RESENDE
JÚLIO RESENDE OBRA PÚBLICA 23 SET 2017 — 27 JAN 2018 GALERIA MUNICIPAL DE MATOSINHOS CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO PINTOR JÚLIO RESENDE 1917|2017
2
4
5
7
8
EDUARDO PINHEIRO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MATOSINHOS FERNANDO ROCHA VICE-PRESIDENTE E VEREADOR DA CULTURA DA CÂMARA MUNICIPAL DE MATOSINHOS
9
LUGAR DO DESENHO — FUNDAÇÃO JÚLIO RESENDE CELEBRAR E REPENSAR JÚLIO RESENDE (1917/2011) NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO
11
LAURA CASTRO OBRA PÚBLICA DE JÚLIO RESENDE — UMA OBRA COM A DIMENSÃO DO SÉCULO XX
6
31
COLECÇÃO DA CÂMARA MUNICIPAL DE MATOSINHOS
36
COLECÇÃO DO LUGAR DO DESENHO — FUNDAÇÃO JÚLIO RESENDE
102
OBRA PÚBLICA
107
JÚLIO RESENDE (1917/2011) BIOGRAFIA
7
EDUARDO PINHEIRO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MATOSINHOS
À data da sua construção, na década de 1980, o edifício dos paços do concelho de Matosinhos constituiu um gesto profundamente inovador no panorama das obras públicas portuguesas. Foi o primeiro grande edifício construído após a revolução democrática de Abril de 1974, tendo adotado o traço de um dos nomes emergente da arquitetura contemporânea portuguesa (Alcino Soutinho) e reabilitado o uso do azulejo em grandes construções estatais, integrando ainda os princípios de transparência e democraticidade que devem presidir ao funcionamento de todos os organismos públicos. Uma das mais notáveis paredes deste edifício conta, no seu interior, com um grande e belo painel de azulejo, representando a lenda de Cayo Carpo, que terá dado origem ao nome de Matosinhos. No canto inferior direito, junto ao ponto por onde a luz invade a sala de sessões públicas, vê-se claramente a assinatura de Resende, o mestre Júlio Resende, que aqui rubricou uma das suas mais notáveis obras. É, pois, com toda a naturalidade que a Galeria Municipal de Matosinhos acolhe agora a exposição que recorda a faceta pública da obra daquele que foi um dos mais significativos artistas portugueses do século XX, cujo centenário agora se assinala.
8
9
10
FERNANDO ROCHA VICE-PRESIDENTE E VEREADOR DA CULTURA DA CÂMARA MUNICIPAL DE MATOSINHOS
LUGAR DO DESENHO — FUNDAÇÃO JÚLIO RESENDE CELEBRAR E REPENSAR JÚLIO RESENDE (1917/2011) NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO
Se não fosse imortal, Júlio Resende ter-nos-ia deixado há seis anos bem contados. Sendo, porém, quem é, o mestre continua entre nós, vivo e vibrante, na obra que legou e nas muitas memórias que dele guardamos, ainda tão frescas e de ontem, apesar de a dimensão universal da arte que produziu nos obrigar a assinalar já o primeiro centenário do seu nascimento. A exposição que, no contexto desta efeméride, se apresenta na Galeria Municipal de Matosinhos, tem o condão de reunir e sistematizar os mais significativos trabalhos que Resende produziu para o espaço público, entre os quais se contam obras presentes, como coisas vivas e quotidianas, nos paços do concelho de Matosinhos. Se a arte pública constitui um dos mais poderosos meios de democratização da arte e da instrução, enriquecendo o embelezando o quotidiano daqueles que se cruzam com as obras presentes no seu caminho, somos, em Matosinhos, particularmente afortunados. Os nossos espaços públicos estão cheios de erupções do sublime para cuja fruição apenas basta saber olhar, ver e reparar. Para Júlio Resende guardámos precisamente o mais especial e simbólico dos locais: a sala de sessões dos paços do concelho.
Desde a sua criação, em 1993, e a inauguração das suas instalações, em 1997, que o Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende se dedica ao estudo, à preservação e à difusão do vasto acervo de desenhos que possui. Formada por mais de duas mil e quinhentas peças que o pintor reuniu ao longo da sua carreira e destinou à Fundação, a colecção permite seguir o seu trajecto artístico, desde os tempos de formação aos de consagração. As actividades culturais e educativas que a Fundação tem desenvolvido estimulam uma leitura aberta do desenho e uma reflexão multidisciplinar sobre a sua prática. Porque a experiência da viagem foi determinante na obra de Júlio Resende e porque estamos perante um artista que dedicou parte da sua vida às questões da divulgação e da recepção da arte, é justo celebrar o seu nascimento, através de uma série de exposições em várias cidades portuguesas. O programa de exposições temporárias, em que se integra esta iniciativa na Galeria Municipal de Matosinhos, pretende divulgar a obra de Júlio Resende em lugares relacionados com o seu itinerário biográfico ou com o trabalho aí produzido como é o caso com a intervenção e obra pública na Câmara municipal. Os lugares nunca foram indiferentes a Júlio Resende, que neles soube colher a marca das suas comunidades e os sinais de um destino humano, cumprido nas actividades quotidianas e na relação telúrica e cósmica. A curiosidade face ao meio envolvente e a capacidade de sugerir a vivência dos sítios e a densidade da paisagem, exigiram exercícios formais e reinterpretações visuais que reúnem, ao valor documental, a dimensão plástica e estética. Na aparente fragilidade e no intimismo que execução e dimensão sugerem, estes desenhos proporcionam uma visão abreviada das problemáticas que sempre mobilizaram o artista e revelam alguns dos traços mais significativos da sua produção. Rever Júlio Resende é rever uma obra que resume a arte do século XX. É urgente repensá-la e reenquadrá-la na história da arte moderna e contemporânea. O centenário do nascimento do pintor é o momento certo para esta acção.
11
LAURA CASTRO OBRA PÚBLICA DE JÚLIO RESENDE — UMA OBRA COM A DIMENSÃO DO SÉCULO XX As razões do artista e as da história Falar sobre a obra pública de Júlio Resende, como sobre a de numerosos pintores da sua geração, é falar na utilização do muro para ampliação das possibilidades da pintura – ampliação literal, em termos de dimensão e de escala; ampliação cultural, em termos da acessibilidade do público à arte; ampliação conceptual testemunhada pela afirmação do artista: “Um mural num espaço urbano é o mais justo fim de uma pintura. Aí atinge plenamente a sua função social, e é essa a razão de ser da sua existência”. Se os escultores da sua geração, pela natureza e história desta prática, ocupavam o espaço público, os pintores remetiam-se à intervenção decorativa sobre o suporte parietal. E é da perspectiva de pintor, que Júlio Resende actua neste campo. Por isso, ele nunca abandona as características intrínsecas da pintura, mesmo quando as explora em obras de carácter diverso. Diante de muitos dos seus trabalhos, perguntar onde acaba o pintor e começa o ceramista ou o autor de tapeçarias, pode ser um exercício gratuito, uma vez que é na defesa da sua identidade de pintor que a sua obra manifesta uma assinalável unidade. Apesar de na sua actividade vigorar este princípio da pintura, ela desenvolveu-se num contexto de experimentação técnica, de domínio dos materiais, de correspondência com a função, de acerto iconográfico. E, na verdade, a questão perde importância quando ouvimos Resende dizer que criar para um espaço público é sublinhar o espaço e não intervir, gerar pontuações de referencialidade interna e não impor uma decoração externa, despertar o acto de sentir e não o acto do ver, de acordo com os seus depoimentos na publicação que acompanhou a exposição O Desenho no Muro, em 1989. Criar para esse espaço supõe conceber um envolvimento destinado às pessoas e à transformação da sua vida quotidiana. O ideário de Júlio Resende era simples e radicava, por um lado, na arte como instrumento de mudança e, por outro, na convicção de que o contacto casual com a arte, mais do que o confronto deliberado, modificava as pessoas e a sociedade.
12
13
Os termos em que o artista se refere à dimensão pública da sua produção relacionam-se com o clima do pós-guerra em que observou a grandeza da arte mural da Antiguidade e do Renascimento, em que entreviu a importância da arte para a reconstrução da Europa e em que assumiu a arte como missão humanizadora, tendo procurado nela harmonia e tratamento estético dos lugares ou, talvez mesmo, a estetização da vida. Conhecer esta faceta do pintor é conhecer um discurso artístico que procurou uma função para a arte e uma responsabilidade cívica para o artista, discurso no qual convergem diversas vias, menos remotas do que as que Resende identificou. Entre elas figuram a da arte de vocação social inscrita nas vanguardas dos anos 10 e 20, a da arte política produzida na América do Sul, cujas notícias chegavam a Portugal; a do concerto entre as três artes que ecoava na Escola de Belas Artes do Porto; a da matriz ideológica neo-realista. Experiências em desenvolvimento na Europa, antes e depois da Segunda Guerra Mundial, diferentes nos seus propósitos e no seu enunciado, formuladas umas no universo da arte, outras no meio político (e em ambos, como não podia deixar de ser), concorriam para um ambiente propício à colaboração entre arquitectos e artistas plásticos, colaboração que decorria de um certo papel do Estado, em que propaganda e encomenda se encontraram, mas também de uma certa ideia de arquitectura que fomentou aquela cooperação. São díspares estas vias, mas todas contribuíram para, em diferentes momentos do século XX, manter presente a predisposição social da arte.
