Revista lubes em foco edicao58

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Dez/Jan 17 Ano X • nº 58 Publicação Bimestral

EM FOCO

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A revista do negócio de lubrificantes

Onde estão as evidências?

A evidência inicial de uma falha mecânica pode ficar muito descaracterizada pela falha real. Como proceder?

Monitoramento volta à cena no mercado Entrevista esclarecedora sobre a retomada do PML, seus pontos e objetivos principais para a melhoria da qualidade dos lubrificantes.


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Editorial Havia uma grande expectativa do mercado brasileiro de lubrificantes com referência à retomada do Programa de Monitoramento dos Lubrificantes - PML da ANP. Durante quase dois anos, a Agência precisou se reestruturar e refazer contratos com universidades e laboratórios, para que o programa voltasse com força total. E assim, vimos já no final de 2016, sair o primeiro boletim, agora com foco somente em rótulos e qualidade, uma vez que as questões relativas a registros já são resolvidas no processo de aceitação dos mesmos. Novamente, nos deparamos com resultados problemáticos no tocante à qualidade, mostrando que 18,9% das amostras analisadas apresentaram não conformidade em ensaios como: Teor de Elementos, Viscosidade Cinemática a 100°C e Viscosidade Dinâmica à baixa temperatura pelo simulador de partida a frio, CCS. Ainda é um resultado muito alto para os padrões que queremos seguir no país, mas o que mais chama a atenção é ainda existirem situações, como as observadas em 20,5% das amostras que foram analisadas quanto à aditivação, e mostraram ausência de aditivos ou baixa concentração deles. Ora, uma pequena variação em um resultado de qualquer teste, mesmo tirando o produto de especificação, não se compara à ausência de aditivos, que demonstra claramente a má intenção do produtor em aumentar lucros ilicitamente com enorme prejuízo aos consumidores e seus equipamentos. E é esse procedimento que precisa ser punido exemplarmente, para que se possa pensar em um maior patamar de qualidade para o mercado. O país vive uma crise de ética e de moral, o que pode se tornar o ponto de virada na consciência da sociedade, se soubermos aproveitar o aprendizado, pois não se trata de estarmos criando o problema agora, e sim, jogando luz em cima do que já existia e estava obscuro. Assim também, o PML pode e deve ser um agente de iluminação da obscuridade no mercado de lubrificantes, em que agentes inescrupulosos ainda empurram ao consumidor óleos minerais sem aditivos, com rótulos bonitos e preços enganadores. Com o tempo, o consumidor irá perceber que a economia feita com um lubrificante barato ou de procedência duvidosa pode trazer grandes prejuízos. Temos o conhecimento, temos as ferramentas, resta a vontade e a atitude para a realização das mudanças. O momento é ótimo para isso! Os Editores

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Sumário 6 9 16

O Monintoramento está de volta

Entrevista com a Superintendente de Biocombustíveis e Qualidade da ANP sobre a retomada do PML.

Contaminação sólida de sistemas hidráulicos

Teste de contagem das partículas em um óleo lubrificante hidráulico, utilizando o aparelho chamado Icount PD.

Onde estão as evidências?

Como profissionais de manutenção podem encontrar pistas valiosas para falhas mecânicas

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Uma compreensão abrangente da Saúde

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Mercado em Foco

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Artigo elaborado por especialista, visando contribuir para o desenvolvimento de uma Cultura de Saúde no país..

Pesquisa da Editora Onze apresenta os números finais do mercado de lubrificantes em 2016.

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PML de volta

Um mercado com Qualidade Programa de Monitoramento da ANP volta a campo com força total. Por: Pedro Nelson Belmiro

A luta para a constante elevação da qualidade dos óleos lubrificantes no Brasil volta a ganhar força com a retomada do PML da ANP, após quase dois anos de interrupção. Com punições que podem ir desde multas até o cancelamento do registro, o programa volta a dar suporte às empresas que pretendem executar um trabalho sério de comercialização de lubrificantes, promovendo o saneamento e a boa concorrência no mercado. Rosângela Moreira de Araújo, tendo dirigido por vários anos a Superintendência de Biocombustíveis e Qualidade de Produto da ANP, e, trazendo o suporte de uma equipe de alto nível técnico, como o CPT de Brasília, fala com exclusividade para os leitores da revista Lubes em Foco sobre a retomada desse programa, quais os motivos de sua interrupção, quais os focos principais de atuação, sua abrangência, e muito mais.

Lubes em Foco - As empresas sérias de lubrificantes esperavam ansiosas pela volta do Programa de Monitoramento dos Lubrificantes (PML). Podemos dizer agora que o programa voltou definitivamente? Rosângela Moreira - Sim, o Programa voltou definitivamente. O PML tem por objetivo acompanhar sistematicamente a qualidade dos óleos lubrificantes comercializados no país, bem como proporcionar ferramenta importante para o direcionamento das ações da fiscalização da ANP. Durante o período de paralisação, mercado e sociedade nos cobraram o retorno por meio de e-mails ou pelo Centro de Relação com o Consumidor (CRC) da ANP. Lubes em Foco - Quais os motivos da paralisação do PML por mais de dois anos? Rosângela Moreira - Em setembro de 2014, o PML foi temporariamente interrompido devido ao estágio avançado das obras de reforma do Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas (CPT). A estrutura provisória em que estávamos não mais atendia às necessidades do Programa, além de poder acarretar danos aos equipamentos. Nesse período, a Agência passou por um amplo processo de revisão dos contratos de coleta e análise de amostras, tanto do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC), quanto do PML, fato que também foi congruente para esta interrupção. Destaco que o PML conta com laboratórios contratados pela ANP para coleta e envio das amostras para análise no CPT. A análise dos registros dos produtos, a execução dos ensaios físico-químicos e a 6

avaliação dos resultados são totalmente realizados pelo CPT, diferentemente do que é feito para o PMQC, em que os laboratórios contratados realizam as análises. Lubes em Foco - Todos os problemas já foram resolvidos? Rosângela Moreira - Sim. O novo CPT foi inaugurado em 2015, resultando em aumento de 23% da área laboratorial e modernização de sua estrutura. Além disso, novas licitações foram realizadas, e os contratos com as universidades para coleta e envio de amostras foram retomados em 2016. Adicionalmente, equipamentos foram calibrados e materiais de referência certificados foram comprados, garantindo que todos os resultados emitidos sigam os requisitos da norma ABNT NBR ISO/IEC 17025. Lubes em Foco - Alguma alteração com relação aos procedimentos anteriores de monitoramento? Percebe-se que os rótulos não serão mais objetos de monitoramento. Rosângela Moreira - À exceção da análise de rótulo, os procedimentos continuam os mesmos. Quanto à análise de rótulo, desde a publicação da Resolução ANP nº 22/2014, essas anomalias são realizadas previamente, no momento do registro do produto. Percebemos que, após oito anos de PML, os índices de não conformidades de rótulo estabilizaram, e os problemas mais frequentes são relativos ao lote e à data de fabricação, que são pontos fáceis de serem visualizados pelo próprio consumidor, por isso a sua avaliação prévia. É importante frisar que a análise de rótulo continuará sendo feita em ações de fiscalização, pois isso permite constatar a não conformidade in loco.


Lubes em Foco - Quais os critérios para uma amostra ser considerada não conforme? Rosângela Moreira - Com relação ao registro, verifica-se a existência de cadastro junto à ANP tanto da empresa como do produto. Caso o óleo não possua registro ou apresente informações desatualizadas, como data de produção anterior à concessão do registro, produtor não cadastrado, níveis de desempenho diferentes do registrado, problemas na composição, entre outros fatores, acarretará não conformidade. No que tange ao quesito qualidade, avalia-se a propriedade da amostra em consonância com os dados declarados e aprovados na ocasião do registro do produto na ANP. Vale explicitar que apenas o CPT possui acesso às informações dos registros dos produtos para realizar a comparação com os resultados obtidos. Todos os ensaios são realizados em triplicata, em condições de repetibilidade, com equipamentos calibrados e aferidos com materiais de referência certificados. Lubes em Foco - Qual será a abrangência do PML pelos estados brasileiros? Rosângela Moreira - As amostras são coletadas em pontos de revenda tais como: postos revendedores, supermercados, lojas de autopeças, oficinas mecânicas, concessionárias de veículos, distribuidores e atacadistas. Atualmente, as coletas estão sendo realizadas em quase todos os estados pelas seguintes universidades e/ou Centros de Pesquisa: IBTR, SENAI-CETEC, UFC, UFG, UFMA, UFPB, UFPR, UFRJ, IPT e CPT. Em breve, UNICAMP, FURB e UFRGS também estarão coletando e enviando amostras. Lubes em Foco - Quais os critérios de amostragem utilizados pela ANP? Rosângela Moreira - A coleta é realizada em postos revendedores, distribuidores e atacadistas, concessionárias de veículos, supermercados, lojas de autopeças, oficinas mecânicas, bem como em qualquer outro estabelecimento comercial que revenda óleos lubrificantes. Vale destacar que, no mínimo, 30% dos locais coletados devem ser pontos de venda de óleos lubrificantes que não sejam postos revendedores de combustíveis e devem seguir as mesmas cidades/regiões definidas para as amostras de combustíveis coletadas nos postos revendedores pelo PMQC. Lubes em Foco - A frequência dos relatórios continuará a ser bimestral, ou há planos para mudar? Rosângela Moreira - Nessa retomada do programa em

