Resumo de psicologia aplicada ao trabalho

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Psicologia Aplicada ao Trabalho

RESUMO DE PSICOLOGIA APLICADA AO TRABALHO A PSICOLOGIA OU AS PSICOLOGIAS - Objetivo:  Reconhecer a Psicologia enquanto ciência, seu objeto de estudo e seus ramos de atuação. - O SENSO COMUM: CONHECIMENTO DA REALIDADE Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência: é a vida do cotidiano. É no cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos, que sentimos a realidade. Quando fazemos ciência, baseamo-nos na realidade cotidiana e pensamos sobre ela. Afastamo-nos dela para refletir e conhecer além de suas aparências. O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade aproximamse e se afastam: aproximam-se porque a ciência se refere ao real; afastam-se porque a ciência abstrai a realidade para compreendê-la melhor, ou seja, a ciência afasta-se da realidade, transformando-a em objeto de investigação – o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real. O fato é que a dona de casa, quando usa a garrafa térmica para manter o café quente, sabe por quanto tempo ele permanecerá razoavelmente quente, sem fazer nenhum cálculo complicado ou quando precisamos atravessar uma avenida movimentada, com o tráfego de veículos em alta velocidade, sabemos perfeitamente medir a distância e a velocidade do automóvel que vem em nossa direção. Esse tipo de conhecimento que vamos acumulando no nosso cotidiano é chamado de senso comum. O senso comum integra, de um modo precário (mas é esse o seu modo), o conhecimento humano. - A PSICOLOGIA CIENTÍFICA A tarefa de definir a Psicologia como ciência é bem árdua e complicada. Comecemos por definir o que entendemos por ciência, para depois explicarmos por que a Psicologia é hoje considerada uma de suas áreas. - O QUE É CIÊNCIA A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Assim, podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado conteúdo foi construído, possibilitando a reprodução da experiência. Dessa forma, o saber pode ser transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido. Um novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo anteriormente desenvolvido. A ciência caracteriza-se como um processo. A ciência tem ainda uma característica fundamental: ela aspira à objetividade. Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas de emoção, para, assim, tornarem-se válidas para todos.

Objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo cumulativo do conhecimento, objetividade fazem da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum. Esse conjunto de características é o que permite que denominemos científico a um conjunto de conhecimentos. - OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA Um conhecimento, para ser considerado científico, requer um objeto específico de estudo. O objeto da Astronomia são os astros, e o objeto da Biologia são os seres vivos. Essa classificação bem geral demonstra que é possível tratar o objeto dessas ciências com uma certa distância, ou seja, é possível isolar o objeto de estudo. O mesmo não ocorre com a Psicologia, que, como a Antropologia, a Economia, a Sociologia e todas as ciências humanas, estuda o homem. Certamente, esta divisão é ampla demais e apenas coloca a Psicologia entre as ciências humanas. Qual é, então, o objeto específico de estudo da Psicologia? - DIVERSIDADE DE OBJETOS DA PSICOLOGIA A diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato de este campo do conhecimento ter-se constituído como área do conhecimento científico só muito recentemente e quando uma ciência é muito nova, ela não teve tempo ainda de apresentar teorias acabadas e definitivas, que permitam determinar com maior precisão seu objeto de estudo. Um outro motivo que contribui para dificultar uma clara definição de objeto da Psicologia é o fato de o cientista – o pesquisador – confundir-se com o objeto a ser pesquisado. No sentido mais amplo, o objeto de estudo da Psicologia é o HOMEM, e neste caso, o pesquisador está inserido na categoria a ser estudada. Assim, a concepção de homem que o pesquisador traz consigo “contamina” inevitavelmente a sua pesquisa em Psicologia. O objeto da Psicologia deveria ser aquele que reunisse condições de aglutinar uma ampla variedade de fenômenos psicológicos. Ao estabelecer o padrão de descrição, medida, controle e interpretação, o psicólogo está também estabelecendo um determinado critério de seleção dos fenômenos psicológicos e assim definindo um objeto. Esta situação leva-nos a questionar a caracterização da Psicologia como ciência e a postular que no momento não existe uma psicologia, mas Ciências psicológicas embrionárias e em desenvolvimento.

O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO HUMANA - Objetivos:  Compreender a influência do meio social no comportamento humano, bem como o significado dos conceitos de status e papeis;  Reconhecer o quanto a sociedade determina o estabelecimento de papeis e as consequências existentes quando suas atribuições são negligenciadas;

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Psicologia Aplicada ao Trabalho  Entender a importância de sua implicação pessoal com a mudança de status que alcançará ao finalizar o curso e com sua própria motivação para a profissão.  Filme de referência: Linha de Passe - enredo discutido em sala de aula sob orientação do professor. Os significados para os fatos que nos circundam nos são mediados a partir das pessoas de nosso convívio direto, a começar por aqueles de nossas relações iniciais quando crianças, as quais passam a nos inserir na linguagem reinante no meio a que faremos parte. A vida cotidiana, portanto, é uma realidade interpretada pelo indivíduo, e passa a fazer sentido para ele na medida em que compreende o significado social dela e passa a assumi-la como sua também. Este processo foi denominado, na sociologia, de INTERIORIZAÇÃO, e implica, em última análise, compreensão e assimilação da realidade social. INTERIORIZAÇÃO = compreender o significado da realidade cotidiana e assumi-la como minha também. Trocando em miúdos, ser socializado é ser inserido na sociedade, é reconhecer os significados que os outros dão para os fatos e as coisas como sendo meus também, é falar a “mesma língua” que falam todos aqueles que me cercam. Naturalmente todo esse processo se inicia com nossos pais, ou quem tenha a tarefa de nos educar. Desde nossas primeiras relações estamos sendo apresentados à socialização, e a partir da interiorização, assumimos o mundo dos nossos entes queridos como sendo nosso também. Num primeiro momento, portanto, o mundo que conheceremos será exatamente o mundo de quem nos apresentou, com todas as suas crenças, preconceitos, decepções, alegrias, ou seja, o mundo como o outro conseguiu perceber, de acordo com o que ele conseguiu alcançar, adquirir, conquistar. Depois é que passaremos a entender que este mundo particular, na verdade, é parte integrante de um mundo muito maior do qual fazemos parte. Assim nos tornamos sociais. Aprendemos a conviver com os outros, a abrir mão de determinados prazeres na certeza de que o outro também o fará. A renúncia, portanto, é um dos grandes pilares da vida em sociedade, sob pena de não conseguirmos ter nossos limites respeitados justamente por não respeitarmos os limites alheios. - Conceituar e exemplificar os termos “STATUS” (atribuído e adquirido) e “PAPÉIS SOCIAIS”. - STATUS E PAPÉIS SOCIAIS As instituições são: Uma estrutura relativamente permanente de padrões, papeis e relações que os indivíduos realizam segundo determinadas formas sancionadas e unificadas, com o objetivo de satisfazer necessidades sociais básicas. Dessa forma, ao falarmos de casamento, religião, educação, segurança pública, estamos falando de instituições sociais. As instituições proporcionam métodos pelos quais a conduta humana é padronizada, obrigada a seguir por caminhos considerados desejáveis pela sociedade, e o truque

