Resende na Póvoa de Varzim — Desenhos Anos 50

Page 1

JÚLIO

20.02 — 31.08.2018 1

NA PÓVOA DE VARZIM

RESENDE


JÚLIO

20.02 — 31.08.2018 2

NA PÓVOA DE VARZIM

RESENDE


[pág. 10 e 11] 02 – Passeio Alegre e secagem das redes na praia, anos 50

ANOS 50

[pág. 4 e 5] 01 – Barcos de pesca em frente ao Palácio Hotel e ao Casino da Póvoa, anos 50-60

DESENHOS

4


6

7


RESENDE: ONTEM, HOJE

8

AIRES HENRIQUE DO COUTO PEREIRA

9

Com “desenhos dos anos 50”, Júlio Resende regressa à Póvoa de Varzim, terra onde lecionou naquela época e que tão indelevelmente o marcou (abundante presença, por isso, ao longo dos anos, nas suas telas) e comunidade que, combinando tão singularmente a perenidade dos fortes usos identitários e a mudança que de muitos lados aportava, de imediato se lhe afigurou ancoradouro favorável à inovação e à criação artística – prenúncio que confirmaria no verão de 1955, com a realização, aqui, de uma Missão Internacional de Arte (a segunda, que a primeira teve lugar em Trás-os-Montes e a terceira, e última, em Évora). Os ecos desta iniciativa (na opinião pública local e na produção dos 14 artistas participantes, quase todos estrangeiros e todos tão calorosamente – apeteciam-me dizer: tão poveiramente – acolhidos e integrados) foram tão favoráveis (desde logo para a imagem desta então vila, já em processo de afirmação nacional) que admira não tenha tido continuidade esta iniciativa de Júlio Resende, a que Fernando Barbosa, então vereador da cultura na câmara presidida pelo Major António José da Mota, deu o melhor apoio. O que a Póvoa então acolheu foi (dizemo-lo nós, hoje) o germe de uma iniciativa que, por entroncar na sua idiossincrasia cultural, potenciaria o modelo de desenvolvimento mais consentâneo com o perfil da sua economia de génese turístico-balnear. O facto de a iniciativa (designadamente nesse modelo organizativo) não ter tido continuidade, apesar do aplauso geral que então colheu, revela que o município (a comunidade, afinal), não teve, na ocasião, a perceção da importância da arte (designadamente por via da permanência demorada de artistas no seio da comunidade) enquanto alavanca desse modelo de desenvolvimento. Pena que a Póvoa de Varzim tenha esperado quatro décadas para replicar, noutros moldes organizativos e no contexto de outra expressão artística, a proposta de inserção dos criadores no quotidiano das comunidades, que Resende visionariamente antecipara: no caso, um festival literário, com autores de expressão ibero-americana, que anualmente aqui se reúnem, vários dias, em número de muitas dezenas, com outros intervenientes no circuito do livro e da leitura, fazendo desta cidade a grande referência nacional da bibliofilia como é doutras expressões artísticas, designadamente da música e da dança. Nos anos 50, com o génio da sua iniciativa visionária, Resende antecipou, com a maior naturalidade, a vocação urbana da Póvoa de Varzim, que esperaria décadas para se confirmar como “cidade da cultura e do lazer”. É, pois, muito bem-vindo este seu regresso à cidade que para sempre marcou o seu percurso criativo – tanto que há, na sua


obra, uma clara fronteira entre o antes e o depois da Póvoa. Regressa a esta cidade a pretexto do centenário do seu nascimento, em boa hora promovido pela Fundação que lhe cuida da obra e da memória. E apresenta-se aquando da realização da 19ª edição do “Correntes D’Escritas”, a tal iniciativa, no campo das letras, que é filha, distante e dileta, daquela que, na área da pintura, ele promoveu e aqui trouxe, faz este Verão 63 anos. A Póvoa que Resende pintou, a Póvoa que tão profundamente o marcou, a Póvoa que ele anteviu terra das artes e dos artistas – essa Póvoa, afinal, existe, afirmando-se através da literatura, da dança, da música, da escultura, da pintura, e da sua população em tudo envolvida, como uma cidade criativa.

PAISAGEM COM DESENHO DE RESENDE EM FUNDO

Póvoa de Varzim, Fevereiro 2018

com o silêncio que semeia o claro perfume da tarde

Estendem as redes Levam com carinho pelos ombros seus losangos silenciosos seus rolinhos de cortiça Desenha-se na areia aquela geografia de afectos

E fica a praia cheia de luz entre os fios grossos e as mulheres agora sentadas sob o azul e nuvens no céu

MARINHEIRO EM TERRA Desce o nevoeiro sobre a Póvoa. E fica tudo, num instante, perto e distante como um sonho depois de se acordar. Só o som rouco da ronca rompe a espessura de anémonas e sal. E eu sou um marinheiro em terra — sem barco, sem bússola, sem farol. Navego, à bolina, pelos bancos da memória. A minha infância está em todos os portos, nos cabelos das sargaceiras, nos olhos dos pescadores, cheia de naufrágios, gritos, mortos. E volto a ser menino, poeta, poveiro, sem nenhum D. Sebastião por trás do nevoeiro.

José Carlos Vasconcelos O Mar A Mar A Póvoa, 2001

10

11


12

13


CELEBRAR E REPENSAR JÚLIO RESENDE [1917—2011] NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO

14

LUGAR DO DESENHO

15

Desde a sua criação, em 1993, e a inauguração das suas instalações, em 1997, que o Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende se dedica ao estudo, à preservação e à difusão do vasto acervo de desenhos que possui. Formada por mais de duas mil e quinhentas peças que o pintor reuniu ao longo da sua carreira e destinou à Fundação, a coleção permite seguir o seu trajeto artístico, desde os tempos de formação aos de consagração. As atividades culturais e educativas que a Fundação tem desenvolvido estimulam uma leitura aberta do desenho e uma reflexão multidisciplinar sobre a sua prática. Porque a experiência da viagem foi determinante na obra de Júlio Resende e porque estamos perante um artista que dedicou parte da sua vida às questões da divulgação e da receção da arte, é justo celebrar o seu nascimento, através de exposições em várias cidades portuguesas. O programa de exposições temporárias, em que se integra esta iniciativa no Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim, pretende divulgar a obra de Júlio Resende em lugares relacionados com o seu itinerário biográfico, com o trabalho aí produzido ou em cidades com uma programação cultural atenta a momentos como o que este ano se celebra. Os lugares nunca foram indiferentes a Júlio Resende, que neles soube colher a marca das suas comunidades e os sinais de um destino humano, cumprido nas atividades quotidianas e na relação telúrica e cósmica. A curiosidade face ao meio envolvente e a capacidade de sugerir a vivência dos sítios e a densidade da paisagem, exigiram exercícios formais e reinterpretações visuais que reúnem, ao valor documental, a dimensão plástica e estética que estes desenhos da Póvoa, dos anos 50, também exprimem. Por outro lado, liga-os a esta cidade, um conjunto de circunstâncias que a exposição revisita: Resende foi professor na Escola Industrial e Comercial local e haveria de propor à Câmara Municipal a organização de uma Missão Internacional de Arte. A ligação de Júlio Resende à Póvoa de Varzim conheceu outros episódios, particularmente o da atribuição, em 2008, do Prémio de Artes Casino da Póvoa e a exposição Júlio Resende O Regresso à Póvoa, que teve lugar, em 2010, no Museu Municipal. Rever Júlio Resende é rever uma obra que resume a arte do século XX. É urgente repensá-la e reenquadrá-la na história da arte moderna e contemporânea. O centenário do nascimento do pintor é o momento certo para esta ação.


