Tributo a Niemeyer

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ISBN 978-85-88-721-55-5

Christian de portzamparc apresentação

9 788588 721555

Roberto Segre organização

ALBERTO PETRINA BIANCA ANTUNES CARLOS EDUARDO COMAS ERNESTO NATHAN ROGERS

Niemeyer

EVELISE GRUNOW FARÈS EL-DAHDAH FERNANDO DIEZ GUSTAVO PENNA HANNO RAUTERBERG IñAKI ÁBALOS

tributo a

JONATHAN GLANCEY KENNETH FRAMPTON LAURO CAVALCANTI Lucio COSTA LUIZ FERNÁNDEZ-GALIANO RICARDO OHTAKE ROBERTO SEGRE SOPHIE TRELCAT

tributo a

Niemeyer



tributo a

Niemeyer


Projeto Editorial

Marta Mosley Organização dos textos

Roberto Segre TRADUÇÃO

AndréTelles (Francês) Sérgio Moraes (Inglês) Gabriela Freudenrich (Alemão) Francisco Degani (Italiano) Letícia Ligneul Cotrim (Espanhol) Jorge Davidson (Espanhol) REVISÃO DE TEXTOS

Ana Kronemberger PROJETO GRÁFICO e diagramação

Luciana Gobbo IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Sermograf

Barra Space Center Av. das Américas, 1155 / sala 805 Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ 22631-000 Tel./Fax 55 21 2111 9206 Diretor Comercial Richard

Mosley

vmeditora@globo.com www.vmeditora.com.br

DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) T822 Tributo a Niemeyer / Alberto Petrina [et al.] ... Prefácio Christian de Portzamparc ; organização Roberto Segre. – Rio de Janeiro : Viana & Mosley, 2009 176p. ; 16x23 cm

ISBN 978-85-88721-55-5

1. Arquitetos – Brasil – Biografia. 2. Niemeyer, Oscar, 19073. Arquitetura moderna – Séc. XX – Brasil. CDD- 720.981


tributo a

Niemeyer



Em 2007, quando Oscar Niemeyer completou 100 anos de idade, foram produzidos inúmeros textos em todo o mundo, que discutiam e enalteciam a obra e a longevidade do último arquiteto moderno. Matérias em jornais e revistas especializadas, além de vários livros, foram especialmente publicadas em comemoração ao seu centenário. Nesta publicação estão reunidos alguns destes textos, outros que foram publicados há mais de 50 anos, e alguns especialmente escritos para este livro. Convidamos arquitetos, professores e críticos de arquitetura, além de jornalistas do Brasil e do exterior, para colaborarem nesta que é uma compilação das homenagens, sendo, ela mesma, um tributo ao grande mestre. Este livro é o testemunho de uma irrefutável herança para as arquiteturas brasileira e estrangeira; herança esta fundamental para a afirmação de uma nova geração de arquitetos. Nosso agradecimento a todos aqueles que colaboraram para esta homenagem e, em especial, a Roberto Segre, que trabalhou na organização dos textos.

Os Editores

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Sumário

Niemeyer: identidade nacional e simbolismo

BIANCA ANTUNES

068

Pampulha

SOPHIE TRELCAT

078

A corte Niemeyer

EVELISE GRUNOW

Pretextos para uma crítica não formalista

092

Oscar Niemeyer

ERNESTO NATHAN ROGERS

RICARDO OHTAKE

024

Homenagem a Niemeyer

098

KENNETH FRAMPTON

ALBERTO PETRINA

032

Oscar Niemeyer – além da arquitetura

106

Oscar Niemeyer: cem anos de solidão

FERNANDO DIEZ

ROBERTO SEGRE

036

114

Niemeyer: sem retas

O último utópico: por que Oscar Niemeyer inventou uma arquitetura da liberdade

FARÈS EL-DAHDAH

HANNO RAUTERBERG

128

A legitimidade de uma diferença

CARLOS EDUARDO COMAS

140

Oscar Niemeyer: a trajetória de uma revolução

LAURO CAVALCANTI

162

Oscar Niemeyer: tipologias e liberdade plástica

008

Apresentação

Christian de portzamparc

012

Os nomes do pai

GUSTAVO PENNA 016

Oscar 50 anos

LUCIO COSTA 020

042

062

Oscar Niemeyer

Como um raio em céu sereno

LUIS FERNÁNDEZ-GALIANO

Eu pego a minha caneta. Aparece um prédio.

