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A HISTÓRIA QUE A HISTÓRIA NÃO CONTA: O INÍCIO DO MOVIMENTO LGBT+ NO ESPÍRITO SANTO
“Já fomos muito apedrejados. Já fui espancado diversas vezes e preso também, apenas por ser LGBT. Havia um campo de futebol no bairro Santa Lúcia e toda vez que eu passava por lá apanhava. Isso fazia parte do meu dia a dia.”
Edson Ferreira / Ednamara
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O início de tudo: performances de gêneros, carnaval e descobertas
Os primeiros registros da homossexualidade no Espírito Santo datam de 1920. Naquela década, o famoso“final feliz”, localizado ao final da Praia de Camburi, em Vitória, já era feliz. Inclusive, nem a falta de uma ponte que ligasse a área continental - onde fica o “final feliz” - à ilha de Vitória representava um problema para as pessoas, que, segundo o pesquisador Anderson Pestana, atravessavam de barco para encontrar outras pessoas que buscavam relacionamentos sexuais casuais homossexuais.
Pelos idos dos anos 1930 um professor chamado Irênio escandalizou Vitória com suas chinelas de salto alto com pompons, seu requebrado e sua postura afeminada. No livro Tipos Populares de Vitória (1985), Elmo Elton conta que, em sua primeira aparição por Vitória, o professor usava vistoso leque e atirava beijos para os transeuntes. Inspirado no sucesso do espetáculo Madame Butterfly no Rio de Janeiro, o professor Irênio fantasiou-se no carnaval usando “um quimono de seda oriental, adquirido em navio aportado em Vitória, cabeleira alta, presa com longos grampos, e maquilagem perfeita, abanando-se com ventarola chinesa”. A partir daí, em todos os grandes eventos sociais e bailes de carnaval dos mais refinados clubes da alta sociedade da época, o professor passou a se travestir até o fim de sua vida em meados de 1960.
O carnaval, inclusive, tornou-se um dos poucos ambientes em que
as pessoas LGBT+ podiam ocupar com tranquilidade e foi onde as primeiras performances de gênero começaram a ser exibidas. As escolas de samba e seus ensaios foram, por muito tempo, um refúgio para gays, travestis e transformistas. Em seu sentido mais profano, o carnaval foi sempre um período mais propício para a dissidência, para a realização e exibição das fantasias mais íntimas de maneira alegórica e festiva. Dessa forma, as escolas de samba forneciam espaços para que todas as sexualidades e identidades de gênero pudessem ganhar vida e abrilhantar os desfiles e ensaios.
Por trabalharem com grande destaque dentro do universo carnavalesco nas áreas artísticas, os LGBT+ do carnaval acabaram galgando certa valorização. Algumas figuras eram até celebradas e reconhecidas por fazerem ricas, glamourosas e espalhafatosas fantasias, como apontou Bragança (2018). Segundo Chica Chiclete, “o carnaval era uma vitrine para os gays”, era o espaço onde se tornavam a maior atração.
Existia nesse universo, inclusive, concursos específicos voltados para o público LGBT+. “Você saía dos ensaios e da avenida de alma lavada da hipocrisia da sociedade que tentava nos manter na escuridão”, afirma Chica Chiclete. As transformistas Susi Ross e Paula Becker, por exemplo, chegaram a ser rainhas de bateria de várias escolas de samba. Estamos falando de um dos maiores destaques, se não o maior, de todo o carnaval.
De acordo com Chica, parte fundamental para o reconhecimento das travestis e transformistas neste universo vinha do fato de as mulheres cis sofrerem muito preconceito. “Elas tinham que ser submissas e não podiam mostrar que eram livres”, ressalta. Assim, o caminho ficava livre e as transformistas podiam mostrar a exuberância do corpo feminino. Para Chica, “as mulheres viam nas travestis a possibilidade de libertação”.
Como conta Chica, “as mulheres no carnaval sofriam muito mais preconceito que os gays”. Nessa lógica, mulher (cis) e carnaval não se conjugavam, restando, então as transformistas para demonstrar a exuberância do corpo feminino, mesmo que construído. Para Chica, “as mulheres viam nas travestis a possibilidade de libertação”.
sem carnaval, quando a tradição retornou, em 1998, uma onda conservadora chegou a permitir que as travestis e transformistas desfilassem como destaques nos carros alegóricos, mas sem a liberdade, o carinho e o acolhimento de antes (BRAGANÇA 2018).
Edson Ferreira, que na época vivia como Ednamara, uma das pioneiras na cena transformista capixaba, conta que atualmente apenas as escolas de samba Novo Império e MUG - Mocidade Unida da Glória ainda aceitam as travestis desfilando como passistas. Nas outras escolas sua participação como destaque vem atrelada à compra da posição de destaque. Edson conta que suas primeiras aparições travestidas ocorreram nas escolas de samba Unidos de Santa Lúcia e Amigos da Gurigica. Ela e outras inúmeras travestis e transformistas tinham destaque na ala Mulatas Show que era, basicamente, composta apenas por homens gays e travestis transformistas.
Diversão, epidemias e repressão policial: a realidade LGBT+ nas décadas de 1970 e 1980
Na década de 1970 existiam alguns bares e boates direcionados ao público LGBT+, na Grande Vitória. A maioria era voltada para a prostituição e eram mantidos por cafetinas. No bairro São Diogo, na Serra, existia a boate São Sebastião, onde os homossexuais travestidos se apresentavam em shows e eventos. Já na Barra do Jucu existia a Canoa Velha, uma cabana de madeira erguida na orla da Barra do Jucu por volta de 1970, onde, à época, só tinha mata. Segundo Edson, Canoa Velha era um refúgio, o único local onde elas podiam performar e onde a polícia, geralmente, as ignorava.
A Canoa Velha não era uma boate ou um ‘puteiro’, mas uma junção de tudo, bem aos moldes das Molly Houses inglesas. Lá aconteciam performances das transformistas, números musicais em conjunto com a prostituição e o sexo. Chica conta que “em geral, era sempre assim, primeiro as boates eram de puta e depois viravam de viado”. O local era um respiro das normativas sociais ainda mais rígidas, já que sua existência perdurou durante o regime militar.
A casa era um ambiente frequentado não apenas por LGBT+, mas também heterossexuais e cisgêneros. Até esse momento não existia a separação entre espaços por identidade de gênero ou orientação sexual. Por aqui, assim como no resto do Brasil, a ida dos homossexuais e transexuais para seus “guetos” viria a acontecer somente após a disseminação do HIV.
As entrevistadas afirmavam constantemente que os LGBT+ eram bem-vindos nos mais diversos espaços sociais. As transformistas eram vistas de maneira ainda mais especial, visto que elas traziam glamour para os eventos. Como relatou Miss Linda11, em depoimento no Cineclube Diversidade em Vitória:
As pessoas foram achando aquilo bonito, belo demais e queriam ter aquele diferencial nas festas. Aí nós íamos pra fazer aniversários, casamentos, promocionais de empresa, despedidas de solteira, feiras e festas do interior do estado e a coisa foi fluindo. [...] A drag queen [...] passou a ser um artigo de luxo.