é executado ao se fazer com que esses caminhos pareçam ao indivíduo como os únicos possíveis. PAPEL SOCIAL: são respostas que devemos dar às expectativas que têm sobre nós; são comportamentos que devemos ter diante de determinadas situações criadas socialmente. Comparando a sociedade como um grande teatro, os papéis devem ser representados de acordo com o que a situação o exigir. O papel social representa o comportamento aparente; é o aspecto dinâmico do status; aquilo que o indivíduo deve fazer, de modo a tornar válida a ocupação do status. Status é o lugar ou posição que a pessoa ocupa na estrutura social, e pode ser alcançado de duas formas: por circunstâncias que independem de sua vontade (status atribuído), ou através de suas qualidades, capacidades e habilidades específicas (status adquirido). STATUS ATRIBUÍDO: Independe da capacidade do indivíduo; é-lhe atribuído em virtude de seu nascimento (sexo, posição social, cor). STATUS ADQUIRIDO: Depende do esforço e aperfeiçoamento pessoal; refere-se à conquista individual (profissão, cargos políticos, cargos de confiança). Assim, é importante entendermos que a posição social de cada indivíduo pode ser mudada na sociedade. Todavia, uma vez conquistado o status, tem o indivíduo que se submeter a seu código, às funções e papéis sociais que dele decorrem, e ter os direitos e deveres que a sociedade ou o grupo lhe reconhece. Status é a posição socialmente identificada; papel é o padrão de comportamento esperado e exigido de pessoas que ocupam determinados status. STATUS Sargento

Exemplo: PAPEL Coordenação e Comando

Os papéis trazem consigo as ações, emoções e atitudes a elas relacionadas. Isso implica que, ao assumirmos nossos papéis na sociedade, passamos a representa-lo exatamente conforme o que esperam de nós. Pensemos um pouco no papel do policial e na maneira como ele aprende a representa-lo. Tente se lembrar de como você era antes do seu ingresso à carreira policial, como era sua postura diante dos colegas, como você transitava pelas ruas do seu bairro, como era tratado pelas pessoas e como você lhes tratava. Tente, agora, comparar estas lembranças com aquelas que você tem de quando começou a fazer o curso de formação na PMMG. À medida que foi estudando as matérias específicas da área policial e convivendo com outros militares, uma nova identidade foi sendo criada, um novo papel foi sendo assumido. Ao escolher mudar o seu status social – fazer um Curso de Formação de Sargentos – é preciso ter em mente que as pessoas se comportarão com você com um nível maior de

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Psicologia Aplicada ao Trabalho exigência, pois pressupõem que você aceitou as novas atribuições do papel que irá agora desempenhar. No grande “teatro de operações” de segurança pública, as suas funções, seus direitos e deveres se transformaram a partir de seu novo papel social. Podemos ocupar vários representar vários papéis.

status

na

sociedade,

logo,

Quando entramos para uma sala de aula, como participantes de algum curso, independente da profissão ou do cargo que ocupamos, passamos a ser alunos. E nos portamos como alunos: reclamamos dos trabalhos, conversamos em hora imprópria, lemos revista... Mas quando a posição se inverte, e passamos a ser professores, damos vários trabalhos para os alunos, chamamos a atenção quando conversam e ficamos indignados com o aluno lendo revista durante a aula. Estes são apenas alguns exemplos de como a sociedade estabelece padrões que assumimos sem mesmo refletirmos sobre eles. Aliás, a necessidade humana de ser aceita pelo grupo a que faz parte, lhe condiciona a querer agir exatamente da forma como é esperada, e isso geralmente é feito de forma inconsciente.

SAÚDE OU DOENÇA MENTAL: A QUESTÃO DA NORMALIDADE - Objetivos:  Compreender os aspectos envolvidos na conceituação de saúde e doença mental;  Compreender o caráter humano do sofrimento psíquico e sua vinculação com as condições de vida e estruturação psíquica do indivíduo, desmistificando a loucura como é tratada socialmente e na Corporação;  Identificar, refletir e compreender os aspectos da profissão policial militar que podem contribuir para o desenvolvimento do estresse e do estresse póstraumático;  Identificar alguns aspectos emocionais que podem interferir no relacionamento interpessoal no trabalho. - O SOFRIMENTO PSÍQUICO Em muitos momentos de sua vida uma pessoa pode viver situações difíceis e de sofrimento tão intenso, que pensa que algo vai arrebentar dentro de si, que não vai suportar, que vai perder o controle sobre si mesma... que vai enlouquecer. Isto pode ocorrer quando se perde alguém muito próximo e querido, em situações altamente estressantes, em que o indivíduo se vê com muitas dúvidas e não percebe a possibilidade de pedir ajuda e/ou resolver sozinho tal situação. A pessoa, então, busca a superação desse sofrimento, o restabelecimento de sua organização pessoal e de seu equilíbrio, isto é, o retorno às condições anteriores de rotina de sua vida, em que não tinha insônia, não chorava a toda hora, não tinha os medos que agora tem, por exemplo. Embora o sofrimento seja intenso, não é possível falar de doença nessas situações. É necessário ter muito cuidado para não patologizar o sofrimento. Situações como essas, todos nós podemos vive-las em algum momento da vida, e nessas