O VERÃO DE 1955 NA PÓVOA DE VARZIM

16

LAURA CASTRO

17

Novidade alguma seria esperada pelos poveiros, naquele Verão de 1955, certos de que a vida correria como normalmente, reunindo aos pescadores e aos comerciantes, os que lá iam de veraneio, para transfigurar a face de vilas como a Póvoa de Varzim, habituada a estes deslocados, desde os finais do século XIX. Mas 1955 trouxe novidades substanciais à vila nortenha, com a chegada de um grupo de pintores e escultores, oriundos de diferentes paragens europeias, que se detiveram durante dois meses, segundo ideia de um pintor que acreditava nos laços internacionais entre artistas, como confirmação da universalidade dos valores da arte, num tempo em que, também na Europa, se elaboravam os instrumentos que pudessem moldar um destino comum para as suas nações. Catorze artistas percorreram as ruas da Póvoa, observaram as fachadas das suas igrejas, os vestígios monumentais nos seus arredores e foram até Braga, a norte. Fotografaram-se nas embarcações, assistiram à saída das lanchas para a faina e à sua chegada, terão escutado alguma explicação sobre as siglas poveiras. Conheceram o sol e a nortada e o nevoeiro, ouviram capítulos da história de naufrágios e de morte, episódios de devoção religiosa, souberam como se casava no seio de comunidades tradicionais, com que trajes e em que cerimónias. Ouviram o canto popular das Janeiras, encenado em sua honra, os sinos das igrejas, a ronca, o vento a assobiar, os pregões, as vozes na lota junto ao peixe que provavam diariamente no restaurante em que se reuniam. Habituaram-se ao vulto negro das mulheres e ao seu modo de se sentar no areal, em grupo, foram incapazes de entender a língua das sargaceiras, mas terão sido sensíveis à sua sonoridade. Percorreram as Caxinas, Vila do Conde, A Ver-o-Mar e foram ao interior do concelho, até Balasar para uma ceia regional. É possível que tenham passeado, à noite, junto ao mar, como veraneantes depois de mais um dia a banhos, sem perceberam as origens destes e a sociedade híbrida que o Verão criava, atentos às histórias de jogadores que acabaram mal. Sentaram-se nesse excêntrico café, de planta centrada, em plena praia, olhos sobre a vida lá fora. Não temos descrições do seu quotidiano, mas podemos imaginá-lo através das obras que deixaram, desenvolvidas de muitos desenhos, apontamentos e fotografias, mas, principalmente, da descoberta e da experiência de uma terra desconhecida e de uma vida que se apreende com todos os sentidos. Assim o dirá, tantas vezes, Júlio Resende, que homenageamos na lembrança desse Verão de 1955, em que a Póvoa não foi apenas estância balnear, foi morada europeia de artistas.


01. UM ARTISTA NO MEIO DO SÉCULO XX

1 — Retrospectiva da Pintura não Figurativa em Portugal. Lisboa: Associação dos Estudantes da Faculdade de Ciências, 1958. 2 — COSTA BARRETO (org.) – Estrada Larga. (Antologia do Suplemento "Cultura e Arte" de "O Comércio do Porto), 2, Porto: Porto Editora, 1959.

O destino de professor “provisório” apontara-me a Póvoa de Varzim e aí me confundiria com a gente do mar. A névoa salgada, o revolto mar do Inverno e os seus dias curtos, justificam o mistério contido nas silhuetas negras dos grupos de mulheres, apetrechos da faina e um mundo de coisas não reveladas. Júlio Resende In MOTA, Arsénio — A Arte Como/Vida. Porto: Civilização, 1989 Até ao início da década de 60, permanecem, na obra de Júlio Resende, os estímulos da Póvoa de Varzim, que começa a frequentar nos anos 50 e, com maior regularidade, em 1954, quando fica colocado na Escola Industrial e Comercial da cidade, para dar continuidade prática ao curso de Ciências Pedagógicas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra que tinha frequentado em 1952. Ao longo de toda a década surgem trabalhos relacionados com esse lugar litoral a norte do Porto, o que é confirmado pelos catálogos das exposições do artista que registam, de 1956: A Lota, Pescador deitado ou Pintura nº 3, Mulheres e crianças, Mulheres da Beira-mar, Figuras de Mercado, Grupo da beira-mar; Figura; de 1957: Pescadores, A Barraca; Roupa; de 1959: Pescadores com redes; Homens com rede, e de 1961: Figuras sob toldo; O Sargaço. Outras obras destes anos, intituladas Pintura, evocam a atmosfera e a estrutura que caracterizam a produção de Resende na década de 50 e toda a vivência poveira, aspectos igualmente evidentes nos desenhos incluídos na presente exposição. Quando encontramos Júlio Resende na Póvoa, o artista tinha deixado a Escola de Belas Artes do Porto há quase uma década e estava a alguns anos do regresso a essa instituição, o que aconteceria em 1958. Tinha feito a sua estadia de bolseiro em Paris e visitara diversos países europeus, conhecera os seus museus e os artistas da história da arte e convivera com contemporâneos que, de toda a Europa,