Isso, também, como aponta Miss Linda:
“Por conta da irreverência, do exagero, porque o drag é grande, é imenso e traz para o lúdico. Então vamos agradar crianças, idosos, todo mundo, porque não ficou uma coisa exclusivamente de guetos e redutos LGBT.”
É claro que essa relação sempre foi dúbia. Ao mesmo tempo que a heterossexualidade aceita a homossexualidade visando certa excentricidade ou mesmo entretenimento, rechaça indivíduos com posturas politizadas. Ou seja, se for para rir ou “para foder”, os homossexuais (e as identidades de gênero) são bem-vindas, mas se se envolverem seriedade em luta política, são repelidos. Como falou Chica: “viado é o filho do vizinho”.
A enorme distância dos centros habitados da cidade na época fazia com que Canoa Velha fosse frequentada principalmente pelas elites
11 Miss Linda é uma das matriarcas da cultura transformista e drag do estado. Ainda em atividade, sua carreira já se estende por mais de 40 anos e teve início em Cariacica Sede, como apresentadora de desfiles de moda. Todas as falas de Miss Linda foram colhidas de seus depoimentos para o Cineclube Diversidade em 2018.
locais que possuíam veículos. O espaço se tornou conhecido nacionalmente a ponto de receber o apelido de “Cabana dos Artistas”. Nomes importantes da cultura brasileira frequentaram o espaço, dentre eles Maísa, Garrincha e Elza Soares.
Nessa época, a Grande Vitória também se transformou em um lugar de muita prostituição, segundo Edson. “Homossexuais e transexuais de outros Estados vinham para a capital capixaba, muitos nem se travestiam antes de chegar à cidade, e, em busca de alguma oportunidade na vida, eram acolhidos pelas cafetinas”, se recorda.
Como o número de homossexuais e pessoas transsexuais não parava de crescer na Grande Vitória, algumas pessoas, incluindo o Edson, tentaram, com ferramentas precárias, fazer um levantamento para identificar e controlar um pouco a atividade de prostituição entre as travestis.
“Começamos a contar quantas travestis e transexuais nós conhecíamos, fizemos listas e tudo. Saímos perguntando os seus nomes, o local aonde faziam ponto, de ontem vieram. Queríamos organizar um pouco a situação”. Com o tempo, essas listas se perderam, mas consideramos importante registrar que a vontade de fazê-las existiu.
Pouco depois, a região mais central da capital do estado, Vitória, começou a despontar como um point LGBT+. Várias casas foram abrindo e fechando ao longo dos anos, como o Vitorinha, atrás do Teatro Carlos Gomes; As Mangueiras; Pablo’s; Dreams, na escadaria Cleto Nunes; Bar do Rever, voltado para lésbicas, etc. É nessa época que surge o Bangalô, uma boate quase itinerante, pois abria e fechava de acordo com a disponibilidade dos aluguéis, rodando da Rua Sete e da Gama Rosa, no Centro, à região do Parque Moscoso. Sempre em estruturas mínimas e precárias, o Bangalô geralmente tinha apenas um pequeno espaço para performances.
Mais ou menos no mesmo período, existiu o Britz Bar, na confluência entre a Gama Rosa e a Praça Ubaldo Ramalhete, onde os shows das transformistas, como Waleska di Pigalle, traziam divertimento e um ambiente positivo, produzido com base em muita pesquisa na busca por uma representação mais fidedigna da artista que seria performada.
O Britz Bar foi um ambiente um pouco mais requintado e frequentado não só pelos ‘entendidos’, mas também por intelectuais da época e personalidades das elites capixabas que já não se dispunham a ir à Canoa Velha, como Hamilton de Almeida, Maria Nilce, Carmélia Maria de Souza12, Gleice Coutinho, Ventureira Golçaves e Atharé de Castro.
Aliás, Atharé de Castro, antigo vereador da cidade, levava as transformistas para performar e abrilhantar os encontros sociais da elite capixaba que realizava em sua casa. Ao som de piano, muitas delas cantavam ao vivo. Ednamara performava, nesses eventos, grandes nomes da música brasileira como Dalva de Oliveira, ngela Maria, Clementina de Jesus e outras grandes divas negras da época.
Andressa de Lavietein conta que as transformistas eram constantemente chamadas para se apresentarem em festas da elite, festas do governador, aniversário de personalidades, etc. Inclusive, segundo Ednamara, as transformistas fizeram shows no evento de lançamento do loteamento da Ilha do Boi, um dos bairros mais elitizados da capital, saindo de uma caixa no estilo das vedetes.
Como aponta a pesquisa realizada por Randas Freitas (2017), durante as décadas de 1970 e 1980, mesmo o Espírito Santo vivendo sob um “contexto político autoritário e munido de concepções conservadoras”, tendo em vista ser o momento ditatorial brasileiro, o “homossexual frequentador de uma vida pública em um contexto de controle político e social torna-se um ato de resistência e afirmação de uma identidade” (2017, p.1074).
Em sua pesquisa, o autor realiza um levantamento sobre a vida noturna da Grande Vitória desse período, identificando não apenas os locais onde os LGBT+ se socializavam, como também a segregação entre grupos a partir tanto dos interesses de sociabilidade, quanto de questões identitárias e sociais.
12 Carmélia Maria de Souza foi uma jornalista de família tradicional de Vitória que rompeu com a família para viver a vida em plenitude. Era amiga de todas as grandes figuras intelectuais. Ednamara e Andressa contam que ela conseguia conviver em harmonia tanto com o mundo marginal, quanto com a elite. Atualmente há um centro cultural em sua homenagem. O espaço que já conteve uma biblioteca, o maior palco de teatro do Espírito Santo se encontra, no entanto, em situação de descaso e abandono.
“A Praça Costa Pereira que ficava próximo ao Britz era palco de michetagem e de “gueis loucas”. Entre o Britz e a Praça Costa Pereira tem a Rua Sete de Setembro que poderia ser muito aproveitada, pela quantidade de bares. Ainda no Centro de Vitória o bar Marita’s na rua Nestor Gomes tinha roda de samba e oferecia muita animação por parte do dono. O bar Tricolor na Avenida Jerônimo Monteiro - principal avenida de Vitória na época - tinha a presença de michês e era destinado para quem faz a linha “lixo”, em suma, bar sujo com jukebox. Também existia uma segunda opção nessa mesma proposta do Tricolor que era o bar Sniff na Praia do Suá. O bar Santos com uma pegada tradicional em mesas de mármore, localizado no bairro Vila Rubim, era destinado a um público mais discreto com conversas mais íntimas. O Panela de Barro, no bairro Maruípe era ponto de quem gostava de ver militar, pois ficava perto do quartel da Polícia Militar. Na cidade de Vila Velha, no bairro Praia da Costa, o bar Vila Praia tinha uma pegada mais séria por estar em um bairro de classe média, em contrapartida no Centro da mesma cidade, no bar Vila era presente “michetagem suburbana”. No bairro da Glória em Vila Velha, o Che-guei que teve seu nome trocado para Cinderela a pedido de frequentadores “enrustidos” era um bar para o público gay. No bairro São Torquato o Bar-Sem-Porta e o Garrucha 44 foram antagônicos. O primeiro era para quem fazia a linha “pega para capar” e o segundo era frequentado por moças e oferecia muita cerveja e espaço para elas. Em Cariacica, no bairro Campo Grande, a discoteca Aquarius fazia a noite, que apesar de um “bairro pobre” era o berço de bares, devido ao seu calçadão e muitas cadeiras quem fosse poderia fazer a linha ‘fumando espero’” (FREITAS, 2017, p.1081).
A década de 1970 foi marcada também pela epidemia de duas doenças entre a população LGBT da Grande Vitória: a sífilis e a tuberculose. De acordo com Edson, muitos LGBT+ morreram em virtude dessas enfermidades. “Vários conhecidos tiveram as doenças, e vimos muita gente morrer. Foi a primeira vez que doenças específicas atingiam o nosso grupo, pois até então não existia a Aids”.
Um evento que ficou marcado na lembrança de Edson ocorreu durante a inauguração de uma importante via da cidade, a Avenida Nossa Senhora da Penha, mais conhecida hoje como Reta da Penha. Edson e alguns amigos foram à inauguração da via. “Chegamos lá e fomos to-
dos presos por nada, não fizemos nada. Todas as bichas foram presas e passaram a noite lavando os camburões da delegacia”, se recorda.
Um acontecimento em especial ficou na memória de Francisco Spala, no final da década de 1980. Havia uma escadaria no Centro da Cidade, próximo ao Parque Moscoso, onde três bares que atendiam o público LGBT+ foram abertos. Nos finais de semana era comum a região ser tomada pelas travestis e gays. Certo dia, esse público, porém, recebeu uma visita indesejada: cerca de dez camburões da Polícia Militar foram ao local e prenderam todos os LGBT+ que estavam nos arredores. “Eles fecharam os bares e prenderam todos os donos de bares que atendiam os gays da redondeza. Isso na época foi muito marcante para mim, mas não há relatos na imprensa nem em lugar nenhum. Éramos esquecidos mesmo, o jornal não falava sobre gays”, relata Francisco.
Sobre a repressão policial, Carlos se lembra de que havia até denúncias para prender os LGBT+. “Naquela época os policiais prendiam os LGBT+ só por serem homossexuais mesmo. Lembro-me que a policia subia alguns morros a pé para prender gays porque os moradores denunciavam a presença deles no local.”
“Já fomos muito apedrejados. Apedrejados mesmo, no sentido literal. Já fui espancado diversas vezes e preso também, apenas por ser LGBT+. Havia um campo de futebol no bairro Santa Lúcia e toda vez que eu passava por lá apanhava. Isso fazia parte do meu dia a dia”, conta Edson.
Ele explica que os enfrentamentos nas ruas eram frequentes. Eles aconteciam tanto contra a polícia, quanto contra a população. Tentativas de agressão ocorriam até no uso do transporte público a caminho das boates. Ou seja, a boate era um refúgio, mas o caminho até elas, um tormento. Segundo Edson, as transformistas não tinham medo, tiravam o salto e partiam para cima do cara, ou dos caras. Era a sobrevivência em seu estado mais instintivo.
Ainda sobre a violência vivida, Francisco Spala, uma das figuras mais emblemáticas da noite capixaba com sua personagem Chica Chiclete, conta que também já sofreu repressão policial. “Só por você ser gay, você já estava errado, era preso. Muitas vezes já me prenderam sem motivo algum, alegando que eu atentava ao pudor por ser gay”,
Segundo Carlos, em virtude dessa violência desenfreada, os participantes mais conhecidos do Triângulo Rosa, Amylton e Milson, por exemplo, não podiam ser assumidos em qualquer lugar. “Eles sabiam que isso poderia prejudicar até as suas profissões naquela época. As coisas tinham de ser ditas aos poucos, para que a gente não sofresse as consequências e fossemos perseguidos”.
Andressa conta que, apesar de não ter sofrido nenhuma agressão física, “já houve momentos em que eu estava chegando na boate e o carro com os caras com bastões de baseball ter acabado de passar e terem descido o cacete em quem tava entrando”. Isso se intensificou a partir da epidemia do HIV. A homossexualidade e todas as variações de gêneros não normativos passaram a ser ainda mais hostilizadas, indo encontrar espaço nos seus próprios guetos. Foi a partir daí que os espaços se tornaram legitimamente LGBT.
A chegada da epidemia de HIV ao Espírito Santo
Em meados da década de 1980, as terras capixabas conheceram o HIV. Nessa época, uma mobilização foi organizada e alguns LGBT+ promoveram eventos em hospitais, com a intenção de melhorar a qualidade de vida dos adoentados. Foi em 1986 que Francisco Spala se recorda de ter tido contato com a primeira pessoa com a doença.
Ele conta: “Eu, por acaso um dia, fui levar um amigo que descobriu que estava com Aids, já em caso terminal para o hospital. Naquela época não havia tratamento, a situação se desenrolava rápido demais. E como eu sempre tive um espírito de liderança, já quis começar a me movimentar para ajudar as pessoas que estavam naquela situação”.
Ao ver o tratamento dado aos portadores do vírus no único hospital do Estado para onde era possível encaminhar as pessoas que tinham HIV, o Hospital das Clínicas, Francisco decidiu que ajudaria aquelas pessoas da forma como pudesse. “Eu percebi que muitos eram colocados no hospital e esquecidos lá pela família e por todos os conhecidos. Ninguém conhecia aquela doença, a família não tinha informação ne-
nhuma e pensava que era um tipo de doença contagiosa. Naquele tempo, todo gay, que já era muito discriminado, passou a ser mais ainda por causa da doença”, conta.
“Nos tratavam como se a gente fosse uma praga. Qualquer doença naquele tempo era praga de homossexual. Eu e Edson, que somos pessoas negras, então, sofremos mais ainda, pois nos acusavam de ter a praga por sermos negros e por começarem os primeiros boatos de que o HIV vinha dos macacos. Confundiam tudo”, conta Carlos. Nessa época, muitas travestis eram assassinadas. Edson conta que muitos foram mortos exatamente por causa da disseminação da doença.
Essa década ainda foi marcada pelo aparecimento do silicone industrial na capital capixaba, que viria a se tornar um dos grandes problemas de saúde entre as travestis. O silicone industrial é feito com um material perigoso, que pode causar câncer, utilizado para impermeabilização de azulejos, limpar peças de avião, pneus e lustrar painéis de carro. Esse material era aplicado sem anestesia, com condições mínimas de higiene e de maneira ilegal. Muitas travestis tinham que utilizar entorpecentes para aguentar a dor.
A prática se disseminou com rapidez entre os rapazes que almejavam ter o corpo mais feminino, e era utilizada sem a menor instrução das consequências que isso poderia trazer aos seus corpos. Danos físicos devastadores, dores, deformações severas, dificuldade para andar e infecção generalizada, que levava a morte, eram consequências comuns em quem utilizava esse material.
A partir desse momento, de acordo com Edson, um grupo de homossexuais se reuniu com o propósito de fazer um trabalho de conscientização para que as travestis não utilizassem mais esse tipo de silicone, o que contribuiu para diminuir as ocorrências de mortes. Não é possível, no entanto, precisar numericamente quantas travestis colocaram silicone industrial naquela época, já que esse processo era feito de maneira ilegal e sem controle.
