Baú de Contos

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Realização

COORDENADORIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO DE SANTA BRANCA

Produção

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Prefácio Este livro foi produzido por professores de 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental da Rede Municipal da Educação de Santa Branca, durante a Oficina de Produção de Livro Infantojuvenil, realizada em 2013. Os contos são inspirados no imaginário e nos personagens da cidade de Santa Branca. Para nós, foi uma experiência muito rica trabalhar com os colegas, aprimorar nossos conhecimentos sobre as técnicas de produção literária e criar histórias para nossos alunos. Esperamos que você goste do livro! Professores da Rede Municipal da Educação de Santa Branca

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Ficha Técnica Coordenação da Oficina “Produção de Livro Infantojuvenil” Tatiana Baruel

Donizete Roberto da Silva e Nilza Martins

Professores Convidados Lucaz Mathias e Raico Rafael

EMEF “Professora Palmyra Martins Rosa Perillo” Adriana Cristina Moraes, Denize Silva Felinto, Maristela de Sousa e Renata Gomes do Prado de Almeida

O Segredo do Balaio

Revisão de Texto Valéria Ignácio Projeto Gráfico Lucaz Mathias Contos O Casebre Assombrado de Santa Rosa EMEIF(R) “Professora Maria Apparecida Fonseca” Ivana Cristina de Almeida e Vera Lúcia Quintino Graciano EMEIF(R) “Professora Marina Nogueira” Cremilda Cubas de Moraes e Rosane Aparecida do Carmo EMEIF(R) “Professora Sylvia Cantinho Braga Campos”

O Tesouro Escondido EMEIF “Professora Isaura Martins Rosa de Siqueira” Denise Valéria de Campos Camargo, Gabriela Fernandes de Moraes Soares, Nanci Aparecida Pires de Albuquerque Pansutti e Maria José Ribeiro do Nascimento Maria Graciana EMEF “Professora Benedita Pereira de Albuquerque” Fabiana Heloisa Teixeira, Francisca dos Santos de Brito, Graci Ana Pereira de Sousa, Maria Helena Baruel, Maria Regina dos Reis Azevedo e Rita de Cássia Renó da Silva Santos

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O Sumiço EMEF “Barão de Santa Branca” Gislaine Marciano da Silva Teixeira, Maria Valéria Sargaço, Marília Cafaro Velloso de Moraes e Roberta Wuo de Campos A Caveira do Porão EMEF “Barão de Santa Branca” Ana Beatriz Constancio, Cleusa Aparecida Siqueira e Lucimar Aparecida Martins de Oliveira Ilustrações EMEIF(R) “Professora Maria Apparecida Fonseca” Rafael Ramos S. de Siqueira Lucas Alcantara Graciano EMEIF(R) “Professora Marina Nogueira” Andressa Cubas de Moraes Madalena Wellington José da Silva

Souza, Davi Matias Batista, Giovanna Vitória Santos Gonçalves, Junior Ferreira Laurindo, Luiz Gabriel do Prado Balbino, Maria de Fátima de Moraes Barbosa Machado, Michele da Silva Prado, Nathan Gabriel Amaral, Peterson dos Santos Alvarez e Rafael da Silva Souza EMEIF “Professora Isaura Martins Rosa de Siqueira” Gabriela Fernandes de Moraes Soares EMEF “Professora Benedita Pereira de Albuquerque” Graci Ana Pereira de Sousa EMEF “Barão de Santa Branca” Marília Cafaro Velloso de Moraes e João Paulo Barreto de Oliveira

EMEF “Professora Palmyra Martins Rosa Perillo” Danielle Aparecida dos Santos

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Agradecimentos Agradecemos à Coordenadoria Municipal da Educação de Santa Branca, aos professores que participaram do projeto, compartilhando ideias, aos nossos familiares, ao apoio da coordenadora do curso de Produção de Livro Infantojuvenil, Tatiana Baruel e aos palestrantes Lucaz Mathias e Raico Rafael.

Dedicatória Dedicamos este livro a todos os alunos da Rede Municipal da Educação de Santa Branca.

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Índice

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O Casebre Assombrado de Santa Rosa

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O Segredo do Balaio

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O Tesouro Escondido

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Maria Graciana

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O Sumiço

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A Caveira do Porão


O Casebre Assombrado de Santa Rosa


E

uma das estradas que dá na encruzilhada dos bairros Santa Rosa e Mombuca, havia um casebre muito simples, que sempre estava fechado e era cercado de mistério. Diziam os moradores do bairro que o casebre era assombrado, cheio de fantasmas.

Quando esta história começou, o casebre já havia passado por vários donos,

desde um fazendeiro rico até o padre da paróquia. Ninguém suportava ficar lá por muito tempo. Até que um dia ouviu-se um comentário no bairro. Havia se mudado para lá seu Francisco de Paula, um homem muito humilde e misterioso. Logo que ele chegou no bairro, alguns moradores não tiveram boa impressão, pois achavam que ele era carrancudo, sistemático e não fazia muita amizade com as pessoas. Enfim, um homem trabalhador, mas de pouca conversa. Porém, outras pessoas se identificaram com o homem bom que ele demonstrou ser e começaram a pegar carona em seu caminhão, usado para transportar leite até o laticínio da cidade. Seu Chico, como ficou conhecido, aos poucos foi conquistando todos do bairro e fez muitos amigos. Numa madrugada chuvosa, com fortes ventanias, relâmpagos e trovões, um

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grande desastre aconteceu na Serra do Leitão. Com a estrada da serra escorregadia, Seu Chico perdeu o controle do caminhão, que caiu em uma ribanceira, e ele faleceu. Todos os moradores da região ficaram muito tristes com o que aconteceu e várias pessoas foram ao velório do Seu Chico para o último adeus. Juca, um morador do bairro Mombuca, foi dispensado da fazenda em que trabalhava e sem ter onde morar, mudou-se para o casebre abandonado em que tinha vivido Seu Chico. Muito confiante de que não existiam fantasmas, Juca não deu ouvidos aos comentários maldosos dos moradores. Eles diziam que aquele casebre ainda era habitado pelo espírito de Seu Chico e que ele voltava para lá a cada anoitecer. Juca respondia: – Eu não acredito em fantasmas, isso não existe! É imaginação desse povo que não tem o que fazer. Os dias foram passando e sempre que Juca se preparava para dormir ouvia ruídos do motor do caminhão descendo a serra. Ao olhar pela janela, Juca não via nada. Começou a desconfiar de que algo estava errado e a lembrar do que os moradores tinham lhe contado. Então pensou:

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“Será que existe um fantasma neste casebre? Custo a acreditar! Espero que isso não seja verdade, pois estou ficando com as pernas bambas e o coração acelerado!” Apavorado, Juca não conseguia dormir, já que todas as noites o barulho voltava e ficava cada vez mais perto e mais alto. Com muito medo, ele não pensava em outra coisa a não ser rezar. Então Juca contou para os seus amigos o ocorrido. Os antigos moradores do bairro disseram a ele que existia em Guararema uma ótima benzedeira e que ela poderia ajudá-lo a desvendar o mistério. Assim Juca fez. Pegou seu cavalo e foi até a cidade vizinha. Chegando lá, não conhecia ninguém, mas perguntou onde morava Dona Brasilina. Os moradores informaram que Dona Brasilina morava a um quilômetro da cidade e lá se foi Juca. Bateu na porta de um, bateu na porta de outro e, por fim, encontrou a benzedeira. – Dona Brasilina, venho até a senhora pedir uma ajuda. Todas as noites escuto um barulho de motor de caminhão e, quando vou até a janela, não consigo ver nada. Então a benzedeira respondeu:

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– Meu filho, é um espírito que precisa de muita oração e de ajuda. Vou lhe dizer o que você deve fazer para afastar o fantasma. Reze um rosário inteiro até que tudo volte ao normal. E assim ele fez. Numa noite quente, sentado em sua varanda, Juca novamente avistou ao longe o caminhão se aproximando. Ele estava todo carregado com latões de leite, balançando pra lá e pra cá, com os faróis acesos e vinha na direção de Juca. Com os olhos arregalados, Juca não acreditou no que viu. E ficou ali, parado ao ver seu Chico saltar do caminhão. Pasmo de medo, Juca criou coragem e, ao se deparar com aquele homem, perguntou: – Quem é o senhor? De onde veio? Qual é o motivo de sua vinda? Seu Chico, então, lhe disse: Sou daqui mesmo. Sempre estou por aqui, mas não quis incomodá-lo. O motivo de minha vinda hoje é para lhe pedir um grande favor. Para que eu descanse em paz, preciso que você continue o meu trabalho com todo carinho e dedicação, sempre ajudando a quem precisa. Juca, ainda sem acreditar, simplesmente respondeu:

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– Sim, se for por isso, descanse em paz. Eu continuarei o seu trabalho. Seu Chico então continuou dizendo: – A partir de agora posso seguir meu caminho e descansar. Obrigado por tudo. Então, seu Chico se retirou e seguiu até o fim da estrada, onde os olhos de Juca não mais puderam alcançar. No dia seguinte, Juca encontrou o caminhão no terreiro com os latões vazios, aguardando para que ele desse continuidade ao trabalho de Seu Chico. E Juca começou a realizar, dia após dia, sua missão incansável, ajudando a todos que vinham lhe pedir ajuda.