18

19

afluíam a Paris. Já expusera e estivera sujeito à crítica, já conhecera as suas primeiras encomendas de arte pública e estava, paralelamente, a orientar o seu trajecto de professor do ensino secundário, antes da oportunidade para integrar o corpo docente da Escola Superior de Belas Artes do Porto. Confrontara-se com uma Europa ferida no pós-guerra e encarava a arte como elemento essencial, não apenas para a reconstrução da Europa, mas para a reabilitação dos homens e mulheres marcados pelo conflito. Não admira, portanto, que, onde quer que vivesse, disseminasse a prática da arte, através de actividades educativas e culturais. As estadias no Alentejo e na Póvoa, e as incursões pela ribeira portuense, alimentam uma obra que aproveita os motivos locais, incorpora as tendências artísticas da época e afirma-se como veículo de valores humanos e sociais. Pressente-se este entendimento na regularidade com que aborda o homem e na monumentalidade com que o representa que não constitui, no entanto, recurso de heroicização, antes símbolo da sua grandeza, independentemente das conjunturas em que se encontra. Esse período assiste à metamorfose da obra de Júlio Resende, no quadro dos sucessivos exercícios formais e compositivos a que se entrega entre os anos 40 e 50, e em que os referentes concretos, as cenas pitorescas e os episódios de conteúdo narrativo e iconográfico, eternos pretextos, se dissolvem progressivamente para dar maior peso a esses elementos estruturais e formações de valor expressionista. Se o trabalho de composição ocupa o núcleo da sua obra, o seu coração está noutro lugar, na atenção à circunstância humana. É o que nos diz um depoimento do artista, transcrito no catálogo da Retrospectiva da Pintura não Figurativa em Portugal, realizada em 1958: “Pertenço a uma geração que vive uma época de inquietude e se encaminha em avalanche para o imprevisível. É este o estado de espírito que me domina a todo o instante e, naturalmente, se exacerba quando pego nos pincéis. Daí o Homem estar sempre presente nas minhas telas, embora esta presença seja mais espiritual que física.” 1 E no final da década, Resende quase desvaloriza os elementos estritamente formais face à expressão e ao propósito existencial: “A minha posição em face do problema tão debatido – arte figurativa e não figurativa – é prudente. Eu explico: em boa verdade não posso deixar de admitir toda a obra que revele sinceridade, traduza a época e provoque emoção, que o mesmo é dizer, possua essência humana!” 2 A década de 50 é a da afirmação do artista, com a diversificação das exposições individuais e colectivas e o interesse dos principais críticos e historiadores portugueses. A crítica e a imprensa de então comentaram extensivamente o seu


percurso expositivo, nomeadamente nos periódicos Ler, Tempo Presente, A Voz de Portugal, Diário de Notícias, Diário Popular, Jornal de Notícias, O Primeiro de Janeiro, Diário da Manhã, Mundo, Synthèses, Les Beaux Arts, e é editada a importante monografia, Resende. Dezasseis Reproduções3. É também nesta fase que publica ilustrações em que são visíveis os traços dominantes da sua obra, nomeadamente em Sísifo (1951); Lusíada (1952 a 1957); O Tripeiro (1956), Panorama e Tempo Presente (1959). Em 1953 tem lugar uma exposição na Galeria de Março e, já então, são mostrados trabalhos da Póvoa. O texto de Adriano de Gusmão refere o carácter analítico e estrutural do trabalho do pintor: “Resende tem o privilégio de haver compreendido o problema actual da pintura e de trazer, para o terreiro nacional o bom e fecundo conflito que hoje preocupa outros artistas europeus. Estruturalmente pintor, Resende pôde sujeitar-se, sem prejuízo da sua arte, ao imperativo da hora presente, abalançando-se ao empreendimento construtivista. Onde poderia parecer ficar apenas uma intenção intelectual, denunciava-se, ao mesmo tempo, a raiz instintiva do pintor. Esta manifesta-se constantemente na sua obra, na densidade da cor e sentimento da matéria.” 4 Aproveitando, particularmente, a produção da Póvoa de Varzim, realiza outra exposição individual nesta década, entre Abril e Maio de 1957, na galeria do Diário de Notícias, em Lisboa. É José-Augusto França quem, no texto do catálogo, sintetiza a individualidade do pintor, mencionado “pessoais soluções de volumes ligados a um conceito ambíguo de espaço em que se insere o seu expressionismo; com uma figuração de certo modo críptica; com um especial critério plástico onde se absorve o sensualismo dos valores pictóricos; com um lirismo seu, tenso e exigente.” 5 Obras como Sobre a Areia, Pescadores, Mulheres e Roupa, Lota, A Rede, A Tenda, A Roupa, Barraca, entre outras expostas que evocam a passagem pela Póvoa, denunciam claramente as palavras de José-Augusto França. Entre uma e outra exposições, participa no I Salão dos Artistas de Hoje, em 1956, na Sociedade Nacional de Belas Artes, como artista e membro da comissão organizadora, com Fernando Azevedo, Joaquim Rodrigo, José Júlio, Nuno San-Payo e René Bertholo. A obra intitulada Sobre a Areia, valeu-lhe o prémio do Salão, votado pelos artistas expositores. No mesmo ano de 1957 está presente na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, obtendo o 2º Prémio Pintura que, segundo Adriano de Gusmão “foi muito merecidamente atribuído a Júlio Resende [pela] sua extraordinária qualidade de pintor […] dentro da exploração de tendências abstractas […] pela profundidade

3 — Resende. Dezasseis Reproduções a preto e a cores. Com textos de Eugénio de Andrade, José Augusto França e Vergílio Ferreira. Lisboa, 1957. 4 — GUSMÃO, Adriano de – In Exposição de Óleo, Aguarela e Desenho de Júlio Resende. Lisboa: Galeria de Março, 1953. 5 — FRANÇA, JoséAugusto – In Pintura de Júlio Resende. Lisboa: Galeria de Exposições do Diário de Notícias, 1957.

20

6 — GUSMÃO, Adriano de – A Exposição de Artes Plásticas da F. C. G.. In Diário de Notícias, 12 de Dezembro de 1957. 7 — Panorama, nº 6, 1957. 8 — Depoimento publicado no volume O Lugar do Desenho. “O Rosto do Mar”. s.l.: Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende, 1999.

21

e qualidade da sua matéria pictural, alcançando uma escala de monumentalidade denunciadora da sua força interior” 6. Aos três trabalhos intitulados Pintura, todos datados desse ano de 1957, não podemos deixar de associar o impacto da experiência da Póvoa e o abandono de uma leitura literal dos lugares, em favor das soluções plásticas que se impunham. À II Exposição de Artes Plásticas daquela Fundação, em 1961, enviou duas obras, das quais Sargaço preserva ainda a memória da Póvoa. Mas estes são ainda anos de internacionalização e, depois da experiência norueguesa, Resende está presente na I Bienal de S. Paulo, em 1951, quando lhe é atribuído o Prémio Especial, na IV, em 1957, e na Exposição Internacional de Bruxelas, em 1958. Na IV Bienal de S. Paulo participou com Carlos Botelho, Fernando Lanhas, Fernando Azevedo, Joaquim Rodrigo, Vespeira, José Júlio, Nikias Skapinakis, Hogan, grupo designado pela revista Panorama7 onde se legitimava a representação portuguesa, como “embaixada do espírito”, terminologia que conhecemos de outros momentos do Estado Novo. Procurava-se divulgar uma amostra das diversas tendências da pintura portuguesa, com a obra de Resende situada entre os extremos, num equilíbrio entre figura e fundo que se assimilam para instaurar o espaço ambíguo da pintura dos meados do século. Estas soluções de compromisso permitem-lhe emergir como figura destacada no seio de um entendimento da pintura entre figuração e abstracção, diálogo extremamente activo nesse tempo e mobilizador de comentários contraditórios e animadas discussões. São visíveis em Júlio Resende, os grandes debates da arte dos meados do século e os diálogos tensos entre as suas diferentes correntes e divisa-se nele uma proximidade ao ideário de figuras como Herbert Read (1893-1968), defensor da arte como peça basilar da educação, ideia propagada pelo celebrado ensaio de 1943, Education through Art, da estética como abordagem privilegiada do homem à realidade, bem como das implicações éticas e cívicas do acto artístico. O trabalho de Júlio Resende e a difusão cultural a que se entregou, que será objecto da segunda parte deste texto, situam-no no quadro de quantos entendem a arte como criação individual e processo social. O caminho está aberto para se explorarem as afinidades com este ideário e com artistas dos meados do século sobre os quais aquele autor escreveu, particularmente Henry Moore e Barbara Hepworth. Aliás, é o próprio Resende quem convoca Moore – “Claro que, então, H. Moore estava no meu susbconsciente” 8 – à luz das formas dominantes do período, tal como anteriormente convocara Permeke ou Rouault.