Rosângela Moreira de Araújo

2017, continuaremos a publicar o boletim bimestralmente, começando em março. Lubes em Foco - Ao que sabemos, o CPT está bem aparelhado para exercer papel fundamental nesse processo. Alguma mudança quanto a esse ponto? Rosângela Moreira - Não houve mudança nesse ponto. O CPT continua sendo um laboratório de referência, tanto na área de combustíveis quanto de lubrificantes. Temos um sistema de Gestão da Qualidade extremamente rigoroso, que assegura confiabilidade analítica aos resultados emitidos pela ANP. Lubes em Foco - Com o aumento dos níveis mínimos de qualidade dos lubrificantes automotivos, pode-se esperar uma maior incidência de não conformidades nas amostras coletadas? Rosângela Moreira - A elevação dos níveis de desempenho está prevista desde abril de 2014, quando foi publicada a Resolução ANP nº 22/2014. Acreditamos que houve tempo suficiente para o mercado se preparar para esta mudança; portanto, entendemos que não haverá aumento significativo de não conformidades por esta motivação. Para o consumidor, a elevação traz apenas benefícios, pois diminui o problema da sublubrificação, que está relacionada com a diminuição da vida útil do motor, podendo em alguns casos causar sérios danos ao equipamento, acarretando grande prejuízo econômico. 7


Lubes em Foco - O PML vai limitar-se somente a identificar os problemas, ou também pode tomar alguma ação corretiva no mercado? Rosângela Moreira - O PML deve tomar um caminho corretivo, para sanear o mercado. Continuaremos a ter uma ação mais próxima das empresas que são referenciadas no Boletim. Nesse ponto, temos dois eixos de atuação: um para as não conformidades de registro e outro para as não conformidades de qualidade. Para as não conformidades de registro, nosso contato será direto com as empresas, solicitando esclarecimentos sobre o caso, por meio de comunicado oficial, e acompanhando as respostas emitidas. As não conformidades de qualidade são encaminhadas à fiscalização, que direciona suas ações de acordo com os resultados encontrados. No Boletim de 2016, adotamos essa sistemática com boas respostas das empresas referenciadas, e continuaremos a atuar nesse sentido. Lubes em Foco - A integração da Superintendência de Qualidade com a de Fiscalização é extremamente importante para o mercado. Como o PML pode servir de ferramenta para a Fiscalização? Rosângela Moreira - De fato, essa integração é crucial e é um dos eixos de atuação do programa. Os resultados proporcionam uma ferramenta importante para o direcionamento das ações da Fiscalização, pois indicam quais empresas estão produzindo com baixa qualidade recorrentemente, lesando o consumidor. Essas empresas recorrentes são fiscalizadas e estão sujeitas às penalidades que a lei estabelece. Lubes em Foco - Qual é o processo para punição das empresas que têm produtos com não conformidades graves, como, por exemplo, ausência de aditivos? Rosângela Moreira - O não atendimento dos preceitos da Resolução ANP nº 22/2014 sujeita os infratores às penalidades previstas na Lei nº 9.847, de 26 de outubro de 1999, e suas alterações, e no Decreto nº 2.953, de 28 de janeiro de 1999. Todo o processo segue as disposições da Lei 9784, de 29 de janeiro de 1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, que inclui desde multa de diferentes valores ao fechamento da empresa. Ressalto ainda que, conforme o artigo 13 da Resolução ANP nº 22/2014, os registros concedidos poderão ser extintos no caso de ocorrência de reincidência na comercialização de produtos com características físico-químicas em desacordo com as informações prestadas no rótulo, ou com as especificações e demais informações indicadas no ato do registro. 8

Dessa forma, a comercialização de produtos fora de especificação, além das punições em pecúnia, podem acarretar o cancelamento do registro. Lubes em Foco - Algumas empresas acreditam que a publicação da “lista negra” com os produtos e empresas com problemas de qualidade deveria ser feita apenas após as respostas ou justificativas das mesmas. Como ficará isso? Rosângela Moreira - Não entendemos que a publicação seja uma “lista negra”. A transparência dos dados auxilia o consumidor final, pois elimina, em alguma medida, que ocorra uma escolha incorreta por parte do consumidor, o que resultaria na sublubrificação do motor. Além disso, antes da publicação, os resultados são revisados minuciosamente, para que erros não sejam cometidos. Caso ocorram, sempre publicaremos erratas do Boletim. Lubes em Foco - Como a Agência vê o seu papel na contribuição da melhoria da qualidade dos lubrificantes no Brasil e também na moralização do mercado? Rosângela Moreira - Desde a última década, o mercado de lubrificantes brasileiro tem evoluído bastante, graças a ações tomadas pela ANP e à mobilização dos agentes econômicos, resultando em um mercado mais competitivo e que exige de seus agentes maior capacitação técnica, suficiente para garantir a qualidade dos produtos comercializados. Nesse sentido, temos diversas ações em curso que nos deixam extremamente orgulhosos de nossa atuação. Aprimoramos a sistemática para o registro de produtos, que acarretaram a elevação dos índices de deferimento. Essa medida é de uma importância inegável, pois diminui retrabalhos de todos os envolvidos. Além disso, estamos trabalhando arduamente para implantar o registro eletrônico de produtos, que será um salto de qualidade na sistemática de submissão de registros. Retomamos o Programa de Monitoramento de Lubrificantes. O PML, desde sua implantação em 2006, sempre esteve em constante evolução, e o percentual de não conformidades apresentou sensível diminuição ao longo desses anos, com problemas que beiravam os 30% e que hoje estão estabilizados em torno de 18%. Realizamos o Programa Interlaboratorial de Lubrificantes, demanda antiga do mercado e que será mais uma ferramenta para gestão da qualidade. Por tudo isso, fica claro que estamos atuando efetivamente para mantermos elevada a qualidade dos óleos lubrificantes no país.


Contaminação sólida de sistemas hidráulicos Resumo de trabalho do Curso de Graduação em Engenharia Mecânica Industrial Escola Politécnica - UPE, Recife Por: Luiz Pereira da Costa Neto e Ricardo Aurélio Fragoso de Sousa

A

evolução em qualquer setor industrial é uma ação constante em função do tempo. Nos equipamentos hidráulicos não seria diferente. O grande objetivo dessa evolução tem por finalidade produzir equipamentos mais eficientes, com aumento na pressão de trabalho na ordem de 50% ou mais. De acordo com o fabricante HDA, atualmente são fabricadas bombas de engrenagens com capacidade de pressão por volta de 250 a 300 bar. Essa evolução foi alcançada por meio de grandes investimentos em máquinas mais modernas, consequentemente mais precisas e mais produtivas, com capacidade de produzir componentes com alta precisão geométrica e dimensional. Devido a essa maior precisão, consegue-se trabalhar com menores folgas e melhor balanceamento hidráulico, obtendo-se, como resultado, menores vazamentos internos, maior precisão, maior velocidade nos movimentos e, por fim, a utilização de pressões de trabalho mais elevadas. Foram adicionados também aos sistemas hidráulicos comandos eletrônicos, o que acrescentou novas exigências no tocante à qualidade e precisão. Devido ao fato de existirem folgas menores, os equipamentos hidráulicos tornaram-se mais sensíveis aos contaminantes sólidos em suspensão nos fluidos. Por esse motivo, o controle de contaminantes sólidos tornou-se indispensável para assegurar o correto funcionamento das válvulas, além de assegurar uma maior vida útil às válvulas, bombas e motores. Dessa forma, tornou-se primordial a determinação, com precisão e clareza, do nível de limpeza que o fluido hidráulico em questão deve ter, para assim conseguir-se garantir o perfeito funcionamento dos sistemas hidráulicos. Há vários anos, diversas organizações têm por objetivo estabelecer parâmetros e critérios para determinar o nível de

contaminação dos fluidos. Entre essas instituições, podemos destacar a NFPA (National Fire Protection Association), a ASTM (American Society for Testing and Materials) e a SAE (Society of American Enginneers). Entretanto, as que possuem maior aceitação na normalização de contaminantes sólidos em fluidos são a ISO (International Organization for Standardization), com o uso da norma ISO 4406 – Método de codificação do nível de contaminação por partículas sólidas, e a NAS (National Aerospace Standard), com o uso da norma NAS 1638 - International particle count standards, as quais serão descritas durante o estudo. Além de determinar-se a quantidade de contaminação, é importante também conhecer os tipos de partículas que contaminam o sistema, pois assim se pode analisar a eficiência do filtro, buscar os pontos que contaminam o sistema hidráulico, verificar o desgaste dos componentes, entre outros. Neste trabalho, tem-se como objetivo realizar a análise da contaminação sólida do óleo hidráulico presente em uma bancada de simulação didática, identificando a classe de contaminação, as principais partículas que contaminam o sistema e possíveis soluções para a redução da contaminação do equipamento.