circunstâncias, o indivíduo necessita de apoio de seus grupos (a família, o trabalho, os amigos), isto é, que estes grupos sejam “continentes” de seu sofrimento e de suas dificuldades e que não o excluam, não o discriminem, tornando ainda mais difícil o momento que vive. Além do apoio do grupo, o indivíduo pode necessitar de uma ajuda psicoterápica, no sentido de suporte e facilitação da compreensão dos conteúdos internos que lhe causam o transtorno, o que poderá leva-lo a uma reorganização pessoal quanto a valores, projetos de vida, a aprender a conviver com perdas, frustrações e a descobrir outras fontes de gratificação na sua relação com o mundo. Neste modo de relatar e compreender o sofrimento psíquico, fica claro que o critério de avaliação é o próprio indivíduo e seu mal-estar psicológico, isto é, ele em relação a si próprio e à sua estrutura psicológica, e não o critério de adaptação ou desadaptação social. Esse indivíduo que sofre pode estar perfeitamente adaptado, continuar respondendo a todas as expectativas sociais e cumprir todas as suas responsabilidades. Ao mesmo tempo, pode-se encontrar um outro indivíduo, que, mesmo sendo considerado socialmente desadaptado, excêntrico, diferente, não vivencia, neste momento de sua vida, nenhum sofrimento ou mal-estar relevante. O indivíduo consegue lidar com suas aflições intensas encontrando modos de produção que canalizam este malestar de forma produtiva e criativa. Assim, embora o sofrimento psicológico possa levar à desadaptação social e esta possa determinar uma ordem de distúrbio psíquico, não se pode, sempre, estabelecer uma relação de causa e efeito entre ambos. Isto torna questionável a utilização exclusiva de critérios de adequação social para a avaliação psicológica do indivíduo enquanto normal ou doente. Abordar a questão da doença mental, neste enfoque psicológico, significa considerá-la como produto da interação das condições de vida social com a trajetória específica do indivíduo (sua família, os demais grupos e as experiências significativas) e sua estrutura psíquica. As condições externas – poluição sonora e visual intensas, condições de trabalho estressante, trânsito caótico, índices de criminalidade, excesso de apelo ao consumo, perda de um ente muito querido etc. – devem ser entendidas como determinantes ou desencadeadoras da doença mental ou propiciadoras e promotoras da saúde mental, isto é, da possibilidade de realização pessoal do indivíduo em todos os aspectos de sua capacidade. - A ABORDAGEM PSICOLÓGICA A abordagem psicológica encara os sintomas e, portanto, a doença mental, como desorganização da personalidade. A doença instala-se na personalidade e leva a uma alteração de sua estrutura ou a um desvio progressivo em seu desenvolvimento. Dessa forma, as doenças mentais definem-se a partir do grau de perturbação da personalidade, isto é, do grau de desvio do que é considerado como comportamento padrão ou como personalidade normal.

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Psicologia Aplicada ao Trabalho - NORMAL E PATOLÓGICO: UMA DISCUSSÃO ANTIGA E ATUAL O conceito de normal e patológico é extremamente relativo. Do ponto de vista cultural, o que numa sociedade é considerado normal, adequado, aceito ou mesmo valorizado, em outra sociedade ou em outro momento histórico pode ser considerado anormal, desviante ou patológico. Por exemplo, o comportamento homossexual, que em uma sociedade é considerado doença, em outra pode ser um comportamento absolutamente adequado ou até mesmo valorizado. A questão da normalidade acaba por desvelar o poder que a ciência tem de, a partir do diagnóstico fornecido por um especialista, formular o destino do indivíduo rotulado. Isso pode significar não passar pela seleção de um emprego, perder o pátrio poder sobre os filhos, ser internado em um hospital psiquiátrico e, a partir disso, ter como identidade fundamental a de louco. Esse poder atribuído à ciência e aos profissionais deve ser questionado, na medida em que se baseia num conjunto de conhecimentos bastante polêmicos e incompletos. Além do que, o médico ou o psicólogo, como cidadão e representante de uma cultura e de uma sociedade, acaba por patologizar aspectos do comportamento que se caracterizam muito mais como transgressões de condutas morais (sexuais, por exemplo) que não são considerados desvios em outros momentos históricos ou em outras sociedades: isso demonstra a relatividade do conceito de normal. Outro aspecto conhecido e bastante alardeado pelos meios de comunicação de massa é o uso da Psiquiatria ou do rótulo de doença mental com fins políticos. O saber científico e suas técnicas surgem, então, comprometidos com grupos que querem manter determinada ordem social. Tranca-se no hospital psiquiátrico ou retira-se a legitimidade do discurso do indivíduo que contesta esta ordem, transformando-o em louco. - A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL Falar em doença implica pensar na cura. A cura, no caso da doença mental, varia conforme a teoria ou o modelo explicativo usado como referencial e, desta forma, pode ser centrada no medicamento (as drogas quimioterápicas), no eletrochoque, na hospitalização, na psicoterapia. Falar em doença implica pensar, também, em prevenção. A prevenção da doença mental significa criar estratégias para evitar o seu aparecimento. Por analogia, seria como dar a vacina anti-sarampo para que a criança não tenha a doença. A prevenção implica sempre ações localizadas no meio social, isto é, os dados de uma pesquisa podem demonstrar que determinadas condições de trabalho propiciam o aparecimento de um certo distúrbio de comportamento.

tempo, em todas as condições de vida que visam propiciar-lhe bem-estar físico, mental e social. Nessa perspectiva, significa pensar na pobreza, que determina condições de vida pouco propícias à satisfação das necessidades básicas dos indivíduos, e, ao mesmo tempo, pensar na violência urbana e no direito à segurança; no sistema educacional, que reproduz com a competitividade da nossa sociedade; na desumanização crescente das relações humanas, que levam à “coisificação” do outro e de nós próprios. E pensar tudo isto significa pensar na superação das condições que desencadeiam ou determinam a loucura. Como cidadãos, é preciso compreender que a saúde mental é, além de uma questão psicológica, uma questão política, e que interessa a todos os que estão comprometidos com a vida.

O ESTRESSE E SUAS IMPLICAÇÕES NO TRABALHO POLICIAL - CONCEITO DE ESTRESSE O estresse é o denominador comum de todas as reações de adaptação no corpo. O estresse é um mecanismo primitivo com uma função básica de preservação da vida e resulta da interação do homem com o meio ambiente. Consiste num conjunto de reações do organismo capaz de promover um estado de prontidão e de mobilizar energia suficiente para garantir a vida e a sobrevivência. É, nesse sentido, o estado de alerta do organismo em resposta a situações que suscitam idéias de perigo e/ou ameaça. Frente a quaisquer situações que mobilizem sentimentos dessa natureza, o corpo reage através de duas respostas básicas: lutar ou fugir. Esse padrão de respostas desenvolve-se a partir da interpretação de perigo em nível cerebral que imediatamente ativa mecanismos neuro-hormonais que provocam modificações em todo o organismo, conforme ilustra a figura 1. Uma vez desaparecida a razão para o estado de alerta (...) a reação de estresse começa a ceder, de forma que o organismo volte a seu estado normal de equilíbrio das funções vitais. Essa síndrome de reação é um processo normal do organismo. Quando o estímulo para o estresse acaba, o córtex para de emitir impulsos e o organismo volta ao seu funcionamento normal. Se o estímulo não for interrompido ou se repetir com frequência, a pessoa pode entrar em um estado de estresse crônico, o que compromete a adaptação anteriormente obtida, podendo ter consequências nocivas e até mesmo drásticas para o organismo.

Procura-se, então, interferir naquelas condições específicas de trabalho (no barulho, por exemplo), no sentido de evitar que outros indivíduos venham a apresentar o mesmo distúrbio. E falar em saúde significa pensar em promoção da saúde mental, que implica pensar o homem como totalidade, isto é, como ser biológico, psicológico e sociológico e, ao mesmo

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Psicologia Aplicada ao Trabalho Figura 1

- CONDIÇÕES INDIVIDUAIS QUE PREDISPÕEM AO ESTRESSE É fundamental levar em consideração a totalidade do ser humano e das circunstâncias que o rodeiam para termos uma compreensão mais ampla dos processos de adoecer. A totalidade só é possível quando se leva em conta a pessoa e não a doença. O que chamamos de realidade exterior é construída a partir de um universo simbólico de modo a atender às necessidades de cada sujeito. A mente, à medida que constrói suas concepções de mundo, não só experimenta suas criações como reais, como as empurra para fora, transformando-as em objetos de cultura, transfigurando a realidade externa. Desta forma, atribuir adjetivos ao mundo como bom, ruim, agressivo, amoroso, não diz tanto sobre como ele - o mundo - de fato é, mas como ele é construído, podendo então ser vivido como um lugar de estresse insuportável, ou, ao contrário, um lugar idealizado. O corpo terá assim que se adaptar àquela realidade particular, criada pelo próprio indivíduo e pela sua cultura, que passa a ser a sua realidade. Desta forma, não podemos rotular o estresse como algo bom ou mau, pois é através do estresse que nos adaptamos às situações da vida. Neste sentido, é o modo como reagimos a essas situações que faz diferença. O estudo de Friedman e Rosenmam tornou evidente que “a personalidade é o mais importante dos fatores de vulnerabilidade, pois condiciona nosso comportamento e nossa interpretação subjetiva do potencial estressor de uma situação”. O indivíduo, no decorrer de seu desenvolvimento, constrói e estrutura formas de ser e reagir aos diferentes estímulos. Assim, o processo de adoecer deixa de ser um evento causal e passa a ser integrado a sua biografia à medida em que o homem responde às ameaças simbólicas decorrentes da interação social e não apenas às ameaças concretas (biológicas, físicas e químicas). Situações como quebra de laços familiares e da estrutura social, obstáculos à realização pessoal, separação, perda do emprego, viuvez, aposentadoria, entre outros, são tão potencialmente danosos à pessoa quanto outros fatores concretos.

Dentro desta perspectiva, pode-se compreender que um grande número de doenças - senão a maioria das doenças mais frequentes do homem urbano contemporâneo denunciam, expressam e revelam a forma de uma pessoa viver a sua interação com o mundo. A vida moderna, caracterizada por um processo constante, ininterrupto e rápido de mudanças, tem contribuído para criar situações estressantes à medida que exige de todos adequação a estas mudanças. Muitos autores têm situado o estresse enquanto condição de descontrole de uma função fisiológica normal como algo epidêmico. Visto sob essa ótica, o estresse aponta que algo não vai bem, que nessa relação do homem com o mundo e suas exigências há um mal-estar que incide sobre o corpo. No nível pessoal, o estresse pode significar desconforto, doença, envelhecimento precoce ou morte prematura. Assim, é de fundamental importância abrir espaço para compreender que a situação de conflito, seja do indivíduo consigo mesmo, seja do indivíduo com a circunstância à qual está submetido - geradora de emoção - é suficiente para originar transtornos funcionais. Neste sentido, pode-se afirmar categoricamente que as pessoas reagem diferentemente ao estresse (o stress é uma resposta individual). Isto faria distinguir situações estressantes e situações percebidas como estressantes, o que aponta para a necessidade de entender os aspectos psicológicos do estresse. - ESTRESSE E TRABALHO O estresse, para a organização, significa desempenhos fracos, ineficiência e eficácia reduzida; é visto sob esta ótica: “o estresse nas organizações e um problema administrativo”. Todo mundo sente, até certo ponto, estresse no trabalho. Se o nível de estresse estiver na zona de tolerância do indivíduo, ele poderá funcionar bem e encarar o trabalho como uma parte construtiva e satisfatória de sua vida. Todavia, se o nível de estresse estiver fora dos limites de um determinado empregado, será inevitável que crie problemas tanto de desempenho no trabalho quanto de saúde e bem-estar pessoal. O preço do estresse insuportável tem de ser pago, mais cedo ou mais tarde. Isto significa que os gerentes devem ter preocupação direta com a saúde e bem-estar de seus funcionários pois “à medida em que um empregado esteja com excesso de estresse geralmente não poderá trabalhar a pleno potencial e com eficácia total”, além disso, os efeitos do estresse têm impacto sobre a saúde, o que significa custos diretos e indiretos. Outro ponto importante é que o estresse no trabalho pode ser identificado por outras variáveis além de uma alta taxa de doenças. Assim, é possível identificar o estresse no ambiente organizacional, bem como avaliar seu impacto na instituição através de variáveis como o absenteísmo, alta rotatividade de pessoal, desempenho no trabalho, ociosidade, impontualidade, comprometimento das relações interpessoais (agressões verbais ou físicas) e atos antissociais tais como sabotagem, desperdício ou quebras intencionais.

