outro darriba

Page 1

Um breve panorâma sobre a Performance no Brasil

Paula Darriba

O presente texto procura fornecer um breve histórico sobre o desenvolvimento da performance no Brasil bem como um panorâma geral do processo de consolidação dessa linguagem enquanto pesquisa e experimentação basicamente a partir dos anos 80. Em outros países, tal processo ocorreu principalmente nas décadas anteriores. Os anos 70 foram internacionalmente aqueles em que a busca de conceitualização e atividades experimentais mais sofisticadas (incluindo resultados estéticos) aconteceram intensamente. Abordando especificamente a performance enquanto linguagem, esse período no Brasil foi marcado por uma latência evidente, foram poucos os artistas oriundos das artes visuais que se aventuraram por essa trilha porém, sem dúvida nenhuma, são antológicos os trabalhos realizados e se caracterizaram sobretudo como autênticos exercícios de liberdade contra a repressão do regime militar. Antes de uma abordagem mais profunda é interessante apresentar as raízes do “movimento” no Brasil. As primeiras sementes performáticas foram lançadas por Flávio de Carvalho (1899/1973) considerado o precursor dessa linguagem no país. Foi uma das figuras mais ativas e polêmicas do cenário artístico paulistano e transitou pela arquitetura, pintura, design e artes cênicas. Em suas investigações, principalmente em suas ações performáticas fica clara a idéia de experimentação, a preocupação com o processo de criação no sentido de refletir e recriar uma poética por vezes subjetiva abordando filosoficamente a relação arte/público. Nessa linha, podemos citar sua “Experiência nº 2” realizada em 1931 (5 anos antes da fundação da Black Mountain College nos EUA e de suas propostas de pesquisa na arte de performance) quando Flávio de Carvalho atravessou de chapéu uma procissão de Corpus Christi caminhando em sentido oposto aos fiéis. Segundo o artista ele procurou testar a (in)tolerância da comunidade religiosa ali reunida e depois de ter sido salvo de um linchamento pela polícia reúne suas impressões psicológicas sobre o episódio em um livro de mesmo nome. Em 1933 cria o “Bailado do Deus Morto”, espetáculo experimental de cenografia futurista, onde atores dançam o nascimento e a morte de Deus. No dia seguinte à apresentação, o Clube dos Artistas Modernos, local da encenação, é fechado gerando nova polêmica em torno das criações de Flávio. Na década de 50, o artista mais uma vez lança mão de uma atitude performática (bem aos padrões dos happenings cujo conceito então se sedimentava nos EUA). Foi a “Experiência nº 3”, dirigida a um público amplo e aleatóreo nas ruas do centro de São Paulo. Flávio simplesmente lançou o “traje de verão masculino”, desfilando de saias, meias e camisa, segundo ele mesmo a roupa mais adequada ao clima tropical. Inflamou novamente a mídia tomando como alvo o convencionalismo de nossa sociedade,


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.