Figura 1: Bancada hidráulica didática utilizada no estudo da contaminação

9


Os fluidos hidráulicos Um fluido é qualquer substância capaz de escoar e assumir a forma do recipiente que o contém. Como estamos abordando sistemas hidráulicos, o fluido em destaque será o fluido hidráulico, tornando os outros fluidos não aplicáveis aos nossos estudos. O fluido hidráulico é o elemento mais importante na durabilidade dos componentes dos sistemas hidráulicos, uma vez que ele circula por todo o sistema, contaminando-o e atingindo todos os seus pontos. Um bom fluido hidráulico, com uma filtragem bem apurada, contribuirá sobremaneira para o aumento da vida útil dos componentes. As principais finalidades dos óleos hidráulicos são: hh Transmissão de energia: a energia é submetida a várias transformações, até ser modificada em energia hidráulica, que será conduzida pelo fluido e posteriormente transformada em energia mecânica através da realização de trabalho. hh Lubrificação: o óleo hidráulico deve ser capaz de lubrificar adequadamente os componentes devido aos mesmos sofrerem com os efeitos dos esforços dinâmicos durante o seu funcionamento. Além disso, as folgas internas das válvulas e componentes são mínimas, o que aumenta ainda mais o atrito entre as partes. A necessidade da lubrificação é apresentada na figura 2. 2 - INTERNAMENTE NO SEU CORPO 1 - O CARRETEL DE UMA VÁLVULA TÍPICA DESLIZA LINEARMENTE

3 - EM UMA FINA PELÍCULA DE FLUIDO HIDRÁULICO (AQUI MOSTRADA EXAGERADAMENTE)

a vedação entre superfícies justapostas. Entretanto, uma viscosidade muito alta ou muito baixa pode trazer prejuízos ao sistema, conforme exemplificado nas tabelas 1 e 2. Para os óleos industriais, a norma regulamentadora é a ISO, em que o critério de determinação da viscosidade ISO é definido a partir da velocidade de escoamento do óleo lubrificante e medida na unidade centiStokes (cSt). TABELA 1: CONSEQUÊNCIAS DE VISCOSIDADE MUITO ALTA Alta resistência ao fluxo Aumento do consumo de energia (perdas por atrito) Aumento da temperatura devido ao atrito Maior queda de pressão devido ao aumento da perda de carga Possibilidade de operação com velocidade reduzida Dificuldade de separar o ar do óleo TABELA 2: CONSEQUÊNCIAS DE VISCOSIDADE MUITO BAIXA Os vazamentos internos aumentam Gasto excessivo ou possível engripamento sob altas cargas, devido à decomposição da película de óleo entre partes móveis Redução do rendimento da bomba, com uma operação mais lenta do atuador Aumento da temperatura devido a perdas por vazamento

Contaminação do fluido hidráulico 4 - SE ESTA PASSAGEM ESTÁ SOB PRESSÃO, A PELICULA FAZ A VEDAÇÃO NAS PASSAGENS ADJACENTES

Figura 2: Estrutura interna de um componente hidráulicocontaminação

hh Refrigeração: o óleo hidráulico é responsável por atuar como um agente dissipador de calor, pois este fluido consegue conduzir o calor proveniente do atrito gerado no interior dos componentes para a carcaça do reservatório e, a partir daí , acontecer a troca de calor com a atmosfera. Viscosidade dos fluidos hidráulicos Viscosidade é a medida de resistência ao fluxo das moléculas de um líquido quando elas deslizam umas sobre as outras. É uma medida inversa da fluidez. Para os equipamentos hidráulicos, é de importância fundamental, principalmente porque uma viscosidade mais alta é desejada para manter 10

Todos os fluidos hidráulicos contêm uma certa quantidade de contaminantes. A necessidade do filtro, no entanto, não é reconhecida na maioria das vezes, pois o acréscimo deste componente particular não aumenta, de forma aparente, a ação da máquina. Dados de empresas mostram que mais de 75% das falhas ocorridas em sistemas hidráulicos são devidos ao excesso de contaminação, seja ela interna ao sistema (no caso de partículas que se desprendem dos componentes, ou até mesmo a contaminação do óleo novo), ou seja através de contaminação externa (partículas de sujeira que adentram ao sistema através de partes abertas). A contaminação interfere com a transmissão de energia, vedando pequenos orifícios nos componentes hidráulicos. Nessa condição, a ação das válvulas não é apenas imprevisível e improdutiva, mas também insegura. Devido à viscosidade, ao atrito e às mudanças de direção, o fluido hidráulico gera calor durante a operação do sistema. Quando o líquido


retorna ao reservatório, transfere calor às suas paredes. As partículas contaminantes interferem no esfriamento do líquido, por formar um sedimento que torna difícil a transferência de calor para as paredes do reservatório. Provavelmente, o maior problema com a contaminação num sistema hidráulico é que ela interfere na lubrificação. A falta de lubrificação causa desgaste excessivo, resposta lenta, operações não sequenciadas, queima da bobina do solenoide e falha prematura do componente. A figura 3 representa as consequências da contaminação do fluido hidráulico em um componente.

em ambiente não adequado por muito tempo. Entretanto, isso não é verdade. A contaminação nos óleos hidráulicos pode acontecer por macromoléculas, como também acontece por micromoléculas. Para que seja possível enxergar algumas micromoléculas, necessita-se utilizar uma escala micrométrica semelhante à apresentada na figura 4.

Figura 4: Escala micrométrica para medição de partículas

Figura 3: Efeitos do contaminante sólido em um componente hidráulico

Devido a esses dados tão alarmantes, é necessário que aconteça o monitoramento da contaminação de um sistema hidráulico, objetivando reduzir tal efeito e proporcionar uma melhor durabilidade do equipamento. Uma maneira de controle e monitoramento da contaminação é a análise de contaminante sólido do óleo em laboratório. Entretanto, esta técnica não permite um resultado instantâneo em campo, ou seja, este resultado não se encontra disponível para os operadores e mantenedores durante a operação do equipamento, ficando apenas disponível após a análise laboratorial. O segundo método de análise de contaminantes sólidos em óleo é a leitura das partículas a laser. Além de ser uma técnica mais moderna, essa medição permite que o resultado aconteça em tempo real durante o funcionamento do equipamento. Nesta etapa, também é permitido a comunicação do equipamento com um computador, com o objetivo de acompanhar esta medição online e criar parâmetros de contaminação do fluido hidráulico em função do tempo. Tamanho das partículas Em muitas situações, pensa-se que a contaminação acontece apenas quando o óleo hidráulico foi usado ou apresentou uma mudança de cor, ou até mesmo está armazenado

Devido aos componentes hidráulicos possuírem uma folga mínima, é de extrema importância que o fluido tenha o maior grau de limpeza possível, pois, quanto menor o número de partículas contaminantes, menor será o desgaste entre as partes. As tabelas 3 e 4 apresentam uma comparação entre o tamanho relativo das partículas e a folga típica de componentes hidráulicos. TABELA 3: TAMANHO RELATIVO DE PARTÍCULAS Substância

Tamanho (µm)

Tamanho (pol.)