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Psicologia Aplicada ao Trabalho As instituições tendem a lidar de maneiras diferentes com o estresse ou seus sinais, dependendo do significado que lhes é atribuído. Uma organização pode, por exemplo, identificar o alto nível de pressão e, consequentemente, de estresse como demonstração de status gerencial. Nesses locais, a perspectiva de passar a ter menos pressão no trabalho pode ser vista como perda de status. Outra maneira de encarar o estresse nas organizações é a manutenção de uma crença muito comum, a saber: deve-se exigir o máximo de seu pessoal. Isso pode contribuir para criar uma situação em que os chefes estão “sempre fazendo muita pressão sobre seus subordinados e (sofrendo) pressão de seus chefes da mesma forma”. Nessas condições, a cultura institucional propicia o aparecimento e até mesmo a manutenção do estresse, além de valorizar, mesmo que de forma indireta, padrões de comportamentos de pessoas com predisposição a ataques cardíacos. Essa situação pode se tornar rotineira e peculiar a uma organização e passar despercebida pelos funcionários, o que não significa que não sofram ou reajam aos efeitos do estresse excessivo. Nos ambientes onde a pressão é vista como característica inerente ao trabalho, a expressão de estresse pode ser vista como sinal de fraqueza. Nessas organizações as pessoas fazem de tudo para encobrir qualquer sintoma, pois o estresse passa a ter relação com o fracasso pessoal. Isto aumenta a pressão pois as pessoas devem aparentar boa convivência, qualquer que seja o nível de pressão e o custo pessoal. Pressão e estresse não são a mesma coisa. Pressão pode ser entendida como um conjunto de exigências colocadas sobre o indivíduo ou grupo. O estresse é a resposta individual a um nível de pressão inadequado, não é a pressão em si. Tanto a pressão acentuada quanto o baixo nível de pressão são impróprios e causadores de estresse. Evitar estresse não é eliminar a pressão. A pressão trabalha a favor quando há equilíbrio entre exigências e capacidade para conviver com elas de forma efetiva. Aumentando o nível de pressão, aumentam a atenção e a vigilância, a pessoa sente-se energizada e pronta. Esse ponto favorável varia de pessoa para pessoa e não é quantificável. Quando o nível de exigência começa a subir, aumentam as tensões. Figura 2: A pressão e sua relação com o estresse

Pressão Adequada Baixa pressa

ESTRESSE

Alta Pressão

Conflito Tensão Energia Monotonia Sonolência

Impróprios Ótimo Impróprios

No ambiente profissional, os estressores que criam mais problemas fazem parte integrante da estrutura do trabalho. Segundo Dejours, a organização do trabalho - que compreende a divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa, o sistema hierárquico, as relações de poder, as modalidades de comando e questões atinentes à responsabilidade - exerce sobre o homem uma ação específica cujo impacto é o aparelho psíquico.

Deste choque, emerge um sofrimento de natureza mental que tem início quando a organização do trabalho busca adaptar o funcionário ao seu modelo já determinado, ignorando-o como um sujeito que traz consigo toda uma história individual, desejos, expectativas de futuro e aspirações em relação ao trabalho. O sofrimento mental coloca em risco o equilíbrio psicossomático do trabalhador e é expresso através de sintomas específicos, oriundos da relação organização do trabalho versus personalidade do trabalhador. Apesar dos sintomas resultarem da relação de cada indivíduo com o trabalho, é comum que indivíduos de uma mesma organização apresentem patologias e sintomas semelhantes, como alta incidência de úlceras, de alcoolismo, hipertensão, entre outros. Os sintomas funcionam como estratégias de defesa e apesar de terem o objetivo de aliviar o sofrimento mental também expressam insatisfação e ansiedade. Não encontrando saídas para suas dificuldades, o sofrimento mental será representado pela doença física (somatização), uma vez que no corpo a doença é reconhecida pela organização, pois o sofrimento mental não pode aparecer no local de trabalho. Desta forma, o conflito homem versus trabalho se desloca para um outro campo. Não existe patologia mental decorrente do trabalho, porém a organização do trabalho pode favorecer o surgimento de uma descompensação no sujeito, quando bloqueia os esforços daquele que tenta adequar suas tarefas às necessidades de sua estrutura mental. Na palavra do trabalhador e através da identificação de seus sistemas defensivos, pode-se ler e interpretar o sofrimento proveniente da organização do trabalho. A partir de então, é possível elaborar metas que propiciem ao trabalhador mudar o rumo do seu sofrimento. A saída não é criar soluções para o sofrimento alheio, mas criar condições que permitam a cada um pôr fim à desestruturação devida ao trabalho. - O ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO Este transtorno constitui numa resposta retardada ou protraída a uma situação ou evento estressante (de curta ou longa duração), de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica e que provocaria sinais evidentes de perturbação na maioria das pessoas. Os sintomas típicos incluem a revivência repetida o evento sob forma de lembranças invasivas (flashbacks), de sonhos ou de pesadelos; ocorrem num contexto durável de “anestesia psíquica” e de embotamento emocional, de retraimento em relação aos outros, insensibilidade ao ambiente, anedonia e evitação de atividades ou situações que despertem a lembrança do traumatismo. Os sintomas precedentes se acompanham habitualmente de uma hiperatividade neurovegetativa, com hipervigilância, estado de alerta e insônia associados à ansiedade, depressão e ideação suicida. No desempenho da atividade policial, o trabalhador fica exposto ao ambiente físico (barulho, temperatura,