JONATHAN GLANCEY

056

Os rabiscos de Niemeyer

IÑAKI ÁBALOS

ROBERTO SEGRE

046



Apresentação por Christian

de Portzamparc

O visionário do novo mundo Oscar Niemeyer, ainda jovem, me parece ter promovido uma guinada na arquitetura moderna. Seu ponto de partida foi o que podemos chamar de a primeira sintaxe de Le Corbusier: com seus pilotis, seus telhados em terraço e seu plano livre, ele inaugurou precocemente um espaço em movimento que escapava ao mundo dos corpos platônicos. As sinuosidades das divisórias do pavilhão brasileiro na feira de Nova York em 1939 ou a abóbada da capela da Pampulha mostram isso. Mas talvez seja na arte de deslindar os corpos, as superfícies, as linhas, separá-las primeiro para relacioná-las em seguida... que o gênio de Oscar Niemeyer irá mostrar-se mais fértil. No Senado, em Brasília, a horizontal, as verticais, as cúpulas são elementos que o arquiteto dissociou para criar em seguida um concerto espacial no qual eles terminam por formar juntos um signo único inscrito no chão e no céu: esse prédio é para mim a obra-prima do século XX. No concurso para a ONU em Nova York, era também o princípio de deslindar as formas que fazia a diferença entre a proposta de Oscar e a de Corbu, a ponto de este último querer associar-se ao projeto de Niemeyer. A arte de conferir uma superfície autônoma e íntegra a um programa, como se ele lhe desse seu nome, com esse traço contínuo que simplifica,

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ilumina e conclui na serenidade é um pouco o equivalente da “pincelada única” da pintura chinesa que conclui uma longa meditação. Quando surgiu a Capela de São Francisco na Pampulha, foi uma felicidade nos escritórios de arquitetura do mundo: a época era melancólica, dogmática, a afirmação da liberdade criadora um tanto suspeita, desconcertante. Uma arquitetura da alegria surgia, uma atenuação da matéria cimento, uma evidência simples, rica e erudita ligava o lirismo do traço e a estática da abóbada. Portanto, há quase sempre em Oscar dois elementos que dialogam e geram o espaço, que nele é essa emoção do movimento. Talvez seja a dança entre uma cúpula invertida regular e a rampa sinuosa que sobe até ela como no Museu de Niterói, ou uma abóbada sinusoidal e seu campanário retilíneo dinâmico na Pampulha, ou ainda um paralelepípedo vertical e um corpo horizontal longamente abaulado em Nova York. Na realidade, nunca sentimos a busca em Niemeyer, mas a evidência oriunda de um lampejo. Todo habitante da Terra fica não só admirado, como comovido diante de uma obra de Oscar: é o poema do ritmo, da proporção, mas também da linha que dança e do volume que envolve: somos uma criança segurando uma concha, um galho. Aqui, a facilidade aparente nos devolve o mundo benevolente.


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Christian de Portzamparc nasceu no Marrocos em 1944. Formou-se na Escola de Belas Artes de Paris e em 1980 fundou seu Atelier na capital francesa. De 1985 a 1991 foi presidente da Ecole Spéciale de l’Architecture. Em 1994 recebeu o Pritzker Prize e em 2004 o Grand Prix de l’Urbanisme. Hoje seu atelier tem filiais em Nova Iorque e no Rio de Janeiro.