22

S/ TĂ?TULO, 1951 Tinta da china 16,0 x 22,5 cm

23

A PESCA, 1952 Tinta da china 14,7 x 19,6 cm


24

S/ Tร TULO, 1952 Lรกpis 13,5 x 21,0 cm

25

MULHER DE PESCADOR, 1953 Tinta da china e aguarela 31,0 x 21,0 cm


26

BARCOS, 1953 Tinta da china 14,6 x 21,3 cm

27

AUTO-RETRATO, 1953 Tinta da china 21,0 x 17,0 cm


28

29

OLHANDO O MAR, 1954 Lรกpis e tinta da china 16,0 x 20,0 cm


30

S/ TÍTULO, 1955 Tinta da china 15,0 x 19,0 cm

31

S/ TÍTULO, 1956 Desenho à pena e tinta da china 18,0 X 19,5 cm


32

PÓVOA DE VARZIM, 1957 Tinta da china 16,1 x 18,5 cm

33

S/ TÍTULO, 1957 Caneta de feltro e tinta da china 16,0 x 20,3 cm


34

PÓVOA DE VARZIM – PESCADORES, 1957 Tinta da china 15,4 x 19,2 cm

35

MULHERES E REDES, 1958 Caneta de feltro e tinta da china 22,3 x 29,6 cm


36

S/ TÍTULO, 1957 Caneta de feltro 20,2 x 14,6 cm

37

S/ TÍTULO, 1958 Tinta da china e aguada 16,0 x 14,8 cm


38

REDES, 1960 Grafite s/ papel colado em platex 75 x 100 cm

39

S/ TĂ?TULO, 1960 Tinta da china e aguada 36,5 x 28,0 cm


40

HOMEM E TOURO, 1958 Caneta e tinta da china 50 x 65 cm

41

S/ TĂ?TULO, 1961 Pena de tinta da china 50,1 x 65,4 cm


42

43

PÓVOA DE VARZIM, 1952 Aguarela 52,5 x 35,5 cm


44

S/ TÍTULO, 1954 Aguarela 22,8 x 27,2 cm

45

S/ TÍTULO, 1954 Aguarela 22,3 x 23,5 cm


46

47

S/ TÍTULO, 1954 Técnica mista 22,5 x 29,0 cm


48

PÓVOA DE VARZIM, 1955 Técnica mista 25,5 x 31,3 cm

49

S/ TÍTULO, 1956 Tinta da china e aguarela 30,0 x 37,0 cm


50

S/ TÍTULO, 1956 Técnica mista 21,0 x 28,2 cm

51

S/ TÍTULO, 1956 Tinta da china e aguada 14,2 x 21,5 cm


52

53

S/ TÍTULO, 1956 Aguarela 33,5 x 45,0 cm


54

PÓVOA DE VARZIM, 1956 Técnica mista 17,8 x 23,4 cm

55

S/ TÍTULO, 1958 Aguarela 15 x 20 cm


9 — Um agradecimento especial é devido à Dr.ª Deolinda Carneiro, Directora do Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim, e ao Dr. Manuel Costa, Director da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim, pela disponibilização dos documentos que permitiram caracterizar a Missão Internacional de Arte. 10 — Por diploma governamental, Dec. lei nº 26:957, de 28 de Agosto de 1936, criavam-se as Missões Estéticas de Férias.

56

MENINA COM ALGA, 1957 Tinta da china 33,5 x 22,5 cm

57

02. A MISSÃO INTERNACIONAL DE ARTE DA PÓVOA DE VARZIM9

Se é evidente que há um antes e um depois da Póvoa na obra de Júlio Resende, a mudança também se fica a dever à experiência de que é impulsionador: a II Missão Internacional de Arte, realizada entre 25 de Junho e 25 de Agosto de 1955. Esta iniciativa é a segunda de uma série de três Missões Internacionais de Arte: a primeira em Trás-os-Montes, em 1953, organizada com o apoio de Manuel Pinto de Azevedo Júnior; a segunda acima referida, organizada pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim; a terceira em Évora, em 1958, organizada pelo Grupo Pró-Évora, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian que, no ano anterior, entrara na cena cultural portuguesa. É a Júlio Resende que se deve a ideia das Missões e é ele o autor das propostas aos organismos envolvidos. A designação escolhida para estes acontecimentos remete para o modelo instituído em 193610, o das Missões Estéticas de Férias, criadas para complemento de formação de artistas que frequentavam as Escolas de Belas Artes de Porto e Lisboa, tendo chegado a participar artistas sem formação superior. O funcionamento das Missões Estéticas de Férias era regulado e orientado pela Academia Nacional de Belas Artes, criada em 1932, e estava relacionado com uma política cultural que vinculava a criação ao património artístico, arquitectónico, histórico e paisagístico português, aproximando-a de realidades nacionais indutoras de certo tipo de representação. Obras chave da história da arte portuguesa foram produzidas neste contexto, escapando à suposta estabilidade patrimonial implícita no formato descrito. Os artistas permaneciam numa localidade entre os meses de Agosto e de Setembro, produziam a partir dos pretextos e dos estímulos locais e expunham o resultado no final da estadia. Quando Júlio Resende cria as Missões Internacionais, é certamente este o modelo que o inspira, fazendo-o, no entanto, num contexto livre dos constrangimentos dos


