MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA
DO REVISOR INICIANTE
PRIMEIROS
PASSOS
NA PROFISSÃO
SE VOCÊ JÁ DECIDIU QUE É COM REVISÃO QUE QUER TRABALHAR, SEJA BEM-VINDO! COM CERTEZA NÃO É UM CAMINHO FÁCIL, MAS VOU PROCURAR TORNÁ-LO UM POUCO MENOS MISTERIOSO PARA VOCÊ.
FORMAÇÃO A primeira pergunta que você provavelmente se fez quando passou pela cabeça abraçar a profissão de revisor foi: “Preciso ser formado em Letras para revisar textos?”. Obrigatoriamente, você não precisa ter formação superior. Como não existe re‑ gulamentação para a profissão, em princípio, qualquer pessoa pode exercê‑la, contanto que se sinta capacitada para a tarefa. Na prática, embora a formação acadêmica não seja requisito de lei ou obrigação, boa parte das empresas faz questão, sim, de que seus revisores sejam graduados em Letras ou em Jornalismo (e áreas correlatas, em geral de ciências humanas). Destaco que, pelo Cadastro Brasileiro de Ocupações, revisão de textos é uma atribuição do jornalista. Resumindo: em teoria, você não precisa de formação nenhu‑ ma (e há bons revisores que não têm mesmo); na prática, é possível que encontre dificuldades na hora de conseguir uma oportunidade. Assim, é sempre melhor buscar qualificação. Porém, nem só de universidade vive o revisor. Há diversos cursos de especialização e cursos livres em revisão de textos. Recomendo muito que você os faça não só para aumentar seus conhecimentos como também para expandir sua rede de contatos. Invista em você e na sua formação.
QUEM É O REVISOR Afinal de contas, quem é o ser esquisito que passa horas atrás de uma pilha de papéis ou de um computador só tentando encontrar o mínimo deslize gramatical cometido pelo coitado do redator desavisado?
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O revisor, além de gostar de ler — muito, sempre! —, preci‑ sa ter um carinho especial pela linguagem como um todo. Não só gramática normativa, não só linguagem informal. O revisor — como o professor de português — precisa ter a habilidade de ser um “camaleão linguístico”, expressão que ouvi bastante na faculdade de Letras. Para ser um camaleão linguístico, o revisor deve estar sempre atento ao uso que as “pessoas comuns” fazem da linguagem, desde o advogado em seu juridiquês até o mais simples dos humanos com sua respectiva variedade regional. Falando em uso da língua, há também excelentes obras baseadas em corpus, que servem de boa referência, como o Guia de usos do português, de Maria Helena de Moura Neves. Juntando essa rica bagagem linguística à noção exata do con‑ texto em que o texto será utilizado, o revisor sempre terá firmeza em decidir quais tipos de alterações poderá fazer. Anote isso num caderninho principalmente se você quiser tra‑ balhar em agências de publicidade ou com textos literários. ;) Em resumo, o revisor é esse ser maluco com uma paixão tão absurda pela linguagem que resolve fazer dela seu instrumento de trabalho. E se você chegou agora sem muita ideia do que se espera desse profissional, vamos começar pelo básico — as competências do revisor. DOMÍNIO DE GRAMÁTICA NORMATIVA
O mínimo que se espera de um revisor de textos profissio‑ nal. Aqui faço uma ressalva importante: não é preciso saber tudo o tempo todo. Um bom revisor sabe bastantes coisas da língua; um excelente revisor, além disso, sabe onde sanar 18
suas dúvidas. Ter fontes confiáveis ao nosso lado é um passo a mais na direção de uma boa entrega. NOÇÃO DE GÊNEROS TEXTUAIS E CONTEXTOS DE USO
Infelizmente este é um ponto em que existem muitas falhas, tanto de percepção em relação às atribuições do revisor quan‑ to à concepção que os revisores têm do próprio trabalho. É necessário ter em mente que a língua oferece diversas pos‑ sibilidades de expressão e precisamos saber reconhecer o que é adequado a cada contexto. Esse tipo de consciência é alcançado com leitura e atenção especial à forma como as pessoas costumam se expressar. Em outras palavras, se você está tentando se comunicar com jovens, fale como eles falam; se está falando com pessoas de determinado lugar, procure se expressar como elas se expressariam. Recentemente revisei um livro cuja contratante era a própria tradutora. Havia um caso de mesóclise em um diálogo, que estranhei. Entretanto, quando trocamos comentários sobre alterar ou não, vimos que fazia sentido manter a mesóclise naquela linha específica. CURIOSIDADE E SENSO INVESTIGATIVO
Você já deve ter ouvido falar sobre a famosa pulga residen‑ te atrás da orelha de todo revisor, e que este, por sua vez, deve mantê-la bem-criada e saudável para fazer seu trabalho. Desconfiar de tudo e investigar usos são tarefas que fazem parte do nosso ofício. Isso é importante porque não podemos alterar textos com base em frases como “acho horrível”, “soa mal” e suas varia‑ ções. Afinal de contas, como especialistas, revisores precisam 19
QUE LÍNGUA ESTAMOS FALANDO?
