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TERÇA-FEIRA, 24 DE JUNHO DE 2008 O ESTADO DE S. PAULO
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Teatro Mostra:
A grande arte de brincar no palco Grupo Pod Minoga, que marcou época com irreverência e improvisação nos anos 70, ganha exposição-tributo a partir de hoje DIVULGAÇÃO
NAUM:“OSESPETÁCULOSTINHAMDEFEITOS,MASACRIATIVIDADEERATANTA...”
FESTA DE CORES – Fundadores tinham bagagem de artes plásticas e a dramaturgia era feita no calor da cena
Livia Deodato
Há sete anos, quando estava de mudança para um novo apartamento, o ator Carlos Moreno se deuconta da quantidade de materiais guardados de uma época um tanto saudosa: eram anotações diárias de futuros textos teatrais,cartazes, panfletosefitas de vídeos sem áudio do grupo Pod Minoga Studio, fundado em 1972 por ele, Naum Alves de Souza, Flávio de Souza, Mira Haar e Dionisio Jacob. Decidiu encabeçar, então, um projeto que relembrasse os momentos mais marcantes do grupo que se tornou reconhecido por um trabalho ousado, que partia de improvisações para a criação
deobrasautoraisinéditas,desafiando a ditadura vigente. Graças ao patrocínio da Bombril e apoio do Sesc São Paulo, será inaugurada hoje uma rica exposição, arquitetada por Felippe Crescenti, contando a história desse grupo que teve fim no início dos anos 80 – uma duração curta, porém intensa. “Quando nos juntamos éramos crianças; eu, por exemplo, tinha 12 anos. Com o passar dos anos, e nosso conseqüente amadurecimentoindividual,seria natural que tivéssemos outras vontades profissionais”, justifica Moreno, sobre o término da companhia. Àprimeiravista,osinteressadosemencenartextosdoPodMi-
Visuais Mostra:
Grafiteiros levam sua técnica para museu gaúcho Até pista de skate é incorporada à exposição dedicada à cultura urbana LUCAS FRASÃO/ AE
IN LOCO - O artista conhecido como Nunca usa spray como tinta
Lucas Frasão PORTO ALEGRE
A arte de rua vai invadir os salões de um museu de Porto Alegre, em exposição que começa hoje e fica em cartaz até o fim de setembro. Pelo menos à primeira vista, essa é uma combinação inusitada. Considere, por exemplo,a“pista”deskatemontadanosaguãoprincipal doprédio,construídoem1932,emestilo neoclássico – onde funciona, hoje, o Santander Cultural. A plataforma de madeira, projetadapara skatistasprofissionais convidados e aberta também aos visitantes, é um dos destaques da mostra, cujo nome é longo: TRANSFER _cultura urbana. arte contemporânea. transferência. transformações. Além disso, a “pista” tem tudo a ver com a proposta da exposição,de refletirsobre aarte produzida nas ruas das grandes metrópoles. Cerca de 300 trabalhos estarãoexpostos,entre pinturas,vídeos e fotografias. As obras são assinadas por mais de 100 artistas, brasileiros e estrangeiros. “A maioria não fez universidade e hoje circula pelos corredores das artes visuais”, disse o gaúcho Lucas Ribeiro, um dos curadores da exposição. O grafiteiro paulista Francisco da Silva, mais conhecido comoNunca,éumdosgrandesnomes no cenário artístico urbano brasileiro. Ele viaja o mundo para mostrar seus desenhos. Em 2007, esteve no Instituto de Arte Moderna de Valência, na
Espanha. E, na semana passada, expôs trabalhos de sua autoria na África do Sul. Mas voltou de lá com uma forte dor de garganta, e talvez não consigafinalizar suaobrapara a inauguração da mostra do Rio Grande do Sul. Nunca,o artista, foi um dos convidados pela organização do evento para fazer a sua pintura in loco. De spray na mão e máscara grudada no rosto, ele fazia os primeiros traços de um desenho exclusivo quando foi fotografado pela reportagem do Estado, há dez dias. O grafiteiro vai fazer parte do núcleo Street Fine Art, um dos quatro que dividem a mostra. No eixo Mauditos, estarão expostas algumas capas de discos e ilustrações, como os fanzines de Billy Argel. A “pista” vai ficar na seção Intervencionistas, que também terá exibições de documentários sobre intervenção urbana no Brasil. Ainda haverá trabalhos inéditos de 27 artistas no núcleoBeautiful Losers, cujo nome faz referência a um influente projeto de arte urbana, que nasceu na América do Norte e foi a países como França e Itália. A entrada para a exposição é gratuita. Mais informações: www.santandercultural.com.br. ● O repórter viajou a convite do Porto Alegre Convention & Visitors Bureau
noga podem achar que “nada tinha pé nem cabeça”, nas palavras de Moreno. “Justamente por fazermos a dramaturgia no palco, os textos que restaram sãofrágeis. Elesservirão apenas como ponto de partida para novostrabalhos,exatamentecomo fazíamos àquela época”, relata Moreno. No dia 3 de agosto, último dia da exposição, será ainda lançado o livro Pod Minoga Studio – A Arte de Brincar no Palco Sem Pedir Licença (Sesc SP), organizadoporSilviaFernandes. ● Serviço ● Sesc Pompéia. Rua Clélia, 93, 3871-7700. 3.ª a sáb., 10h às 20h (dom. até 19h). Grátis. Até 3/8. Abertura hoje, às 20h.
DEPOIMENTO: “Tudocomeçouem 1964 na FAAP, onde comecei a dar aulas de artes plásticas para crianças que depois evoluíram para atividades teatrais e se estenderam aos adolescentes. No início da década de 1970, quando saí da FAAP, abri o primeiro estúdio de artes plásticas e teatro numa pequena casa de vila na Rua Mato Grosso, onde fizemos exposições e espetáculos. Ainda sem nome, nascia o grupo que viria a se denominar Pod Minoga. Quando a proprietária pediu a casa, tentamos uma experiência de teatro ambulante e nos apresentamos em residências de pais dos alunos. Em seguida, alugamos o barracão, antiga oficina de conserto de carros, na Rua Oscar Freire, onde eu decidi morar. Por razões econômicas, ou eu morava ali ou não teríamos um lugar para continuar nossas atividades. O local, coberto por grandes placas de cimento amianto, não tinha ventilação, era muito frio no inverno e infernalmente quente durante o verão. Mas a fantasia faz milagres. Eu me instalei numa extremidade e construímos uma arquibancada e um tablado que era o nosso palco, obra de um dos antigos alunos, John Orberg, que tinha ido morar nos EUA e vive em Nova York há muitos anos. Nossos sonhos de Broadway foram resolvidos à base
de chita, miçangas, strass, plumas, tesouras e muita cola. Imaginação, criatividade e trabalho. No barracão da Oscar Freire sentimos a necessidade de batizar a trupe, não dava mais para trabalhar sem um nome. O acaso nos ajudou. Freqüentamos anos a fio o apartamento de Dona Anna, polonesa, mãe da Mira Haar. Todos já haviam sentado numa determinada poltrona, ao lado de uma estante. Em uma das prateleiras, bem na altura de nossos olhos, ficava, entre muitos outros, um livro chamado Café Pod Minoga, um romance polonês. Ninguém jamais tinha tocado no volume nem comentado nada a respeito. E foi naquele apartamento que aconteceu a reunião para definir o nome do grupo. Depois de alguns copos de Ki-Suco gelado, enquanto discutíamos nomes e mais nomes – uma lista imensa –, alguém sugeriu de farra: Pod Minoga. Todos já tinham visto o título do livro. Era nossa intenção, desde o começo, batizar o grupo com um nome sonoro. Dona Anna Haar explicou que, em polonês, Minoga significava sardinha ou algum outro peixe pequeno. E ela continuou: “O Café Pod Minoga era um café de Varsóvia e o livro, um romance sobre seus freqüentadores.” O nome sonoro agradou em cheio e acabou escolhido por unanimidade.
Foram cinco os fundadores: eu, Mira Haar, Carlos Moreno, Tacus (Dionísio Jacob) e Flávio de Souza. Esporadicamente , para levantar fundos paras as peças, realizávamos exposições de artes plásticas. Quadros, bonecos, móbiles, tudo muito colorido. Como todos os envolvidos tinham formação em artes plásticas, os espetáculos, praticamente sem textos escritos, exploravam muito o aspecto visual. E também o musical. As coreografias, hilárias e precárias, eram inventadas por nós mesmos. Não podíamos pagar profissionais, coreógrafos, iluminadores, etc. E também, é verdade, queríamos fazer tudo, ‘imitar’ os filmes musicais. Nossos refletores, latinhas com lâmpadas dentro, sempre estouravam, esquentavam demais. Os espetáculos tinham muitos defeitos, mas a criatividade era tanta que as falhas técnicas ficavam em último plano, eram incorporadas como parte da comicidade. O Pod Minoga foi uma experiência marcante, decisiva em minha vida. Lá experimentei e exerci com alegria e liberdade todas as funções que o processo teatral pede, fui contra-regra, operador de som e luz, diretor, costureiro, figurinista, pintor, ator, cenógrafo, dramaturgo. Aprendi a viabilizar as coisas, de um jeito ou de outro.” NAUM ALVES DE SOUZA