ESCALAPB
Produto: ESTADO - ESPECIAL - 1 - 17/04/09
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ESCALACOR
CYANMAGENTAAMARELOPRETO
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ALEX SILVA/AE
O ESTADO DE S. PAULO
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SEXTA-FEIRA, 17 DE ABRIL DE 2009
Ecoeficiente Com consumidores cada vez mais exigentes, o mercado busca novas práticas para preservar o Planeta, adaptando desde a construção civil até games
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Reforma ecológica ganha espaço
No tabuleiro, decisões sobre o futuro
Consumidor verde muda os negócios
Universo da construção começa a planejar obras com cuidado ambiental
Jogos trazem para o universo dos jovens o conceito de sustentabilidade
Tendências de consumo consciente avançam e já criam nova atitude das empresas
PÁGs. H4 e H5
PÁG. H6
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ESCALAPB
Produto: ESTADO - ESPECIAL - 6 - 17/04/09
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ESCALACOR
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H6 ESPECIAL
SEXTA-FEIRA, 17 DE ABRIL DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
SUSTENTABILIDADE
Diversãoafavordoambiente Cada vez mais jogos de tabuleiro e games na internet conscientizam de forma divertida sobre preservação EVELSON DE FREITAS/AE
GAMES NA REDE
Lucas Frasão
● www.greenpeaceweather.com.br
Os jogadores se tornam ciberativistas e, aliados a outros, precisam salvar o mundo das crises ambientais, em no máximo 16 rodadas. Premiado com Leão de Bronze, em Cannes. Português.
● www.gamesforchange.org
A entidade sugere opções de jogos ‘sérios’, agrupados em temas como meio ambiente, economia e direitos humanos. Em inglês. NATUREZA – Cristiano, Mateus e João se preparam para um partida de Banco Imobiliário Sustentável no condomínio onde moram, em SP
tor de software para jogos cresceu 31% de 2007 para 2008. No mundo, segundo a Entertainment Software Association, o faturamentocomjogoseletrônicos em 2007 foi de aproximadamente US$ 9,5 bilhões (cerca de R$ 21 bilhões). Não existem dados sobre gamesrelacionadosàsustentabilidade, mas eles podem abocanhar um “grande nicho de mercado”, segundo Luiz Carlos Petry, doutor em Semiótica e Comunicação e professor de Jogos Digitais na PUC de SP. “Um jogo conhecido que esbarranasustentabilidadeéoSimCity, no qual se pode administrar uma cidade. Mas, no geral, há outros menores, sem apelo comercial”, diz Gonzalo Frasca, doutor em Investigação de Jogos pela Universidade IT de Copenhague e diretor criativo doPowerfulRobotGames,estúdio sediado no Uruguai. “O desafio de fazer um game nesse área é grande por causa dos fatores econômicos”, explica Ben Sawyer, cofundador da Digital Mill, consultoria em tecnologia para usos alternativos de games, baseada em Maine, nos Estados Unidos, e cofundador do projeto Serious Games (www.seriousgames.org). “Apesar disso, há cada vez mais jogos que cumprem o papel de ajudar pessoas a entender o desenvolvimento sustentável.” Prova desse crescimento é a instituição Games for Change (www.gamesforchange.org), que existe desde 2004 e, sob o slogan“gamesglobais reais,impactos globais reais”, consegue
Experimente o jogo Zelador SS ●●● Em um futuro não muito distante, qualquer construção da cidade deverá ser sustentável. E, para livrar os moradores de um antigo prédio antiecológico, o Zelador Super Sustentável corre contra o tempo, resolvendo problemas. Eis o desafio desse game, criado pela reportagem do ‘Estado’ e do estadao.com, com a ajuda de Eloise Amado, diretora de sustentabilidade da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura. Antes de jogar, leia os textos nas págs. H4 e H5, que podem ajudar na resposta de algumas questões. Depois, teste sua coordenação motora no Jogo da Reciclagem. Aproveite ainda para conhecer outros games no link ao lado.
reunir diversos exemplos de jogos “sérios” com alto nível de conteúdo educativo. A entidadeorganiza umconcursoanual, quetambémjápremiou osgarotosdo CityRain. A6ª edição,em 2009, será realizada no fim de maio em Nova York. TABULEIROS
Os jogos sustentáveis não estão só na internet e nos consoles de videogames. Estão também nos tabuleiros, como mostram algumas iniciativas no Brasil. UmexemplocomercialéaEstrela, que lançou pouco antes do Dia das Crianças, em 2008, dois jogos com a temática da sustentabilidade. Um deles é o
Regracomplicada nãotirainteresse
PEDRO BOTTINO/AE
Geradores eólicos, placas solares,termelétricas.Fábricas,escolas, casas, punhados de entulho. Tudo “chove” do céu, como no Tetris, e precisa ser encaixado de maneira a construir uma cidade sustentável, cujo gráfico lembra o SimCity. Eis o cenário de apenas um de muitos games quemisturamfantasiaerealidade para sair do simples entretenimento e ensinar sustentabilidade. Jogos com esse perfil, segundo especialistas ouvidos pelo Estado, são ainda recentes e têm pouca tradição comercial. Mas, em tempos de alarde sobre as mudanças climáticas, eles não param de aparecer. Uma das melhores referências é o City Rain (www.cityrainbs.com), descrito acima, em que o jogador precisa montar uma cidade com peças que “chovem” do céu. Se priorizar indústrias e esquecer das áreas verdes, por exemplo, vai ter de se virar para alocar montanhas de entulho enviadas das nuvens. O game começou a ser desenvolvido em 2007 por estudantes brasileiros da Unesp de Bauru, que queriam se inscreveremdoisconcursosdaMicrosoft. Eles pesquisaram dados sobre sustentabilidade em sites da Organização das Nações Unidase,depois,aplicaramojogoemumaescoladeBauru,anotando sugestões das crianças. O resultado foi a medalha de prata no XNA Challenge em 2008, ano em que o concurso foi criado no Brasil, e o primeiro lugar na categoria de games do Imagine Cup, com direito a premiaçãoem Paris.Ambososconcursos, exclusivos para estudantes, tinham como tema a sustentabilidade. Os estudantes de Bauru voltaram da França com ideias e dinheiro suficiente para abrir uma empresa, a Mother Gaia Studio,queacabadeserinaugurada. O game completo começou a ser vendido no mês passado, por US$ 9,95, em inglês, no circuito internacional. No Brasil, o Bradesco comprou a proposta, mas mudou o nome para Cidade Sustentável. “Queríamos fazer algo inovador”, diz Túlio Soria, de 21 anos, um dos integrantes da equipe. “Com temas sustentáveis, os estudantes pensam de maneira mais criativa”, diz Amintas Neto, gerente-geral de programas acadêmicos da Microsoft Brasil. A empresa organiza o XNA Challenge, cujo tema, em 2009, é inspirado nas Metas do Milênio da ONU. Novos talentos e games serão revelados na final desse ano, que ocorre sexta-feira que vem, em São Paulo. O sucesso de eventos como esseétambémreflexodocrescimento da indústria brasileira de games. De acordo com um estudo realizado pela Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames),o mercado nacional movimentou cerca de R$ 87,5 milhões em 2008. Só o se-
FOTOS: REPRODUÇÃO
ESPECIAL PARA O ESTADO
www.estadao.com.br/e/h6
tradicional Banco Imobiliário, que, na versão sustentável, ganhou caixa em papel reciclado, peças de plástico feito a partir da cana-de-açúcar e nova concepçãodesignificados.Aunidade monetária foi substituída porcréditosdecarbonoeascartas de propriedade agora indicam reservas naturais brasileiras, como a Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Outro jogo é o Novo Mundo, cujoobjetivoédespoluiroplaneta. Para isso, é preciso percorrer o tabuleiro respondendo a 170 questões elaboradas sobre o meio ambiente. De acordo com o diretor de marketing da Estrela, Aires
LUCAS FRASÃO/AE
Apresentação de jogo foi num sábado às 8h
O
estudante Cristiano Alves, de 15 anos, lançou primeiro os dados e avançou, logo de início, 11 casas no tabuleiro do Banco Imobiliário Sustentável. Tirou uma carta de sorte com os seguintes dizeres: “Você abriu uma ONG de proteção ambiental. Receba 50 mil créditos de carbono de cada jogador.” Ao ouvir o comunicado, Mateus Galis-
si Miliam, de 14 anos, e João dos Santos Pereira, de 15, mecanicamente entregaram a quantia ao sortudo do carbono. Depois, continuaram a partida como se a conhecessem há tempos. No entanto, jogavam a versão sustentável pela primeira vez, observados pela reportagem. Às vezes, não sabiam localizar as reservas naturais que aparecem no tabuleiro. No fim, Mateus opinou que a versão “podia ser melhor”, porque não muda a ma-