Grão de sal refinado

100

.0039

Cabelo humano

70

.0027

Farinha de trigo

25

.0010

Glóbulos vermelhos

8

.0003

Bactéria

2

.0001

TABELA 4: FOLGA TÍPICA DE COMPONENTES HIDRÁULICOS Componente

Tamanho (µm)

Rolamentos antifricção de rolos e esferas

0,5

Bomba de palhetas

0,5-1

Bomba de engrenagem

0,5-5

Servoválvulas (carretel com a luva)

1-4

Rolamentos hidrostáticos

1-25

Servoválvula

18-63

Atuadores

50-250

Orifício de servo válvula

130-450 11


O menor limite de visibilidade para o olho é de 40 μm, ou seja, apenas pelo olhar não somos capazes de identificar se o fluido hidráulico está ou não contaminado, visto que as partículas presentes nos óleos são bem menores do que o tamanho mínimo que o nosso sistema visual pode enxergar. Contaminação do fluido hidráulico x manutenção Existe uma relação entre a frequência de defeitos em equipamentos dos sistemas hidráulicos e a contaminação do óleo hidráulico. Na tabela 5 é apresentada essa relação de contaminação e necessidade de manutenção. TABELA 5: RELAÇÃO ENTRE OS EQUIPAMENTOS E SUAS RESPECTIVAS TAXAS DE FALHAS DEVIDO À CONTAMINAÇÃO DO FLUIDO HIDRÁULICO Equipamento

Percentual

Bomba

35

Atuadores

15

Controladoras de pressão

15

Válvulas direcionais

10

Tubulações

10

Outros

15

Por exemplo: quando analisamos as causas de falhas de uma válvula de controle direcional, percebemos que o defeito mais comum é o engripamento do carretel, provocando a deterioração das vedações, com consequente vazamento do fluido hidráulico. Além disso, quando os contaminantes sólidos provocam o arranhamento das carcaças de válvulas e carretel, faz-se necessária a substituição da válvula de controle direcional. No tocante aos atuadores, os contaminantes sólidos, por serem partículas, em maioria, abrasivas, provocam arranhões na haste do cilindro e/ou na camisa, além de provocar vazamentos externos e/ou internos, fazendo com que seja necessário intervenção bastante breve para a solução dessas falhas. Devido aos indicadores apresentados na tabela 5, podemos inferir que é de extrema importância estarmos monitorando periodicamente o nível de contaminação dos fluidos hidráulicos, pois as falhas provocadas por esse fator comprometem vitalmente as funções desempenhadas pelo sistema hidráulico, provocando uma redução da produtividade e um custo bastante elevado de manutenção, já que os componentes necessitarão ser substituídos. 12

Normas de avaliação da contaminação do fluido hidráulico Dois órgãos estabelecem normas para a determinação de contaminação por partículas sólidas do óleo hidráulico, a ISO e a NAS que possuem suas tabelas específicas. A ISO 4405:1999 é um método de codificação do nível de contaminação do óleo hidráulico, que busca simplificar o relatório de contagem de partículas, por meio da conversão da quantidade de partículas encontradas por mililitro (ml) da amostra analisada em um código, que representa este valor. Essa norma tem como objetivo contar as partículas com dimensões iguais ou maiores a 4 μm, 6 μm e 14 μm, em amostras de 1 ml ou 100 ml. É importante salientar que esta leitura produz um código, a partir do qual poderemos verificar os limites máximo e mínimo de contaminantes no fluido em estudo. Já a Norma NAS 1638 - International particle count standards determina o nível de contaminação pela contagem das partículas por 100 ml em cinco faixas de tamanho de partículas. A classificação de um fluido por esta norma é dada pela maior classe de contaminação encontrada. A crítica que se faz a norma NAS é que a classe indicada não relaciona o tamanho das partículas com a quantidade delas. Isto só poderá ser feito se tivermos o relatório discriminado do contador de partículas. Muitos fabricantes de equipamentos hidráulicos especificam um ótimo nível de limpeza requerido para seus componentes. Se porventura esses componentes forem submetidos a utilizar um fluido com níveis maiores de contaminação, isso pode resultar em uma vida útil mais breve para eles. Como medida preventiva, é interessante que o fabricante do componente TABELA 6: NÍVEL DE CONTAMINAÇÃO PERMITIDO DE ALGUNS COMPONENTES HIDRÁULICOS Componente

Código ISO

Controle de servoválvula

16/14/11

Válvulas proporcionais

17/15/12

Bombas/Motores (palhetas - pistão)

18/16/13

Válvulas de controle direcional

18/16/13

Reguladores de pressão

18/16/13

Bombas de engrenagem

19/17/14

Cilindros

20/18/15

Controle de fluxo

20/18/15

Óleo novo (sem uso)

20/18/15


seja consultado para informar ao cliente a recomendação do nível máximo de contaminação admissível, tomando como base uma norma vigente desta classificação, como, por exemplo, a norma ISO 4406. Na tabela 6, vemos alguns desses componentes e seus níveis de limpeza recomendados. Não há uma correlação direta entre um meio filtrante específico e sua ligação a uma classificação de limpeza ISO. Outras variáveis devem ser consideradas, tais como ingresso de partículas no circuito, fluxo através dos filtros e até mesmo a localização dos filtros. Para manter o sistema limpo, a velocidade com que se retira a contaminação deve ser maior que a velocidade de geração da mesma. Por isso, muitas vezes, além dos filtros de sucção, pressão e retorno, utilizam-se os sistemas “Off-line”, sistemas que atuam de maneira independente do circuito principal da máquina. Esse sistemas também deverão ser utilizados no abastecimento do óleo novo, quando isto for necessário, já que, como mostra a tabela 4, o seu nível de contaminação é maior que o nível permitido por muitos componentes. De acordo com Mike Day, no periódico Machinery Lubrification, esta norma tornou-se inapropriada para equipamentos fabricados a partir do dia 30 de maio de 2001, devendo ser substituída pelas normas SAE 4059 ou norma ISO 4406. Além disso, esta norma não deve ser utilizada para indicação de contaminação por partículas sólidas obtida em contador de partícula automático, ou seja, só seria recomendado utilizar a norma NAS 1638 para indicar a contaminação obtida através de análise por microscópio. Processos de filtragem A contaminação por partículas geralmente é classificada com sedimento ou pequenas partículas. Sedimento pode ser definido como o acúmulo de partículas menores que 5 μm. Esse tipo de contaminação também causa falha no sistema/componente ao decorrer do tempo. Por outro lado, as pequenas partículas são contaminantes maiores que 5 μm e podem causar falhas catastróficas imediatas. A função do filtro é remover impurezas do fluido hidráulico, o que é feito forçando o fluido a passar por um elemento filtrante, que Figura 5:Representação do proretém a contaminação. cesso de filtragem

Os elementos do filtro de profundidade forçam o fluido a passar através de uma espessura apreciável de várias camadas de material. A contaminação é retida por causa do entrelaçamento das fibras e a consequente trajetória irregular que o fluido deve tomar. Este processo está representado na figura 5. Os materiais comumente usados como elementos de filtro de profundidade são papéis tratados e materiais sintéticos. Cálculo da eficiência de filtragem Para encontrarmos a eficiência de um filtro devemos encontrar primeiro a razão Beta. Essa razão é encontrada a partir da expressão 1:

Para calcularmos corretamente a eficiência, usaremos expressão 2:

A partir do cálculo da razão Beta e, consequentemente, a eficiência, conseguimos correlacionar tais variáveis e gerar a tabela 7, em que podemos, a partir da razão beta, identificar a eficiência do filtro. TABELA 7: TABELA QUE CORRELACIONA RAZÃO BETA COM A CORRESPONDENTE EFICIÊNCIA DE SEPARAÇÃO DE PARTÍCULAS Razão Beta para tamanho de partículas (µm)

Eficiência de separação para a mesma partícula

1,01

1%

1,1

9%

1,5

33,3%

2,0

50%

5,0

80%

10,0

90%

20,0

95%

75,0

98,7%

100,0

99%

200,0

99,5%

1000,0

99,9% 13


Para razão Beta menor que 75, temos um filtro nominal, ou seja, de baixa eficiência. Para razão Beta igual ou maior que 75, temos um filtro absoluto, ou seja, de alta eficiência. Como o filtro é a proteção do circuito para os componentes hidráulicos, seria ideal que cada componente fosse equipado com seu próprio filtro. Entretanto, essa solução seria altamente custosa e, muitas vezes, inviável construtivamente. Por isso, é usual colocar filtros em pontos estratégicos do sistema. Como destaque, podemos ressaltar o filtro na linha de sucção – interna e externa, filtro de pressão – que estará presente na tubulação de pressão para o sistema, filtro na linha de retorno e o filtro duplex. Contudo, não descreveremos tais tipos de filtragem devido à sua grande complexidade. Uma experiência prática Os autores desse artigo realizaram uma experiência prática na Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco – UPE para a contagem das partículas em um óleo lubrificante hidráulico ISO VG 32, utilizando o aparelho chamado Icount PD (figura 6) . Esse equipamento nada mais é do que um detector de partículas em linha. A sua tecnologia de medição é baseada na emissão e recepção de um laser. O aparelho tornou- se uma solução bastante econômica do mercado para o gerenciamento de fluido e controle de contaminação. Em algumas versões do Icount PD, é possível também executar a medição da contaminação por água (saturação). Entretanto, no equipamento utilizado para este trabalho não existe essa possibilidade. Entre suas características e benefícios são citados: monitoramento independente das tendências de contaminação do sistema; LED de alerta Figura 6: Contador de Partículas precoce ou indicadores de em linha – Icount PD visor digital para os níveis de contaminação baixa, média e alta; indicadores visuais com avisos de saída de energia e alarme e software de autodiagnóstico. 14