Outras exposições realizadas no Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende, instituição dedicada ao estudo e divulgação da obra do artista, deram visibilidade à sua obra pública, abordando outras práticas e técnicas, a tapeçaria, o fresco, grandes painéis a óleo e, de novo, a cerâmica. Refiro-me à exposição ocorrida entre Abril e Outubro de 1999. “O Desenho no Muro”, que deu origem a uma publicação com o mesmo nome editada pela Fundação; à que teve lugar entre Novembro de 2004 e Abril de 2005, “A Moral do Mural” e, finalmente, à que foi realizada entre Outubro de 2010 e Abril de 2011, “A Intuição atenta à Razão”, esta dedicada a um único projecto, o da Estação de Sete Rios, do Metropolitano de Lisboa. Escrevi, em 1998, um texto destinado ao catálogo da exposição do Museu do Azulejo que revisito e de que recupero partes. Fui também reler depoimentos de Júlio Resende sobre o seu processo de trabalho, intenções e resultados que revelam o superior interesse que a arte pública tinha para o artista. Esta exposição, enquadrada nas actividades que assinalam o centenário do nascimento de Júlio Resende, pretende ser mais um contributo para o conhecimento da sua obra pública, vasta e de grande significado para a arte portuguesa. Aqui se mostram estudos preparatórios para 24 projectos, estudos que documentam o trabalho do artista, dos anos 50 aos anos 90, pertencentes às colecções do Lugar do Desenho e da Câmara Municipal de Matosinhos, entidade que, por ter peças marcantes do artista associadas ao edifício dos seus Paços do Concelho, acolheu naturalmente a iniciativa. Na lista incluída no catálogo estão identificadas 50 encomendas de arte pública a que Júlio Resende deu resposta, sendo 31 de trabalhos em cerâmica, 6 de frescos, 6 conjuntos de vitrais, 3 tapeçarias e 4 noutras técnicas. A estas encomendas, acresce 1 projecto para um concurso do Estado, não executado, e 4 projectos também não concretizados, de que se conhecem estudos no Lugar do Desenho. Este inventário cobre apenas as intervenções permanentes, ignorando propostas temporárias que Júlio Resende elaborou para acontecimentos públicos de carácter expositivo. Estão nesta situação o painel decorativo, a óleo, Aspirações do Povo Português, para o
As razões dos historiadores É numa exposição realizada no Museu Nacional do Azulejo, em 1998, que a obra de Júlio Resende instalada em espaços públicos ou de fruição pública é tratada numa cronologia abrangente, entre 1958 e 1995, limitada, embora, à produção cerâmica. A sua obra de carácter público começa antes daquele ano, em 1952, e prolonga-se até 2004.
14
15
1. As dissertações e teses que referem Júlio Resende não constituem trabalhos monográficos sobre o artista, mas panoramas em que o seu nome e certas obras surgem entre muitas outras. Esta situação mantém-se desde que, 1994, foi defendida uma dissertação de mestrado
Pavilhão de Portugal da Exposição Internacional Bruxelas, em 1958, ou o painel a têmpera, A Tomada de Ceuta, para Exposição Henriquina, em Lisboa, em 1960. Desta meia centena de trabalhos, executada ao longo de 52 anos, a maior parte é de grande envergadura e de grande exigência, quer pela dimensão, quer pela produção envolvida. No entanto, a lista não está completa e isso deve motivar trabalhos futuros. Neste texto, corrigem-se alguns dados publicados em momentos anteriores e acrescentam-se informações novas, mas muito está por fazer. O estudo aprofundado da obra pública de Júlio Resende requer: · a investigação nos arquivos do Estado e de outras entidades encomendadoras, nas fábricas de cerâmica ou nos ateliers de tapeçaria onde foram produzidas as peças; · a localização de cadernos de encargos e de memórias descritivas; · a verificação de datas (da concepção e execução do trabalho, a que figura na própria obra, a de inauguração do edifício); · a verificação de todos os dados de produção; · a confirmação da situação em que se encontram as obras, traçando as mudanças de local e de tutela, situação particularmente importante no que respeita às encomendas de bancos, por exemplo; · a comparação dos projectos por tipologias espaciais, sistematizando, por exemplo, a produção para a arquitectura religiosa moderna e contemporânea, para os edifícios judiciários; · a reconstituição da teia de relações que esteve na base das encomendas e a sua relação com as zonas do território em que se situam as suas obras; · a restituição de títulos; · a identificação de todos os estudos que se encontram em grande número no Lugar do Desenho, mas também dispersos por várias colecções, com particular destaque para as dos arquitectos com os quais o artista colaborou e a sistematização das exposições em que figuraram; · o registo dos processos de restauro que já ocorreram, sabendo que os projectos de Valença do Minho, dos Blocos da Pasteleira
16
na Universidade Nova de Lisboa, dedicada ao artista, mais tarde, publicada pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Só a pesquisa monográfica pode fazer avançar o conhecimento neste domínio.
e da ribeira, no Porto, e de Vila do Conde já foram sofreram trabalhos de conservação; · o estudo da colaboração com diferentes arquitectos e o diálogo que Resende estabelece com os projectos de arquitectura. Só deste modo se terá uma noção global desta obra, se entenderá o papel que ela desempenha no quadro da criação moderna e contemporânea em Portugal, se aferirá o que ela representa para a arte europeia da segunda metade do século XX e se poderá acompanhar o destino deste património artístico e protegê-lo. Reconheceremos Resende e a linguagem formal que elaborou em meio século de trabalho, a do seu tempo, ou melhor, a dos seus sucessivos tempos porque na matriz figurativa que adoptou assinala-se uma sintonia plena com a arte dos seus contemporâneos. Uma pesquisa sumária e meramente exploratória sobre dissertações e teses dedicadas a Júlio Resende em âmbito académico, mostra que são praticamente inexistentes1, o que se afigura quase incompreensível, dada a longevidade e a vastidão da obra do artista, bem como a diversidade de práticas que desenvolveu.
A obra e os seus lugares A cartografia da obra pública de Júlio Resende traduz, com toda a clareza, a sua extensão e importância. Instalada em escolas, tribunais, postos fronteiriços, hotéis, espaços religiosos, bancos, câmaras municipais, hospitais e centros de saúde, praças, estações de metropolitano e áreas comerciais, essa obra atravessa Portugal do norte ao sul do país, em Valença, Viana, Guimarães, Bragança, Miranda do Douro, Penafiel, Vila do Conde, Porto, Espinho, Oliveira do Bairro, Vagos, Aveiro, Anadia, Vilar Formoso, Évora e Lisboa. Ao elaborar este roteiro – que retoma parte do que surgiu no catálogo do Museu do Azulejo, já referido – optei por não o limitar às peças expostas, integrando-as num panorama mais vasto, num tempo
17
2. Este é o primeiro painel cerâmico do artista e não os que executa para Vilar Formoso, como na publicação do Museu Nacional de Azulejo se afirma.