Também não existem estatísticas de quantos homossexuais morreram pela infecção generalizada provocada por meio do uso inadequado desse material, mas todos os relatos que tivemos acesso convergem para um número alto. Ainda hoje, mais de trinta anos depois, há rela-
tos de travestis que se utilizam desse método, em função do valor da aplicação.
O triângulo rosa
O Triângulo Rosa foi um grupo de discussão sobre a temática LGBT, fundado no dia 12 de março de 1987, em Vitória. A data, em 2013, se tornou o Dia Municipal Contra a Homofobia na capital do Espírito Santo como uma homenagem ao grupo, que contava com aproximadamente trinta e cinco integrantes.
Eles se reuniam prioritariamente no Teatro Carlos Gomes e se articulavm de maneira secreta, já que naquela época a homossexualidade e a transexualidade eram temas ainda bastantes desconhecidos da sociedade de maneira geral.
Sobre a escolha do nome Triângulo Rosa, o ex-participante e professor Carlos Alberto Santos explica: “O nome Triângulo Rosa fazia alusão aos campos nazistas, em que o símbolo de um triângulo rosa era utilizado para informar quais homens estavam no campo de concentração por serem homossexuais. É um nome forte e histórico que marcou o preconceito”, explica Carlos.
O grupo Triângulo Rosa era formado, basicamente, por professores, jornalistas, empresários e demais homossexuais em busca de informações acerca da sua condição e a fim de lutar contra o preconceito evidente que sofriam. As reuniões já foram semanais, às terças-feiras, quintas-feiras e aos sábados e mensais, em um outro momento, mas sempre realizadas de uma maneira escondida, para que não houvesse repressão policial.
Por contar com alguns integrantes intelectuais, o Triângulo Rosa era um espaço de estudo, muita leitura e discussão. Nas reuniões do grupo eram levantadas questões relacionadas à saúde, ao comportamento e ao preconceito, com uma intenção prioritariamente educativa, para formar melhor os homossexuais e possibilitar um entendimento, ainda que sem muita informação, de suas condições.
O grupo contou com a participação de importantes nomes da cultura capixaba como o escritor, jornalista, ator, diretor, poeta, desenhista e chargista, Milson Henriques, o poeta, ator, numerólogo e agitador cultural, Waldo Motta e o jornalista, escritor, dramaturgo e crítico de cinema brasileiro, Amylton de Almeida.
Sobre Amylton, Jeanne Bilich e Márcia Barros Rodrigues (2005) escreveram, no artigo “Amylton de Almeida – ‘O guerreiro dos ideais’ pela liberdade, democracia e cidadania”: “considerado um dos mais brilhantes intelectuais capixabas de seu tempo, produziu uma obra singular, caracterizada pelo ecletismo no campo sócio-político. (...) Foi admirado, adorado, temido e odiado. Porém, jamais foi ignorado pela sua luta contra a opressão do poder constituído sob o comando dos detentores de benesses e de privilégios emanados dos círculos oficiais. Imortalizou-se como defensor da democracia, da cidadania e da liberdade”. (BILICH E RODRIGUES. 2005, p.1)
Gay assumido, Amylton foi uma figura muito importante para a luta capixaba, propôs e levantou debates que a sociedade não discutia e atuou, principalmente na década de 1980, na luta pela emancipação LGBT+.
Sobre Milson Henriques, Duílio Henrique Kuster Cid escreveu, em um artigo produzido enquanto era aluno do programa de pós-graduação em História Social das Relações Políticas da Universidade Federal do Espírito Santo: “Milson Henriques é uma figura fundamental para se pensar a cena artístico-cultural capixaba, num período em que ela ainda engatinhava, tendo não só participado das mais variadas áreas artísticas como também, e mais importante, encabeçado uma série de ações culturais. (CID, 2008, p. 2)
Sobre Waldo Motta, Willian Berguer escreveu, em seu trabalho de conclusão de curso de graduação em Serviço Social da Ufes, em 2008, “Dossiê Identidades Capixabas: elementos para uma reflexão sobre as práticas e a política cultural”, que ele “(...) veio a ser reconhecido como um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea. Realizou um percurso militante no movimento gay, e enfrentou preconceito até hoje presente contra os homossexuais, acirrado com o surgimento da AIDS no início da década de 90”. (BERGUER, 2008, p. 24)
grande, já apanhei incontáveis vezes na vida por ser gay. O Triângulo Rosa era uma espécie de refúgio para nós, um local onde podíamos ser nós mesmos e entender a nossa condição no mundo”.
Carlos conta que as reuniões aconteciam no Teatro devido a influência cultural de Amylton de Almeida. “Ficávamos no apartamento do Amylton, que era na Rua Sete, no Centro, e de lá íamos para o Teatro Carlos Gomes. Ele ficava com a chave do teatro, por isso conseguíamos nos reunir lá. Por ele ser um jornalista reconhecido, nós tínhamos alguns privilégios como esse”.
Quando o grupo havia se tornado popular o suficiente para isso ser perigoso à sua existência, os participantes resolveram mudar seu nome e sua estrutura. Nesse momento o Triângulo Rosa tornou-se o Grupo de Apoio e Prevenção à Aids (Gapa).
O grupo sofreu mudanças ao longo da sua existência. Muitos participantes foram abandonando para realizarem outros projetos e outros foram se inserindo. “O grupo, embora tenha se modificado muito durante o tempo em que atuou, contou sempre com Amylton de Almeida na sua articulação”, disse Carlos.
No decorrer da década de 90, os membros foram se dispersando e se dedicando a outros projetos, o que resultou no encerramento da sua atividade. Além da dispersão natural, o grupo também sofreu repressão policial quando a sua atividade começou a tomar corpo e a luta se tornou mais pública, prejudicando, assim, as reuniões.
Com menos de dez anos de existência, atuação na capital e em algumas cidades do interior, com a proposta de ampliar os horizontes dos homossexuais, tornando-os mais cientes do seu lugar no mundo, o primeiro grupo organizado de militância LGBT+ no Espírito Santo finalizava as atividades.
A década de 1990 se apresentou como um tempo de menos repressão, proibição e de mais respeito para os LGBT+. “Ganhamos um pouco mais de visibilidade e dignidade e tivemos algumas poucas conquistas de espaços. Passamos a poder frequentar lugares que antes não podíamos”, explica Edson.
Outro espaço conquistado e destacado por Edson foi o do trabalho. Muitos LGBT+ passaram, a partir deste momento, a trabalhar em profissões que no período anterior não podiam. “Passamos a ser cabeleireiros, enfermeiros, cozinheiros. Começamos a poder realizar algumas funções como qualquer outra pessoa”.
Se por um lado a conquista de espaços foi um avanço, por outro, não encontramos nada muito além disso. Nenhuma política pública fora pensada para esse segmento da população nessa década e não soubemos da atuação de grupos lutando por direitos.