organismos estatais, mas contando com o apoio das Câmaras Municipais, incontornável na disponibilização de alojamento e dos meios necessários ao desenvolvimento dos trabalhos. A dimensão internacional do acontecimento é o elemento que diferencia estas Missões das Missões Estéticas de Férias, o que exigia igualmente aquela intervenção. Manuel Lopes11 refere a necessidade de diligenciar junto da PIDE a entrada de um dos artistas, de nacionalidade russa, e menciona a vigilância apertada das duas artistas espanholas que participaram. Diligências oficiais à parte, convém principalmente assinalar que na origem da iniciativa está um artista que conhece e compreende o meio e as conjunturas que podem favorecer a criação, e que manifesta uma inegável vontade de contribuir para a renovação do panorama cultural do país, recuperando contactos que estabelecera enquanto bolseiro em Paris. A Câmara Municipal acolheu entusiasticamente a proposta de Júlio Resende. Pertenciam então ao executivo, o Capitão António José da Mota (1908-1972), Presidente da Câmara, e Fernando Barbosa (1917-1962), Vereador, Presidente da Comissão Municipal de Turismo, Director do Museu e da Biblioteca Municipais e professor, qualidade em que terá conhecido Júlio Resende. Esta organização reflecte o espírito de Resende, ainda próximo da experiência europeia de finais dos anos 40, quando certas amizades o levaram à Noruega em 1950, a Kristiansund e Alesund, e em 1952, de novo a Alesund e a Oslo. A vontade de fomentar momentos de encontro entre artistas e de proporcionar trabalho em novos contextos, com tudo o que o acontecimento envolve de descoberta e olhar desperto sobre o mundo, permaneceram no horizonte de Júlio Resende que, ao longo da sua vida, organizaria iniciativas semelhantes, de que podem citar-se as “Exposições-Encontro”, na Escola Superior de Belas Artes do Porto, e as viagens a destinos lusófonos, numa fase em que já estava em marcha o grande projecto do Lugar do Desenho. Portanto, nestas Missões há mais do que as obras que delas resultaram, há uma matriz de trabalho que subentende a prática artística como vivência, discussão, partilha, estar e ser dentro de uma comunidade. E conquanto o nome remetesse para o das residências acima referidas, a sua vantagem era a de acentuar a dedicação e a entrega inerentes ao processo artístico de criação. Foram os seguintes os artistas participantes: Altino Maia (1911-1988), formado em Escultura pela Escola de Belas Artes do Porto; Antti Saarela (1899-1981), pintor e decorador finlandês, natural da cidade de Tampere; Gastão Seixas (1926-1982), formado em Pintura pela Escola de Belas Artes do Porto, professor na Escola de Artes Decorativas Soares

11 — LOPES, Manuel – Nos 50 Anos da Missão Internacional de Arte. In O Comércio da Póvoa de Varzim, 18 de Agosto de 2005.

58

12 — As informações seguintes sobre este acontecimento foram colhidas na documentação existente no Museu e em: BARBOSA, Jorge – Uma Missão de Arte na Póvoa de Varzim – 1955. In Voz da Póvoa, 29 de Julho de 1999; LOPES, Manuel – Nos 50 Anos da Missão Internacional de Arte. In O Comércio da Póvoa de Varzim, 18 de Agosto de 2005.

59

dos Reis, na mesma cidade; Gustavo Bastos (1928-2014), escultor português pela Escola de Belas Artes do Porto, onde viria a ser professor; Hope Manchester (1907-1976), pintora e escultora natural dos Estados Unidos, radicada em França; Jesus Diaz Ferrer (1922-2017), pintor espanhol, natural da localidade de O Barco de Valdeorras, na Galiza; Júlio Resende (1917-2011), formado em pintura pela Escola de Belas Artes do Porto; Lola Sanchez (1926-?) pintora natural de Sevilha, irmã de Pepi Sanchez; May Néama (1917-2007), pintora, decoradora e cenógrafa natural de Viena, radicada na Bélgica; Odd Tandberg (1924-2017), escultor e pintor, natural da Noruega; Pepi Sanchez (1929-2012), pintora espanhola; Rui Cesariny Calafate (1933-2016), natural da Póvoa, arquitecto pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, com actividade de escultor e pintor; Serge Pomonarev (1911-1984), escultor russo que estudou e trabalhou em França, e Théodore (Ted) Appleby (1923-1985), marido de Hope Manchester, pintor e gravador natural dos Estados Unidos, radicado em França. Alguns destes artistas voltariam a Portugal para a Missão de Évora: Hope Manchester, Ted Appleby, May Néama, para lá de Gastão Seixas e de Júlio Resende. Através dos registos da imprensa da época, de evocações posteriores12 e da documentação que nos foi facultada pelo Museu e pela Biblioteca Municipais da Póvoa de Varzim pressente-se a importância de que a realização se revestiu e, particularmente, o envolvimento da comunidade, testemunhado pelos factos que se referem em seguida. É o médico Jorge Barbosa, irmão do Vereador Fernando Barbosa, quem narra: “Os artistas estiveram alojados num prédio de três pisos, propriedade do Sr. Francisco Pereira Casanova (Barruil), situado no lado nascente da Rua de António Graça, nº 42, à excepção de May Néama que, por deferência da família do Sr. José Martins de Sá, lhe deu acolhimento na sua residência então sita na Rua de Santos Minho, nº 40. Todos tomavam as suas refeições em conjunto no restaurante Belo Horizonte na Rua Tenente Valadim, nº 63.” O espólio da família de Fernando e de Jorge Barbosa revela que figuras locais se colocaram à disposição da Câmara Municipal para, num dia quente de final de Agosto, viajar com os artistas até à zona de Braga, e ao santuário do Bom Jesus, onde os esperava o Presidente da Comissão de Turismo daquela área. Um antigo vereador municipal ofereceu uma ceia regional aos artistas, “debaixo de uma grande latada”, no lugar de Fontaínhas, freguesia de Balasar, em que esteve António dos Santos Graça, etnógrafo, estudioso e divulgador da cultura poveira que idealizou um dos acontecimentos com grande impacto dedicado aos pintores e escultores que integravam a Missão. Referimo-nos ao cortejo que ficou registado num


Álbum ilustrado com fotografias e desenhos, elaborado pelo Clube Desportivo da Póvoa de Varzim e oferecido àquele investigador. Na folha de rosto do Álbum, hoje no espólio do Museu Municipal, o cortejo é identificado como “Documentário dos Usos, Costumes e Tradições Poveiras dedicado à Missão Internacional de Arte da Póvoa de Varzim, magnífica iniciativa da Câmara Municipal.” O Clube Desportivo assumiu a organização, com a colaboração da Comissão Municipal de Turismo e orientação científica de Santos Graça. Realizado em pleno mês de Agosto, no Parque de Jogos do Clube Desportivo, atraiu uma multidão considerável e mereceu o agradecimento público de uma das participantes na Missão, May Néama. Nos registos fotográficos que o Álbum guarda, verifica-se a adesão da população e pode imaginar-se o impacto que terão tido, junto dos artistas, a apresentação dos trajes tradicionais e dos adereços típicos, tal como a encenação de ambientes e situações do quotidiano laboral da Póvoa e das suas freguesias. Ao apresentar o balanço da Missão ao executivo camarário, o Vereador Fernando Barbosa não se esqueceu de elogiar o gesto de Lola Sanchez, Pepi Sanchez e May Néama que ofereceram a verba obtida pela venda dos trabalhos expostos no final da Missão, às “pescadeiras mais necessitadas da vila”. Aproveitando a excepcional movimentação artística do período desse Verão, a Câmara Municipal inaugurou quatro placas comemorativas da passagem de Alberto Pimentel, Camilo Castelo Branco, Martins Sarmento e João Penha pela Póvoa de Varzim, realizadas por Gustavo Bastos, um dos artistas envolvido na Missão e professor, como Júlio Resende, na Escola Industrial e Comercial. O eco das amizades feitas e das ligações estabelecidas no Verão de 55 perduraria no tempo. Alguns artistas corresponderam-se com o Vereador da Cultura da Póvoa e com o seu irmão, Jorge Barbosa. A produção dos artistas seria mostrada em exposições realizadas após o seu regresso aos respectivos países de origem. Um postal de May Néama para Jorge Barbosa informa que uma grande exposição dos seus trabalhos, no mês de Maio de 1956, inclui material feito a seguir ao regresso à Bélgica e, mais tarde, escreverá para dizer que os motivos portugueses estariam no centro de nova exposição. A mesma artista publica na revista Portugal – Belgique13 um artigo sobre Portugal em que dedica uma parte substancial às memórias e impressões vivas da Póvoa e do modo de vida dos pescadores e das sargaceiras. Também as composições publicitárias para os laboratórios Roche (a que o Dr. Jorge Barbosa mantinha ligações), guardavam lembranças da