AULA LÚDICA – Negócio Sustentável será usado em curso da USP
neira de jogar. Para João, o competidor “acaba aprendendo mesmo sem perceber”. Reações, vale dizer, pouco entusiasmadas se comparadas às do pessoal que compareceu
ao lançamento de Negócio Sustentável, na USP, em 28 de março. Um sábado em que todos chegaram às 8 horas para ouvir as complexas explicações sobre o jogo, que utili-
Leal Fernandes, a empresa faz pesquisas para ouvir crianças e sabertemasquepodemserinteressantes. “A sustentabilidade é um tema muito recorrente nesses encontros”, diz ele. Outro tabuleiro é o do Negócio Sustentável, desenvolvido pelaconsultoraderiquezasGlória Maria Garcia Pereira, autora de livros como As Personalidades do Dinheiro (2005) e A Energia do Dinheiro (2003). Para chegar à edição atual, o jogo já incorporou palpites de pessoas em 35 diferentes países e promete uma quebra de paradigmas. Uma ideia central é que não há perdedores, por exemplo, mas há aqueles que “ganham menos”. Isso porque o jogo funciona com objetivos individuais e coletivos. E, às vezes, é preciso se unir para resolver um problema comum. “É uma ferramenta que pode serusadaemcorporações,escolas, famílias. O jogo cria condições para o cérebro criar insights”, explica Glória. Apesar de ainda não haver previsão para ser vendido em lojas, o Negócio Sustentável tem conquistado importantes avanços. Deverá, por exemplo, integrar a grade acadêmica da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, na USP, a partir de 2010. “Será uma disciplina alternativa chamada Jogo Negócio Sustentável. Os alunos jogam e, no final, preparam artigos para discutir propostas para o século 21”, explica o professor José Roberto Kassai, responsável pela implantação do jogo. ●
za cinco recursos indispensáveis ao planeta: os naturais, os pessoais, o dinheiro, o conhecimento e a tecnologia. Claudia Orsini, de 21 anos, e André Pereira de Godoy, de 22, estudantes de Biologia na USP, aguardaram até quase o horário do almoço para começar a brincar. Gostaram, mesmo com a complexidade das rodadas e, às vezes, a falta de regras mais claras. Tiveram que sair antes do fim, mas queriam ter ficado. “Nem reparei nas minhas peças, mas se todos alcançavam os objetivos”, disse Claudia. “O jogo mostra a importância da interação com os outros participantes”, comentou André. ● Lucas Frasão SÃO PAULO
● www.electrocity.co.nz
Criado como projeto educacional na Nova Zelândia, desafia a criar uma cidade sustentável em 150 rodadas. Você pode salvar o jogo e continuar depois. Em inglês.
● www.food-force.com
Do Programa Alimentar Mundial, da ONU, desafia o internauta a acabar com uma crise de fome em uma ilha de Sheylan, no Oceano Índico. Disponível em português.
● www.planetgreengame.com
Parceria da Global Green USA com a Starbucks, propõe explorar a cidade fictícia de Evergreen, reduzindo a emissão de gás carbônico. Pontua mais quem optar por medidas mais limpas. Inglês.
● http://honoloko.eea.europa.eu/
Honoloko.html O jogador responde questões na Ilha de Honoloko. As decisões afetam habitantes e ambiente. Em português de Portugal.
O ESTADO DE S. PAULO
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DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2009
Novociclo Em busca de economia, empresas brasileiras começam a adotar programas de reaproveitamento da água. A medida, chamada de reúso, pode reduzir em mais de 50% o custo PÁGS. H8 e H9
Homenagem ao Dia Mundial da Água
Nova onda de consumo
Último rio limpo de SP corre risco
Fórum em Istambul, que termina hoje, debate parcerias de países na gestão de bacias hidrográficas em regiões de fronteira
O mercado de água engarrafa cresce no mundo todo, e o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking de produtores
Falta de saneamento no distrito de Marsilac faz com que esgoto seja lançado diretamente na natureza ainda livre de poluição
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H2 ESPECIAL
DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
SUSTENTABILIDADE
Brasildebatecomvizinhos usoracionaldesuper-reserva
Homenagem
Programa
O Dia Mundial da Água foi instituído durante AssembleiaGeral das Nações Unidas, em 1993. A ideia foi sugerida um ano antes, durante a Eco-92, no Rio
Será realizada hoje, ao lado do bicicletário do Parque do Ibirapuera, uma campanha de conscientização pelo dia da água. O evento será das 9 às 15 horas
Notas NÍVEL DO MAR
ESPECIAL PARA O ESTADO
Representantes do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina se reúnem no próximo mês para discutir novos rumos de um projeto voltado para o Aquífero Guarani – uma das maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo. Com uma área de 1,2 milhão de km2, o aquífero tem um volume estimado de 45 milhões de litros. Os quatro países finalizaram no mês passado a primeira fase de um estudo integrado sobre a região, concebido em 2000. Com financiamento de US$ 13,4 milhões do Fundo Global para o Meio Ambiente, o Projeto para a Proteção Ambientale Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aquífero Guarani fez um novo mapeamento da região, identificando, por exemplo, nascentes e pontos de poluição. A partir de agora, o projeto poderá ser transformado em um tratado novo ou ser incorporado a outros já existentes, como o do Mercosul ou o Tratado da Bacia do Prata. “O conceito central do estudo é a troca permanente de informações para aprofundar o
conhecimento técnico sobre o Aquífero Guarani”, diz VicenteAndreu Guillo, coordenador do projeto no Brasil e secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente. “Mesmo assim, é comum dizer que o aquífero é mais famoso do que conhecido. O acervo é crescente, mas ainda insuficiente.” Segundo Guillo, Brasil e Argentina já se comprometeram a desembolsar US$ 90mil, cada um, parao projeto. Uma sede permanente foi montada em Montevidéu, no Uruguai. DEBATE
DIPLOMACIA DA ÁGUA – Bacia do Prata é objeto de tratados desde 1970
A gestão de recursos hídricos em regiões de fronteira também é o tema central do 5º Fórum Mundial da Água, que termina hoje, data em que também é celebrado o Dia Mundial da Água. O encontro, realizado a cada três anos, foi o mais expressivo desde o primeiro, no Marrocos, em 1997. Realizado em Istambul, na Turquia, o evento deste ano reuniu cerca de 27 mil participantes de 182 países, segundo a organização. Apenas a delegação brasileira tem cerca de 150 especialistas e políticos, a maior comitiva da América Latina (mais informações na pág. H04). RIQUEZA COMPARTILHADA
Ointeressebrasileiro é explicadopelosnúmeros.Deacordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), o País tem 12% de toda a água doce do mundo e 56,9% da água superficial disponível na América do Sul. Boa parte é compartilhada com vizinhos. Um dos exemplos brasileiros de gestão de recursos hídricos é exatamente o Aquífero Guarani. O Brasil ainda tem em seu território a maior parte da Bacia Amazônica, compartilhada com mais seis vizinhos latinos e gerida pelo Tratado de Cooperação Amazônica. Outra importante bacia hidrográfica, a do Rio da Prata, tem acordos firmados desde a década de 1970. MUNDO
Segundo levantamento feito pela organização do Fórum Mundial da Água, há no mundo 274 aquíferos que se espalham pelos subterrâneos de nações limítrofes. Da mesma forma, foram identificadas 263 bacias hidrográficas em regiões de fronteira. Isso significa quepelo menos 75% de todos os países dividem rios com algum vizinho. Números que ajudam a identificar o tamanho do problema no caso de guerras por causa da água. Historicamente, porém, são poucos os conflitos gerados pela falta d’água. Nos últimos 60 anos, foram reportados mais de 300 acordos, contra 37 casos de violência. Mas outros números indicam que essas estatísticas poderão piorar no próximo centenário. Até 2075 estimase que entre 3 bilhões e 7 bilhões de pessoas habitarão regiões com falta crônica de água. Essa população deve estar espalhada por até 60 países. Atualmente, 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável. Os dados são da ONU, do Instituto Internacional de Água de Estocolmo e da Water Partners International. ●