Importância da amostra A coleta das amostras é um dos pontos mais importantes em uma experiência prática, e a elaboração de um procedimento para essa etapa é primordial para se obter êxito no experimento, uma vez que se deve garantir que, na ação da coleta, nenhum tipo de partícula externa seja adicionado ao fluido hidráulico. Para realizar esse procedimento, foi tomado como referência o manual da empresa PARKER, que informa algumas atitudes para não acontecer erro na coleta da amostra: hh O óleo do equipamento deverá estar quente, podendo-se realizar a coleta até, no máximo, 30 minutos após a parada do equipamento; hh Não se deve realizar a coleta na superfície do reservatório; hh Não se deve realizar a coleta no fundo do reservatório; hh Não coletar próximo ou em áreas de pouco movimento do fluido, como cantos e curvas. A norma ISO 4021:2002 [10] define que, se não se pode montar um aparato através das linhas de pressão do sistema para realizar-se a coleta do fluido hidráulico, é possível a retirada das amostras a partir do reservatório. Contudo, muito cuidado deve ser tomado para evitar a adição de mais contaminação no ponto de amostragem. Foram utilizadas duas bancadas de teste, de características diferentes durante a experiência. A bancada 01, localizada em uma sala climatizada e limpa, com uma utilização média de 2 horas/dia; e a bancada 02, localizada em um ambiente mais impróprio, em uma oficina aberta, em que a presença de sujeira e poeira é constante. O tempo médio de utilização deste equipamento é de 1 hora/mês. A partir dos resultados encontrados, podem-se tirar algumas conclusões interessantes: 1) A contaminação está atrelada não só à frequência de utilização do equipamento. Está ligada também ao ambiente cujo equipamento está localizado. 2) O óleo novo apresenta um grau de contaminação muito baixo (ISO 14/12/9), o que o torna bastante confiável quanto à sua aplicação em sistemas hidráulicos, sem a necessidade de uma filtragem prévia para posterior abastecimento. A contaminação existente nesse tipo de óleo é proveniente apenas do seu processo de fabricação. 3) O óleo extraído da bancada 01 apresenta um baixo grau de contaminação (ISO 18/16/13), sendo assim, ainda próprio para a utilização, necessitando de acompanhamento para verificação do índice de contaminação.


4) O óleo extraído da bancada 02 apresentou um nível um pouco maior de contaminação (ISO 20/18/15). Este índice mais alto está atribuído à baixa utilização do equipamento, o que faz o fluido passar poucas vezes pelo filtro, retardando o processo de limpeza de partículas do fluido hidráulico. Com isso, verifica-se a necessidade de um acompanhamento mais frequente desta contaminação. Como soluções, são sugeridas as seguintes ações: I) Em primeiro lugar, deveremos realizar o monitoramento da contaminação em uma frequência trimestral, para que seja possível monitorar a degradação do óleo hidráulico e preservar a confiabilidade do sistema. II) Deve-se estimular o uso mais frequente da bancada de teste, promovendo assim uma maior utilização do sistema e, consequentemente, uma maior filtragem do fluido hidráulico, para observar se há uma redução da contaminação do óleo. III) Deve-se realizar a calibração do IcountPD, uma vez que suas medições foram diferentes em relação à análise do laboratório. Para que essa calibração seja válida, seria interessante que fosse executada pelo próprio fabricante do equipamento, ou a partir de procedimento

elaborado baseado na norma ISO 11171 – Calibração de contador de partículas automático para fluidos. Com isso, pode-se concluir que é de grande importância o monitoramento da contaminação do óleo hidráulico, para que seja possível garantir a preservação da confiabilidade do sistema e a consequente redução de custos de manutenção. Além disso, é recomendado que esse acompanhamento não seja realizado apenas em sistemas hidráulicos, mas também em sistemas de lubrificação, para que, a partir desta análise preditiva, possamos verificar a real condição de trabalho dos óleos lubrificantes empregados, e mensurar a sua eficiência e seu desgaste, com o objetivo de que por meio dessas informações, seja precisado o momento ideal para a troca do lubrificante e, consequentemente, dos filtros utilizados, fazendo com que os gastos com esse sistema sejam otimizados. Luiz Pereira da Costa Neto é formado em Engenharia Mecânica Industrial pela Escola Politécnica – UPE, Recife

Ricardo Aurélio Fragoso de Sousa é Msc. em Engenharia Mecânica Industrial da Escola Politécnica – UPE, Recife e orientador do artigo

Por trás de seu sucesso existe um mundo de testes Lubrizol com sua inigualável rede de testes contribui para isto. Através de investimento e comprometimento em realizar testes de campo em todo o mundo, como parte do desenvolvimento e validação de nossas tecnologias, serve como garantia de desempenho de seu fluido, quando e onde você precisar.

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Onde estão as evidências? Óleos e graxas podem dar pistas valiosas para falhas mecânicas.

Por: Marcos Thadeu Giacomini Lobo

Q

uando ocorrem falhas em componentes mecânicos de equipamentos móveis ou industriais, a evidência da falha é, com certa frequência, destruída juntamente com o componente mecânico que sofreu a avaria. A evidência inicial da falha fica tão descaracterizada pela falha real, que se torna indistinguível de outras evidências. A destruição da evidência inicial da falha, usualmente, leva o investigador a acusar o lubrificante por causa de avaria ocasionada por outro mecanismo. De forma inversa, falhas que foram causadas pelo uso de lubrificante inadequado ou por lubrificação ineficaz são, equivocadamente, atribuídas a outros fatores. Existem muitas possíveis situações de causa e efeito em que a evidência sobre a causa da falha é perdida na evidência sobre o efeito. A ausência de boas evidências é o que leva a custosas decisões errôneas sobre agir ou não agir em determinada situação de avaria em equipamento móvel ou industrial. Em grande parte das vezes, não se pode, sequer, determinar se a avaria ocorrida era de alguma forma evitável ou se foi algo casual e deveria ser aceita como tal. Muitos profissionais de manutenção já se depararam com modos de falhas recorrentes em maquinário sem ter idéia da causa-raiz da avaria. Como não se consegue localizar com precisão qual a causa-raiz das falhas, a solução é a criação de com-

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Figuras 1/2 - Muitas vezes o lubrificante é culpado injustamente pela falha

plexos e, muitas vezes, inócuos e desnecessários procedimentos de manutenção preventiva (PMs). Implementar-se um conjunto de procedimentos de manutenção preventiva é resposta bastante comum, quando não se consegue realmente explicar porque o equipamento móvel ou industrial falhou. É relativamente comum que, uma vez que inócuos e desnecessários PMs são introduzidos no sistema de manutenção, eles passem a ser parte permanente das práticas de manutenção, não mais sendo descontinuados, mesmo que se evidencie a sua ineficácia. Com o tempo, não mais se recordará o porquê de se ter instituído aqueles procedimentos inócuos, desnecessários, custosos e trabalhosos de manutenção preventiva, e o processo de racionalização das práticas de manutenção por meio de


remoção de práticas ineficazes sempre irá requerer longos e acirrados debates.

O importante é não descartar as evidências e, sim, procurar preservá-las para a busca da causa-raiz do problema.

Figuras 3/4 - O importante é se descobrir a causa-raiz da falha

A falha na lubrificação ocorre quando o lubrificante deixa de separar efetivamente as superfícies metálicas dos componentes mecânicos em movimento relativo. Contudo, há numerosos motivos por que isto pode acontecer. Há situações totalmente diversas neste aspecto, e podemos citar, a título de exemplo: 6 6 A vibração leva ao afrouxamento do bujão de dreno do cárter de equipamento móvel ou industrial, perda total do óleo lubrificante e, consequente falha catastrófica; 6 6 O equipamento móvel ou industrial opera em ambiente extremamente poeirento, o lubrificante se contamina com abrasivos e há aceleração do desgaste abrasivo. Ambas as situações causarão falha de lubrificação em uma perspectiva de manutenção e prevenção, mas são eventos totalmente distintos.

Figura 7 - Preservar as evidências da falha é fundamental para determinação da causa-raiz da avaria

Vamos considerar, então, algumas formas de se estudar as evidências de falhas:

Figuras 5/6 - Afrouxamento de bujão e contaminação por abrasivos: ambos os eventos resultaram em falha catastróficas, mas em situações distintas

1. ANÁLISE DO ÓLEO LUBRIFICANTE EM USO NO EQUIPAMENTO MÓVEL OU INDUSTRIAL: a despeito da aparência degradada do componente móvel que sofreu falha, o lubrificante ainda mantém as evidências do período de tempo que precedeu a falha até o momento do evento catastrófico. Algumas vezes, amostrar-se fundos de cárteres e reservatórios pode ajudar no processo de investigação. Os resíduos de desgaste se acumulam no fundo de cárteres e reservatórios possibilitando a montagem do histórico da operação do maquinário desde a última troca da carga de óleo lubrificante ou flushing do reservatório. Muitas das partículas de desgaste depositadas em fundos de cárteres e reservatórios são evidências iniciais do processo de falha ou da avaria catastrófica. As partículas de desgaste são peças de um quebra-cabeças que podem auxiliar o profissional de manutenção, ao reuni-las, na montagem de um contexto lógico e compreensível do ocorrido.