13 — Portugal – Belgique Revue des Intérêts LusoBelges (nº 39, JanvierFévrier 1957), no espólio dos familiares do Dr. Jorge Barbosa.

60

14 — NÉAMA, Nay – Resende em Bruxelas. In O Primeiro de Janeiro, 4 de Novembro de 1959.

61

Póvoa, como uma construída com pedrinhas da praia e reproduzida num folheto de propaganda médica. Em 1957, Júlio Resende encontrar-se-á com alguns dos artistas, na ida a Oslo e a Helsínquia, com uma exposição que promoveu “Quatro Artistas Portugueses”. E a fechar a década, nos trabalhos que Júlio Resende expõe na galeria belga La Proue, em Bruxelas, ainda ecoa a Missão Internacional. Realizada em Outubro de 1959, é May Néama quem a comenta, considerando o artista, o “chefe de fila da pintura portuguesa”: “Os desenhos do mais recente estilo do pintor, testemunham uma vigorosa e estrita disciplina visual. […] Uma simplificação rica de sentido desprende-se harmoniosa e logicamente de cada choque inicial, quer se trate de redes, de pescadores, de trabalhadores do campo – eternos temas do pintor português” 14. A artista continuaria a acompanhar o percurso de Júlio Resende e voltaria a escrever sobre ele, aquando de nova exposição na Bélgica, em Antuérpia, em 1963, organizada por Roger Avermaete (1893-1988). Veículo de promoção turística, no dizer do vereador municipal directamente envolvido na organização e recurso de desenvolvimento cultural da cidade, a Missão configura uma residência artística avant la lettre, oportunidade extraordinária para os criadores, que deu corpo à aventura de humanismo e liberdade com que Júlio Resende identificava a prática da arte.


03. Júlio Resende, com alguns dos artistas participantes na Missão Internacional de Arte, Agosto de 1955. Espólio documental do Lugar do Desenho.

04. Jesus Diaz Ferrer, Antti Saarela, Serge Pomonarev, Odd Tanberg, Gastão Seixas. Coleção particular, família Barbosa.

05. Júlio Resende, Serge Pomonarev, Odd Tanberg, Gastão Seixas, Jesus Diaz Ferrer e Antti Saarela na Missão Internacional de Arte na Póvoa de Varzim. Espólio documental do Lugar do Desenho.

62

63


06. O grupo da Missão, no Bom Jesus de Braga, 28 de Agosto de 1955. Coleção particular, família Barbosa. 07. Em pé: Hope Manchester, Théodore Appleby, Altino Maia, ??, Lola e Pepi Sanchez, May Néama e, deitados, Jesus Diaz Ferrer e Júlio Resende. Espólio documental do Lugar do Desenho.

64

65


08. Folha de rosto do Álbum Documentário dos Usos, Costumes e Tradições Poveiras, 1955. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim. 09. Cartaz do Documentário dos Usos, Costumes e Tradições Poveiras, 1955. Coleção particular, família Barbosa.

66

67


10. May Néama agradecendo a Santos Graça, a iniciativa do cortejo, 21 de Agosto de 1955. Álbum Documentário dos Usos, Costumes e Tradições Poveiras, 1955. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim.

12

11 — 15. Sargaceiras de A Ver-o-Mar, Volta da Romaria, Coro de Santo André, Serão Poveiro, Ala Arriba. Fotografias do Álbum Documentário dos Usos, Costumes e Tradições Poveiras, registando momentos da noite de 21 de Agosto de 1955. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim.

13

68 11

14

69 15


17. Catálogo da exposição da Missão Internacional de Arte. Capa de May Néama. Coleção particular, família Barbosa.

16. Aspecto da montagem da exposição final da Missão, no Casino da Póvoa de Varzim.

18. Dedicatória de Antti Saarela e da mulher, Anne-Lüsa, para Fernando Barbosa, agradecendo a participação na Missão, datada de 5 de Outubro de 1955, em livro sobre a cidade de Tampere. Coleção particular, família Barbosa.

70

71


19. Bilhete postal de Boas Festas de Antti Saarela e da mulher, Anne-Lüsa, para Jorge Barbosa, datado de 19 de Dezembro de 1955. Coleção particular, família Barbosa.

20. Folheto de propaganda médica ilustrado por May Néama e cartão de visita em que a autora se refere à Póvoa de Varzim. Coleção particular, família Barbosa.

72

73


21. Altino Maia Família de Pescadores, 1955 Madeira, 41,4x29x17 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

22. Antti Saarela Motivo da Póvoa de Varzim, 1955 Óleo sobre tela, 64,3x55,3 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

24. Hope Manchester Mulheres na praia, 1955 Óleo sobre tela, 90x110,5 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

74 23. Gastão Seixas Janeiras, 1955 Óleo sobre aglomerado de madeira, 41,5x60,5 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

75


25. Júlio Resende Rapaz no Barco, 1955 Óleo sobre tela, 46x55 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

26. Lola Sanchez Sargaceiras, 1955 Óleo sobre tela, 54x45 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

28. May Néama Atadeiras de rede, 1955 Guache sobre papel, 45,5x62,5 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

76

27. Lola Sanchez Mulheres na praia, 1955 Óleo sobre tela, 49x62 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

77

29. Pepi Sanchez Rapaz, 1955 Óleo sobre tela, 73x54 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim


03. ARTISTAS E OBRAS DA MISSÃO INTERNACIONAL

30. Rui Calafate Sargaceiras, 1955 Tinta da china sobre papel, 27,3x37 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

15 — Breve notícia na Wikipedia: https:// fi.wikipedia.org/wiki/Antti_ Saarela 16 — Gastão Seixas. Porto. Galeria das Antas, 2007