As mudanças aconteceram muito mais no campo da visibilidade LGBT+ e da desmistificação de algumas acusações do passado, como era o caso da “peste gay”. O Estado e o país não se retrataram com os homossexuais pelo estigma que lhes foi dado, mas não há como negar que, talvez até de forma natural, houve o encerramento da normalidade de algumas práticas, como a repressão policial pelo fato de se ser LGBT.
Em alguma medida, o comportamento da sociedade se modificou e os espaços conquistados por essa modificação prepararam o terreno para que na década seguinte o Movimento LGBT+ pudesse se inserir de maneira permanente na sociedade capixaba.
Já os anos 2000 foram marcados pelas primeiras ações institucionais pensadas para a população LGBT+. Muitas delas, entretanto, eram voltadas para a questão da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Ao longo da primeira década dos anos 2000, os primeiros grupos a discutir a questão LGBT+ após o final do Triângulo Rosa começaram a surgir.
É o caso da ACARD - Associação Capixaba de Redução de Danos, uma organização não governamental que foi constituída em 2001, e atua
elaborando e executando projetos de prevenção frente às epidemias do HIV/Aids e hepatites virais; da Ages - A Associação de Gays do Espírito Santo, sediada em Vitória, e o Grupo CORES e do Plur@l - Grupo de Diversidade Sexual, todos fundados em 2004; do Grupo Gold, quando ainda atuava apenas no norte do estado e da ALAH - Associação Linharense de Apoio à Homossexualidade em Linhares, o GRIHTO - Grupo Respeito, Identidade Homossexual, Trabalho e Orgulho, ambos fundados em 2005.
Em 2004, o Espírito Santo teve a sua primeira tentativa institucional de se implantar um projeto para o seguimento LGBT+, o programa federal “Brasil Sem Homofobia”, sem sucesso. Em 2005, um representante do Projeto Somos, Márcio Caetanos, esteve no Espírito Santo para se reunir com grupos que militavam em prol dos LGBT+ no Estado. O Projeto Somos21 foi lançado em outubro de 1999, e tinha como meta a capacitação de 24 grupos em 11 estados, num período de 3 anos, para realizar atividades de prevenção junto à população LGBT+ em relação ao HIV.
Fazia parte de suas ações a capacitação de lideranças, mas, por estar havendo uma dificuldade de esses militantes se deslocarem até o Rio de Janeiro, a proposta foi de que cada Estado recebesse in loco o seu treinamento “(...) numa ação conjunta do SOMOS, os grupos locais e órgãos governamentais, visando o protagonismo homossexual. Também está dentro de seus objetivos dar suporte para que os grupos se legalizem, virando ONG ́s e capacitar estas novas organizações a gerenciar suas ações, projetos e recursos”. (RIAN, 2005. p. 23)
De acordo com Chander Rian (2005), na Grande Vitória o Somos encontrou duas realidades bem distintas. No grupo CORES viu um grupo já em fase de legalização, com estatuto pronto, e no Plur@l, uma resistência interna forte para a legalização. Assim, até onde foi apurado, o Projeto Somos não conseguiu ter repercussão nem conquistar seus objetivos dentro do Espírito Santo.
Plur@l: o primeiro grupo a debater a diversidade sexual na Universidade Federal do Espírito Santo
Alguns alunos dos cursos de História, Letras, Ciências Sociais e Serviço Social, que se conheciam pelas afinidades de suas graduações e, também, por seus cursos se situarem em prédios próximos, sempre conversavam sobre questões que envolviam gênero e diversidade sexual de maneira informal.
No ano de 2004, após perceberem que estavam passando por situações parecidas - alguns vivenciando conflitos internos relacionados à sexualidade e outros, externos, como, por exemplo, a postura machista de algumas vertentes do movimento estudantil e em outros espaços – esses alunos resolveram se juntar e formar um grupo para estudar e produzir conhecimento sobre essas temáticas. Um dos objetivos dos alunos, com a criação desse grupo, era ter mais argumentos para intervir em espaços não conquistados e ter mais consciência de seus lugares no mundo. Em uma reunião informal, realizada na cantina do Centro de Ciências Humanas e Naturais, cerca de nove estudantes, com uma ideia na cabeça e vontade de sobra para realizá-la, fundaram o Plur@l – Grupo de Diversidade Sexual.
Criaram, então, como primeiro passo, uma lista de discussão na internet, hospedada no site Yahoo, a Plural-ufes. O segundo passo dado pelo grupo foi decidir sobre quais seriam suas atividades, o quê estudariam e como.
Luiz Claudio Fortuna Kleaim, um dos fundadores do Plur@l, se recorda dos primeiros momentos do grupo. “Nós pensamos: que vamos fazer? Vamos discutir texto, porque a gente tem que entender um pouco mais do assunto. O primeiro ou segundo texto discutido foi uma matéria da revista Opinião, que falava sobre o ‘homossexualismo’. Pegamos aquilo ali e discutimos, fomos vendo os argumentos e odiando, mas ainda não sabíamos como argumentar contra. E no semestre posterior, houve uma disciplina chamado Pensamento Feminista ofertada por uma professora das Ciências Sociais. Achamos importante alguns de nós participar e isso deu um gás, além de bibliografia pra gente correr atrás de mais textos. Fomos vendo as ligações entre gênero e sexuali-
dade, machismo e homofobia. Fomos crescendo e o grupo foi durando”.
Os integrantes do grupo consideraram interessante ampliar as discussões e promoveram seu primeiro evento voltado para os demais universitários no dia 9 de dezembro de 2004, o “Gênero e Plur@l”, que teve como tema “Gênero, Machismo e Feminismo”. Os palestrantes convidados foram os professores palestrantes Helerina Aparecida Novo (Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento da Ufes), Ana Lúcia Rezende (Cientista Social) e Thimóteo Camacho (Departamento de Ciências Sociais). Luiz Claudio Kleaim conta que eles colaram cartazes informando sobre o evento pelas paredes da universidade e que muitas pessoas apareceram. “Muita gente que foi adorou a nossa proposta, pegou nosso e-mail e nos procurou depois. Mas ainda tínhamos alguns problemas: não éramos muito organizados e não tínhamos sala ou espaço próprio”.
Com esse e outros eventos realizados pelo grupo, além de novos integrantes, o Plur@l ganhou visibilidade e passou a ser convidado para participar de outros espaços que tratavam de diversidade sexual, gênero, direitos humanos, machismo e homofobia fora da universidade. Com isso, conheceram cada vez mais militantes e ampliaram, de certa forma, sua atuação.
Dessa forma, o coletivo ganhou espaços públicos e políticos, junto a outros grupos e à Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos de Vitória. Paulo Gois, ex-integrante, explica: “a demanda local por esse tipo de reflexão fez com que o Plur@l extrapolasse o ambiente universitário e se tornasse um articulador, com outros grupos e organizações, junto ao poder público para a discussão e promoção de políticas públicas voltadas para a população LGBT”.
Com essa visibilidade, cresceu também a cobrança para que o grupo se tornasse uma Organização Não Governamental (ONG). Segundo Jésio Zamboni, por um bom tempo essa questão “perseguiu” o Plur@l. Em seu trabalho de conclusão de curso, Chander Rian falou um pouco mais sobre esse processo.