Como, então, pode-se melhorar a qualidade das evidências e as habilidades para examiná-las? Na grande maioria das vezes em que ocorrem falhas em equipamentos móveis ou industriais, sejam catastróficas ou não, as evidências da avaria, ainda podem ser encontradas ou no óleo lubrificante ou no sistema de lubrificação, mesmo que as evidências no componente móvel tenham sido destruídas.

Figuras 8/9 - Muitas evidências importantes são encontradas em fundos de cárteres e reservatórios

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Uma palavra de cautela: a análise de material particulado de fundo de cárter ou reservatório não permite, na maioria das vezes, classificar com precisão de que componente móvel se originaram os resíduos de desgaste e nem quando foram gerados, tratando-se mais de uma análise de caráter informativo. 2. ANÁLISE DE FILTRO DE ÓLEO LUBRIFICANTE: o filtro de óleo lubrificante é um valioso livro de registro visto que captura o material particulado sólido gerado desde a última substituição até o evento da falha.

rio, mas, quando os mecânicos de manutenção retiram o componente móvel e o inspecionam, não conseguem encontrar qualquer indício de falha. O componente móvel é então montado, novamente, em sua posição original, o equipamento móvel ou industrial é colocado em operação e, poucas semanas depois, o equipamento é paralisado por falha catastrófica ou não. Surge, naturalmente, a suposição de que o ato intrusivo da inspeção da máquina causou a falha, e os técnicos de monitoramento com base na condição ficam em situação delicada.

Figuras 13/14 - Os técnicos da manutenção baseada na condição encontram indícios de falha e os mecânicos de manutenção não confirmam diagnóstico. E agora?

Figuras 11/12 - Análise das partículas de desgastes capturadas pelo elemento filtrante após banho ultrasônico e retenção em membrana filtrante

A inspeção típica em um mancal de rolamento é visual e realizada, frequentemente, com o lubrificante ainda presente. Via de regra, o mecânico de manutenção movimenta o mancal de rolamento para verificar se ele gira livremente. Material particulado sólido proveniente de desgaste com dimensões de 5 micron - 50 micron pode ser estudado através de técnicas de análise de resíduos de desgaste utilizando-se microscópio ou outros tipos de instrumentos próprios para avaliação de partículas sólidas. Em face disto, surge a pergunta: como pode o mecânico de manutenção observar pits ou sulcos com dimensões microscópicas, com aproximadamente as citadas dimensões, a olho nu? Uma vez que se inicia o evento de falha do componente móvel, a progressão acelera rapidamente. O ideal seria inspecionar as superfícies metálicas dos componentes móveis retirados do maquinário após limpeza, para que se possa verificar, com mais riqueza de detalhes, o que realmente está ocorrendo em termos de desgaste.

3. INSPECIONAR COMPLETAMENTE OS COMPONENTES MÓVEIS EM RESPOSTA AO MONITORAMENTO COM BASE NA CONDIÇÃO DO MAQUINÁRIO: com frequência, os técnicos do setor de manutenção com base na condição detectam falha em estágio inicial em componente móvel do maquiná-

4. TREINAMENTO DO STAFF DE MANUTENÇÃO: programas de treinamento para técnicos de PCM, mecânicos de manutenção e operadores de máquinas focam em técnicas de restauração ou reparo. É necessário capacitar os citados profissionais, também, em análise de mecanismos de falha, para que possam entender como as máquinas chegam ao estado de falha,

Figura 10 - Os filtros de óleo lubrificante são verdadeiros livros de registro

Por se abrir o filtro para inspeção, libertar as partículas de desgaste do elemento filtrante por processo de banho ultrasônico, depositando-as em lâmina inclinada ou retendo-as em membrana filtrante, a evidência do evento incipiente de falha até a falha catastrófica pode ser avaliada. Da mesma forma que a amostragem de fundo de cárter ou reservatório, este método não classifica as partículas de desgaste com respeito à composição ou tempo de geração.

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métodos e técnicas para redução de falhas (manutenção proativa), técnicas adequadas de lubrificação, monitoramento do maquinário pela condição e técnicas de análise de falhas. Tais treinamentos permitirão ao staff de manutenção encontrar e analisar evidências sobre falhas em equipamentos móveis ou industriais e como empregar o conhecimento e a experiência práticas na busca da melhoria contínua.

Figura 15 - Treinar o staff de manutenção em técnicas de manutenção proativa

Fato é que estamos vivendo uma nova era em questões de manutenção de equipamentos móveis e industriais. Muitas empresas têm reformulado completamente as suas antigas práticas de manutenção, substituindo-as por outras completamente novas. Não é possível buscar eliminar a causa-raiz de problemas sem evidências precisas do que realmente causou a falha. Os óleos e graxas

Figuras 16/17 - A análise do lubrificante e do sistema de lubrificação é de grande auxílio nas decisões sobre manutenção

lubrificantes e os sistemas de lubrificação oferecem valiosas pistas, muito embora as evidências de falha referentes ao maquinário ou ao componente móvel tenham sido completamente destruídas. É de fundamental importância aprender como acessar e usar essas evidências como base para decisões acertadas.

Marcos Thadeu Giacomini Lobo é Engenheiro Mecânico e Consultor Técnico em Lubrificação da Petrobras Distribuidora S.A.

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SAÚDE - MEIO AMBIENTE - SEGURANÇA

Uma Integração Estratégica

Uma compreensão abrangente de saúde Por: Newton Richa

Na área de Saúde, o Brasil dispõe de um arcabouço legal avançado. Em seu artigo 196, a Constituição Federal estabelece que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença. As políticas de saúde devem estar integradas às políticas sociais e econômicas”. O inciso II do Artigo 198 determina o atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais. A lei 8080/1990 – A Lei Orgânica da Saúde – em seu Artigo 3o afirma que “Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais”. Não obstante a existência de um arcabouço legal avançado, pratica-se, no país, uma precária gestão de doenças, em que os preceitos constitucionais não são considerados, e a prevenção praticamente inexiste. A maioria dos brasileiros não tem uma adequada compreensão sobre saúde, embora ela constitua requisito essencial para a qualidade de vida da população e para a prosperidade econômica do país. Nessa perspectiva, todas as políticas públicas devem contribuir para a melhoria da saúde coletiva, com atenção especial à saúde dos trabalhadores, por serem a parcela da população que produz para o atendimento de suas necessidades e para o atendimento das necessidades das crianças, dos idosos e dos incapacitados. Em virtude da falta de informação, é comum a observação de pessoas em situação de risco nas suas casas, no trabalho, nas vias públicas, no lazer e nos 20

transportes. Isto constitui em uma verdadeira “fábrica de acidentes e doenças”, que produz muitas mortes, incapacidades permanentes, incapacidades temporárias e doenças em estágios iniciais, que irão se agravar, caso as condições de vida e trabalho não sejam melhoradas. Este cenário representa, também, uma ameaça à Previdência Social. Por outro lado, como consequência da Cultura de Doença prevalente no país, pode-se observar, em praticamente todas as iniciativas na área de Saúde, uma abordagem fragmentada, desprovida de uma compreensão de sua complexidade e de uma politica que oriente o estabelecimento de objetivos e estratégias. Este artigo foi elaborado na perspectiva de contribuir para o desenvolvimento de uma Cultura de Saúde no país. Os estudos modernos permitem afirmar que a saúde é uma resultante complexa da interação de fatores culturais, políticos, econômicos, educacionais, sociais, ambientais e pessoais. Essa interação inicia-se na concepção e mantém-se ao longo da vida, durante a gestação, o parto, a infância, a puberdade, a maturidade e a velhice, conforme mostra a Figura 1. Fatores Culturais Para exemplificar a influência dos fatores culturais na saúde, pode ser citado o estudo do Dr. Leonard Sumé, epidemiologista da Escola de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, em imigrantes japoneses nos EUA. É sabido que no Japão há uma alta expectativa de vida e baixos índices de doenças cardíacas, apesar da forte industrialização, altos níveis de poluição e ritmo de vida acelerado. O estudo foi proposto para avaliar as influências da proteção genética ou da dieta na saúde.


