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Sou um frustrado

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Em terra firme

Em terra firme

Artur Berlet

Mas não se assuste leitor, que a minha frustração, não se relaciona com a vida cotidiana, pois, quanto a esta eu a levo bem regular, mesmo tendo sofrido um acidente que me custou a amputação de uma perna. Fato que me impossibilitou de continuar a exercer minha profissão de tratorista no município de Sarandi –RS, o que de início me trouxe sérios problemas, tanto psicológico como financeiro, pois com a baixa remuneração que passei a receber na inatividade, já que tinha esposa e filhos (um menino e três meninas) para manter, criar e educar. Apesar de tudo posso dar graças a Deus por ter o privilégio de viver em paz onde a iniciativa privada, recebe apoio e incentivo de todos os lados, tanto governamentais como particulares, por isso, em vez de um único ramo de atividade, passei a exercer dois outros, e com isso criar e educar meus filhos, até a idade adulta em que hoje todos se encontram, tendo a satisfação de vê-los todos bem empregados e com bom início de vida. Quanto à minha frustração, se deve ao fato de eu ter servido de instrumento para o envio de uma mensagem a todo o povo da Terra, há exatamente trinta anos.

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E como se deu tudo isso?

De início eu deveria publicar pela imprensa um relatório, mas devido ao fato do relatório ser bastante extenso, não obtive acolhida da mesma, o que é compreensível, pois hoje qualquer pequeno espaço em uma revista ou jornal custa uma soma bastante elevada. Quando eu já me preparava para desistir da minha incumbência, aconteceu o que se pode chamar de milagre. Sem que eu possa até hoje explicar, apareceram entre outras pessoas o Dr. Walter Buller, médico e presidente da S.B.E.D.V. (Sociedade Brasileira de Estudos sobre Discos Voadores) radicado na Guanabara –RJ; Dr. Carlos de Oliveira Gomes, gerente do Banco do Brasil/AS agência Sarandi; Sr. Jorge Ernesto

Macedo Geisel, oficial da reserva da aeronáutica; Dr. Rui Schmidt Bacharel; Dr. Osvaldo Guindane, presidente do sindicato dos moageiros do Rio Grande do Sul; Sr. Djalma Gobbi, prefeito de Sarandi; Sr. Rui Albuquerque, oficial de justiça da comarca de Sarandi; Sr. João Manuel Ribeiro, secretário Municipal de Sarandi; Sr. Ernesto Becker, gerente da agência Chevrolet de Sarandi, afora outros que deixo de mencionar por não me ocorrerem à mente no momento.

Estes homens, cada um colaborando com o que podiam de um momento para outro transformaram meu relatório em um livro, editando na livraria e editora Portinho Cavalcanti –RJ, em uma tiragem de 1.000 exemplares, livros estes que em quase sua totalidade foram distribuídos gratuitamente, tanto no Brasil como no estrangeiro.

Mas agora eu pergunto. Vale a pena tanto esforço? Se não, vejamos:

Em 1958, havia na Terra, umas poucas dezenas de bombas atômicas. Hoje, passados 30 anos temos milhares delas prontas para disparar a qualquer momento, isto sem contar com outras tantas que foram criadas e aperfeiçoadas.

Eu pergunto contra quem toda essa precaução? Ora, contra nossos irmãos, nossos pais, filhos, primos e parentes, enfim, contra nossa própria espécie.

Por outro lado, em 1958, um décimo da população da Terra passava fome. Hoje um terço passa fome.

Em 1958 quase todos os rios da Terra mantinham sua fauna aquática em perfeitas condições de vida. Hoje 90% dessa fauna estão sendo ameaçadas ou destruídas, com milhares de sangas, riachos e rios morrendo.

Pasmem meus amigos, uma quarta parte das florestas que foram devastadas desde a vinda de Cristo até hoje, o foram de 1958 para cá.

A África que há bem pouco tempo era sinônimo de florestas, hoje está transformada em estepes, savanas e deserto.

Eu pergunto: aonde quer chegar o homem da Terra? Você sabe? Então responda, porque eu sei, mas não posso responder.

Com a permissão do leitor, mais umas palavras sobre essa edi-

ção do livro. Conforme já lhes expliquei acima, pensei ter satisfeito minha incumbência com a divulgação do meu relatório em forma de livro, mas me enganei, pois assim que se esgotou aquela pequena edição, começaram a seguir pedidos por cartas e pessoas, de todo Brasil e mesmo do estrangeiro, e ultimamente em maior número, pedindo um ou mais exemplares, o que me forçou a concordar em uma segunda edição, o que a princípio não era meu propósito.

Ressalto a minha aquiescência se deveu a inúmeros pedidos de amigos assim como familiares. Isto posto, espero que o amigo leitor adquira dessa vez um exemplar, não leve em conta desembolsar uma pequena quantia, pois nossa estrutura econômica atual, não permite que se adquira ou faça algo sem prescindir de dinheiro.

MENSAGEM

“Ao ver que nossos foguetes se incorporam à guerra, sentíamos uma grande dor e uma grande vergonha”. Nós os havíamos projetado para traçar o caminho até outros planetas, não para destruir o nosso.

Os mistérios do Universo confirmam a existência de Deus. Através da ciência, o homem trata de controlar os traços da natureza. Por meio da religião, os impulsos negativos da natureza humana. Por isso, creio firmemente que nossa sobrevivência, presente e futura, depende de nossa adesão ao espírito, muito mais do que à ciência.

A astronomia seguirá oferecendo novos conhecimentos do universo, conforme formos estudando o céu. Alguns supõem que a Terra seria um planeta seguro. Pra mim não é verdade. Vejo-a cheia de desordens e de imprevistos. Aí estão a neve, os furacões, os terremotos... E os homens que só estudam maneiras de se destruir. No espaço as leis são físicas, quer dizer, perfeitas. É preciso refugiar-se ali para se salvar do dilúvio.

Odeio tudo quanto seja criado para matar. No dia em que morrer, estarei cheio de tristeza e preocupação em relação ao emprego que se dará no futuro aos foguetes por mim inventados.

As incríveis ambições humanas converterão algum dia o planeta Terra em um lugar desolado e inabitável. Por isso, é preciso chegar-se aos outros planetas virgens, nos quais a mão do homem não tenha deixado pousar todo peso de sua destruição.

Werner Von Braun 23.03.1912 (trecho extraído de seu testamento)

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