Corrente acelera derretimento de geleira Como se não bastasse o aquecimento global, cientistas americanos e britânicos descobriram que uma mudança pouco compreendida nas correntes oceânicas pode estar levando mais água para a Antártida e derretendo o gelo a partir de baixo. Não se sabe se essas alterações estão relacionadas à mudança climática. “Minha hipótese é que mais água parece estar vindo em direção à geleira, muito mais do que um aumento na temperatura da água”, afirmou Adrian Jenkins, o principal especialista do British Antarctic Survey. Um submarino robô revelou pistas
para o aumento no nível dos oceanos ao fazer incursões profundas numa plataforma de gelo na Antártida. Foi a primeira inspeção feita pelo submarino de 7 metros no lado inferior da plataforma localizada perto da geleira de Pine Island. O nível dos oceanos do mundo poderia subir até cerca de 5 metros se o gelo da Antártida Ocidental, incluindo a geleira de Pine Island, derretesse, afirmou ele. A geleira de Pine Island é a que se move com mais rapidez no continente antártico, e seu deslocamento em direção ao oceano está se acelerando. ● REUTERS
METAS DO MILÊNIO
Crise pode atrasar distribuição de água Se faltava uma boa desculpa para não se alcançar as Metas do Milênio na área de saneamento básico, não falta mais. O Banco Mundial alertou na última semana que a crise econômica global pode retardar em pelo menos uma década o desenvolvimento do abastecimento de água no mundo, porque faltarão investimentos e cada vez mais gente se verá sem condições de pagar as contas de água. Jamal Saghir, diretor de Energia, Água e Transporte do Banco Mundial, afirmou durante o Fórum Mundial da Água que novos empreendimentos devem
ser cancelados, e os projetos atuais de infraestrutura em distribuição e tratamento d’água podem sofrer pressões de elevação de custos. A conferência foi criticada por não ressaltar de maneira clara o fato de que a água potável é um direito fundamental do ser humano. Uma das chamadas Metas do Milênio, instituídas pela ONU no começo da década, é reduzir pela metade até 2015 a proporção de pessoas sem acesso à água potável. Hoje, há cerca de 1 bilhão de pessoas sem acesso à água, e 2,6 bilhões sem saneamento básico.
AGRICULTURA DE PRECISÃO
Esalq reduz irrigação de laranjal em 60% Testes realizados na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP de Piracicaba mostraram que o controle rígido da irrigação de mudas na citricultura pode reduzir em até 60% o consumo de água. O engenheiro agrônomo Eduardo Augusto Girardi comprovou que é possível produzir mudas de laranjeiras de alta qualidade usando menos água com a adoção de um sistema de monitoramento da umidade do solo. Se feita sem nenhuma forma de controle, a irrigação pode ser responsável por até 20% do valor da muda. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), é na produção de alimentos onde se gasta mais água doce. Cerca de 69% da água doce do planeta é utilizada no proces-
EPITACIO PESSOA/AE–26/2/2009
ARIEL PALACIOS/AE-13/6/2007
Lucas Frasão
ARIEL PALACIOS/AE-23/2/2009
Parceria sobre Aquífero Guarani ilustra tema central do Fórum da Água
so de agricultura e pecuária. A índústria gasta 21% e para uso doméstico são destinados cerca de 10%. Para produzir um quilo de soja, por exemplo, gasta-se cerca de 1.800 litros de água. Isso equivale ao consumo de uma pessoa por 12 dias, se forem levados em consideração dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
CONSUMO CONSCIENTE
Água com selo de sustentabilidade Produtos com selo verde de uso sustentável de água . Essa é a proposta que foi apresentada semana passada em Istambul por um grupo de cinco ONGs ambientais, entre elas a WWF. A proposta inclui todo o ciclo do produto. Hoje, já existe madeira certificada, pedraria certificada, sistema de comércio justo, mas ninguém tem como escolher qual a cerveja usou água em sua produção de maneira consciente na prateleira de um mercado.
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Leia mais reportagens sobre sustentabilidade Veja infográfico sobre as emissões de carbono Acesse o blog da repórter Andrea Vialli www.estadao.com.br/h/h2
EXPEDIENTE Edição: Luciana Constantino e Sergio Pompeu Fechamento: Ricardo Muniz Diretor de arte: Fabio Sales Coordenação de arte: Andrea Pahim Diagramação: Claudio Gaspar Tratamento de imagens: Alexandre Godinho, Carla Monfilier e Edmundo Pereira
H4 ESPECIAL
DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
SUSTENTABILIDADE
Alerta
Documento
A crise financeira ameaça o acesso à água, informou o Banco Mundial durante o fórum em Istambul. A entidade prevê menos investimentos no setor
As Nações Unidas, no Relatório sobre Desenvolvimento Mundial da Água, avaliam que as crises por escassez serão piores em países pobres
Omercadode7bidelitros Brasil é 4.º maior produtor de água engarrafada; setor cresce 7,6% ao ano no mundo e já bate o de refrigerantes JF DIÓRIO/AE
Lucas Frasão ESPECIAL PARA O ESTADO
Há dez anos morando em São Pedro, interior de São Paulo, a professora aposentada Maria do Carmo Meirelles, de 61 anos, não lembra qual foi a última vez que comprou garrafa d’água no supermercado. A cada mês, ela encheseis galõesde 20litros cada em uma fonte natural que ficaa 3 quilômetros de sua chácara, sem pagar nada. “A água é fresca, boa mesmo. O gosto é diferente da água de garrafa.” Já a arquiteta Paloma Shizue Cortes Morimoto, de 26 anos, consome apenas água de garrafa. Moradora do Rio, ela não tem uma fonte natural próxima aseu apartamento, no bairrodo Catete, e não bebe água de filtro. “Acho que não filtra direito. Além disso, o encanamento do meu prédio é velho e não confio na manutenção da caixa d’água”, conta ela, que gasta cerca de R$ 10 com água a cada semana. “Água de torneira, só em casos extremos.” Cadauma à suamaneira,Maria e Paloma interagem com as estatísticas do mercado nacional de águas engarrafadas, que cresceu cercade10% aoanonos últimostrêsanos,segundoaAssociação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam). “A água de torneira não é ruim, mas ninguém confia mais”, diz Carlos Alberto Lancia, presidente da instituição. Nos últimos anos, o setor vem registrando crescimento –
De que forma a crise mundial influencia a discussão sobre a escassez de água potável no mundo?
Fazer uma correlação implica especulação. Mas podemos dizer que a globalização tem impacto direto na gestão de águas. Importar e exportar alimentos significa levar água de um país para o outro, mesmo que indiretamente. É a chamada água virtual. Em vez de dessalinizar a água, irrigar o de-
6,8
60%
bilhões de litros de água mineral foram produzidos e consumidos no Brasil em 2007
MARKETING DA NATUREZA – Prateleira de água mineral engarrafada em supermercado de São Paulo
produziu cerca de 1,5 bilhão de litros de água mineral em 1995. Em 2005, esse número saltou para 5,6 bilhões e, em 2007, 6,8 bilhões. De acordo com Lancia, 35 empresas respondem por 50% da produção nacional. Outro dado que aponta crescimento é a receita arrecadada pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM),
vinculado ao Ministério de Minas e Energia. Apenas por compensação financeira pela exploração de recursos minerais, a autarquia arrecadou cerca de R$ 857 milhões em 2008, valor aproximadamente50% mais alto se comparado ao de 2007. Em1995,havianoBrasil319concessões de lavra de água mineral. Até setembro do ano passa-
do, eram 789. Dados da Associação Internacional de Águas Engarrafadas indicam que o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking mundial de produtores. Consome mais águaengarrafadaquepaísescomo Itália, Alemanha, França e Espanha. E fica atrás dos Estados Unidos, México (que crescem, em média, 8,5% ao ano) e
Semgestãohaverá conflitosembreve
Vice-presidente do Conselho Mundial da Água, organizador do Fórum Mundial da Água, Benedito Carvalho defende a “gestão eficiente dos recursos hídricos do planeta” e diz que, se isso não for feito agora, a escassez de água potável poderá gerar conflitos em um “futuro próximo”. Braga alerta que os investimentos para garantir acesso a água e saneamento têm ficado aquém dos compromissos assumidos pelos países até 2015 nas Metas do Milênio. Integrante da diretoria da Agência Nacional de Águas (ANA), ele afirma que o Brasil não deve atingir a meta de saneamento, como a maioria dos países em desenvolvimento que assinaram o documento das Nações Unidas. Apesar disso, o professor licenciado de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) revela otimismo em relação ao futuro. “Acredito na ciência e na tecnologia.”