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Psicologia Aplicada ao Trabalho equipamentos...), químico (poeira, poluição...), biológico (vírus, bactérias, fungos...) que ameaçam a sua saúde. A complexidade desta profissão requer habilidades para solucionar de forma equilibrada, desde um parto inesperado às mais diversas situações de flagelos sociais e conflitos interpessoais em qualquer classe social. Portanto, mesmo quando não envolvidos em ocorrências de sinistro propriamente dito, a incerteza constante expressa em frases tais como “sabe-se a hora que sai de casa, mas não sabe se voltará”, desvela uma vivência desta exposição prolongada a situações que representam perigo vital. Desta forma, reafirma-se aqui o fato de que a profissão militar, pelas suas peculiaridades, é favorável ao surgimento de transtornos de estresse. A partir do exposto, é importante ressaltar a importância do trabalho de grupos, visando ao desenvolvimento do espírito de equipe, da confiança entre líderes e liderados como uma atitude preventiva a este tipo de distúrbio, o que pode amenizar os efeitos da profissão militar. Além disto, chamamos atenção para a importância de diretrizes do comando da PMMG, no sentido de que é necessário o encaminhamento ao Psicólogo daqueles que, no percurso de sua vida profissional, estiveram envolvidos em situações de trauma, tais como tiroteios e envolvimento direto em situações de sinistros. - A PREVENÇÃO DO ESTRESSE A constatação de que o trabalho policial-militar é uma ocupação de alto estresse aponta a necessidade de que sejam tomadas medidas no sentido de minimizar o impacto causado por essa atividade no estado de saúde dos trabalhadores. Christophe Dejours dirá que as condições do trabalho ambiente físico, condições de segurança, higiene, entre outras - têm efeitos sobre a saúde do corpo e é fato que tais condições podem funcionar como fatores estressores. Além disso, dirá o autor que a organização do trabalho - divisão do trabalho, conteúdo da tarefa, sistema hierárquico, modalidades de comando e relações de poder - podem resultar em sofrimento mental. Como condições existentes no ambiente de trabalho podem contribuir para torná-lo um ambiente estressor, um trabalho de prevenção do estresse e da melhoria de qualidade de vida deve ser implementado não apenas pelos profissionais de saúde cujo enfoque é o indivíduo, mas deve ser desenvolvido também pelos gerentes e dirigentes, no âmbito organizacional. Nas instituições policiais-militares, o desenvolvimento de programas de redução de estresse, em conjunto com profissionais de saúde e militares da área fim e administrativa, pode ser muito útil. Em decorrência de uma peculiaridade da organização militar, onde é patente a força do exemplo dado pelos superiores, o resultado final desses programas tem relação direta com o grau de envolvimento pessoal e importância dada pelos comandantes, em todos os níveis, a esses eventos. Sabemos que é impossível eliminar o estresse de nossas vidas, porém podemos evitar que se torne excessivo,

aprendendo a lidar com ele e a enfrentá-lo de maneira adequada. Nesse sentido, sugere-se que na elaboração de um programa de prevenção e controle do estresse os seguintes tópicos sejam abordados:  Conceito de estresse  Efeitos do estresse no organismo  Identificação dos sintomas e do nível individual de estresse Os sinais iniciais do estresse (fase de alarme) são muito semelhantes em diversas pessoas e se caracterizam por suor nas mãos, dores de cabeça, taquicardia, entre outros, diferenciando-se mais tarde, dependendo dos pontos vulneráveis de cada indivíduo. As fases posteriores do estresse caracterizam-se por um maior número e/ou por uma acentuação dos sintomas e consequente desgaste para o organismo.  Identificação das principais fontes de estresse e dos padrões individuais de resposta As fontes de estresse podem ser internas ou externas. Aprendendo a reconhecer as causas do estresse e, ainda, o tipo individual de respostas mais comuns a eventos de tensão, pode-se adquirir maior consciência acerca das situações, responsabilizar-se pelos comportamentos envolvidos e comprometer-se com as mudanças.  Reduzindo pressões internas Nosso sistema de crenças, valores, princípios, modo de pensar e de viver podem ser poderosas fontes de estresse, bem como a ansiedade excessiva, dificuldade em ser assertivo e de expressar afeto, intensos sentimentos de raiva e excesso de sensibilidade. Nossos sentimentos podem gerar estresse. Sabe-se que indivíduos com alto nível de hostilidade têm um limiar mais baixo para secreção de adrenalina e cortisona, ativando mais rapidamente as respostas de lutar ou fugir. A ansiedade inquieta, que nunca encontra vazão, ativa as glândulas adrenais a secretarem hormônios do estresse. Perturbações psíquicas causam desarmonias tornando os indivíduos mais suscetíveis ao estresse e favorecendo o aumento da secreção das adrenais.  Lidando com fontes externas de estresse O critério básico para se identificar estressores externos é conhecer o quanto de esforço para adaptação o organismo requer para lidar com a situação. Qualquer coisa que mude a rotina de uma pessoa gera estresse, porém sua quantidade irá depender de uma série de fatores, que inclui o modo da pessoa lidar com a situação, estratégias que utiliza, poder de adaptação e vulnerabilidade ao estresse Em alguns casos, podem-se empreender mudanças nas fontes externas de estresse revendo-se estas situações e buscando soluções adequadas. Já outros eventos não são passíveis de mudança e então a alternativa mais adequada é aprender a lidar com eles, minimizando seus efeitos no corpo e na mente. Nesse intuito, é importante que se assuma o compromisso de buscar fontes de alegria e de prazer além de criar estratégias preventivas, tais como:

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Psicologia Aplicada ao Trabalho  Planejamento e administração do tempo Consiste basicamente de 03 passos: a) Estabelecer prioridades, de modo a visualizar os objetivos de maior e de menor importância; b) Gerar tempo com planejamento realista; c) Aprender a tomar decisões básicas. Esta técnica é eficaz no controle do estresse, pois permite minimizar a tensão relacionada a prazos, evitar a ansiedade e fadiga, garantindo ao indivíduo um maior controle de sua vida.  Respiração e relaxamento A maioria das pessoas não respira corretamente empreendendo um grande esforço nesta função simples e essencial à vida. Em um programa de controle de estresse, fazse necessária uma reeducação desta função, de modo a permitir aos indivíduos aproveitar-se de seus benefícios. A respiração adequada é um poderoso antídoto contra o estresse, favorecendo o relaxamento de todo o corpo. Desta forma, respiração e relaxamento estão intrinsecamente relacionados, sendo a respiração o primeiro passo para um bom relaxamento. As técnicas de relaxamento são consideradas importantes por permitirem um controle maior sobre reações momentâneas em situações problemáticas e por possibilitarem uma redução do nível geral de reatividade.  Alimentação A alimentação tem uma influência muito grande na nossa capacidade de lidar com o estresse. Quando enfrentamos uma situação que nos causa estresse, nosso corpo sofre consequências diversas, ficando carente de vitaminas B, C e outros nutrientes utilizados no funcionamento do sistema nervoso e na mobilização muscular e cardiovascular que ocorre. Quanto mais prolongado e grave o estresse, mais vitaminas serão queimadas e maior será a debilitação do corpo. Um organismo fraco é mais propenso a adoecer. Uma boa nutrição é imprescindível, principalmente em épocas de maior tensão.  Exercícios físicos A valorização dos exercícios físicos em programas de prevenção baseia-se na compreensão dos efeitos fisiológicos do estresse. As duas respostas básicas do organismo são a preparação para a luta ou para a fuga, ou seja, o corpo se prepara para uma atividade física. Como os perigos enfrentados pelo homem contemporâneo não são, via de regra, adequadamente abordados com nenhuma dessas duas respostas físicas (lutar ou fugir), a realização de exercícios regulares pode contribuir para equilibrar os dois lados do sistema nervoso autônomo, assegurando que o sistema parassimpático seja ativado de forma mais natural podendo ainda evitar a constante ativação do sistema nervoso simpático. Além disto, exercícios constantes induzem a secreção e a liberação de beta endorfina, que tem a capacidade de controlar a sensação normal de dor, melhorar o sono e o humor, exercendo ainda outros efeitos reguladores no organismo.

- CONCLUSÃO Através deste estudo, vê-se a importância de se procurar reduzir as cargas psíquicas negativas associadas ao ambiente de trabalho dos policiais militares. Neste sentido, algumas medidas organizacionais são importantes, tais como:  Treinamento de integração: objetiva fornecer ao indivíduo que está entrando na Organização uma visão da especificidade do trabalho militar, favorecendo visões mais realistas.  Análise e descrição de função: visa adequar o homem ao tipo de trabalho que realiza. Por meio deste estudo, podese estabelecer, respaldados em critérios técnicocientíficos, parâmetros para o Recrutamento e a Seleção e o remanejamento de pessoal, com benefícios tanto para a Organização quanto para a pessoa.  Treinamento de tarefas: visa capacitar tecnicamente os indivíduos para a adequada realização de seu trabalho, minimizando perspectivas de fracasso e o consequente sofrimento psíquico.  Desenvolvimento de equipes: visa, dentre outros objetivos, conscientizar os trabalhadores e chefias acerca da importância dos relacionamentos interpessoais e de uma adequada comunicação entre todos os segmentos da Corporação, de modo a tornar mais satisfatórias e produtivas as relações. Estas medidas organizacionais têm como principal objetivo possibilitar a emergência do sujeito, de sua identidade e criatividade, elementos essenciais à saúde psíquica e à realização profissional de todo ser humano. Portanto, no plano individual, o homem estressado é aquele que saiu do seu eixo, desligou-se do seu centro e desrespeitou as leis internas que o regem, obtendo como resultado desequilíbrios e/ou doenças físicas e mentais.

EMOÇÕES SOB CONTROLE Somos programados para ver um mundo competitivo. Para quem pensa que essa afirmação refere-se apenas ao ambiente corporativo, um aviso: desde criança nos acostumamos com isso. Ao longo da vida, acumulamos uma série de experiências que deixam em nosso cérebro marcas, positivas e negativas, que irão determinar nossos comportamentos. Medo, insegurança, dependência, visão de que tudo é difícil são algumas das emoções que limitam nossa capacidade e que são amealhadas desde que fomos gerados e que têm forte impacto em nossa performance na vida pessoal e profissional. A entrevista foi feita com uma diretora de consultoria. - QUAIS SÃO AS EMOÇÕES LIMITANTES MAIS COMUNS? Existem algumas comuns à liderança e comuns ao ser humano. Não temos habilidade para lidar com perdas, inseguranças, medos. Evitamos sempre o negativo, mas não buscamos o positivo. Existe, ainda, uma relação entre escassez e abundância dentro do cérebro. Somos mobilizados a acreditar mais no primeiro item. Também pudera: é uma avalanche de escassez que um bebê recebe logo de cara. O ser humano começa, desde muito cedo, a acreditar em dificuldades. - DESDE PEQUENO ENCARAMOS O MUNDO COMO O INFERNO... Somos programados para ver um mundo competitivo. E tem mais: a criança é muito exclusivista, não tem noção de dividir. Se ela

