d a n o c o lateral da desigualdade Ao tratar da importância do materialismo histórico em “Sobre o Conceito da História”, Walter Benjamin escreve algo que me parece bastante pertinente “articular historicamente o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um período.” Hoje vivemos um dos momentos de maior perigo para a democracia do Brasil dos últimos anos: executaram, por motivos claramente políticos, uma representante do povo e um de seus companheiros de trabalho. E não representante somente de nós, privilegiados da academia, da escola, mas daqueles que viram números nas estatísticas do estado. Por isso, gostaria de trazer aqui alguns elementos do passado recente que relampejam para todos nós nesse perigosíssimo momento. Há 4 anos morria, vítima de uma bala perdida, Claudia Silva Ferreira, cujo corpo foi arrastado por uma viatura da polícia militar do Rio de Janeiro por 350m. Ninguém foi punido pelo crime. Em julho do ano passado, liderávamos o ranking do país que mais mata ativistas ambientais. Lembremo-nos de Chico Mendes e Dorothy Stang. Ainda em 2017, 58 ativistas em defesa dos direitos humanos foram assassinados no Brasil.
a rendição ao medo. É preciso COREGEM nesse momento de perigo. Nunca teremos um país que consiga mudar o fato de que 46% dos seus jovens de 16 e 17 anos morrem por homicídio e que 67% deles vão jovens se não decidirmos caminhar juntos de mãos dadas para um objetivo comum: DERRUBAR UM GOVERNO ILEGÍTIMO E VIOLENTO. GARANTIR ELEIÇÕES DIRETAS EXIGIRMOS A DESMILITARIZAÇÃO DA POLÍCIA E A APURAÇÃO DESSE CASO TERRÍVEL. Para terminar; MÃOS DADAS, de Drummond: M
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Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considere a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Em 2013, Amarildo Dias de Souza foi torturado e morto pela polícia militar. Essas reminiscências temíveis, que poderiam tomar toda a noite parecem confirmar que no Brasil, o medo venceu. Que estamos fadados a repetir as mesmas violências do passado. Entretanto, o próprio trabalho da Marielle, que buscava transformar os assustadores índices de violência de sua cidade, índice esse, é importante salientar que não é o mais alto do Brasil (Maceió, Belém, Aracaju, Natal, tem índices ainda mais assustadores) NEGA
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Thais Travassos Professora do departamento de Ciencias Humanas da UNITAU
Ricardo Xavier de Araújo
Estive na sexta feira, 16 de março no depto. de Letras e Ciências Sociais da UNITAU representando o Conselho Regional de Psicologia e seu Núcleo Psicologia e relações Étnico Raciais na aula aberta Marielle presente - genocídio negro e periférico. Fiz uma fala pautada no compromisso ético-político da Psicologia com a garantia de direitos e como nos interessa as relações étnico raciais, por exemplo, como a categoria atua no enfrentamento ao racismo. A fala também foi de apoio e manifestação favorável à todas as pessoas e movimentos sociais e culturais que lutam pela igualdade e pela garantia de direitos. Aproveitei a oportunidade pra convidar os presentes a participar do evento Cine Cultura - Psicologia e Política a acontecer no dia 31/03 na Biblioteca Zumbi dos Palmares. Finalizei a fala destacando como a psicologia pode colaborar com o movimento de resistência e enfrentamento do medo tanto em nível individual quanto no coletivo por meio do apoio à iniciativas como a própria aula aberta que é um espaço de debate e questionamento tão necessários em momentos como o que vivemos.
Psicólogo CRP 06 / 132067 Representante da Sub Sede Vale do Paraíba e Litoral Norte do Conselho regional de Psicologia
Minha mensagem foi a de não deixarmos que o assassinato de Marielle tivesse seu contexto racial negado, pois foi sim um crime além de político, racial, um recado de um Estado genocida que escravizou os negros africanos e sempre negou a cidadania a seus descendentes. Foi um recado claro contra nossa tentativa de busca por nossos direitos enquanto descendentes daqueles que construíram esta nação. Para cada Marielle tombada 5 negros se levantarão para que nossa luta não seja em vão.
Solange Barbosa Coordenadora de atividades culturais do Centro Cultural Afrobrasileiro e Biblioteca Zumbi dos Palmares
um dia estranho Ontem disseram, “nossa, hoje foi um dia estranho” e de fato foi. Ninguém soube dizer o porque, mas acho que no fundo sabiamos. Estamos de luto, luto por uma pessoa que não conhecemos, mas luto por essa pessoa Amanda Pires
que lutou e foi executada.
Aluna do curso de Letras da UNITAU
Nosso luto, luto de pessoas que acreditam nos finais felizes, em um presidente bom e um futuro ainda melhor. Pois hoje nosso luto será luta, a sua luta mulher. Marielle, presente!