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O Segredo do Balaio


D

ona Rosália, que viveu mais de cem anos na Fazenda das Pedras, todas as noites reunia seus netos ao redor do fogão de lenha. Ali ela contava “causos” do lugar onde morava e os netos ouviam atentos. Certa noite, em um dos encontros,

Dona Rosália começou a contar uma história:

“Seu Tonico morava com sua família em um sitio aqui perto. Eles passavam por muitas dificuldades e essa situação causava revolta. Mas eles não sofriam como bons cristãos. Da boca do pai até o caçulinha só se ouviam palavrões, xingamentos e praguejamentos. A palavra que mais se repetia naquele lugar, por todos que ali viviam, era “desgraça”. Acontece que o tempo foi passando... Quanto mais desgraça saía da boca daquela família, pior ficava a situação dos pobres coitados, a ponto de não conseguirem mais colher nenhum pé de couve daquele sítio. Até a pobre vaca malhada, que dava só um pouquinho de leite, morreu. Seu Tonico, vendo que não podia ficar mais ali, juntou a esposa e os filhos e disse: – Desgraça! Não podemos mais ficar nessa desgraceira de vida, vamos embora desse lugar desgraçado!

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Então, juntaram todas as suas coisas em sacos de estopa, colocaram seus cacarecos numa carroça puxada pelo burrico sarnento e saíram rumo à porteira que dava acesso à estrada do Mombuca. O menino maior, Zezito, olhou a última vez para a casa e viu o balaio. A família começou a ouvir uma voz e Zezito disse para o pai: – Pai, não precisa pegar aquele balaio que ficou debaixo da árvore? – Não, filho. É um balaio velho que não serve para nada. Só vai ocupar espaço na carroça. Ao falar isso eles escutaram uma voz que vinha do balaio de bambu. A voz gritava muito, causando arrepios até nos últimos fios de cabelo de Seu Tonico e sua família. – Não me deixem aqui, me levem com vocês! Toda hora vocês me chamam, eu sou a desgraça escondida dentro do balaio! “

Quando ouviram o final desta história, os netos de Dona Rosália saíram correndo em desabalada carreira. E ela ficou olhando até que todos sumiram numa curva da estrada. Passados muitos anos, Tonico, um dos netos de dona Rosália, casou-se com

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uma linda jovem chamada Alice. Eles foram morar na Fazenda das Pedras, onde Tonico passou a infância. Alice trouxe em sua bagagem um balaio e o curioso é que ela não largava dele por nada. A vida dos dois não foi nada fácil. Por mais que Tonico arasse a terra, nada nascia ali; quando não era a geada que matava tudo, era a seca. Sempre que alguma verdura ou fruta vingava, ele não conseguia vender. O pouco leite que tirava de sua vaquinha magra azedava. Tonico chegava em casa e a janta não estava pronta. Ia tomar banho, a água estava fria. E dormir, nem pensar, o cachorro uivava a noite inteira. Essa situação já estava insuportável. Tonico não tinha ânimo para mais nada, enquanto Alice, nem de si própria cuidava. Até que, numa noite, Tonico se lembrou da avó e do tempo em que era feliz ao ouvir suas histórias. Então deu um pulo e arregalou os olhos! Lembrou-se da história do balaio. “Será que o balaio era o mesmo? Será que a história estava se tornando realidade?” Nesta noite Tonico não dormiu, ficou pensativo e muito nervoso. No dia seguinte, ele perguntou para Alice de onde tinha vindo aquele balaio de que ela não se desgrudava. Ela contou que o tinha encontrado em uma cabana

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abandonada, na beira da estrada. Nesse momento Tonico não teve dúvida! Decidiu colocar fogo no balaio. Esperou Alice dormir, levou o balaio para o quintal e fez uma grande fogueira. Altas chamas avermelhadas se espalhavam pelo ar! Quando Tonico voltou para o quarto, qual não foi a sua surpresa! Alice tinha desaparecido e ele encontrou apenas uma fumacinha das suas roupas chamuscadas e um cheiro muito forte de bambu queimado. Tonico descobriu que sua esposa era a própria “Desgraça”! Desde então, sua vida mudou para melhor. A fazenda tornou-se produtiva e ele livrou-se de toda a desgraça.

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O Tesouro Escondido


H

á muitos anos moravam coronéis riquíssimos na pacata cidade de Santa Branca. Um deles, senhor austero e influente, vivia num casarão, construído de taipa de pilão, bem no centro da cidade, onde hoje é o prédio da Câmara Municipal.

Lá pelos idos de 1940, esse antigo casarão passou a ser ocupado pela famí-

lia do senhor João Souza, fiscal da prefeitura. Seu João tinha dez filhos e eles adoraram a nova residência, pois ali havia quatro quartos grandes e uma cozinha enorme com fogão e forno a lenha. Havia também uma escada que levava ao porão, onde décadas antes ficavam os escravos e agora funcionava um bar. Elisabete, uma das filhas do Seu João, gostava de se sentar na escada e observar o movimento do bar do Seu Joaquim, que era cheio de guloseimas. Durante a noite, as crianças tinham medo do casarão, pois ouviam ranger as portas e os mais velhos diziam já ter visto uma mula sem cabeça pelos arredores. A tia Maricota, beata, se benzia dizendo: – Cruz credo! Por aqui, até a procissão das Treze Almas já vi! Nessa mesma época, apareceu na cidade um mendigo que atendia pelo apelido de Caranguejo. Era moço, de olhos levemente inchados, vestia uns trapos e andava trançando as pernas de bêbado. Dormia pelos bancos da praça e nas