10%
bilhões foi o faturamento, em dólares, do mercado internacional de águas engarrafadas, em 2007
Entrevista
Para Benedito Braga, acordos entre países têm sido eficazes, mas há risco de confronto pelo domínio de recursos hídricos
100
serto e produzir grãos, como trigo, a Arábia Saudita prefere importar a água virtual de países com melhores condições hidrológicas, como o Brasil e a Argentina. Na verdade, a crise minimiza o problema, ao diminuir a demanda. A água já ganhou status político tão poderoso como o do petróleo?
Não diria como o petróleo, mas a água já atingiu um nível político importante, em todos os países. Prova disso é a grande quantidade de chefes de Estado presentes no Fórum Mundial da Água de Istambul (que termina hoje). Se considerarmos que não há substitutos para a água, essa importância poderia ir além do petróleo, que pode ser trocado, por exemplo, pelo etanol. A água é vital. O tratamento da água como commodity ajuda na sua preservação?
A pergunta é boa, mas difícil de responder. A água tem valor econômico, sim. No Brasil, inclusive, isso está sedimentado na Lei das Águas, de 1997. Considero que algo que tem valor econômico, em geral, é utilizado de forma parcimoniosa. Quando a água adquire valor, ela começa a ser utilizada de forma mais eficiente. Por consequência, parece lógico que haverá melhor conservação. O tema do fórum de Istambul sugere a superação de problemas de água em regiões transfronteiriças. A escassez pode aumentar riscos de conflitos. Como lidar com isso?
A gestão transfronteiriça é importante para evitar conflitos, até no Brasil. Compartilhamos a Bacia Amazônica com oito vizinhos e a do Prata com mais
daChina, cujademandaaumenta 17,5% a cada ano. A taxa média de crescimento mundial é de 7,6% ao ano. Em 2007, por exemplo, foram consumidos 206 bilhões de litros de água vendida em garrafa. O mercado faturou cerca de US$ 100 bilhões naquele ano. “A água mineral brasileira é uma das mais baratas do mundo”,dizLancia.Segundoopresidente da Abinam, o consumo mundial dessa água ultrapassou a venda de refrigerantes. O crescimento do mercado também ajudou a expandir a oferta e variedade de produtos. Se antes o consumidor tinha a opção de comprar água com gás, agora encontra no supermercado águas saborizadas, um misto de mineral com refrigerante. Algumas marcas aindainvestiramno mercadodeluxo, como a americana Bling H2O. A empresa trata a água diversas vezes antes de envasá-la emgarrafascomformatosespe-
O objetivo é justamente trazer as soluções para o nível local. A delegação brasileira levou cientistas e políticos. Na comitiva da ANA há seis senadores, dez deputados federais, um número enorme de prefeitos e secretários de Estado. São pessoas que podem influenciar outras, depois. O tema do direito à água, por exemplo, foi muito debatido no Fórum do México, em 2006, e hoje já começa a ser debatido entre nossos parlamentares. O senhor acha que os países já inserem a água em suas agendas políticas de maneira satisfatória?
Há iniciativas importantes em países chave, mas o caminho a percorrer é longo. O Brasil desponta nesse sentido. O México
dos garrafões comercializados no Brasil tem entre 10 e 20 litros
ciais.Lançadasemedições limitadas e geralmente adornadas com cristais Swarovski, as garrafas da Bling H2O custam de US$ 20 a US$ 65. PLÁSTICO
Um dos problemas enfrentadospelaindústria deáguamineral é o plástico produzido para fabricar a garrafa, derivado do petróleo e do gás natural, ambos recursos não renováveis. A fabricaçãodegarrafasPETconsome pelo menos 1,5 milhão de toneladas de plástico. “No Brasil, as garrafas de água representam 0,003% do total de material plástico disposto em um supermercado”, explica Lancia. De acordo com a Abinam, o mercado nacional recolhe 55% das garrafas PET produzidas. Além disso, 60% do mercado é de água vendida em galões de 10 e 20 litros, que são retornáveis, o que ajuda a diminuir a poluição. ● COLABOROU BRUNO VERSOLATO
DIDA SAMPAIO/AE
Quem é:
Benedito Braga ● É vice-presidente do
Conselho Mundial da Água, presidente da Comissão Brasileira para o Programa Hidrológico Internacional da Unesco e integra a diretoria colegiada da Agência Nacional de Águas
quatro. Na África, o Rio Nilo serve mais dez países. No Oriente Médio, os Rios Tigre e Eufrates passam pela Turquia, Iraque e Síria, região complexa, não só do ponto de vista hídrico. Em todos esses exemplos, há acordos de cooperação. Na América do Sul, existe uma discussão sobre a Bacia do Prata desde a década de 1970. E, hoje, uma comissão se reúne regularmente para discutir políticas para o Rio Nilo. A história mostra que conflitos são raros. As supostas discussões das guerras pela água ainda não têm substrato técnico seguro. Podemos prever, porém, que, se não houver gestão eficiente dos recursos hídricos do planeta, teremos conflitos em um futuro próximo. O Brasil tem uma comitiva com 150 pessoas no fórum. Como elas poderão aplicar, localmente, aquilo que for apontado no encontro?
é o índice de crescimento do mercado nacional nos últimos anos
● Professor licenciado da USP, colaborou em 25 livros
duais. E o governo federal tem pouca ação no tema da água. Há problemas que os governadores estão encarregados de resolver. Talvez por isso o programa de Obama não se refira diretamente à água. Pacotes bilionários foram criados para frear a crise mundial. É possível citar um exemplo de iniciativa bilionária criada em prol da água?
IDEIA – Braga propõe fundo para estimular saneamento em país pobre
tem um sistema sofisticado e a França inovou na gestão de bacias hidrográficas. Mas os países do sudeste da Ásia e os africanos, com exceção da África do Sul, ainda não se desenvolveram. Considerando a distribuição de água potável, a questão do saneamento e outros usos, como a navegação, a irrigação e geração de energia, ainda há muito para se fazer. Os países têm até 2015 para cumprir as Metas do Milênio criadas pela ONU em 2000. O sr. acredita que o Brasil vai cumprir as metas?
Em 2000, os países colocaram como meta reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso a água e saneamento. Acontece que os investimentos nesses setores não estão à altura dos compromissos. É uma si-
tuação alarmante. O Brasil deve atingir as metas em termos de água potável. Mas não na questão do saneamento, assim como a maioria dos países em desenvolvimento que assinaram o documento. O programa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fala muito em energia renovável e pouco na questão da água. Faltou dar mais atenção a esse assunto?
Os EUA já desenvolveram todo o seu potencial hidrelétrico. O grande problema que enfrentam hoje é a mudança climática. A Califórnia, por exemplo, depende bastante da água de degelo das montanhas nevadas. Se a temperatura média aumentar, eles terão um grande problema. Ocorre que, nos EUA, todos os rios são esta-
Não. Quem sofre efetivamente são os pobres, que não têm acesso a água potável. Esse é o problema que pede investimentos de bilhões. Mas só teremos um pacote bilionário se houver interesse dos ricos. Uma saída seria criar um fundo internacional para estimular companhias de saneamento a trabalharem em países pobres. Todos ganhariam. A humanidade precisa abrir mão de algum hábito para salvar a água potável no planeta?