3. V. estudos In Mar Novo. Concurso de Projectos para o Monumento ao Infante D. Henrique. 2ª fase. Memória descritiva. s.l.: 1957.
e num espaço mais alargados que comuniquem a real dimensão da obra pública de Júlio Resende. A referência a obras que não fazem parte da exposição fornece a moldura cronológica e o modelo formal em que se situam os trabalhos mostrados na Galeria Municipal de Matosinhos e publicados no catálogo. Esta decisão prende-se também com a circunstância comemorativa que se atravessa, propícia a leituras abrangentes da produção do artista. Em 1952 Resende realiza a fresco o seu primeiro painel mural, Divertimento Infantil, na cantina da Escola Gomes Teixeira, no Porto, de que aqui se expõem quatro estudos que evoluem em definição formal e anatómica, sem que se perca a composição em friso tão característica da produção mural. Em 1954 ensaia o mosaico de vidro e pedra, naquele que é o primeiro painel cerâmico de Resende, situado no posto fronteiriço de Valença do Minho.2 O Fado e o Mar, restaurado pelo Centro de Conservação e Restauro da Universidade Católica Portuguesa, teve a colaboração de outros artistas que guardam a memória desse projecto, entre os quais se salienta o pintor e ceramista Avelino Rocha. A mesma técnica seria utilizada na composição Mar Novo que permaneceria célebre, apesar de não ter sido executada, destinada ao 3º Concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique.3 Entre o Divertimento Infantil e o Mar Novo, introduzem-se alguns motivos que dominarão parte importante da sua produção mural: a brincadeira de crianças e a iconografia nacional. Em 1958, recebe uma encomenda do Estado para um posto alfandegário de uma importante fronteira portuguesa, a de Vilar Formoso, destinada a um edifício de grande presença simbólica com questões iconográficas específicas. O seu trabalho desenvolve-se em grandes painéis que intitula O mar e a terra, o norte e o sul, a planície e a montanha, situações que percorrem os muros do vasto átrio de recepção em apontamentos de referente concreto, inseridos em manchas irregulares que vão ondulando de painel para painel, estabelecendo-se entre eles uma ligação dinâmica, numa conciliação de abstraccionismo e figurativismo. O estudo presente nesta exposição exprime as opções tomadas. Em termos de cor, a opção é igualmente dinâmica: as manchas, ora se apresentam mais claras
18
do que o fundo, ora absorvem a cor deste, aclarando-se por sua vez. As âncoras, as conchas, as gaivotas, as redes da pesca, os pinheiros, o campanário da igreja, as montanhas e as extensões de areia, culminam no símbolo diversas vezes usado em postos fronteiriços ou gares, da rosa dos ventos e do catavento. Muito discretas, estas pinturas sobre azulejo cumprem eficazmente a sua finalidade de exibir um Portugal estilizado em signos emblemáticos. Era o período em que cabia ao SNI a direcção de uma campanha de imagem do país, coerente, que se orientava, a um tempo, para todos os edifícios de vocação turística, pousadas, fronteiras, estações de serviço, estrategicamente dispostos ao longo das principais estradas do país. No mesmo ano de 1958 Resende executa dois painéis em faiança para o Hospital de S. João, aprofundando um pouco mais a experiência de ceramista. Libertando-se do quadrado regular da superfície, cria dois painéis de contorno irregular. As figuras estruturam-se e desfazem-se num contínuo avanço e recuo do suporte, ao contrário do que acontecia no trabalho de Vilar Formoso em que a construção se ficava a dever a sobreposições de forma e cor, mas sem qualquer trabalho relevado. Hino à Vida e Fonte de Saúde gravam-se nos painéis, explicando o contexto. Este ano de 1958, através destas duas obras, anuncia duas vias do trabalho do artista, uma assente nos valores do desenho e de transparências, outra assente no efeito construtivo e nas opacidades com relevo. A primeira via é retomada nos anos seguintes, nos trabalhos para a pousada de Santa Catarina, em Miranda do Douro e para a pousada de S. Bartolomeu, em Bragança. No primeiro caso, A Natureza é pretexto para isolar figuras de cavalos e pássaros, inscritos em janelas abertas num fundo geometrizante e pontuado por elementos vegetais estilizados, revestindo diversas paredes da sala de jantar da primeira pousada. O processo de janelas ajudando à integração figurativa, é comum a outros ceramistas. Em A Caça e a Pesca, painel único e individualizado, de que se mostra um estudo, articulam-se retículas de sinais vegetalistas e animais com duas imponentes figuras alegóricas, simbolizando aquelas actividades, munidas dos acessórios e atributos
19
4. Aquando da publicação do Museu Nacional do Azulejo, o painel ainda se encontrava no edifício do Centro de Saúde, informação que aqui se actualiza.
5. Esta informação, fornecida por Vasco Branco, corrige a que era referida na publicação do Museu Nacional do Azulejo.
respectivos, o arco e a rede, numa estratégia de comunicação eficaz. As figuras apresentam um tratamento plástico acentuado e a vertente analítica que a obra pictórica de Resende, contemporânea destes painéis, também ostenta. Toda a década de 50 insistiu, quer na construção plástica, quer no motivo telúrico. Mas é interessante notar que, enquanto a pintura passava já por uma fase de amadurecimento, que se seguiu a um profundo experimentalismo, a cerâmica parietal ensaiava os seus primeiros passos. E assim, enquanto aquela se encaminha, na transição para os anos 60, para soluções informalistas, os painéis manter-se-ão fiéis ao figurativismo, o que também acontece em função de imperativos ligados à encomenda. Na década de 60 Resende executa, além do painel de Bragança, cinco conjuntos cerâmicos em diversas zonas do país. Os trabalhos da Casa Sical, em Lisboa e no Porto, de Fafe, da Pasteleira, no Porto, e de Vila do Conde constituem um grupo coeso, pautado pelas mesmas exigências de adaptação temática e por idênticas características plásticas e técnicas. A obra realizada para o Palácio da Justiça de Lisboa é produzida numa óptica diferenciada. Naquele grupo de obras, o recobrimento parietal através da cerâmica enquadra-se em locais privilegiados dos edifícios, acolhendo os utentes e respeitando uma escala adequada aos átrios de entrada e às caixas de escadas que servem os pisos superiores. Na Casa Sical, de J. C. Loureiro e Pádua Ramos, os painéis, vindos da fábrica Tijomel, revestem as paredes laterais contando uma história do café, desde a plantação, à colheita, à distribuição e ao consumo da bebida, integrando letterings publicitários da empresa, magistralmente inseridos. Uma composição complexa, ligando sabiamente as cenas, um trabalho aturado de cor e diversidades de escala difíceis de articular, tornam este trabalho um dos mais interessantes de toda a produção de Resende. Nos blocos habitacionais da Pasteleira, dois quadros situados axialmente em relação às respectivas entradas, descrevem os pequenos prazeres da vida quotidiana, um centrando-se sobre o interior da habitação, o outro, sobre o envolvimento exterior. No Centro de Saúde de Fafe são os profissionais da saúde
20
6. RESENDE, Júlio – Autobiografia. Lisboa: O Jornal, 1987, p. 42.
que dominam a composição exigir uma difícil adaptação ao enquadramento arquitectónico. Finalmente, no último painel deste núcleo, e o único de que se apresenta um estudo na exposição –produzido para o Centro de Saúde de Vila do Conde e que, depois de um trabalho de remoção e de restauro, foi instalado na Câmara Municipal de Vila do Conde4 – são os pescadores, os estaleiros navais, as rendas de bilros, a igreja paroquial e outros elementos do património arquitectónico, como o aqueduto, a Capela do Socorro, e a reunião familiar no fim do trabalho e da escola, que o organizam. Neste importante grupo de obras revela-se um procedimento formal constante que lhes confere unidade: manchas de diferentes tonalidades moldam as figuras e os objectos, alastram ao espaço e aos fundos, envolvem organicamente toda a superfície. As manchas decompõem os elementos apresentados, mas também os recompõem, de diversas perspectivas, numa análise dinâmica da forma. Outra situação se descobre na série de seis painéis, cobrindo cerca de 75 m2 da fachada do Palácio de Justiça de Lisboa, obra de João Andresen e de Januário Godinho, de que se expõem seis estudos sobre papel vegetal. A sua execução foi levada a cabo na fábrica aveirense OLAV – Olaria de Aveiro Lda., mais tarde OLARTE5 – onde o artista trabalhará em diversas ocasiões. A elaboração dos seis painéis foi morosa e absorvente, tendo explorado facetas inéditas no trabalho cerâmico do seu autor. Para Resende os painéis despertavam, segundo as suas palavras “o desespero e a confiança” numa alusão às vicissitudes de carácter técnico.6 Cada um desenvolve motivos vegetais estilizados e abstractos e integra uma figura alegórica, de raiz mitológica, inserida no jogo gráfico, vertical ou transversalmente. O trabalho relevado e a combinação de brilhos e reflexos intensos, tornam este conjunto o mais interessante, do ponto de vista da investigação oficinal e estritamente cerâmica. O resultado é extremamente complexo e rico, pleno de sugestões plásticas e até escultóricas. Na década de 60, o fresco volta ao seu trabalho nas encomendas do Palácio da Justiça do Porto, de 1960,
21
e do Palácio da Justiça de Anadia, de 1965, de que se expõe uma reprodução. No mesmo ano Resende elabora As Trocas, painel a óleo para o edifício Pinto de Magalhães, actualmente na colecção Millennium BCP. Um outro trabalho, é realizado trinta anos mais tarde para o Banco Português de Investimento, no Porto. Ambos espelham a complexidade habitual em Resende, a construção facetada dos elementos figurativos e a criação de grandes manchas que organizam as diferentes cenas da composição, aspectos detectáveis, também, na tapeçaria que concebe para a inauguração da Ponte Salazar, em Lisboa. Já a tapeçaria da Câmara Municipal de Matosinhos, com estudo de 1973, ou a grande tapeçaria para a Caixa Geral de Depósitos, de 1994, assentam em composições diferentes, em que elementos estruturais se combinam com uma dimensão mais expressiva e até gestual, elaboradas num registo que persegue os traços da pintura do período correspondente. A década de 70 inicia com dois painéis instalados em dependência do Banco de Fomento Nacional (mais tarde Banco Borges & Irmão), em Évora, em 1971, cujos estudos se apresentam, em que Resende explora novamente o relevado e cria duas figuras alegóricas, alusivas à abundância e à fertilidade, rodeadas de elementos vegetais e animais. No início dos anos 70 Resende sente necessidade de aprofundar o que chama “entendimento” da técnica da cerâmica, sendo levado a construir um atelier perto de casa. Até então o artista procurara os serviços das fábricas de Sant'Anna em Lisboa, do Outeiro em Águeda, Tijomel em Tomar, de Viana do Alentejo, Carvalhinho em Gaia, e Olav em Aveiro. A partir desta data, alguns trabalhos passarão a ser executados na sua própria oficina. De 1972, datam trabalhos para o Pórtico da Igreja da Freguesia de Bustos, Oliveira do Bairro, em pastilha cerâmica. Aqui o artista teve de adaptar-se a um enquadramento muito particular, ao contrário da maioria das encomendas recebidas, em que o espaço disponível permitia a criação de painéis rectangulares. No mesmo ano e na mesma região de Aveiro, realiza vitrais para para o Tribunal de Vagos, organizados a partir de grandes figuras alegóricas.