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Fatores Políticos Fatores Culturais

Fatores Econômicos

Genética

Fatores Sociais

Parto

Gestação

Puberdade

Infância

Fatores Educacionais Fatores Ambientais

Velhice

Maturidade

Génetica Educação

Hábitos

Estilo Emocional

Fatores Pessoais

Figura 1- A complexidade da saúde

O estudo mostrou que, após uma geração, os imi grantes que adotaram uma dieta tipicamente ocidental, rica em gorduras, tornaram-se tão vulneráveis às doenças cardíacas quanto os americanos - exceto aqueles que mantiveram estreita ligação com os valores japoneses, com sua comunidade e continuaram a usar o próprio idioma. Os japoneses têm uma crença que chamam de amae e, segundo ela, o bem-estar de uma pessoa depende da colaboração e da boa vontade de seu grupo. Desse modo, ser parte de um grupo e compartilhar valores protege a saúde. Nenhuma outra variável como idade, sexo, classe social ou hábito explicou esse efeito. Como conclusão, pode-se afirmar que os fatores culturais mostraram maior influência na saúde dos japoneses que os fatores genéticos e alimentares. Fatores Políticos A política “Juntos pela Saúde” (Together for Health), adotada pela União Europeia (UE) como base da gestão de saúde na região, no período 2008-2013, teve como justificativa a convicção de que saúde é um atributo central na vida das pessoas e deve ser assegurada por políticas e ações intersetoriais nos estados membros. O Princípio 3 da política Juntos pela Saúde tem a seguinte redação: “Saúde em Todas as Políticas” (Health In All Policies). A razão para a adoção deste princípio é que todas as Políticas Públicas, tais como a Política Industrial, a Política Ambiental, a Política de Imigração, a Política de Regulamentação, a Política de Proteção Radiológica podem impactar a saúde da população, com reflexos nos seus indicadores.

Os dirigentes europeus entendem a importância do estabelecimento de sinergias entre os diversos setores para fortalecer a Política de Saúde, que deve ser apoiada pela indústria, universidade, mídia, ONGs e outros segmentos das sociedades europeias. Deriva deste princípio a integração de assuntos de saúde em todas as políticas dos países. Observa-se grande semelhança com o texto do artigo 196 da CF, supracitado.

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Fatores Econômicos O Princípio 2 da política “Juntos pela Saúde” focaliza a relação entre Saúde e Economia e estabelece que a saúde da população é a maior riqueza de um país e que uma população saudável constitui pré-requisito para a produtividade econômica, a prosperidade e o bem-estar coletivo. Os estudos mostram que a renda influencia a saúde em virtude de condicionar as condições de vida e trabalho. Boas condições de vida e trabalho contribuem para a saúde, enquanto as condições de vida e trabalho precárias contribuem para a doença. Estudos realizados no Canadá mostraram, de maneira clara, a associação entre diabetes e nível de renda: quanto mais baixa a renda, maior a prevalência de diabetes entre os canadenses. As políticas econômicas têm uma forte influência na saúde da população, sendo que as crises econômicas aumentam a incidência de doenças em geral. Fatores Educacionais A política “Juntos pela Saúde” da União Europeia recomenda o desenvolvimento das competências pessoais necessárias à proteção da própria saúde, com base no conceito de alfabetização em saúde, que significa o desenvolvimento de habilidades para ler, selecionar e compreender as informações de saúde, para se estar apto a fazer julgamentos fundamentados em prol de sua saúde, nas diferentes situações da vida. Sem dúvida, a alfabetização em saúde deve ser fundamentada na plena compreensão da saúde em toda a sua complexidade, razão de ser deste artigo. Um consistente estudo abrangendo 138 países, desenvolvido no período 1860-1985, mostrou uma indiscutível associação entre a elevação dos níveis educacionais com o aumento da expectativa de vida da população. Desse modo, em função da forte relação entre 21


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Saúde e Educação, há um consenso de que todos os programas, projetos e campanhas de saúde devem ter um componente educacional. Os processos educacionais devem contribuir para a alfabetização em saúde de toda a população e enfatizar que cada pessoa deve compreender que tem uma parcela de responsabilidade por sua saúde, que é intransferível. Sendo a saúde uma resultante complexa, como propõe o artigo, ela não pode ser assegurada apenas pela prescrição de medicamentos e a realização de procedimentos cirúrgicos, como praticado no país. Todos devem buscar informações para melhor cuidar de sua saúde nas suas casas, nos locais de trabalho e demais ambientes de permanência, considerando a possibilidade da interação do seu organismo com agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais em todos esses ambientes. Deve ser aqui assinalado que o aumento da renda só contribui para a melhoria dos níveis de saúde quando associado a um projeto educativo consistente. Caso contrário, contribuirá para o aumento do consumo, muitas vezes nocivo para a saúde. Fatores Sociais A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como o estado de perfeito equilíbrio físico, mental e social, reconhecendo a importância da influência dos fatores sociais na saúde desde 1946. Além disso, a OMS trabalha com o conceito “Determinantes Sociais de Saúde” e estuda suas relações com as condições de vida e trabalho que impactam nos níveis de saúde da população. Uma contribuição importante foi obtida no projeto “Estudo do Desenvolvimento Adulto”, empreendido pela Universidade de Harvard, que apresenta a inédita duração de 75 anos, acompanhando 224 jovens do sexo masculino, subdivididos em 2 grupos: alunos de Harvard e jovens de famílias pobres de Boston. Todos foram acompanhados por meio de entrevistas e exames médicos a cada 2 anos. O estudo está sendo conduzido pelo quarto diretor e mostrou, como principal conclusão, que os bons relacionamentos dos participantes com familiares, amigos e comunidade foram os maiores responsáveis por mantê-los mais felizes e saudáveis. Foram extraídas algumas lições sobre os relacionamentos: as conexões sociais são boas; a solidão é prejudicial para a saúde e para a memória; viver em meio a conflitos é ruim para a saúde, aos 50 anos o nível de satisfação com os relacionamentos mostrou-se mais im-

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portante que o nível de colesterol para prever o envelhecimento; e as pessoas mais satisfeitas com seus relacionamentos aos 50 anos mostraram-se as mais saudáveis aos 80 anos. Em resumo, o estudo mostrou que uma vida feliz e saudável se constrói com boas relações sociais. Fatores Ambientais Os ambientes de permanência das pessoas abrangem, na atualidade: moradia trabalho, estudo, lazer e transporte, possibilitando a mobilidade necessária. Em todos esses ambientes, pode ocorrer exposição a agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais, descritos na Tabela 1. Agentes Agentes físicos químicos Vibrações Gases Ruídos Vapores Ultrassons Líquidos Calor/Frio Neblinas Radiações Névoas ionizantes Poeiras Radiações não Fumos ionizantes Nanopartículas Pressões ambientais anormais Eletricidade Campos eletromagnéticos

Agentes Agentes Agentes biológicos ergonômicos psicossociais Vírus Posturas Más relações incorretas no trabalho Bactérias Rítmo Assédio Rickettsias excessivo Extremos de Fungos Monotonia responsabilidade Protozoários Esforços Pressão social Metazoários repetitivos Dupla jornada Animais Pesos peçonhentos excessivos Carregamento de pesos inadequado

Tabela 1 - Agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais potencialmente presentes nos ambientes de permanência das pessoas

Fatores Pessoais Abrangem os fatores genéticos, os fatores emocionais e os hábitos. Os fatores genéticos herdados dos pais podem determinar certas doenças ou predisposição a elas nos descendentes. Segundo estudos recentes da Genética, os genes podem ser ligados e desligados de acordo com os hábitos, o ambiente e o estresse. Isso significa que hábitos e ambientes saudáveis podem evitar a manifestação de doenças relacionadas aos fatores genéticos. Os fatores emocionais vêm ganhando importância crescente como determinantes da saúde em consequência dos resultados de pesquisas recentes. Durante décadas, os neurocientistas admitiram que o cérebro adulto fosse uma estrutura estável, com forma e função basicamente fixas. Novos estudos evidenciaram uma estrutura dinâmica e passível de mudanças. Esta propriedade do cérebro, que é preservada por toda a vida,


S.M.S. foi chamada neuroplasticidade e consiste na capacidade de modificar sua estrutura e sua função em resposta às experiências e aos pensamentos. Constituem exemplos de neuroplasticidade o cérebro do violinista, que apresenta um aumento mensurável de tamanho e atividade nas áreas que controlam os movimentos dos dedos, e o cérebro dos taxistas de Londres, que aprendem a dirigir numa trama de ruas altamente complicada, que mostra um crescimento do hipocampo, região associada ao contexto é à memória espacial. Durante décadas, as pesquisas focalizaram os efeitos das emoções negativas como a raiva, o ressentimento, a hostilidade, a depressão, o medo e a ansiedade sobre a saúde e obtiveram evidências do enfraquecimento do sistema imunológico e aumento do risco de doenças cardíacas e outras doenças. Por outro lado, uma das descobertas mais consistentes na atualidade é a relação entre emoções positivas, como a felicidade, a alegria, o contentamento, o ânimo, a empolgação e o entusiasmo, com a saúde. Segundo o Professor Richard J. Davidson, PhD em Psicologia pela Universidade de Harvard, as pesquisas com pessoas que praticam a meditação demonstram que o treinamento mental pode alterar os padrões de atividade e a própria estrutura do cérebro e fortalecer a empatia, a compaixão, o otimismo e a sensação de bem-estar, possibilitando uma vida melhor. A meditação, atualmente estudada por renomadas universidades europeias e americanas, tem mostrado efeitos positivos na produtividade, na melhora da memória dos idosos, no tratamento de doenças como a psoríase e o transtorno obsessivo-compulsivo, na diminuição da compulsão alimentar na obesidade e outros distúrbios. Os hábitos saudáveis reforçam a saúde e, por outro lado, os hábitos nocivos a corroem. Em seu livro “O Po-