Os nomes do pai

por Gustavo

Penna

Quando nasci, a Pampulha tinha 10 anos e vinha encantando o mundo enquanto incomodava os espíritos conservadores. Passados 69 anos, ainda consegue instigar com o mesmo vigor. Aqueles belos edifícios que surgiram da força inventiva de Niemeyer, no seu traço modernista carregado de brasilidade, escolheram Minas Gerais para nascer. Tive oportunidade de conhecer toda a história, narrada pelo próprio Juscelino Kubitschek, numa memorável noite quando ele, de volta do exílio, recebia o carinho da gente mineira na casa do jornalista Lúcio Portella. Depois de me apresentar como filho de Roberto Penna — que ele conhecera como construtor do Catetinho em Brasília — e como jovem arquiteto, Juscelino, entusiasmado, se dispôs a relembrar comigo, informalmente, sentados nos degraus da escada, fatos que pouca gente conhece. Dizia ele com um jeito quase adolescente: “Quando era prefeito de Belo Horizonte, fiz um concurso de Arquitetura para o conjunto da Pampulha e só apareceram Quitandinhas” (se referia àquelas construções de estilo normando, de telhados inclinados e traves de ma-

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deira nas fachadas). Naquela época, se pensava que, por sermos uma cidade de montanha, precisávamos parecer com Petrópolis e seus requintes burgueses. Inconformado e pretendendo algo revolucionário para a cidade, telefonou para o Rodrigo Melo Franco de Andrade, fundador e diretor do Patrimônio Histórico, e contou o sucedido. Ele sugeriu que se convidasse um jovem recém-formado que demonstrara um raro talento na equipe de Lucio Costa e Le Corbusier, para o Edifício do Ministério da Educação e Cultura, (hoje Palácio Capanema): Oscar Niemeyer, 33 anos. Juscelino aceitou a ideia e assim o arquiteto veio do Rio para Belo Horizonte, se hospedando no Grande Hotel (onde hoje está o conjunto Arcângelo Maletta). Ali montou sua sala de projetos. Alguns dias depois, Rodrigo liga: — Prefeito, são muitos desenhos para levarmos ao seu gabinete, o senhor se importaria de vir aqui no hotel para apreciá-los? Curioso do resultado, Juscelino subiu a pé da Prefeitura passando pela rua Goiás e alcançando a rua da Bahia. E diante da prancheta de Niemeyer, ouviu a descrição do primeiro prédio do conjunto: o Cassino da Pampulha. — O edifício é aberto para a Lagoa... aqui uma rampa... — Rampa? Pergunta o prefeito. Por que rampa? — Pela Leveza das linhas contínuas — disse Niemeyer... E o prefeito, arrebatado: — A obra começa amanhã. Começava ali fundada, naqueles primeiros esboços geniais e no desassombro visionário de Juscelino, a trajetória de Oscar Niemeyer. O presidente, ao final da nossa longa conversa, ainda confessou divertido: — O Marco Paulo Rabelo, enquanto passeamos pela Pampulha inaugurada, falou que tudo estava tão lindo que seria impossível repetirmos aquilo. E completou: — Mal sabia ele o que iríamos fazer em Brasília! Brasília foi uma tarefa muito maior. O Brasil precisava de símbolos que o definissem na cena interna-


Gustavo Penna é arquiteto mineiro formado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Fundou seu escritório em 1973. Entre seus principais projetos estão: o prédio da Rede Globo Minas, o Expominas, o Museu de Congonhas e a sede da Escola Guignard, além de várias residências. Realizou também obras urbanísticas como a intervenção na orla da Lagoa da Pampulha.