22
Em 1973, o edifício do Hotel D. Henrique, de J. C. Loureiro e Pádua Ramos, cativa Resende para um painel cerâmico. Será o primeiro produzido na sua oficina. A Grande Árvore insiste na pesquisa matérica e técnica e é um dos raros trabalhos do autor que não apresenta figuras humanas, recorrendo aos motivos da terra. Numa imensidão de ritmos abstractos interrompendo-se no termo de pequenos frisos ou linhas de signos, é possível observar uma sugestão vegetal. Uma obra análoga a esta, pelo gosto visível na exploração da tecnologia envolvida, fora já realizada para a lareira do Conservatório Calouste Gulbenkian, em Aveiro. Quatro anos mais tarde, e de novo na sua oficina, vai produzirse um grande painel em azulejo, destinado ao Lar do Comércio nos arredores do Porto, na Maia. A composição desenvolve-se em torno de sinais geométricos, com excepção de pássaros estilizados que ocupam a sua zona superior. Os sinais agrupam-se em núcleos soltos, como uma espécie de exercícios sucessivos, aos quais falta articulação, ressentindo-se uma certa falta de unidade. Em 1975, ainda em edifício projectado pelos arquitectos atrás mencionados, Resende regressa à figura no painel para o edifício da Union Assurances Paris, no Porto. As figuras de transeuntes ocupados e os sinais gráficos incluídos, nomeadamente letterings e sinais de trânsito, surgem com uma nitidez inesperada, um recorte claro, de evocação mecânica, como autómatos despersonalizados. Um mesmo estilo de figuração é adoptado na peça de 1979 instalada no átrio da Escola Secundária André de Gouveia, em Évora. Pequenos grupos de figuras munidas de objectos escolares apresentam uma legibilidade imediata. O painel para o altar da Capela do Hospital de Sta Luzia, em Viana do Castelo, encerra os anos 70. Trata-se de um trabalho extraordinário de integração na arquitectura e de criação de um ambiente, em que o artista não recorre à figuração e explora as potencialidades lumínicas do material, o mosaico combinado com o betão. A aprovação do projecto data de 1978, altura em que são também apresentadas por outros artistas propostas de escultura e vitral a incluir no Hospital.
23
7. RESENDE, Júlio – Autobiografia. Lisboa: O Jornal, 1987, p. 67.
Resende executa depois, para o edifício da Cª de Seguros Tranquilidade, no Porto, o que considera ser o melhor exemplo de “presença plástica na arquitectura”7. O trabalho é inteiramente dominado por figuras humanas marcadas pelo anonimato conveniente para o local, escalonadas num ritmo ascendente ao longo do painel. Ao contrário do que vinha sucedendo nas suas últimas obras, Resende volta a aderir aos blocos irregularmente talhados, dotando-os de texturas pronunciadas que geram abundantes reflexos e jogos de luz. O estudo para fresco no Tribunal de Justiça de Penafiel, de 1986, revela claramente maior liberdade e fluidez, não apenas da figuração, mas de toda a composição. Uma das obras maiores dos anos 80 é a dos trabalhos em cerâmica e vitral da Igreja de Nª Sª da Boavista, no Porto que formam um conjunto monumental, organizado em painéis verticais que exigiram composições de sentido ascensional e linearidade assumida que alteram radicalmente a percepção e a experiência do espaço, correspondendo aos objectivos que Resende perseguia. Nos anos 80 realizará também vitrais para a Capela do Centro Pastoral Paulo VI, no Santuário de Fátima, cujos traços formais e compositivos têm alguma proximidade com o projecto do Porto. Aqueles que realizará, na década seguinte, para espaços religiosos, apresentam características semelhantes, no caso da igreja de Cedofeita, e sinais diferentes, de maior simplicidade e legibilidade, no caso da igreja de Valbom. A produção cerâmica de Resende a partir de meados da década de 80 até ao presente, reflecte a evolução que a sua pintura então assinalava. Um novo ciclo da obra se desenha, compreendendo os painéis da Câmara Municipal de Matosinhos, do Hotel Solverde, na localidade de Granja, Espinho, do Hospital de Guimarães, do Instituto de Oncologia do Porto e, finalmente, da Estação de Sete Rios do Metropolitano de Lisboa. Abandonado, pelo menos temporariamente, o interesse pelo experimentalismo tecnológico, consagrou-se o artista à pintura de superfícies cerâmicas. Não se afastando embora da abordagem da terra e do homem para elaborar as imagens significativas que os painéis devem expor, este último núcleo de peças de Resende revela uma preferência muito
24
especial pela figuração do Sol, em diferentes versões, mas todas elas mostrando uma representação elementar, próxima do imaginário infantil que compõe o sol como um rosto. O sol tinha já integrado os painéis do Hospital S. João, do Hotel D. Henrique, da dependência bancária de Évora e do Lar do Comércio, mas nunca se elevara à posição destacada de ícone que ocupa nas obras deste ciclo. Comecemos pelos painéis da Câmara Municipal de Matosinhos, representados por um estudo que pertence ao Município, colocados no edifício projectado por Alcino Soutinho. Estruturam-se em torno de motivos alusivos à terra e às suas lendas, simbolizando as suas forças e potencialidades. As ondas, a espuma do mar e a população marinha ocupam manchas azuis e brancas que mudam de configuração ao longo do painel, tocando-se ou distanciando-se. No painel superior, salienta-se a figura do cavaleiro Caio Carpo e, no painel inferior, estilizações de elementos arquitectónicos em que destaca uma sugestão da ponte móvel que liga Matosinhos a Leça. Os painéis integram-se harmoniosamente na parede azulejada, sem moldura evidente. Idêntico procedimento testemunham as obras executadas para o Hotel Solverde, Granja, Espinho, que assinalam a retoma do contacto com projectos de J. C. Loureiro e Pádua Ramos. A vocação do edifício e a sua localização próximo do mar impõem, novamente, uma iconografia da terra. A fauna e a flora marinhas, numa ingenuidade assumida, movimentam-se entre a representação rítmica das ondas, e recuperam a relação com uma mitologia antiga que justifica a presença das sereias. A superfície permanece branca, na sua forma mais simples e vê desenvolver-se esta figuração elementar, longe das sobreposições estruturadas dos anos 60. Nos meados da década de 80 acontece um dos mais extraordinários projectos do artista, o que dará origem ao painel Ribeira Negra, de que a exposição mostra uma antevisão simulada. Estendendo-se, na ribeira portuense, ao longo de cerca de 200 m2, a sua história é a história do tema preferido do pintor, que entre saídas para outros locais do país e do estrangeiro, aqui voltará obrigatoriamente, conhecendo-se representações alusivas à ribeira
25
8. ANDRADE, Eugénio de – Ribeira Negra. Porto: Galeria Nasoni, 1989.
9. FERNANDES, Maria João – Conversa com Mestre Júlio Resende. In “Catálogo – Seres Imaginários”. Porto: Galeria Fernando Santos, 1993.