Acredito que não seja questão de abrir mão. Sou muito otimista em relação ao futuro. Acredito na ciência e na tecnologia. Malthus (Thomas Robert Malthus, 1766-1834) dizia que estávamos perdidos porque os recursos cresciam linearmente enquanto a população crescia exponencialmente. Mas, hoje, conseguimos alimentar uma população muito maior do que a que ele imaginava. Só temos de usar os recursos hídricos de forma eficaz. ● LUCAS FRASÃO, ESPECIAL PARA O ESTADO
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97,5%
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de toda a água da Terra é salgada. Dos 2,5% restantes de água doce, 70% estão nas calotas polares e 30% estão no solo como umidade ou em aquíferos
Indústria reduzcustos comreúso
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Empresas investem em reaproveitamento de água não potável, mas ainda faltam estimativas nacionais JF DIORIO/AE
Andrea Vialli Lucas Frasão ESPECIAL PARA O ESTADO
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As indústrias, que por décadas reinam como as grandes poluidoras dos rios, descobriram que o reúso de água é uma oportunidade para reduzir custos. Estão tomando a dianteira nessa área da reciclagem, que pode ajudar a corrigir uma distorção registrada há anos: o uso de água potável até para limpeza de casas e empresas. Apesar disso, o Brasil ainda não tem estimativas nacionais da quantidade de esgoto tratado que ganha nova utilização. Um exemplo de como a água pública poderia ser mais bem utilizadaé aregião metropolitana de São Paulo, que recebe, em média, 70 mil litros de água por segundo. Desses, nada menos que 80% viram esgoto. Segundo o professor Ivanildo Hespanhol,diretordo CentroInternacional de Referência em Reúso deÁgua(Cirra), vinculadoà Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), as principais estações de tratamento têm potencial para tratar 18 mil litros por segundo, mas tratam apenas13,6mil.Oresultadodessa equação é o despejo de mais de 40 mil litros, a cada segundo, de água não tratada nos rios de São Paulo. “Os programas de aproveitamento de água de esgoto tratada são minúsculos.” Por outro lado, a indústria partiu firme para a prática de reúso. “Muito por conta da cobrança”, explica. A indústria precisater outorgade captação de água e de lançamento de efluentes, e a segunda é especialmente cara. Ao reaproveitar a água no processo industrial, a empresa transforma efluente em matéria-prima. Segundo uma pesquisa recente feita pelo professor com 2.311indústrias paulistasdemédio e grande porte, o custo conjunto diário de consumo de água, sem reúso, é de cerca de R$ 1 milhão. “Sem grandes investimentos, é possível reusar aproximadamente 60% do total deáguaconsumida emumaempresa” – ou seja, o custo total dessas2.311 empresas cairia para cerca de R$ 400 mil por dia. Hespanhol acredita que de 20% a30%daindústrianoBrasilpratica o reúso de alguma forma. “Aáguacomeçaaserpercebida pelas empresas como um bemdeextremovalor”,dizMarcos Ferreira, presidente da Haztec, grupo que presta serviços de tratamento de água para grandes indústrias. Segundo ele, os fatores redução de custos e expectativa da sociedade porpadrõesambientais maisrigorosos estão transformando o modo como o setor privado lida com o recurso hídrico. Mas há limites para a reutilização. “Nem toda água que entra na indústria recircula. Há perdas no processo com vazamentos e evaporação. Mas um índice de reaproveitamento razoável é da ordem de 70% a 80%”, diz. Ferreira explica que fabricantes de alimentos e bebidas, por exemplo, enfrentam restrições legais em relação à reciclagem: a água de reúso não pode entrar como insumo. Mas o aproveitamento pode ser maior em setores que a água é
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CDE ECONOMIA - Em Campinas, shopping trata esgoto no próprio local
menos utilizada como matériaprima e mais empregada nos processos. A siderúrgica ArcelorMittal Tubarão, ex-CST, na região metropolitana de Vitória, apostou no aproveitamento quase integral dos recursos hídricos. Hoje, 97,4% da água que entra na planta industrial é tratada e reutilizada. Nos últimos anos foram feitos ainda investimentos para dessalinizar a água do mar, para uso industrial, o que hoje satisfaz 95% da demanda. O restante, 5%, vem da concessionária local. Mesmo com reúso, a siderúrgica gasta R$ 24 milhões por ano com água. “Sem as iniciativas de dessalinização e reúso, o custodaáguaseriasimplesmente proibitivo”, diz Luiz Antonio
‘Sem grandes investimentos, é possível reusar cerca de 60% do total de água consumida em uma empresa’, diz Ivanildo Hespanhol, diretor de centro ligado à Poli Rossi,gerentedeMeioAmbiente da ArcelorMittal Tubarão. A produção de aço é intensiva em recursos hídricos, mas o consumo de água por tonelada vem caindo na companhia, graças aos investimentos em sistemas de reaproveitamento. Em 2008, foi de 3,8 metros cúbicos por tonelada de aço produzido, o que fez a fábrica da Grande Vitóriafigurarentreastrês melhores siderúrgicas do conglomerado ArcelorMittal no mundo, no que tange à gestão da água. A média de consumo de
água no setor de siderurgia é de 11,5 m³ por tonelada de aço.Na Gerdau,quetambém produz aço, o índice de reaproveitamento é igualmente alto: gira em torno de 97,5% da água captada. “O reúso só não é maior porque ocorrem perdas com evaporação no processo”, diz Érico Sommer, gerente de Energia, Meio Ambiente e Engenharia da Gerdau. Ele explica que o reaproveitamento da água trouxe uma economia de 40% a 50% nos gastos financeiros com o insumo.