Os nomes do Pai    Gustavo Penna

cional como uma nação integral e contemporânea, marcando definitivamente o fim da era colonial. (Tenho alegria de ter na minha sala de trabalho, uma foto da época com meu pai, Niemeyer e outros pioneiros durante a construção do Catetinho). Oscar, no planalto central do Brasil, criou o relevo de nosso novo perfil e fundou uma ideia muito cara a nós que amamos a Arquitetura: O Arquiteto-brasileiro. Creio não existir aqui nenhuma injustiça com os grandes mestres do passado, do período colonial até hoje. Afinal, foi o trabalho dele que viajou longe, falando da nossa terra. Essa ligação visível, que podemos sentir em todos os cantos do mundo, que rompeu bloqueios e correntes da cultura primeiro-mundista e mostrou o jeito brasileiro de pensar Arquitetura, só foi de fato conseguida por ele. Afinal, qual outro tem obras admiráveis espalhadas na França, Itália, Estados Unidos, Portugal, Argélia e muito mais? A partir dele, mesmo os pensamentos divergentes passaram a ser considerados. E hoje tiramos de seu exemplo o sentido da liberdade de criar, do monumental e do simples a um só tempo, do emblemático e do informal e, sobretudo, da persistente coragem de propor e questionar. Aos 102 anos, é impossível ver Oscar Niemeyer na visão tradicional do velho mestre digno de honrarias. Oscar Niemeyer produz hoje com o entusiasmo de jovem. Em todo o mundo surgem inúmeras obras que surpreendem pela audácia e alegria. O que vemos naquela figura impressionante é o exemplo de alguém poderoso nas ideias e nos ideais, na ação e no desenho, a nos renovar a certeza de que a arte é a única possibilidade humana de se vencer o tempo.

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Oscar 50 anos

por Lucio

Costa

Oscar cinqüenta anos: pelo volume da obra realizada, poderia ter setenta, mas, na verdade, continua com os mesmos trinta e tantos da época da Pampulha. E pelo jeito será sempre assim. Não se trata, contudo, de nenhum pacto com o diabo. O segredo da sua juventude decorre simplesmente desse exercício cotidiano a que se entrega, de proceder à síntese e depuração de complexos problemas arquitetônicos. Começa como se estivesse brincando com o tema. Às vezes, o partido - isto é, a escolha da disposição geral e conseqüente subordinação das partes - é tomado, quase diria, de assalto, logo na primeira investida; outras vezes o jogo prossegue e começa então a ronda implacável: é de manhã à noite, fora de hora - até que quando menos o espera, abordado de vários ângulos, o cerco se define, e o tema, acuado, como que afinal se rende, se entrega, oferecendo ao arquiteto a almejada solução. Desse momento em diante, tudo se ordena sem esforço, como decorrência mesma da clareza do partido adotado e da intenção que lhe presidiu a escolha. Resulta daí certa euforia interior, um estado peculiar de beatitude artística. Ele convive com os amigos, brinca com os outros, assume compromissos de maior gravidade, mas já está longe - paira solto do chão, em

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pleno Parnaso. As horas e os dias não contam mais; não há desgaste: pelo contrário, recebe carga, acumula vida. Isto que para nós outros sucede uma vez por outra, dá-se com Oscar Niemeyer, a bem dizer, todos os dias, e assim, feitas as contas com o devido rigor, ao completar cinqüenta anos, ele ainda andará por volta dos trinta. Publicado originalmente em Lucio Costa: registro de uma vivência. Empresa das Artes: 1995 e, posteriormente, na Revista AU.

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ISBN 978-85-88-721-55-5

Christian de portzamparc apresentação

9 788588 721555

Roberto Segre organização

ALBERTO PETRINA BIANCA ANTUNES CARLOS EDUARDO COMAS ERNESTO NATHAN ROGERS

Niemeyer

EVELISE GRUNOW FARÈS EL-DAHDAH FERNANDO DIEZ GUSTAVO PENNA HANNO RAUTERBERG IñAKI ÁBALOS

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JONATHAN GLANCEY KENNETH FRAMPTON LAURO CAVALCANTI Lucio COSTA LUIZ FERNÁNDEZ-GALIANO RICARDO OHTAKE ROBERTO SEGRE SOPHIE TRELCAT

tributo a

Niemeyer


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