Depois da visita de um representante do Projeto SOMOS, uma discussão que não era prioritária no Plur@l foi levantada. A questão da legalização do grupo, se tornando uma ONG. O coordenador da Região
Sudeste do Projeto SOMOS veio em visita ao Estado e se reuniu com todos os grupos individualmente, para promover e dar subsídios para a legalização dos grupos. No Plur@l, ainda que no momento da reunião o grupo tenha se posicionado a favor e até discutido um cronograma junto ao coordenador para dar inicio ao processo, em relação a criação de estatuto, juntada de documentos, arrecadação financeira, etc; nas discussões intra-grupo, não há um consenso para a legalização do Plur@l, sendo que o maior receio é a perda de autonomia. Assim, tal discussão nem faz parte da pauta atual do grupo. (RIAN, 2005)
Para Luiz Claudio Kleaim o grupo não se tornou ONG por diversos fatores e, entre eles, o mais importante é que seus participantes eram, na maioria, pessoas com pensamento anarquista. “O fato de a gente não querer virar ONG no inicio foi porque a maioria das pessoas ali eram muito ‘anarco’. As pessoas mais sensatas, mais marxistas, até topavam, por conta de uma práxis politica, mas a maioria não”, explica.
Um problema enfrentado pelo grupo foi a falta de um professor que encampasse os seus objetivos. Por algum tempo, quando se tornou Grupo de Extensão, o Plur@l teve um professor que respondia burocraticamente por suas atividades, por ser necessário, mas que não atuava efetivamente com o grupo.
“Chegamos a ganhar uma verba federal de R$ 86 mil, em 2008, por meio de um edital para estruturar um centro de pesquisa em diversidade sexual e gênero. Só que era preciso uma contrapartida da Ufes. Corríamos de um lado para o outro em busca de papeis, assinaturas, mas percebemos que a universidade não tinha interesse e desistimos. Na atual estrutura, não dá para ter um projeto assim sem um professor que não encampe a luta”, explicou Jésio Zamboni.
Em 2005, o Plur@l construiu o Pacto Vitória Sem Homofobia junto com a Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos de Vitória, outros representantes do poder público e entidades da sociedade civil organizada.
Em setembro de 2006, entre os dias 7 e 10, apoiado pela Ufes, pela Prefeitura Municipal de Vitória e pelos Ministérios da Saúde e da Cultura, o grupo realizou o 4o Enuds – Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual, no campus de Goiabeiras, cujo tema foi “Singulares
Waldo, apesar de não ter uma participação ativa no grupo por muito tempo, se recorda de ter frequentado algumas reuniões e de ter ajuda a escrever alguns manifestos. “Eu participava de reuniões, cheguei a ir a palestras. A minha participação se resumia mais a acompanhar, pensar nos processos. Escrevi, também, um ou dois manifestos para o grupo. Minha função era mais de pensar, contestar, procurar caminhos alternativos, pesquisar e questionar as coisas”.
Waldo conta que a sua participação tímida se deu porque ele divergia um pouco dos métodos adotados pelo grupo. “Quando os participantes se contentaram muito com os discursos oficiais e passaram a se alinhar por eles, eu me desvinculei. Sempre fui muito contestador, desalinhado, eu não me sentia bem com aquela situação de medo, aquele alinhamento aos discursos dominantes. Eu mesmo me afastei do grupo”. Waldo não se recorda em que ano deixou o grupo.
Em entrevista ao Sou ES, em 2015, Motta deixou o seu protesto registrado contra o preconceito. “Pessoas enfurecidas, mal informadas, que pretendem estar agindo em nome de Jesus perseguindo homossexuais, eu ouso dizer, que eles são a própria besta do apocalipse. Porque besta é sinônimo de estúpido, de ignorante, de animal, de seres irracionais ou dotados de pouco raciocínio”, disse o poeta.
Segundo Willian Berguer (2008), autor do único material publicado que encontramos em nossa pesquisa que cita a existência do Triângulo Rosa, o grupo realizava, entre outras atividades, palestras em parceria com profissionais das áreas biomédicas na busca da cura para a AIDS e descriminalização dos homossexuais.
Em conversa com Waldo Motta ele revela: “Naquela época, nós, os homossexuais, estávamos com medo até de sair à rua, tão forte era a discriminação e o perigo que corríamos. Como bibas conscientes não podíamos deixar a situação assim: criamos o Triângulo Rosa para promover o diálogo, esclarecer a população e buscar a cura da AIDS” (BERGUER, 2008, p. 24).
O militante Edson Ferreira também participou do grupo, e se recorda com carinho das atividades. “A gente lia sobre diversos assuntos e discutia nas reuniões. Naquela época era muito difícil, ninguém podia dizer que era homossexual ou transexual. Isso era uma afronta muito
na Pluralidade: Políticas Públicas de Respeito à Diferença”. Trataremos sobre o Enuds no próximo tópico.
As atividades do Plur@l não se encerraram efetivamente de uma vez, mas a partir de 2011 a maioria dos integrantes do grupo teve de se dedicar a outros projetos.
Grupo Girassóis e a formação do Fórum Estadual
Em meados de 2004 a Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos de Vitória (Semcid) iniciava de forma ainda bem tímida os seus trabalhos voltados para o público LGBT+, ainda que sem uma formalização no organograma do município - que só vai, de fato, ganhar uma coordenação em 2010. Neste momento - aliado ao fato de que o Governo Federal era do mesmo partido que estava à frente da Prefeitura de Vitória, o PT, a Secretaria começou um movimento que se intensificava em todo o país em prol da garantia dos direitos de minorias, entre elas dos, à época, chamados de GLBT.
A Semcid então buscou ONG’s, grupos e associações que de maneira exclusiva ou tangencial debatessem a temática de orientação sexual e identidade de gênero. O militante Cleber Teixeira conta que na época encontraram alguns grupos como a ACARD, a AGES, Astraes e o Plur@l. “Eles entraram em contato e na época eu participava do Plur@l. Marcaram uma reunião com o intuito de iniciar um diálogo com a sociedade civil organizada. Para conhecer as demandas desses grupos, pensar ações específicas para eles”.
Cleber se lembra que o movimento foi atípico, uma vez que o comum é que grupos da sociedade civil procurem o poder público e não o contrário. “Começamos a fazer reuniões mensais que, além dos grupos LGBT+, também participavam secretarias como a de Segurança Pública, de Saúde e de Educação”, explica.
O Girassóis nem chegou a ser um grupo ou coletivo, na verdade. Essas reuniões ganharam este nome porque um servidor da Semcid criou um grupo de e-mails com os participantes daqueles encontros e como a dinâmica que haviam feito no primeiro encontro envolvia flores, re-
Com o passar do tempo e com as regularidades das reuniões, o Girassóis acabou chamando a atenção de grupos de outros municípios, que começaram a querer participar também. “Secretarias de outros municípios, Associações e Ongs da Grande Vitória e até do restante do estado nos procuraram e quando isso aconteceu começamos a entender que já estava se desenhando ali uma espécie de Fórum Estadual”, explica, Cleber. E acrescenta com orgulho: “Aquele grupo de pessoas que se reunia ocasionalmente e livremente para discutir de forma aberta e bem ampla começou a perceber que era necessário solidificar a luta. Foi assim que nasceu o Fórum Estadual em Defesa dos Direitos das pessoas GLBT - como era chamado à época, e o Fórum Municipal de Vitória”.
O Fórum Municipal de Vitória está desativado já há alguns anos, mas, por outro lado, o Fórum Estadual LGBT+ segue lutando, firme e forte no Espírito Santo.
Novos tempos, novas lutas
Quatro anos após a tentativa da implantação do programa federal Brasil Sem Homofobia, a 1ª Conferência Estadual de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais foi realizada no Estado. Por questões didáticas, resolvemos explicar melhor a implementação do programa “Brasil Sem Homofobia” e a Conferência Estadual no próximo capítulo, que retrata as ações implementadas, ou as tentativas de se implementar alguma ação, por parte do Governo do Espírito Santo, além de abordar a atuação efetiva da militância LGBT+ do final da primeira década dos anos 2000 até os dias atuais.
Com o desenvolvimento da Luta LGBT+ no Espírito Santo, no Brasil e no mundo, novas especificidades e segmentações foram surgindo espontaneamente. Sabemos que majoritariamente a história LGBT+, não apenas no Espírito Santo mas em todo o país, foi encampada principalmente por homens gays, mulheres trans e travestis, figuras importantíssimas para o desenvolvimento desta luta e para que novos tempos,
com novos atores, fossem possíveis. Mas é preciso também identificar os novos tempos, as novas lutas e os novos também protagonistas dessa história.
É o caso do movimento das mulheres lésbicas e bissexuais, dos homens trans e das pessoas não-binárias. É importante ressaltar, porém, que esse recorte se faz muito mais em um tom metodológico do que na historiografia em si, uma vez que, embora tais grupos de pessoas não se estruturassem anteriormente como movimento civil organizado, elas já existiam e lutavam por suas existências desde que o mundo é mundo.
A revolução sapatão: a história das lésbicas que lutam por visibilidade no Espírito Santo
Pode se dizer que o movimento organizado de mulheres lésbicas do Espírito Santo surgiu com a criação, em 2009, da Santa Sapataria - Coletivo de Lésbicas da Grande Vitória, primeiro - e até o momento único - grupo de luta dentro do espectro LGBT focado somente em mulheres. À época o grupo atuava na luta de mulheres lésbicas e bissexuais, mas isso foi revisto em 2019, quando as participantes perceberam que não havia uma única mulher que se autodeclarava bissexual.
A Santa Sapataria se originou na capital do Espírito Santo, Vitória, a partir da necessidade da inserção das pautas da mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais nos espaços feministas. Ariane Meireles, uma das fundadoras do grupo e atuante até os dias atuais, conta: “naquele ano de 2009, após iniciarmos uma pauta espontaneamente em um encontro do Fórum de Mulheres do Espírito Santo, a pauta das mulheres lésbicas e bissexuais começou a fazer parte daquele movimento”.
Sentindo a necessidade de se reunirem para conversar sobre as questões referentes às suas existências, Ariane e outras mulheres que se identificavam com a temática deram início, ainda que sem pretensão de fazer história, ao que seria o primeiro movimento de mulheres lésbicas do estado. “O nome Santa Sapataria veio da Pandora, uma mulher excepcional que nos ajudou a fundar esse coletivo. A ideia era
brincar mesmo com o santo do nome do estado em que vivemos, trazer a religião que, embora seja algo lindo, contribui muito para atrapalhar a nossa vida”. Foi assim que a Santa Sapataria surgiu.
Em 2009, porém, as mulheres lésbicas e bissexuais participantes do coletivo sabiam da dificuldade de tomar esse movimento para si, uma vez que por conta do preconceito muitas não podiam “levantar bandeiras” e dizer com orgulho sem se preocupar com as consequências que eram lésbicas. “Só eu, a Pandora e mais uma amiga pudemos levantar a bandeira naquela época. Mas embora parecesse pouco, já éramos três. Podíamos fazer algo, e fizemos alguns cartazes com palavras de ordem indicando que éramos sapatonas e que tínhamos orgulho!”, relata Ariane.
O ano de 2009 foi muito intenso, pois era uma grande novidade ter lésbicas organizadas na cidade de Vitória. “A gente ia nas casas das pessoas e chamávamos um monte de mulheres para conversar. Era massa! Fazíamos muitos encontros com cinema e com temáticas específicas”, conta orgulhosamente Ariane.
Do ano de fundação até meados de 2011, o pequeno grupo de mulheres foi convidado a ocupar todo e qualquer espaço que tivesse temática LGBT+ e que quisesse ter uma mulher falando. Isso, segundo Ariane, sobrecarregou bastante as integrantes.
Nos anos seguintes, até meados de 2017, o grupo continuou existindo e atuando quando podia, conforme surgiam convites para participações em eventos, ocupando mesas de debates e sempre contribuindo para a luta de alguma forma. A sobrecarga, porém, fazia com que os eventos promovidos pelas integrantes fossem cada vez mais escassos. Foi em 2018 que a vontade de retomar as atividades do grupo fizeram com que integrantes antigas e novas mulheres que gostariam de se organizar politicamente se encontrassem.
Dos encontros, nascia uma nova configuração do grupo, com mais participantes, mais energia e a mesma vontade de sempre de ajudar outras lésbicas pelo caminho. Da nova configuração vieram algumas atualizações: o coletivo passou a ter presença online com a criação de perfis em redes sociais, começou a promover encontros, oficinas, eventos próprios e, inclusive, publicações em formato de fanzine.
Um novo momento de luta também contava com pautas novas, como, por exemplo, a luta contra a invisibilização da mulher lésbica não apenas na sociedade como um todo, mas também dentro do próprio Movimento LGBT+ - não é à toa que quase não tivemos expoentes de mulheres lésbicas e bissexuais na parte mais histórica deste livro, por exemplo. Em busca da promoção de cada vez mais espaços para que as mulheres também pudesse contribuir para a luta LGBT+, o coletivo Santa Sapataria atuou e atua veementemente no estado.
Uma matéria publicada no Jornal A Gazeta em 2019 discute sobre a invisibilidade da mulher lésbica no estado e aponta: “as mulheres lésbicas ainda têm suas relações apagadas em diversos âmbitos da sociedade, principalmente por conta de que, muitas vezes, essas relações ainda são fetichizadas e ligadas aos desejos masculinos”. O material vai além e discute a interseccionalidade da questão. “Vale ressaltar que, no caso de mulheres negras e periféricas, essa violência e apagamento é ainda maior”, diz o artigo.
Por conta deste cenário, o movimento de mulheres lésbicas do Espírito Santo historicamente é reconhecido como um produtor de espaços de debates que relaciona orientação sexual com outras pautas sociais como a questão socioeconômica, feminista e de negritude/branquitude.
Uma conquista e tanto para o movimento de mulheres lésbicas do Espírito Santo foi a instituição da Marcha pela Visibilidade Lésbica, em 2018. A primeira edição da marcha, organizada pela Santa Sapataria, surpreendeu os participantes pela quantidade de pessoas e também pela animação. Em vez de somente marchar e gritar palavras de ordem, as mulheres lésbicas promoveram oficinas de tambores de latas e criaram um repertório específico para o evento, o que resultou no que chamaram de “batucada sapatão”.