o fôlego com que foram surgindo os painéis para a Estação de Sete Rios, do Metropolitano de Lisboa, nos anos de 1994 e 1995. O que avulta neste trabalho – documentado na exposição através de dois estudos a pastel, é a criação de um bestiário surgido na sequência de uma série de alusões ao mundo animal, existentes na obra anterior do pintor. Com raríssimas excepções, todos os painéis de Resende ostentam generosamente peixes e outros seres marinhos (Vilar Formoso, Espinho e Matosinhos), pássaros (Hospital S. João, Miranda, Bragança, Évora, Lar do Comércio na Maia, Conservatório de Aveiro, Espinho, Guimarães, Matosinhos) cavalos (Miranda), veado (Bragança), cães (Ribeira), animais selvagens (Casa Sical). As referências são vastas, mas no caso da estação do Metropolitano, a sua insistência deve-se à proximidade do Jardim Zoológico de Lisboa. Em entrevista, Resende explica a opção iconográfica como somatório de experiências realizadas: “Não sei se sabe que eu estou a realizar de momento, grandes superfícies para o metropolitano de Lisboa; concretamente para “Sete Rios” que é a zona caracterizada pelo Jardim Zoológico e, portanto, essa proposta permitiu-me dar continuidade à experiência do Brasil e a uma temática que também é nossa, europeia. Porque não falar também do meu trabalho sobre a natureza, mais tarde, na Alemanha, nos bosques sobretudo da Floresta Negra, onde toda aquela flora e os vastos espaços sombrios me influenciaram imensamente? Senti essa realidade da natureza, que tem uma força incrível, nos próprios insectos, as enormes formigas que invadiam a minha paleta de aguarelas, não sei porque é que elas gostam das aguarelas e em todo aquele piso onde há um mundo que se mexe debaixo das folhas. De maneira que tudo isto resulta um pouco dessas experiências somadas” 9. E mais adiante explica a opção formal: “Entendi que deveria usar aqueles extensos corredores como gestos enormes que conduzem as pessoas, são gestos quase informais” 10 . Os painéis para um muro decorativo sobre um pequeno espelho de água, na Praça do Souto, em Gondomar, surgem em 1996 no seguimento do trabalho para Lisboa e manifestam idêntico gosto na organização dos elementos sobre a superfície.
em todas as fases da sua carreira; é, de modo mais restrito, a história da sua produção ao longo de cerca de três anos; é ainda a história de muitos desenhos, imediatamente preparatórios ou não, que o painel motivaria; é a história do painel em polivinil com pigmentos de negro-de-fumo e óxido de zinco, realizado em dez dias, com cerca de 120 m2, oferecido à cidade, antes do que poderemos considerar a sua versão cerâmica, ainda que com independência própria. Eugénio de Andrade viu no painel “o magnificente historial da miséria e da grandeza da população ribeirinha do Porto (...) crianças, mulheres, adolescentes, animais repartem entre si o espaço e o ritmo, a cor e a luz da sua cidade (...).8 ”Entre os desenhos e as aguarelas preparatórias, o painel sobre lona exposto em 1984 e o painel cerâmico inaugurado em 1987, pressente-se uma unidade fundamental que nos permite reafirmar o que já foi dito: as obras que mais aliciaram Resende mostram que cerâmica e pintura radicam num mesmo procedimento. Na Ribeira Negra as figuras e as manchas sucedem-se, formando a conversa, o salto à corda, o estender da roupa, o pesar das sardinhas, o salto para o rio, num movimento superior e indiferente aos quadrados regulares da superfície. A pintura vai nascendo e ocupando o espaço, tal como acontecera na lona, sem que o pintor voltasse atrás e observasse os resultados parcelares, uma vez que o espaço em que trabalhava, exíguo para os 120 m2 de superfície a preencher, não o permitia. A obra corporiza, quanto à opção técnica tomada e quanto à garra com que se fixam as figuras populares da ribeira, o sentido essencial da obra cerâmica de Resende. Já nos anos 90, no Hospital de Guimarães, é de novo um sol amarelo que se agiganta sobre motivos vegetais dispostos em friso irregular na zona inferior, e pássaros em voo. Elementos gráficos, de cor, preenchem o painel, numa liberdade que também caracteriza o painel do ano seguinte, para o Instituto de Oncologia do Porto. Também o trabalho realizado em 1994 para o edifício sede do Instituto Politécnico do Porto, recorrendo a uma gramática de carácter gráfico, apresenta a mesma leveza de organização. Na sua contenção – sinónimo de elementaridade – e na sua expansão – sinónimo de liberdade – este núcleo de obras prefigura
26
10. Idem, ibidem .
27
11. RESENDE, Júlio – Autobiografia . Lisboa: O Jornal, 1987, p. 22.
13. Alguns Momentos com o Pintor Júlio Resende. In “Diário do Norte”, 26-12-52.
12. Arquivo do Instituto Camões – Relatórios do Bolseiro de Pintura Júlio Resende 1947/48, Júlio Martins da Silva Dias , Livro nº 3, fls. 42, Procº 4118.
14. SILVA, Raquel Henriques da – Azulejos de Maria Keil, os Jogos com a Eternidade. In “Maria Keil. Azulejos”. Lisboa: Museu Nacional do Azulejo, 1989.
Quanto aos trabalhos realizados nos anos 2000, no Porto, para o Estádio do Dragão e para a Estação de Metropolitano do Bolhão, ambos de 2004, apresentam uma enorme simplificação das imagens, devida especialmente à inserção de figuração de contorno simples que, no primeiro caso, podem aparecer enquadradas por “janelas” de cor abertas na superfície cerâmica, enquanto no segundo se disseminam linearmente no painel, formando pequenas unidades narrativas.
Por ser a cerâmica a prática que domina a sua obra pública, justifica-se uma abordagem específica deste campo de trabalho. O azulejo tem sido situado, ambiguamente, entre a “vocação cerâmica” e a “vocação da pintura”14. Os painéis elaborados dentro da antiquíssima técnica do azulejar constituem uma categoria híbrida, no cruzamento de especificidades, da cerâmica, da pintura e até da escultura. Em Resende, quase nunca a cerâmica foi de pendor escultórico – mesmo se em diversas situações cedeu à tentação de explorar texturas e relevos e se, em ainda menor número de situações, se deixou aliciar pela modelação escultórica de objectos (lembremos o Cristo da Igreja de Nª Sª da Boavista, no Porto, o Anjo Músico de uma igreja em Lever, V.N. de Gaia). Apenas alguns casos, de que os painéis do Tribunal de Lisboa ou os frisos da lareira do Conservatório de Aveiro, ou os blocos que representam as Estações do Calvário na Igreja de Nª Sª da Boavista no Porto, são exemplos maiores, apresentam placas relevadas, explorando exaustivamente o brilho e a cintilação de esmaltes espessos, e a manipulação experimental de óxidos e vidrados. É, no entanto, uma submissão à pintura que predomina, Resende está na cerâmica como pintor e à medida que evolui no seu percurso, mais evidente se torna este princípio. Ele não explora, de modo exterior à pintura, a especificidade do azulejo como se o suporte, a matéria e a tecnologia o despertassem para um respeito intransigente à pintura. O desenho traslado para a superfície cerâmica, a pintura livre e solta sobre esta, parecem ser o modo preferido do pintor, ultrapassando o limite imposto pela unidade mínima da superfície – o quadrado cerâmico. Resende adopta uma posição de liberdade, não conferindo a esse quadrado, quase nunca, qualquer papel no desenrolar da cena representada, ou procurando outras unidades, blocos de configuração irregular (como nos painéis do Hospital de S. João, no Porto) ou blocos regularizados, mas de diferentes dimensões (como nos painéis da Casa Sical, na mesma cidade). Os painéis de carácter geométrico, abundantes de cercaduras, frisos, padrões repetitivos, radicam numa tradição empírica, a mais primária e a mais básica forma de aplicação dos azulejos. Os painéis pictóricos convocariam, por seu lado, referências eruditas, formas
Os problemas do ofício A arte mural cumpre um desejo antigo que Resende confessa na sua Autobiografia: “Os muralistas da Renascença, à cabeça dos quais eu punha, de imediato, Piero Della Francesca, deixar-me-iam profunda impressão! Talvez nascesse aí o meu gosto, ou se revelasse a minha tendência, para as grandes superfícies e para a arte mural”11. Esta foi uma das descobertas do pintor em Paris. Os Relatórios que, na qualidade de bolseiro, enviou para o Instituto de Alta Cultura, entre Fevereiro de 1947 e Dezembro de 1948, exprimem o deslumbramento do pintor, quer pela tradição, quer pela actualidade artística que considerava estar ausente em Portugal. No primeiro Relatório afirma: “novas sensações, deparo com a prática da pintura mural, que foi a pintura da antiguidade e será ainda, sem dúvida, a pintura do futuro”12. Durante a sua estadia, numa segunda viagem a Itália no Verão de 1948, Resende teria oportunidade de admirar os painéis em mosaico que as igrejas de Roma e o Museu de Nápoles ofereciam. No ano anterior, em Outubro, observara, fascinado, os frescos históricos. No regresso a Portugal, Resende lamentar-se-á, em diversas ocasiões, da falta de trabalho na área da decoração mural e não se cansará de insistir na articulação necessária entre o trabalho do arquitecto e do artista plástico. Uma das entrevistas para que é solicitado nos anos que se seguem à sua chegada de Paris, revela o seu interesse pela arte mural e inclui um apelo à colaboração entre as diversas áreas da criação artística.13
28
29
15. RESENDE, Júlio – Autobiografia. Lisboa: O Jornal, 1987, p. 27.
mais elaboradas de trabalhar o azulejo. Ora, o que Resende pôs em prática, já vimos inserir-se nesta última categoria. Ao azulejo como revestimento de grandes superfícies preferiu-se a sua aplicação em painéis integrados na arquitectura (não pensando na obra que o ocupou com vista ao revestimento dos muros de uma estação da rede do metropolitano de Lisboa); ao uso de padrões, segmentos, módulos e combinatórias possíveis, preferiu-se o desenrolar de uma cena, pontuada sistematicamente por motivos figurativos – a dimensão narrativa nunca cedendo à dimensão decorativa exclusiva; aos efeitos espaciais, ópticos ou gráficos, que tanto estimularam a criatividade de inúmeros ceramistas, preferiu-se uma situação em que a iconografia se encarrega de estabelecer as relações espaciais com determinado local. Portanto, não se verifica o interesse pela estrutura compositiva baseada na repetição e na modulação, mas antes pela criação de um cenário no qual evoluem, contraindo-se ou estendendo-se, figuras e formas. Em todo o caso, não são destituídas de ritmo e musicalidade as peças de Resende: manchas ondulantes criam, através de painéis fisicamente independentes, uma dimensão contínua, (como em Vilar Formoso) que o nosso olhar percorre oscilando; ou acidentes texturais geram efeitos de luz e brilhos surpreendentes que movimentam o painel e animam o nosso olhar (como no Hotel D. Henrique, Porto). Os painéis surgem como resposta a programas, forrando um corpo definido do edifício, marcando o sítio, e realçando por vezes movimentos básicos da estrutura (como no caso do Hotel Solverde, Espinho). Mas, se na produção cerâmica se alinham as peças testemunhando uma recusa da padronagem industrial em motivos sabiamente combinados, que poderiam remeter para uma aplicação primordial do azulejo, não é menos verdade que uma outra forma de primarismo foi sendo encontrada por Resende, consistindo esta, não no carácter repetitivo do motivo, mas numa intenção livre e propositadamente desaprendida de executar. Se a tradição pictural da cerâmica apela à erudição, Resende compraz-se em contrariála, usando progressivamente de uma liberdade formal de grande elementaridade e de uma espécie de vocabulário básico de formas, integrando garatujas, rabiscos e salpicos.
30
16. RESENDE, Júlio – In Júlio Resende. A Arte Como / Vida . Porto: Civilização, 1989, p. 52.
As questões educativas e pedagógicas mereceram sempre, da parte de Júlio Resende, uma atenção particular. Não foi, portanto, um gesto inconsequente, o que o levou a introduzir na Escola de Belas Artes do Porto as técnicas do vitral, do mosaico e da cerâmica, após a sua entrada, em 1958, como professor. Já anteriormente, entre 1949 e 1951, Resende leccionara na Escola de Cerâmica de Viana do Alentejo, da qual guardaria recordações inestimáveis: “(...) a cerâmica dominava a pequena estrutura. Naturalmente que isso foi motivo para que começasse a interessar-me por esta técnica tão absorvente quanto aliciante. A mufla ao ar livre, alimentada com a lenha do sobreiro, o seu estaralejar, o coro dos rapazes dispostos em círculo, sob a luz prateada do luar, seria imagem a não mais esquecer”15. E ainda: "Para a subsistência do suporte familiar dava aulas de desenho aos meninos rústicos, filhos de oleiros de Viana do Alentejo. A escola ficava ao lado da velha residência. O senhor Cristo, solene na sua farda, tocava a sineta para a entrada dos garotos. O mestre Lagarto fazia prodígios de rodista num gozo íntimo que transparecia. (...) A cerâmica atraíra-me a partir de então"16. O desenvolvimento da cerâmica como arte integrada na arquitectura, inscreve-se num contexto de reutilização do azulejo em larga escala na arquitectura portuguesa do século XX. Muitos arquitectos propuseram, sobretudo a partir dos anos 50 e ao longo dos anos 60, a aplicação de azulejos no revestimento dos edifícios, fossem de produção industrial ou de matriz artesanal, destinados a áreas específicas. A colaboração com os arquitectos dos anos 50 e 60, conheceu uma relação marcante com o trabalho dos arquitectos José Carlos Loureiro, defensor entusiasta da aplicação do azulejo na arquitectura, e Pádua Ramos. Se encontramos painéis de Resende em edifícios projectados por Castro Freire (Pousada de Miranda do Douro e Posto Alfandegário de Vilar Formoso), Rodrigues Lima (Palácio da Justiça do Porto), João Andresen e Januário Godinho (Palácio da Justiça de Lisboa), Chorão Ramalho (Hospital de Santa Luzia), Agostinho Ricca Gonçalves (Igreja de Nª Sª da Boavista - Porto), Alcino Soutinho
31
17. LOUREIRO, J. C. – O Azulejo. Possibilidades da sua reintegração na arquitectura portuguesa. Porto: 1962.
32
(Câmara Municipal de Matosinhos), Celestino de Castro (Hospital de Nossa Senhora da OIiveira, em Azurém, Guimarães), António Afonso (Instituto de Oncologia, Porto), Filipe Oliveira Dias (Instituto Politécnico do Porto), Benoliel de Carvalho (Estação de Sete Rios do Metropolitano de Lisboa), Eugénio Alves de Sousa (Igreja Paroquial de Cedofeita), Manuel Salgado (Estádio do Dragão), Souto Moura (Estação do Metro do Bolhão, Porto) o facto é que diversos edifícios projectados por J. C. Loureiro e Pádua Ramos acolheram obras suas: Pousada de Bragança, Hotel D. Henrique, Casa Sical, Edifício da U.A.P., Edifício da Cª Seguros Tranquilidade, todos no Porto, Conservatório de Aveiro, Hotel Solverde – Granja, Espinho, Capela do Centro Pastoral Paulo VI, Igreja de Valbom). J. C. Loureiro publicou em 1962 um estudo sobre as possibilidades de reintegração do azulejo na arquitectura portuguesa (parafraseando o título) no qual discorre longamente sobre questões históricas, nacionais, técnicas e artísticas do azulejo, incentivando o seu emprego sistemático, apelando ao seu “apuramento progressivo” e considerando-o “Um exemplo refinado de sabedoria para enfrentar as necessidades de um meio climático por vezes hostil, e simultaneamente obter resultados plásticos que nunca podem ser alheios à obra de arte que é a arquitectura”17. Se neste estudo, que realiza no âmbito do concurso para provimento de um lugar de professor na Escola de Belas Artes do Porto, o arquitecto evidencia principalmente as vantagens do azulejo de padrão industrial, de fabrico seriado, para revestimento de fachadas – recurso que exploraria enfaticamente no gabinete de arquitectura que partilha com Pádua Ramos – ao longo da sua carreira, vai requerer a colaboração de Júlio Resende, reservando-lhe excelentes enquadramentos para a colocação de painéis cerâmicos. Na casa-atelier de Resende, projectada por aquele arquitecto no início dos anos 60, a lareira ostenta também um friso cerâmico, pormenor quase simbólico no historial da colaboração a que nos referimos. Na insistência para a recuperação da cerâmica como uma das imagens de marca da arquitectura portuguesa, Resende e a dupla de arquitectos referida têm indubitavelmente lugar destacado, numa conjugação de esforços e uma cumplicidade que ultrapassou o plano profissional e gerou uma sólida amizade.
NEPTUNO, 2010 Tapeçaria, 260 x 240 cm Colecção da Câmara Municipal de Matosinhos
33
LENDA DE CAYO CARPO, 1987 Técnica mista sobre papel, 85 x 50 cm Estudo para painel de azulejo na Câmara Municipal de Matosinhos Colecção da Câmara Municipal de Matosinhos
34
35
CAVALEIRO DO MAR, 1987 Fotografia de dois painéis interiores de azulejo na Câmara Municipal de Matosinhos, projecto do Arquitecto Alcino Soutinho. Foto A. Alves
36
37
DIVERTIMENTO INFANTIL, 1952 Aguarela sobre papel, 37,0 x 95,0 cm Estudo para fresco da Escola Gomes Teixeira, Porto Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
38 36
37 39
DIVERTIMENTO INFANTIL, 1952 Aguarela sobre papel, 36,2 x 97,5 cm Estudo para fresco da Escola Gomes Teixeira, Porto Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
40
41
DIVERTIMENTO INFANTIL, 1952 Aguarela sobre papel, 38,0 x 91,0 cm Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
42
43
DIVERTIMENTO INFANTIL, 1952 Aguarela sobre papel, 35,0 x 89,0 cm Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
44
45
O MAR E A TERRA, O NORTE E O SUL, A PLANÍCIE E A MONTANHA, 1958 Técnica Mista sobre papel, 32,0 x 44,5 cm Estudo para painel de azulejo para a estação fronteiriça de Vilar Formoso. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
46
47
A CAÇA E A PESCA, 1959/60 Pastel sobre papel, 49,0 x 45,0 cm Estudo para Painel de azulejos da Pousada de S. Bartolomeu, Bragança. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
48
49
AS TROCAS, 1962 Óleo sobre suporte rígido, 32,5 x 72,0 cm Estudo para painel no edifício Pinto de Magalhães, actualmente colecção Millennium BCP. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
50
51
S/ TÍTULO, 1965 Guache sobre papel, 21,0 x 40,5 cm Estudo para painel cerâmico no Centro de Saúde de Vila do Conde, hoje no edifício da Câmara Municipal da cidade. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
52
53
CONCESSÃO DE FORAL A ANADIA POR D. MANUEL I EM 1514, 1965 Reprodução fotográfica do painel de uma Sala de audiências do Tribunal de Justiça em Anadia. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
54
55
A JUSTIÇA, 1969 Técnica mista sobre papel vegetal, 18,0 x 23,0 cm cada (conjunto de 6 originais) Estudos para seis painéis exteriores em placas de grés para o Palácio da Justiça, Lisboa. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
56
57
58
59
60
61
SOL, 1971 Aguarela sobre papel, 43,5 x 20,5 cm cada Estudos para painéis cerâmicos para o Banco de Fomento Nacional (mais tarde Banco Borges & Irmão). Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
62
63
ÁRVORE, 1971
EVANGELISTAS, 1972 Guache sobre papel, 48,0 x 63,5 cm Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
64
65
EVANGELISTAS, 1972 Guache sobre papel, 41,0 x 61,0 cm Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
66
67
S/ TÍTULO, 1972 Guache sobre papel, 37,0 x 62,0 cm Estudo para Pórtico da Igreja da Freguesia de Bustos, Oliveira do Bairro. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
68
69
S/ TÍTULO, 1972 Aguarela sobre papel, 9,0 x 50,0 cm Estudos para frisos da lareira do Conservatório Regional de Aveiro. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
70
71
S/ TÍTULO, 1972 Aguarela sobre papel, 8,5 x 39,5 cm Estudos para frisos da lareira do Conservatório Regional de Aveiro. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
72
73
NEPTUNO, 1973 Pastel sobre papel, 50,0 x 48,0 cm Estudo para Tapeçaria. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
74
75
S/ TÍTULO, 1978/1979 Técnica Mista, 17,0 x 20,0 cm Estudo para painel cerâmico para a Escola Secundária André de Gouveia, Évora. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
S/ TÍTULO, 1981 Pastel sobre papel , 43,0 x 40,0 cm Estudo para painel do altar da Capela do Hospital de Santa Luzia, Viana do Castelo. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
76
77
ANTEVISÃO DO PAINEL EM GRÉS "RIBEIRA NEGRA", 1985 Técnica mista, 49,5 x 66,5 cm Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
78
79
CIVITAS ANEGIA PENAFIEL, 1986-1987 Técnica Mista e colagem, 23,0 x 36,0 cm Estudo para fresco no Tribunal de Justiça de Penafiel. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
80
81
S/ TÍTULO, 1988/89 Aguarela sobre papel, 18,5 x 21,0 cada Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
82
83
S/ TÍTULO, 1988/89 Aguarela sobre papel, 9,5 x 45,0 cm Estudos para painel de azulejos do Hotel Solverde, Espinho. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
84
85
S/ TÍTULO, 1991 Desenho sobre papel, 62,5 x 75,0 cm Estudos para Painel em grés do Hospital de Guimarães. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
86
87
S/ TÍTULO, 1994 Técnica Mista, 26,3 x 13,5 cm Estudos para tapeçaria para a Caixa Geral de Depósitos, Lisboa. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
88
89
S/ TÍTULO, 1994/95 Pastel sobre papel, 30,5 x 85,0 cm Estudo para revestimento de azulejos da estação de metropolitano de Sete Rios, Lisboa. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
90
91
S/ TÍTULO, 1994/95 Técnica Mista, 20,5 x 38,5 cm Estudo para revestimento de azulejos da estação de metropolitano de Sete Rios, Lisboa. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
92
93
S/ TÍTULO, 1994/95 Pastel sobre papel, 30,5 x 85,0 cm Estudo para revestimento de azulejos da estação de metropolitano de Sete Rios, Lisboa. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
94
95
S/ TÍTULO, 1994 Tinta da china e Pastel sobre papel, 16,5 x 35,5 cm Estudo para muro de decoração de lago. Praça do Souto, Gondomar. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
96
97
S/ TÍTULO, n. dat. Técnica Mista sobre chapa de Bronze, 12,0 x 18,5 cm Estudo para painel do hall de entrada do BPI, Porto. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
98
99
BAPTISMO DE CRISTO, n. dat. Guache, 82 x 65 cm Estudo para Capela não identificada. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
100
101
S/ TÍTULO, n. dat. Técnica mista sobre papel, 60 x 18 cm Estudo para vitrais da Igreja Nª Sª da Boavista, Parque Residencial da Boavista, Porto. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
102
S/ TÍTULO, n. dat. Técnica mista sobre papel, 83 x 30 cm cada Estudos para vitrais da Igreja Nª Sª da Boavista, Parque Residencial da Boavista, Porto. Colecção do Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
103
OBRA PÚBLICA 1952 Divertimento Infantil Fresco para o refeitório da Escola Gomes Teixeira, Porto. 1954 O Fado e o Mar Painel em mosaico para o Posto Fronteiriço de Valença do Minho. Pentecostes – Fresco para a Capela do Albergue Distrital, Évora 1955 Movimento no Espaço Painel em canvan, para um Salão de Chá, Coimbra. 1956 Mar Novo Painel em mosaico integrado no projecto destinado ao 3º Concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique, Sagres [não realizado]. Projecta painéis decorativos no âmbito do Concurso para o Palácio dos Desportos, actual Pavilhão Rosa Mota, Porto [não realizado]. 1958 O mar e a terra, o norte e o sul, a planície e a montanha Dez painéis de azulejo para a estação fronteiriça Vilar Formoso.
104
1959 Hino à Vida e Fonte de Saúde Dois painéis em faiança modelada e vidrada para o Hospital de S. João, Porto.
1963—64 O Café Dois painéis em tijolo vidrado para a Casa Sical, Praça D. Filipa de Lencastre, Porto.
1971 A Árvore e O Sol Painéis cerâmicos para o Banco de Fomento Nacional [mais tarde Banco Borges & Irmão], Évora.
A Natureza Painéis de azulejo para a Pousada de Santa Catarina, Miranda do Douro.
1964 Dois painéis cerâmicos para o Centro de Saúde de Fafe.
1972 Quatro frisos em cerâmica vidrada para a lareira do Conservatório Regional de Aveiro.
Vida em Família Dois painéis cerâmicos para Blocos Habitacionais da Pasteleira, Porto.
Formas Rítmicas Fresco para a Agência Abreu, Porto. 1959—60 A Caça e a Pesca Painel de azulejo para a Pousada de S. Bartolomeu, Bragança. 1960—61 Assistência à Infância Desvalida – Profilaxia do Crime Fresco para a sala de audiências do 5º Juízo [actual 5ª Vara], no Palácio de Justiça do Porto. 1962 A evolução do dinheiro ou Trocas comerciais Painel a óleo para edifício bancário, Porto [actualmente na colecção Millennium BCP].
1965 Painel cerâmico para o Centro de Saúde de Vila do Conde, hoje instalado no edifício da Câmara Municipal da cidade.
Painel em pastilha cerâmica para o Pórtico da Igreja da Freguesia de Bustos, concelho de Oliveira do Bairro, Aveiro.
Concessão de Foral a Anadia por D. Manuel I em 1514 Fresco para o Tribunal de Justiça em Anadia.
1973 A Grande Árvore Painel em faiança para o Hotel D. Henrique, Porto.
1966 Ponte Salazar Tapeçaria, encomenda do Estado, hoje na colecção da Estradas de Portugal.
Neptuno Tapeçaria para a Câmara Municipal de Matosinhos [data do estudo].
1969 Seis painéis em grés para o Palácio de Justiça de Lisboa.
1962—63 Painel cerâmico para a Casa Sical, Portas de Santo Antão, Lisboa.
1970 Painel para o Banco Nacional Ultramarino, Espinho.
105
Justiça, Verdade, Serenidade, Fortaleza e Temperança Vitrais para o Tribunal Judicial de Vagos, Aveiro.
1975 Jogadores Painel em faiança para o edifício da Union Assurances Paris, Porto. 1977 Pássaros Painel de azulejo para o edifício do Lar do Comércio, Maia.