Em nosso dia a dia, nós revisores usamos muitos termos que nem sempre fazem sentido para quem não está habituado. Disponibilizo aqui uma pequena lista dessas palavras para que você se familiarize com elas. — verificar se o diagramador fez todas as correções pedidas pelo revisor na prova.
BATER EMENDAS
— maiúsculas e minúsculas, respectivamente. Essa nomenclatura vem do tempo em que eram usados os tipos móveis para imprimir. As caixas altas (ou seja, as “gavetas” que ficavam mais acima) guardavam as letras maiúsculas; as baixas, as minúsculas. CAIXA-ALTA/CAIXA-BAIXA
CARIMBOS DE REVISÃO — são os sinais de revisão já prontos
para a aplicação em provas no formato PDF. Veja a seguir a entrada “sinais de revisão”.
— são os famosos “balões” que os revisores deixam nos textos com dúvidas ou sugestões para o autor do original ou editor. COMENTÁRIOS
ferramenta do Word que marca todas as alterações feitas pelo revisor num docu‑ mento. Atalho: Ctrl+Shift+E. CONTROLADOR DE ALTERAÇÕES —
— fato que ocorre quando um texto, uma imagem, qualquer elemento “pula” de uma página para a seguinte em decorrência de alterações feitas. “CORRER O TEXTO”
— trabalho que verifica se a tradução está adequa‑ da e se não há saltos (veja “salto” a seguir) de tradução ou COTEJO
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adaptação de diferentes versões do português no texto. É a comparação do texto na língua original com a tradução/ adaptação. EMENDA
— correção pedida por um revisor no texto.
— é uma linha curta ao fim do parágrafo com um pedaço de palavra ou uma palavra curta, que fica desarmo‑ niosa na diagramação. FORCA
MEIA‑RISCA (–) — é o sinal entre o hífen (-) e o travessão (—).
Muitas editoras preferem a meia‑risca no lugar do travessão para pontuar por a julgarem suficiente. — reconhecimento óptico de caracteres. Quando um texto está em formato de imagem (portanto não editável), existem softwares que reconhecem o formato das letras e convertem o texto em imagem para texto editável. OCR
— é a primeira linha de um parágrafo que ficou sozi‑ nha no fim de uma página cujo texto restante correu para a seguinte. ÓRFÃ
— texto em sua forma “crua”, sem nenhum tipo de intervenção de profissionais do ramo editorial. ORIGINAL
PROVA — material que já passou por preparação de original
e diagramação. Nessa condição, o original começa a tomar formato de livro, tendo sido aplicado o projeto gráfico da obra. É nessa fase que é feita a revisão (em papel ou PDF). SALTO — quando há partes de texto faltando. Por exemplo: um livro em tradução do inglês para o português. Quando a tradução estiver pronta, segue para as mãos do preparador, que faz o cotejo entre o texto em inglês e o texto em portu‑ guês. Quando o preparador constata que há partes (frases, parágrafos, capítulos) sem tradução, então aí houve salto.
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— sinais padronizados que facilitam a comunicação entre o revisor de provas e as outras partes envolvidas na produção de um livro. São estabelecidos pela norma ABNT 6025:2002. SINAIS DE REVISÃO
TRANSCRIÇÃO — ato de transformar áudios em textos. É um
processo minucioso e demorado, também conhecido como degravação.
— separação silábica que ocorre no fim das linhas quando não há espaço para a palavra inteira. TRANSLINEAÇÃO
— adaptação de alfabetos não latinos (ideogramas, cirílico etc.) para escrita em caracteres latinos. TRANSLITERAÇÃO
— também conhecida como “linha quebrada”, é a que sobra do último parágrafo de uma página e correu para o início da página seguinte, ficando “sozinha”. VIÚVA
— Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Fonte oficial da ortografia brasileira. Não confundir o vo‑ cabulário com dicionário, pois o primeiro não apresenta as definições das palavras, é apenas referência para a grafia delas. VOLP
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