A marcha, que já se repetiu em 2019, marca um importantíssimo passo para a luta das mulheres lésbicas no estado.
O movimento organizado dos homens trans pode ser considerado recente em todo o território nacional. No caso específico dos homens trans no Espírito Santo, foi somente em 2015 que o primeiro grupo focado nesse público foi instituído no território capixaba. Mais precisamente, foi no dia 30 de junho de 2015 que o Instituto Brasileiro de Transmasculinidade - Ibrat, de atuação nacional, iniciou sua jornada no estado.
Tudo começou, como de costume, com uma inquietação. “O Mateus Pedrini, pensando sobre questões de transmasculinidades, percebeu que no Estado não tinha muito estudo focado nisso e nem um movimento para essa luta específica. E então junto com o professor Alexsando Rodrigues, da Ufes, eles entraram em contato com o coordenador nacional do Ibrat e articularam o que viria a ser o primeiro evento 100% focado em transmasculinidade”, conta Murilo Lopes Teixeira, um dos integrantes do grupo.
O evento saiu, inclusive, na mídia local, o que contribuiu para que pessoas como o próprio Murilo pudesse ficar sabendo do movimento. Esta foi a “inauguração” do grupo e foi neste mesmo espaço que os homens trans presentes deram seus primeiros passos rumo a organização coletiva. “Formamos o primeiro núcleo do Ibrat naquele dia”, explica Murilo.
Ainda muito novos nos Movimentos Sociais, os homens trans contaram com a ajuda de muita gente nesses primeiro momentos, em especial a ajuda das mulheres trans, que de luta e de organização coletiva já entendiam há tempos. Nomes como Flavia Ravache, Viviana Corrêa e de Deborah Sabará são lembrados com carinho como pessoas que acolheram e ajudaram nesse processo.
Espaços começaram, desde então, a serem ocupados por eles e o desenvolvimento do coletivo vem acontecendo de forma constante. “A ideia do grupo sempre foi buscar reunir os meninos, passar informações importantes para frente e principalmente fortalecer a visibilidade. Também é sempre preciso mostrar os direitos e deveres que eles têm e ocupar os espaços que vão aparecendo para que a gente consiga influenciar os discursos e, por meio de políticas públicas efetivas, a vida
dessa população”, explica Murilo.
Uma grande conquista para esse movimento foi fruto de muita luta e determinação. Em parceria com a Defensoria Pública o grupo conseguiu garantir o respeito à identidade de gênero de travestis e transexuais interessadas e interessados na realização das provas do concurso público para o Corpo de bombeiros. Segundo matéria publicada no portal Século Diário, “a entidade entrou em contato com o Corpo de Bombeiros Militar com o intuito de defender a participação das travestis e transexuais no processo seletivo com respeito à identidade de gênero autodeclarada, conseguindo êxito, quando o Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo acolheu integralmente os argumentos expostos pela Defensoria e promoveu a retificação do edital do processo seletivo”.
Homem? Mulher? O movimento que questiona o binarismo
O termo Transgênero funciona como uma espécie de guarda-chuva que contém diferentes abrangências do espectro trans. Uma dessas abrangências diz respeito às pessoas não-binárias, ou seja: pessoas que não se sentem contempladas pela existência binária dos gêneros em que só se pode ser homem ou mulher. Essa temática é relativamente nova no Movimento LGBT+ do Espírito Santo, mas é importante ressaltar que todo movimento de visibilidade se inicia incipiente, por isso, faz-se essencial demarcar este lugar neste livro de memória.
Embora considerado ainda incipiente, é importante ressaltar que esse debate está acontecendo e crescendo a cada ano. “O debate em torno das pessoas não-binárias ainda acontece muito no campo pessoal aqui no Espírito Santo. Pessoas que se identificam dessa maneira levantam suas questões em espaços já politicamente organizados, mas ainda não fazemos esse debate como grupo social”, explica Helloy Scárdua, militante LGBT.
“As pessoas não-binárias enfrentam um problema muito específico que é ainda sentir muito medo de tocar neste assunto, uma vez que são pessoas dentro do espectro trans e que, por isso, primeiro precisam reafirmar a luta trans, antes de qualquer coisa. Se a sociedade ainda
tem tanto problema para compreender os transicionamentos de gênero - que são super binários, ou seja, as mulheres e os homens trans - como falar sobre as pessoas que não se enxergam dentro dos dois gêneros conhecidos por todos?”, questiona.
Mas, ainda que vagarosamente, a pauta tem andado no Estado. De acordo com Helloy, um grande avanço que podemos observar nos últimos anos é o crescimento do diálogo sobre as pessoas não binárias dentro do Movimento LGBT+. “A teoria queer e as demandas não-binárias têm feito parte de eventos das entidades que militam pela causa LGBT+ no Estado, o que, de fato, dá mais visibilidade para essa luta. Há muito para percorrer, mas, certamente, não estamos paradxs”.
Bissexuais: um movimento que pode ganhar mais força
Os que aqui chamamos de novos movimentos de luta LGBT+ são formados por pessoas em comum que decidiram encampar lutas coletivamente. Não necessariamente formando grupos ou entidades, mas dando um tom comum às reivindicações e chamando para si a responsabilidade da autoridade para falar sobre determinado assunto.
Assim aconteceu com as mulheres lésbicas na Grande Vitória, que, ao se organizarem coletivamente, deram um passo fundamental como grupo social e, ao longo de uma década de história, entre altos e baixos, ganhou maturidade suficiente inclusive para realizar marcha própria no Estado.
Quando se fala no movimento de pessoas bissexuais, entretanto, a sensação é que este passo ainda não foi dado. É evidente que existe luta bissexual no Espírito Santo e que ela é importante, porém o que pudemos observar ao pesquisarmos para a construção deste trabalho é que esse grupo de pessoas milita conjuntamente com a comunidade LGBT+ como um todo. E não há necessariamente problema algum neste cenário, só fazemos aqui o apontamento que, pelo menos até o momento, não existe nenhum grupo focado somente em pessoas bissexuais no Espírito Santo.
ser um dos próximos passos que o Movimento LGBT no estado pode tomar, mas também para provocar pessoas que eventualmente se sintam incomodadas com a situação.
No passado, a Santa Sapataria se autodenominava um coletivo de mulheres lésbicas e bissexuais. Tal característica foi revista pela nova formação do coletivo em 2018, quando o grupo se atentou para o fato de que trazia no nome a bissexualidade, mas que nenhuma de suas integrantes e/ou ações eram de fato bissexuais.
Como acontece com o movimento de pessoas não-binárias que ainda é incipiente, a pauta segue sendo debatida em eventos, datas alusivas e em alguns espaços. O que comprova que a luta não está na estaca zero e ainda tem inúmeros possíveis caminhos a seguir.
MOVIMENTO LGBT+ CAPIXABA 111
Posse dos conselheiros do 1º Biênio do Conselho Estadual para a Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos LGBTs, 2017.
1ª Marcha pela Visibilidade Lésbica do Espírito Santo, 2018. Foto: Thais Carletti.