der do Hábito”, Charles Duhigg, repórter investigativo do New York Times, afirma que nas últimas duas décadas, neurologistas, psicólogos e sociólogos finalmente começaram a entender como os hábitos funcionam e, mais importante, como podem ser transformados, uma vez que, ao longo do tempo, eles têm um enorme impacto na saúde, na produtividade, na estabilidade financeira e na felicidade das pessoas. O livro relata a história de uma jovem fumante, que bebia excessivamente, lutava contra a obesidade, tinha uma vida financeira desorganizada e não parava nos empregos. Ao decidir parar de fumar, adotou a prática regular de atividade física e, além de parar de fumar, parou de beber, perdeu 27 quilos, passou a participar de maratonas, iniciou um mestrado e comprou uma casa. Duhigg assinala que alguns hábitos são mais importantes que outros na reformulação de vidas e de empresas. Estes são os hábitos angulares, capazes de influenciar o modo como as pessoas trabalham, comem, se divertem, gastam, se comunicam e vivem. Os hábitos angulares dão início a um processo que, ao longo do tempo, transforma tudo. Como conclusão, o autor assinala q importância desta compreensão abrangente da saúde como contribuição para o desenvolvimento e a consolidação de uma Cultura de Saúde no país, alicerçada na prevenção, que possibilite melhores condições de vida para os brasileiros.

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Newton Richa é Médico do Trabalho, Mestre em Sistemas de Gestão, Professor dos Cursos de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Engenharia de Manutenção da UFRJ, Representante da UFRJ na Comissão Nacional de Segurança Quimica (CONASQ/MMA)

23


O mercado em foco LUBES EM FOCO apresenta os números do mercado brasileiro de lubrificantes referentes ao ano de 2016, fruto de pesquisa realizada pela Editora Onze junto aos principais agentes do mercado e órgãos legisladores. As dificuldades para uma precisão continuam a existir, uma vez que ainda não há uma consolidação dos números de todos os produtores.

O mercado brasileiro de lubrificantes no ano de 2016 Mercado Total de Óleos Básicos: 1.322.530 m3

Total comercializado de Óleos Lubrificantes: 1.276.000 m3 918.720 m3 357.280 m3

Automotivos: Industriais:

Importação de óleos acabados: 28.710 m3 Exportação de óleos acabados: 35.560 m3 Mercado Total Graxas:

43.900 t

Produção Local: Refinarias: Rerrefino:

856.520 m3 616.520 m3 240.000 m3

Importação: Exportação:

491.330 m3 25.320 m3

Fonte: ANP, Aliceweb, Sindicom, Petrobras e Pesquisa Lubes em Foco

Obs: Os óleos de transmissão, de engrenagens e os óleos básicos vendidos à indústria estão incluídos no grupo dos industriais

* Não considerados óleos brancos, isolantes e a classificação “outros”.

Mercado SINDICOM1 •Comparativo 2016/2015 por região (período jan-dez) Mil m3

Análise comparativa por produtos

800

Total de lubrificantes por região

Mil m3

2015 2016

815.283

2015 2016

596.389

560 791.286

700

480

600

400

500

320

400

567.846

240

200 100

211.215

302.109

INDUSTRIAIS

AUTOMOTIVOS

339.917

38.702

0

GRAXAS (t)

300

160

207.406 177.222

80 35.291

0

88.161

SUL

SUDESTE

158.464 120.915

80.804

NORTE

NORDESTE

114.167

CENTRO OESTE

Lubrificantes industriais por região Lubrificantes automotivos por região

Mil m3

Mil m3

350

361.276

350.719

2015 2016

217.148

200

300

2015 2016 200.289

175 250

150

200 150

125 162.086

100

163.005 128.471

100

75

122.654 92.236

71.215

50 0

SUL

SUDESTE

88.663

66.245

NORTE

50

41.498

43.331

37.370

31.364

25 NORDESTE

CENTRO OESTE

0

14.532 SUL

SUDESTE

1. O SINDICOM é composto pelas seguintes empresas: Ale, BR, Castrol , Chevron, Cosan, Ipiranga, Petronas, Shell, Total e YPF.

24

23.407

12.296

NORTE

NORDESTE

20.788

CENTRO OESTE


Participação de Mercado de óleos Ano de 2015

1,3% 1,4% 1,6% 7,9%

14,3%

15,5%

8,9% 9,1%

24,4%

15,5%

Participação de Mercado de Graxas Ano de 2015

9,0%

BR Cosan/Mobil Ipiranga Petronas Chevron Shell Total Lubrif. Castrol YPF outros

19,2%

7,1% 8,0% 15,5% 11,5%

14,8%

15,0%

Chevron Petronas Ipiranga BR Ingrax Cosan/Mobil Shell Outros

NOTA: Os dados de mercado correspondentes a anos anteriores podem ainda ser encontrados no site da revista, no endereço www.lubes.com.br, no item do menu SERVIÇOS / MERCADO.

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Programação de Eventos Internacionais Data

Evento

2017 Fevereiro, 15 a 17

21th. ICIS World Base Oil & Lubricants Conference - Londres - Inglaterra: https://www.icisconference.com

Março, 7 a 10

Fuels and Lubes Week 2017 - Cingapura : http://fuelsandlubes.com/flweek/

Maio, 21 a 25

72st.STLE Annual meeting & Exhibition - Atlanta - EUA: http://www.stle.org/

Nacionais Data

Evento

2017 Março, 20 a 24

Plástico Brasil - São Paulo Expo - São Paulo: www.plasticobrasil.com.br

Abril, 26 a 27

Feilub - 2ª Feira dos produtores de lubrificantes - Pro Magno Centro de Eventos -São Paulo: www.feilub.com.br/

Maio, 01 a 05

AgriShow - Ribeirão Preto - São Paulo: www.agrishow.com.br/pt/

Junho, 20 a 24

Feimafe - Expo Center Norte -São Paulo: www.feimafe.com.br/

Junho, 20 e 21

7º Encontro Internacional com Mercado - Hotel Florida - Rio de Janeiro: www.portallubes.com

Julho, 18 a 20

MecShow - Serra - Espírito Santo: www.mecshow.com.br/site/2016/pt/home

Se você tem algum evento relevante na área de lubrificantes para registrar neste espaço, favor enviar detalhes para comercial@lubes.com.br, e, dentro do possível, ele será veiculado na próxima edição.

N

A T A

a edição anterior, publicamos equivocadamente o subtítulo do gráfico sobre Economia Circular, à página 20. O correto é: “Principais mudanças para agentes de mercado e dirigentes”, como tradução das palavras players e drivers.

R R E

S.M.S. Economia Circular:

Economia Circular:

Principais mudanças para agentes de mercado e dirigentes

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Resíduo zero e desenvolvimento sustentável

Principais mudanças para agentes de mercado e dirigentes

Requisitos do cliente para matéria-prima reciclada local

Produtores

Requisitos do cliente

Conversores

Pressões das ONGs

Maior contaminação Modelo de transferência de custos Barreira verde

Reprocessadores

Marcas

Política estatal/local inconsistente

Consumidores

Maior contaminação

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Preocupações com lixo e detritos

Modelo de transferência de custos

Valor de “reciclabilidade” Requisitos dos fornecedores para produtos mais sustentáveis

Compostagem

Requisitos do cliente Transportadores Resíduos para matéria-prima sobrecarregam os recursos públicos reciclada localMunicípios

Resíduo zero e desenvolvimento sustentável

Metas de resíduo zero

riscos à imagem institucional

Varejistas

Produtores

Compram produtos consistentes com seus valores Responsabilidade Ambiental

Conversores

Requisitos do cliente Pressões das ONGs

Dúvidas sobre o que é reciclável

Metas de resíduo zero


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Em tempos difíceis, é preciso encontrar o caminho certo!

Guia de Negócios da Indústria Brasileira de Lubrificantes Para estimular negócios e demandas, o guia divulga os principais agentes da cadeia produtiva, por meio de uma composição de empresas, segmentadas por área de atuação, divididas em seções específicas. O guia oferece informações precisas, com qualidade e constante aperfeiçoamento Sua empresa vai estar acessível e será facilmente encontrada por: • • • •

milhares de indústrias consumidoras de lubrificantes; formuladores e produtores de óleos e graxas; frotistas e transportadores; outros interessados no setor de lubrificantes e graxas.

Acesse já nossa página na internet em www.gnlubes.com.br ou faça contato por comercial@gnlubes.com.br e pelo tel:(21) 2224-0625

Empresas da cadeia produtiva da indústria de lubrificantes e graxas

2017


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