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calçadas, comia o que as pessoas lhe davam. Caranguejo era boa pessoa e os moradores sempre o tratavam bem. Os finais de tarde eram os horários preferidos de Caranguejo para cambalear pelas ruas e, nesses momentos, quando passava pela calçada do casarão, sempre dizia: – Neste casarão tem ouro enterrado embaixo da escada! As pessoas riam dele e acreditavam que estava delirando. Numa tarde, Antônio, um jovem franzino e trabalhador braçal da prefeitura, estava sentado no banco da praça e ficou observando os delírios de Caranguejo. Então pensou: “Será que este mendigo está falando a verdade? Será que tem mesmo ouro no casarão? Pois se assim for, arranjarei minha vida para sempre!”. Então, Antônio procurou Caranguejo, quando este estava sóbrio, e perguntou se a história do ouro era verdade. – Tem ouro mesmo, pode acreditar – disse Caranguejo. – Então, precisamos combinar uma boa estratégia para fazer a escavação – falou Antônio. – É, mas ninguém pode ver a gente, tem que ser de madrugada – respondeu Caranguejo. E assim o fizeram.

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Na noite da empreitada, os moradores da praça estranharam, pois não viram Caranguejo cambaleando pelas ruas, nem cantarolando ou resmungando pelas calçadas, como era de costume. Empunhados de enxada e pá, iniciaram a escavação durante a madrugada fria. O bar de Seu Joaquim estava fechado e todos dormiam na casa de Seu João. Quase todos, menos Elisabete. A menina, com medo de assombração, se virava na cama e não conseguia pregar o olho. Quando começou a ouvir o barulho, sua imaginação foi longe. Elisabete tinha a certeza de que eram as almas dos escravos arrastando correntes e trabalhando sem parar naquele porão. Com frio na barriga, a menina cobria a cabeça e só rezava. De repente, gritou para o pai: – Papai estou com medo, tem assombração em casa! Seu João foi atender ao chamado da filha e, como também ouviu um barulho vindo do porão, resolveu olhar de perto. Os dois aventureiros, mais que depressa cavaram enormes buracos sem sucesso. Quando ouviram passos na escada, Antônio e Caranguejo se esconderam rapidamente e nem respiraram para não serem descobertos.

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Como Seu João não viu nada, acalmou Elisabete e foi dormir. Sentindo que o perigo havia passado, os dois rapazes continuaram a busca. Caranguejo dava as dicas de onde deveriam procurar, mas eles só encontraram pedaços de ossos e pedras. Até que em certo momento, quase desistindo daquela loucura, Antônio bateu com a pá em algo que tiniu. Confiante, gritou: – Achei, achei! E Antônio tinha encontrado mesmo! Era um verdadeiro tesouro, um pote cheinho de ouro reluzente, que ele e Caranguejo trataram de carregar dali o quanto antes. No dia seguinte, quando a cidade começou a despertar, faltavam dois habitantes, pois Antônio e Caranguejo já estavam longe. Foi então que Seu Joaquim, o dono do bar, se deu conta da escavação embaixo da escada e deduziu que o mendigo sempre tivera razão. Do mendigo, ninguém ouviu mais falar. Quanto ao Antônio, imaginaram que tinha se mudado. Anos se passaram, pessoas iam embora e pessoas chegavam para morar em Santa Branca. Foi então que Elisabete, moça bonita e faceira, conheceu um fazendeiro chamado Antônio Duarte. Os dois logo se apaixonaram e quiseram se casar. O pai da moça logo concedeu sua mão em casamento, afinal, tratava-se de

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um rico fazendeiro. O que mais um pai poderia querer para sua filha que sempre sonhara morar em palácios? Mas o que o pai da noiva não sabia é que esse rico fazendeiro guardava um segredo. Elisabete e Antônio se casaram, tiveram muitos filhos e foram felizes. Quando já velhinhos, o segredo do fazendeiro foi desvendado. Todos ficaram sabendo que Antônio era aquele trabalhador braçal e franzino da prefeitura, que acreditou no mendigo e fez fortuna. Ah! O Caranguejo? Ninguém mais ouviu falar dele.

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Maria Graciana


L

eonardo é um garoto muito esperto e adora passar as férias na casa da avó Nina, que mora no bairro do Taboão, em Santa Branca. A casa da Vó Nina é um lugar maravilhoso, cheio de árvores, animais silvestres, horta, flores e uma cadeira de balanço muito antiga.

Da última vez em que esteve lá, Leonardo encontrou-se com quatro primos.