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ETE NO SHOPPING
Mas os programas de gestão da água também começam a aparecer fora da indústria. Quem passeia pelo shopping center Parque Dom Pedro, em Campinas (SP), não faz ideia de que bem perto das lojasháumaestaçãodetratamento de esgotos (ETE) capaz de tratar 100% dos efluentes gerados no local. Cerca de 35% da água volta aosistemahidráulicodoshopping para abastecer descargas dos vasos sanitários e para regar plantas nos jardins. “Temoscapacidade para reaproveitar até 60% da água, e o faremos conforme a demanda crescer”, garante ElizabethMorita,responsávelpela área de meio ambiente da Sonae Sierra, grupo responsávelpelaadministraçãodoParqueDomPedro edeoutrosoito shoppings em todo o País. O grupo aposta também em captação da água da chuva. Em 2007 foi feito um piloto no Penha Shopping Center, zona leste de São Paulo. A água da chuva captada no sistema passou a ser usada na central de ar condicionado, o que já permitiu uma redução de 18% no consumo. Agora, outros dois shoppings,BoaVista e PlazaSul, passarão a usar o dispositivo. ●
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Limiteslegaisnãosão empecilhoàeconomia Para Benedito Braga, vice diretor geral do Conselho Mundial da Água, o reúso é cada vez maisnecessárioem razãoda escassez de recursos. “Vamos ter de caminhar para o processo de reaproveitamento de água. Países muito carentes, como a Namíbia, estão fazendo reúso até para abastecimento humano”, afirmou Braga ao Estado. No Brasil, fabricantes de produtoscomoalimentos, bebidas e cosméticos têm restrições legais para fazer reúso de água de modo mais intensivo. Mesmo assim, o investimento
em reaproveitamento da água está em alta. Na fabricante de bebidas AmBev, o consumo de água por litro de bebida vem caindo. Em 2003, o gasto médio era de 4,88 litros de água para cada litro de bebida produzido. Hoje, é de 4,11 litros. Como a águade reúso não pode ser utilizada para produzir bebida, sua utilização é concentradanalavagemdegarrafas retornáveis e limpeza de equipamentos. “Temos fábricas em regiões de menor disponibilidade hídrica, então o reúso torna-se essencial”, diz Bea-
triz Oliveira, gerente de Meio Ambiente da AmBev. A Coca Cola Brasil traçou um plano para reduzir em 20% o consumo de água até 2012. Há 11 anos, o gasto era de 5,4 litros de água para cada litro de bebida. A média já caiu para 2,10 litros em 2007. Essa economia ocorreu porque a empresa reutiliza entre 750 milhões e 1,5 bilhão de litros de água por ano. “O processo envolve primeiro a conscientização sobre o racionamento de água. A prática de reúso vem depois”, diz José Mauro de Moraes, diretor de Meio Ambiente da Coca Cola Brasil. Na indústria de cosméticos Natura, foi possível reduzir em 9,5%oconsumodeáguaporproduto vendido em 2008, em relação ao ano anterior. ● A.V. e L.F
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ESPECIAL H9 ESPECIAL H9
20%
70%
2 milhões
é o que se perde em vazamentos de água em tubulação da cidade de São Paulo. Outros 20% são desperdiçados em instalações clandestinas
é a porcentagem de água suja tratada para ser reaproveitada em Israel. O país também tem tecnologia de ponta para dessalinizar a água do mar
de toneladas de sujeira são jogadas nos rios do mundo a cada dia. No Brasil, um terço do esgoto coletado é descartado sem receber nenhum tratamento
Setor busca versão ‘clean’ de produtos domésticos
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Apesar do marketing ‘verde’, efeito na qualidade da água ainda é pequeno
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Saiba mais ● Atenta ao reúso, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) realizou uma pesquisa em 2008 que apontou uma redução na captação de água de 9.220 litros por tonelada de produto fabricado, em 2001, para 6.990 litros por tonelada, em 2007 ● Durante o mesmo período, o volume de efluentes lançados pelo setor químico brasileiro caiu de 4.190 para 1.890 litros por tonelada. Os resultados foram alcançados graças a uma política de reúso na indústria. Em 2001, o volume de águas reaproveitadas era de 3.700 litros a cadatonelada de produto. Esse número saltou para 31.500 em 2007 ● O grupo Sonae Sierra, que administra shopping centers em todo o País, fixou metas para redução do consumo de água. Até 2012, o objetivo é chegar a um consumo de água anual de 4 litros por visitante do shopping. Em 2007, ele era de 4,5 litros por visitante. Para isso, está captando e tratando água da chuva
Detergente biodegradável. Amaciante de roupas concentrado. Sabão em pó livre de fosfato. Atenta ao potencial de mercadodeprodutosmenospoluentes,a indústria de produtos de limpeza doméstica começou, de uns tempos para cá, a oferecer atributos ecológicos. A tendência, no entanto, é incipienteeaindanãotrouxemelhorias para a qualidade da água. AQuímicaAmparo,fabricante do sabão em pó Ypê, anunciounoanopassadoolançamento de produto livre de fosfato, o Ypê Premium. Na formulação do novo sabão , a empresa substituiu o componente conhecido pela sigla STPP (tripolifosfato de sódio) por zeólito, um mineral que desempenha a função decoadjuvante nalimpeza, mas com menor impacto ambiental. O STPP presente no sabão em pó, apesar de facilitar a limpeza, vai para o esgoto e desemboca nos rios e lagos, sendo responsávelpor um efeito conhecidocomoeutrofização–aproliferação de algas na água, queconsomem o oxigênio e provocam mortandade de peixes. “Tirar o fosfato do sabão em pó foi uma inovação e uma tentativa de se anteciparàlegislação.Omercado está reagindo bem”, diz Waldir Beira Júnior, diretor da Química Amparo. Até 2005, o STPP respondia por até 15% da formulação dos sabões em pó comercializados no País. A resolução 359/05 do ConselhoNacionaldoMeioAmbiente (Conama) impôs a redução gradativa do componente nos produtos de limpeza, sem bani-lo.PaísescomoJapãoeHolanda já baniram a substância. Sem remover o fosfato de suas marcas de sabão em pó, a multinacional Unilever resolveu atacar emoutra frente: lan-
PAULO LIEBERT/AE-14/8/2008
DESEQUILÍBRIO - A alta concentração de algas no Rio Tietê é causada pelo fosfato dos produtos de limpeza
çou no mercado um amaciante de roupas concentrado, sob a marca Comfort. Segundo a empresa,a embalagemde 500mililitros do produto tem rendimento semelhante à de 2 litros. Na prática, possibilita uma economiade79% deáguanaformulação e redução pela metade do consumo de água na hora de enxaguar a roupa. “O uso deste produto envolve uma grande mudança de hábito entre as consumidoras, assim como ocorreu na Europa, Ásia e Estados Unidos”, afirma Priya Patel, diretora de Marketing da área de Higiene e Limpeza da Unilever. Outra multinacional do ramo de produtos de limpeza, a Reckitt Benckiser, também está atenta à tendência. Fez o lançamento de um detergente em tabletes, o Finish, para lavar
louça em máquina que também promete poupar água. Segundo a empresa, a lavagem de louça na máquina gasta seis vezes menos água do que a manual. MARKETING
Para especialistas, a tendência do mercado de oferecer produtos que poupam água ou livres de substâncias poluentes é válida. Mas apesar do marketing “verde” da indústria, os efeitos reais para a qualidade da água ainda são muito pequenos. “As empresas ainda não perceberam a real oportunidade de mercado dos produtos menos poluentes. O que vemos são ações isoladas da indústria, que são válidas, mas ainda muito incipientes”, afirma Hélio Castro, superintendente da Unidade de Produção de Água da Sabesp.
Castro afirma que a eliminação do fosfato do sabão em pó em grande escala seria fundamental para resolver o problema da eutrofização, o que reduziria substancialmente os custos com tratamento de água. “No Japão, o consumidor exigiu da indústria que eliminasse ofosfato dos produtos de limpeza. Por aqui, falta consciência ao consumidor”, diz Castro. “O preço determina o consumo. É só olhar as periferias e ver como se vendem detergentes caseiros, aqueles coloridos. Ninguém sabe o que tem lá dentro.” Para os fabricantes, a consciência até começa a aparecer, desde que não custe mais caro. “Oconsumidorbuscadesempenho e não quer pagar a mais pelo atributo ecológico”, diz Beira Júnior, da Química Amparo. ● ANDREA VIALLI
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Sem retorno O País produz por ano 18 bilhões de sacolas plásticas; 80% vão parar em aterros. O produto leva em média 500 anos para se decompor e a reciclagem é baixa. Opção para contornar o problema, os oxibiodegradáveis causam polêmica (págs. H3, H4 e H5)
USO DOMÉSTICO – Restos
HÉLVIO ROMERO/AE
de sacolas plásticas ficam presos em vegetação às margens do Rio Tietê, em São Paulo
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Em busca de energia, governo aceita mais emissões de CO2
Com baixo impacto ambiental, ecovilas são 15 mil no mundo
Após 10 anos, Lei de Crimes Ambientais ainda gera discussão
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Minicidades sustentáveis
Mundo tem 15 mil ecovilas, comunidades-modelo de baixo impacto ambiental que reúnem até 2 mil habitantes FOTOS DIVULGAÇÃO
Lucas Frasão Ana Bizzotto
