4 minute read

Como aprender línguas sem proffessor

Next Article
Em terra firme

Em terra firme

Naquela altura eu era todo pergunta e todo curiosidade e como meu amigo Acorc parecia ter prazer em explicar-me tudo, arrisquei mais uma pergunta: - Como é que o senhor sabe falar a língua alemã? Por acaso existe aqui, em seu planeta, um país que fale este idioma? - Não. Aqui não existe e quero lhe dizer mais. Aqui não há mais países. Acart já há muito tempo que é um país único. Há aproximadamente cem anos (terrícolas), Acart era dividido em centenas de países, mas com a compreensão mútua dos povos, foram abolidas as fronteiras, terminaram as guerras e juntamente progredimos, como vê e ainda verá. Quanto a eu saber falar alemão, custou-me e a mais uns colegas muito tempo para conseguir isso. Mas como vê, conseguimos em parte. - Qual foi a técnica usada para isso? - Bem, como disse, requereu de nós bastante paciência e inteligência. Periodicamente, fazíamos uma viagem à Terra e nos países visados fotografávamos tudo quanto eram letreiros, pois temos aparelhos com os quais se pode tirar uma foto da cabeça de um prego a 200 quilômetros de distância. Captamos todos os programas de rádio e televisão, gravamos todas as radiofonias e assim trouxemos várias toneladas de material que depois aqui eram estudados e comparados. Dessa forma, em menos de 10 anos (terrícolas) conseguimos o nosso objetivo, como você pode ver. - Mas, conseguiram somente a língua alemã? - Não. Esta é a que eu mais me dediquei, mas outros da equipe se interessaram por outras e já o conseguiram também. - Quais são as outras? - São o russo, inglês e espanhol. - Mas como é que conseguiu tudo isto sem serem descobertos,

pelo menos que eu saiba, na Terra? - É que nós temos um aparelho chamado neutralizador de visão. - O que vem a ser este neutralizador de visão? - É um aparelho que em certas circunstâncias pomos em funcionamento ao redor da nave ou de nós, e com isso ninguém pode ver a nave ou qualquer movimento nosso. Além disso, procuramos agir sempre de maneira a não deixar o menor vestígio em terrenos menos guarnecidos. A não ser nos casos de fotografar o que nos interessava, agíamos sempre à noite. Mesmo assim, já nos vimos a braços com o problema de sermos descobertos, mas com os neutralizadores e os nossos meios de nos deslocarmos de uma parte a outra com muita rapidez, conseguimos sair sem problemas. - Mas por que todo interesse em aprender os idiomas dos povos da Terra? Eu suponho que os acartianos projetam para o futuro uma invasão à Terra. Não seria isto? - Não, não se trata exatamente disso. Houve um ruído no tal telefone (assim chamado por ele). Acorc interrompeu nossa conversa e a ele se dirigiu. Pareceu um senhor muito parecido com ele, trocaram meia dúzia de palavras e desapareceu a imagem do outro. Acorc desligou o aparelho e retornou até mim. Notei que adquirira um semblante sério, um ar de preocupação com aquela conversa. Eu continuei: - O senhor disse: Não se trata exatamente? Quer dizer que algo parecido há então? Ele ante a minha insistência na resposta, levantou-se meio encabulado e por fim disse: - Eu gostaria muito de continuar a responder a todas as suas perguntas, mas devido a um fato novo não posso continuar, sob pena de lhe prejudicar. Fiquei pensando o que poderia ter acontecido pra transformar tão depressa meu amigo Acorc e, em que poderia eu representar perigo para um povo tão adiantado. - Mas como? Que mal há em eu saber dos planos dos acartianos

Advertisement

em relação à Terra? Por acaso pensam que eu seria capaz de me interpor em seu caminho? Podem estar certos de que tudo o que ouvi aqui em Acart, se ao chegar à Terra contar, não me darão o menor crédito. O muito que poderão fazer é colocar-me na prisão taxando-me de louco. Digo mais: lá na Terra só os poderosos têm direito de impor um ponto de vista, corresponda ele ou não à verdade. Estes sim são ouvidos e aclamados, por mais que sejam às vezes uns estúpidos fanfarrões. Os pobres como eu, um humilde operário, senhor Acorc, pelo que vi e estou vendo e ouvindo aqui, é tratado bem diferente da minha classe na Terra. Lá não teria direito de ser ouvido ou até mesmo ver seus direitos respeitados. Há casos em que, mesmo com a razão e montado na verdade vamos perder uma questão jurídica quando está em jogo um poderoso, estando ele munido somente do poder e da mentira. - Talvez seja, respondeu ele suspirando. - Posso lhe afirmar que é assim. Os grandes da Terra estão por demais obcecados pela cobiça e pelo poder, para dar ouvidos a qualquer um, principalmente a mim, se eu fosse narrar o que vi e ouvi aqui. - Queira o criador que o Filho do Sol e o conselho aceitem sua tese. Se assim acontecer, poderia mostrar-lhe tudo o que temos aqui em Acart, porque o que mostrei e lhe contei é apenas uma visão superficial do que possuímos e sabemos na realidade. Ao ouvi-lo dizer isto eu fiquei com vontade de recusar a ver e ouvir mais coisas, pois o que eu já tinha visto e ouvido, quase já passava do limite de minhas forças. - Sim. Bem, acrescentou ele gaguejando, deixemos este assunto para outra ocasião, vamos deixar para amanhã, depois de sermos ouvidos pelo Filho do Sol.

This article is from: