ao mesmo tempo que erguia o rosto de Nyx com um dedo a baixo de seu queixo para encontrar aqueles olhos escuros como a noite.— Exatamente como eu a amo.— Um indicio de sorriso apareceu nos lábios de Nyx, mas ela não sorriu, não ainda.— Eu sinto sua falta.— Sussurrou baixinho, como se nem mesmo o ar em sua volta pudesse ouvir o que ela acabará de dizer. — Eu sei.—Iawy olhou para Nyx profundamente e não deixou de acariciar seu rosto em nenhum segundo.— Eu sei que não estou lhe dando a atenção que merece, Nyx, mas posso prometer que quando tudo melhorar, serei apenas seu.— — Já se passaram dez anos, Iawy.— Ela protestou.— Quanto mais terei que esperar?— — Eu não sei. As vezes parece que tudo isso nunca vai ter um fim, mas o ciclo da vida obriga terminar aquilo que começou, então...— — Nós somos imortais, o ciclo da vida não entra nisso.— Nyx o cortou.— A única maneira de acabar com isso é matando Andrew e Amethyst e mesmo assim ninguém deseja a morte dele, até mesmo os deuses proibiram a morte de Andrew. Você acha mesmo que tudo isso vai terminar logo? — — Estou fazendo tudo que posso para melhorar as coisas. Salvando pessoas, pesquisando maneiras de equilibrar a alma de Andrew e como matar Amethyst. Toda a responsabilidade do que está acontecendo em Londres caiu em minhas costas, você não pode achar que isso é minha culpa.— Iawy disse aquilo tão calmamente que parecia que eles não estavam prestes a entrar em uma discussão. — Eu não acho que isso seja sua culpa, mas você se afastou de mim.— Iawy estava sem pretextos, ele não sabia o que dizer quando tudo que sua amada estava falando era verdade. Nyx tinha razão, o incubus realmente se afastou dela, mas não era culpa dele. Afinal, a responsabilidade de tudo que estava acontecendo em Londres caiu nas costas de Iawy. Iawy a abraçou quando Nyx permitiu isso, deixando que o incubus colocasse uma de suas em sua cabeça para uma simples caricia nesse abraço, a licantropa apenas descansou sua cabeça em seu ombro.— Sinto muito, minha dama.— Ele sussurrou, a pressionando ainda mais contra seu corpo. — Eu apenas quero que tudo isso acabe logo, Iawy.— Nyx murmurio.— Estou cansada de sentir o cheiro de sangue em Londres.— Eles poderiam ficar ali abraçados pelo resto da noite, como se o mundo la fora não estivesse prestes a ser destruido. Aquele momento ninguém poderia destruir, pois se isso acontecesse, eu tinha certeza que Nyx arrancaria a garganta da pessoa que fizesse isso mesmo não estando transformada. Iawy acariava os cabelos dourados e cacheados de Nyx com determinação, ele a segurava por suas costas com sua outra mão onde o polegar também a acariciava.— Case-se comigo.— Ele disse baixo, me fazendo quase cair do parapeito da janela. Eu não fui a unica surpresa, já que Nyx levantou a cabeça do ombro do incubus para encontrar aqueles olhos negros que podiam ser


comparados com o céu noturno.— Case comigo quando tudo isso acabar.— —Eu...—Nyx estava sem palavras. — Você é minha dama e nós temos que oficializar isso quando não houver mais guerra em nosso mundo.— — Você quer que eu espere por toda a eternidade?— Nyx falou sem esperanças, principalmente pelo fato do que Andrew causou no mundo. Os humanos provavelmente jogariam pedras em nós quando saissemos na rua, ela provavelmente não queria se casar com tudo isso acontecendo. Anos se passariam quando tudo se normalizasse novamente e casamento era algo tão cheio de felicidade e amor que não poderia acontecer em quanto uma tragedia se ocorria ao nosso redor. — Nunca vou me permitir finalmente casar com você em quanto Londres caí em destruição, então peço que me espere por toda a eternidade se for preciso, pois eu nunca desistirei de você, Nyx, mesmo que me afaste ainda mais, a única pessoa que estará sempre dentro de mim será você.— — Eu esperarei, Iawy.— Nyx sussurrou.— Sempre.— Iawy sorriu, um sorriso lindo e que provavelmente apenas poucos viam o incubus mostrar seus dentes dessa maneira. Ele também aproximou seu rosto do de Nyx e estava prestes a beijá-la, mas antes que isso acontecesse, seus olhos negros vieram rapidamente até mim. Meu desejo foi de sumir naquele momento, pois até mesmo a licantropa se virou para ver o que seu amante estava olhando no alto. — Roxie.— Iawy disse meu nome carinhosamente, apesar de falar em um tom alto.— Você está ai há muito tempo?— — Não.— Eu menti descaradamente.— Acabei de chegar.— — Eu precisava falar com você, pelo menos não precisarei incomodá-la mais tarde em seu quarto. — — Você nunca me incomodaria, Iawy.— — Bom, de qualquer maneira, amanhã um grande amigo se juntará a nós para nos ajudar em questão de matar Amethyst. Eu gostaria de ter sua presença quando ele chegar para apresentá-lo minha protegida.— — Não se preocupe,— Eu disse com um sorriso.— estarei lá.— Iawy apenas acenou com sua cabeça e os lábios de Nyx se movimentaram até formar um leve sorriso em seu rosto, eu poderia ficar ali e continuar conversando com eles ou simplesmente observar como estava fazendo para distrair minha cabeça. Afinal, isso funcionou muito bem em quanto ninguém percebeu que eu estava aqui, mas agora precisava me preparar mentalmente para conhecer uma nova pessoa. Alguém que provavelmente poderia matar Amethyst e até mesmo Andrew, uma pessoa que mataria o homem que amo e a mesma que eu teria que sorrir amanhã... Quem disse que a vida era bela, realmente, não a viveu no final das contas.


07Eu estava sentada em um banco feito de cimento dentro de uma estufa que existia na central. Na verdade, aquilo era para ser um jardim, mas como existiam muitos vampiros vivendo aqui dentro, Iawy decidiu fazer desse jardim uma estufa para que nenhum dos seus caçadores tivessem problemas. Em toda a central esse lugar era o mais calmo e o menos frequentado, então eu passava algum tempo nele algumas vezes. Meus olhos estavam fixos nas orquideas em minha frente, vivas e coloridas como se o mundo lá fora não estivesse desmoronando. Apesar de todas serem bonitas, apenas uma chamava minha atenção. Ela era de um azul claro misturado com branco, linda como todas as flores que estavam nessa estufa, mas a única que tinha significado para mim. Depois que alguns dias passaram após a invasão dos vleermuis em Londres, eu voltei para a mansão real com a intenção de recuperar algumas coisas, mas nada havia sobrado. Nada além do que um vaso destruído com uma única flor esbanjando beleza. Eu tinha perdido tudo, menos essa orquidea. Andrew uma vez me disse que o único ser vivo que é considerado inocente e ingenuo, são as flores. Nem mesmo os animais poderiam ser considerados assim, pois eles eram sanguinários. Era o reino das plantas que não causavam mal a ninguém e mesmo assim ninguém dava valor para elas. O antigo rei dos vampiros tinha razão, apesar de serem apenas um mato, as flores eram inocentes e mereciam mais valor. Talvez esse foi um dos motivos que recuperei e cuidei dessa orquidea, mas o grande motivo por isso, foi que essa simples e bela flor era a única lembrança que possuia da bondade de Andrew. Nem mesmo meu anel de noivado eu consegui recuperar e de toda minha vida passada essa era a única lembrança. Muitas vezes passou em minha cabeça que a coisa certa era destruir essa planta, já que Andrew possuía um enorme carinho por suas orquideas, mas eu não podia fazer isso. No fundo, Lúcifer tinha razão em dizer que eu não podia simplesmente esquecer o meu passado com Andrew para odiá-lo e eu falhei completamente em pensar assim. Não existia mais salvação para mim, meu coração sofreria por Andrew até o ultimo minuto da minha existência. Independente do que acontecesse, eu teria que aceitar essa única verdade. — Roxanny Le Boursier.— Lúcifer disse meu nome, apesar de não vê-lo atrás de mim, eu sabia que era o vampiro de cabelos loiros. Era dificil não reconhecer a voz de Lúcifer com esse sotaque diferente. — Não diga o nome do diabo, Lúcifer.— Eu murmurei sem ao menos olhar para ele, já que o vampiro se sentou ao meu lado no banco. — Eu não disse meu nome, Roxie.— Lúcifer disse com um sorriso sarcastico em seu rosto, fazendo com que meus olhos se encontrassem com aqueles verdes desumanos.— Não me olhe assim, essa cicatriz em sua mão a marca como pertencente desse nome.— Eu soltei um riso seco e amargo ao olhar para a cicatriz que me marcaria eternamente como esposa de Andrew.— Bem que dizem hoje em dia que casamento é apenas um grande problema.—


— Tudo é um problema quando Andrew está envolvido.— Lúcifer falou.— E mesmo assim você chora pela falta que ele lhe faz.— Meus olhos voltaram para a orquidea em minha frente, enfrentar as lembranças do passado era algo muito mais fácil do que olhar para os olhos de alguém que podia descrever tudo o que se passava em minha mente nesse exato momento.— Então acho que eu sou o problema, afinal.— — Oh, minha querida, não existe ninguém errado. É apenas o amor que nos leva a loucura.— — Eu não sei mais o que sinto, Lúcifer... Parece que todos os meus sentimentos estão em uma guerra confusa pelo poder, o que me leva a sentir nada algumas vezes. Eu não sei o que pensar se é certo ou errado a morte de Andrew, não faço ideia se é justo os deuses quererem a alma dele ao normal para que ele possa morrer... Meu desejo era saber todas as respostas para minhas perguntas, mas não sei e parece que nunca vai existir. E além de tudo, talvez eu tenha que aguentar Andrew aparecendo em minha vida para me torturar apenas por que ele está com tédio. Eu não mereço isso, Lúcifer, eu não fiz nada de errado para que minha vida esteja uma droga.— Lúcifer não disse nada, ele apenas ficou ao meu lado em silencio por vários minutos. Talvez não existissem palavras para me responder, era obvio que ele concordava que eu tinha muito azar em minha vida.— Andrew me fez prometer diversas vezes que cuidaria de você caso algo acontecesse com ele, Roxie.— o vampiro disse depois de um tempo.— Eu não queria que você desistisse dele, eu não queria desistir do meu único amigo, mas está na hora de começar vê-lo como um inimigo e começar cumprir minha promessa.— — Você não precisa fazer isso.— — Eu preciso, eu nunca quebro minhas promessas.— Ele disse com seus olhos fixos naquela orquidea azul e branca.— Andrew não está mais entre nós, ele jamais faria o que fez com você noite passada se ainda sentisse algo... Ele é o inimigo e merece morrer.— — Lúcifer...— Eu sussurrei o nome do vampiro, pois sabia que falar aquilo doía nele. Afinal, Andrew foi muito mais que um irmão para Lúcifer, durante séculos eles formaram uma família e aceitar que ele tinha que morrer... Meu Deus, nem eu conseguia isso, como Lúcifer poderia falar tal coisa com facilidade? — Eu aprendi com ele que o ato mais precioso que existe é proteger aqueles que ama do perigo e Andrew é o perigo.— Lúcifer se virou para mim e pegou em minha mão. Eu fiquei um pouco surpresa, pois o vampiro em minha frente não apreciava muito o contato físico. A única pessoa que havia privilégios nisso era a deusa que ele estava apaixonado e jurou amor eterno a ela.— Eu prometo a você, Roxie, Andrew nunca irá tocar ou causar algum mal a você. Não deixarei que ele lhe faça nada sem sua permissão. Eu surgirei do inferno se for preciso, mas Andrew nunca mais irá te torturar apenas por que está com tédio.— Por um momento eu parei de respirar, pois indicios vermelhos passaram a surgir nos olhos de Lúcifer, mas ele não permitiu que sua transformação se completasse. Ele estava com raiva e era normal que suas pressas quisessem saltar de sua gengiva, era seu instinto assassino querendo acordar de um sono leve para arrancar gargantas e se deliciar com o sangue de suas vitimas. Eu também sabia que ele estava com raiva, pois seu aperto em minha mão apenas aumentou a cada palavra que saiu de sua boca. Lúcifer estava falando sério, muito sério. Eu não gostaria que ele fizesse uma promessa dessa, pois não o queria machucado... Eu poderia suportar qualquer dor que Andrew me causasse, mas ver alguém se ferir por causa de mim era outra coisa. Um lento sorriso se formou em meus lábios, um sorriso que agradecia o vampiro em minha frente por dizer que iria me proteger do homem que chamou de até mesmo irmão.— Eu gostaria de ter tido um irmão como você, Lúcifer.— — Quem disse que você não tem?— Ele disse com um sorriso ironico.— E como seu irmão mais velho, tenho a obrigação de ensiná-la a queimar borboletas com um isqueiro.— Lúcifer começou tirar de seu bolso um pequeno quadrado feito de metal, eu sabia que aquilo era seu isqueiro e o tomei de sua mão, não conseguindo segurar meu riso. — Eu não sou louca como você.— Falei lhe dando um tapinha em seu braço que mesmo se eu usasse toda minha força, apenas causaria cócegas no vampiro de cabelos loiros.


— Não é questão de loucura, é uma bela visão vê-las voando em quanto não vão de encontro com o chão e a morte.— — Eu não quero ver borboletas em chamas!— Eu disse guardando o isqueiro comigo mesma, para que Lúcifer não causasse nenhum mal a natureza quando estivesse sozinho.— Emme vai lhe matar se souber que você queria fazer isso.— — Mas como uma boa irmã, você não irá contar, certo?— Aquilo soou como uma ameaça, principalmente pelo olhar assassino que ele me jogou.— Mas não importa... Iawy falou que um estrangeiro está vindo para nos ajudar?— Lúcifer mudou de assunto repentinamente, não me pegando de surpresa, pois o incubus já havia me informado sobre isso. — Iawy disse que um amigo estaria vindo para ajudar sobre como matar Amethyst e que gostaria que eu estivesse junto quando ele chegasse. Você o conhece? Esse amigo de Iawy?— — Não, mas se ele sabe como matar Amethyst, então já o considero como uma boa pessoa.— — Eu pensei que qualquer criatura sobrenatural poderia ser morta quando atacassem o coração.— — Sim, nossa maior fraqueza sempre irá ser o coração, mas em um tópico de poder, feiticeiros sempre foram colocados em primeiro lugar.— — Porque os poderes deles vieram dos deuses.— Eu completei o que Lúcifer não disse, uma das poucas coisas que eu sabia sobre bruxos. — Exatamento, eles possuem 1% do poder dos deuses, comparados aos nossos poderes, isso é uma grande quantia. E considerando a idade de Amethyst, ela é muito poderosa.— — Então esse amigo de Iawy é um feiticeiro?— — Eu imagino que sim, pois caso não for, ele está vindo pra Londres para morrer.— Eu olhei para Lúcifer, o vampiro olhava novamente para as flores em nossa frente e seus olhos diziam que ele estava pensando sobre o que acabará de dizer, em quantas pessoas morreram tentando nos ajudar. — Nós ainda estamos vivos.— — E eu me pergunto por que.— Lúcifer disse.— Não entendo o motivo de Amethyst e Andrew terem ignorado nossa existência, mesmo estando ocupados com a barreira de Londres.— Essa uma questão que provavelmente todos na central se questionavam todos os dias, era realmente surpreendente não termos sidos atacados. Amethyst e Andrew destruiram tudo nessa cidade, destruiram nossa paz entre os humanos e qualquer outra coisa que existia em seus caminhos. Era muito estranho o prédio da central ainda estar de pé. Eu entendia o motivo de Andrew vir atrás de mim, ele sempre fazia coisas inesperadas e voltar a aparecer depois de tanto tempo não era uma novidade, ele queria brincar comigo da pior maneira que existia, sua alma desejava o sofrimento de alguém e o alvo era eu. Eu entendia completamente isso e não havia duvidas, mas compreender o motivo de ignorarem a central era algo muito difícil. — Acho que...— Eu comecei a falar, mas parei assim que me virei em direção de Lúcifer para encontrar os olhos do vampiro. Seus olhos verdes estavam vazios, sem vida nenhuma e nem mesmo aqueles verdes desumanos brilhavam no momento. Lúcifer nem ao menos demonstrava estar piscando, parecia que ele estava em outra dimensão. O vampiro de cabelos loiros parecia uma perfeita estatua nesse momento. Um pequeno desespero cresceu em mim, pois não sabia o que estava acontecendo. Com Lúcifer parado assim, parecia que o mundo ao meu redor havia congelado, eu pensei em chacoalhá-lo até que voltasse a vida ou simplesmente lhe dar um tapa, mas antes que eu tivesse a chance de tomar uma atitude tão brusca, Lúcifer piscou e olhou para mim com um sorriso de como se nada daquilo tivesse acontecido.— O que aconteceu com você?!— Perguntei rapidamente antes que ele mudasse de assunto e não me desse a chance de falar sobre isso novamente. — Desculpe.— Falou com sinceridade.— Emme entrou em minha mente.— — Oh, eu não imaginava que você ficaria feito uma estatua.— Eu nem ao menos imaginava que ficava feito uma idiota quando algum deus entrava em minha mente! Claro que eu não estava chamando Lúcifer de idiota, pois o vampiro em minha frente ficaria lindo de qualquer maneira, mas


entre minha beleza e a de Lúcifer existia muita diferença. Em quanto ele pareceria uma estatua perfeita, eu seria comparada com algo já demolido. — Ela disse que o amigo de Iawy já chegou e que nós temos que ir até lá para conhecê-lo.— — Emme está conhecendo um novo homem e você não está por perto para marcar território?— Eu não consegui segurar meu comentário quando Lúcifer estava começando a se mover para sair da estufa e conhecer esse novo amigo de Iawy. O vampiro apenas me jogou um olhar sarcastico e em questão de segundos seu sorriso ironico estava estampando seu rosto pálido.— Não me faça carregá-la pelos ombros para fazê-la andar mais rápido.— Eu ri com o que Lúcifer disse, mas logo toda a vontade de rir passou quando notei que ele estava falando sério. Lúcifer realmente estava se preocupando com Emme sozinha em uma sala com esse desconhecido, então eu não enrolei mais dentro daquela estufa, apenas caminhei atrás do vampiro e tentei acompanhar seu ritmo, um pouco rápido demais para mim. Até mesmo ignorar a existencia de um elevador Lúcifer ignorou, pois ir de escadas era muito mais rápido para ele. Tudo bem que para mim era mais cansativo, mas realmente concordava que pegar as escadas seria muito mais rápido do que usar o elevador para chegar até o escritório de Iawy. Bem, pelo menos eu achava que estavamos indo até o escritório do incubus para encontrar esse novo estranho que nos ajudaria. Eu não estava errada ao pensar que iriamos até o escritório de Iawy no final das contas, estava um pouco obvio até que esse seria o local em que o incubus receberia seu novo convidado. Lúcifer estava em minha frente, então ele foi o primeiro a entrar no comodo após abrir a porta. Eu entrei logo atrás dele. Todos já estavam naquela sala, mas ninguém notou minha chegada e de Lúcifer. Afinal, a atenção de todas as pessoas que estavam naquela sala estava na enorme varando que Iawy possuía. Uma varando que não tinha uma visão para o mundo horroroso lá fora, sua visão era de um dos lugares em que os melhores caçadores eram treinados. Eu não me importei em ninguém notar minha entrada, pois assim pude analisar aquele estranho em minha frente que estava de costas para mim. Tudo bem que eu não via seu rosto, mas ver suas costas era algo. Seus cabelos eram de um louro escuro, mas haviam mechas que eram muito mais claras do que o resto dos seus fios, uma mistura do claro e do escuro. Apesar daquela cor ser raramente vista, o que mais me chamou atenção foi suas roupas. Esse estranho vestia terno, sapatos sociais e ainda para completar um enorme lenço xadrez estava jogado em volta de seu pescoço.... Bom, pelo menos agora eu tinha provas vivas de que a moda fora de Londres ainda existia. Iawy foi o primeiro a se virar e sorriu para mim, apesar de Lúcifer estar ao meu lado, eu sabia que aquele sorriso pertencia a mim. Eu também sorri e passei aumentar meu sorriso assim que todos naquela varando passaram se virar para nos ver, mas ele não durou assim que aquele estranho encontrou meus olhos. Esse amigo de Iawy tinha os olhos exatamente como os de Amethyst, azuis claros que havia pouca diferença entre o branco, a única cor existente ali era o preto de sua pupila. Seu cabelo era jogado para o lado em uma bagunça perfeita que apenas fazia com que aquelas duas cores se misturassem em algo muito natural, mas o que realmente chamava atenção era seus lábios cheios e um pouco avermelhados... Eu conhecia aquele rosto, não aqueles olhos, mas conhecia seu rosto tão bem que o choque passou a percorrer meu corpo de uma maneira que respirar não era mais uma opção. — Charles, esses são Lúcifer e...— — Roxie.— Ele, calmamente e um pouco surpreso, cortou Iawy quando começou a nos apresentar, apenas para piorar o estado do meu corpo ao deixar obvio que também se lembrava de mim.


Gelado... Eu me sentia tão gelada agora. A cada batida rápida do meu coração eu sentia o gelo consumir o meu corpo e também passei a me sentir tonta, esse foi o motivo de ter fechado meus olhos e ter fincado minhas unhas no braço de Lúcifer para ter certeza de que não cairia, uma cena na frente dessa pessoa era a última coisa que eu precisava... Mas já era tarde, toda a cena já devia ter se formado e eu tinha tanta certeza disso pois a baixo do da minha mão, que havia segurado em Lúcifer, eu senti o gelo se formando. Meus olhos se abriram rapidamente e eu retirei minha mão do braço de Lúcifer. O gelo havia tomado conta de quase todo seu braço, mas essa não era a pior parte... Definitivamente essa não era a pior parte quando quase todo o escritório de Iawy estava sendo decorado com uma fina camada de gelo. Eu fechei minhas mãos em punhos com medo de congelar mais coisas, olhares surpresos estavam presos a mim em quanto o silêncio bateu terrivelmente ao nosso redor. Até mesmo Lúcifer que gostava de abrir a boca em momento inadequados estava quieto. Eu olhei para Charles esperando que ele sumisse, que tudo isso fosse apenas um sonho confuso, mas isso nunca aconteceria. Por que o passado estava em minha frente? Novamente olhei para todos, mas antes que qualquer um falasse algo para explicar por que eu congelei quase toda a sala ou simplesmente perguntar o que aconteceu, eu caminhei até a porta e a bati atras de mim. Meu quarto... Eu precisava me fechar na escuridão do meu quarto, eu precisava caminhar mais rápido para chegar até lá...— Roxie!— Aquela voz que pertencia ao meu passado disse meu nome novamente, fazendo que todos os meus pelos se arrepiassem quando sua mão quente pegou na minha com a intenção de me parar. — Não me toque!— Eu pedi ou exigi rudemente quando me virei para Charles. Não era minha intenção ser grossa, mas eu estava com medo de congelar alguém... Eu nunca tinha congelado tantas coisas como hoje. Charles me encarou, parecendo não acreditar que eu estava em sua frente.— Eu não tocarei em você, minha querida.— Ele elevou suas mãos para longe de mim. Meus lábios estavam tremendo nesse momento e eu não sabia mais o que fazer ou falar agora que todos que estavam naquela sala apareceram atrás de Charles, provavelmente preocupados comigo. — Você é um imortal agora...— Eu falei a primeira coisa que veio a minha cabeça em um murmurio baixo. — Eu sempre fui imortal, Roxie.— Disse ele.— Mas a magia pode esconder como realmente são meus olhos.— — Um bruxo...— — Me perdoe, não era minha intenção apavorá-la dessa maneira...— Charles franziu o cenho.— Eu nem ao menos sabia que ainda estava viva.— Meu Deus... O que estava acontecendo com minha vida? Por que tudo estava se tornando tão complicado? — Vocês que devem me desculpar,— Nyx se intrometeu, parada ao lado de Iawy.— mas da onde você se conhecem? Não nos deixe por fora do assunto, pois o rádio patroa da central é mais pura que água natural.— Lúcifer jogou um fuzilador para a licantropa assim que ela mencionou Emme em sua frase. Provavelmente a deusa do fogo já tinha descoberto quem era Charles para mim, mas ela respeitava a mente das pessoas. — Barão Windsor...— Eu sussurrei, permitindo que meus olhos caíssem até o chão.— Charles foi minha primeira paixão quando ainda era uma humana.— Eu não ergui meu olhos do chão, encarar Charles era muito difícil agora, mas mesmo assim sabia que havia pego todos de surpresa. Como eu, ninguém imaginava que esse amigo de Iawy que poderia matar Amethyst seria alguém do meu passado, nunca poderia imaginar que esse estranho


que chegaria até a central foi a primeira pessoa que me apresentou o que era o amor. — Uau.— Nyx assobiou aquela palavra.— Agora Andrew vai destruir o mundo.— — Nyx!— Iawy a repreendeu com um sussurro. Apesar de ter escutado muito bem o que Nyx disse, eu decidi ignorar o comentário, pois ele não foi muito agradável. Eu também ergui meus olhos para encontrar Charles parado em minha frente, me observando exatamente como eu estava fazendo, como se não tivesse acreditando no que estava vendo. Claro que chamas de amor antigas não tinham se acendido dentro de mim, eu gostei de Charles, ele foi o primeiro homem que gostei em minha vida humana e Andrew veio em segundo... Mas havia muita diferença entre ele e Andrew. E estava obvio também que Charles não tinha mais sentimentos por mim, pelo menos eu esperava que não tivesse. O bruxo em minha frente, que foi meu primeiro namorado, não movia nenhum músculo. A única coisa notável em seu corpo era o movimento da respiração em sua barriga, mas assim que meus olhos se encontraram com os seus, os lábios dele se puxaram em um pequeno sorriso. Eu não retribui aquilo, pois estava muito nervosa para pensar em sorrir. Charles era uma boa pessoa e tê-lo de volta em minha vida talvez fosse algo bom... Mas caramba, de tantas pessoas que conheci em toda minha vida, tinha que ser ele? — Me desculpe,— Eu disse tentando não soar desesperada para sair correndo desse corredor.— mas eu irei para meu quarto.— — Não se preocupe, nós teremos muito tempo para conversar.— Charles disse.— Eu não irei para nenhum lugar, minha querida.— *** Pelo resto do dia eu passei fechada dentro de meu quarto, tentando ao máximo possível pensar em minhas irmãs ao invés de Andrew ou no meu novo problema chamado, Charles. Eu até mesmo poderia dizer que pensar nas mortes das minhas irmãs era melhor do que encarar a realidade, mas como eu não era cruel, eu teria que enfrentar o fato de que meu ex-namorado estava de volta. Eu não sabia como encarar Charles, na época em que nos conhecemos tudo era muito diferente, então era simples que uma adolescente se apaixonasse pelo primeiro homem que a trata-se bem. Esse foi meu caso com o Barão Windsor, se ele realmente gostou de mim um dia era difícil adivinhar. Criaturas sobrenaturais sempre tinham uma escala diferente sobre se apaixonar ou sentir qualquer outra coisa por outra pessoa. Criaturas sobrenaturais... Por muito tempo eu pensei que não tinha um tipo definido, mas acho que no final de tudo tinha uma grande queda pelos imortais. O que era uma droga, pois eles nunca morreriam. Bom, o lado positivo era que eu não tinha mais nenhum ex vagando pelo mundo sem ao menos saber que ele é imortal. Afinal, Andrew e Charles foram os únicos homens em minha vida que me apaixonei, tudo bem que a situação que me encontrava era muito pior do que ter mais de dois ex-namorados... Por um momento, não posso mentir, que gostaria de ler os pensamentos de Charles para saber o que achava sobre ter me reencontrado depois de tanto tempo. Eu precisava saber, pois quando Andrew apareceu em minha vida não pude mais encontrá-lo e muito menos consegui lhe enviar um bilhete dizendo que estava noiva e não poderiamos mais nos encontrar. Simplesmente parei de aparecer no lugar em que costumávamos nos encontrar sem dar nenhuma explicação. Isso foi algo errado e ao saber que eu estava noiva de Andrew, Charles pode ter me odiado muito. Eu não sabia se bruxos eram como o resto das criaturas sobrenaturais, que eram muito possessivos com o que eram deles. E Charles também não parecia ter um ódio ou mágoa por mim, ele demonstrou estar surpreso em me ver respirando, acho que a última coisa que ele esperava era me ver como uma imortal, assim como eu, que jamais esperei que esse homem fosse um bruxo que


escondia seus olhos dos humanos. Eu levantei minhas costas do chão do meu quarto para continuar sentada ali ao invés de ficar deitada. Minha cama com certeza era o lugar mais adequado para me deitar, mas eu sabia que iria dormir se não tivesse me deitado aqui. Os sonhos, nos ultimos anos, se tornaram traiçoeiros demais quando colocavam Andrew como um príncipe. Um riso amargo escapou dos meus lábios nos próximos segundos, pois apesar de não ter apreciado o comentário de Nyx sobre Andrew, aquilo seria uma grande verdade no passado. Andrew ficaria louco apenas de sentir o cheiro de Charles no ar e talvez me obrigaria a parar de respirar por causa disso. Eu tive muita sorte no passado e não tinha consciência disso, acho que nunca dei tanto valor a Andrew como estou dando agora que eu o perdi... — Andrew...— Eu sussurrei seu nome baixo, como se aquilo pudesse trazê-lo de volta para mim.— Por que você desistiu de mim?— Ai está uma pergunta que me causava sofrimento que provavelmente teria uma resposta que causaria uma dor enorme no meu coração. Eu nunca desejei que Andrew se juntasse com Amethyst por uma semana, se eu soubesse que esses sete dias se tornariam dez anos cheios de pesadelos, eu teria preferido continuar humana e morrer com ele ao meu lado como meu principe, não ser imortal para sempre e o amor da minha vida se tornar meu maior inimigo. Por mais que a maioria dos meus pensamentos pertencessem a Andrew, as vezes eu tinha muita dificuldade sobre o que pensar sobre ele. Era difícil colocar a pessoa que você amava como um vilão, era muito mais difícil aceitar que nada era recíproco. Eu abracei meus joelhos fortemente contra meu peito e apoiei minha cabeça neles, esperar que o tempo passasse em silêncio era a melhor coisa que eu podia fazer agora. Lá fora nos corredores da central estava Charles para enfrentar e fora desse prédio estava o perigo maior, Andrew. O perigo maior... --Eu estava caminhando pelos corredores da mansão real apressadamente para encontrar o salão onde existiam os tronos de Pierre e Andrew. Talvez estivesse perdida, pois não fazia nem um mês que havia me mudado para essa enorme mansão, conhecida como moradia do rei dos vampiros. Era estranho saber que existia uma politica tão antiga no mundo das criaturas sobrenaturais, mas também não posso mentir que reis e rainhas eram muito mais respeitados do que o governo dos humanos nos dia de hoje. Em um mundo psicopata era preciso de severidade e um rei que fosse tão cruel como aquele que estava sentado em seu trono a minha frente, agora que tinha aberto as duplas portas do salão real. Pierre poderia ter um coração que já não batia mais, mas o vampiro definitivamente sabia como ser um rei. — Vampirinha.— Pierre disse secamente, igualmente ao seu sorriso que parecia que ele não tinha nenhuma vontade de participar desse mundo.—O que a traz aqui tão cedo nessa madruga úmida de Londres?— Meus olhos fuzilaram Pierre ainda mais quando seu sotaque forte de frances me fez lembrar de Andrew. Eu não podia sequer pensar nesse nome sem sentir meu estomago se revirar... Ele mentiu para mim e ainda causou a morte de minha irmã. Como alguém que dizia me amar podia fazer isso? Isso era sujo e muito frio. Ver Andrew como o amor da minha vida, estava longe da minha mente pois era muito dificil vê-lo assim depois de descobri que ele sabia que minha irmã era mantida como uma prisioneira zumbi. Por mais que eu caísse, Andrew jamais deveria ter escondido algo como isso de


mim... Por mais que eu chorasse e sentisse culpada pela transformação de minha irmã, ele não podia ter escondido isso de mim. A mentira apenas destruía uma relação e eu tinha sérias duvidas se tudo que ele me disse até hoje era verdade. — Você me prometeu não encontrar Andrew aqui, Pierre.— Eu atirei todas minhas pedras na primeira frase.— Não quebre suas promessas comigo, pois eu não posso fazer alguma diferença para você se estiver viva ou morta, mas sei de todos os seus planos e posso estragá-los.— Pierre olhou para baixo, fazendo que seus cabelos negros bagunçado, mas ao mesmo tempos arrumados, caíssem em frente de seus olhos azuis. Azuis como os de Andrew... Mas eles não eram frios, apenas cheios de pesadelos para uma única mente. Ele soltou uma risada baixa amarga e ergueu seus olhos para mim.— Você é tão ingrata, milady.— Disse calmamente.— Poderia tomar mais cuidado, assim posso me apaixonar. Vampiras vingativas sempre me atraem.— — Você não possuí um coração para isso.— — Você está certa.— Pierre usou os braços de seu trono para o apoio de seus cotovelos.— Mas eu não quebrei nenhuma promessa, não tenho culpa se meu irmão perdeu seu coração para você.— — O que Andrew estava fazendo aqui?— Perguntei.— Seu cheiro pela mansão está mais forte, ele esteve aqui dentro.— — Sabe,vampirinha,— Um lento e pequeno sorriso cresceu em seus lábios.— Antigamente as mulheres eram consideradas como bruxas quando homens iam a loucura pelas belezas existentes nelas. Houveram pessoas que criaram boatos que isso era uma magia, pois nenhuma mulher era bonita a ponto de fazer um homem a seguir mesmo quando elas não os queriam...Talvez você seja uma bruxa, Roxie.— — Eu não estou brincando, Pierre.— Disse arrogantemente. — Não tenho culpa por ele ser um fraco a ponto de precisar espioná-la para saber se o amor da vida dele está bem. Conforme-se.— — Por que ele faria isso?— — Não sou um psicólogo, vampirinha, vá procurar alguém que queira chorar junto com você sobre o amor.— Eu revirei meus olhos. Pierre não precisava usar tanta grosseria para falar comigo.— Você, realmente, já amou alguém alguma vez, Pierre?— O rei dos vampiros em minha frente desviou seus olhos dos meus e franziu o cenho como se estivesse tentando lembrar de algo.— O que foi?—Perguntei calmamente. Pierre as vezes era um pouco confuso para mim, então, eu tinha que perguntar o que se passava em sua mente. Andrew disse que ele estava louco, talvez isso fosse parte dela. — Eu estava tentando me lembrar o que é amor.— Falou baixo.— Isso é tão raro.— — Qualquer pessoa pode sentir amor, Pierre.— Ele estava ficando a cada segundo mais confuso, mesmo não demonstrando isso em sua expressão, seus olhos mostravam. Eu estava prestes a desistir desse assunto quando o rei dos vampiros voltou a falar.— Existiu uma pessoa...— Ele disse.— Essa pessoa foi a única que demonstrou gostar de mim dentre muitas e eu sabia que podia contar com ela mesmo quando estava errado. Ela me protegia e não se importava com a opinião que todos possuíam de mim e mesmo que meu coração batesse cada vez menos, essa pessoa sempre fazia promessas que nunca me abandonaria. Quando existe um sentimento reciproco assim... Eu acho que isso é amor. Mas conforme os anos se passaram, todas as promessas foram quebradas e a única pessoa que pensei que me amava me abandonou na solidão do tempo quando precisava de ajuda. Essa pessoa encontrou o que realmente consideram como amor e se virou contra mim.— — Quem era essa 'pessoa'?— Perguntei. — Andrew.— Ele disse.— E você foi quem fez ele se virar contra mim.— Eu encarei Pierre e esperei que ele me atacasse, pois era isso que qualquer pessoa iria fazer. Era isso que acontecia quando se achava a pessoa que merecia ser morta por ter tirado a pessoa mais importante de alguem, mas Pierre falou tudo isso como se não se importasse. Eu fiquei surpresa com sua resposta, jamais esperava que ele estivesse falando de Andrew. Para mim se tratava de


uma mulher, mas bem como ele disse, só consideram como o amor o sentimento de uma mulher e de um homem... Ninguém nunca se lembra de um sentimentos de irmãos como amor. — Você não deveria ter me aceito aqui.— Eu disse.— Nem ao menos gostar de mim você devia.— — Eu pensei que a tendo aqui, Andrew voltaria...— Ele foi sincero com sua resposta baixa.— Mas eu já devia saber que ele nunca trairia os deuses.— — Sinto muito que seus planos não tenham dado certo.— Pierre olhou para mim por mais alguns segundos e se levantou de seu trono, ele passou por para caminhar até a saída e tudo que fiz foi me virar em sua direção para meus olhos acompanharem cada passo daquele vampiro. Só que antes que o rei dos vampiro sumisse da minha vista, ele parou de caminhar.— Eu não gosto de você, Roxie.— Pierre disse sem ao menos se virar para mim.— Você tirou de mim a única pessoa preciosa que existia dentro do meu coração, mas o perigo maior sempre estará nas pessoas que gostamos, pois elas sabem como nos destruir. Elas são os inimigos. Eu não me importo de tê-la aqui, pois sua morte não me causará nenhum sofrimento como se fosse a de Andrew. Brincar com os deuses pode ser muito ruim, então, antes você do que meu irmão.— Ele saiu do salão sem dizer mais nenhuma palavra, se esquecendo totalmente que eu estava ali. Sua sinceridade também não me surpreendeu, Pierre não se importava com ninguém, então não havia por que medir suas palavras. Ele era sincero com seus próprios sentimentos e demonstrava isso para qualquer pessoa e não gostar de mim nunca foi uma novidade. Pierre provavelmente seria a única pessoa que nunca mentiria para mim e apesar do seu desprezo ser algo obvio, eu preferia assim. Minha própria família mentiu para mim, as duas e únicas pessoas que eu confiava minha vida mentiram como se meus sentimentos não importasse nada, e Andrew... Ele foi o pior de todos. Eu sabia que não poderia confiar em Pierre, mas ele nunca mentiria para mim. Isso significava algo... --Eu tirei minha mente do passado, quase me obriguei a fazer isso, me lembrar de Pierre era muito pior do que pensar em Andrew. Pierre fez um jogo totalmente sujo, até agora Andrew não usou as pessoas como uma peça de xadrez como seu irmão. Mas eles possuíam o mesmo sangue, então era obvio que iria esperar por isso vindo dele. Andrew provavelmente aprendeu como torturar as pessoas, como se elas fossem objetos, com o melhor. Com um pouco de preguiça de me mover do chão, eu uni todas as minhas forças para me levantar. O crepúsculo estava ocorrendo lá fora, devido ao horário, e eu pretendia assisti-lo. Existiam poucas coisas bonitas em Londres, agora que ela tinha caído em destruição, a natureza era responsável pelas únicas visões boas desde que isso aconteceu. Eu não gostava mais de observar as estrelas, pois elas me faziam lembrar de Andrew e que ele poderia estar as vendo de algum lugar também. Esse era o maior motivo por eu fechar as cortinas escuras do meu quarto toda noite como se estivesse querendo me proteger dos raios solares, caso eu fosse uma vampira. Eu caminhei até a minha janela e puxei a cortina para o lado e abri metade daquela enorme parede de vidro, mas ao mesmo tempo que fiz isso, eu desejei não ter feito e continuar deitada no chão pensando em Pierre. A frente da minha janela existia uma árvore, ela não atrapalhava minha vista e nunca foi um incomodo para mim, ela também possuía poucas folhas devido ao inverno, mas isso não era o problema. Em um de seus troncos, literalmente na mesma direção da janela, estava charles. Minha respiração ficou presa quando o vi ali parado e de pé no tronco, se segurando com uma de suas mãos no restante da árvore ao seu lado para ter um melhor equilíbrio. Charles se virou para minha direção, mas seus olhos não demonstraram nada, naquele momento eles pareciam serem feitos de vidros, mas estava obvio que ele não estava naquela árvore com esperanças de me ver.— Roxie.— Ele disse meu nome calmamente.— Eu não esperava vê-la.— — E-eu...— Eu fechei meus olhos e respirei fundo, gaguejar não era algo muito bom para se fazer


na frente de um fantasma que pertencia ao meu passado.— Aqui é meu quarto.— — Sinto muito, eu não sabia disso e não desejava incomodá-la.— Charles sorriu sem motivo e esse sorriso fez com que seus olhos ficassem espremidos, o único momento em que eles ficaram bonitos. Afinal, aqueles olhos brancos com suas pupilas negras eram muito dificeis de serem considerados belos.— Na verdade eu nunca tive intenção de aparecer aqui para lhe causar mais problemas.— — Você nem ao menos sabia que eu estava viva, Charles.— — Não, eu não sabia. Jamais imaginei que Andrew iria transformá-la em uma vampira, eu pensei que ele apenas a tirou de mim, no passado, por um jogo de poder.— Um jogo de poder...— Andrew conhecia você naquela época?— — Quando um feiticeiro está na cidade, todas as criaturas sobrenaturais sabem disso.— Ele disse.— Todos sabem com quem ele se relaciona...— Eu encarei Charles e uma enorme confusão se passou por mim. Eu não podia acreditar que Andrew fez isso, me fazer apaixonar por ele apenas para atingir um feiticeiro... Isso combinava com Andrew, mas... Será mesmo que ele foi capaz disso? — Andrew se tornou rei, depois da morte de seu irmão, você nunca soube que ele possuía uma rainha?— — Feiticeiros são colocados como raros, pois nós não nos interessamos pelo mundo de vocês e nem de humanos, nós apenas existimos para manter o equilíbrio da natureza e limpar a bagunça dos deuses quando eles se interagem com humanos. Eu sabia que Andrew era o novo rei dos vampiros e que possuía uma amante, mas vampiros negam tanto o amor que pensei que fosse apenas uma vampira qualquer ocupando o cargo de rainha.— — Entendo.— Disse.— Nenhuma criatura sobrenatural aprecia o amor, afinal.— — Não até conhecer o sentimento.— Charles falou com seus olhos fixos em mim e seu tom foi tão macio que poderia ser usado como uma cantiga para dormir em uma noite cheia de trovões. Ok, esse era um ótimo momento para mudar de assunto. — O que está fazendo nessa árvore?— Perguntei, antes que o assunto chegasse em um lugar muito obscuro para mim. — Eu estava caminhando pela central e decidi observar o crepúsculo aqui de cima. Agora que estou aqui, tenho que matar Amethyst e acho que não terei mais tempo para observar a natureza.— Eu lhe dei um pequeno sorriso antes de falar.— Também irei observar o crepúsculo, por isso que abri minha janela.— — Imaginei que você gostasse dos céus estrelados, já que foi uma vampira.— — Eu já gostei, mas não mais...— Eu disse.— Como sabe que não sou mais uma vampira, Charles? — — Bom, vampiros não congelam quase um escritório inteiro, minha querida.— Ele me lembrou desse pequeno detalhe que provavelmente eu imploraria perdão para Iawy mais tarde quando o visse sozinho.— E eu fui escolhido pelos deuses para me tornar um feiticeiro, eu tenho a obrigação de conhecer o que eles são capazes de fazer.— — Você sabe que eu sou uma...— — Eu sei o que você é, Roxie.— Ele me cortou rapidamente.— Você é uma raridade dentre muitas outras...E coisas raras são mantidas em segredo para a segurança de todos.— Charles sussurrou a ultima parte, como se ninguém pudesse ouvir o que ele estava falando. — Eu não sou uma raridade, Charles.— Eu disse em um risso simpático, pois ele falou como se eu fosse uma joia muito bela. — Eu falo sério, não revele para todos o que você é... Nem mesmo para Andrew.— Eu nunca tive planos de contar isso para Andrew de qualquer maneira, para mim ele já devia saber o que me tornei, mas era curioso Charles falar algo como isso... Na verdade, em geral, Charles era curioso. — Posso lhe fazer uma pergunta?— Ele voltou a falar novamente depois de um tempo em silencio, me pegando um pouco de surpresa, eu apenas movimentei minha cabeça positivamente.— Você gostou de mim no passado, Roxie?— Agora, eu realmente queria fechar aquela janela e implorar para que Pierre voltasse para os meus pensamentos. Se fosse possível, meu rosto inteiro se tornaria vermelho devido a essa pergunta.


— Sim, eu acho que sim.— Fui sincera e falei lentamente para não gaguejar assim que alguns segundos se passaram.— E você?— — Sim, eu acho que sim.—Charles me deu um sorriso torto ao me dar a mesma resposta que lhe dei. — Você nunca demonstrou isso, nem ao menos me beijar...— — Eu sou imortal, Roxie, não um pervertido que rouba o primeiro beijo de uma dama.— Ele atropelou minha frase.— Além do mais, seu beijo nunca pertenceu a mim e provavelmente nunca pertencerá.— Eu desviei meus olhos de Charles, pois estava começando a ficar constrangida com essa conversa. Já era complicado enfrentar esse homem em minha frente que pensei que estaria morto durante séculos, agora enfrentar essas perguntas era ainda mais difícil.— Eu acho que...— Minha frase foi interrompida pelo barulho da porta sendo aberta, eu quase dei um pulo de desespero quando vi que a pessoa que havia entrado em meu quarto, sem bater, foi o vampiro de cabelos loiros. Lúcifer estava atravessando meu quarto para ficar próximo de mim. Eu tive muita vontade de jogar alguma coisa em Charles para ele cair daquela arvore e passar despercebido para Lúcifer, mas a sorte aparentemente não gostava muito de mim. — Oh, me perdoem estragar esse momento Romeu e Julieta,— Ele começou assim que se aproximou da janela.— Mas Iawy precisa de você, Charles.— — Por que você veio procurá-lo em meu quarto?— Eu perguntei, sem ficar nem um pouco curiosa sobre Iawy desejar ver Charles. — Não faça essa pergunta com esse tom de desprezo, chupim, eu estava completamente correto em procurar aqui primeiro do que em outros lugares.— Lúcifer olhou para Charles ironicamente. — Bom, eu irei me encontrar com Iawy agora.— O feiticeiro naquela árvore disse e começou a se virar novamente pra ficar de costas para mim, mas antes de descer Charles olhou por cima de seus ombros.— Até mais tarde, Roxie.— E sem dizer mais nada, ele saltou daquela árvore. Eu respirei fundo e fechei a janela em minha frente antes de me virar para Lúcifer que me observava com sua sobrancelha esquerda elevada e com seus braços cruzados em frente de seu peito.— É como dizem,— Ele começou lentamente sem mover um músculo.— Um século para se encontrarem, mas levam apenas segundos para estarem no mesmo quarto.— — Cale a boca, Lúcifer.— Eu mandei.— E não entre mais em meu quarto sem bater.— Aqueles olhos verdes desumanos brilharam em ironia e divertimento. Eu fiquei surpresa por ele não ter falado nada inapropriado naquele momento em que congelei o escritório de Iawy, mas isso foi um milagre acontecendo... É claro que eu nunca deixaria de ser um motivo para piada. Lúcifer descruzou seus braços e se aproximou sua mão do meu rosto, com seu dedo indicador, ele percorreu uma linha reta em minha bochecha.— Você deve tomar cuidado, Roxanny, ter Charles congelado é a última coisa que desejamos.— Eu bati na mão do vampiro para ela ir pra longe de mim e isso apenas foi um motivo para Lúcifer rir. Meus dentes trincaram em fúria por causa de seu comentário infeliz. — Vá para o inferno, Lúcifer.— — Eu já estou no inferno, Roxie.— Ele disse em um tom sério.— Mas em todo caso, me encontre na garagem da central em meia hora, nós iremos sair.— — Para onde?— Eu perguntei antes de Lúcifer sair do meu quarto, depois que ele se aproximou da porta e a abriu. — É uma bela noite para problemas...— O vampiro de cabelos loiros se virou para mim e sorriu.— Talvez Andrew esteja fazendo uma armadilha para sairmos da central. Nós sairemos para ver o que está acontecendo na floresta isolada, mas não deixaremos aqui o que ele deseja.— Em outras palavras, eles não me deixariam para trás, já que o antigo rei dos vampiros desejava brincar comigo.


08Eu não sabia se era inteligente me trazer direto para uma armadilha feita por Andrew, mas Lúcifer parecia conhecer a mente do seu antigo amigo, então nunca discutiria com ele, mas era completamente errado Emme e Nyx estarem junto comigo nesse momento. Iawy disse que seria seguro nós estarmos perto deles, pois se caso Andrew invadisse a central, os caçadores iriam protegê-las, mas as únicas pessoas que confiavam nossas vidas, eram eles mesmo. Era obvio que nenhum deles deixariam suas amantes para trás. Já havia escurecido há muito tempo e quando entramos na floresta isolada de Londres a escuridão apenas aumentou, mas não era ela que me causava tortura, era todas as lembranças que eu tinha nessa floresta. Parecia que a melhor parte da minha vida havia se ocorrido nesse lugar e saber que tudo que passei aqui não tinha mais significado era como sentir alguém tirando, lentamente, um pedacinho de meu coração. Em todo o percurso até a floresta, ainda mais abandonada do que antes, eu fiquei em silencio. Um dos motivos era por que Charles estava junto e outro era saber que eu tinha grande culpa por Andrew estar assim. Eu tive muitos encontros com a morte e mesmo assim fugi dela, talvez essa fosse a consequência. Tudo muda por um ato ou uma escolha errada. Ninguém deve fugir da morte quando o momento chega... Eu estava tendo meu castigo por isso. Um uivo forte e alto se rasgou ao nosso redor assim que Iawy parou o carro dentro da floresta isolada. Isso fez com que todos os pensamentos se dissipassem da minha mente e ainda causou o arregalamentos dos meus olhos. Eu olhei para Nyx para ter certeza de que não era lua cheia. Ela continuava 100% humana, então não pude compreender o motivo de ouvir um uivo de licantropo... Na verdade, eu estava me enganando, Lúcifer mesmo disse que Andrew estava fazendo uma armadilha. Amethyst, uma vez, já fez lobos enormes nos atacar, esses poderiam ser os mesmo de 10 anos atrás. Mas de qualquer maneira, esses animais poderiam trazer a morte de Lúcifer e até mesmo de Andrew, se ele fosse um vampiro ainda. — Existem muitos lobos nessa floresta.— Emme disse, delicadamente apesar da situação, e eu não duvidei em nenhuma palavra que ela disse. A deusa do fogo tinha poderes enormes que nós nem imaginávamos que existiam, então, não havia como questionar ou duvidar. Ela se virou para Lúcifer no banco e colocou sua pequena mão na coxa de seu amado, seus olhos cinzas estavam grandes e assustados, principalmente agora que a escuridão havia se tornado maior. — Lúcifer...— Emme sussurrou o nome dele, como se fosse uma criança prestes a chorar. Lúcifer, com seus olhos verdes e desumanos, encarou aquele rostinho que poderia ser comparado ao de uma boneca de porcelana com cabelos pegando fogo. Um pequeno sorriso cresceu nos lábios de Lúcifer, era quase difícil enxergá-lo ali, mas Emme veria qualquer mudança no rosto do seu amado. — Não se preocupe comigo,— Ele disse colocando sua mão sob a dela.— Eles estão aqui para chamar atenção, não por nosso sangue.— — É perigoso de qualquer maneira.— Eu me intrometi.— A central é o lugar mais seguro para


ficarmos.— — Não quando atualmente ela é o centro de ataque de Andrew.— Iawy disse se virando para nós, que estávamos no banco de trás.— Nós não podemos deixá-las para trás quando isso esta acontecendo. Tê-las ao nosso lado é muito melhor do que cada uma estar em um lugar diferente na central quando um ataque acontecer.— — Então nós não iremos ficar mais na central? Vamos ficar todos fechados nesse carro até a informação de que o perigo está longe?— Nyx se estressou.— Sinceramente, matar Andrew deveria ter sido uma das nossas prioridade quando Pierre ainda era vivo.— Eu encarei Nyx e não acreditei no que Nyx acabará de falar. Apesar de Andrew, realmente, merecer a morte no momento, no passado ele não fez nada para que ela considerasse algo como isso. Andrew até mesmo considerou Nyx como alguém que fazia parte de sua família e apesar de nunca demonstrar isso, era verdade. Quando Pierre desejou matá-la para que a imortalidade de Sol acabasse, ele ficou contra seu próprio irmão e até hoje não tentou matá-la para se livrar de uma deusa que fazia metade de seu dia ser perdido. Eu abri a porta da van e a bati com força quando sai, sem ao menos me importar com os uivos dos lobos que apenas aumentavam. Minha vida se tornou uma droga, por algum motivo o homem que amava escolheu ficar com uma bruxa louca do que comigo e aguentar minha melhor amiga falando coisas como essas, eu não tinha um sequer motivo para aturar, então não vi nenhum problema em sair do carro. Ignorei os chamados de Lúcifer e Iawy, até mesmo Charles falou para que eu voltasse para dentro da van, antes que eu ouvisse o som de portas se abrindo em quanto caminhava ainda mais para dentro da floresta. Claro que alguém viria atrás de mim e era ainda mais obvio que Nyx não moveu nenhum músculo de dentro do carro, provavelmente ainda achava que eu estava fazendo drama. Sim, eu deveria estar no carro considerando o fato de que lobos não eram algo que eu poderia lidar. Mesmo tendo um básico treinamento de caçadora, eu não tinha força para matar um animal como daqueles que Amethyst enviou em nosso primeiro encontro, mas em todo caso, Andrew disse que não deixaria que nada me machucasse, pois ele seria o responsavel pela minha dor... Agora seria o momento em que a verdade em suas palavras seria revelado. — Roxie.— Lúcifer puxou meu braço para que eu pudesse parar. Havia demorado muito para que isso acontecesse, considerando que o vampiro era o mais rápidos que todos presentes.— Não faça isso.— — Me deixe em paz, Lúcifer.— Eu puxei meu braço com raiva de suas mãos. Descontar no vampiro de olhos verdes não era algo correto de se fazer, mas era quase impossivel..— Eu estou cansada. Não aguento mais sentir a culpa por tudo que está acontecendo... Eu não preciso agora que me culpem por ter me apaixonado por um psicopata e ser o motivo por ele ainda estar vivo.— — Ninguém esta a culpando, Roxie.— Lúcifer disse calmamente, seus olhos pela primeira vez demonstraram preocupação por mim. Algo realmente raro. — Fique longe de mim!— — É perigoso aqui, por favor, não...— — VÁ EMBORA.— Eu gritei, sem me importar que estavamos prestes a sermos atacados por lobos.— EU NÃO QUERO VOCÊ AQUI.— Lúcifer deu um passo para trás assim que meu grito invadiu o silencio da floresta, provavelmente chocado pela maneira que eu o tratei. De todas as possibilidades que eu pude tratar Lúcifer, eu jamais o mandei ficar longe de mim de uma maneira realmente séria. O vampiro se tornou, para mim, mais do que um amigo e mesmo que nosso tratamento fosse como se nós nos odiasse eternamente, isso não passava de uma brincadeira. Eu amava Lúcifer, exatamente como amava Iawy e Nyx. Eles eram minha única família, a verdadeira família que eu nunca tive desde que nasci.


Lúcifer não tinha culpa pelo que estava acontecendo, mas eu precisava ficar sozinha sem que ninguém falasse que tudo ia ficar bem, pois não iria. Não importava se Andrew vivesse ou fosse morto, se sua alma voltasse ao normal ou simplesmente continuasse negra... nada apagaria o sofrimento que ele causou a todos. O sofrimento que ele me causou. Meus olhos foram a cima dos ombros de Lúcifer, Emme estava a alguns passos de nós e ela era a única visivel naquela escuridão depois que eu caminhei para longe do carro. A deusa do fogo parecia estar com medo de se aproximar, com medo de mim... Emme provavelmente nunca me viu com tanto ódio, desde que nos conhecemos ela teve apenas um ano para me conhecer antes que o sofrimento chegasse e nunca mais desistisse de ficar ao meu redor. A amante de Lúcifer não fazia ideia do que eu era capaz, na verdade nem eu mesma sabia do que era capaz. Tudo relacionado a mim era confuso, até mesmo o homem que eu amava era o centro de confusão que ninguém conseguia entender e provavelmente eu nunca conseguiria destruir uma pena de um passarinho. Não tinha motivo para Emme me temer, mas minha mente estava ficando louca. Lúcifer provavelmente sabia que ela estava atras dele, mas não se virou, apenas manteve seus olhos fixos em mim. Eu o encarei novamente e estava prestes a dizer para me levar embora daquela floresta, pois queria me fechar em meu quarto e não sair de lá até que um milagre acontecesse e minha melhor amiga não me culpasse por ser a única que não desejou a morte de Andrew no passado e que provavelmente não desejava agora também. Eu suportava qualquer pessoa fazendo isso, qualquer caçador que eu encontrasse em um corredor da central, qualquer um dos deuses que pudessem ler minha mente, mas da minha melhor amiga isso vinha como uma facada direta no coração. Mais um uivo cortou o silencio da floresta, esse estava próximo demais e então decidi apressar meu pedido para Lúcifer, mas antes mesmo de abrir minha boca para dizer algo, um lobo saltou do meio das árvores para cima de Emme. O lobo era muito diferente daquele que nos atacou há 10 anos, ele era algo comparado aos vleermuis. Sua pele sem pelo algum e de uma maneira que parecia que ácido havia caído sobre seu corpo. Ele tinha pernas longas e braços da mesma forma, um corpo magro. Comparado aos licantropos, esse monstro era muito feio. E devido ao fato de Amethyst ter trazido a raça dos vleermuis de volta a vida, depois de terem morrido antes mesmo dos tempos começaram a serem contados, esse animal horrivel também devia ser parte dessa época. Ele derrubou Emme no chão, colocando suas patas da frente a cada lado do corpo dela e estava prestes a atacá-la no rosto. O choque passou por mim e nos segundos que eu congelei, Lúcifer saltou nas costas daquele enorme bicho que parecia ter o mesmo tamanho dos vleermuis. Emme gritou o nome de Lúcifer, quase chorando de medo e quando o fogo surgiu em suas mãos e braços, logo eles se apagaram. Afinal, o vampiro de olhos verdes ainda estava em cima daquele enorme lobo e com seus dentes fincados no pescoço daquele animal de uma maneira nada delicada. Aquele animal apenas se contorcia para se livrar de Lúcifer e Emme estava desviando o quanto podia das patadas que levava, levando alguns cortes pequenos, já que as garras daquele lobo não eram diferentes de seu tamanho. Era estranho ver ele atacar o pescoço do animal com suas presas, mas considerando que Lúcifer não podia sequer levar uma mordida de lobos, era aceitável que ele o deixasse mais fraco tirando seu sangue. O animal não parava de se debater para se livrar do vampiro em suas costas e aos poucos meu choque começou a passar, assim que dei meus primeiros passos para pelo menos ajudar Emme, Lúcifer falou comigo.— Corra, Roxie.— Ele mandou de uma maneira sanguinaria assim que tirou


sua boca do pescoço daquele lobo sem pelo, o sangue escorrendo por todo o seu queixo e até mesmo por seu pescoço... Suas presas em baixo e em cima com aqueles olhos vermelhos, chegavam ser de uma maneira ainda pior do que Andrew havia se tornado agora. Assim, Lúcifer mostrava o verdadeiro assassino que era, toda sua raiva e escuridão aparenciam naqueles olhos vermelhos de demonios e a vontade de ter o sangue em sua boca, estava em suas presas afiadas. Ninguém podia acreditar que um homem tão lindo, podia se tornar um pesadelo real. Eu não podia correr, era normal que eu fizesse isso em minha vida, mas ver Emme ainda a baixo daquele animal era algo que eu simplesmente não podia ignorar e sair correndo. Mais barulhos vieram da escuridão ao nosso redor e eu sabia que mais lobos iriam aparecer...— AGORA, ROXIE! — Lúcifer gritou raivosamente dessa vez e sem saber o que fazer, eu corri para dentro da floresta em direção oposta aos barulhos que se aproximavam. Os gravetos das árvores se debatiam contra o meu corpo em quanto eu usava minha mãos para afastá-los do rosto. Eles também estavam me deixando um pouco molhada, pois Londres era conhecida como uma cidade úmida e como era noite, isso se tornava ainda pior, já que o sol não estava presente para tirar essa úmidade do ar. Eu não sabia para onde correr e parecia errado fazer isso. Lúcifer precisava de ajuda, mas como eu não possuía nenhum controle pelo meu poder, provavelmente apenas atrapalharia o vampiro. Sem contar que Lúcifer não tinha capacidade de proteger nos duas, quando lobos eram envolvidos, tudo ficava mais complicado para vampiros. Correr, era tudo isso que eu sabia fazer no final das contas, quando não estava me escondendo atrás das pessoas. Eu não queria ter deixado Lúcifer e Emme sozinhos com aquele lobo enorme e com outros se aproximando, mas sabia que ficar lá apenas seria um problema. Eu podia morrer e podia congelar qualquer coisa que não fosse aqueles animais enormes e sem pelos. Depois que tive minha mão cortada por algum graveto daquelas árvores e senti o corte arder, eu parei de correr assim que entrei em uma clareira fechada para os céus, com suas enormes arvores que tampavam a luz da noite e apenas deixa tudo ainda mais escuro. Eu deixei que minha respiração alterada voltasse ao normal em quanto pressionava minha palma cortada, com minha outra mão, para que a dor passasse logo. Também olhei para o meu redor e tive certeza de que não havia nenhum lobo próximo daquele lugar, o silencio era quebrado apenas pelo som da minha respiração voltando ao normal. Fechei meus olhos por um minuto para que minha cabeça pudesse se tranquilizar... Eu estava sozinha em uma floresta escura com lobos de uma raça muito diferente, isso era tudo que eu poderia fazer para que minha mente pudesse voltar pelo menos um pouco ao normal. Assim que minha respiração, finalmente, se controlou, eu abri meus olhos lentamente para encontrar o chão, depois que abaixei minha cabeça para abri-los. Eu ainda segurava minha palma machucada com força, mas lentamente fui a soltando, pois senti que algo estava atrás de mim e observava cada movimento meu. Podia ser coisa da minha cabeça, devido ao meu medo por algum lobo aparecer em minha frente e eu não saber o que fazer, mas considerando o fato de que essa floresta era companheira do perigo nesse exato momento, eu não colocaria muita fé que era apenas imaginação. Após segundos se passarem e eu continuar congelada com essa sensação de que havia alguém atrás de mim, eu me virei.


Meu coração deu um pulo a menos e depois rapidamente começou a acelerar, nem mesmo sentir a pequena dor em meu corte eu estava sentido e apesar do meu corpo reagir de uma maneira que poderia ser comparada com o medo ou desespero, era apenas Andrew em minha frente. Eu não deveria ficar aliviada em vê-lo aqui, mas meu medo por aqueles animais eram maiores do que pelo antigo reis dos vampiros. Ele poderia se misturar facilmente com a escuridão, mas seu tom pálido de pele e aqueles olhos azuis que mandavam anuncios de torturas sempre se destacariam. Mas no momento seus olhos não demonstravam isso, era surpresa que existia ali. — O que está fazendo aqui, Roxie?!— Andrew perguntou de uma maneira impaciente, realmente demonstrando que se importava por eu estar ali. — Eu...— — Vá embora.— Eu não tive chance de continuar minha frase.— É perigoso ficar aqui.— — Por que você se importa com isso?— Eu perguntei.— Eu estaria em perigo na central também, já que você queria chamar a atenção de todos com essa armadilha tola.— — Armadilha?— Andrew demonstrou ficar confuso, uma coisa que me deixou um pouco preocupada.— Isso não é uma armadilha, Roxie, eu não estou chamando a atenção de vocês com esses lobos. Eles estão fora de controle, esse é o motivo por eu estar perdendo meu tempo aqui.— Encarei Andrew por alguns segundos em silencio e lentamente minha mente passou a funcionar.— Meu Deus...— Eu sussurrei aquilo, pois Iawy ou Lúcifer entenderam tudo errado sobre o que estava acontecendo nessa floresta. Andrew não estava montando uma armadilha, ele estava tentando resolver o que estava acontecendo aqui e nós viemos para esse ninho prestes a virar um território sanguinário. — Você deve parar de pensar que tudo que faço é por sua causa.— Andrew voltou a falar.— Eu não sou mais tolo a ponto de fazer meu mundo girar em torno do seu e não me importo com as mortes que acontecerão aqui, mas você é meu único brinquedinho atualmente, então me faça o favor de morrer hoje a noite.— Andrew deu as costas e começou a caminhar para longe de mim, foi nesse momento, que tudo piorou... Eu ouvi um uivo forte e bem claro atrás de mim e isso, automaticamente, fez com que eu me virasse. Só que antes que eu pudesse ver totalmente aquele lobo assustador, ele saltou para cima de mim. As patas daquele lobo encontraram minhas costas e ele me derrubou de barriga para baixo, eu gritei em desespero e medo. Tentar me virar foi um ato sem sucesso, eu me debati no chão diversas vezes para ficar livre daquele monstro, mas quando ele fincou suas garras em meu ombro e a levou até acima do meu quadril, foi o momento em que as lagrimas saíram dos meus olhos e o grito se tornou ainda mais alto pela dor que aquilo causou. A minha respiração começou a ser cortada, a dor apenas aumentava com cada puxada de ar que eu fazia e meus olhos começaram a embaçar. Eu sentia minhas costas latejando e o sangue escorrendo por ela e em seguida um enorme corpo caiu sobre mim. Eu senti o peso daquele animal em minhas costas, ele era quente demais e tê-lo em cima apenas estava piorando minha situação, mas ao mesmo tempo que ele caiu sobre mim, ele foi jogado ao meu lado. Eu sabia que era Andrew e que ele havia matado aquele lobo e tive certeza de tudo isso quando senti uma mão ensanguentada segurar o meu braço e me virar para cima. Eu gemi com a dor daquilo e quando a terra e grama encostaram em meus cortes... não foi nada agradável. Minhas lagrimas estavam escorrendo lentamente e eu estava rezando para que elas não se congelassem na frente de Andrew. Respirar era algo que não estava mais fazendo parte do meu corpo e isso de alguma maneira estava apenas piorando tudo e conforme meu cerebro ia se acostumando com a dor que aquelas garras me causaram, parecia que estava perdendo o controle do meu corpo de uma maneira que eu jamais poderia movê-lo novamente.


Andrew estava de pé sobre mim, com seus pés um a cada lado do meu corpo, e existia uma ótima mascara escondendo tudo o que ele pensava e sentia em seu rosto. Até mesmos seus olhos estavam vazios agora...— Imagino que esteja satisfeito agora.— Eu falei baixo para não forçar meu corpo, já machucado, ficar ainda pior. — Eu disse a você para não morrer está noite.— Andrew disse em um tom vazio. — Eu não irei morrer, Andrew, eu sou imortal.— — Você não está se curando e não é mais uma vampira.— Duas coisas verdadeiras e provavelmente as únicas que ele sabia sobre mim depois de 10 anos. — Não.— Eu concordei olhando para cima, olhando para as enormes arvores que tampavam os céus. Eu estava sentindo minha visão ficar cada vez mais embaçada e Andrew se tornou apenas um borrão preto, então decidi não olhá-lo. Meu corpo também não estava se curando, eu não entendia por que, mas devido ao tanto de sangue que estava perdendo, eu poderia morrer.— Meu corpo está aceitando a morte.— Falei o obvio. David e Sol avisaram para mim que eu sempre poderia me curar e teria uma boa resistência, mas nem sempre isso aconteceria. Eu poderia morrer e continuar morta por horas ou até mesmo dias quando meu corpo não suportasse. — Eu dei uma ordem para você, Roxie.— Andrew disse, começando a se mover para ficar ao lado do meu corpo. Ele levantou meu tronco com uma de suas mãos e com a outra tirou minha blusa, me deixando apenas com sutiã. Eu sabia que minha blusa nem ao menos poderia ser nomeada assim, então não me importei que ele a tirasse. Andrew colocou um de seus braços em baixo dos meus joelhos e manteve uma em minhas costas, ele tomou cuidado para não encostar nos cortes em minha costas, mas foi quase impossivel que isso acontecesse. Andrew me levantou do chão em seus braços e eu segurei seus ombros, sem força nenhuma. No momento, segurá-lo era o mesmo que não estar fazendo isso. Andrew respirou fundo e olhou para mim, antes de começar a entrar na escuridão daquela floresta.— Não desobedeça minhas ordens. Você é minha e deve me respeitar.— Possessividade pura em cada palavra, apenas isso. Nenhum outro sentimento estava envolvido em suas palavras. Em quanto Andrew me mantinha em seus braços e caminhava para algum lugar, por um momento passou em minha mente que eu deveria avisar o que eu era. Assim, ele entenderia que eu não iria morrer de verdade, mas Charles falou para manter em segredo o que eu era, eu não entendi exatamente o por que disso, mesmo que fosse estranho esse pedido, eu iria cumpri-lo. Depois de tudo que aconteceu comigo e Charles, isso era o maximo que poderia fazer por ele. Eu estava com meus olhos fechados, pois deixá-los abertos apenas me deixava ainda mais tonta. Meu corpo já havia aceitado a dor, então isso quase nem era mais um problema. O que realmente estava me incomodando, era o sangue que escorria daqueles enormes cortes. Depois de algum tempo, eu ouvi o som de água se movimentando e isso fez com que eu abrisse meus olhos. A primeira coisa que vi foi o rosto de Andrew olhando para baixo e eu fiz o mesmo, curiosa para saber o que ele estava olhando. — O que está fazendo?— Eu perguntei um pouco desesperada quando vi que ele estava nos levando para dentro de um rio. A agua estava batendo nas coxas de Andrew e como eu estava em seus braços, ela não tinha chegado em mim ainda. Também tentei fazer com que ele me soltasse, com o resto de força que eu podia fazer, mas isso foi algo totalmente em vão.— Por que você está me levando para dentro desse rio?— — O cheiro do seu sangue atrairá os lobos, a água corrente irá fazer com que isso não aconteça.— Andrew me respondeu friamente e eu preferi me manter em silencio. Apesar de ele estar me ajudando, isso não era algo que eu esperava vindo dele. Então acho que era normal ficar confusa no que dizer nesse momento. Mais alguns passos que Andrew deu e a água me cobriu. Eu gemi quando ela entrou em atrito com meus cortes, que não paravam de sangrar, e finquei minhas pequenas unhas no ombros do antigo rei dos vampiros. Isso fez com que ele olhasse para mim, mas Andrew não disse nenhuma palavra. Ele


ainda não havia desistido de usar aquela mascara vazia desde o momento que me encontrou essa noite. Andrew continuou a caminhar naquele rio, que a cada segundo, ficava cada vez mais fundo e eu sabia que não poderia encontrar o chão mais, caso ele me soltasse, pois agora a água estava cobrindo quase os meus ombros. E eu realmente esperava que Andrew não desejasse me torturar nesse momento, me soltando no meio desse rio para ver minha morte acontecer mais rapido, pois também sabia muito bem que nadar seria uma das poucas coisas que eu não conseguiria fazer nesse momento. Mas após o vampiro entrar em uma gruta, não muito grande, e soltar minhas pernas em uma tentativa inútil de pensar que eu encontraria o chão, eu soube que ele não queria me afogar. Andrew apenas estava se escondendo comigo. Eu segurei seus ombros de uma maneira que dizia que não iria soltá-lo de jeito nenhum e acho que ele entendeu esse recado, pois Andrew segurou minha cintura e tomou cuidado para não encostar em minhas costas. Ele estava tão próximo de mim que eu estava com medo... Da última vez que Andrew ficou tão perto assim, ele queimou minha barriga apenas para ver meu sofrimento. Era dificil acreditar que ele não faria o mesmo novamente. — Por que está fazendo isso?— Eu perguntei logo após que ele me encostou em uma das pedras que formavam uma parede daquela pequena gruta, Andrew também não forçou minhas costas naquela pedra, ele sabia que isso não seria uma boa ideia. E mesmo que o silencio seria a melhor coisa no momento, o barulho de gotas encontrando a água após cairem das pedras, estava me irritando. — Eu a avisei que não deixaria ninguém causar sofrimento ao que me pertence.— Ele disse friamente olhando para mim. Eu fechei meus olhos e soltei um risso amargo.— Pensei que você aplaudiria ao ver meu corpo seco.— — Isso seria divertido.— Ele disse.— Mas eu ainda estou com tédio dessa vida eterna onde todos fazem o que desejo.— Eu abri meus olhos rapidamente após Andrew dizer aquilo, esse tipo de frase não era muito usada para pessoas que auto se idolatravam. Era estranho ouvir isso sair da boca de Andrew, mas considerando o fato de que o vampiro possuia uma alma negra e que muitas coisas aconteceram em 10 anos, ele pode ter se tornado um desconhecido total para mim. Eu estava pronta para argumentar sobre isso, mas o rosto de Andrew se tornou um borrão em questão de segundos, então, novamente, fui obrigada a fechar meus olhos e ainda encostei minha testa no ombro de Andrew quando percebi que meu corpo estava ficando mole. Minha respiração também passou a ficar alterada, a um momento atrás eu não desejava respirar pois fazer isso me causava dor, mas agora o pouco que eu queria, não conseguia... Eu acho que isso era morrer, no final das contas. E por mais que eu desejasse parar de sofrer e manter meus olhos fechados, eu tive que abri-los assim que senti o gelo se formar em minha palma. E para piorar, quando soltei o ar pela minha boca, uma fumaça branca o acompanhou. Eu tirei minha mão dos ombros de Andrew e as levei para perto de suas costelas, pelo menos a baixo da agua, ele não sentiria muita diferença. Pelo menos eu pensava que não sentiria, mas eu também não sabia por que estava o segurando, pois ele estava fazendo isso por nós dois nesse momento. Andrew e eu estavamos formando um tipo de abraço, mas nossos corpos não estavam esmagados um contra o outro e muito menos, existia aquele calor prazeroso em abraçar alguém que você realmente gosta. Mas eu não podia mentir que tê-lo tão perto de mim, sem estar me causando qualquer hematoma, era algo bom. Então para ficar mais relaxada, eu tirei minha testa de seu ombro e encostei minha bochecha. Eu sabia que em questão de pouco tempo, eu teria minha primeira


morte, então ficar ao lado de Andrew em quanto isso não acontecia estava tudo bem. Eu olhei fixamente para o pescoço do antigo rei dos vampiros e acabei sendo surpreendida ao ver uma corrente prata em volta de seu pescoço. Eu não pude ver o seu pingente, pois ele estava sendo tampado pela camisa dele, assim como grande parte da corrente, mas Andrew nunca foi de usar qualquer tipo de joia e isso fez com que minha curiosidade acordasse. Ainda mais, quando ele usava uma corrente de prata e vampiros não se davam bem com joias desse tipo, afinal, a prata sempre queimariam suas peles, como se eles estivessem caminhando no sol. — Posso fazer uma pergunta?— Com meu olhar fixo naquela corrente, eu sussurrei aquilo pela falta de força que existia para minha voz sair mais alta. Andrew moveu sua cabeça para encontrar o meu olhar, ele continuou em silencio e então eu tomei aquilo como um sim.— Você ainda é um vampiro?— — Sim.— Andrew disse baixo.— E você? O que se tornou?— — Algo diferente.— Eu o respondi, não lhe dando nenhuma esperança de que falaria o que realmente eu era. — Você sabe, cherie, eu me tornei algo diferente também.— Andrew falou com seus olhos se tornando negros e suas veias ao redor deles se ressaltando. E quando o vampiro abriu sua boca para falar novamente, suas novas presas estavam lá, ao lado de suas antigas. Afiadas como adagas que cortavam qualquer coisa.— Mas você já deveria ter notado que todos os vampiros usam prata, pois assim como os vidros de janelas, elas foram modificadas para não nos causar queimaduras. Considerando o fato que seu anel de noivado era prata, você não deveria ter permitido que sua loirisse atrapalhasse seus pensamentos.— Eu sorri, algo muito errado de se fazer.— Não brinque comigo.— Mas no final, Andrew tinha razão, meu anel de noivado era prata e eu o usei até mesmo quando era uma vampira, eu deveria ter notado isso há muito tempo. — E outra coisa que você deveria se lembrar é que o sangue de vampiros podem curar qualquer coisa, mesmo “algo diferente”.— Andrew tirou uma mão de minha cintura e levou seu pulso direto para sua boca. Ele o mordeu com suas presas e logo o sangue passou a escorrer por seu braço branco e pálido, mas isso não foi o que me surpreendeu, tirando o fato de que ele iria me curar, Andrew tirou um pedaço da sua carne com suas presas, para que não se curasse tão rápido. Eu o encarei com curiosidade por um momento, pois era impossivel colocar seu sangue em meus cortes já que estavamos dentro da água, eu não conseguia entender como Andrew pretendia me curar... Ele tirou o seu pulso de sua boca e antes que ele se curasse, Andrew dessa vez me forçou contra a parede de pedra atrás de mim de uma maneira que fez me lembrar que existia cortes grandes e horriveis em minha costas. Ele também tirou sua outra mão da minha cintura e para me segurar, usou seu próprio corpo. Andrew colocou sua mão atrás da minha cabeça e segurou minha cabeça de uma forma nada delicada e após ele fazer isso, eu tive a resposta da minha pergunta. — Não faça isso.— Eu disse. — É tarde demais para pedir isso, cherie.— Ele falou de uma maneira cinica e quando eu não pude ter mais chances de dizer qualquer outra coisa, Andrew colocou seu pulso em minha boca. Eu tentei desviar minha cabeça para tirar o pulso de Andrew da minha boca, mas conforme me mexia para desviar minha boca, ele forçava ainda mais seu pulso contra minha boca. Ele também puxava meus cabelos para cima quando tentava abaixar minha cabeça, o que machucava um pouco. Em questão de segundos, minha boca estava cheia de sangue e eu não tinha desejo nenhum de engolir aquele liquido quente e grosso. Eu apenas queria cuspir aquilo antes que meu estomago se revirasse ainda mais. — Engula, mon amour.— Eu tirei minhas mãos de perto de suas costelas e as coloquei no braço em


que Andrew forçava contra minha boca. E mesmo tentando puxá-lo para longe de mim, isso não foi algo que funcionou, então decidi usar meus dentes. Andrew gemeu assim que mordi e usei minha força em meus dentes naquela parte em que ele mesmo havia retirado um pedaço de carne, apesar de ter sentindo um pouco de dor, não fez nenhuma diferença. E como consequência desse meu ato, eu engoli o sangue que estava em minha boca, mesmo não desejando. Eu sabia que aquilo poderia me curar, mas o sangue de Andrew era tão quente que parecia que ele estava me queimando. E o gosto era o mesmo que morder algum ferro enferrujado, não era nada delicioso como quando eu era uma vampira. Andrew puxou meus cabelos, fazendo com que minha cabeça fosse para cima e logo em seguida ele tirou seu pulso da minha boca e eu estava pronta para tirar todo aquele sangue dela, mas antes que tivesse tempo para fazer isso, ele colocou sua mão em meu rosto para tampar minha respiração e minha boca, dessa vez eu fui obrigada a engolir todo o sangue assim que necessitei respirar, pois diferente de vampiros, eu tinha que respirar. Um sorriso ironico cresceu nos lábios de Andrew e eu consegui tirar sua mão da minha boca e do meu nariz. Ele também afrouxou seu aperto em meus cabelos, mas não o soltou. E apesar dessa situação ter sido horrivel, eu estava sentindo os cortes daquelas enormes garras se curarem. Eu olhei para Andrew, para encontrar aqueles olhos azuis e o silencio reinou entre nós. Principalmente por que ele estava olhando para mim de uma maneira curiosa, não havia o vazio em seus olhos, mas eu também não sabia decifrar o que ele estava pensando. — Obrigada.— Eu falei a única coisa que me veio a cabeça. — Não me agradeça, isso não é importante de qualquer maneira.— Ele disse de uma forma que realmente demonstrava que não se importava comigo, mas eu não pude acreditar naquilo. Pois mesmo que apenas desejasse meu sofrimento, Andrew demonstrou se importar com a minha vida. Eu o segurei em seus ombros novamente, já que mesmo quando tentei, não achei nenhum lugar para colocar meus pés e não precisar mais de Andrew para manter minha cabeça longe da água. — Importa para você.— Eu sussurrei, olhando fixamente para uma pequena pintinha que existia no pescoço dele. — Eu acho que sim.— Andrew foi sincero e por mais que eu soubesse que amor não estava envolvido nessa pequena frase, isso significou muito para mim já que veio de uma pessoa que possuía uma alma negra. Eu segurei meu sorriso, pois isso era muito errado. Esquecer que Andrew era o inimigo e que ele me torturou a alguns dias atrás, eu não podia de jeito nenhum. Andrew colocou sua mão de volta para minha cintura, mas não afastou seu corpo do meu e agora que minhas costas estava curada, eu estava sentindo na pele como era ter seu corpo tocando ao meu sem que ele estivesse me machucando. Um leve arrepio percorreu meu corpo inteiro e um pequeno esquentar apareceu em meu peito conforme as batidas do meu coração aumentavam. Ele era Andrew e não importava o quão negra sua alma estivesse e quanto sangue percorreu por suas mãos, de uma maneira masoquista e insana, ele sempre seria o príncipe do meu conto de fadas. O antigo rei dos vampiros aproximou seu rosto do meu e continuou a prender meus olhos aos seus, como se estivesse querendo me hipnotizar com aqueles azuis frios, talvez eu já estivesse hipnotizada e estava ficando cada vez mais ao sentir a respiração dele em meu rosto. Meus lábios se separam automaticamente para que eu pudesse dizer alguma coisa, mas nenhuma palavra foi corajosa o suficiente para parar o vampiro em minha frente quando ele fechou seus olhos e roçou seus lábios aos meus. Algo lento e quente, muito quente. E foi apenas isso, um roçar de lábios que me causou um sentimento muito grande, eu não sabia explicar o que era, mas parecia que as borboletas em meu estomago foram mortas por uma enorme explosão.


Andrew afastou seu rosto do meu e surpresa explodiu no meio daqueles olhos azuis. Ele foi para longe de mim para ter uma visão mais ampla do meu corpo e eu fui obrigada a olhar para mim mesma para saber por que ele estava surpreso. Abaixei meus olhos para meus braços e não fiquei muito diferente de Andrew, pois eu estava brilhando. Era uma fina camada prateada de brilho, mas estava percorrendo toda a minha pele e isso nunca havia acontecido antes, nem mesmo Sol ou David haviam falado que isso era possível... O sangue de Andrew.— O que você fez comigo?— Eu o empurrei para longe de mim e passei a bater meus pés para não ser engolir pela agua. Andrew ignorou o que eu disse e sorriu como se estivesse descobrindo uma mina de ouro.— É tão bonito quando alguém não pode esconder seus sentimentos.— — O que você fez, Andrew?— Perguntei novamente. — Eu?— Ele perguntou ironicamente.— Eu apenas acordei aquilo que você obrigava a dormir. Não me culpe por seus sentimentos serem incontroláveis, cherie.— — Não se aproxime.— Eu o avise em vão, já que o vampiro havia realmente se aproximado de mim novamente, sua respiração fazia parte da minha e eu não podia fazer nada para afastá-lo. Andrew colocou seus abraços um de cada lado da minha cabeça. — Meu conselho é não sentir, mate todos os seus sentimentos ou eles vão matá-la.— Ele sussurrou em minha frente. Andrew tocou minha bochecha com seus dedos finos por alguns segundos antes de eu bater sua mão para longe de mim. — Mon amour, isso será mais espetacular do que eu imaginava.— — Não diga que...— Andrew colocou sua mão sob minha boca, para me impedir de falar qualquer coisa. Por um momento pensei que ele iria novamente tampar minha respiração ou simplesmente afundar minha cabeça na agua, mas seus olhos estavam para cima, para a escuridão daquela gruta. Eu segui o seu olhar, mas foi o mesmo que nada, mas Andrew não estava olhando para o teto, ele estava ouvindo o que estava acontecendo lá fora, onde muitos lobos estavam a solta, prontos para derrubar sangue no chão. — Fique em silencio.— Andrew pediu, em um tom baixo de uma forma até que educada, encontrando o meu olhar.— E pare de brilhar.— — Eu não tenho nenhum poder sobre isso.— Sussurrei.— Há algum lobo lá em cima?— Perguntei, afinal, eu não estava ouvindo nenhum barulho, nenhum uivo, esses animais geralmente eram bem barulhentos. Andrew sacudiu sua cabeça negativamente e por um momento eu pensei que poderia ser apenas Iawy ou Lúcifer, mas o vampiro acabou com todas as minhas esperanças.— É Amethyst.— Com apenas essas duas palavras, Andrew conseguiu que o brilho que surgiu em minha pele se apagasse. Não posso mentir que fiquei feliz por ele ter sumido, mas o motivo por ele ter ido embora, era muito desagradável. Amethyst... Ela era culpada por tudo, ela tirou de mim a pessoa que eu mais amava e depois de 10 anos, essa bruxa maldita estava caminhando perto de mim novamente. Eu tirei minhas mãos dos ombros de Andrew, pois uma fina camada de gelo estava se formando em meus dedos. Saber o que aconteceu exatamente para eu brilhar, provavelmente só saberia quando visse Sol ou David, mas permitir que Andrew soubesse que eu tinha um novo poder, ele não saberia. — Vá embora, ela provavelmente está o procurando.— Eu falei baixo o obvio. — Eu já salvei sua vida essa noite, não pretendo fazer isso novamente.— Ele me respondeu.— Meu sangue é muito valioso para deixá-la caminhando sozinha por essa floresta.— — Vá, Andrew.— — Você não tem nenhum poder sobre mim, Roxie, não mais.— Ele me encarou seriamente e a raiva surgiu naqueles olhos azuis.— Eu não farei nada do que me pede.— — Você vai me matar se continuar aqui.— — Essa é minha intenção, cherie.— Andrew sorriu, um sorriso com promessas de tortura.— Mas não essa noite, não hoje.—


— Andrew, eu...— Ele tampou minha boca rapidamente dessa vez e movimentou sua cabeça negativamente como aviso para eu não falar. Em seus olhos azuis, eu pude ver o perigo que poderia ser se Amethyst nos encontrássemos juntos. Talvez ela obrigasse Andrew me matar ou fazer algo pior. Eu não sabia como funcionava a lealdade de Amethyst com ele, nem ao menos imaginava se ela sabia que eu ainda respirava. _______________________________ Os olhos azuis de Andrew ficaram fixos aos meus em quanto os sons de gotas pingando na água eram o único som ao nosso redor, eu queria continuar a falar para ele ir embora, mas sua mão continuava em frente da minha boca. O próximo som que se ocorreu entre nós foi quando eu tirei minha mão de dentro da água e a coloquei sob a de Andrew para retirá-la de frente da minha boca. Foi um movimento lento e sem nenhuma raiva, eu apenas queria tirar a mão de Andrew dali e parecia que ele não desejava fazer isso, mas nenhum momento o antigo rei dos vampiros resistiu a isso e nem ao menos tirou seus olhos dos meus. Eu continuei em silencio e mantive meus olhos fixos aos seus após soltar sua mão. Agora Andrew estava distante de mim, pois como já estava curada, eu mesma podia manter minha cabeça longe da água. Mas mesmo com o vampiro tão distante, eu podia senti-lo muito próximo a mim. — Iawy está na floresta,— Eu sussurrei depois que alguns minutos se passaram, era impossivel que Amethyst ainda estivesse caminhando por essa área após tanto tempo se passar.— Me leve até ele, por favor.— Andrew passou seus olhos por todo o meu rosto por alguns segundos, nada havia naqueles azuis além do vazio. Ali estava sua alma, seus olhos podiam descrever como estava sua alma e apenas existia a escuridão. A alguns dias quando Andrew invadiu a central, em seus olhos apenas existia maldade, tortura e sangue, mas hoje não existia nenhum sentimento. Era como se ele estivesse cheio de vácuo. O antigo rei dos vampiros se afastou de mim completamente dessa vez, para me dar passagem e disse uma única palavra.— Vamos.— Após sairmos da água, Andrew caminhou para longe de mim e ficou a alguns passos a minha frente. E eu não pude dizer ou exigir nada para que ele voltasse a ficar ao meu lado. Essa sensação de estar com a pessoa que você realmente ama e ela nem ao menos se importar, era horrivel. Mas Andrew me beijou, ou quase me beijou, o que aquilo significou afinal? Para uma pessoa de alma negra... O que significava beijar alguém que amava no passado? Meus olhos, que estavam no chão, foram diretamente para o vampiro agora, ele estava com sua roupa grudada ao seu corpo devido a água, eu podia ver cada músculo e cicatriz em sua costas devido a sua camisa fina e molhada. Andrew estava com suas mãos enfiadas nos bolsos de seus jeans negros e caminhava com tanta tranquilidade que nem ao menos parecia que lobos poderiam matá-lo a qualquer momento. Tudo bem que era dificil que alguém matasse Andrew, mas uma mordida de licantropos era algo mortal para vampiros, ele pelo menos deveria se preocupar um pouco... Eu suspirei quando meus olhos voltaram a percorrer a enorme cicatriz diagonal que ele possuia em suas costas. Andrew provavelmente me culpava por aquilo também, mas acho que de tantas coisas que ele me prometia tortura, isso eu não tinha culpa. Seu irmão mais velho lhe deu aquilo como um castigo por ter lutado por mim, por ter tentado me transformar em uma vampira e ter ignorado sua ordem de me esquecer. Pierre fez aquela cicatriz em suas costas para que Andrew sempre se lembrasse o quão tolo foi ao desobedecer sua ordem e ainda perder a mulher que amava. Tudo bem que no final de toda a historia eu não estava morta, mas isso demorou mais de 300 anos para ser revelado, então não fazia muita diferença.


E agora que Andrew desejava me torturar por todas as coisas ruins que aconteceram em nosso relacionamento, talvez esse fosse um dos motivos que ele mais odiava. Seu corpo, que tanto idolatrava, estava marcado eternamente por minha culpa. Um uivo surgiu para atrapalhar os únicos sons que nossos passos faziam durante nosso trajeto e ao mesmo tempo que o ouvi, meu corpo me obrigou a parar exatamente onde estava. Era suicida paralisar quando eu deveria estar correndo, mas considerando o fato que um lobo quase arruinou minhas costas, eu tinha um pouco de desconto para fazer isso. Andrew parou de caminhar também e isso apenas fez com que o desespero passasse a se formar em minha mente, mas tudo que o vampiro fez foi olhar por cima de seus ombros para que seus olhos me encontrassem.— Oh, o medo é tão delicioso.— Ele disse baixo e por um momento eu temi pela maneira que aquilo saiu.— E se torna muito mais agradável quando sangue está envolvido... Se não deseja que isso aconteça, comece a caminhar novamente.— — Ele está próximo de nós.— Eu me referi ao lobo que uivou, olhando para o nada no meio de tantas árvores e escuridão ao meu lado. — Vai ficar ainda mais se continuarmos aqui.— Andrew não recebeu meu olhar ao falar isso, parecia que a escuridão e o silencio estavam me hipnotizando para ficar ali parada, sem dar ouvidos a ninguém. Eu sabia que isso era o medo, o medo sempre tomava conta do nosso corpo e ignorava qualquer comando que tivesse. O medo era a morte de todos.— Roxie.— Eu olhei para Andrew dessa vez devido a dureza que ele usou para dizer meu nome, como se tivesse quebrando uma fina camada que me envolvia com o intuito de me fazer esquecer o mundo. Meus olhos correram rapidamente pelas árvores que pareciam criar vida quando ninguém estava olhando e após segundos se passarem com meus olhos fixos nelas, eu passei a caminhar rapidamente para ficar mais próxima de Andrew e ele me esperou até que ficasse apenas alguns centimentros longe de seu corpo para continuar a andar naquela mesma calma de antes, como se nenhum lobo pudesse saltar do meio da escuridão e nos atacar. Andrew e eu voltamos a ficar em silencio e isso apenas fez com que meu medo e desespero ficassem ainda maior. Cada barulho no meio das árvores faziam meu coração se desesperar como se eu estivesse prestes a encontrar a morte e não tivesse mais salvação dessa vez. E por causa disso, desse medo que fazia uma confusão em todos os meus sentimentos, que me fazia até mesmo ignorar o fato de que Andrew estava a apenas alguns centimetros de mim, o meu novo poder passou a se manifestar, hora sim, hora não. Eu sentia que uma fina camada de gelo passava a se formar entre meus dedos, as vezes tomava toda a mão e outras o gelo passava a ficar mais grosso. Caso encostasse em algo, eu sabia que poderia congelar no que tocar, então fechei minhas mãos em punhos e não tirei meus olhos deles para que nada de errado acontecesse e eu não notasse. Eu não podia deixar que Andrew descobrisse o que me tornei, Charles havia pedido para manter segredo e por algum motivo estranho, parecia que ele tinha razão. Eu nem ao menos sabia o que podia fazer ao ter uma ligação com uma estrela, quem dirá o que outras pessoas podem fazer. E eu brilhei, por mais que tenha tenha culpado o sangue de Andrew, isso tinha mais haver comigo e minha estrela do que com ele. Isso era perigoso, eu não conseguia controlar os meus poderes e ainda assim desejava esconder de todos o que me tornei... De tudo isso, eu estava feliz por Andrew ou qualquer outra pessoa não poder mais ouvir meus pensamentos. Eu nunca gostei muito do fato de estarem em minha mente, até mesmo Andrew e eu tivemos algumas brigas sobre isso antes de me acostumar a não ter nenhuma privacidade, mas considerando o fato de que ele deveria ser odiado e ser o inimigo em minha mente, eu estava muito feliz por ele não poder ouvir mais nada que estivesse em meus pensamentos. Em quanto caminhava e ficava distraída olhando para minhas mão com o gelo se formando e indo


embora conforme o tempo passava, eu acabei esquecendo que estava no meio de uma floresta escura e acabei torcendo meu pé por não olhar exatamente por onde andava, isso fez com que uma queda inevitável acontecesse, ainda mais por eu não encostar minhas mãos em nenhum lugar para impedir isso. — Não se aproxime.— Eu fui um pouco rude ao pedir isso assim que o antigo rei dos vampiros se virou e caminhou até para provavelmente me ajudar a ficar de pé. Minha bootie fez com que eu torcesse meu pé, mas isso realmente não foi um problema pois não houve nenhum hematoma que me impedia de voltar a andar. Eu apenas não podia usar minhas mãos para me levantar. Andrew me encarou com curiosidade, toda essa coisa de não me tocar provavelmente estava o deixando desconfiado. Isso não combinava comigo de jeito nenhum.— Você é tão ingrata que parte meu coração em pedaços, cherie.— Ele fez drama com um toque enorme de ironia. E mesmo que eu tivesse pedido para não se aproximar, Andrew ignorou isso e se agachou em minha frente.— Eu acabei de salvar sua vida, demonstre mais respeito por mim.— Ele levou seu dedo indicador até meu rosto e o tracejou pela linha da minha mandibula. Automaticamente, antes que Andrew fizesse novamente o trajeto em minha pele, eu virei meu rosto para o lado, sem usar minhas mãos para afastar seu dedo de mim. Uma risada má, porém baixa, saiu de seus lábios.— Eu tinha quase me esqueci do quanto bela você pode ficar quando tenta ignorar seus sentimentos por mim.— Falou com seus olhos fixos em mim. Meus olhos se encontraram com os de Andrew após virar meu rosto novamente para ele.— Não faça isso.— Eu pedi. — Isso o que?— — Isso.— Respondi.— De tentar me iludir como se você sentisse algo.— — Talvez eu sinta.— Andrew disse com seus olhos vazios, uma mentira explicita.— Dez anos é muito tempo para você ainda dizer que me conhece melhor que outra pessoa.— — E você me conhece, Andrew?— Ele deu de ombros, mas não retirou seus olhos azuis dos meus.— Sua hipocrisia e egoismo continuam os mesmos de antes, não há evolução para pessoas assim.— — Ou simplesmente é mais fácil me culpar por tudo que aconteceu de errado em sua vida em quanto estava comigo com essa desculpa.— — Você é culpada.— — Pierre morreu por que você escolheu o matar. Você tinha a escolha entre mim e ele, se seu irmão era muito mais importante que eu, você teve a chance de deixar acontecer comigo o mesmo que houve com Annabelle e continuar a venerar seu irmão em um mundo sem sol onde tudo acabaria em questão de anos.— Eu citei um dos principais motivos que Andrew prometeu vingança contra mim. — Minha irmã também está morta por você não ter tido coragem o suficiente para enfrentar seu irmão, mas eu superei isso. Talvez você devesse fazer o mesmo.— Raiva surgiu nos olhos de Andrew... Não, não era raiva. Raiva era uma palavra muito pequena para descrever o ódio que surgiu naqueles azuis frios. Em questão de segundos sua mão foi para cima como uma forma de ganhar impulso e eu sabia o que aquilo significa, exatamente por causa disso que meus olhos se fecharam e eu virei meu rosto para o lado. Eu esperei que a dor viesse, que sua mão entrasse em contato com meu rosto, mas isso nunca aconteceu. Depois de um tempo imóvel e segurando minha própria respiração, meus olhos se abriram. Andrew ainda estava em minha frente, a única diferença era que agora ele estava de joelhos e sua mão estava a meio caminho para encontrar meu rosto em uma bofetada, mas Lúcifer estava segurando o punho do seu antigo amigo para que isso nunca acontecesse. O vampiro de cabelos loiros estava atrás de mim e também estava de joelhos. Em defesa, provavelmente quando Lúcifer o impediu de bater em meu rosto, Andrew o segurou em seu pescoço para esmagá-lo caso o vampiro de olhos verdes fizesse algo contra ele. Eu estava sentada no meio deles, observando o zero de movimento que aconteciam entre esses dois


vampiros que já se chamaram de melhores amigos no passado. Andrew e Lúcifer mantiveram seus olhos fixos uns aos outros em quanto se seguravam.— Não toque nela.— O vampiro de cabelos loiros disse baixo, com muitas ameaças em apenas três palavras. — Lúcifer,— Andrew deu um sorriso torto e ironico para seu antigo amigo quando disse seu nome. — Não me diga como tratar o que me pertence.— — Ela deixou de ser sua a partir do momento que você a abandonou.— Andrew soltou uma risada amarga e cheia de frieza, seus olhos apenas acompanharam a ironia que existia em cada movimento de seu corpo. Ele ergueu seu queixo como uma verdadeiro rei fazia e jogou um olhar que dizia que Lúcifer devia se lembrar a que lugar ele pertencia. Mesmo sendo filho de Hades, Lúcifer era mais novo que Andrew, isso apenas dava pontos para o antigo rei dos vampiros. Vampiros eram orgulhosos demais e apenas por Lúcifer dizer que eu não pertencia mais a Andrew, isso já fez com que a honra dele fosse ofendida... Ele podia machucar seu antigo amigo sem nenhum problema, mas não foi isso que Andrew fez. O antigo rei dos vampiros realmente usou mais força na mão que estava pronta para esmagar o pescoço de Lúcifer a ponto de decapitá-lo, mas ele fez isso apenas para derrubar Lúcifer ao meu lado. Andrew se levantou.— Amethyst não terá a mesma piedade se encontrá-los, vão embora e não...— Ele parou de falar exatamente quando seus olhos foram para longe de mim e Lúcifer. E explicar a explosão de sentimentos que aconteceu nos olhos de Andrew seria muito complicado, mas tudo se resumia a raiva e algo muito mais profundo do que uma simples vingança. Raios de ódio surgiram no meio daqueles azuis perfeitos e não demorou para que eu seguisse seu olhar a cima de nós. Charles e Emme estavam a alguns passos de nós, era exatamente para eles que o antigo rei dos vampiros encarava. Não para Emme, e sim para Charles. Eu sentia a raiva e tensão que vinha do corpo de Andrew, ele desejava a morte e sangue de Charles naquele momento e eu sabia disso sem ao menos o vampiro dizer uma palavra, pois naquele momento seu corpo e olhos falavam por ele. — Charles.— Andrew rosnou aquele nome com pura raiva e lentamente as veias ao redor de seus olhos passaram a ficar ressaltadas e negras, mas Andrew não permitiu que sua transformação continuasse e fez com que elas sumissem. — Andrew,— O Bruxo ao lado de Emme começou com um ar de ironia.— Já faz um tempo.— — É uma pena que não seu corpo não esteja apenas em ossos, como imaginei tantas vezes.— Charles soltou uma risada sarcástica, após ele dizer aquilo.— Você é tão sutil, como sempre, mas isso aconteceu somente ao seu irmão.— — Pare.— Eu disse ainda no chão ao lado de Lúcifer, que quase enfiou terra em minha boca quando me pronunciei. Mas isso não podia continuar, mesmo sendo ridículo, Andrew tinha problemas com a morte de Pierre e Charles não poderia causar uma briga com isso, com seu ponto mais fraco. Parecia errado. E era muito preocupante pensar em Andrew e Charles em uma batalha, ambos eram muito fortes. Eu não queria que nenhum deles morressem essa noite. Andrew tinha acabado de salvar minha vida, talvez isso era o máximo que eu poderia fazer. Eu olhei para Andrew e ele estava com seus olhos fixos em mim, aqueles azuis frios não demoraram nenhum segundo para se encontraram com os meus. E aquele vazio que possuía totalmente seus olhos, que falavam por ele, estava voltando lentamente para se misturar com aquele olhar frio, mas antes que isso acontecesse, eu vi traição neles. Eu não entendi por que aquele olhar era direcionado para mim. Tudo bem que Charles era meu ex namorado, mas Andrew não me amava mais. Isso estava tão obvio que não existia nenhuma duvida, mas... Ele me beijou. Andrew sentia algo sobre mim, eu apenas não tinha certeza sobre o que.— Vá embora.— Eu voltei, calmamente e quase implorando, a falar sem tirar meus olhos dos deles.— Por favor.— Andrew desviou seu olhar do meu e novamente ergueu seu queixo como se ainda fosse um rei,


como se superioridade fosse apenas um detalhe de como agir. Ele não disse nenhuma palavra, mas seu olhar fuzilador direcionado a Charles disseram muitas coisas e nenhuma delas eram bonitas. O antigo rei dos vampiros finalmente se virou e passou a caminhar para longe de nós e eu senti uma pontada em meu coração a cada passo que ele dava para longe de mim. Ele andava com tanta dignidade que parecia que tudo o que aconteceu nessa noite não o afetou em nada, nem mesmo o fato de ter reencontrado Charles. Talvez Andrew estivesse falando sério quando citou que sua vida estava um tédio e por causa disso ele poderia jogar com as pessoas para se divertir sem nenhum problema. Um jogo... Era isso que tinha acontecido essa noite, apenas um jogo. Apenas consegui desviar meu olhar de Andrew quando uma mão quente tocou a minha e começou a me puxar para cima. Eu pensei que fosse Lúcifer, mas a temperatura do toque era muito mais quente do que a do vampiro.— Vamos, minha querida...— Começou Charles, mas quando Andrew parou de caminhar ao mesmo tempo que ele falou comigo, minha atenção foi totalmente dele e eu voltei a ficar imóvel no chão. — Tome cuidado com suas palavras, Windsor.— Disse friamente em um tom baixo e provavelmente com um riso sombrio no rosto.— Ela está marcada como minha por toda a eternidade, não roube o que é meu se não quer acabar como meu irmão.— Sua ameaça foi clara e após isso, Andrew sumiu na escuridão daquela floresta e deixou todos ao meu redor com seus olhos preso a eles. A pergunta que rodava em minha mente não era se ele realmente tentaria matar Charles ou sobre o por que de ter me beijado, a única pergunta que possuía minha mente nesse momento era: Quando eu o veria novamente?


09Emme estava andando pelos corredores da central a procura de Lúcifer, pois desde que voltaram daquela floresta que lhe causou tanto medo, onde até mesmo lobos tirados de filmes de terror a atacaram, ela não havia mais visto seu amante. Era mais fácil encontrá-lo agora que ela podia ouvir seus pensamentos, na verdade, desde que novamente se transformou em uma deusa, tudo ficou mais fácil. Mas no momento Emme desejava não fazer ideia do que Lúcifer estava pensando, já que ele parecia estar um pouco triste em questão de ter reencontrado Andrew depois de 10 anos. Andrew era seu único amigo e Lúcifer confiou nele até mesmo quando não merecia, mas agora o demonio que consideravam como um vampiro não podia fazer isso, pois sabia que Andrew merecia a morte como todos desejavam. Ele apenas não conseguia aceitar isso. A deusa do fogo não ficava nada feliz em ver Lúcifer assim, ela sentia toda a alegria em seu coração ir embora apenas de escutar seus pensamentos e Emme sabia que ficaria ainda mais infeliz com a noticia que tinha que dar a Lúcifer. Emme parou de caminhar quando ficou de frente com uma porta dupla que levaria até uma sala reservada para as pessoas que não faziam parte do grupo de caçadores. A deusa não gostava de ser tratada como superior a alguém mesmo quando tudo estava acabando em Londres, parecia errado ela ter todo o conforto possível em quanto os caçadores que salvaram mais vidas do que eles, não tinham o mesmo conforto. Por mais que não gostasse disso, ela resolveu deixar esse assunto de lado pois toda sua atenção seria de Lúcifer, ele merecia isso mais do que ninguém. Emme abriu a porta calmamente em uma pequena fresta, ela sabia que o seu amado estava ali dentro e sozinho, a antiga freira apenas não sabia como agir com ele nesse estado tão cheio de novidades pra ela. Emme observou Lúcifer pela aquela fresta por um momento, ele estava sentado no maior sofá daquela sala e observava a lareira acessa ao seu lado. Seu cabelo estava bagunçado e nem ao menos com o blazer que sempre usava estava presente naquela sala. Sua camisa da cor bordo estava toda amaçada e pelo enorme copo de uísque quase vazio que ele segurava em sua mão, o vampiro esteve ali bebendo por todo o tempo que Emme estava em seu banho e se preparando para conversar com ele. — Eu sei que você está ai, Fiemme.— Lúcifer disse calmamente com aquele sotaque dinamarquês que ela tanto amava ouvir todas as noites antes de dormir. Mas hoje, o modo como ele falou, parecia ser tão vazio... Emme abriu o resto daquela única porta que havia aberto para observar Lúcifer antes de entrar no local. Agora que ela tinha sido pega pelo seu amante, observá-lo não era mais correto.— Eu estava o procurando.— Ela falou assim que entrou naquela sala pouco usada e com uma aparencia antiga, Emme fechou a porta atrás de suas costas com uma inútil ilusão de que ninguém ouviria a conversa deles. Lúcifer a encarou com aqueles olhos verdes que pareciam com pedras de esmeraldas quando postas


ao sol em um dia muito bonito e quente, apesar de seus sentimentos não estarem muito felizes, um brilho repentino apareceu no meio de todo aquele verde desumano apenas em ver Emme em sua frente.— Venha aqui, pumpe.— O minimo do começo de um sorriso apareceu nos lábios de Lúcifer e o coração de Emme ficou ainda mais mole do que já era e estava. O vampiro colocou aquele copo de uísque de lado em uma mesinha ao lado do sofá com um enorme abajur de enfeitei em cima dela, após fazer isso Emme caminhou até ele e se sentou em seu colo exatamente como uma criança fazia quando tinha pesadelos durante uma noite cheia de trovões e raios atormentando os céus. Lúcifer a segurou junto de seu corpo de uma maneira como se ele jamais desejasse soltá-la e esse era exatamente o desejo que Emme possuia nesse momento. — Você está bem?— Ela murmurio delicadamente, com medo de fazer alguma pergunta errada ou simplesmente falar algo que piorasse o humor infeliz do vampiro em baixo dela. — Eu irei ficar bem, minha querida pumpe.— Lúcifer passou a acariciar sua cintura com seu polegar em movimentos lentos.— E você?— Emme deu um pequeno dar de ombros e olhou para baixo, para a estampa de seu vestido em suas coxas.— Aquele lobo me assustou muito.— Ela disse manhosamente, nem ao menos gostando de se lembrar daquele animal em cima dela e a arranhando com aquelas garras enormes. Lúcifer ficou em silencio por alguns segundos, segundos que pareceram até mesmo séculos para Emme e ela não teve coragem para tirar seus olhos da estampa de seu vestido. O vampiro retirou sua mão das pernas dela, que as mantinham juntas, e a levou até os cabelos molhados e vermelhos como o fogo para uma caricia. Emme rapidamente virou seu rosto para o lado para que a mão gelada de Lúcifer viesse descansar em seu rosto muito, muito quente quando sua temperatura era comparada com a de qualquer outra pessoa.— Eu sinto muito que isso tenha acontecido.— — Você estava lá para me proteger, apenas isso importa.— Emme olhou para Lúcifer e sorriu. — Sim, apenas isso importa.— Lúcifer correspondeu seu sorriso, mas era um sorriso tão vazio e sem sentindo que isso matou Emme de todas as maneiras possíveis. A deusa do fogo colocou seus pequenos dedos a baixo do queixo de Lúcifer e aproximou seu rosto do dele até que seus lábios estivessem pressionados contra a bochecha do vampiro em um leve e muito sincero beijo.— Não fique triste.— Ela falou parecendo um pouco mimada, mesmo que essa não fosse sua intenção.— Isso não parece certo.— Lúcifer encarou Emme com aqueles olhos verdes desumanos por um bom tempo, parecia que nem mesmo ele sabia como reagir a isso. Parecia que nenhuma outra pessoa demonstrou interesse por seus sentimentos antes quando se tratava de Andrew ou quando ele estava triste. O vampiro aproximou seu rosto do de Emme para que pudesse beijar a pontinha do nariz dela, uma troca de carinho depois que ela beijou o seu rosto.— Aconteceram muitas coisas hoje, pumpe. Amanhã é um novo dia.— Emme desviou seu olhar de Lúcifer, novamente olhando para baixo para não encarar aqueles olhos que pareciam ser tão intimidadores a ponto de fazerem a deusa do fogo perder toda a sua coragem. Uma deusa sendo intimidada por olhos de um vampiro era até mesmo ironico. Mas Emme não se sentia como uma deusa perto das criaturas sobrenaturais, as vezes ela até mesmo preferia sua vida quando era apenas uma humana, mas a deusa do fogo amava seus pais e Lúcifer, então por eles ela faria qualquer sacrifício para aguentar os outros deuses e suas regras idiotas. — Meu pai exigi meu retorno.— Emme sussurrou aquilo tão baixo que poderia haver chances do seu amante não ter ouvido, se ele não fosse um vampiro. Lúcifer soltou um suspiro e ela soube que a expressão de Lúcifer tinha ficado ainda mais infeliz após dizer aquela frase e Emme estava começando a sentir uma pequena vontade de chorar por causa de ter que deixá-lo sozinho justamente agora.— Eu imaginei que isso poderia acontecer depois de hoje.— Lúcifer falou.— Nós chamamos muita atenção com aquele lobo, não é?— — Sim, nós chamamos.— Emme olhou para ele novamente.— Você irá me esperar?— — Eu ficarei contando as horas e os minutos até sua volta, pumpe.—


— Eu sinto muito que não possamos ter um relacionamento normal, como as outras criaturas sobrenaturais.— — Normal é algo completamente chato.— — Lúcifer,— Emme disse seu nome em uma maneira repreensiva, mas falhou completamente ao fazer isso.— Você entende o que quero dizer.— — Eu entendo que temos que superar muitas coisas para que nosso relacionamento de certo, principalmente nossas diferenças e o fato de você ter que ir embora toda vez que acostumo tê-la ao meu lado.— — E não poder tomar meu sangue.— Ela adicionou uma das outras coisas que mais a incomodava na maioria das vezes nesses 10 anos que eles passaram juntos. — Isso não é um problema, Emme.— — Eu sei que a troca de sangue entre vampiros é a maior prova de amor que existe para eles.— A deusa do fogo murmurio tristemente.— E meu sangue o machuca.— — Seu sangue pode me queimar como se tivesse engolido fogo, pumpe, mas eu não me importo com a dor.— — Eu me importo.— Emme disse rapidamente.— Não gosto de ver ninguém se machucando, inclusive você.— — E eu irei sempre respeitar sua escolha, isso não é um problema. Não poder tomar seu sangue não faz com que eu a ame menos.— — Mas é complicado saber que nunca teremos um romance como aqueles em livros de contos de fadas.— Lúcifer sorriu com muita vontade para a criança que existia no interior de Emme e segurou o rosto dela com uma de suas mãos para prender seu olhar ao dele.— O que teremos vai ser ainda mais bonito que isso, Fiemme.— Ele sussurrou e aproximou seu rosto para encontrar os lábios daquela deusa que tinha roubado seu coração em um beijo rápido, porém apaixonado. Emme colocou suas mãos sob o peito de Lúcifer para servir de apoio pro seu corpo quando ela deixou se levar naquele beijo. — As vezes eu gostaria de não ter uma alma tão pura como a minha.— Ela confessou após se afastar alguns centimentros do rosto de Lúcifer.— Isso me faz ser tão idiota.— — Você é perfeita para mim, Emme.— Lúcifer roçou seu nariz ao dela em uma caricia rapida e quando se afastou ele sorriu.— Não faça disso de um problema.— — Eu não estou fazendo disso um problema.— Emme se enfezou, principalmente por ter parecido uma garotinha manhosa, e estava quase levantando do colo de Lúcifer para se afastar, mas ele a segurou exatamente onde estava. — Não faça beicinho também, minha Lystne Dame...— Emme colocou sua pequena mão na boca de Lúcifer para impedi-lo de falar qualquer coisa. — Não diga isso!— Ela riu pela surpresa que se passou nos olhos verdes do vampiro, ele jamais esperava uma atitude dessa vindo dela, provavelmente. Lúcifer usou sua mão para afastar a de Emme de sua boca e um olhar ironico apareceu em seu rosto. Ai estava o Lúcifer que ela conhecia, o seu Lúcifer. — O que?— Ele se fingiu de idiota.— Todos devem saber que você é MINHA LYSYNE DAME.— Lúcifer aumentou o tom de sua voz nas ultimas palavras de sua frase e Emme novamente tentou tampar sua boca com suas mãos, mas o vampiro foi mais rapido e as segurou para longe de seu corpo. Não satisfeita com isso, a deusa do fogo usou seu dentes para morder levemente o ombro de Lúcifer em uma tentativa de vingança por ter segurado suas mãos.— Oh!— Ele exclamou em divertimento.— Agora você é uma selvagem, Fiemme?— — Sim!— Ela o respondeu tentando soltar suas mãos das dele e mesmo quando tentou segurar seu riso, Emme falhou horrivelmente.— Solte-me, Lúcifer.— — Uma ordem direta de uma deusa, eu deveria me sentir honrado.— Ele foi totalmente sarcástico e segurou ainda mais forte os pulsos de Emme, mas ela não sentiu nenhuma dor naquilo. Lúcifer estava apenas usando sua força para brincar com ela. Emme não viu nenhum problema em também usar sua maior força, ou seja, o fogo.


Ela encarou Lúcifer e parou de se remexer para que ele soltasse sua mão. Sua atenção foi totalmente para os barulhos que o fogo fazia na lareira ao queimar as madeiras jogadas lá. Emme permitiu que o fogo existente em sua corrente sanguinea acordasse de um sono muito profundo que somente ela poderia despertar. Ela permitiu que as faíscas dentro dela virassem chamas e que o fogo fizesse parte de seu corpo também, como qualquer outro sentimento. E em questão de segundos a barulho de chamas que vinha da lareira não era mais a única naquela sala, pois todo o comodo estava sendo incendiado por enormes chamas. Mas Emme não permitiu que aquelas chamas destruíssem o lugar ou sequer prejudicasse Lúcifer, nada estava sendo queimado e nem mesmo o calor que elas deveriam causar estava acontecendo. Lúcifer desviou seu olhar dos olhos cinzas de Emme para aquele comodo que tinha acabado de ficar com enormes chamas em volta dos moveis e paredes.— Magnifico.— O vampiro disse com um sorriso em seu rosto.— É tão lindo quanto você.— Emme sorriu com aquele elogio ao seu poder. As pessoas normalmente tinham medo do fogo e até mesmos alguns deuses tinham medo do que ela poderia fazer ainda mais agora que possuía metade do coração de seu pai, o que fazia seus poderes se elevarem a um nivel muito grande. Seu poder apenas servia para apavorar a todos, mas com Lúcifer era tão diferente.— Isso deveria assustá-lo.— — Quando isso vem de você, pumpe, é apenas inocente e lindo.— Ele finalmente soltou as mãos de Emme e com isso ela permitiu que todas as chamas se apagassem ao redor deles.— Exatamente como é sua alma.— Emme sorriu assim que permitiu que seus olhos voltassem para aqueles verdes hipnotizantes depois de confirmar que todas suas chamas tinham se apagado, ela também levou sua mão até uma pequena mecha loira que estava atrapalhando a visão de Lúcifer e a retirou dali.— Eu te amo.— A deusa do fogo sussurrou aquilo baixo, como se ninguém pudesse ouvir. E não podiam, nenhum dos deuses que amavam seguir suas regras idiotas poderiam ouvir uma deusa declarando seu amor por um simples vampiro que estava longe de estar em seu nivel. Eu te amo também, minha querida e pequena pumpe. Aquele pensamento se debateu contra a mente de Emme, interrompendo todos os seus pensamentos quando apareceu, mas Emme não se importou com isso, poder ouvir Lúcifer em sua mente era algo muito prazeroso e era assim que eles trocavam suas juras de amor, pois não importava quantos deuses estivessem os vigiando, eles jamais poderiam escutar uma conversa silenciosa.


10Quando era mais nova, minha irmã mais velha costumava dizer que o beijo entre o homem e a mulher era a chave para abrir a caixa fechada dentro deles que prendiam todos os seus sentimentos que não podiam ser descobertos e era por isso que seu primeiro beijo tinha que ser com alguém especial. Não só o primeiro e sim todos aqueles que você daria em sua vida, pois a pessoa que a beijasse provaria um pouco de todos os seus sentimentos trancados naquela caixa que você tenta esconder com várias barreiras... Eu acho que isso era apenas uma mentira de alguém apaixonada. Andrew podia destrancar minha pequena caixa de sentimentos apenas aparecendo em minha frente e me olhar com aqueles azuis frios que poderiam levar qualquer pessoa a loucura. O vampiro nem ao menos precisava encostar seus lábios nos meus para descobrir qualquer sentimento que existisse sobre ele nessa maldita caixinha protegida por milhares de barreiras. Ele apenas precisava aparecer para saber qualquer coisa que desejava. Então, eu acho, que isso era amor. Um amor muito masoquista, mas era amor. Meu ultimo desejo era ainda amar Andrew quando ele era apenas uma pessoa a ser considerado como inimigo, mas eu não tinha nada o que fazer além de aceitar esse sentimento. Mesmo depois de 300 anos contando os dias para reencontrar Andrew e ter minha tão esperada vingança, não consegui realizar sequer metade das coisas que desejei, eu tinha certeza que 10 anos não conseguiria me fazer realizar o que já devia ter acontecido... Nyx tinha razão no final das contas, Andrew deveria ter morrido junto com Pierre, quando sua alma ainda era equilibrada. Assim, o antigo rei dos vampiros jamais chegaria a esse ponto de estar matando quase todas as criaturas sobrenaturais e uma boa quantia de humanos. Essas pessoas que perderam suas vidas não mereciam isso apenas porque Andrew era o amor da minha vida. Além de Nyx, Andrew também tinha total razão ao me chamar de egoísta. Nada disso estaria acontecendo se eu não fosse tão... Egoísta e hipócrita. Tudo que queria agora era apenas mais uma chance... Eu desejava concertar tudo aquilo que estraguei. Eu apenas queria ter Andrew ao meu lado novamente, mas acho que isso não podia ser mais considerado como uma opção. Ninguém desejava salvá-lo, apenas matá-lo. E por mais que eu achasse a opção de matá-lo correto, que muitas vezes desejasse isso, em todo meu coração o desejo pela morte dele nunca seria algo que eu realmente queria que acontecesse. Saber o que sentia por Andrew era algo muito complicado, mas não havia duvidas que ainda o amava mais do que qualquer outra coisa no mundo e eu apenas não conseguia aceitar isso. Quem aceitaria amar um psicopata, afinal? Então se me perguntassem se era correto a morte de Andrew, eu provavelmente diria que sim, mas meu coração iria fazer milhões de protestos com essa mentira. Eu abri meus olhos depois que alguns segundos se passaram ao decorrer do silencio em minha volta, em minha frente encarei vários livros em uma prateleira de uma enorme estante antiga. E caso eu olhasse para cima ou para os lados, seria apenas livros e mais livros que eu encontraria. Afinal, era isso que esperavamos encontrar quando estavamos em uma biblioteca. Mas eu não estava


sentada no chão de uma e usando uma de suas estantes de encosto para encontrar algum livro, eu apenas não tinha nada pra fazer além de ficar pensando em Andrew e seu estado bipolar. Tudo bem que eu poderia ficar em meu quarto, o que seria mais confortavel, mas lá era o primeiro lugar que todos me procurariam e eu não queria ser achada por ninguém. O silencio de uma biblioteca abandonada e um pouco escura era muito mais agradavel do que ficar em meu quarto ouvindo milhares de batidas na porta. Era dificil pensar em algo quando isso se acontecia com muita frequência e no momento eu não queria que ninguém atrapalhasse meus pensamentos. Eu precisava pensar em cada detalhe e reformular a imagem em minha mente de quando Andrew me beijou, isso era uma prioridade para mim. Afinal, vindo de uma pessoa que possuía uma alma totalmente negra, isso deveria significar algo bom. Andrew não me beijaria por algum motivo idiota, como estar com vontade ou algo do gênero, ele possuía muita dignidade para fazer algo como isso. Mas também tinha Amethyst que esteve lá e Andrew preferiu me proteger de sua companheira do que me entregar a ela. — Oh, isso é tão complicado pra minha cabeça...— Eu murmurei baixo, esperando que ao falar isso tivesse algumas respostas, mas nada aconteceu como o esperado. Eu levantei do chão e tomei cuidado para não me apoiar nas prateleiras cheias de livros, pois não desejava fazer nenhuma bagunça ao derrubar algum deles. A biblioteca era um novo esconderijo e ao fazer um pouco de barulho derrubando alguma coisa, todos saberiam que eu estava aqui. Desejar que o ultimo lugar que eles me procurariam fosse o primeiro, era a ultima coisa que realmente queria. Agora voltaria para meu quarto e permitiria que as batidas em minha porta voltassem a me incomodar, eu já tinha tido um tempo para pensar um pouco e voltar a estaca zero, mas antes mesmo que pudesse sair do labirinto de corredores que a biblioteca formava, eu parei de caminhar e congelei qualquer movimente do meu corpo, pois pessoas estavam entrando naquele enorme lugar e elas não podiam me ver de maneira alguma. — Eu sinto muito que Emme tenha partido, Lúcifer.— Era a voz de Iawy, ficando mais clara e próxima de mim quando ele, Nyx e Lúcifer se aproximaram de uma mesa para estudos posta na biblioteca. Eu estava longe dessa mesa, mas espiá-los ainda estava em questão sem nenhum problema e a única pessoa que poderia notar que estava ali era o vampiro de cabelos loiros. Talvez eu estivesse com sorte e Lúcifer não me notasse pela distração na conversa, mas ainda existia essa possibilidade, pois vampiros notavam a presença de outras pessoas muito mais que rapido que um incubus e uma licantropa. — Está tudo bem.— Lúcifer disse ao puxar uma cadeira de frente para Iawy e Nyx.— Imagino que logo ela estará de volta.— — Torceremos por isso.— Iawy disse gentilmente, o único que continuou de pé e segurando alguns papéis entre seus dedos. Nyx estava com sua expressão de enfezada de sempre e ainda revirou seus olhos azuis escuros impaciente por esse momento de gentiliza que Lúcifer e Iawy estavam tendo. Ela apoiou seu queixo em sua mão e olhou para seu amante, esperando que ele fosse para o real assunto por estarem ali.— Agora que Lúcifer parou de chorar por ser abandonado, podemos ir para o ponto principal de terem me arrastado até essa biblioteca empoeirada?— Ela foi grosseira e recebeu um olhar repreendedor de Iawy. Eu fiquei satisfeita com isso e Lúcifer resolveu ignorar o que a licantropa disse, como fazia na maioria das vezes. Provavelmente a coisa mais inteligente a se fazer quando se tratava de Nyx. Iawy soltou um suspiro e olhou para as folhas que segurava, ele entregou uma para Nyx e outra para Lúcifer, fazendo com que minha curiosidade fosse ao infinito por eu não poder saber o que estava escrito ali.— O que é isso?— A licantropa perguntou sem ao menos ler o que estava naquele papel. Boa garota, Nyx. Minha mente a agradeceu sem rodeios por Nyx servir para algo além de tratar as


pessoas mal. — Quando Andrew invadiu a central e Roxie o atingiu com sua lamina, eu mandei que recolhessem seu sangue para fazer alguns testes com o intuito de saber o que aconteceu com ele, para estar tão diferente de um vampiro.— Ele começou a explicar.— Esse é o resultado desses testes.— Lúcifer tirou seus olhos verdes daquele papel e encarou Iawy, o vampiro parecia ser o único a ter entendido o que realmente estava escrito ali, pois mesmo depois de ler, Nyx estava boiando. — O que?— Nyx perguntou curiosa.— Por que Lúcifer esta com essa cara?— — No sangue de Andrew foi achado grande quantia de magia, minha dama, e por ele estar convivendo com uma feiticeira está obvio que Andrew está se alimentando de Amethyst.— — Para saber isso não é preciso nem ao menos fazer testes.— Ela murmurio aquilo e eu concordei planamente, sentindo uma ponta enorme de inveja de Amethyst. — Nyx, quando vampiros se alimentam de feiticeiras, elas não permitem que nenhuma magia se interfira com seu sangue.— Lúcifer disse.— É como se elas fechassem seus poderes em uma caixa e deixassem seu sangue puro, pois eles podem prejudicar qualquer pessoa que tomem seu sangue.— — Amethyst é louca, talvez ela tenha se esquecido.— — Não, ela não se esqueceu.— Iawy discordou de Nyx.— Amethyst fez isso propositalmente, para que a alma de Andrew se tornasse negra.— Eu senti uma grande pontada se manifestar em meu coração, essa pontada fez com que cada parte morta dentro de mim começasse a reviver exatamente quando fogo era jogado em uma trilha cheia de gasolina. Aquela vaca havia prejudicado Andrew, ela era a culpada... Ele não permitiu que sua alma ficasse negra, talvez ele tenha lutado para que isso não acontecesse, talvez ele tenha lutado para voltar a ficar ao meu lado. Andrew... — E no que isso nos ajuda, Iawy?— Nyx perguntou, empurrando aquela folha para longe dela.— Amethyst pode ter levado Andrew para o abismo da loucura, mas ele quis ficar lá. Andrew não tem mais salvação.— — Existe uma salvação.— Lúcifer falou após encontrar os olhos de Nyx.— O sangue de Amethyst está obrigando a alma de Andrew continuar negra, caso contrário, depois de 10 anos, ela não faria questão que seu sangue estivesse em seu sistema, mas ainda assim continua. Existe a possibilidade dele ser retirado e que a alma de Andrew volte a ser equilibrada.— Uma esperança, eu sorri para o nada, ainda existem esperanças. — Uma possibilidade não é uma certeza.— — É a coisa mais perto de salvar Andrew que chegamos em 10 anos, minha dama.— Iawy disse, perdendo um pouco de sua paciencia. — A única salvação é matá-lo, não prendê-lo em algum lugar e esperar que o sangue de Amethyst suma de seu sistema. Além do mais, ele pode estar muito ciente do que aquela bruxa está fazendo com sua alma.— — Não há como prender Andrew, todos nós vimos o que ele é capaz de fazer com seus novos poderes.— Lúcifer disse.— E só existe uma única pessoa que ele tem desejo de se alimentar todos os dias, mesmo sabendo que uma fonte de poder está lhe dando seu sangue sem nada em troca. Emme disse que entrou na mente de Andrew na noite anterior e quando se tratava de Roxie, não existia mais nada além de possessão, isso já é um bom começo.— — Roxie não pode saber disso.— Nyx falou, trazendo todos os olhares na mesa para ela.— Ela é tão cega por Andrew que saíra correndo atrás dele sem ao menos pensar no quanto isso é perigoso. Roxie não pode saber que existe uma possibilidade de salvar Andrew... A coisa certa é deixá-la acreditar que matá-lo é a melhor opção. Assim como nós deixamos os deuses acreditarem que vamos deixar sua alma equilibrada novamente antes de matá-lo.— Eu senti uma facada sendo enfiada em meu coração diversas vezes ao ouvir Nyx dizer isso, facadas que apunhalaram meu órgão sem nenhuma piedade ou remorso. Ela era minha melhor amiga e estava agindo como minha pior inimiga... O que estava acontecendo com as pessoas?! — Vocês já esconderam algo importante de Roxie, mentiram sem ao menos pensar nas consequências disso e tudo foi para a pior quando ela descobriu tudo.— Lúcifer falou de uma


maneira que eu podia sentir sua revolta. Ele não abandonaria seu melhor amigo, como minha melhor amiga estava fazendo... Então eu entendia sua raiva.— Não esperem que minta para Roxie se ela desconfiar de algo, eu não minto para ninguém, muito menos para alguém que procura a verdade.— — Você a levará direto para a morte.— Nyx se levantou da cadeira, a jogando para trás pela raiva e rapidez que aquilo aconteceu.— E se isso acontecer, não existira nenhum motivo mais para que a central não seja atacada por aqueles monstros.— — Você está sendo egoísta, Nyx.— Lúcifer rebateu.— Não use Roxie como um objeto de salvação contra o perigo. Se ela desejar salvar Andrew, ela fará isso e terá meu total apoio.— Por que Nyx e Iawy sempre acabavam fazendo isso? Eles eram minha família, eles eram as únicas pessoas que eu confiei minha vida quando não deveria fazer isso... Eu lhes dei uma segunda chance, então por que estavam fazendo isso de novo? Meus olhos arderam quando a vontade de chorar cresceu, minhas lágrimas estavam sendo formadas lentamente, mas doíam como se estivessem me queimando... Por que Nyx e Iawy desejavam tirar Andrew de mim como Amethyst fez? Eles não deveriam fazer isso. Não quem eu considerei como um pai e uma irmã. Não. Eles não iriam fazer isso comigo de novo, eu não iria permitir que mais ninguém tirasse de mim as pessoas que amo... — Ela terá meu apoio também.— Iawy disse, encarando somente a Nyx.— Não é justo ela perder a única chance de trazer a pessoa que ama de volta apenas por que você não quer, Nyx. Eu sinto muito, mas Roxie ficará sabendo disso.— Iawy... — Se Roxie morrer, isso será culpa de vocês dois.— Nyx falou isso com pura raiva e se afastou da mesa para sair da biblioteca. Iawy fez o mesmo que ela com a intenção de pará-la antes que pudesse sair, mas a licantropa bateu a porta da biblioteca com tanta força que algumas prateleiras próximas dali tremeram, isso não foi o suficiente para intimidar o incubus, pois ele continuou a segui-la até mesmo quando não estava mais dentro daquele lugar. Esperei que Lúcifer se levantasse daquela mesa e saísse da biblioteca para que eu finalmente pudesse sair dali, mas o vampiro nunca fez isso. Ele apenas ficou sentado, sem mover um musculo e por mais surpreendente que fosse, um sorriso cresceu em seu rosto angelical.— Você pode sair de seu esconderijo, Roxie.— Falou, quase me dando um pequeno infarto pelo susto dele falar comigo quando simplesmente pensei que ele estava apenas pensando no que se ocorreu naquele lugar a alguns segundos. — Você me descobriu.— Eu sussurrei calmamente, saindo do corredor que me escondia da vista dele para ficar próxima daquela mesa.— Quando?— — Oh, você sempre subestima meu poder, minha querida chupim.— Eu sorri, mas esse sorriso durou apenas segundos antes de acabar em uma expressão séria e desesperada.— Eu ouvi tudo, Lúcifer.— Falei.— Escutei cada palavra.— — Eu sei.— O vampiro me deu um sorriso consolador.— Você sabe... Nyx não quis dizer aquilo de verdade, ela apenas tem medo e muito orgulho para querer salvar alguém que apenas esta fazendo o mal em seu mundinho mal humorado.— — Eu não me importo.— Fui sincera, apesar de parecer um pouco fria em relação ao que minha melhor amiga disse. Aquilo tinha doído muito, mas nenhuma dor poderia ser comparada a aquela que tive quando Andrew foi embora para sempre. E agora que uma chance de tê-lo de volta surgiu, eu não iria deixar que nenhuma pessoa que achava certo matá-lo me impedir.— Andrew pode ser salvo e somente eu posso ajudá-lo.— Eu sorri para o nada e limpei uma única lágrima que havia fugido dos meus olhos.— Eu posso trazê-lo de volta para mim.— — Não poderia existir relação mais perfeita entre um sadista e uma masoquista.— Lúcifer sorriu,


realmente sorriu sem nenhuma ironia ou sarcasmo. Esse era o tipo de sorriso muito raro no rosto desse vampiro tão antigo e cruel que não possuía uma alma. Ele me encarou com aqueles olhos verdes desumanos e ali eu pude ver a enorme felicidade que o filho de Hades estava sentindo por mim naquele momento. Lúcifer não estava feliz por poder ter seu melhor amigo de voltar, ele estava demonstrando sua felicidade por mim mesmo quando muito sofrimento iria acontecer quando eu fosse atrás de Andrew, mesmo quando minhas chances de morrer apenas aumentariam. O vampiro de cabelos loiros estava me apoiando exatamente como ele disse a Nyx.— Eu acho melhor você começar a correr, minha querida.— — Sim.— Eu falei animadamente, como se já tivesse ganhado essa enorme batalha que iria enfrentar sem arma nenhuma além do meu amor.— Eu vou correr.— Eu olhei para a aprovação nos olhos de Lúcifer mais uma vez antes de começar a realmente correr para longe da biblioteca, para longe da central e para perto de Andrew. Isso era loucura, eu sabia que iria sofrer tanto a ponto de desejar nunca ter ido atrás dele, mas dessa vez o antigo rei dos vampiros teria que me aturar como sempre fez quando ainda era bom... Ele podia me maltratar, torturar e dizer coisas horriveis, mas eu não iria perdê-lo novamente. Nunca mais. Eu não seria idiota duas vezes. *** Eu parei de correr somente quando estava longe da central, onde existiam poucas câmeras de vigilância para que ninguém soubesse exatamente onde me encontrar. Isso era algo errado de se fazer e sabia que mesmo com o apoio de Iawy, ele mandaria suas tropas para me buscar já que não houve nenhuma conversa sobre isso. Mas eu não precisava de uma “conversa”, o perigo de correr diretamente para Andrew quando deveria fugir estava muito claro e dessa vez ninguém mudaria minha ideia sobre o quão errado é ter o antigo rei dos vampiros vivo. Além do mais, se visse Nyx e ela ainda falasse que eu não podia fazer isso, eu provavelmente iria jogá-la de alguma janela da central, então a melhor coisa foi ter fugido somente com a aprovação de Lúcifer. O único que realmente não teve nenhum problema com isso, pois por mais que Iawy tivesse dito que me apoiaria, ele sempre ficaria com um pé atrás. Afinal, alguém que me protegeu durante tanto tempo, não me jogaria direto para um centro de tortura. Olhei ao redor de onde estava e soltei um grande suspiro para que minha respiração alterada voltasse ao normal, eu não era mais vampira e muito menos alguém em forma como os outros caçadores, então correr se tornou algo muito complicado nesses últimos anos. Tudo bem que pelo fato de eu ter sido reconhecida como uma caçadora isso não deveria acontecer, mas também passei a ser conhecida como sedentária, então não tinha como me acostumar com uma longa corrida em questão de horas. Eu estava parada no meio de uma praça totalmente destruída, onde folhas secas e neve derretendo se misturavam em uma cena de destruição. Os bancos de ferro que costumavam brilhar em qualquer hora do dia estavam amaçados e outros nem mesmo existiam mais. E a mata que existia ao redor desse lugar invadia sem nenhuma piedade, o que deixava o lugar com um ar totalmente de terror. Era exatamente como naqueles filmes de terror onde uma mocinha fugia para se proteger do assassino que logo surgiria no meio da praça onde ela estava para matá-la e enfeitar o lugar com seu sangue. Um pequeno arrepio tomou conta de todo o meu corpo, pois isso não era algo para se pensar na situação que eu estava, ainda mais considerando o fato que existia apenas a forte luz do luar para iluminar todo o lugar e muitas vezes até mesmo Londres inteira. Meus olhos foram para o céu, diretamente para a lua e as estrelas ao seu redor. Era uma noite bonita onde o frio estava começando a ir embora lentamente em quanto a neve derretia, ótima para passeios românticos para admirar o céu se a cidade não estivesse caindo em desgraça.


Já fazia um bom tempo que eu não parava e admirava as estrelas como fazia todas as noites com Andrew ao meu lado falando todos as historias dos desenhos formados por elas. Isso se tornou um hobbie entre nós e por mais que eu esquecesse tudo o que ele me disse no dia seguinte, eu não me importava, pois era Andrew que estava ao meu lado, o antigo rei dos vampiros provavelmente me lembraria todas as noites as historias e nomes de constelações. Andrew costumava ter muita paciencia comigo, ele me tratou muito bem quando não deveria. Eu soltei um riso amargo com meus olhos fixos ao céu. Que loucura eu estava fazendo, afinal? Andrew provavelmente me mataria de uma forma diferente todos os dias e mesmo sabendo disso eu estava aqui, esperando ficar ao seu lado até que a escuridão não tomasse mais conta de sua alma completamente. O amor era a morte de todos, realmente. Poderia ser o amor que estivesse me dando tanta coragem para fazer essa loucura, mas dessa vez eu não faria isso por mim, dessa vez seria por Andrew. Ele salvou minha tantas vezes que parecia errado ter demorado tanto tempo para tomar alguma atitude sobre salvá-lo. Agora que havia uma chance, eu não desistiria dele. Andrew seria salvo, mesmo que ele me magoasse profundamente a um nivel de que nosso relacionamento nunca voltasse a ser o mesmo de antes. Eu não me importava se isso acontecesse, eu apenas queria vê-lo bem novamente. — Andrew.— Eu disse seu nome em um tom claro e alto depois que os minutos se passaram ao meu redor naquela praça abandonada pelo tempo e destruição. Já havia muito tempo que eu não o chamava por seu nome dessa maneira. Normalmente costumava ser apenas um sussurro, mas agora que a distancia entre nós era a melhor coisa a acontecer, o vampiro poderia confundir o sussurro com o barulho de um vento contra as árvores. O chamei dessa maneira para que não existisse nenhuma duvida que eu realmente desejava que ele aparecesse aqui. E bem, por mais que as possibilidades dele ignorar meu chamado fosse enorme, eu sabia que ele viria. Eu ainda tinha esperanças. Uma rajada de vento se debateu contra mim, fazendo com que meus cabelos voassem para longe do meu rosto. Eu fechei meus olhos para protegê-los das folhas secas que criaram vida e voavam para longe daquela praça. Esse era o tipo de vento que não era nada comum em Londres, então eu abri meus olhos rapidamente quando ele parou e me virei para encarar Andrew. Ele estava a alguns metros de mim, deixando que a escuridão o camuflasse em quanto me observava em silencio, mas nem mesmo a noite ofuscava sua beleza. A luz da lua apenas o fazia ficar ainda mais palido do que já era, fazendo com que seus cabelos negros e aqueles olhos azuis que prometiam mil pesadelos se destacassem. Seu cabelo estava como antes, totalmente para trás e deixando seu rosto a mostra para qualquer pessoa. Esse tipo de penteado apenas fazia com que seu rosto deixasse todos com medo, pois não existia nenhum cabelo em frente de seus olhos para amenizar a ameaça de morte presente neles. Novamente outra rajada de vento surgiu entre nós, fazendo com que o sobretudo de Andrew voasse para longe de seu corpo e quebrasse o silencio entre nós. Essa rajada não foi nada comparada com a de antes, então era apenas o vento incomodado com o silencio. — Ora,— Andrew sorriu, um sorriso cheio de ironia e provocação.— Você já está sentindo minha falta, cherie?— — Eu devia fazer a mesma pergunta, já que respondeu meu chamado tão rápido.— — Miau.— Andrew imitou um gato bravo em quanto me dava um sorriso torto .— Você está afiada hoje, cherie, isso é muito fofo.— Os olhos do vampiro riram em puro sarcasmo para mim, mas nenhum riso escapou de seus lábios. Ele apenas me observou em silêncio por alguns segundos antes de voltar a falar. — Em quanto existir uma barreira me impedindo de sair de Londres, eu não


tenho nada além do meu divertimento em torturá-la. Então não fique contente com isso.— — Você veio para me torturar?— — Eu estava ocupado demais imaginando como assassinar aquele parasita do Charles e não cheguei em sua vez, você ainda tem tempo para fugir se desejar.— — Não o chamei aqui para brincar.— Eu falei seriamente, encarando aqueles olhos azuis que muitas vezes demonstraram o tamanho amor que ele sentia por mim, mas agora só via o ódio que Andrew sentia por mim. — Ok, eu posso lidar com isso.— Ele deu de ombros, fazendo um pouco caso tão grande que me enjoava.— Está aqui para me agradecer por ter salvo sua vida ou para tentar fazer com que eu me apaixone novamente por você? Pois se for a segunda opção, tenho que dizer que será perda de tempo.— — Não, não estou aqui para isso.— Uma mentira, eu acho.— Eu quero me juntar a você.— Andrew franziu seu cenho em total surpresa, eu também estava muito surpresa por dizer algo como aquilo, então não o culpava por isso. Mas essa não foi a pior parte, pois após segundos se passarem, o antigo rei dos vampiros jogou sua cabeça para trás e gargalhou em puro divertimento. — O que aconteceu com você essa noite?— Ele riu de mim como se fosse uma palhaça de circo.— Ou melhor perguntando, quem traiu sua confiança?— — O que?— Eu perguntei, sem realmente entender seu ponto. — Oh, Roxie, você nunca da segunda chance para ninguém e quando alguém trai sua confiança, seu primeiro ato é se juntar com o inimigo para uma vingança.— Pierre, ele estava falando de Pierre.— Isso é tão tolo e infantil.— — Você quer falar sobre o passado, Andrew?— Dessa vez me revoltei.— Então diga-me por que me beijou na noite anterior.— Andrew sorriu ironicamente e logo em seguida se virou para dar suas costas a mim. Por um momento eu pensei que ele iria embora, sem dizer uma palavra, mas ele apenas fez isso para encarar o arbusto que antigamente estava atrás dele e pegar uma única flor que deixava aquele lugar bonito.— Você faz perguntas muito complicadas, Roxanny.— Ele disse em um tom baixo, deixando que seu sotaque frances tomasse conta de sua voz em quanto brincava com aquela flor entre seus dedos. Andrew tirava uma pétala de cada vez conforme o tempo passava ao seu redor.— Mas se é o seu desejo se juntar a mim, eu não tenho nenhum problema em ter meu brinquedinho sempre ao meu lado.— Eu não conseguia desviar os olhos dele. Parado lá, de costas pra mim, com aquela maldita flor girando entre os dedos. Andrew pareceu mais intocável do que jamais foi, completamente distante de mim. Estar nessa posição, mesmo depois de todo o tempo que eu tive pra me acostumar com ela, ainda me rasgava por dentro de jeitos inimagináveis. Eu repeti minha pergunta, pois ele tinha que estar louco se achava que eu ia desistir dela só por que ele resolveu dar uma resposta ridicula. — Por que fez aquilo, Andrew?— Eu repeti, pondo mais força em cada sílaba dessa vez —Por que me beijou?— O vento forte da noite passou por nós como se estivesse tentando levar partes de ambos com ele. O cabelo negro de Andrew se rebelou em todas as direções enquanto a rajada nos atingia, e eu continuei olhando para ele, esperando pela mínima reação que fosse. E ela aconteceu. Aquela pequena rosa branca que ele segurava, foi esmagada cruelmente entre os seus dedos antes de ele os abrir novamente para deixá-la cair livremente até o chão. Isso deveria me assustar, mas considerando toda a situação, tudo que eu fiz foi continuar encarando. Ele se virou para mim. — Por que está tão incomodada com isso, Cherie?— Cada palavra era composta por tanto sarcasmo que, se fosse veneno, mataria o resto da população mundial — Quer outro e não sabe como pedir?— Eu abri a boca para responder, mas não parecia que meu cérebro queria fazer o favor de funcionar agora. Me fale sobre timing perfeito para não pensar em nada, por que eu não tinha idéia do que


isso era. Eu respirei fundo, e fechei os olhos para clarear minha mente, por que, com tanta certeza quanto eu tinha de que o inferno era real, eu sabia que olhar pra ele não me ajudaria em nada. No mesmo instante em que eu tentei bloquear o mundo de imagens em minha volta, senti outra rajada de vento, mas essa, não era nada natural. Meus olhos se abriram rapidamente com o susto, só para encontrar Andrew parado a centímetros de mim. Havia frustração em seus olhos azuis, como se ele se sentisse ofendido por eu não ter dado a devida atenção para o seu sarcasmo. A parte sádica de mim queria rir, mas a parte com juízo não me deixou falar nada, o que o deixou ainda mais ofendido. — Eu achei que você tinha recebido educação suficiente, — Enquanto falava, a ameaça era clara, mas se tornou tão sólida que podia ser literalmente tocada quando as veias em volta de seus olhos saltaram e aquelas presas anormais saltaram para fora de suas gengivas, seus olhos se tornando um espelho negro para mim.— Para não ignorar quando falam com você.— Meu coração acelerou, se era por medo ou outra coisa, eu não tinha certeza, mas me preparar para dor física nunca foi algo que eu soube fazer direito. Ele sorriu, um sorriso selvagem enfatizado pelas presas anormais quando notou o meu medo, mas eu não me mexi, e em uma reação involuntária, tentei a coisa mais idiota do mundo. Tentei dar um tapa nele. Obviamente, Andrew agarrou meu pulso muito antes de eu sequer chegar perto do rosto dele. O sorriso selvagem cresceu, e ele usou meu pulso preso para me puxar e selar a pouca distância entre Nós. Estavamos a milímetros de distância agora, eu podia sentir a minha respiração fraca se misturando com a dele. Ele com certeza me causaria o apocalipse de dor agora, eu tinha certeza. Mas acontece que ela não veio do jeito que eu esperava. Andrew me beijou. Não, não foi um beijo poético de amor eterno. Era violento. Suas presas ainda estavam para fora, o que me machucava mais a cada nova investida que ele fazia. Eu tentei empurrá-lo em uma inútil tentativa de me livrar daquilo. Antes que eu fizesse a besteira de acabar gostando daquela dor. Obvio que não surtiu o mínimo efeito. As presas de Andrew arranhavam meus lábios tão forte, que o gosto de sangue, o acobreado e enjoativo gosto de sangue, era o que predominava enquanto sua língua se movia contra a minha. Meu coração batia tão rápido que eu podia ter um ataque cardíaco, e o pior é que eu não tinha certeza do por que ele estava batendo tão rápido. Medo? dor? ou, que os deuses me livrem, prazer? Em algum lugar do meu cérebro problemático, o instinto de sobrevivência gritava pra me afastar. Ele me apertou mais contra o seu corpo, me puxando pela cintura e a nuca. As presas dele roçavam nos machucados que elas mesmas tinham causado em mim, me fazendo vacilar. Eu ergui uma das minhas mãos até o rosto dele, já que empurrá-lo no peito não ia ajudar em nada, e tentei fazer algo que qualquer donzela em perigo faria, dar um tapa. Infelizmente pra mim, ele pareceu prever isso, e a mão que segurava minha nuca passou a esmagar o meu pulso, mas não rápido o bastante, pois eu tinha plena certeza que as minhas unhas tinham lhe aberto um belo arranhão bem no meio da bochecha. Andrew afastou sua boca da minha, e eu abri os olhos pra encarar o rosto psicopata que ele andava usando muito ultimamente, seus lábios estavam vermelhos com sangue , meu sangue, e em sua bochecha esquerda, um pequeno arranhão jorrava míseras gotas de sangue sobre a sua pele pálida. Ele me manteve no lugar e logo seu sorriso ironico que podia até mesmo matar cresceu ali. Meus olhos viajaram para o corte que eu havia feito em sua bochecha e não havia mais nada além de pequenas manchas de sangue. Essa era a única lembrança que havia do antigo arranhão que existiu em seu rosto tão perfeito e lindo. — Qual é o problema, cherie?— Andrew me puxou de uma forma bruta, por meus pulsos, para debater seu corpo contra.— Você sempre gostou de me beijar, por que está negando agora?—


— Pare.— Eu pedi quando ele começou a espremer meus pulsos em suas mãos.— Pare, Andrew.— — Você perguntou por que.— Ele disse, agora aproximando seu rosto para seus lábios ficarem próximos da minha orelha.— Isso não é obvio?— Sussurrou. Eu parei de me mover, não pelo sussurro provocativo de Andrew próximo do meu ouvido, mas sim por que continuar me mexendo apenas iria me causar sofrimento. O vampiro apenas me soltaria quando desejasse, não quando eu pedisse. O gosto de sangue em minha boca estava me enjoando, senti-lo escorrendo por meu queijo estava tendo o mesmo efeito, então eu não daria mais motivos para Andrew me segurar ao implorar pra me soltar. — O que é obvio?— Perguntei, sentindo uma dor tremenda em minha boca devido aos cortes das presas dele. — Eu ainda a desejo como mulher.— Seus lábios ficaram mais próximos do meu ouvido, de uma maneira que eu podia sentir sua respiração próxima de mim, me fazendo congelar por isso e pelo que disse, fazendo meu coração disparar ainda mais. Mas logo em seguida Andrew riu como se tivesse contado uma piada tola e se afastou, me soltando completamente para me olhar.— E você fica linda suja de sangue, é dificil resistir a isso.— — Você está louco.— Eu disparei aquilo, com medo que ele se aproximasse novamente. — Não, cherie,— Andrew lambeu meu sangue em seus lábios antes de continuar sua frase.— Eu possuo uma alma negra, isso não é loucura.— Por instinto ou inteligencia, eu dei um único passo para trás com intenção de ficar longe dele. Me desejar apenas por que estava suja de sangue era tão psicopático que me enjoava ainda mais que o gosto de sangue em minha boca. Tudo bem que isso era normal para vampiros, pois o sangue fazia eles irem a loucura, mas Andrew... Ele não era assim. — Isso é nojento.— Eu falei dando mais alguns passos para trás, eu queria distancia dele, apenas isso. — Onde está indo? Você não desejava se juntar a mim?— Ele perguntou com um sorriso sarcástico estampado em seu rosto.— Agora nós vamos para minha casa, cherie, não para a sua.— Os olhos de Andrew em questão de segundos voltaram a ser azuis, mas logo uma explosão de negritude aconteceu os deixando negros novamente e quando isso aconteceu, eu senti como se alguém houvesse me jogado para longe, em direção a uma parede que continuava de pé por algum milagre do destino, mas Andrew não havia tocado em mim, ele continuava parado exatamente onde estava. Era como se o vento estivesse se rebelando contra mim. Meu corpo inteiro se debateu contra os tijolos da parede e em minhas costas senti que ela tremeu completamente ao impacto do meu corpo antes dele chegar ao chão. Eu tentei me levantar do chão após um tempo, mas provavelmente havia quebrado algumas costelas com isso, me mover apenas dava a sensação de que uma faca havia sido enfiada em meu estomago. O sangue em minha testa começou a escorrer ao lado do meu rosto e antes que tivesse chance de limpá-lo, meus olhos encontraram Andrew parado a alguns metros de mim, com suas mãos enfiadas em seus bolsos. Seus olhos estavam normais, mas após eles se encontraram com os meus e outro sorriso surgir em seus lábios, aquela explosão aconteceu novamente e dessa vez eu ouvi o som de rachaduras acontecerem a cima de mim antes que vários tijolos caíssem em meu corpo, me levando ao inconsciente.


11-----Já era noite e parecia que os ponteiros do enorme relógio em minha frente não se movia. Aquele relógio que ficava em nossa sala e badalava somente quando as horas mudavam, que muitas vezes acordava toda a casa, apenas dava a impressão, nesse momento, que havia parado e ficaria desse jeito até que alguém o concertasse. Eu podia sentir o cheiro do segundo charuto do papai acesso vindo de seu escritório, ele não ficava muito feliz quando Andrew vinha me ver tão tarde, então provavelmente papai fumaria sua caixa de charutos inteira até que eu voltasse do meu passeio noturno com meu noivo. Ele era o único que se importava se eu voltaria ou não. Minhas irmãs provavelmente já estavam prontas para dormir, me esperariam acordadas e falando sobre qualquer coisa, mas mamãe já estava dormindo há muito tempo. Eu não entendia por que meus pais permitiam que Andrew viesse me ver as 21 horas da noite algumas vezes, isso parecia tão errado para uma dama. Parecia que ele tinha passe livre para fazer o que bem entender, sem precisar da permissão dos meus pais. Isso podia ser ruim, pois eu poderia ficar mal falada pela cidade, mas ao mesmo tempo que me importava com isso, eu não ligava. Era Andrew e ele poderia aparecer a qualquer horario do dia que sempre seria bem vindo como era no meu coração. Eu apenas me incomodava com essa impressão dos meus pais não verem a hora desse casamento acontecer para que eu fosse embora de casa e era exatamente por isso que o relógio em minha frente parecia não se mover todos os dias, pois eu também não via a hora de sair desse lugar em que não era muito bem vinda. O relógio moveu seu ponteiro depois séculos e passou lentamente bater suas nove badalas escandalosas. Eu soltei um suspiro e logo em seguida um sorriso cresceu em meu rosto de puro alivio. Afinal, a tortura tinha acabado. Meus olhos foram para a primeira porta que eu podia ver no corredor ao meu lado, a única porta que estava um pouco aberta e havia luz escapando dali de dentro. Ali ficava o escritório de meu pai e por algum motivo eu estava esperando que ele aparecesse naquela porta e me acompanhasse até o encontro de Andrew, mas isso nunca aconteceria. Alguns segundos se passaram após eu abaixar meus olhos e encarar as tabuas do chão de nossa sala, tentando esquecer a magoa que existia entre mim e meus pais. Faltava pouco para o meu casamento e uma nova vida começaria. E eu sabia que meu futuro marido me daria muitos filhos e meu maior desejo era que nenhum tivesse o mesmo sofrimento que eu. Andrew e eu teriamos uma família perfeita. Andrew... Ele estava atrasado. E somente quando o relógio marcou nove horas e um minuto que o barulho de cavalos e uma carruagem quebrou o silencio da noite lá fora. Ignorando qualquer esperanças que papai saísse de seu escritório ou que mamãe aparecesse para


cumprimentar meu noivo adequadamente, coloquei meu melhor sorriso no rosto e corri até nossa porta de entrada para abri-la e a fechar atrás de mim logo em seguida. A carruagem nem ao menos havia parado quando fui até o jardim passei a observá-la até que parasse. A ansiedade dentro de mim apenas crescia a cada segundo e quando Andrew desceu de seu transporte, olhando para mim com aqueles olhos azuis tão lindos, meu coração palpitava como se estivesse prestes a explodir em milhões de pedaços. Se isso era um sintoma do amor, era uma sensação muito boa. As borboletas em meu estomago apenas faziam com que minha felicidade apenas aumentasse, pois nunca desejei me casar com alguém que não amasse, mas eu tinha tirado a sorte grande. Depois de dar ordens para o cocheiro ir embora, ele passou a caminhar em minha direção. Eu pensei em fazer o mesmo que ele, mas no momento estava congelada com a divina visão em minha frente. Ele estava de smoking com uma enorme capa negra amarrada ao seu pescoço jogada em seus ombros e até mesmo usando luvas brancas ele estava. Não havia nenhuma outra cor além de preto, apenas suas luvas branca e uma rosa vermelha recém recolhida em suas mãos. Andrew parecia estar saindo direto de um concerto de opera, pois seus trajes eram para essa ocasião. — Você está atrasado.— Eu falei, mas não realmente brava ou magoada por apenas um minuto de atraso. Isso foi apenas a primeira frase que veio a minha mente após ele finalmente ficar próximo de mim. Andrew sorriu e isso apenas fez que meu coração apenas passasse a palpitar ainda mais rápido. Ele já possuía um batimento acelerado em apenas saber que os olhos do meu futuro noivo pertenciam somente a mim e quando ele sorria, isso apenas piorava. O homem em minha frente não disse nenhuma palavra, ele apenas pegou minha mão repousada na bainha de meu vestido e se curvou para beijá-la. Eu não senti o tão gelado toque de seus dedos devido as luvas que cobriam suas mãos, mas assim que seus lábios um pouco avermelhados e macios encontraram o topo da minha mão, toda a frieza que eu esperava estava ali.— Eu não estou atrasado,— Ele começou após levantar seus lábios da minha pele somente um pouquinho, ainda curvado.— O tempo está apenas adiantado.— Eu soltei um pequeno riso por sua resposta e com isso, meu futuro noivo, voltou pra sua postura normal para encontrar meus olhos, mas ele não soltou minha mão. — Você está bonito essa noite.— O elogiei devido a roupa que usava, muito diferente do seu dia a dia. Hoje Andrew realmente estava vestido como um duque. — Pensei que estava bonito todos os dias que a visitei, cherie.— Falou Andrew.— Mas essa noite tive alguns compromissos que não poderiam ser cancelados, esse é o motivo por estar vestido assim e ter vindo tão tarde.— — Está tudo bem.— Eu disse, quando na verdade tudo que queria perguntar era onde estava, o que estava fazendo e com quem, mas uma dama não podia fazer isso, era tão errado para sua educação. Andrew me mostrou a rosa que estava segurando, que provavelmente pertencia a mim, mas antes que a entregasse, ele levou aquela rosa vermelha para seus lábios e a beijou. Só então que Andrew a esticou para que eu pudesse pegá-la.— Não está. Isso não é o certo de se fazer em seu aniversário.— — Meu aniversário é amanhã, Andrew.— Eu o lembrei, pensando que ele tinha esquecido desse pequeno detalhe. — Cherie, não é todo que se faz 20 anos.— Ele disse.— Então, todo dia é para se comemorar até que se faça.— — Obrigada.— Essa palavra saiu do fundo do meu coração após finalmente pegar a rosa que estava sendo segurada em minha frente. Meu aniversário não era tão comemorativo como os das


minhas irmãs. E era tão bom ter alguém, além de mim, que considerasse essa data tão boa. Meus olhos caíram sobre a rosa que eu estava segurando e apesar de saber que em dias ela secaria, essa flor estava tão cheia de vida mesmo sabendo que iria morrer e seu vermelho era tão hipnotizante que parecia que ela estava me convencendo de que sobreviveria muito tempo do que eu estava lhe dando. — O que foi?— Eu perguntei quando voltei a olhar para Andrew, que me observava em silencio com uma expressão diferente das que ele sempre usava. Havia algo de diferente em seus olhos, eu não sabia o que era, mas parecia tão bom e aconchegante. — Nada.— Ele disse.— Apenas estava observando sua alegria por ter ganhado essa rosa, parecia que acabará de ganhar uma joia muito preciosa.— — Você lembrou de mim, isso é mais precioso do que qualquer pedra cara.— — Eu nunca poderia esquecê-la, Roxanny.— Andrew soltou minha mão para que pudesse tocar meu rosto com as costas de seus dedos em uma lenta caricia.— Você é minha noiva.— — Não me chame de Roxanny.— Eu pedi educadamente, mesmo que meu nome verdadeiro ficasse tão perfeito nos lábios de Andrew, eu preferia apenas Roxie. Andrew deu mais um passo para perto de mim e se não fosse pelo meu maldito vestido enorme, tinha certeza eu iria poder sentir o corpo dele sobre o meu... Ok, isso era algo errado para se desejar, eu não deveria ter pensado algo como isso. Ele sorriu em minha frente e prendeu seus olhos aos meus, como uma cobra fazia com sua vitima antes de devorá-la. Seu sorriso era pequeno, mas eu via o divertimento existente nele, como se tivesse contado algum tipo de piada, mas o silêncio entre nós estava ao nosso redor já fazia alguns minutos.— Gostaria que a chamasse de Sra. Le Boursier?— Andrew sussurrou em minha frente, ainda acariciando meu rosto com seus dedos cobertos por aquela luva branca, fazendo com que minha respiração se tornasse quase inexistente, mas eu não respondi sua pergunta. Tudo que fiz foi aproximar meu rosto do de Andrew, mas ao mesmo tempo que fiz isso, recuei como se fazer aquilo fosse me machucar muito. E por algum motivo, eu ignorei o fato de que iria sofrer e novamente aproximei meu rosto do dele e mesmo quando o espaço deixou de existir, eu continuei até que sua respiração se tornasse a minha, até que meus lábios estivessem juntos com os dele. Andrew não deixou de segurar meu rosto com esse movimento de aproximação vindo de mim, pelo contrário, ele apenas me segurou com sua outra mão em minha cintura como se estivesse com medo que eu fosse fugir. Eu fiz o mesmo que ele com minha mão livre, a coloquei na lateral de seu corpo em quanto a rosa ficava ao nosso meio. Sentir seus frios lábios contra os meus que estavam quentes e provavelmente possuíam a mesma temperatura que minhas bochechas, me fizeram acordar para a realidade e sentir o constrangimento de tê-lo beijado. Afinal, uma dama não podia fazer isso antes de seu casamento, muito menos tomar essa atitude. Isso fez com que eu me afastasse de seus lábios tão rápido quanto pude. Deixar que Andrew pensasse que eu não tinha nenhuma educação era a última coisa que desejava, pois eu não aguentaria o fato dele desistir de nosso noivado e casamento. Eu...Eu estava apaixonada por ele para aguentar qualquer coisa que envolvesse separação. O som de um riso calmo e muito bem vindo fez com que meus olhos se encontrassem com aqueles azuis perfeito e o sorriso daquele homem com seu rosto a centímetros do meu, apenas aumentou.— Você fica tão linda quando perde toda sua coragem.— — Não perdi minha coragem,— Falei.— Eu sou corajosa como um leão.— Os olhos de Andrew riram assim como ele e saber que um homem tão misterioso podia sorrir e rir para mim, apenas me deixava ainda mais apaixonada. Eu me sentia tão amada por ele...— Venha aqui, minha pequena leãozinha,— Ele falou baixinho e se curvou para que seu rosto ficasse


próximo do meu.— Isso não é errado de modo algum.— E então, Andrew me beijou. Não foi nada comparado ao pequeno beijo que dei, aquilo foi apenas um rápido encostar de lábios e nada mais. Mas esse beijo era muito diferente de qualquer outro que eu jamais teria coragem de fazê-lo sem que Andrew tomasse a iniciativa. Eu sentia o quão frio eram os lábios dele ao se encostarem aos meus para nunca mais se separarem e parecia que eles tinham a intenção de me deixar gelada também. E o roçar de sua língua contra a minha a cada investida que ele dava, estava apenas fazendo com que me interior se esquentasse ainda mais, impossibilitando que os lábios tivessem chances de sequer ter uma minima chance de vencer. Eu virei meu rosto para o lado quando a realidade novamente se debateu contra mim como se fosse uma corrente quente, afinal, eu estava em frente de minha casa, meu pai estavaa acordado e se caso me visse fazendo essa impuridade, ele provavelmente me matariam. Meus olhos ficaram fixos na única janela que ainda era possível ver luz. Andrew parecia não estar nem um pouco preocupado com meus pais, pois mesmo quando virei meu rosto, ele continuou próximo e beijou o canto da minha boca já que não possuía mais ela. Ele encostou sua testa na lateral do meu cabelo e eu senti sua respiração fraca em meu ouvido. Eu desejava beijá-lo mais, beijar Andrew sempre me levava para outro mundo, me fazia sentir como se estivesse caminhando nas nuvens e era por isso que eu o ansiava tanto. Eu sempre me sentia bem vinda nesse mundo imaginario que ele me levava, então, era obvio que não desejava ficar aqui. — Não se preocupe, seu pai está dormindo.— Ele sussurrou. Eu afastei meu rosto de Andrew para que pudesse virá-lo novamente e encontrar os olhos azuis daquele homem tão misterioso. Minha cabeça gritava para perguntar como ele tinha tanta certeza de que meu pai estava dormindo, sendo que ele nem ao menos caminhou dentro de minha casa para saber isso. Era muito estranho como Andrew sempre sabia algumas coisas que parecia impossível saber. E era exatamente por isso que algumas vezes eu me odiava por ter nascido como mulher, pois damas jamais poderiam perguntar certas coisas, damas não tinham nenhuma liberdade para isso, mas eu sabia que o meu futuro marido era mais velho e possuía experiencia, deveria ser por isso que ele sempre sabia de tudo. — Não aqui.— Falei baixo ao invés de perguntar o que eu, realmente, deveria ter perguntado. Eu me afastei de Andrew completamente dessa vez, mas não quebrei a conexão que existia entre nossos olhos em quanto pegava em sua mão coberta por luvas. Meu único desejo agora era sentir o gosto dos lábios de Andrew, eu queria que ele me beijasse diversas vezes exatamente como me beijou agora pouco, mas parecia errado fazer isso na frente de casa onde qualquer pessoa poderia ver.— Venha.— Eu dei um leve puxão na mão de Andrew quando a peguei e me virei para a direção da minha casa onde existiam várias árvores que deixavam a noite ainda mais escura, mas antes que pudesse caminhar até lá, eu coloquei a linda rosa que ganhei de Andrew sob um banco que decorava nosso jardim, não possuía nenhuma intenção de perdê-la apenas por que estava com desejos proibidos. Mas todos casais faziam isso, mesmo antes de se casarem, eu apenas queria que Andrew me beijasse de uma maneira que me deixasse sentir que eu era somente dele, que me sentisse mulher. Eu não iria fazer como minhas irmãs que perderam a virgindade com homens que nem ao menos tinham intenção de casar com elas. Eu apenas queria me sentir amada. Andrew me seguiu sem fazer nenhum questionamento, ele apenas entrelaçou meus dedos aos meus


após ter pego em sua e mão e me seguiu em silencio para além daquelas árvores enormes até que chegássemos a um tipo de galpão de madeira que foi usado como deposito de armas no passado, por pessoas que provavelmente já estavam mortas há muito tempo. Eu abri a porta do lugar e assim que Andrew entrou logo atrás de mim a fechei rapidamente, com medo de que alguém pudesse nos ver. O lugar estava completamente escuro e eu nem ao menos podia apreciar os olhos de Andrew que tanto gostava, eu apenas podia senti-lo em minha frente e bem proximo.— Que lugar é esse?— Ele perguntou em um tom baixo. — Não pertence a minha família, mas minhas irmãs sempre o usam para encontrar seus namorados aqui, então não é abandonado.— Eu expliquei o mais resumidamente possível, eu não estava lá para explicar o que era esse tipo de celeiro perto da minha casa. — Oh,— Andrew passou suas mãos por minha cintura e trouxe meu corpo para mais perto do seu. — Você já trouxe algum namorado seu até aqui, cherie?— Eu sacudi minha cabeça rapidamente, mas quando me toquei que esse lugar estava escuro demais para que Andrew vesse minha reposta, eu resolvi falar.— Não, você é o único.— As mãos de Andrew acariciaram minhas costas e isso me causou um grande arrepio. — Ótimo.— Aquilo foi um sussurro e mesmo que não pudesse ver o rosto de Andrew, eu sabia que ele estava me encarando daquela maneira que poderia intimidar até mesmo anjos. Aqueles olhos azuis que eram cheios de misterios e frios, mas que ao mesmo tempo mostrava um brilho único, podia causar qualquer dano a alguém que o encarasse. Esperei que Andrew me beijasse, mas de repente a luz do luar se moveu e iluminou o rosto dele, eu fiquei feliz por isso ter acontecido, pois ficar em total escuridão era muito ruim. Mas nenhum beijo aconteceu, tudo o que houve foi um sorriso crescer nos lábios de Andrew, um sorriso muito diferente do que eu estava acostumada a ver, ele era um sorriso... diabólico. Esse sorriso me assustou um pouco e por instinto, tentei me afastar, mas ele me segurou ainda mais forte contra seu corpo, de uma maneira que estava machucando. Eu havia desviado meus olhos dele para que pudesse me livrar de suas mãos, mas quando eles voltaram para o seu rosto, aquilo não era mais um rosto humano. Meu coração passou a acelerar quando vi que veias negras estavam ressaltadas ao redor de seus olhos e aqueles azuis frios... Eles não existiam mais, era apenas a escuridão. Eu tentei gritar, mas parecia que minha voz havia fugido de mim e depois de tentar fazer mais um movimento inútil para fugir, Andrew aproximou seu rosto do meu pescoço e o mordeu, mas não senti todos os seus dentes ali, foram apenas quatros agulhas que estavam sendo enfiadas na minha jugular me causavando dor. Isso era a morte, eu sabia que era isso. ----Eu abri meus olhos. Meu coração estava acelerado, ele batia rapidamente como se alguém tivesse me assustado muito a ponto de quase passar mal devido ao susto, mas eu não estava assustada. Normalmente, após eu ter um pesadelo, eu levantaria rapidamente para saber que aquilo foi apenas um sonho, mas eu fui impossibilitada de levantar meu tronco quando olhos totalmente negros foi a primeira coisa que vi ao sair do mundo dos sonhos. Eu estava, aparentemente, deitada em uma cama e fui posicionada como se estivesse dentro de um caixão prestes a ser enterrado, meu corpo estava reto e minhas mãos sob minha barriga. Isso me deu um pouco mais calafrios do que ver a nova face demoniaca de Andrew com aqueles olhos negros


que serviam de espelhos e aquelas veias ressaltadas da mesma cor. O antigo rei dos vampiros estava sentado ao lado do meu corpo, com seus braços a cada lado do meu corpo e suas palmas apoiadas no colchão. E como se uma onde estivesse passando por seus olhos, aqueles azuis frios e cheios de maldades voltaram a dominar seus olhos. Sua face tão linda que poderia fazer qualquer fotografo passar mal, pela perfeição existente, havia voltado, mas a maldade ainda estava ali.— Teve bons sonhos, cherie?— Ele sorriu. — Você estava controlando minha mente.— Isso não foi uma pergunta, pois tinha certeza do que Andrew acabará de fazer.— Não me diga que isso é uma das suas novas cartas na manga.— — Posso controlar mentes de quem prefere encarar sonhos à realidade, esteja a pessoa dormindo ou não.— Ele disse.— Isso não é tentador?— Eu pisquei.— Eu estava dormindo?— Sussurrei, não para que ninguém me ouvisse, mas sim pelo fato da minha voz estar começando a falhar quando o medo passou a despertar. Eu não era idiota de não sentir medo, a última vez que estava acordada, pelo menos esperava que essa fosse a última vez, Andrew havia derrubado uma parede em cima de mim! — Eu vou deixar você descobrir isso.— Ele sussurrou de volta e seus olhos brilharam em divertimento. E por mais que eu já tivesse visto seus olhos brilharem dessa maneira no passado, nada era igual a antes. Havia apenas maldade ali, não bondade por estar apenas brincando com minha curiosidade. Andrew apenas não se importava com nada relacionado a mim. Eu respirei fundo e lentamente soltei o ar que havia puxado para dentro. Eu quis isso e haveria muitas consequências, me lembrei calmamente. Andrew estava me encarando em silencio como se estivesse esperando qualquer coisa de mim e tudo que fiz foi finalmente levantar meu tronco para me sentar na cama, saindo daquela posição de pessoas mortas e o fazendo se afastar de mim para me dar o espaço que precisava. Mas infelizmente, a força que usei para levantar meu corpo não foi o suficiente. Algo muito pesado me puxou para baixo novamente e eu ouvi o estilhaçar de correntes se debatendo perto de mim... Não, ele não tinha feito isso. Meus olhos se arregalaram e eu me levantei da cama rapidamente, fazendo Andrew se afastar de mim totalmente, para ver a enorme corrente que estava presa em volta do meu pescoço e depois os metros que ela possuía. E ao lado da cama, havia uma enorme argola de ferro que estava presa na parede e era exatamente dali que minha...Que aquela corrente, melhor dizendo, estava presa. Então caso eu quisesse me ver livrar dela, eu teria que derrubar aquela parede. — O que você fez?— Perguntei em descrença, levando minhas mãos até a corrente em meu pescoço. Eu não podia acreditar... — Eu não queria que meu novo animal de estimação saísse daqui para fazer bagunça em minha casa.—Andrew falou ainda estava sentado na cama em quanto me encarava. — É exatamente por isso que existem portas e chaves, Andrew.— — Mas isso não seria nada divertido.— — É claro que não.— Eu falei com ironia e cruzei meus braços. Então era isso, eu teria que me acostumar com essa coisa em volta do meu pescoço mesmo que ela fosse pesada e desconfortável. Eu franzi o senho após cruzar meus braços, pois a textura da minha roupa estava tão diferente...Meus olhos correram para baixo e eu não sabia se surpresa ou raiva dominava meu corpo. Eu estava vestindo um vestido preto, curto e muito apertado. Essa não era a roupa que estava usando quando fui ao encontro dele, na verdade, fazia muito tempo que eu não usava um vestido. E de longe usaria um vestido do tamanho de uma capa de travesseiro e tomara que caia. Eles não eram


nada confortáveis, mas pelo menos minhas booties ainda estavam comigo. — O que aconteceu com minhas roupas?— Perguntei com raiva. Andrew se levantou dessa vez e quebrou vários centimetros que existiam entre nós para que seus olhos ficassem fixos nos meus. Seu corpo não se encostou ao meu, mas podia sentir que ele me chamava para um encaixe tão perfeito e enlouquecedor que poderia acabar com o resto do meu orgulho. — Não aja como se estivesse ofendida.— Ele disse em minha frente, eu podia sentir sua respiração em meu rosto.— Eu conheço cada perfeição e imperfeição que existe em seu corpo, isso não é um problema. Alias, você estava suja de poeira e sangue, eu não a colocaria dessa maneira em minha cama— — Você não tem o direito, Andrew.— Fiquei furiosa.— Não toque em minhas roupas novamente quando eu estiver desacordada. Não toque em meu corpo sem minha permissão— Ele ergueu seu queixo com superioridade, seus olhos brilharam em ironia.— Como desejar.— — Estou falando sério.— — Eu também.— Não, ele não estava. Andrew se moveu um pouco para o lado, provavelmente estava caminhando em direção da porta atrás de mim para sair do quarto, mas antes que tivesse sucesso nisso, eu o segurei por seu pulso. A sensação de segurá-lo era...quente. Era primeira vez em minha vida que sentia Andrew ser mais quente que eu, mas obviamente não segurei para sentir a combinação da temperatura de nossas peles, isso foi apenas um ato por ser surpreendida. Com ele saindo da minha frente, pude encarar a janela. Uma janela tão grande que chegava ficar um palmo de encostar no chão, no teto e nas laterais da parede, ela me lembrava a mesma janela da central de Iawy por ser enorme, apesar do formato ser diferente. Mas eu não estava surpresa devido a janela grande com cortinas negras de veludo abertas, mas sim o que havia além dela. Eu não sabia explicar o que estava vendo, mas tudo indicava que eu estava dentro de uma caverna. Melhor dizendo, dentro de uma casa que se encontrava no interior de uma caverna. As paredes de pedras, o teto com alguns morcegos de ponta cabeça dormindo e a escuridão não me enganava, aquilo era uma caverna. Além do mais, muito mais pra frente existia a luz, a luz do dia que não avançava para dentro e o verde de uma mata borrada que existia lá longe. Senti Andrew se movendo para ficar logo atrás de mim, com seu corpo bem próximo de mim. Ele não fez nada para que eu soltasse seu pulso, mas eu o soltei. Principalmente quando o vampiro levou a mesma mão que eu segurava para meu pescoço e acariciou apenas com um dedo o começo da minha jugular, já que o resto estava sendo escondida por uma corrente grossa e pesada. Tentei me afastar para me livrar daquela caricia, mas Andrew me segurou exatamente onde eu estava para que não fugisse. E eu queria fugir, pois por mais que eu estivesse ao seu lado novamente para tentar trazê-lo a sanidade, não estava aqui para ser sua prostituta. Isso jamais aconteceria. Ele aproximou seu rosto do meu para que seus lábios ficassem próximos do meu ouvido e quando senti sua respiração em meu cabelo, eu afastei meu rosto um pouco para lado.— Não é magnifico? — Ele perguntou em um sussurro muito calmo, porem cheio de ameaças. — O que?— Eu não movi um músculo sequer, não quando os dentes de Andrew estavam próximos de meu pescoço. Ele poderia me morder, essa era a intenção de tudo afinal, mas mordidas de vampiros quando não estão envolvidas com prazer, elas costumavam machucar quando nos movemos muito. — Mesmo sendo dia ainda estamos envolta da escuridão.— Ele disse e soando muito parecido com Pierre.— A escuridão é maravilhosa.— — É assustador possuir uma mansão dentro de uma caverna, Andrew.— Fui sincera.


— Assustador.— Ele repetiu essa palavra que podia levar qualquer pessoa a loucura.— Você tem uma definição muito diferente do que é assustador, cherie.— — Por que?— — Você escolheu estar próxima de mim e Amethyst, duas pessoas que assassinaram a maior parte da população de Londres e que possuem muito sangue em suas mãos. Isso parece mais assustador do que a escuridão.— Eu me virei para ele e encarei aqueles olhos azuis frios e apesar deles não estarem negros, eles eram assustadores. Andrew permitiu que eu me virasse, mas sua mão ainda estava segurando meu braço. Pelo menos a caricia em meu pescoço havia acabado. — Por que eu nunca consigo sentir medo de você?— Eu perguntei ao invés de responder o que ele disse. Essa pergunta era o tipo de curiosidade que nunca me deixaria em paz, mas era uma realidade. Andrew conseguia me assustar, mas nunca me deixava com medo o suficiente para que eu desistisse dele. Eu nunca conseguia sentir medo dele, mesmo que me torturar esteja no topo de sua lista. — Você deveria estar perguntando isso para um medico de manicômio, não para mim.— Ironia, apenas isso. Eu senti uma pequena dor em meu coração ao pensar no quanto Andrew estava agindo como Pierre, até mesmo a maneira que estava falando lembrava seu irmão. Pierre também permitiu que sua alma se tornasse negra e para piorar, seu coração estava parando de bater, o que era um sinal de loucura. Lúcifer passou por isso também, ele até mesmo se afastou de nós nesse período e ficou fechado naquela mansão velha e mofada durante muito tempo até Emme aparecer e o puxar dessa loucura e escuridão. Mas infelizmente o vampiro de cabelos loiros matou um convento inteiro quando não conseguiu controlar sua raiva e loucura, mesmo Emme estando presente. Eu não sabia se o coração de Andrew estava parando, mas isso era algo a se preocupar. Meus olhos ficaram fixos na enorme janela atrás de mim quando olhei por cima de meus ombros, eu olhei para escuridão e a luz do dia que estava longe de mais para atingir esse quarto. Eu queria gritar, chorar e espernear no momento, mas eu já fiz isso durante 10 anos e já estava cansada de ficar escondida nos braços de Iawy ou de Lúcifer. Eu não deixaria que uma alma negra ou um coração sem bater tirasse Andrew de mim sem tentar recuperá-lo. Afinal, sempre existiria uma luz no final do túnel. — Roxie.— Eu ouvi meu nome sair dos lábios do vampiro em minha frente e isso rapidamente fez com que encontrasse seus olhos. Não sabia o motivo pelo qual quis minha atenção novamente, mas antes que ele tivesse chance de dizer qualquer outra palavra, eu fui mais rápida. — Seu coração está parando de bater?— — Por que se importa?— Ele me respondeu com outra pergunta.— Isso não a prejudicará de maneira nenhuma, não há motivo para se preocupar.— — Eu me preocupo.— Sussurrei. Andrew sorriu, um sorriso frio e misturado com sarcasmo. Ele também levou sua mão até meu rosto e a moldou em volta dele.— Talvez seja muito tarde para dizer isso.— Falou.— Você já me perdeu, mon amour.— Então eu vou recuperá-lo, isso era o que eu deveria dizer, mas nenhuma palavra saiu dos meus lábios. Tudo que fiz foi apenas tirar a mão de Andrew do meu rosto e me afastar. Ele permitiu que isso acontecesse sem dizer uma palavra. Nossos olhares ainda ficaram conectados por um par de segundos, mas o antigo rei dos vampiros acabou quebrando essa ligação ao dar as costas para mim e sair do quarto, me deixando sozinha. Eu aproveitei para dar uma bela olhada no quarto que pertencia a Andrew e era um quarto muito grande, o que me fazia perguntar qual era o tamanho dessa casa no final das contas. O quarto era refinado, assim como o gosto de Andrew, ele possuía um jogo de cores de preto e cinza, mas o que


chamava mais atenção era o enorme lustre de cristais a cima da minha cabeça. Sem contar que sua cama poderia agrupar mais de 10 pessoas e todas elas dormiriam muito bem pelo espaço sobrando. Ela era muito confortável. Há alguns metros de mim existia um sofá preto do modelo da era vitoriana, provavelmente colocado ali para apreciar a vista da janela ou o que estava na cama. Mas o pior não era isso e sim o que estava atrás dele. Havia uma parede de vidro que separava o quarto do banheiro e era apenas isso. Uma parede de vidro que não escondia nada o que acontecesse naquele banheiro também combinando com o quarto e uma banheira tão grande que poderia ser chamada de piscina. O único lugar com quatro paredes e portas era o closet que também ficava depois daquela parede de vidro. O quarto era elegante, apesar da falta de privacidade, combinava muito bem com Andrew. A única coisa que o estragava era a enorme argola que sustentava uma corrente grossa recém colocada no quarto. Estava obvio que era recente devido a tintura prejudicada na parede onde ela estava. Eu não me movi, apenas me virei para o espelho do banheiro que era um pouco menor da janela que estava ao meu lado direito e apesar de tentar puxar as correntes do meu pescoço algumas vezes com a ilusão de que a soltaria, foi mais a roupa que me incomodou. Eu estava parecendo uma vadia até demais. O vestido preto que Andrew ousou colocar em mim era menor do que até mesmo uma blusa e esse era o tipo de roupa que jamais usaria mesmo se o antigo rei dos vampiros ainda me amasse. Depois que meus olhos foram para as duplas portas do closet, não passou mais nenhum segundo que ficasse parada onde estava. Eu caminhei até ele, deixando que a corrente atrás de mim começassem a se movimentar e fazer barulhos, sentindo em meu pescoço o quanto aquilo era pesado. Eu abri aquelas portas apenas para ver mais escuridão mesmo depois de acender as luzes. Andrew possuía apenas roupas negras e não existia nem mesmo camisas brancas, que as vezes ele costumava usar, ou vermelhas. Era assustador, mas nada me deixou com tanta raiva quando meus olhos caíram em uma parte dos cabideiros que foram reservados para mim. Havia mais vestidos e todos eles eram pretos, todos iguais ao que estava em meu corpo. —Maravilhoso.— murmurei ao mesmo tempo que revirava meus olhos. Eu deixei de lado aquelas capas de travesseiros pretas e caminhei para perto das camisas de Andrew. Ele só podia estar louco que usaria aquelas roupas em quanto estivesse aqui, pois eu não estava se tornando sua prostituta de luxo. Não mesmo. Tirei do cabide uma camisa de mangas longas com a intenção de colocá-la para cobrir meu corpo, pois até mesmo uma camisa dele podia ser maior que esse vestido, mas antes de colocar essa camisa, a levei até meu nariz para cheirá-la. Ele ainda tinha o mesmo cheiro, aquela mistura de ervas daninhas com a chuva ainda continuava fresco e ainda mais perfeito. Eu tinha saudades desse cheiro em minha pele, muitas saudades. Eu respirei fundo e coloquei aquela camisa depois de me lembrar que o cheiro de Andrew não pertencia mais a mim e provavelmente levaria muito tempo para pertencer novamente, mas ficar lamentando o quanto sinto sua falta ao sentir seu aroma não iria fazê-lo ser meu de novo. Essa não era a intenção quando decidi sair da proteção de Iawy para permitir que minha barreira de sofrimento fosse quebrada pela única pessoa que consegue me destruir com um minimo detalhe, com uma única fala.


12Eu estava de frente com o espelho do banheiro tentando puxar aquela corrente do meu pescoço pela decima vez. Meu pescoço já estava vermelho implorando para que eu parasse, mas não era minha culpa se eu tinha me enrolado toda com aquelas correntes a ponto de ter medo de mover meu corpo para não encontrar o chão. Onde estava Andrew quando se precisava dele, afinal? Me colocar em uma corrente feito um animal feroz ele considerava uma boa ideia, mas sumia quando esse animal feroz estava prestes a se enforcar com aquela maldita corrente. Mas o antigo rei dos vampiros tinha sorte por não estar aqui, caso contrario até mesmo minha alma, que não é rara, ficaria negra com o humor que estava. A porta do quarto se abriu logo em seguida e interrompeu todos os meus pensamentos, infelizmente, eu não pude me virar para ver quem estava entrando, mas levantei meu rosto para matar essa curiosidade o que eu realmente não gostaria de ter feito quando vi Amethyst entrando no quarto, não Andrew. Meus pelos na nunca se arrepiaram apenas em vê-la entrando e quase caíram após ela me olhar com aqueles olhos assustadores e cheio de raiva. Ela continuava a mesma do que era há 10 anos atras, até mesmo seu estilo dos anos 60 ainda continuava o mesmo, hoje a bruxa até mesmo usava luvas até os cotovelos. Amethyst realmente fazia jus ao seu nome, uma pedra valiosa, mas eu podia sentir toda a raiva e ódio por mim que seu corpo transmitia. — Você.— Ela bufou.— O que está fazendo em minha mansão?— — Eu...— Tentei começar uma fala, mas antes que tivesse chances de continuar aquela feiticeira que encontrava meu olhar pelo espelho movimentou seus dedos para cima e uma corrente de ar passou por minhas pernas com a intenção clara de me derrubar no chão e após isso ter acontecido, Amethyst novamente movimentou seus dedos e meu corpo passou a ser arrastado pelo chão do quarto até que estivesse próxima dela. Meu coração estava acelerado e o medo estava consumindo meu corpo de uma forma que nem mesmo gritar consegui, eu apenas encarei seus olhos totalmente brancos exceto pelo ponto negro no meio deles. — Esse é o quarto do meu homem, não um galinheiro.— Uma explosão de raiva ocorreu em todo meu corpo varrendo todo o medo para longe da minha alma apenas por que essa feiticeira louca chamou Andrew de “meu homem”, não pelo fato de ter me chamado de galinha. — Seu homem?— Minha voz se alterou. Essa era a única coisa que poderia fazer já que estava presa ao chão, afinal.— Andrew preferiu fazer de seu quarto um galinheiro, então acho que está obvio que ele não pertence a você.— Eu vi seus olhos brancos pegarem fogo por um momento e logo em seguida me arrependi um pouco por não ter controlado minha raiva, pois ela novamente movimentou seus dedos e a corrente ao redor do meu corpo criou vida. Aquela enorme corrente parecia ser uma cobra quebrando os ossos de sua vitima, ela estava


esmagando meu corpo a ponto de minha pele começar a ser cortada. Eu não gritei, eu não gritaria na frente dessa vaca. — Eu pensei que você já estivesse mofando em seu caixão,— Ela disse.— Mas isso seria muita sorte, muita felicidade para o mundo aguentar.— — O-oque posso dizer?— Estava com dificuldades para falar, a dor não estava me deixando pensar também.— A ex-mulher sempre voltará para assombrar o ex.— — Você é um lixo.— Ela cuspiu aquilo de uma maneira que quase me convenceu que isso era verdade.— E Andrew sabe o quão sem valor você é.— Eu ri para não chorar, aquelas correntes estavam começando a sufocar. Eu não sabia o que fazer, mas provocar era a última coisa que deveria estar fazendo devido a situação que me encontrava.— Engraçado que mesmo ele sabendo, eu estou aqui.— Falei, pois eu não deixaria que uma vadia maldita chamasse meu Andrew de “meu homem”. Ele já possuía uma dona, mesmo não dando muito valor a mim, Amethyst tinha que procurar outro para ela chamar de “meu”. Amethyst nada respondeu, sua única resposta foi apertar ainda mais as correntes ao redor do meu corpo e quando chegaram ao limite do quanto minha carne podia aguentar, ela começou a se encaixar dentro dos cortes que já haviam sidos feitos. Eu gritei dessa vez, pois por mais que não quisesse dar esse gostinho a essa bruxa a cima de mim, havia um limite de dor que eu podia aguentar. Os olhos quase brancos de Amethyst, eu pude ver, que brilharam de alegria conforme meus gritos aumentavam, ela estava ficando cada vez mais satisfeita conforme as correntes se adentravam em minha pele e abriam espaço em minha carne. Lágrimas logo começaram escorrer dos meus olhos na mesma frequência que meu sangue escapava do meu corpo. Eu queria desmaiar ou até mesmo ter minha primeira morte nesse exato momento, a dor de ter aquela corrente se infiltrando em meu corpo e nem ao menos poder fazer algo para tirá-la ou simplesmente revidar estava causando um enorme buraco em meu cérebro. Não poderia aguentar por muito tempo e eu estava feliz por isso. — Pare.— Eu ouvi a voz de Andrew soar tão calma que fez com que meus olhos se abrissem depois de tê-los fechados para esperar que tudo acabasse. O vampiro estava presente no quarto novamente e dessa vez era do corpo de Amethyst que ele estava próximo, não do meu. Andrew estava parado atrás de Amethyst como uma estatua, ele segurava o pulso dela onde seus dedos estavam fechados em um punho. Ela continuava prestar mais atenção em meu sangue escorrendo do que estar maravilhada por “seu” homem estar atrás dela.— Pare de machucá-la, Amy. — Amy?! Ótimo, agora eles tinham apelidos carinhosos. Amethyst ouviu a voz de Andrew, aparentemente, apenas depois dele chamá-la dessa maneira carinhosa. Eu não fiquei feliz com esse carinho, mas as correntes pararam de esmagar meu corpo como uma cobra fazia quando estava prestes a se alimentar assim que a feiticeira desfez seu punho. Apesar dela parecer mais calma após Andrew chegar, seu olhar não enganava o ódio que sentia por mim. Amethyst se livrou da mão de Andrew que ainda segurava em seu pulso apenas com um movimento rápido, seus olhos fixos em mim estavam matando e torturando todo meu corpo. Havia promessas neles que isso não tinha acabado, promessas de que muitas torturas iriam vir.— Aproveite sua estadia, Roxie,— Ela começou tão fria quanto o sangue de uma cobra.— pois ela será muito curta. — A bruxa louca não disse mais nenhuma palavra, ela recuperou toda sua dignidade que nem ao menos tinha perdido e se retirou do quarto sem olhar para Andrew, como se ele nem ao menos estivesse ali tão próximo dela e após ela ter saído, eu ouvi o barulho de coisas encontrando a parede e o chão, um grito cheio de raiva e mais sons de objetos sendo destruídos.


Em quanto isso aconteceu Andrew ficou imóvel em minha frente como se de alguma maneira Amethyst também tivesse o machucado e ainda o torturava em quanto quebrava muitas coisas lá em baixo. Eu usei meus braços para me ajudar a sentar e apesar da dor que me causou, tive sucesso nisso. Acho que nessa posição seria mais fácil de tirar as correntes de dentro do meu corpo para deixá-lo se cicatrizar. E delicadeza foi a última coisa que usei quando puxei um pedaço daquela enorme corrente do meu braço com toda minha força apenas de uma vez só. Eu soltei um grande gemido que poderia ter sido considerado como um grito, mas ele não chegou a esse nível. Andrew olhou para mim como se esse gemido tivesse o tirado da sua hipnotização por Amethyst e logo em seguida ele se abaixou perto de mim com a intenção de me ajudar. — Não.— Eu neguei sua ajuda, me movendo somente um pouquinho para o lado, para longe das mãos de Andrew. Ele sabia que Amethyst teria essa reação, ele sabia desde o começo que ela poderia me matar e eu não podia simplesmente aceitar ajuda de uma pessoa que conhecia o futuro tão bem quanto um profeta. — Eu quero ajudá-la, Roxie.— Ele disse colocando uma mão em minha cabeça, segurando meus cabelos para que meus olhos se encontrassem com os seus.— Não irei machucá-la.— Meus olhos se encontraram com aqueles azuis tão intensos assim como ele desejou e apesar de eu poder ver como sua alma estava negra, pedindo por mais e mais mortes, havia sinceridade neles. Eu obriguei minhas lágrimas a pararem de escorrer por meu rosto e depois que vários segundos se passaram, acenei para Andrew com minha cabeça, o permitindo que ajudasse a tirar aquela corrente de dentro do meu corpo. Andrew foi cuidadoso ao fazer isso, após se sentar ao meu lado, ele retirou cada parte daquela corrente em uma delicadeza que jamais pensei que existiria vindo dele. Eu pensei que sendo cuidadosa seria pior, mas ele conseguiu retirar aquela corrente que abriu espaço em minha carne de uma maneira que nem ao menos senti quando a tirou dali. Em todo momento que ele trabalhava para tirar o resto da corrente, eu fiquei olhando em um ponto fixo na perna ondular de sua cama. Não havia nada de interessante ali, mas era melhor do que ficar olhando igual uma pateta para Andrew, que estava tão próximo de mim. E depois que minutos se passaram e Andrew parou de tocar em meu corpo, mas não se moveu e nem ao menos disse algo, eu finalmente tomei coragem para olhar em sua direção. As correntes já haviam ido, somente permaneceu a volta que se encontrava em meu pescoço, a volta que me mantinha presa nesse quarto igual um animal. Meu corpo estava se cicatrizando em processo lento, mas estava, conforme isso acontecia, a dor ia embora e foi exatamente por isso que não tive muitas dificuldades para virar meu corpo na direção de Andrew. Ele estava próximo de mim, muito próximo, mas não foi isso que chamou a atenção dos meus olhos, nem a dos dele. Andrew estava com seu rosto baixo e olhando fixamente para seus dedos sujos com meu sangue. O vampiro parecia estar com vontade de lambê-los e se deliciar com o gosto, mas ele era muito digno para isso. Andrew nunca faria isso por dois simples motivos. Um deles era que ele gostava de se alimentar em copos finos ou direto de uma fonte e o outro era por que ele devia saber sobre o que Amethyst fez com ele, deveria saber que se ele tirasse o sangue dela fora de seu sistema, sua alma voltaria ao normal. — Qual é o gosto?— Eu perguntei em vez de simplesmente dizer “Vamos lá, tome todo o meu sangue.”. Essa simples pergunta fez com que seus olhos azuis se encontrassem com os meus, fez com que Andrew fechasse seus dedos como se meu sangue não tivesse o sujado.— Eu sou uma imortal diferente e até noite passada ninguém nunca provou meu sangue.— Fui sincera, apesar de omitir a parte do que eu realmente era. — Tem o mesmo gosto de quando você era humana.— Ele disse, fazendo uma pausa.— E é quente


apesar de ser tão gelada.— — Eu não pensei que seria quente.— Murmurei. — Cherie,— A ironia dominou sua voz.— Você nunca pensa em nada.— — Muito engraçado.— Falei ao mesmo tempo que desviava meu olhar dele, me preparando mentalmente pela pequena dor que teria ao me levantar do chão e por mais que não desejasse isso, o momento em que Andrew me tratava feito gente tinha acabado. — Venha.— Andrew me surpreendeu ao falar e esticar sua mão suja com meu sangue em minha direção, oferecendo ajuda para me levantar. Eu não deveria, mas acabei colocando minha mão sob a dele para que me levantasse. Parecia surreal, parecia que tudo isso era um sonho. Eu não conseguia acreditar que Andrew estava sendo tão bom comigo... Ele me levantou do chão apenas com um puxão e em meio caminho para ficarmos de pé, Andrew segurou minhas costas para que não me machucasse, já que todo o peso do meu corpo estava sendo puxado apenas por um braço. E novamente, após ficarmos de pé, o vampiro quebrou todo o espaço que podia existir entre nós, mas agora, ele segurava minhas costas e minha mão com firmeza, sua respiração fraca estava se tornando a minha e seus olhos por um momento tiveram um flash de algo. Algo inexplicável e desconhecido, mas após segundos se passarem aquele brilho em seus olhos acabou, o que me fez pensar que podia ter sido minha imaginação ter pensado que a maldade não estava mais liderando seus olhos azuis. — Ele ainda está batendo.— Andrew falou baixo, calmo, seus olhos fitando os meus como se esperasse que algo muito importante acontecesse dentro deles. — O que?— Eu estava definitivamente perdida, meu cérebro jamais funcionaria de jeito nenhum em quanto ele me encarasse daquela maneira, em quanto ficasse tão perto de mim e me segurasse como se estivesse gostando. — Meu coração.— Ele disse.— Ele ainda possuí batidas fortes e quentes.— — Quentes?— Forcei minha voz a sair quando ela pareceu se trancar dentro de mim, tão apavorada quanto eu se perguntando qual era a intenção de Andrew afinal. — Muito quentes.— O minimo de um sorriso ironico surgiu em seus lábios. Eu pensei que ele simplesmente diria outra coisa cheia de sarcasmo, mas tudo que fez foi mudar o modo que segurava minha mão para levá-la direto pra seu peito, exatamente onde existia seu coração, onde apenas uma camisa fina e negra impedia de sentir sua pele.— Você o sente?— Sussurrou. Eu sentia. Eu sentia cada batida rápida e forte que seu coração fazia, ele se demonstrava estar cheio de vida e não parecia ter nenhuma chance de parar. Andrew definitivamente tinha mudado, mas seu coração não. — Andrew...— A porta se abriu e uma nova mulher entrou no quarto, quero dizer, ela não entrou, apenas congelou onde estava. Mas isso foi o suficiente para Andrew e eu nos afastarmos exatamente quando dois gatos eram pegos fazendo algo muito errado e já que todos meus ferimentos haviam sido curados, eu não precisaria de sua ajuda mais.— Me desculpe, não imaginei que estaria com... Oh Deus, quem quero enganar afinal? Eu sabia que haveria alguém aqui...— — Saphyre.— Andrew disse, aparentemente, o nome daquela menina que aparentava ter a minha idade ou no máximo 18 anos. Ele disse seu nome com a intenção de acalmá-la, pois a garota parecia estar entrando em um colapso nervoso e não pararia de falar até que voltasse a ficar calma por ela mesma. Essa menina, Saphyre, tinha cabelos longos, negros e com grandes cachos. Ela usava um boné que tampava seus olhos, mas o resto do seu rosto que estava visível, lembrava muito o de Amethyst. — Eu sinto muito.— Ela disse respirando fundo.— Não tinha intenção de atrapalhar... o momento, talvez?— — Não havia momento algum.— Eu disse, com meus olhos fixos nos de Andrew. — Ela está certa.— Ele concordou comigo e isso fez com que meus olhos fossem para Saphyre.


— Amethyst estava quebrando tudo lá em baixo e eu fiquei com medo...— Saphyre disse.— Eu sinto muito.— Apesar dela usar esse boné que tampava seus olhos e roupas tão largas que eram muito maiores que seu corpo, Saphyre parecia uma boneca com medo de ser trocada por outra nova, com medo de que a deixassem de lado e em sua voz podia notar que isso já havia acontecido. — Saphy, essa é Roxie.— Andrew disse gentilmente para ela.— Ela vai ficar conosco por um tempo.— — Oh,— Ela soou surpresa e feliz ao mesmo.— Essa é a sua esposa?— Eu quase me afoguei com minha própria saliva após essa pergunta tão constrangedora e novamente encontrei algo muito interessante no pé da cama que estava ao meu lado. Eu definitivamente não responderia essa pergunta. E Andrew provavelmente estava pensando da mesma maneira, mas alguém teria que agir e não seria eu. — Não.— Uma resposta curta e direta. — Mas você disse que quando vampiros se casam é algo eterno... Mesmo que a pessoa morra.— Ok, apesar do constrangimento, eu estava gostando dessa garota.— Você mentiu para mim?— Ela pareceu estar ofendida agora. — Não.— Andrew disse rapidamente.— Eu não menti. Roxie ainda é minha esposa... De certa forma.— — Entendo... Vocês são iguais aqueles casais em filmes que estão em crise mas não conseguem ficar longe um do outro?— Ela a sua animação retornou. — Saphyre, agora não é uma boa hora para responder suas perguntas.— — Ok, me desculpe.— Ela disse, contendo sua animação e aparentemente lançando seu olhar para mim, me estudando com curiosidade.— Por que você esta suja de sangue?— Eu olhei para Andrew, por incrível que pareça eu estava com medo do que dizer para ela. Saphyre parecia ser tão frágil, tão fechada em um mundo só dela para que ninguém a machucasse... O vampiro ao meu lado acenou, me permitindo dizer a verdade sobre o que tinha acontecido, já que não havia dito nenhuma desculpa.— Eu me encontrei com Amethyst.— Saphyre abriu seus lábios como se fosse dizer algo, mas nada acabou saindo de sua boca. Ela apenas abaixou sua cabeça em silencio e permaneceu daquela maneira por alguns segundos..— Acho que você ficará sabendo disso a qualquer momento...— Saphyre falou, me confundindo. Ela olhou para cima e foi o mesmo que não olhar, pois seus olhos ainda continuavam escondidos pela aquela aba de boné, mas logo isso mudou. Saphyre tirou aquele boné branco e rosa de sua cabeça e olhou para mim, me deixando chocada. Essa garota em minha frente que causou um grande constrangimento entre Andrew e eu a poucos minutos, era uma feiticeira. Seus olhos eram exatamente iguais ao de Charles e Amethyst, olhos azuis que chegavam ser quase brancos e com pupilas negras, olhos que eram marca registrada entre bruxos. Mas havia um detalhe, algo bem diferente dos dois bruxos que conheci em toda minha vida. Seu olho esquerdo, apesar de ter uma franja grande em sua frente, era possível ver pequenas veias vermelhas que apareciam quando seus olhos estavam irritados, essas veias eram finas, mas estavam por toda parte do branco e daquele azul muito claro até que se encontravam em sua pupila negra.— Eu sou a irmã mais nova de Amethyst, mas não tenha medo de mim.— _________________ Choque passou por todo o meu corpo e eu me controlei muito para não me afogar com a saliva novamente, pensar que Saphyre seria a irmã mais nova de Amethyst estava em ultimo lugar na lista do que essa garota de, aprentemente, 18 anos podia estar fazendo junto com ela e Andrew nessa mansão.— Oh,— Eu tentei deixar minha voz normal, mas era impossivel.— Isso explica os nomes de pedras.— — Ela está com medo de mim, Andrew.— Saphyre disse com um tom que demonstrava que estava magoada.— Eu não devia ter falado...—


Meus olhos encontraram com os de Andrew por alguns segundos e raiva surgiu naqueles azuis impecáveis. Eu sabia que o motivo disso ter acontecido era por ter deixado Saphyre assim, mas ela parecia tão determinada e corajosa que era impossivel seu humor ter mudado assim. E Andrew se importava com ela, ele não queria a ver assim... Isso era estranho. — Não.— Eu disse antes que Andrew me jogasse pela janela.— Eu... É um prazer conhecê-la, Saphyre.— Sorri. — Mesmo?— Ela sorriu de volta, apenas demonstrando o quanto bipolar podia ser.— Eu sabia que você era legal, Andrew não se casaria com uma pessoa que não fosse perfeita para ele.— Saphyre não deu tempo para ninguém dizer nenhuma palavra, nem mesmo o tempo para ficar constrangida com seu infeliz comentário deu, a pequena feiticeira apenas fechou a porta do quarto e foi embora, se esquecendo totalmente do real motivo por ter vindo até aqui. Eu encarei a porta do quarto de Andrew por alguns segundos esperando que Saphyre voltasse, mas nada disso aconteceu. Então, me virei para Andrew. — O que aconteceu com o olho dela?— Perguntei, algo que jamais perguntaria para Saphyre, não com ela tendo um humor tão bipolar. Andrew suspirou, demonstrando que toda sua paciencia em me aguentar tinha ido embora junto com a pequena bruxinha. Ele estava distante agora, seu olhar prometia a dor se eu fizesse algo totalmente errado.— Duas pedras caras juntas irão valer muito mais que milhões.— Ele começou a explicar.— Agora as imagine separadas, elas não terão o mesmo valor.— — O poder de Amethyst e Saphyre são maiores quando estão perto uma da outra?— — Sim.— Andrew concordou comigo.— Mas Saphyre não gosta muito das atitudes de Amethyst e já fugiu muitas vezes. Seu olho é a consequência de um feitiço, um feitiço que funciona como um rastreador, sendo assim, ela nunca pode fugir.— Tão desumano quanto Amethyst poderia ser, eu pensei comigo mesma, já que jamais poderia falar algo como isso em voz alta. E mesmo não falando nada, acho que Andrew acompanhou meu pensamento, já que ficou me encarando por todo tempo que permaneci em silencio.— Eu irei atrás de Saphyre e darei privacidade para que possa se trocar e tomar banho, mas não pense que isso acontecerá todos os dias, cherie.— Ele disse, seus olhos tão profundos quanto o oceano.— Eu gosto muito de apreciar aquilo que me pertence.— Eu esqueci de respirar definitivamente. Era impossivel pensar em fazer esse ato com aqueles olhos azuis presos em você e uma coisa era certa, Andrew não era um feiticeiro, mas o vampiro sabia exatamente como hipnotizar alguém. Talvez ele fosse mais poderoso que bruxas, afinal. Quando Andrew se moveu para sair do quarto, eu dei um passo para trás. Não era medo, não podia ser medo, mas a eletricidade que existia em todo o corpo de Andrew parecia me fazer vacilar toda vez que ele bancava o macho alfa, o que era sempre. E eu teria que superar isso, pois Andrew não parecia ter o minimo interesse em provar e se alimentar do meu sangue, eu teria que enfrentá-lo sem baixar a cabeça nessa guerra, caso contrario, minha vinda até aqui seria inútil. Agora eu olhei para o chuveiro e esqueci todos os meus antigos pensamentos, pois tomar um banho lento e muito relaxante era minha prioridade, mas nesse quarto onde existia apenas uma parede de vidro para separar o quarto do banheiro, isso seria quase impossivel acontecer, mas se eu deixasse a água quente talvez o vapor embaçasse o vidro a ponto de não ser mostrado nada do outro lado. Isso era uma ótima ideia. *** Já fazia horas que eu estava sentada naquele sofá antigo e não ouvia mais nenhum som de Amethyst quebrando toda a mansão pela raiva que sentiu por me ver aqui, também nenhuma outra pessoa ousou entrar no quarto, nem mesmo Andrew. E agora que havia passado muito tempo sozinha, eu já havia formulado vários tipos de planos de como o vampiro poderia tomar meu sangue, um deles era me cortar e atentá-lo. Isso sempre funcionava. Eu estava abraçada com meus joelhos e com minha cabeça deitada neles, olhando fixamente para a


janela ao meu lado. A noite já havia caído a algum tempo e agora eu não via mais nada além de escuridão. Não havia como ver algumas partes da caverna, os morcegos no tetos, a mata e a luz no inicio dela. Nem mesmo a luz do luar tinha força o suficiente para iluminar esse lugar tão negro. Negro... Por que eu estava começando a odiar essa palavra e cor? Era estranho que Andrew tratasse Saphyre tão bem, pensei que uma alma negra iria faze-lo odiar a todos e não ter exceção para ninguém, mas por que com ela era diferente? Eu sabia que os momentos que ele me tratava bem, sem que não ganhasse um hematoma, era por se sentir atraído por mim. Como qualquer homem se atraia por uma mulher bonita. Andrew deixou isso claro para mim, então não tinha como acreditar que ele estava ficando comovido com minha presença e sua alma até mesmo mudaria de rumo. Os bons momentos que meu coração parava de bater por ele e sua voz baixa, aqueles olhos pertencendo a mim novamente, só tinha a intenção de me levar para cama e apenas isso. Andrew não me amava mais, ele não se importava mais e isso doía tanto quanto saber que ele preferiu ficar ao lado de Amethyst do que junto comigo. Mas pelo menos ele não sentia nenhuma necessidade de me manter afastada dele, muito pelo contrário, Andrew apenas me desejava perto para que pudesse me machucar e jogar diversas vezes em minha cara o quanto destruí sua vida, o quanto foi minha culpa Pierre morrer e muitas outras coisas que aconteceram ao longo do tempo. Por um lado, a imortalidade era uma droga, pois diferente dos humanos, os imortais parecem errar muito mais e sempre terão uma pessoa que apontará todos os erros que cometeu mesmo em séculos passados. Andrew era essa minha pessoa e eu apenas queria ter um pouco mais de capacidade para aguentar ele criticando todos os meus erros. Na verdade, eu queria nem ao menos conhecer esse sentimento de amar alguém e saber que ele me despreza totalmente. Não era minha culpa que a morte de Pierre tenha acontecido, aquele vampiro já estava condenado a morte desde que seu coração parou de bater, Andrew apenas ignorou isso por ser seu irmão, a única pessoa que se importava com ele. Não era certo alguém matar seu próprio irmão, mas não era certo o que Pierre estava fazendo. Andrew tinha que ter posto um basta nisso muito antes que eu entrasse em sua vida novamente. Pierre era um monstro e eu não tinha culpa nisso. Eu queria voltar para casa. Não para a central de Iawy, não para a mansão real, não para a mansão de Nyx ou o nosso antigo apartamento. Eu desejava voltar para a casa imaginaria que existia nos meus pensamentos mais profundos, o qual não existia sangue, mortes e imortalidade. O sonho em que toda mulher provavelmente tem de ter uma simples casa, filhos, um cachorro e um sofá muito confortável para se aconchegar com seu marido quando ele chegasse do trabalho e permitisse que ele fizesse carinhos de amor em você. Os carinhos que acabariam logo devido ao barulhos dos filhos saindo do quarto deles com o cachorro para abraçar o pai e brincar com ele. Essa era minha casa imaginaria, um lugar que jamais existiria. Novamente, muitas vezes a imortalidade era uma droga. Talvez estivesse errada em desprezar tanto a vida sem morte, pois quando me tornei mortal depois de mais de 300 anos viva, voltar a ser imortal era uma prioridade e agora estava chamando esse tipo de vida de droga, mas não existe vida eterna sem Andrew. E mesmo que o antigo rei dos vampiros voltasse a ter uma alma equilibrada, onde a escuridão não dominava tudo, eu não sabia o que aconteceria com nosso relacionamento. Eu nunca vi relatos de alguém que possuía uma alma negra e continuava respirando até hoje, Andrew podia ficar perturbado e não me querer perto devido as coisas que aconteceram em geral. Eu não sabia o que


aconteceria com sua cabeça de mais de mil anos quando voltasse a ser sã. Acho que isso era muito mais assustador do que saber que sua alma inteira estava negra. O barulho de uma porta sendo aberta cortou todos os meus pensamentos, mas eu não olhei em direção dela, apenas continuei com meus olhos fixos na escuridão daquela caverna. Não havia motivos para olhar, eu acho que só existia 3 pessoas nessa casa que entrariam nesse quarto e duas delas tinham intenções malignas demais para ter vontade de encontrá-la com meus olhos. — Roxie.— Eu franzi o senho após meu nome ser chamado e pisquei lentamente... Essa era a voz de Charles? Eu me levantei do sofá que estava e rapidamente uma explosão aconteceu para mandarem todas as cores e moveis embora do quarto, me deixando em uma sala totalmente vazia e branca. Ela era tão clara que fazia meus olhos doerem e eu não estava sozinha nela. — Charles,— Eu disse surpresa, encontrando seus olhos anormais.— Oi.— Sorri. — Por Deus, Roxie, tire esse sorriso de seu rosto.— Charles parecia estar com raiva, mas mesmo assim continuava educado. Como um cavaleiro que jamais esqueceria seus modos, diferente de Andrew.— Você se junta a dois psicopatas sedentos por sangue e ainda tem coragem de sorrir?— — Eu sinto muito por ter fugido sem dizer nenhuma palavra a vocês, mas ninguém, além de Lúcifer, aprovaria essa atitude.— — Você está certa.— Ele disse com um pouco de sarcasmo. Eu mordi meu lábio inferior e senti um pouco de culpa percorrendo meu corpo, pois por mais que em minha mente essa seja a coisa certa a se fazer, não deveria sair correndo apenas com o consentimento de Lúcifer. Lúcifer era louco e ninguém, além de Andrew e Emme, dava moral para ele. Deixei muitas pessoas preocupadas por causa disso e mesmo que Nyx merecesse isso depois das coisas que disse, Iawy e Charles não mereciam de nenhum jeito.— Me desculpe.— Os olhos de Charles estavam ferozes, mas depois que tomou um leve suspiro, eles voltaram a ser calmos e serenos.— Apenas me diga que está dormindo, não desmaiada devido as torturas que ele causou a você e assim aceitarei suas desculpas.— — Eu estou dormindo?— Perguntei confusa.— Isso é um sonho? Você pode falar comigo através de um sonho, Charles?— — Existem muitas coisas que posso fazer, minha querida.— Ele disse.— Mas sim, isso é um sonho. — — Não estou desmaiada.— Respondi o que ele desejava antes que esquecesse.— Andrew não fez nenhum mal a mim além de me acorrentar em seu quarto.— — Ele não fez nenhum mal ainda.— Charles me corrigiu. — Andrew irá me machucar muito, mesmo quando sua alma não estiver negra.— — Não sei o que houve nessa pequena reunião que foi falado sobre Andrew e sua alma, pois eu fui deixado de fora, mas é perigoso, Roxie... Amethyst provavelmente está dormindo no quarto ao lado do seu agora e as chances de Andrew ser salvo é tão pequena quanto você descobrir um novo amor. — — Ainda assim há chances.— Falei calmamente, eu não queria brigar com Charles, ele era especial para mim de alguma forma e não merecia isso.— Não posso aceitar que ele seja morto sabendo que posso salvá-lo. Não me peça para virar as costas para a pessoa que mais amo em minha vida como se ela não significasse nada— — Roxie...— — Se você me amasse, você lutaria por mim mesmo quando todos falassem que não existem esperanças.— Falei.— E eu o amo, Charles, não importa quantas vezes ele mate ou me torture, Andrew sempre vai ser o dono do meu coração.— — Amethyst é uma feiticeira poderosa, ela foi escolhida pelos deuses para se tornar uma criatura sobrenatural e mesmo que não possa morrer, essa bruxa descobrirá um jeito de dar um fim em você se desejar e esperar que Andrew a proteja disso será errado, pois você não sabe o que se passa na cabeça dele. Você, Roxie, pode amá-lo como antes, mas ele não te ama mais.— — Eu sei disso.— Como sabia...— E isso ainda não me faz querer voltar para casa.—


Charles parecia indignado, mas diferente de Nyx, não estava colocando sua opinião como prioridade. Ele apenas estava preocupado comigo, me lembrando muito bem da dura realidade que estavamos sofrendo. O feiticeiro ficou em silencio por algum tempo e continuou com seu olhar fixo no meu. Charles suspirou novamente e revirou seus olhos quase brancos.— Eu irei visitá-la em seus sonhos todas as vezes que conseguir encontrar sua mente, Roxie, e se nas próximas vezes que isso acontecer nada estiver indo bem como planeja, eu vou buscá-la. E não me importo de entrar em uma batalha com Amethyst que possa custar minha vida.— Eu sorri.— Obrigada, Charles.— — E não confie em Andrew, não em quanto sua alma estiver negra.— — Tudo bem.— — Mas acima de tudo, não diga o que você é.— Charles falou, novamente pedindo segredo sobre eu ser uma estrela, o que era muito estranho.— Não deixe que Amethyst saiba disso.— — Por que não?— Perguntei, não conseguindo conter a curiosidade dessa vez. — Você foi criada por apenas um Deus e assim como Lúcifer, ambos tem muitos mais poderes do que todas as criaturas sobrenaturais que foram criadas em conjunto pelos Deuses. Isso é perigoso quando a pessoa errada descobre sua origem.— É, eu tinha o poder de congelar tudo o que quisesse, mas o gelo andava mais derretido do que pronto para matar alguém... Grande poder. — Não se preocupe, eles nunca ficarão sabendo.— Foi o que eu disse ao invés de ser ironica. — Ótimo.— Ele disse e tocou minha bochecha com seus dedos quentes, pulsantes e longos em uma caricia.— Mantenha sua mente limpa e eu aparecerei em seus sonhos. Minha querida, tome cuidado.— — Charles,— Eu disse calmamente, sentindo uma leve queimação em meu estomago quando o feiticeiro acariciou minha pele e seus olhos pertenceram somente a mim. Já fazia muito tempo que eu não recebia um olhar desse tipo...— Se Andrew não tivesse aparecido em minha vida, eu seria apaixonada por você ainda.— Um pequeno sorriso surgiu nos lábios de Charles, ele era tão pequeno, mas demonstrava sua satisfação.— Que pena que ele tenha aparecido.— — Eu ach...— Um liquido quente e grosso foi jogado em meu rosto, me fazendo acordar e deixar Charles sozinho em outra dimensão de minha mente, fazendo meu coração acelerar como se tivesse corrido mais de mil km pelo susto. Andrew estava de pé ao lado do sofá que acabei dormindo e segurava uma taça de cristal, que antes, estava cheia de sangue. Agora todo o liquido estava em meu rosto e escorrendo rapidamente para meu pescoço. Eu havia me levantado e isso explicava o fato do sangue estar escorrendo para o resto do meu corpo, raiva passou por mim de uma maneira totalmente desconhecida mais pelo fato dele ter jogado sangue em mim do que ter me acordado. Normalmente eu deveria sentir nojo desse liquido, mas eu não sentia. Não quando sangue foi meu alimento durantes séculos. — Me perdoe, cherie.— Ele disse quando o fuzilei com meus olhos, seu tom tão ironico como uma adaga afiada.— Eu estava a salvando de um parasita que invadiu sua mente.— — Você pode escutar meus pensamentos?— Essa foi a única coisa que passou por minha mente. — Não.— Andrew me respondeu friamente, olhando para sua taça vazia e lamentando por isso.— Mas eu sei quando existe outro macho querendo roubar minha fêmea.— Minha resposta foi simplesmente revirar os olhos em revolta, mas não consegui me manter em silencio por muito tempo.— Eu não sou sua, Andrew, não mais.— Uma mentira bem dita, eu sempre seria dele. — Mesmo?— Ele segurou seu sorriso ironico.— Eu acredito em suas palavras.— — Ótimo.— Fui seca, mas em minha mente me perguntava como ele conseguia acreditar em algo que nem mesma eu conseguia colocar fé. Andrew deu alguns passos para trás e pegou uma toalha branca enorme que usei para enxugar meu corpo após tomar banho que havia deixado em cima de sua cama e a mostrou para mim antes de


jogá-la em minha direção.— Limpe-se.— Ele disse essa única palavra de uma forma tão seria que me causou calafrios. A ironia e seu divertimento negro havia ido embora. — Por que?— — Por que?— Ele riu amargamente.— Nós sairemos para um passeio romantico. Isso não a alegra, cherie?— — Não.— Fui sincera, pois os olhos de Andrew estavam mais assustadores do que nunca agora. Ele arqueou sua sobrancelha perfeitamente e seus olhos brilharem em ironia.— Então será magnifico arrastá-la por essa corrente para fora da mansão.— Ele me encarou.— Vá se limpar agora.— Eu respirei fundo e deixei meu orgulho de lado, pois se fosse da maneira de Andrew, ele me machucaria muito. Dessa vez eu tinha que obedecê-lo para não me machucar por que sabia que ele era muito capaz de me arrastar para qualquer lugar por essa corrente igual um animal e quanto mais resistisse, pior ficaria. Eu passei a me mover para ir até o banheiro, mas eu não iria tomar banho, não na frente de Andrew. Por mais que respingos de sangue estivessem em meu cabelo e isso me causasse desespero para lavá-los, essa seria a única coisa que ele desejava que não faria. Por agora, molhar a tolha na pia do banheiro e limpar meu rosto estava ótimo... Andrew segurou meu braço quando estava passando por ele para ir além do vidro que separava o quarto do banheiro. Seu toque fez com que minha mente ficasse em branco, principalmente quando ele me fez parar exatamente onde estava. Seus dedos poderiam causar um hematoma em minha pele devido a força que estava usando, mas eu não me importava. A dor muitas vezes seduzia o corpo de muitas pessoas. Ele aproximou seu rosto do meu e antes que pudesse ter qualquer chance de dizer algo ou simplesmente me afastar, o que era algo que jamais conseguiria, Andrew passou sua língua sobre minha bochecha em linha reta, limpando todo o sangue que existia ali lentamente apenas para saborear o gosto daquele liquido grosso que me sujava, me torturando completamente.— Ou você pode me permitir limpá-la, se desejar. — Falou roucamente, me puxando para mais perto dele pelo braço que segurava fortemente. Eu engoli a seco quando meu coração passou a acelerar rapidamente e meu corpo pareceu perder o sentido da vida. Meus olhos já estavam fixos nos de Andrew e aqueles azuis tão profundos quanto os céus em um dia claro, me hipnotizavam e torturavam minha mente. Desejos, era isso que seus olhos falavam. Apenas isso. Eu poderia falar, eu queria dizer milhões de sim e até mesmo meu corpo estava me chamando de burra por não ter tomado nenhuma atitude até agora, mas não... Meus olhos caíram para o chão e afastei meu corpo dele, mesmo que Andrew me desejasse perto dele, ele permitiu que isso acontecesse e até mesmo soltou meu braço.— Como imaginei.— Andrew soltou uma risada baixa e seca.— Seus pecados nunca diminuirão só por que tem orgulho o suficiente para não se deitar com um assassino, Roxanny. — — Pecados?— Debochei.— Com que proposito posso me deitar com uma pessoa que não me ama? — — 10 anos é muito tempo.— — Não, Andrew.— Eu falei, ficando com um pouco de raiva por ter deixado tão obvio que nesses 10 anos nunca trai os laços de nosso casamento, mas acho que isso nunca foi um segredo afinal.— 10 anos é muito pouco tempo para você aproveitar sua liberdade com outras mulheres e depois matá-las como se não significassem nada.— Ele sorriu, um sorriso diabólico que poderia assustar qualquer criança até mesmo durante o dia.— Vocês encontraram os corpos.— — Sim, nós encontramos cada corpo sem sangue e sem coração que foram abusados sexualmente que você deixou para trás.— — Em minha defesa,— Andrew falou ainda com aquele sorriso em seu rosto, um sorriso que estava me deixando enjoada.— Não houve nenhum abuso sexual, se for parar para pensar, eu fui o abusado.— Eu o encarei em descrença e esperei que um raio caísse em minha cabeça. Não dava para acreditar no que Andrew acabará de falar...— Eu vou me limpar.— Mudei de assunto rapidamente, pois nas


pontas dos meus dedos, uma camada muito fina de gelo passou a se formar. Aparentemente, a raiva era o único sentimento que fazia meus poderes se manifestarem e se eu continuasse pensando no que o único homem que amei em toda minha vida fez com essas mulheres, acho que poderia congelar toda essa mansão. Eu sabia que essas mulheres, já mortas, não fizeram nenhum charme para se deitar com Andrew. O antigo rei dos vampiros era lindo e tinha olhos hipnotizantes, nenhuma mulher negaria ir para cama com ele. Nenhuma que não fosse louca. Mas Andrew apenas queria matá-las, se aproveitar delas, suas intenções nunca foram nobres. Isso era desumano demais. Meus olhos se encontraram com os dele por um momento e eu esperei que aquela escuridão de seus olhos fossem embora, que falasse que tudo estava bem, que tudo que ele estava fazendo com Amethyst era apenas para me proteger. Mas isso jamais aconteceria. Eu apertei a toalha entre meus dedos e passei a caminhar para o banheiro, dessa vez quando passei por Andrew, ele não me segurou, apenas moveu seu corpo para que eu pudesse passar. Por um momento fiquei feliz, já que minhas lagrimas jamais passaram existir em meus olhos. Normalmente eu teria uma vontade imensa de chorar só de lembrar dos corpos daquelas mulheres nuas em cima de mesas de metais da central, eu nunca poderia esquecer Lúcifer logo atrás de mim dizendo que Andrew era o culpado daquilo. Mas no final de tudo, eu não precisava do vampiro de cabelos loiros dizendo aquilo para saber quem realmente tinha feito aquilo com aquelas mulheres. Só existia dois vampiros cruéis o suficiente para atravessar o peito de alguém até chegar o coração e esmagá-lo sem nenhuma piedade. Um deles estava do nosso lado, o outro não e Andrew estava brincando com a morte como se ela fosse sua filha. _________________________________ Depois que limpei todo meu rosto e tentei tirar aquele sangue do meu cabelo, o que foi quase impossível, mas essa pequena limpeza estava ótima até que eu voltasse a ficar sozinha nesse quarto novamente para que pudesse tomar um banho que tiraria qualquer sujeira do meu corpo. O vampiro também fez questão de tirar aquela enorme corrente do meu pescoço, mas eu nem sequer pensei em fugir, pois agora que estava aqui, não havia mais volta. Além do mais, eu não queria fugir. Eu não fazia ideia do que Andrew estava planejando nesse “passeio”, mas por um momento fiquei muito aliviada de tirar aquele peso do meu pescoço e fiquei horrorizada quando meus olhos caíram no espelho e vi o quanto aquela corrente estava fazendo vários hematomas em minha pele. Mas eu não reclamei, não disse nenhuma palavra e após ficar em silencio, Andrew passou a sair do quarto e eu fui atrás dele. A mansão que pensei ser enorme e muito bonita, apesar de estar dentro de uma caverna, devido ao bom gosto de moda antiga que Amethyst possuía acabou se demonstrando ser pior do que a antiga casa mal assombrada de Lúcifer. Esse lugar era o tipo de casa abandonado para ser esquecida. O chão e as paredes eram feitas de madeiras antigas e escuras, que com o tempo, estavam desgastadas e cheias de buracos. Havia teia de aranhas por todos os lugares e existia muitas coisas quebradas conforme nos aproximávamos da saída, acho que esse era o resultado da fúria de Amethyst. O lugar era tipico de um filme de terror onde uma bruxa morava e o único lugar que salvava era o quarto de Andrew. Mas eu não estava com medo desse lugar que chamava tanta atenção de fantasmas, meu maior medo foi quando o antigo rei dos vampiros abriu a porta principal da mansão e uma imensa escuridão fria me atingiu. O interior da caverna era tão horripilante quanto eu imaginava a olhando


pela janela do quarto. A pior parte de tudo isso foi caminhar naquela total escuridão em um lugar que havia várias pedras e buracos. Para falar a verdade, eu não caminhei. Era totalmente impossível apenas em pensar andar naquele lugar escuro com salto e cheio de buracos. Em um momento da nossa caminhada, com Andrew a alguns passos a frente de mim, pelo menos achava que ele estava, eu parei exatamente onde estava. Minhas pernas provavelmente estavam sangrando e cheias de hematomas pelas tantas vezes que as bati em pedras tentando seguir os passos do antigo rei dos vampiros e eu estava cansada de ter o salto das minhas booties presas em algum buraco. Eu não era mais uma vampira para ter noção de onde ir em um lugar tão escuro como esse, meus sentidos não eram mais aguçados e simplesmente não podia ver a escuridão como uma melhor amiga.— Andrew.— — Continue andando, cherie, esses arranhões não vão matá-la.— Ótimo, ele sabia o quanto eu estava sofrendo para segui-lo. — Eu não consigo mais.— Murmurei para o nada, pois eu não sabia mais em que direção Andrew estava, nem ao menos sabia se em minha frente havia um precipício. — Você está mais fraca do que costumava ser.— Sua voz não estava muito longe de mim. — E você não pensava dessa maneira quando costumávamos estar juntos.— — Quando costumávamos estar juntos...— Andrew repetiu o final da minha frase como se buscasse aquilo no fundo de sua memoria, esperando se lembrar de outros sentimentos além da maldade que corria por volta de seu coração.— Nós nunca fomos um casal de verdade.— — Por que não?— Eu perguntei, começando a sentir uma pequena dor em meu coração. Eu nunca deveria fazer esse tipo de pergunta.— Você sempre dizia que me amava...— — Amor não é suficiente, mon cherie.— Ele disse.— Você nunca confiou em mim, mesmo quando dizia que confiava, isso não era verdade. Você tentava e nunca conseguia.— Eu não pude responder, não havia como debater isso. Como Andrew podia exigir confiança de mim? Meus olhos estavam fixos no chão, eu tentava enxergar o solo que estava pisando, era praticamente impossível, mas isso era melhor do que pensar que alguma luz invadiria o lugar e eu encontraria aqueles olhos azuis de Andrew me olhando como se tivesse sido o pior erro de sua vida. Talvez eu realmente tivesse sido, já que segundo ele, eu causei tantos problemas que nem ao menos percebi para ligar, mas não precisava ter a certeza disso apenas olhando em seus olhos. Depois que segundos ou até mesmo minutos passaram entre nós dois, depois que o silencio reinou, eu senti que Andrew se aproximou de mim e um dos maiores motivos para ter notado isso foi sua respiração próxima de meu rosto, bagunçando os fracos frios do meu cabelo loiro como se um vendaval estivesse acontecendo. — Venha.— Andrew disse em um tom baixo, bem em minha frente e no momento seguinte, eu estava em seus braços exatamente como um principe carregava uma princesa, mas isso não era um conto de fadas, então não me admirava se ele me jogasse de alguma montanha. Mas eu estava em seus braços, eu sentia cada dedo dele em meu corpo, principalmente perto da região do meu joelho onde estava nu devido a falta de tecido em minha roupa. E eu poderia dizer que a sensação de ter alguém mais quente me segurando era ótimo, mas não era por causa da sensação de temperatura, era simplesmente por Andrew estar me segurando. Ele me segurava como se eu fosse apenas uma folha que estava em suas mãos para tirar de seu caminho, mas mesmo que Andrew não fosse me derrubar, eu passei meu braço por seu pescoço. Talvez isso fosse costume ou era eu apenas me aproveitando dele, mas toda mulher segurava no pescoço de seu amado quando carregada. Andrew passou a caminhar novamente e por um momento a paz me atingiu, apenas segundos que foram embora rapidamente, mas por um momento eu senti como se esses 10 anos nunca tivesse ocorrido e o vampiro que me segurava longe do chão apenas estava me levando para casa depois de


uma noite cansativa, mas então a realidade me atingiu, ele só estava fazendo isso pois estava sem paciencia para ficar me esperando ou ouvir minhas reclamações. Andrew não se importava mais comigo a ponto de me carregar em seus braços apenas por que estava tendo dificuldades para caminhar na escuridão. E assim que chegamos no final daquela caverna, onde a luz já iluminava as árvores e o caminho de uma enorme floresta, eu pensei que Andrew me soltaria, mas isso jamais aconteceu. O vampiro olhou para cima, para a superfície daquela caverna, e eu acompanhei seu olhar. O buraco que se encontrava no meio daquela montanha era enorme, a caverna em si era enorme apenas por obrigar uma mansão velha dentro dela, mas eu sabia o que o antigo rei dos vampiros planejava, ele iria saltar até lá em cima comigo em seus braços... Essa noite apenas melhorava conforme os minutos passavam. Eu fechei meus olhos e de alguma forma estranha, aproximei meu corpo ainda mais do de Andrew para minha própria segurança, meu aperto em seu pescoço poderia sufocá-lo se não fosse uma criatura sobrenatural, mas como ele era, eu não me preocupei. E quando o vampiro saltou, quando o vendo passou a ser um inimigo para meus cabelos e tentava nos obrigar a ficar lá em baixo pela falta de respeito com a gravidade, eu senti um pouco de medo. Havia muito tempo que Andrew e eu não fazíamos isso, ainda mais em um lugar tão alto como esse, mas o meu medo não era sobre algum erro acontecer, e sim, como quantas vezes estava passando na mente do vampiro que seria muito divertido me soltar e quando o impacto de Andrew encontrando o chão aconteceu, eu finalmente voltei a respirar e abri meus olhos. Meu maior arrependimento foi isso, ter aberto os olhos. Andrew estava de costas para a paisagem que essa montanha lhe dava, mas eu não estava e meu coração chorava por ter visto essa imagem diante de meus olhos. Eu sempre soube que Londres estava destruída, mas ver a maior parte dela apenas de uma vez aqui de cima, era... triste. Na minha cabeça, ela não estava necessitando de tanta ajuda, mas estava. Todos os prédios que se destacavam estavam quase caindo e o Big Ben que poderia ser enxergado daqui, nem ao menos estava de pé. As árvores que poderiam esconder essa visão horrivel, também não existiam mais e o rio Tâmisa estava tão pior quando a cidade ao seu redor, os pedaços da enorme ponte que havia sob ele estavam dependurados, quase prontos para se perderem eternamente dentro daquelas águas escuras por toda eternidade. E normalmente, a essa hora da noite, a cidade poderia ser confundida com um céu escuro cheio de estrelas brilhantes devido as luzes, mas tudo estava escuro, tão escuro que não dava para imaginar um futuro melhor. — Apreciando a bela vista, mon amour?— Eu olhei para Andrew agora, olhar para ele era muito melhor do que ver a destruição que causou nessa cidade. Os olhos do vampiro também pertenciam a mim, seu rosto estava virado para encontrar meu olhar e ele obteve sucesso nisso. — Não existe mais nada belo lá em baixo.— Sussurrei, pois não havia nenhum motivo para dizer algo horrível como isso tão alto. — Você tem razão,— Andrew desviou seu olhar para a cidade destruída, cortando qualquer faíscas que nossos olhos estavam prontos para criar. Ele também me colocou no chão delicadamente, apenas soltou minhas pernas e continuou me segurando para que não encontrasse o chão abruptamente, depois seu olhar voltou a pertencer a mim e um sorriso ironico cresceu em seus lábios.— Toda beleza está aqui em cima.— Eu tentei ao máximo ignorar seu comentário, pois não havia nada que eu poderia fazer ou dizer. Geralmente iria lhe agredir fisicamente até que essa brincadeira virasse algo muito amoroso em que terminaria Andrew dizendo que me ama, mas eu não estava louca a ponto de bater nele com esse humor tão perigoso que possuía.— Por que me trouxe até aqui?— Foi o que falei diante do silencio e Andew sorriu, um sorriso cheio de maldade que prometia muitas coisas, menos algo bom. — Desejo lhe mostrar algo.— Respondeu minha pergunta, usando seus braços ainda segurando


minha cintura para fazer com que andássemos pra longe da beirada daquele enorme precipício e tivesse mais espaço para se afastar de mim. Logo, Andrew não estava mais com seus braços em volta de mim, mas quem eu queria enganar? Ele estava longe mesmo quando estava perto. Andrew deu mais alguns passos para longe de mim, seus olhos estavam fixos nos meus e depois que alguns segundos torturantes se passaram, ele se abaixou para pegar uma pedra não muito pequena e nem grande que estava no chão.— Olhe para o céu.— Ele disse e então jogou aquela pedra para cima com muita força, eu fiz o que ele mandou e logo um clarão meio rosado cortou o céu como se um enorme relâmpago tivesse ocorrido, mas não era um relâmpago. Esse clarão rosado foi a barreira invisível que existia em volta de Londres para Andrew ou Amethyst saíssem de dentro dela. Essa barreira era como um arco-íris, não se podia ver o começo dela, muito menos o final, mas eu podia ver o resto dela e não estava muito bonito como um arco-íris costumava ser. Haviam muitas rachaduras nessa barreira, rachaduras que poderiam ser quebradas facilmente se a pessoa que desejasse sair usasse toda sua força. Eu fiquei paralisada por um momento, pois a barreira estava se quebrando...— Você viu?— Andrew riu secamente.— É tão belo quando uma jaula está prestes a se partir.— Eles destruiriam mais cidades, muito mais sangue iria cair...— Não.— Eu sussurrei para o nada, sem fazer algum sentido. — Eu vou irei embora, cherie.— — De novo.— — Sim,— ele sorriu, apreciando essa ideia como se fosse sangue de uma vitima.— E eu terei minha vingança.— — Vingança?— Eu perguntei com sarcasmo.— Vingança pelo que?— — Pela imortalidade.— — Você está louco, Andrew.— Eu o encarei incrédula, não fazia sentido se vingar da imortalidade... — E pessoas estão morrendo por causa disso.— — E por que se importa?— Ele atirou raivosamente.— Você ainda está viva e sua hipocrisia é muito grande para se importar com os outros, então pare com esse drama.— — Por que está fazendo isso?— Eu estava ficando desesperada.— Qual é a grande vitória afinal? Matar toda a humanidade para que no final você morra seco e sem nenhum sangue para se alimentar?— Andrew se aproximou de mim em um piscar de olhos, eu nem ao menos tive chance de puxar o ar para minha respiração antes dele segurar meus braços raivosamente e puxar-mer para mais perto dele.— Se eu morrer assim, vai ser minha escolha e não sua.— — Você é um tolo então.— Eu o xinguei, apenas para ter as mãos de Andrew ainda mais forte em meus braços, um gemido baixo de dor escapou dos meus lábios e eu poderia começar a chorar nesse exato momento, mas isso jamais aconteceria. — Eu mesmo irei garantir sua morte antes que isso aconteça, então não se preocupe com o seu medo eterno de sofrer por toda a eternidade.— — Eu não posso mais morrer!— Eu quase gritei isso em quanto usava minhas mãos para empurrálo em seu peito.— E eu fiz esse sacrifício por você.— — Por mim?— Ele debochou.— Eu nunca pedi algo como isso para você, Roxie.— — Não minta para mim.— Eu estava usando minhas mãos para atingi-lo em seu peito ainda, desejando que o gelo ocorre entre meus dedos para machucá-lo, mas parei de bater para me livrar de suas mãos em meu braço, não por que ele tinha soltado ou aliviado o aperto. Não, Andrew não tinha feito isso, a dor ainda existia, mas ela não fazia nenhuma diferença depois que meus olhos foram para algo que estava atrás do vampiro em minha frente, que poderia ser considerado uma parede de tão grande que era perto de mim, mas não fazia diferença, pois eu havia enxergado um telescópio armado não muito longe de nós. Era apenas um telescópio, eu sei, mas para Andrew que estava com sua alma completamente negra


e não se importava com mais nada, isso não era apenas um telescópio. Ele não deveria se importar com as estrelas, não quando o vampiro destruía a natureza como se não valesse nada mais do que um mato crescendo em seu caminho. Ele ainda era Andrew e nem mesmo uma alma negra pode tirar seu amor pelas estrelas... Ele ainda era Andrew. Andrew. O vampiro se virou para ver o que exatamente eu estava olhando, então isso fez com que o aperto em meus braços deixasse de existir, o que foi muito bom diante da situação, mas por algum motivo, talvez uma faísca de esperança, eu não sei o que foi, quando Andrew estava virando sua cabeça novamente para mim, depois de conferir que atrás dele não existia nenhum monstro, eu me soltei de suas mãos e puxei sua cabeça para baixo até que nossos lábios se encontrassem. Eu sabia que falei diversas vezes que não seria nenhuma prostituta de Andrew, mas esse pensamento apenas se tornou inútil após o vampiro ser pego de surpresa e mesmo assim não quebrar o beijo que acabei cedendo para ele. Andrew estava faminto, muito faminto. O vampiro estava prestes a me devorar com seus lábios macios e quentes. Ele havia se aproximado de mim e em algum momento ele segurou meus cabelos com uma de suas mãos, em quanto a outro foi passada por minha cintura para afundar meu corpo ao seu. Andrew espremeu meu corpo ao seu e continuava a usar aquele braço em minhas costas para fazer isso, como se nenhum espaço pudesse existir entre nós, caso contrário, tudo seria destruído e ele não desejava que isso acontecesse. Sua língua tocou a minha lentamente e provocativamente, me levando ao delírio quando demorou muito tempo para que aquela sensação de algo quente encostando no gelado voltasse a acontecer, mas não demorou tanto tempo assim, sua língua dava fortes investidas contra a minha agora, suas mãos também me seguravam fortemente para que eu jamais pensasse em fugir. E eu não fugiria, jamais poderia pensar em fugir quando minha mente só pensava no quão bom era beijá-lo. Andrew era o meu fogo, ele me queimaria muitas vezes e nunca deixaria de ser tentador, não deixaria de ser belo e chamativo para colocar a mão sob as chamas vermelhas que poderia marcar meu corpo para sempre. Andrew me levantou do chão após ameaçar me afastar dele apenas para respirar, ele usou seu braço que estava em minhas costas para fazer isso e meus pés deixaram o chão para ter o corpo dele como apoio do meu. Eu tirei uma das minhas mãos de seu rosto e a levei direto para seu cabelo negro ainda mais macios que o toque de seus lábios. Meus dedos se enterraram naquela escuridão perigosa e eu os puxei, sem nenhuma intenção de pará-lo, isso apenas aconteceu devido ao gemido que escapou dos meus lábios, um gemido muito proibido e intimo. Enlaçar minhas pernas em torno da cintura de Andrew foi algo que jamais aconteceu, pois minha mente estava falhando para que pudesse me mover e quando estava prestes a fazer isso, o vampiro deixou meus lábios para encontrar meu pescoço. Ele roçou seus lábios por toda aquela região até que estivesse na curva dele e estando ali, sua língua contra minha pele gelada fez com que eu me estremecesse toda com seus movimentos provocativos para deixar-me totalmente quente. Eu ainda segurava seus cabelos com força e muito mais gemidos escaparam dos meus lábios, parecia que quanto mais altos eles eram, mais possessivo do meu corpo Andrew ficava e eu não me importava nem um pouco. O vampiro usou seus dentes em minha pele, sem nenhuma presa, os usou para provocar meu corpo. Eu reagi a isso apenas quando Andrew passou a dar pequenas mordidinhas em toda a extensão do meu pescoço até que estivesse de volta para meus lábios, para também morder meu lábio inferior e sugá-lo como se existisse o melhor sangue que já provou ali. Sua intenção era provavelmente de


puxá-lo com os seus dentes, mas eu não dei nenhum tempo para que isso acontecesse. Agora, eu necessitava de sua língua junto com a minha, então eu o beijei ferozmente para conseguir isso e quando o gelo nas pontas do meu dedo passaram a existir, eu os ignorei. Apenas tirei minha outra de seu rosto e a coloquei sob seu ombro esquerdo, o esmagando profundamente quando o meu interior passou a se agitar por ter a língua de Andrew se tocando com a minha cada vez mais com intensidade. E quando a falta de ar falou mais alto por nós dois, eu passei a afastar meu rosto do dele, tendo nossos lábios os últimos a se separarem mesmo depois que nossos olhos já estavam abertos, com nossos olhares fixos um no outro como se algo muito bom estivesse acontecendo entre eles. A respiração de Andrew, assim como a minha, também estava alterada e estava desesperado por mais. 10 anos era muito tempo para ser resolvido apenas com esse beijo... Um flash ocorreu rapidamente nos olhos de Andrew, faíscas que desejavam criar chamas perigosas mas que foram apagadas rapidamente pelo vento gelado e sombrio. Quando isso aconteceu, ele escorregou meu corpo pelo seu até que meus pés estivassem novamente no chão. Ele também se afastou de mim com alguns passos para trás, mas seus olhos não, eles ainda estavam fixos em meus. Sabia que esse beijo tinha o afetado tanto quanto eu, pois seus lábios não estariam entre abertos e avermelhados pedindo por mais, implorando para que outro beijo acontecesse. Mas o vampiro estava lutando contra os seus desejos, então eu o deixaria fazer isso, apenas por essa noite. Afinal, muitas noites frias estavam por vim e nem sempre ele poderia ignorar as chamas de seu passado ainda existentes nele.


13Lúcifer estava com seu ante braço esquerdo apoiado na parede em quanto observava a visão que aquela enorme janela de vidro do seu quarto lhe dava, em quanto seus lábios eram pressionados contra o topo de sua mão do mesmo braço que estava sustentando seu corpo para que não caísse e quebrasse aquele enorme vidro que separava o quarto do frio que estava fazendo em Londres. O vampiro podia sentir o vento ousado que invadia seu quarto por pequenas frestas em sua barriga exposta para a noite, quando deixou de retirar sua camisa já desabotoada. Por algum motivo, o nome de Roxie invadiu sua mente de uma maneira rápida e preocupante, fazendo com que ele perdesse toda vontade de retirar suas roupas. Afinal, ele não ficaria nu em quanto pensava em Roxie. Ele estava preocupada com a esposa do seu melhor amigo, é claro que se preocupava com Andrew também, mas o vampiro sabia se cuidar da sua maneira, mas Roxie não. A antiga vampira irritante podia ser forte para aguentar as torturas e tudo que Andrew falasse, mas ela era o tipo de pessoa que precisava de proteção e seu marido não lhe daria isso, não agora que sua alma estava negra. Agora Lúcifer estava parado diante da janela, observando a noite que deixava Londres ainda mais assustadora do que já estava, se perguntando se sua amiga estava bem. Viva pelo menos ele sabia que estava, pois David ainda vivia. Mas isso não significava nada quando uma morte lenta e muita dolorosa poderia acontecer em seu interior. Isso era o maior perigo da imortalidade, pois viver, todos viveriam, mas seus sentimentos e tudo que definem quem é você, nem sempre tinha essa resistencia. E o vampiro de cabelos loiros sabia que Roxie era muito frágil para sobreviver a isso sem ter Andrew ao seu lado. Se em um ano pensando que o amor da sua vida havia morrido ela quase se fechou em um caixão, ele não poderia imaginar o que aconteceria caso os deuses decidissem agir e Andrew tivesse seu destino acabado. Tudo bem que os deuses não queriam a morte desse vampiro, por algum motivo muito curioso, eles exigiam apenas que não matassem Andrew em quanto sua alma estivesse negra. Mas eles eram os criadores de tudo que conhecemos e e se caso algum deles se atrevessem a transformar a alma dele equilibrada novamente e depois o matasse, era o fim de Roxie, não só o de Andrew. E Lúcifer tinha medo disso, pois os dois significavam muito para ele. Mas isso também estava nas regras de ser um imortal, você sempre perderia as pessoas que amava e não importava se elas fossem imortais também. Lúcifer revirou seus olhos verdes ao se revoltar, pois agora só faltava um belo filme de romance e chocolate para sua noite virar um drama, já que seu humor estava ótimo para isso. Seu antigo amigo não merecia esse humor vindo de Lúcifer, não mesmo. Andrew pode ter seus motivos para odiar Roxie, mas ele nunca fez nada para seu amigo alem de ser leal. Isso poderia ser considerado como traição. E era, mas o vampiro de cabelos loiros não podia aceitar o fato de Andrew o traindo. Lúcifer ainda pensava que Andrew fez tudo o que fez por um motivo muito nobre.


O vampiro deixou seus pensamentos de lado nos segundos seguintes, pois dessa vez com o vento que insistia em se debater contra sua barriga tentando lhe causar algum frio veio o aroma que poderia deixar qualquer mente em branco e a morte, mesmo que não desejasse isso. A flor de lótus sobre aquela lava quente e perigosa com a mistura de morangos no frio do inverno, ainda eram fortes e lutavam por sobrevivência. Na verdade, eles nunca deixaram de insistir pela vida. Um sorriso surgiu nos lábios de Lúcifer por um momento e ele se virou para encontrar a única pessoa que foi forte o suficiente para ser dona de seu coração. — Oi.— Emme disse delicadamente com aqueles olhos cinzas claros fixos nos dele, seus braços estavam para trás e ela se balançava em seus pés como uma criança fazia a espera de ganhar seu presente de aniversário. Lúcifer não disse nenhuma palavra para aquela deusa de cabelos vermelhos intensos, ele apenas atravessou o quarto em busca dos lábios de Emme e quando os conseguiu, Lúcifer a beijou com paixão e ternura. Sua pequena amada não esperava uma reação dessa ao vê-la e se o vampiro de cabelos loiros não tivesse a segurado contra ele, ela provavelmente teria encontrado o chão. Mas logo a surpresa de Emme passou e ela colocou sua mão sob a cintura nua de Lúcifer para manter seu equilíbrio firme. E quando isso aconteceu, quando Lúcifer sentiu a temperatura dela fervendo sobre sua pele morta e fria, o seu interior faminto procurando por uma vitima pra devorar se sacudiu para sair das profundezas em que foi trancafiado. Nesse momento, o vampiro que sempre existiu dentro dele, queria rasgar o vestidinho que Emme usava com suas presas, jogá-la em sua cama e possuí-la até que ela implorasse por cada vez mais... Lúcifer se afastou da deusa que estava beijando, agora, ferozmente e respirou fundo ao encostar sua testa sob a dela para encontrar aqueles olhos tão inocentes que desejou revê-los todos os dias após sua partida.— 336 horas, 17 minutos e 43 segundos.— Ele sussurrou para ela, ainda tendo dificuldades de prender o assassino dentro de si. Emme sorriu e seus olhos brilharam como duas estrelas que apenas queriam chamar atenção mais que a lua.— Você contou as duas semanas em que eu estive fora?— — Eu disse que iria contar.— — Eu não contei e disse que iria.— Ela falou manhosamente, se sentindo totalmente culpada por não ter feito o que disse. — Oh, Fiemme.— Lúcifer disse em total ironia.— Já estou acostumado a ter meu coração partido por você.— — Isso não é verdade.— Emme choramingou e levou uma de suas mãos até o rosto de Lúcifer para tocá-lo com seus pequenos e finos dedos em uma carícia. Ela o acariciava como se fosse um pequeno gatinho que nunca desejou seu sangue.— Os deuses acham que eu o uso como um objeto sexual... O que é isso, Lúcifer?— Lúcifer riu devido a troca de assunto da sua amada, mas hoje em dia ele não se surpreendia, pois Emme podia ter quase sua idade vampírica, mas seu conhecimento era o mesmo se seus pais tivessem a deixado fechada dentro de algum quarto desde que nasceu, como já fizeram com ela naquele convento.— Eles acreditam que você me usa apenas para sexo.— Ele disse a verdade, sem ao menos brincar com sua inocência como costumava fazer. E o real motivo por ter feito isso foi apenas para ver as bochechas dela corarem e ficarem exatamente como a cor de seus cabelos. O vampiro se segurou para não rir e então encostou seus lábios naquela vermelhidão em suas bochechas para beijá-las cada uma após a outra até que encontrasse sua boca em um rápido selinho. Se Lúcifer a beijasse novamente, ele perderia todo o seu controle que restava. — Lúcifer...— Emme sussurrou seu nome quando seus lábios mal estavam separados e o vampiro se afastou somente um pouquinho dela para que encontrasse aqueles olhos claros que tanto amava. — Por que você nunca faz o que deseja?— Ela perguntou, dessa vez parecia estar magoada.


Lúcifer não havia entendido sua pergunta primeiramente, mas depois ele se lembrou que a deusa do fogo sempre invadia sua mente quando estavam juntos e o vampiro nunca viu nenhum problema, jamais negou isso a ela. Só que agora, ela havia escutado seus pensamentos que jamais compreenderia com a tamanha inocência que possuía. Se Emme não permitia que ele tomasse seu sangue devido a queimação que lhe causava, ela ficaria muito assustada se ele liberasse o grande animal feroz que existia dentro dele. O vampiro afastou sua testa da de Emme para que pudesse ter uma visão melhor do rosto dela, mas não afastou seu corpo ou braços. Ele ainda a segurava para que nunca fosse embora.— Tudo está perfeito como está, pumpe.— — Não minta para mim.— — Eu não estou mentindo, jamais poderia fazer isso com você.— Ele disse, expulsando toda a vontade de seu corpo de beijar o pequeno bico que os lábios da deusa do fogo formaram devido ao seu aborrecimento. Emme desviou seu olhar do de Lúcifer e isso de alguma maneira doeu lá no fundo de seu coração, pois ela jamais seria alguém como ele e muito mais momentos como esse aconteceriam em suas vidas eternas, e vê-la desse jeito todas as vezes que isso ocorresse, seria muito difícil para o vampiro de cabelos loiros.— Hey.— Lúcifer sussurrou com a intenção de recuperar aqueles olhos que lhe davam paz de tão inocentes que eram, olhos cinzas claros que poderiam ser considerados como pedras raras. O vampiro teve sucesso nisso, ele recuperou os olhos de sua amada e agora só bastava trazer a felicidade para eles novamente.— O que é bom para mim, não é pra você.— Ele começou, calmamente.— Mas eu prometo que algum dia, quando souber que não irá correr de mim, irei lhe mostrar cada detalhe do que gosto.— Emme sorriu e estava evidente que Lúcifer teve sucesso nisso também, era difícil ele não ter sucesso em algo que desejava, mas o humor da sua deusa era muito frágil e muitas vezes ele temia um pouco de não conseguir animá-la.— Eu nunca correria de você.— — Minha pequena pumpe, eu não poderia esperar menos de uma pessoa que ameaçou minha vida com um abajur.— — Isso não é engraçado!— Emme exclamou e como Lúcifer, não conseguiu conter seu riso. Ela se afastou dele completamente dessa vez, pois queria fingir que estava brava, mas jamais conseguiria algo como isso.— Além do mais, já faz muito tempo desde que isso ocorreu.— Um torto sorriso surgiu nos lábios meio avermelhados de Lúcifer quando o vampiro permitiu que o passado voltasse para sua mente, o passado em que ele carregou uma estranha humana com problemas sobrenaturais em seus braços e a levou para sua casa apenas para saber o que ela era. Isso já estava fazendo quase 11 anos e Emme podia até mesmo pensar que ele não estava satisfeito com o relacionamento deles, mas Lúcifer estava. O vampiro já amou outras mulheres, ele não tinha nenhuma vergonha de admitir isso, mas a deusa do fogo foi a única que correspondeu seus sentimentos como deveria, isso era amor. O amor vindo de apenas uma pessoa, não era amor e sim algo lamentável. Emme continuava a mesma garotinha inocente sem nenhuma experiencia para lidar com o mundo, ela conhecia mais coisas devido a sua idade de mais de mil anos, mas não era o suficiente. Por um lado, Lúcifer tinha uma grande vontade de matar Andrew, pois ele apresentou coisas horriveis para sua amada. O antigo rei dos vampiros apresentou um mundo morto para ela e isso era errado, pois por mais que ela fosse uma criatura do inferno, Hades jamais permitiu manchar a alma com outro sentimento além daqueles mais puros e nobres. Agora, o vampiro de olhos verdes, não sabia como Emme estava aguentando tudo isso, vendo a cidade que nasceu e cresceu pela segunda vez caindo cada vez mais na destruição. Mas sua deusa sempre foi como uma bomba, nada poderia destruí-la, além dela mesma. Seja com bondade ou não. Lúcifer pegou nas mãos de Emme após se aproximar dela com alguns passos, ele olhou para aqueles olhos de uma garotinha que se sentia protegida e levou as mãos dela para suas costas, para que ela o segurasse. Ele também a segurou por seu pescoço pequeno e selou um beijo em seus


lábios rapidamente, apenas para encontrar a pele de seu pescoço em seguida em outro beijo rápido. — Você quer saber de um segredo, pumpe?— Ele sussurrou ali em baixo, com seus lábios quase colados em sua pele. Ela não o respondeu, sua resposta foi balançar sua cabeça positivamente para que ele falasse esse segredo.— Eu aprecio muito mais sentir o gosto de sua pele em minha boca toda vez que acaricio todo seu corpo do que a selvageria e o gosto de sangue.— Emme continuou em silencio e imóvel por um momento, então, depois que vários segundos tortuosos passaram, a deusa do fogo aproximou sua cabeça do peito nu de Lúcifer e pressionou seus lábios quentes contra ele em uma caricia muito lenta. Lúcifer olhou para baixo após ela se afastar e encontrou aqueles olhos grandes e claros, que estavam prontos para capturar qualquer coisa desconhecida. Suas bochechas também estavam um pouco avermelhadas, pois o que Emme fez a alguns segundos, era até demais vindo dela. Mas ela estava tentando e isso era incrivel. Lúcifer sorriu para aquela deusa por um momento e pensou em como era bom ter Emme de volta em seus braços depois de duas semanas.


14Eu estava com meus olhos fixos em Andrew exatamente como uma coruja fazia durante a noite ao observar sua vitima que tornaria seu jantar, a diferença era que não era noite e eu era a vitima que viraria comida, não Andrew. O antigo rei dos vampiros estava dormindo já havia algum tempo e eu não fechava meus olhos exatamente a duas semanas, nem ao menos comia com medo de que Amethyst envenenasse minha comida. Tudo bem que ela era uma feiticeira e poderia me matar de uma maneira muito mais original que isso, mas mesmo assim, a desconfiança nunca vai sumir apenas por ela ser criativa. Eu não sabia que poderia aguentar tanto tempo sem comer ou dormi, David e Sol não me deram nenhum manual para ler e descobrir mais sobre o que me tornei, mas estava sendo de grande ajuda. Dormir nessa casa dos horrores era a última coisa que desejava, mesmo com Andrew perto de mim. Talvez ele fosse o maior perigo, afinal. Eu suspirei, mais por estar cansada de ficar sentada naquele sofá que de macio se tornou duro do que ter Andrew ignorando minha existência todos os dias após termos nos beijado. Não me surpreendeu que ele tivesse uma atitude dessa, na verdade, só um pouquinho. Eu esperava que ele me torturasse e usasse a humilhação para mostrar o quanto insatisfeito estava por ter me beijado, mas isso jamais aconteceu após ele ter se afastado de mim aquela noite e continuar me olhando como se fosse algo muito anormal. E depois, ele passou a me tratar como se nem ao menos existisse. Andrew não me olhava mais, não falava nada e isso fez com que eu passasse a observá-lo cada vez mais em quanto ficava sentada nesse sofá antigo abraçada aos meus joelhos, esperando que seu humor mudasse de atitude e voltasse a falar comigo. Apesar de isso ser algo ruim, não foi tão mal assim, pois isso apenas me fez notar o quanto o vampiro não havia mudado em quase nada. Tudo bem que ele possuia uma alma negra e me odiava, mas suas manias continuavam as mesmas, a maneira como ele dormia, como se alimentava e pequenas coisas que pensei nunca sentir saudades se deixassem de existir ainda continuavam nele. Eu me sentia totalmente solitária para ficar comparando Andrew ao passado todo o momento, mas o que poderia fazer? Era apenas eu e essa corrente ao redor do meu pescoço na maioria das vezes. Me acostumar com esse peso e irritação em minha pele era algo que já tinha acontecido, mas mesmo assim, essa corrente não deixava de ser um incomodo na solidão de um quarto vazio. Nem mesmo Saphyre apareceu para alegrar meus dias nessas ultimas semanas, o que me fez imaginar que alguém a proibiu de vir até aqui. E como eu não estava dormindo ou sendo torturada para desmaiar, não tinha como Charles invadir meus sonhos. Isso era bom por um lado, eu não queria motivos para Andrew continuar a me ignorar, o plano era que ele se alimentasse do meu sangue, não ficar com nojo de mim e essas visitas de Charles poderia causar isso. Meus olhos caíram sob o corpo imóvel de Andrew novamente, o quarto estava em total escuridão, mas ainda era possível ver todas as linhas de seu peito nu até que o lençol a baixo de sua cintura passasse a esconder qualquer parte de seu corpo. Ele parecia estar morto e uma pequena vontade de


cutucá-lo para ter certeza de que estava vivo invadiu meus pensamentos, mas eu sabia que ele não estava morto. Andrew era apenas um vampiro e era praticamente normal que seu corpo deixasse de transmitir vida quando dormia, já que nem quando estava acordado transmitia muitas coisas. Eu poderia sempre sentir as batidas de seu coração e sua respiração, mas vê-las? Isso jamais aconteceria, ainda mais considerando o fato que ele era um dos vampiros mais antigos que caminhava pelo mundo. Mas o som do seu coração já se manifestou forte o suficiente para que eu pudesse ouvi-lo uma única vez, uma única batida e isso apenas ocorreu devido ao seu sofrimento por descobrir que eu iria morrer em questão de dias. Era até mesmo ironico pensar que o coração dele já foi ouvido por causa da minha vida sendo que agora apenas desejava se livrar de mim. Meus pensamentos foram cortados por um momento após ver movimentos claros vindo de Andrew, a sua respiração passou a ficar alterada como se estivesse correndo ou simplesmente sendo afogado em um rio congelado. E em questão de segundos o vampiro acordou, mas não saiu de sua cama, apenas levantou seu tronco para que se sentasse em uma velocidade anormal, totalmente assustado. Esse movimento rápido me assustou também, já que jamais o vi ser tão perturbado em quanto dormia. Andrew passou sua mão por seus cabelos negros e fechou seus olhos azuis para que sua respiração voltasse ao normal. Eu vi os musculos de seu pescoço se movimentarem quando ele engoliu em seco, fazendo com que minha curiosidade para perguntar o que aconteceu apenas aumentasse, mas Andrew provavelmente me ignoraria, então não perderia meu tempo. Ele abriu seus olhos novamente e seu olhar azul estava direcionado para mim pela primeira vez em semanas. Aqueles olhos continuavam os mesmo, prontos para causar dor em qualquer pessoa e mesmo que fossem de uma cor clara, era visivel ver a escuridão dentro deles. Os lábios de Andrew se entre abriram por um momento, estavam prontos para dizer algo a mim, mas ele acabou desistindo, apesar de continuar me encarando. Eu desejei falar algo por ele, realmente quis dizer qualquer coisa, mas minha voz pareceu sumir antes de se quer pensar no que falar. Um pequeno suspiro escapou dos meus lábios, um sinal de decepção vindo de mim mesma por ser tão inútil em momentos como esse. — Você está bem?— Perguntei, desejando me jogar da janela escondida por cortinas negras que estava próxima de mim, pois havia muitas coisas a dizer e não veio nenhuma a minha mente. — Até mesmo vampiros possuem pesadelos, Roxie.— Ele disse, um pouco arrogante, mas eu não liguei já que isso fazia parte da sua alma negra. — Não você.— Andrew desviou seus olhos de mim por um momento e eu pensei que voltaria a me ignorar novamente, mas desde que nos casamos e passamos a compartilhar o mesmo quarto o vampiro nunca teve essa reação por um sonho. Nada lhe deixava com medo a ponto de um sonho se tornar pesadelo. Então não vi nenhum problema em dizer aquilo, mas o arrependimento passou a persuadir minha mente já que ele reagiu dessa maneira. Ele olhou para baixo e ficou pensativo em quanto seus olhos azuis encaravam nada mais e nada menos que o seu lençol branco, o vampiro ficou daquela maneira, parecendo uma estatua, por um bom tempo, em quanto eu apenas continuei olhando para ele. Andrew levantou seu rosto para finalmente encontrar os meus olhos e falou.— Você não dorme e come há duas semanas, não é como se eu fosse o anormal por ter um pesadelo.— Touché. Se o antigo rei dos vampiros tivesse uma lamina nesse momento eu tinha certeza de ela seria


apunhalada em meu coração com essa resposta tão mal criada. Isso é o que a gente ganhava por se preocupar com o próximo, apenas repostas que poderia dormir sem ouvi-las. — Eu pensei que estava ignorando minha existência para reparar nessas coisas.— — Você tem um belo corpo para ser ignorado.— Um sorriso ironico cresceu em seus lábios.— Além do mais, minhas camisas a deixam mais sexy do que aqueles vestidos.— Eu revirei meus olhos em total revolta por seu comentário insolente, mas a vontade de arrancar sua camisa e jogar nele foi ainda maior, só que jamais iria fazer isso agora. Não era medo por sua reação, de jeito nenhum, mas hoje eu havia tirado aquela capa de travesseiro já que estava cansada do desconforto que me causava, então além da minha lingerie, apenas a camisa dele cobria meu corpo. — O que o assustou em seu sonho?— Perguntei ao invés de brigar por causa do que acabará de falar. Havia coisas que não valiam nem ao menos comentar com Andrew. — Você.— — Eu?— Falei com deboche, segurando uma enorme gargalhada. Se existia o impossivel, era isso, eu assustar Andrew. — Eu não estou brincando.— Falou seriamente.— Eu estava deitado em uma mesa de pedra e tudo estava escuro, havia gritos de animais e outros humanos, gritos de pessoas mortas. Era um ritual que estava acontecendo e quando você apareceu, por um momento pensei que iria ser minha salvação, pois estava brilhando como a lua, mas você não fez isso.— — Eu o matei?— Perguntei surpresa ao pensar o quanto a mente de Andrew podia ser produtiva e quando ele apenas concordou com sua cabeça, a vontade de rir novamente possuiu meu corpo.— Olhe, Andrew, algumas vezes realmente já desejei sua morte, muitas vezes, mas jamais poderia lhe matar. Isso é algo impossível, acredite.— — É algo impossível ou você simplesmente não quer?— — Talvez seja os dois.— Eu não menti, mas também não disse a verdade.— Mas não se preocupe, eu não o atacarei em quanto dorme com uma adaga ou sexualmente.— — A segunda opção é muito interessante para ser deixada de lado.— — É mesmo?— Eu perguntei com ironia.— Mas ela irá, pois você não tem a capacidade de agir normalmente após algo como isso acontecer.— — Agora você usou uma adaga imaginaria.— Ele disse e apesar de estar levando isso na brincadeira, seu humor poderia mudar a qualquer momento.— Mas quando me beijou, foi um erro. Então não aja como se estivesse ofendida por ser deixada de lado, eu tenho mais o que fazer do que dar atenção para meu brinquedinho.— — Você me beijou também, eu não sou a única errada.— Era incrivel como a alma negra de Andrew tinha o dom de colocar toda a culpa em cima de mim. E essa bipolaridade louca em que me tratava bem e depois não, apenas estava me deixando confusa. — Que seja, de qualquer maneira, eu a perdoo.— Eu o encarei incrédula, não... Isso não era possível.— Eu não preciso de seu perdão apenas por que o beijei, Andrew, nós ainda somos casados caso não se lembre, de uma maneira estranha mas ainda somos.— Agora eu iria, definitivamente, pular pela janela. Por que estava usando o nosso casamento como desculpas? Isso era ridículo! — São apenas cicatrizes, mon amour.— — Já significaram algo no passado, não são apenas cicatrizes.— — Um passado que desejo destruir completamente.— Esse foi o momento ideal para me manter em silencio, pois o quanto mais ele falasse sobre esse assunto, mais eu sairia machucada. Eu desviei meus olhos de Andrew para a janela e senti que o clima entre nós foi de mal a pior, mas o que poderia fazer afinal? Nem sempre poderia aceitar tudo que ele dissesse tão facilmente. — Você deveria dormir, ainda vai demorar muito para anoitecer.— Andrew continuava me olhando e apesar de meus olhos não pertencerem mais a ele para saber disso, eu apenas sabia. Todo mundo sabia quando existia alguém olhando para nós. — Você gosta de me observar dormindo, já que não pode fazer mais isso?—


Por que está fazendo essa pergunta? Minha mente gritou em auto defesa, já que não era muito normal ele se interessar por mim ultimamente.— Eu posso dormir, apenas não quero.— — Todas as criaturas sobrenaturais necessitam dormir alguma hora e depois de duas semanas, elas estariam mais mortas do que vivas sem fechar os olhos e você não come também. Isso é uma raridade.— Minha vida não lhe interessa.— Eu estou bem assim.— — Brilhar não é estar bem.— — Brilhar?— Oh, ele se lembrava. Eu olhei para Andrew quando nenhuma resposta veio e agora ele me olhava como se fosse alguma peça muito rara e pertencesse ao museu. Se eu tivesse uma manta, eu provavelmente me enfiaria de baixo dela para que não fosse observada dessa maneira por ele. — Você brilhou quando eu a beijei na gruta.— Ele disse com curiosidade. — Agora você admite que me beijou?— Tentei fugir do assunto, mas isso nunca funcionaria, não com Andrew. O vampiro se levantou da cama sem tirar seus olhos de mim e por mais que meu olhar pertencesse somente a ele, eu mal consegui acompanhar quando ele se aproximou e ficou de joelhos diante a mim, com seus braços um de cada lado do meu corpo encolhido e agora espremido para manter o espaço que o sofá não permitia que tivessemos. Eu abracei meus joelhos contra mim ainda mais forte, como se eles pudessem me proteger bravamente de Andrew e sua loucura. Meus olhos estavam conectados com aqueles azuis perigosos, olhos que passavam a mensagem de que se eu não lhe dissesse o que desejava, haveria arrependimentos.— Se eu a beijar novamente, você irá brilhar?— — Não seja tolo.— Eu cuspi aquilo para tentar afastá-lo de mim, mas tudo o que ele fez foi sorrir ironicamente. — Ou irá usar seus truques para me congelar?— — O que?— Minha voz tremeu junto ao meu corpo quando meus olhos se arregalaram e todo meu corpo esquentou, já que ele não podia ficar mais frio que isso.— Do que está falando?— Não confie em Andrew, Charles havia dito, não em quanto sua alma estiver negra. — Eu não sou tolo, cherie, esse é o problema.— Andrew sussurrou bem próximo a mim.— Tolo seria se não tivesse notado o gelo em minha camisa após ter me afastado de você naquela noite.— — Você deve ter esbarrado em algo.— Que tipo de desculpa era essa? — Não existe mais neve em Londres.— Andrew ergueu sua mão do sofá e a levou diretamente para meu rosto, ele usou seus dedos para acariciar uma pequena parte da minha bochecha.— Você é tão gelada que me pergunto como não sente frio.— — Você também é frio.— Sussurrei quase em um choramingo, desesperada para que ele se afastasse de mim e voltasse a me ignorar. — Eu sou um vampiro, meu corpo está morto.— Ele disse.— Não existe morte onde há luz, cherie. — — Talvez eu não esteja morta.— — Talvez.— Ele contaria tudo para Amethyst. Amethyst me mataria. Andrew nunca iria saber. — Eu não sou mais humana, é apenas isso que importa.— Eu falei, me concentrando totalmente para manter meu corpo longe dele, já que a cada minuto Andrew se aproximava ainda mais. Sua mão ainda estava próxima do meu rosto, acariciando minha bochecha como se tentasse deixá-la


quente, mas isso era totalmente impossivel. — Você nunca foi humana.— Ele disse, me deixando um pouco confusa. — O que quer dizer com isso?— — Ora, cherie.— Seus olhos brilharam com ironia, igualmente ao seu sorriso.— Quando era apenas uma tola adolescente, você poderia se encaixar perfeitamente como uma criatura sobrenatural.— — Por que?— — Seus sentimentos, sempre se preocupando somente com você mesma.— Andrew se tornou serio, deixando seu sorriso ironico ir embora.— Essas caracteristicas são essenciais para viver durante a eternidade.— — Então é essa a sua meta agora? Não se importar com mais ninguém?— — Eu me importo com você, cherie.— Ele falou com seu rosto próximo do meu, mas mesmo assim existia muita distancia.— Eu tenho pena do quão tola é, de cada vez que se afunda em um poço sem salvação.— — É você quem faz todo esse trabalho por mim.— Eu disse, segurando seus olhos azuis com os meus. — Você tem razão, foi eu quem a trouxe para a vida eterna.— Andrew afastou somente um pouquinho seu rosto para me avaliar melhor.— Eu acabei fazendo um favor somente a sua família, não a você.— — A morte não é um favor, Andrew.— — Você deseja saber o que seu pai pensava ao seu respeito?— Ele perguntou com um sorriso maligno e mesmo que eu falasse não, isso seria a mesma coisa que dizer sim.— Toda vez que eu chegava em sua casa, seu pai se perguntava “Quando ele irá tirar essa bastarda de perto de mim? Ela não pertence a essa família, ela é apenas um erro vergonhoso.”. — Eu virei meu rosto para o lado, pois ver que ele estava se divertindo com isso era ainda pior do que saber, o que eu já imaginava, que minha família pensava sobre mim. — Creio eu que não necessito falar sobre sua mãe, pois ela nunca escondeu sua infelicidade com você. Ela sempre a odiou, mas sua irmã mais velha... Mirabelle foi quem mais me surpreendeu, pois todas as vezes que você virava as costas, ela agia feito uma prostituta para me seduzir. Seus pensamentos se resumem em como desejava roubar-me de você, me levar para aquele celeiro...— — Pare!— Eu não olhei para ele, jamais conseguiria fazer isso.— Você está mentindo.— — Estou? Por que iria fazer isso sendo que a verdade dói mais que uma mentira?— Meus olhos estavam fechados, eu os pressionava fortemente como se fazer isso fosse me proteger dessas mentiras. Minha irmã nunca iria pensar em algo como isso, ela me amava e sempre dizia que estava feliz por meu noivado... Por que Andrew diria algo como isso? — Pare.— Eu falei baixinho, mesmo que o vampiro em minha frente estivesse em total silencio. Talvez estivesse falando para mim mesma, para que lágrimas nunca passassem existir em meus olhos, para que elas não escorressem. Mirabelle jamais faria algo como isso, minha mente dizia, mas ao mesmo tempo ela insistia em lembrar que todas as pessoas que eu amava tinham o dom de me machucar. A respiração de Andrew, mesmo que fosse fraca, tinha forças suficiente para encontrar a lateral do meu rosto, aquele ar frio e muito fraco estava apenas piorando minha situação, pois todas as vezes que alguém se aproximava tanto assim de mim era apenas para me consolar, não pra ficar observando meu sofrimento de perto. Eu respirei fundo depois de um tempo e voltei a olhar para Andrew e como eu tinha imaginado, ele estava se divertindo completamente com a situação.— Eu acho que não temos irmãos muito diferentes, então.— O vampiro sorriu, exatamente como os seus olhos azuis que poderiam ser diamantes expostos aos céus. Ele havia retirado sua mão do meu rosto no momento que o virei para o lado, mas agora seus dedos acariciavam meu pescoço, tentados a envolvê-lo em um grande aperto para me enforcar, provavelmente.— Não, não temos.— Andrew pegou a corrente e a puxou para frente, para que todo meu cuidado para não esbarrar em seus braços acabasse totalmente dessa vez, ele continuou a segurando mesmo depois de fazer isso.— E não somos muito diferentes, mas em quanto eu sou a


força, você é a fraqueza.— — Eu não sou nada parecida com você.— Eu quase cuspi aquilo em seu rosto, colocando minhas mãos sob a corrente para tentar fazê-lo soltá-la. Andrew ficou em silencio, fazendo daquele ato um deboche total, principalmente quando o vampiro arqueou sua sobrancelha para mim e puxou ainda mais a corrente em sua direção. Agora, faltava muito pouco para que eu deixasse o sofá e encontrasse o chão ou melhor dizendo, encontrasse Andrew, pois ele estava bem em minha frente. Meus olhos estavam fixos nos seus e apesar de serem do azul mais puro que poderia existir, eu podia ver minha imagem perfeitamente dentro deles e de repente pareceu que me encarar dentro daqueles olhos fizeram com que uma parte do meu passado voltasse para minha mente. Aquela parte em que eu fazia qualquer coisa para afastar as pessoas de mim quando estava revoltada, o momento em minha vida quando resolvi jurar lealdade a Pierre apenas por que Andrew mentiu para mim. Eu não sabia exatamente o que havia feito para Andrew me odiar tanto a ponto de se juntar com Amethyst e destruir Londres. Tudo bem que havia muitas magoas em relação ao nosso passado juntos e eles poderiam ser a causa disso tudo, mas ele havia me beijado e houve paixão nos dois beijos que se ocorreram entre nós.— Eu acredito em você.— Sussurrei depois de vários minutos. Andrew pareceu não entender exatamente a minha troca de opinião tão rapida, pois seu olhar de ironia e sarcasmo vacilou por um momento. Ele desejava me afastar, fazer com que eu sentisse odio dele para que talvez conseguisse sentir a mesma coisa por mim. Talvez, esse fosse seu jogo. Eu sabia que não poderia esquecer de sua alma negra, que sem pensar duas vezes Andrew poderia arrancar meu coração e jogar aos vleermuis. Mas até mesmo os deuses disseram que a bondade desse vampiro acabaria quando minha vida acabasse e eu não estava morta, estava muito viva. Eu soltei a corrente que estava puxando até agora para que o vampiro a solta-se e deixasse de me puxar para sua direção, fazendo com que a unica força existente fosse somente a de Andrew e isso causou minha queda em cima dele, mesmo quando ele não teve intenção de fazer isso, já que eu havia deixado de fazer força para puxar aquela corrente. Tudo bem que não fiz nenhuma questão de evitar cair sobre o corpo dele e levá-lo para o chão quando não conseguiu recuperar seu equilibrio. Meu corpo sob o dele encontrou o encaixe perfeito, principalmente quando usei minhas mãos em seu peito para me apoiar e sentar. Meus dedos em sua pele quente me causaram um grande efeito e por consequencia, a camisa que estava usando acabou subindo quando minhas pernas ficaram uma de cada lado do enorme corpo de Andrew, fazendo com que as partes inferiores das minhas coxas ficassem coladas com sua cintura nua, fazendo com que o atrito de nossas peles apenas piorassem até que a única vestimenta dele, suas calças de moletom negras, atrapalhasse tudo. Eu pressionei meu corpo, propositalmente, contra seu sexo que estava pulsante e vivo a baixo de mim e por um momento finquei minhas unhas em seu abdomen quando nem mesmo eu consegui me recuperar da pequena provocação. A respiração dele falhou completamente quando tudo isso ocorreu, seus lábios ficaram entre abertos e mesmo que suas mãos estivessem caídas ao seu lado, sabia que seu desejo era me tocar. Isso estava explicito em seus olhos que nunca deixaram os meus após encontrarmos esse chão. — Nós não somos diferentes.— Eu concordei novamente com ele.— Você está tentando me afastar para que eu o odeie, da mesma maneira que fiz no passado, mas eu não posso odiá-lo, Andrew. Posso fazer qualquer coisa e odiar qualquer pessoa, mas não você.— — Você acha que eu ainda a amo?— Ele disse isso ao meio de uma risada sarcastica.— E que tudo que estou fazendo é pro seu bem?— — Eu aprendi que tudo que é mal existe um lado bom e você não é nenhuma exceção.— Falei.—


Eu não acredito que tudo que fez foi pelo bem de alguém, mas também não creio que todo o seu amor por mim tenha acabado.— — Eu tive mais de 9 anos achando que você estava morta para superar esse amor.— Uma ponta de curiosidade me atingiu por um momento... Por que ele acharia que eu estava morta? Eu sempre estive em Londres, igualmente a ele. — Não estou morta, eu estou aqui.— — É tarde demais, cherie.— Ele sussurrou, fazendo cocegas em meu estomago devido ao tom suave que usou para dizer meu antigo apelido, dizendo como se sua alma nunca estivesse totalmente negra. — Não, nunca é tarde para você, Andrew.— Eu falei calmamente, respirando fundo algumas vezes para que aquele choro que cresceu em mim a pouco tempo fosse engolido novamente pela minha força de vontade. — Tudo tem de acabar um dia, Roxie, e isso se encaixa em sentimentos também.— — Mas eu ainda te amo, esse sentimento jamais irá acabar.— Minha voz tremeu e eu tive que abaixar meus olhos para onde minhas mãos estavam apoiadas, olhar para seus olhos era como estar em um tribunal sendo judiciada a morte e algo como isso nunca era bom. — Eu sinto muito,— Andrew levantou seu corpo para se sentar, ele permitiu que eu ainda continuasse exatamente aonde estava quando fez isso, mas eu retirei minhas mãos de seu abdomen quando foram quase esmagadas contra meu corpo e o dele.— Mas não posso fazer nada a respeito disso.— — Você pode.— Eu falei rapidamente, balançando minha cabeça negativamente em quanto o desespero para que ele não fosse embora e me ignorasse por mais duas semanas me consumia.— Permita que sua alma deixe de ser negra, eu posso ajudá-lo.— Andrew fechou seus olhos por um momento, mas os abriu rapidamente para seu olhar voltar ao meu com uma única palavra nele: Impossivel.— Você não pode fazer mais nada.— — Andrew...— Eu coloquei minhas palmas sob seu peito novamente ao mesmo tempo que sussurrei seu nome antes de ser cortada por ele. — Não, Roxie.— Andrew pegou minhas mãos e as tirou de perto dele, como se tivesse muito nojo do meu toque e apesar de estar fingindo isso muito bem, não era verdade. — Por favor.— — Saia de cima de mim.— Ele pediu antes que eu tivesse chance de dizer qualquer outra coisa. Eu poderia ter negado esse pedido com muita birra, mas esse vampiro ainda possuía uma alma negra e se suas palavras me machucaram hoje, não havia como eu aguentar a agressão fisica depois de tudo o que foi dito. Então tudo que fiz foi me levantar de seu colo e quebrar qualquer momento que existiu entre nós para ver Andrew novamente criar uma barreira de gelo enorme entre nós. — Eu te amo.— Eu sussurrei essas palavras baixinho, mas foram altas o suficiente para que ele ouvisse. E mesmo que Andrew soubesse que nunca deixei de amá-lo, essa era a primeira vez que dizia essa sequencia de palavras em 10 anos tendo a atenção dele para mim. Ele tinha que ouvir isso dentro de seu coração alguma hora ou outra, pois eu nunca iria desistir dele novamente. __________________________ Se achava que as ultimas duas semanas demoraram muito para passar, algumas horas até que a noite chegasse foi mais torturador que isso. Andrew, após que tudo ocorreu, se vestiu e saiu do quarto como se eu não estivesse parada no meio do lugar esperando que seus olhos me encontrassem, mas, novamente, ele apenas me ignorou. Apesar de tudo, não poderia negar que estava progredindo. Andrew poderia ainda estar me tratando muito mal, mas havia momentos que ele sentia algo por mim. Eu só não sabia exatamente o que. E o mais curioso era ele achar que eu estava morta durante esses 10 anos que passamos separados, sendo que ele poderia ter me encontrado facilmente nos braços de Iawy. Além do mais, um dos motivos para que ele tivesse permitido que Amethyst o tornasse um assassino, fosse por causa da


minha suposta morte... Isso era apenas um jogo dela e Andrew simplesmente não enxergava isso. Ou ele estava ciente de tudo e apenas queria que o plano dela tivesse sucesso. Mas que plano era esse afinal? Por que matar criaturas sobrenaturais e arrancar o coração delas? Seja como for, eu não poderia simplesmente dizer que o vampiro tinha que tomar meu sangue para que sua alma voltasse a ser equilibrada. Isso seria mais dificil do que imaginava, ainda mais considerando o fato de que Andrew estava na fase em que pensava que não havia nenhuma salvação ou ele apenas não queria ser salvo... Eu não sabia o que era, mas esse maldito vampiro iria tomar meu sangue nem que fosse pra sugar todas as gotas que existissem em meu corpo inteiro... O barulho da porta sendo aberta acabou atrapalhando meus pensamentos, mas ao mesmo tempo que isso aconteceu e vi Saphyre aparecendo com aquele boné enterrado em sua cabeça com aquelas roupas de moletom maiores que ela mesma, uma luz surgiu em minha mente. — Saphyre.— Eu disse aliviada por dois motivos, por ela ter aparecido e pela grande ideia que surgiu em minha mente ao ter aberto essa porta. — Olá, Roxie.— Disse sorridente, tendo sua boca a única parte de seu rosto amostra sem que o boné e seus cabelos selvagens escondessem uma imagem parecida com a de Amethyst.— Eu estou proibida de estar nesse quarto, então você não está me vendo aqui.— Não era uma novidade que esse quarto estivesse restrito para ela, mas eu apenas estava curiosa para saber quem foi o indivíduo que a proibiu de me visitar, então não poupei a pergunta.— Quem a proibiu?— — Amethyst.— Ela disse, não me surpreendendo também. Eu sorri para Saphyre, um sorriso mais consolador do que qualquer outra coisa, pois a bruxinha perturbada em minha frente parecia sofrer muito nas mãos dessa vadia louca que chamava o homem de outras de “meu”.— Você sente muito medo dela, não é?— — Você não?— Saphyre respondeu minha pergunta com outra, mas nenhuma de nós precisamos responder a isso, todos conheciam a resposta afinal.— Olhe o que ela fez com a Londres e as criaturas sobrenaturais. Amethyst e eu fomos escolhidas pelos deuses para cuidar daquilo que eles criaram, mas agora, ela apenas está destruindo tudo... Eu tenho procurado a bondade por muito tempo e minha própria irmã me obrigou a parar. Você e Andrew são as pessoas mais próximas que eu tenho disso depois de séculos.— — Andrew?— Isso realmente me surpreendeu. — Eu sei que ele é mal e não deveria gostar dele, pois está ajudando a loucura de Amethyst apenas crescer se aliando a ela, mas Andrew é bom comigo e ele foi o único que me tratou como Amy deveria.— Eu sorri novamente, mas não para consolá-la. Meu sorriso foi devido a lembrança de como Andrew poderia ser bom com as pessoas que mal conhecia, como ele podia dar a vida dele para protegê-las se estivessem em perigo... Eu sabia que ele não era mais capaz disso hoje em dia, mas com Saphyre poderia ser, então esse vampiro não estava totalmente afundado nesse poço de escuridão que todos temiam. — Você conhece Iawy?— Eu perguntei, talvez fugindo totalmente do assunto.— O dono de umas das centrais de caçadores mais conhecido pelo mundo?— — Sim, eu já ouvi falar dele alguma vez no passado.— — Ele foi o meu “Andrew” um dia quando estava perdida e não sabia se haveria esperanças em minha vida novamente. Por muito tempo Iawy foi a única coisa valiosa que possuía em minhas mãos e eu jamais o soltaria caso se tornasse mal. Ele foi a única pessoa que nunca me abandonou, eu não poderia fazer isso com ele.— Falei, me lembrando de como estava com saudades desse incubus, na verdade, estava sentindo falta de todos. Até mesmo de Nyx.— Então eu não a julgo por gostar tanto de Andrew.— — Você ama ele ainda.— Ela adivinhou aquilo facilmente, mesmo quando eu nem ao menos estava falando de Andrew. Como pude pensar que algum dia esconderia isso de qualquer pessoa, afinal?


— Sim, eu o amo.— Concordei.— E eu sinto falta dele como você sente da liberdade.— — Talvez Andrew seja sua liberdade.— — Você quer saber de um segredo?— Perguntei e quando a bruxinha balançou sua cabeça positivamente, não demorou muito para que voltasse a falar.— Eu estou aqui para ajudar Andrew, sou a única pessoa que pode fazer sua alma deixar de ser negra e não vou parar até conseguir isso. — Saphyre desviou seu rosto do meu para encontrar a janela logo atras de mim, eu não podia ver seus olhos, mas sabia que sua mente estava longe nesse momento, muito distante desse pequeno quarto. — Eu gostaria de ter alguém assim como você para lutar por mim.— — Saphyre,— Disse seu nome para que ela voltasse a olhar para mim.— Eu prometo para você que irei tirá-la dessa casa assim que tiver chances.— — Você não pode.— Ela disse sem nenhuma esperança.— Não importa onde eu for, Amethyst sempre me encontrará. Com o tempo eu aprendi o quanto é perda de tempo planejar uma fuga.— — Hey, eu tenho um amigo que é feiticeiro e ele pode ajudá-la se livrar desse feitiço. Talvez leve tempo, talvez Amethyst vá atras de você, mas não desista sem lutar, Saphyre.— — Esse é o problema, eu já lutei muito.— Ela falou.— Amethyst e eu quando estamos juntas nos tornamos mais poderosas do que já somos, mesmo assim, nunca consegui me livrar dessa maldição que esta dentro do meu olho esquerdo.— — Você tem que dar uma chance para mim.— Falei quase sem esperanças, pois ela mais do que ninguém sabia sobre o quão seus poderes podiam aumentar com Amethyst ao seu lado e se nem mesmo isso adiantou, o que poderia ser feito? Mas eu ainda confiava em Charles e por algum motivo minhas esperanças não acabariam até ele dizer que não havia nada possível para se fazer no caso dessa bruxa. Saphyre suspirou, provavelmente pensando em como eu estava a colocando em um assunto arriscado, mas que desejava muito se livrar dessa marca em seu olho.— Tudo bem, eu aceitarei sua ajuda... E de seu amigo.— — Ótimo!— Eu falei sorridente.— Assim que tiver uma chance de falar com ele, eu o mandarei ir atrás de você para se comunicar de alguma maneira como os feiticeiros fazem.— — Ficarei esperando por isso.— — Saphyre, não sei quanto tempo irei ficar nessa casa, mas quando tiver que ir embora eu quero levá-la junto comigo e não me importarei com o fato de Amethyst poder achá-la facilmente.— Eu disse, falando realmente sério sobre levá-la comigo, pois assim seria até mesmo melhor para que pudesse ajudá-la a se livrar desse fetiço.— Acho que está na hora de pararmos de fazer o que Amethyst deseja por causa dos nossos medos.— — Você tem razão.— Eu sorri para Saphyre mesmo que ela não estivesse sorrindo de volta e mesmo que seus olhos fossem totalmente escondidos, sabia que eles brilhavam exatamente como duas estrelas em uma noite de verão. Essa feiticeira tinha o espirito de uma criança, mesmo tendo mais de séculos de vida. Isso era algo raro nas pessoas, não mudar conforme a eternidade passava e Saphyre parecia ser uma dessas raridades. Eu queria ser assim e desejava que Andrew também fosse.— Por que você está aqui afinal, Roxie? Eu sei que você ainda gosta de Andrew, mas sua alma está negra e isso só causará sofrimento... Por que você correria atras do sofrimento?— — Por que ele precisa de mim.— Falei.— Amethyst usou seu sangue para que a alma dele se tornasse negra, usou magia para ter sucesso nisso quando ele se alimentasse dela e eu irei usar o meu para reverter isso. É um pouco obvio que não terei muita vitória, mas um pouco que sua alma deixe de ser negra, isso ajudaria muito.— — E se não ajudar?— Ela perguntou aquilo que eu mais temia no final das contas. — Tenho esperanças que ajudará, de alguma forma estranha, eu acredito que ele pode até mesmo mudar com minha presença.— E Andrew poderia, pois agora que ele teve certeza que eu não estava morta, havia mais esperanças... Mas ainda sim, por que ele achava que eu estava morta? Saphyre tirou seu boné e pela segunda vez eu pude ver seus olhos ainda mais anormais do que


qualquer outro feiticeiro. Aquelas veias vermelhas que se encontravam na sua pupila negra poderiam ser mais assustadoras do que já eram, mas sendo essa bruxa possuindo, essa marca jamais causaria pesadelos. Saphyre era uma prova viva de que uma cicatriz poderia se tornar algo doce, mesmo com uma história tão desesperadora como possuía essa marca em seus olhos. — Eu acho que posso ajudá-la sobre isso.— Ela disse seriamente, dessa vez, realmente, me encarando sem que nada tampasse seu rosto, nem seus cabelos selvagens ondulados. — Como?— — Se Amethyst usou magia, então vamos usar magia também.— Saphyre sorriu.— Se existe algo que tenho certeza é que toda magia pode ser revertida por outra.— — Isso é ótimo.— Eu sorri, quase pulando de alegria com essa noticia.— Mas você sabe o que fazer?— Saphyre piscou e me encarou em silencio por alguns segundos, então, a pequena bruxa colocou seu boné de volta e deixou que seu rosto fosse coberto novamente. Esse era o sinal de que a confiança tinha ido embora. — Não exatamente,— Ela disse.— Mas sempre existe uma solução se pesquisar... em antigos livros.— Agora a minha confiança foi embora para sempre, pois com as palavras “antigos livros” eu pude visualizar perfeitamente uma estante antiga cheia de livros grossos, empoeirados e com teias de aranhas em volta deles. Só que Saphyre estava oferecendo sua ajuda para que a alma de Andrew se tornasse equilibrada novamente e querendo ou não, confiava mais na magia do que no meu sangue. Além do mais, não se nega ajuda dos amigos, por mais complexa que seja. — Você acha que consegue fazer isso?— Peguntei, sobre o fato de ter que colocar a cara na poeira. — Sim!— Ela exclamou alegremente, realmente muito feliz, me fazendo pensar que as pessoas raramente confiavam algo nela... Mas no final esse meu pensamento era verdadeiro, pois por tudo que Saphyre dizia, sempre deve ter sido Amethyst e ela trancada em uma casa com medo de sua irmã mais velha.— Deseja que eu faça algo mais?— Bom... — Eu não quero abusar de você, mas na verdade, existe sim.— O sorriso de Saphyre apenas aumentou com isso e eu tomei aquilo muito mais do que um simples “sim”.— Em algum lugar dessa casa existe algum freezer? Ou simplesmente algum lugar onde Andrew deixe bolsas de sangue que ele se alimenta?— — Sim, existe sim e é realmente nojento saber que existe sangue perto da minha comida no freezer, parando para pensar agora...— — Um dia você se acostuma com isso.— Fui sincera, me lembrando de como Nyx também odiava isso quando morávamos juntas.— Mas eu preciso que você traga uma bolsa de sangue e se livre de todas as outras que estiverem lá, jogue tudo na pia e depois deixe a água correr por algum tempo.— — Tudo bem.— Saphyre disse um pouco confusa.— Eu irei buscar a bolsa para você e depois me livrarei do resto.— — Eu também vou precisar de uma faca grande.— Eu pedi, antes que a bruxinha se virasse e fosse para a cozinha desse lugar totalmente desconhecido. Saphyre não questionou meu pedido em nenhum momento, mesmo que ele fosse estranho ainda mais na parte que pedi uma faca. Tudo que ela fez foi se retirar do quarto de Andrew sem dizer nenhuma palavra, me deixando sozinha novamente. Eu só esperava que Andrew ou Amethyst não voltassem em quanto ela se livrava do sangue que estava guardado, muito menos que a pegassem caminhando com uma faca até aqui. A feiticeira não demorou muito para voltar e como eu havia pedido, ela estava segurando uma bolsa de sangue e uma faca enorme que parecia ser muito afiada. Eu temi por alguém tão delicada como Saphyre estar segurando algo tão perigoso como aquela faca, mas por mais que ela fosse medrosa de uma maneira que a deixava meiga, essa feiticeira podia levar a mente de qualquer humano a loucura se esse fosse seu desejo. Afinal, o poder de Amethyst era prova viva de que Saphyre não ficava para trás. Eu peguei aquelas coisas da mão dela e pedi que voltasse até aqui assim que terminasse de se livrar


das outras bolsas de sangue, Saphyre demonstrou um pouco de curiosidade nesses pedidos, mas ela não questionou nada novamente, apenas sorriu e saiu do comodo. Por um lado, eu realmente fiquei feliz por ela não questionar o por que de uma faca e essa bolsa de sangue, pois não era fácil explicar o que aconteceria... Depois de algum tempo encarando a porta do quarto fechada e contando até 10 para ter certeza de que Saphyre não voltaria, eu caminhei até depois daquela parede de vidro para chegar ao banheiro e fiquei próxima daquela banheira enorme de porcelana que poderia ser chamada de piscina. Eu abri aquela bolsa de sangue e joguei todo aquele sangue existia dentro dela na banheira branca que logo passou a ter seu fundo manchado de vermelho escuro e quando não restava mais nada dentro daquele plastico, eu abri o chuveiro e deixei que a água corresse ali para caminhar até a pia do lugar. Meus olhos se encontraram com o espelho em minha frente, eles ainda eram vazios como uma piscina congelada por todo o frio que aconteceu na noite anterior, mas no meu caso, a eternidade era culpada por todo esse vazio existente neles. Eu desviei meu olhar daquele vidro que me refletia perfeitamente e respirei fundo após pegar a tampa da pia e tampá-la para que nem mesmo uma gota de água fosse embora pelo encanamento, mas agora, não se tratava sobre agua. Eu coloquei aquela bolsa de sangue vazia ao meu lado da pia e peguei a faca com aquela lamina tão brilhante quanto o sol, tão assustadora quanto o mundo lá fora... E por mais que eu estivesse com medo dela nesse momento, esse sentimento seria obrigado a ir embora, já que tudo isso era para o bem de Andrew. Meus olhos se apertaram firmemente quando encostei a lamina contra a pele do meu braço e antes de sequer fazer um corte ali, eu senti a dor do que aquilo me causaria. Essa pequena loucura não seria nada fácil afinal... Respirei fundo duas vezes e antes que minha coragem fosse embora, eu cortei meu braço e deixei que o sangue caísse sobre aquela pia tampada para que depois pudesse recolher o sangue até que enchesse novamente aquela bolsa de plastico vazia que estava ao meu lado. *** Eu estava observando a vista escura que aquela enorme janela proporcionava para meus olhos e por mais que a lua insistisse invadir o interior da caverna, era praticamente impossivel. Então em quanto eu estivesse dentro dessa mansão mais assustadora do que a de Lúcifer, sempre seria noite. E em quanto meus olhos ficavam fixos naquela escuridão eterna, pareceu por um momento que eu havia pulado ao meio de um cachoeira onde a correnteza forte arrastava todas as cores e objetos que estavam ao meu redor até que eu estivesse fechada em uma sala sem fim totalmente branca e brilhante de uma maneira que ardiam os olhos. Charles. Claro, eu havia dormido para encontrá-lo... Havia duas semanas que deixei de dormir para que Amethyst não tentasse me prejudicar de alguma maneira, muito menos que Andrew invadisse meus sonhos e brincasse com eles como um jogo de comedia. Mas agora, eu precisava falar com Charles sobre Saphyre e por isso correria o risco do antigo rei dos vampiros saber que estou sonhando com esse feiticeiro que ele tanto odiava. — Sonhando comigo novamente, minha querida?— Aquela voz gentil com um sotaque muito diferente surgiu logo atrás de mim, me fazendo virar na direção daquele homem que um dia me apaixonei. — Ou é apenas você procurando minha mente para invadir?— Também o provoquei e sorri quando vi seu sorriso ainda mais convidativo que o meu.


Charles movimentou sua cabeça em um cumprimento, exatamente como um cavaleiro fazia há décadas atrás quando ainda era proibido de tocar em sua dama.— Cada vez que a vejo novamente, se torna algo ainda mais esplendido.— — É ótimo ver você também, Charles.— Eu quase ri, mas me segurei para que o feiticeiro em minha frente não pensasse algo ruim sobre minha mentalidade. E por mais que a vontade de soltar minha risada fosse grande devido a minha comparação dele com Andrew, eu não podia fazer isso. Era realmente triste pensar que em quanto Charles admirava minha presença, em quanto Andrew apenas desejava minha morte quando me via. Eu encarei aquele feiticeiro que foi meu namorado quando era apenas uma humana e como de costume, ele se vestia para sair na rua exatamente como um cavaleiro se vestia há séculos atrás. O seu detalhe hoje não era um cachecol em volta de seu pescoço e sim uma bengala com detalhes dourados, tendo o formato de uma fênix em seu topo onde a mão de Charles quase a escondia. Pelo jeito, Saphyre era a única que não possuia essa mania de se vestir como se tivesse se perdido no tempo, mas considerando as roupas que ela usava, seria melhor se fosse mais como Charles e Amethyst. — Eu demorei muito tempo para encontrá-la novamente.— Ele disse, colocando aquela bengala no chão para que servisse de apoio para seu corpo.— Você poderia me dizer o por que?— — Não é como você imagina, Charles, eu não passei duas semanas sendo torturada quando pensava em dormir... Apenas passei duas semanas sem fechar meus olhos porque nunca conseguiria fazer isso com Amethyst por perto.— — Então você descobriu uma das suas milhares habilidades.— Charles sorriu. — De certa forma sim, mas Andrew também observou todas minhas habilidades e agora deseja saber o que me tornei.— — Ele desconfia que você é uma estrela?— — Não, imagino que não, mas eu temo que ele descubra.— Falei.— Eu tenho medo que Andrew conte tudo para Amethyst, já que parece tão importante ninguém saber o que sou.— — Você tem razão em ter medo, minha querida.— Charles ficou um pouco pensativo.— Assim como Lúcifer, você é uma criação feita apenas por um deus, o que a coloca a cima de qualquer criatura sobrenatural feita por todas as mãos dos deuses. Se Amethyst descobrir isso, ela provavelmente se aproveitará de alguma forma.— — Eu entendo.— Eu suspirei para tentar empurrar meus pensamentos malignos cheios de morte que me envolviam.— Me diga, Charles, como estão todos na central?— — Quem deveria fazer essa pergunta sou eu, não você.— Ele me repreendeu gentilmente, mas logo me respondeu.— Todos estão bem agora, até mesmo Lúcifer que quase teve sua cabeça arrancada ao encorajar você ir atrás de Andrew sem ao menos dizer adeus. E Fiemme está de volta, então ele está bem. Mas por que você decidiu fugir sem dizer nada a ninguém?— — Por que todas minhas decisões são consideradas erradas para outras pessoas, se eu tivesse esperado e conversado sobre ficar perto de Andrew novamente, haveria muitas discussões sobre isso. É melhor assim, pois por mais que se preocupem comigo, essa era minha escolha e todo mundo iria se opor contra ela.— — Eu acho que você tem razão.— Charles fechou seus olhos por um momento.— Mas todos se preocupam com você e pareceu que não possuía nenhuma consideração ao se afastar deles.— — Você está falando de Nyx ou de todos ao geral?— Perguntei, pois até onde sabia até mesmo Charles aprovava minha escolha da sua maneira, a única que realmente odiou a ideia foi minha melhor amiga.— Pois se estamos, ela não merece minha consideração sendo que a mesma não possui nenhum respeito por meus sentimentos pela única pessoa que eu amei durante séculos.— — Acalme-se Roxie, eu não estou aqui para discutir sobre seu relacionamento com a filha dos deuses amaldiçoados.— — Eu também não.— Fui sinceira, pois qualquer coisa que estivesse me incomodando sobre Nyx, falaria diretamente para ela.— Na verdade, eu me permiti dormir pois preciso que faça um favor para mim.—


— Um favor?— Charles arqueou sua sobrancelha e logo uma expressão totalmente curiosa estampou seu rosto angelical.— Bom, me diga que verei o que posso fazer.— — Amethyst tem uma irmã mais nova,— Eu comecei, mas logo pausei minha fala devido a expressão de espanto que se formou no rosto de Charles, realmente surpreso.— E ela precisa da sua ajuda.— — Uma irmã?— Ele perguntou, ainda não acreditando no que acabará de ouvir. Era tão ruim assim Amethyst ter uma irmã? — Sim, o nome dela é Saphyre e Amethyst a amaldiçoou de uma maneira que ela não pode fugir de sua irmã mais velha, nem usando seus poderes.— — Irmãs feiticeiras... Você não imagina o quão raro é isso em nosso mundo.— — Por que é raro?— Fugi um pouco do assunto, pois minha curiosidade perguntou isso por mim. — Um casal de feiticeiros geralmente podem ter apenas um filho e nem sempre os deuses os concedem com poderes magicos, então é realmente impressionante ver que as duas são feiticeiras e sejam do mesmo sangue... Que Amethyst era poderosa eu já imaginava, mas você não imagina o quão grande o poder dela fica grande apenas em saberem que possui uma irmã.— — Isso se encaixa naquilo de que os poderes delas aumentam quando as duas estão juntas?— — Também.— Charles olhou para longe de mim, ainda mais pensativo dessa vez.— Para serem irmãs e feiticeiras, só vindo de uma família muito grande e poderosa. E isso apenas deixa claro como Amethyst conseguiu fazer tantas coisas quase impossíveis para nós.— — Então Amethyst e Saphyre são mais poderosas que você devido ao sangue que possuem.— Eu deduzi. — Sim, provavelmente elas não foram escolhidas pelos deuses para serem bruxas, apenas herdaram o sangue de feiticeiros e isso as fazem mais poderosas do que serem escolhidas.— Seus olhos anormais e totalmente iguais aos de Amethyst encontraram os meus novamente.— Me diga, Roxie, por que essa feiticeira precisa da minha ajuda? Ela provavelmente tem mais poderes do que eu para se livrar dessa maldição que Amethyst jogou nela.— — Saphyre pode ser mais poderosa que você, Charles, mas ela não possuía sabedoria.— Eu suspirei calmamente.— Amethyst sempre a deixou trancada e sozinha, fazendo com que ela perdesse todas suas esperanças de se livrar da irmã, já que essa maldição sempre indica o lugar onde está.— — Interessante.— Falou Charles.— Bom, eu tentarei achar a mente dessa feiticeira aprisionada pela própria irmã e verei o que podemos fazer, mas não prometo muitas coisas, Roxie, Amethyst é muito esperta para essa maldição ser algo simples.— — Obrigada, Charles.— Eu disse alegremente, pois Saphyre merecia muito ter sua liberdade de volta, se algum dia ela já teve. — Existe algo mais que possa fazer por você?— — Não, eu estou bem.— Disse a verdade.— Hoje eu dei o primeiro passo para que Andrew se alimente do meu sangue e Saphyre vai me ajudar com alguma magia. Ela disse que não existe nada melhor que outra magia para derrubar um feitiço.— — Ela tem razão, mas tomem cuidado com o que vão mexer.— Charles avisou.— Amethyst já está mexendo demais com o equilibrio da terra com todas essas criaturas vindo de um passado totalmente desconhecido. E ainda temos os deuses usando seus poderes para completar um total desiquilibrio.— Claro, feiticeiros e feiticeiras tinham o dever de manter o equilibrio da natureza e quanto mais os deuses se misturavam com a terra, mais consequências existiam. Agora eu não conseguia imaginar como esse equilíbrio estava com Amethyst e os criadores do mundo lutando um contra o outros.— Não se preocupe, eu tenho certeza que Saphyre não fará nada que prejudique ainda mais aquilo que já foi destruído.— — Eu espero que não faça.— Falou com um certo ar de arrogância, mas eu não culpava Charles. Ele não poderia confiar em Saphyre antes de conhecê-la, em quanto esse feiticeiro não soubesse o quão inofensiva era aquela bruxinha, ele levaria essa arrogância com ele até esse dia. Além do mais, era muito difícil pensar em apenas confiar em uma pessoa que possuía o mesmo sangue de Amethyst.


— Bom, acho melhor eu ir embora, não quero que Andrew descubra que estive com você pois isso apenas causaria problemas.— Disse eu.— E eu serei eternamente grata se você ajudar Saphyre, Charles.— Charles sorriu e novamente movimentou sua cabeça exatamente como um servo fazia para sua rainha quando ela dava uma ordem. Esse movimento me trouxe algumas lembranças do meu passado com Andrew, e por mais que tivesse tido dificuldades em me adaptar em uma vida como rainha dos vampiros, eu sentia falta em ser conhecida como o único tesouro do rei, pois agora eu era apenas uma objeto velho em sua estante cheia de enfeites empoeirados. Eu respirei fundo e coloquei em meu rosto o melhor sorriso que Charles merecia, mesmo sendo dificil fazer esse pequeno ato acho que tive algum sucesso, caso contrário, o borrão que passou a se formar entre nós, anunciando que o feiticeiro estava abandonando minha mente, deve ter servido como uma camuflagem perfeita se meu sorriso foi mais deprimente quanto ver alguém inocente morrer.


15Saphyre estava com seus olhos fixos em uma flor média da cor dourada e com traços brancos que estava bem em sua frente. Ela era a mais linda e chamativa flor que a natureza havia criado naquele lugar que apenas existia em seus sonhos. Seu desejo de tornar aquela estufa que possuia apenas mata e flores em realidade era maior do que se livrar do pesadelo que Amethyst a fazia passar em um mundo muito real que estava longe de ser perfeito como em seu subconsciente, mas sua irmã mais velha não gostava de coisas belas, não mais. Ela mesmo disse que destruiria qualquer coisa bela que existisse em sua casa, então Saphyre jamais poderia ter uma estufa com as mais belas e coloridas flores que o mundo possuia. Mas isso se encaixava em suas regras no mundo real, não naquele em que a feiticeira poderia construir um mundo inteiro apenas em um pensamento. Diferente dos mortais ou qualquer criatura sobrenatural, os feiticeiros tinham controle total em seus sonhos, então ninguém destruiria o mundo perfeito que Saphyre havia construído em quanto dormia. E era realmente uma pena que só existisse coisas belas em sua mente, pois ela esperava muito do mundo que era totalmente desconhecido. Afinal, a última vez que soube o que era liberdade, a igreja católica ainda queimavam mulheres em fogueiras ao meio de praças e as chamavam de bruxas, mesmo sendo inocentes. Era impossivel ter liberdade naquela época, onde o medo era apenas o melhor amigo das mulheres que mal saiam nas ruas para não serem confundidas com algo que não eram. E depois disso Amethyst virou ambiciosa por poder de uma maneira que não desejava a distancia de Saphyre, pois seus poderes iriam diminuir. Sendo assim, não era dificil saber o que aconteceu no passado, presente e provavelmente futuro de Saphyre. Essa pequena feiticeira foi trancafiada sempre em uma mansão sem que pudesse sair e amaldiçoada com essa marca em seus olhos que já não eram normais antes dessas veias vermelhas que se encontravam em sua pupila negra aparecer. Ela se perguntava algumas vezes se a melhor escolha teria sido se tivesse permitido que alguém a levasse direto para uma fogueira e morrido com chamas ao seu redor de seu corpo ao invés de viver nessa situação tão desprezível. Algumas pessoas poderiam até mesmo pensar que esse pensamento era desprezível, não a vida dela. Mas apenas Saphyre sabia o que aguentava nessa vida junto com sua irmã mais velha. Afinal, nem todos os homens que ela trouxe para casa eram adoráveis como Andrew. Bom, na verdade, nenhum nunca a tratou sem ser um objeto qualquer que era útil algumas noites quando Amethyst não lhe davam atenção, além daquele vampiro que parecia ser tão bom para estar junto com alguém tão ruim como sua irmã. Mas Roxie havia lhe dito que tudo isso se tratava da alma negra de Andrew, então ela ajudaria essa imortal tão apaixonada por alguém que mais lhe maltratava do que dava amor, pois o vampiro que a tratou tão bem quando chegou nessa casa, merecia isso. Ele merecia uma salvação, diferente de Amethyst que só merecia a morte. Almas raras... Por que elas existiam? Até agora Saphyre apenas havia visto o lado negro disso tudo,


ela sabia que os deuses as criaram para deixar seus poderes maiores, que os seres que eles criaram eram apenas uma fonte de energia, mas mesmo assim, elas só causavam a destruição em geral. Doeu muito ver sua única irmã que sempre vivia sorrindo e brincando com ela virar um monstro que destruía tudo sem ao menos imaginar as consequências que teria. E ainda havia mais o detalhe que Amethyst tirou Andrew de Roxie. Tudo bem que eles pareciam ser um casal muito complexo e cheios de problemas que tinham que ser resolvidos, mas Saphyre sabia que Amethyst foi culpada de destruir os laços fortes que se seguravam um ao outro com muita força para que esses problemas não atingisse o sentimento mais belo e forte que existia entre eles. Saphyre fechou seus olhos por um momento e permitiu que a imagem de seus pais sorrindo com ela e Amy no colo deles voltasse a sua mente. Naquele dia eles haviam dito que Amethyst seria um grande problema, mas nem eles mesmo imaginaram que essa brincadeira seria tão séria. Seus pais, provavelmente, estavam desapontados com ambas. Afinal, Saphyre não teve forças o suficiente para matar sua irmã e ela teve chances preciosas para fazer isso. Saphyre, realmente, era um fracasso como uma feiticeira. Ela ouviu o som de algum galho velho que estava no chão sendo quebrado quando alguém não teve cuidado suficiente para desviar daquele pequeno obstaculo. Isso era errado, pois ninguém deveria invadir esse lugar além dela mesma... Saphyre se virou rapidamente e por consequência disso acabou batendo suas costas sob a mesa cheia de vasos que até agora observava antes de ver um estranho homem em sua frente. Ela se amaldiçoou diversas vezes por ter colocado aquela mesa alí, pois agora, não havia como se afastar quando esse estranho ficou mais próximo dela. Ele não tinha uma imagem de que era perigoso, mas mesmo assim, nada o impedia de usar seus poderes para matar alguém de uma forma muito dolorosa. Essa mensagem estava em seus olhos, os mesmo que o marcavam como um feiticeiro e explicava como tinha conseguido invadir seu sonho. Mas fora isso, ele tinha uma aparência angelical. Seu rosto e aqueles cabelos dourados que caiam sobre seus olhos em uma bagunça bonita, poderia confundi-lo como um anjo até alguém olhar para seus trajes e saber que ele era apenas um conde que caminhava com sua bengala de fênix para exibir o quão rico poderia ser. — Quem é você?— Ela se atreveu a dizer, mas não sentiu medo. Quem era ele para amedrontá-la quando Saphyre convivia todos os dias com Amethyst? — Alguém que não fica observando flores em um mundo imaginário quando Londres cai na desgraça de sua irmã.— Rude. — Quem é você?— Saphyre repetiu sua pergunta, tentando ser rude também. — Um amigo, talvez.— — Eu não considero nenhum invasor de sonhos como amigo.— Ela disse para aquele estranho e o mais estranho de tudo foi que sua resposta o fez sorrir. E então aqueles olhos que eram considerados anormais para qualquer criatura sobrenatural desviaram dos de Saphyre, o que a fez se sentir totalmente aliviada, mesmo que sua franja grande estivesse tampando seu olho amaldiçoado, só quando ninguém fazia contato visual que ela se sentia assim. Nem mesmo quando usava seu boné se sentia em paz. Saphyre olhou para o seu lado direito, para o mesmo lugar onde aquele homem de cabelos dourados estava olhando e acabou ficando surpresa. Quando ela virou na direção desse estranho com tanta rapidez e teve suas costas batida contra mesa transbordada de flores coloridas, alguns vasos acabaram indo de encontro ao chão. Seria isso que teria acontecido se aquelas flores não estivessem arruinando todas as leis da gravidade ao flutuar no ar. Na verdade, não eram as flores que estavam arruinando a gravidade, era aquele feiticeiro que havia se infiltrado em seu sonho sem ser convidado.


A única coisa boa até agora, pelo menos, foi que ele não permitiu que suas flores fossem destruídas ao encontrarem um chão de pisos feitos de pedras quase brancas com espaços entre elas para que a grama verde tivesse chance de ter uma vida. Aquele feiticeiro apenas usou seus poderes para colocar os vasos caídos de volta em seus devidos lugares. Isso foi algo muito gentil da parte de uma pessoa que parecia ser tão rude. — Obrigada,— Saphyre disse.— mas não era realmente necessário fazer isso, pois eu poderia recriá-las em um estalar de dedos.— — É meu dever proteger a natureza. Na verdade, é o nosso dever.— Ele sorriu novamente e de rude se transformou em uma pessoa muito gentil apenas em sorrir daquela maneira. — Como você se chama?— Foi o que ela perguntou, pois como uma feiticeira Saphyre era uma vergonha e Amethys apenas piorou sua imagem com toda sua loucura e obsessão. Então ela jamais teria uma resposta para o que ele acabará de falar. — Charles.— Ele falou.— Eu me chamo Charles, Saphyre.— — Você sabe meu nome, então imagino que seja o amigo de Roxie.— Falou pensativa.— Eu não imaginava que viria tão rápido.— — Não existe muitas coisas a se fazer em Londres atualmente.— Charles suspirou.— Além do mais, nossos planos foram todos adiados até que Roxie consiga trazer Andrew de volta.— — Eu entendo.— Saphyre disse.— E você provavelmente é o feiticeiro que procura uma forma de matar minha irmã.— — Como sabe que fui o encarregado disso?— — É muito simples, apenas feiticeiros sabem como matar uns aos outros.— — Sim, você tem razão.— Charles apertou seus dedos ainda mais naquela imagem de fênix e acabou se aproximando ainda mais de Saphyre, ela continuou imovel no lugar devido a mesa que estava logo atrás dela, pois caso contrário, já estaria em marte quando esse feiticeiro invadiu seu sonho.— E eu sinto muito por ter que sujar minhas mãos com o sangue de Amethyst, sendo ela sua própria irmã.— — Alguém terá que fazer isso no final das contas.— Saphyre olhou para o chão, o contato visual a intimidando mais do que se estivesse queimando em uma fogueira na praça em séculos passados.— Ela não é mais humana para continuar vivendo.— — Isso é estranho.— Charles riu por um momento.— Você não é humana também para dizer algo desse tipo.— — Eu sou mais humana que Amethyst, pelo menos.— — Sim, você é.— Charles sorriu e novamente deu passos para se aproximar de Saphyre, apenas a deixando ainda mais apavorada, mas ele acabou parando não muito perto de seu corpo pequeno e frágil. Mesmo assim, a sua aproximação nunca deveria ter existido para começo de conversa. Saphyre tinha muito medo do que as pessoas podiam fazer quando se aproximavam dela, pois quando a tocavam, nunca era gentil. Os toques que ela recebeu durante anos de sua vida eram agressivos ou abusivos. Mas acabou que Charles não fez nada mais além de aproximar sua mão do rosto de Saphyre e afastar sua enorme franja com seus dedos longos e finos. Ela poderia ter negado aquilo virando seu rosto para o lado já que não tinha mais espaço para sair correndo, mas sua mente ficou totalmente em branco quando ele fez isso a ponto dela nem ao menos pensar em fechar seus olhos para que ele não visse sua eterna marca em seu olho. Saphyre apenas ficou encarando a expressão vazia que Charles possuía e que não mudou em nada quando ele viu o horror que sua franja estava escondendo. E o que mais a surpreendeu foi que ele não usou sua bengala cara para retirar o cabelo dela de frente de seus olhos, como um conde fazia com uma escrava jogada ao chão para que ele pudesse avaliar se a compraria ou não. Charles a tocou gentilmente, como se ela fosse quebrar ao toque dele. Essa era a primeira vez que alguém fazia isso.— E você possuí olhos lindos.— Ele voltou a falar, fazendo Saphyre pensar em debochar do que ele acabará de falar ou simplesmente acusá-lo de estar mentindo, mas ela viu a verdade


naqueles olhos... Definitivamente, Saphyre era a única feiticeira não insana nessa raça tão rara que os deuses criaram. E estar ao meio de Charles e Amethyst a fazia ser uma raridade ainda maior, mas se havia algo que ela tinha certeza, era que estar perto desse feiticeiro em seus sonhos que não mantinha a distancia iria acabar lhe causando a insanidade... Então, a busca dessa cura para se livrar da maldição de Amethyst seria mais dificil do que já imaginará.


16Eu abri meus olhos assim que Charles deixou minha mente e acabei encontrando o teto do quarto de Andrew com aquele enorme lustre, o que era muito melhor do que abrir os olhos e ver aquela imensidão de azuis perversos como da ultima vez que acordei em sua cama. Me lembrar exatamente o que aconteceu para vir a dormir na cama do antigo rei dos vampiros ainda era um enigma, mas não era tão complicado de decifrar o que havia acontecido. Provavelmente depois que limpei minha sujeira com o sangue e entreguei as coisas para Saphyre, acabei deitando aqui para que a tontura fosse embora. Eu ainda estava tonta, mas a sensação de estar fraca não existia mais em meu corpo, então imagino que todo o sangue que perdi para aquela bolsa havia sido reposto pelo meu sistema. No passado eu teria rido em apenas imaginar que Andrew não teria nenhum desejo em tomar meu sangue, mas agora que esse pensamento havia se tornado uma realidade, chegava a ser muito horripilante, pois até mesmo quando ele estava ajudando Pierre e não imaginava que nós dois voltaríamos a ter um relacionamento, Andrew tomou meu sangue. Tudo bem que ele quase secou meu corpo e ainda o deixou jogado no cemitério até mesmo quando amanheceu, mas seria muito útil se fizesse isso de novo. Eu nunca reclamaria ou ficaria brava como aconteceu da última vez. — Eu estou curioso,— Ouvi a voz de Andrew, seu sotaque francês muito mais forte do que antigamente. França, ele tinha que estar tido por lá no período em que não esteve preso em Londres, essa séria a única explicação para seu sotaque estar tão forte. Eu levantei meu tronco para que pudesse sentar sob sua cama e somente assim encontrei o antigo rei dos vampiros sentado naquele sofá de couro preto que passava a maior parte do meu tempo nesse quarto. Andrew segurava uma taça de cristal com um pouco de sangue entre seus dedos, me fazendo perguntar se era meu sangue que estava ali dentro. Andrew balançou aquela taça para que o sangue se move-se lentamente, seus olhos azuis estavam fixos em mim.— Por que você se livraria de todo o sangue daquelas bolsas e substituiria pelo seu? — — Existe algum problema com meu sangue?— Eu usei um pouco de sarcasmo, pois ao tomar o sangue daquela bolsa ele notaria que aquele liquido vermelho pertenceria a mim. Andrew era muito mais esperto do que eu, mas o importante era que o vampiro havia tomado meu sangue, então... Bingo. — Eu não confio em você.— Ele disse.— A última vez que tomei seu sangue depois de algum tempo ele estava envenenado.— — Se isso o deixa feliz, eu também não confio em você. Além do mais, aquilo foi uma jogada de seu irmão, não minha. E a noite em que me trouxe para essa esse lugar, você experimentou meu sangue, é totalmente impossível que ele esteja envenenado novamente.— Andrew sorriu ironicamente, apenas provando que ele se lembrava muito bem daquele beijo em que usou suas presas para cortar minha boca. Não entendia muito bem por que se fez de desentendido, mas talvez fosse apenas uma jogada para que eu me enrolasse em minhas palavras e falasse demais. —Por que deseja que tome seu sangue, Roxie?— Andrew perguntou muito sério, nem ao menos


imaginando o real motivo daquilo tudo. Eu me mantive em silencio em quanto o encarava, pois ele não iria tirar nada de mim com seus joguinhos. E mesmo que isso fosse apenas colaborar para que Andrew não se alimentasse do meu sangue por orgulho, eu arrumaria algum jeito de me livrar de todo o sangue que ele arrumasse. Seus olhos frios que ainda estavam fixos em mim brilharam de raiva quando não o respondi, eu sabia que isso significava problemas, mas não desistiria tão facilmente assim. Um olhar ameaçador não iria fazer com que eu abrisse muita boca, nem mesmo uma tortura. Andrew se levantou daquele sofá e deixou sua taça para trás quando passou a se aproximar da cama que estava bem em sua frente. Quando ela deveria ter se tornado um obstaculo que o fizesse parar no lugar onde estava, isso não o parou. Na verdade Andrew apenas ignorou o fato que deveríamos manter a distancia um do outro. Ele não parou de se movimentar até que eu estivesse novamente deitada e com seu enorme corpo em cima do meu. Suas palmas estavam uma de cada lado da minha cabeça e seus joelhos não me deram quase nenhum espaço quando ficaram grudados perto da minha cintura. E mesmo que ele estivesse de joelhos e apoiando suas mãos na cama, Andrew ainda deixava seu corpo longe do meu, seus joelhos eram as únicas partes que encostavam em mim. Eu sabia que ele nos deixou nessa posição apenas pra me intimidar e não para me prender no lugar, pois a corrente exercia esse poder muito bem. Mas bem, ninguém nunca acreditaria quando falasse que eu já consegui deixar o antigo rei dos vampiros de quatro sobre mim. Isso seria até mesmo engraçado, se eu não tivesse visto a ameaça mortal em seus olhos. — Eu quero quebrá-la, quero queimá-la e enterrá-la em quanto seu coração bate.— Ele rangeu aquilo entre os dentes e não existiu nenhum indicio de mentira em seus olhos.— Então me diga por que você quer que tome seu sangue antes que eu comece a fazer isso.— — Você pode começar sua tortura dessa noite então.— O enfrentei pensando que isso realmente iria me causar um grande problema cheio de dor e sangue, mas o que aconteceu foi ainda mais assustador que tudo isso. Em vez de fazer tudo aquilo que ele havia dito sobre me torturar, Andrew soltou um riso sem ironia ou sarcasmo. Algo totalmente verdadeiro que se no passado era considerado como algo raro, eu não sabia explicar o que significava agora. — Seu rosto fica lindo quando deixa seus medos de lado e os enfrenta, Roxanny.— Ele disse com um certo sorriso irônico. — Não me chame de Roxanny.— Isso fez apenas que o sorriso de Andrew crescesse. — Eu posso chamá-la de escrava sexual, se preferir.— Eu bati minhas palmas em seu peito para tentar prejudicá-lo de alguma maneira ou simplesmente tirá-lo de cima de mim, mas isso apenas me causou uma pequena dor em minhas mãos. Andrew provavelmente após se tornar esse vampiro tão incomum por causa da magia de Amethyst deve ter se tornado ainda mais forte ou eu que havia ficado mais fraca, pois antigamente eu conseguiria tirá-lo de cima de mim pelo menos. A única coisa que eu consegui foi um impacto no corpo dele que fez com que aquela corrente de prata aparecesse em volta de seu pescoço assim que sua camisa deixou de escondê-la. Por um momento eu pensei em puxá-la para fora de sua camisa e finalmente ver o que havia de tão precioso para ser sempre mantido escondido, mas antes que eu tivesse chance de fazer isso o vampiro em cima de mim voltou a falar, fazendo com que perdesse meu foco nesse plano. — Mas se a deixa feliz, eu me alimentei de toda aquela bolsa até perceber que o sangue dentro dela era seu. Jamais imaginei que Saphyre iria se tornar sua aliada e ajudá-la nisso.— Eu deixei de observar a corrente dele rapidamente após dizer isso para encontrar seus olhos novamente. — Não conte a Amethyst que Saphyre me ajudou, por favor.— Eu quase implorei por isso, pois havia me esquecido o quão ruim ficaria as coisas se Andrew decidisse falar para a irmã mais velha de Saphyre. — Eu não faria nada para prejudicá-la.— Ele disse, talvez fosse uma ameaça.— Mas não se


aproveite disso para usá-la como uma peça de jogo de xadrez.— — Você deveria seguir seus próprios conselhos, Andrew.— — Eu não consigo, não quando é você.— Andrew piscou e quando abriu seus olhos novamente, eles não eram mais aquele lindo azul frio que eu tanto amava, tudo não passava de um espelho negro que me encarava e quando seus lábios se entre abriram para que mais palavras saíssem, eu vi aquelas quatro presas que pareciam ser mais afiadas do que antes. Eu não sabia o que era mais assustador nesse momento, mas o que mais me deixava com medo eram aquelas veias negras ao redor de seus olhos, eu tinha certeza disso.— Seu sangue se torna um vicio toda vez que o provo. Isso apenas faz com que você faça de mim seu brinquedo, não é ao contrario, cherie.— Cherie. Esse era o momento perfeito em que meu corpo paralisava e minha mente ficava em branco ao se lembrar que Andrew estava me prendendo em baixo dele. Sem contar o fato de que ele acabará de me chamar de cherie sem nenhuma intenção de me torturar após dizer um apelido tão importante para mim que foi usado para trocas de carinhos muitas vezes. — Andrew...— Eu sussurrei seu nome ao mesmo tempo que me apoiava em meus cotovelos para que ficasse mais próxima dele, só que isso não foi o suficiente. Então tudo que fiz foi um movimento maior que isso, eu afastei Andrew de mim com um toque leve em seu peito, nada muito rapido ou agressivo para que ele não entendesse errado, pois eu apenas queria sair de baixo dele e ficar de joelhos em cima da cama exatamente como ele estava agora em minha frente. Eu avancei para frente e toquei seu abdomen com a ponta dos meus dedos, encarando aqueles olhos negros que poderiam causar pesadelos para uma criança ou até mesmo para mim, mas no final de tudo, ele era apenas Andrew... E mesmo que nós dois estivemos vestidos, ou quase vestida no meu caso já que usava aquela capa de travesseiro, eu podia sentir o calor ao nosso redor. Nem mesmo uma alma negra poderia acabar com essa atração perfeita que existia entre nós.— Morda-me.— — Por que?— Ele resistiu com esse murmurio quase rouco, pegando meu pulso que estava próximo de seu abdomen para puxar meu corpo para mais perto do seu.— Diga-me por que.— — Cale a boca, Andrew.— Eu enterrei minha mão sob seus cabelos negros e macios rapidamente para que pudesse empurrar sua cabeça até meu ombro nu, já que meu pescoço estava restrito pela corrente grossa. Eu não queria que ele perdesse seu tempo a tirando, pois a ideia de ter suas presas enterrada em minha pele estava causando uma enorme eletricidade por meu corpo, pois havia mais de 10 anos que ele não me mordia como o verdadeiro assassino que era.— Me morda agora.— Eu realmente ordenei aquilo. Andrew colocou sua mão em minha nuca em quanto passava seu braço livre por minha cintura com a única intenção de espremer meu corpo contra o seu, eu o segurei em seus cabelos e em suas costas com força o suficiente para esmagá-lo se não fosse tão forte, mas era impossivel resistir a sensação que estava crescendo dentro de mim antes mesmo que suas presas encostassem em minha pele, parecia que meu interior inteiro estava criando chamas, mesmo quando eu deveria me sentir gelada. Eu fechei meus olhos e mordi meu lábio inferior para esperar o vampiro que respirava tão próximo do meu ombro me morder. — Roxie,— Ele sussurrou meu nome.— Você está brilhando.— E então Andrew me mordeu. Minha mente estava pronta para pensar sobre o fato de estar brilhando e até mesmo meus olhos estavam prontos para serem abertos, mas quando as presas de Andrew rasgaram minha pele, me causando uma dor profundo como se quatro agulhas de dois tamanhos diferentes estivessem se afundando em meu ombro, eu esqueci de qualquer coisa que estava prestes a fazer por causa disso. Dizer que suas presas tão afiadas não me causou nenhuma dor seria mentira, pois elas me causaram, a ponto de meus lábios soltarem um gemido, mas a dor era suportável e muito agradável. E ela se


tornava uma caricia linda quando eu pensava que logo o meu Andrew poderia estar de volta aos meus braços. Eu foquei toda minha atenção no quanto Andrew pressionava meu corpo contra o seu e em como sua mão em minha nuca a apertava, causando arrepios por todo o meu corpo. Nossos corpos se encaixavam hora sim e hora não conforme os movimentos que ele fazia para sugar meu sangue, esses atritos provavelmente estavam apenas colaborando para que aquela fraca camada de brilho por todo meu corpo não o abandonasse, já que o fogo em meu interior parecia apenas crescer. Mas eu não ligava por estar brilhando, tudo que importava era que esse vampiro estava se alimentando do meu sangue. Eu havia dado o primeiro passo de um plano que foi considerado quase impossível, Andrew ter me mordido era como se fosse uma vitória. Tudo que esperava era que o gelo que estava passando a se formar nas pontas dos meus dedos não atrapalhasse esse momento. Eu abri meus olhos para ver se nada havia sido vitima de um congelamento, pois a última vez que minha mente viajou para longe quase todo o escritório de Iawy havia sido congelado. Mas assim que meus olhos foram abertos, eu vi tudo embaçado e tremulo, impossibilitando qualquer tentativa de conferir se havia gelo no quarto. — Andrew.— Sussurrei seu nome calmamente, pois só quando abri meus olhos percebi que a força que usava para segurá-lo em suas costas quase não existia mais e eu provavelmente não passava de um peso morto em seus braços nesse momento. Sem contar que o atrito de nossos corpos não estava mais fazendo nenhum efeito em mim e isso significava problemas. Eu poderia desmaiar a qualquer momento agora, mas se isso chegasse acontecer não teria nenhum problema, pois como disse antes, eu não teria problemas em ter o sangue do meu corpo todo sugado. Acho que apenas ficava um pouco aterrorizada em saber que poderia ter minha primeira morte em qualquer momento, por isso que acabei dizendo seu nome. O vampiro movimentou sua cabeça para cima, tirando suas presas do meu ombro, e como eu ainda segurava seus cabelos com meus dedos, acabei usando o resto da força que existia em meu corpo para empurrar a cabeça dele de volta e continuar se alimentando de mim, mas isso jamais voltou a acontecer. Na verdade, tudo o que Andrew fez foi jogar meu corpo de volta para a cama como se tivesse muito nojo e se afastar de mim. Eu sabia o que aquilo significava, ele estava buscando o controle. Afinal, Andrew mesmo disse um dia que meu sangue humano quase causou minha morte quando o provou, ele teve que ter muito controle para que isso não acontecesse. E agora, meu sangue tinha o mesmo gosto de seculos atras de quando eu era apenas uma humana. Estar me sentindo bem era a última coisa que aconteceria nesse momento, mas antes que minha situação piorasse e acabasse desmaiando pela falta de sangue em meu corpo, eu usei minha força para sentar naquele colchão tão grande e macio. Minha visão ainda estava prejudicada e isso explicava o motivo de estar vendo dois Andrew e a falta de algumas veias negras ao redor de seus olhos completamente negros. Eu fechei meus olhos por um momento, pois ver o homem que eu amava duplamente era normal, mas estar faltando um detalhe daquilo que ele havia se tornado não era tão normal assim, mas quando abri meus olhos para conferir isso, seus olhos azuis estavam de volta e não existia mais nenhuma presa em seus dentes. Isso foi apenas uma brincadeira da minha mente já prejudicada, provavelmente. A melhor parte de tudo era que eu não estava mais brilhando e Andrew finalmente tomou meu sangue.


E eu acho que esse era o momento perfeito para que ele saísse desse quarto como sempre fazia quando o colocava em uma situação complicada, não ficar me encarando. — O que foi?— Eu perguntei, não mantendo o contato visual já que isso era algo tão complicado nesse momento. Afinal, eu mal conseguia lidar com um Andrew, imagine dois. Essa ideia me assustava mais do que Amethyst. Mas pelo canto do olho eu vi que ele se virou para ficar de frente com aquela parede de vidro e até mesmo encostou sua testa nele. — Eu ainda desejo sua morte apenas para abrir todo seu corpo e se deliciar com as gotas de sangue que ficarão escorrendo em seus órgãos quando estiver seca.— Bom, isso era romântico como nos filmes de romances quando os vampiros tomavam o sangue da mocinha pela primeira vez. — Isso é um bom sinal, certo?— Tentei ser positiva, ainda mais quando percebi que o vampiro em minha frente não estava respirando.— Essa é a prova que meu sangue não está envenenado como imaginou.— O vampiro, ainda de costas para mim, soltou um riso amargo após eu falar e olhou somente um pouquinho por cima do seu ombro para me encontrar. — Desejar sua morte é um bom sinal?— Ele perguntou com um certo tom de ironia. — Não muito, mas você deseja isso e mesmo assim está tentando se controlar, esse é o bom sinal.— Isso significava muito para mim, ainda mais vindo de um vampiro com alma negra.— Além do mais, eu não posso morrer. Então isso não é um grande problema.— — Você está diferente.— — O que?— Isso meio que me pegou de surpresa e eu não entendi muito bem o que Andrew quis dizer com isso. — Você está mais determinada e lutando sozinha por suas brigas, sem precisar de mim.— Ele explicou e eu acabei suspirando, pois por causa disso talvez tenha perdido uma melhor amiga e por mais que não depender de Andrew fosse algo muito mais que ótimo, eu ainda sentia falta de sua proteção. — Como sabe que estou no meio de uma briga?— Eu perguntei, ignorando todo o resto. — Eu não sou idiota, Roxie, na verdade nunca fui.— Ele disse.— Não existe nenhum motivo para você ter corrido até mim e agora fazer questão que eu me alimente do seu sangue. Você não é uma pessoa muito difícil de se ler, mesmo que tenha mudado.— — Você sabe por que eu estou aqui?— Agora eu estava um pouco chocada. — Na verdade não, mas você quer que eu me alimente do seu sangue... Talvez isso esteja relacionado com minha alma, para trazê-la de volta ao normal.— — E se for isso?— Eu perguntei como se não quisesse nada.— Só por curiosidade.— — Oh, eu vou deixá-la encontrar o fundo do poço sozinha e me divertir com sua própria derrota.— Andrew se virou para mim finalmente.— Como eu disse no passado, você será meu brinquedinho para tirar-me do tédio e não existe diversão melhor quando o mesmo cria vida própria.— — Diferente de mim, você não mudou nada.— Eu murmurei, afinal, a única diferença agora era... nenhuma. Andrew nunca colocou fé em mim de qualquer maneira. — Eu estou sendo realista.— Andrew se aproximou e sentou na ponta da cama de frente para mim. E mesmo que tenha feito isso olhando para o sangue que escorreu por meu ombro após ele ter tirado suas presas dali, isso não me intimidou.— Me diga, como o seu sangue poderia ajudar um assassino que destruiu quase Londres toda?— Eu ouvi a pura ironia em sua pergunta. — Eu não sei.— Fui sincera, pois essa era a pergunta que eu mais fazia para mim mesma quando estava sozinha.— Mas não creio que você seja uma causa perdida, eu imagino que ainda existe bondade dentro do seu coração, já que nunca tentou destruir a central de caçadores, onde todos os seus amigos estão.— — Não seja uma tola, cherie.— Ele disse com um sorriso irônico.— Não ficou obvio que o único motivo por aquele prédio ainda estar de pé é por que precisamos de vocês? Seria muito ruim ficar trancafiado em Londres e qualquer lugar que fosse tivesse um corpo apodrecendo. Vocês foram apenas uma peça nesse jogo, não existe nenhum sentimento envolvido pelo o que as pessoas que estão morando naquele lugar significaram para mim no passado.—


— Nem Lúcifer?— Os olhos dele brilharam, isso significava algo... — Se você decidisse cometer suicídio eu provavelmente não me importaria, então o que você acha? — Ok, poderia conviver sem essa resposta, mas acredito que metade dela não era tão verdadeira quanto pareceu, e eu pensava dessa maneira devido aos momentos que aconteceram entre nós dois que provaram que esse vampiro ainda possuía sentimentos em alguma parte remota de seu coração congelado. — Eu ainda acredito que você pode ser salvo, Andrew, e nada vai fazer minha cabeça mudar de ideia.— — Eu disse para não ser uma tola.— Ele disse com um minimo sorriso em seu rosto que não era irônico e nem sarcástico, eu não sabia o que significava. Em uma lógica mais louca poderia ser um pouco de felicidade por eu ainda acreditar nele depois de tanto tempo. Talvez fosse apenas isso que ele precisava depois de 10 anos o julgando como um assassino ou simplesmente era surpresa por eu estar acreditando nele, uma das poucas coisas que fiz quando ele realmente precisou no passado. — Eu preciso me encontrar com Amethyst.— Andrew voltou a falar e quebrar o silencio entre nós. — Espero que seu corpo reproduza todo o sangue que perdeu em quanto estiver fora, pois não desejo arrastá-la por essa corrente quando sairmos mais tarde.— Eu estava prestes a perguntar para onde iriamos quando ele voltasse de seu encontro com aquela feiticeira louca, mas antes que tivesse chances de abrir a boca o vampiro já estava de pé e caminhando para a saída do quarto. E nenhuma palavra acabou saindo dos meus lábios para tirar uma curiosidade que provavelmente me mataria até ele voltar. *** --Andrew estava a alguns centímetros do meu corpo agora que acabará de se afastar dos meus lábios e por algum tipo de impulso cheio de desejos eu busquei pela sua boca novamente para que voltássemos a nos beijar, mas o vampiro em minha frente era muito maior que eu, então quando ele deixou de estar curvado para encontrar meu rosto, isso foi praticamente impossível. Mas Andrew ainda me segurava contra seu corpo, suas mãos em minhas costas me prendiam naquele lugar que estávamos nos beijando e isso era o suficiente já que não podia ter sua boca novamente. Um sorriso surgiu nos lábios dele e não havia nenhum indicio de ironia, nem mesmo em seus olhos azuis frios. Aquele azul que já me causou tantos pesadelos estava brilhando de felicidade e havia muita sinceridade nisso. — Você poderá explorar toda minha beleza mais tarde, cherie.— Ele disse.— Nós temos convidados nos esperando lá dentro agora.— — Ainda há muita comida para entretê-los, ninguém notará que os noivos não estão no salão.— Eu obriguei minhas unhas se grudarem ainda mais contra a cintura dele, onde eu o segurava, para que não se move-se. — Há um enorme bolo de chocolate de brigadeiro com cobertura branca lá dentro, tem certeza que vai deixá-lo todo para Nyx?— Andrew perguntou em brincadeira. Afinal, minha melhor amiga não se tornaria uma traidora apenas por que me casei primeiro que ela. A luz do luar se debateu contra o rosto pálido de Andrew, sendo essa luz a única nesse corredor enorme cheio de vasos e quadros antigos que estávamos nos escondendo. Ela conseguiu o deixar ainda mais lindo nessa escuridão e me fazer pensar se agora que ele era um rei, poderia vê-lo todos os minutos do meu dia ou isso apenas iria separar Andrew de mim. — Hey, Andrew.— Eu murmurei com meus olhos baixos, olhando fixamente para um botão de sua camisa.— Nós iremos ficar bem?— — Cherie, eu sei que todos dizem que casamentos podem ser a morte do noivo e mais de algumas mulheres que provavelmente vão cometer suicídio quando souberem que o deus supremo delas se casou... Mas sim, nós trabalharemos duro para que tudo isso de certo.—


— Eu não estou falando disso!— Eu o encarei novamente tentando segurar meu riso. — Sobre o que está falando então?— Ele perguntou carinhosamente, levando uma de suas mãos até meu rosto para acariciá-lo com seu polegar. — Você é um rei agora.— Eu falei, ainda não acreditando que toda essa coisa de reis e rainhas existiam no mundo das criaturas sobrenaturais.— E nós teremos que morar na mansão de Pierre, isso apenas está complicando nossas vidas.— — Eu sei que você não está feliz por morar naquela mansão e...— — Isso é não é sobre mim, Andrew.— Eu o cortei.— Eu irei para qualquer lugar que for, mas... Você está preparado para tudo isso?— — Eu nasci para ser um rei.— Andrew disse ironicamente, o que não me deixou muito feliz.— Além do mais, eu tenho minha rainha ao meu lado, por que não estaria preparado?— — Andrew...— Eu suspirei.— Esse não é um assunto que você pode cuidar com ironia.— — Nós vamos ficar bem, Roxie.— Ele falou com um sorriso em seu rosto, porém sério.— Pierre cavou seu próprio tumulo e tudo que fiz foi deitá-lo nela. E minha família está ao meio de toda realeza desde que ela passou a ser formada para que existisse ordem entre nós, então não se preocupe, eu vou sobreviver a isso e eles também.— — Você ficará muito ausente?— Perguntei aquilo que estava me matando. — É claro que não.— Andrew fingiu se ofender com essa pergunta.— Nenhuma clave ou realeza tirará minha década de lua-de-mel.— — Década?— Eu perguntei rindo. — É claro! Ou você acha que uma noite será suficiente para nós dois?— — Eu te amo, Andrew.— Falei quase em um sussurro ao fugir totalmente do assunto após soltar um lento suspiro misturado com um riso. — Eu te amo também, cherie.— Andrew sorriu.— E estou falando sério, não se preocupe com tudo isso pelo menos nessa noite que levou séculos para acontecer.— — Você sabe realmente como enrolar uma mulher, meu caro.— Uma voz surgiu da escuridão, fazendo com que Andrew se afastasse completamente de mim para vir ao meu lado e encarar o estranho que estava em sua frente agora. Eu não havia notado esse homem se aproximar de nós, mas agora que ele havia dado alguns passos para ficar mais próximo de nós e a luz do luar da janela logo atrás de nós o iluminou, acabei o reconhecendo. Esse vampiro de cabelos loiros jogado aos seus olhos e com a pele tão pálida quanto a minha que parecia ser tão macia foi algum tipo de padrinho do meu casamento com Andrew. Essa era a primeira vez que estava o observando adquadamente, mas havia algo naqueles olhos verdes tão anormais, que me lembravam esmeraldas expostas ao sol, dizendo que eu o já havia visto em meu passado... Eu apenas não me lembrava onde e quando. — Admirando minha beleza, Rosane?— Um sorriso surgiu no meio de seus lábios avermelhados em quanto ele elevava sua taça de champanhe um pouco para cima, em um tipo de cumprimento. — É Roxie.— Eu o corrigi rudemente. Afinal, não havia como um padrinho do casamento não saber o nome da noiva! — Isso não importa de qualquer maneira, mas é um prazer conhecê-la.— Olhei para Andrew que estava em total silencio ao meu lado para que me explicasse quem era esse estranho e quando fiz isso ele acabou encontrando meu olhar. Eu o fuzilei com meus olhos. — Cherie, esse é Lúcifer.— Andrew falou.— Ele é meio que meu melhor amigo.— — Meio?— O estranho chamado Lúcifer se ofendeu.— É assim? É apenas casar que já despreza seu antigo amigo que o acolheu diversas vezes?— — É um prazer conhecê-lo, Lúcifer.— Eu tentei ser educada e ignorei todo o seu drama, pois para que Andrew o chamasse de “meio” melhor amigo, isso significava que esse vampiro de cabelos loiros era muito importante para ele.


O vampiro arqueou sua sobrancelha esquerda e balançou o resto do champanhe que ainda estava em seu copo, como se aquele liquido fosse mais importante do que estar conhecendo a esposa de seu melhor amigo.— Prazer?— Ele usou ironia, me fazendo revirar meus olhos, pois eu não precisava de outro desse em minha vida.— Saiba que você acabou de ganhar um inimigo e que todas as quartas é dia de pôquer. Resumindo, Andrew pertencerá a mim.— Por que eu estava me preocupando com amantes quando Andrew tinha um amigo como esse para roubá-lo de mim, afinal? — Lúcifer, se você não sabe o que significa um casamento, fique sabendo que eu sou a prioridade agora, não “quartas de pôquer”.— — Claro.— Ele foi sarcástico e olhou para Andrew.— Você deveria tê-la enrolado por mais séculos, pois meu amigo, esse casamento vai ser pior que a época da escravidão de estrangeiros.— Andrew desviou seu olhar do meu com um sorriso provocador.— Eu vou sentir falta das nossas quartas de pôquer, meu caro.— Essa fala apenas fez com que minha revolta aumentasse, mas antes que pudesse expô-la para esse estranho que Andrew chamava de amigo, ele deu suas costas para nós e passou a caminhar em direção do salão que nossa festa ocorria.— Parem de se molestar e voltem para a festa, todos estão esperando por vocês.— Avisou. E assim que Lúcifer abriu as duplas portas do salão para entrar, eu levei minha mão até o abdômen de Andrew e o belisquei sem conter minha força de vampira. O novo rei dos vampiros gemeu com isso e se afastou ainda mais de mim, continuava a fazer isso toda vez que eu avançava para tentar beliscá-lo novamente. — “Eu vou sentir falta das nossas quartas de pôquer”?— Eu o fuzilei ainda mais.— Essa é a resposta de um homem casado?— — Eu fui sincero.— Andrew riu, se divertindo com a minha raiva.— Além do mais, você poderia ter sido mais gentil com Lúcifer.— — Eu?!— Fiquei irada.— Ele não foi nada educado para me pedir isso!— — Bom, Lúcifer é... Lúcifer.— Oh, boa explicação.— Ele provavelmente está magoado por você ter destruído toda nossa rotina como amigos.— Minhas presas saltaram da minha gengiva quando a raiva esquentou todo o meu corpo já morto e eu fiquei muito feliz por elas terem aparecido, pois nada melhor do que elas demonstrariam minha fúria nesse momento.— Eu destruí o que?— — Simplesmente nada.— Andrew fingiu estar intimidado.— Você só corre o risco de destruir seu vestido, apenas isso.— O vampiro se aproximou de mim e entrelaçou nossos dedos, deixando minhas mãos imoveis para que eu não o beliscasse mais. O meu medo maior foi que ele machucasse nossas cicatrizes recémfeitas para simbolizar nosso casamento, mesmo que não tivesse intenção. — Não toque-me!— Eu exclamei em quanto tentava puxar minhas mãos das dele. — Nós precisamos entrar, cherie.— Ele disse.— Mais tarde quando estivermos a sós, eu exijo que você mostre suas presas e fuja dos meus toques.— — Você não tem direito a nada.— — Eu quero que me trate como...— Andrew puxou meu corpo, que rapidamente se debateu contra o seu e quase causou meu desiquilíbrio se ele não tivesse me segurado com seus braços.— Um escravo estrangeiro.— Ele sussurrou aquilo ao pé do meu ouvido. — Você é um idiota.— Eu disse sorrindo e Andrew finalmente me libertou de seu abraço apenas para pegar minha mão.


— Um idiota apaixonado.— O vampiro se curvou e levou minha mão até seus lábios, exatamente como um cavaleiro fazia quando cumprimentava sua dama no passado.— Vamos entrar, Cherie, pois eu sinto toda a ganancia de Nyx para devorar nosso bolo daqui.— Eu sorri para Andrew, não devido a sua brincadeira sobre Nyx querer devorar nosso bolo de casamento, mas sim por que nós finalmente estávamos casados e toda a eternidade estaria esperando por nós. Acho que valeu a pena esperar todo esse tempo para ter Andrew em meus braços, pois agora eu via em seus olhos que tudo que ele me prometia era apenas felicidade e eu acreditava nisso. Afinal, que mal iria acontecer em um casamento que demorou séculos para acontecer? — Vamos entrar.— Eu disse finalmente. --A escuridão invadiu minha mente, não por meu subconsciente desejar que isso acontecesse em meio a um sonho e sim por que eu tinha despertado mas não tive coragem suficiente para abrir meus olhos. Por que eu abriria? Os sonhos que costumavam ser memórias do meu passado eram muito mais agradáveis do que a realidade. E era loucura imaginar que um dia o meu passado seria tão amado quando eu sempre preferi o futuro, já que ele parecia me oferecer apenas felicidades, mas eu estava apenas enganada em pensar dessa maneira. Meu passado que me causou tantos pesadelos e sofrimento parecia ser um belo filme que uma criança assistia diversas vezes sem enjoar comparado ao que eu estava vivendo agora. Tudo bem que eu tinha Andrew ao meu lado e antigamente foi muito dificil passar pela fase sem esse vampiro em minha vida, mas acho que agora não havia muita diferença já que tudo isso de alma negra estava acontecendo. E pensando bem, o vampiro iria me matar quando voltasse de seu encontro com Amethyst e me visse acordando. Eu já deveria ter tomado banho e trocado essa capa de travesseiro que estava suja de sangue, mas agora, imagino que não tenha mais tempo de fazer isso. Eu tinha tido um ótimo sonho e para isso ter acontecido minha mente tinha que estar muito relaxada, como eu demorava para dormir, isso levou um bom tempo provavelmente. O estranho era que não me lembrava exatamente como havia dormido, da última vez que perdi tanto sangue pelo menos havia alguns flashs em minha mente que mostrava como eu cheguei nessa cama tão boa e macia comparada ao sofá que estava logo em sua frente. Em pensar que havia passado duas semanas encolhida nele esperando que o vampiro voltasse a lembrar que eu estava bem ali em sua frente. Outra duvida da minha mente era se o pior era passar 10 anos sem vê-lo ou duas semanas sendo ignorada. Nesse momento, meu desejo e único era entrar em coma para que todos os meus sonhos relacionados ao meu passado me fizessem feliz. E eu precisava disso. Eu não desejava que a escuridão da imortalidade invadisse minha mente e me tornasse alguém fria ou sem proposito por estar viva. Uma vez isso quase aconteceu e meus olhos deixaram de ter vida, agora tinha até um pouco de medo de me perguntar o que mais a imortalidade tiraria o brilho da vida. Esse pensamento me deixou um pouco incomodada a ponto de me virar na cama como se a posição que eu estava fosse melhorar meu dia. Ele não melhorou, apenas deixou minha mente ainda mais confusa do que já estava pois agora meus olhos encontraram uma costa nua e com uma cicatriz


enorme que a cortava em uma diagonal de ponta a ponta. Mas apesar dela deixar esse corpo tão lindo com um pequeno defeito, havia varias pintinhas, maiores do que as comuns, nessa região que se tornava algo bonitinho. E eu senti saudades de ficar contando cada uma delas como se fosse meu passatempo favorito. Rapidamente eu ergui o lençol que estava cobrindo meu corpo para checar se eu estava vestida depois que minha paixonite por pintinhas foi deixado de lado, afinal, minha mente estava em branco do que aconteceu e eu estava deitada na mesma cama com Andrew sem camisa, isso poderia significar muitas coisas, mas após confirmar que nós dois estávamos vestidos, eu voltei a relaxar. Na verdade, isso durou apenas segundos já que meus olhos correram rapidamente para o pescoço nu dele e a decepção percorreu meu corpo ao mesmo tempo que isso aconteceu. Andrew estava sem sua misteriosa corrente. Eu suspirei e aproximei meu corpo para perto do dele, tão imóvel quanto a de um cadáver já em seu caixão para ser enterrado. Não queria acordá-lo, pois ninguém tinha bom humor ao se levantar e considerando que Andrew dependia desse sentimento para viver, isso poderia causar grandes problemas. Mas eu precisava saber o que aconteceu e por que ele estava dormindo e não me arrastando por minha corrente. Eu olhei para meu ombro que Andrew havia mordido a algumas horas e o mais surpreendente foi que ele não estava mais sujo de sangue, tudo bem que as marcas deixaram de existir em questão de minutos após ele morder, mas o sangue ainda deveria estar em meu ombro... Ok, eu tinha que acordá-lo. Apenas esse vampiro poderia dizer o que aconteceu. As pontas dos meus dedos tocaram a pele nua de seu braço lentamente e eu nem ao menos usei força nesse toque, mas quando senti a sua temperatura tão quente comparada a minha, minha vontade foi de abraçá-lo. — Andrew.— Eu disse seu nome em um tom baixo, esperando que isso fosse o suficiente para acordá-lo. Normalmente apenas pelo fato de ter me movido na cama já teria o despertado, mas o vampiro estava em um sono profundo que permitiu todas suas guardas se abaixarem. Eu passei meu dedo lentamente por uma das linhas de seu braço que definiam seu músculo e Andrew não abriu seus olhos, mas eu sabia que ele tinha acordado dessa vez. E tive provas sobre isso ser verdade quando ele deixou de estar de lado para que sua barriga encontrasse o colchão.— Vá dormir, cherie, ou ache algo para fazer na mansão real.— Eu franzi o cenho e senti meu coração se acelerar devido ao choque da surpresa sobre o que ele acabará de falar. Achar algo para fazer na mansão real? Só se fosse juntar o entulha dela... — A mansão real foi destruída a exatamente 9 anos atrás, Andrew.— Disse ainda mais confusa, ignorando a manha em sua voz como uma criança fazia para não levantar em um dia de aula no meio de um inverno rigoroso, mas a parte mais dificil foi quando o vampiro se virou e minha mão que estava em seu braço deslizou para suas costas e meu desejo de acariciar aquela cicatriz tão antiga apenas cresceu. De todas as coisas que Andrew me culpava, o que mais eu sentia realmente era por causa daquela cicatriz em suas costas. Pierre uma vez o puniu lhe dando essa marca terrivel em seu corpo por minha culpa, apenas por que o antigo rei dos vampiros estava me amando. E como seu irmão era seu criador, aquela marca pertenceria ao seu corpo por toda eternidade. Essa era o maior motivo de que os vampiros matavam seu criador, pois toda vez que eles decidiam machucar aquele vampiro que deu origem, realmente machucava. De alguma maneira estava feliz por não ser mais uma vampira, pois agora que Andrew achava divertido me torturar, eu provavelmente teria muitas cicatrizes.


O vampiro se moveu novamente e antes que eu pudesse ter chances de acompanhar isso, ele já estava sentado na cama de costas para mim e com suas mãos tampando seu rosto, em quanto seus cotovelos eram apoiados sobre sua coxa. — Você tem razão.— O som de sua voz saio abafada devido a suas mãos estarem tampando sua boca.— Minha cabeça está doendo como se alguém tivesse a batido diversas vezes contra algo muito duro.— — Você está bem, Andrew?— Eu perguntei preocupada, pois um vampiro confundir o seu presente com o passado e esquecer que era o psicopata mais temido do mundo era muito preocupante. E vampiros não possuíam dores de cabeça sem que batessem a cabeça em algo realmente duro diversas vezes.— Isso é algo normal, agora que você se tornou algo...diferente?— — Não me trate como uma anomalia quando você passou 3 dias desmaiada nessa cama.— — O que?— Eu entrei em choque.— Você está brincando comigo?— — Eu acredito que não seja o tipo de homem de brincadeiras.— Isso era quase um fato, mas quando o vampiro estava de bom humor, o que era algo muito raro, ele brincava. Só que considerando o seu humor nos últimos 10 anos, isso não era uma brincadeira. Bom, Andrew tinha razão, ele não era o tipo de pessoa que fazia brincadeiras, mas o vampiro apenas estava me confundindo com isso de mansão real, dor de cabeça e eu dormindo durante 3 dias. Andrew se virou em minha direção para que seu olhar pudesse encontrar o meu e uma de suas sobrancelhas estava perfeitamente arqueada. Era primeira vez que eu via aqueles olhos azuis tão perfeitos hoje e podia ser impressão, mas havia algo diferente neles. Eu apenas não tinha ideia do que poderia ser. — Você não se lembra de nada, certo?— Ele perguntou com curiosidade e eu acenei minha cabeça negativamente como resposta, o que fez o vampiro suspirar calmamente.— Bom, quando eu retornei do meu encontro com Amethyst naquele dia, a encontrei desmaiada no chão e por mais que tentasse acordá-la isso jamais aconteceu. Então apenas deixei você em minha cama depois de limpar o sangue em seu ombro, pois alguma hora acordaria já que não estava morta.— — Eu acho que essa foi a consequência de ter passado mais de duas semanas sem dormir.— Eu falei, afinal, essa era a única explicação obvia pelo o que tinha acontecido.— Obrigada... Por limpar meu ombro e não sair me arrastando pela corrente como disse que iria fazer.— Andrew soltou um riso amargo e seco, mas era um riso.— Eu acho que não tive escolha, não haveria graça nenhuma em arrastá-la para algum lugar sem estar gritando e não poderia colocá-la em minha cama suja de sangue, então não me agradeça.— — Você ainda tem planos de me arrastar para algum lugar?— Eu perguntei. — Na verdade sim.— Ele disse.— Nós iremos essa noite.— — Por que precisa de mim?— — Isso é algo que você não precisa saber.— Andrew se levantou da cama, ficando novamente de costas para mim, e antes que pudesse fazer qualquer outra coisa ele ficou encarando um ponto fixo em sua frente. Eu olhei para ver se havia algo ali que chamasse sua atenção, mas não havia simplesmente nada e Andrew não era do tipo que encarava o vácuo. Por mais que 10 anos tenha passado em quanto ficamos separados, o tempo realmente não mudava ninguém, era apenas nós que desacostumamos com a pessoa, então era normal dizermos que ela tinha mudado. Eu acreditava fielmente que isso não era um novo costume que nasceu nesses 10 anos. — Tem certeza que está bem, Andrew?— Eu perguntei me levantando da cama também para tentar encontrar aqueles olhos azuis novamente. — Eu preciso falar com...— Ele disse algo depois de algum tempo, mas sua sentença ficou vaga como se estivesse perdido no tempo. — Amethyst?— Eu perguntei o provável. — Não.— Andrew se virou para mim.— Eu preciso falar com Saphyre.— — Por que?— — Eu não sei, preciso descobrir o que está acontecendo comigo, pois parece que existe em minha


mente um relógio enorme que trabalha muito melhor que qualquer outro e ele está tocando seu alarme cada vez que... Eu não sei o que está errado.— Se eu achava que estava confusa, Andrew estava em um nível muito pior que o meu.— Parece que ele se torna uma bomba relógio cada vez que escuta o som da sua voz.— Eu continuei o encarando com uma expressão vazia mesmo quando meus instintos de proteção, se eles alguma vez existiram, passaram a se erguer. Isso, o que o vampiro em minha frente estava passando, parecia ser um surto e toda vez que um psicopata tinha esse sintoma, a vitima era aquela que fazia sua “bomba relógio piorar”. Nesse caso, eu. — Eu posso ajudá-lo.— Falei.— Me diga tudo o que está acontecendo.— — Claro, Roxie.— Um sorriso muito mais do que ironico surgiu afiado em seus lábios.— Como se uma abominação que dorme durante três dias seguidos pudesse me ajudar.— Definitivamente, essa era a prova de que o vampiro não estava em um estado perigoso de morte. Ironia era sempre um sinal de pura saúde. — Você poderia ser mais gentil já que não faz mais parte dos “vampiros comuns”.— — Eu, realmente, não preciso das suas lições de moral, então estou indo encontrar Saphyre.— Ele disse sério, seu humor mudando completamente.— Quando voltar, nós iremos sair e...— — E esteja de pé pois não quero arrastá-la por sua corrente?— Eu o cortei para completar sua frase com sarcasmo.— É, eu sei.— Um sorriso torto cresceu nos lábios do vampiro.— Eu não iria dizer isso, mas se essa ameaça a deixa com menos pavor, você pode se iludir com ela.— — Obrigada.— Tentei ser irônica, mas a ideia do que ele iria dizer para me deixar com medo assombrou minha mente. Andrew continuou segurando meus olhos por mais alguns segundos em total silêncio e quando se cansou disso, o vampiro se virou e saiu do quarto para provavelmente procurar Saphyre. A melhor coisa disso tudo, é que eu poderia perguntar para essa bruxinha o que eles conversaram, já que ela tinha se tornado minha aliada e acima de tudo uma amiga.


17Como Andrew sempre demorava para voltar toda vez que saía desse quarto, eu resolvi que era uma ótima hora para tomar banho já que não correria o risco do vampiro voltar em quanto estivesse completamente nua. Eu provavelmente odiava mais esse quarto do que a Andrew devido a essa falta de portas para separar um comodo. E se o arquiteto que desenhou esse modelo de quarto estivesse morto depois dos ataques dos vleermuis, ele tinha merecido completamente. Afinal, era meio obvio que esse tipo de quarto era ideal para casais com todo esse tamanho e pela parede de vidro que separava o quarto do banheiro, um casal recém-casado que vivem no mundo da lua do amor onde ainda não existe nenhum problema entre eles, mas conforme os anos fossem se passando esse quarto se tornaria um inimigo deles por causa dessa parede de vidro, exatamente como se tornou para mim. Todo casal tinham brigas ao ponto de pensarem “por que eu escolhi esse desenho?” e por mais que ele fosse muito refinado, alguma hora a vontade de quebrar esse vidro e construir uma parede decente com portas seria maior do que o bom gosto. Eu respirei fundo e encostei minha testa na parede de azulejos em minha frente para que a água do chuveiro escorresse por meu corpo com a intenção de que minha mente parasse de implicar com o modelo desse quarto. Havia tantas coisas para pensar nesse momento e eu me preocupava com coisas bestas como essas ou de como a parede em que encostei era muito mais quente do que minha pele, mesmo que estivesse de baixo de água quente, fazendo com que meu corpo ficasse um pouco mais quentinho. A ideia de pensar em coisas como essas eram muito mais agradáveis do que imaginar o que poderia estar acontecendo com Andrew ou quais seriam as outras consequências que poderiam existir nisso tudo que me transformei para ganhar a imortalidade novamente. Mas nada disso me preocupava, pois não existiria nada mortal, pois minha vida apenas acabaria quando David morresse, então realmente era dificil achar que poderia existir algo pior do que dormir três dias seguidos. Minha única preocupação definitivamente era somente Andrew nesse momento, pois me chamar de cherie e achar que esses 10 anos nunca tiveram acontecido era algo muito assustador. Eu não queria admitir isso mas parecia que talvez meu sangue tivesse culpa nisso tudo. Pois na última vez que estive acordada o vampiro estava completamente normal, mas agora... isso não era mais um fato. Mas eu não sabia o que aconteceu nesses três dias que passei hibernando nessa cama, as chances que poderiam ser culpa do meu sangue também empatavam com que algo havia acontecido. Alias, era muito estranho o vampiro procurar Saphyre ao invés de Amethyst. Eu estava tão cansada de ter apenas perguntas ao invés de respostas que parecia que minha cabeça iria explodir a qualquer momento e agora nem mesmo a água quente que escorria por todo o meu


corpo podia destruir essa fábrica que produzia tantos pensamentos inúteis. E aquele que mais me assombrava era se Andrew não pudesse mais tomar meu sangue, pois eu não queria que ele tivesse sua alma negra, mas definitivamente não queria levá-lo a loucura. Meus olhos se fecharam para espantar mais pensamentos inuteis que veio junto com uma pergunta que poderia causar muitos problemas... Se meu sangue fosse culpado disso tudo, o que aconteceria agora? Qual seria a salvação desse vampiro, afinal? Eu sabia que achar que eu estava morta definitivamente ajudou sua alma ficar ainda mais negra do que o normal, pois os deuses sempre nos avisaram sobre isso, e tinha mais o sangue de Amethyst em volta disso tudo... Mas Andrew tinha comprovado que eu não estava morta e meu sangue pareceu mais prejudicá-lo do que ajudar. Como eu poderia ter alguma esperança com tudo isso acontecendo? Minha vida estava acaba, pois agora que havia me juntado a Andrew, não havia como desejar sua morte como já pensei antes para que o mundo pudesse voltar ao normal. Eu nunca desejei que ele realmente morresse por tudo que fez, mesmo que tivesse dito com todas as letras que ele tinha que morrer, grande parte de mim dizia que isso era apenas uma mentira. E depois de ter vindo até esse vampiro tão temido por todos, eu vi que ele possuía um coração ainda. Andrew cuidava de Saphyre como se fosse uma irmã mais nova e até mesmo de Amethyst, mesmo que ela parecesse não precisar disso, pois naquele dia ela me atacou, apenas ele pode controlar sua loucura e raiva mortal. Ele ainda observava as estrelas e as amava como sempre amou. Uma ponta de ciumes invadiu meu corpo de uma forma explosiva, pois o antigo rei dos vampiros, com sua alma negra ou não, possuía uma nova vida e até mesmo uma família. Doía muito saber que eu não fazia parte disso tudo. Eu abri meus olhos e passei minhas mãos por meus cabelos para colocá-los pra trás, pois estavam tampando totalmente minha visão quando a água fez com que eles se deslizassem para frente e após fazer isso eu vi pelos cantos dos meus olhos um vulto negro se mover, somente assim ergui meu queixo e tirei minha testa daquela parede gelada para que pudesse conferir o que acabará de ver se movendo próximo de mim. Andrew. O vampiro estava parado perto da porta do quarto, provando que não fazia muito tempo que ele tinha acabado de entrar, mas assim que meus olhos o encontrou um grande choque percorreu todo meu corpo por segundos, segundos que pareceram uma eternidade conforme passavam. E por mais que meus olhos estivessem fixos nos dele, Andrew não fazia o mesmo e isso estava claro devido a sua sobrancelha arqueada e seus olhos azuis percorrendo cada detalhe do meu corpo com um maldito sorriso malicioso em seus lábios. Eu não sentia meu coração bater, mesmo quando deveria ter sentido suas palpitações aceleradas, e para piorar minha mente parou de funcionar, o que me fez ficar congelada por esses vários segundo. Mas quando minha cabeça passou a capitar tudo o que estava acontecendo, eu rapidamente me virei de costas para sentar na banheira e abraçar meus joelhos, os apertando o máximo que podia contra meu corpo para que pudesse me encolher ainda mais e imaginar que se continuasse fazendo isso, eu poderia sumir. — Pare de encarar!— Eu exclamei nervosa quando encontrei o vampiro pelo espelho em minha frente e ele ainda continuava parado exatamente onde estava antes com seus olhos em mim. — Cherie, existiria um grande problema se eu não encarasse.— Ele disse em puro sarcasmo e pela


primeira vez se moveu para algum lugar que não fiz questão de olhar já que o vampiro ainda estava sem camisa. — Oh meu Deus, isso é tão constrangedor.— O desespero estava em minha garganta e provavelmente meu coração também, devido ao calor e as batidas que eu sentia naquela região agora. Por que Andrew tinha que voltar tão rápido? Ele não poderia ter esperado até que eu estivesse dentro de um vestido? Pelos cantos dos meus olhos eu vi que Andrew estava se atrevendo a se aproximar da banheira, mas eu apenas estava olhando para suas pernas, pois não teria coragem de encontrar seus olhos novamente e quando o vampiro chegou ao limite do que aquela banheira permitia, minha cabeça foi obrigada a se virar na direção contraria que ele estava e meu coração parecia que iria explodir a qualquer momento. E se Andrew me tocasse de alguma maneira, eu não saberia como reagir e minha mente apenas pensava que ele poderia fazer isso com essa aproximação. Mas tudo que o antigo rei dos vampiros fez foi fechar o chuveiro que ainda estava ligado e molhava meu corpo encolhido para que pudesse colocar uma enorme toalha vermelha ao redor do meu corpo. E quando tudo isso aconteceu a surpresa desse ato tão gentil fez com que eu olhasse em sua direção em quanto ainda estava agachado próximo de mim para colocar a toalha em meus ombros e cobrir todo meu corpo. — Eu me arrependerei muito no futuro por estar fazendo isso, pois nesse exato momento estou ofendendo toda minha dignidade masculina.— — Obrigada.— Eu agradeci, mesmo quando a ironia em sua voz era clara. — Isso não ajuda completamente em nada.— Andrew se levantou e caminhou para longe da banheira, mas quando suas mãos tocaram as portas duplas de seu enorme closet, o vampiro virou sua cabeça negra para a direção do espelho para encontrar meu olhar.— Aproveite o tempo que estarei aqui dentro para se vestir e, por favor, não pense que arruinarei minha dignidade duas vezes no mesmo dia apenas por educação quando um belo corpo feminino está em jogo. Então, se vista logo.— Após avisar com todo aquele tom cheio de ironia o vampiro entrou em seu closet e fechou as portas atrás dele para que pudesse me dar algum tipo de privacidade. Eu contei até três mentalmente e quando tive certeza que ele não sairia dali de dentro para pegar algo ou simplesmente fazer brincadeiras comigo, eu segurei a toalha junto ao meu corpo e me levantei da banheira rapidamente para pegar aquela capa de travesseiro, que muita gente chamava de vestido, que estava em cima do balcão da pia. Nesse momento eu desejava ser uma vampira para fazer tudo isso em uma velocidade anormal, mas mesmo não podendo alcançar a mesma rapidez de um vampiro, poderia dizer que passei perto disso, mesmo que o desespero tivesse me atrapalhado totalmente. E eu nem ao menos sequei meu corpo antes de entrar dentro daquele vestido negro e curto, nem ao menos coloquei minhas roupas intimas já que estava lutando contra o tempo do quanto um homem levava para se vestir. O que era um tempo muito menor do que uma corrida entre vampiros já que quando eu ainda estava fechando o zíper na lateral do meu vestido, Andrew saiu de dentro do seu closet totalmente vestido e perfeito como sempre. — Oh,— Ele murmurio infeliz.— Isso foi rápido.— — Você nem imagina o por que.— Resmunguei para mim mesma em revolta quando notei que essa sua rapidez foi proposital e a fúria ficou ainda maior quando eu senti que água escorria do meu cabelo de uma maneira que iria molhar totalmente meu vestido. E para tentar amenizar essa situação , eu torci meu cabelo para fazer um coque qualquer pra que ele não ficasse escorrendo tanta água até que estivesse seco e isso apenas fez com que me molhasse ainda mais, o que foi pior. Um sorriso torto cresceu nos lábios do vampiro e seus olhos brilharam em ironia, o que podia ser


algo agradável já que quando isso acontecia aquela maldade congelante e vingativa não surgia ao meio desse sentimento.— Vamos, cherie.— Ele disse meu apelido em um tom seco, como se essa palavra tão comum nunca tivesse tido um significado para nós.— Nós temos muito o que fazer essa noite.— O vampiro deu suas costas para mim e caminhou para a porta até que seus dedos estivessem firmes na maçaneta antes que seus olhos voltassem a encontrar os meus, provavelmente se perguntando por que eu ainda não tinha me movido. Mas seus olhos ainda possuíam algo diferente, não completamente, eram apenas faíscas que rodeavam aquele azul frio que poderia ser totalmente maligno se não fosse por elas ali naquele momento. Isso era tão estranho... — Andrew...— Eu disse seu nome em quanto me aproximava dele.— Você está bem?— — Você irá me fazer essa pergunta pelo resto do dia?— O vampiro me respondeu com certa arrogância.— Troque a página do seu script, mon amour.— — Estou apenas preocupada.— — Eu ainda estou respirando, e isso é ótimo considerando o tanto de pessoas que desejam minha morte a cada segundo que passa.— Andrew abriu a porta em seguida e a manteve aberta até que eu passasse por ele para que ela voltasse a ser fechada novamente. — Isso não o incomoda?— Eu perguntei, mesmo quando o vampiro novamente deu suas costas para mim para caminhar pelo corredor vindo direto de um filme de terror.— Desejarem sua morte quando antes você costumava dizer que “várias mulheres morreriam quando soubessem de minha morte.”?— — Eu não sei.— Ele disse com indícios de ironia em sua voz, mas acabou olhando por cima do seu ombro para me encontrar e um sorriso que combinava com seu tom estava bem ali estampando seu rosto perfeito.— Sempre existem aquelas loucas que se veem atraídas pelo perigo.— Eu diria que só faltou ele adicionar meu nome em meio dessa frase para que ela fosse direcionada somente a mim, mas devido a ironia que ele nunca deixou de lado, isso não era preciso de maneira alguma. Por um momento preferi me manter em silencio, principalmente quando o corredor que estávamos andando acabou e entramos em um grande salão que poderia ser perfeito para um grande baile se ele não estivesse totalmente arruinado. E logo nós sairíamos dessa casa que ainda possuía um pouco de luz para aquela enorme escuridão que parecia infinita da caverna onde essa mansão estava sendo escondida. Eu me perguntava se Andrew me carregaria em seus braços, como da última vez, para que minha lentidão não acabasse com os poucos fios de paciência que ele possuía ou simplesmente estava motivado a me ver sofrer com aquelas rochas que provavelmente arrancariam meu sangue novamente em quanto tentava ter meus olhos acostumados a escuridão. Só que esses pensamentos foram tirados da minha mente assim que um vulto preto entrou em minha frente e acabou com qualquer aproximação que existiu entre mim e Andrew. E quando minhas pálpebras abriram novamente após piscar, aquele vulto não era nada menos do que Amethyst com aquelas roupas e um penteado a moda antiga, exatamente como na época que Charles se vestia, mas dessa vez eu não pude ver os detalhes de seu vestido antigo, pois aquela feiticeira estava de costas para mim. Sua intenção realmente foi de ficar entre mim e Andrew para que existisse a distância entre nós e isso era tão obvio quanto uma vadia querendo a atenção de um macho disputado por tantas mulheres. Andrew acabou se virando para ficar de frente com ela assim que tudo isso aconteceu, havia muitas ameaças de morte em seus olhos azuis e eu me perguntava se isso era caso a bruxa tentasse me atacar, já que ela estava tão próxima de mim. Ele olhou para mim por um momento, mas quem realmente teve seus olhos foi Amethyst.


— Amy.— O vampiro disse calmamente, soando mais como uma boa noite do que qualquer outra coisa. Novamente meus instintos de proteção, que eu jurava não ter, se ergueram fortemente como muralhas ao meu redor e eles me obrigaram dar um passo para trás, pois se eu pudesse ver ou simplesmente sentir a aura dessa feiticeira, ela provavelmente estaria mais afiada do que uma lamina em chamas. — Por que esteve com Saphyre?— Ela perguntou e seu tom mudou totalmente para desprezo quando mencionou o nome de sua irmã mais nova. — Sentir ciúmes de um membro tão próximo da sua família é um pecado arrogante, Amethyst.— Ele disse em resposta, seu tom mais seco do que semanas sem chuvas.— Agora, saía do meu caminho.— — Seu caminho é o oposto daqui, pelo que me lembro antes de se virar.— Oh, eu havia me esquecido que vadias possuíam um dom nato em se fazer de sonsa.— Eu não estou em seu caminho, querido.— Eu revirei meus olhos por causa das respostas que Amethyst deu a Andrew, isso estava me enojando tanto que eu desejava ter o poder de matar alguém apenas com um pensamento, mesmo que eu realmente não fosse digna disso, já que as mortas que eu causei até hoje me assombravam. Os olhos azuis de Andrew novamente vieram para os meus e ele provavelmente deve ter notado o quanto Amethyst estava me enfurecendo. E isso não me deixava nada feliz, pois era até mesmo humilhante alguém entrar em minha frente propositalmente e eu ter que ficar em silencio. Se Amethyst não fosse quem era, essa maldita feiticeira que destruiu Londres inteira, amaldiçoou sua própria irmã e ao meu antigo marido, eu provavelmente já teria a empurrado para longe ou simplesmente ter deixado minha marca em seu rosto. Mas ela era poderosa demais para eu sequer em pensar em fazer algo como isso, ela provavelmente explodiria minha mente em um estalar de dedos. Eu não podia comprar briga com aqueles quem eram mais fortes, pois havia um limite do que eu poderia aguentar e a única pessoa que tinha coragem para enfrentar era Andrew já que no fundo sabia que o vampiro nunca faria algo que prejudicaria minha mente. — Saía.— O vampiro falou em pura fúria e eu podia jurar que tinha sido para mim já que seus olhos estavam fixos com os meus, mas aquilo era para a bruxa em sua frente. — Oh, Andrew.— A voz de Amethyst se tornou uma carícia lenta dessa vez, principalmente quando ela tocou o peito de Andrew com sua mão e aquelas unhas muito bem cuidadas em uma cor negra. O vampiro finalmente voltou a olhar para ela.— Você está sendo tão mal comigo ultimamente, talvez mereça um castigo por isso.— Sua voz era manhosa, mas existia uma grande ameaça por trás disso.— Desde que esse... que ela chegou, você não liga para mim. Eu sinto falta de suas visitas em meu quarto, do seu toque que nunca mais foi o mesmo...— A feiticeira louca estava acariciando o peito de Andrew em quanto o vampiro continuava imóvel com seus olhos nela. Do seu toque que nunca mais foi o mesmo... Eu me sentia tão humilhada que se isso causasse algum dano cerebral, meu cérebro já teria se tornado uma geleia. — O que posso fazer para reparar meus erros?— O vampiro perguntou em um tom baixo, fazendo a pergunta que Amethyst sempre desejou ouvir. Eu sabia que a vadia estava sorrindo sem mesmo estar vendo o seu rosto. — Bem,— Agora ela tocou o rosto de Andrew quando fingiu não saber o que pedir, isso me irritou tanto que eu fui obrigada a desviar meu olhar, principalmente quando senti uma camada grossa nascer em minha mão. Eu precisa respirar ou poderia destruir qualquer chances de esconder um


segredo caso congelasse qualquer coisa nesse local, minha única distração foi fechar minhas mãos em punho e como não podia fincar minhas unhas na palma para causar algum dano que me impedisse de cometer um erro, eu mordi meu lábio inferior.— Talvez nós podíamos continuar aquilo que seu irmão desejou e fracassou.— Isso congelou todo o meu interior e fez com que eu voltasse a olhar na direção deles, para encontrar Andrew, pois se ele aceitasse isso, eu teria que ter certeza do quanto ele virou um monstro para aceitar a morte de uma pessoa que o considerou como amigo. Era sobre Nyx e Sol que isso se tratava, não uma pessoa que merecia morrer. Eu me quebraria totalmente se Andrew dissesse sim. Seus olhos azuis estavam em mim novamente, mas seu olhar segurando o meu durou apenas segundos antes dele voltar a olhar para a feiticeira e sorrir malignamente. — Esse é um pedido esplendido,— Ele disse e o ar ao meu redor pareceu parar.— E faço questão de eu mesmo achar o receptáculo de Sol quando você quebrar a barreira de Londres.— Uma mentira. Uma mentira pura para Amethys já que Andrew sabia exatamente quem era e onde estava o receptáculo da imortalidade de Sol. — Ótimo.— A feiticeira disse satisfeita e minha vontade foi de sorrir para Andrew, mas quando pensei em fazer isso eu tive que segurá-lo com toda minha força, pois Amethyst se virou em minha direção para finalmente sair de perto de nós e sua expressão passava a mensagem perfeita de que ela havia vencido. Eu a encarei até quando ela passou por mim, pois ver sua cara de vitória sendo que ela não havia ganho nada foi o suficiente para toda a humilhação que eu havia passado. E eu poderia sorrir para Andrew quando ela finalmente não estava mais entre nós, mas quando meus olhos voltaram pertencer somente a ele, o vampiro estava tão sombrio que era possível ver fumaças negras ao redor de todo seu corpo. — Vamos.— Andrew falou essa única palavra, fria o suficiente para congelar um corpo humano e o suficiente para me fazer voltar a andar, mas em silencio dessa vez.


18Iawy tocou a maçaneta da porta que o separava de seu quarto que mal usava. Esse pensamento era infeliz, pois um incubus sempre apreciava seus aposentos mais do que qualquer outra parte de sua casa, mas devido as circunstancias esse comodo foi quase esquecido. Já fazia três dias que ele não entrava nesse quarto que escolheu para ser dele muito antes que Londres caísse em desgraça, três dias que não dormia e que mal viu Nyx. Só que não foi isso que o fez ficar parado diante dessa porta, não quando seus olhos caíram direto para a cicatriz em sua mão esquerda. Uma marca que lhe foi dado quando era apenas uma criança, um castigo que poderia ter custado sua vida e uma lição para toda a eternidade de que ele devia respeito para seus superiores. Esse era o seu maior motivo para ser um caçador tão bem sucedido como era hoje em dia, seu motivo por não ter caído junto a Londres quando ela desabou em lágrimas que ainda parecem ser eterna. Iawy tinha que respeitar e servir aqueles que o criou, sua raça e como qualquer outra criatura sobrenatural foram criadas apenas para cuidar do mundo que os deuses não podiam fazer parte. Mas acima de tudo, seu dever era proteger aqueles que amava e que confiavam nele. Não era muito fácil assumir a responsabilidade de tudo quando o que mais desejava era a tranquilidade com sua amada. A dor, a agonia e o medo daquele veneno já podiam ter se cicatrizado há muito tempo, mas o incubus ainda se sentia ao meio desse castigo. Ele não fazia nada por ele e sim por todos. O admirava que sua mente fosse tão bem construída e funcional depois de mais de 3 mil anos funcionando dessa maneira, ignorando seus sentimentos para que pudesse resolver as dificuldades que os outros lhe traziam. Ser tão antigo dessa maneira não era um grande problema, pois no começo de tudo ele tinha vontade de jogar tudo pela frente e queimar qualquer problema que era induzido a resolver, mas agora, apenas existia a calma e inteligencia. Iawy foi obrigado a descartar todos os seus outros sentimentos para que pudesse viver a isso. Pelo menos era isso que todos pensavam quando viam sua imagem diante de seus olhos, pois na realidade, essa teoria não era bem uma realidade. Iawy amava Nyx como se fosse apenas um adolescente e mesmo que não conseguisse expor seus sentimentos com tanta facilidade para ela, era assim que ele se sentia. E ainda havia Roxie e todos os outros que estiveram ao seu redor, eles formaram a família que nunca teve. Na verdade, todos deveriam se sentir dessa maneira em questão dessa lealdade que se formou conforme os anos devido ao passado ruim que tiveram com suas verdadeiras famílias. Até mesmo a bagunça que todos chamavam de Lúcifer. Mas quem era Iawy para chamar Lúcifer de bagunça quando Andrew havia se tornado algo muito além disso. Era realmente muito infeliz que tudo isso tenha acontecido com uma pessoa como Andrew, pois mesmo que o vampiro cheirasse a morte, ele podia ser uma grande pessoa quando


ganhavam seu respeito. E no fundo, era ótimo que os deuses tenham dado a ordem de não matar o amante de Roxie em quanto sua alma estivesse negra, já que sem essa ordem seria muito mais dificil de proteger sua vida de tantas pessoas que desejaram matá-lo. E com grandes poderes para que isso se tornasse uma realidade e não imaginação. Iawy suspirou e deixou seus pensamentos de lado, era primeira vez em três dias que ele veria o rosto de Nyx por mais de 10 minutos, era sua obrigação não estar pensando em todas essas coisas quando entrasse no local que ela estaria escondida de tantas pessoas que mal conhecia. Escondida? Por que ele estava usando essa palavra tão estranha no vocabulário para definir Nyx? Provavelmente deveria ser a falta de dormir que estava brincando com sua mente. Essa era a única explicação. O incubus depois de tanto enrolar puxou a maçaneta da porta para baixo e a empurrou até que estivesse espaço suficiente para que pudesse entrar em seu quarto, seus olhos antes mesmo que pudesse olhar para qualquer outra coisa naquele comodo, foram diretamente para Nyx. A loba que pertencia a ele olhou por cima do sofá que estava sentada em volta de um enorme cobertor para esquentá-la e o que mais chamou sua atenção foi o movimento daqueles cachos dourados que eram tão macios ao seu toque, por um momento o incubus imaginou como seria os cabelos dela se fossem lisos, mas não... Eles eram perfeitos dessa maneira. Nyx não sorriu para Iawy quando o viu entrar como toda mulher provavelmente faria quando seu amante chegasse de seu trabalho no fim da tarde, ele também não sorriu para ela e nem esperava que aquela mulher diante dele fizesse isso. Mas havia fagulhas nos olhos dela que não podiam ser escondida por aquela sua mascara de ferro com tanto gelo que lhe servia de proteção, e ver aquilo em seu olhar era o suficiente para ele. — Oh,— Aquela mascara não moveu em nenhum instante.— Você finalmente se lembrou onde ficava seu quarto.— Iawy não aguentou a esse comentário e acabou sorrindo, um sorriso torto que demonstrava seu divertimento.— Eu me sinto tão bem vindo quando estou perto de você, minha dama.— Ele adorava sua frieza e força, isso era uma das coisas que provavelmente mais amava em Nyx. O incubus deixou seu lugar perto da porta depois de fechá-la e caminhou até que estivesse sentado no mesmo sofá que ela, apoiando seu braço estendido na cabeceira do sofá e mantendo distância do ninho em que sua licantropa estava envolvida. Aqueles olhos azuis escuros de Nyx acompanhou cada movimento que ele fez, mas também não se moveu para ficar próxima dele. Talvez isso fosse uma guerra e Iawy era conhecido como um grande guerreiro. — Eu vejo olheiras se formando ao redor de seus olhos, Iawy, isso não é um bom sinal e acho que deveria ir dormir.— Seu tom era arrogante, mas havia preocupação. Para entender Nyx, devia saber em primeiro lugar que ela fazia os piores sentimentos que podiam existir uma das coisas mais bela. — Ainda tenho 13 horas para viver antes de entrar em um apagão total.— Ele disse com seus olhos presos ao dela.— Pretendo dedicar cada minuto disso para você, minha dama.— Nyx sorriu, um sorriso lindo e que dificilmente alguém o conhecia como ele, ela podia ser mais dificil de lidar do que qualquer outra pessoa nesse mundo, mas essa loba tão cheia de fúria não passava de uma mulher maravilhosa e como seu instinto mandava, ela precisava de carinho para deixar seu dia mais feliz. Esse era um segredo que provavelmente apenas Iawy sabia, algo que aprendeu com seus estudos e com sua convivência com essa fera sanguinária. Lobos precisavam do toque, da caricia de alguém que amava e mesmo que eles vivessem tão afastados dos humanos, em aldeias no meio de florestas, sendo conhecidos como assassinos natos não só na lua cheia, todos


eles possuíam um coração. E o coração dessa licantropa albina pertencia a Iawy, mesmo ambos não sendo tão atenciosos um com outro como deveriam ser. Iawy sabia que ela o amava já que esse presente de toque foi concebido somente a ele. Nyx se moveu no sofá até que estive encostado seu corpo sob o dele para que pudesse deitar sua cabeça no ombro do incubus e aquele braço que estava estendido na cabeceira do sofá, foi diretamente para ao redor de seus ombros com intenção conchegá-la ainda mais. Ela arrastou seu grande cobertor junto e ainda fez a menção de jogá-lo por cima de Iawy para protegê-lo do frio mesmo sabendo que ele não sentia as consequências dele, diferente dela. Então a licantropa havia perdido essa guerra, que nem ao menos deveria ter se chamado assim já que durou tão pouco tempo. Ele usou sua mão livre, que não estava ao redor de seus ombros, para acariciar os cabelos dela, seu rosto que era gelado e tão macio quanto pétalas de rosa. Eram nesses momentos que ele sentia tanta paz que até esquecia do horror que estava acontecendo fora desse quarto. — Eu tenho que fazer uma pergunta.— Ela disse calmamente, tão dificilmente vê-la assim.— O que fez com Lúcifer para que eu não esteja escutando sua voz irritante pela central?— — Ele se voluntariou para matar os lobos que ainda vivem na floresta oeste, aqueles que nos atacaram naquela noite em que fomos matá-los pela primeira vez.— Iawy disse sem delongas. — Ele está sozinho?— — Não, por mais estranho que seja, Lúcifer levou Fiemme com ele, acho que os dois desejavam ficar fora da central por algumas horas.— O incubus puxou um dos cachos de Nyx e o esticou apenas para soltá-lo depois disso.— Não se preocupe, nenhum deles estarão em perigo.— Isso era tão obvio quando um truque de magica, afinal, Lúcifer não um vampiro comum e mesmo que fosse velho o suficiente para ser forte, ele ainda era uma criação somente de Hades. Assim como Roxie e Nyx eram. E bom, ele tinha Emme caso algo desse errado, aquela pequena inocente era uma deusa. — Eu não estava preocupada.— Ela resmungou. Iawy olhou para baixo até que seus olhos encontrassem o rosto de sua amada, ela parecia tão cansada de estar fechada nesse quarto e cheia de tédio que ele deseja levá-la para fora de Londres em um passeio apenas para que seus olhos brilhassem como duas estrelas em uma noite de verão, maravilhada pela beleza desconhecida que existia ao seu redor. O incubus estava feliz pela historia de Nyx ser filha dos deuses Sol e David serem apenas uma lenda falsa, afinal, ele jamais a teria conhecida se ela fosse filha de legitimo deuses. Sol apenas criou um receptáculo que fosse forte o suficiente para suportar sua alma e nessa criação usou todas as característica que mais admirava em David para deixá-la tão parecida com o homem que amava em forma humana, para que sempre se lembrasse da felicidade quando visse Nyx na terra, já que ela apenas podia ver seu tão amado lobo no eclipse. Era exatamente por isso que essa licantropa enfezada com a vida não possuía nenhuma semelhança de seus pais biológicos ou de Sol. Iawy já tinha uma noção quem era Nyx quando a conheceu e foi uma honra protegê-la do perigo. O incubus apenas não imaginou que sua outra protegida acabaria se tornando algo como sua amante, uma criação única de um só deus. Ele realmente podia ser surpreendido depois de 3 mil anos nesse mundo que pareceu que nunca lhe daria novidades. — Minha vez.— O incubus quebrou o silencio ao mencionar que era sua vez de fazer uma pergunta.— Você sente falta de Roxie?— — Sim, eu sinto.— A resposta veio fácil e simples demais.— Mesmo que ela tenha agido como uma vadia comigo.— — Bom, pelo que entendo sobre amizades femininas, nenhuma das duas foram compreensivas.— Ele foi sincero, pois a magoa de Nyx estava na parte em que sua melhor amiga foi embora sem se


despedir e a de Roxie estava onde aquela que deveria lhe servir como uma muralha, desejava a morte do homem que mais amou na vida. Nenhuma das duas poderiam ter a razão no final das contas. Nyx respirou fundo sob o peito do incubus e mesmo que o sinal fosse prova de que não gostou do que ele acabará de dizer, ela não se afastou dele. Ela, realmente, apreciava o carinho como um filhote e para não perder esse momento, o incubus não se importaria pela mudança de assunto que estava por vir.— Você mataria Andrew se fosse preciso, Iawy?— Uma curiosidade sem motivo por ter aparecido. — Sim.— Iawy disse sem hesitação, considerando essa a segunda opção caso os planos de Roxie não funcionassem. — Mesmo que ela passasse odiá-lo por toda eternidade?— — Sim.— Sua resposta foi a mesma, mas sua hesitação veio à tona por um momento, lhe doeria muito perder Roxie. — Por que?— Aquela pergunta foi um sussurro dessa vez. — Porque seria isso que Andrew desejaria.— Não havia nenhuma duvida em sua voz. Afinal, era isso que aquele antigo vampiro realmente iria querer quando desde novo soube que sua alma negra poderia puxá-lo facilmente para a loucura, exatamente como aconteceu com seu irmão mais velho, e isso era uma promessa não seu dever. Andrew quando ainda não estava nem perto da linha do abismo lhe fez prometer que quando a loucura em seu coração chegasse Iawy ou Lúcifer teriam que matá-lo. Era obvio que o seu melhor amigo não hesitou nessa promessa, mas Iawy sabia que o filho de Hades não estava pronto para ser odiado por Roxie, não agora que ele estava aprendendo a usar os bons sentimentos que existiam com a pequena ligação que ainda possuía com sua alma. E isso se encaixava naquele seu lema de colocar os outros sempre em primeiro lugar antes de sequer vir sua opinião. Mas a realidade era que Iawy não estava pronto para receber o odio de Roxie, muito menos matar alguém que confiou como um amigo. E era exatamente por isso que ele não foi atrás de Roxie quando ela decidiu que tinha que passar seus dias com Andrew para que ele se alimentasse de seu sangue, mas ele sabia que isso não podia durar pra sempre. Nem os deuses ou a clave esperariam. Iawy suspirou e aproximou seus lábios dos cabelos de Nyx para beijar o topo de sua cabeça tão lentamente quanto podia, continuando suas caricias com suas mãos livres para agradá-la ainda mais a sua loba que estava trancafiada nesse belo corpo humano.— Nós vamos ficar bem.— Ele disse calmamente e não para ela, e sim, para que sua fé continuasse tão grande como sempre foi.— Todos nós vamos.—


19Andrew me colocou no chão assim que parou de caminhar, provavelmente o vampiro havia chegado ao seu local onde desejou estar há três dias antes que eu desmaiasse em um sono profundo, o único problema disso era que estávamos no meio do nada de uma floresta. O que não era muito assustador considerando o fato de que a cidade de Londres estava pior. Pelo menos aqui não haveria um risco enorme de concreto cair em minha cabeça ou em qualquer parte do meu corpo, mas o pior de tudo era que tanta escuridão e silencio estava causando arrepios em meu corpo. Bom, pelo menos até o momento em que notei que meu vestido havia subido alguns centímetros, então a raiva de estar vestindo essa capa de travesseiro substituío o medo. Pensei que o vampiro não me carregaria em seus braços para fazer essa pequena viagem, mas acabou que assim que demos nosso primeiro passo para fora da mansão doentia de Amethyst ele se virou para me carregar, mas eu não fiquei tão feliz como da ultima vez, já que esse foi o maior motivo pelo meu vestido ter subido. Eu usei minhas mãos para abaixá-lo em seu comprimento real, o que não fazia muita diferença e quando voltei olhar para cima, os olhos azuis de Andrew estavam em mim. — Eu não sei por que se preocupa tanto em esconder seu corpo de mim.— Eu não preocuparia se estivesse usando uma calcinha, minha mente gritou em resposta, mas no fim não fui isso que lhe respondi.— Você já viu demais de mim hoje.— Murmurei. — Hoje?— Ele sorriu com puro sarcasmo.— Isso significa que terá mais dias?— — Você não precisa de uma resposta.— Resmunguei ao mesmo tempo que fechava minha cara, esse dom de usar minhas palavras contra mim mesma era irritante. — Cherie, eu comprei absorventes para você durante um ano, não existe algo mais constrangedor que isso.— Uma mistura de choque e surpresa percorreu cada pedaço do meu corpo em uma corrente elétrica muito grande a ponto de me deixar sem nenhuma resposta, afinal, não era e nem deveria ser normal Andrew lembrar do nosso passado juntos. Muito menos a parte em que ele dizia meu antigo apelido em um tom que não havia nenhum tipo de frieza. Essa era a prova de que meu sangue estava fazendo algum tipo de efeito, mas também não estava pronta para reagir a isso tão rapidamente. Eu fiquei 10 anos sem Andrew e isso significou me fechar a qualquer tipo de carinho amoroso, de alguma forma ou outra, teria que aprender tudo isso novamente. Ou apenas descartar o passado e aprender a lidar com um vampiro de alma negra que parecia estar perdido no tempo. Essa era a melhor opção nesse momento para não ficar congelada. Eu tinha que esquecer tudo que passamos por um momento e enfrentar essa nova fase para que o antigo rei dos vampiros não voltasse para a escuridão de sua alma. Mas isso parecia ser tao dificil agora que meu coração havia acelerado e eu imaginei que isso seria uma das mil coisas que Andrew diria se ainda estivéssemos juntos, sem que nenhuma Amethyst ou alma negra tivesse atrapalhado nosso futuro.


O vampiro em minha frente provavelmente se cansou do silencio, pois antes mesmo que minha mente tivesse alguma chance de projetar uma resposta, ele respirou fundo e se aproximou de mim. E por mais que estivesse me acostumando com suas aproximações repentinas, Andrew sempre tirava meu ar quando fazia isso, mas o que ele fez em seguida fez com que meu coração desse algumas batidas a menos. Andrew levantou seus braços até a cima do meu ombro e soltou meu cabelo daquele coque mal feito que fiz quando meu cabelo estava pingando pura água. Não foi um gesto nada afetivo, mas havia tanto tempo que esse vampiro não mexia em meus cabelos, não brincava do quanto a tinta pode ter prejudicado meu cérebro. Eu sentia tanta falta de seu toque que quando ele os tocou foi o suficiente para trazer muitas saudades. Era tão idiota se derreter por um ato desse que eu tinha vontade de bater minha cabeça em alguma árvore ao meu redor, eu estava começando a ficar tão cansada disso, em ver esperanças em coisas desse tipo, e aguentar Amethyst. Mas eu estava esquecendo um detalhe importante, Andrew havia protegido Nyx das garras daquela bruxa, eu não sabia o que isso significava, mas existia algo por trás dessa enorme mentira. — Eu preciso que deixe seus cabelos soltos.— Ele falou em um tom baixo, mas muito compreensivo em quanto o ajeitava em minhas costas. — Por que você protegeu Nyx e Sol?— Eu perguntei quase atropelando suas palavras, ignorando totalmente minha outra curiosidade sobre ter que deixar meu cabelo solto. Andrew tirou suas mãos do meu cabelo e não houve nenhuma caricia ou algum toque em meu rosto como deveria ter existido, mas não se afastou também. Seus olhos azuis que antes estavam longe de pertencerem aos meus, vieram diretamente para encontrá-los agora com essa pergunta que estava quase explodindo minha cabeça por uma resposta. — Eu não estou tentando seguir os passos do meu irmão, Roxie.— Ele disse calmamente e havia sinceridades em seus olhos. — Você casou terror, mortes, quebrou várias promessas e provavelmente Amethyst deseja ser a próxima rainha do mundo onde todos se curvarão diante dela.— Eu disse.— Eu não acho que esteja muito longe de ser melhor que Pierre.— — Eu quebrei promessas?— Frio, tão frio. — Não faça essa pergunta.— Eu toquei seu peito com uma de minhas mãos e a encarei, Andrew continuou tão imóvel quanto uma estatua. Essa era a impressão que eu tive ao fazer esse movimento.— Não me faça responder a isso.— Sua respiração sob meus dedos poderiam servir como distração, mas não havia distração quando esse vampiro que eu amava tanto estava bem em minha frente em total silencio quando ele deveria estar me afogando em um lago mais próximo de nós. — Existe uma parte de mim que deseja tanto arrancar seu coração e estraçalhá-lo, mas ao mesmo tempo a outra parte diz que isso seria tão errado.— Ele foi sincero.— Nada disso está certo, eu não deveria me importar.— — Você ainda possuí um coração.— Os deuses um dia nos disseram que eu seria a morte de Andrew, mas também nunca nos falaram se eu poderia ser sua vida. Eu sabia que esse veneno podia ser revertido por ele mesmo, mas eu teria que obrigá-lo a achar uma cura de algum jeito. Andrew colocou sua mão sob a minha que estava descansado em seu peito e isso foi tudo que precisei para voltar a encarar aqueles olhos azuis que estavam tão diferentes hoje. Ele era tão perfeito e eu desejava tanto que voltasse a ser meu que o pensamento que dizia que esse vampiro já


não pertencia mais a mim doía tanto. — Volte a me amar, Andrew.— Silencio, puro silencio. Ele continuou a segurar minha mão a baixo da dele, mas também colocou sua outra mão em meu pescoço para que pudesse me segurar quando se curvou para que pudesse ficar mais próximo do meu rosto. Seu nariz tocou a ponta do meu e minha respiração foi cortada imediatamente com esse toque para que seus lábios pudessem chegar até os meus. Mas quando ficaram próximos, muito próximos a ponto de roçarem um no outro conforme o movimento das nossas respirações, o vampiro não fez nenhum movimento para encostá-los totalmente, eu também não o fiz. Eu já não via mais aqueles olhos azuis frios tão lindos, pois ele fechou seus olhos quando ficou tão próximo dos meus lábios. E um desejo muito mais que enorme passou por mim para movimentar minha cabeça somente alguns centímetros e beijá-lo, mas eu tive que segurar essa vontade. Andrew estava tomando essa atitude de se aproximar e eu tinha que deixá-lo fazer isso. E em um momento em quanto esperava isso acontecer, o vampiro franziu suas sobrancelhas e movimentou sua cabeça lentamente em um sinal de não, deixando que sua testa encostasse na minha.— Eu não posso fazer isso.— Falou em um tom baixo. — Andrew.— Eu disse seu nome em total protesto quando ele se afastou completamente de mim e deu suas costas em quanto caminhava para longe. Ele ignorou totalmente quando disse seu nome com um tom de que estava muito brava, mas eu não estava realmente brava, era apenas muito para minha mente aguentar essa aproximação e depois ter que ver o vampiro se afastar como se não significasse nada pra mim. — Você não pode me amar mais?— Andrew ficou em silencio com minha pergunta e eu realmente decidi ignorá-la também quando o vampiro levou sua mão até atrás de sua cabeça após passá-la por todo seu cabelo para chegar ali. Ele abaixou sua cabeça e eu vi a intensidade que segurava sua mão contra seus cabelos aumentou um pouco. Um sinal que demonstrava a dor, que não deveria nem ao menos existir. Eu tinha que perguntar a Saphyre o que aquilo significava. Andrew não iria me responder e isso estava tão obvio que nem ao menos poderia insistir por uma resposta, mas acho que não precisava realmente de uma. Além do mais, não poderia forçá-lo a fazer isso. — Por que precisa que meu cabelo fique solto?— Mudei completamente de assunto, já que parecia que o motivo da sua dor ficar maior era quando eu o encurralava pedindo por respostas que sua alma negra não permitia me dar. Andrew se virou para mim novamente mas não tirou sua mão do meio de seus cabelos tão negros quanto o céu noturno que estava a cima de nós. Eu também pude confirmar que era dor que ele havia sentido, pois aquilo estava em seus olhos, naqueles azuis frios que sempre davam a respostas quando o silencio ocorria. — Assim não há necessidade de cortá-la.— Ele disse, deixando que a escuridão retornasse para o lugar onde existiam seus sentimentos.— Seus cabelos ainda úmidos deixam seu aroma ainda mais intenso, sendo assim, seu sangue não precisará ser derramado para intensificar o seu cheiro.— — Por que você quer que isso aconteça?— Essa era a pergunta mais estúpida que eu provavelmente já deveria ter feito, pois a maior parte de mim não desejava saber a resposta. Andrew deixou sua mão cair ao lado de seu corpo e então um sorriso apareceu em seus lábios, a ironia cortante poderia matar qualquer pessoa, não de raiva, mas sim devido ao quanto sua perfeição aumentava quando sorria dessa maneira. Ironia definitivamente não era algo para se achar bonito,


mas quem havia passado tanto tempo ao lado desse vampiro, tinha que se acostumar a ela e foi isso que aconteceu no meu caso, não só me acostumei como a coloquei em um posto de beleza. — Você será minha isca.— Ele disse claramente, sem desviar seus olhos dos meus. — I-isca?— Eu quase perdi a linha dos meus pensamentos, o que me fez gaguejar. — Nós estamos na floresta em que aquele lobo a atacou na noite quando no encontramos e como Iawy não fez seu trabalho direito, alguém precisa matá-los.— — E eu serei a isca?!— Eu quase pirei, principalmente quando um desse animais literalmente arrancou meu coro. Realmente, eu não precisava de uma resposta. — Não se preocupe, mon amour, nenhum deles irá machucá-la.— — Por que eles tem de ser mortos? Estarem vivos não faz parte do plano de Amethyst?— — Eles foram um erro, não são como os vleermuis que obedecem nossas ordens e eu não me sinto confortável tentando adestrar um cão que pode me matar com uma mordida.— — E eu não me sinto confortável sendo a isca deles!— Eu exclamei com uma mistura de raiva e desespero. — Você é forte, irá superar isso facilmente.— Andrew deu de ombros, seus olhos mudando para divertimento puro. — Eu o odeio, Andrew.— — Oh, nós dois sabemos que isso é apenas uma mentira.— Seu sorriso aumentou. — Você deveria acreditar naquilo que os outros lhe dizem.— Murmurei em revolta em quanto cruzava meus braços sob meu peito, pois aparentemente parte desse plano seria ficar parada aqui até que algum lobo aparecesse para fazer de mim seu jantar. — Me desculpe, mas não sou igual a você que acredita fielmente quando alguém diz que é fraca e faz disso um fato.— — Está me ofendendo agora?— Isso que chamava de loucura, pois minutos atrás o vampiro quase havia me beijado. Eu dificilmente teria uma alma rara, mas estava feliz por não ter e ao mesmo tempo com raiva por ter me apaixonado por alguém que possuía ela e estava quase me levando direto para insanidade. — Essa é a intenção.— — Bom, você está fazendo um ótimo trabalho.— Andrew não deu nenhuma resposta ao que falei, porém, me lançou um olhar cheio de ironia e sarcasmo. O que me deixou completamente feliz pelo seu total silencio. Alguns minutos passaram em quanto eu continuei imóvel onde havia estado desde que fui colocada no chão pela primeira vez. Aparentemente, esperávamos que algo acontecesse. Estava sendo tão torturador esperar que algum lobo viesse me atacar que o silencio misturados com os barulhos que aconteciam na floresta apenas estava fazendo com que minha mente ficasse ainda com mais medo. Andrew havia se encostado em uma arvore em algum momento que passou despercebido, já que minha atenção estava focada totalmente nos barulhos que pequenos animais faziam na floresta, mas agora que estava tentando distrair minha mente do tão perigo que eu estava passando, meus olhos pertenciam a ele. O vampiro estava com seus braços cruzados e somente um de seus ombros tocava a árvore que escolheu para sustentar seu corpo cheio de tédio por ficar tantos minutos sem causar uma morte. Seus olhos azuis também estavam em mim e parecia que estavam me observando como se fosse uma presa pronta para ser jantada. — Nós já podemos ir embora?— Eu perguntei sem paciência quando senti que aquele olhar estava começando a me deixar louca também. E realmente desejava ir embora, pois nenhum lobo havia aparecido durante quase meia hora de espera, isso não era normal para assassinos que adoravam uma caça. Nenhum movimento veio dele, nem mesmo de sua respiração. Novamente, eu senti que estava diante de uma estatua tão perfeita quanto aquelas que eram normais e comuns.


— Andrew?— Eu o chamei quando os segundos estavam se tornando quase um minuto. — Eu acho...— Ele retornou a vida, mas antes mesmo que pudesse me dar uma frase o vampiro parou de falar e deixou aquela árvore tão sortuda de lado. Se fosse algo possível, o que era, ele se tornou ainda mais tenso, pois agora sua expressão calma com uma grande mistura sombria, havia se tornado a face perfeita de um assassino. Andrew olhou para o lado e abaixou seu queixo, uma forma perfeita de demonstrar que algo estava acontecendo, algo que não podia ser visto mas que era ouvido. E quando ele piscou, aqueles olhos azuis foram embora para que uma negritude invadisse cada parte de seus olhos e mesmo que sua boca estivesse fechada, suas presas estavam ali prontas para arrancar a garganta de alguém. Mas algo estava faltando, aquelas veias negras que se ressaltavam ao redor de seus olhos não estavam mais ali. Não havia nada que estivesse estragando sua pele tão pálida. — O que está acontecendo?— Eu perguntei com o desespero crescendo em minha garganta e a resposta de Andrew foi dar suas costas para mim. O vampiro ainda estava procurando aquilo que chamou a atenção de sua audição, mas por algum motivo não estava achando. Se fossem lobos, isso jamais teria acontecido, pois quando comida estava envolvida eles não iriam ser tão silenciosos a ponto de Andrew perder eles do seu rastro. Eu deixei meu medo de lado e caminhei para ficar mais próxima do antigo rei dos vampiros, quando fiz isso, folhas a baixo dos meus pés passaram a se partir e fazer um enorme barulho, o que podia atrapalhar totalmente Andrew, mas ele não impediu que me aproximasse até que estivesse com uma de minhas mãos em suas costas, pronta para agarrar sua camisa caso algo nos atacasse. O vampiro obviamente não estava prestando atenção em mim, mas eu senti que em meio de tanto poder que estava pronto para ser exposto, ele abriu uma pequena brecha para me encaixar. Andrew me protegeria do perigo que tinha percebido em nossa volta. Isso soava tanto como no passado, quando o vampiro daria sua vida para proteger a minha. Eu nunca desejei tal sacrifício, mas de alguma maneira ou outra, sempre senti sua total proteção e possessividade. Agora, era exatamente como se o tempo nunca tivesse passado. Eu decidi que me preocuparia sobre aquelas veias que deveriam estar ao redor de seus olhos depois, principalmente quando tinha quase certeza que ele não me daria nenhuma resposta explicativa sobre onde foram parar aquelas coisas negras ressaltadas, talvez essa seria o tipo de pergunta que teria que fazer para Saphyre e não a ele. — Pare de respirar.— Foi uma ordem, seu tom era um rosnado que quase não escutei em quanto estava perdida em meus pensamentos. — O que?— Sussurrei em descrença.— Eu não sou mais uma vampira, Andrew!— O vampiro não disse mais nada sobre minha respiração que estava o atrapalhado, mas ele deu alguns passos para trás e ergueu um de seus braços até que sua mão encontrasse minha cintura para que quando fizesse isso não me derrubasse, já que eu ainda o segurava por sua camisa e ele continuava de costas para mim. Dessa maneira eu consegui me sentir ainda mais segura do já estava, agora parecia que nenhum mal poderia me machucar e quando até mesmo meus ouvidos não tão aguçados como o de Andrew passaram a ouvir o som da mata se quebrando conforme o animal se aproximava de nós, eu senti um leve medo já que minha mente resolveu recordar o que aquela fera deixou em minhas costas antes de morrer. Eu não deveria, mas estava confiando no vampiro que segurava minha cintura e isso poderia ser minha morte, mas antes de confiar no que estava se aproximando, era esse vampiro que estava em primeiro lugar na minha lista. Um galho se quebrou, o som de folhas se partindo estavam se tornando maior, mas até agora Andrew não havia se movido, nem ao menos respirado. E quando o barulho se tornou mais alto no


meio da escuridão que eu decidi encarar, algo saltou em nossa direção e minha reação foi fechar os olhos ao mesmo tempo que puxava Andrew para trás, mas antes que o animal que nem ao menos vi caísse em cima de nós, meus olhos quando se abriram para ter certeza de que era um dos lobos que Amethyst trouxe a vida, eles apenas capturam um vulto preto sendo jogado contra uma enorme arvore e encontrar o chão segundos depois, um gemido auto invadiu meus ouvidos. Meus olhos que preferiam e insistiam ficar fechados também viram a cor dourada, cabelos loiros para ser exata. Eu sabia que foi Andrew que jogou essa criatura e que até mesmo foi o vampiro que o trouxe diante de nós, não ela saltando em nossa direção. Mas como não conhecia exatamente bem os novos poderes dele, não poderia garantir isso. — Oh meu Deus, vocês estão tentando me matar?!— Lúcifer. Meus olhos se abriram rapidamente quanto minha cabeça se virou para encontrar o vampiro deitado no chão apoiado em seus cotovelos, recém golpeado por Andrew e a arvore que até um pouco mais torta se tornou. — Lúcifer.— Eu sorri. — Não, é o natal chegando mais cedo e sou o novo papai noel.— Ele murmurou ou resmungou, isso não importava muito quando o sarcasmo possuía sua voz, ainda um pouco tremula devido a dor que sofreu a alguns segundos.— É claro que sou eu.— — Não omita seu cheiro perto de mim se não quer ter um galho enfiado em seu coração na próxima vez.— Andrew saiu de seu silencio, seu tom afiado e frio ao mesmo tempo. Um tom que nunca foi usado ao seu melhor amigo. Mas ele soava como Andrew, o vampiro provavelmente diria algo como isso a Lúcifer. — Olha quem fala.— Ele murmurou, mais preocupado com seu próprio corpo do que o tom que Andrew havia usado. Esse era Lúcifer afinal, as pessoas poderiam tratá-lo pior que um chinelo já estragado e ele não se importaria, mas também mandaria qualquer um que fosse para o inferno ou rasgaria sua garganta quando sua paciência acabasse, o que provavelmente seria apenas segundos. Eu soltei Andrew e de alguma maneira também me livrei do braço dele que serviu de proteção, mas sem me desfazer ingratamente desse ato, apenas toquei seu braço e o vampiro o tirou de volta de mim. Talvez ele entendesse que Lúcifer era importante para mim como algum dia foi para ele, ou ainda era. Quando estava totalmente livre para caminhar até o outro vampiro recém jogado no chão, eu me ajoelhei diante de seu corpo e o abracei, sem me importar que Lúcifer retornasse esse abraço, já que ele estava em uma posição complicada. Mas o mais surpreendente foi que o vampiro de cabelos loiros passou se apoiar em apenas um de seus cotovelos e passou seu braço livre por mim. — Você está bem?— Eu perguntei, um pouco preocupada já que quando o abracei ele soltou um gemido muito baixo. — Se você não esmagar meus pulmões, eu irei ficar bem, apesar das minhas costelas estarem fraturadas.— — Certo.— Eu soltei meu aperto ao redor dele e me sentei ereta sob meus joelhos, já que realmente quase o esmaguei quando vim até aqui. Deus, eu havia sentido falta desse vampiro com olhos anormais. Meu olhar caiu em Andrew que estava na onde eu havia o deixado, seus braços estavam cruzados e


nos observava com uma sobrancelha arqueada. Não havia nenhum humor em seus rosto, apenas uma mascara fria. Seus olhos encontraram com os meus por alguns segundos, mas eles se desviaram quando outro barulho surgiu da mesma escuridão da onde o seu melhor amigo havia saído.— Lúcifer?— Aquela voz soou preocupada, mas nada me deixou tão feliz quanto ouvir o som que pertencia a Emme. Eu notei que o rosto de Andrew vacilou naquela mascará, algo como surpresa apareceu, talvez. Eu não sabia mais dizer as coisas boas que o vampiro sentia, nem quando olhava em seus olhos. Mas ele sempre gostou dessa deusa que se tornou amante de Lúcifer, algum efeito ela fez ao aparecer no meio dos arbustos para encontrar o vampiro loiro ainda no chão. — Andrew.— Ela disse sua primeira palavra, o medo que não conseguiu esconder era visível a ponto de nem ao menos notar que o homem que amava estava jogado no chão, gemendo baixo a cada movimento que tentava fazer. Eu estava começando a achar que ele realmente havia fraturado algo ao ser debatido contra uma árvore e logo ter encontrado o chão. Andrew estava encarando Emme em silencio, seus olhos azuis estavam presos ao dela e antes mesmo que ele pudesse dizer qualquer palavra, ou simplesmente ter ignorado a Deusa diante dele, a pequena ruiva em sua frente voltou a falar.— Você está bem?— Perguntou e aquilo não soou como uma pergunta por educação, não quanto aqueles olhos pratas claros de Emme estavam mais sombrios do que sua alma permitia ser, não quando todos sabiam que uma deusa podia escutar os pensamentos de qualquer ser vivo na terra. Esse pequeno silencio que ocorreu entre eles foi o suficiente para que os pensamentos de Andrew a abalasse. — Isso realmente importa?— Uma resposta em forma de pergunta, sem emoção nenhuma. Seu tom mais afiado do que uma adaga que já cortou milhares de jugulares. Emme vacilou e eu vi que seus lábios tremeram, igualmente ao resto de seu corpo. Ela estava com tanto medo de Andrew, tanto medo que jamais existiu nem quando ela desconhecia o mundo sobrenatural. — Andrew.— Eu disse seu nome em repreensiva, ele não tinha nenhum direito de colocar suas garras na inocencia de Emme e rasgá-la como qualquer corpo que ele mutilou. Não com Emme que possuía aqueles olhos inocentes e grandes que estavam pronto para captar algo desconhecido que passasse ao seu redor, uma janela para quem desejava ver como sua alma era pura. Mas quando me intrometi ao meio disso, a mão de Lúcifer tocou a minha e meus olhos foram rapidamente para o vampiro ainda deitado ao meu lado para ver o movimento negativo que sua cabeça fez para não me intrometer, um aviso de que uma alma negra diante de outra pura tinha o direito de se resolverem sozinhos. Eu fiquei em silencio a partir disso, pois Lúcifer jamais jogaria sua tão preciosa Emme ao meio de cães que poderiam arrancar cada pele de seu corpo se não tivesse certeza de que ela ficaria bem. E quando voltei olhar para o vampiro e a única filha de Hades, os olhos deles estavam mais que conectados, mesmo que eu não pudesse ver as auras deles, eu senti que a inocência de Emme tentava tocar a negritude que estava em volta de Andrew. Ela sentia falta dele. — Todos esperam sua volta em casa.— Ela disse finalmente, não fazendo nenhum sentido para mim. A deusa que conquistou o coração de Lúcifer possuía duas casas, aquela que fazia parte dos deuses e a outra que existia todos nós. Minhas apostas eram que ela mencionou sobre que nós esperávamos por ele, mas os deuses sempre tiveram certa carisma por Andrew a ponto de quase considerarem ele como seu próprio filho, era realmente difícil entender algo, mas o vampiro entendeu. Andrew abaixou seu olhar até que estivesse olhando o chão e após que segundos passaram ele


levantou seu queixo para que pudesse me encontrar. O vampiro ainda respeitava Emme, pois jamais abaixaria seus olhos para alguém, não ficaria em silencio quando diziam que esperavam por ele. Seus olhos eram frios como sempre, mas estavam vazios. Isso era tão anormal quando se via qualquer resposta naqueles olhos... Eu soltei um suspiro, frustração estava começando a ser uma aliada minha nessa guerra. — Olá?— Lúcifer quebrou o silencio, finalmente chamando a atenção de Emme.— Homem quase morto no chão, bem aqui?— Eu me levantei quando a deusa passou a se mover para ficar próxima de Lúcifer e ajudá-lo se levantar, mas antes mesmo que isso acontecesse nós nos encontramos ao meio do caminho que estava percorrendo opostamente e nós abraçamos rapidamente, sem que meus olhos deixassem os de Andrew. Seus olhos estavam tão diferentes... Ao mesmo tempo que eram vazios ainda possuíam aquelas faíscas cheia de vida. Algo estava errado. Eu fiquei próxima a ele depois que soltei Emme, mas nem ao mesmo toquei em qualquer parte de seu corpo como o casal em nossa frente de mãos dadas e com suas auras totalmente conectadas. No meu caso, era apenas eu e Andrew, não nós. Um pouco de inveja percorreu meu corpo, pois eu sentia muita falta de ter os braços, as mãos do vampiro parado ao meu lado em todo meu corpo. Não sexualmente, mas sim carinhosamente, como todo casal ficava em publico. Como Emme e Lúcifer. — Você está bem?— A deusa do fogo perguntou, seus olhos azuis fitando rapidamente a arvore que Lúcifer havia debatido. — Eu vou sobreviver... Se você cuidar de mim.— O vampiro de cabelos loiros sussurrou a ultima parte e Emme sorriu para ele. Meus olhos foram para Andrew e seu silencio estava tão pior quanto suas ameaças de morte, mas então quando ele notou que eu estava o olhando, seus olhos encontraram os meus. — O que estão fazendo aqui?— Lúcifer perguntou. — O que vocês estão fazendo aqui?— Andrew agiu como rei, como a autoridade que não deveria ser questionado.— Aqui é meu território.— — Me desculpe, meu rei.— Sarcasmo, puro sarcasmo.— Eu não sabia que havia se tornado como esses lobos para marcar territórios com sua urina.— Um rosnado de pura raiva saio da garganta de Andrew, baixo o suficiente para que somente meus ouvidos ouvissem esse som. Eu tinha certeza de que o vampiro não era um lobo, mas também sabia que ele poderia rasgar Lúcifer como se fosse um. — Nós viemos até aqui para matar os lobos.— Emme disse antes que Andrew falasse qualquer coisa mal educada.— Eles estão mortos agora e nós já estávamos indo embora, mas como Lúcifer ouviu o barulho de vocês, ele achou que poderia ser algum que viveu.— Por um momento eu fiquei feliz, pois Lúcifer e Emme haviam feito todo o trabalho em que eu teria que ficar de isca para atrair esses animais sanguinários. Eu não precisaria fazer mais isso já que o casal de Hades haviam matados eles. — Pelo menos você ainda é útil para algo, Lúcifer.— Andrew arqueou uma sobrancelha e então começou a se virar para dar as costas a seus antigos amigos.— Vamos embora, Roxie.— Eu não me movi quando o vampiro disse meu nome para que pudéssemos ir embora. Meus olhos estavam em Lúcifer e Emme nesse momento, me fazendo lembrar o quanto eles me faziam falta. Assim como Iawy e Nyx. Por um momento, eu desejava ter apenas mais alguns minutos ao lado dessas duas pessoas que significavam tanto para mim.


Andrew se virou para mim com a intenção de encontrar meu olhar e foi isso exatamente que aconteceu já que olhei para ele quando passou a se mover para ter algum sucesso nisso. — Você quer ficar?— Ele perguntou calmamente, não demonstrando nenhum sentimento. — Ficar?— — A central é sua casa agora.— Andrew respondeu minha pergunta que realmente não precisava de uma explicação. Eu havia a entendido muito bem, mas não fazia nenhum sentido ele me dizer para ir embora. Andrew me prendia em uma corrente, não poderia ser tão fácil assim.— Você pode ir embora junto com Emme e Lúcifer.— Eu olhei para Emme e Lúcifer assim que ele terminou de falar, ambos estavam mais impressionados do que até eu mesma. E sim, eu realmente desejei ir para o lugar que chamava de casa muitas vezes desde que me juntei a Andrew, pensando no quanto ele não tinha mais salvação. Mas agora que o vampiro estava em pura confusão em sua mente, talvez por culpa do meu sangue, eu não poderia deixá-lo. De uma maneira estranha e totalmente masoquista, eu me sentia em casa ao seu lado. — Não, eu quero ficar com você.— Falei depois que retornei a olhá-lo. _____________________________ O maxilar de Andrew se apertou diante de minha resposta, assim como eu fiquei chocada com sua pergunta, imagino que ele não esperava uma resposta como essa. O vampiro provavelmente esperava que eu corresse para os braços de Lúcifer depois de toda frustração e desespero que eu estava passando com ele, mas eu definitivamente não iria embora agora. Meus olhos foram para Lúcifer e Emme pela última vez e um pequeno sorriso surgiu em meus lábios, havia semanas que eu não os via e só por um milagre que voltaria a vê-los novamente. Mas imagino que esse encontro foi o suficiente para matar um pouco das saudades dentro de mim. Eu dei as costas para o casal proibido e passei um braço ao redor do de Andrew, enganchando-o em seu braço quente, comparado a minha temperatura, para que o vampiro me guiasse nessa escuridão que eu já não podia mais enxergar.— Vamos embora.— Falei calmamente, com meus olhos presos ao dele. — Não tão cedo, meus queridos.— Outra voz quebrou o silencio quando Andrew e eu estávamos prestes a dar nosso primeiro passo para longe de Lúcifer e de sua deusa. — Sol.— Emme disse surpresa ao mesmo tempo que me virei para ver a outra deusa presente diante nós agora. Não era preciso realmente eu me virar ou Emme dizer o seu nome, a voz de Sol era muito mais que familiar para mim, ela salvou minha vida tantas vezes que eu nem ao menos sabia como agradecê-la, o máximo que podia fazer era reconhecer sua voz de olhos fechados. Andrew respirou fundo, provavelmente procurando a paciência que nunca teve e então se virou em direção da deusa sem que quebrasse o contato com meu braço.— Você chegou tarde para me ver, nós já estamos indo embora.— Ele disse secamente. Isso jamais intimidaria Sol como tinha efeito em qualquer outra criatura sobrenatural. Pelo amor de Deus, a deusa enfrentou a ira de todos os deuses quando quebrou a regra de ter um amante fora do limites deles, não seria Andrew e sua alma negra que a faria gaguejar. — Se esqueceu que eu sou uma Deusa, Andrew?— Ela perguntou com um sorriso sinico.— Uma deusa nunca está atrasada.— — E você se esqueceu que eu sei como matá-la?— — Então o faça, mas agora você irá ficar e escutar o que tenho para falar.— Ela disse com a fúria de uma imortal tão velha quanto o vampiro em sua frente em seus olhos. — Eu não quero fazer parte dessa reunião da família aberração.— Andrew olhou para Emme e


Lúcifer, incluindo eles ao meio desse apelido tão antigo... — Você fica.— Sol rangeu seus dentes.— Ou eu farei o sol nascer em todo esse lugar, menos nesse circulo até que você me ouça.— — Eu posso ir embora?— Lúcifer levantou sua mão para cima, como um aluno que perdeu seu numero na chamada da escola. — Não.— Ela lançou um olhar para ele fuzilador, mantendo o vampiro de cabelos loiros em silencio. Então a deusa sorriu e dividiu seu olhar entre mim e Emme.— É ótimo ver vocês duas.— Disse gentilmente, fazendo com que eu retribuísse seu sorriso. Era realmente ótimo ver Sol tão perto de mim depois de tanto tempo. Mas ela não havia mudado em nada, apesar dos anos que passaram, Sol ainda tinha aqueles cabelos negros e longos com ondas perfeitas, olhas tão azuis quanto águas puras e o tom de uma pele perfeitamente bronzeada depois de algumas horas diante do sol, uma cor que eu realmente admirava já que jamais poderia ter a chance de tê-la. E sua expressão ou a maneira de falar ainda continuavam as mesmas que passavam a impressão de que ela era totalmente insana, mesmo que se vestisse em total elegância com um vestido verde claro que era justo somente de sua cintura para cima, caindo em uma suavidade charmosa no restante do seu corpo até um pouco acima de seus joelhos. Diferente de Emme, essa deusa amaldiçoada fazia jus ao titulo que possuía. Mas eu não podia julgar a amante de Lúcifer, pois nunca a vi como agia ou se vestia quando estava com seu pai na dimensão onde os deuses viviam. Provavelmente ela deveria ficar maravilhosa em um vestido de tirar o folego que a filha de Hades usaria em algum baile comemorativo, mas em quanto ela estava aqui na terra, diante de criaturas sobrenaturais, Emme só desejava ser a namorada de Lúcifer e nada mais, então um vestido simples era seu traje favorito, mas isso também não tirava sua graça. — O que você quer de mim?— Andrew perguntou, olhando para Sol de uma maneira ameaçadora. — Eu?— Deboche invadiu sua voz.— Eu apenas quero sua sanidade de volta!— — Bom, boa sorte com isso.— Um sorriso irônico surgiu em seus lábios e então ele me puxou para que pudéssemos andar, mas não tivemos nenhum sucesso nisso novamente. — Andrew.— Sol falou seriamente, um tom que não fazia parte da Sol que eu conhecia.— Nós precisamos conversar.— — Sol.— Emme voltou a falar seu nome, mas dessa vez a repreendendo. Lúcifer olhou para sua amante com curiosidade, demonstrando que Andrew e eu não eramos os únicos de fora. — Está tudo bem, Fiemme, eles precisam saber.— Sol falou.— Eu irei arcar com as consequências. — Consequências, essa era a palavra que fez meu corpo se estremecer. Principalmente quando eu sabia que Sol iria quebrar suas regras. Isso nunca era algo bom. Andrew se aquietou ao meu lado, agora o vampiro havia ficado tão curioso quanto seu melhor amigo que estava em nossa frente. Sol havia conseguido a atenção de todos com apenas a última palavra de sua frase. Aqueles azuis tão claros e impecáveis encontraram os de Andrew e ela suspirou, apesar de ter sido um movimento calmo da parte dela, havia nervosismo. Todo esse suspense estava apenas fazendo com que minha curiosidade passasse a gritar dentro da minha mente. — Sua alma está instável, Andrew.— Ela disse.— Desde que Roxie voltou para sua vida ela passou a ser manchada pela pureza novamente, mas ainda não foi o suficiente. Nem mesmo o sangue dela vai ser capaz de equilibrar a negritude com a pureza em quanto você não tiver força de vontade para deixar a escuridão ir embora.—


— Eu não quero isso.— Novamente o vampiro rosnou como um lobo, mesmo não pertencendo a essa raça. — Sim, você quer.— Sol rebateu logo em seguida.— Amethyst mentiu para você descaradamente ao dizer que Roxie estava morta, que nós, deuses, fomos culpados de sua morte ao tentarmos tornála imortal.— — Era tarde demais para me importar com a vida dela.— Andrew respondeu, um motivo muito obvio para que ele não tivesse me procurado quando soube disso. Minha raiva por Amethyst cresceu além dos limites dessa vez. Agora eu queria congelar aquela vadia com minhas próprias mãos. — Por que ela o envenenou com seu sangue até que sua alma se tornasse negra antes mesmo que Roxie tivesse chance de chamá-lo quando Sol e David a transformaram em imortal novamente.— Lúcifer se intrometeu com mais raiva do que eu. Entre no meio de melhores amigos e é isso que acontece.— E mesmo sabendo de tudo isso você a segue como um cachorrinho.— Meus dedos se apertaram ao redor do braço do vampiro ao meu lado, agora era o momento que parecia que todos iriam jogar pedras em Andrew por causa do que aconteceu. O humor dele provavelmente não iria durar para sempre. — Você virou suas costas para os deuses e tentou destruí-los junto com Amethyst.— Sol voltou a falar, outra acusação. — E dai?— Frio como uma noite de inverno.— Vocês viraram as costas para mim quando precisei também.— — Isso se chama fraqueza, Andrew.— Lúcifer atirou a pedra logo em seguida. — Pare, Lúcifer!— Eu não consegui controlar minha língua. Me intrometer era algo que eu realmente não desejava, mas deixar que todos culpassem Andrew sem que Amethyst estivesse junto era pura injustiça.— O que aconteceu já está no passado e não há mais voltas, não há motivos para você descontar toda sua raiva agora.— — Roxie tem razão, Lúcifer.— Emme disse em um tom baixo, colocando sua mão que não estava rodeando a cintura de Lúcifer em seu peito.— Não há motivos para fazer isso, não agora.— Sim, não agora. Andrew provavelmente pagaria todos seus pecados algum dia. Lúcifer voltou a ficar em silencio, mas sua expressão era como se fosse a mesma se ele começasse a pontar o dedo na cara de seu amigo e dizer cada erro que ele cometeu. Por agora, isso seria o máximo que conseguiríamos vindo dele. — Andrew,— Sol começou lentamente.— Se você deseja que Amethyst tenha sucesso em tudo que está planejando e acredita fielmente que os planos dela sejam a coisa certa, então você deve arrancar o coração de Roxie nesse exato momento e entregá-lo para sua feiticeira.— — O que?— Lúcifer e eu falamos ao mesmo tempo, tendo Emme e Andrew silenciosos. O que meu coração tinha haver com isso? O vampiro ao meu lado ficou tenso, sua respiração deixando de existir a cada segundo que passava. Isso significava que ele entendia o que Sol quis dizer. — O que está falando?— Ele perguntou. — Você sabe exatamente do que estou falando.— A deusa amaldiçoada olhou para mim, seus olhos fixos aos meus.— Amethyst e você arrancaram o coração de milhares de pessoas inocentes a procura daquele que pertenceria a uma única criatura rara nesse mundo, a única viva depois de séculos sem que outra existisse. Você estava procurando o coração de uma estrela e ai está ela, bem ao seu lado, batendo aceleradamente dentro da única mulher que já amou durante 1378 anos de vida.— Agora a respiração que parou de existir foi a minha.


Isso era muito para minha mente processar, principalmente pelo fato de que Andrew... O meu Deus, ele havia matado milhões de pessoas apenas para chegar até mim. — Uma estrela.— Andrew parecia mais surpreso do que eu, seus olhos estavam chocados quando eu os encontrei por um momento.— Você se tornou uma estrela.— Meus olhos foram para Lúcifer e o vampiro estava congelado, Emme o olhava com preocupação. — Sim.— Eu sussurrei quase em um choramingo.— Eu fui avisada para nunca dizer o que eu era em quanto você fosse aliado de Amethyst.— — Por todos os deuses, Roxie, por que esteve quieta todo esse tempo morando sob o mesmo teto de Amethyst?— O vampiro explodiu. — Porque talvez nenhum de vocês tenham avisado que desejavam o coração de uma estrela!— Exclamei.— Além do mais, como você procura por algo que nem ao mesmo sabe como é? Minha temperatura, meu gelo, meu brilho... Isso não era meio obvio?— — Eu fui instruído a achar um coração que brilhasse quando arrancado do corpo, não um vagalume.— — Por que Amethyst quer o coração dela, Andrew?— Lúcifer perguntou aquela pergunta que eu fiz durante mais de 10 anos, ela não parecia tão importante agora que minha vida estava em risco mais do que antes. — Porque ela deseja restaurar o equilíbrio da terra começando desde o zero.— Ele disse tão calmamente que minha vontade foi de acertá-lo com uma pedra. Como ele conseguia ficar tão calmo diante de uma situação que meu coração até mesmo machucava a cada batida que dava?— Amethyst deseja abrir o portal onde todas as almas negras são aprisionadas para que elas causem a destruição no mundo, que o portal arraste tudo para dentro dele quando for fechado.— — Já ocorreu por sua cabeça que você poderia ser morto também?— Emme perguntou, tão inocente que não parecia que ela estava no meio dessa conversa. — Sim e eu não me importo.— — Eu me importo!— Lúcifer quase gritou aquilo.— Apenas por que você quer ser um suicida, isso não quer dizer que o mundo deve ser arrastado junto com sua morte!— — Amethyst mentiu para você sobre isso também.— Sol saiu de seu silencio depois que deixou que nós nos resolvêssemos o assunto em pauta. E o que ela acabará de falar não era exatamente uma novidade, mas mesmo assim eu respirei fundo e quando puxei o ar de volta foi torturador. Parecia que eu estava enfiando navalhas pelas minhas vias respiratórias. — O que ela mentiu?— — Não só ela, Andrew.— Emme disse em um tom baixo, tendo o olhar não só de Lúcifer nela.— Pierre e Hebe também.— — O que você sabe sobre isso tudo, Fiemme?— Lúcifer perguntou com uma expressão irritada, mas antes que a deusa tivesse chances de dizer algo, Andrew falou, tirando a atenção do vampiro de cabelos loiros de sua amada. — O que Pierre tem haver com isso tudo?— Ai estava seu ponto fraco. — Todos os deuses mentiram sobre sua alma, Andrew.— Não foi Emme que respondeu, e sim, Sol. — Ela é realmente rara assim como os de outros humanos e criaturas sobrenaturais, mas você nunca se perguntou por que sempre era sua alma? Não de qualquer outra pessoa que nem faça ideia que exista mas que possuí uma?— — Talvez por que todos gostam da ideia de que me matar seja divertido?— Ele chutou ironicamente, novamente fazendo com que eu desejasse jogar uma pedra nele. Ótima hora para se usar ironia! — Oh meu Deus.— Lúcifer disse aquilo mais chocado e congelado, se fosse possível. Ele provavelmente havia junta peças do seu próprio quebra-cabeça. — O que?— Eu perguntei desesperada, essa era uma pergunta que eu realmente desejava uma resposta.


— Eu não sei, isso apenas não soa como se fosse algo bom.— Lúcifer falou.— Mas o que pode tornar Andrew mais desejado do que os outros que possuem uma alma rara é ele ser como nós, Roxie, uma criação única dos deuses.— — Errado, Lúcifer.— Sol disse.— Amethyst tem capacidade de abrir o portal com seus próprios poderes e o coração de uma estrela, mas o motivo por ter escolhido justamente Andrew, não foi por que sua alma é poderosa, não foi para ajudá-la a ter sucesso. Tudo isso são coisas que ela pode conseguir sozinha.— — Então por que ela quer Andrew?— Eu pensei que minha voz sairia pior do que saiu, mas o importante era que havia saído. — Ela não pode liberar todas as almas da prisão para devastar o mundo sem a ajuda do seu coração, Roxie, mas também não pode fazer completamente nada sem o coração de Andrew.— — Meu coração?— — Sim, com o coração de uma estrela é apenas possível abrir o portal e permitir que as almas negras mais fracas fujam de suas cadeias, mas aquelas mais fortes, temidas que Amethyst realmente deseja libertar e depois fazer com que o portal sugue tudo que existe no mundo para dentro dele quando fechado, não pode ser realizado tão facilmente quando parece, isso irá sugar um enorme poder dela e causará sua morte em questão de um minuto, ela é imortal, mas precisa ser mais do que isso. Amethyst precisa comer seu coração negro para que toda vez que morrer volte a vida com mais força e poderes, para que ninguém possa a deter quando estiver abrindo o portal. Apenas você pode dar esse poder a ela, Andrew, esse é o motivo para que ninguém tenha ousado o matar depois que sua alma ficou negra, pois se os deuses o matassem, você voltaria como a própria encarnação do mal todas as vezes que isso acontecesse.— — Por que?— Andrew perguntou em quanto minha mente entrava em pensamentos brancos e sem sentido. — Você não é uma criação de um deus, nem um vampiro comum ou um humano que possuía uma alma rara antes de se transformar na criação de todos eles.— Emme começou a responder sua pergunta.— Andrew, você é filho de um deles.— As ultimas palavras de Emme baterem contra meu rosto como se fossem um chicote pegando fogo com ferro derretendo em suas pontas, fazendo com que eu esquecesse totalmente o que significava respirar, o mesmo deveria ter acontecido com Lúcifer e Andrew. Eu deixei minha paralisia de lado por um momento e os dedos que estavam contra a o braço do vampiro desde que Sol havia chegado aqui, com essas noticias chocantes, foram obrigados a escorregar até a mão dele e entrelaçar nossos dedos. Isso não significava nada, mas era o único conforto que poderia dar. Esse ato fez com que o choque do vampiro acabasse, já que quando meus dedos tocaram os dele, eu o peguei olhando para nossas mãos juntas, fechadas uma na outra como se nada pudesse separá-las. Andrew apertou minha mão somente um pouquinho contra a dele, palavras nunca foram ditas, mas isso era como um agradecimento, imagino. — Pierre?— Seu olhar viajou para Sol e eu dependi da resposta dela para saber exatamente sobre o que ele estava perguntando. — Pierre ainda é seu irmão, Andrew, quero dizer, é seu meio irmão.— Sol não desviou seu olhar do dele.— Assim como você é o meu.— O silencio caio em todos nós como se fosse uma grande avalanche de neve cheia de laminas ao meio dela. Era realmente difícil dizer qualquer coisa sobre isso quando não existia nem palavras para descrever onde o problema disso tudo começava. Andrew era filho de...Zeus.


Andrew se moveu ao meu lado e esse movimento fez com que sua mão soltasse a minha, fazendo com que eu desistisse de olhar para o nada em quanto pensava sobre tudo isso e encontrá-lo a alguns passos longe de mim. — Andrew.— Seu nome saio dos meus lábios mais como uma suplica. — Não.— Ele disse e se afastou ainda mais.— Não.— — Não faça isso.— Eu falei, mas antes que tivesse chances de falar qualquer outra palavra ou dizer um simplesmente por favor, o vampiro já não estava mais diante dos meus olhos. Andrew havia simplesmente sumido. Meus olhos foram para Lúcifer que havia se afastado um pouco de Emme também, seus olhos estavam com crescentes fagulhas vermelhas que iam e voltavam quando sua raiva era controlada.— Você sabia sobre tudo isso por quanto tempo, Fiemme?— Ele perguntou, então percebi o motivo para que sua raiva estivasse saindo fora do controle. Um problema por ter se relacionado com uma deusa estava vindo à tona. — Lúcifer.— Emme falou seu nome em um tom suave, cheio de magoa. — Responda-me.— — A algum tempo.— Ela disse sem mentir, mas o que era mais obvio era o quanto a expressão que estava no rosto de Lúcifer estava a cortando de todas as maneiras possíveis. — Eu vou embora.— O vampiro de cabelos loiros passou a se mover e Emme deu alguns passos para acompanhá-lo. — Lúcifer...— — Não, Fiemme.— Ele a cortou ao se virar para ter os olhos da deusa sob os deles.— Eu vou embora e você fica com Sol.— — Não...— Lágrimas cresceram nos olhos da deusa, mas elas não escorreram por seu rosto, não ainda. Porém, Lúcifer não quebrou o gelo que persuadiu seu coração ao ver aqueles olhos grandes e cheio de pureza cobertos por lágrimas. O vampiro apenas movimentou sua cabeça negativamente e sumiu exatamente como Andrew fez ao se infiltrar na escuridão daquela floresta. Eu continuei imóvel onde estava desde que Sol havia chegado tentando controlar minha respiração e as batidas do meu coração. Era difícil saber se elas estavam em falta ou aceleradas demais, meus olhos encontraram os de Emme logo em seguida que ela desistiu de olhar para a escuridão que Lúcifer havia sumido, provavelmente esperando que ele ainda voltasse.— Eu sinto muito.— A pequena deusa sussurrou. Não pude entender no inicio o motivo dela estar se desculpando, mas logo compreendi que foi pelo mesmo motivo por Lúcifer ter se irritado com ela. Emme sempre soube mais coisas do que todos na central e mesmo assim continuou em silencio, mas eu a entendia. Ela era uma deusa que constantemente estava sendo vigiada por seus superiores, tirando o fato de que era uma regra não falar tudo o que Sol disse hoje, a deusa do fogo era proibida de ter algum relacionamento eterno com Lúcifer. Caso ela contasse tudo que sabia, isso seria um grande problema e era uma pena que o vampiro de cabelos loiros não entendesse isso. E Lúcifer deveria entender, principalmente quando Emme deixou claro que como uma deusa, ele não poderia fazer parte de sua vida. — Não se preocupe comigo.— Eu tentei sorrir, um ato sem sucesso.— Está tudo bem.— — Eu imagino que já causei muitos problemas por hoje.— Sol falou, um anuncio que estava de partida para receber a irá dos deuses.— Você virá comigo, Fiemme?— Emme não disse nenhuma palavra, ela apenas se aproximou de Sol e pegou em sua mão. Aquilo provavelmente era um sim, mas sem que nenhuma palavra saísse de sua boca. Eu temia que se isso acontecesse, aquelas lagrimas que estavam sendo seguradas em seus olhos cinzas claros iriam cair e não parariam até que caísse em um sono profundo. — Eu tenho uma pergunta.— Falei antes que elas partissem.— Por que Amethyst e Andrew mataram criaturas sobrenaturais mesmo sabendo o que elas eram?—


— Por que muitas vezes mesmo elas sendo licantropos, vampiros ou qualquer raça que exista, eles podem possuir uma ligação com as estrelas dos deuses. E você sendo uma de pura raça, não apenas uma criatura sobrenatural ligada a uma estrela, só a faz ainda mais significante ao poder.— Sol me respondeu.— Amethyst não os mataria apenas por maldade sem que existisse um motivo.— Ótimo, eu pensei ironicamente, eu não estava apenas ferrada, estava completamente ferrada. — Você precisa parar Andrew, Roxie.— A deusa de cabelos negros voltou a falar.— Ou o mundo se tornará o vácuo do nada para sempre até que os deuses achem outra fonte de poder que não sejam as almas.— Eu sabia que feiticeiras e feiticeiros tinham o dever de manter o equilíbrio da terra, mas Amethyst definitivamente estava levando isso a sério demais, muito a sério. Eu respirei fundo calmamente, além de minha mente ter recebido muitas informações em apenas um dia, agora eu estava começando a sentir uma certa pressão sobre ter que fazer algo para parar Andrew, o que não era por menos, já que aparentemente eu era a única que poderia salvá-lo. — Para onde ele foi?— Eu perguntei sobre Andrew. — Ele está no cemitério.— _______________ Sol e Emme foram embora no mesmo minuto em que virei minha cabeça na direção que Andrew havia escolhido para ir embora. Eu não precisei perguntar em que cemitério ele estava, pois isso estava muito obvio. O que me manteve parada aqui foi o pensamento de que poderia chamar Lúcifer e ele me levaria de volta para a central sem nenhum problema já que Andrew decidiu me largar sozinha nessa floresta em quanto ignorava totalmente que eu ainda me importava com ele, mesmo que o sentimento não fosse reciproco. Eu não poderia esperar muitas coisas vindo dele, é claro, mas também não desejava ficar para trás em um momento como esse. Felizmente, eu não chamaria Lúcifer, pois isso seria tão errado quanto ignorar tudo o que Sol havia falado hoje. Andrew desejava ficar sozinho, mas isso não aconteceria. Não hoje em que ele teria que fazer alguma escolha. E se o vampiro escolhesse o caminho errado no final de tudo, pelo menos eu seria a primeira a saber que iria morrer. Eu, realmente, gostaria de pensar que ele não escolheria a parte em que arrancaria meu coração, mas Andrew... Ele estava completamente errado nesse momento, o vampiro não era o mesmo que eu conheci a séculos atrás em quanto estava perdida em uma floresta, pronta para morrer no meio do frio ou de fome se nunca tivesse me encontrado. Naquela época ele também era frio e assustador, mas agora isso parecia muito pior já que eu havia conhecido sua bondade. Meus braços se enrolaram ao meu redor como se pudesse sentir algum tipo de frio, o que era totalmente impossível, e comecei a dar meus primeiros passos em direção do cemitério onde se encontrava o tumulo de Pierre.


20Assim que fiquei de frente com um enorme e temático portão de ferro que ficava na entrada do principal cemitério de Londres, eu o toquei cuidadosamente, com medo que aquele metal tão velho e todo enferrujado que deixará de ser cuidado durantes anos, se desfizesse ao meu suave toque para empurrá-lo um pouco até que tivesse algum espaço pro meu corpo passar. E caso eu estivesse tentando ser silenciosa, meus planos acabariam agora mesmo devido ao chiado que aquele portão fez ao ser aberto. Mas eu não desejava passar despercebida pelo vampiro, até mesmo o chamei em quanto caminhava sozinha na floresta, com esperanças de que ele viesse ao meu encontro. Aparentemente Andrew ignorou meu chamado ou apenas estava desconcentrado a ponto de não ouvir minha voz chamando seu nome. As duas opções pareciam válidas depois do que Sol nos disse. Caramba, Andrew era filho de Zeus, isso o fazia como um semideus quando era humano. Agora que ele era um imortal e totalmente poderoso, provavelmente só fez seus poderes aumentarem. O que explicava a parte em que se o vampiro fosse morto, ele voltaria a vida. Apesar de tudo o que foi revelado essa noite, apenas uma coisa o atingiu. E não era a parte em que eu era uma estrela ou que seu pai era um deus e que Amethyst estava apenas o usando. O ponto fraco de Andrew sempre foi e será Pierre, mesmo que seu irmão já estivesse morto há anos, mesmo que ele apenas tivesse desejado usar o vampiro que tanto sofreu ao ter que matá-lo. Eu apertei meus braços ao redor de mim novamente e respirei fundo, minha cabeça girava apenas em uma pergunta: O que eu estava fazendo aqui? Grande parte de mim confiava em Andrew, mas a parte que restava já não podia dizer o mesmo. Minha raiva por Pierre apenas cresceu depois do que Sol disse, mesmo não sabendo o que exatamente o irmão mais velho de Andrew desejava com seus poderes de um semideus. E ainda havia a parte que ele havia se aliado a Amethyst em uma busca que vinha direto para mim e minha morte. Tudo bem, a morte dele também estava envolvida no meio disso, já que Amethyst teria que comer o coração dele para roubar sua imortalidade ainda maior do que qualquer outra criatura sobrenatural, mas ele deixou claro que não se importava em morrer. Bem, eu me importava por nós dois. Então estar aqui, quando deveria ter fugido até estar segura nos braços de Iawy e Lúcifer novamente, era como cavar meu próprio tumulo se o vampiro decidisse seguir os passos daquela feiticeira que não só destruiu minha vida, como de várias pessoas. E felizmente ou infelizmente, eu ainda amava Andrew mais do que deveria, correr para a central não era uma opção quando esse sentimento estava envolvido. Era esse sentimento que me fazia dar cada passo nesse cemitério escuro e vazio com tantos túmulos e mausoléu que podia perder a conta em apenas um segundo se decidisse que era certo numerá-los.


Isso parecia mais correto agora do que caminhar para a direção onde o corpo de Pierre descansava a baixo da terra. Na verdade, o mais correto seria estar dormindo em minha cama em volta de cobertores enormes que tentariam me esquentar ao invés de caminhar em um lugar que fantasmas viviam. Eu, realmente, amava Andrew, caso contrário nunca pensaria vir aqui depois de tanto sangue que escorreu em Londres. O fato de estar indo até o túmulo de Pierre não me incomodava tanto quanto isso, afinal, eu já estive aqui várias vezes para visitá-lo. Mais alguns passos e meus olhos encontraram aquele túmulo que provavelmente era o mais chamativo do lugar, principalmente quando naquela ala em que o irmão mais velho de Andrew foi enterrado, a única estatua de anjo presente era a que pertencia ao seu túmulo. E não era apenas uma estatua qualquer, aquele anjo que estava debruçado sobre a lapide de Pierre e com suas asas caídas ao redor dela, em um sinal de paz, mais ao mesmo tempo que protegia aquele lugar era simplesmente uma das coisas mais linda que vi. A proteção desse anjo sob o tumulo ficava obvia quando se olhava na enorme espada que carregava em sua mão, tampando aquela pedra com palavras em algumas partes como se ela fosse um humano que estava prestes a ser decapitado pelo assassino em suas costas. Como eu disse, proteção. Andrew estava de pé diante dela e poderia ser facilmente confundido com outra estatua, mas essa era perfeita e linda demais para pertencer a um cemitério. O vampiro estava com seus braços cruzados, olhando fixamente para alguma palavra daquela lápide e nenhum movimento existiu quando eu me aproximei de suas costas, ficando a uma certa distancia dele, mas não tão longe quanto deveria ter ficado. Eu deixei que meus braços caíssem ao meu lado, desistindo de segurá-los contra mim como se aquilo fosse me proteger do frio ou de qualquer outra coisa assim que percebi que o silencio iria vencer por mais vários segundos, mas no fim eu estava enganada sobre isso. — No passado,— Andrew começou calmamente, seu tom era baixo e mais afiado do que uma guilhotina.— Eu visitei seu tumulo e encontrei rosas ao seu redor diversas vezes. Por um momento pensei que fosse apenas Seline, mas já que ela está morta e não você, não consigo imaginar o por que desse ato por alguém que odeia tanto.— Eu fiquei em silencio por alguns minutos, pois achar uma resposta para isso era complicado. Pierre não a pessoa perto de ser alguem que eu respeitava ou gostasse, mas mesmo assim...— Eu passei três meses com ele, Andrew, e acredito que não seja possível que alguém não consiga ser ele mesmo a cada segundo e minuto que passei ao seu lado.— — Mas ele ainda lhe causou dor o suficiente para não merecer seu tempo.— Seu tom era nada menos do que o vácuo do silencio do cemitério. — Pierre foi bom comigo, me protegeu quando te reneguei e... Eu não sei, uma parte que as vezes esquece tudo o que ele fez para minha irmã, acredita que ele poderia ser bom se desistisse de matar Nyx para que o sol nunca voltasse a nascer.— — Você soa como eu quando ele ainda estava vivo.— Andrew disse. — Por que?— — Porque eu esperava que ele desistisse de seus planos e se tornasse uma pessoa melhor.— — Eu espero isso de você também.— Sussurrei calmamente, esperando por qualquer resposta que pudesse significar qualquer coisa. — Porque você conheceu minha bondade, assim como eu conheci a de Pierre.— Andrew estava completamente correto. Desejar a morte dele foi algo que nunca fez parte dos meus


desejos mais secretos, pois eu havia conhecido ele de uma maneira que ninguém nunca conheceria. Era realmente dificil pensar em qualquer coisa ruim sobre Pierre agora quando seu irmão mais novo passou pelo mesmo que eu estava passando. — O que você irá fazer, Andrew?— Eu fiz a pergunta que estava me matando, talvez mudando drasticamente o assunto. — Por que todo mundo espera que eu faça algo?— Ele se virou para mim finalmente, seus olhos cheios de pura raiva.— Por que eu sou o culpado de tudo isso? Por que tudo está ligado a mim?— Acusações e as respostas que eu jamais diria.— Eu não disse isso.— — Prove que não foi exatamente isso que pensou, Roxie.— Andrew desviou seu olhar do meu em quanto soltava um suspiro, mas não demorou nada para que seus olhos voltassem aos meus.— Eu a machuquei e tinha intenção de machucar uma estrela. Isso não soa como eu, você não deveria esperar algo de mim. Não existe mais nenhum Andrew.— — Eu não quero que tenha o mesmo destino que Pierre.— Andrew ficou em silencio por alguns segundos, seus olhos tão fixos nos meus o quanto podia. Segundos pareceram se tornar a eternidade nesse momento.— Eu já cavei meu túmulo há 10 anos. — — Não.— Eu neguei o que ele acabará de falar, mais para minha mente aceitar esse fato do que ele próprio.— Você tem que lutar.— — Lutar?— Um riso amargo.— Por quais motivos?— Motivos... Era disso que tudo se tratava? Eu queria lutar por ele mais do que qualquer outra pessoa, mas sem sua ajuda, não poderia fazer isso. Eu era tão estupidamente fraca que nem ao menos poderia trazê-lo de volta sozinha, talvez eu fosse apenas uma peça forte de um jogo de xadrez, mas não a melhor. Sem Andrew, eu não podia ser nada. — Você prometeu me proteger, Andrew, prometeu inúmeras coisas.— Eu comecei citar meus motivos para lutar.— Mas acima de tudo, prometeu que passaríamos a eternidade juntos. Apenas eu, você e nosso amor. E acabou quebrando todas essas promessas tão facilmente quanto um vidro.— — Você quer que eu lute por promessas que não fazem mais sentido?— Ele perguntou. — Você deveria.— Uma lágrima escapou dos meus olhos quando nem ao menos tive chances de engolir o choro que se formou em minha garganta, mas eu a limpei rapidamente e respirei fundo para afastar o nó dentro de mim.— Eu acreditei em você quando disse que nunca quebrava suas promessas.— — Sim e você continua acreditando em mim.— Ele confirmou aquilo sem ao menos perguntar antes. Considerando o fato que eu não deveria, aquilo era muito mais forte do que minha força de vontade em dizer “não, você não pode acreditar nesse maldito vampiro”.— Eu arruinei toda sua vida não é mesmo, Roxie?— Uma pergunta sem rancor, ironia ou raiva. Apenas uma pergunta compreensiva. — Sim.— Eu fui sincera, não tinha como mentir sobre isso.— Mas eu não consigo imaginar uma outra vida sem você.— — Você é uma tola.— Andrew falou sem a intenção de me ofender.— Na central é onde você deveria estar e não na frente de alguém que deve arrancar seu coração para entregar a uma feiticeira que logo em seguida me matará.— — Você irá me matar?— Eu perguntei calmamente. Aquelas faíscas nos olhos de Andrew brilharam de uma maneira diferente dessa vez, elas quase tomaram o lugar da maldade explicita em seus olhos.


O vampiro não me respondeu também, ele começou a caminhar e por um momento meu coração gelou pela sua aproximação, mas nada fez além de passar por mim e continuar caminhando. — Você precisa se afastar de mim.— Ele disse ainda caminhando, eu fiz o mesmo para que não ficasse para trás nesse lugar assombrado.— Eu não posso mais machucá-la.— Culpa. — Por que eu sou uma estrela?— Estava meio complicado entender a cabeça de Andrew, ele havia aceitado procurar uma estrela para Amethyst antes, qual era o problema agora? Ele parou de caminhar em minha frente, o que quase causou uma trombada entre nós já que eu não esperava por isso. Me obrigando a dar alguns passos, eu mantive a distancia entre nós. — Amethyst disse que criaturas sobrenaturais podiam ter uma ligação com estrelas e era o coração dessa criatura que precisava ser achado. Não parecia tão ruim matar alguém com apenas uma ligação... Mas você, você não é uma criatura sobrenatural.— Andrew se virou para mim.— Você é uma estrela, completamente estrela. Eu não entendo muito sobre isso, mas a estrela que pertence a você está dentro do seu corpo, ela compartilha sua imortalidade, seu brilho, seu poder e é repugnante apenas em pensar causar algum mal a tudo isso. Você é tudo que eu amei em apenas uma alma.— Sim, ele nunca deixou de amar as estrelas mesmo com sua alma negra. Ele ainda as observava e apreciava aquela beleza única que existia no céu noturno que não existiu nenhum defeito conforme os séculos passavam. Apenas as estrelas continuavam perfeitas, nada mais. Sobre a parte em que ele disse que eu era tudo aquilo que ele já amou em apenas um corpo, não havia muito o que dizer. O vampiro negava me amar, sua indiferença comigo era a prova disso tudo, mas mesmo assim, havia esses momentos em que ele parecia ser apenas meu Andrew. Sua confusão estava me afetando tanto quanto ele. Eu não tinha intenção de deixá-lo escapar dessa declaração dessa vez, mas quando minha mente ainda estava projetando alguma resposta ou pergunta, o vampiro fechou seus olhos e abaixou sua cabeça, franzindo sua testa por alguns segundos. Lá estava aquela dor novamente. — O que é essa dor, Andrew?— Eu perguntei. — Você precisa ir.— Ele ignorou totalmente minha pergunta, o que era de se esperar. A raiva não me consumiu, pois eu sabia que ele nunca responderia minhas perguntas. A única que me daria resposta sobre o que estava acontecendo com ele seria Saphyre, apenas ela. O vampiro em minha frente abriu seus olhos e ergueu sua cabeça novamente, aqueles azuis tão perfeitos estavam manchados de preto, mas antes que tivesse algum tempo de observar adequadamente a escuridão sumiu para deixar olhos completamente claros e frios a mostra. — Não.— Falei depois que tive certeza de que o vampiro estava prestando atenção somente em mim, e não na dor existente na sua cabeça.— Estou cansada de fugir. Eu quero ficar e lutar por você, Andrew.— Andrew sorriu, realmente sorriu. Sem nenhum indicio de sarcasmo ou ironia seus lábios se puxaram em um pequeno sorriso onde nem mesmo a maldade o atingiu. Eu perdi totalmente a linha dos meus pensamentos quando isso aconteceu, pois se existia algo mais bonito do que Andrew, era um Andrew sorrindo verdadeiramente. — Eu imagino que terei que aturá-la então.— Ele disse algo depois de algum tempo, em total desistência sobre esse assunto. Seus olhos também deixaram de ser um vácuo sem fim para


demonstrar o quanto estava surpreso por minhas escolhas. Andrew disse que eu havia mudado nesse tempo em que havíamos nos separados, talvez ele tivesse razão. A Roxie de alguns anos atrás provavelmente teria ido embora de Londres na primeira oportunidade que tivesse. — Sim, você terá.— Tão rápido quanto veio, seu sorriso sumiu de sua face, mas seus lábios se movimentaram quando ele estava prestes a dizer algo, mas por algum motivo desistiu. O silencio caio entre nós e tudo que se podia ouvir era o barulho de vento ao nosso redor. — O que nós vamos fazer?— Andrew perguntou, colocando enfase em nós. Nós. Meu coração deu uma batida a menos para que depois acelerasse completamente por causa disso. Eu não sabia o que responder, pois jamais que Andrew agiria dessa maneira, como se nós voltássemos a ser apenas um. O choque apenas aumentou quando eu olhei naqueles olhos tão frios e azuis e vi que aquelas faíscas que tanto rodeavam aquele lugar estavam maiores do que antes. E agora, eu sabia o que elas significavam. Aquelas faíscam faziam parte de um olhar que pertenciam somente a mim, um olhar que provavelmente só existiu por minha causa e eu havia esquecido completamente disso. Eu havia esquecido que essas faíscas faziam parte do olhar que dizia que eu era a única mulher que existia em seu mundo e que amava além de qualquer coisa. Algo muito profundo e grande se sacudiu em meu interior, pois Andrew estava me olhando dessa maneira desde o minuto que acordei hoje e eu não havia notado. A próxima coisa que eu me dei conta, foi de meus pés se movendo sozinhos, indo na direção do que cada parte do meu corpo queria. Do que cada parte do meu corpo sempre iria querer. Andrew não teve tempo nem de dar mais um dos sorrisinhos convencidos, pois assim que eu cruzei a distância que parecia interminável entre nós, o agarrei pelo pescoço e lancei minhas pernas em volta de sua cintura enquanto puxava sua boca para a minha. Andrew cambaleou um pouco para trás com a surpresa, porém, respondeu tão depressa e com tanta fome que eu gargalharia se não estivesse muito ocupada no momento. Seus lábios reivindicavam os meus ferozmente, e sua língua invadiu minha boca buscando pela minha com tanta pressa quanto eu o correspondia. Andrew me segurou firmemente pelas coxas, tão firme que eu quase podia ver as marcas de seus dedos estampadas em minha pele, eu respondi a isso trançando meus dedos pelo seu cabelo, e minhas unhas em seu pescoço. Ele gemeu com isso, me apertando ainda mais contra ele. Sua língua dançava com a minha como notas musicais dançavam com instrumentos, e cada nervo do meu corpo congelado se derretia com o calor daquele contato. Era como se um fogo lento e permanente se arrastasse por debaixo da minha pele, me consumindo, e me puxando para sua fonte de olhos azuis. Minha respiração estava cada vez mais difícil de controlar quando Andrew começou a andar, comigo no colo em direção a algo que não me interessava. Em pouco tempo eu senti uma parede que parecia de madeira em minhas costas, e finalmente tendo um pensamento coerente, desenrolei minhas pernas da cintura dele com dificuldade, pois ele não parecia no humor de me deixar ir, e assim que pisei no chão de novo, girei sem romper o contato com seus lábios de modo que agora era Andrew quem estava encostado na grande parede escura de madeira, que agora eu podia ver: era


uma porta. Ele me segurava com força pela cintura, me mantendo tão perto dele quando possível, e eu adorava essa sensação. — Andrew.— Eu murmurei, afastando meus lábios dos do antigo rei dos vampiros para tomar fôlego e ele rosnou em protesto, se inclinando para frente para reivindicar-me outra vez. Eu sorri enquanto desviava meu rosto dele em brincadeira. Ele rosnou outra vez antes de mover sua boca para o meu pescoço. Eu podia sentir o calor de seus lábios e língua enquanto ele traçava um caminho perigoso em minha nuca, a sensação elétrica correndo por mim aumentava a cada toque, e minhas unhas se cravaram em seus braços quando senti suas presas roçando minha pele. Eu precisava dele, eu precisava tanto. A boca de Andrew se moveu pelo meu pescoço até o meu colo, e eu usei a oportunidade para nos empurrar com toda a força contra a porta de madeira. Ela se abriu abruptamente com um rangido mas eu não conseguia ver exatamente como era lá dentro por duas razões: 1. eu realmente não queria saber e 2. Andrew tinha achado um jeito interessante de brincar com meus seios por cima do vestido. Ele havia me empurrado para a parede ao lado da porta assim que ela se abriu, mantendo uma das mãos na parede ao lado da minha cabeça, e a outra ainda envolvia minha cintura. Sua boca brincava enquanto ele mordia levemente meus mamilos por cima do tecido do vestido. Cada pensamento que eu ainda podia ter ficou completamente em branco quando ele fez aquilo, minhas mãos que agora se encontravam em seu abdômen o arranharam com força enquanto a leve dor e o enorme prazer fizeram o calor romper pela minha pele, o tecido fino do vestido roçava onde as mordidas leves tinham provocado anteriormente o que causava pequenos choques enquanto ele se concentrava no outro seio. Isso tornava maior ainda a necessidade que eu tinha dele entre minhas pernas, eu gemi o nome dele e um risinho malicioso atingiu meus ouvidos como música enquanto ele largava o que estava fazendo, e subia novamente com a boca pelo meu pescoço até meu queixo e finalmente meus lábios. — Eu quase esqueci o quanto ficava linda gemendo meu nome — Ele sussurrou, levemente me provocando ao roçar sua boca na minha mas não me permitindo fazer nada mais — Faça de novo.— Enquanto as palavras saíam de seus lábios, ele havia rasgado meu vestido o suficiente para que ele escorregasse pelo meu corpo e atingisse o chão como nada além de trapos, me deixando completamente nua. Seus olhos azuis percorreram meu corpo e se incendiaram. Só o olhar dele era quase como uma carícia por si só. — Andrew — Eu gemi obedecendo, incapaz de pensar claramente enquanto ele me olhava daquele jeito. Eu sabia naquela hora que Andrew tinha plena noção de todo o domínio que tinha sobre mim, sobre como cada parte do meu corpo que ele tocava parecia responder a ele como se ele fosse o dono, e não eu. E na verdade, acho que ele era. Meus olhos se fecharam quando os lábios dele subiam pelo meu pescoço, pressionando mais ainda o corpo dele contra o meu, eu podia sentir seu hálito roçar em minha pele como pequenas gotas de fogo que derretiam todo o gelo que minha pele e alma continham. Ele escorregou os dedos pelo meu estômago, apreciando o gemido involuntário que eu soltei quando ele fez isso, seus dedos congelaram no lugar quando ele atingiu o meu ventre, porém, o motivo não podia ser claro pra mim enquanto ele ainda se mantinha tão perto. Andrew suspirou, encostando sua testa na minha e roçando nossos narizes em um ato mais gentil


do que eu achava que ele era capaz. Seus dedos pressionaram gentilmente o ponto em que tinham parado, e quando eu abri os olhos para encará-lo, os olhos azuis que sempre foram como gelo, eram tão quentes quanto seu toque. —Eu a machuquei aqui,— ele disse quase num sussurro. Eu demorei um bom momento para conseguir fôlego suficiente para entender o que ele dizia, sim, ele tinha. —Não posso me perdoar por isso.— Eu ia começar uma grande analogia sobre o quanto eu realmente não estava interessada em discutir isso no momento, mas quanto abri a boca, ele começou a escorregar seus dedos pela minha coluna até a base da minha cintura, me causando arrepios tão fortes que meu corpo todo pareceu tremer com apenas aquele toque. E, ainda com a outra mão grudada na parede ao lado de minha cabeça, me trouxe para ainda mais perto, me deixando aninhar em seu corpo. Eu senti os músculos firmes através do tecido fino de sua camiseta roçando em minha pele completamente nua, e meu coração dava golpes tão rápidos, que eu estava completamente entorpecida antes mesmo de ele grudar seus lábios nos meus de novo, reivindicando-me com os lábios e língua de forma possessiva. Eu enrolei meus braços em volta de seu pescoço, meus mamilos duros roçavam contra a camiseta escura e eu podia ouvi-lo gemer contra a minha boca por isso. Eu gostava disso. Eu queria ver suas reações. Eu queria que ele fosse meu de novo. Em um gesto provocativo, eu rocei minha perna nua na dele, subindo por entre as coxas e encaixando-a em sua cintura. O fogo que corria em mim parecia ter sido atiçado com gasolina quanto minha carne roçava por cima de sua ereção , seu membro parecia tão tenso quanto o resto de seus músculos, Andrew rosnou, agarrando-me pelas nádegas com força e me fazendo encaixar a outra perna em volta de sua cintura enquanto ele se movia para roçar ainda mais o contato através dos tecidos de suas roupas. Eu não prestei atenção em para onde ele estava me levando, e sinceramente não me importava. Por uma fração de segundos uma de suas mãos havia deixado meu corpo, e no outro o barulho alto de algo grande sendo empurrado e espatifado contra o chão me deixou alerta. E então, Andrew me sentou em cima de um tipo de mesa de mármore, e eu entendi o que tinha quebrado. Eu provavelmente ia precisar trazer umas flores para quem-quer-que-estivesse-dentro-daquelecaixão mais tarde. Bem mais tarde. Em um movimento rápido e possessivo, Andrew me agarrou pelas coxas, abrindo minhas pernas e se encaixando entre elas. O roçar do tecido de sua calça em minha carne me ascendia e irritava, depois de todo o tempo sem ele, eu o queria dentro de mim, perto de mim, o mais perto possível. Eu o queria me preenchendo, seu sangue, suas mãos, sua carne. Seus dentes roçaram em minha garganta e sua língua brincava com o meu pescoço como um predador assustando sua presa, ele se deliciava com minha pulsação acelerada enquanto se pressionava ainda mais em meio às minhas pernas. Eu não podia aguentar mais a tortura, e quando me dei conta, as calças que tanto me atrapalhavam estavam rasgadas e deslizando por entre suas coxas grossas até o chão, eu sorri com aquilo, e sorri mais ainda ao ver seu membro completamente desperto pulando para fora das limitações do tecido. Minhas mãos se fecharam em volta dele, tentando trazê-lo para onde eu precisava, mas Andrew era cruel. Ele me empurrou para trás com força, me deitando sobre a mesa, e segurou ambas as minhas mãos acima da minha cabeça enquanto roçava seu membro em minha carne. Seus lábios encontraram meus seios outra vez, dessa vez, mordendo e puxando com força meus mamilos, me fazendo gemer alto antes que começasse a sugá-los, primeiro o direito, depois o esquerdo. Provocando o que não estava em sua boca com a mão livre. Eu gemia tão alto que nem conseguia


me lembrar meu próprio nome. Em um súbito momento de consciência, eu usei minhas mãos para arrancar os botões de sua camisa, seu abdômen forte e os músculos contraídos me fizeram lamber os lábios, e foi quando ele subiu os lábios até o meu ombro e deu uma leve mordida, sem perfurar eu grunhi em frustração, e pude ouvir uma risada leve contra a minha pele. —Andrew!— Eu reclamei. E no segundo seguinte, ele empurrou dentro de mim com tanta força que eu gritei. Uma mistura de dor, prazer e saudade me inundaram com tanta força que eu podia ter perdido os sentidos, mas em pouco tempo eu tinha começado a acompanhar o ritmo dos movimentos de Andrew, que eram fortes e nada delicados. Exatamente do jeito que eu lembrava. Exatamente do jeito que eu precisava. Eu gemi alto, e minhas unhas se fincaram em seu peito, descendo por suas laterais enquanto ele me segurava firmemente com a cintura e provocava meu pescoço com a língua. O calor do contato me deixava zonza, e a textura de sua pele sobre minhas mãos me acalmava, quando meus mamilos roçavam em sua pele e eu sentia aquele pequeno choque em suas pontas, eu gemia. Foi quando uma de minhas mãos alcançou aquela cicatriz na lateral de seu corpo. Aquela que ele tinha ganho por minha causa. Inconscientemente, eu tracei sua forma com as pontas dos dedos, levando um momento para notar que, quando fiz isso, Andrew diminuiu a velocidade de seus movimentos. Ele não parou e nem os diminuiu na intensidade, cada um deles ainda me alcançava em lugares onde nenhum outro jamais tinha alcançado, mas a velocidade com que ele os fazia me deixava louca de antecipação. Eu podia sentir minha pele se eletrificar e cada parte de mim se contorcer com o toque dele quando ele substituiu a língua em meu pescoço pelos dentes. O roçar afiado de suas presas me fez arrepiar ainda mais. —Faça.— Eu disse num murmuro. Mas ele não fez, apenas continuou brincando com minhas reações enquanto voltava a entrar e sair de mim com uma velocidade quase brutal. Meus gemidos se transformaram em gritos enquanto Andrew aumentava o ritmo, eu podia sentir tudo se contorcer dentro de mim, pronto para chegar ao orgasmo, quando aquelas presas que brincavam com minha pele decidiram que não iam fazer só isso por muito mais tempo. Andrew enfiou suas presas em meu pescoço ao mesmo tempo em que meu orgasmo me atingia, e a sobrecarga de sensações quase me deixou inconsciente. —Eu ainda não te autorizei a descansar, Cherie.— a voz suave e ameaçadora era imponente em meu ouvido, ele mordiscou levemente a ponta da minha orelha enquanto dizia isso. Eu abri os olhos, que nem sequer me lembrava de ter fechado, e os olhos azuis queimavam minha pele enquanto me encaravam “Eu preciso outra vez.” O calor e a autoridade nas palavras dele me fizeram sorrir involuntariamente. Eu corri minhas unhas pelo seu peito até que uma trilha vermelha estivesse estampada em sua pele e me inclinei para cima, encontrando seu pescoço. Eu o beijei delicadamente na base do pescoço. —Quem aqui está cansada?— eu rebati, e ele sorriu, me puxando pelo cabelo para encontrar seus lábios outra vez. *** Depois que respirar passou a ser uma necessidade para mim e eu senti todo o meu corpo ficar mole,


Andrew me deitou ao seu lado e entregou sua camisa negra. Por um momento fiquei feliz ao não destruí-la, pois aquela capa de travesseiro que chamava de vestido já fazia parte da decoração do mausoléu que estávamos devido ao estado que se encontrava. O vampiro também vestiu suas calças, para minha infelicidade, que apesar de estar um pouco rasgada, não foi muito danificada. Apesar disso ser a resposta não dita que aquele momento tinha acabado, uma parte de mim ficou feliz ao ver que o vampiro estava se deitando ao meu lado naquela mesa de mármore novamente. Mas Andrew não me abraçou, apenas se deitou e olhou para cima em algum ponto fixo, assim como eu. A única coisa que me tocava dele era seu braço e seu ombro que serviu de apoio para minha cabeça, já que tive que me contorcer um pouco para que nós dois pudéssemos estar naquela mesa, mas mesmo assim não ousei encostar minha cabeça em seu ombro totalmente. Afinal, ele ainda era o Andrew que destruiu Londres inteira junto com Amethyst. — Você costumava dormir pelo cansaço.— O vampiro quebrou o silencio, seu tom era calmo e um pouco curioso, mas a frieza ainda era muito maior. Um pequeno riso abafado escapou dos meus lábios por ele estar comparando o agora pelo passado. — Cada parte do meu corpo que você tocou parece estar sofrendo um colapso de choque, é complicado tentar dormir com essa sensação.— — Imagino que isso seja algo bom.— Uma confirmação que soava como uma pergunta. — Sim.— Disse com um sorriso bobo crescendo em meus lábios. — Eu pensei que isso apenas fazia parte da criatura que se tornou.— Eu virei meu rosto para que pudesse olhá-lo melhor, mas diferente de mim o vampiro não moveu nenhum músculo, apenas continuou parado e olhando para cima como se fosse uma estatua.— Isso é uma boa opção já que passei duas semanas sem dormir, Andrew, mas não agora, não nesse momento.— Andrew soltou um riso de pura ironia e como meus olhos continuavam em seu rosto, eu pude ver sua expressão, e percebi do quanto senti falta dela. Essa expressão de ironia em que se divertia comigo, sem que existisse nenhuma maldade envolvida.— Inconscientemente você está apenas inflamando meu ego, Cherie.— Cherie. Uma parte de mim dizia que o Andrew que eu sempre amei estava de volta, mas ainda havia névoas negras que insistiam em me lembrar que sua alma ainda estava na escuridão. Mas uma coisa era certa, ela estava deixando de ser, pois o antigo rei dos vampiros não seria tão carinhoso caso fosse tudo ao contrário. Infelizmente, minha mente apenas insistia em dizer que contos de fadas não existiam mais. — Já está quase amanhecendo, Andrew.— Eu falei, levantando minhas costas daquele mármore para ficar sentada.— Nós temos que achar um lugar protegido dos raios solares, não há mais tempo para voltar até a mansão de Amethyst.— Andrew se levantou em seus cotovelos e me encarou com uma de suas sobrancelhas perfeitamente arqueada, sua expressão continuava a mesma de puro sarcasmo e ironia. — O que?— Eu perguntei, esperando que ele se move-se como um flash para que ficasse em total escuridão. Afinal, o sol realmente estaria nascendo em questão de minutos. — Nos últimos dias você apenas desejou minha morte, é apenas estranho ver que está tão preocupada comigo.— — Oh,— Eu deixei escapar em surpresa. Andrew raramente se importava com que os outros pensavam e isso até mesmo incluía minha pessoa algumas vezes. Era ainda mais estranho saber que ele ligava para um detalhe tão pequeno como esse... Mas no final das contas, todas as pessoas que ele amou estavam mortas ou o traíram cruelmente.


Apenas restava eu. E eu não morreria, muito menos o trairia. — Nós precisamos ir.— Foi o que eu falei, ao invés de dizer tudo o que meu coração queria. Tudo bem que Andrew estava quase perto de se tornar tudo aquilo que eu já amei um dia, mas ainda não. Seus olhos ainda possuíam a escuridão de sua alma, da morte. Eu poderia me auto chamar de idiota por isso, mas era uma realidade pura. Ninguém saberia o que aconteceria após sairmos desse cemitério. Nem mesmo os deuses, pois apenas Andrew podia traçar o que aconteceria no mundo nesse momento. Qualquer salvação ou destruição estava em suas mãos. E bom, Amethyst desejava matar Andrew para receber a imortalidade total, para que voltasse a vida depois de abrir o portal que iria matá-la. E se mesmo sabendo disso o vampiro concordasse com ela, eu simplesmente não teria muito o que dizer. Sol disse que sua alma estava sendo manchada pela pureza novamente, mas só voltaria ser equilibrada quando ele desejasse que isso acontecesse. Eu nem ao menos temia o que aconteceria comigo, pois Iawy uma vez me disse que quando uma criatura sobrenatural não pode ser morta pelo coração, se o mesmo for arrancado, ela ficará em um estado de coma durante décadas até que outro coração cresça em seu interior. Então se Amethyst chegasse perto de concluir metade de seu plano, isso não seria um grande problema. Eu apenas não desejava acordar em um mundo onde não existiria mais ninguém e muito menos Andrew. — Tudo bem.— Ele disse com seus olhos azuis fixos em mim, tentando decifrar meus pensamentos provavelmente.— Vamos encontrar algum lugar protegido.— Andrew passou a se mover para se levantar daquela mesa de pedra, mas antes que tivesse algum sucesso em se afastar dela, eu segurei sua mão para impedir qualquer movimento. O vampiro olhou primeiro para nossas mãos unidas e depois seu olhar subiu até que seus olhos azuis e totalmente frios encontrassem os meus. — O que acontecerá agora?— Eu perguntei, não podendo esperar que Andrew começasse esse assunto, pois se sua decisão fosse totalmente oposta do que eu imaginava, eu tinha que voltar para a central e ver todos aqueles que amava antes que a destruição chegasse ao seu fim total. O vampiro em minha frente movimentou seus lábios, um sinal de que desistirá do que estava prestes a falar. Ele continuou a me encarar, mas suas palavras demoraram a chegar.— Nós voltaremos para a mansão de Amethyst e fingiremos que não sabemos de nada.— — Então?— Minha vontade era de sorrir, mas ainda não podia. — Então...— Andrew sorriu, um sorriso maravilhoso.— Eu trarei minha alma de volta e encontraremos um jeito de por um fim em Amethyst e nos vleermuis antes que ela tenha algum tipo de sucesso.— — Você tem certeza disso?— Meu sorriso se formou dessa vez. — Se você não me congelar até lá, sim.— Ele disse de uma forma ironica e rapidamente eu desviei meus olhos de seu rosto para sua mão após tirá-la a minha da dele. Camadas de um gelo fino estavam cobrindo a palma do vampiro, tão finas que se quebraram facilmente quando Andrew movimentou sua mão. — Me desculpe.— Eu falei um pouco chateada por ainda não ter nenhum controle nesse poder. — Um poder é um dom, então não se desculpe por isso, cherie.— — Mas...— — Roxie.— Andrew me cortou, o gelo em seu tom ainda era notável e seus olhos ainda eram a janela aberta para sua alma negra. Essa era a prova de que o vampiro ainda não era ele mesmo.—


Eu tenho 5 minutos para encontrar um local seguro, quando isso acontecer, nós podemos discutir sobre suas anormalidades.— — Por que isso está no plural?— Eu franzi o senho. Um sorriso ironico surgiu nos labios de Andrew, tão lindo como sempre foi.— Existe somente uma pessoa perfeita em todo o mundo e eu tenho certeza que ela não é você.— Ele soava tão como o Andrew que eu me apaixonei séculos atrás... — Eu posso confiar em você novamente, Andrew?— Perguntei, quebrando qualquer clima de brincadeira que se formou entre nós com seus comentarios que beneficiaram somente o seu ego enorme. — Você ainda está viva, eu imagino que isso seja uma grande prova.— — Me matar nunca esteve em suas opções futuras.— Bom, ele pelo menos me ameaçava, mas nunca fez algo que realmente me machucasse. — Ainda existe uma sombra negra em minha volta que me incentiva a matar, querer sentir o sangue em minhas mãos e o cheiro dele, mas por duas vezes eu achei que a tivesse perdido e o sentimento que isso causou fez com que pudesse controlar essa sombra. Eu quero matar a um ponto que chega a ser uma necessidade e sei que se fizer isso irei perdê-la, não para a morte, mas isso apenas a afastará cada vez mais de mim a ponto de perder todo o amor que sente... Eu me recuso a sentir o sentimento de perda pela terceira vez.— Andrew segurou meus olhos com os deles.— Eu já estou na beira de um abismo profundo, Roxie, mais um movimento errado e nem mesmo eu poderei me salvar.— Limites, eu pensei, eles sempre acabavam. E Andrew já teve sua alma quase negra muitas vezes e agora que ela tinha se tornado uma escuridão completa... Quantos limites ainda existiriam? Quantas chances para ele se recuperar? E quanto tempo? O relógio de nossas vidas estava disparado contra o tempo e não esperaria por ninguém. — Por que confiou nas palavras de Amethyst quando disse que eu estava morta? Mesmo que minha vida não fosse importante naquele momento, em algum momento nesses 10 anos você deve ter sofrido por mim... Por que me abandonou e acreditou em uma pessoa insana, Andrew? — Por que você me abandonou, Roxie?— Ele usou a mesma pergunta que eu, seu tom de raiva estava lá, mas fora controlada. O vampiro não queria discutir. E por um momento eu fiquei feliz por isso, pois ter uma resposta para essa pergunta foi algo complicado. Isso ficou meio obvio para Andrew quando eu movimentei minha boca e nenhuma palavra saiu. Andrew desviou seu olhar por um momento, mas não demorou muito para voltar a me olhar com aqueles azuis frios. — Eu não sei como responder isso.— Fui sincera. Eu pensei que sabia a resposta, mas ao mesmo tempo que achava que era medo, também tinha a raiva e o orgulho... Foram muitos sentimentos que nunca me deixaram ir atrás dele por mais de 10 anos. — Eu sei a resposta, Roxie,— Ele disse.— Quase a perdi pela terceira vez... Seu amor não foi grande o suficiente naqueles anos que se passaram.— — Mas...— Isso não era verdade, eu sempre o amei.— Eu estou aqui agora.— — E eu não a matei ainda.— Andrew sorriu.— Então você pode confiar em mim.— __________________________________ Eu fiquei de joelhos naquela mesa para olhar por cima do ombro de Andrew quando os primeiros


raios solares apareceram diante da entrada do mausoléu, que um dia já teve uma porta. Esse era o sinal de que os 5 minutos haviam se passado mais rápido do que imaginei. O vampiro também olhou pra trás para conferir o que eu estava olhando, mas antes mesmo de olhar, eu sabia que ele já tinha alguma noção do que estava acontecendo. Desespero não me consumiu, muito menos a ele, afinal, Andrew estava seguro aqui dentro também. Mas estaria ainda mais se estivesse em algum local com portas, pois assim ele poderia dormir. Agora, ele nem ao menos poderia pensar nisso, pois iria ter que se movimentar para a sombra conforme o sol se movimentava também. — Meus 7 minutos no paraíso acabou.— Andrew foi ironico mencionando uma brincadeira tão famosa para adolescentes, ao mesmo tempo que me segurava por minha cintura e usava sua força para me colocar de pé ao seu lado, eu coloquei minhas mãos em seus ombros, como se eu realmente precisasse de alguma ajuda para descer daquela enorme mesa. Mas é claro que eu não reclamaria sobre tal ato, já que isso foi muito gentil da parte do vampiro. — Você acha que estará seguro aqui o resto do dia?— Perguntei a primeira coisa que veio a minha cabeça quando o vampiro não fez nenhum movimento para tirar suas mãos de minha cintura ou se afastar. Andrew não me respondeu, seus olhos apenas encontraram os meus por longos segundos e quando eles passaram a parecer uma eternidade o vampiro abaixou seu rosto para que seus lábios encostassem nos meus rapidamente. Apenas um roçar de lábios que eu não esperava. — Andrew.— Eu sussurrei seu nome, ainda com minhas mãos em seus ombros. Não era um tipo de repreendimento, pois se fosse, jamais me permitiria deixar o rosto desse vampiro tão próximo do meu mesmo depois de ter me beijado. — Sim?— Ele falou em um tom baixo também, como se ninguém devesse ouvir o que estava falando. — Nós estamos juntos novamente?— O vampiro sorriu, um sorriso ironico, mas que me permitiu ver uma resposta nele.— Eu posso pedila em casamento novamente, comprar brilhantes e fazer uma enorme festa para deixar tudo mais obvio, mas temo que não tenho tempo para isso agora.— — Isso é uma pena.— Eu disse ironicamente, ao mesmo tempo que deixava um riso escapar da minha garganta. — Sim, realmente.— Andrew beijou minha bochecha, muito delicadamente, como se eu fosse quebrar ao seu toque.— Mas há sempre tempo para uma lua-de-mel.— — Calado.— Eu falei calmamente tentando fingir que estava falando sério, mas quando os olhos de Andrew pertenciam a mim, não existia nenhuma mascara que eu pudesse vestir. — Eu vou fingir por um minuto que manda em mim e me manter em silencio,— Andrew disse.— Mas isso apenas vai acontecer pois tenho que me mover para as sombras, o sol daqui a pouco estará alcançando onde estamos.— Eu olhei por cima do meu ombro e o sol já estava invadindo a entrada desse mausoléu como se tudo pertencesse a ele, e o vampiro tinha razão, ele tinha que sair da onde estavamos parados. Meus olhos voltaram para ele, mas no fim isso não aconteceu, meu olhar foi para algo além de Andrew.— Eu acho que tive uma ideia.— — Você acha? Isso é um fato curioso— Andrew se separou de mim para ficar ao meu lado e encarar o que eu estava olhando. — Eu estou pensando em seu bem, Andrew.— — O que está pensando, cherie?— Ele perguntou em pura ironia.— Que me reverenciar como um Deus irá fazer meu dia melhor?— — O caixão.— Fui direta.— Você pode ficar dentro dele em quanto é dia.— — Isso é uma brincadeira?— Andrew não acreditou em mim, isso estava obvio no modo em que


perguntou. — Não, é serio.— Eu disse.— Você precisa dormir, mesmo que não necessite disso agora.— — Roxie, eu tenho quase 1400 anos e me recuso a dormir dentro... disso.— — Você precisa poupar suas energias, mesmo com 1400 anos, Andrew, Amethyst é muito mais forte que você.— Dentro desse lugar existiam muitos caixões e um deles seria a solução perfeita para Andrew se proteger do sol. Pelo menos assim o vampiro iria poder dormir e não perder um dia todo sem poder fechar os olhos. Eu caminhei para perto de um caixão que tinha a aparência de ser o mais antigo daquele local e ainda puxei Andrew por seu pulso quando o vampiro ainda estava em total negação sobre o meu plano perfeito. Mas eu o entendia, passar o dia todo em um caixão onde ossos estavam antes também não era uma prioridade para mim, mas não havia o que fazer. Meus dedos foram para a trava do caixão em minha frente e eu fiquei feliz após abri-lo por não ter encontrado nenhum corpo ainda se decompondo, apenas ossos que pareciam que iriam se desmanchar ao toque do vento. Mas mesmo assim, eu vi ao olhar para Andrew, que ele não estava contente com essa ideia. Eu fechei o caixão. — Coloque-o no chão.— Pedi a ele. — Isso é tão clichê.— O vampiro reclamou ao mesmo tempo que revirava os olhos, mas não negou o meu pedido, pois sabia que no fundo eu tinha razão.— Eu não sou o Dracula para dormir em um caixão e ainda ser idiota para dar a vida por uma mulher que está apaixonado.— Eu o encarei devido a suas ultimas palavras, que me incomodaram um pouco. Antes eu sabia que Andrew daria sua vida por mim, mas... E agora? — Me desculpe.— Andrew falou após colocar o caixão no chão, seu cenho franzido.— Eu não deveria ter falado isso.— — Está tudo bem.— Eu disse para ele e a mim mesma. Afinal, sua alma ainda estava negra. Eu tinha que me lembrar disso. Andrew me ignorou pelo restante dos minutos que se passaram entre nós com a simples desculpa de que estava mais interessado em retirar aqueles ossos de sua futura cama. O clima que cresceu ao nosso redor era algo quebrável, mas ninguém tomou atitude para fazer isso. Talvez isso fosse a aceitação da realidade. O vampiro entrou no caixão e se sentou, seus braços estavam apoiados na borda daquela grande caixa confortável para um morto quando seu olhar se encontrou com o meu. — É grande o suficiente para caber dois corpos.— Ele disse ao mesmo tempo que um sorriso ironico crescia em seus labios. — É mesmo?— Eu sorri também, me fazendo de despercebida. — Você pode vir até aqui ou ficar o resto do dia perto de ossos que provavelmente querem vingança por terem sido perturbados em seu descanso eterno.— — Isso é jogar sujo.— Falei ao olhar para aqueles ossos no chão, imaginando o quanto irritado o fantasma deveria estar pela falta de respeito. Nesse momento, até mesmo encarar Amethyst parecia ser mais agradavel. Eu queria ir embora desse lugar.


Andrew se deitou de lado naquele caixão, de maneira que eu poderia me acomodar ao ali, mesmo que fosse apertado. O vampiro segurou a tampa daquela caixa até eu me mover e entrar la dentro com ele. Espaço era algo que jamais existiria ali dentro, meu corpo estava quase em cima do de Andrew e eu me contorci toda para abaixar o único pedaço de pano que cobria todo meu corpo. O vampiro manteve seu braço em baixo da minha cabeça para me servir de apoio e minhas pernas estavam em cima da dele, minhas mãos estavam presas em sua cintura. Apesar de não parecer confortavel, estava muito bom. Afinal, eu teria vista do rosto de Andrew pelo resto do dia, sua atenção somente em mim e em mais nada. Então o vampiro fechou a tampa do caixão e nos livrou de qualquer pesadelo que existia la fora.


21Lúcifer estava dentro do laboratório da central já estava fazendo algumas horas, ele praticamente decidiu passar seu tempo nesse lugar cheio de coisas estranhas desde o momento que abriu seus olhos nessa manhã que parecia ser tão calma quanto outro dia normal em Londres antes do terror a dominar. Já fazia exatamente uma semana desde que o vampiro encontrou Roxie e Andrew naquela noite em que saiu para matar os lobos da antiga floresta, desde então Lúcifer não conseguia mais dormir durante o dia até que a noite chegasse. Havia uma incerta inquietação dentro dele que o consumia de uma maneira que nem mesmo pensar conseguia, talvez fosse seus instintos dizendo para se proteger, que a morte estava perto o suficiente para que o assassino dentro dele fosse solto. Mas de qualquer maneira, o vampiro de olhos anormais confiava em Andrew, principalmente em Roxie. Uma parte dele totalmente suicida acreditava que o homem que já foi chamado de rei iria proteger a mulher que decidiu passar toda a eternidade ao seu lado, mesmo que sua vontade de viver fosse quase inexistente. Era normal que vampiros em uma certa idade parassem de ter qualquer interesse pelo mundo. Vampiros como ele e Andrew já viram tantas coisas acontecer, tanta violencia causada por todas as raças existente que chega um momento que viver para sempre não é mais uma preciosa joia, e sim, um pesadelo. Lúcifer pensava assim antes de Emme. Emme. Lúcifer afastou o microscópio de seu olho esquerdo, onde antes estava vendo uma amostra de sangue daquele gigante animal chamado vleermuis. E se ele não soubesse que Iawy o mataria, o vampiro teria jogado aquele objeto contra a parede do laboratório, pois a raiva o consumia de uma maneira muito grande quando pensava nessa deusa que dançava junto com o fogo todos os dias. O vampiro também não sabia se sua raiva era devido a sua mentira ou pela maneira que ele a tratou. Talvez fosse as duas coisas. Ele apoiou ambas mãos naquela mesa de metal que estava em sua frente, com seus braços esticados ao seu lado e abaixou sua cabeça por um momento. Lúcifer pode ser seu reflexo todo retorcido naquela mesa de alumínio, mas na verdade tudo que ele pode decifrar de seu rosto foi a cor de seus olhos que pareciam brilhar. “Seus olhos ficaram tão anormais devido a sua transformação em uma criatura de Hades, já que os olhos é a marca daquele deus.” Iawy havia lhe dito uma vez e ele estava completamente correto. Quando humano, Lúcifer possuiu olhos verdes, mas de longe eram como pedras de esmeraldas colocadas ao sol que brilhavam até que uma tempestade chegasse. A sua pequena deusa sempre dizia que na escuridão seus olhos também brilhavam, exatamente como os olhos de um gato em uma caça para se alimentar. E agora, não havia ninguém para lhe dizer isso todas as vezes que ia para cama e observava a


mulher que deitava em seus braços até dormir. O arrependimento de ter sido tão duro com Emme estava o corroendo de uma maneira que estava consumindo toda sua energia mental. Lúcifer não deveria ter sido tão insensível quando se tratava de sua deusa, mas... Ela havia mentido para ele. E isso destruiu cada parte do seu corpo tão malditamente que não havia outras palavras para aquele momento. Lúcifer perdeu Andrew, seu melhor amigo, a única pessoa que nunca pensou um dia perder, e ele havia estraçalhado toda a confiança que Lúcifer havia lhe dado. E agora Emme... Bom, pelo menos ele ainda tinha Roxie. O vampiro nunca achou que um dia iria considerá-la como uma irmã, por um momento ele até mesmo achou que aquela vampira que pintava seus cabelos de loiro seria a destruição de Andrew em um certo momento da vida, era exatamente por isso que se manteve afastado de seu amigo e ainda a maltratava com provocações. No final, ela foi a única que não destruiu nem um ponto da confiança que depositou nela. E Lúcifer sabia que Emme não poderia colocá-lo na frente dos deuses, mas isso não significava que ele teria que aceitar o fato dela esconder que duas pessoas que ele amava estavam prestes a ser mortas. O vampiro deixou de encarar o reflexo de seu rosto todo retorcido que aquela mesa refletia para fechar seus olhos e logo em seguida um suspiro escapou de seus lábios. Assim que Lúcifer fez isso, o cheiro no ar mudou. O aroma de uma flor de lótus flutuando em lavas e morangos que lutavam para sobreviver durante um inverno cheio de neve invadiu o ar ao seu redor. Isso foi o suficiente para que ele abrisse seus olhos e voltasse a olhar para cima, para encontrar uma pequena mulher com cabelos vermelhos longos. Essa cor... Essa era a cor do cabelo de sua mãe, assim como os olhos. Emme tinha os mesmos olhos de sua mãe e não era apenas a cor, e sim, a inocência que existia ali dentro. Seus olhos eram a janela para quem desejava ver sua alma pura. A alma rara de sua mãe, que agora pertencia a mulher que aceitou ser sua amante, havia feito o trabalho perfeito de ter alguns traços da ultima pessoa que a possuiu. E mesmo que isso fosse torturador algumas vezes, Lúcifer amava. Mas não agora. Agora, ele sentia raiva por ter ficado a baixo dos deuses em uma situação que Emme sabia que o consumia direto para a escuridão. Se Sol havia falado, por que não Emme? Lúcifer observou aquela deusa do fogo que uma vez já foi humana em puro silencio, exatamente como ela fazia com ele. Era quase impossivel sentir raiva agora que a tinha em sua frente, separados apenas por uma mesa. Os olhos de Emme estavam um pouco inchados e isso apenas deixou obvio que ela havia chorado recentemente, e não era de se surpreender já que em mais de 10 anos eles nunca haviam tido uma briga. Nunca aconteceu de Lúcifer tratá-la como se não significasse nada.


Toda essa situação não estava sendo dificil apenas para Emme no final das contas. Lúcifer tirou suas mãos daquela mesa de metal e deu um passo para trás para que sua postura voltasse a ser reta. A deusa em sua frente vacilou com isso, como se ele fosse fazer algum tipo de mal a ela. Isso apenas indignou Lúcifer ainda mais, em apenas pensar que ela acreditava que ele poderia machucá-la de alguma forma. — Lúcifer...— Seu nome saiu daqueles lábios delicados que estavam trémulos, havia o tom do arrependimento em meio disso. Claro, Emme estava em sua mente. Lúcifer desviou o seu olhar e seu maxilar se apertou o máximo que podia, mas diante da situação que estava, ele não poderia dar as costas a essa deusa que o machucou, então tudo que fez foi olhar novamente para ela.— Eu não sei por que está aqui.— — Eu sinto sua falta.— Ela disse, segurando seus braços como se pudesse sentir algum frio.— Já faz uma semana.— — Você me teme.— Emme continuou em seu silencio perturbador em quanto o observava com aqueles olhos grandes que normalmente eram possuídos por curiosidade para descobrir tudo o que não tem um significado a ela.— Isso é como na vez em que nós conhecemos, você desejava ficar comigo, mas seu medo era predominante.— — Eu te amo.— Ela disse essas palavras após segundos de silencio. — Você mentiu para mim, para nós.— Lúcifer sentiu a revolta invadir sua mente novamente, mas teve que se controlar.— A central a acolheu e até mesmo Andrew cuidou de você... E vocês, deuses, mentiram. Foram vocês que permitiram tudo chegar a esse ponto, não Andrew. Ele pararia qualquer coisa a partir do momento que soubesse que Roxie estava viva e estivesse na mira de Amethyst.— — Você sabe que minha lealdade aos deuses vem em primeiro lugar, Lúcifer.— Foi o que ela disse, em um murmurio choramingado. Foi difícil saber o que doeu mais. Lúcifer foi obrigado a fechar seus olhos quando sua ira ficou incontrolável e seu instinto assassino que necessitava de sangue fez com que suas presas saltassem de suas gengivas a pedido daquele liquido tão quente e grosso que amava. Em consequência, seus olhos ficariam vermelhos, então foi por isso que fechou seus olhos. Ele não precisava colocar mais medo em Emme. Ele não podia acreditar no que estava ouvindo, mesmo que soubesse disso. Mas, era sobre a vida de todos que estavam envolvidos, de Andrew e Roxie que considerava como irmãos. O fato de Emme mentir sobre o que Amethyst desejava fazer não era um problema, mas tudo mudava quando a vida das pessoas que ele amava estava envolvida. A deusa em sua frente provavelmente sempre soube que Andrew achava que Roxie estava morta, e isso mexia tanto com sua mente. — Eu não sei porque pensei que você fosse melhor que os outros deuses.— Ele foi duro ao dizer após obrigar suas presas se esconderem, mas nesse momento, Lúcifer não podia fazer nada melhor que isso. Os olhos de Emme se encheram em lágrimas em questão de segundos, seus lábios um pouco avermelhados se entreabriram como se fosse dizer algo, mas sua fala ficou presa totalmente quando um pequeno som de soluço invadiu os ouvidos de Lúcifer.


E uma única lagrima escorreu pelo rosto daquela deusa que mais parecia uma boneca pronta para partir do que perigosa. Pois Emme era muito perigosa, considerando o fato de que era a única filha de Hades e ainda possuía metade do coração de seu pai para que essa ligação lhe permitisse ter vida eterna, a pequena ruiva mesmo não sendo tão velha quando comparada com outros deuses, tinha um poder que até mesmo ela deveria desconhecer. Lúcifer desejou pegar aquela lágrima e guardá-la com ele, para proteger a inocência existente nela das sombras que assombravam o mundo la fora. — Você está terminando comigo?— Ela perguntou por fim. Lúcifer se virou de costas para Emme antes que qualquer pensamento invadisse sua mente. Quebrar sua relação com ela nunca havia se passado em sua cabeça, mesmo quando sua mente insistia em dizer que a deusa que tanto amava o traiu. Ele não poderia responder algo como isso, mas... Será que Emme tinha razão ao perguntar isso? Será que a relação deles nunca evoluiria? Apenas ficaria nisso de vê-la alguns dias para que fosse embora por semanas, que os deuses seriam sua prioridade, não ele... As vezes a possessividade de um vampiro era maior que seu amor por ele mesmo ou por outra pessoa, então Lúcifer não sabia como iria lidar com esse problema daqui pra frente. O vampiro sentiu que Emme se movimentou logo após que ele se virou para encarar uma porta, e agora, novamente, a deusa do fogo estava em sua frente sem que nenhuma mesa de metal estivesse atrapalhando o caminho dele. Lúcifer ergueu seus olhos até que estivesse encarando aqueles cinzas claros que pareciam brancos, ele respirou fundo e por um momento considerou tocar seu rosto tão macio e delicado, mas não, ele quebraria se fizesse isso. — Essa é a melhor opção?— Perguntou em vão, já que não existia respostas para isso. Emme balançou sua cabeça negativamente e mais lágrimas escorreram por seu rosto. O vampiro se obrigou a fechar suas mãos em punhos para que a vontade de tocá-la fosse embora, para que deixasse de existir. Nem sempre iria poder mimar Emme. — Eu não posso amá-la quando fico em segunda opção.— Ele disse calmamente, a verdade.— Não quando a pessoa que deveria estar ao meu lado prefere estar com os deuses. Você não pode ficar em dois lados quando uma guerra acontece, Fiemme.— — Eles são minha família.— Ela chorou. — E eu?— Lúcifer falou com um sorriso amargo em seu rosto, seus ombros se movimentando para cima.— O que eu sou para você?— — Você não imagina os problemas que aconteceriam para nós se eu falasse!— Emme não respondeu sua pergunta, mas passou a ficar desesperada devido ao nervosismo.— Os deuses iriam nos separar...— — Não seja perfeita, não siga suas regras.— Lúcifer a cortou sem piedade.— Se os deuses desejassem perfeição, nunca teriam criado criaturas sedentas por sangue.— — Eu não consigo...— Agora as lágrimas começaram a cair sem parar, uma após a outra.— Me perdoe, Lúcifer.— — Perdoar?— Lúcifer teve muita força de vontade para que não limpasse as lagrimas que molhavam o rosto de Emme.— Essa é a coisa mais fácil que existe para se fazer, mas é impossível sendo que sei que seu lugar é com eles e não comigo.— — Você sempre soube disso.— Emme quase não conseguiu falar. — Eu não ligo para as estupidas regras de vocês, não me importo com os mil planos de Amethyst, mas se existe algo que me importo, Fiemme, é com a vida dos meus amigos. E vocês, deuses, ajudaram Andrew a matar tantas pessoas, permitiram que tudo isso acontecesse a Londres. Se existiria consequências por darem um minimo aviso de que Roxie não estava morta... Quem se


importa? Ninguém pensou nisso quando Zeus foi ter um filho com uma humana.— — Você está descontando coisas em mim que não tenho culpa.— Ela disse sem nenhum traço de raiva. — Você sabia de tudo, Emme, essa é a sua culpa.— Lúcifer deu um minimo passo para frente, o que fez a deusa fazer o inverso dele.— Você permitiu que uma pessoa que daria a vida por você se destruísse por mentiras. E agora, o seu pedido de perdão, dificilmente irá trazer Andrew de volta.— O vampiro sabia que nesse momento havia dado uma facada no estomago dessa pequena deusa que era tão inocente e foi assim que ela reagiu. O choro dela se tornou ainda maior e ele sabia que estava tendo dificuldades para respirar. Emme levou uma de suas mãos até a frente de sua boca como se aquilo fosse amenizar seu choro e sua dor, em quanto a outra repousava imóvel sob seu coração. Lúcifer colocou suas mãos dentro do bolso de seu blazer e respirou fundo, ele sabia que estava a machucando, pois isso o machucava também, mas não era fácil dizer que a perdoava quando sua mente não ajudava em nada. O vampiro começou a caminhar até que passou por Emme, ele não tinha mais nada para dizer a ela e se continuasse ali, a parte insensível que existia nele apenas pioraria a situação. Por um momento Lúcifer achou que conseguiria perdoar ela, mas estava se enganando e teve toda as provas quando descontou até mesmo a raiva que ela não merecia, mesmo... Emme segurou o braço de Lúcifer quando ele estava passando por ela com sua mão delicada e tão pequena que seria facilmente quebrável. Ela não usou nenhuma força para fazer aquele ato, assim como o vampiro não fez nenhuma força para seguir em diante. Lúcifer apenas olhou para baixo e ao lado em que a deusa estava apenas para encontrar aqueles olhos que ele tanto amava. — Eu gostaria de ser humana ainda,— Ela disse, seu choro sendo controlado pela raiva.— Assim, nunca teria que esconder minha vida ou ficar sem você por causa dos deuses.— — Não fale isso.— Lúcifer disse em um tom baixo.— Você poderia estar morta.— — Isso seria melhor do que passar por tudo isso, não seria?— Lúcifer não deu nenhuma resposta para essa pergunta irrelevante, o vampiro apenas sentiu a ultima parte de sua força de vontade se quebrar em mil pedaços de cacos pequenos e abraçou a deusa ao seu lado, a envolvendo em seus braços em um aperto muito forte. Emme era tão pequena, tão delicada que parecia que ele estava abraçando apenas um bichinho de pelúcia. Lúcifer apoiou seu queixo no topo da cabeça dela, mesmo depois de ter enterrado uma de suas mãos naqueles cabelos que parecia que iria queimá-lo. Ela o apertou fortemente, mesmo que ele quase não sentisse isso, e o choro que já havia sido controlado, não era mais.— Eu sei que estou errada, Lúcifer, mas não me deixe, por favor.— Ela disse muito, muito baixo.— Eu estive sozinha por tanto tempo, tirando a companhia dos meus pais, que não sei mais se poderia suportar isso novamente. Não depois do que os humanos fizeram comigo.— Lúcifer acariciou seus cabelos vermelhos ao se lembrar de todos os medos que invadiam sua mente, e mesmo que fosse uma imortal agora, parecia que seus medos apenas tinham se tornados maiores. Emme viveu mais de mil anos sozinha, devido ao fato de seu pai ocupar uma grande posição entre os deuses, por causa disso, ela acabou sendo sequestrada por humanos que tiraram sua imortalidade e brincaram com ela como se fosse uma boneca descartável. Eles a prendiam no escuro, em correntes e no meio da água... Tudo por que esteve sozinha tanto tempo.


Por um lado, Lúcifer estava feliz por isso ter acontecido, pois se tudo fosse diferente, ele provavelmente nunca teria conhecido essa deusa como humana e se apaixonado por ela, por sua inocência, por cada detalhe que a fazia ser tão... Emme. — Eu nunca poderia deixá-la, mesmo que implorasse por isso.— O assassino totalmente possessivo que existia dentro de Lúcifer falou por ele. Emme se afastou de Lúcifer somente um pouquinho para que pudesse ter acesso ao rosto dele, para que ela pudesse ver aqueles olhos verdes que eram considerados perfeitos.— O que isso significa? — Perguntou calmamente e tão inocente quanto pode, apesar de seus olhos não conseguirem segurar algumas lagrimas. — Significa que não posso perdoá-la agora, mas isso não quer dizer que vou deixar de te amar.— — Eu sinto tanto, Lúcifer...— Emme desviou seus olhos para algum ponto em sua camisa.— Eu gostaria tanto de ser perfeita como Annabelle foi para você...— — De onde você tirou isso?— Lúcifer perguntou com suas sobrancelhas franzidas, nem ao menos deixando Emme terminar sua frase. Na verdade, o vampiro ficou tão tenso que ele acabou soltando a deusa que estava em seus braços e se afastou com alguns passos. Seu passado... Seu passado era seu maior medo e pesadelo. — Seus pensamentos... Não.— Ela disse imovel onde ele a deixou.— Suas memorias, eu posso ter acesso a suas memorias.— Mais um truque dos deuses. — Você irá se machucar se andar por lá.— Ele a avisou, seu tom tão serio quanto podia soar. — A mente de humanos e criaturas sobrenaturais são como um céu estrelado, existem as estrelas que brilham mais, as que brilham menos e as que nem ao menos tem algum brilho, essas são as mais perigosas.— Emme disse quase em um sussurro.— A memoria de Annabelle está em uma das estrelas que mais brilha.— Lúcifer ficou surpreso e ao mesmo tempo se sentiu encurralado contra uma parede. Esse era um assunto complicado que jamais pensou ter que compartilhar com Emme, não por que o vampiro amou essa vampira que foi irmã de Roxie, pois a deusa em sua frente sabia que ele já amou outras mulheres, mas Annabelle... Ela não foi uma simples amante. Na verdade, Lúcifer e ela nunca chegaram a trocar caricias ou qualquer outra coisa que envolvesse o amor, pois a irmã de Roxie amava outro homem. E uma coisa que o vampiro não esperava, era que ela fosse algo tão brilhante em suas memorias com relação ao seu passado. Lúcifer suspirou. — Ela nunca foi perfeita para mim, Emme, Annabelle foi uma pessoa de muito valor em minha vida, não perfeita.— — Por que ela brilha mais do que as outras mulheres que você já amou?— Aquela deusa perguntou cheia de curiosidade, não ciumes. Isso incomodou Lúcifer por um momento... Será que Emme nunca sentiria ciumes dele? Isso não importava, não agora. — Eu podia impedir a morte dela, mas isso nunca aconteceu e de alguma forma me sinto culpado por isso.— Lúcifer disse a verdade.— Preferi fugir em vez de enfrentar o fato de uma vampira que


eu estava me apaixonando amava outro homem, mas isso foi tão errado, pois poderia impedir qualquer coisa que aconteceu e eu prometi a ela que impediria, eu prometi que quando Pierre passasse a assustá-la, iria salvá-la daquela loucura escura que o possuía, que ela não precisava temer a nada... Mas fui fraco e nunca cumpri nenhuma promessa. Eu não sei por que essa memoria brilha mais que as outras, Emme, mas posso lhe garantir que depois que conheci Roxie, eu prometi a Annabelle que não iria deixar nenhum mal acontecer a sua irmã mais velha da mesma maneira que deixei acontecer com ela... Talvez seja por isso, pois tenho uma divida para pagar.— Emme ouviu em silencio, com aqueles olhos grandes cheios de inocência e curiosidade, ela também sorriu, um sorriso pequeno, depois que o vampiro em sua frente terminou de falar.— Você é lindo. — — Por que?— Lúcifer perguntou com curiosidade, com um sorriso se formando em seus lábios tentando imaginar por que sua deusa falará isso. — Porque todos acreditam que você não possui mais nenhuma ligação com sua alma, que possuir sentimentos é algo que não existe mais, mas é tudo tão ao contrario...— — Você consegue ver minha alma ainda?— Lúcifer perguntou, ciente de que ela estava presa em uma jaula em algum lugar do inferno. — Sim.— Emme disse com um sorriso bobo, mas os olhos verdes de Lúcifer foram até o pescoço dela, onde estava a corrente que um dia ele deu a ela. Sua deusa nunca o deixará de usar desde que ganhou.— Ela continua impossível, mas é muito agradável quando se trata de algumas pessoas.— — As estrelas que mais brilham.— Ele adivinhou e Emme apenas sacudiu sua cabeça.— Como é a sua estrela?— Lúcifer se aproximou de Emme novamente e a segurou por seu pescoço com suas mãos para que aqueles olhos tão lindos encontrassem os dele. Ela o encarou por alguns segundos antes de colocar seus dedos quentes sob os pulsos do vampiro, não como um protesto para soltá-la, apenas para segurá-lo.— É brilhante.— Ela respondeu.— Mas ela brilha em vermelho, não é nada comum.— — Uma estrela vermelha... E você tem coragem de dizer que Annabelle é perfeita?— Ele perguntou com certa ironia. — Desculpe.— Ela disse com um sorriso triste, ele apenas não sabia sobre o que ela estava se desculpando exatamente. — Nós somos um casal, pumpe, e isso já é um grande motivo para que as vezes aconteça de esmurrar a porta em sua cara.— Ele disse calmamente, ainda a segurando.— Eu já amei outras mulheres, como já lhe disse antes, e elas ainda podem ter alguma ligação emocional comigo, mas agora, você é perfeita para mim, não elas.— — Eu não sou perfeita, Lúcifer, sou uma deusa.— O vampiro riu, realmente riu em frente de sua amada e isso era uma das poucas coisas que só Emme conseguia tirar dele. Claro que ele já rira para outras pessoas, pois até mesmo Lúcifer acreditava que não era tão insensível como todos diziam, o vampiro apenas fazia um ótimo trabalho em esconder seus sentimentos, apenas isso. Mas com essa pequena ruiva, era diferente, parecia que todas suas armaduras se transformavam em bolhas de sabão e se explodiam devido a leve brisa que passavam por elas.— É incrível como você consegue dizer algo como isso sem realmente usar ironia.— — Eu não sou como você.— Emme disse se aproximando dele, o obrigando a soltar o aperto em seu pescoço para que pudesse aceitá-la em seus braços novamente em quanto a mesma passava seus braços ao redor dele.— Mas eu gostaria de ser.— — Não.— Lúcifer beijou o topo da cabeça dela, agora ele havia descoberto algo sobre ela. Não, ele não havia descoberto nada, pois já desconfiava disso há muito tempo, apenas não pensou que era um problema... Emme não gostava de ser uma deusa, pois isso apenas a afastava dele. E ele apenas ajudou ela a fazer isso com tudo que aconteceu.


— Eu não a amaria tanto se fosse o oposto do que é.— Lúcifer falou em um sussurro, a apertando cada vez mais em seus braços em quanto escondia seu rosto naqueles cabelos tão vermelhos para que aquele cheiro de uma guerreira ficasse fixo nele. Ah, como ele havia sentido falta desse cheiro... Como ele sentiu falta de sua pequena pumpe. Era realmente uma pena que alguma hora ou algum dia ela teria que ir embora novamente. Esse era o castigo da vida eterna de Lúcifer agora que tinha Emme em sua vida.


22Eu não conseguia dormir. Uma semana havia passado desde o encontro com Sol, mas o motivo por não conseguir dormir não era sobre as verdades que foram reveladas naquele dia ou por que eu estava de volta para a mansão de Amethyst e o perigo estava muito perto de mim. Esses não eram os motivos, pois ao lado de Andrew me sentia segura e nesse momento eu estava deitada em seus braços. O vampiro me segurava como se isso fosse me afastar de qualquer mal. E desde que nós nos reconciliamos, ele transmitia muita proteção em relação a mim, então medo não era algo a se temer no momento. O meu problema era com a maldita corrente que estava em volta de meu pescoço. Desde aquele dia em que saímos para matar os lobos da antiga floresta, e eu servi de isca, Andrew nunca mais foi o mesmo. A cada dia que passava sua alma apresentava uma melhoria e com isso também vinha mais dores em sua cabeça. Isso era algo a se preocupar, mas Saphyre não apareceu em nosso quarto desde que voltei para perguntar a ela sobre isso. E bem, Andrew achou que a melhor opção era fingir que nada aconteceu, então eu estava acorrentada novamente e usando aquelas capas de travesseiros para que Amethyst não percebesse nada. A única parte boa era que eu passei a dormir na mesma cama com Andrew e ela era muito macia a ponto de desejar passar o dia todo em cima dela. Mas eu precisava falar com Saphyre. E precisava saber o que estava acontecendo na central, o que as pessoas que eu amava estavam fazendo. Até mesmo se Emme e Lúcifer estavam bem. Eu desejava saber, mesmo sabendo que o vampiro de cabelos loiros nunca abandonaria sua deusa por mais que ela quisesse isso. Eu queria tanta coisa e tudo o que tinha era uma corrente em meu pescoço que não me permitia sair desse quarto. Pelo menos eu ainda tinha Andrew. Quero dizer, a metade dele já que várias vezes ele dizia coisas insensíveis e ainda se desculpava por tal palavras. Era realmente dificil saber o que estava acontecendo. Sua alma ainda comandava ele, mas ao mesmo tempo não. Por um segundo, eu queria poder ler mentes. Um dedo em minha barriga se movimentou, uma caricia feita em circulo e atrás de mim senti o mais suave dos movimentos. Andrew estava acordado.


— Você pode ler mentes?— Perguntei mais curiosa sobre seus poderes do que o fato de estar pensando nele e o vampiro acordar logo em seguida. — Bom dia para você também, cherie.— Ele disse em um murmurio rouco, ainda dormindo. — Acorde, Andrew.— Eu movimentei minha cabeça para que a minha boca alcançasse seu braço que me servia de travesseiro. Feito isso, eu permiti que ele sentisse meus dentes ali, sem fazer muita força. — Se não deseja ser mordida, não morda.— Ele avisou com certa ironia, tudo que fiz foi parar de mordê-lo para rir, sem ao menos afastar minha boca de seu braço.— Isso é uma regra de vampiros. — — Minhas sinceras desculpas, Sire Le Boursier.— Eu falei.— Nem ao menos imagino o quão dificil deve ser a vida de um vampiro.— — Desculpas aceitas, Cherie.— Andrew se movimentou atras de mim, para que pudesse chegar até o meu rosto, mas sem que quebrasse nossa posição que adotamos com o passar do tempo, que nem mesmo 10 anos puderem fazer nos esquecer dela. Seus lábios encontraram minha bochecha logo em seguida e quando pensei que ele ia se afastar para que pudesse se deitar normalmente, que aquilo era um simples beijo de bom dia, o vampiro continuou com sua boca ali, encostada em minha pele. — Eu não posso ler mentes.— Ele disse, cada movimento de sua fala sendo uma provocação para minha pele. — O que consegue fazer então?— Perguntei.— E não diga que é nada, pois você derrubou uma parede de tijolos em mim e ainda explodiu o vidro de todo o shopping.— — Quando o sangue de Amethyst passou a fazer parte do meu sistema, algumas surpresas vieram junto.— Andrew falou, sem negação, tendo afastado seu rosto um pouco da minha bochecha para que pudesse ver toda minha face.— O que posso fazer nem ao menos sei explicar, mas é como se eu pudesse manipular o ar por alguns segundos, é assim que derrubei a parede de tijolos e explodi os vidros. E sobre como consegui brincar com sua mente, eu não sei como o fiz. Apenas vi que tinha acesso a uma pequena parte dela e me aproveitei disso.— Eu o encarei, nem ao menos interessada nas coisas que ele podia fazer com o ar.— Você acha que isso tem haver com... seu pai?— Não ter dificuldades para dizer as ultimas palavras da minha frase seria muito anormal, mas mesmo assim não parecia certo falar que o deus que esta acima de todos é pai de Andrew. — Eu não sei.— O vampiro foi sincero.— Tenho esse pouco de acesso somente a sua mente, não de outras pessoas. E mesmo que fosse por causa de Zeus... Por que agora e não antes?— Meus olhos se desviaram daqueles azuis perfeitamente frios para uma pequena cicatriz em sua bochecha que poderia ser confundida facilmente com uma covinha. Mesmo que eu não fosse fã de cicatrizes, aquela que existia em seu rosto era uma tentação de um pecado puro.— O que pensa sobre isso, Andrew?— Murmurei. — Sobre Zeus?— Ele perguntou e tudo que fiz como uma resposta foi sacudir minha cabeça positivamente.— Eu nunca conheci meu pai de qualquer maneira, então acho que não faz nenhuma diferença. Na época que nasci as mulheres eram praticamente escravas dos homens, sempre prontas para servi-los de qualquer maneira e a qualquer um. Minha mãe sempre dizia que meu pai e de Pierre era o mesmo, mas nós nunca o conhecemos. Sophie dizia que ele saiu para caçar um dia e nunca mais voltou, imagino que isso seja uma mentira também.— — Eu sinto muito.— Disse, ainda encarando aquela pequena cicatriz. — Você sente pela parte em que minha mãe mentiu para mim por toda eternidade ou por aquela que todos desejam me matar para ter a vida eterna mesmo depois da morte?— — Andrew...— — Estou brincando, cherie.— Ele disse ao mesmo tempo que encostava sua testa na minha, me


forçando a reencontrar seus olhos.— Eu realmente não me importo sobre um deus ser meu pai, nem mesmo culpo Sophie por ter mentido. Agora tudo o que importa é me proteger de todos os loucos suicidas que vão desejar me matar.— — E sobre Pierre?— Eu perguntei. Afinal, seu irmão mais velho sempre foi seu ponto mais fraco.— Ele também desejou o mesmo que os outros...— — Pierre já não era mais meu irmão há muitos anos.— Sombras em seus olhos apareceram, a dor da traição que jamais poderia ser perdoada. — Quando você percebeu isso?— Eu toquei seu rosto com as pontas dos meus dedos para tentar puxá-lo dessa escuridão que o assombrava. — Quando ele me deu a cicatriz em minhas costas.— Andrew afastou sua testa da minha somente um pouquinho.— Nenhuma criatura sã faria o que Pierre fez.— — O que ele fez?— Andrew voltou a se deitar atrás de mim novamente, deixando que seu corpo desabasse ao meu lado e seu rosto voltasse a ficar distante do meu, mas ele não me soltou. — Quando Pierre soube que tentei transformá-la em uma vampira, ele me prendeu em correntes de pratas que nem mesmo eu poderia me soltar. Ele me deixou lá por duas semanas, me alimentando somente com o necessário para não morrer e quando achei que tudo estava acabando, quando Pierre foi até a minha cela e passou a dizer coisas do quanto tolo eu era, que tinha que aprender a lição de não sentir nada por humanos, pois eles eram apenas alimentos e não pessoas para se apaixonar...— Andrew se perdeu em sua frase, minha vontade era de olhá-lo, mas ele me segurou bem firme contra sua barriga.— Então ele começou com o corte de ponta a ponta em minhas costas, e não fez questão nenhuma de usar uma lamina para isso, apenas usou um pedaço de ferro com uma ponta que poderia cortar qualquer pessoa se fosse usado com muito força, mas isso não foi o suficiente para Pierre, meu irmão apenas ficou satisfeito após colocar prata dentro do corte, as fixando na carne aberta que causou com aquele pedaço de ferro.— — Eu não queria que isso tivesse acontecido por minha causa.— Sussurrei, olhando fixamente para as cortinas da grande janela que aquele quarto possuía. — Existem coisas que acontecem no passado que nos servem de lições, então isso realmente não tem alguma raiva ou sofrimento contido.— — Que lição você aprendeu, Andrew?— O vampiro não me respondeu, na verdade, ele se afastou de mim para que pudesse se levantar. Eu me sentei na cama rapidamente para encará-lo, já não esperando uma resposta. Essa era o tipo de pergunta que o vampiro não falaria nenhuma resposta e me deixaria na curiosidade. Isso estava obvio demais. — Saphyre está aqui.— Andrew colocou a mão na maçaneta da porta e antes de virá-la, ele encarou algum ponto em sua frente. Ele suspirou.— Eu aprendi que vampiros podiam amar e sofrer por isso. — E então Andrew abriu a porta para surpreender a pequena bruxinha com sua mão para cima pronta para bater. E eu fiquei surpreendida com sua resposta. —Oh,— Ela disse surpresa.— Olá.— — Olá, Saphyre.— O vampiro a encarou friamente, vestindo uma mascará que escondia perfeitamente suas emoções. Tão perfeita que nem ao menos parecia que ele acabará de dizer que sofreu por uma das minhas supostas mortes. — Desculpe, eu não queria atrapalhar.— Ela disse sem jeito, mesmo que não houvesse nada para se desculpar e abaixou sua mão. — Não há nada para se desculpar.— Andrew abriu ainda mais a porta do quarto, dando espaço para que ela entrasse.— Você é sempre bem vinda aqui, Saphy.— — Certo.— Ela disse com um pequeno sorriso.— Obrigada, Andrew.— Saphyre estava com seu moletom grande como sempre, suas mãos estavam enfiadas em seus bolsos


e quando ela passou por Andrew, o vampiro tocou seu braço em uma caricia amigável. Eles não trocaram nenhuma palavra, mas o minimo de um sorriso cresceu nos lábios de Andrew e Saphyre entendeu que sua frieza não sobre ela estar aqui. Eu apenas não sabia se isso ainda fazia parte dele ou apenas estava fingindo. A primeira opção era a mais assustadora. — Você está bem, Saphyre?— O vampiro perguntou, ainda segurando a aquela parte do braço da bruxa ao seu lado. — Sim, estou bem.— — Por que você está cheirando a sangue?— Uma pergunta acusadora. — Eu.. Eu estava lidando com magia forte, meus ouvidos e nariz passaram a sangrar.— Andrew encarou Saphyre, não acreditando em nenhuma palavra mesmo que parecessem firmes. Nem mesmo eu que a conhecia a menos tempo acreditei. — Eu irei deixá-las conversar.— Ele falou olhando somente para a irmã mais nova de Amethyst, fingindo que acreditava em sua desculpa. E depois que segundos se passaram, o vampiro deixou o quarto. _____________________ Saphyre me encarou com cautela quando notou que nem mesmo eu havia caído em sua desculpa esfarrapada. Estava em seus olhos anormais, que não deveriam demonstrar nada pela falta de cor, que o desespero estava a tomando, pedindo para que o assunto que começasse não fosse sobre ela. — O que aconteceu?— Não consegui resistir, e isso não se tratava sobre minha curiosidade incontrolável, eu apenas me importava com Saphyre para não querer que nenhum mal acontecesse a ela. A pequena bruxinha que estava olhando para mim desviou os seus olhos quase brancos por um momento e movimentou seus lábios deixando que um grunhido saísse, o sinal claro de que desistirá de falar o que estava prestes a dizer. Ela me encarou novamente e então falou.— Amethyst não possui um bom temperamento e quando está atrás de resposta, ela não para.— — Por que ela a machucou?— — Ela está desconfiada que eu esteja encontrando alguém em meus sonhos, isso é sobre Charles.— Charles. Uma pontada de tristeza invadiu meu peito, até mesmo sentir falta dele em meus sonhos eu estava sentindo. Eu sentia tanta falta das pessoas que me esperavam na central que nem ao menos podia por em palavras o que se passava em minha mente quando pensava neles, mas apesar disso, eu fiquei feliz que Saphyre estivesse se misturando com mais pessoas. E mesmo assim, a minha mente não deixou de comparar Amethyst com Pierre. Ambos maltrataram seus irmãos como se a violência fosse ensinar algo realmente bom. — Ela descobriu sobre ele?— Perguntei, com um pouco de medo da resposta. Amethyst demonstrou sempre conseguir o que queria, a prova disso foi a lealdade de Andrew a ela. — Não, ele está bem.— Ela sorriu gentilmente.— Não se preocupe.— — Não estou preocupada com Charles, e sim com você.— Me levantei da cama para ficar próxima dela, por um momento achei que ela se afastaria, já que o instinto de Saphyre não era de se defender, mas ela não se afastou.— Eu sei que Charles sabe se defender muito bem... Mas e você? — — Eu não irei usar magia contra minha irmã.— Ela disse bravamente.— E Amethyst não pode me matar, ela precisa de mim para abrir o portal.— Sim, ela precisava. Amethyst e Saphyre quando juntas eram ainda mais poderosas, assim como se as


pedras que elas possuíam os nomes fossem vendidas juntas. E a irmã mais velha de Saphyre iria protegê-la até o final, até que ela fosse uma carta descartável e não importante. Assim como Pierre pretendeu fazer com Andrew. — Não acredito que Amethyst possa se redimir, mas também não consigo desejar sua morte. Ela é minha irmã mais velha e estamos ligadas para toda a eternidade, não pela maldição em meu olho, mas por nosso sangue.— — Eu entendo.— Falei com uma vontade de sorrir, mas em pensar que era sobre Amethyst, isso me enjoava.— Eu tive duas irmãs e não conseguiria fazer nenhum mal a elas.— E ainda assim, eu as matei. Saphyre provavelmente notou algo em meu olhar, pois no minuto seguinte ela estava com um sorriso em seu rosto e uma expressão de vitória.— Eu tenho algo para você.— Ela falou ao mesmo tempo que tirava as mãos de seus bolsos e em uma delas, havia uma seringa com uma agulha bem grande e seu liquido era vermelho, mas não vermelho como sangue. Era um vermelho mais vivido, não escuro e morto como era aquilo que desejei por tantos anos. — O que é isso?— Eu franzi o cenho. — É o feitiço.— Ela disse sorridente, orgulhosa dela mesma.— Isso ajudará Andrew definitivamente.— — Oh!— Exclamei surpresa ao mesmo tempo que pegava aquela seringa e a levava para a luz com curiosidade para examiná-la. — Ele deve ingerir isso diretamente em seu coração e quando feito, uma luta com a escuridão de sua alma se iniciara e como magia esta envolvida, ela provavelmente vencerá.— Saphyre continuou a sorrir.— Mas não se preocupe, não é nada perigoso. A magia apenas ajudará a pureza vencer essa guerra constante, não obrigará nada acontecer se Andrew não desejar.— — Então você está me dizendo que se Andrew quer sua alma equilibrada novamente, ele terá ao aplicar isso em seu coração?— — Sim.— Saphyre concordou.— Mas tenha certeza do que Andrew quer, Roxie. Se é a escuridão que ele desejar, sua alma voltará a ser inteiramente negra e não manchada pela pureza como está. Então entregue isso somente se ter certeza de que ele deseja se livrar dessa escuridão. Além do mais, se algo der errado, Amethyst descobrirá e temo não poder ajudar em nada depois disso.— — Ok, eu terei certeza antes de tomar qualquer decisão.— Falei abaixando aquela seringa da luz e depois caminhei para o closet de Andrew para escondê-la em alguma das enormes gavetas que eu sabia que o vampiro não mexia. Isso provavelmente estaria seguro aqui. Saphyre ficou imóvel em seu lugar, sua postura estava relaxada, como se sentisse em paz nesse quarto. E isso deveria ser um fato já que Andrew sempre a tratou bem, provavelmente a comparando com o que passou com seu irmão mais velho, imagino que ele jamais sonhou em dizer qualquer coisa que ferisse os sentimentos dessa bruxa. — Eu tenho uma pergunta.— Disse quando voltei a estar em sua frente. — Sinta-se livre para perguntar qualquer coisa.— Ela falou com uma sobrancelha arqueada, demonstrando curiosidade. — Esses ultimos dias, Andrew tem demonstrado uma dor de cabeça constante e... Ele não deveria ter qualquer tipo de dor já que é um vampiro.— — Dores de cabeça?— Ela perguntou para si mesma, como se estivesse procurando uma palavra em seu dicionario. — Sim e outra coisa que notei foi que aquelas veias que existiam em seu rosto quando suas presas estavam para fora não estão mais lá.— — Oow.— Saphyre disse quase em choque, uma expressão que pedia para que eu parasse de falar.


— O que?— Eu quase a sacudi. — Andrew realmente está em meio de uma guerra, Roxie, eu pensei que ele ainda não estava nessa fase, mas acabei me enganando.— Ela falou, não fazendo sentindo algum.— A pureza e a escuridão brigam pelo poder, a escuridão está na mente, na logica e a pureza esta no coração. Quando a pureza está no poder, eu imagino que seja normal que a escuridão tente voltar onde estava agredindo a mente de Andrew, jogando sujo.— — Isso é perigoso?— — Isso pode levá-lo a loucura.— Ela falou baixo.— A escuridão está tentando parar o coração dele para que a pureza não exista mais. Eu a aconselho a agir rápido, pois o tempo está acabando. Você deve descobrir o que ele realmente quer e se for ter sua velha alma de volta, entregue a seringa, mas caso contrário, nós teremos que esperar pelo pior.— O pior, no caso, seria o fim do mundo, o fim de tudo e do homem que eu amarei por toda a eternidade. — Eu imagino que pior não deve ficar.— Falei com um minimo de esperanças. Afinal, 10 anos haviam se passado e eles foram um pesadelo total. Estava na hora de Londres voltar a ser um local de sonhos e romance. — Considerando que tende a piorar toda vez que alguém diz essa frase, eu espero que você tenha razão.— Saphyre sorriu, tentando brincar um pouco com a situação terrível que nos encontrávamos, mas quando ela soltou uma pequena risada, acabou gemendo. — Você me mostrará seus hematomas?— Perguntei. — Eu estou bem, são apenas algumas manchas roxas marcando minha pele.— Ela disse colocando suas mãos de volta em seus bolsos.— Eu provavelmente já estaria curada se fosse outra pessoa, mas quando se trata do mesmo sangue, é a mesma regra que se aplica aos vampiros e seus criadores.— Eu fiquei surpresa com essa pequena revelação, pois no final das contas, não eram apenas os vampiros que sofriam com essa democracia. — Eu irei para meu quarto agora, Roxie.— A pequena bluxa com aquela franja tampando seus olhos disse calmamente.— Amethyst não gostará nada de saber que estive aqui hoje, então é melhor evitar problemas.— Eu estava pronta pra dizer a ela para parar de temer Amethyst, mas como poderia dizer algo como isso sendo que eu mesma a temia? Eu não podia dizer nada para Saphyre sobre desafiar sua irmã, sendo que eu me encolhia toda vez que essa bruxa louca aparecia diante dos meus olhos. Saphyre não esperou por alguma resposta minha, ela apenas saiu em silencio do quarto de Andrew e me deu um pequeno sorriso antes de fechar a porta.


23Eu fiquei sentada por longos minutos até que eles viraram horas e mesmo assim não desisti de esperar Andrew voltar. Afinal, o que eu poderia fazer? Revirar esse quarto de ponta cabeça para satisfazer minha curiosidade era algo que já havia acontecido e não havia mais nada para fazer alem de esperá-lo voltar. E o que mais me impressionava era que não estava desesperada para que isso acontecesse, pela primeira vez em anos eu estava me sentindo... feliz. Parecia que todos os problemas estavam se resolvendo aos poucos e agora que Saphyre me entregará a chave final, eu não via a hora de entregá-la para Andrew. E eu não precisava perguntar nada a ele para ter certeza, seus olhos frios e azuis me davam qualquer resposta que precisava, mesmo que eles estivessem ao meio da escuridão muitas vezes. Eu podia ver um pedido de socorro em sua alma, eu podia ver a dor... Andrew já havia superado muitas coisas em sua vida de mais de mil anos, mas uma parte de mim tinha medo de que agora, ele não conseguisse. Em quanto sua alma estivesse negra, o vampiro não sentiria culpa de qualquer coisa, mas e depois? Andrew nunca matou tantas pessoas inocentes, uma parte minha estava com medo de que seu destino fosse o mesmo que de seu irmão. Afinal, todos até agora que possuíam uma alma rara nunca demonstraram ter um final feliz, com exceção de Emme, claro. Mas a deusa que havia se apaixonado por Lúcifer possuía uma alma rara totalmente pura, diferente dos outros que conheci que tinham almas equilibradas. Um suspiro desesperado escapou dos meus lábios. Eu estava com tanto medo, tão assustada... Meu desejo era me iludir que tudo acabaria bem, mas nem isso conseguia. Quando eu era humana, depois do acidente com Hebe, tudo parecia mais fácil e naquela época parecia horrivel ter que passar tudo aquilo, mas... Eu ainda tinha Andrew ao meu lado, o Andrew que não possuía uma alma negra. E mesmo que aos poucos ele tivesse se demonstrando voltar a ser o que era, ele ainda não era. Eu sentia falta dele, muito. Meus olhos se fecharam por um momento para que uma porta do passado em minha mente se abrisse, nesse momento, ele parecia um tesouro lindo e muito valioso. ---------Era Natal. A neve cobria toda Londres essa época do ano e apenas deixava essa data tão comemorativa para humanos ainda mais mágico. Eu gostava do natal, apesar da minha família nunca ter me tratado como se fosse membro dela, gostava de imaginar que o tratamento que recebia nessa época em


festas dos parentes próximos era real, não pura falsidade. Mas agora era diferente, eu tinha Andrew ao meu lado e uma árvore enorme toda enfeitada. E ela era maior que o rei dos vampiros! Eu nunca tive uma dessas, nem quando era uma vampira. Na verdade, antes de me tornar humana novamente, eu quase nunca celebrava o natal. E estava obvio que Andrew também nunca comemorava essa data, mas mesmo assim, aqui estávamos nós em nossas roupas vermelhas e brancas esperando nossos convidados chegarem. E nem ao menos conseguia imaginar como Lúcifer havia concordado com essa loucura, mas se não foi a tortura de Andrew, foi devido a Emme, a sua nova amante que apreciava cada movimento do mundo humano. O vampiro de cabelos loiros não conseguia negar nenhum pedido a aquela deusa. — Eu não entendo por que estamos fazendo isso.— Falei finalmente, me virando para Andrew, mas quando fiz isso, não consegui segurar minha risada. Era segunda vez nessa noite que isso acontecerá. O vampiro arqueou sua sobrancelha perfeitamente, o ar se preencheu com ironia pura.— Se não existe nenhum palhaço em minhas costas, não há motivos para risos.— Não, definitivamente não havia nenhum palhaço atrás dele, mas Andrew usava um suéter de rudolf, a rena do nariz vermelho que um dia lhe dei de presente. Era impossivel não rir do fato de um vampiro tão temido por todos estar usando uma coisa tão fofa. — Você está me mimando demais, Andrew.— Falei finalmente, com minha voz seria e ignorando o que vestia. E isso era serio, desde que Sol me transformou em humana para salvar minha vida, o vampiro em minha frente praticamente lambia o chão que eu estava prestes a pisar para verificar se havia algum perigo ou não. E apesar de me sentir bem com a proteção de Andrew, de gostar de seus mimos, eu sabia que ele preparou essa noite apenas para não me ver isolada em algum canto da mansão. Eu estava fracassando como uma esposa. E isso era pior do que imaginar que eu não tinha mais a eternidade ao seu lado. — Você não está fracassando, cherie.— Ele ouviu meus pensamentos, obvio.— Apenas quero lhe dar memorias que jamais serão esquecidas. Eu quero que esse seja seu melhor natal para que esqueça os antigos, os que sofreu ao lado de sua família. E eu... Nós, temos que tratar um dia como se fosse o ultimo.— — Porque não irei viver eternamente e amanhã posso bater a cabeça e morrer.— Respondi com malcriação e realmente me senti como uma garotinha mimada. Eu desejei bater minha cabeça na parede até explodir por causa disso. Andrew ficou imóvel como uma estatua depois da minha resposta, um pouco surpreso. Eu nunca havia falado com ele dessa maneira sem que estivéssemos em meio de uma briga. E o vampiro estava fazendo uma festa para me alegrar, convidando todos os nossos amigos para passar a noite comigo e ainda assim, eu estava questionando suas ações.


— Me desculpe.— Eu sussurrei aquilo. — Está tudo bem, Roxie.— Andrew sorriu, mesmo que seu tom fosse serio.— Nós podemos cancelar isso tudo se ainda não estiver pronta.— — Pronta para o que?— — Você acha que estou fazendo isso com a intenção de que pode ser seu ultimo natal comigo, não por outras razões.— Suas razão era que fosse algo inesquecível para superar o que passei com minha família, algo que não pensei em primeiro lugar. Andrew estava certo. Ele queria que minha vida humana fosse ótima e não terrivel como foi a outra, a que me dava pesadelos até hoje. Mas... Estava tão dificil superar o que aconteceu em minha vida. Eu suspirei e encarei o vampiro em minha frente que até se submeteu a usar uma roupa brega por minha causa. — Eu estou pronta, Andrew,— Falei com determinação.— Se eu consigo lidar com você, não terei dificuldades em fazer isso.— — Tomarei isso como um elogio, cherie.— Ele sorriu e isso fez meu coração desmoronar. Eu atravessei a sala com passos grandes para enfiar meu corpo ao redor dos braços do vampiro e esconder minha cabeça em seu peito. Andrew me acolheu sem nenhuma negação, mesmo que aquilo fosse um sinal de fraqueza vindo de mim. Mas eu não me importava, eu era fraca e nunca me iludiria sobre isso. Eu precisava desse vampiro para conseguir ficar em pé. Andrew me apertou contra seu corpo e logo seus lábios encontraram o topo da minha cabeça. Suas mãos acariciaram minhas costas e meus cabelos delicadamente, como se eu fosse uma boneca prestes a trincar e se desmanchar em vários pedaços. Eu mesma não me admiraria se isso acontecesse, nem ao menos sabia como não tinha chorado como uma louca ainda. — Obrigada pela árvore, Andrew.— Murmurei sob o seu peito, agarrando aquele suéter com minhas mãos para que ele não me soltasse. — Você gostou?— Perguntou como se eu fosse uma criança que acabará de ganhar um presente. — Sim.— Olhei para cima com a intenção de encontrar seu olhar e sorri.— Mas eu não entendo por que não existe uma estrela no topo, sendo que você as idolatra.— — Minha estrela está em meus braço nesse momento e duvido que ela ficaria quieta se a colocasse no topo de alguma árvore.— Ele se curvou para beijar a pontinha do meu nariz após falar e eu fechei meus olhos devido ao atrito de seus lábios em minha pele quente. — Você está certo, ela provavelmente jogaria todos os enfeites em seu alcance em sua cabeça.— Eu falei com um sorriso bobo... Como Andrew podia ser tão perfeito? — Obrigado.— Ele elevou suas sobrancelhas, seus olhos eram um mar de ironia.— Mesmo que isso não seja uma novidade.— — Saia dos meus pensamentos!— Eu belisquei suas costas e o vampiro se remexeu em meus braços para se livrar daquela pequena dor. — Não seja má comigo no natal, cherie.— — Não use o natal como desculpa.— Eu falei se afastando dele para pegar sua mão.— Eu tenho um presente para você, venha.— Eu puxei Andrew por sua mão, mas o vampiro se negou a andar.— Se esse presente inclui um suéter com algum personagem ridículo, eu estou bem em ficar aqui.— — Tire-o se não o quer, mas o guarde para se cobrir quando estiver passando frio no quintal.— Eu


falei fingindo que estava brava e quando estava prestes a soltar sua mão, o vampiro veio até mim para me abraçar por trás. — Mais tarde,— Ele sussurrou perto do meu ouvido.— Quem irá tirá-lo é você, assim como o restante das minhas roupas.— Eu senti as borboletas em meu estomago me assassinarem depois dessa fala, mas eu encontrei meu raciocínio e passei a caminhar, mesmo que o vampiro estivesse em minhas costas me abraçando. Nós ficamos dessa maneira até que chegamos a sala onde existia seu piano, mas antes mesmo que pudéssemos entrar, eu parei diante da porta. Andrew se afastou de mim para encontrar meu olhar e após segundos olhando meus olhos, ele abriu a porta que nos separava daquele comodo que antigamente costumava ser o mais lindo da mansão real. Infelizmente, toda sua magia acabou quando o vampiro abandonou seu irmão e se juntou a Iawy, pois ninguém perdeu seu tempo cuidando de suas orquideas. E como eu estava desejando sua morte, nem ao menos pisei perto desse chão, o que levou essa sala a ser um lugar cheio de flores mortas. Mas agora, tudo estava diferente. Havia tantas orquideas vivas e maravilhosas pelo chão da sala e em suportes que o único lugar que poderia se pisar era um pequeno caminho que havia entre a porta até o banco do piano. O vampiro não havia se movido para dentro, apenas encarou aquelas flores e sorriu.— Como conseguiu esconder isso de mim?— Perguntou sem me olhar. — Eu ainda tenho meus truques, Andrew Le Boursier.— — Está incrível, realmente maravilhoso, cherie.— Ele se virou para mim dessa vez e seus olhos passaram a mensagem de que suas palavras eram verdadeiras.— Eu não entendo como fez algo assim sem mesmo antes alimentar sua curiosidade.— — Nem mesmo eu sei, pois toda essa ladainha de que as plantas são seres vivos que merecem ouvir uma bela musica não é mais uma boa desculpa para mim.— Andrew abriu um sorriso de orelha a orelha. — Minha mãe.— Ele disse, seu sorriso vacilando totalmente.— Seu aroma era de orquideas. Esse era o motivo por ter tantas delas aqui, pois quando era uma criança e ela não podia estar presente, Sophie sempre deixava um ramo dessas plantas em minha cama para me deixar calmo. De alguma forma, depois que cresci e virei um vampiro, isso virou um costume já que nós não nos víamos com muita frequência.— — Eu sinto muito.— Falei, me lembrando que agora o vampiro nunca mais se perguntaria quando iria ver sua mãe novamente. Andrew caminhou até mim para que envolvesse suas mãos ao redor do meu pescoço e fizesse com que minha cabeça encontrasse seus olhos azuis tão lindos e frios. — Não sinta.— Ele roçou seus lábios nos meus lentamente, uma tortura enlouquecedora.— Esse é o melhor presente que já tive.— — Você tem certeza?— Perguntei cautelosa.— Eu não queria trazer memorias ruins a você...— — Eu gosto de orquideas e elas me fazem lembrar do meu passado junto com Sophie e Pierre, não há como existir algo ruim envolvido nisso.— Andrew sorriu.— Eu estou bem, cherie.— Eu levei minhas mãos até seu peito para que servisse de apoio quando fiquei na pontas dos pés e fui a procura dos lábios do vampiro para beijá-lo. Andrew soltou meu pescoço e segurou minha cintura para me segurar melhor. — Agora estou bem melhor.— O vampiro disse após eu me afastar, procurando por ar. — Eu posso deixá-lo ainda melhor.— Falei ao mesmo tempo que me aproximava dele para beijá-lo


novamente, mas o rei dos vampiros usou suas mãos em minha cintura para me afastar de seu corpo. Seus olhos azuis brilhavam. — Nossos convidados chegaram.— Eu me afastei de Andrew completamente dessa vez e quando o vampiro passou a caminhar, o acompanhei calmamente em quanto ele pegava minha mão para irmos até nossa porta receber nossos amigos. Quando chegamos na entrada da nossa mansão, eu fiz questão de abrir a porta que me separava dos meus amigos e assim que fiz isso, um enorme sorriso se formou em minha face, pois descendo de um carro estavam Lúcifer, Emme, Nyx e Iawy. As pessoas que eu mais amava nesse mundo. Lúcifer em uma de suas mãos segurava uma garrafa de champanhe, em quanto a outra estava nas costas de sua nova amante, a acompanhando em seus pequenos passos. Nyx e Iawy estavam logo atrás deles, a licantropa carregava algo em suas mãos que não consegui identificar já que estava embrulhado, mas era algo comestível devido ao emblema de uma padaria muito famosa de Londres. Quando se aproximaram, Lúcifer arqueou sua sobrancelha esquerda e um sorriso ironico apareceu em seus lábios em quanto encarava o suéter de Andrew.— Uau, milagres realmente acontecem no natal.— — Mantenha sua boca fechada, Lúcifer.— Andrew o fuzilou com o olhar. — Eu estou tão feliz por ter trazido uma câmera digital.— Disse Nyx, entrando logo em seguida do melhor amigo de Andrew. — Não comece a provocar Andrew, Nyx, nós somos convidados essa noite.— Iawy a repreendeu. — Lúcifer,— Emme segurou o blazer do vampiro de cabelos loiros como uma criança fazia quando desejava algo.— Você poderia me dar um suéter igual o de Andrew?— Murmurou baixinho. Eu sorri diante deles vendo essa cena, sentindo a felicidade crescer dentro de mim. Era tão bom ter uma família. --------Meus olhos se abriram assim que o barulho de uma porta sendo aberta invadiu o silencio do quarto. Eu me levantei pensando que era Andrew para recebê-lo calorosamente e quando fiz isso, meus joelhos vacilaram e tive que me equilibrar para que não caísse sentada novamente. Pois não era Andrew que havia voltado, era algo pior que isso. Era Amethyst. Eu engoli em seco e a encarei exatamente como uma rainha fazia, a olhando com dignidade e julgando o quão baixa poderia ser ao tirar a vida de uma pessoa inocente em quanto esperava o rei ao meu lado dar sua palavra final. Mas sempre haviam guardas e Andrew ao meu lado caso o assassino desejasse me atacar, e agora não existia ninguém. Amethyst escancarou a porta quando entrou, ela rebolava perfeitamente como se estivesse dançando, como uma verdadeira dama. Ela parecia ser tão leve quanto uma brisa e realmente era uma pena que uma pessoa tão linda fosse uma psicopata louca.


O meu olhar não a intimidou nem um pouco, pois ela me olhava ainda pior que isso, ela me encarou como se fosse parte dos deuses, as únicas pessoas que jamais poderiam ser mortas ou intimidadas. Mas eu não decai, eu tinha que recuperar meu orgulho. — Olá, Roxie.— Ela falou com um sorriso mais afiado que uma adaga, entrelaçando seus dedos cobertos por luvas negras que iam até seus cotovelos. Amethyst era igual a Charles, ambos se vestiam como se tivessem parado no tempo. Apenas Saphyre era diferente em questão disso e infelizmente, eu sabia o porque. A pequena bruxinha desejava tanto ser passada em branco pelas pessoas que não desejava se destacar em suas vestimenta, ela queria que a ignorassem por seu mal gosto para que jamais olhassem para seu olho amaldiçoado. — Andrew não esta aqui, como pode ver.— Falei no mesmo tom que ela usou comigo, desejando que ela sumisse logo daqui. — Eu não quero ver Andrew.— Amethyst se aproximou ainda mais de mim, seus saltos estalando contra o piso de madeira do quarto mesmo sob o tapete de pele em frente da cama de Andrew.— Se eu desejar isso, posso facilmente encontrá-lo em meu quarto... Em minha cama.— — Bom para você.— Eu não cairia em sua ladainha cheia de provocações.— Então por que está aqui? Eu não posso ajudá-la em nada.— — Eu pensei que seria muito educado visitar minha hospede em quanto Drew não esta na mansão, para não deixá-la sozinha nesse quarto.... nessa corrente.— Drew. Eu senti meu sangue ferver nesse momento, mesmo que minhas veias sanguíneas fossem mais geladas que a Antártida. — Eu não preciso da sua companhia, Amethyst.— Eu fechei minhas mãos em punho, o gelo estava decidido a formar uma camada muito mais grossa do que eu estava acostumada a lidar. — Você tem certeza?Eu sei muito bem o quão solitário pode ser quando Andrew não esta presente. — A bruxa em minha frente sorriu.— Oh, me perdoe, esqueci que você teve mais de 10 anos para se acostumar com essa sensação.— — Não comece.— Eu cuspi aquilo como se fosse um dragão cuspindo fogo, mas o que realmente sairia de mim para me proteger seria o gelo.— Vá embora.— — Estou aqui para lhe pedir conselhos de como superar isso, Roxie.— Amethyst deu mais um passo para perto de mim, eu não me movi mesmo que meus instintos gritasse para dar o fora dali.— Compartilhe sua experiencia.— — Vá para o inferno.— — Nós já estamos nele, minha querida.— Amethyst me encarou com pura ironia, como se ela não possuísse outro sentimento alem desse.— Agora me fale como superou o abandono de Andrew.— — E ela continuava a jogar isso em minha cara... — Arrume outra coisa para me provocar, isso não irá funcionar.— — Claro que não, mas eu só estou curiosa em saber como uma pessoa tão fraca e medrosa conseguiu passar por isso, quero conhecer o que está sob meu teto. Afinal, é realmente difícil acreditar você sobreviveu a isso.— Amethyst ergueu seu queixo como se fosse dona desse mundo. — Desde que Andrew trouxe você até minha mansão, minha querida, é realmente triste ter que dormir sozinha, não ter seus braços em volta do meu corpo em quanto ele dorme... Você sabe do que estou falando, não sabe? Andrew tem essa mania de dormir abraçado com as pessoas, disponibilizando seu braço como um travesseiro confortável. E ele possuí tantas outras manias que podem ser consideradas carinhosas e perfeitas, como quando ele vai se alimentar de seu sangue e passa seus lábios até encontrar o ponto em que te faz tremer sob suas mãos ou...—


— Pare.— Eu a cortei quando elevei meu tom somente um pouquinho para que me ouvisse. — Você tem razão.— Sínica era a palavra que a descrevia muito bem.— Por que estou falando tudo isso com você? Afinal, quanto tempo você realmente conhece Andrew, minha querida? 5 anos, talvez?— — Eu o conheço por mais de séculos.— — Não.— Ela me respondeu com dureza, deixando seu fingimento de simpatia de lado.— Você não esteve com ele todo esse tempo, você pensa que o conhece, mas não. Eu tive 10 anos ao seu lado e você, Roxie, não esteve nem um pouco perto disso.— Eu dei um passo para frente, para enfrentá-la e demonstrar que o medo não iria me parar. Amethyst não moveu nenhum músculo com isso. Eram somente centímetros que nos separavam nesse momento. — Cale a boca.— — Por que? Você não consegue lidar com a realidade, minha querida?— Amethyst sorriu.— Encare os fatos, Roxie, Andrew não pertence mais a você.— — E você está querendo dizer que ele pertence a você?— Eu perguntei com um sorriso sarcástico. — Desculpe,— Ela sorriu, sínica demais.— Mas com quem Andrew passou esses últimos 10 anos?— Isso fez com que meu único neurônio vivo parasse de funcionar. Essa era a única explicação sensata para o que aconteceu em seguida. O espaço entre mim e Amethyst já era quase inexistente, então quando joguei meus braços para cima e agarrei seus cabelos em um coque perfeito com força, ela foi pega de surpresa e nem ao menos reagiu a isso. Eu tive tempo o suficiente para levar a cara dela contra o enorme vidro que servia de parede entre o quarto e o banheiro. A bruxa estava gritando desesperada para que a soltasse, eu também gritava, mas de raiva. Eu bati a cabeça dela diversas vezes naquele vidro até que sangue passasse a manchar aquela enorme placa transparente. Havia muito sangue, ele até mesmo escorria direto para o chão. Felicidade surgiu em meu interior por causa disso. Amethyst elevou suas mãos até as minhas e quando isso aconteceu, eu usei meu aperto em seus cabelos, que não estavam mais presos em um coque perfeito, para jogá-la no chão, o que fez sua cabeça atingir com força uma parte da cama. Eu não queria ter soltado essa bruxa louca justo agora, mas se ela levasse suas mãos até as minhas, as coisas não ficariam tão bonitas. Afinal, o gelo estava crescendo constantemente em volta dos meus dedos. — Eu a odeio!— Amethyst gritou, ainda atordoada. — Conviva com isso.— Eu falei com ironia, minha respiração estava completamente alterada, mas isso não foi o suficiente para mim, não mesmo. Eu estava quase em cima de Amethyst novamente para bater ainda mais em sua cabeça quando senti que algo me puxou para trás forte o suficiente para que perdesse o comando em meu corpo. Meu corpo bateu contra a enorme janela do quarto fazendo com que o vidro se estilhaça-se completamente, mas eu sabia que esse vidro não era tão frágil assim, tive certeza disso quando olhei para o rosto todo ensanguentada de Amethyst e seus olhos estavam negro como os de Andrew.


Era magia. Ela fez questão de jogar meu corpo para trás e ainda explodir o vidro que iria me segurar para que cada caco se acomoda-se em minha carne. E então, sem uma janela para me segurar, eu cai. Um enorme baque ocorreu quando a corrente chegou ao seu máximo, fazendo com que minhas costas se debatessem contra a parede de fora da mansão e me causando muita dor por causa dos cacos que estavam ali. Mas essa não era a pior parte. A corrente que estava ao redor do meu corpo não era grande o suficiente para me levar até o chão daquela caverna que escondia a mansão de Amethyst. Ela não era... A corrente se apertou contra meu pescoço por causa de todo o peso do meu corpo depender dela, eu pensei que ela iria me decapitar, o que seria bem melhor. Eu me debatia e gritava. Eu gritava por ajuda. Eu me debatia para minhas pernas encontrarem algum sustento. Mas nada parecia funcionar. Eu tentava tirar a corrente de volta do meu pescoço com meus dedos fracos, me iludindo de que conseguiria quebrar aquele ferro. E não funcionou. Minha visão ficou embaçada conforme os segundos passaram... Eu precisava, eu necessitava respirar e não havia ar... A escuridão invadiu minha visão dessa vez, pareceu que eu não precisava mais respirar... Essa escuridão era a morte. Onde estava Andrew?


24Eu abri meus olhos. E puxei o ar para meus pulmões ao mesmo tempo que um grito saia da minha garganta, eu tentava me levantar, me mover, mas não tinha comando sob meu corpo. Meu cérebro parecia conter milhares de facas enfiadas nele e minha visão estava totalmente embaçada. Isso era pior que a morte. E eu havia tido minha primeira morte. Ela foi pior do que já pude imaginar um dia. Eu ainda podia sentir a corrente se espremendo contra meu pescoço... A falta de ar... Os vidros em minha pele. Um vulto negro se movimentou em minha direção, se aproximando. Eu me encolhi no canto que estava, agarrando meus joelhos e apoiando minha testa neles... Eu estava tremendo. A escuridão ainda estava em volta de mim. E só havia o perigo, a morte, o sangue... Eu estava... Assustada. O vulto negro se aproximou ainda mais, eu comecei a gritar novamente ao mesmo tempo que sentia que meu coração iria explodir, minha respiração passando a ser cortada, pois parecia que alguém estava me enforcando novamente, parecia que minhas vias respiratórias estavam sendo fechadas com aquelas facas em meu cérebro. Eu me comprimia naquele canto, agarrando meus joelhos para ocupar menos espaço naquela escuridão cheia de morte. O vulto encostou em mim. E eu gritei, principalmente pelo fato de que minhas vias sanguíneas se congelaram e eu me senti muito, muito quente. Era a morte novamente? Eu me perguntava. É a morte, se proteja! Minha mente gritava. Eu tinha que me proteger. Eu tinha que deixar o gelo fazer parte da minha vida.


Mas eu não sabia como. Eu estava sozinha. Sozinha. Eu me encolhi novamente quando senti outro toque daquele vulto em mim, mordi meus lábios para controlar os soluços do meu choro e tentar controlar minha respiração para ela parar de fazer barulho. Lutar era inútil, pois eu estava sozinha. E com medo. — Roxie.— Andrew. Sua voz estava tão distante... Mas ele estava aqui. — Por favor, Roxie.— Eu abri meus olhos por um momento e levantei minha cabeça somente um pouquinho, aquele vulto ainda estava lá. Ele me tocou e eu me contrai com sua temperatura gelada que estava sob suas mãos. Ninguém deveria ser mais gelado do que eu. Meus olhos se fecharam automaticamente e eu balancei minha cabeça, minha visão aos poucos estava melhorando, mas ainda me irritava. Todo o meu corpo me irritava e doía. Pelo menos, não existia mais o peso daquelas correntes ao redor do meu pescoço. Parecia que haviam facas por todos os meus órgãos, por minha carne. E doía tanto para respirar... Eu levei minhas mãos até meus ouvidos e os tampei, pois os meus próprios soluços e barulho da minha respiração cheia de dificuldades estava se tornando um transtorno. — Andrew...— Eu murmurei, minha voz quase nem ao menos existia. — Eu estou aqui, cherie.— Sua voz estava baixa, tão... morta.— Olhe para cima.— — Eu estou com medo.— Chorei agarrando meus joelhos.— E você não estava aqui... Não estava. — — Sinto muito, Roxie.— Sua voz se aproximou do meu ouvido dessa vez,meus cabelos foram movidos para trás e logo em seguida eu senti seus lábios quentes em minha bochecha e em todas as partes que podia ter um tipo de acesso do meu rosto.— Ninguém irá lhe machucar agora.— Eu olhei para cima, para Andrew, mas apenas encontrei aquele vulto negro. — Eu não estou enxergando nada.— Chorei, entrando em desespero novamente. — Mas está se protegendo, cherie.— Ele disse tentando quebrar o contato dos meus dedos com meus joelhos, mesmo com dificuldades, o vampiro conseguiu. Eu só tinha a certeza de que não havia me congelado pois ainda tremia.— Sinta.— Andrew colocou minha mão em direção ao chão que estava sentada para que o toca-se. Estava gelado... Congelado.— Está por todo o quarto, até mesmo em mim.—


Suas mãos estavam geladas por causa do gelo. — Me desculpe.— Falei me afastando, tirando suas mãos da minha. Tudo que desejava era me encolher novamente.— Eu não queria machucá-lo... Andrew, eu não quero machucar ninguém. Por favor, eu não quero ser assassina...— Eu estava chorando, minhas lagrimas escorriam direto para minha boca e me afogavam. Eu senti os braços de Andrew ao meu redor, mas o vampiro não estava me abraçando, ele estava me tirando daquele chão, daquele canto em que parecia ser tão seguro... — O que está fazendo?— Sussurrei, já em seus braços. Isso deveria soar como algo bom, mas apenas havia a dor. — Seu corpo se cicatrizou mesmo com os cacos do vidro em sua pele.— Andrew falou calmamente e beijou a lateral da minha cabeça mesmo sob meus cabelos.— Nós precisamos tirá-los.— — Eu não quero.— Falei me segurando a Andrew como se fosse um gato prestes a ser jogado dentro de uma bacia de água devido ao vento que se debateu contra meu corpo. Esse parecia ter sido o mesmo vento que me atingiu diversas vezes em quanto eu... morria. — Está tudo bem, Roxie.— O vampiro me colocou no chão, mas me segurou firme contra seu peito quando minhas pernas vacilaram com o peso do meu corpo.— É apenas o vento.— Eu o encarei e após segundos passarem, os traços do rosto do vampiro passaram a ser nítidos, não apenas borrões. Meus olhos piscaram várias vezes rapidamente para que pudesse me acostumar com isso. E quando os abri novamente, para ver o rosto de Andrew, um sorriso carinhoso estampou seu rosto. — Oi.— Ele disse com seu tom igualmente ao do seu sorriso, totalmente sereno. Infelizmente, por mais que desejasse isso, minha atenção não foi direcionada para Andrew, pois logo atrás deles meus olhos capturaram o que havia acontecido naquele quarto que costumava ser tão lindo. Agora a janela enorme era apenas um buraco negro, o vidro que separava o quarto do banheiro ainda estava sujo com o sangue escorrido de Amethyst, mas havia algo a mais. Pelo quarto inteiro havia pedaços grossos de gelos muito pontiagudos. E eu sabia que aquilo havia saído de mim, mas era quase inacreditável e... Horrível, principalmente porque um deles estava sujo de sangue. Eu encontrei os olhos de Andrew novamente depois de olhar para seu corpo e conferir se aquele sangue pertencia a ele. E pertencia, pois logo a baixo de suas costelas sua camisa negra estava rasgada e sua pele, já curada, possuía uma mancha de sangue quase seca.— Eu o machuquei.— Falei conforme encontrava seu olhar. — Isso foi como um arranhar de gatinho, cherie.— Ele falou em quanto colocava uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha, eu sentia que estava totalmente descabelada, mas isso não importava.— É preciso muito mais do que isso para me machucar.— Eu olhei novamente para o gelo atrás de Andrew que cobria quase todo o quarto, tudo era tão afiado, tão perigoso para um coração... — Vamos, Roxie.— Andrew me chamou para a realidade em quanto que me direcionava até estar sentada na beira da banheira, com meus pés dentro dela. O vampiro ficou em minhas costas e se afastou para pegar uma toalha branca, eu também vi pelo canto do meu olho, que ele segurava uma lamina. Andrew me entregou a toalha e continuou a segurar aquela faca que parecia ser muito afiada. — Eu irei tirar seu vestido.— Ele avisou, mas deixou de fora que também iria cortar minha pele.


— Tudo bem.— Minha voz saiu tremula, um pouco baixa também. Andrew se ajoelhou perto de mim e rasgou o vestido com aquela lamina sem nenhuma dificuldade, ai estava a prova de quão afiada era aquela faca. Eu engoli em seco quando ela tocou em minha pele em quanto rasgava minha roupa e quando as tiras daquela capa de travesseiro caíram aos meus pés, eu usei a toalha para tampar meu busto. — Eu sinto muito.— Andrew falou novamente e antes que pudesse falar qualquer coisa ou olhá-lo, o vampiro enfiou aquela lamina em minha pele, cavocando até que algum pedaço de vidro estivesse em cima dela para que pudesse tirá-la de dentro de mim. Andrew fez o movimento diversas vezes, no começo tudo que eu fazia era chorar e morder meus lábios para não gritar e depois de alguns minutos não aguentei e passei a berrar, mas com o passar do tempo e da dor, tudo se tornou fácil, pois eu me acostumei a ela e foquei minha atenção apenas em meu sangue escorrendo por minhas costas. *** Eu sentia muita dor em meu corpo e isso era um bom sinal, pois isso significava que estava viva. Respirando. A escuridão invadiu minha mente em quanto estava sentada na banheira, eu tentei lutar contra ela novamente pensando que era a morte me levando, mas não era isso. Eu apenas perdi minha consciência, mas foi realmente assustador. Então quando abri meus olhos nesse momento, foi algo duro, como se estivesse brigando contra a morte, e minha respiração se alterou com meus movimentos rápidos para se levantar, mas não me levantei, pois quando estava prestes a fazer isso, eu encontrei os olhos azuis de Andrew me encarando, encontrei a paz na pessoa que deveria temer. Nós estávamos no sofá negro que ficava próximo do enorme vidro que separava o quarto, o único lugar que aparentemente não havia sido muito danificado pelo gelo. A janela que agora era apenas um buraco, servia como uma grande ajuda, já que o vento fazia com que o gelo se derretesse mais rápido. Isso mostrou para mim que havia se passado apenas algumas horas desde que perdi minha mente para a escuridão, não dias. Andrew estava sentado no sofá em quanto eu estava deitada e encolhida com minha cabeça em seu colo, o vampiro acariciava meus cabelos antes de eu despertar. Agora, ele apenas estava com sua mão emaranhada em meus cabelos em quanto me observava em um silencio mortal. Eu levantei meu corpo para que pudesse me sentar em direção dele, quebrando qualquer contato que existiu entre nós. E mesmo que eu tivesse me virado para encarar Andrew, o vampiro encontrou um ponto fixo em sua frente e o encarou com muita fúria. Eu vi em seus olhos que se aquele ponto fosse Amethyst, ele estaria arrancando seu coração e o esmagando. Eu não podia deixar que essa raiva prejudicasse sua alma. — Andrew.— Sussurrei calmamente, pensando em tocar seu braço para ter sua atenção, mas antes mesmo de sequer movimentar minha mão, o vampiro olhou para mim. — Você precisa ir.— Foi tudo que ele disse antes de desviar seu olhar para aquele ponto fixo novamente. — O que?— Eu fiquei surpresa. O que ele queria dizer com aquilo?— Andrew, eu...—


— Você morreu, Roxie.— Ele me cortou no começo da minha frase e eu me mantive em silencio.— E eu só tive certeza de que estava viva quando me aproximei de você e todo aquele gelo passou a crescer como laminas prontas para matar.— — Eu irei sempre voltar a vida, Andrew.— — E eu deveria ter estado ao seu lado para saber o que se tornou.— Ele se levantou. — Não é sua culpa.— Eu falei.— Você nem ao menos sabia que eu estava viva.— — E você deveria me chamar quando está em perigo.— Ele sussurrou, sua voz um poço cheio de magoas. Então, eu percebi o real problema.— Eu não posso protegê-la mais.— — É claro que pode, Andrew.— Eu me levantei também para ficar de frente a frente com o vampiro.— Eu já teria morrido há muito tempo se não fosse você.— — Se Amethyst desejar, eu posso matar qualquer pessoa que quiser.— Andrew me encarou.— Veja o que ela fez comigo, com Londres...— — Você não tem culpa!— — Quando se trata dela, eu sou fraco, Roxie.— — Nós passamos por tantas coisas, Andrew, nós sobrevivemos aos problemas que a morte de Pierre e Annabelle trouxe, até mesmo sobrevivemos a uma deusa. Não diga que é fraco e desista de nós por causa de uma bruxa.— — Nós sobrevivemos?— Uma risada amarga saiu de seus lábios.— Nós apenas ignoramos os problemas e fingimos que nosso amor era maior que qualquer magoa, mas não é. Se eu realmente a amasse, jamais a teria trazido para o meu mundo, eu jamais teria me juntado a uma bruxa assassina e insana por causa do meu egoismo para lhe tornar imortal.— — Eu estaria morta.— Eu ressaltei aquilo.— Não me diga que essa seria a melhor solução.— — Eu apenas destruí sua vida, Roxie.— — E eu fiz o mesmo com você, Andrew, por minha causa Pierre esta morto.— — Não.— Ele discordou.— Sempre tive medo de acabar sozinho e isso fez com que eu seguisse Pierre feito um cão obediente, ignorando o monstro que ele se tornou. Pierre deveria ter sido morto há muito tempo, muito antes de você nascer e pareceu mais fácil culpá-la de sua morte, do que admitir que sou egoísta o suficiente para prejudicar a vida das pessoas em meu beneficio.— — Você nunca prejudicou minha vida.— Minha voz estava tremula. — Você tem certeza?— Andrew segurou minhas mãos quando estava prestes a tocar seu rosto, me afastando dele.— Você foi a pessoa que mais prejudiquei e continuo prejudicando.— — Eu não me importo.— Eu falei.— Eu te amo.— — Isso nem sempre é o suficiente, Roxie.— — Por favor...— Estava ficando sem resposta, o que estava me deixando completamente paranoica. — Nós dois destruímos nosso relacionamento, Andrew, mas podemos reconstruí-lo. Não desista de nós, não desista de mim depois de tudo o que aconteceu.— — Eu pensei que as coisas boas sempre compensariam as ruins, mas tudo se repete sempre.— Ele soltou minhas mãos e elas caíram ao lado do meu corpo.— E você sempre acaba sendo destruída por estar ao meu lado. Eu não posso concertar algo que foi quebrado diversas vezes, Roxie.— — Isso não é verdade.— — Você precisa de alguém que a proteja de verdade.— Ele ignorou o que disse.— Você precisa ir embora e Iawy a protegerá como sempre o fez.— Sim, Iawy sempre me protegeu e fez um ótimo trabalho, mas...— Você não estará lá.— — Não, eu não estarei.— Concordou.— Eu irei arrumar um jeito de parar Amethyst, eu irei fazer a coisa certa dessa vez.— — Eu não vou deixá-lo, Andrew.— Eu falei como uma garota mimada, mas para o inferno com isso.— Não irei me esconder em quanto você toma todas as decisões. Eu estou sempre fugindo para longe de você por ser fraca demais, mas eu não posso perdê-lo novamente. Se quer saber o que realmente me quebra, é descobrir que eu o perdi e estou cansada desse sentimento.— — Eu não a acho fraca.— Andrew tocou meu rosto com as costas de seus dedos em uma caricia lenta e eu vi que uma barreira de seu orgulho sobre esse assunto havia se quebrado. Ótimo.—


Nunca achei.— — Você sempre jogou esse pequeno fato em minha cara.— Eu murmurei, piscando várias vezes seguidas para espantar as lagrimas dos meus olhos. — Apenas gosto de falar aquilo que as pessoas acreditam sobre si mesmas.— Sua mão recuou, mas eu a segurei entre meus dedos tremulos. — Não me afaste de você, Andrew.— Eu quase implorei.— Se isso acontecer, se o perder novamente, eu irei quebrar definitivamente dessa vez.— — Eu estou com medo... Com medo que pode acontecer com você, Roxie. Eu não tenho mais futuro e não sou mais o homem que você se apaixonou.— Seus olhos que geralmente falavam por ele estavam neutros, como qualquer olhar de uma pessoa comum. Isso doeu tanto quando uma adaga sendo enfiada em meu coração.— Eu nunca fui um homem na verdade, o sangue sempre sujou minhas mãos.— — Eu não me importo se não é um homem ou se não tem mais um futuro.— Eu rangi, não sabendo exatamente o que dizer. Se o vampiro em minha frente sentia medo... Eu estava apavorada.— E sentir emoções só provam que você é Andrew, não uma maquina de matar que Amethyst criou, e você me fez sorrir muito mais do que qualquer outro membro da minha verdadeira família. E se não fosse por você, eu teria morrido infeliz como qualquer outra mulher que se casa sem amar seu marido e só pensa em dar um herdeiro a ele.— — Eu arruinei sua vida quando a encontrei naquela floresta em quanto estava perdida.— — E eu arruinei a sua quando o fiz se apaixonar por mim, Andrew.— Eu disse.— Você vê o ponto disso? Se nós deixarmos nosso amor vai ser nossa morte, mas não podemos deixar isso acontecer. Não por causa de uma bruxa poderosa. Quando nos unimos com as pessoas que nos deram suas lealdades, nós matamos uma deusa. Não me faça temer a uma bruxa com uma alma negra quando isso aconteceu em nosso passado.— — Eu quase perdi você nesse passado.— — Sim, você quase me perdeu, pela terceira vez.— Falei com um pouco de raiva.— Mas eu ainda estou aqui, não haja como se estivesse dentro de um caixão e enterrada, pois não estou.— — Roxie, não...— — Eu não sou uma marionete!— Exclamei, sentindo a raiva me consumir e eu deixei que isso acontecesse, pelo menos um sentimento poderia vencer o medo que Amethyst me causou.— Pare de tomar decisões por mim.— Andrew sorriu, um sorriso triste que mesmo assim foi forte para nascer em seus lábios. Era um sorriso que demonstrava seu orgulho por mim. — Eu não sou o seu rei, certo?— — Não, você não é.— Eu ri um pouco, mesmo que minha vontade fosse de chorar.— Você é apenas um vampiro que me deu a imortalidade para que pudéssemos vivê-la juntos.— Andrew desviou seus olhos para o enorme buraco negro ao nosso lado e então suspirou. Seus olhos correram até nossas mãos unidas, eu ainda o segurava para que não se afastasse de mim. Ele usou sua mão livre para pegar em meu punho e soltar o aperto que existia em sua mão. Eu o soltei e quando fiz isso, o vampiro levou minha mão até o centro de seu peito, onde batia um coração lento. — Vamos fazer uma promessa.— Ele disse, seus olhos presos aos meus.— Você vai embora e não voltará para me procurar até que eu vá ao seu encontro. Quando eu encontrar uma maneira de matar Amethyst e ela não ser uma ameaça para a central, eu irei encontrá-la para ficarmos juntos.— — Porque eu não...— — Eu não posso lidar com tantas coisas em quanto você estiver aqui, minha prioridade vai ser apenas protegê-la, isso irá me atrapalhar totalmente e vai deixar Amethyst desconfiada. E existe a dor em minha cabeça, que parece gritar e me apunhalar toda vez que a bondade cresce dentro de mim, então em quanto você estiver aqui, nada irá progredir.— Resumindo, eu era um peso morto em suas mãos, mas Andrew tinha razão.— Lúcifer e Iawy irão protegê-la melhor do que eu nesse


momento.— — Você promete que irá até mim?— — Se você não me procurar até que isso aconteça, eu irei.— — Eu posso levar Saphyre comigo?— Perguntei, me lembrando da promessa que havia feito a irmã mais nova de Amethyst. Andrew ficou pensativo por um momento, eu quase voltei a falar para implorar que ele dissesse sim. Afinal, eu havia feito uma promessa.— Sim, eu darei um jeito para segurar Amethyst aqui.— Ele disse finalmente. — Então... eu irei voltar para a central.— Eu tive que suspirar e engolir em seco antes de dizer isso, palavras prontas para fugir dos meus lábios.— Mas antes, eu tenho que entregar algo para você.— Andrew pareceu surpreso e antes que tivesse chances de perguntar qualquer coisa, eu tirei minha mão de seu peito e o puxei em direção do closet onde havia escondido a seringa que Saphyre havia me dado hoje mais cedo. A pequena bruxinha havia me dito que deveria ter certeza do que Andrew exatamente queria antes de entregá-la ao vampiro, pois se fosse a maldade que ele desejasse, aquele liquido grosso iria apenas ajudar sua alma ficar negra, por mais que eu não quisesse que isso acontecesse e temesse em entregar a poção para Andrew, apenas o vampiro iria saber o que ele queria, não eu. Depois de pegar aquele pequeno objeto em uma de suas gavetas e explicar para ele o que era aquilo, eu o entreguei nas mão dele. — Não faça a escolha errada.— Eu falei indecisa, pensando se tomei a decisão correta.— Por favor. — Andrew encarou aquela seringa por vários segundos antes de dar suas costas para mim e voltá-la para a gaveta onde estava. Ele a fechou como se nunca tivesse visto o que realmente existia ali dentro junto com suas roupas. — Eu não irei, você pode confiar em mim, cherie.— Ele disse e eu me perdi nas palavras que estava prestes a dizer quando o vampiro movimentou sua mão até o bolço de sua calça negra e retirou de lá uma corrente prata. Andrew se aproximou de mim e depois que abriu o fecho daquela peça prata, ele a colocou em meu pescoço, seus braços um de cada lado dele para que pudesse fechá-lo. Eu encarei apenas seu rosto que estava proximo do meu e quando o vampiro se afastou, finalmente olhei para baixo.— Isso sempre pertenceu a você.— — Meu anel de noivado.— Sussurrei em quanto minha mente girava e meu coração dava um salto a menos quando vi aquele anel prata com rubis em forma de corações.— Sempre esteve com você... — Sussurrei. Eu o havia procurado tanto nos entulhos da mansão de Iawy que até mesmo suja e cheia de cortes fiquei, Lúcifer praticamente teve que me arrastar de lá mesmo que eu implorasse chorando para que o vampiro loiro me deixasse procurá-lo e meu anel sempre esteve a salvo e seguro com o homem que sempre amei. — Cuide bem dele para que eu não o tome de volta novamente.— Andrew falou com um pequeno sorriso.— Agora, vá.— Eu não queria ir, isso era obvio demais quando tive que obrigar meus pés a caminhar naquele chão. Quando passei por ele e estava quase saindo do closet, eu parei.


— Eu te amo, Andrew.— Nós estávamos um de costas para o outro, mas mesmo assim, isso não me impediu de dizer essas palavras. — Eu sei.— Nenhum rastro de ironia.— E continue me amando, cherie, pois eu voltarei para você. — *** Ao mesmo tempo que me sentia totalmente azarada, eu senti um pouco de sorte quando estava caminhando pelo corredor e encontrei Saphyre fazendo o caminho oposto do meu. Eu comemorei mentalmente que fosse ela e não Amethyst. A pequena bruxinha ficou totalmente surpresa ao me ver caminhando sem a corrente ao redor do meu pescoço e ficou ainda mais surpreendida, quando sem nenhuma palavra, eu peguei em seu pulso e a puxei comigo até estarmos fora daquela caverna que escondia a mansão de sua irmã mais velha. Ela resistiu diversas vezes, mas quando não existia nenhuma luz e eu não enxergava, Saphyre me ajudou no caminho para fora. Depois que estávamos um pouco mais longe da mansão, eu resolvi falar a ela o que estava acontecendo. E não o fiz antes devido a Amethyst, que poderia estar nos ouvindo, eu não iria sacrificar nossa fuga apenas pela curiosidade de Saphyre. Pelo menos até agora tudo estava indo muito bem, mas não tão bem. Afinal, Andrew não estava ao meu lado. — Eu irei colocá-la em perigo.— Saphyre disse isso pela decima vez em quanto cruzamos a floresta que nos levaria até o centro de Londres.— Amethyst pode me encontrar tão facilmente que não irá surpreender ninguém.— — Eu já disse,— Comecei, prestando mais atenção em meu caminho e no aperto que ainda existia no pulso de Saphyre para fazê-la andar.— Andrew irá segurar Amethyst.— — Você não entende, Roxie... Ninguém pode segurá-la!— Saphyre murmurou.— E eu duvido que me aceitem lá.— — Nós estaremos seguras na central.— Eu falei a mesma resposta de sempre.— Você pode não conhecer Iawy, Nyx e Emme, mas eles são ótimas pessoas e irão protegê-la de sua irmã. Tudo bem que existe Lúcifer que irá falar que enlouqueci em trazê-la comigo, mas você apenas deve ignorá-lo. É isso que eu sempre faço. Além do mais, existe Charles, você o conhece e sabe que ele concordará com sua estadia na central.— Saphyre parou de caminhar no momento em que mencionei o nome de Charles, fazendo com que eu quase caísse quando continuei a puxá-la em quanto caminhava. Dessa vez, eu fui obrigada a parar e olhá-la. — Charles?— Saphyre perguntou. — Sim.— Concordei um pouco confusa.— Você achou que ele não estaria na central?— — Eu nunca pensei que o veria pessoalmente, na verdade.— — Bom, você estava enganada sobre isso então.— — Eu não quero encontrá-lo...— Ela sussurrou. — Por quê? Charles fez algo a você?— Eu perguntei, tentando imaginar como Charles poderia ofender uma mulher. Ele sempre as tratava como uma verdadeira flor delicada, pelo menos eu o conheci assim. — Não, mas...— Ela parecia confusa.— Existem muitas diferenças entre a realidade e os sonhos.— — Como o que?— Arquiei minha sobrancelha, esperando por uma resposta aceitável. — Nos sonhos é o único lugar em que me sinto segura e posso ser eu mesma, mas em nosso mundo real, eu apenas quero me esconder e sinto medo de tudo.— — Você está apenas arrumando desculpas para não continuar comigo, Saphyre.— Eu falei


severamente, mas calma.— E se Charles aprecia sua amizade nesses “sonhos”, ele apreciara pessoalmente também. Agora, vamos.— E então eu a puxei como uma mula empacada, ouvindo suas desculpas e razões para não continuar com esse plano, tudo que fiz foi ignorar suas palavras e focar minha atenção em nosso caminho. Quando Saphyre e eu terminamos de atravessar a floresta que escondia a mansão de Amethyst, os primeiros raios solares já estavam nascendo no horizonte. Eu fiquei feliz por Saphyre não ser uma vampira ou nós estaríamos em meio de um grande problema. Meu coração deu uma batida a menos quando meus olhos encontraram o único prédio que permanecia intocável na total destruição que Londres se encontrava. Eu soltei um longo suspiro por ver a beleza daquele lugar onde antes era uma simples cabana e nos dias de hoje era um prédio enorme coberto por vidro. Iawy não só tornou sua casa uma das melhores centrais que existiam no mundo, ele fez cada um dos caçadores que existiam lá dentro um membro de sua família. Ele treinou cada um deles como seu próprio filho, e fez cada homem dar o melhor deles. Caso contrário, essa central não seria a única coisa viva em uma cidade destruída. Eu olhei para Saphyre e a bruxinha também estava hipnotizada com a beleza da central, me fazendo perguntar se algum dia ela havia saido da mansão de Amethyst quando chegou em Londres. Afinal, os olhos de Saphyre brilhavam com a beleza daquele prédio como se nunca tivesse visto algo tão bonito. — Vamos.— Eu sussurrei e passei a andar ainda mais rápido para chegar na entrada da central. Saphyre não estava mais lutando contra mim e isso foi uma boa coisa, mas eu sabia que ela estava acompanhando meus passos rápidos apenas para não se perder, pois chegar até lá, estava obvio que era uma das coisas que ela não queria. Ela estava assustada e com medo que ninguém a aceitasse. Isso era bobagem. Todos eram aceitos por Iawy. E eu tinha certeza disso pois o incubus um dia aceitou Andrew, que já teve planos em entregar sua amante para seu irmão matá-la. Nós caminhamos por mais alguns longos minutos até que a entrada da central ficasse a vista, quando isso aconteceu, eu tive que me segurar muito para não sair correndo. Principalmente quando vi de longe uma cabeça de cabelos loiros ao meio de tantas escuras. Lúcifer estava conversando com aqueles caçadores e até mesmo sorria algumas vezes por causa de alguma coisa tola dita. Isso era estranho, mas ao mesmo tempo era um sinal de que o vampiro estava de bom humor. Meu coração passou a acelerar e na primeira batida mais rápida, Lúcifer ergueu sua cabeça em minha direção e qualquer conversa boa que ocorria entre eles acabou. E por um momento, o vampiro de cabelos loiros ficou tenso. A partir do momento que isso aconteceu, os outros caçadores ergueram suas armas de fogo e miraram em minha direção, mas não era exatamente em mim que planejavam atirar, era em Saphyre. Todas as criaturas sobrenaturais sabiam que ela era uma bruxa pelo seus olhos, e só piorava tudo quando assimilhavam a imagem de Amethyst com ela. — Não.— Eu entrei em frente de Saphyre para fazer Lúcifer entender que ela não era um perigo, para que o vampiro convencesse os outros a baixarem suas armas. — Roxie.— Saphyre murmurou logo atrás de mim, sua voz transbordava de medo. — Não atirem.— Lúcifer mandou, mas também não falou para que eles abaixassem suas armas.


Isso era o maximo que conseguiria vindo de uma pessoa tão protetora como ele era. Eu peguei a mão de Saphyre, sua temperatura mais gelada que o normal. Ela estava com medo e uma pergunta simples ocorreu em minha cabeça. Como uma criatura tão poderosa poderia sentir tanto medo de caçadores que nunca estariam perto de sua força? Passei a andar e a puxar a pequena bruxa que parecia ter congelado.— Está tudo bem, Saphyre.— Falei quando notei que ela não queria se aproximar.— Eles não vão machucá-la. Nunca.— Eu desejei que fosse noite para que Lúcifer pudesse vir até nós, pelo menos assim Saphyre não ficaria tão apavorada pelo fato de ter que se aproximar de pessoas que seguravam armas em sua direção. Lúcifer saiu da cobertura da entrada e caminhou até onde existia sombra para protegê-lo do sol, mas foram apenas alguns passos, não o suficiente para deixar a bruxa ao meu lado calma. — Lúcifer.— Eu falei ao mesmo tempo que o abraçava quando fiquei próxima dele o suficiente para fazer isso. Ele me abraçou de volta, mas eu sabia que seus olhos estavam fixos em Saphyre, que ficou imóvel no sol. Me afastando dele e ficando ao seu lado, eu também olhei para a irmã mais nova de Amethyst. — Você está tremendo.— Lúcifer falou para ela, com um tom que demonstrava que ele estava curioso. Isso era uma ótima noticia. — Você está me encarando.— Saphyre disse e apesar de seu medo, conseguiu enfrentar Lúcifer.— E não mandou seus homens abaixarem suas armas.— — Você poderia explodi-las facilmente, bruxa.— — Saphyre, seu nome é Saphyre. Ela é irmã de Amethyst.— Me intrometi quando a arrogância de Lúcifer se tornou grande.— E é protegida de Andrew, Lúcifer.— Lúcifer arqueou sua sobrancelha, demonstrando ainda mais curiosidade.— A cadeia alimentar está completamente errada nos dias de hoje.— Ele lamentou, dando um sorriso irônico. Ótimo.— Como um vampiro pode cuidar de uma bruxa?— Eu sorri, mesmo sabendo que mais tarde Lúcifer entraria em meu quarto me chamando de insana ao trazer a irmã de Amethyst pra a central. — Vamos, minha querida,— Lúcifer falou para Saphyre.— Saia desse sol ou você ficará ainda mais parecida com sua irmã se sua pele ficar queimada.— Saphyre suspirou. Provavelmente entendendo a parte em que eu disse que ela deveria ignorar o vampiro em sua frente.— Eu...— Seus olhos se arregalaram, desistindo de qualquer coisa que estava prestes a falar pra dar alguns passos para trás. Primeiro eu olhei para Lúcifer, para ter certeza de que o vampiro não estava fazendo nada que a assustasse, depois de conferir isso, eu acompanhei os olhos verdes dele e olhei para trás. As armas que os caçadores seguravam em suas mãos e miravam em direção de Saphyre haviam virado poeira. E essas poeiras flutuavam no ar, como se o vento estivesse as congelando ali mesmo. Logo atrás desses caçadores, estava Charles. — Bem,— Ele disse calmamente, suas duas mãos segurando uma bengala com detalhes dourados. — Eu imagino que não é assim que recebemos uma dama em nossa casa.— Após dizer isso, aquelas faíscas que antes eram armas grandes, estavam indo de encontro ao chão em um piscar de olhos.


— Exibido.— Lúcifer murmurio mais para ele do que para Charles e eu não consegui segurar meu riso.— Vocês estão dispensados.— Ele falou para os caçadores que movimentaram suas cabeças em um aceno em conjunto e foram embora. Charles continuou imóvel e depois que cada caçador passou por ele, o feiticeiro passou a caminhar para ficar mais próximo de nós. — Saphyre.— Ele se curvou como se ela fosse uma rainha e pegou sua mão para levá-la até seus lábios. A bruxa em minha frente ficou com suas bochechas levemente coradas e um outro sorriso escapou dos meus lábios. Charles tinha esse incrivel poder de deixar as mulheres sem jeito, eu bem sabia disso. Meus olhos encontraram os verdes incriveis de Lúcifer e o vampiro também sorria, mas o seu sorriso era mais como “Se deu bem.” do que qualquer outra coisa. Eu não resisti e revirei meus olhos. — Eles já se conhecem. Charles está ajudando Saphyre a resolver... alguns problemas.— Decidi que explicaria depois à Lúcifer que tipo de problema era.— Eles se encontravam em seus sonhos.— — Estou vendo que se conhecem.— Aquele sorriso idiota continuou em seus lábios. Eu fui obrigada a lhe dar uma cotovelada perto de suas costelas para que parasse com aquilo. Eu não precisava de Saphyre ainda mais constrangida. —Hey!— O vampiro gemeu, mas ao invés de me carregar em seus ombros para me jogar em algum abismo, Lúcifer passou seus braços por meu ombros e me puxou para mais perto de seu corpo.— Vamos entrar, nós precisamos conversar sobre o motivo da irmã de Amethyst estar entre nós.— — E o por que de Roxie estar aqui sem Andrew.— Charles completou a frase de Lúcifer muito bem. O feiticeiro, cavalheiro como era, colocou sua mão nas costas de Saphyre para guiá-la quando começou a caminhar. Saphyre não estava tão mais tensa como antes, pelo jeito, ela confiava em Charles e isso era ótimo. Afinal, estar em um lugar tão grande como a central e ter apenas uma pessoa que conhecia poderia ser horrivel. Agora ela tinha a mim e Charles. Para quem nunca teve nada além de sua irmã mais velha, Saphyre estava se saindo muito bem. Quando começamos a caminhar eu dei um olhar para ela antes de voltar meus olhos para Lúcifer, eu tinha que ter certeza de que Saphyre estava bem. — Emme?— Eu perguntei para Lúcifer, sentindo falta daquela deusa de cabelos de fogo ao lado do vampiro. — Está com sua família.— Ele disse calmamente, encontrando meus olhos por um momento e então um sorriso sincero cresceu em seus lábios avermelhados.— Assim como você.—


25Charles e Saphyre ficaram no andar onde se encontravam nossos quartos, ele ficou encarregado em acomodá-la em algum quarto perto do meu e do dele, assim ela poderia ficar mais calma para depois se encontrar com Iawy. Eu falei diversas vezes que ela não precisava se preocupar com eles, pois o real problema seria sempre Lúcifer, mas Saphyre parecia realmente estar prestes a ter um ataque cardíaco sempre que lembrava que iria encontrar Iawy. E para acalmá-la, eu falei que iria me encontrar com ele primeiro e depois ela poderia ir até seu escritório com Charles para conversamos sobre sua estadia aqui. A bruxinha concordou alegremente com essa ideia. Agora que a porta do elevador estava se fechando e eu vi ambos feiticeiros caminhando por um corredor cheio de portas pela ultima vez, Lúcifer se virou para mim. — Posso começar?— — Sim.— Falei em um suspiro calmo. — Quantas vezes Andrew a torturou para que ficasse tão insana a ponto de trazer a irmã de nossa inimiga até aqui?!— O vampiro teve que se segurar muito para não gritar, aquilo estava estampado em seus olhos. — Saphyre precisa de ajuda.— Falei o obvio.— Você a viu como ela fica diante das pessoas, sendo que eram as pessoas que deveriam ficar como ela.— — Sim, ela é um pouco traumatizada.— Lúcifer concordou comigo, ciente de que bruxos eram as criaturas mais poderosas que existiam no nosso mundo.— Mas quem não é? Dê um bom livro de autoajuda e ela ficará bem.— — Você esta sendo insensível.— — Eu estou pensando em nossos traseiros.— O vampiro loiro resmungou ao mesmo tempo que cruzava seus braços e encarava as portas do elevador se abrirem, nós estávamos no escritório de Iawy. Um pequeno friozinho invadiu meu estomago e uma felicidade anormal cresceu dentro de mim. Era tão bom ver esse cantinho que pertencia somente a Iawy novamente. A Iawy e a Nyx agora. As pessoas que foram minha única família por muito tempo. Eu olhei para Lúcifer por um momento antes de entrar no escritório de Iawy, e tudo que o vampiro fez foi bufar. Eu escondi meu riso virando minha cabeça para frente, era muito engraçado ver o filho de Hades ser contrariado e não ter nenhuma moral. Ele caminhou atrás de mim, mas em um silencio mortal para demonstrar seu mal humor. Eu ignorei o vampiro pelo restante do caminho. Não demorou nem um minuto a mais para encontrar Iawy quando decidi caminhar direto para a sacada que dava a vista para os campos de treinamentos da central.


O incubus estava com seus cotovelos nas grades que o protegia de uma queda, seus olhos que normalmente preferia que ficassem claros, eram uma escuridão sem fim. Normalmente eu também o via apenas usando roupas formais, como Lúcifer, mas agora ele apenas usava roupas de treinamento. Eu me perguntei silenciosamente se esse imortal tinha saudades de suas roupas antigas ou estava bem com essas que eram mais confortáveis. Iawy olhava fixamente para os caçadores que treinavam com grandes laminas afiadas lá em baixo no campo, eles não eram vampiros, mas os movimentos deles eram como o de um. Movimentos letais que eu sabia que nunca estaria apta a fazer. Mais uma pergunta ecoou em meus pensamentos, a pergunta que acabou saindo de meus lábios antes mesmo que pudesse dizer primeiramente que senti sua falta ou coisas do tipo. — O quanto disso tudo você consegue fazer?— — Tudo.— Iawy disse com um tom calmo e divertido.— Eu posso ensiná-la também.— — Você provavelmente estaria tentando me matar.— Iawy se virou para mim, seus lábios formando um sorriso maravilhoso. O incubus não era como Andrew e Lúcifer que custavam muito para sorrir com sinceridade e por vontade própria, mas cada vez que Iawy sorria, era como se sempre fosse a primeira vez que fazia isso. Iawy se aproximou de mim e me envolveu em seus braços grandes, como um grande urso fazia com seus pequeno filhote. Foi um abraço rápido, mas que demonstrou o quanto ele sentiu minha falta. Eu esperava que tivesse passado a mesma mensagem a ele, pois era realmente ficar longe de Iawy. O incubus simplesmente sempre esteve ao meu lado desde que me tornei imortal, ele me tornou quem eu era e salvou minha vida ao mostrar o que significa ser uma vampira. E por causa dele, de alguma maneira, acabei reencontrando Andrew. Se ele não tivesse me aceito como uma de suas caçadoras, eu jamais estaria naquele baile em que o antigo rei dos vampiros levou seus recémcriados para se alimentar. Andrew jamais iria saber que eu estava viva. — Eu senti tanto sua falta.— Murmurei ainda em seus braços, nesse momento, eu não tinha vontade nenhuma de soltá-lo. — É bom tê-la de volta, Roxie.— — Eu espero que Emme não tenha escondido meus remédios de diabetes.— Lúcifer falou logo atrás de mim, fazendo questão de deixar claro que ele ainda estava ali. Eu suspirei e me afastei de Iawy. O incubus olhou para Lúcifer e para mim com curiosidade por um momento antes que voltasse a falar novamente.— Vocês vão me dizer o que está acontecendo?— — Eu...— — Roxie trouxe a irmã de Amethyst para a central!— O vampiro loiro atropelou minhas palavras, fazendo exatamente como um irmão mais velho fazia para denunciar o caçula. Iawy arqueou sua sobrancelha e se virou para mim.— Isso é verdade?— Minha vontade foi de chutar Lúcifer em seu estomago, ele não tinha direito nenhum em querer Saphyre fora da central sendo que um dia o próprio já foi caçado por Iawy e seus homens. Depois de bufar e o fuzilar com os olhos, eu respondi o incubus.— Sim, é verdade.— — Então,— Ele sorriu novamente.— Eu não vejo a hora de conhecê-la.— Eu sorri também, mas antes que fosse um sorriso grato ao que Iawy acabará de falar, eu joguei um olhar cheio de sarcasmo e ironia em direção de Lúcifer. Com um olhar do tipo “toma essa, otário.” estampado em meu rosto. O vampiro o compreendeu muito bem, já que ele quase me mandou para o inferno. Mas eu não me importava, a cima de qualquer coisa, Iawy havia aceito Saphyre em sua casa,


mesmo sem saber a enorme historia complicada que existia por trás de uma longa franja tampando um de seus olhos. Quinze minutos mais tarde, Charles estava entrando no escritório com Saphyre em suas costas. A irmã de Amethyst demonstrava medo por estar entre tantas pessoas desconhecidas, mas ela também tentava demonstrar que não iria quebrar por causa disso. Eu tive a impressão de que Saphyre estava tentando mostrar isso ao feiticeiro que estava em sua frente, ela queria mostrar a ele que tudo aquilo que conheceu nos seus sonhos compartilhados existia dentro dela, mesmo que camadas de medo a envolvesse. Charles se colocou ao lado da pequena feiticeira e ela se tornou tão imóvel quanto uma pedra de jardim. Seus olhos anormais, que apenas bruxos possuíam, ficaram fixos aos de Iawy. Eles estavam cheios de curiosidade, um sentimento que se realçava ao medo que sentia. — Olá.— Ela disse calmamente, sem ao menos deixar sua voz tremer, algo muito digno a fazer quando seu medo era sua própria morte. Era disso que eu estava falando quando uma bruxa não devia se sentir inferior a outras criaturas sobrenaturais. — É um enorme prazer conhecê-la, Saphyre.— Iawy disse com um sorriso gentil.— Sempre estive curioso sobre você e é maravilhoso que tenha vindo buscar ajuda em minha central.— — Curioso sobre mim?— — Você é uma raridade em nosso mundo, sendo irmã de sangue de Amethyst.— O incubus explicou.— Todos sabem que bruxos não tem a capacidade de ter dois filhos e aqui está você.— — Todos apreciam uma raridade, Saphyre.— Charles falou ao lado dela, com um sotaque inglês muito forte, seus olhos brilhando quando encontraram com os de Saphyre. — Eu não.— Declarou Lúcifer.— Elas sempre atraem problemas.— Meus olhos automaticamente se reviraram. Como uma pessoa podia ser tão antipática? — Bem,— Saphyre pausou para pensar em suas palavras.— Obrigada, Iawy.— O incubus aumentou seu sorriso e então acenou com sua cabeça para ela em resposta. Aproveitando o momento, eu também sorri para a bruxa que possuía tanto medo. — Agora que estamos todos familiarizados,— Charles se virou para Iawy e Lúcifer que estavam próximos um do outro. Esse foi o sinal que eu precisei para ver que as suas palavras não ditas apenas fariam Lúcifer surtar nos próximos minutos.— Como todos estão cientes que Saphyre é uma raridade em nosso mundo, também devemos saber que ela tem um grande valor nessa ligação de sangue que possuí com Amethyst.— — De acordo.— Iawy pareceu intrigado. Um legitimo caçador pronto para uma missão cheia de mistérios e sangue. — Eu... Amethyst e eu, quando juntas.... Nossos poderes aumentam muito quando estamos juntas. Nós conseguimos ser mais poderosas do que o mais velho feiticeiro existente.— Saphyre disse incerta, quando Charles deu a chance dela explicar aos imortais em sua frente. Lúcifer olhou para mim, um sorriso tão sarcástico quanto seu olhar.— Eu disse que eles sempre traziam problemas.— — Se mantenha em silencio, Lúcifer.— Murmurei em meu canto. — Não é apenas isso.— O feiticeiro avisou. — Não?— Lúcifer fingiu surpresa.— Estava muito simples para ser verdade.— — Amethyst amaldiçou Saphyre com um feitiço.— Ele disse.— Esse feitiço faz com que sua irmã saiba exatamente onde Saphyre está, como se ela tivesse implantado um GPS nela. Então, nesse


exato momento Amethyst sabe onde ela está.— Lúcifer apenas abaixou sua cabeça em quanto massageava suas têmporas. Enquanto isso, Saphyre, tirou sua franja de seu olho marcado por essa maldição e mostrou a Iawy e Lúcifer aquelas veias vermelhas que encontravam em sua pupila negra. O incubus ficou fascinado e intrigado, já o vampiro, eu vi em seus olhos que sua vontade era de bater sua cabeça contra a parede até explodir. — Andrew falou que iria segurar Amethyst em quanto Saphyre estivesse aqui.— Eu falei.— Mas temo que nosso tempo está acabando para colocar um fim nisso tudo que está acontecendo em Londres.— — Por que Andrew não está aqui?— Lúcifer perguntou. — Ele disse que acharia uma forma de matar Amethyst, encontraria uma fraqueza, e assim que a encontrasse, voltaria para a central.— — E nós podemos confiar nele novamente?— Foi o incubus que perguntou dessa vez. — Sim.— Eu olhei principalmente para Lúcifer dessa vez, mesmo que soubesse que Iawy iria confiar em mim, o vampiro loiro era o único que acreditava em Andrew mesmo com uma alma negra.— Ele está voltando ao normal.— — Eu estou ajudando Saphyre a ficar livre dessa maldição.— Charles voltou a falar.— Espero que não haja nenhum problema em ela permanecer aqui sabendo que a central pode correr o risco de um ataque de Amethyst para recuperá-la.— Iawy olhou para Lúcifer, sua expressão era totalmente vazia. Ele estava pensando e as vezes isso era algo muito bom, mas na minoria das vezes, não era. Eu esperava que esse não fosse o caso da minoria. — Como eu disse,— Iawy sorriu novamente para Saphyre.— É um grande prazer tê-la em minha casa, Saphyre.— Agora, todos olharam para Lúcifer. Se eu não conhecesse melhor o vampiro, diria que ele se sentiu encurralado diante de tantos olhares. Mas eu vi que Lúcifer ficou surpreso em ver que todos esperavam uma opinião dele, sendo que o vampiro de cabelos loiros quase nunca tinha moral. Ele suspirou. — Bem...— Parecia que iria morrer ao dizer aquelas palavras, como alguém que tinha muito orgulho em pedir desculpa, mesmo estando errado.— Vocês me aceitaram aqui, não vejo porque negar a estadia de uma pessoa que precisa de nossa ajuda.— Deu de ombros. Eu sorri ao olhar para ele. Sim, o vampiro ainda possuía um coração enorme. *** Algum tempo depois todos deixaram a sala de Iawy para cumprir seus afazeres, ou melhor dizendo, aproveitar o conforto. Afinal, os únicos que realmente faziam algo útil eram Charles e Saphyre. Sem contar que ao mesmo tempo que o feiticeiro ajudava a irmã mais nova de Amethyst, ele também encontrava uma forma de matar essa bruxa que trouxe danos a toda Londres. Bom, tirar a vida de uma pessoa era muito fácil. Você poderia decapitá-la ou simplesmente arrancar o coração dela, mas chegar perto de uma feiticeira tão poderosa como Amethyst para fazer isso não


poderia ser tão simples assim. Era nisso que Charles entrava e Andrew também. Em quanto eles procuravam por isso, os caçadores de Iawy aos poucos colocavam a cidade de Londres em ordem, tirando aqueles pedaços de casas e prédios das ruas e matando os enormes vleermuis. Eu sentia que poderia ter uma casa novamente nesse momento. Só faltava Andrew ao meu lado para me sentir completamente bem. Mas agora não estava pensando sobre ele, não quando eu estava na frente da porta do quarto da minha melhor amiga que me magoou muito e que também deveria estar magoada comigo. Eu acho que isso era pior que enfrentar um vleermuis com fome... Ok, foco, Roxie... Apenas levante sua mão para cima e bata na porta. O quão ruim isso poderia ser? A porte se abriu antes mesmo que eu tivesse a chance de seguir os planos dos meus pensamentos, fiquei surpresa ao ver a imagem de Nyx diante dos meus olhos e com ela não foi diferente. A licantropa deu um passo para trás em surpresa, demonstrando que não havia percebido que eu estava diante de sua porta. — Ny...— Ela bateu a porta em minha cara antes mesmo que pudesse terminar de dizer seu nome. Eu não podia dizer que estava surpresa, pois esperava uma reação dessa quando vim até aqui. Apenas não sabia que aconteceria tão cedo assim, por isso que acabei sendo pega franzindo o meu cenho em quanto encarava a porta fechada sem nenhuma reação. Melhores amigos... Eles eram pior do que um casamento. Eu abri a porta depois que um minuto se passou, talvez Nyx estivesse em bom humor e esse minuto que se passou talvez tenha sido o suficiente para tê-la acalmado. Sem me importar que isso era pura ilusão, entrei no quarto para vê-la de costas pra mim. — Nyx.— Disse seu nome novamente, não tendo nenhuma porta batendo em minha cara. — O que você está fazendo aqui?— A voz dela estava trêmula, denunciando que estava emocionada. Eu sorri por causa disso, mas deixei passar em vão esse detalhe. Ela não gostaria de saber que eu tinha percebido que ao me ver seu orgulho tinha quebrado um pouco. — Você é minha amiga, essa é a única explicação para estar aqui.— — Pensei que havia esquecido disso quando saiu correndo para os braços de um psicopata.— — Eu também pensei que você tinha se esquecido da nossa amizade quando preferiu esconder coisas importantes de mim e desejar a morte do homem que amo.— Atirei a pedra que ela jogou em mim de volta. — Andrew não é mais o homem que você amou.— Ela disse.— E você não precisava de provas para saber disso.— — Você está errada.— Nyx se virou em minha direção, seus olhos eram chamas que me fuzilavam com ódio mortal. Bom, a única coisa boa disso tudo era que um dia enfrentei a fúria de Andrew, então, eu realmente não tinha nenhum medo dela. Porém, minha alma desejou fugir do meu corpo nesse momento. — Olha,— Eu a encarei.— Eu sei que errei ao correr em direção de Andrew deixando apenas


Lúcifer sabendo disso, mas ele precisava de mim. E você era bem capaz de me prender em uma cela para que não fizesse isso. Você fez sua escolha quando disse que ele merecia a morte e eu não deveria ficar sabendo que havia uma chance de salvar Andrew. Eu fiz a minha e sinto muito se não posso agradar a todos.— — Ele é um psicopata!— — Andrew foi enfeitiçado e enganado.— O defendi.— E todos nessa central tem sangue nas mãos, você não pode culpá-lo por isso.— A licantropa me olhou em descrença pelo o que acabará de falar após soltar um riso amargo. — Eu o amo, Nyx.— Tentei novamente.— Você não pode me culpar por isso sendo que tomaria cada atitude que tomei por Iawy.— — Não compare Andrew com Iawy.— — Andrew esta voltando ao normal, graças ao meu sangue e isso jamais teria acontecido se não tivesse ouvido a conversa de Iawy com você e Lúcifer. Ele provavelmente estaria morto nesse momento ou matando, mas não esta. Andrew está a salvo agora e merece uma segunda chance.— — Andrew já teve muitas chances.— Nyx ergueu seu queixo.— Assim como você.— — Andrew precisava da minha ajuda.— Falei.— E isso não quer dizer que a abandonei.— — Sério?— Ela foi ironica. — Nyx, eu...— Um vento contra a janela. Galhos da árvore próxima balançaram com força o suficiente para bater contra o vidro. Morte. Escuridão. E apenas solidão. — Roxie?— A voz de Nyx foi mais alta do que o silencio do vento o suficiente para encontrar seus olhos azuis escuros. Eu engoli em seco e depois fechei meus olhos por dois segundos. É apenas um vento! Gritei para minha mente. Nyx virou seu rosto para ver o que eu havia encarado, mas era obvio que não encontraria nada além de uma paisagem calma. — Desculpe.— Sussurrei. — Por que parece que você viu o espirito de Amethyst na janela?— Perguntou. — Não é nada.— Tentei normalizar minha voz e ela saiu um pouco baixa.— Eu sei que não...— — Você irá mentir para mim agora?— Nyx me cortou antes mesmo que pudesse terminar minha frase e nem ao menos tentei discutir. O silencio invadiu aquele comodo tão rápido quanto podia. — Andrew me mandou embora...— Eu desviei meu olhar do dela para algo no chão, mas depois descobri que era totalmente errado desviar meus olhos dos da minha melhor amiga.— Ele fez isso porque Amethyst me matou.— — O que?!— Nyx explodiu dessa vez, mas se conteve devido ao choque.— Ela te matou?— — Sim.— Falei.— Andrew não estava por perto e ela teve sua chance.—


— O que ela fez, Roxie?— — Quando eu fui atrás de Andrew, ele me manteve acorrentada pelo pescoço em seu quarto e depois do nosso encontro com Sol, nós decidimos que continuaríamos agindo como se nada tivesse acontecido, então... Nós discutimos e havia uma janela atrás de mim....— — Amethyst a empurrou para que pudesse morrer enforcada.— Nyx completou a frase que talvez eu nunca seria capaz de dizer. — Foi horrível.— Sussurrei com meus olhos baixos, espantando os pesadelos que me perseguiriam durante meu sono da minha mente.— Nyx, me perdoe.— — Roxie...— — Sei que errei em ir embora sem falar com você, mas se fosse preciso fazer tudo novamente, eu faria.— Fui sincera.— Mas eu sempre voltaria para você. Você é minha melhor amiga e foi a única que sempre esteve ao meu lado. Eu preciso de você agora.— Nyx me encarou por vários segundos que pareceram ser séculos conforme foram passando, ela suspirou depois disso e seu próximo passo me surpreendeu. A filha dos deuses caminhou até mim e me abraçou com força o suficiente para fazer todos os meus ossos estalarem quando seus braços passaram por mim. Eu a abracei de volta. — Se você fazer isso novamente, eu irei me juntar a Amethyst para rir com seu sofrimento.— Ela advertiu.— E me desculpe também, Roxie.— — Obrigada, Nyx.— Eu sorri. Era tão bom estar nos braços de uma pessoa que sacrificaria sua vida pela minha novamente.


26Saphyre estava observando Charles com cautela e em um silencio tão mortal que só se podia ouvir os barulhos dos movimentos do outro feiticeiro que estava a alguns passos dela. Era dia e o sol contra sua pele lhe dava um brilho especial, não como se estivesse ali apenas para aquecer sua pele, mas era como se aquela luz do dia estivesse acariciando sua pele de uma maneira muito suave e cheia de doçura. Era como se Charles fizesse parte da natureza, como os feiticeiros realmente deveriam ser. Parte do mundo. Não como ela e Amethyst que vivem na escuridão. E depois de tudo que sua irmã mais velha causou, Saphyre apenas se sentia ainda mais envergonhada. A pequena bruxa soltou um pequeno suspiro de frustração, o que fez Charles se virar em sua direção como se nunca estivesse procurando por algo antes no meio do mato daquela floresta que existia ao lado da central. — Nós podemos ir embora, se desejar.— Ele foi gentil, colocando suas mãos dentro dos bolsos de seu terno cinza.— Eu posso voltar mais tarde.— — Desculpe.— Saphyre o encarou e tentou sorrir, já que nunca tinha vontade de fazer isso.— Eu não estou acostumada a ficar muito tempo no sol.— Mentiras e mais mentiras. — Isso é tão humano.— Charles se aproximou um pouco, mas manteve a distancia. Saphyre não gostava muito de ter as pessoas tão próximas a ela. Toda vez que isso aconteceu, foi apenas para maltratá-la. As únicas pessoas que encostaram nela e nunca a afetaram de alguma maneira foi Andrew e Roxie. E agora, Charles. Ele a respeitava, mas havia momentos que suas mãos entravam em contato com seu corpo. Como na fez que ele tirou o cabelo da frente de seu olho amaldiçoado e quando colocou sua mão em suas costas para guiá-la pela central. Se Saphyre não estivesse enganada, essas foram as únicas vezes que ele a tocou. E por que ela estava contando? Saphyre não podia se lembrar quantas vezes Andrew ou Roxie encostaram nela.


— Eu não sei se é de seu conhecimento, mas Amethyst possuí uma mansão dentro de uma caverna e desde que ela invadiu Londres, nunca sai de lá. Não existia luz do dia dentro da mansão.— — Você sempre foi uma prisioneira.— — Sim.— Um sorriso amargo escapou dos lábios dela.— Meu sonho sempre foi conhecer Londres, passear pela ponte do rio Tamisa, ficar parada no topo da roda gigante ao seu lado ou tirar uma foto idiota perto do big ben e ouvir a historia de algum guia sobre o motivo dele ser adiantado cinco minutos.— Um sorriso estampou o rosto de Charles, seus olhos que eram iguais aos dela, diferenciados por uma única coisa, brilharam por um momento.— Você possuí vida eterna e sonhos de humanos, Saphyre.— — Eu não sei o que é ser humana.— Ela deu de ombros.— Mas também não sei o que é viver minha eternidade.— — É uma linda coisa se você souber vivê-la bem.— Charles deu um passo a frente, seus olhos fixos nos dele. Tentando se focar fielmente neles e não com o fato de ter dado um passo a sua frente, em sua direção.— Não ter medo, é a primeira regra a seguir para conseguir.— — Talvez quando Amethyst estiver morta.— — Você deseja a morte de sua irmã, Saphyre?— — Que tipo de pessoa seria se não desejasse?— Ela respondeu com outra pergunta.— Mas também... Quem deseja a morte de sua própria irmã?— — Não existe felicidade eterna nas vidas das criaturas sobrenaturais, Saphyre, e é provável que você se faça essas perguntas estando Amethyst viva ou não.— Ele deu mais um passo e agora o feiticeiro estava muito perto de Saphyre. E isso causou efeitos anormais em seu cérebro, do tipo que nem mesmo se lembrar como respirar ela lembrava, e seu coração estava batendo mais rápido que o normal e mesmo que não sentisse frio ou calor, parecia que seu corpo estava... esquentando. O que estava acontecendo com ela? — Uh...— Por que não existiam palavras nesse momento que Charles a encarava estando tão próximo?— Por que estamos aqui afinal?— O feiticeiro não a respondeu, ele simplesmente levou uma de suas mãos para cima, em direção da parte de trás de seu cabelo, e soltou seus cabelos negros que estavam presos em um coque frouxo.— Eu gosto de seus cabelos quando estão soltos.— Sorriu.— Mesmo quando tampam seu rosto, o aroma dele ao se misturar com a natureza é esplendido.— Seu coração explodiu junto com seu cérebro nesse momento e ela ficou parada sem ao menos respirar. — Bom,— Charles voltou a falar e se afastou novamente, provavelmente notando sua reação.— Eu preciso de algumas ervas. O feitiço de Amethyst é magia negra e talvez ela possa ser quebrado com elementos naturais.— — Elementos naturais...— Murmurou para fixar as palavras em seu cérebro. Não parecia ter funcionado...— Minha mãe me ensinou algumas coisas, mas são básicas. Eu apenas sei fazer magia negra, o que Amethyst me ensinou...— — Isso não é algo para se envergonhar, Saphyre, apenas os melhores feiticeiros sabem lidar com a magia negra.— — E você?— Ela perguntou.— Você não parece ser fraco, Charles.— — Eu a uso quando é necessário.— — E não gosta dela.— Saphyre falou o obvio, o que estava estampado em seus olhos. Mas não era


uma surpresa, a maioria dos bruxos não gostavam da magia negra, pois ela sempre danificava o equilíbrio da natureza. Ela também não gostava, mas Saphyre não sabia nada mais além de coisas básicas da magia natural. E a irmã de Amethyst precisava se proteger, por isso que sempre usou a magia errada. Charles deu de ombros, era primeira vez que Saphyre o via fazendo algo tão comum e saia fora do seu estilo de cavalheiro.— Assim como os incubus foram criados para manter a ordem entre as criaturas sobrenaturais, nos foi dado o poder dos elementos naturais para manter o equilíbrio. Cada criatura sobrenatural foi criada com algum proposito, mas ninguém alem dos humanos deveria pisar nesse mundo. Nós vivemos para corrigir os erros, para que o mundo não acabe em um desastre quando algum vampiro ou qualquer outra criatura sobrenatural mata alguém que seria de grande importância no futuro.— Ele explicou.— Apenas evito usar a magia negra pois ao nosso redor já existem vários problemas para se corrigir, eu não preciso ser um deles também.— — Eu entendo.— Saphyre sorriu e gostaria muito de ser como Charles. Ela e Amethyst estavam empatadas na lista de quem era a maior vergonha de sua raça.— E acho que você me imaginou muito diferente do que sou.— — Você é exatamente como imaginei, Saphyre, acho que até mesmo melhor.— Charles abaixou sua cabeça para encontrar os olhos dela quando a feiticeira olhou para o chão.— Sua irmã lhe causou muitos danos, mas mesmo assim, você continua sendo sincera com seus sentimentos e com si mesma. Isso é um grande tesouro em nosso mundo.— — Como pode ter certeza disso?— Ela sussurrou. — Você já matou alguém, Saphyre?— — Não, nunca.— — Todos possuem sangue nas mãos e você não... Essa é a resposta de como tenho certeza.— Ele se virou, dando as costas para Saphyre novamente.— Me deixe procurar pela erva que preciso e logo voltaremos para a central.— — Charles...— Saphyre caminho para perto dele e pegou na manga de seu blazer com as pontas de seus dedos. Ele olhou para ela com aqueles olhos que somente feiticeiros possuíam.— Deixe-me ajudar, eu quero aprender coisas boas também.— — A companhia de uma dama é sempre bem vinda.— Ele sorriu e então movimentou seu braço que Saphyre havia encostado para pegar sua mão em um aperto gentil, um aperto que nunca deixou de existir.— Vamos.— A mente de Saphyre demorou alguns segundos para voltar a funcionar, seus olhos estavam fixos na mão de Charles em volta da sua, e parecia que seu corpo não obedecia nenhum de seus comandos. Mas ela o obrigou a obedecer e até mesmo usaria magia para que isso acontecesse. Só que não foi preciso, pois logo ela começou a andar ao lado de Charles calmamente e com seus olhos fixos naquele ato tão gentil que veio dele. Essa era a terceira vez que ele a tocava. Mas quem estava contando, afinal?


27Eu estava dentro do meu pequeno closet que mais se parecia um banheiro de algum apartamento pequeno do que o meu antigo que poderia ser do tamanho de uma casa. E ainda havia roupas espalhadas por todos os cantos já que não tinha mais onde pendurá-las. Um suspiro de alivio escapou dos meus lábios, afinal, hoje estaria me livrando de algumas delas para dar a Saphyre. Nyx e eu concordamos que o manequim da bruxa era mais parecido com o meu, já que a licantropa era magra e alta. Enquanto eu, era baixa e tinha um pouco mais de corpo. Saphyre era quase do meu tamanho, mas possuía um pouco mais de corpo do que eu, o que iria fazer minhas roupas ficarem agarrada nela. Talvez algum caçador até se apaixonaria por ela. Todo homem gostava de um corpo a mostra, não de moletons maiores do que o numero que deveria estar usando. Saphyre até mesmo poderia me agradecer depois de tanto negar as roupas que iriam valorizar seu corpo. E eu estava feliz em ver minhas roupas novamente e de poder usá-las. Aquela capa de travesseiro estava dobrada e colocada em uma pilha de roupas que estavam em uma cadeira, eu geralmente teria a jogado fora, mas ela seria uma lembrança de uma parte da minha vida que considerei boa em quanto possuísse o cheiro da chuva e terra cheia de ervas daninhas venenosas. O cheiro de Andrew. Meu ofato não era tão bom como antes, então eu realmente não sentia mais o verdadeiro aroma dele como antes, agora era apenas um cheiro refrescante, como aquela pequena sensação de quando chupamos uma bala de hortelã e tomamos água em seguida. Mas eu sabia como era o cheiro de Andrew e apenas por sentir essa sensação sabia que se ainda fosse uma vampira, o seu aroma ainda seria descrito assim. Chuva, terra e ervas daninhas muito venenosas. Meus braços estavam cheios de roupas e de repente pareceu que elas passavam mais de mil quilos. Eu tive que me encostar contra a parede livre do meu closet e acabei escorregando até o chão. Por que eu já estava sentindo tanta falta de Andrew? Apenas havia se passado algumas horas desde que nos vimos pela última vez. Meus olhos se fecharam apertados por um relâmpago de raiva que me cortou quando meus pensamentos foram para um lugar obscuro da minha mente. Em pensar que tudo o que aconteceu com Londres, Andrew e todas outras mortes foi minha culpa me deixava até mesmo tremendo de raiva. Se eu não fosse tão fraca, tudo teria sido diferente... Eu nunca poderia culpar Hebe pelo que aconteceu, como todos culpavam, ela podia ser uma deusa e muito mais forte do que qualquer criatura sobrenatural, mas ainda assim, eu era culpada.


Não sabia exatamente do que, pois Hebe havia me petrificado no lugar para que aquela criação horrível me mordesse, mas o sentimento de culpa ainda continuava dentro de mim. Talvez o meu primeiro erro tenha sido se apaixonar por Andrew no passado. E eu havia morrido por causa disso. Morrido. Eu pensei que haviam várias coisas ruins que aconteceu em minha vida, mas nada era pior que isso. O sentimento era tão frio, tão vazio... Era como se eu tivesse sido presa em uma sala escura, como se eu nunca tivesse existido ou sentido qualquer coisa e eu sabia que possuía sentimentos, apenas não conseguia senti-los. E isso era horrível. Uma lágrima escorreu ao lado do meu rosto, um movimento lento e gelado que passou por minha bochecha. Era incrivel como ainda havia lágrimas para cair e talvez sempre existiriam. Afinal, eu nunca fui forte o suficiente para encarar uma morte. E eu ainda pensei que morrer e depois voltar a vida seria algo incrível, mas não era. Parecia que um pedaço da minha alma havia desaparecido, meus medos estavam intensificados... O barulho de uma porta próxima a mim sendo aberta fez com que olhasse em direção dela para ver Lúcifer entrando no closet. Ele permaneceu em silencio e tudo que fez foi caminhar até mim e se sentar ao meu lado. Quando suas costas encontraram a parede que também servia de apoio para a minha, ele esticou suas pernas que eram muito maiores que as minhas. E então, o vampiro me olhou com aqueles olhos verdes tão anormais que eu duvidava que existisse no rosto de outra pessoa. Seu olhar era de um irmão que chegou tarde demais para ajudar sua irmãzinha e isso me fez desabar. Eu me deitei no chão e usei as coxas de Lúcifer como apoio para minha cabeça, o vampiro colocou uma de suas mãos sobre meu cabelo e os acariciou. E em quanto o vampiro continuou em silencio, eu chorei. — Lúcifer, eu...— — Eu sei.— Ele me interrompeu antes que tivesse chances de dizer o motivo por estar chorando.— Você não precisa falar disso se não desejar.— — Eu estou com medo, Lúcifer.— Sussurrei, minhas lágrimas já não escorriam mais, o que fazia meus olhos arderem.— Eu estou com tanto medo.— — Eu também.— — Você?— Perguntei um pouco surpresa já que imaginar o vampiro de cabelos loiros com medo ou assustado era algo surreal para minha mente. — Não sou diferentes das outras criaturas sobrenaturais, Roxie, o que me torna especial é que meu criador é Hades e possuo metade de seu sangue em meu corpo. E por ser uma criação única dele, Hades jurou a morte de todos se algum dos deuses tentasse me matar. Seja pelas mãos deles ou por uma criação que se originou deles. E por mais que Hades não deseje que isso aconteça hoje em dia, já que a paz reina no mundo deles, um deus nunca pode quebrar uma promessa, ainda mais quando


ela se torna tão conhecida e temida.— — Por que Amethyst não tentou simplesmente te matar?— Perguntei.— Não que eu deseje sua morte, mas... Tudo não seria mais fácil?— — Não.— Ele disse.— Amethyst quer destruir o que os deuses criaram, ela deseja que eles sofrem da mesma maneira que o planeta sofreu. Qual seria a graça de soltar uma bomba sendo que você pode ver o sangue e ouvir o choro das pessoas?— Sim, era apenas isso que Amethyst desejava. A bruxa assistiu minha morte, viu meu desespero e não fez nada, apenas se deliciou com os barulhos do fim da minha vida e ela queria a mesma coisa para o mundo...— Isso é doentio.— — Bom,— Lúcifer disse com um tom de ironia.— Normal não iria de ser.— — Não brinque comigo.— Eu lhe dei um pequeno tapa na parte de sua coxa que minha cabeça não ocupava, o que fez o vampiro rir. — Eu tenho que manter minha reputação, não posso ser sempre gentil.— — Você é como Andrew.— Falei.— Sempre me fazendo perguntar como as pessoas podem ter medo de vocês.— — Elas não nos conhecem.— Ele deu de ombros, e mesmo que não pudesse ver, eu senti seu movimento.— Cada um faz a nossa imagem conforme querem, conforme o medo diz.— — Por que não tenho medo de você, Lúcifer?— — Porque sempre teve Andrew para protegê-la.— Ele suspirou com a reposta. — E agora eu tenho você.— — Sinto em dizer que acho que estou falhando nisso, minha querida.— Eu levantei meu corpo dessa vez para que pudesse encontrar os olhos verdes de Lúcifer, ele continuou onde estava e me encarou por segundos. Eu balancei minha cabeça negativamente como uma resposta.— Você foi uma das poucas pessoas que nunca me magoou, Lúcifer, isso não é falhar de modo algum.— — Lembre-se que sou um homem compromissado, chupim, por mais que me ame não posso realizar seus desejos.— Ele provocou. — Cale a boca, Lúcifer.— Eu falei e voltei a me deitar em seu colo.— E eu espero que Andrew o faça sofrer muito quando voltar.— — Eu também espero.— Disse calmamente e depois voltou a ficar em silencio, acariciando meus cabelos novamente em movimentos lentos. Era até mesmo ironico pensar que um dia só via Lúcifer como “um amigo chato de Andrew”, agora ele era muito mais do que isso. O vampiro era como um irmão que nunca possuí em minha vida inteira, um irmão que cuidava de mim em quanto chorava. Que nunca me deixaria sozinha no meio dos meus pesadelos.


28Lúcifer estava sentado em um tronco alto de uma arvore da floresta antiga, a qual ele atravessou diversas vezes para ir até a mansão real ou até Iawy e Nyx. Suas costas estavam apoiadas na árvore, seus pés esticados e cruzados, suas mãos não eram diferentes atrás de sua cabeça. O vampiro estava relaxando com o som da natureza, do vento se debatendo contra tudo e sem nenhum som de morte ao seu redor. Já fazia 38 dias que ele não via Emme e já estava ficando insuportável ficar dentro daquela central que o sufocava tanto. O vampiro de cabelos loiros sentia falta da Dinamarca e de visitar o tumulo de sua mãe... Ele nem mesmo teve chances de apresentar o mundo a Emme antes de ficar preso em Londres. Mas será mesmo que ele teria alguma chance de mostrar algo a ela mesmo depois da barreira que estava em volta de Londres sumir? Essa pergunta sempre atormentava a mente de Lúcifer, considerando o fato de que Fiemme sempre passava alguns dias com ele e depois sumia por semanas. O vampiro suspirou lentamente, calmo e fechou seus olhos. As vezes ele se perguntava se Emme era o seu castigo, por ter matado sem nenhuma piedade no passado, mas ai o vampiro se lembrava do quanto a amava. E como era dificil lidar com a deusa do fogo e sua alma pura por causa disso. Ambos eram como uma combinação que nunca seria perfeita mesmo dassem o máximo de si mesmos para que funcionasse. Lúcifer estava feliz por não ser o único a tentar com seu corpo e alma para que tudo desse certo entre eles. Afinal, ele achava que era isso que o fazia amar tanto sua dama do fogo. Ela já pode ter considerado ele como uma criatura das trevas, imoral e assassino, mas nunca desistiu do que sentia pelo vampiro e ainda o aceitou como é mesmo não gostando de sua personalidade ruim. Lúcifer procurou isso em todas as mulheres em que ele amou e achou apenas em Emme, a única que nunca teve a intenção ou imaginou que iria sentir algo. Quando se tratava dela, o vampiro apenas possuía curiosidade e também uma parte boa dele falou que ele tinha que ajudá-la com aquelas queimaduras. E ainda havia a parte que ele a usou para o entreter e não deixar que seu coração parasse de bater, que a vida eterna não o matasse. Hoje em dia, Lúcifer era muito grato a aquela parte que o obrigou a ajudá-la quando estava passando pela rua e viu Emme em um beco sem saída no meio de dois vampiros que iriam matá-la sem ao menos saber seu nome.


As pessoas sempre diziam que a coisa mais linda e próxima de Lúcifer era aquele jardim que existia na sua antiga mansão que foi feito por uma antiga amante, agora a coisa mais bela de sua vida era Emme e era por isso que ele não se importava de passar semanas sem vê-la, pois quando ela voltava para os seus braços, ela fazia cada hora, minuto e segundo valer a pena. Mesmo quando o vampiro apenas segurava seu rosto com suas mãos e encarava aqueles olhos pratas que eram tão claros. Bom, como Roxie dizia que não conseguia imaginar como as pessoas tinham medo dele e de Andrew, o vampiro de cabelos loiros também não conseguia entender como amava tanto aquela deusa. Sem levar em consideração que nunca gostou muito dos deuses. Na verdade, nenhuma criatura sobrenatural gostava, o único louco a ponto de respeitar e venerar era Andrew. E nada acabou bem no final das contas. Seu melhor amigo era um mestiço dos deuses com humanos, sua esposa um caso perdido e Emme era uma deusa... A vida do vampiro não poderia ser melhor do que era. — Lúcifer.— O vampiro de cabelos loiros abriu seus olhos assim que ouviu o inicio de seu nome e ainda sorriu devido a quem pertencia aquela linda e carinhosa voz. Ele se virou naquele tronco até que suas pernas estivessem suspensas no ar e encarou aquela deusa com cabelos tão vermelhos que eram até mesmo considerados inexistentes. Ela usava um vestido simples que era solto depois de sua cintura e iam até um pouco acima de seus joelhos, botas estilo country pretas de um cano médio e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto, o que era quase um milagre vê-la com os cabelos presos valorizando seu rosto de boneca de porcelana. Lúcifer colocou seus braços um de cada lado de seu corpo para se segurar naquele tronco que antes estava deitado e observava o céu noturno.— Fiemme.— Disse em um tipo de cumprimento sombrio para brincar com sua amada. — Você está bravo?— Ela perguntou franzindo a testa, tão inocente que nem parecia que viveu ao seu lado por mais de 10 anos. Sua pergunta calma fez o vampiro sorrir e desistir de qualquer brincadeira que iria fazer. — Toda minha raiva se transforma em nada quando a vejo, pumpe.— Lúcifer disse ainda sorrindo e ainda aumentou aquele sorriso quando sua dama do fogo também sorriu.— Agora me diga por que está com seu cabelo preso, isso não é normal.— — Estou com calor, Lúcifer, minha temperatura não é gelada como a sua.— Ele não discordou, pois Emme era realmente muito quente. — Sim, você é.— Lúcifer fez questão de usar aquele tom sombrio novamente, mas com um toque de perversão. As bochechas de Emme ficaram vermelhas tão rápido quanto puderam. — Por que está ai em cima?— Ela perguntou olhando para o chão em um murmurio baixo, mas alto o suficiente para o vampiro loiro ouvir. — Oh,— Lúcifer decidiu brincar com ela.— Eu não pretendo fazê-la sofrer de calor ainda mais.— Emme riu e quando olhou para cima seus olhos estavam brilhando de alegria, mesmo que suas bochechas continuassem a insistir em ficarem vermelhas como seu cabelo.


— Por favor.— Ela pediu delicadamente, como uma criança que via algo que desejava e pedia para seus pais de uma forma muito doce para convencê-los. Lúcifer usou suas mãos para impulsioná-lo pra baixo em um salto perfeito de encontro com o chão, para perto de sua deusa. — Você não precisa pedir duas vezes.— Falou quando encontrou os olhos dela. Emme caminhou até Lúcifer para quebrar todo o espaço existente entre eles e abraçá-lo com toda a sua pequena força. O vampiro a envolveu em seus braços e beijou sua testa quando não teve chances de encontrar sua boca que sentia tanta falta. A deusa do fogo enfiou seu rosto no meio do peito de Lúcifer e o apertou com mais força ainda. — Pumpe.— Ele a chamou.— Olhe para cima.— — Não.— Falou em um murmurio, o vampiro sabia que ela estava sorrindo.— Você ira fazer coisas impuras comigo.— — Depois de tantas semanas sem vê-la, imagino que já tenha sido muito purificado para fazer “coisas impuras”.— Emme levantou seu rosto para dizer algo, mas Lúcifer aproveitou essa chance para encontrar os lábios dela com os seus. Ela não foi pega de surpresa pelo ato, pois sabia que quando olhasse para ele era exatamente isso que aconteceria, mas a fome do vampiro era tão grande que talvez pudesse surpreendê-la se não conseguisse se controlar. O vampiro se curvou um pouco para baixo quando a deusa levou seus braços para os ombros dele e mesmo nas pontas de seus pés, ainda tinha dificuldade para alcançá-lo. Lúcifer manteve um de seus braços em volta da cintura dela em quanto o outro repouso sobre suas costas para que pudesse acariciá-la com sua mão. Ele trouxe o corpo de Emme para mais perto do dele até que estivessem espremidos um no outro. Aquele encaixe perfeito não acabou com o controle do vampiro, sentir as curvas de Emme contra seu corpo e braços era muito tentador, mas Lúcifer teve mais de mil anos para lidar consigo mesmo. E o fato de poder assustar sua deusa inocente caso soltasse seu lado selvagem que ela não estava acostumada, era o maior motivo para manter o controle. Porém, essa noite sua amada estava exigente, pois vários segundos já haviam se passado desde que o vampiro havia a beijado e ela ainda não havia quebrado aquele contato, apenas continuava a tocar sua língua com a dela e o movimento ficava cada vez mais feroz e rápido, como se fosse uma necessidade e não algo que apenas sentiu falta. Lúcifer deu a ela tudo que desejava naquele momento, acompanhou cada movimento de sua boca mesmo que aquela jaula que segurava sua fera se partisse cada vez mais e quando Emme quebrou aquele beijo, não ficou apenas por isso. A deusa em seus braços não se afastou, ela se espremeu ainda mais contra Lúcifer para que pudesse chegar até a curva do pescoço do vampiro, feito isso, ela o mordeu. Os olhos do vampiro se abriram rapidamente depois disso, não por surpresa ou dor. A mordida de Emme foi leve e forte o suficiente para se tornar um ato sensual. Ela nunca havia feito algo como isso antes e Lúcifer possuía uma paixão secreta por mordidas, já que quase nunca permitia que alguém o mordesse. Isso acabou com todo o seu controle.


O vampiro segurou os braços de Emme e a afastou de seu corpo para que pudesse olhar em seus olhos em quanto voltava para sua postura normal. Ele se iludiu que conseguiria encontrar a calma fazendo isso, mas quando viu naqueles olhos claros em sua frente que a deusa havia gostado do que havia feito e desejava por mais, sua ilusão acabou. Lúcifer puxou Emme para ele novamente, para que pudesse encontrar seus lábios novamente. E quando fez isso, não havia carinho ou saudades. Quem estava controlando o momento não era mais a deusa em seus braços, nem Lúcifer. Era o seu desejo. E antes que pudesse ter noção de qualquer coisa, o vampiro debateu o corpo de Emme contra a árvore mais próxima deles e só depois que as costas dela encontrou aquele tronco que ele percebeu que não tinha controlado sua força. Um gemido baixo escapou dos lábios de Emme e já que ela não o afastou, ele tomou aquilo como um aviso de que havia gostado. Lúcifer colocou suas mãos contra o tronco daquela árvore em cada lado da cabeça de Emme quando eles chegaram até ali, e focou toda sua força e desejos que não poderiam se realizar ali. O tronco se afundou um pouco e várias folhas da árvore caíram sobre eles, como se fosse uma chuva ou uma leve nevasca. Seu corpo estava se contraindo contra o de sua deusa conforme eles movimentavam e os braços dela estavam enrolados no pescoço do vampiro, o puxando cada vez mais contra si. Emme também havia achado uma raiz para subir, o que fez a altura deles quase se igualar. A deusa do fogo começou a se afastar lentamente em busca de ar, mas antes que ele permitisse isso a ela, Lúcifer mordeu seu lábio inferior levemente, como em troca da mordida que havia lhe dado antes. Emme depois de se afastar mordeu seu lábio, onde ele havia mordido. O tronco se afundou ainda mais com essa imagem sob suas mãos, mais folhas caíram em volta deles e se prenderam nos cabelos vermelhos de Emme. — Nós não podemos fazer isso aqui.— A deusa falou em um sussurro. — Por que não?— — Por que os animais estão nos observando.— — Oh,— Lúcifer comprimiu seu corpo ainda mais no de Emme.— Não é nenhum pecado em horrorizar alguns animalzinhos, pumpe.— — Eu prometo fazer tudo que desejar mais tarde, quando estivermos em nosso quarto.— Ela falou tão inocentemente que o vampiro não via como tirar proveito desse tipo de promessa. — Você não deveria fazer uma promessa como essa para mim, minha querida.— Brincou. — Se você prometer fazer isso novamente, eu irei fazer qualquer promessa.— — Isso o que?— — Me levar contra o tronco, sem controlar sua força... Eu gostei disso.— As bochechas dela ficaram vermelhas e Emme quase desviou seu olhar para baixo, mas Lúcifer pressionou seu corpo de uma forma provocativamente novamente para que isso não acontecesse. — Você não foi o única.— O vampiro disse em um tom baixo, roucamente. E acabou se afastando de sua deusa depois de alguns segundos, muito ciente de que não conseguiria nada por causa desses animais que mereciam a morte.— Então, o que deseja fazer agora?— — Eu pensei que você me colocaria em seus ombros e caminharia em direção da central.— — Eu não sou um bruto.— Lúcifer arqueou sua sobrancelha.— Mas isso é uma ótima ideia.— Emme riu por um momento e esse som tão gracioso foi como uma linda melodia para seus ouvidos. A deusa ainda lhe deu um pequeno tapa em seu peito, que pareceu ainda mais uma caricia já que ela não tinha coragem alguma de usar sua força. — Você me deixou com mais calor ainda, então isso não é uma ótima ideia.— — Falando nisso, por que está mais quente que o normal?— Lúcifer perguntou.— E eu não estou


sendo irônico.— — Já faz algum tempo que eu não uso meus poderes e meu pai disse que de alguma forma as chamas vão se acumulando dentro de mim... O calor é uma forma demonstrativa que meu corpo está as aceitando.— — Isso fará algum mal a você?— O vampiro perguntou, preocupado com ela, pois se fizesse qualquer tipo de mal, ele sugeria que queimasse todos aqueles animais que estava observando eles. — Lúcifer, eu posso escutar seus pensamentos.— Emme resolveu lembrá-lo daquele pequeno fato, o que fez o vampiro sorrir cinicamente.— E não, não fará nenhum tipo de mal. Apenas sentirei calor em quanto meu corpo aceita a quantidade de poder acumulado.— Lúcifer acreditou nela, pois sabia que Emme não mentiria para ele novamente, então decidiu deixar a ideia de queimar aqueles bichinhos em voltas deles de lado. O vampiro passou seus braços em volta da cintura de Emme em quanto ela ainda o segurava por seu pescoço e a elevou no ar somente um pouquinho para que pudesse colocá-la no chão, a tirando daquela raiz que quase a deixou de seu tamanho. — Vamos, eu já sei o que vamos fazer.— _______________ Lúcifer caminhou ao lado de Emme apenas segurando sua mão, por mais que o vampiro desejasse abraçá-la por trás e continuar seu caminho nos mais lentos dos passos, ele entendia que sua amada estava com calor e então não pioraria tudo ficando em cima dela. Afinal, uma leve brisa batia contra eles e Lúcifer não queria ser a barreira que separaria o vento de sua deusa. E o vampiro também estava preocupado com Emme, ele não sabia como funcionavam as regras dos deuses e seus poderes. Eles possuíam poderes de criar vidas, muitas vidas e Emme não usou nem um pingo desse poder desde que voltou a ser uma deusa. E o vampiro sabia que ela não estava mentindo, mas mesmo assim ele sabia que até Hades possuía suas duvidas sobre sua única filha que foi trazida dos mortos com a metade de seu coração. Os olhos verdes de Lúcifer foram até a ruiva ao seu lado e a observou calmamente cada traço de seu rosto e seus movimentos. Tudo era tão inocente que era impossivel acreditar que Emme poderia se tornar um perigo algum dia, que sua alma poderia se tornar negra como a de Andrew e quando a deusa percebeu que o vampiro estava a encarando, ela virou seu rosto para encontrar seu olhar e sorriu. Um sorriso lindo que brilhava no meio daquela escuridão, um sorriso que fazia parte de seus melhores tesouros. — Eu ainda me lembro da primeira vez que você sorriu para mim.— Lúcifer disse solenemente.— E cada sorriso que ganhei desde o dia que nos conhecemos, parece mais bonito que o primeiro.— O sorriso de Emme aumentou ainda mais e esse se tornou o mais bonito de todos nesse momento. — Eu não me lembro quando foi a primeira vez.— Ela falou quase triste. — Nós estavamos jantando, quero dizer, você estava jantando e eu a chamei de estranha por desejar ir comigo até aquela igreja do que ficar sozinha na mansão. Então, você sorriu.— — Oh,— A deusa aparentemente se lembrou.— Naquela noite foi a primeira vez que foi gentil comigo também.— — Hey, eu fui muito gentil com você antes disso.— — Você me chamou de dinossauro apenas porque estava com fome, Lúcifer.— Ela o lembrou.— E sempre usava ironia ou sarcasmo.— — Mesmo assim, você nunca me temeu.— O vampiro sorriu quando imagens do passado


começaram a chegar em sua mente.— O que me deixava ainda mais curioso sobre você.— — Você foi a única pessoa que não riu ou me chamou de louca por causa das minhas queimaduras e por mais que fosse assustador o fato de ser um vampiro, eu sabia que a única pessoa a me ajudar seria apenas você.— A deusa deu de ombros.— Eu não tinha escolhas.— — Então a senhorita estava me usando.— Lúcifer quase riu.— Que pecado horrivel, Fiemme.— Emme parou de sorrir e logo uma expressão de tristeza invadiu seu rosto. Lúcifer por um momento achou que ela estava ficando magoada por seu comentário, mas não era isso.— Eu sinto falta daquela época.— Ela murmurou depois de um tempo em silencio. Lúcifer pensou no que Emme havia acabado de dizer e ela estava completamente certa. O vampiro podia odiar o fato de sua amada ter sofrido tanto com aquelas queimaduras, mas ele sentia falta daquela época que se conheceram. A deusa do fogo era tão inocente, tão delicada e por tudo que aconteceu nesses 10 anos, a eternidade havia tirado um pouco desses detalhes dela. Emme havia visto tantas mortes, tanto sofrimento que sua inocência estava em um nível menor. E Lúcifer sentia tanto por isso... — Eu também.— Ele falou para sua pequena amada ao seu lado. — Eu nunca desejei a morte de ninguém, Lúcifer, mas...— Emme pareceu arrependida de ter aberto a boca para dizer aquilo, mas não desistiu.— Não vejo a hora que Amethyst morra para que tudo volte ao normal, para que a natureza para de sofrer.— Lúcifer estava pensando no que falar para sua amada quando ela parou de andar e congelou no lugar, o vampiro apenas percebeu que isso tinha acontecido quando deu um passo para frente e algo o impediu de fazer isso. Seus olhos que antes estava para frente foram em direção de Emme e assim como ele, ela olhava fixamente para frente sem ao menos piscar. Lúcifer olhou para frente novamente e conferiu se não tinha nada de errado, pois ao ver Emme parecia que algo muito ruim estava em sua frente, mas para o vampiro apenas existia um enorme lago com pedras altas que formavam uma cachoeira quando a água do nível mais alto caia ali. — Oh, eu esqueci completamente que gatinhas tem medo de se molhar.— O vampiro foi irônico. — Não sei nadar e você sabe disso.— — E quem disse que irei permitir que se afogue, Fiemme?— — Isso não é nada confortável.— Emme murmurou. — Não é um lago fundo, não se preocupe.— Ele disse.— Além do mais, você se esqueceu da nossa teoria de gelo e fogo?— — É improvável esquecê-la depois de tudo o que aconteceu.— Lúcifer caminhou para perto de Emme até que ficasse em suas costas para que pudesse alcançar o zíper de seu vestido. E lentamente começou a descê-lo para revelar as costas de sua pequena amada. Uma costas que era tão suave e delicada, mas que possuía diversas cicatrizes assim como o restante de seu corpo. Uma raiva incontrolável sempre invadia o corpo do vampiro toda vez que as vias apenas de pensar que alguém já a machucou de tal maneira a ponto de deixar marcas eternas. — Lúcifer,— Ela sussurrou seu nome calmamente, quase não pode escutar já que estava distraído com aquelas marcas.— Você acha meu corpo feio?— E essa era a resposta de uma pergunta nunca feita de que Emme estava em seus pensamentos. — Não.— Ele foi sincero.— Essas cicatrizes fazem de você quem é, então elas são perfeitas em seu corpo.— — É assim que você pensa sobre a sua queimadura?— Emme perguntou, porém o vampiro prestou mais atenção sem seu vestido escorregando por seu corpo para encontrar o chão do que em qualquer


outra coisa. Agora era apenas a deusa em suas lingeries rosas de costas para ele.— Lúcifer?— — Tire suas botas.— O vampiro mandou e tudo que Emme fez foi virar para encontrar seus olhos verdes. Emme encarou Lúcifer por um momento e logo um pequeno sorriso passou a crescer em seus lábios. O coração do vampiro passou a dar batidas fortes e rápidas, como se fosse o primeiro dia que descobrirá que estava apaixonado por essa mortal que de longe era uma simples imortal. — Não permita que me afogue, Lúcifer.— Ela disse. — Nunca, pumpe, nunca.— Então era isso, apenas Lúcifer e Emme no meio de uma floresta esquecida por todos antes mesmo que Londres virasse um caos total. Por algumas horas o vampiro poderia aproveitar cada momento com sua deusa do fogo até que a ilusão de que tudo estava bem e ela ficaria ao seu lado para sempre acabasse. Mas mesmo que acabasse logo, tudo que bastava para o vampiro era a confiança dela nele e saber que ela sempre voltaria para seus braços, mesmo que um século se passasse sem se verem.


29Meus olhos se abriram rapidamente assim que um trovão acompanhado de raio quebrou todo o silêncio da cidade de Londres e uma forte chuva logo entrou no meu campo de visão. Eu estive dormindo tão pesadamente que nem ao menos ouvi o barulho daquela grande tempestade quando ela começou, mas isso não fazia diferença alguma agora que outra pergunta invadiu minha mente. Por quanto tempo estive dormindo? Uma semana havia se passado desde que voltei para a central com Saphyre e cada noite que me deitava para fechar os olhos eram apenas pesadelos que invadiam minha mente. Pesadelos que sempre me deixavam sem ar e me faziam acordar tremendo. Mas hoje foi diferente, eu simplesmente não conseguia me lembrar o que havia sonhado. Isso me preocupou por um momento, pois ninguém da central sabia esse pequeno detalhe de que eu poderia simplesmente apagar por dias. Porém, oque mais me preocupou foi o fato da horrível chuva que estava la fora e como Emme estaria lidando com ela. A amante de Lúcifer tinha um certo trauma por chuvas fortes e a escuridão, mas considerando tudo o que o vampiro de cabelos loiros havia contado sobre o seu passado, de como as pessoas daquela igreja a puniam, esse trauma deveria ser pouco considerando o que passou. Era esperar que a luz não acabasse, pois já era noite e se caso isso acontecesse, Londres iria se tornar um ponto negro total e o pesadelo de Emme. Eu suspirei calmamente quando meus olhos bateram de relance na minha aliança de noivado que estava no meu dedo esquerdo, mostrando para qualquer pessoa que eu era casada. O pior de tudo isso foi que os murmúrios pela central quando os caçadores viram isso apenas aumentou. Além de chamarem Andrew de psicopata, eu virei a doida iludida que ainda usava uma aliança. Mas no fim, decidi que a melhor coisa era ignorar tudo aquilo. Aquelas criaturas imortais que trabalhavam para Iawy jamais iriam conhecer Andrew, jamais iriam deixar de temê-lo mesmo que nada que aconteceu nesses 10 anos tivesse ocorrido. Eu me virei na cama umas vintes vezes na tentativa de encontrar meu sono novamente, mas infelizmente minha mente estava a mil. E o pior de tudo era que já era 21 horas e todos na central estavam indo para seus quartos para descansar, e eu não iria atrapalhar o descanso dos meus amigos só por que passei o dia inteiro dormindo. Bom, eu presumi que foi apenas um dia já que não acordei em um hospital com máquinas ao meu redor que pertenciam a Iawy para me estudar ou com Lúcifer gritando “Está viva” como no famoso filme de frankenstein. Então era apenas isso, algumas horas de um dia que passei dormindo. Eu já quase infartei Andrew quando dormi durante três dias seguidos, não queria causar o mesmo


efeito nos meus amigos. Assim que um relâmpago cortou o céu escuro, obriguei meu corpo a deixar minha cama de lado e fui até a enorme janela do quarto, ficando a alguns passos longe da onde poderia me apoiar e quando tentei me aproximar mais, meus pés ficaram presos ao chão como se estivessem acimentados ali. Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo... Que tipo de imortal era eu com medo de se aproximar de uma janela? Na hora de dizer que aceitava me casar com o vampiro mais temido do mundo, nenhum medo se manifestou, não é mesmo? E o mais ridículo ainda era eu brigando com minha própria mente. Mas no fim, vendo por outro lado, todo imortal devia possuir um trauma. Os mais velhos e sábios apenas sabiam esconder isso muito bem em jaulas que jamais se partiriam. Afinal, até mesmo Lúcifer fugiu por um mês inteiro quando descobriu que Emme possuía a alma de sua mãe. Sem contar que sua amada, uma deusa, mal conseguia respirar quando estava em meio da escuridão. Um trovão fez com que meus pensamentos sumissem da minha mente como a enxurrada que deveria estar limpando o sangue das calçadas de Londres, minha atenção foi para a tempestade que acontecia la fora e... Uau. Fazia muito tempo que não via uma chuva tão grande como essa nessa cidade. Geralmente fazia muito frio, nevava ou chovia levemente para que o ar sempre fosse úmido, mas raramente aconteciam tempestades como essa. E eu sabia que se a ponte do rio Tamisa ainda existisse, ela estaria quase submissa. Era triste saber que isso jamais chegaria... Roxie. Um sussurro quase baixo, quase inexistente, mas que eu o ouvi dentro da minha mente. Eu me virei para ficar de frente com minha cama, para ter certeza de que não existia ninguém no meu quarto que chamou meu nome e acabei me confundindo achando que era um sussurro dentro da minha mente. E ainda havia a possibilidade de ser alguns dos deuses, mas ultimamente nenhum deles entraram em contato comigo. Nem mesmo Sol. Roxie. Era a voz de Andrew. A voz do vampiro estava invadindo minha mente. Ele estava me chamando como dissera que iria fazer uma semana atrás. Depois de chegar nessa conclusão que poderia ser tão falsa, eu não perdi mais tempo tentando descobrir o que estava acontecendo. Eu corri em direção da porta do meu quarto e quando sai nem ao menos a fechei, muito menos esperei que o elevador chegasse até o meu andar. Correndo nas escadas da central e sentindo apenas meu coração batendo rapidamente, eu o ouvi de novo. Roxie. Era um sussurro quase silencioso, mas não deixava de existir em minha mente. Eu não sabia exatamente para onde ir e meu único plano agora era sair da central. Apenas isso. Quando cheguei na porta principal do prédio haviam vários caçadores ali com suas enormes armas, eu continuei correndo e até mesmo me iludi que eles iriam me deixar passar, mas antes mesmo que


isso acontecesse algum dos caçadores agarrou meu braço com força. — Não me toque.— Eu grunhi aquilo quase como um animal. — Você não pode...— Eu senti a temperatura do local ao meu redor cair totalmente até chegar em zero e meu sangue que se movimentava dentro do meu corpo congelou. O gelo que nem ao menos existiu segundo atrás começou a fazer parte da minha rede sanguínea. E antes mesmo que pudesse fazer algo para impedir, várias camadas de gelo cresceram ao meu redor e daqueles caçadores, algumas tão afiadas quanto estacas que matavam vampiros. O caçador que me segurou estava chocado e acabou soltando meu braço. Eu aproveitei esse momento para continuar minha corrida para encontrar Andrew, o que me levou diretamente para aquela chuva. E não demorou nem um segundo para que aquela tempestade me deixasse completamente molhada, mas isso foi a ultima coisa que me importei em quanto corria na mesma direção que Saphyre e eu fizemos quando saímos da mansão de Amethyst. — Onde você está?— Eu perguntei para o nada quando parei em meio de uma clareira, olhando para todos os lados que só existiam árvores e mais árvores. A chuva atrapalhava totalmente minha visão e o vento ainda fez com que o meu cabelo se tornasse um chicote rigoroso contra meu rosto quando ele se debatia com força contra mim.— Andrew...— Fazenda. —Fazenda?— Sussurrei para mim mesma, olhando para as palmas pálidas das minhas mãos, como se existisse uma explicação para isso... Oh! A antiga fazenda que existia ao lado do cemitério que Andrew me levou um dia quando ainda era humana! Ela já era abandonada naquela época, assim como aquele lugar em que vários mortos descansavam, não gostaria nem de imaginar o que havia se tornado agora depois de 10 anos. Além do mais, eu mal a havia a notado no dia que Andrew me levou até aquela parte esquecida de Londres, pois havia uma pequena distancia entre o cemitério e ela, mas depois que voltei até lá para ter um pouco de paz, eu a vi. Eu deixei meus pensamentos de lado e voltei a correr em direção dessa fazenda abandonada que ficava ao lado do cemitério. Nesse momento, senti falta de ser uma vampira e poder correr em uma velocidade muito mais rápida do que a de um carro, mas dei o máximo de mim. E a velocidade dos meus passos apenas diminuíram quando me aproximei daquele lugar onde de longe podia ver duas casas enormes, uma mansão e um celeiro. Porém, o que mais me interessou foi que perto desse celeiro estava Andrew. Meu coração passou a bater mais rápido depois que parei de correr, e eu sabia que não era por causa disso, e sim por causa do que meus olhos viam. O vampiro, assim como eu, estava completamente molhado. Seu cabelo estava escorrendo juntamente com a água da chuva para frente de seus olhos e quase me impossibilitou de ver aqueles azuis que tanto me atentavam ao pecado. Andrew estava com suas mãos enfiadas nos bolsos de seus jeans negros, sua camisa que também era da mesma cor estava colada ao seu corpo. Eu me aproximei dele ainda mais para que pudesse absorver mais detalhes, deixando apenas que alguns passos nos separassem. Andrew se manteve imóvel exatamente como uma estátua no meio


de uma tempestade, toda aquela água escorrendo por seu corpo era a única coisa que se movia perto dele. Por um momento eu temi, pois o vampiro estava muito sombrio naquele momento. Um relâmpago cortou o céu e nos permitiu um segundo de luz entre nós. E eu vi que seus olhos estavam fechados agora e o vampiro sustentava aquela expressão de dor que ele preferia ignorar, sua cabeça estava levemente abaixada. — Andrew?— Decidi tentar ter sua atenção. Andrew olhou para cima para que pudesse encontrar meus olhos. E eles pareciam tão... normais. — Então você veio até mim.— — Você me chamou.— Disse calmamente, permitindo que o único barulho grandioso fosse os dos trovões.— Não poderia simplesmente ignorar.— — Cherie...— Aquilo escapou de seus lábios em um som divertido.— Eu poderia tê-la chamado até aqui para matá-la.— Eu franzi o cenho por um momento.— Você irá me matar?— Andrew não disse nada, apenas caminhou até mim e quebrou todo o espaço que existiu entre nós. Aqueles passos que havia deixado para manter a distancia, foi facilmente esquecido. O vampiro também pegou uma das minhas mãos e a esticou sobre a dele. Seu polegar acariciou lentamente um dos meus dedos e um sorriso pequeno cresceu em seus lábios quando viu que eu usava a aliança do nosso noivado. — Está acabado, cherie.— Ele disse, jogando seus cabelos negros que quase não mudaram de cor com a chuva e a escuridão para o lado, deixando que eu visse melhor seus olhos por segundos antes que a chuva os colocassem de volta onde estavam. Seus verdadeiros olhos, sem nenhuma maldade, apenas a frieza. O vampiro retirou sua mão livre de dentro do bolso de sua calça e a levou para a minha que estava ainda esticada. Ali, o vampiro colocou uma seringa vazia. Meu coração parou naquele momento. — Você...— Eu não consegui terminar aquilo, não quando um sorriso quebrou minha linha de pensamentos. — Sim.— O vampiro também sorriu, um verdadeiro sorriso que apenas fez meu coração se quebrar ainda mais.— Minha alma está novamente ao normal.— Minha vontade era de gritar, de explodir e apontar o dedo na cara de Amethyst para dizer diversas vezes que meu Andrew havia voltado. Ele não pertencia mais a ela, o antigo rei dos vampiros pertencia a mim novamente. Somente a mim. Eu fechei minha mão em um punho e apertei aquela seringa sem nada em meus dedos para ter certeza de que ela era real. E depois a deixei de lado para puxar o vampiro em minha frente até que encontrasse seus lábios, para beijá-lo como merecia depois de dez anos sem que estivesse ao meu lado. Andrew ficou surpreso com minha reação, talvez esparasse de tudo menos que o puxasse por sua camisa até que estivesse colado de todas as formas possíveis em mim. Ele até mesmo perdeu o equilíbrio quando não esperou que usasse tanta força contra ele, mas em mim ele se manteve em pé. — Você voltou para mim.— Eu sussurrei aquilo entre os seus lábios em quanto o vampiro me abraçava com força contra ele. — Um rei não é nada sem sua rainha.— Ele disse, colocando uma de suas mãos na minha bochecha, eu fechei meus olhos para que pudesse sentir seu toque.— Eu sempre voltaria para você, cherie.—


— Por favor, diga que me ama, Andrew.— Eu pedi aquilo, para ter a certeza de que sua alma negra não existia mais. Para ver em seus olhos aquela verdade novamente. — Oh,— Um sorriso ironico cresceu em seus lábios, eu pude vê-lo perfeitamente mesmo que a chuva atrapalhasse.— Eu ainda continuo o mesmo de sempre, cherie... Nada fácil de se controlar. — Sim, esse era o verdadeiro Andrew com uma alma equilíbrada. Eu enterrei meu rosto em seu peito e o apertei com toda minha força contra mim. Andrew me abraçou de volta também e eu me senti tão segura...— Eu senti tanto sua falta, Andrew.— Sussurrei. — Eu estou aqui por você agora, mon étoile.— Minha estrela. Um sorriso se formou em meus lábios, pois desde que o vampiro havia descobrido que eu tinha uma ligação com uma estrela, a que me dava imortalidade, ele nunca me tratou como se fosse uma. Andrew realmente ficou em choque com essa pequena verdade, mas agora ele estava me tratando como se realmente fosse uma estrela, como se eu fosse aquilo que amou desde que era apenas uma criança. Mas infelizmente meu sorriso se desmanchou quando pensamentos que poderiam esperar invadiu minha mente. Eu me afastei um pouco dele para que pudesse encontrar seu rosto, para encontrar aqueles olhos que pareciam tão normais, mesmo sendo ameaçadores para outra pessoa que não o conhecia.— Você falou que voltaria para mim quando encontrasse um modo de...— O vampiro colocou seu dedo indicador sobre meus lábios antes mesmo que pudesse terminar minha frase. — Não vamos falar sobre isso agora.— Ele disse.— Eu quero aproveitar cada minuto dessa noite ao seu lado para compensar os anos que estive fora, os anos que a abandonei.— Minha cabeça começou automaticamente virar de um lado para o outro, negando o que ele tinha acabado de dizer sobre ter me abandonado. Se o vampiro havia feito isso, eu também tinha. Mas o antigo rei dos vampiros, que ainda permanecia com seu dedo em frente da minha boca os tirou dali para que seus lábios o substituíssem. Foi um beijo rápido, apenas para fazer com que me mantivesse em silencio.— Não vamos discutir sobre nada essa noite, cherie.— — Certo.— Concordei relutante, havia tantas coisas que gostaria de perguntar... Principalmente o por que dele ter estado com aquela expressão de dor, mas por um momento decidi que isso poderia esperar até o dia nascer.— Eu farei qualquer coisa por você essa noite.— — Eu sou um vampiro muito cruel, você não deveria falar coisas como essas.— Ele foi irônico. — Então...— Decidi ignorá-lo.— Você quer voltar para a central?— — Não.— Andrew disse.— Não haverá nenhuma paz lá quando eu chegar, apenas vamos sair do meio dessa tempestade.— Andrew tinha absoluta razão sobre a central. Imagino que até mesmo Iawy acordaria ao saber que o antigo rei dos vampiros estava em meu quarto. E como fofocas eram mais rápidas que um trem em alta velocidade, essa em peculiar iria chegar rapidamente em seus ouvidos. O vampiro ergueu seu rosto para algo além de mim e tudo que fiz foi acompanhar seu olhar. O celeiro. Eu engoli em seco por um momento, pois aquele lugar abandonado e esquecido por todos devia ser assombrado. Totalmente assombrado. Andrew colocou seu braço ao meu redor e começou a caminhar, o pior de tudo isso era que não


relutei ou arrumei alguma desculpa em quanto caminahva para chegar até lá. Os fantasmas daquela fazenda provavelmente ficariam muito irritados naquela noite por serem incomodados. *** Eu fechei a porta daquele celeiro calmamente apesar da chuva que caía la fora ser forte, meu coração estava acelerado e ao sentir Andrew atrás de mim com alguns centímetros nos separando, me observando como se fosse um coelhinho indefeso, meu cérebro passou a parar de funcionar. E tudo que sentia eram as gotas de água que escorriam do meu cabelo e por todo o meu corpo. A presença de Andrew também não ficou em branco em quanto segurava aquela porta que acabará de fechar com as minhas duas mãos. — Cherie.— Ele sussurrou roucamente e antes que pudesse sequer pensar no que dizer, o vampiro deu passo para frente e acabou com todo o espaço que existiu entre nós. Eu senti o corpo quente e molhado atrás de mim me pressionando cada vez mais até que estivesse contra aquela porta fechada de costas para Andrew sem ter para onde fugir. Uma das mãos dele repousou sobre minha barriga para me manter contra seu corpo em quanto a outra, seus dedos longos e quentes fizeram um caminho lento do meu braço até que estivesse em volta do meu pescoço, pronta para me enforcar até a morte. Morte. Eu fechei meus olhos rapidamente e duramente quando as lembranças do que Amethyst fez começaram a invadir minha mente. Elas tinham que ir embora... — Eu estou aqui agora, cherie.— O vampiro disse suavemente, porém se inclinando para frente até que seus lábios encontrassem a curva do meu pescoço e logo senti sua língua ainda mais quente que seu corpo percorrer uma única gota de água que havia escorrido do meu cabelo. Eu soltei um pequeno gemido por causa daquilo e até mesmo tremi sob suas mãos.— Esqueça seus pesadelos.— Agora o vampiro me segurou com as suas duas mãos em minha cintura e me virou até que estivesse de frente para ele, com nossos olhos fixos um no outro. E mesmo que tudo estivesse escuro dentro daquele celeiro e o barulho da chuva lá fora fosse assustador com seus trovões fortes e relâmpagos que permitia um pouco de luz para nós, eu podia ver Andrew perfeitamente como via lá fora, mesmo que a escuridão aqui dentro fosse maior. Seus cabelos molhados estavam bagunçados agora, já que em algum momento ele deve ter passado sua mão para tirar a água que existia ali, sua camisa molhada e colocada em seu corpo que permitia distinguir todos os seus músculos e seus lábios entreabertos que chamavam pelos meus. E seus olhos... Seus olhos pertenciam ao vampiro que conheci a mais de 300 anos atrás, não de um assassino que possuía uma alma negra. Andrew escorregou seus dedos da minha cintura até que estivessem na barra da minha blusa, e quando eles chegaram até ali, o vampiro a puxou para cima até que estivesse fora do meu corpo. Eu decidi fazer o mesmo com sua camisa, abrindo rapidamente aqueles botões para que pudesse ver logo seu peito nu e quando isso aconteceu, assim como ele, joguei sua camisa para o lado. Eu tentei me aproximar dele para que pudesse encontrar sua boca, encostar finalmente minha pele contra a dele e deixar que nossas temperaturas diferentes se tornassem somente uma, mas o vampiro me manteve no lugar. — Eu quero beijá-lo.— Sussurrei. — Não.— Ele disse diabolicamente, subindo uma de suas mãos por minhas costas até que estivesse no fecho do meu sutiã para ser aberto e logo em seguida encontrar o chão.— Eu tenho planos para


beijá-la em outro lugar.— Andrew se curvou novamente para perto de mim e se aproximou da lateral do meu rosto, seu peito nu se encontrou com meus seios e meus mamilos ficaram ainda mais duros, se isso fosse possível. Aquele atrito estava me levando a loucura, principalmente pelo fato dos nossos corpos estarem molhados. E somente outra sensação melhor que essa me fez esquecer esse atrito, a sensação de Andrew fechando seus dentes contra ponta da minha orelha sem muita força. Uma corrente elétrica passou por todo meu corpo e eu o agarrei contra mim até sentir meus dedos se afundarem contra sua cicatriz nas costas. Uma risada rouca e tão sexy escapou de sua garganta, fazendo todo o meu interior se esquentar. E eu também tomei aquilo como um aviso para não permitir que apenas o vampiro tirasse proveito de mim, então tirei minhas mãos de suas costas e as desci até que estivessem no botão de sua calça, o abrindo para abaixar o zíper. Andrew não permitiu que eu continuasse com o que estava fazendo, pois antes que pudesse abaixar seus jeans o vampiro se ajoelhou diante de mim e começou a fazer o mesmo com a minha calça até que ela e minha calcinha estivessem diante dos meus pés para serem chutadas para longe junto com as minhas booties. Eu estava completamente nua agora e com o vampiro de joelhos diante de mim, isso poderia ser até mesmo irônico, mas a única pessoa que estava prestes a receber ordens era somente eu e não o homem que estava no chão. Andrew segurou uma das minhas coxas e roçou seus lábios na parte inferior dela, fazendo minha respiração tripudiar. Meus dentes encontraram meu lábio inferior rapidamente com uma força incrível quando ele fez isso novamente, um pouco mais acima da onde tinha beijado antes. — Andrew...— Seu nome escapou da minha boca quase em um apelo, todo meu corpo que estava encostado naquela porta precisava dele agora. Aquela perna que estava segurando foi levada para cima do seu ombro e quando ele segurou meu quadril com força, eu levantei minha outra perna para colocar no outro lado de seu ombro. Uma das minhas mãos segurou inutilmente contra a porta já que o vampiro jamais permitiria que eu caísse, mas a outra foi diretamente para os seus cabelos negros e molhados. Eu o puxei para que a sua língua penetrasse logo dentro de mim. E eu fui ao céu quando a sua língua começou a roçar meu meu clitóris com uma lentidão torturadora. Eu me contorcia contra a porta e esmagava seus cabelos na minha mão em quanto pressionava sua cabeça contra mim, seus dedos estavam duros em meu quadril de modo que poderiam deixar hematomas depois, mas eu não me importava. Não quando a língua do vampiro fazia um caminho por toda o meu sexo que pulsava cada vez mais pelo contato que estava me dando tanto prazer. E Andrew sabia exatamente onde, como e quanto tocar, ora com a língua, ora com os lábios, escolhendo a intensidade certa diante dos sinais de meu corpo. Minhas mãos se seguraram com tanta força naquela porta de madeira que achei que ela iria se partir quando os espasmos do meu orgasmo começou a se manifestar. O vampiro vendo isso, alternou seus movimentos entre investidas rápidas e lentas sobre as redondezas do meu clitóris, para um gentil carinho que apenas prolongou meu prazer. Minha respiração estava alterada e meus olhos fechados para controlá-la melhor. Os dedos de Andrew em meu quadril se movimentaram em uma lenta caricia sobre minha pele gelada e isso foi o suficiente para que eu abrisse meus olhos e olhasse para baixo. O vampiro estava com sua cabeça ligeiramente inclinada para o lado e sua bochecha estava apoiada em uma das minhas coxas que


estava em seu ombro, ele olhava para mim e esperava que eu me recuperasse dos tremores que consumiam meu corpo. — Desça.— Ele disse depois de alguns minutos, seus olhos frios com fagulhas tão quentes que poderiam derreter todo aquele gelo que sempre existiu naqueles azuis claros. Eu fiz como o vampiro mandou, tirei minhas coxas de seu ombro e continuei encostada na porta do celeiro quando minhas pernas vacilaram ao encontrarem o chão, Andrew aproveitou aquele momento para se livrar do restante de suas roupas e veio em minha direção para finalmente encontrar meus lábios. O beijo não foi longo, pois o vampiro me ergueu em seus braços em quanto me espremia contra a porta para nos servir de apoio. Seu membro estava roçando meu sexo, o que estava me causando uma tortura eterna. Eu me apoiei em seu pescoço e minhas pernas uma de cada lado do seu corpo estavam abertas o suficiente para sentir o quão excitado o vampiro estava a baixo de mim. Andrew movimentou seu quadril para cima e fez com que seu membro escorregasse para dentro de mim. Sua entrada foi lenta e prazerosa, me fazendo gemer mais alto a cada movimento que seu sexo entrava em meu corpo. Eu me segurei com força contra ele e o vampiro me espremeu ainda mais contra a porta do celeiro, mas isso não era medo de me derrubar já que para Andrew eu era apenas uma folha de papel em suas mãos. E quando a penetração estava completa, eu movi meu corpo para frente e para trás com movimentos lentos, as vezes rápidos também. Andrew que me segurava com força e movia seu quadril para cima acompanhando meus movimentos soltava gemidos baixos em sua garganta até ficar ofegante. Eu acelerei os movimentos o quanto podia e antes que pudesse me dar conta, eu estava me juntando a ele nesses espasmos que nos levou ao orgasmo. Andrew me segurou com força o suficiente para quebrar todos os meus ossos e um gemido alto escapou de seus lábios. O vampiro debateu meu corpo contra a porta do celeiro e ela tremeu com o peso depositado naquela madeira velha que poderia se desfazer facilmente. Sua respiração estava forte e eu sentia seu coração bater rapidamente contra o meu peito. Eu me afastei um pouco de seu pescoço para que pudesse encontrar seus olhos. — De novo?— Ele perguntou, seu sexo pulsando dentro de mim. — Sim.— Minha voz saiu baixa.— Me morda dessa vez.— Pedi. — Eu irei mordê-la em cada parte do seu corpo, cherie.— Eu sorri, mas não recebi outro sorriso de volta. Andrew apenas me tirou de perto daquela porta e caminhou para o centro daquele celeiro abandonado. Por cima do meu ombro pude ver que havia vários montes de feno atrás de mim e o vampiro me jogou em cima de um daqueles montes, deixando que eles amortecessem minha queda. A dor não fez parte da minha queda, pois apenas de olhar Andrew no meio daqueles clarões de relâmpagos estava me deixando atordoada e meu corpo implorava por prazer. E foi exatamente isso que o vampiro me deu. ___________ Eu estava encarando o rosto de Andrew para observar cada detalhe dos seus olhos tão frios. Na última vez que os vi, mesmo que ele tentasse me proteger, ainda existia a morte e escuridão em meio dessa frieza, mas agora não existia mais. Apenas a sinceridade daquele poder de dizer muito


apenas com um olhar do que com palavras. Seus olhos ainda eram assustadores e ameaçadores, como sempre foi, mas em quanto sua alma estava negra, eles foram ainda pior. — Então você não consegue mais dormir.— O vampiro quebrou o silencio, quebrou aquele momento que eu e ele observava um ao outro. Seus braços ao meu redor me seguravam contra seu corpo, a única coisa que separava o contato das nossas peles eram algumas das roupas que voltaram para nossos corpos. A chuva já estava quase parando e provavelmente dentre algumas horas o dia já estaria chegando. — É melhor assim.— — Tudo por causa do que Amethyst fez a você?— — Sim.— Eu não menti.— Existem muitos pesadelos que atormentam meu sono.— Andrew levou sua mão até meu cabelo para retirar um pedaço pequeno de feno que havia se enroscado em umas das mechas, um sorriso torto cresceu em seus lábios antes de jogá-lo ao meio daquele monte em que estávamos deitados e ele não me deu nenhuma resposta, talvez não existisse nada a dizer sobre isso. Seus olhos voltaram para mim, mas não ficaram apenas fixos nos meus, o vampiro olhou por todo o meu corpo que estava coberto apenas com minhas roupas intimas. — Imagino que tenha lhe causado um problema.— — Problema?— Perguntei um pouco curiosa, eu não via tudo o que aconteceu como um problema. Não até fazer o mesmo caminho que Andrew fez com seus olhos. Meu corpo estava todo marcado com as mordidas que pedi e o vampiro prometeu dar várias delas, e elas estavam completamente rochas como se fossem apenas chupões por todo o meu corpo. A única diferença era que existia as marcas de suas presas também. Eu congelei por um segundo e logo depois me sentei para examinar algumas delas melhor em um choque ainda maior. — Por que elas não se curaram?— — Não sei.— Andrew falou tão calmo como se nada marcasse meu corpo.— Talvez seja algo que Saphyre misturou em seu feitiço.— Talvez ele estivesse certo, essa era a única explicação para meu corpo ainda estar marcado sendo que deveria estar curado. Eu olhei para trás, para o vampiro deitado no feno, e logo uma onda de raiva me atingiu. O vampiro estava se divertindo com o fato de eu estar parecendo um dalmata! — Não ria.— Resmunguei. — Não estou rindo.— Ele disse com um sorriso crescendo em seus lábios. — Então tire esse olhar de cafajeste de seus olhos.— — Desculpe, cherie,— Ironia pura invadiu suas palavras.— É mais forte do que eu.— O vampiro se sentou também e acabou ficando próximos das minhas costas. Ele provavelmente observou meus movimentos pequenos para ver cada uma das mordidas que estavam marcadas em meu corpo novamente e depois de um tempo, o vampiro beijou um dos meus ombros.— Não se preocupe com essas marcas, não é como se estivesse se tornando humana novamente.— — Me diga uma coisa,— Decidi ignorar essa preocupação, pois Andrew estava certo. Eu me virei apenas um pouquinho para encontrar seus olhos.— Você esteve na França? Seu sotaque francês. está maior do que antes.— — Sim, eu estive.— — Eu sinto falta de lá.— Falei.— Você poderia me levar até lá algum dia depois que tudo isso acabar, Andrew?—


— Eu acho que nós devemos morar Saint-Étienne por um tempo quando tivermos a chance.— — Jura?— Eu sorri, feliz com essa ideia de voltar a morar na cidade onde cresci e conheci o vampiro em minha frente. — Sim, eu juro.— Andrew colocou uma de suas mãos em concha no meu rosto, eu apoiei minha bochecha em sua palma quente.— Nós voltaremos a ser uma família como antes, nós seremos a família aberração novamente.— Família Aberração. Andrew chamava Iawy e Nyx assim no passado, sendo os dois minha única família, e o fato de todos serem de uma raça diferente fez com que o vampiro colocasse esse apelido em nós. O mais ironico era que ele passou a fazer parte dessa família depois que nos casamos. — Nós não deveríamos fazer planos como esses diante da situação que estamos.— Falei e ao mesmo tempo fiquei brava comigo mesma por ser tão negativa. — Bem, eu não serei mais um rei e muito menos membro da clave, não me resta nada além de me imaginar sentado em uma poltrona grande com um livro em mãos, um cachorro deitado aos meus pés para se esquentar com o fogo da lareira e quem sabe até mesmo terei um cachimbo.— — Isso me parece um futuro triste.— — Nós podemos adotar uma bebê licantropo ao invés de um cachorro, eu teria um cachorro aos meus pés de qualquer maneira na lua cheia.— — Andrew!— Eu tentei fingir choque, mas meu riso me traiu. — É uma verdade, não negue.— — Todos querem você morto.— Sussurrei, o lembrando da realidade.— Até mesmo a clave.— — Eles não terão.— O vampiro me olhou seriamente.— Se sou mesmo o filho de Zeus, esse seria um dos primeiros motivos que não ousariam levantar uma lamina em minha direção. E existe o fato de que não posso ser morto sem que alguém coma meu coração, lembra? Ninguém precisa saber como me matar, só devem estar cientes de que voltarei pior do que já fui nesses dez anos.— — Você fala tudo como se fosse simples.— Suspirei. Andrew sorriu e por um momento achei que fosse devido ao meu negativismo sobre tudo que ele falava de bom, mas logo percebi que eu estava apenas brilhando. Aquela camada leve e brilhante havia retornado. — Você sempre brilha quando está feliz.— Ele deduziu o obvio. — Parece que tudo está como antes, que esses dez anos nunca aconteceram entre nós... Mas sei que a partir do momento que sairmos desse celeiro, toda essa ilusão vai se dissipar como um papel fino jogado na água.— — Eu irei protegê-la de todo o mal agora, cherie. E não se preocupe, tudo voltará como era antes... Nossas vida juntos começou em um celeiro antigo e aqui estamos nós, reconstruindo nossos laços em um velho celeiro. Assim como antes.— Eu soltei um pequeno riso que não consegui controlar.— Você foi realmente um tolo quando me transformar em vampira, veja quantos problemas trouxe em sua eternidade.— — Sim, eu fui um tolo.— Ele soou arrependido.— Porém, eu imaginava que todas aquelas damas que se faziam de santas possuíam um fogo incontrolável por baixo daqueles vestidos enormes, apenas fui azarado em escolher a pior de todas.— Minha mão estava em direção de seu abdômen para beliscar sua pele até que o vampiro gemesse de dor, mas antes que tivesse qualquer chance de fazer isso, Andrew pegou meu punho e puxou todo o meu corpo até que nós estivemos nos abraçando, ele me apertou com muita força contra seu corpo de um modo que respirar se tornou dificil.


— Eu estou feliz, Roxie.— O vampiro sussurrou, me segurando em seus braços.— Nunca pensei que sentiria a falta de alguém como senti de você.— — Nós nunca iremos nos separar novamente, Andrew.— — Nunca mais.— Ele concordou comigo, aliviando um pouco sua força que usou para me abraçar. Mesmo assim, eu não me senti nem um pouco desprotegida ou solitária. E ainda não podia acreditar que o vampiro que amava por mais de séculos acabou voltando para mim depois de tantas barreiras caindo sobre ele. Agora, só nos restava matar Amethyst. E passar pelos caçadores de Iawy, claro.


30Eu estava caminhando a alguns passos a frente de Andrew em quanto fazíamos o caminho de volta para a central, minhas mãos se movimentavam alegremente enquanto falava sobre nossa futura casa em Saint-Étienne. O vampiro decidiu ficar a alguns passos de mim pois provavelmente não estava tão animado quanto eu sobre como nossa casa deveria ser. As vezes, até mesmo podia senti-lo revirando seus olhos ou segurando seu riso com minhas ideias. — Ela não precisa ser muito grande, já que não teremos mais guardas ou vários empregados.— Me referi a casa.— E precisa ser perto de alguma floresta para quando Nyx e Iawy forem passar alguns dias conosco e estiver perto da lua cheia. Ela precisará de um grande espaço para se sentir livre.— — Eu não me sinto confortável vivendo em uma casa pequena, muito menos feliz com a ideia de viver em um local não muito grande junto com Nyx.— — Oh, e teremos que guardar um quarto para Lúcifer e Emme também.— Falei ignorando Andrew. — Sei que quando a barreira de Londres deixar de existir ele irá para Dinamarca passar algum tempo por lá, mas ele virá nos visitar.— — Lúcifer tem planos para ir à Dinamarca?— — Eu imagino que sim, ele sempre fala sobre levar Emme.— Disse enquanto olhava por cima do meu ombro.— Por que isso o incomoda?— — Não me incomoda, mas desde que conheci Lúcifer, ele sempre esteve por perto. É quase surreal imaginar que ele estará na Dinamarca e eu na França.— — Bom, então eu não terei problemas em ter uma casa isolada em alguma ilha da Dinamarca, com várias pedras grandes e o mar bravo se debatendo contra elas.— Continuei andando, agora imaginando ter uma casa na Dinamarca. Eu nunca estivesse nesse país, mas Lúcifer sempre me mostrou fotos de suas cidades mais famosas e elas eram maravilhosas.— Eu também não me importaria se morássemos em um castelo, desde que fosse nesse país.— — Cherie, você...— — Nós poderíamos morar todos juntos nesse castelo!— Atropelei as palavras de Andrew, pois sabia que ele provavelmente me chamaria de louca.— Isso não seria maravilhoso, Andrew?— — Claro, desde que o castelo seja enorme e mais parecido com um labirinto para ninguém se encontrar.— Ele usou muita ironia em sua frase, mas decidi apenas escutar a parte em que ele dissera “Claro”. Nós estávamos bem próximos da central e isso fez com que eu sorrisse por um pequeno momento, por agora em quanto não poderíamos ter uma casa na Dinamarca ou França, a central seria o lugar responsável por nos juntar como uma família novamente. — Hei, Andrew, você...— Eu parei de falar no instante que percebi que não havia mais nenhum som de passos atrás de mim. Nem mesmo o som do riso contido do vampiro ou qualquer outro indicio de que ele estava se aproximando. Eu me virei em sua direção para ver o que havia acontecido e assim que fiz isso o vampiro soltou um gemido alto de dor e acabou caindo de joelhos no chão. Quando parei de falar, escutei o som de


algo vindo em nossa direção em uma velocidade que traía todas as leis do mundo em apenas um zunindo. Andrew foi atingido novamente e logo seu corpo todo se debateu contra o chão e o vampiro passou a se contorcer e gemer com a dor que aquilo estava causando em seu corpo. Estavam atirando em Andrew. — Andrew!— Eu corri até ele e me ajoelhei ao seu lado, de algum modo tentando servir de barreira para ele já que os caçadores tinham ordens de matar Andrew e não a mim.— Você está bem?— — Droga.— O vampiro xingou levando uma de suas mãos para a bala que mais se aproximou de seu coração.— A prata está se dissolvendo dentro do meu corpo como naquela vez que você atirou em mim.— — Oh!— Na época em que a loucura de Hebe derrubou sangue por toda a Rússia com suas criaturas abomináveis, a clave juntamente com outros caçadores criaram um tipo de bala que a partir do momento que entrava no corpo de alguém, sua casca se partia e liberava o pó de prata pela corrente sanguínea que tinha a intenção de chegar até o coração. Eu mesma já quase matei Andrew com uma dessas balas quando me deram um revolver sem nem ao menos imaginar como aquilo funcionava e Iawy sabendo que aquilo poderia parar Andrew, o vampiro mais antigo vivo, não era uma novidade que ele tenha adotado essas balas nos dias de hoje.— Por favor, não mate nenhum dos caçadores.— — Vá dizer isso para eles!— Andrew estava furioso, raramente alguém conseguia ver a cor de seu sangue e quando isso acontecia, seu orgulho era quebrado facilmente.— São esses caçadores que estão tentando me matar!— Andrew tirou sua mão que estava pressionada contra o peito e eu pude ver que ela estava completamente manchada pelo seu sangue. Sem contar que sua respiração estava alterada de um modo que dizia que ele estava sofrendo e eu não sabia o que fazer. Se fosse para a central pedir ajuda sabia que nenhum dos caçadores me permitiria entrar e havia o pequeno problema de que eles tentariam matar o vampiro no chão. Eu olhei por cima do meu ombro e vi que vários caçadores estavam caminhando para ficarem próximos de nós, nenhum deles intimidados com a leve chuva que caía do céu como se fosse o sereno da noite. E quanto mais próximos eles ficavam, mais minha mente deixava de funcionar. — Lúcifer!— Eu gritei ao mesmo tempo que fechava meus olhos para que minha voz saísse ainda mais alta. Não sabia se o vampiro viria ao meu chamado, mas era assim que funcionava comigo e Andrew. Eu apenas sussurrava seu nome e depois de segundos ele surgia para me proteger de qualquer coisa que estivesse acontecendo. Em todo esse tempo que estive sem o antigo rei dos vampiros, nunca havia tentado fazer isso com Lúcifer por mais que estivesse em problemas grandes. Andrew tentou se levantar quando viu que vários caçadores estava vindo em nossa direção, eu me levantei junto para servir de apoio quando seu corpo inteiro vacilou. Era obvio que não fui de muita ajuda já que quando tentei segurá-lo de pé, nós dois quase voltamos para o chão. Aquela barreira que o vampiro mantinha para controlar sua força estava se partindo devido à prata que existia dentro de seu corpo e acabou que ele também teve que me segurar para não cair quando minha tentativa de ajudá-lo foi direto para o lixo. — Andrew...— Sussurrei, fazendo força para pelo menos tentar dar algum tipo de apoio.— Não faça nada, por favor.— Eu sabia muito bem que mesmo sem forças Andrew poderia matar alguns caçadores que se aproximaram de nós e formaram uma roda ao nosso redor, todos apontando suas armas grandes para o vampiro, mas se isso acontecesse, se o vampiro tentasse qualquer tipo de movimento eles atirariam nele sem nenhuma piedade. E também nenhum caçador na central confiaria em Andrew


mesmo que ele estivesse do nosso lado, eles até mesmo poderiam fazer uma rebelião contra Iawy por aceitar “o psicopata” na casa deles. — Abaixem suas armas, senhores.— Aquela voz fria e cheia de sarcasmo surgiu em meio do silencio, a silhueta de um vampiro com cabelos loiros logo surgiu por trás daquela roda formada pelos homens de Iawy.— Sempre foi fora de opção apontar suas armas para uma das joias de Iawy. — — Nós temos ordens de matá-lo.— Um dos caçadores, justamente aquele que havia segurado meu braço mais cedo naquela noite, falou para Lúcifer, abrindo um espaço para encarar o vampiro atrás dele. — Essa ordem muda quando existe uma dama ao lado de alguém que não está fazendo nenhum mal.— — Não me de ordens.— Aquele homem rugiu em fúria.— Você não é digno disso quando nem ao menos se envolveu nessa guerra, não ajudou a ninguém alem de ficar fechado em seu quarto com aquel...— Lúcifer em um momento estava ouvindo o caçador falar aquelas bobagens com um sorriso sarcástico estampando em seu rosto, mas no outro momento o vampiro de cabelos loiros estava com sua mão dentro do peito daquele caçador onde existia um coração bombeando. Colocando aquele homem em paralisia por causa do medo de seu coração ser arrancado de seu peito, ainda vivo, Lúcifer o encarou com fúria mortal em quanto partia a arma daquele caçador ao meio com sua mão livre. — Não diga bobagens.— Lúcifer avisou com muito rancor, sua voz tão sombria quanto sua aparência.— Falar e fazer besteiras sempre resultam em mortes.— Aquele homem mal conseguia respirar em quanto Lúcifer segurava seu coração, faltando muito pouco para que fosse esmagado, o vampiro largou aquele homem que foi em direção do chão e se afastou com um passo. Seus olhos estavam baixos e alguns dos seus cabelos quase dourados tampavam eles. Eu deixei de olhar o caçador no chão se humilhando totalmente com a dor que acabou ganhando em quanto se curava para ver Emme na entrada da central, com uma de suas mãos cobrindo sua boca em choque. — Abaixem suas armas e se retirem.— Lúcifer ordenou aquilo, usando o tom severo de quando era um príncipe provavelmente, ele ainda olhava para baixo e seus olhos escondidos por seus cabelos não apareceram em nenhum momento.— Continuem aqui apenas os que tem a mesma opinião que esse caçador e talvez eu não mostre piedade dessa vez.— Os caçadores abaixaram suas armas e até mesmo ajudaram seu amigo no chão quando estavam voltando para a central, obedecendo Lúcifer como se ele fosse o chefe por ali. Lúcifer se virou para nós, dando suas costas para Emme que ainda estava parada em meio de tantos caçadores que passavam por ela com seus rabos entre suas pernas. — Quanto drama.— Andrew sussurrou com sua voz fraca, sorrindo em ironia para provocar Lúcifer. — Lúcifer... Obrigada.— Agradeci até mesmo por Andrew, imaginando que o vampiro nem ao menos diria algum tipo de agradecimento por seu amigo ter vindo quando o chamei em desespero. — Você demorou muito, eu poderia estar morto agora.— Eu revirei meus olhos em descrença, desejando lhe causar algum tipo de dor, mas o vampiro já estava sofrendo bastante com aquela prata em seu corpo. — Vá para o inferno, Andrew— Lúcifer murmurou caminhando em nossa direção, se colocando em baixo do braço de seu amigo para ser o verdadeiro apoio que nunca fui. Eu não deixei minha posição, mas senti cruelmente quando o antigo rei dos vampiros deixou que sua barreira se partisse


um pouco mais agora que seu amigo o segurava. Nós começamos a caminhar para entrar na central e quando ficamos um pouco mais próxima de Emme, a deusa correu em nossa direção e se jogou em cima de Andrew, o envolvendo em seus pequenos braços, o abraçando mesmo que Lúcifer e eu estivéssemos atrapalhando um abraço que poderia ser perfeito. De relance, eu vi que algumas lágrimas escorreram dos olhos de Emme, eu gostaria de ter observado a deusa do fogo melhor, mas aparentemente a amada de Lúcifer não tinha muita noção de sua força e quando se lançou contra nós, quase acabamos todos no chão e foi realmente dificil encontrar o equilíbrio para manter Andrew, com mais dor ainda agora, em pé. — Me desculpe, me desculpe!— Emme falou em certo desespero ao ver que acabou se sujando de sangue e quase ter derrubado todos.— Não sabia que estava machucado, Andrew, me perdoe.— — Está tudo bem, Emme, apenas estou sendo carregado porque esse é o dever dos meus súditos.— O vampiro disse gentilmente, apesar da brincadeira ironica quase ter passado em branco. Lúcifer lhe jogou um olhar fuzilador. — Aqui, me deixe ajudá-lo.— Emme disse colocando a palma de sua mão com todos seus dedos abertos contra o peito de Andrew, deixando que uma luz fraca misturada ao branco e amarelo surgisse logo a baixo de sua mão em uma fina camada que poderia ser comparada com o brilho de uma estrela, que durou apenas segundos. O vampiro que antes estava se apoiando em mim e Lúcifer endireitou sua coluna, e se demonstrou estar bem, ele estava curioso pelo o que tinha acontecido também, mas não disse nada. Tirando o braço que estava nos ombros de seu amigo para colocar sua mão, sem sangue, na cabeça de Emme e bagunçar seus cabelos vermelhos que sempre davam a impressão de que estava pegando fogo. Ao meu ver, a deusa em nossa frente havia curado Andrew com o seu poder. — Você é como uma caixinha de surpresas, não é mesmo, Fiemme?— Andrew sorriu com sinceridade, tirando a mão de sua cabeça para mostrar que todos fios de seu cabelo ficaram rebeldes. — Eu não fiz nada.— Ela disse corando levemente.— Apenas queimei a prata que estava em seu sangue.— — Apenas.— Andrew foi ironico. Emme olhou para Lúcifer e o vampiro desviou seu olhar para o lado, como se tivesse ouvido algo se aproximando de nós, mas eu sabia que não havia ninguém. O vampiro de olhos verdes, desde que se juntou a essa deusa inocente, sempre fazia o máximo possível para que ela nunca visse sua maldade e hoje ela o pegou no flagra. Por um lado, foi algo bom, pois por mais que aquele caçador estivesse nos tirando do sério, ele não merecia morrer. A única pessoa que Lúcifer devia sujar suas mãos de sangue era com Amethyst. Andrew percebeu que algo estava acontecendo ali devido ao clima pesado que se criou, ainda com seu braço ao redor dos meus ombros, ele me deu um leve empurrão para começarmos a andar.— Vamos.— Ele disse, mas antes mesmo que eu pudesse começar a andar, Emme desviou de nós e foi até Lúcifer para pegar seu polegar, que não estava sujo com o sangue daquele homem, com sua pequena mão e começou a puxar o vampiro loiro para nos acompanhar. E nesse momento eu vi que mesmo que Lúcifer e Emme sofressem nesse relacionamento onde uma alma inocente se misturava com alguém que nem ao menos possuía uma, ambos superavam seus limites para ficarem juntos. Bom, imagino que essa era a resposta do que era amor para Lúcifer, que sempre disse que só poderia existir esse sentimento quando tudo fosse reciproco. Nós fomos até a biblioteca da central, o local que era menos acessível e teríamos paz para conversar, quando entramos naquele lugar quase abandonado, por sorte, encontramos Charles e


Saphyre. Lúcifer pediu para que um caçador fosse atrás de Iawy e mesmo que estivesse descansando, que insistisse para o incubus encontrar o vampiro de cabelos loiros na biblioteca. Por ora, eu observei Saphyre com curiosidade. A pequena bruxa estava com suas bochechas coradas levemente e depois que nós entramos e viu Andrew, só faltou pegar fogo. Aparentemente, a única que sabia o que aconteceu era a deusa do fogo, talvez eu perguntasse mais tarde para alguma delas. Saphyre estava feliz por ver o vampiro na central e o abraçou com força exatamente como Emme fez. Charles apenas sorriu e disse que era bom ver Andrew inteiro, o vampiro o ignorou como se nem ao menos existisse, mas eu vi que levemente movimentou sua cabeça, o que seria muito vindo de Andrew. Depois de alguns minutos esperando Iawy, eu acabei me sentando ao lado de Emme e Saphyre, deixando Andrew encostado em uma das prateleiras de livros antigos com um de seus ombros e braços cruzados em frente ao seu peito. Charles estava observando a vista de uma janela próxima da mesa em que nós estávamos, tão calmo e imóvel que parecia uma estatua. Já Lúcifer, andava de um lado para o outro impaciente, apenas Andrew acompanhava o que seu amigo fazia com o seu olhar. Iawy entrou na biblioteca depois de quase meia hora, seus cabelos loiros e quase escuros estavam um pouco bagunçados, dando a impressão de que ele já estava dormindo. Ou não. Nyx não o acompanhou, pois ela já devia estar ciente de que Andrew estava na central e não o desejava vê-lo tão cedo. Uma parte de mim ficou um pouco magoada, imaginando quantas pessoas iriam negar Andrew em suas vidas, mas por outro lado, sempre soube que Nyx seria a mais complicada de se lidar caso o vampiro mudasse de lado. O incubus arqueou sua sobrancelha assim que seus olhos escuros encontraram Andrew encostado em uma de suas estantes cheias de livros, ele parecia muito surpreso por ver o vampiro ali sem destruir ou matar alguém, mas não demonstrou muito. — Bem,— Iawy disse com um sorriso irônico.— Imagino que teremos de colocar as novidades em dia.— — Temo em dizer que já terminei meu cachecol sozinho, Iawy, mas nós poderemos começar outro tricô para colocar a conversa em dia.— Andrew sorriu, um sorriso sincero misturado com ironia.— Agora, nós temos que tratar de coisas mais importantes.— Todos ficaram em silencio naquele momento, Lúcifer parou de andar de um lado para outro e Charles se virou para nós ao invés de encarar a vista que aquela janela lhe proporcionava. — Você achou uma maneira fácil de matar Amethyst.— Saphyre sussurrou, não era uma pergunta, e sim uma afirmação. E não havia duvidas que era aquilo, pois Andrew falou que voltaria para a central quando encontrasse uma maneira de matar a feiticeira que caiu na desgraça de ser imortal. Era dificil ler a expressão de Saphyre, eu não sabia se ela estava feliz ou triste. Afinal, com uma alma negra ou não, Amethyst não deixava de ser irmã dela e quando Andrew perdeu seu irmão, por mais que ele merecesse a morte, o vampiro sentiu a perda... Uma parte egoista minha não queria que Saphyre ficasse mal. — Eu sinto muito, Saphyre.— Andrew falou e em seus olhos frios demonstrou o quanto sentia por aquilo. — Eu acho que está tudo... bem.— A bruxa ao meu lado tentou sorrir, mas falhou sem nenhum sucesso. — Você deseja ficar aqui?— Perguntei gentilmente, não tendo certeza se seria uma boa ideia ela ouvir o que Andrew iria dizer por em quanto. — Uma hora ou outra eu terei de saber, não faz diferença.— — Tem razão.—


Pelo canto do olho notei que Emme estava me observando com aqueles olhos claros cheios de curiosidades, eu virei meu rosto para encará-la e até mesmo perguntar o que aconteceu para que tivesse ganhado a atenção de seu olhar, mas a deusa do fogo foi muito mais rapida do que eu.— Por que você está toda marcada, Roxie?— Eu congelei e possivelmente teria corado se não fosse tão gelada quanto uma pedra de gelo quando o olhar de todos vieram para mim. — Ai está uma boa pergunta que nem eu mesmo sei responder.— Andrew disse com ironia. — Emme,— Lúcifer disse calmamente, em um suspiro que procurava paciência para lhe explicar.— Existem casais que preferem ser agressivos ao invés de...— — Não, Lúcifer.— Ela impediu que ele terminasse de falar desesperada para que não concluísse sua frase com alguma palavra que era proibida para sua alma.— Eu sei como ela ganhou isso, mas... Por que Roxie ainda está marcada? Ela é imortal, não deveria ter nenhum machucado.— — Emme tem razão, Lúcifer.— Iawy saiu de seu silencio. Eu estava prestes a abrir minha boca para dizer a explicação mais plausível por ainda estar com essas marcas em meu corpo, mas quando o pensamento ainda persuadia minha mente para começar a falar um grande estrondo invadiu a biblioteca e um vento se debateu contra minhas costas fazendo meus cabelos criarem vida, me virando na cadeira com o coração acelerado devido ao susto, eu vi a estante que Andrew estava encostado antes no chão com os livros todos bagunçados e quebrada, o vampiro também estava caído e totalmente inconsciente. Deixando minha cadeira para trás ao me levantar, eu corri até Andrew e caí de joelhos ao lado de seu corpo, tomando cuidado para não cair em cima dele e piorar toda a situação. Minha mão foi de encontro ao seu peito, onde seu coração batia fracamente, mas ainda assim, batia. A prova de que o vampiro estava vivo. — O que aconteceu?— Eu perguntei, vendo que todos estavam se aproximando para conferir se o vampiro estava vivo, por não ter demonstrado desespero ou simplesmente ter começado a chorar, eles deduziram que o vampiro ainda acordaria bem mais tarde. Charles se abaixou ao lado do vampiro exatamente como eu, ao lado aposto do meu, o feiticeiro colocou seus dedos pálidos na jugular de Andrew, ficando em silencio por alguns segundos que pareceram horas.— Existem\ magia em seu sistema.— Ele disse. — Sim... Saphyre fez um feitiço que ajudaria a limpar a alma de Andrew, eu pensei que esse fosse o motivo por estar marcada também. Alguma consequência desse feitiço. Pode ser isso, não?— Com toda sua calma de sempre, Charles olhou para cima, provavelmente para Saphyre que estava logo em minhas costas esperando que ela respondesse uma pergunta não feita. — Não foi magia negra.— Ela disse finalmente.— Eu pesquisei em livros antigos de nossa mãe e ela sempre foi contra esse tipo de magia.— — Só pode ser o sangue restante de Amethyst em suas veias, essa é a única explicação sensata.— Chales tirou a seus dedos da jugular do vampiro.— Temo que será preciso uma limpeza em suas redes sanguíneas.— — O que isso significa?— Eu perguntei olhando para o feiticeiro em minha frente e sua expressão não era nada boa. — Significa,— Foi Iawy que tomou as palavras de Charles.— Que nós teremos que usar a única coisa que pode causar dor em um vampiro.— — Prata.— Eu sussurrei. — Isso é arriscado, Iawy, ainda mais agora que ele está fraco.— — Eu sei.— Iawy respondeu Lúcifer.— Mas que escolhas temos? Se deixarmos o sangue de Amethyst correr livre, isso também pode matá-lo.—


— Eu...— Era Emme, sua voz mais tremula do que quando ela estava com medo.— Eu posso ajudar.— — Pode?— A maioria naquela sala perguntou ao mesmo tempo, mas o obvio logo chegou em minha mente como uma onda cheia de raiva. Emme era uma deusa, a única filha de Hades e que ainda possuía metade do coração de um dos deuses mais poderosos do mundo, é claro que ela podia ajudar. — Você não pode.— Sussurrei calmamente.— O que você diria para os deuses ao fazer algo proibido em nosso mundo?— — Não é proibido.— Emme disse com um tom que poderia ser considerado até mesmo... perverso. Por um momento, eu vi a deusa que ela fora no passado antes de ser traumatizada a ponto de ter medo de conhecer o desconhecido, a deusa que mesmo com uma alma pura podia ser travessa.— Eu estarei apenas ajudando o queridinho deles.— Eu olhei por cima do meu ombro para ver Emme logo atrás de mim, com seus braços cruzados sob o peito e uma expressão de pura determinação. Lúcifer que estava ao seu lado estava com um sorriso torto em seu rosto, um sorriso que demonstrava o quanto ele estava orgulhoso de sua amante quebrando as regras. — Imagino que essa seja nossa melhor opção do que simplesmente jogar prata em suas veias.— Charles disse.— Emme pelo menos terá uma noção de quando parar.— — Tudo bem, eu acho.— Falei, pois parecia que eu tinha que dar a permissão para que fizessem algo com Andrew. — Eu preciso que vocês o prendam.— Emme falou novamente. — Por que?— — Porque naquele momento que usei meu poder para ajudá-lo com a prata, existia pouca dela em seu corpo, seu sangue está misturado com o de Amethyst e creio que causará muita dor a Andrew, ele pode ficar selvagem e me machucar, Roxie.— — Não tem problema, desde que ele e você fiquem bem.— Disse, imaginando o quão furioso ficaria o vampiro ao acordar e ver que estava preso como um animal. Eu também fiquei um pouco curiosa ao me perguntar o quão ruim seria para que ele tivesse que ser preso. *** Eu estava fechada em meu quarto nesse momento, furiosa pelo simples fato de que ninguém permitiu que eu ou Saphyre ficasse presente naquela sala que levaram Andrew. Era uma sala subterrânea e em seu interior não havia simplesmente nada, apenas correntes grossas que saiam do teto, onde provavelmente prenderiam o vampiro. Também existia uma janela de vidro que levava a outra sala, o vidro deveria ser do tipo especial que provavelmente não revelava ninguém que estivesse assistindo o sofrimento das pessoas que estiveram no mesmo lugar de Andrew ou deixava escapar qualquer tipo de som. Meu desejo era de ter permanecido naquela sala depois que me censuram ficar próxima de Andrew, mas logo Iawy pediu de sua maneira educada que fosse para o meu quarto, pois o que aconteceria com o vampiro inconsciente seria torturador para mim. E que naquele momento, Andrew não seria ninguém que já conhecemos um dia, se tornaria um selvagem que arrancaria a vida de muitas pessoas por uma simples gota de sangue, ficaria irracional por causa da dor e caso ele percebesse que eu estava presente, poderia piorar tudo. No fim, Charles pediu para que Saphyre me acompanhasse, o motivo era simples mais do que o meu, a pequena já era traumatizada o suficiente para ver a única pessoa que confiava sua vida se tornando um animal. Até mesmo Lúcifer estava com medo de deixar Emme la, mas em seu caso, não haveria o que fazer. Essa era a explicação para estar enterrada em minha cama ao invés de estar próxima da pessoa que amava para dar o suporte que merecia. Eu sabia que seria horrivel o que aconteceria, pois antes de


Emme oferecer ajuda, iriam colocar prata em sua rede sanguínea e apenas vampiros sabiam o quanto era ruim só de encostar na prata, ninguém imaginava o quanto nos levava a morte ter ela dentro do corpo se misturando com nosso sangue. Mesmo assim, sem a prata, Andrew estava sendo preso naquelas correntes grossas. Então, a dor provavelmente seria quase a mesma, mas ainda assim, eu desejava estar lá. Um grande suspiro de pura frustração saiu dos meus lábios, eu não podia acreditar que estava fechada e deitada em minha cama em quanto Andrew estava preso em correntes, com sua vida quase em risco, o que era meio duvidoso que ele realmente estivesse em risco já que matar o vampiro não era uma coisa fácil. Ainda assim, era quase ridículo que estivesse aqui. Eu, praticamente, era a esposa de Andrew. Tudo bem que era terrível em exercer esse papel na maioria das vezes e que nem ao menos merecia estar ao lado dele já que quando tive chances de mostrar que eu era sua mulher, apenas tomava os caminhos errados, mas... Foi a mim que ele pediu em casamento no final das contas. Não Lúcifer, Iawy ou Emme! Era ridículo ter aceitado a proposta educada de me retirar daquele lugar que provavelmente era onde Iawy torturava as pessoas que se negavam lhe dar a resposta que precisava. E por mais que existissem pessoas que merecessem isso, eu ficava incrédula ao tentar imaginar o incubus comentando um ato tão terrível como esse. Definitivamente, não combinava com ele ser o policial ruim. Não tinha como imaginar a pessoa que me acolheu em seus braços, me ensinou a ser uma vampira e ainda cuidou de mim como se fosse sua própria filha como um tirano sem coração. O pior, por mais que minha mente se negasse a aceitar essa realidade, era que Iawy realmente poderia ser alguém sem coração. Eu nunca o vi ser assim, perder sua paciência... O incubus sempre foi o que era nos dias de hoje, calmo como uma víbora que não se sentia ameaçada. Talvez ele fosse como Lúcifer, que se negava a mostrar sua crueldade diante de Emme. Bom, eu gostaria de ver sua paciência se esgotando e tinha certeza que Nyx concordava fielmente. Ela mais do que ninguém desejava ver seu amante sair dos trilhos que sempre seguiu sem dar nenhum passo para o desconhecido sem antes estudá-lo. Talvez fosse por causa disso que o incubus tenha vivido por tanto tempo, por não arriscar sua vida como se não valesse nada como a maioria de nós fazíamos. Como Andrew e Lúcifer, por exemplo. Deixando isso de lado, um assunto que somente Iawy me daria respostas, eu fiquei de pé e caminhei até a porta do meu quarto para ir até o lugar onde Andrew estava, não me importava os motivos que me fizeram subir até aqui, eu ficaria naquela sala onde ninguém perceberia minha presença. Eu abri minha porta e quando fiz isso, quando meus olhos encontraram os de outra pessoa, todas minhas esperanças de ficar perto de Andrew foram embora e a realidade de ter que passar a noite em minha cama me atingiu duramente. Iawy estava em minha frente agora e um sorriso calmo surgiu em seus lábios. Era tão calmo que chegava a ser cretino. — Indo a algum lugar, Roxie?— Perguntou. — Não.— Eu murmurei e virei quando soltei a porta para caminhar em direção da minha cama. Entendendo exatamente onde era meu lugar. — Sério?— Iawy entrou em meu quarto e fechou a porta em suas costas.— Pensei que estivesse saindo de seu quarto quando abriu a porta.— — Andrew?— Decidi perguntar ao ignorar sua provocação.— Ele está bem?— — Não se preocupe, Emme sabe o que faz.— — Por que está aqui?— Perguntei mais curiosa do que com pressa com que ele fosse embora. Isso


jamais aconteceria vindo da minha parte. — Eu vim conter uma jovem dama que estava prestes a fazer uma fuga.— Ele disse sorrindo, eu não pude conter um também.— Além do mais, Nyx estava aqui em cima sozinha.— — Um pouco protetor demais, não acha, Iawy?— — Em tempos de guerra a proteção é nosso maior tesouro e vitória.— Iawy caminhou até minha cama e se sentou na ponta dela, em quanto eu adotava uma posição meio deitada com minhas costas na cabeceira dela.— As únicas pessoas que eu realmente confio para cuidar dela estavam todos no subsolo, eu não poderia deixar você e ela sem nenhuma proteção. Ainda mais que o dia em que Amethyst nos atacará está mais próximo do que antes com Andrew aqui.— Iawy tinha razão... Agora que Andrew estava aqui, eu só poderia rezar para ela não aparecer justamente agora que o vampiro estava inconsciente e em correntes. Tantas pessoas morreriam... — Iawy...— Seu nome saiu como um sussurro.— Você tem medo de morrer?— — Quando se é imortal e se viveu tanto, eu apenas tenho que temer a vida, não a morte.— Ele disse, se virando para encontrar meus olhos.— Aqueles que estão longe de morrer por causas humanas, não possuem nenhum medo da morte.— — Imagino que eu seja uma coisa rara no meio desse mundo, então.— Falei um pouco sarcástica. — Você conhece a morte, Roxie.— A mandíbula de Iawy se apertou.— Apenas aqueles que voltam dessa experiencia tem o direito de saber o quão devastador pode ser.— — É horrível.— Sussurrei. — Você passou perto da linha da morte tantas vezes e agora que a conheceu, é realmente surpreendente como pode lidar com ela. Mesmo que seja verdade em acreditar que fisicamente você não é forte, sua mente tem força o suficiente para deixá-la viva.— Eu soltei um riso amargo.— Eu gostaria que isso fosse ao contrario.— Pelo menos Londres ainda estaria inteira e muitas pessoas viveriam. — A mente é o nosso maior poder, mesmo que não exista valor aplicado nela.— Iawy sorriu para mim.— Você gostaria de saber algo sobre meu passado que a envolve, Roxie?— — Sim.— Eu falei.— Por favor.— — Como já é de seu conhecimento, os incubus foram as primeiras criaturas sobrenaturais que os deuses criaram. Nós eramos, para os humanos, seus superiores. E nós eramos, desde que os deuses seguiam suas regras fielmente a ponto de nunca pisarem na terra. E quando nós tivemos sucesso em mostrar que os planos deles criarem mais raças imortais funcionaria, para que pudessem acabar com seus poderes acumulados, já que guerras não aconteciam mais, aos poucos outras raças foram aparecendo com o passar dos anos. Nós, os incubus, ainda eramos superiores. Eles existiam para manter a ordem entre humanos e os imortais que poderiam ser cruéis. Eu era apenas uma crianças quando tudo isso aconteceu, mas quando cresci e estava prestes a assumir o papel dos meus pais, eu me apaixonei.— Um sorriso para o nada, uma lembrança esquecida em sua mente. — Oh!— Eu fiquei surpresa, mas nem ao menos sabia o por que. Considerando que os pais de Iawy foram os primeiros incubus criados pelos deuses, ele era tão antigo que eu nem ao menos sabia exatamente sua idade. E era obvio que Iawy já tinha se apaixonado diversas vezes antes de Nyx. — Ela era penas uma humana egípcia, mas era muito diferente das mulheres daquela época. Ela não possuía cabelos médios e olhos negros. Merit era totalmente o oposto com seus cabelos castanhos longos e ondulados, olhos azuis gélidos, ela era apenas uma das servas de minha mãe. Alguém totalmente proibida para mim, então quando ela descobriu que estava vivenciado um amor com uma humana, com sua serva, minha mãe a jogou dentro de uma tumba cheia de vampiros esquecidos para morrer por quebrarem suas regras, para me mostrar que mortais eram fracos e sentimentos que nos tornavam humanos também eram. Eu era um governante, não alguém que tinha o direito de se apaixonar por alguém tão fraca e abaixo da minha escala. Depois disso, eu peguei certo ódio por vampiros e nem mesmo aqueles que eram inocentes eram visto dessa forma para mim.— Os olhos de Iawy se escureceram ainda mais, se fosse possível.— Anos mais tarde eu abri a central de caçadores e recrutei todas as raças sobrenaturais que desejavam trabalhar para mim, deixando os


vampiros de lado. De fato eram eles que faziam mais bagunça na paz do mundo, ainda fazem, e quando se tratava deles não havia nenhuma piedade em mim. Bom, até o dia que eu encontrei naquele beco escuro.— Eu o encarei com curiosidade dessa vez, mesmo que uma parte do meu coração sentisse muito pela história que o incubus viveu. — Mesmo toda suja e com aquele sangue seco ao redor do seu corpo, seu medo que a fazia se encolher como se isso fizesse sumir diante dos meus olhos, eu não consegui sentir nenhuma misericórdia, mas quando você me olhou com o último pingo de coragem que ainda existia em seu corpo, isso me fez mudar de ideia.— Um pequeno sorriso cresceu nos lábios de Iawy.— De alguma forma você me fez lembrar de Merit, seus olhos e cabelos que na época eram escuros eram exatamente como os dela. E o que mais me trouxe lembranças do passado, foi ao ver que mesmo sabendo que iria morrer, você me encarou exatamente como ela fez com minha mãe antes de ser jogada naquela tumba. Ela a encarou de maneira que demonstrou o quão fraca era, mas em seu interior existia uma força muito maior do que as pessoas podiam imaginar. Na hora eu até mesmo pensei que não tive coragem de matar uma vampira tão jovem e recém-feita, por isso procurei desculpas para não fazer isso, mas até hoje tenho provas de que estava completamente enganado sobre isso.— Eu sorri para o incubus em minha frente, tão agradecida que não existiam palavras para dizer o quão feliz estava por essa lembrança compartilhada que devia ser tão especial e importante para ele. — Você é incrível, Iawy.— Eu arrastei meu corpo até que estivesse ao lado dele para abraçá-lo com força.— Um dia, eu quero salvar sua vida do mesmo jeito que você fez com a minha.— — Você já salvou muitas vidas, Roxie.— Ele disse com uma mão em meus cabelos.— Você me fez dar uma segunda chance para vampiros.— Muito mais tarde quando os primeiros raios de sol passaram aparecer, Iawy deixou meu quarto consciente de que eu estava dormindo profundamente, mas assim que o incubus fechou a porta do meu quarto, meus olhos se abriram rapidamente e eu já estava desperta. Era hora de ver Andrew. Depois de sair do meu quarto com extrema cautela, eu fui em direção daquele lugar no subsolo onde Andrew estava. Quando cheguei nas escadas meu coração deixou de bater rapidamente, pois se não tivesse sido pega por alguém até aquele momento, ninguém mais me acharia indo em direção do vampiro. A não ser que Lúcifer, Emme ou Charles ainda estivessem naquela sala, mas devido ao tempo que se passou, com sorte todos já estariam em suas camas. Eu desci aquelas escadas de ferro que rangiam apenas por respirar perto delas com o maior cuidado que poderia ter. No caso de ainda existir alguém lá em baixo, eu voltaria para meu quarto e fingiria que nunca estive aqui para que mais tarde pudesse voltar, caso contrário, ao me verem nesse lugar, eles montariam uma guarda para cada segundo que passasse até que Andrew estivesse livre. Mas como eu imaginei, não havia mais ninguém naquele subsolo além do silencio e escuridão. Eu não sabia exatamente para onde ir, já que todas as luzes estavam apagadas. Por um momento, desejei começar a brilhar como sempre acontecia quando estava feliz e com Andrew, pelo menos um pouco de luz existiria. Infelizmente, minha única opção foi seguir na escuridão até achar a porta da sala em que Andrew estava, em baixo dela existiam pequenos fragmentos de luzes que escapavam para iluminar inutilmente aquela escuridão que eu me encontrava. Depois de ficar próxima a ela e não ver nenhum movimento ou conversa, eu a abri.


Eu não me importei de verificar se poderia existir alguém lá dentro dormindo, o que poderia ter se tornado uma realidade, mas meu impulso de fechar a porta e caminhar até aquele vidro que me ocultava e dava uma vista perfeita de Andrew fez com que meus pensamentos e planos voassem para longe. Por sorte, realmente, não existia mais ninguém naquela sala de tortura além de Andrew. Minha respiração ficou presa em minha garganta quando meus olhos encontraram ele preso naquelas correntes, meu coração se acelerou também em apenas imaginar que estava sofrendo tanto. E por mais que eu soubesse que estava ali para o seu próprio bem, não era assim que eu via Andrew. Tão fraco e facilmente quebrável... Andrew estava sem sua camisa de antes, seus braços levantados para cima por aquelas correntes grande e grossas eram o que o mantinham de pé, antes quando eu estive aqui, não existiam rachaduras no teto de onde elas saiam, mas agora era diferente. Era, praticamente, quase um milagre que Andrew ainda estivesse sendo segurado por aquelas correntes. Ele também estava sujo de sangue, o sangue ainda não estava completamente seco, o que fazia pequenas gotinhas vermelhas escorrerem por seu peito nu deixando seu rastro meio alaranjado para trás quando se misturava com o seu suor. O vampiro estava com sua cabeça abaixada, seus cabelos tão negros quanto a escuridão de uma noite sem estrelas estavam jogados em frente de seu rosto. Sua respiração era levemente notável, tão calma quanto um felino que estava prestes a atacar sua presa de uma forma tão fria e calculista. Eu sorri por um momento, pois mesmo que estivesse tão vulnerável, ele ainda era o predador e não uma vitima. Isso era tipico do antigo rei dos vampiros. Andrew... O vampiro levantou sua cabeça segundos depois que disse seu nome em meus pensamentos, por um momento eu podia jurar que ele havia escutado e que ainda estava me vendo, mesmo que tudo isso fosse impossível. Seus olhos azuis estavam fixos em um único ponto, se não fosse pelo vidro que me ocultava, eles estariam travados com os meus. As batidas do meu coração insistiram em acelerar quando eu vi que suas presas estavam expostas e só existia somente duas delas, seus olhos já não eram mais negros também. E ver isso fez com que tudo tivesse sentindo agora. Depois que ele tomou meu sangue, as veias negras que se ressaltavam ao redor de seus olhos deixaram de existir, e agora que Emme tirou todo o sangue de Amethyst de seu corpo, não existia mais nada daquilo que nunca fez parte dele. Andrew estava com a aparência de qualquer outro vampiro. Não contendo a mim mesma e muito menos considerando os riscos que minhas atitudes poderiam causar, eu caminhei até a porta que me daria acesso a sala em que Andrew estava, depois que a abri, passei por ela sem pensar duas vezes. Os olhos de Andrew estavam em mim antes me que pudesse me virar para caminhar até ele, não havia mais nenhuma maneira de esconder minha presença, então isso era mais do que obvio. Mas o vampiro não falou nada, nenhuma ironia ou brincadeira, tudo o que ele fez foi enrolar suas mãos ainda mais naquelas correntes que deveriam ser de prata, já que seus braços estavam sujos de um vermelho vivo que escorreram para baixo. — Vá embora, Roxie.— Ele falou quase em um rugido. — Não.— Disse quando fiquei frente a ele, com alguns passos separando nossos corpos. — Eu estou com tanta fome... Essas correntes não irão me segurar.— Olhando rapidamente para cima, eu vi que ele esmagou ainda mais aquelas correntes em seus dedos, um sinal de que ele não estava mentindo e que eu deveria realmente ir embora... — Não me importo.— — Você irá se importar quando eu deixar seu corpo seco.— Andrew resmungou.


— Não se esqueça que nós somos Roxie e Andrew,— Eu cruzei meus braços em minhas costas e me balancei nos saltos de minhas booties. Ter medo era algo que deveria acontecer nesse momento, mas confiava nesse vampiro em minha frente de uma maneira que não me importava em brincar com ele mesmo estando mais perigoso que o normal. E eu tinha que mostrar que confiava minha vida a ele.— Nós trocamos nosso desejo por sangue pelo nosso amor, então não é realmente assustador saber que você está com fome.— Um leve sorriso surgiu nos lábios de Andrew, mostrando aquelas presas que poderiam ser tão boas quando o assassino que existia dentro desse vampiro não existia.— Como eu sabia que você estaria aqui quando tivesse a chance?— — Bem, eu ainda continuo sendo a mesma Roxie.— Um sorriso cortou meu rosto.— Sempre correndo atrás do perigo.— — Eu acho que foi esse pequeno detalhe suicida que fez com que me apaixonasse por você, cherie. — Ele fechou seus olhos naquele momento, procurando o controle que quase não possuía. E eu não iria torturá-lo tanto, logo voltaria para meu quarto, mas não agora. — Tenho certeza que sim.— Uma brincadeira provocativa.— Mas também existe todo o meu charme e um belo corpo que o seduziu antes mesmo que piscasse seus olhos.— — Cherie,— Um murmurio que parecia uma carícia suave.— não se esqueça que eu sou o Andrew dessa relação, não você.— Eu ri por um momento e aproveitei sua distração com meu riso para dar um passo a frente, deixando que a distancia entre nós ficasse ainda menor. Sabia que era arriscado para mim e a ele, pois por mais que confiasse em Andrew, era bem provável que o vampiro me jogaria por uma janela se eu permitisse que uma gota de meu sangue caísse no chão quando ele realmente não desejava que isso acontecesse.— Você me assustou hoje.— Falei calmamente depois que o silencio nos atingiu. — Bem, se eu fosse um humano qualquer, provavelmente, já estaria morto por todos os ataques cardíacos que você provocou nessas aventuras suicidas, mas como não sou humano, não se preocupe. Eu estou bem agora.— — Não seja tolo, não é como se eu implorasse para que me matem.— Disse ao mesmo tempo que segurava meu riso e dava mais um passo para frente. Agora era apenas mais um passo que nos separava. — É mesmo?— Andrew arqueou uma de suas sobrancelhas perfeitamente.— Parece que estou vendo uma placa ao redor de seu pescoço dizendo “Sangue Grátis”.— — Isso era uma verdade.— Eu dei de ombros.— Mas como você foi um garoto mau durante tanto tempo, não é mais grátis.— — Droga.— Andrew estava brincando comigo.— Que belo momento de perder meus poderes, agora nem ao menos posso tirar a força o que desejo.— Outro sorriso surgiu em meu rosto, mas ele não durou muito.— Você sentirá falta dos seus poderes? — Perguntei com certa curiosidade.— Quero dizer, agora que o sangue de Amethyst não está mais em seu corpo, imagino que todos aqueles truques se foram.— — Sim, eles se foram. E eu nunca precisei deles de qualquer maneira, então não irão fazer nenhuma falta.— — Sinto muito.— Falei, pois eu sabia o que era perder uma imortalidade ou um simples poder. — Não sinta.— Andrew disse.— Eu prefiro ter você e meus sentimentos novamente do que qualquer outro poder que me tornaria invencível.— Depois disso, dei o último passo que faltava para que o espaço entre nós se tornasse centímetros. Andrew prendeu sua respiração no momento que me aproximei e apertou aquelas correntes ainda mais ao redor de seus dedos. Eu senti o cheiro de sua carne sendo queimada pela prata e logo mais sangue escorreu por seus braços. Eu não o abracei, pois sabia que ao ter minha pulsação em sua pele ele não se controlaria mais, então tudo que fiz foi levar minha mão até seu rosto e acariciá-lo com as costas dos meus dedos. Andrew, agora que eu havia me tornada quase uma estrela, tinha se tornado muito mais quente que


eu, mas nesse momento, o vampiro estava mais quente do costumava ser, sua estava bochecha queimando sob as costas dos meus dedos. Eu levei minha outra mão para seu rosto também e depois esfreguei meus dedos gelados em suas bochechas, como se minha frieza fosse ajudar de alguma maneira a deixar sua temperatura normal. — Algo está errado.— Andrew murmurio, seus olhos trancados aos meus. Aqueles azuis que eram raros em outras pessoas, tão frios e ao mesmo tempo vivos. — O que está errado?— Além de nossas vidas, de Londres estar perdida na destruição, de Amethyst e sua mente louca... Oh, eu não podia esquecer também de que agora Andrew era conhecido como o filho de Zeus! — Parece que você esta em meu interior, em cada pulsação do meu corpo...— Ele disse.— Eu não sei explicar, cherie.— — Você esqueceu o que é o amor, Andrew?— Perguntei com certa ironia, mas percebi que ele estava falando sério.— Sua alma ainda estava danificada antes de Emme te deixar assim, talvez ainda esteja se recuperando, mas devido ao fato de que ela estava completamente negra e agora estar equilibrada depois de dez anos, provavelmente o que esteja sentindo é os sentimentos que esquecerá.— — Eu espero que seja.— Ele não estava convencido. — Mas se algo realmente estiver errado, tudo se resolverá quando Amethyst for morta.— — Roxie,— Andrew disse meu nome com firmeza, o sinal de que de que um assunto que me incomodaria estava por vir.— Quando formos matar Amethyst, eu preciso lhe pedir algo.— — Se esse pedido for me deixar para trás em quanto você vai para longe de mim, pense novamente. — — Entenda... Eu já quase a perdi tantas vezes, não posso correr o risco novamente.— — Eu não irei ficar e isso não é um assunto para se discutir.— Disse com certa raiva. Eu não era uma dama para ser apenas acariciada em quanto se sentava em uma delicada poltrona quando todos partiam para uma guerra... Tudo bem, eu era uma dama que fazia muito esse papel, mas ainda assim, eu podia caminhar.— Eu não corro nenhum risco de morrer, a não ser que David se intrometa nessa batalha.— — Roxie...— — Não.— — Eu...— Ele tentou começar algum argumento, mas tratei de cortá-lo antes mesmo de fazer uma frase. — Não.— — Eu iria dizer que a amava, mas você perdeu sua chance.— Ele sorriu com ironia, falando rapidamente para que não o cortasse. — Andrew!— Eu pensei em lhe bater, mas isso seria muito tirano de minha parte, então só me restou usar seu nome como um repreendimento, uma brincadeira. O vampiro moveu seu corpo para frente para quebrar aqueles centímetros que nos separavam e ele ainda estava meio desajeitado em se manusear, mostrando que o que o mantinha em pé eram aquelas correntes fortes, eu o segurei nas laterais do seu corpo para segurar a nós dois, já que não controlou sua força quando debateu seu corpo contra o meu. Eu olhei para cima com intenção de encontrar os olhos de Andrew, para perguntar o que ele estava fazendo jogando seu corpo dessa maneira para cima de mim, sendo que nós dois poderíamos nos machucar. Mas antes mesmo que pudesse movimentar meus lábios para que palavras saíssem deles, o vampiro beijou a ponta do meu nariz e minha única ação foi fechar meus olhos apertados com um sorriso. — É melhor você ir agora.— Ele disse, muito próximo do meu rosto, eu não tinha nenhuma opção a não ser encarar os olhos que tanto amava.— Lúcifer ficou de vir até aqui depois de duas horas e eu já não tenho mais sentindo de quanto tempo passou desde que ele se foi.— — Tudo bem.— Sussurrei.— Eu te amo.— Eu dei um beijo rápido em seu maxilar e me afastei.


— Eu sei.— Disse com um sorriso ironico. — Você não falará que me ama?— Perguntei incrédula, uma brincadeira para o vampiro em minha frente, pois ele não precisava dizer essas palavras para saber o que exatamente sentia sobre mim. — Eu não terei mais sangue grátis.— Ele deu de ombros.— Não faz diferença dizer ou não.— — Tchau, Andrew! — Disse caminhando até porta daquela sala, dando minhas costas a ele apenas para ouvir o som de sua risada baixa quando saí. Pelo menos agora, eu poderia tentar dormir um pouco sabendo que Andrew estava bem, mesmo sabendo que os pesadelos que me atormentavam iriam aparecer em algum momento. Mas isso não importava, apenas de saber que o vampiro estaria por perto, me protegendo, fazia com que todos os meus medos sumissem.


31Roxie. Um sussurro em minha mente que fez com que eu abrisse meus olhos para ver Andrew em cima de mim, se apoiando em seus braços com muito cuidado para que seu corpo não tivesse muito contato com o meu. O vampiro já não estava mais sujo de sangue ou com seus cabelos bagunçados, ele estava como o velho Andrew de sempre, a única diferença era que não vestia uma camisa negra, mas sim vermelha. Ficou claro de que a roupa era de Lúcifer, já que tudo o que ele possuía ficou na casa de Amethyst. Mas o vampiro estava bem, muito bem para alguém que algumas horas atrás estava preso em correntes. — Bem,— Andrew disse calmamente, um pequeno sorriso que brincava em seus lábios o deixava tentador.— Olá.— — Por que está de bom humor?— Eu perguntei cautelosa, pois isso era quase anormal nesse vampiro que desejava morte para todos que o incomodava. — Talvez eu estivesse sentindo sua falta, já que decidiu dormir por quase uma semana.— — O que?!— Eu me desesperei e automaticamente meu corpo reagiu para se levantar, como se isso fosse resolver o meu problema de bela adormecida, mas Andrew segurou meu corpo na cama com um de seus braços antes que tivesse sucesso ou batesse minha cabeça na dele quando tentava levantar. Um sorriso irônico apareceu no rosto de Andrew.— Truque ou travessuras, cherrie?— — Nós não estamos no Halloween para fazer travessuras comigo, Andrew.— Eu coloquei minhas mãos nos braços dele que estavam um de cada lado do meu corpo.— Por quanto tempo eu estive dormindo? De verdade.— — Por algumas horas.— Seus olhos azuis estavam calmos, o sinal de que o vampiro estava realmente de bom humor. Bom, ele merecia isso depois de dez anos.— Já está quase anoitecendo.— — E você está bem agora?— — Pronto para ser usado e abusado por uma certa dama que é um belo de um desastre.— Ele sorriu novamente, aquele sorriso irônico que fazia parte de sua vida constantemente. — Muito engraçado, Andrew.— Finge uma risada falsa, para não demonstrar nenhum divertimento com a piada.— Mas eu aprecio a parte de usar e abusar você.— — Eu não me lembro de dizer que essa dama era você.— Ele franziu o cenho e levou apenas segundos para que minhas unhas fossem cravadas em sua pele com força. — Não seja um idiota!— — Rawr.— Andrew imitou um gato bravo e eu já não pude mais segurar meu riso. O vampiro em cima de também riu por um instante e mesmo que seu riso durasse apenas segundos, era muito verdadeiro, mas o que importava mesmo, era que nós rimos juntos depois de anos. Andrew aproximou seu rosto do meu para que seus lábios tocassem os meus rapidamente. Seu gosto em meus lábios era puro veneno que viciaria qualquer pessoa a ponto de desejar a morte para conseguir mais um simples beijo.


— Nós precisamos conversar.— Ele disse de maneira pensativa e séria antes mesmo que eu tivesse a chance de lhe beijar da maneira correta dessa vez. — Sobre o que?— — Você se lembra quando perguntou sobre meus novos poderes e eu disse que podia entrar em sua mente, mas não sabia exatamente como isso acontecia, já que não tinha um acesso muito bom?— — Você ainda consegue fazer isso, mesmo não tendo mais o sangue de Amethyst.— Eu adivinhei, pois foi exatamente isso que ele fez para me acordar, Andrew sussurrou meu nome nos meus pensamentos. — Sim e acho que consegui um acesso muito melhor do que tinha antes. Talvez eu consiga dizer frases e não apenas palavras.— — Você consegue ouvir meus pensamentos?— Perguntei. — Não, eles estão trancados e eu prefiro deixar como estão.— Andrew pegou uma mecha loira do meu cabelo entre seus dedos e brincou com ela.— Mas eu posso conversar com você por pensamentos.— — Você quer tentar?— Perguntei, pois até agora apenas houveram palavras, não frases. Eu sabia que ele precisava tirar essa duvida. Os olhos de Andrew estavam fixos na mecha do meu cabelo, mas assim que fiz essa pergunta, eles voltaram para encontrar os meus. E então o vampiro suspirou.— Tudo bem,— Ele disse.— Vamos tentar.— Eu fechei meus olhos mesmo não sendo necessário, mas minha mente ficou a mil imaginando se funcionaria, o que o vampiro falaria e se essa novidade seria boa para nós. Então eu tentei apenas acalmar minha mente. Não tem alegria maior para um marido do que saber que sua mulher acorda pior do que ele depois de uma boa noite de sono. Tirando minha unha de seu braço, eu levei para seu cabelo escuro perfeitamente arrumado e o puxei até que Andrew soltasse um gemido.— Hey!— Ele protestou.— Você disse que eu podia tentar.— — Isso não te da o direito de me ofender!— — A frase não estava em primeira pessoa do singular, cherie.— Ele sorriu, um sorriso tão ironico que poderia me engasgar. Com tantos homens no mundo, por que eu tive que me casar com o Sr. Ego? Me perguntei, ao mesmo tempo que revirava os olhos para Andrew como resposta, mas o vampiro não prestou atenção em mim, pois ele congelou. — Andrew?— — Você...— Ele parecia confuso, o que me deixou totalmente sem ideias do que estava acontecendo.— Eu...— Meus olhos se arregalaram.— Você me ouviu?!— Eu quase gritei.— Espera... Quando eu fui te ver e antes de entrar naquela sala que estava, por que você levantou sua cabeça e olhou para o vidro?— — Porque você me chamou.— — Eu não chamei você.— Eu estava incrédula.— Eu estava pensando em você.— — Eu acho...— Andrew estava mais perdido do que eu.— que precisamos conversar com Iawy.— O vampiro deixou que eu me levantasse dessa vez e eu estava prestes a sair do quarto quando Andrew segurou meu braço, tomando cuidado para não me machucar. — Onde você pensa que está indo?— — Ver Iawy...?— Disse ao invés de chamá-lo de louco. — Não sem roupas.— Ele me puxou em direção do meu closet e me fechou lá dentro em quanto


ficou do lado de fora, segurando a maçaneta para que eu não tentasse abrir. — Andrew, é apenas meus pijamas, eu não estou sem roupas. E não tem nenhum dos caçadores nesse corredor além de nós.— — E Charles.— Andrew resmungou, ainda segurando a maçaneta, e dando um grande sentido para que estivesse me trancando aqui dentro até que me trocasse. Eu olhei para um espelho retangular que estava preso em uma das paredes livre e não havia nada demais em meus pijamas, eu tinha séria duvidas de que ele era infantil quando olhava para baixo e via um dinossauro roxo segurando um coração. Então um pijama infantil, definitivamente não era algo escandaloso. Mas ai existia sua pequena desavença com Charles e o fato dele ser meu ex, então tudo se tornaria sexy para Andrew, mesmo que vestisse um vestido até meus calcanhares. — Oh, talvez eu vista aquela capa de travesseiro que você me obrigou a usar.— Decidi provocá-lo. — Eu gostei tanto dela que nem ao menos joguei fora.— — Você não se atreveria...— A porta balançou e rangeu quando o vampiro esmagou a maçaneta a ponto de quase quebrá-la. Eu sorri. Deixando isso de lado, eu tirei meu pijama de dinossauro e coloquei a roupa que vestia no meu dia a dia. Jeans, uma blusa simples da cor lilás e minhas tão amadas booties. Andrew permitiu que eu saísse do closet assim que falei que estava pronta, o vampiro olhou minhas roupas e sua expressão foi de pura satisfação. Ele também pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos, um sinal de que nos próximos dias eu teria Andrew em cima de mim quase me sufocando por causa de seu ciumes. Andrew não era o tipo de homem que demonstrava o que sentia pela pessoa que amava na frente de outras pessoas, ele sempre se transformava em uma barreira de gelo quando não existia apenas nós. O vampiro me assumia como sua mulher diante de outras pessoas, obvio, mas ninguém além de mim sabia o quanto podia existir um garoto apaixonado em seu interior pronto para rir e fazer brincadeiras. Então eu estava ainda mais feliz pela presença de Charles, pois isso iria fazer com que Andrew demonstrasse mais do que frieza. — Vamos.— Ele disse, me tirando dos meus pensamentos e abrindo a porta... Apenas para darmos de cara com Sol. — Toc, toc.— Sol disse sorrindo, seus olhos uma mistura de verde e azul brilhavam como uma chama de vida que jamais poderiam apagar diante dos problemas dos deuses ou simplesmente por ver o amor da sua vida apenas algumas vezes. Sua pele levemente amendoada fazia uma combinação perfeita com o vestido verde que usava e seu cabelos negros longos até sua cintura e ondulados suavemente. Ela era a personificação da beleza que gritava para todos olhá-la. Mas acima de tudo, era uma amiga que salvou minha vida. — Seja rápida, Sol,— Andrew disse ao mesmo tempo que dava espaço para ela entrar em meu quarto.— Eu tenho um longo histórico em matar irmão, então não tire minha paciência.— — Você não teria coragem.— A deusa caminhou até minha cama e sentou com suas pernas cruzadas. A posição de uma dama da realeza. Eu olhei para Andrew, feliz e triste ao mesmo tempo, pois agora mesmo ele tinha mencionado Sol como sua irmã, algo que jamais pensei que iria acontecer, mas também não deixou de lado que ele matou Pierre e Hebe. Tudo bem que Hebe nem ao menos merecia ser chamada assim e que o vampiro nem ao menos tinha algum tipo de consideração por ela, mas com Pierre era diferente. — Eu pensei que já tinha provado que posso fazer qualquer coisa que seja fora de questão.— Andrew se virou para ela, tendo fechado a porta em suas costas.