31. Serge Pomonarev Poveira, 1955 Granito, 43x23x28 cm Col. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

78

79

Resultaram da Missão dezenas de trabalhos expostos (e vendidos) no Salão-Teatro do Casino da Póvoa, tendo sido incorporadas na colecção do Museu Municipal obras dos artistas, no cumprimento de uma das contrapartidas pela participação. A biografia dos artistas, quando a ela tivemos acesso, regista a passagem pela Póvoa de Varzim e, em alguns casos, assinala a presença na colecção do “Museu Etnográfico da cidade”. Um olhar sobre as esculturas e as pinturas existentes no Museu e a consulta do catálogo (com 83 entradas) revelam que o trabalho de Júlio Resende é, indiscutivelmente, um dos mais interessantes. Dos outros artistas apercebem-se trabalhos que correspondem aos traços formais que deles conhecemos, concretamente nos casos de Gastão Seixas ou de Altino Maia, e outros que evidenciam o ar prematuro de quem enveredaria, mais tarde, por caminhos diferentes. A peça de Altino Maia que figura no catálogo da Missão aponta os sinais distintivos deste escultor, com obra religiosa em numerosas igrejas, muito marcada por uma figuração geometrizada, realizada preferencialmente em madeira, vestígio da sua actividade inicial com santeiros. Antti Saarela15 ter-se-á dedicado particularmente à pintura de paisagem, viajou e teve a sua formação em França e Itália, tendo aqui estudado fresco, nos finais da década de 50 e viria a dedicar-se à produção mural. As paisagens que se encontram na colecção do Museu Municipal são menos interessantes do que as figuras femininas reproduzidas no catálogo da exposição final, estas mais acertadas com o gosto da época e os valores estruturais da figuração. Gastão Seixas16 surge comprometido com uma linguagem de cunho neo-realista que valoriza a figura humana e a sua integração no universo do trabalho, apresentando uma estrutura geometrizante que lhe confere força, como se observa na obra da coleção do Museu Municipal, alusiva ao canto das Janeiras, e no trabalho reproduzido no catálogo de 1955.


Gustavo Bastos17, formado no ano anterior ao da Missão, produziu diversos monumentos para o espaço público e muitas peças escultóricas de menor dimensão, com preferência para os trabalhos em bronze. A sua elegância herdeira do gosto modernista é evidente na obra selecionada para o catálogo da exposição no Casino. Hope Manchester pertenceu ao grupo designado “Artistes d'Alba-la-Romaine”18, de que fizeram parte figuras de diferentes nacionalidades que, a partir de 1949, se encontraram e trabalharam nessa localidade do sul de França, na zona de Ardèche, em resposta a um apelo de André Lhote, lançado em 1948, para a aquisição e reabilitação de casas nessa região. Com esta artista, passou também a residir na localidade, o marido, Théodore Appleby19. Ambos participaram em exposições importantes das décadas de 50 e 60, particularmente o Salon des Réalités Nouvelles, e colectivas com artistas americanos dos meados do século. Hope terá abandonado a matriz figurativa que os seus trabalhos da Póvoa apresentam e evoluído para uma abstracção de sentido expressionista, que o trabalho de Appleby já mostrava, tendo sido ambos influenciados pelo informalismo europeu e pelo expressionismo abstracto norte-americano. Jesus Diaz Ferrer tem uma extensa obra, de carácter experimental, bastante mal conhecida do público, que suscitou recentemente o interesse de historiadores e críticos20. As ramificações do modernismo que cultivou são visíveis na figura de peixeira que o catálogo da Missão exibe. May Néama, já referida atrás pela actividade crítica que também exerceu, foi uma figura relevante do panorama cultural belga, particularmente em Antuérpia, tendo o seu espólio sido incorporado na Université Libre de Bruxelles21 após doação da própria no início do século XXI. Tem um trabalho relevante de ilustração literária e publicitária, e fortes ligações às artes do espectáculo. Talvez a simplificação e o sentido gráfico das Atadeiras de rede, peça da coleção municipal, e o carácter de ilustração do desenho escolhido para o catálogo da mostra final, fiquem a dever-se a essa experiência. Talvez também por esta razão, foi May Néama a fazer a capa da publicação. Odd Tandberg22 é autor de uma importante obra pública na Noruega, integrada na arquitectura, de matriz abstracta, associada ao movimento da arte concreta e a um certo brutalismo dos anos 70. O trabalho que consta do catálogo permite adivinhar a orientação do seu trabalho futuro, tal como acontece com as outras Composições que expõe, marcadas por elementos geométricos que apenas sugerem, sem representar, elementos da vida marítima.

17 — Algumas referências bibliográficas: MATOS, Lúcia Almeida – Escultura em Portugal no século XX (1910 – 1969). Lisboa: FCG, 2007; SOUSA, Gonçalo V. – Diálogos com o Escultor Gustavo Bastos: da vida e da obra, Museu, 2, 1994. FERRO, Rui et. al. – Entrevista a Gustavo Bastos. In UP|Arte 1,1995. 18 — Ver informação sobre esta comunidade e sobre os dois artistas representados no Museu da Póvoa em: http://www. alba-artistes-1950.com/ accueil.php e em: http:// www.wikiwand.com/fr/ Artistes_d%27Alba-laRomaine

23 — Ver o website dedicado à artista: http:// www.pepisanchez.es/ e o catálogo da exposição: Pepi Sanchez 1929-2012. La Dama entre Duendes. Exposición Retrospectiva. Casa de la Provincia de la Diputación de Sevilla, 2014, em: https://issuu. com/marina_arfrisol/docs/ catalogo_pepi__sanchez_ marinacontre 24 — Notícia de uma exposição no Ateneo Hispalense, em Sevilha no periódico ABC, 18, 858, 29 de Abril de 1967.

19 — Notícia bem documentada em: http:// www.wikiwand.com/fr/ Theodore_Appleby#/ overview 20 — ARIAS Luis Enrique Rodríguez – Muere Jesús Díaz Ferrer: independencia y europeismo en el arte gallego del siglo XX. In Mundiario, 19 de Março de 2017. Em linha: https://www. mundiario.com/articulo/ sociedad/muere-jesusdiaz-ferrer-independenciaeuropeismo-arte-gallegosiglo21 — Ver: http://data.bnf. fr/14846102/may_neama/ 22 — Ver o website dedicado ao artista: https:// www.oddtandberg.no/

80

81

Pepi Sanchez23 teve um percurso com numerosas exposições individuais e colectivas, objecto de uma extensa crítica. Produziu uma obra em que enveredou pelos caminhos surrealizantes, de sentido onírico e efabulatório. Da irmã, Lola Sanchez, também pintora e que acompanhou Pepi em numerosas viagens, a informação é escassa, aparecendo quase sempre relacionada com a biografia da irmã. No entanto, a sua carreira artística teve também desenvolvimento, encontrando-se referências a exposições individuais realizadas mais tarde.24 As duas artistas optaram pela representação de motivos ligados à vida marítima, tendo Lola Sanchez deixado no Museu uma representação de Mulheres na praia e Mulheres na apanha do sargaço, motivos inspiradores de quantos investigavam aquelas paragens, e Pepi Sanchez optado pela representação de figuras masculinas, um menino com barco, reproduzido no catálogo da Missão, um Rapaz na praia, e Janeiras, ambas pertencentes ao Museu. Rui Cesariny Calafate que se formou em Arquitectura em 1970, com um projecto de habitação na Póvoa de Varzim, manter-se-ia ligado à sua terra natal pelo projecto de edifícios e pela escultura e pintura, a que se dedicou ao longo de toda a sua vida, no registo próximo do tardo-naturalismo que lhe convinha para representar uma Póvoa pitoresca. Esta faceta está documentada na peça pertencente à colecção do Museu e no desenho no catálogo. Serge Pomonarev, russo radicado em Paris, manteve os traços que se observam na Poveira hoje pertencente ao Museu Municipal, particularmente o carácter robusto e denso das suas esculturas, volumes sólidos, escassamente trabalhados. Conhecemos melhor o impacto da passagem pela Póvoa sobre a obra de Júlio Resende, mas o que apurámos acerca dos outros artistas participantes na Missão, permite-nos afirmar que, também a sua obra, preservou marcas desse tempo e desse lugar.