1978—79 Painel cerâmico para Escola Secundária André de Gouveia, Évora. Mosaico e betão colorido para o altar da Capela do Hospital de Sta Luzia, Viana do Castelo. 1981 Virgem Mãe Vitral para a Igreja Nª Sª da Boavista, Parque Residencial da Boavista, Porto. 1984 Painel em faiança para o edifício da Companhia de Seguros Tranquilidade, Porto 1985—86 Ribeira Negra Painel em grés, Porto. 1985—87 Vitrais para a Igreja Nª Sª da Boavista, Parque Residencial da Boavista, Porto; Passos da Paixão de Cristo e uma ressurreição – Quinze placas cerâmicas vidradas para a mesma igreja. 1986—87 Civitas Anegia. Penafiel Fresco para o Tribunal de Justiça de Penafiel.
1987 Cavaleiro do Mar Dois painéis de azulejo para o edifício da Câmara Municipal de Matosinhos.
1993 Estudos para elementos em cerâmica destinados ao Lugar do Desenho, não concretizados. Estudos para elementos em cerâmica destinados uma área de serviço da Auto-estrada A1, em Antuã (não concretizado).
O Bom Pastor Vitral para a Capela do Centro Pastoral Paulo VI, Santuário de Fátima.
1994 Juventude e Educação Painel de Azulejo para o edifício dos serviços centrais do Instituto Politécnico do Porto.
1988 Três painéis de azulejo para o Hotel Solverde, Granja, Espinho. 1989 Anjo músico Escultura em cerâmica vidrada e talha recuperada, para a Igreja Paroquial de Santo André, em Lever, Vila Nova de Gaia.
Tapeçaria para a Caixa Geral de Depósitos. 1994—95 Painéis de azulejo e pavimentos em calçada para a estação de Sete Rios, do Metropolitano de Lisboa.
1991 Painel em grés vidrado para o Hospital de Nossa Senhora da OIiveira, Azurém, Guimarães.
1996 Dois painéis cerâmicos para Praça do Souto, Gondomar.
1992 Painel em grés vidrado para o Instituto de Oncologia do Porto.
1998 São Veríssimo Três vitrais para a Igreja de Valbom, Gondomar.
Fogo Painel em grés vidrado para o Quartel dos Bombeiros Voluntários do Porto.
Trindade e Criação Dois vitrais para a Igreja do Mosteiro de Grijó, Vila Nova de Gaia.
Painel para o Banco Português de Investimento, Porto.
106
107
Ressurreição Vitral para a Igreja Paroquial de Cedofeita, Porto. Estudos para painéis cerâmicos não concretizados 2004 Painel dos Fundadores Painéis cerâmicos para o Estádio do Dragão, Porto. Painéis cerâmicos para a Estação de Metropolitano do Bolhão, Porto.
JÚLIO RESENDE (1917/2011) BIOGRAFIA
Natural do Porto, é autor de uma obra de pintura vastíssima, desenvolvida entre os anos 30 do século XX e a primeira década do século XXI. Concluiu a formação em Pintura, no ano de 1945, na Escola de Belas Artes do Porto, onde seria docente entre 1958 e 1987. Realizou inúmeras exposições no país e no estrangeiro, tendo iniciado, em 1934, a participação em exposições colectivas, e um trajecto individual em 1943. Ao longo da sua carreira, foi distinguido com relevantes prémios: Prémio Armando Basto (1945), Amadeo Sousa Cardoso (1949), António Carneiro (1953), todos atribuídos pelo SNI; Prémio do Salão dos Artistas de Hoje (1956); Prémio Especial na Bienal de S. Paulo (1951); Menção Honrosa na 5ª Bienal de S. Paulo e 2º Prémio Pintura na I Exposição de Artes Plásticas FCG (1957); Prémio AICA – SEC (1984) Prémio Aquisição 1987 da Academia Nacional de Belas Artes (1988); Prémio de Artes Casino da Póvoa (2008). Realizou obra pública com trabalhos executados em técnicas que vão da cerâmica ao fresco, do vitral à tapeçaria, instaladas em espaços do norte ao sul de Portugal. Ilustrou obras literárias, nomeadamente para a infância, realizou cenários e figurinos para teatro, bailado e espectáculos de grande impacto. Sobre a sua produção debruçaram-se os principais críticos e historiadores de arte portugueses, mas também importantes escritores e poetas. A criação do Lugar do Desenho-Fundação Júlio Resende foi um dos principais projectos a que se dedicou a partir da década final do século XX e primeira década do século XXI. Projectada pelo arquitecto José Carlos Loureiro, foi inaugurada em 1997, na margem do Douro, em Gondomar, junto à casa-atelier do artista, da autoria do mesmo arquitecto. Em 1947 instala-se em Paris. Viajou por França, Bélgica, Holanda, Inglaterra e Itália. Na capital francesa frequentou o atelier de Untersteller, na Escola de Belas Artes de Paris, e a Academia Grande Chaumière, como discípulo de Othon Friesz. Sob a orientação de Duco de la Aix aprendeu a técnica do fresco.
108
109
Realizou apontamentos do natural – paisagem e figuras – e numerosas cópias no Museu do Louvre. Conviveu com artistas estrangeiros, particularmente com Mabel Gardner, o escultor Zadkine, o pintor checoslovaco Frantisek Emler e o norueguês Oddvard Straume. Estas ligações determinariam a realização de exposições nos países nórdicos e o intercâmbio com esses artistas. Promoveu, por exemplo, em 1957 uma exposição de artistas portugueses em Oslo e Helsínquia. Nos anos de 1949/50 foi professor na pequena escola de cerâmica em Viana do Alentejo, Alentejo, período em que privou com o escritor Vergílio Ferreira e com os artistas Júlio e Charrua. Nos anos 50 promoveu, em Portugal, as Missões Internacionais de Arte, para as quais eram convidados artistas estrangeiros em diálogo com artistas portugueses. Em 1954 lecciona na Escola Secundária da Póvoa de Varzim e em 1955 promove a segunda “Missão Internacional de Arte”, naquela localidade. Júlio Resende viria igualmente a tornar-se Membro da Academia Real das Ciências, Letras e Belas-Artes Belgas, tendo feito uma conferência neste enquadramento, em Bruxelas, em 1972. Em 1970 seria responsável pela orientação visual e estética do Espectáculo de Portugal na “Exposição Mundial de Osaka”, momento relevante da sua presença no estrangeiro. Nos anos 90, reforça a articulação com os países de língua portuguesa ou de influência portuguesa, tendo sido promovidas pela Fundação Júlio Resende, diversas estadias artísticas em Moçambique, Cabo Verde e Goa que resultaram em exposições nesses países e na publicação dos respectivos catálogos. Faleceu aos 93 anos de idade, a 21 de Setembro de 2011, na sua casa em Valbom, Gondomar.
110
111
112
113
EXPOSIÇÃO Título Júlio Resende Obra Pública Centenário do nascimento do Pintor Júlio Resende 1917|2017 Local Galeria Municipal de Matosinhos Av. Dom Afonso Henriques, 4450—229 Matosinhos Data 23 Set 2017 27 JAN 2018 Presidente da Câmara Eduardo Pinheiro Vice-Presidente/Vereador da Cultura Fernando Rocha Coordenação do Projecto Clarisse Castro Maria José Rodrigues Organização da Exposição Fátima Machado Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende Câmara Municipal de Matosinhos Conceção Armando Alves Fátima Machado Laura Castro Victor Costa Zulmiro de Carvalho Colaboração Bárbara Araújo Maria Alice Almeida
ORGANIZAÇÃO
Serviço Educativo Ana Paula Costa Fernanda Pinho Rute Alves Secretariado Cecília Moreira
Design gráfico esad—idea Susana Carreiras Editor Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
Montagem Fernando Seabra Fernando Vieira José António Moreira Ulisses Maio
Morada Rua PintorJúlio Resende, 105 4420—534 Valbom Gondomar
CATÁLOGO
Impressão e acabamento NORPRINT
Título Júlio Resende Obra Pública Centenário do nascimento do Pintor Júlio Resende 1917|2017 Textos Eduardo Pinheiro presidente da Câmara Municipal de Matosinhos Fernando Rocha vice-presidente e vereador da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos Laura Castro Universidade Católica Portuguesa - Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes - Escola das Artes. Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
www.lugardodesenho.org
Tiragem 600 exemplares Data 2017 ISBN 978-989-96982-2-2 depósito legal
Fotografia © AL A. Alves Arquivo acervo documental Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende
APOIO INSTITUCIONAL
MECENAS
APOIO
SEGUROS
JÚLIO RESENDE OBRA PÚBLICA 23 SET 2017 —27 JAN 2018 GALERIA MUNICIPAL DE MATOSINHOS CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO PINTOR JÚLIO RESENDE 1917|2017