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Torcedores autistas
Criada no Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, torcida conta com milhares de seguidores no Instagram e apoio do goleiro Cássio
Guilherme Célio Guilherme Ramos Matias D’Almeida
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No mundo do esporte a comunidade autista tem, muitas vezes, dificuldade de ser incluída e respeitada. Porém, alguns corinthianos se uniram com o intuito de trazer para os estádios essa parcela de torcedores, que muitas vezes é deixada de lado.
Os Autistas Alvinegros, como é chamada a torcida organizada de corinthianos autistas, começou em 2 de abril de 2022, justamente no Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. Rafael Souza Lopes, 35, foi o idealizador do projeto.
“O início se deu pelo meu amor pelo Corinthians e também por eu me descobrir autista aos 33 anos”, explica. Rafael teve o diagnóstico tardio. Ele torcia pelo clube bem antes de saber que era autista.
O projeto cresceu e hoje tem mais de 6 mil seguidores no Instagram. “Nós, que fazemos parte da organização, somos em sete pessoas. Além do Instagram, temos dois grupos de WhatsApp com cerca de 300 membros, no total”, conta Rafael.
Porém, nem tudo são flores. Os autistas ainda têm dificuldade de aceitação e convivência na sociedade, tanto no esporte quanto nas outras áreas de suas vidas. “É necessário ir mais a fundo, pois se trata de um transtorno muito mais complexo do que se imagina. Nós que estamos no espectro autista temos duras batalhas diárias. Lutamos para nos relacionarmos, nos comunicarmos, e também para entender as pessoas. É preciso um bom convívio para que possamos evoluir.”
Rafael salienta que nenhum autista é igual ao outro e que isso precisa ser considerado. “Cada um tem sua particularidade.”
Apesar das dificuldades, os Autistas Alvinegros contam com o apoio de muitas pessoas. “Tem muita gente que abraça a causa conosco: pais de autistas, autistas jovens e adultos, profissionais da saúde que lidam com o autismo e simpatizantes que querem aprender sobre o assunto.”
Em 4 de setembro de 2022, o goleiro do Corinthians, Cássio Ramos, declarou, na zona mista, o seu apoio à torcida, usando uma camisa em favor da causa. Na ocasião, ele fez a seguinte declaração: “Eu conheci o pessoal [da torcida], eles estiveram no CT [Centro de Treinamento]. Vi que são pessoas sérias e boas. Acho que nem todo mundo sabe, mas tenho uma filha autista, a Maria Luiza, de 4 anos. Comecei a pesquisar e ler mais sobre o assunto. É bem legal. Sigo também outras páginas de autismo e, como pai, quanto mais eu puder saber sobre autismo, para me integrar, quanto mais eu puder saber pra dar suporte para a minha esposa, para a minha filha, para que ela possa evoluir, melhor”.
No ambiente do estádio, os organizadores da torcida têm um dia bem corrido, mas sempre buscam atender os torcedores. “Nos dias de jogos ficamos muito ansiosos para que tudo ocorra como o esperado. Temos toda uma logística com relação aos materiais [bandeiras e faixa]. E também na recepção das pessoas que estão chegando para o movimento.”
Segundo Rafael, o Corinthians trata os Autistas Alvinegros como uma torcida comum, oferecendo os benefícios padrões de uma organizada. Mas por se tratar de uma torcida focada em pessoas com deficiência, algumas regras se destacam. “Pessoas com deficiência não pagam e têm direito a três acompanhantes. No caso de pessoas do espectro autista, a Neoquimica arena dispõe de um espaço exclusivo que dá direito à entrada gratuita e também direito a mais um acompanhante que paga meia entrada, no caso no setor oeste superior.”
De acordo com Rafael, o único objetivo da torcida Autistas Alvinegros é lutar pelo respeito e inclusão social. “Infelizmente, somos todos os dias taxados e rotulados. Nossa busca será contínua pra que possamos conquistar nosso espaço e mostrar que o autista tem voz e essa voz vai ecoar por todos os cantos.”
A iniciativa de criação da torcida organizada veio do torcedor Rafael Souza Lopes.