Bioconstrução cria casas verdes
ESPECIAL PARA O ESTADO
Nacontramãodocaosdasmetrópoles, têm surgido ecovilas que reaproveitam recursos naturais e são reconhecidas pela Organização das Nações Unidas como modelo de sustentabilidade. Elasjásãomaisde15milnoplaneta,segundoaRedeGlobaldeEcovilas, maior entidade do setor, que tem associados no Brasil. Em tempos de crise ambientale econômica,asecovilassimbolizama busca deumnovomodo de vida, mas diferente do das antigas comunidades alternativas pela escala – têm até 2 mil moradores – e pela gestão, com venda de lotes e busca de rentabilidade. Entre os preceitos das ecovilas estão plantar aquilo que se come e adotar padrões sustentáveis de construção, que incluem sistemas de captaçãodeáguadachuva(maisinformações nesta página). Também seguem documentos socioambientais de referência, como a Agenda 21, resultado da Eco-92, realizada no Rio. Algumasdasprimeirasemaiores comunidades do mundo foramcriadasporvoltade1970,como a Auroville, no sul da Índia. A meta da ecovila indiana é se tornar uma cidade autossuficiente para50milhabitantes–hoje,são cerca de 2 mil. Outro exemplo é Damanhur, no norte da Itália. Com mais de mil moradores de diversas nacionalidades, DamanhurtemConstituiçãoeunidade monetária próprias, além de um jornal diário, escolas e uma universidade “livre”. BRASIL
As ecovilas brasileiras não são tão populosas assim. Mas as comunidades têm crescido desde que o modelo chegou ao País, há uma década. OprojetodaEcovilaClarean-
Entre os pilares das ecovilas está o uso de técnicas de construção que minimizem impactos ao ambiente. Uma dessas correntes é a da bioconstrução, que prevê a reciclagem e uso de materiais disponíveis na região. “Isso permite maior integração com o entorno, tanto nos aspectos estéticos como nos funcionais”, explica o arquiteto Daniel Quintão, especialista em bioconstrução pelo Centre Ecologique Terre Vivante, na França. A escolha das técnicas construtivas e dos mecanismos de redução de efluentes e de lixo deve considerar clima, relevo, material e mão de obra disponíveis. Para economizar energia, os projetos dão prioridade à ventilação e iluminação natural. Há também a opção do aquecimento solar e de cataventos, por exemplo, para gerar energia eólica. O recurso do “teto verde” co-
mo cobertura ajuda a regular a temperatura e a captar água da chuva, armazenada em reservatórios subterrâneos e utilizada para vários fins, como dar descarga. Os projetos sempre incluem o tratamento de esgoto. Em alguns casos, os imóveis têm o “banheiro seco”, para transformar resíduos em húmus e reutilizá-los como adubo. “Algumas pessoas não acreditam que a gente consegue viver em ecovila. Mas é uma mudança de hábito”, diz Marcelo Bueno, arquiteto e secretário executivo do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema), em Ubatuba. As telhas da sede do Ipema foram feitas a partir da reciclagem de tubos de pasta de dente. As paredes das casas podem ter como matéria-prima adobe, tijolo de terra crua, bambu e pau-a-pique. Mas até o cimento é usado, em menor escala. ●
lis de Goiás, a 40 quilômetros de Goiânia, mostra como esse tipo de empreendimento pode ser rentável. Desde 2004, mais de 80% dos 335 lotes da Santa Branca foram vendidos. “Nosso negócio é traduzir a ideia da sustentabilidade para o mercado”, diz Antônio Zayeck, de 44 anos, presidente da associação de moradores e o primeiro a erguer sua casa no local. Para Ely Brito, idealizadora da Viver Simples, na zona rural deItamonte,sul deMinas,asustentabilidadenãoselimita aoespaço da ecovila. “Nosso projeto procurou preservar as tradições locais e trocar conhecimentocoma comunidade daregião”, diz Ely. O terreno da Viver Simples, comprado em 2006, fica na área de proteção ambiental da Serra da Manti-
queira. Os futuros moradores conseguiram licença ambiental para construir as casas, que devem ficar prontas em dois anos.
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‘TETO VERDE’ – Em Itamonte, Minas, telhado ecológico capta água da chuva e diminui os efeitos da erosão
do, em Piracaia, interior paulista, surgiu em 2001. Os 97 lotes começaram a ser vendidos quatroanosdepois.Hoje,commetade das terras comercializadas, as primeiras famílias estão se mudando para lá. “Morarem umaecovila significa passar por mudanças radicais de comportamento”, diz o engenheiro agrônomo Edson Hiroshi Seó, idealizador da comunidadeClareando.Mas, apesar de radicais, essas mudanças implicam reencontrar um estilo de vida menos distante, historicamente, do que parece. “Há apenas duas gerações, nossos antepassados viviam no campo. Erguiam as casas da própriaterraetiravamosremédios do mato. Isso se perdeu no homem moderno”, afirma Seó. Outra ecovila, em Terezópo-
RECICLAGEM – Telhas da sede do Ipema: tubos de pasta de dente
CURSOS
Para quem quer saber mais sobre o tema, o Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica(Ipema)servedereferência. Localizado em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, o instituto tem um centro de treinamento. O curso mais disputado custa R$ 480 e vai de março a julho. Visitantes podem conhecer o local às sextasfeiras, pagando R$ 20. O Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado, em Pirenópolis (GO), também promove cursos e presta consultorias. Criada há dez anos, a ecovila de Pirenópolis tem cem famílias. ●
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Produto: ESTADO - ESPECIAL - 7 - 27/02/09
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ENTREVISTAS
NelsonBugalho e RosaRamos Dez anos após a entrada em vigor da Lei de Crimes Ambientais, a avaliação é de que o País tem uma das legislações mais avançadas do mundo,
mas ela é pouco obedecida. E já existe um debate sobre a necessidade de alterá-la. Parte dos especialistas cobra maior fiscalização e a responsabi-
Leiambientaldeve terpenamaisdura ‘Há necessidade de que o Estado se faça presente de forma vigorosa. Creio que a legislação, por si só, não seja suficiente’ Promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo desde 1987, Nelson Bugalho, de 46 anos, é responsável por um dos seis núcleos estaduais do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente. Com mais de 20 anos de experiência na área, defende a necessidade de revisão na Lei de Crimes Ambientais, mas alerta para o “risco” da presença de “oportunistas”. Qual a proporção de gravidade entre crimes ambientais cometidos por pessoas físicas e jurídicas?
Na área ambiental, os mais graves geralmente são praticados pela pessoa jurídica. É claro que, por trás da pessoa jurídica (empresas), existem as físicas. Mas os de maior magnitude geralmente têm a pessoa jurídica por trás. Os crimes ambientais podem receber o mesmo tratamento jurídico que os comuns?
A Lei de Crimes Ambientais não dispensa o mesmo tratamento. Mas, infelizmente, ela tem penalidades de pouco grau de persuasão. Há crimes ambientais que recebem tratamentos mais tênues do que os
delitos do Código Penal. Alguém que risca um carro, por exemplo, está sujeito a uma pena de 1 a 6 meses de detenção ou multa. Se o indivíduo destrói uma floresta inteira, está sujeito a uma pena mínima de 1 ano. Há um tratamento desproporcional. O ambiente não é um bem jurídico considerado menos importante em relação a outros?
A questão ambiental sempre teve uma atenção periférica do legislador brasileiro. Só por causa do que vem ocorrendo nas últimas décadas, em que estamos realmente sentindo os efeitos da crise ecológica, ela passa a ter atenção central. O senhor concorda que a Lei de Crimes Ambientais deixou lacunas no que diz respeito à responsabilização penal da pessoa jurídica?
Evidentemente. Nos crimes contra o patrimônio florestal, por exemplo. O Brasil possui algumas vegetações, mas a lei se refere ora a uma, ora a outra, deixando de lado outras igualmente importantes. Quando o legislador verticaliza muito o bem jurídico, ele acaba comprometendo a proteção. Não seria o caso de se criar mecanismos para garantir a aplicabilidade dessa lei?
Passados mais de dez anos da edição da lei, acho que já era a hora de fazer uma revisão. É
ANDRE LESSA/AE
Quem é:
Nelson Bugalho ● Formado em Direito,
concluiu mestrado em Direito Penal pela Universidade Estadual de Maringá, no Paraná
que há sempre um risco, e surgirão oportunistas querendo deixar a lei mais imperfeita. Mas há necessidade de revisão, inclusive no que se refere à responsabilização penal da pessoa jurídica. Uma crítica que muitos doutrinadores fazem é que, até hoje, não há legislação processual penal própria para esse tipo de responsabilidade, e deveria existir.
● Promotor do Ministério
Público de São Paulo desde 1987, atua exclusivamente na área ambiental desde 2001. É responsável por um dos núcleos do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema)
da dimensão territorial brasileira. Há situações em que a polícia ambiental está com seus carros parados na garagem por falta de dinheiro para manutenção, por exemplo. Isso acaba deixando impune grande parte dos degradadores.
Uma vez identificado o crime ambiental, como responsabilizar os componentes individuais de uma empresa, por exemplo?