— É ótimo tê-lo de volta, Andrew.— Sol usou ironia.— Mas você já teve sua chance para me matar no passado, agora não mais.— — É uma pena.— — Por que está aqui, Sol?— Eu perguntei, já que desde que Amethyst atacou Londres ela nunca mais veio nos visitar, tirando o dia que nos revelou alguns segredos de seu povo. — Vocês estavam indo procurar Iawy para tirar algumas duvidas.— Ela arqueou uma sobrancelha. — Eu sou a pessoa perfeita para isso.— — Oh!— Surpresa me atingiu em quanto me perguntava como nunca tinha pensado de que ela era a melhor pessoa para responder essas duvidas. — Você sabe, a palavra privacidade ainda existe.— Andrew resmungou, é claro que ele nunca se demonstraria feliz. — Você sabe, desde que destruiu a paz entre os humanos e as criaturas sobrenaturais, observá-los é muito melhor do que cuidar da minha vida.— — O que está acontecendo com nós, Sol?— Eu fui direta na pergunta, antes que os dois começassem uma guerra para ver quem tinha o ego maior. Sol suspirou. — Sua ligação com a estrela é a prova de que nós usamos receptáculos para os nossos poderes, como já é de seu conhecimento. Os deuses possuem uma quantidade enorme de poderes, pois a quantidade de almas que existem para nos alimentar é infinito e como não precisamos de tantos poderes, nós os guardamos.— Ela disse gentilmente.— Mas também não podemos cuidar de cada receptáculo que existe, pois podem ser muitos, é por isso que existem os nossos anjos.— Anjos. — Não pense que eles são criaturas com asas e auréolas em suas cabeças, isso existe apenas na imaginação dos humanos. Os anjos são simplesmente pessoas como Andrew. Filho de um deus com um humano, pelo fato dele ter sangue de um deus, isso o faz estar logo abaixo de nós.— Sol me encarou agora.— Antes David e eu estavamos cuidando de você e Nyx, assim como Hades cuida de Lúcifer, pois nós podemos escolher aqueles que vão ficar em nossa proteção, mas de alguma maneira estranha a sua alma aceitou Andrew como o seu protetor definitivamente assim que o sangue de Amethyst deixou o corpo dele. Nos dias anteriores, vocês notaram que já podiam se comunicar, mas era uma coisa falha já que você não tinha aceitado Andrew completamente.— — Isso é interessante.— Andrew murmurio. — Nossos receptáculos muitas vezes podem cometer suicídio ou simplesmente morrer, é dever desses anjos evitarem que essas coisas aconteçam ou nos avisar para termos chances de tirar nosso poder de dentro deles. Como aconteceu com Hebe, que não teve a chance de tirar sua imortalidade de Jake antes de vocês o matarem e transformarem em um vampiro. E de alguma forma, você pode controlar Roxie. Vocês já descobriram o comunicação por telepatia e que você, Andrew, pode machucá-la.— Sol disse olhando para as marcas das mordidas de Andrew em meus braços, eu os cruzei em frente do meu peito.— Você é o guardião dessa estrela agora, então será, de alguma forma, do mesmo jeito quando foi o criador dela.— Então, em outras palavras, eu estava ferrada. Sol sorriu, tendo ouvido meu pensamento. Eu já não sabia ao certo se Andrew tinha ouvido. — Andrew pode ouvir seus pensamentos se desejar também.— Ela me respondeu.— Mas é diferente de humanos que ele apenas ignora as mentes, com você existirá uma porta trancada que poderá ser aberta facilmente quando quiser.— — Então... Nós estamos ligados.— Andrew disse, resumindo tudo o que Sol falou em uma única


frase. *** Eu estava na estufa da central no momento em que os céus de Londres passaram a ser alaranjados. Não sabia exatamente como Andrew me deixou livre para ficar sozinha, mas talvez ele desejasse ficar a sós para digerir tudo o que Sol havia falado. Decidi que daria esse tempo a ele e vim direto para o lugar da central que era menos acessado, depois da biblioteca, lógico. Eu aproveitaria esse pequeno momento para ver se a orquidea que recuperei anos atrás dos destroços da mansão real estava bem depois de tanto tempo sem vê-la. Dentre os dez anos que vivi nas ruas desertas de Londres explorando, eu nunca havia visto uma orquidea em qualquer lugar, então seria mais do que certo dar uma atenção a mais para essa flor tão linda e a favorita de Andrew. Mesmo que não tivesse muito tempo, já que uma pequena reunião aconteceria daqui a algum tempo, para que Andrew falasse finalmente o que descobriu que nos ajudaria matar Amethyst. Mas agora, minha atenção foi para a flor que mais chamava atenção em uma mesa cheia delas. Ela era branca e azul, as cores se misturavam em uma leveza natural que a tornava única. Um suspiro escapou de mim quando eu vi na terra, em volta da orquidea, ervas daninhas que cresciam em todo espaço que estava livre. Um parasita que desejava ocultar a beleza de uma linda flor e muitas vezes a levando a morte. Apesar de ser apenas um mato, haviam florzinhas roxas com seus miolos amarelos, o que se tornava muito bonita no meio do verde. Eu peguei uma dessas florzinhas e a observei de perto. Realmente, não passava de um mato que logo cresceria em outro lugar como uma praga, então não me importaria de arrancá-las do meu vaso de orquidea. Afinal, a combinação de cores não estava bonita. Um roxo e amarelo forte não ficavam bem com a suavidade daquele azul. Eu estava prestes a esmagar aquela flor quando fui interrompida. — Não faça isso.— Charles disse na porta da casa de vidro que formava a estufa, suas roupas tão formais que eu me sentia mal apenas de respirar perto dele, ainda mais quando eu via aquela bengala toda trabalhada em dourado e com uma fênix no topo dela, onde a mão do feiticeiro quase a tampava completamente. Eu olhei para aqueles olhos tão anormais que chegavam ser quase assustadores se eu não conhecesse bem a pessoa que estava diante de mim. — Por que não?— Perguntei calmamente.— É apenas mato.— Charles sorriu e se aproximou de mim para pegar aquela pequena flor roxa em suas próprias mãos para observá-la melhor. — Quando eu era um garoto,— Ele disse, seus olhos em um tempo que eu nem imaginava que já existiu.— Essa flor era considerada uma pequena raridade.— — É mesmo?— Perguntei com certa curiosidade.— Tem um monte delas em meu vaso, você pode pegá-las se desejar.— — Hoje em dia ela não é mais considerada assim. Uma vez, uma bruxa fez certa magia para que ela se multiplicasse para que todos os feiticeiros tivesse acesso ela. Bom, em suas palavras, ela é considerada como uma praga agora.— — Para que ela servia, Charles?— — Meu povo as colocava na cabeceira das camas de crianças para espantar todos os seus pesadelos, para que ela acalmasse a alma delas em quanto dormiam e também para a escuridão permanecer longe. É uma coisa boba, coisa que apenas a magia natural pode fazer.—


Charles fechou aquela florzinha em sua mão e olhou fixamente para seus dedos, como se seus olhos anormais pudessem ainda vê-la. Uma pequena brisa se manifestou dentro da estufa, fazendo os pequenos sininhos tocarem suavemente. Eu olhei para os lados, procurando por um vidro quebrado que tivesse permitido essa pequeno vento entrar. — Quando se usa a magia branca, um elemento da natureza sempre se manifesta. Diferente da magia negra que sempre existe o vácuo.— Ele explicou, abrindo sua mão para entregar a flor roxa para mim.— Fique para você, ela possuía minha magia agora.— — Para afastar meus pesadelos?— Perguntei quando a peguei, sorrindo em agradecimento. — Sim, minha querida.— Eu estava prestes a lhe dizer um obrigado adequado, sem um simples sorriso, quando eu vi outra sombra presente perto da porta. Desviando minha cabeça da direção de Charles, já que ele era muito alto para que pudesse ver por cima de seus ombros, eu vi Andrew. O feiticeiro em minha frente imediatamente se virou para ver o vampiro que já foi um rival. — Olá, Andrew.— Ele disse com um sorriso que mostrava que sabia que Andrew estava com ciumes dele.— Que bom que está aqui para nos fazer companhia.— — Você não tem ideia do quão feliz eu estou.— Andrew falou sem nenhum animo, ironia e sarcasmo eram uma ponta afiada. Charles abaixou sua cabeça para rir e olhou para mim depois.— Estou indo agora.— Falou e se virou para encarar Andrew. O feiticeiro andou com dignidade e não deixou que o olhar mortal do vampiro bloqueando a porta intimidasse. Charles parou de caminhar a uma distancia e parou em silencio para esperar Andrew sair de seu caminho. Andrew ficou imóvel em seu lugar, em quanto semicerrava seus olhos. Aqueles azuis tão frios que parecia que o vampiro era quem podia congelar os outros, não eu. — Eu não sei o que está acontecendo entre você e Saphyre,— Um tom ameaçador.— Mas não faça nada que se arrependa.— — É claro.— Eu podia sentir Charles sorrindo. Então, Andrew entrou na estufa para sair do caminho de Charles e vir até mim. Ele esperou até que Charles estivesse fora de vista para que pudesse falar, seus olhos fuzilavam a pequena flor em minhas mãos. — Por que Charles lhe deu essa flor?— Perguntou.— Você não precisa de flores, principalmente quando vem de alguém que não sou eu.— — Ele estava apenas sendo gentil.— Falei a realidade. — Sério?— Ironia, apenas ironia.— Bom, você não é uma zebra para para se alimentar com flores. — Andrew tirou aquela florzinha roxa de minhas mãos e a esmagou entre seus dedos, fazendo questão de pisar em cima dela após jogá-la ao chão antes mesmo que eu começasse algum argumento. — Isso foi muito rude.— Observei sua atitude com calma, tentando não sorrir. Andrew cruzou seus braços em frente de seu peito.— É muito mais rude um homem presentear uma dama que não lhe pertence com uma flor.— — É bom vê-lo com ciumes.— Falei quando coloquei minhas mãos sobre seus braços cruzados após quebrar o espaço entre nós. — Não estou com ciumes.— Ele disse, tirando minhas mãos dele apenas para segurá-las com as suas.— Estou apenas realçando os fatos.— Não se preocupe, Andrew, nós temos formas de esconder segredos. Ninguém saberá que você tem


ciumes de mim. Brinquei, usando nossa nova ligação. Era quase surreal imaginar que Andrew era meu protetor, na verdade, tudo que estava acontecendo parecia apenas um sonho. Quer dizer, quem diria que o vampiro em minha frente era filho de um deus? E que ele tinha o poder para cuidar de um receptáculo dos deuses. No passado, antes de nos casar, para mim, Andrew era apenas um vampiro antigo e nada mais. Agora, ele era muito mais que isso. E ainda podia escutar meus pensamentos ou me machucar sem que eu fosse uma humana... Eu não sabia se isso nos traria problemas no futuro, mas estava bem e até mesmo feliz. Ele revirou seus olhos. — Venha.— Disse me puxando em direção da porta.— Nós temos uma reunião agora.—

Andrew e eu estávamos andando por um corredor da central para chegar até o escritório de Iawy. Nós decidimos que não iriamos pegar o elevador pois andar até lá nos daria mais tempo de passarmos juntos. Agora o vampiro estava com seu braço ao redor de meus ombros e eu me apoiava contra seu corpo, com um braço em suas costas. Nós não nos falamos muito desde que saímos da estufa, já que Andrew estava tenso. Ele não era do tipo que adotava esse tipo de postura, então tudo que pude imaginar era que o assunto dessa reunião não era algo bom. Na verdade, eu já imaginava isso, pois matar Amethyst nunca seria algo fácil, todas as das pessoas que estavam nesse prédio estariam em risco. Mas ele mencionou que encontrará Nyx mais cedo e que reagiu muito bem com sua volta. Até mesmo lhe deu um pequeno soco em seu braço como boas vindas. Eu não pude negar que estava surpresa, pois imaginei que Nyx ficaria uns vinte anos sem olhar para a cara do vampiro. Eu fiquei totalmente animada para chegar no escritório de Iawy e vê-la trocando mordidas com Andrew novamente. Mas no momento, eu apenas focava com o fato de ter Andrew ao meu lado, então não me incomodava pelo silencio. Essa era uma das poucas coias boas que eu teria em meu dia a dia de agora em diante. Eu não sabia quanto tempo teríamos antes que Amethyst desse o primeiro passo, então aproveitaria cada momento ao lado dele. Andrew parou de caminhar e me pegou totalmente de surpresa por ter feito isso sem um aviso prévio. Eu fui obrigada a parar também já que ele ainda me segurava, mesmo quando tentei dar os próximos passos. Meus olhos viajaram para o vampiro e ele estava olhando para o lado, seus olhos baixos e silencioso, como se estivesse ouvindo algo. E provavelmente estava. Eu só tive certeza de que algo estava acontecendo quando as luzes da central simplesmente se apagaram, nos deixando na escuridão. Após segundos se passarem, as luzes de emergência passaram a se acender nas laterais de todas as paredes ao chão. Não eram luzes fortes, eram apenas uma leve iluminação azul que ajudaria muito nesse momento. Por mim, era apenas falta de energia, mas Andrew provou que eu estava enganada. — Amethyst.— Ele sussurrou. — O que?— Perguntei em certo choque, me separando dele. — Ela está aqui.— Minha mente de repente decidiu ficar em branco, pois eu sabia que essa bruxa nos atacaria em algum momento, mas não imaginava que isso aconteceria justamente agora. Eu estava prestes a


perguntar se Andrew sabia exatamente onde ela estava ou simplesmente o que iriamos fazer, mas nunca tive chance de fazer qualquer pergunta. No silêncio da noite, houve um estrondo de explosão que acabou com qualquer paz na calmaria da central. Um clarão também aconteceu, mas antes que pudesse sequer visualizar qualquer detalhe do que estava acontecendo, Andrew se jogou em cima de mim e nós caímos. Mas não foi apenas isso, nossos corpos passaram a escorregar como se estivéssemos em um barranco cheio de limbo ou barro em quanto mais e mais barulhos de coisas se quebrando, se partindo e explosões enchiam meus ouvidos. Aconteceu um baque e logo em seguida meu corpo continuou a escorregar, mesmo pelo corpo de Andrew, mas o vampiro me segurou pelo braço e tudo que senti em seguida foi o ar ao meu redor. Sem mais chão, paredes ou qualquer sinal de que existia um lugar para colocar meus pés. Eu estava balançando de um lado para o outro conforme o vento me manejava. Parecia que um terremoto estava acontecendo, pois a central não parava de tremer. Eu abri meus olhos, não tendo noção quando os fechei ou de onde tirei coragem para fazer isso, mas quando o fiz, ficou claro exatamente o que estava acontecendo. Fagulhas de fogos que saíam de fios largos de energia foram as primeiras coisas que eu vi, apenas para ver a coisa mais chocante depois. O prédio da central havia se perdido ao meio, e agora as duas partes dela estavam desmoronando como se fossem um simples brinquedo de tijolinhos de madeira depois de levar um chute. Pessoas estavam caindo nesse abismo que se formou ao meio do prédio e os gritos, muitas vezes quando aquelas fagulhas de fogo não iluminavam muito bem, era esse som desesperado que indicava o que estava acontecendo. Andrew não estava me segurando para não cair no meio desse abismo, abaixo de mim existia uma daquelas enormes janelas que tinha em qualquer lugar da central, mas algo havia quebrado seu vidro e isso formou um grande buraco negro. Eu olhei para cima, sabendo que Andrew não tinha dificuldades em me segurar, mas a central estava desmoronando, e ninguém sabia quando o teto cairia em nossas cabeças ou quando ela cederia totalmente. Nesse momento, ela ainda estava se partindo ao meio de modo lento, as partes que ainda estavam conectadas permitiam que as duas lacunas desmoronando se mantivessem inclinadas para os lados, mas aquele terremoto e as explosões continuavam em um ritmo muito rápido e forte. — Andrew...— Sussurrei, vendo que ele também estava com seu outro braço esticado para segurar no batente de uma porta, e que seu corpo também estava exposto para uma queda igual a minha. Ele olhou para baixo, para mim. Minha respiração estava falha e eu já não sabia mais se respirava pela boca ou pelo nariz. Um leve ataque de pânico estava percorrendo por todo meu corpo por estar dependurada em uma altura tão longe do chão. Lágrimas desejavam escorrer, mas por algum motivo, isso não acontecia. Talvez fosse o medo que estivesse mantendo elas longe. — Eu preciso soltar.— Falou em um tom alto, meu coração palpitou ainda mais rápido com essa informação.— O elevador está dependurado em cabos que logo irão ceder e vir em nossa direção.— — Mas...— Eu olhei para baixo, para aquele buraco negro que mostrava alguns flashes de clarões das explosões. Mas foi outro barulho que me incomodou, um ainda mais próximo. No meio dos gritos e coisas se partindo, eu ouvi algo grande e o barulho de metal sendo arranhando a cima de nós por um momento, parando depois. Vários pedaços de madeiras e outro tipo de coisas caíram sobre nos. Eu usei meu braço para proteger minha cabeça, mas Andrew apenas teve que olhar para baixo quando certos objetos grandes caíram nele. Seu braço vacilou por um momento. Faça.


Nos estávamos no oitavo andar da central, eu não imaginava exatamente o que encontraria la em baixo e se sairíamos vivos, mas eu sabia que o vampiro iria me proteger de qualquer coisa. Andrew não avisou quando iria soltar, o meu sinal de que isso estava acontecendo foi quando o vampiro apenas levantou o braço que segurava meu corpo da queda e me jogou para cima. Nos segundos em que eu fui para um nível quase perto de poder segurar o batente da porta junto com ele, Andrew soltou a única coisa que o mantinha a salvo da queda e passou seus braços ao redor do meu corpo. Então, nós caímos.


32Tudo que me lembro era dos meus cabelos terem se tornado um chicote rigoroso contra meu rosto, meus olhos tão apertados quanto o aperto que Andrew mantinha em meu corpo para que nada me atingisse. Eu sabia que assim que os destroços da central parassem de bater em nós, o vampiro faria o possível para cair em seus pés. Andrew já pulou de lugares mais altos do que oito andares, mas nunca houveram objetos, pedaços de paredes, dentre outras coisas caindo sobre ele em quanto carregava outra pessoa. Nossa queda de encontro ao chão não foi uma das melhores, mas quando chegamos lá em baixo, eu me lembro de ter estado ao lado de Andrew, de seu gemido por ter caído de costas em quanto me mantinha para cima. Aquela hora eu estava atordoada pelo baque de nossos corpos contra o chão, mas agora que minha mente não estava mais estilhaçada que me permitia ver apenas fragmentos, tudo estava errado. Andrew não estava mais ao meu lado quando abri meus olhos para enfrentar a realidade depois que meu corpo curou todas as pancadas e os machucados que o grande impacto causou depois da queda de oito andares. E eu devia me encontrar em uma floresta, aquela que existia ao lado da central que tanto conhecia depois de caminhar por ela durante dez anos, mas não era nela que eu estava. Eu estava deitada em um chão de terra, com poeira cobrindo meu corpo e até mesmo teias de aranhas grandes e grossas sobre meu corpo. Me levantando com um pouco de dificuldade, eu acabei me encontrando no meio de um corredor que não sabia se havia entrada ou saída, a escuridão era tão grande que meus olhos não viam nada além do que estava a centímetros de mim. As paredes eram de pedras antigas, tão cobertas por teias e poeiras que foi quase dificil dizer do que ela era realmente feita. Longe de mim, eu podia ouvir gritos de pessoas trazido pelo vento que as vezes era apenas uma brisa ou algo rápido. Esse gritos se dissipavam como se nunca existissem quando esse vento morria. Eram gritos de agonia, sofrimento e eu nem ao menos sabia se eram humanos. Humanos não gritavam dessa maneira. Decidindo que era correto caminhar ao invés de ficar parada, eu fiz isso mesmo que meus pés desejassem ficar parados como se existisse uma daquelas paredes em cima deles. Bom, minha coragem também pareceu ter sido esmagada na queda, mas eu não iria ficar parada no meio de um corredor assustador e sem nenhuma luz. Esse lugar parecia um tipo de labirinto tirado de um filme de terror e esses gritos não eram nada encorajadores. Eu, definitivamente, precisava encontrar Andrew. Ou qualquer pessoa da central, pois seria muito azarada ter sido a única a cair nesse lugar tão desconhecido e que não fazia parte de Londres. Ou não, eu já tinha aceitado há muito tempo que eu não tinha nem um pingo de sorte. E não deveria ficar fazendo piadinhas tristes sobre minha vida em quanto caminhava tateando uma das paredes, ficando com teias grudadas em meus dedos, por causa da escuridão. A cada grito que soava ao longe, meu corpo congelava.


Havia gritos que pareciam pertencer a pessoas mortas que poderia ser igualado com um sussurro no vácuo, mas existiam aqueles cheios de vida que pareciam ser dos caçadores da central, gritos desesperados com dores que em questão de segundos se tornavam nada, o que me deixava apenas com mais medo de continuar. Qual era o motivo desses gritos? Minha mente gritava. Andrew? Tentei usar essa ligação de que ele se tornava meu protetor, mas eu não recebi nada além de um silencio profundo. Um nó na minha garganta se formou em pensar que algo ruim poderia ter acontecido com o vampiro, mas decidi pensar de que a conversa por pensamentos não funcionava aqui... O chão a baixo de mim começou a tremer, como se eu estivesse em um carro em alta velocidade em uma estrada cheia de buracos. Mas demorou apenas segundos para eu perceber que o chão estava tremendo desse jeito pelo simples motivo de que as paredes de pedras estavam se movendo. Elas se mexiam com certa dificuldade, mas em uma suavidade que nenhuma pedra teria. Uma parede apareceu em minha frente e quando tentei me mover para trás, minhas costas encontraram outra. E em um curto tempo, um novo caminho foi aberto para mim. E então, não havia mais o barulhos de pedras se movendo e novamente tudo se tornou silencioso para que os gritos recomeçassem de novo. — Andrew.— Eu sussurrei seu nome dessa vez, em um tom tão baixo quanto podia por medo de que o que estivesse causando esses gritos me encontrasse. Eu esperei por alguns minutos, mas não houve nenhuma resposta e quando passei a caminhar, minhas pernas estavam tão trêmulas que eu me sentia humilhada por sentir tanto medo, eu podia facilmente chorar nesse momento, derramar as lágrimas que não caíram naquele momento em que ainda estava no prédio da central, mas eu ainda tinha um pouco de controle sobre meu orgulho. — Roxie!— Era a voz Lúcifer. Eu semicerrei meus olhos para procurá-lo na escuridão, meus olhos logo captaram movimentos e quando o vampiro de olhos verdes se aproximou, eu nunca me senti tão feliz em vê-lo. Fazendo minhas pernas funcionarem, eu corri em sua direção e o abracei apertado. — Lúcifer... Eu estou tão feliz em vê-lo que está bem.— Eu disse quase o sufocando, um soluço escapou de mim antes mesmo que tivesse chance de segurá-lo em minha garganta. — Você está bem?— Ele perguntou, segurando meu rosto em suas mãos para me examinar depois de ter afastado dele. — Sim,— Disse, vendo em seus olhos verdes que ele estava preocupado.— Estou apenas assustada. — — Vai ficar tudo bem.— Uma promessa que não poderia ser feita, mas mesmo assim o vampiro loiro a fez, então eu acreditei nela.— Você esta sozinha?— — Sim... Eu acordei sozinha.— Falei.— Eu estava ao lado de Andrew antes, mas agora não estou... E as paredes começaram a se mexer...— — Fique calma.— O vampiro sussurrou, levando suas mãos até meu rosto e por um momento, uma lagrima escapou do meu olho, fazendo um rastro na minha pele suja de poeira.— Ele está bem. Na verdade, todos devem estar bem.— — Todos que saíram do prédio da central estão nesse lugar?— Eu perguntei e Lúcifer acenou com sua cabeça.— Você estava com os outros no escritório de Iawy?—


— Sim.— Lúcifer olhou por cima de seu ombro quando um daqueles gritos mortos ressoou perto de nós.— Não se preocupe, todos saíram da central em segurança, mas nós nos separamos quando caímos aqui.— Eu entendia. Era a mesma coisa que havia acontecido comigo e Andrew. — E o que são esses gritos?— Eu perguntei, meu panico não tinha nenhum sinal de que iria embora, então não iria deixar de perguntar certas coisas para viver em um mundo cor-de-rosa.— Não os das pessoas. Esses sussurros desesperados que acabam em questão de segundos.— Lúcifer suspirou, pela primeira vez, desde que o conheci, seus olhos verdes estavam demonstrando medo por algo que nem ao menos era visível.— Amethyst abriu o portal onde todo crime encontra o castigo.— — O que?— Perguntei tentando prestar atenção nele, não nos gritos fantasmagóricos. — Esse lugar é um labirinto onde os deuses jogam as almas negras que não lhe são úteis mais. É uma das dimensões do inferno, é o portal que Amethyst tanto desejava abrir.— — Mas... Ela não precisa do meu coração para fazer isso?— Choraminguei em desespero, me trucidando por dentro por arrumar uma desculpa quando ela nem ao menos deveria existir. O portal já estava aberto, não havia mais desculpas. — Imagino que ela achou uma maneira de enganar até mesmo os deuses.— Ele disse.— Eu não sei o que ela está tramando nesse exato momento, mas se ela conseguir liberar essas almas da prisão do labirinto, o mundo todo vai acabar. Exatamente como ela deseja.— Uma risada maligna cortou o trilho dos meus pensamentos, eu nem ao menos sabia o que estava pensando, mas essa risada fez com que um calafrio percorresse todo o meu corpo. Eu tentei desviar minha cabeça para ver o que tinha atrás de Lúcifer, mas o vampiro segurou minha cabeça em minha direção dos seus olhos verdes. — O que é isso?!— — Roxie.— Disse meu nome severamente quando puxou meu rosto mais uma vez quando insisti em querer olhar o corredor atrás dele.— Você precisa me deixar sozinho.— — Você está...— — Escute.— Ele me cortou em certo desespero, a agonia em sua voz fez com que prestasse atenção nele.— As almas reproduzem aquilo que você mais teme, elas podem lhe matar e isso explica o motivo dos gritos das pessoas que estão aqui dentro. Os outros gritos, que parecem pertencer a fantasmas, são as almas que não são visíveis, mas elas podem tocar o seu coração e saber exatamente o que mais teme e tomar forma disso.— — Lúcifer...— — Você precisa correr e encontrar Andrew.— Lúcifer falou rapidamente para que não arrumasse um argumento.— As paredes se movem a cada 20 minutos, ande pelos corredores e quando elas se moverem continue até encontrar alguém que possa a ajudar.— — Por que você não pode?— — Meu medo... Eu conheço exatamente o que temo, Roxie.— Ele vacilou.— É eu. Com minha alma.— Outra risada maligna, dessa vez mais próxima. — Por favor.— Lúcifer quase implorou.— Vá.— Eu estava hesitante em deixar o vampiro de cabelos loiros sozinho, mas o desespero em seus olhos me fez fazer o que ele pedia. Era totalmente errado fazer isso, mas apenas Lúcifer sabia o que estava enfrentando e ele não podia proteger nós dois. Eu tinha que encontrar Andrew, como ele pediu. Essa seria a única maneira de ajudá-lo ao invés de ficar o seguindo. — Não morra.— Eu pedi para ele.


— Eu ainda tenho a eternidade para torturá-la, chupim.— Ele sorriu e esse sorriso pareceu tão cansado, tão perto de um adeus... Mas isso não seria um adeus. Eu não podia perder Lúcifer ou qualquer das pessoas que amava para esse portal que Amethyst abriu. Dei meus primeiros passos para longe de Lúcifer e após olhá-lo pela última vez, eu comecei a correr no meio daquela escuridão a procura de Andrew. Esperando que as paredes de pedras se movessem novamente para que eu pudesse ter uma nova chance. Como Lúcifer disse, depois que 20 minutos se passaram, as paredes passaram a se mover novamente e eu tive a impressão de que eram elas que decidiam meu caminho, quando eu simplesmente tentava ir para um lado, uma delas aparecia em minha frente ou me empurrava para onde quer que desejassem. As teias de aranhas e a poeira que serviam de decoração para aquelas pedras passaram a fazer parte de mim também. Eu estava com medo, com medo do que Lúcifer havia me dito sobre as almas negras tomarem formas do seu maior medo. Não sabia exatamente o que temia, eu tinha medo de qualquer coisa que não fazia parte do normal e comum. Roxie! A palavra debateu em minha mente como um tiro desesperado. Era Andrew. Eu estou bem. O respondi com a única coisa que lhe interessava, um simples olá apenas o faria surtar. Ainda bem. Ele pareceu ficar mais calmo. Eu estou tentando tocar sua mente desde que acordei, mas não conseguia, talvez funcione agora por estarmos perto um do outro. Você está sozinha? Sim. Eu respondi. Encontrei com Lúcifer agora pouco, que me explicou algumas coisas, mas ele disse para me manter afastada dele. Ele estava a protegendo. Eu sei. Meus olhos estavam atentos na escuridão, mas eu me agarrei fielmente na voz de Andrew em minha mente. Você está bem? Está sozinho? Alguma coisa lhe atacou? Não me ataque com várias perguntas. Uma linha fina de seu humor terrível que tentou me provocar. Responda. Eu estou com Charles, então imagine o quão bem estou. E nenhuma alma adotou o meu medo, mas adotaram a de Charles e por estar o acompanhando, elas estão tentando me matar também. Minha curiosidade desejou perguntar qual era o medo de Charles, mas isso não era muito importante. Nenhuma alma se transformou em algo que temo, Decidi avisar, mas estou com medo. E estou preocupada com Lúcifer, existia tanto medo em seus olhos, Andrew... Aquele desgraçado não é fácil de matar, eu tentei fazer isso diversas vezes... Não se preocupe. Lúcifer não desistirá, ele tem um motivo para lutar agora. Emme. Esse era o único motivo que o fazia viver, a única que fez seu coração bater novamente antes que ele tivesse o mesmo destino de Pierre.


Venha me encontrar. Eu sussurrei em sua mente. Faça algum barulho, não muito chamativo, se as almas ainda não atacaram é por não terem a notado ainda. Fazer algum barulho sem fazer escândalo, isso era algo interessante, mas... Elas são atraídas pelo cheiro de sangue? Não, elas apenas ficam satisfeitas em sentir, mas nunca irão ir conferir se seu corpo mexe ou não... Silencio absoluto e por um momento eu pude sentir o riso de Andrew. As vezes suas inteligencia me surpreende, cherie. Eu não disse mais e procurei pela coisa mais pontiaguda que existia em mim, isso não resultou em nada além do meu anel de noivado. Ele não era exatamente uma adaga afiada que cortava fios de cabelos, mas sua quase não ponta poderia pelo menos causar um furo em minha pele e isso seria o suficiente para Andrew me encontrar. Eu o tirei de meu dedo anelar e logo em seguida pressionei contra minha palma com muita força. A dor de ter ele ali sem ao menos rasgar minha pele era um incomodo, mas o tempo era curto e Andrew tinha que me encontrar antes que os vintes minutos passassem, em quanto estavamos próximos para que a ligação funcionasse. Depois de quase um minuto, a minha pele rompeu a baixo do anel e uma gota vermelha de sangue apareceu, escorrendo para baixo e deixando um rastro. Isso era o suficiente para que Andrew me encontrasse e era o minimo que podia fazer. Colocando meu anel de volta em meu dedo, eu me encostei em uma daquelas paredes e fechei meus olhos, tentando me focar em ouvir apenas as coisas que eu pensava, não naqueles gritos humanos e inumanos. Agora, eu só tinha que esperar Andrew e ele faria tudo ficar bem. Tudo ia ficar bem, eu falava para mim mesma, Andrew está vindo. Meu coração me traiu quando eu desejei ficar em total silencio, ele palpitava tão rápido em meu peito que eu podia escutá-lo se manifestando como uma bomba prestes a explodir. Minha mente acabou desistindo de ficar rodeada por pensamentos positivos e se focou em todos os gritos que me cercavam. Eu fechei minhas mãos em punhos e pressionei minha unha com força no pequeno machucado que o anel tinha feito para causar um pouco de dor sobre mim. Eu arfei, mas não por causa da dor, a unha em minha palma machucada nem ao menos poderia ser chamada de dor, mas o nó em minha garganta que se formou não queria ser desfeito de maneira alguma sem que eu derrubasse as lágrimas que estavam presas em meus olhos. Mas eu falei para mim mesma, anos atrás, que não iria mais chorar e por mais que tivesse falhado algumas vezes, isso não era certo. Se eu chorasse nesse momento, iria parecer o fim de todos e a vitória de Amethyst. Eu não era a única com medo nesse labirinto... Emme e Saphyre podiam ser as mais inocentes das pessoas que estavam presas aqui, mas eu sabia que elas estariam lutando para ficar bem ou encontrar alguém. Lúcifer e Charles estavam lutando com seus próprios medos... Iawy, Nyx e Andrew estavam correndo perigo. Então, eu não iria chorar e isso era o máximo que podia fazer. — Olhe só o que encontrei no meio dessa escuridão,— Eu não precisava abrir meus olhos para saber que era Amethyst, mas mesmo assim eu os abri e me afastei da parede para encarar a bruxa insana. E ela estava tão linda com aquelas roupas antigas e seu cabelo preso em um coque perfeito,


com maquiagens por todo o seu rosto que nem ao menos precisava. Eu a encarei em silencio e um sorriso maligno apareceu em seu rosto.— Uma estrela.— Meu coração de repente parou e eu senti meus joelhos vacilarem. — Você acha mesma que poderia me enganar, minha estrela?— Ela usava um tom esnobe.— Eu já vivo por muito tempo e conheci muitas estrelas, eu reconheço uma apenas quando me tocam.— — Fique longe de mim.— Eu falei quando Amethyst deu um passo para frente, me chamando de idiota ao mesmo tempo por ter encostado nela um dia. Mas no fim, eu não me arrependia por isso, pois eu havia visto o sangue dessa vadia manchando o vidro do quarto de Andrew.— Se você sabe o que eu sou, sabe também o que posso fazer.— — Eu enganei os deuses, Roxie, você não pode enganar a quem faz coisas desse tipo.— — Se você não precisava de mim para abrir esse portal, por que está aqui?— Perguntei com a raiva sobrepondo meu medo.— Se não precisa de mim, me deixe sozinha.— — Oh, eu preciso de você.— Amethyst sorriu.— Eu não posso tirar o coração de um mestiço para me tornar além de uma imortal e liberar essas pobres almas, mas uma estrela pode. Então, você irá fazer esse pequeno trabalho de tirar o coração de seu amado por mim.— — Você não pode me obrigar a fazer isso, Amethyst.— — Ai está o problema,— Ela falou e no segundo seguinte estava em minha frente com suas mãos em minha cabeça.— Eu posso.— A escuridão total logo em seguida invadiu minha mente e a inconsciência não demorou para chegar.


33Andrew estava caminhando ao lado de Charles em uma velocidade normal mesmo considerando que já deveria ter usado sua velocidade vampírica para encontrar Roxie, mas as almas estavam usando o feiticeiro como alvo e por estar perto dele, o vampiro estava sendo atacado também. Andrew sabia que ficar próximo de alguém nesse portal era o melhor plano a colocar em pratica, então ele não deixaria Charles para trás mesmo quando uma mulher, incrivelmente bonita e com água escorrendo por todo seu corpo, estivesse os perseguindo para matar. É claro que uma mulher, que estava mais para uma menina, não era realmente um problema, mas desde que as almas já estavam mortas, não havia como matar esse problema, só restava esperar que elas se cansassem de brincar. O vampiro olhou para Charles, o observando com muita cautela. O maldito agia com uma calma tão fria que nem ao menos se deu ao trabalho de largar aquela bengala antiga ou dizer ao menos quem estava tentando o matar pelo simples motivo de estar pagando seus pegados ao lado dele nesse portal. Mas por um lado, foi bom ter ficado preso com Charles, pois Andrew teve a chance de dizer seu plano para matar Amethyst e ele sabia que o feiticeiro era o único podia fazer isso, talvez fosse por isso que ele estivesse tão silencioso. Pelo menos, aparentemente, as almas desistiram de perseguir os dois por algum momento. O que era ótimo, já que não existia mais nenhum obstáculo em sua frente para encontrar Roxie. E Andrew podia sentir o cheiro de seu sangue cada vez mais perto, suas presas formigavam em sua gengiva em reconhecimento de que ela podia estar em perigo por causa do sangue, mas o vampiro sabia que ela havia achado uma maneira de se cortar para facilitar sua busca. — Quem era a menina?— Andrew ousou perguntar, vendo uma nuvem cheia de escuridão em volta do homem. Deuses, se o cretino não relaxasse, uma placa com setas apontando para eles apareceria em suas cabeças. — Minha filha.— Charles disse sem nenhuma emoção, seus olhos fixos na escuridão em sua frente. — Ela se jogou de um precipício.— Andrew ficou surpreso pelo feiticeiro ter tido uma filha, mas também lamentou, pois sabia que para feiticeiros, um filho era quase raro. Mas ele não entendia...— Por que você tem medo dela?— — Eu não tenho medo dela, mas o que aconteceu, talvez seja meu futuro.— Ele explicou.— A magia nos leva a loucura e foi isso que aconteceu a ela quando tinha 16 anos, antes de atingir a imortalidade.— — Sinto muito.— Andrew falou com sinceridade. Ele não sabia o que era perder um filho e nunca saberia, mas sabia o que era perder alguém para a loucura. — Já faz muito tempo.— Andrew viu que o que amargurava o feiticeiro era o fato de sua filha não ter chegado aos 20 anos para conseguir a imortalidade e talvez ter alguma salvação para sua loucura. E era apenas isso que o vampiro conseguiria tirar de Charles sobre esse assunto e ele não


insistiria sobre mais nada. — Sobre Amethyst, eu posso fazer...— — Não.— Charles o cortou duramente.— Eu irei fazer isso.— Andrew concordou levemente em um aceno e então tentou tocar a mente de Roxie para ver se ela estava bem, já que não fez nenhum contato desde que se cortou, mas ele apenas encontrou o nada... Dessa vez ele considerou deixar Charles para trás pra chegar logo onde Roxie estava, pois algo estava errado, mas antes mesmo que tivesse qualquer chance de fazer isso, as paredes passaram a se mover. Os 20 minutos haviam se passado. Andrew fechou sua mão em um punho e socou a parede que surgiu em sua frente sem controlar sua força, mas tudo que ganhou foi alguns cortes em seus dedos e uma leve dor. Nenhuma rachadura apareceu na parede. Não havia nada para ser feito em quanto mais e mais paredes apareciam para empurrar a ele e Charles na direção que elas desejavam até que outro corredor fosse feito. Andrew estava prestes a amaldiçoar tudo que era possível, mas antes de começar fazer uma lista de todos os nomes feios que existiam no mundo, ele sentiu o cheiro do sangue de Lúcifer. O vampiro se virou e seus olhos avistaram do outro lado do corredor o maldito vaidoso se apoiando em Saphyre já que, aparentemente, havia levado uma bela surra dele mesmo com uma alma. Um alivio preencheu seu coração, pois era bom ver que ambos estavam bem. Depois de caminharem até eles, Andrew ocupou o lugar de Saphyre, sabendo que a pequena não tinha força o suficiente para segurar o brutamontes de seu amigo.— Eu diria apenas que é bom vêlo,— Ele começou quando Lúcifer olhou para seu rosto.— Mas não existe visão melhor do que ver seu sangue.— — Um dia,— Lúcifer disse em gemido.— Eu ficarei feliz em ver sua alma queimar no inferno.— — É claro.— Andrew sorriu.— Agora, deixe-me desfrutar dessa visão.— Lúcifer riu amargamente por causa da dor e vendo que ele estava bem, o vampiro olhou para Charles.— Se as almas aparecerem e tomarem forma do medo de Lúcifer, você irá encontrar Roxie e fazer o que deve ser feito. Eu irei ficar para protegê-lo e depois encontrar os outros.— Charles acenou com sua cabeça e seus olhos azuis foram até Saphyre. Ela sorriu docemente e largou a mão de Charles para caminhar em sua direção. A pequena tocou seu rosto levemente como se Andrew fosse muito sensível. Ele jamais deixaria que outra mulher além de Roxie o tocasse dessa maneira, mas o vampiro havia passado tanto tempo ao lado de Saphyre que ela passou a fazer parte de seu coração. — Eu sinto muito.— Andrew disse a ela.— Prometi que você nunca mais estaria em perigo e falhei. — — Se eu morrer hoje, estarei em paz.— Saphyre falou calmamente. — Oh, pai todo poderoso, acho que irei vomitar.— Lúcifer gemeu ao seu lado com um tom de ironia, Andrew apenas revirou seus olhos em quanto Saphyre sorria. — Vamos logo, nós temos apenas vinte minutos para encontrar Roxie e os outros antes que o caminho mude novamente.— Charles disse. — Roxie está próxima, eu posso sentir o cheiro de seu sangue.— Outro gemido de Lúcifer.— Eu só espero que ela esteja bem.— — Eu também.— Falou Andrew, pois não conseguia mais tocar a mente dela e isso só poderia significar duas coisas. A ligação que eles compartilhavam estava falha novamente ou ela estava inconsciente.


— Emme está trancada no portal como nós, ela não pode se transportar para sua dimensão, mas ela está com Iawy e ambos estão a procura de Nyx.— Lúcifer disse quando eles começaram a caminhar, ele não estava tão preocupado, pois podia se comunicar com a filha de Hades por pensamentos e o maldito vaidoso confiava em Iawy para proteger sua amada. Agora, apenas duas pessoas estavam sozinhas nesse portal e a única que Andrew realmente se preocupava era com Roxie. Não por ele a amar ou por ser uma das razões por ter vontade de viver que sua preocupação era focada nela, mas Nyx era durona do tipo que mesmo sem estar em sua forma de licantropa sabia se defender, Roxie era algo completamente diferente. Ela não possuía força de vontade quando via que não existia mais esperanças e facilmente desistia. Andrew temia que ela causasse problemas por conta disso. O vampiro respirou fundo para sentir se o cheiro de seu sangue estava próximo ou não, eles já estavam caminhando há dez minutos e logo as paredes passariam a se mover, os levando para mais perto dela ou não. Mas assim que Andrew sentiu o doce cheiro suave, suas presas formigando em reconhecimento de que pertencia a Roxie, ele sabia que ao virar o próximo corredor a encontraria. Pelo menos ele esperava encontrar Roxie e não apenas seu sangue. Quanto mais próximos eles ficavam desse corredor, todos podiam ver claramente a sombra de chamas que dançavam com o fraco vento que não tinha força o suficiente para apagar o fogo. E por mais que desejasse estar enganado, Andrew sentiu o aroma de Amethyst juntamente com o de Roxie vindo de uma leve brisa que debateu contra ele. O vampiro passou a caminhar mais rápido, tendo certeza de que Lúcifer poderia acompanhá-lo. Então, eles viraram no corredor. Ao virarem, Andrew percebeu que eles não estavam apenas em mais um corredor. Agora eles estavam no centro daquele portal que era uma prisão para as almas negras que não tinham mais nenhuma utilidade para os deuses. O centro desse lugar que aconteceru tantas mortes e sofrimento não passava de um enorme circulo com várias entradas de outros corredores. Nem Nyx, Iawy ou Emme apareceram em algumas dessas entradas. No centro desse circulo, havia uma mesa retangular feita de pedra com correntes nas quatro pontas. Provavelmente, no passado, muitas pessoas foram largadas presas naquela pedra fria para serem devoradas por seus próprios medos. Os olhos de Andrew encontraram Amethyst perto daquela mesa com um sorriso muito cretino em seus lábios, fazendo com que uma vontade incontrolável crescesse dentro dele para que a matasse e mesmo sabendo que seus olhos estivessem passando essa mensagem para ela, a bruxa não se sentiu em perigo, pois ela era o perigo. Andrew desejou mostrar para Amethyst exatamente quem era o verdadeiro mal naquele centro cheio de entradas que levava a escuridão, mas ao lado dela, estava Roxie. O coração de Andrew deu um pulo se apertou com a cena, mas logo em seguida ele acelerou com a raiva que o atingiu sem nenhum aviso. O vampiro podia facilmente largar Lúcifer em algum canto nesse momento e arrancar os olhos de Amethyst. Mas nunca poderia fazer isso, não quando a bruxa estava controlando sua mulher. Os olhos de Roxie estavam completamente negros, não existiam mais azuis ou branco, era apenas uma escuridão que poderia ser usada de espelho, exatamente iguais como eram os seus até poucas horas quando o sangue de Amethyst ainda corria por suas veias. Andrew olhou para as mãos de Roxie para ver que ela segurava um pedaço de gelo esculpido em um formato de estaca, ela o segurava com força contra seus dedos, sabendo que aquilo jamais poderia se partir em pedaços e mesmo que acontecesse, ela poderia facilmente fazer outro. Ela estava confiante sobre o quão forte era, uma verdadeira prova de que essa pessoa não era a sua


Roxie. — Por que está fazendo isso?— Andrew fez essa simples pergunta, se referindo ao que tinha feito a Roxie. Amethyst havia capturado o seu maior medo, o seu ponto mais fraco e dolorido. Ele não podia lutar contra isso. — Eu tenho direito de pegar aquilo que me pertence.— Amethyst disse ainda sorrindo.— Você e Saphyre já ficaram muito tempo longe de mim.— — Você disse que não podia abrir o portal sem uma estrela.— Fria cautela. — Ops, você descobriu minha mentira.— Ela riu.— Acontece, meu amor, que eu menti sobre muitas coisas. Eu preciso de uma estrela para arrancar seu coração, se não precisasse dela, você já estaria morto há muito tempo e eu teria um coração de um mestiço para liberar todas as almas que estão aqui dentro. É uma pena que eu precise tanto de uma pessoa que considero como lixo.— Amethyst tocou o rosto de Roxie com seus dedos, tirando seus cabelos loiros que escondiam sua bochecha. Ela nem ao menos reagiu ao toque. Um rosnado escapou da garganta de Andrew.— Eu não entendo o que você viu nela, Andrew, é apenas um rostinho bonito sem um cérebro.— — Ela não é louca como você, isso conta muito em seu curriculum para ser minha esposa.— Ela soltou uma gargalhada falsa e fria que fez com que Andrew fechasse seus olhos por alguns segundos para buscar a calma em seu interior.— Eu sou louca?— Amethyst perguntou rindo. E parecia ainda mais insana do que o normal.— Por favor, eu estou apenas fazendo meu dever. Os deuses criaram os feiticeiros para manter o equilíbrio na Terra, mas eles ignoram todas suas regras e causam uma bagunça enorme que não podemos arrumar. Eu estou apenas tentando que tudo se torne zero novamente, para um novo recomeço. A natureza merece uma segunda chance...— — Isso é insano.— Charles disparou. — Sua alma está negra, seu coração provavelmente nem ao menos deve bater mais. Como pode dizer que isso é certo?— — Você está certo, meu coração não bate mais e minha alma é apenas escuridão, mas não me parece insano concertar o erro dos deuses... Eu nasci para fazer isso e mereço esse reconhecimento. Ao contrário disso, apenas ganho mais trabalhos para resolver quando os deuses pisam na Terra, transformam pessoas que já deveriam estar mortas em imortais novamente, matam humanos e criaturas sobrenaturais, se relacionam amorosamente... E ninguém reconhece o meu trabalho como feiticeira. Em meu novo mundo eu terei isso, todas essas almas negras me reconhecerão como rainha quando tentarem me matar e não conseguirem. Elas ficarão gratas por libertá-las.— Andrew estava surpreso em como as poucas horas que esteve longe de Amethyst fez com que ela ficasse ainda mais louca. Ela não estava fazendo nenhum sentido e por um momento o vampiro pode ver Pierre no lugar dela, falando e falando de todos os benefícios que teria ao fazer com que nenhum raio solar atingisse mais a Terra com o seu ritual, como se tornaria o dono do poder. Pessoas que atingem a loucura da eternidade precisam morrer. Sua mãe lhe disse isso uma vez. E ela estava correta. — Agora, Andrew,— Ela tocou aquela mesa antiga com suas mãos enluvadas.— Por que você não se deita aqui para que sua amada faça seu trabalho?— — Eu não...— — Você prefere que eu torture a mente dela?— Ela o cortou antes que pudesse criar uma sentença. — Soube que não se pode matar uma estrela sem matar o seu deus, mas quem sabe possa brincar com sua mente até que fique louca...— Dessa vez quem soltou um rosnado raivoso foi Lúcifer. Andrew deixou Lúcifer se posicionar em pé sem que precisasse de sua ajuda para ficar daquela maneira e se aproximou da mesa, ele não gostava de rendições, mas nesse momento, não havia


nenhum plano em sua mente. Nenhum existiria até que Amethyst deixasse de manipular a mente de Roxie. Ele estava se sentindo completamente fraco naquele momento, um idiota por deixar que o amor permitisse que se rendesse a esse pedido, mas... Andrew sabia que tudo isso aconteceria quando decidiu colocar Roxie acima de qualquer necessidade pelo sangue. Ele a amava e não podia deixar que Amethyst agredisse sua mente, que a machucasse. — Uau,— Amethyst fingiu surpresa após ele ficar de frente com ela, apenas a mesa de preda os separando.— Eu tive que misturar magia negra ao meu sangue para tê-lo e mesmo assim não tive nenhum sucesso, agora que tenho a ela, você se rasteja de joelhos.— Andrew decidiu que era plausível ignorar Amethyst e encontrou os olhos de Roxie, mas seu sentimento foi de encontrar apenas o vácuo. Roxie. Ela movimentou seu queixo para cima, para realmente olhá-lo dessa vez, mas foi apenas isso. Um olhar. — Deite-se.— Uma ordem de uma pessoa que nem ao menos era digna de usar esse tom. Andrew a ignorou. Seus olhos azuis ainda estavam fixos naquela escuridão vazia, Roxie o olhava e não mostrava nenhuma reação. Isso doeu no fundo de seu coração de uma maneira que não existia uma explicação, pois o vampiro sabia que ela estava enfeitiçada. Mas Andrew já havia reparado que seus olhos eram vazios e sem brilho quando se tratava de outras pessoas, até mesmo as pessoas que ela considerava como família, mas toda vez que seu olhar pertencia a ele, seus olhos eram chamas azuis que nunca se apagaria. Ela tinha o brilho das estrelas em seus olhos quando olhava para Andrew. Roxie fez outro movimento, ela parou de olhá-lo e levantou seus braços na altura de seu peito, suas duas mãos seguravam aquela estaca de gelo com sua ponta afiada na direção de o seu próprio estomago. Um olhar rápido para Amethyst foi o suficiente para ver que ela era a responsável por isso. E essa posição foi o suficiente como um aviso de que ela realmente iria machucar Roxie se ele não se deitasse logo. Andrew olhou por cima de seus ombros e viu nos olhos quase inexpressivos que ele não iria hesitar sobre o que haviam combinado. Mas por em quanto, eles não poderiam reagir, não quando Andrew não tinha certeza do que aconteceria com Roxie se eles matassem Amethyst. O vampiro se deitou naquela pedra e sentiu a frieza dela em suas costas, seus olhos estavam fixos em Roxie, ainda segurando aquela estaca feita com seu próprio poder de controlar e produzir o gelo em direção de seu abdomen. Se as coisas fossem diferentes, Andrew teria visto em seu rosto um lindo sorriso que demonstraria o quanto ela estava feliz por ter conseguido ter feito algo tão grande, mas logo ficaria emburrada, se perguntando por que tinha feito logo uma arma e não uma escultura de algum bicho ou... Essas coisas de Roxie que Andrew tinha que aguentar. Amethyst apareceu em frente de sua visão quando ele tentou olhar para Roxie, seus olhos escuros como ameixas estavam felizes ao mesmo tempo que se misturava com a morte e raiva. Ela colocou seus braços um de cada lado de sua cabeça e se abaixou.— É uma pena que você tenha de morrer, um rosto tão bonito como o seu não deveria estar tão perto da linha da morte.— Ela sussurrou perto de seus lábios, mas logo ela tomou outra posição e começou a desabotoar camisa que Andrew vestia para revelar seu peito. Um dedo enluvado tocou uma das linhas do abdômen de Andrew e percorreu o caminho que ela fazia até que o cós de sua calça não permitiu que Amethyst continuasse a explorar. Raiva fez com que o sangue do vampiro esquentasse dentro dele, mas ao invés de arrancar aquela mão do braço dela, ele apenas soltou um suspiro que demonstrou o quão desesperado estava para ver o sangue de


Amethyst em suas mãos. Ela riu, um riso que acabou com o último pingo de paciencia que existia em Andrew, mas antes que ele pudesse desistir de apenas ficar deitado naquela pedra e enforcar Amethyst com suas próprias mãos, correntes apareceram como cobras ao redor de seus pulsos e calcanhares, o fazendo ficar imóvel exatamente onde estava. Em um ato sem sucesso, Andrew tentou se livrar daquelas correntes usando sua força, mas pareciam que toneladas de pedras estavam em cima dele. É claro que Amethyst usaria magia para prendê-lo. Andrew encontrou os olhos de Roxie novamente e um leve franzir apareceu em sua testa. Ela já não segurava mais a estaca de gelo em sua direção, algo que Amethyst nem ao menos tinha notado após sair de cima dele. Amethyst se afastou até mesmo de Roxie nesse momento, ela fechou seus olhos e estendeu seus braços com suas palmas para cima, ela começou dizer palavras que eram totalmente desconhecidas para Andrew e ele soube que ela estava recitando algum ritual. Roxie se aproximou mais do centro daquela pedra como uma marionete em quanto a bruxa logo atrás dela continuava a murmurar palavras. Ela ergueu aquela estaca novamente, mas a manteve para o alto, esperando um simples comando para atingir o coração de Andrew. — Cherie...— Ele sussurrou, não sabendo exatamente o que poderia fazer nesse momento sem que usasse a única carta que existia em sua manga. Andrew estava com medo, com medo de que a magia que estivesse dentro da cabeça dela causasse algum tipo de dano a partir do momento que Amethyst parasse de respirar. Toda magia possuía uma consequência e Andrew não sabia se cairia nos ombros de Roxie ou de Amethyst. Por outro lado, a bruxa estava muito perto de conseguir o sucesso e mais vidas seriam tiradas, dessa vez o mundo que todos viviam hoje deixaria de existir. Andrew não permitiria que isso acontecesse, ele já havia visto sangue de pessoas inocentes por tempo o suficiente para colocar a vida delas, pessoas que nem ao menos sabiam que o que aconteceu em Londres foi culpa dele, em frente da sua. Andrew sabia que se Seline ainda estivesse viva, ela não se orgulharia dele ao saber que permitiu Amethyst ter algum sucesso por um medo tão bobo... Sim, uma consequência que poderia destruir um pouco de Roxie era algo bobo, pois ele a amaria de qualquer jeito mesmo que fosse danificada... Não existiria defeito nenhum que iria fazer ele amá-la menos do que agora. E se ele morresse agora e pelas mãos de Roxie... Andrew nem ao menos conseguiria imaginar o que aconteceria quando sua mente voltasse a pertencer somente a ela. Roxie passaria a viver em uma vida que mesmo respirando, tudo seria como a morte. Então, o que ele escolheria? Morrer sabendo que ela jamais seria a mesma ou viver com o risco de algo acontecer na mente dela? Andrew não sabia o que fazer, era a primeira vez em tantos séculos que ele não sabia o que fazer e isso o agonizava de uma maneira que o fazia se sentir impotente.— Eu te amo, cherie.— Falou Andrew, a única coisa que tinha certeza nesse momento. Uma lágrima, uma única lágrima, rolou pelo rosto branco e pálido dela como o de uma porcelana antiga. Uma lágrima lenta em sua descida para o encontro do chão que representou nada mais do que uma luz no meio de tanta escuridão. Roxie ainda estava lá, presa em algum lugar, mas ainda estava lá... Andrew não precisava de mais nada. Essa era a única resposta que teria e precisava. O vampiro virou seu rosto para encontrar o outro feiticeiro que ainda estava próximo de Saphyre e Lúcifer.— Agora, Charles.— Charles levantou sua bengala e puxou a parte dourada com o formato de uma fênix em quanto segurava a parte de baixo dela para revelar uma lamina bem afiada. Sua bengala tão fina não passava mais nada do que uma bainha para uma lamina grande e antiga. Andrew jamais teria


imaginado que ele portava uma arma tão perigosa se não tivesse passado algum tempo com ele essa noite. Amethyst congelou, suas palavras desconhecidas viraram um silencio total quando ela percebeu o que estava acontecendo.— Não!— Ela gritou. Mas já era tarde. Em um movimento rápido, Charles empunhou aquela lamina prata e brilhante contra o peito de Saphyre, atravessando em seu coração como se não passasse de um mero papel até que a ponta aparecesse do outro lado, em suas costas. O feiticeiro virou a lamina para horizontal, sendo que antes estava na vertical. Um golpe fatal para qualquer criatura sobrenatural.


34-

Andrew , Quando eu era apenas uma garotinha , minha mãe dizia que eu teria um grande destino e escolhas difíceis para lidar em minha vida . Ela costumava ser uma grande feiticeira que apenas lidava com a magia natural , banindo a magia negra de sua vida , pois a considerava errada e ela era boa o suficiente para não caminhar ao lado da escuridão . Minha mãe , tenho orgulho de dizer , que foi uma grande mulher , uma grande feiticeira , uma grande mãe . Meus sonhos eram de ser como ela , mas como você sabe , eu não tive nenhuma escolha . Amethyst me manteve como uma prisioneira por tanto tempo , que se esqueceu que nós compartilhamos o mesmo sangue , os mesmos pais e uma infância em que eramos felizes . Eu sei que você perdeu seu irmão , você conhece minha dor , pois também perdi a minha mesmo em quanto ela ainda respira e dorme ao quarto do lado do meu . Depois que me tornei uma mera prisioneira para ela , depois de anos esperando que ela voltasse a ser a mesma , meu sonho em ser como minha mãe desabou . Eu estava muito ciente de que não era forte e se tornou uma grande ofensa apenas pensar que um dia desejei ser igual a mulher que tanto idolatrava . Meu sonho acabou , eu passei a ser ninguém , um nada na escuridão do meu quarto . Então , minha mente obrigou -me a encontrar outro desejo , outro sonho . Esse sonho , era simplesmente conhecer o mundo que perdi a evolução e se tornou tão desconhecido em quanto ficava trancada nas mansões de minha irmã . Agora , eu temo que isso não seja mais possível se realizar também . Mas , por favor , deixe que eu explique algo nessa carta que a escondi ao meio de suas coisas como um segredo que seria revelado quando você a encontrasse ... Eu não pude conhecer o mundo e talvez nunca conheça , mas graça a você , eu conheci pessoas maravilhosas que se tornaram o meu mundo . Então , esse lugar , essa terra que pisamos e possuí paisagens bonitas deixou de ser tão desejada pelo meu conhecimento . Você , Charles e Roxie são as únicas pessoas que conheço depois de tanto tempo em uma vida solitária com minha irmã , graças aos três , eu pude me sentir amada novamente ... Tem algo mais belo no mundo ou na vida do que isso , Andrew ? O amor foi o melhor presente que ganhei depois de tantos séculos , depois de tanto medo e escuridão . Tudo graças a você , um amigo , que mesmo com uma alma negra , cuidou de mim como se fosse sua própria irmã . Como recompensa ... Não . Como uma irmã que o amo tanto e que deseja sua felicidade ao lado de Roxie , eu lhe direi o maior segredo que existe entre mim e Amethyst . Feiticeiros podem ser mortos como qualquer outra criatura sobrenatural , nós apenas somos difíceis de se matar , pois podemos causar muito danos ao nosso atacante antes mesmo que esteja perto . Nós não precisamos de nossas mãos para nos salvar , diferentes de todo o resto . Uma vez , me lembro , que você disse que Amethyst e eu eramos uma raridade já que feiticeiros não costumavam ter duas filhas com poder , a prova disso era o fato de sermos ainda mais poderosas quando juntas . Eu não tiro sua razão sobre isso de maneira alguma , pois quando atingimos uma certa idade em que nossos pais não podiam mais nos manter dentro de casa como joias preciosas , nossa mãe nos explicou detalhadamente que quando estávamos juntas , nós nos tornávamos apenas uma pessoa , uma alma .


Sendo assim , nossas vidas eram compartilhada . Pode não parecer , mas eu sou o maior tesouro de Amethyst e ela o meu , já que nenhuma de nós pode existir quando a outra morre . Esse é o nosso segredo , Andrew , é a nossa vida . E eu estou lhe dando como um presente sincero de todo o meu coração para que você acabe com o nosso sofrimento . Com todo meu amor por você e outras pessoas que estarei salvando , Saphyre . Obs : Obrigada por ter sido o mundo que desconheço , Andrew .

35Meus olhos se abriram rapidamente apenas para me encontrar completamente perdida. A última


imagem que minha mente guardou era de Amethyst próxima de mim e com suas mãos em minha cabeça, depois disso, apenas me lembro da escuridão. Mas agora, tudo estava diferente e o pior de tudo é que eu nem ao menos me sentia surpresa. Eu estava de frente a uma mesa de pedra, meus braços estavam elevados para cima e meus dedos seguravam algo gelado. Depois de conferir exatamente o que era, eu achei a surpresa que não havia sentido em estar em um lugar que nem ao menos me lembrava do trajeto para chegar. Minhas mãos seguravam uma estaca feito de gelo, ela era pesada e grossa... Não podia acreditar que havia feito aquilo. Meus olhos foram para baixo, para a mesa de pedra que eu estava próxima, para o lugar onde a ponta afiada daquele gelo estava apontando. Quando isso aconteceu, meus braços caíram ao lado do meu corpo como geleias ao mesmo tempo que encontrava Andrew deitado e acorrentado, pronto para receber uma estaca de gelo no meio de seu coração em seu peito nu. Fiquei horrorizada, tão perplexa e com nojo de mim mesma por segurar algo afiado em direção de Andrew... O que havia acontecido? E por que eu estava prestes a fazer aquilo? Eu encarei Andrew e não encontrei seus olhos para que pudesse ter as repostas das minhas perguntas, o vampiro estava imóvel naquela pedra e nem ao menos podia notar o movimento de sua respiração. Seus olhos estavam fechados e apertados, sua testa estava levemente enrugada como se estivesse sentindo algum tipo de dor. — Andrew...?— Eu estava confusa, muito confusa. Mas após dar um passo para trás, para ver o que realmente estava acontecendo, aquele pedaço de gelo encontrou o chão em frações de segundos quando meus olhos encontraram Lúcifer, Charles e Saphyre do outro lado da mesa. Charles estava segurando Saphyre em seus braços, ambos foram de encontro ao chão quando o pequena bruxa não tinha mais nenhum controle em seu corpo. Seu peito estava sangrando sem parar e eu não podia ver nenhum corte ali, apenas sangue e mais sangue bem aonde existia o seu coração. Uma lamina suja estava caída bem ao lado deles. O vampiro de cabelos loiros se ajoelhou ao lado de Charles e ele estava tão incrédulo quanto eu. Saphyre... — Eu sinto muito.— Charles falou, seus olhos mostravam o quanto ele realmente sentia.— Saphyre...— Saphyre não falou nenhuma palavra, seus lábios tremiam e lágrimas escorriam de seus olhos. Eu não soube se era pela dor ou pelo tom suave e cheio de sofrimento que Charles usou ao falar com ela. Então, ela sorriu para ele. Um sorriso tão inocente e lindo surgiu em seus lábios que perdiam a cor como um lindo arco-íris em dias chuvosos. Saphyre estava morrendo e sorria... Por que? Eu dei mais um passo para trás não acreditando no que estava vendo e brutalizando todas as barreiras da minha mente para descobrir porque havia um buraco negro no meio dela. Parecia que estava dormindo e acordei somente agora... Andrew se sentou naquela mesa se livrando das correntes, o tilintar delas se debatendo contra elas mesmas e depois encontrando o chão pareceu que era o único barulho que ocorria naquele lugar que formava um grande circulo com tochas nos espaços entre as portas que levavam para corredores negros em toda nossa volta. Meus pés se debateram contra algo caído no chão quando dei esse passo para mais longe da mesa, e após abaixar meus olhos para ver no que havia batido, eu encontrei o corpo de Amethyst. Ela estava deitada contra o chão de pedra, seus olhos fixos no teto daquele lugar e lágrimas também


escorriam de seus olhos. Suas mãos enluvadas com panos negros e brilhantes repousavam em seu coração. Não havia sangue ou algum corte ali, mas Amethyst também estava morrendo. Saphyre e Amethyst estavam morrendo sendo que apenas uma delas havia sido atingida por uma lamina no coração. Eu me abaixei ao lado de Amethyst, sabendo que Andrew estava em minhas costas para explicar qualquer uma das minhas perguntas, sabendo muito bem que essa bruxa em minha frente merecia a morte mais do que ninguém e uma passagem apenas de ida para o inferno, mas... Nem mesmo os piores dos vilões mereciam morrer sozinhos. Amethyst me olhou com surpresa, provavelmente se perguntando que tipo de maldade eu iria fazer com ela. Ignorando esse olhar, eu peguei uma de suas mãos enluvadas e a apertei. Bom, eu não tinha exatamente o que dizer, um apertar de mãos era melhor do que dizer “Boa sorte no inferno, vadia.” A feiticeira olhou para o teto novamente, lágrimas escorriam por seu rosto e aparentemente essa era a primeira vez que ela chorava depois de tanto tempo, uma demonstração de sentimentos depois de séculos na escuridão. — Saphyre,— Ela sussurrou, sua voz rouca era tão cheia de dor que eu senti agonia se agitar dentro de mim. — Está bem... Quero dizer, ela está sorrindo.— Falei da forma mais gentil que podia quando meu coração desejava sapatear sobre seu corpo.— Charles e Lúcifer estão com ela.— — Bom.— Ela olhou para cima, sua respiração passando a ser cortada e sua cor lentamente desaparecendo. — Se você a encontrá-la novamente em qualquer outro lugar,— Hesitei, não sabendo exatamente no que Amesthyst acreditava quando se tratava de vida após a morte. Nem eu ao menos sabia no que acreditava sobre essa teoria.— Seja boa com ela.— Um leve apertar contra meus dedos, a bruxa estava retribuindo o meu aperto.— Obrigada.— Um segundo depois, seus olhos ficaram fixos ao nada e completamente vazios. Amethyst deixou de respirar e piscar, o único movimento era a de suas últimas lágrimas escorrendo por seu rosto para encontrar o chão frio de pedra. Eu tirei minha mão da dela e passei sobre seus olhos para fechá-los. Ela estava morta. Elas estavam mortas. Eu me levantei e virei em direção de Andrew. Minha intenção era de ir até Saphyre, mas não havia mais tempos para despedida. Uma parte de mim, muito confusa, entendeu o que estava acontecendo entre elas. Era uma ligação de vidas, essa era a única explicação. Andrew me abraçou quando viu que eu não me moveria por causa do choque da verdade que estava diante dos meus olhos. Lágrimas escorreram pelo meu rosto, por Saphyre, eu não podia acreditar que ela estava morta... — Está acabado agora.— Ele sussurrou diante do meu ouvido me apertando contra seu corpo, mas eu não pude devolver esse abraço. Não ainda. Andrew se afastou de mim, seus olhos azuis encontraram os meus e eles transmitiam a mensagem de que estava preocupado.— Estou bem.— Foi tudo que disse. O vampiro apenas concordou com sua cabeça, sem fazer nenhuma pressão. — Nyx está vindo.— Lúcifer falou ao se levantar do lado de Saphyre, provavelmente ouvindo os passos dela ou simplesmente sentiu o aroma refrescante da licantropa. Eu encontrei seus olhos por um momento e eles estavam tão surpresos quanto os meus diante dessa situação, mas em questão de segundos Lúcifer vestiu aquela mascara que escondia todas as suas emoções e se tornou em um


homem sem nenhum sentimento. Eu ignorei aquilo, pois era daquela maneira que todos os homens presente nessa sala comigo lidavam com isso. Nyx apareceu no corredor ao nosso lado em questão de segundos após Lúcifer ter anunciado sua chegada. Seus cachos loiros como raios solares estavam sujos de poeira, assim como todo o restante dela. Seus olhos estavam arregalados e cheios de medo. Aparentemente, ela foi atacada por alguma alma. Eu fiquei feliz por vê-la bem e sorri para ela. Nyx não correspondeu o sorriso. — Onde está Iawy?— Ela perguntou com certo desespero, mas antes que qualquer um pudesse responder sua pergunta, seus olhos azuis escuros encontraram o corpo de Saphyre e logo em seguida o de Amethyst. Nyx ficou em choque sem ao menos respirar. — Por que...— Sua voz vacilou.— Por que Saphyre esta morta?— — Não existia outra maneira de matar Amethyst sem que Saphyre vivesse.— Andrew se virou para ela.— Se uma morresse a outra teria o mesmo destino.— — Mas...— Meus olhos voltaram para Lúcifer, ele estava inquieto agora, sua máscara se quebrando em mil pedaços e mostrando um certo desespero.— Emme.— Sua voz era um sussurro. Algo estava errado. Eu não tive chance alguma de perguntar para Lúcifer o que havia acontecido para ele estar tão agitado e preocupado com Emme, pois o chão a baixo de nós começou a tremer e todos aqueles gritos horríveis que pertenciam a almas cessaram. O único barulho que passou a ser ouvido, eram estrondos prolongados de coisas caindo, nesse circulo onde estávamos, a poeira começou a cair sobre nós com pedaços de pedras as vezes pequenas e outras grandes. O labirinto estava desmoronando. — Nós precisamos sair.— Era primeira vez que Charles falava, se levantando do chão.— A ligação da magia de Amethyst que mantinha o labirinto aberto acabou.— — Não podemos ir sem Iawy e Emme.— Nyx falou o obvio. Podia ser assustador o teto estar caindo sobre nós, que os corredores do labirinto deixasse de existir, mas ninguém poderia sair daqui e deixar alguém para trás. Isso era totalmente contra tudo que eu considerava certo. Eu olhei para Andrew, esperando que ele concordasse com Nyx. Seus olhos azuis cruzaram com os meus rapidamente e uma respiração profunda escapou de sua garganta.— Nós ficamos.— Falou, entrelaçando seus dedos com os meus e ignorando toda a terra que estava caindo sobre nós e os tremores que aumentavam.— Vamos procurá-los.— O vampiro olhou para Nyx, a garantindo que ninguém iria embora sem encontrar Iawy e Emme. — Emme!— Era Lúcifer, sua voz saiu em um certo desespero que eu nem ao menos imaginava como ele conseguiu produzir o som que desejava ficar preso em sua garganta. Eu me virei em direção do corredor que o vampiro de cabelos loiros estava indo. No corredor escuro, uma silhueta pequena apareceu caminhando em direção do corredor, seus passos eram vacilantes, ela se segurava na parede como apoio e soluços de um choro agonizante


invadiu meus ouvidos. Um aperto em meu coração se formou quando a deusa do fogo deu mais passos até que estivesse sendo iluminada pelas tochas que estavam nos espaços entre as portas que levavam para os corredores escuros em toda nossa volta. Emme estava completamente suja de sangue, seu rosto pálido coberto por manchas grossas e escuras, sendo seus olhos a única coisa não vermelha naquela região. Seus cabelos vermelhos estavam empapados por causa do liquido grosso. Seus braços, seu vestido, suas pernas... Tudo estava sujo de sangue de uma maneira que era obvio que alguém havia sido destroçado em sua frente e o sangue espirrado nela. Lúcifer estava congelado. — Não...— A voz de Nyx tremeu, eu olhei para ela e lágrimas passaram a escorrer em seu rosto. Ela não se moveu ou disse qualquer outra palavra. Nyx estava em choque, olhando fixamente para Emme sem ao menos piscar.— Não...— Ela tentou respirar, mas pareceu que o ar eram pequenas agulhas alfinetando seus pulmões. — Eu...— Emme tentou falar, mas ela estava nervosa demais para dizer alguma palavra.— Haviam dois monstros... Dois incubus em suas formas... reais.— — Fiemme.— Lúcifer sussurrou seu verdadeiro nome, com a intenção de acalmá-la em quanto tentava pegar uma de suas mãos, mas Emme se afastou brutalmente. Seus olhos pratas olharam para todos nós, não sabendo exatamente para quem olhar e seu corpo todo tremia. Nyx não era muito diferente dela.— Eu tentei salvá-lo...— As palavras falharam.— Eu sinto muito.— Um enorme pedaço do teto caiu sobre nós, partindo a mesa de medra em dois pedaços quando não teve sorte de atingir nenhum de nós. Em quanto isso acontecia, eu vi um vulto de cabelos loiros passar ao meu lado e tentei agarrar o braço de Nyx, mas ela era rápida demais e acabei falhando. Andrew, no entanto, deixou de ficar ao meu lado para ficar de frente com Nyx, a impedindo de entrar no corredor que Emme havia pego para chegar até aqui. — Não.— Foi uma palavra dura, severa.— Você não irá morrer também.— Nyx olhou para ele, seus olhos cheio de lágrimas em quanto seus lábios se entreabriam para dizer algo que foi esquecido em questão de segundos quando seu choro invadiu todos os seus pensamentos e ela começou a gritar, bater no peito de Andrew com seus pulsos cerrados, o empurrando. — Nós precisamos ir.— Charles falou ao meio dos gritos de Nyx, se aproximando de mim. Eu estava petrificada, nem ao menos meu coração batia com uma velocidade anormal. Estava tão calma que nem sentia medo dos pedaços de pedras que estavam caindo, ameaçando a todos. Eu era apenas a plateia.— Agora.— Andrew segurou os punhos de Nyx, tomando cuidado para não machucá-la, e a carregou em seu colo. Ela protestou diversas vezes, tentando se soltar, mas logo ficou quieta e imóvel. O som de seu choro era a única coisa que provava de que ela ainda estava consciente. Ela havia se aninhado contra o peito de Andrew em quanto soluços e mais soluços não deixavam de aparecer. Lúcifer fez o mesmo com Emme, ele ignorou o fato dela estar quase em choque, o sangue que a sujava e a carregou em seus braços sem fazer nenhum esforço. Charles estava hesitante em fazer o mesmo comigo, ele teve que olhar para Andrew e receber um aceno de confirmação antes de passar o braço por minha cintura e me puxar contra o seu corpo. Ele não me levantou em seu colo como Andrew e Lúcifer fizeram, eu coloquei meus braços ao redor de seu pescoço, com medo de que aquele único braço dele fosse insuficiente para me manter segura, mesmo que Charles soubesse o que estava


fazendo.— Como vamos sair?— Perguntei a ele em um tom baixo, meu tom era morto, sem emoção. Ele olhou para baixo, um pequeno sorriso que não havia nenhum sentimento surgiu em seus lábios. — Da mesma forma que entramos.— Charles flexionou seus joelhos e depois nos impulsionou para cima com uma força que eu jamais saberia que existia dentro dele se não estivesse tendo uma prova. Eu encontrei o olhar de Andrew segundos antes do feiticeiro se lançar no ar e seus olhos tão frios estavam cheio de tristeza. Eu fechei meus olhos por causa da terra que caia sobre nós e também por nunca gostar muito de estar no ar sem ser dentro de um avião. Por mais que confiasse em Charles com o fato de que ele nunca me soltaria, ainda existia um certo medo. Em certo momento dessa subida, eu senti o feiticeiro me apertar com mais força contra seu corpo, não por que era algo necessário, mas sim por eu estar chorando. Não havia me dado conta disso antes, mas quando Charles me abraçou com mais força para demonstrar seus sentimentos, eu me entreguei ao choro silencioso para não piorar o psicológico de Emme e Nyx. Dessa vez, eu seria forte por elas. Eu honraria a morte de Iawy sendo forte e não alguém que se isola e deixa as pessoas que ama de lado sofrerem sozinhas também. Dessa vez, eu seria para Nyx e Emme o que Andrew sempre foi para mim. E o mais importante, eu cuidaria da minha melhor amiga da mesma maneira que Iawy cuidou de mim quando precisei de ajuda.

36Estava fazendo exatamente dois meses desde que Amethyst abrirá o portal e causado a morte de


várias pessoas, inclusive a de Iawy e Saphyre. Depois que aquela prisão de almas se fechou novamente, nos deixando de frente para os destroços de um prédio que antigamente muitos chamavam de casa, os deuses partiram a barreira que existia em volta de Londres completamente. Amethyst estava morta e não havia mais nenhum motivo para que essa cidade tão destruída fosse isolada. David, algumas noites depois disso, apareceu diante de nós e disse que nos ajudaria a matar os vleermuis que ainda restavam com o seu exercito, dizendo também que fingiria que eu havia tirado uma pétala daquela flor branca e brilhante que havia a promessa de todo o exercito dele ao meu dispor que ele havia me dado um dia e que se perdeu totalmente nos destroços da mansão de Iawy depois que me mudei para não ficar sozinha na propriedade que Andrew e eu morávamos. Com todos os vleermuis mortos, com Londres em segurança novamente, a população passou a habitar esse lugar que chamávamos de casa. Londres estava sendo reconstruída e aos poucos passava a se tornar um lugar tão belo como era antes. Os humanos, em questão, tiveram dez anos para lidar com o fato de que criaturas imortais existiam entre eles. E bom, não mudou exatamente quase nada. Ainda existiam aqueles que não aceitavam por medo, os que possuíam preconceitos, os que aceitavam e aqueles que desejavam a imortalidade também. O mundo sempre foi assim quando se tratava de coisas fora do normal, as criaturas sobrenaturais apenas não faziam parte por serem desconhecidas. No entanto, os humanos nos aceitaram em seu mundo de certo modo que tudo passou evoluir para nós também. Celas para licantropos reforçadas foram construídas em quase todo lugar do mundo para que os licantropos se trancafiassem ali dentro na lua cheia, para não machucar ninguém. Os incubuss agora eram reconhecidos por suas impressões digitais, já que em qualquer documento eles poderiam estar em outra forma. Os vampiros, as criaturas que causavam mais medo nos humanos, eram os que sofriam mais para serem aceitos, porém, existiam cientistas que estavam criando uma bebida parecida com sangue para substituí-lo. Era estranho imaginar que algo assim aconteceria, mas estava funcionando. Vampiros estavam trabalhando para eles como cobaias e todos afirmavam ser um bom liquido que satisfazia a fome, era claro que o sangue falso não era como o verdadeiro, mas iria ajudar muito nesse mundo novo que Amethyst nos obrigou a viver. Os feiticeiros, no entanto, ainda viviam isolados e continuavam a ser criaturas raras de serem vistas. Até agora minha lista apenas se concentrava em Charles, Saphyre e Amethyst. E apenas um deles vivia. Resumindo, os bruxos e bruxas que sempre gostaram de passar despercebidos não eram um problema. Na verdade, ninguém realmente conseguia reconhecer uma criatura sobrenatural, os humanos apenas sabiam quando era revelado sua verdadeira origem e quando os licantropos se transformavam na lua cheia. E apenas criaturas imortais podiam ver como eram os verdadeiros olhos de um feiticeiro, então, eles podiam caminhar por todo o mundo em frente dos humanos e eles nunca notariam. Claro que existiam aqueles humanos mais espertos que sabiam quando estavam na frente de uma criatura sobrenatural, mas eram poucos. Era bom que o governo humano, que já sabia da nossa existencia, passasse a trabalhar a nosso favor também. E ter adicionado novas leis, sobre ser considerado um assassinato qualquer humano matar uma criatura sobrenatural sem ser em auto defesa. O mesmo se aplicava para nós. A clave e reis ainda existiam para os imortais. Aquela ideia de que todos viveriam bem em uma politica soberana ainda era considerada como a coisa certa e eu não podia discordar. Muitas criaturas sobrenaturais se recusavam a obedecer humanos, então reis e rainhas ainda existiam. A única diferença era que todos formavam um governo junto com os humanos. Existia um rei para cada raça sobrenatural e presidentes responsável pelos humanos. A clave no entanto, era o poder. Quando tudo se complicava, era ela que resolvia todos os problemas.


Eu passei a aceitá-la melhor depois que os membros dela decidiram ignorar a sentença de morte de Andrew e considerá-lo inocente. Alegando a todos que ele estava enfeitiçado com o sangue de Amethyst quando agiu daquela maneira. A única coisa que não me agradou muito, foi de terem o colocado novamente no posto de rei dos vampiros, sendo ele o único na linha para fazer isso e o mais temido, já que Lúcifer se negava a exercer um papel tão cheio de complicações. Andrew aceitou, dizendo que era o máximo que podia fazer depois do que aconteceu, mas eu sabia que existia outra razão por trás disso. Ele estava honrando sua mãe e Pierre, pois ambos faziam parte dessa soberania. Os humanos, obviamente, não sabiam que existiam dois tipo de governos. Para eles a política era a única coisa que continuava a mesma de antes, mas estavam enganados. Assim como a religião, ninguém sabia sobre os deuses e muito menos que a bíblia foi escrita por humanos que se inspiraram em Lúcifer para escrever sobre o inferno. Eles também não sabiam exatamente o que havia acontecido em Londres. Nenhum humano conhecia Andrew e a clave inventou uma desculpa de que uma feiticeira abriu um portal acidentalmente e os vleermuis invadiram a cidade, e para segurança de todos, o governo baniu a todos de caminhar nessa cidade. Querendo ou não, ainda existiam muitos segredos sobre as criaturas sobrenaturais que devem ser escondidos para que não haja problemas com o que os humanos estão acostumados. Eles já sofreram muito com essa descoberta tão chocante e, para as pessoas que moravam aqui, a destruição da cidade deles. Andrew para ajudar na reconstrução de Londres doou muito dinheiro para ela, quando eu digo muito, é realmente uma quantia muito grande. Eu sabia exatamente de quanto estávamos falando já que vi vários zeros sumirem da minha conta bancária. E quando tentei protestar sobre a injustiça do vampiro estar pegando o meu dinheiro para essa doação, Andrew apenas virou sua cadeira em minha direção e sorriu ironicamente. Suas palavras eram simples de entender quando falou que tudo o que havia acontecido em Londres era minha culpa por ter ficado enfiada em um quarto da central ao invés de ir atrás dele, deixando-o acreditar no que Amethyst havia dito sobre eu estar morta. Bem, verdade ou não, eu ainda achava uma injustiça enorme. Hoje, depois de dois meses, era o dia em que Londres mais se encontrava em um estado melhor. A população contente com os resultados decidiram deixar o trabalho duro de lado por algum momento e organizaram um evento em memoria das pessoas que morreram nesses dez anos onde sangue escorreu por todas as ruas da cidade. Criaturas sobrenaturais e humanos se juntaram diante das margens do rio Tamisa ao entardecer do dia com pequenos quadrados feitos de bambu que formavam uma canoa. Dentro de cada uma delas existia uma vela acessa e o nome de alguma pessoa que havia perdido nesse desastre todo que Londres se encontrou. Na ponte, que ainda não estava liberada para carros, mas sim para pedestres, haviam pessoas com grandes sacos cheios de pétalas de rosas, as jogando no rio em baixo deles para que aquele pedaços do que antes era uma flor se misturassem com as pequenas canoas. As pétalas flutuando ao redor de barquinhos com luzes tremulas era muito bonito de se ver em quanto estava debruçada em um lado das pontes, com Andrew ao meu lado. O vampiro e Lúcifer estavam sendo protegidos contra os raios solares graças aos poderes de Emme. A deusa do fogo desejou muito se juntar nesse ato tão lindo que convenceu ao seu amado a trazê-la até aqui depois de insistir que o protegeria do sol, isso também servia para Andrew. Andrew, no entanto, não desejou se juntar com as pessoas da margem que colocavam seus


barquinhos para serem levados pela correnteza do rio Tamisa. Na verdade, o vampiro se sentia tão culpado pelas mortes que haviam acontecido que nem ao menos quis me acompanhar, dizendo que não era digno disso. No fim, eu acabei o convencendo, mas sabia que não importava quantas vezes falasse que Amethyst o manipulou para fazer tudo o que fez, Andrew jamais daria ouvidos para mim. Agora, nós estávamos na ponte do rio Tamisa com nossos casacos grandes e copos de café para darmos nosso melhor em fingir que eramos humanos, observando todas as pessoas que estavam a baixo de nós. Inclusive nossos amigos. Charles, Nyx, Emme e Lúcifer estavam na margem mais próxima da ponte para que pudessem ficar perto de nós, eles estavam colocando seus barquinhos na água com o nome das pessoas que sentiriam falta e amavam. Lúcifer era o único que não possuía um desses barcos e quase teve um surto quando viu que o de Emme possuía o nome de Amethyst. A deusa do fogo apenas disse que a alma dela tinha que se sentir em paz, não odiada por todos e isso foi o suficiente para deixar o vampiro de cabelos loiros em silencio, porém, nada contente. E Nyx... Bom, Nyx estava bem. Ela não conversava muito ou ria, muitas vezes parecia mais uma sombra do que uma chama que queimava a todos como era antes. Eu sabia que isso era o máximo que ela podia fazer, que levaria muitos anos para superar Iawy e deixar de chorar quando se lembrava dele, da promessa que quando tudo acabasse, ele se casaria com Nyx, mas ela estava seguindo em frente e isso era o que realmente importava. Feliz ou não, ela ainda continuava sendo uma guerreira. Seu único plano era reconstruir a central, o lugar que Iawy mais amava no mundo, e continuar o seu trabalho por ele. Talvez fosse isso que não a permitia desistir e todos a incentivavam a continuar. Andrew disse que ela seria uma das caçadoras mais durona que já existiu e isso fez com que o minimo de um sorriso crescesse em seus lábios. Essa foi a primeira e última vez que sorriu depois de dois meses. Por um momento, eu jurei de que ela se revoltaria contra Andrew, fazendo jus ao que ele pensava de ser culpado por tudo que aconteceu, mas a licantropa reagiu totalmente ao contrario de como pensei. A ligação que ela possuía com Andrew que era apenas uma amizade se tornou muito grande, as vezes até maior do que minha amizade com ela. Eu não tinha nenhum ciumes sobre isso, na verdade, nem ao menos sabia o que pensar. A morte de Iawy e Saphyre foram tão chocante para mim que não pareciam que estavam mortos, apenas viajando para algum lugar longe de Londres. Mas eles nunca voltariam e isso doía demais quando parava pensar no assunto, eu tentava fazer o meu melhor para superar e ajudar as pessoas que sofriam com essas perdas da melhor maneira possível. Iawy e Saphyre sempre estariam em meu coração, sempre fariam parte de Londres e jamais seriam esquecidos. Charles agia como se tivesse esquecido de Saphyre, mas era assim que ele lidava com tudo, então não o julgava. Era obvio que ele sofreu com a perda dela, mas a duvida de que ele era mais infeliz do que Nyx era constante. Nyx também nunca culpou Emme, na verdade, eu nem ao menos conseguia imaginar como alguém poderia culpá-la quando ela mesma já fazia esse trabalho. Lúcifer estava o fazendo o impossível para ela não pensar dessa forma, assim como os outros, mas ela insistia em dizer que falhou em proteger alguém que entrou em sua frente para não ser atacada. A deusa do fogo ainda possuía pesadelos e chorava toda vez que acordava por causa do trauma, mas ela era diferente de Nyx, Emme ainda sorria e conversava com todos mesmo quando não era necessário, sempre puxando assuntos e perguntando suas curiosidades para Lúcifer. Nyx apenas se tornou um corpo sem emoções e estava chegando ao nível de Charles, porém, ela não conseguia esconder seu sofrimento como ele.


Lulu também estava presente entre eles lá na margem, a sombra alegre era a única que não havia sido abalada, continuava saltitante e fugindo sempre de Lúcifer. Ela se escondia na sombra do vampiro loiro nesse momento para que ninguém a visse e quando ela falhava nisso, Lúcifer a fuzilava com o olhar e Lulu se encolhia toda em arrependimento. Eu não podia deixar de sorrir todas as vezes que isso acontecia, pois era algo muito engraçado de ver já que a sombra do inferno que Emme havia dado para Lúcifer como um animal de estimação não havia culpa nenhuma. Lulu provavelmente estava distraída observando o que acontecia no rio Tamisa e era pega de surpresa quando Lúcifer se movia, o errado ali era apenas ele por se mover constantemente. Deixando a visão de nossos amigos por um momento, eu apoiei minha bochecha no braço de Andrew, desconsiderando deitar minha cabeça em seu ombro já que o vampiro estava em uma postura reta, observando tudo com seu queixo erguido, deixando obvio para todas as criaturas sobrenaturais ali que ele era o rei. Eu me sentia pequena quando ele agia dessa forma, mesmo que não fosse necessário ele agir dessa maneira para me sentir assim. Andrew era muito mais alto do que eu com seus quase dois metros de altura. — Esse lugar cheira como você.— Ele disse em um tom frio, não olhando para mim.— Rosas do campo.— Eu esfreguei minha bochecha contra seu casaco, como se aquilo fosse me esquentar completamente. Mas apenas queria que o vampiro deixasse o sentimento de culpa de lado. Andrew colocou seu copo de café sobre a grade de segurança da ponte depois que me encostei nele e passou um de seus braços ao redor dos meus ombros, me puxando para ficar ainda mais perto de seu corpo. — Esta tudo bem.— Voltou a falar, aquele tom frio foi substituído pelo certo.— Você não precisa ficar me mimando, cherie.— — Não gosto de vê-lo assim.— Murmurei e Andrew beijou a lateral da minha testa antes que eu olhasse para cima com a intenção de encontrar seus olhos. O vampiro me deu um sorriso de lado, aquele furinho em seu rosto se tornando visível demais ao se afundar na sua bochecha. Seus olhos azuis frios se tornaram chamas provocativas. — Não seja um pé no saco,— Seu tom de ironia era obvio.— Eu poderia estar dormindo ao invés de cansar minha beleza durante o dia.— Eu o encarei seriamente e um pouco emburrada. Andrew estava lidando com tudo, assim como os outros, mas o problema era ele se sentia culpado por tudo. E ele não era. Um sorriso cresceu em seus lábios, um sorriso verdadeiro. — Não faça bico, cherie.— Ele avisou e pensei em rebater o comentário, mas continuei a ouvi-lo.— É muito tentador.— — Andrew...— Meu tom era severo para que o vampiro me levasse a sério, mas seu sorriso não vacilou em nenhum momento. Vamos para a França. Sua voz em minha mente era clara. Londres não precisa mais de nós. — Mas...— Eu estava pronta para isso?— E Nyx?— — Ela é bem vinda para vir, mas sei que ficará para reconstruir a central.— Andrew falou calmamente.— Eu conversei com Charles e ele assegurou que não a deixará sozinha, ele ficará em Londres até que Nyx recupere seu espirito.— — Você acha certo deixá-la?— Sussurrei. — Não, definitivamente não.— Sinceridade era algo grande em suas palavras e meu coração se apertou com a verdade.— Mas eu também não posso mais ficar aqui e ver toda essa destruição para me lembrar que fui responsável por isso.—


— Andrew.— — Eu sei que não sou culpado, Roxie, mas sei também que minha mãos destruíram Londres e estão sujas com sangues de inocentes.— Infelizmente, Andrew tinha razão. Sempre quis voltar para França, mas deixar duas pessoas que amava para trás era triste e uma delas precisava de mim. Por outro lado, Andrew esteve sofrendo em silencio por todo esse tempo para que não perturbasse Nyx, eu sabia que se isso não fosse importante ele não iria pedir. Charles cuidaria de Nyx muito melhor do que uma rainha era tratada com todo o seu cavalheirismo. Eu não queria deixar esse papel a ele, mas dessa vez, eu precisava cuidar de Andrew. — Sim,— Concordei, o abraçando mais forte.— Vamos voltar para a França.— O vampiro estava prestes a dizer algo a mim, talvez um agradecimento, mas ele se calou quando sentimos uma presença logo atrás de nós. Andrew tirou seu braço dos meus ombros para que pudesse se virar e ver quem era o pequeno invasor desse momento. Sol. Era primeira vez que eu a via usando roupas de frio e sem nenhum vestido. Seus cabelos negros estavam presos em um coque perfeito para que não escondessem a pele de animal branca que estava na gola de seu casaco negro. Ela estava com suas mãos dentro de seu casaco e fingia muito bem em se passar como humana, apesar da sua beleza ser anormal. Por um momento fiquei surpresa por Sol desejar passar despercebida pelos humanos e não vestir um lindo vestido, mas ai me lembrei que todos os imortais gostavam de passar em branco. E nenhuma pessoa humana usaria um vestido em dias de frio. — Sabe, Sol, não é muito inteligente aparecer do nada em um lugar onde quase toda a população de Londres se encontra.— Andrew falou, colocando seu braço ao redor dos meus ombros novamente. E ele estava completamente certo. Sol apareceu nessa ponte do nada e a sorte dela era que as pessoas em sua volta estavam ocupadas demais para perceber sua chegada. — Oops.— Ela sorriu.— Espero que ninguém tenha reparado, odeio mexer com mentes humanas. — — O que está fazendo aqui, Sol?— Andrew perguntou de sua maneira educada e arrogante.— Pensei que os deuses estavam seguindo suas regras da maneira certa para que não causem mais problemas.— — Isso é verdade.— Ela suspirou desanimada.— Mas Emme não foi a única que ganhou a liberdade para caminhar livremente por esse mundo com a única condição de nunca usar seus poderes quando estiver aqui.— — Você também pode fazer o mesmo?— Eu perguntei com certa felicidade, pois gostaria de ver Sol mais vezes. — Bem, eu sou um caso a parte por causa da minha maldição, então não exatamente. Tenho um tempo muito limitado para estar aqui.— Ela disse.— Mas os deuses superiores permitiram que a maioria de nós pudesse estar na terra, desde que não usem nenhum poder para que a terra seja prejudicada. Alias, acho que isso sempre foi permitido, mas todas os imortais são tolos o suficiente para esquecerem seus super-poderes.— — Então, imagino que Emme seja a única satisfeita com essa regra.— Falei. — Não exatamente...— Um sorriso travesso apareceu em seus lábios.— Existem muitos deuses que estão apaixonados por humanos ou criaturas sobrenaturais, inclusive um dos superiores.— — Isso não a incomoda?— Andrew perguntou.— Você e David vivem em uma maldição em quanto


todo o resto podem fazer tudo aquilo o que vocês queriam.— — Eu desejei por alguns momentos que minha paixão por David tivesse começado nessa nova era, para poder fazer o que qualquer outro casal faz, mas... O que aconteceu já faz parte de nossas vidas e a maldição é irreversível, já que nós damos vidas para elementos muito importantes.— — Sinto muito.— Disse em um tom baixo. — Não sinta, eu sou tão velha que já tive anos para superar isso.— Sol sorriu verdadeiramente.— De qualquer maneira, não estou aqui para falar sobre minha terrível vida amorosa.— — Oh,— Andrew sustentou o olhar dela.— Eu sabia que você não estava aqui para nos cumprimentar... Sempre existe uma bomba em suas mãos.— Sol riu, realmente riu e eu fiquei surpreendida em ouvir um riso tão lindo. Era primeira vez que a via rindo e tinha certeza que jamais esqueceria desse momento. A deusa em nossa frente tirou as mãos de seus bolsos e as elevou para cima, nos mostrando que estavam vazias.— Sem bombas.— Falou alegremente.— Estou aqui para realizar um pedido dos meus superiores.— — Um pedido?— Andrew arqueou uma sobrancelha. — Eles estão agradecidos eternamente por tudo o que vocês fizeram sobre o caso de Amethyst, ela realmente quase destruiu o mundo quando abriu o portal, mas mesmo assim vocês deram a volta por cima.— Sol falou orgulhosamente.— Os deuses querem dar um presente a vocês... Esse presente é fazerem um pedido e depois realizarei o desejo de vocês. Eu sou a lampada mágica de vocês nesse momento.— — Uau.— Eu falei surpresa.— Isso é algo... grande.— — Realmente.— Concordou Andrew. — Nosso pai acha que tudo pode ser resolvido com um presente.— Ela deu de ombros, como se isso fosse uma grande explicação. No entanto, não pude deixar de dar atenção para suas primeiras palavras. Nem Andrew. — Então... O que vai ser? Um carro novo? Mais milhões na conta de vocês? Ou uma mansão com quatro piscina?— Eu quase ri com a brincadeira de Sol, mas acabou que meus olhos foram diretamente para Andrew. O vampiro, para mim, era o único que merecia um presente dos deuses. — Estou bem com tudo que tenho.— Ele olhou para mim e sorriu.— Não tenho nada para pedir, e você?— Bem... Existiam muitas coisas para se pedir, mas eu sabia que existia um certo limite desse “presente” e outros desejos eram fúteis demais para pedir a um deus quando nós mesmos pudíamos conseguir com nossas próprias mãos. O que eu desejava e nunca poderia ter...? Essa pergunta estava prestes a atormentar minha mente quando a ideia de um presente que seria um tesouro para mim e Andrew apareceu em meio dos meus pensamentos... Era isso. — Sol,— Eu falei.— Escute meus pensamentos.— Meu desejo, nosso presente, seria uma surpresa para Andrew. Ele saberia exatamente o que eu estava pedindo quando chegasse o momento certo, então quando a deusa em nossa frente invadiu minha mente, eu falei exatamente qual era o pedido que ela realizaria e Sol concordou com um lindo sorriso para nós dois.


Franรงa, 7 anos depois.


Eu estava diante de uma janela do segundo andar da mansão que se tornou nossa casa depois que nos mudamos para França. Sei que falei diversas vezes para Andrew que não desejava uma casa muito grande, mas como o vampiro havia voltado a ser um rei, isso estava fora de questão. Nós precisávamos de uma casa enorme para abrigar todas os convidados e hospedes quando era necessário, nós precisávamos de um salão real com tronos e tudo aquilo que sempre existiu na outra mansão de Londres. Eu estava satisfeita com essa mansão, por fora ela era toda feita de pedra e haviam plantas que cresciam em suas paredes. E em nosso quintal, havia um caminho de pedra no gramado que nos levava para uma floresta pequena e calma... Eu não podia me sentir menos em casa. Aquela mansão podia ser enorme, mas eu a amava. Porem, nesse momento, eu estava observando a entrada de nossa propriedade, olhando fixamente para os portões negros lá longe que formavam desenhos abstrato e esperando que nossas visitas chegassem com certa ansiedade. Não qualquer visita, e sim, nossos amigos. Lúcifer e Emme estavam chegando essa noite para passar uma semana inteira conosco. Charles e Nyx, estariam vindo amanhã. Nossa família estava se reunindo novamente por um motivo muito especial, para uma festa de aniversário que aconteceria daqui um dia. Um beijo na minha nuca fez com que um tremor percorresse meu corpo inteiro, eu tive de segurar um gemido em minha garganta por ter sido pega totalmente de surpresa. Andrew estava atrás de mim e dava pequenos beijos em toda região do meu pescoço livres de qualquer cabelos, já que estavam presos em um coque mal feito. — Gosto de seus cabelos presos.— Andrew murmurio entre um beijo e outro. — Por facilitar as mordidas em meu pescoço?— Um riso.— Você pensa tão pouco de mim, cherie?— — Pelo contrário, se eu pensasse pouco sobre você, provavelmente estaria aos seus pés fazendo tudo que deseja.— Eu senti seus dentes contra minha pele logo em seguida, suas presas arranharam uma extensão longa da minha nuca até a jugular. Meu corpo tremeu novamente. — Andrew.— O repreendi.— Nossas visitas estão chegando.— — Exatamente.— Concordou, mas eu duvidava muito que estivéssemos falando sobre a mesma coisa.— Eu tenho que distraí-la para que Lúcifer não faça piadas sobre como estava morrendo saudades de sua presença já que faz dez minutos que esta em frente dessa janela.— — Mas eu estou morrendo de saudades.— Franzi o cenho, sabendo que o vampiro loiro faria piadas, mas estava fazendo mais de quinze dias que não via Emme ou ele. Ambos estavam viajando pelo mundo, como Lúcifer havia prometido a sua deusa antes. A promessa de que apresentaria a ela todas as belezas que existiam em cada país do mundo. Como eram muitas coisas a se ver, eles passavam sempre um mês fora e depois uma semana conosco. No entanto, esse mês houve uma exceção, pois nenhum deles podiam ignorar o que aconteceria depois de amanhã. Charles e Nyx estavam completamente ocupados com a nova central de caçadores que já estava funcionando há dois anos. Eu os via menos do que Emme e Lúcifer, mas sempre mantemos contato por telefone ou internet. E Nyx estava voltando a ser a velha Nyx de sempre, então ela jamais ignoraria ou esqueceria uma data tão importante. Muito menos Charles. Andrew se afastou de mim abruptamente, se colocando ao meu lado como se nunca estivesse me persuadindo para cair na cama do quarto ao lado antes dos nossos convidados chegarem. O vampiro arrumou sua postura e olhou para a porta entre aberta que estava logo atrás de mim. Eu deixei a


minha visão da janela para me virar também. Em questão de segundos a porta foi empurrada para ser aberta em um movimento suave, revelando um pequeno garotinho com olhos azuis e pele tão branca que parecia a neve. Seu cabelo negro estava penteado todo para frente até que formasse um pequeno topete. Nosso presente, nosso maior tesouro, nosso menino sorriu para nós e seus olhos brilharam assim que viu que Andrew e eu estávamos olhando para ele. Henry tirou sua mão da porta, que nem ao menos conseguia alcançar a maçaneta em seus quase sete anos de idade, e correu em direção de Andrew até que ele o carregasse no colo depois de se jogar no ar, confiando em seu pai para pegá-lo. Andrew o colocou sentado em um de seus braços, seus olhos frios não poderiam ser chamados daquela maneira em nenhum momento quando se tratava de Henry, pois só existia vida e alegria. Henry passou seus braços pelo pescoço do vampiro em minha frente e o abraçou rapidamente. — Como foi o passeio de hoje a tarde?— Andrew perguntou sorrindo para sua copia mirim. Ambos eram exatamente iguais, até mesmo a maneira que se vestiam, a única diferença era a maneira de como usavam seus cabelos. — Tinha um homem olhando para a mommy,— Henry contou emburrado, misturando o inglês com o francês como sempre fazia.— Mas ela não deixou que eu o chutasse.— Andrew ergueu suas sobrancelhas em surpresa e logo em seguida olhou emburrado para mim também.— Que coisa errada de se fazer, Roxie.— — A única coisa errada é vocês formarem um time contra mim.— Falei incrédula. — Eu te amo, Mommy.— Henry disse esticando seus pequenos bracinhos em minha direção, mas quando ameacei pegá-lo em meu colo, meu pequeno garoto se agarrou no pescoço de Andrew. — Deixe-me dizer algo,— Disse o vampiro ao encontrar os olhos azuis que eram iguais aos seus.— Amanha nós sairemos juntos e chutaremos os traseiros de todos os homens que olharem para sua mommy.— Henry sorriu de orelha a orelha.— Esse vai ser o melhor presente de aniversário, papa.— Eu sorri para os dois pequenos homens em minha frente, tendo certeza de que amanhã teria que brigar com ambos por causa dessa promessa. Era incrível como Andrew havia se tornado uma criança ainda pior que Henry depois de seu nascimento. Quase ninguém acreditava que um vampiro com mais de mil anos conseguia ser mais infantil do que uma própria criança que nem ao menos havia chegado em sua imortalidade. Sete anos atrás, eu pedi para Sol que permitisse que Andrew e eu fossemos férteis pelo menos por uma noite, ela concedeu esse desejo como o presente dos deuses por termos detido Amethyst antes que ela destruísse o mundo. Quando pedi, foi por puro impulso, não sabia o que aconteceria no futuro e por várias vezes tive medo, porém, depois que Henry nasceu e vi pela primeira vez sua pequena carinha com grandes olhos azuis, eu só tive certeza de uma coisa... Ele seria a criança de um casal de imortais mais amada do mundo. Sol me garantiu que ele se encaixaria em algumas regras das crianças de criaturas sobrenaturais que eram férteis. Henry se tornaria imortal apenas depois de 20 anos e seus poderes seriam como os de um vampiro, mas ele não se alimentaria de sangue e podia sair durante a luz do sol... — Por que você não diz para sua mãe como ela é bonita?— Disse Andrew, fazendo com que eu perdesse a linha dos meus pensamentos. — No, papa. Eu sou bonito.— — Sim, você é.— O vampiro concordou.— E teve muita sorte em puxar a beleza de seu pai.—


Henry sorriu para Andrew em concordância e ameaçou dizer algo que provavelmente acariciaria o ego do vampiro, mas seu olhar foi para janela e todo o seu rosto se iluminou em questão de segundos. — Tio Lúcifer chegou!— Ele disse em pura animação e pediu para que Andrew o colocasse no chão. Feito isso, Henry saiu em disparada pela porta que havia aberto poucos segundos atrás para ir encontrar Lúcifer. Lá fora, um carro preto fazia leves barulhos nos cascalhos do chão depois de passar pelos portões já abertos. Quando eles se aproximaram mais da nossa casa, o carro foi desligado e Lúcifer desceu do carro, logo em seguida Emme fez o mesmo. Henry apareceu nas escadas que levaria até o carro deles um minuto depois, ele estava rindo e correndo em direção de Lúcifer para se jogar no ar exatamente como ele fazia com Andrew, confiando nos vampiros para o pegarem sem questionar qualquer possibilidade de não conseguir. Lúcifer sorriu quando aqueles olhos verdes e anormais viram Henry com toda sua felicidade correndo para se jogar em cima dele, quando o pequeno o fez, o vampiro loiro o pegou e levantou o pequeno corpo de Henry no ar, esticando seus braços acima da cabeça. Emme estava rindo junto com Henry e quando Lúcifer começou a movimentar o corpo dele de um lado para o outro, fazendo barulhos de um avião, nosso filho ficou maravilhado. — As vezes acho que ele ama mais a Lúcifer do que a mim.— Andrew falou ao meu lado, um sorriso estampando seu rosto. — Você não é o único.— O vampiro e eu rimos juntos por um momento, pois Henry trouxe a felicidade para todos nós depois que nasceu, ele fez com que toda nossa família se unisse novamente e deu motivos para Nyx sorrir. Até mesmo Sol e David ficavam mais felizes quando nos visitavam e Henry aparecia para brincar com eles. Henry fazia qualquer imortal em volta da escuridão sorrir novamente e mesmo que eu fosse a única que brilhasse nessa casa, era o nosso menino que realmente brilhava e contagiava os outros com esse brilho. Andrew se aproximou de mim e depois de passar seus braços ao redor do meu corpo, ele puxou-me para mais perto dele em um abraço. O vampiro acariciou minha nuca nua com seus dedos longos e quentes em quanto eu apoiava meu rosto em seu peito para continuar olhando a janela, tendo a visão de Emme, Lúcifer e Henry brincando la fora. O riso deles não podiam ser segurados ou escondidos, todos riam com sinceridade e não havia som mais lindo do que esse. Andrew também estava distraído com a cena lá em baixo, observando seu filho correndo ao redor de seus amigos e abraçando Emme para que a pequena ruiva o protegesse de Lúcifer. Em um certo momento, Andrew me abraçou com mais força, seus braços me apertando para que minha atenção fosse para ele. O vampiro não disse nada, ele apenas beijou uma região dos meus cabelos que estavam ao alcance de sua boca e continuou a me abraçar fortemente, seus olhos azuis frios estavam felizes e brilhavam por causa de Henry, um brilho que jamais se apagaria. Obrigado.

Fim


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