NOTA BIOGRÁFICA

JÚLIO RESENDE (1917|2011) natural do Porto, é autor de uma obra de pintura vastíssima, desenvolvida entre os anos 30 do século XX e a primeira década do século XXI. Concluiu a formação em Pintura, no ano de 1945, na Escola de Belas Artes do Porto, onde seria docente entre 1958 e 1987. Realizou inúmeras exposições no país e no estrangeiro, tendo iniciado, em 1934, a participação em exposições colectivas, e um trajecto individual em 1943. Ao longo da sua carreira, foi distinguido com relevantes prémios: Prémio Armando Basto (1945), Amadeo Sousa Cardoso (1949), António Carneiro (1953), todos atribuídos pelo SNI; Prémio do Salão dos Artistas de Hoje (1956); Prémio Especial na Bienal de S. Paulo (1951); Menção Honrosa na 5ª Bienal de S. Paulo e 2º Prémio Pintura na I Exposição de Artes Plásticas FCG (1957); Prémio AICA – SEC (1984) Prémio Aquisição 1987 da Academia Nacional de Belas Artes (1988); Prémio de Artes Casino da Póvoa (2008). Realizou obra pública com trabalhos executados em técnicas que vão da cerâmica ao fresco, do vitral à tapeçaria, instaladas em espaços do norte ao sul de Portugal. Ilustrou obras literárias, nomeadamente para a infância, realizou cenários e figurinos para teatro, bailado e espectáculos de grande impacto. Sobre a sua produção debruçaram-se os principais críticos e historiadores de arte portugueses, mas também importantes escritores e poetas. A criação do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende foi um dos principais projectos a que se dedicou a partir da década final do século XX e primeira década do século XXI. Projectada pelo arquitecto José Carlos Loureiro, foi inaugurada em 1997, na margem do Douro, em Gondomar, junto à casa-atelier do artista, da autoria do mesmo arquitecto. Em 1947 instala-se em Paris. Viajou por França, Bélgica, Holanda, Inglaterra e Itália. Na capital francesa frequentou o atelier de Untersteller, na Escola de Belas Artes de Paris, e a Academia Grande Chaumière, como discípulo de Othon Friesz.

82

83

Sob a orientação de Duco de la Aix aprendeu a técnica do fresco. Realizou apontamentos do natural – paisagem e figuras – e numerosas cópias no Museu do Louvre. Conviveu com artistas estrangeiros, particularmente com Mabel Gardner, o escultor Zadkine, o pintor checoslovaco Frantisek Emler e o norueguês Oddvard Straume. Estas ligações determinariam a realização de exposições nos países nórdicos e o intercâmbio com esses artistas. Promoveu, por exemplo, em 1957 uma exposição de artistas portugueses em Oslo e Helsínquia. Nos anos de 1949/50 foi professor na pequena escola de cerâmica em Viana do Alentejo, Alentejo, período em que privou com o escritor Virgílio Ferreira e com os artistas Júlio e Charrua. Nos anos 50 promoveu, em Portugal, as Missões Internacionais de Arte, para as quais eram convidados artistas estrangeiros em diálogo com artistas portugueses. Em 1954 lecciona na Escola Industrial e Comercial da Póvoa de Varzim e em 1955 promove a segunda “Missão Internacional de Arte”, naquela localidade. Júlio Resende viria igualmente a tornar-se Membro da Academia Real das Ciências, Letras e Belas-Artes Belgas, tendo feito uma conferência neste enquadramento, em Bruxelas, em 1972. Em 1970 seria responsável pela orientação visual e estética do Espectáculo de Portugal na “Exposição Mundial de Osaka”, momento relevante da sua presença no estrangeiro. Nos anos 90, reforça a articulação com os países de língua portuguesa ou de influência portuguesa, tendo sido promovidas pela Fundação Júlio Resende, diversas estadias artísticas em Moçambique, Cabo Verde e Goa que resultaram em exposições nesses países e na publicação dos respectivos catálogos. Faleceu aos 93 anos de idade, a 21 de Setembro de 2011, na sua casa em Valbom, Gondomar.


Júlio Resende na Póvoa de Varzim — Desenhos anos 50 Centenário do Nascimento do Pintor Júlio Resende 1917/2017

Curadoria Laura Castro Victor Costa

Design Gráfico esad—idea Inês Nepomuceno

Colaboração Dr.ª Deolinda Carneiro

Organização Câmara Municipal da Póvoa de Varzim Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende

Secretariado / Lugar do Desenho Cecília Moreira

Editor Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende

Presidente da Câmara Municipal Engº. Aires Henrique do Couto Pereira Vice-Presidente/ Vereador da Cultura e da Educação Dr. Luís Diamantino de Carvalho Batista Coordenação dos Projetos Dr. Manuel Costa EXPOSIÇÃO Local Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim Rua Visconde de Azevedo, nº17 4490—588 Póvoa de Varzim t: 252 090 002 e: museu@cm-pvarzim.pt Data 20 Fev. 2018 — 31 Ago. 2018

Montagem / Museu Municipal Dr.ª Deolinda Carneiro José Roberto Marques CATÁLOGO Coordenação editorial Laura Castro Victor Costa Textos Engº. Aires Henrique do Couto Pereira — Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende Laura Castro — Universidade Católica Portuguesa - Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes Escola das Artes Fotografia ©AL José M. Flores Gomes / Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim Arquivo documental Fundação Júlio Resende

Rua Pintor Júlio Resende, 105 4420—534 Valbom Gondomar Impressão e Acabamento Greca – Artes Gráficas, Lda Tiragem 400 exemplares Data Fevereiro 2018 ISBN 978-989-96982-6-0 Depósito Legal 437661/18 Agradecimentos Senhor Alberto Eiras Família Barbosa Família Fores Gomes Obras reproduzidas da página 20 à página 54: Coleção Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende.


ORGANIZAÇÃO

APOIO INSTITUCIONAL

MECENAS

APOIO

SEGUROS


100

DESENHOS

ANOS 50

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO PINTOR JÚLIO RESENDE 1917 | 2017


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.