A lei não permite punir criminalmente apenas a pessoa jurídica. Ela exige que seja identificada a pessoa física que tomou a decisão de realizar o comportamento criminoso. Então, há a necessidade de se apurar, o que dificulta o processo criminal. Um dos argumentos utilizados para se criar a responsabilização penal da pessoa jurídica foi justamente o fato de as pessoas físicas se esconderem atrás das jurídicas. Mas caímos na mesma situação. Os valores das multas por crime ambiental não são irrisórios para empresas com muito dinheiro?
Isso é comum e não inibe a continuidade da atividade lesiva. A empresa é advertida, sofre multas e ainda discute judicialmente a legalidade da imposição. Enquanto isso, realiza sua atividade industrial.
LEI 9.605 – Bugalho: pena de apenas 1 ano por destruição de floresta
Como calcular o valor de um reparo por dano ambiental se os danos forem irreversíveis?
Isso é difícil de responder, porque há técnicos que aplicam metodologias em cada caso.
De modo geral, o senhor acredita que a existência das leis ambientais, aliada a uma necessidade mundial de se desenvolver com sustentabilidade, tem melhorado a atitude das empresas em relação aos crimes ambientais?
Tem melhorado, sim, mas nas regiões em que os órgãos de fiscalização e o Ministério Público estão atentos. Se não houver atuação dinâmica, é claro
Empresapúblicaé amaiorpoluidora Integrante de colegiados da Fiesp e da OAB diz que iniciativa privada já encara sustentabilidade como trunfo comercial Autora de uma tese de mestrado na qual faz um balanço de ações civis públicas ambientais nos últimos dez anos na Grande São Paulo, a advogada Rose Ramos, de 45 anos, cobra dos órgãos públicos e da sociedade maior fiscalização dos crimes ambientais. Mas também diz ser otimista em relação ao compromisso das empresas com a sustentabilidade. “A empresa que prova ser sustentável tem credibilidade comercial maior.” Integrante do Conselho de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Rose critica a “tentação” do poder público de apontar a iniciativa privada como a vilã ambiental do País. “Os maiores poluidores são as empresas públicas.” Relativamente recente no Brasil, a punição criminal a pessoas jurídicas por dano ambiental funciona?
Mesmo com um instrumento específico, ficamos à mercê dos órgãos executores. O órgão público não tem estrutura para fazer valer a lei. É de praxe, hoje em dia, os juristas dize-
rem que o Brasil possui as melhores leis ambientais do mundo. Mas a maior problemática está exatamente na hora de executar essas leis. A sanção criminal resulta em benefício para o ambiente?
Sou favorável a uma pena pecuniária mais rigorosa. Não adianta colocar o empresário na cadeia. Mas experimenta tirar dinheiro do bolso dele. Se as multas são altíssimas, ele tem problemas no fluxo de caixa, no patrimônio financeiro. Nesse caso, vai pensar melhor antes de cometer qualquer infração ambiental.
A existência da responsabilização penal tem mudado de que forma o comportamento das empresas em relação ao ambiente?
Inicialmente, mudou de maneira coercitiva, por imposição legal. Mas hoje, vejo que as empresas têm preocupações. Verificaram que isso possui um marketing fortíssimo, uma bandeira de credibilidade muito forte. Do meu ponto de vista, a empresa que prova ser sustentável tem credibilidade comercial maior. Outra questão é que hoje, mesmo não havendo fiscalização contundente do Estado, existem outros mecanismos que impedem as empresas de praticarem danos ambientais. Um exemplo são as vinculações do licenciamento ambiental com a Secretaria da
lização criminal de pessoas jurídicas por danos ao ambiente. Empresários, por seu lado, veem a lei como um entrave burocrático.
que há um afrouxamento das regras e não haverá tanta preocupação das empresas. Há necessidade de que o Estado se faça presente de forma vigorosa. Creio que a legislação, por si só, não seja suficiente. Em que nível se consegue fiscalizar e punir os crimes de pessoa jurídica no Brasil?
Creio que a maior parte dos crimes ambientais, pelo menos em termos quantitativos, sequer chega ao conhecimento dos órgãos ambientais. A fiscalização é feita por poucos. E a estrutura de fiscalização do poder público é pequena diante
Há um problema seriíssimo de falta de pessoal. Se a legislação requer licenciamentos de maneira rigorosa, é preciso ter estrutura para que a documentação saia em tempo hábil. A economia pede isso. O processo administrativo também prevê um tempo para que você seja atendido. Isso está sendo totalmente desrespeitado. Nesse momento, seria primordial uma reestruturação dos ór-
SÃO, ESPECIAL PARA O ESTADO
Quem é:
Rosa Ramos ● É formada pela Faculdade
de Direito de São Bernardo do Campo e faz mestrado na Unimes, de Santos
● Faz parte do Conselho de
Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
● Também é integrante da
Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Como funciona o Conselho de Meio Ambiente da Fiesp?
As leis ambientais dificultam a ação das empresas?
Apesar de não existir no direito processual brasileiro um sistema próprio para a responsabilidade penal da pessoa jurídica, ele vem sendo adaptado a uma nova realidade. As condenações vem ocorrendo. Deveria haver maior preocupação do Congresso para melhorar a legislação ambiental penal e processual, em vez de se mobilizar para alterar o Código Florestal, e piorá-lo. Hoje, a discussão que se vê no Congresso vai contra a maré. ● LUCAS FRA-
MARCIO FERNANDES/AE
Fazenda, no que diz respeito à emissão de notas fiscais. Em SP, quem precisa de notas fiscais, mas está irregular na Cetesb, não consegue autorização da Secretaria da Fazenda (porque não obteria a inscrição estadual).
É uma função voluntária. Todos os membros são pessoas que ocupam cargos estratégicos, vinculados ao ambiente. Nosso trabalho é discutir as questões legais e práticas de licenciamentos, por exemplo, uma vez que a indústria sofre muito com a demora dos serviços públicos. Pagam-se taxas ao pedir um licenciamento. E uma empresa em operação pode precisar de uma ampliação. Mas, enquanto o licenciamento não sai, a empresa deixa de produzir e de admitir pessoas.
Se a sanção penal da pessoa jurídica por dano ambiental está prevista na Constituição, mas o combate a esses crimes ainda é tímido, não podemos identificar, de certa maneira, uma atitude inconstitucional, por omissão legislativa?
algumas mudas de árvore e nunca mais alguém compareceu para saber se elas estão lá, se serviram para restabelecer o dano ambiental ou não. Quanto falta para a relação entre indústria e ambiente chegar a um ponto de equilíbrio? MULTA – Rosa: defesa de punições que pesem no bolso dos infratores
gãos fiscalizadores e executores da legislação ambiental. Acusada de crime ambiental, como a empresa pode se defender?
A empresa presta informações. Se ela for inocente, apresenta a prova de que não cometeu crime algum. Se não tiver a prova e cometeu o crime, vai contratar um advogado para fazer a defesa. Existe previsão legal para o que chamamos de termo de ajustamento de conduta. A empresa compensa o dano ambiental de acordo com o que está na Lei 9.605, através de pagamento de multa, plantio de árvores, doação de mudas, por exemplo. Mas há
também a questão do crime ambiental. A penalização pelo dano pode ser pela prestação de serviços à comunidade ou pelo pagamento de multa. É possível citar o exemplo de uma empresa que tenha cometido crime ambiental, punido com multa e restrição de liberdade?
Que eu tenha atuado, não. Essa questão é bastante importante porque, se você perguntar para profissionais da área, poucos terão exemplo dessa natureza. Consigo lembrar de casos de compensação ambiental, como o de um infrator que teve de doar mudas. Outro acabou plantando no imóvel dele
Esta é uma pergunta difícil. Os economistas têm opiniões divididas. Mas sou entusiasta em relação ao ambiente. Tenho esperança de que a relação entre indústria e ambiente estará bem próxima do ideal em curto espaço de tempo. Isso depende da fiscalização do Estado. Se a Lei de Crimes Ambientais for devidamente aplicada, vai impedir que nosso ambiente seja degradado. Quem são os responsáveis pelos maiores crimes contra o ambiente no Brasil?
Há uma tentação, principalmente do poder público, de querer jogar essa responsabilidade para cima das indústrias. Eu discordo totalmente. Diria que os maiores poluidores são as empresas públicas. ● L.F.