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Psicologia Aplicada ao Trabalho vir um copo e o quiser, jamais vai se preocupar se outro também o quer. Mas quando começam a ensiná-la, ou ela aprende que tem de cuidar do que é dela, ou que tem de olhar para o outro e dividir. Ou seja, ou torna-se egoísta ou doa tudo para todo mundo para ser um herói não condecorado. - ALGUMA OUTRA EMOÇÃO? Decepção. Por exemplo: uma pessoa é contratada para fazer um trabalho “X” e ganhar “Y”. Por ser comprometida, ela faz “X+Z” e quem a contratou acostuma-se a receber “X+Z” e a pagar “Y”, mas também devolve carinho, reconhecimento. O funcionário só consegue ver “X+Z” e “Y”, ele não percebe o que construiu também. Essa é a diferença entre emprego e empregabilidade, que você leva consigo. O emprego fica. Então, sempre há quem lamente: “Dei meu sangue por aquela empresa...” Só que ele não sabe que já recebeu por tudo. Ele tem de olhar para a organização e descobrir que parte do sucesso dela foi possível pelo melhor dele. Outro fator limitante é confiar e depositar confiança. Não é a empresa que tem de cuidar da sua carreira, mas você mesmo. Mas as pessoas confiam que a organização vai fazer isso por elas. Aprendemos a esperar do externo desde o útero, que é um lugar extremamente seguro e que dá tudo que o feto necessita. Depois, o bebê depende muito da mãe e do pai. A empresa é uma grande mãe e você que que ela pense por você. - E QUAIS SÃO AS EMOÇÕES LIMITANTES DE UM LÍDER? Há emoções que ele não considera limitantes como arrogância, prepotência, convencimento, autoritarismo. Ele confunde com algo que seja natural do cargo. O líder mistura não ser paternalista, “paizão”, com déspota. Aí é que surge a cultura de que você tem de deixar o coração em casa e ser mais um número na empresa. - COMO É QUE ELAS SURGEM? À medida que você vai vivendo, você programa seu cérebro para tudo. A cada experiência vivida, desde a infância, o cérebro cria uma conclusão linguística para ela e associa uma emoção. É essa conclusão que forma os padrões de comportamento. - O “MAIS EXPERIENTE” AVALIANDO O “MENOS EXPERIENTE”? Exatamente. As pessoas não dizem “se eu soubesse o que sei hoje, ontem...? É uma espécie de transferência de recursos: você tem coragem, segurança, dinamismo, liberdade, amor. Eu destaco esses recursos para curar a energia, ou emoção, negativa, ou limitante, como mágoa, ressentimento, dor, perda. Na verdade, é a própria pessoa que faz esse processo de cura. Imagine que ela seja um prédio caído. Você pode colocar andaimes para que possa se reconstruir. Esses andaimes são chamados de recursos interiores que todos nós temos. Podem ser qualidade ou sensações boas a partir de um fato positivo na vida dela. - COMO IDENTIFICAR QUEM PRECISA DESSE COACHING EMOCIONAL? Na verdade, todos precisam desses andaimes. Em algumas pessoas, aparecem alguns sintomas. Por incrível que pareça, o ser humano é muito forte. Suportamos a dor, a perda. E sempre ouvimos que a vida é assim mesmo. Com isso, somos desestimulados a querer o melhor. E isso começa desde a infância: uma criança tem alegria de viver, é criativa, mas, se ela coloca o pé na parede, ouve bronca: “fica quieto”, “não mexe ali”. Aprendemos a suportar o meio, acabamos fazendo coisas de que não gostamos. E existe uma espécie de sistema de autoproteção – ou de integridade, como chamo – que vai nos alertar para isso por meio de sinais, alguns físico, como somatizações.

É uma forma de chamar nossa atenção para um determinado problema. Existe uma lógica emocional que faz a ligação entre o que está acontecendo com o seu emocional e com o seu corpo. O estresse é um dos sinais mais comuns. - AS EMPRESAS, HOJE, SÃO UM CENTRO DE NEUROSE? As empresas não, mas as pessoas sim. Vamos pegar a raiz de um ser humano: há um cérebro, que é uma máquina em que as experiências vão se sobrepondo. Cada uma vai sendo organizada e codificada por emoções. A maneira como são codificadas é que vai determinar o comportamento da pessoa. Imagine que alguém sofreu uma grande humilhação na infância. Ele pode se tornar um capacho e continuar o processo de humilhação; pode ser um cara bacana e saber que não é porque pisaram nele que vai fazer isso com os outros; ou ele pode ser arrogante e querer se vingar em outra pessoa. E tudo isso inconscientemente. Não fomos alfabetizados emocionalmente. A grande busca, hoje, do homem é por conhecimento, tecnologia; as pessoas são pósgraduadas, têm um monte de MBA’s, mas não sabem se relacionar. Elas não conseguem obter resultados com pessoas. - MAS DE QUE ADIANTA RELACIONAR-SE BEM CONSIGO SE QUEM ESTÁ A NOSSA VOLTA NÃO TEM ESSE AUTOCONHECIMENTO? O coaching emocional ensina a fazer uma leitura mais adequada do outro para não entrar no jogo dele. Seria uma espécie de “descontaminação”. Pense em uma pessoa com problemas emocionais e você com uma armadura para proteger-se. O fato é que todo ser humano vive num processo sistêmico. Uma ação positiva sua pode não mudar as pessoas, mas com você a atitude delas será diferente. A senhora disse que alguns líderes confundem emoções limitantes com características da função. Muitos não estão preparados para a liderança? Exatamente. Um exemplo clássico é o vendedor que vira gerente. Ele sabe que alguns vendedores não gostam dos gerentes. E quando ele se vê nesse cargo, não sabe lidar com isso. Então, parte para o autoritarismo, para a hierarquia. É preciso prepará-lo, até porque ele tem de lidar com pessoas que também queriam estar no lugar dele. O líder precisa ter controle, calma, segurança. Precisa saber agir com cada indivíduo, colocar-se no lugar do outro. E para isso é preciso tratar as suas emoções limitantes. - QUAL A PRINCIPAL VIRTUDE DE UM LÍDER? O bom líder é aquele que conquista as pessoas, sabe integrar valores. A empresa ganha porque ele será assertivo, acaba com as “panelinhas”. A grande busca do ser humano é ser amado; o grande líder é aquele que é capaz de criar um clima de amorosidade na empresa. Ele consegue inspirar uma pessoa a saber que aquele trabalho está levando a um propósito maior. - A VIDA NÃO SE RESUME AO HOLERITE Ele [o holerite] vai proporcionar uma melhor qualidade do viver. O prazer de trabalhar tem de durar o mês todo. Assim, o que será cobrado do líder é que, ao colocar a cabeça no travesseiro, pense: “Agreguei valor a quem”? O ser humano tem de entender que é sistêmico, o que ele faz reverbera e volta para ele. Se der um sorriso, ele estará plantando a semente dele. Só que isso sempre foi muito poético; primeiro faça para depois receber. Mas essa atitude está sendo mostrada como uma forma inteligente de agir. Essa é a exigência hoje: a pessoa tem de somar e ponto, tem de fazer diferença para o mundo e ser feliz também. Dá mais trabalho viver no inferno do que criar tudo isso.

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