Depois de um dia repleto de brincadeiras, peraltices e deliciosos quitutes, todos sentaram-se na varanda, esperando por mais uma rodada de “causos” da Vó Nina. Naquele dia, a Vó Nina não hesitou em assombrar os netos com o “causo” da Maria Graciana. E assim começou:

“Maria Graciana era uma mulher muito bonita, caridosa, e cuidava com muito carinho de sua cachorra Bolinha. Além de ajudar os pobres, rezava pelas pessoas doentes, alimentava os passarinhos que apareciam no seu terreiro e fazia farinha para vender na cidade. Seu marido, no entanto, era um homem bravo, invejoso, carrancudo, e que sentia muitos ciúmes da sua beleza e bondade. Aconteceu que, numa certa semana, Maria Graciana não foi à cidade vender

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farinha. As pessoas estranharam e começaram a procurá-la em sua casa, mas ela não saía para atender as visitas. E foram chegando mais e mais pessoas, provocando a fúria no marido de Maria Graciana que, aos berros, expulsou a todos dali. Indignada com a atitude do marido, Carlota, uma das melhores amigas de Maria Graciana, voltou no dia seguinte. Como a casa parecia abandonada, resolveu entrar, na esperança de conseguir alguma pista que a ajudasse a desvendar o mistério. No entanto, sua busca foi em vão. Muito frustrada, Carlota deu uma olhada ao redor e se deparou com um lenço caído no chão. Ao pegá-lo, notou as iniciais “M G” bordadas, o que aumentou a sua preocupação. Então Carlota decidiu procurar na vizinhança, mas ninguém tinha notícias sobre sua amiga. Depois de muito andar, Carlota voltou à casa de Maria Graciana. Chegando lá, ouviu os latidos de Bolinha, que vinham do bananal nos fundos do terreno. Carlota seguiu na direção dos latidos sofridos e, para sua surpresa, avistou a cachorrinha de Maria Graciana remexendo a terra no meio do bananal. Diante disso, foi procurar ajuda, pois percebeu que havia algo errado.

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Alguns homens vieram, munidos de ferramentas, e começaram a cavar para descobrir o que estava enterrado ali e que incomodava tanto a pobre Bolinha. A grande descoberta espantou a todos! Os homens encontraram o corpo da Maria Graciana, de bruços na cova, toda arranhada. Apesar da pressa em retirá-la dali, infelizmente, não foi possível salvá-la. Maria Graciana estava morta. Houve o maior alvoroço naquele lugar e os olhos curiosos buscavam explicações para apontar um suspeito... Quem teria coragem de fazer tamanha maldade? Naquelas circunstâncias, só havia uma pessoa com desejo de pôr fim a tanta bondade e beleza: o marido de Maria Graciana! Chamaram o padre da paróquia e o delegado da cidade. E, então, levaram o corpo para o cemitério, num cortejo acompanhado por muitos amigos e curiosos. Terminado o enterro, o povo se revoltou contra o marido de Maria Graciana, que fugiu da fazenda para não ser linchado. Apesar de tantas andanças, soube- se que ele foi parar numa cadeia. Maria Graciana se foi, mas sua bondade ficou para sempre nos corações dos santabranquenses.”

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E assim, tranquilamente, a Vó Nina encerrou aquele momento mágico com os netos... Leonardo, porém, ficou imaginando cada detalhe, ávido por outra oportunidade de viajar nas histórias de sua avó, sentada naquela cadeira de balanço.

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OOSumiรงo Sumiรงo


N

a escuridão daquele porão, os alunos da escola Barão ssempre ouviam barulhos misteriosos que lhes soavam demasiadamente exagerados. Segurando um cabo de vassoura nas mãos enrugadas, com

unhas compridas e avermelhadas, aparentando uma bruxa velha, Dona Nerey interrompia aqueles ruídos, com simples, porém fortes, batidas no assoalho. Ninguém sabia do seu passado, mas já havia algum tempo que essa diretora comandava a conceituada escola Barão. Mesmo amedrontados, os alunos nutriam uma curiosidade insaciável por sua vida. Numa manhã cinzenta, triste com o desaparecimento do seu gato preto, Renan, do 3º ano C, passou pela assombrosa criatura sem ao menos notar a sua presença. Em uma conversa informal no recreio, Renan e seus amigos descobriram que outros gatos também haviam desaparecido naquele início de agosto. Entretidos na conversa, os meninos não escutaram o badalar do sino que Dona Nerey tocava. E como castigo ela ordenou que o inspetor Waldisney, seu braço direito, levasse os alunos para o temido porão. Largados a sós e com muito medo daquela escuridão profunda que habitava o porão, Renan e seus amigos ouviram passos. Acharam que era Dona Nerey com seu

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famoso cabo de vassoura. Entretanto, era apenas Maneco, o valentão aluno do 5º ano B que tinha ido buscar o esqueleto para sua aula de Ciências, pois era o único corajoso a entrar lá. Maneco, curioso, quis saber o que tinha acontecido. Diante dos fatos narrados pelos colegas, Maneco logo propôs que eles investigassem juntos o desaparecimento dos gatos. – Ei galera, tive uma ideia! O que vocês acham da gente brincar de detetive? propôs Maneco. – Não, pode ser perigoso... Só por não termos ouvido o sino já estamos aqui de castigo, imagine se pegarem a gente espionando... - respondeu Luís Rodrigo. – Para de ser medroso! Vai ou não vai? - insistiu Renan. – Eu estou dentro! - falou Dayana. – Eu também - disse Filipe Os colegas concordaram. Assim que fecharam o acordo, Maneco notou que havia pelos de gato no esqueleto e ficou muito surpreso. Intrigados com a descoberta, todos comentaram a estranha coincidência entre os pelos e o porão. Afinal, quem passava mais tempo ali era Dona Nerey. – Gente, só pode ser aquela bruxa! Ela não sai daqui - disse Dayana.

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Dona Nerey passou, então, a ser observada constantemente por esse pequeno grupo de crianças. Certo dia, Maneco saiu de sua sala para devolver alguns livros e viu quando Dona Nerey entrou no porão. Curioso como era, resolveu seguir os passos da misteriosa diretora e ficou surpreso quando, escondido atrás das prateleiras, flagrou Dona Nerey limpando sua roupa coberta por pelos. Diante de tantas descobertas, Maneco não perdeu tempo e junto a seus novos aliados, Dayana, Luís Rodrigo e Filipe, decidiram investigar a fundo o caso. Pensaram em começar pela casa de Dona Nerey, que era a maior suspeita até então. Marcaram a grande data da investigação para a próxima sexta-feira, dia 13. Os amigos, ansiosos, ao invés de tomar o caminho para a escola, pegaram o rumo da casa de Dona Nerey. Aparentemente, era uma casa normal, apesar de muito grande, com janelas e portas no estilo colonial, pintada num tom bege, desbotada e pouco aconchegante. Com olhares espantados, os meninos ouviram miados. Então Maneco teve a ideia de pular casa adentro. Renan ficou indignado com aquela atitude, mas não demorou muito para mudar de opinião e o seguir, pois queria saber se os miados eram do seu gato preto.

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Espionando cada janela, com leveza nos passos para que não fossem flagrados por alguém, os meninos se depararam com a porta de onde vinham os miados. Maneco, rapidamente, tomou a frente do grupo. E, passo a passo, os meninos entraram naquele misterioso cômodo. O lugar era escuro, mobiliado com móveis antigos e repletos de figuras de gatos. Confiantes de que estavam no caminho certo da investigação, os meninos foram avançando até que avistaram um cesto enorme, ocupado por vários gatos. Eram muitos, como eles nunca tinham visto. Foi então, que os amigos começaram a entender a razão pela qual as roupas de Dona Nerey estavam sempre repletas de pelos. Renan passou a vasculhar a casa e, de repente, viu seu tão procurado gato. O bichinho, porém, correu em outra direção. Na ansiedade de pegá-lo, Renan e seus amigos invadiram um quarto e se depararam com Dona Nerey. Indignada, ela começou a gritar: – O que vocês estão fazendo aqui, seus pirralhos? Vocês não sabem que invadir propriedades alheias é crime? Renan, furioso com aquela situação, rebateu: – E a senhora? Não sabia que roubar gatos também é crime?

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Dona Nerey, mesmo sem forças, saltou da cama e começou a correr atrás dos meninos, gritando histericamente. Mas sua fraqueza era tanta que ela teve que se apoiar no sofá. Entregue, Dona Nerey chorou bastante. Mesmo não entendendo a situação e com um certo receio, os meninos se aproximaram dela. Maneco, atrevido como era, perguntou o que estava acontecendo. E foi quando, para o espanto de todos, aquela velha diretora mostrou sua fragilidade. – Desde a morte da minha querida mãezinha, vivo sozinha nesta imensa casa e a única maneira que encontrei de afastar a solidão foi a convivência com os gatos. – Mas... roubar gatos? - perguntou Renan. – Ninguém me daria gatos, pois sou uma pessoa fechada. O pessoal daqui acha que sou rancorosa e assustadora, mas eu sou apenas uma mulher sozinha. Comovido com a situação, o grupo se propôs a ajudar Dona Nerey a modificar sua imagem diante da sociedade santabranquense. Em troca, ela deveria devolver todos os gatos roubados. Na segunda-feira, todos voltaram para a escola contentes por terem desvendado o mistério dos gatos. Porém, mal sabiam que no portão estava Jandirinha, do 1º ano C, chorando pelo sumiço do seu cachorrinho...

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A Caveira do Por達o


N

um passado não tão distante, os alunos sentiram verdadeiro pavor com a chegada da austera diretora Helena, que acabara de ingressar no Grupo Escolar Barão de Santa Branca. Helena era moça, mas se tornava trinta anos mais velha

devido ao seu jeito de se vestir: tailleur cinza, coque baixo na nuca, sapatinhos pretos de meio salto e meias finas de nylon. Os professores a receberam muito bem, mas os alunos esperavam uma diretora mais liberal e revolucionária. Logo no primeiro dia, Dona Helena impôs suas regras rígidas e apresentou várias punições aos alunos que não as cumprissem. A maior delas era ficar de castigo dentro de um temido porão, onde diziam que havia barulhos de correntes e caveiras por todos os lados. Na escola também trabalhava o Seu Tião, um inspetor que organizava as atividades no pátio. Ele era um homem alto, forte, com semblante muito severo, mas de grande coração! Toda sexta-feira, os alunos costumavam jogar bolinhas de gude no pátio de saibro até Seu Tião pegar o pesado sino dourado e chamá-los para formar a fila e cantar o Hino Nacional. Era uma sexta-feira treze. Após o recreio, os meninos já cheiravam a “cou-

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rinho queimado”de tanto correr, e saíram para formar a fila. Todos em posição de sentido, tomaram distância de um braço, com cabeça atrás de cabeça, pois a diretora era brava como general e não dava mole! Ao cantar o Hino, lá perto do verso “Fulguras, ó Brasil, florão da América”, um barulho de bolinhas de gude ecoou pelo chão e se espalhou pelo pátio. Pobre do Pavãozinho! Seu saquinho de plástico com as bolinhas tinha rasgado. Chiquinho, o melhor amigo do Pavãozinho, nessa hora ficou mais branco que uma cera, mas a “dona da arte” ria, ria e ria... Siluzinha estava sempre envolvida nas maiores traquinagens da escola e furou o saquinho de bolinhas do peralta Pavãozinho. Por causa disso, os três alunos foram levados pelo Seu Tião à diretoria. Na época, os alunos precisavam subir toda a escadaria, pois a sala da Direção ficava no andar superior ao porão. A sala tinha janelas grandes e assoalhos que rangiam. As crianças ficaram esperando imóveis, sem pronunciar uma só palavra, até que ouviram o “toc, toc, toc” do salto dadiretora. Irada, Dona Helena subia os lances da escada, com o livro preto na mão e pronta para pronunciar o castigo dos pequenos: passar todo o final do período dentro do porão.

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As crianças assinaram o livro preto e foram levadas por Seu Tião até o local do mais temido castigo. O porão escuro parecia um calabouço, tinha ratos, aranhas e todos morriam de medo! Era tarde e a claridade entrava pelas frestas das grades do porão. Ainda eram muito fortes os ruídos das salas de aula e as vozes das professoras a ensinar o “be-a-bá” para os alunos. Siluzinha, mesmo preocupada, cantava, brincava, saracoteava, sujava todo o guarda-pó, e explorava os vários cômodos e salões do porão. Enquanto isso, os meninos Pavãozinho e Chico estavam morrendo de medo de encontrar a temida caveira, tão comentada pelos alunos da escola. Ao soar o sino no final do período, todos foram embora. As três crianças ficaram ansiosas esperando Seu Tião tirá-las do castigo, mas ele não apareceu. Seu Tião tinha saído apressado, de tão atribulado que estava ao entregar os alunos no portão e também porque naquele dia ele iria cantar uma música do Legião Urbana, no casamento de sua sobrinha. O inspetor passou a corrente no portão e se esqueceu dos alunos confinados. Siluzinha, Pavãozinho e Chiquinho viram o silêncio da escola e começaram a gritar “Socorro, socorro! Queremos sair daqui!”. Os gritos das crianças tomaram

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conta do porão, mas a escola já estava sem ninguém. Os pais dos alunos castigados perceberam que seus filhos não chegavam em casa e, preocupados, saíram em busca deles pelas ruas da cidade. Foram às casas dos colegas de seus filhos, mas não encontraram ninguém.Todos tinham ido ao casamento, acontecimento único da ilustre família do Jota. Enquanto isso, lá no porão, tudo acontecia... Pavãozinho dizia chorando: – Nossa! Está começando a ficar escuro! Dizem que de noite os livros, os cartazes e até a mobília vão tomando forma de figuras assustadoras. – E eu que nem tenho nada a ver com isso! Sempre sobra pra mim. Vocês fazem a arte e eu é que levo a breca- disse Chico. – E você, Siluzinha, está contente pela arte que fez? E agora como a gente vai sair daqui? – perguntou Pavãozinho. – Quietos! Vocês estão parecendo dois bebezinhos chorões que perderam a mamãe... Tratem de se comportar como crianças inteligentes! – disse Siluzinha. A menina, então, propôs uma visita noturna às salas do porão, embora tivesse verdadeira paura da caveira que poderia haver naquele lugar. Pavãozinho, soluçando e muito pálido, perguntou à menina:

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– Como a senhorita “Sabe Tudo” pretende nos tirar daqui? Siluzinha respondeu: – A minha tia Zefina me disse que existe uma passagem secreta no porão. E que, no lançamento da pedra fundamental da escola, foi enterrado aqui um baú com moedas da época e um mapa que revelava o segredo desta passagem secreta. – Nossa, que emocionante! – disse Pavãozinho, limpando as lágrimas do rosto. Acho que a nossa busca pela passagem secreta será uma grande aventura! – Espero que sim! – disse Chico. As crianças começaram a olhar por todos os lados, buscando alguma pista para sair daquele lugar. Batiam em todas as paredes e estantes, procurando a passagem secreta. Até que Siluzinha assustou-se com um rato e resolveu segui-lo com uma vassoura na mão. Enquanto isso, Chico e Pavãozinho gritavam de medo das aranhas, em cima dos livros antigos. Siluzinha tentou pegar o ratinho, mas ele foi mais esperto do que ela, e entrou por um buraco no chão. A menina bateu a vassoura perto do lugar em que o ratinho tinha entrado e percebeu que o assoalho estava oco. Gritou e chamou os amigos para tentarem

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aumentar o buraco. Quem sabe achariam uma saída? Chico pegou uma enxada que estava por ali e começou a cavar. Para surpresa de todos, lá estava o baú enterrado em 1914, no lançamento da pedra fundamental! As crianças abriram o baú com cuidado e encontraram as moedas antigas e o mapa que mostrava o caminho da saída secreta do porão. – Nossa! Sexta-feira 13 é nosso dia de sorte! Encontramos mais que um tesouro! – disse Siluzinha sorridente. Os três amigos seguiram as orientações do mapa, mas a cada passo que davam o porão ficava mais escuro e parecia mais perigoso. Afinal, naquele lugar parecia estar também a pavorosa caveira. Siluzinha chegou à última indicação do mapa e deparou-se com grades. Então os meninos começaram a forçar até que conseguiram tirá-las. E bem na frente deles havia um túnel muito escuro. Pela fresta de uma janela, a claridade do luar iluminou uma parede perto do lugar onde estavam as crianças. Foi aí que apareceu a temerosa caveira, grande e desengonçada. Ela seguiu em direção às crianças, gargalhando assombrosamente, causando ainda mais pavor aos pequenos.

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– Eu sou a famosa caveira do porão da Escola Barão e gosto muito de assustar crianças desobedientes, arteiras e teimosas! E vocês, o que fazem aqui? Aonde pensam que vão? – Somos crianças bem educadinhas, mas fomos mal compreendidas pela diretora! Queremos sair deste lugar! – respondeu Siluzinha. A caveira sorriu mais alto ainda: – Querem me enganar, seus peraltas? Vou pegá-los e levá-los para o meu mundo assombroso! E vou fazer desta escola uma legião de caveirinhas! Hahahahahahahahaha! As crianças entraram no túnel e começaram a correr. A caveira corria atrás delas como um gato faminto em busca de ratinhos. Pavãozinho tropeçou e caiu em uma pedra, mas Chico o levantou. Mesmo com dores no joelho, Pavãozinho continuou correndo. Siluzinha corria mais atrás. Desesperada, parou e resolveu atacar a caveira. A menina deu muitos pontapés e quebrou toda a inimiga! Os meninos não acreditavam que a amiga tinha conseguido atacar a caveira com tanta facilidade, mas lembraram que Siluzinha era faixa preta no judô. Siluzinha, Pavãozinho e Chico chegaram ao final do túnel, e quando abriram

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a porta de madeira, estavam embaixo da escada da Câmara Municipal. Enquanto isso, os pais das três crianças foram à festa de casamento para perguntar se o inspetor Tião sabia de algo que pudesse ajudá-los. Foi aí que Seu Tião parou de cantar e lembrou-se que tinha esquecido as crianças trancadas no porão. Quando estavam a caminho da escola, já na Praça Ajudante Braga, os pais das crianças e Seu Tião ouviram vozes que vinham do porão da Câmara Municipal. Então os adultos pararam e perceberam que eram as vozes das três crianças, mas não entenderam nada. Seu Tião, muito nervoso, entrou no prédio e viu que os meninos estavam bem, apesar do susto. – Ufa! Ainda bem que conseguimos escapar da caveira! - disse Chico. Achei que ela iria nos pegar... Chico e Pavãozinho gritaram de alegria, afinal não era sempre que se deparavam como uma menina tão destemida. Os pais das crianças riram e não acreditaram na história da caveira que elas contaram. E também ficaram surpresos em descobrir que o porão tinha uma saída secreta. No dia seguinte, os pais levaram as crianças à casa da famosa benzedeira da

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cidade, a Dona Elisa. Eles achavam que as crianças ficariam muito assustadas e não iriam mais estudar. Dona Elisa benzeu as crianças, que saíram serelepes, prontas para outra arte. A benzedeira recomendou aos pais que dessem chá de hortelã com chifre de carneiro, pois isso tiraria o susto dos pequenos. Diante da benzedeira, Siluzinha, Pavãozinho e Chico prometeram que nunca mais fariam travessuras na escola. Assim, não precisariam voltar ao temido porão. Afinal, as crianças poderiam encontrar outras caveiras por lá, mas agora não havia mais o mapa da saída secreta, pois ele fora perdido durante a correria no túnel. Siluzinha, que não tinha tanta certeza da sua promessa, olhou para seus pais com uma carinha de anjo, mas colocou as mãos para trás. Então fez uma figuinha para se garantir, caso não conseguisse cumprir o combinado. Até hoje ainda não se sabe se Siluzinha e seus amigos se aventuraram de novo em busca do mapa da saída secreta, que ainda é protegida pela lendária caveira do Barão.

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